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neps boletim informativo 20 | Julho de 2001 1 EDITORIAL D EMOGRAFIA HISTÓRICA E CIÊNCIAS DA SAÚDE: UMA APROXIMAÇÃO NE- CESSÁRIA Carlota Santos FALANDO DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA... Maria Norberta Amorim INVESTIGADOR APRESENTA- SE: José Manuel Lages Elisabete Pinto APONTAMENTOS DE INVESTIGAÇÃO: Guerra Colonial, uma história por contar! José Manuel Lages ARGUMENTOS: Aspectos da cultura dos Ovimbundos Luís Polanah NOTÍCIAS: NOVAS PUBLICAÇÕES: Horizontes de Polanah , homenagem a Luís Polanah S. Martinho de Avidos: comunidade rural do Vale do Ave , de Odete Paiva Comunidade cristã de Vila Nova de Foz Côa , de Aida Carvalho Tese defendida Manuel Pinto Contrato plurianual com a FCT Plano de actividades- 2001 Carlota Santos editorial Boletim Informativo Núcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 20| Julho de 2001 s u m á r i o Demografia Histórica e Ciências da Saúde: uma aproximação necessária O momento histórico actual é marcado por debates e polémi- cas de interesse crucial, envol- vendo o futuro de toda a huma- nidade e remetendo para um am- plo leque de questões que con- duzem inevitavelmente à proble- mática da expansão populacio- nal global e à futura evolução das políticas da saúde. Com efeito, as grandes trans- formações ocorridas ao longo dos últimos três séculos, tanto no que se refere à demografia mundial (síntese de muitas diversidades regionais e de um singular con- traste entre os dois hemisférios) como no que toca às políticas de saúde adoptadas por Estados e, cada vez mais, por organizações de carácter internacional, dese- nham um quadro planetário onde se acentuam as clivagens entre áreas de forte e fraco crescimen- to populacional, respectivamen- te influenciados por elevadas e baixas taxas de natalidade e, si- multaneamente, por taxas de mortalidade que actuam no sen- tido inverso. As pesquisas já realizadas no âmbito da Demografia Histórica, da História Económica e Social e da História da Medicina, revela- ram que o arranque da melhoria do sistema de saúde nos países desenvolvidos coincidiu com a fase de industrialização, momento a partir do qual se assiste ao de- clínio da taxa de mortalidade por doenças infecciosas, directamen- te relacionado com o aumento da resistência às infecções (devido à melhoria da alimentação e à imunização) e com a diminuição da exposição às infecções (de- terminada pelas medidas higiéni- cas publicamente adoptadas a partir do final do século XIX 1 e, em certa medida, pelos tratamen- tos introduzidos pela ciência mé- dica). Como pertinentemente refere Thomas McKeowon 2 , a interven- ção de outros factores teria igualmente contribuído para re- forçar essa tendência. Assim, a regulação dos nascimentos sur- giria no momento próprio, defen- dendo os progressos já obtidos dos efeitos negativos do aumen- to da população; no mesmo sen- tido, revelou-se fundamental a concomitância, e o relativamen- te curto prazo, da tomada de importantes decisões a nível da saúde pública (abastecimento de água e saneamento básico) e da educação (instrução obrigatória); a melhoria das condições econó- micas serviu obviamente de su- porte a todos os progressos rea- lizados no domínio da alimenta- ção e da higiene.

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neps boletim informativo 20 | Julho de 2001 1

EDITORIAL

DEMOGRAFIA HISTÓRICA E CIÊNCIAS

DA SAÚDE: UMA APROXIMAÇÃO NE-CESSÁRIA

Carlota Santos

FALANDO DE

DEMOGRAFIA HISTÓRICA...Maria Norberta Amorim

INVESTIGADOR APRESENTA- SE:José Manuel Lages

Elisabete Pinto

APONTAMENTOS

DE INVESTIGAÇÃO:Guerra Colonial,

um a história por contar!José Manuel Lages

ARGUMENTOS:Aspectos da cultura dos

Ovim bundosLuís Polanah

NOTÍCIAS:• NOVAS PUBLICAÇÕES:

Horizontes de Polanah ,homenagem aLuís Polanah

S. Mart inho de Avidos:com unidade rural

do Vale do Ave ,de Odete Paiva

Com unidade cristã de VilaNova de Foz Côa ,de Aida Carvalho

• Tese defendidaManuel Pinto

• Contrato plurianual com a FCT

Plano de act ividades- 2 0 0 1

Carlota Santoseditorial

Boletim InformativoNúcleo de Estudos de População e Sociedade| Instituto de Ciências Sociais| U.M.| Guimarães| 20| Julho de 2001

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Demografia Histórica e Ciências daSaúde: uma aproximação necessária

O momento histórico actual émarcado por debates e polémi-cas de interesse crucial, envol-vendo o futuro de toda a huma-nidade e remetendo para um am-plo leque de questões que con-duzem inevitavelmente à proble-mática da expansão populacio-nal global e à futura evolução daspolíticas da saúde.

Com efeito, as grandes trans-formações ocorridas ao longo dosúltimos três séculos, tanto no quese refere à demografia mundial(síntese de muitas diversidadesregionais e de um singular con-traste entre os dois hemisférios)como no que toca às políticas desaúde adoptadas por Estados e,cada vez mais, por organizaçõesde carácter internacional, dese-nham um quadro planetário ondese acentuam as clivagens entreáreas de forte e fraco crescimen-to populacional, respectivamen-te influenciados por elevadas ebaixas taxas de natalidade e, si-multaneamente, por taxas demortalidade que actuam no sen-

tido inverso.As pesquisas já realizadas no

âmbito da Demografia Histórica,da História Económica e Social eda História da Medicina, revela-ram que o arranque da melhoriado sistema de saúde nos paísesdesenvolvidos coincidiu com a

fase de industrialização, momentoa partir do qual se assiste ao de-clínio da taxa de mortalidade pordoenças infecciosas, directamen-te relacionado com o aumento daresistência às infecções (devidoà melhoria da alimentação e àimunização) e com a diminuiçãoda exposição às infecções (de-terminada pelas medidas higiéni-cas publicamente adoptadas apartir do final do século XIX1 e,em certa medida, pelos tratamen-tos introduzidos pela ciência mé-dica).

Como pertinentemente refereThomas McKeowon2 , a interven-ção de outros factores teriaigualmente contribuído para re-forçar essa tendência. Assim, aregulação dos nascimentos sur-giria no momento próprio, defen-dendo os progressos já obtidosdos efeitos negativos do aumen-to da população; no mesmo sen-tido, revelou-se fundamental aconcomitância, e o relativamen-te curto prazo, da tomada deimportantes decisões a nível dasaúde pública (abastecimento deágua e saneamento básico) e daeducação (instrução obrigatória);a melhoria das condições econó-micas serviu obviamente de su-porte a todos os progressos rea-

lizados no domínio da alimenta-ção e da higiene.

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2 neps boletim informativo 20 | Julho de 2001

editorial Carlota Santos

Demografia Histórica e Ciências da Saúde: uma aproximação necessária

Se excluirmos as patologias deordem genética, onde o factor bi-ológico é decisivo, o estado desaúde de uma população resul-ta, portanto, do equilíbrio dinâ-mico entre potencial genético in-dividual, capacidade de adapta-ção humana ao ambiente e ris-cos resultantes das condições devida, físicas e sociais.

****

A análise da mortalidade e dafertilidade, variáveis determinan-tes no crescimento natural daspopulações, tem vindo a ser de-senvolvida no seio do Núcleo deEstudos de População e Socie-dade relativamente a um grupojá significativo de paróquias doNorte de Portugal e Açores, es-tendendo-se progressivamenteessas investigações ao Centro eSul do país o que permitirá, numfuturo muito próximo, aceder auma compreensão global doscomportamentos demográficos dapopulação portuguesa do passa-do e à detecção das suas varia-ções regionais. Neste sentido,parece ter sido alcançado um dosobjectivos prioritários propostopor Norberta Amorim há poucomais de uma década, visandoalargar os primeiros resultadoscolhidos através da metodologiade reconstituição de paróquias3

a zonas geográficas mais exten-sas que garantam a fiabilidade deuma análise demográfica compa-rativa à escala nacional. Este per-curso assentou num esforço co-lectivo permanente, fundamenta-do no diálogo intedisciplinar en-tre investigadores especializadosem diferentes ramos das ciênci-as sociais que, ao focalizarem assuas abordagens sobre aspectosde índole sociológica, antropoló-gica ou geográfica permitiram

entrever novas possibilidades deexploração das bases de dados

informatizadas e colocar uma plu-ralidade de questões que pene-tram a rede de interacções cau-sais subjacente à análise demo-gráfica.

Acreditamos, no entanto, queé chegado o momento de privile-giar um novo espaço de comuni-cação científica, activando as li-gações da Demografia Históricacom as ciências da saúde e comoutras áreas das ciências sociaisque tradicionalmente lhes sãomais afins, como a História Soci-al da Medicina, a Antropologia daSaúde, a Genética das Popula-ções e a Biodemografia. Nestaperspectiva, e assumindo-se oconceito de estado de saúdecomo categoria de análise emer-gente da interrelação entre o bi-ológico e o social4 , essa trans-fusão de conhecimentos apare-ce como inevitável, prometendofazer avançar os estudos demo-gráficos para o terreno da cau-salidade.

O recurso, por exemplo, a fon-tes de carácter sanitário comoas que vêm sendo manuseadaspela Epidemiologia Histórica5 ,apresenta-se de particular inte-resse para o estudo da mortali-dade das populações do passa-do já que contribuirá, seguramen-te, para uma mais profunda com-preensão da natureza das crisesdemográficas que caracterizam oAntigo Regime, permitindo even-tualmente determinar os seus li-mites espaciais e a sua extensãogeográfica.

O estreitamento do diálogocom os biodemógrafos revela-seigualmente da maior importância,abrindo o caminho a uma trocade experiências complementaresuma vez que o estudo dos pro-cessos microevolutivos dos gru-pos humanos, objecto da Biode-mografia, privilegia a perspecti-

va biológica projectando umanova luz sobre os mecanismos

que condicionam a evolução daspopulações ao longo do tempo esobre fenómenos como a morbili-dade e a mortalidade.

Estes são apenas alguns dosaspectos onde a colaboração dis-ciplinar entre investigadores doNEPS e de outras universidadesda Península Ibérica é já uma re-alidade. Na mesma via, deseja-mos que as temáticas de futuraspesquisas possam suscitar novasaproximações às ciências da saú-de em geral, de forma a sedimen-tar os resultados já obtidos e atornar mais efectivo e global oconhecimento da demografia e dahistória da população portugue-

sa.

1 Cf. GOUBERT, Jean-Pierre,La conquête de l’eau, Paris,

Éditions Robert Laffont, 1986

2 Cf. McKEOWN, Thomas,Los orígenes de las enferm eda-des hum anas, Barcelona, Críti-

ca, 1990

3 Cf. AMORIM, Maria Norber-ta, “Uma metodologia de Re-constituição de Paróquias de-senvolvida sobre registos portu-gueses” in Bolet ín de la Asocia-ción de Dem ografía Histór ica,

XI-1, Madrid, 1991

4 Cf. HUERTAS, Rafael, Neoli-beralism o y polít icas de salud,Madrid, El Viejo Topo/Fundación

de Investigaciones Marxistas

5 Cf. BERNABEU MESTRE, Jo-sep, Enferm edad ypoblación: I nt roducción a losproblem as y m étodos de la epi-dem iología histór ica, Valencia,Seminari d’Estudis sobre la Ci-encia, 1995

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falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

As fontes da Demografia His-tórica familiarizam-nos com no-mes, datas, assinaturas, mastambém com espaços, lugares,ruas, quintas, por vezes, casas.A partir dessa informação nomi-nal cruzada, montamos bases dedados paroquiais, de famílias eindivíduos, em encadeamentogenealógico, analisamos com-portamentos demográficos emlonga duração, avançamos paraestudos de reprodução social,difundimos genealogias sistemá-ticas. Percorrer os séculos, iden-tificando as sucessivas geraçõesque se sucederam num espaçoparoquial, até atingir o tempo pre-sente, cai dentro dos nossos ob-jectivos. As referências residen-ciais ajudam-nos na identificaçãodos sujeitos históricos, mas rarae dificilmente trabalhamos no ter-reno concreto que é hoje feiçãodessas paróquias. No entanto,pela sua ligação ao tempo dasgerações desaparecidas, ao per-corrermos as ruas ou lugares deuma comunidade estudada, nãodeixamos de sentir o fascínio dopatrimónio imóvel que venceu osséculos, degradado ou conserva-do. Não deixamos de pensar quenessas casas, no interior dassuas paredes, desmoronadas ousustentadas, se foi reproduzindoo fenómeno da Vida, do Amor eda Morte. A história social do pa-trimónio imóvel, particularmentea história de velhas habitações,fascina o historiador das popula-ções como fascinará ao arqueó-logo ou ao arquitecto a sua fei-ção material.

Embora identificando até aosnossos dias sucessivas geraçõesde uma determinada comunidadee reconhecendo as casas quevenceram os séculos, nem sem-pre é fácil relacionar a gentedesaparecida com as habitaçõesque persistem. Essa tarefa, a de-senvolver-se sistematicamente,exige um moroso trabalho de ter-

reno com informantes de largamemória, exige informações do re-gisto predial, e/ou o recurso alistas históricas de residentesconvenientemente cruzadas comas bases de dados genealógicas.

Sobre a freguesia das Ribeirasdo Pico procurei identificar ca-sas de hoje com gentes do pas-sado, beneficiando de um traba-lho de terreno, infelizmente ain-da incipiente (as minhas passa-gens pela comunidade são ne-cessariamente de curtíssima du-ração), de listas de habitantes ede informações do registo civil,tendo como pano de fundo a pa-róquia reconstituída.

