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BIO LOGIA Filosofia da Educação Profa. Waldênia Leão de Carvalho 2 a edição | Nead - UPE 2013

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BIOL O G I A

F i l o s o f i a d a E d u c a ç ã o

P r o f a . W a l d ê n i a L e ã o d e C a r v a l h o

2a edição | Nead - UPE 2013

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

Carvalho, Waldênia Leão de

Biologia: filosofia da educação/Waldênia Leão de Carvalho. – Recife: UPE/NEAD, 2011.

32 p.

1. História da Filosofia 2. Educação 3. Educação à Distância I. Universidade de Pernambuco, Núcleo de Educação à Distância II. Título

CDD – 17ed. – 370.1Claudia Henriques – CRB4/1600

BFOP-111/2011

C331b

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE

ReitorProf. Carlos Fernando de Araújo Calado Vice-ReitorProf. Rivaldo Mendes de Albuquerque

Pró-Reitor AdministrativoProf. Maria Rozangela Ferreira Silva

Pró-Reitor de PlanejamentoProf. Béda Barkokébas Jr.

Pró-Reitor de GraduaçãoProfa. Izabel Christina de Avelar Silva

Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim

Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional e ExtensãoProf. Rivaldo Mendes de Albuquerque

NEAD - NÚCLEO DE ESTUDO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Coordenador GeralProf. Renato Medeiros de Moraes

Coordenador AdjuntoProf. Walmir Soares da Silva Júnior

Assessora da Coordenação GeralProfa. Waldete Arantes

Coordenação de CursoProf. José Souza Barros

Coordenação PedagógicaProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

Coordenação de Revisão GramaticalProfa. Angela Maria Borges CavalcantiProfa. Eveline Mendes Costa LopesProfa. Geruza Viana da Silva

Gerente de ProjetosProfa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes

Administração do AmbienteJosé Alexandro Viana Fonseca

Coordenação de Design e ProduçãoProf. Marcos Leite

Equipe de DesignAnita Sousa/ Gabriela Castro/Renata Moraes/ Rodrigo Sotero

Coordenação de SuporteAfonso Bione/ Wilma SaliProf. José Lopes Ferreira Júnior/ Valquíria de Oliveira Leal

Edição 2013Impresso no Brasil

Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo AmaroRecife / PE - CEP. 50103-010Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664

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A FilosoFiA e suA origem

Profa. Waldênia Leão de Carvalho Carga Horária I 10h

oBJeTiVo gerAl

Identificar o conceito de Filosofia sob o pon-to de vista histórico, refletindo sobre o pen-sar filosófico como elemento de passagem do senso comum ao pensamento crítico.

oBJeTiVos esPeCÍFiCos

• Situar aFilosofi comosuporteteóricoàs diversas ciências e áreas do conheci-mento.

• Identificar as principais contribuiçõesda Filosofia para a sociedade.

• ExplicitarquestõesfundamentaisdaFilosofia, estabelecendo inter-relaçõescom a educação.

• Justificaraimportânciadaconsciênciafilosófica à construção da práxis do edu-cador.

CoNTeÚDos

• AorigemdaFilosofia• ConceitodeFilosofia• MitoeFilosofia• Atitudefilosófica• Opensarfilosófico• OHomemeaFilosofia

iNTroDuÇÃo

Em todos os tempos, a Filosofia tem exerci-do atrativo sobre os seres humanos. Apesar

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6de ser hoje a era da tecnologia, da robótica, do mundo virtual, esse interesse persiste. Uma prova incontestável da importância da Filoso-fia na vida das pessoas é observar como alguns temas despertam curiosidades, mesmo tendo sido discutido há muito tempo. Quem ainda não se perguntou sobre o porquê de sua exis-tência? Quem nunca se angustiou no momen-to de uma escolha? Quem nunca se interessou pela política, a liberdade, o conhecimento, os valores?Seessasquestões inquietaramahu-manidade e inquietam você ainda hoje, então é hora de aventurar-se, como fazem os filóso-fos, pelo caminho da Filosofia.

Bem, essas emuitas outras indagações con-firmam o interesse de todos pela Filosofia e justificam a participação dos jovens em cafés filosóficos; a vitória de educadores pela inclu-são definitiva da Filosofia no Ensino Médio; o esforço de teóricos em fundamentar uma Fi-losofia para crianças e a publicação de livros, revistas, periódicos, que buscam discutir a Filo-sofia e a relação com outras ciências e também com a vida cotidiana.

Nesse contexto, também, encontramos o cres-cimento em relação à curiosidade dos jovens pela sabedoria dos povos orientais, (*1- hiper-link) em especial, o resgate da relação entre o homem e a natureza como parte integrante de um todo. Essa busca é refletida no uso de chás, de cristais e em terapias de autoconheci-mento, acrescentando a multiplicação de aca-demias de Ioga como parte da descoberta do hinduismo como filosofia.

O fascínio que a Filosofia exerce, ainda hoje, na sociedade é prova viva de seu valor para a vida humana. Mas, essa afirmação não nega as muitas inquietações que acompanham oindivíduo ao longo de sua vida. Sejam elas de ordem pessoal, sejam elas voltadas à própria teoria do conhecimento. Por isso, quando fa-lamos de Filosofia, algumas perguntas sempre nos acompanham: O que é a Filosofia? Para que a Filosofia? Como ela pode nos ajudar a compreender o nosso mundo e a nós mesmos? O cenário é novo, as dúvidas são antigas, mas as indagaçõessobreohomemeavidasem-pre nos acompanharam e sempre nos acom-panharão. Este novo milênio não foge à regra,

nos leva a indagar nossas escolhas, questionar sobre os caminhos, a inquietar-nos com as res-postas. Se tudo isso é verdadeiro, então esta-mos no caminho certo. Estamos filosofando. Mas, afinal, o que é filosofar?

1. FilosoFANDo soBre A FilosoFiA

“Que representa, então, a Filosofia?É uma das raras possibilidades de existência criadora.

Seu dever inicial é tornar as coisas mais refletidas, mais profundas.”

Martin Heidegger

Quem nunca se indagou sobre: O que é? Como é? Por que é? Uma coisa, um valor, uma idéia, um comportamento. Quem nunca refletiu o porquê de pensarmos, dizermos e fazermos de um jeito? E o outro, pensar, dizer e fazer de um outro jeito? Quem nunca pensou que Eu e o Outro estamos trocando infinitamen-te de lugar. Ou seja, que cada indivíduo pode ser o Eu ou o Outro, dependendo da posição em que esteja. Quem nunca parou para pensar que nunca paramos de pensar?

Das muitas indagações as muitas respostas.Das muitas respostas as poucas certezas. As-sim caminha a humanidade. Isso equivale a dizer que estamos numa permanente atitude, a atitude do pensar. Uma atitude de distancia-mento da vida cotidiana e de si mesmo, uma atitude de conhecer. Sem percorrer esse cami-nho, algumas das muitas perguntas já teriam algumas respostas como verdade absoluta.

A nossa decisão de não aceitar como naturais, óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentosque marcam a existência da humanidade no planeta, mais que uma investigação é expres-são de nossa atitude frente ao mundo. Mas, em que essa atitude tem relação com Filoso-fia? Ela tem tudo haver quando se torna uma Atitude Filosófica, uma atitude que faz parte de nosso ser e da Filosofia. Mas, afinal o que é a Filosofia?

A palavra Filosofia é de origem grega, formada de dois termos: philo (amizade) e sophía (sa-bedoria), portanto, Filosofia significa amizade

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7pela sabedoria. É dela, também, que se origina a palavra sophós que significa sábio. O Filósofo é, portanto, aquele que ama ser sábio, que tem amizade pelo saber, deseja ser sábio. Assim, Fi-losofia é uma disposição interior de quem esti-ma o saber e de quem busca, através de um ca-minhofilosófico,respostasassuasindagações.

No livro, Convite à Filosofia, Marilena Chauí (2005), ao falar da origem etimológica da Filo-sofia, relata que foi:

O filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C.) a invenção da palavra ‘Filosofia’. Pitá-goras teria afirmado que a sabedoria plena e comple-ta pertence aos deuses. Mas, que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.

A autora, ainda, citando as palavras de Pitágoras quando analisava os três tipos de pessoas que compareciam aos jogos Olímpicos, afirma que:

[...] Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais ou financeiros não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir não é um “atleta intelectual”, não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores; e, sim, é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, as pessoas, os aconte-cimentos, a vida; em resumo, é movido pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém (pare ser comerciada) nem é um prêmio conquistado por competição. Ela está diante de todos nós como algo a ser procurado e é encontrada por todos aqueles que a desejarem, que tiverem olhos para vê-la e coragem para buscá-la. (CHAUÍ, 2005, p.25)

O pensamento do filósofo está imbricado pelo desafio permanente de teorizar sobre todos os assuntos, procurando responder o porquê das coisas. Essa inquietação sobre si, o outro e o mundo, a admiração e o espanto pela realida-de, a dúvida nas respostas da tradição, levaram alguns gregos à inquietante tarefa de filosofar.

Essa subversão do pensamento, entretanto, não representa uma atitude de rebeldia, de quebra de regras e costumes pelo puro prazer, mas, da descoberta humana de sua capaci-dade de conhecer. Agora, tudo podia ser co-nhecido, nessa capacidade do pensar comum a todos os seres humanos estaria enfim, uma possibilidade de libertar a si e ao outro dos mi-tos, da mística e da barbárie que circundava a vida dos seres humanos.

Os primeiros humanos não começaram filoso-fando, mas, já se sentiam inquietados a com-preender e explicar uma natureza totalmente desconhecida. Assim, surge a necessidade consciente e inconsciente de o homem ter de explicar seu meio e seus problemas.

A explicação sobre as coisas, os fatos e os fe-nômenos foi o primeiro passo para ele se sentir o dono da situação. Usava de sua imaginação paracriarexplicaçõesnumafunçãoexistencialde dar sentido a seu meio. Essas primeiras ex-plicaçõesreceberamonomedemitos.Omito,ainda hoje, é uma constante da mente huma-na, estando presente em todas as culturas.

O mito é um contexto explicativo, não-lógico, muitas vezes, fantástico, motivado pelo meio físico e humano em que vive a coletividade. Ao sofrer uma elaboração de natureza poética, literária, moral, ele se transforma num relato mitológico. Mitologia é o conjunto dos relatos mitológicos, podendo incluir alguns mitos de determinado povo.

Com isso, é possível inferir que o mito é o pen-samento anterior à reflexão crítica. Embora sem rigor racional nem crítica pessoal, foi ne-cessário como momento preparatório para as elaboraçõesintelectuaismaisrigorosas. Asconstruçõescognitivasdossereshumanossobre seu meio levaram os grupos humanos ao longo da história à passagem de uma expli-cação mítica à científica. Esses mesmos huma-nos descobriram, também, que a linguagem respeitava os passos do pensamento, podendo ela ser o caminho para ensinar o conhecimen-to a todos.

Essa longa trajetória que marca a história do homem na terra marca, também, seu modo de compreender e explicar. Ela é, antes de tudo, um modo de se colocar diante da realidade, procurando refletir sobre os acontecimentos. Talvez isso seja uma das maiores conquistas da humanidade, o desenvolvimento do pensa-mento e a produção do conhecimento.

1.1. o PeNsAmeNTo FilosÓFiCo

O pensamento filosófico, nascido na antiga Grécia, englobava tanto as indagações filo-

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8sóficas propriamente ditas quanto o que hoje chamamos de conhecimento científico. Essa divisão entre a disciplina filosófica, Teoria do Conhecimento, também, chamada, de Gno-siologia e a Epistemologia ou Teoria da Ciência ocorreu quando se diferenciou a maneira de abordar o conhecimento.

A teoria do conhecimento, como disciplina filosófica, orienta-se para o todo. Por isso nada pode excluir. Coloca justamente aquelas questões, cuja resposta, as outras ciências pressupõem. O sucesso das ciên-cias consiste em evitar colocação de certas questões. Nem por isso a teoria do conhecimento deve ignorar o resultado das outras ciências. Mas, diferentemen-te dessas, torna objeto de sua investigação questões que precedem as perguntas das ciências singulares (ZILLES, 2005, p.31).

