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CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DE LAJES NERVURADAS PRÉ- FABRICADAS COM VIGOTA TIPO TRILHO PROTENDIDA Luiz Carlos França e Silva 1 Silvandro Ferreira de Siqueira Júnior 2 RESUMO Neste trabalho serão apresentados os procedimentos para dimensionamento de lajes pré-fabricadas nervuradas com vigota tipo trilho protendida. Além de serem apresentados os critérios de projeto relativo as normas brasileiras: NBR 6118 (2014) “Projeto de estruturas de concreto – Procedimento”; NBR 14859 (2002) “Laje pré- fabricada Requisitos parte 1 (Lajes unidirecionais)e os critérios da norma espanhola EF-96 (2002) “Instrucion para o proxecto e a execucion de forxados unidirecionais de formigón estructural realizados com elementos pré-fabricados” juntamente com os da norma europeia EN 15037-1 (2008) “Produtos em concreto pré- moldado Sistemas de lajes nervuradas e blocos parte 1: vigas”. Inicialmente serão definidos os conceitos básicos desse tipo de sistema como, por exemplo, terminologia e materiais empregados. Os critérios de projeto para esse tipo de sistema estrutural são apresentados conforme ordem de dimensionamento. Primeiro são apresentadas as dimensões mínimas impostas pelas respectivas normas, os critérios de verificação de tensões no concreto além das verificações na fase de fabricação e montagem. O trabalho tem o objetivo de apresentar critérios para a elaboração de projetos com esse tipo de sistema assim como diminuir a escassez de material técnico sobre o assunto. Palavras-chave: Lajes pré-fabricadas. Concreto protendido. Lajes nervuradas. Vigotas protendidas. ABSTRACT In this work will be presented the procedures for sizing ribbed prefabricated slabs with prestressed rail type. In addition to presenting the design criteria related to Brazilian standards: NBR 6118 (2014) “Design of concrete structures – procedures”;

CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DE LAJES NERVURADAS … · CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DE LAJES NERVURADAS PRÉ- ... Sistemas de lajes nervuradas e blocos – parte 1: vigas”

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CRITÉRIOS PARA DIMENSIONAMENTO DE LAJES NERVURADAS PRÉ-

FABRICADAS COM VIGOTA TIPO TRILHO PROTENDIDA

Luiz Carlos França e Silva 1 Silvandro Ferreira de Siqueira Júnior 2

RESUMO

Neste trabalho serão apresentados os procedimentos para dimensionamento

de lajes pré-fabricadas nervuradas com vigota tipo trilho protendida. Além de serem

apresentados os critérios de projeto relativo as normas brasileiras: NBR 6118 (2014)

“Projeto de estruturas de concreto – Procedimento”; NBR 14859 (2002) “Laje pré-

fabricada – Requisitos parte 1 (Lajes unidirecionais)” e os critérios da norma

espanhola EF-96 (2002) “Instrucion para o proxecto e a execucion de forxados

unidirecionais de formigón estructural realizados com elementos pré-fabricados”

juntamente com os da norma europeia EN 15037-1 (2008) “Produtos em concreto pré-

moldado – Sistemas de lajes nervuradas e blocos – parte 1: vigas”.

Inicialmente serão definidos os conceitos básicos desse tipo de sistema como,

por exemplo, terminologia e materiais empregados. Os critérios de projeto para esse

tipo de sistema estrutural são apresentados conforme ordem de dimensionamento.

Primeiro são apresentadas as dimensões mínimas impostas pelas respectivas

normas, os critérios de verificação de tensões no concreto além das verificações na

fase de fabricação e montagem. O trabalho tem o objetivo de apresentar critérios para

a elaboração de projetos com esse tipo de sistema assim como diminuir a escassez

de material técnico sobre o assunto.

Palavras-chave: Lajes pré-fabricadas. Concreto protendido. Lajes nervuradas.

Vigotas protendidas.

ABSTRACT

In this work will be presented the procedures for sizing ribbed prefabricated

slabs with prestressed rail type. In addition to presenting the design criteria related to

Brazilian standards: NBR 6118 (2014) “Design of concrete structures – procedures”;

NBR 14859 (2002) “Prefabricated slabs – Requirements part 1 (Unidirectional slabs)”

and the criteria of Spanish Standard EF-96 (2002) “Instrucción para el projecto y la

ejecución de forjados unidireccionales de hormigón armado e pretensado” together

with those of European Standard EN 15037-1 (2008) “Precast concrete products –

Beam-and-block floor system – Part 1: beams”.

Initially, the basic concepts of this type of system will be defined, such as

terminology and materials employed. The design criteria for this type of structural

system are presented according to sizing order. First, the minimun dimensions

imposed by the respective standards, the concrete stress checking criteria and the

manufacturing and assembly phase checks are presented. The work aims to present

a methodology for the elaboration of projects with this type of system as well as reduce

the shortage of technical material on the subject.

