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Ciência e pensamento do sentido - Martin Heidegger Figurações e Afigurações Por: Dante Augusto Galeffi Epistemologia do Educar - 2007 Considerações, a partir do texto de Heidegger, acerca das relação entre ciência e pensamento do sentido, como plano de imanência para a desconstrução do conceito de ciência e ressignificação da ciência na abertura para o pensamento do sentido. Uma leitura integral do texto apresentada em recortes interligados. HEIDEGGER, Martin. Ciência e pensamento do sentido. In: Ensaios e conferências. Petrópolos: Vozes, 2002, p.39-60.

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Ciência e pensamento do sentido - Martin Heidegger

Figurações e Afigurações

Por: Dante Augusto Galeffi

Epistemologia do Educar - 2007

Considerações, a partir do texto de Heidegger, acerca das relação entre ciência e pensamento do sentido, como plano de imanência para a desconstrução do conceito de ciência e ressignificação da ciência na abertura para o pensamento do sentido. Uma leitura integral do texto apresentada em recortes interligados.

HEIDEGGER, Martin. Ciência e pensamento do sentido. In: Ensaios e conferências. Petrópolos: Vozes, 2002, p.39-60.

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Leitura e interpretação do texto /pretexto de Heidegger

Na representação habitual

CULTURA

O espaço em que se desenrola a atividade espiritual e

criadora do homem.

A ciência é uma atividade cultural

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DISTANCIAMENTO ESTÉTICO

Na cultura, a ciência se insere entre os bens que o homem preza e que, por vários motivos, dedica seu interesse.

No âmbito da cultura, a ciência é um bem muito valorizado.

Nessa perspectiva, como se poderá avaliar o alcance da essência da ciência, se esta for tomada apenas neste sentido cultural?

Sentença:

Entre os tantos bens culturais a ciência aparece em destaque.

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Se tomarmos este conceito de ciência como certo, nunca haveremos de avaliar o alcance da essência da ciência como forma de ser imperante.

“O mesmo vale para a arte”.

A arte também é comumente concebida/representada como um setor da vida cultural/espiritual do homem.

Assim concebida, a arte não é compreendida em sua essência.

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“Em sua essência, a arte é uma sagração e um refúgio, a saber, a sagração e o refúgio em que, cada vez de maneira nova, o real presenteia o homem com o esplendor, até então, encoberto em seu brilho a fim de que, nesta claridade, possa ver, com mais pureza, e escutar, com maior transparência, o apelo de sua essência” (p.39).

A ARTE

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Assim como a arte, a ciência não é apenas um desempenho cultural do homem, e sim um “modo decisivo de se apresentar tudo que é e está sendo”.

O que se chama de ciência ocidental européia determina a realidade na qual o homem contemporâneo se encontra imerso, se move e tenta sustentar-se.

A CIÊNCIA

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A Ciência OCIDENTAL EUROPÉIA tornou-se, portanto, o modo de ser dominante da vida planetária presente?

CONSTATAÇÃO

A CIÊNCIA DO OCIDENTE DESENVOLVEU UM PODER DE DOMINAÇÃO QUE SE ESTENDE CADA VEZ MAIS POR TODO O PLANETA

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Nossa época é dominada pela tecnociência...

O que é, entretanto, a ciência como tecnociência?

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As perguntas de Heidegger acerca da ciência:

“Será a ciência, apenas, um conjunto de poderes humanos, alçado a uma dominação planetária, onde seria ainda admissível pensar que a vontade humana ou a decisão de alguma comissão pudesse um dia desmontá-la?”

“Ou será que nela impera um destino superior?”

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“Será que algo mais do que um simples querer conhecer da parte do homem rege a ciência?”

Segundo Heidegger, é o que verdadeiramente acontece. Impera uma outra coisa. “Mas esta outra coisa se esconde de nós enquanto ficarmos presos às representações habituais da ciência.”

As representações habituais que fazemos da ciência escondem a compreensão de sua essência.

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Qual é, entretanto, esta essência da ciência velada por nossas representações habituais?

“Esta outra coisa consiste numa conjuntura que atravessa e rege todas as ciências, embora lhes permaneça encoberta”. (p.40)

“Somente uma clareza suficiente sobre o que é a ciência, será capaz de nos fazer ver esta conjuntura”.

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Como, entretanto, poderemos alcançar esta clareza?

A forma mais segura de fazer isto é começar descrevendo a atividade científica atual.

Uma tal descrição poderia mostrar como, de há muito, as ciências estão presentes em todas as formas de vida moderna: na indústria, na economia, no ensino, na política, na guerra, na comunicação e publicidade etc.

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É importante conhecer este enquadramento histórico da ciência, o que significa já saber em que repousa sua essência.

Heidegger afirma que esta essência pode ser dita na seguinte frase:

A ciência é a teoria do real

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Segundo Heidegger, esta frase não intenciona dar uma definição acabada e nem proporcionar uma fórmula manejável. A frase contém questões. Questões que somente surgem e se levantam quando são explicadas.

Em primeiro lugar, é preciso atentar para o fato de que na frase definidora da essência da ciência , o termo “ciência” diz respeito exclusivamente à ciência moderna.

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Esta frase não vale nem para a ciência medieval nem para a ciência antiga. Ela é exclusiva da ciência moderna.

