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Universidade Federal de Mato Grosso Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo Bruna Moreira Cristina Marafon Priscila Wolff Sampaio Rafaela Lima da Silva Relatório de Avaliação de Iluminação Artificial Cuiabá 2015

Conforto Lumínico

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Trabalho desenvolvido por discentes de Arquitetura e Urbanismo para a disciplina de Conforto Ambiental III

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Universidade Federal de Mato Grosso Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Bruna Moreira Cristina Marafon

Priscila Wolff Sampaio Rafaela Lima da Silva

Relatório de Avaliação de Iluminação Artificial

Cuiabá 2015

Introdução

A utilização da luz artificial é de grande importância na realização de

atividades, principalmente em ambientes internos ou no período noturno. Ela é

responsável por fornecer os requisitos necessários para o pleno desempenho do

sentido da visão, porta de entrada da maior parte das informações adquiridas

através dos estímulos produzidos pelas luzes, cores e formas dos ambientes.

Hoje, a sua utilização tornou-se um dos principais componentes na

ambientação de espaços, o que lhe confere um papel fundamental durante o

desenvolvimento de um projeto. Este processo exige tanto uma técnica quanto a

qualificação das fontes luminosas. Além de seu uso auxiliar na configuração do

local, a iluminação influencia todas as decisões estéticas e psicológicas de um

ambiente. Ela é capaz de proporcionar aos usuários tanto reações adversas,

quando mal utilizada, quanto sensações de aconchego e bem-estar.

Diante disto, o trabalho apresentado tem por objetivo avaliar como é

estabelecida a sua utilização no interior do local, e a partir dos resultados propor

melhorias e adequações na configuração luminosa a fim de obter o máximo de

produtividade nas atividades exercidas no local. O objeto de estudo deste trabalho é

o Alex Restaurante, localizado na Avenida Cel. Escolástico, em Cuiabá-MT.

Caracterização do Espaço

O edifício é composto por dois pavimentos. No pavimento térreo encontram-

se a cozinha, o depósito, o buffet, o salão principal e a recepção; já no primeiro

pavimento, há mais um salão (mezanino), uma varanda e a administração. A

avaliação da iluminação artificial se ateve aos ambientes públicos localizados no

térreo: bufê, salão e recepção, que não se encontram separados por barreiras

físicas mas possuem necessidades diferentes quanto à iluminação (Quadro 01).

Para caracterização do espaço arquitetônico, ver pranchas anexas.

Quadro 01 - Requisitos de iluminação média mínima para ambientes de restaurante

Tipo de Ambiente Iluminação Média

(EM) LUX

Índice Limite de ofuscamento

(UGRL)

Índice de

reprodução de cor

mínima (RA)

Recepção 300 22 80

Bufê 300 22 80

Salão (Restaurante

Self-service) 200 22 80

Fonte: NBR ISO/CIE – 8995-1

A entrada principal do estabelecimento dá acesso à recepção que é

conectada ao salão principal. Este, por sua vez, antecede a área do bufê. As

exigências de iluminação em cada um destes ambientes variam, pois cada um

possui uma função específica.

A recepção é um ambiente de realização de tarefas que, em sua grande

maioria, implicam no manuseio de cédulas e cupons fiscais. Por esse motivo, este é

um dos locais que exige maior acuidade visual. Tais atividades são realizadas sobre

uma superfície de cor preta, que contrasta com os demais objetos manuseados. Por

possuir baixa refletância, evita o ofuscamento de quem trabalha no local.

Ligado à recepção está o salão principal. Dentre os ambientes do

estabelecimento, este é o que possui menor exigência de iluminação de acordo com

a norma NBR 5413. Isso se dá pois é um local de refeição, onde a luz da emoção,

utilizada para ambientar o lugar e transmitir aconchego é mais bem-vinda do que a

luz da razão, indicada para ambientes onde ocorrem atividades laborativas. Uma

determinada precisão visual é necessária para que a refeição seja realizada, mas

sua necessidade é menor que nos outros ambientes.