A preocupação com o conhecimento faz o homem refletir sobre o seu próprio conhecer. Essa estrutura reflexiva é, portanto, uma ativi-dade inerente ao pensar filosófico.

Quando tratamos do pensar filosófico, esta-mos discutindo, também, um caminho para se construir o conhecimento, e isso exige a ta-refa de eliminar ou, pelo menos, explicitar os obstáculos que levam ao conhecimento. Sem essa tarefa, podemos correr o risco de aceitar como verdade a idéia comumente dita de que, cada um tem sua filosofia de vida. Ou seja, uma concepção da vida e do mundo que irá interferir em nossas atitudes e no modo de ser. Esta visão ou mundologia pode ser otimista ou pessimista, progressista ou retrógrada, moti-vadora de ação ou inibidora. Mas, se não per-corre o caminho rigoroso do pensar filosófico, perde-se em suas próprias palavras.

Ora, se cada, um de nós tem uma filosofia sub-jacente às nossas atitudes perante o mundo e se esta se encontra atrelada ao significado que atribuímos as nossas experiências do dia-a-dia, como promover o exercício do pensar, se cada um toma como base a sua experiência singu-lar? Como realizar uma atitude filosófica, se cada um partirá de um ponto e seguirá cami-nhos adversos?

O fato é que estamos tratando de coisas dis-tintas. Uma coisa é a filosofia de cada um, e outra é a Filosofia como disciplina. Enquanto a primeira funda-se na experiência do individuo, a segunda constituiu-se em sistemas organi-

zados que visam dar significado muito mais amplo do mundo, da vida e de seus principais problemas.

Assim, quando ouvirmos alguém dizer que possui uma filosofia de vida ou que segue a filosofia de vida de outro, saberemos que este está empregando um modo de falar e não, fa-lando da Filosofia enquanto ciência.

Para pensar e falar sobre a Filosofia, realizamos uma atitude filosófica que nega o acaso, pois parte de uma reflexão, de um indagar sistemá-tico. Que em grego significa, um todo cujas partes estão ligadas por relações de concor-dância interna. Em outras palavras, significa dizer que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, realizando encadeamen-tos lógicos entre os enunciados, operando com conceitos e idéias obtidas através de pro-cedimentos de demonstração e prova (CHAUÍ, 2006, p. 21).

O conhecimento filosófico é um trabalho in-telectual, que segue um processo sistemático em que as idéias estão relacionadas entre si, formando um conjunto coerente de idéias e significações.

Com isso, a Filosofia é uma reflexão sistemá-tica e crítica sobre certos problemas que não caem sob a alçada das ciências e, especifica-mente, sobre os problemas do conhecimento e da ação. Mas, para que ela exista, de fato, é preciso que o conhecimento filosófico possa realizar-se através de uma atitude reflexiva.

Refletir exige uma tomada de posição que se orienta para os fundamentos do problema. Isto significa que ela visa a um conteúdo or-denado que justamente procura ser a melhor tentativa de solução para os problemas.

1.2. Temas, Disciplinas e Campos da Filosofia

Os séculos que marcam a existência da Filoso-fia marcam, também, grandes mudanças em sua história. Sua existência há 26 séculos levou ora ao surgimento, ora ao desaparecimento de temas, disciplinas e campos de investigação. Mas, uma coisa, sem dúvida, não passou nem passará o desejo de indagar-se sobre as coisas.

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9Ao mesmo tempo, a Filosofia manteve em permanente movimento, desconstruindo e/ou construindo algumas idéias. Dentre elas, podemos enumerar: o desaparecimento da idéia de que a Filosofia era a totalidade dos conhecimentos teóricos e práticos da huma-nidade – Aristóteles; a imagem da Filosofia, enquanto uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia da natu-reza, a ética e a política; a Filosofia, enquan-to totalidade de saberes que conteria em si todos os conhecimentos; a separação entre Filosofia e Ciências positivistas (matemática, física, química, biologia, astronomia, sociolo-gia), porque, para Augusto Comte, ela era, apenas, um reflexo sobre o significado do tra-balho científico, isto é, uma análise de uma interpretação dos procedimentos ou das me-todologias usadas pelas ciências ou epistemo-logia (CHAUÍ, 2004, p. 56-57).

Diante dessas e de outras mudanças, a Filoso-fia seguiu seu caminho e passou a centrar seu interesse pelo conhecimento das estruturas e formas de nossa consciência e, também, pelo seu modo de expressar, isto é, a linguagem, embora tenha mantido seus campos de estudo nestes 26 séculos de existência. São eles:

• Ontologia ou Metafísica: conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres.

• Lógica: conhecimento das formas e regras gerais do pensamento correto e verdadei-ro, independente dos conteúdos pensa-dos; regras e critérios.

• Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto as ciências exatas ou matemáticas quanto as naturais e as humanas.

• Teoria do Conhecimento: estudo das di-

ferentes modalidades do conhecimento humano.

• Ética: estudo dos valores morais (as virtu-

des), da relação entre vontade e razão. • Filosofia Política: estudo sobre a natureza

do poder e da autoridade.

• Filosofia da História: estudo sobre a dimen-são temporal da existência humana como existência sociopolítica e cultural.

• Filosofia da arte ou estética: estudo das

formas de arte, do trabalho artístico. • Filosofia da Linguagem: a linguagem como

manifestação da humanidade do homem. • História da Filosofia: estudo dos diferentes

períodos da Filosofia.

Cada um desses campos de investigação apre-senta uma infinita área de interesse da huma-nidade sobre a vida. Percorrer seus caminhos é manter acesa a chama do conhecimento. Cada um de nós como representante de nossa espé-cie e do ambiente, devemos fazer a nossa parte.

ATiViDADe 1

1. Conhecemos um pouco mais sobre a ori-gem da filosofia. Agora, é hora de registrar nossasreflexões.

a) Como você responde à pergunta: O

que é Filosofia? Para que Filosofia?

b) Filosofar é uma ação possível a qual-quer sujeito, desde que ele indague e reflitasobreascoisaseassituaçõesaoseu redor. É possível então, compreen-der a realidade em que vivemos através da atitude filosófica? Justifique.

2. o Homem NA FilosoFiAO homem sempre foi objeto de investigação da filosofia, embora, em cada tempo, esse olhar tenha se concentrado no homem de modo di-ferente e privilegiado. Foi com Sócrates e os sofistas que a pesquisa filosófica concentrou--se totalmente sobre o homem, a fim de com-preender sua verdadeira natureza, determina-rem-lhe a capacidade e entender seus deveres e sua missão.

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10Daí a conhecida frase de Sócrates “Conhece--te a ti mesmo”, que bem define o objetivo rigoroso da filosofia de Sócrates e de seus contemporâneos. Marilena Chauí nos recorda que o significado dessa frase nos remete a um acontecimento ocorrido há mais de 26 séculos na Grécia.

Havia, na Grécia antiga, na cidade de Delfos, um santuário dedicado ao Deus Apolo, deus da luz, da razão e do conhecimento verdadei-ro, o patrono da sabedoria. Sobre o portal de entrada desse santuário, estava escrita a gran-de mensagem do deus ou o principal oráculo de Apolo: “Conhece-te a ti mesmo”. Um ate-niense, chamado Sócrates , foi ao santuário consultar o oráculo, pois em Atenas, onde mo-rava, muitos diziam que ele era um sábio e ele desejava saber o que significava ser um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O orá-culo, que era uma mulher, perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que nada sei”. Ao que o oráculo disse: “Sócrates é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe”. Sócrates como todos sabem, é o patrono da Filosofia (CHAUÍ, 2004, p. 9).

Passados muito anos desde o acontecimento, a Filosofia manteve seu olhar sobre o homem. E hoje, a Filosofia moderna permanece com um acentuado foco antropocêntrico, reafir-mando, com isso, o problema de saber quem é o homem.

A pergunta que nos acompanha até hoje: Quem é o homem? Parece, além de inquietar os filósofos de geração após geração, levar-nos a pensar como Santo Agostinho: “Que grande mistério é o homem!”.

O homem é esse ser tão complexo. Um indiví-duo singular que se move na busca de si mes-mo, e, como tal, nos inquieta a pensar sobre nós, sobre nossa ação. Em outras palavras, nos move a conhecer-nos a nos mesmos como fonte inesgotável da descoberta de nosso Eu.

A Filosofia, ao investigar o homem enquanto problema antropológico, o faz não limitando ao problema desta ou daquela atividade hu-mana (problema de conhecimento, de liberda-de, de trabalho, etc) mas o trata a partir do problema da natureza humana.

Ao pensar sobre a natureza humana, encon-traremos concepções adversas que presentesnas falas carregam idéias que, muitas vezes, não estão claras ao falante, mas que represen-tam um conjunto de idéias presentes em nossa sociedade. As frases mais comuns são:

a) Não adianta mudar o mundo: desde que o ser humano existe, há ricos e pobres. (A natureza humana é imutável).

b) Não somos nada sem a graça de Deus. (A

natureza humana é fruto da criação divina). c) É preciso usar a cabeça e não se deixar ar-rastarpelaspaixões.(Anaturezahumanaéracional).

d) Viver só vale a pena com uma boa cerveja,

um bom futebol e uma grande paixão. (A natureza humana é movida também pelo desejo).

e) Meu destino já está traçado, serei sempre

pobre. (A natureza humana já está predes-tinada, não podemos mudá-la).

f) A ocasião faz o ladrão. (A natureza huma-

na é má).

Na leitura dessas frases, observamos que cada umarepresentaconcepçõesdiferentessobreanatureza humana e que seu desenvolvimento foi decorrente ora pela herança cultural, ora pela experiência de vida. Seja como forem elas não só expressam nosso modo de pensar, mas também marcam nossa ação no mundo.

A ação do homem no mundo levou à constru-ção não só do espaço social, mas, do próprio homem. Se isso é verdade, é possível afirmar que não nascemos humanos? Se não nasce-mos, transformamos-nos em seres humanos? E o que é o ser humano?

Com certeza, muitos já fizeram essa pergunta, e muitos outros também tentaram respondê--la. Seremos o animal político, como queria Aristóteles, um ser que pensa como dizia Des-cartes, um ser que julga, como pensava Kant, um ser que trabalha pensado por Marx, um ser que cria, diria Bérgson ou todas juntas ou nenhuma delas parece totalmente satisfatória.

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11A complexa natureza humana, sua incomple-tude, a ambigüidade dos desejos e possibilida-desdeixamsempreabertasàsindagaçõesso-bre nossa natureza. Mas, ninguém pode negar que nascer humano já nos concede o direito de ser pensado como tal. E você, o que pensa de tudo isso?

3. FilosoFiA e o PeNsAr HumANo

“Nada caracteriza melhor o homem do que o fato de pensar.”

Aristóteles

O homem é um ser que pensa. Pensar, portan-to, é uma atividade humana. Essa afirmativa se tornou expressão de uma característica pe-culiar do ser humano, algo que nos distingue dos demais animais e seres vivos deste planeta. Uma certeza tão premente que nos orgulha-mos dessa diferença e até chegamos a vê-la como superioridade de nossa espécie.

Bem sabemos que a questão: será que somen-te o homem pensa? Nos levaria a indagar: por que os animais não pensam? Ou, será que eles nãopensam?Oua formularnovasquestões.Tudo isso numa tentativa de buscar respostas ou validá-las.

Parece que, a cada busca por respostas nós formulamos novas perguntas. Essa ação de pensar sobre o pensar caracteriza o pensa-mento humano.

Sendo o homem um ser pensante, desenvolve idéias e as testa na prática da vida. Essa busca incessante de criar coisas/objetos que tornem a vida melhor e mais confortável, de criar idéias/explicaçõessobreascoisas,osfenômenos,ge-rando mais conhecimentos e maior compre-ensão do mundo, é o caminho que seguimos para produzir o conhecimento. Mas, afinal o que é conhecimento?

O questionamento sobre o conhecimento é en-contrado desde a Antiga Grécia, pelo menos, desde Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eléia e Demócrito de Abdeia, passando por Platão (427-347 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) até os filósofos e cientistas da atualidade.