A ciência é a teoria do real

Esta concepção de ciência, apesar de moderna, guarda uma estreita relação com o pensamento grego, que desde Platão se chama de filosofia.

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Portanto, a ciência como teoria do real encontra seu fundamento na filosofia grega

Isto não subordina o caráter revolucionário da ciência moderna ao modo de ser grego de conceber a “teoria”.

Em grego, a palavra correspondente à

ciência é episteme

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Segundo Heidegger, o caráter distintivo do conhecimento moderno reside na elaboração decisiva de um traço completamente estranho ao pensamento grego, mas que nele já se encontra prefigurado.

Nessa medida, Heidegger sugere um diálogo com o pensamento grego, de tal modo que se possa melhor compreender o solo de nossa Pre-sença histórica.

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A sugestão de Heidegger não quer simplesmente provocar uma nova valorização da Antiguidade, uma renascença, mas pretende abrir o campo para se pensar a ciência moderna como consumação de um destino historial.

O diálogo com o pensamento grego ainda está esperando para começar...

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“Trata-se de um diálogo que mal se acha preparado mas que, para nós, se torna uma condição prévia do diálogo inevitável com o mundo do Extremo Oriente.” (p. 41)

O diálogo com os pensadores gregos inclui também o diálogo com os poetas.

E para nós, qual seria o sentido deste diálogo?

Não pode ser nem um culto à Antiguidade, nem uma curiosidade historiográfica relativa ao “passado”, que nos serviria para esclarecer alguns traços da modernidade em sua gênese histórica

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Para Heidegger, o pensamento e a poesia na aurora da Antiguidade grega atuam ainda hoje e são atuais a ponto de sua essência, encoberta para os próprios gregos, vir e estar por vir, em toda parte, ao nosso encontro (p. 41)

PENSAMENTO

POESIA

DOMÍNIO DA TÉCNICA MODERNA

CONCEPÇÃO, MENSURAÇÃO, CÁLCULO, MEDIÇÃO

AÇÃO, SENSIBILIDADE, OPERAÇÃO, ELABORAÇÃO, MANUSEIO, ARTE, TÉCNICA

CONCEBER

FAZER

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O DOMÍNIO PLANETÁRIO DA TÉCNICA MODERNA

ALGUÉM TEM DÚVIDA QUANTO A ISTO – O DOMÍNIO PLANETÁRIO DA TÉCNICA?

O QUE CEDO SE PENSOU, O QUE CEDO SE

DESTINOU ATUA E SE FAZ ATUAL NA FRASE

“A CIÊNCIA É A TEORIA DO REAL”.

O ESCLARECIMENTO DA FRASE EM DUAS PERSPECTIVAS

O SIGNIFICADO DO REAL E DA TEORIA

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O QUE SIGNIFICAM “O REAL” E “A TEORIA”?

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O REAL

“O real preenche e cumpre o setor da operação, daquilo que opera”

REAL SETOR DA OPERAÇÃO

O QUE SIGNIFICA OPERAR?

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ETIMOLOGIA DE “OPERAR”

Qual é o âmbito do real em que fala a palavra “operar”?

Trata-se de, apoiando-se no significado originário da palavra e em sua evolução, perceber o âmbito do real em que fala a palavra.

Trata-se de pensar este âmbito de essência, como o espaço, em que se movimenta a coisa evocada pela palavra.

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A partitura disto é o pensamento e a poesia - o suporte material da coisa operada – a operação – o operar.

Érgon– pôr-diante em se fazendo – Pôr-em-obra– obrar -operar – fazer – descobrir-se e menter-se desencoberto.

O pensamento e a poesia em sua historicidade falam do operar neste âmbito.

érgon

Operar = Fazer = pôr-em-obra = viger numa vigência

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O real é o vigente – o que vige

Operar significa “fazer”, tun.

O que significa tun?

Tun provém da raíz indo-européia dhe, de onde vem o

grego Tésis, posição,

posicionamento, localização.

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Entretanto, este fazer não é apenas entendido como atividade humana, ou, muito menos, como ação e agir.

Também a Physis, o crescimento, a

vigência da natureza, é um fazer, no

sentido de Tésis.

Neste sentido, o real é o vigente, a pro-posição de algo por si mesmo, no sentido de pôr em frente, de trazer à luz, de a-duzir e pro-duzir, de levá-lo à vigência.

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O verbo operar (wirken) entendido como trazer e levar à vigência, invoca o modo de o real se realizar, de o vigente viger e estar em vigor.

Operar é trazer e levar à vigência, seja que, por si mesmo, algo traga e leve a si mesmo para sua própria vigência, seja que o homem exerça este trazer e levar.

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“O real é tanto o operante como o operado, no sentido daquilo que leva ou é levado à vigência”. (p. 42)

De maneira bem ampla, “realidade” (Wirklichkeit) significa a vigência em si mesma acabada do que se pro-duz e se leva ao vigor de si mesmo.

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“Operar”, “wirken”, pertence à raiz indo-européia uerg de onde provém a palavra

“obra”, “Werk”, e o grego érgon).

Para Heidegger, o traço fundamental de “operar”, “wirken” e de “obra”, “Werk”, não reside no efficere e no effectus mas em algo vir a des-encobrir-se e manter-se descoberto.

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Para Heidegger, há uma diferença fundamental entre o modo grego e aquele latino de compreender.

