caramujo africano

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VOL III

CARAMUJO GIGANTE AFRICANO Achatina fulica (Bowdich 1822)

-Julho 2006-

MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAI S RENOVVEIS Ministra MARIA OSMARINA MARINA DA SILVA VAZ DE LIMA Presidente MARCUS LUIZ BARROSO BARROS Diretor de Fauna e dos Recursos Pesqueiros RMULO JOS FERNANDES BARRETO MELLO Coordenador Geral de Fauna RICARDO JOS SOAVINSKI

Documento baseado no Plano de Ao para o controle de Achatina fulica, elaborado por Fbio Faraco. [email protected]

Organizado por: Andr Jean Deberdt Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros DIFAP Coordenao Geral de Fauna - CGFAU SCEN L4, Trecho 2, Ed. Sede do Ibama, Bloco B Cx.P 9870, CEP 70800-200, Braslia, DF Fone: (61) 3316-1654; FAX: (61) 3316-1067 [email protected]

Imagens: Andr J. Deberdt

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Este documento est em constante atualizao. Crticas e informaes complementares so bem-vindas e podem ser enviadas para o endereo: [email protected]

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SUMRIO

CLASSIFICAO TAXONMICA ............................................................................................................ 5 CARACTERSTICAS GERAIS ................................................................................................................. 5 PARASITOLOGIA ................................................................................................................................... 7 PROCEDIMENTOS PARA O CONTROLE ............................................................................................... 8IDENTIFICAO DO CAR AMUJO.........................................................................................................................................................8 CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE-AFRICANO EM RESIDNCIAS (JARDINS, HORTAS, POMARES) OU BAIRROS..............8 ROTEIRO GERENCIAL PA RA O PROGRAMA DE CONTROLE DE (ACHATINA FULICA) EM BAIRROS E MUNICPIOS. ................9

BASE LEGAL PARA O CONTROLE DE ACHATINA FULICA ...................................................................11 FONTES ...............................................................................................................................................12 ANEXO I ...............................................................................................................................................13PROGRAMA PILOTO PARA O CONTROLE DO CARAM UJO GIGANTE AFRICANO........................................................................13

ANEXO II ..............................................................................................................................................18ESTRATGIAS DE COMUNICAO NO COMBATE AO CARAMUJO AFRICANO ...........................................................................18

ANEXO III .............................................................................................................................................20ESTRATGIA DE COMUNICAO PARA O PROGRAM DE CONTROLE DO CAR A AMUJO AFRICANO .......................................20

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Achatina fulica (Bowdich, 1822)

CLASSIFICAO TAXONMICANome Comum: caramujo gigante africano, caracol gigante da frica, caracol gigante, rainha da frica. Filo: Mollusca Classe: Gastropoda Subclasse: Pulmonata Ordem: Stylommatophora Famlia: Achatinidae Gnero: Achatina Espcie: Achatina fulica

CARACTERSTICAS GERAISO caramujo-gigante-africano um molusco terrestre, nativo do nordeste da frica, foi introduzido ilegalmente no Brasil na dcada de 80, como uma alternativa para a criao de escargot. Fugas acidentais e o abandono dos animais em decorrncia da insatisfao de muitos criadores contriburam para a disperso do molusco, que hoje ocorre em quase todos os estados brasileiros, inclusive no Distrito Federal. Considerado uma praga em diversos pases, dentre eles ndia, Madagascar, EUA, Austrlia, e em pases do Sudeste Asitico, o caramujo-gigante-africano vem causando srios prejuzos em culturas agrcolas, sade humana, como potencial transmissor de doenas parasitrias e ao meio ambiente, competindo diretamente com as espcies de caramujos nativos. Apesar dos resultados ainda no conclusivos, alguns experimentos realizados em laboratrio demonstraram efeitos negativos do caramujo invasor sobre algumas espcies nativas. O caramujo Achatina fulica classificado pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN, na sigla em ingls) como uma das 100 piores espcies exticas invasoras no mundo.

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DADOS BIOLGICOS DA ESPCIE: Tamanho da concha (adulto): cnica com 10 a 15 cm de comprimento. Colorao da concha: mosqueada com tons de marrom claro e marrom escuro. Aps a

morte do caramujo a concha passa a apresentar uma colorao esmaecida. Hbito alimentar: herbvoro generalista (folhas, flores e frutos de diversas espcies). Em

situaes extremas pode se alimentar de outros caramujos como fonte de clcio. Caracteres reprodutivos: hermafrodita com fecundao cruzada (dois indivduos so

necessrios). Maturidade sexual: 4 a 5 meses. Postura de ovos: at 4 posturas por ano, com 50 a 400 ovos por postura. Tamanho do ovo: 5-6 mm de comprimento por 4-5 mm de largura Ocorrncia: bordas de mata, margens de brejos, capoeiras, hortas e pomares,

plantaes abandonadas, terrenos baldios urbanos, quintais e jardins. Parcialmente arborcola, tambm pode ser encontrado em rvores e muros. Tolerncia ambiental: resistente a frio (hiberna a temperaturas abaixo de 10 C), secao

e ao sol intenso. A populao prolifera muito na estao chuvosa.

