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Geologia USP Série Científica Revista do Instituto de Geociências - USP - 11 - Disponível on-line no endereço www.igc.usp.br/geologiausp Geol. USP Sér. Cient., São Paulo, v. 8, n. 2, p. 11-27, outubro 2008 Diamictitos e “Cap Dolomites” Sturtianos Sobre o Grupo Jacobina - Araras, Norte de Campo Formoso - Bahia Diamictites and Sturtian Cap Dolomites Covering the Jacobina Group - Araras, North of Campo Formoso - Bahia Benjamim Bley de Brito Neves 1 ([email protected]) e Augusto José de Cerqueira Lima Pedreira da Silva 2 ([email protected]) 1 Departamento de Mineralogia e Geotectônica - Instituto de Geociências - USP R. do Lago 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP, BR 2 CPRM - Serviço Geológico do Brasil - SUREG/SA, Salvador, BA, BR Recebido em 03 de janeiro de 2008; aceito em 16 de junho de 2008 Palavras-chave: Craton São Francisco, diamictitos, sturtianos, dolomitos de capa, Neoproterozóico, Grupo Bambuí. RESUMO A ocorrência de diamictitos – provavelmente glaciais –, sotopostos a calcários no norte de Campo Formoso-BA, adjacências da vila de Araras, já havia sido observado “en passant” por alguns autores nas décadas de 60 e 70, e inclusive chega a fazer parte de alguns mapas geológicos de escala 1/100.000 e inferiores. A importância destas ocorrências, agora examinadas com mais detalhes, amplia-se com as similaridades lito-estruturais identificadas e a provável correlação com outras ocorrências conhecidas de Ituaçú, América Dourada, Morro do Chapéu (estas sobre o Grupo Chapada Diamantina) e do nordeste do Craton do São Francisco (Bendegó, Serra da Borracha, Patamuté), neste caso sobre o embasamento TTG deste craton. Em todos os casos, a tectônica de “foreland” associada com a vergência centripetal das faixas móveis neoproterozóicas marginais do norte e sul- sudeste do craton (respectivamente) se faz ostensivamente presente. Componente adicional de importância desta ocorrência aqui descrita é: a presença dessas unidades em cotas da superfície Sul-americana (a demonstrar níveis de dissecação erosiva considerável), que não é a única responsável pela atual separação dos contextos acima mencionados. Fica claro que esses registros lito-estratigráficos acima mencionados foram esparsados espacialmente já no Criogeniano, o que constitui argumento expressivo, que pode vir a ser usado para contestar a hipótese do “Snow Ball Earth”. Secções geológicas foram realizadas nas adjacências de Araras, discriminando-se quatro diferentes tipos de secções lito-estruturais da discordância (erosiva e angular) entre os (meta-) sedimentos do Supergrupo São Francisco (F. Bebedouro, Criogeniano) sobre o Grupo Jacobina (Orosiriano). Keywords: São Francisco Craton, diamictites, sturtian, cap dolomites, Neoproterozoic, Bambuí Group. ABSTRACT Occurrences of diamictites with a probable glacial origin underlying limestones north of Campo Formoso – BA around Araras village, had already been described by some authors during the 60´s and 70´s. Some of these occurrences have been recorded in some geological maps of 1/100,000 scales and even in others of smaller scales. The importance of these occurrences which have been studied in greater detail is increased because of the now identified litho-structural similarities (and probable stratigraphic correlation) with those of Ituaçu, América Dourada, Morro do Chapéu (all of which overlie the Chapada Diamantina Group), as well as with those in the northern part of the São Francisco Craton (Patamuté, Bendegó etc. overlying TTG rock units of the basement). For all these cases there is evidence of foreland tectonics associated to the centripetal vergence of the Neoproterozoic fold belts, marginal to the craton. There are some additional observations of these rock units occurring in the level of the “Sul-americana Surface”, thus demonstrating deep levels of erosion, which may be partially responsible for the present geographic separation of the whole original litho-stratigraphic context. Nevertheless it seems very clear that these records have somehow been sparsely distributed in the Cryogenian paleogeographic scenery, which may be an additional argument to contest the Snow Ball Earth theory. Some selected geological sections were undertaken in the surroundings of Araras which made it possible to discriminate 4 types of litho-structural relationships between the Jacobina Group (Orosirian) and the overlying diamictites of the São Francisco (Bebedouro Fm. Cryogenian).

Brito Neves

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  • GeologiaUSPSrie Cientfica

    Revista do Instituto de Geocincias - USP

    - 11 -Disponvel on-line no endereo www.igc.usp.br/geologiausp

    Geol. USP Sr. Cient., So Paulo, v. 8, n. 2, p. 11-27, outubro 2008

    Diamictitos e Cap Dolomites Sturtianos Sobre o GrupoJacobina - Araras, Norte de Campo Formoso - Bahia

    Diamictites and Sturtian Cap Dolomites Covering the Jacobina Group - Araras,North of Campo Formoso - Bahia

    Benjamim Bley de Brito Neves1 ([email protected]) e Augusto Jos de Cerqueira Lima Pedreira da Silva2

    ([email protected])1Departamento de Mineralogia e Geotectnica - Instituto de Geocincias - USP

    R. do Lago 562, CEP 05508-080, So Paulo, SP, BR2CPRM - Servio Geolgico do Brasil - SUREG/SA, Salvador, BA, BR

    Recebido em 03 de janeiro de 2008; aceito em 16 de junho de 2008

    Palavras-chave: Craton So Francisco, diamictitos, sturtianos, dolomitos de capa, Neoproterozico, Grupo Bambu.

    RESUMO

    A ocorrncia de diamictitos provavelmente glaciais , sotopostos a calcrios no norte de Campo Formoso-BA, adjacnciasda vila de Araras, j havia sido observado en passant por alguns autores nas dcadas de 60 e 70, e inclusive chega a fazer partede alguns mapas geolgicos de escala 1/100.000 e inferiores. A importncia destas ocorrncias, agora examinadas com maisdetalhes, amplia-se com as similaridades lito-estruturais identificadas e a provvel correlao com outras ocorrncias conhecidasde Itua, Amrica Dourada, Morro do Chapu (estas sobre o Grupo Chapada Diamantina) e do nordeste do Craton do SoFrancisco (Bendeg, Serra da Borracha, Patamut), neste caso sobre o embasamento TTG deste craton. Em todos os casos, atectnica de foreland associada com a vergncia centripetal das faixas mveis neoproterozicas marginais do norte e sul-sudeste do craton (respectivamente) se faz ostensivamente presente. Componente adicional de importncia desta ocorrnciaaqui descrita : a presena dessas unidades em cotas da superfcie Sul-americana (a demonstrar nveis de dissecao erosivaconsidervel), que no a nica responsvel pela atual separao dos contextos acima mencionados. Fica claro que esses registroslito-estratigrficos acima mencionados foram esparsados espacialmente j no Criogeniano, o que constitui argumento expressivo,que pode vir a ser usado para contestar a hiptese do Snow Ball Earth. Seces geolgicas foram realizadas nas adjacncias deAraras, discriminando-se quatro diferentes tipos de seces lito-estruturais da discordncia (erosiva e angular) entre os (meta-)sedimentos do Supergrupo So Francisco (F. Bebedouro, Criogeniano) sobre o Grupo Jacobina (Orosiriano).

