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Calisto Trilogia da Meia-Noite - Livro 1

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Quando a noite cair, as brumas elevarem-se, a lua estiver banhada em sangue e as insígnias despertarem não restará opção se não lutar. Você não pode fugir de quem é do seu destino ou os demônios encontrados, e não poderá desistir porque terá sempre alguém a espreita. As cinco insígnias juntas são invencíveis, separadas devastadoras. Resista, combata, enfrente, acima de tudo conheça a si mesmo para descobrir se você está pronto para desvendar os mistérios. Draco, Lucas e Kalí possuem cristais, possuem força e não desistirão até Arrarock estar salva novamente. O preço mais caro sempre é pago pelos heróis. Acompanhe-os nesta jornada.

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Trilogia da Meia-Noite

Livro I – Calisto

A noite se enrubescia com a tristeza, o som do metal cho-cando-se contra o metal gerava a badalada caótica e nostálgica, abafando o grito dos homens no campo de batalha, onde jaziam corpos de mulheres e crianças sem vida. Os elfos se concentravam na parte oeste da batalha. Enquanto os magos buscavam Volker, o desertor – causador de tudo isso –, os homens avançavam mais lentamente que as outras raças e a carne fraca logo sucumbia.

A lua nem bela era: chorava pelo sangue à sua frente, mur-múrios de súplicas eram ouvidos a cada novo ser que ousava tocar em uma espada ou arco para adentrar naquela imensidão. A terra não aceitava aquelas pobres almas e tampouco a brisa lhes beijava a pele, nem todos sobrariam para contar a história daquela noite. Talvez ninguém sobrasse.

Mais um dos homens tombou e a espada caiu de suas mãos. A armadura pesou e o desejo de salvar as insígnias e a família já não foi suficiente. Seu dever acabara ali, transferido ao companheiro ao lado, que lutava bravamente e com berros erguia a espada atacando os seres de Racia, uma mistura de orcs e humanos. Com muita força, a criatura esgueirou-se facil-mente, mas o homem tornou a investir desta vez pelo lado e, obtendo êxito, conseguiu um corte profundo.

Assim que atingida, a criatura perdeu parte do senso. O homem cujos olhos já não sabiam se veriam o sol outra vez continuou avançando campo adentro, resistindo, tornando-se

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um dos tantos heróis sobreviventes. A verdadeira questão, no entanto, não era essa, e, sim, quantos ainda deveriam morrer para salvar um presente dos deuses: as insígnias.

A guerra durou dois dias. Pouco a pouco, pela madrugada uivante do segundo dia, os exércitos de Racia, conduzidos pelo mago desordeiro, sucumbiram à ignorância, entregando-se na batalha ou jurando servir aos que assumiriam o controle para manter a paz. Volker foi levado pelos elfos e aprisionado em um lugar secreto, cuja localização somente os senhores dos bosques conheciam.

Os humanos reuniram-se com as outras raças, criando uma enorme fogueira no campo, na qual puderam dançar e se alimentar comemorando uma vitória histórica. As insígnias foram tomadas e enviadas a cinco lugares opostos do mundo, para que nunca mais fossem reunidas, mantendo o poder selva-gem dentro delas a salvo da cobiça.

E assim a paz pôde reinar na terra de Arrarock durante mil anos, ecoando de geração a geração a narrativa dessa história, que se tornou uma lenda, até o momento em que ninguém mais acreditava nela, e os objetos de poder pelos quais grandes pessoas morreram permaneceram perdidos nos ecos do tempo, sem reclamar uma nova alma.

Entretanto, a paz não era eterna. Assim, nesta noite bela de outono, as insígnias despertaram destinadas a voltar ao único portador que já lhes deixara liberar seu poder. Na forma de objetos que chamam seu velho mestre, cada uma ao redor da Terra atraiu uma presa que pudesse levá-la de volta até o segredo. Os homens, finalmente, perceberam o quão errado fora aceitar o presente dos deuses. Mas, agora, era tarde demais, as insígnias retornavam!

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Encontrando

Draco

O vento parecia assobiar uma canção pela floresta aden-tro. A cabeça de Draco se remoía em pensamentos dos mais diversos possíveis, enquanto caminhava tranquilamente pela parte oeste da floresta de Bahruan. Às vezes, entre uma clareira e outra, encontrava objetos perdidos, envelhecidos, esquecidos por caçadores, os quais vendia aos mercadores de antiguidades. Draco era o único filho de Joanne, uma camponesa simples e muito amorosa. O filho não saíra diferente: era calmo, simpló-rio e gentil.

Era o mês de Lhefa, o que quer dizer que em breve o inverno rigoroso voltaria para assolar a vila de Läy. Anos após anos, os invernos tornavam-se mais rigorosos e, com isso, os poucos camponeses que ali restavam tinham de rezar para que ao menos uma parte de sua safra pudesse ser colhida. Parte da safra plantada por Draco e sua “família” sequer havia germi-nado. Portanto, ele precisava encontrar maneiras de arrumar dinheiro para os alimentos que estocariam. A adaga em suas mãos e um tipo de lança improvisada n’outra indicavam estar pronto para a caça. Talvez um dia conhecesse seu pai, que o abandonara quando bebê.

Adentrava cada vez mais a floresta, o único som no lugar era o burburinho de pássaros, que passavam acima migrando rumo ao oeste. Não pôde deixar de pensar o quanto um dia gostaria de conhecer o oeste. As histórias de viajantes sobre bar-dos e seres mitológicos daquelas regiões o encantavam. Draco

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olhou para trás uma vez, certificando-se de que poderia encon-trar novamente o caminho para casa.

