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[As memórias são chaves. Das nossas vidas, enquanto sonhos do tempo]
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Clepsidra Lisboa
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Morreu. O relógio caiu, fatal. Cravou o olhar no relógio e fantasiou o que
aconteceria se a pedra rachasse, e o relógio caísse. Estavam poucas pessoas na rua, era um
domingo sem sol. Cinzento e seco, como um cinzeiro embaciado, mal lavado, o tempo
resfriava-lhe a garganta. Sobre os ombros caía-lhe o sobretudo, como um manto de
resguardo pré-histórico, animalesco – quente. Estava a chocar doença e a combatê-la com
antibióticos. O sabor dos comprimidos ainda lhe amargava a boca. Descia a Rua Augusta a
passo, tranquilo e sóbrio. Procurava um [relógio]. O seu [ ] tinha parado.
Disse bom-dia ao recepcionista. Saiu do elevador e <- Fechou a porta de casa.
Baixou o visor do computador, suspendendo a sessão. Telemóvel ao bolso. No mapa, viu
direcções breves para se orientar na baixa lisboeta até ao Terreiro do Paço. Precisava de
comprar algo que medisse o tempo e queria deambular. Suspirou e poisou o telemóvel.
Persuadiu, então, Inês a encontrá-lo durante a tarde. O jantar de ontem à noite, na casa de
um amigo de Inês, com amigos da Inês, tinha sido estranho, gerando dúvida. Meia dúzia de
conversas entrecortadas em que não compreendemos as remissões coloquiais podem nos
deixar muito confusos, “mas ela nunca me trairia”. “Inês nunca me trairia”, acordou.
Levantou-se para ir à casa de banho. Não conseguia dormir. O sorrisinho de Vasco
ainda lhe perturbava a imaginação. Meditou que amanhã o mundo lhe apresentasse uma
solução. Não tinha telefonado à sua mãe, nem ao seu pai, nem ao seu avô – e lembrou-se
disso, puxando os lençóis da cama para trás. Vestiu o pijama confortável. No quarto, atrás
da televisão, guardou os auscultadores de ouvir música com qualidade. Na cozinha, na pia,
colocou a faca com que tinha barrado o pão de manteiga. Na casa de banho, levantou a
tampa da sanita. Tinha fumado demasiado. Tinha os olhos vermelhos. E cabelo preto, que
brilhava ao sol. O reflexo estava no espelho, na casa de banho sem janelas e porta sem
chave. Sentia-se desorientado. Largou o sobretudo em cima da cama e tirou do bolso de
trás das calças de bombazine castanho-claro a carteira, colocando-a em cima do casacão.
Ligou o computador, precisava de ouvir música. Rodou a fechadura três vezes com três
empurrões na maçaneta, a cada volta completa. [Mas antes], nos seus sonhos, entrou no
elevador a mulher atraente, 30 e poucos anos, cabelo loiro aos caracóis, perfumada de
Primavera, provocadora; e Cronos olhou para o chão, sentindo galanteio alheio. A mão
helénica, colocada por entre a nesga da porta do elevador, que fechava, foi reconhecida
pelo sensor: e, dessa forma, a porta só fechou para o ascensor subir quando a mulher loira
era agora acompanhante de viagem. A mulher que estava sentada no átrio da pensão
levantou-se. E partiu rumo ao elevador. Pediu outra chave a António. Disse boa-noite ao
recepcionista e <- Estava uma senhora de cabelo encaracolado sentada no sofá do átrio da
pensão, muito atraente. Olhou em direcção da recepção da residencial. Remexeu no bolso
do casacão castanho e não encontrou a chave de “casa”. Quando saracoteou suas botas de
couro ao virar a esquina p’ra entrar na Travessa da Glória viu a tabuleta ‘Residencial Roma
– quartos e apartamentos’ e sentiu-se aprico pelos candeeiros da pensão. Afinal de contas,
quem é o grego que no seu racional juízo de contemporâneo decide vir para Lisboa?
– Não eras nada do que eu esperava Vasco. - Disse a boca de damascena condessa
de Inês: e de coragem, rasgando o sorriso de dentes, divagou - … Basta pensares que hoje
Clepsidra Lisboa
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em dia o mundo aparenta andar desalinhado, desligado. E isso inquieta os espíritos, como
seria de esperar. O que é irónico numa geração que finge não saber sobreviver off, ainda
que tal ideia se afigure ultrapassada. Buscar paixão é uma aventura esquecida, e quando
reconhecida, desvalorizada. Nestes dias que vivemos, a orientação mais parece um
conceito pueril, obsoleto; quando na verdade, tal como Aníbal, só queremos chegar até
Roma. E, se possível, com a companhia de alguns dos elefantes com que iniciámos a
jornada. – Foi desta forma que Inês inspirou fundo, rodopiou os olhos por Cronos e Vasco,
e encolheu os ombros, rematando a cavaqueira.