    Keywords: So Francisco Craton, diamictites, sturtian, cap dolomites, Neoproterozoic, Bambu Group.

    ABSTRACT

    Occurrences of diamictites with a probable glacial origin underlying limestones north of Campo Formoso BA aroundAraras village, had already been described by some authors during the 60s and 70s. Some of these occurrences have beenrecorded in some geological maps of 1/100,000 scales and even in others of smaller scales. The importance of these occurrenceswhich have been studied in greater detail is increased because of the now identified litho-structural similarities (and probablestratigraphic correlation) with those of Ituau, Amrica Dourada, Morro do Chapu (all of which overlie the ChapadaDiamantina Group), as well as with those in the northern part of the So Francisco Craton (Patamut, Bendeg etc. overlyingTTG rock units of the basement). For all these cases there is evidence of foreland tectonics associated to the centripetalvergence of the Neoproterozoic fold belts, marginal to the craton. There are some additional observations of these rock unitsoccurring in the level of the Sul-americana Surface, thus demonstrating deep levels of erosion, which may be partiallyresponsible for the present geographic separation of the whole original litho-stratigraphic context. Nevertheless it seems veryclear that these records have somehow been sparsely distributed in the Cryogenian paleogeographic scenery, which may bean additional argument to contest the Snow Ball Earth theory. Some selected geological sections were undertaken in thesurroundings of Araras which made it possible to discriminate 4 types of litho-structural relationships between the JacobinaGroup (Orosirian) and the overlying diamictites of the So Francisco (Bebedouro Fm. Cryogenian).

  • Benjamim Bley de Brito Neves e Augusto Jos de Cerqueira Lima Pedreira da Silva

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    INTRODUO

    A regio foco deste trabalho fica na parte norte da fo-lha planimtrica de Senhor do Bonfim, escala 1/100.000,imediatamente ao norte da regio fisiogrfica da ChapadaDiamantina (do ponto de vista geogrfico) e paralela aosul dos cintures de nappes e empurres dos externidesdo sistema de Dobramentos Neoproterozicos do Riachodo Pontal, ou seja, na periferia norte do Craton do SoFrancisco (do ponto de vista geotectnico). A rodovia queliga Juazeiro para Sento S atravessa todo o contexto dosistema de nappes e klipes (todos fortemente dissecadospela eroso) que caracterizam e avanam sobre o bloco/macio marginal de Sobradinho (na verdade uma salin-cia/promontrio tipo apuliano, original do Arqueano ePaleoproterozico do embasamento do Craton), o qual seestende para o norte (promontrio de forma triangular) ato interior de Pernambuco.

    Enquanto as partes mais internas do desenvolvimentodo sistema Riacho do Pontal (Unidade Casa Nova pla-taforma terrgena e vulcano-sedimentares e unidade Mon-te Orebe sedimentos e vulcnicas submarinas) esto hojedistribudas mais para o norte (Bahia e sudoeste dePernambuco), as seqncias de plataforma, glcio-marinhase carbonticas esto preservadas mais para a parte centralda Bahia (Bacias de Irec, Rio Salitre, Rio Paragua,Itua e outros nomes locais), onde a designao lito-estratigrfica usual costuma ser Grupo Una (Formao Be-bedouro na base e Formao Salitre no topo) e onde osregistros da tectnica de foreland, epidermal (thin skin,idiomrfica) so ostensivos, principalmente na periferia cen-tro-norte do Craton.

    Em diferentes oportunidades os autores deste trabalhoestiveram estudando as reas ora consideradas, reas ou-tras similares e mesmo provveis correlatas, com diamictitossotopostos a carbonatos, do nordeste e sudeste (Brito Ne-ves, 1967, 1968, 1970; Brito Neves e Pedreira, 1992; Pedreira,1994; Trindade et al., 2006; Rocha Campos et al., 2006, 2007)do pas. Destes levantamentos e conhecimento emergiu anecessidade de re-exame na rea de Araras, que veio a serfeito nesta oportunidade.

    A rea em apreo faz parte (e os seus litotipos forammapeados) nas folhas do Projeto Jacobina (Folha Senhordo Bonfim), Projeto Bahia. A dissertao de mestrado deGuimares (1986) a ser detalhada cobriu de certo modo area aqui mencionada. A poro nordeste da Bahia, inicial-mente mapeada no Projeto Vaza-Barris, e a poro do sudestemencionada (Itua e adjacncias) esto ambas devidamenteintegradas nos mapas geolgicos 1/1.000.000 da Bahia, emsuas edies de 1978 e 1995. Estes mapas, dentro das limi-taes de escala, podem ser consultados para a viso regio-nal das ocorrncias e do problema.

    O primeiro objetivo deste trabalho reiterar a presenade paraconglomerados polimcticos na rea de Araras eadjacncias, pouco ao sul do paralelo 1000 S, no extremonorte da chamada Bacia Salitre-Jacar, na regio centralda Bahia, abrindo caminho para futuros estudos de detalhe.Esta ocorrncia em Araras (distrito de Campo Formoso BA) est situada no mesmo paralelo de outras ocorrncias,no baixo vale do Rio Salitre (poro norte do Sinclinal deCampinas), as quais sendo consideradas em conjunto comoo registro mais setentrional destes conglomerados poli-mcticos (subjacentes aos calcrios), que so de registroamplo consignado em vrias partes do domnio cratnicosanfranciscano e adjacncias. Estas ocorrncias vm com-pletar o registro da presena destes conglomerados poli-mcticos, em todo os entornos do Craton, toda vez que asua cobertura peltico-carbontica, mediante sua exumaoerosiva eventual, permite exposies adicionais do emba-samento. Embasamento este que sempre apresenta depres-ses preenchidas por tais paraconglomerados. Em particu-lar e de destaque, no caso das ocorrncias de Araras eadjacncias sul, onde estas rochas se encontram ocorrendode forma discordante sobre rochas do Complexo Itapicuru,componente da Serra de Jacobina (e mais antigo que o gru-po topnimo).

    A idia inicial dos autores era que estes conglomeradospolimctos tivessem tido continuidade para leste da Bahia,na rea norte noroeste de Euclides da Cunha (de Bendeg/Novo Canudos para Cura), onde novamente ocorrnciasde conglomerados polimcticos subjacentes a carbonatosso conhecidos (dos presentes autores) e que forammapeados, entre outros pela SUDENE-DRN/Misso Geol-gica Alem (a, b, c) (Serra da Borracha, Serra de Acau, Serrada Umidade etc.).

    O trabalho na rea de Araras (e adjacncias) aqui apre-sentado foi feito nas metodologias convencionais demapeamento geolgico bsico (bases cartogrficas dispo-nveis 1/100.000 e 1/50.000), com os suportes valiosos demapeamentos anteriores como o Projeto Jacobina/FolhaSenhor do Bonfim, 1/50.000, Folha Petrolina do PLGB1/100.000, Folha Aracaj 1/500.000 e ainda do Mapa Geol-gico da Bahia (1978), escala 1/1.000.000. Aos autores cabedescrever aspectos adicionais eventualmente no devida-mente explicitados e exaltados nesse excelente acervo biblio-grfico disponvel.