Ligado ao salão encontra-se o bufê. Este é o ambiente em que a acuidade

visual é mais necessária, pois aqui são servidas e pesadas todas as refeições.

Revestimentos, mobiliário e fatores que influenciam na distribuição da luz

Para uma distribuição homogênea da iluminação é necessário que as

lâmpadas possuam características que atendam as dimensões do ambiente e

estejam dispostas de forma a fazer com que sua distribuição seja uniforme. No

entanto, além das lâmpadas, outros fatores influenciam nesta distribuição. Dentre

eles, o forro é o fator de maior influência, seguido pelas paredes, os móveis e então,

o piso. Este último tem baixa importância por se localizar abaixo do plano de

trabalho.

No Restaurante Alex, o forro apresenta duas cores: branca, que corresponde

a 86,2% da superfície e violeta, 13,8% (Figura 01). Por conta destas proporções,

pode-se considerá-lo como claro, que apresenta uma refletância de 50% de acordo

com a norma NBR ISSO/SIE 8995-1. O mesmo acontece com as paredes, mas

nestas, o valor da refletância cai para 30%. Por mais que o piso não tenha tanta

influência nos níveis de refletância, a cerâmica sendo clara não interfere

negativamente na qualidade da iluminação do local. Para que a dispersão de luz

através da reflexão nas paredes, piso e teto fosse máxima, todos eles deveriam

receber revestimentos brancos e com brilho, como as tintas fabricadas à base de

óleos e os pisos porcelanatos. Porém, isso geraria um ambiente interno monótono e

psicologicamente desconfortável aos usuários.

Figura 01 - Vista do forro. Há elementos de cor violeta com tonalidade mais escura, que contrasta com o revestimento claro da maior parte do estabelecimento.

Fonte: Priscila Wolff Sampaio, 2014

Os móveis e outros detalhes decorativos são de cores escuras, portanto

absorvem mais a luz do que refletem (Figura 02). Porém as bancadas presentes no

bufê são de cores claras, o que coopera positivamente na refletância (Figura 03).

Figura 02 - Detalhe das mesas e das cadeiras dispostas no salão. Todas são

revestidas em madeira com uma tonalidade escura, portanto, pouco reflexiva.

Fonte: Facebook Alex Restaurante

Figura 03 - Vista do Bufê. A presença de elementos arquitetônicos em cor violeta é

menor, porém ainda ocorre. Este espaço difere do salão também pelo revestimento

das bancadas, com cores muito claras e altamente reflexivas.

Fonte: Priscila Wolff Sampaio, 2014

Configuração da distribuição de luz e análise

Na configuração atual do Alex Restaurante, a iluminação geral é realizada

por 72 lâmpadas embutidas do modelo AR111, das quais 21 se encontram no bufê,

11 na recepção e 40 no salão. Além destas, são utilizadas 16 lâmpadas

minidicroicas do modelo GU5.3 para iluminação de efeito. Essa configuração

caracteriza um tipo de iluminação direta geral, onde há uma distribuição

aproximadamente regular das luminárias pelo forro, o que acarreta uma iluminação

mais uniforme. A disposição destas lâmpadas contidas na planta luminotécnica

encontra-se nas pranchas anexas a este trabalho.

Para realizar a análise da distribuição e efeito desta iluminação é necessário

levar em conta fatores técnicos e psicológicos, por isso esta análise se dará em

duas etapas: a avaliação da luz da emoção e seus efeitos e a avaliação da luz da

razão e sua funcionalidade.

A luz da emoção tem como principal objetivo ambientar o espaço, por isso é

muito utilizada em restaurantes, seja para deixar o ambiente mais aconchegante ou

imergir o usuário no espaço. No caso do Alex Restaurante, as poucas lâmpadas

que realizam esta função se caracterizam por jogar um facho de luz na parede,

criando uma iluminação indireta, mais voltada para efeitos na ambientação do

espaço do que para as atividades laborativas (Figura 04). Sua influência não é

muito perceptível e pode-se perceber que não houve maiores preocupações quanto

à ambientação no estabelecimento. Isso se deve ao horário de atendimento ao

público ocorrer estritamente nos períodos de incidência solar e o partido

arquitetônico tirar grande proveito da fonte de luz natural, por isso a iluminação

artificial do Restaurante Alex acaba por desempenhar um papel secundário. No

entanto, para tornar o ambiente mais receptivo, as lâmpadas possuem uma

temperatura de cor baixa, pois são amareladas. Devido à configuração

arquitetônica, caracterizada pela presença de um pé direito duplo, o fator de

conforto proporcionado pelas lâmpadas é pouco perceptível.

Figura 04 – Iluminação de efeito com spots e iluminação geral

Fonte: Priscila Wolff Sampaio, 2014

A fim de avaliar a iluminação geral e ver se os valores se encontram de

acordo com os prescritos pela norma, anteriormente mencionados, foi realizada

uma simulação no software Relux. Nesta simulação foram utilizadas as lâmpadas e

luminárias que mais se aproximam tanto daquelas presentes na planta luminoténica

do projeto arquitetônico do estabelecimento, ao qual obtivemos acesso, quanto das

observadas in loco. O resultado da simulação, com os valores de iluminância,

encontram-se na figura 05.

Figura 05 - Simulação da distribuição de luz no ambiente com a configuração atual. Os valores de Iluminância (lux) podem ser verificados na barra abaixo.

Fonte: Autoria Própria, 2015

Como é possível observar, a iluminância média de 124 lux, resultante desta

configuração, está abaixo da menor iluminância prescrita (com o valor de 200 lux

para o salão). Portanto, o sistema de iluminação utilizado no estabelecimento é

inadequado para as atividades que se realizam no mesmo. Ao observar cada

ambiente separadamente, pode-se perceber que a recepção possui poucos

espaços mal iluminados. A distribuição é praticamente uniforme, mas se encontra

abaixo do mínimo prescrito pela NBR ISSO/SIE 8995-1. O maior valor computado

foi de 200 lux, e em ambientes que necessitam de 300 lux, como o bufê e a

recepção. O salão, apesar de possuir uma distribuição de luz muito homogênea,

ainda abriga alguns espaços mais escuros. Além disso, o valor de sua iluminação

também está abaixo da mínima necessária.

O bufê é a área de situação mais crítica e o local onde a iluminação se faz

mais necessária. As tarefas realizadas neste ambiente, que envolvem servir e pesar

os pratos, são as que mais precisam de acuidade visual. No bufê há predominância

de espaços mal iluminados, sendo que as maiores áreas possuem de 50 a 75 lux.

Proposta de Intervenção

Tendo em vista que o projeto de iluminação artificial do restaurante não

atende às exigências mínimas prescritas pela norma NBR ISSO/SIE 8995-1, que

recomenda para o espaço do salão 200 lux e 300 lux para a recepção e para a área

do Buffet, propomos algumas alterações que beneficiassem o local considerando a

sua funcionalidade. Deste modo, para o salão principal, onde se concentra as mesas

e, consequentemente, é o espaço de maior permanência por parte do usuário, as

lâmpadas foram escolhidas levando em consideração a temperatura de cor para que

o ambiente continuasse a se manter receptivo. Por isso, optou-se por uma

temperatura que girasse em torno de 3000K. Manteve-se o sistema de iluminação

direta e geral, o que gera uma maior flexibilidade de layout interna do ambiente e é

ideal para grandes espaços. Uma vez que as lâmpadas spots são adequadas para

pés direitos muito elevados, como é o caso do restaurante, o modelo de luminária e

lâmpada foram mantidos; porém, aumentou-se o seu fluxo luminoso para que

pudesse atender a quantidade de lux ideal. Assim, a lâmpada escolhida é a

Poweball HCI – PAR20 de 35W, de 1750lm (Figura 06).

Figura 06 - Lâmpada Poweball HCI – PAR20 de 35W

Fonte: Software Relux

Mesmo com as readequações das lâmpadas, parte do salão tinha a

iluminação prejudicada devido ao desenho do forro, que possui três rebaixos. Essa

situação levou ao acréscimo de cinco fileiras nos locais mais críticos, como mostra a

planta de forro da proposta.

Ainda para a área do salão, foram pensadas luzes que auxiliassem na

ambientação do espaço, mais emotivas do que laborativas. Utilizou-se então uma

luz de destaque que valorizasse os elementos arquitetônicos já existentes no local.

Assim, quatro arandelas, Scoop D com lâmpada 1xHRGS-97 E27 de 75w da Bell

Lighting (Figura 07), foram adicionadas nos pilares destacados da parede. A cor

escura contribui para o destaque da arandela, que possui um fluxo luminoso de

1280lm.

Figura 07 - Arandela Modelo Scoop D/ Bell Lighting

Fonte: Software Relux

Para a recepção, as lâmpadas propostas também são as Poweball HCI –

PAR20 de 35w de 1750lm, atendendo a quantidade de lux necessária para as

atividades realizadas na superfície de trabalho do balcão, que é de 300lux. Os spots,

mini-dicróicas Osram 1xHRGS/UB-20-12-GU5 de 20w e 356lm (Figura 08), são

usados acima do balcão de atendimento, criando um efeito de destaque que

contribuem para um ambiente mais dinâmico.

Figura 08 - Mini-dicróicas Osram 1xHRGS/UB-20-12-GU5

Fonte: Software Relux

Quanto à área do Buffet, até então sendo a mais prejudicada com relação à

quantidade de lux, é proposto uma luminária Plafon, embutido, Beselight Toschiba

600x600mm de 66w e 4000k (Figura 09), em um desenho que não reduza a leveza

da decoração deste ambiente. A distribuição continua a mesma, direta e geral,

porém mais abrangente ao considerar a quantidade de lumens, que passa a ser de

2700lm. Atinge, assim, o valor mínimo de 300 lux necessários à atividade aqui

realizada. Os spots de efeito na parede lateral e na parede ao fundo foram mantidos,

uma vez que não prejudicava a composição harmônica do ambiente.

Figura 09 - Plafon embutido, Beselight Toschiba 600x600mm de 66w

Fonte: Software Relux

Os resultados da simulação realizada no software Relux com a proposta

obteve os resultados presentes na figura 10.

Figura 10 - Simulação da distribuição de luz no ambiente com Proposta de Intervenção. Os valores de Iluminância (lux) podem ser verificados na barra abaixo.

Fonte: Autoria Própria, 2015

O quadro 02 indica os valores de iluminância obtidos numa comparação com

os dados da avaliação da configuração atual e para a proposta.

Quadro 02 – Comparação dos níveis de iluminância

Ambiente Nível de iluminância (Lux) Situação Atual

Nível de iluminância(Lux) Proposta

Recepção 200 300

Salão 100 250

Buffet 75 500 Fonte: Autoria Própria, 2015

Percebe-se um aumento significativo na qualidade da iluminação, sendo que

a proposta contribui para a adequação do projeto do restaurante às normas exigidas

para o conforto visual e psicológico do usuário sem que sejam afetados os aspectos

decorativos do espaço. A iluminação de efeito (Figura 11) respeita o partido

arquitetônico, criando, em associação a elementos estruturais, aspectos estéticos

que valorizam a ambientação do restaurante. Associou-se, assim, a luz da razão à

luz da emoção, o que contribuiu para um espaço harmônico e receptivo sem

dispensar a qualidade necessária da iluminação e sua maior eficiência.

Figura 11 – Simulação 3D da proposta com destaque para as luzes de efeito

Fonte: Autoria Própria, 2015

Quando se observa os níveis de eficiência dos dois projetos percebe-se que a

eficiência da proposta diminuiu, de 50,35lm/W para 42,21lm/W quando comparada

com o valor atual. No entanto, mesmo que a configuração atual seja mais eficiente,

produzindo mais iluminação por unidade de potência, o que acarreta menor gasto

com energia, os níveis de iluminação são insuficientes para a utilização plena e

adequada do espaço. Outro fator que justifica o aumento do gasto energético são as

arandelas que funcionam muito mais como luzes de efeito sem auxiliar de maneira

considerável no aumento da iluminância do local.