Adivinhava-se uma conclusão, de alguém, e Inês estava compenetrada a admirar a
arquitectura simples de uma pequena réplica de madeira do teatro Le Palace de
Montmartre, Paris; que Vasco trouxera da capital francesa, aquando da sua viagem-
romance com Marta à cintilante cidade cúpida.
– Não creio que no emigrar esteja o ganho. - Disse Vasco, do alto do seu nariz - Isto,
para mim, é claro como água. Percebes Cronos? Percebes o que estou a dizer? – para
Cronos, esboçando um sorrisinho mordaz.
– Mas Vasco, repara, eu gosto do que estou a fazer (= deixar morrer) na Faculdade
de Letras. Não procurava coisa difícil, e Portugal é o local ideal para escrever algo inútil. –
Disse pausadamente Cronos, em tom sério, no seu português fluente de quem estudou a
língua mas rijo de quem não é nativo; afrontando, de forma cívica, Vasco.
– Só estou a dizer que: se o meu país estivesse em tão maus lençóis como está a
Grécia, eu, se fosse grego, não emigrava. Não quereria deixar a minha família e amigos
num momento tão complicado. Até porque já rubesço a idade, é hora de assentar, e andar em
busca de uma paixão efémera numa cidade a que não pertenço já não é coisa para mim…
Não concordas Inês? – Arriscou Vasco, dissimuladamente educado, piscando-lhe o olho.
Martim, arquitecto, de sucesso, com a vida orientada; Manuel, engenheiro civil de
origens alentejanas, a iniciar funções num segundo emprego, de novo na Margem Sul; e
Sara, a tenaz, que terminava os seus estudos em Farmácia; foram para a sala, que o ar na
cozinha já pesava, provavelmente de tantos cigarros fumados e apagados. Martim, esse,
serviu-se também de mais um copo de vinho. Manuel petiscou uma azeitona em banho de
azeite com orégãos e encheu mais um copo de vinho tinto. Sara sorriu, prazerosa. [[E]la]
sabia que Manuel não era de carácter leviano. [Porém], nem sempre temos paciência para
conversas arriscadas, pesadas, nas quais se discutem os futuros das nações e das
populações: conversas de fundo sobre o avanço da tecnologia e o estado da sociedade,
intercaladas com episódios casuais do quotidiano e narrações memoráveis da infância e
adolescência. Manuel Jacinto, da roupa, sacudiu as cinzas dos cigarros que tinha fumado.
– Opá, isto o tuga gosta é de falar de comida. Morfilanço. Morfar e comilanço.
Lambuza. Iguaria. Caramba, que não há converseta mais essencial na dieta social do tuga –
seja com amigos, desconhecidos, ou ignorantes – que falar de comer. Que, por falar nisso,
caraças, oh Vasco, que bom estava o bacalhau! – Sacudiu Manuel, aliviando a sua ânsia por
sair dali, reexaminando a taça das azeitonas, onde ainda sobrava uma pobre envergonhada
que também tinha direito a ser amada.
Clepsidra Lisboa
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Entretanto: falou-se de cenas. Bastantes. Coisas. Sem travão. Comeu-se, bebeu-se, e
conviveu-se.
– Pronto, já não se vai calar com isto – suspirou Sara, a tenaz de cabelo escarlate.
– Ah yah yah, ‘tão na sei man, ‘tá muita bacano o fight do Kratos com o Cronos no
terceiro God of War. É só sangue bacano. ‘Tá mem’potente meu… – gesticulou com
entusiasmo Martim, estalando o indicador no dedo médio.
– É de família, como vocês dizem. Meu avô era professor de Mitologia Grega na
universidade Aristóteles. E era tão apaixonado por aquilo que passava se-rãos…? Sérões?
Noites muito longas, sem fim. Serões? Serões, sim. Era tão apaixonado por Mitologia Grega
que passava serões a contar lendas aos filhos, dos grandes episódios do passado. Meu pai e
seus três irmãos fizeram um pacto com meu avô. Quando crescessem e tivessem geração, o
primeiro rebento, filho ou filha, seria chamado com nome de personagem clássica. Meu
primo mais velho chama-se Hércules. Minhas primas primogénitas chamam-se Atena e
Medusa. E eu sou Cronos, o preferido de meu pai. Titã do tempo.
– Que nome é esse homem? – Perguntou o narigudo, despreocupado. Amigos de
Vasco e Inês, que estavam lá em casa, apareceram galhofando atrás do anfitrião e ficaram à
escuta, que Cronos era nome que suscitava interesse e merecia esclarecimento.
– Olá. – Replicou o grego.
– Então este é que é o Cronos. – Disse Vasco, enquanto lhe apertou a mão e olhou
nos olhos.