Uma primeira lista de habitan-tes sobre a freguesia, datada de1838, decorreu de determinaçãodo governo liberal mas foi elabo-rada pelo pároco e não inclui re-ferência à distribuição por lugarnem por residência. Está orde-nada por fogos (referindo-se cadafogo a uma família obrigada aosdireitos paroquiais), em percursosistemático de oriente para oci-dente. Na ausência de identifi-cação da propriedade imobiliáriapelo registo predial, só em casosmuito particulares de continuida-de da mesma família numa mes-ma residência ou nos casos dalocalização no início ou fim da fre-guesia pode haver segurança narelação entre uma determinadacasa que desafiou os séculos eas gerações que nela se suce-deram.

Uma lista de 1925 refere-se

apenas à nova paróquia de San-ta Cruz, desdobrada da de San-ta Bárbara em 1916 (o desdo-bramento deu-se apenas a ní-vel paroquial e não civil) e em-bora ordenada por fogos, iden-tifica os quatro principais luga-res da nova paróquia e mesmoalguns arruamentos e liga poruma chaveta os fogos que sereferem a uma mesma residên-cia. Neste caso, a memória dosresidentes pode permitir-nos

com facilidade a relação preten-dida.

Irei debruçar-me aqui sobreuma casa da zona conhecida porQuatro Cantos, fronteira à baíado porto de Santa Cruz, hoje pro-priedade de uma amiga minha,solteira, a professora aposenta-da Rosa Almerinda Gaspar da Sil-veira. Rosa Almerinda tem resi-dência em Ponta Delgada, ondeleccionou, e onde passa os in-vernos, na proximidade da irmãmais nova, sua única familiar pró-xima que vive nos Açores: A casade Santa Cruz é a sua residênciade verão onde eventualmenteacolhe em férias um irmão ou so-brinhos que vivem na América oua irmã referida e os filhos destaque vivem no Cont inente.

Em 1925 encontramos nessacasa dois casais de gerações di-ferentes referidos a dois fogos,fogos esses que aparecem no rolunidos por uma chaveta, a indi-car que constituíam uma unida-de residencial. O casal mais ido-so era constituído por José deMacedo Gaspar, marítimo, entãode 51 anos, e por sua mulher,Maria da Glória Soares, de 44anos. O casal novo era formadopor Manuel Homem da Silveira,carpinteiro, de 31 anos, e porMaria da Glória Gaspar, de 22anos, filha do casal anterior. Ocasamento de Manuel Homem daSilveira e de Maria da Glória Gas-par realizara-se em 12 de Maiode 1924 e o primeiro filho, José

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falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

Gaspar da Silveira, nasceria em16 de Março de 1925. Nasceriamdepois mais seis filhos: ManuelHomem da Silveira Jr., em 20 deDezembro de 1926, Maria Dulci-nea Gaspar da Silveira, em 20 deJulho de 1929, Elvino Gaspar daSilveira, em 7 de Agosto de 1933,Rosa Almerinda Gaspar da Silvei-ra, em 11 de Setembro de 1935,António Homem da Silveira, em15 de Agosto de 1940 e Maria daGlória Gaspar da Silveira, nasci-da em 13 de Julho de 1943.

À data da morte de José deMacedo Gaspar, em 22 de Julhode 1946, a casa abrigava 11 pes-soas. Não pode deixar de pare-cer estranho que esta bonitacasa de família pertença hoje auma filha solteira que a usa comoresidência secundária e que ne-nhum dos seus seis irmãos, to-dos com acesso ao casamento,tenha tido necessidade de a ha-bitar de forma definitiva. De fac-to, como aconteceria a grandeparte da população das Ribeiras,a procura de uma vida menosdura conduziu às saídas da fre-guesia e enquanto os destinos daemigração se acabaram por im-por aos filhos mais velhos, o cur-so de professora primária foiacessível às duas filhas mais no-vas

O primeiro filho, José Gasparda Silveira, que aprendera tantoas artes do mar como as lidas daterra, saiu depois do serviço mi-litar para a Ilha Terceira para seempregar na base americana doaeroporto das Lajes. Casou comuma mulher da freguesia do Topoda ilha de S. Jorge, e nos anossessenta, mas precisamente em1967, emigrou para os EstadosUnidos, onde veio a falecer. Ti-nha à data da emigração 42 anos.

Manuel Homem da Silveira Jr.,também marítimo, pastor e agri-cultor, casou aos 26 anos comJosefina Ferreira Goulart, naturaldos Estados Unidos da América,mas com raízes nas Ribeiras, se-

guindo pouco depois para a Cali-fórnia, sem deixar de manter umarelação afectiva forte com aque-les que ficavam. Hoje é falecido.

Maria Dulcinea Gaspar casouaos 23 anos com António Macha-do Medina, baleeiro quando o vi-gia dava sinal de baleia no largomar fronteiro, mas também donode um pequeno comércio. Aos 39anos Maria Dulcinea foi para osEstados Unidos com o marido edois filhos, com carta de chama-da do irmão Manuel, como acon-teceu no caso do irmão José. Éhoje também falecida.

Elvino Gaspar da Silveira, talcomo os seus irmãos, trabalhouno mar e em terra, pescando,cavando e tratando de gado.Cumpriu o serviço militar e ficouna tropa mais quatro anos. Vol-tou a Santa Cruz, foi pescadorde atum, decidindo-se depois porconcorrer para a polícia de se-gurança pública e foi colocado noFaial. No final dos anos sessen-ta, chamado, como todos os ou-tros, pelo irmão Manuel, emigroucom a família para os EstadosUnidos, onde reside.

Rosa Almerinda aos 24 anosfoi estudar para o Faial, cumprin-do em três anos a escolaridadede cinco anos do primeiro e se-gundo ciclos do Liceu. Ingressoudepois na Escola do Magistério

Primário, onde se formou. Suairmã, Maria da Glória, dois anosmais tarde, seguir-lhe-ia o exem-plo. A reduzida população esco-lar do distrito da Horta impeliapara fora os professores forma-dos nesta cidade. S. Miguel erao destino habitual, havendo nodistrito de Ponta Delgada muitascrianças em idade escolar e umamaior dificuldade relativa de for-mação de professores. Maria daGlória casou e teve três filhos,hoje residentes no Continente.

O outro irmão, António Homemda Silveira iniciou-se nas fainasda pesca, como no trabalho docampo, foi pescador de atum, foipolícia, empregado na Capitaniado Porto da Horta, depois foi paraa ilha das Flores, mas acabou poremigrar em 1972 com a famíliapara os Estados Unidos da Amé-rica, mais uma vez com carta dechamada do irmão Manuel. Aí fa-leceu.

Os percursos dos filhos deManuel Homem da Silveira e deMaria da Glória Gaspar espelhamum destino comum das geraçõesnascidas em Santa Cruz das Ri-beiras entre a segunda e a quin-ta décadas do século XX. Comas saídas habituais para a Amé-rica cortadas nos anos vinte, asgerações masculinas passaram ainfância e juventude entre a ter-ra e o mar, aprendendo a tirardeste riqueza, pescando peixemiúdo ou de fundo para consumire vender, integrando a tripulaçãodos atuneiros numa ou mais cam-panhas ou, em alternativa, man-tendo-se disponíveis para a caçaà baleia. Em terra aprendiam acavar, a plantar, a semear, porvezes a podar, mas também acuidar do gado, a ordenhar asvacas. Ter uma casa farta exigiao esforço de todos, homens emulheres. Acarretar água e le-nha, cozer o bolo, fazer o caldo,limpar a casa, lavar a roupa, go-vernar e escalar o peixe parasecar e vender, tratar das gali-

M e st r e José Ga spa r

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nhas e do porco, seriamactividades femininas ne-cessárias, mas a muitasmoças era reservado al-gum tempo para apren-der costura, bordados erendas, finas rendas cujaarte essa geração aindanão desaprendeu. A es-colaridade secundárianão se colocava ainda nohorizonte, dadas as difi-culdades económicas e aausência na ilha de es-colas secundárias. Noentanto, algumas mulheres des-sa geração, em idade mais tar-dia, conseguiram tirar o curso doMagistério Primário na Horta, àcusta de grande vontade e es-forço. Muito mais raramente osrapazes atingiram uma escolari-dade secundária. O serviço mili-tar com caderneta limpa e de-pois a procura de uma colocaçãocomo polícia ou guarda fiscal, ouentão na base da Terceira eramformas de fugir à duríssima vidado mar e do campo. Nos finaisdos anos cinquenta e nas duasdécadas seguintes o êxodo paraos Estados Unidos e Canadá foiimpressionante, afectando todasas idades. Hoje as Ribeiras comotodo a ilha, têm uma populaçãoenvelhecida, das mais envelhe-cidas dos Açores. A caça à ba-leia é fenómeno do passado, apesca do atum entrou em crise,a criação de gado só afecta al-gumas famílias. Na ponte, juntoao cais de Santa Cruz, numa an-tiga casa de botes de uma com-panhia beleira, um passante cu-rioso pode sentar-se facilmenteao lado de velhos marítimos eouvir histórias reais que soam alenda.

Certamente um desses velhosmarítimos não deixará de falar deMestre José Gaspar, o dono dacasa dos Quatro Cantos, o ho-mem que melhor sabia olhar o céue prever a evolução dos ventose o estado do mar, conduzindo o

Andorinha, o seu elegante velei-ro, a um bom porto entre ilhas. OPadre Norberto Pacheco na suamonografia sobre a Freguesia dasRibeiras. Pico (1983), reserva aMestre José Gaspar referênciaespecial. Conta que um dia “seencontrava Mestre José Gasparcom o seu barco Andorinha noporto da Horta, para sair no diaseguinte. A certa altura, diz aocontra-mestre: chama o pesso-al, manda amarrar as espias, pre-gar as escotilhas e vamo-nossafar para terra enquanto é tem-po. A tripulação, ao receber estanotícia, entreolhou-se espanta-da, pois o tempo estava bom.Mas, cumprida a ordem, lá se fo-ram para terra. Passadas que fo-ram duas horas, tremendo tem-poral se abateu sobre a ilha,afundando algumas embarcaçõesno porto da Horta e destruindooutras. O Andorinha manteve-sefirme, pois estava preparado paraenfrentar o temporal”. Outrasvezes, já idoso, olhando o céuda sua janela terá salvo de nau-frágio embarcações preparadaspara partir ao prever em calma-ria a chegada de tempestades.

José de Macedo Gaspar nas-ceu em 10 de Julho de 1876 eera o terceiro filho por ordem denascimento de José FranciscoGaspar, marítimo, e de Maria deSimas, casal que viria a ter oitofilhos. Era neto materno de ou-tro marítimo, Manuel Francisco

Gaspar e de Josefa Isa-bel. Os avós maternoseram José de MacedoPereira e Umbelina Rosa,pequenos proprietáriosligados à terra. José deMacedo Gaspar casaraem 12 de Maio de 1902,aos 25 anos, quandoMaria da Glória tinha 23anos, mas apenas lhesnasceu a filha que en-contramos residente em1925. Começou jovemna vida do mar, comopescador de fundo e

como baleeiro. Em 1914 mandouconstruir o Andorinha com plan-ta traçada pelos mestres daAguada, famosos construtores debarcos e canoas baleeiras damesma freguesia das Ribeiras. OAndorinha aportou com passagei-ros e mercadorias a todas as ilhasdos Açores, trouxe de Santa Ma-ria talhões, alguidares e barrobruto, louça almagrada de S. Mi-guel, telha da Graciosa, levoupeixe seco, vinho e queijos doPico. No início dos anos quaren-ta, quando a velhice o foi domi-nando, Mestre José Gaspar ven-deu o Andorinha, ao qual já adap-tara um motor. Seu genro, Ma-nuel Homem da Silveira, era oúnico filho sobrevivente de outromarítimo, António Homem da Sil-veira e de Rosa Jacinta, do mes-mo lugar de Santa Cruz, masaprendeu o ofício de carpinteiro,embora não deixasse de ter liga-ção ao mar. Foi maquinista do An-dorinha, mas não substituiu o so-gro como mestre. Após a vendado barco foi maquinista das lan-chas que faziam o transporteentre o porto da Horta, no Faial,e o fronteiro porto da Madalena,no Pico. O encontro com a famí-lia só ao fim de semana. Era pre-ciso ganhar algum dinheiro, in-vestir em terras para manter afartura da casa quando os filhosiam crescendo e as exigências dodia a dia aumentavam. A procurade soluções novas entre a terrae o mar, numa sucessiva adap-

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

“Andor inh a ”

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tação a tempos novos não foiexclusiva da geração dos seusfilhos. Desde o final do século XIXque a caça à baleia, a pesca depeixe do fundo na Terceira e Gra-ciosa, a salga do peixe e a suavenda na Madalena e Faial, otransporte de mercadorias e pas-sageiros entre as nove ilhas dosAçores, a emigração para os Es-tados Unidos (a emigração paroo Brasil decaiu nos anos setentado século XIX) se apresentaramcomo alternativas às dificuldadesde uma terra carente de pão.

No registo predial referente àfreguesia é referido Luís Soaresde Oliveira, residente na cidadede Angra na Ilha Terceira, comoprimeiro proprietário da casa queé hoje de Rosa Almerinda Gasparda Silveira. Não o identificamosnos registos paroquiais das Ribei-ras e admitimos que se tratassede um homem de negócios.

O segundo proprietário conhe-cido foi Manuel Soares de Ma-

tos, que admitimos ser Manuelnascido em 3 de Janeiro de 1839,filho do sargento Francisco Viei-ra da Rosa e de Catarina de Je-sus, proprietários, de Santa Cruz.Embora não disponhamos de ne-nhum registo seu posterior ao donascimento, o facto dos irmãosusarem o apelido Matos e havercontinuidade familiar na mesmacasa, leva-nos a aceitar comocorrecta a identificação. ManuelSoares de Matos seria possivel-mente emigrante, mas não oidentificamos nos registos depassaporte conhecidos.