Os gregos nunca conceberam o que os latinos chamaram de causa eficiens como uma relação de causa e efeito. A “causa eficiente”, mesmo em Aristóteles, não significa a idéia de uma relação causal e sim da constatação da vigência do vigente.

Em Aristóteles, a “causa eficiente” se chama enteléquia, energéia, palavras que não são concebidas como uma relação dicotômica entre “potência” e “ato”.

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Para os gregos, diz Heidegger, o que se per-faz num Érgon, é o que se leva na plenitude da vigência

Érgon é a vigência no sentido próprio e supremo da palavra.

As palavras fundamentais de Aristóteles para a vigência do vigente – o que está em pleno vigor de sua propriedade – são enteléquia e energéia ( .

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Enteléquia e Energéia dizem do que se mantém no vigor de sua vigência, na plenitude do seu “durar”.

Para Aristóteles tais palavras certamente não significavam o que modernamente elas vieram a dizer: “energia” e “enteléquia” entendidas como condição e capacidade inatas para agir.

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Nossa palavra “realidade” só traduz a enteléquia de Aristóteles, compreendida como a vigência do vigente, se pensarmos “real” e “realidade” de modo grego, no sentido de trazer para (her) o desencoberto, de levar para (vor) a vigência.

“Wersen”, “viger” é a mesma palavra que “währen”, “durar”, “permanecer”, “ficar”.

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Heidegger pensa a vigência, como a duração daquilo que tendo chegado a desencobrir-se, assim perdura e permanece.

A vigência é o des-cobrir-se e permanecer descoberto.

FICAR E PERMANECER EM OBRA

A VIGÊNCIA DO VIGENTE

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Desde Aristóteles esse significado da palavra enteléquia ou/e energéia foi entulhado por outros significados

Os romanos traduzem (pensam) Érgon a partir da operatio (operação), entendida como actio (ação), e

dizem para energéia ( ACTUS, palavra com campo semântico completamente outro em relação ao grego.

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Para os romanos, o vigente numa vigência, aparece como ACTUS, significando o resultado de uma operatio (operação).

O “resultado” é o que sucede a uma actio, é o sucesso. O real é, agora, o sucedido, tanto no sentido do que aconteceu, como, no sentido do que tem êxito. (p.43)

Todo sucesso é produzido por algo que o antecede, a causa.

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O real, então, aparece à luz da causalidade da causa efficiens.

Nesta perspectiva, até Deus é representado como “causa prima”, primeira causa, pela teologia, não pela fé.

Na busca da relação causa-efeito, a sucessividade vai se deslocando para o primeiro plano e com ela a sucessão temporal.

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Em seus últimos trabalhos Heinsenberg reduz o problema causal ao problema de uma pura medição matemática do tempo.

Todavia, uma outra coisa essencial acompanha a realidade do real.

Sendo um resultado, o efeito é sempre feito de um fazer. Trata-se de um fazer entendido como esforço e trabalho.

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Assim, o resultado do feito de um fazer é o fato. A expressão “de fato” indica uma certeza e significa “certo”, “seguro”.

Deste modo, desde o início do século XVII a palavra “real” assume o sentido de “certo”.

No sentido de fato e fatual, o “real” se opõe ao que não consegue consolidar-se numa posição de certeza e não passa de mera aparência ou se reduz a algo apenas mental.

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Entretanto, mesmo nas mudanças de sentido indicadas, o real sempre conserva o traço mais originário de vigente, daquilo que se apresenta por si mesmo, embora se ofereça agora com menos ou com outra intensidade. (p. 44)

O real, agora, se propõe em efeitos e resultados. O efeito faz com que o vigente tenha alcançado uma estabilidade e assim venha ao encontro e de encontro.

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O real se mostra, então, como ob-jeto (Gegen-stand).

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A palavra alemã “Gegen-stand” é do século XVII como tradução do latim “ob-iectum”.

Heidegger chama de objetividade o modo como, na Idade Moderna, a vigência do real aparece como OBJETO.

A objetividade é, em primeiro lugar, um caráter do próprio vigente.

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Todavia, o modo em que a objetividade se manifesta e a forma como o real se torna objeto da representação só poderá aparecer se questionarmos a questão “o que é o real”, com referência à teoria e, em certo sentido, também através da teoria.

O que significa, portanto, a palavra “teoria”.

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O termo “teoria” provém do verbo grego

teorein O substantivocorrespondente é “teoria”.

Estas palavras têm de próprio uma significação superior e misteriosa.

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O verbo Teorein) nasceu da composição de dois étimos

Théa

Orhao

TERRA

CÉU

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“Théa ( veja-se teatro) diz a fisionomia, o perfil em que alguma coisa é e se mostra, a visão que é e oferece.” (p. 45)

Platão chama este perfil de Eidos (Na IDÉA o vigente se mostra o que ele é. Eidos é sinônimo de “forma percebida”.

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“Ter visto, eidénai ( o perfil é saber”.

O segundo étimo em teoréin (orhao), significa:

ver alguma coisa, tomá-la sob os olhos, percebê-la com a vista....

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Teoréin ( é, deste modo, thean orhan):

... VISUALIZAR A FISIONOMIA EM QUE APARECE O VIGENTE, VÊ-LO E POR ESTA VISÃO FICAR SENDO COM ELE ...

