18

Créditos - artenaescola.org.brartenaescola.org.br/uploads/dvdteca/pdf/conversa_fiada.pdf · material educativo para o professor-propositor CONVERSA FIADA 3 Renato Imbroisi é designer

Embed Size (px)

Citation preview

CONVERSA FIADA

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Elaine Schmidlin

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Conversa fiada / Instituto Arte na Escola ; autoria de Elaine Schmidlin ;

coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti-

tuto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 127)

Foco: SE-A-1/2006 Saberes Estéticos e Culturais

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-7762-005-0

1. Artes - Estudo e ensino 2. Artesanato 3. Design 4. Cultura popular

I. Schmidlin, Elaine II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título

V. Série

CDD-700.7

DVDCONVERSA FIADA

Ficha técnica

Gênero: Documentário com depoimentos de artesãos-artistas.

Palavras-chave: Artesanato; regionalismo; cultura popular; ar-tista e sociedade; design; transformação; cultura brasileira;heranças culturais; diálogo com a matéria.

Foco: Saberes Estéticos e Culturais.

Tema: A tecelagem na história humana e quatro artesãos-ar-tistas contemporâneos.

Artistas abordados: Eva Soban, Lala Martinez Corrêa, MarinaLafer e Renato Imbroisi.

Indicação: A partir da 1ª série do Ensino Fundamental.

Direção: Angela Podolsky e Lilia Gallana.

Realização/Produção: Videovideo, Campinas.

Ano de produção: 1991.

Duração: 8’.

SinopseO documentário apresenta a tecelagem como forma de expres-são e linguagem, trazendo depoimentos de artistas-tecelões.Aborda as técnicas artesanais tradicionais em várias culturas eos processos manuais e industriais da tecelagem contemporâ-nea. Traça paralelos entre os ritmos vivenciados na quietude dacriação com o tear manual e a sonoridade e plasticidade da agi-tação urbana. A tecelagem é apresentada no documentário comoum símbolo da vida, tecido e tramado em uma trajetória milenar.

Trama inventivaHá saberes em arte que são como estrelas para aclarar o cami-

2

nho de um território que se quer conhecer. Na cartografia, parapensar-sentir sobre uma obra ou artista, as ferramentas sãocomo lentes: lente microscópica, para chegar pertinho davisualidade, dos signos e códigos da linguagem da arte, ou len-te telescópica para o olhar ampliado sobre a experiência esté-tica e estésica das práticas culturais, ou, ainda, lente com zoomque vai se abrindo na história da arte, passando pela estéticae filosofia em associações com outros campos de saberes. Porassim dizer, neste documentário, tudo parece se deixar ver pelaluz intermitente de um vaga-lume a brilhar no território dosSaberes Estéticos e Culturais.

O passeio da câmera

Uma constelação no cosmos forma uma grande teia. A narraçãopoética introduz nosso olhar ao documentário. A seguir, a ima-gem se expande para fios coloridos em urdiduras diversas, comum enquadramento menor ao centro, em preto e branco, no qualaparecem múltiplas cenas de tecelões, casulos, teares manuaiscom fundo musical. Depoimentos de tecelões e artistas acom-panham imagens de teares manuais, dos mais primitivos aos maisatuais. A cidade urbana aparece como contraponto ao ritmo calmoe tranqüilo da criação com o tear manual. Sons de teares indus-triais são apresentados como fundo sonoro e envolvem depoi-mentos de tecelões e artistas contemporâneos ao final dodocumentário, que recebeu o Prêmio Estímulo concedido peloConselho Municipal de Cultura de Campinas/SP, em 1992.

Alocado no território de Saberes Estéticos e Culturais, odocumentário faz conexões com outros, como pode servisualizado no mapa potencial.

Sobre os artistasA técnica tradicional do tecido, da tecelagem, é um grande símbo-

lo da vida, do urdume que são os dados que nós recebemos na vida

e a trama que é como lidamos com esses dados que recebemos.