________________________

¹ SILVA, Luiz Carlos França; Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Católica de Pernambuco e Especialista em Estruturas de Concreto e Fundações, Universidade Estadual Paulista, Brasil. [email protected] ² SIQUEIRA Jr., Silvandro Ferreira; Engenheiro Civil, Centro Universitário dos Guararapes, UNIFG, Brasil. [email protected]

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INTRODUÇÃO

Na elaboração de um projeto de laje pré-fabricada com vigota protendida se faz

necessário recorrer a normas técnicas específicas sobre o assunto. Os procedimentos

de dimensionamento de lajes pré-fabricadas com vigota tipo trilho protendida

apresentados a seguir estão com base na norma brasileira NBR 6118 (2014) “Projeto

de estruturas de concreto – Procedimento” e NBR 14859 (2002) “Laje pré-fabricada –

Requisitos parte 1: Lajes unidirecionais”, na norma espanhola EF-96 (2002)

“Instrucion para o proxecto e a execucion de forxados unidirecionais de formigón

estructural realizados com elementos pré-fabricados” e na norma europeia EN 15037-

1 (2008) “Produtos em concreto pré-moldado – Sistemas de lajes nervuradas e blocos

– parte 1: vigas”.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As lajes pré-fabricadas formadas por nervuras, chamadas popularmente de

lajes pré-moldadas ou lajes pré-fabricadas, vem sendo extremamente empregadas

em diversas regiões do país para faixa de vãos e carregamentos relativamente

pequenos. Debs (2017) define esse tipo de elemento como sendo constituído por

vigotas pré-moldadas e elementos de enchimento, como blocos vazados ou de

poliestireno expandido, que recebem uma camada de concreto moldado no local, além

de armaduras complementares a esse concreto (figura 01). Os componentes desse

sistema estrutural pode ser divido em:

a. Elementos lineares pré-moldados, que correspondem às nervuras

(vigotas) dispostos espaçadamente em uma direção;

b. Elementos de enchimento, colocados sobre os elementos pré-moldados;

c. Concreto moldado no local.

4

Figura 01: Laje formada por nervuras pré-moldadas Fonte - Debs (2017).

CARVALHO (2017) define a laje pré-moldada com trilhos como sendo uma laje

composta por nervuras de concreto protendido chamadas de trilhos, onde o formato

das seções transversais se assemelham e posteriormente o sistema é completado por

elementos de enchimento que podem ser de EPS (isopor) ou lajotas cerâmicas,

servindo de fôrma para a capa de concreto e o restante da nervura.

Já Almeida (1998) define o sistema de laje pré-moldada com vigotas

protendidas como sendo uma laje mista composta de vigas pré-moldadas protendidas

(vigotas), materiais inertes de enchimento e uma capa de concreto local (figura 02).

As vigotas pré-moldadas protendidas são espaçadas entre si por um valor

constante (intereixo) onde posteriormente é posicionado o elemento inerte, podendo

este ser cerâmico, de concreto ou isopor. Para o enrijecimento de todo esse conjunto

é feito após a montagem das nervuras e elemento de enchimento a concretagem

superior da capa de concreto que complementa a seção resistente com uma mesa de

compressão de pequena espessura. Nessa mesa são colocadas armaduras passivas

que além da finalidade de evitar fenômenos de fissuração pode ser utilizada como

engastamento parcial nos apoios de extremidade.

5

.

Figura 02: Seção de uma laje em concreto protendido

Fonte: Merlin (2002).

As vigotas pré-moldadas devem ser sempre constituídas por concreto estrutural

e são fabricadas normalmente em indústrias ou no canteiro de obras, ou seja, sempre

são fabricadas fora do local definitivo da estrutura e sob rigorosas condições de

controle de qualidade. As vigotas mais comumente utilizadas em nosso país são as

que apresentam a seção transversal em forma de “T” invertido. Essas vigotas chegam

a atingir vãos de 5 a 10 metros para vigotas em concreto armado e concreto

protendido respectivamente. As vigotas da figura 03 podem ser de três tipos:

a. Em concreto armado, com seção transversal próxima de um “T” invertido

constituída de armadura passiva na sua parte inferior totalmente

envolvida pelo concreto. Essa vigota possui a desvantagem de não

permitir armadura adicional depois de fabricada. Caso necessário essa

armadura deve ser indicada antes de sua fabricação.

b. Em concreto protendido, com seção transversal próxima de um “T”

invertido constituída de armadura pré-tensionada envolvida pelo

concreto. Nesse tipo de vigota se faz necessário um controle rigoroso da

resistência a compressão do concreto para que a peça não entre em

colapso durante a liberação da protensão.

c. Treliçadas, com a seção de concreto em forma de uma placa (sapata)

onde fica a armadura do banzo inferior da treliça. A esse tipo de laje é

possível utilizar armadura adicional, essa pode ser adicionada durante a

fabricação na própria sapata ou por cima da mesma.

6

Figura 03: Laje formada por nervuras pré-moldadas

Fonte: Debs (2000).

Os elementos de enchimento são componentes pré-fabricados de materiais

inertes diversos, sendo maciços ou vazados, intercalados entre as vigotas em geral,

com a função de reduzir o volume de concreto, o peso próprio da laje e servir como

fôrma para o concreto complementar. São desconsiderados como colaborantes nos

cálculos de resistência e rigidez da laje. Esses elementos (figura 04), são blocos

vazados de material cerâmico ou concreto, ou ainda blocos de poliestireno expandido

(EPS). A definição do tipo de elemento de enchimento é fundamental, pois, em função

deste as dimensões da seção transversal de cálculo são definidas.

Figura 04: Elementos de enchimento empregados nas lajes.

Fonte: Debs (2000).

O concreto moldado no local constitui a capa. A espessura da capa é medida a

partir da face superior do elemento de enchimento. Em relação a armadura

complementar disposta em duas direções, denominada armadura de distribuição

constituída normalmente em tela na capa de concreto segundo Debs (2017) tem as

seguintes finalidades: promover um comportamento conjunto mais efetivo da laje com

a estrutura;

• reduzir os efeitos da retração diferencial entre o concreto pré-fabricado

e o moldado no local;

• reduzir a abertura de fissuras devidas à retração e aos efeitos térmicos;

• proporcionar melhor distribuição transversal de cargas localizadas;

• proporcionar um comportamento de diafragma mais efetivo.