    Como ser discutido, a posio geolgica e a disposi-o estrutural, juntos com o cenrio geogrfico-geomrficoso indicativos que estes conglomerados terminavam emcunhas em altos do embasamento, tanto em pequena escalacomo em grande escala.

    Estas ocorrncias, observadas pela primeira vez peloautor snior nos anos 70, foram revisitadas por vrios moti-vos. Para verificar, em distintos cortes estruturais, as rela-

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    es de contato (Salitre-Bebedouro-embasamento),descrio dos conglomerados, anlise da importncia dosquadros geomorfolgicos (atual e pr-Criogeno Superior) epara trazer estes registros lito-estruturais significativos (degrande valia neles mesmos) para o mais prximo do acervode dados do Supergrupo So Francisco como um todo. Mas,tambm e modestamente, para a cena (reconhecidamenteup to date) das discusses da hiptese do SnowballEarth no contexto da Amrica do Sul.

    O suporte financeiro foi dado pelo CNPq (Grant depesquisador IA, do autor snior) e pela CPRM-SUREG deSalvador. Vrios colegas de diferentes instituies (CPRM,UFBA,USP) colaboraram com inside information, discus-ses e apoio informal, e a todos ficam registrados os agra-decimentos dos autores.

    PRINCIPAIS REFERNCIAS

    A bibliografia pertinente aos paraconglomerados daFormao Bebedouro foi iniciada no final do sculo XIX,quando Allen (1870) discriminou rochas polimcticas (dife-rentes composies, cores e dimenses) no trecho entre ascidades de Andarai e Itait. No incio do sculo passadocoube a Derby (1905) descrever os referidos conglomera-dos na localidade de Bebedouro (entre Itait e MarcionlioSouza), ao longo dos rios Paragua e Utinga e situ-lossotopostos aos calcrios do Rio Una.

    O termo Formao Bebedouro apareceu e grassou infor-malmente s a partir do clssico livro de Geologia do Brasilde Oliveira e Leonardos (1943) que se basearam em informa-es adicionais de Mello Jr. (1938) e Moraes Rego (1930), ej nessa oportunidade falaram de equivalncia com a S-rie Jequita, em Minas Gerais.

    As referncias bibliogrficas seguintes, mais diretas so-bre rochas conglomerticas com possvel origem glacial na regio central da Bahia, couberam a Kegel (1959, 1969),ainda que de forma muito passageira (os conglomeradosde Lages do Batata), em Lages do Batata, que na poca eraum pequeno povoado e hoje uma cidade, e que da seestendiam em exposio at Caatinga do Moura. Alm dedesignar esta unidade como Conglomerado de Lages doBatata, colocou-a como discordante sobre o Bambu eo Tombador, o que no so fatos. Mas possvel enten-der o equvoco de Kegel, pela natureza das exposies narodovia (chamada de Estrada de Remanso) e para a po-ca. A bibliografia sobre esta unidade sofreu uma explosoque escapa a quaisquer tentativas de sntese. Seja devido atrabalhos individuais, seja devido aos muitos mapeamentossistemticos do sistema CPRM/DNPM e da SUDENE, es-tando j presente como unidade formal na edio de 1981do Mapa Geolgico do Brasil. No Congresso Brasileiro deGeologia de 1966, em Vitria do Esprito Santo, esta unidade

    j fora longamente discutida, em foros nacionais, nosimpsio especfico sobre o Eopaleozico.

    Compete destacar aqui os trabalhos de Brito Neves (1967,1970), para a SUDENE e as dissertaes de mestrados deMontes (1977) e Guimares (1996), a tese de doutoramentode Pedreira da Silva (1994), onde ficaram conhecidas as prin-cipais reas de ocorrncias, as descries mais completas,discusses sobre a origem e outros problemas afins e atmesmo quando surgiram os mapas geolgicos de integraodestas ocorrncias.

    Brito Neves (1968, 1970) descreveu e mapeou sistemati-camente esta unidade e fez aluso a possvel correlaoestratigrfica com depsitos similares da Bacia do So Fran-cisco em Minas Gerais, a que Octvio Barbosa chamaraindevidamente de Formao Sambur. Na verdade, estaunidade Sambur deve ser excluda como parte do sistemaMacabas-Jequita (glaciais e afins) consoante Castro eDardenne (1995). A designao de Bebedouro aqui reite-rada em respeito s prioridade e propriedade da designao(outorgada ao Derby, 1905).

    As dissertaes de mestrado de Montes (1977a), Mon-tes (1977b) e de Guimares (1996) trouxeram contribuiessedimentolgicas e estratigrficas muito importantes. So-bretudo o trabalho de Guimares que mapeou esta unidadeem toda regio central da Bahia nas chamadas bacias deIrec (mais a oeste), Salitre, Una-Utinga (ao sul) e Ituau(extremo sul da Chapada Diamantina Oriental), que so de-signaes informais locais (ao nosso ver, no apropriadas)para as reas de preservao do Supergrupo So Franciscona regio central da Bahia, aps os ciclos ferrenhos dedesnudao do Neoproterozico e Fanerozico, consoanteinjunes estruturais e morfolgicas muito especiais.

    O trabalho de Guimares traz completo inventrio des-tas ocorrncias na Bahia Central, com descries litolgicas,faciolgicas, estratigrficas, discutindo em cada caso am-bientes provveis de sedimentao (glaciais e conexos), oque permite os autores deste texto se resguardarem aosperfis realizados em Araras e adjacncias, e a outros tam-bm j suficientemente conhecidos pelos autores nos arre-dores (norte e oeste) de Lages do Batata e de Morro doChapu (ao norte deste municpio). Este trabalho de Guima-res e todos os demais precedentes foram incorporados nomapa da Folha de Jacobina, 1/250.000, conduzida pela CPRM(Sampaio et al., 1997), que d excelente panorama da geolo-gia regional desta poro bahiana e da bacia do Salitre,em particular. A rea de ocorrncia da unidade aqui tratadaocorre no extremo norte da aba leste do chamado sinclinalde Campinas (Brito Neves, 1967, 1970, tambm conhecidacomo Bacia do Salitre), que pequeno abaulamento parabaixo do Grupo Chapada Diamantina (unidade mais supe-rior do Supergrupo Espinhao), e que nesta regio assentasobre o embasamento Arqueano-paleoproterozico.

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    Os diamictitos e rochas afins (Bebedouro) e a coberturapeltico-carbontica do Grupo Bambu progradaram toman-do proveito desta depresso estrutural (sinclinal de Cam-pinas) e de outras erosionais pr-existentes, e pelos mes-mo motivos foram a melhor preservados de todos os mui-tos processos de desnudao subseqentes, do Neoprote-rozico, do Fanerozico, e neste, principalmente do Ceno-zico, quando foram esculpidas as superfcies Sul-ameri-cana (que tangencia o topo das ocorrncias mais eleva-das) e Velhas (plat pouco menos elevado, a leste, ondepredominam rochas do embasamento, mais a leste), ambascom farta bibliografia pr-existente, e j mencionadas.

