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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA YORDAN MADUREIRA DE ALMEIDA ESTUDO DO DESGASTE POR DESLIZAMENTO DOS FERROS FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO E MOLIBDÊNIO VITÓRIA 2008

Dissertacao Yordan Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

YORDAN MADUREIRA DE ALMEIDA

ESTUDO DO DESGASTE POR DESLIZAMENTO DOS FERROS FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO E

MOLIBDÊNIO

VITÓRIA 2008

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YORDAN MADUREIRA DE ALMEIDA

ESTUDO DO DESGASTE POR DESLIZAMENTO DOS

FERROS FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO E

MOLIBDÊNIO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Mecânica do Centro

Tecnológico da Universidade Federal do Espírito

Santo, como requisito parcial para a obtenção do

Grau de Mestre em Engenharia Mecânica, na

área de Materiais e Processos de Fabricação.

Orientador: Prof. Dr. Cherlio Scandian.

Vitória

2008

Page 3: Dissertacao Yordan Final

YORDAN MADUREIRA DE AMEIDA

ESTUDO DO DESGASTE POR DESLIZAMENTO DOS FERROS

FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO E MOLIBDÊNIO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica.

Aprovada em de de 2008.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Cherlio Scandian - Orientador

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Prof. Dr. Antonio Cezar Bozzi – Membro interno

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Prof. Dr. Christine Boher

Ecole dês Mines d’Albi Carmaux - França

Page 4: Dissertacao Yordan Final

A Deus, pela minha saúde e

a das pessoas que amo.

Page 5: Dissertacao Yordan Final

AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Eleuza Madureira de Almeida, por dar suporte a todas as vitórias

alcançadas na minha vida. A pessoa que considero grande responsável por todas elas

pelos incentivos, por priorizar minha educação e por inclusive, em vários momentos,

aprender junto a mim assuntos dos mais diversos.

Ao meu pai, Hailton José Borges de Almeida, pelo incentivo sempre presente na

educação de alto nível e por dar as condições que possibilitaram esta educação.

Agradeço ao meu irmão, Hailton Madureira de Almeida por me dar um exemplo de

sucesso a seguir e ao meu tio Rômulo Madureira de Almeida a quem considero como

irmão.

À parceira Ana Carolina Alves Bernabé pela ajuda na formatação final deste trabalho e

pelo carinho, compreensão, amizade e parceria dedicada nestes tempos de mestrado.

Ao meu orientador, Cherlio Scandian, pessoa essencial na minha formação como

engenheiro e pesquisador. Um grande professor, incentivador e amigo que fiz nesses

anos de universidade. Um verdadeiro mentor da minha vida acadêmica. Obrigado

professor Cherlio.

Ao professor Marcelo Camargo Severo de Macedo, pelas aulas, conselhos e amizade

durante meus estudos.

Aos professores Flávio José da Silva, Temístocles de Souza Luz, Antonio Cezar Bozzi,

que completam o time de materiais e processos de fabricação da UFES e estão sempre

dispostos a contribuir.

Page 6: Dissertacao Yordan Final

Às empresas Usicorte e Alvatec, bem como os colegas Flávio Travezani, Paulo

Giovane, Francisco, Fábio, Pablo e Leonardo pela ajuda na fabricação dos corpos de

prova.

À professora Christine Boher, que me recebeu na Ecole des Mines d’Albi Carmaux–

França, abrindo as portas dos laboratórios para que os ensaios pudessem ser

realizados.

Aos diretores da Ecole dês Mines D’Albi Carmaux, senhores Bruno Verlon, Alain

Bonafer e Jacques Schuartz pela parceria com a UFES e pelo acolhimento na França.

Aos técnicos Sergi e Sabine pela ajuda no manuseio dos equipamentos da Escola de

Minas de Albi.

Aos colegas de mestrado João Paulo Barbosa, Giovane Caser, Ricardo Tottola,

Alexandre Pícoli, Alexandre Avelar, Juliano Frigini e todos os que estiveram juntos

nesses tempos de pós-graduação.

À Ana Flávia Scandian, Sofia e Loïc, família do meu orientador, que me receberam em

sua casa em Albi-França durante os meses de ensaios desta dissertação.

Aos professores do PPGEM da UFES.

À CAPES, pela sessão da bolsa de estudos.

À técnica administrativa, Maria José, do PPGEM.

Aos meus familiares, amigos e todos aqueles que direta ou indiretamente, contribuíram

para este momento único.

A Deus, por proporcionar todo o necessário para as vitórias da vida.

Page 7: Dissertacao Yordan Final

As raízes da educação são amargas,

mas o fruto é doce.

Aristóteles

Page 8: Dissertacao Yordan Final

RESUMO

Os ferros fundidos brancos alto cromo são conhecidos por sua alta resistência ao desgaste. O molibdênio aumenta a temperabilidade da liga. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a resistência ao desgaste de quinze 15 diferentes composições de ferros fundidos brancos alto cromo e molibdênio. Foram realizados ensaios pino sobre disco, onde os pinos são ligas de Ferro Fundido Branco Alto Cromo e Molibdênio e os discos são de aço SAE 1020. Nos ensaios foram adquiridos dados de coeficiente de atrito e taxa de desgaste. Antes e após os ensaios, foi realizada a caracterização das superfícies dos pinos por imagens de uma lupa binocular. A caracterização também foi auxiliada por um rogosimetro ótico. Os discos foram caracterizados apenas após os testes. As diferentes taxas de desgaste e coeficientes de atrito medidas foram comparadas com as marcas de desgaste deixadas nos pinos e discos e comparados também a microestrutura das ligas. Observou-se que a taxa de desgaste e o atrito são dependentes da microestrutura da liga.

Page 9: Dissertacao Yordan Final

ABSTRACT

The high white cast iron chromium are know by their high wear resistance. The molybdenum increase the hardenability of the alloy. The present work aim to estimate the wear resistance of fifteen15 different compositions of white cast iron height chromium and molybdenum. There was realized pin on disc tests, when the pin are white cast irons and the disc are steel SAE 1020. In the tests, there was acquired data’s of friction coefficient and wear rate. Before and after the tests, there was realize the characterization of surfaces of pins by photographs with an optical binocular. The characterization was help by a rugosimetre optical to. The discs was characterized only after the tests. The difference of wear rate and friction coefficient was compared with the wear risk let on pins and discs and compared with microstructure of the alloys. There was observed that, the wear and the friction coefficient were dependent on microstructure.

Page 10: Dissertacao Yordan Final

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - MECANISMOS DE DESGASTE DURANTE DESLIZAMENTO: ADESÃO DAS JUNÇÕES E

TRANSFERÊNCIA DE MATERIAL (A), FADIGA DE SUPERFÍCIE DEVIDO À DEFORMAÇÃO

PLÁSTICA REPETITIVA EM MATERIAIS DÚCTEIS (B), FADIGA DE SUPERFÍCIE EM MATERIAIS

FRÁGEIS (C) E REAÇÃO TRIBOQUÍMICA E QUEBRA DE FILMES FORMADOS POR REAÇÕES

QUÍMICAS. (D) (ZUM GAHR, 1987). ...........................................................................20

FIGURA 2 - PROPRIEDADES METALÚRGICAS QUE INFLUENCIAM O DESGASTE POR DESLIZAMENTO

(ZUM GAHR, 1987). ...................................................................................................21 FIGURA 3 - FATORES QUE INFLUENCIAM OS MECANISMOS DE DESGASTE DURANTE O DESLIZAMENTO ENTRE

CORPOS (ZUM GAHR, 1987)..............................................................................................21

FIGURA 4- GEOMETRIAS EMPREGADAS EM ENSAIOS POR DESLIZAMENTO. (HUTCHINGS, 1992)................................................................................................................................27

FIGURA 5 - MICROGRAFIAS OBTIDAS POR MEIO DE MICROSCOPIA ÓTICA DE LIGAS COM 16, 20 24

% EM PESO CR, COM TEORES DE 0, 3, 6, 9 % EM PESO DE MO (CARVALHO, 2005). ....33

FIGURA 6 - MICROGRAFIAS OBTIDAS POR MEIO DE MICROSCOPIA ÓTICA DE LIGAS COM 28, 32 %

EM PESO DE CR, COM TEORES DE 0, 3, 6, 9 % EM PESO DE MO (CARVALHO, 2005).....34

FIGURA 7 - GEOMETRIA DO PINO (CORPO), VISTAS FRONTAL E SUPERIOR. .............................38

FIGURA 8 – ELETROEROSÃO DOS BLOCOS DE FERRO FUNDIDO BRAÇO ALTO CROMO E

MOLBDÊNIO PARA RETIRADA DE CILINDROS (A) E SEQÜÊNCIA DAS OPERAÇÕES DE USINAGEM

ATÉ A FORMA FINAL DOS CORPOS DE PROVA (B)............................................................40

FIGURA 9 - DESENHO DO DISCO COM DIMENSÕES INDICADAS. ..............................................43

FIGURA 10 - FABRICAÇÃO DOS DISCOS NO LABTECMEC DA UFES E OS DISCOS USINADOS

RESPECTIVAMENTE. ...................................................................................................43

FIGURA 11 - FOTOGRAFIA DO PINO 60_2 ANTES COM AUMENTO DE 52 X (A) E APÓS O

LIXAMENTO (B)...........................................................................................................45

FIGURA 12 - RUGOSÍMETRO ÓTICO REALIZANDO MEDIÇÕES DA TOPOGRAFIA DA PISTA DE

DESGASTE DE DIVERSOS DISCOS TESTADOS. ................................................................46

FIGURA 13 - FOTOGRAFIA DO TRIBÔMETRO PINO SOBRE DISCO DO CROMEP E DO PORTA PINO

UTILIZADO PARA FIXAÇÃO DO PINO NO TRIBÔMETRO. [A] FOTOGRAFIA GERAL DO

TRIBÔMETRO [B] FOTOGRAFIA DETALHADA. .......................................................... 47 E 48

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FIGURA 14 - PERDA DIMENSIONAL DOS PIÕES DE FERROS FUNDIDOS BRANCOS EM FUNÇÃO DO

TEOR EM CROMO E MOLIBDÊNIO. .................................................................................51 FIGURA 15 - TAXA DE DESGASTE DAS DIFERENTES LIGAS ESTUDADAS EM FUNÇÃO DA NATUREZA

DAS FASES PRESENTES NA MATRIZ E DA DUREZA DOS MATERIAIS. [A] 0% MO [B] 3% MO [C] 6% MO [D] 9% MO ............................................................................................ 54 E 55

