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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE FORMAÇAO DE PROFESSORES DE NAZARE DA MATA CURSO LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA I Dra. : KALINA VANDRELEI SILVA Sociedade e Cultura dos Povos Pré- Colombianos na Mesoamérica Edvaldo Batista de Sousa Filho

Aspectos Culturais Dos Maias e Astecas

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

FACULDADE DE FORMAÇAO DE PROFESSORES DE NAZARE DA MATA

CURSO LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA I

Dra. : KALINA VANDRELEI SILVA

Sociedade e Cultura dos Povos Pré-Colombianos

na Mesoamérica

Edvaldo Batista de Sousa Filho

Nazaré da Mata

2012

Edvaldo Batista de Sousa Filho

Sociedade e Cultura dos Povos Pré-Colombianos

na Mesoamérica

Ensaio monográfico solicitado pela Dra. Kalina Vanderlei, referente ao primeiro exercício de avaliação da disciplina de História da América I

Nazaré da Mata

2012

“A cultura é o melhor conforto para a velhice”.Aristóteles

Introdução

Os homens sempre buscaram conhecer os feitos de seus antepassados. Seja por

curiosidade ou mesmo para a busca de explicação de fatos no seu tempo presente. Nos

povos pré-históricos e primitivos, quando não havia ainda a escrita ou qualquer forma

de registro desses fatos, a transmissão oral era a única maneira que estes povos tinham

de transmitir uns aos outros suas experiências e suas crenças. Essas narrativas assumiam

um caráter mítico onde se mesclavam acontecimentos com elementos mágicos e

religiosos.

Quando os espanhóis chegaram à América, encontraram uma cultura que

sobrevivia há 3500 anos. A cultura maia é dividida em três grandes períodos, cada um

deles com suas peculiaridades. A era Clássica, por exemplo, foi marcada pela escrita e

por suas grandes pirâmides. Há elementos comuns a todas elas, como o culto à serpente,

princípio de unidade do cosmos maia. Ela representa o céu, a terra, a fertilidade e

encarna o princípio de unidade do mundo. Aparece como uma corda ou laço que

simboliza a união entre o homem e a natureza. A região em que se desenvolveu a

civilização maia corresponde ao que é hoje a península do Iucatã, no México,

englobando os atuais estados de Campeche, Tabasco, Chiapas, Iucatã e Quintana Roo;

as terras baixas e altas da Guatemala; Belize; e a porção ocidental de Honduras e El

Salvador, reunindo territórios que pertencem à área denominada Meso-américa.

Cultura Maia e Asteca

A partir de agora iremos analisar a cultura maia, no entanto, antes de caracterizá-

la, é interessante questionar o que de fato é cultura. Braudel afirma que por muito tempo

o termo cultura era apenas um sinônimo de civilização. Contudo, em meados do século

XX, ocorreu uma distinção entre os dois termos e cultura passou a representar o ideário

da sociedade.

“A ‘civilização’ não passa de um conjunto de conhecimentos técnicos e de praticas,

uma coleção de meios para atuar sobre a natureza; a ‘cultura’, ao contrário, são os princípios

normativos, os valores, os ideais, numa palavra: o espírito.”1

Todavia, a doutora Kalina Vanderlei Silva rebate essa definição afirmando que a

cultura engloba não só os aspectos espirituais de um povo, mas também as suas

realizações materiais. “Cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano

concreto ou no plano imaterial, desde artefatos e objetos até idéias e crenças.”2 Ela

afirma também que não existe uma cultura superior à outra; elas simplesmente não

devem ser comparadas, pois tendemos a estranhar o diferente, acreditando que os nossos

costumes são os melhores, o que é conhecido como etnocentrismo.

Atualmente, com a globalização, a tendência é que haja uma maior integração

entre as culturas, já que “nenhuma fronteira cultural é fechada, impermeável”3. No

entanto, apesar dos ganhos, há uma grande perda cultural, pois muitas culturas são

simplesmente absorvidas por outras que são economicamente mais fortes. Um estudo

publicado pela Unesco (a organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura)

comprovou o que ativistas sociais já alertavam: as culturas locais perdem cada vez mais

espaço e podem mesmo desaparecer em pouco tempo. O documento revelou que das

6.700 mil línguas existentes no mundo, cerca de 2.500 estão ameaçadas de extinção —

190 delas no Brasil.

1 BRAUDEL, Fernand - Gramática das Civilizações. Martins Fontes; São Paulo, 2004. página 27.2 SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique – Dicionário de Conceitos Históricos. Contexto, São Paulo, 2006. página 85.3 BRAUDEL, Fernand - Gramática das Civilizações. Martins Fontes; São Paulo, 2004. página 36.

Por muito tempo, algumas correntes de pensamento afirmaram que as culturas

meso-americanas haviam sido importadas das culturas egípcia e mesopotâmica. Teoria

esta, categoricamente rejeitada por Lhuillier, que diz:

“Él rechaza definitivamente la idea de una importación directa de Egipto o

Mesopotâmia de ciertos rasgos comunes entre el Viejo y el Nuevo Mundo, pero surgiere su lento

traslado desde Egipto, através de Mesopotâmia, la India, China, Siberia, el Estrecho de Bering y

Alaska. Se refiere sobre todo al hecho de que ciertos adelantos astronômicos y matemáticos que

poseen algunas culturas americanas (los mayas principalmente) y otras del Viejo Mundo

(Egipto e China) no corresponden, según él, entre los mayas a las necesidades que los

motivaron entre los egípcios por ejemplo.(...) Como conclusión sobre este problema del origen

de la cultura mesoamericana, pensamos que ésta debe considerarse como autóctona. Los

primeros pobladores de América, pueblos mongolóides que penetraron por el Estrcho de Bering

hace 15 a 20000 años, eran de cultura paleolítica y solo pudieron traer a América elementos

como: artefactos de piedra tallada, hueso y madera, arpón, lanza, propulsor de dardo, métodos

para hacer fuego, domesticación del perro. Más tarde, pero probablemente em una fase todavía

preagrícola, otros inmigrantes trajeron el arco y flecha y algunos otros conocimientos.”4

