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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 475 •ANO XLII JUNHO 2013 • MENSAL • 1,50 DIA DA MARINHA BARREIRO

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 475 •ANO XLII JUNHO 2013 • MENSAL • € 1,50

DIA DA MARINHABARREIRO

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A consolidação da cidade de Lisboa enquanto capital, ou enquanto cidade mais

importante do reino de Portugal, foi um processo relativamente rá-pido que se deve, sobretudo, às qualidades do seu porto e à capa-cidade de a manter abastecida pela região agrícola do Oeste pelo rio. Janela virada para o mundo, des-de cedo aqui se concentrou uma actividade portuária significativa, atraindo uma população numero-sa de prestadores de serviços, que era necessário alimentar. E, sendo o rio uma via privilegiada de abas-tecimento, naturalmente que nele cresceu uma navegação doméstica de transportadores, cujos vestígios chegaram até aos nossos dias, des-tronados apenas pelo caminho-de--ferro e pelas redes de estradas. Mas até ao século XX, o Tejo foi o maestro de um complexo sistema humano e produtivo que envolvia transportes, pesca, extracção de sal, agricultura, moagem, estalei-ros navais e muitas outras formas de criação de riqueza que susten-tavam uma população crescen-te, virada para a cidade marítima aberta ao mundo.

Toda a margem sul foi palco de uma significativa produção agrí-cola, onde os vinhos tiveram um papel muito significativo, especial-mente nas regiões do Barreiro e Palmela. Mas, a pesca foi também uma das actividades mais impor-tantes desta região, empenhando populações que viviam à volta dos esteiros do Seixal e do rio Coina. E uma das embarcações mais típicas para a sua prática nos esteiros e na barra do Tejo foi a muleta, aqui representada em frente à ponta do Mexilhoeiro, na praia do Barreiro e à vista dos emblemáticos moinhos de Alburrrica, num quadro fabulo-so pertencente ao Museu de Mari-nha, da autoria do pintor João Vaz. A muleta era uma embarcação de fundo chato, tripulada por cerca de 15 homens, com uma armação vélica complexa que, manuseada engenhosamente, permitia atra-vessar a embarcação à corrente

e fazê-la deslizar rebocando uma arte de pesca de arrasto. As gracio-sas muletas do Tejo desapareceram na passagem do século XIX ao XX, mas ainda hoje ela surge no sím-bolo heráldico da cidade do Bar-reiro, encimada pela cruz de San-tiago, por um cacho de uvas e por uma roda dentada, simbolizando

as actividades produtivas que mais marcaram a vida da cidade onde este ano celebramos o Dia da Ma-rinha: a pesca, a produção vinícola e (mais recentemente) a indústria.

J. Semedo de MatosCFR FZ

O Barreiro e o Rio

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CONTRACAPA

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NRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTAO BARREIRO E O RIO

A MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS (5)OS EQUÍVOCOS DA CONDIÇÃO MILITARTOMADAS DE POSSEESCOLA NAVAL / ONDA DE 30 METROS NA NAZARÉOCEAN REVIVALCOMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

LIVROSSAÚDE PARA TODOS 4

NAVIOS HIDROGRÁFICOS

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (24)

QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS

VIGIA DA HISTÓRIA 55 / UMA VISITA GUIADA À VELHA ESCOLA NAVAL / DIA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOS

Dia da MarinhaDiscursos Oficiais

Exercício Naval"INSTREX 01/13"

Dia da Marinha 2013Barreiro

Centenário dos Submarinos em Portugal.Cerimónia Comemorativa

Publicação Oficial da MarinhaPeriodicidade mensal

Nº 475 • Ano XLIIJunho 2013

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa

1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internethttp://www.marinha.pt

e-mail da Revista da [email protected]

[email protected]

Paginação eletrónica e produçãoSmash Creative

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

Foto1SAR M REF Manuel Ribeiro

ANUNCIANTES:ROHDE & SCHWARZ, Lda.

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SUMÁRIO

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA4

Concluímos o processo para a edificação do novo Hospital das Forças Armadas.

Uma prioridade identificada desde o Con-selho da Revolução, nunca, por boas ou más razões concretizada, e que estará em pleno funcionamento em 2014. Um equipamen-to fundamental para um melhor sistema de saúde para todos os militares, um factor de confiança acrescida para estes e um reconhe-cimento inequívoco da especificidade da con-

dição militar.Reavaliámos, face às excepcionais

exigências de rigor financeiro e à ne-cessária redefinição de prioridades que obstassem à falência do Estado, alguns contratos de aquisição de equipamento militar, como os helicópteros NH90 ou as viaturas blindadas Pandur.

Uma medida que conduziu a poupan-ças significativas para o erário público, superiores a mil milhões de euros.

Revisitámos um conjunto de procedi-mentos internos, eliminando, significa-tivamente, redundâncias e desperdícios nos custos intermédios.

Em 2012, fomos o Ministério que, no âmbito do Sistema Nacional de Compras Públicas, obteve maiores poupanças.

Implementámos um rigoroso processo de redução e melhoria na gestão do Mi-nistério da Defesa Nacional.

Um procedimento no âmbito do Pro-grama de Assistência Financeira Exter-na ao nosso país.

Minhas senhoras e meus senhores

Dois anos depois a exigência de rigor financeiro mantém-se. O equilíbrio das contas públicas é, aliás, uma condição

necessária de sustentabilidade do nosso país, uma obrigação de carácter estrutural e um pressuposto da retoma, por todos desejada, do crescimento económico.

O crescimento pressupõe credibilidade e honorabilidade e estes atributos só são reco-nhecidos ao Estado que cumpre e honra os seus compromissos.

O rigor financeiro e as exigências que dele resultam impõe-nos – a todos – o dever patrió-tico de prosseguir com uma gestão criteriosa e uma correcta definição quanto às prioridades de afectação dos recursos públicos.

As condições de acção com que, hoje, nos deparamos são, ainda, muito difíceis mas a verdade é já não estamos a discutir os salários, para o mês seguinte, nas Forças Armadas...

Já não estamos a discutir, sequer, o modelo de Defesa Nacional que queremos para os próximos anos!

Hoje, na verdade, mais do que discutir esta-mos a fazer.

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DIA DA MARINHA 2013

Celebramos, hoje, mais um dia da Ma-rinha. Celebramos, também, mais de 800 anos de história, desde a primeira

vitória naval da Armada Portuguesa, ao largo do cabo Espichel, em 1180.

Sabemos que não é fácil estar à altura de 800 anos de história. Estar à altura de grandes nomes que, durante tanto tempo, serviram a Marinha Portuguesa.

Dos mais conhecidos e que sobrevierem na memória – como Bartolomeu Dias, Fran-cisco de Almeida ou Diogo Cão – aos menos citados, pelos cronistas, através dos tempos. Do mais célebre comandante ao mais anónimo marinheiro.

Mas 800 anos depois sou testemunha, enquanto ministro da Defesa Nacional, do empenho e do esforço feito, no presente, pelos milhares de homens e mulheres que servem na Marinha Portuguesa, para hon-rar e eternizar este passado.

Sei que o fazem. Todos os dias... com a vossa acção no mar e no cumprimento dedicado das missões que vos estão atri-buídas. Sejam as de carácter militar, se-jam as de interesse público ou no âmbito dos compromissos internacionais assumi-dos pelo nosso país.

800 anos depois, a Marinha continua a defender os mesmos valores de sempre: a liberdade, a integridade territorial e a sobe-rania do povo português.

800 anos depois, as batalhas contra as in-vasões, como a do Cabo Espichel, deram lugar às missões de busca e salvamento ou de combate ao tráfico de droga.

Ou, ainda, 800 anos depois, ao combate contra a pirataria no Corno de África, onde navios portugueses ajudam a garantir que milhares de toneladas de alimentos conti-nuam a chegar a quem mais precisa.

Missões e áreas geográficas de intervenção diferentes… mas os mesmos princípios.

E com a determinação e a coragem de sem-pre, que tem distinguido, ao longo dos sécu-los, a bravura do militar português.

E, por isso, faço questão de dizer estas pala-vras aqui hoje.

As mesmas palavras que repetirei, em Junho, a bordo da Fragata Álvares Cabral, ao largo da Somália, na visita que vou fazer aos cerca de 200 militares que, sob o comando do como-doro Novo Palma, constituem a guarnição do navio almirante da Força Naval Europeia da Operação Atalanta.

Minhas senhoras e meus senhores.

Ser ministro da Defesa Nacional dá-me o pri-vilégio de presidir a esta cerimónia.

Mas impõe, também, ao governo, a obri-gação de cuidar das mulheres e dos homens

que protegem o nosso país. E, ainda, o dever de prestar contas do bom

cumprimento do mandato conferido pelo povo, no único modo legítimo para o fazer em demo-cracia: em eleições livres, directas e universais.

Permitam-me, por isso, que aproveite este momento para o fazer.

Em 2011, no MDN, receávamos, em cada mês, pela falta de verbas para, no mês seguinte, prover ao pagamento dos salários.

As promoções nas Forças Armadas estavam congeladas e tantos outros problemas premen-tes encontravam-se por resolver – com graves riscos para a coesão da estrutura militar – como, por exemplo, a questão do reposicionamento na nova tabela remuneratória.

Nos últimos dois anos trabalhámos. Traba-lhámos muito e lançámos um conjunto de importantes medidas.

Debatemos e aprovámos um novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional.

Um documento que não era revisitado desde 2003, agora renovado e adaptado aos desafios e às ameaças de hoje e a partir do qual demos início a todo um novo ciclo de planeamento es-tratégico realista, coerente e exequível.

Estudamos, preparamos, decidimos e esta-mos a executar, uma importante reforma es-trutural na Defesa Nacional, denominada de Defesa 2020.

Uma reforma feita com os militares, pelos mi-litares e não contra os militares.

DISCURSO DO MINISTRO DA DEFESA NACIONAL

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 5

diversos teatros de operações em que a Ma-rinha participa, e que vão deste Timor ao Afe-ganistão, passando pelo Kosovo, se encon-

tram hoje com missão atribuída ao serviço dos Portugueses.

Recordo também, todos aqueles que, nos espaços marítimos sob soberania, jurisdição e responsabili-dade nacional, cumprin-do tarefas de vigilância e controlo e, a muito nobre missão de salvaguarda da vida humana se encon-tram privados da compa-nhia das suas famílias.

Quero ainda realçar que foi, imbuído deste espírito de bem servir e com profunda abne-gação que, no passado dia 10 de abril, numa

ação de salvamento dos tripulantes de uma embarcação em perigo, o agente da Policia Marítima Adriano Martins, perdeu a sua vida.

Lamento profundamente o sucedido mas sei que recordá-lo-emos como um exemplo de coragem e dedicação.

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Inicio estas breves palavras, dirigindo-me primeiro aos homens e às mulheres que cumprem Portugal no Mar, na senda dos

marinheiros que há qui-nhentos e quinze anos chegaram ao longínquo Calecute, comandados por Vasco da Gama.

É com grande orgulho e pleno de satisfação que vos saúdo, a todos os militares, militarizados e civis, homens e mulhe-res que diariamente tra-balham, com dedicação e empenho, em prol do Pais, nas múltiplas fun-ções que desempenham no mar ou com ele rela-cionadas, quer na ação militar, no âmbito do ramo das Forças Arma-das, quer na Autoridade Marítima Nacional ou ainda noutras áreas do Estado com competências no mar, sobretudo porque apesar das dificuldades que vivemos, continuarmos a cumprir as nossas missões tal como os portugueses esperam de nós e Por-tugal nos exige.

Estamos a seguir o rumo que trilhamos, anima-dos pela esperança que o futuro que estamos a construir nos conduz a um porto melhor em que a felicidade do sentimento da realização pessoal e colectiva é mais efectiva e reconhecida.

A felicidade que é a etapa última do sonho que alimenta a razão da nossa acção de ho-mens livres.

Perguntam-me se este esforço foi custoso? Sim, Muito.

Críticas, discussões, alguns insultos, dezenas e dezenas de manchetes na comunicação social, mais ou menos equívocas, mais ou menos bem-intencionadas, mais ou menos isentas, mais ou menos rigorosas.

Mas este é um esforço que não é apenas des-te Ministro, do Ministério da Defesa Nacional ou do governo no seu todo.

É, sobretudo, das mulheres e dos homens que compõem as Forças Armadas Portuguesas e que estão a tornar a Defesa Nacional numa estrutura mais eficiente, mais sustentável, para que possa ter maior capacidade operacional no futuro próximo.

E é precisamente o resultado desse esforço que me permitiu assinar esta semana, em con-junto com o Senhor Ministro de Estado e das Finanças, o despacho que autoriza as promo-ções nas Forças Armadas para o ano 2013.

Uma decisão tomada no cumprimento es-crupuloso dos requisitos estabelecidos na Lei do Orçamento do Estado e das quais não

Dirijo uma saudação muito especial para aqueles que, seja nas longínquas águas no Oceano Índico, integrados na força europeia

de combate à pirataria, assegurando tarefas tão relevantes como a proteção dos navios que transportam ajuda alimentar para o povo da Somália e colaborando para a dissuasão, prevenção e repressão dos atos de pirataria, seja em terra onde cumprem missões nos

poderá resultar, nem resulta, um aumento da despesa global com pessoal.

Da mesma forma foi autorizada, a proposta de admissões nas Forças Armadas, em regime de contrato e de voluntariado para o ano de 2013.

No respeito do cumprimento dos quantitativos fixados e compensando as situações resultantes das saídas ocorridas nas estruturas militares.

Sei que não vão faltar vozes, nos próximos dias, a criticar estas medidas.

De um lado, aqueles que encontrarão nelas um qualquer motivo para dizer que não são suficientes. Do outro, os que dirão que esta-mos perante mais uma evidência do privilégio dos militares.

Sejamos claros: as decisões foram tomadas com base na gestão criteriosa dos recursos disponíveis e no cumprimento rigoroso das metas orçamentais.

Mas, também, no justo reconhecimento da especificidade da condição e da estrutura mili-tar, onde a hierarquia é fundamental para uma correcta acção de comando e para o bom cumprimento das missões atribuídas.

Minhas senhoras e meus senhores

Muito do trabalho que, em 2011, tínhamos pela frente está feito. Mas temos, ainda, muitos desafios a ultrapassar.

Estou certo que no final deste processo tere-mos umas Forças Armadas mais libertas de ta-

refas administrativas, de custos desnecessários e de duplicações ou redundâncias de serviços.

Umas Forças Armadas mais eficientes, mais operacionais, mais capazes de responder aos desafios das próximas décadas.

E tudo isto é muito mais importante que algu-mas notícias, umas quantas críticas ou uns tan-tos desagrados. É mesmo muitíssimo mais im-portante que a popularidade do ministro nesta ou naquela sondagem.

Até porque as únicas sondagens a que deve-mos obediência são:

● à que resulta da nossa própria consciência e à resposta que, em cada momento, pode-mos dar à questão fundamental de se estamos ou não a cumprir o dever que o interesse na-cional reclama.

● E à que resultar do escrutínio que, na hora certa, face ao cumprimento integral do manda-to que nos foi conferido, o povo português, em eleições, nos atribuir pelo seu voto.

Estou certo que no final do processo de refor-ma na Defesa Nacional, o país poderá, mais uma vez, olhar, com orgulho, para tudo o que as mulheres e os homens que servem Portugal, servindo nas Forças Armadas, conseguiram rea-lizar em momento tão crítico da nossa Pátria.

São estes os bons ventos e as boas marés, que Portugal pode contar das suas Forcas Armadas, e, em particular, da sua Marinha.

Dr. José Pedro Aguiar-Branco

ALOCUÇÃO DO ALMIRANTE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA6

Senhor Ministro da Defesa Nacional,

Quero agradecer-lhe a disponibilidade que manifestou para hoje estar aqui presente, a presidir a esta cerimónia, o que muito nos honra e dignifica a ação de todo o pessoal que se encontra sob a tutela de Vossa Excelência.

Somos uma instituição que privilegia a abertura ao exterior e com este desígnio em mente todos os anos celebramos o nosso dia num local distinto, levando a Marinha para junto das populações que orgulhosamente servimos, mostrando o que fazemos e como o fazemos.

Foi com este sentimento bem presente que acedemos ao amável convite do Senhor Pre-sidente da Câmara Municipal do Barreiro para novamente festejarmos, nesta magnífica terra, o dia da Marinha. Aqui estivemos pela últi-ma vez há 16 anos atrás, em 1997, e voltamos con-victos da hospitalidade desta terra de marinheiros.

O Barreiro encontra-se intimamente ligado à histó-ria da Marinha, foi nas suas margens que se construí-ram e abasteceram as cara-velas e as naus que “deram novos mundos ao mundo”. Este trabalho de retaguarda foi fundamental para o su-cesso desta nossa epopeia, que gente do Barreiro tão bem soube relatar, como por exemplo Álvaro Velho, no seu diário de bordo, re-latando a viagem de Vasco da Gama.

Mas nos dias de hoje, o Concelho do Barreiro continua intimamente ligado à Marinha, por acolher, na confluência da ri-beira de Zebro com o rio Coina, a Escola de Fuzileiros, que desde há 50 anos forma os Fuzileiros da Armada, e nos dias de hoje se constitui, a par com a Escola Naval, uma das mais importantes portas de entrada para a Marinha, pois ministra a formação militar básica a todos os militares.

Mas não menos importante, o Barreiro con-tribui significativamente para enriquecer o nosso maior património, o do pessoal, pois esta é terra de muitos e ilustres marinheiros.

É, assim, por demais evidente que o Dia da Marinha iria ser celebrado em ambiente de franca amizade. No entanto, este proje-to apenas foi possível concretizar graças ao prestimoso apoio e à total disponibilidade da Câmara Municipal do Barreiro. Senhor pre-sidente, manifesto a minha gratidão e o meu reconhecimento pela magnífica colabora-ção, pelo trabalho desenvolvido e pela for-ma amiga com que nos receberam. O meu muito obrigado.

Cumpre, neste dia tão especial para todos nós, refletir sobre o ano transato e efetuar uma análise prospetiva do futuro.

Há dois anos que Portugal se encontra sob resgate financeiro, tendo este facto condi-

cionado toda a atividade económica do País e como não poderia deixar de ser a ativida-de da Marinha.

Não obstante, e fruto de uma incansável dedicação, elevado espírito de sacrifício e perseverança, dos homens e das mulheres que servem na Marinha temos conseguido, com muito esforço, cumprir as missões que nos são atribuídas.

No âmbito da defesa militar participamos em diversas missões, integrados nas Forças Nacionais Destacadas, como na Opera-ção Atalanta, onde neste momento temos empenhada uma fragata e o comando e estado-maior da força tarefa que comanda a operação. Integramos ainda, e pela primeira vez, um submarino na Operação Active En-deavour, cuja missão consiste em dissuadir

e combater o terrorismo e a proliferação de armas de destruição maciça. Ainda neste contexto continuamos a estar presentes em missões internacionais, como no Afeganis-tão, contribuindo para a segurança e estabi-lidade regional, e no Kosovo, no apoio à paz naquela região do globo.

Tentamos assim manter uma influência po-sitiva ao nível da presença junto dos diversos organismos internacionais dos quais Portugal faz parte integrante e pretende ser um contri-buinte ativo e participativo.

Continuamos presentes nos países da Co-munidade dos Países de Língua Portuguesa, em diversas ações de Cooperação Técnico Militar, dando expressão à política exter-na nacional e participando ativamente no desenvolvimento das Marinhas amigas em áreas como a segurança marítima, adestra-mento e treino de guarnições de meios na-vais, implementação de sistemas de ajuda à navegação e muitas outras áreas onde temos um conhecimento bem cimentado.

Também participamos em exercícios con-juntos e combinados, preparando as nossas forças, para poder responder de forma cabal às necessidades de defesa própria e autónoma bem com assegurar a proteção dos interesses nacionais, estando prontos para integrar a For-ça de Reação Imediata, quando solicitado, tal como aconteceu no ano transato.

No exercício das funções de Autoridade Marítima Nacional, por inerência das fun-ções de Chefe do Estado-Maior da Armada, quero saudar e recordar o esforço e o dina-mismo do pessoal que serve o Pais nesta tão relevante área, designadamente na Direção--geral da Autoridade Marítima e na Policia Marítima, assegurando, diariamente e inin-terruptamente a soberania e autoridade do Estado no mar.

Efetuamos uma intensa atividade destinada a prevenir e reprimir os casos ilícitos contraorde-nacionais e penais nos espaços de jurisdição marítima, bem como ações de fiscalização, inspecionando as atividades de pesca, com uma média de 4500 ações de vistoria a em-barcações, no mar, e 5500 em terra, de forma a garantir o respeito pela legislação vigente e

assim melhorar as con-dições de segurança de quem anda no mar e a salvaguarda dos recur-sos de que Portugal tanto depende.

Asseguramos também a proteção e preserva-ção do ambiente ma-rinho tendo realizado 65 ações de combate e prevenção a derrames ou ações poluentes.

No que respeita à se-gurança da navegação realizámos mais de 80 mil ações de vigilância e fiscalização a navios e embarcações, tanto no mar como nos portos.

No âmbito do Sistema Nacional para a Busca e Salvamento Marítimo, que superior-mente Vossa Excelência dirige, mantemos um esforço contínuo de modo a garantir a salvaguarda da vida humana no mar tendo totalizado, em 2012, o salvamento de 733 pessoas, com uma taxa de sucesso do Servi-ço Busca e Salvamento Marítimo de 98,5%, um dos melhores do mundo, nesta que é das mais nobres missões que realizamos.