Lala Martinez Corrêa

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

3

Renato Imbroisi é designer carioca e trabalha com artesanatoe se intitula tecelão urbano. Autodidata e pesquisador da tece-lagem mineira, aprende várias técnicas manuais brasileiras comartesãs das comunidades que visita durante as muitas viagensque realiza pelo interior do Brasil. Essa paixão transforma-setambém em trabalho comunitário quando orienta crianças eadolescentes na Associação Comunitária Monte Azul, numafavela da Zona Sul de São Paulo, e trabalha com artesãs detodo o Brasil, como as do Vale do Jequitinhonha, Município deCarmo do Rio Claro, Muquém, São Borja, além de outros.

Interessado em técnicas, muitas vezes, passadas de mãe parafilha há muitas gerações, Renato Imbroisi propõe inovações semperder o traço regional. Dessa forma, a tecelagem manual,crochê, tricô, cestaria, renda, bordado e costura ganham novascores, formas, aplicações e materiais. Ele procura encontrar “oque cada artesã pode fazer de melhor com seu conhecimento eseu coração. O objetivo é desenvolver ainda mais a qualidadeda produção, tornando-a diferenciada: criativa, bem acabadae, portanto, comercializável, gerando renda para estes grupos”1 .Realizou várias exposições no Brasil e fora dele, como: Terra

do Pau-Brasil, 2000; Mãos mineiras, 1999; As Marias, 2002 eQue chita bacana, 2005.

Lala Martinez Corrêa se encanta com a tecelagem indígena ecom seus teares fabricados com pequenos galhos de árvore.As mãos que “voam pelo trabalho”, fazendo surgir “desenhosmaravilhosos”, movem também sua criação. Tecelã e artistaplástica, Lala Martinez Corrêa tem realizado também figurinospara teatro. Pedagoga, ela leva a tecelagem para a escola.

Marina Lafer, artista plástica paulista, encontra no tear umvocabulário próprio, fruto de uma sociedade urbana, cosmopo-lita, onde reside. Utiliza, na composição de tecidos, fios de plás-tico e fitas de cetim. A experimentação e a pesquisa de mate-riais são referências em seu trabalho, tanto na forma de tecer,quanto nas combinações de cores. Trabalha também incorpo-rando relevos de tecidos na técnica da cerâmica2 . Suas formas,

4

texturas, tramas e cores, incorporadas à linguagem dos tearesmanuais, são releituras de técnicas artesanais milenares emcriações que envolvem um sentido extremamente simbólico.

Eva Soban, designer têxtil paulista afirma que “o tecer, o tri-cotar ou qualquer outra técnica têxtil não pode ser definida comoum simples entrelaçamento de fios, mas como uma forma vivade expressão da própria criatividade”3 . Como motivo para suasproduções, busca uma leitura de técnicas artesanais indígenase texturas da natureza, além de utilizar a força da cor, escolhasrepresentativas de sua cultura e raízes. O clima tropical brasi-leiro faz a ligação da arte têxtil às fibras naturais e, conseqüen-temente, com as cestarias, redes e esteiras, na busca de umpadrão que retrate o design brasileiro e sua riquíssima herançacultural. Como colorista, preocupa-se com a alquimia das co-res no tingimento dos fios. Trabalha também com moda, utili-zando materiais como lã, algodão, palha, seda, tiras de teci-dos, fitas, rendas e bordados. Como artista plástica, participade diversas exposições.

Os olhos da arteQuando o homem fez o primeiro palmo de tecido, criou uma coisa nova,

um corpo novo no mundo – e uma relação espacial nova. Na verdade,

criou o plano que seria mais tarde o suporte da tapeçaria.

Ferreira Gullar4

Nos emaranhados de fios e cores, com sintonia entre o gestodo corpo e da mente, o tecelão representa seus sentimentos,emoções e expressões singulares na criação de um ritmo inter-no que abre espaço para novas atitudes perante o cotidiano. Odiálogo do artesão com a matéria, com o tear e seus elemen-tos, exige paciência e respeito às suas características própri-as, além de muita sensibilidade e criatividade. O gesto da mãona tessitura da trama, juntamente com os materiais naturaisno ato da criação, é a própria vida e a energia que cada umimpulsiona ao seu trabalho.