A cultura maia foi bastante influenciada pela Olmeca, que perdurou de

aproximadamente 1200 a 1 a.C.. Flamarion afirma que os maias devem ter recebido essa

influência sob o intermédio da cultura Izapa. “A civilização olmeca criou o primeiro

estilo de arte maior da Mesoamérica, organizou a religião e construiu a primeira

arquitetura cerimonial da região.”5

Os olmecas formavam uma sociedade extremamente hierarquizada e da qual só

restaram três centros cerimoniais e alguns artefatos artísticos. A sua base alimentar se

compunha de milho, feijão e abóbora produzidos com a técnica de coivara e era

complementada pela caça e pesca. Como não conheciam os metais, usavam a obsidiana

e a jade. As crenças religiosas limitavam-se a adoração de deuses que encarnavam as

forças naturais.

Ciro Flamarion e Nicholas Sauders nos alertam para a denominação errônea

dada aos olmecas. “O termo ‘olmecas’ é tradicional, mas falso: originalmente

designava um grupo que vivia no sul de Veracruz em tempos históricos e nada tinha a

ver com os monumentos antigos.”6 Contudo, não sugerem um nome mais adequado,

pois Saunders afirma que:“Dessa forma, nome do que estava pra se tornar uma das

civilizações mais famosas do México foi um acidente histórico, e não uma reflexão

4 LHUILLIER, Alberto Ruz – La Civilización de los Antiguos Mayas. Fondo de Cultura Econômica. México, 1991. página 16 e 22.5 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. pagina 29.6 CARDOSO, Ciro Flamarion – América Pré-Colombiana. Brasiliense, 1986. página 61.

precisa do que o povo teria chamado a si próprio. Uma vez usado, o nome olmeca

tornou-se impossível de ser substituído.”7

Há um grande debate acerca do conceito de urbanização na Mesoamérica, pois

autores como Michael Coe, afirmam que “nem os maias clássicos nem outras antigas

civilizações possuíam qualquer coisa a que corretamente pudesse atribuir o nome

‘cidade’”8 Entretanto, Flamarion, Kalina Silva9 e Saunders afirmam que haviam sim

cidades, só que bem diferentes dos modelos ocidentais, elas eram dividas entre os

Centros Cerimoniais, onde eram realizados os cultos religiosos, as transações

comerciais, etc.; e as habitações em si. Estas ficavam muito distantes dos centros

cerimoniais, característica de uma sociedade de castas.

No período Clássico, uma cidade se destacou e influenciou às demais,

Teotihuacan. Essa cidade consistia num centro urbano planificado, com um imenso

Centro cerimonial repleto de pirâmides e outros edifícios públicos. Era composta por

uma monarquia teocrática. Para obter matéria-prima, ela exportava cerâmica e objetos

de obsidiana. Assim, a sociedade tornou-se ainda mais hierarquizada e ampliou o

comércio e a agricultura.

Nessa época, os maias cultivavam milho, cacau, algodão, agave, diversas frutas,

criavam cães de caça e comestíveis, perus e abelhas que forneciam mel e completavam

a dieta com a caça, pesca e coleta. As colheitas eram guardadas em celeiros

subterrâneos. Além da produção do sal. A partir daí, se deu o desenvolvimento da

astronomia, matemática, escrita hieroglífica e o tão conhecido e fatídico calendário

maia.

No Pós-clássico ocorre a invasão Tolteca e a sua miscigenação cultural. Esses

povos nômades invadiram a região e se fixaram. “El régimen teocrático tendió a ser

sustituido por un militarismo agressivo, dando lugar a guerras, invasiones, migraciones

y transtornos sociales, que culminaron en el repentino colapso de los mayores centros

culturales.”10

Flamarion afirma que a economia manteve-se em baixa, pois o nível técnico era

rudimentar e os instrumentos agrícolas eram predominantemente de pedra e madeira,

com a exceção do uso de machados de cobre para derrubar árvores. Além disso,

7 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. pagina 31.8 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 56.9 Kalina Silva aparece aqui com citações que ela fez em sala de aula.10 LHUILLIER, Alberto Ruz – La Civilización de los Antiguos Mayas. Fondo de Cultura Econômica. México, 1991. página 39.

segundo a doutora Kalina, havia um certo descaso dos sacerdotes, detentores do

conhecimento, com as questões agrícolas. E os camponeses, a quem interessava essas

inovações tecnológicas, não tinham tempo para dedicar ao estudo e invento de novas

técnicas. Esse desinteresse era impulsionado pela grande diferenciação social existente

na época.

Ainda não se sabe o verdadeiro motivo do declínio dos maias, todos os autores

enumeram várias hipóteses que podem ter ocorrido isoladamente ou não. “O fim do

Período Clássico Maia foi complexo e confuso, talvez uma combinação de

superpopulação, desnutrição, seca, doenças e interferências estrangeiras.”11

No mesmo período, emergiu o Império Asteca. Contudo, Ciro Flamarion afirma

que este império não era realmente um império, mas uma rede de relações de

dependência.

“O chamado império asteca – na verdade um mosaico de alianças, confederações,

relações tributarias, implicando povos numerosos, heterogêneos e imperfeitamente submetidos –

era um bloco complexo, pouco coerente e descontinuo.(...) expedições punitivas eram

frequentemente necessárias para manter o domínio e o tributo e para garantir as rotas

comerciais.” 12

Soustelle nos mostra que os Astecas não praticavam agricultura. “A caça, a

pesca e a coleta constituíam a base da sua subsistência. Foi em contanto com as

populações sedentárias do Planalto Central que os Mexicanos, a semelhança dos

outros ‘bárbaros’, adotaram o modo de vida tradicional.”13 Contudo, eles não adotaram

apenas os meios de subsistência, mas também a religião e o modo de vida, que,

misturado com seus antigos costumes, resultou no que conhecemos hoje.