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PARASITOLOGIADo ponto de vista mdico, Achatina fulica tem sua importncia por tratar-se de uma espcie envolvida na transmisso da angiostrongilase meningoenceflica ao homem, doena tambm denominada meningite (ou meningoencefalite) eosinoflica, causada pelo nematdeo Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935). Do ciclo de A. cantonensis participam como hospedeiros intermedirios, alm de A. fulica, outros caramujos, como Bradybaena similaris Frussac, 1821 e Subulina octona Bruguire, 1789, alm de lesmas dos gneros Veronicella, Limax e Deroceras. At mesmo o caramujo prosobrnquio dulccola Pomacea canaliculata (Lamarck, 1822) anotado como hospedeiro intermedirio. A angiostrongilase meningoenceflica apresenta clnica muito varivel. Embora poucas vezes fatal, os sintomas podem se arrastar por meses, ocorrendo casos de leses oculares permanentes. Parece ser contrada pelo homem por meio da ingesto de larvas de terceiro estdio (L3) de A. cantonensis, ou de moluscos infectados pelo verme. Como as larvas so encontradas no muco produzido pelo molusco, e por estes ltimos serem vidos por verduras, legumes e frutas como fonte alimentar, provvel que o consumo humano desses vegetais seja a maneira mais comum de contaminao. O conhecimento do ciclo vital de Angiostrongylus, apesar de incompleto, mostra uma complexidade de situaes nas quais o homem provavelmente aparece como hospedeiro eventual. O molusco o hospedeiro intermedirio de pequenos roedores urbanos e silvestres so os hospedeiros definitivos e reservatrios da verminose. Um g rande nmero de outras espcies de moluscos so experimentalmente susceptveis infeco pelo nematide. No contexto epidemiolgico atual, a angiostrongilase meningoenceflica permanece ausente na rea continental americana. Outra doena que pode ser transmitida pelo A. fulica, a angiostrongilase abdominal, causada pelo nematdeo Angiostrongylus costaricensis (Morera e Cspedes, 1971), possui os mesmos hospedeiros intermedirios e o mesmo ciclo de vida do A. cantonensis, caracterizada pelo comprometimento de rgos abdominais. Sua distribuio nas Amricas vai dos EUA ao Norte da Argentina, apresenta sintomas muitos semelhantes a uma apendicite, o que pode mascarar a presena da doena nas estatsticas pblicas de sua presena. No Brasil, a forma abdominal incide nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran, So Paulo e no Distrito Federal, e tem por hospedeiro intermedirio Phyllocaulis variegatus (Semper, 1885), lesma de grande distribuio geogrfica no continente sul-americano e outros moluscos, como Limax maximus (Linnaeus, 1758), L. flavus (Linnaeus, 1758) e Biomphallaria similaris. Ainda no existem casos confirmados no Brasil de angiostrongilase transmitida pelo caramujo-gigante-africano Achatina fulica. A utilizao de luvas nas aes de controle possui carter preventivo.

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PROCEDIMENTOS PARA O CONTROLEIDENTIFICAO DO CARAMUJO 1) Ao ser informado da presena do caramujo-gigante-africano, certifique-se inicialmente se realmente o molusco em questo. Em caso de dvida envie o material para identificao ao Ibama, universidades ou centros de pesquisa, observando o seguinte: a) Colete os exemplares utilizando luvas ou sacos plsticos (pelo menos uns 5 ou 6) e coloque em soluo alcolica de 70 %. A concha vazia ou uma boa foto tambm servem para identificao. b)Coloque junto ao recipiente contendo os exemplares no lcool uma etiqueta de papel escrita a lpis contendo: data de coleta, local e quem coletou. 2) Verifique se h outros exemplares na rea da ocorrncia e converse com os moradores para saber h quanto tempo estes animais so encontrados no local. A concha vazia ou uma boa foto tambm servem para identificao. 3) Uma vez confirmado (identificado) o caramujo-gigante-africano, entre em contato com as autoridades municipais (Secretaria Municipal de Sade, Vigilncia Sanitria, Ibama, etc), para comunicar a sua ocorrncia. IMPORTANTE no h motivo p ara pnico, uma vez que a presena do caramujo no implica em riscos de epidemias ou doenas graves. At o momento, no existe nenhum caso confirmado de doena transmitida por esse animal.

CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE-AFRICANO EM RESIDNCIAS (JARDINS, HORTAS, POMARES) OU BAIRROS. 1) Colete os caramujos manualmente, utilizando uma luva de borracha ou similar, em um recipiente adequado (balde ou saco). Os melhores horrios para o procedimento so cedo pela manh ou no final da tarde. Cave um buraco despeje e esmague bem os animas, colocando sempre que possvel uma p de cal virgem, para evitar a contaminao do lenol fretico, principalmente se uma grande quantidade for coletada. Os moluscos tambm podem ser incinerados, desde que hajam condies adequadas p ara tal finalidade (incinerador, forno, lato, etc.) 2) A operao deve ser repetida sempre que novos caramujos forem localizados. Um caramujogigante-africano apenas pode botar 400 ovos e em pouco tempo a infestao pode ocorrer novamente. O controle peridico fundamental. 3) Organize coletas peridicas com os vizinhos ou no bairro. No adianta nada achar que o problema est resolvido no seu quintal se o do vizinho est infestado.

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4) IMPORTANTE: No use sal para controlar os caramujos: seno ocorrer a salinizao do solo,

destruindo o gramado e as plantas por muitos anos. A utilizao de venenos e moluscicidas no deve ser feita, uma vez que outros animais e

at pessoas podem ser contaminadas. O caramujo-gigante-africano no um animal assassino ou perigoso. Ele no morde, no

pica e no tem veneno. Como qualquer animal que vive em ambiente aberto, existe o risco de transmisso de doenas, por isso a recomendao das luvas de borracha. Em caso de contato acidental, basta apenas lavar bem as mos com gua e sabo. Para maiores esclarecimentos, ligue para o Ibama (61) 316-1654 ou envie um e-mail para

[email protected]

