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Resumo:

O presente trabalho faz uma reflexo sobre o uso das grias, suas implicaes no universo dos adolescentes e como os mesmos reagem a essas influncias. Para tanto, apresentaremos produes redigidas por alguns adolescentes que se utilizam desse tipo de linguagem e mostraremos que ela uma opo e no a falta dela.Palavras- chave : variao lingstica, grias, adolescentes.

1.Introduo

A Sociolingstica a rea da Lingstica que estuda o uso da lngua pelos falantes. Esta cincia se faz presente na relao entre lngua e sociedade. Ela considera a importncia social da linguagem, dos pequenos grupos scio-culturais (classes sociais menos favorecidas) a comunidades maiores (classes sociais mais elitizadas). Essa considerao fundamental, pois variao e mudana lingstica so objetos de estudo da Sociolingstica.Fernando Tarallo faz uma reflexo terica para diferenciar variao de mudana lingstica. Afirma que nem tudo o que varia sofre mudana; No entanto, toda mudana lingstica pressupe variao. Para o autor, mudana variao. Portanto, variao uma situao lingstica em um dado momento, sendo definida como sincrnica, enquanto que a mudana uma situao em vrios momentos, conceituada como diacrnica (1985, p.63).Em geral, os estudos sociolingsticos no se utilizam de todos os fatores extralingsticos, tais como: idade, sexo, origem geogrfica e etc., visam a determinado (os) fator (es) e desenvolvem sua anlise.Sabe-se que o lxico o componente da lngua que retrata com facilidade as mudanas e variaes lingsticas. E, por incorporar novos itens lexicais, comporta unidades de todos os registros lingsticos, inclusive a gria.Para o presente artigo, utilizaremos a gria comoobjeto de anlise, pois o objetivo desse estudo verificar o quanto a oralidade ou a fala est presente na forma escrita. Destacaremos, inclusive, que muitos adolescentes que se utilizam das grias so conhecedores, tambm, da gramtica normativa, portanto, tm a oportunidade de optar por qual nvel de linguagem podem embasar as fundamentaes tericas do seu discurso. Assim, a gria, neste caso, pressupe uma escolha e no a falta dela.

2.Fundamentao tericaAlguns estudiosos tm analisado a linguagem das grias e as suas relaes com a escrita e a fala para tentar explicar a maneira com que alguns adolescentes se relacionam com esse fator extralingstico.Fundamentando-se teoricamente nas ideias de Moutinho (2007), que em seu trabalho titulado Adolescncia e Comunicao (as marcas da oralidade na forma de escrever) [footnoteRef:2][1] faz uma reflexo sobre uma das linguagens mais utilizadas pelos adolescentes. Retomando as idias de Osrio (1998, p. 19) [footnoteRef:3][2] afirma: [2: ] [3: ]

(...) o adolescente tem uma identidade lingstica e semnticaadequada sua condio de adolescente.um exemplo muitobom disso a gria. A gria a representao verbal daidentidade adolescente com todo o seu polimorfismo etransitoriedade caractersticos do processo puberal.O que para alguns no passa de palavras fteis, para tantos outros, a gria uma maneira de interagir com o seu grupo, de romper com os padres normativos estabelecidos pela sociedade.Esse vocabulrio passou a ser estudado a partir da dcada de 70, pois at ento no havia tido um estudo especfico a partir da dcada de 70, pois at ento no havia tido um estudo especfico. Pode-se comprovar tal fato atravs dos estudos de Souto Maior, Barros e Bezerra[footnoteRef:4][3], que afirmam:A gria, considerada como um conjunto de unidadeslingsticas (itens lexicais simples ou complexos, frases,interjeies...) que caracterizam um determinadogruposocial, nem sempre mereceu um estudo especfico(...)como, por tradio, valorizou-se sempre o estudo dalngua escrita padro, no havia lugar para esse tipodevocabulrio. [4: ]

Podemos observar que o preconceito[footnoteRef:5][4] sempre existiu e fez dessa variedade lingstica, a gria, uma linguagem de baixo prestgio social. Para confirmar tal relao, encontramos no dicionrio de Houaiss [footnoteRef:6][5]: A gria, a princpio linguagem de marginais, estendeu-se a outros grupos sociais. [5: ] [6: ]

Segundo Preti (1989), esse desprestgio se deve ao fato da sociedade ter associado gria s classes sociais mais baixas (menor renda e escolaridade) e linguagem do povo.Preti afirma que a chamada linguagem popular foi perdendo gradativamente o sentido pejorativo que a caracterizava, no entanto, continua ocupando um subpadro lexical. Preti diz:(...) Mas, ainda assim, o vocabulrio grio conserva asua condio de subpadro lexical, pelo menos enquantono se perde a conscincia de sua origem, oquevemocorrendo muito rapidamente na sociedade contempornea.Os autores, que servem de embasamento terico para este estudo, apresentam idias semelhantes quanto ao vocabulrio grio e o preconceito que o mesmosofre.Em oposio a esses estudiosos, encontramos no trabalho de Souto Maior e Barros (2000) uma consulta a algumas gramticas tradicionais para observar algumas definies para a gria. Dentre as quais, apresentaremos somente duas:1. Cegalla, na Novssima Gramtica da Lngua Portuguesa (1985:535 afirma que a gria uma lngua popular quase sempre rebelde disciplina gramatical e est eivada de plebesmo, isto , de palavras vulgares... tanto mais incorreta quanto mais incultas as camadas sociais que a falam.2. No dicionrio Aurlio (1999:989) os autores encontraram expresses referentes gria tais como: linguagem de malfeitores, malandros etc, usada para no ser entendidos pelas outras pessoas.Faamos nossa as seguintes palavras:(...) alguns gramticos no chegam sequer a mencionar o que seja gria,onde encontr-la ou us-la e aqueles que amencionam,tratam-na de formapreconceituosa,devendo ser eliminada. (Souto Maior e Barros, 2000).Ao fazermos uma reflexo sobre o uso da Gramtica Normativa, encontramos uma reflexo de Moutinho (2007) em que a autora afirma que este conjunto de regras est distante de refletir o padro nacional falado. Porm, acreditamos que ainda assim os adolescentes conseguem ter o mnimo de conhecimento necessrio para redigir um texto formal.Sabemos tambm, que muitas caractersticas da oralidade foram absorvidas pela escrita, como por exemplo, adjetivos diminutivos e aumentativos. Alm dessas caractersticas, observamos que as escritas informais so carregadas de traos emotivos o que no acontece na linguagem formal.Sem perdermos o objetivo desse trabalho, que de analisar algumas produes escritas com o fim de comprovar ou at mesmo de esclarecer que os adolescentes provocam desvios na linguagem, mas que isso acontece de maneira intencional, pois desejam romper junto ao seu crculo de amizade, determinados padres estabelecidos pela sociedade para assim facilitar a sua comunicao.3.MetodologiaPara verificar a interferncia das grias na forma de escrever de alguns adolescentes, optamos por uma pesquisa de cunho descritivo que analisa algumasprodues escritas por adolescentes (de 12 a 14 anos) da 7 srie, pertencentes classe mdia baixa e que estudam numa escola privada. Seus nomes sero preservados, assim como os nomes do professor e da escola.Foram utilizados dois tipos de bilhetes, um formal e o outro informal, que sero apresentados na anlise atravs de uma tabela.O primeiro era destinado professora no qual os alunos contariam como foi o seu dia. Para a coleta do segundo material, foi pedido alguns bilhetes, recadinhos, que eles costumavam trocar durante as aulas, portanto, sobre qualquer assunto.Este material foi recolhido no final da aula.Foram coletadas 30 produes formais e 10 informais, pois os outros 20 no entregaram suas produes. Foi pedido a eles que redigissem no mnimo cinco linhas nos bilhetes formais. Como no tivemos controle com os bilhetes informais, pois os mesmos foram pedidos inesperadamente aos alunos, o nmero de linhas no foi determinado. Para fundamentar nossa pesquisa selecionamos quatro bilhetes de cada tipo de linguagem. Ou seja, analisaremos 13% dos Formais e 40% dos Informais.So alunos da mesma sala e se intercomunicam com muita freqncia. E a pesquisa foi realizada no dia 23 de setembro de 2013.

4. AnliseComo relatamos anteriormente, apresentaremos, ao todo, oito produes escritas por adolescentes de 12 a 14 anos, redigidos no dia 23 de setembro de 2013.

AlunosBilhete FormalBilhete InformalAluno AProfessora,Ontem eu tive um dia maravilhoso! Fui praia com os meus pais e estudei muito para tirar uma nota boa na sua prova.Beijos =)Ei gata diz a...ontem eu fui p/ praia.foi massa! tiramos um monte de foto show. =)Ah....no sei se v contigo amanh..t cansada. tu ainda vai??? 8)Aluno BOi Professora,As nicas coisas que fiz foram: estudar para a prova e assistir a novela. Durmi cedo, pois tinha que acordar muito cedo hoje.Ei miga eu disse pra prof q eu estudei pra prova dela. Pense no quexo....entrei na net e fiquei at altas hora no face com o Dudu =*axo q ele vai la pra ksahj.Me passa o q tu escreveu pra prova!

Aluno CProfessora,O meu dia ontem foi como tantos outros. Vim a escola, estudei para a prova, entrei na internet, fiz o meu trabalho de histria e dormi.Bom dia! BeijosOntem eu briguei com o Pedro pq ele vai pro pagode sbado e num ta nem a pra mim. Blz...nem me extresso ! + v sair tb. p.. m paia....bora comigo???? =(

Aluno DProfessora, o meu dia no foi muito bom. Gosto de uma menina, mas o meu primo j est com ela. E para completar o paysandu vai ser rebaixado....

Mah o viado do rafael num ta ficando com a izabel..eu tava doido por ela..e agora? Tu vai v ele vai descolar um pial.me escovou na maior....Como podemos observar, o objetivo principal dessa pesquisa foi alcanado.Vimos que os adolescentes, nas produes formais, utilizam-se de artifcios como regncias, vocativos e termos acessrios em uma orao (sujeito, verbo e predicado).Demonstrando assim, terem conhecimentos bsicos sobre a gramtica normativa.Nas produes informais, observamos o uso de abreviaes, emoticons (tpico do internets) e h ausncia de determinados sinais de pontuao, porm o mais importante foi a grande utilizao de grias. Exemplos de grias mais utilizadas: gata, foi massa, show, altas horas, descolar um pial (apanhar sozinho), balada, t nem a, blz, kra, zoando, mah, escovou, ficando.Os resultados encontrados confirmam a idia desse estudo. Os adolescentes, quando pedidos que utilizassem uma linguagem mais adequada, souberam utilizar, por mais que tenham cometido alguns erros (de concordncia, por exemplo). Porm, quando foram comunicar-se com o seu grupo, utilizaram-se de um a linguagem mais irreverente e conhecida por todos os receptores.5. ConclusoA Sociolingstica a rea da Lingstica que tem como objeto de estudo a variao e a mudana lingstica. A variao lingstica responsvel pelos fatos de um dado momento, portanto, sincrnicos.Para presente artigo, utilizamos a gria como objeto de estudo e verificamos a relao desse fator extralingstico com a escrita de adolescentes. Pois acreditamos que os mesmos a utilizam por uma questo de opo para o seu discurso informal e no por no conhecerem a gramtica normativa.Atravs do material coletado, conseguimos confirmar o objetivo desse trabalho: Os adolescentes utilizam os dois tipos de linguagem: a formal e a informal.Por falta de oportunidade ou mesmo por falta de tempo, no contemplamos em nossos estudos, assuntos de grande relevncia como: o estudo da Lexicografia e o Preconceito lingstico existente nesse tipo de linguagem.Recomendamos a ampliao desse estudo, pois se trata de uma rea bastante interessante e necessria de ser melhor entendida.Referncias

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingstica. So Paulo: tica, 1986.SOUTO MAIOR, Ana Christina, BEZERRA, Maria Auxiliadora e BARROS, Antnio Cludio da Silva. A Gria: Do registro coloquial ao registro formal. Trabalho apresentado no IV Congresso Nacional de Lingstica e Filologia. Rio de Janeiro(UFRJ). 2000;MOUTINHO, Valria de Carvalho. Adolescncia e Comunicao (as marcas da oralidade na forma de escrever). 2007;PRETI, Dino. A gria na lngua falada e na escrita: Uma longa histria de preconceito social. 1989. Texto retirado de Fala e escrita em questo. So Paulo: Humanitas / FFLCH / USP, 2000,Webliografia