15
ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO Paulo Roberto Sabino Graduação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Santa Cecilia. Especialização em Publicidade e Mercado pela ECA/USP e em Museologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia MAE/USP. Mestrando em Design pelo Centro Universitário SENAC. Resumo Este artigo é parte da pesquisa de mestrado sobre Design de exposições e arquitetura de museus e apresenta uma proposta para classificação de museus brasileiros por meio de sua arquitetura. Assim, ao entender o museu como patrimônio e sua arquitetura como característica intrínseca nas relações com o objeto, esta pesquisa analisa vinte instituições museológicas localizadas na cidade de São Paulo. Palavras-Chaves: Arquitetura de Museus; Museologia; Design; Patrimônio Cultural. Abstract This article is part of a master thesis on Architecture and Design exhibitions in museums, presenting a proposal of classification for brazilian institutions. Thus, to understand the museum as a heritage and its architecture as a intrinsic characteristic in object relations, this research examines twenty museological institutions located in São Paulo. Keywords: Architecture Museums, Museology, Design, Cutural Heritage. Introdução A relação entre arquitetura e museu existe há tempos, motivados por diversos fatores como movimentos artísticos, sociais, políticos ou econômicos. Relações de poder em que o museu foi usado como símbolo ou referência a um determinado pensamento ou ideologia.

ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

Graduação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Santa Cecilia. Especialização em Publicidade e Mercado pela ECA/USP e em Museologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia MAE/USP.

Mestrando em Design pelo Centro Universitário SENAC.

Resumo Este artigo é parte da pesquisa de mestrado sobre Design de exposições e

arquitetura de museus e apresenta uma proposta para classificação de museus

brasileiros por meio de sua arquitetura. Assim, ao entender o museu como

patrimônio e sua arquitetura como característica intrínseca nas relações com o

objeto, esta pesquisa analisa vinte instituições museológicas localizadas na

cidade de São Paulo.

Palavras-Chaves: Arquitetura de Museus; Museologia; Design; Patrimônio

Cultural.

Abstract

This article is part of a master thesis on Architecture and Design exhibitions in

museums, presenting a proposal of classification for brazilian institutions. Thus, to

understand the museum as a heritage and its architecture as a intrinsic

characteristic in object relations, this research examines twenty museological

institutions located in São Paulo.

Keywords: Architecture Museums, Museology, Design, Cutural Heritage.

Introdução A relação entre arquitetura e museu existe há tempos, motivados por diversos

fatores como movimentos artísticos, sociais, políticos ou econômicos. Relações

de poder em que o museu foi usado como símbolo ou referência a um

determinado pensamento ou ideologia.

Page 2: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

2

Assim, podemos citar a criação do Museu do Louvre, em Paris, como símbolo de

uma revolução que extinguia os privilégios da monarquia e disponibilizava seus

tesouros ao público. O Altes Museum, em Berlim, de Karl Friedrich Schinkel,

inaugurado em 1824 como modelo do museu neoclássico posteriormente atacado

pelas vanguardas artísticas como “mausoléu” academicista (GRANDE, 2009, p.

7). Em 1939 a criação do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, MoMA,

apresentou ao mundo suas grandes galerias brancas e funcionais, no projeto

modernista de Goodwin e Stone, inserindo o modelo do “Cubo Branco” nos

projetos museológicos. (O’DOHERTY, 2002, p. 4).

No auge das agitações políticas, da guerra fria e da cultura de massa, surge em

Paris um novo modelo: o Centro Cultural Georges Pompidou, de 1977, projetado

por Rogers & Piano em um edifício envidraçado que expõe sua estrutura e

concentra sua programação na interdisciplinaridade e interação entre a cultura e o

público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e

midiática, o museu pós-moderno tem então seu ícone no projeto de Frank Gehry

para o Guggenheim de Bilbao, de 1997. (MONTANER, 2003, p. 18).

Esses são alguns exemplos de como a arquitetura e os museus andaram juntas,

interpretando as transformações da sociedade. Para uma melhor compreensão

alguns autores identificaram modelos desta relação e propuseram uma

classificação entre espaço arquitetônico e pensamento museológico.

Este artigo apresenta dois destes autores e os utiliza para propor uma

classificação e uma relação entre a arquitetura e os espaços de exposições para

os museus brasileiros, mais especificamente àqueles situados na cidade de São

Paulo.

