77
1 Dicionário Inter-regional de Psicanálise O INCONSCIENTE Entrada tri-regional Consultores inter-regionais: Jose Renato Avzaradel (America Latina), Allannah Furlong (America do Norte) e Judy Gammelgaard (Europa) Co-presidente de coordenação inter-regional: Eva D. Papiasvili (America do Norte) ————— Tradução para o português: Cristiane Damacarena Nunes Martins (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre) Coordenação e edição para a tradução para o português: Maria Cristina Garcia Vasconcellos (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre) I. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO INTRODUTÓRIA A noção do inconsciente é universalmente aceita como a descoberta fundamental da psicanálise e uma suposição básica da teoria psicanalítica desde o seu começo. Embora o conceito tenha sofrido transformações sucessivas no pensamento Freudiano, o inconsciente da topografia Freudiana com suas implicações em uma teoria descentralizada da subjetividade se destaca como uma visão distinta e radical da psicanálise clássica. Conquanto Freud não tenha sido o primeiro a usar o termo, ele foi o primeiro a dar-lhe um papel crucial e lugar sistemático em sua metapsicologia e a desenvolver uma abordagem metódica para suas várias manifestações. Freud (1912a) forneceu uma breve e excelente descrição dos fundamentos para a hipótese da existência de um processo psíquico inconsciente, apontando para fenômenos clínicos como sugestão pós-hipnótica e neurótica, principalmente em histéricos, mas também para fenômenos não patológicos como chistes, atos falhos e sonhos. Os pressupostos dos fenômenos inconscientes podem ser rastreados até as práticas de cura espiritual, animismo, magnetismo, mesmerismo, hipnotismo e psicologia médica do século XIX. Essas práticas têm em comum o conceito dual da mente, que é feita do que é visível e, do seu anverso, isto é, o que está escondido e intuitivamente acreditado e/ou percebido. Enquanto nos primeiros anos de sua carreira, Freud parece ter abraçado este dualismo neo-Cartesiano, gradualmente foi emergindo a concepção de um tipo de inconsciente radicalmente diferente, um que não é uma segunda consciência, mas uma série de "atos psíquicos" que são qualitativamente diferentes da mente racional, adulta e consciente. Os psicanalistas não estão sozinhos em sua subjugação ao "estranho interior", mas eles são os únicos em fazer das implicações epistemológicas, clínicas e éticas desta disruptiva e potencialmente transformadora presença, seu objeto diário de estudo. Sem a noção de

Dicionário Inter-regional de Psicanálise - ipa.world UNCONSCIOUS... · A teoria da sedução era essencialmente uma teoria do trauma patológico sexual pré-adulto como determinante

Embed Size (px)

Citation preview

1

Dicionário Inter-regional de Psicanálise

O INCONSCIENTE

Entrada tri-regional

Consultores inter-regionais: Jose Renato Avzaradel (America Latina), Allannah Furlong (America do Norte) e Judy Gammelgaard (Europa)

Co-presidente de coordenação inter-regional: Eva D. Papiasvili (America do Norte)

—————

Tradução para o português: Cristiane Damacarena Nunes Martins (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre)

Coordenação e edição para a tradução para o português: Maria Cristina Garcia Vasconcellos (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre)

I. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO INTRODUTÓRIA

A noção do inconsciente é universalmente aceita como a descoberta fundamental da psicanálise e uma suposição básica da teoria psicanalítica desde o seu começo. Embora o conceito tenha sofrido transformações sucessivas no pensamento Freudiano, o inconsciente da topografia Freudiana com suas implicações em uma teoria descentralizada da subjetividade se destaca como uma visão distinta e radical da psicanálise clássica. Conquanto Freud não tenha sido o primeiro a usar o termo, ele foi o primeiro a dar-lhe um papel crucial e lugar sistemático em sua metapsicologia e a desenvolver uma abordagem metódica para suas várias manifestações. Freud (1912a) forneceu uma breve e excelente descrição dos fundamentos para a hipótese da existência de um processo psíquico inconsciente, apontando para fenômenos clínicos como sugestão pós-hipnótica e neurótica, principalmente em histéricos, mas também para fenômenos não patológicos como chistes, atos falhos e sonhos. Os pressupostos dos fenômenos inconscientes podem ser rastreados até as práticas de cura espiritual, animismo, magnetismo, mesmerismo, hipnotismo e psicologia médica do século XIX. Essas práticas têm em comum o conceito dual da mente, que é feita do que é visível e, do seu anverso, isto é, o que está escondido e intuitivamente acreditado e/ou percebido. Enquanto nos primeiros anos de sua carreira, Freud parece ter abraçado este dualismo neo-Cartesiano, gradualmente foi emergindo a concepção de um tipo de inconsciente radicalmente diferente, um que não é uma segunda consciência, mas uma série de "atos psíquicos" que são qualitativamente diferentes da mente racional, adulta e consciente.

Os psicanalistas não estão sozinhos em sua subjugação ao "estranho interior", mas eles são os únicos em fazer das implicações epistemológicas, clínicas e éticas desta disruptiva e potencialmente transformadora presença, seu objeto diário de estudo. Sem a noção de

2

processos inconscientes, argumentou Freud, perdemos a explicação para os fenômenos mentais (1915c, pp. 166-171). Ele "nunca se cansou de insistir nos argumentos que o apoiam e de combater às objeções levantadas contra ele" (Strachey, in: Freud, 1915c, p.185).

O primeiro uso publicado por Freud do termo "inconsciente" ocorreu em 1893 em "Estudos sobre a Histeria" (Freud, 1893) e o último fragmento inacabado de seu trabalho teórico de 1938, intitulado "Algumas lições elementares da psicanálise" (Freud, 1940c) é uma nova reafirmação do termo.

Resumindo, expandindo e atualizando dicionários regionais recentes (Akhtar, 2009; Auchincloss, 2012; Laplanche & Pontalis, 1967/1973; Borensztejn, 2014), as seguintes definições do Inconsciente podem ser formuladas:

Ao longo da evolução da teoria psicanalítica, o conceito de (O) Inconsciente é usado principalmente das seguintes maneiras: o Inconsciente Dinâmico, que se refere principalmente ao material ativamente reprimido, inaceitável para a mente consciente; em um sentido amplo, refere-se a todos os conteúdos que são ativamente mantidos fora da consciência e que exercem pressão em direção à consciência; o Sistema Inconsciente, que se refere a um aspecto da mente que opera somente de acordo com o princípio do "prazer-desprazer" e do pensamento em "processo primário", governado pela "lógica inconsciente"; o Inconsciente Descritivo, também chamado “pré-consciente”, que se refere simplesmente ao fato de que um conteúdo mental não está no momento consciente. O Conteúdo do Inconsciente inclui instintos (desejos) e representantes instintivos; material acumulado devido à "repressão primária"; conteúdos empurrados para baixo pela força da repressão; e esquemas filogenéticos que organizam "fantasias primitivas". O Inconsciente como uma qualidade, de forma adjetiva, aparece na Teoria Estrutural/Segunda Topografia de Id, Ego e Superego. Aqui, todo o Id (ES=Isto) é inconsciente, mas partes do Ego (Ich = Eu) e Superego (ÜBER ICH = Eu Ideal, princípios morais internalizados) são também inconscientes. Ao longo da obra freudiana e em muitos pós-freudianos e modelos psicanalíticos contemporâneos, a forma adjetiva também é parte de noções acessórias tais como processos inconscientes e processamento, relações de objeto inconscientes, conflito inconsciente, fantasia inconsciente, funcionamento inconsciente do ego, comunicação inconsciente, lógica inconsciente, inconsciente amencial e inconsciente "real" (indecifrável).

Cronologicamente, o trabalho de Freud pode ser dividido nos seguintes períodos de tempo: A Descoberta da Dinâmica Inconsciente que abrange o período 1893-1900, até a publicação da A Interpretação dos Sonhos; o período entre 1900 e 1923 pode ser intitulado O Sistema Inconsciente ou O Inconsciente Topográfico. Por fim, o período posterior a 1923, seguindo a publicação de O Ego e o Id, pode ser referido como O Inconsciente do Modelo Estrutural / Segundo Modelo Topográfico da Mente. A construção freudiana da teoria era não linear e marcada pela crescente complexidade, com sobreposições necessárias.

Por uma questão de forma e estilo, as abreviaturas de Ics, Pcs e Cs irão se referir às palavras Inconsciente, Pré-consciente e Consciente, respectivamente. O uso de letras maiúsculas ou minúsculas em palavras como Inconsciente, Id, Ego, Superego são consistentes com o uso específico de cada escola. A nomenclatura de Teoria Topográfica (Psicanálise de

3

Língua Inglesa Norte Americana) é sinônima de Primeira Tópica/ Tópica Inicial utilizada pelos europeus e por parte dos francófonos da psicanálise canadense. Já a Teoria Estrutural Norte Americana é sinônima da Segunda Tópica/Tópica Final utilizada pelos europeus e parte dos francófonos norte-americanos. Ao longo do texto ambos os nomes para as respectivas teorias são usados lado a lado. Salvo indicação em contrário, o itálico é utilizado para destacar a terminologia conceitual.

As principais contribuições teóricas de Freud a respeito do inconsciente podem ser encontradas nos seguintes trabalhos: Capítulo VII da Interpretação dos Sonhos (1900b), Artigos de Metapsicologia (1915 a, b, c) e O Ego e O Id (1923a). Um resumo dos conceitos de Freud sobre o inconsciente também podem ser encontradas nas Conferências Introdutórias à Psicanálise (1916, 1917), Dois Verbetes de Enciclopédia (1923b), Novas Palestras Introdutórias à Psicanálise (1933) e Esboço de Psicanálise (1940a). Strachey adverte os leitores de língua inglesa para observar que uma ambiguidade reside na palavra inglesa "inconsciente", que dificilmente está presente no alemão. As palavras alemãs "bewusst" e “unbewusst” têm a forma gramatical de particípios passivos e seu senso usual é algo como "conscientemente conhecido" e "não conscientemente conhecido". Para Freud ambas, consciência e inconsciência, eram experiências passivas.

II. REVISÃO DAS CONCEITUALIZAÇÕES FREUDIANAS DE INCONSCIENTE

II. A. A descoberta do Inconsciente Dinâmico (1893-1900)

A psicanálise nasceu com a descoberta revolucionária de Freud da função dinâmica da defesa na etiologia da histeria. A defesa contra a recordação (repressão) guiou Freud à importância da resistência, “... uma força psíquica nos pacientes que se opunha a que as ideias patogênicas se tornassem conscientes (fossem lembradas). Uma nova compreensão pareceu abrir-se a meus olhos quando me ocorreu que esta sem dúvida deve ser a mesma força psíquica que desempenhara um papel na geração do sintoma histérico e impedira na ocasião que a ideia patogênica se tornasse consciente." (Breuer & Freud, 1893-1895, p. 325, ênfase original). Essa força da resistência, como se fosse um contraponto oposto à força ascendente do material patogênico rejeitado, era em certa extensão quantificável como memórias "estratificadas" em relação à sua proximidade com o "núcleo patogênico". Além disso, foi precisamente através da sua repressão que a ideia se tornou a causa dos sintomas mórbidos, ou seja, tornou-se patogênica (ibid, p. 342). Para ter sucesso, a repressão demanda um gasto permanente de força. Os sintomas são o resultado da falha na repressão, isto é, o retorno do reprimido. Simultaneamente, o afeto que emerge da ideia reprimida, é derivado para uma "inervação somática" (ibid, p. 342) aparecendo como uma conversão histérica em um sintoma corporal. O inovador método psicanalítico da livre associação desenvolveu-se a partir da constatação de que "é inteiramente irrealizável penetrar direto no núcleo da organização patogênica" (ibid,

4

p 349, ênfase original) desde as camadas interiores da organização patogênica, que são cada vez mais estranhas ao ego (ibid, p 347).

Nem todas as experiências da primeira infância sofrem repressão. A teoria Freudiana estipulou que o conteúdo do inconsciente consiste em desejos infantis fixados, marcados pela sexualidade infantil. Neste período inicial, conhecido através de sua correspondência para Fliess (Freud, 1892-1899), Freud estava desenvolvendo o que se tornou conhecido como a teoria da sedução: a criança foi seduzida por um adulto, uma relação que deixa vestígios perturbadores que mais tarde aparecem na consciência deslocados e distorcidos por forças que se opõem à sua conscientização. A teoria da sedução era essencialmente uma teoria do trauma patológico sexual pré-adulto como determinante único da psicopatologia posterior. A experiência traumática da infância pode ser esquecida, dissociada ou reprimida, apenas para ser reativada ou exercer um efeito traumático diferido na adolescência, após a puberdade. Um legado duradouro do aspecto dinâmico do inconsciente foi a noção de forças emparelhadas em oposição dinâmica, resultando em novas formações psíquicas. Durante 1893-1895, Freud falou da oposição entre os afetos associados a eventos traumáticos e as proibições morais da sociedade. Enquanto Freud procedia a sua autoanálise, durante 1895-1900, ele passou a ver as forças opostas como cada vez mais internas: durante este tempo estava em construção a sua concepção inicial do aparelho mental, organizado por duas forças pareadas em oposição dinâmica, o desejo inconsciente e a interdição orientada pela realidade.

Nesta época, quando a teoria do inconsciente ainda não estava sistematizada, Freud foi tomado pela ideia de que o material psíquico era submetido, de vez em quando, a um rearranjo, uma transcrição. Em sua correspondência privada a Wilhelm Fliess datada de 6 de dezembro de 1896, Freud (1892-1899) conta a Fliess que ele está trabalhando no pressuposto de que o "mecanismo psíquico" ocorre na forma de traços de memória. Estes são submetidos a um processo de estratificação, rearranjados de acordo com a percepção, e os traços de memória tornam-se posteriormente sujeitos à transcrição. O que está sendo postulado aqui é que uma transcrição de cenas ouvidas e vistas, mas ainda não compreendidas corretamente, ocorrem continuamente no aparelho psíquico. Esta é a primeira indicação do conceito de Nachträglichkeit. No esboço, não publicado em vida, do Projeto (1895), Freud explicou a histeria em termos de Nachträglichkeit: “... a lembrança fica reprimida apenas quando se torna um trauma por ação retardada [Nachträglichkeit]" (Freud, 1895, p.468). Visto sob esta óptica, o inconsciente contém traços distorcidos de memórias de cenas desde a primeira infância, que foram impossíveis de serem traduzidas porque a criança ainda não dominava a linguagem ou porque no momento essas cenas eram impossíveis de serem compreendidas pela criança. Como consequência, elas têm a qualidade de "coisas" não simbolizadas. Este mecanismo causal inicial do inconsciente recuou quando, na próxima fase do desenvolvimento de sua teoria, Freud enfatizou a fantasia, em lugar do trauma/cena de sedução infantil, como único determinante da psicopatologia posterior (Freud, 1892-1899, Carta de 21 de setembro de 1897, p. 351). A ideia de memórias como corpos estranhos internos atuando como um ataque interno foi ofuscada pela ideia da fantasia que gradualmente se tornou a pedra angular do que Freud chamava de realidade psíquica, embora não sem subsequentes questionamentos repetidos sobre a importância relativa do “trauma sexual” VS “fantasia”. A concepção da importância da fantasia em eventos mentais abriu a porta para a descoberta da sexualidade infantil e da fantasia

5

universal do complexo de Édipo, que é descrita na carta subsequente de 15 de outubro de 1897: "Um único pensamento de valor genérico revelou-se a mim. Verifiquei, também no meu caso, o apaixonamento pela mãe e ciúmes do pai, e agora considero isso como um evento universal do início da infância... Sendo assim, podemos entender a força avassaladora de Oedipus Rex... a lenda grega apreende uma compulsão que toda pessoa reconhece porque sente sua presença dentro de si mesma. Cada pessoa da plateia foi um dia, em ponto menor ou em fantasia, exatamente um Édipo, e cada pessoa retrocede horrorizada, diante da realização de um sonho, aqui transposto para a realidade, com toda a carga de repressão que separa seu estado infantil do seu estado presente" (Freud, 1892-1899, p. 358-359).

Nunca abandonando o trauma sexual como etiológico, Freud (1914 c, p. 27) mais tarde declararia que "a realidade psíquica precisa ser tomada em conta ao lado da realidade fática", e, “fantasias de ser seduzido são de particular interesse, porque muitas vezes não são fantasias, mas memórias reais” (1917, p. 370). Posteriormente, o conceito de Nachträglichkeit foi revisado e estendido no caso seminal do Homem dos Lobos (Freud, 1918). O desafio de articular o impacto da estimulação traumática vinda de fora, sob a forma de percepções, com o estímulo traumático vindo do interior da mente, na forma de impulsos e fantasias, preocupou Freud em todos os seus escritos.

Numa evolução gradual, a partir de 1897, Freud começou a delinear os contornos de processos e mecanismos que governam o inconsciente, mais tarde conhecidos como “processos primários”. Em 7 de julho de 1897, ele escreveu: "Conheço mais ou menos as leis segundo as quais se agrupam essas estruturas e os motivos pelos quais são mais fortes do que as lembranças verdadeiras; assim, aprendi coisas novas que ajudam a caracterizar os processos no Ics" (Freud, 1892-1899, p. 349). É também durante essa época que ele estabeleceu as raízes de sua "primeira teoria da ansiedade" (Freud, 1892-1899, pp. 261-269), que postulava não apenas a transformação da libido reprimida no afeto da ansiedade, mas representou também o primeiro reconhecimento e conexão causal entre ansiedade e o que veio a ser conhecido o estado traumático.

II. B. O Inconsciente Topográfico: Os Sistemas Ics 1900 - 1923

No modelo topográfico inicial do aparato psíquico, o inconsciente como substantivo caracterizou-se por ter um determinado conteúdo, constituído por representantes reprimidos dos desejos, que funcionam principalmente através de condensação e deslocamento, de acordo com o processo primário de energia móvel livre. Somente sendo fortemente investidas com ("catexizado por") energia libidinal essas ideias inconscientes podem ganhar acesso ao sistema pré-consciente/consciente. Devido à censura do pré-consciente, este processo, no entanto, sempre assume a forma de uma formação de compromisso evidenciada por sintomas, sonhos e parapraxias.

Foi principalmente através do estudo dos sonhos que Freud percebeu que o inconsciente deve ser qualificado, não só pela falta de consciência, mas por sua forma de trabalhar, o que levou à sua introdução do importante conceito de processos primários. Dentro do capítulo sete da “Interpretação dos Sonhos” Freud observou o absurdo do trabalho onírico, que não poderia

6

simplesmente ser atribuída ao trabalho da censura. “Dessa maneira, somos levados a concluir que dois tipos fundamentalmente diferentes de processos psíquicos tomam parte na formação dos sonhos. Um deles produz pensamentos oníricos perfeitamente racionais, de não menor validade que o pensamento normal enquanto que o outro trata esses pensamentos de uma maneira que é, no mais alto grau, desconcertante e irracional ” (Freud 1900b, p. 635). Processo primário e processo primário inconsciente simbólico dos sonhos são caracterizados pelo livre trânsito de energia psíquica, que passa desimpedida por meio dos mecanismos de condensação e deslocamento. Devido à liberdade com a qual a energia pode ser transferida, ideias intermediárias, que se assemelham a compromissos, são construídas por meio de condensação. A realidade limitada às leis lógicas do pensamento - o processo secundário e sua linguagem simbólica- não é aplicada ao processo primário. Acima de tudo isso se aplica à lei das contradições. Ideias contraditórias existem lado a lado sem se anularem. Elas podem se combinar de maneira que nunca seriam toleradas pelo pensamento consciente. Finalmente, no processo primário, ideias transferem suas intensidades de uma para outra, permanecendo em “frouxas relações mútuas” (ibid., p. 634). Enquanto Freud iniciou atribuindo à censura o papel decisivo nos processos irracionais do inconsciente, ele acabou por concluir que o processo primário se coloca ao lado dos pensamentos lógicos da consciência. Os processos irracionais, ele escreve, “são os processos primários. Eles aparecem onde quer que ideias sejam abandonadas pela catexia pré-consciente, deixadas a si próprias e possam tornar-se carregadas com a energia não inibida do inconsciente, que se está esforçando por descobrir um escoadouro” (ibid., p. 643-644). Assim, o processo primário é um modo de funcionamento na vida psíquica, livre das inibições do pensamento consciente. O processo primário deve ser entendido como um princípio organizador existente na vida adulta normal, alternativo ao processo secundário dominante organizado lógica e verbalmente com sua linguagem simbólica comunicativa. Uma característica importante de processo primário é a tolerância à ambiguidade e à contradição. Outra é a característica alucinatória, disfarce do desejo em um ato perceptivo no presente (Freud, 1912a). Assim entendido, o processo primário é um processo cognitivo, que difere substancialmente da definição de cognição em psicologia cognitiva.

Foi, no entanto, em seus textos metapsicológicos que Freud (1915 a, b, c) sistematizou o conceito do inconsciente em seus pressupostos econômicos, dinâmicos e topográficos. Em “O Instinto e suas Vicissitudes” (Freud, 1915a), os instintos são definidos como um conceito no limite entre os reinos físico e mental.

Em “Repressão” (Freud, 1915b), Freud distingue entre repressão primária, que é “uma primeira fase de repressão, que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional) do instinto.”(Freud, 1915b, p. 171), e “repressão propriamente dita”, a “pressão posterior”.

Em "O Inconsciente" (1915c), a teoria topográfica alcança seu zênite. Freud inicia revendo o conceito de um inconsciente dinâmico, que exerce força contrária ao ato de repressão. Ele prossegue estabelecendo a existência do inconsciente através de seus derivados: parapraxias, sintomas e sonhos, e demonstra que sentir, pensar, lembrar e fazer também estão, principalmente, sob a influência de derivados inconscientes. Freud faz uma distinção entre atos latentes, que estão temporária e apenas descritivamente inconscientes, e podem se tornar

7

conscientes conectando-se com uma palavra e processos e conteúdos reprimidos, os quais são permanentemente inconscientes, e dinamicamente mantidos fora da consciência (correspondendo ao inconsciente dinâmico). Não há "ou-ou" no inconsciente; o processo primário e suas características – telescópica, deslocamento e condensação - aplicam-se igualmente ao inconsciente como havia descrito no “processo do sonho” quinze anos antes. Freud postula a presença de duas censuras: uma entre os sistemas Ics e Pcs que, em certas circunstâncias, pode ser contornada e uma segunda entre os sistemas Pcs e Cs. Emoções, sentimentos e afetos são excluídos do Ics. Diz-se que um afeto esteve "inconsciente" somente após a conexão entre a ideia reprimida e a emoção ser restaurada.

Depois de apontar os diferentes modos de funcionamento dos sistemas consciente e inconsciente, Freud discute os processos de tornar-se consciente e aqueles de tornar-se inconsciente. Ele fornece duas hipóteses alternativas: 1) a tese de uma inscrição em dois lugares, e 2) a tese de uma mudança funcional. Quando uma ideia psíquica é transposta do inconsciente para o consciente, ele questiona se isso significa que temos um “registro novo – por assim dizer, um segundo registro - da ideia em questão… paralelamente à qual o registro inconsciente original continua a existir. Ou, antes, devemos acreditar que a transposição consiste numa mudança no estado da ideia, mudança que envolve o mesmo material e ocorre na mesma localidade?” (Freud, 1915c, p. 200). A primeira hipótese é topográfica e, portanto, ligado à separação topográfica dos sistemas consciente e inconsciente. Sugere que uma ideia pode simultaneamente existir em duas localidades no aparelho psíquico e, a menos que sofra resistência pela censura, pode passar de um sistema para outro. A hipótese baseia-se no pressuposto de que a interpretação poderá criar uma conexão entre as duas inscrições localizadas respectivamente nos sistemas inconsciente e pré-consciente. A experiência mostra, no entanto, que nem sempre é esse o caso. O caráter do inconsciente é bem diferente do que comunicamos em palavras ou, como Freud escreveu, a informação dada ao paciente sobre sua memória reprimida não necessariamente vai colocá-lo em contato com o traço da memória inconsciente: "Ouvir algo e experimentar algo são, em sua natureza psicológica, duas coisas bem diferentes, ainda que o conteúdo de ambas seja o mesmo" (ibid, p. 202). Um exame mais detalhado do mecanismo de repressão, entendido como uma retirada de investimento (catexia) favorece a segunda hipótese. Freud, em seguida, aborda a questão sobre em que sistema a retirada ocorre e a qual sistema a energia retirada pertence. Procedente de sua experiência que uma ideia reprimida mantém seu investimento, ele conclui que apenas o investimento pré-consciente pode ser retirado da ideia. Colocado de maneira diferente, a repressão é um processo que pertence ao pré-consciente. Assim, o que acontece durante a repressão é uma retirada da energia mental (catexia) da ideia pré-consciente, preservando o investimento inconsciente. Isto é consistente com a segunda hipótese, a saber, que neste caso a transição entre o sistema inconsciente e o sistema pré-consciente/consciente não consiste em um novo registro, mas de uma mudança em seu estado, ou seja, uma mudança na qualidade da energia mental dedicada a isso. Ambas as hipóteses servem para chamar a atenção para a coexistência de dois processos contraditórios que exigem duas explicações diferentes. A hipótese de registro em dois locais pode ser adequada para ilustrar o processo de tornar-se consciente, enquanto a hipótese de mudança funcional é apropriada para descrever o processo de repressão apontando para uma assimetria entre tornar-se consciente, por um lado, e repressão, por outro.

8

A terceira importante hipótese emerge, enquanto Freud investiga a representação do mundo no reino do inconsciente, distinguindo entre representação de coisa e representação de palavra. A proposta de diferenciação entre representações de palavras e de coisa foi o resultado de observações, as quais estavam além dos sonhos e das neuroses. “Só a análise de uma das afecções que denominamos de psiconeurose narcisista promete proporcionar-nos concepções através das quais o enigmático Ics ficará mais ao nosso alcance, tornando-se, por assim dizer, tangível” (Freud, 1915, p. 224). Na fala esquizofrênica, as palavras podem ser submetidas ao processo primário do inconsciente, se tornando concretas ou como coisas. Freud fez esta observação para explicar que, o que foi anteriormente descrito como uma apresentação consciente do objeto, deve ser diferenciado em representações de palavra e de coisa. A ideia consciente inclui a representação de coisa e a representação de palavra que pertence a ela, enquanto a representação inconsciente, com a sua qualidade alucinatória, é caracterizada apenas pela representação de coisa. Vale a pena notar a formulação alemã do que estamos a entender por representação de coisa: Freud fala de “Sachbesetzungen der Objekte” (catexia-coisa dos objetos) indicando que no inconsciente, não há distinção entre a coisa e a representação da coisa. Porém, não se pode, no estado de alerta da consciência focalizada, reproduzir a qualidade de coisa do inconsciente; só se pode esperar passivamente pelo seu surgimento.

Neste período, Freud estava engajando ideias do período anterior em novos contextos e iniciando a desenvolver ideias, que só seriam totalmente sistematizadas na próxima etapa de seu desenvolvimento teórico.

“O caso Dora: Fragmento de uma Análise de um Caso de Histeria” (Freud, 1905a), que forma uma ligação conceitual entre “A Interpretação dos Sonhos” e “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” no que diz respeito à sexualidade infantil, também é notável por sua atenção pioneira no fenômeno dinamicamente inconsciente da transferência.

Em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905b), Freud explorou os estágios do desenvolvimento psicossexual e da sexualidade (inconsciente) infantil.

A dificuldade para contornar a censura com o uso modificado da ambiguidade do processo primário e a liberação parcial dos impulsos instintuais nos chistes é investigado em “O Chiste e sua Relação com o Inconsciente” (1905c).

Em “Totem e Tabu” (1912-1913), Freud discutiu a transformação da hostilidade inconsciente em afeição excessiva (p. 70), bem como a projeção inconsciente da hostilidade sobre o morto, como segue: "A hostilidade, da qual os sobreviventes... nada desejam saber, é expelida da percepção interna para o mundo externo... Não se pode dizer que estejam alegres por se haverem livrado do morto; pelo contrário, estão de luto por ele; mas... ele transformou-se num demônio perverso... ansioso por matá-los. Torna-se-lhes então necessário... aos sobreviventes, defender-se contra o inimigo malvado; aliviaram-se da pressão provinda de dentro, mas apenas a trocaram pela opressão vinda de fora" (pp. 84). O texto é uma excelente exposição dos esquemas filogenéticos que se manifestam através de fantasias originárias, como um dos conteúdos do inconsciente.

9

Em “História de uma Neurose Infantil” (1918), Freud referiu-se à dificuldade das crianças pequenas em discriminar entre o que é consciente e o que é inconsciente, e entre o que é uma "realidade" e o que é uma "fantasia". A dificuldade surge porque “o consciente não adquiriu ainda todas as suas características; está ainda em processo de desenvolvimento” (p.132). Esta é uma nova elaboração sobre a natureza dual da mente em desenvolvimento, que Freud já havia teorizado cerca de três anos antes, ao escrever sobre a comunicação entre os sistemas Cs e Ics: "Uma divisão acentuada e final entre o conteúdo dos dois sistemas não ocorre até à puberdade" (Freud, 1915c, p.223).

Em “Uma Criança é Espancada” (1919), pressagiando a teoria dual do instinto, Freud explorou as fantasias inconscientes sadomasoquistas de meninos e meninas de serem espancados pelo pai e mãe. Neste texto chave sobre a formação da fantasia, Freud distinguiu três fases, começando com a criança testemunhando outra criança sendo espancada. É, no entanto, a segunda fase que "é a mais importante e o mais significativa de todas" (p. 232) por duas razões. Por um lado, o masoquismo é visto como uma formação/fase secundária do instinto sádico voltado sobre o self e reprimido no processo. Tal fenômeno está ligado à universal sexualidade infantil inconsciente que está no centro dos fenômenos neuróticos: “sexualidade infantil, que é mantida sob repressão, atua como a principal força motivadora na formação dos sintomas; e a parte essencial do seu conteúdo, o complexo de Édipo, é o complexo nuclear das neuroses” (p. 253); e isso torna-se uma fantasia de herança universal: "A herança arcaica do homem forma o núcleo da mente inconsciente; e qualquer que seja a parte daquela herança que tenha que ser deixada para trás ... porque não serve... surge uma vítima do processo de repressão" (pp. 252). Por outro lado, a produção da fantasia infantil só pode ser verificada indiretamente: "Pode-se dizer, porém, que, num certo sentido, jamais teve existência real. Nunca é lembrada; jamais conseguiu tornar-se consciente. É uma construção da análise, mas nem por isso é menos uma necessidade” (p. 232).

