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Cintia Ribeiro Veloso da Silva A ARTE CONCEITUAL E A OBRA DE CILDO MEIRELES Monografia exigida como trabalho final do curso de p6s..gradua93o em Poetica~ Contemporaneas no Ensino da Arte. Universidade Tuiuti do Parana. Orientadora: Prof'. Simone Landal \ -

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Cintia Ribeiro Veloso da Silva

A ARTE CONCEITUAL E A OBRA DECILDO MEIRELES

Monografia exigida como trabalho finaldo curso de p6s..gradua93o emPoetica~ Contemporaneas no Ensinoda Arte. Universidade Tuiuti do Parana.

Orientadora: Prof'. Simone Landal

\ -

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SUMARIO

INTRODUC;AO 01

2 PRECEDENTES A ARTE CONCEITUAL 04

3 CAMINHOS A ARTE CONCEITUAL 10

4 ARTE CONCEITUAL E 0 CONCEITO DA ARTE 20

5 A ARTE CONCEITUAL NO BRASIL E NO MUNDO 24

6 0 CONCEITUALISMO NA OBRA DE CILDO MEIRELES 32

7 CONCLUSAO 43

REFERENCIAS 48

ANEXOS 51

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INTRODUCAO

WE depois vern aquete movimento artistico de urn s6 homem, Marcel Duchamp - para mim,urn movimento verdadeiramente modemo porque subentende que cada artista pode fazer 0

que pensa que deve fazer - urn movimenlo para cada pessoa e aberto a lodes. ~ 1

A Arte Conceitual teve seu aprofundamento no inicio da decada de 60, mas

suas raizes encontram-se no pensamento de Marcel Duchamp enos readymades,do qual se extraiu a rejei~ao do objelo Iradicional da arte. Desde os readymades, a

Arte Conceilual vem percorrendo um longo caminho ale a sua formaliza~ao, Iralando

das ideias, sabre arte, em torna da arte e ligada a arte, de diversos assuntos e

temas naD contidos OU representados em urn 56 objeto, mas transmitidas par meio

de diversas linguagens e proposlas. E uma arte que independe da forma, pOis eSI.

de maneira mais complexa e complela na menle do artisla e do publico.

o capitulo 2 Irala de quesloes que dizem respeilo ao surgimenlo da Arte

Moderna, a qual trouxe uma arte que revelaria aspectos da realidade que pareciam

inacessiveis as tecnicas e convenc;:oes da arte academica, tendo efeito nas emoc;oes

dos especladores. A Arte Moderna trouxe a abslra~ao, considerada 'purificada' de

trac;os, rompendo as vinculos com a arte academica, a qual era extremamente

teorizada. Porem, a abstracionismo tambem trouxe linguagens e narrativas

compartilhadas a obra de arte, as quais 0 modernismo pretendia afaslar, Irazendo a

tona mais emoc;oes e sentimentos. Foi a partir de problemas como este que Marcel

Duchamp comeC;ou a questionar a abstrac;ao propriamente dita, ambicionando entao

colocar a pintura a servic;o da mente. Duchamp ja dizia estar mais interessado

nessas ide-ias do que no produto final, 'criando' entao as mais tarde chamados

readymades. Os readymades de Duchamp evidenciam 0 bom humor e sentido

poe-tico e conceitual de sua produC;ao artistica, criando uma especie de jog a critico, a

qual seria lao utilizado pela Arte Conceilua!.

No capitulo 3 sao levanlados os caminhos da arte que levaram • Arte

Conceitual, ap6s 0 period a das duas grandes guerras. Ap6s a 2a Guerra Mundial, 0

mundo vivia em clima de forte ameac;a pOlitica, comec;ando a se estabilizar no inicio

Willem de Kooning, 1951, em uma deda~feita num simp6sio realizado no Museu de Arte Mcx:IemadeNovaYor1<,5defeJereirode1951. In: STANGOS. ConceitosdaArteModema.p.182.

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da decada de 50, tendo entao como centro econ6mico e cultural-artistico as Estados

Unidos. Dentro deste contexto, destaca-se a gestualidade dos artistas Willem de

Kooning e Jackson Pollock, e a teoria moderna com as ensaios criticos de Clement

Greemberg. Por outro lado, a pensamento de Duchamp recebe cada vez mais

considera,!(ao, em obras que ganham impeto em abordagens nao-formalistas e mais

impuras, com as de Jasper Johns e Robert Rauschenberg. Na Europa, destacam-se

os grupo Cobra (1948) e Intemacional Situacionista (1957), e artistas como Yves

Klein e Piero Manzoni, as quais iniciavam uma futura 'Arte Conceitual'.

Para 0 surgimento da Arte Conceitual, foram fundamenlais 0 desenvolvimento

de dais movimentos: a Pop Art e a Minimalismo. A Pop Art desencadeu processos e

codigos contempor;meos, utilizando-se de temas tirados da banalidade da vida

urbana americana. Oependia das tecnicas, da cultura visual de massa: cinema, TV,

as revistas em quadrinhos, a imprensa popular, as anuncios publicitarios. 0

Minimalismo buscava a clareza, a rigor conceitual, a simplicidade, reduzindo a arte a

tal ponto, que nao deixou muita op'!(ao para as artistas mais jovens, que partiram

para a reduyao da importancia do objeto, dando enfase a linguagem, ao

conhecimento e ao pensamento. Mesmo sendo urn movirnento de preocupa9ao

formal, 0 Minimalismo tinha a mesma frieza da Arte Conceitual, no qual a arte nao

teria nada a ver com expressao, ela era uma for'!(a pela qual a mente poderia se

impor de maneira racional, concebida inteiramente no pensamento antes de sua

produyao.

No Brasil, a arte nos anos 50 e inicio dos 60 e caracterizada por intensa

experimenta9<30 e um sensorialismo inedito. A produ980 brasileira demonstrava a

ansiedade em superar 0 atraso tecnol6gico e ° realismo regionalista, difundido pela

esquerda oficial do pais. 0 neoconcretismo carioca proporcionou a abertura para a

multiplicidade de estilos e tecnicas, indicando um questionamento sobre as

limitayoes da arte, abrindo 0 campo estetico para as inovayoes.

Chegando em meados da decada de 60, e possivel perceber que 0 mundo

artistico ja estava preparado para aliceryar a Arte Conceitual, surgindo e ganhando

for9a no momenta em que 0 contexto artistico, politico e social era faverilVel para tal

acontecimento. Urn tra'!(o comum em diversos paises era a revolta e a insatisfa980

dos jovens com as propostas que a arte e a sociedade Ihes apresentava, envolta de

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um forte desejo de reconstrui-Ias. A partir de entao, h<i uma abertura no campo do

conceito da arte e uma ampliat;:ao de atitudes e experiencias artisticas. 0 dominic da

tecnica ja naD era tao importante, havendo urn crescente interesse e usa das

tecnologias de comunica,ao, como a fotografia e a video, que deram um resultado

de nao unicidade da imagem.

o resullado foi urna especie de arte que tinha, independentemente da forma que adotou (ounao adotou), sua exist~ncia rnais compteta e rnais complexa nas mentes dos artistas e deseu publico, 0 que exigia urna nova especie de aten~o e de participacao mental por partedo espectador e, ao desprezar a consubstancia~ao no objeto artistico singular, buscava:~~~~t~::~:.~0 espa90 circunscrito da galena de arte e para 0 sistema de mercado do

No Capitulo 4, sao discutidos estes conceitos de arte trazidos pela Arte

Conceitual, desde 0 primeiro usa do termo 'arte conceito', passando pelos

extremistas conceituais, ate chegar no conceitualismo, que e hoje a

transcendencia da Arte Conceitual, na qual deixou de ser tao aberta para ter

liberdade de poder tambem ser fechada, trazendo em voga tad a e qualquer forma

de arte vinculada a um conceito, ate mesmo a discuss6es mais forma is. 0

capitulo 5 aborda a transitoriedade da Arte Conceitual entre as decadas de 60 e

70, e levanta quest6es sobre suas conseqO€mcias na arte atual.

Como consequencia do conceitualismo levantado pela Arte Conceitual, tem-

se ° exemplo da obra de Cildo Meireles, brasileiro, reconhecido como um artista

conceitual, mesmo ele pr6prio nao concordando com este 'titulo'. 0 capitulo 6 trata

de algumas obras de Cildo da decada de 70, as quais remetem ao conceitualismo.

SMITH. ArteConceituai. In: STANGOS. Conceitos daArte Modema. p.182.

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2 PRECEDENTES A ARTE CONCEITUAL

Mais do que nunca, desde a Renascen98, nos primeiros anos do seculo XX,

pinto res e escultores nas tradi(foes europeias de arte, buscaram de modo consciente,

formas extrema mente novas de representar sua experiemcia no mundo. Alga muito

I

Les demoiselles d'Avignon, 1907 - Pablo Picasso

afirrnativa do seculo, para criticos e artistas. A Arte Modema, estabelecida par

Cezanne, contribuiriaa cria~o de urnaarte que revelaria aspectos da realidade que

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pareciam inacessiveis as tecnicas e convenr;oes da arte academica.

Uma das primeiras obras marcantes da Arte Moderna foi Joie de Vivre, .1906,

de Henri Matisse. Trata-se de uma tela de eomposi,ao preeisa, resultante de muito

estudo e experimentar;ao, na qual cada linha, cada trar;o expressa calma, tranquilidade

e transitoriedade de espirito. Em 1907, Pablo Picasso parece desafiar a obra de

Matisse, apresentando Les demoiselles d'Avignon, uma tela audaciosa e perturbadora

de seis metros quadrados. Cenas de bordel e mulheres nuas jil haviam side

representadas antes, mas em Les demoiselles d'Avignon 0 artista abandona toda

tendencia academica, transfrgura a imagem figurativa, tornando radical a maneira de ver

e conceber uma pintura, criando novas canones de beleza estetica. Mesmo nao sendo

considerada uma obra cubista, Les demoiselles d'Avignon foi a primeira manifestar;ao

do movimento, desenvolvido par Picasso. 0 cubismo iniciou a abstrar;ao de trar;os

reconheciveis do mundo, abrindo caminhos para a abstracionismo de Kasimir Malevich,

com 0 Quadrado prelo supremalislae Piet Mondrian.A abstra,ao "falava de uma busca

da essencia pict6rica e de uma libertat;ao dos limites tradicionais que incidiam sobre a

arte." 3 Essa concepr;ao vem trazer a arte inteiramente abstrata, considerada

'purificada' de tra,os.

o abstracionismo foi um dos marcos do inicio da Arte Moderna, mas comer;ou

a ser questionado por sua instabilidade conceitual, no qual 0 espectador deveria se

posicionar diante das teonas, das palavras afirmadas pelo artista ou pelo erilieo de arte,

para entao poder eompreender a arte abstrata. Malevieh, Mondrian e Kandinsky

escreveram sabre a teoria da abstrac;ao. Este sistema criava uma autoridade critica, que

por sua vez, e sempre vulneravel. A abstrar;ao continuou tendo seu espar;o, mas trouxe

questionamentos que impulsionaram a Arte Modema, como os de Marcel Duchamp.

Duchamp era um jovem artista quando comer;ou a rejeitar os estilos e temas

da vanguarda tradieional e a elaborar urn estilo pessoal, desenvolvendo um tipo de

pintura mais mental do que visual. Nesta epoca, estudava profundamente Cezanne e

os fauvistas4, sempre com espirito critico e criando polemica, se opunha ao cubismo

WOOD. Arte Conceitual. p.124 Fauvistas au Les Fauves (As Feras) e 0 nome dado a um grupo de artistas franceses, do iniao doseculo XX, que desenvotveram um tipo de pintura com evidente liberdade de expressao, atraves dousc de cores puras e da perspectiva exagerada. 0 Fauvismo e um dos marcos do inicio da ArteModerna e tem como seu principal representante Henri Matisse. ,',

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analitico e seu carater estatico. Em sua pintura Nu descendo a escada n. 2, Duchamp

descendo as escadas, individualizando sucessivas posic;oes. Construia um movimento

desafiava 0 cubismo analitico dando ritmo a sucess;vas formas de uma figura nua

repetitiv~e mecimico,evidenciandoa sua critica if cultura da sociedade modema, do

valor if tecnologia industrial, que transforma a funcionamento biologico pelo

funcionamento tecnologico.

"Considerava a pintura como um meio de expressao, e nao, em absoluto, como um objetocompleto de vida, do mesmo modo que considerava a cor como um meio de expressao dapintura. Em outras palavras, a pintura nao devena ser apenas visiva. ou retiniana devenaestar relacionada a antiga questao de nosso entendimento ao inves de ser puramentevisual...M5

Tudo 0 que fez Duchamp desde entao, e parte de sua ambi9ao de 'colocar

outra vez a pintura a servic;o da mente'. 0 titulo e incorporado if obra em funC;ao

desta mudanya, e torna-se um elemento essencial da pintura, bem como a cor e a

desenho, em que desvaloriza a arte como oficio manual e a coloca como ideia, mas

ideia que se nega pela ironia. Ele dizia estar mais interessado nessas ideias do que

no produto final.