O terceiro proprietário da casafoi José Soares de Oliveira, cu-nhado do anterior, natural da fre-guesia de Santo Amaro, da mes-ma ilha, casado com Isabel daConceição, nascida em 25 de Ju-nho de 1855, filha mais nova dosargento Francisco Vieira da Rosae de Catarina de Jesus. José So-ares de Oliveira e sua mulher te-riam oito filhos, dois falecidos na

infância, ausentando-se os res-tantes da freguesia. As filhasMaria Soares Vieira e Amélia Li-duína Medina, aparecem suces-sivamente como proprietárias dacasa. A primeira foi para os Es-tados Unidos solteira, com 18anos, em Março de 1906. A se-gunda casou aos 22 anos comJosé Machado Medina econhecemo-lhes um registo depassaporte de Maio de 1924. Ad-mitimos que a casa tivesse sidocomprada de boca pela família deMestre José Gaspar em 1924 oumesmo em data anterior, mas oregisto de propriedade que sesegue só data de 1962, alturaem que Manuel Homem da Silvei-ra, pai da actual proprietária, aregista em seu nome.

Muitas outras casas, ricas oupobres, poderão permitir-nos umdia um olhar mais atento sobre ahistória das comunidades queestudamos...

falando de demografia histórica... Maria Norberta Amorim

homenagem neps

Ao comemorar 80 anos devida, o Professor Luís AntónioDomingues Polanah foi homena-geado com a publicação de umlivro que revela a sua faceta ar-tística. Muitos poemas, algumascartas e variados trabalhos depintura e desenho podem serapreciados nesta obra idealizadapor Maria de Jesus Mesquita.

Nascido a 21 de Junho de1921, no Chinde, em Moçambi-que, o notável antropólogo emembro da Direcção do NEPS “nosangue, no temperamento ena filosofia de vida o encontroharmonioso de três raças –branca, o avô materno; - ne-gra, a avó materna; - amare-la/hindu, do pai; três conti-nentes – Europa, África e Ásia,tendo como denominador co-mum o continente africano.Também teve três casamen-tos com mulheres muito dife-rentes, apesar de serem todasoriundas do continente africa-no”, realça a autora.

Horizontes de PolanahProfessor Jubilado da

Universidade do Minho,Domingues Polanah jáeditou três livros resul-tado do trabalho cientí-fico que tem desenvol-vido: «O Nhamussoro eas outras funções mági-co-religiosas», tese de li-cenciatura, apenas pu-blicada em 1987; «Comu-nidades camponesas no ParqueNacional da Peneda-Gerês», em1981; e «Campesinos de Sayago.Estrutura social yrepresentaciones simbólicas deuna comunidad rural», tese dedoutoramento, em 1996.

Com uma trajectória académi-ca ímpar, este membro do NEPSpor várias vezes foi distinguidopublicamente. Em 1966, recebeuo 1º Prémio de Literatura Coloni-al «Frei João dos Santos”, do Mi-nistério do Ultramar. Precisamen-te, trinta anos depois, em 1996,foi agraciado com o prémio de in-vestigação cultural «Marqués de

Lozoya» pela Dirección General deBellas Artes y Biens Culturales doMinisterio de Educación y Cultu-ra pelo trabalho apresentado paraa obtenção do grau de doutora-mento.

A recente publicação do livro“Horizontes de Polonah” ofereceuma perspectiva pouco conheci-da do antropólogo, evidenciandoas suas qualidades literárias, acapacidade reflexiva sobre osdesafios da vida e o apreço pe-las Belas Artes, curso que che-gou a frequentar, mas que resol-veu abandonar para se dedicar àAntropologia. •

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investigador apresenta-se Elisabete Pinto

José Manuel Lages é um in-vestigador dividido, incansável naprocura de respostas para pre-encher o vazio que atinge o co-nhecimento em domínios bastantediversos da História. Obteve ograu de Mestre em História daColonização e Migrações Portu-gal-Brasil com uma tese dedicadaà história social e religiosa – AConfrar ia de Nossa Senhora doCarm o de Lem enhe, a sua influ-ência no vale do Este e o papeldos Brasi leir os – mas as suaspesquisas tocam a história con-temporânea, sobretudo, os temasrelacionados com a guerra colo-nial.

Este apego ao estudo do pas-sado surgiu muito cedo e come-çou a dar frutos logo que termi-nou a Licenciatura em História,na Universidade do Porto, em1980. “A investigação sempre mefascinou e os meus projectos dedocência sempre procuraram pri-vilegiar essa vertente. O envol-vimento dos alunos em trabalhosde pesquisa contribui para au-mentar a motivação”, considerao investigador que assim tentaconquistar novos adeptos para oconhecimento da História Local.

Afecto à guerra colonial e à história da religiãoNa qualidade de docente, esta

postura resulta da vontade de“não cristalizar”. Pela experiên-cia adquirida ao longo dos anos,José Manuel Lages confessa que“o grande perigo do professor évirar-se apenas para a parte pe-dagógica do ensino”, assinalan-do que essa componente obriga-tória não deve ser exclusiva. “Hámuitos professores que gostamda investigação, o que só favo-rece o ensino, apesar dos sacri-fícios a que esse afecto muitasvezes obriga”.

Reconhecendo que sempreteve a tendência de procurar irmais além através das pesquisasque efectua, o investigador re-vela múltiplos interessestemáticos, desde as questõesreligiosas à problemática da emi-gração, passando pela guerracolonial, pela antropologia, pelavalorização da oralidade.

Nesta altura, pondera a reali-zação de uma tese de doutora-mento subordinada ao tema daguerra colonial. Não tem medo dodesafio, antes pelo contrário sabemuito bem aquilo que quer, masa diversidade de domínios em quese tem movimentado levam-no a

“balançar”. De qualquer modo, “oplano de investigação está fei-to”. Por isso adivinha-se o de-senvolvimento dos trabalhos jáiniciados há 12 anos. José Ma-nuel Lages foi um dos primeirosinvestigadores portugueses a in-teressar-se pelas questões rela-cionadas com a guerra colonial,tendo apresentado já diversascomunicações em congressos eseminários. À responsabilidadetem “todos os tomos Associaçãodos Deficientes das Forças Ar-madas”, sendo o responsável ci-entífico pelo Museu da GuerraColonial de Vila Nova de Famali-cão e sócio fundador. Com ta-manho investimento realizado noestudo da problemática da guer-ra colonial, o investigador “gos-tava de não deixar cair esta ver-tente” e produzir um trabalho ci-entífico de maior alcance. É aquiloque, certamente, também espe-ra a comunidade científica eaqueles que “a bem da Nação”foram encaminhados para outrasparagens, numa viagem que nal-guns casos não teve retorno enoutros deixou feridas que osanos nunca conseguirão curar.

NOME: José Manuel Gonçalves da Silva LagesIDADE: 47 anosNATURALIDADE: BragaACTIVIDADE PROFISSIONAL: Professor do Ensino Secundário

apontamentos de investigação José Manuel Lages

Guerra Colonial, uma história por contar!O itinerário do combatente português na guerra colonial.

O tema em si é um marco danossa história recente que foi econtinua a ser “tabu” como re-sultado de ter ocorrido recente-mente, pelo facto dos interveni-entes serem muitos deles vivose de haver “reservas” no que

toca às fontes oficiais que poressa razão não estão disponíveisde acordo com as necessidadesque os investigadores desejari-am.

A guerra colonial portuguesafoi a última guerra das várias quePortugal teve desde a sua fun-dação e durou 13 anos.

Esta teve várias consequên-cias no âmbito político, social eeconómico. Mas para além des-tas consequências a que chama-mos “macro-estratégias”, teveoutras consequências reais, hu-manas, individuais, materializadase focalizadas em todos aquelesque participaram nesta guerra,

1. INTRODUÇÃO

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apontamentos de investigação José Manuel Lages

que representa, agrega, cuida edefende o deficiente de guerra.

Interessa referir ainda umaoutra causa de deficiência deguerra que mortifica milhares decombatentes, refiro-me ao“stress de guerra” que deixou asmazelas do foro intimo, as mar-cas psicológicas, que vivem como combatente e que este reviveentre 15 a 20 anos após Ter es-tado e participado no palco daguerra, criando-lhe desajusta-mentos:

Sociais no meio onde vive sen-do conotado como o tolinho, ocoitadinho ou o alcoólico.

Familiares, com problemas gra-ves com as mulheres e os filhos;

Profissionais, criando instabi-lidades que o levam ao não de-sempenho capaz de uma profis-são e por tal levando-o ao de-semprego.

Estima-se, em analogia com osnúmeros para igual efeito com aguerra do Vietname em cerca de340 mil o número de stressadosda “nossa guerra”3 , que no nos-so entender, a curto prazo, vaiatingir números muito mais ele-vados.

Que informação, que históriafeita?

Que ensinamos?

Será que estes indicadores nãosão só por si suficientes para es-

tudarmos e divulgarmos este pe-ríodo a que se referem?

Apesar dos estudos publica-dos, em termos de autobiogra-fias, poesia, romance, ficção,história e relatórios de conse-quências, pouco tem sido reali-zado e mesmo assim assiste-se,nesta temática, a contornoscinzentos no nosso panorama deinvestigação.

No entanto verificamos ha-ver nos últimos tempos uma vi-ragem para novos estudos econsequente divulgação. Nota-se que os órgãos de comunica-

ção abordam o tema sem receioscoisa que faz alguns anos era de“esconder” pois eram assuntosmuito delicados e mexiam commuita coisa.

Neste sentido, vemos actual-mente que há editores e jornaisa publicar obras, estudos e cró-nicas. A título de exemplo pode-mos referir no romance e poesiada guerra Manuel alegre, JoséManuel Mendes, Mário de Carva-lho, Lídia Jorge, Lobo Antunes,Wanda Ramos, Álvaro Guerra,Domingos Lobo, Carlos Vale Fer-raz, José Freire Antunes, Salguei-ro Maia, David Martelo, EugénioLisboa, José Cardoso Pires e tan-tos outros com destaque para aobra de Rui Teixeira “A guerracolonial e o romance português”4

e ainda alguns escritores e in-vestigadores regionais que desen-volvem os seus estudos e escri-tos nas áreas do romance, fic-ção, crónica e estudos históri-cos como é o caso do romancis-ta e ficcionista minhoto JaimeFerreri.

Nas escolas o principal instru-mento é o trabalho desenvolvidona disciplina de História e no quediz respeito ao seu manual te-mos que tecer as seguintes re-ferências:

-O manual não permite forne-

Guerra Colonial, uma história por contar!O itinerário do combatente português na guerra colonial.

QUAL O PAPEL DA ESCOLA?

não por vontade própria, nempor consciência política (no casodo nosso estudo), mas pelocumprimento de um dever cívi-co, na qualidade de cidadão des-te país, refiro-me ao combatenteem geral e ao soldado em parti-cular e ainda ao miliciano daguerra colonial.

Os números são significativos,embora enfermem de precarie-dade, pois dia a dia, eles alte-ram-se e vão-nos dando a ideiade que vão demorar vários anospara obtermos os verdadeirosnúmeros e dados acerca destaguerra.

No entanto sabemos que en-tre 1961 a 1974 participaram nes-te conflito cerca de um milhão ecem mil jovens na franja etáriados vinte anos, o que quer dizerque 90% dos jovens nesta refe-rida idade, entre 1961 e 1974,foram mobilizados para a guerra.

Desta extensa participaçãocomeçamos por contabilizar8.831 mortos como resultantesde combate, doenças e aciden-tes, estimando hoje este númeroem cerca de 10.000 mil1 , sendoresultado de 8.290 mortos noexército, 346 na Força Aérea e185 na

Marinha. Refira-se, ainda que3.455 faleceram em Angola, 3136em Moçambique e 2.240 naGuiné.2

Convém referir que nestes to-tais de mortos estão integradosos combatentes europeus e na-tivos (africanos) que faziam par-te do exército português.

Destacamos ainda os milharesde feridos que resultaram desteconflito e que nos deixaram cer-ca de 23 mil deficientes de guer-ra, sendo vivos, neste momento,cerca de 13 mil. Número este quecontinua a ser provisório pois,além daqueles que “morrem” hácontactos e novas inscrições deex-combatentes nas várias De-legações da ADFA, instituição

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apontamentos de investigação José Manuel Lages

cer conhecimentos sobre esteacontecimento e época da nos-sa história.

-O manual, no contexto dasépocas e dos contextos históri-cos a estudar, resume-se a umaligeira abordagem de um peque-no texto e algumas imagens quese situam, normalmente no finaldo manual. Assim, por este meio,os alunos têm pouca informaçãohistórica sobre o tema e pelocontrário julgam que guerras im-portantes tiveram-nas outrasnações como foi o caso dos es-tados Unidos e a sua guerra noVietname ou então aquelas di-vulgadas pelos “media” devidoà abundância de filmes de“rambos” e “platoons” passados,constantemente no cinemas etelevisões.

Por outro lado, notamos algunsindicadores positivos:

-As escolas e os professores,de ano para ano, tentam suprirestas lacunas relacionadas coma falta de recursos disponíveissobre o tema e a ausência deinformação dos manuais multipli-cando as acções pedagógicascom os alunos e assistimos commuito agrado aos muitos traba-lhos escolares elaborados e ex-postos sobre o 25 de Abril e aguerra colonial.

-A dinamização de colóquiossobre a guerra colonial, com a

participação de muitas turmas ealunos, numa atitude de curiosi-dade histórica e de respeito le-vando-os a colocar este tema nolugar que deve ocupar e é porisso que assistimos, nos últimosanos, ao mudar de postura e porconseguinte ao aumentar dos co-nhecimentos sobre esta época danossa história.

O nosso projecto Regional ouCom arca l, “Guerra colonia l,um a história por contar”.-Uma perspectiva de investi-gação e de fazer história.

Em 1987 tentámos conceberum modelo que permitisse envol-ver um grupo de alunos, moti-vando-os para o conhecimentode um período da nossa história,a guerra colonial, que coexistiacom eles nas localidades de resi-dência mas que ignoravam.

Assim, em 1989 iniciámos umtrabalho de formação metodoló-gico na área do trabalho de pro-jecto baseando-o na metodolo-gia da história oral que assenta-va no trabalhar as fontes atra-vés do depoimento, da entrevis-ta e do inquérito.