    Afora os trabalhos j citados (nfase para os mestradose doutoramentos) merecem ser destacados os mapas deintegrao geolgica regional da CPRM, como aquele deRabelo et al. (1998, Jacobina), os trabalhos de paleomag-netismo de Trindade et al. (2004) e aqueles de cunhogeocronolgico de Babinski et al. (2006, 2007). Sobre o de-bate do Snowball Earth, o contingente bibliogrfico ines-gotvel e crescente, cabendo referir aqui os trabalhos maisrecentes de Hofmann (2005), francamente favorvel teoria,e o de Eyles e Janusczak (2007), tomando posio contrria.

    A Formao Bebedouro (considerada como parte infe-rior do Grupo Una, subjacente Formao Salitre, estaformada pelos calcrios) foi devidamente j destacada noMapa Geolgico da Bahia, edies de 1978 (Inda e Barbo-sa) e 1992 (Barbosa e Landim). Em 1998, dentro do ProjetoJacobina da CPRM, foi feito o mapeamento 1/100 000 daFolha Serra da Vargem, que incluiu a rea de Araras (distri-to de, ca. 50 km NW da sede Campo Formoso), que ficapouco abaixo do paralelo 10o S. Nesta rea de Araras, ostrabalhos de Brito Neves (1970) e Guimares (1996) forampioneiros na identificao dos diamictitos. Cabe destacaraqui o trabalho de Misi e Veizer (1998) como pioneiros naobteno e apreciao de dados quimio-estratigrficos doGrupo Una na regio de Irec e adjacncias.

    Em andamento h alguns outros trabalhos que devemser mencionados e somados a estes, especialmente aquelesda poro sul e sudoeste do Craton (reas de Ona doPitangui, Bom Despacho e Formiga, em Minas Gerais (Ro-cha-Campos et al., 2006, 2007), com os quais se completa oregistro da presena destes paraconglomerados polimcticosem praticamente todo o entorno das bacias do So Fran-cisco e Salitre-Jacar, quando nas proximidades dos res-pectivos embasamentos cratnicos.

    Ao lado dos mapeamentos sistemticos mencionados, aregio central da Bahia (Bacias de Irec e Salitre, prin-cipalmente) tem sido alvo de vrios outros trabalhos sobrerecursos hdricos e minerais, problemas de meio ambiente,mas a rea de Araras (norte do municpio de Bonfim, emgeral) permaneceu margem, tendo sido este o motivo adi-cional para revisit-la.

    GEOLOGIA LOCAL

    Feies geomorfolgicas

    Na rea de Araras, h dois conjuntos de feies geo-morfolgicas a considerar no tempo: a primeira aquela dostempos Criogenianos (pr-740 Ma) e a outra a configura-o atual, esculpida a partir do final do Cretceo.

    No quadro atual notvel o desenvolvimento da Super-fcie Velhas (provavelmente do Negeno) por toda extensocentro-oriental da Bahia, com sua peneplanizao rigorosa,situada em cotas de 600 - 500 m, e apresentando suave incli-nao para leste (cotas de 300 - 200 m). Esto presentes co-berturas de depsitos correlativos (Formaes Capim Gros-so, arenosos e Caatinga, arenitos, conglomerados, calcretes).Apenas alguns testemunhos isolados das superfcies ante-riores e mais antigas esto preservados em plutes granticose sienticos, diques de quartzo e pegmatticos, cristas quart-zticas locais (de unidades mais resistentes de idades paleo-proterozica). Este cenrio antolgico de superfcie de aplai-namento, seguido desde o meridiano de Feira de Santana, barrado altura do meridiano 40o S pelas elevaes da Serrade Jacobina e/ou da Chapada Diamantina mais oriental, nadireo geral norte-sul. Trata-se do confronto da SuperfcieVelhas (para o leste) com a Sul-americana (para oeste).

    A Serra de Jacobina, pouco mais a leste possui cotas maiselevadas em torno de 1.000 m (de 1.000 a 1.075 m) na FolhaSenhor do Bonfim. Pouco mais a oeste dela se desenvolve oplat formado pelos calcrios (com diamictitos e arenitossotopostos) balizando cotas de 850 - 800 m. Ou seja, porconta de constituio e resistncia aos processos erosionais,nesta rea de Folha do Senhor do Bonfim, a Superfcie Sul-americana apresenta dois patamares ntidos, e nesta configu-rao j h heranas da paleogeografia Neoproterozica.

    A unidade Bebedouro (basal do Supergrupo So Francis-co ou Bambu, ou Una, como localmente designado) se apre-senta barrada pela elevao orogentica de Jacobina (muitoprovavelmente edificada j no final do Orosiriano). Isto fato, mesmo que os termos peltico-carbonticos mais supe-riores possam ter ultrapassado em algum momento e espa-o esta barreira morfolgica prvia. Mais claro isto ficar daobservao dos cortes geolgicos, a serem discutidos.

    Na folha de Senhor do Bonfim, na rea de Araras eadjacncias, o contraste de superfcies de aplainamento, deleste para oeste, da Superfcie Velhas (600 - 550 m) e daSuperfcie Sul-americana (1.000 - 1.050 m / 850 - 800 m ) notvel, e pode ser, de certa forma transportado para gran-de parte da Bahia Central (vide Figuras 1 e 5).

    No quadro pr-Criogeniano, se pode deduzir desde Ara-ras (e de muitas outras observaes pessoais dos autores,alhures na Chapada Diamantina Oriental) que o relevo daChapada Diamantina no foi obstculo para a progradao/

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    GeologiaUSPSrie Cientfica

    invaso da sedimentao marinha peltico-carbontica doSupergrupo So Francisco/Bambu. Na verdade, esta sedi-mentao aproveitou-se dos baixos estuturais (amplossinclinais, provavelmente do Esteniano) e depresseserosionais (baixadas, baixios de eroso diferencial, ps deescarpas arenticas etc., de idades pr-Criogeniano, indefi-nidas ainda), mas em algumas oportunidades, esta sedimen-tao avanou sobre reas mais altas.

    O processo de deformao do Grupo Chapada Diamantinae equivalentes um fato inconteste, pelos dados geolgi-cos elementares observados e fotografveis em superfcie

    (vrios autores) e agora confirmado pelos levantamentosssmicos da Petrobrs, no Brasil Central. A sedimentao doSupergrupo So Francisco foi feita sobre discordncia an-gular (de menor ou maior monta) e erosiva (de centenas demilhes de anos). A natureza geodinmica desta deforma-o (tafrognese??, regmagnese??) do Espinhao e Cha-pada Diamantina, assim como as idades destes eventos (doEsteniano?) so questes em aberto ainda. Dificilmente foiuma deformao de natureza orognica (ou seja, de interaode placas) e certamente foi parcialmente retomada pela de-formao do Brasiliano.

    Figura 1. Mapa de localizao da Vila de Araras (a oeste de Flamengo e noroeste de Jaguarari - BA). Em destaque as trsseces lito-estratigrficas e estuturais relatadas: A-A, B-B, C-C. No fundo, esquema da geologia regional, compiladode Mascarenhas et al. (1975). A BR-130 a rodovia que liga Salvador a Juazeiro - BA (via Campo Formoso).