Os readymades 56 puderam engendrar uma tensao e nao arte porque 0 fez em uma dataem que 0 conceito de arte come93va a dilacerar-se no antagonismo em que se embrenhou:a espec;aliza~o progressiva de sua esfera lado a lado com urn conceito que perdia os seuslirnites. Acantonada em sua esfera autonoma, mas socialmente desvalonzando-se, a artenao podia mais atingir a sociedade numericamente, mas de maneira heteronoma, apenasalargar 0 seu conceito para alem de suas fronteiras. 6

o ambiente e as condic;oes eram propicias para que Duchamp viesse a 'criar' os

mais tarde chamados readymades. Desde aproximadamente 1913, recolhia objetos

utilitarios do cotidiano e as recontextualizava como objetos de arte, que foram entao

chamados de readymades. 0 primeiro readymade de Duchamp foi 0 Suporte para

Garrafas, de 1914, que tratava de um suporte de metal para garrafas, supostamente

escolhido par sua forma bastante proxima dos elementos das esculturas que

emergiam naquele momenta. Mas foi em 1917, que 0 primeiro readymade tentou

vir ao grande publico, criando grandes discussoes: em uma exposiC;aode carater

DUCHAMP. In: SCt-rNARZ.0 grandevidroe os readymac!es,mesmo. p. 136 TASSINARI. 0 espaco modemo. p.134

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aberto, em Nova York, Ouchamp enviou como obra um

nome qualquer, R. Mutt, apresentado-o como uma escultura intitulada Fonte. A obra

nao foi aceita pelo juri, nao sendo exibida, pois foi considerada imoral ou 'apenas'

uma perya de banheiro, e nao uma obra de arte. Esses objetas e imagens par mais

Suportepara

Garrafas, 1914

Marcel Duchamp

A Fonte, 1917

Marcel Duchamp

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que produzam arte, nao perderiam sua ligayao com 0 mundo cotidiano dos quais

foram tirados e ao assinar a obra, Duchamp traria a ideia de que aquele objeto

nao teria valor artistico par si 56, mas somente a partir do jurzo formuJado de urn

determinada sujeito.7

o espelho magica, 1929 - Rene Magritte

ARGAN. Arte Moderna. p.358

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Os readymades.de Duchamp evidenciam 0 born humor e sentido poetico e

superstig80 do oficio." 6 Duchamp gostava de ironizar, brincar, fazer trocadilhes que

envolvessem a arte. Qutros artistas tambem usavam esse tipo de joga critico.

Francis Picabia em sua pintura leita com assinaturas, chamada L6eil cacodylate, de

1921, brinca com a linguagem e a visualidade como sistemas relacionados. Nas

obras Isso nao e um cachimbo, pintura de um cachimbo, e 0 espelho magico,

pintura de um espelho no qual ao inves do reflexo de um corpo humane, surge

escrito corps humaini (corpo humano), Rene Magritte propoem a reftexao entre a

imagem e 0 pensamento da imagem.

A obra de Duchamp era simplesmente um ate de sele9ao, 0 trabalho de arte

para ele "...pode nao ser um objeto ffsico, mas sim uma questao e que sen'a

possivel reeonsiderar a eriagao artistica, portanto, como assumindo uma forma

perfeitamente legitima no ate de formular questOes.n 9 Junto a conexao com a

cotidiano, as readymades trazem a liberdade do uso de uma infinita variedade de

materiais e meios, que anteriormente nao teria sida ligado ao fazer artistico. A Arte

Conceitual vem considerar a pensamento de Duchamp, em que a arte pode ser uma

'questao' e pode ter total liberdade em seus meios, rejeitando 0 objeto tradicional da

arte, dando enlase as ideias, sobre arte, em torno da arte e ligadas a arte, de

diversos assuntos e temas nao contidos ou representados em um s6 objeto, mas

transmitidas par meio de diversas linguagens e propostas.

PAZ. MarGe{Ouchamp e 0 castelo de pureza.p.239 KRAUSS. Caminhos da escultura mederna. p.91

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3 CAMINHOS A ARTE CONCEITUAL

As proximas decadas, depoi5 do surgimento e do estabelecimento da Arte

Maderna, fcram afetadas pela ameaCY8 polftica que pairava no mundo, num periodo

conturbado par duas guerras mundiais. 0 mundo comecyou a S8 estabilizar no inicio

da decada de 50, contextualizado pelas descobertas nucleares e 0 inicio da Guerra

Desenho de De Kooning apagado, 1953 - Robert Rauschemberg

Fria. Ap6s a Segunda Guerra Mundial, os Estados Un ides passam a ser 0 centro

econbmico e artistico, momenta no qual a Arte Maderna ja havia sido disseminada e ja

8xistia em toda parte do mundo, porem tendo como pontcs de referenda Nova York e,

secundariamente, Paris. Neste momento, a arte em toda a America e posicionada de

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maneira dinamica, inventiva e ativa. Nos Estados Unidos, a arte e ainda mais

arrojada, aut6noma, independente e, par certo, arrogante, pOis nao se inibia a

nenhuma das tradiyoes artisticas europeias, porem tinha a preocupayao em manter

suas relayoes com 0 meio artistico europeu. Destacam-se com a abstratayao gestual

Willem de Kooning e Jackson Pollock, e com a teoria moderna, as ensaios criticos

de Clement Greemberg.

No final da decada de 50, a luta pela autenticidade torna-se um estilo. Dessa

maneira pensa-se em Desenho de De Kooning Apagado, de 1953, no qual Robert

Rauschenberg apaga laboriosamente um desenho que havia ganho de Willem De

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Kooning. Em Factum I e Factum II, de 1957, Rauschenberg pinta duas vezes a

mesma caisa. Repete em cad a urna as fotografias. as borr6es, as manchas, dando

prava a autenticidade e espontaneidade ali colocadas: "Amateria principal da obra ea institucionaliza~ao da espontaneidade." 10 0 pensamento de Duchamp reeebe

cad a vez mais consideray8o, em obras que ganham impeta em abordagens nao-

formalistas e mais impuras, como as de Jasper Johns, Robert Rauschenberg, Yves

Klein, Piero Manzoni. Robert Rauschenberg e Jasper Johns utilizavam temas do

mundo cotidiano. Robert Rauschenberg, se utilizava de fotografias, jornais e objetos

descartados em suas pinturas, alem de urna variedade de imagens em serigrafia,tamadas de elementos dos meios de comunicac;ao. Jasper Johns fez a pintura da

bandeira dos EUA, Bandeira (1954-55), trazendo tridimensionalidade, arranjo formal

de cores, linhas, texturas e formas geometricas.Na Europa sao fundados os grupos Cobra (1948) e Internacional

Situacionista (1957) dos quais Asger Jorn, artista ativo dos dois grupos, escreveu

que a arte deveria estar diretamente ligada it vida social da cidade, devendo ser elauma agenciadora do pensamento e da ac;ao.

Na Fran9a, Yves Klein patenteava um determinado pigmento azul como

International Klein Blue (IKB) e iniciava movimentos artisticos sobre os g,meros

artisticos convencionais, como as varias pinturas monocromaticas em IKB idemticas,vendidas cada uma por um pre90 diferente. Na exposi9ao 0 Vazio, na galeria Iris

Clert, ern 1958, Klein identifica urna tendencia conceitual: os visitantes ao passarernpor urna cortina tingida de IKB, encontravam urna galeria completamente vazia. EmCelebraqiio de uma nova era antropometrica, de 1960, Klein dirigia uma a9ao

artistica na qual eram impressos os corpos de modelos nuas em papel, com tinta depigmento IKB.

Na Italia, Piero Manzoni fazia 'obras de arte' conceitual, como uma modeloque era assinada pelo artista e colocada em urn pedestal portatil como se fosse umaescultura. Sua a9ao mais polemica foi em 1961, questionando a mercantiliza9ao da

arte, enlatou 90 unidades de suas fezes vendendo 0 grama no valor do ouro. Em1956, a revista japonesa Geijutsu-Shincho publica 0 ensaio de Piero Manzoni,

Dimensao Livre, no qual influencia 0 grupo Gutai em suas atividades performaticas.

WOOD, op. cit., p.1812

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Ce/ebra~ao de uma nova era antropometrica, 1960 - Yves Klein

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~Todos os impulsos evidentes nas obras do final da decada de 50 - 0 interesse pelocorriqueiro, a disposicao de abarcar 0 aeasa (nao apenas uma heran~ do dadaismo, mastambem 0 reconhecimento de que na vida as coisas simplesmente acontecem) e um novosensa do visual-Ievaram a arte a duas dir~s: 0 Pop e 0 Minimalismo." 11

A partir da cita9ao de Michael Archer, 0 Minimalismo e a Pop Art loram as

grandes consequencias da arte p6s-guerras, e mesmo parecendo ter pouco terreno

em comum, ambos vao influenciar fortemente a arte nos anos 70.

A Pop Art surgiu nos EUA, e loi reconhecida como movimento no inicio da

decada de 60. Tendo como representantes os americanos Roy Lichtenstein, Andy

Warhol, Claes Oldenburg, Tom Wesselman, James Rosenquist, os temas eram

tirados da banalidade da vida urbana americana e dependiam tanto quanto das

tecnicas, da cultura visual de massa: cinema, TV, as revistas em quadrinhos, a

imprensa popular, os anuncios publicitarios. Lichtenstein extraia suas pinturas das

hist6rias em quadrinhos, que eram ampliadas, alteradas conforme a intenc;:ao e

passadas a 61eosobre tela. Tratava-se de um trabalho minucioso e de observa9ao

cuidadosa, de resultado com aparemcia sem nenhuma interpretac;:ao e emoc;:ao. Na

pintura Sei como voce deve estar se sentindo, Brad, de 1963, Lichenstein deslaz

esta aparencia, ironizando a ideia da arte como atividade expressiva das emoc;:5es.

Richard Hamilton fez a primeira obra genuinamente Pop na Gra-Bretanha, as cenas

dos interiores de lares tornam-se a colagem intitulada 0 que Exatamente Toma-se

os lares de Hoje tao Diferentes, tao Atraentes?, de 1956, leito para uma exposi9aO

chamada Isto e Amanhi!i. David Hockney, Derek Boschier, Allen Jones, Peter

Phillips e R. B. Kitaj sao outros dos jovens artistas da Gra-Bretanha que se

destacavam com 0 Pop. A Pop Art desencadeou processos e c6digos

contemporaneos.

Para 0 Minimalismo, a arte nao teria nada a ver com expressao, ela era

uma lor9a pela qual a mente poderia se impor de maneira racional, concebida

inteiramente no pensamento antes de sua produ9ao. Toda subjetividade e

sentimentalismo inserida na arte do expressionismo abstrato seria rejeitados no

movimento minimalista. 0 minimalismo buscava a clareza, 0 rigor conceitual, a

simplicidade. Don Judd, Dan Flavin, Carl Andre, Robert Morris e Frank Stella se

ARCHER. Arte Conceitual. p. 5.

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Se; como voce deve estar se sentindo. Brad. 1963 - Roy Lichtenstein

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tornaram os principais nomes, nos quais estavam interessados na construc;ao de

objetos tridimensionais (exceto Frank Stella), atingindo em sua maturidade

caracteristicas estilisticas como: formas retangulares e cubicas, igualdade e

repeti9ao das partes, superficies neutras, livres de toda e qualquer ideia de tema ou

metafora de significado.

o Minimalismo logrou uma fonna pura, abstrata, com freqQencia classicamente bela,atraves de uma abordagem intelectual preconcebida que fez extenso uso de vanosreadymades: sistemas matematicos (usados para determinar a composi.yao), farmasgeometricas, rnateriais industriais livres de cantata manual e produc;ao em fabrica (0 queafastou 0 artista da construc;aodo objeto). 12

o movimento minimalista reduziu a tal ponto a arte, que nao deixou muita

opc;aopara os artistas rnais jovens, fazendo com que eles tambem partissem para a

redu9ao, neste caso, da importancia do objeto, dando enfase a linguagem, ao

conhecimento e ao pensamento. 0 Minimalismo eliminara tanto 0 tema em suas

obras, que seria ironico ele mesmo inspirar uma arte que seria ela toda tema: a arte

conceitual.