Desde os tempos primitivos, o ser humano tece e entrelaça

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

5

fios. A inspiração pode ter vindo da observação, feita pelo

homem, da teia de aranha ou mesmo do ninho de pássaros.

Aracné, exímia tecelã, está presente na mitologia grega5:Aracné foi condenada a fiar e tecer para sempre. Sua boca segrega

tênues fios, sua teia se estende pelo cosmos, se torce no infinito e

surge do meio, do nada, o tudo! Passado, presente e futuro se equi-

libram no fuso do mundo que se forma, se estabelece a calma em meio

ao turbilhão, a noite se faz dia, trama vidas, fia destinos, começa a

tecer lentamente a completude da sua criação, nasce o homem arte-

são e companheiro na eternidade.

Artesão, o ser humano inventa tipos muito diversos de teares,na labuta da construção deste algo novo: um tecido. No tear,uma quantidade de fios deve ser mantida estirada com o auxí-lio de uma chave de tensão. Esse grupo de fios, chamado urdumeou urdidura, é posicionado de maneira longitudinal, formando acala, uma manta de fios mais alta e outra mais baixa, a qualpermite a inserção da trama por meio de um instrumento cha-mado navete ou lançadeira. Esse processo é conhecido comoprodução de tecidos planos, no qual existem somente duasposições possí-veis para os fiosde trama, pas-sando por baixodos fios de ur-dume ou passan-do por cima. Po-de-se trabalharno urdume hori-zontalmente ouverticalmente enos vários tiposde teares: de pi-nos, vertical, pre-gos, pente liço,alto liço, pedal,papelão, tricô,faixas, miçangas,triangular.

Renato Imbroisi - Painel bolinha

crochê - fio 100% algodão e varetas da avenca

Foto: Lena Trindade

6

O primeiro tearfoi, provavelmen-te, algo tão sim-ples quanto umaestrutura verticalconstruída de ga-lhos, na qual osfios eram pendu-rados e tensiona-dos. Outros fioseram então entre-laçados manual-mente a um certoângulo daquelesjá esticados, cri-ando tecidos rús-ticos para o ves-tuário, feitos de fibras fiadas e entrelaçadas, tanto de origemanimal quanto vegetal.

Aos gregos, é atribuída a transferência do tear de posição ver-tical para a horizontal, e, aos egípcios, a amarração dos fios deurdume em dois galhos para serem separados mais facilmente.No Brasil, o tear artesanal, tal como o conhecemos, foi intro-duzido pelos portugueses.

O tear artesanal produz tecidos desde os mais pesados e gros-sos aos mais finos, como a seda. As fibras têxteis utilizadaspodem ser naturais - de origem vegetal, animal e mineral - ouquímicas, fibras sintéticas. Podem ser utilizadas em suas coresnaturais, geralmente branco, marrom, bege e preto, ou tingi-das com corantes químicos ou naturais.

O tear manual, artesanal ou industrial se torna hoje um tearautomático, com desenhos facilitados pela programação nocomputador. Ao mesmo tempo há, atualmente, um movimentode recuperação e valorização da tecelagem tradicional brasi-leira, atualizada e reinventada pelos artistas e artesãos con-temporâneos, poetas da mão.

Renato Imbroisi - Xale pinhão - Confeccionado em tear

manual - fio 50% algodão 50% acrílico -Foto: Lena Trindade

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

7

O passeio dos olhos do professorAntes de planejar a utilização do documentário, convidamosvocê a assisti-lo, registrando impressões em um diário de bor-do. Uma pauta do olhar poderá ajudá-lo:

A tecelagem é apresentada no documentário como lingua-gem e expressão singular. O que isso desperta em você?

O que o documentário faz pensar sobre o artesanato e ostrabalhos manuais?

A linguagem do documentário permite perceber a história datecelagem? Que povos e culturas são apresentados?

Há em sua região artesãos que produzem tecelagem artesanal?

O que chamaria a atenção de seus alunos neste documentário?O que você gostaria que eles compreendessem a partir dele?