7

2. RECOMENDAÇÕES NORMATIVAS

No Brasil as lajes formadas por vigotas pré-moldadas em concreto armado e

protendido são objeto de normalização da ABNT. Basicamente se faz necessário a

utilização de duas normas técnicas, a NBR 14859-1 (ABNT,2002) e a NBR 6118

(ABNT,2014). A NBR 14859-1 trata dos requisitos para projeto para lajes pré-

fabricadas unidirecionais. A NBR 6118 trata do projeto de estruturas de concreto

armado e protendido. Além dessas normas a NBR 9062 (ABNT,2017) que trata do

projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado e a NBR 15522

(ABNT,2017) que trata da avaliação do desempenho de vigotas e pré-lajes sob cargas

de trabalho devem sempre serem consultadas.

Se tratando de normas estrangeiras, as normas espanholas EF-96 (2002)

“Instrucción para el proyecto y la ejecución de forjados unidireccionales de hormigón

armado o pretensado” e EHE-08 (2011) “Instrucción de Hormigón Estructural”

merecem destaque e serão muito ressaltadas neste trabalho. Na comunidade

europeia as normas EN 15037-1 (CEN, 2008) e EN 15037-2 também tratam do

sistema de lajes pré-moldadas.

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo I que trata do campo de

aplicação e considerações iniciais, no artigo 1º apresenta em termos de características

geométricas para lajes nervuradas com vigotas os seguintes valores;

• a altura total da laje (h) não deve ultrapassar 50 cm;

• o vão (𝑙) de cada tramo deve ser menor que 10 m;

• a distância livre entre nervuras (𝑏𝑒) não deve ultrapassar 100 cm;

No capítulo V que trata das considerações gerais e disposições construtivas

das nervuras, o artigo 17 apresenta as condições geométricas recomendadas (figura

2.10) para nervuras com vigotas protendidas, sendo os seguintes valores;

• a altura mínima da capa de concreto (hf) deve ser:

o 4 cm sobre as vigotas;

o 4 cm sobre os elementos de enchimento cerâmico ou de concreto;

o 5 cm os elementos de enchimento de outro tipo;

• o elemento de enchimento deve permitir, a qualquer distância “c” de seu

eixo vertical de simetria, uma espessura de concreto maior que “c/8” para

8

peças com elemento de enchimento resistente e “c/6” para os demais

casos;

• o elemento de enchimento deve manter uma distância de 3 cm da face

superior da vigota, no mínimo;

Figura 05: Características geométricas das lajes EH-96 (2002).

Fonte: Merlin (2002).

Ainda em seu capítulo II que trata das bases de cálculo e análise estrutural, no

artigo 7º esta norma recomenda utilizar o vão de cálculo (𝑙) como sendo a distância

entre os eixos dos apoios e quando a altura da laje for menor que a espessura deste,

tomar o vão de cálculo como sendo a soma da distância livre entre os apoios mais a

altura da laje.

Quando se tratar de situações que comtemplem cargas concentradas como

equipamentos ou distribuídas como alvenarias deve ser realizada uma avaliação na

distribuição dos esforços nas nervuras. Na ausência de informações mais precisas

obtidas por outros métodos de análise estrutural algumas normas dispõem de

processos simplificados.

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu anexo 2 recomenda utilizar para a

distribuição das cargas concentradas ou lineares que atuem no eixo longitudinal ou

paralelo de uma nervura interna, na ausência de cálculos mais precisos e de forma

simplificada, multiplicar a carga pelos respectivos coeficientes (tabela 01 e figura 06).

9

Tabela 01: Coeficiente de distribuição transversal para carga concentrada ou linear

Fonte: EF-96 (2002)

A capa superior em concreto deve ser armada para resistir um momento Md

igual a:

0,3 pd para carga linear;

0,125 Pd para carga concentrada;

onde:

Md momento fletor de cálculo correspondente a nervura, em kNm/m;

Pd carga pontual de cálculo, em kN;

pd carga linear de cálculo, em kN/m, por m de nervura;

Essa armadura deve se estender na direção das nervuras até uma distância de

𝑙 4⁄ a partir da carga concentrada ou dos extremos de uma carga linear. Na direção

perpendicular essa armadura deve se estender até a nervura 4 (figura 2.12).

Figura 06: Distribuição transversal de cargas concentradas ou lineares

Fonte: EF-96 (2002).

Já a norma brasileira NBR 6118 (2014) “Projeto de estruturas de concreto -

procedimento”, apresenta em termos de características geométricas para lajes

nervuradas em seu item 13.2.4.2 as seguintes diretrizes (ver figura 07):

10

• a espessura da mesa hf, quando não existirem tubulações horizontais

embutidas, deve ser maior ou igual a 1/15 da distância entre as faces

(internas) das nervuras l0 e não menor que 4 cm;

• a valor mínimo absoluto da espessura da mesa hf deve ser 5 cm, quando

existirem tubulações embutidas de diâmetro menor ou igual a 10 mm.

Para tubulações com diâmetro ϕ maior que 10 mm, a mesa deve ter a

espessura mínima de 4 cm + 𝜙𝑡 , ou 4 cm + 2𝜙𝑡 no caso de haver

cruzamento destas tubulações.

• a espessura das nervuras bw não deve ser inferior a 5 cm;

• nervuras com espessura menor que 8 cm não pode conter armadura de

compressão.

Figura 07: Características geométricas das nervuras NBR 6118 (2014).

Fonte: Bastos (2015).

A norma NBR 14859-1 (2002) “Laje pré-fabricada – Requisitos Parte 1: Lajes

unidirecionais”, apresenta as diretrizes para o projeto de lajes nervuradas com vigotas

protendidas, define laje pré-fabricada em concreto protendido como laje com seção

usualmente em forma de um “T” invertido, com armadura ativa pré-tensionada

totalmente englobada pelo concreto da vigota. O intereixo (i) mínimo para a vigota

protendida é de 40 cm. A figura 2.13 apresenta uma seção de laje com nervura

protendida assim com as respectivas nomenclaturas para suas dimensões.