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“Os gregos chamaram de Biós Theorhétikos, ( a maneira de viver do vidente, isto é, de quem vê o brilho puro do vigente, o tipo de vida ( que se determina e se dedica ao theoréin ( ” (p. 45)

Por outro lado, “Biós Práticos (é o tipo de vida que se

consagra à ação e pro-dução”.

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Na distinção entre “vida teorética” e “vida prática” Heidegger observa que se deve guardar sempre uma coisa:

“Para um grego o Biós Theorétikós a vida de visão,

sobretudo em sua forma mais refinada, o pensamento, é a atividade mais elevada”.

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“A theoría ( já em si mesma e não por uma utilidade posterior, constitui a forma mais perfeita e completa do modo de ser e realizar-se do homem”. (p.45)

Theoría é um relacionamento transparente com os perfis e as fisionomias do real.

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“Com seu brilho, eles concernem e empenham o homem, deixando respladecer a presença dos deuses”.

Uma outra característica do theoréin, que é perceber e proporcionar as arkhaí) e

aitiai) do vigente, em sua vigência, necessita daquilo que na experiência grega se dizia “princípios” e “causas”.

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Pricípio e Causa

arkhai

aítíai

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O que significam arkhé e aitiai no pensamento grego?

Heidegger afirma que os gregos pensavam, isto é, recebiam da própria língua grega, de uma maneira única, seu modo de estar no ser.

Desse modo, junto com o lugar mais alto atribuído à theoria) pelo vivo) grego, costumavam escutar ainda uma outra coisa na palavra.

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Os dois étimos podem ter outra acentuação: e

(Theá) é a deusa.

Como deusa a àlétheia (apareceu a Parmênides.

foi traduzida pelo latim como veritas, e pelo alemão como Wahrheit.

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Já a palavra grega orha) significa o respeito que temos, diz a honra e a consideração que damos.

A palavra theoría ( assim pensada, se torna a consideração respeitosa da re-velação do vigente em sua vigência.

Neste sentido antigo, a teoria é a visão protetora da verdade. (p.46)

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Em sentido grego, a essência da teoria é plural e elevada em cada uma de suas dimensões.

Esta essência se entulha quando, por exemplo, hoje em dia se fala, na física, de teoria da relatividade, na biologia, de teoria da evolução, na história, de teoria dos ciclos, na jurisprudência, de teoria do direito natural. (p.46)

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Apesar de tudo, a sombra da theoría (originária sempre atravessa a “teoria” moderna.

Segundo Heidegger, a “teoria” moderna vive da theoría pensada na grécia. E isto de forma tão profunda que não se poderá compreender esta relação sem perguntarmos: o que é a “teoria” pensada modernamente?

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O que significa “teoria” na frase: “A CIÊNCIA É A TEORIA DO REAL?”

As palaras gregas e foram tarduzidas para o latim como CONTEMPLARI E CONTEMPLATIO, CONTEPLAR E CONTEMPLAÇÃO.

Com esta tradução o essencial da palavra grega desaparece em seu envio histórico e destinal.

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Contemplari, contemplar, significa: separar e dividir uma coisa num setor e aí cercá-la e circundá-la.

Templum é o grego témenoz), que provém de uma experiência diferente de theoreín ( Temnein) significa partir e separar.

É por isso que o que não se pode partir e separar é o átomo –

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O latim templum diz de per si o setor recortado no céu e na terra, o ponto cardeal, a região celeste disposta segundo o curso do sol.

“É dentro dela que os áugures realizam suas observações para saber o futuro pelo modo de voar, gritar e comer dos pássaros”. (p.47)

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“Na theoría ( tornada contemplatio, o pensamento grego já traz seminalmente o momento de uma visão incisiva e divisora”.

“No conhecimento, prevalece a seguir o caráter de um procedimento que divide e intervém na percepção visual. Mesmo aqui e agora, ainda continua a distinção entre vita contemplativa e vita ativa”.

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Na teologia da Idade Média esta distinção adquire o sentido de oposição entre a vida contemplativa dos mosteiros e a vida ativa do mundo e do século.

No alemão contemplatio se traduziu por Betrachtung, observação.

A teoria é a observação do real.

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O que é, entretanto, observação?

Diz-se que a observação é a consideração e a concentração religiosa. Esta acepção pertence ao âmbito da vida contemplativa.

Fala-se também de observar um quadro, por exemplo, em cuja experiência sentimo-nos libertados.

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“Nesse uso, a palavra “observação” é vizinha da consideração e parece significar o mesmo que a theoría ( no sentido originário dos gregos.” (p.47)

“Se levarmos a sério o que a palavra alemã Betrachtung, observação, evoca, haveremos de reconhecer o que há de novo na essência da ciência moderna, como teoria do real”.

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“O que diz Betrachtung, obeservação? Diz trachten, pretender, aspirar.”

Diz o latim tractare, tratar, empenhar-se, trabalhar. Pretender e aspirar a alguma coisa diz empenhar-se todo para alcançá-la, diz persegui-la e correr atrás para dela se apossar.

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Nesse sentido, a teoria pensada como observação seria uma elaboração que visa apoderar-se e assegurar-se do real.

“Tal caracterização da ciência poderia parecer naturalmente contrária à sua essência. Pois, como teoria, a ciência seria justamente “teórica”. Prescindiria de qualquer elaboração do real.”(p.48)

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Não interviria no real para alterá-lo. A ciência pura, como se proclama, seria desinteressada e “sem propósito”.

