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1 CATÁLISE HETEROGÊNEA 1. Introdução Catalisadores são utilizados pela humanidade a mais de 2.000 anos. As primeiras utilizações observadas foram nas fabricações de vinho, queijo e pão. Foi notado que sempre era necessário adicionar pequenas quantidades da batelada anterior para se fazer à próxima. Em 1835, Berzelius fez a primeira observação química do fenômeno, ele sugeriu que pequenas quantidades de uma substância estranha poderiam causar um grande efeito sobre o progresso da reação. Esta força misteriosa atribuída à substância foi denominada catálise. Em 1894, Ostwald expandiu a explicação de Berzelius declarando que catalisadores eram substâncias que aceleravam a velocidade das reações sem serem consumidas por ela. 160 anos após o trabalho de Berzelius, os catalisadores têm grande importância econômica no mercado mundial. Em 1996, nos EUA as vendas de catalisadores para processos foram superiores a 1 Bilhão de dólares.

Aula 01 - Catalise Heterogenea

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Aula 01 - Catalise Heterogenea

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    CATLISE HETEROGNEA

    1. Introduo

    Catalisadores so utilizados pela humanidade a mais de 2.000 anos. As primeiras utilizaes observadas foram

    nas fabricaes de vinho, queijo e po.

    Foi notado que sempre era necessrio adicionar pequenas quantidades da batelada anterior para se fazer prxima.

    Em 1835, Berzelius fez a primeira observao qumica do fenmeno, ele sugeriu que pequenas quantidades de uma

    substncia estranha poderiam causar um grande efeito

    sobre o progresso da reao. Esta fora misteriosa

    atribuda substncia foi denominada catlise.

    Em 1894, Ostwald expandiu a explicao de Berzelius declarando que catalisadores eram substncias que

    aceleravam a velocidade das reaes sem serem

    consumidas por ela.

    160 anos aps o trabalho de Berzelius, os catalisadores tm grande importncia econmica no mercado mundial.

    Em 1996, nos EUA as vendas de catalisadores para

    processos foram superiores a 1 Bilho de dlares.

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    2. Conceitos Bsicos

    Definio

    Um catalisador uma substncia que afeta a velocidade

    de uma reao, mas ao final do processo retorna ao estado

    inicial.

    Um catalisador normalmente altera a velocidade de uma

    reao, pela promoo de um caminho molecular

    (mecanismo) diferente para a reao.

    Ex.: Reao entre H2 e O2 em Tamb (Fig. 1)

    Ener

    gia

    Coordenada de Reao

    Gs

    Catalisador

    H2O

    H2 + O

    2

    E

    E'

    Fig. 1 Diferentes Caminhos de Reao

    Normalmente quando falamos sobre um catalisador,

    dizemos que este aumenta a velocidade da reao, contudo um

    catalisador pode acelerar ou retardar a formao de um

    produto.

    H2O H2 + O2

    Gs

    Lenta

    Catalisador

    Rpida

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    Um catalisador altera somente a velocidade da reao;

    Ele no afeta o equilbrio desta.

    Classificao quanto ao Nmero de Fases

    Catlise Homognea: compreende um processo no qual um

    catalisador est em soluo com pelo menos um dos reagentes.

    CH3CH2 + CO + H2

    Co

    CH3CH

    O

    CH3

    CH

    CH3

    CHO

    Catlise Heterognea: consiste num processo em que est

    envolvida mais de uma fase. Normalmente, o catalisador um

    slido e os reagentes e produtos esto nas fases lquidas ou

    gasosas.

    Pt/Al2O

    3 xH

    2O

    + H23

    A catlise heterognea mais comum, devido aos seguintes

    motivos:

    A separao simples e completa da mistura fluida de produtos do catalisador slido torna o processo

    economicamente mais atrativo.

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    Possibilidade de reutilizao de catalisadores caros aps a separao da mistura reacional.

    So mais seguros do ponto vista ambiental (principalmente no tocante a possveis derramamentos).

    Propriedades dos Catalisadores

    Como a reao cataltica ocorre na interface fluido-slido, uma grande rea interfacial pode ajudar ou mesmo

    ser essencial para se atingir uma velocidade de reao

    significante.

    Em muitos catalisadores esta rea provida pela estrutura porosa. Estes materiais contm muitos poros finos, e a

    superfcie destes fornece a rea necessria para uma alta

    velocidade de reao.

    Um catalisador de craqueamento tpico a base de slica-alumina com um volume de poros de 0,6 cm3/g e

    dimetro mdio dos poros de 4 nm, possui uma rea

    superficial de 300 m2/g.

    3. Tipos de Catalisadores

    3.1. Quanto a Porosidade

    Catalisadores Porosos: so aqueles que apresentam uma

    grande rea resultante de seus poros internos.

    Exemplos:

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    Catalisadores Nquel Raney (usados na hidrogenao de leos vegetais e animais)

    Pt/Al2O3 (usado na reforma de nafta para aumentar a octanagem e para a produo de petroqumicos)

    Catalisadores de ferro empregados na sntese da amnia.