– Desculpa: o Cronos perdeu o relógio, metemos conversa, e pronto, perdemos
noção ao tempo. – Soltou Inês, enquanto afastava Vasco, esmorecida.
– Isto lá são horas, Inês. – Segredou-lhe ao ouvido, abraçando-a.
Vasco, encostado à ombreira da porta, sorriu quando os viu aparecer no patamar. A
porta da casa de Vasco abriu-se antes do casal sair do elevador. [ ] Esperaram eternidades
pelo elevador da pensão, relíquia lenta da antiguidade. Terminou a sua sessão no
computador. Não se esquecendo de guardar o documento. “Se o tempo andar para trás,
não me chamo Afrodite”. O heleno apontou para o ecrã e verbalizou para Inês, fitando os
seus pretos olhos amendoados de damascena: olha para o ecrã, minha última frase. Inês
retocara a maquilhagem na casa de banho e regressou ao quarto, onde aprontou a mala de
pêlo sintéctico preto que estava em cima da cama, assinalando a Cronos, para o canto do
seu olho, que estava pronta para sair. […] Vamos, sim? … Pode ser? … Está bem? … Vê bem
que só pelo que eu lhes contei eles já gostam de ti, e são meus amigos, e querem conhecer-
te… Vá, anda lá… Eu depois pago-te a outra metade, está bem caracolinho lento?…
Satisfeito…? … [Enrolaram [novamente] os corpos em paixão, debaixo dos lençóis …]
(Deitada por cima de Cronos, desceu o seu pé destro de damascena pele veluda pelo
torneado gémeo esquerdo do homem, beijando-lhe a cova direita das costas, abraçando-se
ao macho quadril) … Vem… Vá lá… Por favor… Vens? … Sim? ... Pouco esperto o ratinho…
Ah, pooois…, agora já queres ir né crominho… És tão rato… Pago-te agora uma parte e
depois pago-te a outra, está bem crominho…? … Estás-me a ouvir caracolinho?, é preciso
subornar? … Subornar, sim, é preciso subornar? … É preciso subornar caracolinho? … O
Clepsidra Lisboa
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que é que eu tenho de fazer para que tu venhas comigo…? Eu quero que tu venhas
comigo… Oh caracolinho… Anda lá caracolinho… Anda lá à casa dele crominho… És tão
crominho… Estás-me a ouvir Croninho caracol…? … Oh Croninho…
Ai que vir para Lisboa tinha sido a melhor decisão que ele já tinha tomado na vida.
A damascena era mulher de boa cozinha e valhacouto. Coxas maravilhosas. Aquela
franguinha – adorava cada vez mais a mania dos portugueses em diminuir os substantivos
a graçolas –, aquela franguinha assada da churrasqueira do senhor Santos, pincelada de
um salgado picante laranja, era uma delícia. Adeus senhor Santos, disse Cronos no seu
português estrangeirado.
Subiu as velhas escadas que passam ao lado do bar da associação de estudantes,
saindo do recinto da Faculdade de Letras pelos degraus onde se sentam os novatos artistas
liberais da geração: gastando da sua juventude. Mirou, com interrogações, os olhos dos
moços e moças que bebericavam café e fumavam cigarros enrolados e conversavam entre
si de professores, vídeos da internet, festivais de verão, e serões onde tinham crescido
(rido & chorado) bastante. Rodou meia-volta à árvore grande que alcançava as costas dos
andares superiores do edifício central da faculdade – e coçava, com seus ramos
conquistadores e afoitas folhas, a cal que pintava o cimento que segurava o túnel de acesso
do edifício central para os auditórios III e IV. Contemplou as pedras dentadas pelo tempo
da calçada do pátio defronte à biblioteca – construída minecraftiamente por blocos
quadrados de betão de castanho leve areia: admiráveis pedreiros, os portugueses. Trocou
umas palavras com a professora-orientadora Sofia Claustro no átrio da biblioteca, sobre os
avanços que estavam a executar progresso no seu projecto e de como a presença de
Afrodite no seu conto era uma subtil manobra de diversão camuflada de solução de
engenho – um avanço convexo à arte de saber fazer avançar o tempo numa narrativa.
* * *
E pensava, pensava, pensava: q ouvir música é uma experiência transcendente que
a humanidade agradece. Graças à biologia dos corpos, à latitude e longitude do sistema
nervoso, e à ponte esquerda-direita-direita-esquerda direita-esquerda-esquerda-direita
que no cérebro pulula a sapiência. Cronos alcançava cada vez mais na sua mente, ou, pelo
menos, sentia-se vivo e lúcido como sempre sonhara. Os verbos são tão importantes que,
[sem eles], nenhuma abstracção entrelaça sentido. Que significa que “ser” é a acção que
fundamenta a constituição das moléculas, porque são: existem - isto claro, se quisermos
esquecer a ironia intelectual efeito-espelho [Tu és aquilo que não és]. Existir é significar.
