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DINÂMICA DAS UNIDADES DE PAISAGEM DO CURSO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO JORGE PONTA GROSSA/PARANÁ – 1995/2008 Carla Corrêa Prieto – UEPG – [email protected] Eli Terezinha Mazur – UEPG – [email protected] Sueli Aparecida do Nascimento – UEPG – [email protected] Elizandra Pitt – UEPG – [email protected] Rosemeri Segecin Moro – UEPG – [email protected] RESUMO A bacia do rio São Jorge, no reverso da Escarpa Devoniana, nos Campos Gerais do Paraná, reúne em 2.671 ha as mais expressivas paisagens de campos de altitude do sul do Brasil. Inserido numa região que vem sofrendo transformações dramáticas em seu uso pela expansão do agronegócio, foi incluída em 2006 no Parque Nacional dos Campos Gerais, ainda não implantado. Esse estudo analisa a evolução temporal das unidades de paisagem (UP) do curso inferior da bacia hidrográfica do rio São Jorge, no município de Ponta Grossa (PR) entre os anos de 1995 e 2008. A porção final do curso do São Jorge (16,8% da bacia) possui grande potencial cênico e de ecoturismo, devendo se transformar em um dos pontos do Parque aberto à visitação. Em 1995 foram delimitadas 80 UPs para toda a bacia, 23 no seu curso inferior, classificadas conforme sua origem em Remanescentes, Rede de drenagem, Cultivo, Habitação e Manejada, sendo esta última subdividida em Pastagens Nativas, Visitação, Reflorestamento e Recreação. Os resultados atuais demonstraram um avanço significativo das áreas Cultivadas (aumento de 11,0 para 25,7%) sobre as unidades de paisagens que constituíam Pastagens Nativas (redução de 74,4 para 39,1%). As UPs Rede de drenagem e Remanescente apresentaram ampliação de área, embora provavelmente em função do uso atual de imagem de satélite de melhor resolução espacial. A UP Reflorestamento permanece inalterada, contudo é possível observar a invasão biológica marcante do Pinus sobre as demais UPs. A UP Visitação sofreu pequena redução mas foi necessário a criação de uma nova UP neste setor da bacia, a de Recreação, com 6,4ha. Espera-se com estes resultados apontar tendências na dinâmica de uso e subsidiar a elaboração do plano de manejo do Parque Nacional dos Campos Gerais em sua porção mais visível ao turista, antes que os danos ao patrimônio natural sejam irreversíveis. Palavras-chave: Unidades de paisagem, bacia hidrográfica, rio São Jorge. ABSTRACT The São Jorge river basin is situated in the reverse of the Devonian Scarp, in Campos Gerais, Paraná State. It has an area of 2,671ha and it is the most expressive landscape of altitude meadow in the South of Brazil. It is located in a region which has been suffering transformations dramatically in the land use because of the agribusiness expansion. In 2006, it was included in the Nation Park of Campos Gerais, not established yet. This study analyzes the temporal evolution of the landscape units (LU) of the lower part of the São Jorge river hydrographical basin, in Ponta Grossa (PR) between 1995 and 2008. The final portion of São Jorge basin (16.8%) has a great scenic and ecotourism potential, which probably will be one of the open areas to visitation in the Park. In 1995, the whole basin was divided into 80 LUs, being 23 in the lower portion, those LUs were classified according to their origin: Remainder (Forest), Drainage, Cultivated, Habitation and Managed, being the last one divided into Native Pasture, Visiting Area, Reforestation and Recreation. The actual results showed an important increase of the Cultivated area (it increased from 11.0% to 25.7%) over the Native Pasture landscape unit (which decreased from 74.4% to 39.1%). The L.U. Drainage and Remainder have enlarged their areas, however it is probably related to the better spatial resolution of the satellite image use in 2008. The L.U. Reforestation has the same area, even though it is possible to observe Pinus spp. invasion over the other LUs. The Visiting areas have decreased a little and it was necessary to create a new landscape unit in this sector of the river basin, the Recreation, with 6.4ha. There is an expectation that these results may help the elaboration of the management plan of the National Park of Campos Gerais, showing the land use tendency in its portion explored by tourists, before the damage over the natural patrimony be irreversible. Key-words: Landscape units, river basin, São Jorge river.