Flamarion afirma também que os Astecas eram, aparentemente, influenciados

por outros povos do México central e se organizavam em calpulli, comunidades

residenciais com direitos comuns a terra. Mas, com as conquistas, essa igualdade será

abalada e a hierarquização se fortalece. Cultivavam muitas espécies de plantas, sendo as

principais o milho, o feijão e a pimenta. Habitavam Chinampas, que eram cidades

flutuantes. Apenas o centro da cidade estava em terra firme, todo o resto era projetado

em balsas, que flutuavam no lago Texcoco.

“No apogeu do ‘império’, a sociedade asteca era complexa e muito estratificada, com

uma nobreza crescentemente hereditária (tlatoque), uma nobreza de função de origem militar

11 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. pagina 85.12 CARDOSO, Ciro Flamarion – América Pré-Colombiana. Brasiliense, 1986. página 77.13 SOUSTELLE, Jacques – A Civilização Asteca. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, 1993. página 45.

(tecuhtli), comerciantes especializados residentes em Tlatelolco (pochtecas ou oztomecas),

formando uma corporação especial, artesãos reunidos em organizações profissionais, diversas

categorias populares urbanas e rurais, servidores que os espanhóis consideram ‘escravos’,

etc.”14

Lhuillier nos fornece uma idéia geral da estrutura física dos povos

mesoamericanos, sendo eles de baixa estatura, musculatura desenvolvida, por um

costume das mães apertarem as cabeças de seus filhos ainda bebês, por pura questão

estética, eles apresentam um formato de cabeça peculiar, mais ovalada. Eram de cor

parda com olhos e cabelos negros. “Conserva todavía bastante de la mentalidad mágica

indígena, por lo que su religiosid, nunca fanática, es más mezcla de idolatria y

supersticion que verdadero sentimiento místico.”15

Por muito tempo se acreditou que os sacrifícios humanos não eram conhecidos

pelos maias, contudo, Lhuillier nos diz que já era praticado por eles, no entanto, foi

aprimorado pelos astecas,e esses aspectos já faziam parte da vida cotidiana deles.

“Hasta hace poço se pensaba que los sacrifícios humanos eran desconocidos entre los

mayas hasta la llegada a Yucatán de los grupos toltecas. Sin embargo, después del

descubrimiento de las pinturas de Bonampak y del estúdio más detallado de los monumentos

esculpidos, se ha llegado a la conclusión de que los mayas hacían también sacrifícios humanos,

aunque sin duda em un grado muy inferior a los aztecas. El autosacrificio, sacándose sangre de

diversas partes del cuerpo, era también uma de las prácticas más usuales para complacer a los

dioses.”16

A forte hierarquização também se refletia nos costumes e nas construções.

Enquanto nos palácios dos nobres haviam elegantes jardins com lagos, aviários, com

banhos a vapor e até pequenos zoológicos; os camponeses viviam em casa de um único

cômodo, raramente com alguns quartos adjacentes. As paredes das casas mais simples

eram feitas de adobe com cana, as mais elaboradas eram feitas de pedra. Era comum

que as famílias possuíssem um santuário e cultivassem pequenas hortas nos seus

quintais, o que era conhecido como Xochichinancalli.

“O dia começava cedo para os mesoamericanos. As pessoas de Tenochtitlán se

levantavam antes do amanhecer. Quando Vênus, a estrela matutina, aparecia no céu, tambores e

14 CARDOSO, Ciro Flamarion – América Pré-Colombiana. Brasiliense, 1986. página 78.15 LHUILLIER, Alberto Ruz – La Civilización de los Antiguos Mayas. Fondo de Cultura Econômica. México, 1991. pagina 42.16 LHUILLIER, Alberto Ruz – La Civilización de los Antiguos Mayas. Fondo de Cultura Econômica. México, 1991. pagina 52.

trombetas de conchas marinhas soavam no Templo Maior e nos templos que era o foco da vida

religiosa de cada localidade.”17

A dieta era a base de milho, preparados em forma de “tortilhas” e “tamales”,

apenas os muito ricos possuíam uma dieta complementada com carne. “A casa era o

lugar de trabalho das mulheres, que passavam muitas horas fiando, tecendo e

cozinhando. (...) Quando não teciam nem costuravam, moíam milho durante horas e

com a pasta de milho faziam as ‘tortilhas’.”18

Mais uma vez pondo em pauta a questão da urbanização mesoamericana, o fato é

que, devido a forte hierarquização, as casas mais humildes ficavam muito distantes do

centro da cidade.

“Dizia-se que o próprio Uitzilopochtli ordenara aos Astecas que dividissem a cidade

em quatro grande bairros: a leste, Teopan (‘o bairro do templo’); a oeste, Aztacalco (‘a casa

das garças reais’); ao norte, Cuepopan (‘lá onde desabrocham as flores’); ao sul, Moyotlan

(‘lugar dos mosquitos’). Esses quatro bairros abrigavam as fratrias territoriais ou caplpulli.”19

Os homens astecas trabalhavam nas Chinampas. Por serem flutuantes, os

agricultores plantavam um salgueiro ao redor dos terrenos, essas árvores se enraizavam

no fundo do lago e deviam ser podadas regularmente para que a sombra fornecida por

ela não atrapalhasse a agricultura. Usavam como fertilizantes excrementos humanos.

Os maias tinham o costume de realizar uma cerimônia chamada a Descida dos

Deuses quando os jovens chegavam a puberdade. A partir de então, eles eram

considerados adultos e podiam casar. Segundo Phillips, os solteiros se diferenciavam

dos adultos pela tintura usada na pele e a eles era proibido o direito de fazer tatuagens.

A sociedade maia era extremamente moralista e severa, punia o adultério com a morte.

