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FIGO CANCER REPORT 2015 Câncer do ovário, tuba uterina e peritônio Jonathan S. Berek a , Christopher Crum b , Michael Friedlander c a Stanford Women’s Cancer Center, Stanford Cancer Institute, Division of Gynecologic Oncology, Department of Obstetrics and Gynecology, Stanford University School of Medicine, Stanford, CA, EUA b Brigham and Women’s Hospital, Harvard Medical School, Boston, MA, EUA c Royal Hospital for Women, Randwick, Sydney, Austrália 1. Introdução 1.1. Sítios primários: ovário, tuba uterina e câncer peritoneal Em 2014, o Comitê de Oncologia Ginecológica da FIGO revisou o estadiamento para incorporar ovário, tuba uterina e câncer peritoneal no mesmo sistema. Para realizar a alteração do sistema de estadiamento, foi necessária extensa consulta internacional. O sítio primário (isto é, ovário, tuba uterina, ou peritônio) é designado, sempre que possível. Quando não é possível delinear claramente o sítio primário, este deve ser indicado como "não designado” [1,2]. Presume-se que as neoplasias das tubas uterinas são raras [2]. No entanto, evidência histológica, molecular e genética mostram que aproximadamente 40% a 60% dos tumores que foram classificados como carcinoma seroso de alto grau do ovário ou peritônio podem ter se originado nas fímbrias das tubas uterinas [3-8]. Portanto, a incidência de câncer de tuba uterina pode ter sido substancialmente subestimada. Estes novos dados apoiam a ideia de que carcinomas serosos de alto grau de ovário, tuba uterina e peritônio devem ser considerados em conjunto, e que a convenção de designar as neoplasias como tendo origem ovariana deve deixar de ser utilizada a menos que estes sejam claramente o local de origem. Tem sido sugerido que os tumores extrauterinos de histologia serosa que surgem no ovário, tuba uterina ou peritônio

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FIGO CANCER REPORT 2015

Câncer do ovário, tuba uterina e peritônio

Jonathan S. Berek a, Christopher Crum

b, Michael Friedlander

c

a Stanford Women’s Cancer Center, Stanford Cancer Institute, Division of Gynecologic

Oncology, Department of Obstetrics and Gynecology, Stanford University School of

Medicine, Stanford, CA, EUA

b Brigham and Women’s Hospital, Harvard Medical School, Boston, MA, EUA

c Royal Hospital for Women, Randwick, Sydney, Austrália

1. Introdução

1.1. Sítios primários: ovário, tuba uterina e câncer peritoneal

Em 2014, o Comitê de Oncologia Ginecológica da FIGO revisou o estadiamento

para incorporar ovário, tuba uterina e câncer peritoneal no mesmo sistema. Para realizar

a alteração do sistema de estadiamento, foi necessária extensa consulta internacional. O

sítio primário (isto é, ovário, tuba uterina, ou peritônio) é designado, sempre que

possível. Quando não é possível delinear claramente o sítio primário, este deve ser

indicado como "não designado” [1,2].

Presume-se que as neoplasias das tubas uterinas são raras [2]. No entanto,

evidência histológica, molecular e genética mostram que aproximadamente 40% a 60%

dos tumores que foram classificados como carcinoma seroso de alto grau do ovário ou

peritônio podem ter se originado nas fímbrias das tubas uterinas [3-8]. Portanto, a

incidência de câncer de tuba uterina pode ter sido substancialmente subestimada. Estes

novos dados apoiam a ideia de que carcinomas serosos de alto grau de ovário, tuba

uterina e peritônio devem ser considerados em conjunto, e que a convenção de designar

as neoplasias como tendo origem ovariana deve deixar de ser utilizada a menos que

estes sejam claramente o local de origem. Tem sido sugerido que os tumores

extrauterinos de histologia serosa que surgem no ovário, tuba uterina ou peritônio

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podem ser descritos coletivamente como "carcinomas müllerianos" [1,2] ou

"carcinomas serosos pélvicos" [9].

Essa última designação é controversa porque alguns tumores peritoneais podem

surgir no peritônio extrapélvico. Portanto, o simples termo "carcinoma seroso” é

preferido, e a maioria destes é carcinomas serosos de alto grau (HGSC).

Embora não haja estadiamento formal para cânceres de peritônio, o sistema de

estadiamento FIGO é usado com a compreensão de que não é possível ter um câncer de

peritônio Estádio I.

1.1.1. Sítio primário

Os tumores epiteliais do ovário podem surgir em endometriose ou inclusões

corticais do epitélio mülleriano, provavelmente uma forma de endossalpingiose. Estes

incluem carcinomas endometrióides de baixo grau, carcinoma de células claras,

carcinomas serosos de baixo grau borderline e carcinomas mucinosos. Estes tumores

parecem evoluir lentamente a partir de cistos de endometriose, cistadenomas e são

classificados como tumores do tipo I [5]. Os carcinomas podem surgir da porção distal

de tuba uterina e a maioria deles são carcinomas serosos de alto grau. Estes parecem

evoluir mais rapidamente, de precursores mais obscuros, e são designados como

tumores tipo II [5,6]. Este último grupo engloba carcinomas endometrióides de alto grau

e carcinossarcomas. Os carcinomas de alto grau estão quase sempre associados às

mutações no gene TP53 [5].

1.1.2. Drenagem linfática e linfonodos

A drenagem linfática dos ovários e tubas uterinas é realizada através dos

ligamentos útero-ovarianos, infundíbulo pélvico e ligamentos redondos, e por uma rota

ilíaca acessória externa para os seguintes linfonodos regionais: ilíacos externos, ilíacos

comuns, hipogástricos, sacral lateral, para-aórticos e, ocasionalmente, para os

linfonodos inguinais [1,10-12]. As superfícies peritoneais podem drenar através dos

vasos linfáticos diafragmáticos e daí para os grandes vasos venosos acima do diafragma.

1.1.3. Outros sítios metastáticos

O peritônio, incluindo o omento e órgãos pélvicos e abdominais, é o local mais

comum para a disseminação de neoplasias do ovário e tuba uterina. Isso inclui o

diafragma e a superfície hepática. Comprometimento pleural também é visto. Outros

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sítios extraperitoneais ou extrapleurais são relativamente raros, mas podem ocorrer

[1,10-12].

As neoplasias que parecem surgir inicialmente no peritônio têm um padrão de

propagação idêntico, e muitas vezes podem envolver os ovários e tubas uterinas

secundariamente. Estes tumores peritoneais parecem se originar em endossalpingiose.

1.2. Regras de classificação

Apesar de a tomografia computadorizada permitir o delineamento da

disseminação intra-abdominal da doença, as neoplasias do ovário, tuba uterina e

peritônio devem ser estadiadas cirurgicamente. Os achados operatórios determinam o

diagnóstico histológico preciso, estádio e, por conseguinte, o prognóstico do paciente

[1,9,10,12-14].

Em pacientes selecionados com doença em estágio avançado, pode ser apropriado

iniciar a quimioterapia antes da intervenção cirúrgica e, nestes casos, deve haver

confirmação histológica ou citológica do diagnóstico antes de iniciar a quimioterapia

neoadjuvante (ver 5.2.2.).

Radiografia de tórax pode servir como rastreamento de derrames pleurais. Como

as metástases a distância são raras, não há nenhuma exigência para outra avaliação

radiológica, a menos que haja sintomatologia. Níveis de CA125 sérico podem ser úteis

na determinação da resposta à quimioterapia, mas eles não contribuem para o

estadiamento.

1.2.1. Envolvimento de tubas uterinas

O envolvimento das tubas uterinas pode ser dividido em três categorias.

Na primeira, uma massa óbvia intraluminal e grosseira é vista juntamente com

carcinoma intraepitelial nas trompas (carcinoma in situ) que se presume ter surgido na

tuba uterina. Estes casos devem ser estadiados cirurgicamente com confirmação

histológica da doença. Extensão tumoral para submucosa ou muscular e para/ou além da

serosa pode, portanto, ser definida. Estas características, juntamente com a lateralidade

e a presença ou ausência de ascite, devem ser levadas em consideração [1,3,6,7].

No segundo cenário, um carcinoma seroso disseminado está associado a um

carcinoma intraepitelial tubário. Uma massa visível na endosalpinge pode não ser

identificada, mas os achados histológicos devem ser indicados pelo relatório do

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patologista, uma vez que pode indicar um tumor primário na tuba uterina. Tumores

obliterando tuba uterina e ovário podem pertencer a este grupo, mas uma atribuição

presuntiva da origem em tuba uterina nesse grupo é controversa, uma vez que

carcinoma intraepitelial tubário não pode ser confirmado.

No terceiro cenário, carcinoma intraepitelial de tuba uterina deve ser o único

achado após salpingooforectomia redutora de risco. Deve ser reportado como originado

em tuba uterina e manejado conforme o diagnóstico. A maioria dos carcinomas serosos

precoces detectados é encontrada nas tubas uterinas, independentemente do risco

genético [15,16].