No âmbito das atribuições do Instituto de Socorros a Náufragos, asseguramos também a assistência a banhistas, através das ações das 28 capitanias, com centenas de salvamentos e uma taxa de sucesso da ordem dos 99%.

Efetuamos levantamentos hidrográficos e produzimos nova cartografia náutica, garan-timos a manutenção das ajudas à navega-ção, tão necessárias a quem faz do mar seu local de trabalho ou simplesmente de lazer.

No âmbito da investigação científica efe-tuamos a aquisição e o processamento dos dados relativos ao projeto de extensão da plataforma continental, apoiada pelos navios hidrográficos.

Desenvolvemos um conjunto de atividades culturais marítimas, nas áreas da história, das ciências, e das tecnologias navais, como ex-posições, palestras, seminários e edição de obras. Recordo, a título de exemplo, os 150 anos que o Museu de Marinha comemora

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 7

este ano e o seu incansável contributo para a salvaguarda e a divulgação do passado ma-rítimo português.

Resumindo, posso afirmar que o empenho do pessoal, suportado por uma enorme mo-tivação, a par com uma utilização judiciosa dos meios e recursos colocados à nossa dis-posição permitiu o cumprimento da missão da Marinha.

Quem está de fora pode parecer que a “cri-se” passou ao lado da Marinha e que, apesar da diminuição de alguns dos índices que apresentei, quando comparados com anos transatos, conseguimos fazer tudo o que nos é cometido.

Mas assim não o é, de facto cumprimos a nossa missão, mas a que custo? O custo associado a uma significativa diminuição do investimento e das verbas alocadas à manutenção e ao treino.

Durante o ano transa-to, apenas efetuamos as ações de treino e manu-tenção estritamente ne-cessárias à manutenção dos níveis mínimos de operacionalidade.

Neste contexto pode tudo isto parecer normal, mas devo alertar que não é possível prolongar esta situação por mais tempo, pois estamos a navegar e operar no limite.

O prolongar desta si-tuação poderá potenciar a ocorrência de aciden-tes, com o material, por ausência de manu-tenção, ou com o pessoal, por ausência de treino, pois o risco aumenta exponencial-mente com a diminuição do investimento nestas áreas, que se constituem como dois dos mais importantes pilares da nossa ope-racionalidade.

Neste sentido urge ultrapassar a situação em que nos encontramos.

É necessário colmatar o défice de manuten-ção dos meios navais, das infraestruturas e dos meios de transporte, bem como a exaus-tão dos stocks de sobressalentes.

É necessário retomar os níveis de treino, para garantir elevados níveis de operaciona-lidade dos meios, e assim diminuir o risco de acidente. Neste âmbito recordo, como exem-plo, que celebramos os 20 anos da esquadri-lha de helicópteros e simultaneamente as 20 mil horas de voo, sem qualquer acidente, situação que nos orgulha e é digna de registo.

Celebramos também os 100 anos da exis-tência de submarinos em Portugal. Estamos bem cientes do esforço financeiro que foi necessário efetuar para os adquirir, importa agora garantir que teremos as verbas necessá-rias à sua manutenção e operação para assim potencializar a sua utilização.

É também urgente retomar os programas de reequipamento da esquadra, designada-mente a construção dos Navios de Patrulha

Oceânica, dos quais apenas temos ao servi-ço o Viana do Castelo, que visa substituir as velhas corvetas com mais de 40 anos de ser-viço e iniciar o programa de construção das Lanchas de Fiscalização Costeira, visando a substituição dos patrulhas, que também estão praticamente no fim da sua vida operacional, restando apenas 3 navios em operação.

Mas apesar de todas as dificuldades a Ma-rinha não esteve parada, nem expectante, antes metemos mão à obra e preparamos o futuro, analisamos os processos, com o objetivo de procurar sinergias e eliminar as tão referidas “gorduras”, investimos em formação do nosso pessoal e na tecnologia para, desta forma, nos tornarmos mais efi-cientes e eficazes.

Posso neste âmbito referir que desde que

celebramos o dia da Marinha no Barreiro, há 16 anos atrás, já reduzimos cerca de 5900 efetivos dos quadros de pessoal militar, mi-litarizado e civil que corresponde aproxima-damente a 35% do total.

Efetuámos um esforço no sentido de con-centrar grande parte dos órgãos e dos servi-ços da Marinha no Alfeite e na Ribeira das Naus, fechando e alienando vários prédios militares e permitindo a geração de sinergias e a poupança de recursos.

No campo tecnológico gostaria de sa-lientar que o Barreiro ficará mais uma vez ligado à Marinha e à sua modernização tec-nológica. Há 16 anos inauguramos o nosso primeiro portal da internet, hoje tenho o pra-zer de apresentar uma nova imagem da Ma-rinha na internet, tornando-a mais moderna, apelativa e funcional.

Portugal prepara-se para adotar uma nova Estratégia Nacional para o Mar, documento estruturante para o desenvolvimento de todas as atividades marítimas. A concretização desta estratégia vai corresponder, necessariamente, a uma maior exigência sobre as funções da segu-rança e do exercício da autoridade, pelo que haverá necessidade de reforçar e qualificar os dispositivos atualmente existentes, considera-dos imprescindíveis para que as restantes ati-vidades decorram em ambiente de segurança.

Saliento que, para atingir este desidera-

to, é necessário uma cooperação efetiva e uma partilha, em tempo real, de dados e informações entre todas as entidades que exercem funções de vigilância e fiscali-zação, no âmbito das suas atribuições e competências, nos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional.

Importa, neste campo, e mencionando a legislação recentemente promulgada, referir que a Marinha representa uma moldura ins-titucional com legitimidades heterogéneas e capacidades multifuncionais, constituindo-se como um excelente exemplo da utilização cri-teriosa dos escassos recursos humanos, mate-riais e infraestruturas de que dispomos, numa lógica de Duplo Uso, consubstanciando-se no Chefe do Estado-maior da Armada que é por inerência a Autoridade Marítima Nacional.

Ainda no âmbito legis-lativo e na sequência do recentemente aprovado Conceito Estratégico de Defesa Nacional, e da resolução do Conselho de Ministros “Defesa 2020”, perspetivam-se alterações profundas. Neste âmbito temos co-laborado, ativamente, nas reformas que se en-contram em curso, com o objetivo bem claro de melhorar a capacidade operacional das Forças Armadas, garantindo que os ganhos de efi-ciência organizacional e redução de custos com o

pessoal sejam reafectados para operação e manutenção.

Senhor Ministro da Defesa Nacional,

A Marinha cruza os mares há séculos, cumprindo as missões que lhe são atribuí-das, com brio, dedicação e espírito de bem servir e assim continuará a faze-lo enquan-to Portugal e os Portugueses o exijam.

O nosso saber, os meios e a experiência agregada que a Marinha possui, deve, e tem de ser potencializada como um ativo a explorar no contexto da estratégia nacional para o mar.

Os homens e as mulheres, militares, mi-litarizados e civis, que orgulhosamente comando, continuarão, na senda dos seus antecessores, mas bem conscientes das dificuldades que o País atravessa, a dar o seu melhor para que a Marinha se assu-ma como um parceiro indispensável na afirmação de Portugal no mar cumprindo com o lema, que há 150 anos foi insti-tuído e mandado inscrever nos navios, “A Pátria honrae que a Pátria vos con-templa”.

José Carlos Saldanha LopesAlmirante

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA8

A PRIMEIRA PATRULHA NO GOLFO DE ÁDEN

No período de 4 a 6 de abril a Álvares Cabral esteve atracada no porto do Djibuti para parti-cipar na cerimónia de entrega de comando da EUNAVFOR (Força Naval da União Europeia), onde a Marinha Portuguesa assumiu o comando da força naval.

Nos próximos 4 meses, o NRP Álvares Cabral será o navio-almirante da Força Multinacio-nal e irá embarcar o comandante da força naval e o respetivo Estado-Maior multina-cional composto por 24 militares de Portu-gal, Bélgica, Alemanha, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Letónia, Holanda e Suécia.

No dia 6 de abril, após a cerimónia de passagem do comando, o navio largou do Djibuti e iniciou a sua primeira patru-lha dirigindo-se para o Corredor Interna-cional de Tráfego Recomendado (IRTC), no Golfo de Áden.

O IRTC está localizado entre a costa do Ié-men e a costa norte da Somália e é um cor-redor para tráfego marítimo, com cerca de 500 milhas de comprimento por 11 milhas de largura. Tendo em conta que anualmente cerca 22.000 navios cruzam o Golfo de Áden, tornando esta área uma das mais apetecíveis para ataques pi-ratas, este corredor foi implementado de forma a concentrar o trânsito dos navios anteriormente disperso por todo o Golfo de Áden, permitindo assim maior facilidade de controlo e proteção da navegação mercante. Estabelecido o IRTC, a EUNAVFOR e outras forças internacionais mantêm ali, em permanência, diversos na-vios de guerra que asseguram a passagem em segurança de toda a navegação.

Na missão de patrulha do IRTC é mui-to importante a utilização do helicóptero embarcado para garantir maior eficácia na cobertura da área de responsabilidade do navio. Numa base diária, são realizados voos que se iniciam aos primeiros alvores, para recolha de informação da navegação e para deteção de embarcações que pos-sam revelar indícios relacionados com a atividade da pirataria.

A existência de motores fora-de-borda de grande potência, o elevado número de bidons de combustível, escadas metá-licas compridas ou a inexistência de artefactos de pesca a bordo, são exemplos de indícios que podem associar determinadas embarcações a atividades de pirataria e devem ser cuidadosa-mente analisados.

No dia 9 de abril, no decurso da patrulha, ocorreu a primeira oportunidade para efetuar uma “Friendly Approach” a uma embarcação do tipo “Dhow”, com 19 pessoas a bordo. Esta ocasião não poderia ser, nem foi desperdiçada, e com o à-vontade proporcionado pelo intenso treino a que as equipas foram sujeitas nos me-

ses anteriores, ambas as semi-rígidas foram para a água, embarcaram o pessoal e colocaram a equipa de boarding a bordo da embarcação, numa rápida sucessão de ações, às quais não faltaram os rigorosos cuidados de segurança na aproximação final à “Dhow”, e a proteção pró-xima proporcionada pelo navio.

A tripulação da embarcação visitada adotou desde o início uma atitude cooperante, o mes-tre convidou a equipa de boarding a subir a

bordo e durante a condução da ação apenas foram identificados artefactos de pesca, não tendo sido detetado qualquer tipo de material associado à pirataria.

Esta foi a primeira ação de muitas que se segui-ram e têm como objetivo a troca de informação e o contacto com a comunidade marítima local.

Com a primeira abordagem, o navio iniciou a divulgação da atividade da EUNAVFOR e da EUROMARFOR no âmbito da União Europeia

(EU) para a proteção da liberdade de circulação no Golfo de Áden, mas não menos importante, este primeiro contacto com a comunidade local permitiu iniciar a divulgação da presença da nossa Marinha e o empenhamento de Portugal nestas águas, como contributo para a estabili-dade, segurança e desenvolvimento da região. Neste âmbito, podemos dizer que o nosso país foi reconhecido de imediato, pois à aproxima-ção do navio e das duas embarcações semi--rígidas, todas com a bandeira das quinas bem à vista, foi rápida a reação dos elementos da tri-

pulação da “Dhow”, que de imediato mostra-ram de modo entusiástico e com evidente boa disposição a camisola número 7 da Seleção Nacional de Futebol.

Apesar do navio estar a conduzir uma opera-ção é fundamental dar continuidade às ações de treino da guarnição, com o objetivo de manter os padrões de prontidão e o adestramento do pessoal. Nesse âmbito, no primeiro período de patrulha foram realizadas sessões de tiro com

armamento portátil para os elementos do pelotão de abordagem (PELBOARD) em-barcado e para elementos da guarnição com funções específicas de segurança e, de forma inopinada, foram realizados exercí-cios de tiro de reação rápida para testar e incrementar a eficácia da ação do navio em situações de ameaça imprevista. Por fim, foi também possível exercitar tiro com a peça de 100mm, especialmente para treino de tiro desviado, situação muito plausível de ocorrer caso haja necessidade de efetuar tiros de aviso com grande calibre.

Antes da primeira paragem logística pre-vista para o porto de Salalah, em Omã, o navio rumou para a zona leste do IRTC, assumindo a responsabilidade de patrulhar a área de apro-ximação ao Golfo de Áden, caracterizada pela confluência de todo o tráfego marítimo oriundo da Índia, Ásia, Golfo de Omã e África na de-manda do Mar Vermelho.

O PORTO DE SALALAHAhlan wa salan! Welcome!Foi desta forma cordial que os habitan-

tes de Salalah receberam a guarnição da Álvares Cabral durante uma estadia de 3 dias no porto desta cidade, cujo principal objetivo, a par do descanso da guarnição, foi o reabastecimento do navio com ali-mentos frescos, combustível, sobressalen-tes e permitir as condições de estabilidade necessárias a algumas reparações nos siste-mas de bordo.

Salalah, capital da província de Dhofar, é uma cidade subtropical, caracterizada por um fenómeno climatérico designado por Khareef que ocorre no período de meados de junho a meados de setembro. Este fe-nómeno meteorológico, que envolve toda

a província num mar de nuvens, traz à região milhares de visitantes que assim podem usufruir de um clima mais ameno, em contraste com o calor extremo que, por essa altura, se faz sentir no resto do país.

Este movimentado porto, na localidade de Raysut, é um catalisador da vida social e económica da cidade, não só pela presença constante dos navios mercantes e de guerra, mas também devido à visita amiúde de inúmeros na-vios de cruzeiro que trazem à cidade cada vez mais visitantes.

NRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTANRP ÁLVARES CABRAL NA OPERAÇÃO ATALANTA2ª PARTE

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 9

Durante o período da nossa estadia, encurtada de um dia em relação ao previsto por indisponi-bilidade de cais, todos os dias foram passados sob um calor tórrido, típico da península arábica, uma vez que o Khareef ainda está para chegar.

MISSÃO NO IRTCApós largar do porto de Salalah, foi retomada

a patrulha de superfície nas áreas atribuídas no IRTC. Do mesmo modo, foi reiniciada a atividade de proteção da navegação mercante e a execu-ção de “Friendly Approaches”, simultaneamente com a manutenção permanente de prontidão imediata para reagir a qualquer tentativa de ata-que pirata na área de influência do navio.

Neste segundo período de patrulha merece especial realce uma “Friendly Approach”, por coincidência ocorrida no feriado do 25 de abril, realizada desta vez a uma embar-cação iraniana, com quarenta e duas pes-soas a bordo, entre as quais dez crianças e quatro mulheres.

Durante esta ação, a equipa de aborda-gem verificou que a embarcação efetuava transporte de pessoas e material do Iémen para a Somália, apresentava condições pre-cárias de habitabilidade, no geral os passa-geiros manifestavam sinais de subnutrição e em especial um dos adultos apresentava sintomas de doença evidente e extrema de-bilidade física.

Perante esta situação, e com o acordo do Mestre da embarcação, o médico do navio, 2TEN MN Tiago Oliveira, foi de imediato transportado para bordo da embarcação para prestar assistência ao doente em causa, tendo na altura confirmado tra-tar-se de um caso de pneumonia com gravidade. Após diagnóstico, o doente foi adequadamente medicado e afastada a hipótese de risco de vida. Sabendo que a embarcação chegaria à Somália no dia seguinte, foi aconselhada, logo após a che-gada, a procura de apoio médico, de modo a acompanhar e confirmar a eficácia do tra-tamento entretanto ministrado.

Às restantes pessoas embarcadas, e espe-cialmente às crianças, foi providenciada alimentação, água e sumos que foram re-cebidos com evidente satisfação.

Ainda neste período de mar, merece realce uma ação de assistência médi-ca de emergência executada em apoio a um tripulante do navio mercante JS Colorado, com bandeira de Singapura.Esta ação decorreu no seguimento de um pedido de auxílio emitido pelo navio, indi-cando que um dos seus tripulantes sofrera um acidente, apresentava ferimentos com lacera-ções múltiplas e perda de sangue e necessitava de auxílio médico urgente.

No decurso deste pedido de ajuda, o coman-dante da força naval da EUNAVFOR destacou a Álvares Cabral, meio naval mais próximo, para auxílio do navio mercante, que nessa altura se encontrava a cerca de 110 milhas do nosso navio.

Após receber a ordem, a Álvares Cabral deslo-cou-se à máxima velocidade para a posição do “JS Colorado” e a cerca de 50 milhas deste navio fez descolar o helicóptero Lynx que transportou

e arriou, através de guincho, a equipa médica no convés do navio mercante.

Já a bordo do “Colorado”, a prestação de cui-dados médicos foi demorada, tendo sido neces-sário proceder a diversas suturas num número significativo de lacerações na face, no crânio e nos membros superiores. Mais tarde, foi obtida a informação de que os ferimentos foram origina-dos por uma queda em cima do arame farpado que o próprio navio possuía no exterior, como medida para evitar o assalto de possíveis pira-tas, e que é aliás uma das medidas de proteção recomendadas contra a pirataria.

Nesta situação é de realçar a destreza demons-trada pela tripulação do helicóptero, que efetuou a manobra de inserção da equipa médica através de guincho no convés de um navio com diversos

mastros e superestruturas, acrescida da dificuldade da operação se ter prolongado no arco noturno, com pouca visibilidade, altura em que foi feita a extração da equipa médica pelo mesmo método.

Esta ação foi acompanhada a par e passo, através de comunicações satélite, em Lisboa, na sala de Operações do Estado-Maior General da Forças Armadas e no Centro de Operações Marítimas da Marinha Portuguesa, que manteve ligação com o Centro de Busca e Salvamento do Reino de Omã, responsável pela área marítima onde ocorreu o incidente.

Finalmente, neste período a Álvares Cabral aju-dou a escrever mais uma página na história da Operação Atalanta, ao garantir as condições para que, pela primeira vez, desde a criação da EUNA-VFOR em 2008, o comandante da força pudesse visitar no mar, em trânsito, o Autonomous Vessel Protection Detachment (AVPD) embarcado num dos navios do World Food Programme (WFP).

O AVPD atualmente em missão no teatro de operações é constituído por uma equipa de mi-litares das forças especiais Finlandesas, subordi-nado ao comandante da força naval, que se en-contra embarcada num navio mercante do WFP

e que zela pela sua defesa contra a pirataria, de modo a garantir que o navio e a respetiva carga de ajuda humanitária cheguem sem sobressaltos ao seu destino – o povo da Somália.

Simultaneamente com a visita do comandante da força ao MV “Caroline Scan”, onde se en-contrava a equipa AVPD, e com anuência do comandante do navio mercante, os elementos do PELBOARD embarcados na Álvares Cabral aproveitaram a oportunidade para efetuar um treino de abordagem no navio e ao mesmo tem-po, durante a sua presença a bordo, puderam partilhar impressões e experiências com os mi-litares Finlandeses.

A insersão da equipa de abordagem foi efetua-da por helicóptero utilizando a técnica fast rope, numa demonstração de perícia que proporcio-

nou a quem teve a oportunidade de assistir, um momento de elevada espetacularidade.

MUSCATEDepois de 13 dias no mar, atrácamos no

porto de Muscate no dia 4 de maio para mais uma paragem logística e para garantir algum descanso à guarnição.

Muscate está localizada à entrada do Golfo de Omã e é a capital do Sultanato de Omã. Durante a aproximação ao por-to é bem visível a presença portuguesa do passado que data de 1507, altura em que esta cidade foi conquistada por Afonso de

Albuquerque.Os Portugueses mantiverem o controlo de

Muscate por um século e meio, tendo nesse pe-ríodo construído muralhas ao longo da cidade e os fortes de Mirani e Jalali. Estas fortificações, apesar de imponentes, não impediram a recon-quista da cidade pelos Omanitas em 1650.

A Muscate de hoje é uma cidade cosmopolita e desenvolvida, com uma população amigável e de trato afável, com monumentos que merecem uma demorada visita, dos quais se destacam a Grande

Mesquita e a Ópera Real de Muscate, e que pela sua diversidade e nível de segurança permitiu à guarnição retemperar energias para a próxima patrulha de 2 semanas.

Durante a estadia em Muscate, são de realçar os cumprimentos apresentados pelo comandante da força e pelo comandan-te do navio ao Governador do Distrito de Muscate e uma conferência de imprensa organizada a bordo pela EUNAVFOR. Este evento contou com a presença de jornalis-tas da imprensa local e permitiu divulgar, em Omã, de uma forma alargada, a presença da EUNAVFOR, do comandante da força na-

val e da fragata portuguesa neste porto e nas águas do Oceano Índico durante os próximos 4 meses.

No dia 8 de maio, neste período que ainda é de inter-monção, em que as condições meteorológi-cas continuam muito propícias à ação dos piratas, o navio largou de Muscate em direção à costa les-te da Somália para iniciar mais uma patrulha que só irá terminar na visita logística ao próximo porto no dia 20 de maio.

Colaboração do COMANDO DO NRP ÁLVARES CABRAL

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA10

R ealizou-se entre 3 e 16 de abril o exer-cício “INSTREX 01/13” (ITX 01/13). À semelhança de anos anteriores,

este exercício contou com uma fase de treino no porto, que decorreu entre 3 e 5 de abril, e uma fase de treino no mar, re-alizada na costa oeste de Portugal Con-tinental entre 8 e 16 de abril.