As pessoas. Dinâmicas de tradução. Versões originais do Universo; ocasionais.
Em Lisboa, do alto da Graça, por onde existências-criatura começam a caminhar
ruas abaixo, em busca de beber para. Embriagar o sangue e enevoar o discernimento, o
dever popular junino lisboeta.
– Eu pertenço a ti no meu sono. – Disse Cronos à de pele damascena e decote
tentador.
Inês, vestida de branco, fresca de linho, que [ainda] não compreendia tão culto
sofrer em existir, mas que à paixão se entregava de cada hera imaginária que pelas pernas
Clepsidra Lisboa
7
dela, dele, trepavam; tremeu, e a seda rugosa, rosa, humedeceu. E quando encontramos
alguém que nos solta do eixo do tempo: que de titã dimensão faz formigar a nossa pele:
que fazer?
Amar, neste país, é verbo cada vez mais brando. Estar enamorada em 2013 não
tem brilho, não tem estilo – é automatismo sucateiro de aprovação social: lixo, em ciclos de
reciclagem Escreveu. Inês corporizava a emoção através da tinta; mas podia,
meramente, ter sido filha da preguiça e determinar, por exercício de semelhança, que os
homens são todos iguais e não passam de patifes mandriões, vulgos “cabrões” – cínicos.
* * *
Ir explicar o que acontecer em Setúbal com voz firme. O ano é 1955. Há giz VERDe
a ser esmigalhado: nos bolsos das calças do professor: pelas mãos do professor–força nos
seus dedos amarelos, de milhares de milhões de cigarros fumados. Cinzeiro-sh mal lavado-
sh, com beatas pela terceira lei de Newton onduladas <> compriCOMPRImiDAS. Na praça
do BocageH.áDois cães, o andaluz e o sadino. Chasing pombos. Golfinhos: roazes, a saltarem
um arco aquá ico sobre a península de Tróia. “Afinal de contas porque crescemos?”. Disse t
o professor, que mastigava pastilha VERDe e escrevia a ardósia de branco com Hã?
– Nuneco, que antebraço é esse levantado no ar? - Esvoaçante
desligou, Desligar | agora, que caminhamos por entre robôs de gerações novas, |
Como assim - onde vai seu patife? | criados por ancestrais que [n]os codificaram; |
Não há mais a informar. | para ser possível programar em nós |
Professor - que coisa horrível. | todas as variantes alfabéticas. |
Desconheço a dinâmica social de adjectivos. | imaginárias |
Mas - isso é terrível senhor Professor. | & disso encetar simulações da realidade. |
Estão todos inscritos. Estão todos inscritos para as retumbâncias imemoriais.
Que conspiração é essa - responda imediatamente! | – Levas aqui um avio de cortisol |
Inscrevi-os todos ao máximo, de P. | que não é brincadeira nem para um grego. |
& UP Que conspiração é essa? & DOWN
Se o [futuro] te enviar para o [passado] vives um presente ancorado no [tempo]: simulado. IS IT?
Encontrei nos teus bolsos a fantástica razão da algibeira. Posso beijar-te? Estar
contigo [Sofia]: é: para mim [Cronos], sonhar acordado. Oxalá minha barba preta
abrilhante tua ruiva púbis. | o objectivo é funcionar [também] de baixo para cima, quando
s’j st’f c | percebVves?
*@* * * Que significam sonhos interseccionados com dimensões paralelas da
realidade? [Dimensionou Ananke num espectro.] Acordou suado. * * @*
centrifugadora Manuel Na caiu. Centrifu lo aqui cia pare + 1a. Espécie de remoinho,
ou remoinho de espécie, não se percebe, mas pa-parece, centrifugadora é, isto é,
mecanismo entranha. Verborreia clínica, de víscera linguística, de um demente cerebral.
Um homem é afiambrado eternamente na flora primaveril do sugador e centrifugador
túnel sem fim de Alice Cândida. Elvense; Manel de pronúncia, Manuel de escrita. * * *
Clepsidra Lisboa
VIII
Deitou-se. Ainda se lembrava tintim por tintim – expressão divertida – do diálogo
brejeiro sobre “bifas” que há pouco partilhara com senhor Santos, dono de uma
churrasqueira perto da Praça da Figueira.
Nascido na Tessalónica. Cronos era grego. \/\ & o leitor foi interpelado com: o que
deve vir primeiro à luz da estrutura consagrada, a localidade ou a nacionalidade? Sócrates
afirmou que não é ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo; e até se deram ao
trabalho de pintalgar azulejos na Cidade Universitária de Lisboa para imortalizar a tirada.