DINÂMICA DAS UNIDADES DE PAISAGEM DO CURSO INFERIOR … · evolução temporal das unidades de paisagem (UP) do curso inferior da bacia hidrográfica do rio São Jorge, no município

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DINÂMICA DAS UNIDADES DE PAISAGEM DO CURSO INFERIOR DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO JORGE PONTA GROSSA/PARANÁ – 1995/2008

Carla Corrêa Prieto – UEPG – [email protected] Eli Terezinha Mazur – UEPG – [email protected] Sueli Aparecida do Nascimento – UEPG – [email protected] Elizandra Pitt – UEPG – [email protected] Rosemeri Segecin Moro – UEPG – [email protected] RESUMO A bacia do rio São Jorge, no reverso da Escarpa Devoniana, nos Campos Gerais do Paraná, reúne em 2.671 ha as mais expressivas paisagens de campos de altitude do sul do Brasil. Inserido numa região que vem sofrendo transformações dramáticas em seu uso pela expansão do agronegócio, foi incluída em 2006 no Parque Nacional dos Campos Gerais, ainda não implantado. Esse estudo analisa a evolução temporal das unidades de paisagem (UP) do curso inferior da bacia hidrográfica do rio São Jorge, no município de Ponta Grossa (PR) entre os anos de 1995 e 2008. A porção final do curso do São Jorge (16,8% da bacia) possui grande potencial cênico e de ecoturismo, devendo se transformar em um dos pontos do Parque aberto à visitação. Em 1995 foram delimitadas 80 UPs para toda a bacia, 23 no seu curso inferior, classificadas conforme sua origem em Remanescentes, Rede de drenagem, Cultivo, Habitação e Manejada, sendo esta última subdividida em Pastagens Nativas, Visitação, Reflorestamento e Recreação. Os resultados atuais demonstraram um avanço significativo das áreas Cultivadas (aumento de 11,0 para 25,7%) sobre as unidades de paisagens que constituíam Pastagens Nativas (redução de 74,4 para 39,1%). As UPs Rede de drenagem e Remanescente apresentaram ampliação de área, embora provavelmente em função do uso atual de imagem de satélite de melhor resolução espacial. A UP Reflorestamento permanece inalterada, contudo é possível observar a invasão biológica marcante do Pinus sobre as demais UPs. A UP Visitação sofreu pequena redução mas foi necessário a criação de uma nova UP neste setor da bacia, a de Recreação, com 6,4ha. Espera-se com estes resultados apontar tendências na dinâmica de uso e subsidiar a elaboração do plano de manejo do Parque Nacional dos Campos Gerais em sua porção mais visível ao turista, antes que os danos ao patrimônio natural sejam irreversíveis. Palavras-chave: Unidades de paisagem, bacia hidrográfica, rio São Jorge. ABSTRACT The São Jorge river basin is situated in the reverse of the Devonian Scarp, in Campos Gerais, Paraná State. It has an area of 2,671ha and it is the most expressive landscape of altitude meadow in the South of Brazil. It is located in a region which has been suffering transformations dramatically in the land use because of the agribusiness expansion. In 2006, it was included in the Nation Park of Campos Gerais, not established yet. This study analyzes the temporal evolution of the landscape units (LU) of the lower part of the São Jorge river hydrographical basin, in Ponta Grossa (PR) between 1995 and 2008. The final portion of São Jorge basin (16.8%) has a great scenic and ecotourism potential, which probably will be one of the open areas to visitation in the Park. In 1995, the whole basin was divided into 80 LUs, being 23 in the lower portion, those LUs were classified according to their origin: Remainder (Forest), Drainage, Cultivated, Habitation and Managed, being the last one divided into Native Pasture, Visiting Area, Reforestation and Recreation. The actual results showed an important increase of the Cultivated area (it increased from 11.0% to 25.7%) over the Native Pasture landscape unit (which decreased from 74.4% to 39.1%). The L.U. Drainage and Remainder have enlarged their areas, however it is probably related to the better spatial resolution of the satellite image use in 2008. The L.U. Reforestation has the same area, even though it is possible to observe Pinus spp. invasion over the other LUs. The Visiting areas have decreased a little and it was necessary to create a new landscape unit in this sector of the river basin, the Recreation, with 6.4ha. There is an expectation that these results may help the elaboration of the management plan of the National Park of Campos Gerais, showing the land use tendency in its portion explored by tourists, before the damage over the natural patrimony be irreversible. Key-words: Landscape units, river basin, São Jorge river.

1. INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica do rio São Jorge, situada no município de Ponta Grossa, Paraná, localiza-

se na região dos Campos Gerais (mapa 1) e está inserida na APA da Escarpa Devoniana, cujo objetivo

é proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade de

uso dos recursos naturais. A área de estudo possui expressivas paisagens de campos de altitude, porém

como toda a APA, vem sofrendo transformações dramáticas em seu uso pela expansão do agronegócio,

que inclui o cultivo extensivo e reflorestamento de espécies exóticas.

O rio São Jorge nasce no reverso da Escarpa Devoniana e deságua no Rio Pitangui, dentro do

manancial de captação de água do município de Ponta Grossa. Sua bacia hidrográfica tem uma área de

2.671 ha e constitui remanescente do ecossistema de campos limpos menos alterados (ROCHA, 1995).

Em 2006, foi criado (porém ainda não implantado) o Parque Nacional dos Campos Gerais (Decreto de

23.03.2006), sendo o rio São Jorge um dos limites a Oeste desta área, exceto nas proximidades da sua

foz, onde este limite é extrapolado, conforme mapas 2 e 3. Segundo Almeida (2008) o Parque

Nacional foi criado tencionando proteger os campos naturais e ainda um dos últimos remanescentes da

Floresta com Araucárias. Esta associação, segundo a mesma autora, estes dois tipos de vegetação

compõe a paisagem típica da região. Assegurar a proteção de remanescentes de florestas com araucária

também consta como um dos objetivos do Plano de Manejo da APA da Escarpa Devoniana

(PARANÁ, 2004).

MAPA 1 – Localização do curso inferior da Bacia Hidrográfica do rio São Jorge em relação à APA da Escarpa Devoniana e aos Campos Gerais. Área em destaque.

MAPA 2 – Localização do curso inferior da Bacia Hidrográfica do rio São Jorge em Ponta Grossa, PR.

MAPA 3 – Área abragida pelo Parque Nacional dos Campos Gerais na porção inferior da Bacia Hidrográfica do rio São Jorge.

Esse estudo analisa a evolução temporal das unidades de paisagem (UP) do curso inferior da

bacia hidrográfica do rio São Jorge, entre os anos de 1995 e 2008. Em 1995, Rocha realizou sua

dissertação intitulada “Ecologia da paisagem e manejo sustentável em bacias hidrográficas: Estudo do

rio São Jorge nos Campos Gerais do Paraná”, delimitando 80 UPs para toda a bacia, sendo 23 no curso

inferior (16,8% da bacia). Essa porção possui grande potencial cênico e de ecoturismo, devendo se

transformar em um dos pontos abertos à visitação do Parque Nacional.

Rocha utiliza uma abordagem sistêmica, análise integrada dos aspectos fisiográficos, bióticos e

humanos, em três níveis, regional (Área de Proteção Ambiental – APA – da Escarpa Devoniana e seu

entorno), municipal (entre o Parque Estadual de Vila Velha e a foz do rio São Jorge no rio Pitangui) e

local (bacia hidrográfica do rio São Jorge), considerando as modificações no tempo dos elementos que

formam a paisagem para a elaboração do Plano de Manejo Sustentável para a Bacia Hidrográfica do

rio São Jorge.