O ITX 01/13 foi planea-do como um exercício de força naval, com o fim de preparar as unidades e o Comando e Estado-Maior da Força Naval Portugue-sa para a condução de operações navais, com ênfase nas áreas tradicio-nais da guerra. Foi assim, no decorrer do exercício, proporcionado treino às unidades participantes por forma a manter ou atingir os padrões de prontidão operacional estabeleci-dos, habilitando-as para o cumprimento das missões a atribuir e sua integração em forças navais.

Conduzido pelo VALM Monteiro Montenegro (CTF 443), Comandante Naval, o exercício INSTREX 01/13 contou com a participação de dez navios1 de superfí-cie, dois submarinos2, uma equipa de mergulhadores (CDT)3, militares do Desta-camento de Ações Especiais (SOF)4, uma robusta força de desembarque (LF)5, bem como diversas aeronaves da Força Aérea Portuguesa (FAP), nomeadamente, avi-ões P3C-CUP+, F-16 MLU e o helicóptero EH-101, en-volvendo um total de cerca de 1300 militares.

Neste âmbito, destaca-se a excelente colaboração prestada pela FAP duran-te todo o exercício. Esta constituiu-se como um elemento fundamental na prossecução dos objetivos do ITX 01/13, tendo pro-porcionado um maior re-alismo às diferentes séries realizadas e permitindo testar novos conceitos na área da guerra anti-aérea.

Foram também realizados exercícios de oportunidade com meios navais es-trangeiros em trânsito na costa oeste, nomeadamente com o ESPS Cristobal Colon e com o FGS Karlsruhe.

Para exercer o comando e controlo dos meios envolvidos, embarcou no NRP Vasco da Gama (navio-chefe) o Co-mando e Estado-Maior da Força Naval Portuguesa. A Força Naval Portuguesa, comandada pelo CMG Croca Favinha (CTG 443.20), irá gerar a força que se constitui como a componente naval da

Força de Reação Imediata (FRI), tendo o ITX 01/13 servido para testar a rede de comunicações e os sistemas de informa-ção do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), de tecnologia e con-figuração nacional, que serve como rede

de comando e controlo no âmbito da FRI.Na fase de treino de porto deu-se ênfa-

se à exploração de ferramentas e valida-ção de procedimentos que contribuem para o conhecimento situacional marí-timo, bem como a consolidação de pro-cessos que visaram a obtenção de um comando e controlo eficaz. Foram ainda

realizadas séries de nave-gação tática no simulador de navegação (SIMNAV) do Centro Integrado de Treino e Avaliação Naval (CITAN) e Escola Naval (EN), e também treino de reabastecimento no mar (RAS), que contou com as facilidades do Departa-mento de Formação Geral (DFG) da Escola de Tec-nologias Navais (ETNA). Nesta fase foram também realizados exercícios de abordagem e vistoria a um navio suspeito (simulado pelo NRP Bérrio), bem como séries de treino de embarque e desembarque da força anfíbia.

Na fase de mar o pro-grama de seriado permi-tiu abranger um leque alargado de perícias, ten-do incidido nas áreas da guerra tradicional, mais concretamente nos exer-cícios de defesa aérea, na luta de superfície e na luta anti-submarina. Foram também realizados vá-rios reabastecimentos no mar, séries de embarque e desembarque da compo-nente anfíbia da força, sé-ries de proteção de força, exercícios de abordagem e vistoria a navios e um exercício mais complexo no âmbito das MSO6, rea-lizado no dia 15 de abril, cujo objetivo foi consoli-dar procedimentos de co-mando e controlo durante a execução de uma ope-ração de embargo.

No apoio aos planos de treino dos NRP Vasco da Gama e NRP Bartolomeu Dias, o seriado integrou

diversas séries avaliadas pelo CITAN, permitindo desta forma rentabilizar os meios disponibilizados. Destas, destaca--se a série de assistência a um navio si-nistrado (STRIKEN VESSEL), realizada no dia 10 de abril, e também a série de mul-

EXERCÍCIO NAVAL "INSTREX 01/13"

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 11

tiameaça realizada no último dia (16 de abril), especialmente vocacionada para a conclusão do plano de treino básico (PTB) do NRP Bartolomeu Dias, que as-sumiu o comando tático e conduziu as ações de defesa às ameaças submarinas, de superfície e aéreas, materializadas por um submarino, pelas duas LFC7 e por ae-ronaves F-16 da Força Aérea.

A força foi constituída como uma Amphibious Task Force (ATF) por inte-grar meios navais e o Batalhão Ligeiro de Desembarque (BLD) enquanto elemento pro-jectável em terra (LF). O BLD, sob o comando do CFR FZ Martins de Brito, empenhou cerca de 300 militares divididos en-tre os vários elementos. Através da sincronização temporal das ações dos seus diferentes elemen-tos, o BLD, projetado a partir das unidades na-vais num desembarque para além do horizonte, concretizou em terra os objetivos da ATF. De en-tre todas as ações reali-zadas pela ATF, salienta--se o treino na área do apoio de fogos, em que observadores avançados do Pelotão de Reconhe-cimento do BLD execu-taram a partir de terra os procedimentos neces-sários para que a LF fos-se apoiada pelo fogo de artilharia (simulado) do NRP Vasco da Gama e, pela primeira vez, com o lançamento de um míssil (simulado) pelo NRP Tri-dente.

Em apoio e em com-plemento aos programas de ensino e formação da Marinha, decorreram, em simultâneo, a viagem de instrução dos cadetes de 4º ano da Escola Naval, vo-cacionada para as operações navais, o embarque dos oficiais do Curso de Aperfeiçoamento em Tática e Opera-ções Navais, uma parte da componente prática do Curso de Aperfeiçoamento Operacional para Pilotos de Helicópte-ro Lynx e a conclusão do Curso de Aper-feiçoamento em Equipas de Convés de Voo (qualificação de uma ECV do NRP Vasco da Gama).

No dia 12 de abril, com a presença a bordo do NRP Vasco da Gama do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes, e do Comandante Na-val (CTF 443), VALM Monteiro Monte-negro, foi realizado um programa de demonstração de capacidades da Força Naval Portuguesa ao Ministro da De-

fesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar--Branco, acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General José Pinheiro, e pelo Chefe do Estado--Maior do Exército, General Pina Mon-teiro. Complementarmente, embarca-ram também neste dia um grupo de Adidos Militares acreditados em Portu-gal, os auditores do Curso de Promoção a Oficial General (CPOG) e os alunos do Curso de Estado-Maior Conjunto (CEMC), ambos do Instituto de Estudos

Superiores Militares (IESM). As séries de demonstração de capacidades da força naval consistiram em proteção de força contra ameaça assimétrica, reabasteci-mento no mar, exercício de homem ao mar, demonstração de capacidades do NRP Arpão, interação entre a força na-val e a aeronave de patrulha marítima P3C-CUP+ e também a utilização do helicóptero orgânico Lynx durante uma ação de abordagem a um navio suspeito (simulado pelo NRP D. Carlos I).

No âmbito da validação do emprego de armas e sensores, foi realizada, no dia 13 de abril, uma série de disparo de torpedos pela aeronave P3C-CUP+ e pelos NRP Vasco da Gama e NRP Barto-lomeu Dias. Nesse mesmo dia foi tam-bém efetuado tiro contra alvo rebocado pelo NRP Bacamarte.

Durante o ITX 01/13 foi também va-lidado o apoio METOC que o Instituto

Hidrográfico irá disponibilizar de forma permanente à força naval nos seus di-versos teatros de operações, tendo para este efeito embarcado um Oficial du-rante todo o período do exercício. Este apoio, facultado via intranet de marinha permitiu aceder a previsões meteoro-lógicas, de agitação marítima e de cir-culação oceânica, bem como os Dia-gramas de Impacto para a Missão, uma importante ferramenta para o processo de tomada de decisão nas diferentes

operações levadas a cabo pela força. Foi exemplo desta capacidade o pla-neamento dos desem-barques anfíbios leva-dos a cabo ao longo do arco litoral Troia-Sines. A missão REA8, desenvol-vida na área pelo NRP D. Carlos I antes do início da fase de mar do ITX 01/13, foi continuada pela for-ça naval durante as suas operações. Pela primeira vez, os submarinos foram envolvidos nesta ação, registando e enviando periodicamente perfis de temperatura e salinidade que foram integrados no sistema de previsão da circulação oceânica, dis-ponibilizada operacio-nalmente à força naval e à esquadra 601 da Força Aérea (para planeamento da operação da aeronave P3C-CUP+).

Uma vez mais, a Ma-rinha assinalou a im-portância que o treino assume na obtenção de elevados padrões de se-gurança, eficácia e efi-ciência das operações

navais, garantindo assim, a manutenção dos padrões de prontidão e capacidade de resposta em caso de necessidade de empenhamento.

J. Croca FavinhaCMG

Notas

1NRP Vasco da Gama, NRP Bartolomeu Dias, NRP D. Francisco de Almeida, NRP Bérrio, NRP João Coutinho, NRP João Roby, NRP D. Carlos I, NRP Ba-camarte, NRP Cassiopeia e NRP Orion.2NRP Tridente e NRP Arpão.3Clearence Diving Team.4Special Operations Force.5Landing Force.6Maritime Security Operations.7Lanchas de Fiscalização Costeira.8Rapid Environment Assessment.

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA12

A MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS

Uma certa historiografia, apaixonada e menos cuidadosa, considerou que foi o cardeal rei D. Henrique quem criou as

condições para que Filipe II assumisse a coroa de Portugal, mas não é rigorosa a sua análise e conclusão. É verdade que o cardeal rejeitou veementemente a candidatura de D. António Prior do Crato, mas a sua simpatia recaía na Du-quesa de Bragança, Dª Catarina, e não no sobe-rano espanhol. Contudo, não conseguiu suster o ritmo alucinante dos acontecimentos, num momento em que a sua saúde era muito frágil e o tempo lhe escasseava. Faleceu a 31 de Janeiro de 1580, pou-cos dias depois de ter aberto as cortes em Almeirim, onde se deveria discutir uma proposta de acordo que evitasse a guerra. Tudo ficou por decidir.

O governo foi entregue a um grupo de cinco “governadores e defensores do reino”, cujo poder era provisório e regido por regimento próprio, com po-deres muito limitados. Eram eles o Ar-cebispo de Lisboa, D. Jorge de Almeida, partidário da sucessão por Dª Catarina, D. João de Mascarenhas, Francisco de Sá e Diogo Lopes de Sousa, partidários do rei castelhano, e D. João Telo de Meneses, apoiante de D. António Prior do Crato. O Arcebispo adoeceu pouco depois de assumir o cargo e as crescentes pressões dos enviados filipinos criaram as con-dições para afastar Telo de Meneses da cena política. Chegaram a convocar-se novas cortes mas foram adiadas pela ameaça de peste em Almeirim.

D. António estava em Santarém, onde se concentravam os procuradores para as cortes, quando correu o boato de que um exército castelhano, comandado pelo Duque de Alba, entrara pelo Alentejo. Com este acto, Filipe II passava de candidato ao trono a agressor e in-vasor do país, perdendo a legitimidade própria e permitindo que qualquer outro candidato to-masse a iniciativa da defesa do reino contra o agressor. A informação não era verdadeira, mas foi com base nela que o Prior do Crato foi aclamado rei por uma populaça em alvoroço. Os três governadores que ainda ocupavam o poder assustaram-se com as alterações e fugi-ram para o sul, proclamando a realeza de Fi-lipe II, em Castro Marim, e viabilizando uma invasão que agora tinha o pretexto válido da reposição da ordem e da legalidade.

Num ápice o Duque de Alba submeteu todo o Alentejo até à foz do Sado, enquanto o Mar-quês de Santa Cruz, Don Álvaro de Bazan, fe-chava a barra de Lisboa com uma armada saída de Cádiz. Na capital, D. António preparava-se para combater, mas a desproporção de forças

não lhe permitiu mais do que um assomo de resistência destroçada na ribeira de Alcântara. O candidato português ao trono foi ferido e viu--se obrigado a fugir para o norte, onde perma-neceu homiziado e perseguido até conseguir embarcar para França, em Junho de 1581.

A entrada de Filipe II em Portugal continen-tal não ofereceu outras dificuldades, mas nos Açores a situação não se afigurou tão fácil. E as ilhas tinham uma importância estratégica fun-

damental, porque por ali passavam as armadas vindas do México e das Antilhas, bem como as naus da Índia e do Brasil. Além do mais, as populações da Ilha Terceira não aceitaram a soberania de Filipe e declararam-se fiéis a D. António Prior do Crato, no que foram segui-das por todas as do grupo central e ocidental. Só S. Miguel e Santa Maria aclamaram o rei castelhano. O novo poder de Lisboa e Madrid tentou tratar do assunto com pinças, sem afron-tar directamente as pessoas, mas a resistência terceirense obrigou a medidas mais duras.

Em 1581 organizou-se a primeira armada para submissão da ilha Terceira, comandada por Don Lopo Figueiroa, mas seguindo ante-cipadamente Don Pedro Valdez, com 8 naus, duas caravelas e outros navios miúdos. Levava a recomendação para que apenas intimasse a rendição da ilha, sem outras medidas de guerra antes da chegada do resto da esquadra. Mas a ânsia de um sucesso antecipado precipitou-o para uma batalha desastrosa com pormenores curiosos. Os castelhanos desembarcaram cerca de seiscentos homens na baía da Salga, a leste de Angra, deparando-se com uma resistência

que não esperavam. Pensaram em retirar de for-ma ordenada, quando as populações resolve-ram largar e acossar sobre eles uma manada de touros bravos, tocados à retaguarda com ímpeto e seguidos pelos homens ao assalto. Os espa-nhóis entraram em pânico e a aventura resultou num desastre total, não havendo notícia de que algum tenha escapado com vida. O touro bravo permanece hoje, na ilha Terceira, como sím-bolo da liberdade das gentes com monumento

próprio na baía da Salga.A resistência nos Açores foi encorajado-

ra para os partidários de D. António e deu--lhes condições para obter apoios inter-nacionais para a sua causa. Em Inglaterra chegou a estar preparada uma expedição, com a colaboração de Hawkins e Drake, mas a rainha Isabel I inviabilizou-a por te-mer o confronto directo com Filipe II. Foi em França que o projecto ganhou melhor consistência, devido à acção diplomática do Conde do Vimioso, D. Francisco de Portugal, junto de Henrique III e, sobretu-do, da rainha-mãe, Catarina de Médicis. Conseguiu-se a organização de uma ex-pedição, comandada por Filippo Strozzi, que deveria retomar a soberania de D. António nas ilhas de S. Miguel e Santa Maria, e tomar a armada das Índias com todas as suas riquezas. Ao seu encontro foi enviada uma força naval comandada pelo hábil Marquês de Santa Cruz, que deveria impor-se contra estes intentos. Dispunha de 31 naus e galeões (entre os quais os portugueses S. Martinho e S. Mateus) e,

sobretudo, estava mais bem comandada e ma-nobrava com maior agilidade e destreza. Os lu-so-franceses tinham mais embarcações miúdas, mas isso não lhes dava vantagem, desde que Santa Cruz os atraísse para o largo, como acon-teceu. As armadas defrontaram-se em frente de Vila Franca do Campo, no dia 26 de Julho de 1582, com uma derrota total dos luso-franceses. Perderam a vida neste confronto mais de 2500 homens, portugueses, castelhanos e franceses, entre os quais o próprio Strozzi e o condestável D. Francisco de Portugal. D. António Prior do Crato ainda conseguiu outros apoios em Fran-ça, levando mais soldados para a Terceira, mas o domínio do mar era de Don Álvaro de Bazan e a resistência da ilha soçobrava em Julho de 1583. Caía assim o último bastião fiel ao Prior do Crato e finava-se a gloriosa dinastia de Avis.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

(5)

A MORTE DO CARDEAL REI E O EPÍLOGO DA DINASTIA DE AVIS

A MORTE DO CARDEAL REI E O EPÍLOGO DA DINASTIA DE AVIS

D. António Prior do Crato. Angra do Heroísmo.

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 13

CENTENÁRIO DOS SUBMARINOS EM PORTUGALCERIMÓNIA COMEMORATIVA

D ecorreu no dia 15 de abril, nas instalações da Esquadrilha de Submarinos, a cerimónia mili-

tar comemorativa do cen-tenário dos submarinos em Portugal, presidida pelo Chefe do Estado--Maior da Armada, ALM Saldanha Lopes, acompa-nhado pelo Comandante Naval, VALM Monteiro Montenegro e pelo Co-mandante da Flotilha, CMG Silvestre Correia.

A cerimónia contou com a presença de numerosos oficiais generais, do pre-sidente do conselho de Administração do AA SA e de ex-comandantes da Esquadrilha de Submari-nos e de submarinos.

Após a chegada do ALM CEMA, seguiu-se a assi-natura do livro de honra onde deixou a seguinte mensagem:

“É com enorme hon-ra que, como Chefe do Estado-Maior da Armada, deixo neste livro o tes-temunho do meu apreço pelos feitos realizados pela Esquadrilha de Sub-marinos, que hoje cele-bra o seu 100º aniversá-rio pela entrega em Itália do primeiro submarino a Portugal.

O espírito submarinis-ta construído e vivido ao longo destes 100 anos, ex-pressa bem a dedicação, espírito de sacrifício e a competência desenvolvida em todos os que serviram a Marinha nestes navios que operaram e operam nas 5 Esquadrilhas.

Votos de continuação do mesmo espírito sub-marinista e dos sucessos dos meios da capacidade submarina em Portugal.” procedeu-se à imposi-ção de condecorações a quatro submarinistas de entre oficiais, sargentos e praças.

Seguiu-se uma alocução do coman-dante da Esquadrilha de Submarinos, CFR Silva Gouveia, da qual se destaca:

“… São cem anos de operação inin-

terrupta com submarinos e, mais do que um tributo aos dezasseis navios e cinco Esquadrilhas que tão bem ser-

viram Portugal, celebramos também hoje as gerações de homens que ao longo de cem anos enfrentaram peri-gos e desconfortos, condições de vida de elevada dificuldade mas sempre a trabalharem com elevado profissio-

nalismo e paixão. Esperam-se mais 30 anos de operação com os subma-rinos da classe Tridente o que tendo

em conta a volatilidade e incertezas das relações internacionais, constituem um seguro para a sobe-rania de Portugal, seja ela no pequeno territó-rio emerso ou no imenso território imerso. … Que encontrem sempre águas safas por baixo da quilha e acima da torre, para que possam continuar a ter aquele sentimento único que só os submarinistas entendem quando dizem: “Ar a todos vamos para cima”…”

Encerrou o VALM COM-NAV proferindo uma alo-cução da qual releva:

“…Submarinistas de hoje,Tendes o raro privilégio

de dispor de navios novos, de incomensurável valia e capacidade. Mas com o privilégio vem também o dever. Sois os lídimos con-tinuadores de gerações de profissionais que vos trou-xeram até aqui, numa sin-gradura longa de 100 anos, plena de sucessos. Saibam evitar os escolhos, manter rumos safos e continuar a cultivar a solidariedade, a disciplina e o respeito, honrando os que vos ante-cederam e dando o exem-plo aos que vos seguirão. Tenho o máximo respeito por todos quantos têm o mar por seu mister, sejam eles civis ou militares, des-de o humilde pescador ao poderoso comandante do porta-aviões, mas, como marinheiro que me orgu-lho de ser, digo-o de forma sentida, é aos submarinis-tas que dedico a minha maior consideração…”

A cerimónia terminou com um espumante de

honra que contou com a atuação do grupo Dixie da Banda da Armada.

M. Silva GouveiaCFR

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA14

A condição militar foi objeto de uma Lei1 em 1989, que estabeleceu as bases gerais em que assentam o

exercício dos direitos e o cumprimento dos deveres por parte dos militares dos quadros permanentes das Forças Armadas, em qual-quer situação. Aplica-se aos outros militares, enquanto na efetividade do serviço, e, igual-mente, aos militares da GNR.

A análise das disposições desta Lei permite contribuir para o esclarecimento de alguns equívocos que foram criando raízes no âm-bito civil e até no seio dos militares.

Existem, pelo menos, duas razões princi-pais para esta necessidade de clarificação. Em primeiro lugar, não se cuidou de estabe-lecer princípios gerais nos primeiros artigos que explicassem o enquadramento desta im-portante legislação para os militares, o que não deixa de ser surpreen-dente. Em segundo lugar, verifica-se que a quase totalidade das disposições não são transparentes, isto é, não indicam com rigor os direitos que a própria Lei pretende garantir.

Vejamos então os pre-ceitos mais salientes que a citada Lei encerra:

Artigo 2.º A condição militar carac-teriza-se:

a) Pela subordinação ao interesse nacional;

b) Pela permanente dis-ponibilidade para lutar em defesa da Pátria, se necessário com o sacrifício da própria vida;

c) Pela sujeição aos riscos inerentes ao cumprimento das missões militares, bem como à formação, instrução e treino que as mesmas exigem, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra;

d) Pela subordinação à hierarquia mili-tar, nos termos da lei;

e) Pela aplicação de um regime discipli-nar próprio;

f) Pela permanente disponibilidade para o serviço, ainda que com sacrifício dos in-teresses pessoais;

g) Pela restrição, constitucionalmente prevista, do exercício de alguns direitos e liberdades;

h) Pela adoção, em todas as situações, de uma conduta conforme com a ética mili-tar, por forma a contribuir para o prestígio e valorização moral das forças armadas;

i) Pela consagração de especiais direitos, compensações e regalias, designadamente nos campos da segurança social, assistên-cia, remunerações, cobertura de riscos, carreira e formação.