FIGURA 16 - LIGA 28%CR-0%MO ANTES DO ENSAIO [A] E APÓS ENSAIO [B]. ..........................57

FIGURA 17 –FOTOMICROGRAFIA DA LIGA 28%CR-0%MO REALIZADA POR MEV, ELÉTRONS

RETROESPALHADOS. [A] VISTA GERAL DA SEÇÃO TRANSVERSAL DO CANTO ESQUERDO DO

CORPO DE PROVA INDICANDO O SENTIDO DO DESLIZAMENTO [B] REGIÃO AMPLIADA A

APROXIMADAMENTE 60µM DA ENTRADA E [C] FOTO DA REGIÃO CENTRAL AMPLIADA. .......58

FIGURA 18 - FOTOGRAFIA DA LIGA 32%CR-3%MO REALIZADA EM LUPA BINOCULAR COM

AUMENTO DE 52 X ANTES DO ENSAIO [A] E APÓS O ENSAIO [B]. ......................................59

FIGURA 19 – FOTOMICROGRAFIA DA SEÇÃO TRANSVERSAL DA SUPERFÍCIE DE DESGASTE DA LIGA

32%CR-3%MO REALIZADA POR MEV COM AUMENTO DE 1000 X..................................60

FIGURA 20 - FOTOGRAFIA DA LIGA 28%CR-9%MO REALIZADA EM LUPA BINOCULAR COM

AUMENTO DE 52 X ANTES DO ENSAIO [A] E 40 X APÓS ENSAIO [B]...................................61

FIGURA 21 - FOTOMICROGRAFIA DA LIGA 28%CR-9%MO REALIZADA POR MEV COM AUMENTO

DE 1000 X [A] E 2000 X [B]. ............................................................................... 61 E 62

FIGURA 22- FOTOGRAFIA DA LIGA 16%CR-3%MO REALIZADA EM LUPA BINOCULAR COM

AUMENTO DE 52 X ANTES DO ENSAIO [A] E 40 X APÓS ENSAIO [B]...................................63

FIGURA 23 - FOTOMICROGRAFIA DA LIGA 16%CR-3%MO REALIZADA POR MEV COM AUMENTO

DE 1000 X [A] E 2000 X [B]. ............................................................................... 64 E 65

FIGURA 24 – CURVAS DE ATRITO PARA LIGAS FERRÍTICAS QUE OBTIVERAM ALTO DESGASTE. ..65

FIGURA 25 – CURVAS DE ATRITO PARA LIGAS QUE OBTIVERAM MÉDIO DESGASTE. ..................67

FIGURA 26 – EVOLUÇÃO DO COEFICIENTE DE ATRITO DA LIGA EM FUNÇÃO DO TEMPO PARA UMA

LIGA COM 24%CR-9%MO COM UMA MATRIZ FERRÍTICA [A] E EVOLUÇÃO DO COEFICIENTE DE

ATRITO EM FUNÇÃO DO TEMPO PARA A LIGA 32% CR E 9% MO (MATRIZ FERRÍTICA) [B] E A

EVOLUÇÃO DO DESGASTE EM FUNÇÃO DO TEMPO PARA A LIGA 24%CR-9%MO COM MATRIZ

FERRÍTICA [C]. ................................................................................................... 68 E 69

FIGURA 27 - EVOLUÇÃO DO COEFICIENTE DE ATRITO EM FUNÇÃO DO TEMPO PARA A LIGA 24%

CR E 3% MO (MATRIZ POLIFÁSICA : FEα + FEα’ + FEγ).................................................70

FIGURA 28 – GRÁFICO DO DESVIO MÉDIO DA SUPERFÍCIE X DESGASTE ..................................71

Page 12: Dissertacao Yordan Final

FIGURA 29 – IMAGEM TOPOGRÁFICA DO PINO 28 % CR-0% MO ANTES DO ENSAIO [A] , APÓS O

ENSAIO [B] E DO CONTRA-CORPO DESGASTADO [C]. ......................................................73

FIGURA 30 - ANÁLISE TOPOGRÁFICA DA LIGA 16 %CR-3% MO ANTES DO ENSAIO [A], APÓS O

ENSAIO [B] E DO DISCO DESGASTADO [C]............................................................................................. 74

Page 13: Dissertacao Yordan Final

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - LIGAS ESTUDADAS COM RESPECTIVAS QUANTIDADES DE CROMO E MOLIBDÊNIO ....36

TABELA 2 – CODIFICAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA ..............................................................41

TABELA 3 – TABELA COM OS DADOS USADOS PARA O CÁLCULO DO DESGASTE – APRESENTA AS

MEDIÇÕES UTILIZADAS PARA CÁLCULO DAS TAXAS DE DESGASTE E O RESULTADO DA

PRÓPRIA TAXAS DE DESGASTE. ...................................................................................78

Page 14: Dissertacao Yordan Final

LISTA DE SIGLAS

µm – micrometro

ASTM G99 – American Society for Testing and Materials

BSE – Elétrons retro-espalhados

C – Carbono

CBN – Nitreto cúbico de boro

Cr – Cromo

CROMeP/EMAC – Centro de Pesquisa em Ferramentas e Materiais e Processos /

Ecole dês mines d Albi Carmaux.

HV25 – Dureza Vikers

IBG – Indústria de Máquinas e Equipamentos Ltda

LABTECMET – Laboratório de tecnologia mecânica

LABVIEW – Laboratório

MEV – Microscópio eletrônico de varredura

mm – milímetro

Mo – Molibidênio

SAE – Sociedade dos Engenheiros automotivos e Aeroespaciais

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

Page 15: Dissertacao Yordan Final

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO..................................................................15

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................17

2.1 TRIBOLOGIA ...................................................................................17

2.1.1 Desgaste Por Deslizamento ........................................................................19

2.1.2 Ensaios Tribológicos em Desgaste por Deslizamento .............................26

2.2 FERROS FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO............................29

2.2.1 Ferros fundidos Brancos Alto Cromo e Molibdênio .................................31

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS ................................................38

3.1 MATERIAIS E DESIGNAÇÃO DAS AMOSTRAS .............................38

3.1.1 Pino (Corpo) .................................................................................................38

3.1.2 Disco (Contra-Corpo)...................................................................................41

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS ...........................................44

3.2.2. Quanto ao Disco .............................................................................. 44

3.3 TRIBÔMETRO PINO-DISCO............................................................46

3.4 METODOLOGIA...............................................................................49

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES......................................51

4.1 TAXAS DE DESGASTE ...................................................................51

4.2 – ANÁLISE DOS MICROMECANISMOS DE DESGASTE................56

4.3 CURVA DE EVOLUÇÃO DO ATRITO..............................................65

4.4 ANÁLISE TOPOGRÁFICA DAS LIGAS............................................71

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES.................................................................75

CAPÍTULO 6 - SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS................76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................77

ANEXO A..................................................................................................79

Page 16: Dissertacao Yordan Final

15

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

O desgaste por deslizamento dos materiais parece ser de impossível previsão. Ele é,

claramente, uma função do substrato do material, porém, os eventos que ocorrem nas

superfícies em movimento relativo são também muito influentes (O. BARRAU ET AL.

2006).

São muitas as variáveis, tanto na superfície quanto no substrato, que exercem

influência no comportamento dos materiais em deslizamento. Alguns desses são: a

rugosidade da superfície, textura (dependente do método de fabricação), vibração,

dimensões dos corpos, propriedades triboquímicas, entre outros muitos fatores (ZUM

GAHR, 1987).

Essas variáveis podem ser simuladas em ensaios tribológicos que procuram, então,

verificar o comportamento de sistemas que geram desgaste. Isso é feito com ensaios

que procuram repetir mecanismos de desgaste em um material ou simular um

tribossistema que ocorre na prática. Esses ensaios são usados, por exemplo, para

prever a vida útil de materiais, para desenvolver lubrificantes, desenvolvimento de

novos materiais, entre outras muitas funções. Deve-se, para tal, controlar o máximo de

variáveis possíveis que podem exercer influência no comportamento e nos mecanismos

de desgaste (ZUM GAHR, 1987).

A seleção dos materiais dos componentes de um sistema é controlada por fatores que

podem ou não envolver tribologia. O custo, por exemplo, é um fator vital para escolha

de materiais. Às vezes, o peso ou a resistência à corrosão é preponderante. Em alguns

sistemas, a resistência ao desgaste é o elemento mais importante. No caso da seleção

de materiais resistentes ao desgaste por deslizamento, deve-se levar em consideração

as precisas condições que regulam o deslizamento (HUTCHINGS, 1992).

Ferros fundidos brancos são materiais muitas vezes selecionados em situações em que

se requer resistência ao desgaste.

Page 17: Dissertacao Yordan Final

16

Este trabalho pretende estudar a resistência de diversas ligas de ferros fundidos

brancos alto cromo e molibdênio quanto à resistência ao desgaste por deslizamento em

uma condição de ensaio. Os testes foram realizados em tribômetro pino sobre disco

onde os pinos são ligas de ferro fundido branco alto cromo e molibdênio e os disco são

de aço SAE 1020. A carga aplicada nos ensaios foi de 20N, a rotação no disco foi de

200 rpm e o tempo total de cada ensaio foi de 30 minutos.

Esses materiais são conhecidos por sua alta resistência à abrasão. Essa resistência

está relacionada à presença de carbonetos primários e/ou eutéticos.

O capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica da dissertação. Os conceitos de

tribologia, as formas como o desgaste se apresenta com uma ênfase especial para o

desgaste por deslizamento, são apresentados nessa seção. São revisados também os

conceitos, aplicações, características microestruturais dos ferros fundidos brancos alto

cromo e dos ferros fundidos brancos alto cromo e molibdênio, materiais estudados

nesse trabalho.

No capítulo 3 são apresentados os materiais estudados – Pino (corpo) e Disco (contra-

corpo), os equipamentos usados nos ensaios (tribômetro, politriz, ultra-som...) e os de

análise (MEV, lupa binocular, rugosímetro ótico), bem como os materiais que auxiliam

as tarefas experimentais. A metodologia de trabalho também é apresentada nessa

parte do trabalho.

O capítulo 4 apresenta os resultados e as discussões geradas a partir dos ensaios pino

sobre disco e das análises de MEV, binocular, análises de superfície de desgaste e

comparações com a microestrutura dos materiais.

No capítulo 5 têm-se as conclusões e no capítulo 6 as sugestões para trabalhos futuros.

As referências bibliográficas citadas e consultadas nesta dissertação são apresentadas

no capítulo 7.

Page 18: Dissertacao Yordan Final

17

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 TRIBOLOGIA

Segundo hutchings (1992), tribologia é o estudo do atrito, desgaste e lubrificação. Esta

recente ciência teve início oficial em 1966 no Reino Unido por meio de um estudo que

quantificou as perdas econômicas provenientes do desgaste e o quanto poderia ser

economizado anualmente, se os princípios da tribologia fossem corretamente aplicados

(JOST, 1997).

Desde então, de acordo com Blau (1997), diversos estudos tribológicos foram

realizados seguindo geralmente as seguintes motivações para os trabalhos:

* entender o comportamento do desgaste em uma família particular de materiais;

* otimizar a seleção de materiais para uma determinada aplicação;

* entender os efeitos de certas variáveis num modo particular de desgaste;

* desenvolver modelos para prever ou descrever o desgaste em tribosistemas

específicos.

