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EXIGÊNCIAS E APTIDÕES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS Herbert Vilela 1. INTRODUÇÃO Há uma larga variação em relação à exigência e adaptação entre as espécies forrageiras. A Brachiaria humidícola, por exemplo, se apresenta como uma planta que possui baixa exigência em fósforo e cálcio. Entre as gramíneas, as que despontam como menos tolerantes ao alumínio e mais exigentes em fósforo são as do gênero Pennisetum (capim elefante Paraíso, Cameron, Vrukvona, Taiwan, etc.), o Panicum (capim Mombaça, Tanzânia, Tobiatã, Colonião, Guiné, Atlas, Aries, Makuene, etc.) e o Hyparhenia (capim Provisório). Entre as leguminosas, verifica- se que Stylosanthes captata é mais tolerante ao alumínio e menos exigente ao fósforo, enquanto a soja perene se apresenta como mais exigente em fósforo e cálcio e menos tolerante ao alumínio. Portanto, pode-se concluir que uma pastagem formada com uma planta mais exigente, como um Panicum, terá um período de uso pequeno, se não houver atenção à adubação de manutenção (Quadro 1). Quadro 1 - comparação entre treze forrageiras tropicais, quanto à exigência em cálcio e fósforo e tolerância ao alumínio. Espécies Escala 1 de exigência em P Escala 2 de exigência em Ca Escala 3 de toleranci a em Al B. humidícola (Brachiaria) 1 1 3 A. gayanus (capim Andropogon) 2 2 2 M. minutiflora (capim Gordura) 2 2 2 B. decumbens (braquiarinha) 2 2 3 P. maximum (capim Colonião) 3 2 1

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EXIGÊNCIAS E APTIDÕES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS Herbert Vilela

1. INTRODUÇÃO

Há uma larga variação em relação à exigência e adaptação entre as espécies forrageiras. A Brachiaria humidícola, por exemplo, se apresenta como uma planta que possui baixa exigência em fósforo e cálcio. Entre as gramíneas, as que despontam como menos tolerantes ao alumínio e mais exigentes em fósforo são as do gênero Pennisetum (capim elefante Paraíso, Cameron, Vrukvona, Taiwan, etc.), o Panicum (capim Mombaça, Tanzânia, Tobiatã, Colonião, Guiné, Atlas, Aries, Makuene, etc.) e o Hyparhenia (capim Provisório). Entre as leguminosas, verifica-se que Stylosanthes captata é mais tolerante ao alumínio e menos exigente ao fósforo, enquanto a soja perene se apresenta como mais exigente em fósforo e cálcio e menos tolerante ao alumínio. Portanto, pode-se concluir que uma pastagem formada com uma planta mais exigente, como um Panicum, terá um período de uso pequeno, se não houver atenção à adubação de manutenção (Quadro 1).

Quadro 1 - comparação entre treze forrageiras tropicais, quanto à exigência em cálcio e fósforo e tolerância ao alumínio.

Espécies

Escala 1 de exigência em P

Escala 2 de exigência em Ca

Escala 3 de tolerancia em Al

B. humidícola (Brachiaria)

1 1 3

A. gayanus (capim Andropogon)

2 2 2

M. minutiflora (capim Gordura)

2 2 2

B. decumbens (braquiarinha)

2 2 3

P. maximum (capim Colonião)

3 2 1

P. purpureum (capim Elefante)

3 3 1

P. hybridum (capim Paraíso)

3 3 2

H. hufa (capim Provisório)

3 1 2

S. captata (Estilosantes)

1 2 3

C. pubescens (Centrosema)

2 2 2

S. guianensis 1 1 2

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(Estilolasantes)

G. striata (Galaxia) 1 1 2

C. mucunoides (Calopogonio)

2 2 3

1, 2, 3 Grau de exigência em P e Ca;grau de tolerância ao Al: 1 = baixa, 2 = média, 3 = alta

2. RESPOSTAS DAS FORRAGEIRAS AOS NUTRIENTES

As respostas das forrageiras à aplicação de nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre são variáveis e estão em função dos níveis de adubação usados e das espécies forrageiras utilizadas. Neste sentido estudou-se três níveis de fósforo e enxofre em capim Provisório e capim Colonião (Quadro 2).

Quadro 2 - Resposta do capim Colonião e Provisório a diferentes níveis de enxofre e fósforo (MCCLUNG & QUINN, 1969)

Espécie Forrageira

Nível de P e S (kg/ha)Produção de matéria seca (t/ha)

Capim Provisório

0P e 0S 20

34P e 22S 25

68P e 44S 35

Capim Colonião

0P e 0S 27

34P e 22S 34

68P e 44S 33

Verifica-se no quadro 2 que as respostas á níveis de fósforo e de enxofre foram diferentes nas duas espécies de gramíneas. Enquanto o capim Provisório aumentou de 20 para 25t/ha, o capim Colonião de 27 para 34t/ha de matéria seca ao passar de 0 para 22kg/ha de enxofre e de 0 para 34kg/ha de fósforo por hectare. Interessante de se notar é que em níveis maiores de enxofre e fósforo, de 44 e 68kg/ha, há aumento de produção de matéria seca apenas no capim Provisório. Enquanto no nível 68kg de fósforo e 44kg de enxofre não resultou em aumento e sim a um pequeno decréscimo na produção de matéria seca no capim Colonião.

A justificativa para o uso de uma leguminosa associada à gramínea na pastagem é conhecida de longa data e resume-se em incorporar nitrogênio ao sistema, elevar o teor de matéria orgânica do solo e proporcionar ao animal forragem com maior teor de proteína. Porém, persiste ainda a dúvida de qual seria a melhor forma para obtenção de um consórcio de gramínea mais leguminosa, em que a leguminosa participe em pelo menos 30% da forragem produzida.

Foi conduzido um trabalho de adubação de manutenção em pastagem consorciada, com nove anos de duração, com o objetivo de estudar níveis de adubação de manutenção de fósforo e de potássio em pastagem de capim Makuene (Panicum maximum) com Stilozanthes guianensis. Verifica-se (Quadro 3) que a pastagem que não recebeu adubação apresentou decréscimo nas porcentagens de capim

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Makuene, de leguminosa (Stylosanthes) e acréscimos de ervas, arbustos e capim-gordura (Melinis minutiflora), quando comparado com as pastagens que receberam adubação ao longo do período de utilização da mesma. Estes dados mostram a tendência do capim-gordura, das ervas e arbustos substituírem, gradativamente, o capim Makuene e a leguminosa numa pastagem estabelecida em latossolo amarelo, sob pastejo. Portanto, a cobertura vegetal se modifica em função dos níveis de nutrientes disponíveis no solo.

Quadro 3 - Efeito de fósforo e potássio em pastagens consorciadas e sobre a cobertura vegetal (vilela et al, 2004)

ANOP2O5 e K2O (Kg/ha/Ano)

Capim-Makueni (%)

Capim-Gordura (%)

Stylo (%)

Ervas e Arbustos (%)

1

0 52 11 9 9

20 53 11 8 10

40 52 10 8 10

4

0 35 6 5 17

20 56 13 6 8

40 65 14 7 3

9

0 8 10 3 51

20 59 10 8 10

40 70 1 10 4

Estes mesmos autores mostram o efeito de adubação sobre a taxa de lotação e rendimento em peso vivo (Quadro 4). As adubações modificaram a taxa de lotação e rendimento em peso vivo. Comparando-se os rendimentos em peso vivo, nos tratamentos usados ao longo dos anos, nota-se que o nível 20kg/ha de P205 e K20 tende a mantê-los, o nível 40kg a aumentá-los e o nível zero a decrescê-los.

Quadro 4 - Taxa de lotação e rendimento em peso vivo (VILELA et al., 2004)

Ano

Adubação de Manutenção Kg P2O5 e K2O/ha/ano

Taxa de Lotação UA/ha

Ganho de Peso Vivo kg PV/ha/ano

1

0 1,01 299eC

20 1,20 369dB

40 1,45 376dA

3 0 0,73 170fC

20 1,15 339dB

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40 1,60 448cA

6

0 0,52 100dC

20 1,24 365cB

40 1,80 520bA

9

0 0,29 50hC

20 1,25 350dB

40 2,05 560aA

Me-dias

0 0,64 155C

20 1,21 363B

40 1,73 476A

Médias com letras maiúsculas, dentro do ano, seguidas por letras diferentes, diferem entre si.

Procedendo a análise financeira do investimento (BARBOSA et al, 2003) verificou-se que as adubações com fósforo e potássio em pastagens de Panicum maximum cv. Makuene com Stylosanthes guianensis aumentaram a produtividade (arroba/ha/ano) e diminuíram os custos da arroba produzida. O melhor resultado econômico, avaliado pelo VPL e TIR, foi quando as pastagens foram adubadas com 40kg de P2O5 e 40kg de K2O/ha/ano, para as condições experimentais assumidas.

Em outro trabalho (Quadro 5) observou-se melhor rendimento de peso vivo, por hectare, por ano, na pastagem que recebeu nitrogênio (100kg de N/ha, na forma de uréia), quando comparada com a pastagem consorciada (Soja perene + Siratro). O autor comenta que, embora os animais na pastagem consorciada tenham ganhado mais peso na época da seca, devido ao melhor valor nutritivo de sua forragem, a adubação nitrogenada permitiu uma maior lotação, o que resultou em maior produtividade da pastagem não consorciada. Procedendo a uma análise econômica, o autor encontrou maiores retornos líquidos para a pastagem que recebeu aplicação

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de nitrogênio.

Quadro 5 - comparação entre pastagem de capim-guiné com nitrogênio mineral e pastagem consorciada de Panicum maximum (VILELA et al, 1982).

Tratamentos

Taxa de Lotação (Ua/ha)

Ganho Diário (G/Dia)

Ganho PV/ha (kg/ha)Seca Ano

P. maximum + Soja + Siratro

1,83 520 765 540

P. maximum + Uréia

2,55 305 770 754

Foi conduzido um trabalho de pesquisa (COUTINHO et al, 2001) no sentido de verificar efeito de níveis de nitrogênio e potássio sobre a produção de forragem de capim Coast cross irrigado. Verificou-se que a resposta ao potássio é praticamente nula na ausência de nitrogênio. Mas, a resposta ao potássio é evidenciada na presença de nitrogênio, com significativos aumentos de produção de forragem. Para o nível de 30kg de K2O e 40kg de N a produção de matéria seca foi de 1000kg/ha, enquanto para mesmo nível de potássio e com 80kg de N a produção foi de 2000kg e assim para o mesmo nível de potássio mas com 120kg de N a produção foi de 2750kg/ha. As maiores produções (6000kg/ha) foram obtidas com 130kg/ha de K2O e 200kg/ha de N.

Estudou-se a produtividade de uma pastagem de capim Colonião com a adição de fósforo, potássio e nitrogênio (Quadro 6) O ganho em peso vivo/ha, por ano, da pastagem que recebeu 200kg de P2O5 foi igual aquele da pastagem que recebeu fósforo mais potássio (40kg/ha de K2O). Este resultado pode ser devido ao nível alto de fertilidade inicial deste solo em relação ao potássio. Contudo, quando se usou 200kg de nitrogênio por hectare com potássio (40kg/ha) no mesmo solo, o ganho em peso, por hectare, por ano, foi 2,39 vezes maior, evidenciando a resposta do potássio na presença de nitrogênio.

Quadro 6 - Adubação de pastagem de capim colonião (MONTEIRO & WERNER, 1990)

TRATAMENTO

Taxa Lotação (UA/ha)

Ganho Diário (g/dia)

Ganho PV por ha (kg/ha)

200kg P2O5 1,9 760 263

40kg K2O/ha + 200kg P2O5/ha

2,0 760 273

200kg N/ha + 40kg K2O/ha

5,3 690 652

Trabalho realizado em latossolo Amarelo Vermelho no Município de Matosinhos em MG (Quadro 7) mostra o efeito do fosfato na forma de Super-fosfato simples

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(500kg/ha) e sulfato de cálcio (500kg/ha) sobre a capacidade de suporte e rendimento em peso vivo por ha/ano.

Quadro 7 - Taxa de lotação e rendimento em peso vivo, por animal, por dia e por hectare, por ano (VILELA et al, 1999).

Tratamento

Taxa de Lotação

Rendimento(kg/animal/dia)

Peso Vivo(kg/ha/ano)

Testemunha

0,47 0,400 69,10

Super-fosfato simples

0,58 0,512 110,10

Super-fosfato + S. cálcio

0,70 0,625 161,35

Os resultados obtidos sobre a adubação de pastagem degradada com fósforo e nitrogênio, em três das propriedades estabelecidas em cerrado (latossolo vermelho amarelo) no estado do Mato Grosso de Sul são apresentados na Figura 2, (OLIVEIRA et al, 2001). Não houve efeito (P > 0,05) do fósforo (100kg/ha) na ausência de nitrogênio sobre a produção de forragem nas três propriedades. Em uma das propriedades houve um aumento não significativo da ordem de 9,7% (371kg/ha), em relação ao tratamento sem fósforo (338kg/ha de MS).

