Coleção Primeiro Amor 04 - Coração Dividido - Janet Quin-Harkin-

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Coleção Primeiro Amor

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COLEO PRIMEIRO AMOR- CORAO DIVIDIDO

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Entre duas paixes Amber Stevens uma tpica garota da cidade grande. Adora pizza, cinema, televiso e tem uma incrvel turma de amigos com quem se diverte o tempo todo. Sonha em fazer uma boa faculdade e curte seu novo namorado, o charmoso Brendan Cooper. Tudo vai bem at que seus pais decidem mudar de vida. Cansados da agitao de Nova York, eles resolvem cuidar de um stio no estado de Wyoming, no Velho Oeste americano. De uma hora para outra o mundo de Amber desaba. No h mais namorado, televiso, cinema ou pizza. Em vez disso, ela tem de aprender como tirar leite da vaca, alimentar galinhas, cortar lenha, dirigir um trator... Seria um pesadelo, se o belo e vigoroso Rich Winter, vizinho e colega de escola, no se dispusesse a ajudla. Seu corao bate acelerado toda vez que aquele lindo garoto se aproxima...

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E logo Amber se v diante de um dilema. A quem ama de verdade? Rich, o atraente cowboy daquela cidadezinha perdida do interior, ou o fascinante Brendan, que a quer de volta a Nova York?

Sumrio

1. A nova gatinha do Brendan 9 2. Rumo ao Velho Oeste 18 3. Temporada nas Montanhas 26 4. Sem TV, cinema ou pizza 33 5. Um cowboy de verdade 44 6. Eu no sou daqui 52 7. Estranhos gritos no vento 60 8. Piruetas e saltos-mortais 71 9. Assustador Dia das Bruxas 84 10. Animando a torcida 91 11. Uma janela para o amor 102 12. Longo e ardente beijo 114 13. Com os olhos rasos dgua 120 14. Visita dos amigos 130 15. Miss Ranchete 140 16. Perigo na neve 147 17. A chance de ser feliz 156

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1- A Nova Gatinha do Brendan A msica transbordava pelo corredor quando Suzanne e eu samos do elevador no vigsimo andar. Eu podia sentir as retumbantes batidas do ritmo atravs das solas dos meus sapatos. E podia sentir tambm, quase na mesma altura, as retumbantes batidas do meu corao. - No consigo acreditar que estamos aqui! sussurrei, me agarrando ao brao de Suzanne para me sentir mais segura. Estamos mesmo indo festa de Brendan! - E se as coisas progredirem da forma como acho que vo progredir disse Suzanne, com um ar de sabida -, eu diria que isto o comeo de um lindo relacionamento. Amber e Brendan, uma combinao feita no cu. Com a ajuda de Suzanne, claro. - Sei, sei... resmunguei, lanando-lhe um olhar que a fez rir. Mas no conseguia parar de sorrir para mim mesma. Estava tudo bom demais para ser verdade. Eu havia comeado o colegial um ano antes na Dover, uma especialssima e puxadssima escola privada em Manhattan, como uma tpica e completa z-ningum. Estava quatorze anos e parecia ter onze. Na verdade a nica coisa em que conseguia me destacar um pouco ao longo daquele ano fora a ginstica olmpica, para a qual, no entanto, ningum em Dover parecia dar muita importncia. Ficava admirando com inveja todas aquelas garotas com corpos perfeitos que, cheia de autoconfiana, perambulavam pelas salas de aula e corredores da escola, sempre vestidas na ultima moda. At que, perto do fim do ano, as coisas comearam a acontecer pra mim. Cresci, e meu corpo se recheou nos lugares certos. quela altura j havia posto um fim s minhas esperanas de chamar a ateno com as minha habilidades esportivas, mas pelo menos as pessoas tinham comeado a notar que eu existia. O momento de grande virada foi quando ajudei Suzanne a desentalar o salto de seu sapato da grade de um bueiro e a acompanhei at seu apartamento. Depois disso comeamos a voltar juntas diariamente da escola para casa. Suzanne era uma central ambulante de informaes que conhecia todo mundo na escola, e em pouco tempo eu j fazia parte da turminha dela. E essa turminha inclua Brendan Cooper. Eu o havia contemplado embevecida ao longo de todos aquele meu ano de caloura, maravilhada com o comprimento dos clios dele, com aquelas pequenas e adorveis covinhas que apareciam em suas bochechas quando ele sorria, e com o jeito dele, com aquelas pequenas e adorveis covinhas que apareciam em suas bochechas quando ele sorria, e com o jeito dele encarar as garotas com aquele seu olhar ardente e fixo. Eu jamais teria sonhado que esse olhar um dia recairia sobre mim, mas no comeo do segundo ano nos tornamos parceiros no laboratrio de biologia. Coisas do destino! Ns nos sentvamos lado a lado no laboratrio, com nossos joelhos se tocando levemente enquanto dissecvamos vermes. O professor, um homem srio que usava uns culos enormes, falava de um jeito empolado que fazia Brendan e eu rirmos em segredo o tempo todo. Brendan tinha adquirido o hbito de sussurrar coisas engraadas e picantes no meu ouvido, e a sensao da proximidade de seus lbios e do calor de sua respirao me deixava tonta. No consegui acreditar no que ouvi quando ele sugeriu que fizssemos a nossa lio de

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casa de biologia juntos. Foi assim que comeamos a freqentar regularmente o Caf Fiorelli, na rua 75, o lugar preferido doas alunos da Dover, para fazermos as nossas lies. No comeo tinha sido s biologia, at que um dia ficamos l sentados tomando um moncha, um delicioso caf rabe, s conversando e rindo por horas a fio. Eu nunca antes havia me sentido to vontade com um garoto. Nunca tinha sido capaz de rir e ficar com um deles despreocupadamente, relaxada. Brendan era diferente. Realmente divertido, era fantstico imitando os professores. Reparei que havia outras pessoas nos olhando, e me senti muito orgulhosa por estar com ele. Eu poderia ter ficado l sentada com Brendan para sempre. - Eu me diverti muito hoje, Amber ele disse enquanto me acompanhava a p at a minha casa. A gente devia fazer isso mais vezes. E ento aconteceu: na entrada do meu prdio, do lado de fora, ele me deu um delicado beijo de despedida. Mesmo tendo sido apenas um rpido roar entre os nossos lbios, com muita gente passando, aquilo me fez formigar at as pontas dos dedos dos ps. Foi uma semana depois, quando estvamos de novo no Fiorelli, que ele me contou sobre a festa. - Vai ser demais! disse, entusiasmado. Meus pais vo estar fora da cidade. - E eles vo deixar voc dar uma festa enquanto esto fora? - No exatamente respondeu Brendan, piscando com malcia. Minha irm mais velha vai estar por perto. Supe-se que v ficar de olho em mim, mas ela bem liberal. E vai ser til para comprar cerveja, j que maior de idade. Voc vai, no vai? perguntou esticando o brao e pousando sua mo sobre a minha. - Claro repliquei. No perderia isso por nada. Antes de responder, j sabia muito bem que iria quela festa mesmo que fosse preciso atravessar o oceano Atlntico a nado para chegar nela. E na verdade seria preciso superar um obstculo quase to difcil quanto esse: convencer meus pais. Para os nova-iorquinos progressistas e esclarecidos que so, mostram-se surpreendentemente antiquados em certos aspectos. Eu sabia exatamente o que fariam se lhes pedisse permisso para ir festa de Brendan: iriam ligar para os pais deles e descobririam que estes no estavam planejando ficar em casa naquela noite. Ento me comunicariam, com suas vozes calmas e sensatas, que sentiam muito mais eu no teria autorizao para ir a uma festa na qual no haveria nenhuma superviso de adultos. Havia telefonado para Suzanne desesperada. - Preciso ir de qualquer jeito! gemi. Brendan me disse que no vai ter graa nenhuma se eu no for. Acho que ele realmente gosta de mim, Suzanne. No posso perder essa festa. - simples respondeu a voz profunda e melodiosa de Suzanne do outro lado da linha. Se acha que os seus pais vo dizer no, ento no conte a eles. - Espera a, Suzanne repliquei com uma risada nervosa -, no posso mentir para os meus pais. E vou ter que inventar uma histria muito convincente para que me deixem ficar na rua at depois de meia-noite... - Ento diga a eles que vai passar a noite na minha casa props Suzanne. E voc pode mesmo voltar comigo depois da festa e ficar aqui em casa. Assim no ter mentido aos seus pais. - Suzanne, voc um gnio! exclamei no telefone, excitada.

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Afinal, meus pais no teriam nada contra eu dormir na casa da minha melhor amiga numa sexta-feira noite. - timo. No vejo a hora de chegar a noite de sexta concluiu Suzanne. Tinha sido tudo to fcil! Na sexta noite peguei meu vestido novo de veludo preto, no qual gastara bem mais dinheiro do que deveria, e tudo o mais que precisaria para me fazer bonita, charmosa e desejvel para Brendan. Ento fui para a casa de Suzanne, onde me troquei e me arrumei. E agora l estava eu, caminhando em direo porta daquele apartamento no vigsimo andar de um prdio em Manhattan. Foi o prprio Brendan quem abriu a porta. O rosto dele se iluminou quando me viu. - Nossa, Amber, que chique! exclamou, passeando seus olhos desde o alto da minha cabea at a ponta dos meus sapatos de salto alto. Ele pegou na minha mo. - Venha comigo l fora, no balco. - Mal chegamos e ela j est tentando me seduzir comentei rindo com Suzanne. - Quero lhe mostrar uma coisa insistiu ele, com seus olhos fixos nos meus. Voc jamais vai acreditar. Eu segui ao longo da sala. E ns samos para o balco. Na nossa frente o Central Park era um imenso retngulo de escurido rodeado por um milho de luzes. - E ento, o que voc acha disso? perguntou Brendan orgulhoso, fazendo um aceno com o brao. - A vista? linda... - No, no a vista disse ele. L, no canto! Eu olhei ao redor. - Um barril de cerveja! exclamei.- Como voc trouxe isso aqui para cima? - No foi nada fcil respondeu ele. Thomas, Keith e eu o subimos pelo elevador de servio dentro de uma lata de lixo. Foi a minha irm quem comprou. Legal, no ? Essa era uma das coisas que eu gostava em Brendan: ele assumia riscos. Desejei que um pouco da coragem dele passasse para mim. No fcil amadurecer e se tornar corajosa quando se tem pais superprotetores como os meus. Pensar neles naquele instante provocou uma pontada de sentimento de culpa em mim. Nunca havia mentido para eles antes, pelo menos no uma mentira to atrevida como aquela. Dessa vez a coisa era sria. Mas eu no tive mais tempo para pensar nisso, porque Brendan me enlaou com os seus braos. - E j que tenho voc todinha para mim aqui fora... sussurrou ele. Ento ele me beijou. No foi nosso primeiro beijo. Ele j me beijara quando ns voltvamos caminhando juntos do Caf Fiorelli at a minha casa. Mas naquela ocasio tnhamos precisado parar logo, porque s pessoas estavam olhando. Agora ramos s ns dois sozinhos na escurido, e os lbios dele estavam quentes e deliciosos... Atravs do tecido do meu vestido eu podia sentir o calor de suas mos nas minhas costas e seu corao martelando contra o meu. - Acho que a gente devia voltar para dentro sussurrei, rindo nervosamente enquanto nos apartvamos. Daqui a pouco todos vo comear a se perguntar onde estvamos. - No, no vo disse ele. Eles no so bobos. Vo ter capacidade para adivinhar onde estamos e o que exatamente estamos fazendo. Da escurido vinha o rondo abafado dos txis e um som difuso de um jazz tocando