A poligamia só era aceita em raras exceções para alguns nobres.

“Os rapazes e adolescentes viviam separados das famílias, em casas comunais

especialmente construídas para o efeito. Ali aprendiam as artes da guerra, assim como outras

coisas, pois, segundo Landa, as prostitutas eram visitantes freqüentes dessas casas. A juventude

entregava-se ainda aos jogos de azar e ao jogo de bola. Praticava-se a separação dos sexos. As

raparigas eram educadas exclusivamente pelas mães e todas as faltas de castidade eram

gravemente punidas. O casamento era combinado por intermediários. (...) A monogamia era

17 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 97. 18 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007 página 98.19SOUSTELLE, Jacques – A Civilização Asteca. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, 1993. página 48.

costume generalizado, mas os homens importantes, com posses para tanto, podiam ter mais que

uma mulher. O adultério era punido com a morte, o que acontecia, aliás, entre os Mexicanos.”20

Coe afirma também que as descendências na Mesoamérica eram matrilinear e

patrilinear, sendo considerado tabu o casamento entre pessoas que detinham o mesmo

nome paterno. “Casamentos entre primos-irmãos eram permitidos, mas algumas uniões

eram tabus. Por exemplo, um homem não podia se casar com uma mulher que tivesse o

mesmo sobrenome.”21 Phillips nos informa ainda que, antes de celebrar os casamentos,

que eram programados desde a infância, ambas as famílias consultavam os astrônomos

e sacerdotes, que asseguravam que não haveriam problemas com o casório.

Os pais maias também consultavam um sacerdote para saber o destino e o nome

que deveria ser dado à criança, logo após a sua vinda ao mundo, é o que afirma Michael

Coe. Jacques Soustelle concorda que o mesmo acontecia com os astecas, sendo

considerado que o destino de cada um estava predeterminado no momento do seu

nascimento. “Assim, um homem que nascido sob o signo 2-tochtli se entregaria à

embriagues; uma mulher nascida em 7-xochitl seria pródiga em seus favores; o signo

4-itzcuintli prometia honrarias e prosperidade.”22 Entre os cakchiqueles, os bebês

ganhavam o nome do dia do calendário de 260 em que havia nascido.

É interessante ressaltar que o divórcio já era comum entre os mesoamericanos.

Os filhos geralmente ficavam com a mãe e normalmente os divorciados se casavam

novamente. “Um casal podia divorciar-se simplesmente pelo repúdio de um deles ao

outro.”23

As crianças astecas freqüentavam a escola quando atingiam certa idade, mas

antes disso, todos os serviços domésticos lhes eram ensinados em casa. As meninas e

meninos assistiam às aulas em turmas separadas. Aprendiam história, oratória, danças,

canto e religião. Além desse ensino básico, os meninos recebiam treinamento militar e

as meninas aprendiam a servir aos templos. Aos jovens de origem nobre, a análise do

calendário era ensinada, bem como leitura e escrita. Phillips enfatiza que a educação

asteca valorizava os deveres e responsabilidades, encorajando-os a se sentirem

realizados servindo aos deuses e ao estado.

20 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 150.21 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007 página 100.22 SOUSTELLE, Jacques – A Civilização Asteca. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, 1993. pagina 61.23 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 101.

As escolas maias só estavam disponíveis para a elite. Contudo, meninos e

meninas tinham os mesmos direitos de aprendizado, tanto é que existiam escribas

mulheres. Os maias mais pobres recebiam educação em casa.

A vestimenta maia e asteca era praticamente a mesma, os privilegiados apenas

incrementavam mais seu visual com versões mais elaboradas e ornamentadas. Nobres e

camponeses basicamente usavam uma tanga de algodão, Maxtlatl. O tecido, chamado

Ex, era fiado em casa. Os nobres utilizavam o mesmo modelo de tangas, no entanto, elas

eram bordadas com desenhos geométricos e representações de deuses. Em ocasiões

especiais, os nobres utilizavam uma espécie de manta, chamada Pati para os maias e

Tilmatli para os astecas. Os nobres também usavam sandálias de couro ornamentadas

com imagens dos antepassados e deuses. As mulheres usavam um vestido, chamado

Huipil. Os guerreiros astecas usavam calças compridas e recobria a testa com um

capacete de madeira, plumas e papel, representando a cabeça de uma águia ou jaguar.

No entanto, apesar tanta simplicidade com a vestimenta, os ornamentos da

cabeça eram supervalorizados e elaborados. Cabelos bem cuidados e penteados,

enfeitados com plumas e acessórios com pedras preciosas eram um sinônimo de

nobreza. Brincos, colares e pulseiras também eram muito comuns entre as classes mais

privilegiadas. Esse destaque dado à cabeça se reflete na arte, onde os corpos são

esculpidos de maneira rudimentar e as cabeças são feitas com esmero, já que nela é

onde estão todos os artefatos que indicam a classe social do individuo.

“Homens e mulheres praticavam a pintura corporal e as tatuagens, mas os desenhos

que as mulheres usavam eram mais delicados que os de seus maridos e irmãos. A cor da pintura

corporal podia ter um significado: preto, indicava que um homem era solteiro; preto e

vermelho, que era guerreiro, enquanto o branco era reservado aos prisioneiros. Rezava-se uma

oração pelos homens pintados de azul-turquesa, pois estavam destinados a morrerem

assassinados de acordo com um ritual que se exercia com um punhal.” 24

A preocupação com a beleza da cabeça começa desde o nascimento, o que fica

explicito na afirmação de Charles Phillips: “Na filosofia mesoamericana, a cara era

considerada o lugar onde residia o ser.”25 Assim que as crianças nascem, as mães

amarravam as cabeças dos seus filhos para moldá-las de acordo com as referencias

estéticas da época.

24 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. pagina 109.25 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. pagina 115.