“Além do Princípio do Prazer” (Freud, 1920) é um texto de transição, principalmente conhecido por adicionar o impulso agressivo ao sexual. Nesta conclusão de sua "teoria dual do instinto”, Freud também elaborou mais sobre a natureza difusa e atemporal do inconsciente da seguinte forma: "Aprendemos que os processos mentais inconscientes são, em si mesmos, “intemporais”. Isso significa, em primeiro lugar, que não são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera e que a ideia de tempo não lhes pode ser aplicada...” (p. 43-44). Prenunciando seu próximo estágio de desenvolvimento teórico, ele também introduz a noção de ego inconsciente: “É certo que grande parte do ego é, ela própria, inconsciente, e notavelmente aquilo que podemos descrever como seu núcleo; apenas pequena parte dele se acha abrangida pelo termo ‘pré-consciente’" (p.33). Este texto também reformula o conceito do conflito inconsciente: enquanto anteriormente, o conflito era visto como entre os instintos sexuais e os de preservação do ego (Freud, 1911c, 1914b), agora, em 1920, o conflito está entre os impulsos instintivos e as defesas. Embora várias defesas, outras além da, ou como parte da repressão, já foram identificadas no decorrer deste período (Freud, 1908, 1909b, 1911c, 1915a), as defesas não foram sistematizadas, e a repressão foi utilizada como sinônimo de defesa, quando se tratava da conceituação de conflito inconsciente.

10

II. C. O Inconsciente do Modelo Estrutural / Segunda Tópica: 1923 - 1939

Quando Freud mudou seu (primeiro) modelo topográfico para a Teoria estrutural/ segunda topografia do Id, do Ego e do Superego em 1923, o Inconsciente foi abandonado como um sistema e, em parte, substituído pelo Id. Essa transformação significou uma mudança completa da Teoria freudiana não só em relação ao inconsciente, mas também em relação ao ego e aos instintos. A principal diferença entre o inconsciente e o Id é que nos estratos mais profundos do Id não há representações. O Id é composto de impulsos instintivos sexuais e agressivos, descritos anteriormente em “Além do Princípio do Prazer” (Freud, 1920). Em uma metáfora freudiana posterior, o Id é “caos, caldeirão cheio de agitação fervilhante” (Freud, 1933 p.94).

Em contraste ao Id, o Ego tem sido usado em todos os escritos de Freud, mas é aqui mais refinado através do desenvolvimento de seu pensamento, com base na introdução anterior dos conceitos de narcisismo e identificação (Freud, 1914b). Entre as mudanças substanciais na organização do Ego em 1923, está o pleno reconhecimento do funcionamento inconsciente do ego, cujas raízes remontam a 1895. Então, Freud evocou a imagem de "um infiltrado" para descrever a dificuldade em separar "a organização patogênica" do ego em si, ressaltando que "De fato, o organização patogênica não se comporta como um corpo estranho, porém muito mais como um infiltrado. Nesse símile, a resistência deve ser considerada como o que é infiltrante" (Breuer & Freud, 1893-1895, p 347-348). No novo modelo Estrutural, muitos mecanismos de defesa previamente identificados (identificação, incorporação, projeção, introjeção, formação reativa, negação, regressão, etc.), diferente de, e além da repressão, são sistematizadas e claramente localizadas no ego inconsciente.

A possibilidade de outras formas de defesa teve uma longa história desde a década de 1890. Nesta época, Freud (1894, 1896) havia introduzido um tipo de defesa que tinha implicações patogênicas regressivas mais radicais para o equilíbrio psíquico do que a repressão vista em pacientes neuróticos. Esta intuição tornou-se mais explícita no estudo de Freud (1911c) do caso Schreber com a introdução do mecanismo de “repúdio” ou “rejeição” pelo ego (Verwerfung), um processo drástico para o qual mais tarde Lacan inventaria o termo "forclusão". Este mecanismo de defesa não neurótico foi retomado no Homem dos Lobos (Freud, 1918) e postulado como um processo de apagamento ou exclusão da capacidade da mente de representar. Este processo é muito mais do que censura ou repressão, é mais uma abolição representacional causando um buraco ou vazio na mente. Esta linha de pensamento foi complementada quando Freud, em 1925 (1925h) introduziu o mecanismo de negação [Verneinung] e mais adiante, quando em 1927 (1927) ele descreveu a cisão do ego [Ich Spaltung], um conceito que ele retomaria em seu texto sobre “A Divisão do Ego no Processo de Defesa” (1940 [1938]). Enquanto Freud trabalhou dentro do modelo do inconsciente como sistema, tentando desvendar o que era reprimido através do ato de interpretação, o inconsciente foi apreendido em sua forma de conteúdo "positivo", tais como fantasias, desejos, pensamentos, etc. Com a introdução das formas "negativas" de defesa a visão de Freud do ego foi substancialmente alterada. Juntamente com as perturbações sexuais dos neuróticos, ele agora incluía uma potencial forma de perversão das funções do ego. Estas são as perturbações que se podem observar como “as incoerências, excentricidades e loucuras dos homens” (1924,

11

p. 193). Têm sido principalmente escritores pós-freudianos os que teorizaram sobre o princípio do "negativo" como uma suposição básica em todos os escritos de Freud. Bion (“capacidade negativa”), Lacan (a palavra como ausência da coisa), Green (“o trabalho do negativo”), Zaltzman (“o impulso anarquista”) e outros, reconheceram que o inconsciente não é apenas uma presença oculta/lutando por representação, mas é igualmente constituído por poderosas formas de ausência, atribuições tanto protetoras quanto destrutivas.

O conteúdo do Ego do Modelo Estrutural/Segunda Topografia de 1923 é principalmente pré-consciente, mas uma porção significativa sua é dinamicamente inconsciente. Essa noção também tem precursores na (primeira) teoria Topográfica, quando, no artigo de 1915 “O Inconsciente”, Freud já havia observado que “Grande parte desse pré-consciente origina-se no inconsciente” (Freud, 1915c, p. 219). Em uma elaboração, Freud notou pensamentos que, ele referiu, como tendo todos os sinais de terem sido formados inconscientemente, porém "são altamente organizados, livres de autocontradição, tendo usado todas as aquisições do sistema Cs, dificilmente distinguindo-se, a nosso ver, das formações daquele sistema” (ibid, p. 218). Aqui, mesmo antes da teoria Estrutural de 1923, Freud apresentou um pensamento formado no inconsciente e tendo as qualidades do pensamento de processo secundário. No entanto, a elaboração sistemática de tais observações de vários componentes do Ego teve que esperar até “O Ego e o Id” (Freud, 1923a), o texto que inaugurou a Teoria Estrutural/ Segunda Topografia.

"O Ego e o Id" (1923a) é frequentemente visto como o último grande trabalho teórico de Freud. Aqui, ele postulou dois tipos de inconsciente: o latente e o dinâmico. O "inconsciente latente" é capaz de se tornar consciente (através de conexões com palavras) e deve ser considerado um termo estritamente descritivo. O "inconsciente dinâmico" é a parte do inconsciente que, por causa da repressão primária, não é capaz de se tornar consciente. Freud acrescenta que o termo "inconsciente" deve ser preservado para o "inconsciente dinâmico" ainda que, segundo ele, seja impossível evitar a ambiguidade entre o inconsciente descritivo e o dinâmico. O Ego, cujo conteúdo é predominantemente pré-consciente, tem duas faces, uma interna e outra externa. Em contraste com a sua associação original de Ego com consciência, no Modelo Estrutural apenas a face perceptiva externa, também chamada "o ego coerente" é consciente. Enquanto isso, a face interna, a superfície que enfrenta o Pcs é dinamicamente inconsciente. Aqui, Freud chegou à questão das resistências inconscientes, que se tornou um dos fatores mais importantes em sua mudança para o Modelo Estrutural, e foi central na abordagem da dificuldade de restringir o processo primário ao reprimido inconsciente. Ele escreveu: "Entretanto, visto não poder haver dúvida de que essa resistência emana do seu ego e a este pertence, encontramo-nos numa situação imprevista. Deparamo-nos com algo no próprio ego que é também inconsciente, que se comporta exatamente como o reprimido - isto é, que produz efeitos poderosos sem ele próprio ser consciente e que exige um trabalho especial antes de poder ser tornado consciente." (p. 29-30). Freud conceituou "a antítese entre o ego coerente e o reprimido que é expelido (split off) dele" (p.30), e acrescentou que o inconsciente não coincide mais com o reprimido; tudo o que é reprimido é inconsciente, mas nem tudo o que é inconsciente é reprimido. Além disso, como uma projeção mental da superfície do corpo, "O ego é, primeiro e acima de tudo, um ego corporal" (p.40) O Ego é o representante do mundo externo (realidade) enquanto o Superego torna-se o representante do mundo interno, ou seja, o

12

representante do Id. Superego é um grau especial do Ego, representando proibições morais internalizadas e ideais da sociedade e é herdeiro do Complexo de Édipo. As duas classes de instintos de 1920, Eros e Thanatos, "se fundem, misturam e ligam uma com a outra" (ibid, p.56) estão aqui localizados no Id. Freud escreveu: "Os perigosos instintos de morte são tratados no indivíduo de diversas maneiras: em parte são tornados inócuos por sua fusão com componentes eróticos, em parte são desviados para o mundo externo sob forma de agressividade, enquanto que em grande parte continuam, sem dúvida, seu trabalho interno sem estorvo" e acrescentou: "quanto mais um homem controla sua agressividade, mais intensa se torna a inclinação de seu ideal à agressividade contra o seu ego" (ibid, p.70-71). O Ego é uma organização lutando pela síntese, um “pacificador” mitigando entre tendências conflitantes de Id e Superego, e um "embaixador", lutando por um compromisso entre três agências psíquicas/sistemas do Id, Ego e Superego e o mundo externo.

Uma exposição completa do conflito inconsciente intersistêmico entre os três sistemas/estruturas da mente - Id, Ego e Superego - e a segunda teoria da ansiedade surgiu três anos depois, em “Inibição, Sintoma e Angústia” (Freud, 1926). Aqui, a ansiedade está localizada dentro do ego. Ansiedade era agora considerada como motivo para defesa, não o seu resultado. Ansiedade sinal é uma ansiedade arcaica rudimentar traumática transformada, sinalizando perigos relacionados à perda do objeto, a perda do amor do objeto, a castração e a perda da aceitação interna/do "amor do superego". A ansiedade ativa defesas, que são agora firmemente localizadas dentro do Ego inconsciente. A lista das defesas continuou a se expandir: em “Fetichismo” (1927), Freud descreveu a “recusa”, a crença inconsciente de simultaneamente saber e não saber. Em “A Divisão do Ego no Processo de Defesa” (1940b [1938]), Freud, baseando-se no mecanismo da recusa, discutiu a cisão inconsciente do Ego à custa de sua função sintética.

Todo o tempo, Freud continuou revisitando suas primeiras ideias no novo contexto:

Em uma demonstração exemplar de continuidade entre os primeiros e os últimos estágios da elaboração da teoria, em “Construções em Análise” Freud (1937a) retornou à catexia-coisa dos objetos no inconsciente, uma hipótese já sugerida em 1895. Em Estudos sobre a Histeria, Freud (1895) sugeriu que os pacientes histéricos sofriam de reminiscências, também compreendidas como “corpos estranhos” internos. Em 1937, esta tese é revisitada por uma observação que quando ele propôs uma construção, o paciente reagiu com uma lembrança “ultraclara”, uma Sachbesetzung der Objekte. Freud teorizou que essas lembranças fossem alucinações repetindo experiências psíquicas da primeira infância, que mais tarde foram esquecidas, mas agora retornaram como tais lembranças “ultraclaras”. A lembrança “ultraclara” trai a erupção do inconsciente como “presença” não mediada, um retorno/reavivamento perceptivo-sensorial de um "pensamento" rudimentar não verbalizado ou reprimido/fantasia.

Outro exemplo de revisão de ideias iniciais no novo contexto é “Moisés e o Monoteísmo” (Freud, 1939). Aqui, Freud retratou o destino do Inconsciente, memória e repressão de um ângulo sócio-histórico, afirmando: "Quando Moisés trouxe ao povo a ideia de um deus único, ela não constituiu uma novidade, mas significou a revivência de uma experiência das eras primevas da família humana, a qual havia muito tempo se desvanecera na

13

memória consciente dos homens... Aprendemos das psicanálises de indivíduos que suas impressões mais primitivas, recebidas numa época em que a criança mal era capaz de falar, produzem numa ou outra ocasião efeitos de um caráter compulsivo, sem serem, elas próprias conscientemente recordadas. Acreditamos que temos o direito de fazer a mesma presunção sobre as experiências mais primitivas da totalidade da humanidade” (pp.153-154). De um modo Nachträglichkeit, ele também recapitulou a ideia da etiologia traumática da neurose a partir da chamada teoria da sedução, desenvolvida em 1895-7, em uma modificação da fórmula: "Trauma primitivo - defesa - latência – desencadeamento da doença neurótica - retorno parcial do reprimido” (Freud, 1939, p. 99) com referência à psicologia individual.

Os pressupostos metapsicológicos do Inconsciente foram formulados simultaneamente e progressivamente ao longo do trabalho de Freud; o modelo Estrutural, onde "estar inconsciente" apareceu como uma qualidade, não apareceu subitamente, nem substituiu completamente o modelo Topográfico. Há ampla evidência de que os elementos da Teoria Estrutural foram gradualmente formulados e antecipados, muito antes de 1923. Da mesma forma, o Inconsciente, particularmente o Inconsciente Dinâmico, continuou a fazer parte de todas as estruturas mentais da Teoria Estrutural: ela preencheu o Id e muito do Superego, e a porção inconsciente do Ego, as defesas.

III. EVOLUÇÃO PÓS-FREUDIANA DO CONCEITO DO INCONSCIENTE

Na teorização psicanalítica pós-freudiana, o inconsciente sofreu mudanças notáveis, juntamente com o crescimento de vários novos modelos clínicos e teóricos em todas as três regiões. Note-se que as primeiras contribuições que se seguem - Teorias (Norte Americanas) Freudianas Contemporâneas: Teoria Estrutural/Psicologia do Ego e a Teoria Moderna do Conflito - tem semelhanças marcantes. As diferenças são sutis, frequentemente num tópico específico, e não no corpo central da teoria. Mas, apesar de sutis, são importantes: por exemplo, sua ênfase no funcionamento e nos processos inconscientes do ego, incluindo o papel único do ego inconsciente na formação de defesas e resistências; e a função sintetizadora da mente lidando com o conflito, respectivamente. A diversidade contemporânea de pontos de vista sobre o Inconsciente abrange as contribuições de teóricos das linhas Kleinianas, Bionianas, Psicologia do Self, Relacional, Francesa e Latino Americana, bem como a visão interdisciplinar Neuro- psicanalítica. A lista conclui com várias abordagens.

III. A. Desenvolvimento Pós-Freudiano da Teoria Estrutural

As revisões teóricas de Freud (1920, 1923a, 1926) forneceram o ímpeto para repensar conceitos sobre o inconsciente particularmente na América do Norte, para onde muitos psicólogos do ego emigraram durante a década de 1930. Durante as décadas de 1940 e 1950, muitos desses analistas norte-americanos escreveram que o inconsciente emerge através de uma matriz indiferenciada que produz o potencial para o futuro desenvolvimento do ego e suas funções. Algumas dessas funções estão livres dos efeitos de conflito, o que Hartmann

14

(Hartmann, 1939; Hartmann, Kris e Loewenstein, 1946) chamou de funções autônomas primárias, enquanto outras se tornam secundariamente autônomas após a resolução de conflitos. Nesse processo, todos os aspectos são mediados pela identificação com o analista, sendo que esta se torna a principal função do ego por facilitar essa “neutralização” de energia. A Teoria Estrutural Pós-Freudiana gradualmente adicionou considerações genéticas, desenvolvimentistas e adaptativas (Rapaport e Gill. 1959, Freud, A. 1965) para as teorias dinâmicas, estruturais e econômicas metapsicológicas freudianas já existentes.

Surge aqui um tema relevante: um aumento do significado atribuído às experiências com pessoas no ambiente da criança. Com este desenvolvimento, crescente importância é dada a novas fontes de contribuições inconscientes para a transferência. Considerando a progressiva influência das Escolas de Budapeste e Berlim, e posteriormente, do Middle Group da Escola Britânica e dos primeiros kleinianos, contemporâneos a Hartmann continuaram a discussão das relações objetais, dando maior profundidade aos aspectos conscientes e inconscientes dos períodos muito precoces do desenvolvimento. Edith Jacobson (1964) investigou os mundos do self e do objeto, e Margaret Mahler (1963; Mahler et al. 1975) forneceu as formulações clássicas de separação-individuação posteriormente revisitada por Stern (1985). A atenção foi direcionada para o impacto do período pré-edípico da infância no desenvolvimento posterior, bem como às maneiras pelas quais os controles externos, decorrentes em parte das transações da criança com os pais, são internalizados. Aqui a ênfase estava em como as diversas lutas inconscientes (ligadas, filtradas, gratificadas ou negadas dentro do ego psicológico/tecido das relações objetais) foram moldadas do conceito central de Freud (1926) do medo infantil da perda do objeto, da perda do amor do objeto e da castração.

Jacobson (1964) fez uma contribuição especial para o entendimento do inconsciente. Ela postulou que a energia instintual indiferenciada se desenvolve em impulsos libidinais e agressivos "sob a influência dos estímulos externos" (1964, p. 13). A frustração e a gratificação, estabelecidas como traços de memória dos conflitos infantis, organizam essas experiências afetivas de modo específico para cada um, individualmente personalizando o espectro prazer- desprazer e seus limites superiores e inferiores. Este novo modelo psicológico do ego permitiu uma visão mais clara da evolução das representações do self e do objeto que se considera estar presente em todas as três instâncias psíquicas (Id, Ego e Superego).

A Psicologia do Ego mudou quando os teóricos insistiram em descobertas clínicas para apoiar os pressupostos metapsicológicos. Aqui a evolução incluiu alguns membros do grupo inicial (por exemplo, Mahler, Jacobson), bem como novas gerações de pensadores (por exemplo, Beres, 1962; Arlow e Brenner, 1964; Kanzer, 1971; Rangell, 1952; Wangh, 1959). Esta nova fase foi sinalizada pela monografia de Arlow e Brenner (1964), em que eles colapsaram a perspectiva metapsicológica sob o ponto de vista estrutural. Essa mudança ajudou a abrir as portas para novas formas de pensar sobre o inconsciente, incluindo novos integracionistas como Kernberg (1966), Kohut (1971) e Rangell (1969b). A abordagem tradicional da psicologia do ego agora se tornou o modelo estrutural, uma abordagem que foi aceita principalmente pela maioria dos analistas da América do Norte até meados da década de 1970.

15

Uma das principais mudanças no zeitgeist deste pensamento foi uma reação contra a orientação metapsicológica. Instruída pela metodologia do "operacionalismo" (foco em operações concretas), a ênfase antimetapsicológica foi desenvolvida primeiramente nos trabalhos dos teóricos interpessoais/culturais HS Sullivan (1953), Horney (1941) e Fromm (1941), que muitas vezes usaram seletivamente o conceito apenas como um termo descritivo secundário e não como um aspecto principal da vida psíquica. No entanto, mesmo em suas formulações: "alienated", "bad-me", "not-me", partes de si mesmo tinham de ser mantidas fora da consciência e empurradas para dentro do "imutavelmente privado" inconsciente. Embora não seja a corrente principal, esta abordagem contribuiu direta e indiretamente às conceituações psicanalíticas e ao trabalho dinâmico com patologias graves, aos conceitos sobre o desenvolvimento inicial e ao aprofundamento da compreensão das transações inconscientes dentro do campo transferência-contratransferência.

O próximo questionamento que influenciou conceituações sobre o inconsciente veio de dentro do próprio ponto de vista metapsicológico, sendo seus principais contribuintes: Merton Gill, que renunciou à perspectiva topográfica (1963) e depois do restante da metapsicologia (1976; 1994); e George Klein (1976). Eles delinearam afinal duas teorias psicanalíticas: (1) uma teoria clínica, baseada em princípios de observação empírica indiscutível; e, (2) uma teoria abstrata especulativa. Roy Schafer (1976) propôs uma linguagem da ação que tenta explicar fenômenos psicológicos em formulações dinâmicas usando verbos e advérbios e não substantivos ou adjetivos. Além disso, Schafer defendeu o uso da linguagem de maneira a incluir forças motivacionais e de suas ações consequentes, como sequências de ação. Este foi outro impulso na direção da intersubjetividade. Como antimetapsicólogos tardios se incluem Kohut (1977) e Gedo (1979). Gedo rejeitou a metapsicologia porque perde de vista a “pessoa” como “agente, sugerindo um modelo de self em relação aos seus objetos como uma correção. Novos grupos se desenvolveram, adicionando praticantes das perspectivas Interpessoal, Psicologia do Self e Relacional (Gerson, 2004; Hatcher, 1990). Sua unidade clínica de atenção era interpessoal, com exceção de Thomas Ogden (1992a e b) e Jay Greenberg (1991), que retornaram a atenção para as forças motivacionais inconscientes.

Estes desenvolvimentos foram acompanhados por outro grupo de mudanças, “modificações metapsicológicas”, que intensificaram o uso do modelo estrutural e do conflito psíquico (Arlow & Brenner, 1964), o papel e a função da fantasia inconsciente e da transferência (Arlow, 1961, 1963, 1969a & b; Arlow e Richards, 1991; Abend, 1990, Gill, 1982; Gill e Hoffman, 1982), o desenvolvimento do caráter (Abraham, 1923, 1925 e 1926; Reich, 1931 a & b), o sequenciamento do processo intrapsíquico (Rangell, 1969a), "a função inconsciente de tomada de decisão" (Rangell, 1969b, 1971), e uma visão ampliada da formação de compromisso (Brenner 1976, 1982, 2006).

Tecidas através destes desenvolvimentos teóricos estão as mudanças em como o inconsciente foi conceitualizado: uma visão estática do inconsciente, focada principalmente em seu conteúdo, deu lugar a uma que tinha ambas dimensões fluidas e estruturadas. Começa a se infiltrar, nas águas subterrâneas do pensamento sobre o funcionamento inconsciente, a ideia que o mesmo funciona através da organização da fantasia, de múltiplos estados do ego e de identificações (por ex. atividade de transferência, dissociações, modos narcísicos de se

16

relacionar, várias relações de objeto internalizadas, etc.) e que, também, fluidamente se adapta através de processos ativos e flexíveis de insight, integração e maturação. O conceito de inconsciente começou a ser pensado como tendo ambas as dimensões: estruturante e de processamento.

Arlow (1969 a, b) e Beres (1962), separadamente e juntos (Beres & Arlow, 1974) mostraram como a fantasia inconsciente não é apenas uma dimensão temática organizada do inconsciente, mas também uma dimensão que - como expressão de desejos mais arcaicos – amadurece com o desenvolvimento. Isto coincide com os trabalhos de Sandler (1984, 1987, 1994) e de Rosenblatt (1962) sobre o passado e o presente inconscientes e sobre as representações inconscientes. Também pressagia formulações posteriores (Bachant e Adler, 1997) da transferência em relação ao funcionamento adaptativo e arcaico do inconsciente.

Arlow e Brenner (1964) em "Conceitos Psicanalíticos e a Teoria Estrutural" desenvolvem uma reconstrução radical do conceito de inconsciente. No centro desta reorganização está a relação entre ansiedade e conflito. Ansiedade para Arlow e Brenner torna-se o fator crucial no desenvolvimento do conflito entre ego e id, e na capacidade do ego de se opor aos impulsos instintivos. Muito desprazer leva à ansiedade ligada aos perigos da infância. Essas ansiedades agem como um cadinho de medos que organizam o inconsciente e seguem afetando o indivíduo (Richards e Lynch, 2010).

Loewald foi outro teórico que contribuiu significativamente para a posterior evolução do conceito. Ele foi comparado a Sullivan, Klein, Rado, Kohut (Cooper, 1988) e Winnicott (Chodorow, 2009), Fairbairn e Guntrip. Loewald, no entanto, se considerava adepto à psicologia do ego.

Em seu trabalho, Loewald enfatizou o papel essencial das relações de objeto tanto na formação psíquica como na mudança trazida através da análise. Sua ênfase na interação das relações objetais deu vida às ideias de fusão pulsional e neutralização, neutralidade analítica e ação terapêutica. Por exemplo, ele considerou a estrutura psíquica dos instintos e o id como originários da interação do bebê com o ambiente humano (mãe) (Loewald, 1978). Isso está muito próximo das formulações de seu predecessor Jacobson (1964). Instintos eram vistos por esses teóricos como o produto da interação. Até este ponto, Loewald estava mais em sincronia com analistas como Fenichel, Jacobson (1964), Mahler, Stone (1951); e em desacordo com analistas como Hartmann (1939), Loewenstein (1953) e Kris (1956 a, b, c). Loewald, no entanto, levou seu raciocínio além, ao identificar a interação como um aspecto crítico na internalização da representação subjetiva de si e dos outros, desviando do sentido concreto de instância psíquica, defesa e conflitos inter/intrasistêmicos. Em vez disso, ele se concentrou na natureza da interação com o ambiente (humano), observando o papel que “desempenha na formação, desenvolvimento e integridade do aparato psíquico” (1960, p. 16). Interação se torna para Loewald não só a fonte das pulsões (1960, 1971, 1978), mas um aspecto central dos processos inconscientes. Essa ênfase na interação como um construto básico da mente guiou a teoria de Loewald sobre o inconsciente, aproveitando e modificando fortemente os aspectos adaptativos e genéticos da metapsicologia freudiana, deixando soltos os modelos estruturais/topográficos. Ele acreditava que “… em uma análise,…, temos a oportunidade de observar e investigar processos de interação tanto primitivos como mais avançados, ou seja,

17

interações entre paciente e analista que levam de ou para etapas na integração e desintegração do ego” (1960, p.17). Assim como foi o caso de Winnicott no Reino Unido, Loewald e Jacobson nos EUA podem ser vistos como os precursores do movimento intersubjetivo.

No início dos anos setenta, as experiências com as pessoas do mundo infantil haviam se tornado indispensáveis no conceito do desenvolvimento da mente (Arlow e Brenner, 1964; Spitz, 1957; Mahler et al, 1975; Jacobson 1964). Essas experiências com os primeiros objetos, através de suas gratificações e frustrações inevitáveis, moldam e colorem o desenvolvimento das funções do ego infantil (incluindo a autodefinição através de identificações), bem como os modelos morais/éticos. Dentro do setting psicanalítico, essas experiências precoces com outros tramam o tecido dos desejos e medos inconscientes que podem produzir acting outs, desenvolvimento de transferência/contratransferência, enactments e violações de limites (Lynch, Richards, Bachant 1997).

Ao longo dos anos 1960 e 1970, Arlow vem ampliando ainda mais a noção freudiana de fantasia inconsciente. Enquanto Freud via a fantasia inconsciente como um derivado do desejo inconsciente, Arlow a vê como uma formação de compromisso que contém todos os componentes do conflito estrutural (Papiasvili, 1995). Nesta visão ampliada, a fantasia inconsciente organiza a poderosa pulsão dos desejos, medos e impulsos autopunitivos desencadeados pelas tarefas de desenvolvimento. Cada indivíduo cria seu próprio conjunto de fantasias inconscientes. Estas refletem seu arranjo mental que tenta entender, responder, gerenciar e integrar grandes conflitos, experiências e relacionamentos. Abend (1990) expande esse conceito e acrescenta que fantasias "podem funcionar para alterar e disfarçar outras fantasias, além de proporcionar gratificação" (Abend, 1990, p. 61). Ao longo do desenvolvimento, as narrativas essenciais das fantasias inconscientes perduram, embora suas manifestações sofram transformações infinitas, resultando em “edições” diferentes, correspondentes a diferentes estágios de desenvolvimento. Fantasias inconscientes moldam nossos traços de caráter, determinam nosso comportamento e nossas atitudes, produzem nossos sintomas, e estão no centro de nossos interesses profissionais e relacionamentos amorosos. Na situação psicanalítica, as fantasias inconscientes estão na raiz de todas as atitudes e atividades transferenciais.

Enquanto tais fantasias inconscientes são modificáveis e continuam a amadurecer à medida que a pessoa inconscientemente busca por soluções novas e mais efetivas, suas origens permanecem arcaicas e fixas e, como tal, continuam a exercer um papel dinâmico na experiência. Portanto, a atividade inconsciente da transferência pode ser vista como tendo aspectos estruturais e processuais. Arlow e Richards afirmam que os desejos inaceitáveis da infância “tomam a forma de fantasias inconscientes persistentes, exercendo um estímulo contínuo à mente”, (1991, p. 309) sucedendo em formações de compromisso em um continuum de adaptado para desadaptado.

Leo Rangell afirmou que o domínio da psicanálise era a área do conflito inconsciente intrapsíquico (Rangell, 1967). Ele mapeou doze etapas sequenciais no surgimento do conflito inconsciente (Rangell, 1969a), que avança desde o estímulo precipitante inicial até um resultado psíquico final. Rangell (1969b, 1971) enfocou a função do ego de tomada de decisão inconsciente, no contexto da onipresente manifestação do processo intrapsíquico inconsciente.

18

Através desta função, o indivíduo inconscientemente escolhe se deve ou não instituir a defesa para minimizar o perigo sinalizado pela ansiedade. Ao longo do tempo, escolhas inconscientes são incorporadas em traços de caráter duráveis, e expectativas constantes do indivíduo. Através de sua sequência de doze passos do processo intrapsíquico, Rangell também postula uma "teoria unitária da ansiedade", conectando a primeira teoria da ansiedade do modelo Topográfico e a Teoria da Ansiedade Sinal do modelo Estrutural, através da transformação da ansiedade traumática (experiência passiva do ego) em ansiedade sinal do ego, antecipando o perigo.

Seguindo o artigo de Freud “Introdução ao Narcisismo” (1914b), que foi simultaneamente precursor tanto da teoria Estrutural como da teoria das Relações Objetais, muitos freudianos contemporâneos tendem a ver as relações objetais como um aspecto do conceito psicanalítico geral (Blum, 1998). Como as relações Objetais se tornaram um interesse mais central, houve esforços originais para integrar a Psicologia do Ego/Teoria Estrutural e Relações de Objeto. Kernberg (1982, 2015) formulou uma visão do conflito intrapsíquico inconsciente pré-edipiano como característica de indivíduos limítrofes em que o conflito inconsciente é entre unidades internalizadas opostas de representações de self e de objeto e suas respectivas disposições afetivas. Dentro deste conceito, afetos, que são gradualmente integrados em desejos, são considerados um sistema motivacional primário (inconsciente) ( Ver TEORIAS DE RELAÇÕES OBJETO E CONFLITO). Recentemente, Bach (2006), Ellman (2010), C. Ellman e outros (1998) incorporaram ideias da Escola Britânica de Relações Objeto em especial sobre ansiedade de separação, perda do self e do uso do objeto pelo self. Enfatizando a dificuldade em ver o ponto de vista de outra pessoa, eles apresentam a empatia como uma ferramenta para tornar consciente o que era impensável. Ellman (1998) expandiu o acesso ao inconsciente, conceituando enactments como um caminho para compreender as fantasias inconscientes.