Ora, não implode isto qualquer questão? (Este último ponto de interrogação é riertónrico
mas verdadeiro, real no mundo inteiro, valores num poleiro enquanto não falta dinheiro – Da
Weasel, A Força Negra, 1999) /\+/
Uma breve cena breve da odisseia filantropeia, primeira aventura de governo
tessalonicense da Grécia Moderna XX:
Eu, Filantropeu, prometo, por Hefesto, baixar os impostos. –
Cuspiu, do palanque.
Agora, por Dioniso, promete Filantropeu TODOS os impostos baixar.
– Berrou, do púlpito. & Nisto, em desfiladeiros de galhofadas e cascatas de gargalhadas, ia
o bruaá do povo, a transbordar soberba, ecoando a voz do filho de Zeus e Europa, rei de
Creta.
Gaia: é hoje. É hoje, deusa carne. Hoje fazemos o nosso filho. – Sussurrou
Konstantinos Kosmopoulos na orelha de Gaia, mordiscando-lhe o lóbulo, ousando subir as
mãos por baixo do vestido de cassa, às coxas, enrodilhando os dedos no tecido, puxando-o.
Assim nasceu o avô de Cronos: crescendo uma adolescência de fortalecida
solicitude com a terra. Entre as árvores e frutos escolhidos pelos míticos heróis homéricos.
Esgazeado pelo cosmos, hipnotizado pelo Egeu,
+ + +
+ + +
… o alarme.
+ + +
Sempre o alarme. Acordar… Tenho que acordar; tenho que sair daqui.
- Inês, Inês, o tempo está a andar para a frente outra vez, Inês. - Disse… Quem?
Vasco?
Terá sido Vasco?
Pode muito bem ter sido Vasco.
Outra criatura? Quem sabe?
Cronos?
E se Cronos e os seus sonhos não passam de escárnio
Bipolar de uma mente febril, fragmentária, solipsa? Existe essa possibilidade.
Clepsidra Lisboa
IX
| Tinha que tomar os comprimidos. Não aguentava. Sofria demasiado. Meus pulmões eram
sepultura escavada pelo coração. Faltava ar. Coff, coff. Tossiu. Alcançando os comprimidos
por cima da tábua velha apoiada nos extremados dois blocos de tijolos à forma de cubo.
Jogou-os à boca. Engoliu água. Tinha sede. Afinal só tinha sede. Levantar-me. É isso. |
– Estava doente Doutor. Só isso. – Disse Bernardo ao cinquentão Hartman.
O doutor, psiquiatra Emil Hartman, tabuleta ao peito, deu duas respiradelas de ar.
Respingou do nariz. Estava doente. Cavalheiro Soares, caracterize a sua doença – pensou.
– Hm, hm… – nasalou.
– Não suportava mais... Só queria fugir daquele [infindável] nevoeiro poeirento. E
como não podia, porque não conseguia, nem sabia, passava mais tempo a dormir que
acordado. Precisava de sonhar. E sonhava,… com a máquina do tempo. Já não percebia o
que estava a escrever percebe? E um escritor tem de perceber aquilo que escreve, não é
Doutor? Sentia-me perdido. Queria abandonar tudo. Quis ficar doente. E sem perceber
como, fiquei. E já não conseguia mais viajar no tempo. E agora, sempre que acordo, estou
aqui: já não sonho, já não sei pensar e já não sei em que medida existo – se é que existo.
Formidável. Ainda se recordava da helénica viagem à neve andorrenha. A memória
de Cronos gelava quando a sua garganta arranhava frio assim. O sabor do cigarro estava
apurado. Afinal onde é aquilo?! Minha casa caneco! Parecia que estava sempre perdido.
Cronos caminhava pela Avenida da Liberdade, iluminado pela noite. A Avenida da
Liberdade, iluminada pela humanidade, era caminhada por Saturno.
Há sempre esperança quando caminhamos em Lisboa. Portugal é Lisboa e o resto é
paisagem. Defendem uns, de mãos calejadas pela vida. Agarrados aos livros, outros atacam
que Lisboa é capital de desprezíveis navegadores. Certo é que quando caminhamos
sozinh@s por Lisboa há sempre esperança: não é? 32
– Mas você sabe que existe uma regra proporcional à estupidez, não sabe senhor
Martim? – Perguntou o senhor agente.
– Pá yah, um ga’ sabe né, mas fôg’k, ta’mém, só bebi uma teca man, qual é! –
Ripostou Martim, nervoso, com uma mão no volante e outra no cabelo, o coçando.
– Acalme-se senhor Martim. Que resposta é essa?
– Sim, senhor polícia. Eu sei que a embriaguez é uma regra proporcional à
estupidez. Eu sei. – Disse Martim, enquanto coçava o cabelo mais lentamente.
– Então se sabe, senhor Martim,… explique-me por que razão está a conduzir a esta
hora da madrugada…? Se sabe que a embriaguez é uma regra proporcional à estupidez.
A música estonteante, sem compasso, electrónica aparvalhada, perturbava o
pensamento metódico do misterioso agente Aurora.