“Imediatamente após o nascimento, as mães iucatecas lavavam os filhos, amarravam-

nos depois a uma armação e comprimiam-lhes a cabeça ainda tenra entre duas tabuas, de tal

forma que dois dias mais tarde se obtinha um permanente achatamento longitudinal, que os

Maias consideravam como um sinal de beleza. (...) As idéias sobre a beleza eram completamente

diferentes das nossas, se bem que os missionários se tivessem mostrado bastante impressionados

com a graça das mulheres maias. Ambos os sexos limavam os dentes da frente segundo vários

modelos. Foram descobertas algumas caveiras maias em que nos dentes foram incrustadas

pequenas placas de jade. Até o casamento, os rapazes eram pintados de preto (o mesmo

acontecendo com os guerreiros, qualquer que fosse a sua idade); a tatuagem e a escarificação

eram praticadas após o matrimonio, ficando os homens e mulheres ricamente trabalhados da

cintura pra cima. Os olhos levemente rasgados eram especialmente apreciados e os pais

procuravam acentuar a sua beleza prendendo ao nariz dos filhos pequenas contas semelhantes a

pérolas.”26

Segundo Phillips, os povos mesoamericanos apreciavam muitos jogos. O jogo de

Bola, denominado Tlachtli, tinha um caráter sagrado e só os guerreiros podiam jogá-lo.

Além de uma prova esportiva pública, o jogo com bola era um ritual e seu resultado

implicava em mensagens para os reis e sacerdotes. Era um jogo perigoso, pois, apesar

de estarem protegidos por joelheiras, luvas e mascaras de couro, acontecia de

frequentemente os jogadores se contundirem e até morrem pela bola. Havia também

jogos de azar, como patolli, o qual Soustelle afirma que por paixão às apostas, muitos

astecas se vendiam como escravos; e os jogos que mediam as habilidades dos jogadores

como o jogo com poste. A maioria desses jogos foi criada na época de Teotihuacan e

perduraram até a chegada dos espanhóis.

Arte

“O conteúdo da maior parte da arte desse povo trabalha com idéias, crenças e temas

tipicamente ameríndios: idéias de transformação, paisagens sagradas e o poder dos ancestrais –

e por meio disso um conceito de natureza espiritual do poder político. Essa era uma filosofia

natural baseada em analogias e raciocínios simbólicos não compatíveis com as idéias cientificas

e ocidentais de causa e efeito.”27

A música asteca tinha mais ritmo do que melodia, pois era formada,

basicamente, por tambores, matracas, flautas, apitos, trombetas e reco-recos. Charles

Phillips nos explica os tipos específicos de instrumentos. Havia dois tipos principais de

tambor, o huehuetl e teponaxtli. Os outros músicos seguiam o ritmo dos tambores com

26 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 149 e 150.27 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. página 40 e 41.

os instrumentos citados acima, visto que alguns dos reco-recos eram feitos com ossos

humanos. Os dançarinos interagiam de certa forma com a música, pois dançavam

carregando cabaças cheias de sementes e conchas.

“Para os Astecas, a música, a dança e o canto eram as artes mais importantes. (...) Os

astecas valorizavam a dança e a música em contextos profanos e religiosos, não somente como

forma de recreação e de celebração comunal, como nas cerimônias do batismo ou de

casamento, mas também nos atos de devoção religiosa, parte integral das cerimônias para

venerar os deuses”28

Os maias também apreciavam festas com música. Também possuíam uma

grande variedade de tambores: tunkul e o teponaxtli usado pelos astecas. E assim como

os Mexica, os dançarinos maias penduravam guizos de ouro, prata e cobre nos pulsos e

tornozelos, contribuindo para o ritmo. O ensino de música fazia parte do currículo

escolar dos mesoamericanos.

Os músicos acompanhavam as peças teatrais e aos acrobatas. Também estavam

presentes em dia de jogos e nas peças teatrais. José Alcina Franch comenta sobre o

teatro maia que nos deixaram pelo menos dois legados: “El Rabinal Achí y el Zaqui

Q’axol. Ambos son dos bailes-dramas que sobreviven del siglo XIX, pero que apuntan a

la existência de dramas populares de época precolombiana.”29

Nos banquetes, além dos músicos, palhaços e atores, se encontravam também os

poetas que encantavam aos nobres e sacerdotes com sua linguagem metafórica do amor,

com expressão própria lírica. Soustelle é categórico quando afirma que a poesia quase

sempre era acompanha de música, e explica que o próprio vocábulo mostra que cuicatl

significava canto e poema; cuicani, cantor, poeta; sendo assim, poeta e cantor eram

sinônimos na Mesoamérica. Segundo Phillips a maioria dos governantes astecas eram

poetas.

“Os versos eram escritos conforme diferentes estilos. Um grupo conhecido como

xochicuicatl (‘canções flor’) se concentrava nos prazeres e consolações das belezas da natureza

para aqueles que sofriam. Outro grupo eram os yaocuicatl (‘canções de guerra’), que

expressavam uma intensa alegria nos conflitos e traçavam os movimentos de mente e do coração

na batalha. As xapancuicatl (‘canções de primavera’) celebravam a nova vida nos campos

primaveris e recordavam aos ouvintes o despertar dos espíritos quando os brotos de milho

nasciam depois do inverno. Um quarto tipo eram as icnocuicatl (‘canções órfãs’). Essas

descreviam os prazeres da vida, além de recordar a natureza efêmera de todos os prazeres.”30

28 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 112.29 FRANCH, José Alcina – Mitos y Literatura maya. Alianza Editorial. Madrid, 2007. página 21.

Entre os maias era comum uma poesia épica e em algumas ocasiões lírica.

Franch comenta sobre o conjunto poético considerado por ele o mais importante.