A indagação dos primeiros filósofos sobre o pensamento levou-os a se dar conta de que nosso pensamento parece seguir certas leis ou regras para conhecer as coisas e que há uma diferença entre perceber e pensar.

A percepção das mudanças ocorridas em seu meio faz com que o homem conheça as carac-terísticas ou a qualidade das coisas. Esse tipo de conhecimento é chamado de conhecimento sensível ou empírico. Nessa forma de conhecer acionamos a sensação e a percepção.

A sensação é que nos dá as qualidades dos objetos e os efeitos internos dessa qualidade em nós. Tocamos, sentimos, ouvimos qualida-des puras e diretas, como: as cores, sabores, odores, texturas, sons, temperaturas. Mas, em cada objeto, não apenas reconhecendo uma qualidade, mas, um conjunto, e a essa reunião de sensações, dá-se o nome de percepção.Portanto, a percepção será uma síntese de sen-saçõessimultâneas.

Para alguns filósofos gregos que, desde o iní-cio, procuravam tornar inteligível o universo, isto é, explicar a multiplicidade aparentemente desconexa dos fatos isolados, advertiram que nem sempre o conhecimento do sensível re-presenta verdadeiramente como as coisas são. (*2 – hiperlink)

A preocupação com o conhecimento, sem dú-vida, sempre foi e será uma busca permanente dos filósofos. Enquanto alguns buscavam pela percepção o conhecimento, outros buscavam pelo pensamento.

Comonopassado,aindahoje,asindagaçõesnos acompanham. Pensamos com base no que percebemos ou pensamos negando o que per-cebemos? O pensamento continua, nega ou corrige a percepção? O modo como os seres nos aparecem é o modo como eles realmente são?

No livro Introdução à Filosofia, Mondin diz:

O problema constituiu objeto de debate já entre os pré-socráticos, os quais apresentaram desde logo uma solução discutida: Parmênides e os pitagóricos reconhecem, além do conhecimento sensível, tam-bém o conhecimento racional, mas somente a este último é que atribuem valor absoluto. Ao contrário, Protágoras, Górgias e outros sofistas admitem tão-só

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12a existência do conhecimento sensível, de tal modo que se recusavam a tentar explicar as profundas di-vergências que deparamos entre os horizontes cog-noscitivos dos membros pertencentes a sociedades diferentes ou até no mesmo grupo social. Em geral, porém, durante o período clássico, quase todos os filósofos reconhecem que existem, pelo menos, duas ordens de conhecimento: o dos sentidos e o do inte-lecto (MONDIN, 1980, p. 20).

O conflito sobre os tipos de conhecimento está longe de ser resolvido, embora na épo-ca moderna que ele adquire uma importân-cia particular. Para René Descartes, resolver este problema depende da solução de todos os outros. Assim, podemos encontrar filóso-fos que admitem tanto o conhecimento sen-sível quanto o intelectivo. São eles: os racio-nalistas (Descartes, Spinoza, Malebranche, Leibnitz) e os idealistas (Kant, Fichte, Hegel, Croce) e outros que admitem somente o co-nhecimento sensível: os empiristas (Berke-ley, Hume), os positivistas (Comte, Spencer, Mill) e os neopositivistas (Russel, Ayer). Mes-mo hoje o problema do conhecimento per-manece ainda em aberto e tudo indica que permanecerá por muito tempo.

Dá-se o nome conhecimento à relação que se estabelece entre o sujeito cognoscente (que conhece) e o objeto cognoscível (conhecido). No processo do conhecimento, o sujeito cog-noscente se apropria, de certo modo, do ob-jeto conhecido. Se a apropriação é física, sen-sível, o conhecimento é sensível. Esse tipo de conhecimento é encontrado tanto nos animais como no homem: acontece por meio dos cin-co sentidos. Se a apropriação não é sensível, como conceitos (idéias), princípios e leis, o co-nhecimento é intelectual. Isso significa que o conhecimento resulta da apreensão do objeto pelo sujeito, sendo o processo pelo qual o su-jeito se coloca no mundo e, com ele, estabele-ce uma ligação.

Esse permanente diálogo sobre o conhecimen-tonãoeliminaasindagações.Deondeprovêmasidéiasquetemos?Sãoelasreproduçõesdeobjetosexternosanós,ouantes,criaçõesdenossa mente?

Segundo Mondin (1980), embora a maioria dos filósofos reconheça as duas formas de conhecimento: o sensível e o intelectiva, po-

demos acompanhar historicamente a origem do conhecimento através das grandes linhas de desenvolvimento do problema do conheci-mento.

Platão, primeiro filósofo a encarar essa questão de forma explícita e sistemática, acredita que todo co-nhecimento humano seja sensível seja intelecto, pro-vém do objeto. [...] Aristóteles considera a teoria pla-tônica, da origem do conhecimento intelectivo como artificial, arbitrário e não confirmada de maneira alguma pela experiência. Em sua opinião, o conhe-cimento intelectivo deve-se em larga medida à ação do sujeito, que é dotado de uma potência particular (o intelecto) pela qual ele elabora os dados ofereci-dos pela experiência, de tal modo a colher neles o elemento universal, necessário e, portanto, essencial. [...] Kant explica quer o conhecimento sensível quer o intelectivo como resultado de uma síntese de ele-mentos dados em parte pelo sujeito e em parte pelo objeto. (MONDIN, 1980, p21-23)

Sobre tudo o que foi abordado não podemos esquecer o fato de que o conhecimento é produzido pelo sujeito que está inserido num tempo e espaço específicos. Portanto, seu re-sultado está inerente ao que é oferecido a ele: um mundo ‘natural’ e um mundo ‘cultural’. Nesse sentido, o conhecimento é sempre re-lativo,porquesupõeumolhardosujeito so-bre si, sobre o outro e sobre o mundo em um determinado tempo e lugar. Que ao sofrer a ação do próprio homem não mais apresenta os elementos que compuseram anteriormente.

ATiViDADe

1. “A Filosofia não se interessa por um parti-cular aspecto da realidade, por este ou por aquele problema, mas por tudo, por todas as inúmeras questões que interessam areflexão humana, iluminada pela razão, e em busca das causas mais profundas, indo além dos dados próximos e experimentá-veis” (RAMPAZZO 2004, p. 22).

a) Será possível a Filosofia tudo conhecer?

b) Se o conhecimento é uma criação humana, o conhecimento filosófico também é. Então como podemos ex-plicar sua capacidade de conhecer a realidade?

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TemAs e QuesTões FilosÓFiCAs

oBJeTiVo gerAl

• Reconhecer, nos temas da Filosofia, ascontribuições para a reflexão sobre avida humana.

oBJeTiVos esPeCÍFiCos

• Identificar as principais contribuiçõesdos temas filosóficos para a sociedade.

• Explicitar questões fundamentais daFilosofia, estabelecendo inter-relaçõescom a educação.

• Justificara importânciados temas filo-sóficos à construção da práxis do edu-cador.

CoNTeÚDos

• Arazão• Averdade• Alógica• Aética iNTroDuÇÃo

Todos nós sabemos o que acontece, quan-do as coisas não fazem sentido. Entramos num estado de inquietação e dúvida de ta-manha grandeza que imediatamente nos colocamos a pensar, a buscar respostas para amenizar nossos conflitos. A essa atitude do pensar que supera a simples curiosidade e caminha numa disposição interior do co-nhecer, denominamos de atitude filosófica.

Profa. Waldênia Leão de Carvalho Carga Horária I 10h

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14É ela que vai nos ajudar a trilhar o caminho do conhecimento nesse segundo capítulo.

O desafio de conhecer, indagar e produzir co-nhecimento permanecem quando estudamos alguns dos principais temas que fazem parte do objeto de investigação da Filosofia e que juntos compõemum conjuntode conteúdosnecessários a pensar e compreender melhor o percurso seguido pela humanidade em busca derespostasparaasindagaçõesdavida.

1. A rAZÃo HumANAÉ comum ouvirmos a afirmação de que so-mos seres racionais ou que o ser humano é o único animal racional. Mais comum ainda é olharmos em nossa volta e encontrarmos ob-jetos criados pela capacidade humana de pen-sar racionalmente. Ou seja, pensar usando os princípios lógicos para atingir o conhecimento verdadeiro capaz de ser universalmente aceito. Encontramos computadores, foguetes, armas nuclearesetc,quecompõemumconjuntodeobjetos produzidos pela humanidade, resulta-do de seu pensar racional. Por outro lado, o que nos parece incomum diante dessas “cer-tezas” é que presenciamos atitudes de irracio-nalidadeatravésdeaçõesquenegamacapaci-dade de pensar de forma ordenada, seguindo convenções ou acordos firmados pelos sereshumanos racionais.

Ao falarmos em racionalidade e em irracio-nalidade, estamos tratando de dois conceitos construídos com bases no modelo de mundo, que estabelece a ideia de que todos nós somos racionais e usamos de nossa razão para viver e criar a realidade na qual vivemos.

Ao dizer que o ser humano é racional, estamos aceitando os fundamentos de uma corrente fi-losófica chamada racionalismo, que represen-ta uma doutrina que deposita total e exclusiva confiança na razão humana.

A palavra razão origina-se de duas fontes, da palavra latina ratio e da palavra grega lógos. Ratio vem do verbo reor, que quer dizer contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular. E lógos vem do verbo legein, que quer dizer contar, reunir juntar, calcular. Temos, portanto, verbos

que nos ajudam a pensar ordenado e a usar a linguagem para expressar essas ideias.

A razão, portanto, se expressaria na capacida-de de organizar, criar e proporcionar a liberda-de e a autonomia da escolha, da criação. E a irracionalidade seria sua negação. A negação dessa racionalidade nos levaria a um processo irracional expresso no desrespeito à vida atra-vés da violência, da fome, da violação dos di-reitos sociais, dentre outros.

O caminhar pela irracionalidade é, de certa forma, desrespeitar o que é mais humano em cada um de nós. É negar ao homem o seu po-der de se reconhecer senhor de si e do mun-do através da liberdade e da autonomia, que pressupõeumaresponsabilidadeconsigo,como outro e com o mundo.

Todasessasindagaçõesemrelaçãoaoconceitode razão nos remetem a buscar compreendê--la nas formas através das quais é empregada na sociedade, tendo em vista que ela é uma presença em nosso mundo ocidental.

Cotidianamente, ouvimos as seguintes expres-sões:Eutinharazãoquandolhefaleidoperigoem realizar esse negócio; Ele não tinha razão em afirmar essas coisas; Ele não tem razão paracancelaressescontratos;Quaisasrazõesque levaram você a cometer esse desatino?; Aobuscarasrazõesdesserompimento,pudeperceber que você não tinha razão em fazê-lo.

Essaseoutrasexpressõescomumenteutiliza-das no dia-a-dia apresentam mais que uma maneira corriqueira da linguagem, ela expres-sa a capacidade moral e intelectual dos seres humanos de conhecer a realidade. Com isso, encontramos na palavra razão, empregada de diferentes modos no dia-a-dia, uma expressão bastante popular carregada de sentidos, po-dendo assumir, dentre outras, a ideia de moti-vo, certeza ou causa.

A importância das discussões em torno darazão mobiliza, há séculos, grandes filósofos e escritores no mundo inteiro. Um exemplo dessa inquietação encontra-se num dos textos do poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage. O autor apresenta, em seus poe-mas escritos, depois de sua prisão, uma luta

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15constante entre a razão iluminista e a emoção. Nessa luta dolorosa e angustiante, a emoção sobrepuja a razão, como se pode ver no frag-mento do soneto abaixo:

Importuna Razão, não me persigas;Cesse a ríspida voz que em vão murmura,

Se a lei de Amor, se a Força da ternuraNem domas, nem contrastas nem mitingas.

Se acusas os mortais, e os não obrigas,Se, conhecendo o mal, não dás a cura,

Deixa-me apreciar minha loucura;Importuna Razão, não me persigas.