Os mecanismos como o desgaste se desenvolve, podem ser classificados de diversas

maneiras, dependendo do ponto de vista de cada pesquisador. Zum Gahr (1987)

mostra que, apesar das várias classificações, pode-se distinguir quatro mecanismos

básicos de desgaste. Abrasão, que é a remoção do material devido ao riscamento

produzido por uma partícula dura; adesão é a formação e a quebra de ligações entre os

contatos; fadiga de superfície é a fadiga e formação de trincas na superfície devido a

ciclos de fadiga tribológica e a conseqüente separação do material e, por fim, o

desgaste por reação triboquímica, que é a formação de produtos de reação química

resultantes de interações entre os elementos do tribosistema.

Page 19: Dissertacao Yordan Final

18

Esses mecanismos de desgaste descrevem as formas como os contatos em movimento

relativo provocam a perda de massa. Dentre essas formas, tem-se como principais o

desgaste abrasivo, o desgaste erosivo, o desgaste por fretting, desgaste por

deslizamento entre outras. (GAHR, 1987).

O desgaste abrasivo pode ser definido como a perda de massa devido à penetração de

partículas duras, ou de uma superfície com asperidades endurecidas em deslizamento

contra uma outra mais macia. O processo em que ocorre este tipo de desgaste divide-

se em desgaste a dois ou a três corpos. A resistência à abrasão não é uma propriedade

do material e depende do sistema tribológico (GAHR, 1987).

O desgaste erosivo ocorre quando uma partícula dotada de movimento atinge uma

superfície (HUTHINGS, 1992). Em 1958 e 1960 foram publicados os primeiros trabalhos

sobre erosão (BLAU, 1997). As variáveis importantes que governam este fenômeno são

a velocidade da partícula, ângulo de incidência e fluxo. Nos metais dúcteis observa-se

um máximo de erosão nos ângulos de incidência entre 15-30º. O controle deste tipo de

desgaste é importante para o funcionamento e para a aparência de muitas máquinas e

produtos de consumo (BLAU, 1997).

Fretting ocorre em juntas mecânicas parafusadas, tubos de materiais em transporte e

conectores elétricos de máquinas que sofrem com vibração e envolvem oscilações de

baixa amplitude. Esse tipo de desgaste pode envolver corrosão gerando debris

oxidados (BLAU, 1997).

O desgaste por deslizamento pode ser caracterizado como o ocorrido pelo movimento

relativo entre duas superfícies em contato sobre uma carga aplicada (GAHR, 1987).

Esse tipo de fenômeno de desgaste será explicado com melhores detalhes na seção

seguinte.

Uma publicação de 1976 mostrou estimativas que 50% do desgaste existente na

indústria era abrasivo, 15% adesivo, 8% erosão e 5% químico. Porém, a grande maioria

Page 20: Dissertacao Yordan Final

19

dos estudos tribológicos realizados entre os anos de 1977 e 1995 foram sobre

deslizamento. Esse interesse pelo desgaste por deslizamento pode ser explicado por

este ser mais mecanicamente complexo do que as outras formas porque envolve não

somente corte e sulcamento como na abrasão, mas também adesão das asperidades,

iniciação e crescimento de trincas sub-superficiais, transferência de material, formação

de filme triboquímico, entre outros fenômenos (BLAU, 1997).

2.1.1 Desgaste Por Deslizamento

O desgaste por deslizamento ocorre quando duas superfícies sólidas deslizam uma

sobre a outra (HUTHINGS, 1992). Na maioria das vezes, esse fenômeno ocorre com

atuação de lubrificação de alguma maneira. Quando duas superfícies deslizam uma

sobre a outra sem lubrificação, apenas com a presença do ar, chama-se esse

fenômeno de desgaste por deslizamento a seco. O termo desgaste adesivo é usado

para descrever o desgaste por deslizamento, mas este é um tanto incompleto, pois

adesão é apenas um fenômeno dentre vários fenômenos físicos e químicos que podem

envolver o processo (HUTHINGS, 1992). Alguns mecanismos são mostrados na Figura

1 a seguir.

Page 21: Dissertacao Yordan Final

20

Figura 1 - Mecanismos de desgaste durante deslizamento: adesão das junções e transferência de material (a), fadiga de superfície devido à deformação plástica repetitiva em materiais dúcteis (b), fadiga de superfície em materiais frágeis (c) e reação triboquímica e quebra de filmes formados por reações químicas. (d) (ZUM GAHR, 1987).

Algumas das principais variáveis que envolvem o desgaste por deslizamento são: as

velocidades de deslizamento, cargas aplicadas, dimensões dos corpos, orientações,

dureza, condições ambientais. (HUTHINGS, 1992).

A Figura 2 mostra vários fatores metalúrgicos influentes no desgaste por deslizamento e

a Figura 3 os fatores gerais que influenciam os mecanismos de desgaste por

deslizamento.

Page 22: Dissertacao Yordan Final

21

Figura 2 - Propriedades metalúrgicas que influenciam o desgaste por deslizamento (Zum Gahr, 1987).

Desgaste

por Deslizamento

Dureza Capacidade de Deformação

Endurecimento

Estrutura Cristalina Reatividade Química

Reatividade Física Distribuição de Deslizamento

Resistência à nucleação de trincas

Resistência a Propagação de Trincas

Módulo de Young

Carga Coeficiente de Atrito

Ambiente Temperatura de Contato

Propriedade do Material

Tração Tangencial

Área de Contato

Condição de Carregamento

Elemento Interfacial

Deformação Elástica e Plástica

Contra-Corpo

Propriedade do Material

Adesão Fadiga de superfície

Reação Tribiquímica

Abrasão

Desgaste Por Deslizamento

Figura 3 – Fatores que influenciam os mecanismos de desgaste durante o deslizamento

entre corpos (Zum Gahr, 1987).

Page 23: Dissertacao Yordan Final

22

A equação de ARCHARD mostra que a taxa de desgaste medida em volume perdido

por distância deslizada é diretamente proporcional à carga aplicada e inversamente

proporcional à dureza do material e depende também das propriedades de cada

material e das variáveis do sistema na forma do coeficiente de desgaste (HUTCHINGS,

1992).

O desgaste por deslizamento sem lubrificação nos metais depende de vários fatores. A

velocidade e a carga de deslizamento, por exemplo, influenciam na geração e

destruição de óxidos respectivamente. Esse fenômeno determina, por exemplo, se o

deslizamento será metal com metal ou óxido com metal (HUTCHINGS, 1992).

Os mecanismos propostos para o desgaste severo nos metais envolvem deformações

plásticas, diferindo-se as maneiras de como o material é removido (HUTCHINGS,

1992). Esses mecanismos de remoção são muito difíceis de se diferenciar e só podem

ser feitos com uma boa análise das superfícies desgastadas e dos debris gerados. As

superfícies após desgaste contêm debris em todos os estágios de seu ciclo de vida,

porém, de difíceis identificações.

Teorias mais recentes sobre os mecanismos de desgaste por deslizamento sugerem

que o material é removido em fragmentos das asperidades por adesão, deformação

plástica e ruptura. Outro modelo sugere que o fragmento gerado se adere

imediatamente no contra-corpo gerando uma nova asperidade, que por sua vez, pode

aderir mais fragmentos até se desprender novamente, formando uma grande partícula

entre os corpos (HUTCHINGS, 1992).

A história da pesquisa do desgaste por deslizamento está envolvida com os estudos

clássicos sobre atrito, pois ambos estudos envolvem o mecanismo do contato. Estudos

fundamentais sobre esse tipo de desgaste e sobre o atrito dos metais foram realizados

em Cambridge, Inglaterra, há mais de 60 anos. Esses estudos foram iniciados por P. F.

Bowden e D. Tabor antes da segunda guerra mundial e pode-se citar uma conclusão

desses trabalhos escrita por eles em 1950 e comentada por Blau (1997) sendo:

Page 24: Dissertacao Yordan Final

23

“O atrito das superfícies dos metais em contato tanto em laboratório como na prática é muito complexo e consiste em: (a) superfícies irregulares são muito grandes quando comparadas as dimensões moleculares, (b) filme óxido e (c) a presença de uma camada debris dentro do contato”.

Rigney (1997) revisou resultados de experimentos que contribuíram ao longo dos anos

com o entendimento do desgaste por deslizamento. Foi revisada por ele, a importância

das mudanças químicas e estruturais que ocorrem na superfície dos metais durante

deslizamento, bem como a importância da deformação plástica, fratura, transferência,

transformação de fase e oxidação.

Quanto aos fenômenos que ocorrem nas superfícies em contato, Rigney (1997)

observou que muitos resultados experimentais mostram claramente deformação

plástica. Transferência de material por adesão e instabilidade das tensões, que podem

ocorrer assim que o deslizamento inicia, ajudam os debris gerados a formar uma

cobertura nanométrica no contato entre superfícies, que é influenciada por diversos

fatores. O que torna complexo e impraticável desenvolver uma única equação que

cubra todos os casos.

Alguns modelos de sucesso tratam da origem das trincas que envolvem a geração dos

debris. Na maioria dos casos, esses debris são formados pelas trincas que se iniciam

abaixo das superfícies em contato e “morrem” na superfície gerando o(s) detrito(s) de

desgaste. No entanto, esses modelos não são convincentes, pois as trincas poderiam

iniciar na superfície e depois evoluir lateralmente, o que é difícil de determinar por

seções transversais (RIGNEY, 1997).

Quanto aos efeitos do ambiente, Rigney (1997) observa que, a ênfase na adesão no

desgaste por deslizamento leva a expectativa de que o atrito e o desgaste sejam

maiores no vácuo. Porém, numa grande combinação de materiais o contrário é

verdadeiro. Isso mostra a importância da estabilidade microestrutural, além do indício

do gradiente de dureza ou endurecimento produzido no deslizamento.

Page 25: Dissertacao Yordan Final

24

É sabido que o atrito e a taxa de desgaste podem mudar repentinamente no progresso

do deslizamento. Existem muitas razões para essas mudanças. Uma das razões é o

encruamento da superfície, outro motivo é a transformação de fases, por exemplo. Em

compósitos de matriz metálica como ligas de alumínio adicionadas por SiC, as

partículas de SiC ajudam a suportar a carga em baixas tensões e apresentam

resistência ao desgaste superior ao alumínio sem essas partículas. Porém, a medida

que a carga aumenta, o SiC fratura e o desgaste fica similar ao alumínio sem esta

adição (RIGNEY, 1997).

O efeito da dureza é complexo e variável. A transferência pode alterar a dureza relativa

das superfícies em contato, podendo esta ser maior ou menor que originalmente

(RIGNEY, 1997).

Em alguns casos, existe um período transitório com taxas de desgaste maiores ou

menores do que a taxa de desgaste no estado permanente (HUTCHINGS, 1992).

Nos primeiros estágios dos ensaios de desgaste por delizamento ocorre o estado

transiente. Este é um período onde, tanto o atrito quanto a taxa de desgaste, produzem

resultados difíceis de prever e reproduzir entre um ensaio e outro. Ele é sensível a

pequenas mudanças na geometria e na preparação da superfície. Após um tempo de

ensaio, o período transiente passa, e todas as variáveis como atrito, taxa de desgaste,

magnitude das flutuações do atrito, rugosidade, entre outros fatores do sistema, tendem

a se tornar constantes (RIGNEY, 1997).