No Brasil, a arte nos anos 50 e inicio dos 60 e caracterizada por intensa

experimentac;ao e urn sensorialismo inedito. As grandes cidades passavam por uma

mudanc;a de ambiente, perdendo as paisagens naturais sendo substituidas pelas

paisagens urbanas. As polaridades entre Rio de Janeiro e Sao Paulo se acentuavam

na medida em que ocorriam intensas transformac;t5essociais, culturais e economicas

no pais. A situac;aogeografica do Rio de Janeiro e decisiva na sua formac;ao social,

que possui uma convivemcia caracteristica sem aspereza entre diversas culturas,

rac;as e classes. 0 Rio de Janeiro torna-se uma cidade porosa a essas diversas

culturas que ali conviviam e avessa as suas farmalidades, sendo a cada dia menos

europeia e africana, tornando-se uma cidade brasileira. Apos a 2a Guerra Mundial, 0

Rio de Janeiro, bern como Havana e Buenos Aires, tornam-se potenciais metropoles

do seculo xx da America Latina. Param, 0 peronismo, em Buenos Aires e, a

Revolu9iio Cubana de 1959, em Havana, impediram tal apogeu como centros de

integrac;ao da cultura moderna. Sao Paulo cresce e se destaca como a metropole

industrial da America Latina. Artisticamente, comec;ou a se destacar a partir da

1 SMITH, op. en., p.186.

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Semana de Arte Moderna de 1922, da qual trouxe a primeira movimenta9ao para

uma manifesta9ao moderna no Brasil. Mais tarde, reformulada a proposta da

Semana de Arte Moderna, e criado 0 Manifesto Antropofagico, que traz elementoscubistas as suas produ~oes artisticas, no entanto, estaria lange de realmente atingir

a transforma9ao proposta pelo cubismo, presos ainda aos antigos esquemas de

representa9ao.

o contexto historico e de um periodo de guerras, de manipula9ao de massas

por meio do cinema de propaganda e radio, baseada na imposi9ao da

'superioridade' do Estado, sob qualquer manifesta9ilo do individuo. Os movimentos

da Semana de Arte Modema e do Manifesto Antropofagico, indicavam a

necessidade de urn movimento mederna, de urn processo de rea'tao, de

desprovincianiza9ao. Era um periodo de cren9a absoluta e radical e, tambem, de

grandes descobertas medicas e tecnol6gicas, devido as apetrechos tecnicos da 23

Guerra." Os anos 30 e 40 destacaram as produ90es de Emilio Di Cavancanti,

Oswaldo Goeldi, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi e Ibere Camargo.

E criada, em 1951, a Bienal de Sao Paulo em uma tentativa de projetar 0 Brasil

no panorama artistico mundial. 0 primeiro premio desta Bienal e dado a Max Bill, com

a pe9a Unidade Tripartida, sintoma da sintonia com a arte concreta europeia, que

causou um efeito potencializador da tendencia construtiva no Brasil. Em Sao Paulo, 0

concretismo era 0 referencial de saida do ambiente confuso das artes plasticasbrasileiras. 0 construtivismo paulista era ortodoxo racionalista, estando sempre muito

proximo dos principios teoricos de Van Doesburg e Max Bill. 0 Grupo Ruptura

estabelecia que unao ha continuidade", ou seja, 0 velho e velho, 0 novo e novo.

A partir de entao, come9a-se a perceber a forma9ao de uma linguagemgeometrica, e consequentemente construtiva, simultanea entre Rio de Janeiro e Sao

Paulo. Essa produ9ilo concreta brasileira demonstra a ansiedade de se superar 0

atraso tecnologico e 0 realismo regionalista, difundido pela esquerda oficial do pais.

Segundo Ronalda Brito, e a partir da Uvanguarda construtiva" que a arte moderna no

Brasil, em seus conceitos fundamentais, e de fato compreendida e praticada. 14

COUTINHO, W. Os anos 30 e 40: As decadas da crent;a. In: CAVALCANTI. Quando 0 Brasil erarncx1emo:Mes Plilsticasno Rio de Janeiro 1905-1960. p. 123.~O, R. Neoconcretismo.

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Unidade Tripartida. 1948-49 • Max Bill

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o Concretismo carioca se desobrigou dos extremismos, privilegiando a

experimentayao e a produyao p"itica. No entanto, no inicio da decada de 50, surgia

o Grupo Frente, que reunia Lygia Clark, Lygia Pape, Helio Oiticica, Aluisio Carvao,

Franz Weissman e Elisa Martins Silveira, que demonstrava um despreparo para um

trabalho de arte de pesquisa especifica na produyao, mas em suas questoes,

representavam um forte nddeo de reayao. Posteriormente, 0 Concretismo, do Rio de

Janeiro, adquiriu seguran~a suficiente para se transformar em Neoconcretismo, no

qual permitia espayo para questoes mais avanyadas que permitiam experiencias

produtoras de rupturas.

As experimentayoes neoconcretas proporcionaram a multiplicidade de

estilos e tecnicas, romperam com as suportes, contaminando a pintura com a

escultura de forma que era imposslvel separil-ias, e indicando assim, um

questionamento sabre as limita~Oesda arte e a abertura do campo estetico para as

inova~Oes.

Finalmente, todos os caminhos teriam sido abertos para que a arte

conceitual se instaurasse e se comunicasse com ° mundo, podendo incluir esse

mundo em sua arte.

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4 ARTE CONCEITUAL E 0 CONCEITO DA ARTE 15

A deeMa de 1970 caractertza-se, de inicio, par um arrefecimento da atividade vanguardista, oupelo menos par uma queda na velocidade dos ismos. "as artistas, hoje, estao prolongandoproJXlstas anteriores", lamentava Pierre Restany, argumentando que "eles nao querempropriamente 'fazer' coisas novas, mas 'usar' meios novas", No que era apoiado JX)r TommazoTnni: "Estamos numa situayao em que nada mais se taz do que continuar antigas propostas",Ao contrario, Achile Bonito Oliva rejubilava-se: "Felizmente nada de novo acontece". Contudo,as raz6es que levaram 0 inventor da transvanguarda a aplaudir esta calmana inicial dos anas 70eram certamente outras. Ele estava apenas pedindo um tempo para refletir sabre tude aquilaque acontecera tao velozmente na decada anterior. Assim, a primeira atitude dos anas 70 foisubstituir 0 ativismo pela ref1exao, a emc:x;ao pela razao, 0 objeto pelo conceite e, no extreme daproJX)sta, a vida pela arte. Com sua sensibilidade microemotiva, proclamavam os conceituais: aarte e a ideia da arte. Ao espectador pedia-se uma partici~o puramente mental no universocriador do artista, uma leitura cada vez mais especializada: arte sabre arte. 16

o conceito de arte passava per uma grande abertura, diferente da exclusividade

estabelecida pela arte moderna, de forma que este conceito se aproximava cada vez

mais das ideias, dos conceilos, tendo seu caminho aberto a partir da Pop Art e do

Minimalismo. 0 primeiro uso do termo 'arte conceilo' foi utilizado em 1961 por Henry

Flynt em urn texlo escrito a partir das atividades do Fluxus, grupo de artistas dos

Eslados Unidos, Alemanha, Franya, Itillia, Japao, Holanda, Canada e Espanha, que

teve como represenlantes Joseph Beuys, Vostell, Yoko Ono, Dick Higgins, Alisson

Knowles, George Brecht, La Monle Young. Em 1963, Flynt escrevena que se os

conceitos sao os materiais da 'arte conceito' e os conceitos estao estreitamente ligados

a linguagem, entao a 'arte conceito' e uma arte que tem a linguagem como material.

Lucy Lippard, critica de arte norte-americana, discordaria daquele conceito de Flyn!,

observando que he. tantos conceitos de arte conceitual quanto hajam obras canceituais.

Na ediyao de verao do ano de 1967 da revista ArtForum, Sol LeWitl escrevera

~T6picos da Arie Conceituaf, no qual afirma que na Arte Canceitual a ideia e a espac;:o

que mais tern impartancia na obra, pois e na ideia, no conceito da obra que esta todo

o planejamento e do qual as decis6es sao tomadas, sendo a execuyao urn processo

muito mais simples e rotineiro. LeWitt reafirma que a produta final da obra de arte nao

deve estar subordinada a nenhuma autra caisa e muita menas servir de ilustra9aO.

FREIRE, C. Poeticas do Processo: Arte Conceitual no Museu. p.29.

16 MORAIS, F. Conceitualismo. Do Conceitual a arte contemooffinea: marcos hist6ricos. Sao Paulo:ICI, 1994. (Cadernos hist6ria da pintura no Brasil; 6). p. 7M9.

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Segundo Mel Bochner, em 1974, em uma entrevista sobre Malevich ta

para a revista Aitforum, a mais importante revista de arte daquele periodo:

·Urn ponto de vista conceilualista doutrinario diria que as duas caracterfsticas maisimportantes da 'obra conceitual ideal' seriam passuir urn corre/ativa IingOistico exato, auseja, que a/a pudesse ser descrita e vivenciada em sua descrir;lio, e S8r inrinilamenterepetitlvel. Nao deve possuir absolutamente nenhuma 'aura', nem qua/quer esptkie desingufaridade." 17

Toda a hist6ria da arte estava ligada, ate entao, muito rnais ao produto que

ao processo. Com a Arte Conceitual 0 material e a forma perdem valor; a obra

conceitual rompe com as tradicionais bases da arte, causando urn desconforto

intelectual e, muitas vezes, ate mesmo fisico ao espectador. 0 espectador, 0

publico, nao seriam importantes na Arte Conceitual genu ina. Keith Arnatt, em uma

exposiyao em Londres mostrava 0 residua de urn pensamento seu que seria uma

'obra de arte', e 0 pensamento que ficara em sua cabe9a era: "Decidi que na

proxima sexta-feira vou a Tate Gallery". Esta frase nao foi escrita, com valor

documental ou de registro, ela apenas existiu na cabe9a da artista. No manifesto

sobre a "condi((80 artistica", escrito por Arnatt, 56 haveria a "condi((ao artistica"

quando: "1. Ninguem esta venda ou ouvindo (mentalmente interpretando) esta

informagiio; 2. Ninguem esta lembrando (mentalmente recordando) desta

informagiio; 3. Esta infonnagiio, em sua fonna atual (ou qualquer outra forma), niio

existe." 18 A Arte Conceitual assumia entao, uma postura um tanto paradoxal com

rela((80 a nega((80 da forma. Em grande parte, as obras consideradas conceituais

tin ham de fazer-se visiveis ou perceptiveis assim como qualquer outra arte, trazendo

a devida preOCUpa((80 com a forma. Dessa maneira, as pouquissimas obras que

teriam atingido 0 conceito genuino da Arte Conceitual, realizariam uma mistura

inquietante de pureza estetica e idealismo politico. Mas, em toda obra conceitual,

seja ela de conceito genuino ou nao, fica clara a nO((80 de que a ideia e 0 processo

pelo qual se chega ate a arte, deve ser mais importante que 0 produto final.

A Arte Conceitual rompe com 0 sistema da arte, ou seja, com as galerias, a

figura do marchand, arte como objeto de neg6cio e com 0 pr6prio critico de arte. Na

SMITH, op.cit., p. 18418 COELHO. T. Medema P6sMedemo: ModoseversOes. p.118

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decada de 60 os jovens artistas se encontravam contestando a sociedade burguesa,

propondo a redu9ao de todo 0 circuito da arte em uma unica fase: a produ9ao da

obra que e consumida na mesma h~ra, justamente pelo proprio artista. 0 artista

passa a ser 0 seu pr6prio a critico, po is s6 ele pode explicar a sua obra e defini-la

como arte ou nao. A Arte Conceitual faz en tao, urn exame do que e arte, trazendo a

tona quest6es muito antigas e sempre pertinentes: 0 que faz uma 'obra' ser arte ou

nao? Quais os criterios e caracteristicas devem ser levados em considerayao? Que

obra merecia ser exibida ou ser exercicio da critica de arte? Estas quest6es se

tomam inquietantes desde de os ready-mades de Duchamp, porem muito mais na

'arte conceitual', jiI que tratava-se da arte voltada a propria reflexao e

questionamento. Alguns artistas se utilizavam desta indaga9ao como 0 seu proprio

fazer artistico.

o artista brasileiro Nelson Leimer, em 1968, durante um dos periodos mais

quentes da ditadura militar, mandou para um salao de Brasilia, um porco empalhado

dentro de urn engradado de madeira. 0 porco foi aceito, uma vez que 0 juri do salao

estava no espirito da epoca, mas Leimer replicou que aquele porco na~ era obra de

arte e 0 juri nao tinha competemcia para avaliar 0 que era ou nao era uma obra de

arte. Bern, uma vez que 0 artista manda urn objeto para urn salao de arte, e por que

este objeto e uma obra de arte, conceituada como tal pelo proprio artista. Nelson

Leimer, num ate politico, preparou esta cilada para 0 juri, afinal estava ironizando os

criterios para 0 reconhecimento de uma obra de arte, afirmando entao, que este juri

nao tinha capacidade objetiva de cumprir suas fun90es.

Alberto Tassinari, critico de arte brasileiro, coloca:

Ser ou nao ser uma obra de arte e uma alternativa que s6 ganhou forc;a no seculo XX, emespecial na sua ultima metade. No seculo XVIII. a questeo possuia, basicamente, outrafonnulayao: 0 que torna uma obra de arte uma obra de arte bela? A arte entaocorrespondia, a boa parte das atividades humanas ... A arte hoje, no final das contas, voltoua ser, pelo menos para muitas teorias da arte contemporc1lnea, 0 que era no inlao: 0 produtode qualquer atividade humana. 19

No que diz respeito a artisticidade da 'obra' hoje, Tassinari refere-se ao

'fazer' da obra (seja ele mental ou material) como este produto de qua/quer atividade

humana, responsavel em dar a qualidade de obra de arte ou nao, porem nao ha

TASSINARI.op.cit., p.133-134.22

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mais codigo e nem linguagem (mica para a defini,ao de urn processo estetico.