1.2.2. Estadiamento FIGO

O sistema de estadiamento da FIGO combina a classificação das neoplasias de

ovário, tuba uterina e peritônio. É baseado em constatações feitas principalmente

através de exploração cirúrgica (como previsto acima). A Tabela 1 apresenta a

classificação de 2014 da FIGO para o câncer de ovário, tuba uterina e peritônio. Os

equivalentes na classificação TNM da União de Controle do Câncer Internacional

(UICC) são apresentados na Tabela 2.

Em adição a estas alterações, várias outras modificações do sistema de

estadiamento têm sido feitas para melhorar a coleta de dados prospectivamente. O

Estádio IC agora está dividido em três categorias: IC1 (rotura de cápsula

intraoperatória), IC2 (rotura de cápsula previamente à cirurgia ou tumor na superfície do

ovário ou tuba uterina) e IC3 (células malignas em ascite ou lavado peritoneal). O

Estádio IIC foi eliminado. O estadiamento atualizado inclui uma revisão do Estádio IIIC

com base na propagação ao retroperitônio por comprometimento linfonodal isolado,

sem disseminação intraperitoneal, pois uma análise destas pacientes indica que sua

sobrevida é significativamente melhor do que aquelas que têm disseminação

intraperitoneal [17]. Esta categoria é agora subdividida em IIIA1 (i) (metástase ≤ 10mm

na maior dimensão) e IIIA1 (ii) (metástase > 10mm na sua maior dimensão).

O Estádio IIIA2 designa envolvimento peritoneal extrapélvico microscópico com

ou sem metástase para linfonodos retroperitoneais. A descrição do estádio IIIB foi

modificada para refletir o status linfonodal. Estádio IVB agora inclui metástases para os

linfonodos inguinais.

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Tabela 1. Estadiamento da FIGO para câncer de ovário, tuba uterina e peritônio

Estádio I Tumor confinado aos ovários ou tubas uterinas T1-N0-M0

IA Tumor limitado a um ovário (cápsula intacta) ou tuba uterina,

sem tumor na superfície do ovário ou tuba uterina, sem células

malignas na ascite ou lavado peritoneal

T1a-N0-M0

IB Tumor limitado a ambos os ovários (cápsula intacta) ou tubas

uterinas, sem tumor na superfície do ovário ou tuba uterina,

sem células malignas na ascite ou lavado peritoneal

T1b-N0-M0

IC Tumor limitado a um ou ambos os ovários ou tubas uterinas,

com quaisquer dos achados:

T1c1-N0-M0

IC1 Rotura cirúrgica

IC2 Cápsula rota previamente à cirurgia ou tumor na superfície do

ovário ou tuba uterina

T1c2-N0-M0

IC3 Células malignas na ascite ou lavado peritoneal T1c3-N0-M0

Estádio II Tumor envolve um ou ambos os ovários ou tubas uterinas, com

extensão pélvica ou câncer de peritônio

T2-N0-M0

IIA Extensão e/ou implantes no útero e/ou tubas uterinas e/ou

ovários

T2a-N0-M0

IIB Extensão para outros órgãos pélvicos intraperitoneais T2b-N0-M0

Estádio III Tumor envolve um ou ambos os ovários ou tubas uterinas, ou

câncer peritoneal, com disseminação para o peritônio

extrapélvico confirmada pela citologia ou histologia e/ou

metástases para linfonodos retroperitoneais

T1/T2-N1-M0

IIIA1 Apenas linfonodos retroperitoneais positivos (cito ou

histologicamente confirmados):

IIIA1 (i) Metástase 10mm na maior dimensão

IIIA1 (ii) Metástase > 10mm na maior dimensão

IIIA2 Envolvimento peritoneal microscópico extrapélvico, com ou

sem comprometimento linfonodal

T3a2-N0/N1-M0

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IIIB Metástase peritoneal macroscópica além da pelve verdadeira,

de até 2cm na maior dimensão, com ou sem comprometimento

linfonodal

T3b-N0/N1-M0

IIIC Metástase peritoneal macroscópica além da pelve verdadeira

maior que 2cm na maior dimensão, com ou sem

comprometimento linfonodal (inclui extensão tumoral para

cápsula do fígado ou baço, sem comprometimento de

parênquima)

T3c-N0/N1-M0

Estádio IV Metástases a distância, excluindo metástases peritoneais Qualquer T-

Qualquer N-M1

IVA Efusão pleural com citologia positiva

IVB Metástase parenquimatosa e metástases para órgãos extra-

abdominais (incluindo linfonodos inguinais e linfonodos fora

da cavidade abdominal

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Tabela 2. Câncer de ovário, tuba uterina e peritônio: estadiamento FIGO (2014)

comparado com a classificação TNM (UICC).a

FIGO UICC

Designar primário:

Tov,Ttu,Tp,Tx

T N M

Estádio

IA T1a N0 M0

IB T1b N0 M0

IC T1c N0 M0

IIA T2a N0 M0

IIB T2b N0 M0

IIIA T3a N0 M0

T3a N1 M0

IIIB T3b N0 M0

T3b N1 M0

IIIC T3c N0-1 M0

T3c N1 M0

IV Qualquer T Qualquer N M1

Linfonodos regionais (N)

NX Linfonodos regionais não podem ser avaliados

N0 Sem metástase para linfonodos regionais

N1 Metástase para linfonodos regionais

Metástase a distância (M)

MX Metástase a distância não pode ser avaliada

M0 Sem metástases a distância

M1 Metástase a distância (excluindo peritoneais)

Notas:

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1. O sítio primário ovário, tuba uterina ou peritônio deve ser designado, quando possível.

Em alguns casos, pode não ser possível determinar claramente o sítio primário que deve

ser descrito como “não designado”.

2. O tipo histológico deve ser relatado.

3. O estadiamento inclui uma revisão do Estádio III, e a alocação no Estádio IIIA1 é baseada

na disseminação para linfonodos retroperitoneais sem disseminação intrapélvica, pois a

análise dessas pacientes indica que sua sobrevida é melhor do que das pacientes com

disseminação intraperitoneal.

4. Envolvimento de linfonodos retroperitoneais deve ser comprovado cito ou

histologicamente.

5. Extensão do tumor do omento para superfície hepática ou baço (IIIC) deve ser

diferenciada de metástase isolada para o parênquima hepático ou esplênico (IVB).

a: Reproduzido com permissão de Berek et al. [1], p. 482.

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1.2.2.1. Linfonodos regionais (N)

• NX: Linfonodos regionais não podem ser avaliados

• N0: Linfonodos regionais negativos

• N1: Linfonodos regionais com metástases

1.2.2.2. Metástases a distância (M)

• MX: Metástase a distância não pode ser avaliada.

• M0: Não há metástase a distância

• M1: Com metástase a distância (excluindo metástase peritoneal).

1.3. Classificação histopatológica

A maioria dos casos de neoplasia do ovário tem origem epitelial. A FIGO

endossa a classificação histológica da OMS para os tumores epiteliais de ovário. É

recomendado que todos os tumores epiteliais do ovário sejam subdivididos de acordo

com a classificação abaixo [18].

A classificação histológica das neoplasias de ovário, tuba uterina e peritônio deve

ser realizada da seguinte forma:

• Tumores serosos

• Tumores mucinosos

• Tumores endometrióides

• Tumores de células claras

• Tumores Brenner

• Carcinomas indiferenciados (tumores malignos de estrutura epitelial, mas pouco

diferenciados para serem inseridos em qualquer outro grupo).

• Tumores epiteliais mistos (estes tumores são compostos por dois ou mais dos

cinco tipos de células principais de tumores epiteliais comuns. Os tipos são

habitualmente especificados).

• Casos de carcinoma seroso de alto grau em que os ovários e tubas uterinas

parecem estar incidentalmente envolvidos, e não ser a principal origem, podem

ser rotulados como carcinoma peritoneal ou carcinoma seroso de sítio não

determinado, a critério do patologista.

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Os tumores epiteliais do ovário e tuba uterina são ainda subclassificados por

graduação histológica, o que pode ser correlacionado com prognóstico. Este sistema de

classificação não se aplica aos tumores não-epiteliais [19]. Dois sistemas de

classificação são aplicados. Para carcinomas não-serosos (maioria endometrióides e

mucinosos), a classificação é idêntica à utilizada no útero, com base na arquitetura, com

aumento de um grau, se houver atipia nuclear proeminente, como descrito a seguir:

• GX: Grau não pode ser avaliado

• G1: Bem-diferenciado

• G2: Moderadamente diferenciado

• G3: Pouco diferenciado.

Carcinomas serosos são os mais comuns em ovários e tubas uterinas. Mais de

90% dos carcinomas de tubas uterinas são serosos ou adenocarcinomas endometrióides

de alto grau. Outros tipos têm sido relatados, mas são raros [1,2,24]. Os carcinomas

serosos são classificados em dois sistemas de graduação, de acordo com sua biologia.