  • Benjamim Bley de Brito Neves e Augusto Jos de Cerqueira Lima Pedreira da Silva

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    Algumas ilhas no inundadas pela transgressoBambu esto muito bem documentadas nos altos quart-zticos (e.g., Serra do Mimoso, Serra de So Maurcio, Serrada Babilnia) da resistncia da Chapada Diamantina que-les processos erosionais.

    Nesta rea e por toda Chapada Diamantina orientalparece muito claro que, entre a deformao do grupo lito-estratigrfico topnimo e a deposio dos paraconglome-rados Bebedouro, houve um amplo intervalo de tempo.Primeiro com a deformao franca (Tafrognica? Regma-tognica? Eventos do Mesoproterozico Superior ou doEoneoproterozico?) e posterior eroso, com a remoovigorosa de materiais/blocos da Serra de Jacobina (quart-zitos, quartzitos verdes, metamficas, granitides) e daChapada Diamantina (quartzitos, calcrios) para viremparticipar do contexto dos blocos do paraconglomeradoBebedouro. Em praticamente todas as reas de ocorrnciado paraconglomerado do conhecimento dos autores, soidentificveis com certa facilidade os blocos derivados doGrupo Jacobina e da Chapada Diamantina. O perodo detempo para deformao e soerguimento da ChapadaDiamantina e sua posterior eroso (com produo de blo-cos) para contribuir com a formao dos paraconglomeradosno conhecido, mas pode ser estimado em centenas demilhes de anos (Guimares, 1996).

    A idia de uma conexo franca prvia entre os paracon-glomerados de Araras e adjacncias e aqueles mapeadosdescontinuamente no nordeste da Bahia (sobre o embasa-mento do Craton), pela SUDENE-DRN/Misso GeolgicaAlem (a, b, c), de Bendeg, ao sul, para Cura, ao norte,havia sido a primeira a vir tona. Mas, com as observaesgeomrficas associadas com observaes lito-estratigrficasassinaladas nos cortes geolgicos ora levados a termo (Fi-guras 2 a 4), afastam esta possibilidade de forma cabal. Emoutras palavras, possvel at fraes de contemporanei-dade nos tempos e nos processos, mas uma continuidade(correlao) fica praticamente impossvel, assim como maisuma vez se caracteriza a presena descontnua dos corposde paraconglomerados (atribudos em geral origem gla-cial, vide Montes et al., 1985; Guimares, 1996, entre outros).De sorte que algumas premissas da hiptese do SnowballEarth encontram obstculos de superao difcil (nas ob-servaes da Bahia), quando no uma negativa franca.

    LITO-ESTRATIGRAFIA E NATUREZADAS SECES

    A ocorrncia de Araras e sua equivalente mais a oesteno baixo curso do Rio Salitre altura do paralelo 10o S soas mais setentrionais destes depsitos subjacentes aoscalcrios. Mais para o norte deste paralelo, no Craton doSo Francisco e na faixa de dobramentos marginais do

    Riacho do Pontal (em parte contextos lito-estruturaisalctones jogados sobre a borda do craton) no se conhe-cem registros semelhantes concretos. Mais para o norteainda, no domnio da Zona Transversal da ProvnciaBorborema (e at mesmo no domnio da subprovnciasetentrional, na regio do Serid), h alguns registros deunidades litolgicas semelhantes (e, em parte, cronologi-camente comparveis), mas h um longo caminho de estu-dos geolgicos especficos e dirigidos, antes de se aludirqualquer correlao.

    Formao Bebedouro

    Na regio de Araras, os paraconglomerados ocorrem,claramente descontnuos lateralmente, com espessuras de0 a 25 m, excepcionalmente atingindo espessuras da ordemde 80 m (a leste da Vila de Araras, por exemplo), preenchen-do paleorelevos do embasamento. Assim sendo, formamlitossomas descontnuos muito semelhantes queles j co-nhecidos dos autores e verificados na Bacia de Irec (bordamais oriental) e no sinclinal de Campinas (Ic, Lages doBarata, Caatinga do Moura). Os paraconglomerados sosuportados por matriz arenosa e arcoseana, oxidada, e osclastos variam de alguns centmetros at meio metro (videFiguras 6 a 8), em geral so pouco rolados e at mesmofacetados. Composicionalmente, por ordem de importncia,destacamos clastos de quartzitos brancos, quartzitos ver-des, gnaisses, quartzo de veio, pegmatitos, granitides, eexcepcionalmente fragmentos de xistos e metabasitos. Emalgumas das ocorrncias foram encontradas camadas dearenitos arcoseanos intercalados, de 30 a 40 cm de espessu-ra, de forma similar queles das ocorrncias supracitadas(mais ao sul, Irec, Campinas) que do nfase local aoacamadamento plano-paralelo.

    A estratificao predominante macia e plano-paralela(mal desenvolvida, melhor ressaltada com as intercalaestabulares de arenitos arcoseanos). Como ser explicitado,em termos de estruturas tectognicas s feies de tectnicarptil (juntas, basculamentos) so observados nestes para-conglomerados basais, que apresentam mergulhos (So) bai-xos, de 10o a 15o para oeste, melhor expostos no vale doRiacho das Negras, pouco a leste da Vila de Araras. E esta a caracterstica estrutural que os destacam das rochaspeltico-carbonticas sobrepostas, onde a deformao idiomrfica e extremamente varivel, a ser discutido.

    No h evidncias incontestveis de origem glacial (pou-cas estrias conspcuas, seixos pouco facetados), o que no estranho, tendo em conta as dimenses modestas dasreas de afloramento neste contexto de Araras e adjacncias.A assuno de origem glacial feita baseado no contextoregional e nas concluses incontestes das dissertaes eteses dirigidas j mencionadas.

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    Formao Salitre (peltico-carbonticosdo Grupo Bambu)

    Os calcrios se apresentam geralmente centimetricamentebandados, com alternncia de cores cinza, verde e rosa,localmente com pores macias absolutamente de cor rosa(recristalizados e explorados comercialmente) (vide Figuras9 e 10). Predominam calcilutitos e calcarenitos, com camadase nveis francamente dolomitizados, e mais raramente uni-dades ardosianas (que ressaltam as estruturas dcteis), re-fletindo ambientes marinhos (ou de mar) rasos. Calcilutitospretos foram observados muito esporadicamente. Por taisfeies gerais litolgicas, possvel traar uma comparao(no uma correlao) com aqueles contextos mapeados maisao sul, no Projeto Bacia de Irec da CPRM como UnidadeNova Amrica (Psna, que a ocorrncia mais prxima derochas similares, na borda oriental dessa bacia).