Artigo 15.º1- Atendendo à natureza e características

da respetiva condição, são devidos aos mili-tares, de acordo com as diferentes formas de prestação de serviço, os benefícios e regalias fixados na lei.

2- É garantido aos militares e suas famílias, de acordo com as condições legalmente estabelecidas, um sistema de assistência e proteção, abrangendo, designadamente, pensões de reforma, de sobrevivência e de preço de sangue e subsídio de invalidez e outras formas de segurança, incluindo assis-tência sanitária e apoio social.

Atenta a letra da lei, o maior equívoco e, talvez, o mais generalizado, é considerar-se que os militares têm um conjunto de privilé-gios relativamente aos funcionários públicos

e aos trabalhadores das empresas públicas.De facto, os militares têm um estatu-

to próprio, diferente dos não militares, apesar de serem igualmente servidores do Estado. Quando se referem os “bene-fícios e regalias” dos militares, seria mais apropriado designar “contrapartidas” ou “compensações”, porque é disso que efe-tivamente se trata. A Lei, apenas na alínea i) do Art.º 2º refere “compensações”, sem explicar minimamente porquê.

No Art.º 2º, alíneas a) a h), lista-se o conjunto de deveres que justificam os “especiais direitos”, mencionados generi-camente e apenas na alínea i). Porém, tais deveres, também referidos no Art.º 1.º (não transcrito), não são apelidados de “espe-ciais deveres”, o que seria mais adequado, em paralelo com os “especiais direitos”.

Na minha perspetiva, o equívoco surge porque se pode entender que os militares ficam favorecidos com as regalias atribuí-das, quando a análise rigorosa mostra que, quando muito, se atenua a exigência e penosidade da vida militar, com algumas contrapartidas compensatórias.

Claro que são evidenciados os valores militares e as situações que podem exigir o sacrifício da própria vida. Todavia, não é menos verdade que nas guerras morrem civis e militares indiscriminadamente, independentemente das missões comba-tentes. A diferença é que os militares se comprometem a fazê-lo e não podem fu-gir às responsabilidades, mesmo em tem-po de paz. Perante o perigo e no contexto de ordens legítimas, o militar é obrigado a enfrentar os riscos, mesmo que as pro-babilidades de escapar com vida sejam diminutas.

Afastando as situações excecionais, precisamos de uma linguagem simples e direta para abordar os principais deveres e restrições que fazem a diferença entre militares e não militares, dentro da norma-

lidade da paz ou no qua-dro da preparação para qualquer eventualidade.

Como se exprimem, em termos simples, es-ses “especiais deveres”? São muitos e variados. A exemplificação que se segue pretende eviden-ciar alguns dos mais es-pecíficos, sem cuidar de qualquer ordem.

Prontidão para o serviço

Os militares podem ser chamados a comparecer num local de serviço, a qualquer hora do dia ou

da noite, em qualquer dia da semana. Os compromissos eventualmente assumidos com terceiros e os interesses pessoais são irrelevantes. As licenças podem ou não ser concedidas, em função das neces-sidades de serviço, incluindo a licença diária, quando aplicável. Por exemplo, a licença por falecimento de um familiar próximo será normalmente concedida, mas se o militar estiver em missão longín-qua ou a navegar, não será possível obter tal licença.

Ética militarNa maioria das profissões um indiví-

duo pode ser um excelente profissional, mas ter uma vida privada com compor-tamentos desviantes ou pouco aceitáveis. Isso não é permitido aos militares. Os comportamentos inadequados, mesmo respeitando à sua vida privada, podem ser sujeitos a sanções disciplinares, con-soante as normas que forem infringidas. A pena pode chegar à passagem à reserva ou à reforma de modo compulsivo.

OS EQUÍVOCOS DA CONDIÇÃO MILITAR

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 15

Por outro lado, os militares dos qua-dros permanentes prestam serviço em dedicação exclusiva. O exercício de quaisquer funções fora da vida militar, mesmo não remuneradas, exige uma au-torização específica, que só é concedida sem prejuízo para o serviço e desde que a atividade não seja incompatível com as obrigações militares.

Por exemplo, as funções docentes po-derão ser normalmente autorizadas, mas nada garante ao militar que não seja mo-vimentado a todo o tempo para uma uni-dade que torne impeditivas tais funções.

Inexistência do conceito de horas extraordinárias

Os militares não recebem horas ex-traordinárias em caso algum, nem de-pendem obrigatoriamente de um horário de trabalho. A formação, o treino e as missões operacionais exigem permanên-cias no serviço muito pro-longadas. As comissões de serviço no ex-ultramar ou hoje em países ou mares remotos, são o exemplo mais gritante.

Estas comissões podem implicar um acréscimo remuneratório, decorrente do risco ou da penosida-de, mas nunca correspon-dem a horas extra. Mas, mesmo nas situações de maior rotina, praticamen-te todos os militares são obrigados a permanecer em atividade, muito para além das chamadas horas normais de serviço. Trata--se dos serviços de escala que obrigam ao desem-penho de tarefas de segurança, manu-tenção e outras que sejam necessárias, durante 24 horas seguidas, pelo menos. Há escalas mais folgadas e outras muito apertadas. É vulgar, a bordo dos navios, ficar de serviço de 3 em 3 ou 4 em 4 dias.

Todos sabemos que os oficiais dos pos-tos mais elevados deixam de pertencer às escalas de serviço. Contudo, duma forma geral, são absorvidos pelas ne-cessidades do serviço longas horas para além do normal e muitas vezes aos fins de semana.

Unidade militar preferidaOs militares são atribuídos a unidades

militares, no país, no estrangeiro ou em trânsito e mudam de unidade com algu-ma frequência, de acordo com regras que são independentes das suas prefe-rências. Quer isto dizer que o militar vai para onde for necessário e quando opor-tuno, não sendo atendíveis quaisquer ra-zões de inconvenientes pessoais.

Em certas condições, pode haver di-reito a um suplemento por deslocação, mas não pode haver recusa. Os militares podem normalmente declarar unidades de preferência ou voluntariarem-se para prestar serviço numa determinada uni-dade ou localidade. Mas, essa opção, se existir, resulta geralmente em perda de compensação para o declarante, se for atendida.

Quantos militares estão hoje longe dos seus lares e lá vão permanecer muitos meses? Quantas famílias de militares vi-vem frequentemente em separação física prolongada?

Riscos inerentes à profissão São muitas as situações que exigem

coragem física e moral dos militares, nomeadamente o manuseamento de substâncias perigosas, armas e explosi-vos. Mesmo em tempo de paz, não são

raros os acidentes, face aos riscos envol-vidos. Se, por vezes, existe falha huma-na, outras vezes as falhas são materiais ou imprevisíveis, como sucede com as aeronaves militares, de vez em quando.

Em todo o mundo sucedem acidentes ou incidentes com militares e material militar, não sendo de excluir os enganos que conduzem a ataques às unidades amigas ou aliadas (na gíria militar inter-nacional “blue on blue”).

Respeito pela hierarquia e dever de obediência

A organização militar baseia-se na su-bordinação hierárquica. Dir-se-á que a subordinação hierárquica existe na maioria das organizações não militares e é verdade. Só que, a hierarquia militar é um valor cultivado e muito mais exi-gente.

As ordens legítimas não podem ser dis-cutidas e um chefe tem que ser respei-tado no serviço e fora dele. A eventual recusa de cumprimento de uma ordem

constitui um crime grave com sérias consequências. Não são admitidas des-culpas ou manobras dilatórias.

A hierarquia militar permanece em par-te para além do tempo de serviço e da unidade militar. Um subordinado deve ter uma atitude respeitosa para com um superior em qualquer lugar e em qual-quer momento, desde que esteja na efe-tividade do serviço.

Uso de farda e aprumo pessoalOs militares usam obrigatoriamente

farda nos atos de serviço e podem usá--la em todas as ocasiões, com raras ex-ceções. A farda não pode ser usada de qualquer maneira. Tem que estar nas devidas condições. Há regras a cumprir relativas a higiene pessoal, barba, cabe-lo, unhas, etc.

Quando fardado, o militar obriga-se a um determinado comportamento cívico,

compatível com a atitude que a farda merece.

As fardas, embora obri-gatórias, não são gratuitas. Salvo os artigos de farda-mento que fazem parte do equipamento militar, as fardas são pagas pelos mi-litares, havendo contudo uma comparticipação que varia consoante o tipo de farda. Posso afirmar que uma andaina completa de fardas para um oficial ge-neral, com razoável dupli-cação, custa ao bolso do próprio bem mais do que mil euros.

Aceitando que haja um custo para o militar para evi-tar abusos, afigura-se exage-

rado o valor que é necessário desembolsar para se andar bem uniformizado.

Aptidão física e saúdePara ser militar é necessário ter aptidão

física verificada através de provas especí-ficas e exames médicos. A aptidão física e o estado de saúde estão enquadrados nos regulamentos militares. Os militares são avaliados regularmente nestes parâ-metros e até para serem promovidos são presentes a juntas de saúde ou a médicos que certificam a sua aptidão. A perda de determinadas capacidades físicas pode significar o fim da carreira militar ou o seu condicionamento, por exemplo em termos de promoções.

Em termos práticos não será exagerado afirmar que os militares têm o dever de cuidar da sua forma física e não podem recusar observações médicas ou mesmo alguns tratamentos, sem cometerem in-frações disciplinares. Duma forma geral, perdem o direito ao sigilo sobre o seu es-tado de saúde.

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA16

Limitações ao exercício de direitos de cidadania

Deixou-se propositadamente para o fim da lista (não exaustiva) a restrição imposta aos militares no plano dos direi-tos e liberdades constitucionais. Como é sabido, os militares não podem consti-tuir sindicatos, não podem fazer greves, são obrigados a um rigoroso apartidaris-mo político e têm fortes limitações quan-to a direitos de reunião e associação.

A disciplina militar não permite mani-festações coletivas de qualquer tipo e, duma forma geral, protestos organizados.

Estas limitações ou proibições são, para muitos, só por si, justificações para um conjunto alargado de contrapartidas.

Feita uma breve exposição de alguns dos deveres mais significativos dos mili-tares, numa linguagem que todos perce-bem, voltemos à questão dos equívocos.

A descrição feita, embora in-completa, deixa transparecer que são poucos os especiais direitos para os muitos deve-res específicos dos militares. Revela-se assim outro grande equívoco que é o equilíbrio entre direitos e deveres. Na realidade, os especiais direi-tos não podem ser conside-rados exagerados, antes pelo contrário. O militar sabe dis-so e aceita esta situação que é inerente à sua condição, mas não pode aceitar que o con-siderem privilegiado, porque isso constitui uma gritante in-justiça e equivale a desprezo por uma atitude digna.

Registe-se ainda que este tipo de problemas tem um tratamento semelhante em todos os paí-ses da esfera ocidental. Os deveres mili-tares são muito semelhantes no quadro da matriz civilizacional em que Portu-gal se insere. Em termos de especiais direitos há menos uniformidade, mas de modo algum o nosso país se mostra mais generoso para com os militares do que os países que servem de referência habitual.

Analisemos agora alguns equívocos mais específicos.

Quando a lei diz que aos militares e suas famílias é garantido um sistema de assistência e proteção, que inclui assis-tência sanitária e apoio social, como se deve interpretar?

Na minha ótica só pode haver um critério. No âmbito dos servidores do Estado, este sistema de assistência e proteção deve ser mais favorável para os militares e suas famílias do que para

quaisquer outros servidores. Se for igual ou inferior, não poderá constituir com-pensação de especiais deveres.

Parece-me assim menos aceitável que os militares descontem para um sistema de apoio social que, por direito, deve-ria ser gratuito ou muito próximo disso. De acordo com a lei, tem que ser menos oneroso para os próprios do que para os não militares. Caso contrário, os mili-tares ficam equiparados à generalidade dos funcionários, que têm um sistema em tudo semelhante, como atualmente se verifica.

Outro equívoco importante prende-se especificamente com a assistência mé-dica e medicamentosa. O comum dos cidadãos tem direito ao Serviço Nacio-nal de Saúde. Os funcionários públicos e outros grupos profissionais beneficiam de um conjunto apreciável de benefícios neste aspeto. Uma vez que os militares

são os únicos com deveres permanentes de aptidão física durante toda a carrei-ra, para além do conjunto alargado de especiais deveres, qual a compensação que se justifica?

Não seria exagerado que tivessem assistência médica e medicamentosa gratuita, como é habitual em países em tudo comparáveis. Mesmo em relação às famílias, é a lei que promete benefí-cios (n.º 2 do Artigo 15.º), pelo que tal disposição deve ter uma expressão con-creta, por comparação com outros servi-dores do Estado.

Esta linha de pensamento poderia igualmente aplicar-se às remunerações, já que a lei também as refere, conforme a alínea i) do Artigo 2.º, antes transcrito. De facto, existe o chamado suplemen-to da condição militar que corresponde praticamente a 20% do vencimento do respetivo posto. Para todos os efeitos corresponde a uma remuneração, su-jeita a descontos e impostos. As com-parações de vencimentos com outras

profissões não fazem, em regra, esta importante distinção, mas se o fizessem, ver-se-ia que os militares só surgem em nível semelhante aos respetivos grupos de referência porque se adiciona este suplemento, o que não lhe confere na-tureza compensatória. Porém, dada a complexidade da matéria, será prefe-rível não a abordar neste texto, com o devido pormenor.

Do que antecede, podemos equacio-nar uma regra fundamental. As compen-sações resultantes das restrições que a condição militar impõe não podem ser simplesmente reconhecidas nos direitos aplicáveis aos militares, mas apenas no acréscimo de direitos relativamente aos cidadãos não militares. A questão cru-cial reside portanto na definição rigoro-sa desse incremento diferenciador com o melhor sentido de equidade e justiça.

Parece ainda útil focar um último equívoco, sendo este de na-tureza diferente. Estão ou não equivocados os que julgam correto modelar os militares segundo os parâmetros civis?

O problema é que à medi-da que forem retirados direi-tos compensatórios, assim se agrava o desequilíbrio entre direitos e deveres, em contra-ponto com o que a sensatez aconselha, para além do afas-tamento dos preceitos legais. Por cada especial direito cor-tado é um pouco da condi-ção militar que se extingue.

O moral dos militares pode ficar abalado, já que os de-veres surgem como manifes-tamente desproporcionados. A carreira militar, sem in-centivos, tende a sofrer com

o abandono dos melhores logo que o possam fazer e a produzir fraca atra-ção para a renovação dos quadros. Pior ainda, abre-se caminho para a corrosão dos valores militares, porque não são devidamente reconhecidos. O entendi-mento da disciplina pode resvalar para as aparências, tornando-se frágil quan-do as dificuldades exigirem maiores sa-crifícios.

Vivemos um tempo de reformas ao ní-vel do Estado. Não seria despropositado clarificar a condição militar, aplicando com total transparência a regra funda-mental já referida.

Assunto para meditar.

V. Lopo CajarabilleVALM

Notas 1Lei n.º 11/89, de 1 de junho.

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 17

Dia da Marinha 2013A festa anual do Dia da Marinha teve

lugar este ano na cidade do Barreiro, cumprindo-se uma tradição que leva os

marinheiros para fora da Base Naval e das insta-lações militares, para festejarem este dia no mais estreito convívio com o povo português. É um desígnio consignado numa lei de 1936, ao insti-tuir o Dia da Marinha com estas características, mas que temos interiorizado da melhor forma, com a consciência de que a nossa missão e as nossas tarefas resultam desta ligação estreita com as gentes desta nossa Pátria que nos contempla. Fazê-lo na cidade do Barreiro, repetindo o con-vívio que já tinha ocorrido em 1997, é homena-gear uma população de onde já saíram muitos marinheiros, mas, sobretudo, onde hoje vive uma parte significativa dos militares da Armada, onde formaram a sua família, criam os seus filhos e partilham o dia-a-dia com uma sociedade civil que os acolhe e os reconhece como seus. O Bar-reiro é, além de tudo o mais, um local de estreita e secular relação com a Marinha e com o mar, com um papel definido no complexo sistema humano do estuário do Tejo, que viabilizou a gesta dos Descobrimentos e da Expansão, como permitiu a continuação mais recente do porto de Lisboa como grande porto comercial.

Diz-se que Lisboa é uma dádiva do Tejo, e é verdade. Mas este Tejo que criou a capital é muito mais do que um simples curso de água, a correr para o mar e a banhar as praias onde se debruçam as sete colinas míticas da cidade. A grandeza de Lisboa é obra das gentes que soube-ram construir a metrópole virada para o mundo, de onde saíam e chegavam constantemente na-vios que alcançaram o Brasil, a Índia e o Extremo Oriente. E esta empresa, que se fez a partir de um porto, num país que se cumpriu no mar, deve muito a este estuário amplo e abrigado, mas so-bretudo a um sistema humano produtivo, com-plexo e diversificado, que a sustentou. Dele fa-zem parte os artesãos da cidade, os homens dos estaleiros e aprestos, as tabernas e os albergues, mas também todos aqueles que produziram os abastecimentos aos navios e às populações do espaço citadino. Ao sal, o biscoito, o azeite e os vinhos que embarcaram para o Oriente ou para o Norte da Europa juntam-se os legumes, as fru-tas, o pescado ou a farinha com que se alimenta-va diariamente a capital.

O Tejo de que falo é este fervilhar constante de velas, pequenas e grandes, transportando

mercadorias, ou dedicando-se à pesca, nos es-teiros interiores ou na barra. E dele fazem parte também as populações ribeirinhas que se dedi-cam à agricultura ou trabalham nas dezenas de estaleiros que encheram os esteiros de ambas as margens, em locais protegidos das intempéries e das incursões de flibusteiros. É um espaço de gentes que integram um vasto e complexo siste-ma produtivo virado para a capital, espalhadas pelas múltiplas especificidades geográficas que rodeiam o estuário, organizado em intimida-des municipais ou paroquiais e unidas por este magnífico rio que, até há bem pouco tempo, era um formigueiro de faluas, botes, canoas e fragatas, movimentando-se incessantemente ao ritmo dos ventos e das marés, desde a ribeira de Santarém até à foz.

A margem sul tem um lugar de destaque no sistema de que tenho vindo a falar; e particu-larmente o Barreiro, ou o que é hoje o seu mu-nicípio, incluindo todo o vale do esteiro e do rio Coina até Vale de Zebro e Palhais. É bem sabido como as actuais instalações da Escola de Fuzileiros contêm o que resta dos antigos fornos de biscoito para abastecimento das naus – os fornos de el-rei –, associados a um moinho de maré, cuja caldeira coincide com a emblemá-tica pista de lodo, estendendo-se para leste nos terrenos que foram aterrados para construir a parada actual. Aliás, a jusante, no mesmo rio, numa e noutra margem, funcionaram até ao século XIX importantes estaleiros da Marinha, nos lugares da Telha e da Azinheira, no local onde até há pouco tempo funcionou a seca do bacalhau da Parceria Geral de Pescarias. Diz uma história mal documentada que os navios da armada de Vasco da Gama, de 1497, ali foram construídos e que el-rei D. Manuel as-sistiu ao seu baptismo, junto da antiga capela de Santo André, hoje parcialmente destruída. Testemunhos directos garantiam que o registo deste evento estava gravado numa lápide desa-parecida que existia à entrada dessa mesma ca-pela. É difícil comprovar com rigor que as naus S. Gabriel e S. Rafael ali foram construídas, mas a memória destes factos (mitificada ou não) revela a importância da construção naval nos esteiros da margem sul do Tejo, que remontam ao reinado de D. Diniz. É bem provável que, como acontece ainda hoje, os cascos fossem construídos num estaleiro, como a Ribeira de Lisboa, mas os trabalhos se prolongassem por

Dia da Marinha 2013

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA18

muitos outros, como a Telha e a Azinheira, até ao momento da armação final e do baptismo.

No século XIX, o mesmo país que protagoni-zara a Expansão quinhentista entrava na era in-dustrial. O momento da Índia e do Brasil tinha passado e Portugal preparava-se para novos desafios. Impunha-se alcançar as revoluções industriais europeias e um dos passos mais im-portantes desse rumo foi a construção da linha de caminho-de-ferro que ligava Lisboa ao sul. Com ela veio a progressiva industrialização, que, no Barreiro, começou com as corticeiras mas cresceu, no princípio do século XX, com a instalação da CUF e do imenso complexo fabril que se lhe seguiu. Do Barreiro desapa-reciam as vinhas e os estaleiros artesanais de construção em madeira, dando lugar à cida-de industrial que até nós chegou. As praias e os pequenos pontões foram substituídos por imensos cais de carga, ao terminal ferroviário e à estação fluvial. Mudavam-se os tempos, mas ficava a estrutura do Tejo, agora com outras mercadorias e outros meios de transporte, mas mantendo-se como sistema humano produtivo associado ao grande porto de Lisboa.