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em algum lugar. - Amo Nova York suspirei. uma cidade to romntica e to excitante... - sim disse Brendan, com seus braos ainda ao redor da minha cintura. eu no conseguiria viver em nenhum outro lugar. - Nem eu. Apesar de meus pais continuarem a falar em fugir para uma fazendinha em Connecticut... comentei. - Esto s fantasiando replicou Brendan. Todos os nova-iorquinos fazem isso. Minha me est sempre ameaando de nos mudarmos para o campo, mas no fundo ela no est falando srio. - Voc tem razo. Meus pais tambm adoram esta cidade. - Ei, Brendan, venha c! gritou uma voz de dentro do apartamento. Tem uns caras aqui na porta que dizem que conhecem voc l do campo de futebol. - Ah, deve ser o Danny! gritou Brendan de volta, se afastando de mim. A gente continua mais tarde sussurrou no meu ouvido, me arrastando para dentro da sala. Logo Brendan estava cumprimentando ruidosamente os recm-chegados na porta da frente, e me vi engolida pela multido que j lotava o apartamento. - No vi voc chegar, Amber comentou Mandy Blake. Mandy fazia parte da turma de Suzanne e tambm tinha se tornado minha amiga. - Isso porque o Brendan arrastou-a l para fora no exato momento em que ela ps os ps aqui comentou Suzanne rindo. - Para que, admirar a vista? perguntou Alicia. - Para o que voc acha, imbecil? retrucou Suzanne, girando os olhos em minha direo. , minha cara, acho que vocs dois j viraram fofoca nacional. Escutei um garoto por a falando de voc como a nova gatinha do Brendan. Senti minhas bochechas esquentarem quando percebi que as outras garotas comearam a olhar me olhar com um interesse especial. Lauren, uma caloura bastante popular em Dover, estava olhando fixamente para o meu vestido. - Voc o comprou no Village, no foi? perguntou ela. Eu o vi numa vitrine da English Street, mas no tinha dinheiro suficiente. - Decidi que seria melhor andar pelada o resto do ano e comprar o vestido respondi sorridente e delicada. Minha me ficaria louca se soubesse quanto paguei por ele. - E para que servem os cartes de crdito? brincou Suzanne. - Fica muito bem em voc observou Lauren. - Voc pode us-lo de vez em quando, se quiser ofereci, me sentindo generosa e magnnima. - Obrigada disse ela, sorrindo. Eu me senti maravilhosamente bem sendo o centro das atenes, recebendo olhares de admirao de todos os lados e conversando de verdade com algumas das alunas e dos alunos mais populares da Dover. Poucos minutos depois Brendan apareceu com um copo de cerveja para mim. Dei um gole, apesar de no ser muito chegada em bebidas. Alm do mais, detesto o gosto da cerveja. A sala estava ficando cada vez mais apinhada, e alguns garotos tinham acendido cigarros, enchendo o ar de fumaa azul. O nvel de barulho aumentava junto com a fumaceira. Algum tinha colocado um CD de rap, e alguns garotos estavam danando no corredor. A msica soava to alta que produzia a sensao de se fazer parte de uma gigantesca batida de um nico corao.

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- E se algum chamar a polcia, Brendan? perguntou Mandy. - No se preocupe. Acertei tudo com os vizinhos. Todo mundo neste andar vai ficar fora de casa durante a noite, e o velho que mora aqui embaixo no liga. E molhei a mo do zelador com vinte dlares. Est tudo em cima, tudo sob controle. Ele me puxou para perto de si e me deu um rpido beijo na bochecha. - Ento voc conseguiu se virar para vir aqui sem que os teus pais te amolassem, Amber? perguntou Mandy; - Dissemos a eles que ela ia dormir na minha casa disse Suzanne. - Na verdade foi fcil expliquei.- Mal estavam prestando ateno quando perguntei se podia vir. Eles tm tido um monte de preocupaes ultimamente... Meu pai pegou um caso importante que est indo agora para os tribunais, e minha me tem que fazer uma apresentao para um novo cliente da empresa em que ela trabalha. E no meio disso tudo meu av ainda ligou de Wyoming, dizendo que quebrou a perna e no tem como tomar conta do stio. Agora meus pais esto tentando decidir o que fazer com ele... - Voc tem um av num stio, Amber? interrompeu Thomas, um dos amigos de Brendan. Por alguma razo me aprece que isso no combina com voc. - E no combina mesmo disse eu. Nem com o meu pai. Ele no via a hora de cair fora de l quando chegou a idade de ir para a faculdade. - Sei l... comentou Alicia. Acho que um stio soa to romntico! Todos aqueles cavalos... Voc nunca vai l? - No estivemos mais l desde que eu era bem pequena respondi. - Meu pai e meu av no se do muito bem. Meu av no consegue entender as necessidades que meu pai sente da vida urbana. E no tenho grandes lembranas do lugar. S me lembro de um menino que tentou me beijar no celeiro de meu av. E me lembro tambm dele colocando um sapo nas minhas costas, por dentro da roupa, quando estvamos passeando perto do rio, e de meu av dizendo que eu era uma mimada e fricoteira por ter ficado nervosa durante uma tempestade com raios e troves. No foram as melhores frias da minha vida. Algum colocou um outro CD de rap, e todos ns comeamos a danar. Mas estava me sentindo um pouco culpada. Queria ser livre e dona do meu nariz como os meus amigos, mas no conseguia me desvencilhar daquela estpida sensao de culpa. Ser que eu era a nica que se sentia assim? Como Suzanne dissera, no tinha mentido aos meus pais. Apenas no havia revelado todos os fatos. Todo mundo fazia coisas desse tipo o tempo todo. Meus amigos achavam que no tinha nada demais. Por que ento me sentia mal? Segurei Brendan quando ele passou perto de mim. - Dana comigo pedi. Quase ao mesmo tempo a msica mudou para uma batida lenta. Brendan me agarrou apertado. Sentia o calor da bochecha dele encostada na minha, e seus braos me enlaavam com tanta fora que respirvamos como se fssemos um s. Fechei os olhos, com um sentimento de perfeito e extremo contentamento. Era a noite mais maravilhosa da minha vida. E eu no queria que acabasse. No escutamos a campainha no comeo. - D uma olhada se so penetras, cara pediu Brendan a Thomas, que estava em p perto da porta bebericando uma cerveja. Se for o velho de baixo reclamando, seja simptico com ele.

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- Obrigado por me deixar cuidar disso, Brendan disse Thomas sarcstico, ao mesmo tempo abrindo a porta. Brendan beijou minha testa e comeamos a balanar nossos corpos no ritmo da msica. Estvamos comeando a nos embalar quando Thomas abriu caminho a empurres no meio da multido para chegar at nos. - Ei, Amber! chamou preocupado. sua me e o seu pai. E no parecem estar muito felizes!

2 - Rumo ao Velho Oeste

- Mame, papai, o que vocs esto fazendo aqui? perguntei, com um falso bom humor. Senti um aperto no estmago e logo vi que no tinha sada. Mesmo assim, no estava disposta a deix-los fazer uma cena na frente dos meus amigos. - A questo : o que voc est fazendo aqui, Amber? indagou meu pai, furioso. Voc nos disse que estaria passando a noite na casa de Suzanne. - E estava... quero dizer, estou respondi gaguejando. Estava l na casa dela, e ento o Brendan ligou e sugeriu que dssemos um pulinho aqui... - E simplesmente coincidiu de voc estar com um vestidinho de veludo preto novinho? Que sorte, hein? arremendou minha me, me fitando com um olhar assustador. Voc conhece as nossas regras, Amber. Voc no vai a festas sem nossa permisso... - Me, por favor, psiu sussurrei, nervosa. Todo mundo estava olhando para ns. - Pegue suas coisas. Voc vem com a gente disse meu pai. - O resto das minhas coisas est na casa da Suzanne. -No, no est mais retrucou minha me. Ns pegamos tudo quando paramos na casa de Suzanne para entregar a sacola de plstico que voc deixou cair no corredor. Achamos que no gostaria de passar a noite sem o seu soro para as lentes de contato e sem a sua escova de dentes, e ento demos um pulo at l no caminho para o restaurante chins. Ela esperou que eu disesse alguma coisa, mas no havia nada que pudesse pensar em dizer. Brendan tinha aberto caminho no meio do povo e se aproximava de ns. - Algum problema, Amber? perguntou ele. - Tenho que ir para casa respondi, mordendo o lbio para no chorar na frente dele e de toda aquela gente. - Puxa vida, que roubada... disse ele, me lanando um olhar de solidariedade. eu te ligo depois, t? - Tudo bem murmurrei. Eu me virei e sa andando pelo corredor atrs de meus pais. Meu irmozinho e minha irmzinha estavam esperando no hall. As pessoas se afastavam para nos deixar passar. Eu nunca tinha sido to humilhada em toda a minha vida. Me, pai... comecei. Meu pai se virou e me olhou com uma expresso calma e fria. - Nem uma palavra mais, Amber. Tivemos um longo dia e estamos cansados. Vamos conversar sobre isso amanh de manh. Quando chegarmos em casa, voc

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vai direto para o seu quarto. Eu me instalei no assento traseiro do txi que meu pai chamou e voltamos para casa em silncio. Na manh seguinte meus pais j estavam sentados na mesa para o caf da manh quando entrei na cozinha. - Sente-se, Amber ordenou minha me, mostrando meu lugar com um gesto. Era como se eu fosse um ru num tribunal. - Realmente sinto muito... comecei dizendo. Sempre achei que a auto-humilhao era uma estratgia que funcionava bem. Nenhuma me consegue ficar furiosa com uma filha que admita ser um lixo e implore por perdo. - Queria que vocs soubessem que essa foi a primeira vez que fiz algo desse tipo, e no me senti nada bem. Olhei esperanosa de minha me para meu pai, tentando julgar se os estava atingido ou no. Os dois me escutavam em silencio. - Vocs sabem o que ser a nica da turma que no pode ir a uma festa? continuei. Todo mundo fica achando que uma babaca, uma nenenzinha! Forma vocs que escolheram essa escola para mim, e ela tem uma vida social muito, muito agitada. H festas em todos os fins de semana... O silncio permaneceu enquanto eu desfiava as minhas desculpas, que ficaram suspensas no ar at comear a me sentir realmente desconfortvel. Meu pai limpou a garganta para falar: - Concordo que talvez o primeiro erro tenha sido nosso, Amber disse ele.- verdade, fomos ns que escolhemos a Dover School para voc. uma escola muito boa. Infelizmente tambm uma escola de filhinhos de papai ricos e mimados, e isso no o que queremos para voc. - No esto pensando em me transferir de escola, esto? perguntei, em pnico. No agora que estou me sentindo adaptada e enturmada pela primeira vez na vida. No agora que finalmente encontrei um garoto que gosta de mim e que consegui um papel na pea da escola... - Querida, ns apenas queremos o melhor para voc a longo prazo disse minha me calmamente. E festas sem superviso de adultos e com bebidas alcolicas no so o melhor pra voc. - Mas, me... comecei a protestar. Ela me deteve com um gesto e olhou para meu pai. - Acho melhor chamarmos Beau e Katie e deixar que participem disso tambm sugeriu ela. - Porque precisam me ver nesta situao, toda encrencada? perguntei. Voc sabe como o Beau. Ele vai se lembrar de tudo o que voc disser e depois vai me repetir tudo palavra por palavra quando estiver com raiva de mim. - Ns os queremos aqui porque isso diz respeito a eles tambm declarou papai. Vocs dois desliguem a TV e venham c! gritou, colocando a cabea perto da porta. Escutaram-se alguns resmungos, e ento duas cabeas despenteadas apareceram. - Era o meu desenho animado preferido! reclamou Katie. - Sente-se disse meu pai, indicando os bancos altos no balco da cozinha. Havia algo na voz dele que fez os dois se sentarem sem argumentar. - Sua me e eu passamos quase toda a noite em claro conversando revelou