ROTEIRO GERENCIAL PARA O PROGRAMA DE CONTROLE DO CARAMUJO-GIGANTE AFRICANO (ACHATINA FULICA) EM BAIRROS E MUNICPIOS. 1) O Ibama fornecer a assistncia necessria para a execuo do programa, por intermdio de suas Gerncias Executivas GEREX ou Unidades Gestoras UG, de acordo com os seguintes procedimentos: a) Realizar o contato com o ncleo de fauna da GEREX ou UG para distribuio de material informativo sobre o controle do caramujo Achatina fulica, assistncia tcnico-cientfica para elucidar pontos obscuros e padronizar o mtodo de controle. b) Colocar o gerente executivo ou Chefe de UG como coordenador do projeto (seu peso poltico e articulao social so de extrema importncia). c) Reunio com as lideranas do municpio escolhido, para traar a campanha e montagem de uma agenda comum (datas como sbado so ideais para o Dia C, ou Dia de Combate ao Caramujo Africano). d) Reunio com os secretrios municipais envolvidos (educao, sade, limpeza urbana e meio ambiente) para traar estratgias e propor o plano de ao (a secretaria de educao e a de sade so de extrema importncia, pois as diretoras de escolas os agentes de sade e do programa de sade da famlia (PSF) so naturalmente os maiores divulgadores e esto permanentemente em contato com a populao). f) Assinatura de um Termo de Compromisso onde ficam identificadas as competncias de cada uma das partes envolvidas. g) Treinamento de multiplicadores da ao, ministrado aos diretores de escola, agentes de sade, meio ambiente, e de limpeza urbana dos municpios ou dos estados participantes.9

h) Realizao do Dia C dia de combate ao caramujo-gigante-africano, previamente divulgado na mdia local. A populao envolvida na campanha far a coleta dos caramujos, depositando os mesmos em lates com tampa, identificados com adesivos da campanha e estrategicamente espalhados nas escolas, creches e postos de sade. A remoo dos lates at o aterro sanitrio, para a destruio dos caramujos, ser providenciada pela prefeitura. Os animais coletados sero enterrados em uma cova com tamanho adequado, coberta com cal virgem e terra. 2) A integrao com as prefeituras no repasse correto das informaes e no acompanhamento das metas estimadas fundamental para o xito das campanhas. 3) A eficincia no controle do caramujo-gigante-africano depender da realizao peridica de novas campanhas. 4) Deve-se levar em conta as particularidades locais na proposta de planos pilotos em todos os estados. Moradores de reas rurais devem ser treinados para eles mesmos coletarem e descartarem corretamente os animais. 5) E imprescindvel a realizao de oficinas com a imprensa local para o esclarecimento do assunto e para a incorporao dos termos corretos a serem utilizados na mdia. 9) O material necessrio para as campanhas (modelos para cartazes, adesivos, apostilas e demais material informativo) est disponvel na CGFAU/DIFAP/IBAMA Sede, atravs do telefone (61) 316-1654.

CRIADOUROS ILEGAISO caramujo Achatina fulica no considerado uma espcie domstica e o Ibama no autoriza a sua criao. Portanto, criadores clandestinos esto sujeitos s penas previstas no Decreto 3179 de setembro de 1999. Art 11 Matar, perseguir, caar, apanhar, utilizar espcimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratria, sem a devida permisso, licena ou autorizao da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Multa de R$500,00 (quinhentos reais), por unidade com acrscimo por exemplar excedente... 1 Incorre nas mesmas multas: III quem vende, expe venda, exporta ou adquire, guarda, tem cativeiro ou depsito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espcimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratria, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros no autorizados ou sem a devida permisso, licena ou autorizao da autoridade competente.

Art 45 Disseminar doena ou praga ou espcies que possam causar danos agricultura, 10

pecuria, fauna, flora ou aos ecossistemas: Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 2.000.000,00 (dois milhes de reais).

BASE LEGAL PARA O CONTROLE DE ACHATINA FULICACDB Art. 8 ; Constituio Federal Art. 225, pargrafo 1 , inciso VII; Lei 5197/67 Art. 4 ; Lei 9605/98 Art. 31, 37 e 61; Decreto 3179/99 Art. 12 e 45; Decreto 4339/02; Portaria IBAMA 93/98 Art. 31; Instruo Normativa Ibama 73/18/2005; Lei 11756/04 (para o Estado de So Paulo).o o o

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FONTESAMARAL, W. 2002. Programa nacional de saneamento ambiental da invaso da Achatina fulica preocupao nacional. Instituto Brasileiro de Helicicultura/Fundao CEDIC, 95 p. Atibaia So Paulo. PAIVA, C. L., 1999. Achatina fulica: praga agrcola e ameaa sade pblica no Brasil. http://www.geocities.com/lagopaiva/achat_tr.htm . 10 maio 1999 (criao); 25 abr. 2004 (atualizao). LOWE, S., M. BROWNE & S. BOUDJELAS 2000. 100 of the worlds most invasive species: a selection from the global invasive species database. ISSG, Auckland. SIMIO, M. S.; FISCHER, M. L. 2004. Estimativa e caracterizao da populao de Achatina fulica Bowdish, 1822 (Mollusca; Achatinidae), no municpio de Pontal do Paran, Paran, Brasil. Resumos do XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, Braslia-DF. SIMONE, L R L. 1999. O caramujo gigante em tamanho e problemas. Artigo na Internet http://www2.uerj.br/~sbma/caramujogiganteempropblemas.htm TELES, H. M. S.; FARIA VAZ J.; FONTES L. R. & DOMINGOS M. F. 1997. Registro de Achatina fulica Bowdich, 1822 (Mollusca, Gastropoda) no Brasil: caramujo hospedeiro intermedirio da angiostrongilase. Rev. Sade Pblica vol. 31 no. 3 So Paulo.