    Do ponto de vista estrutural, estes sedimentos calcrios(metamorfismo baixo a muito baixo) se distinguem dos para-conglomerados sotopostos de forma flagrante. O dobramento conspcuo e caracteristicamente muito descontnuo, de estiloidiomrfico, desde suaves e abertas ondulaes (orientaonorte-sul, noroeste-sudeste) at extremos dobramentos iso-clinais anispacos (plano axial mergulhando para oeste) e deL- tectonitos, desenvolvidos no azimute 350 (vide Figuras 10a 12). A desarmonia do dobramento, descolado sobre a rigi-dez dos paraconglomerados um fato notrio, e que s po-deria ser palmilhado e interpretado em escalas de 1/10.000 ousuperiores, ainda assim com as dificuldades decorrentes dadistribuio esparsa dos afloramentos. De uma maneira geral,a deformao parece conduzida por esforos de N-NW paraS-SE (ao longo dos azimutes 350 - 340), que corresponde aomesmo trende dos empurres da Faixa Riacho do Pontal nosentido do Craton, na sua borda norte. Isto est inclusiveclaramente exposto nas lineaes observadas nos metamor-fitos das nappes (tanto nas imediaes da Barragem de Sobra-dinho BA, como na rea Barra Bonita-Lagoa Grande PE),onde os autores foram confirmar, ratificando vrios autoresque trabalharam nesta periferia norte do antepas cratnico.

    De maneira geral, este um quadro tpico da chamadatectnica de foreland ou thin skin (vide Hancock, 1994,entre outros), similar aos muitos j detectados na periferiado Craton, na Bahia e (e.g., Brito Neves e Pedreira da Silva1992, em Itua) e fora dela (em ambas as margens do Craton,em Minas Gerais).

    Seces estruturais e lito-estratigrficas

    A geologia local ficar melhor delineada, assim como ageomorfologia regional, com a apresentao das secesgeolgicas realizadas em paralelo, do norte ao sul da Vila deAraras, onde diferentes tipos de contatos foram observados.

    Perfil Estao Flamengo-Fazenda Boa Vista-Oeste (A-A, Figura 2)

    Nesta seco, o embasamento pr-Neoproterozico(Complexo Itapicur e granitos e pegmatitos paleoprotero-zicos) aflora muito pouco (s mais para leste) acobertadospela Formao Caatinga, esta constituda de conglomerados(Conglomerados Riacho Touro) e calcretes que constituemdepsitos correlativos da Superfcie Velhas. Esta cobertura,provavelmente do Negeno, est afetada pelo ciclo erosivoatual (afinando-a) e por reativaes de falhas do embasamen-to (que a recortam francamente). Os paraconglomerados Be-bedouro no afloram e um abrupto paredo (< 50 m) servede frente dos depsitos de calcrios que se encontram dire-tamente sobre o embasamento, em contato de falha, quecorta inclusive a Formao Caatinga.

    Perfil Oeste da Vila de Araras-Leste daVila de Araras-Baixa do Nego(B-B, Figura 3)

    Nesta seco s se observou uma das maiores possan-as dos paraconglomerados, preenchendo claramente umapaleodepresso e o seu mergulho suave e decrescente deleste (sobre o embasamento) para oeste (sob os calcrios).Nesta seco se pode configurar claramente os dois degrausda Superfcie Sul-americana, j mencionados anteriormente:o primeiro, os topos quartzticos (do Complexo Itapicuru)ca. 1.000 m) e o segundo, tangenciando o plat dos calcrios,mais para oeste, ca. 800 m. Assim como tambm se procurouconfigurar seco deformao idiomrfica e desarmnicados calcrios sobrepostos aos diamictitos. Fica claro nestaseco que o relevo pr-existente do embasamento barrou/barraria a progradao para leste dos conglomerados.

    Perfil Plat Calcrios-Fazenda Joo Gomes-Rio Quebra Tudo-Serra do Mucambo(C-C, Figura 4)

    Nesta seco os paraconglomerados apresentam pos-sanas muito pequenas de ordem inferior a 10 m e at mes-mo descontinuidades laterais. Estas descontinuidadeslaterais j foram vistas mais ao norte desta seco e ao sulda seco anterior (na estrada carrovel de Araras paraJoo Gomes), onde so observados facilmente contatos doscalcrios diretamente sobre o embasamento (a 2 km ao sulde Araras, por exemplo), sem a presena dos paraconglo-merados. O interessante nesta seco, que alm de mostraros dois patamares da Superfcie Sul-americana j menciona-dos, mostra tambm que o relevo pr-Neoproterozico, quebarrou a progradao para leste dos paraconglomerados,no foi impeditivo da progradao dos carbonatos. Uma

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    Figura 3. Seco geolgica B-B, do oeste de Araras ao Riacho Baixa do Nego. Verifica-se francamente a sedimentaodos paraconglomerados sendo barrada pelo relevo da Serra da Gameleira (remanescente do relevo pr-Criogeniano).

    Figura 2. Seco geolgica A-A, do oeste da Estao de Flamengo para oeste, mostrando os depsitos peltico-carbonticosem contato (discordncia paralela) direto sobre o embasamento (Complexo Itapicuru). Uma srie de falhas modernascortam a Formao Caatinga e so coadjuvantes da escarpa dos calcrios.

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    ilha de rochas peltico-carbonticas foi encontrada numapaleodepresso do embasamento, a oeste da Zona deCisalhamento de Araras (vide esquema da Figura 4).

    CONTEXTUALIZAO GEOTECTNICA

    Independendo das designaes informais de bacia, estarea de ocorrncia aqui discutida apenas um apndicenorte-oriental da grande Bacia Neoproterozica do So Fran-cisco (Bahia, Minas Gerais, Gois). Melhor caracterizando,trata-se de resqucio preservado desse apndice que fazia aligao entre os mares epicontinentais do oeste (ligado aopaleo-oceano Goianides) com aqueles do nordeste daPennsula/Craton do So Francisco (ligado ao paleoceanoSergipano-Oubanguides, consoante Brito Neves (2006).

    Os processos glaciais e afins da parte mdia do Neo-proterozico (Criogeniano) processaram notvel disseca-o morfolgica nos altos serranos da Chapada Diaman-tina, soerguida no final do Mesoproterozico (Esteniano?)por processos deformacionais de origem ainda desconhe-cida em sua essncia e repetidamente polmica (Ta-

    frognese? Regmagnese?). A sedimentao peltico-carbontica ps-glaciao tomou proveito notrio dosbaixos estruturais e erosionais (Sinclinal de Irec e deCampinas, sinclinal do Paragua, sinclinal de Itua, de-presso do norte de Lages do Batata etc.) pr-existentes.Este aproveitamento evidente em funo da maior preser-vao destes sedimentos peltico-carbonticos da eroso.Isto afirmado porque h muitas evidncias que os proces-sos de sedimentao a partir do final do Criogeniano (por-o peltico carbontica) cobriram grande parte da ChapadaDiamantina e at mesmo partes da Serrania de Jacobina.Portanto, a histria de bacia, no sentido tectnico da pa-lavra, requer uma observao mais regional ao nvel doscontinentes (e/ou supercontinentes) e oceanos que prece-deram a Plataforma Sul-americana.

    As deformaes brasilianas, advindas da periferia doCraton, atingem diversamente estas supracrustais assenta-das no seu interior. Nas sinclinais de Campinas, AltoParagua (Utinga) e Itua, a deformao de grau muitobaixo, havendo mais acomodao ao substrato que defor-mao orognica propriamente dita.