O campo de acção era óptimoe incidia e incide na região doMinho, localizando-o em fregue-sias dos concelhos de Vila Novade Famalicão, Braga e Barcelos,essencialmente rurais, de fortedemografia, de baixa alfabetiza-ção, com uma cultura e educa-ção fortemente influenciada pelaeducação religiosa da Igreja Ca-tólica, região que acima de tudocontribuiu com muitos soldadospara a guerra, tal como outrasregiões do Norte português es-pecialmente Trás os Montes e asBeiras.

O elemento de destaque nes-te estudo é o soldado emboranão possamos esquecer os mui-tos milicianos sargentos e ofici-ais.

Este soldado profundamenterural, o “Soldadó” descrito porCarlos Vale Ferraz, vai participarnesta guerra, que o retira do seutrabalho de serviçal, de vida deagruras, indo para outra “provín-cia” e devido a esse facto é- lheproporcionada a primeira viagemde barco e sair da região. Obtémvárias roupas novas (fardas) ecalçado, tem acesso a três re-feições diárias, tem banho deágua quente e em muitos casosa “tropa” permitiu-lhe concluir a4ª classe, levando-o como dis-se, para uma guerra, para um lo-cal onde se falava a mesma lín-gua, a mesma religião, onde ha-via muitos produtos do local deorigem, muitos residentes origi-nários da sua província, que en-cobriam a realidade e a finalida-de para a qual foi levado: a guer-ra. Só tomou consciência quan-do teve que enfrentar a sobre-vivência no palco da operacio-nalidade: “superar o medo peran-te a morte e o perigo permanen-tes”. É este jovem mobilizadopara a guerra que permaneceuem África de 24 a 26 meses, oobjecto do nosso estudo com aintenção de fazer a história daguerra colonial na perspectiva dosoldado, do oficial e sargento mi-licianos que nela participaram porimperativos cívicos e nacionais.

Assim, surgiram os primeirosindicadores dos estudos regionaisque têm permitido a comparaçãoe discussão dos mesmos sempreque foram apresentados publica-mente.

Um dos aspectos que apresen-tamos é a mobilização por fre-guesias. Defendemos que a mo-bilização não se fazia por critéri-os de integração mecanográficamas sim por “manchas” regionaisintegrando os jovens soldados dedeterminadas freguesias priorita-riamente para uma dada colóniacomo podemos observar a títulode exemplo com as freguesias de

Guerra Colonial, uma história por contar!O itinerário do combatente português na guerra colonial.

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Nine e Lemenhe do Concelho deVila nova de Famalicão, Tebosae Arentim do Concelho de Bragae S. Miguel da Carreira e Seque-ade do Concelho de Barcelos.

Julgamos que esta estratégiatinha a ver com a tentativa demanter os grupos de combaten-tes mais coesos , com identida-des, afinidades afectivas e cul-turais comuns de forma a quepermitissem manter estes jovenscom capacidades para a luta,para o isolamento e saudade epara o sacrifício e o desespero.

Outro aspecto que refutamosde interesse é verificar quais asespecialidades “típicas” dos com-

batentes desta região minhota.Concluímos rapidamente que amaioria integrava-se no exércitocom a especialidade de atiradorseguindo as seguintes por ordem

decrescente: condutores auto,engenharia militar, transmissões,maqueiros, padeiros, cozinheiros,amanuenses e escriturários

Esta participação como atira-dor vem justificar o elevado nú-mero de mortos no distrito de Bra-ga ( cerca de 1000) bem comoos feridos que são expressos nú-mero actual de deficientes exis-tentes na Associação de defici-entes das Forças Armadas Dele-gação de Vila Nova de Famalicãocom cerca de um milhar dos 13mil ainda vivos dos 20 mil que re-sultaram desta guerra.5

Estudamos nas freguesias osvários factores de “stress” noscombatentes. Estes estavam re-lacionados, numa primeira abor-dagem, com a condição da vidamilitar, com a fadiga de uma guer-ra, com a permanente exposiçãoao combate e ao medo de serferido ou morto. Será conveni-ente referir que concordamoscom a opinião e as conclusõesapresentadas pelo Dr. Afonso Al-

buquerque no que respeita aosfactores apontados bem como naidentificação das principais cau-sas de stress “PTSD” detecta-das no nosso estudo:6

-Ausência de inimigo-Massacres e assassinatos-Guerra sem fim à vista-Território conquistado sempre

precário-Clima e topografia tropicais-Recurso a medicamentos, álco-

ol e drogas-Período de duração da comis-

são-Morte de camaradas-Combates e missões-Emboscadas, minas, ataques

aos aquartelamentos-Feridos e mortos-Sede e fome-Isolamento-Acidentes-Assassínio de camaradas-Tratar de cadáveres-Prisão-Ser contra a guerra

Outros dos aspectos que afe-rimos no nosso estudo foram ascaracterísticas psico-patológicasevidentes nos combatentes ten-do em conta os antecedentespessoais e o início do sintoma, orespectivo curso da doença, ograu de incapacidade e a pato-logia associada.

Concluímos que aquelas queprovocam uma longevidade dimi-nuída e que são a principal cau-sa de morte são as doenças car-diovasculares e hepáticas(cirrose).7 No entanto salientamosoutras que cada vez mais são fre-quentes:-depressão-cefaleias-pânico e fobias-álcool e drogas-doenças do foro digestivo-doenças tropicais-doenças de pele-hipertensão arterial-doenças sexuais-algias atípicas

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Guerra Colonial, uma história por contar!O itinerário do combatente português na guerra colonial.

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Nine Lemenhe Carreira Sequeade Tebosa Arentim

AngolaMoçambiqueGuinéCabo VerdeTimorIndia

FONTE: Lages, José Manuel, Guerra Colonial um a história por contar, 1992, V. N. de Famalicão

MOBILIZAÇÃO DOS CONCELHOS DEBARCELOS, BRAGA E VILA NOVA DE FAMALICÃO

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-zumbidos-diabetes-doença das coronárias.

Atentemos ao gráfico comdados totais sobre marcas dei-xadas pela guerra recolhidos em90 combatentes do concelho deVila Nova de Famalicão:

Concluímos pois que na indi-cada amostragem no total decombatentes não há um únicocombatente que tenha voltado daguerra sem uma “marca” quetransportará consigo toda a vidae que por si só justificam o factode estudarmos este período danossa história recente e façamosa respectiva divulgação.

Tentámos referir, a título deexemplo, algumas áreas de es-tudo que desenvolvemos na nos-sa região não esquecendo de re-ferir as outras que figuram nonosso trabalho e que têm sidoobjecto de investigação. Salien-tamos o trabalho de recolha ,preservação, estudo e divulga-ção do chamado “Baú da Guerra”que nos permite trabalhar tudo oque o combatente guardou (atéhoje) da sua passagem pela guer-ra: Documentos, filmes, fotogra-fias, diários, objectos, correspon-dência, armamento, fardamento,troféus da guerra e bibliografia.Podemos ver alguns documentosque figuraram no “ Baú da Guer-ra” e fazem parte do patrimóniodo Museu da guerra colonial.

Surgiu como resultado de umprotocolo entre a Câmara Muni-cipal de Vila Nova de Famalicão,a Associação dos Deficientes das

Forças Armadas eo Externato Infan-te D. Henrique deRuílhe – Braga. Astrês entidades têmum trabalho de co-operação desde oinício dos anos no-venta no sentidode desenvolver es-tudos sobre aguerra colonial noDistrito de Braga e

em especial no Concelho de VilaNova de Famalicão. Deste pro-jecto resultaram vários estudose uma exposição a que se cha-mou “Guerra Colonial, uma histó-ria por contar”. Esta tem percor-rido o país e esteve presente emvários congressos . Em 1999 con-cretizou-se o velho anseio de cri-ar o Museu da Guerra colonial emVila Nova de Famalicão sob a res-ponsabilidade das entidades já re-feridas, tendo a sua sede nas ins-talações da Associação dos De-ficientes das Forças Armadas, naCentral de camionagem, ondeestá patente ao público a expo-sição “ O itinerário do combaten-te português na Guerra Coloni-al”. Aqui poder-se-á viajar nos

apontamentos de investigação José Manuel Lages

Guerra Colonial, uma história por contar!O itinerário do combatente português na guerra colonial.

FONTE: Lages, José Manuel, Guerra Colonial um a história por contar ,1992, V. N. de Famalicão

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Traumas

Doenças

Deficientes

MUSEU DA GUERRA COLONIAL-UMA REALIDADE NACIONAL

EM VILA NOVA DE FAMALICÃO

“vários palcos da guerra” atra-vés de imagens, textos, docu-mentos e objectos bem comocontactar com as muitas fontesexistentes sobre esta época danossa história.

Para além da vertente indica-da pretende-se que este Museusirva de motivação e envolvimen-to dos alunos e outros interes-sados no estudo deste período.

Sirva para preservar e divul-gar os documentos, os materiaise estudos mais significativos.

Sirva para organizar todos osmateriais, documentos e registoscom incidência nos estudos e le-vantamentos realizados.

Sirva para criar um centro dedocumentação e de estudos daGuerra Colonial no Museu.

Sirva de espaço permanentee de memória colectiva de umpovo que revê no “itinerário docombatente” aí exposto as res-postas a tantas dúvidas e incom-preensões para com a geraçãodos jovens que viveram entre1961 e 1974.

1 Dados fornecidos pela Associaçãodos Deficientes das Forças Arma-das.

2 Castro, Sousa, 2000, Jornadas In-ternacionais do Hospital Principal,Instituto de Altos Estudos Militares,Lisboa.

3 Albuquerque, Afonso, númerosapontados por este prestigiado psi-quiatra, especialista no tratamen-to do stress de guerra, utilizando aterapia de grupo, no Hospital Júliode Matos de Lisboa.

4 Teixeira, Rui de Azevedo, 1998, Aguerra colonial e o rom ance portu-guês, Lisboa, Notícias Editorial.

5 Dados obtidos nos arquivos da ADFA– Associação dos Deficientes dasForças Armadas.

6 Albuquerque, Afonso, Jornadas In-ternacionais do Hospital Militar Prin-cipal do Instituto de Altos EstudosMilitares,2000, Lisboa.

7 Salientamos como mais uma causade morte o elevado número de sui-cídios de ex-combatentes. A ida-de média destas manifestações dasdoenças e desequilíbrios apontadossitua-se entre os 45 aos 50 anos

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argumentos Luís Polanah

O quadro regional é no Andulo,província do Bié, da actualRepublica de Angola, mas os fac-tos datam do ano de 1971-72,quando ali prestei serviço incor-porado na equipa de desenvolvi-mento rural conhecida sob a si-gla de ERA (Missão de ExtensãoRural de Angola Retiro estas no-tas do povo pertencente ao gran-de grupo dos Ovimbundos, de umextenso artigo que publiquei, narevista “Reordenamento, nº 27,de 1973, da Junta Provincial dePovoamento.

Durante a recolha de dados(sempre incompletos) para cati-var a confiança dos meus infor-mantes, foi preciso dizer (e eraverdade) que o interesse “ofici-al” sobre aspectos dos seus usose costumes permitiria o Estadoarticular harmoniosamente a psi-cologia africana com os impera-tivos de progresso em que tardi-amente parecia debater-se a po-lítica colonial. Neste texto intro-duzi cortes e alterações, sem fe-rir o essencial dos factos.

Escrevia eu então: -”Há umcerto receio generalizado entreos nativos para revelarem aspec-tos que ainda sobrevivem no sis-tema de vida tradicional, nome-adamente os que sempre foramobjecto de rejeição moral e reli-giosa por parte das instituiçõescoloniais. Um receio que mais seacentuou depois que os movi-mentos de subversão patrióticamostraram ter-se apoiado empráticas iniciáticas dirigidas pe-los seus feiticeiros-curandeiros,cujos poderes supra-naturais de-viam poder fazer frente ao opres-sor branco. Os mestres destespoderes, que escaparam de sereliminados pelas autoridades ter-ritoriais, haviam passado á clan-destinidade e os que sabiam dasua existência guardavam o mai-or sigilo, talvez porque a suaextinção poderia constituir o maistrágico desfecho para a sobrevi-

Aspectos da Cultura dos Ovimbundosno Andulo (Bié, ANGOLA), em 1972

vência das suas crenças e insti-tuições tradicionais.

A crença em determinadosvalores e mitos condicionava ain-da o comportamento dos mem-bros da comunidade observada,tal como, aliás, entre os euro-peus.

Todos os Negros se reconhe-ciam como partes integrantesdum sistema de vida e deviam,por isso, manifestar a sua leal-dade ao corpo de princípios ecrenças que sustentava a iden-tidade do grupo. Esta necessi-dade de corresponder às expec-tativas de comportamento quecada membro esperava do outrodependia da forma como as pes-soas eram criadas e haviam ad-quirido uma compreensão do mun-do e dos homens, com as res-postas adequadas para as suasduvidas e perplexidades.

O feiticeiro-curandeiro e o adi-vinho (como até mesmo o bruxo)eram peças imprescindíveis doseu sistema de crenças e dosvalores com que avaliavam osfactos da vida entre os humanose com a natureza ambiente. Des-trui-los era fazer desmoronar mi-tos e dogmas, numa palavra en-tidades-instituições, reduzindo a

escombros toda uma filosofia devida em que o destino do homemcostumava ser explicado.

O desenvolvimento gradual domeio rural (ou camponês) com aintrodução de novos processosde trabalho, necessidade de maisinstrução, os contactos com oscentros mais evoluídos e o pro-cesso de articulação dos interes-ses das partes envolvidas, coma racionalização da vida e dosseus interesses, abriam caminhoa um trânsito paulatino das tra-dicionais organizações clãnicas efamiliares para outros tipos derelações baseados noassociativismo e na valoraçãotambém da iniciativa individual!

Com estas considerações po-derá entender-se melhor algunsaspectos da tradição indígena.Pretendeu-se saber, por exemplo,se os jovens se preocupavam emconhecer a historia e os mitosdo seu povo ou a origem e linha-gem da sua família (ou epata).Complementarmente, também seindagou se os “anciãos”(olosekulu, os portadores de sa-bedoria) forcejavam por assegu-rar a preservação das suas tra-dições, transmitindo o conheci-mento do seu passado históricoe mítico, o nome dos seus heróise fundadores, as suas crenças,os seus deuses, os valores mo-rais com que alimentavam os seusideais de vida, etc.