III. Aa. Teoria Estrutural Contemporânea / Psicologia do Ego

Na visão da moderna teoria Estrutural/Psicologia do Ego, nem tudo é uma formação de compromisso: a repressão e outras defesas específicas não formam compromisso; o ego não só efetua compromisso, mas pode decidir entre alternativas (Blum, 1998; Rangell, 1969). Dentro dessa escola de pensamento, a discussão de Kris (1956c) e Hartmann (1939; Hartmann, Kris & Lowenstein, 1946) sobre a natureza da repressão é ampliada, em teoria e com material clínico detalhado, incluindo uma infinidade de processos de desenvolvimento e clínicos co-ocorrendo (Busch, 1992, 1993; Gray, 1994;2010). Assumindo o conceito de Freud do ego inconsciente como a chave para o trabalho analítico (Freud, 1914a) e refinando os conceitos de funcionamento do ego inconsciente, a Teoria Estrutural contemporânea e a Psicologia do Ego estudam as diferentes formas do inconsciente de uma maneira que respeita as limitações de seu alcance interpretativo. Estas tendências tornam-se potencialmente um contraponto a outra tendência contemporânea de substituir o inconsciente dinâmico pelo não consciente implícito, procedural, automatizado e não simbolizado. Como exemplo de tal abordagem, a memória procedural e a automatização dos processos mentais podem ser usadas para entender as maneiras pelas quais vários processos do ego, como defesas, permanecem tão

19

obstinadamente resistentes a mudanças, e precisam de muito trabalho, para se habituar a não utilizar a manobra ou defesa em particular, e usar outras, necessárias, antes que o poder da defesa possa ser desfeito. A psicanálise pode, através do estudo de tais processos, como as defesas, aprofundar a compreensão dessa forma de inconsciente, que acontece através de proceduralização e automatização.

Muitos psicólogos do Ego contemporâneos observam que a repressão parece ter perdido seu lugar justificável como um importante pivô do trabalho analítico. Visto desta perspectiva, é como se várias defesas de negação, como a minimização e, especialmente, salientando outras realidades (como memórias não simbolizadas e procedurais), fossem utilizadas para cobrir uma realidade específica indesejada (neste caso, a importância, na maioria das pessoas, da repressão ativa das memórias declarativas e seus afetos associados).

Ao usar o método da psicologia do ego de diferenciar vários processos e modos de pensamento, os psicólogos do ego contemporâneos abordam o estudo de memórias pós-traumáticas não simbolizadas e não processadas, sem reduzir todo o inconsciente, com o seu processo primário, para este modo de memória e processamento mental. Fora da Psicologia do Ego Americana, muitos autores propuseram conceitos sobre o não simbolizado (por exemplo, Bion, 1962; De M'Uzan, 2003). Valiosas como suas exposições clínicas são, os Psicólogos do Ego as encaram como a combinação de vários processos, como os de desenvolvimento do ego relacionados ao crescimento do ego e o crescimento do processo secundário fora das áreas de processo primário, com o processo traumático. Dentro da Psicologia do Ego Americano, Alvin Frank (1969), em seu artigo evocativamente intitulado "O não lembrado e o inesquecível: repressão passiva primal", descreveu esta área de funcionamento não processado com alguns impressionantes exemplos clínicos.

Recentemente, o termo "processo zero" foi proposto para esta forma de funcionamento mental (Fernando, 2009, 2012), diferenciando-o do processo primário. Por exemplo, o congelado, "momento presente que está sempre acontecendo e nunca mudando" característico do processo zero, descreve sua natureza "atemporal", é bastante diferente do moto contínuo, de constante movimento, mas nunca desgastando, característico do processo primário, que descreve sua natureza "atemporal". Da mesma forma, "concretude", "falta de abstração", "falha de simbolização de processo secundário” e “falta de integração” são marcadores que podem ser usados para ambos os processos, primário e zero, e ainda eles têm pouco, às vezes muitos, significados diferentes para cada uma dessas importantes classes de processamento mental. O "processo zero" oferece uma ferramenta para estudar o funcionamento mental pós-traumático, aprofundando-se em suas características. Ao mesmo tempo, a importância das outras duas grandes classes, processo primário e processo secundário, do funcionamento mental, e a maneira como cada mente se organiza e funciona através deles pode ser tratada, destacando a interação entre essas formas de funcionamento. No processo zero existe uma forma diferente do inconsciente, uma qualidade desconhecida de "universo paralelo", onde as pessoas podem escorregar para dentro e para fora, de uma maneira bastante diferente do "sistema inconsciente" ou Id que Freud descreveu. Na visão dos modernos psicólogos do Ego, todos esses domínios do inconsciente continuam a representar fatores importantes no

20

funcionamento mental normal e anormal, e é o momento de expandir a concepção da mente para incluir todos.

III. Ab. O Inconsciente na Teoria Moderna do Conflito (MCT)

A Teoria Moderna do Conflito se afastou do foco sobre derivados dos estágios psicossexuais do desenvolvimento para um que é centrado nos processos de conflito e formação de compromisso (Arlow, 1966, 1981; Brenner, 1982, 1999, 2006; Richards, 1986). Central para esta abordagem é a importância de compreender as fantasias únicas, vontades, desejos e medos, que foram organizados pelas relações da criança com os outros. A compreensão dos processos intrapsíquicos, manifestos através de fantasias inconscientes que são moldadas e expressam um misto de determinantes psicológicos, biológicos e sociais é considerado central para a Teoria do Conflito Moderno.

Embora anteriormente Abend (1980, 2005), Brenner (1999, 2002), Rothstein (2005) e Richards (1986) descreveram formações de compromisso como uma coisa (materializada), a posição de muitos Teóricos Modernos do Conflito hoje é que esta dimensão da atividade mental é melhor compreendida como um processo que continuamente busca melhores soluções para resolver conflitos e o desprazer. A mente está sempre sintetizando (Rangell, 2004, 2007) e muito do que se empenha em gerenciar são conflitos inconscientes. O processo de sequenciamento de Rangell (1963a, b; 1969a, b; Lynch e Richards, 2010) do intrapsíquico (tomada de decisão inconsciente) contribui para essa perspectiva do processo. Na Teoria Moderna do Conflito não há o "O Inconsciente" como uma estrutura ou lugar onde as memórias secretas são escondidas, e do qual elas podem ser evocadas pela análise. Em vez de ser um substantivo, a palavra inconsciente é usada como um adjetivo ou advérbio para designar o afeto inconsciente, o medo inconsciente, as proibições inconscientes e as formas inconscientes de defender-se do desprazer e fantasia inconsciente, que são hipotetizadas e investigadas para afrouxar seu poder de motivar o comportamento presente.

Essencial para a compreensão da Teoria Moderna do Conflito é a ideia que as contribuições inconscientes para o funcionamento humano possuem dimensões tanto de estruturação como de processamento. O aspecto estruturante da atividade inconsciente é visto através de suas influências organizadoras da vida psíquica. Atividade transferencial, padrões de relacionamento do self com os outros (incluindo culpa e autopunição), dissociações, o campo intersubjetivo e as relações objetais internalizadas são estruturadas em formas particulares em torno de fantasias inconscientes, únicas para o indivíduo. Os processos inconscientes têm uma dimensão fluida, adaptando-se criativamente às realidades atuais com maturação, insight e integração ou desintegração em ansiedade ou afeto depressivo.

O papel da fantasia no desenvolvimento da atividade inconsciente é entendido como força organizadora primordial, tendo sua origem em uma complexa interação de fatores ambientais e fatores intrapsíquicos (Arlow 1969a, b; Arlow & Richards, 1991). Fantasias inconscientes são organizações que visam ajudar o indivíduo a maximizar o prazer e minimizar o desprazer. Para Teóricos Modernos do Conflito, toda fantasia inconsciente é uma expressão de como a função sintetizadora da mente lida com o conflito. O conteúdo dessas fantasias

21

inconscientes é derivado das ambivalências e conflitos da infância e suas variantes ao longo do ciclo de vida.

Elementos complexos formam-se na mente dependendo de circunstância e necessidade. Os elementos de conflito permanecem categoricamente os mesmos em todas as instâncias, isto é, um derivado do instinto, um afeto desprazeroso, uma defesa, uma expressão moral/ética ou uma exigência do mundo externo, enquanto o conteúdo do conflito varia de acordo com a composição de cada indivíduo, experiência de vida e situação atual. Os teóricos do conflito veem nesse entendimento a manifestação da estrutura e processo na atividade de compromisso que caracteriza toda a vida mental.

III. B. O Inconsciente na Teoria das Relações Objetais "Britânicas"

(Klein, Bion, Winnicott)

A Teoria das Relações Objetais é o principal desenvolvimento pós-freudiano produzido na Inglaterra e na França. A teoria das relações de objeto desenvolve um conceito do inconsciente que não se fundamenta mais no solipsista modelo energético freudiano da pulsão e no processo de repressão, mas num modelo relacional da mente. Os vários conceitos teóricos decorrentes da Escola de Relações de Objeto descrevem o Inconsciente como um sistema que se desenvolve e é moldado dentro de uma relação. A teoria das Relações Objetais enfoca o papel do objeto concebido como produto da internalização das experiências relacionais que o indivíduo teve desde os primeiros estágios de sua vida. Nesta perspectiva, existe um ponto de encontro entre os domínios intrapsíquico e intersubjetivo, os eventos relacionais e as funções mentais inconscientes. A dotação pulsional inata do bebê é moldada pelas interações com o meio ambiente, que por sua vez, são coloridas e remodeladas pelos processos psíquicos inconscientes. Embora permaneça relativamente desconhecido durante a sua vida, "o homem que não divide o átomo psíquico" (Malberg & Raphael-Leff, 2014), W. R. D. Fairbairn (1952) é amplamente considerado um dos primeiros teóricos inovadores nessa área.

Mais conhecido, e mais influente por décadas, tem sido o trabalho de Melanie Klein, que se situa em uma perspectiva puramente intrapsíquica e intersubjetiva. O inconsciente para Klein é caracterizado pelos mecanismos de defesa da criança, que é empurrada para se livrar das partes sádicas e ansiosas do self - dominadas pela pulsão de morte - através dos processos inconscientes de cisão e identificação projetiva. Para isso são adicionadas as defesas de negação e idealização. O conceito do inconsciente como produto da repressão primária proposto por Freud, não se encaixa no conceito Kleiniano de inconsciente (Mancia, 2007). Dentro da teoria Kleiniana, a vida interior do indivíduo é fundada na fantasia inconsciente, e é governada pelas posições esquizo-paranóide e depressiva (PEP-PD) (Klein, 1935). Essas são formas intrapsíquicas de funcionamento que refletem a maneira pela qual o indivíduo se relaciona com seus objetos internos, e que influenciam profundamente sua maneira de se relacionar com as pessoas no mundo externo. O conceito original Kleiniano de identificação projetiva tornou-se cada vez mais relacionalmente orientado, evoluindo assim, no modelo teórico Bioniano, para uma forma de comunicação particular e um pedido inconsciente de

22

contenção e rêverie. Dentro do funcionamento mental inconsciente da função alfa, descrito por Bion (1962, 1965), pode-se observar como o Inconsciente se desenvolve em um contexto relacional: a mente consciente e inconsciente do bebê é estruturada através da função rêverie materna, um elemento fundamental na organização da vida inconsciente infantil. Antes da emergência da repressão, o inconsciente é moldado através de uma facilitação transformadora pela mente dos pais das experiências sensoriais e emocionais que atingem a criança no domínio das relações primárias.

Todas as regiões e culturas psicanalíticas foram influenciadas pelo conceito Kleiniano central de "unconscious phantasy”. A grafia da fantasia com um “ph” em vez de um "f" enfatiza que este termo se refere a uma forma básica da estrutura psíquica com conteúdo ideacional específico, em vez de simplesmente o roteiro elaborado de um desejo baseado em derivativos instintivos ou devaneios. A base teórica para ver a mente como organizada por e em torno desses blocos básicos da construção da estrutura psíquica, parte da afirmação de Melanie Klein de que o conhecimento ou, pelo menos, uma sugestão de um objeto, como alvo ou fonte de satisfação, foi uma parte inerente das pulsões. Em contraste com a teoria Freudiana, onde a pulsão existe como derivado na psique e o objeto deve ser "encontrado" para ser colocado na equação inconsciente, para Klein, o objeto da pulsão está lá ab initio, inato e firmemente ligado. Junto ao objeto, há também um senso inato do self como sujeito, por exemplo, desejando (não importando quão parcial, vago ou primitivo seja). Assim, a unidade básica do "eu quero algo de ou fazer alguma coisa com você” (como parte ou objeto total) é adotada desde períodos precoces da atividade psíquica.

O conceito freudiano de "barreira de contato" foi estendido por Bion, que o recuperou do “Projeto para uma Psicologia Científica” (Freud, 1895), e propôs uma nova maneira de conceituá-lo. Em termos Freudianos, a repressão foi concebida como uma barreira que defendia o sistema consciente do inconsciente. Bion teorizou o contrário: aquela "repressão igualmente defende o Sistema Ics dos estímulos sensoriais originários do Sistema Cs” (Grotstein, 2008, p. 201). A barreira de contato divide, e une ao mesmo tempo, os fenômenos mentais conscientes e inconscientes: graças à sua permeabilidade seletiva é possível um intercâmbio entre os sistemas Cs e Ics. A permeabilidade seletiva da barreira de contato entre consciente e inconsciente é criada e reforçada pela função alfa, através da qual os dados sensoriais brutos (elementos beta) são transformados em elementos alfa que podem ser usados para pensar e sonhar. A função alfa inclui os processos primário e secundário, e funções dentro de ambos os sistemas Cs e Ics (Grotstein 2004b, 2007). Conforme o pensamento de Bion, no reino da função alfa tanto o princípio do prazer quanto o de realidade estão incluídos: eles não são concebidos, conforme Freud (1911b) teorizou, como princípios separados, mas vistos conjugados como oposições binárias em ambos os sistemas e normalmente funcionando cooperativamente (Bion, 1962, 1963, 1965).

A partir do conceito de barreira de contato, surge a “visão binocular”: uma habilidade baseada numa dupla focalização que fomenta a cooperação entre as funções mentais conscientes e inconscientes (Reiner, 2012). Bion se refere a isso quando escreve que “precisamos de um tipo de visão binocular mental - um olho cego [para o mundo sensual], o outro olho com visão boa o suficiente ”(Bion, 1975, p.63). A visão binocular dá profundidade

23

e ressonância às experiências e é vista por Grotstein (1978) como uma “pista dupla” que permite a apreensão dos fenômenos que ocorrem no curso de uma análise. “Sistemas Ics e Cs podem ser considerados como dois olhos ou dois hemisférios cerebrais que são receptivos às interseções do sempre em expansão 'O' a partir de seus respectivos pontos de vista” (Grotstein 2004a, p.103). Essa visão binocular permite ao analista prestar atenção e tentar compreender o que ele vê de uma dupla perspectiva: consciente e inconsciente que, por sua vez, promove uma maneira de olhar as coisas de diferentes pontos de vista (De Bianchedi, 2001).

Segundo Grotstein (1997), Bion (1970) postulava que, como analistas, nós devemos usar ambas as nossas mentes, consciente e inconsciente, a fim de sermos receptivos ao "O" como "a Verdade Absoluta sobre a Realidade Última”. A partir deste conceito, deriva a teoria do inconsciente como um sistema que coincide parcialmente com "O", incognoscível e desconhecido, que permanece fora da consciência reflexiva. A única maneira de acessá-lo é por ressonância em "O". Ao introduzir o conceito de "O" e vinculá-lo com a coisa-em-si e "infinito", Bion coloca o conceito de inconsciente numa era pós-moderna de compreensão: está assim "ligado ao infinito, à teoria do caos e da complexidade, à teoria da catástrofe e à espiritualidade" (Grotstein 1997, p.84). Deve-se destacar que uma forte correlação entre ambiente e a possibilidade de encontrar "O" existe: é a qualidade dos objetos primários e interlocutores (e, em análise, a qualidade da postura analítica do analista) que determina a possibilidade de que o bebê/paciente possa suportar o encontro com "O" (Gaburri & Ambrosiano, 2003) e com a realidade emocional que nele reside.

Para Bion, “O” é o domínio do “objeto psicanalítico”, o verdadeiro norte em direção a qual a investigação analítica deve ser direcionada, mesmo que nunca possa ser totalmente "conhecido". Esta visão de algo que está lá, mas que só pode ser intuído ou "tornar-se", porque não é "dos sentidos”, é epistemologicamente reminiscente do pensamento de Platão, Kant e de vários místicos. Na medida em que os elementos ou "ocorrências" do “O” na existência de um indivíduo nunca podem ser totalmente conhecidos ou verbalizados, então essa dimensão inefável do ser é, por definição, "inconsciente". No entanto, a parte incognoscível "inconsciente" de “O” não é o inconsciente dinâmico Freudiano da repressão. É mais parecido com as camadas mais profundas do id Freudiano, algo que é emergente, não estruturado, ainda não formado. Se alguém pode falar de "elementos" no domínio de “O”, pode-se afirmar que eles consistem em distúrbios sensoriais ou turbulências que ainda não são psíquicas ("pré-psíquico" ou "protopsíquico"). Bion nunca designou o conteúdo de “O”, mas descreveu fenômenos prépsíquicos, protomentais que denominou de elementos Beta, que são inadequados para serem pensados ou para se pensar sobre, a menos que, ou até que, eles sejam transformados por um tipo de “trabalho de sonho” psíquico. Ele atribuiu o nome de “função alfa” a esta última atividade e afirmou que a função alfa é fundamental para um processo contínuo de 24 horas/dia que produz os “pensamentos oníricos de vigília" construídos a partir de"elementos alfa". Estes últimos são considerados os blocos de construção do pensamento, do pensar e da organização psíquica. Uma vez criados, os elementos alfa são usados para estabelecer uma barreira de contato que é, por sua vez, essencial ao processamento (mentalização) da experiência, à delimitação do espaço psíquico, à criação de um recipiente para pensamentos e à divisão topográfica do conteúdo da mente nos sistemas Ics e Pcs/Cs.

24

Como os elementos beta são estímulos sensoriais antes de adquirirem qualquer significado, eles são diferentes do conceito de "representações" de Freud. Enquanto o último pode ser consciente ou inconsciente, os elementos Beta são, por definição, além - ou melhor, anteriores - a consciência, eles não são psíquicos, mas "existem" ou estão registrados apenas em um contexto somático ou em nível neurobiológico (os órgãos sensoriais e o cérebro são partes do último). Esta formulação relaciona-se com o modelo inicial de Freud das vias neuronais hipotéticas de condução do prazer e da dor, as quais Freud desenhou e descreveu em seu “Projeto de uma Psicologia Científica” (Freud 1895, p. 416-429). É importante notar que os elementos beta são necessariamente inconscientes, porque eles ainda não são psíquicos, mas não porque sofreram repressão ou outra alteração defensiva exigida pelo conflito com o superego, ou a ansiedade produzida pelos significados prazeroso ou assustador de seu conteúdo. Uma vez que os elementos beta são transformados em elementos alfa - ou seja, eles podem se tornar psíquicos - eles podem atingir a saturação de significado, adquirir status simbólico, estar ligados a outros elementos mentais para formar fragmentos de narrativas, cadeias associativas, etc. É então que adquirem status como representações e podem ser usados para formar pensamentos e ideias que podem ser trazidas à consciência ou reprimidos no inconsciente por causa da ansiedade que despertam.

Assim, a teoria de Bion dos elementos beta e da função alfa é uma metapsicologia da formação, estruturação e crescimento da mente. “O” contém as sementes da futura evolução e crescimento psíquico que acontece através de processos que são inicialmente intersubjetivos (rêverie materna, continente /conteúdo) e dependentes da presença de um objeto facilitador, que empreste sua própria função alfa à do paciente ou do bebê para formar uma "dupla pensante". Uma vez que a função alfa é alcançada, através da assistência de outra mente ou da introjeção da função alfa materna e da "dupla pensante", então o processo contínuo de transformar elementos beta em elementos alfa produz a "barreira de contato" e o inconsciente reprimido ou dinâmico de Freud torna-se possível. Este é um processo que continua ao longo da vida. Daí a argumentação de Bion de que a psicanálise é a sonda que expande o próprio domínio que procura explorar. Alternativamente, o reconhecimento de Bion de que a função alfa pode ser revertida, com elementos alfa sendo canibalizados e evacuados como fezes mentais para empobrecer a mente e, assim substituir a barreira de contato por uma tela beta rígida, oferece uma visão dinâmica e dialética da luta da mente para manter qualquer ponto de desenvolvimento que conseguiu adquirir. Na declaração paradoxal de Winnicott (1960) que “não existe tal coisa como uma criança” (ibid, p. 587), pode-se ver em que medida a subjetividade e o ser inconsciente do indivíduo requerem a existência de outro sujeito e dependem da relação primitiva com o ambiente. A ampliação do conceito de inconsciente, de orientação relacional, pode ser encontrada no conceito de Bollas (1987) "conhecido não pensado", um ponto de convergência com a neurociência. Isso é feito pelos traços silenciosos do inconsciente não reprimido e dos sedimentos das interações precoces do indivíduo. Representa uma forma inconsciente de conhecimento relacional profunda que permeia o "idioma" e todo o ser do indivíduo.

Enquanto o pensamento de Klein, Bion e Winnicott tem influenciado fortemente toda a Europa e América Latina, a recepção das teorias de Klein, em especial, na América do Norte tem sido apenas gradual e um pouco idiossincrática. Na maior parte, até meados dos anos 70,

25

os trabalhos e ideias kleinianas clássicos e contemporâneos não eram ensinados nos Institutos Americanos. Este fato particular da vida psicanalítica surgiu em grande medida como consequência das tensões não resolvidas que persistiram entre os seguidores de Melanie Klein e Anna Freud, e o acaso de que todos os principais analistas emigrantes europeus, que escaparam da Europa e se tornaram proeminentes na América do Norte, foram do grupo de Anna Freud. Como resultado, até relativamente pouco tempo, qualquer supervisor ou analista em treinamento nos EUA e no Canadá. (Uma das notáveis exceções é o caso de Clifford Scott, um canadense analisado por Melanie Klein, que fez sua formação na Sociedade Psicanalítica Britânica, e serviu como seu presidente, antes de retornar ao Canadá em 1954. Scott deixou uma marca particular em Londres, e em três gerações de analistas ingleses e francófonos em Montreal).

Esta situação começou a mudar gradualmente nas últimas quatro décadas, uma vez que alguns Kleinianos treinados na América Latina emigraram para os EUA e Canadá e assumiram posições de influência em suas sociedades analíticas locais.

Esta situação provou ser um obstáculo a um verdadeiro desenvolvimento Kleiniano na América do Norte, bem como uma oportunidade. Sem cultura e tradição fortes do pensamento Kleiniano, norte-americanos que estudaram Klein e se tornaram "favoráveis aos Kleinianos" e "influenciado pelos Kleinianos" talvez tenham sido mais livres para adaptar e aplicar as ideias de Klein e dos neo-Kleinianos do que seus colegas Kleinianos mais ortodoxos formados em outras regiões. Seus exemplos mais notáveis são James Grotstein, uma autoridade reconhecida internacionalmente em Klein e Bion, que estendeu a conceitualização de identificação projetiva em sua formulação de "transidentificação projetiva" (Grotstein, 2005, 2008); e Thomas Ogden (1980, 1982, 1992a, b) que apresentou sua própria síntese criativa de Klein, Fairbairn, Bion e Winnicott ao explorar as estruturas fluidas e profundas da experiência (consciente e inconsciente) e do conhecimento. É devido a tais desenvolvimentos que muitos analistas norte-americanos parecem apreciar os conceitos de Identificação Projetiva e/ou Continente (veja as seções IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA e CONTINENTE), mesmo que por vezes apenas como processo de indução interpessoal inconsciente.

Os Kleinianos Norte Americanos tentaram seguir e empregar a noção kleiniana de fantasia inconsciente como um fundamental complexo de representações animadas por desejos para transações temidas ou imaginadas entre o self e o objeto que constituem, estruturam e informam o mundo interno do indivíduo. Justamente poderia se chamar isso de "ponto de vista dramático" e ver isto como uma adição aos pontos de vista mais clássicos - dinâmicos, topográficos, econômicos, genéticos e estruturais - da metapsicologia freudiana. Assim vista, a fantasia inconsciente desempenha um importante papel na compreensão dos comportamentos, sentimentos, caráter e transferência dos pacientes, que podem ser considerados como uma manifestação ou externalização da fantasia inconsciente e o caminho principal para a sua compreensão. Para alguns, no entanto, existe uma objeção de reserva a esta ideia de Klein por potencialmente culpar o paciente pelos problemas contratranferenciais do analista.

A influência do pensamento de Bion na América do Norte deriva em parte do período, na parte final de sua vida, em que viveu na Califórnia e um grupo de analistas americanos foi

26

diretamente exposto ao seu ensino. Além de Grotstein e Ogden, também Harold Boris (1986, 1989), trouxe o pensamento de Bion para Boston, deixando fontes influentes de pensamento Bioniano em toda a América do Norte. Acredita-se que Bion decidiu vir para a América, a fim de libertar-se das pressões inevitáveis que se seguem a pertencer a um grupo, o grupo Kleiniano de Londres, do qual ele se tornou um dos principais contribuintes. Como indicado em seus escritos posteriores, ele sentiu que a adesão a um grupo - e mais ainda, o tipo de proeminência que ele havia alcançado - inevitavelmente produzem pressões que levam da conformidade à estase, e não à criação continuada e à descoberta de novas idéias. Esta tendência e as lutas entre o "Místico" (indivíduo criativo) e o “Establishment” (o grupo) era algo sobre o qual ele estava ciente, alertou e lutou contra toda a sua vida.

A direção da influência de Bion na América do Norte reflete essa visão na qual ele foi inflexível sobre não querer criar uma Escola “Bioniana” ou mesmo ensinar pessoas a analisar como ele. Essa visão é característica do "Bion tardio", com sua ênfase na independência do pensamento e na busca e necessidade da criatividade e mudança, mesmo diante da "mudança catastrófica" que ele acreditava ter sido estimulada pelo crescimento.

O “terceiro analítico” de Ogden (Ogden, 1994), a “rêverie” e o “pensamento onírico de vigília” de Bion (Bion, 1962), bem como a “transidentificação projetiva” de Grotstein (2005, 2008) podem ser vistos como expansões de um inconsciente, concebido nos moldes da teoria de relação do objeto e como descrições da postura mental do analista, derivada diretamente de tal visão do inconsciente. Tais expansões são pedras angulares de um encontro analítico entendido como um "arranjo de mão dupla” (Bion, 1978). A este respeito, a “transidentificação projetiva” de Grotstein (2005, 2008, 2014), que se refere ao aspecto comunicativo inconsciente da “indução mútua”, em relação ao funcionamento inconsciente “binário” como o contrabalanço mútuo entre processos primários simétricos e processos secundários assimétricos, pode ser vista como relacionada à conceituação da Lógica Inconsciente do Latino Americano Matte-Blanco (abaixo); enquanto os pensamentos de Bion e Ogden sobre um inconsciente expandido são seguidos e estendidos pelos notáveis teóricos italianos Antonino Ferro e Giuseppe Civitarese. Todas essas extensões (Grotstein, Bion, Ogden, Ferro, Civitarese) estão incluídas no sintético pensamento Latino Americano de Comunicação Inconsciente (abaixo).

Ferro e Civitarese aplicam este conceito expandido do inconsciente também aprofundando a separação com a técnica clássica. Para Ferro (2004, 2009, 2016), que conceitua a sessão como um campo, a ênfase de Bion e Grotstein no desenvolvimento da capacidade de pensar através da comunicação inconsciente é fundamental: “(isto) não é uma questão de fatos históricos ou trazer as coisas do passado para o presente; a ênfase é, em vez disso, a tentativa de desenvolver a capacidade do paciente - ou melhor, a capacidade do campo de pensar (sonhar), por meio de também transformar continuamente as comunicações do paciente em um sonho” (Ferro e Frangini, 2013, p. 371; o aspecto de campo adicionado em: Ferro e Civitarese, 2016). Por sua vez, Civitarese (2014, 2015; Ferro e Civitarese 2016) segue o convite de Bion e de Ogden para o analista esquecer as contradições decorrentes do exame racional e estar em um estado de alucinose. Nisto a ilustração do ponto de vista “dramático” referido acima, para poder ver o que o paciente vê. Ferro e Civitarese extraíram de Ogden (2003, 2005) o argumento

27

que o analista deve levar a sério todas as impressões, sensações e ideias, mesmo que aparentemente estejam em conflito com aspectos da realidade externa, porque podem contar uma história mais precisa (Ferro e Civitarese, 2016). Para eles, a verdade do inconsciente é mais rica do que aquilo que é percebido e comunicado conscientemente. De acordo com a esses autores, os "personagens" nos "textos da análise" são expressos em papéis pelo paciente ou pelo analista, dentro e entre cada um deles, passando por constantes transformações, para permitir a expressão do que progressivamente se torna pensável no aqui e agora da sessão (Civitarese & Ferro, 2013; Ferro & Civitarese, 2016).

III. C. Perspectivas Relacionais e Psicologia do Self: Duas Correntes Teóricas Nativas da América do Norte

III. Ca. Modelos Relacionais do Processo Inconsciente

A psicanálise relacional começou nos anos 80 nos Estados Unidos. A Teoria relacional localiza seus ancestrais, seu DNA, em Ferenczi (1949), em Balint (1952) e nas relações objetais, e em derivados da teoria de campo trazidos por Heinz Racker (1957) para a América do Norte, bem como na escola interpessoal de Harry Stack Sullivan (1953). Há uma série de implicações nesta configuração de linhagem múltipla. A experiência/fenômeno inconsciente emerge em um contexto intersubjetivo, um campo bipessoal, e uma interação de duas pessoas, onde há uma esperada transmissão inconsciente dentro da díade analítica, dentro do sistema no qual um indivíduo está embutido. Inalienável e inevitavelmente, isso adiciona incerteza e ambiguidade à experiência. As origens e o locais das experiências são muitas vezes impossíveis de determinar. Isto deve permanecer em aberto, dentro de um processo clínico para considerar e reconsiderar qual inconsciente está operando na experiência de qualquer das pessoas envolvidas. Contratransferência nesse sentido é sempre induzida e elucidada ambiguamente: pessoal e dialógica, intrapsíquica e intersubjetiva.