Os carcinomas serosos de alto grau, tanto de aparência clássica quanto aqueles com

características SET (sólido, endometrioid-like e transicional), carregam uma alta

frequência de mutações em TP53 [20-22]. Carcinomas serosos de baixo grau são

frequentemente associados a tumores borderlines ou tumores serosos proliferativos com

células atípicas, e muitas vezes contêm mutações no BRAF e KRAS e contêm TPp53

tipo selvagem. A maioria dos carcinomas serosos moderadamente diferenciados

carregam mutações em TP53 e devem ser combinados com os tumores de alto grau

[19,21-23].

As neoplasias não-epiteliais, embora incomuns, são extremamente importantes.

Incluem tumores de células da granulosa, tumores de células germinativas, sarcomas e

linfomas. Eles são discutidos abaixo como entidades separadas.

As neoplasias metastáticas para o ovário, tais como tumores que surgem no trato

reprodutivo inferior (colo do útero ou carcinoma do útero) e aparelho gastrointestinal

[carcinoma de células em anel de sinete (Krukenberg), tumor mucinoso apendicular de

baixo grau ou tumor mucinoso pancreatobiliar e outras neoplasias] são classificados e

estadiados conforme o respectivo sítio de origem [1,2].

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2. Epidemiologia

Os tumores malignos dos ovários ocorrem em todas as idades com variação do

subtipo histológico pela idade. Por exemplo, em mulheres com menos de 20 anos de

idade predominam tumores de células germinativas, ao passo que os tumores

borderlines geralmente ocorrem em mulheres em torno de 30 a 40 anos, cerca de 10

antes do que as mulheres com câncer do ovário epitelial invasivo, que ocorrem

principalmente após os 50 anos.

O risco de uma mulher nos EUA desenvolver câncer de ovário é de cerca de 1 em

70. Aproximadamente 23% dos cânceres ginecológicos são de origem ovariana, mas

47% de todas as mortes por neoplasias do trato genital feminino ocorrem em mulheres

com câncer de ovário. Em geral, o câncer epitelial de ovário representa 4% de todos os

novos diagnósticos de câncer em mulheres e 5% de todas as mortes relacionadas a

câncer [1,2,25].

A incidência global de tumores epiteliais varia de 9-17 por 100 mil, e é maior em

países industrializados, com exceção do Japão [26]. No entanto, esta taxa de incidência

aumenta proporcionalmente com a idade. O maior número de pacientes com câncer

epitelial do ovário encontra-se na faixa etária de 60 a 64 anos.

Fatores de risco estabelecidos para tumores ovarianos epiteliais incluem fatores de

risco reprodutivos. Mulheres que nunca tiveram filhos são duas vezes mais propensas a

desenvolver esta doença. Primeira gravidez em idade precoce, início precoce da

menopausa e uso de contraceptivos orais têm sido associados com menor risco de

câncer de ovário [27]. A relação entre estas variáveis e o câncer de tuba uterina não é

clara.

Como referido acima, anteriormente foi presumido que as neoplasias de tuba

uterina eram raras, no entanto isto foi contestado por evidências de que muitos tumores

que foram classificados como carcinomas serosos de ovário ou peritônio parecem ter

sua origem em tuba uterina [3-7]. Quando a origem é incerta, a convenção de designar

todos os cânceres serosos como originários do ovário não deve mais ser utilizada, e o

termo "origem não determinada" pode ser aplicado a critério do patologista [18].

2.1. Genética

Os fatores hereditários estão associados à aproximadamente 10% das neoplasias

de ovário, tuba uterina e peritônio. As mutações identificadas incluem [28-32]:

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1. Mutações patogênicas herdadas nos genes BRCA1 e BRCA2. As mulheres que

carregam mutações germinativas em BRCA1 e BRCA2 têm um risco

substancialmente aumentado de câncer de ovário, trompas e peritônio: cerca de

20% a 50% para BRCA1 e 10% a 20% para BRCA2 [29-32]. Normalmente, estes

cânceres ocorrem em idade mais jovem do que os cânceres esporádicos,

particularmente em carreadoras de mutação BRCA1, com uma idade média de

diagnóstico em meados dos 40 anos.

2. Mutações herdadas dos genes de reparo associados à Síndrome de Lynch tipo II. As

mulheres que carregam estas mutações têm um risco aumentado de câncer de cólon,

endométrio e ovário. Normalmente, as neoplasias de ovário são endometrióides ou

de células claras, habitualmente no Estádio I.

3. Mutação herdada em ARID1 está associada com carcinomas de células claras e

endometrióides [33].

Pacientes com um forte histórico familiar de câncer epitelial de ovário, tuba

uterina e peritônio, particularmente se houver documentação de mutação germinativa,

são aconselhadas à realização de salpingooforectomia bilateral para redução de risco

após aconselhamento apropriado e definição de prole. Testes genéticos devem ser

oferecidos a todas as mulheres com suspeita de serem portadoras de mutação

germinativa BRCA, com base no histórico familiar ou idade jovem de diagnóstico de

um câncer seroso ou endometrióide de alto grau. Mutações BRCA também podem

ocorrer em mulheres sem história familiar de câncer de mama/câncer de ovário, e testes

genéticos devem ser considerados em pacientes de grupos étnicos onde existe uma

incidência elevada de mutações (por exemplo judeus Ashkenazi ) e em mulheres com

câncer seroso de alto grau abaixo de 70 anos [26-30].

Diretrizes australianas [34] sugerem que todas as mulheres com câncer epitelial de

ovário, diagnosticadas com idade inferior a 70 anos, devem ser consideradas para testes

de mutação BRCA independente da história familiar e do subtipo histológico. Em

contraste, a Society of Gynecologic Oncology (SGO) recomenda que todas as mulheres

com diagnóstico de carcinoma epitelial de ovário, tuba uterina ou peritônio,

independentemente da idade ou da história familiar, devem receber aconselhamento

genético e ter oferecido o teste genético [35]. Mulheres cuja história familiar sugere

síndrome de Lynch II devem ser submetidas à aconselhamento e testagem genética

adequados.

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3. Rastreamento

Até a presente data, não existem métodos de rastreio eficazes documentados para

reduzir a mortalidade de neoplasias de ovário, tuba uterina ou peritônio. Estudos

utilizando CA125, a ultrassonografia da pelve e exame pélvico não apresentaram

sensibilidade e especificidade adequados, mas existem trials em andamento com

mulheres da população em geral e da população de alto risco. Mulheres com maior risco

genético devem ser encorajadas à realização de salpingooforectomia bilateral de

redução de risco, pois esta é a maneira mais eficaz de reduzir a mortalidade nessa

população de mulheres [36,37]. Um boletim de ACOG recomenda a realização de

salpingectomia bilateral oportunística (no momento de uma histerectomia clinicamente

indicada) em mulheres que não correm risco genético e que desejam preservar os

ovários, como uma maneira de reduzir o risco de desenvolver carcinomas serosos de

alto grau tardiamente [38].

4. Diagnóstico

As pacientes com câncer epitelial confinado ao ovário ou tuba uterina têm um

prognóstico muito bom [39-42]. Os sintomas são frequentemente muito insidiosos e a

duração dos sintomas não é diferente entre os pacientes com doença em estágio inicial

ou avançado [13,14]. Isso pode refletir o comportamento biológico diferente dos vários

subtipos histológicos. Carcinomas serosos grau 1, células claras, mucinosos e

endometrióides por exemplo, são frequentemente detectados em estádios iniciais, já que

os carcinomas serosos de alto grau são mais frequentemente diagnosticados em estádio

III, devido à disseminação mais precoce. Marcadores tumorais como a gonadotrofina

coriônica humana (hCG) e alfafetoproteína (AFP) são obrigatórios para excluir tumores

de células germinativas em pacientes mais jovens, com massa pélvica ou aumento

suspeito de um ovário. Cerca de dois terços de todas as neoplasias epiteliais de "ovário"

são diagnosticadas em Estádios III ou IV. Os sintomas apresentados incluem dor ou

desconforto abdominal vago, irregularidade menstrual, dispepsia e outros distúrbios

digestivos leves, que podem ter existido por apenas algumas semanas [13,14,43]. À

medida que a doença progride, distensão abdominal e desconforto por ascite geralmente

podem piorar e podem ocorrer sintomas respiratórios devido ao aumento da pressão

intra-abdominal ou da transudação de fluido nas cavidades pleurais. Sangramento

vaginal anormal é um sintoma incomum.

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Carcinomas de tuba uterina e peritônio provavelmente se apresentam da mesma

forma que o câncer de ovário. As análises anteriores foram tendenciosas pois muitas

neoplasias de tuba uterina tiveram sua origem presumida como ovariana.

Uma história médica detalhada deve ser tomada para avaliar possíveis fatores de

risco, história de outros tipos de câncer e histórico de câncer na família. Em seguida, um

exame físico completo, incluindo geral, mama, pélvico e toque retal, deve ser executado

[1].