As palavras do poeta português evidenciam o conflito travado entre a razão e a emoção, que se consolidam no período do Renascimento. A recusa de uma verdade única levou, no sécu-lo XVII e XVIII, a uma investigação de cunho filosófico. De um lado, encontravam-se os de-fensores da perspectiva racionalista e de ou-tro, os empiristas. Enquanto os racionalistas, como René Descartes, buscavam na razão os recursos para recuperar a certeza científica, de outro, os empiristas preconizavam uma ciência sustentada na observação e experimentação e que formularia indutivamente as suas leis, par-tindodecasossingularesegeneralizações.

A razão parece dominar seus adversários, en-quanto almeja tornar claro o que existe, trazer tudo à sua linguagem e busca incluí-lo em sua unidade. E nessa construção, vai ocupando um lugar de destaque em relação às demais formas de conhecer a verdade. Para a Filoso-fia, ela opera seguindo certos princípios que estabelecem e que está em concordância com a própria realidade.

Esses princípios, segundo Marilena Chauí (2004, p.63), são: Princípio da identidade (afirmação que uma coisa, seja ela qual for, só pode ser conhecida e pensada, se for percebi-da e conservada com sua identidade, ou seja, apartirdesuasdefinições);Princípiodanão--contradição ou Princípio da contradição (afir-mação que algo é negado e afirmado ao mes-mo tempo e na mesma relação); Princípio do terceiro excluído (há apenas duas alternativas, certo ou errado, não há uma terceira possibi-lidade); Princípio da razão suficiente ou Prin-cípio da causalidade (afirmação de que para tudo o que existe ou acontece há uma causa).

Cada princípio nos ajuda a compreender nosso pensamento a partir de uma lógica, necessária à manutenção dos limites entre razão e des-razão.

A atualidade, embora tenha promovido a des-construção de alguns elementos de conflito entre razão e emoção, ainda mantém a razão num lugar de destaque dentro do mundo oci-dental, revestindo-a de grande poder. As crí-ticaseascontradiçõespostas levam-naa re-construir permanentemente o seu conceito.

Ao afirmarmos que as diferenças em torno do conceito de razão não só marcam uma diversi-dade de sinônimos utilizados pelos indivíduos emsua linguagem,atravésdesituaçõescoti-dianas, mas apresentam um esforço do Oci-dente em manter viva a ideia de que nossa consciência abriga os pensamentos e os atos fundados na razão. Não estamos somente com isso reafirmando a aposição entre razão, ossentimentoseaspaixões.Estamosapresen-tando os limites que separam a consciência e a inconsciência.

Ao traçar e compreender um perfil desse sujei-to de conhecimento e de ação na qualidade de consciência reflexiva esbarra-se num outro ele-mento que nem a própria consciência foi capaz de conhecer. Este ser desconhecido, chamado de inconsciente, introduzido pela psicanálise, vem limitar “o poder soberano da razão e da consciência, além de descortinar a sexualidade como força determinante de nossa existência, nosso pensamento e nossa conduta” (CHAUÍ, 1997, p. 355).

Se de um lado encontramos a consciência como atividade racional, que conhece a si mesma, e do outro lado, o inconsciente, que abriga o desconhecido, o que não podemos controlar, devemos considerar que não temos domínio total sobre nossa inconsciência, pois ela é fruto de sua ‘desrazão’, sua ‘negação’, sua ‘irracionalidade’.

As discussões em torno da razão humanapermanecem presentes e mobilizam até hoje grandes estudiosos, filósofos, cientistas nesse processo. E, você, estudante se sente inquieto quanto pensa na razão?

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16E, agora, depois desse breve passeio pelas in-dagações sobre a razão, podemos, de fato,considerá-laacimadassensaçõesesentidos?Ou devemos percebê-la como uma das formas de conhecer?

1.1. APologiA DA rAZÃo

A razão humana, ao ser compreendida como uma maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível, carrega a crença dos racionalistas de que os princípios lógicos seriam inatos na mente do homem. Daí por que a razão deve ser considerada como a fonte básica do conhecimento. Sua função é explicativa, e sua finalidade é buscar a verdade.

Para o filósofo racionalista René Descartes (2006, p.35), quer estejamos desperto, quer dormindo, jamais devemos nos deixar conven-cer, a não ser pela evidência de nossa razão.

O projeto cartesiano buscava encontrar uma base sólida para servir de alicerce a todo co-nhecimento. Descartes não distinguia a Filoso-fia das outras ciências. Para isso, elaborou uma espécie de autobiografia. Em seu livro Discurso do método, ele escreve, na primeira pessoa, os fatoseasreflexõesqueofizerambuscarumprincípio seguro para edificar as ciências. Ao descrever os passos de seu método, caminha da dúvida sistemática à certeza da existência de um sujeito pensante.

René Descartes, considerado o maior expoente do chamado ‘racionalismo clássico’ dá conti-nuidade ao dualismo platônico, por reconhe-cer que a problemática do conhecimento en-volvia o homem e o mundo, sujeito e objeto, optando por solucionar a questão através do sujeito. O homem é colocado no centro da questão como sujeito no mundo objetivo.

Para ele, o filósofo deve rejeitar como falso tudo aquilo em que se possa supor a menor dúvida. A dúvida deve fazer parte de seu per-curso em busca da verdade. A dúvida é um momento necessário à descoberta da subs-tância pensante, da realidade do sujeito que pensa.

Nesse momento, chegamos a um dos pontos essenciais no pensamento de Descartes, a evi-dência do sujeito pensante. Em sua dúvida me-tódica, ele atingiu a confirmação da existência real do homem, expressa na frase latina cogito ergo num (penso logo existo). É, portanto, o cogito a certeza de que o sujeito pensante tem sua existência enquanto tal.

Embora o cartesianismo tenha influenciado as geraçõesnomomentodasdiscussõessobrearacionalidade, não foi esse seu limite. Encon-tramos um outro grande filósofo que tomou a razão como objeto de investigação, seu nome: Emanuel Kant. Para ele, era impossível uma ra-zão pura, independentemente da experiência e, por outro, que a experiência não se concre-tiza sem as formas a priori da razão.

Ao tratar do conhecimento, Kant considerou que não devemos partir da realidade interna (coisa ou substância pensante - Descartes) nem externa (mundo ou natureza - Empiristas) e, sim, do estudo da própria faculdade de co-nhecer ou estudo da razão. Isso significa que o nosso conhecimento deve regular, explicar, conhecer o objeto e não, o inverso.

Dessa forma, o conhecimento, diz Kant, não é o reflexo do objeto exterior. É o próprio es-pírito humano que constrói, com os dados do conhecimento sensível, o objeto do seu saber.

Devemos primeiro e, antes de tudo, estudar o que é a própria razão e indagar o que ela pode e o que não pode conhecer, o que é a experi-ência e o que ela pode e não pode conhecer. Pois, é o nosso conhecimento que deve regular os objetos e não, o contrário. Porque os obje-tos se adaptam ao conhecimento e não o co-nhecimento, aos objetos, ou seja, a razão deve sempre ser o centro e não a periferia.

Os pensamentos de Descartes e Kant, dentre outros,trouxerammuitascontribuiçõesparaotema da razão. Mas, todos nós estamos desa-fiados para contribuir nessa discussão. E, você, o que poderia contribuir nessa jornada?

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ATiViDADe 1

1. Vamos discutir sobre o conceito de razão. Para isso, siga alguns passos.

a) Crie dez frases que apareçam a palavra razão.

b) Organize as frases em grupo de acor-

do com o significado que cada palavra toma no texto.

c) O que podemos concluir. Escreva suas considerações.

2. A VerDADeA busca pelo conhecimento levou os seres hu-manos no mundo ocidental, a trilharem o ca-minho da racionalidade. Para os racionalistas modernos, o verdadeiro conhecimento passa pela liberação do nosso espírito ou consciên-cia, dos preceitos e dos dogmatismos presen-tes em nossa opinião e em nossa experiência cotidiana.

Épreciso submeter as sensações ao julgodenossas consciências cabendo à formulação de juízos verdadeiros relacionar a ideia e a coisa e entre a coisa e a ideia. Isso significa aproxi-mação máxima entre o conceito (ideia) e o ser (objeto).

Em outras palavras, a ideia e o objeto, embora imbricados, não perdem sua natureza. Um não elimina o outro nem tão pouco o incorpora. Cada um é preservado em sua essência. Quan-do vemos o limão, podemos imediatamen-te relacioná-lo a um de seus elementos, o sabor azedo, quando provamos o açúcar, relacionamo-lo ao seu sabor doce. Mas, limão e açúcar não são a mesma coisa que azedo e doce, ambos possuem uma natureza diferen-te. Ou seja, o conhecimento produzido sobre o objeto resulta da descoberta por nós de suas causas, qualidades, propriedades e relaçõessobre a coisa conhecida.

Conhecer é percorrer um caminho em busca de uma explicação racional e verdadeira. Mas, o que significa um conhecimento verdadeiro?

O que significa a verdade? Começaremos a pensar nessa pergunta, tomando, para análi-se, um dos mais polêmicos diálogos de nossa história. O diálogo entre Jesus Cristo e Pilatos.

Disse-lhe Pilatos:__ Então, tu és rei?Respondeu Jesus:__ É o que dizes. Eu sou rei: para isso nasci, para isso vim ao mundo, para testemunhar a verda-de. Quem está a favor da verdade, escuta a minha voz.Diz-lhe Pilatos:__ Que é verdade?E dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus,E disse-lhes: Não acho nele crime algum.João, 18 37-38

Ao indagar Cristo sobre a verdade, Pilatos bus-cava confrontar os depoimentos dos Sumos Sacerdotes que o acusavam de se autodeter-minar rei e a figura daquele homem que não ostentava a riqueza material própria dos reis. Não estava clara para Pilatos a relação entre a ideia de revolucionário, descrita pelos líderes judeus, e o comportamento e a imagem do homem pacífico que se coloca em sua presen-ça. Era contraditória a relação entre a palavra e o objeto. Portanto, como ele não encontrou uma lógica, não se convenceu da verdade. La-vou as mãos num gesto de abstenção.

Em outro trecho do livro de João, capítulo qua-torze, versículo cinco e seis, Jesus se apresenta como a verdade.

Diz-lhe Tomé:__ Senhor, não sabemos aonde vais.Como podemos conhecer o caminho?Diz-lhe Jesus:__ Eu sou o caminho, a verdade e a vida: ninguém vai ao pai, se não for por mim.

Nesse segundo trecho da bíblia, há uma cla-reza do conceito de verdade apresentada por Jesus Cristo. Ele se apresenta como a verdade, como a certeza, como o caminho para onde o homem deve seguir, se desejar encontrar a verdade para a sua vida.

Ao observarmos os dois trechos do Evangelho de João Evangelista, podemos perceber que a verdade está relacionada ao Deus do Cristianis-mo e a seu filho Jesus Cristo. Com isso, é pos-sível reconhecer a forte presença da tradição hebraica no conceito de verdade que ainda hoje carregamos em nós.

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18Em hebraico, verdade é emunah que signifi-ca confiança. A verdade está na confiança que depositamos nas pessoas e em Deus. Só eles cumprem o que prometem, porque são fiéis às palavras, ao pacto feito. Eles não traem a confiança, são fiéis a ela.

As promessas de Deus e dos homens são re-presentaçõesdaverdade.Comisso,encontra-mos um primeiro significado da palavra ver-dade. Mas, para a Filosofia, a verdade nasce da decisão e da deliberação de encontrá-la. Assim, ela também carrega fortes influências do Grego e do Latim.

Para os gregos, alétheia ou verdade representa o não esquecido, o não escondido. É, portan-to, a contemplação o que se manifesta ou se mostra para os olhos do corpo e do espírito. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade. É o que é visível ao nosso espírito, ou seja, a nossa consciência.

A verdade em latim se diz veritas que represen-ta a precisão, o rigor e à exatidão de um relato, no qual se declaram, com detalhes, pormeno-res e fidelidade o que realmente aconteceu. A verdade compreendida como um relato preci-so dos fatos reais.

Reconhecer as origens do conceito de verda-de nos ajuda a compreender melhor os dife-rentes significados que damos a ela. Assim, foi possível perceber que, quando falamos de verdade, estamos nos referindo a um conjun-to de conceitos que, ao longo do tempo, foi construído e que hoje professamos como ver-dade ou verdadeiro.