Com um forte interesse no trauma e suas sequelas na experiência consciente e inconsciente, a teoria relacional sublinha mais a presença e o poder das cisões verticais do que das camadas horizontais dos níveis de consciência. Dissociação entra em uma variedade de cisões, da radicalmente distinta e não comunicativa à relativamente porosa. A dissociação foi desenvolvida e aprofundada no trabalho de Philip Bromberg (1994, 1996) e inclui divisões na consciência a serviço de negar ou afastar conteúdo tóxico ou traumático, vindos tanto de dentro como de fora do indivíduo. Bromberg também elaborou uma compreensão da maneira como a dissociação se cruza com o apego, muitas vezes fora da consciência. O indivíduo (incluindo a criança bem pequena) se separa e "esquece" das experiências que colocariam um embargo e em risco uma figura potente e necessária. A integração mental é de certa forma sacrificada por ligações tênues com outra pessoa.

Apesar da potência de uma transmissão inconsciente bipessoal, o processo inconsciente tem um status na esfera intrapsíquica. Aqui, a influência das relações de objeto na teoria relacional é sentida: a experiência de mundos internos, objetos internos vivos, moribundos,

28

tóxicos ou benignos. O grau de consciência, a presença da cisão como uma forma dominante de funcionamento mental depende de uma variedade de fatores, individuais e externos/ interpessoais. Assim, um analista relacional pode achar útil pensar em termos da presença de fantasias inconscientes no sentido de padrões relacionais significativos com significados particulares, muitas vezes inconscientes. Uma das lutas e talvez tensões em modelos relacionais do inconsciente é postular uma profundidade na superfície. A dimensão intersubjetiva da experiência (diálogo, interação) inclui tanto os registros conscientes como os inconscientes bipessoais da experiência. Um dos principais aspectos dos modelos relacionais do inconsciente é elaborar fenômenos inconscientes em ambas as experiências, interna e interpessoal. Isso permite uma consideração mais dialética e menos polarizada da interação entre o interior/exterior; interpessoal e intrapsíquico.

Embora muitas escolas analíticas diferentes possam recorrer ao trabalho de Jean Laplanche sobre o desenvolvimento e organização do inconsciente, para algum teóricos relacionais Laplanche (1999a, b, c) oferece uma interessante produção de duas pessoas sobre o surgimento e evolução da experiência inconsciente, no encontro complexo de um criança com um adulto como uma situação universal. A criança sente os efeitos do desejo e anseio que emanam dos pais como uma mensagem enigmática que invade e se mistura com os estados afetivos e somáticos da mente/corpo da criança. Em ambos os lados, essas experiências podem ser primariamente ou somente inconscientes. O que Laplanche chama de mensagens enigmáticas traz o desejo "do outro" para dentro da criança, e este desejo intrusivo interage com o desejo emergente de dentro da criança. Um processo repetido de tradução gradualmente resulta na constituição da subjetividade e do desejo inconsciente, que será sempre individual e intersubjetivo. Ruth Stein (2008), entre outros, têm particularmente estudado o impacto sobre a experiência inconsciente do caráter excessivo dessas "seduções" enigmáticas.

Sam Gerson (2004) fornece uma descrição sucinta do "inconsciente relacional":

“[O] inconsciente não é apenas o receptáculo do material reprimido mantido oculto para proteger o indivíduo das ansiedades induzidas por conflitos; é também uma área de contenção cujos conteúdos esperam nascer em um momento receptivo nas contingências da experiência em evolução” (p. 69). Umas poucas páginas depois, ele segue: “O inconsciente relacional, é um processo construído em conjunto e mantido por cada indivíduo da relação, e não simplesmente uma projeção das representações inconscientes do self e do objeto e de esquemas interacionais sobre o outro, nem é constituído por uma série de tais projeções e introjeções recíprocas entre duas pessoas. Ao contrário, como usado aqui, o inconsciente relacional é um vínculo não reconhecido que envolve cada relação, infundindo a expressão e constrição da subjetividade e inconsciente individual de cada uma das partes dentro dessa relação particular. A respeito disto, o inconsciente relacional é um conceito que permite a junção do pensamento psicanalítico sobre fenômenos intrapsíquicos e intersubjetivos dentro de um arcabouço teórico que contém cada perspectiva e elabora sua inerente interconexão” (p 72).

III. Cb. Processamento Inconsciente: Uma Perspectiva Contemporânea da Psicologia do Self

29

A psicologia do self, outra teoria psicanalítica americana moderna, aceita a postulação da atividade mental inconsciente como tendo sido fundamental para a psicanálise na formulação de Freud do inconsciente dinâmico e, mais recentemente, no reconhecimento de aprendizagem e memórias implícitas (inconscientes ou não conscientes). Este último conceito expandiu exponencialmente o domínio do processamento inconsciente (Boston Change Process Study Group, 2008; Clyman, 1991; Fosshage, 2005; 2011a; Grigsby e Hartlaub, 1994; Stern, et. al. 1998; entre outros). Processamento inconsciente e consciente - que inclui perceber, categorizar e consolidar memórias e aprendizagem, regular as prioridades das mudanças na motivação (intenções) e afeto e resolução de conflitos - estão sempre ocorrendo simultaneamente à vigília. O processamento inconsciente continua durante o sono na forma dos sonhos REM e não-REM (Fosshage, 1997). Tanto o processamento inconsciente quanto o consciente são sempre variavelmente moldados pelos campos relacionais em que emergem.

Como alguém ganha acesso ao processamento inconsciente? Freud desenvolveu o método da livre associação e tornou os sonhos "a via real que leva ao conhecimento das atividades inconscientes da mente" (1900, p. 647). Psicólogos do ego acentuaram os componentes inconscientes do conflito e das defesas que surgem de forma latente em articulações conscientes. Mais recentemente, os psicólogos do Self expandiram o alcance de escuta para que, além do conflito, eles escutassem as comunicações explícitas e implícitas, verbais e não verbais de intenções, significados e conhecimentos procedurais. A escuta empática é "simplesmente" focada em ouvir e entender essas comunicações de dentro do enquadre do paciente. "Empatia e julgamento" são interpenetrados (Goldberg, 1999); no entanto, a tentativa é estar na experiência do analisando e fazer inferências e avaliações, na medida do possível, a partir do mundo de experiências do analisando. O uso da perspectiva de ouvir/experimentar "centrada no outro" ajuda a sintonizar padrões de interação, tipicamente inconscientes (Fosshage, 2011b).

O uso da escuta empática não minimiza a importância do processamento inconsciente. Pelo contrário, a experiência clínica indica que uma sensação de segurança é reforçada através da atenta escuta psicanalítica de uma perspectiva empática, pois combate a influência disruptiva da imposição do ponto de vista do analista sobre o paciente (embora isto não seja, claro, eliminado). A subsequente necessidade diminuída de proteção aumenta o espaço reflexivo do paciente e facilita a emergência na percepção consciente de intenções conflitantes e não conflitantes, memórias, significados e processamento inconscientes, incluindo experiências não validadas (Stolorow e Atwood, 1992), experiências não formuladas (D.B. Stern, 1997) e padrões implícitos de organização (conhecimento implícito). O conhecimento implícito (relacional) consiste em interações com cuidadores que são codificadas em memória procedural e, portanto, não pode ser verbalizado (D.N. Stern et al., 1998). Experiência não formulada consiste em experiências da infância que não são permitidas na consciência porque não são reconhecidas pelos cuidadores (D.B. Stern, 1997). O inconsciente pré-reflexivo consiste em princípios organizados de experiências subjetivas originados nas díades intersubjetivas precoces e, sendo inconscientemente não validados, não podem ser articulados de nenhum modo pelo fracasso de validação pelo self objeto (Stolorow e Atwood, 1992). A semelhança entre as definições de experiências não formuladas e inconsciente não validado

30

reside principalmente na ênfase na resposta dos cuidadores. O inconsciente de duas pessoas é construído dentro da díade em si (Lyons-Ruth, 1998, 1999).

Assim, a compreensão empática do analista tende a tornar mais permeáveis e fluidas as fronteiras entre consciente e inconsciente, entre explícito e implícito, e aumenta o acesso consciente a sentimentos, intenções, pensamentos e interações interpessoais previamente inconscientes.

III. D. Inconsciente na Tradição Francesa

A França pós-freudiana tem sido palco de espantosa e energética produção teórica. Reflexos dessa explosão intelectual tiveram impacto em outras comunidades psicanalíticas de línguas francófonas na Europa e na América do Norte. Traduções inglesas deste trabalho também foram influentes em alguns setores da América do Norte e da Grã-Bretanha. Os analistas franceses compartilham algumas suposições gerais sobre o conceito de inconsciente, guardando parcial distância da perspectiva da relação objetal, enquanto mantêm uma visão de inconsciente mais próxima da freudiana e mais inclinada a ver o seu trabalho como uma elaboração/diálogo com a obra Freudiana. Aderindo principalmente ao ponto de vista Topográfico (Primeira Topografia), para os franceses, existe uma separação absoluta entre o pré-consciente/consciente e o inconsciente. Além disso, o inconsciente não pode ser revelado pela observação, mas apenas deduzido após o evento, em uma dedução em aprés coup.

O ego (le moi) é definido tanto por sua “alienação” identificatória no desejo do Outro, como por sua capacidade de adaptação; é assim subjetivo, uma criatura mais orientada ao self do que, conforme a psicologia do ego descreve, defensiva e orientada pela realidade. Para os analistas franceses tudo que é ego é escutado como emergindo do inconsciente. Há uma ausência da ideia de uma esfera livre de conflitos. O moi também é composto de objetos inconscientes e objetos parciais. Onde a Psicologia do Ego fala do analista como mantendo certa distância constante do paciente, os autores franceses, especialmente Bouvet e um pouco mais tarde, Green, McDougall, e Roussillon, cedo propuseram uma abordagem flexível dos pacientes, prestando atenção às suas reações à distância. Além disso, e devido à grande influência de Jacques Lacan, os analistas franceses foram impelidos a refletir sobre a função da fala e da linguagem, não apenas na situação analítica, mas também como princípio estruturante do inconsciente.

O dito de Jacques Lacan (1993) de que “o inconsciente é fundamentalmente estruturado, tecido, acorrentado, enredado, pela linguagem” (p. 119) influenciou uma sucessão de gerações de analistas, tanto por adesão como por oposição à ideia. Um grande grupo de analistas da Sociedade Psicanalítica de Paris, incluindo, entre outros, Pasche, Marty, Lebovici, Diatkine, Fain, Braunschweig, McDougall, Green e Neyratt, opuseram-se à teoria de Lacan e se recusaram a compor pulsão e linguagem. Para Lacan, o inconsciente não é algo dado, esperando para ser interpretado; antes, o inconsciente é revelado em um ato, principalmente mas não exclusivamente, em um ato de fala. Lacan ainda alertou contra o equívoco de considerar o inconsciente como a sede dos instintos pura e simples. Para Lacan, o termo inconsciente diz respeito à própria ideia de como conceituar o assunto. Todo o seu projeto está

31

de acordo com o estudo do sujeito inconsciente. Lacan (2004) reformula a terminologia de Freud de representações para significantes, como no modelo Saussuriano da linguagem. Lacan foi convincente em sua ênfase nas possibilidades combinatórias do significante, que determinam a expressão definitiva das pulsões. Algo (repressão) bloqueia a expressão de significantes, que circulam no inconsciente. Em sua versão, o inconsciente consiste em significantes reprimidos que por sua vez controlam o acesso a derivativos das pulsões. Assim, apresenta um modelo da psique menos reducionista biologicamente e mais culturalmente sensível do que baseado em supostas fontes erógenas de ativação.

Nos EUA, na época do famoso seminário de Lacan, o relevo era sobre as fantasias formando o conteúdo do inconsciente. Isso promoveu um estilo diferente de escuta clínica: escutando indicações de uma fantasia disfarçada nas associações livres. A abordagem francesa ensinou (de um modo freudiano) que a atenção do analista deve estar nas próprias palavras, e no não falado entre elas. Por outro lado, a noção de defesas (além da repressão) que são necessárias para manter os significantes no inconsciente e, naturalmente, a análise da defesa, além do inovador desenvolvimento lacaniano da noção de “forclusão”, é menos proeminente no pensamento francês. Lacan tem sido criticado por transformar a psicanálise em linguística estrutural. No entanto, o interesse Lacaniano não é a língua em si. Pelo contrário, o interessante está nos limites, onde a linguagem falha. O inconsciente pode, de acordo com Lacan, não ser identificado. Revela-se nos traços que deixa, especialmente quando ausente. Ele qualificou sua abordagem linguística argumentando que é somente quando o inconsciente passa para palavras que somos capazes de compreendê-lo e, além disso, que o inconsciente trabalha de acordo com as figuras linguísticas de metonímia e metáfora.

Finalmente, Lacan sustenta o inconsciente como discurso, que é, o discurso do Outro. O inconsciente é o efeito do significante sobre o sujeito. O significante é o que é reprimido e que retorna na forma de sintomas, chistes, parapraxias e sonhos. O conceito de Lacan do inconsciente tomou, no entanto, um passo importante quando ele retrabalhou as três ordens, do Imaginário, do Simbólico e do Real no “Seminário XX”, onde ele os teceu juntos no chamado Nó Borromeu (Lacan, 1999). A hipótese de conflito intrapsíquico - pelo menos para Lacan - foi substituída pela ideia de articulação entre as três ordens. Uma consequência importante foi a divisão no conceito do inconsciente, uma parte sendo em um certo grau decifrável ou acessível à linguagem convencional, outra parte denominada “lalangue”, termo Lacaniano para o tipo de linguagem que precede a linguagem da ordem do Simbólico. Assim, temos dois tipos de conhecimento; o conhecimento do le langage e o conhecimento do lalangue. O inconsciente-lalangue está fundamentalmente situado fora do Simbólico, mas nos afeta em um grau que excede nosso conhecimento enunciado. Evans define lalangue como “o substrato primário caótico da polissemia a partir do qual a linguagem é construída” (1996, p 97).

Um grupo de analistas influenciado por Lacan tentou estender o conceito de significante para englobar significantes além da linguagem. Baseado em seu trabalho com psicóticos, Piera Aulagnier (2001) apontou para a insuficiência do conceito de significante. Introduziu o conceito de pictograma para se referir a um nível de “representação” não verbal inconsciente do encontro corporal do bebê com seu cuidador (zonas erógenas e seus objetos parciais), na total ignorância da dualidade da qual ela é composta. Guy Rosolato (1969) introduziu o

32

conceito de significantes de demarcação com o mesmo objetivo de apontar para significantes fora da linguagem, e Didier Anzieu (1995) cunhou o termo significantes formais que sustenta sua teoria do eu-pele. Mesmo Jean Laplanche - um dos que se opuseram sistematicamente a ideia do inconsciente sendo estruturado como uma linguagem - introduziu os termos significantes enigmáticos e significantes designificados.

Onde os analistas adotaram o conceito de significante de Lacan, eles ultrapassaram seu significado exclusivamente linguístico e, desta maneira, permaneceram mais próximos do conceito freudiano de inconsciente. Assim, em oposição a Lacan, Laplanche (1999a) sustentou que o inconsciente não é estruturado como uma linguagem, já que não existe nem código, nem mensagens no inconsciente. O inconsciente consiste em significantes isolados desprovidos de qualquer "referencial". Para marcar sua diferença do significante lacaniano, Laplanche mudou seus significantes enigmáticos para mensagens enigmáticas. Substituindo a ideia de repressão de Freud pela de "tradução", Laplanche (1999b, 2011) abriu caminho para uma explicação intersubjetiva da constituição do inconsciente. O adulto, pela ativação de sua sexualidade inconsciente, transmite mensagens enigmáticas no curso do cuidado normal da criança. A criança irá traduzir como pode essas mensagens. O que é perdido na tradução constitui o inconsciente da criança. Porque o inconsciente do adulto é sexual, um sexual infantil, este sexual é o que é transmitido à criança como enigma.

Colocando-se à parte de Laplanche, e outros que favoreceram a primeira tópica de Freud, André Green tem, em suas numerosas publicações, apontado para a segunda tópica como sendo mais útil no trabalho com pacientes não neuróticos. Como consequência, sua abordagem ao conceito de inconsciente tomou um rumo ligeiramente diferente dos analistas franceses mencionados até agora. Também se referindo a Freud, Green (2005) argumenta que o inconsciente-como-sistema é composto de representações e afetos que “excluem a esfera da apresentação de palavras” e ele entende que “o inconsciente só pode ser constituído por uma psique que evade à estruturação da linguagem” (grifo acrescentado, 2005, p. 99). Com a introdução de um ego inconsciente por Freud, o status do inconsciente foi modificado; já não se limitava ao conteúdo do recalcado, mas à sua própria estrutura. Este importante desenvolvimento da teoria de Freud abriu as portas para os modos de pensamento, como Green argumenta, "que são estranhos ao senso comum" e que encontramos nas estruturas não neuróticas (ibidem, p. 205).

Na descrição da psique de Green, o fator econômico das pulsões é essencial: o inconsciente consiste em uma rede ramificada de derivativos da pulsão (como representantes de coisas) buscando um caminho para a descarga. Se esses derivativos da pulsão são representações ou apresentações e podem atingir figurabilidade através da mente do analista é tema de uma nova linha, teoria e debate freudiano (Bottella, 2005, 2014; Kahn,2013, 2014). A natureza dinâmica dessas representações (que representam uma forma primária de pulsão) as move para a ação ou para a consciência. O movimento, aspecto dinâmico da pulsão corporal do inconsciente que sempre busca descarga e determina as ações do indivíduo, tem ressonância clínica cotidiana (Green, 2005). Green (1973) também influiu no desenvolvimento de uma teoria do afeto, em que o afeto representa um modo diferente de conceber a presença do corpo no discurso.

33

Lacan (1959-60, p. 132) viu a busca do afeto da psicanálise Norte Americana levando a "um impasse", já que o significado é mais um efeito do significante. No entanto, em seus seminários posteriores (Lacan, 1999), ele começou a abordar sobre o que não era ou não poderia ser representado pelo (traumático) Real, como derivado de Freud. Assim, aqui está uma concepção do inconsciente por Lacan como a ausência de representação e o que não pode ser falado e que se tornou um dos principais focos do estudo francês nos últimos anos.

René Kaës (1993) é um autor que ajudou a conceituar essa dualidade do inconsciente. Ele escreveu sobre "dois umbigos" do inconsciente, um abrindo ou descendo até o corpo e o outro ligado ao grupo e sua rede de significantes. Ambos têm participação na formação do sujeito, ou seja, o sujeito sustenta-se através da atualização desses reservatórios inconscientes de sensações e ideias acumuladas. Botella e Botella (2005) – baseados em seu trabalho com pacientes gravemente traumatizados - acompanharam o trabalho de Green apontando para a tão característica não representação nesses pacientes. Como os traumas pré-verbais são inscritos, mas não representados na psique, eles postulam que uma nova técnica é necessária para incorporá-los ao tratamento psicanalítico. Para resolver estas situações de «memória sem lembrança», os Botellas (2005, 2014) introduziram o “trabalho de figurabilidade psíquica”, que é então atribuído ao analista.

Outra vertente importante da corrente francesa contemporânea tem estudado as qualidades do "trabalho" inconsciente e da relação entre os Sistemas Inconsciente e Consciente (por exemplo, Green, Botellas, e Reid). No início, Freud (1900) postulou um importante marcador. Se, como ele afirmou, o sonho há muito se confundiu com o seu conteúdo manifesto, era igualmente crucial não confundi-lo com seu conteúdo latente. Na verdade, a essência do sonho é o trabalho do sonho. De forma análoga, pode-se argumentar que a característica essencial do inconsciente é o trabalho do inconsciente. Aqui a ênfase é sobre o Inconsciente como um sistema que - além e acima do conteúdo específico – possui uma lógica heterogênea ao sistema Pcs-Cs (veja também LÓGICA INCONSCIENTE abaixo). O inconsciente carece de um teste de realidade, no sentido de que processos inconscientes "equiparam a realidade do pensamento com a realidade externa e os desejos com a sua realização" (Freud, 1911c, p 285). O processo primário é governado pelo alucinatório; o alucinatório é a primeira modalidade de investimento do Inconsciente como sistema. Em contraste, o sistema consciente-préconsciente opera sob a égide de processos secundários e procura integrar o teste de realidade. Segundo Green, Botellas, Reid e outros, a alucinação como processo é, portanto, a primeira forma de investimento-trabalho inconsciente. O funcionamento psíquico descrito no primeiro modelo Freudiano (Topográfico) é na verdade o produto de um longo período de dependência e interação com a psique dos cuidadores, um desenvolvimento que idealmente leva a uma feliz articulação entre os sistemas Ics e Pcs/Cs. Essa articulação é caracterizada por movimentos de oposição/colaboração, facilitados por uma fronteira flexível, semipermeável, que permite que a repressão tenha uma fundação firme, mas não muito rígida. Freud detalhou esta relação de oposição/colaboração sem, no entanto, elaborar hipóteses sobre a sua gênese ou construção.

É nesta conjuntura que Winnicott assumiu o bastão, pensando a descoberta da transicionalidade revisitando a gênese do teste de realidade. Daqui em diante, este último está inscrito no quadro de uma relação paradoxal entre a psique e o seu ambiente. Os processos

34

Transicionais induzem a uma nova modalidade de investimento inconsciente, o qual une o modo alucinatório com sinais da realidade. Na transicionalidade, o objeto suficientemente bom é ao mesmo tempo, a mãe e a não mãe. Transicionalidade simultaneamente traz, junto e separado, os processos primários e secundários. É essa forma transicional de funcionamento ou "trabalho" inconsciente – a combinação do modo alucinatório com o teste de realidade - que abre o caminho e justifica uma ligação flexível de dar e receber entre os sistemas Ics e Pcs-Cs. Nesse contexto, a repressão torna-se a principal operação defensiva, impedindo e facilitando (no disfarçado retorno do reprimido) a entrada e a saída do conteúdo psíquico. Onde o ambiente inicial foi inadequado, em lugar da repressão, a psique baseia-se predominantemente na cisão do ego como uma operação defensiva, e a situação torna-se uma oposição pura entre os Ics e os Pcs-Cs. Este último tipo de funcionamento psíquico é encontrado nos registros não neuróticos.

Todos esses trabalhos atestam a ligação íntima postulada entre o inconsciente e a pulsão da teoria francesa contemporânea. Um tema importante é o exame minucioso da "construção" da pulsão a partir de reflexos fisiológicos básicos. A pulsão é considerada como mutável, perpetuamente em transição, proliferando em toda a mentalização e recriada em certas experiências intersubjetivas. Presume-se que o ambiente de cuidado inicial tenha um papel crucial na modelagem e na evolução tanto do conteúdo quanto dos processos das operações inconscientes no indivíduo. Assim, mesmo em suas manifestações mais arcaicas, o inconsciente nunca é uma energia instintiva livre, mas sim intimamente marcada pela pulsão e contendo os vestígios da mais precoce dependência dos seres humanos a outros adultos específicos. Assim, Aulagnier (2001) escreveu "para que as percepções e experiências sensoriais do bebê, bem como seus sentimentos de prazer e dor se tornem psiquicamente representáveis ... é essencial que [eles] sejam investidos libidinalmente pela psique materna" (p xxi). Ela ressalta que seu ponto de vista é semelhante ao conceito de rêverie materna de Bion. Laplanche (1999a, b, c) introduziu o conceito de "intromissão", em contraste com a "implantação", para descrever a violenta transmissão por parte do adulto da sexualidade inconsciente não mitigada pela repressão e pela elaboração secundária. Outra conceituação semelhante, levando em conta a qualidade da presença dos pais na construção do inconsciente, vem de Christophe Dejours (2001). Quando o cuidador ataca o processo de pensamento da criança, a capacidade de repressão é desorganizada, argumenta Dejours, resultando no que ele chama de inconsciente (sem pensamento) "amental" que não possui a produção associativa e elaborativa do inconsciente reprimido.

Outra reviravolta na conexão entre o inconsciente e a representação veio recentemente do analista Franco Canadense Scarfone (2016a no prelo, 2016b in press) que tem apontado que a língua inglesa tem duas palavras: consciousness e awareness. A etimologia mostra que o «ware» em «awareness» está relacionado a não perder de vista alguma coisa. Mas awareness parece ser apenas um primeiro passo para consciousness, em que um pode estar ciente de alguma coisa e ainda não entender completamente o que é essa coisa. Para ser totalmente consciente requer awareness + o significado do que se tem ciência. De acordo com Wittgenstein, significado é uso. Portanto, pode-se dizer que estar consciente é ter algum uso, em palavras ou atos, do que se sabe. Por outro lado, «inconsciente» designa aquilo que habita

35

dentro ou fora da consciência, mas do qual não se tem uso deliberado seja em pensamentos ou em ações.

Outro objeto de estudo entre os analistas franceses é a temporalidade característica do inconsciente. Pontalis (2001) descreveu o inconsciente como "este tempo que passa e não passa". Na mesma linha, Green também escreveu sobre múltiplas temporalidades residindo dentro do mesmo sujeito e, em particular, sobre «estados nos quais a consciência (e não apenas o inconsciente) parece não ter conhecimento do tempo - vivendo em um eterno presente, incapaz de usar sua experiência passada» (2002, p 64). Outra contribuição nesta área vem do Franco Canadá, onde Scarfone (2006, 2014a) argumenta que a psicanálise não é uma atenção para o passado, mas sim para o "não passado" do indivíduo, um tempo "real" onde o que ocorre são "presenças ao invés de re-presentações, atos (Agieren) ao invés de pensamentos" (Scarfone, 2006, p 827; ênfase original).

III. E. Desenvolvimentos Latino-Americanos e Conceitos Relacionados

A forte tradição kleiniana da psicanálise latino-americana, facilitada pelo contato próximo com o grupo Kleiniano Britânico do início da década de 1940, em conjunto com o acesso às traduções para o espanhol da obra de Freud na década de 1920 (López-Ballesteros, 1923), conduziu a conceituações sintéticas originais do inconsciente, como a Lógica Inconsciente e a Comunicação Inconsciente, cuja influência é sentida nas três culturas psicanalíticas.

III. Ea. Lógica Inconsciente

A compreensão da lógica do inconsciente é uma ferramenta fundamental para o psicanalista em todos os momentos. Pertence à essência da psicanálise. Esta ferramenta é indispensável para compreender qualquer expressão psicótica de qualquer paciente. O primeiro autor a estudar a Lógica Inconsciente foi Freud (1900) em A Interpretação dos Sonhos, onde ele descreve o que ele chamou de "Processo Primário", a lógica do inconsciente, caracterizada por: 1) ausência de contradição mútua entre as apresentações dos vários instintos; 2) deslocamento; 3) condensação; 4) atemporalidade, e 5) substituição da realidade externa pela psíquica. Freud seguiu este tópico em vários outros textos: Os Dois Princípios do Funcionamento Mental (1911c); Observações Psicanalíticas Sobre um Caso de Paranoia (1911a); O Inconsciente (1915c); O Ego e o Id (1923a) e nas Novas Conferências Introdutórias (1933).

Matte-Blanco (1975) em "O Inconsciente como Conjuntos Infinitos", escreveu sobre sua visão do mérito da descoberta fundamental de Freud, observando que não era a descoberta do inconsciente per se, mas a descoberta de um mundo regido por leis completamente diferentes das que governam o pensamento consciente. Na visão de Matte-Blanco, o gênio de Freud foi a descoberta dessas leis precisas, que regem este estranho "Reino do Ilógico" (Freud 1940 a). Revisando o trabalho de Matte-Blanco, Henry Rey (1976, p.491) observou: "Matte-Blanco é extremamente interessado, e esta parece ser sua primeira preocupação, o

36

desenvolvimento que a noção do inconsciente adquiriu nos escritos de Freud e entre os psicanalistas. De ser "o Inconsciente", um aspecto vivo da personalidade com atividades governadas por certas leis, ele foi rebaixado a ser meramente a qualidade de ser inconsciente".

Combinando as concepções de Freud com proposições matemáticas, Matte-Blanco desenvolveu o conceito de Lógica Inconsciente (bi-lógica) que é regido por dois princípios: 1) O princípio da generalização, que explica que, ao contrário da lógica do sistema consciente, a lógica do inconsciente não considera os indivíduos como unidades, mas como membros de grupos sempre maiores (classes, conjuntos). O deslocamento ocorre de acordo com este princípio; 2) O princípio da simetria, que requer que o inconsciente sempre trate o contrário/oposto de cada relação da mesma forma, como se fosse sempre idêntica. A atemporalidade é uma consequência deste segundo princípio. Ambos os princípios operam com condensação e falta de contradição. Ele enfatizou que esse “Reino do inconsciente” era para Freud a verdadeira realidade psíquica. Neste reino, a mente trabalha através de uma bi-lógica, isto é, pelo funcionamento simultâneo do princípio da assimetria em termos de indivíduos e suas diferenças, que caracterizam a lógica cotidiana e as funções do pensamento científico, e tanto a consciência como o processo secundário de Freud; e o princípio da simetria, que governa o processo primário de Freud. Para Matte-Blanco, o deslocamento está na base da projeção, sublimação, transferência, do retorno do reprimido e da cisão de objetos. Quando um indivíduo desloca, ele trata o objeto primitivo original e o objeto para o qual ele desloca, como elementos de uma classe com um atributo específico, que pode não ser aparente para seu pensamento consciente, mas é assim para o seu inconsciente. Assim, se alguém experimenta seu chefe como um pai perigoso, podemos dizer que o seu Inconsciente, nos termos da lógica simbólica, trata seu chefe e pai como elementos de uma mesma classe: inconscientemente são idênticos. Qualquer estrutura ou qualquer sistema é um conjunto; uma classe é um conjunto de todos os indivíduos que possuem os atributos ou qualidades que definem a classe. Sempre que um conjunto é infinito no sentido de que a contagem de seus elementos não pode chegar ao fim, então a parte se torna equivalente ao todo: é isso que acontece na lógica simétrica e na operação do Inconsciente.

As estruturas bi-lógicas de Matte-Blanco estratificam toda a gama da vida psíquica em camadas, que são diferenciadas pela maior ou menor presença de processos de pensamento assimétrico-divisíveis e simétrico-indivisíveis. Este conceito inclui os trabalhos posteriores de Freud (1933) sobre inconsciente não reprimido, cujas "características primitivas e irracionais" marcam o funcionamento do Id (1923a, 1926) e possuem os mesmos atributos anteriormente atribuídos ao processo primário e ao inconsciente-como-sistema.