Antes da cirurgia, uma radiografia de tórax deve ser realizada para rastrear

derrame pleural e uma tomografia computadorizada do abdome e da pelve deve ser

realizada para delinear a extensão da doença intra-abdominal. No entanto, na ausência

de doença extra-abdominopélvica, análise radiológica não substitui estadiamento

cirúrgico com laparotomia. Os marcadores tumorais incluindo CA125 e antígeno

carcinoembrionário (CEA) devem ser considerados [1]. Com um nível de CA125

elevado, o diagnóstico mais comum seria de carcinoma epitelial de ovário, tuba uterina

ou peritônio.

Metástase ovariana de tumor gástrico ou de cólon pode imitar o câncer do ovário

e, se o CEA estiver elevado, essa hipótese deve ser considerada. A mamografia deve ser

realizada, já que as pacientes são frequentemente da faixa etária em que o câncer de

mama é prevalente. A colonoscopia está indicada quando os sintomas sugerem um

possível câncer do intestino [1]. Os seguintes fatores apontam para a presença de um

tumor maligno, e são úteis na avaliação clínica de massas:

• Idade do paciente (células germinativas em pacientes jovens e doença epitelial

maligna em pacientes mais velhas)

• Bilateralidade

• Tumor fixo clinicamente

• Ascite

• Aspecto complexo à ultrassonografia, especialmente se áreas sólidas

• Nódulos metastáticos na TC

• Marcadores tumorais elevados.

5. Cirurgia primária

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Em geral, o prognóstico das neoplasias epiteliais de ovário, tuba uterina e

peritônio é independentemente afetado pelos seguintes fatores [1,44,45]:

• Estádio do câncer no momento do diagnóstico

• Tipo e grau histológico

• Diâmetro máximo de doença residual após a cirurgia citorredutora.

5.1. Laparotomia para estadiamento

A laparotomia para estadiamento completo é uma parte importante do manejo da

paciente. Se a suspeita pré-operatória é de malignidade, uma laparotomia deve ser

realizada. Se não houver nenhuma evidência visível ou palpável de metástase, os

seguintes passos devem ser realizados para o estadiamento adequado [1,10,11,13,14]:

• A avaliação cuidadosa de todas as superfícies peritoneais.

• Recuperação de qualquer fluido peritoneal ou ascite. Se não houver nenhum, lavado

da cavidade peritoneal deverá ser executado.

• Omentectomia infracólica.

• Linfadenectomia seletiva de linfonodos pélvicos e para-aórticos, pelo menos

ipsolateral se a neoplasia for unilateral.

• Biópsia ou ressecção de quaisquer lesões suspeitas, massas ou aderências.

• Biópsias de peritônio aleatórias das superfícies normais, incluindo do

hemidiafragma direito, reflexão de bexiga, fundo de saco, recessos paracóplicos

direito e esquerdo, e ambas as paredes pélvicas laterais.

• Histerectomia total abdominal e salpingooforectomia bilateral na maioria dos casos.

• Apendicectomia nos casos de tumores mucinosos.

Ao entrar na cavidade abdominopélvica, o fluido peritoneal deve ser coletado para

análise citológica. Na ausência de ascite, irrigação deve ser realizada com coleta de

lavado para citologia. A laparotomia deve ser procedida com exame detalhado do

conteúdo, incluindo todas as superfícies peritoneais. Devem ser realizadas biópsias de

todos sítios suspeitos, da reflexão peritoneal da bexiga, fundo de saco posterior, goteiras

paracólicas, superfícies subdiafragmáticas, e ambas as paredes pélvicas laterais.

Se o tumor primário for limitado ao ovário, deve ser examinado quanto à presença

de ruptura capsular. Além da realização de histerectomia total e salpingooforectomia

bilateral, todos locais óbvios de comprometimento tumoral devem ser removidos, na

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medida do possível. O omento, linfonodos pélvicos e para-aórticos devem ser

removidos para exame histológico.

Em mulheres mais jovens, a fertilidade pode ser um problema. Nessas pacientes,

cirurgia conservadora, com preservação do útero e ovário contralateral, deve ser

considerada após consentimento informado [40].

O julgamento clínico é importante na abordagem de massa pélvica em mulher

jovem, em idade reprodutiva. Se houver suspeita de malignidade, laparotomia aberta é

geralmente indicada. A laparoscopia pode ser mais apropriada, caso a suspeita seja de

doença benigna, onde marcadores tumorais (incluindo hCG e AFP) são normais. A

biópsia de qualquer lesão suspeita deve ser executada, com encaminhamento para

biópsia de congelação, para prosseguir rapidamente com a cirurgia definitiva.

Ovários e tubas uterinas devem ser avaliados minuciosamente para determinação

do local de origem. Se visível, toda a tuba uterina, particularmente a porção distal, deve

ser submetida à patologia e examinada de acordo com o protocolo SEE-FIM [32]. Os

ovários devem ser avaliados quanto à coexistência de cistos de endometriose,

adenofibromas ou outra condição benigna que poderia servir como um nicho de

desenvolvimento do tumor.

5.2. Cirurgia citorredutora (debulking) para a doença estágio avançado

5.2.1. Debulking primário

Pelo menos dois terços de pacientes com câncer de ovário se apresentam ao

diagnóstico com doença Estádio III ou IV. Isso pode afetar o performance status e a

condição física para a cirurgia. No entanto, o indicador de prognóstico mais importante

em pacientes com câncer do ovário avançado, é o volume de doença residual após

cirurgia citorredutora. Assim, pacientes, cuja condição médica permita, geralmente

devem ser submetidas à laparotomia primária com a histerectomia total abdominal,

salpingooforectomia bilateral, omentectomia e tentativa máxima de citorredução ótima

[1,44-46]. Pode ser necessária ressecção intestinal e, ocasionalmente, ressecção parcial

ou completa de outros órgãos. Linfadenectomia pélvica e para-aórtica sistemática, com

remoção de linfonodos não aumentados, não melhora sobrevida global, em comparação

com a remoção apenas dos linfonodos volumosos, embora haja uma melhora modesta

na sobrevida livre de doença [47]. Nível de evidência A

5.2.2. Debulking intervalar

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Para pacientes selecionadas com doença Estádio IIIC e IV, comprovadas por

citologia, que podem não ser boas candidatas cirúrgicas, podem ser administrados dois a

três ciclos de quimioterapia neoadjuvante inicialmente, seguidos por cirurgia

citorredutora intervalar e quimioterapia adicional [48]. Isso é particularmente útil em

pacientes com grande derrame pleural e/ou ascite volumosa. Em casos selecionados de

pacientes cuja citorredução primária é considerada abaixo do ideal, particularmente se

um oncologista ginecológico não realizou a cirurgia, debulking intervalar pode ser

considerado após dois a três ciclos de quimioterapia sistêmica [1,48,49]. A avaliação

histopatológica quanto à presença de tumor residual permite estimar o volume da

doença residual, com impacto modesto em termos de sobrevivência [50].

6. Quimioterapia

6.1. Quimioterapia para câncer inicial

O prognóstico das pacientes com câncer epitelial de ovário Estádio IA e IB, grau

1 e 2 adequadamente estadiadas, é muito bom; e a quimioterapia adjuvante não fornece

benefícios adicionais, não sendo indicada. Para pacientes com tumores de grau mais

elevado e para pacientes com doença Estádio IC, quimioterapia adjuvante baseada em

platina é dada à maioria delas, embora tenha havido debate sobre o benefício na

sobrevida global das pacientes com câncer em Estádio IA e IB com estadiamento

cirúrgico completo [39]. Todas as pacientes com doença de Estádio II devem receber

quimioterapia adjuvante. O número ótimo de ciclos em pacientes com a doença Estádio

I não foi definitivamente estabelecido, mas habitualmente são administrados entre três a

seis ciclos. O estudo 157 do Gynecoloic Oncology Group (GOG) sugeriu que três ciclos

de carboplatina e paclitaxel são equivalentes a seis ciclos, mas, na análise de subgrupos,

seis ciclos pareceram superiores em pacientes com carcinomas serosos de alto grau [46].

Não há evidência para apoiar a terapia adjuvante para carcinoma in situ da tuba

uterina e não é recomendado [1,2,41]. Nível de evidência A

6.2. Quimioterapia para o câncer de ovário em estágio avançado

As pacientes que tiveram citorredução primária devem receber quimioterapia após

a cirurgia [1,51] (Tabela 3). O padrão aceito é de seis ciclos de quimioterapia baseada

em platina, com uma platina (carboplatina ou cisplatina) e um taxano (paclitaxel ou

docetaxel) [52-56]. O docetaxel pode ser considerado em pacientes selecionados, uma

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vez que possui menos neurotoxicidade, mas é mais mielossupressor do que o paclitaxel

[52]. Um pequeno estudo demonstrou que manutenção de paclitaxel mensal apresenta

melhora na sobrevida livre de doença, mas não na sobrevida global [57]. O papel da

quimioterapia de manutenção é incerto, não constituindo prática-padrão, e está sendo

investigado em ensaios clínicos.