No entanto, como teoria, no sentido de tratar, a ciência é uma elaboração do real terrivelmente intervencionista.

Com esse tipo de eleboração, a ciência corresponde a um traço básico do próprio real.

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“O REAL É O VIGENTE QUE SE EX-PÕE E DES-TACA EM SUA VIGÊNCIA.”

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Na Idade Moderna, este destaque se mostra de tal maneira que estabelece e consolida a sua vigência, transformando-a em objetividade.

“A ciência corresponde a esta regência, objetivada do real à medida que, por sua atividade de teoria, ex-plora e dis-põe do real na objetividade. A ciência põe o real.”

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E o dis-põe a pro-por-se num conjunto de operações e processamentos, isto é, numa sequência de causas aduzidas que se podem prever.

Assim, o real pode ser previsível e

tornar-se perseguido em suas

consequências.

A representação processadora, que assegura e garante todo e qualquer real em sua objetividade processável, constitui o traço fundamental da representação com que a ciência moderna corresponde ao real.

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“O trabalho, que tudo decide e que a representação realiza em cada ciência, constitui a elaboração que processa o real e o ex-põe numa objetividade.”

“Com isto, todo real se transforma, já de antemão, numa variedade de objetos para o asseguramento processador das pesquisas científicas.” (p.48)

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Como teoria do real, a ciência moderna não é nada de espontâneo e natural.

“Não se trata de um simples feito do homem e nem de uma imposição do real. Ao contrário, a vigência do real carece da essência da ciência quando se ex-põe na objetividade do real.”

“Este momento, como qualquer outro semelhante, é um mistério.” (p.49)

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“Se os grandes pensamentos sempre chegam com os pés do silêncio, muito mais ainda é o que acontece com a transformação da vigência de todo vigente.” (p. 49)

“A teoria assegura para si uma região do real, como domínio de seus objetos. O caráter regional da objetividade aparece na antecipação das possibilidades de pesquisa.”

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“Todo novo fenômeno numa área da ciência será processado até enquadrar-se no domínio decisivo dos objetos da respectiva teoria”

“Trata-se de um domínio que, às vezes, se transforma, enquanto a objetividade, como tal, permanece imutável, em suas características básicas.”

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Rigorosamente falando, “a essência do ‘objetivo’ propicia o fundamento para se predeterminar comportamento e procedimento.”

“Há teoria pura quando um objetivo determina por si mesmo a teoria. Esta determinação provém da objetividade do real vigente.”

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“Abandonar esta objetividade equivaleria a negar totalmente a essência da técnica.”

A objetividade preside o modo de ser da ciência moderna. O exemplo de Newton e Galileu, inventores/construtores da física moderna, mostra isto. A física contemporânea continua sendo física, mesmo tendo ampliado o seu campo de objetividade.

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Mesmo para a mais avançada ciência física contemporânea, “a natureza se oferece à representação num sistema de movimento espaço-temporal, de alguma forma, previsível pelo cálculo.”

“Porque a ciência moderna é uma teoria neste sentido, adquire importância decisiva em toda a sua observação o modo de tratar da ciência, ou seja, a maneira de ela proceder, em suas pesquisas, com vistas ao asseguramento processador, numa palavra, o seu método.”

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Também Max Planck diz: “real é o que se pode medir”.

Também, justamente, porque isto foi dito por Galileu, como postulado da Ciência da Natureza por ele edificada.

1. Há leis universais, de caráter matemático.

2. Essas leis podem ser descobertas por experimentos científicos.

3. Esses experimentos podem ser perfeitamente repetidos.

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A frase de Max Planck indica “a decisão do que deve valer, como conhecimento certo para a ciência, no caso para a física, depende da possibilidade de se medir e mensurar a natureza, dada em sua objetividade e, em conseqüência, das possibilidades dos métodos e procedimentos de medida e quantificação.” (p.49)

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“O cálculo é o procedimento assegurador e processador de toda teoria do real.”

“Não se deve, porém, entender cálculo em sentido restrito de se operar com números.”

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“Em sentido essencial e amplo, cálculo significa contar com alguma coisa, ou seja, levá-la em consideração e observá-la, ter expectativas, esperar dela alguma outra coisa.”

Assim, toda objetivação do real é um cálculo, quer corra atrás dos efeitos e suas causas, numa explicação causal, quer assegure em em seus fundamentos um sistema de relações e ordenamentos.

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A matemática também não se limita a ser um cálculo com números para se obter resultados quantitativos.

“A matemática é um cálculo que, em toda parte, espera chegar à equivalência das relações entre as ordens por meio de equações. E por isso mesmo ‘conta’ antecipadamente com uma equação fundamental para todas as ordens possíveis.” (p.50)

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Como teoria do real, a ciência moderna se apóia no primado do método.

“... por isso mesmo, para assegurar-se dos domínios de seus objetos, ela tem de separar as regiões do real umas das outras e enquadrá-las em disciplinas especiais, isto é, em especialidades”.

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“A teoria do real se cumpre necessariamente em disciplinas, sendo sempre especializações e especialidades”. (p.50

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“A pesquisa de uma região do real deve dedicar-se, com seu esforço, à especificidade própria de seus objetos. É esta dedicação que transforma o procedimento da ciência disciplinada em pesquisa especializada.”