As anotações que você fez, enquanto assistiu ao documentário,podem levá-lo a um mapa do que você considera mais impor-tante para suas proposições pedagógicas. Por quais saberesestéticos e culturais você e seus alunos poderiam percorrer?

Percursos com desafios estéticosOs percursos e desafios sugeridos são caminhos possíveis quedevem ser trilhados de acordo com interesses e necessidadesde seus alunos. Neste momento, a escuta atenta das sensibi-lidades e percepções dos alunos é extremamente importantepara a construção de um mapa de sentidos que podem seraprofundados e gerar novos encaminhamentos.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

As feiras populares de sua comunidade podem propiciar umbom início de projeto. A observação direta das diversaspeças artesanais ou a simples rememoração delas em sala

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

ferramentas

natureza da matéria

fibras, fios, lã, sisal, algodão, pigmentos

poética da transformação

tear manual

Materialidade

procedimentospoéticas da materialidade

tradicionais

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

cor, fabricação da cor, linha,textura, ponto, superfície

relações entre elementosda visualidade

composição, padrões seriais

SaberesEstéticos eCulturais

história da artehistória da tapeçaria e da arte têxtil,história dos procedimentos etécnicas artísticas, cultura popular

sociologia da arte mercado da arte, artista e sociedade

artesão, artista, questão de gênero

linguagem, símbolo

sistema simbólico

artesanato, comercialização,multiculturalidade, regionalismo,pluralidade cultural

práticas culturais

criadores e produtores de arte e cultura

Linguagens Artísticas

meios tradicionais

tapeçaria,cestaria,tecelagem

artesvisuais

design têxtil, tecelagem, moda

linguagensconvergentes

preservação e memória

bens simbólicos

heranças culturais,estética do cotidiano,acervo de memória

cultura brasileira

PatrimônioCultural

Processo deCriação

ação criadora

diálogo com a matéria, poética pessoal, silêncio

repertório pessoal e cultural,sensibilidade, imaginação criadora

pesquisa em arte,pesquisa sobre arte,projeto poético e ético

potências criadoras

produtor-artista-pesquisador

10

de aula pode ampliar o olhar, preparando para a exibição dodocumentário. O que chamará a atenção dos alunos? O quedespertará para iniciar um novo projeto?

Você pode levar, para a classe, cestarias indígenas que in-cluem cestos e chapéus, algumas peças decorativas e reli-giosas, confeccionadas com o entrelaçamento de fibras depalha ou tapetes, bolsas, faixas e outros acessórios produ-zidos em tear manual. O que os alunos lêem dessas peças?O que conhecem sobre elas? O documentário pode trazerainda mais curiosidade.

O documentário se inicia com dois textos: um texto visual eum verbal sobre Aracné. Exiba apenas esse trecho eproblematize: o que viram e ouviram? Discuta também por-que iniciar um documentário com esta entrada e levantehipóteses sobre o tema que será apresentado. Será que essadinâmica potencializa a leitura?

O que importa nessas ações é provocar os sentidos e a sensi-bilidade perceptiva dos alunos para a linguagem artesanal datecelagem e para as possíveis tramas que podem ser desen-volvidas nos teares.

Animados pelo documentário, convide os alunos para uma re-flexão geradora de propostas que possam apontar outras ques-tões no mapa de desafios estéticos deste documentário.

Ampliando o olhar

A visita a ateliês onde artesãos produzem peças em tearmanual pode ser o início de desdobramentos criativos. Oplanejamento da visita, com roteiro para a entrevista e umapauta do olhar, poderá ajudar os alunos a perceberem comoo artesão fia a lã, transformando-a em fios, e o que é neces-sário para o processo de tingir os fios. Vejam como são pro-duzidos, nos teares, os tapetes e os xales. De que forma atrama se desenrola no urdume e quais as misturas de fiosque podem ser produzidas no trabalho?