Na Internet: Fundao CEDIC: www.cedic.org.br Instituto Hrus: www.institutohorus.org.br Sociedade Brasileira de Malacologia: http://www2.uerj.br/~sbma/ United States Department of Agriculture - New Pest Response Guidelines Giant African Snails: Snail Pests in the Family Achatinidae: http://www.aphis.usda.gov/ppq/manuals/pdf_files/NPRG-GAS.pdf

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ANEXO IPROGRAMA PILOTO PARA O CONTROLE DO CARAMUJO GIGANTE AFRICANO PARNAMIRIM/RN 2004Adaptado do relatrio original elaborado por Alvamar Costa de Queiroz, Ivelise Corsino da Costa e Anete Jeane Marques Ferreira (Gerncia Executiva do Ibama no RN).

1) CARACTERIZAO DO PROBLEMA O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica), foi relatado pela 1 vez, fora do seu ambiente natural, em 1803 na Ilha Mauricio, e em seguida em 1821 nas Ilhas Reunio. Em 1847, o Malacologista W. B. Benson transportou essa espcie da Ilha Maurcio para a ndia. Da, ela foi se espalhando pelas regies tropicais do Velho Mundo, nas ilhas Seicheles em 1840; nas ilhas Comoras em 1860; no Ceilo em 1900; em Perak e na Malsia em 1928. Nesse perodo j se tem relatos dos estragos causados em plantaes de ch e seringueiras. Em 1938, os japoneses introduziram Achatina fulica nas ilhas Marianas, objetivando a sua utilizao na culinria. A partir das Ilhas Marianas, o caramujo se espalhou por diversas ilhas da Oceania at a Ilha Hawai, onde foi registrado em 1936. No Brasil, a introduo do caramujo-giganteafricano, Achatina fulica, segundo dados levantados, data de 1988/1990 em Curitiba, no Estado do Paran, por iniciativa de alguns empreendedores, objetivando a sua criao para utilizao na culinria brasileira/exportao como escargot, em detrimento do escargot verdadeiro (Helix aspersa). Esse interesse tinha como pressuposto, o tamanho, a produtividade, e a adaptao ao clima do Brasil por Achatina fulica, quando comparado a Helix sp. No Rio Grande do Norte, segundo se tem conhecimento, Achatina fulica, entrou no Estado trazido pela Empresa Millenium, para exposio em uma feira agropecuria. A partir dessa feira a Empresa implantou no Estado, mais precisamente no municpio de Macaba-RN, o chamado Projeto Escargot. A empresa vendia um kit com nmero x de matrizes, fornecia a rao e orientao para a criao do animal. Aps um perodo, com os caramujos j se reprduzindo, o ento criador denominado parceiro devolvia as matrizes empresa, a qual se comprometia em comprar a produo. Inicialmente, segundo informaes dos prprios criadores, Millenium contava com 119 parceiros. Com a morte do dirigente da Empresa, os criadores ficaram inicialmente sem ter quem lhes fornecesse a rao e em seguida sem saber quem vender a sua produo. Essa situao, cremos, levou desistncia da criao e conseqente abandono dos animais, o que provocou uma disseminao acelerada da espcie por quase todo o Estado do Rio Grande do Norte. Alm do problema da desistncia e conseqente abandono, o manual de orientao que a Empresa fornecia aos Parceiros no mencionava nenhum cuidado com relao fuga dos animais. Os poucos helirios que foram vistoriados, no apresentavam nenhuma condio de segurana e sequer de higiene. Com o aumento dos problemas relacionados ao caramujo Achatina fulica, o Ncleo de Fauna da13

Gerncia Executiva do Rio Grande do Norte, com base na listagem de parceiros da Millenium, traou um plano para verificar a situao dos criadores no Estado. Segundo informaes obtidas nas entrevistas com os criadores (parceiros) iniciais, a grande maioria afirmava ter desistido da criao, repassando os animais para outros colegas. Esses criadores remanescentes juntaram-se em uma Associao de Criadores de Escargot, que contava em meados de 2003 com aproximadamente 23 associados. Durante a vistoria realizada pela equipe do Ibama no Municpio de Parnamirim-RN, foi informado que a espcie encontrava-se amplamente dispersa em quase todo o municpio, sendo possvel encontr-la cu aberto, locomovendo em plena via pblica. Numa primeira amostragem pontual, realizada nos dias 28 e 29 de maio de 2003, foram coletados 1884 animais. Foram efetuados contatos poca dessa constatao, com a Secretria de Sade e com a Secretaria do Meio Ambiente do Municpio, bem como foi encaminhado um ofcio ao Prefeito, informando a situao encontrada. Decorridos 6 meses sem que nenhuma providncia tivesse sido tomada por parte do municpio e face as chuvas de janeiro que ocorreram em todo o Estado, o problema se agravou muito. No incio de 2004 foram retomadas as negociaes no Municpio de Parnamirim-RN, com a participao do Ibama Sede, por meio de sua Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros-DIFAP, ficando finalmente acertado um plano para o controle do caramujo-gigante-africano (Achatina fulica). A equipe da Gerncia Executiva do Ibama no Rio Grande do Norte, juntamente com representantes da Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama Sede realizaram uma reunio com o Prefeito do Municpio de Parnamirim-RN, Senhor Agnelo Alves onde foi proposta a realizao do Plano Piloto para o Controle do Caramujo-Gigante-Africano (Achatina fulica).