Foram estudados neste mesmo trabalho o efeito daqueles níveis de fósforo com a presença de nitrogênio (100kg/ha de N/ano). Verifica-se que houve efeito (P < 0,05) dos dois níveis de fósforo estudados (Figura 3), independente da propriedade estudada. A mesma propriedade que apresentou maior produção de forragem no tratamento com fósforo (371kg/ha), sem nitrogênio, foi também a que apresentou

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maior produção de forragem sob o tratamento com nitrogênio (663kg/ha de MS). Segundo os autores, esta resposta obtida foi devida ao maior nível de fósforo existente neste solo. As respostas do fósforo na presença de nitrogênio foram atribuídas pelos autores ao baixo nível de matéria orgânica existente nestes solos e conseqüentemente baixo nível de nitrogênio disponível para o crescimento radicular da planta e conseqüente utilização precária do fósforo disponível no solo.

3. AGRUPAMENTO DAS ESPÉCIES FORRAGEIRAS SEGUDO SUAS APTIDÕES

O sucesso da exploração pecuária tem como ponto básico a adequada formação da pastagens. Uma das decisões a ser tomada neste contexto, se refere à escolha da espécie forrageira que por sua vez está relacionada a uma série de variáveis do meio.

A adaptabilidade das plantas forrageiras às variáveis edáficas do meio é dependente da:

resposta da planta à fertilização; tolerância a baixos índices pluviométricos; tolerância a diferentes graus de encharcamento do solo; tolerância às pragas e doenças; potencial e distribuição de produção de forragem ao longo do ano; palatabilidade alta para as espécies e categorias de animais.

Seria interessante uma tentativa de agrupar as espécies em função das variações edáficas do meio (solo e clima), conforme suas aptidões.

3.1 Quanto às características químicas do solo:

Solos com nível "alto" de fertilidade

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a. Gramíneas recomendadas:

Panicum maximum - cv. Capim Mombaça, Tanzânia, Atlas, Aries, Colonião, Tobiatã, Vencedor e outras; Brachiaria brizantha - cv. MG5 ou Vitória; Pennisetum hybridum - cv. Capim elefante Paraíso Matsuda; Pennisetum purpureum - cv. Capim elefante Mineiro, Cameron, Vrukvona, Taywan, Mott, Napier, Albano e outros; Cynodon niemfluesis - cv. Capim Tifton; Cynodon dactylon - cv. Capim Coast cross.

b. Leguminosa recomendada:

Alfafa sativa - cv. Crioula.

Solos com nível "médio" de fertilidade:

a. Gramíneas recomendadas:

Brachiaria brizantha - cv. Marandu; Brachiaria brizantha - cv.MG 4; Brachiaria brizantha - cv.MG 5 ou Vitória; Brachiaria ruziziensis - cv. Ruzi; Hyparhenia rufa - cv. Capim Provisório ou Jaraguá ou Vermelho; Panicum maximum - cv. Aires e Atlas; Paspalum atratum - cv. Pojuca.

b. Leguminosas recomendadas

Leucaena leucocephala - cv. Leucena; Neonotonia wightii - cv. Soja perene; Centrosema pubescens - cv. Centrosema; Arachis pintoi - cv. Amendoim forrageiro.

Solos com nível "baixo" de fertilidade:

a. Gramíneas recomendadas:

Andropogon gayanus - cv capim Andropogon Planaltina; Brachiaria decumbens - cv. IPEAN, Basilisk (braquiarinha); Brachiaria humidicola - cv. capim Quicuiu da Amazônia; Setaria anceps - cv. Setaria.

b. Leguminosas recomendadas:

Stylosanthes guianensis - cv. Mineirão, Bandeirantes; Centrosema pubescens - cv. Centrosema; Galactia striata - cv. Galáxia

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3.2. Quanto às características físicas do solo:

Solos com textura argilosa e francos e com declividade inferior a 12% pode-se usar qualquer gramínea e leguminosa sem restrições, observada a condição de fertilidade.

Solos com textura arenosa (mais de 35% de areia) e com declividade igual ou superior a 12%

a. Gramíneas recomendadas:

Brachiaria brizantha - cv. Vitória; Brachiaria humidicola - cv. Capim Quicuiu do Amazonas; Cynodon niemfluesis - cv. Capim Tifton; Cynodon dactylon - cv. Capim Coast cross.

b. Leguminosa recomendada:

Qualquer leguminosa desde que observada a condição de clima e fertilidade.

Solos com declividade entre 12 e 35%:

a. Gramíneas estoloníferas:

Leguminosas - Observar a fertilidade do solo.

3.3 Quanto ao grau de umidade no solo:

Solos muito úmidos (encharcados):

a. Gramíneas recomendadas:

Brachiaria humidicola - cv. Capim Quicuiu da Amazônia; Brachiaria mutica - cv. Capim Tangola; Setaria anceps - cv. Setaria.

b. Não há leguminosas recomendadas.

Solos moderadamente úmidos:

a. Gramíneas recomendadas:

Paspalum atratum - cv. Capim Pojuca; Panicum maximum - cv. Aries; Brachiaria brizantha - cv. MG5 ou Vitória.

b. Não há leguminosas recomendadas.

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3.4 Quanto às características do clima:

Quanto a temperatura

Temperaturas superiores a 22°C

a. Gramíneas recomendadas:

Andropogon gayanus - cv. Planaltina; Brachiaria decumbens - cv. IPEAN, Basilisk; Brachiaria brizantha - cv. Marandu, MG4, MG5 ou Vitória; Brachiaria humidicola - cv capim Quicuiu do Amazonas; Brachiaria ruziziensis - cv. Ruzi; Cencrhus ciliares - cv. Biloela, Gayndha, Numbank, Áridus, etc.; Cynodon dactylon - cv. capim Coast cross; Cynodon niemfluesis - cv. capim Tifton; Hyparhenia rufa - cv. capim Provisório ou Jaraguá; Panicum maximum - cv. Mombaça, Tanzânia, Atlas, Aries, Makuene, Colonião, etc.; Pennisetum purpureum - cv. capim Cameron, Vrukvona, Mineiro, Taywam, Napier, etc.; Pennisetum hybridum - cv. capim elefante Paraíso.

b. Leguminosas recomendadas:

Arachis pintoi - cv. Amendoim forrageiro; Cajanus cajan - cv. Guandu anão; Calopogonio mucunoides - cv. Calopogonio; Leucaena leucocephala - cv. Leucena; Neonotonia wightii - cv. Soja perene.

Temperturas inferiores a 22°C

a. Gramíneas recomendadas

Cynodon dactylon - cv. capim Coast cross; Cynodon niemfluesis - cv. capim Tifton; Panicum maximum - cv. Atlas, Aries, Guiné, etc.; Pennisetum hybridum - cv. capim elefante Paraíso.

b. Leguminosas recomendadas:

Arachis pintoi - cv. Amendoim forrageiro; Neonotonia wightii - cv. Soja perene.

Quanto á precipitação

Precipitação menor do que 600mm (clima semi-árido)

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a. Gramíneas recomendadas:

Cencrhus ciliares - cv. capim bufell, Biloela, Gayndha, Áridus e outras; Transvala; Andropogon - cv. Planaltina; Brachiaria brizantha - cv. MG4.

b. Leguminosas recomendadas:

Stylosanthes guianensis - cv. Mineiro e Bandeirantes; Calopogonio mucunoides - cv. Calopogonio.

3.5 Quanto ao grau de iluminamento

Por várias décadas os cerrados brasileiros vem sendo usados pela siderurgia para obtenção do carvão vegetal, inicialmente de forma empírica e predatória. Atualmente, admite-se o reflorestamento associado a espécies forrageiras para se praticar o sistema silviopastoril. Os espaçamentos entre linhas para espécie florestal podem variar de 8 a 12m, para permitir maior iluminamento (intensidade luminosa) do sistema.

O efeito do sombreamento sobre a produtividade e persistência de gramíneas e leguminosas forrageiras é, basicamente, devido à radiação eletromagnética recebida e duração do dia. Estes afetam diretamente o crescimento da parte aérea e, especialmente, das raízes, havendo decréscimo de ambas quando os níveis de sombreamento são incrementados, isto como conseqüência da redução da capacidade fotossintética.

A teoria de que as leguminosas C3 teriam vantagens sobre as gramíneas C4, em condições de sombreamento deve ser revisada, uma vez que há evidências de que algumas gramíneas absorvem mais nitrogênio e produzem mais matéria seca quando sombreadas. A capacidade fotossintética das folhas das gramíneas aumenta com o incremento do nível de irradiação ao passo que as leguminosas se tornam ligeiramente saturadas ao redor de 50% de luz solar direta, o que traz reflexos negativos na taxa de fixação de nitrogênio.

a. Algumas gramíneas tolerantes à menor iluminamento (sombra):

Panicum maximum - cv. capim Green Panic; Panicum maximum - cv. Capim Tanzânia; Brachiaria brizantha - cv. Marandu; Brachiaria brizantha - cv. MG5 ou Vitória.

3.6 Quanto à taxa assimilatória:

Este estudo é muito importante para se conhecer quais as espécies forrageiras que podem ser utilizadas em sistemas intensivos de produção, que envolvem a irrigação. Portanto, regiões onde ocorrem temperaturas iguais aos valores ótimos (VO) para a taxa assimilatória, seriam apropriadas para se praticar a irrigação com a gramínea

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adequada.

Algumas plantas com Valores Ótimos:

Brachiaria ruziziensis - cv. capim Ruziziensis VO de 38 a 56°C; Pennisetum purpureum - cv. capim Mineiro VO de 37 a 59°C; Pennisetum hybridum - cv. capim Paraíso VO de 37 a 59°C; Calopogonio mucunoides - cv. Kudzu VO de 34 a 51°C; Glycine wightii - cv. Soja perene VO de 31 a 50°C; Macroptilium atropurpureum - cv. Siratro VO de 30 a 50°C.

CANA FORRAGEIRA E SILAGEM DE CANA 1. CANA DE AÇUCAR FORRAGEIRA

1.1 INTRODUÇÃO

O conceito que as melhores variedades de cana-de-açucar forrageira seriam aquelas que apresentassem alta proporção de folhas e palmitos em relação a massa verde total (Boin et al.,1987), não tem hoje mais sustentação. Rodrigues et al. (2002) coloca como fator principal da qualidade da cana, seu teor em açúcar. Portanto, os fatores mais importantes para seleção de uma variedade forrageira seriam o seu teor em açúcar, produção de forragem (MS) e teor de fibra (FDN). A composição da planta de cana é apresentada no Quadro 1.

Quadro 1 - Composição da planta de cana-de-açúcar forrageira.

PARTES DA PLANTA

COMPOSIÇÃO - %

FORRAGEM VERDER

FORRAGEM SECA - MS

Colmo (caule) 78,7 76

Pontas (flecha) 9,5 7,8

Folhas verdes 6,4 6,7

Folhas secas 3,1 7,3

Bainha 2,3 2,2Outros fatores desejáveis são porte ereto da touceira, planta tardia, resistencia às pragas e doenças. A composição bromatológica da cana-de-açúcar torna-se importante, face aos novos conceitos sobre as características desejáveis da planta e seu valor nutritivo. A composição bromatológica da cana-de-açúcar obtida por Melo et al. (2004), com a variedade IAC86-24-80 comparada com os resultados mostrados por Landell et al. (2002), com 66 variedades é apresentada no Quadro 2.

Quadro 2 - Composição bromatológica da cana-de-açucar IAC86-2480, expressa na Matéria Seca.

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COMPONENTESCOMPOSIÇÃO

IAC (2002) MELO et al. (2004)

MS Total (%) 17,00-30,00 25,88

PB (%) 1,06-3,06 2,38

FDN (%) 67,70-42,56 43,02

FDA (%) - 25,80

LIGNINA 4,60-8,43 10,74

HEMECELULOSE - 17,22

CELULOSE - 23,24

NDT - 64,55

CHO-SOL 32,30-57,44 43,80

DIVMS 40,04-64,10 59,53Segundo Nussio (2004) de modo geral uma célula de cana-de-açúcar apresenta as seguintes características, 55% de parede celular e 45% de conteúdo celular com 40 e 90% de digestibilidade respectivamente. A composição bromatológica média da cana-de-açúcar é de 26 a 34% de MS, 2,5 a 3,5% de PB, 52 a 57% de FDN, 2,5 a 5,5% de cinzas e 56 a 63% de NDT.