O conceito de verdade se encontra na identi-dade guardada em cada ser. Se uma coisa se torna contrária a seu ser deixará de existir, e, em seu lugar, haverá nada. Não é possível ao lógos, que significa linguagens-discurso e pen-samento-conhecimento, opor-se a sua própria construção.

Uma vez mais chegamos ao momento de du-vidar, de conhecer. E você, já pensou sobre o que é verdade?

ATiViDADe 2

1. Conhecer a verdade é o desejo da huma-nidade no momento que busca produzir o conhecimento. É possível então afirmar que os diferentes conhecimentos são resul-tados de diferentes verdades? Justifique.

3. A lÓgiCAAs dúvidas filosóficas têm mobilizado os hu-manos a percorrerem caminhos muito adver-sos. Mas é na Filosofia grega que o esforço do pensamento encontra sua maior batalha. Através dos dois grandes filósofos Heráclito e Parmênides é que a discussão em torno dos seres toma relevância.

Segundo Chauí (2004, p. 105),

O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo em que nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário.

Heráclito de Éfeso apresenta que a contradi-ção é responsável pela ordem racional do uni-verso. Para ele, percebemos pelo sentido um mundo estável e permanente, mas nosso pen-samento é capaz de encontrar o movimento das coisas, suas contradições, pois tudo setorna contrário de si mesmo. Quando pensa-mos na vida, estamos também nos referindo ao seu contrário, a morte ou vice-versa. Nada no mundo se encontra numa única forma ou fase. O mundo é movimento, é conflito. Ne-gar este fato é reconhecer as mudanças pre-sentes nas aparências.

Marilena Chauí(2004, p.105) também apre-senta que é Parmênides que constrói uma ex-plicação diferente de Heráclito.

O Ser, dizia Parmênides, é o logos porque sem-pre idêntico a si mesmo, sem contradições,imutável e imperecível.

Para Parmênides, ao confundirmos as nossas sensações,percepçõeselembrançascomare-alidade, construímos uma falsa compreensão da permanência.

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19O pensamento e a linguagem verdadeira só são possí-veis se as coisas que pensamos e dizemos guardarem a identidade, forem permanentes, pois só podemos dizer e pensar aquilo que é sempre idêntico a si mes-mo. Se uma coisa torna-se contrária a si mesma, dei-xará de ser e, em seu lugar, haverá nada, coisa nenhu-ma, pois o que se contradiz se autodestrói (CHAUÍ, 2004, p. 105).

Na posição de Heráclito e Parmênides, a ideia em torno do conhecimento da realidade mos-tra que ambos possuem razão, embora estas ideias se encontrem em lados diferentes. En-quanto Heráclito afirmava que o pensamento deve ser um fluxo perpétuo e a verdade é a perpétua contradição dos seres em mudança contínua, Parmênides também tinha razão, ao afirmar que o mundo em que vivemos não tem sentido, não pode ser conhecido, é uma apa-rência impensável, e nos faz viver na ilusão.

Esse conflito de ideia levou a Filosofia a criar duas disciplinas filosóficas: a lógica e a metafí-sica ou ontologia. A lógica foi criada por Aris-tóteles, também chamada de analítica, que significava um instrumento para o exercício do pensamento e da linguagem. Essa nova disci-plina apresentava as características necessárias a um tipo específico de conhecimento (ou foi utilizada para esse tipo de conhecimento), o conhecimento da ciência.

A lógica aristotélica desejava disciplinar e or-denar a linguagem e o pensamento em termos coerentes e universalmente válidos. Por isso, o conjunto de suas obras recebeu o nome de Órganon, que significa instrumento, meio pelo qual se chega à coerência do pensamento. Foi no Órganon que Aristóteles construiu uma explicação de como se chega à coerência do pensamento.

A lógica aristotélica segue algumas caracte-rísticas: instrumental (o pensamento e a lin-guagem são instrumentos do pensar e dizer corretamente); formal (a forma pura e geral dospensamentos,expressõespormeiodalin-guagem); propedêutica ou preliminar (o que devemos conhecer, antes de iniciarmos uma investigação científica ou filosófica); norma-tiva (fornece princípios, leis, regras e normas que todo pensamento seguir, se quiser ser verdadeiro); doutrina de prova (condições efundamentos necessários de todas as demons-

trações);geraleatemporal(asformasdopen-samento, seus princípios e leis são universais, necessários e imutáveis). Ela dominou, prati-camente, todo o espírito medieval, através do qual tudo acontecia por meio de linguagens silogísticas.

O silogismo é a expressão mais autêntica da atual lógica de Aristóteles. Ele é uma teoria do raciocínio como inferência, que significa obter uma proposição que antecedem, resultando em sua explicação ou sua causa.

Para Aristóteles, o raciocínio realiza inferências. Raciocínioesilogismosãooperaçõesmediatasde conhecimento, pois inferência significa que só conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio ou pela mediação de outras coisas. Ele distingue dois tipos de silogismos: os dialéticos e os científicos.

Os silogismos dialéticos são aqueles, cujas pre-missas se referem ao que é apenas possível ou provável, ao que pode ser de uma maneira ou de uma maneira contrária e oposta ao que pode acontecer. Suas premissas são hipotéti-cas e, por isso, sua conclusão, também, é hi-potética.

No silogismo científico, não se admite premis-sas necessárias. Suas premissas são universais, e sua conclusão não admite discussão ou re-flexão, mas exige demonstração. Isso signifi-ca que os silogismos científicos são verdades indemonstráveis, evidentes e causais, organi-zadas em três tipos: axiomas (verdades inde-monstráveis que servem de base para todas as demonstraçõesdeumaciência);ospostulados(pressupostos de que se vale uma ciência para iniciaroestudodeseuobjeto)easdefinições(objeto da ciência investigativa é a explicação da coisa como é, por que é, sob quais condi-çõeselaé).

A idade moderna faz insurgir ideias que se contrapõemaoespíritodoÓrganon.FoiFran-cis Bacon o primeiro homem que construiu uma obra que ‘revisa’ as ideias aristotélicas. Sua obra intelectual foi chamada de Novum Órganon.

Para Bacon, o método indutivo (da observação dos fatos particulares para a formulação de leis

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20gerais),peloqualseinferemconclusõesapartirde princípios abstratos, é pouco eficiente para a descoberta de verdades a respeito do mundo real. Por isso, sistematizou, pela primeira vez, num novo método, uma nova maneira de pen-sar e, por conseguinte, uma nova lógica, para dirigir os sábios no contato com a natureza.

Esse novo método foi considerado um novo instrumento para se chegar à verdade cien-tífica, concreta. O resultado de sua pesquisa lógica foi a sistematização do método experi-mental, através do qual se devem pesquisar os fenômenos da natureza.

A obra aristotélica era basicamente dedutiva, sendo o protótipo do método dedutivo ma-temático, ao passo que a obra de Bacon re-presentava o espírito experimental e indutivo. Embora caminhando em direções opostas,dentro do campo da ciência, ambos os autores produziram obras de grande relevância para o estudo de Lógica.

Cada um de nós deve estar imaginando que todo conhecimento, para ser aceito, carrega uma lógica intrínseca. Isso é uma verdade, mas nem sempre está tão clara assim. Ela exige que nos debrucemos nosso pensamento sobre ela e, muitas vezes, encontremos seus pontos de ligação.

Ao trabalhar o conceito de lógica descobrimos que ela é um caminho para o pensar. Nosso desafio será realizar um exercício de lógica or-ganizado por Antônio Xavier Teles em seu livro introdução ao estudo de Filosofia. Vamos ler asorientaçõesebomtrabalho.

ATiViDADe 3

1. Com inferências, dedução e persistência do pensamento podemos chegar à conclu-são correta.

1. Temos cinco casas.2. O inglês vive na casa vermelha.3. O brasileiro é o dono do cachorro.4. Na casa verde se bebe café.5. O espanhol bebe chá.6. A casa verde está situada ao lado e à di-

reita da casa cinzenta. (“à direita” quer dizer: “à direita do leitor”).

7. O estudante de Psicologia possui macacos.

8. Na casa amarela se estuda Filosofia.9. Na casa do meio se bebe leite.10. O norueguês vive na primeira casa.11. O senhor que estuda Lógica vive na

casa vizinha à do homem que tem uma raposa.

12. Na casa vizinha à casa em que se guarda o cavalo, estuda-se Filosofia.

13. O estudante que se dedica a estudos sociais bebe suco de laranja.

14. O japonês estuda Metodologia.15. O norueguês vive na casa ao lado da

azul.

Pergunta:

2. Quem é que bebe água? E quem é o dono da zebra?

3. Podemos concluir com essa atividade que pensar lógico é pensar correto? Por quê?

4. A ÉTiCAUm elemento que hoje seguramente se define como necessário a pensar sobre o mundo, pro-duzido pelos humanos, é a investigação ética. Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófi-casobreoscostumesouaçõeshumanas.Mastambém a compreendemos como a realização de um tipo de comportamento.

A palavra ética vem do grego ethos, que sig-nifica costume. Ela também é chamada de Fi-losofiaMoralquerefletesobreasnoções,osprincípios e os fins que fundamentam a vida moral. Moral vem do latim mos, moris, que representa o conjunto de regras de conduta, assumido livre e conscientemente pelos indi-víduos, com a finalidade de organizar as rela-çõesinterpessoais,segundoosvaloresdobeme do mal.

A ideia de que podemos questionar ou indagar os costumes ou normas de nossa e de outras sociedades nos remete a perceber que a ética

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21pode se encontrar dentro da reflexão científica ou filosófica. No primeiro caso, sua investiga-ção caminha em direção a uma ciência nor-mativa ou descritiva (conhecer, apoiando-se em estudos de antropologia cultural e reflexão teórica com uma validade mais universal.), e, no segundo, ela busca conhecer os costumes de um povo.

Asquestõeséticasapresentadasacadaumdenós, no dia-a-dia, estão localizadas no tempo e no espaço, portanto, passíveis de mudanças e/ou permanências. Isto nos leva a aceitar que alguns costumes, antes considerados errados, podem hoje ser aceitos ou vice-versa.

A ética não é uma simples listagem de conven-çõessociais,porqueseassimfosse,nãoteriaa função de indagar sobre o comportamento humano, levando o homem a sua ‘perfeição’, aqui compreendida como uma vida livre e au-tônoma. Mas, ela é um esforço de teorizar so-bre a vida.

Esse esforço de pensar sobre a moralidade foi objeto de investigação de alguns dos grandes filósofos. O grego Sócrates e o alemão Kant são exemplos de autores que trataram desse tema.

A história de Sócrates é um exemplo do con-flito que envolveu a moralidade humana. Foi condenado à morte, bebendo veneno (cicuta), poriniciar,emseutempo,asindagaçõessobreos costumes consolidados em seu povo pela tradição. Ou seja, conjunto de valores aprendi-dos ao longo de sua história, que não permi-tem reflexão ou questionamento.

Ao utilizar em seus diálogos o método da mai-êutica (interrogar o interlocutor até que este chegue por si mesmo à verdade), foi acusado de seduzir a juventude, de desonrar os deuses e desprezar as leis da polis (cidade-estado).

Parece estranho aceitar que perante a atitu-de de indagar sobre os costumes, ou seja, de valorizar a ação de autonomia e liberdade do pensamento, Sócrates estivesse infringindo a lei. Apenas depois de vários séculos, ele foi reconhecido e considerado o fundador da mo-ral, justamente por valorizar o movimento de interiorização da reflexão.

O caminho do questionamento sobre a mora-lidade encontra-se também no filósofo Ema-nuel Kant. Para ele, a obrigação moral ou de-ver é uma necessidade de liberdade. Somente o dever obriga moralmente a consciência boa, que deve agir sempre e conforme o dever e por respeito ao dever. Em outras palavras, a moral deve estar no homem como base para a consolidação das leis, regras e costumes que ajudem ele e a sociedade a manterem uma convivência pacífica e não, uma estratégica de aprisionamento do homem pelos costumes que ele mesmo criou.