Passaram-se as radicalismos. Cada artista cria seu 0 c6digo, tern a sua linguagem,

diferenciando cada urn a seu 'fazer'. Recentemente as teorias de arte consideram

esta responsabilidade, mas ate entao eram questionados as 'criterios' para este

fazer, no qual deveria estar ligado a algum outro processo, que entao atribuiria a

qualidade de obra de arte. Antes da arte moderna, a arte era conceituada

basicamente pela que chamamas de tecnica, com a valor de 'bela'. Da arte pela

tecnica aos valores contemporaneos de arte, existem intensas diferenc;as de

pensamentos que surgem conforme a bela deixava de ser urn tema obrigatorio da

arte.

o 'conceitualismo' e urn termo que tambem aparece com ampla circula,80 e

carrega urna variedade de significados. Na decada de 70 0 termo 'conceitualismo'

era utilizado como rotulo pelas conservadores que repudiavam a arte

contempOf<3nea. De Dutra maneira, a 'conceitualismo' e hoje e urna forma de

promocao da chamada 'arte conceitual', que teria entaD transcendido a movimento

au grupo de artistas, passando a fazer parte de urna mentalidade, influenciando com

predominancia a arte desde a decada de 50 ate as dias atuais, a partir do campo

aberto da arte, trazendo em voga toda e qualquer forma de arte vinculada a um

conceito. E a partir desta mentalidade que a arte contemporanea pode estar

marcada .

... a arte contemparfmea nao transcende espacialmente 0 mundo e 0 espac;o em comum,mas antes nasce deles e retoma a vida cotidiana acrescentando-Ihes novos sentidos ... Semuma tal compreensao fica dificil compreender obras contemporaneas. Pode se ter aimpressao de que nada comunicam ou de que nao dizem coisa com coisa, pais estariamconfundidas com 0 espac;o do mundo. Ou, de outro modo, mas com igual resultado, aimpressao de que apenas rep5em 0 ja existente. Nao refletiriam a obra cotidiana no queesta nao e apenas Mbito e repetic;ao, mas no que Ihe e fonte da pr6pria revitalizac;ao. 20

ibid.,p.88.23

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5 A ARTE CONCEITUAL NO BRASIL E NO MUNDO

~... Per que a arte conceitual levou tanto tempo para aparecer? Se as palos do modemismoe da vanguarda foram estabelecidos de maneira tao prematura, par que nao vimos surgirurna arte conceitual inteiramente desenvolvida ja par volta de 1918, au ainda, na dE§cada de20, em lugar de seu surgimento, acontecido somente par volta de 1968 e estendendo-se aolongo da decada de 70?" 21

A arte conceitual esta atrelada a uma gama de fatos e pensamentos, nos

quais sua pratica fo; conquistada na medida em que as seus significados sofriam 0

devido amadurecimento, com respostas a qualquer tempo e periodo, inserida no

devido contexte hist6rico para 0 seu acontecimento. Mesma diante de realidades e

contextos tao diversos no mundo inteiro, urn tra90 e comum em diversos parses: a

revolta, a insatisfagao dos jovens com as propostas que a sociedade Ihes

apresentava e um forte desejo de reconstruir esta sociedade.

A decada de 60 foi marcada por duas tendencias. Uma, a arte moderna

direcionada a exploraryao dos meios e de uma experi€mcia estetica voltada ao

espectador recebendo 0 fundamento te6rico de Clement Greemberg. A outra, que

nao conseguia ser explicada pel a teoria de Greemberg, e a 'neovanguarda', que

negava exatamente a 'arte modem a' , 0 valor ao meio expressivo, a integraryao entre

a teoria e a priltica. Surgia entao a cada momento, diversas formas de arte e

diferentes nomes, como Povera, Processo, Anti-forma, Land, Ambienta/, Body,

Performance e outros.

A partir de entao, houve uma abertura no campo do conceito de arte e uma

ampliaryc10 de atitudes e experiencias artisticas. 0 dominic da tecnica jil nao era tao

importante, havendo um crescente interesse e usa das tecnologias de comunicaryc1o,

como a fotografia e 0 video, que deram um resultado de nao unicidade da imagem,

tao importante quanto a pr6pria linguagem, e 0 som, com a disponibilidade de

equipamentos de gravagao, inclusive a introdugao do cassete de audio.

Tornou-se uma epidemia 0 interesse no contexto e a diminuiryao do valor do

objeto artfstico. A agitaryao politica e de conscientizatyao social talvez ten ham feito

com que os artistas inspirassem 0 desejo de liberdade aos grilh6es da arte

tradicional e elitista. Urn exemplo poderia ser 0 Manifesto do Fluxus, escrito em

1963, pelo criador do nome do grupo George Maciunas, depois de urn protesto dos

WOOD, op.clt., p.1S.

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artistas Henry Flynt e Jack Smith, na porta de entrada do Museu de Arte Moderna de

Nova York, ao modo caracteristico da vanguarda, com cartazes pendurados no

pesco90 dizendo: "Destruam as museus de arier e "Destruam a cultura seria!". 0

Manifesto loi leito a maneira de uma colagem, intercalados com os significados da

palavra flux *(modific89ao e escoamento, com conotac;ao de catarse e purgar;:8o):

~ the wor1d of bourgeois sickness, ~intellectuar, professional & commercialized culture,PURGE the wor1d of dead art, imitation, artificial art, abstract art, illusionistic art, mathematicalart, - PURGE THE WORLD OF "EUROPANISM"!PROMOTE A 'REVOLUTIONARY FLOOD AND TIDE IN ART,Promote living art, anti~art, promote NON ART REALITY to be grasped by all peoples, ot onlycritics, dilettantes and professionals.

FUSE the cadres of cultural, social & political revolutionaries into united front & action. 22

Expurgar 0 mundo da doen-;a burguesa, da cullura "intelectual", profissional e comercializada.Expurgar 0 mundo da arte morta, da imitaltao, da arta artificial, da arta abstrata, da arteilusionista, da arte matematica, - EXPURGAR 0 MUNDO DO "EUROPANISMO"PROMOVER UMA "ENCHENTE E UMA MARE REVOLUCIONARIA NA ARTE",Prom over arte viva, a anti-arte, prom over a realldade nao-arte que seja dominada por todas aspessoas, nao somente por cnticos, diletantes e profissionais.Fundir as catedras das revolult0es cultural, social, politica em frente as altoes unidas.

Segundo Filiou, urn dos representantes do Fluxus na Fran9a, 0 Fluxus "eantes de tudo um estado de espirito, modo de vida impregnado de uma soberba

liberdade de pensar, de expressar e de agir. De cera maneira 0 Fluxus nunca existiu,

nao sabemos quando nasceu, logo nao hfJ razao para que tennine. ,,23 Hoje, 0 Fluxus

e colocado em pedestais da alta cultura artistica, revertendo as implica90es s6cio-

politicas do grupo, porem e necessario que se entenda que aquelas a90es laziam

parte de urn contexto da cultura do p6s-guerra, de urn mundo polarizado, e

consequentemente, de urn pensamento extremista.

George Maciunas foi projetista da For~a Aerea Americana, por meio da qual

foi a Alemanha em 1961, onde fez diversos eventos de musica e performance durante

o Festival Internacional de Nova Musica, lan9amento do Fluxus, na Alemanha, em

1962, em Wiesbaden. Na Alemanha houveram alguns nomes que se envolveram com

o Fluxus como 0 coreano Nam June Paik, que no Festival apresentou Zen for head,

em que ao longo de um papel para maquina de escrever, arrastava sua cabe~a

encharcada de tinta, tendo como musica de lundo a composi9ao de La Monte Young

Ibid .• p.23.

23 MORAIS. F. PanoramadasartesplasticasseculosXIXeXX p. 35.

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Composiqilo # 10, 1960, com subtitulo A Bob Morris. Young tambem participou

do Fluxus, inclusive como um dos editores da revista Antologia, do Fluxus.

Joseph Beuys tambem se envolvera com 0 Fluxus na Alemanha e logo

S8 tarnara urn dos artistas que mais se destacava na vanguarda internacional.

8euys utilizava como seus principais materiais a gordura e 0 feltro, que estariam

ligados a sua experiencia na guerra, quando safrera urn grave acidente de aviao

e fora mantido vivo sendo besuntado com gordura e enrolado em feltro. Estes

materiais podem tambem ser associados ao trabalho dos pos-minimalistas

Robert Morris, Dan Flavin e Eve Hesse, porem as diferen9as silo bastante

consideraveis. 8euys se coloca como transmissor do mundo, no qual busea

tentar comunicar de que consistia a sua arte. Em sua performance de 1965,

chamada Como explicar imagens a uma lebre marta, da qual 0 publico 56

poderia va-Io por uma janela, Beuys fica sentado conversando com uma lebre

morta em seu colo, ja que uas lebres entendem melhor que as humanos". Em

Eu gosto da America e a America gosta de mim, de 1974, pela primeira vez

Beuys expoe em Nova York, enfatizando a necessidade e a dificuldade da a9ilo

comunicativa. Nesta a9ilo, Beuys enrolado em feltro, foi transportado de

ambulancia diretamente para a galeria na qual passaria cinco dias enclausurado

com um coiote.

Em 1966, 0 artista John Latham propos uma a9ilo que viraria um icone

conceitual. Latham era professor da SI. Martins School of Art, uma escola de

Londres de importante influencia de ensino do modernismo, da qual emprestou

da biblioteca um exemplar de Arte e Cultura, de Clemente Greemberg.

Convidou artistas e alunos para uma "mastigar;ao~, em que se escolhia uma

pagina para ser arrancada, mastigada e cuspida em uma vasilha propria.

Naquela vasilha, apos a "mastiga9ao" fcram acrescentados produtos quimicos.

Quando a biblioteca requisitou de volta 0 livro, Latham entregou um tubo de

ensaio contendo alcool e a mistura feita na 'mastigar;ao"; Latham havia

destilado Arte e Cultura. Obviamente foi despedido, e formou uma maleta de

aparancia duchampiana, contendo um exemplar de Arte e Cultura, os produtos

quimicos utilizados e sua carta de demissilo. Essa maleta intitulada Arte e

Cultura, hoje faz parte do acervo do museu de Arte Moderna de Nova York.

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Arle e Cultura, 1966 - John latham

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o nome "Arte Conceitual" surgiu em 1967, por Sol LeWitt, na Artforum: "Na arie

conce;tual, a ideia au concedo e 0 aspecto mais fmporlante da obra ... A ide;a se toma a

maquina que produz arte." 24 Le Witt no entanto, se preocupou em naD tarnar a arte

conceitual em urn campo de ideias complexas: "A malaria das boas ideias sao

ridiculamente simples" 25 Em 1969, escreveu Sentenyas sobre a Arie Conceftual, no

qual enfatizou: "... artistas conceituais sao mais misticos do que raciona/istas. Etes

procedem por saltos, atingindo conclus6es que nao podem ser alcanyadas pela 16gica.

Julgamentos racionais repetem julgamentos racionais. Julgamentos il6gicos levam anovas experiencias. ,,26

o artista Joseph Kosuth publicou em 1969, no periodico Studio International, 0

texto "Arte depois da filosofia", que pode ser considerado a maior deciara9Bo teonca

feita por um artista conceitual ate aquela altura. Kosuth rejeita toda arte convencional

desde Duchamp, pois a arte nao requer mais a produ9ao de objetos, dependendo entao

de urna proposiCao com relacao a consequencia de que esta e urna obra de arte: UA

'mais pura' definiyao de arie conceitual seria a de que ela Ii uma indagayao dos

fundamentos dos conceftos de arie." 27 Logo outros escntores tambem familiarizados

com a arte conceitual, apontaram falhas no pensamento de Kosuth, 0 que de qualquer

maneira nao afetou 0 desperlar da constancia das questoes indagadas por Kosuth

sabre 0 que era arte, agora par Qutros artistas e escritores, que nao se podia mais

evitar.o Grupo Arte & Linguagem surgiu para trabalhar estas questoes que estavam

tao abertas, buscando urna nova forma de pratica critica. Em maio de 1969, este

mesmo grupo inaugurou a revista Art-Language, que teve como preocupa9ao a

abertura dada a uma situac;ao de vanguarda que amea<;:ava se transformar em sua

propria pnsao. Em 1970, escreveram um texto no qual afirmavam que sen a bobagem

"insistirem nomearuma construyao analitica de arie como 'obra de arie'''.

Antes, era tempo de os artistas conceituais voltarem-se, nao a 'proliferaca.o de significadosdesignados', mas sim ao 'mosaico semi6tico' do qual se extraia 0 senti do. 0 que importavarealmente eram as mudancas fundamentais na 'estrutura signica conceitual do continuumpropriamente dito'. A linguagern e dubia, mas acaba par se defrontar com urn problema real. 28

WOOD, op.cit., p.38.25 Id.

26 Id.

27 Ibid., p.43.

28 Ibid., p.49.28

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VOLUME I NUMBER I MAY 1969

Art -LanguageThe Journal of conceptual art

Edited by Terry Atkinson, David Bainbridge.Michael Baldwin. Harold Hurrell .

ContentsIntroductionSentences on conceptual art Sol LeWin IIPoem-schema Dan Graham 14

Statements Lawrence Weiner 17

Noteson Ml (I) David Bainbridge 19

Notes on Ml Michael Baldwin 23Notes on M 1(2) David Bainbridge 30

fArt-Language is puhlished Illree times a year by

Art & Language Press 84 Jubilee-Crescent, Coventry CV6 JETEngland, 10 which address all mss and tellers should be sent.

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Art-Language, vol. 1. n. 1, maio de 1969. Publicado ern Coventry, na Inglaterra.