Segundo Gooding (1982), variedades com menor teor de fibra (FDN) e lignina permitirão maior consumo de açúcar do que aquelas com maior teor de fibra. Portanto, segundo este autor é importante conhecer a relação fibra/açúcar adequada para a alimentação de ruminantes. Trabalho de Rodrigues, et al. (1997 e 2001), mostraram inicialmente, que esta relação variava de 2,3 a 3,4. Posteriormente, verificou uma variação mais larga de 2,88 a 4,14 para a ralação o FDN:POL, com 16 variedades de cana. Observaram que as melhores variedades neste sentido foram as IAC86-24-80 (2,88), RB83-5486 (2,93) e RB 72-454 (3,31).

1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A VARIEDADE IAC 86-2480

A variedade IAC86-2480 é um híbrido interespecífico resultante de cruzamento manual feito em 1986, envolvendo o parental US71-399 que recebeu pólen de variedade desconhecida. Este genótipo, inicialmente, foi selecionado em 1988, em campo de seedings instalado em Ribeirão Preto no ano de 1987. O grupo de genótipos aí selecionado foi multiplicado em parcelas constituídas de dois sulcos de três metros de comprimento, denominado fase de seleção 2 (FS2), juntamente com variedades comerciais, as quais se constituíram em tratamentos testemunhas. Dois anos depois, selecionou-se na soca do mesmo campo, elegendo-se os materiais de melhor vigor de brotação em período de estresse hídrico, alta produtividade agrícola e de melhores teores de sacarose. Os ensaios de competição denominados regionais foram realizados nos anos de 1993 a 1997, e os ensaios estaduais desenvolvidos no período de 1998 a 2001 (Landell et al., 1996).

De acordo com Landell et al. (1996), a seleção inicial foi em Ribeirão Preto, em solos caracterizados como latossolos. Apresentou características de boa produtividade agrícola e ótimas características tecnológicas. Mostrou boa adaptação, caracterizando-se, no entanto, como uma variedade exigente em relação à fertilidade do solo. Apresentou também longo período de utilização industrial e/ou

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forrageiro entre os meses de maio a outubro. Outras características favoráveis referem-se à alta resistência a acamamento e hábito de crescimento ereto, associado à ausência de florescimento nas latitudes testadas.Landell et al., 2001 apresenta como características primordiais da variedade IAC86-2480:

apresentar touceira com hábito de crescimento ereto; altura de colmo média-baixa; diâmetro de colmo médio (2,3 a 2,8cm) e bastante uniforme; internódio curto; gema pequena e pouco proeminente no plano do colmo, do tipo oval; bainha aderida fracamente ao colmo; número de perfilhos de 12 a 13/m linear; ausência de brotões; cor do colmo roxo com anel de crescimento verde bem definido.

Segundo Rodrigues et al, 2002, mesmo produzindo 10% menos que a RB72545, ela se torna mais viável pois apresenta 18% mais eficiência no que tange o índice de conversão alimentar. Com isso com a mesma quantidade ingerida de volumoso de cana, os bovinos alimentados com a IAC86-2480 ganham 18% mais peso que aqueles alimentados com a RB 72545. Essa variedade também agrega valores importantes por possuir porte ereto e despalha espontânea, o que aumenta a eficiência do corte manual em até 20% em relação à outra variedade, reduzindo seu custo operacional. Esta variedade (IAC86-2480), apresenta resistência ao carvão, mosaico, escaldadura e podridão do colmo. É intermediária à ferrugem, ao ataque da broca do colmo em condições naturais e à nematóides. Embora apresente infestação significativa de broca, o complexo broca/podridão é de pequena ocorrência, dado à grande resistência observada aos patógenos envolvidos.

2. CANA FORRAGEIRA C.V. IAC 86-2480

Herbert Vilela

O Brasil é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. A área cultivada atinge aproximadamente 5,5 milhões de hectares. Estima-se que 10% desta produção destina-se a alimentação animal. Assim, nesta área seriam produzidos algo em torno de 30 milhões de toneladas de forragem verde. Isto seria o suficiente para suplementar 15 milhões de bovinos durante 150 dias ao ano. Hoje, a cana-de-açúcar tem se tornado um volumoso de uso preferencial entre os pecuaristas por apresentar características tais como a possibilidade de sua conservação mediante silagem, persistência da cultura e o grande rendimento obtido em nossas condições.

Contudo, a silagem obtida apresenta um alto nível de etanol alcançando valores de até 21% o que resulta em um produto que inviabiliza o processo de ensilagem devido as perdas observadas dentro e fora do silo. Tornar-se-ia importante a utilização de um aditivo biológico que promoveria uma redução na produção de álcool.

Outro aspecto, diz respeito ao perfil qualitativo da cana como volumoso relacionado

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principalmente a digestibilidade da fibra e seu conteúdo de açúcar. Na prática, esse aspecto tem sido negligenciado como se todas as variedades de cana em qualquer tempo de seu desenvolvimento fossem iguais para a produção forrageira. Vários trabalhos mostram que este fator deve ser considerado de modo mais efetivo.

Recentemente, a cultivar de cana-de-açúcar IAC 86-2480, recém obtida por processo de seleção, tem se destacado como nova opção para a finalidade forrageira com sua utilização racional para produção de leite e de carne. Esta variedade, é um híbrido interespecífico resultante de um cruzamento manual envolvendo o parental US 71-399 que recebeu pólen de uma variedade desconhecida.

Algumas características importantes desta nova cultivar:

boa produtividade (300t/ha em três anos); ótimas características fenológicas; resistência ao acamamento; ausência de florescimento; menor teor de FDN (44,18%); maior teor de açúcar; maior digestibilidade "in vitro" da matéria seca durante o ano (65,90% em maio e 63,37% em agosto); melhor desempenho animal quando comparada com as variedades comuns (0,890kg/dia x 0,760kg/dia).

Quadro 3 - Produção de Forragem Verde (t/ha) de Canas Forrageiras C.V. IAC 86-2480 e RB-72454 cultivar mais cultivada no Brasil (média de 94 dados) (CARVALHO et al., 1993).

TIPO1° CORTE 2° CORTE 3° CORTE

IAC 86-2480 129,9 93,9 94,3

RB-72454 143,5 101,6 106,0Quadro 4 - Ganho médio diário e conversão alimentar de novilhas alimentadas com dietas contendo canas forrageiras C.V. IAC 86-2480 e RB-72854.

TIPOGMD (kg/cabeça/dia)

CA (kg MS/kg ganho)

IAC 86-2480 0,890 7,64

RB-72454 0,760 9,32Quadro 5 - Digestibilidade (DIVMS - %) média das canas forrageiras C.V. IAC 86-2480 e RB-72454, em três épocas de colheita.

TIPO24/05 16/08 21/10

IAC 86-2480 65,90 63,37 63,19

RB-72454 53,39 60,25 60,46

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Comparações entre as C.V. IAC 86-2480 e a RB-72454:

Ganho em peso: 18% Eficiência no corte manual: 20% Reação ao Carvão: muito baixa Reação à Ferrugem: baixa Reação à Escaldadura: muito baixa Reação ao Mosaico: muito baixa Reação à Broca do colmo: baixa/média Reação à Podridão do colmo: muito baixa Reação à Nematóides: média

Quadro 6 - Dimensionamento de áreas de plantio para um rebanho de 100 animais, em função do rendimento forrageiro da cana C.V. IAC 86-2480 e do período de suplementação.

PERÍODO DE SUPLEMENTAÇÃO

QUANTIDADE NECESSÁRIA (t)

ÁREA DE PLANTIO

120 dias 180

3ha - 60t/ha

2ha - 90t/ha

1,5ha - 120t/ha

180 dias 270

4,5ha - 60t/ha

3ha - 90t/ha

2,3ha - 120t/ha

240 dias 360

6ha - 60t/ha

4ha - 90t/ha

3ha - 120t/ha

300 dias 450

7,5ha - 60t/ha

5ha - 90t/ha

3,8ha - 120t/ha3. SILAGEM DE CANA DE AÇUCARHerbert Vilela, Engenheiro Agrônomo e DoutorAdilson Antônio de Melo, Zootecnista e Especialista em Produção Animal.

3.1 INTRODUÇÃO

A alimentação dos rebanhos é motivo de preocupação em quase todas as regiões do Brasil principalmente, durante o período da seca. Este fato ocorre porque nesta época do ano, as forragens diminuem ou cessam o seu crescimento vegetativo e iniciam seu crescimento reprodutivo. Como conseqüência, tornam-se pouco nutritivas e apetecíveis aos animais, sendo que nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país, este período coincide com os meses sem chuvas, com baixas temperaturas associadas a baixas intensidades de radiação eletromagnética. Assim, a estacionalidade da produção de forragens é uma realidade e a cada ano que passa, observam-se as conseqüências deste período sobre a produção animal. Rebanhos debilitados, produtividade animal muito baixa ou nula, morte de animais e, como

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resultado final, produtores rurais acumulando prejuízos (Torres e Costa, 2001; Evangelista e Lima, 2000).

3.2 ENSILAGEM DA CANA

A conservação da cana da forma de silagem vem despertando nos últimos anos grande interesse por parte dos produtores e pesquisadores, em face das vantagens em logística e operacionalidade que este volumoso oferece.

Este interesse pode ser avaliado pelo número de trabalhos publicados pelos Anais da Sociedade Brasileira de Zootecnia nestes últimos sete anos (Quadro 7).

Quadro 7 - Número de trabalhos publicados nos Anais da Sociedade Brasileira de Zootecnia, nos últimos sete anos.

AnoNúmero de Tabalhos

Instituições

1998 0 0

1999 2 1

2000 1 1

2001 5 1

2002 8 3

2003 13 11

2004 12 10

A maioria destes trabalhos foram feitos com objetivo de identificar um aditivo capaz de reduzir a produção de álcool, durante o processo de fermentação na ensilagem, que é característica deste tipo de material. Obtendo com o uso de aditivos eficientes menores perdas do processo de ensilagem da cana.

a. Fermentação alcoólica

A maioria das forrageiras ensiladas apresenta problemas para alcançar um processo fermentativo adequado devido ao seu baixo conteúdo de CHO-SOL. Com isto, fontes de carboidratos têm de ser adicionadas a essas forrageiras no momento da ensilagem, visando o incremento no desenvolvimento de bactérias anaeróbias lácticas (BAL) e conseqüentemente, a obtenção de silagens de melhor qualidade (Wilkinson, 1998). Com a cana-de-açúcar, a situação é inversa visto que a abundância de carboidratos solúveis desta forrageira estimula não só a ocorrência de fermentação ácido-lática no material ensilado, como também a fermentação alcoólica, causando assim perdas significativas de MS em relação à matéria original (Preston et al, 1976).

A fermentação da cana de açúcar ocorre naturalmente em condições naturais dentro do silo, pelas leveduras nativas (Epífitas), convertendo açúcar em etanol, água e CO2, ocorrendo redução no valor nutritivo e elevadas perdas durante a fermentação e após abertura do silo. Estas leveduras que sobrevivem a pH baixos (até 2,0) e em

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altas concentrações (106ufc/g) dez bilhões de unidades formadoras de colônia por grama de forragem, promovem a deterioração aeróbia da forragem e redução de pH da silagem (Driehuis et al,1999). O álcool produzido significa perdas por razões da fermentação do açúcar com perda de CO2 (49% dos CHOs, McDonald et al, 1991) e por volatilização do álcool na massa ensilada e no manejo alimentar.

Alli et al (1982), verificaram que uma vez que a concentração de ácido acético na silagem de cana foi baixa, pode-se concluir que as BAL heterofermentativas não foram os microorganismos responsáveis pela produção de álcool no material e sim as leveduras. Eles demonstraram que a formação de 9 % de etanol na MS pela atuação de leveduras consumiu cerca de 50% da sacarose que estava presente na matéria orgânica original. A perda de peso durante o período de fermentação, em relação ao peso original do material ensilado é da ordem de 5 a 6%, sendo o resultado da perda de CO2 e álcool por evaporação.

Convém salientar que o álcool como alimento é aproveitável devido a sua conversão em acetato no rúmen (Chalupa et al,1964).

O etanol residual na silagem provoca rejeição de consumo pelo animal, logo após seu fornecimento no cocho (Schmidt et al. 2004), contudo se ingerido apresenta significativa contribuição energética ao animal, por via direta.