As respostas recolhidas, umasreticentes, ou aparentando igno-rância dos factos, embora variá-veis, mostravam sentimentos eatitudes que ainda pulsavam nomeio camponês, de onde haveriasempre lições a reter.

Não obstante se ter ficadocom a sensação de que o apegoaos valores do seu passado tribalou clãnico parecia ser ténue, nãohavia uma ruptura profunda en-tre as novas e velhas geraçõespor motivos que passo de lado.A desorganização do tecido so-

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argumentos Luís Polanah

cial era mais ditada pela inter-ferência

abusiva dos interesses da eco-nomia colonial do que por desen-canto moral das populações arespeito dos seus padrões éticos.Basta que se saiba que, no planopopular, havia ainda determina-das sobrevivências que o nativoparecia não ter medo de exibirante o olhar sempre inquisitivodas autoridades administrativase religiosas.

O lugar consagrado à reuniãopara tomar a refeição e seroar,saber dos acontecimentos do dia,traçar planos de acção ou, sim-plesmente, rememorar tradiçõese crenças, a conduta eticamen-te correcta, ou divagar atravésda narração de mitos, fábulas, oufactos historicos do grupo, etc.,era o chamado jango ou django.Nele comiam os homens com osseus filhos mais crescidos; emlugar, à parte e fora do recinto,as mulheres com os seus filhosmenores. À noite, os homens jun-tavam-se para o serão; as cri-anças aconchegavam-se aosadultos e escutavam as suasconversas; as mulheres, termi-nadas as tarefas domésticas,também se juntavam, sentadasdo lado de

fora, mas participando nasconversas.

O serão no jango era, enfim,uma pausa no tempo que distraiae servia para ensinar ereestruturar crenças, valores esaberes, tornando “sempre pre-sente um passado recheado deexperiências e sabedoria vividas”.Era, pois, nesta escola informal,disciplinadora e pacífica, bafeja-da pelo ambiente familiar, que osjovens adolescentes se imbuíamde noções morais e um poucoda historia das famílias do seugrupo, aprendendo assim as re-gras de convivência social tantocom a família como com os es-tranhos.

Quando chegava o tempo daevamba, os rapazes adolescen-tes eram submetidos aos ritos dapuberdade, para uma formaçãomoral que se orientava para umarotura com a sua infância e gra-dual conscientização da vidaadulta e suas responsabilidades.

Para as raparigas, quando ti-nham a primeira menstruação(menarca) também se submeti-am a um conjunto de ritos a quechamavam ussô. As duas práti-cas diferentes nos seus métodose conteúdos reintegravam os doissexos nos respectivos grupossexuais com o status de adultosou de pessoas iniciadas para as-sumirem os competentes papeisda sua condição de adultos.

Eram práticas que nada tinhamde transcendente, mas que, im-buídas de um peso obrigatório,se tornavam muito importantespara as relações dos adolescen-tes com o respectivo grupo. Amaturidade do indivíduo não fi-cava completa com as cerimoniasa que os jovens eram submeti-dos, mas estes ficavamcompenetrados de que, dali pordiante, a sua conduta deveriapautar-se pelos exemplos positi-vos dos membros respeitáveis(adultos e velhos) da sua aldeiaou família.

Não de todo diferente dos ci-vilizados, os Andulos classifica-vam a posição e responsabilida-de civil dos seus membros segun-do o sexo e a idade avaliada peloseu desenvolvimento físico e osanos decorridos desde o seu nas-cimento.

Por esta forma, do indivíduochegava-se à complexa rede fa-miliar com as suas categorias deparentesco perfeitamente iden-tificadas.

Contra estas práticas tradici-onais, seus ritos e simbolismos,estavam, em geral, as autorida-des civis e religiosas que inter-pretavam os seus imperativos

morais e culturais como causasdo seu atraso no plano da civili-zação. Já por esse tempo haviaquem se interrogasse para queserviria combater costumes an-cestrais em nome da civilização,se a transformação do indivíduonão lhe garantia apoio e acessolivre na sociedade do colono.

Outros tinham a percepção deque a conduta do indígena cris-tão excedia, muitas vezes, emdecência e moral à de muitoscolonos; mas estes estavam pro-tegidos pelo seu estatuto de “ci-vilizados e civilizadores”, ao pas-so que aqueles continuavam in-dígenas e conotados com oprimitivismo selvagem!

Dentre alguns dos aspectostradicionais da vida do povoAndulo quero destacar a “dançados mascarados” (assim referidaspelos colonos), diversão que cos-tumava atrair muitas famílias decolonos que viviam na região, nãosó pelo seu exotismo folclórico,mas porque o vazio da vida nomato convidava a ir ver o quefaziam os Negros. Nesses mo-mentos abriam-se espaços deaproximação e tolerância antecostumes e crenças que, por di-ferentes, não eram inferiores ouselvagens (como por vezes sedizia), mas apenas porque a suaevolução tomara rumo diferenteou estagnara, fixos a outros sím-bolos e critérios de vida moral esocial que o europeu não estavapreparado para compreender, to-mando-se a si próprio como pa-radigma do esforço civilizador!

O rito dos rapazes (a evamba)resumia-se naqueles anos quaseà simples circuncisão. Muitos, naimpossibilidade de recorrerem aootchimbanda (o especialista queprocedia ao corte do prepúcio edirigia a evamba), por residiremem aldeias com postos de saúdeao seu alcance eram orientados

pelas autoridades administra-tivas para ali se fazer a circunci-

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são dos seus filhos. A segurançacom que se fazia a pequena ope-ração anulava o risco de infec-ções, mas uma parte do simbo-lismo e mistério que envolviam orito iniciático perdia-se. O cortedo prepúcio tinha também o for-te simbolismo de representar aseparação da criança da estritadependência feminina,

fazendo-a transitar para ogrupo dos adultos junto dos quaisaprenderia a comportar-se comas responsabilidade da sua novacondição.

Posto que em franco declínio,a iniciação ritual das mulheres,tanto como a dos rapazes, pos-suía também certas representa-ções com danças e máscaras, emque a pantomina se combinavacom o fantasmagoria, a histrioniacom o assombro Desse contextotradicional tanto os rapazes comoas raparigas

tinham ainda por costume exi-bir “danças de mascarados”,como compreensivelmente se re-feria naquela região. As das ra-parigas eram designadas porcaviúlas e dos rapazes, porovinganji. Em alguns lugares dosconcelhos de Andulo e de Nharêaainda se podia assistir a essasmanifestações da cultura nativa.Constava que a proximidade deagências missionárias, hostis atudo quanto soasse ao diabolismodas máscaras, fazia o povo re-trair-se, ao passo que onde ape-nas estivesse presente a autori-dade administrativa, esta tinhauma atitude mais complacentecom essas “pantominas dos ne-gros”!

Umas vezes, nas suas aldei-as, outras mesmo nas imediaçõesdas povoações comerciais, atra-indo a curiosidade dos vizinhoscolonos, costumavam exibir-se osovinganji, algo deslocados, tal-vez, da antiga atmosfera mági-co-religiosa, não só para divertiro povo (brancos e negros), como

também, aproveitando a tolerân-cia das autoridades, para se di-vertirem e prosseguir a rotinaduma velha tradição... Havia oca-siões em que o missionário cató-lico demonstrava complacênciacom tais “danças dos mascara-dos”, mas alguns pastores pro-testantes de origem africana,pelo contrario, condenavam a suaexistência nas zonas sob suacatequese, limitando-se a dizerque “a não ser lá mais para ointerior onde a civilização aindanão chegou”! O que não deixavade ser verdade! Mas onde taisdanças de mascarados se exibi-am havia bonequeiros habilidososque, em figurinhas graciosamen-te talhadas e pintadas com tin-tas de verniz, reproduziam mui-tos desses modelos de mascara-dos como produtos de uma artepopular que não era aproveitadapara fins turísticos.

O colono, por influência damoral missionária, traduzia os ter-mos ovinganji e caviúla por “pa-lhaços”, expressão com certacarga pejorativa quemenoscabava valores moraisduma cultura diferente!

O que outrora tivera (e teriaainda) um carácter misteriosotendia então a tomar o sentidoduma diversão banal que algunsadultos alienados, descrentes ouhipocritamente descrentes doquadro moral herdado, não hesi-tavam em declarar o seu repúdiopara satisfação do proselitismomissionário. A imagem dosovinganji era correntemente re-ferida como uma pantomina depalhaços à maneira dos indíge-nas. Até podia ser e o colono terali uma oportunidade de recons-tituir os primórdios das suas pa-ródias com máscaras.

Mas, de facto, não se tratavade “palhaços”, no sentido quehabitualmente lhe damos. Erapreciso entender que “os mas-carados”, (em sua essência cul-

tural) não deviam ser tomadoscomo seres terrenos, mas visõesde um mundo transcendente quesó podia ganhar visibilidade atra-vés das fantasias do homem. Asua faceta jocosa ou assusta-dora não lhe retirava o caracter“sobrenatural” que o mistério deque se fazia rodear lhe impunha.Porque transcendiam a nossaprecária condição humana con-siderava-se um sacrilégio conhe-cer a identidade de quem as ves-tia nesses dias, embora nos diascomuns pudessem as máscarasser vistas de perto.

A “máscara” possuía aqueleque a envergava, emprestando-lhe nome e identidade diferentes.Quem sob a máscara servia desuporte ao espirito só podia serconhecido pela confraria dosmascarados (dos ovinganji). Amáscara era, em si, “uma outroser”, com personalidade própriae parte importante dos valoresmorais do grupo.

Os trajes dos mascaradoseram elaborados de materiais vá-rios:- ráfia, folhas, cascas de ar-vores espadeladas, máscaras,pinturas, etc. Poucos eram

já os indivíduos capazes dedescrever a importância dessasfiguras fantasmagóricas, mas al-tamente significativas dos valo-res morais e lúdicos da comuni-dade.

Para os estranhos e para osjovens não iniciados o mistério dasmáscaras não devia ser reveladoa ninguém. Os primeiros, por nãopertencerem à órbita cultural dogrupo ovimbundu; os segundos,porque deviam aguardar que che-gasse o tempo de serem inicia-dos nos mistérios do seu povo,através da evamba. As másca-ras eram visões irreais fora donosso mundo quotidiano, perten-centes a um outro plano da exis-tência e, por isso, assombravam,ao mesmo tempo, que suscita-vam curiosidade e divertiam...

Entre as danças conhecidas

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dos ovinganji havia umas, comoa do xinganji e a caviúla que po-diam ser dançadas pelo povo emqualquer altura -nas festividadesde casamento e nos dias em queum morto era velado, etc.

Gozavam de uma larga utiliza-ção cerimonial e lúdica, e faziamtambém parte de um conjunto derituais cujo caracter esotériconão era revelado ao comum dasgentes.

Os mascarados (ovinganji) fa-ziam a sua aparição quando atarde declinava.

Rodeado pelo povo estavamos tocadores de tambores tradi-cionais, que iniciavam os primei-ros toques preparando o compas-so das danças. De um moitedoou mata surgiam os ovinganji, quedançavam bastante afastadosdum publico curioso. Entre aque-les e estes podiam separar maisde cem metros.

Somente os ovilombola, os quejá haviam sido iniciados noutroperíodo, poderiam aproximar-sedeles. Todavia, era raro que o fi-zessem para não quebrar a emo-ção dos espectadores. A distân-cia era respeitada por todos;qualquer tentativa curiosa damultidão de espectadores faria osdançarinos sumir no mato. À me-dida que a tarde declinava, o gru-po dos ovinganji aproximava-semais do publico que seguia inte-ressado o espectáculo.

Os “espíritos” (assim deviamser tomados os ovinganji) sãoatraídos pelos ritmos tirados dostambores. Dançando sempre àdistância não mostram, contudo,os pés. Causam a ilusão de queou não os possuem, ou não es-tão pousados sobre o solo, maspairam no ar. Se o capim é raso,levantam uma pequena barreiracom ramos de árvores, mas se ésuficientemente alto, dispensamesse recurso. As vestes queenvergam, preferentemente demalha bem ajustada às pernas,devem também terminar por umaespécie de perneira de ráfia, ata-

da acima dos tornozelos, paraque as pegadas no chão sejamautomaticamente varridas, en-quanto dançam. Os ovinganji de-vem ser tomados -repito- comoentes saídos de um mundo dife-rente (não terreno) e não podemdeixar, por isso, qualquer rastosemelhante ao da condição hu-mana, que não podiam ter!

Nada de imoral havia nestasrepresentações duma cultura,talvez, não tão diferente da por-tuguesa, como se podepresumir...Mas que, à semelhan-ça desta, tinha suas formas pe-culiares de representar as suascrenças e fantasias, seus mitose ilusões sob outras formas deexpressão também dependentesdos recursos disponíveis...

Tempos houve, mais tranqui-los, em que as autoridades con-vocavam estas danças e outrasdistracções do folclore nativo,para quebrar a pasmaceira davida do colono no mato, aindaque não fosse muito do agradodos professos do Cristianismomissionário! Hoje, (em 1972) asatitudes entrechocam-se e aperplexidade tomou conta de to-dos: uns por radicalismo e into-lerância religiosa não aceitam nos“seus domínios” tais manifesta-

ções; outros, aconselhados aserem mais tolerantes, fecham osolhos e é assim que, de onde emonde, ainda se podem ver peque-nos surtos do folclore nativo, masjá como arremedos de tradiçõesque se desmoronam!

É claro que o Negro sabia mui-to bem que os ovinganji eram umafarsa, no melhor sentido da pa-lavra; mas não uma impostura.Apenas uma simulação terrena doque podia existir noutro plano daexistência apenas alcançávelatravés dos nossos sonhos, vi-sões ou delírios. Não se tratavadum logro contra o povo! Osovinganji representavammaterializações do seres espiri-tuais (geradas por ideias, imagensou sonhos) que, sendo irreais, nãodeixam de ser factos, portanto,existenciais, capazes de tomarforma através dum suporte hu-mano.