Com base na evolução do pensamento de Freud sobre o inconsciente, Matte-Blanco seguiu reformulando - através das lentes da lógica matemática - as leis do Inconsciente e as contrasta com as leis da lógica científica Aristotélica, embutida na mentalização consciente (processo secundário). Em seu extremo, a lógica simétrica, do estrato mais profundo do Inconsciente estrutural não reprimido, constitui um modo simétrico indivisível de ser, caracterizado pela atemporalidade e falta de espaço. Assim, elaborou sobre o problema do espaço psicológico e a multidimensionalidade, no contexto da noção de objeto e mundo interno, passado, presente e futuro. Matte-Blanco viu os fatos psíquicos da atemporalidade e

37

da falta de espaço como uma expressão da Lógica Inconsciente tornando igual qualquer das suas partes e vice-versa. Na mesma linha, em sua reanálise das Observações Psicanalíticas sobre um Caso de Paranoia de Freud (1911a), ele articulou os contrastes de Freud entre o dentro e o fora, e sobre realidade psíquica versus realidade física em termos de seus conceitos de bi-lógica e infinitização (Matte-Blanco1988).

Em sua resenha do livro "O Inconsciente como Conjuntos Infinitos: um Ensaio em Bi-lógica", Henry Rey (1976) deu um exemplo clínico da utilidade das ideias de Matte-Blanco para uma compreensão mais profunda da construção do pensamento psicótico, descrevendo o exemplo de Matte-Blanco de uma mulher esquizofrênica. Depois de coletado sangue de seu braço, a mulher que sofria de delírios, queixou-se, às vezes, que o sangue tinha sido retirado de seu braço e, em outras vezes, que o braço dela fora arrancado. Esta foi uma expressão de um bem conhecido modo de pensar esquizofrênico, a identidade/equivalência e completa reciprocidade e permutabilidade das partes e o todo.

O segundo livro de Matte-Blanco: "Thinking, Feeling and Being” (1988) apresenta uma nova evolução de suas ideias sobre o inconsciente, suas leis e sua aplicação ao trabalho psicanalítico. A infinitude do inconsciente, e a noção de combinações em diferentes proporções de pensamento assimétrico e simétrico, refletindo uma estratificação em camadas entre os níveis consciente e o inconsciente mais profundo, abre uma nova maneira de entender a psique. O inconsciente mais profundo, que Freud disse que seria insondável, contém apenas simetria, onde tudo é igual a tudo mais. Isto constitui o "modo indivisível" absoluto. O instinto de morte de Freud pode, assim, ser reformulado como a cessação do pensamento: se tudo é igual a tudo mais, não pode ser pensado. Por outro lado, se em um estado de absoluta assimetria, tudo é diferente de tudo e conexões ou associações não podem ser feitas e objetos são fechados em uma categoria de unicidade, nenhum processo de pensamento pode ter lugar. A conclusão de Matte-Blanco foi que os processos psíquicos só podem ocorrer quando ambos os processos de pensamento, assimétricos e simétricos estão presentes. Os conceitos consciente e inconsciente são reformulados em termos de bi-lógica e estratificação da mente. Isso levou Matte-Blanco à extensa exploração do conceito de identificação projetiva de Klein em termos de lógica simétrica. Através desta lente, a identificação projetiva é vista como uma manifestação bi-logicamente estruturada tanto do pensamento simétrico como do assimétrico.

As idéias de Matte-Blanco de Simetrização e Infinitização são clinicamente explicadas por Erick Rayner (1981, 1995) que fundou o London Bi-Logic Group. Elucidando e desenvolvendo a Teoria das Emoções e a Teoria da Lógica Inconsciente de Matte-Blanco, ele segue escrevendo sobre a simetrização no reino do sentimento, onde sujeito e objeto tendem a tornarem-se indiferenciados ou reversíveis, e onde os afetos tendem a "infinitizar". A simetrização não permite qualquer tipo de desenvolvimento mental e sua consequência óbvia é um processo de infinitização, uma repetição sem fim.

Um exemplo de infinitização da simetrização pode ser um caso de impulsos eróticos infinitizados, impelidos por intensas ansiedades: um homem que está envolvido, em sucessão ou simultaneamente, com um "conjunto" de mulheres em um "frenesi mulherengo", febrilmente substituindo encontros passionais prévios pelo último "do conjunto". Depois do êxtase, quando ele sente fusão total, rapidamente ele parte para encontrar a próxima garota;

38

neste nível de simetrização as mulheres são intercambiáveis. Ele mesmo cai em uma espécie de infinitização, num transe hipnótico sobre a beleza das mulheres, que é experimentado como mutuamente empoderador. Após exploração mais profunda, torna-se evidente que esta estrutura erótica serve como saída salva-vidas para ansiedades claustrofóbicas intensas em suas atividades empresariais e na sua vida conjugal. Mas, assim que o clímax do êxtase torna-se passado, a mulher envolvida é experimentada como mais um objeto claustrofóbico. A investigação clínica sobre essas infinitizações de simetrização destacou a simetria do papel da presa e do predador, que gradualmente levou a uma renúncia da centralidade do frenesi erótico, para relacionamentos mais tranquilos e estados da mente mais confortáveis. Infinitização é também compulsão à repetição, mas carrega ligação mais direta com a expressão instintiva, um reino sem pensamento.

O conceito de Lógica Inconsciente de Matte-Blanco diz respeito ao estrato mais profundo do Inconsciente, à raiz da psique, ao inconsciente estrutural não reprimido, profundamente conectado com as sensações somáticas. Neste contexto, tem sido frequentemente relacionado a outros conceitos, como os processos transformadores de Armando Ferrari (eclipse do corpo) (Lombardi, 2000) e Bion (1962). Todos estes autores enfatizam a dificuldade estrutural de pensar em face ao distúrbio bio-psicológico perturbador das emoções. A pressão que o corpo exerce sobre o funcionamento mental constitui o primeiro elemento estrutural da infinitização, como um traço mental do contato com o corpo. As noções de traço de memória e imagem mnêmica em Freud nos leva ao “Projeto Para uma Psicologia Científica” (1895, p.351) e à “A Interpretação dos Sonhos” (1900a, b) onde também encontramos a noção de transcrição, repetição e “Bahnung”, que pode ser traduzido como facilitação ou via. O traço é a primeira impressão somática.

Lombardi (2008, p. 713) escreve: "Desejamos com isso enfatizar mais uma vez como o inconsciente e o infinito encontram suas raízes na experiência primitiva do corpo", e "Assim a pesquisa de Matte-Blanco está focada no funcionamento da lógica que caracteriza o pensamento e a linguagem, como elementos que estimulam a troca analítica, além de serem absolutamente centrais para o tratamento de casos graves" (p. 711). Lombardi (p.709) acrescentou que a ausência de relações na estrutura do pensamento, a coexistência de pensamento e não pensamento, a presença e ausência de tempo, e a desintegração - confusão do espaço/tempo são propriedades da Lógica Inconsciente.

Há implicações técnicas do trabalho de Matte-Blanco, em particular o reconhecimento que, em níveis profundos do funcionamento mental, as abordagens interpretativas sistemáticas podem necessitar ser precedidas por um processo de rêverie (Bion, 1962) e várias formas de “holding” (Winnicott, 1971). Esta fase inicial pode ser necessária para que o sujeito/analisando possa experimentar as interpretações como emocionalmente significativas e não infinitamente perigosas, o que exige tolerância à assimetria e, portanto, um salto lógico (simbólico/metafórico). Florence Guignard (1995) vê a conceituação de Matte-Blanco do Inconsciente como uma maneira de trazer "os elementos estruturais de desenvolvimento e relacionados à pulsão ‘do infantil’ à relação analítica” (p.1083).

Em resumo, a teoria da Lógica Inconsciente de Matte-Blanco (bi-lógica, lógica simétrica) explora ao nível microscópico as camadas inconscientes mais profundas. Em sua

39

teoria, duas lógicas irreconciliáveis determinam, em graus variados, todos os processos psíquicos: uma é assimétrica e característica do sistema consciente, baseada no princípio da não contradição, enquanto a outra é a infinitamente generalizadora lógica simétrica do inconsciente. A lógica assimétrica tende a diferenciar objetos em conjuntos cada vez mais individualizados, que caracterizam o pensamento científico. As propriedades do sistema inconsciente de acordo com Freud (atemporalidade, deslocamento, substituição da realidade externa pela realidade psíquica, a falta de contradição entre duas pulsões e condensação) são vistas como decorrentes desses dois princípios que governam a lógica do inconsciente.

A relevância da teoria bi-lógica do Inconsciente de Matte-Blanco para a psicanálise contemporânea tem sido, cada vez mais, amplamente reconhecida (Grotstein, 2000; Guignard, 1995; Keene, 1998; Newirth, 2003). Quando considerado como uma forma de lógica/ simbolização/discurso em seus próprios termos, o inconsciente "primitivo" pode ser reconhecido como um sofisticado gerador de códigos simbólicos que utiliza a bi-lógica para criar sua mensagem, e que pode se tornar uma fonte potencial de crescimento e reparação.

III. Eb. Comunicação inconsciente

A primeira referência a este tópico na literatura psicanalítica foi no artigo de Freud (1912b) “Recomendação aos Médicos que Exercem a Psicanálise”, “[O analista] deve voltar seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção do inconsciente transmissor do paciente. Deve ajustar-se ao paciente como um receptor telefônico se ajusta ao microfone transmissor. Assim como o receptor transforma de novo em ondas sonoras as oscilações elétricas na linha telefônica... da mesma maneira o inconsciente do médico é capaz, a partir dos derivados do inconsciente que lhe são comunicados, de reconstruir esse inconsciente, que determinou as associações livres do paciente.” (pág. 154). Ele retornou a esse tópico em “O Inconsciente” (1915c), “Constitui fato marcante que o Ics de um ser humano possa reagir ao de outro, sem passar através do Cs. Isso merece uma investigação mais detida, principalmente com o fim de descobrir se podemos excluir a atividade pré-consciente do desempenho de um papel nesse caso; descritivamente falando, porém, o fato é incontestável.” (p 222). Posteriormente, Freud deixou de abordar esse tema, mas Sándor Ferenczi introduziu a importância da personalidade do analista para o desenvolvimento da comunicação inconsciente, fundamental para determinar as características idiossincráticas de cada processo psicanalítico. Em seu Diário Clinico (1932), Ferenczi abordou o que chamou de "contratransferência real do analista", isto é, a participação emocional do analista no processo analítico: “O sonho de um paciente, dois dias antes previu uma importante revolução alemã, isto seria de fato uma intuição da minha repulsa contra o sofrimento" (Ferenczi, 1932). Green (2008) considera Ferenczi, dos seus diários, o precursor da psicanálise moderna e Zimerman (2008), em seu Vocabulário de Psicanálise Contemporânea, afirma que Ferenczi considerou a personalidade do analista como instrumento analítico de cura. Tanto Freud como Ferenczi ficaram fascinados com a possibilidade da telepatia.

Houve um silêncio sobre essas idéias até que Theodor Reik publicou "Ouvir com o Terceiro Ouvido" (1948). Reik deu um passo significativo para a compreensão da comunicação

40

inconsciente quando escreveu "O analista ouve não apenas o que está nas palavras; ele ouve também o que as palavras não dizem. Ouve com o “terceiro ouvido”, ouvindo não só o que o paciente fala, mas também suas próprias vozes interiores, aquilo que emerge das profundezas de seu próprio inconsciente... O que é falado não é o mais importante. Parece-nos mais importante reconhecer o que a fala esconde e o que o silêncio revela "(ibid, pp. 125-126). Ele acrescentou: “... o plano inconsciente não é apreendido diretamente. O meio [para a compreensão] é o ego, para dentro do qual a outra pessoa é inconscientemente introjetada. Para compreender o outro nós não precisamos nos sentir em sua mente, mas sentir o outro inconscientemente no ego.” e continua: “O que eu afirmei é que esses impulsos inconscientes em uma mente induzem impulsos do mesmo tipo em outra, neste caso, na mente do analista"(ibid, p. 468).

No entanto, uma ótima contribuição para a compreensão da comunicação inconsciente ocorreu na revelação do mecanismo de identificação projetiva descrito por Klein em 1946. Inicialmente concebido como uma fantasia do paciente, o conceito foi desenvolvido por vários autores: Bion, Heimann, Racker e outros. Nesta fantasia, o paciente coloca na mente do analista, temporariamente, algo que não é tolerado dentro de si, libertando-se desse aspecto de sua personalidade. Embora o efeito seja temporário, o paciente pode livrar-se não apenas do conteúdo, mas também de toda uma parte de si mesmo, resultando em empobrecimento, num esvaziamento de sua própria mente.

Em "Attacks on Linking" (1959), Bion desenvolveu o conceito em seu aspecto comunicativo entre analista e paciente. Um processo de interação entre as duas psiques acontece: uma intenção do analisando de produzir um efeito na psique do analista. Em "O Aprender com a Experiência" (1962), Bion foi adiante, propondo o conceito de identificação projetiva realista na qual o analista é realmente afetado pela identificação projetiva do paciente. Sobre este ponto, Ogden escreve (1980, p. 517): "identificação projetiva é inerentemente um conceito que lida com a interface entre o intrapsíquico e o interpessoal, ou seja, as formas que as fantasias de uma pessoa são comunicadas e trazem pressão para outra pessoa tolerar". Vale ressaltar que, apesar de Klein ter trabalhado na identificação projetiva como fantasia, em sua opinião os instintos buscam objetos desde o início. Desta forma, sua teoria já carregava o germe do desenvolvimento de Bion sobre o aspecto comunicativo da identificação projetiva. Existe um conhecimento instintivo inerente do objeto e o instinto procura por ele. Os trabalhos de Bion sobre a função alfa, rêverie, continente-conteúdo e o trabalho do sonho esboçaram mecanismos inconscientes da mente materna que facilitam nosso conhecimento do seu papel, bem como o do analista, na facilitação do desenvolvimento da capacidade de pensar do bebê-paciente, para que ele possa aprender com a experiência. As ideias de Bion mapearam uma interação entre mentes.

Paralelamente a estes desenvolvimentos, o conceito de identificação projetiva ampliou a compreensão da contratransferência, apresentando-a não apenas como uma manifestação inconsciente do analista, como Freud postulou, mas como uma ferramenta essencial para a compreensão do material. Nessa direção, os trabalhos de Paula Heimann e Heinrich Racker são marcos de influência (veja também as entradas separadas CONTRATRANSFERÊNCIA e IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA). Para Heimann (1950), uma vez que a contratransferência é

41

o resultado do desejo inconsciente do paciente de transferir para o analista os afetos e experiências que ele não pode reconhecer como seus, o analista pode examinar sua contratransferência para o insight. Para Racker (1953), a principal fonte dos sentimentos do analista vem da mente do paciente, o que transforma o setting em um campo bi-pessoal. Racker desenvolve o conceito de identificação concordante, onde o analista introjeta diferentes objetos do mundo interno do paciente para, assim, poder se colocar em seu lugar. É essencial para uma compreensão empática, e também permite ao psicanalista sentir suas própria emoções. A diferenciação entre ambos os protagonistas é preservada. Em contraste, no conceito de Racker de identificação complementar, o analista e o paciente fazem identificações projetivas recíprocas, o psicanalista projeta-se no paciente. A consequência é que o processo culmina em um enactment. Em 1962, Grinberg ofereceu o conceito de contraidentificação projetiva para descrever o impacto da identificação projetiva do analisando na subjetividade do analista. Quando esse efeito é massivo, a reação do analista seria determinada pela identificação projetiva do paciente e independente de seus próprios conflitos. Grinberg examinou a natureza da relação interna do analista com os objetos internos do paciente projetados em sua mente.

Esses desenvolvimentos no estudo da comunicação inconsciente através da transferência e contratransferência levaram ao conceito da relação analista-paciente como um campo bi-pessoal, fundamentalmente intersubjetivo. No entanto, esse termo é usado para criar entendimentos muito diferentes. Lawrence Brown em "Processos Intersubjetivos e o Inconsciente" (2011) escreveu: "o termo intersubjetividade é frequentemente associado à Escola Relacional Americana", que Green (2008) chamou de epidêmica na América do Norte. No entanto, Grotstein (1999) e Brown (2011) afirmam que a contratransferência foi felizmente transformada em intersubjetividade, e Brown acrescenta "Além disso, intersubjetividade é um processo de comunicação inconsciente, receptividade e criação de significado dentro de cada membro da díade e imprime significação idiossincrática ao campo emocional compartilhado que interage com uma função análoga no parceiro". (Brown, 2011, p 7).

O conceito de campo analítico usado aqui por Brown teve como sua fonte principal o trabalho do casal Baranger: "A Situação Analítica como um Campo Dinâmico" (1961), republicado em espanhol em 1968 e só traduzido para o inglês em 2008. Esta inovação teórica fundamental foi desconhecida para a maioria da comunidade psicanalítica até recentemente. Os Baranger descreveram seu projeto da seguinte maneira: "Este artigo discute as consequências da importância que trabalhos recentes atribuem à contratransferência. Quando esta última adquire um valor técnico igual ao da transferência, a situação analítica é configurada como um campo bi-pessoal dinâmico, e os fenômenos que ali ocorrem precisam ser formulados em termos bi-pessoais” (2008, p 795). Eles descrevem as características dessa fantasia inconsciente da dupla analítica e enfatizam a contribuição dos fenômenos de identificação projetiva e introjetiva em sua estrutura. Sobre o conceito de fantasia inconsciente, eles argumentam: “mais importante, nem pode ser considerado como a soma das duas situações internas. É algo criado entre os dois, dentro da unidade que eles formam no momento da sessão, algo radicalmente diferente do que é cada um deles separadamente... Nós definimos fantasia na análise como a estrutura dinâmica que a todo o momento dá significado para o campo bi-pessoal "(ibid, p. 806-7).

42

A ideia do campo analítico como bi-pessoal influenciou profundamente Antonino Ferro (1998, 2004, 2009). Referindo-se a Bion, Mom, Pichon-Riviere e ao casal Baranger, Ferro salienta que desde o primeiro contato ao telefone e até mesmo antes dele, a comunicação inconsciente começa a ser organizada no paciente, no analista e na fantasia da dupla. Ele também descreve seu modelo de escuta sem consciência, a qual estrutura o campo analítico. Tal envolvimento emocional profundo da dupla analítica, através da identificação projetiva, resulta no sonho do analista sobre o material do paciente na sessão analítica. O sonho compartilhado é revelado ao analista através de sua rêverie. No conceito Bioniano desenvolvido por Ogden, a rêverie expressa o inconsciente. Durante um sonho compartilhado haverá rêveries compartilhadas; este começa com uma comunicação inconsciente e, na medida em que é elaborada pela díade, torna-se consciente.

O conceito do terceiro analítico foi desenvolvido em continentes separados e independentemente dos pensadores latino-americanos. Inicialmente formulado por Green em 1975, que o descreveu em 2008 como o "objeto Analítico não é interno (do analisando ou do analista) ou externo (um ou o outro), mas é entre eles” (Green 2008, p 231; tradução do Português por Avzaradel). A inspiração Winnicottiana é evidente no objeto analítico de Green, como é nas postulações de Thomas Ogden de um terceiro analítico. A ideia de Winnicott: “Não existe tal coisa como um bebê, o que significa... que sempre que se encontra um bebê, se encontra um cuidado maternal...” (Winnicott1960, p. 286), inspirará Ogden, para quem não há paciente analítico sem o analista. Ele também usa a noção Winnicottiana de espaço potencial como o precursor de sua visão de espaço intersubjetivo. “O analista tenta reconhecer, entender e verbalmente simbolizar, para si e para o analisando, a natureza específica da interação momento-a-momento da experiência subjetiva do analista, a experiência subjetiva do analisando, e a experiência gerada intersubjetivamente do par analítico (a experiência do terceiro analítico)... é justo dizer que o pensamento psicanalítico contemporâneo está se aproximando a um ponto em que não se pode mais falar simplesmente do analista e do analisando como sujeitos separados que tomam um ao outro como objeto” (Ogden, 1994, p. 3). Partindo da ideia de Bion, Ogden sugere uma transformação da teoria dos sonhos usando o conceito de rêverie como uma ferramenta importante. Ogden (2007), referindo-se a Sandler, ainda coloca: "Onde há trabalho de sonho inconsciente, há também o trabalho de compreensão inconsciente" (p 40). Há um eco de volta para Groststein, "Onde há um sonhador inconsciente que sonha o sonho, há também um sonhador inconsciente que entende o sonho” (Grotstein, 2000, p. 5). Deste ponto em diante, o desenvolvimentos relacionados na psicanálise vêm sendo promovidos por muitos autores, como Levine (2013), Groststein (2000,2005), Brown (2011), Cassorla (2013) e Ogden (1994,2005), entre outros.

Um autor que trabalhou profundamente essa ideia é Civitarese em seu livro “O Sonho Necessário”(2014). Ele escreve: "Desta forma, o paradigma do sonho assume um papel mais central do que na teoria clássica. Entendido como o resultado de uma comunicação entre um inconsciente e outro, é algo que ouvimos como uma produção intersubjetiva. Nós lemos cada sessão como se fosse um longo sonho compartilhado e concebemos o todo da análise como uma troca de rêveries" (p. xiii).

43

O conhecimento atual sobre a comunicação Inconsciente abre um vasto território para novas pesquisas psicanalíticas em todos os continentes, incluindo o recente interesse no conceito de "interpsíquico", definido como “... um nível funcional pré-subjetivo em que duas pessoas podem trocar conteúdos internos e experiências de maneira compartilhada, através da utilização de identificações projetivas comunicativas “normais” (Bolognini, 2016, p.110).

IV. INCONSCIENTE E ESTUDOS INTERDISCIPLINARES

IV. A. Inconsciente na Neurociência

"A pesquisa nos tem fornecido provas irrefutáveis de que a atividade mental está vinculada à função do cérebro como a nenhum outro órgão. (...) Verifica-se aqui um hiato que, no momento não pode ser preenchido" (Freud, 1915c, p. 201).

Sessenta e cinco anos após a publicação de Freud de “O Inconsciente”, onde nomeou os dois pilares da psicanálise: a suposição de uma vida mental inconsciente e a existência de dois princípios de funcionamento mental, o processo primário e o secundário, o psicanalista, psicólogo e neurocientista Howard Shevrin publicou uma síntese de toda a pesquisa em psicologia onde ele observou que o inconsciente era uma suposição subliminar necessária (Shevrin e Dickman, 1980). As primeiras tentativas dentro da psicologia cognitiva experimental e neurociência cognitiva estavam dentro dos estreitos limites da percepção. Nos anos seguintes, houve uma avalanche de pesquisas em muitas áreas - percepção, memória, emoções, motivação, preconceito, dependência, distúrbios de humor, ansiedade, Alzheimer e Parkinson, autismo, negligência - em que fatores inconscientes/não conscientes (principalmente descritivos) foram identificados.

Foi a explosão seguinte, na pesquisa básica neurocientífica e aplicada, especialmente na América do Norte e na Europa, com o surgimento de subespecialidades da neuropsicologia dinâmica (Luria, 1966; 1973; Kaplan-Solms e Solms, 2000), desenvolvimento da neurociência dinâmica (Balbernie, 2001; Schore, 2003; Siegel, 1999, 2007), neurociência afetiva (Panksepp, 1999; Johnson, 2006) e neurociência dinâmica cognitiva (Shevrin, 1994; 1999; Villa, Brakel, Shevrin, Bazan, 2008), que levou à fundação do campo interdisciplinar da Neuropsicanálise, cujo objetivo era “estudar a natureza dinâmica da mente e identificar a organização neural da sua subestrutura inconsciente”(Solms & Turnbull, 2011, p. 135). Uma importante voz de apoio para a pesquisa multidisciplinar sobre fenômenos inconscientes dinâmicos veio de Eric Kandel (1998, 1999), Laureado Prêmio Nobel por estudos da fisiologia da memória. Kandel e Shevrin concordaram em que a neurociência do "inconsciente dinâmico”, envolvendo conflitos sobre impulsos sexuais e agressivos, não estava sendo estudada. O que tem levado a considerável confusão conceitual entre neurocientistas cognitivamente orientados e psicanalistas é que o que a maioria dos neurocientistas chamou de "inconsciente" eram processos pré-conscientes, apenas latentes e descritivamente inconscientes na terminologia psicanalítica. Havia também outras discrepâncias conceituais, por ex. uso das palavras "pulsão", "instinto", "conflito", etc.,

44

e divisões metodológicas, especialmente em áreas de delineamento análogo ou que se baseiam em sujeitos não humanos, e inferências extraídas de observações comportamentais, versus representações internas e fantasias inconscientes. Ao mesmo tempo, os avanços neurocientíficos no desenvolvimento inicial do cérebro, neuroplasticidade e neuro-conectividade parecem fornecer potencial para a validação da teoria psicanalítica da personalidade e de sua metodologia clínica.

IV. Aa. Inconsciente Dinâmico na Neuroanálise: Conflito Inconsciente, “Repressividade", Memória e Desenvolvimento Inicial

Shevrin et al. (1992, 1996) relataram o primeiro estudo neurocientífico conhecido do inconsciente dinâmico, em que a resposta cerebral, na forma de potenciais relacionados ao evento, forneceu marcadores neurofisiológicos para conflitos inconscientes em um grupo de pacientes que sofriam de fobia social. Shevrin et al. (2002) correlacionaram as respostas a conjuntos de palavras apresentados de forma subliminar e supraliminarmente, com uma medida de "repressividade" e descobriram que o processo repressivo estava inibindo as respostas às palavras julgadas pelos analistas como tendo um significado conflituoso individualizado para pacientes específicos (Shevrin, 2002, p. 136).

Uma série de investigações de seguimento, do que ficou conhecido como o grupo de estudos Shevrin de percepção subliminar (Brakel, L., Kleinsorge, S., Snodgrass, M. e Shevrin, H., 2000), abordou uma série de fenômenos relacionados aos processos mentais primário e secundário, incluindo marcadores fisiológicos de conflito inconsciente, afeto, defesa e atribuição versus natureza relacional nesses dois modos de processamento. Este corpo de pesquisa deu a Shevrin o Prêmio Sigourney em 2003. Villa, Shevrin, Snodgrass, Bazan e Brakel (2006) focaram na natureza do processamento da linguagem no inconsciente. Os resultados destacaram a importância de uma concepção conexionista de "ativação disseminada", um equivalente neurofisiológico à concepção freudiana de "catexia não ligada", que caracteriza o processo primário. Comparável à clássica conceituação psicanalítica do processo primário, a explicação conexionista, encontrou que as catexias ligadas e não ligadas estão intimamente ligadas ao status da motivação e às defesas. Quanto mais instintiva e "pulsional" for uma motivação, mais provavelmente mediará uma "ativação disseminada" ou catexias não ligadas. Quanto mais as defesas falham e quanto maior a ansiedade, mais prevalecerão as catexias não ligadas.

Outra área de intenso interesse na Europa e na América do Norte continua sendo a investigação da memória no contexto do desenvolvimento pré-edípico/pré-verbal. A neurociência delimitou não apenas a existência de uma memória explícita, verbalizável, de longo prazo, mas também de uma memória subterrânea implícita que não pode ser lembrada conscientemente, nem verbalizada. Tal descoberta nos permite supor que todas as experiências infantis dos dois primeiros anos de vida estão localizadas neste último tipo de memória, que é mediada pela amígdala em suas funções de processar as emoções. O hipocampo, estrutura indispensável para o sistema de memória explícita, de fato não atinge a maturação completa antes que o bebê tenha dois anos de idade. O estudo da memória implícita, subsequente a sua

45

descrição por Warrington e Weiskrantz (1974), ampliou o conceito do inconsciente e o desloca para um novo lugar: do reino do reprimido para uma arena de “inconsciência” biologicamente determinada (Ginot, 2015), possivelmente relacionada às históricas referências de Freud a outros processos inconscientes reprimidos (Freud, 1923, 1930, 1940a, b).

Dos estágios iniciais da vida intrauterina e pré-natal, as experiências sensoriais participam na formação de uma memória emocional e afetiva básica, pedra angular para a organização das primeiras representações (Mancia 1980; Le Doux, 1992). Este pode ser um mecanismo que envolve a neurofisiologia da memória e o conceito freudiano de inconsciente. Além disso, com a notável ampliação do conceito original do inconsciente em domínios “não conscientes”, outras convergências interdisciplinares substanciais com a ciência cognitiva, neurobiologia e neurociência também foram postuladas (Bucci, 2001). Os dados atuais, provenientes de pesquisas sobre o cérebro em processos e representações inconscientes, influenciaram o modo como o inconsciente é concebido dentro da própria psicanálise. Assim, quando os analistas lidam com um tipo de conhecimento que está fora da consciência, mas não causado pela repressão, eles usam cada vez mais expressões emprestadas dessas disciplinas: “conhecimento procedural implícito” (Clyman, 1991; Fosshage, 2005).

Neste território conceitual - sobre procedimentos e representações relacionais, implícitas ou enativas - há um modelo de desenvolvimento (assim como um modelo de mudança terapêutica) que é coerente com as recentes descobertas das pesquisas sobre apego, interação precoce pais-bebê e neurociência afetiva e cognitiva (Gabbard & Westen, 2003; DN Stern et al., 1998). Também, o modelo de mudança terapêutica pode estar em parte cambiando da dependência na tradução das representações inconscientes para o conhecimento reflexivo e simbolizado (ou insight), ou da codificação procedural para a codificação simbólica (do processo primário para processo secundário, de formas de pensamento pré-verbais para verbais), para a nova ênfase no conhecimento alegadamente não conflituoso, não simbolizado, implícito ou procedural (Boston Change Process Study Group, 2007; Lyons-Ruth, 1998, 1999).

Esse inconsciente não reprimido está conectado ao legado biológico da pessoa: traz desde as primeiras experiências infantis, que ainda não podem ser reprimidas até a estruturação de um self nuclear e do amplo domínio "subjetivo" do indivíduo. O recurso básico do sistema de memória implícita oferece conexões com os pressupostos básicos do trabalho clínico, salientando o papel central da experiência relacional em psicanálise (Barnà, 2007b, 2014), e tem modificado tanto a concepção do funcionamento da transferência/contratransferência como a transformação através da simbolização do sonho, enactments e a sintonia com a prosódia da linguagem (Mancia, 2006). Estes achados reafirmam os aspectos “construtivos” da relação analítica (Freud, 1937a): especialmente o trabalho relacionado com a verbalização de fantasias inconscientes que podem ser inferidas a partir da escuta empática e a sintonização do analista. Essa construção também pode ocorrer através do ajuste dos significados e a linguagem usada para expressá-los (Barnà, 1990, 2007a).