O valor parametrizado para maximização do valor nutricional e ingestão de gramíneas tropicais foi obtido por Huhtanen et al (2002) como sendo:

D = 530 (g/kgMS), AT (ácidos totais) = 180 (g/kgMS) e N-amoniacal = 100 (g x kg de N total).

b. Aditivos para a cana de açúcar

Com o objetivo de alterar a principal rota fermentativa ocorrida nas silagens de cana de açúcar e de reduzir as perdas do valor nutritivo nesse volumoso, têm-se usado aditivos químicos e biológicos que inibam a população de leveduras e/ou bloqueiam a via fermentativa de produção de álcool.

b.1 Aditivos químicos

Uréia

Resultados do uso de uréia como aditivo químico redutor de perdas no processo de ensilagem da cana de açúcar são apresentados no Quadro 8.

Quadro 8 - Valores médios de perdas e produção de álcool em silagem de cana de açúcar.

FonteParâmetros Analizados

Doses de Uréia

Perdas de MS (%)

Álcool (%

Efluentes (kg/tMV)

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(%MV) MS)

Pedroso (2003)

0 18,2 3,8 15,1

0,5 12,2 4,2 28,5

1 7,6 4,1 32,2

1,5 6,6 3,5 26

Siqueira et al (2004)

0 30,9 - 95,9

0,5 22,8 - 93,7

1 21,9 - 96,7

1,5 27,7 - 86,3

2 24,3 - 88,5

De modo geral doses entre 0,5 e 1,0% da MV sugerem serem mais efetivas em reduzir as perdas fermentativas, mas nenhum efeito sobre o controle de produção de álcool e efluentes. Estes resultados quando comparados com aqueles com doses maiores, sugerem que doses mais elevadas de uréia exercem um efeito tampão, sendo crítico ao processo de fermentação. Quanto maior a dose de uréia usada, menor é sua recuperação. Doses acima de 1% a recuperação é de 68% contra 95% em doses menores. Outros aditivos químicos também tem sido testados como o hidróxido de sódio, o benzonato de sódio etc, mas com restrições devido a problemas do excesso de sódio na dieta do animal e com custos elevados.

b.2 Aditivos microbianos

De modo geral a inoculação com bactérias produtoras de ácido láctico na forragem ensilada acelera a queda do pH e reduz o pH final a valores menores, aumento na concentração de ácido láctico, reduz a produção de efluentes e perdas de matéria seca no silo; melhorando o desempenho dos animais alimentados com estas silagens (McDonald et al, 1991).

Os aditivos microbianos que contém cepas de bactérias lácteas são divididos em dois grupos:

Bactérias homolácteas (BAL) caracterizam por exclusiva produção de ácido lácteo (Lactobacillus plantarum, Lactobacillus sp., Streptococcus faecium, Pediococcus sp). Bactérias heterolácteas que produzem além de ácido lácteo, quantidades significativas de ácido acético e propiônico. A bactéria heterofermentativa Lactobacillus bucheneri seria potencialmente a recomendada como aditivo para cana de açúcar (Nussio et al, 2003), por ter reduzido a população de leveduras quando usada em silagem de milho (Ranjit & Kung Jr, 2000).

Pedroso et al, (2002) testaram dois aditivos bacterianos, um homolácteo (Lactobacillus plantarum - 106 ufc) e outro heterolacteo (Lactobacillus bucheneri - 106 ufc) e os resultados após 90 dias de fermentação são apresentados no quadro 9.

Quadro 9 - Efeito de aditivos microbianos sobre os parâmetros fermentação e perdas

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de MS na ensilagem de cana de açúcar.

Tratamentos

Variáveis

pHEtanol

% MS

Gases

% MS

Efluentes

l/tMV

Recuperação MS

%

Controle 3,69 3,06 9,7 15,1 80,9

L. plantarum 3,58 9,81 13,9 29,9 77,7

L. bucheneri 3,52 1,75 8,4 24,7 90,5

A inoculação com bactéria homoláctea (Lactobacillus plantarum) triplicou a produção de álcool e levou a menor recuperação da matéria seca (77,7%), como conseqüência de maiores perdas de gases e efluentes. A aplicação do L. bucheneri resultou em redução de produção de álcool (1,75%), menores perdas gasosas (8,4%) e maior recuperação da matéria seca (90,5%).

Outro trabalho de Siqueira et al (2004) muito semelhante ao anterior, em que o autor usou um tratamento com aditivo composto por L. plantarum e Propionibacterium e outro com L. bucheneri em forragem de cana de açúcar. Os resultados obtidos mostraram os mesmos efeitos positivos do L. bucheneri e nenhum efeito do aditivo composto sobre a produção de álcool, produção de gases e recuperação da MS, em relação ao tratamento controle.

Estes resultados evidenciam a necessidade de se fazer o uso de um aditivo correto para a silagem de cana de açúcar, uma vez que o uso de aditivos inadequados reduz a qualidade da silagem, o que implica em elevação do custo por unidade de matéria seca digestível do volumoso.

Outro ponto importante referente a perda de componentes nutritivos é a perda após abertura do silo. È a chamada estabilidade aeróbia, ou seja, a propriedade que a silagem adquire em não se deteriorar quando em contato com o oxigênio do ar, não permitindo o desenvolvimento de microrganismos.

O processo de deterioração aeróbia é iniciado pelas leveduras, oxidando o principal produto da silagem, o ácido láctico, causando elevação do pH. Com a elevação do pH surgem outros microrganismos que virão comprometer a qualidade nutritiva da silagem bem como sua higiene devido ao desenvolvimento de microrganismos patogênicos (Driehuis et al, 1999).

Neste sentido, Toledo Filho et al (2004) estudaram a deterioração de silagem de cana de açúcar com e sem o L. bucheneri, associado a enzima fibroílitica.

Quadro 10 - Estabilidade aeróbia de silagem de cana de açúcar, após 10 dias de sua abertura, com L. bucheneri e com enzima.

VariáveisTratamentos

Controle L.bucheneri L.

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bucheneri + Enzima

Temperatura máxima alcançada pela silagem, 10 dias após abertura

22,3 18,1 21,5

Dias para atingir-se a temperatura máxima

1,6 6,6 3,6

pH máximo atingido pela silagem

4,6 3,8 3,7

Dias para alcançar o pH máximo

9,6 6,6 6,3

Perdas MS (%) 19,8 18,6 19,5

Verifica-se que o L bucheneri elevou a estabilidade aeróbia da silagem. Uso da enzima fibrolítica reduziu a estabilidade da silagem.

Não basta obter uma boa estabilidade da silagem, se não há um manejo adequado para a retirada do silo. O oxigênio penetra até 6cm por dia no perfil do painel do silo. As camadas diárias a serem retiradas devem uniformes e superiores a 15 a 30cm. Quando se tem somente silagem normal em um perfil de um silo o consumo de silagem é de 7,95 kgMS/animal. Quando a relação de 75/25 de silagem normal/deteriorada o consumo passa para 7,35; quando passa para 50/50, o consumo é de 6,95 e quando é 25/75, o consumo é de 6,67.

b.3 Aditivos seqüestrantes de umidade

Os aditivos seqüestrantes de umidade são normalmente, fontes de carboidratos, cereais, farelos, entre outros, que visam elevar o teor de matéria seca das silagens, reduzir a produção de efluentes e aumentar o valor nutritivo das silagens (McDonald et al,1991).

A maioria dos trabalhos neste sentido tem evidenciado mais o efeito da redução do teor de umidade em forragens colhidas úmidas, reduzindo a perda por formação de efluente do que a inibição na atividade de leveduras e produção de álcool.

Andrade et al (2001) quando aumentou em sete unidades percentuais (12% de MDPS) no teor de MS da forragem de cana de açúcar não houve produção de álcool. Este resultado foi devido à baixa tolerância das leveduras a alto potencial osmótico da forragem.

Casali et al (2004) estudaram o efeito de níveis crescentes de batata desidratada (0, 7, 14, 21,28%MV) em forragem de cana de açúcar com 20,1% MS. Observou-se redução linear na perda por gases e na perda por efluentes.

Silva et al (2003) estudaram o efeito da adição de fubá (8% MV) a forragem de cana de açúcar, na presença ou não de inoculantes. Não houve efeito da adição dos aditivos sobre as variáveis fermentativas da silagem de cana (ácido propiônico, ácido acético, ácido láctico e etanol). O teor de etanol foi alto em todos os tratamentos porque o nível usado de fubá não permitiu que houvesse alteração do teor de MS e

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conseqüentemente redução da atividade fermentativa das leveduras.

Trabalho de Bernardes et al (2002) foram conduzidos no sentido de estudar o efeito do aditivo MDPS em forragens provenientes de cana queimadas ou não e seus resultados são mostrados no Quadro 11.

Quadro 11 - Estudo do efeito do aditivo milho desintegrado com palha e sabugo em forragem verde e queimada de cana de açúcar.

Adição de MDPS

Tratamento da forragem

Forragem Natural Forragem queimada

pH Etanol - %MS pH Etanol- %MS

MDPS - 10% 3,4 6,54 3,6 7,27

Controle 3,5 9,85 3,7 10,21

Verifica-se que houve redução no teor de etanol na forragem não queimada com 10% de MDPS em relação a queimada. Este resultado pode ser devido a maior contagem de leveduras (244%) na silagem de cana queimada (446,4ufc/g) em relação a não queimada. Os autores concluem que as silagens da cana queimada têm maiores teores de etanol devido à transformação de sacarose em glicose e frutose, com conseqüente menor teor de açúcar redutor o que afeta o crescimento das leveduras.

b.4 Aditivos combinados

Vários trabalhos de pesquisa têm sido feitos associando diferentes tipos de aditivos, visando o efeito sinergético na redução das perdas fermentativas em silagens de cana de açúcar.

Contudo, aspectos econômicos tem sido o limitante do uso desta tecnologia. Freitas et al (2004) estudaram os efeitos dos aditivos L. buchneri e L. plantarum associados ou não ao de colheita de soja na produção de silagem de cana de açúcar. Verificaram que os aditivos foram eficientes quando usados com o resido da soja (Quadro 12).

Quadro 12 - Associação de aditivos químicos e microbianos na ensilagem da cana de açúcar

Tratamentos

pH

Produção de gases

% MS

Produção de efluentes

kg/tMV

Estabilidade aeróbia

Horas

Perda Total

% MS

Controle 3,75 15,9 76,2 32 32,5

L.plantarum 3,55 19,9 84,9 60 33,6

L.buchneri 3,43 13,2 66,5 60 19,2

Uréia 4,24 13,2 56,5 40 27,8

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Uréia+L.pl. 4,29 13,9 83,9 60 22,5

Ureia+L.b. 4,59 12,2 75,0 48 20,3

NaOH 4,64 9,1 3,2 24 28

NaOH L.pl. 4,61 6,4 5,8 32 13,5

NaOH L.b. 4,47 6,2 2,3 48 5,9

Os níveis usados foram, de uréia 0,5% MV e de hidróxido de sódio 1% MV em uma forragem com 35% de MS.

Em relação aos aditivos microbianos usados como exclusivos, apenas o L buchneri foi efetivo no controle na produção de efluentes e redução das perdas totais. A adição de hidróxido de sódio juntamente com Lactobacillus plantarum reduziu a produção de gases e perdas de MS. Não houve efeito dos aditivos microbianos sobre a estabilidade aeróbia. Contudo, silagens com NaOH apresentaram menos tempo para a elevação da temperatura em 20. Este efeito pode ser decorrente da menor concentração de produtos da fermentação (ácidos orgânicos) que apresentam ação inibitória sobre fungos e mofos (Danner et al, 2003).

3.3 DESEMPENHO DE ANIMAIS ALIMENTADOS COM SILAGENS DE CANA DE AÇÚCAR

Os trabalhos com avaliação dos produtos obtidos de tratamentos com aditivos são pouco disponíveis na literatura.

Pedroso et al (2003) avaliou o desempenho de novilhas holandesas alimentadas com silagem de cana de açúcar não tratada e tratadas com uréia (0,5% MV), benzoato de sódio (0,1% MV) ou L.buchneri (Quadro 13).

Quadro 13 - Desempenho de novilhas holandesas alimentadas com rações contendo silagens de cana de açúcar aditivadas.

Tratamentos

Parâmetros avaliados

Peso inicial kg

Peso Final kg

Ganho diário kg

Consumo de MS kg/dia

Conversão alimentar kgMS/kg ganho

Controle 387,3 443,5 0,94 8,72 9,37

Uréia 391,5 453,8 1,03 8,75 8,63

Benzoato 386,3 451,7 1,14 8,61 7,63

L. buchneri 391,4 465,8 1,24 9,61 7,73

Verificou-se ganhos médios diários de 32 e 21% superiores a ração controle, para as rações contendo silagem de cana tratadas com L. Buchneri e benzoato de sódio, respectivamente. A conversão alimentar para esses tratamentos seguiu a mesma tendência.