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

11

Com papel também é possível tecer. Utilizando duas fo-lhas de papel sulfite, pintadas ou não com giz de cera, oucom papel espelho, você pode ensiná-los a fazer uma te-celagem. Na primeira folha (urdume ou urdidura), faça umamargem de 2 cm em toda a volta e dentro dela desenhelinhas paralelas à margem maior, de 5 em 5 mm. Dobre afolha e faça cortes nas linhas desenhadas, não invadindoas margens. Em seguida, a segunda folha (trama) deve sercortada em tiras de 5mm, no sentido menor. Para tecer ésó desdobrar a primeira folha e trançar as tiras feitas como segundo papel, passando ora por cima, ora por baixo dastiras do primeiro papel. As pontas precisam ser arremata-das, colando as tiras trançadas na margem do primeiropapel e cortando as sobras. Há papéis já comercializadospara este trabalho. É fácil tecer com o papel e os resulta-dos podem ser surpreendentes.

O desafio anterior pode ser recriado, utilizando tambémrestos de tecidos, fios e barbantes, produzindo outros tiposde texturas e cores. A urdidura ou urdume pode ser feitocom papel ou com fios de barbante tensionados entre doispequenos gravetos. A seguir, é possível trançar fios. Osretalhos e os barbantes no papel são trançados ora por cima,ora por baixo das tiras e são arrematados com um nó naspontas, formando uma franja.

É fácil produzir um tear de papelão. Providencie um pe-daço de papelão de mais ou menos 20 cm. Com uma te-soura, faça um número ímpar de pequenos cortes em duasbordas opostas e monte o tear. A seguir, é preciso pren-der os fios nos cortes realizados e esticar bem. Use umaagulha sem ponta com um furo grande para criar as tra-mas com fios, texturas e cores diversas passando pelourdume já montado no papelão. O acabamento da peça éimportante. Após a confecção, os alunos podem juntarpela costura os diversos tecidos criados, compondo umtapete. O que gostariam de fazer com ele? Sentar sobreele para ouvir histórias?

12

O fabrico de cestos em papel jornal poderia ser o início dedesdobramentos inventivos. A forma de entrelaçar pedaçosde jornal e transformá-los em produtos úteis também é umamaneira de rever a reciclagem de materiais. Fios de plásti-co ou de garrafas pet são outras formas de utilização demateriais recicláveis no trabalho de entrelaçamento de fi-bras, amplamente utilizado por artistas e artesãos que li-dam com tecelagem manual.

Conhecendo pela pesquisaUm bom exercício é a invenção de perguntas. Instigue seusalunos para que formulem o maior número de perguntaspossíveis a partir do documentário, que deve ser revistoespecialmente para este levantamento. Será interessan-te perceber que, embora haja especialistas sobre o assun-to, muitas questões exigiriam muitos anos de estudo paraserem aprofundadas. Quais perguntas são fundamentaispara eles agora? Como possibilitar que sejam respondi-das por meio de pesquisa? Como você pode ajudá-losnesse desafio?

Eva Soban disse que se descobriu colorista. Há uma alqui-mia mágica nas cores. Para a execução do tingimento dasfibras, é necessário que os fios sejam transformados em me-adas. Para isso, utiliza-se um equipamento denominadomeadeira. Os fios são mergulhados para receber o banhode cor e depois recebem fixativos para que não desbotem.Pesquisar este processo é bastante interessante. Fios debarbante podem servir de experimento.

No documentário, Renato Imbroisi comenta rapidamentesobre sua pesquisa relativa à tecelagem mineira. O que osalunos podem conhecer sobre seu trabalho na revitalizaçãodos desenhos e tramas em Minas Gerais?

Existe uma variedade enorme de teares artesanais. Em bi-bliografias sobre tecelagem e sites específicos, é possívelperceber as diferentes formas de tecer com esses teares.

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

13

Seria possível confeccionar um tear manual com a ajuda deum marceneiro ou mesmo um artesão?

A técnica do tear tem uma relação muito próxima coma energia da vida. As fibras animais e vegetais podemser pesquisadas desde o princípio do processo de trans-formação em fios até o seu tingimento em cores diver-sas. As palhas naturais de bambu ou a tosquia dasovelhas para a confecção da lã poderiam ser o iníciode uma boa pesquisa.