    Peneiras Moleculares: so xidos inorgnicos cristalinos

    contendo microporos com dimenses da ordem de molculas,

    permitindo a passagem de algumas molculas e restringindo o

    acesso de outras em funo do tamanho.

    Zelitas (aluminosilicatos Cristalinos)

    Zelita Y (FAU)

    Zelita A (LTA)

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    Zelita ZSM-5 (MFI)

    ALPOs e SAPOs (Aluminofosfatos e Silicoaluminofosfatos Cristalinos)

    ALPO-11 (AEL)

    SAPO-5 (AFI)

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    Peneiras Mesoporosas

    MCM-41, SBA-15, etc.

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    Catalisadores No-Porosos (ou de Baixa Porosidade): So

    aqueles em que a maior parte da sua rea superficial

    representada pela rea superficial externa das partculas que o

    constitui (apresenta baixa porosidade).

    3.2. Quanto a Parte Ativa

    Catalisadores Suportados: a fase ativa est dispersa sobre um

    material de maior rea superficial (suporte)

    Fig. 2 Esquema de um catalisador do tipo metal-suportado

    Catalisadores No-Suportados (Mssicos): So aqueles em

    que toda a massa do catalisador participa da atividade

    cataltica

    Exemplos:

    Catalisadores monolticos formados por fios de Pt para oxidao de amnia;

    Catalisadores de ferro promovidos com potssio usados na sntese de amnia;

    Catalisadores de desidrogenao a base de slica-alumina usados na obteno de butadieno.

    SSUUPPOORRTTEE

    MMEETTAALL

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    3.3. Quanto a Forma das Partculas

    Catalisadores em P: Formado por um p fino com uma

    granulometria especifica (ex.: catalisadores de FCC)

    Catalisadores Moldados (Peletizados): Formados por

    partculas com geometria definida (esferas, cilindros) obtidas

    por processos de moldagem com ligantes apropriados (a

    maioria dos catalisadores industriais so moldados desta

    forma).

    Catalisadores Monolticos: formados por um bloco de

    geometria especifica (tipo tijolo). empregado em processos

    onde a queda de presso e a remoo do calor so parmetros

    importantes

    Podem ser:

    Porosos (catalisadores para abatimento de poluentes de gases de escapamentos de automveis).

    No-porosos (tela de arames de Pt empregada como catalisador monoltico em oxidao de amnia para a

    produo de cido ntrico).

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    3.4. Quanto a Tipo de Reao que Catalisa

    Catalisadores de Alquilao/Desaquilao:

    Alquilao a adio de um grupo alquil em outro composto

    orgnico. Este tipo de reao comumente realizada na

    presena de um catalisador de Friedel-Crafts (AlCl3/HCl).

    + CH3 OHHZSM-5

    + OH2

    Zeolita HY

    +

    CH3

    CH3

    CH3CH3

    Catalisadores de Isomerizao

    Isomerizao a reao de mudana na cadeia carbnica de

    hidrocarboneto, tais como, a converso de n-parafinas em

    parafinas ramificadas.

    CH3 CH3

    CH3

    CH3CH3

    Pt/Al2O

    3

    Catalisadores de Hidrogenao/Desidrogenao

    Hidrogenao/desidrogenao so reaes de adio/remoo

    de hidrognio de compostos.

    + H2Pt

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    Catalisadores de Oxidao

    Oxidao e a reao de adio de oxignio a compostos, sendo

    catalisada por metais de transio do grupo VIII (Ag, Cu, Pt,

    Fe, Ni e seus xidos so bons catalisadores de oxidao)

    CH2 CH2

    O

    + O2Ag

    2 CH2 CH2 2

    CH3CH3

    + 13 O2Ni

    8 CO2 + 10 H2O2

    Catalisadores de Hidratao/Desidratao

    Catalisadores de hidratao/desidratao tm uma forte

    afinidade pela gua. Um destes catalisadores Al2O3, que

    usada na desidratao de lcoois para gerar olefinas.

    + H2OCH2

    CH3Al2O3

    CH3

    CH3

    OH

    + H2OAl

    2O

    3CH2 CH2

    CH3

    OH

    Catalisadores de Halogenao/Desalogenao

    As reaes de halogenao ocorrem sem catalisadores,

    contudo quando a seletividade para um produto desejado

    baixa, necessrio o uso de catalisadores. Haletos de Cu e Ag

    suportados podem ser usados para halogenao de HC.

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    4. As Etapas das Reaes Catalticas

    Uma reao cataltica pode ser dividida em sete etapas:

    1 Difuso (transferncia de massa) dos reagentes (A1) do seio do fluido para a superfcie externa da partcula (pellet)

    2 Difuso dos reagentes da entrada do poro atravs do poro at as vizinhanas da superfcie cataltica interna.

    3 Adsoro do reagente A1 sobre a superfcie do catalisador.

    4 Reao sobre a superfcie do catalisador (A1 A2).

    5 Dessoro dos produtos formados (A2) da superfcie do catalisador.

    6 Difuso dos produtos do interior da partcula at a sada do poro na superfcie externa.

    7 Transferncia de massa dos produtos da superfcie externa da partcula para o seio da fase fluida.

    Fig. 3 Etapas difusivas envolvidas em uma reao cataltica heterognea

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    Fig. 4 As sete etapas envolvidas em uma reao qumica cataltica heterognea

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    Fig. 5 A energia de ativao das etapas envolvidas em uma reao cataltica heterognea e no cataltica.