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papai. - Vocs no vo se divorciar, vo? perguntou Katie. No quero ter de ir aos tribunais e me ver no meio de uma guerra pela custdia da gente, como a Amy. - No, Katie, no vamos nos divorciar respondeu papai. Apenas fique quietinha e escute, e vai ficar sabendo o que decidimos. Ele esperou at todos ficarmos completamente quietos para comear a falar. No toa que ele advogado. - Sua me e eu no estamos muito felizes com a maneira como as coisas vo indo nesta famlia. Vocs trs esto tendo problemas... - Eu j disse que sentia muito interrompi. E que no aconteceria de novo. - No s voc, Amber disse papai, lanando um olhar para mame. Quase todo dia os outros roubam o dinheiro do lanche do Beau. A psicloga da escola de Katie diz que ela est tendo problemas de relacionamento e quer que faa terapia trs vezes por semana. E voc mentir para a gente, Amber, foi a gota d gua. - E o mais incrvel de tudo isso - interrompeu mame - que pensvamos estar fazendo o melhor por vocs. Pagamos uma fortuna em mensalidades para mandlos s melhores escolas mas estamos percebendo que isso talvez no seja o melhor. Vocs precisam do nosso tempo e da nossa ateno, que no podemos dar-lhes porque estamos constantemente ocupados com as nossas coisas. - Precisamos de um tempo para ser uma famlia, crianas - suspirou meu pai. - Isso no jeito de viver, sempre na correria, sempre sob presso, nunca comendo juntos, sempre pizza e comida para viagem em vez de uma boa comida caseira... - Mas gosto de pizza! - interrompeu Katie. - As coisas de que gostamos nem sempre so as melhores para ns, meu amor retrucou mame com suavidade. - Somos os pais de vocs e ns que temos de pensar no que realmente o melhor para que cresam felizes e saudveis. Houve uma pausa dramtica. - Vamos estudar em escolas pblicas, papai? - perguntou Beau por fim. - Provavelmente. Vamos ter de olhar isso ainda, mais acho que bem provvel respondeu papai. Mame respirou fundo. - A deciso que tomamos que Nova York no um lugar saudvel para criar os filhos - disse ela - e, no ritmo que estamos indo, seu pai e eu seremos dois fortes candidatos a um enfarte por volta dos quarenta anos. Sei que vocs tm nos ouvido conversar a respeito do problema do vov durante toda a semana. Ele quebrou a perna e no tem ningum para ajud-lo a tomar conta do rancho. Nessa noite papai e eu decidimos que a melhor coisa a fazer ir para l cuidar dele. - Para o Wyoming? perguntei abruptamente. - Para o Wyoming respondeu meu pai. - Ns todos? Por quanto tempo? tomei a perguntar, sentindo minha voz estremecer. - Quem sabe? disse meu pai. Talvez para sempre. Vamos ter de ver como as coisas correm por l. Endireitei o corpo de supeto. - Para sempre? Pai, voc no pode estar falando srio! No podemos nos mudar de Nova York! - Estivemos conversando bastante a respeito disso... disse mame.

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- Eu sei interrompi -, a histria da fazenda em Connecticut. Mas nunca achei que estivessem falando srio. Sempre pensei que gostassem de Nova York tanto quanto eu gosto. - Estamos cansados desta vida estressante disse papai. E, como a sua me falou, chegamos concluso de que Nova York no um bom lugar para criar uma famlia saudvel. Fiquei em p de um salto. - Vocs no podem estar falando srio! Eu no posso sair de Nova York agora. Todos os meus amigos esto aqui. No daria para eu ir morar com a Suzanne? Eles tm uma cama extra l, do irmo dela que est na faculdade. Sei que a me dela iria concordar... - Suzanne uma das maiores partes do problema todo, Amber observou meu pai. A me dela lhe d todo tipo de liberdade que ns no querermos dar a voc. - principalmente por cauda de voc que ns chegamos a essa deciso completou minha me. voc quem queremos fora dessa cidade o mais cedo possvel. - No consigo acreditar que esto fazendo isso comigo! protestei. Isso seqestro infantil! abuso infantil! Vou falar com as autoridades do Juizado de Menores e ver o que tm a dizer a respeito. Meu pai sorriu. - Eles vo dizer que uma criana deve morar com os pais at completar dezoito anos disse ele. Goste ou no, voc vem conosco, Amber. - E eu acho que vocs vo gostar, crianas concluiu mame, com uma voz realmente animada. Imaginem no ter de lutar com o trnsito e a multido todas as manhs. Poderamos comprar cavalos para vocs, se quiserem. Teramos tempo para jantar juntos... - Mas como vai encontrar trabalho em Wyoming? zombei. - No vou trabalhar. Nem o seu pai. Ns dois estamos parando de trabalhar. - Ah, no! gemeu Katie. Vamos virar sem-teto e mendigos! No quero dormir numa caixa de papelo! Aquilo quebrou a tenso e todos tivemos de rir. Mas o ingnuo comentrio de Katie levantou uma questo sria. - Do que vamos viver? perguntei. - Vamos nos virar bem disse mame, lanando um olhar a papai. Vamos comear trabalhando no stio do vov at ele ficar bem, e, se depois as coisas no correrem bem entre ns e ele, ento talvez compremos uma fazendinha para ns mesmos. Uma vantagem de ter morado aqui na cidade por tanto tempo ns no podemos negar: fomos muito bem pagos e conseguimos economizar bastante. E no Wyoming no teremos de pagar aluguel ridiculamente alto nem absurdas mensalidades privadas. Estou planejando plantar frutas e verduras, e isso vai dar tempo ao papai fazer o que ele sempre sonhou fazer. - O que ? indaguei. - Escrever um romance respondeu ela. Olhei na direo de papai. Ele havia corado. - Sempre foi o meu sonho secreto confessou com doura e certa timidez. E, se no der certo, se eu descobrir que no consigo escrever o meu Best-seller e se no conseguirmos plantar a nossa prpria comida, ento tenho certeza de que sempre haver trabalho para um advogado em qualquer lugar. Ou ento poderia ensinar na escola local. H inmeras opes.

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- Para voc, talvez disse eu. Mas o que h para mim l? - Vrios garotos e garotas cujos valores ainda no foram para o brejo replicou mame. A chance de perceber que dinheiro no compra felicidade. A chance de crescer como uma pessoa autntica, e no como uma burguesinha sofisticada e falsa. Quem sabe quantos talentos seus voc poder descobrir quando tiver uma chance de tentar coisas novas? - Claro retruquei com amargura -, como, por exemplo, bater manteiga e tirar leite de vacas. - Vacas? perguntou Katie toda excitada. Vamos ter vacas? Mame sorriu ao ver a carinha animada de Katie. - Vai poder ter quantos bichinhos de estimao quiser, amorzinho. Vacas, ovelhas, porcos, coelhos... tudo o que quiser. Katie deslizou do banco para o cho. - Estou indo empacotar as minhas coisas comentou. Podemos ir amanh? - Amanh no respondeu meu pai, erguendo Katie em seus braos. Mas muito, muito em breve. Assim que conseguirmos um inquilino para este apartamento e deixarmos tudo em ordem. No posso esperar para ver a cara dos meus scios quando eu contar a eles que estou indo embora. Olhei para a cara excitada e feliz de papai, em seguida para a de mame, e depois para a de Katie. Pelo menos Beau no parecia estar pulando de felicidade. Talvez estivesse se lembrando da vez em que tinha vomitado quando o vov o obrigara a comer nabos plantados em casa. Senti um grande soluo chegando. - No consigo acreditar em vocs, gente eu disse atravs da bola que se formara em minha garganta. No consigo acreditar que estejam fazendo isso comigo. Eu no vou! Vou encontrar um jeito de ficar aqui, nem que seja a ultima coisa que eu faa sobre a Terra!

3 Temporada nas Montanhas Estava to transtornada que no consegui falar com Brendan nem com Suzanne quando me telefonaram mais tarde, naquele mesmo dia. Meu pai enfiou a cabea no meu quarto para me passar o recado de que minha turma ainda estava com a inteno de ir ao festival de cinema italiano naquele tarde, e que eu poderia encontr-los no cinema ou no Fiorelli, depois do filme. - Ah ? disparei. E o que disse a eles? Que ficaria de castigo at me encontrar a salvo entre as manadas de bfalos do Wyoming? Meu pai sorriu. - Pode se encontrar cm os seus amigos se quiser, Amber. No somos monstros. Eu me decidi contra o filme italiano. Sabia que era sobre uma mulher que se apaixonava por um soldado que parte para a guerra e morto, e tive um pssimo pressentimento que iria chorar durante toda a sesso. Mais me esforcei e consegui me refazer um pouco. Joguei bastante gua fria na cara e passei um pouco de batom, para pelo menos voltar a parecer humana o suficiente para me encontrar com os meus amigos no Fiorelli. Eles estavam sentados numa mesa de canto e, quando cheguei, todos me olharam com compaixo. Mandy saiu as pressas de seu lugar para me abrir espao ao lado de Brendan.

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- Voc perdeu um bom filme hoje, Amber. Um filme to triste... informou. Eu me esforcei para dar um meio-sorriso enquanto me espremia ao lado de Brendan. - Deve estar numa encrenca sria disse Suzanne. Seu pai foi frio como um iceberg quando liguei hoje de manh. - , ele me disse que voc no estava falando com ningum arremedou Brendan. Sinto muito por ter ficada to encrencada, Amber. Nunca imaginei que seus pais fosse ficar to enfurecidos s por causa de uma simples festinha. Tentei responder a ele, mas em vez disso tive de me esforar para engolir o choro. Passei o olhar pelo Fiorelli, reparando nos psteres de peras italianas penduradas nas paredes, nas velas cor-de-rosa nos candelabros e na voz de Pavarotti soando baixinho nos alto-falantes, abafando um pouco o rouco nervoso do trnsito que vinha do exterior. As luzes de uma placa luminosa d outro lado da rua resplandeciam. Havia um vendedor de kebab num canto, e o Davis Deli, onde se faz o famoso pastrame do David, no outro canto. Aquilo era Nova York, e era aquilo que eu amava. - Voc est mesmo numa fria, Amber? perguntou Brendan, tocando gentilmente na minha mo. Quero dizer, puseram voc de castigo, ou algo parecido? - Pior do que isso comecei. Vo me levar embora para o Wyoming. - Vo o que? Por quanto tempo? Todos os meu amigos estavam agora me olhando em estado de choque. - Para sempre disse eu com tristeza. - No posso acreditar! exclamou Brendan. Voc quebra uma regrinha de nada e mandam voc para o Wyoming? - Pois melhor acreditar, porque verdade repliquei. Meus pais disseram que andaram pensando em como fazer para resolver o problema do meu av, e essa histria da festa ajudou a chegar a uma deciso - S por causa do seu av? disparou Mandy. Ningum larga tudo e se muda para o Wyoming s porque algum quebrou uma perna! - Essa uma das razes expliquei. Querem nos tirar da cidade e nos levar para um lugar onde a vida seja simples. - Voc deve estar brincando disse Alicia, arregalando os olhos. - No podem fazer isso, Amber ponderou Suzanne calmamente jogando os cabelos para trs. V falar com o advogado infantil na escola. Diga a ele que os seus direitos esto sendo violados. Voc tambm tem direitos, sabia? - E os psiquiatras j provaram que prejudicial mudas um aluno de escola e de cidade no meio do colegial emendou Alicia. Eles estaro realmente pondo em risco a sua sade mental, Amber. - A Constituio salvaguarda o direito vida, liberdade e a busca da felicidade acrescentou Thomas. E eu diria que as suas chances de encontrar a felicidade em Nebraska ou seja La onde for so zero. - Wyoming corrigi. - D na mesma replicou ele. Uma vez que voc sai da Pensilvnia no h mais nada at chegar na Califrnia. J atravessei o pas de carro uma vez. Pode acreditar em mim. - O Wyoming legal comentou Alicia. Jackson Hole parece ser um barato. Vi em A vida dos ricos e famosos, na TV. Eles tm fontes de gua quente naturais e trens puxados por cavalos. Muita gente famosa vai l.