11

Figura 08: Laje com vigotas de concreto protendido

Fonte: NBR 14859-1 (2002).

O item 4.1.2 desta mesma norma padroniza algumas dimensões para alturas

os valores apresentados na tabela 02, deixando a liberdade da utilização de outras

medidas quando acordada entre o fornecedor e o projetista.

Tabela 02: Altura total (h)

Fonte: NBR 14859-1(2002).

A mesma norma no seu item 4.2 especifica os intereixos mínimos em função

do tipo da vigota. Sendo para vigota protendias o intereixo (i) mínimo de 40 cm. No

seu item 5.3 são especificadas as espessuras para a capa de concreto. Sendo a

espessura mínima para a capa 3 cm, contradizendo a NBR 6118/2014. Na tabela 03

abaixo está apresentada as espessuras em função da altura total da laje.

12

Tabela 03: Capa mínima resistente para as alturas totais padronizadas

Fonte: NBR 14859-1(2002).

A armadura de protensão conforme o item 4.3.2 deve ser de no mínimo 3 mm

para fios de protensão e 3 x 3,0 mm para as cordoalhas.

A norma europeia EN 15037-1 determina que a altura máxima (hc) da laje seja

de no máximo 50 cm e o intereixo (i) entre as vigotas de no máximo 1,00 m, ou seja,

os mesmos critérios da norma espanhola. Em termos de dimensão da armadura de

protensão, no seu item 4.1.4 essa norma apenas impõe que os fios ou cabos não

tenham um diâmetro maior que 13 mm.

3. VERIFICAÇÕES

De acordo com CARVALHO (2017), para verificar as condições de serviço é

preciso conhecer o que acontece na peça durante as condições de utilização, ou seja,

com as ações que realmente vão ocorrer com maior frequência e não as esporádicas

ou que levaram a estrutura ao colapso. Assim para verificaras peças de concreto

protendido em situações de serviço, costuma-se calcular as tensões normais máximas

em cada seção transversal. As hipóteses empregadas para tanto são (ações em

serviço):

• validade da lei de Hooke para os materiais aço e concreto (relação linear

entre tensão e deformação);

• validade da superposição de efeitos. Os deslocamentos são pequenos e

não interferem nos esforços internos;

• a seção plana da seção transversal permanece plana após a deformação;

• o material da seção transversal é homogêneo;

13

Assim e com todas essas condições, a teoria técnica da resistência dos

materiais pode ser empregada. As tensões normais máximas no concreto ocorrem

nos pontos mais afastados do centro de gravidade da seção, ou seja, na borda inferior

e superior da seção, sendo dados por:

σs =Np

Ac−

Np ep

Ws±

M

Ws

σi =Np

Ac+

Np ep

Wi∓

M

Wi

sendo:

σi e σs tensões normais no concreto junto à borda inferior e superior,

respectivamente;

Np esforço normal de protensão na seção;

ep excentricidade do cabo na seção. Distância entre o centro de gravidade

do cabo e o centro de gravidade da seção transversal. Na expressão

está considerado que a excentricidade está abaixo do centro de

gravidade da viga;

Ac área da seção transversal de concreto (em geral, a seção geométrica

bruta);

Wi e Ws módulo de resistência da seção em relação à borda inferior e superior.

Dado pela razão entre o momento de inércia (relativo ao eixo central) e

a distância do centro de gravidade da seção em relação a borda inferior

e superior.

M soma dos momentos fletores na seção devido as ações atuantes (peso

próprio, carga acidental, sobrecarga permanente, etc.) para a verificação

requerida;

Npe momento fletor isostático de protensão refere-se ao efeito da força de

protensão estar excêntrica em relação ao centro de gravidade (cg) da

peça e, assim para reduzi-la (força de protensão) a este ponto (cg), é

preciso considerar este momento.

14

Se tratando de vigotas protendidas na fábrica, a vigota possui uma seção

transversal “constante”, porém na obra essa seção é complementada com o concreto

moldado no local. Durante essa concretagem (da capa), os trilhos devem resistir ao

seu peso próprio, das lajotas, das pessoas e de possíveis equipamentos utilizados na

concretagem. Logo as verificações necessárias são basicamente duas. A verificação

em vazio (verificação da vigota isolada) e verificação da vigota na fase de construção

(verificação na situação transitória). Em cada situação a laje apresentará uma seção

transversal e um carregamento a ser considerado.

3.1 . Verificação em Vazio (Vigota Isolada)

Buscando evitar a ruptura brusca, escoamento ou relaxação da armadura de

protensão a mesma norma em seu item 9.6.1.2.1 que trata dos valores-limites da

tensão inicial de protensão limita o valor dessa tensão em função de dois fatores; um

referente a operação de protensão e outro após a operação de protensão. Esses

limites também evitam a possibilidade de danos na ancoragem por esforço excessivo

da força de protensão.

Os valores limites em relação a operação de protensão para o caso de

armadura pré-tracionada, que é o caso das nervuras com vigotas protendidas é dado

pelos limites abaixo. Ressaltamos que a tensão σpi se refere a tensão de protensão

na saída do aparelho.