No entendimento dos doutosmestres nativos esses delírios daimaginação (no sentido criativoque um civilizado atribui aos seusgénios criadores na arte, litera-tura, teatro e até no plano dasantidade e do misticismo) sãomanifestações que emanam deoutras esferas do universo, por-ventura ditadas por deidades queinfluenciam as nossas decisões esentimentos...

Se, de um lado, o colono por-tuguês interpretava a farsa dosovinganji, com as suas exóticasmáscaras, como brincadeiras oupantomimas de selvagens, a po-pulação negra por seu lado, ti-nha ali um sinal de como seres eentidades invisíveis, de outrosplanos do universo espiritual, po-diam tomar forma e vir convivercom o ser humano, em especialcom seres humanos que perten-ciam à sua cadeia familiar. Talvezcom um mesmo proto-sentimen-to dramático das emoções do ci-vilizado quando este vai ao tea-tro e escuta a opera “Carmen”,ou assiste a uma peça deShakespeare, etc.

argumentos Luís Polanah

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Em 2001, as actividades doNEPS prendem-se com o lança-mento do projecto-base intitula-do ESPAÇOS RURAI S E URBANOS.Micro- análise de com por tam en-t os dem ográf icos e t ransferên-cias de popu lação, m obi l idadesocial e dinâm icas culturais (Sé-cu los XVI à Cont em poraneida-de), financiado durante os próxi-mos três anos pelo ProgramaSAPIENS da Fundação para a Ci-ência e Tecnologia.

No projecto em causa partici-pam investigadores de outrasUnidades da Universidade do Mi-nho e de outras Universidades eestão contempladas acções deacompanhamento de disserta-ções de mestrado e doutoramen-to.

Investigador responsável –Maria Norberta Amorim, Coorde-nadora do NEPS

Um pressuposto teórico que ainvestigação empírica vem pon-do em causa é o da estabilidadedas populações tradicionais. NoAntigo Regime como no PeríodoContemporâneo, a Mobilidadepode afirmar-se como um impor-tante fenómeno perturbador naevolução demográfica, social ecultural de pequenas e grandescomunidades. Impõe-se que aDemografia Histórica ultrapasse onível de paróquias rurais, queavance de forma mais conse-quente para o estudo do mundourbano, que aborde a interpene-tração entre os dois espaços,tentando uma melhor compreen-são dos crescimentos respecti-vos à luz de uma análise maissegura das Migrações de curta elonga distância, como dos fenó-menos da Nupcialidade, Fecun-didade e Mortalidade diferenciais.Impõe-se que a História Social ea História Cultural aprofundem o

seu objecto, encontrando novose decisivos níveis de análise, aoconfluir, com a Demografia His-tórica, para a identificação dosresidentes nas comunidades ru-rais e urbanas, acompanhamen-to dos percursos de vida e re-produção social pela via dasgenealogias.Nessa senda, o pro-jecto em epígrafe procura:- Daruma resposta moderna ao desa-fio de tratar documentação mas-siva, digitalizando a informaçãoe organizando bases documen-tais anotadas a partir dos regis-tos paroquiais de baptizados,casamentos e óbitos, abertas aocruzamento com outras fontesnominativas, aplicando e valori-zando o Sistema SEED, para Des-coberta de Conhecimento em BDs,desenvolvido no âmbito do Pro-jecto PRÁXIS XXI/2/2.1./CHS/685/95- Analisar em longa dura-ção os fenómenos de Nupciali-dade, Fecundidade (Nascimentosdentro e fora do casamento ecrianças abandonadas) Mobilida-de em zonas rurais e urbanas (pe-quena, média e grande dimensão),para estudar os comportamentosdiferenciais que darão sentido àevolução da população portugue-sa, alargando a análise à Biode-mografia.

- Aprofundar o fenómeno daMobilidade para o Brasil, atravésde fontes clássicas, portuguesase brasileiras, e pelo estudo decomunidades brasileiras comidêntica metodologia.- Avançarpara o aprofundamento da His-tória da Família e sua reproduçãosocial em espaços rurais e urba-nos utilizando os recursos das BDsdemográficas em cruzamento comfontes diversas de origem ecle-siástica e civil.- Apostar numarenovação da História Social apartir das BDs demográficas,aprofundando as problemáticasdas periodizações, observaçõestransversais e observações emlonga duração, das categoriza-ções e (re)constituição do soci-

al.- Apostar numa nova visão daHistória Cultural em sentido lato,com novos campos de análise, naconvergência com a DemografiaHistórica.

Este projecto constitui o pro-jecto base do NEPS (Núcleo deEstudos de População e Socie-dade da Universidade do Minho)e envolve investigadores do Nú-cleo, e investigadores e de ou-tros Centros.Assentando numlongo investimento em Demogra-fia Histórica da IR e na conver-gência interdisciplinar (de Infor-máticos, Demógrafos, Historiado-res, Antropólogos, Geógrafos) emprojectos anteriores, potencializaas BDs já disponíveis organiza-das pela metodologia de recons-tituição de paróquias e avançapara a formação de novas BDsreferidas a espaços urbanos(mantendo a dinâmica referentea zonas rurais), nomeadamente,Viana do Castelo, Barcelos, Fa-malicão, Braga, Guimarães, San-tarém, Lisboa, Angra do Heroís-mo (continuação), Ponta Delga-da e ainda a povoações da Íbero-América, seguindo os objectivosreferidos.

-Digitalização, estruturação eanotação dos registos paroqui-ais dos espaços já trabalhadospela metodologia de reconstitui-ção de paróquias, revertendo asantigas BDs para o SEED (Siste-ma para Estudo da Evolução De-mográfica), software desenvolvi-do em PRÁXIS XXI/2/2.1./CHS/685/95.

-Integração, pela mesma me-

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Plano de actividades para 2001

A- PROJECTOESPAÇOS RURAI S E URBANOS

RESUMO DO PROJECTO

OBJECTIVOS DO PROJECTO

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todologia, no caminho de um ban-co de dados central, de novaszonas rurais e investimento emzonas urbanas, (seguindo inte-resses dos investigadores, autar-quias e DRC dos Açores) avançopara outras zonas urbanas- Via-na do Castelo, Barcelos, Famali-cão, Lisboa anterior a 1755, San-tarém e Ponta Delgada. Exten-são ao Brasil e ao México parainternacionalização da metodolo-gia.

- Análise nas BDs da evoluçãoe interacção dos comportamen-tos demográficos, investindo noestudo das transferências de po-pulação entre zonas rurais e ur-banas e entre Portugal e as Amé-ricas.

- Avanço no campo da Biode-mografia (concelho da Madalena-Pico).

- Busca de um novo nível deanálise em História da Família, His-tória Social e História Cultural,explorando as BDs de indivíduos,em cadeia genealógica, em cru-zamento com outras fontes no-minativas, tratadas por diferen-tes especialistas da análise his-tórica, por antropólogos egeógrafos.

Descrição do projecto – planogeral

Incluem-se cinco tarefas fun-damentais, com algumas sub-ta-refas. Uma primeira tarefa de de-senvolvimentos informáticos, umasegunda de reconstituição deparóquias a partir dos registos debaptizados, casamentos e óbitos,uma terceira de levantamento etratamento de outras fontes no-minativas, uma quarta de levan-tamento de informação estatís-tica e inquéritos, tendentes umase outras ao enriquecimento dasBDs e ao diálogo interdisciplinarpara terminar num esforço desíntese por investigador e porequipas.

Desenvolvimentos informáticos– equipa do departamento de In-formática da Universidade do Mi-

nho coordenada por Pedro Ran-gel Henriques

1.Reconstituição de paróquiasInvestigadores intervenientes:Maria Norberta Amorim, como

investigadora e coordenadora,em estreita ligação com a equipade informáticos coordenada porPedro Rangel Henriques, em es-forço conjunto de orientação e/ou apoio à formação avançada.Participam os mestrandos, Hel-der Almeida, Paulo Oliveira Bar-ros, Alice Maria Bonifácio, LuísCarvalho, João Carlos Castro,Maria Celeste Castro, Maria Isa-bel Correia, Alice Costa, MariaVenília Costa, Maria Luísa Gon-çalves, Maria do Rosário Vieira,Matilde Salgado, Isabel Paulos,Maria Manuela Santos, ManuelMarinho, Manuel Pinho, Maria Eli-sabete Neves, João Carlos Cas-tro, Paulo Lopes Matos, MoisésSoares, Maria Madalena Silva,Lúcia Oliveira, Maria Cláudia Mon-teiro, Cândido Juncal, FernandoLacerda, Maria Glória Santos; osMestres em projectos de forma-ção pessoal: Inês Faria, JoséFaustino, Fernando Miranda,palmira Gomes, Rosa Marques,Mário Coelho de Lima, Alberto Oli-veira, João Antero Ferreira, Her-menegildo Almeida, Maria Manu-ela Ventura, Odete Leite, SusetePires; os Mestres em fase de de-finição de projectos de doutora-mento: Francisco Messias Ferrei-ra, Aida Carvalho, Fábia MariaRaposo, Fernando Lacerda eAnabela Godinho; os doutoran-dos: Maria Hermínia Mesquita,Carlota Santos, Miguel Monteiroe Maria Hermínia Barbosa.

Resultados esperados:Alargamento das BDs a novas

zonas rurais e a zonas urbanasno caminho de uma BD centralde interesse dos investigadorese acessível ao homem comum;internacionalização da metodolo-gia, contribuição para a forma-

ção avançada a nível demestrados e doutoramentos.

Distinguem-se nesta tarefaduas sub-tarefas:

1.1. Digitalização e anotaçãoda informação dos registos debaptizados, casamentos e óbitos:

a) Como primeira etapa dareconstituição das novas paró-quias a estudar;

b) Em paróquias já recons-tituídas ou em vias de reconsti-tuição com vista a prosseguir nocaminho do aperfeiçoamento dasBDs (uma BD deste tipo fica aber-ta a aperfeiçoamento contínuo)e divulgação a esse nível (se en-tendida conveniente) a um pú-blico mais vasto, via internet.

1.2. Implementação do SEED(Sistema para Descoberta deConhecimento em BDs, desenvol-vido no âmbito do ProjectoPRÁXIS XXI/2/2.1/CHS/685/95)

a) Nas novas paróquias aestudar

b) Integração no sistemadas antigas BDs no caminho deuma BD central.

Recursos decorrentes dos pro-tocolos com instituições partici-pantes:

Direcção Regional da Culturados Açores – um técnico superi-or

Câmara Municipal de Famali-cão – um técnico superior e umterefeiro

Gabinete de Estudos Olissipo-nenses – Dois técnicos superio-res

Recursos humanos pretendi-dos: cinco bolseiros de introdu-ção à investigação científica paraapoio ao trabalho de formação de

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DESIGNAÇÃO DAS TAREFAS

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BDs.Aquisição de serviços e ma-

nutenção: um operador de infor-mática para digitalização da in-formação paroquial e dois tare-feiros para introdução de dadosno computador

Consultor – Manuel Ardit (Uni-versidade de Valencia)

Outras despesas correntes:Despesas de micro-filmagem /

reprodução de micro-filmes deregistos paroquiais, alimentaçãodos leitores/reprodutores de mi-cro-filmes, consumíveis em pa-pel e suportes informáticos.

2. Levantamento e tratamen-to de outras fontes nominati-vas

Investigadores intervenientes:O levantamento e tratamento

de outras fontes nominativaspara cruzamento com as BDs de-mográficas é tarefa tanto doshistoriadores demógrafos, comodos investigadores de outras ci-ências sociais ligados ao Projec-to.

Grande parte dos projectosacadémicos de mestrado de in-vestigadores do Projecto temcomo objectivo a análise demo-gráfica, a partir da reconstitui-ção de paróquias rurais, em cru-zamento com outras fontes even-tualmente disponíveis, como róisde confessados. Fontes mais es-pecíficas como testamentos, in-ventários orfanológicos, listas fis-cais, recenseamentos eleitorais,livros de visitações e devassas,processos da Inquisição, estatís-ticas de produções e consumos,listas de sindicatos, nomeaçõesde professores, entre outras, sãoabordadas em alguns casos pormestrandos no sentido de análi-ses culturais (Casos de OdetePaiva, Maria Glória Santos, MariaCeleste Castro, Fábia Raposo,Mário Lima, Alberto Oliveira, JoãoAntero Ferreira, Maria ManuelaVentura, Maria Luísa Gonçalves,Matilde Machado, Manuel Pinho,

Maria Madalena Silva, Alice Boni-fácio, Aida Carvalho, FernandoLacerda, Manuel Jorge Inácio,Maria João Martins, Miguel Mar-tins, Maria Elisabete Pinto, Car-los Prada de Oliveira, Maria daConceição Salgado, Ramiro Ro-mão, António Tavares, ManuelAlexandre Solla, Artur Madeira).No entanto, são os planos de for-mação pessoal dos mestres e osplanos de doutoramento queabordam essencialmente os es-paços urbanos ou levam mais lon-ge o levantamento, tratamentoe cruzamento de fontes diversasno sentido do aprofundamento deproblemáticas mais definidas, acobrir temas da Demografia His-tórica, Biodemografia, História daFamília, História Social e de His-tória Cultural (Sérgio Luíz Ferrei-ra, Manuel Artur Nórton, MárioLamares, Maria Hermínia Barbo-sa, Carlota Santos, Miguel Mon-teiro, Fernando Miranda, PalmiraGomes, António Amaro das Ne-ves, Rui Maia, Maria HermíniaMesquita, Francisco Messias,José Faustino, Otília Lage, JoséDamião Rodrigues, Alberto Cor-reia, Margarida Durães).

Investigadores doutoradosisolados ou em equipa, indepen-dentemente de corresponderemaos desafios da própria dinâmicado Projecto, intervêm nesta ta-refa: Maria Norberta Amorim, Jus-tino Magalhães, Maria AugustaLima, Gilberta Rocha, Avelino deFreitas de Meneses, José Guilher-me de Reis Leite, Maria de Fáti-ma Sequeira Dias e João Cosme.