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- A gente poderia ir visitar voc nas frias, para esquiar disse Suzanne, subitamente to entusiasmada. Eu iria adorar me deitar numa nascente de gua quente rodeada por um monte de neve. Que romntico! - Ns no estamos indo morar em Jackson Hole esclareci com amargura. Estamos indo morar no cafund-dojudas, num lugar onde nunca ningum sequer ouviu falar. Num stio. A pior coisa que poderia acontecer a algum. Eles voltaram a ficar com pena de mim. - Ento simplesmente recuse-se a ir disse Suzanne. O que eles podem fazer? Lev-la fora em cima dos ombros? - Meu pai disse que crianas com menos de dezoito anos tm de ir aonde seus pais forem, gostem ou no expliquei. - No se voc fizer o maior fuzu opinou Mady. Quando no me deixam seguir o meu caminho, ameao parar de comer. Meus pais tm tanto medo de que eu entre em anorexia que acabam cedendo. - S tenho mais umas duas semanas antes de partimos contei. No acredito que conseguiria ficar desnutrida a ponto de beirar a morte em to pouco tempo. - Simplesmente fuja de casa disse Suzanne, como se fazer isso fosse a coisa mais simples do mundo. Esconderamos voc, no , gente? - Voc ter sempre o meu quarto a disposio, Amber disse Brendan, me dando um sorriso doce e malicioso. - No, falando srio continuou Suzanne. Se no quer ir, no v. Voc j quase adulta, e pode morar com algumas de ns. Esconderamos voc at eles irem embora. - No poderia fazer isso disse eu, sacudindo a cabea. Eles ficariam doentes de preocupao por minha causa. - Eles merecem, por no se preocuparem com a sua felicidade disse Many. Quero dizer, ir para o Wyoming pior do que uma sentena de morte. Voc vai morrer de tdio l. - Pense a respeito, Amber disse Suzanne. Nenhuma loja num milho de quilmetros quadrados, nenhum caf, e voc vai ter de se conformar com danar com uns caipiras calados com aquelas enormes batas de cowboy ela fez uma pausa e comeou a rir. E vai ter de aprender a dizer ya-hu e iuuiii! - Pode crer que no pretendo me aproximar o suficiente de nenhum garoto no Wyoming para que ele possa danar comigo repliquei e que no vou aprender a dizer ya-hu. Na verdade, estou planejando me deitar em minha cama e ficar olhando para o teto at eles perceberem o quanto estou infeliz. Ento vo ter de me mandar de volta para c. Brendan estava um bom tempo olhando para baixo, na direo de seu capuccino. Ento levantou a vista para mim com um grande sorriso no rosto. - Anime-se, Amber disse ele. Voc no acredita mesmo que seus pais vo agentar ficar por l mais do que uns dois meses, acredita? Eles tambm esto acostumados com Nova York, lembre-se. Podem achar lindo morar num sitio por algumas semanas, mas espere at nevar e se verem entalados num lugar a dez quilmetros da cidadezinha mais prxima e com um nico canal de TV. Aposto que para o Natal vocs j esto de volta. Olhei para ele com uma expresso esperanosa. - Voc acha mesmo? - Estou contando com isso ele respondeu com um movimento afirmativo de cabea. Se no, quem vai me aquecer nesse inverno?

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Aquilo foi a coisa mais doce que algum j me dissera, e me senti perigosamente perto das lgrimas de novo. - Espero, espero mesmo que voc esteja certo, Brendan repliquei. Gastei as ultimas semanas em Nova York me fartando de fazer tudo que eu sempre havia desejado mais nunca fizera at ento. Brendan fez tudo junto comigo, me acompanhando a todos os nossos programas favoritos e vendo todos os filmes possveis. - Assim pelo menos no vai morrer de fome cultural ele brincou. Que semanas maravilhosas! Brendan e eu comeamos realmente a nos entrosar, a nos conhecer. Como eu iria conseguir deix-lo? Em minha ultima ida Dover School passamos juntos um perfeito dia de outubro. A temperatura estava quente sem ser abafada, e as folhas comeavam a ficar douradas nas arvores do Central Park. Passeamos pelo parque juntos, por entre as charretes carregadas de turistas, puxadas por cavalos saltitantes. O Central Park nunca me parecera to adorvel. Nova York nunca me parecera um lugar to perfeito para se morar. O Central Park ficava no fim do meu quarteiro, e eu quase nunca arranjava tempo para passear nele. Mas naquele dia saboreei cada rvore, cada pedra, cada fonte, dizendo a mim mesma: Voc nunca mais vai ter tudo isso. - No consigo acreditar que vou estar na estrada para o Wyoming amanh de manh desabafei. - Nem eu disse Brendan. Bem agora, que estamos comeando a nos conhecer, voc vai embora. No justo. - Nunca senti nada assim por algum, Brendan revelei. - Sei o que voc quer dizer. Voc mesmo muito especial, Amber confessou, pegando gentilmente na minha mo. Dizer adeus duro para mim tambm. - Vou pensar em voc todos os dias confessei, sentindo uma lgrima rolar pelo meu rosto. - Ei, calma pediu ele -, voc no esta indo para o fim do mundo. Existem telefones no Wyoming. Eu vou te ligar todas as noites. - Isso vai custar uma fortuna. - No tem importncia replicou Brenda. Minha irm liga a cobrar da universidade a toda hora. Supe-se que eu tenha direito aos mesmos privilgios. E tambm existem os avies. Posso pegar um e dar um pulo l para te ver. - Srio? - Claro. E voc tambm poderia pedir aos seus pais para deixarem voc voar para c de vez em quando, nos feriados e nas frias. - mesmo... me animei, com uma frestinha de luz surgindo na escurido do meu desespero. Eles tm obrigao de me permitir isso, no tm? No podem me manter longe dos meus amigos para sempre. - , como eu disse continuou Brendan -, quando a primeira nevada vier, quando os canos congelarem e no conseguirem encontrar um fettuccine no supermercado local, aposto que eles vo querer correr de volta para a civilizao. Na prxima primavera voc j vai at ter se esquecido de que um dia esteve fora de Nova York. Vamos assistir a todos os shows novos na Broadway que tiver perdido e patinar no Central Park quando as folhas j estiverem comeando a nascer nas rvores novamente. - Ah, Brendan, voc acha mesmo?

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Ele sorriu para mim. - Vou estar segurando na sua mo e, quando chegarmos perto de uma rvore enorme como essa, vou pegar voc nos meus braos e te beijar, exatamente assim. Os lbios deles encontraram os meus, e ficamos l nos beijando, bem apertadinhos. - Isto continuou, brincando, quando j nos apartvamos -, se voc no tiver me esquecido at l. Se no tiver encontrado um cowboy de quem goste mais do que de mim... - No brinque com coisas srias, Brendan disse eu, brava. Isso nunca vai acontecer. Caminhamos de volta para casa, de mos dadas. Depois de um beijo final de despedida, fiquei olhando enquanto ele se afastava lentamente. Era a ltima vez que eu o via, sabe l por quanto tempo. E eu queria me lembrar daquele momento para sempre. Naquela noite papai entrou em meu quarto no momento em que eu tentava enfiar o resto das minhas coisas numa grande bolsa de nilon que j estava quase estourando. - Amber, sei que voc est louca de raiva pelo que ns estamos fazendo com voc... comeou ele. Sei que voc no quer ir, mas, por favor, acredite que estamos fazendo o que achamos que o melhor para ns todos. Continuei tentando enfiar um par de sapatos num lugar no existente no canto da mala. - Quem sabe? continuou ele. Pode ser que voc acabe gostando de l... - Est bem, pai. - Voc pode at descobrir ser uma pessoa que nunca imaginou. Algum que no precisa de cartes de crdito, roupas caras e festas selvagens para se divertir. Finalmente consegui enfiar os sapatos na mala e fechei o zper. - Sua me e eu temos andado preocupados com o quanto essa histria de mudana est afetando voc prosseguiu ele e ns decidimos assumir um compromisso. Ergui os olhos para ele, cheia de esperanas. - Decidimos que primeiro voc deve tentar para valer de adaptar nova vida. Se no fim do ano letivo voc ainda tiver desesperadamente infeliz no Wyoming, ento daremos um jeito de mand-la de volta a Nova York. Est bem assim? - Melhor do que nada. E a eu voltaria para a Dover School? - No disse isso. Teramos de pensar nesse detalhe com bastante cuidado. Mais voc tem de me prometer que vai tentar de verdade dar uma chance ao Wyoming: nos adaptarmos a um novo estilo de vida vai ser um desafio para todos. Vamos ter de colaborar uns com os outros. Certo, Amber? Dei um grunhido que poderia ser interpretado como um sim, e ele saiu do meu quarto. Mas uma nova luz de esperana comeara a brilhar em minha mente. Se eu conseguisse sobreviver ao resto ano letivo...

4 Sem TV, cinema ou pizza - Esta via ser a cidadezinha mais prxima a ns disse papai quando entramos em Cody um vilarejo de sete mil habitantes. Parecia o prprio Velho Oeste sem tirar nem pr, como se Butch Cassidy e Sundance Kid fossem aparecer cavalgando pela rua principal a qualquer momento.

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Havia no mximo uns dois restaurantes e uns trs motis. Estvamos na estrada havia uns quatro dias e no tnhamos visto nada alm de campo aberto e muitas vacas, e j estvamos todos ficando cansados. Tinha acabado de comear a chover. Todo mundo queria dar uma parada, exceto papai, ansioso para chegar logo ao stio. Ele no me deixou parar nem sequer para ver se havia um cinema ou um barzinho na cidade, apesar de eu suspeitar que no havia nenhum. Katie estava ficando cada vez mais lamurienta. Ela havia visto uma placa que dizia Bem-vindo a Cody, o porto de entrada do Parque Nacional de Yellowstone, e estava com medo, achando que ia ter de viver entre giseres e que poderia ser morta pelos vapores ferventes. Beau comeou a recitar estatsticas a respeito do numero de ataques de ursos-pardos a seres humanos que tinha ocorrido recentemente em Yellowstone. At minha me ficou olhando apreensiva e longamente para trs quando caamos da cidadezinha. - Acho que mesmo melhor ns tentarmos chegar casa do vov antes de escurecer disse ela. - As montanhas j esto bem na nossa frente agora observou papai, animado. - No estamos vendo nada murmurou Beau. - Isso porque as nuvens esto baixas hoje. Num dia claro pode-se ver daqui os picos nevados. uma vista linda disse papai. Ningum acreditou nele. O mundo inteiro parecia plano e cinza. Estivera tentando lembrar da minha ltima viagem casa do vov e no me lembrei da regio ser plana e aberta. Na verdade, lembrei-me de um monte de rvores enormes que faziam barulhos assustadores quando o vento soprava e de um rio de correnteza rpida em que eu tinha cado certa vez, por estar tentando seguir o menino que vivia um pouco mais abaixo na estrada, um calafrio ao me lembrar do pnico que me produzira aquela coisa fria e deslizante presa dentro da minha camiseta. Se aquilo era o que os garotos da regio faziam para se divertir, ento seria melhor eu tratar de vestir roupas de gola alta e apertada durante todo o tempo em que estivemos no Wyoming. Abandonamos o que era ridiculamente chamado de estrada principal e entramos numa ainda menor. A estradinha comeou a subir. Logo as rvores apareceram e depois um riacho. As curvas ascendentes das montanhas se mostraram com clareza, cobertas por um negro manto de pinheiros e por vacas e cavalos que estavam pastando nas encostas. - Preste ateno para no passar da estrada dessa vez, Jake mame disse a papai. - Eu morei aqui por dezoito anos, Sylvia papai retrucou. - Eu sei, mas da ltima vez voc passou da entrada, lembra? Fomos parar quase no topo de uma montanha. - logo depois da cerca de madeira afirmou papai. Logo depois do posto de gasolina. Uma placa ao lado da estrada dizia Indian Falls, populao: 625. - Onde fica essa cidade? perguntou Beau, desconfiado. Estava me perguntando a mesma coisa. Atravs da chuva eu podia ver algumas casa rodeadas de rvores, mais alguns cavalos, uma igrejinha branca, um armazm, uma loja de ferragem e ferramentas com um anncio de equipamentos de pesca, um posto de gasolina com dois ou trs carros parados em frente e um bonito sobrado com uma cerca de madeira.