Junqueira et al (2004) avaliaram doses de 1 e 1,5% na MV de uréia e inoculação com L. buchneri em silagens de cana de açúcar nas rações de novilhas leiteiras

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(Quadro 14).

Quadro 14 - Desempenho de novilhas leiteiras com silagens de cana de açúcar aditivadas e perdas de armazenamento das silagens em silos de grande escala.

TratamentoConsumo MS kg/dia

Ganho de PV kg/dia

Conversão alimentar kgMS/kg ganho

Perdas no silo % MV Total

Controle 8,72 0,94 9,37 -

Uréia-1%MV 8,46 1,11 7,7 7,8

Uréia-2%MV 7,69 0,95 8,2 16,5

L. buchneri 9,03 1,13 8,3 5,1

Não foi observada diferença no desempenho entre as silagens com uréia ou com L. buchneri. A aditivação com uréia foi eficiente em manter adequado valor nutritivo da silagem de cana de açúcar. A inclusão de níveis superiores a 1% da MV pode elevar as perdas por deterioração, devido o efeito tampão da uréia.

Schmidt et al. (2003) avaliaram a inclusão de dois níveis de L.buchneri e a adição de uma enzima fibrolítica á silagem de cana de açúcar. Verificaram efeito positivo do aditivo sobre o consumo e ganho de peso de bovinos em confinamento (Quadro 15).

Quadro 15 - Desempenho de bovinos Nelore e Canchin alimentados com rações a base de silagem de cana de açúcar, inoculada com diferentes doses (ufc/gMV) de L buchneri e enzima.

Variáveis

Tratamentos

ControleL.buchneri 5x10 4

L.buchneri 5x10 5

L.buchneri 5x10 5 + Enzima

CMS, kg 7,78 8,83 8,99 8,70

GPV, kg 0,82 1,03 0,98 1

CA,kgMS/kgPV 9,71 8,66 9,32 8,80

PV, Médio 491 517 514 515

CMS - Consumo de matéria seca por dia. ufc = unidade formadora de colôniaGPV - Ganho peso vivo diárioCA - Conversão alimentar

Em relação ao comportamento animal, os autores observaram que os animais que receberam silagem de cana sem aditivo despenderam mais tempo com a atividade de ingestão, ruminação e mastigação, principalmente nas primeiras seis horas após fornecimento do alimento. O menor consumo de forragem observado nesse tratamento, pode estar relacionado com o teor de álcool existente

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CAPIM ELEFANTE PARAÍSO (Pennisetum hybridum) I. INTRODUÇÃO

O híbrido inter-específico capim elefante Paraíso é o resultado do cruzamento do milheto (Pennisetum glaucum (L) R.Br) com o capim elefante (Pennisetum purpureum Schum), (HANNA et al., 1984).

Este cruzamento combinou a qualidade do milheto com o potencial de alta produção de matéria seca do capim elefante. Na realidade a obtenção do híbrido fértil não é simples como apresentado. Este híbrido obtido é estéril (triplóide-n) e para torná-lo fértil (reprodução sexuada), ou seja, hexaplóide (6n) usou-se se a Colcichina com o fim de dobrar o número de cromossomos. Portanto, o capim elefante Paraíso é um capim híbrido hexaplóide e que se multiplica pôr sementes (MACOON, 1992).

O capim elefante híbrido foi introduzido no Brasil em 1995, pelo Engenheiro Agrônomo Herbert Vilela através da Empresa Matsuda. Desta data, até a presente, têm sido feitos trabalhos intensos de pesquisa sobre melhoramento genético, fisiologia vegetal, valor nutritivo da matéria seca, adaptação aos solos brasileiros, respostas a níveis de nitrogênio, fósforo, potássio e irrigação; e métodos de conservação da forragem produzida, pela equipe de pesquisadores da Matsuda Genética, nas áreas experimentais da Empresa, Universidades e Estações Experimentais.

O nome Paraíso trata-se de uma homenagem ao Município de São Sebastião do Paraíso onde foi introduzido o capim, em 1995.

II. PERSISTÊNCIA

O capim elefante Paraíso é perene. A planta acumula reservas na forma de carboidratos (amido) nos rizomas até o final do outono, o que favorece a sua persistência. Entretanto, cortes contínuos, a intervalos de 28 dias, reduz o vigor das rebrotas até sua completa exaustão das reservas (VILELA et al., 1997).

Plantas cortadas duas vezes pôr ano apresentam a mesma reserva nos rizomas do que aquelas não cortadas (DIZ et al., 1994). A persistência é uma característica desejável para a produção de sementes neste cultivar, uma vez que a planta pode ser cortada para essa fim durante muitos anos. DIZ et al., (1994) obteve pôr seleção, ótimos genótipos que mostraram boa persistência em vigor adequado pôr vários anos após o estabelecimento.

A sobrevivência após corte variou de 88 a 100%, no decorrer do trabalho. SCHANK et al., (1989) verificaram que este híbrido tolera temperaturas muito baixas (-18ºC). Verificaram que após esta condição de estresse térmico, 27% das plantas retiveram todas as folhas, enquanto 35% das plantas não retiveram nenhuma folha, mas não morreram. As demais plantas retiveram 50% das folhas.

Os trabalhos iniciais com esta planta foram aqueles referentes a seção massal. Procurou-se eliminar os indivíduos que estavam fora do padrão fenotípico dominante

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da população.

III. FERTILIZAÇÃO

A primeira medida a ser tomada antes de qualquer decisão sobre adubação é o procedimento de análise de solo. Uma vez conhecido o valor do pH e o nível de Al+++

do solo pela análise feita proceder-se a sua correção se necessária (recomendação técnica). A correção poderá ser feita como foi visto pelo silicato de Ca e Mg ou pelo calcário.

As adubações do capim elefante Paraíso podem ser são divididas em duas, basicamente a adubação de formação ou de correção e a de manutenção. WOODARD e PRINE (1990) mostraram que o cultivo do capim elefante pode ser obtido em solos pobres, mediante o uso de N , P e K na seguinte relação: 4 : 0, 44 : 1,66. Variando esta relação ter-se-á mais caules produzindo um ou mais perfilhos primários. Quantitativamente recomendam-se para solos médios 00-100-00kg/ha, N, P, K por ano, para formação. Para solos pobres recomenda-se 10-132-10kg/ha, estas recomendações se referem à época de formação (primeiro ano). Nesta época de formação recomenda-se uma fonte de fósforo com solubilidade gradual, para não perda de Fósforo. Esta fonte pode ser o termofosfato Yoorin (MITSUI), que atende esta condição. Se o solo for de média fertilidade recomenda-se 350kg/ha de Yoorin, aplicado na linha de plantio, se for pobre usar 500kg/ha nas mesmas condições. Quarenta e cinco dias após o plantio recomenda-se aplicar em cobertura, 100kg/ha de N (500kg de sulfato de amônia) e 95 dias após o plantio, mais 50kg/ha de N e 48kg/ha K (250kg de sulfato de amônia e 60kg de cloreto de potássio). Todas estas recomendações são para a formação.

A adubação de manutenção deve ser anual e recomenda-se faze-la mediante monitoramento dos níveis de nutrientes do solo. De modo geral, recomenda-se 250kg/ha da fórmula 20-00-18 (NPK)/ha, após cada corte, por dois cortes consecutivos. Após o terceiro corte fazer uma adubação com 10-20-18 (NPK)/ha ou 100kg/ha de sulfato de amônio com 30kg/ha de cloreto de potássio por duas vezes e depois 50kg/ha de sulfato de amônio com 100kg/ha de superfosfato simples e com 30kg/ha de cloreto de potássio.

IV. MANEJO DO CAPIM ELEFANTE PARAÍSO

1. Produção e valor nutritivo:

SCHANK et al. (1995) obtiveram por corte 3.467kg/ha de matéria seca à idade de 42 dias e 15.622kg/ha de matéria seca à idade de 84 dias com o capim elefante híbrido. Esta forragem estava com 16,7% e 20,4% de matéria seca, respectivamente às idades de 42 e 84 dias. A digestibilidade "in vitro" da matéria orgânica variou 63,6% a 56,6% respectivamente. VILELA et al. (2001) estudaram o efeito de quatro intervalos de corte, ao longo do ano, sobre a produção de matéria seca do capim elefante Paraíso e seu valor nutritivo (Quadro 1).

Quadro 1 - Produção de matéria seca (t/ha), teor de proteína bruta (% PB), fibra detergente neutro (% FDN) e digestibilidade "in vitro" da matéria seca (% DIVMS) do

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capim elefante Paraíso em quatro idades das rebrotas. (1)

Idade da planta (dias)

Prod. MS por Corte (t/ha)

PB* (%) FDN** (%) DIVMS*** (%)

35 5,2d 19,2a 61,2c 66,5a

70 10,6c 13,6b 68,8b 62,3b

105 14,5b 10,2c 70,6a 58,5c

140 22,6a 9,1c 71,5a 50,2d

(1) VILELA et al., 2001.

* Proteína bruta. ** Fibra detergente neutra. *** Digestibilidade "in vitro" da Matéria seca.VILELA et al. (2001) estudaram quatro intervalos de cortes de 35, 70, 105 e 140 dias sobre a produção de matéria seca do capim elefante Paraíso. Verificam que o intervalo de corte de 70 dias foi o que proporcionou maior produção de matéria seca total (50t/ha) em quatro cortes a partir de dezembro, com irrigação. O intervalo de 35 dias foi o que proporcionou menor produção (32t/ha) em 5 cortes a partir de novembro, com irrigação, enquanto o intervalo de 105 dias proporcionou uma produção de matéria seca de 48t/ha em dois cortes, a partir de janeiro, com irrigação. O intervalo de corte de 140 dias proporcionou apenas um corte 22,6t/ha em março. Neste mesmo trabalho estudaram também o valor nutritivo do capim elefante Paraíso ao longo do ano. Verificaram que a parte aérea da forrageira apresenta um teor médio de proteína bruta de 19,65 e de 9,65% com 35 e 140 dias de idade e 71,5 e 61,2% respectivamente, para fibra detergente neutra nas menor e maior idades e uma digestibilidade de 66,5% na idade de 35 dias e 50,2% na idade de 140 dias. Pode-se concluir que o capim elefante Paraíso apresenta um ótimo valor nutritivo até a idade de 90 dias e partir daí o tolerável seria a idade de 105 dias.

2. Análise de crescimento do capim elefante Paraíso:

O objetivo deste trabalho (VILELA et al., 2002) foi analisar o crescimento do capim elefante Paraíso (híbrido hexaploide) em cinco idades 14, 28, 42, 56 e 70 dias. Inicialmente, foi feito um corte de uniformização do capim elefante a uma altura de 0,50m do solo. Em seguida procedeu-se à adubação de manutenção com 100kg de nitrogênio e 65kg de K2O nas formas de sulfato de amônia e cloreto de potássio.

Constituíram os tratamentos as idades de corte. Utilizou-se o delineamento de blocos completos ao acaso, com cinco repetições. O material colhido foi pesado para determinação da massa verde da forragem e em seguida amostrado, para determinação da área pelo medidor de área foliar da ∆T Devices Ltda.

Valores instantâneos (Quadro 2) foram estimados para os índices de crescimentos: razão de área foliar (RAF), taxa assimilatória líquida (TAL) e taxa de crescimento relativo (TCR). Não houve diferenças destes valores até a idade de 42 dias. Houve, contudo variações após a idade de 56 dias.

Quadro 2 - Razão de área foliar (RAF) e taxa assimilatória líquida (TAL) e taxa de

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crescimento relativo (TCR) em diferentes idades da planta de capim elefante Paraíso.

Idade (Dias)

Taxa Crescimento Relativo (TCR) (g/g/dia)

Razão de Área Foliar (RAF) (m2/g)

Taxa Assimilatória Líquida (TAL) (g/m2)

14 6,556a 0,25a 60,2a

28 6,520a 0,22a 58,6a

42 6,510a 0,20a 56,8a

56 4,520b 0,13b 30,3b

70 2,046c 0,08c 20,3c

a, b, c. Comparam as idades em cada parâmetro analisado (P, 0,05).Os valores (TCR, RAF e TAL) e os modelos de crescimento (modificações das médias pela idade da planta) nas condições do presente trabalho mostram diferença acentuada desta gramínea em estudo, em relação aos de outras gramíneas tropicais comparadas. O valor de taxa de acumulo de matéria seca do capim elefante Paraíso (165kg/ha/ano) é superior aos cultivares de Pennisetum purpureum comparados.