Após a investigação de Le Doux, da interação implícita do sistema múltiplo de memória sob um trauma agudo em adultos, vários estudos longitudinais continuaram a expandir o conhecimento das consequências neurobiológicas das ligações iniciais, relatando experiências (Balbernie, 2001; Siegel, 1999; Schore, 2003, 2006, 2007, 2010) em crianças com e sem

46

histórias traumáticas precoces. Em geral, os resultados foram consistentes com a afirmação de Bowlby de que o apego seguro facilita e o apego incerto reduz a resiliência ao estresse e ao trauma ao longo da vida. Experiências precoces danosas, com consequentes danos neurobiológicos ao sistema límbico estendido, que inclui o córtex Orbitofrontal, podem ocasionar que a criança desenvolva uma série de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais, comprometendo seu ajustamento adolescente e adulto posterior. O córtex Orbitofrontal é significativo na formulação do mapa cognitivo-afetivo e relacional fundamental. Nesta área também são registradas as primeiras experiências relacionadas ao apego e memórias emocionais (Siegel, 1999; Balbernie 2001). A principal mensagem dos estudos neurocientíficos do desenvolvimento do cérebro é que “conexões humanas moldam as conexões neurais das quais a mente emerge” (Siegel 1999, p. 2). Durante os primeiros três anos de vida, três circuitos córtico-límbicos básicos para a autorregulação do afeto são ativados e moldados pela interação com os cuidadores, assim fornecendo a base do modo como futuras emoções significativas serão experimentadas e tratadas. Neste contexto, Schore (2003, 2007) também estudou os correlatos neurobiológicos do início precoce da dissociação entre crianças, em estudo onde era observada a concordância com a estrutura rítmica dos estados desregulados de suas mães, tanto de hiperexcitação quanto de hipoexcitação dissociativa.

Na linguagem da teoria do Apego, as transações de apego são impressas em memória implícita-procedural, mediada pela amígdala (não pelo hipocampo, pouco desenvolvido no primeiro ano de vida, e implicado na repressão e simbolização inconsciente), assim formando "modelos de trabalho" duradouros de padrões codificados de resposta e estratégias de enfrentamento da regulação afetiva aos desafios ambientais (Schore, 2000, p. 35). Quando ativada, a memória procedural gera uma antecipação inconsciente do estado de espírito futuro. Segundo Siegel, isso tem particular relevância para o trauma precoce, como “experiências repetidas de terror e medo que podem ser entranhadas nos circuitos cerebrais como estados mentais. Com a ocorrência crônica, esses estados podem tornar-se mais prontamente ativados (recuperados) no futuro (e assim) constituírem traços característicos do indivíduo“ (Siegel, 1999, p. 33). A sinaptogênese e a mielinização axônica continuam no córtex Orbitofrontal até o segundo ano de vida. Após este período de pico da neuroplasticidade do aprendizado emocional dependente da experiência, os “modelos de trabalho” de relacionamentos tendem a manter seu caráter. No entanto, o córtex Orbitofrontal tende a reter um grau notável de neuroplasticidade ao longo da vida e é possivelmente através desta via que, em profundidade, a terapia psicanalítica pode ter um impacto neurobiológico: “A psicoterapia intensiva pode ser vista como uma reconstrução e reestruturação das memórias e das respostas emocionais que foram incorporadas ao sistema límbico” (Andreasen, 2001, p. 331).

A discussão em curso sobre a natureza dinâmica das primeiras impressões implícitas não reprimidas permanece uma controvérsia duradoura, com implicações para o trabalho clínico. Uma perspectiva (Clyman, 1991; Fonagy, 1999; BCPSG, 2007) vê as primeiras impressões como codificações procedurais cognitivas do "self-com-outro", análogo a andar de bicicleta. Nestes termos procedurais estritos, a reencenação da transferência ocorre porque alguma característica da relação analítica é suficientemente semelhante a um procedimento "modelo de trabalho” relacional já formulado, de modo que este estímulo - um processo automático sem motivação – provoque um padrão procedural de relacionamento. A mudança

47

pode ser alcançada através de "momentos de encontro", não necessariamente interpretáveis. Considerando que, no paradigma dinâmico de Shevrin, intenções inconscientes e expectativas, além do contexto e das demandas da situação atual, ajudam a determinar exatamente como e o que será recuperado. “A recuperação nunca é simplesmente automática e desmotivada…” (Shevrin, 2002, p. 137). Shevrin propõe que "memórias procedurais", enquanto não reprimidas e não simbolizadas inconscientemente, ainda não são inerentemente automatizadas, mas bastante sujeitas a modificações transferenciais dinâmico conflitivas a cada vez que são recuperadas. Essa visão é compatível com conceitos dinâmicos de temporalidade psíquica e a noção Freudiana de Nachträglichkeit e memórias encobridoras. Também é compatível com as abordagens Freudianas contemporâneas e das Relações Objetais (Bion, Winnicott) para os enactments transferenciais, como subsimbólicos, mas "simbolizáveis" e, portanto, interpretáveis (Ellman, 2008; Grotstein, 2014 comunicação pessoal). A diferença entre as duas interpretações dos achados neurocientíficos parece estar relacionada à exclusão ou inclusão da interação dinâmica nos mundos representacionais internos, uma marca registrada da perspectiva psicanalítica. A renúncia a nossa visão de longa data, do inconsciente como um repositório para experiências indesejadas, implica naturalmente numa visão significativamente diferente sobre o papel do analista no consultório.

Entendendo o apego como um correlato comportamental às relações objetais internalizadas sob a influência da relação mãe-bebê precoce (Diamond e Blatt 2007), outros estudos longitudinais contemporâneos objetivaram capturar o mundo representacional inicial. Estudo de Toth, Cicchetti, Rogosch e Sturge-Apple (2009) sobre a Depressão Materna, Segurança do Apego Infantil e Desenvolvimento Representacional, descobriram que as primeiras representações negativas dos pais e do self são levadas adiante ao longo do desenvolvimento, e são provavelmente transmitidos intergeracionalmente. Ellman (2008, citando Freud, 1915c) observou que as representações precoces são codificadas como representação de coisa sem valor simbólico. As atividades são primeiramente associadas a valores denotativos, em oposição a conotativos (Cassirer, 1953; Langer, 1948). Embora não simbolizadas, as representações de coisa podem atuar como motivadores básicos para respostas conflitivas complexas. Elas fazem, neste sistema teórico, parte da razão para as repetições geralmente embutidas em formações de compromisso. Em outra perspectiva, Weinstein (2007) vê os efeitos duradouros da relação de apego não na criação de modelos de self-com-o-outro (Fonagy and Target, 2002), mas deixando sua marca nos sistemas de autorregulamentação neurobiológica do bebê para o estresse e para o desenvolvimento da atenção; a relação de apego também mudará os pontos chave para a experiência de prazer e desprazer. “Se a relação de apego é restaurada na memória ao longo da infância, formando a matéria-prima sobre a qual as mais fantásticas das construções da sexualidade infantil são baseadas, assim também poderá ser em alguma medida alterada pelo aumento das capacidades cognitivas e deslocamento das excitações zonais. As… narrativas sobre o self irão impactar ainda mais as experiências de prazer/desprazer, bem como alterar a experiência das figuras originais de apego” (Weinstein, 2008, p. 181).

Tal teoria, juntamente com a interpretação psicanalítica de Shevrin (2002) dos estudos neurocientíficos de Fabiani, Stadler, Wessels (2000) sobre "memórias verídicas", que deixam "assinaturas sensoriais", são consistentes com o achado clínico que, os mais precoces, pré-

48

simbólicos, acontecimentos/experiências de vida podem ser simbolizados através do trabalho (re)construtivo da psicanálise, através do ritmo da linguagem, sonhos, fantasias, enactments transferenciais especialmente relevantes para pacientes com sintomatologia pós-traumática (Mancia, 2006; Papiasvili, 2014; 2015).

IV. Ab. Correlatos Biológicos dos Transtornos de Ansiedade, Pânico e Fobias; e Transtorno da Personalidade Limítrofe

Estudos que procuram integrar as visões psicanalítica e neurobiológica dos transtornos de pânico e fobias têm focado no mapeamento de vias neuroanatômicas envolvidas no paradigma da aprendizagem (e desaprendizagem) subliminar, baseado no condicionamento clássico, que pode ser psicanaliticamente traduzido como uma "transformação da ansiedade traumática em ansiedade sinal". Conflitos dinâmicos subjacentes em torno da separação, desamparo psíquico, agressão, enfrentamento/esquiva, luta/fuga e seus correlatos neurobiológicos (irregularidades no funcionamento da amígdala e do córtex Orbitofrontal/Préfrontal) foram rastreados em tempo real com a ajuda de tecnologia de neuroimagem. Alexander, Feigelson e Gorman (2005) postularam que especialmente a interação entre a amígdala e hipocampo foi implicada como “um locus de memórias inconscientes do medo que Freud descreveu...” (p.140). Eles se referem à continuidade entre os dois modelos de ansiedade de Freud como uma superestrutura teórica útil na compreensão conceitual de tais problemas.

Um modelo proposto dos correlatos neurobiológicos da teoria das relações de objeto, usando o Transtorno da Personalidade Borderline como um paradigma, foi apresentado por Kernberg (2015). Baseado em Wright e Panksepp (2014), Krause (2012) e outros, ele postula a integração dos principais afetos primários em vários sistemas afetivos. Os principais afetos primários emergem nas primeiras semanas e meses de vida. Esses afetos primários incluem alegria, raiva, repulsa, surpresa, medo, tristeza e excitação sensual. Afetos são agrupados em sistemas de erotismo, jogos de ligação, luta-fuga, apego, separação-pânico e SEEKING. SEEKING (Wright e Panksepp, 2014) é uma motivação básica e inespecífica para a gratificação do estímulo, que pode ligar-se a qualquer um dos outros sistemas afetivos. Devido à sua falta de especificidade, alguns mantiveram SEEKING como uma versão contemporânea do impulso freudiano (Johnson, 2008). De acordo com Panksepp e Kernberg, SEEKING fornece a explicação básica do porquê, sob condições particulares, pode haver uma excessiva ativação de atividades agressivas ou de sistemas afetivos afiliativos. Do ponto de vista psicanalítico, afetos como sistemas de motivação primária levantam questões sobre a extensão em que as pulsões são constituídas pela integração de correspondentes afetos positivos (“libidinais”) e negativos (“agressivos”), e até que ponto os afetos são a expressão dessas pulsões correspondentes assumidas. Afeto inicia a interação entre o eu e o outro e a internalização dessas interações (na forma de memória afetiva) determina os modelos internalizados de comportamento (nos termos do apego), ou relações objetais internalizadas (na linguagem da teoria psicanalítica das relações de objeto). Afetos positivos e negativos ativam estruturas cerebrais separadas umas das outras. A integração de afetos positivos e negativos apenas ocorre em um nível superior das estruturas límbicas e envolve interações

49

cortico-límbicas. A integração gradual de condições emocionalmente opostas leva a um sentido integrado de si e dos outros, efetuando uma "identidade de ego normal" e a mudança da organização da personalidade limítrofe para a organização de personalidade neurótica, marcada pela mudança de operações defensivas primitivas, centradas na cisão, em direção a operações defensivas centradas na repressão. Este avanço do nível de desenvolvimento da personalidade reflete-se em uma delimitação clara de um inconsciente dinâmico reprimido, ou do Id, constituído por inaceitáveis relações diádicas internalizadas refletindo agressão primitiva intolerável e aspectos da sexualidade infantil.

IV. Ac. Outras áreas de interesse neuroanalítico: Implicações dinâmicas de Lesões Neurológicas, Estudos dos Sonhos, Simbolização, Pulsões e Afetos

Mark Solms (2000a; Kaplan-Solms & Solms, 2000) estabeleceu um paradigma de observação clínica psicanalítica em uma série de pacientes com lesões parietais direitas. Ele descobriu que o que era anteriormente chamado de "déficit cognitivo" em tais pacientes, pode ter bases dinâmicas importantes em processos cognitivos que fazem parte do tornar inconsciente. Ao intervir psicanaliticamente, foi possível reverter o processo dinâmico em questão e recuperar essas cognições - excluídas dinamicamente da consciência através de mecanismos de defesa primitivos - de volta à percepção consciente. Ele encontrou que tal autoengano, dinamicamente mediado, correlacionado com dano no lobo parietal direito, foi atribuível a uma complexa configuração narcísica regressiva, evitação de afetos depressivos e capacidade diminuída para relações de "objeto integrado". No entanto, a teoria global de base e a metodologia deste e de outros estudos semelhantes foi submetida ao escrutínio de Blass e Carmeli (2007, 2015; Carmeli e Blass 2013), que criticaram a validade das alegações de Solms.

Outras lesões neurológicas específicas, com regressões resultantes e alterações dinâmicas dos estados de consciência, foram estudadas por Wilner e Aubé (2014), Buzsáki (2007) e Uhlhaas et al. (2009). Outros objetivos do estudo neuroanalítico do inconsciente dinâmico incluem processos oníricos (Solms, 1997; 2000b), parâmetros específicos do processo primário de simbolização (Shevrin, 1997) e a neurobiologia das pulsões e afetos (Wright e Panksepp, 2014; Kernberg, 2015; Johnson, 2008).

O contorno preciso da relação entre as neurociências e a psicanálise é objeto de animados debates. A articulação/tradução entre as duas disciplinas coloca uma série de questões epistemológicas, ontológicas, metodológicas e clínicas sobre mente-corpo, mente-cérebro e sobre o discurso interdisciplinar em geral. Como essa articulação pode funcionar também fala da concepção que cada analista tem do que é essencial para o trabalho psicanalítico. Como em qualquer estudo interdisciplinar, a aplicabilidade das investigações neurocientíficas foi cercada por reservas, debates e controvérsias. Historicamente, a questão tem sido debatida por Freud (1940a), Winnicott (1949), Alexander (1936, 1964), McDougall (1974, 1993), Green (1999), e mais recentemente por Hinshelwood (2015), Pulver (2003), Blass e Carmeli (2007, 2013, 2015), Yovell, Solms e Fotopoulou (2015), Albertini (2015), Scarfone (2014b) e muitos outros, cobrindo uma ampla gama de perspectivas. Muitos analistas acham útil informar-se sobre descobertas emergentes pertencentes a áreas específicas de

50

interesse psicanalítico, por exemplo, os correlatos neurobiológicos das histórias traumáticas precoces e sua reversibilidade parcial com o tratamento psicanalítico documentado (Kernberg, 2015; Blum, 2003, 2008, 2010; Mancia, 2006a, b .; Busch, Oquendo, Sullivan e Sandberg, 2010). Canestri (2015) propõe que falar sobre «interseção entre disciplinas que são diversas em termos de linguagem, metodologia e epistemologia » (p 1576) permite que todos os lados continuem a ouvir uns aos outros.

IV. B. Inconsciente de Grupo

IV. Ba. Contexto Teórico

Historicamente, processos inconscientes e conteúdos subjacentes a comportamentos de grupo, cultura e sociedade, foram abordados por Freud em todo o desenvolvimento da teoria psicanalítica em mais de 20 escritos, dos quais os mais notáveis são Totem e Tabu (Freud, 1912-13), descrevendo uma manifestação do Complexo de Édipo em nível grupal e social; A Psicologia de Grupo e a Análise do Ego (Freud, 1921), com o foco na regressão grupal e processos projetivos e identificatórios primitivos, ou seja, a projeção sobre o líder do ideal do (super)ego dos membros do grupo, libertando-os das restrições morais da expressão de seus impulsos instintivos, particularmente aqueles de tipo agressivo, e processos identificatórios mútuos entre os membros e o líder, laços libidinais entre eles promovendo um senso de pertencimento e aumentando o senso de força; e Mal Estar na Civilização (Freud, 1930), com os membros do grupo desencadeando os anteriormente inconscientes impulsos agressivo-sádico-destrutivos contra os "outros" grupos, em primeiro plano. Apesar das formulações ou o foco da visão freudiana do Inconsciente de Grupo poder variar dependendo do estágio de desenvolvimento da teoria, a premissa básica permaneceu: a força motivadora por trás dos desenvolvimentos histórico-sociais, fracassos e sucessos da civilização tem sido o antagonismo entre as exigências da natureza instintual e as formações reativas restritivas, instituídas pela sociedade, levando a progressivas renúncias de atuação dos instintos (ambos o agressivo e o erótico/ sexual). De acordo com essa visão, vários compromissos, mais ou menos bem sucedidos, ao longo da interação dinâmica recíproca entre os motivos inconscientes e conscientes, impostos pelos grupos, têm sido responsáveis ao longo da história tanto pelos resultados da mais elevada ordem, sublimatórios e benéficos, como pelos resultados destrutivos e malignos: escravidão, genocídios violentos, guerras, abusos e vitimizações.

Contribuições de W. Bion (1961), Rice (1969) e Anzieu (1981), Kaes (2010, 2014) e Lebovici, Diatkine e Kestemberg (1958) desenvolveram as ideias de Freud sobre as fantasias primitivas ativadas pelo grupo e sobre primitivos processos projetivo-introjetivo-identificatórios específicos aos grupos, ao lado de modelos de identificação projetiva e/ou "realidade psíquica”, e "espaço dinâmico intersubjetivo". Bion (1961) postula que os impulsos primitivos afastados de sua fonte original através da identificação projetiva, contribuem para a formação de "pressupostos básicos de grupo", regidos por "dependência", "luta / fuga", e mecanismos de “acasalamento”, enquanto a função do "grupo de trabalho" é uma colaboração produtiva orientada pela realidade. Anzieu (1981) descreve várias fantasias do grupo, ilusões

51

e imagens de ameaças orais e temores de aniquilação, como o "grupo é uma boca", “a quebra”, e o “grupo máquina”, refletindo as estruturas mais precoces da mente e do nível psicótico da personalidade à medida que ela se manifesta no processo grupal. Kaes (2010, 2014) descreve o “modelo da realidade psíquica inconsciente do grupo”, consistindo de processos de interferência associativa, de um espaço onírico compartilhado e de alianças inconscientes. Neste complexo sistema metapsicológico intersubjetivo, a tríplice aliança de natureza fundamentalmente narcisista é entre a Idéia, o Ideal e o Ídolo. Isso reflete a tirania da imagem materna onipotente e idealizada e o uso de vários mecanismos de defesa primitivos de clivagem/cisão, negação e recusa contra as ansiedades arcaicas. Estes e outros conceitos foram prontamente aplicáveis a grupos de terapia analítica, mas também a grupos organizacionais e institucionais.

IV. Bb. Terapias Analíticas De Grupo

As terapias analíticas de grupo aplicam as noções Freudiana e Bioniana de processos e conteúdos inconscientes desde o seu início, na era pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente as orientações modeladas a partir de Slavson (1947), onde os fatores inconscientes dinâmicos de grupo são pensados como fomentadores de resistência contra o crescimento do indivíduo e são interpretados de acordo, e/ou as de Foulkes (1948), onde fatores dinâmicos inconscientes do grupo e sua comunicação multinível são utilizados para promover o desenvolvimento do indivíduo. O consenso é que a Terapia Analítica em Grupo, como praticada hoje, é mais adequada a problemas caracterológicos, pois, em pequenos grupos de terapia, múltiplas transferências de ambos os tipos, projeção e deslocamento, são rapidamente ativadas, tanto para o terapeuta, como para o grupo e para os seus membros, assim as resistências caracterológicas são prontamente visíveis e interpretáveis (Slavson, 1947; Glatzer, 1953; McKenzie, 1992; Kauff, 2011). A função de um analista no grupo é fornecer segurança contra a atuação dos impulsos inconscientes, e manter os limites e enquadre, em grande parte através da interpretação de conflitos inconscientes, e combate quando representam resistência ao progresso individual e/ou do grupo. Do ponto de vista bioniano dinâmico (inconsciente) do grupo, isso equivale à continência do analista do grupo, ouvindo e interpretando as tendências regressivas inconscientes do "pressuposto básico" do grupo. Em geral, as terapias analíticas de grupo, que evoluíram do trabalho em grupo com crianças (Slavson, 1947) e com os veteranos da 2ª Guerra Mundial (Foulkes, 1948), tem evoluído dentro de um campo internamente coerente, desenvolvendo e aplicando vários pontos de vista sobre o inconsciente, correspondendo à maioria das orientações psicanalíticas, incluindo a Winnicottiana, Mahleriana, relacional, psicologia do self, intersubjetivista e teoria de campo. A noção central do inconsciente continua sendo a visão do grupo assumindo as funções transferenciais e de desenvolvimento emergente, e como tal, fornecendo um reservatório dinâmico único da interação de processos inconscientes, o que, de outra maneira poderia não ser plenamente visualizado. Uma modalidade clínica-organizacional híbrida, psicanaliticamente orientada, são os “GRUPOS DE PROCESSOS EXPERIENCIAIS” para profissionais, gerentes de negócios, estudantes e professores. Estes têm empregado os conceitos da dinâmica inconsciente de grupo como múltiplas resistências-transferências e

52

comunicações inconscientes, para aumentar a funcionalidade de grupos de trabalho ou estudo e seus membros ao longo da América do Norte, em empresas, hospitais, instituições acadêmicas e sem fins lucrativos (Papiasvili, 2011).

Uma modalidade específica de grupo desenvolvida primeiro com crianças e adolescentes, e após para todas as faixas etárias, é o psicodrama psicanalítico de Lebovici e Diatkine (Lebovici, Diatkine e Kestemberg, 1958). Esta é uma terapia analítica individual através de dramatização, em contraste com o grupo de psicodrama expressivo de Jacob Moreno, desenvolvido décadas antes. Em suas diversas aplicações, o paciente individual está no centro da "cena" projetada a partir de suas memórias e fantasias; o analista direciona os potenciais terapeutas auxiliares para participar da "encenação" verbal/intercâmbio com o paciente. Isto tem mostrado um efeito facilitador para a emergência de conteúdos e processos inconscientes de outra forma fortemente defendidos e levar a um insight.

IV. Bc. Violência Social e Terrorismo

No artigo Sanctioned Social Violence, Kernberg (2003) descreve um espectro de mecanismos regressivos narcisistas e paranoides que fornecem uma matriz (inconsciente) comum para a análise dos aspectos da psicologia social que sancionam a violência. Kernberg amplia Freud ao acrescentar a dimensão do horror às consequências da agressão que mobilizam as defesas de tipo narcisista e paranoico. Neste tipo de processo de regressão de grupo, as funções normais e operações defensivas são substituídas por uma ampla gama de operações defensivas primitivas típicas de mecanismos esquizo-paranoides, originalmente descritos por Klein. De acordo com Kernberg (2003) e Green (2002b), esse poderoso e incontrolável potencial regressivo para operações defensivas primitivas, centradas na cisão, para lidar com a agressão primitiva pode ser a evidência mais importante do sistema motivacional básico que Freud designou como a pulsão de morte, a contrapartida da libido. Rice (1969), Green (1969, 2002b), Glass (2008) e Kernberg (1994, 2003) veem esses conteúdos e processos inconscientes operando dentro dos indivíduos, em pequenos e grandes grupos, instituições e na sociedade.

IV. Bd. Trauma Histórico, Inconsciente Étnico e Crise Social/Internacional

Herron (1995) conceituou o “Inconsciente Étnico” como um material reprimido compartilhado entre cada geração com a próxima, e com a maioria das pessoas de seu grupo étnico.

O trauma histórico une os membros de um grupo social, raça, religião ou nação, e os predispõe a uma rápida regressão a uma ideologia paranoide, movimento de massa paranoide, fanatismo, ostracismo e violentos ataques a outros subgrupos políticos, nacionais ou raciais. Volkan (1988, 1999) forneceu uma compreensão fundamental das inter-relações entre traumas históricos, formação de identidade e conflitos intergrupais. "Outros grupos" tornam-se objetos de cisão precoce, regressão narcísica e paranoide e defesas contra eles. A falha de um processo de luto foi identificada como um dos fatores etiológicos (Volkan, 1999). O potencial inconsciente da agressão primitiva disponível em diferentes graus em cada indivíduo pode ser

53

ativado rapidamente em processos regressivos de grupo. Ao longo da história, a agressão ativada pelo grupo, por sua vez, pode ser ampliada pela combinação da internalização do trauma histórico coletivo (Papiasvili e Mayers, 2013), e uma aguda crise social perturbadora das estruturas sociais comuns. Sob tais condições, a polaridade paranoide de uma ideologia dominante pode emergir e cair em solo fértil.

IV. Be. Dinâmica Organizacional e Social; Psico-história

A aplicação da Dinâmica Organizacional e Social, e o campo interdisciplinar da Psico-história usa os conceitos acima em suas investigações e elaborações para a compreensão do funcionamento de grandes grupos, ao longo do tempo e das geografias. Um exemplo da Dinâmica Social é o conceito de Morris Nitsun (1996) do “Antigrupo”, uma confluência dos elementos destrutivos inconscientes que ameaçam o funcionamento do grupo, seja em uma terapia de grupo, organizacional ou institucional, ou num contexto de grupo macro-social. O campo da Psico-história em particular, tem uma longa tradição na América do Norte aplicando conceitos psicanalíticos a eventos macro-sociais através dos tempos. Os primeiros artigos publicados sobre temas psico-históricos já apareceram na primeira edição do Journal of Abnormal Psychology de 1909. Outros trabalhos pioneiros neste campo, entre outros, são os de Robert J. Lifton (1993); The Journal of Psychohistory, fundado por Lloyd deMause; e Clio’s Psyche, Psique, editado por Paul Elovitz. Um exemplo contemporâneo da Psico-história psicanalítica é a “Transcendental Configuration” de Eva Papiasvili e Linda Mayers, na qual a transformação e o acesso ao mágico-infantil-irracional forneceu um recurso necessário para a superação de traumas de proporções épicas ao longo da Idade Média (2013, 2014, 2016). Nitsun (1996), assim como Papiasvili e Mayers (2013), enfatiza tanto o potencial irracional e regressivo ilimitado e destrutivo como o criativo do grupo, como estimulantes e reparadores de conteúdos e processos inconscientes.

V. CONCLUSÃO

Neste início do século 21, há muitas maneiras de entender o inconsciente através dos três continentes psicanalíticos. Dentro dessa pluralidade conceitual, existem importantes tendências regionais.

Na Europa, os analistas franceses iniciaram a tendência de “retorno a Freud”, relendo, desconstruindo e definindo os conceitos clássicos para trabalhar. A tradição francesa postula como primordial uma separação absoluta (irredutível) entre pré-consciente/consciente e inconsciente, e liga o inconsciente à pulsão sexual (diferente da noção de instinto). Dentro desta linha de pensamento, o inconsciente não pode ser revelado pela observação, mas apenas deduzido em movimentos psíquicos ‘après coup’, após o evento.

54

Outra tendência do pensamento europeu sobre o inconsciente é representada por um grupo de analistas alinhados com a ciência cognitiva, neurobiologia e neurociência na exploração do conhecimento procedural e memória implícita, onde, hipoteticamente, todas as experiências infantis dos dois primeiros anos de vida estão localizadas. No coração deste território conceitual, que é sobre representações relacionais e procedimentos, implícitos ou enativos, existe um modelo de desenvolvimento compatível com recentes descobertas das teorias de apego, interação precoce pais e filhos e neurociência afetiva e cognitiva.

A terceira tendência importante, nas conceituações Européias do inconsciente, é delineada pela teoria da relação de objeto que foca sobre o papel do objeto na formação do inconsciente, concebido como o produto da internalização das experiências relacionais. A pulsão inata do bebê é presumida como sendo moldada pelas interações com o ambiente; estas são coloridas e remodeladas pelos processos psíquicos inconscientes. O inconsciente, nesta tradição de pensamento, é estruturado através da qualidade da transformação mental das experiências sensoriais e emocionais nas relações primárias. A noção inovadora de uma área intermediária entre o eu e o outro e o objeto transicional abriram caminho para repensar a díade das relações objetais com extensão para uma "terceira” área. Conceitos teóricos como o terceiro analítico, o sonho desperto e o conhecido não pensado apontam para formas de conhecimento inconsciente que excedem a idéia da díade, enquanto permeiam o idioma e todo o ser individual.

Na América do Norte, entre as múltiplas vozes que conversam sobre funcionamento do ego inconsciente, processo e processamento inconsciente, conflito e compromisso intrapsíquico, papel do objeto, sujeito e "o outro" no desenvolvimento e na situação psicanalítica, internalização, representação, simbolização, enactments, camadas horizontais e cisões verticais, "intersubjetividade", neuropsicanálise e inconsciente de grupo, várias das tendências seguintes podem ser discernidas.

Ao enfocar no processo, o estudo de processos, processamento e estruturas inconscientes, é separado do conteúdo inconsciente, mas o processo em si é cada vez mais visto como tendo dimensões fluidas e estruturadas.

Há um reconhecimento do papel do objeto na constituição e na modulação de conteúdos e processos inconscientes. Inerente a essa nova direção é a visão menos biológica de "instinto/pulsão". Ao mesmo tempo, a neurociência contemporânea dinâmica e a neuroanálise deram um impulso ao reexame dos postulados Freudianos meta-teóricos, voltando a centrar a fisiologia do cérebro e do corpo em relação aos processos inconscientes bem como ao seu conteúdo.

A alternativa dominante à teoria clássica, na cena psicanalítica americana contemporânea, tornou-se um grupo de abordagens conhecidas sob o termo geral de psicanálise relacional, que enfatiza de várias maneiras a natureza eminentemente diádica, social, interacional e interpessoal da mente. Daí a denominação alternativa de “insconsciente de duas pessoas”, o inconsciente co-criado no campo intersubjetivo. Tradicionalmente aliada à pesquisa da infância e às neurociências, a tendência parece ir da exclusão para a inclusão da interação dinâmica no mundo representacional interno.

55

Fora da psicanálise relacional, o debate contemporâneo é menos sobre as respectivas contribuições dos fatores intrapsíquicos versus relacionais, mas sim da articulação e interação complexa entre a qualidade precoce do objeto (e da situação analítica do presente) de ligar-sonhar-simbolizar-facilitar e a «resposta» e representação intrapsíquica do inconsciente do sujeito.

Em todas as orientações psicanalíticas, há uma ênfase crescente no inconsciente 'não representado' e 'subsimbólico’ e uma reavaliação concomitante dentro do contexto da participação interpretativa e não interpretativa do analista, incluindo enactments contratransferenciais, holding, contenção e facilitação. Na medida em que a ênfase está nos modos não interpretativos do funcionamento do analista, isto constitui um desvio teórico das abordagens tradicionais da teoria do conflito para o inconsciente. Na medida em que a ênfase está em trazer o não representado e subsimbólico para o discurso interpretativo, constitui a expansão do domínio intrapsíquico de vários processos inconscientes definidos e estratificados.

Muitas escolas de pensamento atuais sublinham as vantagens de limites permeáveis entre as diferentes partes da mente.

Na América Latina, as tendências para sintetizar o pensamento metapsicológico e clínico resultou em intensivos estudos de Lógica Inconsciente e Comunicação Inconsciente.

Combinando as concepções de Freud sobre o Processo Primário com as proposições matemáticas, presume-se que a Lógica Inconsciente seja governada por dois princípios: o princípio da generalização, o que explica que, ao contrário da lógica do sistema consciente, a lógica do inconsciente não considera os indivíduos como unidades distintas, mas como membros de agrupamentos infinitamente grandes; e o princípio da simetria, que identifica a maneira pela qual o inconsciente trata de forma idêntica o avesso/direito de todo relacionamento. Supõe-se que a mente funciona bi-logicamente pelo funcionamento simultâneo da Lógica consciente e inconsciente.