Ao buscar uma ética da validade universal que se apoiasse apenas na igualdade fundamental entre os homens, Kant voltou-se para encon-trarnohomemascondiçõesdepossibilidadedo conhecimento verdadeiro e do agir livre. Isso significa chegar a uma moral igual para todos; uma moral racional, a única possível para todo e qualquer ser racional.

A moralidade é, também, a racionalidade do sujeito, portanto, seu conteúdo ético encon-tra-se na forma do dever, como podemos per-ceber na formação do imperativo categórico criado por Kant. Para ele, o imperativo categó-rico tem este nome, por ser uma ordem formal, nunca baseada em hipóteses ou condições.Para Kant, a formulação clássica do Imperativo Categórico é a seguinte: devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal, ou age de tal maneira que a máxima de tua von-tade se torne universal.

Nessa breve exposição sobre o pensamento de SócrateseKantobservamosastransformaçõesem relação ao pensar ético-moral. Mas, essa indagação mobilizou outros autores, como: Platão e Aristóteles, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, Maquiavel e Spinosa, Hegel e Kikegard, Marx e Sartre.

O trato sobre o tema da ética e da moral é mais que um estudo, é um movimento em buscaderespostas.Ignorarasquestõeséticas,cuidando apenas de assuntos técnicos, como: trabalho, acumulação de riquezas, progredir na vida profissional, dentre outras coisas, não eliminanossasinquietaçõessobrecomodevoagir perante o outro e a sociedade.

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22Ao conhecer a ética como disciplina filosófica, descobrimos que ela não é uma simples forma de agir. Pelo contrário, o que a filosofia busca é conhecer, é indagar e nunca prescrever uma receita do agir ético-moral. Por isso, quando ouvir falar de temas como a ética profissional, fique alerta. Não se deixe levar pelas prescri-ções, use de sua capacidade de indagaçãopara dialogar com o outro sobre a melhor for-ma de agir.

ATiViDADe 4

1. A ética não é uma prescrição do agir certo. Como, então, agir moralmente?

2. Leia a história abaixo e dê sua opinião.

Preso homem que roubou caixão de funerária em olinda

Um homem foi preso depois de tentar roubar um caixão de uma casa funerária na rua do Sol, no bairro do Carmo, em Olinda, na noite da última Quarta - feira (28). Quando faziam a ronda no bairro, policiais escutaram um alarme disparar e, enquanto procuravam saber onde era encontraram, mais à frente, um homem carregando um caixão na cabeça.

Segundo os agentes, ao ser preso, Odovaldo Lino de Alencar alegou que faria uma brincadeira com o caixão, mas não especificou de que tipo seria ela. Os policiais telefonaram para a funerária e a dona da casa confirmou a falta do item, que custa R$ 450,00.

“Nunca vi uma ocorrência como essa em todo meu tempo de trabalho”, afirmou o soldado Luiz Paulo de Santana, presente na hora da ronda. “Não sei que tipo de brincadeira ele podia realizar com um caixão”, disse o soldado.

Odovaldo Alencar foi autuado em flagrante por furto. Os policiais levaram o caixão de volta à fune-rária.

da Redação do pe360graus.com http://pe360graus.globo.com/noticias360/matler.asp?newsId=82027 acesso em 02/03/2007

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A FilosoFiA e suA origem

oBJeTiVo gerAl

• Relacionaras idéiasdasescolas filosófi-cas com os modelos de educação.

oBJeTiVos esPeCÍFiCos

• Identificarasprincipaisescolasfilosóficasesuascontribuiçõesparaaeducação.

• Explicitar, em cada escola filosófica, omodelo de homem/mulher que se deseja formar.

• Relacionar as transformações na escolacom os modelos de mundo presente em cada escola filosófica.

CoNTeÚDos

• Idealismo• Existencialismo• Marxismo iNTroDuÇÃo

Nosso terceiro fascículo vem apresentar as principaiscontribuiçõesdasescolasfilosófi-cas para a educação, buscando identificar em cada uma delas seus principais concei-tos e seu modo de conceber o indivíduo e a escola. Para isso, selecionamos três esco-las filosóficas: Idealismo, Existencialismo e Marxismo.

Profa. Waldênia Leão de Carvalho Carga Horária I 10h

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24Cada escola estudada permanece até hoje, influenciando o modelo de formação que de-vemos seguir no momento em que educamos nossas crianças, nossos jovens e adultos. Por-tanto, estudar suas principais idéias e influ-ências é nosso maior desafio, principalmente quando desejamos entender e transformar os diferentes modelos de educação que encon-tramos em nossa sociedade.

As idéias filosóficas sobre Educação aqui ex-postas foram escolhidas para auxiliar você, aluno, a refletir sobre a educação e a cultivar o pensar crítico, reflexivo que todo educador deve preservar.

1. iDeAlismo

O idealismo é uma das escolas filosóficas mais antigas da cultura ocidental. Seus seguidores acreditam que as idéias são a única realidade verdadeira, devido a seu poder resistente e du-radouro, diferentemente da matéria ou mun-do material que se caracteriza pelas mudan-ças, pela instabilidade e pela incerteza.

O primeiro filósofo a discutir sobre a dicoto-mia entre idéia e matéria foi Platão em seus trabalhos organizados em forma de diálogos. Ele preocupava-se com a busca da verdade. Para ele, a verdade é perfeita e eterna, não po-dendo ser encontrada no mundo da matéria, devido a sua permanente mudança.

Em sua obra A República, Platão escreveu a res-peito da separação entre o mundo das idéias e o mundo da matéria. O mundo das idéias (ou forma) tem o Bem como seu ponto mais eleva-do, a fonte de todo conhecimento verdadeiro, enquanto o mundo da matéria que represen-ta o mundo dos dados sensoriais, está sempre mudando. A permanente mudança não deve ser objeto da crença humana. As pessoas ne-cessitam, tanto quanto possível, libertar-se da preocupação com a matéria, para que possam avançar em direção ao Bem.

O mundo das idéias e o mundo da matéria, embora diferentes, podem ser transcendidos pelo homem, através do uso da dialética. A dialética platônica é o caminho de discussão

crítica na qual se passa da mera opinião ao ver-dadeiro conhecimento (OZMON, 2004 p.28).

A dialética seria o caminho que possibilitaria os debatedores a chegarem mais próximos da verdade. Ela é concebida como veículo para auxiliar as pessoas a mudarem sua preocupa-ção com o mundo material para o mundo das idéias. Tudo isso porque ela é a arte do diá-logo ou a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos en-volvidos na discussão.

Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo de pensarmos ascontradiçõesdarealidade,omododecom-preendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação (KONDER, 2004, p. 8). O forte poder da dialética mobilizou e mobi-liza os indivíduos a trabalharem com a ação recíproca, com a contradição como base para consolidar suas idéias. Por isso ela serviu tão bem aos propósitos do idealismo.

Platão como representante do idealismo acre-ditava que as pessoas descobriam o conheci-mento, não o criavam. Isso significa dizer que o conhecimento verdadeiro está em nós, em nossa alma. Nós o perdemos no momento em que foi colocado em um corpo material que o distorceu. Essa forma de conceber o conhecimento dá-se o nome de doutrina da reminiscência.

1.1. iDeAlismo e eDuCAÇÃo

Os idealistas acreditam que a educação deve estimular os estudantes a se voltarem às coisas de valor duradouro. Isso significa buscar idéias verdadeiras, que exigem disciplina pessoal e caráter firme. Seu desafio educacional era for-mar indivíduos conhecedores e bons.

A ênfase idealista nas qualidades mentais e espirituais dos seres humanos levou muitos defensores dessa escola a centrarem-se no conceito de indivíduo e seu lugar na educa-ção. Essa forte tendência subjetiva não nega a relação entre a parte e o todo, ou seja, entre o Eu e a Sociedade.

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25O forte desejo pela verdade levou os idealis-tas a enfatizarem a mente sobre a matéria, enquanto os idealistas platônicos acreditavam que a verdade é eterna e perfeita e, para isso, propuseram uma educação que contemplasse as áreas, como a arte e as ciências, chegando à matemática e à filosofia. Os não platônicos acreditavam que a verdade era substancial e relativamente permanente. Esse segundo gru-po defendia os estudos religiosos e os clássicos como duas classes que contêm idéias dura-douras e resistentes.

Um outro grupo de idealista, representado por Kant, sustentava que havia níveis de verdade. Para ele, havia uma razão pura e uma razão prática. Enquanto isso, Hegel acreditava que a verdade estava em desenvolvimento, passando das idéias simples para as complexas. Embora as divergências sejam significativas, todos eles acreditavam que os seres humanos são seres pensantes, podendo variar, sem com isso per-der o sentido.

Essa forte ênfase nas qualidades mentais e espirituais dos indivíduos levou os idealistas a uma orientação educacional voltada ao sub-jetivo em detrimento do objetivo. Isso tornou marca e expressão do idealismo, principalmen-te através da crença de que a auto-realização é o objetivo final da educação. O subjetivismo é, sem dúvida, um braço forte do idealismo, mas, seguido deste, encontramos, também, a relação Eu e a Sociedade.

Os três grandes representantes do Idealismo, Platão, Santo Agostinho e Hegel, atrelavam o indivíduo a um elemento. Enquanto Platão não concebia o indivíduo separado de um pa-pel e um lugar na sociedade, Santo Agostinho não o compreendia sem a conexão homem--Deus. Hegel, por outro lado, sustentava que o indivíduo encontra seu verdadeiro significado ao servir ao Estado. Cada um a seu modo man-tém vivo o ideal subjetivista do idealismo.

O idealismo, sem dúvida, construiu um modo de conceber o homem e o mundo de uma ma-neira singular. Para isso, criou um modelo de formação humana marcada pelo estudo de clássicos ou de obras-de-arte que exprimam grandes idéias. O importante é fazer com que o indivíduo entre em contato com grandes ide-ais humanos.

No processo de aprendizagem, cabe ao pro-fessor e a escola o uso de estratégias didáticas que fortaleçam o desenvolvimento do pensar. Um exercício para o pensamento é a palestra, vista como forma de estimular o pensamento e não, como uma simples técnica de informação.

O principal objetivo do idealismo é ensinar os estudantes a pensarem, e, para isso, o currí-culo deveria proporcionar o contato da mente pensante com os conhecimentos que elevem o potencial do educando.

Dentro de um perfil educacional que prioriza o poder mental dos indivíduos, cabe aos profes-sores, segundo a corrente idealista, auxiliar os estudantes em suas escolhas e inflamá-los com um desejo de melhorar seu pensar na forma mais profunda possível.

Seu dever é encorajar os alunos a fazerem per-guntas e proporcionar um ambiente apropria-do para a aprendizagem.

As críticas ao Idealismo na educação encon-tram-se na forte preocupação em transmitir a herança cultural com as verdades eternas e es-senciais, sendo seu ponto principal.

A discordância em relação ao modo de conce-ber dos idealistas, o mundo e as pessoas, não nega o poder de suas idéias na educação em todos os tempos. Para isso, basta percebermos seus pontos fortes: o elevado nível cogniti-vo; a preocupação em preservar e promover a aprendizagem cultural; a preocupação em promover a moralidade e o desenvolvimento do caráter, sua visão de professor como pessoa reverenciada e central ao processo de educa-ção; a ênfase na auto-realização, nos aspec-tos humano e pessoal da vida e seu enfoque abrangente, sistemático e holístico.

O Idealismo como todas as outras escolas filo-sóficas tem muitas matizes, contudo compar-tilham certas tendências, como o desenvolvi-mento do caráter e a educação em geral.

2. eXisTeNCiAlismoO existencialismo é uma filosofia da educação, queoferece um lequede interpretações, de-

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26vido a sua difusão em muitas nacionalidades e contextos culturais diferentes. A crença exis-tencialista no indivíduo alienado, marginaliza-do e solitário, capturado em um mundo absur-do e sem sentido, levou os grandes estudiosos a debaterem esse tema.

Ao tratar da natureza do individualismo, os existencialistas utilizaram as obras do filóso-fo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche, que tentou estabelecer uma moralidade além da moralidade judaico-cristã. Ele acreditava que a moralidade tradicional tinha se domesticado demais, tornando os humanos muito fracos. A discussão nietzscheana era elemento central, para se pensar e discutir sobre a moralidade humana e as formas de conceber o indivíduo e a sociedade.