No Barreiro nasceu Álvaro Velho, o homem que embarcou na armada de Vasco da Gama e que nos deixou o único relato conhecido do que ocorreu desde a partida, em 8 de Julho de 1497, até que os navios alcançaram a costa da Guiné, já no regresso. É nesse texto que pode-mos ler como em 20 de Maio de 1498, sendo domingo, os navios fundearam em frente de Calecut e de terra vieram embarcações com gente, para saber quem eram aqueles foras-teiros [portugueses] e ao que vinham. Estabe-lecia-se o primeiro contacto humano com a Índia das especiarias, e é essa a data que todos os anos comemoramos na festa do Dia da Ma-rinha. A escolha da cidade do Barreiro para o fazer em 2013 é, portanto, uma homenagem a Álvaro Velho e a todos os artesãos dos esta-leiros da Telha, aos arrais e patrões das embar-cações de pesca e de transporte, mas também aos tempos modernos da indústria, do cami-nho-de-ferro e da estação fluvial, elementos da cidade do Tejo em relação com o mundo.

AS COMEMORAÇÕES DO DIA DA MARINHA

A Câmara Municipal do Barreiro associou-se e apoiou de forma activa as comemorações do Dia da Marinha, bem visível na participação do seu presidente e da vereação nos sucessi-

vos actos públicos, mas também pela presen-ça das representações partidárias com assento na Assembleia Municipal nos eventos mais significativos. E a abertura oficial teve lugar na inauguração da Exposição de Actividades da Marinha, levada a cabo no dia 17 de Maio pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Al-mirante Saldanha Lopes, acompanhado pelo Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Carlos Humberto de Carvalho.

À semelhança dos anos anteriores a exposição tinha dois pólos distintos, um deles no átrio do Auditório Municipal Augusto Cabrita e outro no exterior, no Parque da Cidade do Barreiro. A parte apresentada no interior do edifício foi coor-denada e preparada pela Comissão Cultural da Marinha e constava de pequenos núcleos que procuravam explicar alguns dos aspectos mais significativos da actividade sectorial da Marinha Portuguesa, como o Instituto Hidrográfico, o Co-mando Naval, a Direcção-Geral da Autoridade Marítima, a própria Comissão Cultural, a Escola Naval, a Superintendência dos Serviços de Tec-nologias da Informação e a Escola de Tecnolo-gias Navais. Realço, pela relevância que tem tido, a actividade de investigação que decorre dentro da Marinha, seja ela através do Instituto Hidrográfico, do Centro de Investigação Naval (CINAV) e Escola Naval ou da Escola de Tecno-logias Navais (ETNA). Mas mereceram especial atenção dos visitantes, o modelo do submarino Tridente, sobretudo aquele que apresentava o navio em corte de forma a permitir uma melhor compreensão da organização de bordo, o simu-lador de navegação do CITAN e o simulador de voo da Esquadrilha de Helicópteros.

No Parque da Cidade do Barreiro as activi-dades ao ar livre foram coordenadas pelo Co-mando Naval, mas envolviam um conjunto de meios e equipamentos pertencentes ao CCF, à Esquadrilha de Submarinos, à Direcção-Geral da Autoridade Marítima e ao Instituto de Socorros a Náufragos. Este sector expositivo merece sempre a simpatia das populações, e especialmente da juventude que se sente atraída para as activida-des tidas como radicais, aqui propostas pelos fuzileiros e pelos mergulhadores. Os baptismos de mergulho são sempre muito populares, mas o ensaio de escalada, em torre vertical própria, e a prática de air-soft e laser-tag em tenda pró-pria também recolheram a simpatia de muitos jovens. Visitaram este núcleo da exposição cerca de 3500 pessoas, das quais 392 fizeram o seu baptismo de mergulho e 311 experimentaram a torre de escalada.

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Durante a semana de 17 a 26 de Maio, a Base Naval (BNL) esteve aberta ao público, sendo possível visitar diversos navios e efectuar baptismos de mar. A estrela das visitas é sempre a Sagres mas as fragatas novas, das classes Vas-co da Gama e D. Francisco de Almeida, bem como o patrulha oceânico Viana do Castelo e o navio de investigação científica D. Carlos I também mereceram a curiosidade da popula-ção civil que se deslocou à Base Naval, espe-cialmente nos fins-de-semana.

A Marinha promoveu ainda um conjunto de actividades desportivas comemorativas, que ti-veram lugar em diversos locais do país, sempre abertas a clubes e participantes civis, destacan-do as regatas, os torneios de jogos, a prática de caminhada e de orientação, o atletismo e mui-tas outras. Destaco, no presente ano de 2013, a realização de um torneio de tiro desportivo, com modalidades de pistola, coordenado tecni-camente e apoiado pela Federação Portuguesa de Tiro, que o incluiu no seu calendário oficial. Tiveram lugar duas provas destinadas a atletas masculinos e femininos (seniores e juniores), realizadas na Carreira de Tiro do CEFA, com arbitragem oficial e contando para o ranking nacional das disciplinas realizadas.

OS CONCERTOS DA BANDADe entre os momentos mais empolgantes das

comemorações do Dia da Marinha, contam-se sempre os concertos da Banda da Armada, e o ano de 2013 não foi excepção a esta regra, no sucesso obtido em dois concertos sucessivos, um deles destinado a todo o público do Bar-reiro, realizado na praça contígua ao mercado 1º de Maio, na sexta-feira 24 de Maio, pelas 22h00. Assistiram o almirante CEMA, acompa-nhado pelo Presidente da Câmara do Barreiro e de muitos outros convidados. A Banda da Ar-mada foi dirigida pelo 1TEN MUS Peixoto Ve-loso, interpretando um conjunto de peças num programa ligeiro, desfrutado por algumas cente-nas de pessoas. A noite era de primavera, mas o vento norte refrescou um pouco, pondo à prova os mais desprevenidos que se fiaram no calor da tarde. Apesar de tudo a assistência manteve-se compacta e aplaudiu a nossa banda que contou com a colaboração da Fanfarra da Armada.

O concerto oficial do Dia da Marinha teria lugar no sábado, dia 25 de Maio, no Auditó-rio Municipal Augusto Cabrita, pelas 22h00. Como na maioria das celebrações, o Almiran-te Saldanha Lopes assistiu ao espectáculo na

companhia do Presidente da Câmara Muni-cipal, agora acompanhado por membros da vereação, de delegações partidárias represen-tadas na Assembleia Municipal e outros con-vidados civis e militares. A Banda da Armada foi dirigida pelo Maestro 1TEN MUS Délio Gonçalves, abrindo o espectáculo com dois andamentos do poema sinfónico “Festas Ro-manas” (Feste Romane), do compositor italia-no Ottorino Respighi. Seguiu-se “Saxtory”, do compositor francês Jerôme Naulais, fechando a primeira parte com “Expedition” do espanhol Óscar Navarro. Merece referência a coragem artística do maestro, ao trazer para a ribalta da cena quatro saxofonistas da banda, na in-terpretação de “Saxtory”. A actuação dos sa-xofones é como uma conversa entre irmãos, brilhantemente interpretada pelos saxofone so-prano do CAB B João Nunes, saxofone alto do 2SAR B Hélder Alves, saxofone tenor do CAB B Agostinho Lourinho e saxofone barítono do 1MAR B Roberto Gonçalves. Não é a primeira vez que o 1TEN Délio Gonçalves nos permite apreciar a qualidade de alguns solistas da Ban-da da Armada e este foi mais um momento que resultou em grande sucesso.

Na segunda parte iríamos assistir a um con-certo diferente. Abriu com a “Rapsódia em Fado”, do compositor português Joaquim Luís Gomes, a que se seguiu um programa em que colaborou o extraordinário compositor cantor e fadista barreirense Jorge Fernando. A sua voz é inconfundível e conhecida da maioria das pessoas, mas o concerto com a banda permi-tiu-nos, além do mais, apreciar a qualidade do compositor e o seu talento, mostrando-nos como o fado não tem de se submeter aos di-tames de um casticismo redutor, podendo ar-ticular-se num espectáculo desta natureza, que certamente ficará na memória de todos como um dos melhores concertos oficiais do Dia da Marinha. Alturas houve em que a emoção to-lheu o aplauso, e as primeiras palmas parece-ram quase uma profanação do deleite em que os artistas nos transportaram. A voz exótica de Fábia Rebordão fez subir mais ainda o padrão artístico do concerto, que contou com a cola-boração do guitarrista Guilherme Banza e de Beatrix Schmidt na harpa. Uma nota de realce para este último instrumento, cujo som é o que de mais sugestivo conheço do marulhar das águas. A colaboração da harpa com a nossa banda (não sendo inédita) evidencia a presença do oceano nas obras interpretadas, dando-lhes o indispensável sabor de água salgada.

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O DIA 26 DE MAIO

A festa do Dia da Marinha 2013 culminava no dia 26 de Maio, com a cerimónia militar, a ter lugar na cidade do Barreiro. Mas o dia começaria com a celebração da missa em sufrágio dos militares, militarizados e civis da Marinha, celebrada por Sua Eminência o Bis-po de Setúbal, D. Gilberto Canavarro dos Reis, acolitado pelo Capelão-Chefe da Marinha, o padre José Ilídio Costa, e pelo diácono CTEN EN-N Pinto Romano. A celebração teve lugar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, pa-droeira dos pescadores e mareantes do Bar-reiro, contando com a presença da Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, do Chefe do Estado-Maior da Armada e do Presi-dente da Câmara Municipal do Barreiro.

Cerca das 11h00 começou a cerimónia mi-litar, com a tribuna montada na Avenida Bento Gonçalves, virada para o Mar da Palha e para a cidade de Lisboa, para que pudéssemos desfrutar da radiosa paisagem do Tejo, outrora pejado de embarcações à vela, na azáfama quotidiana que envolveu a capital e o seu porto. Naquela manhã de domingo, a maré estava vazia, descobrindo toda a praia do Barreiro, onde alguns pescadores amadores aproveitavam o tempo para recolha de moluscos bivalves. E, com o desenrolar da ma-nhã, ao longe, pelo canal vieram as embarcações tradicionais do Tejo, que vinham homenagear a Marinha no seu dia de festa. Primeiro de Oeste para Leste, em direcção ao cais da Quimigal e ao Lavradio, depois de regresso a Lisboa, para virarem de bordo, de novo e passarem em frente à tribuna. Simpática homenagem destes aficio-nados do Tejo e melhor cenário não se desejaria para esta comemoração. Apenas o vento refres-cava um pouco, desagradável talvez para quem assistia, mas decerto que moderador das agruras do sol, para quem esteve na formatura.

As forças em parada ocuparam o seu lugar, viradas para sul, sob o comando do CMG Gon-çalves Alexandre. A sua constituição incluiu a Banda e Fanfarra da Armada, um bloco de 18 estandartes nacionais de unidades e organismos da Marinha, com a respectiva escolta de honra feita por um pelotão de cadetes da Escola Naval, a que se seguia uma companhia da Escola Na-val, um batalhão da Escola de Tecnologias Na-vais e dos navios atracados na BNL, o Batalhão de Fuzileiros nº 1 e o Batalhão de Fuzileiros nº 2.

A cerimónia foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, que chegou cerca das 11h30, acompanhado

pela Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Drª Berta Cabral, do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Carlos Hum-berto de Carvalho, e pelo Comandante da Ma-rinha de Guerra de Moçambique, CALM Lopes Menete. Foram recebidos pelo Almirante Salda-nha Lopes, após o que tiveram lugar as honras militares devidas ao Ministro da Defesa, que passou revista às forças em parada. Na tribuna encontravam-se já todos os convidados civis e militares, onde se incluía uma representação da Comissão Parlamentar de Defesa, alguns dos ex-Chefes do Estado-Maior da Armada, e múl-tiplas outras entidades civis e militares.

Deu-se início à cerimónia, com imposição de condecorações a cerca de 15 militares, oficiais, sargentos e praças que se distinguiram no de-sempenho profissional ao serviço da Marinha e do país, após a qual se procedeu à simbólica e significativa homenagem aos militares, militari-zados e civis falecidos que prestaram serviço na Marinha. É sempre um momento comovente em que recordamos os camaradas e amigos de-saparecidos, num minuto de silêncio interrompi-do pela evocação proferida pelo Capelão-Chefe da Marinha e pelo toque de alvorada. De segui-da o Almirante CEMA proferiu uma alocução.

Falou-nos da Marinha, das suas missões e di-ficuldades, e as suas primeiras palavras foram de saudação para os militares, militarizados e civis, “homens e mulheres que diariamente tra-balham, com dedicação e empenho, em prol do País”. Saudou especialmente os que desem-penham as suas tarefas por esse mundo fora, e recordou quem se dedica à “muito nobre mis-são de salvaguarda da vida humana” no mar. E, neste sentido, não deixou de referir o nefasto acidente que ceifou a vida do Agente 1ª Classe QPPM Adriano Ribeiro Martins, durante uma acção de salvamento de náufragos, na Figueira de Foz. A sua morte trágica não se deveu a outro facto que não fosse o “espírito de bem servir”, e aquele impulso incontornável de quem quer sal-var vidas em perigo, que o levou a arriscar a sua, como entendeu ser seu dever e como sempre fez. Foi traído pela sorte e sucumbiu nas altero-sas ondas onde a embarcação em que se deslo-cava se virou. “Lamento profundamente o suce-dido” – afirmou o CEMA – e “recordá-lo-emos como um exemplo de coragem e dedicação.”

Agradeceu ao Ministro da Defesa Nacional a disponibilidade para estar presente na cerimónia e expressou, também, a sua gratidão para com a Câmara Municipal do Barreiro e o seu presi-dente, pela forma como acolheram a Marinha

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na sua festa anual. A ligação do Barreiro ao mar é secular – como teve ocasião de dizer – mas tem uma componente actual de extraordinária importância, que se prende com os inúmeros militares que aqui se estabeleceram, onde criam os seus filhos e onde têm a sua família.

Passou, de seguida, em revista as mais impor-tantes actividades desenvolvidas no passado ano, realçando as missões internacionais como a “Operação Atalanta” (de comando português) e a “Operação Active Endeavour”. Mas acrescen-tou-lhe a Cooperação Técnico-Militar com a Co-munidade de Países de Língua Portuguesa, a pre-servação do ambiente marinho, a segurança da navegação e a colaboração no Sistema Nacional de Busca e Salvamento no Mar. Os serviços hi-drográficos e a investigação científica contam-se também dentro das múltiplas actividades desen-volvidas, a que acresce o exercício da Autorida-de Marítima Nacional, que constitui a garantia de soberania e autoridade do Estado no mar.

“Quem está de fora pode parecer-lhe que a «crise» passou ao lado da Marinha”, que, ape-sar de tudo, conseguiu desempenhar a sua mis-são, reduzindo apenas alguns índices de parti-cipação. Mas – chamou a atenção o Almirante Saldanha Lopes – “não é possível prolongar esta situação por muito mais tempo, pois estamos a navegar e operar no limite”. Prolongar esta situação potencia exponencialmente a proba-bilidade de ocorrência de acidentes “com ma-terial, por ausência de manutenção, e com o pessoal por ausência de treino”. E, dirigindo-se ao Ministro da Defesa Nacional, o Almirante Saldanha Lopes afirmou: “A Marinha cruza os mares há séculos, cumprindo as missões que lhe são atribuídas, com brio, dedicação e espí-rito de bem servir, e assim continuará a fazê-lo enquanto Portugal e os Portugueses o exijam”. E encerrou o seu discurso reafirmando que “Os homens e as mulheres, militares, militari-zados e civis, que orgulhosamente comando, continuarão, na senda dos seus antecessores [...] cumprindo com o lema, que há 150 anos foi instituído e mandado inscrever nos navios, A Pátria Honrae que a Pátria vos contempla.”

De seguida, usou da palavra o Ministro da De-fesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, e as suas palavras – como o próprio referiu – são as mesmas que proferirá, dentro de dias, junto dos militares que prestam serviço no NRP Ál-vares Cabral, nas águas do Índico. E começou o seu discurso realçando a existência secular da Marinha Portuguesa, com um passado de determinação e coragem, continuando hoje

a “defender os mesmos valores de sempre: a liberdade, a integridade territorial e a sobera-nia do povo português”. Acrescenta-lhe agora as missões de interesse público e as tarefas no âmbito de compromissos internacionais. Pas-sou em revista as dificuldades económicas que têm assolado o país, nos últimos anos, e espe-cialmente as que condicionaram a acção das Forças Armadas, mas garantiu que, apesar das exigências de rigor financeiro – que se mantêm hoje como ontem – “já não estamos a discutir, sequer, o modelo de Defesa Nacional”. Na se-mana corrente, foi possível assinar, “em conjun-to com o Senhor Ministro de Estado e das Finan-ças, o despacho que autoriza as promoções nas Forças Armadas para o ano 2013”. Esta e outras decisões – acrescentou o Ministro – foram to-madas “com base na gestão criteriosa de recur-sos disponíveis”, mas teve em conta, também, o “justo reconhecimento da especificidade da condição e da estrutura militar”. E terminou com palavras de esperança para os militares. “São estes os bons ventos e as marés de feição, que Portugal pode contar das suas Forças Arma-das e, em particular, da sua Marinha.”

A cerimónia chegava ao fim, e com ela as co-memorações do Dia da Marinha 2013. Ao dis-curso do Ministro da Defesa Nacional seguiu-se o desfile das Forças em parada, prestando-lhe continência, à passagem pela tribuna de honra.

À volta da tribuna e da formatura, muitos curiosos e gente do Barreiro foi aparecendo na avenida Bento Gonçalves (que muitos barrei-renses ainda chamam Avenida da Praia), para ver a sua Marinha. No meio de todos eles havia muitas caras conhecidas, daquelas com que nos cruzámos durante décadas: velhos mari-nheiros reformados e afastados há largos anos, residentes no Barreiro, onde criaram filhos e netos e onde ainda hoje vivem. E ali estavam eles, naquela manhã soalheira, passando de um lado para o outro, conversando uns com os outros e trocando sorrisos, olhando a tribuna e a formatura e participando na festa da Marinha que é também sua. São a nossa gente espalha-da por todo o lado, que não nos esquece. Eles são aquilo que seremos quando chegar a altura de virmos ver o que fomos, nos muitos Dias da Marinha que virão.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

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DIRETOR DO MUSEU DE MARINHA

DIRETOR DA COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

● No dia 22 de fevereiro, presidida pelo VALM Vilas Boas Tavares, Diretor da Comissão Cultural de Marinha, realizou-se, no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha, a cerimónia de tomada de posse do CFR Costa Canas, como Diretor do Museu de Marinha, rendendo o CALM AN Bossa Dionísio.

Após a leitura de um louvor atribuído ao Diretor cessante, foi lida a portaria de nomeação do novo Diretor. Seguidamente este usou da palavra, destacando-se o seguinte.

«…Quanto àquilo que espero de todos vós, é fácil de exprimir: espero que cada um de vós mantenha um desempenho semelhante ao que tem garantido até hoje. Vivemos numa conjuntura desfavorável. Os órgãos de comunicação social encarregam-se de nos recordar todos os dias essas circunstâncias, por vezes de uma forma algo exagerada, pela repetição. No entanto, o Museu de Marinha tem conseguido aguentar firme, resistindo aos efeitos desta procela. Somos uma unidade de Marinha com características muito peculiares, pois estamos abertos ao público e esse público é o principal avaliador do nosso desempenho. Creio poder afirmar que essas avaliações têm sido em geral positivas. Isso deve-se ao contributo de todos nós...»

Posteriormente, usou da palavra o Diretor da CCM, que começou por realçar o facto de o Museu de Marinha comemorar este ano os seus 150 Anos. Seguidamente, destacou o relevante papel desempenhado pelo CALM Bossa Dionísio como Diretor, desejando-lhe igualmente sucessos para as novas funções

● Em 28 de fevereiro tomou posse como Dire-tor da Comissão Cultural da Marinha, o CALM Bossa Dionísio.

A cerimónia decorreu no Salão Nobre do GAB CEMA e foi presidida pelo Chefe do Es-tado-Maior da Armada, tendo assistido o Bispo das Forças Armadas e de Segurança, diversos oficiais generais, antigos Diretores e Presiden-tes da Comissão Cultural da Marinha, bem como outros oficiais, civis e sargentos.

A cerimónia iniciou-se com a leitura do louvor e a condecoração do Diretor cessante, VALM Vilas Boas Tavares, com a Medalha de Serviços Distintos, grau ouro.

Após a leitura da Ordem usou da palavra o Diretor empossado que sublinhou o facto da Comissão Cultural da Marinha ser uma estrutura de profundo significado para a afirmação da Marinha, através dos Ór-gãos de Natureza Cultural, pela visibilidade e notoriedade que conse-gue junto da sociedade civil, onde se situam a generalidade dos utentes, beneficiários diretos da ação cultural desenvolvida.

O novo Diretor comprometeu-se a que o Setor Cultural continue a afirmar-se pelo rigor e qualidade das realizações culturais e, por conse-guinte, pela significância do produto cultural oferecido, pese embora a conjuntura difícil e exigente, bem como o contexto de mudanças e incer-tezas que torna ainda mais imperioso que se prossiga um rumo claro e uma estratégia lúcida assente em prioridades.