O autor considera a bacia do rio São Jorge como uma expressiva área de ligação, corredor entre

paisagens de campos nativos menos alterados situados na porção norte (vale do rio Iapó e cabeceiras

do rio Fortaleza) e sul (cursos superiores dos rios Quebra Perna, juntamente com o Parque Estadual de

Vila Velha, rios Tibagi e dos Papagaios) da APA.

2. METODOLOGIA

2.1 ESTUDO INICIAL - 1995

Pela concepção de Rocha, a bacia hidrográfica do rio São Jorge foi setorizada em função de

fatores geomorfológicos que condicionaram diversos sistemas de uso e também em função da estrutura

viária: i) curso superior, abrangendo 57,3% da superfície da bacia com áreas principalmente de

pastagens nativas e cultivo agrícola, pouco antropizadas e maior tamanho médio das unidades de

paisagem em comparação com os demais setores; ii) curso médio, correspondendo a 25,9% da área

com presença mais intensa de interferência antrópica; iii) curso inferior, com 16,8% da superfície da

bacia e objeto de estudo do presente trabalho.

O limite do curso inferior com o médio é a estrada de acesso principal que corta

transversalmente a bacia. Estrada esta que teve sua origem ligada ao tropeirismo, atividade econômica

desenvolvida entre os séculos XIX e início do século XX, com grande importância para o crescimento

de Ponta Grossa. Tropas de muares, que por aqui passavam e faziam pousio em seu trajeto vindo de

Viamão, Rio Grande do Sul em direção à Sorocaba, em São Paulo.

A paisagem natural da bacia, campos limpos, anteriormente mais homogêneos e destinados a

pastagens naturais foram transformados, principalmente a partir da década de 1960, pelo uso

diferenciado produzindo assim um mosaico. Rocha constatou um gradativo aumento da antropização

nos cursos superior e inferior da bacia em decorrência da divisão fundiária ocorrida no início da

década de 1990 e que se mantidas essas formas de manejo, as perdas do ponto de vista ecológico desta

paisagem serão irreversíveis.

Através de técnicas de Sensoriamento Remoto e entendimento do processo de formação da

paisagem em escala temporal e espacial o autor delimitou UPs (unidades de paisagem), que seriam as

menores unidades homogêneas, com características fisiográficas, ecológicas e culturais semelhantes.

Homogêneas ou “quase homogêneas” já que o delineamento, discutido pelo autor frente ao referencial

teórico, de limites entre as diversas UPs é necessariamente um processo subjetivo. O autor comenta

ainda que outros pesquisadores podem apresentar diferentes resultados.

As 80 UPs delimitadas por Rocha para toda a bacia do rio São Jorge foram classificadas

conforme sua origem, ou seja, pela sua principal causa formativa, sendo divididas em: Remanescentes,

Rede de Drenagem, Manejada, Cultivadas e de Habitação, 23 UPs compunham o mosaico formador do

curso inferior, nosso foco no trabalho. (Mapa 4)

As unidades de paisagem Remanescentes, áreas de número 3 e 16, representam as mais

primitivas da bacia, capões de mato em estágio adiantado de sucessão da vegetação, uma vez que

foram submetidas a práticas tradicionais de agricultura e exploração madeireira até a década de 1950.

As UPs relativas à Rede de Drenagem (números 12, 18 e 21) compreendem áreas com solos

mal drenados nas margens do canal principal e de seus afluentes. A vegetação é típica de campos

úmidos, associados ou não a transições para campos secos. Sendo possível a ocorrência de pequenos

capões, em solos com deposição aluvial ou com melhor drenagem. Estas unidades são relevantes na

regulação da descarga hídrica e na qualidade das águas, constituindo, assim, áreas com especial

importância ecológica.

As unidades de paisagem de classificação Manejada apresentam sete origens distintas:

Pastagem Nativa I (áreas 1, 4 e 13), correspondendo a campos nativos pouco descaracterizados.