O documentário mostra o tear e a forma de tecer na arteindígena. Esse trecho pode ser revisto para aquecer umapesquisa sobre os teares utilizados pelos índios, assim comoos desenhos próprios de cada povo. Qual era a função datecelagem para eles?

A tecelagem pode ser realizada em tear manual ou indus-trial. No documentário, aparecem teares dos mais primiti-vos aos mais atuais. Que tal uma pesquisa sobre as dife-renças entre o tear artesanal e o automático? Em queimplica fazer um trabalho executado no tear manual e ou-tro produzido no tear industrial? Como a informática inter-vém nessa produção?

Artistas como o francês Jean Luçart e os brasileirosNorberto Nicola (presente na DVDteca Arte na Escola) eJacques Douchez, que lançaram a tapeçaria como arte nasBienais, são nomes importantes para pesquisar e compre-ender as múltiplas linguagens da arte.

Junto com seus colegas professores, você pode discutir opensamento da designer Adélia Borges6 :

Ao contrário de países como o Japão e a Itália, o design erudito

surge no Brasil de costas viradas para a tradição artesanal do

país. Esse divórcio só começou a ser rompido na última década,

quando alguns designers se dispuseram a se embrenhar país

adentro atrás da riqueza secular das técnicas artesanais. (...) Por

obra do feliz encontro entre os olhos, as mãos e o coração dos

designers e dos artesãos, esse panorama começa a mudar e o

artesanato brasileiro passa no momento por uma revitalização de

amplo alcance ético e estético.

14

Desvelando a poética pessoal

Renato Imbroisi comenta sobre o ritmo mais lento do proces-so de tecer no tear artesanal como um fator relaxante que seopõe à agitação da cidade. Os alunos podem experimentaresse ritmo mais lento, criando uma série de pequenos traba-lhos que podem ser ampliados pelas pesquisas e desafios con-cretizados com os colegas. É importante acompanhar esseprocesso, alimentando-o.

Amarrações de sentidos: portfólio

A cartografia com os caminhos percorridos neste projeto podeser visualizada por portfólios que guardam todas as pesqui-sas e produções. A confecção dele em tecido é uma possibi-lidade interessante. Também seria oportuno que todas as pro-duções e experimentações fossem apresentadas em umamostra organizada na sala de aula ou em outro local, envol-vendo toda a comunidade.

Ao final deste percurso, será interessante verificar como estedocumentário colaborou com a sensibilidade dos alunos paraa tecelagem artesanal como linguagem expressiva singular eoriginal, como uma prática cultural repleta de saberes.

Valorizando a processualidadeA escolha por este documentário e as questões que ele proble-matiza podem iniciar uma boa conversa com seus alunos coma intenção de que percebam alguns caminhos compartilhadospor vocês. A análise dos portfólios e a conversa avaliando oprojeto desenvolvido auxiliam a responder outras questões,como: os alunos ampliaram os sentidos para a linguagem datecelagem? Compreenderam a importância do trabalho doartesão na atualidade? Perceberam as diferentes funções datecelagem para os povos primitivos e para a contempora-neidade? Captaram as diferenças entre um produto artesanale um produto industrial?

material educativo para o professor-propositor

CONVERSA FIADA

15

Na DVDteca Arte na Escola, você pode encontrar outrosdocumentários que abordam e complementam as investigaçõese questões levantadas ao longo deste projeto. Fica o convite!

GlossárioTodos os verbetes estão disponíveis em: <www.tecelagemanual.com.br/paginal4.htm>.Batedor – pequeno pente usado para apertar mais uma zona ou uma áreado tecido, para uso ocasional.Cala – abertura entre os fios ímpares e pares da urdidura, por onde passa a trama.Meadeira – usada para fazer e desfazer meadas de fios.Navete ou lançadeira – usada para colocar o fio de trama que irá passarno meio da cala, formando a trama do tecido.Pente – peça básica no tear pente-liço, que permite levantar e abaixaralternadamente os fios da urdidura, para permitir a abertura da cala eposterior passagem da trama.Tear – é uma ferramenta simples que permite o entrelaçamento de uma ma-neira ordenada de dois conjuntos de fios, denominados trama e urdidura,formando, como resultado, uma malha denominada tecido.Tipos: tear de fran-