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Havia uma procura em ultrapassar as pr6prias 'obras de arte conceituais',

originarias da tradi~ao duchampiana dos ready-mades, tentando produzir 0 que

poderia ser chamado de uma obra generica. 0 Indice, produzida pelo Grupo Arte &

Linguagem desafiava varias conven~oes da arte. A obra foi produzida para ser lida,apesar de ser composta par textos e objetos; e teria sid a feita nao mais par um s6

artista, mas por um grupo. Tratava-se de uma instala~ao composta pelos textos

publicados na Art-Language, e outros nao publicados, mas escritos pelos membros do

grupo.

Uma das principais caracteristicas da Arte Conceitual nos anos 70 foi a sua

crescente preocupac;ao com a politizac;ao. Essas quest5es que abordam a dimensao

politica do conceitualismo,exigem indaga~oessobre 0 quanto aberta e publica pode ser

uma pratica artistica para que seja vista como politi ca. Essa caracteristica e menos

marcante nos paises de lingua inglesa, porem 0 debate no mundo da arte, tornava-se

cada vez mais politizado. Em paises em que houveram guerrilhas ou golpes, a situa~ao

demandava respostas mais diretas, e par essas raz5es a debate politico nessas

localidadestornou-se um forum para interven90espolitico-culturais.

No Brasil, a Arte Conceitual surgiu durante a ditadura militar dos anos 60,

quase que paralelamente com os Estados Unidos e a Europa, se desenvolvendo num

contexto de repressao politica e censura, dando a arte caracteristicas de "agressividadee visceralidade" 29. A 'agressividade e visceralidade' deu tom de inconformismo apreocupac;ao que se tinha em identificar efetivamente a vanguarda brasileira, na

tentativa de uma posic;ao critica e ampla de desmistificac;ao. Os experimentalismos

abertos na decada de 60, ajudaram a gerar essas mudanc;as significativas no campo da

arte brasileira nos anos 70, que comec;ou a se destacar na mostra internacional de arte

conceitual, Information, no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1970, na qual

dos cern artistas com trabalhos em exposic;ao, quatro eram brasileiros.

Ocorreram nos anos de 1969 e 70 dois eventos que marcaram

profundamente a Arte Conceitual no Brasil. 0 primeiro, 0 Salao da Bussola, ocorreu

no Rio de Janeiro, no qual Artur Barrio pela primeira vez exibiu suas TrouxasEnsanguentadas. E 0 outro, Do Corpo Ii Terra, ocorreu em Belo Horizonte, no Pa~o

MORAIS. Do Conceitual a Arte Contemporanea: marcos historicos.

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das Artes, pela primeiras vez, artistas sao convidados nao para expor obras, mas para

desenvolver performances, happenings e rituais. Neste evento, Cildo Meireles no dia

21 de abril queimou 10 galinhas vivas na apresenta"ao de Tiradentes: totem-

monumento ao preso politico.

As exposi~6es do MAC-USP nos anos 70 tambem foram de grande

importancia para a Arte Conceitual no Brasil, principalmente Poeticas Visuais e

Prospectiva. Em Sao Paulo, em 1970, surgiu a Escola Brasil, na qual tratava a arte

sempre de forma experimental, dando a tecnica um recurso secundario. Existiam

tambem, locais onde nao se produzia arte, mas eram feitas exposi90es e discussoes

sobre a produ~ao contemporanea, principalmente no que diz respeito as

performances, instala~6es e arte tecnol6gica. Sao exemplos destes locais 0 Espa~oN.O., de Porto Alegre e 0 Nucleo de Arte Contemporanea, de Joao Pessoa.

Junto a toda transforma~ao de concep~ao de arte nos anos 70, houve

tambem um esfor90 de mudan9a na organizaC;ao dos circuitos de arte, como a

cria~ao da Funda~ao Nacional de Arte, a reestrutura~ao do Salao Nacional, com

diversos projetos de arte publica. Foram implantados museus de escultura ao ar livre

e obras publicas. Por meio do Salao Nacional de Arte Moderna, a Funarte passou a

incentivar a produ9ao artistica em diversas regioes do pais, realizando palestras,

seminarios e mostras. Os festivais de arte (Minas Gerais, Rio Grande do Sui e

Espirito Santo) ajudaram a disseminar informa~oes e atualiza~oes no ensino da arte,

e a promover a troca de experiemcias de artistas de varios estados.

Os artistas que obtiveram uma pesquisa rnais exigente no campo do

conceitualismo no Brasil, atravessaram as contradic;6es da epoca, segundo um

percurso institucional num sentido reflexive da materialidade da arte. Cildo Meireles

foi um desses artistas que por meio processos e procedimentos conceituais,

enfatizou a reflexao da arte pela arte, e nao a reflexao de urn contexte local.

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6 0 CONCEITUALISMO NA OBRA DE CILDO MEIRELES

Gilda Meireles30 comec;:a sua pesquisa artistica a partir de onde

chegaram os experimentalismos da decada de 60, de Helio Oiticica e Lygia

Clark. 0 artista desvaloriza a arte como urn ofieic manual e a coloca como a9<3.0,

e ideia, valorizada pelas experiemcias multisensoriais e propostas libertarias.

Porem, h8 uma luta constante contra a habitualidade e 0 artesanato cerebral,

que pade ser caracterizado como a Arte Conceitual mais extremista. Tal como

seus antecessores, 0 artista quer diminuir 0 espac;:oque separa a arte da vida, 0

que faz sua obra, em grande parte, ter uma integra9ao entre 0 trabalho de arte e

a vida diaria, afetando na escolha dos materiais. Seus trabalhos ultrapassam as

metaforas, apropriando-se de materiais ambfguos, impregnados de significados,

podendo simultaneamente ser simbolo e materia prima. Esses materiais podem

ser garrafas de Coca-Cola, moedas e cedulas, vassouras, caixas de f6sforo,

sacos de papel, entre outros.

Mesmo tendo participado da exposi9ao de Arte Conceitual Information,

em 1970, junto a artistas brasileiros como Artur Barrio e Helio Oiticica, no MoMA

de Nova York, Cildo nao se considera um artista conceitual, e ate, se coloca de

maneira constante em uma pratica "desobjetivadora (descentralizadora)" da Arte

Conceitua!. Cildo nao tern a preocupa9ao de fazer uma arte fechada, ou seja,

engajada em um movimento ou estilo, por isso nao e um artista exclusivamente

conceitual, ate por que, pouquissimos atingiram esse status. Em muitas obras

ele aponta tendemcias ao conceitualismo, porem em outras evidencia uma

preocupac;ao alta mente formal, como em Espa90s Virtuais: Cantos (1967/68),

Volumes Virtuais (1968/69), Ocupa90es (1968/69).

E certo dizer que toda e qualquer tentativa de se agrupar ou rotular as

obras de Cildo Meireles seriam questionaveis, porem serao citados e

comentados alguns dos trabalhos do artista que teriam uma conota9ao

conceitualista, ou seja, trabalhos que 0 teriam identificado como urn artista

conceitual, ate mesmo internacionalmente.

Ver a curricula de Cilda Meireles em "Anexa", nesta monagrafia.

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Insen;oes em Circuitos Ideol6gicos

Em trabalhos como Inserg6es em Circuitos Ideol6gicos, Cildo desestabiliza

os c6digos das grandes estruturas sociais do Ocidente. Inserq6es em Circuiios

Ideol6gicos: Projeto Coca-Cola (1970) trata de garrafas de Coca-Cola adesivadas

lnser90es em Circuitos Ideol6gicos: Projeto Coca-Cola, 1970 - Cildo Meireles

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com os impressos Yankes Go Hamel, e logo abaixo, 0 nome da propria opera~ao

Inserqoes em Circuitos Ideol6gicos: Projeto Coca-Cola. Apos a adesiva~ao, as

garrafas sao recolocadas em circulac;ao. Esta operac;ao provo cava a ordem

publica e confrontava 0 espa~o do capitalismo, ressaltando a "dolorosa" realidade

politica, social e econ6mica do pais, influenciada pel a ideologia americana. Foi

visto de forma artistica pela primeira vez na exposi~ao Information, em 1970.

Inser~6es em Circuitos Ideol6gicos: Projeto Cedula, 1976 • Cildo MeireJes

o outro projeto desta opera9ao e chamado de Inserqoes em Circuitos

Ideol6gicos: Projeto Cedula, de 1976, no qual notas de dinheiro sao carimbadas

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com mensagens politicas e recolocadas em circula9aO, durante a ditadura militar. As

notas em que fcram carimbadas "Quem matou Herzog?", foram recolocadas em

circula~ilo enquanto divulgavam a morte do jornalista Wladimir Herzog como suicidio,

quando teria morrido sob tortura militar. Segundo a pr6prio artista, a Projeto Coca-

Cola seria quase uma metafora aa Prajeto Cildula, cansiderada a verdadeira trabalha,

pais "no confronto entre 0 indivlduo e 0 Estado naquelas circunstiincias, 0 Estado era

claramente vista como a problema." 31

Em Inse~oes em Circuitas Ideol6gicos: Projeto CMula e Projeto Coca-Cola,

silo enfatizadas questoes que abordam um aspecto formal da linguagem, no sentido

de produzir um objeta que repensasse produtiva e criticamente, avan~ando e

aprofundando, um dos mais fundamentais e fascinantes projetas da historia da arte:

as ready-mades de Marcel Duchamp. No casa do Projeto Coca-Cola, a ideia era fazer

justamente a inverso de Duchamp: a objeto de arte estaria atuando no meio industrial,

e nao mais a objeto industrial atuando no meio artistico. 32

Com as Projetos Inse~oes, hauve a canstata~ila da passibilidade de se fazer

um trabalha real, que atingisse a publico de forma dnilstica e incisiva, sob as circuitos

de consumo e distribui~ao existentes, neutralizando a propaganda ideologica original,

que e sempre alienante, veiculada par meio de uma embalagem. Mas para que tal

circuito fosse efetivado de forma que a publico pudesse praticar livre mente a circuito,

seria necessaria a anonimato do artista. A obra neste caso nao ocorre a distancia de

uma mera suposi9ao, ela ocorre diretamente na vivencia e cotidiano do espectador,

do publico, dando chance de enfrentamenta e liberta~ao do sistema. Deve ficar claro

que este objeto s6 e de arte parque participou de uma pratica artlstica, a qual se

entende como a circuito e a que ele poderia provocar no corpo social.

A Coca-Cola poderia ser encontrada no proprio supermercado e algumas das

garrafas poderiam ser as de Cildo, e ainda, a troco da compra poderia ser uma nota

"Quemmatou Herzog?". Mas esta colaca~aa e uma mera supasi~ila, pais as Projetas

foram feitos em escalas individuais, tornando praticamente impossivel iriam devora-

los: infiltrar-se concretamente nestes circuitos. Frederico de Morais, em resposta a

esta obra realizou a seu proprio trabalho, para dizer que as grandes circuitos sempre

HERKENHOFF; CAMERON; MOSQUERA. Cllda Melreles. p.l08.32 id.

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encomendou centenas de garratas, com as quais cobriu 0 chao de uma gale ria e

apenas uma delas seria a garrata impressa. Cildo justifica:

UMinhaintenyao na epoca era chegar a uma f6rmula que pudesse ter efefto politico; e creioque a paya conseguiu. (...J Na OC8si~, estava mufto contents com 0 projeto porque era aDmenos fact/vel, ainda que levantasse a questao da desproporr;ao. n 33

Inser~6es em Circuitos Antropol6gicos

Enquanto em /nsen;oes em Circuitos /deo/6gicos 0 artista pretendia isolar e

deftnir 0 conceito de circuito, a partir de um sistema de circula~ao preexistente; em

/nse~oes em Circuitos Antropo/6gicos, de 1971, os objetos eram falsamente

fabricados e depois colocados em circula9ao, burlando 0 pr6prio circuito. Eram dadas

instru90es para se fabricar subversivamente esses objetos, que eram fichas de barra,

prensadas em moldes feitos a mao, imitando moedas, ftchas de telefone e transporte,

os quais alterariam 0 comportamento politico-social.

Zero Cruzeiro, Zero Centavo, Zero D61ar e Zero Cent

Nas obras Zero Cruzeiro (1974-78), Zero Centavo (1974-78), Zero D61ar

(1978-84), Zero Cent (1984), Cildo trabalha novamente com opera~oes financeiras e

da aces so aos processos econ6micos da arte, nestes casas, visualizando a aspecto

do monop6lio social. Tratam-se de notas (Zero Cruzeiro, Zero Do/ar) e moedas (Zero

Centavo e Zero Cent) de cruzeiros e d61ares que convencem graficamente sua

autenticidade, pOrt3m a valor delas nao vale nem mesmo a papel que elas usam, pOis

seu valor e zero.

A pintura e a escultura, os dois pilares da arte OCidental, seriam reduzidos a

valor zero, segundo a representa~ao na qual as notas (Zero Cruzeiro, Zero D6/ar), tem

liga~o com 0 bidimensional, e as moedas (Zero Centavo e Zero Cent) com 0

tridimensional.

Enquanto nas versoes reais de moeda do Banco Central aparecem her6is,

simbolos do poder e da riqueza nacional, nas imagens de Zero Cruzeiro, aparecem

um indio nu e um interno de um hospital psiquiatrico. 0 indio e 0 interno nao fazem a

ibid., p.12.