• pré-tração com aço tipo RN (relaxação normal): σpi ≤ {0,77 fptk

0,90 fpyk };

• pré-tração com aço tipo RB (relaxação baixa): σpi ≤ {0,77 fptk

0,85 fpyk };

sendo;

fptk resistência característica à tração do aço de protensão;

fpyk resistência de cálculo do aço de protensão ao escoamento;

15

A norma espanhola EHE 08 (2011) em seu item 20.2.1 que trata da limitação

das tensões iniciais de protensão determina que em qualquer ponto a tensão σpi seja

menor que os seguintes valores:

• σpi ≤ {0,70 fptk

0,85 fpyk };

Antes do momento de liberação dos cabos de protensão durante a fase de

fabricação das vigotas esta fica submetida a uma força de protensão Pi, a força Pi é a

força máxima aplicada na armadura de protensão pelo equipamento de protensão e

deve atender os limites especificados anteriormente, porém essa força deve ser

reduzida em função das perdas de protensão imediatas e diferidas no tempo. Depois

do lançamento do concreto e da efetividade e comprovação de sua resistência a

liberação da protensão será realizada. A força P0 é a força nesse instante, ou seja,

anterior a liberação das ancoragens externas. Essa força corresponde ao valor da

força Pi subtraída das perdas de protensão decorrentes do escorregamento dos fios

e cordoalhas nas ancoragens provisórias nas cabeceiras das pistas, da relaxação do

aço e da retração inicial do concreto, dadas por ∆P0.

P0 = Pi − ∆P0

No momento da liberação da protensão essa força é transferida para o concreto

e deve ser subtraída das tensões decorrentes da deformação imediata do concreto.

Essa força é denominada por ∆Pt. Sendo assim a força de protensão transferida ao

concreto ou aço Pt para uma seção de abscissa x e tempo t é dada por:

Pt(x) = P0(x) − ∆Pt(x) ∴ Pt(x) = Pi − ∆P0(x) − ∆Pt(x)

Essa força é variável em função do tempo e é afetada pelas perdas

progressivas de protensão provocadas pela retração posterior, fluência do concreto e

da relaxação posterior da armadura. Nesse casso essas perdas tendem a um valor

final P∞(x), que é a força de protensão após terem ocorrido todas as perdas. As perdas

de protensão serão tratadas brevemente no próximo item.

No seu capítulo II tratando das bases de cálculo e análise estrutural, no seu

artigo 8º recomenda que no instante da transferência da força de protensão a máxima

16

tensão normal de compressão seja de 0,6fckj e que as tensões de tração não sejam

maiores que fctkj.

A NBR 6118 (2014) em seu item 17.2.4.3.2 admite que a segurança em relação

ao estado-limite último no ato da protensão seja verificada no estádio I, ou seja,

considerando o concreto não fissurado desde que as seguintes condições sejam

feitas; a) a tensão máxima de compressão na seção de concreto não pode ultrapassar

70% da resistência característica fckj, prevista para a idade de aplicação da protensão.

A tensão máxima de tração do concreto não pode ultrapassar 1,2 vez a resistência à

tração fctm correspondente ao valor fckj especificado.

Figura 09: Distribuição máxima de tensões na seção transversal.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em relação as verificações da seção transversal na liberação da protensão

perante a norma EN 15037-1 (2008) em seu item 4.2.3.2.3 determina que no momento

da liberação da protensão a tensão de compressão mínima fckj deve ser pelo menos

0,6 σcp, sendo σcp desenvolvida na fibra inferior da nervura sob a força de protensão,

ou 20 Mpa, o que for o maior.

Em relação aos valores limites da tensão de protensão a mesma norma em seu

item 4.2.3.2.5 impõe que os limites da força de compressão sejam dados por duas

condições; uma mínima e outra máxima.

a) Tensão mínima protensão: Em relação a força de protensão final, as tensões

nas seções transversais médias não devem ser inferiores a 2 Mpa e nas seções

inferiores a 4 Mpa. A tensão mínima ainda deve ser verificada conforme

condição anterior.

b) Tensão máxima protensão: A tensão máxima de tração na fibra superior do

concreto, como resultado da ação da força de protensão e do peso próprio da

17

viga deve ser limitado a 0,30 fckj2 3⁄

, sendo fckj a resistência a tensão do concreto

no momento da protensão.

3.2. Verificação na Fase Transitória (Fase de Construção)

Durante a fase de montagem da laje que constitui basicamente da montagem

das vigotas, posicionamento do material de enchimento, armaduras complementares

e concretagem da capa de concreto dependendo dos vãos utilizados deve-se dispor

do uso de escoramentos pois em caso contrário a vigota pode romper ou deformar-se

excessivamente. Quando a vigota é pré-moldada, nesta atua apenas o seu peso

próprio (g1) e a mesma é autoportante vencendo o vão 𝑙, porém quando é adicionado

o restante da carga permanente é que essa situação deve ser verificada. CARVALHO

(2017) recomenda um escoramento entre vigotas de no máximo 2 metros.

Nesse caso o escoramento (estal) funciona como um apoio provisório e gera

esforços adicionais a estrutura. Ressaltando que esses esforços não são gerados

quando a vigota está apenas posicionada em seu local definitivo e sim a partir da

montagem do sistema, ou seja, por um momento a vigota funciona como isolada e

outrora como contínua. No caso de um ou dois estais recomenda-se a distribuição

abaixo, conforme Almeida (1998).

Figura 10: Esquema geral da vigota na fase de construção com 1 ou 2 estais

Fonte: Almeida (1998).

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo IV que trata dos cálculos

relativos aos estados limites, no artigo 16 que trata das verificações prévias em

18

relação a concretagem no local, recomenda que a distância máxima entre os

escoramentos deve-se levar em conta: a) a consideração durante a concretagem de

uma ação característica além do peso próprio total da laje de uma sobrecarga de

execução de no mínimo 1kN/m²; b) o vão de cálculo de cada tramo la, deve ser medido

entre os apoios extremos das vigas e o eixo dos escoramentos conforme figura 2.20;

c) as solicitações devem ser calculadas em regime linear, considerando a rigidez da

nervura constate; d) os coeficientes de segurança global das ações γf não pode ser

menor que 1,25. A NBR 8661 (2003) “Ações e segurança nas estruturas” toma esse

coeficiente como 1,2.