“Cantares de Dzitbalché. El manuscrito, que lleva por título el de El Libro de las

Danzas de los Hombres Antiguos que era costumbre hacer aça em los pueblos cuando aún no

llegaban los blancos, contiene quince cantares o poemas que debian de acompañar a um baile o

danza.”31

Os mesoamericanos produziram cerâmica durante 4000 anos, é o que declara

Charles Phillips, partindo de formas básicas para o uso rotineiro, os povos do pré-

clássico passaram a decorá-las com argilas coloridas e polindo a sua superfície. Vale

ressaltar o valor histórico das obras de arte, pois a partir delas, conseguimos entender o

ideário, a tecnologia usada, costumes e etc. de determinada civilização. Esse valor fica

claro no livro O maias de Michael Coe, onde ele tira diversas conclusões acerca dos

maias apenas analisando artefatos artísticos.

“Fragmentos de vasilhas, pratos, garrafas e jarras compõem a maioria dos restos

descobertos nas jazidas arqueológicas de zonas habitadas. Os pedaços de cerâmica também

estão bem representados nas sepulturas e oferendas da elite nos templos. A distribuição dos

tipos de cerâmica e dos métodos de decoração em diferentes regiões e ao longo do tempo

proporciona a chave dos movimentos humanos e suas áreas de influencia. Por esse motivo, os

arqueólogos e os historiadores costumam identificar as culturas pelos restos de cerâmica.”32

A principio, os artesãos produziam vasilhas poli cromadas aplicando pinturas

nas cores amarela, vermelha, branca e preta depois do cozimento da vasilha. Eles

usavam desenhos geométricos ou franjas com imagens. Em seguida, também foram

produzidos jarros, pratos e incensários. Com a evolução da forma, ocorreu também um

incremento nos desenhos e a cerâmica passou a receber também hieróglifos. Muitas

delas eram usadas nos altares, como objetos sagrados.

Em torno de 1100 a.C. os artesãos começam a fabricar um grande número de

estatuetas de argila, alguns retratando o cotidiano, como mães com seus filhos e outras

relacionadas a ritos xamânicos. Sacerdotes-xamãs, criaturas estranhas eram esculpidas.

Phillips acredita que esses artefatos são inspiradas em viagens espirituais, ocasionadas

pelo consumo de substancias psicotrópicas. Além disso, as estatuetas também mostram

deuses e deusas.

30 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 114.31 FRANCH, José Alcina – Mitos y Literatura maya. Alianza Editorial. Madrid, 2007. página 21.32 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 189.

Contudo, uma das maiores expressões artísticas da Mesoamérica, data da época

dos Olmecas, que são as cabeças colossais. Phillips e Saunders concordam que elas

pesavam em média 20 toneladas e que representavam nobres ou ancestrais com a

máxima realidade possível. Feitas de pedra, ainda não se sabe ao certo a tecnologia

usada para transportá-las aos locais de adoração. “Qualquer que seja a realidade da

política olmeca e a natureza de sua arte oficial, esses monumentos individualizados

tinham um propósito – identificar o poder sagrado e político com pessoas

reconhecíveis.”33

Contudo, aos poucos os artesãos pararam de esculpir esses monumentos e

passaram a se dedicar à construção de relevos bidimensionais: as estelas. Elas serviam

para honrar os governantes, relatos religiosos e decretos do governo, esculpidas com

desenhos e hieróglifos. Além das estelas, os escultores maias se destacavam no entalhe

de muros, tronos, dintéis e elementos arquitetônicos decorativos. Os maias chamavam

as suas estelas de árvore de pedras, o que segundo Phillps, sugere a possibilidade de que

anteriormente elas tenham sido entalhadas em troncos de árvores. Soustelle lamenta em

seu livro que devido aos combates, aos incêndios e ao próprio tempo, esses artefatos não

tenham resistido. Segundo ele, as únicas peças que restaram foram tambores, e gongos.

Apesar de todos os vestígios arqueológicos, Coe nos assegura que

“Os maias não se mostravam interessados na tridimensionalidade, se bem que, por

vezes, imprimissem profundidade a uma cena, pelo recurso da perspectiva. A sua arte é

essencialmente plana, pictórica, narrativa e barroca, tremendamente impregnada de

ornamentações e grotescos, mas preservando o que Proskouriakoff chamou de ‘ordem na

complexidade’.”34

Os astecas fizeram renascer a arte da máscara em pedra, segundo Soustelle. Era

frequentemente incrustada de turquesas, obsidiana, madrepérola e granadas. Essas

máscaras tinham frequentemente finalidade funerária, entretanto, algumas vezes

representavam monstros ou os deuses, sendo muito usadas em cerimônias religiosas.

33 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. página 37.34 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 116.

Como já foi dito anteriormente, os mesoamericanos ornamentavam muito suas

cabeças, com isso surgiu uma arte plumária de grande expressão na América. As penas

da ave quetzal eram as mais utilizadas para fazer elaborados toucados, escudos

cerimoniais e estandartes religiosos destinados à realeza e aos sacerdotes. Apesar da

preferência pelo quetzal, plumas de araras, papagaios, espátula rosada e muitas outras

aves, eram também muito utilizadas. Não chegaram até nós, mostras da arte plumária

maia, apenas a conhecemos devido as outras representações artísticas onde elas

aparecem.

Outra forma de representações artísticas vinha das obras de arquitetura. As

montanhas eram lugares sagrados na Mesoamérica e, frequentemente, tidas como fonte

de água e fertilidade, é o que afirma Saunders. Assim, segundo Phillips as pirâmides

eram construídas, preferencialmente, nas plataformas mais altas. Assumindo que os

Mesoamericanos viviam em cidades, as casas maias em sua maioria eram construídas

com um material perecível.

“Se bem que as ‘cidades’ maias tenham sido inspiradas em razoes sobrenaturais, não

existem quaisquer indícios de um planejamento na distribuição dos edifícios. O centro urbano

deve ter sido edificado por acrescentamento, à medida que os templos e os palácios foram sendo

reconstruídos através dos séculos.”35

Os construtores faziam uso da pedra e de outros materiais disponíveis na

localidade. O estilo arquitetônico de Teotihuacan foi bastante influente em toda a

35 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 100.