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menor diferentya para a economia, ou seja, de valor zero para a mundo capitalista.

Tanto 0 indio quanta a interne sao simbolos marginais da sociedade, assim como as

presos politicos durante 0 periodo de ditadura militar, os quais eram representados e

defendidos por artistas com propostas de reac;:ao politica e contra a ditadura militar,

como Cildo Meireles, Antonio Manuel e Artur Barrio.

Duas primeiras: Zero D6far. 1978-84Duas ultimas: Zero Cruzeiro. 1974-78

Cildo MeirelesCildo Meireles

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EurekaiBlindhotland

Eureka, duas barras idemticas e uma cruz de madeira de madeira, e urn par

de balan,as. Blindhotlad (Cega Terra Quente), 200 bolas de borracha espalhadas

pelo chao, de cor, forma, material e tamanhos iguais, mas diferentes entre si par

seus pesos, que variam de 150 a 1500 kg.

EurekalBlindhotiand Irata-se do trabalho que leva 0 nome de uma serie de

projetos que Cildo vinha desenvolvendo ha 10 anos. E a uniao de trabalhos que

EurekaiBlindhot/and, 1970~75 - Cildo Meireles

pretendia, per uma rede preta ate 0 teto, na qual nurn ponto iluminado encontram-se

as balan,as, que por h~ra, podiam conter as bolas de borracha ou as pe93s de38

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madeira, causando um desequilibrio entre a quantidade e 0 peso. No chao, as bolas

de borracha dao urn visual equilibrado, enquanto sua densidade e diferenciada.

o espectador e indagado para uma redefiniC;aodo espac;o, que nao podera

ser resolvida visualmente e por meio do conhecimento, e sim pelo contato muscular,

pel a consciencia corporal. 0 trabalho esta conectado com a ideia de sinestesia, a

percepC;ao de um senti do por meio de outro. Substituindo a sentenc;a minimalista Uo

que voce e 0 que voce ve" pel a "0 que voce ve, nao e 0 que voce va", a visao se

engana quanto a igualdade entre as formas, ela nao pode perceber a diferenc;a entre

os pesos, pois isso s6 seria possivel com 0 toque. Surge uma (mica pista em relaC;ao

ao peso: a trilha sonora da 0 sam ao fundo de bolas de diferentes pesos e barulhos

caindo ao chao.

EurekalBlindhotfand foi produzido na mesma epoca que Inserc;6es em

Circuilos Ideol6gicos: Projeto Cedula e Projeto Coca-Cola. Silo diferenciados pela

quantidade de abstraC;ao das ideias, e por outro lado, pelo engajamento com

quest6es mais sociais. EurekalBlindhotfand pende mais para urn lade formal da obra

de Cildo, mas nao deixa de ser pOlitica, uma vez que esta seja parte da essencia de

sua obra. Prova disso, e a referencia a dinamica de estados alterados, observada a

partir dos guetos, nos quais as informac;6es se movimentam e se potencializam:

"Sempre que as pessoas sao submetidas a pressao, produzem mais, pensam mais,

ideias surgem e circulam, e depois de algum tempo, a situa,ao dos que eslao dentro

e fora do gueto tende a reverter ou inverter-se." 34

Espelho Cego

Em 1970, eildo iniciava seus projetos relacionados a sua constante ideia de

trabalharcom sensac;6esque nao sejam subordinadasao dominio da visao, tendo como

exemplos os trabalhosda serie EurekaIBlindhotfand, como Espelho Cego, de 1970.

Espelho Cego e urn espelho comum de hospital, no qual 0 vidro foi substituido

por massa de calafate, que e urn tipo de borracha mole moldavel. Na moldura do

espelho esta escrito em relevo e espelhado, parecido com braile: Blind Glass. A

proposta deste espelho e constituir uma imagem tatil deste objeto. Somente urn cego

ibid".., p.69.

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lena a verdadeira perCeP9aopara apreciar esla obra, pois nao haveria a perda do

sentido da visao, como para quem pode ver, par exemplo.

Espelho Cego, 1970 - Cildo Meireles

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Malhas da liberdade

Malhas da Liberdade nasceu de rabiscos no papel, linhas que se

interseccionavam e S8 transformavam em grade. As duas primeiras vers5es da obra

loram leitas em redes de pesca. A terceira versao, em 1976, produzida para a Bienal de

Paris, 0 artista resolveu faze-los em material mais rigido, construida em metal e vidro.

o titulo da obra Malhas da Liberdade, afirma a paradoxo presente nas obras

de Cildo Meireles, porque malhas au redes justamente capturam a liberdade. Ja nM

-

Malhas da liberdade, 1976 - Cildo Meireles

se tratava apenas de uma questao de linhas, e sim de uma manifestayao, pais cad a

linha estava em um plano dilerente, porem interseccionadas com outras,

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multiplicando a estrutura continuamente. A liberdade de cada um enredada com a

liberdade do outro. A partir de cada estrutura, que tem um corpo proprio, e possivel

acompanhar a passagem entre cad a uma e suas Iiga~6es.

E nas duas vers6es de Ma/has da Uberdade que podemos entender mais claramente aruptura da grade modernista de Mondrian para a criac~o de pIanos de intercessao capazes

de S8 multipliear no espBfO. 35.

Na epoca em que fez este trabalho, Cildo tentou encontrar informa90es

sabre 0 principia de crescimento, na literatura matematica, mas nada encontrou.

Veio a saber que em 1977, no ana em que mandou Malhas da Liberdade para a

Sienal de Paris, um matematico americano, Mitchell Feigenbaum, havia publicado a

teoria do coeficiente universal par vias cientificas. No conto "Jardins das veredas

que se bifurcamn de Jorge Luis Borges, aparece urn conceito similar.

LAGNADO, L Uma teona poetica da sociedade. In: Folha de Sao Paulo. Folha de Sao Paulo,26/mar.I2000.

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CONCLUSAO

A Arte Conceitual teve seu aparecimento no inicio da decada de 60, e na

de-cad a de 70, seu fortalecimento e declinio. Marcel Duchamp com seus

readymades, trabalhou pela primeira vez com a rejei9ao do objeto tradicional da arte,

sendo esta uma das bases da Arte Conceitual. Desde os readymades, a Arte

Conceitual precisQu percorrer urn longo caminho ate que fosse concebida. Desde

entaD, fcram aproximadamente cinco decadas de mudan~as sociais, politicas e

artisticas, que propiciaram 0 aparecimento da Arte Conceitual.

Ap6s 0 periodo de guerras, a Europa estava em 'frangalhos' e os Estados

Unidos novamente fortalecido. Esse perfil cabe tambem a arte, pois na decada de

50, Nova York era 0 novo centro artlstico mundial, deixando Paris em urn plano

secundario. Jackson Pollock e Willem de Kooning erarn as grandes representantes

desta arte americana, e na critica de arte, Clement Gremberg. Era 0 Expressionismo

Abstrato, reconhecido por sua gestualidade, que trazia a novidade a arte americana.

No final da decada de 50, as abordagens artisticas de Robert Rauschenberg, Jasper

Johns, Yves Klein, Piero Manzoni, eram cada vez menos puras e formalistas. A Pop

Art e 0 Minimalismo fcram de fundamental importancia para 0 aparecimento da Arte

Conceitual. A Pop Art desencadeou processos e c6digos modernos, utilizando-se de

temas tirados da banalidade da vida urbana americana. Dependia das tecnicas, da

cultura visual de massa: cinema, TV, as revistas em quadrinhos, a imprensa popular,as anuncios publicitarios. 0 Minimalismo pode ser observado por sua frieza, no qual

coloca que a arte nada teria a ver com expressao, ela seria uma for9a pela qual a

mente poderia se impor de maneira racional, concebida inteiramente no pensamento

antes de sua produ98o. 0 Minimalismo buscava a clareza, 0 rigor conceitual, a

simplicidade, reduzindo a arte a tal ponto, que nao deixou muita oP9ao para os

artistas mais jovens, que partiram para a redu9ao da importancia do objeto, dando

enfase a linguagem, aD conhecimento e ao pensamento.

No Brasil, a arte nos anos 50 e inicio dos 60 e caracterizada por intensa

experimenta9ao e um sensorialismo inedito. Mesmo com a Semana de Arte Modema

de 1922, 0 Manifesto Antropofagico e algumas produ90es como as de Alberto da

Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Oswaldo Goeldi e Lasar Segall; hoi quem diga que

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foram os concretistas brasileiros, mais especificamente os neoconcretistas cariocas,

que efetivamente conseguem trazer 0 'Modemo' para 0 Brasil (Ronaldo Brito). A

produ9ao concreta brasileira demonstra a ansiedade em superar 0 atraso

tecnol6gico e 0 realismo regionalista, difundido pela esquerda oficial do pals. 0

neoconcretismo carioca contava com artistas como Lygia Clark, Lygia Pape, Helio

Oiticica, e privilegiava a experimenta,ao e a produ,ao pratica, das quais

proporcionaram a multiplicidade de estilos e tecnicas, indicando um questionamento

sobre as limita,oes da arte, abrindo 0 campo estetico para as inova,oes.

Os anos 60 foi a passarela entre a construyao, nos anos 50, e 0 conceito

nos anos 70. 0 concretismo reduziu ao maximo 0 vocabulario plastico da arte, dando

enfase a ideia de estrutura, tomando mais amplo 0 campo para a arte de sistemas

mais complexos, ligados a ciencia e tecnologia, como fundamento para a cria,ao

visual e a intelectualidade para trabalhos que iriam alem do visual. 36 Em diversos

paises, era urn trayo comum a revolta, a insatisfayao dos jovens com as propostas

que a arte e a sociedade Ihes apresentava e um forte desejo de reconstrui-Ias. Eneste momento que a Arte Conceitual e instaurada, abrindo 0 campo do conceito da

arte e ampliando atitudes e experiencias artisticas. Sob as palavras de Frederico

Moraes, "ao espectador pedia-se uma participar;ao puramente mental no universe

criador do artista, uma leitura cada vez mais especia/izada: arte sobre arte." 37 0

dominic da tecnica ja nao era tao importante, haven do um crescente interesse ao

usc das tecnologias de comunicayao, como a fotografia e 0 video, que deram um

resultado de nao unicidade da imagem. Por meio de diversas linguagens e

propostas, a Arte Conceitual procurava transmitir as ideias, sobre arte, em torno da

arte e ligada a arte, de diverses assuntos e temas nao contidos ou representados

em um s6 objeto. E uma arte que independe da forma, pois esta de maneira mais

complexa e completa na mente do artista e do publico.

Na America Latina, especialmente no Brasil, a Arte Conceitual tinha outr~

contexto, multiplos desdobramentos e peculiaridades na sua produyao, apresentando

diferenyas entre 0 que se convencionou chamar Arte Conceitual nos Estados Unidos

e na Europa. A partir do final da decada de 60 0 Brasil passava por uma ditadura

MORAJS. Do gn::eituaJ a Me contemooranea p. 837 ibid. p.7.

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militar, tendo assim um discurse critico de carater cada vez mais autoritario,

afastande de meio artistico tude 0 que nao houvesse integraryao com 0 cotidiano e a

politica. A Arte Gonceitual brasileira vem ser caracterizada pelo compromisso

politico, de encontro a necessidade de relaryao da arte com 0 cotidiano da epoca.

A preocuparyao politica nao deveria ser uma caracteristica fundamental das

produ90es conceituais, segundo os conceitualistas doutrinarios. Principalmente no

Brasil enos paises da America Latina, essa peculiaridade na arte dos anos 70 foi

inevitavel, e imprescindivel para uma posi980 na arte internacional. Gildo Meireles,

Artur Barrio, Antonio Manuel, entre outros, tinham um forte compromisso politico e

social em suas obras, uma vez que nenhum outr~ tipo de manifestaryao poderia ser

realizado, a nae ser camuflado, por meio de um processo artistico.

Lucy Lippard, critica de arte norte-americana, defende este tipo de

manifesta9ao pela arte:

WAssim como alguns artistas est:to subindo socialmente, outros permanece~osustentandoa velha imagem, 0 ego do colecionador, a elite das instituiQOes, e se enriquecendo com isso.o que os outros i~o fazer pode-se imaginar. A (mica coisa certa e que os artistascontinuarao a fazer arte e parte desta arte nao sera sempre reconhecida como 'arte'; partedela pode mesmo ser chamado de politica." 38

Neste trabalho, alguns trabalhos de Gildo Meireles fcram apontados como

exemplo desse pensamento politico por meio da arte. Nos projetos Inser,oes em

Circuitos Ideol6gicos, Projeto Coca-Cola e Projeto Cedula, de 1970 e 1976,

respectivamente, sao enfatizadas questoes que abordam um aspecto formal da

linguagem, no sentido de produzir um objeto que repensasse produtivamente e

criticamente os ready-mades de Marcel Duchamp. No Projeto Coca-Cola, a ideia era

fazer 0 objeto de arte atuar no meio industrial, e nao mais 0 objeto industrial atuando

no meio artistico. A ideia era a de um trabalho que atingisse 0 publico efetivamente,

por meio dos objetos de circuitos de consumo e distribui9aO existentes,

neutralizando a propaganda ideol6gica original alienante, veiculada por meio de uma

embalagem. Insert;oes ocorre diretamente na vivencia e cotidiane do espectador,

dando chance de enfrentamento e libertayao do sistema.