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- Indian Falls isso ai? perguntei. - isso ai. H vrias comunidades desse tipo ao longo dessa estrada, e acho que h alguns ranchos comunitrios tambm explicou papai. - Ya-hu! disse eu sarcstica, j experimentando o meu novo vocabulrio. Que fascinante! No vejo a hora de conhecer melhor a regio e seus habitantes! Samos da estradinha de asfalto e comeamos a andar no meio de um estreito vale. A estrada agora era de terra. J chovia realmente forte, com o vento batendo contra o pra-brisa e dificultando muito a visibilidade. - Estou com frio. Quero ir para casa gemeu Katie. - No se preocupe, meu bem, j estamos quase l disse papai com suavidade. Aposto como o vov vai estar com um grande fogo aceso na lareira e um delicioso jantar quentinho esperando por ns. As rvores se sacudiam loucamente ao longo da estrada, e papai teve de acender os faris de neblina. Ento, de repente, ele disse: - C estamos, em casa por fim. Fomos subindo aos trancos e barrancos por um caminho sulcado por pneus de carros, no meio de rvores escuras e bamboleantes. No meio daquela escurido mal conseguamos divisar as formas de uma torta casa de fazenda. Uma luz fraca brilhava nas janelas do andar de baixo. A casa era bastante grande, e parecia o lugar mais solitrio do mundo. O vento uivava quando estacionamos o carro e descemos, quase nos levando pelos ares enquanto subamos os degraus da varanda. A grande lareira acesa e o jantar quente de fato soavam como uma tima idia naquele momento. A porta da frente se abriu e um facho de luz se precipitou para fora. Um home alto e musculoso, com o rosto escondido por um chapu de cowboy, surgiu no umbral e ficou parado, me olhando enquanto eu era varrida ao longo da varanda por uma forte rajada de vento. - Upa! gritei enquanto lutava para segurar minha bolsa e meu porta CD. Quando recuperei o equilbrio me agarrando a uma das colunas da varanda, reparei que ele no estava usando um gesso na perna. Ele estava andando! Tinha sido tudo um mal-entendido, e poderamos voltar imediatamente para casa! - Vov! gritei. Voc est andando! Isso um milagre! Pude ver uns dentes brancos brilhantes debaixo daquele chapu. - Sinto muito desapont-la, mais isso no um milagre e eu no sou o seu av, apesar de dizerem que pareo bastante maduro para minha idade respondeu uma voz de rapaz. Dei mais uns passos na direo dele. Quando as luzes do carro no estavam mais me ofuscando, pude ver que se tratava de um jovem cowboy, alto, e com um olhar amigvel. Ele ergueu o chapu para mim e o recolocou na cabea com um s gesto. - Sou vizinho do Mr. Stevens. Meu pai pediu para eu vir aqui e dar uma olhada se ele no estaria precisando de mantimentos, estava planejando ficar mais um pouco para ver se precisava de ajuda em alguma outra coisa; mas, j que a famlia veio para tomar conta dele, acho que j vou indo para casa. Tenho certeza de que vocs no querem nenhum estranho zanzando por aqui. Bom, meu nome Rich. E voc ...? - Amber respondi, tentando fazer meus dentes pararem de bater por causa do frio e da chuva. - Amber! repetiu, com uma expresso subitamente iluminada. Agora me

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lembro! Nossa, voc sem dvida cresceu bastante desde a ltima vez em que a vi. Amber... isso mesmo. Sabia que a conhecia de algum lugar. Estava tentando desesperadamente me lembrar de onde o tinha visto antes quando, de repente, uma imagem do passado brotou na minha cabea: um garotinho mido pulando com facilidade de pedra em pedra e gritando para mim: No difcil! s me seguir! No tenha medo! E depois ns dois sentados na grama alta, ele se aproximando de mim, e... - Ei, voc aquele garoto que colocou um sapo nas minhas costas! exclamei. Um sorriso se espalhou pelo rosto dele. - Depois de tanto tempo ainda se lembra! disse ele, balanando a cabea e sorrindo. Querida, a sua reao foi algo chocante. Parecia at que eu tinha tentado te matar pelo jeito que saiu correndo na direo da sua me. Pensei que ficaria to encrencado que no iria conseguir nem me sentar por uma semana. - E ficou? perguntei. Havia alguma coisa de cativante no sorriso franco e simptico dele, algo que me fazia continuar conversando mesmo com o vento e a chuva rodopiando nossa volta. - Bah, que nada. S umas cintadas do meu pai respondeu ele. - Amber, venha dar uma mo a sua me com estas malas! gritou meu pai, - Vocs precisam de ajuda? perguntou Rich. - No tudo bem. D para a gente se virar respondi. Por alguma razo me pareceu importante que ele no achasse que uma famlia de burguesinhos da cidade estava chegando. - Bom, eu vou para casa ento disse ele. O seu av com certeza vai ficar contente de ter vocs todos por aqui. A gente se v por ai, Amber. E, dizendo isso, ele saltou por cima do parapeito da varanda, desaparecendo na escurido da noite. - Ora, ora, no fique a parada deixando todo o ar frio entrar aqui! Entre de uma vez! explodiu uma grande e sonora voz. Era meu av, parado no arco da porta com muletas debaixo dos braos. Uma das pernas dele estava engessada, mas mesmo assim se parecia bastante com o que eu me lembrava: alto, largo, uma densa cabeleira branca e um cabelo grisalho. Uma figura realmente imponente e assustadora. - Que noite para chegar! exclamou ele. Faz uns dois meses que no chove. Todo mundo tem reclamado do calor e da seca, e agora vocs trazem isso. Acho que a gente deveria contrat-los como fazedores de chuva! Papai escalou os degraus na direo dele. - Como voc est, pai? - No to mal, no to mal respondeu vov. Esta droga de perna di um pouco, mas de resto no posso reclamar. Reparei que no se abraaram. - Entrem, entrem disse vov. Ns todos seguimos meu pai e meu av pelo corredor de entrada. - Voc se lembra da Sylvia... disse meu pai, como se estivesse apresentando minha me a um estranho. Mame sorriu timidamente. - E das crianas continuou papai. Amber, Beau e Katie. Digam oi para o vov.

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- Meu Deus do cu, no me diga que esses so os seus filhos! vociferou vov. A ltima vez que nos vimos mal passavam do cho! Voc os tem alimentado demais, Sylvia. Katie tinha se aproximado dele. - S ficamos mais velhos, bobinho disse ela, enquanto vov a acariciava nos cabelos. Beau e eu ficamos quietos, pouco ansiosos por travar novas amizades. - Oi, vov murmuramos ao mesmo tempo. - Beau, venha c ele pediu. Deixe-me sentir os seus msculos para ver se vau ser de alguma utilidade para mim laando novilhos nesta temporada. Beau me lanou um olhar aterrorizado, mas foi at o nosso av e teve seus braos inspecionados por ele. - Nossa... voc chama isso de braos? disse vov, balanando a cabea. Isso so palitos de fsforo. No d para laar nem um coelhinho. Vamos ter de colocar voc para trabalhar logo, para criar musculatura. O olhar de vov passou ento para mim. - E esta a Amber sups. J se tornou uma mocinha, pelo que estou vendo. Voc ainda tem medo da prpria sombra? - Nunca tive medo da minha sombra respondi com frieza. Vov riu. - Mas tinha de quase tudo afirmou ele. Aranhas, troves, gado, sapos... - S nas minhas costas emendei rapidamente. Pude ver um brilho divertido nos olhos dele. - Voc cruzou co o jovem Rich Winter ai fora antes de ele ir embora, no ? Ele tem tomado conta do meu gado. Com essa perna ruim no tenho como fazer isso sozinho. Ele esteve se preparando para receber voc, Amber. Andou coletando sapos a semana toda. - Nesse caso repliquei, jogando meus cabelos para trs -, melhor voc espalhar por a que, se algum cabea-de-vento da regio tentar se aproximar de mim com um sapo, vai se arrepender amargamente. Pratique carat e no tenho o menor remorso de exercitar tudo o que aprendi. Aquilo fez vov rugir de prazer. - Mais que vespinha voc se tornou! riu. Gosto disso. Ento olhou para ns todos parados e desamparados l no meio do gelado hall de entrada. - Bom, no fiquem a parados como esttuas, vamos entrando. Desculpem-me por no haver aquecimento disse ele quando j entrvamos na sala. No receberei leo diesel para o aquecimento central antes do comeo de novembro, e do jeito que estou no tenho como ir l fora para cortar lenha. - Tudo bem disse mame -, ns vamos nos sentir bem depois de uma refeio quente. - Dem uma olhada na cozinha e vejam o que conseguem encontrar disse vov. No tive condies de sair desde que me trouxeram do hospital. Receio que haja poucos mantimentos. A cozinha era uma graa, com todos os detalhes tpicos de uma casa de campo. Havia uma grande mesa de centro, cortinas feitas mo e muitas plantas. Estava equipada com tudo o que preciso haver numa cozinha. Exceto, claro, a comida. A dispensa se encontrava quase vazia. E a geladeira tambm. - J sei, vamos pedir uma pizza disse Katie, animada.