Além dos investigadores iden-tificados, a equipa de formado-res dos mestrandos e doutoran-dos alarga-se a António Franque-lim Neiva Soares, Luís Polanah,Rosa Fernanda Moreira da Silva,Elvira Mea, Jorge Fernandes Al-ves, Augusto Abade, Magda Pi-nheiro.

Enriquecimento das BDs demo-

gráficas por cruzamento com ou-tras fontes nominativas comobase para aprofundamento daHistória das Populações, das Mo-bilidades geográfica e social e dasdinâmicas culturais em longa du-ração, a partir de sub-tarefasespecíficas com resultados ex-pressos nas próprias BDs e empublicações.

Sub-tarefas com intervençãode doutorados ou investigadoresem fase de conclusão de douto-ramento:

2.1. A investigadora respon-sável projecta o levantamentodas fontes nominativas disponí-veis nos cartórios paroquiais, nosarquivos concelhios e distritaisreferentes à freguesia de Ribei-ras, Lages do Pico (em equipacom Justino Magalhães), da pró-pria vila das Lages, que lhe ficacontígua, e ao Couto do Mostei-ro, Santa Comba Dão (em equipacom Alberto Correia), perseguin-do os objectivos globais do pro-jecto.

2.2. Odete Paiva e José Ma-nuel Lages em a componente por-tuguesa do sub-projecto As duasfaces da Em igração para o Bra-sil: os Bem Sucedidos e os Ou-t ros, liderado pela investigadorabrasileira do NEPS, Ana SílviaScott, incidirão a sua análise so-bre um espaço geográfico de par-tida e outro de destino. Será lo-calizada, levantada, normalizadae sistematizada a informaçãopertinente e referente aos emi-grantes portugueses origináriosdo concelho de Vila Nova de Fa-

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RESULTADOS ESPERADOS

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malicão. Na vertente brasileiratratar-se-ão os imigrantes por-tugueses desembarcados e aco-lhidos na Hospedaria dos Imigran-tes em S. Paulo (Núcleos Coloni-ais/1827-1910). Ainda em S.Paulo será tratada a documen-tação pertinente da Inspectoriade Imigração no Porto de Santos(1907-1976) e outra documen-tação do Museu da Imigração eno Arquivo Público do Estado deS. Paulo (as sub-tarefas de fon-tes brasileiras não são contabili-zadas neste Projecto).

2.3. No quadro específico dasmobilidades nos espaços ultrama-rinos, Maria Augusta Lima Cruzpretende estudar o processo que,na sequência do abandono dapraça de Mazagão (actual ElJadida) em 1769, levou à evacu-ação dos habitantes desta loca-lidade marroquina e a sua trans-ferência forçada para a Amazó-nia, onde fundaram Vila Nova deMazagão (1771). Cruzando fon-tes sobre esta emigração força-da, de que se destacam as listasnominais dos evacuados, com adocumentação sobre a da políti-ca pombalina de criação de no-vas populações no norte amazó-nico e sobre o processo de fixa-ção em novas terras dos colonosde origem marroquina, procuraráreconstituir percursos individuais,familires e colectivos e analisar aevolução/mutação dos compor-tamentos no âmbito da mobilida-de entre espaços coloniais e mo-delos de expansão ultramarinadiferenciados.

2.4. Gilberta Rocha, Avelino deFreitas Menezes e Artur Madei-ra, pretendem estudar os fluxosmigratórios, relacionando-os comas conjunturas políticas e eco-nómicas relativamente a PontaDelgada. Numa ligação muito es-trita com as BDs demográficas,proceder-se-á ao cruzamentocom outras fontes nominativas –róis de confessados e registos depassaporte.

2.5. Para Ponta Delgada, se-rão trabalhados róis de confes-sados, genealogias locais e fon-tes monásticas, notariais (livrosde notas, testamentos), judici-ais e camarárias por José DamiãoRodrigues, pretendendo apreen-der a configuração dominante dafamília urbana nos Açores nosséculos XVI a XVIII e qual o con-junto de modelos familiares quecoexistem nesse período. De igualmodo, é objectivo deste estudoperceber quais as linhas de forçada transmissão patrimonial emestreita articulação com a orga-nização familiar e as estratégiassucessórias e qual a conexão comas relações de parentesco e aestrutura social.

No sentido de aprofundar ascrises da evolução em longa du-ração registadas no seio dos gru-pos domésticos rurais, MargaridaDurães pretende analisar fontesrelativas a empréstimos de dinhei-ro, gado a ganho, fluxos comer-ciais nas regiões fronteiriças,mercado fundiário, heranças,mercados matrimoniais e emigra-ção, incidindo sobre uma famíliainstalada no lugar de Moinhos,concelho de Melgaço, em 1837.As outras fontes históricas per-tinentes passam por escriturasnotariais, registos fiscais, livrosde ordenança, listas eleitorais,listas das côngruas, matriz e re-gisto predial, inventário orfano-lógico, testamentos, escriturasde partilha, passaportes, corres-pondência particular, livros derazão e contabilidade.

2.6. Em relação à cidade deAngra, José Guilherme Reis Leitetratará as fontes nominativas doArquivo local tendentes a análi-ses socio-culturais e de poderpara o século XVIII, em cruza-mento com as BDs demográficas.

2.7. Maria de Fátima SequeiraDias, incidirá sobre o levantamen-to sistemático dos registos no-tariais da comarca de Ponta Del-gada, entre 1800 e o advento da

República (cerca de meia cente-na de notários e quase um milharde livros), permitindo preservaro espólio arquivístico, porquantoa elaboração de uma base dedados de notários, localidades,nomes, datas e de assuntos per-mitirá a sua consulta aos inves-tigadores, dispensando, doravan-te, o recurso directo à fonte pri-mária. Além dos registos notari-ais tratará complementarmenteinventários orfanológicos relati-vos às famílias terratenentes, aosestrangeiros e à burguesia emer-gente – grupos privilegiados noestudo das elites que se preten-de realizar.

2.8. João Cosme, em relaçãoa Lisboa pré-pombalina, levantaráa informação da Torre do Tomborelativa à Inquisição, livros deautos de fé, correspondência deculpados, livros de denúncias, li-vros do Promotor, habilitações,processos, reservados, visita-ções, em articulação com as BDsdemográficas e ligação com Ma-ria Elvira Mea.

3. Levantamento de informa-ção estatística e inquéritos

O levantamento de informaçãoestatística percorre, em comple-mentaridade, os projectos pes-soais dos investigadores que sedebruçam sobre problemáticasdos finais do Antigo Regime eperíodo contemporâneo. Do mes-mo modo, o recurso à história oralimpõe-se no aprofundamento daproblemática da transição demo-gráfica comparada, no aprofun-damento de fenómenos de mobi-

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Plano de actividades para 2001

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notícias neps

lidade, como nas abordagens só-cio-culturais para o século XX.

Distinguimos quatro investiga-dores que se debruçam exclusi-vamente sobre o século XX,usando fontes e metodologiasmais específicas, da Geografia, daSociologia, da Antropologia e daPsicologia Social: Paula CristinaRemoaldo, Elza Carvalho, OtíliaLage e Antonieta Costa.

Aprofundamento micro-analíti-co de ritmos evolutivos da De-mografia, da Sociedade e da Cul-tura do século XX pela conexãoentre o trabalho dos investiga-dores desta tarefa e o trabalhodos historiadores que analisam osséculos precedentes.

Nesta tarefa distinguimos qua-tro sub-tarefas:

No sentido do aprofundamen-to da problemática da evoluçãoda fecundidade e da mortalidadeinfantil do século XX, em segui-mento às análises de séculos an-teriores, Paula Cristina Remoal-do, com metodologias de geógra-fa, tratará as publicações perti-nentes do Instituto Nacional deEstatística, realizará inquéritospor entrevista a mulheres em pa-róquias reconstituídas pela IR(freguesias da ilha do Pico – Ri-beiras e Lages; freguesias doconcelho de Santa Comba Dão –Couto do Mosteiro e S. Joaninhoe zona urbana de Guimarães).

Elza Carvalho, com metodolo-gias de geógrafa, tratará as Di-nâm icas Agrár ias e Migrat ór iasem Ter r i t ór ios de Front eir a: ovale do Lim a, envolvendo inqué-ritos casa a casa em paróquiasportuguesas e espanholas.

Otília Lage, recorrendo a re-cursos da História, Antropologiae Sociologia abordará mobilidadesocial e actores de fronteira: es-paços urbanos e (re)construçãode ruralidade (histórias de vida etrajectórias), com cruzamento defontes escritas e trabalho no ter-

reno (entrevistas e observaçãoparticipante).

Antonieta Costa, com recur-sos de Psicologia Social, aplicar-se-á sobre a paróquia das Ribei-ras do Pico (reconstituída pela IRe por Manuel Cardoso), onde ainteracção social entre os mem-bros da comunidade foi, hipote-ticamente simétrica, no estabe-lecimento, continuidade e mudan-ça das normas sociais. Possivel-mente devido ao isolamento dolugar, a população foi (aparente-mente), levada a criar uma co-munidade onde a igualdade dedireitos e deveres funcionou efi-cientemente durante centúrias.Testará a validade da hipótesepara definir nova linha de inves-tigação.4. Esforço de síntese

Um esforço de síntese decor-rerá do diálogo interdisciplinar edo cruzamento de fontes. A parde estudos específicos sobre asBDs no âmbito da especializaçãodos membros da equipa, emnformática, Demografia Histórica,demografia Contemporânea, Bio-demografia, História da Família,História Social ou História Cultu-ral, o esforço de síntese desen-volver-se-á em vertentes funda-mentais:

- Esforço para tornar amigá-veis e operativos os desenvolvi-mentos informáticos à comunida-de de cientistas sociais;

- Desenvolvimento de umnovo modelo de estudo de co-munidade com base na Demogra-fia Histórica (comunidades rurais,em seguimento e aprofundamen-to da proposta anteriormenteexpressa em Francisca Catar ina(1846-1940) . Vida e Raízes emS. João do Pico (Biografia, Gene-alogia e Estudo de Com unidade),NEPS/ICS, 1999, da autoria daIR e de Alberto Correia.

- Análises comparativas daevolução multissecular decomporatmentos demográficos esócio-culturais, rurais e urbanos,

com investimento particular noestudo da Mobilidade geográficae social (migrações de curta emédia distância, Emigração e Re-torno, reprodução social e opor-tunidades de mudança por aces-so à riqueza e/ou bens culturais).

CONSULTORES – ProfessoresAntónio José Fernandes (Univer-sidade do Porto); António de Oli-veira (Universidade de Coimbra);David Reher e Vicente PérezMoreda (Universidade Compluten-se de Madrid), José Manuel PérezGarcia (Universidade de Vigo);Maria Luíza Marcílio (Universida-de de S. Paulo/Brasil).

NOTA: O financiamento redu-zido atribuído pelo programaSAPIENS’99 dificulta a concreti-zação de todos os objectivospropostos. Foi necessário optarpelos recursos humanos em de-trimento de equipamentos e demissões.

Os novos cursos de Mestradoe Especialização em Património eTurismo, a funcionar no pólo deGuimarães sob a direcção cientí-fica da Coordenadora do NEPS,envolvem 38 alunos. O acolhi-mento que os profissionais dosector, as autarquias e outrasinstituições de desenvolvimentoregional têm manifestado por es-tes projectos de ensino pareceabrir novas perspectivas ao Nú-cleo, podendo vir a ser desen-volvida uma linha de acção nes-se enquadramento científico.

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Plano de actividades para 2001

RESULTADOS ESPERADOS

B - PROJECTOS DE ENSINO

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notícias neps

- Continuação da elaboração debases de dados demográficos esociais sobre as paróquias dos con-celhos das Lages e da Madalenada Ilha do Pico, no âmbito do pro-tocolo de cooperação com a Direc-ção Regional da Cultura dos Aço-res.

- Continuação da elaboração deuma base de dados demográficose sociais do concelho de Lisboa, noâmbito do protocolo de coopera-ção, estabelecido com o pelouro dacultura da Câmara Municipal de Lis-boa, através do Gabinete de Estu-dos Olissiponenses.

- Continuação da elaboração deuma base de dados demográficose sociais do concelho de Vila Novade Famalicão, no âmbito do proto-colo de cooperação com a CâmaraMunicipal de Vila Nova de Famali-cão.

- Criação de uma base de da-

Plano de actividades para 2001ram-se os recentes investimentossobre a expansão portuguesa).Pretende-se ainda estimular a con-vergência da investigação de me-dievalistas e modernista em clás-sicas abordagens históricas, sobreum período com tendência a apa-recer como franja de conhecimen-to para uns e para outros.

O III Congresso Histórico deGuimarães, irá ocorrer entre 24 e27 de Outubro deste ano de 2001,respeitando um voto do II Con-gresso – a periodicidade quinque-nal dos Congressos Históricos deGuimarães.

- Organização do VI Congressoda Associação de Demografia His-tórica

A Coordenadora do NEPS é mem-bro da Direcção da Associação de De-mografia Histórica (ADEH), estando aparticipar activamente na organizaçãodo VI Congresso da ADEH, a realizarentre 18 e 20 de Abril de 2001, emCastelo Branco.

C - PROTOCOLOS

D - INICIATIVASDE CARÁCTER CIENTÍFICO

dos genealógica das paróquias dazona urbana de Guimarães (Nos-sa Senhora da Oliveira, S. Migueldo Castelo, S. paio, S. Sebastião,Azurém, Creixomil, Mesão Frio, Cos-ta, Urgeses e Fermentões) até aomês de Outubro, com o apoio daCâmara Municipal de Guimarães,para apresentação oficial do IIICongresso de Histórico de Guima-rães.

- III Congresso Histórico de Gui-marães

O Núcleo de Estudos de Popu-lação e Sociedade em parceria coma Câmara Municipal de Guimarãesvai organizar o III Congresso His-tórico de Guimarães, com o temaD. Manuel I e a sua época . Estainiciativa visa aprofundar o conhe-cimento histórico de Portugal dosséculos XV e XVI na perspectiva doseu espaço europeu (considera-

Dissertação de Mestrado

“Dois Séculos de Mortalidadena Póvoa de Varzim ”

No passado dia 7 de Julho, nasala de actos do pólo de Azurémda Universidade do Minho, reuniuo júri para apreciar a dissertaçãoapresentada pelo Licenciado Ma-nuel Fernandes Soares Pinto,intitulada “Dois Séculos de Morta-lidade na Póvoa do Varzim 1540-1800”.