Em Inserr;oesem CircuitosAnlropol6gicos, de 1971, como nos outros projetos

LIPPARD, L. o [)jlema. In: BATTOCK, Grego/y. A NC>I.Arte. p.189.

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/nsen;oes, Cildo desestabiliza os c6digos das grandes estruturas sociais do

Ocidente, provocando a ordem publica, alterando 0 comportamento social e

confrontando 0 espa90 do capitalismo. /nseryoes em Circuitos Antropo/6gicos sao

instru90es dadas para se fabricar subversivamente objetos dos circuitos de

distribui~ao e consuma, como fichas de maquinas, transportes e telefones.Cildo trabalha novamente com opera90es financeiras nas obras Zero

Cruzeiro (1974-78), Zero Centavo (1974-78), Zero D6/ar (1978-84), Zero Cent

(1984), dando acesso aos processos economicos e sociais da arte. Nas ilustra90es

das notas de Zero Cruzeiro, aparecem urn indio nu e urn interne de urn hospital

psiquiatrico, slmbolos marginais da sociedade, de valor zero para 0 meio economico.o Indio e 0 interne sao comparados aos presos politicos durante 0 periodo de

ditadura militar, representando 0 compromisso politico mais urna vez.Os trabalhos da serie Blindhot/and nao os de maior engajamento politico,

das obras de Cildo. Tratam-se de trabalhos com urn forte apelo conceitual sobre a

vivencia da obra par meio de outras sensayoes e sentidos, que naD seja somente avisao, substituindo a senten9aminimalista"0 que voce e 0 que voce ve" pela "0 que

voce ve, nao e 0 que voce ve". Em EurekaiBlindhotland 0 espectador e indagado

para uma redefini9aOdo espa90, que nao podera ser resolvida visualmente, e sim

pel a consciencia corporal. A visao se engana quanta a igualdade entre as farmas,

uma vez que elas nao tern 0 mesmo peso. A trilha sonora da 0 som ao fundo de

bolas de diferentes pesos e barulhos caindo ao chao, confundindo ainda mais 0

espectador.

No trabalho Espe/ho Cego, 1970, desta mesma serie, Cildo constroi urn

'espelho tatil' que somente os cegos podem ter a verdadeira perCeP9aOpara

apreciar, pois neste caso, a visao s6 atrapalharia. Blindhotland pode ser vista como

uma obra conceitual, mas que pende para urn lade formal. Estes trabalhos nao

deixam de ser politiCOS, urna vez que estas obras buscam a conscientizac;ao de si

mesma, 0 auto-conhecimento par meio dos sentidos.

Ma/has da Liberdade (1976-77) tern uma preocupa9aOainda maior com a

forma, mas ainda e extremamente conceitual. Ma/has da Liberdade, afirma 0

paradoxa presente nas obras de Cildo Meireles, porquemalhas ou redes justamente

tiram a Iiberdade. As linhas estao cada uma num plano diferente, mas ainda assim

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atreladas: umas as outras. Este trabalho tem uma ligac;ao conceitual com a principia

de crescimento, da matematica, e com canto "Jardins das veredas que se

bifurcam" de Jorge Luis Borges.

Quando se tem um certo distanCiamento da situa9ao observada, Eo

possive] percebe-Ia com maior nitidez. E foi isso que aconteceu com a Brasil.

Quando a Arte Conceitual chegou no Brasil, ela js chegou digerida, ponderada e

transformada, e talvez, muito mais amadurecida do que nos Estados Unidos ou

Europa. Pessivelmente, aquela Arte Conceitual doutrinaria e extremista, nem

tenha chegado por aqui. No Brasil, a Arte Conceitual foi consciente, de acordo

com 0 contexte que a pais possibilitava, e aberta para diversas ideias e nuances

entre 0 formal e 0 conceitualismo. Cildo Meireles foi um desses artistas que

assimilou a Arte Conceitual dos Estados Unidos e Europa, e a transformou em

seus trabalhos. Par meio das obras de Cildo Meireles, e posslvel entender as

diversos conceitos que a arte pode ter.

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ANEXOS

CURRiculo

CllDO MEIRElES '(Retirado do site do Itau Cultural: www.itaucultural.com.br)

Cildo Meireles (Rio de Janeiro RJ 1948) inicia esludos de arte em Brasilia,com Felix Alejandro Barrenechea, em 1963. Freqiienta par dais meses a EscolaNacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1967. Eo urn dos fundadores daUnidade Experimenlal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1969, naqual leciona entre 1969 e 1970. Cria cenaries e figurines para teatro e cinema de1970 a 1974 e, em 1975, e urn dos direlores da revista de arte Ma/asartes. Seutrabalho se caracteriza pel a diversidade de tecnicas e suportes empregados -pintura, desenho, escultura, ambiente, happening, instala9E10, performance,fotografia -, conjugando-os em multiplas linguagens que discorrem sobre questaessociais e politicas. Realiza grande numero de individuais, duas delas de caraterretrospectivo, no Instituto Valenciano de Arte Moderna, Ivam, Espanha, 1995; e noNew Museum of Contemporary Art, Nova York, 1999. Expae em importantes mostrasno Brasil e no exterior, como na Bienal de Veneza, 1976; Bienal de Paris, 1977;Bienallnternacional de Sao Paulo, 1981, 1982 e 1998. Em 1997, Branca Bogdanovadirige 0 document,;rio Cildo Meire/es, nos Estados Unidos. Em 1999 recebe 0 PrinceClauss Award do governo holandes.

NASCIMENTO9 de fevereiro de 1948 - Rio de Janeiro/RJ

lOCAlS DE VIDA1955c.11957c. - GoianiaGO1957c.11960c. - Be!t;mPA1960c.11967· BrasiliaDF1967/1971c. - Riode JaneiroRJ1971/1973 - NovaYork (EstadosUnidos)1973/1976c. - Riode JaneiroRJ1977/197Bc. - Planaltina DF1978/1990 - Riode JaneiroRJ

FORMACAO1963/1965 - Brasilia OF - FreqOenta 0 atelie do artista peruano Felix Alejandro Barrenechea,

mantido pela Funda9ao Cultural do Distrito Federal.1968 - Rio de Janeiro RJ - Estuda par dais meses na Enba e freqOenta a Atelie de Gravura

doMAM/RJ.

ATlVIDADES EM ARTES VISUAlS1967 - Manta pela primeira vez, no MAM/RJ, a obra Desvio para 0 Vermelho1967/1968 - Realiza a obra Espayos Virtuais - Cantos1969- Riode JaneiroRJ - Eo professorno MAM/RJ1969 - Rio de Janeiro RJ - Funda, com Guilherme Vaz e Frederico Morais, a Unidade

Experimentaldo MAM/RJ1970 - Realiza a obra Inserqoes em Circuitos Ideol6gicos

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1970 - Belo Horizonte MG - Participa da Semana da Inconfidencia, no evento Do Corpo aTerra. Apresenta a obra Tiradentes: totem-monumento aD preso politico, na qual dezgalinhas amarradas a uma estaca sao queimadas vivas

EXPOSI<;:OES INDIVIDUAlS1967 - Salvador BA - Primeira indivdual: desenhos, no MArv1IBA1975 - Rio de Janeiro RJ - Blindhotiand/Gueto, na Galena Luiz Buarque de Hollanda e Paulo

Bittencourt1975 - Rio de Janeiro RJ - EurekalBlindhotiand, no MAMlRJ1977 - Cuiaba MT e Sao Paulo SP - Casos de Sacos, no Museu de Arte e Cultura Popular e na Pesp1978 - Sao Paulo SP - Cildo Meireles: desenhos, na Pesp1979 - Rio de Janeiro RJ - Artigos DefinKlos, na Galeria Saramenha1979 - Rio de Janeiro RJ - Artigos DefrnKlos,na Galeria Saramenha1979 - Rio de Janeiro RJ - Fiat Lux: 0 serrnao da montanha, no CCCM1981 - sao Paulo SP -Artigos Oefinidos e Espayos Virtuais: cantos, na Galena Luisa Strina1981 - Rio de Janeiro RJ - Cildo Meireles, na Funarte1983 - Rio de Janeiro RJ - EurekaIBlindhotiand, na Rio Arte Humaita1983 - Sao Paulo SP e Rio de Janeiro RJ - Obscura Luz: obscure light, na Galeria Luisa

Strina e na Galeria Saramenha1984 - Rio de Janeiro RJ e Sao Paulo SP - Desvio para 0 Vennelho, no MAMlRJ e no tv1AC/uSP1984 - Brasflia OF - Ouas Cole~5es: desenhos, na Sala Oswaldo Goeldi1986 - Rio de Janeiro RJ e Sao Paulo SP - Cinza, na Petite Galerie e na Galeria Luisa Strina1986 - Sao Paulo SP - Desvio para 0 Vermelho, no MAC/USP1989 - Sao Paulo SP - Campos de Jogos, na Galeria Luisa Strina1990 - Londres (Inglaterra) - Missao/MissOes: como construir catedrais e cinza, no Institute

of Contemporary Art (ICA), na Lower Gallery1990 - Nova York (Estados Unidos) - Projects 21: Cildo Meireles, no MoMA1992 - Sao Paulo SP - Metros I, na Galeria Luisa Strina1994 - San Francisco (Estados Unidos) - Entrevendo and Volatil, no Capp Street Project1995 - Rio de Janeiro RJ - Ouro e Paus, na Joel Edelstein Arte Contemporanea1995 - Valencia (Espanha) - Retrospectiva, no IVAM Centre del Carme1995 - Saint Louis (Estados Unidos) - Two Trees, no Laumeier Sculpture Park1996 - Filadelfia (Estados Unidos) - Fabric Shop1996 - Rio de Janeiro RJ - Individual, no Espa,o Cultural Sergio Porto1996 - Porto (Portugal) - Cildo Meireles: retrospectiva, no Museu de Arte do Porto1997 - Nova York (Estados Unidos) - EurekaiBlindhotland and Fio, na Galerie Lelong1997 - Boston (Estados Unidos) - Individual, no Institute of Contemporary Art1997 - Thiers (Fran,a) - Le Creux de l'Enfer1998 - Sao Paulo SP - CamelO, na Galeria Luisa Strina1999 - Nova York (Estados Unidos) - Cildo Meireles, no New Museum of Contemporary Art1999 - Helsinque (Finlandia) - Kiasma, no Museum of Contemporary Art2000 - Sao Paulo SP - Cildo Meireles, no MAM/SP2000 - Rio de Janeiro RJ -Individual, no MAM/RJ2001 - Brasilia OF - Cildo Meireles, na Arte Futura e Companhia2002 - Brasilia OF - Geografia do Brasil, no Espaco Cultural Contempora.neo Vena.ncio -

ECCO

EXPOSI<;:OES COLETIVAS1965 - Brasilia OF - 2° Salao de Arte Moderna de Brasilia1968 - Porto Rico - Exposic;iio Intemacionalde Desenho, no Museo de BellasArtes de Puerto Rico1969 - Rio de Janeiro RJ - Salao da Bussola, no MAM/RJ - 10 premio1970 - Rio de Janeiro RJ - Agnus Dei, na Petite Galerie

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1970 - 8elo Horizonte MG - Do Corpo a Terra, com a obra Tiradentes: totem-monumento 80preso politico, no Palflcio das Artes

1970- Nova York (Estados Unidos) -Information, no MaMA1973 - Silo Paulo SP e Buenos Aires (Argentlna)- Expo-Proje9ilo 73, na Grifo Galeria de Arte e no no

Centro de Arte y Comunicaci6n - CAYC1973 - Rio de Janeiro RJ - Indaga~o sobre a Natureza: significado e fun930 da obra de arte, na

Galeria do lbeu Copacabana1976 - Paris (Franca) e Londres (Inglaterra) - Arte de Sistemas/America Latina, no Espa\Xl caim e no

Institute of Contemporary Art, organizada pelo CAYC1976- Veneza (ltal") -38' Bienal de Veneza19n - Paris (Franl") -10' Bienaldos Jovens1977 - Silo Paulo SP - Casos de Sacos, na Pesp1977 - Rio de Janeiro RJ - Identificatkm of Arlisl- a book, na EAVlParque Lage1981 - Silo Paulo SP -16' Bienallnlemackmal de Silo Paulo, na Funda9ilo B"nal1981 - Me<l"'lIin (Coklmb") -1' Coloquio de Arte No-Objetual de Me<l"'lIin, no Museo de Arte Modemo1981- Rio de Janeiro RJ e Lisboa (Portugal) - Do Modeme ao Contemporaneo, no MAMlRJ e na