2) ARTICULAO INSTITUCIONAL Em maro de 2004 a equipe do Ibama/RN, juntamente com os tcnicos da Diretoria de Fauna e Recursos pesqueiros e da Assessoria de Comunicao do Ibama Sede realizaram uma vistoria nas reas infestadas pelo caramujo no Municpio de Parnamirim-RN. Em seguida a equipe foi recebida pelo Prefeito Municipal Agnelo Alves, ocasio em que foi proposto o programa piloto de controle do caramujo-giganteafricano no municpio. No dia seguinte foi realizada uma segunda reunio com a participao de representantes da Secretaria Municipal de Educao, Secretaria Municipal de Sade, Secretaria Municipal de Limpeza Urbana e representantes do Ibama, para apresentar o esboo de um plano de combate do caramujo-giganteafricano ( chatina fulica), a ser implantado inicialmente em um ou dois bairros de Parnamirim-RN. O A programa piloto consistia na catao manual dos caramujos com apoio da comunidade, e depois a sua disposio em lates especficos com tampas. O recolhimento dos caramujos deveria ser efetuado pela Prefeitura que tambm seria encarregada pela eliminao adequada dos caramujos coletados em um aterro14

sanitrio. O Ibama se comprometeu em repassar todas as informaes tcnicas sobre o assunto. O dia 03 de abril foi escolhido como o Dia C de combate ao caramujo, posteriormente alterado para Dia D, em funo dos critrios j estabelecidos para o dia de combate dengue. No dia 19 de maro de 2004 foi realizada uma oficina para a capacitao de 71 agentes multiplicadores (agentes do programa de sade da famlia, agentes de endemias e diretores das escolas municipais). Tambm foi definido que o sistema de coleta seria atravs de lates especficos com tampa, devidamente identificados, localizados nas escolas e nas unidades de sade. A rea de comunicao ficou responsvel pela elaborao de cartazes, folders, faixas e adesivos para identificao dos lates. Como forma de no onerar demais a campanha, os responsveis buscaram recursos junto iniciativa privada. Ainda em maro foi realizada uma visita prvia aos terrenos baldios que necessitavam de limpeza, juntamente com o Coordenador de Promoo Sade do Municpio. A identificao das reas foi extremamente necessria para que fosse feita a notificao aos proprietrios e para que os mesmos providenciassem os servios de limpeza e capina.

3) OFICINA PARA CAPACITAO DE AGENTES MULTIPLICADORES A oficina dos multiplicadores foi realizada no dia 18 de maro de 2004 na Escola Estadual Augusto Severo, em dois turnos, sendo cada um com uma mdia de 35 alunos. O objetivo especfico da oficina foi trabalhar uma metodologia apropriada para o conjunto de agentes multiplicadores e possibilitar a construo de um entendimento sobre o caramujo-gigante-africano e sobre as aes necessrias pra o seu controle, a serem realizadas de maneira continuada.

4) WORKSHOP REALIZADO COM A IMPRENSA No dia 24 de maro, foi realizado um workshop para os editores e jornalistas dos veculos de comunicao (tvs, rdio e jornais) de Parnamirim-RN e Natal-RN, como forma de apresentar e uniformizar as informaes a respeito do caramujo-gigante-africano e dos problemas por ele causados. Aps a realizao das palestras tambm foi apresentado imprensa o cartaz oficial da campanha com um desenho do caramujo estilizado, tendo ao lado uma fotografia do verdadeiro caramujo para facilitar sua identificao. A arte do cartaz foi elaborada pela Agncia de Publicidade Brisa por determinao da Assessoria de Imprensa de Parnamirim-RN, mas com detalhes e i ias fornecidos pela Assessoria de d Comunicao do Ibama-RN. O workshop contribuiu de forma decisiva para aumentar o espao do caramujo na mdia e principalmente para conscientizar a imprensa sobre a importncia do seu papel na campanha. Durante a semana que antecedeu a campanha no houve nem a necessidade de distribuio de releases para pautar o Dia C, uma vez que a imprensa inteira j havia se antecipando.15

5) PREPARAO PARA O DIA C Conforme o programado, 15 dias antes do evento foram distribudos nas e scolas e unidades de sade os cartazes da campanha, afixados tambm em igrejas, supermercados e demais locais pblicos. Foram realizadas palestras em escolas estaduais e municipais, alm de reunies com crculos de pais e amigos das escolas. Durante a semana que antecedeu ao Dia C as escolas e os postos de sade receberam os tambores para coleta dos caramujos, e posteriormente os adesivos para a identificao dos mesmos. Tambm foram colocadas em pontos estratgicos da cidade 30 faixas convocando a populao para coleta do Dia C. Vinte e quatro horas antes do Dia C a Coordenadoria de Promoo as Aes de Sade distribuiu seis mil luvas e 2 mil sacos plsticos para coleta. Cada escola recebeu apoio dos agentes de sade destacados para rea.

6) DIA C CONTRA O CAMUJO AFRICANO No dia 03 de abril de 2004, todas as escolas de Parnamirim-RN estavam mobilizadas para participar do Dia C. O centro de operao foi montado na Coordenadoria de Promoo as Aes de Sade onde desde s 6h e 30min os tcnicos se mobilizavam enviando materiais extras para escolas, alm de checar se os tambores enviados tinham tampas. Participaram das atividades 172 agentes do Programa de Agentes Comunitrios de Sade, 101 agentes de endemias e 1610 alunos, alm dos professores e diretores de escolas envolvidas. A abertura oficial da campanha foi feita pelo Prefeito Agnelo Alves, na Praa da Matriz, Centro de Parnamirim-RN, na presena dos Secretrios Municipais e representaes das escolas.Um detalhe a ser observado nas reas de coleta que s participaram do processo alunos maiores de 14 anos. Os alunos menores e das creches realizaram passeatas divulgando a campanha em seus bairros.

7) RESULTADOS ALCANADOS a) Foram mobilizados e capacitados pelo Ibama como agentes multiplicadores: 170 Agentes de Endemias do municpio. 104 Agentes do PCAS - Programa Comunitrio de Agentes de Sade. 30 Diretores de escolas municipais. 11 Diretores de escolas estaduais.

b) Instalados 70 pontos de coleta em escolas e postos de sade, com lates devidamente16

identificados, recolhidos pela prefeitura diariamente para o destino apropriado dos caramujos. c) 1400 alunos com mais de 14 anos envolvidos na campanha. d) 1.700 quilos de caramujos coletados na primeira semana de campanha. Mdia diria de 20 quilos de caramujos coletados. e) 2 Dia C de combate ao caramujo-gigante-africano realizado em 04/06/2004, com 2058 quilos de caramujos coletados.