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- Mas parar de comer comida ponta e passar a comer comida caseira no era um dos principais motivos de nos mudarmos para c? observei. - Bom, mais como vamos comer comida caseira se no h o que cozinhar? perguntou papai. Simplesmente vamos ter de abrir uma exceo e comer comida pronta mais uma noite. Vou pegar a lista telefnica. Vov comeou a rir de novo. - Mais onde voc acha que vai pedir uma pizza, hein? Isso aqui no Nova York, sabe? Nem precisava ter se dado ao trabalho de nos lembrar disso. Em Nova York no havia casas frias e midas a quilmetros de distncia da civilizao. - Ento vou sair para comprar uma pizza para ns disse papai. deve haver algum lugar que venda comida para viagem. At uma pizza congelada no mercadinho serviria. - Eles fecham s cinco informou vov. - Bom, mas precisamos comer algo replicou papai, com o seu bom humor desvanecendo rapidamente. Essas crianas ficaram o dia todo sentadas no carro. Vou rodar por ai at encontrar alguma coisa. Ns descarregamos o resto das coisas do carro sob a chuva e observamos papai tornar a descer a estrada. - Tome cuidado, amor gritou mame quando ele j saa, com certeza sem ser ouvida por causa do barulho infernal que fazia o vento. - Imagino que queira arrumar as camas e os quartos l em cima disse vov. Estive dormindo aqui embaixo no sof, por causa da perna, e por isso deixo tudo nas suas mos, Sylvia. Vai encontrar lenis limpos no grande armrio do corredor. - Vou ajudar voc, mame me dispus. - Eu tambm bradaram Beau e Katie ao mesmo tempo, no querendo ficar sozinhos com vov no andar de baixo. Encontramos vrias pilhas limpas e bem-arrumadas de lenis e fizemos as camas juntos enquanto a chuva batia nas janelas e o vento uivava por entre os batentes. E papai no voltava. Tornamos a descer, e Beau comeou a citar todas as possveis causas de acidente no Wyoming. - Talvez uma rvore tenha sido derrubada por um raio e cado em cima do carro do papai. Talvez uma vaca tenha pulado uma cerca e aterrissado em cima do papai. Talvez tenha havido uma enchente relmpago. - Cala a boca! gritamos todos ao mesmo tempo, fazendo-o parar por um tempo. - Garotos esquisitos o seu, Sylvia comentou vov. - Esto cansados e famintos, s isso replicou mame. Onde ser que est o Jake? - Poderamos assistir a um pouco de TV disse Beau. Jeopardy deve estar passando agora. Beau se levantou de um salto, mas vov fez um gesto com o brao para ele voltar a se sentar. - A TV no est funcionando revelou vov. - A TV no est funcionando? perguntou Beau, como se vov tivesse dito que nunca tomava banho. - No ter TV vai ser bom para todos ns ponderou mame. Nunca tivemos tempo para conversar ou ler, e sempre quis ter tempo para essas e outras coisas. Imagine s uma colcha feita em casa estendida na minha cama e saber que eu mesma teci cada ponto!

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- Minha esposa fez a colcha que est na cama do antigo quarto de Jake disse vov. Ela ficava sentada naquele canto costurando durante as noites quando ele era pequeno. Olhei de um rosto para o outro. Estava acontecendo de verdade: minha famlia j comeara a se ruralizar. E pelo bem deles eu tinha de aparentar que estava achando tudo normal! - Como vamos poder alugar fitas de vdeo se no h TV? perguntei. Aposto que no h nenhum cinema mais perto do que em Cody. - Nem videoclube disse vov, rindo por entre os dentes. Nem sei dizer se em Cody eles permanecem abertos durante o inverno. A maioria dos estabelecimentos por aqui fecham as portas quando termina a temporada turstica. Fica tudo tranqilssimo no outono e no inverno. - O que os garotos fazem para se divertir, ento? Aonde eles vo? insisti. - Acho que inventam as suas prprias formas de se divertirem explicou vov. Gostam de pescar e tm seus cavalos para fazer coisas como torneios de lao ao novilho. A maior parte deles tem de acordar ao amanhecer para cumprir as tarefas no stio e, portanto, no podem ficar acordados at tarde da noite como os garotos da cidade. Olhei para ele boquiaberta de horror. Mame olhou para o seu relgio. - J so nove e meio disse ela com uma voz preocupada. Vocs acham que deveramos ligar para o xerife? Talvez papai tenha se perdido. Justo nesse momento a porta de entrada se escancarou dramaticamente, deixando entrar um redemoinho de folhas mortas e um vento frio e mido. Papai ficou l parado, ensopado pela chuva, com uma caixa na mo e um olhar selvagem. - No h uma nica pizza daqui at Chicago! vociferou ele. - Tentei te avisar, filho. Eu estava justamente explicando a sua adorvel esposa que a maioria dos estabelecimentos comerciais fecham as portas depois da temporada turstica. - Estvamos ficando preocupados com voc disse mame, se levantando para pegar a caixa que ele trazia e ajud-lo a tirar o casaco molhado. Pensamos que voc tivesse se perdido. - Pensei que voc tivesse sido atingido por uma rvore, ou que uma vaca tivesse pulado em cima de voc acrescentou Beau. - Quase revelou papai. A situao est preta l fora, principalmente na estrada principal. Quase fui arrastado por essa ventania. - Ento voc trouxe uma pizza para a gente, papai? perguntou Katie. Encontrou um pouquinho em Chicago? - No, meu amor, no encontrei nenhuma pizza. Na verdade tive sorte de encontrar algo. Havia um lugar em Cody que ainda estava aberto, e eles me deram uma caixa de costeleta e um pote de biscoitos. Ele abriu a caixa e um cheiro quente e gostoso encheu a sala. Suzanne tinha me convencido havia pouco tempo de que comer carne era to errado moralmente quanto malfico para a sade. Hesitei, dividida entre os meus novos princpios e o desejo de no passar fome. O cheiro estava me enlouquecendo. O resto de minha famlia j havia se lanado ao ataque e estavam todos devorando as costeletas como uma tribo da Idade da Pedra. Se eu no agisse rpido, no sobraria nada. Minha fome venceu: peguei um prato e o enchi de costeletas at o topo. Elas estavam macias e suculentas, cheirando a lenha, e com tempero no ponto certo.

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Fiquei impressionada. Depois de comermos, Beau e Katie no precisaram de que lhes dissessem nem uma palavra para irem para a cama. Afinal de contas, j era mais de meia-noite em Nova York, e no Wyoming estvamos em outro fuso horrio: o da zona das Montanhas. Meus pais e meu av foram para a cama tambm. Eu me sentei na cama do antigo quarto de meu pai, prestando ateno nos assustadores rudos da noite e me sentindo com muito frio e muito sozinha. Silenciosamente, abri de leve a porta do quarto, de forma que a luz da sala penetrasse um pouco e tirei papel e caneta da minha mala. Querido Brendan comecei a escrever -, bem, j estamos aqui, e tudo mesmo to ruim quanto imaginei que fosse ser. No, na verdade pior. No posso imaginar um lugar mais deprimente em todo o planeta. Um gelo, sem televiso, um av rabugento, e estamos to no cafund-do-judas quanto algum poderia estar nesse mundo. O nico vizinho o garoto que uma vez colocou um sapo nas minhas costas. No se surpreenda se voc me vir batendo sua porta dentro de uma semana... Parei de escrever porque minha mo estava congelando e eu no conseguia mais continuar. Deslizei para debaixo das cobertas e puxei a colcha feita mo por cima da minha cabea. A chuva martelava na janela e o vento assobiava. Eu no vou agentar isto. Eu no vou agentar isto, sussurrei uma e outra vez para mim mesma.

5 Um cowboy de verdade

Acordei com o brilho da luz do sol, que pintava uma listra amarela na parede do meu quarto. A parede era forrada com um papel cor-de-rosa de desenho floral, que resplandecia com a luz solar. O ar estava decididamente frio e seco, e debaixo da colcha to quentinho e aconchegante, que eu no sentia o menor desejo de me mexer. Virei a cabea, observando os detalhes do quarto. Havia um armrio no canto, uma velha e surrada arca, e uma bela escrivaninha com agarradores de metal e tampa do tipo esteira contra a parede. Um tapete tecido mo estendia-se no cho, e a janela era coberta por uma graciosa cortina de laos. Era tudo to campestre, e tentei imaginar o meu sofisticado pai advogado vivendo naquele quarto. Com certeza no havia sobrado nenhum trao da personalidade adolescente dele naquele ambiente: nenhuma bandeirola de times de beisebol nas paredes, nenhum pster de mulheres ou cachorros, nada enfim que pudesse revelar o tipo de pessoa que ele devia ter sido. Ainda agarrada colcha, me sentei apenas o suficiente para poder enxergar o que havia do outro lado da janela, e tive de suspirar com o que vi. O cu estava profundamente azul, lmpido, e as rvores atrs da casa eram uma espetacular mistura de vermelho e dourado. Por trs delas uma srie de pradarias se enfileirava at chegar num rio margeado por rvores, e por trs do rio as montanhas se elevavam at os picos j brancos de neve. Eu me perguntei se teria nevado l em cima durante a noite. A neve parecia fresca, to branca e brilhante a luz do sol que quase doa olhar para ela. E, enquanto eu admirava tudo isso, um cavaleiro solitrio apareceu a galope atravs dos prados. A crina do cavalo tremulava ao

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vento, e o cowboy parecia bastante vontade em cima da sela. Era quase como se eles fossem uma s criatura. Quando se aproximaram mais, reconheci o cavaleiro: Rich Winter, o rapaz que andara caando sapos para me dar as boas-vindas. Desviei o olhar da janela, subitamente desinteressada pela vista. Senti um aroma de caf e estiquei o brao para pegar o meu roupo. Vov estava acordado, mancando para l e para c na cozinha. - O caf est pronto disse ele assim que me viu, apontando para o bule em cima do fogo. - Obrigada, mas eu no tomo caf de manh. - No toma? perguntou ele, parecendo aterrorizado. - Bem, gosto de tomar um cappuccino ou um moncha na cafeteria com os meus amigos em outras horas do dia. Mas no caf da manh eu no gosto. Ele me olhou como se eu estivesse falando um lngua estrangeira e balanou a cabea. - Cresci tomando uma bela caneca de caf forte para comear o dia e no acho que isso tenha me feito mal algum disse ele. Ento o que voc toma normalmente? Ch? - Suco de laranja fresco. A gente tem um espremedor em casa. - Bom, pois hoje vai ser caf ou nada retrucou ele. Acho que vai ter de aprender a mudar os seus hbitos extravagantes se for morar aqui. - No pretendo ficar aqui mais do que o estritamente necessrio repliquei. - Oh... - Para comear, eu nem queria vir para c declarei. E continuou no querendo ficar aqui. Estou contando os dias at eles me deixarem voltar para Nova York... Ele sorriu. - E o que te d tanta certeza de que vai querer voltar correndo para aquela ratoeira? Olhei de esguelha. - E o que h aqui para mim? Vou morrer de tdio respondi. Ele sorriu como se soubesse de algum segredo, e naquele momento decidi que o odiava. Eu j o detestara quando era pequena e ele caoara de mim por ter medo das coisas. Ele no tinha evoludo nada. No me surpreendia nem um pouco que papai tivesse ido embora assim que pudera. A nica coisa que eu no conseguia entender era por que raios ele tinha querido voltar! O grande relgio da sala bateu as sete horas. - Sete horas! exclamei. Estou em p s sete, e nem sequer dia de aula! - J tarde para estas bandas, acordo s cinco, como a maioria das pessoas por aqui. As tarefas do stio tm de ser feitas cedo. Naquele momento o resto da famlia chegou cozinha em grupo, todos vestido com jeans e suteres. - Estou congelando aqui embaixo disse mame. Estava to quentinho na cama, debaixo da colcha! - A minha cama estava quente como um forno disse Katie. - Se vocs querem mais quente aqui embaixo, algum vai ter de ir l fora cortar lenha comentou vov. - Esse um trabalho para os homens afirmou papai. Vamos l Beau, venha comigo. Eles colocaram seus casacos, e logo os sons de machado batendo na madeira