O índice de área crítico para as rebrotas do capim elefante Paraíso é alcançado por volta dos 56 dias e tem um valor de cerca de 10,2. Estes valores (IAF e Idade) sugerem um critério para manejo desta forrageira.

3. Irrigação do capim elefante Paraíso:

A demanda de água por uma cultura de capim elefante Paraíso (Pennisetum hybridum) foi avaliada por VIILELA et al. (2002) pela quantidade de água evaporada por um tanque de classe A, pelas precipitações pluviométricas e pela capacidade de armazenamento de água de um Latossolo Vermelho Amarelo (LVA), para a produção de forragem. Portanto, estudou-se o comportamento do capim elefante sob duas condições hídricas:

1. Testemunha - Sem irrigação; 2. Uso da água quando o resultado da diferença da leitura do tanque classe A e das precipitações pluviométricas fosse igual ou maior do que 30mm.

Constatou-se que o método é eficiente para determinar a quantidade de água suplementar para uma cultura de capim elefante. Avaliaram-se também os aspectos financeiros envolvidos com o sistema de produção. As precipitações pluviométricas somaram 1.650,8mm e mal distribuídas durante o período. A água suplementar aplicada foi de 539mm. A produção de forragem com irrigação foi de 57,5t/ha de matéria seca, enquanto a sem irrigação foi de 38t/ha, por ano em cinco e três cortes, respectivamente. O custo da forragem irrigada foi de R$ 40,40/t MS produzida enquanto, a não irrigada foi de R$ 46,24.

Quadro 3 - Manejo da água na cultura do capim elefante Paraíso.

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Data

Nº dias (1)

Irrigação maior ou igual a 30mm (2)Umidade do solo (%)

Diferença (mm)

Freqüência (dias)

Lâmina de água (mm)

Início Após

01/06/00 Zero - - - 6,5 20,2

21/06 21 31,5 21 20,1 5,8 19,8

30/06 30 36,2 9 21,8 6,5 18,2

06/07 36 36,3 6 20,1 6 18,2

14/07 44 30,0 8 18,2 5,8 18,5

20/07 50 31,2 6 15,8 6,2 19,2

28/07 58 33,5 8 17,5 6,1 18,6

06/08 67 32,2 9 18,2 6,2 17,8

12/08 73 35,1 6 17,2 6,5 17

16/08 77 34,2 4 18,1 6,1 16,8

25/08 86 39,2 9 18,3 6,5 16,8

30/08 91 32,3 5 18,2 6,2 16,9

02/09 94 33,8 3 14,2 5,8 16,9

06/09 98 30,1 4 15,2 6,5 16,5

12/09 104 30,2 6 16,2 7 17,2

20/09 112 31,2 8 15,6 6,8 16,9

29/09 121 31,2 9 16,8 5,5 17,4

05/10 127 32,1 6 16,9 6,5 17,5

09/10 131 33,2 4 19,2 5,2 17,8

16/10 138 31,2 7 18,6 6,5 16,4

25/10 147 32,6 9 17,6 6,2 16,2

04/11 157 32,1 10 15,2 6,2 15,4

01/12 183 32,5 26 12,2 7,2 15

25/01/00 239 31,2 56 12,3 6,5 16,5

10/02 255 32,2 16 12,6 5,8 16,5

28/02 273 31,2 18 13,5 6,2 15,6

10/03 283 32,6 10 12,5 6,1 15,6

22/03 295 32,2 12 13,5 6,2 16,1

02/04 306 31,5 11 12,5 6 16,5

17/04 321 32,2 15 15,5 6,5 15,8

26/04 330 30,5 9 14,8 5,6 15,8

02/05 336 32,2 6 15,5 6,8 14,9

15/05 349 30,2 13 16,8 5,9 15,6

25/05 359 33,2 10 18,3 6 15,8

Medias - 31,6 11 16,9 6,2 16,4

Totais 365 - - 539 - -

(1) Datas dos tratamentos

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(2) Referência de irrigação: Quando a diferença entre evaporação tanque classe A e precipitações pluviométricas for maior ou igual a 30mmQuadro 4 - Produtividade de forragem sob duas condições de umidade do solo*

Nº do corte

Idade das rebrotas (dias)

Épocas do ano

Rendimento Forrageiro por corte(t MS/ha)

Sem irrigação

Com irrigação

1 109 17/9 - Inverno - 8,6C

2 7602/12 - Primavera

10,5Bb 12,8Ba

3 69 07/2 - Verão 14,0Aa 14,8Aa

4 70 12/4 - Verão 13,5Ab 14,5Aa

5 41 30/5 - Outono - 7D

Totais - - 38b 57,7a

* (A > B > C > D, P < 0,05), na mesma coluna.

(a > b, P < 0,05), na mesma linha.4. Silagem de Capim Elefante Paraíso

Pesquisas com capim elefante Paraíso com o objetivo de produzir silagem devem ser intensificadas para avaliar o potencial forrageiro deste germoplasma. O plantio deste híbrido perene deve ser estimulado para este propósito com o objetivo de reduzir o plantio anual do milho ou sorgo para este fim, visto apresentarem custos de produção elevados. Trabalhos de SCHANK et al (1995) mostram que o capim elefante Paraíso pode ser ensilado sem nenhum aditivo ou tratamento. Estes autores ensilaram o capim elefante aos 42 e 84 dias de idade, um teor de 16,7 e 20,4% de matéria seca. O pH da silagem obtida foi de 3,8 e 4, a proteína bruta foi 12,5% e 9% e o teor de ácido láctico foi de 80 e 83% (porcentagem do total de ácidos orgânicos). Comentam que houve perdas de 1,3 e 2% na digestibilidade da matéria orgânica, em relação ao tempo ao ensilar. O teor de carboidratos solúveis na planta permitiu que se fizesse boa silagem sem nenhum tratamento. Ainda, verificaram que o teor de ácido láctico encontrado permite classificar a silagem como sendo de alta qualidade. Silagem com níveis acima de 60.%, são consideradas de boa qualidade. Os outros parâmetros como teor de proteína bruta e digestibilidade ajudam a classificar uma silagem como sendo de ótima qualidade (padrão alimentar). VILELA et al (2000) recomendam que, no ano de plantio, se proceda ao primeiro corte para ser ensilado, somente em fins do mês de março, antes do florescimento total do capim. Com este manejo consegue-se um estabelecimento mais eficiente da cultura, devido a um maior desenvolvimento do sistema radicular. Por outro lado, perde-se um pouco do seu valor nutritivo devido a sua idade (100 a 120 dias após o plantio), a proteína estará em torno de 10% e a digestibilidade da matéria seca em torno de 53% (VILELA et al, 2001), Os cortes para serem ensilados, nos anos subseqüentes ao do plantio, devem seguir a recomendações corretas. VILELA et al (2000), sugerem que o primeiro corte deve ser feito em janeiro se houver repouso (descanso), da área a partir de outubro. A esta época, a planta estará com cerca de dois metros de altura e o seu rendimento será em torno de

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75t/ha de forragem verde, se o espaçamento for de 70cm entre linhas. Nesta época, o teor de matéria seca da forragem estará muito baixo (15%), o que é impróprio para ser ensilado, sem nenhum tratamento prévio. Os tratamentos vão desde o emurchecimento (VILELA et al, 2000 e TOSI et al,1999), até o uso de aditivos e/ou inoculantes (Silomax) ou combinações deles.

O emurchecimento consiste em cortar a forragem, picá-la e deixá-la exposta ao sol por um período de 6 a 12 horas, aproximadamente. Deve-se evitar chuvas as quais provocam lixiviação dos elementos nutritivos. Contudo, este material emurchecido perde certa quantidade de carboidratos (energia), devido à continuação da respiração das células vegetais (VILELA et al, 2000).

O ideal seria adicionar o inoculante Silomax ao material fresco com o objetivo de melhorar a fermentação láctea, pela bactéria adicionada. Este inoculante adicionado proporcionará uma silagem de melhor qualidade devido à rápida produção de ácido láctico e conseqüentemente queda rápida no pH no material ensilado. Menor pH (3,2) melhor será a silagem (ROTZ e MUCK, 1994).

Outro recurso disponível para controlar o baixo teor de matéria seca da forragem é adicionar, cerca de 10% de produtos que venham elevar este teor na matéria ensilada (polpa cítrica, milho desintegrado com palha e sabugo, etc.), (TOSI et al, 1999, ALMEIDA et al, 1986 e LAVEZZO et al,1978) ou corrigir o nível de carboidratos na forragem ensilada, adicionando desde 1 a 3% de produtos ricos no mesmo como o melaço em pó (ou 5% farelo de trigo, farelo de arroz, milho moído, etc.), (CONDE, 1970).

O segundo corte do capim pode ser feito em março, antes do seu florescimento em abril. A esta época, a forragem apresenta um teor de matéria seca em torno de 20%, permitindo assim que se faça uma silagem de boa qualidade (12% de proteína bruta e 60% de digestibilidade (VILELA et al, 2001). O material cortado para ser ensilado deve, preferencialmente, ser colocado em silos do tipo superfície, uma vez que são os que apresentam menor custos de implantação. Convém salientar que o material cortado também poderá ser colocado em outros tipos de silos (silo trincheira, cilíndrico aéreo, cilíndrico subterrâneo ou cisterna ou cilíndrico de encosta), desde que observadas as recomendações gerais para o processo de ensilagem.

VILELA et al, (2000) estudando o capim elefante Paraíso (Pennisetum hybridum cv. Paraíso) o cortou aos 70 dias de idade. Parte da forragem foi ensilada fresca (17,5% MS), parte foi emurchecida por 6 horas (25,6% MS) e outra parte por 12 horas (31,2% MS) e, posteriormente, ensiladas. A amostra de forragem emurchecida (31,2% MS) apresentou menores valores de carboidratos solúveis do que as outras e o mesmo valor de poder tampão. O tratamento por 6 horas não influiu nos teores de FDN, FDA e PB, enquanto o por 12 horas reduziu também os teores de FDN e PB (P < 0,05). O emurchecimento por 12 horas ainda resultou em menor produção de ácido lático, menor produção de amônia e menor valor de DIVMS na silagem (P < 0,05).

Quadro 5 - Forragem de capim elefante paraíso e de suas silagens

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PARÂMETROSTEMPOS DE EMURCHECIMENTO

ZERO HORA 6 HORAS 12 HORAS

PRODUÇÃO (t/ha) E COMPOSIÇÃO PARCIAL DA FORRAGEM

PROD. (t/MS) 18,40a 18,02a 18,56a

MS (%) 17,50c 25,60b 31,20a

CHO sol. (% MS) (1)

17,67a 17,07a 15,33b

PT (2) 29,87a 30,34a 29,07a

COMPOSIÇÃO DA FORRAGEM (%)

FDN 59,10a 59,15a 56,14b

FDA 35,70b 36,16b 39,96a

PB 13,75a 13,86a 9,16b

QUALIDADE DA SILAGEM

pH 3,8a 3,0b 3,9a

N-NH (3) (% N Total)

27,08a 26,96a 25,10b

Ac. láctico (%MS) (3)

7,14a 8,65a 5,50b

Ac. Butírico (%MS) (3)

0,010a 0,005a 0,018a

DIVMS (%) (4) 60,16a 61,14a 57,26b

(a, b, c, P < 0,05) Números seguidos por letras minusculas diferentes, dentro da mesma linha, diferem significativamente.

(1) Carboidratos solúveis (% na MS); (2) Poder tampão ao HCL (eq. mg. de HCL/100g MS); (3) Ácidos graxos voláteis (g ácido/100g MS); (4) Digestibilidade "in vitro" da matéria secaA digestibilidade "in vitro" da matéria seca da silagem foi diminuída em 9,36% pela exposição ao sol por 12 horas, depreciando assim a qualidade da silagem.

Os resultados obtidos sugerem que esta forragem não deve passar por este tipo de tratamento para melhorar a qualidade da silagem, possivelmente em função do maior teor de carboidratos encontrados.

Os resultados de custos obtidos permitem concluir que a silagem obtida apresenta custo menor do que a silagem de milho.

5. Produção de leite em pastagem de capim elefante Paraíso

Foi possível verificar que a pastagem de capim elefante Paraíso sem nenhum concentrado como suplemento atendeu as exigências de mantença das vacas em lactação e ainda permitiu uma produção de 15,6kg de leite/dia. A produção diária de leite foi influenciada pelas quantidades de caroços de algodão usados (Quadro 6). As quantidades de leite obtidas foram 15,6, 18,4 e 20,8kg/vaca/dia, respectivamente para os tratamentos com 0, 1,5 e 3kg de caroço de algodão.

Quadro 6 - Produção de leite por vaca por dia sob os tratamentos com caroço de

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algodão.