Neste sentido, “a especialização não pode ser uma degeneração obtusa ou um fenômeno de decadência da ciência moderna”. Ela não é um mal necessário, e sim conseqüência da essência da ciência moderna.

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“A delimitação dos domínios de objetos e seu enquadramento em áreas de especialização não esgarçam as ciências mas as presenteiam com uma troca entre suas fronteiras, desenhando-lhes regiões limítrofes e fronteiriças. É destas que surge o impulso científico que desencadeia questionamentos novos e muitas vezes decisivos. Trata-se de um fato conhecido. Seu fundamento, porém, continua misterioso, como toda a essência da ciência moderna.”

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Nesse ponto, Heidegger dá por encerrada a sua caracterização da ciência moderna, ao esclarecer a frase “a ciência moderna é a teoria do real”, em seus dois termos principais, “real” e “teoria”.

Este movimento foi uma preparação para o segundo passo, em que se pergunta:

“...que conjuntura invisível se esconde na essência da ciência?”

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Heidegger diz que esta conjuntura é perceptível em cada ciência em particular, basta que se procure ver como em cada uma delas se dis-põe da objetividade dos diversos domínios de objetos.

O exemplo dado é a física. Ela inclui hoje a macrofísica (cosmologia) e a física atômica, a astrofísica e a química, trata da natureza ( inanimada. (p. 51)

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“Nesta objetividade, a natureza se mostra um sistema de movimento de corpos materiais.”

“A característica fundamental do corpóreo é a impenetrabilidade que se revela, por seu turno, numa espécie de sistema de movimento de partículas elementares.”

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Tanto na física clássica como naquela mais atual há um movimento de representação do real em que algo é certificado em sua objetividade.

Se na física clássica a materialidade dos corpos é representada por uma mecânica geométrica de pontos matemáticos, na física atual são as categorias de “núcleo” e “campo” que delimitam a objetividade dos seus objetos “inanimados”.

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Consequentemente, a física clássica pode determinar ou calcular previamente, com precisão, qualquer estado de movimento, tanto em relação à posição como em relação à grandeza do movimento.

Pelo contrário, na física atômica todo estado de movimento só se pode determinar, em princípio, ou quanto à posição ou quanto à grandeza de movimento.

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De certo modo, é por isso que a física clássica determina uma visão “mecanicista” da natureza, na medida em que, com a sua medição do real, considera que se pode calcular previamente a natureza de modo exato e completo, ao passo que a física do átomo só admite certeza entre os nexos de objetos de caráter estatístico. (p. 51)

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A representação da física contemporânea continua ainda afinada com a “possibilidade de escrever uma única equação fundamental donde decorram as propriedades de todas as partículas elementares e com isso o comportamento de toda a matéria” (Heisenberg)

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Esta breve referência da física em sua história quer mostrar que há algo que não muda nesta passagem de uma concepção para a outra: “o fato de a natureza ter-se dis-posto, já de antemão, a um asseguramento que busca realizar a ciência, como teoria”.

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“Não será aqui possível discutir com precisão o grau e a medida em que, na mais recente fase da física atômica, também o objeto desaparece e a relação sujeito-objeto assume, enquanto pura relação, o primado frente ao sujeito e ao objeto e tende a assegurar para si a pura condição de dis-ponibilidade dis-positiva.” (p.52)

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“A objetividade se transforma na constância da dis-ponibilidade determinada pela com-posição.”

“Só assim a relação sujeito-objeto chega a assumir seu caráter de “relação”, ou seja, de dis-posição em que tanto o sujeito como o objeto se absorvem em dis-ponibilidades.”

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“Isto não significa que a relação sujeito-objeto desaparece mas, ao contrário, que somente agora atinge seu completo vigor já determinado pela com-posição. Ela se torna, então, uma dis-ponibilidade a ser dis-posta.” (p. 52)

A partir deste ponto, Heidegger afirma já ter condições “de considerar a conjuntura dis-creta na regência da objetividade.”

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O que é, entretanto, a conjuntura dis-creta na regência da objetividade?

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O que é, então, digno de ser questionado?

O incontornável da ciência: O ser do ente enquanto é?

A teoria fixa o real num domínio de objetos. A natureza, porém, já vige e vigora em si mesma, por si mesma.

METAFÍSICA?

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“A objetivação depende da natureza já vigente.”

“A teoria não pode prescindir da natureza já vigente e, neste sentido, ela nunca pode contornar a natureza”.

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Toda ciência tem o seu setor de objetos. E este setor é recortado do vigente. Toda ciência, portanto, se produz na vigência do vigente. E este é o incontornável de toda ciência.

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O Incontornável indica duas coisas:

1. Não se pode contornar a natureza, no sentido de a teoria nunca poder passar à margem do vigente, permanecendo sempre dependente de sua vigência.

2. Não se pode contornar a natureza, no sentido de a própria objetividade impedir que a representação e certeza da ciência possa abarcar um dia toda a plenitude da natureza.

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TEORIA OBJETO

VIGENTE

INC

ON

TO

RN

ÁV

EL

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“Na objetividade da natureza, que corresponde à objetividade da física, reina um incontornável em duplo sentido. Quando conseguimos vê-lo e pensá-lo mais ou menos numa ciência, nós o percebemos com mais facilidade em qualquer outra.” (p.53)

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Toda ciência tem o seu incontornável inevitável.