Historicamente enraizado nos escritos de Freud sobre o assunto, e incorporando avanços nos conceitos de transferência, contratransferência, identificação projetiva, os analistas Latino-Americanos introduziram o conceito da situação analítica como um campo dinâmico. Convencidos da profunda intersubjetividade da situação analítica, os autores têm desenvolvido uma transformação da teoria do sonho usando o conceito de rêverie. Na explicação contemporânea de Comunicação Inconsciente, o sonho - postulado como uma função psíquica contínua - assume um papel ainda mais central do que na teoria clássica. Compreendido como o resultado de uma comunicação entre um inconsciente e outro, cada sessão é entendida como um longo sonho compartilhado. Assim, toda a análise se torna uma troca de rêverie.

No geral, em meio a divergências entre e dentro das tendências regionais, com várias pluralidades conceituais enfatizando as múltiplas dimensões dos processos, conteúdos e estruturas inconscientes, incluindo o contexto de sua formação e mudança, vários temas convergentes emergem:

56

A necessidade contínua do conceito: A maioria dos psicanalistas concorda que o conceito de inconsciente é uma ferramenta essencial para apreender uma realidade fundamental da mente humana: ela é cruzada por modos de "representação" totalmente separados das regras de cognição do processo secundário. O inconsciente é geralmente construído como subproduto inevitável – tanto único como universal - de "incompatibilidades" psíquicas entre experiência individual e vida coletiva. Enquanto o núcleo do inconsciente se presume ter emergido ou ter sido "depositado" na infância, sob condições traumáticas, a mente adulta oprimida pode, em qualquer ponto no ciclo de vida gerar novas regiões de funcionamento inconsciente. O inconsciente continua a ser uma noção básica em muitas escolas de pensamento, reconhecidamente sem reificação e em diferentes contextos.

Processo: O estudo de processos, "processamento” e estruturas inconscientes é amplamente considerado tão importante, teórica e clinicamente, quanto as tradicionais análises do conteúdo inconsciente. A tendência contemporânea parece ser investigar os processos inconscientes com suas dimensões fluidas e estruturadas, bem como desconstruindo camadas diferentes do funcionamento inconsciente: originalmente considerado relativamente “ilógico” e “não comunicativo”, hoje é visto como tendo sua própria lógica e modo de comunicação. A adoção de um nível de funcionamento inconsciente sobre outro pode ser vista como um importante determinante da resposta de um indivíduo à técnica analítica tradicional.

Papel Proeminente do Objeto, Relações Objetais e Interações Variadamente Conceitualizadas: a teoria das relações objetais desenvolveu o conceito de inconsciente fundado em modelos relacionais da mente, onde o objeto assume um importante papel na formação (e mudança) inconsciente. Entre os vários modelos conceituais de internalização das experiências relacionais numa interação recíproca com a pulsão/afeto inato do recém-nascido, há um amplo consenso que, ao lado do reconhecimento e satisfação das necessidades corporais, a mentalização, simbolização e habilidades comunicativas dos cuidadores primários, bem como suas próprias vidas inconscientes, são cruciais na constituição e na modulação do conteúdo, estrutura e processo inconscientes, e da sua articulação com as regiões mais racionais da mente. Enquanto as teorias do Self Intersubjetivo Relacional e as do Apego, centradas no papel do adulto na constituição da estrutura psíquica, ganharam reconhecimento geral, existe um debate contínuo sobre o movimento de algumas das abordagens teóricas em relação às realidades "psicológicas" subjetivas e intersubjetivas, longe das visões dinâmicas do inconsciente como carregado de conflitos, imbuído de sexualidade infantil e irredutivelmente "outro". Muitos escritores contemporâneos desta linha vislumbram teorias do inconsciente "de duas vias", onde o "inconsciente relacional", como conceito, permite a junção do pensamento psicanalítico sobre fenômenos dinâmicos/intrapsíquicos e intersubjetivos.

A participação do analista: Segue do reconhecimento do papel do objeto na vida mental inconsciente e nas manifestações contratransferenciais do aqui e agora, sendo comumente considerados como as estradas mestras para a intuição e a representação das questões inconscientes em jogo no tratamento.

Articulação-Interação: O debate é menos sobre a respectiva contribuição dos fatores intrapsíquicos, externos e relacionais e mais voltada para a articulação e a complexa interação

57

entre a qualidade precoce do objeto (e na situação analítica presente) em ligar-sonhar-simbolizar-facilitar e as «respostas» e as representações intrapsíquicas inconscientes do sujeito.

A área do Não Representado, Não Simbolizado Inconsciente: As contingências da experiência corporal durante o desenvolvimento e como resultado de doença e trauma são consideradas tanto um impulso decisivo, como limitação para a metabolização e desenvolvimento psíquico. O interesse no inconsciente não reprimido foi fortemente reforçado graças ao grupo de analistas que veem convergências interdisciplinares substanciais com o novo trabalho sobre processamento inconsciente em neurobiologia, neurociências desenvolvimentais e afetivas e neuropsicanálise. A discussão em curso sobre a natureza dinâmica das primeiras impressões implícitas não reprimidas permanece controversa. A diferença entre as interpretações dinâmicas e não dinâmicas dos achados neurocientíficos parece estar relacionada à inclusão ou não da interação dinâmica no mundo representacional interior, uma marca da perspectiva psicanalítica. A pergunta inicialmente levantada por Freud, sobre por que as interpretações acionam insight e mudança em alguns pacientes e em outros não, e ainda por que esta resposta, qualitativamente diferente à situação clássica, não necessariamente coincide com as distinções diagnósticas psiquiátricas tradicionais ou mesmo contemporâneas, tem continuado a estimular investigações teóricas. Da primeira formulação em termos de um "déficit" inicial na provisão de necessidades básicas, o interesse se ramificou em um intenso estudo dos diferentes passos no desenvolvimento da capacidade de representar e simbolizar, recuperar e expandir o funcionamento simbólico inconsciente e, portanto, na capacidade de carregar sem ansiedade a íntima e idiossincrática luxúria do material inconsciente.

Reversibilidade-Permeabilidade: Muitas escolas de pensamento hoje enfatizam o enriquecimento criativo para a vida humana permitido pela permeabilidade bidirecional entre as diferentes partes da mente. A saúde psíquica parece estar associada à capacidade de acesso flexível a múltiplos níveis coexistentes de organização e processamento psíquico inconsciente. Alguns modelos elaboraram ideias paralelas sobre a necessária fluidez psíquica e a capacidade para regressão do analista como ferramentas para o trabalho psicanalítico.

Perspectivas de campo: A intersubjetividade e interdependência fundamental do desenvolvimento humano têm levado muitos analistas a tratar o campo “dinâmico bi-pessoal” entre analista e paciente como um encontro onde novas elaborações/extensões, e não simples repetições das questões inconscientes individuais de cada parceiro da dupla, podem emergir, e para as quais a presença e a mente do analista contribuem significativamente. Esse pensamento se encaixa com as experiências clínicas e convicção de muitos pensadores que há um potencial ao longo da vida para expressões mais inventivas e criativas de conteúdos psíquicos anteriormente excluídos ou não integrados.

Questões narcísicas e de identidade no equilíbrio psíquico: Muitos autores aprofundaram a compreensão dos aspectos saudáveis e patológicos do narcisismo, no desenvolvimento psíquico e separação intrapsíquica dos objetos internos, mas também como um processo de individuação ao longo da vida, e de luta para manter a autocoesão.

58

Inconsciente de Grupo: Como visto em contextos clínicos, institucionais e macrossociais, o potencial do grupo, tanto destrutivo como criativo, irracional, regressivo, animador e regenerador de conteúdos e processos inconscientes é inesgotável.

Os analistas contemporâneos continuam a expansão teórica iniciada por Freud sobre os processos inconscientes, TRATANDO DE SUJEITOS INDIVIDUAIS, como parte de suas configurações internas diádicas e triádicas, interações sociais, e afiliações de grupo. O criativo florescer de múltiplas sobreposições conceituais, interagindo lado-a-lado com disparidades e contradições, dentro e entre as teorias individuais e dentro e através das três regiões refletem possivelmente as ambiguidades enlouquecedoras e inspiradoras e os paradoxos da essência do objeto, o próprio inconsciente.

Ver também:

CONFLITO

CONTEÚDO

COUNTRATRANSFERENCIA

RELAÇÕES DE OBJETO

IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA (em breve)

REFERENCIAS

A Edição Standard Brasileira (ES) das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud utilizada é a Primeira Edição da Imago de fevereiro de 1975.

Abend, S.M. (1990). Unconscious fantasies, structural theory, and compromise formations. J Am Psychoanal Assoc, 38:61-73.

Abend, S.M. (2005). Analyzing intrapsychic conflict: compromise formation as an organizing principle. Psychoanal Q, 74:5-25.

Abraham, K. (1923). Contributions to the theory of the anal character. Int J Psychoanal 4:400- 418.

Abraham, K. (1925). The history of an impostor in the light of psychoanalytic knowledge. Psychoanal Q 4:570-587.

Abraham, K. (1926). Character-formation on the genital level of libido-development. Int J Psychoanal 7:214-222.

59

Akhtar, S. (ed.) (2009). Comprehensive Dictionary of Psychoanalysis. London: Karnac. Alexander, B., Feigelson, S., Gorman, J.M. (2005). Integrating the psychoanalytic and neurobiological views of panic disorder. Neuropsychanal 7:129-141.

Andreasen (2001). Brave New Brain : Conquering Mental Illness in the Age of Genome. New York, Oxford Univ. Press.

Anzieu, D. (1981). Le groupe et l’inconscient: L'imaginaire groupal. Paris: Dunod.

Anzieu, D. (1995). The Skin-Ego. Segal N, translator, London: Karnac.

Arlow, J.A. (1961). Ego psychology and the study of mythology. J Am Psychoanal Assoc 9:371-393.

Arlow, J.A. (1963). Conflict, repression and symptom formation. Int J Psychoanal 44:12-22.

Arlow, J., Brenner, C. (1964). Psychoanalytic concept and structural theory. NY: International UP.

Arlow, J.A. (1966). Depersonalization and derealization In: Loewenstein, R.M., Newman, L.M., Schur, M., Solnit, A.J., editors. Psychoanalysis—A General psychology: essays in honor of Heinz Hartmann, 456-478. NY: International UP.

Arlow, J.A. (1969a). Fantasy, memory and reality testing. Psychoanal Q 38:28-51.

Arlow, J.A. (1969b). Unconscious fantasies and disturbances of conscious experience. Psychoanal Q 38:1-27.

Arlow, J.A. (1981). Theories of pathogenesis. Psychoanal Q 50:488-514.

Arlow, J.A., Richards,A.D. (1991). Psychoanalytic theory. In: Dulbecco R editor. The Encyclopedia of human biology, 6. NY: Academic P.

Aronson, M.L. (1993). Psychoanalytic Group Theory and Therapy: Essays in Honor of Saul Scheidlinger. Psychoanal. Psychol 10:307-309.

Auchincloss, E.L. & Samberg, E. editors (2012). Psychoanalytic Terms and Concepts. APA, New Haven and London: Yale University Press.

Aulagnier, P. (2001). The Violence of Interpretation. (Sheridan A, transl.). London: Brunner Routledge.

Bach, S. (2006). Getting from here to there. Hillsdale, NJ: Analytic P.

Bachant, J.L., Adler, E. (1997). Transference: co-constructed or brought to the interaction? J Am Psychoanal Assoc 45: 1097-1120.

Balbernie, R. (2001). Circuits and circumstances: neurobiological consequences of early relationship experiences and how they shape later behaviors. J Child Psychother 27:237- 255.

Balint, M. (1952). Primary love and the psychoanalytic technique. London: Hogarth.

Baranger, M., Baranger, W. (2008). The analytic situation as a dynamic field, Rogers, S, Churcher, J., translators. Int J Psychoanal 89:795–826. [(1961–2). La situacion analítica como campo dinâmico. Rev Urug Psicoanal 4(1):3–54.]

Barnà, C.A. (1990). La relazione analitica e il suo “oggetto”. Rivista di Psicoanalisi, 36: 305-339.

Barnà, C.A. (2007a). Transfert e assetto analitico. In: Nicolò A.M. (a cura di) Attualità Del Transfert. Franco Angeli, Milano.

60

Barnà, C.A. (2007b). L’inconscio tra natura e cultura. Psiche 1: 51-67.

Barnà, C.A. (2014). Concezioni dell’inconscio e metodo psicoanalitico. Nuova rassegna di Studi Psichiatrici, Vol.10. (www. nuovarassegnastudipsichiatrici.it )

Barry,V., Fisher, C. (2015). Research on the relation of psychoanalysis and neuroscience: clinical meaning and empirical science. J Am Psychoanal Assoc, 62:1087-1096.

Beres, D. (1962). The unconscious fantasy. Psychoanal Q 31:309-328.

Beres, D., Arlow, J.A. (1974). Fantasy and identification in empathy. Psychoanal Q 43:26- 50.

Bion, W.R. (1959). Attacks on linking. Int J Psychoanal 40:308–15.

Bion, W. (1961). Experiences in groups. NY: Basic Books.Bion, W.R. (1962). Learning from experience. NY: Basic Books. Bion, W.R. (1963). Elements of Psychoanalysis. London, Heinemann.

Bion, W.R. (1965). Transformations. London: Karnac.

Bion, W.R. (1970). Attention and Interpretation. London: Karnac.

Bion (1978). Four Discussion with W.R. Bion. London, Clunie Press.

Blass, R.B., Carmeli, Z. (2007). The case against neuropsychoanalysis: On fallacies underlying psychoanalysis’ latest scientific trend and the negative impact on psychoanalytic discourse. Int J Psychoanal 88:19-40.

Blass, R.B., Carmeli, Z. (2015). Further evidence for the case against neuropsychoanalysis: How Yovell, Solms, and Fotopoulous’s response to our critique confirms the irrelevance and harmfulness to psychoanalysis of the contemporary neuroscientific trend. JAPA 96:1555- 1573.

Blum, H.P. (2003). Psychic Trauma and Traumatic Object Loss. J. Amer. Psychoanal. Assn., 51:415-431.

Bion, W.R. (1975). Bion’s Brazilian Lectures II. Rio de Janeiro: Imago Editora.

Blum, H.P. (1996). Seduction Trauma: Representation, Deferred Action, And Pathogenic Development. J. Amer. Psychoanal. Assn., 44:1147-1164.

Blum, H.P. (2003). Psychic Trauma and Traumatic Object Loss. J. Amer. Psychoanal. Assn., 51:415-431.

Blum, H.P. (2008). A Further Excavation of Seduction, Seduction Trauma, and the Seduction Theory. Psychoanal. St. Child, 63:254-269.

Blum, H.P. (2010). Adolescent Trauma and the Oedipus Complex. Psychoanal. Inq., 30:548- 556.

Bollas, C. (1987). The Unthought Known. In: The Shadow of the Object. London, Free Association Books.

Bolognini, S. (2016). The Interpsychic Dimension in the Psychoanalytic Interpretation. Psychoanal. Inq., 36:102-111.

Boris, H.N. (1986). The "Other" Breast—Greed, Envy, Spite and Revenge. Contemp. Psychoanal., 22:45-59.

61

Boris, H.N. (1989). Interpretation of Dreams, Interpretation of Facts. Contemp. Psychoanal., 25:212-225.

Borensztejn, C.L. editor (2014). Diccionario de Psicoanálisis Argentino, Buenos Aires: Asociacion Pscicoanalitica Argentina.

Boston Change Process Study Group (BCPSG) (2007). The Foundational Level of Psychodynamic Meaning: Implicit Process in Relation to Conflict, Defense and the Dynamic Unconscious. Int J Psycho-Anal 88:843-860

Boston Change Process Study Group (2008). Forms of relational meaning: issues in the relations between the implicit and reflective-verbal domains. Psychoanal Dial, 18, 2:125- 148.

Botella, C. and Botella, S. (2005). The Work of Psychic Figurability. Mental States without Representation. Weller A, translator, Hove & New York: Brunner-Routledge.

Botella, C. (2014). On Remembering: The Notion of Memory without Recollection. Int. J. Psycho-Anal., 95: 911-936.

Brakel, L., Kleinsorge, S., Snodgrass, M. & Shevrin, H. (2000). The primary process and the unconscious: Experimental evidence supporting two psychoanalytic presuppositions. Int. J. Psycho-Anal. 81:553-569

Brenner, C. (1976). Psychoanalytic technique and psychic conflict. NY: International UP.

Brenner, C. (1982). The mind in conflict. NY: International UP.

Brenner, C. (1994). Mind as conflict and compromise formation. J Clinical Psychoanal 3(4):473-488.

Brenner, C. (1999). Charles Brenner on compromise formation. J Amer Psychoanal Assoc, 47 875-876.

Brenner, C. (2000). Brief communication: evenly hovering attention. Psychoanal Q, 69: 545-549.

Brenner, C. (2002). Conflict, compromise formation, and structural theory. Psychoanal Q, 71: 397-417.

Brenner, C. (2006). Psychoanalysis or mind and meaning. NY: The Psychoanalytic Quarterly.

Breuer, J., Freud, S. (1893-1895). Estudos sobre a Histeria. ES 2:11-379.

Bria, P., and Lombardi, R. (2008). The Logic of Turmoil: Some Epistemological and Clinical Considerations on Emotional Experience and The Infinite. Int J Psycho-Anal 41:709-726.

Bromberg, P.M. (1994). “Speak! that I may see you”: Some reflections on dissociation, reality, and psychoanalytic listening. Psychoanal Dial 4:517-547.

Bromberg, P.M. (1996). Hysteria, dissociation, and cure: Emmy von N revisited. Psychoanal Dial 6:55-71.

Bromberg, P.M. (2003). One Need Not Be a House to Be Haunted: On Enactment, Dissociation, and the Dread of “Not-Me”—A Case Study. Psychoanalytic Dialogues, 13:689-709.

Brown, L. (2011). Intersubjective Processes and the Unconscious. London: Routledge.

Bucci, W. (2001). Pathways of Emotional Communication. Psychoanal. Inq., 21:40-70.

62

Busch, F. (1992). Recurring Thoughts on the Unconscious Ego Resistances. J Amer Psychoanal Assoc, 40:1089–1115.

Busch, F. (1993). In the Neighborhood: Aspects of a Good Interpretation and a “Developmental Lag” in Ego Psychology. J. Amer. Psychoanal. Assoc, 41:151–176.

Busch, F.N., Oquendo, M.A., Sullivan, G.M., Sandberg, L.S. (2010). An Integrated Model of Panic Disorder. Neuropsychoanalysis, 12:67-79.

Buzsáki, G. (2007). The structure of consciousness. Nature, 446: 267–267.

Carmeli, Z., Blass, R.B. (2013). The case against neuroplastic analysis: A further illustration of the irrelevance of neuroscience to Psychoanalysis through a critique of Doidge’s The brain that changes itself. Int J Psychoanal 94:391-410.

Canestri, J. (2015). The case for neuropsychoanalysis. JAPA 96:1575-1584.

Cassirer, E. (1953). Language and myth. Mineola, N Y: Dover.

Cassorla RMS (2013). When the analyst becomes stupid. An attempt to understand enactment using Bion’s theory of thinking. Psychoanal Q, 82:323-360.

Chodorow, N.J. (2009). A Different Universe: Reading Loewald through “On the Therapeutic Action of Psychoanalysis”. Psychoanal Q 78 : 983-1011.

Civitarese, G. (2014). The Necessary Dream. London: Karnac.

Civitarese, G. (2015). Transformation in hallucinosis and the analyst’s receptivity. Internat. J. Psycho-Anal., 96: 1091–1116.

Civitarese, G., Ferro, A. (2013). The Meaning and Use of Metaphor in Analytic Field Theory. Psychoanal. Inq., 33:190-209.

Clyman, R.B. (1991). The Procedural Organization of Emotions: A contribution from cognitive science to the psychoanalytic theory of therapeutic action. J. Amer. Psychoanal Assoc, 39(S):349-382.

Cooper, A. (1988). Our changing views of the therapeutic action of psychoanalysis: Comparing Strachey and Loewald. Psychoanal. Q 57: 15-27.

Clyman, R.B. (1991). The procedural organization of emotions: a contribution of cognitive science to the psychoanalytic theory of therapeutic action. J Amer Psychoanal Assoc 39 (S): 349-382.

De M’Uzan, M. (2003). Slaves of quantity. Psychoanal Q 72: 711 – 725.

De Bianchedi, E.T. (2001). The Passionate Psychoanalyst or Learning from the Emotional Experience. London, Karnac. Fort- Da, 7: 19-28.

Dejours, C. (2001). Le corps, d'abord. Corps biologique, corps érotique et sens moral. Paris: Payot.

Dunn, J. (2003). Have We Changed Our View of the Unconscious in Contemporary Clinical Work? J. Amer.Psychoanal.Assn., 51:941-955.

Durkin, H. (1964) The group in depth. New York: International UP.

Eagle, M.N. (2011). From Classical to Contemporary Psychoanalysis. A Critique and Integration. In: Conceptions of mind in contemporary psychoanalytic theories. New York: Routledge.

63

Etchegoyen, R.H. and Ahumada, J.L. (1990). Bateson and Matte-Blanco: bio-logic and bi-logic. International Review of Psychoanalysis 17: 493-502.

Ellman, S.J. and Moskowitz, M. (Eds.) (1998). Enactment: Toward a New Approach to the Therapeutic Relationship. New York: Jason Aronson.

Ellman, S.J., Moskowitz, M. (2008). A study of the Boston Change Process Study Group. Psychoanalytic Dialogues 18:812-837.

Ellman, S.J. (2010). When theories touch: A historical and theoretical Integration of psychoanalytic thought. London: Karnac Books.

Evans, D. (1996). An Introductory Dictionary of Lacanian Psychoanalysis. New York:Routledge. Fairbairn, W.R.D. (1952). Psychoanalytic Studies of the Personality. London: Tavistock Publications.

Fabiani, M., Stadler, G. A., & Wessels, P. M. (2000), True but not false memories produce a sensory signature in human lateralized brain potentials. Journal of Cognitive Neuroscience, 2:941-949.

Ferenczi, S. (1932-1991). Diario Clínico. São Paulo.Martins Fontes.

Ferenczi, S. (1949). Confusion of the tongues between the adults and the child (The language of tenderness and of passion). Int J Psycho-Anal 30: 225-230.

Fernando, J. (2009). The processes of defense: trauma, drives, and reality -- a new synthesis. Lanham, MD: Jason Aronson.

Fernando, J. (2012). Trauma and the zero process. Canadian J Psychoanal 20: 267 - 290.

Ferarri, A.B. (2004). From the Eclipse of the Body to the Dawn of Thought. London: Free Association Books.

Ferro, A. (1998). Nella Stanza D´Analise. [Na sala de Analise.] Rio de Janeiro: Imago.

Ferro, A. (2004). L’étrange cas d’Hannibal Lecter et de son analyste Davy Crockett. Revue française de psychanalyse 68: 1481 – 1492.

Ferro, A. (2009). Transformations in dreaming and characters in the psychoanalytic field. Internat. J. Psycho-Anal., 90: 209–230.

Ferro, A. and Basile, R. (2009). The Analytic Field: A Clinical Concept. London: Karnac Books.

Ferro, A. & Civitarese, G. (2016). Confrontation in the Bionian Model of the Analytic Field, Psychoanalytic Inquiry, 36:4, 307-322.

Ferro, A. and Foresti, G. (2013). Bion and Thinking. Psychoanal. Q., 82(2):361-391

Fiorentini, G.; Frangini G.; Molone, P.; Mori Ubaldini, M.; Robutti, A.; Savoia, V. (2001). L’Inconscio nelle prospettive relazionali. Rivista di Psicoanalisi, 47: 51-75.

Fonagy, P. (1999). Memory and therapeutic action. Int J Psycho-Anal 80 (2):215-223.

Fosshage, J. (1997). The organizing functions of dreams. Contemp Psychoanal 33 (3): 429- 458.

Fosshage, J. (2005). The explicit and implicit domains in psychoanalytic change. Psychoanal Inq 25 (4): 516-539.

64

Fosshage, J. (2011a). How do we “know” what we “know?” And change what we “know?” Psychoanal Dial 21 (1): 55-74.

Fosshage, J. (2011b). The use and impact of the analyst’s subjectivity with empathic and other listening/experiencing perspectives. Psychoanal Q 80 (1): 139-160.

Frank, A. (1969). The unrememberable and the unforgettable: passive primal repression. Psychoanal Study Child Psychoanal 24: 48-77.

Freud, A. (1936). The Ego and the mechanisms of defense. New York: International UP.

Freud, A. (1965). Normality and pathology in childhood: assessment of development.

New York: International UP.

Freud, S. (1892-1899). Extratos dos Documentos Dirigidos a Fliess. ES I:243-378.

Freud, S. (1895). Projeto para uma Psicologia Científica. ES I: 381-554.

Freud, S. (1893). On the psychical mechanism of hysterical phenomena: A lecture. SE 3: 25- 39.

Freud, S. (1894). The neuro-psychoses of defense. SE 3: 41-61.

Freud, S. (1896). Further remarks on the neuro-psychoses of defense. SE 3: 157-185.

Freud, S. (1900a). The Interpretetation of Dreams. SE 4: 1-338.

Freud, S. (1900b). A Interpretação dos Sonhos. ES V: 543-660.

Freud, S. (1901). The Psychopathology of everyday life. SE 6:1-279.

Freud, S. (1905a). Fragment of an analysis of a case of hysteria. SE 7:1-122

Freud, S. (1905b). Three Essays on the Theory of Sexuality. SE 7: 123-246.

Freud, S. (1905c). Jokes and their relation to the unconscious. SE 8:9-236.

Freud, S. (1908a). Hysterical phantasies and their relation to bisexuality. SE 9: 155-166.

Freud, S. (1908b). Character and anal erotism. S.E., 9: 167-176.

Freud, S. (1909a). Analysis of a phobia in a five-year-old boy. SE 10:5-149.

Freud, S. (1909b). Notes upon a case of obsessional neurosis. SE 10:155-249.

Freud, S. (1910). A special type of choice of object made by men (Contributions to the psychology of love). SE 11:165-175.

Freud, S. (1911a). Psychoanalytic notes on an autobiographical account of a case of paranoia. SE 12: 1-84.

Freud, S. (1911b). The handling of dream interpretation in psycho-analysis. SE 12: 89-97.

Freud, S. (1911c). Formulações sobre os dois princípios do Funcionamento Mental. ES XII: 277-286.

Freud, S. (1912a). A note on the Unconscious in Psychoanalysis. SE 12: 255-266.

Freud, S. (1912b). Recomendações aos Médicos que exercem a Psicanálise. ES XII:149-159.

65

Freud, S. (1913). The disposition to obsessional neurosis: a contribution to the problem of the choice of neurosis. SE 12: 313-326

Freud, S. (1912-1913). Totem e Tabu. ES XIII:1-162.

Freud, S. (1914a). Remembering, repeating, and working through. SE 12:145-156.

Freud, S. (1914b). On Narcissism: An Introduction. SE 14: 67-102.

Freud, S. (1914c). A História do Movimento Psicanalítico ES XIV: 11-82.

Freud, S. (1915a). Instincts and their vicissitudes. SE 14: 109-140.

Freud, S. (1915b). Repressão.ES XIV: 169-182.

Freud, S. (1915c). O Inconsciente. ES XIV: 191-245.

Freud, S. (1916-17 [1915-17]). The introductory lectures on psychoanalysis. SE 15: 15-240.

Freud, S. (1916-17). The introductory lectures on psychoanalysis. SE 16: 243-463.

Freud, S. (1917). A metapsychological supplement to the theory of dreams. SE. 14: 217-235.

Freud, S. (1918). História de uma Neurose Infantil. ES XVII: 11-151.

Freud, S. (1919). Uma Criança é Espancada. ES XVII:223-253.

Freud, S. (1920). Além do Princípio do Prazer. ES 11-85.

Freud, S. (1921). Group psychology and the analysis of the ego. SE 18: 65-144.

Freud, S. (1922). Some neurotic mechanisms in jealousy, paranoia, and homosexuality. SE 18:223-232.

Freud, S. (1923a). O Ego e o Id. ES XIX:11–83.

Freud, S. (1923b). Two encyclopaedia articles. SE 18: 235-262.

Freud, S. (1924). Neurose e Psicose. ES XIX, p. 187-193.

Freud, S. (1925a). An autobiographical study. SE 20:7-74.

Freud, S. (1925h). Negation. SE 19, p. 235-36.

Freud, S. (1926). Inhibitions, symptoms, and anxiety. SE 20:77-178.

Freud, S. (1927). Fetishism. SE 21:152-157.

Freud, S. (1930). Civilization and its discontents. SE 21:57-146.

Freud, S. (1933). Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise. SE XXII: 11–220.

Freud, S. (1937a). Constructions in analysis. 23:. 257-269.

Freud, S. (1937b). Analysis terminable and interminable. SE 23:209-254.

Freud, S. (1939). Moisés e o Monoteísmo. ES XXIII: 14-161.

Freud, S. (1940a). An outline of psycho-analysis. SE 23: 139-208.

Freud, S. (1940b [1938]). Splitting of the ego in the process of defence. SE 23:275-278.

66

Foulkes, S.H. (1948). Group analytic psychotherapy. London: William Heinemann Medical Books Ltd.

Fromm, E. (1941). Escape from freedom. London: Farrar&Rinehart.

Gabbard, G.O. & Westen, D. (2003). Rethinking therapeutic action. Int.J.Psycho-Anal., 84: 823-841.

Gaburri, E., Ambrosiano, L. (2003). Ululare coi lupi. Conformismo e reverie. Torino: Bollati Boringhieri.

Gedo, J. (1979). Beyond interpretation New York: Int. Univ. Press.

Gill, M. (1963). Topography and systems in psychoanalytic theory. New York: International UP.

Gill, M. (1976). Metapsychology is not psychology. In: Psychology Versus Metapsychology. M. Gill & P. Holzman (eds.). New York: International UP, pp. 71–105.

Gill, M. (1982). Analysis of transference, vol. I: Theory and Technique. Psychol. Issues, Monogr. 53. New York: International UP.

Gill, M. and Hoffman, I.Z. (1982). Analysis of transference, vol. II: Studies of Nine Audio- Recorded Sessions. Psychol. Issues, Monogr. 54. New York: International UP.

Gill, M. (1994). Psychoanalysis in transition: A Personal View. Hillsdale. NJ: The Analytic Press.

Gerson S (2004). The relational unconscious: A core element of intersubjectivity, thirdness, and clinical process. Psychoanal. Q 73: 63-98.

Ginot, E. (2015). The Neuropsychology of the Unconscious: Integrating Brain and Mind in Psychotherapy, New York: WW Norton.