Figura 11: Solicitações na nervura durante a concretagem

Fonte: EF-96 (2002).

Ainda no mesmo artigo a norma recomenda que em relação ao estado limite

de serviço durante a situação de concretagem (verificação na situação provisória), a

flecha w ao longo de todo o vão seja:

w ≤ 𝑙a 1000⁄ ≤ 3 mm

sendo 𝑙a o vão de cálculo da laje.

As tensões normais na seção transversal da nervura devem ser verificadas em

dois pontos, sobre os escoramentos e no meio dos vãos respeitando os limites de

tensões máximas já descritos para essa norma.

19

4. PERDAS DE PROTENSÃO

Denomina-se perda de protensão todas as perdas verificadas nos esforços

aplicados aos cabos de protensão. No instante de aplicação da força de protensão,

essa se desenvolve ao longo de todo o cabo, porém ao longo deste não se permanece

constante. Essas perdas podem ser classificadas de diferentes formas. Abaixo está

apresentada uma classificação em função da sua época de ocorrência.

• perdas imediatas, que dependem do sistema construtivo:

o perdas por atrito;

o perdas nas ancoragens;

o perdas por encurtamento elástico do concreto;

• perdas retardadas, que dependem das propriedades dos materiais

incorporadas na estrutura:

o perdas por fluência e retração do concreto;

o perdas por relaxação do aço;

De um modo geral as perdas são imediatas ou diferidas no tempo. Via de regra

todas essas perdas devem ser determinadas ao longo do cabo para qualquer seção,

combinação de carregamento, época da estrutura e para as condições de utilização

como as dos estados limites de serviço e último.

A norma EN 15037-1 (2008) em seu item 4.2.3.2.6 permite que as perdas de

protensão sejam estimadas. Sabendo que a força de protensão final P∞ é igual a força

de protensão inicial Pi, menos as perdas totais ΔP após um tempo infinito, para a

determinar essas perdas, na ausência de cálculo mais preciso, pode-se adotar os

valores da tabela 04, abaixo.

Tabela 04: Estimativa da Força final de protensão

Fonte: EN 15037-1 (2008).

20

5. ESTADO LIMITE ÚLTIMO

O comportamento estrutural das lajes formadas pelas vigotas pré-moldadas

corresponde, em termos gerais, ao das lajes armadas em uma direção, também

chamadas de lajes unidirecionais, com seção resistente composta da parte pré-

moldada e do concreto moldado no local. No dimensionamento estrutural desse tipo

de laje, o cálculo das solicitações é normalmente feito considerando a laje como viga

simplesmente apoiada ou contínua, mediante análise linear, com momento de inércia

constante.

Debs (2017) ainda ressalta que a seção resistente das nervuras pode ser

considerada como a da parte pré-moldada somada à da parte moldada no local, se

for garantida a transferência de cisalhamento pela interface. No entanto não se deve

incluir na seção resistente as partes de concreto moldado no local, nas quais esse

concreto teria que passar por locais com dimensão menor que 20 mm (figura 12).

Figura 12: Largura para certificação da resistência à força cortante para vigota protendida

Fonte: Debs (2000).

Assim como no concreto armado, para a resistência aos momentos fletores

positivos pode-se contar com a colaboração da mesa formada pela capa de concreto

na parte comprimida. Já para o momento fletor negativo só é possível contar apenas

com a nervura na parte comprimida da vigota. No caso de elementos lajes biapoiadas,

a força de protensão é determinada em função dos momentos fletores máximos no

meio do vão.

A determinação das armaduras poderia ser feita para o atendimento dos ELU,

passando depois para as verificações dos ELS, como é geralmente realizado no

dimensionamento dos elementos de concreto armado. Porém em peças de concreto

21

protendido é também usual fazer o contrário: dimensionar a armadura para as

condições de serviço (estado limite de fissuração) e verificá-la na ruptura.

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo II que trata das bases de

cálculo e análise estrutural, no artigo 7º permite que em relação aos estados limites

últimos seja realizada uma redistribuição dos momentos fletores negativos em até

15% em relação aos momentos obtidos em uma análise linear. A mesma norma

também permite igualar em valor absoluto os momentos no apoio e no vão. Esse

procedimento é empírico e não leva em conta a alternância de carregamentos. Todos

os vãos devem resistir no mínimo um momento fletor positivo igual a metade do

momento fletor considerando o vão isostático.

6. ESTADO LIMITE PARA SOLICITAÇÕES TANGENCIAIS

A diferença fundamental se tratando de peças em concreto armado e

protendido reside no fato que nesse estado as armaduras ativas produzem ações

internas que podem reduzir esforços internos ou melhorar as condições de resistência

do elemento. De acordo com Hanai (2005), a protensão longitudinal introduz nas pelas

de concreto tensões de compressão que contribuem à redução das tensões principais

de tração (que ficam mais inclinadas com relação ao eixo da peça), de modo que as

fissuras de cisalhamento se configurem com menor inclinação do que no caso do

concreto armado. Ensaios realizados mostraram que a protensão efetivamente reduz

os esforços de tração na alma, de modo crescente com o grau de protensão, ou seja,

quanto maior o grau de protensão, menores são os esforços de tração na alma e,

portanto, menor a armadura transversal necessária.

CARVALHO (2017) afirma que no caso de peças protendidas devem ser

considerados dois efeitos devido a protensão. a) efeito do cortante de protensão:

ocorre quando a trajetória de um cabo é inclinada em relação a horizontal e uma

componente de protensão gera um esforço cortante, chamado esforço cortante de

protensão. Como essa ação é de sentido contrário às permanentes e acidentais

combatendo-as sendo, portanto, um efeito favorável. b) efeito do esforço normal:

mesmo sendo mais favorável o efeito da protensão quando são utilizados cabos

curvos é provado que é possível combater o cisalhamento evitando o esmagamento

da biela de concreto em relação ao eixo longitudinal da peça com a utilização de cabos

22

retos, pois de maneira simplista até que as fibras da seção comecem a ser

tracionadas, o cortante atuante é absorvido pela protensão.