A natureza, para a física, o acontecer histórico, para a história, a linguagem, para a lingüística, constituem o incontornável já vigente nas suas objetividades.

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“O incontornável assim caracterizado rege e reina na essência de toda ciência.” (p.55)

Qual é o incontornável na ciência da educação?

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“Só perceberemos a conjuntura, que rege e reina na essência da ciência, quando levarmos também em consideração que o incontornável é inacessível.”

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Por que Heidegger chama o incontornável de “conjuntura discreta”?

“A conjuntura discreta está recôndita nas ciências mas não como uma maçã num cesto. Temos, ao invés, de dizer: as ciências repousam na conjuntura discreta, como o rio, na fonte.” (p. 57)

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“Esta conjuntura discreta atravessa, com sua regência, toda objetividade, onde tanto a realidade, como a teoria do real se movem, onde se equilibra, portanto, toda essência da ciência ocidental moderna.”

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No texto, Heidegger se contenta em apontar para a “conjuntura discreta”, afirmando ser necessário um outro questionamento para se chegar ao que ela é em si mesma.

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Qual seria, então, este outro questionamento acerca da “conjuntura discreta” em si mesma?

Seria um questionamento “metafísico” acerca do ser do ente enquanto é?

Para onde nos leva um tamanho abismo?

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Para Heidegger a indicação feita da “conjuntura discreta” encaminha na direção de um caminho que nos põe diante do que é digno de ser questionado.

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Segundo ele: “o que é digno de ser questionado nos proporciona, por si mesmo, a oportunidade clara e o apoio livre para podermos ir ao encontro e convocar o apelo que fala e diz respeito à nossa essência. Encaminhar na direção do que é digno de ser questionado não é uma aventura mas um retorno ao lar.” (p. 58)

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Heidegger, então, deságua no pensamento do sentido.

“O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma”.

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“Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido.”

A essência do pensamento do sentido é mais do que simples tomada de consciência de alguma coisa. Quando estamos apenas na consciência ainda não se pensa o sentido.

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Pensar o sentido “é a serenidade em face do que é digno de ser questionado”.

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A serenidade em face do que é digno de ser questionado...

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DESAPARECER E APARECER

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IMAGEM DE SI MESMO

PENSAMENTO DO SENTIDO

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Como compreendemos isto:

“No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciando e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer.” (p. 58)

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Chegar onde já se está desde sempre: dar-se conta da “conjuntura discreta” serenamente.

Encaminhar-se para um lugar onde se abre o espaço que atravessa tudo o que fazemos ou deixamos de fazer: deixar ser o vigente em sua “conjuntura discreta”.

PENSAMENTO DO SENTIDO É AO MESMO TEMPO

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Entretanto, o que isto é em si mesmo é mesmo incontornável.

“Pensar o sentido tem outra essência do que a consciência e o conhecimento da ciência. Também é de outra essência do que a formação.”

Temos aqui uma tensão merecedora de atenção.

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Para Heidegger pensar o sentido não é algo que compete a nenhuma ciência realizar e nem muito menos algo que diga respeito a determinada “formação” relativa à um determinado modelo de verdade objetivamente determinado.

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Heidegger se posiciona contra a “formação”? Em que sentido?

Formação

Bilden

Formar-se

Propor e prescrever um modelo

Desenvolver e transformar disposições previamente dadas

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“A formação apresenta ao homem um modelo para servir de parâmetro à sua ação e omissão.”

“Toda formação necessita de um paradigma previamente estabelecido e de uma posição orientada em todos os sentidos.”

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A questão é a seguinte:

Estabelecer um ideal comum de formação e garantir-lhe o domínio pressupõe uma situação inquestionável e estável em todos os sentidos.

Tratar-se-á sempre de um ato de fé no poder irresistível de uma razão imutável e seus princípios.

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É justamente este procedimento de objetivação e certeza certa o que caracteriza a forma de ser da ciência moderna, com sua racionalidade sempre pro-positiva.

Alguns chamaram isto de metafísica e propuseram caminhos de “des-construção” da metafísica ocidental moderna.

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Tem-se falado, então, em crise dos paradigmas da ciência. E isto vem sendo debatido e investigado em muitas frentes. Entretanto, a crise não alcança a ciência como tal. A ciência continua seguindo o seu curso com mais firmeza do que nunca.

E isto ainda põe a ciência como teoria do real. Esta é a vigência do vigente na contemporaneidade.

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Tratar-se-ia, então, de uma proposição paradigmática para a educação humana, a partir de uma ciência do educar renovada em suas articulações de-positivas e pro-positivas?

A epistemologia do educar se pro-põe a partir de uma de-posição fundamental: se põe a caminho do lugar de nossa morada humana, pelo recolhimento sereno e pelo dispor-se ao que se doa ao aberto na vigência do vigente.

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Isto quer dizer: se conjuga no pensamento do sentido.

Além de modelos e paradigmas monológicos e hegemônicos, urge dis-por de uma ciência humana que não pense mais em termos de “formação”, pois o urgente, agora, é construir caminhos de “RETORNO AO LAR”.

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Conjugando as partes, o pensamento do sentido é o “não-objeto” da epistemologia do educar pro-posta em seguida à de-posição.