Pastagem Nativa III (números 5, 6, 7, 10, 14, 15, 17, 19 e 22), campos limpos mais alterados, com

manejo além de sua capacidade de carga. Entre estes dois estágios de conservação encontram-se áreas

de transição, denominada Pastagem Nativa II que não aparece no curso inferior. Decidiu-se que as

três classes de Pastagem Nativa seriam unificadas em apenas uma, no presente trabalho, para

possibilitar a comparação dos dados da década de 1990, com os atuais, visto que as análises empíricas

(entrevista, análise mais aprofundada de campo, entre outras) realizadas por Rocha, não foram

reproduzidas integralmente no momento.

A unidade de paisagem de Visitação Intensiva (áreas de números 8 e 9) localiza-se na área do

canyon e da cachoeira do rio São Jorge e de Visitação Extensiva (11 e 23), abrange terrenos marginais

ao rio nas proximidades da estrada, sendo que a divisão entre intensiva e extensiva deu-se

empiricamente em função do fluxo de visitas (Fotografia 1). Visto que entrevistas e conversas

informais não ocorreram em campo para a confirmação se as UPs representadas inicialmente como 11

e 23 mantém fluxo extensivo de visitantes, foram unificadas as duas classes de Visitação em apenas

uma resultando em apenas uma coloração dos polígonos nos mapas.

A unidade de Recreação não ocorre no curso inferior da bacia, segundo o estudo de Rocha,

pois trata-se de loteamento destinado a chácaras para atividades típicas de fins de semana e férias. A

UP de Reflorestamento (número 2), é composta por Pinus spp., uma espécie exótica, situada em uma

pequena área, não causando, segundo o autor, impactos significativos e ainda contribuindo para a

heterogeneidade da paisagem.

MAPA 4 – Unidades de Paisagem segundo Rocha (1995), modificado.

FOTOGRAFIA 1 – Margens do rio São Jorge sob a ponte da estrada que divide o curso médio do curso inferior da bacia (UP Visitação Extensiva), com presença de Pinus spp. invasor.

E finalmente, a unidade de paisagem Cultivada (área 20), submetida a cultivo agrícola, em

rotação com pastagem de inverno. A UP de Habitação não tem correspondente no curso inferior da

bacia.

2.2 COMPARAÇÃO DAS UNIDADES DE PAISAGEM ENTRE 1995 E 2008

Com a realização da classificação visual de uma imagem do Google Earth (adquirida em agosto

de 2007), através do programa SPRING 5.0, e coleta de informações em campo, foi possível realizar o

mapeamento atualizado das unidades de paisagem do curso inferior da bacia hidrográfica em questão,

com base nos critérios de cada UPs de Rocha (1995), ilustrado no mapa 5.

Foram identificadas significativas alterações nas UPs, decorrentes da implantação de uma

estação de veraneio em um loteamento no entorno da Represa de Alagados, a qual é responsável pelo

abastecimento de água e geração de energia para o município de Ponta Grossa e arredores. Os

arruamentos desse loteamento alcançaram a bacia do rio São Jorge, próximo à sua foz, formando uma

nova unidade de paisagem: Recreação (área 1). A UP Reflorestamento continua sendo manejada no

mesmo local, não tendo se expandido significativamente (fotografia 2), porém, há uma presença

marcante de contaminação biológica por Pinus spp., em diversas unidades de paisagem na área

(fotografias 3 e 4). Contaminação biológica ou invasão biológica segundo Ziller e Galvão (2002), é um

processo em que espécies que não fazem parte naturalmente de um ecossistema, são introduzidas e

estas se adaptam, passando a causar modificações no seu funcionamento, pois elas se reproduzem e

passam a ocupar espaço de espécies nativas, se tornando dominantes.