Uma das particularidades do projeto para esse tipo de vigota além da

verificação à força cortante é o cisalhamento na interface vigota e concreto moldado

no local. A norma espanhola EF-96/1997, indica a seguinte limitação da força de

cálculo:

Vd ≤ Vu2 = β u d fcv

Onde:

β coeficiente relativo à rugosidade da superfície de contato, com os valores de

1,2 para superfície rugosa e de 0,6 para parede lisa;

u perímetro, conforme a figura 13;

d altura útil da seção composta;

fcv resistência de referência ao cisalhamento do concreto moldado no local, dada

por; fcv = 0,13√fcd em Mpa.

Figura 13: Perímetro para verificação do cisalhamento na interface.

Fonte: El Debs (2000).

Como, em geral, não existe armadura na interface, essa verificação é muito

importante para a vigota protendida. Assim como para as lajes com vigotas treliçadas,

a resistência à força cortante tem também que ser verificada para várias seções de

referência. Na figura 2.23 estão mostradas as seções nas quais se deveria verificar a

resistência à força cortante, levando em conta as resistências dos concretos dessas

seções.

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo IV que trata dos cálculos

relativos aos estados limites, no artigo 14, item 14.2 apresenta a metodologia para a

23

verificação de vigotas protendidas em relação ao esgotamento da seção resistente

frente a força cortante. Para que seja comprovado que não há esgotamento por

compressão obliqua na alma e tração obliqua a ela é necessário que se cumpra as

seguintes condições:

a) No apoio: Vd ≤ Vu1

Essa comprovação não é necessária para peças sem armadura transversal.

b) A uma altura útil em relação ao apoio: Vd ≤ Vu2

Onde:

Vd esforço cortante de cálculo obtido em regime linear;

Vu1 esforço cortante de esmagamento por compressão obliqua na alma;

Vu2 esforço cortante de esgotamento por tração na alma;

O esforço cortante de esmagamento por compressão obliqua na alma, Vu1 é

dada pela seguinte expressão:

Vu1 = 0,3 fcd b0 d (1 + cotg α)

sendo:

fcd resistência de cálculo do concreto a compressão;

b0 largura mínima da nervura;

d altura útil da nervura;

α ângulo da armadura em relação ao eixo da nervura;

O esforço cortante de esmagamento por tração na alma, Vu2 em lajes sem

armadura transversal e em lajes com armadura transversal podem ser determinadas

pelas instruções da EHE. Em relação a lajes com nervuras sem armadura, pode ser

adotado Vu2;

Vu2 = 0,16 √fcd b0 d

Nas demais lajes com nervuras sem armadura e sempre que se cumprir a

existência de um controle de produção justificado, pode-se adotar para Vu2;

24

Vu2 = 0,32 √fcd b0 d

A expressão anterior é aplicada exclusivamente a lajes com nervuras

fabricadas com certificado de garantia do fabricante, assinado por pessoa física. Em

lajes formadas com armadura transversal o valor de Vu2 é dado por:

Vu2 = 0,16 √fcd b0 d + 0,9 d ∑ Aα fyα,d (sen α + cos α)

sendo:

b0 largura mínima da nervura;

d altura útil da nervura;

fyα,d resistência de cálculo a tração do aço de armadura transversal, igual a fyk γs⁄ ≤

400 N/mm²;

Aα área de cada uma das barras das armaduras transversais, por unidade

longitudinal de nervura;

αi ângulo que formas as armaduras transversais com o eixo da nervura. O ângulo

α está compreendido entre 45º e 135º;

fcd resistência de cálculo do concreto a compressão;

Na comprovação a um nível com largura “b” adota-se a resistência do concreto

correspondente a este nível de comprovação. Quando a seção cortar dois concretos

com resistências diferentes, tomamos a largura da nervura e a largura do concreto

moldado na obra com suas respectivas resistências (figura 14), sempre que o concreto

moldado na obra tiver menor resistência que o concreto da nervura.

Figura 14: Larguras para verificação da resistência à força cortante

25

Fonte: Debs (2000).

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo V que trata das condições

gerais e disposições construtivas, no artigo 19, item permite a dispensa de armadura

transversal se o esforço cortante de esgotamento da das nervuras for maior ou igual

ao esforço cortante de cálculo. Se isso não for atendido pode-se aumentar as

dimensões das nervuras ou colocar armadura transversal constituída de estribos ou

treliça, nas zonas necessárias.

7. ESTADO LIMITE PARA SOLICITAÇÕES NORMAIS

Em relação ao estado limite último devido a ação do momento fletor as peças

de concreto protendido são dotadas das mesmas hipóteses básicas da teoria de

cálculo do concreto armado, porém como a armadura ativa sempre estará com uma

deformação inicial chamada de “pré-alongamento”, diferente do concreto armado

onde as deformações específicas do aço e do concreto são nulas.

No dimensionamento do concreto armado de uma maneira geral, é usual

determinar a armadura de longitudinal de flexão no ELU e depois verificar as

condições de serviço.

No concreto protendido além dessa mesma metodologia é comum dimensionar

a armadura para atender a um estado limite (estado limite de fissuração ou

deformação) e depois verificar se há ou não ruptura. Logo as peças de concreto

protendido diferenciam-se das peças em concreto armado por ser necessário a

realização de verificações e imposições de limites de tensões. A determinação da

armadura de protensão descrita a seguir segue o roteiro presente no livro “Estruturas

em Concreto Protendido” do autor Roberto Chust de Carvalho.