Quetzal

Mesoamérica. Contudo, uma variedade de estilos se desenvolveu entre os maias. As

construções sagradas de Tikal se caracterizam por pirâmides-plataforma, cada uma

delas coroadas por um templo ameado alto de pedra com argamassa, a única entrada,

entre as grossas paredes. Em Palenque, Yaxchilán, Piedras Negras e Bonampak, as

pirâmides se caracterizam por apresentar paredes mais finas e três ou mais entradas. Na

parte de dentro, geralmente as construções eram divididas em duas habitações paralelas

por uma parede que também ajudava na sustentação do teto.

Enfim, segundo Soustelle a arquitetura religiosa asteca adotava como forma

mais freqüente a pirâmide encimada por um santuário, contendo escadarias íngremes e

ladeadas por serpentes emplumadas, tudo muito semelhante às culturas anteriores. Entre

os astecas e os maias, as pirâmides eram relacionadas com as montanhas sagradas. E, ao

contrario do Egito, não eram câmaras mortuárias, mas templos, apesar de Coe afirmar

que “a função das pirâmides maias como monumentos funerários remonta assim aos

tempos pré-clássicos”36. Assim, fica claro que, em alguns períodos, elas foram usadas

túmulos.

“Em Tikal e outras cidades, os arquitetos dos centros cerimoniais seguiam um padrão

baseado nos quatro pontos cardeais e nos três níveis do universo, terra, céu e mundo inferior. O

leste era o lugar do sol nascente e o oeste, lugar de seu descenso para a escuridão, representava

a esfera terrestre governada pelos ciclos temporais como padrão diário do nascer e do pôr-do-

sol. As construções no leste, oeste e norte eram frequentemente colocadas formando um

triangulo, com a quarta posição, ao sul, incluída no padrão sagrado.”37

Em tollán, Chichén Itzá e Tenochtitlán, adaptações dos rituais de sacrifício

requeriam peças especializadas de mobiliário sagrado. Uma delas era o chacmol, que

era um recipiente para ser depositado o coração da vitima do sacrifício. Existiam

também prateleiras de caveiras, onde se colocavam as cabeças das vitimas decapitadas.

O uso de pinturas coloridas realçava as mensagens do poder divino, dinástico ou

militar representado por construções sagradas.

“No cimo do Templo Maior em Tenochtitlan, os templos gêmeos estavam pintados de

cores brilhantes como uma forma de identificar seus padroeiros divinos. O santuário do norte

em honra a Tlalóc estava pintado de azul e branco para indicar seus poderes sobre a água,

enquanto o do sul, em honra a Huitzilopochtli, era em vermelho para comemorar seu controle

sobre a guerra e o sacrifício.”38

36 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 68.37 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 146.38 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 148.

Os campos onde eram jogados os Jogos de Bola também eram um símbolo da

arquitetura mesoamericana. Eles faziam parte do centro cerimonial e foram encontrados

em maior numero na cidade de Chichén Itzá. Segundo Phillips, esses campos

costumavam ter acentos para os espectadores. Os palácios dos reis tinham vista para os

edifícios sagrados da cidade.

Religião e Guerra

Tudo na Mesoamérica era regido pela religião. A arte, arquitetura, festivais,

costumes, eram fortemente marcados pela religiosidade. A principio, segundo Saunders,

todos os rituais se relacionavam ao culto da Grande Deusa. “Talvez a Grande Deusa

fosse uma abstração, uma incorporação e personificação do mundo natural e cujos

olhos desincorporados tão frequentemente representados em seus murais mostrem sua

natureza onipresente e onisciente.”39

Segundo Michael Coe, as religiões da Mesoamérica tinham uma visão de mundo

cíclica. Eles acreditavam que o universo era formado de acordo com um padrão sagrado

e que podia ser decifrado pelo movimento das estrelas. “Os astecas, por exemplo,

acreditavam que o universo passou por quatro idades e que se estava então na quinta,

sujeito a ser destruído por um abalo sísmico.”40 Supõe-se que cada ciclo desses durava

13baktuns, que equivale a 5200 anos. Daí, surgiria uma outra era. No Popol Vuh essa

visão cíclica fica clara quando ele narra a historia dos homens de barro e de madeira,

que consistiam em tipo de humanidades diferentes que não tinham dado certo,

anteriormente.

O panteão maia ainda é pouco conhecido. Nele os deuses possuíam vários

aspectos e podiam ser representados sob diversas formas, o que dificulta ainda mais o

trabalho dos historiadores. “Certo numero deles parece ter tido um equivalente do sexo

oposto, na posição de consorte: um reflexo da filosofia mesoamericana do dualismo,

unidade dos princípios opostos.”41 Esses deuses também possuíam uma encarnação

infernal, já que todos teriam morrido, passado pelo mundo subterrâneo e ressurgido.

39 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. página 64.40 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 156.41 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 159

Os maias acreditavam também nos chacs, espíritos benevolentes que habitavam

os quatro cantos do mundo e que de acordo com o local onde estivessem, teriam uma

cor diferente. Os maias concebiam a terra plana e quadrada e cada ponto cardeal era

representado por uma cor. Vermelho para o leste; branco para o norte; preto para o oeste

e amarelo para o sul. As cores dos chacs mudavam de acordo com essa lógica.

Apesar de ser uma sociedade agrícola, o principal deus do panteão é Itzamá, o

deus da escrita. O que é interessante, pois o mais comum seria que eles venerassem

algum deus agrícola, já que era a base da sua existência. A preponderância desse deus

demonstra o poder que os sacerdotes exerciam nessa sociedade. Itzamná era casado com

Ix Chel, a senhora do arco-íris e deusa da medicina, tecelagem e procriação. Todos os

outros deuses eram seus descendentes.