    Figura 4. Seco geolgica C-C, transversal Faz. Joo Gomes. Verificar a pequena espessura deparaconglomerados (sedimentao altamente descontnua) e o remanescente de depsitos pelito-carbonticosalocado sobre a serrania Jacobina-Itapicuru. Fica claro que este relevo pr-Criogeniano no impediu aprogradao destas rochas para leste.

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    Figura 6. Viso lateraldos paraconglome-rados polimcticos,evidenciando a estra-tificao plano-pa-ralela (mal desenvolvi-da) e o mergulho bai-xo (5o a 8o para oes-te). A leste de Araras.

    Figura 5. O contrasteda Superfcie Velhas(parte abaixo do ma-pa, peneplanizada) edos dois patamareselevados da SuperfcieSul-americana: o maisalto (1.000 - 1.075 m), esquerda (sul e su-deste) s custas doComplexo Itapicuru; omenos elevado e me-lhor formado (800 -850 m), direita (nor-te e noroeste) esculpi-do s custas dos car-bonatos do GrupoBambu.

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    Figura 7. Viso zenitaldos conglomerados,destacando a supre-macia da matriz are-nosa-arcoseana oxi-dada e a grande va-riedade de clastos(gnaisses, granitides,quarzo de veio, mig-matitos, quatzitos etc.),sub-rolados (no caso,a maioria) e angulo-sos. A leste de Araras.

    Figura 8. Close daviso zenital dos con-glomerados, onde sedestaca um bloco dequartzito verde (ori-ginado do Grupo Ja-cobina?) de cerca de45 cm de dimetro. Asupremacia da matrizsobre os clastos estbem exposta, assimcomo o aspecto maci-o geral da unidade.

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    Figura 9. Exposiodos caliclutitos e car-bonatos do GrupoBambu, cerca de 10 macima dos conglo-merados (separadosentre si por materiaiselvio-coluvionares),perfil a leste da Vila deAraras. O bandamen-to intenso e caracte-rstico e a deformaoa suave.

    Figura 10. Na localida-de de Araras, cerca de50 m acima do aflora-mento da Figura 9, fla-grante local de dobra-mento isoclinal, anis-paco do Grupo Bam-bu, que uma feiorelativamente rara. Ob-servar que os conglo-merados (situados cer-ca de 60 m abaixo des-te ponto, no mesmoperfil) no apresentamnenhum sinal de defor-mao dctil.

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    Figura 11. Dobramen-to bastante assimtri-co, apertado, do Gru-po Bambu, no interiorda Vila de Araras (a200 m do afloramentoda figura anterior, la-teralmente). Observara foliao plano-axialpenetrativa (nas partesmais pelticas) e a de-sarmonia relativa dostipos de dobras. O eixodo dobramento emposio oblqua em re-lao ao plano da fi-gura mergulha parao canto direito da figu-ra (direo de mergu-lho norte-noroeste).

    Figura 12. L-tectonito formado scustas dos calcrios doGrupo Bambu, com oLx mergulhando paranoroeste entre 15o e45o (devido soliflu-xo, a medida de in-tensidade do mergu-lho fica prejudicada).Afloramento localiza-do a 4 km sul de Ara-ras, onde os calcriosesto diretamente so-brepostos ao emba-samento (no ocorremconglomerados).

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    Na Chapada Diamantina Oriental, as deformaes pr-brasilianas (do Esteniano?) so muito suaves, em geral, con-signando amplos anticlinais em caixa (box-like) e depres-ses sinclinais (como Bacia do Salitre/sinclinal de Campi-nas). Para a Chapada Diamantina Ocidental e para a Serrado Espinhao, mais a oeste, o vigor desta deformao gradativamente mais intenso. Nos casos da Chapada Dia-mantina Ocidental e do Espinhao Setentrional (ca. 500 kmpara sudoeste de Araras) o metamorfismo moderado aforte (fcies anfibolito varivel) e as deformaes atingemnveis crustais profundos (thick skin).

    A rea de estudo, uma ampla sinclinal, est balizada aoeste pelo amplo anticlinal da Serra da Babilnia (suporta-do pelo Grupo Chapada Diamantina como um todo) e a lestepela monoclinal da Serra do Tombador (terrao estruturalsuportado principalmente pela Formaes Tombador eCaboclo pr-parte). A sinclinal mostra certa assimetria, poisno seu flanco leste as unidades da Formao Bebedouroafloram expressivamente com largura de rea aflorante su-perior a 10 km, e isto se estende longitudinalmente por maisde 60 km (abundam os termos mais grosseiros de diamictitose arenitos arcoseanos, com pouca seleo primria). Noflanco ocidental, h ocorrncia de depsitos relativamentemais maduros, mas so exposies mais estreitas e muitodescontnuas (capeadas por carbonatos), repousando so-bre a Formao Morro do Chapu (topo do Grupo ChapadaDiamantina), e merc do trabalho erosivo maior ou menorda Vereda da Tbua (afluente do Rio Salitre).

    Os dados de campo mostram discordncia angular (pe-quena) e erosiva importante entre os sedimentos do GrupoChapada Diamantina (como j comentado, em termos deprocessos vigentes e tempos), deformao certamente deidade pr-Brasiliano/pr-Criogeniana, e aqueles sedimen-tos da Formao Bebedouro (sem deformao rptil obser-vada). No nordeste da Chapada, estes psefitos muito gros-seiros do Bebedouro (contendo clastos originados na ero-so daquela chapada) progradam sobre a Serra de Jacobinae sobre o embasamento arqueano (rea de Campo Formo-so). Os clastos encontrados no interior dos diamictitos po-dem ser relacionados com certa facilidade com vrias unida-des/litotipos mais conhecidos do embasamento sotoposto,da seqncia paleoproterozica do Grupo Jacobina e doGrupo Chapada Diamantina. De forma que estas observa-es preliminares da geologia local aqui dissertados casamcom suficincia com os da geologia regional e dos poucosdados geocronolgicos confiveis disponveis.

    No bojo desta contextualizao regional importante co-mentar e cotejar a variao de penetrao da deformao cra-ton adentro, observada nos diferentes segmentos da coberturadobrada, pelos vetores deformacionais tangenciais advindosdos sistemas colisionais Sergipano-Riacho do Pontal-RioPreto. As observaes estruturais acima e outras auferidas

    no conhecimento regional (levantamentos precedentes dosautores e/ou da bibliografia) permitem e requerem a apresen-tao do confronto da extensividade da tectnica de antepas(forma e grau de penetrao), especialmente nesta periferia/domnios setentrionais do Craton e de sua cobertura, a saber:

    1. NE da Bahia (Sistema Sergipano) deformao fraca,idiomrfica e limitada (< 20 km).

    2. Araras (Sistema Riacho Pontal, oriental) deformaoforte, desarmnica, at 1030 S (> 50 km).

    3. Bacia Irec (Sistema Riacho Pontal, central) defor-mao forte, holomrfica, vergncia estutural para sul cons-pcua, at 1145 S (largura dobrada < 200 km), que o para-lelo de Canarana BA.