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infiltraram pela janela. Do machado e de inmeras exclamaes impublicveis de meu pai e de risadas histricas de Beau. Eu estava louca para ir l fora assistir a tudo, mas fiquei com receio de que meu pai se distrasse e arrancasse um dedo do prprio p com uma machadada. Ento ns esperamos. Mame cozinhou um mingau de aveia e farelo de trigo, e vov fez algumas torradas, e eu at bebi um copo de caf para me aquecer. A porta se abriu e os homens entraram, papai com uma braada de toras e Beau com alguns gravetos. Vov comeou a rir, - Em todo esse tempo s conseguiram cortar esse pauzinhos? - Perdi a prtica disse papai tranquilamente. Faz vinte anos que no fao isso, lembra? Ns no temos de cortar muita lenha em Nova York. Mas no finalzinho eu j estava retornando a velha forma. - Acho que vocs se saram maravilhosamente elogiou mame. Os dois. - Ensine o menino a rachar lenha, Jake recomendou vov. Vai ajudar a fortalecer esses bracinhos de mosquito. - Vou fazer isso todo dia disse Beau, orgulhoso. Assim, quando ns voltamos a Nova York, vou poder dar uma surra em todos aqueles garotos que roubaram o meu dinheiro do lanche. - Todos ns precisamos fortalecer os msculos se quisermos ser de alguma utilidade aqui observou papai. Eu, por exemplo, no tenho forca suficiente nem para laar um novilho. - Eu tambm tenho de fortalecer os meus msculos se quiser plantar uma horta concluiu mame. Olhei para um e para outro, atnita. Eles estavam realmente desejando pr a mo na massa. Eles estavam realmente entusiasmados! - Acho que vou l para cima terminar a minha carta para o Brendan acabei falando. Mas, quando cheguei ao quarto, achei difcil escrever. Sentei-me na velha escrivaninha de papai, olhando para as montanhas pela janela, e tentei pensar em alguma coisa boa quanto a estar no Wyoming. Eu me perguntei como era possvel que o resto da minha famlia estivesse to interessado naquele tipo primitivo de vida. Talvez haja neste exato momento uma famlia civilizada e normal em algum ponto de Nova York com uma filha que andar por ai dizendo ya-hu. Subitamente senti uma necessidade urgente de sair de casa. Coloquei minha malha mais quente, calas, botas, e me dirigi para o andar de baixo. - Estamos todos indo fazer compras em Cody, Amber disse Katie. Voc quer vir? A idia de fazer compras numa cidadezinha nula como Cody me deprimiu ainda mais. - No, obrigada respondi. Vou dar uma caminhada. Peguei a estrada na direo oposta quela para a qual ns tnhamos chegado no dia anterior e me dirigi para o alto do vale. Havia campos verde-dourados de ambos os lados da estrada, que logo se encontravam com o rio. Eu podia ouvi-lo borbulhando atrs de mim. A chuva forte do dia anterior devia t-lo enchido, porque agora ele lambia o topo das bordas. Era o lugar mais solitrio que eu tinha visto em minha vida. No havia casas, nem pessoas, nem carros, nem sons alem dos suspiros do vento e os gritos dos pssaros. Nada. Eu nunca estivera to sozinha.

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J devia ter andado quase dois quilmetros quando escutei um som atrs de mim. Em meio ao barulho da correnteza pude ouvir o farfalhar do mato alto se movendo e em seguida uma bufada que quase me fez desmaiar de susto. Virei-me rapidamente, bem a tempo de ver um enorme animal a apenas alguns metros de mim, com o corpo ainda semi-oculto pelo capim alto. Ele tinha chifres enormes e pontudos, e continuava a bufar para mim de uma maneira muito pouco amigvel. Eu no sabia muito a respeito de fazendas e vida campestres, mas j vira alguns filmes de touradas. Sabia muito bem o que os touros fazem quando no gostam de voc. Justo quando estava pensando nisso, o animal abaixou a cabea, emitiu um som longo, grunhiu e comeou a vir na minha direo. No esperei mais nem um segundo. Comecei a correr o mais rpido que pude pela estrada. - Socorro! Socorro! gritei. Nem sei quem esperava que pudesse me ouvir naquele lugar selvagem e solitrio. Nem sei o que pretendia fazer. S sei que queria encontrar um lugar seguro antes que os chifres do touro me alcanassem. Mas no havia nenhum lugar seguro. Uma cerca de arame farpado corria pelos dois lados da estrada. Comecei a procurar com o olhar por uma porteira que eu pudesse saltar rapidamente e essa seria uma vez em que todos os meus esforos para aprender ginstica olmpica teriam sido muito compensadores , mas nenhuma porteira apareceu. Podia ouvir claramente as pesadas batidas das patas do touro na terra lamacenta atrs de mim se aproximando cada vez mais. Ele soltava uns estranhos gemidos enquanto corria, e eu j estava esperando sentir a qualquer momento os chifres da fera penetrarem na minha carne como uma lmina de ao. Uma imagem de meus pais encontrando meu corpo pisoteado e mutilado passou pela minha mente. Se ns no a tivssemos trazido para c..., diriam eles. Se pelo menos ns a tivssemos deixado na segurana de Nova York.... Mas no tinha mais tempo nem energia para pensar nisso, porque o touro me alcanara. J podia sentir o ar quente dele no meu pescoo, e eu mesma no tinha mais ar nem sequer para gritar por socorro. Ento, de repente, ocorreu o milagre. Escutei o som do galope de um cavalo se aproximando rapidamente. - Socorro! Aqui! consegui gritar. Tropecei e olhei para cima, sentindo um enorme alivio ao ver que era Rich. - Ajude-me! suspirei quase sem voz. Touro louco... ali... quase me chifrando. Instantaneamente Rich ficou em alerta. - O touro est solto? Onde? perguntou ele, alarmado. - Bem atrs de mim! gaguejei. Rich devia ser idiota ou cego. U ainda podia sentir o bafo do touro no meu pescoo! - Bem atrs de voc? disse ele, comeando a rir. Voc quer dizer isto aqui? Ele fez seu cavalo andar a passo at o lado do escuro monstro e deu um amigvel tapinha nas costas da fera. - Esta aqui a velha Manteiga revelou ele. - A velha Manteiga? - Com certeza. No machucaria nem uma mosca. Meu pai deveria ter abatido a Manteiga h alguns anos, mas ele a criou desde pequenininha e ficou apegado. Diz que ela lhe deu bons novilhos e um timo leite, e que agora como um bicho de estimao. Fica solta perambulando por ai, at encontrar algum que faa um

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carinho nela. s vezes pode chegar a ser maante. J me seguiu at a escola uma vez. Ele moveu seu cavalo ao longo do corpo de Manteiga. - Vamos l, garota! Para casa! ordenou, dando-lhe um ressoante tapa na anca, o que a fez trotar de volta pelo caminho por onde viera me seguindo. Enquanto isso acontecia, tive tempo de olhar e ver o que no tinha visto antes: por trs da feroz cabea havia um gordo e flcido corpo de vaca. Fiquei sem saber o que dizer de tanta vergonha. - H somente um touro com que voc tem de se preocupar por aqui continuou Rich. o velho Barnaby, que fica no pasto perto do rio. - um erro fcil de cometer disse eu, desafiadora. S tinha visto a cabea dela. O resto do corpo estava oculto no meio do capim. Como eu poderia saber? Rich me olhou com um ar gozador. - Um erro fcil para uma garota da cidade replicou ele. Agora, na brilhante luz do sol, eu podia v-lo com clareza pela primeira vez. Cabelos castanhos escapando por debaixo do chapu de cowboy, sardas no nariz, como eu, e uns chamativos e cintilantes olhos azuis. Tive de admitir que ele tinha crescido bastante com relao ao menino mirrado que ficava na minha memria. Rich era decididamente forte. Apesar do frio, vestia somente uma camiseta de maga comprida e jeans, e a camiseta aderia-se aos msculos dele como se fosse uma segunda pele. - melhor eu voltar murmurei, por no saber o que mais dizer e por querer escapar o quanto antes daquele sorriso zombeteiro. - Acho que a gente vai se ver bastante disse Rich j que vamos pegar o mesmo nibus para a escola todas as manhs. Talvez isso d a chance de ensinar a voc a diferena entre um touro e uma vaca! - Obrigada, mas no tenho a mnima inteno de me sentar perto de voc no nibus disparei. Ainda tenho uma certa averso a sapos. O sorriso dele cresceu ainda mais. - Ah, desisti de sapos h alguns anos disse ele. coisa de criana. - Fico feliz em saber. - Agora prefiro as cascavis. - Puxa, vocs garotos do campo so to divertidos repliquei. No sei como vou fazer para agentar o agito daqui. Ele no capturou o meu sarcasmo. - , acho que devemos mesmo ser mais interessantes do que aqueles almofadinhas da cidade. Eles j nascem de palet? Eu estava ficando mais irritada a cada segundo. Espere s at esse caipira deste fim de mundo sentir o gostinho amargo de um bom insulto nova-iorquino, do velho e bom sarcasmo nova-iorquino, pensei. A ele vai saber o que bom para a tosse. Infelizmente eu ainda estava cansada da viagem do dia anterior e minha mente devia estar um pouco atordoada por causa do encontro com o touro, desculpe, vaca. No consegui me lembrar de nada muito espirituoso. - Com licena, seu cavalo est bloqueando a minha passagem disse eu com frieza glacial. Meus pais j devem ter voltado das compras. Ele girou seu cavalo para o lado e voltou em trote fcil pela trilha por onde viera, ao mesmo tempo que eu caminhava para casa com o mximo de dignidade que consegui reunir.

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6 Eu no sou daqui

No justo, pensei enquanto caminhava. Havia ficado meio cega pelo pnico, por ter pensado que estava sendo caada por um touro furioso, e l ficava ele sentado em seu cavalo, me olhando de cima e rindo. Eu no estava habituada a ser olhada de cima ou gozada, e muito menos por um cowboy caipira! Espere s at eu me recuperar. Ele vai se arrepender, prometi a mim mesma, pensando em todas as espirituosas e desmoralizantes palavras ofensivas que poderia usar contra Rich. Quando ia me aproximando de casa, pude ver que minha famlia tinha acabado de chegar e estavam todos descarregando sacos de mantimentos do carro. - Como foi a sua caminhada, amor? perguntou mame. Viu algo interessante? - No muito. Um monte de vacas respondi, tentando parecer neutra. - Vacas? Voc me leva para v-las? pediu Katie. A gente no pode visit-las? - Depois do almoo grunhiu papai, carregando um pesado sacos de compras. D uma mo, Amber. - Vocs compraram o suficiente para alimentar um batalho comentei, pegando uma das sacolas. - Bom, o armrio da cozinha estava completamente vazio disse mame. e uma bela viagem daqui at o armazm. Eu no queria me esquecer de nada. Vov ficou l em p comandando a ns todos como se fosse um general, enquanto passvamos com sacos e caixas cheias de provises. O almoo foi sem dvida bem melhor do que tinha sido o caf da manh. Mame tinha comprado montes de frios, ingredientes para fazer uma bela salada, e po fresco. - Vou ter de aprender a fazer o meu prprio po observou ela. A padaria mais prxima fica a quase quarenta quilmetros daqui. No podemos rodar tudo isso cada vez que precisarmos de po. - Voc poderia pegar po quando for nos levar escola. Assim no precisaria fazer po em casa sugeri. - Mas eu quero fazer po retrucou ela. Alm de qu, que histria essa de levar vocs para escola? Tem um nibus que recolhe todos os alunos por aqui. - Me, no quero ir num nibus com um monte de caipiras. Vo colocar sapos nas minhas costas de novo ou coisas ainda piores. - Voc vai ter de aprender a lidar com isso, Amber disse mame. Vamos viver com simplicidade de agora em diante. S vamos usar o carro quando no houver outra sada. Eu estremeci. Provavelmente eles iam acabar trocando o carro por um cavalo ou uma charrete, ou por um par de mulas. A vida tal qual eu a conhecia estava se evaporando rapidamente. - A gente pode dar um passeio para ver as vacas agora: - perguntou Katie assim que o almoo terminou. - Est bem respondi, tentando soar mais animada do que realmente estava. Andamos pelo mesmo caminho que eu tinha feito pela manh. J era tarde avanada, e o sol parecia uma bola vermelha pendurada por cima das montanhas do oeste. Os picos nevados brilhavam com os reflexos rosados do crepsculo.