O Almirante CEMA proferiu de seguida algumas palavras, que fo-ram no sentido de enaltecer o papel do Setor Cultural na Marinha, bem como sublinhando a ligação que o mesmo consegue assegurar entre o

para que foi nomeado. Finalmente, dirigiu algumas palavras ao novo Diretor, realçando aquilo que se espera do Museu de Marinha nos próximos tempos, referindo ainda que as linhas orientadoras de atuação se encontram na Diretiva Setorial da CCM.

O CFR António José Duarte Costa Canas nasceu em Abrantes e ingressou na EN, tendo

concluído o curso de Marinha em 1 de outubro de 1990. Especializou--se em Submarinos e em Navegação, estando habilitado ainda com o CGNG e o CCNG, entre outros. Paralelamente, obteve formação em História, sendo licenciado em História e possuindo os graus de Mestre e Doutor em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa.

Conta no seu currículo com cerca de vinte e três mil horas de nave-gação. Embarcou no reabastecedor de esquadra São Gabriel e após terminar a especialização em Submarinos fez várias comissões de em-barque nos submarinos Albacora, Barracuda e Delfim e como oficial subalterno foi Chefe de Serviço de Navegação. Entre 2005 e 2007 comandou a corveta Jacinto Cândido.

Desempenhou funções na EN como instrutor de Cálculos Náuticos e posteriormente como Professor de Navegação e de Organização. Du-rante estas comissões de serviço na EN foi diretor de curso das viagens de instrução de nove cursos de cadetes, sendo que oito dessas viagens foram no NRP Sagres e a outra em duas corvetas.

Em setembro de 2010 destacou para o Museu de Marinha onde as-sumiu as funções de Chefe do Departamento de Museologia, passan-do posteriormente a Subdiretor.

Foi agraciado com diversos louvores e condecorações.

TOMADAS DE POSSE

O CALM António José Ravasco Bossa Dio-nísio nasceu em Lisboa, foi aluno do Colégio Militar e entrou para a EN, sendo promovido a G/M em Outubro de 1973.

Tem o Curso “Foreign Purchaser” do De-fense Institute of Security Assistance Management dos Estados Unidos da América, o CGNG, CCNG, CSNG e o Curso do United Kingdom Logistic Support Arrangement do Ministério da Defesa do Reino Unido.

Esteve embarcado nos NRP´s Comte. João Belo, Almte. Gago Cou-tinho e Sagres.

Em terra foi instrutor na Escola de Abastecimento, Chefe do Ser-viço de Gestão de Material dos Submarinos e Chefe do Serviço de Apoio às Reparações no AA, Adjunto do VALM Chefe da Missão para a Construção das Fragatas da Classe Vasco da Gama, Adjunto e de-pois Chefe da Delegação em Washington (EUA) da referida Missão e, simultaneamente, oficial de ligação junto do Naval Sea Systems Command, Chefe da Secção de Gestão de Existências da Repartição do Planeamento do Aprovisionamento e Gestão de Existências da Di-reção de Abastecimento, Professor da Área Científica de Logística Na-val EN, Chefe do Centro de Abastecimento da DA, Subdiretor da DA e Chefe da Divisão de Logística do Joint Command Lisbon da NATO.

Em CALM foi Diretor da DA, Presidente da Comissão Executiva das Jornadas do Mar 2010 e Diretor do Museu de Marinha.

Da sua folha de serviços constam diversos louvores e condecorações.

universo militar e a sociedade civil, através da constante atividade cultural e de divulgação de um património que não é da Marinha, mas sim de Portugal.Fo

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 23

À semelhança dos anos anteriores, o início do segundo semestre na Escola Naval foi marcado pela realização do

exercício de descida do rio, este ano com a de-signação de “Tejo 2013”.

Mantendo os objetivos dos anos anteriores, no exercício de 2013 não foi esquecido o Dia da Marinha, que este ano se realiza na cidade do Barreiro, tendo a prova desportiva de desci-da do rio sido realizada no troço fluvial entre Alcochete e o Barreiro.

Os grandes objetivos deste exercício são a prática de formação marinheira, o exercício e treino de liderança, a instrução militar e a prá-tica de educação física. Saber atuar em equi-pa, saber liderar e saber reagir em situações de perigo é essencial, e os cadetes do quarto ano já têm nestas vertentes uma vasta experiência.

Espírito de corpo e de sacrifício, sentido de camaradagem e capacidade de organização são valores fundamentais, que se pretendem incrementar.

O exercício é composto por diversas ações, de componente terrestre e de componente flu-vial. As primeiras foram constituídas por uma progressão militar terrestre por equipas, pela prática de navegação em percurso programa-do e controlado e pelo treino de comunicação ascendente e descendente. As segundas foram compostas pelo percurso fluvial com botes Ze-bro III a remos, integrado na componente des-portiva inter-cursos, e pela travessia do Seixal

para ponta dos corvos em natação utilitária.Os cadetes foram distribuídos por vinte e um

botes Zebro III, e as equipas constituídas por seis

a sete elementos, tendo este ano sido marcado pelas dificuldades associadas ao tráfego fluvial na zona do Barreiro e Montijo, bem como pe-las correntes fortes características desta zona.

Para além dos cadetes do segundo ao quarto anos dos cursos de Mestrado Integrado e dos cadetes do primeiro e segundo anos do Curso de Formação de Oficiais do Serviço Técnico, o exercício contou também com a participação de quatro cadetes da Academia da Força Aérea e do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, e de seis alunos e um pro-fessor da Escola Secundária Augusto Cabrita do Barreiro. A presença destes últimos foi especial-mente importante, pois representou mais uma oportunidade de aproximação da Escola Naval aos cidadãos do Barreiro, designadamente da população mais jovem.

À semelhança de anos anteriores, a Escola Naval contou com a colaboração de outras unidades da Marinha, designadamente do Comando do Corpo de Fuzileiros, do Desta-camento de Mergulhadores Sapadores Nº 2, da Direcção de Transportes, da Capitania do Porto de Lisboa e da Delegação Marítima do Barreiro.

A equipa vencedora do troféu de 2013 foi o 3º ano do Mestrado Integrado, Curso “VALM Mendes Cabeçadas Júnior”.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

CADETES DA ESCOLA NAVAL REALIZAM EXERCÍCIO “TEJO 2013”

ESCOLA NAVAL

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA24

A Fragata Comandante Herme-negildo Capelo será o terceiro navio a submergir ao largo de

Portimão, no âmbito do Projecto Oce-an Revival, apresentado numa edição anterior desta revista, que tem como finalidade criar o maior recife artificial da Europa, através do afundamento ao largo de Portimão de quatro navios que pertenceram à Marinha Portuguesa.

A Fragata e o navio Hidrográfico Almeida Carvalho encontram-se a ser descontaminados e preparados no estaleiro de desmantelamento naval da Batistas – Reciclagem de Sucatas, S.A., em Alhos Vedros.

Os trabalhos de limpeza e descon-taminação da Fragata Comandante Hermenegildo Capelo iniciaram-se em Setembro do ano passado e têm como objetivo remover todos os contaminantes existentes, que pos-sam constituir perigo para a vida marinha que se espera vir a atrair para o local do afundamento.

Estes trabalhos de descontaminação e preparação dos navios baseiam-se em vá-rias normas e requisitos, nomeadamente:

∙ CEPA – Clean-up Standards for Ocean Disposal of Vessels, Aircraft, Plataforms & Other Structures do Ministério do Ambiente Canadiano;

∙ Linhas Orientadoras sobre a metodolo-gia para a deposição de Recifes Artificiais da Convenção de Londres de 2009;

∙ Linhas Orientadoras técnicas para a gestão ambientalmente adequada do desmantelamento parcial ou total de embarcações, tal como produ-zidas em 2002 pela Convenção de Basileia;

∙ Linhas Orientadoras sobre as me-lhores práticas de gestão para a pre-paração de embarcações com a fina-lidade da criação de recifes artificiais da Agência Ambiental e da Adminis-tração Marítima dos EUA;

∙ Requisitos técnicos estipulados pela Agência Portuguesa do Am-biente, sendo supervisionados pela em-presa Canadian Artificial Reef Consulting (CARC), a qual detém uma vasta experiên-cia neste tipo de trabalhos e será também responsável pelo afundamento dos navios.

A limpeza da Fragata iniciou-se com a in-tervenção da empresa Interamianto – Soc. Técnica de Remoção de Amianto, Lda., a qual removeu todo o amianto existente maioritariamente nas casas das máquinas, chaminé e tubagens de água quente.

De uma forma simplificada, o procedi-mento adotado para a remoção do amian-

to consistiu em isolar as várias áreas onde estava presente este contaminante com recurso a polietileno e fitas adesivas, de modo a conseguir criar-se um ambiente em subpressão na área confinada, através de um extrator. Foi nestas áreas confina-das que os trabalhadores desta empresa retiraram manualmente o amianto, colo-cando-o em sacos para depois ser enca-minhado para aterro.

Por questões de segurança, todos os trabalhadores envolvidos na remoção do amianto tinham de passar várias vezes por quatro câmaras de descontaminação antes e após a sua permanência nas áreas de tra-balho confinadas.

Esta empresa foi também responsável pela recolha de amostras para se determi-nar a concentração de fibras respiráveis de

amianto em suspensão no ar em cada lo-cal intervencionado, de modo a avaliar-se se esta se encontrava dentro dos valores permitidos pela legislação nacional.

Seguidamente prosseguiu-se com a aspi-ração dos diversos resíduos de hidrocar-bonetos existentes nos tanques da Fragata, os quais foram encaminhados para a Car-mona - Sociedade de Limpeza e Tratamen-to de Combustíveis S.A.

Foi necessário descontaminar todos os compartimentos da Fragata através da re-moção de cablagens, mobiliário, tubos,

quadros elétricos, motores, entre outros.Numa fase posterior foi realizada a lim-

peza e lavagem das casas das máquinas e dos vários tanques, através da aplicação de desengordurante a alta pressão e aspi-ração das águas contaminadas resultantes deste processo para destino final. Este pro-cedimento permitiu remover a camada de gordura existente sobre as paredes dos di-versos tanques e componentes da Fragata.

Para este trabalho de desconta-minação da Fragata, devido à sua especificidade e grau de pormenor exigido no projeto, a BATISTAS, S.A. teve de aumentar a sua equipa, re-crutando doze novos trabalhadores, entre serventes e serralheiros.

Apesar de se retirar a maioria dos componentes com mecanismos hi-dráulicos, existem alguns que por apresentarem interesse em termos estéticos e de caracterização da Fra-gata Comandante Hermenegildo Capelo ficaram, sendo submetidos a um processo de limpeza, como é o

caso do invólucro do motor.Os resíduos resultantes da desconta-

minação e preparação dos navios são posteriormente submetidos a um pro-cesso de triagem pelos diversos tipos, antes de serem encaminhados para destino final adequado às suas carac-terísticas, de acordo com a legislação ambiental em vigor.

A maior parte dos resíduos gera-dos tem como destino a recicla-gem, como é o caso dos metais ferrosos, metais não ferrosos e hidrocarbonetos.

Após a descontaminação e re-moção de elementos não estru-turais, será necessário efetuar um conjunto de aberturas entre os diferentes compartimentos da Fragata e os vários pisos desta, para permitir a passagem da água durante o afundamento e facilitar o mergulho ao navio, já que estes constituem pontos de passagem

de luz e vias de acesso privilegiadas aos vários compartimentos.

A preparação destas aberturas e os aca-bamentos dos cortes realizados exige que se eliminem todas as arestas cortantes que possam representar perigo para a segurança dos mergulhadores durante as visitas aos navios, preocupação esta que não existe quando o navio é desmantela-do na íntegra para reciclagem.

Todo este trabalho de preparação da Fragata para afundamento tem alguns requisitos distintos, que exigem proce-

OCEAN REVIVALPREPARAÇÃO DOS NAVIOS PARA AFUNDAMENTO

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dimentos diferentes de uma situa-ção mais comum em que o navio tivesse como destino o desmante-lamento com vista à sua recicla-gem, o que acaba por implicar mais mão-de-obra, uma duração mais alargada dos trabalhos, que se estende quase para o dobro do tempo de trabalho e a intervenção de mais entidades neste processo.

Exemplo disso é a necessidade de se ter de aspirar e lavar o navio após a descontaminação, de modo a eliminar vestígios de resíduos que ainda possam persistir neste após a descontaminação.

Após a limpeza, descontamina-ção e preparação da Fragata, esta será sujeita a uma vistoria por uma entidade externa, o ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade, com o intuito de avaliar o cumprimento das Normas que definem os requi-sitos de descontaminação e atesta-rá a ausência de contaminantes no navio, podendo ser necessário rea-lizar análises laboratoriais a cons-tituintes que apresentem dúvidas relativas à sua constituição.

A empresa Midship – Consultoria e Equipamentos Navais, Lda. será responsável pela elaboração do novo Plano de Estabilidade, sendo que a Fragata será lastrada com cerca de 450 Ton de betão antes de ser rebocada de Alhos Vedros para Portimão, para compensar o material retirado do seu interior, garantindo-se assim a sua estabi-lidade para o percurso. Esta etapa não existe quando um navio tem como destino o desmantelamento para a reciclagem.

A Capitania do Porto de Lisboa também será uma das entidades intervenientes neste processo, a qual será responsável por avaliar as condições de segurança da Fra-gata, nomeadamente a nível de aberturas a serem mantidas fecha-das durante o referido reboque.

Por sua vez, a CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvi-mento Regional do Algarve ava-liará o dossier técnico resultante do processo de descontaminação,

constituído pelas Guias de Acom-panhamento de Resíduos, pelas Licenças dos destinos dos resídu-os gerados e pelos certificados da ausência de contaminantes.

A Fragata só será rebocada para Portimão quando estiverem reu-nidos todos os pareceres favorá-veis de todas as entidades inter-venientes no processo de vistoria mencionadas anteriormente, o qual terminará com a visita da entidade seguradora para avaliar as condições do trem de reboque.

Em Portimão, a BATISTAS, S.A. terminará o seu trabalho com a execução das últimas aberturas no costado da Fragata, as quais só podem ser efetuadas após o reboque.

Por último, a empresa canadiana CARC colocará os explosivos de corte a bordo da Fragata, passan-do esta a estar sob vigilância da Marinha vinte e quatro horas por dia até ao seu reboque para o lo-cal de afundamento onde se jun-tará à Corveta Oliveira e Carmo e ao Patrulha Zambeze, afundados em Outubro de 2012.

O afundamento da Fragata está previsto para Junho, enquanto o navio Hidrográfico terá destino idêntico em Outubro do corrente ano. Espera-se que a Fragata fique a trinta metros de profundidade e o mastro a cerca de dezassete me-tros da superfície.

As visitas aos navios podem ser realizadas por qualquer pessoa que reúna o equipamento e meios necessários para chegar até ao lo-cal ou através de mergulhos orga-nizados pelos diversos operadores turísticos locais.

Os anteriores dois navios foram preparados na íntegra no Porto de Portimão, seguindo as mesmas regras de descontaminação e pre-paração, tendo estes trabalhos en-volvido 15 trabalhadores durante cerca de 5 meses.

Todos os detalhes deste projeto podem ser consultados no site oficial em http://www.oceanre-vival.org/pt.

N o âmbito da preparação de dois navios para afundamento ao largo de Portimão – a fragata Comandante Hermenegildo Capelo e o navio hidrográfico Almeida Carva-lho – , a firma Batistas – Reciclagem de Sucatas, SA convidou o Diretor e o Chefe

da Redação da R.A. para uma visita aos trabalhos.Acontece que o CALM Roque Martins pertenceu à 1a guarnição da Fragata Comandante

Hermenegildo Capelo e foi com alguma emoção que assistiu ao desmantelamento do que foi considerado o navio mais operacional daquela Classe.

Élia BritoBATISTAS, S.A.

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA26

O Arquivo Histórico de Imagens da Ma-rinha (AHIM), diretamente dependen-te do Serviço de Património do Depar-

tamento de Museologia do Museu de Marinha, tem como funções a organização, preservação e divulgação do património fotográfico e audio-visual à guarda do Museu de Marinha.

Os documentos/imagens que integram este património reunem-se a partir de diver-sas proveniências, internas e externas à instituição, e de dois interesses comuns: a preservação de uma memória da história marítima portuguesa e das várias atividades relacionadas com o mar, e o interesse pelas possibilidades da representação fotográfica na construção dessa memória.

O conjunto mais significativo é constitu-ído por imagens que integravam os arqui-vos pessoais de oficiais da Armada e outras entidades, que por via de doações ou com-pras, foram confiadas à guarda do Museu de Marinha. São mais de 50 coleções, com proveniências distintas, que reúnem mais de 100.000 documentos fotográficos.

Existem alguns documentos audiovisuais inte-grados nestas coleções, mas a maior parte das imagens em movimento ingressaram no AHIM individualmente, constituindo deste modo uma coleção autónoma com cerca de 270 filmes, documentais e institucionais, em vários su-portes e formatos. O filme mais antigo data de 1918 e, com uma duração de três minutos, do-cumenta o combate do caça-minas “Augusto de Castilho” com o submarino alemão U-139, no final da Primeira Guerra Mundial.

Propomos que este breve olhar sobre o AHIM se concentre sobre as coleções de fotografia provenientes da atividade de ofi-ciais da Armada e outras personalidades que, enquanto colecionadores ou autores, se dedicaram a reunir através da imagem fotográfica a sua impressão da realidade. Fotografias guardadas em álbuns, envelo-pes, caixas, ficheiros, segundo sistemas de organização mais ou menos elaborados, contribuem para as várias narrativas visu-ais, que remontam ao final do século XIX e se prolongam até à atualidade.

O valor documental e informativo, que estas coleções preservam, revela-se assim no seu contexto histórico e biográfico de produção, nas realidades contidas e contadas pela imagem e na própria forma como estas coleções têm sido interpretadas e utilizadas. Um olhar sobre o AHIM é um olhar sobre estas várias dimensões, que não se pretendem aqui sobrepor, mas sim relacionar entre si, a partir do seu suporte comum de registo, a fotografia.

AS COLEÇÕES

As coleções do AHIM acompanham a utili-zação da fotografia desde meados da segunda metade do século XIX. De entre as várias co-leções, cujas diferentes proveniências não são possíveis aqui de elencar, tentaremos salientar alguns exemplos que, pela sua dimensão, con-

teúdos representados e formas de organiza-ção, são representativos de projetos de vida pessoais, quer no âmbito do colecionismo, quer no âmbito da criação fotográfica.

Não seria possível começar este percurso sem referir, em primeiro lugar, a coleção legada por Henrique Maufroy de Seixas (1886-1948) ao Museu de Marinha em 1948. Henrique Mau-froy de Seixas dedicou a sua vida ao estudo de temáticas navais e marítimas e à concretização de um projeto museológico. A fotografia foi re-

conhecida, desde o início deste projeto, como um importante recurso documental, quer no apoio à execução dos modelos navais, quer como um documento valioso nas informações que regista. Assim, Henrique Seixas investiu de um modo sistemático numa coleção de foto-grafias, através de recolhas em vários arquivos

de oficiais da Armada, fotógrafos e outras perso-nalidades, e em encomendas de trabalho a vá-rios fotógrafos em atividade na época (Arnaldo Garcez, Serra Ribeiro, Horácio Novais, Samor-rinha, etc.).1 Este investimento resultou numa coleção que integra cerca de 20.000 negativos, provas correspondentes aos negativos, e cerca de 2.000 provas fotográficas “cartonadas” que

se distribuíam nas paredes das salas da ex-posição do Museu Seixas.

A coleção de fotografias de Henrique Maufroy de Seixas, reveladora de uma forma coerente e persistente da utilização da imagem enquanto registo documental, representa um acrescido contributo para o conhecimento da história da fotografia em Portugal, durante a primeira metade do século XX. Contributo partilhado pelos vários fotógrafos presentes, através dos seus distintos modos de olhar a realidade e pela diversidade dos processos fotográficos utili-zados na fixação dessa mesma realidade. A coleção é constituída por negativos de ge-latina e prata em vidro, em nitrato de celu-

lose e acetato de celulose; provas em albumina; e provas em papel de revelação, algumas co-loridas e com viragens, de diferentes formatos.

Entre as coleções do AHIM podemos encon-trar outros conjuntos que são testemunhos de uma preocupação de organização, classifica-ção e levantamento sistemático de uma de-terminada temática. A coleção de Joaquim do Ó Ramos (1897-1977) é outro exemplo resul-tante da atividade de um colecionador estudio-so. Ao longo da sua vida, Joaquim do Ó Ramos

foi recolhendo e organizando imagens sobre a Marinha de Comércio a Vapor Por-tuguesa, Marinha de Guerra Portuguesa e navios mercantes e de guerra estrangeiros. Esta coleção com cerca de 30.000 espé-cies fotográficas, entre negativos e provas fotográficas e fotomecânicas, foi doada em 1978 ao Museu de Marinha, juntamente com livros, publicações e apontamentos resultantes da sua investigação. Toda a co-leção está organizada em caixas segundo uma classificação temática organizada por ordem alfabética, com descrições sobre cada navio representado.

Falámos aqui destas duas propostas dis-tintas, a primeira que se define num projeto

mais abrangente, que comunica as relações en-tre vários aspetos da história da vida marítima, e a segunda definida segundo uma orientação precisa de constituir um catálogo, pois é esta também a diversidade que importa revelar de entre as coleções do AHIM. As intenções com que estas coleções são reunidas são diversas,

MUSEU DE MARINHA – 150 ANOSARQUIVO HISTÓRICO DE IMAGENS DA MARINHA

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

MUSEU DE MARINHA – 150 ANOS

Coleção SeixasArsenal da Marinha, 1932. Autor: Horácio NovaisNegativo de gelatina e prata em vidro 9x12cm.