Assim, esta análise utilizará as propostas do arquiteto português Nuno Grande

(2009), que apresenta uma classificação cuja orientação opera entre paradigmas

modernistas e pós-modernos, traçando um “panorama da arquitectura (no sentido

espacial) de alguns dos mais recentes museus e centros de arte contemporânea

à luz das diferentes arquitecturas institucionais” (GRANDE, 2009, p. 6). O

arquiteto organiza as instituições museológicas em: ícone, reduto, paisagem,

squatter, laboratório, acervo e cluster.

Page 3: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

3

O segundo autor é o arquiteto espanhol Josep Maria Montaner (2003), cujo

trabalho expõe o “panorama e a condição contemporânea da arquitetura de

museus” (MONTANER, 2003, p. 8), destacando modelos importantes como

referências para o século XXI. Seu trabalho classifica oito tipologias

preponderantes na arquitetura do museu contemporâneo: organismos

extraordinários, evolução da caixa, objeto minimalista, museu-museu, museu

voltado para si mesmo, museu colagem, antimuseu e as formas de

desmaterialização.

Classificação dos museus e instituições paulistanas

As propostas apresentadas pelos dois autores, embora partindo de premissas

diferentes, assemelham-se no que diz respeito aos modelos arquitetônicos de

museus e de instituições, compartilhando inclusive alguns exemplos de museus

para justificar suas posições, embora partindo de premissas diferentes.

Como podemos observar, também as classificações não são rígidas, elas se

interligam, perpassam e fluem entre os diversos modelos apresentados,

apropriando-se de um ou outro conceito. Nesse sentido o Museu de Arte

Contemporânea de Niterói pode ser classificado como museu paisagem e

organismo extraordinário.

Para a análise desta pesquisa utilizaremos os museus e centros culturais da

cidade de São Paulo. Para tanto, consideramos as instituições dessa cidade

relacionados no Cadastro Nacional de Museus do Instituto Brasileiro de Museus –

IBRAM, listadas abaixo:

1. Centro Cultural Banco do Brasil

2. Centro da Cultura Judaica

3. Centro Cultural São Paulo

4. Galeria de Arte do SESI

5. Instituto de Arte Contemporânea

6. Instituto Itaú Cultural

7. Instituto Tomie Ohtake

8. Memorial da Resistência

9. Museu Afro Brasil

Page 4: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

4

10. Museu de Arte Contemporânea

11. Museu de Arte Moderna

12. Museu de Arte de São Paulo

13. Museu Brasileiro da Escultura

14. Museu da Casa Brasileira

15. Museu do Futebol

16. Museu da Imagem e do Som

17. Museu da Língua Portuguesa

18. Paço das Artes

19. Pinacoteca do Estado de São Paulo

20. SESC Pompeia

Ao aplicar as propostas citadas anteriormente nas instituições selecionadas

construímos uma base inicial para entendermos os museus da cidade de São

Paulo, por meio de suas características arquitetônicas. Assim, podemos visualizar

no gráfico (fig. 1) uma distribuição das instituições em relação às propostas dos

autores.

Devido à relação intrínseca das propostas dos dois autores, optamos por um

gráfico sobreposto, no qual podemos obter uma melhor visualização das

instituições para análise. O desenho procura respeitar a forma do pensamento de

cada autor.

Desta forma, o trabalho de Nuno Grande (2009) que é apresentado como

percurso, tem seu início no “museu ícone” até o “museu cluster”, e está

representado nas faixas que partem do centro à borda do gráfico. O trabalho de

Montaner (2003) tem início na contraposição de duas posições tipológicas

distintas, “o museu como organismo

Page 5: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

5 Fig. 1 – Gráfico de classificação dos museus paulistanos.

Page 6: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

6

extraordinário” e “a evolução da caixa”. Na construção do esquema, procuramos

respeitar as relações de aproximação e antagonismo entre as tipologias.

Analisando o gráfico, notamos uma grande concentração de instituições

pertencentes a uma determinada área. Pela classificação do arquiteto espanhol,

que toma como premissa as referências arquitetônicas marcantes no século XX e

representativas no XXI, não há em São Paulo um museu de características

radicais ou experimentais que se encaixasse nas posições tipológicas de “museus

como organismos extraordinários”, “antimuseus” ou “formas de

desmaterialização”.

A maioria das instituições está localizada em posições que podemos entender

como tradicionais, marcadas pela influência da arquitetura moderna ou de

restauração de prédios antigos para abrigar novos espaços.