    4. Bacia do So Francisco p.d. (Sistema Rio Preto) deformao forte, holomrfica, at 12 45 S (> 250 km emlargura), paralelo de Cerro Dourado (Riacho So Gonalo),com muitas irregularidades. Vide mapa de Beurlen (1970).

    5. Corredor Paramirim entre a serrania do Espinhao e aChapada Diamantina mais ocidental deformao irregular,varivel em forma, indeterminada em rea. Tudo indica quehouve coalescncia dos vetores deformacionais dos siste-mas Riacho do Pontal (advindos do norte) e Araua (advindosdo sul). Centenas de quilmetros de rejuvenescimento estru-tural e isotpico, foram foco de vrios trabalhos especficos.

    IDADE

    No existem dados geocronolgicos diretos para a reaem apreo, e de certa maneira no existem dados geocronol-gicos insofismveis para o Supergrupo So Francisco nes-ta poro centro-norte do Craton e da Bahia. Muitos dadosde istopos de Sr e Pb pr-existem sobre o Supergrupo SoFrancisco, mas eles ou so inconclusivos ou se referem eventos sobrepostos do Ediacarano e mesmo do Cambriano.

    evocada aqui a datao publicada por Babinski et al.(2007) de 740 22 Ma, obtida nas unidades peltico-carbonticas, em Minas Gerais, por se tratar da boa qualifi-cao do dado e porque este valor o resultado de umprograma de estudo de algumas dezenas de anos. Por outrolado, nos internides da Faixa Riacho do Pontal, equivalen-tes distais vulcano-sedimentares do Supergrupo So Fran-cisco (imediaes da cidade de Afrnio, tufos vulcano-sedimentares) apresentaram idades SHRIMP (W. R. VanSchmus e Brito Neves, indito) absolutamente idnticas.

    A aliana do significado destes dois dados pontuais no suficiente para uma opo por idade. Mas, isto feito pro-visoriamente, pois so os melhores resultados at ento ob-tidos, tendo em vista as dificuldades inerentes obteno dedataes das unidades lito-estratigrficas em cena e dosprocessos de rejuvenescimento isotpico e paleomagnticoa que estas rochas foram submetidas (Trindade et al., 2004).

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    EXCERTOS CONCLUSIVOS

    As ocorrncias de paraconglomerados (F. Bebedouro) emAraras, distrito de Campo Formoso BA, situado altura doparalelo 10 S uma das mais setentrionais de todas aquelassobre o Craton So Francisco. As ocorrncias da Serra daBorracha (nordeste do craton) esto pouco mais a norte disto(entre 915 e 930 S). Assemelhados e correlacionveis (in-discutveis) jamais foram encontrados ao norte deste limite.Os calcrios sobrepostos so centimetricamente bandados esimilares queles da unidade Nova Amrica da Bacia deIrec, mais ao sul.

    Estas ocorrncias dispostas discordantemente sobre oComplexo Itapicuru e o Grupo Jacobina esto fomentando umasubdiviso conspcua da Superfcie Sul-americana em doispatamares, escalonados e bem ntidos curta e longa distncia:

    a. a dos topos das serras quartzticas (ca. 1.000 - 1.050 m);b. a dos topos do plat consubstanciado pelos carbona-

    tos (800 - 850 m).

    Os conglomerados so clasto-suportados e francamentepolimcticos, mas no foi detectada nenhuma evidnciairrebatvel de origem glacial. Esta origem foi assumida pelafora das similaridades regionais (principalmente com rela-o queles paraconglomerados situados mais ao sul, emLages do Batata e em todos recantos da periferia da amplasinclinal da Bacia de Irec.

    O relevo pr-Criogeniano da Chapada Diamantina noconstituiu obstculo para a progradao do SupergrupoSo Francisco como um todo (os paraconglomerados dabase inclusive). Este supergrupo ocupou preferencialmen-te os baixos estruturais (sinclinais, grbens) e erosionais(depresses, zonas arrasadas) pr-existentes.

    Por seu turno, e de forma diferente, o relevo pr-Crioge-niano do edifcio orognico orosiriano do que atualmente a Serra de Jacobina provvel remanescente (a feioserrana do presente de arquitetura cenozica) foi obst-culo importante, impeditivo da progradao para leste dosconglomerados. As correlaes com os paraconglomera-dos do Nordeste da Bahia, das serras da Umidade, Canabra-va e da Borracha, no podem ser imediatas, como se supunha.So deposies afins, provavelmente crono-correlatas, masdefinitivamente sem continuidade fsica. Para correlao eranecessrio, alm das litologias semelhantes, a mesma posi-o na seqncia/tempo (o que muito improvvel).

    Trs tipos de contatos cobertura-embasamento foramidentificados na rea de Araras, que constituem uma snte-se que se encontra regionalmente:

    a. Calcrios-falhas modernas embasamento de gnaissesdiversos (metabsicas inclusive).

    b. Calcrios/discordncia angular e erosiva/embasamentopr-Mesoproterozico (quartzitos, gnaisses).

    c. Calcrios/paraconglomerados espessos (paleode-presses)/discordncia angular e erosiva/embasamento.

    c. Calcrios/paraconglomerados delgados e descont-nuos/discordncia angular e erosiva/embasamento (pr-Mesoproterozico em geral).

    Enquanto os paraconglomerados apresentam apenasfeies estruturais de tectnica rgida e moderadas, oscalcrios mostram notveis feies e evidencias de tectnicadctil, do tipo thin skin, variando desde simples ondula-es at mesmo dobramentos isoclinais e formao de L-tectonitos (feies locais). Esta deformao de antepas(foreland tectonics) se estende at o paralelo de Senhor doBonfim, mais ao sul, ca. paralelo 1030 S.

    As observaes estruturais acumuladas (levantamen-tos precedentes dos autores e/ou da bibliografia) mostramintensidade de penetrao muito distintas em termos deforma e extensividade , ao longo da periferia setentrionaldo Craton e de sua cobertura. possvel distinguir os com-partimentos ou setores distintos: Nordeste da Bahia(Bendeg-Cura), Araras, Bacia de Irec Central (entreos vales do Rio Verde e Rio Jacar), Bacia do So Franciscop.d. (oeste da serrania do Espinhao) e no corredor doParamirim (entre o Espinhao e a Chapada Diamantina Oci-dental). Neste ltimo a deformao prossegue at se con-fundir com aquela advinda das faixas de dobramentos meri-dionais (Araua).

    As observaes do registro sedimentar dos paracon-glomerados e das unidades peltico-carbonticas sobrepos-tas, na rea de Araras, em Campo Formoso - BA e as obser-vaes associadas, aqui evocadas das demais ocorrnciasregionais (poro centro-norte do Craton do So Francis-co), esto em franco desacordo com as hipteses de glaciaocontnua (irrestrita em rea, a nvel global) que tecem a teo-ria do Snowball Earth.

    H muitos pontos ainda em aberto para estudar e inves-tigar na cobertura cratnica da Pennsula do So Francisco.Dos pontos de vista lito-estratigrfico, estrutural e isotpicoas questes ainda em aberto suplantam os pontos j assen-tados, como estes acima propostos.

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