A posição de Nietzsche diferenciava-se em relação aos demais existencialistas que acre-ditavam que o individualismo é caracterizado pela ansiedade, pela falta de definição e pelo paradoxo. Essa diferenciação entre os repre-sentantes existencialistas levou, de um lado, à discussão sobre o poder do indivíduo em deci-dir a respeito dos rumos de sua vida, como é o caso de Nietzsche.

E, do outro, que essa escolha estivesse atrelada ao indivíduo subjetivo que realiza escolhas pes-soais, evitando a exigência científica de provas objetivas, como é o caso de Soren Kierkegaard.

O filósofo Kierkegaard estava interessado na existência humana individual. Para ele, deverí-amos chegar ao entendimento de nossa alma, de nosso destino e da realidade de Deus. Pen-sava que o indivíduo fazia escolhas na vida que não podem fazer sozinhos e pelas quais devem ter total responsabilidade.

Ao tratarmos da existência humana ou da condição humana, encontramos um outro re-presentante existencialista, Martin Buber, que defendia a idéia do respeito mútuo e da digni-dade entre todos os homens. O forte humanis-mo de Buber chegou até a educação, através de seus escritos sobre ela, em especial, a natu-reza da relação professor e estudante.

O que Buber realmente desejava era o tipo de educação em que o professor e o estudan-te, embora diferindo em tipos e quantidades

de conhecimento, estivessem em condiçõesiguais, no mínimo, em termos de sua humani-dade (OZMON e CRAVER, 2004, p. 245).

A obra de Martin Buber, I and Thou (Eu e Tu), é marco para a discussão do indivíduo como capaz de relacionar-se e identificar-se com o mundo externo. Trata-se de um trabalho que buscaatingirasrelaçõeshumanas.

Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre são outros dois grandes representantes do existencialis-mo. Heidegger desenvolveu uma metodologia conhecida como hermenêutica ou a interpre-tação da experiência de vida. Em muitos mo-mentos, afirmava que sua principal categoria de investigação era o Ser e não, o indivíduo solitário marginalizado. Ele queria dizer com isso que estudar o “ser no mundo” ou a ex-periência vivida no nível do ambiente (mundo) individual era basear sua análise no indivíduo que interpreta e constrói um mundo de signi-ficados pessoais. Ao indagar sobre o seu Eu ou sua existência no mundo, os homens e as mulheres não encontram as respostas nas ex-periências, mas tão somente em si próprios.

A discussão da condição humana foi tratada por Sartre, através de várias obras, em espe-cial, L’Être et le néant (O ser e o Nada), na qual investigou a consciência (ser para si) e os obje-tos da consciência (seres em si).

O ser para si sempre transcende, nega ou vai além do ser em si. Isso significa que a individualidade ou a consciência humana é livre. De certo modo, pode--se dizer que a consciência lida com o significado das coisas, e não, com a objetividade crua ou as coisas em si (OZMON e CRAVER, 2004, p. 246).

Sartre concebia a existência humana como algo sem sentido, pois, se existe algum sentido nela, foi porque construímos. Esse forte pessi-mismo marca uma crença no não determinis-mo, ou em outras palavras na crença de que a humanidade é absolutamente livre, podendo escolher e fazer o que deseja, pois não há es-sência, apenas, sua existência.

2.1. eXisTeNCiAlismo e eDuCAÇÃo

As idéias existencialistas na educação dão ên-fase ao indivíduo e a seu poder de criação de

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27idéias. Primeiramente vêm os indivíduos, de-pois, as idéias por ele criadas, que se tornam relevantes quando atendem às necessidades do sujeito. Ou como falava Sartre, a existên-cia precede a essência. O homem é, portanto, responsável pela criação de conceitos bons, como: paz, verdade, justiça e ruins, como: ra-cismo, guerra, fome. Se ele é criador, deve ser responsável pela sua criação tanto em forma deconceitosquantodeações.

Na educação existencialista, há uma concen-tração na realidade humana individual. O ho-mem é visto como ser único no mundo, não apenas como criador de idéias, mas também como um ser vivo e sensível. Enquanto ser humano, encontra-se permanentemente em transição, por isso o desafio da educação é mantê-lo inquieto, indagador sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. Em outras palavras, sobre sua existência no mundo.

A ênfase na individualidade é para os existen-cialistas o caminho do indivíduo em conhecer--se a si mesmo. Esse é um modo de promo-ver o exame do irracional como do racional. A educação verdadeira deve ensinar às crianças a diversidade da vida, sejam boas ou más, ra-cionais ou irracionais. O que realmente uma educação na perspectiva existencialista deseja é levar o ser humano a tornar-se humano.

A formação da criança e do jovem deve res-peitar seu ser único. Seu modo singular de es-tar no mundo. Por isso, não é possível pensar num único modelo de educação para todas as crianças. Cabe-lhes o poder de decidir a me-lhor educação.

Dentro desse modelo de escola, o professor aparece como responsável por desenvolver um ambiente educacional que promova a consci-ência do passado e do presente bem como de possibilidades futuras. Tudo isso através de um ensino que promova a autonomia, expressa através da boa linguagem e no conhecimento necessário a pensar e a agir no mundo.

Esse esforço do existencialismo em pensar o indivíduo a partir da sua existência no mun-do e não de uma criação do que seja homem e mundo, leva a sua proposta educacional a pensar o homem no mundo e não, o homem do mundo.

3. mArXismoO marxismo é considerado uma filosofia de grande controvérsia.As razões se encontramno poder das idéias de seu criador Karl Marx empromover algumasdas revoluções sociaise políticas na história do século XX. As obras de Marx apresentam-se marcadas de um lado, por um período humanista e do outro, por um revolucionário.

A base de sua fundamentação teórica se en-contra nas idéias materialistas de tradição bri-tânica e francesa. Do materialismo britânico e de seus autores Francis Bacon, Thomas Hob-bes, Jonh Locke, o marxismo herdou a crença de que a criação de um novo conhecimento pode promover avanços no bem-estar e no progresso do ser humano. Ele também co-mungava da idéia de que se a natureza huma-na pode ser moldada, então é possível moldar asociedadeeasinstituiçõeshumanas.

Do materialismo francês e de seus autores Étienne Condillac e Claude Adrien Helvétius, Marx herdou a idéia de que os processos do pensamentohumanosãoquestõesdeexperi-ência e hábito e que, portanto, todo o desen-volvimento da humanidade depende da edu-cação e do ambiente.

Segundo Ozmon e Craver (2004, p 308),

Marx foi influenciado por importantes elementos das filosofias materialistas. Um deles foi a visão de que a ciência deveria ser usada para transformar as circuns-tâncias da vida humana. Aliada a isso, estava a visão de que a percepção e o conhecimento humano estão baseados na experiência dos sentidos com o mundo material. Finalmente, as noções de perfectibilidadehumana e a possibilidade de progresso social, atra-vés de mudanças no mundo material, influenciaram Marx profundamente. As influências sofridas pelo marxismo levaram à consolidação de uma concepção de mundo e de indivíduo que marcou profundamen-teasdiscussõessobreavidaemsociedade.

Aorelacionarmosascontribuiçõesmarxistasàsquestões educativas, podemos perceber que,embora Marx não tenha escrito muito sobre a educação, suas idéias influenciaram os educa-dores marxistas. Principalmente porque discor-dava da concepção materialista mais antiga e mecanicista, que afirmava que as pessoas são o produto das circunstâncias e da educação.

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28Para ele, as pessoas mudam as circunstâncias, cabendo também aos educadores cuidar para que seus educandos tenham as ferramentas necessárias para essa batalha.

No Brasil, muitos educadores comungavam das idéias marxistas, entre eles, o educador Paulo Freire, que fortemente foi influenciado pelas idéias marxistas. Baseou suas idéias nos conceitos marxistas de alienação, transforma-ção, luta de classes, opressor, oprimido, dentre outros. Num dos seus primeiros livros, Peda-gogiadoOprimido,elepropõeumavisãodaeducação baseada na libertação e no diálogo. 3.1. mArXismo e eDuCAÇÃo

O marxismo como filosofia da educação carre-ga os ideais marxistas de superação da aliena-ção através da libertação da atividade huma-na consciente e vital, colocando os indivíduos de volta ao controle do seu próprio trabalho. Tudo isso, partindo de uma educação que for-me o indivíduo livre.

Um dos objetivos do marxismo “original” era formar uma consciência socialista e, para isso, era necessário formar uma sociedade socialis-ta. Nesse sentido, o currículo da escola não po-deriatrazerdistinçõesdeclasse.Pelocontrário,deveria servir para que a classe proletária supe-rasse as formas de opressão.

O marxismo primitivo construiu uma pro-posta curricular baseada em três partes: uma educação mental, uma educação física e um treinamento tecnológico (prático nos ofícios e princípios gerais do processo de produção). Nesse modelo de educação marxista, é lega-do ao professor um forte papel na formação dos educandos, cabendo a ele transformar as crianças em líderes através de uma formação que lhes possibilitasse entender sobre os as-pectos políticos ligados às disciplinas do currí-culo escolar.

Na atualidade, as idéias marxistas ou neomar-xistas na educação trazem, para dentro do de-bate educacional, os conceitos de ideologia, de reprodução cultural e social, de poder, de classe social, do Capitalismo, relações sociaisde produção, conscientização, emancipação e libertação, dentre outros como parte necessá-ria, para se consolidar, dentro da escola, um novo modelo de aluno e uma nova concepção de sociedade.

[...] ao deslocar a ênfase dos conceitos simplesmente pedagógicos de ensino e aprendizagem para os con-ceitos de ideologia e poder, por exemplo, nos permi-tiram ver a educação de uma nova perspectiva (SILVA, 2003, p. 17)

Dentreoutrascoisas,umadascontribuiçõesdomarxismo foi ajudar os indivíduos e a socieda-de a compreenderem que há forças as quais, em luta, constroem o modelo de mundo e de sujeito. Como bem lembrou Henry Giroux, é preciso perceber o marxismo como uma forma de perceber e ler o mundo, na qual o discur-so esteja vinculado ao espírito de investigação crítica.

ATiViDADes

1. Ao final de nosso último capítulo, conhe-cemos três grandes escolas filosóficas que influenciaram a educação. Esse é o mo-mento de registrar nossas aprendizagens sobre os temas estudados. Construímos três blocos de atividades. Escolha dois blo-cos, responda e os envie.

• Bloco 1 Construa um quadro comparativo

entre idealismo, existencialismo e mar-xismo, apresentando seus principais conceitos e suas contribuições para aeducação.

• Bloco 2 Releia, no fascículo das três escolas filo-

sóficas, a proposta de formação do su-jeito e teça um comentário sobre elas.

• Bloco 3 Leia o trecho abaixo e teça um co-

mentário.

“Fala-se da crise da escola, como se ela exis-tisse desgarrada do contexto histórico-social, econômico, político da sociedade concreta onde atua; como se ela pudesse ser decifrada sem a inteligência de como o poder, nesta ou naque-la sociedade, se vem constituindo a serviço de quem e desservindo a quem, em favor de quê e contra quê”.

(Paulo Freire. Apresentação do livro de Babette Harper et al., cuidado escola.)

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HERMANN, Nadja. Hermenêutica e Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

KONDER, Leandro. O que é dialética. São Pau-lo: Brasiliense, 2004.

MARÍAS, Julián. História da Filosofia. São Pau-lo: Martins Fontes, 2004.

MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia: pro-blemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus, 1980.

NOVAES, Adauto. Ética. São Paulo: Compa-nhia das Letras: Secretaria Municipal de Cul-tura, 1992.

OZMON, Howard A. & CRAVER, Samuel M. Fundamentos Filosóficos da Educação. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: para alunos dos cursos de graduação. 2 ed. São Paulo:EdiçõesLoyola,2004.

REVISTA Discutindo Filosofia. Ano 1 nº 4 São Paulo, 2006.

________. Ano 1 nº 2 São Paulo, 2006.

REVISTA Filosofia: ciência & vida. Ano 1 nº 1 São Paulo, 2006.