    5. Qumica de Superfcie e Adsoro

    Adsoro: o aumento da concentrao de uma substncia

    (adsorbato) na superfcie de um slido (adsorvente).

    Adsoro pode ser de dois tipos: fsica e qumica.

    Adsoro fsica ou fisisoro: ocorre quando a interao entre

    a molcula adsorvida e a superfcie fraca, sendo comparvel

    condensao, com as foras de interao fracas do tipo van

    der Waals.

    Adsoro Qumica ou Quimisoro: ocorre quando a interao

    entre a molcula ou tomo adsorvido e a superfcie

    extremamente forte, sendo comparvel a uma ligao qumica

    sendo esta a primeira etapa em uma reao superficial.

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    6. Adsoro fsica e qumica (diferenas) .

    As principais diferenas entre a Quimisoro e a Fisisoro

    esto indicadas na tabela abaixo:

    Parmetro Fisisoro Quimisoro

    Adsorventes Todos os slidos Alguns slidos

    Adsorvatos Todos os gases e

    vapores

    Alguns gases reativos

    Calor de Adsoro

    (-Hads)

    Baixo (8-25 kJ/mol)

    Ordem de magnitude

    do calor de

    condensao

    Alta (21-420 kJ/mol)

    Ordem de magnitude

    do calor de reao

    Velocidade e Energia

    de Ativao (Eads)

    Muito Rpida devido

    baixo Eads (

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    7. Isotermas de Adsoro

    Uma vez que a adsoro normalmente uma parte necessria

    do processo cataltico, importante entender em mais detalhes

    este processo.

    As isotermas de adsoro: so dados de equilbrio obtidos a

    temperatura constante para uma superfcie slida degassada,

    utilizando-se um adsorvato que admitido no sistema a

    presses crescentes at atingir a sua presso de saturao (Ps).

    As principais formas de isotermas de adsoro so mostradas

    na fig. 6 abaixo.

    Fig. 6 Principais tipos de isotermas de adsoro observadas na literatura.

    Os principais modelos fenomenolgicos e matemticos que

    descrevem o comportamento das isotermas de adsoro esto

    indicados na tabela abaixo:

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    Principais Modelos de Isotermas de Adsoro

    Autor Isoterma rea de Aplicao

    Langmuir V/Vm= kp /(1 + kp) Fisisoro

    Quimisoro

    Henry V = a p Fisisoro

    Quimisoro

    Freundlich V = k p1/n (n > 1) Fisisoro

    Quimisoro

    Slygin-Frumkin

    (Tenkim)

    V/Vm= k1 ln(k2 p) Quimisoro

    Brunauer-Emmett-

    Teller (BET)

    Fisisoro em

    multicamadas

    Modelo de Adsoro de Langmuir

    A teoria deste modelo baseada nas seguintes hipteses:

    Stios de Adsoro com a mesma energia independentemente do grau de cobertura da superfcie.

    Formao de monocamada

    No h interaes entre as molculas adsorvidas

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    Langmuir tambm assumiu que a lei da ao das massas

    poderia descrever as etapas individuais. Logo denominando S

    um stio de adsoro, a reao :

    SASA

    Onde A.S representa A adsorvido. As velocidades de

    Adsoro e Desoro so:

    sAaa CCkr

    SAdd Ckr

    Onde CS e CA.S so concentraes na superfcie. O nmero

    total de stios, esto ou vazios ou com A adsorvidos:

    SASt CCC

    No equilbrio, a isoterma de adsoro encontrada pela

    equao:

    SAaSAd CCkCk

    )( .SAtAaSAd CCCkCk

    AA

    tAASA

    CK

    CCKC

    1

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    Onde KA a constante de equilbrio de adsoro.

    d

    aA

    k

    kK

    Alternativamente, podemos escrever:

    AA

    AA

    t

    SA

    CK

    CK

    C

    C

    1

    Exemplo: (observe que CA foi substitudo por p)

    Fig. 7 Isotermas de Adsoro de NH3 sobre Carvo ativado

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    8. Referncias Bibliogrficas

    FOGLER, H. Scott. Elements of Chemical Reaction

    Engineering, 3rd Edition, Prentice Hall, New Jersey

    LEVENSPIEL, Octave. Engenharia de reaes qumicas. 3

    ed. Editora Edgard Blcher. So Paulo, 2000.

    HILL, C. G. Na Introduction to Chemical Engineering

    Kinetici & Reactor Design. Editora John Wiley & Soni. New

    York, 1977.

    Perry & Chilton, Manual de Engenharia Qumica, 5a edio,

    Guanabara Dois, 1973.