TRATAMENTOS (kg caroço de algodão/vaca/dia)

PRODUÇÃO MÉDIA DE LEITE (kg/vaca/dia)

Controle 15,6C

1,5kg 18,4B

3,0kg 20.8A

A produção média diária de leite observada (15,6kg/vaca, com 5 vacas/ha) no tratamento sem suplemento está próximo as obtidas por outros pesquisadores (COSER et al.,1998 e DERESZ et al., 2001), em condições semelhantes a deste trabalho. Este resultado contribui com a hipótese de que as pastagens de clima tropical limitam o potencial de produção de leite de vacas em lactação (15,6kg/dia/vaca) pela baixa digestibilidade e menor consumo da forragem (VAN SOEST, 1965).

As quantidades de nutrientes oferecidas por 1,5 e 3kg de caroço de algodão mostraram serem suficientes para as produções alcançadas nestes tratamentos, mesmo porque não houve alteração no peso vivo dos animais durante o período.

Considerando os preços do caroço de algodão a R$ 0,40/kg e do leite a R$ 0,42/litro, os tratamentos com as suplementações de caroço de algodão são viáveis economicamente em relação ao grupo controle, conforme mostra a Quadro 7.

Quadro 7 - Viabilidade econômica da suplementação com caroço de algodão (CA).

VARIÁVEIS CONTROLE 1,5kg CA 3kg CA

Produção de leite (kg/vaca/dia)

15,6 18,4 20,8

Custo suplementação (R$/vaca/dia)

- 0,60 1,20

Receita Adicional (R$/vaca/dia)

- 1,18 2,18

Margem Bruta Adicional (R$/vaca/dia)

- 0,58 0,98

Relação Benefício/Custo - 1,97 1,82Verifica-se que a suplementação com 3kg de caroço de algodão permitiu uma receita adicional de R$ 2,18/vaca por dia e uma margem adicional de R$ 0,98. Pode-se concluir que as suplementações com caroço de algodão foram viáveis para os níveis de produção obtidos.

DEFICIÊNCIAS MINERAIS DE BOVINOS EM PASTAGENS TROPICAIS DIAGNÓSTICO E SUPLEMENTAÇÃOFabiano Alvim Barbosa1, Décio Souza Graça2, Francisco Veriano da Silva Júnior3

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1 - Médico Veterinário, Mestre Nutrição Animal, Doutorando Produção Animal, EV/UFMG, [email protected] - Professor Adjunto, EV/UFMG, [email protected] - Eng. Agrônomo - Mestrando em Zootecnia, EV/UFMG, [email protected], Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG, Caixa Postal 567, 30.123.970, Belo Horizonte/MG

1. INTRODUÇÃO

As doenças causadas por deficiências minerais existem desde a antiguidade, mas, antes dos meados do século XX só se tinha uma vaga idéia sobre a natureza , função e origem dos minerais encontrados nos tecidos animais e vegetais. A administração de sal comum a gado doméstico é datada dos tempos de Plutarco (40 a 120 anos AC), bem como nos tempos de Virgílio e Plínio (23 a 70 anos AC) onde este era recomendado para a produção de leite. Somente quando criaram métodos para analisar os minerais nos tecidos animais e nos alimentos e medir a resposta dos animais à suplementação de minerais isolados, foi possível substituir as suposições por fatos acerca da essencialidade dos nutrientes minerais (McDowell, 1999; Underwood & Suttle, 1999).

Segundo Underwood & Suttle (1999) Boussingault (1847) obteve a primeira evidência experimental de que o gado bovino necessita de sal comum na dieta e Chatin (1850-1854) revelou a relação da deficiência de iodo e a incidência de bócio em humanos e animais. O hábito de mascar ossos foi registrado na África em 1780 e no Paraguai em 1838, mas a relação entre a osteofagia e a deficiência de fósforo em gado bovino somente foi esclarecida após trabalho de pesquisa de Theiller et al. (1924) na África do Sul, onde a suplementação com fósforo corrigiu a osteofagia, controlou as mortes por botulismo e aumentou a taxa de crescimento e fertilidade dos bovinos (McDowell, 1999).

A subnutrição é geralmente aceita como um dos mais importantes limitantes da produção de bovinos sob condições de pastejo em países tropicais. A falta de energia e proteína são, freqüentemente, responsáveis por níveis sub-ótimos. Todavia, numerosos investigadores têm observado que o gado deteriora apesar da abundância de material forrageiro. Desequilíbrios minerais (deficiências ou excessos) nos solos e forrageiras vêm sendo há longo tempo responsabilizados pelo baixo desempenho produtivo e reprodutivo de ruminantes sob pastejo em áreas tropicais. Doenças caquetizantes, perda e despigmentação de pêlos, alterações epidérmicas, abortos não infecciosos, diarréia, anemia, perda de apetite, anormalidades ósseas, tetania, baixa fertilidade e apetite depravado (alotrofagia) são sinais clínicos freqüentes relacionados a deficiências minerais em qualquer parte do mundo (McDowell, 1999).

Segundo Underwood (1981) 22 elementos minerais são considerados essenciais para a vida dos animais, sendo sete classificados como macronutrientes minerais – cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K), sódio (Na), cloro (Cl), magnésio (Mg) e enxofre (S) – e quinze elementos traços ou micronutrientes minerais – ferro (Fe), iodo (I), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), cobalto (Co), molibidênio (Mo), selênio (Se), cromo (Cr), vanádio (V), flúor (F), sílica (Si), níquel (Ni), arsênico (As), estanho (Sn).

Em levantamento feito por Tokarnia et al. (2000), mostraram que os primeiros estudos sobre deficiências minerais em bovinos no Brasil se referem à deficiência de fósforo e

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foram conduzidos na década de 40, em Minas Gerais (Gióvine, 1943; Menicucci, 1943), deficiência de iodo em Minas Gerais (Megale, 1943), deficiência de cobalto em São Paulo (Correa, 1955, 1957), deficiência de cobre no Piauí (Tokarnia et al., 1960). Neste levantamento estes autores mostram que até 1976 já haviam sido diagnosticadas as deficiências de P, Co, Cu, I, distribuídas pelo Brasil (Tabela 1).

Estes mesmos autores mostraram que a partir da década de 70 e 80 novos trabalhos de pesquisas foram feitos e constataram que a deficiência de fósforo é a mais importante em bovinos no Brasil, seguidas de cobre e cobalto. Além destas foram diagnosticadas as deficiências de sódio (Souza et al., 1985), zinco (Souza et al., 1982), selênio (Moraes, 1986; Lucci et al. 1984). A deficiência de Mn foi constatada raramente, mas houve verificações de levados valores com risco de toxidez (Brum et al. 1987, Pott et al., 1987, 1989). E para o elemento ferro os níveis encontrados também foram elevados (Fichtner et al., 1987, Brum et al. 1987, Pott et al., 1987, 1989) (Tabela 1).

Tabela 1 - Localização das deficiências minerais em bovinos e ovinos diagnosticadas no Brasil até 1998.

ESTADOS MINERAIS

Amapá Mn, Co , Cu

Amazonas P, Co, Cu

Bahia P, Co, Zn

Espírito Santo P, Co, Mn

Goiás P,Cu, I, Zn, Fe

Maranhão P, Co, Cu, Zn

Mato Grosso P, Co, Cu, Mn, I, Na, Se, Zn

Mato Grosso do Sul P, I, Co, Se, Zn, Fe , Mn

Minas Gerais P, Co, Cu, I, Zn

Pará P, Co, Cu

Piuaí P, Co, Cu, Mn, Zn

Rio Grande do Sul P, Cu, Mn , Se

Rio de Janeiro P, Co, Cu, Mn, Zn

Roraima P, Co, Zn, Se

Santa Catarina Co, Cu, Mn

São Paulo P, Co, Se2. FONTES DE MINERAIS PARA GADO SOB PASTEJO

Os bovinos em pastejo em regiões tropicais, normalmente, não recebem suplementação mineral em quantidade e nível adequado para atender suas necessidades de mantença e produção, dependendo exclusivamente da pastagem para fornecer estes elementos minerais.

As concentrações de minerais nas plantas forrageiras são variáveis, pois dependem da espécie, época do ano, da quantidade do elemento no solo, do tipo de solo e suas

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condições (pH, umidade, etc.) que afetam a sua disponibilidade para absorção da planta. As exigências minerais das forrageiras não são as mesmas dos animais e por realizarem diferentes funções biológicas estão presentes em quantidades e proporções diferentes. A disponibilidade dos minerais nas plantas é afetada pela presença de ácido fítico e oxálico encontrados nas membranas celulares celulósicas (Herrick, 1993).

Um resumo dos resultados de análises de 2615 forragens na América Latina (McDowell et al., 1978) mostra as seguintes concentrações de minerais em níveis deficientes ou marginais: cobalto (Co) – 43%; cobre (Cu) – 47%; magnésio (Mg) – 35%; fósforo (P) – 73%; sódio (Na) – 60%; zinco (Zn) – 75%. A deficiência de potássio, ferro e manganês é mais rara. À medida que a planta amadurece o seu conteúdo mineral declina devido a um processo natural de diluição e a uma translocação de nutrientes para o sistema radicular. Na maioria das vezes o P, N, K, Mg, Na, Cl, Cu, Fe, Se, Zn e Mo decrescem na planta com seu envelhecimento. Entretanto, a concentração de cálcio é pouco afetada pelo avanço em idade da planta (McDowell, 1999).

Os bovinos que recebem suplementação de volumosos e/ou concentrados podem ingerir quantidades variáveis de minerais através destes alimentos, entretanto as concentrações de minerais oscilam e nem sempre atendem totalmente suas necessidades. As gramíneas de um modo geral são pobres em P, Cu, Zn e Co e ricas em Fe, já os grãos e farelos possuem níveis mais elevados de P em relação ao Ca e os níveis de microminerais bastante variável em função do solo e adubação (Tabela 2).

Tabela 2 - Níveis de minerais em algumas gramíneas, grãos e farelos

ALIMENTOS

Ca (%)

P (%)

Mg (%)

K (%)

Zn (ppm )

Fe (ppm)

Cu (ppm)

Co (ppm)

Colonião 0,58 0,15 0,28 1,58 31 154 4,2 0,09

Elefante 0,43 0,11 0,36 0,34 33 100 18 0,14

B. decumbens

0,209

0,089

0,168

0,59 4,2 151 2,9 0,02

B. brizantha

0,37 0,09 0,24 0,82 24 130 5 0,14

Silagem milho

0,36 0,21 0,22 1,60 24 60 4,8 0,02

Farelo soja

0,36 0,65 0,25 2,2 55 - 20 -

Farelo algodão

0,30 1,00 0,57 1,23 60 - 20 0,15

Milho grão 0,02 0,09 0,140,333

20 - - 0,02

Soja grão 0,25 0,58 0,25 1,8 55 - 15 -

Fonte: Normas e padrões de nutrição e alimentação animal - MAARA (1996); Martin, (1993);Morais (1996) demonstrou em trabalho realizado no Mato Grosso do Sul o efeito

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sazonal dos minerais na forrageira Brachiaria decumbens, bem como sua variação de uma região para a outra (tratamento A e B). Estes resultados demonstram que, de uma maneira geral, os elementos P, Cu e Zn não atendem totalmente as exigências de um rebanho bovino de corte, para o Ca ficam deficientes as categorias de bovinos em crescimento e vacas em lactação. Já os minerais K, Mg, Fe e Mn estão acima das exigências recomendadas para bovinos de corte (Tabela 3).

Tabela 3 - Variação sazonal dos teores de cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K) magnésio (Mg), cobre (Cu), ferro (Fe), zinco (Zn) e manganês (Mn) com base na MS, de amostras de Brachiaria decumbens coletadas em pastejo simulado entre os meses de janeiro de 1994 a janeiro de 1995 em função dos tratamentos (A e B), no Mato Grosso do Sul.