Coleção do Comandante António José MartinsTerra Nova, s/d. Autor: Comandante António José Martins Negativo de gelatina e prata em nitrato de celulose 9x12cm.

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e resultam em formas distintas de organização e conteúdos representados. Mas podemos en-contrar outros exemplos que se caraterizam por formas de organização menos sistematizadas, sugerindo uma produção que parece acompa-nhar os momentos da vida dos seus autores ou colecionadores, mais interessados nas ativida-des em que estão envolvidos, e no seu registo, e menos empenhados em desenvolver um pro-jeto com objetivos museológicos ou arquivísti-cos. Um exemplo interessante é a coleção de fotografias do Vice-Almirante José Mexia Sale-ma (1901-1989), doada em 1991 ao Museu de Marinha, produzida no âmbito da sua atividade enquanto oficial de marinha, e da qual ele é o autor. A maior parte das reportagens re-presentadas, nos cerca de 4.000 negativos em película de acetato de celulose, estão identificadas em cadernos de apontamen-tos, através do número do rolo e breve des-crição do local e data. Estes apontamentos remetem para algumas fotografias que re-tratam o Comandante António José Martins a bordo de um lugre bacalhoeiro em 1937 e 1938.

O Comandante António José Martins (1882-1948) é, aliás, um outro exemplo de um oficial de marinha que mantém a sua atividade como fotógrafo, da qual re-sulta uma valiosa coleção de fotografias em depósito no AHIM. Com cerca de 6.000 fotografias (negativos originais em vidro, nitra-to e acetato de celulose, diapositivos em vidro estereoscópicos, etc.), esta coleção apresenta um valor documental quer para a história da marinha, quer para a história da fotografia. O Comandante António Martins é incorpora-do na Marinha em 1900, em 1929-1930 faz as primeiras viagens no “Gil Eanes” à Terra Nova e, entre 1937 e 1939, já como Coman-dante do navio, que prestava apoio à pesca do bacalhau, monta uma câmara escu-ra para a revelação das suas fotografias.2

É referida a sua importância na introdução da Leica em Portugal no início dos anos 30 do século XX, com os negativos em pelí-cula de pequeno formato, e na utilização de película infravermelha para captar o nevoeiro e os icebergs dos mares da Terra Nova.3 Participa em várias exposições e concursos de fotografia na primeira metade do século XX, e posteriormente a sua obra continua a ser reconhecida em exposições e publicações.

Outras coleções que interessa revelar são as coleções que integram álbuns de foto-grafia. Existem, entre as coleções do AHIM, cerca de 200 álbuns de fotografias, data-dos desde o início do século XX, que reúnem cerca de 12.000 provas fotográficas. Os álbuns representam um importante testemunho docu-mental quer nos conteúdos que encerram, quer nas narrativas que propõem. Podemos encon-trar neste diverso conjunto um álbum com 72 imagens do fotógrafo Arnaldo Garcez (1886-1964) registadas durante a “Revolução de 14 de Maio de 1915”; quatro álbuns com provas em albumina sobre os “Trabalhos de delimita-ção de fronteiras em Angola e Moçambique

(1905-1912)”, pelos oficiais da Armada Gago Coutinho e Filipe Trajano Vieira da Rocha; vá-rios álbuns sobre Aviação Naval, dos quais al-gumas imagens foram recentemente incluídas numa edição da Comissão Cultural de Mari-nha, “Aviação Naval 1917-1952 – Álbum de memórias”, coordenada pelo 2TEN Gonçalves Neves; e continuando entre relatos de viagens, destacamos ainda o álbum “Aviso de 1.ª classe Bartolomeu Dias”, constituído por 361 provas fotográficas acompanhadas por pormenoriza-das descrições, conjunto que resulta num im-portante registo visual da atividade do navio e vivências da sua guarnição.

PRESERVAÇÃO E ACESSO

As coleções do AHIM encontram-se disponí-veis para consulta e pesquisa, disponibilização que é acompanhada por uma preocupação de salvaguardar a longevidade dos documentos. Preservar as coleções do AHIM é, para além de preservar a informação e todo o contexto de produção das coleções, garantir a estabili-dade dos materiais constituintes dos diversos

processos fotográficos presentes. As coleções de fotografia, estando reservadas em depósito e reunindo-se aos milhares sob os mais variados suportes, correm um risco de permanente dete-rioração invisível e, na maior parte das vezes, irreversível, que conduz ao desaparecimento da imagem e à destruição do suporte. São as ca-raterísticas intrínsecas dos próprios materiais fo-tográficos e as condições ambientais inadequa-das, que promovem essas deteriorações. Neste sentido, o AHIM possui uma sala climatizada,

com os valores de 16º C de temperatura e 40% de humidade relativa, onde estão instaladas as coleções de fotografia. Apesar destas condições não serem as ideais para toda a diversidade dos materiais, garante-se algo fundamental que é a estabilidade dos valores. A par de tudo isto, tem havido um esforço para que, sempre que possível, as coleções sejam transferidas para unidades de acondicionamento apropriadas para a conservação dos processos fotográficos existentes.

A coleção de filmes em película encontra-se em depósito no Arquivo Nacional de Imagens em Movimento, segundo acordo celebrado

em 2000 entre a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema e o Museu de Mari-nha. Estes filmes podem ser consultados no Museu de Marinha através das cópias em formato VHS.

O plano de preservação tem vindo a ser definido através da identificação dos processos fotográficos existentes, de uma avaliação periódica do estado de conser-vação das coleções e de propostas especí-ficas que se pretendem desenvolver a curto prazo: higienização das espécies, congela-mento das películas em nitrato e acetato de celulose e acondicionamento adequado dos vários processos e formatos.

O acesso às coleções é possível através da consulta dos instrumentos de descrição dis-poníveis: guias, inventários informatizados em base de dados e um catálogo manual em fichei-ros metálicos organizado por temas e ordem al-fabética, segundo um índice temático.

De entre os projetos em curso, encontra--se em desenvolvimento a normalização dos procedimentos na descrição das coleções de fotografia, em conjunto com a Biblioteca Cen-tral de Marinha/Arquivo Histórico. O acesso às coleções será assim ampliado através das

possibilidades de pesquisa permitidas pelo sistema informático de gestão integrada do património, em funcionamento no Museu de Marinha, que integra a descrição do acervo museológico, material bibliográfico e documentação de arquivo, relacionan-do os materiais dispersos de uma mesma coleção e integrando as cerca de 16.000 imagens já digitalizadas. É o compromisso entre o acesso e a preservação que permi-tirá garantir a continuação do trabalho de-senvolvido pelos vários responsáveis que cumpriram a função de cuidar destas co-leções, e assegurar que a diversidade deste valioso património visual seja ampliada através da sua divulgação.

Margarida RodriguesTécnica Superior

Notas1 MARQUES, Luís António, História da Colecção Seixas e seus artistas, modeladores e artífices, conselhos sobre mo-delismo naval. Monografias-1. Lisboa, Edição do Museu de Marinha, 1985.2 Exposição Comandante António José Martins: Bromóleos e alguns brometos 1922-1943, Galeria Ether, Lisboa, [198?].3 SENA, António, Uma História da Fotografia, Lisboa, Im-prensa Nacional – Casa da Moeda, 1991.

Coleção J. Ó RamosUnidades de instalação originais.

Álbum da Missão Geodésica da África Oriental e da Missão do Barotze (1907-1914)Prova em albumina 13x18cm.

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA28

DIA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOS

Em ano do centenário dos submarinos em Portugal, realizou-se no passado dia 27 de abril o dia da Esquadrilha de Submari-

nos (ES), dirigido a todos os mergulhadores e submarinistas no ativo, reserva ou reforma, as-sim como aos respetivos familiares e amigos.

Para além do são convívio que durou gran-de parte da manhã, o programa constou de missa no auditório, exposições alusivas aos submarinos e aos mergulhadores e visitas aos submarinos.

Seguiu-se o tradicional almoço, o qual cul-minou com a entrega de uma oferta ao mer-gulhador e ao submarinista especializados há mais tempo.

PALÁCIO DO ALFEITEPALÁCIO DO ALFEITEA opinião geral dos conselheiros foi de que, caso a Rainha não assinasse, deveria perder de imediato a nacionalidade portuguesa e todas as prerrogativas, houve igualmente unanimidade na proibição da Rainha em le-var consigo as infantas . Um dos conselheiros, dado que a Rainha alegava perigo de vida se efectuasse qualquer viagem, propôs, e foi aceite, que o seu estado de saúde fosse anali-sado por uma comissão de peritos.

E foi assim que o Palácio do Alfeite se tor-nou no palco de um acontecimento que fez exacerbar tantas paixões durante ainda muito tempo.

Com. E. Gomes

FonteDocumentos para a História das Cortes Gerais da Nação Portuguesa.

O que hoje aqui se apresenta está re-lacionado com o palácio do Alfeite sendo essa a única relação que tem

com a Marinha mas, dada a curiosidade do facto, parece justificada a sua inclusão nesta rubrica.

Antes de ser entregue para o serviço da Ar-mada era o palácio pertença da Coroa, não sendo raro que os reis ali se instalassem.

Assim aconteceu com D. João VI, em 1825, para a realização de um Conselho de Estado destinado a deliberar sobre um assunto de grande melindre e gravidade.

Após D. João VI ter jurado a Carta Consti-tucional tornava-se obrigatório que Dª Carlo-ta Joaquina também o fizesse. Para o efeito foi enviada em 22 de Novembro a Queluz, onde a Rainha se encontrava, uma delegação para, de viva voz, lhe comunicar a necessida-de de o fazer e, caso não o fizesse, quais as

penas em que incorreria. Dª Carlota reiterou a sua intenção em não assinar a Carta e que se sujeitaria às consequências da recusa.

Perante tal recusa D. João, que se encon-trava no Palácio do Alfeite, enviou uma carta à mulher informando-a da obrigatoriedade legal de assinar a Constituição sob pena de perda da nacionalidade e saída imediata do Reino e nessa mesma data mandou preparar uma fragata para o transporte da Rainha para Cadiz, terra que a Rainha havia indicado como seu destino.

A 29 teve lugar, no Alfeite, a reunião do Conselho de Estado na qual participaram os conselheiros José da Silva Carvalho, Manuel Gonçalves de Miranda, Sebastião José de Carvalho, Filipe Ferreira de Araújo e Castro, Silvestre Pinheiro Ferreira e Ignácio da Costa Quintela, então ministro e secretário de es-tado dos negócios da Marinha e Ultramar.

VIGIA DA HISTÓRIA 55

E m 2 de abril, um grupo de acadé-micos, numa “visita guiada” pelo Contra-almirante Manuel Vilari-

nho, teve a oportunidade de conhecer como era a antiga Escola Naval, insta-lada entre 1845 e 1936 na ala presen-temente ocupada pela Academia de Marinha.

Aluno do último curso ali realizado, antes de ter transitado para o Alfeite, o Almirante percorreu a mostra foto-gráfica patente na Galeria, tendo dado explicações, desfeito dúvidas e citado factos curiosos da sua vivência naquele tempo.

UMA VISITA GUIADA À VELHA ESCOLA NAVAL

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 29

TERRA-MAR-E-GUERRACOGITAÇÕES DE UM MARINHEIRO ALENTEJANO

LIVROS

C om a publicação dos VII e VIII Volumes, ficou concluída a “Portuguese Sea Battles”, tradução em inglês da obra “Batalhas e Combates da Marinha Portu-guesa”, do Comandante Armando Saturnino Monteiro.

Esta tradução deve-se à vontade e empenho do autor que, desta forma, colocou à disposição de um público muito mais vasto o seu importante trabalho.

De salientar ainda a excelente contribuição do Comandante Wandschneider Mes-quita na correta tradução dos originais.

A Revista da Armada agradece ao Comandante Saturnino Monteiro esta valiosa ofer-ta, que passou a fazer parte da nossa Biblioteca.

PORTUGUESE SEA BATTLES

Em 23 Abril ocorreu no Clube Militar Naval, presidida pelo respectivo Presidente da Direcção – Comandante Carlos Picoito, uma Sessão de Lançamento do livro da autoria do Comandante José Faustino Ferreira Júnior “TERRA-MAR-E-GUERRA - Cogitações de um Marinheiro Alentejano”.

Este livro surge por iniciativa dos seus camaradas do Curso “Luís de Camões”, e é uma colectânea de 120 relatos, memórias e reflexões, retiradas do seu blogue “Bolina”, onde num tom intimista, irónico e repleto de humanismo, nos é permitido saborear curiosos episódios da sua diversificada carreira naval, quer a bordo de vários navios, quer em terra nomeadamente como Comandante dum Destacamento de Fuzileiros Especiais na guerra da Guiné, ou ainda em Macau como Comandante da Polícia Marítima e Fiscal.

De permeio, fala-nos das suas vivências no Alentejo para onde regressou e se radicou após a sua reforma, des-vendando-nos e caracterizando bem a sua terra natal, detendo-se com frequência em reflexões acerca da evolução política do País, com especial enfoque no “25 de Abril”.

A Apresentação do Livro foi feita de forma brilhante pelo CALM MN Rui Abreu, que afirmou estarmos perante uma escrita de grande apuro e beleza formal, em que se sucedem memórias de infância, estórias de mar e navegações, e noites de insónia no mato da Guiné, e onde ninguém fica indiferente à narrativa. Considera que este livro, para além de uma prova de amizade é um auto-retrato sob a forma de escrita, revelando os traços da personalidade rica e multifacetada do seu autor e que sublinha citando-o:

“A vida raramente anda a um largo ou de vento em popa! Bolinar é a nossa salvação. Bolinemos pois que a nortada é rija mas nós somos tenazes!”A sessão, muito concorrida dado os inúmeros amigos e elementos da família participantes, transformou-se numa natural homenagem ao Comandante

José Júnior e esteve envolvida por uma atmosfera de grande emoção, com uma das filhas e uma das netas a lembrarem este seu familiar, que precocemente a todos nos deixou em Fevereiro de 2011.

O livro, amavelmente editado pela Editora Colibri, além de já estar nas livrarias para venda, mantém-se disponível para aquisição no Clube Militar Naval.

José Carlos de Brito SubtilCMG

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA30

se escovam os dentes, ou seja, 2-3 vezes/dia, usar frequentemente fio/fita/escovilhões dentá-rios, remover próteses dentárias antes de ir dor-mir mergulhando-as em soluções desinfetantes), cuidados dietéticos (e.g.: evitar a ingestão de alimentos com odor forte ou açucarados, álcool, café e tabaco, evitar longos períodos de jejum e aumentar o consumo de água), bem como reali-zar um check-up dentário regular.

Para além da prevenção, existem dois tipos de abordagem terapêutica na halitose, nomeada-mente o tratamento curativo e o sintomático.

Para o tratamento curativo é fundamental primeiramente diagnosticar a origem da ha-litose, a fim de o médico poder eliminar as causas locais ou sistémicas. Para isso, além de se observar a cavidade oral, é necessário realizar um exame físico completo, poden-do haver necessidade de recorrer a meios complementares de diagnóstico. Contudo, em certas situações, a causa pode não ser eliminada (e.g.: halitose por neoplasia).

O tratamento sintomático, que apenas elimi-na a halitose por curtos períodos, é geralmen-te a abordagem que o paciente já utilizou ou utiliza, pois é relativamente intuitivo, embora

sem grande sucesso dado que não elimina a causa. O hálito incómodo leva algumas pessoas a lançarem mão a todas as formas para mascarar o hálito que exalam, nomeadamente desodori-zantes orais, pastilhas elásticas com odor forte (e.g.: menta ou canela), sprays orais, elixires e antissépticos vários, mascar hortelã, entre outros. O que sucede, em última análise, é a anulação do mau cheiro por um outro que se sobrepõe, mais forte e agradável, disfarçando o odor origi-nal. Esta preocupação torna-se, em algumas pes-soas, uma prática diária e continuada, passando com o tempo a ser quase um vício. Apesar de inúmeros fabricantes de elixires afirmarem que os seus produtos “curam” o mau hálito, grande percentagem da população que os experimenta sabe que infelizmente não resultam, na maior parte dos casos, podendo até agravar as queixas pois a grande maioria dos elixires contém álcool, o que aumenta a secura da boca.

Ana Cristina Pratas 1TEN MN

Notas1 Camada esbranquiçada de placa bacteriana e desca-mação celular que se pode formar na parte posterior da língua devido a uma higiene deficiente.2 Conhecida popularmente como piorreia, é uma inflama-ção crónica do periodonto (gengiva, cemento, osso e liga-mentos de suporte dos dentes), causada por acumulação de placa bacteriana, manifestando-se principalmente por hemorragia gengival durante a escovagem dos dentes e, em fases mais avançadas, por mobilidade ou perda de dentes.3 Pequenas bolas amareladas com odor extremamente desagradável que se formam nas criptas das amígdalas, por acumulação de resíduos alimentares e bactérias.4 Conhecida popularmente como “pedra dos dentes”, é uma película incolor/amarela que se forma em redor dos dentes por acumulação de bactérias (formando a placa bacteriana), levando à inflamação da gengiva.

MAU HÁLITONa sociedade atual, o hálito é algo com

que a população em geral se preocupa e valoriza, atribuindo-lhe uma impor-

tância crescente pois a imagem e as relações interpessoais assumem especial importância.

Embora a expressão mau hálito seja a mais vulgarmente usada, o termo médico para des-crever qualquer odor desagradável no ar exala-do pela boca ou pelo nariz é halitose. O termo deriva do latim halitus (ar expirado) e do grego ose (alteração patológica).

A halitose é um sintoma e não uma doen-ça. A sua presença revela sempre que algo no organismo está em desequilíbrio, devendo ser identificado e tratado. Este problema ator-menta a humanidade há milénios, existindo relatos de tratamentos para a halitose há mais de três mil anos.

É importante salientar que muitas pessoas que não têm halitose preocupam-se exage-radamente com o seu hálito, enquanto que uma grande parte das que realmente têm mau hálito não suspeita desse fato pois as células olfactivas rapidamente se adaptam a odores repetidos.

Um estudo realizado em 2010 demonstrou que a prevalência de halitose em Portugal é idêntica à da população mundial, cerca de 30%, independentemente do escalão etário, sexo e condição socioeconómica.

Apesar de muitas pessoas associarem a hali-tose à manifestação de um problema físico, a maioria dos afectados incomoda-se mais com as suas consequências sociais. De fato, a consciên-cia de padecer de halitose provoca muitas vezes efeitos psicológicos relevantes. O espetro destes efeitos varia desde um pequeno impacto até ao transtorno total da vida do paciente, como tapar a boca ao falar, manter uma maior distância in-terpessoal ou evitar relações sociais, fazer uma higienização excessiva e traumática da cavida-de oral, entre outras mais graves.

Existem mais de 60 causas de halitose. Em 90% dos casos a causa é intraoral, ou seja, tem origem na própria cavidade oral. A flora bacte-riana da boca supera os 600 tipos de bactérias, sendo que a maioria se alimenta de proteínas presentes nos restos alimentares, libertando nes-se processo enxofre, em forma de compostos sulfurados voláteis, que são gases que causam um hálito alterado e desagradável. Muitas das bactérias envolvidas na halitose localizam-se principalmente na região posterior da língua, mas também entre os dentes, nas gengivas, amígdalas e mesmo nas próteses dentárias e aparelhos ortodônticos. A saliva, além de possuir substâncias antibacterianas, ajuda na lubrifica-ção dos tecidos da cavidade oral, diminuindo os resíduos de bactérias e alimentos. Assim, como é previsível, quanto menor for a quantidade de saliva e higienização oral, mais bactérias existi-rão, mais detritos alimentares permanecerão na

cavidade oral e mais intenso será o mau hálito. Como causas intraorais de halitose podem-se

apontar a língua saburrosa1, doença periodon-tal2, cáseos amigdalinos3, tártaro4, cáries dentá-rias, desidratação oral, sisos semi-inclusos, feri-das cirúrgicas, próteses mal adaptadas ou com muito desgaste, abcessos dentários e neoplasias benignas ou malignas.

As causas extraorais de halitose, menos de 10% dos casos, incluem a sinusite, refluxo gas-troesofágico, diabetes mellitus, jejum prolonga-do, ansiedade, insuficiência renal ou hepática,

neoplasias, ou mesmo como efeito secundário de alguns medicamentos, principalmente os an-tidepressivos.

Os nossos hábitos diários também influenciam o hálito. O tabagismo, o consumo regular de be-bidas alcoólicas e o excesso de café são causas de halitose. Alguns alimentos, como o alho e a cebola, são capazes de provocar halitose por vá-rias horas. No caso do alho, um dos gases produ-zidos pela sua digestão consegue ser absorvido pela circulação sanguínea, sendo eliminado pe-los pulmões. Por isso, após a ingestão de alho, o mau hálito pode permanecer por horas, mesmo após a escovagem dos dentes.

É normal ter halitose ao acordar. Isso acontece devido ao jejum da noite associado à redução do fluxo salivar que ocorre durante o sono. Após ingerir o pequeno-almoço e escovar os dentes esse hálito alterado deve desaparecer. Se não de-saparecer, existe algum problema que deve ser investigado e tratado.