E se o próprio do pensamento do sentido não é a “formação” e sim o “retorno ao lar”, como ficaria hoje, a partir de uma tal ciência do educar, a formação escolar? Deixaria de ser formação para se tornar o quê?

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O que significa mesmo este RETORNO AO LAR?

Para qual lar haveremos de retornar?

Como compreendemos este “retorno”?

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Trata-se de retornar à morada humana? Qual morada humana?

Trata-se de realizar um movimento descendente? Retornar ao antropologismo puro e primevo?

Que morada humana é esta da qual fala Heidegger?

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“A morada humana permanece sempre marcada pelo acontecer dos acontecimentos históricos, isto é, por uma morada que nos é entregue e confiada, quer a representemos, desmembremos ou enquadremos historiograficamente, quer imaginemos ter condições de nos separar artificialmente do acontecer histórico por uma decisão da vontade.”

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“A época da formação se aproxima do fim. Mas não porque os carentes e desprovidos de formação tomaram o poder e a direção da história. Os motivos são outros.”

“Há sinais de uma idade do mundo onde o que é digno de ser questionado abre, de novo, as portas para se acolher a essência de todas as causas e de todos os envios do destino.” (p.59)

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“Só corresponderemos, então, ao apelo da envergadura e do comportamento exigido por nossa época, se começarmos a pensar o sentido, pondo-nos no caminho tomado pela conjuntura que se abre e revela na essência da ciência, embora não somente nela.”

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“O pensamento do sentido permanece, no entanto, provisório, paciente e mais indigente ainda do que a formação de outrora, em sua época. A pobreza do sentido promete, no entanto, uma outra riqueza, cujos tesouros resplandecem no brilho de uma inutilidade, daquela inutilidade que nunca se deixa contabilizar.” (p. 60)

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“Os caminhos do pensamento do sentido sempre se transformam, ora de acordo com o lugar, onde começa a caminhada, ora consoante o trecho percorrido pela caminhada, ora conforme o horizonte que, no caminhar, vai se abrindo no que é digno de ser questionado.”

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“Os caminhos e meios das ciências nunca poderão atingir a essência da ciência.”

“Todavia, como ser pensante, todo pesquisador e mestre da ciência, todo homem, que atravessa uma ciência, pode mover-se em diferentes níveis do sentido e manter-lhe sempre vivo o pensamento.”

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“Mesmo se, por um favor todo especial, o pensamento do sentido alcançasse o mais lato grau de realização, ainda assim teria de contentar-se em apenas preparar uma disposição para o apelo que a humanidade de hoje tanto carece.”

Qual é, entretanto, este apelo?

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“Urge o pensamento do sentido mas não para superar um impasse eventual ou para quebrar a repugnância contra o pensamento.”

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“Urge o pensamento do sentido, como a resposta, que, na clareza de um ininterrupto questionamento, se entrega ao inesgotável do que é digno de ser questionado. Até que, no instante apropriado, ele perca o caráter de questão e se torne o simples dizer de uma palavra” (p. 60)

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Onde grita mais forte a

nossa dor e indigência?

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Poderemos construir uma ciência do educar transdisciplinar / polilógica?

O que isto significa como atividade propriamente científica?

É possível ressignificar a ciência a partir do "autoconhecimento"?

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O que isto significaria na prática da educação? Que fundamentos e que princípios aparecem nesta possibilidade compreensiva?

Como realizar uma educação que tenha como caminho o desenvolvimento humano sustentável, e que cultive a elevação compreensiva do ser humano em suas relações com a Vida sabiamente destinada e ofertada?

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Como fazer para que a sensibilidade humana seja cultivada nas relações de aprendizado dialógico, e se possa realizar uma pedagogia dos afetos na tarefa de cuidar do outro em desenvolvimento, deixando que seja o "caminho de sua vida"?

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Será esta grandeza colhida e recolhida por nossa sensibilidade cambaleante?

Estamos nós preparados para suportar esta altivez e este brio recolhedor e abrazante?

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Podemos já pensar em uma Ciência Humana reunida no mesmo Um, para além da época da “formação”?

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Como é que nós vamos fazer tal coisa: uma ciência do educar polilógica?

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ONTOLOGIA FUNDAMENTAL

O que é o ente enquanto é?

O ser do ente.

O SER NÃO É O ENTE.

Diferença Ontológica

IDENTIDADE, DIFERENÇA, REPETIÇÃO...

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ONTO-LOGIA FUNDAMENTAL

O LÓGOS do ser do ente: a linguagem do ente/ser .

O DIZER E O FALAR DOS MORTAIS NA HOMOLOGIA COM O QUE O LÓGOS DIZ: UM É TUDO.

A nomeação originária...

A Linguagem como morada do Ser.

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O QUE É O ENTE ENQUANTO É?

O QUE DIZ O LÓGOS?

O LÓGOS DIZ: UM É TUDO.

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A ONTOLOGIA É A TEORIA DO REAL

Relações de Ser, Ente e Linguagem

SER/MUNDO/LINGUAGEM

SER-NO-MUNDO

DASEIN

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ONTOLOGIA

ANTROPOLOGIA

ONTOANTROPOLOGIA

DASEIN

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DA-SEIN PRE-SENÇA

Pré-Ser

O ser-aí

O ser-já

A pre-sença

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COMPREENSÃO

ENTE-ESPÉCIE