FOTOGRAFIA 2 – Área em destaque no centro da fotografia reflorestamento

FOTOGRAFIA 3 – Destaque à presença marcante de Pinus spp. invasor às margens

As Pastagens Nativas foram unificadas em uma única classe, e observa-se que houve uma

redução de 74,4% para 39,1% nos últimos 13 anos (ver gráfico 1). Acrescenta-se ainda o fato de que

esta formação vegetal nos Campos Gerais vem sofrendo ainda, conforme Almeida (2008), alterações

devido ao longo período, mais de 300 anos, da prática periódica das queimadas, substituindo

seletivamente espécies higrófilas por gramíneas xerófitas. As queimadas ainda provocam esgotamento

dos solos e conseqüente diminuição da fertilidade incentivando de certo modo a mudança de atividade.

FOTOGRAFIA 4 – Destaque à presença marcante de Pinus spp. invasor em área de campo, observe as árvores mais esparsas.

MAPA 5 – Unidades de Paisagem realizado com base em imagem de satélite de 2007, e observação de campo.

Observa-se que segundo a classificação de Rocha, as áreas destinadas à Rede de Drenagem eram

bastante inferiores às atuais, isso pode ter relação com o uso de imagem de satélite de média resolução

espacial nesse primeiro trabalho, que pode resultar em confusão visual, ou é possível que tenha

ocorrido uma seca significativa no período da aquisição da imagem utilizada pelo autor. Grande parte

da área que foi classificada na imagem de 2007, como Rede de Drenagem, situa-se em áreas

anteriormente mapeadas como Pastagem Nativa. Mas outra mudança real e significativa sobre a

pastagem Nativa foi a introdução de áreas Cultivadas, que aumentaram de 11 para 122,4 ha (tabela 1).

Origem da UP 1995 Área ha

% 2007 Área ha

%

Remanescente 3, 16 44.1 9,1 16, 17, 20, 23

59.1 12,4

Rede de Drenagem 12, 18, 21

43.0 9,0 10, 13 83.6 17,6

Manejada

Pastagem Nativa

1, 4, 5, 6, 7, 10, 13, 14, 15, 17, 19, 22

356.1 74,3 3, 5, 7, 11, 15, 18, 25

186.4 39,1

Visitação 8, 9, 11, 23

17.0 3,5 14, 21, 22

11.5 2,413

Recreação - - - 1 6.4 1,3 Reflorestamanto 2 5.2 1, 9 2 7.0 1,5

Cultivada 20 11.0 2,2 4, 6, 8,

9, 12, 19, 24

122.4 25,7

Total 23 476.4 100 25 476.4 100

GRÁFICO 1 – Comparação de evolução das unidades de Paisagem entre 1995 e 2008 (%).

TABELA 1 – Dados comparativos da evolução das unidades de Paisagem entre 1995 e 2008.

As unidades de paisagem de Visitação situam-se nos mesmos locais, mas elas sofreram

modificação de suas áreas devido ao aumento de áreas cultivadas e modificação dos limites da Rede de

Dreanagem. As fotografias 5 e 6 ilustram as unidades de paisagem 21 e 22, onde situam-se a cachoeira

e o canyon do rio São Jorge.

Observa-se que houve a interpretação de mais áreas da UP Remanescente do que no primeiro

trabalho, podendo ser a causa disso, o uso de imagem de menor resolução espacial, que era

disponibilizado no momento em que a pesquisa ocorreu. Muito embora Moro et al (2005) citado por

Almeida (2008) coloca que outrora intensamente explorados no passado pelo desenvolvimento dos

ciclos econômicos (erva-mate, madeira), esta formação encontra-se no presente maior em termos de

área do que no passado, e segundo Paraná (2004) em processo de regeneração nos últimos 50 anos. Em

extensa revisão da literatura Moro (2001) acrescenta ainda que nos Campos Gerais os campos sofrem a

expansão das áreas de florestas em função de alterações climáticas do Quaternário.

FOTOGRAFIA 5 – Cachoeira do rio São Jorge.

Almeida (2008) estudando fragmentos florestais no Parque Nacional dos Campos Gerais, dos

quais a referida área é um deles, detectou que 55,9% (11.943,7 ha) do parque é composto por esta

formação vegetal e que este fragmento juntamente com os demais, com área individual inferior a 100

ha, permite o fluxo gênico no interior do parque, funcionando como trampolim entre os fragmentos e

destes com a área maior de floresta, fora dos limites abrangidos pela presente pesquisa.