Diferentemente dos astecas, os sacerdotes maias não eram celibatários e o seu

cargo poderia ser passado hereditariamente. Eles dominavam todos os rituais, assim

como a compreensão do calendário. Contudo, Michael Coe ressalta que ele servia ao rei,

apesar de dominá-lo ideologicamente.

Narrado no Popol Vuh, o jogo de bola é considerado sagrado pelos

mesoamericanos, com poucas diferenciações entre os maias e astecas o jogo simboliza a

descida de um ser supremo ao mundo inferior, Xibalba e seu retorno mais fortalecido.

Phillips afirma que para os maias, o jogo representava a descida do deus Sol aos

infernos, bem como sua vitória e seu posterior regresso como deus do milho. Ele

comenta também que se jogava como parte dos ritos de fertilidade após a semeadura,

para invocar as chuvas e a boa colheita, o jogo também era praticado nos sacrifícios de

sangue e dependendo do resultado traziam profecias. Nas terras astecas o jogo se

relacionava com a historia sagrada de Quetzalcóatl, deus serpente emplumada.

Ao contrario do que a nossa visão etnocêntrica nos faz pensar, esses povos não

eram sanguinários cruéis. Eles apenas acreditavam que o sangue era o que eles tinham

de mais valioso, por isso, ofereciam-no aos deuses. “O sangue era a liga do universo,

evitando que suas inúmeras partes caíssem em um caos cósmico político e social. Os

deuses desejavam sangue e era dever das dinastias maias fornece-lo em grande numero

de rituais.”42

Todos os rituais eram precedidos de uma rígida abstinência, tanto sexual quanto

alimentar. Os sacrifícios de sangue não limitavam-se a assassinar algumas pessoas,

42 SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras Editora LTDA. São Paulo, 2005. página 81.

todos os cidadãos maias e astecas tinham que prestar um sacrifício, inclusive o rei.

Michael Coe nos conta que a automutilação era muito praticada e furava-se com agulhas

as orelhas, bochechas, lábios, língua e o pênis. O sangue era salpicado num papel e

apresentado aos deuses.

Entre os maias, os sacrifícios humanos eram praticados entre prisioneiros,

escravos e crianças bastardas. “Todavia, antes da era Tolteca, os animais eram as

vitimas mais comuns, substituindo os homens.”43 Entre os astecas, os prisioneiros eram

capturados nas guerras floridas.

Saunders afirma que a região maia não era imperialista como era, em parte, os

astecas e incas. Contudo, todas as civilizações mesoamericanas travavam guerras e

celebravam a vitória com sacrifícios de sangue.

As guerras maias não tinham o intuito de formar um império, mas apenas de

consolidar o domínio e poder das classes dominantes. Segundo a doutora Kalina Silva, a

guerra era uma questão de status. Já os astecas constituíram um império, todavia, não

impunham seus costumes às cidades conquistadas, essas apenas deveriam pagar tributos

aos Mexicas. Os astecas também travavam a chamada Guerra Florida, que consistia em

uma guerra simbólica, realizada apenas para conseguir homens para os rituais de

sacrifícios.

Os guerreiros lutavam nas guerras de modo a não matar o adversário. Para eles o

importante era traze-los vivos e oferece-los como oferenda aos deuses, o que de fato era

uma tarefa muito mais difícil de se empreender. Segundo Phillips, tanto os maias como

os astecas levavam a cabo sacrifícios através do conflito ritual. Assim, os guerreiros

armados com tacapes com laminas de obsidiana, atacavam uma vitima amarrada num

pedra sacrifício que dispunham apenas de um tacape com laminas de plumas. Assim, os

guerreiros esfaqueavam a vitima até que o sangue jorrasse profusamente.

Medicina

Soustelle afirma que as doenças eram atribuídas a causas sobrenaturais e por

isso, eram adotadas em larga proporção medidas mágicas e feitiços na medicina.

“O ticitl (médico) asteca recorria à adivinhação e à contra-magia, às preces e às

imposicoes de mãos. Ao mesmo tempo, porém, eles sabiam reduzir fraturas, pensar feridas,

colocar emplastros, aplicar sangrias e, principalmente, ministrar porções de plantas medicinais

43 COE, Michael D. – Os Maias. Editorial Verbo. Lisboa, 1971. página 162.

cujos efeitos – purgativos, diuréticos, antiespasmódicos, sedativos, etc. – eram conhecidos e

empiricamente verificados através da longa tradição.”44

Calendário

Phillips nos informa que os astrônomos mesoamericanos dispunham de meios de

observação simples e limitavam-se a calcular o movimento estelar a olho nu e usando

marcas num par de varas cruzadas como referência. As edificações sagradas eram

projetadas para celebrar os acontecimentos celestes, como solstícios e equinócios.

“Os sacerdotes e os astrônomos mantinham um registro incrivelmente preciso do

tempo, com o movimento das estrelas como medida. Os prolongados e recorrentes padrões do

céu noturno constituíam um padrão físico das regras invisíveis do tempo.”45

Bibliografia

BRAUDEL, Fernand - Gramática das civilizações. Martins Fontes; São Paulo,

2004;

CARDOSO, Ciro Flamarion – América Pré-Colombiana. Brasiliense, 1986;

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Cultura Econômica. México, 1991;

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SAUNDERS, Nicholas J. – Américas Antigas: As grandes civilizações. Madras

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SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique – Dicionário de

Conceitos Históricos. Contexto, São Paulo, 2006;

SOUSTELLE, Jacques – A Civilização Asteca. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de

Janeiro, 1993;

Imagem

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/quetzal/

44 SOUSTELLE, Jacques – A Civilização Asteca. Jorge Zahar Editor Ltda. Rio de Janeiro, 1993. página 60 e 61.45 PHILLIPS, Charles – Grandes Civilizações do Passado: O Mundo Asteca e Maia. Ediciones Folio, S.A. Barcelona, 2007. página 120.