7) EVOLUO DA OCORRNCIA DE ACHATINA FULICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE A ocorrncia de Achatina Fulica no Estado do Rio Grande do Norte vem crescendo de forma preocupante, principalmente no Municpio de Natal. Com a incidncia do perodo chuvoso, o caramujo tem aparecido em locais antes no detectados. Alguns municpios, em funo da repercusso alcanada pelo Programa Piloto implantado em Parnamirim-RN, tm procurado a Gerncia Executiva do Ibama, na busca de orientao para a implantao de um programa similar.

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ANEXO IIESTRATGIAS DE COMUNICAO NO COMBATE AO CARAMUJO AFRICANO Anete Jeane ASCOM/RN

A idia de elaborar as peas promocionais para campanha de controle do caramujo africano surgiu inicialmente na primeira reunio com a equipe de secretrios da cidade de Parnamirim onde destacamos a importncia dos elementos de comunicao para atingir a populao. Outro fator importante registrado nesse momento que j havamos percorrido diversos bairros do municpio onde verificamos o alto ndice de crianas manuseando o caramujo em brincadeiras infantis. Muitos chegaram inclusive a ser o meio de transporte do molusco, de um bairro para outro, porque achavam um animal diferente e bonito. Esses depoimentos e outros nos levaram a pensar numa campanha publicitria simples, mas que tivesse um caramujo estilizado em desenho, um elemento smbolo, facilmente identificvel pelas crianas e adolescentes, uma vez que as escolas seriam usadas como base multiplicadora da campanha, assim como as unidades de sade. Tentamos fazer alguma coisa similar aos desenhos de campanha da rea de sade Ao mesmo tempo em que definimos o desenho a ser utilizado no descartamos a utilizao da imagem do caramujo africano, para facilitar sua identificao. Nessa frmula conseguimos a arte-final ideal que une o desenho fotografia, e de certa forma d ao ao elemento smbolo. A mesma arte do cartaz foi aplicada aos adesivos dos tambores de coleta, pea fundamental para orientar a populao. Quando nos definimos pelo adesivo foi justamente pensando na instalao dos postos de coleta e na necessidade que teramos de diferenciar o tambor d coleta, do usual, instalado para e recolher lixo domstico nos locais pblicos. Como se trata de uma pea publicitria feita com adesivagem externa e de fcil localizao visual no foi difcil conseguir patrocinadores do setor privado. Quanto elaborao do folder, a base de pesquisas para as informaes ali contidas foi feita no Ncleo de Fauna do Ibama/RN, assim como a arte-final. Procuramos resumir as informaes sobre a nocividade do caramujo em linguagem simples e objetiva, dimensionando a importncia da participao da comunidade. Essa pea foi muito importante para o trabalho dos agentes de sade e professores. importante ressaltar que o trabalho de comunicao numa campanha desse porte no se resume apenas na elaborao das peas promocionais, mas se estende at a superviso da distribuio delas dentro das comunidades, bem como na simples anlise do entendimento da mensagem pela populao. Nosso meta maior na campanha do caramujo africano o controle da espcie, mas para alcanar esta meta, devemos criar o gosto das pessoas pela informao e reproduo dessa informao. Estamos falando em criar novos hbitos que incentivem, entre outras coisas a catao manual por um determinado18

perodo. Portanto imprescindvel que a comunicao possa atravessar seus limites formais e tambm passe a ser realizada utilizando-se de formas alternativas, em apoio s peas promocionais.

Cartaz utilizado nas campanhas (Modelo disponibilizado mediante solicitao).

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ANEXO IIIESTRATGIA DE COMUNICAO PARA O PROGRAMA DE CONTROLE DO CARAMUJO AFRICANO Jaime Gesisky Consultor/IBAMA

O Programa de Controle do Caramujo africano baseia-se, fundamentalmente, na mobilizao das comunidades onde ele estabelecido. A participao social central na garantia de sucesso da ao proposta. Foi a partir desse pressuposto que desenvolvemos o aspecto da comunicao social no mbito da experincia-modelo de Parnamirim/RN e que poder orientar o trabalho em outras partes do pas, ressalvadas as caractersticas peculiares de cada regio com seus traos scio-culturais especficos. Considerando que o trabalho de Educao Ambiental previsto no presente Plano de Ao tratou de sensibilizar os formadores de opinio locais (lderes comunitrios, religiosos, agentes de sade, etc), com base em treinamento para torn-los replicadores da informao correta, coube-nos, na rea da Comunicao Social, estabelecer uma estratgia para apoiar o encaminhamento da informao junto populao por meio dos veculos de comunicao de massa. Nossa meta era criar uma percepo social do fato que evitasse o pnico, instrusse as pessoas e ainda desse uma resposta institucional ao problema. A estratgia usada foi a de localizar ao mximo a informao, justamente para atender aos ditames especficos de cada grupo social envolvido no trabalho. Nesse aspecto, priorizamos os meios de comunicao disponveis no local, tais como o jornal da cidade, o programa de televiso com enfoque regional e os programas de rdio que dispusessem de espaos gratuitos para a veiculao de mensagens de interesse da campanha. A estratgia foi, em parte, determinada pela total escassez de recursos financeiros para desenvolver a campanha de divulgao, sendo este um fator que talvez se aplique a outras regies onde pretendemos estabelecer o programa. Trabalhamos o tempo todo com a idia do custo-zero para o Ibama. Se, por um lado, no dispnhamos de recursos financeiros, por outro tnhamos informao de sobra e esse foi o nosso mais precioso bem de troca na campanha. Tnhamos tambm que fazer essa informao chegar bem do outro lado contando apenas com nossa capacidade de argumentao em benefcio de um interesse comum. A princpio, enviamos releases para todas as redaes da regio e aguardamos o retorno dos veculos de comunicao. Nossa primeira experincia no envio dos releases resultou em matrias com informaes equivocadas em um dos jornais mais lidos na regio de Parnamirim/RN. Confiantes de que o primeiro material enviado seria suficiente para estimular os editores e reprteres a buscar mais e melhores informaes, fomos surpreendidos quando a Imprensa publicou com destaque, na capa do Caderno de Cidades, uma foto de caramujos nativos da regio e no dos caramujos20