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Figura 15: Verificações para a determinação da quantidade da armadura longitudinal

A norma espanhola EF-96 (2002) em seu capítulo V que discorre sobre as

condições gerais e disposições construtivas. No artigo 18 que trata da quantidade

mínima de armadura longitudinal, recomenda que quando essa armadura não

satisfazer a condição:

Ap ≤ 0,10 b0 d fcd

fpyk

deve-se dispor de uma armadura mínima dada por:

As,mim ≤ [1,5 − 4,55 Ap fpyk

b0 d fcd] Ap

sendo:

Ap área da armadura de protensão;

b0 largura da seção no nível da armadura de tração em flexão positiva, em mm,

conforme figura 2.29;

d altura útil da laje, em mm;

fcd resistência de cálculo do concreto a compressão, em N/mm²;

fpyk Resistência de cálculo do aço de protensão ao escoamento

27

Figura 16: Detalhe da nervura.

Fonte: EF-96 (2002).

CONCLUSÃO

A busca por vãos cada vez maiores impostos pela arquitetura sempre foi um

dos grandes desafios para os projetistas estruturais. Essa imposição acarreta na

procura por outros tipos de soluções estruturais e até mesmo o aperfeiçoamento de

sistemas utilizados há bastante tempo. As lajes nervuradas pré-fabricadas em

concreto armado com materiais de enchimento ainda são bastante utilizadas, seja em

edifícios de pequeno porte e mais comumente em residências, porém apresentam

vãos limitados, na ordem de 5,00 metros, o que implica na utilização de apoios

intermediários que nem sempre são viáveis, economicamente e esteticamente. A

utilização de protensão nas nervuras permite aperfeiçoar esse sistema, alcançando

vãos maiores sem a necessidade de apoios intermediários. Devido a isso esse

sistema vem ganhando espaço na indústria da construção.

A protensão desde o seu início sempre demonstrou ser bastante eficaz na

otimização de peças estruturais para o alcance de maiores vãos, o que aplicada nesse

sistema e o viabiliza. Neste trabalho procurou-se apresentar os critérios de

dimensionamento para lajes pré-fabricadas com vigota tipo trilho protendida impostos

pelas principais normas técnicas relativas ao assunto, brasileira, espanhola e

europeia. Como percebido os critérios para o dimensionamento divergem das lajes

pré-fabricadas nervuradas em concreto armado. A imposição de dimensões mínimas,

controle de tensão de protensão das vigotas, perdas de protensão, verificações na

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fase de fabricação e montagem são as grandes diferenças entre esse sistema e o

sistema com nervuras em concreto armado. Informações para a realização destes

dimensionamentos ainda são carentes em nosso meio técnico, sendo apresentas em

neste trabalho.

A escassez de material técnico norteador para a realização de projetos com

esse tipo de sistema ainda é grande, o que faz com que sempre recorramos a normas

estrangeiras. Em outros países é possível perceber a exclusividade de apenas uma

norma técnica para tratar o assunto, o que garante aparentar oferecer uma maior

qualidade ao projeto e consequentemente a sua execução, o que ainda não é feito em

nosso país. Com isso o presente trabalho visa preencher essa lacuna, servindo de

fonte de pesquisa para projetistas, construtores e pesquisadores.

REFERÊNCIAS

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Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014a. 238 p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14859-1: Laje Pré-

fabricada - Requisitos. Parte 1 - Lajes Unidirecionais. Rio de Janeiro, 2002. 16 p.

ALMEIDA, Audrey Gregori Melchert de. Contribuição ao Estudo das Lajes Mistas

Protendidas. 1998. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,

Departamento de Estruturas, Unicamp, Campinas - Sp, 1998.

BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Estruturas de concreto I - Notas de

aulas: Lajes de concreto. Bauru, Sp: Unesp, 2015. 119 p. Disponível em:

<wwwp.feb.unesp.br/pbastos>. Acesso em: 10 maio 2019.

CARVALHO, Roberto Chust; FIGUEREDO FILHO, Jasson Rodrigues de. Cálculo e

Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado. 4. Ed, EDUFUSCAR,

2014. 415 p.

CARVALHO, Roberto Chust. Estruturas em Concreto Protendido: Pré-tração - Pós

tração - Cálculo e detalhamento. 2 ed, Pini, 2017. 448 p.

29

DEBS, Mounir Khalil El. Concreto Pré-Moldado: Fundamentos e Aplicações. 2 ed.

São Paulo: Oficina de Textos, 2017. 456 p.

DEBS, Mounir Khalil El. Concreto Pré-Moldado: Fundamentos e Aplicações. São

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CEN, European Committee for Standardization. EN 15037-1: Precast Concrete

Products - Beam-and-Block Floor systems, Part 1: Beams. Brussels, 2008.

ESPANHA. Ministério de Fomento (2011). EHE-08: Instrucción de Hormigón

Estructural.

ESPANHA. Ministério de Fomento (2002). EF-96: Instrucción para el Projecto y la

Ejecución de Forjados Unidireccionales de Hotmigón Armado e Pretensado.

HANAI, João Bento de. Fundamentos do Concreto Protendido: E-book de apoio

para o curso de Engenharia Civil. 2. ed. São Paulo: Eesc-usp, 2005. 116 p. Disponível

em: <www.set.eesc.usp.br/mdidatico/protendido/arquivos/cp_ebook_2005.pd>.

Acesso em: 05 maio 2019.

MERLIN, Andrei José. Momentos Fletores Negativos nos Apoios de Lajes

Formadas por Vigotas de Concreto Protendido. 2002. 156 f. Dissertação

(Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Engenharia de Estruturas, Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2002.