Ainda que a quimioterapia intraperitoneal tenha sido associada à melhora na

sobrevida livre de doença e na sobrevida global de pacientes selecionadas com

neoplasia de ovário Estádio III com citorredução ótima, ela não é amplamente utilizada

fora dos EUA por preocupações sobre aumento de toxicidade e problemas relacionados

ao cateter e aos benefícios ainda em debate [58-62]. O estudo GOG 172 comparou

paclitaxel com cisplatina intravenoso com paclitaxel por via intravenosa mais cisplatina

e paclitaxel intraperitoneal em pacientes com carcinoma epitelial de ovário Estádio III

sem doença residual superior a 1cm de diâmetro [60]. Apenas 42% dos pacientes no

grupo intraperitoneal concluíram seis ciclos da terapia atribuída, mas o grupo por via

intraperitoneal obteve uma melhora na sobrevida livre de progressão de 5,5 meses (23,8

vs 18,3 meses; P = 0,05) e uma melhora na sobrevida global de 15,9 meses (65,6 vs

49,7 meses, p = 0,03). Mais estudos sobre a terapia intraperitoneal estão em andamento.

Nível de evidência A

A combinação de quimioterapia com carboplatina intravenosa e paclitaxel ou

cisplatina intraperitoneal e paclitaxel (usando o protocolo do GOG 172) são as opções

de tratamento- padrão para pacientes com doença avançada, com evidência para apoiar

a adição de bevacizumabe em pacientes selecionadas. As vantagens e desvantagens

infusão intravenosa versus intraperitoneal, para administração destes medicamentos,

deve ser discutida com a paciente. A quimioterapia intraperitoneal é aplicável apenas

para pacientes com doença avançada que tiveram citorredução ótima, com doença

residual menor de 1cm, e deve ser realizada somente em centros que têm experiência

com quimioterapia intraperitoneal.

As doses recomendadas e periodicidade da quimioterapia intravenosa são:

carboplatina (dose inicial AUC 5-6) e paclitaxel (175 mg/m2). A cada três semanas

durante seis ciclos de [47], ou a dose densa de carboplatina (AUC 6) a cada três

semanas durante seis ciclos e paclitaxel semanal (80 mg/m2) [62]. O GOG japonês

(JGOG) relatou os resultados do último regime e mostrou melhora da sobrevida livre de

progressão e sobrevida global [63]. Este regime está sendo comparado com o padrão a

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cada três semanas intravenosa e intraperitoneal em vários centros. Um ensaio Italiano

(MITO-7) investigou um calendário diferente de carboplatina semanal (AUC de 2

mg/mL por min) mais paclitaxel semanal (60 mg / m2) comparado com a carboplatina

(AUC 6 mg/ml por min, administrado a cada três semanas) e paclitaxel (175 mg/ m2)

[64]. O regime semanal não melhorou significativamente a sobrevida livre de

progressão comparado com o regime convencional (18,8 meses versus 16,5 meses; =

0,18), mas foi associado à melhor qualidade de vida e menos efeitos tóxicos. Outros

estudos em curso, incluindo o trial ICON 8 e o GOG 262, estão avaliando a

quimioterapia de dose-densa e ajudarão a responder à pergunta importante sobre o papel

da quimioterapia dose-densa em uma população branca.

As doses recomendadas e periodicidade de quimioterapia intraperitoneal são o

paclitaxel (135mg /m2) por via intravenosa no dia um, seguido por cisplatina (100 mg /

m2) por via intraperitoneal no dia dois, seguido por paclitaxel (60 mg/m2) por via

intraperitoneal no dia oito, cada três semanas por seis ciclos, conforme tolerado [58-60].

Muitos centros de modificam a dose de cisplatina para 75 mg/m2, em vez de 100 mg/m

2,

que foi utilizado em no GOG 172 para reduzir a toxicidade. Outros substituem a

carboplatina (AUC 5-6) por cisplatina. O impacto dessas modificações pragmáticas é

incerto, mas carboplatina intraperitoneal está sendo avaliada em ensaios clínicos

patrocinados pelo JGOG-e NRG.

Bevacizumabe 7,5-15 mg/kg a cada três semanas pode ser adicionado a estes

regimes [67,68]. Dois estudos relataram um aumento modesto, mas estatisticamente

significativo na sobrevida livre de progressão em doentes que receberam manutenção

bevacizumabe após carboplatina, paclitaxel e bevacizumabe concomitante [67,68]. Não

há nenhuma evidência ainda para demonstrar um benefício de sobrevida global, mas

uma análise de subgrupo do Internacionational Collaboration on Ovarian Neoplasms 7

(Icon7) constatou que houve uma melhora na sobrevida média (30,3 vs 39,4 meses) em

pacientes com Estádios III e IV subótimos [67]. O papel, dose ideal, a oportunidade

(primário vs doença recorrente) e a duração do tratamento de bevacizumabe ainda são

controversos.

Em pacientes que não toleram a quimioterapia de combinação por causa de

comorbidades médicas ou idade avançada, a carboplatina (AUC 5-6), como agente

único e por via intravenosa, pode ser administrada.

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Em pacientes que têm uma reação significativa de hipersensibilidade a paclitaxel,

um fármaco alternativo pode substituir (por exemplo, o docetaxel ou paclitaxel

nanopartículas). Hipersensibilidade à carboplatina é muito incomun no cenário de

primeira linha, mas é visto em algumas pacientes com recidiva da doença que tem

várias linhas de quimioterapia baseada em platina.

No caso de hipersensibilidade à carboplatina, a dessensibilização pode ser tentada,

dependendo da severidade da reação, ou em alternativa à cisplatina (50-75mg /m2).

Pode ser uma opção, mas ainda pode haver um risco de uma reação alérgica grave.

O tratamento de todas as pacientes com doença em estádio avançado aproximou-

se de modo semelhante, com modificações de dose baseadas na toxicidade da terapia.

Cuidados devem ser tomados quando se considera a combinação quimioterapia em

doentes com uma performance status ruim ou com função renal comprometida.

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Tabela 3. Quimioterapia para câncer epitelial de ovário: regimes recomendados a

Drogas

Regime-padrão

Dose Admnistração

(h)

Intervalo Número de

ciclos

Carboplatina AUC= 5-6 3 a cada 3 semanas 6-8 ciclos

Paclitaxel 175mg/m2

Carboplatina AUC= 5-6 3 a cada 3 semanas 6 ciclos

Paclitaxel 80mg/m2 semanal 18 ciclos

Carboplatina AUC=5 3 semanal 6 ciclos

Docetaxel 75mg/m2 a cada 3 semanas

Cisplatina 75mg/m2 3 a cada 3 semanas 6 ciclos

Paclitaxel 135mg/m2

Carboplatina

(agente único)b

AUC= 5 3 a cada 3 semanas 6 ciclos, se

tolerado

AUC, dose por área sob a curva de acordo com fórmula de Calvert (65, 66, 287).

a Reproduzido com permissão de Berek et al. [1], p.510

b Em pacientes mais velhas, frágeis ou com performance status ruim

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7. Cirurgia secundária

7.1. Laparotomia second-look

A laparotomia second-look (ou laparoscopia) foi previamente realizada em

pacientes que não tinham nenhuma evidência clínica de doença após término da

quimioterapia de primeira linha para determinar a resposta ao tratamento. Apesar do

valor de prognóstico, não houve influência na sobrevida e não é mais recomendada

como parte do padrão de atendimento [69]. Nível de evidência C

7.2. Citorredução secundária

A citorredução secundária pode ser definida como uma tentativa de cirurgia

citorredutora em algum momento após a conclusão da primeira linha de quimioterapia.

Estudos retrospectivos sugerem que as pacientes se beneficiam, se toda a doença

macroscópica for removida, o que geralmente significa uma recorrência solitária.

Pacientes com intervalo livre de doença maior que 12 a 24 meses e aquelas com apenas

um a dois locais de doença parecem apresentar maior benefício [70,71]. O papel da

cirurgia citorredutora secundária está sendo avaliada em ensaios clínicos randomizados.

Nível de evidência C

8. Acompanhamento de tumores epiteliais malignos

Não há nenhuma evidência de que o monitoramento clínico intensivo durante o

seguimento após a conclusão da cirurgia primária e quimioterapia, para início precoce

de quimioterapia em mulheres assintomáticas com recidiva atual, melhora a sobrevida e

qualidade de vida geral.

Em mulheres assintomáticas com progressão CA125 e doenças de pequeno

volume ou nenhuma evidência radiológica de recidiva, é adequado atrasar o início da

quimioterapia. No entanto, pode haver um subgrupo de pacientes que sejam elegíveis

para cirurgia de citorredução secundária no momento da recorrência.

Os objetivos do seguimento incluem:

• A avaliação da resposta ao tratamento.

• O reconhecimento precoce e gestão imediata das complicações relacionadas ao

tratamento, incluindo a prestação de apoio psicológico.

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• A detecção precoce de sintomas ou sinais de doença recorrente.

• Recolhimento de dados sobre a eficácia de qualquer tratamento e sobre complicações

associadas com esses tratamentos em pacientes de ensaios clínicos.

• Promoção de comportamentos saudáveis, incluindo o rastreamento para o câncer de

mama em pacientes com doença em estágio precoce e rastreamento do câncer do colo

do útero em pacientes submetidas à cirurgia conservadora.

Não há diretrizes baseadas em evidências a respeito do cronograma de

acompanhamento apropriado. Durante o primeiro ano após o tratamento, pacientes são

vistos a cada três meses com um aumento gradual dos intervalos a cada quatro a seis

meses após dois anos e, em seguida, anualmente após o quinto ano. Em cada

seguimento, o paciente deve ter sua história retomada, incluindo qualquer mudança na

história familiar de câncer e atenção a quaisquer sintomas que possam sugerir

recorrência. Um exame físico e pélvico completo devem ser realizados. Esta é uma

oportunidade de referir pacientes adequadas para testes genéticos, se não foi feito no

momento do diagnóstico ou durante o tratamento.

O CA125 tem sido tradicionalmente avaliado em intervalos regulares, mas não

houve debate sobre o benefício clínico usando progressão CA125 sozinha como um

gatilho para iniciar a segunda linha de quimioterapia. Um grande estudo MRC OV05-

EORTC 55955 mostrou que tratamento de pacientes assintomáticas com câncer do

ovário recorrente com quimioterapia, com base na progressão CA125 isolada, não

melhorou sobrevida e tratamento precoce em pacientes assintomáticos. Teve um

impacto negativo na qualidade de vida [72]. Este estudo tem gerado considerável debate

sobre o uso de CA125 para acompanhamento, mas a maioria concorda que é razoável

não iniciar imediatamente o tratamento, a menos que haja uma clara indicação clínica

para tal. O momento de início do tratamento deve ser baseado em sintomas, bem como

achados clínicos e radiológicos. Os exames de imagem tais como ultrassonografia da

pelve, TC, RNM, PET-CT devem ser realizados somente quando os achados clínicos ou

os marcadores tumorais sugiram uma possível recorrência.

Parece não haver nenhuma vantagem de se iniciar a quimioterapia numa paciente

assintomática com doença recorrente com base apenas em níveis crescentes de CA125,

na ausência de sintomas clínicos ou radiológicos, ou evidência de recorrência. Em

pacientes assintomáticos com doença de pequeno volume e sem evidência radiológica

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de recidiva, observação próxima é uma opção razoável. A entrada em um estudo clínico

adequado ou o uso de tamoxifeno podem ser consideradas.

Uma revisão sistemática da Cochrane Database sobre o uso de tamoxifeno em

mulheres não-selecionadas, com câncer ovariano recorrente, detectou resposta objetiva

em 10% e taxa de estabilização da doença de 32% [73]. As pacientes tratadas foram

muito heterogêneas e incluíram assintomáticas com níveis ascendentes de CA125 e

sintomáticas resistentes à quimioterapia, com doenças que tinham sido fortemente pré-

tratadas e com performance status ruim. O estudo GOG 198 comparou tamoxifeno e

talidomida em mulheres com carcinomas epiteliais de ovário, tuba uterina ou peritônio

recorrentes, Estádios III ou IV da FIGO, que tinham completado quimioterapia de

primeira linha e, posteriormente apresentaram a elevação de CA 125 descrita pelo

Gynecologic Cancer InterGroup (gCig). O estudo relatou que as mulheres que

utilizaram talidomida tiveram um aumento de 31% do risco de progressão da doença

(Hazard ratio, 1,31), em comparação com aquelas que receberam tamoxifeno [74]. A

sobrevida média livre de progressão foi de 3,2 meses no grupo talidomida contra 4,5

meses no grupo do tamoxifeno. Isso sugere que o tamoxifeno pode ter um papel em

pacientes selecionadas com nível de CA125 crescente. A relação entre a positividade do

receptor de estrogênio e o benefício do tamoxifeno nesta população de pacientes está

sendo avaliada em estudos atuais.

9. Quimioterapia para neoplasias epiteliais recorrentes

A maioria das pacientes com neoplasias epiteliais avançadas de ovário, tuba

uterina e peritônio irão apresentar recorrência em uma média de intervalo até 16 meses.

As pacientes com câncer recorrente do ovário constituem um grupo heterogêneo, de

prognóstico variável e apresentam resposta variável ao tratamento adicional. O dado

clínico mais amplamente utilizado para predizer a resposta à quimioterapia e posterior

prognóstico é o intervalo livre de progressão ou o "intervalo livre de platina”, que é

definido como o tempo desde o término da quimioterapia primária baseada em platina

até a recidiva da doença ou progressão [75,76].

Esse tem sido particularmente útil para definir grupos específicos de pacientes,

mas que tem uma série de limitações e depende de como os pacientes são seguidas.

Particularmente, depende de como a recorrência é definida e detectada. Pacientes com

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intervalo livre de tratamento menor do que seis meses são classificadas como resistentes

e geralmente tratadas com quimioterapia não baseada em platina, enquanto que aquelas

com um intervalo sem tratamento maior do que seis meses são consideradas sensíveis à

platina e comumente tratadas com quimioterapia à base de platina. As pacientes que

apresentam progressão durante o tratamento ou no prazo de quatro semanas após

término da quimioterapia são classificadas como refratárias à platina [75,76].

Tem ocorrido modificações nestas definições e tempo para progressão ou

recorrência, em vez de intervalo livre de tratamento ou intervalo livre de platina, tem

sido utilizado para definir populações específicas de pacientes. Houve mudança

significativa na prática, ao longo dos últimos 20 anos, e pacientes têm sido

rotineiramente seguidas com dosagens de CA 125 regulares após a conclusão da

quimioterapia. Por exemplo, o subgrupo "resistente à platina" pode incluir pacientes

assintomáticas com a progressão isolada de CA125, três meses após a quimioterapia ou

evidência de recorrência radiológica, bem como aquelas que são sintomáticas com

recorrência clínica.

A quarta Conferência de Consenso sobre Câncer de Ovário chegou a um acordo

de que definição de populações de pacientes distintas devem basear-se no intervalo

desde a última quimioterapia baseada em platina e o tempo de progressão. O intervalo

livre de progressão é definido a partir da data da última dose de platina até a

documentação de doença progressiva [75,76]. Para as pacientes cuja doença é

considerada sensível à platina, o estudo ICON 4 mostrou vantagem em termos de

sobrevida global e sobrevida livre de progressão para uma combinação de carboplatina e

paclitaxel versus monoterapia com carboplatina [77]. Nível de evidência A

Para as pacientes com a neurotoxicidade, gencitabina [78] ou doxorrubicina

lipossomal [79] podem ser substituir paclitaxel. Nível de evidência A

Há evidências de que a adição de bevacizumabe ao regime de carboplatina e

gencitabina melhora a sobrevida livre de progressão, quando comparada com a

carboplatina e gencitabina em doença sensível à platina [80].

Para pacientes com doença definitivamente resistente à platina, inscrição em

ensaios clínicos disponíveis ou tratamento com quimioterapia não baseada em platina

deve ser considerada. Existem diversas opções de quimioterapia incluindo

doxorrubicina lipossomal [81], o topotecano [81], etoposídeo [82,83] e gencitabina

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[84,85]. As taxas de resposta relatados são baixas, cerca de 10%, com tempo médio até

a progressão de três a quatro meses e uma sobrevida média de 9-12 meses. Nos últimos

cinco anos, tem havido um certo número de ensaios realizados com os novos agentes

em pacientes com câncer de ovário resistentes à platina, incluindo epotilonas,

trabectedina [86] e permetrexed [87], sem qualquer aumento significativo nas taxas de

resposta ou sobrevida livre de progressão. Nenhum novo agente citotóxico foi aprovado

para tratar o câncer de ovário recorrente por muitos anos. O papel dos inibidores da

angiogênese no câncer de ovário resistente à platina será discutido abaixo.

A gestão otimizada de um paciente resistente à platina ou doença refratária é

complexa e requer uma avaliação cuidadosa da performance status, sintomas e extensão

da doença. Atenção para o controle dos sintomas e bons cuidados paliativos são

componentes essenciais da gestão.

Com muito poucas exceções, a doença recorrente não é curável, e o objetivo do

tratamento é manter a qualidade de vida e aliviar sintomas, particularmente em doentes

com câncer de ovário resistentes à platina [88]. Há muitas potenciais opções de

tratamento, incluindo quimioterapia, inibidores de angiogênese, radioterapia ou cirurgia

em pacientes selecionadas, além da inclusão em ensaios clínicos [71]. Existe um

subgrupo de pacientes que pode se beneficiar de debulking cirúrgico secundário, mas

ele constitue uma minoria. O papel do debulking cirúrgico secundário está sendo

avaliado em estudos clínicos randomizados. Nível de evidência C

Revisões sobre uso de terapias-alvo podem ser encontradas no capítulo de

quimioterapia incluído no FIGO Cancer Report 2015 (este suplemento) [89].

10. Manejo de tumores epiteliais de baixo potencial maligno (tumores borderline)

Comparado com cânceres epiteliais invasivos, tumores borderlines parecem afetar

uma população mais jovem e constituem 15% de todos os tumores epiteliais do ovário

[90]. Cerca de 75% destes são diagnosticados no estádio I.

As seguintes definições podem ser dadas sobre estes tumores [91]:

• O diagnóstico deve se basear na patologia do tumor primário.

• Análise detalhada do tumor é necessária para excluir sítios de invasão.

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• O prognóstico destes tumores é extremamente favorável, com sobrevida em dez anos

de cerca de 95%.

• Neoplasias invasoras que surgem em tumores borderline são muitas vezes indolentes

e

• geralmente têm uma baixa resposta à quimioterapia baseada em platina.

• Foi observada regressão espontânea de implantes peritoneais

• Fase inicial, histologia serosa e menor idade no momento do diagnóstico são fatores

associados à prognóstico mais favorável.

• Embora a doença residual após laparotomia primária esteja associada a pior

prognóstico, a mortalidade pela doença permanece baixa.

• As pacientes que têm implantes invasores em omento ou outros locais distantes são

mais propensas a recorrer mais cedo e, apesar de serem geralmente tratadas com

quimioterapia citotóxica, as taxas de resposta são baixas.

As causas de morte incluem complicações da doença (por exemplo, pequenas

obstruções intestinais) ou complicações da terapia e raramente transformação maligna.

A base do tratamento é estadiamento cirúrgico primário e citorredução. Pacientes com

doença estádio I que desejam preservar a fertilidade e cirurgia conservadora baseada em

salpingooforectomia unilateral podem ser consideradas após a inspeção intra-operatória

do ovário contralateral, para excluir seu envolvimento [92]. Pacientes com apenas um

ovário ou ovários císticos bilaterais, uma ooforectomia parcial ou cistectomia podem ser

consideradas para a preservação da fertilidade. Para todas as outras pacientes,

histerectomia total e salpingooforectomia bilateral são recomendadas, com citorredução

máxima, se a doença for metastática.

Pacientes com tumores borderlines em todos os estádios da doença devem ser

tratadas com cirurgia. Uma pequena porcentagem de pacientes com implantes invasores

podem se beneficiar da quimioterapia, mas a resposta é imprevisível e geralmente muito

inferior do que a observada em carcinomas serosos de alto grau. Raramente, alguns

pacientes apresentam recorrência precoce para câncer invasor de grau mais elevado e

podem se beneficiar de quimioterapia [93].

Em pacientes com recidiva tardia da doença, citorredução secundária deve ser

considerada, e quimioterapia administrada apenas se houver doença invasora

comprovada histologicamente.

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O seguimento das pacientes sem evidência de doença é o mesmo que para aquelas

com carcinomas epiteliais malignos, mas em intervalos menos frequentes. Caso o ovário

contralateral seja preservado, este deve ser seguido por ultrassonografia transvaginal

anual [1,91,94]. Nível de evidência C

11. Manejo de tumores de células da granulosa

Os tumores de células da granulosa representam cerca de 70% dos tumores do

estroma do cordão sexual e 3% a 5% de todas as neoplasias do ovário [2]. Existem dois

tipos de tumores de células da granulosa: tipo juvenil e adulto. Devido à alta produção

de estrogênio, o tipo juvenil normalmente se apresenta com precocidade de

características sexuais, enquanto o tipo adulto pode se apresentar com sangramento pós-

menopausa. A maioria das pacientes são diagnosticadas com tumores no estádio I. O

pico de incidência é na primeira década após a menopausa [2,95].

Os tumores de células da granulosa são geralmente indolentes (isto é, com

tendência a recorrência tardia). O estádio no momento do diagnóstico é o fator

prognóstico mais importante. Outros fatores prognósticos incluem a idade no momento

do diagnóstico, tamanho do tumor e características histológicas. Se for metastático, a

citorredução adequada é o pilar do tratamento. Se a paciente for jovem e a doença

estiver confinada a um ovário, cirurgia conservadora deve ser executada [96,97].

A raridade da doença e seu curso prolongado têm resultado em falta de estudos

prospectivos. Não há evidência de que a quimioterapia adjuvante ou radioterapia

melhorem os resultados da cirurgia isolada para a doença estádio I. O valor da

quimioterapia adjuvante pós-operatória, doença estádio I de maior risco (tamanho do

tumor >10cm, ruptura de cápsula, alta contagem de mitoses), é incerto e não foi testado

em ensaios clínicos randomizados. Quimioterapia à base de platina é empregada para

pacientes com doença avançada ou recorrente, com uma taxa de resposta global de 63%

a 80% [97-99].

O seguimento é clínico. Para doentes com níveis elevados de inibina B e/ou HAM

no momento do diagnóstico de tumores de células da granulosa, a inibina B e/ou HAM

parecem ser marcadores confiáveis durante o acompanhamento para a detecção precoce

de doença residual ou recorrente. Não há preferência baseada em evidências por inibina

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B ou HAM como um marcador tumoral [100]. Inibina sérica é um marcador tumoral

confiável em mulheres na pós-menopausa. Nível de evidência C

12. Manejo de neoplasias malignas de células germinativas

Este grupo de tumores ovarianos consiste de uma variedade de subtipos

histológicos diferentes, derivados a partir de células germinais primitivas das gônadas

embrionárias. Os tumores malignos de células germinativas representam uma parte

relativamente pequena de todos os tumores ovarianos. Antes dos avanços na

quimioterapia, o prognóstico desses tumores agressivos era pobre. O uso de regimes de

quimioterapia baseados em platina transformou as neoplasias de células germinativas

em um dos cânceres mais curáveis [95].

12.1. Apresentação

A maior incidência de tumores malignos de células germinativas ocorre na

segunda e terceira décadas de vida. Eles são frequentemente diagnosticados pelo achado

de uma massa abdominal palpável em mulher jovem que se queixa de dor abdominal.

Os sintomas dos tumores de células germinativas em ordem de frequência, estão

listados a seguir [95]:

• Dor abdominal aguda

• Dor abdominal crônica

• Massa abdominal assintomática

• Sangramento vaginal anormal

• Distensão abdominal

12.2. A classificação histológica

A classificação dos tumores de células germinativas do ovário é importante para

determinar o prognóstico e o tratamento com quimioterapia.

Os tumores de células germinativas são classificados da seguinte forma [2,95]:

• Disgerminoma

• Carcinoma embrionário

• Poliembrioma

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• Teratoma (imaturos; maduro; maduro com carcinoma [escamoso, carcinoide,

neuroectodérmico, estroma maligno, etc).

• Diferenciação extraembrional (coriocarcinoma, tumor do seio endodérmico

[tumor do saco vitelínico]).

12.3. Diagnóstico, estadiamento e tratamento cirúrgico

Os tumores de células germinativas do ovário são estadiados de forma semelhante

aos tumores epiteliais, apesar de o sistema de estadiamento usado para os tumores de

células germinativas masculinas ser provavelmente mais adequado. A abordagem

terapêutica se baseia nos princípios de gestão dos tumores de células germinativas

metastáticos dos testículos (ou seja, risco baixo, intermediário e pobre). O

disgerminoma é o equivalente ao seminoma no câncer testicular [101]. É altamente

sensível à quimioterapia baseada em platina e é radiossensível.

A taxa de cura é alta, independentemente do Estádio. Os outros subtipos

histológicos são equivalentes ao câncer testicular não-seminal. A agressividade da

doença é dependente do tipo histológico, sendo os mais agressivos o seio endodérmico e

o coriocarcinoma, mas com a combinação de quimioterapia são altamente curáveis

[102-106].

Como a quimioterapia pode curar a maioria das pacientes, mesmo com doença

avançada, a cirurgia conservadora é padrão para todas as fases de todos os tumores de

células germinativas. A cirurgia conservadora significa laparotomia com cuidadoso

exame e biópsia de todas as áreas suspeitas, com citorredução limitada, evitando assim

grande morbidade. O útero e ovário contralateral devem ser deixados intactos. Biópsia

da cunha de ovário normal não é recomendado, uma vez que afeta o propósito da terapia

conservadora por potencialmente causar infertilidade. As pacientes submetidas à

cirurgia conservadora com a preservação de um ovário mantêm taxas de fertilidade

aceitáveis, a despeito do tratamento adjuvante com quimioterapia. Não houve relatos de

comprometimento de resultados obstétrico ou sequelas desfavoráveis à prole [107-110].