africanos que precisariam ser bem conhecidos para que evitasse a catao do animal errado, pondo em risco a prpria biodiversidade local. O fato foi o alerta: precisaramos garantir mais fidelidade informao que chegaria ao pblico. Decidimos, ento, criar um treinamento voltado para a capacitao dos jornalistas locais. Teria quer ser algo breve, sucinto, rico em informaes bem ao gosto dos jornalistas e que gerasse novas notcias para envolver ainda mais a populao, s que desta vez com as informaes exatas. O treinamento, com durao de cerca de duas horas, compreendia uma apresentao em power-point que levava os participantes a compreender o problema global da biodiversidade, a questo das espcies exticas invasoras e as etapas da campanha que estava prestes a ser deflagrada. Durante a exposio, houve troca de informaes e a sugesto de diversas pautas relacionadas ao tema tratado, de modo que pudemos contribuir para ampliar o horizonte dos jornalistas que cobriram o assunto. O treinamento foi bem aceito pela Imprensa local. Todos os veculos mandaram seus representantes. A partir da, o noticirio entrou na linha que tnhamos almejado. Os jornalistas, j instrudos sobre onde buscar informaes fidedignas e fontes abalizadas, puderam seguir seu trabalho com excelentes resultados para todos. O material de comunicao social usado como apoio na campanha (cartaz, folders e adesivos) foi elaborado pela equipe tcnica do Ibama de Natal a partir da idia de se criar uma imagem que pudesse atingir o pblico de maneira ldica s em, contudo, criar simpatia pelo caramujo que seria esmagado e enterrado em quantidades gigantescas. A arte final do cartaz pode ser aproveitada em qualquer regio do pas, desde que se faam as devidas adaptaes na data da campanha e no rodap, local onde vo as assinaturas dos realizadores, patrocinadores e apoiadores. O mesmo se aplica aos adesivos. O Ibama fornece a arte final das peas publicitrias gratuitamente. A impresso deve ser feita pela prefeitura que, normalmente, dispe de recursos de maneira gil para o pagamento de material de divulgao de aes que envolvem a sade pblica os interesses difusos da comunidade. A experincia de Parnamirim/RN nos mostrou que vale a pena investirmos nosso tempo e os recursos de que dispomos no corpo-a-corpo com os jornalistas. Se no houver condies de os reprteres irem at o local do treinamento, pode-se faz-lo dentro da redao, para os funcionrios do jornal que tiverem interesse. A idia manter um bate-papo lastreado por informaes tcnicas seguras, estabelecendo uma relao de confiana entre fonte e jornalistas. Afinal, eles so importantes para nos ajudar a fazer a informao fluir e ns podemos colaborar pautando a Imprensa com boas matrias de interesse pblico e com informaes tcnicas que possam fundamentar os profissionais da rea. A humanizao na relao com a Imprensa, o encontro, a entrevista coletiva, o treinamento, so formas de nos aproximarmos e nos fazermos entender de maneira objetiva, mas sensvel, lembrando sempre que meio ambiente um problema que interessa a todos os cidados e que cada um pode fazer sua parte para ajudar a cuidar da Terra.

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PALAVRAS E CONCEITOS-CHAVE PARA A CAMPANHA Para sermos fiis s recomendaes dos especialistas, decidimos trabalhar com alguns conceitos e palavras-chave na divulgao da campanha e que nos parecem ser os termos mais apropriados para formar na mentalidade do pblico uma percepo correta da questo. Entre os termos que usamos, destacamos: Responsabilidade social nas questes ambientais: A partir da Constituio Federal de 1988, definiu-se que todos temos direito a um meio ambiente saudvel e equilibrado, na mesma medida em que temos tambm responsabilidades comuns em relao ao tema. Tratamos, ento, de sensibilizar os jornalistas considerando-os, primeiramente, cidados e depois, cidados com a prerrogativa de informar os demais membros da comunidade sobre os problemas ambientais; Ameaa biodiversidade: Primeiro contextualizamos os jornalistas dentro do conceito de biodiversidade, relacionando os biomas brasileiros, suas riquezas naturais e as ameaas que essa biodiversidade sofre a partir das aes impensadas do ser humano. Espcies exticas: O que so as espcies exticas invasoras e as conseqncias da contaminao biolgica que elas provocam foram outro aspecto discutido no mbito da campanha; Controle versus erradicao: Quando se trata das espcies invasoras, a palavra sempre controle e nunca o extermnio, pois praticamente impossvel do ponto de vista tcnico erradicar uma espcie invasora depois que ela j est estabelecida no meio ambiente. Sem criar pnico: A idia gerar um clima de tranqilidade, afinal o problema pode ser controlado e as doenas graves que o caramujo pode transmitir ainda no foram detectadas, por enquanto. Estes conceitos norteadores do treinamento bem como dos releases para Imprensa so muito teis e devem ser bem compreendidos pelos divulgadores de modo que os objetivos finalistas de informar corretamente sobre o caramujo sejam suplantados, oferecendo o mximo de informao possvel para melhorar a viso que os jornalistas tm sobre as questes ambientais. Recomendamos tal procedimento em qualquer iniciativa que envolva a divulgao de informaes ao pblico no mbito deste Plano de Ao.