O número de instituições localizadas no modelo de “museus voltados para si

mesmo” indica, como citado anteriormente, a forte tendência pela arquitetura

moderna e por museus com acervos, em relação a centros e institutos culturais.

Na posição “evolução da caixa”, em que os museus modificaram a caixa

modernista e, ao mesmo tempo, mantiveram fortes ligações com suas ideias,

temos seis instituições.

Como “museu-museu”, situam-se dois edifícios: o Centro Cultural Banco do Brasil

(fig. 2), que manteve as características originais da arquitetura do prédio, e o

Centro da Cultura Judaica, de 2003, projeto de Roberto Loeb, com seu formato

que representa sua própria vocação. Observamos que os demais modelos de

instituições que utilizam prédios antigos alteraram, de alguma maneira, sua

estrutura arquitetônica, certamente para uma adequação às necessidades

museológicas ou institucionais.

Page 7: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

7

Fig. 2 – Vista interna do edifício do Centro Cultural Banco do Brasil.

No percurso de Grande (2009), o gráfico apresenta uma distribuição mais

abrangente, com instituições ocupando todas as faixas, mas com maior

concentração no museu squatter – oito no total –, reforçando a constatação sobre

a utilização de edifícios antigos ou abandonados para instalação de museus. O

“museu laboratório”, com quatro instituições, evidencia uma proposta

programática diferenciada de locais ligados à tecnologia e à ação multimídia na

cidade, como o Instituto Itaú Cultural, de 1995, projeto inicial do arquiteto Ernest

Robert de Carvalho Mange, e o Museu da Imagem e do Som. Há ainda os

espaços polivalentes como o Centro Cultural São Paulo (fig. 3) e o Paço das Artes

que abrigam vários formatos de exposições: da fotografia às instalações

multimídia.

Page 8: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

8

Fig. 3 – Vista interna do edifício do Centro Cultural São Paulo.

Escala de influências: exposição x arquitetura

Após a seleção das instituições foram realizadas visitas as exposições durante o

primeiro semestre de 2010. Essas visitas tiveram como objetivo observar e

documentar os diversos projetos expográficos e as relações com a arquitetura dos

espaços museológicos que os abriga.

Assim, podemos dizer que tais relações ocorrem entre três elementos: a) o

projeto arquitetônico dos museus e centros culturais; b) a tipologia da exposição;

e c) as estratégias e a proposição expositiva, envolvendo questões socioculturais,

simbólicas e comunicacionais. Desta forma o projeto arquitetônico das instituições

pode estar intrinsecamente relacionado ao objeto a ser exposto, ou seja, à

tipologia da exposição: artística, histórica, temática, entre outras.

A partir dessas relações, representada no gráfico abaixo (fig. 4), foi elaborada

uma escala considerando diferentes graus de influência da arquitetura no projeto

expográfico das exposições visitadas. Para esta pesquisa utilizamos uma

gradação simplificada com três níveis: alto, médio e baixo.

Page 9: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

9

Fig. 4 – Relações de influências entre Arquitetura, Design e Objeto.

Para um grau alto, entendemos a exposição cujo objeto tem uma relação direta

com o projeto arquitetônico do espaço, e o design é totalmente influenciado tanto

no campo conceitual como na execução do projeto.

No caso de um grau de influência médio, esse se refere ao objeto exposto que

não estabelece relação direta com o projeto arquitetônico, mas que, de alguma

forma, influencia o desenho da exposição, seja por um único elemento ou por

alguma característica que se relacione com esses elementos.

Em um grau baixo, temos que o objeto não possui qualquer relação com a

proposta arquitetônica do espaço e nenhum dos elementos é considerado na

expografia, sendo este utilizado para alcançar uma solução expositiva.

Ressaltamos que essa análise não possui nenhum critério de valoração sobre as

exposições visitadas. Assim, um grau alto não significa que uma exposição está

bem resolvida expograficamente, da mesma forma que um baixo grau de

influência pode representar uma exposição muito bem elaborada como solução

de design expositivo.

Page 10: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

10

Pelo gráfico, notamos que a maioria das instituições analisadas apresenta uma

alta influência identificada na expografia, totalizando 15 das 20 instituições

analisadas. Complementando com três graus médio e dois baixo.

Cruzando as informações do diagrama, temos que a maior incidência de baixo e

médio grau de relacionamento ocorre com museus squatter (Pinacoteca do

Estado, Centro Cultural Banco do Brasil e Museu da Língua Portuguesa),

demonstrando que as intervenções ou adaptações de edifícios antigos ou

abandonados nem sempre têm suas características históricas consideradas nos

programas expositivos. Necessidades de adaptações museológicas que

encobrem o edifício original ou a diversidade do programa de exposições podem

ser causas desta situação.

Os “museus voltados para si mesmo” agrupam o maior número de alto grau de

influência, seis instituições, o que reflete a forte relação destes com seus acervos

e conceitos arquitetônicos, geralmente localizados em prédios que possuem

relação direta com suas propostas como o Memorial da Resistência (fig. 5) no

prédio do antigo DEOPS/SP ou o Museu do Futebol (fig. 6) no interior do estádio

do Pacaembu.

Fig. 5 – Espaço do Memorial da Resistência, no antigo edifício do DOPS.

Todos os quatro “museus laboratórios” (Centro Cultural São Paulo, Museu da

Imagem e do Som, Paço das Artes e Instituto Itaú Cultural) possuem alto grau de

Page 11: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

11

influência, o que pode representar uma programação de exposições que pensa a

utilização do espaço em toda potencialidade para o qual foi projetado.

Fig. 6 – Sala Anjos Barrocos, Museu do Futebol, interior do estádio do Pacaembu.

O modelo “objeto minimalista” foi o que apresentou maior diversidade de graus,

com instituições nas três gradações, embora com maior presença do grau alto,

correspondendo a maioria global das instituições.

Esses modelos são caracterizados por uma influência do espaço modernista,

grandes galerias, com espaços amplos, sem grandes interferências

arquitetônicas, como as galerias do Museu de Arte Contemporânea (fig. 7), do

Instituto Tomie Ohtake e do Instituto de Arte Contemporânea (fig. 8), mas também

com espaços em que tal característica não é aproveitada ou considerada, como

no Museu da Escultura Brasileira.

Page 12: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

12

Fig. 7 – Galeria do Museu de Arte Contemporânea da USP.

Fig. 8 – Galeria do Instituto de Arte Contemporânea.

No gráfico (fig. 1) podemos observar como as instituições museológicas estão

agrupadas por suas diversas características e influências arquitetônicas. Esse

quadro é a fotografia de um momento. Uma relação de uma exposição específica

a determinado espaço. As relações podem ser alteradas de acordo com o tipo de

exposição, pois alguns espaços têm propostas expositivas bem determinadas,

outros já têm a diversidade como característica. Uma mesma exposição em outro

local poderia apresentar diferentes graus de relação.

Page 13: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

13

O autor René Vinçon (1999) escreve sobre a impossibilidade de um “grau zero”

na montagem de exposições de arte, já que essa possuí um sentido estético e é

pensada como tal. “Toda exposição é uma apresentação que implica artifícios”

(VINÇON, 1999 apud GONÇALVES, 2004, p.40)

Considerações Finais

O museu já atravessou diversas fases em nossa história, de monumentos que

exaltavam os discursos nacionais a locais de coisas velhas, depósito de coisas do

passado. No entanto, o museu contemporâneo volta a ocupar lugar de destaque

como novo templo cultural da atualidade.

Se por um lado o status museu contemporâneo surge espetacular em sua

arquitetura arrojada e futurista, ele também serviu para elevar os museus a

categoria de patrimônio cultural a ser preservado. Símbolo identitário de grandes

cidades e comunidades periféricas.

Como exemplo em nosso país podemos citar que, em menos de um ano, foi

anunciada construção de três novos museus na cidade do Rio de Janeiro: O

Museu da Imagem e do Som – MIS, com projeto do escritório de Nova Iorque

Diller Scofidio+Renfro; o Museu de Artes do Rio – MAR dos arquitetos Thiago

Bernardes e Paulo Jacobsen e o Museu do Amanhã, com projeto de Santiago

Calatrava. Todos possuem realização da Fundação Roberto Marinho e

inaugurações previstas para 2012. Os dois últimos fazem parte do projeto de

revitalização turística da zona portuária (ANTUNES, 2010, p. 4). A considerar que

a cidade do Rio de Janeiro deve receber dois importantes eventos mundiais: a

final da Copa do Mundo da FIFA de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

E não é só a construção ou restauração de um edifício, que abrigará um novo

museu, é comemorado, mas também seu conteúdo. O Brasil presenciou a

construção de dois museus singulares no mundo, que utilizam tecnologias

interativas e audiovisuais para a exposição e preservação de patrimônio imaterial,

o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos na cidade de São

Paulo.

Mas e a arquitetura dos museus brasileiros até agora? Quem são seus

idealizadores e quais foram suas propostas? Como classificar as tipologias

Page 14: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

14

arquitetônicas dos museus brasileiros, quais suas relações internacionais ou

referências históricas? Comunicar o patrimônio é também estudar e entender o

seu significado e historicidade.

Esta pesquisa revelou também que, das 20 instituições analisadas, encontramos

15 arquitetos diferentes entre projetos novos e intervenções – considerando um

escritório de arquitetura como uma unidade –, destes destacam-se Paulo Mendes

da Rocha com quatro projetos: Galeria da FIESP, Museu Brasileiro da Escultura,

Museu da Língua Portuguesa e Pinacoteca do Estado; Lina Bo Bardi com três:

MASP, SESC Pompeia e o MAM.

Mas o que chama a atenção é a presença de outros dois arquitetos que, de certa

forma, influenciaram os espaços que acolhem este tipo de instituição, por terem

sido inicialmente projetados por eles. São eles, Oscar Niemeyer, com os

pavilhões que abrigam o Museu Afro Brasil, o MAM e o MAC/USP, e Ramos de

Azevedo, com os edifícios da Pinacoteca do Estado, Memorial da Resistência e o

estádio municipal que abriga o Museu do Futebol, o que coincide com a alta

incidência de museus squatter na cidade de São Paulo, uma tendência ou simples

coincidência?

Percebemos que a expografia e a arquitetura estão intimamente relacionadas, o

que se percebe desde a inclusão das características arquitetônicas no espaço

expositivo a sua total omissão. Identifica e classificar as tipologias arquitetônicas

dos museus brasileiros é uma forma de adicionar mais um elemento nessa

relação. Elemento este que visa contribuir para que o design da exposição seja o

mais efetivo possível em sua comunicação com o público. Desta forma, este

artigo tem como proposição contribuir para a pesquisa sobre arquitetura de

museus, com um aprofundamento nas questões que envolvem a historicidade e

as características da arquitetura no Brasil, bem como as dos museus brasileiros

na construção de uma classificação arquitetônica.

Page 15: ARQUITETURA DE MUSEUS: RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E … · 2012. 3. 19. · público No final do século XX, o museu assume uma dimensão espetacular e midiática, o museu pós-moderno

ARQUITETURA DE MUSEUS:

RELAÇÕES ENTRE EXPOSIÇÃO E PATRIMÔNIO

Paulo Roberto Sabino

15

Referências Bibliográficas

ANTUNES, Bianca. Arte e Arquitetura. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n.

196. jul. 2010.

CAMIN, Giulia. Los grandes museos: la arquitectura del arte en el mundo.

Madrid: Libsa, 2008. 304 p. il.

CARVALHO, Mario César; SEABRA, Catia. Atrações poderão ser vistas da rua.

Folha de São Paulo, São Paulo, 18 jun. 2009. Ilustrada, p. E4.

CYPRIANO, Fabio. Novas instalações fazem de Inhotim paradigma para arte

contemporânea. Folha de São Paulo, São Paulo, 25 fev. 2010. Ilustrada, p. E3.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do

espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. 240 p.

GRANDE, Nuno. Museomania: museus de hoje, modelos de ontem. Porto:

Fundação de Serralves; Jornal Público, 2009. 182 p. il.

MELENDEZ, Adilson. MAC/USP deve abrir em setembro, mas obras continuam

até o final de 2010. Projeto Design, São Paulo, n. 364, p. 102, jun. 2010.

MONTANER, Josep Maria. Museus para o século XXI. Barcelona: Gustavo Gili,

2003. 158 p. il.

NIEMEYER, Oscar (Org.). Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Rio de

Janeiro: Revan, 1997. 84 p. il.

O’DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte.

São Paulo: Martins Fontes, 2002. 138 p. il.

OLIVEIRA, Olívia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo:

Romano Guerra; Barcelona: Gustavo Gili, 2006. 400 p. il.

RODRIGUES, Alexandre; WERNECK Felipe. A arte de encaixar um museu num

postal. O Estado de São Paulo, São Paulo, 07 ago. 2009. Metrópole, p. C16.