A cirurgia secundária não tem benefício comprovado, exceto naqueles pacientes

cujo tumor não foi completamente ressecado na operação inicial e que tinham elementos

teratomatosos em seu tumor primário. A ressecção cirúrgica de massas residuais pode

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ser benéfica em tais pacientes, pois nódulos teratomatosos maduros podem continuar a

aumentar de tamanho [111].

12.4. Tratamento pós-operatório e acompanhamento de disgerminoma

Pacientes com doença estádio IA podem ser observadas após a cirurgia. Uma

pequena proporção de pacientes pode apresentar recidiva, mas elas podem ser tratadas

com sucesso no momento da recorrência com elevada taxa de cura. Pacientes com

doença além do ovário devem receber quimioterapia adjuvante. Apesar de radioterapia

ser eficaz, a insuficiência ovariana a torna indesejável para pacientes com um ovário

intacto. Os efeitos adversos em longo prazo são maiores do que com quimioterapia e,

atualmente, a radioterapia é pouco utilizada.

Um esquema de vigilância de acompanhamento para pacientes com disgerminoma

estádio IA é delineado na Tabela 4. Este esquema baseia-se na experiência de manejo

dos seminomas em homens publicados por Pattersonet ai. [112] e Dark et al. [113]. Este

é um calendário de acompanhamento pragmático e não foi testado em ensaios clínicos

randomizados (Tabela 4).

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Tabela 4. Regime de seguimento para tumores de células germinativas Estádio I

Esquema Descrição

Vigilância TC tórax, abdome e pelve de base, caso não realizada no pré-

operatório

Repetir TC ou RNM de abdome e pelve três meses após a cirurgia

Repetir TC ou RNM de abdome e pelve aos 12 meses

Ultrassonografia pélvica em visitas alternadas (quando não

realizar TC) por dois anos, se não-disgerminoma, e por três anos,

se disgerminoma.

Raios X de tórax em consultas alternadas

Exame clínico

1 ano Mensal

2 ano A cada 2 meses

3 ano A cada 3 meses

4 ano A cada 4 meses

5 -10 ano A cada 6 meses

Marcadores

tumorais

Amostras: AFP, hCG, LDH, CA 125 (independentemente do valor

inicial)

0-6 meses A cada 2 semanas

7-12 meses A cada 4 semanas

12-24 meses A cada 8 semanas

24-36 meses A cada 12 semanas

36-48 eses A cada 16 semanas

>48 meses A cada 6 meses até o 10 ano

Abreviações: AFP= Alfa-fetoproteína; hCG= Gonadotrofina coriônica humana;

LDH= desidrogenase láctica. a Adaptado de Patterson et al. [112].

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12.4.1. Quimioterapia para disgerminoma

O disgerminoma é extremamente sensível à quimioterapia e o tratamento cura a

maioria dos pacientes, mesmo com doença avançada [95,114]. O regime de

quimioterapia é recomendado do seguinte modo:

• Etoposide (E) 100mg /m2 IV por dia durante cinco dias cada três semanas

durante três ciclos.

• Cisplatina (P) de 20mg/m2 IV por dia durante cinco dias cada três semanas

durante três ciclos.

• Bleomicina (B) 30. 000 UI IV/IM nos dias 1/8/15 por 12 semanas (Opcional)

Nota: bleomicina é doseada em Unidades Internacionais se a bleomicina for

omitida, em seguida, quatro ciclos de EP são comumente usados. Note-se que

esquermas de bleomicina têm sido utilizados.

Quando há doença residual volumosa é comum dar três a quatro cursos de

quimioterapia BEP [114]. Nível de evidência B

O calendário de seguimento ideal não foi clinicamente investigado nas neoplasias

germinativas do ovário, e a frequência das consultas e exames é controversa. Pacientes

com tumores estádio I a quem é oferecido seguimento devem ser vistos regularmente, e

uma opção é utilizar o acompanhamento do regime apresentado acima [113].

As pacientes que receberam quimioterapia têm um menor risco de recorrência e a

frequência dos exames de tomografia pode ser reduzida, semelhante à abordagem para

tumores testiculares de células germinativas [112]. Em cada visita de acompanhamento,

deve ser avaliada história clínica, exame físico e marcadores tumorais. Apesar de

marcadores tumorais serem importantes, a imagem radiológica também é pertinente,

particularmente para pacientes cujos marcadores não eram elevados no momento do

diagnóstico. TC ou ressonância magnética deve se realizada conforme clinicamente

indicadas [113].

As pacientes que não receberam quimioterapia devem ser seguidas de perto.

Noventa por cento das recorrências nestas pacientes ocorrem nos primeiros dois anos.

Na recidiva, salvo raras exceções, as pacientes podem ser tratadas com sucesso [113].

Nível de evidência D

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12.5. Tratamento pós-operatório e acompanhamento de tumores de células germinativas

não-disgerminomas

Estes tumores são altamente curáveis com quimioterapia, mesmo nas doenças

avançadas. Pacientes com teratoma imaturo estádios IA grau 1-2 têm prognóstico muito

bom e só devem ser observadas após cirurgia primária conservadora. É controverso se a

quimioterapia adjuvante acrescenta qualquer benefício de sobrevida neste subgrupo de

pacientes. Todos os outros pacientes com não-disgerminomas, estádios mais avançados

e teratomas imaturos de alto grau devem receber quimioterapia adjuvante pós-operatória

[95].

O regime de quimioterapia recomendada é de etoposídeo de 100mg/m2 por dia

durante cinco dias com cisplatina 20mg/m2

por dia, durante cinco dias, e bleomicina a

30.000 UI IM/IV nos dias 1, 8, e 15 de um total de 12 semanas de tratamento. Para

pacientes com doença de bom prognóstico, três ciclos de BEP são recomendados,

enquanto os pacientes com doença de risco intermediário/pobre devem receber quatro

ciclos de BEP [95].

As pacientes que tiveram uma recaída após BEP ainda podem atingir remissão

duradoura com regimes de quimioterapia secundários, tais como paclitaxel-ifosfamida-

cisplatina (TIP) [104]. Altas doses de quimioterapia e resgate autólogo da medula

podem ser considerados em pacientes selecionadas. Estas pacientes devem ser geridas

em unidades especializadas. Após a quimioterapia, pacientes com teratomas imaturos

metastáticos podem, por vezes, ter massas residuais que são compostas inteiramente de

elementos maduros. Estas massas podem crescer e devem ser ressecadas após a

conclusão da quimioterapia. Nível de evidência B

Todas as pacientes devem ter lactato-desidrogenase (LDH), alfa-fetoproteína

(AFP) e de gonadotrofina humana (beta hCG) realizados para monitorizar a resposta ao

tratamento. Todas as pacientes tratadas com quimioterapia devem ser acompanhadas de

perto com a história clínica, exame físico e marcadores tumorais apropriados, da mesma

maneira que os disgerminomas. TC ou ressonância magnética deve ser realizada

conforme por indicação clinica [93]. As recidivas geralmente ocorrem nos primeiros

dois anos após o diagnóstico [9,104]. Nível de evidência D

13. Sarcoma do ovário

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Os sarcomas ovarianos são raros e acontecem principalmente em pacientes na

pós-menopausa [95,115]. No entanto, o diagnóstico preciso e diferenciação de outros

tipos de cânceres primários de ovário são importantes, já que o prognóstico é

geralmente pobre.

Há dois tipos de sarcoma: tumores malignos mistos de Müller (MMMTs), o mais

comum, são compostos de ambos os elementos cancerosos e sarcomatosos [115,116]. A

maioria dos autores concordam que grande parte de MMMTs é de origem monoclonal e

deve ser pensado e gerido como um câncer epitelial de alto grau. O componente

sarcomatoso é derivado a partir do carcinoma de células estaminais que sofre uma

diferenciação. Assim, os carcinossarcomas ovarianos são melhor considerados como

carcinomas metaplásicos.

Sarcomas puros são muito raros e devem ser tratados de acordo com o subtipo

histológico específico. Estes incluem fibrossarcomas, leiomiossarcomas,

neurofibrossarcomas, rabdomiossarcoma, condrossarcomas, angiossarcoma e

lipossarcoma. Seu manejo não é discutido nesse artigo.

Pacientes com MMMTs fase inicial parecem ter um resultado melhor do que

aquelas com doença avançada, mas o prognóstico é pobre. Elas devem ser manejadas de

forma semelhante ao carcinoma seroso pélvico de alto grau. Sua raridade proíbe

quaisquer estudos randomizados prospectivos.

Os princípios de gestão cirúrgica da MMMTS ovarianos são os mesmo que o dos

carcinomas serosos pélvicos de alto grau [95]. Após a cirurgia, as pacientes devem

receber quimioterapia à base de platina [95,113,114]. O calendário de acompanhamento

é o mesmo recomendado para doenças malignas epiteliais. Nível de evidência C

Conflito de interesses

Os autores não têm conflitos de interesses a declarar.

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