Virando-se para frente, transpassou os galhos. Caminhava distraidamente, quase se esquecera da laguna da floresta. Os pés tocavam sem querer a água gélida. Passou uma olhada de escárnio por cima quando avistou uma luz vinda do fundo. De repente, se tornou impossível mudar a direção do olhar. Vozes se rebelavam em sua cabeça o atemorizando. “Venha para nós, se entregue!”, a mensagem repetia.

Draco deu as costas, esperou a calmaria ávida. Contudo, a solidão o instigava. “Não há ninguém assistindo, que mal pode ter nisto?” repetia para si, em busca de uma improfícua segurança. Sabiamente retirou as roupas, deixando sobrar somente as peças íntimas. Assim, quando saísse da água, teria vestimentas quentes.

– Pode ser ouro, teremos finalmente sorte! – disse anima-damente submergindo metade do corpo.

A sensação era de facas atravessando o seu corpo. O peito subia e descia com maior velocidade. Puxou engolfadas de ar, mergulhando completamente e se permitindo ser carregado pelos espíritos. Os pés e braços faziam movimentos gerando impulsos contínuos. Quanto mais fundo descia, mais a pres-são dilacerava seu corpo por dentro. O ar escapuliu formando bolhas de tamanhos diferentes, forçando-o subir à superfície.

– Droga – rezingou de mau humor.Roubou mais ar submergindo. Nadava com mais rapidez

e agilidade. Seus olhos ardiam. Esticou ao máximo os dedos, conseguindo tocar no pequenino objeto. Abruptamente, foi forçado a liberar o ar. As pupilas dilataram; o corpo se deba-teu ferozmente. Sem bondade ou trilha sonora, viu os anos de sua vida passarem numa única lembrança, igual a um trailer.

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Lutando bravamente, acarretou nas mãos a insígnia, criando estremeção junto a uma pedra para emergir.

A pele pareceu estar amaldiçoada, ou talvez aquilo que suas mãos carregavam estivesse. Sequer enxergava meio palmo à frente. No entanto, prosseguiu, chegando à beirada. As reações frias lhe foram indigestas. Tossiu, colocando para fora toda água ingerida sem pretensão. O artefato caído na palma da mão era circular, igualmente a uma insígnia mística, possuía ao máximo oito centí-metros de altura, seis de largura, duas linhas esverdeadas cruzavam--no, uma o contornava, encontrando-se com outra. Ao centro, um exuberante leão desenhado artesanalmente. Também havia runas escritas, as quais Dawnovitch não compreendia. O que quer que fosse parecia ser velho e esquecido.

Mal Draco recuperara a postura para vestir-se, e o objeto lhe causou vertigem. Ou teria sido o frio? O corpo foi tomado por uma magia barroca, o perfume da mata se acentuava. Um poder ancestral crescia dentro de si. No pulso esquerdo, sua pele se tornou avermelhada, as sensações agradáveis sumiram. Draco soltou-o segurando forte seu pulso; a cabeça latejava.

Um grito agonizante saiu rasgando sua garganta; a pele do pulso começou rachar como se fosse de vidro. Draco desejou jamais ter mergulhado e retirado a estranha insígnia, embora fosse tarde demais para lamentações. Seu coração batia acele-rado. Ergueu os olhos ao céu, questionando-se se o momento existia de verdade ou não passava de um sonho em que a sani-dade se perdia nos novos segundos dolorosos.

As mãos transformavam-se em patas. Mas como isso pode-ria ser real? Draco teve vontade de gritar, mas não tinha voz. Semicerrou os olhos, rezando a qualquer deus disposto a ouvi--lo; um sentimento selvagem lhe devorava.

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Assim que abriu os olhos, fitou, assustado, o braço: estava completamente normal, a dor, assim como de repente apare-cera, havia ido embora, deixando uma forma exótica no lugar da vermelhidão. Agora em seu pulso espirais conectadas se asse-melhavam às da insígnia como que tatuadas na pele, e eram, apesar de tudo, harmoniosas. Ofegante, tratou de se vestir. Incerto do que acontecia à sua volta, tocou o desenho com os dedos, passando-os suavemente sobre a pele de forma lenta, analisando a profundidade.

Tinha certeza de que ninguém deveria ver tal marca. O artefato não cintilava mais como antes de ser retirado, porém ainda tinha um ar emblemático. Pegou o objeto outra vez, colo-cando-o no bolso. Fosse o que fosse já havia acontecido e deixá--lo ali não parecia uma decisão sensata. Guardou a adaga e, recuando alguns passos, percebeu que sua noção tempo-espaço estava distorcida, sua mente dançava desordenadamente. Estava na hora de retornar, pois o sol começava a brincar de se escon-der por de trás das colinas.

A respiração estava turva, teve dificuldades para encontrar o caminho de casa, sentia sua cabeça girar, a pele queimava em restritos momentos, n’outros era a dor pura e depois nada exclusivamente. Entrou ofegante em sua casa. Sua mãe assus-tou-se ao avistá-lo escorado na porta. Joanne correu até ele para ajudá-lo. Sua última recordação eram as mãos quentes da mãe em seu rosto, enchendo-o de perguntas. Logo depois tudo se transformou em escuridão, e ele adormeceu.