Estiveram presentes o DoutorJosé Viriato Eiras Capela, Profes-sor Catedrático do Instituto de Ci-ências Sociais da Universidade doMinho, Doutor João Francisco Mar-ques, Professor Jubilado da Facul-dade de Letras da Universidade doPorto, Doutora Maria Norberta deSimas Bettencout Amorim, Profes-sora Catedrática do Instituto deCiências Sociais da Universidade doMinho, Doutora Maria Apolónia daSilva, Professora Auxiliar da Facul-dade de Letras da Universidade doPorto, Doutora Margarida PereiraVarela Santos Montenegro Durães,Professora Auxiliar do Instituto deCiências Sociais da Universidade doMinho.

Aberta a sessão sob a presidên-cia do Doutor José Viriato Eiras Ca-

pela e depois de verificado por par-te do júri que o candidato presen-te obtivera já a aprovação em to-das as disciplinas curriculares doplano de estudos do Curso, proce-deu-se à discussão em prova pú-blica da dissertação de Mestrado,tendo sido arguente principal aDoutora Amélia Maria Polónia da Sil-va.

Concluída a discussão, o Júri reu-niu para apreciação da prova e classi-ficação do candidato.

Tomando em consideração os re-sultados obtidos pelo candidato nas dis-ciplinas do plano de estudo do Curso,as provas durante a discussão da dis-sertação e o parecer elaborado peloarguente, o Júri deliberou por unani-midade considerar o candidato Apro-vado com a classificação de MUITOBOM.

Novo livro

A Comunidade Cristã-Novade Vila Nova de Foz Côa

A Câmara Municipal de Vila Novade Foz Côa acaba de publicar atese de dissertação de mestradoem História das Populações apre-sentada por Aida Maria OliveiraCarvalho e intitulada «A Comuni-dade Cristã-Nova de Vila Nova de

Foz Côa - Rupturas e continuida-des (Séculos XVII e XVIII)». Trata-se de uma pesquisa científica queprivilegia a análise e a reconstitui-ção da paróquia de Vila Nova deFoz Côa, o enquadramento da co-munidade judaizante no contextolocal e regional, assim como as re-des de sociabilidade com as comu-nidades cristãs-novas vizinhas.

A investigação desenvolvida, deacordo com Elvira Mea, orientadoracientífica da autora, permitiu consta-tar que a “tradição de Foz Côa comoterra de judeus é relativamente recen-te, visto que, e isto é sabido, não sónunca lá existiu uma comuna judaica,como a própria comunidade cristã-nova emerge só em pleno séculoXVII”. No seu entender, “foi certamentea crescente repressão inquisitorial aolongo dos séculos XVI e XVII a molaque desencadeou a dispersão dos cris-tãos-novos pelo interior profundo dopaís, aqueles que não tiveram capaci-dade económica ou audácia suficientepara emigrar”. “Os cristãos-novosfozcoenses, tal como acontecia nou-tras localidades, tenderam a habitarpróximos uns dos outros, o que emFoz Côa se verificou junto da Praçaprincipal, junto da Igreja Matriz e nasruas do Relógio, Barca e no sítio daLameira, embora lá também moras-sem cristãos-velhos, como se vê poralgumas denúncias”. •

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notícias neps

Realizou-se no dia 9 de Julho,o lançamento de mais um volumedas Monografias do NEPS. Tra-ta-se de um trabalho da investi-gadora Odete Paiva, intitulado “S.Martinho de Avidos: ComunidadeRural do Vale do Ave - Demogra-fia e Sociedade (1599-1995)”. Acerimónia de apresentação daobra decorreu no salão nobre daCâmara Municipal de Vila Nova deFamalicão, integrando as come-morações do 16º aniversário deelevação de Vila Nova de Famali-cão à categoria de Cidade. Oevento foi dirigido pelo Presiden-te da Câmara, Agostinho Fernan-des. Em representação do NEPS,a introdução ao trabalho e aoautor foi feita por Carlota San-tos, Mestre em História da Colo-nização e Emigrações Portugal-Brasil.

Neste trabalho, Odete Paivarecorreu ao método de reconsti-tuição de paróquias da autoria deNorberta Amorim e utilizou comofontes os registos dos actos vi-tais ( nascimentos, casamentose óbitos), numa base sempreaberta a outras fontes.

Através do conhecimento dasvariáveis demográficas e da in-terconexão das mesmas, por cru-zamento com outras fontes quereclesiásticas, quer civis, a auto-ra conseguiu a caracterizaçãodemográfica e social da paróquia,numa análise microanalítica emlonga duração (1599-1995), uti-lizando procedimentos de matrizquantitativa e qualitativa.

Verificou para o Antigo Regi-me Demográfico, uma alta idadeao primeiro casamento para am-bos os sexos, e um elevado celi-bato definitivo marcadamentefeminino, comportamentos essesque se foram esbatendo à medi-da que se caminhava no tempo.Até aos anos trinta do século XX,

na maioria das uniões registadaspela Igreja, os noivos ou são damesma idade ou ele é mais ve-lho. Depois dessa data, o grossodos casamentos é entre indiví-duos da mesma idade. Poucossão os recasamentos, e quandoestes se verificam são os viúvosa levar a palma às viúvas, nummercado matrimonial deficitáriopara o sexo feminino.

Para além da nupcialidade,Avidos teve na fecundidade ou-tro elemento equilibrador entrerecursos e população. O númerode filhos por família fecunda, parao período pré-malthusiano foi decinco, enquadrando-se na matrizdas sociedades pré-industriais,com uma descida do número defilhos para o período em que con-tamos com os efeitos do bir thcont rol, que autora identificouandar nesta comunidade por voltados anos trinta.

As concepções pré-nupciaisocorreram com maior significân-cia no século XIX e XX, e se al-gumas destas relações fora domatrimónio tiveram como epílogoo casamento, muitas deram ori-gem a famílias monoparentais.

Um pequeno número de crian-ças baptizadas em Avidos foi ex-posto na freguesia. SegundoOdete Paiva, muitas destas cri-anças abandonadas o terão sidona Roda, nomeadamente, de San-to Adrião - Vila Nova de Famali-cão.

A Igreja através das devas-sas foi introduzido elementos queprocuraram dissuadir os cristãosde comportamentos irregulares,nem sempre o conseguindo, mor-mente, no que respeita às trans-gressões da moral sexual, frutode uma estrutura social em quea família ideal nem sempre erapossível.

Comunidade em que a posseda terra era até tempos bem pró-

ximos sinal de diferenciação so-cial, e em que esta estava desi-gualmente distribuída, com umpequeno número de possidentes,a emigração constituiu-se comoelemento equilibrador para a col-meia humana do Minho, verifican-do-se que em Avidos foram osfilhos dos menos abastados adeixar em maior número a suaterra, (embora só conta-se paraeste estudo com a emigração le-gal através dos passaportes).

A morte foi relativamente su-ave para os Avidenses, haven-do, contudo, médias e pequenascrises de mortalidade, com umasazonalidade ao óbito que depen-dia da idade e do tempo. A mor-talidade infantil registou-se pri-mordialmente até à primeira dé-cada do século XX nos mesesmais frios, posto que incidisse noperíodo mais próximo (1911-1995), nos meses de Verão.Quanto aos menores de seteanos, no primeiro período, é estaúltima estação a mostrar-se maisinclemente, e nos anos subse-quentes o frio é mais gravoso.

Os maiores de sete anos, comum período de estudo mais alar-gado no que concerne à sazona-lidade da morte, revelam maiortendência para morrer até aosprimeiros dez anos do século XX,na segunda metade do ano. Parao restante período, morre-se maisalém dos meses de temperaturasmais agrestes, também em Abrile Julho.

Lançada nova Monografia do NEPS

“S. Martinho de Avidos - Comunidade Ruraldo Vale do Ave: Demografia e Sociedade

(1599-1995)”, de Odete Paiva

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ficha de inscrição neps

IDENTIFICAÇÃO

Nome Data de Nascimento

_____/_____/_________

Endereço

Telefone Fax E-mail

Naturalidade

BI n.º Data / / Arquivo N.º Contribuinte

HABILITAÇÕES ACADÉMICAS

Doutor XX Doutorando XX

Mestre XX Mestrando XX Licenciado

XX Estudante XX

Cursos [indicar instituições e anos de conclusão]

ACTIVIDADE PROFISSIONAL

Profissão

Instituição

Endereço

Telefone Fax E-mail

INTERESSES DE INVESTIGAÇÃO

Fontes XX

Análise demográfica XX Reconstituição de Paróquias XX Registos paroquiais ou de estado civil Outra documentação paroquial Documentação fiscal Passaportes Dotes Testamentos Doações Outra documentação notarial Cruzamento de fontes diversas Migrações História da família Genealogias História da criança abandonada Análise social História da alfabetização Outros

Data Assinatura

_____/_____/_______

Depois de preenchida, esta ficha deverá ser remetida ao Neps, com uma cópia do currículo do investigador.

Autor:

Título:

Publicado Policopiado Inédito Artigo Livro Dissertação Trabalho académico

Editor Ano de edição

Local de edição N.º de páginas

Revista N.º/ano Páginas /

Se se tratar de uma comunicação apresentada em encontro científico, indique a identificação completa do evento (título/temática/secção onde o trabalho foi apresentado; entidade organizadora; local e data de realização):

Resumo

Para que o possa divulgar, o Núcleo de Estudos de População e Sociedade necessita de manter actualizada o seu ficheiro bibliogáficocom as produções dos seus membros. Para tanto, agradecemos que esta ficha seja preenchida e remetida para o NEPS sempre queproduza ou publique um novo trabalho, fazendo-a acompanhar, sempre que possível, por uma cópia do mesmo.

ficha de actualização bibliográfica neps

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Boletim Informativonº 20 n Julho de 2001

PUBLICAÇÃO DO:NÚCLEO DE ESTUDOS

DE POPULAÇÃO E SOCIEDADEInstituto de Ciências Sociais

Universidade do MinhoPólo de Azurém

Guimarães

DIRECTORA:Maria Norberta Amorim

EDITOR:António Amaro das Neves

COORDENAÇÃO DA REDACÇÃO:Elisabete Pinto

COLABORADORES DESTE NÚMERO:José Manuel Lages,

Maria Norberta Amorim,Elisabete Pinto, Luís Polanah

António Amaro das NevesSECRETARIADO:

Isabel Salgado, Daniel Freitas,Fátima Dias, Natália Silva, Só-nia Fernandes, Vítor Oliveira

DEPÓSITO LEGAL

n.º 125306/98

Núcleo de Estudosde População e Sociedade

Universidade do Minho,Pólo de Azurém

4800-058 Guimarães

Telefone/Fax:253510187

e-mail:[email protected]

Mailling list:•endereço:

[email protected]•subscrição:

[email protected]

http://sarmento.eng.uminho.pt/~neps

O Boletim Informativo do NEPS éuma publicação bimestral dedicada àdivulgação das actividades do Núcleode Estudos de População e Sociedadee dos trabalhos relacionados com De-mografia Histórica e História das Po-pulações. Agradece-se toda a colabo-ração que nos seja enviada, a qual serásubmetida à apreciação dos editores.Solicita-se o envio de notícias acercade eventos, publicações e investiga-ções nas áreas de Demografia Históri-ca e afins.

Os textos assinados são da exclu-siva responsabilidade dos respectivosautores.

publicações do neps neps

AMORIM, Maria Norberta e CORREIA, Al-berto, Francisca Catar ina (1846-1940) . Vidae Raízes em S. João do Pico (Biografia, Genea-logia e Estudo de Comunidade) , Neps/ICS –Universidade do Minho, Guimarães, 1999.

[3 800$00]

BARBOSA, Maria Hermínia Vieira (com acolaboração de Anabela de Deus Godinho),Crises de mortalidade em Portugal, desde me-ados do século XVI até ao início do século XX,Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 2001.

[1 250$00]

CARVALHO, Elza Maria Gonçalves Rodri-gues de, Basto (St.ª Tecla) - Uma Leitura Ge-ográfica (do século XVI à contemporaneida-de) , Neps/ICS – Universidade do Minho,Guimarães, 1999.

[3 800$00]

FARIA, Inês Martins de, Santo André deBarcelinhos. O difícil equilíbrio de uma popula-ção – 1606-1910, Neps/ICS – Universidadedo Minho, Guimarães, 1998.

[3 000$00]

GOMES, Maria Palmira Silva, Estudo De-mográfico de Cortegaça – Ovar (1583-1975) ,Neps/ICS – Universidade do Minho, Guima-rães, 1998.

[3 000$00]

NEVES, António Amaro das, Filhos das Er-vas - A ilegit im idade no Norte de Guimarães,séculos XVI -XVI I I , Neps/ICS – Universidadedo Minho, Guimarães, 2001.

[3 000$00]

MACIEL, Maria de Jesus, I magens de Mu-lheres, Câmara Municipal de Lajes do Pico/ICS – Universidade do Minho, Guimarães,1999.

[1 800$00]

SANTOS, Carlota Maria Fernandes dos,Sant iago de Romarigães, comunidade rural doAlto Minho: Sociedade e Demografia (1640-1872) , Câmara Municipal de Paredes de Cou-ra - Neps/ICS – Universidade do Minho, Gui-marães, 1999.

[3 000$00]

SCOTT, Ana Sílvia Volpi, Famílias, Formasde União e Reprodução Social no Noroeste Por-tuguês (Séculos XVI I e XI X) , Neps/ICS – Uni-versidade do Minho, Guimarães, 1999.

[3 800$00]

Aos membros do Neps é concedido um desconto de 20% sobre o preço de capa.Os pedidos (acompanhados de cheque correspondente ao valor dos livros soli-citados) devem ser encaminhados para a Secretaria do Núcleo de Estudos dePopulação e Sociedade (Campus de Azurém da Universidade do Minho).

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