Barrau et al. (2007) comentam que o atrito e o desgaste são geralmente tratados

envolvendo a composição do deslizamento a dois corpos. Porém, os modelos que

tratam estes parâmetros dentro da mecânica do contínuo não consideram que existem

substâncias na superfície dos materiais em deslizamento que ainda não estão bem

entendidas nos modelos existentes.

Page 26: Dissertacao Yordan Final

25

Os mais simples modelos assumem que as partículas separadas no deslizamento de

dois corpos são debris gerados pelo desgaste. Porém, enquanto partículas

desprendidas no deslizamento permanecem entre os corpos e contra-corpos, estas não

podem ser consideradas debris, e estes podem agir como lubrificantes sólidos

(BARRAU ET AL, 2007).

Um ponto de vista da tribologia de interfaces em atrito a seco trata diferentemente atrito

e desgaste (teoria do escorregamento). Os mecanismos de desgaste (aderência,

abrasão, fadiga,...) são substituídos pela complexa seqüência comentada por (BARRAU

ET AL, 2007).

* desprendimento da partícula.

* aprisionamento da partícula e formação de uma camada dessa partícula.

* ativação do estado estacionário do desprendimento das partículas e sua eliminação.

Esta seqüência diferencia o desprendimento de partícula e o desgaste. Em adição a

isto, o conceito de escorregamento é apresentado. A grande dificuldade está em

encontrar o comportamento do terceiro corpo que é muito importante no entendimento

da vida dos corpos em contato (O. BARRAU ET ALLI, 2007).

Em qualquer contato entre superfícies, o circuito tribológico reúne diferentes

escorregamentos de partículas que podem ser identificados dentro e fora do contato

como mostra O. Barrau et al. (2007) a seguir:

* a origem do escorregamento interno: é obtido pelo desprendimento de partículas, pelo dano acumulado nos primeiros corpos, pela inserção de qualquer terceiro corpo artificial como, por exemplo, lubrificantes sólidos; * o escorregamento interno: circulação do terceiro corpo nos contatos; * o escorregamento externo: ejeção do terceiro corpo do contato. Este é subdividido em duas partes; a recirculação (partículas ejetadas que voltam ao contato) e o desgaste por escorregamento (partículas que não retornam ao contato);

O estado estacionário, em termos de escorregamento, é obtido quando a geração de

debris e sua eliminação são balanceadas (BARRAU ET AL., 2007).

Page 27: Dissertacao Yordan Final

26

2.1.2 Ensaios Tribológicos em Desgaste por Deslizamento

O equipamento usado para medir desgaste por deslizamento e atrito chama-se

tribômetro. Os experimentos laboratoriais são usados para pesquisar os mecanismos

pelos quais ocorrem o desgaste, ou uma simulação de um processo na prática, obtendo

taxas de desgaste e coeficientes de atrito. É de extrema importância que se controle o

máximo de variáveis possíveis, pois a simples variação de uma delas, pode levar a

mudanças radicais do mecanismo de desgaste dominante e na taxa de desgaste

associada a esse mecanismo (HUTHINGS, 1992).

A Figura 4 mostra diferentes geometrias de ensaios de desgaste por deslizamento. Os

métodos mais comuns de ensaios são o anel sobre anel (A), disco sobre disco (B), pino

sobre disco (C), pino sobre anel (D), bloco sobre anel (E), pino sobre placa (F)

(HUTCHINGS, 1992).

Page 28: Dissertacao Yordan Final

27

Figura 4- Geometrias empregadas em ensaios por deslizamento. (HUTCHINGS, 1992)

A medição do coeficiente de atrito durante um teste de desgaste é geralmente feita

medindo-se a força tangencial no corpo de prova, ou o torque no contra-corpo rotativo.

Essa medição em teste gera coeficientes de atrito no ato do ensaio, o que pode

demonstrar mudanças no comportamento do deslizamento e o motivo dessas

mudanças (mecanismo de desgaste) (HUTHINGS, 1992).

Muitos ensaios por deslizamento já são normalizados. O ensaio pino-disco, por

exemplo, pode ser encontrado na norma ASTM G99 (HUTHINGS, 1992).

O desgaste em condições de deslizamento depende da distância deslizada e também

da velocidade de deslizamento. Esta afeta a taxa de dissipação de energia e a

temperatura na interface. É claro, então, que não se pode assumir um mesmo resultado

Page 29: Dissertacao Yordan Final

28

num teste de desgaste se fosse diminuída a distância deslizada pela metade,

aumentando-se a velocidade em duas vezes (HUTHINGS, 1992).

Vergne (2001) mostrou que coeficiente médio de atrito do par aço 1018 e ferro fundido

branco é 0,6 em temperatura ambiente, resultado encontrado em ensaio pino sobre

disco. A literatura (Bowden e Tabor) fornece o coeficiente de atrito do ferro fundido

contra ferro fundido de 0,3. A presença de carbonetos pode explicar essa grande

diferença entre os coeficientes.

O. Barrau et alli (2006) estudou a influência de duas geometrias de pino em ensaio pino

sobre disco em altas temperaturas na circulação dos debris. Uma das geometrias é o

pino com o topo esférico e a outra com o topo reto formando um cone. Esses desenhos

representam um contato conforme e outro não conforme (contato concentrado segundo

Huthings (1992)). Nos materiais testados, foi encontrado que o coeficiente de atrito

médio para o pino esférico e cônico de 0,49 e 0,47 respectivamente na temperatura de

700ºC. Porém, foram encontrados comportamentos diferentes no modo de desgaste

dos dois. Nos ensaios realizados, o pino cônico com topo reto apresentou menos

variações do coeficiente de atrito do que a geometria com topo esférico. Isso porque

todos os debris formados são ejetados e não recirculam dentro do contato. Desse

modo, o estado estacionário é obtido poucos segundos após o início do atrito.

Page 30: Dissertacao Yordan Final

29

2.2 FERROS FUNDIDOS BRANCOS ALTO CROMO

Ferros fundidos brancos são ligas que contêm basicamente ferro, carbono e cromo que

se caracterizam por apresentarem reação eutética durante a solidificação (SANTOS,

1989).

Esses materiais são utilizados em aplicações industriais tais como mineração (bombas,

britadores, moinhos de bola, etc...), equipamentos para movimentação de terra

(agricultura), plantas siderúrgicas, cimento, cerâmica, papel entre outras.

A microestrutura dessas ligas consiste tipicamente de carbonetos primários duros e/ou

eutéticos em uma matriz de austenita ou uma transformação desses produtos. A

natureza da matriz é função da velocidade de transformação no resfriamento e da

composição química (TABRETT, 1996).

Os ferros fundidos brancos alto cromo são conhecidos por sua alta resistência ao

desgaste do tipo abrasivo. Essa resistência é relacionada à presença de carbonetos

primários e/ou eutéticos do tipo M7C3. Estes carbonetos possuem alta dureza

gravitando em torno de 1500 a 1800 HV25. Podem–se variar as propriedades dessas

ligas, adicionando-se elementos de liga e variando-se as características do tratamento

térmico pelas quais podem ser submetidas. A natureza da matriz é função da

velocidade de transformação no resfriamento e da composição química (TABRETT,

1996).

A matriz dos ferros fundidos brancos alto cromo pode variar de totalmente austenítica

até totalmente perlítica. Ela também pode ser composta por uma mistura de perlita,

martensita, bainita e austenita (PATTYN, 1996).

Altos teores de cromo e molibdênio aumentam a temperabilidade da liga, diminuindo a

transformação em perlita ou bainita. Altos teores diminuem também a temperatura de

início de transformação da martensita, aproximando-a da temperatura ambiente. Porém,

Page 31: Dissertacao Yordan Final

30

apesar de a liga poder ter altos teores de cromo, a maioria está combinada com o

carbono na forma de carbonetos o que induz a necessidade de elementos de liga

adicionais para temperabilidade suficiente (PATTYN, 1996).

O molibdênio age como estabilizador da ferrita (y) diminuindo a temperatura de reação

peritética e aumentando o campo de estabilidade dela (BOCCALINI, 2001).

A taxa de resfriamento possui grande influência na dureza das ligas. Como mostrado

por Ikeda (1992), ligas com resfriamento rápido possuíam dureza aumentada quando

se aumentava a quantidade de molibdênio. Já no resfriamento lento o contrário foi

observado.

Quanto aos carbonetos eutéticos e primários, a quantidade de fase (y), formada durante

a solidificação influencia na morfologia do eutético. O carboneto M7C3 tem a tendência

de se formar na região interdentrítica como uma rede de carbonetos eutéticos bem finos

quando o volume residual, após a solidificação da fase (y), é pequeno (MARATRAY,

1970). Esses carbonetos interdendríticos não apresentam uma distribuição contínua

nos contornos de grão e desaparecem quando a taxa de carbonetos ultrapassa 20 %

em média. Quando a fração de carbonetos atinge valores entre 35 e 40 %, esses

carbonetos primários aparecem sob a forma de grandes cristais hexagonais e são

envolvidos por uma rede eutética, sendo esses carbonetos bem maiores que os

eutéticos devido a sua maior temperatura de formação. A porcentagem total de

carbonetos aumenta com os teores de C e Cr (MARATRAY, 1970).

Quanto à resistência ao desgaste, O. Joos et al. (2007) compararam um moderno aço

rápido de microestrutura com matriz martensítica temperada e uma alta fração de

carbonetos primários (MC, M2C e M7C3) e carbonetos secundários precipitados, muito

usados em detrimento dos ferros fundidos brancos alto cromo, e um próprio ferro

fundido alto cromo também de estrutura martensítica e carbonetos M7C3 ricos em

cromo e M2C ricos em molibdênio. Apesar de os resultados em alta temperatura

Page 32: Dissertacao Yordan Final

31

favorecerem o aço rápido, na temperatura ambiente de 20º, o ferro fundido resultou em

um menor coeficiente de atrito e uma menor potência dissipada por atrito.

2.2.1 Ferros fundidos Brancos Alto Cromo e Molibdênio

Atualmente os Compósitos de Matriz Metálicos tem sido mais utilizados e indicados em

detrimento dos ferros fundidos brancos alto cromo (BERNES). No entanto, Ikeda (1992)

estudou que a adição de molibdênio aumenta a resistência ao desgaste dos ferros

fundidos alto cromo.

O molibdênio possui a função de suprimir a formação da perlita, aumentando a

temperabilidade pela efetiva inibição de carbonetos secundários durante o resfriamento.

Ele estimula a formação de carbonetos ricos em Mo. A morfologia, tamanho, fração

volumétrica e distribuição dos carbonetos influenciam a resistência ao desgaste

(TABRETT, 1996).

Ikeda (1992) realizou ensaios com adições de molibdênio de 1, 5, 7 e 10% em massa e

teores de cromo de 20% em ferros fundidos comparando a influência da microestrutura,

solidificação e transformações de fase, propriedades mecânicas e características do

desgaste dos materiais. A resistência ao desgaste em altas temperaturas aumenta com

o aumento da quantidade de molibdênio devido ao aumento da quantidade de

carbonetos Mo2C. Esses carbonetos evitam a propagação das trincas que surgem na

superfície de desgaste. As conclusões de Ikeda (1992) são:

a - a resistência a tração e a tenacidade diminuíram com o aumento da porcentagem de molibdênio; b - a resistência ao desgaste a quente aumentou com o aumento da porcentagem de molibdênio; c - os Mo2C preveniram a propagação de trincas de desgaste; d - os carbonetos eutéticos devem estar em torno de 35%, para contrabalancear propriedades mecânicas e resistência ao desgaste.

Page 33: Dissertacao Yordan Final

32

O molibdênio também atua nos outros elementos de liga como o cobre e o níquel os

quais são mais efetivos na formação da perlita se adicionados em conjunto com o

molibdênio (TABRETT, 1996).

Carvalho (2005) realizou o estudo da microestrutura de 20 ligas de ferros fundidos

brancos alto cromo e alto cromo e molibdênio. Ele obteve as amostras pelo processo de

fundição, realizou metalografia nessas ligas e também análises de difração por raios-X,

dureza, microdureza e tratamento térmico.

As Figura 5 e Figura 6 mostram as micrografias das 20 diferentes ligas com diferentes

teores de cromo e molibdênio estudadas por Carvalho (2005).

Page 34: Dissertacao Yordan Final

33

16% Cr 20% Cr 24% Cr

0% Mo

3% Mo

6% Mo

9% Mo

Figura 5 - Micrografias obtidas por meio de microscopia ótica de ligas com 16, 20 24 % em peso Cr, com

teores de 0, 3, 6, 9 % em peso de Mo (CARVALHO, 2005).

Nas ligas isentas de Mo a microestrutura dominante é constituída basicamente de M7C3

e ferrita. A liga com 24% de Cr possui alguma martensita (CARVALHO, 2005).

Page 35: Dissertacao Yordan Final

34

28% Cr 32% Cr

0% Mo

3% Mo

6% Mo

9% Mo

Figura 6 - Micrografias obtidas por meio de microscopia ótica de ligas com 28, 32 % em peso de Cr, com

teores de 0, 3, 6, 9 % em peso de Mo (CARVALHO, 2005).

Page 36: Dissertacao Yordan Final

35

As ligas com Mo possuem microestrutura composta por carbonetos do tipo M6C e M7C3

em uma matriz de austenita, martensita e ferrita para as ligas hipoeutéticas e ferrita nas

ligas eutéticas, hipereutéticas e na liga com 24%Cr-9%Mo (CARVALHO, 2005).

Nas ligas com mesma quantidade de cromo, a adição de molibdênio resulta no

aumento de dureza salvo nas ligas com 24%Cr-9%Mo, pois estas possuem matriz

ferrítica (CARVALHO. 2005).

Nos ensaios metalográficos, Carvalho (2005) encontrou a composição química real das

ligas e comparou com a quantidade pretendida e concluiu que os valores são muito

próximos.

Com auxílio da difração de raios-X, Carvalho (2005) determinou as fases presentes em

cada uma das ligas.

Carvalho (2005) verificou o aspecto da microestrutura por microscopia óptica e

eletrônica de varredura. As frações volumétricas das fases presentes, forma e tamanho

do carboneto M7C3 foram realizadas por metalografia quantitativa.

A Tabela 1 mostra os resultados encontrados de dureza, fases presentes e respectivas

quantidades nas ligas com 16, 20, 24, 28 e 32 % em cromo com 0, 3, 6, 9 % de

molibdênio (CARVALHO, 2005).

Carvalho (2005) apresentou em sua dissertação de mestrado, um detalhado estudo em

ligas de ferro fundido branco alto cromo e molibdênio. Em continuidade ao seu trabalho,

esta dissertação propõe estudar a resistência dessas ligas ao desgaste por

deslizamento.

Page 37: Dissertacao Yordan Final

36

Tabela 1 - Ligas Estudadas com respectivas quantidades de cromo e molibdênio

Cr Mo Dureza

HV10 MATRIZ CARBONETOS M7C3 MATRIZ

M6C

+

MATRIZ

MATRIZ/

M7C3

16 0 395 Ferrita M7C3 9,9 90,1 0 9,10

16 3 469

austenita+

martensita+

ferrita

M7C3+

M6C 13,3 85,7 1 6,44

16 6 557

austenita+

martensita+

ferrita

M7C3+

M6C 14,5 75,9 9,6 5,23

16 9 732

austenita+

martensita+

ferrita

M7C3+

M6C - - - -

24 0 531 martensita+

ferrita M7C3 26,2 73,8 0 2,82

24 3 583

austenita+

martensita+

ferrita

M7C3+

M6C 27,1 67,8 5,3 2,50

24 6 701

austenita+

martensita+

ferrita

M7C3+

M6C 26,8 58,8 14,5 2,19

24 9 511 Ferrita M7C3+

M6C 15,9 38,3 45,8 2,41

28 0 389 Ferrita M7C3 33,3 66,7 0 2,00

28 3 411 Ferrita M7C3+

M6C 34,4 - - 0,00

28 6 452 Ferrita M7C3+

M6C 35,8 53 11,2 1,48

28 9 568 Ferrita M7C3+

M6C 22,1 33,1 44,8 1,50

32 0 396 Ferrita M7C3+

M7C3 38,4 61,6 0 1,60

32 3 412 Ferrita M7C3+

M6C 43,5 - - 0,00

Este presente trabalho estudou diferentes ligas com composições de cromo e

molibdênio a fim de identificar a resistência ao desgaste por deslizamento de cada uma

delas. Foram analisadas 15 ligas no total, sendo essas ligas divididas em famílias.

Foram divididas em duas famílias de ligas hipo-eutéticas (16 e 24 % em massa de

cromo), uma família eutética (28 % de massa em cromo) e uma liga hiper-eutética (32

Page 38: Dissertacao Yordan Final

37

% em cromo). O objetivo foi relacionar a microestrutura de cada liga com sua

resistência ao desgaste por deslizamento.

Page 39: Dissertacao Yordan Final

38

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS E DESIGNAÇÃO DAS AMOSTRAS

3.1.1 Pino (Corpo)

Os pinos foram projetados com diferentes composições de cromo e molibdênio nos

ferros fundidos brancos. Foram estudadas 4 famílias de ferros fundidos brancos alto

cromo e molibdênio. Duas famílias de ligas hipo-eutéticas (16 e 24% em massa de

cromo), uma família eutética (28% de massa em cromo), uma família hiper-eutética

(32% em cromo) como já mencionado na seção anterior.

As ligas utilizadas para fabricação dos corpos de prova foram obtidas por Carvalho

(2005) por meio de processo convencional de fundição em areia, no Instituto de

Pesquisas Tecnológicas – SP, gerando blocos de dimensão 40X40X70 mm.

A Figura 7 mostra a geometria do pino usado como corpo de prova para ensaio.

Figura 7 - Geometria do Pino (corpo), vistas frontal e superior.

Page 40: Dissertacao Yordan Final

39

As ligas de ferro fundido branco alto cromo e molibdênio são materiais de difícil

fabricação por usinagem convencional por possuírem em sua composição elementos

como cromo e cobalto que possuem péssima usinabilidade, durezas elevadas, além de

carbonetos duros que promovem desgaste rápido nas ferramentas de corte. As

velocidades de corte, avanço e profundidade de corte na usinagem dessas ligas

costumam ser baixas e a produtividade também.

A fabricação dos pinos seguiu a seqüência de eletroerosão de cilindros nos blocos já

existentes (fabricados por Carvalho) e posterior usinagem deles. Para a eletroerosão

foi utilizada uma máquina por penetração do fabricante IBH – Indústria de Máquinas e

Equipamentos LTDA pertencente à empresa Usicorte.

A usinagem dos pinos realizada após a eletroerosão dos cilindros de aproximadamente

60 mm de comprimento por 15 mm de diâmetro foi feita no Laboratório de Tecnologia

Mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo – LABTECMEC. Os cilindros

foram cortados com pastilha de bedame do fabricante SANDVIK Coromant código

N151.2-300 5E 1005 e suporte desse fabricante código RF151.23-2020-30. Foram

utilizados dois tipos de materiais de bedame e a classe 1005 usada em Super-Ligas se

mostrou a mais eficiente. Nos cortes foram obtidos três cilindros com 18 mm de

comprimento por 15 mm em diâmetro. Após o corte dos cilindros, foram realizados

operações de faceamento, desbaste e torneamento cônico com diferentes classes de

pastilhas para avaliar quais as mais indicadas para fabricação dos corpos de prova.

Foram usados insertos de cerâmica de código TNGA 160404 650, insertos de metal

duro código TNMG 160408-23 1105, Pastilha de CBN código TNGA 160408 7025 todas

do fabricante SANDVIK Coromant. Essas pastilhas foram montadas no suporte MTJNR

2020K16 da SANDVIK Coromant.

O inserto de CBN foi o que ofereceu melhor produtividade na usinagem de ligas de

ferro fundido branco alto cromo e molibdênio, mas o metal duro da classe 1105 obtém

alguma produtividade com menor custo de fabricação.

Page 41: Dissertacao Yordan Final

40

O torno usado foi o modelo MASCOTE do fabricante Nardini do LABTECMEC. Todos

os cortes dos corpos de prova foram assistidos por refrigeração com fluido de corte

BIO-100-E para evitar alterações superficiais nos materiais como, por exemplo, a ZAC

(zona termicamente afetada).

A Figura 8a, mostra a eletroerosão dos cilindros e a Figura 8b mostra a seqüência de

operações de usinagem até a obtenção da forma final dos corpos de prova.

[a] [b]

Figura 8 – Eletroerosão dos blocos de ferro fundido braço alto cromo e molbdênio para retirada de cilindros (a) e seqüência das operações de usinagem até a forma final dos corpos de prova (b).

As ligas estudadas foram codificadas para facilitar os trabalhos.

A tabela 2 mostra o código fornecido para cada liga e as respectivas concentrações de

cromo e molibdênio em cada uma delas. Foram fabricados dois corpos de prova por liga

para ensaio a frio. Cada um deles seguiu a marcação do código da liga com o índice 1

ou 2. Por exemplo, a liga com 16% de cromo e 3% de molibdênio recebeu o número

código 61, sendo que o primeiro corpo de prova dessa liga é o 61_1 e o segundo é o

61_2.

É comum no CROMEP realizar os ensaios com dois corpos de prova.

Page 42: Dissertacao Yordan Final

41

Tabela 2 – Codificação dos corpos de prova

CÓDIDO

DA LIGA

% EM

MASSA DE

CROMO

% EM MASSA DE

MOLIBIDÊNIO

56 16 0

58 24 6

58 28 9

60 32 0

61 16 3

63 24 9

64 28 0

65 32 3

66 16 6

68 24 0

69 28 3

70 32 6

71 16 9

73 24 3

74 28 6

75 32 9

3.1.2 Disco (Contra-Corpo)

Os discos usados como contra-corpo no ensaio pino sobre disco foram projetados com

diâmetro de 35 mm e altura de 40 mm. Em sua base foram feitos três furos com 5 mm

de diâmetro e tolerância H7 (5 até 5,012mm) com distância entre o centro dos discos e

o centro dos furos de 15 mm posicionados 120º entre um furo e outro. Esses furos são

usados para fixação do disco no tribômetro.

Page 43: Dissertacao Yordan Final

42

O material do qual foram construídos foi o aço SAE 1020. A

Figura 9 mostra o desenho do disco e a Figura 10 indica uma fotografia da fabricação

desse contra-corpo e desses discos ao final da sua usinagem.

A construção dos discos foi realizada no laboratório de tecnologia mecânica da

Universidade Federal do Espírito Santo.

Page 44: Dissertacao Yordan Final

43

Figura 9 - Desenho do Disco com dimensões indicadas.

Figura 10 - Fabricação dos discos no LABTECMEC da UFES e os discos usinados respectivamente.

Page 45: Dissertacao Yordan Final

44

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS

3.2.1 Quanto ao Pino

A caracterização dos pinos antes dos ensaios seguiu as etapas de fotografia com

aumento 52 X, lixamento, fotografia após lixamento com o mesmo aumento e realização

de topografia superficial.

Após ensaio, os pinos foram fotografados em lupa binocular com aumento de 40X.

As fotografias dos pinos foram realizadas antes e após lixamento em uma binocular da

marca Leica e o aumento usado foi de 52 X.

Para o lixamento dos pinos foram utilizadas lixas de SiC com granulometria de 1200

mesh. Este procedimento foi adotado a fim de se retirar as marcas de usinagem

deixadas na fabricação dos corpos de prova.

A topografia superficial dos pinos foi realizada pelo equipamento Altisurf 520 antes e

depois dos ensaios. Esse equipamento mede a profundidade dos picos e vales e seus

respectivos ângulos de inclinação. A sonda usada para a medição possui precisão de

350 µm e mede dados de 1,8 em 1,8 µm.

Para o tratamento das imagens geradas no Altisurf 520, utilizou-se o software AltiMap

Universal 4.0.

.

3.2.2. Quanto ao Disco

Os discos foram lixados em granulometrias variando entre 320 e 1200 mesh.

Page 46: Dissertacao Yordan Final

45

A topografia dos discos foi realizada no rugosímetro ótico Altisurf 520 após os ensaios

apenas. Para o tratamento das imagens geradas no Altisurf 520, utilizou-se o software

AltiMap Universal 4.0.

A Figura 11 mostra um pino fotografado com aumento de 52X antes e após o lixamento

e a Figura 12 mostra o rugosímetro utilizado para a avaliação topográfica.

[a] [b]

Figura 11 - Fotografia do pino 60_2 antes com Aumento de 52 X (a) e após o lixamento (b).

Page 47: Dissertacao Yordan Final

46

Figura 12 - Rugosímetro Ótico realizando medições da topografia da pista de desgaste de diversos

discos testados.

3.3 TRIBÔMETRO PINO-DISCO

Para a realização dos ensaios tribológicos pino sobre disco, foi utilizado o tribômetro

projetado e construído na Ecole Des Mines d’Albi-Carmaux descrito por Vergne (2005).

O disco é dotado de movimento rotativo que pode variar de 30 a 3000 rotações por

minuto. A rotação é ajustada por um variador de frequência. A velocidade linear

depende do diâmetro da pista de desgaste e pode variar de 0,05 a 50 m/s.

Os ensaios podem ser realizados em temperatura ambiente ou podem ser a quente.

Nos testes a quente, o aquecimento do disco é feito por indução e as temperaturas

podem ser superiores a 1000 graus. A homogeneidade da temperatura na superfície do

disco é verificada por um par de termopares. O controle da temperatura do disco é

realizado por um pirômetro. Para o carregamento sobre o corpo de prova, utilizam-se

Page 48: Dissertacao Yordan Final

47

pesos mortos num total de, no máximo, 100 N. A força tangencial é obtida com um

sensor medidor de tensão preso paralelo ao plano de atrito. O coeficiente de atrito é

então obtido com auxílio de um software desenvolvido no LABVIEW – Ecole dês mines

d’Albi.

Após o teste, as superfícies de desgaste foram observadas em um microscópio óptico e

eletrônico de varredura.

A fixação do pino em teste no tribômetro é feita com auxílio de um porta-pino.

A [b]

Figura 13 mostra o tribômetro do CROMEP - Ecole des Mines d’Albi e o porta-pino

usado para fixação.

[a]

Page 49: Dissertacao Yordan Final

48

[b]

Figura 13 - Fotografia do tribômetro pino sobre disco do CROMEP e do porta pino utilizado para fixação

do pino no tribômetro. [a] Fotografia geral do tribômetro [b] Fotografia detalhada.

A utilização do tribômetro segue o seguinte procedimento. Primeiramente, o eixo X é

referenciado. Em seguida os corpos de prova, tanto pino quanto disco são limpos no

ultrasom dentro de acetona por 15 minutos e, posteriormente, em álcool por mais 15

minutos, para posterior secagem. Os discos são instalados no tribômetro pelos furos de

fixação localizados na base deles. A planicidade é conferida com um relógio

comparador fazendo o apalpador do relógio percorrer o diâmetro externo do disco e

essa planicidade possui tolerância de 10 µm. Os pinos são instalados primeiramente

em um porta-pinos para depois serem fixados na máquina. Os pinos são posicionados

em relação ao disco de forma que o braço que os fixa fique perfeitamente na horizontal

com o disco. Instalados os corpos de prova, não se entra mais em contato com eles, e o

tribômetro pode ser acionado.

A aquisição dos sinais é realizada por um aparelho da National Instruments, o NISCXI-

1000.

Page 50: Dissertacao Yordan Final

49

3.4 METODOLOGIA

Foram realizados ensaios em um tribômetro pino-disco da Ecole des Mines D’Albi-

Carmaux (França) onde os pinos (corpo) eram ligas de ferro fundido branco alto cromo

e molibdênio e o disco (contra-corpo) composto por um aço 1020. Foram realizados 30

ensaios em 15 diferentes ligas com 2 corpos de prova cada liga. A partir destes, foram

obtidos o coeficiente de atrito e a taxa de desgaste. Antes dos testes, os pinos e discos

foram lixados em lixa 1200, fotografados com aumento de 52 X, limpos em ultra-som

com álcool e acetona por 5 minutos cada um. Após a preparação, os corpos de prova

foram fixados no tribômetro. A rotação do disco foi de 200 rpm e a carga foi de 20 N. As

medições de coeficiente de atrito e taxa de desgaste foi feita durante 30 minutos. Tanto

disco e pino foram fotografados e caracterizados no rugosímetro ótico – Altisurf 520

após os ensaios.

A observação dos micro-mecanismos de desgaste foi realizada por microscopia

eletrônica de varredura e comparações com a microestrutura. As fotografias em MEV

foram realizadas na seção transversal dos pinos. Para tal, os pinos foram embutidos em

resina e depois lixados no sentido do eixo, até o seu centro. Sabendo-se que neste

ponto, iria se encontrar o topo do pino desgastado.

Na superfície de desgaste foi feita a topografia com equipamento Altisurf 520 e análise

com lupa binocular.

A técnica utilizada para MEV na seção transversal dos pinos foi de realizar fotos por

elétrons retro-espalhados e elétrons secundários.

Para o cálculo da taxa de desgaste, utilizou-se como método a medição dos diâmetros

dos pinos antes e após ensaio. A diferença entre as duas medições é usada como

parâmetro que define o desgaste dos pinos e serve para comparar a resistência ao

deslizamento das diferentes ligas. Esta metodologia foi utilizada por Barrau et al. (2006)

sendo a equação para o cálculo descrita abaixo:

Page 51: Dissertacao Yordan Final

50

h = Rf – Ri

onde h é a altura desgastada, Rf é o raio do contato final do pino em mm e Ri o raio do contato inicial do pino em mm medidos na binocular Leica.

A condição dos ensaios utilizados neste trabalho foram as seguintes. Carga aplicada de

20N, a rotação do disco foi de 300 rotações por minuto e o tempo de ensaio foi de 1800

segundos.

O raio da trilha de desgaste é de 12,5 mm e a velocidade de deslizamento é

aproximadamente 3 m/s.

Page 52: Dissertacao Yordan Final

51

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capitulo, são apresentados os resultados relativos aos ensaios de desgaste por

deslizamento, na temperatura ambiente, de 15 diferentes composições de ferros

fundidos brancos ao cromo e molibdênio.

4.1 TAXAS DE DESGASTE

O resultado geral do desgaste por deslizamento, em nível dimensiona (mm), das 15

ligas aqui estudadas pode ser sintetizado na Figura 14, abaixo.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

16% 24% 28% 32%

percentagem em peso de cromo

Desgaste dos Pinos (mm):

perda dimensional

0% Mo 3% Mo 6% Mo 9% Mo

Figura 14 - Perda dimensional dos piões de ferros fundidos brancos em função do teor em cromo e molibdênio.

Visando, agora, correlacionar os resultados obtidos na Figura 14 com a microestrutura,

mais especificamente a matriz, e dureza macroscópica de tais ligas, construíram-se os

gráficos apresentados na Figura 15.

Page 53: Dissertacao Yordan Final

52

Para as ligas isentas em molibdênio (figura 15-a), não importando a composição em

peso de cromo, cuja matriz é essencialmente ferrítica, a taxa de desgaste é alta. A partir

do momento em que se começa a ter a presença de uma outra fase (martensita), a taxa

de desgaste cai significativamente.

A natureza da matriz parece controlar, então, o desgaste, Os parâmetros como o

tamanho e a fração volumétrica de carbonetos não são tão significantes quanto à

resistência ao desgaste. Por exemplo, as ligas 16%Cr-0%Mo e 32%Cr-0%Mo

apresentam valores próximos para as taxas de desgaste, no entanto, a primeira contém

uma fração volumétrica de 10% M7C3 e, a segunda, quatro vezes esse valor.

Ainda para as ligas com 0% Mo, observa-se que a morfologia da microestrutura de uma

determinada liga tem um efeito sobre a resistência ao desgaste. Quando esta é

formada por dendritas de solidificação e carbonetos eutéticos do tipo M7C3 (16%Cr-

0%Mo), a resistência aos esforços cisalhantes é maior se comparada à morfologia de

uma liga constituída de carbonetos primários (M7C3) e o eutético ferrita + M7C3 (32%Cr-

0%Mo e, no limite, a 28%Cr-0%Mo), embora sejam idênticas as durezas de tais ligas.

Quando o teor em molibdênio é aumentado para 3%, em peso, as ligas hipoeutéticas

apresentam uma matriz polifásica e um novo tipo de carboneto aparece, qual seja, o

M6C e a dureza aumenta com o teor de cromo. A figura 15b mostra que a resistência ao

desgaste dessas ligas é apreciável, pois a taxa de desgaste tende a zero.

Para as outras ligas desse grupo, a matriz é ferrítica e os níveis de dureza são próximos

aos das ligas sem Mo. Entretanto, as taxas de desgaste apresentam níveis inferiores

àquelas mostradas na figura 15a. A presença dos carbonetos M6C poderia explicar,

então, esse aumento na resistência ao desgaste. Cabe ressaltar, ainda, que matrizes

contendo outras fases além da ferrita, como já fora observado para as ligas isentas de

molibdênio, possuem baixíssimos valores de desgaste.

Page 54: Dissertacao Yordan Final

53

Quanto às ligas contendo 6 e 9%, em peso, de molibdênio, pode-se notar o

comportamento particular da liga 24%Cr - 9%Mo. É uma liga hipoeutética, porém,

devido à sua composição em cromo e molibdênio, aproxima-se, em nível de fase, de

uma eutética ou hipereutética com 9%Mo. Sua microestrutura é composta de uma

matriz ferrítica ligada com grandes carbonetos interdendríticos do tipo M7C3 e

carbonetos M6C. Possui uma dureza bem inferior quando comparada à liga (24%Cr-

6%Mo) e sua taxa de desgaste não foi nula (Figuras 15c e d). Essa diminuição de

dureza pode ser atribuída à diferença das naturezas das fases das matrizes dentro de

cada liga.

Quanto à resistência ao desgaste e à dureza, a liga 24%Cr - 9%Mo tem o mesmo

comportamento da liga 32%Cr-6%Mo. Isso pode ser explicado pelas similitudes

metalúrgicas entre elas, pois ambas têm uma microestrutura constituída de grandes

carbonetos de M7C3 (tamanho≥ 10 µm) e de aglomerados de carbonetos M6C dentro de

uma matriz de ferrita ligada (Figuras 15c e d).

Page 55: Dissertacao Yordan Final

54

[a]

[b]

0% em massa de MOLIBDÊNIO

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

3,00E-04

3,50E-04

4,00E-04

4,50E-04

5,00E-04

Ferrita

martensita + ferrita ferrita ferrita

FASES DA MATRIZ

0

100

200

300

400

500

600

700

800 16% 24% 28% 32%

% EM MASSA DE CROMO

TAXA DE DESGASTE (mm3/N.m)

DUREZA HV10

3% em massa de MOLIBDÊNIO

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

3,00E-04

3,50E-04

4,00E-04

4,50E-04

5,00E-04

Ferrita+austenita+martensita Ferrita+austenita+mertensita ferrita ferrita

FASES DA MATRIZ

0

100

200

300

400

500

600

700

800 16% 24% 28% 32%

% EM MASSA DE CROMO

DUREZA HV10 TAXA DE DESGASTE (mm3/N.m)

Page 56: Dissertacao Yordan Final

55

[c]

[d]

Figura 15 - Taxa de desgaste das diferentes ligas estudadas em função da natureza das fases presentes na matriz e da dureza dos materiais. [a] 0% Mo [b] 3% Mo [c] 6% Mo [d] 9% Mo

9% em massa de MOLIBDÊNIO

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

3,00E-04

3,50E-04

4,00E-04

4,50E-04

5,00E-04

FERRITA+AUSTENITA+MARTENSITA ferrita ferrita ferrita FASES DA MATRIZ

0

100

200

300

400

500

600

700

800 16% 24% 28% 32%

% EM MASSA DE CROMO

DUREZA HV10 TAXA DE DESGASTE (mm3/N.m)

6% em massa de MOLIBDÊNIO

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

3,00E-04

3,50E-04

4,00E-04

4,50E-04

5,00E-04

Ferrita+austenita+martensita Ferrita+austenita+martensita ferrita

FASES DA MATRIZ

TAXA DE DESGASTE (mm3/N.m)

0

100

200

300

400

500

600

700

800 16% 24% 32%

% EM MASSA DE CROMO

DUREZA HV10

Page 57: Dissertacao Yordan Final

56

4.2 – ANÁLISE DOS MICROMECANISMOS DE DESGASTE

Nessa seção, serão apresentadas as fotomicrografias obtidas por microscopia

eletrônica de varredura (MEV). Porém, objetivando uma observação macroscópica da

superfície dos pinos antes e após os ensaios, serão mostradas, também, imagens

geradas em lupa binocular.

Foram selecionadas 4 ligas para esta análise: a liga que apresentou maior desgaste,

uma liga com desgaste considerado “mediano”, outra com “pouco” desgaste e,

finalmente, uma com desgaste “nulo”. Nesta ordem, são as ligas 28%Cr-0%Mo, 32%Cr-

3%Mo, 28%Cr-9%Mo e 16%Cr-3%Mo.

Dentre as ligas ensaiadas, a 28%Cr-0%Mo foi a que apresentou a maior taxa de

desgaste, conforme salientado na seção anterior. As Figura 16a e b mostram como a

superfície do pino ficou deteriorada após o ensaio comparando a superfície do pino

antes e após ele.

As figuras 16a, b e c mostram, para essa liga, uma grande deformação plástica na

superfície e sub-superfície do pino de matriz ferrítica e, também, a quebra dos

carbonetos do tipo M7C3 até uma distância de, aproximadamente, 16µm da superfície.

Observa-se, também, que a direção da deformação plástica e de início das trincas nos

carbonetos é a direção de deslizamento contra o contra-corpo. Verifica-se a presença

de um estrato de fluxo plástico de 6 a 10 µm (figura 16-c), onde os carbonetos

quebrados estão embebidos, e devem ser ejetados do corpo de prova.

Page 58: Dissertacao Yordan Final

57

[a] [b]

Figura 16 - liga 28%Cr-0%Mo antes do ensaio [a] e após ensaio [b].

[a]

Sentido do Deslizamento

Page 59: Dissertacao Yordan Final

58

[b]

[c]

Figura 17 – Fotomicrografia da liga 28%Cr-0%Mo realizada por MEV, elétrons retroespalhados. [a] Vista Geral da seção transversal do canto esquerdo do corpo de prova indicando o sentido do deslizamento [b] Região ampliada a aproximadamente 60µm da entrada e [c] Foto da região central ampliada.

Quebra e eliminação dos carbonetos/matriz

Fluxo Plástico

Quebra de carbonetos M7C3

Page 60: Dissertacao Yordan Final

59

Será apresentada, neste momento, a liga (32%Cr-3%Mo) que apresentou desgaste

mediano. A Figura 18a e b mostra a superfície do pino antes e após o ensaio,

respectivamente. A degradação ocorrida nessa superfície já aparenta, mesmo com

auxílio da lupa binocular, ser menor do que a da liga analisada anteriormente.

Essa liga, como já dito, possui matriz constituída por ferrita e carbonetos primários do

tipo M7C3, além dos M6C. Ocorre pequena deformação plástica na superfície

desgastada e quebra de carbonetos primários. Porém, os carbonetos do tipo M6C

permanecem quase intactos. Pode-se ressaltar, ainda, que a dureza dessa liga é bem

próxima àquela da liga anterior, todavia a deformação plástica da superfície e sub-

superfície foi menor do que a da liga 28%Cr-0%Mo, como pode ser verificado na Figura

19.

[a] [b]

Figura 18 - Fotografia da liga 32%Cr-3%Mo realizada em lupa binocular com aumento de 52 X antes do ensaio [a] e após o ensaio [b].

Page 61: Dissertacao Yordan Final

60

Figura 19 – Fotomicrografia da seção transversal da superfície de desgaste da liga 32%Cr-3%Mo

realizada por MEV com aumento de 1000 X.

A liga eutética 28%Cr-9%Mo apresentou pequena taxa de desgaste. Pode-se notar

baixo deterioramento e perda dimensional da superfície em relação às duas ligas

analisadas anteriormente, Figura 20a e b.

Essa liga de matriz ferrítica é rica em carbonetos M6C, além de possuir também

carbonetos M7C3 em sua constituição. A Figura 21b mostra carbonetos do tipo M7C3

trincados. O tricamento e, posterior arrancamento destes, deve constituir o principal

mecanismo de perda de material dessa liga. A figura 21a mostra a liga com aumento de

1000 X. Nessa figura, pode-se observar os carbonetos M6C na superfície da liga.

Carbonetos M6C quase intactos

Quebra e eliminação

de M7C3

Page 62: Dissertacao Yordan Final

61

[a] [b]

Figura 20 - Fotografia da liga 28%Cr-9%Mo realizada em lupa binocular com aumento de 52 X antes do ensaio [a] e 40 X após ensaio [b].

[a]

Page 63: Dissertacao Yordan Final

62

[b]

Figura 21 - Fotomicrografia da liga 28%Cr-9%Mo realizada por MEV com aumento de 1000 X [a] e 2000

X [b].

A liga 16%Cr-3%Mo apresentou desgaste praticamente igual a zero. Isso pode ser visto

de topo na Figura 22a e b.

Essa liga possui uma matriz polifásica constituídas de ferrita, austenita e martensita,

além de carbonetos eutéticos M7C3 e M6C. A Figura 23a e b mostram que a matriz pouco

ou nada sofreu no que tange à deformação plástica; somente pequeníssima ruptura de

carbonetos M7C3 foi verificada.

Quebra de

carboneto M7C3

Page 64: Dissertacao Yordan Final

63

[a] [b]

Figura 22- Fotografia da liga 16%Cr-3%Mo realizada em lupa binocular com aumento de 52 X antes do ensaio [a] e 40 X após ensaio [b].

[a]

Page 65: Dissertacao Yordan Final

64

[b]

Figura 23 - Fotomicrografia da liga 16%Cr-3%Mo realizada por MEV com aumento de 1000 X [a] e 2000 X [b].

Pequena deformação plástica sub-superficial

Page 66: Dissertacao Yordan Final

65

4.3 – Curva de evolução do ATRITO

Quando as ligas isentas de Mo têm uma grande fração volumétrica de matriz

ferrítica (>60%), o coeficiente médio de atrito « µ » é elevado e superior a 0,7. A

evolução (comportamento) da curva de atrito é constante durante todo o ensaio e

as flutuações do atrito são significantes (0,6 < µ < 1,1) como se observa na figura

24a, b e c.

O valor elevado do coeficiente de atrito confirma a presença de uma matriz dita

dúctil.

E530- pino 56-2 (20°C)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

temperatura (s)

Coeficie

nte

de A

trito

[a]: Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 16% Cr e 0% Mo (matriz

ferrítica).

Page 67: Dissertacao Yordan Final

66

E551 - PINO 59-1 - 20°C

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

tempo (s)

coeficie

nte

de a

trito

[b ]: Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 28% Cr e 0% Mo (matriz ferrítica).

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

temps (s)

[c] : Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 32% Cr e 0% Mo (matriz ferrítica)

Figura 24 – Curvas de atrito para ligas ferríticas que obtiveram alto desgaste.

E540 – PINO 60-2 – 20°C

tempo (s)

Coeficie

nte

de a

trito

Page 68: Dissertacao Yordan Final

67

Tem-se um comportamento, quanto ao atrito, sensivelmente idêntico para as ligas

quase-eutéticas e hipereutéticas com 3% e 6%, em peso, de Mo. Isto se deve à

presença, em ambas, de uma matriz ferrítica de ductilidade equivalente às ligas

precedentes (dureza de 411 HV10 ao invés de 395 HV10) figura 25 a e b.

E553 – PINO 64-1 20°C

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

tempo (s)

[a] Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 28% Cr e 3% Mo (matriz ferrítica).

E557 – PINO 65-1 – 20°C

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

tempo (s)

[b] Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 32% Cr e 6% Mo (matriz ferrítica).

Figura 25 – Curvas de atrito para ligas que obtiveram médio desgaste.

Coeficiente de atrito

Coeficiente de atrito

Page 69: Dissertacao Yordan Final

68

Para as ligas de matriz ferrítica com alto teor em Mo (24%Cr-9%Mo, 32%Cr-

9%Mo), todas as suas respectivas curvas de atrito apresentam mudanças de

regime (figura 26). Inicialmente, as curvas têm a mesma evolução quando

comparada as de matriz ferrítica. Depois de algum tempo de ensaio, devido às

acomodações na interface de contato, as variações do atrito diminuem

significativamente em amplitude traduzindo, provavelmente, uma interface mais

cerâmica que ferrítica.

Tais variações de regime poderiam ser explicadas pela microestrutura dessas

ligas. Para essas três composições, a fração volumétrica de matriz é da ordem de

50% e a de carbonetos presentes (M7C3 + M6C), também, é da mesma magnitude.

Quanto maior o tamanho dos carbonetos, mais a mudança de regime se verifica

num tempo de ensaio menor.

É durante o período de atrito sobre a matriz, composta por ferrita, que o desgaste

(dimensional) do pino é importante, pois mostra-se, facilmente, que a cinética de

desgaste é quase nula após a mudança de regime : existe, também, uma

mudança abrupta de inclinação quando a interface se torna mais « cerâmica » que

ferrítica (figura 26-a e b).

a

E546 – PINO 73-2 – 20°C

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

CHANGEMENT DE RÉGIME DE FROTTEMENT

tempo (s)

MUDANÇA DO REGIME DE ATRITO

Coeficiente de atrito

Page 70: Dissertacao Yordan Final

69

b

E531 – PINO 75-1

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

temps (s)

tempo (s)

Figura 26 – Evolução do coeficiente de atrito da liga em função do tempo para uma liga com 24%Cr-9%Mo com uma matriz ferrítica [a] e evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 32% Cr e 9% Mo (matriz ferrítica) [b] e a evolução do desgaste em função do tempo para a liga 24%Cr-9%Mo com matriz ferrítica [c].

E546 PION 73-2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

temps (s)

CHANGEMENT DE RÉGIME DE FROTTEMENT

tempo (s)

Mudança no regime de atrito

c

Coeficiente de atrito

Coeficiente de atrito

E546 PINO 73-2

Page 71: Dissertacao Yordan Final

70

Para as ligas com uma matriz polifásica, geralmente, a curva de atrito não é mais

constante, ao contrário, mostra grandes flutuações durante o ensaio. O valor

médio, nesse caso, do coeficiente de atrito é inferior a 0,7 (figura 27).

PINO 63-2 – 20°C

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000

tempo (s)

Figura 27 - Evolução do coeficiente de atrito em função do tempo para a liga 24% Cr e 3% Mo

(matriz polifásica : Feα+ Feα’ + Fey).

Coeficiente de atrito

Page 72: Dissertacao Yordan Final

71

4.4 ANÁLISE TOPOGRÁFICA DAS LIGAS

A análise topográfica foi realizada nas superfícies de contato de 13 ligas/pinos (corpos),

antes e após os ensaios de desgaste, e nos discos (contra-corpos), apenas após os

ensaios.

O parâmetro aqui discutido é o do desvio médio aritmético da superfície (SA), µm, que,

aqui, foi plotado em relação ao desgaste dimensional, em mm (figura 28). Este índice é

uma combinação entre a rugosidade da superfície e as ondulações geradas após os

ensaios. O gráfico plotado fornece a idéia de severidade para o sistema tribológico

estudado. As ligas que possuem baixo índice Sa, isto é, aquelas situadas à esquerda

do gráfico, possuem também, um baixo desgaste dimensional; sendo essa região,

esquerda, denominada de desgaste suave. Já à direita do gráfico, tem-se a região de

desgaste severo, com altos índices de rugosidade e muitas ondulações, ou seja, alto

Sa.

Tomando-se a média dos valores de (Sa) das ligas na região suave e a media dos

valores na região severa tem-se um índice aqui chamado de grau de severidade. Esse

valor é de 4,5.

Figura 28 – Gráfico do desvio médio da superfície x desgaste

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

0,900

0 10 20 30 40 50 60

Desvio médio aritimético da superfícieRugosidade, Sa (μm)

61

66

71

63

68

73

59

64

74

60

70

65

75

Desgaste dimensional (mm)

Desvio Médio da Superfície x Desgaste

Page 73: Dissertacao Yordan Final

72

A título de ilustração, pode-se observar nas figuras 29 e 30 dois perfis de desgaste

geradas no rugosímetro ótico Altisurf 520 e tratadas as imagens no software Altimap

4.0. O primeiro perfil é de uma liga com alto desgaste; e o segundo, o de uma liga com

desgaste zero.

Na análise da liga com desgaste elevado, figura 29, observa-se que a evolução da

perda de massa no corpo de prova foi maior nas bordas do que no centro do pino

(figura 29b). O motivo para tal, pode ser ao fato de que nas bordas do pino existe maior

energia, ou concentração de tensões. Nesse caso, tanto disco e pino se desgastaram

muito como se observa na figura 29c. A figura 29a mostra a superfície do pino antes do

ensaio.

A liga com um baixo desgaste, ou desgaste zero, possui um comportamento diferente.

Nesse caso, apenas o contra-corpo sofreu deterioramento (figura 30c). O pino sofre

algum abalo nas bordas, esse abalo é pequeníssimo (figura 30b). A figura 30a mostra o

pino antes do ensaio.

É de se salientar também, a diferença entre a massa perdida pelo contra-corpo nas

figuras 29c e 30c. Na liga de maior desgaste, o disco também sofreu uma grande perda

de massa com altura da cratera de aproximadamente 0,552mm. Já, o disco usado

como contra-corpo da liga com menos desgaste, este sofreu, também, perda de massa,

porém, a altura da cratera foi menor, de aproximadamente 0,156mm.

Nos pinos, o comportamento comparativo entre alturas perdidas foi parecido. A altura

medida no pico do pino com maior desgaste é de aproximadamente 0,331mm e na liga

com menor desgaste foi de 0,87mm.

A figura 29a, b e c mostra a liga 28%Cr-0%Mo na forma do pino antes do ensaio, após

o ensaio e do disco após ensaios. Já a figura 30a, b e c mostra a liga 16 %Cr-3%Mo na

forma do pino antes do ensaio, após o ensaio e do disco após ensaios.

Page 74: Dissertacao Yordan Final

73

[a]

[b]

[c]

Figura 29 – Imagem topográfica do pino 28 % Cr-0% Mo antes do ensaio [a] , após o ensaio [b] e do contra-corpo desgastado [c].

Page 75: Dissertacao Yordan Final

74

[a]

[b]

[c]

Figura 30 - Análise topográfica da liga 16 %Cr-3% Mo antes do ensaio [a], após o ensaio [b] e do disco desgastado [c].

Page 76: Dissertacao Yordan Final

75

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES

- A natureza (fásica) da matriz tem uma influência determinante quanto ao

desgaste por deslizamento dos ferros fundidos brancos ao cromo e molibdênio. A

taxa de desgaste é apreciável toda vez que a matriz é composta por ferrita. O

valor médio do coeficiente de atrito é superior a 0,7 e a evolução da curva é

globalmente constante.

- Quando a matriz é polifásica (Feγ + Feα’+ Feα), a taxa de desgaste tende a zero.

O coeficiente de atrito é inferior a 0,7 e a evolução da curva de atrito apresenta

grandes flutuações.

- Os resultados tribológicos apontam que o tamanho e a fração volumétrica de

carbonetos contribuem para a mudança de regime na curva de atrito.

- O tribômetro pino-sobre-disco do CROMeP/EMAC mostrou-se extremamente

sensível e performante para o estudo tribológico dessas ligas complexas.

- Existe uma relação entre taxa desgaste e topografia gerada na superfície

desgastada.

Page 77: Dissertacao Yordan Final

76

CAPÍTULO 6 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Fica de sugestão para futuros trabalhos, a realização de ensaios pino sobre disco nas

ligas estudadas nesta dissertação em trabalho sobre altas temperaturas.

Page 78: Dissertacao Yordan Final

77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 79: Dissertacao Yordan Final

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Page 80: Dissertacao Yordan Final

79

ANEXO A Tabela 3- Tabela com os dados usados para o cálculo do desgaste – apresenta as medições utilizadas para cálculo das taxas de desgaste e o resultado da própria taxas de desgaste.

Pino

Diâmetro

inicial

Diâmetro

Final

Dureza

Vikers

Desgaste

(mm)

Composição

Química % Cr

%

Mo

56-2 2,341 3,578 395 0,6185 16-0 16 0 hypo

56-1 1,924 - 395 16-0 16 0 hypo

61-2 2,1 2,017 469 0 16-3 16 3 hypo

61-1 2,034 2,036 469 0 16-3 16 3 hypo

66-1 1,846 1,821 557 0 16-6 16 6 hypo

66-2 2,238 2,161 557 0 16-6 16 6 hypo

71-1 2,191 2,056 732 0 16-9 16 9 hypo

71-2 2,281 2,202 732 0 16-9 16 9 hypo

58-1 2,206 2,325 531 0,0595 24-0 24 0 hypo

58-2 2,082 2,228 531 0,073 24-0 24 0 hypo

63-2 1,907 1,927 583 0,01 24-3 24 3 hypo

63-1 1,959 1,991 583 0,016 24-3 24 3 hypo

68-1 2,188 2,171 701 0 24-6 24 6 hypo

68-2 1,871 1,882 701 0,0055 24-6 24 6 hypo

73-1 2,231 2,336 511 0,0525 24-9 24 9 hypo

73-2 2,175 2,429 511 0,127 24-9 24 9 hypo

59-1 2,12 3,753 389 0,8165 28-0 28 0 eutec

59-2 2,012 3,658 389 0,823 28-0 28 0 eutec

64-2 1,864 2,97 411 0,553 28-3 28 3 eutec

64-1 2,331 3,565 411 0,617 28-3 28 3 eutec

74-1 2,04 2,061 568 0,0105 28-9 28 9 eutec

74-2 1,962 2,023 568 0,0305 28-9 28 9 eutec

60-2 2,009 3,462 396 0,7265 32-0 32 0 hyper

60-1 2,238 3,805 396 0,7835 32-0 32 0 hyper

65-1 2,22 3,2 412 0,49 32-3 32 3 hyper

70-2 2,286 2,532 523 0,123 32-6 32 6 hyper

70-1 2,344 2,615 523 0,1355 32-6 32 6 hyper

Page 81: Dissertacao Yordan Final

80

75-2 2,216 2,467 595 0,1255 32-9 32 9 hyper

75-1 2,424 2,455 595 0,0155 32-9 32 9 hyper