artigo reconstrução da roupa

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A construo perfeita de roupas, do requinte no acabamento exato e cuidado com modelagem, foi uma tradio europia at a dcada de 80, principalmente na alta-costura. Os padres de excelncia em moda eram roupas impecveis, com o corte perfeito, arremates bem feitos e peas forradas. Essa era inclusive uma forma de em relao moda que se praticava at ento. 'No entanto, alguns grupos e estilistas comearam a propor uma desconstruo de roupas, tentando romper com a concepo atrasada do vesturio, deixando alguns acabamentos em aberto propositalmente, abrindo peas de maneiras inusitadas, para que novas formas pudessem surgir, causando modificao na modelagem. Roupas nada convencionais, desestruturadas, amassadas e rasgadas, redefiniram conceitos at ento imutveis. Sem levar em conta as formas do corpo, num corte assexuado, criando imperfeies de maneira proposital e usando cores sombrias. Os jovens estilistas japoneses: Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Issey Miyake, revolucionaram cdigos de seduo, revendo seus sinais exteriores de riqueza, redefinindo sua relao com o corpo do homem e da mulher. Para modificar radicalmente a forma de incompreenso estabelecida entre o belo e o feio, o antigo e o futuro, a memria e a modernidade. Se opem aos altos custos da alta-costura, ao brilhantismo do prt--porter, ao futurismo das vanguardas. Inventam um novo cdigo de vestir, reduz tudo ao essencial, sem jias, sem ornamentos, sem detalhes. A concepo de um vestido se baseia na idia abstrata que tem da mulher. Paris parece-se com o Japo: era a frase inicial dos jornais parisienses na semana de moda outono inverno 1982. Os desfiles de Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto causaram um grande impacto na cultura europeia, muitos crticos no intendiam ou no desejavam este estrondoso abalo na forma de se fazer moda. Vera Gertel, em uma matria chamada Revoluo na Moda para a revista Desfile, escreve o seguinte: E o resultado foi o aparecimento de roupas cujos panos so trabalhados, cortados, recortados, amarrados, originando formas amplas, longas, bizarras, inventaram o look pobre ou rico miserabilssimo, que entrou em forte contraste com a busca de luxo e requinte dos estilistas ocidentais. Rei Kawakubo descrita como Arquiteta do vestido, desconstruindo a roupa para reconstru-la melhor, inovadora em tudo , por Franois Baudot, e suas criaes definidas como As roupas estranhas, no convencionais, desestruturadas, amassadas e rasgadas trouxeram um novo conceito, geraram polmica, influenciando inmeros outros estilistas e praticamente estabelecendo os rumos da silhueta adotada nos anos 80. Rei Kawakubo referncia em todos os sentidos: pensamento sobre forma de loja, trilha sonora, desfile, casting, temticas e principalmente criao e modelagem. No toa que tida por muitos estilistas como guru mxima e seus desfiles mobilizam e influenciam todos os que pensam e fazem moda no mundo. Issey Miyake. (...) No compactuando com os mesmos princpios de corte das roupas ocidentais, que procuram modelar o corpo tridimensionalmente, preferiu adotar a tcnica japonesa da confeco do quimono, que corta o tecido no plano e no elimina as partes excedentes, aproveitando-as como um prolongamento sugestivo de conforto e despojamento. Ficou conhecido por contestar, pesquisar, questionar e estar sempre procura de novos caminhos para a indumentria. Definido dessa maneira pelo dicionrio da moda, Miyake foi pioneiro em pensar roupas que pudessem se transformar. Criou o tubo sanfonado que podia ser colocado como vestido, gola, casaco, etc. As suas relaes entre forma e funo sempre estiveram ligadas a conceitos muito fortes que norteiam cada uma das suas colees. O modelo parisiense de Yamamoto nos anos 80 amplo, a roupa geralmente pesada, opaca, obscura, bem longe do corpo, ela parece muitas vezes ficar em p sozinha. Capas superdimensionadas, casaces desestruturados, casacos assimtricos. A simetria, smbolo da perfeio, no muito humana, e precisamente no humano que Yohji busca suas referncias. Yohji o mais filsofo dos criadores de moda declara: Se a moda a roupa, ela no indispensvel. E se a moda uma maneira de perceber nosso

cotidiano, ento ela muito mais importante. Dentre tudo que se chama arte, pintura, escultura etc. -, poucas podem como a moda ou a msica, influenciar to diretamente as pessoas. A moda uma comunicao nica, essencial, relativa a sensaes vividas por uma gerao que usa a que quiser. Se a moda de uma estao interessante ou no, no responsabilidade dos criadores, mas antes de tudo daqueles que a olham e compram. Os que usam minhas roupas querem afirmar um ponto de vista. A frase que Yohji usa a mais de vinte anos para expressar seu trabalho. Tanto com o desenvolvimento do trabalho e da linguagem de cada um desses estilistas (que at hoje so revolucionrios pela maneira como pensam e propem o vestir, dando a ele novos significados) como pelo surgimento de novos estilistas que coincidentemente ou no comearam a investigar a desconstruo de roupas. A moda francesa tem seus mestres: os japoneses (...) as roupas que eles propem em 1982 para os prximos vinte anos so de tal forma mais provveis do que aquelas anunciadas em torno de 1960 e as de Cardin para o ano 2000, que hoje soam to velhas quanto um filme de fico cientfica sovitico. Os costureiros franceses acreditaram durante muito tempo que a costura, como a cincia, era a retificao de um logo erro. Os estilistas japoneses, por sua vez, preparam as mulheres da Terra para decidir rapidamente que roupas e acessrios usaro no dia em que no tiverem mias do que uma hora para fugir. Um dos nomes ocidentais pioneiros na pesquisa da desconstruo Martin Margiela, descrito pelo dicionrio da moda como: Um dos representantes do movimento de desconstruo na moda, o seu trabalho caracterizado por uma apreciao potica da imperfeio, do no conformismo e da excentricidade. Ficou conhecido por seu estilo provocador, fazendo casacos com quatro mangas, cortando bainhas no fio e deixando-as inacabadas, colocando mangas maiores do que as cavas, com conseqente sobra de tecido, costurando bolsos em lugares inusitados e prendendo sua etiqueta em branco por apenas quatro pontos de linha. E por Franois Baudot como Terico, homem de laboratrio, seu laconismo e sua singularidade incomodam. Costuras aparentes, ourelas com debruns, cores vivas, desconstruo sistemtica e reinveno permanente: suas silhuetas, que parecem predizer um novo futuro para a roupa, revelaram um dos grandes talentos da sua gerao. Com a revoluo gerada por esses estilistas, e por outros que deram continuidade, que seguiram a trilha aberta por eles, a moda nunca mais foi a mesma. Hoje, essa idia j foi totalmente absorvida pela moda, e faz parte da criao de muitos estilistas pelo mundo. O ato de desconstruir um pea j pronta, reciclar roupas usadas ou at mesmo compradas em brechs, abrimos espao tambm para que o inconsciente nos ajude no processo criativo, com o elemento imprevisto, inesperado. Olhamos as formas de outro jeito em relao ao corpo, ligada a uma postura inovadora, preciso ousar sem deixar capturar-se pelas formas prontas para vestir, formas dominantes, homogneas e reprodutveis. Assim, a criao que parte da desconstruo torna-se reconstruo, baseada em formas antigas, mas que agora apenas lembram peas que foram, e tornam-se novas, reiventando-as. Carregadas de sentido criativo e r-significadas por um novo olhar.