________. Ano 1 nº 3 São Paulo, 2006.

ROUANET,SérgioPaulo.AsrazõesdoIluminis-mo. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

SUCHODOLSKI, Bogdan. A Pedagogia e as gran-des correntes filosóficas: a pedagogia da essên-cia e a pedagogia da existência. Tradução Ru-bens Eduardo Frias. São Paulo: Centaurus, 2002.

TELES, Antônio Xavier. Introdução ao estudo de Filosofia. 18 ed. São Paulo: Ática, 1981.

TUGENDHAT, Ernst. Lições sobre ética. 3 ed.Petrópolis; RJ: Vozes, 1996.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 8 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.

ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento e teo-ria da ciência. São Paulo: Paulus, 2005.

sugesTões• LIVROS

GAARDNER, Jostein. O mundo de Sofia. Com-panhia das Letras.

ROSENFIELD, Kathrin Holzermayr. Sófocles. Jorge Zahar.

PAPPAS, Nickolas, A república de Platão. Edi-ções70.

VIDAL-NAQUET, Pierre. O mundo de Homero. Companhia das Letras.

HOMERO. Ilíada. Martin Claret, 2003.MORE, Thomas. A Utopia. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005.

NIETZSCHE, Friedrich. Para além do bem e do mal: prelúdio a uma Filosofia do futuro. São Paulo: Editora Martinh Claret, 2005.

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30DELEUZE,Gilles.AcríticadeKant.Edições70.

HESSEN, Johannes. Filosofia dos valores. Alme-dina.

KELLY, Kevin; PERINE, Mrcelo; CAHILL, Lisa So-wle.QuatroliçõesàéticadeAristóteles.

PERISSE, Gabriel. Filosofia, ética e Literatura. Monole.

PLATÃO. O banquete. Difel (Brasil).

________. Apologia de Sócrates. Martin Claret.

________. A república. Edipro.

________. Alegoria da caverna. LGE.

RACHALES, James. Os elementos da Filosofia Moral. Manole.

• FILME1. Matrix (The Matrix)Título Original: The MatrixGênero: Ficção CientíficaTempo de Duração: 136 minutosAno de Lançamento (EUA): 1999Site Oficial: www.whatisthematrix.com Estúdio: Village Roadshow ProductionsDistribuição: Warner Bros.Direção: Andy Wachowski e Larry WachowskiRoteiro: Andy Wachowski e Larry WachowskiProdução: Joel SilverMúsica: Don DavisDireção de Fotografia: Bill PopeDesenho de Produção: Owen PatersonDireção de Arte: Hugh Bateup e Michelle Mc-GaheyFigurino: Kym BarrettEdição: Zach StaenbergEfeitos Especiais: Mass. Illusions, LLC / Manex Visual Effects / Amalgameted Pixels

2. O nome da rosaTítulo Original: Der Name Der RoseGênero: SuspenseTempo de Duração: 130 minutosAno de Lançamento (Alemanha): 1986Estúdio: Cristaldifilm / France 3 Cinéma / Les Films Ariane / Neue Constantin Film / Zweites Deutsches FernsehenDistribuição: 20th Century Fox Film Corporation

Direção: Jean-Jacques AnnaudRoteiro: Andrew Birkin, Gérard Brach, Howard Franklin e Alain Godard, baseado em livro de Humberto EcoProdução: Bernd EichingerMúsica: James HornerFotografia: Ronino Delli ColliDesenho de Produção: Dante FerrettiFigurino: Gabriella PescucciEdição: Jane Seitz

3. A guerra do fogoTítulo Original: La Guerre du feuGênero: ComédiaTempo de Duração: 81 minutosAno de Lançamento (FRA/CAN): 1981Direção.: Jean-Jacques Annaud. Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Name-er El Kadi.

4. Tempos Modernos Título Original: Modern TimesGênero: ComédiaTempo de Duração: 87 minutosAno de Lançamento (EUA): 1936Estúdio: United Artists / Charles Chaplin Pro-ductionsDistribuição: United ArtistsDireção: Charles ChaplinRoteiro: Charles ChaplinProdução: Charles ChaplinMúsica: Charles ChaplinFotografia: Ira H. Morgan e Roland TotherohDesenho de Produção: Direção de Arte: Charles D. Hall e J. Russell SpencerEdição:

• SITESwww.filosofia.pro.br/www.itaucultural.org.brwww.macvirtual.usp.brwww.eciencia.usp.brwww.masp.art.Brwww.unesco.org.brwww.abong.org.brwww.filosofiavirtual.pro.br/www.cbfc.org.br/www.unb.br/fe/tef/filoesco/inicial.html

• HIPERLINKCapítulo 1

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31TEXTO 1Transportar o leitor para uma página que con-terá um texto – artigo da Revista Filosofia: ci-ência e vida. Natureza e racionalidade. Paulo Marinho (p 64-69). Nº 1. Editora Escala. 2006.

TEXTO 2Transportar o leitor para uma página que con-terá um texto – artigo da revista discutindo Filosofia. Ano 1 – N 2. Editora Escala Educa-cional. Texto: Nós e o mundo à flor da pele de Silvana de Souza Ramos. (p. 12-17).

TEXTO 3TEXTOS COMPLEMENTARES

1. Animais têm sentimentos, escrito por Klaus Wihelm. In: Revista Mente & Cérebro. Edição nº 160, maio de 2006.http://www2.uol.com.br/vivermente/conteu-do/materia/materia_47.htmlAcesso em 02/03/07

2. O sujeito cerebral, escrito por Francisco Or-tega e Benilton Bezerra Jr. In: Revista Mente & Cérebro. Edição nº 162, julho de 2006.http://www2.uol.com.br/vivermente/conteu-do/editorial/editorial_24.htmlAcesso em 02/03/07

glossÁrioALIENAÇÃO – [Do latim alienare - afastar, dis-tanciar, tornar alheio, vender] . Na linguagem comum, significa perda de posse, de um afeto ou dos poderes mentais. Para o marxismo, a alienação surge na vida econômica, quando o operário, ao vender as força de trabalho, perde o que ele próprio produziu.

CAPITALISMO – Uma forma particular, histo-ricamente específica, do agir econômico, ou um modo de produção em sentido restrito, ou subsistema econômico.

COGITO – Exprime a auto-evidência existencial do sujeito pensante, isto é, a certeza de que o sujeito pensante tem da sua existência en-quanto tal.

CONHECIMENTO – Em geral, uma técnica para a verificação de um objeto qualquer ou a dispo-nibilidade ou posse de uma técnica semelhante.

CONSCIÊNCIA – Estar ciente dos próprios esta-dos,percepções,idéias,sentimentos,volições.

DEDUTIVO – Relação através da qual uma con-clusão deriva de uma ou mais premissas.

DIALÉTICA – [Do grego dialéktike – que diz respeito à discussão]. Arte de discutir, tensão entre os opostos. Termo que deriva de Diálo-go; método da divisão; lógica do provável; ló-gica; síntese dos opostos.

DIÁLOGO – O diálogo não é uma das formas através das quais se pode exprimir o discurso filosófico, mas, uma conversa, uma discussão, um perguntar e responder entre pessoas uni-das pelo interesse comum da busca.

DICOTOMIA – Divisão de conceitos em dois elementos, em geral, contrários.

EMPIRISMO – Corrente filosófica para a qual a experiência é critério ou norma da verdade.

EXISTÊNCIA – Em geral, qualquer delimitação ou definição do ser.

EXISTENCIALISMO – Conjunto de Filosofias ou correntes filosóficas cuja marca comum é o instrumento de que se utilizam: a análise da existência.

FILOSOFIA – De origem grega e formada de dois termos: philo (amizade) e sophía (sabedo-ria), portanto Filosofia significa amizade pela sabedoria.

IDEALISMO – É uma das filosofias sistemáticas mais antigas na cultura ocidental. Seus segui-dores acreditam que as idéias é a única reali-dade verdadeira devido a seu poder resistente e duradouro.

IDEOLOGIA – No sentido amplo, conjunto de doutrinas e idéias ou de conhecimentos desti-nados a orientar a ação.

ILUMINISMO – Movimento racionalista do sé-culo XVII, que consiste na crença no poder da razão de reorganizar o mundo humano.

IMANÊNCIA – Ponto de vista fundamental da filosofia, segundo o qual “o mundo está na consciência”, porém não na consciência indi-

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32vidual, mas, na “consciência geral”, que é o conteúdo comum das consciências individuais.

INCONSCIÊNCIA – Percepções insensíveis oupequenaspercepçõesdequenãosetomaci-ência e sobre as quais não se reflete.

INDUÇÃO – É o procedimento que leva do par-ticular ao universal.

INTUIÇÃO – [Do latim tuere, “ver”]. Conhe-cimento imediato, sem intermediários. Visão súbita.

LÓGICA – [Do grego logos, “razão”, “teoria”]. Es-tudo dos métodos e princípios da argumentação.

MAIÊUTICA – arte da parteira; em Teeteto de Platão, Sócrates compara seus ensinamentos a essa arte, porquanto consiste em dar à luz conhecimentos que se formam na mente de seus discípulos.

METAFÍSICA – [Do grego, meta, “além de”]. Também conhecida como Ontologia, estuda o “ser enquanto ser”, isto é, o ser independen-temente de suas particularidades; estudo do ser absoluto e dos primeiros princípios. Ciên-cia primeira, por ter como objeto de todas as outras ciências e como princípio um princípio que condiciona a validade de todos os outros.

MATERIALISMO – No sentido comum, preocu-pação excessiva com bens materiais.

METAFÍSICA – [Do grego, meta, “além de”]. Também conhecida como Ontologia, estuda o “ser enquanto ser”, isto é, o ser independente-mente de suas particularidades; estudo do ser absoluto e dos primeiros princípios.

MÉTODO – Qualquer pesquisa ou orientação de pesquisa; uma técnica particular de pesquisa.

MITO – O mito é um contexto explicativo, não--lógico, muitas vezes, fantástico, motivado pelo meio físico e humano em que vive a co-letividade.

PRAGMATISMO – [Do grego pragma, “ação”]. Sistema filosófico de William James e John Dewey subordina a verdade à utilidade e reco-nhece a primazia da ação sobre o pensamento.

RACIONALISMO – Atitude de quem confia nos procedimentos para a determinação de cren-ças ou de técnicas em determinado campo.

RAZÃO – Em sentido geral, é a faculdade de conhecimento intelectual.

REMINISCÊNCIA – Doutrina que acredita que o conhecimento verdadeiro está dentro de nós, em nossa alma. Nós o perdemos no momento em que foi colocado em um corpo material.

SILOGISMO – Essa palavra, que na origem sig-nificava cálculo, tendo sido utilizada por Pla-tão para o raciocínio em geral, foi adotada por Aristóteles para indicar o tipo perfeito do ra-ciocínio dedutivo.

SOCIALISMO – Programa político das classes trabalhadoras que se foram formando durante a Revolução Industrial.

SOCIEDADE – Campo das relações intersub-jetivas,ouseja,dasrelaçõeshumanasdeco-municação; a totalidade dos indivíduos entre osquaisocorremessasrelações;umgrupodeindivíduosentreosquaisessasrelaçõesocor-rem em alguma forma condicionada ou deter-minada.

TEORIA – Especulação ou vida contemplati-va; uma condição hipotética ideal, na qual tenham pleno cumprimento normas e regras, que, na realidade, são observadas imperfeita ou parcialmente; uma hipótese ou conceito científico.

TRABALHO – Atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e sa-tisfazer as necessidades humanas.

TRANSCENDÊNCIA – Estado ou condição do princípio divino, do ser além de tudo, de toda experiência humana ou do próprio ser.

UTOPIA – [Do grego u-topos, “nenhum lu-gar”]. Thomas More deu esse nome a uma es-pécie de romance filosófico, no qual relatava ascondiçõesdevidanumailhadesconhecidadenominada U.; nela teria sido abolida a pro-priedade privada e a intolerância.

VERDADE – Validade ou eficácia dos procedi-mentos cognoscitivos. A qualidade em virtude da qual um procedimento cognoscitivo qual-quer torna-se eficaz ou obtém êxito.