Sebastião Aurora era agente da autoridade durante a noite e guardião da sala 216
durante o dia, coisa onírica. Ou melhor, sala 2216, como Aurora troçava ao amante
Crepúsculo durante o telefonema antes do almoço, depois de ele perguntar onde estava
Sebastião.
Clepsidra Lisboa
X
Onde fica a sala 2.16 na Faculdade de Letras? Alguém sabe, além de Sebastião?
Continua a faltar uma sala e ninguém sabe onde ela está, além de Sebastião. A sala 2.16
tem de ser descoberta para além de Sebastião. E se está descoberta tem de ser
compartilhada, para além de Sebastião. Se está compartilhada tem de ser divulgada. E-
porra, que se está divulgada, TEM de ser usada! A sala 2.16 está onde o conhecimento é
tecnologia mental a criar arte liberal fresca; viva.
Cronos, o teu avô era figura sem igual. Sabia tanta lenda, mito e quimera que
História era o seu sangue. O velho floreava habilmente as historietas como se fossem
novelas. O sacana era tão gingão a prender-nos a atenção – qual cinema, música, ou
literatura; que, gozando, a sua arte só podia ser invenção. Quando descobríamos que o que
ele inventava estava inscrito na Antiguidade, tatuado para sempre no legado da
Humanidade; uau, inocência, magia infante. A grandeza de tal espírito tinha de ser
imortalizada. Cronos, teu avô, inspirou-nos a viver livremente, sem temor à morte – que
isso era amar a Clio. Decidimos então, irmãos de sangue, honrar um pacto, de sangue.
Prometemos, pelo sangue derramado de um C tatuado, em quatro palmas diferentes – de
um pé esquerdo, de um pé direito, de uma mão direita e de uma mão esquerda – nomear o
primeiro fruto de cada geração em honra de uma oferta eterna a teu avô. E foi por isso que,
quando nasceu o teu primo mais velho, meu irmão Agamémnon decidiu chamá-lo
Héracles. E, depois: quando o teu tio Diomedes foi pai, chamou minha primeira sobrinha
de Atena. Quando foi vez de Odisseu ser pai: nasceu Medusa. E quando conheci Maria, tua
mãe, durante uma tarde de Maio, num campo de girassóis vidigueirenses, ela loira, de pele
muito fina, láctea, e olhos azuis, qual princesa da Vidigueira, roliça imperatriz alentejana
de encorpado tinto português; apaixonei-me, sabendo que nunca mais amaria outra
mulher. Ela prometeu, outra tarde inebriada, pela graciosidade do pôr-do-sol e do caracol
doirado de seu cabelo, que ficaria comigo, malandro touro grego moreno. Ficaria comigo
para sempre, bastasse eu lhe prometer ser pai de seu filho. Cronos só poderia ser teu
nome. Eras um filho do tempo, uma paixão da existência. Maria, de pele suave, olhar sem
fundo e cabeleira de sol, seria, para ti e para mim, a vida. Sem ela não haveria concepção
nem ventre para que o rebento de Chronos florescesse e fosse fruto. Fizemos amor e
nasceste, um dia.
] Clepsidra Lisboa [2013] – titulou Sofia Calíope, numa pétala amarela de papel [
Assim nasceu outra criação, através de miríades estelares setentrionais: tecla
alavanca, bela.
Clepsidra Lisboa
XI
No palco, estrutura megalómana de ferros cruzados e panos pretos suspensos,
entrou um homem de blazer brilhante e calça de prata vincada, com a pinta de quem não
anda mas desliza – a curtir daquilo, só estilo. Dos bastidores expandia fumo; e o man,
tranquilo, desabotoou o blazer, pegou no mic, inclinando o pedestal, e soltou elegante:
– New York, you ready?
Yeaaaahhhh – exigiu o público, eloquente, desfiando a fibra da sua corda vocal.
Dois homens entraram no palco, através da bruma. Ambos vestiam preto integral.
Um tinha baquetas na mão e cabelo rapado, o outro balançava uma guitarra a tiracolo e
uma tatuagem de um @ no ombro. A multidão reproduziu em vagas sonoras a chegada dos
semideuses.
– Oh, you guys know my friends huh?
Duas mulheres entraram no palco, através da bruma. Ambas vestiam preto
integral. Uma carregava 1 baixo às costas, pesada a fita na garganta; atado a uma das botas,
a pular pelo chão, vinha um macaquinho verde de peluche. A outra, de cabelo comprido
lilás e curvas sinuosas, correu o palco com a língua de fora, saudando a noite. A multidão
ondulou o corpo, à chegada das semideusas. O homem de blazer mordeu a falanginha do
indicador esquerdo. A de sinuosas curvas quedou-se atrás do instrumento de teclas.
– Yeah… She’s hot. Say, New York, you ready? – Piscou o homem brilhante.