Glass, J.M. (2008). Group phantasy: Its place in the psychology of genocide. Int J Appl Psychoanal Stud 5: 211-221.

Goldberg, A. (1999). Between empathy and judgment. J Amer Psychoanal Assoc 47:351-365.

Glatzer, H. (1953). Handling transference resistance in group therapy. Psychoanal Rev 40: 36-43.

Gray, P. (1994). The ego and the mechanisms of defense. Northridge, NJ: Jason Aronson.

Green, A. (1969). Sexualité et Idéologie chez Marx et Freud. Etudes Freudiennes 1-2: 187-217.

Green, A. (1973). Le discours vivant, Paris: Presses Universitaires de France

Green (1975). The Analyst, Symbolization and Absence in the Analytic Setting (On Changes in Analytic Practice and Analytic Experience). Int J Psycho-Anal, 56:1-25.

Green, A. (1999). Consilience and rigour commentary by André Green. Neuro-Psychoanal 1:40-4.

Green, A. (2008). Orientações para uma Análise Contemporânea. Rio de Janeiro: Imago.

Green, A. (2002a). Time in Psychoanalysis. London. New York: Free Association Books.

Green, A. (2002b). A Dual Conception of Narcissism: Positive and Negative Organizations. Psychoanal Q., 71:631-649.

Green, A. (2005) Key Ideas for a Contemporary Psychoanalyis. London. The New Library of Psychoanalysis.

67

Greenberg, J. (1991). Oedipus and beyond: A clinical theory. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Grigsby, J. and Hartlaub, G. (1994). Procedural learning and the development and stability of character. Perceptual Motor Skills, 79: 355-370.

Grinberg, L. (1962). On A Specific Aspect of Countertransference due to the Patient Projective Identification. Int J Psychoanal 43 :436-40.

Grotstein, J.S. (1978). Inner Space: Its Dimensions and Its Coordinates. Int J of Psychoanal, 59: 55-61.

Grotstein, J.S (1997). Bion the Pariah of “O”. British Journal Of Psychotherapy, 14: 77-90.

Grotstein, J.S. (2000). Who is the Dreamer who dreams the dream? A study of psychic presences. Hillsdale. NJ: The Analytic Press.

Grotstein, J.S. (2004a). “The Light Militia of the Lower Sky”: The Deeper Nature of Dreaming and Phantasying. Psychoanal. Dial., 14:99-118.

Grotstein, J.S. (2004b). The seventh servant: The implications of a truth drive in Bion's theory of ‘O’. Int. J. Psycho-Anal., 85:1081-1101.

Grotstein, J.S. (2005). Projective Transidentification: An Extension of the Concept of Projective Identification. Int J Psychoanal 86 :1051-69.

Grotstein, J. S.(2007). A Beam of Intense Darkness. London, Karnac.

Grotstein, J. S. (2008): The Overreaching Role of Unconscious Phantasy. Psychoanalytic Inquiry, 28: 190-205.

Grottein, J. S. (2014). Personal Communication with Eva D. Papiasvili

Guignard, F. (1995). The Infantile In The Analytic Relationship. Int. J. Psycho-Anal., 76:1083-1093.

Hatcher, R. L. (1990). [Review of relational concepts in psychoanalysis: An integration. Psychoanal Books 1: 127–136.

Hartmann, H. (1939). Ego psychology and the problem of adaptation. D. Rapaport (Trans.). New York: International UP

Hartmann, H., Kris, E. and Loewenstein, R.L. (1946). Comments on the formation of psychic structure. Psychoanal Study Child 2: 11-38.

Heimann, P. (1950). On Countertransference. Int J Psychoanal 31 :81-4.

Herron, W.G. (1995). Development of the ethnic unconscious. Psychoanal. Psychol. 12: 521-532.

Hinshelwood, B. (2015). Neuroscience and the “science” of psychoanalysis letter to the editor. Int J Psychoanal 96:1677-1681.

Horney, K. (1941). Neurosis and human growth. New York: Norton.

Jacobson, E. (1964). The self and the object world. New York: International UP.

Johnson, B. (2008). Just What Lies “Beyond the Pleasure Principle”? Neuropsychoanalysis, 10:201-212.

68

Johnston, A., Malabou, C. (2013). Self and Emotional Life: Philosophy, Psychoanalysis, and Neuroscience. NY: Columbia University Press.

Kahn, L. (2013). “If one only knew what exists!” In: Levine HB, Reed GS & Scarfone D, editors. Unrepresented States and the Construction of Meaning. Clinical and Theoretical Contributions. London: Karnac,

Kaës, R. (2010). Il lavoro dell'inconscio in tre spazi della realtà psichica. Un modello della complessità. Rivista Psicoanal., 56: 671-685.

Kaës, R. (2014). La Position Idéologique: Tyrannie de l'Idée, de l'Idéal et de l'Idole. Canadian J. Psychoanal. 22: 34-55.

Kahn, L. (2014). Le psychanlyste apathique et le patient postmoderne. Paris: Editions de l’Olivier

Kandel, E. (1998). A new intellectual framework for psychiatry. Amer.J. Psychiat., 155: 457-469.

Kandel, E. (1999). Biology and the Future of Psychoanalysis: A New Intellectual Framework for Psychiatry Revisited. Amer. J. Psychiat., 156:505-524.

Kanzer, M. (1971). The Unconscious Today: Essays in honor of Max Schur. New York:International Universities Press.

Kaplan-Solms, K. and Solms, M. (2000). Clinical Studies in Neuro-Psychoanalysis: Introduction of a Depth Neuropsychology. London: Karnac.

Kauff, P.F. (2011). What Is Going On Inside? The Treatment of Political Prisoners and Trauma Victims: Individual and Societal Implications. Internat J Group Psychotherapy 61: 127-134.

Kaës, R. (ed) (1993). Transmission de la Vie Psychique entre Générations. Paris: Dunod.

Keene, J. (1998). Unconscious Logic: An Introduction to Matte-Blanco's Bi-logic and Its Uses. By Eric Rayner. Int. J. Psycho-Anal., 79:1033-1040.

Kernberg, O.F. (1966). Structural Derivatives of Object Relationships. Int J Psycho-Anal. 47: 236-252.

Kernberg, O.F. (1994). Mass Psychology through the Analytic lens. In: The Spectrum of Psychoanalysis. Essays in Honor of Martin Bergman. Eds. AK Richards, AD Richards, Madison, C.T.: International UP.

Kernberg, O.F. & Ahumada, J. (2000). Bion, A Binocular View: Groups and Individuals. Int J Psycho-Anal 81:991-994.

Kernberg, O.F. (2003). Sanctioned Social Violence. Int. J. Psycho-Anal 84: 683-698.

Kernberg, O.F. (2015). Neurobiological correlates of object relations theory: The relationship between neurobiological and psychodynamic development. Int Forum Psychoanal 24 (1): 38-46.

Klein, G. (1976). Psychoanalytic Theory. New York: International UP.

Klein, M. (1935). A contribution to the psychogenesis of manic-depressive states. Int J Psycho-Anal, 16:145-174.

Klein, M. (1946). Notes on some schizoid mechanisms. Int J Psychoanal, 27:99–110. [(1996); also In: (1952). Developments in Psychoanalysis. London: Hogart Press.

69

Klein, M. (1952/1975). Some Theoretical Conclusions Regarding the Emotional Life of the Infant. In: Envy and Gratitude and Other Works 1949-1963. London: Hogarth Press.

Kohut, H. (1971). The Analysis of the Self. New York: International UP.

Kohut, H. (1977). The Restoration of the Self. New York: International UP.

Krause (2012). Allgemeine Psychosomatische Behandlungs – und Krankheitslehre [General Psychosomatic Treatment – and Nosology]. Stuttgart : Kohlhammer.

Kris, E. (1956a). On some vicissitudes of insight in psychoanalysis. In: Kris (1975), pp 252-271.

Kris, E. (1956b). The personal myth: a problem in psychoanalytic technique. In: Kris (1975), pp. 272-300.

Kris, E. (1956c). The recovery of childhood memories in psychoanalysis. In Kris (1975), pp 301-340.

Kris, E. (1975). The Selected Papers of Ernst Kris. New Haven and London: Yale University Press.

Lacan, J. (1959-60) The Seminar of Jacques Lacan, Book VII, The Ethics of Psychoanalysis, trans D. Porter, New York: Norton, 1992.

Lacan, J. (1957-58). Le Séminaire, Livre V, Les formations de l'inconscient, Paris: Seuil 1998.

Lacan, J. (1966 [1956]). Réponse au commentaire de Jean Hyppolite sur la ‘Verneinung’ de Freud. Écrits, Paris: Seuil, p. 387-88.

Lacan, J. (1993) The Psychoses. The Seminar III of Jacques Lacan. (orig. work from 1955- 1956) London: Routledge.

Lacan, J. (1999). The limits of Love and Knowledge In: Encore. (orig. work from 1972-73). New York. W.W. Norton.

Lacan, J. (2004). The instance of the letter in the unconscious. In: Ecrits. (orig. work from 1957.) (transl. B. Fink), New York: Norton. pp. 138-168.

Langer, S. K. (1948). Philosophy in a new key: A study in the symbolism of reason, rite, and art. New York: Penguin.

Laplanche, J. (1999a). The unfinished Copernican revolution. In: Essays on Otherness, pp. 52-83. (trans Thurston L), London and New York: Routledge.,.

Laplanche, J. (1999b). Implantation, Intromission. IN: Laplanche, J. Essays on Othernes, p.133-138. London and New York. Routledge.

Laplanche, J. (1999c). The Unconscious and the Id. London. Rebus Press. (orig. work: 1981: Vol. IV, Problematique, Paris: PUF).

Laplanche, J. (2011). Freud and the Sexual. The Unconscious in Translation. (House J, Ray N, Fletcher J, transl.). London: International Psychoanalytic Books.

Laplanche, J., Pontalis, J-B (1967/73). The Language of psycho-analysis. New York: Norton.

Lebovici, S., Diaktine, R., Kestemberg, E. (1958). Bilan de dix ans de pratique psychodramatique chez l’enfant l’adolescent. In : La Psichiatrie de l‘enfant.Vol. I. Paris: PUF.

70

LeDoux J. E. (1992). Emotion as memory. In Handbook of Emotion and Memory, ed. S. Christianson. Hillsdale, NJ: Erlbaum, pp. 269-88.

LeDoux, J. (1996). The Emotional Brain. New York: Simon & Schuster.

Levine H.B. (2013). Comparing Field Theories. Psychoanal. Dial., 23:667-673.

Lifton, R.J. (1993). Protean self: resilience in the age of fragmentation. New York: Basci Books.

Loewald, H.W. (1960). On the Therapeutic Action of Psycho-Analysis. Int J Psycho-Anal 41:16-33.

Loewald, H.W. (1971). On Motivation and Instinct Theory. Psychoanal Study Child, 26: 91-128.

Loewald, H.W. (1978). Instinct theory, object relations, and psychic-structure formation. J Am Psychoanal Assoc 26:493-506.

Loewenstein, R. (1953 [1982}). Some remarks on defenses, autonomous ego, and psychoanalytic technique. In: Practice and Precept in Psychoanalytic Technique. pp. 40-51. New Haven, CT: Yale University Press.

Lombardi, R. (2000). Reflections on some of Matte-Blanco’s and Ferarri’s hypotheses. Revista Psicoanal., 46: 683-7-6.

López-Ballestros, L. (1923). Sigmund Freud: Obras completas, vol. IV. Madrid: Biblioteca Nueva.

Luria, A.R. (1966). The Cortical Functions in Man. New York: Basic Books.

Luria, A.R. (1973). The Working Brain. Aylesbury: Penguin.

Lynch, A.A., Richards, A.D. and Bachant, J.L. (1997). Interaction in the transference /countertransference continuum. Presented at the 40th International Psychoanalytic Association Congress. Barcelona, Spain.

Lynch, A.A. & Richards, A.D. (2010). Leo Rangell: The Journey Of A Developed Freudian. Psychoanal Rev, 97: 361-391.

Lyons-Ruth, K. (1998). Implicit relational knowing: its role in development and psychoanalytic treatment. Inf. Ment. Health Journ 19: 282-289.

Lyons-Ruth, K. (1999). The two-person unconscious. Intersubjective dialogue, enactive relational representation and the emergence of new forms of relational organization. Psychoanal.Inq., 19: 576-617.

Mahler, M.S. (1963). Thoughts about Development and Individuation. Psychoanal. St. Child, 18:307-324.

Mahler, M.S., Pine, F. and Bergmann, A. (1975). The Psychological Birth of the Human Infant: Symbiosis and Individuation. New York: Basic Books.

Malberg, N., Raphael-Leff, J. (2014). Introduction in Fairbairn and the Object Relations tradition. Edited by GS Clarke & DE Scharff. London: Karnac Books.

Mancia, M. (1980). Neurofisiologia e vita mentale. Bologna: Zanichelli.

Mancia, M. (2000). Sulle molte dimensioni della memoria: neuroscienze e psicoanalisi.Psiche, VIII, 2:181-193.

71

Mancia, M. (2006a). Psychoanalysis and Neuroscience. Milan: Springer.

Mancia, M. (2006b). Implicit Memory and Early Unrepressed Unconscious: their Role in the Therapeutic Process (How the Neurosciences can contribute to Psychoanalysis). Int J Psychoanal, 87: 83-103.

Mancia, M. (2007). L’Inconscio e la sua storia. Psiche 1: 35-50.

Martini, G. (2005). La sfida dell’irrapresentabile. Franco Angeli: Milano.

Matte-Blanco, I. (1959). Expression in symbolic logic of the characteristics of the system Ucs, or the logic of the system Ucs. Int J Psycho-Anal, 40: 1-5.

Matte-Blanco, I. (1975). The unconscious as Infinite Sets: An Essay in Bi-Logic. London, Duckworth.

Matte-Blanco, I. (1988). Thinking, feeling and being. London, Routledge.

McKenzie, R. (1992). The Classics in Group Psychotherapy. The Guilford Press: New York.

Mom, J. (1980). Aportaciones al Concepto de Objeto en Psicoanálisis. Buenos Aires. Amorrortu.

Newirth, J. (2003). Between Emotion and Cognition: The Generative Unconscious. New York: Other Press.

Neyraut, M. (1978). Les Logiques de l'Inconscient. Paris: Hachette

Nitsun, M. (1996). The Antigroup: Destructive Forces in the Group and their Creative Potential. London: Routledge.

Ogden, T. (1980). On the nature of schizophrenic conflict. Int J Psycho-Anal 61: 513–33.

Ogden, T.H.(1982). Projective Identification and Psychotherapeutic Technique New York: Jason Aronson.

Ogden, T.H. (1992a). The dialectically constituted/decentred subject of psychoanalysis. I. The Freudian subject. Int J Psycho-Anal 73: 517–526.

Ogden, T.H. (1992b). The dialectically constituted/decentred subject of psychoanalysis. II. The contributions of Klein and Winnicott. Int J Psycho-Anal 73: 613–626..

Ogden, T. (1994). The Analytical Third: Working with Intersubjective Clinical Facts. Int J. Psycho-Anal. 75: 3-20.

Ogden, T.H. (2003). What's true and whose idea was it?. Int. J. Psycho-Anal., 84:593-606.

Ogden, T.H. (2005). What I Would Not Part With. Fort Da, 11:8-17.

Ogden, T. (2007). On Talking-as-dreaming. Int. J. Psycho-Anal. 88:575-589.

Panksepp, J. (1999). Drives, Affects, Id Energies, and the Neuroscience of Emotions. Response to the Commentaries by Jaak Panksepp. Neuropsychoanal 1:69-89.

Papiasvili, E.D. (1995). Conflict In Psychoanalysis and In Life. Int. Forum Psychoanal., 4:215-220.

Papiasvili, E.D. (2011). Sibling Transference Phenomena in Experiential Process Groups. Group 35:289-303.

72

Papiasvili, E.D. and Mayers, L.A. (2013). Perceptions, Thoughts and Attitudes in the Middle Ages. In: Abnormal Psychology Across the Ages. Vol. 1: pp.15-31. Plante, T. (Ed.), Oxford: Praeger.

Papiasvili, E.D. (2014). The Contemporary Relevance of Sándor Ferenczi’s Concept of Identification with the Aggressor to the Diagnosis and Analytic Treatment of Chronic PTSD. Psychoanal Inq 34: 122-134.

Papiasvili, E.D. (2015). Translational Aspects of Interpretation Today: A Dynamic and Developmental View. Psychoanal Inq, 38: 88-101.

Papiasvili, E.D. and Mayers, L.A. (2014). Specific Educational Practices for Girls and Boys in Relation to the Prevailing Perceptions, Thoughts, and Attitudes in the Middle Ages: A Psychoanalytic Hypothesis. Featured Lecture, 37th annual convention of the International Psychohistory Association, New York, June 4-6, 2014.

Papiasvili, E.D. and Mayers, L.A. (2016). Two Medieval Lives: Hildegard of Bingen and William Marshal. Clio’s Psyche, 22: 300-307.

Peirce, C.S. (1894). “What is a sign?” in The Essential Peirce, vol. II (1893-1913), (Edited by the Peirce Edition Project) Bloomington: Indiana University Press, 1998, pp. 4-10.

Pichon-Rivière, E. (1977). Obras Completas. Buenos Aires: Nueva Visión.

Pontalis, J.B. (2001). Ce temps qui ne passe pas. Gallimard: Paris.

Pulver, S.E. (2003). On the astonishing clinical irrelevance of neuroscience. J Am Psychoanal Asso, 51:755-772.

Racker, H. (1953). A Contribution to the Problem of Countertransference. Int J PsychoAanal, 34 :313-24.

Racker, H. (1957). The meanings and uses of countertransference. Psychoanal Q 26:303-357.

Rangell, L. (1963a). The Scope of Intrapsychic Conflict—Microscopic and Macroscopic Considerations. Psychoanal Study Child 18:75-102.

Rangell, L. (1963b). Structural Problems in Intrapsychic Conflict. Psychoanal Study Child, 18:103-138.

Rangell, L. (1967). Psychoanalysis, Affects, and the 'Human Core'—On theRelationship of Psychoanalysis to the Behavioral Sciences. Psychoanal Q, 36:172-202.

Rangell, L. (1969a). The Intrapsychic Process and its Analysis—A Recent Line of Thought and its Current Implications. Int J Psycho-Anal, 50:65-77.

Rangell, L. (1969b). Choice-Conflict and the Decision-Making Function of the Ego: A Psychoanalytic Contribution to Decision Theory. Int J Psychoanal, 50:599-602.

Rangell, L, (1971). The Decision-Making Process: A Contribution from Psychoanalysis. Psychoanal Study Child, 26:425-452.

Rangell, L. (2004). My life in theory. New York: Other Press.

Rangell, L. (2007). The road to unity in psychoanalytic theory. New York: Aronson.

73

Rapaport, D. and Gill, M. M. (1959). The Points of View and Assumptions of Metapsychology. Int J Psycho-Anal 40: 153-162.

Rayner, E. (1981). Infinite experiences, affects and the characteristics of the unconscious. Int J Psycho-Anal, 62: 403-412.

Rayner, E. (1995). Is there any logic in feelings? An introduction to Matte-Blanco's theory of emotions. British J Psychotherapy, 12: 242-250.

Reid, W. (1999). Le cadre analytique revisité. Filigrane 8:33-48.

Reid, W. (2008a). Un nouveau regard sur la pulsion, le trauma et la méthode analytique. Première partie : Une théorie de la psyche. Filigrane 17(1): 68-94.

Reid, W. (2008b). Un nouveau regard sur la pulsion, le trauma et la méthode analytique. Deuxième partie : une théorie de la méthode. Filigrane 17(2): 70-98

Reich, W. (1931a). Character Formation and the Phobias of Childhood. Int J Psycho-Anal 12: 219-230.

Reich, W. (1931b). The Characterological Mastery of the Oedipus Complex. Int J Psycho- Anal 12: 452-467.

Reik, T. (1948). Listening with the Third Ear. Farrar, New York. Straus and Company.

Reiner, A. (2012). Bion and Being. Passion and the Creative Mind. London, Karnac.

Rey, H. (1976). The Unconscious as Infinite Sets: An Essay in Bi-Logic, book review. Int. J. Psycho-Anal., 57:491-496.

Richards, A.D. (1992) Unconscious fantasy: an introduction to the work of Jacob Arlow. J Clin. Psychoanal. 1:505-512.

Richard, A.D. (1986). Introduction in: Psychoanalysis, the Science of Mental Conflict: Essays in Honor of Charles Brenner. (Arnold Richards and Martin Willick, eds.). Hillsdale, N.J.: The Analytic Press.

Richards, A.D. and Lynch, A.A. (2010). From Ego Psychology to Contemporary Conflict Theory: A Historical Overview. In: Ellman S (ed.) (2010) When Theories Touch. London: Karnac Books.

Richards, A.K. and Richards, A.D. (2000). Benjamin Wolstein and Us: Many Roads Lead to Rome. Contemporary Psychoanal 36: 255 – 265.

Rice, A.K. (1969) Individual, Group, and Intergroup Processes. Human Relations 22:565- 584.

Rothstein, A. (2005). Compromise Formation Theory: An Intersubjective Dimension.Psychoanal Dial 15:415-431.

Rosolato, G. (1969). Essais sur le symbolique. Paris: Gallimard.

Sandler, J., Sandler, A. (1984). The past unconscious, the present unconscious and interpretation of transference. Psychoanal Inq 4:367-399.

Sandler, J. (1976). Dreams, Unconscious fantasies and identity of perception. Int Rev Psychoanal 3:33-42.

Sandler, J., Sandler, A. (1987). The past unconscious, the present unconscious and the vicissistudes of Guilt. Int J Psycho-anal 68:341=341.

74

Sandler, J., Sandler, A. (1994). The past unconscious and the present unconscious: a contribution to a technical frame of reference. Psychoanal St Child 49: 278-292.

Sandler, J., Rosenblatt, B. (1962). The Concept of the Representational World. Psychoanal St Child 17:128-145.

Scarfone, D. (2006). A matter of time: Actual time and the production of the past. Psychoanal Q 75L 807-834.

Scarfone, D. (2014a). L'impassé, actualité de l'inconscient, in : L'actuel en psychanalyse, Bulletin de la Société Psychanalytique de Paris, Paris: PUF.

Scarfone, D. (2014b). The Work of Remembering and the Revival of the Psychoanalytic Method. Int. J. Psycho-Anal., 95:965-972.

Scarfone, D. (2016a). Enactive cognition, time, and the unconscious. Psychoanal Inq. In press.

Scarfone, D. (2016b). El inconsciente que habla y el inconsciente de que hablamos. Caliban. In press.

Schafer, R. (1976). A new language for psychoanalysis. New Haven and London: Yale Univ Press

Schore, A.N. (2003). Affect Regulation and the Repair of the Self. New York: Norton.

Schur, M. (1966). The id and the regulatory principles of mental functioning. New York: International UP.

Shevrin, H. (1994). The Uses and Abuses of Memory. J Amer Psychoanal Assoc 42:991-996.

Shevrin, H. (1997). Commentaries. J Am Psychoanal. Assoc 45:746-753.

Shevrin, H. (1999). University of Michigan: Program of research on Unconscious Processes. Neuropsychoanal 1:287-288.

Shevrin, H. (2002). A Psychoanalytic View of Memory in the Light of Recent Cognitive and Neuroscience research. Neuropsychoanal 4:131-139.

Shevrin, H., and Dickman, S. (1980). The psychological unconscious: A necessary assumption for all psychological theory? Amer. Psychologist, 35:421-434.

Shevrin, H., Williams, W. J., Marshall, R. E., Hertel, R. K., Bond, J. A., & Brakel, L. A. (1992). Event-related potential indicators of the dynamic unconscious. Consciousness Cognition, 1:340-366.

Shevrin, H., Bond, J. A., Brakel, L. A., Hertel, R. K., & Williams, W. J. (1996). Conscious and Unconscious Processes: Psychodynamic, Cognitive, and Neurophysiological Convergences. New York: Guilford Press.

Shevrin, H., Snodgrass, M., Brakel, L., Kushwaha, R., Kailada, N., Basan, A. (2013). Subliminal unconscious conflict alpha power inhibits supraliminal conscious symptom experience. Frontiers in Human Neuroscience, 7: 544. Doi:10.3389/00544.

Siegel, D.J. (1999). The Developing Mind: Towards a Neurobiology of Interpersonal Experience. New York: The Guilford Press.

Siegel, D.J. (2007). The Mindful Brain. New York: Norton.

Slavson, S.R. (1947). General Principles and Dynamics. Practice of Group Therapy. New York: International UP.

75

Solms, M. (1997). The Neuropsychology of Dreams. Mawah, NJ: Lawrence Erlbaum.

Solms, M. (2000a). Freud, Luria and the Clinical Method. Psychoanal Hist 2: 76-109.

Solms, M. (2000b). Dreaming and REM sleep are controlled by different brain mechanisms. Behavioral and Brain Sciences 23: 843-850.

Solms, M., Turnbull, O.H. (2011). What is Neuropsychoanalysis? Neuropsychoanal 13:133- 145.

Spitz, R. (1957). No and Yes – The genesis of human communication. New York: International UP.

Stein, R. (2008). The otherness of sexuality: excess. (2008). J Am Psychoanal Assoc, 56:43-71.

Stern, D.B. (1997), Unformulated Experience: From Dissociation to Imagination in: Psychoanalysis. Hillsdale, NJ: The Analytic Press.

Stern, D. N. (1985). The Interpersonal World of the Infant. New York: Basic Books

Stern, D.N., Sander, L., Nahum, A., Harrison, A., Bruschweiler-Stern, N., and Tronick, E. (1998). Noninterpretive mechanisms in psychoanalytic therapy. Int J Psycho-Anal 79: 903- 921.

Stone, L. (1961). The Psychoanalytic Situation. New York: International UP.

Stolorow, R. and Atwood, G. (1992). Contexts of Being: The Intersubjective Foundations of Psychological Life. Hillsdale, NJ: The Analytic Press.

Sullivan, H.S. (1953). The interpersonal theory of psychiatry. New York: Norton. Toth, Cicchetti, Rogosch und Sturge-Apple (2009) [see p. 52]

Uhlhaas, P.J., Pipa, G., Lima, B., Melloni, L., Neuenschwander, S., Nikolic, D., and Singer, W. (2009). Neural synchrony in cortical networks: History, concept and current status. Frontiers Integrative Neuroscience, 3:17.

Villa, Brakel, Shevrin and Bazan (2008] [see p. 48]

Villa, Shevrin, Snodgrass, Bazan and Brakel (2006) [see p. 49]

Volkan, V.D. (1988). The Need to Have Enemies and Allies: From Clinical Practice to International Relationships. Northvale, NJ: Aronson.

Volkan, V.D. (1999). Das Versagen der Diplomatie. Giessen : Psychosozial-Verlag.

Wang, M. (1959). The Structural Determinants of a Phobia: A Clinical Study. J Am Psychoanal Assoc 7:675-695.

Warrington, E.K., Weiskrantz, L. (1974). The Effect of Prior Learning on Subsequent Retention in Amnesia Patients. Neuropsychologia, 12: 199-210.

Weinstein, L. (2007). When sexuality reaches beyond the pleasure principle: Attachment repetition and infantile sexuality. In: Attachment and Sexuality, ed. D. Diamond, S. Blatt, & J. Lichtenberg. New York: Analytic Press.

Weinstein, L. (2008). Commentary on “Is There a Drive to Love?”. Neuro- Psychoanalysis, 10(2):178-182.

76

Wilner, A. and Aubé, M. (2014). A convergent neurological and psychoanalytic view of the concept of regression and mental structure in a case of NMDA receptor encephalitis. Neuropsychoanal DOI: 10. 1080/15294145.2014.973437.

Winnicott, D.W. (1949). Mind and its Relation to the Psyche-Soma. In Through Paediatrics to Psycho-Analysis. London: Hogarth Press, pp 243-254 (1978).

Winnicott, D.W. (1953). Transitional objects and transitional phenomen., Int J Psychoanal 34:89-97.

Winnicott, D.W. (1960). The theory of the parent-infant relationship. Int. J. Psycho-Anal. 41: 585-595.

Wolf, A. Schwartz, E.K . (1959). Psychoanalysis in Groups: The Role of Values. Am J Psychoanal. 19:37-52

Wright, J.S. and Panksepp, J. (2014). An evolutionary framework to understanding foraging, Wanting and Desire: The Neuropsychology of the SEEKING System. Neurospsychoanal 14:5-39

Yamamoto, J., Suh, J., Takeuchi, D., Tonegawa, S. (2014). Successful execution of working memory linked to synchronized high-frequency gamma oscillations. Cell 157:845-857.

Yovell, Y., Solms, M., Fotopoulou, A. (2015). The case for neuropsychoanalysis: Why a dialogue with neuroscience is necessary but not sufficient for psychoanalysis. Int J Psycho- Anal, 96:1515-1553.

Zimerman, D. (2008). Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. Porto Alegre: Arte M.

Consultores Regionais e Colaboradores

Europa: Cono Aldo Barnà, MD; Judy Gammelgaard, Professor, Dr. Phil; Maria Ponsi, MD

América Latina: Dr. Jose Renato Avzaradel, Analista de treinamento

América do Norte: Fred Busch, PhD; Allannah Furlong, PhD; Daniel Traub-Werner, MD;(Consultores). G. Abelin-Sas,MD; M. Anderson, MD; J.L. Bachant, PhD; F. Baudry, PhD; L. Brown, PhD; I. Cairo, MD; D. Carveth, PhD; E. Debbane, MD; J. Fernando, PhD; J.L. Fosshage, PhD; A. Harris, PhD; L. Kirshner, MD; H.B. Levine, MD; C. Lovett, PhD; A.A. Lynch, PhD; M. Meloche, MSW; R. Oelsner, PhD; E.D. Papiasvili, PhD; G.S. Reed, PhD; W. Reid, MD; A. Reiner, PhD; A.D. Richards, MD; A.K. Richards, CSW; D. Scarfone, MD; R. Sosnik, MD; A. Wilner, MD (Escritores, Conselheiros)

Co-presidente interregional : Eva D. Papiasvili, PhD, ABPP

77

O Dicionário Enciclopédico Inter-Regional IPA de Psicanálise está licenciado sob Licenças Creative Commons CC-BY-NC-ND. Os direitos principais permanecem com os autores (IPA e membros colaboradores da IPA), no entanto, o material pode ser utilizado por terceiros, não com fins comerciais, desde que com atribuição total à IPA (incluindo referência à URL www.ipa.world/IPA/Encyclopedic_Dictionary) em reprodução literal, não de forma derivada, editada ou remixada. Clique aqui para acessar os termos e condições.

Tradução para o português: Cristiane Damacarena Nunes Martins (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre)

Coordenação e edição para a tradução para o português: Maria Cristina Garcia Vasconcellos (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre)