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“COLETIVO TRIUNFO” EXPERIÊNCIAS, FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO AS-PTA/PR-SC | Edição nº XX | Janeiro 2015 Formação do Grupo “Coletivo Triunfo” Esmulados pela dinâmica interava dos inter- câmbios, agricultores e agricultoras da região, principalmente de São João do Triunfo e São Ma- teus, resolveram, em 2010, formar um grupo ma- is sólido e de caráter permanente de lideranças comunitárias e municipais, visando principal- mente à ação coleva e ao fortalecimento mútuo na promoção da Agroecologia e também no cam- po da parcipação políca nos níveis local, esta- dual e federal. A denominação escolhida para o grupo pelos agricultores associa, ao mesmo tem- po, a força simbólica da palavra “triunfo” ao es- mulo importante recebido para sua criação pelas lideranças da agricultura familiar do município de São João do Triunfo. Quem é o Grupo Coletivo? Em seu início, o Grupo Colevo Tri- unfo foi constuído por apenas nove pessoas, mas, com o passar do tempo, foi fortalecido, contan- do atualmente com mais de 40 in- tegrantes: notadamente, repre- sentantes de grupos e associa- ções comunitárias, informal e in- formalmente organizadas, coo- peravas de agricultores familia- res, professores e estudantes de escolas técnicas e universidades públicas, dirigentes sindicais, ges- tores públicos municipais e esta- duais e assessores técnicos de ONGs. Hoje, os membros do grupo têm origem em 10 municípios da re- gião Centro-Sul do Paraná e Pla- nalto Norte catarinense, sendo do Paraná: Palmeira, São João do Triunfo, São Mateus do Sul, Fer- nandes Pinheiro, Teixeira Soares, Rio Azul, Rebouças e Ira e, de Santa Catarina, Bela Vista do Tol- do e Irineópolis. Primeira reunião para a formação do grupo coletiva triunfo em São João do Triunfo, casa do Agricultor Taborda na comunidade do Rio Baio, 2010.

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“COLETIVO TRIUNFO”EXPERIÊNCIAS, FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

AS-PTA/PR-SC | Edição nº XX | Janeiro 2015

Formação do Grupo “Coletivo Triunfo”Es�mulados pela dinâmica intera�va dos inter-câmbios, agricultores e agricultoras da região, principalmente de São João do Triunfo e São Ma-teus, resolveram, em 2010, formar um grupo ma-is sólido e de caráter permanente de lideranças comunitárias e municipais, visando principal-mente à ação cole�va e ao fortalecimento mútuo na promoção da Agroecologia e também no cam-

po da par�cipação polí�ca nos níveis local, esta-dual e federal. A denominação escolhida para o grupo pelos agricultores associa, ao mesmo tem-po, a força simbólica da palavra “triunfo” ao es�-mulo importante recebido para sua criação pelas lideranças da agricultura familiar do município de São João do Triunfo.

Quem é o Grupo Coletivo?Em seu início, o Grupo Cole�vo Tri-unfo foi cons�tuído por apenas nove pessoas, mas, com o passar do tempo, foi fortalecido, contan-do atualmente com mais de 40 in-tegrantes: notadamente, repre-sentantes de grupos e associa-ções comunitárias, informal e in-formalmente organizadas, coo-pera�vas de agricultores familia-res, professores e estudantes de escolas técnicas e universidades públicas, dirigentes sindicais, ges-tores públicos municipais e esta-duais e assessores técnicos de ONGs.

Hoje, os membros do grupo têm origem em 10 municípios da re-gião Centro-Sul do Paraná e Pla-nalto Norte catarinense, sendo do Paraná: Palmeira, São João do Triunfo, São Mateus do Sul, Fer-nandes Pinheiro, Teixeira Soares, Rio Azul, Rebouças e Ira� e, de Santa Catarina, Bela Vista do Tol-do e Irineópolis.

Primeira reunião para a formação do grupo coletiva triunfo emSão João do Triunfo, casa do Agricultor Taborda na comunidade do Rio Baio, 2010.

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Desde sua formação, as reuniões mensais do Cole�vo são sempre abertas à par�cipação de novos membros. Além de cumprir o papel de espaço de formação e informa-ção técnica sobre o enfoque agroe-cológico de desenvolvimento rural, o Cole�vo tem cons�tuído um fó-rum regional de debates, que irra-dia efeitos aos sindicatos, associa-ções, ins�tuições de ensino e pes-quisa e organismos públicos da re-gião. Ao mesmo tempo, tem sido crescentemente reconhecido pelas organizações da Agricultura famili-ar e pelos poderes públicos como um ator polí�co cole�vo de análise do contexto regional e de concerta-ção de inicia�vas comuns. É no âm-

Encontro do Coletivo Triunfo em São João do Triunfo na propriedadeda família Paisani, comunidade de Guaiaca dos Preto.

AÇÕESEnfrentamento aouso de agrotóxicoUm primeiro ponto e marcante dentre as ações do grupo cole�vo triunfo foi à batalha enfrentada no ano de 2011 contra o agrotóxico Gamit, (mis-tura de hidrocarbonetos aromá�cos / clomazo-na) u�lizado na cultura do fumo, onde a cidade de São João do Triunfo, ficou conhecida como a BOLHA DO VENENO. Ocorrendo diversos danos causados pelo uso excessivo e indiscriminado do GAMIT 500, tudo ficou amarelo, árvores na�vas

perderam folha e a pigmentação, fru�feras abor-taram seus frutos, flores e pássaros morreram, sem contabilizar a contaminação e danos ao solo e água e a saúde humana que não são visíveis a olho nú, mas que somente o tempo ira mostrar. Lembrando que esta formulação não é recomen-dada à cultura do fumo, mas foi comercializado ilegalmente por revendas de insumos da região.

Fortalecimento político do grupo coletivo em ações governamentais de acesso a mercados

Nos úl�mos três anos, com acesso das famílias agricultoras aos programas de comercialização via governo federal como PAA e PNAE , estes também tem sido tema de debates e inicia�vas do Cole�vo Triunfo. No caso do PNAE, trata-se da comercialização de alimentos para a meren-da escolar nos municípios de base de trabalho regional, com reflexos posi�vos na estabilidade produ�va e das rendas das famílias, o Cole�vo Triunfo tem procurando apoiar no sen�do de in-cen�var com metodologias, pra�cas e novas ex-periências para as organizações da agricultura familiar como associações e coopera�vas para que busquem e fortaleçam estes programas, visto que o mesmo proporciona ampliação da

bito do Cole�vo que têm sido planejadas a�vidades como os dias de campo, intercâmbi-os, seminários regionais, feiras da Agrobiodiversidade, dentre outros eventos que dina-mizam a rede regional de promoção da agroecologia.

renda familiar, manutenção do agro biodiversi-dade e autonomia das famílias perante as inte-grações, em especial a fumicultura regional.

No caso do PAA, o Cole�vo Triunfo es�mulou a formulação de projetos cole�vos para a com-pra de sementes crioulas via doação simultâ-nea. Onde coopera�vas da região se organiza-ram e mobilizaram mais de 100 campos de mul-�plicação de sementes crioulas de milho de 23 variedades locais. Assim como permi�r a co-mercialização de sementes produzidas pelas fa-mílias para o governo, a inicia�va tem resultado no resgate da diversidade das variedades criou-las e no fortalecendo da rede regional de guar-

diões das sementes e da biodiversidade. Outro ponto importan�ssimo foi a disponibilização destas sementes a mais de 6000 mil famílias agricultoras de toda a região, primeiramente por estas sementes serem gratuita e logo, por serem extremamente adaptada as condições edafoclima�cas da região, pois co-evoluiram nestes ecossistemas. Agora após este 3 anos de distribuição a rede de guardiões con�nua em plena ação, pois as associações, coopera�vas e sindicatos disponibilizam e comercialização es-tas sementes as famílias que ainda não tem ou que não conseguiram por mo�vos diversos, co-mo a contaminação por transgênico, mul�pli-car suas sementes.

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Como enfrentamento buscou-se com apoio jurídico foi elaborada uma carta serem entregues as autorida-des locais, estaduais e federal para que tomassem providências necessárias onde citamos abaixo alguns trechos importantes desta carta:

RECOMENDAÇÕES SOBRE O USO DO GAMIT

Vale ser lembrado que a par�r desta inicia�va tomada pelo cole�vo, desencadeou em ações dos órgãos competentes a fim de coibir o uso do agrotóxico denominado Gamitão pelo cole�vo, sendo deixado de su-ar na formulação Gamit 500 na fumicultura local.

Danos causados pelo uso abusivo do agrotóxico Gamit 500 - foto de 2011- São João do Triunfo e Fernandes Pinheiro.

LIMITAÇÕES DE USO:• Não se recomenda aplicar Gamit a menos de 800m

da cultura de girassol e milho e das seguintes ativi-dades: hortas, pomares, viveiros, casas de vegeta-ção (estufas), jardins, videiras, arboredos, vegeta-ções ribeirinhas e outras nativas.

• Culturas de inverno (trigo, aveia, centeio) subse-quentes à aplicação de Gamit poderão apresentar le-ve clorose em locais se houver erro de aplicação co-mo doses duplicadas ou sobreposição de barra. Entretanto, estas plantas recuperam-se normal-mente, não afetando a produção nestas condições.

• Aguardar um período mínimo de 150 dias após a últi-ma aplicação do Gamit para a instalação de culturas subsequentes.

Nós, agricultores familiares organizados por meio do Coletivo Triunfo, su-jeito coletivo do qual fazem parte famílias dos municípios de São João do Triunfo, São Mateus do Sul, Fernandes Pinheiro, Palmeira, Rebouças, Rio Azul, esses no Paraná, e Bela Vista do Toldo e Irineópolis, no estado de San-ta Catarina, reunimo-nos no dia 24 (vinte e quatro) de fevereiro do ano de 2011 para expor, denunciar e pedir providências quanto às violações a di-versos direitos, dentre eles o de livre escolha do nosso sistema de produ-ção, e também quanto aos danos gerados à nossa saúde e ao meio ambi-ente, em decorrência do uso abusivo de agrotóxicos nas lavouras de fumo existentes na nossa região que engloba o centro-sul do Paraná e Planalto Norte Catarinense.

Além dos danos ao Meio Ambiente e à Saúde, estarmos cercados por la-vouras de fumo que aplicam esses venenos desenfreadamente gera tam-bém a ameaça real aos agricultores agroecológicos colocando em risco:

• A certicação como produtores de alimentos orgânicos já que es-tamos diariamente expostos à contaminação, o que acaba com

anos de esforços no sentido de se fazer a conversão da unidade produtiva de convencional para a agroecológica, o que dura em média 04 anos e requer muitos investimentos;

• A perda dos incentivos dos Programa PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA (Programa de Aquisição de Ali-mentos), programas por meio dos quais muitos agricultores abas-tecem escolas, creches, asilos, entidades lantrópicas da região com alimentos saudáveis;

• A perda do adicional de 30% para alimentos ecológicos ofereci-dos pelos programas acima citados, causando graves prejuízos econômicos ameaçando a estabilidade nanceira das famílias.

Diante da gravidade e atualidade de todos esses conitos urgentes, ar-mamos, em Coletivo, a necessidade de que as autoridades competentes tomem as devidas e imediatas providências, tendo em vista que estamos no nal da colheita da safra 2010/2011.

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INTERCÂMBIOSConhecimentos e açõesFerramenta indispensável para a construção par�cipa�va do conheci-mento e formação os intercâmbios realizados com o cole�vo triunfo, estão alicerçados n as trocas de experiências apresentadas pelas famí-lias que recebem o grupo, já que se tem um planejamento semestral de visitas e na maioria delas são definidas pelo próprio grupo, princi-palmente envolvendo a questão da agrobiodiversidade, manejo eco-lógico de solos e hoje em foco as coopera�vas em processos de agroin-dustrialização e comercialização, alem do envolvimento de escolas pú-blicas e técnicas para o fortalecimento da agroecologia. Nestes inter-câmbios se faz primeiramente a visita à propriedade, onde os agricul-tores par�cipantes podem dialogar, sanar suas duvidas e curiosidades diretamente com que construiu os arranjo da propriedade e a família que recebe o grupo expõe de maneira obje�va e real suas pra�cas, com os acertos e erros ocorridos no processo de construção de seus sistemas de produção. Dentro deste método um ponto sempre é fazer uma reflexão do que foi visto e aprendido para assim produzir conclu-sões e considerações, permi�ndo a cada um ter como base para seu desenvolvimento o que foi regado de conhecimento no intercambio.

Coletivo atuando na promoção da agrobiodiversidadeDesde a sua formação do grupo Cole�vo Triunfo em 2010, além de intervir em polí�ca públicas dos pro-gramas de governo como PAA e PNAE, também tem sido o principal ar�culador regional na organização das feiras municipais e regionais de sementes criou-las e da biodiversidade no Centro Sul do Paraná, que acontecem todos os anos, além da preparação e apresentação de experiências locais nos seminários regionais de agrobiodiversidade, onde antes a mai-or parte da organização ficava a cargo da AS-PTA, mas também a sua par�cipação em eventos realiza-dos nos municípios, estados e no país levando a sua representa�vidade através de seus membros atu-antes, fortalecendo desta forma o grupo poli�ca-mente.

No ano de 2014, o grupo cole�vo triunfo foi decisivo na preparação e organização da décima segunda fei-ra regional de sementes crioulas e da biodiversida-de, realizada em Rio Azul, onde ocorreram diversas reuniões de preparações e organizações para a feira por parte do cole�vo, como também a organização em vários municípios através das caravanas de agri-cultores familiares a par�ciparem da feira com a enorme riqueza de sementes crioulas de diversas es-pécies para trocarem, comercializarem e principal-mente o reencontro de muitos guardiões das se-mentes crioulas compar�lhando todo o riquíssimo conhecimento que cada um tem em sua bagagem de experiência familiar.

Feira regional de sementes e da biodiversidade

Avenida 7 de Abril, 949 - Centro - Palmeira/PR - Fones (42) 3252.7290 e 3252.1701 | www.aspta.org.br

Reuniões de preparação para feira regional de sementes.

Visitas mensais do grupo coletivo triunfo, Palmeira, São Mateus do Sul, Fernandes Pinheiro e Casa Familiar Rural de São Mateus do Sul.