Hell’yeaaaaaaaa; rugiram as almas que enchiam Times Square.
Milhares de braços ergueram-se em palmas de antecipação. O homem brilhante
partilhou um olhar de amizade com cada elemento da banda, e piscou o olho à de crina
lilás. Virou-se para o público, ergueu as mãos no ar, e deixou escapar, de olhos bem
fechados, hit it; bamboleando o corpo numa premonição sedutora, na harmonia do silêncio.
Nessora, os graves do baixo começaram a criar ruínas. Chegaram os pratos, os riffs,
a linha de voz, e a sequência de teclas, bela. Turno respirava: enquanto o coração acelerava
a mente viajante. Outrora fora miserável fracassado, derrotado, mas agora triunfava: que
encontrara Ashley. Alucinou um delírio, com gosto – vivia no concerto de HHC. Ondulava o
corpo às teclas da faixa-hino “Marcellus”. Abraçado a Ashley, sua primeira conquista.
A pequena, de cabelo curto, preto, vivaz, abanava as ancas ao ritmo da linha vocal.
He Had Children era a sua banda favorita. E ainda que encontrar alguém cuja banda
favorita é também a nossa possa parecer tédio, supremo, que nunca se desdenhe da
tautológica simplicidade de duas rectas coincidentes. Começou a chuviscar.
– Ashley… Loving you is so easy…
– Yeah baby…? Why so…? – Sibilou Ashley no ouvido de Turno, puxando-lhe o
pescoço.
– I lost track of time the moment your voice swan through me. I don’t know what to
do when I’m near you. I don’t know what to say when I’m close to you, now do you. I could
just smile - to you. You would just smile back - to me, forever. Love, isn’t this true my love?
– It is love. Of course it is love. – Respondeu Ashley, beijando paixão em Turno.
O tempo é uma constante da vida, escreveu António Gedeão; a vida é uma
constante do tempo, demonstrou Desmond Hume. “Hard”; as duas mulheres de HHC
Clepsidra Lisboa
XII
prolongavam a noite no seu acto electrónico Rebecca & Fiona. A letra da canção escaldava
os corpos, molhados. As paredes de Times Square, revestidas por ecrãs electrónicos,
deliravam artifícios pirotécnicos audiovisuais criados pela multinacional SYO-W.
Mas o tempo é um parceiro trapaceiro, paciente. Que, por mais tempo que demore,
finca as suas garras em todos. Os pedregulhos do grande rochedo rodeado de água Ifach
são calos de pés de gigantes marinhos, pensou. Depois avançou: desfrutando da escalada:
pisando os calos aos gigantes. Ciclos equilibrados, como: o astronauta de Amesterdão
vaguear através das paredes dos prédios rasos de Amesterdão. Titânica gota de suor que em
vaga colossal refrescou Gaia. Engolindo todos aqueles que existiam pelos baldios amstel.
O nosso mais recente herói é Turno. Turno é um nome antigo. Vem dos tempos de
Eneias. Da poesia maior de Roma, Eneida. De Virgílio. Turno é designer de software na
SYO-W. A SYO-W é uma corporação que resulta da fusão de dois grupos comerciais
informáticos. A Madre Games e a Padre Tech. Duas empresas criadas por dois irmãos que
tanto se adoravam como se odiavam, mas que, competindo, sabiam que trariam sucesso
um ao outro. A SeeYouOnline–World produz e distribui os seus próprios conteúdos
multimédia, como videojogos e filmes de animação, assim como comercializa produtos
electrónicos de toda a gama, desde telemóveis a hologramas e ecrãs. Turno é designer de
software no subgrupo (da Padre Tech) Sunset Ideas; que produz conteúdos vídeo
maioritariamente vendidos a Djs, parques de diversão, galerias de arte e museus de
multimédia. Turno cria linhas de código que fazem repetir padrões – formas coloridas, que
se assemelham a rectângulos que rasgam o enquadramento na diagonal – de pixéis, a cada
cinco centésimos de segundo em 3 posições diferentes, que iludem movimento. Turno
gosta do que faz. Turno adora aquilo que faz. Idos são os tempos em que Turno pensava
que aquilo que fazia não lhe trazia saúde: que se habituou a lidar com as contrapartidas. As
dores de cabeça, das horas agarrado ao computador, e os pesadelos, cheios de formas
geométricas.
Quando conheceu Ashley começou a programar com maior eficiência, mas tornou-
se mais lento. Percebia melhor o funcionamento do código, enquanto realidade própria,
mas demorava mais tempo a conseguir distinguir, e manipular, o input da, na, data que
estava codificada. Como se a analogia se tratasse de um espelho que ao se aproximar da
pele reflecte cada vez maior a assimetria até quebrar e passar a ser estilhaços, quebrado à
física inerente do movimento ascendente de um corpo contra o qual um espelho se atirou
como se fosse um vírus. Turno. Turno compreendeu que a criação e o criador são uma
dinâmica entrelaçada, uma acção de fusão ambivalente em constante mutação. Tornou-se
o mais respeitado programador da companhia. Chamavam-lhe Turno, o Artesão. O esbelto
e virtuoso latino era filho de Brooklyn, Nova Iorque.