Funda9ilo Calousle Gu""n~n1982 - Rio de Janeiro RJ - Contemporaneidade: homenagem a Mario Pedrosa, no MAMlRJ1983 - Rio de Janeiro RJ - 3000 Melres Cubicos, no Espa", Cullural Sergio Porto1983 - Rio de Janeiro RJ - Pao de Metros, na Sui America1984 - Sydney (Australia) - 5' Bienal de Sydney, na New South Wales Art Gallery e

na Ivan Dougherty Art Gallery1984 - Sao Paulo SP - Cole<;:ao Gilberta Chateaubriand: retrato e auto-retrato da

arte brasileira, no MAM/SP1984 - Rio de Janeiro RJ - Doa¢es Recenles82414, no MNBA1984 - Rio de Janeiro RJ -lnIeNen¢es no Espa", Urbano1984 - Rio de Janeiro RJ - Madeira, Materia de Arte, no MAMlRJ1985 - Silo Paulo SP - Arte Novos MeioslMu~meios: Brasil 70180, no MABlFaap1985 - Rio de Janeiro RJ - Velha Man ••: desenho brasileiro, na EAVlParque Lage1986 - PortoAiegre RS -Co"9ilo Rubem Knijnik: arte brasileira anos6M0l80, no Margs1986 - Rio de Janeiro RJ - Depoimento de uma Gera9ilo: 1969-70, na Galeria deArte Bane~1986 - Rio de Janeiro RJ - T ransvanguarda e Cutturas Nacionais, no MAM'RJ1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador homenagem a Gilberto Chaleaubriand, no MAMlRJ1987 - Brasilia DF- Miss5es 300 Anos: a visilo do artista, no Teatro Nacional1987 - Paris (Fran9a) - Modernidade: arte brasileira do seculo XX, no Musee d'Art Modeme

de la Ville de Paris1987 - Silo Paulo SP - Pa ••vra Imagica, no MACIUSP1988 - Rio de Janeiro RJ, Sao Paulo SP e Porto Alegre RS-MissCies 300 Anos: a visao do artista, na

EAV/Parque Lage e no Masp1988 - Nova York (Estados Unidos) - Brazil Projects, no PS1 - The Institute for Art and Urban

Resources, Inc.1988 - Rio de Janeiro RJ - Hedonismo: Cole<;:ao Gilberta Chateaubriand, na Galeria Edificia

Gilberta Chateaubriand1988 - Silo Paulo SP - Modemidade, Arte Brasileira do seculoXX, no MAMiSP1988 - Nova York (Estados Unidos) - The Debe~ no ExnArt1988 - Nova York (Estados Unidos) - The Latin American Spirit: art and artists in the Unned States:

192()-1970, no The Bronx Museum of the Arts1989 - Silo Paulo SP - 20' Bienallritemacional de Silo Paulo, na Funda9ilo Bienal1989 - Londres (lnglatena) - Cildo Meireles, Tunga, na Whnechapel Gallery1989 - Kortrijk (Belgica) - Lezarts and Through, com Tunga, na KannaeArt Foundation1989 - Paris (Franl") - Magiciens de la Terre, no Centre Georges Pompidou

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1989 - EI Paso e San Diego (Es1ados Unidos) e San Juan (Porto Rico) - The Latin Amencan Spirit: artand artists in the UnITed States: 1920-1970, no EI Paso Museum of Art, no San Diego Museumof Art e no Instttuto de Cultura PuertolTiqueiia

1990 - Veneza (ltalia) - Casino Fantasma, no Casino Municipale1990 - Fl600a (Es1ados Unidos) - The Latin Amencan Spirit: art and artists in the Untted States: 1920-

1970, no Center for the Arts1990 - Nova York (Estados Unidos) - The Fthetoricallmage, no MoMA1990 - Birmingham e Manchester (Inglaterra) - Transcontinental, na Ikon Gallery e na Comemouse1991 - Sao Paulo SP - Nacional x Intemacional na Arte Brasijeira, no Pa9QdasArtes1991 - Sao Paulo SP - 0 Classico no Contemporaneo, no Pa90 das Artes1991- Sao Paulo SP - Projeto: 100 anosde Paulista, na Casa das Rosas1992 - Sydney (Australia) - 9' B"nal de Sydney1992 - Antuerpia (Belgica) - Amenca - Bndge of the Sun: 500 years latin america and the low countries,

no Royal Museum of Fine Arts1992 - Sao Paulo SP - Anos 6OrlO: Cole,,"o Gilberto ChateaubriandlMuseu de Arte Modema - RJ, na

Galena de Arte do Sesi1992 - Rouen (Franc;a) - Denonciation, no GNAC Ecole dArchitecture de Normandie1992 - Kassel (Alemanha) - Documenta 91992 - Austin (Estados Unidos) - Encouters Displaoaments, na Archer M. Huntington Gallery,

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Dan Galeria1993 - Rio de Janeiro RJ - A Rarefayao dos Sentidos: COley80 Joao Sattamini - anos 70, na

EAV/Parque Lage1993 - Rio de Janeiro RJ - Arte Erotica, no MAM/RJ1993 - Los Angeles (Estados Unidos) - Body to Earth, na na Fischer Gallery1993 - Domaine de Kerguehennec (Franga) - De la Main a la Tete, I'objet theorique1993 - Rio de Janeiro RJ - Emblemas do Corpo: a nu na arte moderna brasileira, no CCBB1993 - Nova York (Estados Unidos) e Colonia (Alemanha) - Latin American Artists of the

Twentieth Century, no MaMA e no Kunsthalle Cologne1993 - Montevideu (Uruguai) - L'Autre a Montevideo: homenaje a Isidore Ducasse, no Museo

Nacianal de Artes Visuales1993 - Sao Paulo SP - 0 Desenho Moderno no Brasil: Colegaa Gilberto Chateaubriand, na

Galeria de Arte do Sesi1993 - Sao Paulo SP - Representagao: presengas decisivas, no Pa90 das Artes1993 - Newcastle (Inglaterra) - Second Tyne International Exhibition of Contemporary Art, na

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of Essex54

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and geography1997 - Curitiba PR -AArte Contemporanea da Gravura, no Museu Metropolitano deArte de Curitiba1997 - Sao Paulo SP - Arte Cidade 3: . a cidade e suas hist6rias, na Esta~o da Luz1997 - Belem PA-Arte Par.t fronteiras, no Museu do Estado do Para1997 - Cidade do Mexico (Mexico) - As[ es la Cosa: instalaci6n y arte objeto en America Latina, no

Centro CulturaVArte Contemporaneo1997 - Londres (Inglatenra) - Networking: art by post and fax - itinerante pelo Reino Unklo1997 - Nova York e Little Rock (Estados Unklos) - Re-Aligning Visions: aitemative currents in South

American drawing, no Museo del Barrio e no Arkansas Art Center1997 - Londres (lnglatenra) - You are Here: re-siting installations, no Royal College of Arts1998- Sao Paulo SP _248 Bienallntemacional de Sao Paulo, na Fundae;ao Bienal1998 - Rio de Janeiro RJ - Desenhos: Cildo Meireles, Artur Barrio e Luiz Fonseca, no Pac;o Imperial1998 - N,eroi RJ - Espelho da Bienal, no MAC/Niteroi1998 - Rio de Janeiro RJ - Helie Oiticica e a Cena Americana, no Centro de Artes Helio Oiticica1998 - Rio de Janeiro RJ - Horizonte Reflexive, no Centro Cultural Light1998 - Estocolmo (Suecia) - Insertions: notes towards the dematerialization of the art exhibition, no

Nordiska Museet e no Tekniska Museet1998 - Sao Paulo SP - a Modemo e 0 Contemporaneo na Arte Brasileira: Colec;ao Gilberto

Chateaubriand - MAMVRJ, no Masp1998 - Los Angeles (Estados Unidos), Vlena (Austria) e Barcelona (Espanha)- Out of Adions Between

Performance and the Object: 1949-1979, no Museum of Contemporary Art, Austrian Museum ofApplied Arts e Museu d'Art Contemporani

1998 - Caracas (Venezuela) - Puntos Cardinales, no Museo Alejandro otero1998 - Austin (Estados Unklos), Caracas (Venezuela) e Monterrey (MeXiCO) - Re-Aligning Visions:

altemative currents in South American drawing, na Archer M. Huntington Art Gallery, Museo deBellas Artes e no Museo de Arte Contemporaneo

1998 - sao Paulo SP - Teoria dos Valores, no MAMlSP1998 - Copenhague (Dinamaroa), Estocolmo (Suecla), Helsinque (Finlandia), Aalborg (Dinamarca) -

The Garden of Forking Paths: contemporary art from Latin America, no Kunstforeinigen, noEdvik Konst & Ku~ur,no Helsinki City Art Museum e no Nordjillands Kunstmuseum.

1999 - Nova York, Minneapolis e Miami (Estados Unklos) - Global Conceptualism: pOint of origin,19505-19805, no Queens Museum of Art, no Walker Art Center e no Miami Art Museum

1999 - T6quio (Japao)- Out of Actions Between Performance and the Object: 1949-1979, noHara Museum of Contemporary Art

1999 - Miami (Estados Unidos) - Re-Aligning: alternative currents in South Americandrawing, no Miami Art MUseum

2000 - Sao Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento: Arte Contemporanea, naFundac;ao Bienal

2000 - Buenos Aires (Argentina) - Brasil: plural y singular, no Museo de Arte Moderno deBuenos Aires

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Page 58: Cintia Ribeiro Veloso daSilva ...tcconline.utp.br/media/tcc/2016/07/A-ARTE-CONCEITUAL-E-A-OBRA-DE... · 2 PRECEDENTESA ARTE CONCEITUAL 04 ... transfrgura a imagem figurativa,

2001 - Paris (Franya) - Da Adversidade Vivemos, no Musee d'Art Modeme de la Ville deParis

2002 - Rio de Janeiro RJ - Dialogo, Antagonismo e Replica9ao na Cole9ao Sattamini, noMAC/Niter6i

2002 - Sao Paulo SP - Paralelos: arte brasiieira da segunda metade do secuio XX em contexto,Colecd6n Cisneros, no MAMllbirapuera

2002 - sao Paulo SP - Paralela, no Galpao Iocalizado na Avenida Matarazzo, 530, Sao Paulo.Exposi~o idealizada e organizada em conjunto pelas galerias Fortes Vila98, Luisa Stnna, CasaTriangulo e Brito Cimino.

2002 - Kassel (Alemanha) -11 Dorumenta, no Museum Fridericianum2002 - Rio de Janeiro RJ - Entre a Paiavra e a Imagem: m6dulo 1, na Saia MArvH:itta Amenca2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporimeo 1952-2002, no Pa"" Impenal2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporaneo 1952-2002, no Pa<;oImperial2002 - Rio de Janeiro RJ - Paralelos: arte brasileira da segunda metade do seOJloXX em contexto,

Coliecci6n Cisneros, no MAMlRJ2002 - Sao Paulo SP - Mapa do Agora: 50 anos da arte brasileira Colec;aoSattamini, no Institute Tornie

Ohtake

EVENTOS ITAU CULTURAL1997 - Sao Paulo SP - Diversidade da Escultura Contemporanea Brasileira, na Av. Paulisla,

realiza9aO Ministerio da Culturalltau Cultural1997 - Sao Paulo SP - Tridirnensionalidade na Arte Brasileira do Seculo XX, no Itau Cultural1999 - Sao Paulo SP e Rio de Janeiro RJ - Cotidiano/Arte. 0 Obieto - Anos 60/90, no Itali

Cultural e no MAM/RJ1999 - Sao Paulo SP - Por que Duchamp?, no Pa~o das Artes/ltali Cultural1999 - Sao Paulo SP - Cotidiano/Arte. 0 Consumo - Beba Mona Lisa, no Itau Cultural2000 - Sao Paulo SP - Investiga90es. 0 Trabalho do Artista, no Itau Cultural2000 - Sao Paulo SP - Lan9amento do video Gilda Mefreles: gramtJtfca do objeto, de Luis

Felipe Sa, no Itau Cultural2001 - Sao Paulo SP - Trajet6ria da Luz na Arte Brasileira, no Itau Cultural2001 - Sao Paulo SP - Anos 70: Trajet6rias, no Itau Cultural2001 - Campinas SP - (quase) Efemera Arte, no Itali Cultural2001 - Belo Horizonte MG - Do Corpo a Terra: urn marco radical na arte brasileira, no llau

Cultural

HOMENAGENS I TiTULOS I PREMIOS1970/1976c. - Rio de Janeiro RJ - E lema do filme Hist6rias Veridicas, de Antonio Manuel1979 - Rio de Janeiro RJ - Wilson Coutinho dirige 0 documentario Cilda Meire/as (vencedor

do Festival JB de Cinema) .1984 - Tuca Moraes dirige 0 documentario Desvio para 0 Verme/ho1984 - Fran9a - E lema do documentario 0 Fa/sario, dirigido por Frederic Laffont para a

Amtenne II/RTF1989 - Sao Paulo SP - Realizado 0 documentario O/vido, por ocasiao da 20a Bienal

Internacional de Sao Paulo1990 - Londres (Inglaterra) - Realizado 0 documentario Cildo Meireles - Interview with Guy

Brett, no Institute of Contemporary Arts1990 - Glasgow (Escocia) - 0 distrito de Glasgow recusa projeto de interven9Bo urbana

encomendado a Cildo Meireles pelo TSWA Four Cities Project1996 - Nova York (Estados Unidos) - Realizado Esletica cemo ~tical~tica cemo Estelica,

projeto para a revista TRANS>arts. culture. media, vol. 1, n° 21997 - Boston (Estados Unidos) - Branca Bogdanova dirige a documentario Gildo Meire/es,

no Institute of Contemporary Art

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