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ANEXO IVTIRANDO A LIMPO A PRAGA DOS CARAMUJOS AFRICANOS Entrevista da Dra. Silvana Carvalho Thiengo, Pesquisadora Titular do Departamento de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz em 23 de janeiro de 2004, para o Setor de Imprensa da Fiocruz

Achatina fulica Bowdich, 1822, conhecido como caramujo africano, foi introduzido no pas em substituio ao escargot na dcada de 1980, provavelmente no Paran. Porm as tentativas de cultivo e comercializao fracassaram em diversos estados, j que a dieta alimentar brasileira no costuma incluir este tipo de iguaria. Por irresponsabilidade ou desinformao, esses criadores soltaram os caramujos no ambiente silvestre e, como se reproduzem muito rpido e no possuem predadores naturais aqui, hoje o caramujo africano encontrado em praticamente todo o pas. Est presente inclusive na regio amaznica, o que preocupante porque compete com a fauna nativa e pode causar desequilbrios ecolgicos. Na Ilha Grande, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, a situao j emergencial pela quantidade de animais e demanda uma interveno do poder pblico para o controle da praga e esclarecimento da populao. Experincias em outros pases mostram que em sistemas insulares, como o caso da Ilha Grande, o desequilbrio ambiental deflagrado pelo caramujo africano pode ser desastroso. Os problemas causados pelo aumento das populaes do caramujo gigante africano no Brasil comearam a ser notados h cerca de quatro anos. Entre equvocos e exageros, a divulgao de que os animais transmitiriam doenas capazes de levar morte fez com que o pnico, associado ao pouco conhecimento cientfico sobre a espcie, obscurecesse questes fundamentais, como a perda da biodiversidade nos nossos ecossistemas. O caramujo africano pode de fato transmitir ao homem os vermes que causam peritonite e meningite. Potencialmente, esse molusco pode hospedar dois parasitos: 1 Angiostrongylus cantonensis Chen,1935 responsvel por um tipo de meningite principalmente na sia, havendo alguns casos descritos em Cuba, Porto Rico e Estados Unidos. Embora no Brasil no haja registro dessa parasitose, sua introduo possvel, principalmente em regies costeiras, prximas s reas porturias, atravs de ratos de navios que chegam de pases asiticos; 2- Angiostrongylus costaricensis Morera & Cspedes, 1971 presente desde o sul dos Estados Unidos at o norte da Argentina, capaz de levar a um quadro infeccioso grave conhecido como abdome agudo, que pode levar morte. Raramente a doena evolui de forma to severa, permanecendo na maior parte das vezes assintomtica ou comportando-se como uma parasitose comum. Conhecida como angiostrongilose abdominal, essa doena transmitida por caramujos nativos, e no pelo gigante africano. No h, inclusive, registro de exemplares de A. fulica naturalmente infectados no Brasil e, alm disso, estudos em laboratrio tambm indicam que A. fulica no uma boa transmissora dessa parasitose. A infeco humana acontece principalmente pela ingesto de hortalias contaminadas com as larvas do verme, presentes no muco deixado pelo molusco ao se movimentar. A profilaxia simples:23

aps serem lavadas em gua corrente, as hortalias devem ser deixadas de molho em soluo de gua sanitria a 1,5% (mais ou menos uma colher de sobremesa de gua sanitria diluda em 1L de gua) durante 15 a 30 minutos. Na regio sul do pas encontra-se a maioria dos casos de angiostrongilose abdominal. Devido toxidade dos moluscicidas existentes atualmente, sua utilizao no recomendada. A melhor forma de controle e erradicao a catao manual dos indivduos e dos ovos, seguida da destruio dos mesmos, seja por incinerao ou por gua fervente. Estes cuidados so necessrios porque os caramujos podem sobreviver se simplesmente descartados no lixo ou jogados em rios. Apesar de nunca terem sido encontrados caramujos africanos infectados no Brasil e embora at onde se sabe, a larva no seja capaz de penetrar na pele, aconselhvel usar luvas ou proteger as mos com sacos plsticos ao manipul-los. Como no existem estudos conclusivos sobre esta espcie extica, possvel que possam abrigar parasitos que causem doenas em animais, por exemplo. Alm da questo ambiental e da sade humana e animal, esses caramujos so tambm considerados pragas agrcolas, pois alimentam-se vo razmente de vrios tipos de plantas ornamentais e de culturas de subsistncia. Quanto criao do caramujo africano visando comercializao, em vrios pases do mundo este tipo de malacocultura terminantemente proibido. Preocupada com os problemas causados por essa espcie no Brasil, em outubro de 2001 a Sociedade Brasileira de Malacologia (SBMa) enviou uma carta ao Ministrio da Agricultura e Abastecimento (MAPA) solicitando providncias para o controle desses caramujos. O Parecer 003/03 publicado pelo Ibama e pelo Ministrio da Agricultura considera ilegal a criao de caramujos africanos no pas, determina a erradicao da espcie e prev a notificao dos produtores sobre a ilegalidade da atividade. Este parecer vem reforar a Portaria 102/98 do Ibama, de 1998, que regulamenta os criadouros de fauna extica para fins comerciais, com o estabelecimento de modelos de criao e a exigncia de registro dos criadouros junto ao Ibama. Mesmo assim, a prtica da cultura dessa espcie ainda comum. Um documento com informaes sobre os caramujos africanos e medidas de controle adequadas est sendo preparado por especialistas na rea e deve ser distribudo s Secretarias Estaduais e Municipais de Sade. A questo dos caramujos africanos tambm foi tema no Congresso Nacional de Zoologia, que aconteceu em Braslia em fevereiro.

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