jas: para a confecção de franjas para tapetes bordados, como arraiolo; tear

vertical: produz tapeçarias de parede e gobelin; tear de pregos: para traba-lhos simples com crianças em oficinas de arte ou na educação especial; tear

de faixas: para confecção de faixas e cintos; tear de cartão: mesmo empre-go que o anterior; tear de alto-liço: para tapeçarias em geral; tear de

padronagem: para o estudo de padronagem de tecidos. Funciona como otear de pedal, somente é menor e manual; tear de papelão: para brincar comas crianças; tear pente-liço: também denominado tear de mesa, usado para aconfecção de tapetes, faixas, e tecidos para vestuário, bolsas e utilitários.Trama – é o segundo conjunto de fios, passados no sentido transversal dotear com auxílio de uma agulha (também denominada navete). A trama épassada entre os fios da urdidura, por uma abertura denominada cala.Urdidura ou urdume – é formado por um conjunto de fios tensos, para-lelos e colocados previamente no sentido do comprimento do tear.Urdideira – usada como suporte de medida para preparar os fios do urdume(medir, cortar).

BibliografiaBRUNO, Flavio da Silveira. Tecelagem: conceitos e princípios. Rio de Ja-

neiro: Senai-Cetiqt, 1992.

CÁURIO, Rita. Artêxtil no Brasil: viagem pelo mundo da tapeçaria. Rio deJaneiro: Primor, 1985.

16

CRUZ, Thais Wense de Mendonça. Miragens da existência: o tecelão, atecelagem e sua simbologia. São Paulo: Annablume, 2002.

MELLÃO, Renata; IMBROISI, Renato. Que chita bacana. São Paulo: ACasa, 2005.

POUGY, Eliana Gomes Pereira. Criança e arte: descobrindo as artes visu-ais. São Paulo: Ática, 2001. v.2.

RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no

ensino das artes visuais. Campinas: Mercado das Letras, 2003.

Bibliografia de arte para crianças

BARROS, Manoel de. Exercícios de ser criança. Rio de Janeiro:Salamandra, 1999.

COLASANTI, Marina. A moça tecelã. São Paulo: Global, 2004.

Seleção de endereços sobre arte na rede internet

DOUCHEZ, Jacques. Disponível em: <www.bmf.com.br/pages/Cultural/exposicao/tecidas/tecidas.asp>.

IMBROISI, Renato. Disponível em: <www.renatoimbroisi.com.br>.

LUÇART, Jean. Disponível em: <www.museu-caramulo.net/lurcat.htm>.

NICOLA, Norberto. Disponível em: <www.ecco.com.br/vita_mia/oriundi_artplas.asp> (e outros artistas italianos).

SOBAN, Eva. Disponível em: <www.evasoban.com.br/index.htm#>.

Notas1 Disponível em: <www.renatoimbroisi.com.br>. Acesso em 18 fev. 2006.2 Este procedimento foi utilizado por Marina Lafer no tradicional leilão promovidopela Associação Cultural de Amigos do Museu Lasar Segall. Fonte: <www.museusegall.org.br/lsPrato.asp?sMenu=L105&sLeilao=14&sPrato=1210>. Acesso em 29 jan. 2006.3 Disponível em: <www.evasoban.com.br/hist_texto.htm>. Acesso em29 jan. 2006.4 Citado por Rita CÁURIO, Artêxtil no Brasil: viagem pelo mundo da ta-peçaria, p. 7.5 A narração do documentário fala da personagem da mitologia gregaAracné que desafiou a deusa grega Palas Atena que, ofendida, a transfor-mou em aranha condenando-a a tecer infinitamente.6 Disponível em: <www.mcb.sp.gov.br/mcbItem.asp?sMenu=P002&sTipo=5&sItem=367&sOrdem=1>. Acesso em 18 fev. 2006.