Como a grande maioria dos casos têm origem na boca, os médicos dentistas ou os médicos estomatologistas costumam ser os melhor espe-cialistas para diagnosticar e tratar a halitose. Já o otorrinolaringologista pode ser o médico mais indicado nos casos de halitose com origem nas amígdalas ou vias aéreas superiores. Quando a halitose é inconstante e se associa a mau gosto ou ardor na boca deverá ser marcada consulta de gastrenterologia. Devo referir que em Portu-gal, tal como pelo mundo fora, já existem clíni-cas especializadas em halitose.

A prevenção deste problema compreende todas as medidas que uma pessoa pode adotar para evitar o início deste problema, entre elas a higiene oral (e.g.: escovar a língua sempre que

SAÚDE PARA TODOS 4

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 31

O Coronel da Marinha...

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (24)

“...Nos vapores da cozinha a negra Fe-lizminha arregaçava os olhos. Exugava a lágrima sempre tarde. Já a gota tombara na panela. Era certo e havido: a lágrima se adicionando nas comidas. Tanto que a cozinheira nem usava tempero nem sal. O sargento provava a comida e se pergunta-va porquê tão delicados sabores:

É comida temperada a tristeza.Era a invariável resposta de Felizminha…

In “Contos do Nascer da Terra”, Mia Couto.

Chegou amparado… Tinha com ele uma filha, senhora de meia-idade. Nun-ca deixou de me tratar por “V. Exa. Senhor Coronel”, e era tanto o respeito demonstra-do naquela expressão que nunca o contra-riei… com o nome do meu verdadeiro pos-to… corrigir aquele cavalheiro pareceu--me inadequado, uma ingratidão…

Antigo Oficial do Exército Português, ti-nha conhecido a Índia Portuguesa e Moçam-bique. Tinha vivido em Timor. Agora nem a rebelde hipertensão arterial, nem o con-sequente Acidente Vascular Cerebral lhe tinham roubado a dig-nidade… Vinha expe-rimentar o novo Hospital, afinal morava no Lumiar, era mais perto do que a Estrela antiga.

Puxei-lhe pela memória. De todo o lado exprimiu saudade, mas trazia Goa com particular afeição… Só não gostava de tanto arroz, “que o rancho não era como hoje” e sorriu… Sorriu enquanto descre-veu a ambiência de um Portugal antigo, vasto, grande como o Mundo…Tão gran-de que desafia a compreensão de nova-tos, como eu…

A filha, também presente na consulta, não parava de sorrir. Talvez já tivesse ouvido as histórias de como o pai en-joava nas viagens navais, daquela vez que adormeceu debaixo da árvore er-rada, em Timor, ou da ansiedade que sentiu aquando da invasão da Índia…Eu ouvi enquanto o tempo mo permitiu e gostei…

Gostei porque a essência do ser militar não está na arte da guerra… Está, disso estou certo, na grande humanidade que a condição militar, pelas muitas expe-riências e desconfortos, impõe a quem ousou vestir uma farda… Este Oficial era exemplo disso. A sua alma inspira-va glórias antigas, tão nítidas hoje como ontem, que davam sentido à sua vida de um modo que nem eu próprio consegui totalmente compreender…

Mas fiquei impressionado. Fiquei im-pressionado com a ternura que emana-va das suas histórias (à maneira do Mia Couto de que tanto gosto). Impressio-nei-me nesse dia e nos restantes. Voltei

a ser eu, mesmo naquele consultório ainda estranho, mesmo nestes hábitos diferentes, mesmo sem o ar do mar…em que me alistei, quando ainda não sentia as entranhas a saber a sal e o azul como a cor do mar…

Li os livros que já há muito tempo não conhecia… Senti o prazer noutros poe-mas que não sabia. Voltei a ser eu, na-quele dia… Temperei a minha vida com outras cores… Os sabores da alegria…

Alguns dos meus novos leitores não conhecem o meu passado de incipiente cronista. Acharão certamente estranhas (… porventura desusadas e até agressi-vas) as minhas histórias. A verdade é que nunca vivi só de pão e água. As palavras são o meu espírito e o meu es-pírito está nestas palavras. Conheci por dentro o vazio e a solidão. Perdi o sor-riso tantas vezes como o reconquistei…

Tive o desdém de alguns, mas mantive a amizade de muitos… Sobrevivi sempre a escrever a vida com um olhar que não é bom nem mau… mas é meu, apenas meu… Esse será o legado de que mais me orgulho ao longo destes anos…

Alguém me dizia há bem pouco tempo…− Pessoas como tu não existem…

É verdade. Pessoas como eu não exis-tem, têm que ser criadas num proces-so industrial pouco reprodutível (… e nada aconselhável). Uma mistura ape-nas acessível a Elfos e Gnomos, que são seres místicos da Terra, inspirados por

perigosos cantares de Sereia, que são entidades do Mar. São precisas pane-las grandes onde se misturam, há uma, poemas nunca ditos, letras esquecidas, de-sencantos passados de um tempo longe e perto e, por fim, vozes de uma espe-rança nunca perdi-da. Depois é preciso mexer e mexer tudo com força na alma… A força dos que estão e dos que já partiram. A força dos que ainda estão para vir. A for-ça dos que acreditam mesmo naquilo que nunca viram, mas já sentiram… Finalmen-

te, é preciso ser generoso no tempero com lágrimas de Fada Madrinha, que são parecidas em tudo com as nossas, mas muito mais puras, só comparáveis às lágrimas das crianças…

E só assim, após um tão difícil e de-licado processo de criação, porventura se encontrará alguém como eu, que se reconhece no ruído ensurdecedor que existe no silêncio de cada um. Só as-sim se acompanha o sol dos trópicos que ainda brilha na face daquele meu novo paciente, só assim se conhece o sabor do arroz de Goa, só assim se acredita que tudo vale a pena… Só as-sim vale a pena ser agora um “Coronel da Marinha…”.

Doc

O Coronel da Marinha...

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA32

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REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2013 33

JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS

QUARTO DE FOLGAJOGUEMOS O BRIDGE

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 163SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 445

Problema Nº163

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº445

E-W vuln. S joga 4♠ marcadas agressivamente pelo parceiro face à sua mão forte, valorizada pelo fato de no decorrer do leilão S lhe mostrar as suas 4 cartas do naipe, recebendo a saída natural a ♥7. Apesar do contrato pare-cer imperdível, dando apenas 2♠ e 1♥, a verdade é que a defesa consegue derrotá-lo. Analise atentamente as 4 mãos e descubra como. Solução neste número

E faz de R e ataca ♣, pois mesmo que o parceiro tenha o R ele estará con-denado. N joga trunfo e E entra imediatamente de A para votar a atacar ♣ e poder eventualmente fazer um corte que W lhe dará, jogando portanto na hipótese do parceiro ter o R de ♠ à 2ª, como é o caso. Tratou-se de uma excelente tentativa de E, pois fez uma boa leitura do jogo e apercebeu-se que o corte a ♣ seria possível desde que W tivesse R e outro trunfo, não lhe sendo difícil perceber o seu duplo ataque pouco natural para a fourchette.

Nunes MarquesCALM AN

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Horizontais: 1 - Esmalte preto; filho mais velho de Jacob (Bíblia). 2 - Tribo angolana; roupão. 3 – Adelgaçar; ruim. 4 - Nota musical; óxido de ítrio; no meio de ansa. 5 - Tira (inv); miadelas. 6 - Atilhos; toas. 7 - Régio; trecho tocado ou cantado por um só artista, que os outros acompanham. 8 - Grito de dor; teólogo entre os árabes; letra grega (inv). 9 - Mar na confusão; esma-gada. 10 - Serra portuguesa; peça de moinho, por onde cai o grão na calha (pl). 11 - Tirano de Esparta de 207 a 192 a. c. célebre pelas suas crueldades; dentes das folhas vegetais (sing).

Verticais: 1 - Trina na confusão; físico indiano (1888-1970) que descobriu o efeito de Raman relativo à difração da luz (ap). 2 - Pequeno navio de recreio à vela; cidade de Portugal. 3 - Três letras de ecarté; dama de companhia; no princípio de árbitro. 4 -Habitante da Lua; no princípio e meio de eia. 5 - Cidade do Japão; no meio de alce; 6 -Aras na confusão; fecham as asas para descer mais depressa (as aves). 7 - Graceja; caules dos juncos e das junças (inv). 8 - Antiga cidade da Mesopotâmia; tornar mole. 9 -Que tem bondade; o mesmo que ião; atue. 10 - Nome vulger de uma espécie de ebo-náceas (pl); ato de nadar (inv). 11 - Cidade industrial da Alemanha; carvão incandescente.

Norte (N)

Sul (S)

Oeste (W) Este (E)

DV73

10982

R6

A54

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

2

D43

10875

ARV96

ARDV5

98

1076

432

ADV

10875

R942

63

Horizontais: 1 - NIELO; RUBEN. 2 - IACUMA; ROBE. 3 - ATENUAR; MAU. 4 - RE; ITRIA; NS. 5 - ACAS; MIOS. 6 - LIOS; SOAS. 7 - REAL; SOLO. 8 - AI; ALIME; OR. 9 - MRA; CALCADA. 10 - AIRE; MOEGAS. 11 - NABIS; CRENA.Verticais:1 - NIART; RAMAN. 2 - IATE; LEIRIA. 3 - ECE; AIA; ARB. 4 -LUNICOLA; EI. 5 - OMUTAS; LC. 6 - AARS; SIAM. 7 - RI; SOMLOC. 8 - UR; AMOLECER. 9 - BOM; IAO; AGE. 10 - EBANOS; ODAN. 11 - NEUSS; BRASA.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIOS36º ENCONTRO NACIONAL DE MARINHEIROS

E EX-MARINHEIROS● Vai realizar-se, no dia 22 de junho, em Cantanhede, o 36º Encontro Nacional de Marinheiros e Ex-Marinheiros.As inscrições deverão ser feitas até 10 de junho.Para mais informações contactar: AFECC – R. de Santo António, nº 46 – 3060-156 CANTANHEDE / [email protected]; Carlos Freire – 962020449; Cmt. Pessoa Brandão – 912165697; José Matias – 917667388; Fernando Nobre – 935934573; Pedro Lindim – 916927953

“FILHOS DA ESCOLA” DE JUNHO DE 1967

CFZ 10 – GUINÉ 1969/71

● Realiza-se no dia 29 de junho, em Montemor-o-Velho, na Quinta do Taipal, o almoço-convívio dos “Filhos da Escola” de julho de 1967. Para mais informações os interessados devem contactar:José Soruga: Tel. 212 249 183 / 914 610 492Eduardo Borralho: Tel. 212 247 367 / 964 202 531

● Realizou-se no dia 18 de maio mais um almoço de confra-ternização do pessoal da CFZ 10- Guiné 1969/1971, em Alva-dos, Fátima, onde estiveram presentes cerca de 55 elementos.

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JUNHO 2013 • REVISTA DA ARMADA34

NOTÍCIAS PESSOAIS

CONVÍVIOS

COMANDOS E CARGOS

REFORMA

FALECIDOS

NOMEAÇÕES

● CMG Miguel Nuno Pereira de Matos Machado da Silva no-meado Chefe da Repartição de Efetivos e Registos da Direção do Serviço de Pessoal ● CFR Carlos Osvaldo Rodrigues Cam-pos nomeado Chefe Interino da Repartição de Gestão de Pesso-al da Direção do Serviço de Pessoal.

● SAJ FZ António Júlio Matanco Domingues ● SAJ US José Filipe Café Chitas ● SAJ B Tomás Lamas Pimentel ● CAB FZ José Manuel Lopes Azinheirinha ● CAB A Albino Ma-nuel Afonso Domingos ● CAB CRO Carlos Alberto Lopes Frutuoso.

● CALM REF Afonso Júlio Garrido Borges ● CFR OTS REF Al-fredo Rosado ● SMOR A REF Aníbal de Freitas Pereira ● SCH R REF José Carlos da Silva Joaquim ● SAJ L REF Francisco de Alegria Gavetanho ● SAJ CE REF Laurindo da Silva Martins ● SAJ FZ REF Mário Rodrigues Afonso ● SAJ A REF Adriano dos Reis Trindade ● SAJ TF REF Celestino ● SAJ CM REF Mário José de Carvalho e Silva ● SAJ O REF Francisco António Pequito ● SAJ R REF Joa-quim Basílio Vieira ● 1SAR FZ REF António Simão Lopes Miguens ● 1SAR E REF José de Almeida Leitão ● 1SAR B REF Manuel Pan-cão Cola ● CAB T REF João Francisco Roque ● CAB A REF Albino Ferreira Calado ● CAB CM REF António de Pina Cabral ● CAB FZ REF António Albino Guerreiro Gonçalves ● CAB SE REF Joaquim das Neves Martins ● CAB CM RES José Manuel Gonçalves Ferrei-ra ● CAB TFH REF António Gonçalves Gato ● 2GR DFA REF Fernando Nafassa ● Sota Patrão 1CL QPMM APOS José Marques Moreira ● AG 1CL QPPM ACT Adriano Ribeiro Martins ● SUB INSP QPMM APOS Carlos Augusto Figueira Rebelo.

29º ANIVERSÁRIO DA 10ª COMPANHIA 1ª INCORPORAÇÃO DE 1984

● No passado dia 9 de março, realizou-se o encontro-convívio da 10ª companhia da 1ª Incorporação de 1984. O convívio teve o ponto de encontro no Aquário Vasco da Gama, seguindo-se uma visita ao mesmo. O encontro terminou com um almoço num restaurante da zona, que decorreu num ambiente de grande alegria e sã camara-dagem. www.eam10companhia.com

“FILHOS DA ESCOLA“ DOS RECRUTAMENTOS DE SET1959 E MAR1960

● Os “Filhos da Escola” dos recrutamentos de setembro 1959 e março 1960 reuniram-se no seu almoço-convívio anual, no passado dia 13 de abril, no Restaurante “Viamar”, em Alfei-zerão, Alcobaça. O convívio decorreu em ambiente de ale-gria e sã camaradagem, recordando tempos antigos, navios, viagens, terras e acontecimentos que perduram na memória de todos. Em memória dos já falecidos, foi feito um minuto de silêncio. NÚCLEO DE FUZILEIROS DOS TEMPLÁRIOS

● A XVII edição do tradicional almoço-convívio, iniciativa dos Fuzileiros de Tomar, realizou-se este ano em 28 de abril no restaurante “Mister Grill” da povoação de Venda Nova, situada nos arre-dores da cidade tomarense. Entre os convidados

saliente-se a presença do Comandante da Escola de Fuzileiros e representantes dos Comandantes do Corpo de Fuzileiros, da Base e da Escola de Tecnologias Navais. Cerca de meia centena de Fuzi-leiros, acompanhados dos respetivos familiares, confraternizaram animadamente relembrando episódios vividos durante a Guerra do Ultramar e nas atuais missões internacionais, concluindo que o “espírito fuzileiro” se mantém ao longo das gerações.

“FILHOS DA ESCOLA” DE ABRIL 73

● No dia 27 de abril decorreu mais um encontro dos “Filhos da Escola” de abril 73, desta vez em Barcelos. O convívio decorreu na Quinta da Poça onde foi servido um almoço aos cerca de 200 convivas, que serviu para estreitar os laços que a Marinha uniu em abril de 1973. Ficou definido durante o repasto que o próximo convívio será na cidade de Sines.

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

31. NAVIO HIDROGRÁFICO ALMIRANTE GAGO COUTINHO

O USNS Assurance foi construído nos EUA pela Tacoma Boat Company, tendo sido lançado à água em janeiro de 1985. Como navio de vigilância e deteção submarina, a sua missão, enquanto es-teve ao serviço da Marinha Americana, consistiu na recolha e trans-missão de informação acústica em áreas oceânicas localizadas nas rotas dos submarinos da frota soviética.

Desativado em 1995, foi transferido para a Marinha Portuguesa em 30 de setembro de 1999 com o nome de Almirante Gago Coutinho. Após a chegada a Portugal, passou ao estado de desarmamento e a partir de junho de 2000, no Arsenal do Alfeite, foi objeto de pro-fundas e estruturais alterações que, terminadas em maio de 2007, o dotaram dos mais modernos meios hidro-oceanográficos.

A sua denominação evoca o ilustre oficial de Marinha que foi insigne navegador, histo-riador e geógrafo a quem se deve uma vasta obra de in-vestigação científica, incluin-do uma enorme variedade de trabalhos geográficos e históricos publicados, princi-palmente acerca das navega-ções marítimas portuguesas. Notabilizou-se ainda pelos le-vantamentos geográficos e delimitações de fronteiras dos territó-rios ultramarinos. Associado ao Comandante Sacadura Cabral, realizou em 1921 a travessia aérea Lisboa-Funchal e, em 1922, a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, durante a qual fez a navegação aérea com grande rigor, utilizando um sextante de sua invenção.

O navio ostenta na amurada a inscrição A 523 e tem as seguintes características gerais:

Deslocamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.285 toneladasComprimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68,3 metrosBoca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13,1 “Calado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,6 “ Velocidade máxima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 nós Autonomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.700 milhas a 10 “ É propulsionado por 2 motores General Electric de 1.600 cavalos,

sendo a energia fornecida através de 4 geradores Caterpillar D 398B. A sua guarnição é de 34 elementos (6 oficiais, 7 sargentos e 21 pra-ças). Dispõe de capacidade de alojamento para mais 14 pessoas.

Para o desempenho de trabalhos hidrográficos e oceanográficos, está equipado com dois sistemas sondadores multifeixe (SMF), um destinado a operar em profundidades até aos 2.000 metros, de grande resolução, e outro até profundidades de 12.000 metros, que permitem efetuar levantamentos hidrográficos de elevada defini-ção; um perfilador acústico de correntes até 700 metros (ADCP – Acoustic Doppler Current Profiler), um perfilador de sedimentos, que possibilita a execução de levantamentos de sísmica para além dos 3.000 metros de profundidade, dois perfiladores de velocidade de propagação do som na água até 2.000 metros de profundidade (SVP - Sound Velocity Profiler), e um sistema de posicionamento dinâmico. Dispõe igualmente de aparelhos de força (pórtico lateral e gruas ro-tativas) de grande capacidade. A existência de espaços técnicos com amplas estruturas laborais permite um completo e eficaz tratamen-to de amostras de água colhidas em campanha. Está ainda dotado de modernos, flexíveis e redundantes sistemas de comunicações e transmissão de dados. A capacidade hidrográfica portuária é asse-

gurada por uma moderna embarcação de sondagem transportável na tolda.

O Almirante Gago Coutinho desempenha funções de grande impor-tância em diferentes áreas, tais como: Serviço Público, Apoio às Ope-rações Navais e Atividade I&D (Investigação e Desenvolvimento).

Na área do Serviço Público, assumem particular relevância a realização de levantamentos hidrográficos com recurso aos SMF, cuja informação recolhida, aplicada na construção e atualização das Cartas e Publicações Náuticas, permite aos navegantes o acesso a produtos que refletem com grande fidelidade a realidade dos fun-dos marinhos, contribuindo assim para a segurança da navegação.

Da atividade do navio salientam-se as campanhas realizadas no âmbito do apoio à Estrutura de Missão para a Extensão da

Plataforma Continental, no período de 2007 a 2010 e no ano 2012, onde foram efetua-dos diversos levantamentos hidrográficos e mergulhos ROV (Remotely Operated Vehi-cle) a grandes profundidades.

No Apoio às Operações Na-vais, o navio desempenhou um importante papel em 2010

no exercício internacional DEEP DIVEX, servindo de plataforma de apoio às atividades de mergulho de grande profundidade. Ain-da nesta área efetua observações de parâmetros físico-químicos e hidrodinâmicos fundamentais para alimentar e validar os mode-los de previsão oceanográfica no âmbito da circulação oceânica e da acústica submarina. A informação e os produtos de apoio à decisão constituem uma importante mais-valia para a tomada de decisões táticas e operacionais, no teatro de operações, permitindo o uso otimizado de meios, sensores e armas.

No que diz respeito à atividade de I&D, dispõe das capacidades necessárias para corresponder aos desafios e solicitações da comu-nidade científica nacional e internacional, e tem sido empenhado em diversos projetos científicos multidisciplinares, nos quais o Ins-tituto Hidrográfico participa, em cooperação com universidades e centros de investigação nacionais e internacionais. Neste âmbito merecem relevo as 17 missões, efetuadas pelo navio, entre 2010 e 2013, na implementação e manutenção de uma rede de boias multiparâmetro na costa oeste de Portugal continental, no âmbito dos projetos científicos MONICAN (Monitorização do Canhão da Nazaré), RAIA (Observatório Oceânico da Margem Ibérica) e ODAS (Ocean Data Acquisition System). Estes projetos disponibili-zam on-line, e em contínuo, uma grande variedade de parâmetros oceanográficos e meteorológicos, e permitem alimentar diversos modelos e produtos de previsão ambiental, como os de agitação marítima e de circulação marítimas.

As elevadas capacidades, no âmbito das ciências e tecnologias do mar, que o N.H. Almirante Gago Coutinho possui e se situam ao nível das mais bem apetrechadas unidades similares de mari-nhas estrangeiras, levam a considerar o navio não só uma unidade naval que muito tem contribuído para um melhor conhecimento científico do mar sob jurisdição nacional e da pretendida extensão da Plataforma Continental, como também um importante meio para a cooperação internacional.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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