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Dissertação Educação
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS
CURSO DE MESTRADO EM LETRAS
Relma Lcia Passos de Castro Mudo
A CONSTITUIO DE SUJEITOS E SENTIDOS
EM CONTEXTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA
INGLESA E SEUS REFLEXOS NA PROFISSIONALIZAO
JOO PESSOA PB
2009
Relma Lcia Passos de Castro Mudo
A CONSTITUIO DE SUJEITOS E SENTIDOS
EM CONTEXTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA E SEUS
REFLEXOS NA PROFISSIONALIZAO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras, da Universidade Federal da Paraba, para a obteno do Ttulo de Mestre em Letras, na rea Linguagens e Cultura, na linha de pesquisa Discurso e Cultura.
Orientador: Prof. Dr. Jos Wanderley Alves de Sousa
JOO PESSOA PB
2009
Responsvel pela catalogao: Maria de Ftima dos Santos Alves-CRB -15/149
M945c Mudo, Relma Lcia Passos de Castro. A constituio de sujeitos e sentidos em contextos de ensino-
aprendizagem de lngua inglesa e seus reflexos na profissionalizao/ Relma Lcia Passos de Castro Mudo. Joo Pessoa, 2009.
124f. :il. Orientador: Jos Wanderley Alves de Sousa. Dissertao (Mestrado) UFPb - CCHLA
1. Discurso. 2. Ensino-aprendizagem Lngua inglesa. 3. Sujeito.
UFPb/BC CDU: 82-5(043)
Relma Lcia Passos de Castro Mudo
A CONSTITUIO DE SUJEITOS E SENTIDOS
EM CONTEXTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA E SEUS
REFLEXOS NA PROFISSIONALIZAO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras, da Universidade Federal da Paraba, para a obteno do Ttulo de Mestre em Letras, na rea Linguagens e Cultura, na linha de pesquisa Discurso e Cultura.
Aprovado em _____/_____/2009
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Prof. Dr. Jos Wanderley Alves de Sousa Orientador
PPGL/UFPB
______________________________________________________
Profa. Dra. ris Helena Guedes de Vasconcelos Examinadora
UFCG
______________________________________________________
Profa. Dra. Marli Morais de Lima - Examinadora
UFPB
memria do meu pai, Ruy Jos de Castro, com quem
gostaria de compartilhar este momento.
minha me, Luiza, e s minhas irms, Regina e Dorinha,
sempre presentes na minha vida;
Aos meus filhos Lucas e Alana, razo do meu viver;
A todos os que acreditam no meu trabalho.
COM AMOR, DEDICO.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e fora para enfrentar os desafios.
Ao Prof. Dr. Jos Wanderley Alves de Sousa, pelo interesse, orientao e dedicao sobre o
tema do trabalho.
coordenao e aos professores do Programa de Ps Graduao em Letras da UFPB, que
sempre atenderam, com muita simpatia, aos nossos questionamentos e dvidas.
Aos alunos e colegas Professores de Lngua Inglesa dos Cursos de Secretariado Executivo e
Comrcio Exterior da FACAPE bem como aos representantes da VALEXPORT pelas
informaes cedidas, as quais possibilitaram a realizao da minha pesquisa.
Ao meu esposo Melquades Eugnio Mudo, pelo seu apoio;
Aos meus amigos de Garanhuns, Isabel, Helena, Edilma e Gustavo, companheiros de viagens
e discusses durante o curso.
Ao meu amigo de todas as horas, Wilson Rolim dos Santos, pelos incentivos e orientaes.
minha famlia, pela pacincia e aceitao das minhas ausncias necessrias ocorridas no
perodo deste mestrado.
Todo sistema de educao uma maneira poltica
de manter ou de modificar a apropriao dos
discursos, com os saberes e os poderes que eles
trazem consigo.
(Michel Foucault)
RESUMO Em virtude do alargamento de fronteiras comerciais na regio do Vale do So Francisco, o aumento do nmero de escolas de idiomas na cidade de Petrolina-PE, a globalizao e sua repercusso no processo scio-histrico-cultural e o surgimento de empresas de exportao e importao de produtos e servios na regio, a presente dissertao tem como objetivo investigar a importncia do domnio da Lngua Inglesa e seus efeitos de sentido na prtica profissional junto aos alunos e professores de idiomas dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior da FACAPE no mercado de trabalho no que se refere ao processo de comunicao, seja falado ou escrito. O marco terico centra-se nos pressupostos da Anlise de Discurso, de orientao francesa, que refletem sobre os elementos que movimentam as relaes entre discurso, cultura, histria, sujeito e sentido, como tambm preconiza um quadro terico que os alie Lngua Inglesa e aprendizagem, a fim de que indiquem como o idioma tem influenciado na incluso ou excluso profissional dos sujeitos envolvidos. O corpus discursivo constitudo por um conjunto de sequncias discursivas, obtidas em entrevistas semiestruturadas. Para tanto, foram investigadas as concepes dos alunos e professores no que se referem ao ensino-aprendizagem da Lngua Inglesa e a prtica profissional nos cursos acima citados, bem como as expectativas empregatcias em relao s exigncias do mercado de trabalho de um representante da Empresa VALEXPORT. Cinco alunos dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior, trs professores da FACAPE que lecionam a disciplina Lngua Inglesa e dois representantes da empresa VALEXPORT foram colaboradores da pesquisa. O resultado apreendido prope, para os alunos, contribuies para uma reflexo crtica dos problemas abordados. Assim, ao compreenderem melhor a dinmica da sociedade em que vivem, podero perceber-se como elementos ativos de fora poltica e capacidade de transformar e, at mesmo, viabilizar mudanas estruturais que apontem para um modelo mais justo de sociedade.
PALAVRAS-CHAVES: Discurso. Ensino-aprendizagem da Lngua Inglesa. Sujeito. Sentido.
ABSTRACT
Because of the enlargement of commercial frontiers in the region of So Francisco valley, the crescent number of school idioms in Petrolina-PE city, the globalization and its repercussion in the socio-historical-cultural process and the appearance of exportation and importation companies of products and service in the region, the present dissertation has as objective to investigate the importance of English Language domain in Secretariado Executivo and Comrcio Exterior courses at FACAPE in the work market in reference to communication process, spoken or written one. The theoretic guide is centered in Discourse Analysis presupposes, of French orientation, that reflects about the elements which moves the relations among discourse, culture, history, subject and sense, and also it recommends a theoretic board which align them to the English language and the learning, for indicating how the idiom has influenced in the professional inclusion and exclusion of the involved subjects. The discursive corpus is constituted by a set of discursive sequences, obtained in semi-structured interviews. To this, the students and professors conceptions were investigated which refer to English Language teaching-learning and the professional practice in the courses mentioned above, and also the employment expectations in relation to the work market requirements of a VALEXPORT companys representative. Five students from Secretariado Executivo and Comrcio Exterior Courses, three professors from FACAPE who teach English Language and two employees from VALEXPORT Company contributed to the research. The caught result proposes, to the students, contributions to a critical reflection of the mentioned problems. So, by understanding better the society dynamism where they live, could notice themselves as life elements of political force and transforming capacity, and also make structured changes which point to a fairer society. KEY-WORDS: Discourse. English Language teaching-learning. Subject. Sense.
SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................................ 10
2 NO CERNE DOS ESTUDOS SOBRE A ANLISE DO DISCURSO .............................................................................................................................................15
2.1 UM BREVE OLHAR DESCRITIVO DO PERCURSO DA ANLISE DO DISCURSO
.................................................................................................................................................. 16
2.1.1 Ideologia, sujeito e sentido ...........................................................................................23
3 A CONSTITUIO DE SUJEITOS E SENTIDOS EM CONTEXTOS DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA .................................................................... 29
3.1 A LNGUA INGLESA NO MUNDO E NO BRASIL: RECORTES HISTRICOS
............................................................................................................................................ 35
3.1.1 O lugar da Lngua Inglesa nos Cursos da FACAPE ................................................ 40
3.1.1.1 Petrolina: a vocao para as relaes exteriores com os pases de Lngua Inglesa
.................................................................................................................................................. 42
3.2 A CARACTERIZAO DOS CURSOS DE SECRETARIADO EXECUTIVO E
COMRCIO EXTERIOR ....................................................................................................44
3.2.1 O lugar do Ingls Instrumental nos Cursos de Secretariado Executivo e Comrcio
Exterior da FACAPE ................................................................................................ 47
4 A CONSTITUIO DOS SENTIDOS E SUJEITOS: O QUE REVELAM DOS
DISCURSOS....................................................................................................................... 51
4.1 SUJEITO-ALUNO ........................................................................................................... 54
4.2 SUJEITO-PROFESSOR .................................................................................................. 62
4.3 SUJEITO-EMPRESA ...................................................................................................... 71
5 CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 77
REFERNCIAS..................................................................................................................... 83
ANEXOS................................................................................................................................ 87
10
1 - INTRODUO
Partindo do pressuposto de que aprender uma lngua estrangeira no apenas
desenvolver competncias lingusticas, mas desenvolver o saber, relacionando-o ao dia a dia e
profissionalizao, como tambm que, para que se possa utiliz-la como instrumento de
trabalho, preciso ter um conhecimento mais aprofundado de suas estruturas, vocabulrio e
boa desenvoltura oral e escrita, que nos propusemos a investigar, pelo vis da Anlise do
Discurso de linha francesa, a importncia do domnio da Lngua Inglesa e seus reflexos na
prtica profissional, bem como averiguar at que ponto o idioma tem influenciado para a
incluso ou excluso dos alunos dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior da
Faculdade de Cincias Aplicadas e Sociais de Petrolina FACAPE no mercado de trabalho
no que se refere ao processo de comunicao, seja falado ou escrito. De forma mais
especfica, pretendemos:
Verificar as concepes de alunos e professores sobre o ensino-aprendizagem
da Lngua Inglesa nos Cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior
da FACAPE, observando seus papis na formao de profissionais;
Descrever as transformaes histricas no mundo do trabalho e o novo perfil
de qualificao exigido, gerados por mudanas scio-histrico-culturais e pelo
processo de estruturao da sociedade, mediante a exigncia do domnio da
Lngua Inglesa;
Analisar o papel da Lngua Inglesa como instrumento de comunicao,
interao e trabalho.
A escolha do corpus discursivo desta dissertao de Mestrado est relacionada nossa
prtica de sala de aula. Tal iniciativa surgiu a partir de visitas realizadas s empresas da
cidade pelos alunos da disciplina Lngua Inglesa IV do curso de Secretariado Executivo da
FACAPE, que tinham como objetivo fazer um contraponto entre a teoria vivenciada pela
disciplina em sala de aula e a prtica profissional, os quais revelavam facilidades e
dificuldades de ascenso na empresa em funo do domnio e do no domnio do idioma, seja
falado ou escrito. Em tempo e, ao longo da minha experincia na rea educacional como
professora, pude perceber tambm, por diversas vezes, que a aprendizagem e a prtica da
Lngua Inglesa tm sido concebidas apenas como uma utilizao de metodologias
11
audiovisuais, com seu enfoque sobre a lngua como um cdigo composto por um conjunto
fixo e estvel de regras abstratas e usadas por falantes abstratos e idealizados (SOUZA, 2003
p. 87). E diante desse novo cenrio global, assistimos cada vez mais os alunos em busca de
identidade social e cultural em funo de heranas histricas que marcaram o crescimento do
pas e da regio, como tambm pela introduo da tecnologia administrativa oriunda da era da
industrializao e do processo da globalizao.
Com base nas palavras de Orlandi (2002) de que sujeito e sentido se constituem, ao
mesmo tempo, na articulao da lngua com a histria, em que entram o imaginrio e a
ideologia, buscamos as respostas para as seguintes problematizaes:
At que ponto os estudantes dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio
Exterior da Faculdade de Cincias Aplicadas e Sociais de Petrolina FACAPE
esto preparados para encarar este mercado de crescente necessidade lingstica.
Que fatores contribuem para a incluso ou excluso dos mesmos na prtica
profissional no que se refere ao uso da Lngua Inglesa.
Que representaes os professores, os alunos e as empresas constroem sobre o
ensino-aprendizagem do idioma e sua relao com a prtica.
A Faculdade de Cincias Aplicadas e Sociais de Petrolina FACAPE foi escolhida
para a nossa pesquisa por ser uma faculdade de mdio porte na regio, uma vez que atende
um grande nmero de alunos distribudos em oito cursos: Administrao de Empresas,
Cincias Contbeis, Cincia da Computao, Secretariado Executivo, Economia, Turismo,
Comrcio Exterior e Direito.
Participaram da pesquisa cinco alunos, escolhidos aleatoriamente, dos cursos de
Secretariado Executivo e Comrcio Exterior - ingressantes e concluintes, trs professores da
FACAPE que lecionam a disciplina Lngua Inglesa - sendo dois substitutos e um efetivo, e
um representante da empresa VALEXPORT. A opo pelos nmeros acima citados remete ao
fato de haver, nessa amostra, um quantitativo de depoimentos que contemplam a pesquisa
proposta.
O processo de busca e anlises dos dados foram realizados de forma qualitativa e
descritiva, tendo como referncia os objetivos dessa pesquisa, levando em conta as
12
subjetividades dos sujeitos envolvidos na investigao e o contexto social no qual esto
inseridos.
Nas entrevistas foram investigadas as concepes dos sujeitos acima citados no que se
referem ao ensino-aprendizagem da Lngua Inglesa e prtica profissional. Especificamente,
com o sujeito-professor, buscamos informaes sobre sua formao acadmica, titulao,
tempo de formao, experincia profissional, outras atividades profissionais, metodologia em
sala de aula, recursos utilizados para o ensino, sistema de avaliao e interao com seus
alunos. Com o sujeito-aluno, foram colhidos depoimentos, objetivando a coleta de
informaes sobre dificuldades e receptividade dos mesmos em relao o ensino-
aprendizagem da disciplina e a prtica profissional. J na entrevista com o sujeito-empresa
foram investigados os critrios para a contratao de um Secretrio Executivo e/ou um
bacharel em Comrcio Exterior, as diferenas salariais para quem domina um outro idioma, a
percepo sobre a relao entre teoria e prtica da Lngua Inglesa e o mercado de trabalho,
bem como a concepo do mesmo sobre o processo de globalizao.
Os dados obtidos foram submetidos anlise, realizando operaes de snteses
descritivas que esclaream os novos paradigmas de formao profissional, bem como de
incluso e excluso profissional. Para tanto, utilizamos os pressupostos tericos da Anlise do
Discurso de linha francesa, bem como os gneros discursivos de Bakhtin (2003). Segundo o
autor, os gneros discursivos so como enunciados que se elaboram no interior de cada esfera
da atividade humana e que todas essas esferas, por mais variadas que sejam, esto sempre
relacionadas com o uso da lngua (enunciados orais e escritos), concretos e nicos. Bakhtin
(2003) ressalta, ainda, que existem dois tipos de gneros: o primrio e o secundrio. Para o
autor, os gneros primrios so aqueles que esto ligados s relaes cotidianas e que se
constituem a partir de comunicaes verbais espontneas e mantm uma relao direta com o
dia a dia. J os secundrios so aqueles que surgem a partir de comunicaes culturais mais
desenvolvidas, como: atividades cientficas, artsticas, polticas, educacionais, dentre outras.
Vale ressaltar que, para Bakhtin, tais gneros so interdependentes uma vez que h
constantemente uma passagem do plano secundrio para o primrio e vice-versa. Segundo
Bakhtin (2003 p.264), em qualquer corrente especial de estudo faz-se necessria uma noo
precisa da natureza do enunciado em geral e das particularidades dos diversos tipos de
enunciados (primrios e secundrios), isto , dos diversos gneros do discurso, pois a sua
compreenso de fundamental importncia na locomoo das diversas formas de interao
13
verbal. Nessa perspectiva, o discurso e gneros constituem-se nas estruturas e processos
sociais, ou seja, o discurso deriva das instituies e os gneros das ocasies sociais
convencionais.
O trabalho de pesquisa que aqui apresentamos foi dividido em trs partes abaixo
descritas, o qual foi estruturado de forma a contemplar os objetivos traados, detendo o olhar
sobre a bibliografia especfica para o tema escolhido.
O primeiro captulo apresenta um breve olhar descritivo acerca dos conceitos
constituintes da Anlise do Discurso de orientao francesa. Dentre outros, nossos
pressupostos tericos so os conceitos de discurso, de Anlise de Discurso, suas bases
fundadoras, seus precursores Michel Foucault e Michel Pcheux em suas respectivas fases,
seu processo histrico, inscrio do sujeito na lngua, a ideologia e a constituio de sentidos.
Para tanto, nos apoiamos nos estudos realizados por autores como Foucault (2007, 2008),
Pcheux (1993), Orlandi (2002, 2007), Gregolin (2001, 2007), Veiga-Neto (2005), Brando
(2004), dentre outros que, com seus olhares discursivos, levaram-nos ao fio condutor desta
pesquisa.
O segundo captulo objetiva apresentar uma reviso bibliogrfica sobre a constituio
de sujeitos e sentidos em contextos de ensino-aprendizagem de Lngua Inglesa luz dos
estudos culturais e da profissionalizao, abordando as relaes histricas do idioma com a
educao no mundo e no Brasil, sua invaso no processo de comunicao, a lngua inglesa de
um ponto de vista discursivo, a inscrio do sujeito nessa discursividade, a identidade, bem
como o processo de globalizao e sua relao como idioma. Alm desses pressupostos
tericos, apresentamos um breve olhar sobre a Lngua Inglesa nos cursos de Secretariado
Executivo e Comrcio Exterior da Faculdade de Cincias Aplicadas e Sociais de Petrolina
FACAPE uma vez que os mesmos no propem contrapontos e tm em suas matrizes
curriculares a Lngua Inglesa como disciplinas curricularmente equivalentes, um panorama do
idioma em Petrolina e no vale do So Francisco, a histria da FACAPE e da Associao dos
Produtores e Derivados do Vale do So Francisco - VALEXPORT, bem como uma
abordagem descritiva acerca do Ingls Instrumental na formao de alunos dos Cursos de
Secretariado Executivo e Comrcio Exterior da FACAPE. Os escritos de alguns nomes
relevantes, como Coracini (2003), Veiga-Neto (2005), Almeida Filho (2003, 2007), Bakhtin
(2006), entre outros, enriqueceram a pesquisa e ampliaram o conhecimento sobre os assuntos
tratados.
14
O terceiro e ltimo captulo volta-se para a transcrio das entrevistas dos alunos
ingressantes e concluintes dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior,
professores de Lngua Inglesa da FACAPE e representantes da VALEXPOT, bem como suas
anlises, tendo como referencial as teorias da Anlise do Discurso, a fim de buscar os
elementos que constituem os sujeitos e os sentidos no contexto da profissionalizao. Para a
efetivao destas anlises nos baseamos, mais uma vez, nos pensamentos de Foucault (2008)
Orlandi (2007), Gregolin (2001, 2007), Almeida Filho (2003, 2007), entre outros.
O resultado da nossa pesquisa no pretende ser absoluto, mas prope um re-olhar
sobre a questo do ensino-aprendizagem da Lngua Inglesa e sua prtica profissional. Para
tanto, colocamos olhares discursivos, que propem um (re)pensar sobre a funo do ensino-
aprendizagem da Lngua Inglesa, uma vez que a mesma constitui Sujeitos e Sentidos e se
articula com outros campos do saber, da histria, do imaginrio e da ideologia. Com isso,
esperamos que o resultado deste trabalho possa contribuir para uma maior reflexo sobre o
processo de ensinar e de aprender uma Lngua estrangeira e que professores e alunos
questionem e reconstruam suas prticas profissionais, recuperando os vazios tericos,
propondo superaes e reconstruindo o conhecimento lingstico.
15
2 - NO CERNE DOS ESTUDOS SOBRE A ANLISE DO DISCURSO A Anlise de Discurso (AD) tem seu ponto inicial no fim dos anos 60, na Frana, por
meio de uma integrao filosfica e lingustica, caracterizada no s por uma reorientao
terica da relao entre o lingustico e o extralingstico, como tambm por uma mudana da
postura do observador em face do objeto de pesquisa. Tem como propsito o debate terico e
metodolgico do discurso, ou seja, a linguagem como prtica social. Segundo Orlandi (2007,
p.15) a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento. Ela afirma ainda que com o estudo do discurso observa-se o homem
falando (ibid). No ponto de vista de Brando (2004, p.46) o discurso uma das instncias
em que a materialidade ideolgica se concretiza. O discurso o porta-voz dos
acontecimentos scio-histrico-ideolgico porque ele veiculado pela linguagem, ou seja, o
sujeito concebido como essencialmente histrico, pois sua fala sempre produzida a partir
de um determinado lugar e de um determinado tempo. Nas palavras de Chau (2006):
A histria o real e o real o movimento incessante pelo qual os homens, em condies que nem sempre foram escolhidas por eles, instauram um modo de sociabilidade e procuram fix-lo em instituies determinadas [...]. Alm de procurar fixar seu modo de sociabilidade atravs de instituies determinadas, os homens produzem ideias ou representaes pelas quais procuram explicar e compreender sua prpria vida individual, social, suas relaes com a natureza e com o sobrenatural. (CHAU, 2006, p. 23)
A partir desse ponto de vista, podemos dizer que no devemos tomar a histria apenas como
uma sucesso de acontecimentos, de fatos, nem tampouco como evoluo temporal, mas
como uma forma dos homens, a partir de determinadas condies, criarem os meios e as
formas de sua existncia social, econmica, poltica ou cultural. Segundo Fiorin (1990), a
linguagem cria a imagem do mundo, mas tambm produto social e histrico. O autor diz
ainda que, medida que os sistemas lingsticos vo se constituindo vo ganhando certa
autonomia em relao s formaes ideolgicas, entretanto, o componente semntico do
discurso continua sendo determinado por fatores sociais. Com isso, a formao ideolgica do
sujeito tem como um de seus componentes uma ou vrias formaes discursivas interligadas e
materializadas na/pela linguagem em forma de texto.
16
Para Brando (2004 p.10-11):
O reconhecimento da dualidade constitutiva da linguagem, isto , do seu carter ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas subjetivas e sociais, provoca um deslocamento nos estudos lingsticos at ento balizados pela problemtica colocada pela oposio lngua/fala que imps uma lingustica da lngua. Estudiosos passam a buscar uma compreenso do fenmeno da linguagem no mais centrado apenas na Lngua, sistema ideologicamente neutro, mas num nvel situado fora desse polo da dicotomia saussuriana. E essa instncia da linguagem a do discurso.
Nessa perspectiva, surgem alguns conceitos. Para Fiorin (1990, p. 77), a Anlise do
Discurso vai, medida que estuda os elementos discursivos, montando por inferncia a viso
de mundo dos sujeitos inscritos no discurso. Lucena (2004, p.48) diz que, com o advento da
AD francesa, o discurso passa a ser visto no s como produo lingustica, mas ainda como
produo social, produo do imaginrio. Orlandi (2007) ressalta que a Anlise de Discurso
visa compreenso de como um objeto simblico produz sentidos e que essa compreenso,
por sua vez, implica em explicar como o texto organiza os gestos de interpretao que
relacionam sujeito e sentido. Isto posto, podemos dizer que a articulao da lngua com a
histria, e com ela a materialidade do processo enunciativo que o discurso. Portanto, a
Anlise do Discurso no pretende instituir uma nova lingustica, mas consolidar uma nova
alternativa de anlise, um alargamento terico originado de um olhar diferenciado que se
lana sobre as prticas lingsticas; privilegia em seus estudos a noo de sujeito e de
interdiscursividade, acrescentando s mesmas as noes de histria e de ideologia. E para dar
conta de entendermos o processo de construo da Anlise do Discurso, vejamos os caminhos
percorridos a partir de seus precursores bem como de sua leitura histrica.
2.1 UM BREVE OLHAR DESCRITIVO DO PERCURSO DA ANLISE DO DISCURSO
A AD tem como maiores precursores Foucault e Pcheux que desestabilizaram
certezas sobre a lngua, discurso, sujeito e sentido. Com seus estudos, construram as bases
para que possamos pensar, hoje, nas relaes entre lngua e discurso, na evidncia dos
sentidos, nas articulaes da subjetividade com a alteridade no dilogo, na intertextualidade e
na interdiscursividade.
17
Michel Foucault foi e continua sendo um dos pensadores mais famosos do Sculo XX
e suas obras constituem referncia em diversos segmentos sociais, filosficos, esquerdistas,
tnico-raciais, dentre outros. Pesquisadores desse grande pensador identificam trs fases
histricas do seu pensamento: a arqueologia, a genealogia e a tica. Vale ressaltar que tais
fases no so estanques, mas so, segundo Gregolin (2006), etapas que indicam
predominncias de certos temas, de certas teorizaes. Gregolin (2006, p.53-54) relata
tambm que:
O projeto foucaultiano no tinha como objetivo imediato construir uma teoria do discurso suas temticas sempre foram amplas e envolveram as relaes entre os saberes e os poderes na histria da sociedade ocidental e, inserido em vastas problemticas, sua investigao abriu-se em vrias direes: buscou compreender a transformao histrica dos saberes que possibilitaram o surgimento das cincias humanas na sua fase chamada de arqueolgica; tentou compreender as articulaes entre os saberes e os poderes, na fase denominada de genealgica; investigou a construo histrica das subjetividades, em uma tica e esttica da existncia.
Veiga-Neto (2005), em sua obra Foucault e a Educao, referenda essas fases de
domnios foucaultianos e as chama de ser-saber, ser-poder e ser-consigo. Nas palavras
desse autor, no domnio do ser-saber, Foucault faz uma arqueologia dos sistemas de
procedimentos que tm como finalidade distribuir, fazer circular e regular os enunciados; no
ser-poder, o poder visto como elemento capaz de explicar como os saberes so produzidos
e como nos constitumos na relao entre eles. Diz, ainda, que Foucault no s repensa o
poder como tambm resitua o saber contidos nos discursos, especificamente os das cincias
humanas e os das disciplinas clnicas; e no ser-consigo trata da relao de cada um consigo
prprio com o sexo ou por meio do sexo e de como se constitui e emerge a subjetividade,
ou seja, trata da tica, entendida como a relao de si para consigo.
Nas palavras de Gadelha (2007), em seu artigo na Revista Educao, Foucault tanto
mapeia as estratgias de dominao, regulao e controle que substanciam as sociedades
disciplinares de regulamentao e normalizao, como se esfora para pensar, como podemos
nos lanar em experimentaes ticas de modos outros de subjetivao (de relao a si), que
corporifiquem resistncias s tecnologias polticas de poder, inclusive s que caracterizam as
emergentes sociedades de controle. Em relao educao, o referido autor diz, ainda, que
Foucault mostra que a figura abstrata do Homem somente passou a existir a partir das
relaes de Saber-Poder e que sua objetivao, subjetivao normalizao s foram possveis
18
por meio da disciplinarizao (adestramento, regulao e controle), tornando-o submisso
governabilidade e til ao sistema capitalista. E pela ao de dispositivo da sexualidade,
produzia subjetividades (identidades, personalidades, maneira de agir, pensar e sentir)
enquadrando-o em normalidade ou anormalidade.
J Michel Pcheux, como j foi referendado no incio deste captulo, funda a Anlise
do Discurso por meio de sua obra Anlise Automtica do Discurso, na Frana, no final dos
anos 60 juntamente com o lanamento da revista Langages organizada por Jean Debois.
Maldidier (2003 p.19) relata que Anlise Automtica do Discurso um livro original que
chocou lanando, a sua maneira, questes fundamentais sobre os textos, a leitura, o sentido.
Gregolin (2007) diz que Pcheux constituiu um novo objeto o discurso que diferente de
enunciado e de texto, que pe o lingustico em articulao com a Histria. Acrescenta ainda
que a Anlise visa a apreender esse novo objeto, que ela chama de discurso como processo,
questionando sobre suas condies de produo, a partir do pressuposto de que o discurso
determinado pelos acontecimentos histricos e sociais que o constituem.
Isso posto, podemos dizer que Pcheux coloca em cena o discurso como objeto de
anlise e que esse elemento diferencia-se tanto da lngua, quanto da fala uma vez que o
discurso evoca uma exterioridade ideolgica e social da linguagem. Orlandi (2007, p. 48) diz
que a ideologia aparece como efeitos da relao necessria do sujeito com a lngua e com a
histria para que haja sentido. Diz, tambm, que a ideologia intervm com seu modo de
funcionamento imaginrio. Nessa perspectiva, a funo da ideologia produzir evidncias,
pondo o homem na relao imaginria com suas condies materiais de existncia, ou seja, a
ideologia a condio para a constituio do sujeito e dos sentidos, onde o sujeito
interpelado por ela para que se produza o dizer. Porm, Orlandi (2007) ressalta que nem a
linguagem, nem os sentidos e nem os sujeitos so transparentes, uma vez que os mesmos tm
sua materialidade e se constituem em processos em que lngu, histria e ideologia concorrem
conjuntamente.
Orlandi (2007) destaca, ainda, que a proposta de Pcheux para a Anlise de Discurso
estrutura-se sob trs grandes reas do conhecimento:
1. Uma teoria da linguagem, fundamentada pelos estudos de Saussure, que se firmam
no Estruturalismo A LINGUSTICA: interroga a Lingustica pela historicidade,
que deixada de lado;
19
2. Uma teoria da sociedade, baseada no Materialismo histrico, atravs dos estudos de
Marx, relidos por Althusser O MARXISMO: questiona o materialismo
perguntando pelo simblico;
3. Uma teoria psicanalista, atravs das ideias de Freud, relido por Lacan A
PSICANLISE: demarca da Psicanlise pela forma como, levando em considerao
a historicidade, trabalha a ideologia como materialismo relacionada ao inconsciente
sem ser absorvida por ele.
Ainda mais, a partir dos estudos de Pcheux, possvel delimitarmos, tambm, trs
grandes momentos da AD:
A AD1 (1969-1975) foi pensada como uma explorao terico-metodolgica de uma
noo autodeterminada e encerrada em si. Essa noo resulta de uma posio estruturalista
ps-saussureana e pode ser compreendida como um conjunto de discursos produzidos em um
dado momento. Esses discursos eram considerados como homogneos e fechados em si.
Nessa primeira poca, o sujeito foi tratado como assujeitado, mas com a iluso de ser a fonte
do discurso. Como mostra Gregolin (2006), essa noo de sujeito foi formulada por Pcheux a
partir de suas leituras das teses de Althusser. As teses althusserianas sobre os aparelhos
ideolgicos e o assujeitamento propem um sujeito atravessado pela ideologia e pelo
inconsciente (GREGOLIN, 2006). Dentro desse contexto, Maldidier (2003) afirma que o
famoso artigo de Althusser foi decisivo para Michel Pcheux uma vez que suas reflexes
sobre o discurso o levaram exatamente ao ponto de encontro da lngua com a ideologia.
A lngua natural seria uma base invariante sobre a qual se desdobram os processos
discursivos. O trabalho de anlise, segundo essa proposta, focalizava cada sequncia
lingustica como um pr-requisito para a anlise do corpus. As sequncias lingusticas eram
consideradas neutras. Imputava-se tambm, uma neutralidade sintaxe, considerando que as
mquinas discursivas constituam unidades justapostas com comeo e fim predeterminados.
A AD2 (1975-1980) apresenta a noo de Formao Discursiva tomada de
emprstimo da obra de Michel Foucault em sua obra A Arquelogia do Saber. Nela, Foucault
(2008, p.82) diz que os sistemas de formao no devem ser tomados como blocos de
imobilidades, formas estticas, no so coaes originadas do pensamento dos homens ou de
suas representaes uma vez que esses sistemas residem no prprio discurso. Assim, o autor
ressalta:
20
Por sistema de formao preciso, pois, compreender um feixe de relaes que funcionam como regra: ele prescreve o que deve ser correlacionado em uma prtica discursiva, para que esta se refira a tal ou tal objeto, para que empregue tal ou tal obrigao, para que utilize tal ou tal conceito, para que organize tal ou tal estratgia. Definir em sua individualidade singular um sistema de formao , assim, caracterizar um discurso ou um grupo de enunciados pela singularidade de uma prtica. (FOUCAULT, 2008, p.82-83).
Foucault (2008, p.83) fala, ainda, sobre o papel da formao discursiva:
Uma formao discursiva no desempenha, pois, o papel de uma figura que para o tempo e o congela por dcadas ou sculos: ela determina uma regularidade prpria de processos temporais; coloca o princpio de articulao entre uma srie de acontecimentos discursivos e outras sries de acontecimentos, transformaes, mutaes e processos. No se trata de uma formao temporal, mas de um esquema de correspondncia entre diversas sries temporais.
Orlandi (2007) assegura que a formao discursiva se define como aquilo que numa
formao ideolgica dada - ou seja, a partir de uma posio dada em uma conjuntura scio-
histrica dada - determina o que pode e deve ser dito. Diz ainda que (2007, p.43-44), a partir
da, decorre a compreenso de dois pontos:
A) O discurso se constitui em seus sentidos porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formao discursiva e no outra para ter um sentido e no outro. [...] As formaes discursivas, por sua vez, representam no discurso as formaes ideolgicas. Desse modo, os sentidos sempre so determinados ideologicamente. No h sentido que no o seja. Tudo que dizemos tem, pois, um trao ideolgico em relao a outros traos ideolgicos. E isto no est na essncia das palavras mas na discursividade, isto , na maneira como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos, materializando-se nele. O estudo do discurso explicita a maneira como linguagem e ideologia se articulam, se afetam em sua relao recproca. As formaes discursivas podem ser vistas como regionalizaes do interdiscurso, configuraes especficas dos discursos em suas relaes. O interdiscurso disponibiliza dizeres, determinando, pelo j-dito, aquilo que constitui uma formao discursiva em relao a outra. B) pela referncia formao discursiva que podemos compreender, no funcionamento discursivo, os diferentes sentidos. Palavras iguais podem significar diferentemente porque se inscrevem em formaes discursivas diferentes.
Assim, o discurso se constitui a partir de outros discursos determinado por outros
dizeres, ou seja, pelo interdiscurso. As palavras derivam seus sentidos a partir das Formaes
Discursivas que se inscrevem e a Formao Discursiva constitui-se de outras formaes
discursivas, de elementos que vm de seu exterior, ao que Pcheux denominou de pr-
21
construdo. Nesse momento de formulao terica, aparece tambm no interior das reflexes a
noo de interdiscurso. O interdiscurso designa o espao discursivo e ideolgico no qual se
desenvolvem as formaes discursivas em funo de relaes de dominao, subordinao,
contradio (GREGOLIN, 2001, p.18). Para Orlandi (2007) o interdiscurso significa a relao
do discurso com a multiplicidade de discursos, representa a alteridade (o outro), a
historicidade. Porm, a noo de sujeito discursivo permanece como efeito de assujeitamento
formao discursiva com a qual ele se identifica.
A AD3 (1980) a fase em que se opera a desconstruo da noo de maquinaria
discursiva caracterizada pela heterogeneidade dos discursos e marcada pela noo de
polifonia e de intertextualidade. Estabelece-se o primado terico do outro sobre o mesmo; a
ideia de homogeneidade atribuda noo de condies de produo do discurso
definitivamente abandonada; a ideia de estabilidade banida em funo do reconhecimento
da desestabi1izao das garantias scio-histricas; h o reconhecimento da no neutralidade
da sintaxe; a noo de enunciao passa a ser abordada e as reflexes sobre a heterogeneidade
enunciativa levam discusso sobre o discurso do outro. Enfim, so colocadas vrias
interrogaes sobre o sujeito do discurso, o espao de memria e sobre a Anlise do Discurso
em si, enquanto procedimento de anlise e, at mesmo, sobre a possibilidade de redefinio de
uma poltica da Anlise do Discurso.
Todas essas indagaes, os conceitos acrescentados e os reformulados abriram
caminho para que a formulao terica da Anlise do Discurso tivesse continuidade aps a
morte de Pcheux, em 1983. A partir dos anos 80, portanto, a AD entra em uma nova fase. Os
estudos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin, acerca do dialogismo trazem para o seio da
Anlise de Discurso, a noo de Heterogeneidade Enunciativa. A linguagem no mais
concebida como homognea, mas stio de conflitos de vrias vozes, concordantes ou
discordantes.
O dialogismo, a partir dessa fase, constitui-se como um princpio, que se manifesta no
discurso atravs do interdiscurso, no mbito do inconsciente, que se manifesta no discurso
atravs da polifonia e no texto atravs da intertextualidade. Ele polifnico, uma vez que
portador de vrias vozes enunciativas (CHARAUDEAU e MAINGUENEAU, 2004). Ou
seja, o sujeito deixa de ser visto como voz unitria para ser heterogneo, disperso, plural.
22
A noo de heterogeneidade enunciativa traz para a AD novos questionamentos, novos
rumos, novos olhares. Traz a noo de sujeito NO e DO discurso. Vale salientar a grande
colaborao dos estudos de Benveniste nesta questo da subjetividade na linguagem. Foi ele,
atravs dos estudos sobre pronomes, o primeiro a evidenciar a presena do sujeito na
linguagem, ou melhor, a presena do eu. No entanto, o eu benvenistiano em muito difere
do sujeito da AD, pois um eu localizvel na superfcie textual, o sujeito denominado de
sujeito no discurso, o qual podemos encontrar atravs do uso da primeira pessoa do discurso.
Um eu relacionado a um tu.
O sujeito da AD est inscrito em todo o discurso, mesmo que no seja localizado
atravs de marcas lingusticas, na superfcie textual. o sujeito do discurso, constitutivo da
discursividade. Dentro dessa perspectiva Authier-Revuz (1990) apresenta uma diviso da
heterogeneidade enunciativa:
Heterogeneidade Constitutiva essa constitui o discurso. Est relacionada ao
sujeito do discurso, que mesmo no sendo localizvel na superfcie textual,
est l, uma vez que o discurso seja qual for, produzido por sujeitos histrico
e ideologicamente marcados. A heterogeneidade constitutiva , pois,
constitutiva da linguagem;
Heterogeneidade Mostrada corresponde s possibilidades de localizao de
marcas do outro no discurso, seja atravs de elementos marcados na superfcie
textual (discurso direto, aspas, citao) ou atravs de elementos tidos como
scio-culturais, como a ironia que pode ou no ser percebida, dependendo do
conhecimento prvio do sujeito-leitor. A heterogeneidade mostrada pode estar
relacionada noo de sujeito no discurso.
Reafirmamos, ento, que a AD no trabalha com o texto nele mesmo, mas com o
discurso, com o movimento dos sentidos. A partir desse olhar, o analista preocupa-se com as
condies de produo de cada discurso, com a historicidade, a memria, os equvocos, as
falhas, os esquecimentos e com os silncios constitutivos de sentidos. Essa forma de os
sujeitos produzirem sentidos, em se filiando s formas discursivas que j esto a, faz parte do
jogo discursivo que os sujeitos assumem, ao empregarem a lngua na vida social. As
enunciaes dos sujeitos que, ao enunciarem, esto empenhados em significar os
acontecimentos de sua existncia histrica, so sempre novas, sempre outras, mas somente
so possveis se, em conformidade com as regras de uso da lngua que configuram campos,
23
gneros e tipos discursivos como formulaes discursivas atravs das quais se representam
modos de organizao da sociedade.
Atualmente, a AD se inscreve em uma renovao em nvel internacional. No Brasil, somente
comeou a ter espao a partir da dcada de 80, em funo do fim da ditadura militar. A partir
da, surgiram grandes pesquisadores brasileiros a exemplo de Eni Orlandi e Rosrio Gregolin
que realizam consagrados trabalhos acadmicos. Sua origem difere da Frana, mas tem como
premissa os estudos concebidos por seus precursores. Ferreira (2007) diz que, no incio, a
Anlise do Discurso era criticada pela Lingustica e acusada de no dar importncia lngua
uma vez que a mesma se fixava anlise de discursos polticos. No entanto, esse conceito
mudou em virtude do grande leque de interesse dos objetos que os analistas brasileiros
pesquisam na rea das cincias humanas e sociais. Ferreira (2007) assegura ainda que:
Da matriz francesa ficou, o legado de Michel Pcheux, -a relao de nunca acabar que ganhou desdobramentos e deslocamentos importantes e decisivos para a manuteno ainda hoje desse campo terico com prestgio que desfruta entre ns. (FERREIRA, 2007, p.21)
Nesse sentido, podemos afirmar que a problemtica da discursividade surgida com as
contribuies da Anlise do Discurso prope o entendimento de um plano discursivo que
articula linguagem e sociedade, entremeadas pelo contexto ideolgico e que a AD busca, em
sua essncia, gestos de interpretao considerando o texto como ponto de chegada e de partida
dos sentidos, buscando neste os vrios discursos que do texto fazem morada, no morada fixa,
determinada, mas morada constituda em cada contexto scio-histrico-ideolgico.
2.1.1 Ideologia, sujeito e sentido
Nas palavras de Chau (2006), o termo Ideologia surge pela primeira vez em 1801 no
livro de Destutt de Tracy, que pretendia elaborar uma cincia da gnese das idias, onde seus
seguidores eram chamados por Napoleo Bonaparte de "idelogos" no sentido de
deformadores da realidade. A autora diz que Karl Marx conservou o significado napolenico
do termo e desenvolveu uma teoria da ideologia concebendo-a como uma forma de falsa
conscincia cuja origem histrica ocorre com a emergncia da diviso entre trabalho
intelectual e manual cujas transformaes constituem o solo real da histria real. a partir
deste momento que surge a ideologia, derivada de agentes sociais concretos, ou seja, dos
24
intelectuais, resultado da luta de classes. Aps Marx e Engels, outros pensadores abordaram a
temtica da ideologia, onde alguns mantiveram a concepo original de Marx e outros, como
sinnimo de viso de mundo.
Segundo Althusser (2007), a ideologia materializada nas prticas das instituies e o
discurso, como prtica social, a ideologia materializada. No discurso, a ideologia possui
uma dimenso que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condies de produo,
e que se insere na formao ideolgica; essa dimenso tanto pode transformar como
reproduzir as relaes de dominao. Assim, a ideologia constitutiva dos atos de dizer, se
define como o mecanismo que naturaliza sentidos para o sujeito, tornando-os evidentes,
bvios e naturais. Orlandi (2006) advoga de que, de acordo com a Anlise do Discurso, o
sentido no existe em si, mas determinado pelas posies ideolgicas colocadas em jogo no
processo scio-histrico em que as palavras so produzidas, podemos entender que a
ideologia tem papel relevante para a AD, uma vez que a mesma implica valores, crenas,
hbitos e rituais partilhados numa sociedade e, por serem partilhados, podem gerar certos
efeitos de sentido.
Para Fiorin (1990), ideologia a concepo de mundo que o sujeito tem. Chau (2006)
ressalta que um dos traos fundamentais da ideologia consiste, exatamente, em tomar as ideias
como independentes da realidade histrica e social, de modo a fazer com que tais ideias
expliquem aquela realidade, quando, na verdade, essa realidade que torna compreensveis as
ideias elaboradas. No ponto de vista de Bakhtin (2006) toda palavra carrega um ndice de
valor, que produto das atividades avaliativas que os indivduos realizam apoiados nas
referncias-chaves, isto , na ideologia. Partindo de tais pontos de vistas e considerando a
ideologia uma mediao valorativa, podemos afirmar que os efeitos ideolgicos so os modos
de enunciao, dos temas dos enunciados e das formas de discursividades. O sujeito
interpelado pela ideologia e passa a ocupar um lugar social, visto que no h sujeito sem
ideologia e, nesse processo de constituio do sujeito, a interpelao e o reconhecimento
exercem papel importante no seu funcionamento. Seu reconhecimento se d no momento em
que o sujeito se insere em prticas reguladas pelos aparelhos ideolgicos que regulam essas
relaes, possibilitando captar as relaes de antagonismo, de aliana, de dissimulao, de
absoro que se processam entre diferentes Formaes Discursivas. Althusser (2007, p.85)
relata que a ideologia a representao imaginria que interpela os sujeitos a tomarem um
determinado lugar na sociedade, mas que cria a iluso de liberdade do sujeito. Segundo o
25
autor, a ideologia reproduzida atravs de aparelhos ideolgicos como religioso, o poltico, o
escolar, entre outros, nos quais as classes sociais so organizadas em um todo complexo de
atitudes e representaes. Portanto, sujeito e ideologia so interdependentes, pois este tem sua
posio enunciada e reconhecida por aquela, ao mesmo tempo em que a ideologia necessita
do sujeito para manifestar-se e continuar seu movimento.
Com vistas a analisar o sujeito, Veiga-Neto (2005, p.136) ressalta os trs modos que
transformam os seres humanos em sujeitos, de acordo com o pensamento foucaultiano:
[...] a objetivao de um sujeito no campo dos saberes que ele trabalhou no registro da arqueologia-, a objetivao de um sujeito nas prticas do poder que divide e classifica que ele trabalhou no registro da genealogia e a subjetivao de um indivduo que trabalha e pensa sobre si mesmo que ele trabalhou no registro da tica. Em outras palavras nos tornamos sujeitos pelos modos de investigao, pelas prticas divisrias e pelos modos de transformao que os outros aplicam e que ns aplicamos sobre ns mesmos.
Em outras palavras, podemos dizer que conceituar sujeito no tarefa fcil, uma vez
que o mesmo apresentado como fragmentado, dividido, onde sua subjetividade se manifesta
atravs da formao discursiva que pode ser detectada no discurso, sua voz influenciada
pelo que se espera a partir dessa posio.
Constituindo o discurso um dos aspectos materiais de ideologia do sujeito, Brando
(2004) afirma que o discursivo uma espcie pertencente ao gnero ideolgico, pois, segundo
a autora, a formao ideolgica tem como um de seus componentes bsicos uma ou vrias
formaes discursivas interligadas, o que resulta em dizer que os discursos so governados
por formaes ideolgicas. No existe para a Anlise do Discurso um sentido literal, mas um
sentido dominante, que tomado como natural por efeito ideolgico de evidncia.
Pelo vis da Anlise do Discurso, o sujeito atravessado tanto pela ideologia como
pelo inconsciente, o que produz um sujeito descentrado, ideolgico, atravessado por uma
memria do dizer. Vale destacar que a memria discursiva difere da memria da psicologia,
uma vez que a primeira diz respeito existncia histrica do enunciado e a segunda s
informaes adquiridas ao longo do tempo. Dessa forma, o sujeito do discurso caracterizado
por Pcheux como uma Forma Sujeito. Pcheux (1995) diz que Forma Sujeito caracteriza-se
como realizando a incorporao, dissimulao dos elementos do interdiscurso, ou seja, a
26
unidade (imaginria) do sujeito, sua identidade presente, passado, futuro. O sujeito, ao usar o
seu discurso, alm de marcar seu lugar social e temporal, tambm vem marcado por
formaes discursivas, uma vez que, por meio delas, temos a constituio do sentido e a
identificao do sujeito. por meio dessas formaes discursivas que se pode reconhecer, nos
discursos, o cruzamento de vrios outros discursos e, ao mesmo tempo, a dominncia de um
deles. , tambm, nesses espaos discursivos que se processam o que chamamos de
assujeitamento, ou seja, o condicionamento do sujeito ideologia e ao inconsciente.
Ainda no domnio discursivo, o processo de constituio do sujeito tambm supe um
assujeitamento ordem significante. E esse assujeitamento ao jogo dos significantes se faz na
relao da lngua com a histria. Pensando mais sobre o assujeitamento, vale refletir sobre a
questo da criatividade na lngua. Isso porque no se pode conceber o sujeito produtor do
discurso como um rob programado para dizer. H certa liberdade no mbito da
organizao do discurso, pois, se assim no fosse, estaramos negando linguagem a
possibilidade de criatividade, mas vale lembrar que essa liberdade direcionada por
determinaes scio-histricas.
O objetivo da AD no buscar o que o sujeito quer dizer com seus enunciados, mas o
discurso como efeitos de sentido entre interlocutores, uma vez que ele determinado por suas
condies de produo para significar. De acordo com Orlandi (2007), ao se defrontar com o
texto, materialidade lingustica do discurso, o analista do discurso busca localizar o que o
texto diz e o que no diz, o que o constitui significativamente e que, atravs de recortes da
dessuperficializao, os discursos fazem do texto seu stio. O analista inscreve o texto num
dado campo discursivo, e assim analisa os movimentos de sentidos, os gestos de
interpretao, busca as formaes discursivas e suas respectivas formaes ideolgicas.
Podemos, pois, dizer que, enquanto as formaes ideolgicas determinam o que
somos, as formaes discursivas ditam o que dizer, ou seja, regulam os dizeres possveis em
uma dada sociedade e a lngua a base de realizao dos efeitos de sentido que o discurso
manifesta; a condio primeira da possibilidade de processos discursivos. Na viso de
Orlandi (2007), todo dizer, na realidade, encontra-se na confluncia dos dois eixos: o da
memria (constituio) e o da atualidade (formulao) e que desse jogo que tiram seus
sentidos. Ressalta, ainda, que preciso no confundir interdiscurso com intertexto uma vez
que ambos mobilizam o que denominamos relao de sentido. Para ela, o interdiscurso da
27
ordem do saber discursivo, memria afetada pelo esquecimento, ao longo do dizer, j o
intertexto restringe-se s relaes de um texto com outros textos. Segundo Orlandi:
Sujeito e sentido se constituem, ao mesmo tempo, na articulao da lngua com a histria, em que entram o imaginrio e a ideologia. Se, na psicanlise, temos a afirmao de que o inconsciente estruturado como linguagem, na Anlise do Discurso considera-se que o discurso materializa a ideologia, constituindo-se no lugar terico em que se pode observar a relao da lngua com a ideologia. (ORLANDI, 2002, p.66)
Essa inscrio do sujeito na lngua nos leva a uma produo de sentidos que se
encontra inscrita na rede de significantes, sofrendo os efeitos da tenso constitutiva do
funcionamento da linguagem entre a parfrase e a polissemia. Segundo Orlandi (2007), a
parfrase representa o retorno aos mesmos espaos do dizer, produzem-se diferentes
formulaes do mesmo dizer sedimentado; est do lado da estabilizao. J, na polissemia, o
que temos deslocamento, ruptura de processos de significao; a mesma joga com o
equvoco. Partindo desse ponto de vista, podemos afirmar que as palavras mudam de sentido a
partir das posies dos sujeitos que a empregam, onde as representaes verbais vinculam-se
entre si em funo dos processos de reformulao parafrstica inerentes s formaes
discursivas. E, como efeito de sentido, essas representaes produzem uma consistncia
imaginria para o sujeito.
O sentido constitudo pela interao entre os sujeitos, visto que regulado
socialmente, de maneira que uma mesma expresso ou gestos podem produzir sentidos
diferentes, a depender de quem enuncia e/ou da posio que o sujeito ocupa, uma vez que o
sentido no se depreende da materialidade discursiva, mas de uma srie de relaes a serem
estabelecidas entre o enunciado, o enunciador e o contexto que envolve a enunciao.
Para a AD, o discurso uma prtica, uma ao do sujeito sobre o mundo, marcando
posies e/ou selecionando sentidos; revela aquilo que constitui o cerne das aes e
representaes humanas. Em funo disso, deve ser visto de forma contextualizada como um
acontecimento, uma vez que gera interpretao, constri uma vontade de verdade e produz um
recorte da realidade scio-histrica-ideolgica quando se pe algo em evidncia. Por outro
lado, no momento em que essa realidade no abordada na sua totalidade, , apenas,
compreendida por partes, o que significa admitir que o discurso tambm , muitas vezes,
elaborado por lacunas, por aquilo que ele no diz, pelos aspectos sobre os quais silencia ou
28
apaga e, consequentemente a isso, a ideologia vai funcionar como reprodutora das relaes de
produo.
29
3 - A CONSTITUIO DE SUJEITOS E SENTIDOS EM CONTEXTOS
DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA
H quem diga no gostar de ingls e no saber nada dessa lngua. Entretanto, sua
presena notria no cotidiano brasileiro, uma vez que lemos, ouvimos, falamos ou at
escrevemos palavras e expresses sem nunca ter estudado o idioma. Segundo Steinberg
(2003, p.11), uma lngua reflete uma sociedade que dela se utiliza como meio de
comunicao. Assim, podemos afirmar que o sentido apreendido de uma lngua homologado
pela/na cultura, uma vez que os sujeitos envolvidos sofrem influncias e so influenciados por
diversos fatores externos (vale ressaltar que os sujeitos a quem nos referimos so os alunos
dos cursos de Secretariado Executivo e Comrcio Exterior da Faculdade de Cincias
Aplicadas e Sociais de Petrolina FACAPE). Esses sujeitos passam, tambm, por um
processo de transformao scio-histrica onde o conhecimento no apenas a acumulao
de teorias, mas a busca de certo domnio sobre o que abrangido e esse processo de
mundializao adentra em nossas vidas locais e transformam a maneira como a gente v o
mundo (Jovchelovich, 2001, p.46).
Essas reflexes sobre o sujeito e a aprendizagem de lnguas nos levam a problematizar
a questo da identidade. Para tanto, Coracini (2003) ressalta que, quando se fala de busca da
identidade, pretende-se encontrar caractersticas capazes de definir o indivduo ou o grupo
social por aquilo que ele tem de diferente com relao aos demais indivduos. No entanto, o
domnio do idioma no comum a todos os sujeitos. Sobre o assunto Coracini (2003, p. 151),
considera que:
Embora o desejo identitrio do sujeito procure a todo o preo a sua individualidade, esse desejo, recalcado, depara-se com a presena do outro, ou melhor dizendo, de outros: todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, tiveram e tm participao na sua formao, atravs de atitudes, textos (orais ou escritos), memria discursiva (valores, esteretipos, que so herdados...). So esses fragmentos que Bakhtin (1929/1978) denomina polifonia, pluralidade de vozes constitutivas da linguagem e do sujeito.
30
A identidade vista como um processo, em movimento e o ensino-aprendizagem de
uma lngua estrangeira como um processo complexo, uma vez que o discurso construdo por
algum que fala, por um enunciado que se pretende legtimo, abafando outras vozes. Essa
enunciao, que se faz como independente do objeto e de suas condies de existncia
manifesta a exterioridade ou relato do objeto segundo um modelo discursivo marcado pela
seleo, incluso ou excluso de fatos.
No tocante memria, vale destacar seu papel como elemento constituinte do
sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, uma vez que a identidade
construda a partir de um fenmeno que se produz em referncia aos outros, observando os
critrios de aceitabilidade e credibilidade. No ponto de vista Meihy (2005, p.63), memria so
lembranas organizadas segundo uma lgica subjetiva que seleciona e articula elementos que
nem sempre correspondem aos fatos concretos, objetivos e materiais. Com relao memria
discursiva, Brando (2004, p.95) ressalta que ela que torna possvel a toda formao
discursiva fazer circular formulaes anteriores, j enunciadas. Diz, tambm, que essa noo
implica o estatuto histrico do enunciado inserido nas prticas discursivas reguladas pelos
aparelhos ideolgicos de Estado. Assim, podemos afirmar que a memria da Lngua Inglesa
construda a partir de uma herana de identidade cultural. Nesse sentido, Meihy (2005, p.70)
tambm define memria cultural como o conjunto das manifestaes de grupos que guardam
vises articuladas sobre si e sobre o mundo segundo critrios que do sentido e unidade ao
conjunto.
Nesse processo, a lngua inglesa adquire sua importncia ao enraizar-se na cultura
brasileira e no cotidiano dos sujeitos. Agra (2004, p. 27) diz que todo e qualquer processo
de enunciao, do mais simples ao mais complexo, representa apenas uma pequena
parte de uma cadeia de comunicao, que evolui continuamente em variadas direes a
partir de um determinado grupo social. J Fiorin (1990, p.72) advoga que a lngua em si
no um fenmeno que tenha um carter de classe, uma vez que ela existia nas sociedades
sem classes, existe nas formaes sociais com classe e continuar existindo quando as classes
forem abolidas.
Partindo desses pressupostos, podemos dizer que a Lngua Inglesa no somente
instrumento de comunicao ou mesmo de conhecimento, mas um instrumento de poder.
Moita Lopes (2005, p.54) acrescenta:
31
Tendo em vista o papel que representa na construo da nova ordem mundial, a lngua inglesa um instrumento essencial para operar no novo capitalismo, inclusive para ter acesso a modos contemporneos de produo de conhecimento, ou seja, em rede. Mas tambm um instrumento fundamental para construir futuros mais promissores ao se aprender em sala de aula como o discurso funciona na vida atual, ao mesmo tempo em que se compreende como os discursos veiculados nessa lngua do acesso multiplicidade da vida humana em vrias partes do mundo de modo que possamos nos questionar sobre quem somos, sobre como somos construdos e sobre como podemos reconstruir prticas sociais cristalizadas com base em princpios ticos.
Pensando mais sobre a relao saber-poder, Veiga-Neto (2005) diz que Foucault, ao
estudar as articulaes entre poder e saber, descobriu que os saberes se constituem com base
em uma vontade de poder e acabam funcionando como correias transmissoras do prprio
poder que a servem e que ambos se articulam com a produo, num corpo, que poltico.
Acrescenta, ainda, que o poder se manifesta como resultado que cada um tem de atuar sobre a
ao de outros, de govern-los. Com relao vontade de poder, o autor aponta que no
subjetiva, neutra, mas intencional; que se produzem e se estabelecem nos jogos das prticas
concretas, buscando satisfazer interesses e que acabam conferindo legitimidades. Relata,
ainda, que Foucault aproxima saber e poder como dois lados de um mesmo processo.
As relaes de fora constituem o poder, ao passo que as relaes de forma constituem o saber, mas aquele tem o primado sobre este. O poder se d numa relao flutuante [...], o poder fugaz, evanescente, singular, pontual. O saber, bem ao contrrio, se estabelece e se sustenta nas matrias/contedos e em elementos formais que lhe so exteriores: luz e linguagem, olhar e fala. bem por isso que o saber apreensvel, ensinvel, domesticvel, volumoso. E poder e saber se entrecruzam no sujeito [...] pelo discurso [...].(VEIGA-NETO, 2005, p.157)
A democratizao do acesso e o conhecimento de uma lngua estrangeira est,
tambm, intrinsecamente ligada ao tema da diversidade cultural, que vem adquirindo
crescente importncia atualmente. Em torno da mesma, esto presentes: ideologias, tradies,
conceitos polticos e sociais, que podem influenciar de forma positiva ou negativa indivduos
de outras naes, dependendo da forma que esses se posicionem diante das informaes que
lhes so apresentadas. De acordo com Santos, J. (2004), cultura uma construo histrica,
seja como concepo, seja como dimenso do processo social, no algo natural, nem
uma decorrncia de leis fsicas ou biolgicas. um produto coletivo da vida humana. O
autor diz, ainda, que as vrias maneiras de entender o que cultura derivam de um conjunto
comum de preocupaes, que podemos localizar em duas concepes bsicas: uma preocupa-
32
se com todos os aspectos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo
que caracteriza a existncia social de um povo ou nao, ou de grupos no interior de uma
sociedade; a outra, que quando falamos em cultura estamos nos referindo mais
especificamente ao conhecimento, s ideias e crenas de um povo.
Essas caractersticas culturais esto embutidas nos relacionamentos histricos de
poder e autoridade, que garantem o status social, profissional, poltico e pedaggico dos
sujeitos envolvidos. Santos, J. (2004) comenta, tambm, que as preocupaes com a cultura
surgiram associadas tanto ao progresso da sociedade e do conhecimento quanto das novas
formas de dominao. Correlacionando com as ideias de Veiga-Neto (2005) sobre a questo
do saber-poder, Santos, J. (2004) fala que o conhecimento no s o contedo bsico das
concepes da cultura; mas tambm as prprias preocupaes com cultura so instrumentos
de conhecimento, respondem a necessidades de conhecimento da sociedade, as quais se
desenvolveram claramente associadas com relaes de poder. Na sequncia, o autor afirma
que existe relao entre linguagem e cultura e que isso pode justificar um idioma ser usado
como forma de dominao de uma cultura sobre outra. Bakhtin (2006) conceitua a palavra
estrangeira e tambm a relaciona ao poder.
[...] Esse grandioso papel organizador da palavra estrangeira palavra que transporta consigo foras e estruturas estrangeiras e que algumas vezes encontrada por um jovem povo conquistador no territrio invadido de uma cultura antiga e poderosa (cultura que, ento, escraviza, por assim dizer, do seu tmulo, a conscincia ideolgica do povo invasor) fez com que, na conscincia histrica dos povos, a palavra estrangeira se fundisse com a ideia de poder, de fora, de santidade, de verdade, e obrigou a reflexo lingustica a voltar-se de maneira privilegiada para seu estudo. E, no entanto, a filosofia da linguagem e a lingustica at hoje ainda no se conscientizaram do imenso papel ideolgico da palavra estrangeira. (BAKHTIN, 2006, p.102-103)
Assim, por trs de uma lngua estrangeira, existe uma cultura, um modo de vida, que
, inevitavelmente, transmitido e, em certos aspectos, anexados por outros povos.
Poderamos, pois, falar de enraizamento da Lngua Inglesa nas prticas culturais de outros
povos? Segundo Bosi (1996), o enraizamento algo que vem automaticamente do lugar, do
nascimento, da profisso, do ambiente e que tem como ponto fundamental a valorizao
identitria do modo de vida social e cultural. Assim, podemos dizer que o enraizamento no
nico, uma vez que sofre influncias e influenciado por diversos fatores externos como o
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espiritual, moral, intelectual e cultural, os quais so necessrios para o desenvolvimento
humano, local e social. Nesse sentido, a tradio cultural e a importncia comercial do Reino
Unido, assim como a posio econmica dos Estados Unidos no cenrio mundial
constituram a memria institucional da Lngua Inglesa, consolidando-a como um dos
idiomas mais falados e a principal lngua para os contatos internacionais, a qual pertence a
um dos ramos das lnguas indo-europias, o germnico ocidental.
Em meio a essa memria construda, temos a ratificao do enraizamento do idioma
atravs da atual constituio da organizao da sociedade brasileira, que tem propiciado o
aparecimento de inmeros cursos livres, bem como a obrigatoriedade do idioma nas escolas e
nas universidades. No entanto, esse enraizamento tem gerado uma dicotomia: de um lado,
tem valor negativo, quando existe uma relao poltica, econmica e cultural com o pas de
origem da lngua, que pressupe superioridade estrangeira e uma consequente gerao de
complexo de inferioridade nacional; do outro, valor positivo, no momento em que contribui
para superar essa relao, constituindo uma viso intercultural, a qual equilibra a valorao
das mais diversas culturas.
A Lngua Inglesa, de um ponto de vista discursivo, no pode apenas representar algo
j dado, sendo parte de uma construo social que rompe com a iluso de naturalidade entre
os limites do lingustico e os do extralingustico. Trata-se de uma transdisciplinaridade com
um foco especfico sobre a relao entre o mundo social e a linguagem. nesse contexto que
Orlandi (2007, p.60) destaca que os sentidos e os sujeitos se constituem em processos em
que h transferncias, jogos simblicos dos quais no temos o controle e nos quais o
equvoco - o trabalho da ideologia e do inconsciente esto largamente presentes. Podemos,
pois, afirmar que o indivduo tem a necessidade de, pelo uso da linguagem, entender e ser
entendido, uma vez que, no momento em que um sujeito aprende um novo idioma, abre-se
um caminho de diferenas scio-histrico-culturais onde cada um tem seus valores, e, por
conseguinte, sua linguagem e sua forma de expresso.
Ao entrar em contato com a lngua inglesa, o sujeito-aluno inscreve-se em uma nova
discursividade, o que provoca deslocamentos na sua subjetividade e, consequentemente,
apropria-se uma nova interpretao do mundo em que vive. possvel afirmar, tambm, que
lngua, cultura e histria so cacos de um mesmo vitral, cujos matizes revelam que o domnio
sobre lnguas estrangeiras representa mais do que uma simples habilidade lingustica:
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representa aptido multicultural, bem como versatilidade de estruturar o pensamento por
diferentes vias e de interpretar realidades sob diferentes ticas.
Quanto profissionalizao, qualidade, globalizao e atualizao so preocupaes
constantes para quem pretende conquistar e manter elevada a empregabilidade onde diferentes
fatores devem ser levados em considerao. Segundo Carvalho e Grisson (2002, p.190)
A empregabilidade pode ser analisada como sendo uma caracterstica que espelha conhecimentos, habilidades e capacidades individuais. Em outras palavras, a empregabilidade definida pela utilidade dos valores culturais, morais e intelectuais que cada indivduo dispe para promover sua sobrevivncia. Desta forma, quanto maior seu nvel de conhecimentos, maiores sero suas possibilidades de se ajustar e se adaptar a evoluo tcnico-cientfica de um mundo globalizado.
Globalizao um neologismo usado como um dos processos de aprofundamento de
integrao econmica, social, cultural e poltica ocorrida em quase todos os pases do mundo
no final do suculo XX incio do sculo XXI gerada pela necessidade da dinmica do
capitalismo de expandir seus mercados. Segundo Magnoli (2004), um processo de
integrao mundial, impulsionado por fluxos de mercadorias, capitais e informaes. Partindo
desse ponto de vista, podemos dizer que esse processo afeta todas as reas da sociedade,
principalmente a comunicao, o comrcio internacional e a liberdade de movimentao, com
diferente intensidade dependendo do nvel de desenvolvimento e integrao das naes
envolvidas.
No discurso postulado pelo processo da globalizao, para o sujeito ser cidado
globalizado, faz-se necessrio dominar uma lngua estrangeira. Sobre o assunto, Bolognini
(2003, p.192) assegura:
Ao falar em lngua estrangeira, o sujeito est se posicionando dentro de uma histria, de uma cultura estrangeira. E mesmo que a sua proficincia seja considerada boa pelos padres tradicionais de avaliao, a sua relao com essa lngua a de um estrangeiro. Ou seja, a relao a daquele que no tem a mesma intimidade com a histria, com a cultura que um falante nativo tem. E isso o coloca em uma posio menos privilegiada em relao a seu interlocutor, falante nativo, plenamente interpelado pela histria e cultura de sua lngua materna.
Partindo desse ponto de vista, os sujeitos-alunos tm de se preparar para o desafio da
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exigncia do mercado. A necessidade do domnio de uma lngua estrangeira faz tambm com
que esses sujeitos-alunos tenham uma viso da linguagem. Brando (2004, p.8) diz que essa
viso da linguagem como interao social, em que o Outro desempenha papel fundamental na
constituio do significado integra todo ato de enunciao individual num contexto mais
amplo, revelando as relaes intrnsecas entre o lingustico e o social. Brando (ibid) tambm
assegura que atravs de cada ato de enunciao, se realiza a intersubjetividade humana, o
processo de interao verbal passa a constituir, no bojo de sua teoria, uma realidade fun-
damental da lngua.
Dentro dessa perspectiva, entendemos, ento, que, medida que as vozes dos sujeitos
entram em contato com outras vozes, nas situaes de comunicao de que participam, esses
futuros profissionais constroem e reconstroem seus conhecimentos, suas concepes sobre a
natureza social da linguagem e da aprendizagem e, em ltima anlise, constroem e
reconstroem a si prprios como profissionais.
3.1 - A LNGUA INGLESA NO MUNDO E NO BRASIL: RECORTES HISTRICOS
As transformaes, impulsionadas pelas novas tecnologias de comunicao, bem
como pela globalizao, tornaram-se notrias nas necessidades de aperfeioamento e
especializao no mercado de trabalho, que, a cada ano, esto extremamente ligadas rea
educacional, fazendo com que as pessoas busquem, alm da formao bsica, domnio de uma
ou mais lnguas estrangeiras e como ocorre em outras reas da cincia, o estudo da linguagem
tem sido afetado pelas inconsistncias e hesitaes originadas na pretenso filosfica de que o
conhecimento deva ser justificado racionalmente. Assim, h muito tempo, teorias tm sido
propostas a respeito da origem e da natureza da Lngua Inglesa.
Nessa perspectiva, o discurso do ingls como lngua internacional postula sua
disseminao positiva no mundo inteiro. Segundo Lacoste (2005),
[...] de algumas dcadas para c, o ingls tambm se propaga no plano mundial como a lngua da globalizao, bem como a lngua da Unio Europia, que engloba cerca de trinta Estados de lnguas diferentes e que tem necessidade de uma lngua comum, ao menos em meio s categorias sociais mais "globalizadas" de sua populao. (LACOSTE, 2005, p.8)
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Paiva (1996), fazendo uso das palavras do jornalista Ventura, diz que o Ingls uma
epidemia que contamina 750 milhes de pessoas no planeta e que essa lngua sem fronteiras
est na metade dos 10.000 jornais do mundo, em mais de 80% dos trabalhos cientficos e no
jargo de inmeras profisses, como a informtica, a economia e a publicidade. Ao assumir
esse papel de lngua global, a Lngua Inglesa torna-se uma das mais importantes ferramentas,
tanto acadmicas quanto profissionais e hoje, inquestionavelmente, reconhecido como a
lngua mais importante a ser adquirida na atual comunidade internacional. Partindo dessa
premissa, verificamos que essa influncia vem de longa data. Almeida Filho (2003 p.21) diz
que:
Historicamente, o ensino de lnguas aps 1930 deu-se majoritariamente como oferta do currculo escolar regular, mesmo que, sob desencontrada legislao e desatenta superviso das autoridades de ensino e, no ensino superior desde ento nos cursos de licenciatura formadores de professores de lngua. Depois dos anos 1960 essa formao passou a se dar tambm em universidades confessionais em regime de pago, e nos anos 1980 e 1990 nas inmeras faculdades, centros universitrios e universidades particulares que brotaram por todo territrio nacional.
Nas relaes cotidianas, no h como no sentir que as tecnologias transformam o
modo de viver da maioria das pessoas e, sem perceber, o mundo tecnolgico invade as nossas
vidas e ajuda a viver com as necessidades e exigncias da atualidade. E, em decorrncia e
paralelamente a esse domnio comercial e tecnolgico, a cultura estrangeira chega ao nosso
dia a dia por meio do cinema, da msica, dos programas de televiso, lazer, esportes,
alimentao e, principalmente, atravs da informtica, onde grande parte de toda essa
comunicao armazenada nos computadores do mundo est em Lngua Inglesa. Verificamos
tambm que, depois do Portugus, o ingls a lngua mais ouvida, lida e falada no Brasil,
embora sejamos cercados de pases de lngua espanhola e convivendo com imigrantes de
vrias nacionalidades, cujas falas a maioria dos brasileiros tm dificuldade at mesmo de
identificar a origem. Segundo Martinet (1978), as palavras de uma lngua no tm
equivalentes exatos noutras, o que, naturalmente, acompanha a variedade dos dados da
experincia.
Uma lngua um instrumento de comunicao em que, de modo varivel de
comunidade para comunidade, analisa-se a experincia humana em unidades providas de
contedo semntico e de expresso fnica. Saber uma lngua no apenas uma questo
relacionada ao acmulo de informaes sobre as estruturas lingusticas e o vocabulrio, mas
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tambm criar novos enunciados a partir das conexes e do gerenciamento de interaes orais
e escritas.
Essa mediao cultural se constitui a partir da participao de outros no processo,
onde os sujeitos envolvidos discutem, ampliam, e (re)constroem processos de significao,
viabilizando a ocorrncia das interaes sociais e, principalmente, mediando as operaes
abstratas do pensamento. Na viso de Brando (2004) A linguagem enquanto discurso no constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicao ou suporte de pensamento; a linguagem enquanto discurso interao, e um modo de produo social; ela no neutra, inocente e nem natural, por isso o lugar privilegiado de manifestao da ideologia. (BRANDO, 2004, p. 11)
Na perspectiva bakhtiniana (BAKHTIN, 2006), a linguagem entendida como um
fenmeno social e histrico e, em funo disso, ideolgico. vista como tendo papel crucial
na construo do homem como ser social. Diz, ainda, que, medida que as vozes dos
interagentes de cada situao de comunicao verbal entram em contato constroem,
reconstroem, ou traduzem em sentidos os significados que esto sendo negociados, sua
conscincia, seu conhecimento do mundo, e, em ltima anlise, eles prprios se completam e
se constroem continuamente, nas suas prticas discursivas e nas dos outros. Bakhtin v o
sujeito imbricado em seu meio social, sendo permeado e constitudo pelos discursos que o
circundam. Para o autor, a linguagem tambm vista como uma arena de conflitos,
inseparvel da questo do poder; cada signo materialmente constitudo no sentido de ser
produzido dialogicamente no contexto de todos os outros signos sociais.
Partindo desse ponto de vista, podemos afirmar que a unidade bsica de anlise
lingstica o enunciado, ou seja, elementos lingsticos produzidos em contextos sociais
reais e concretos como participantes de uma dinmica comunicativa, onde o sujeito se
constitui ouvindo e assimilando os discursos do outro, fazendo com que esses discursos sejam
processados de forma que se tornem, parcialmente, as palavras do sujeito e, parcialmente, as
palavras do outro. Esse fenmeno Bakhtin chama de dialogismo. Por outro lado, o que
acontece com o indivduo enquanto ser social acontece tambm com a comunidade; ou seja,
assim como um indivduo, a comunidade tambm se constitui em arena de conflito de
discursos concorrentes, e esse fenmeno Bakhtin chama de polifonia. Segundo esses
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conceitos, cada lngua e cada indivduo so formados por variantes conflitantes sujeitas
questo do poder.
Retomando o sentido da palavra estrangeira, Bakhtin (2006) diz que foi, efetivamente,
o veculo da civilizao, da cultura, da religio e da organizao poltica e descreve oito
categorias provenientes da mesma, que serviram de base ao objetivismo abstrato. Vamos
resumir abaixo essas categorias.
1. Nas formas lingusticas, o fator normativo e estvel prevalece sobre o carter
mutvel: a construo de um sistema de formas submetidas a uma norma uma
etapa indispensvel e importante no processo de deciframento e de transmisso de
uma lngua estrangeira.
2. O abstrato prevalece sobre o concreto: a concretizao da palavra s possvel
com a incluso dessa palavra no contexto histrico real de sua realizao primitiva.
3. O sistemtico abstrato prevalece sobre a verdade histrica: nesse ponto, o
formalismo e o sistematismo constituem os traos tpicos de toda reflexo que se
exerce sobre um objeto acabado, ou melhor, o pensamento alheio habitualmente,
se no exclusivamente, sistematizado.
4. As formas dos elementos prevalecem sobre as do conjunto: a lingustica est
voltada para o estudo da enunciao monolgica isolada onde seu alcance mximo
a frase complexa (o perodo). Existe um abismo entre a sintaxe e os problemas de
composio do discurso, pois as formas que constituem uma enunciao completa
s podem ser percebidas e compreendidas quando relacionadas com outras
enunciaes completas pertencentes a um nico e mesmo domnio ideolgico.
5. A reificao do elemento lingustico isolado substitui a dinmica da fala: a
enunciao como um todo para a lingustica, apenas subsistem os elementos do
sistema, isto , as formas lingusticas isoladas. Assim, a histria da lngua torna-se
a histria das formas lingusticas separadas (fontica, morfologia, etc.) que se
desenvolvem independentemente do sistema como um todo e sem qualquer
referncia enunciao concreta.
6. Univocidade da palavra mais do que polissemia e plurivalncia vivas: o sentido da
palavra totalmente determinado por seu contexto. No entanto, h tantas
significaes possveis quantos contextos, mas, nem por isso, a palavra deixa de
ser una. Ela no se desagrega em tantas palavras quantos forem os contextos nos
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quais ela pode se inserir. Essa unicidade da palavra no somente assegurada pela
unicidade de sua composio fontica; h tambm uma unicidade inerente a todas
as suas significaes. Toda enunciao efetiva, seja qual for a sua forma, contm
sempre, com maior ou menor nitidez, a indicao de um acordo ou de um
desacordo com alguma coisa. Os contextos no esto simplesmente justapostos,
como se fossem indiferentes uns aos outros; encontram-se numa situao de
interao e de conflito tenso e ininterrupto.
7. Representao da linguagem como um produto acabado, que se transmite de
gerao a gerao: a lngua no se transmite; ela dura e perdura sob a forma de um
processo evolutivo contnuo. Os indivduos no recebem a lngua pronta para ser
usada, pois somente quando mergulham nessa corrente que sua conscincia
desperta e comea a operar. apenas no processo de aquisio de uma lngua
estrangeira que a conscincia j constituda, graas lngua materna, confronta-se
com uma lngua toda pronta, que s lhe resta assimilar.
8. Incapacidade de compreender o processo gerativo interno da lngua: para a
conscincia do locutor, a lngua existe como sistema de formas sujeitas a normas,
s para o historiador que ela existe como processo evolutivo. O que exclui a
possibilidade de associao ativa da conscincia do locutor com o processo de
evoluo histrica.
Assim, podemos assegurar, mais uma vez, que a aprendizagem de uma lngua
estrangeira est intrinsecamente ligada ao tema da diversidade cultural que vem adquirindo
crescente importncia na atualidade, cuja aprendizagem passa a ser uma experincia
completamente nova e que a Lngua Inglesa, de um ponto de vista discursivo, no pode
apenas representar algo j dado, uma vez que a linguagem constitui um elemento essencial de
toda cultura, pois possibilita a transmisso oral ou escrita do passado de um sujeito ou de uma
coletividade construda a partir de experincias pessoais, experincias dos outros, por
discursos j constitudos ou a serem construdos pelos que o cercam.
Nessa direo, vale ressaltar que a aprendizagem de uma lngua estrangeira no um
sistema vazio de sentido, visto que ela traz consigo, revelia do aprendiz, uma carga
ideolgica que o coloca em conflito permanente com a ideologia da lngua materna. Nesse
processo esto em jogo valores, smbolos e imagens da lngua materna onde as representaes
que habitam o imaginrio do sujeito so reveladoras de identidade. pela enunciao que o
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sentido novo pode surgir, uma vez que representa interpretao historicizada pelo sujeito da
linguagem.
3.1.1 O lugar da Lngua Inglesa nos Cursos da FACAPE
A educao escolar atua historicamente na vida do indivduo, constituindo-se no s
como necessria para sua sobrevivncia, mas tambm como base de informao e cultura para
enfrentar o mercado de trabalho e, principalmente, como formadora de agente criador e
transformador da sociedade. Para Oliveira (1999), a crescente presso competitiva, movida
pela globalizao e pelas inovaes tecnolgicas num ritmo sem precedentes no ambiente de
trabalho tornou indiferenciados os limites entre educao e trabalho. Essa indiferena
produziu o conceito vital de produo de conhecimento, transformado em uma meta
educacional: aprendizagem permanente - lifelong learning. Partindo desse ponto de vista,
pode-se afirmar que a ideia de que apenas um diploma no garante a sobrevivncia do
indivduo no mercado de trabalho.
As grandes transformaes, a globalizao econmica, a acelerao da inovao
tecnolgica e a reduo do papel do Estado na sociedade formaram um conjunto de
fenmenos que tm por consequncia um aumento geral da concorrncia em todo o mercado
de trabalho, significando: profissionais cada vez mais qualificados, busca de habilidade e
agilidade no uso do computador, iniciativa, criatividade, capacidade empreendedora e
domnio de um ou mais idiomas. Desse ltimo, resulta um ponto muito importante, o de que a
comunicao uma ferramenta imprescindvel no mundo moderno e est em consonncia
com os avanos dos recursos tecnolgicos. Sem conhecer uma lngua estrangeira, torna-se
extremamente difcil utilizar os modernos equipamentos de modo eficiente e produtivo. (PCN,
1999, p.152). Nesse sentido, ao assumir este papel de lngua global, tanto para o curso de
Secretariado Executivo como para o curso de Comrcio Exterior da FACAPE, a Lngua
Inglesa torna-se uma importante ferramenta curricular para os alunos.
De acordo com os Projetos Pedaggicos dos referidos cursos, as disciplinas de Lngua
Inglesa possuem carga horria de 60 horas aula semestrais, so obrigatrias e equivalentes.
Nesses cursos, vivenciam-se nas suas matrizes curriculares diversos nveis do idioma: em
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Lngua Inglesa I: Nveis de compreenso texto; Estratgias de leitura; Estruturas bsicas da
lngua inglesa; Lngua Inglesa II: Leitura e interpretao de textos especficos da rea de
negcios; Elementos culturais de pases falantes de lngua inglesa; Elementos estruturais da