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- bonito aqui. Eu gosto disse Katie. Voc gosta tambm? - bonito respondi -, mas sinto falta dos meu amigos. No vou conseguir ter amigos aqui. Vou odiar este lugar. - Vou ter amigos afirmou Katie, se afastando de mim aos pulinhos e cantando. Vou ter uma vaca. Vou ter um cachorrinho. Vou ter um gato. Reparei que um pssaro enorme, talvez uma guia, estava voando em crculos l no alto. Parei para admirar sai maneiro preguiosa e suave de deslizar pelo ar sem sequer mexer as asas. Eu adoraria ser capaz de voar daquele jeito, s aproveitando as correntes e planando. Vou ter de descobrir que tipo de pssaro aquele, pensei. Vou ter de aprender esse tipo de coisa para viver por aqui. Ento me lembrei de Katie. Provavelmente ela j se aborrecendo de me esperar. Olhei para todos os lados, mas no a vi em lugar algum. Katie? chamei, ao mesmo tempo que me apressava pela estrada abaixo. Katie, no v se perder! Espere por mim! - Eu estou aqui, Amber! gritou Katie. Encontrei uma vaquinha amiga. Olhe! Segui na direo do som de sua voz e de repente estaquei com o corao batendo a mil por hora. Katie estava no meio de um pasto, andando em direo a um gigantesco touro negro. Agora eu percebi que no havia como confundir um touro de verdade com uma vaca. Uma imensa cabea, um corpo possante pesado, uns chifres enormes e ameaadores. O que Rich tinha me dito? S h um touro por aqui com que voc tem que se preocupar: o que fica no pasto ao lado do rio. - Katie... chamei suavemente, esperando que minha voz chegasse at ela, j que eu no queria gritar para no chamar a ateno do touro. Contudo, ela no pareceu me ouvir e continuou a se aproximar mais do touro a cada segundo, com o brao esticado como se quisesse cumpriment-lo. S havia uma coisa que eu podia fazer: entrar no pasto e ir atrs dela. Vov tinha dito uma vez que voc tem de mostrar ais animais quem o chefe, mas eu no achava que um touro daquele tamanho iria me levar muito a srio. Eu tremia como gelia quando pulei a porteira e comecei a andar na direo de Katie. Ela se virou e me viu. - Ei, Amber, venha comigo conversar com a vaquinha disse. - Katie, preste ateno em mim sussurrei com a voz mais calma possvel. Quero que voc comece a andar de volta para c, na minha direo, bem tranqilamente. No corra. No grite. Aquilo ali um touro, e ns no queremos irritar ele. Entendeu? - Talvez ele s esteja se sentindo sozinho argumentou Katie. Ele tem uma cara simptica. Aposto que quer um amiguinho. O touro finalmente reparou na nossa presena. Ele levantou a vista da sua pastagem e bufou. - Ns vamos sair daqui agora ordenei. Apenas ande, com calma e o mais rpido possvel. Se ele comear a vir atrs de ns, ento corra como uma louca na direo da porteira. Dessa vez ela no argumentou. Percebeu o meu medo e ficou com medo tambm. S rezei para que o touro no tivesse percebido. Comeamos a atravessar o pasto, e escutei o touro bufar de novo. A porteira parecia mais distante. E a escutei algo mais: o som seco de uns cascos de cavalo. Rich Winter apareceu de repente. - Oh, meu Deus! exclamou ele. No se mexam! Fiquem exatamente onde esto e no corram!

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Ento ele desmontou, pulou a porteira, e foi andando na direo do touro. - Oi, Barnaby. Oi, meu velho disse Rich, dando uns tapinhas no pescoo do monstro e falando o tempo todo com uma voz doce e apaziguadora. Quem o touro mais bonzinho do Wyoming, hein? Epa, Barnaby, meu velho Barnaby... Rich olhou na nossa direo. - Agora andem at a porteira. E, pelo amor de Deus, no corram. Rich ficou com o touro at que ns duas estivssemos a salvo, e ento comeou a voltar, conversando com o touro o tempo todo at ele prprio ficar a salvo tambm. - Obrigada... comecei. Mas ele me olhou com uns olhos cheios de fria e comeou a gritar. - Por acaso voc completamente idiota? Eu no disse a voc hoje mesmo de manh que esse o nico touro por aqui com que tem que se preocupar? E o que voc faz? Vem fazer uma visitinha de cortesia a ele! Voc tem um parafuso a menos, no tem? Ser que toda a gente da cidade tem uma cabea de titica como voc? Foi uma idia estpida do seu av trazer vocs aqui! Deveriam ter ficado na cidade, que o seu lugar! A essa altura eu j estava to brava quanto assustada. - Pode acreditar rebati, tambm gritando que no foi idia minha vir para este fim de mundo! No havia nada do que quisesse mais do que ter ficado na cidade! E, para sua informao, no sou nem um pouco idiota. Minha irmnzinha no sabia nada sobre o touro, e ela estava no meio do pasto. Algum tinha de tir-la de l. Ele me olhou fixo. - E voc entrou para peg-la? - Ela no ia sair sozinha respondi dando os ombros. - Caramba! Isso foi realmente um ato herico disse ele. Ainda mais considerando o quanto ficou assustada com uma vaca hoje de manh. - Eu no tinha escolha. Esse touro mesmo to perigoso? - Ele matou um peo tempos atrs respondeu Rich. E quase arrancou a perna do meu pai uma vez em que ele no soube cair fora na hora certa. - Ento tambm foi um ato herico da sua parte entrar l agora retruquei com a voz ainda trmula. Especialmente para resgatar duas forasteiras inteis como ns. Ficamos parados alguns segundos nos encarando, os olhos dele fixos nos meus. Ento ele encolheu os ombros. - O velho Barnaby me conhece disse Rich. Ele gosta que eu o afague. Mas me prometa uma coisa: que voc no vai mais visitar nenhum bicho at eu poder te ensinar a diferena entre vacas e touros. Ele colocou o chapu de volta e sorriu enquanto pegava nas rdeas de seu cavalo. - Eu queria ver voc sobreviver na cidade! gritei pelas costas dele. Queria ver voc atravessar uma rua na hora do rush, escapar dos txis que quase atropelam a gente, encontrar a linha certa do metr e conseguir no ter sua a carteira roubada. Sei fazer tudo isso maravilhosamente bem. Porque o meu territrio, o lugar ao qual eu perteno. Agarrei a mo de Katie e comecei a caminhar na direo de casa, praticamente arrastando-a. Mas logo escutei os passos de Rich atrs de mim. - Desculpe-me pediu ele. No foi por querer que gritei com voc agora pouco. que eu fiquei nervoso demais quando vi vocs duas l no meio do pasto com aquele touro. Eu sei como ele pode ser rpido quando quer. E voc est certa com relao a Nova York. Eu no saberia mesmo como escapar dos txis e dos batedores de

COLEO PRIMEIRO AMOR- CORAO DIVIDIDOcarteiras. Ento ele se agachou at a altura de Katie. - E voc, pequena, est tudo bem agora? Quer uma carona?

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Quando ela solenemente fez que sim com a cabea, Rich a colocou em cima da sela. Foi estranho, mas tive uma indefinvel sensao ao v-la sendo erguida por ele com tanta facilidade, como se no tivesse peso algum. E me peguei divagando sobre como seria sentir aqueles braos fortes ao meu redor, meus cabelos roando no rosto dele. Ser que me colocaria sobre a sela com um tapinha amigvel como o que dera na perna de Katie? Subitamente fiquei furiosa comigo mesma por causa daqueles pensamentos ridculos. - Voc est bem a em cima? perguntei a Katie. Ela assentiu balanando a cabea, com um ar srio e compenetrado. - s segurar nesse chifre da sela que no tem perigo explicou Rich. Ele comeou ento a caminhar a p ao meu lado, puxando o cavalo a passo pelas rdeas. - Vou acompanhar vocs at em casa. S por segurana. Fomos andando pela beira da estrada. Eu estava to perturbada pela presena dele que era difcil colocar os meus pensamentos em ordem. Queria bater um papo leve e espirituoso, de maneira que ele pudesse perceber que ns, nova-iorquinos, somos sofisticados. Mas no me vinha nem uma palavra cabea. Quando um alto caule de centeio selvagem roou na minha mo, dei um salto. Por um segundo pensei que fosse a mo dele pegando na minha. - O que foi agora? perguntou Rich, sorrindo de novo. - Nada. S um inseto menti. Andamos quietos, ouvindo apenas o barulho dos cascos do cavalo. Finalmente ele quebrou o silencio. - Deve ter sido duro para voc se separar de todos os seus amigos bem no meio do colegial. Balancei a cabea afirmativamente. Ele estava sendo gentil, e eu no sabia como lidar com isso. - Voc nem imagina como respondi. Eu estudava numa escola maravilhosa, que tem tudo: arte, msica, teatro. Poderia depois ter conseguido entrar em qualquer faculdade que eu quisesse, e agora estou atolada aqui, no meio do nada. Ele tentou digerir aquilo. - verdade, a Indian Valley High School com certeza no a melhor escola do mundo disse ele. Para comear, muito pequena. Mas a gente se diverte bastante. Bailes, reunies e coisas assim. Temos uma grande festa-baile agora no Dia das Bruxas, no dia 31 de outubro. Voc quer ir? Eu no tinha certeza se ele estava me fazendo um convite genrico ou me convidando como sua acompanhante. Ainda no sabia nada a respeito dos costumes entre garotos e garotas do Wyoming. Se aceitasse a oferta, seria eu oficialmente condecorada como a garota do Rich? Eu podia at imaginar a reao de Suzanne: Espero que voc tenha aprendido a gritar ya-hu e a evitar os chutes das botas dos cowboys, diria ela. Acabei me decidindo pela opo mais segura. - H... no, obrigada respondi. Deixei o mais maravilhoso namorado do mundo em Nova York, e acho que ele no gostaria de me ver indo danar por a com outros garotos. - Era s como amiga disse Rich, parecendo magoado. Estava s tentando ser

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amigvel, j que no conhece ningum por aqui. Voc quer se adaptar e se enturmar e se divertir, no quer? - No, no quero retruquei. No queria nem vir para c e no vejo a hora de voltar para Nova York. Meu pai prometeu que vai me deixar voltar se at junho eu ainda estiver miseravelmente triste. Por isso pretendo ficar miseravelmente triste at l. Rich me olhou com uma expresso de estranheza. - Eu diria que essa uma maneira burra de encarar as coisas observou. Na minha opinio, a gente tem de tentar sempre fazer o melhor em cada situao. - E imagino que acha que voc o melhor que Indian Falls tem a oferece - revidei, pega com a guarda baixa pela aspereza da crtica dele. - Foi voc quem disse, no eu brincou ele, com um largo sorriso no rosto. - Vamos, Katie, j estamos quase chegando em casa agora. Podemos andar o resto do caminho a p disse ei, puxando-a da sela. - Mas eu gosto de cavalgar! protestou ela quando a agarrei pela mo. - Tudo bem, se assim que voc quer ponderou Rich. De todo jeito, no h mesmo nenhum touro daqui at o seu porto. - Obrigada de novo pela ajuda murmurei. - De nada disse ele. Afinal essa a caracterstica pela qual ns, caipiras, somos conhecidos: simples, porm prestativos. Ele fez uma careta e tive de rir quando pulou para cima de seu cavalo e saiu a galope. Fiquei l parada, olhando ele ir embora. Se era meso apenas um caipira simplrio, porque ento eu ficara to afetada por suas palavras e sua presena? Katie deu um puxo na minha mo. - Acho que ele gosta de voc, Amber falou. Ele vai ser o seu novo namorado? - Para sua informao, Katie, no pretendo ter nenhum namorado por aqui. Brendan est esperando por mim em Nova York. - Ento porque voc ficou vermelha? perguntou. - Estou quente por cauda de toda essa camin