Depois, Ashley recebeu um telefonema. Havia trabalho em Évora. Uma cidade
portuguesa. Na Europa. Para ela e para ele. Havia propostas de trabalho para os dois.
Ashley era fotojornalista. As propostas eram irrecusáveis.
Turno e Ashley viajaram para Lisboa. Apanharam o avião doze dias depois de
fazerem amor ao ponto de atingir o núcleo, na boreal madrugada da noite em que viajaram
Clepsidra Lisboa
XIII
pelos jardins sintécticos da música electrónica, nas teclas de cada um. Passearam pelos
jardins de pedra de: Alfama, Alvalade, Belém, Benfica, Campo de Ourique, Chiado, Graça,
Marquês de Pombal, Praça da Figueira, Saldanha, Restauradores e Rossio.
Ficaram hospedados em uma residencial numa recta oblíqua à Avenida da
Liberdade; na Rua da Glória, chamada ‘Residencial Romantica – a História e o Amor é
Paixão: quartos para quatro’. Turno, Ashley, Vénus, Eros, um banquete… Se houvesse
tempo mastigar-se-iam ad infinitum como papoilas gustativas, em Lisboa. Para nunca sair
daquela cidade, para sempre despidos, sem nunca abandonar a cama.
Mas não havia: e foram para Beja, numa galhofa solarenga. Pelo caminho,
encontraram umas pessoas. Em Vendas Novas, onde se almoçou bifanas e projectos de
vida, dialogando avanços tecnológicos, plataformas digitais de correspondência molecular
e catapultas sociais da espécie. O trabalho em Évora era o projecto de uma geração, global.
Em Beja, num hotel qualquer, receberam identidades novas. Na manhã seguinte comeram
torradas com manteiga e beberam café com leite. Depois, seguiram para Évora. Vívidos.
Quando Turno mergulhou n’a eremeia era Cronos, o titã do tempo.
Admirou as suas mãos. Conduziu-as ao rosto, na esperança que o mesmo as
travasse. E travou, que já travara. Beliscou as bochechas e abanou o esqueleto. Sentia-se
vivo. Com realização corpórea. Tentou medir o coração, mas não conseguiu. Cobrindo o
tórax estava um tecido rijo, volumoso, castanho. Esfregou-se contra uma parede. Protegido
por uma armadura. Era, sobretudo, um grande casacão. Guiou as mãos aos bolsos e sentiu
uma bolsa de cabedal e uma chave. Caminhou até ao espelho, para se olhar.
Contemplando o seu reflexo, vagaroso, alcançou que o mesmo não carregava
consigo o tempo. Faltava um relógio. E queria passear. Estava um dia fenomenal, para
vaguear. Foi ao quarto e um holograma indicou-lhe o caminho. Do lugar onde se
encontrava para onde desejava ir. Colocou um rectângulo de metal no bolso. E saiu de casa.
Sensorial.
Desejava um relógio. Imaginava, nu, na sua mente, o som, da precisa queda,
cascateada, de iões, de éon, numa ampulheta. Descia a Rua Augusta em direcção ao mar, a
passo, tranquilo e sóbrio. Um incêndio na alma ardia-lhe a boca. Mundo estranho… há
sempre alguma coisa que se passa de boca para boca quando se beija alguém e no beijo
imprimimos as cores dos nossos medos e a coragem, coroa. Existiu alguém no passado a
carregar o sol às costas até ao lugar em que ele está, infinito? Existe coisa a arder a
combustão do arco que a estrela faz? O tempo, azul e plácido como um aquário
transparente, vitrifico oceano, aguarelava o horizonte. É elegante portar um relógio neste
instante – para apreciar a sincronia dos ponteiros com o progresso de Febo, corolário. Pela
rua, estavam – entes – muitas mulheres belas e imensos homens esbeltos. Preciso, um
relógio de pedra, inscrito ao centro dum arco, de pedra, pendurado à porta do Terreiro do
Paço, intrincava o segundo. Galopante, o tempo cavalgava. Em frente. Galopando, Clepsidra
lançou-se na Praça do Comércio; espicaçada pela glória fragmentária do torneio de justa
da Rua Augusta, cujo triunfo era celebrado com uma aceleração através do Arco: ao Tejo
Clepsidra Lisboa
XIV
no horizonte, e | inspirando oxigénio, ondulou a crina brilhante para ovação da plateia:
reflectindo na sombra o gáudio da existência: resplandecendo, no solo, o sol português.