3. PROPOSTAS

Considerando que a maior parte da área do curso inferior da bacia hidrográfica do Rio São

Jorge, unidade espacial do estudo, se insere dentro do Parque Nacional dos Campos Gerais, criado em

2006 e que está para ser elaborado o seu Plano de Manejo, os resultados aqui apresentados certamente

contribuirão para esta tarefa. Entende-se por Plano de Manejo, segundo Ziller (2000), um conjunto de

intervenções para viabilizar a manutenção de uma Unidade de Conservação.

Rocha (1995) alertou para a possibilidade de surgimento de novas UP caso a forma de

exploração das unidades continuasse daquele modo, o que foi confirmado, principalmente quanto ao

avanço das áreas de cultivos sobre pastagens nativas, inclusive em áreas que fazem parte tanto da APA

da Escarpa Devoniana como do Parque Nacional dos Campos Gerais, duas Unidades de Conservação.

A situação pede urgência na efetiva implantação do Parque, para que o cultivo nestas áreas deixe de

ser praticado e os campos nativos se regenerem. A proximidade com áreas de pastagens nativas que

ainda se mantém, pode facilitar a recuperação com a disseminação das espécies nativas.

Outra contribuição da pesquisa para a elaboração do plano de manejo do Parque é a

necessidade de erradicação da espécie invasora Pinus spp. Algumas medidas que podem ser adotadas

são, a remoção manual das mudas, mais óbvia e eficaz, atentando para o fato de que toda parte verde

da planta deve ser removida para não haver rebrota ou a aplicação de químicos também é uma medida,

mas a dosagem vai depender do tamanho da planta. Em qualquer das situações será necessário a

alocação de recursos e pessoal qualificado para as ações. Considerando a existência de outras áreas

com reflorestamento desta espécie, não contempladas no trabalho, sugere-se ainda a implantação de

barreiras de proteção com espécie invasora de rápido crescimento, muito embora apenas em áreas

FOTOGRAFIA 6 – Vista do Canyon e da cachoeira do rio São Jorge.

planas, diminuindo a disseminação pelo vento e uma equipe permanente no Parque de controle de

invasoras, para retirada das plantas ainda bem jovens.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comparação da evolução das unidades de paisagem (UP) atuais do curso inferior da bacia

hidrográfica do rio São Jorge no município de Ponta Grossa, no decurso destes treze anos permitem

avaliar a velocidade preocupante com que ecossistemas naturais, como os campos nativos vem

diminuindo, perdendo espaço para atividades econômicas, as áreas de cultivo, certamente mais

rentáveis que pastagens nativas anteriormente realizadas.

Este dado de pesquisa revelado neste estudo, não é fator isolado: autores como Almeida (2008),

discutindo importância dos programas de conservação, ressaltam que a perda de ambientes naturais,

aliada ao processo de fragmentação, resulta na formação de paisagens com pouca quantidade de

habitat, com manchas isoladas e de dimensões reduzidas. Os resultados evidenciam que medidas

urgentes devem ser tomadas pelo poder público, uma vez que parte considerável destas áreas

pertencem a duas Unidades de Conservação, a APA da Escarpa Devoniana e o Parque Nacional dos

Campos Gerais.

Acredita-se que os resultados encontrados pela pesquisa possam dar suporte a elaboração do

plano de manejo do Parque, que criado em 2006, ainda não conta com este recurso. A espécie

invasora Pinus spp. precisa ser contida e somente a efetiva implantação do Parque possibilitará que os

cultivos deixem de avançar sobre os campos nativos, e ao deixarem de ser praticados dentro da

unidade permitam a recuperação, pelo menos parcial dos campos, já que vem sendo explorados a

décadas na região e assim voltar a ser de fato uma importante área representante de campos nativos,

como colocou Rocha em 1995.

REFERÊCIAS

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