Meses

Minerais

Ca(%)

P(%) K(%) Mg(%)

Cu(ppm)

Fe(ppm)

Zn(ppm)

Mn(ppm)

A B A B A B A B A

B

A B A

B

A B

Jan/94

0,34

0,22

0,30

0,11

0,93

1,38

0,45

0,22

5 7207

242

22

23

100

169

Mar

0,30

0,30

0,18

0,12

1,19

1,46

0,31

0,23

4 6183

642

16

17

96

129

Abr

0,32

0,32

0,31

0,12

1,34

1,23

0,45

0,28

4 5198

1013

16

15

112

231

Mai

0,37

0,31

0,33

0,23

1,39

1,60

0,38

0,26

5 7340

2026

20

23

104

201

Jul0,42

0,38

0,22

0,15

1,30

1,39

0,44

0,22

6 6331

1963

20

23

97

164

Ago

0,51

0,52

0,15

0,14

1,33

1,68

0,43

0,27

4 5771

1657

23

24

120

168

Out

0,36

0,41

0,18

0,17

1,51

1,79

0,37

0,29

4 7741

1493

20

27

94

162

Nov

0,31

0,35

0,21

0,17

1,63

1,90

0,40

0,29

4 6 620

105

23

23

94

152

Page 38: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

6

Dez

0,34

0,39

0,25

0,15

1,43

1,55

0,43

0,36

4 4706

981

22

26

119

157

Jan/95

0,36

0,41

0,20

0,13

1,37

1,49

0,47

0,37

3 3496

807

17

21

108

145

Tratamento A: baixa frequência da síndrome da “vaca caída”; Tratamento B: alta freqüência da da síndrome da “vaca caída”. FONTE: Adaptado de Morais, 1996.O uso excessivo de adubação nitrogenada e fosfatada pode provocar deficiência de magnésio, enquanto o excesso de potássio pode reduzir drasticamente o sódio das forrageiras. O uso de calcário em níveis elevados pode acentuar a toxicidade de Mo e Se nos rebanhos por aumentar as concentrações destes elementos nas plantas, e ao mesmo tempo favorecer as deficiências de Co e Mn, devido a uma redução na absorção desses minerais pelas plantas (McDowell, 1999).

Embora a água não seja uma importante fonte de minerais, todos os elementos essenciais nela são detectados. Alguns minerais podem ocorrer em maior quantidade na água dependendo da região como por exemplo, águas calcárias que possuem elevados níveis de cálcio que pode interferir na absorção de fósforo e zinco, além disto águas salobras com elevados teores de sódio que diminuem o consumo das misturas minerais e conseqüentemente podem levar a deficiências minerais.

Os ruminantes também podem ingerir minerais através do solo seja acidentalmente ou por uma deficiência mineral, alotrofagia, caracterizada por uma perversão do apetite, que induz a ingestão de materiais estranhos à sua dieta normal. A ingestão acidental de solo pode chegar a 20% da matéria seca, sendo favorecido quando os solos possuem uma estrutura fraca e drenagem pobre, elevada carga animal ou durante baixo crescimento dos pastos (época da seca) (McDowell, 1999). Esta ingestão de solos pode ocasionar deficiência de Cu devido elevada ingestão de Mo e Zn presentes no solo e outros antagonistas do Cu (Suttle et al., 1975; citado por (McDowell, 1999).

3. EXIGÊNCIAS DE MINERAIS PARA BOVINOS

Segundo Underwood & Suttle (1999) os minerais apresentam quatro funções básicas no organismo – estrutural, fisiológica, catalítica e reguladora.

Estrutural : os minerais como o Ca, P, Mg e o F, exercem estas funções no tecido ósseo, já o P e S como componente de proteínas musculares, também exercem função estrutural. Fisiológica: a presença do Na, K, Ca, Mg nos tecidos e líquidos corporais garantem o equilíbrio osmótico, o balanço ácido-básico e a permeabilidade das membranas, caracterizando as funções fisiológicas. Catalítica: os minerais podem atuam em atividades catalíticas de sistemas enzimáticos e hormonais como forma integral ou fazendo parte de estruturas como metaloenzimas. Um exemplo desta função é a presença do Cu em enzimas como a ceruroplasmina e a tirosinase. Reguladora : em recentes estudos os minerais como Ca, Zn e I, têm sido

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encontrados em processos de regulação na replicação e diferenciação celular.

As exigências de minerais em bovinos variam de acordo com o tipo e nível de produção, a idade do animal, a raça e o grau de adaptação dos animais, o nível e a forma química do mineral no alimento, e suas relações com os outros nutrientes da dieta (McDowell, 1999).

A exigência de mineral é determinada por um modelo fatorial utilizando as necessidades líquidas para mantença e produção divididas pelo coeficiente de absorção, sendo aplicado primeiramente pelo AFRC (1965) segundo Underwood & Suttle (1999). O coeficiente de absorção é variável para cada mineral.

Além das exigências de mantença do animal (processos vitais como circulação, digestão, respiração) existem as exigências líquidas para a reprodução e produção que são dependentes do nível de produtividade dos animais. No terço final de gestação as necessidades minerais aumentam exponencialmente em virtude do crescimento fetal e produtos da concepção (placenta, útero e fluído fetal). Além disto, as exigências minerais líquidas são expressas por unidade de produção como litro de leite e kg de ganho em peso (Underwood & Suttle, 1999).

As exigências do NRC são baseadas, freqüentemente, no desempenho ponderal e nas quantidades de um mineral específico para prevenir deficiências. Muitas exigências nutricionais não levam em consideração as informações recentes sobre seus efeitos no sistema imunológico, bem como em termos de ótima reprodução. Por exemplo, a necessidade de zinco para desenvolvimento testicular e espermatogênese em ovinos é maior que para crescimento (McDowell, 1999). O NRC (2001) assume que os minerais possuem diferentes disponibilidades de acordo com o alimento como forragens, concentrados e fontes inorgânicas, isto influencia no coeficiente de absorção deste mineral e conseqüentemente na sua exigência.

Tabela 4 - Exigências de minerais para bovinos de corte e leite.

Minerais

  Vacas de corte a Vacas de leite b

Crescimento a

Gestante

Lactação

Transição

Lactação

Cálcio (%)

0,40 - 0,800,16 - 0,27

0,28 - 0,58

0,44 - 0,48

0,53 – 0,80

Fósforo (%)

0,22 - 0,500,17 - 0,22

0,22 - 0,39

0,22 - 0,26

0,44 – 0,32

Magnésio (%)

0,10 0,12 0,200,11 - 0,16

0,18 – 0,29

Potássio (%)

0,60 0,60 0,600,51 - 0,62

1,00 – 1,24

Sódio (%)

0,06 - 0,080,06 - 0,08

0,100,10 - 0,14

0,19 – 0,34

Enxofre (%)

0,15 0,15 0,15 0,2 0,20

Cobalto 0,10 0,10 0,10 0,11 0,11

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(ppm)

Cobre (ppm)

10 10 10 12 - 18 9 - 16

Iodo (ppm)

0,50 0,50 0,50 0,4 - 0,50,34 – 0,88

Ferro (ppm)

50 50 50 13 - 1812,3 – 22,0

Manganês (ppm)

20 40 40 16 - 24 12 – 21

Selênio (ppm)

0,10 0,10 0,10 0,3 0,3

Zinco (ppm)

30 30 30 21 - 30 43 -73

FONTE: a NRC, 1996; b NRC, 2001Silva et al. (2002) compilaram os resultados de pesquisas realizadas no Brasil, sobre exigências líquidas e dietéticas de energia, proteína e macroelementos minerais de bovinos de corte com quatro grupos genéticos de bovinos machos (Zebu, Cruzado - Europeu x Zebu -, Mestiços Leiteiros e Holandês) e encontraram que as exigências totais (mantença e ganho de 1kg PV) de Ca encontram-se próximas às recomendações do NRC (1996), mas as de P apresentaram valores sempre superiores as de Na e K, inferiores às recomendações do NRC (1996), mostrando a necessidade de realizar mais pesquisas sobre a exigência dos minerais nas condições tropicais.

4. MACROMINERAIS

4.1 Cálcio e Fósforo

Esses dois macrominerais compõem mais de 70% do total da matéria mineral do corpo animal, sendo que, 99% do Ca e 80% do P do organismo estão presente nos ossos e dentes, exercendo funções vitais em quase todos tecidos e devem estar disponíveis na dietas em quantidades e proporções adequadas. O cálcio é essencial na formação do esqueleto, coagulação do sangue, regulação do ritmo cardíaco, excitabilidade neuromuscular, ativação enzimática e permeabilidade de membranas. O fósforo participa da formação do esqueleto e sua distribuição é ampla nos tecidos moles, glóbulos vermelhos, músculos e tecidos nervosos. É essencial para o funcionamento dos microrganismos do rúmen, especificamente as bactérias celulolíticas, além de fundamental nas reações de utilização de energia (formação de ATP), tamponamento do sangue e outros fluídos, na atividade de vários sistemas enzimáticos e metabolismo de proteínas (McDowell, 1999).

A vitamina D é essencial para a absorção do cálcio na dieta. É encontrada sob várias formas, sendo que as mais freqüentes são: o ergocalciferol (D2) ou calciferol e o colecalciferol (D3); originadas pela irradiação das provitaminas D (esteróis), através da ação dos raios ultravioleta. Nas dietas deficientes em vitamina D, a absorção e utilização do cálcio são reduzidas. O cálcio é absorvido por um mecanismo de transporte ativo, no qual a vitamina D se combina com uma proteína (calbindin-D, CaBP), responsável pela manutenção do Ca++ em solução durante movimentos transcelulares (McDowell, 1992).

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A vitamina D está intimamente relacionada com o paratormônio, responsável pela regulação do nível sangüíneo do cálcio e metabolismo de fosfatos (H PO 4 --). A vitamina D estimula a deposição e atua na mobilização do mineral no osso, bem como a do fósforo, causando uma inibição da eliminação deste último na urina. O aumento da absorção do fósforo no intestino, causado pela vitamina D, é considerado um processo secundário, ou seja, ocorre devido a maior absorção do cálcio (McDowell, 1992).

Trabalhos recentes mostram que a vitamina D afeta a formação da matriz orgânica do osso, preparando-a para a calcificação, mas não o processo de mineralização em si. Sabe-se que uma das grandes funções da vitamina D esta relacionada a síntese da fosfatase alcalina, explicando a sua grande influência no metabolismo ósseo. A carência da vitamina D, associada ou não ao desequilíbrio na ingestão de Ca e P, é responsável pela desmineralização dos ossos, traduzida pela baixa ligação P/N, com a conseqüente redução da ligação do fosfato de cálcio ao carbonato. Existe também interação entre vitaminas e, quando há excesso de niacina, ocorre comprometimento da vitamina D, deprimindo assim a absorção do cálcio.

Os hormônios paratormônio e calcitonina atuam regulando o nível de cálcio sérico. A redução do nível de cálcio, leva a um aumento do paratormônio que estimula a síntese de vitamina D, que induz um aumento da reabsorção óssea do cálcio. Se houver um aumento no nível de cálcio sérico, a calcitonina é liberada, inibindo a síntese de vitamina D, resultando em uma menor absorção intestinal do cálcio e reabsorção óssea. Quanto ao fósforo, sofre a mesma influência, só que de maneira inversa.

Os sinais clínicos de deficiência marginais de Ca e P podem ser semelhantes a de outros minerais dificultando o diagnóstico. A ingestão insuficiente de Ca pode causar: fragilidade óssea, crescimento lento, baixa produção de leite e em casos mais severos tetania e convulsões (McDowell, 1999).

A febre do leite (FL), também chamada de febre vitular, paresia puerperal, paresia da parturiente, ocorre geralmente 72h depois do parto caracterizada por uma disfunção metabólica causada por uma depressão de Ca sanguíneo, que acontece quando o uso do Ca pelos tecidos, excede a absorção intestinal e a reabsorção óssea. O quadro clínico inicial é de hiperestesia com um colapso circulatório e uma paralisia generalizada seguido de depressão nervosa que pode levar a óbito (Ortolani,1995; McDowell, 1999). Acomete principalmente vacas de leite de alta produção, por ocasião do início da lactação.

Visto que todas as vacas de leite logo após o parto passam por algum grau de hipocalcemia (Goff & Horst, 1996), independente da estação do ano (Ortolani, 1995), torna-se de grande importância o balanceamento da dieta no pré-parto, com a finalidade de prevenção de problemas da vaca parturiente, mais especificamente a febre do leite.

Segundo Wang et al (1994) citado por Campos (1998), a FL acomete de 5 a 9% das vacas leiteiras nos Estados Unidos, representando custos diretos de 1,5 milhões de dólares e custos secundários de 120 milhões anuais. No Brasil, Ortolani (1995), encontrou dados que giram em torno de 4%, na Suécia 11% e na Grã-Bretanha, assim como nos EUA, 9%.

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Como método de prevenção contra a febre do leite a dieta aniônica vem sendo uma boa alternativa com bons resultados. Na Noruega, foi o pioneiro a pesquisar dietas balanceadas ionicamente (Campos, 1998). Tem sido estudado como método de prevenção da febre do leite, a adição de sais aniônicos nas dietas pré- parto de vacas de alta produção e estes tem produzido, em regiões de clima temperado, melhoria na homeostasia do Ca, reduzindo a incidência da doença. O balanço dietético cátion – ânion, trata-se da diferença entre os minerais com carga positiva (cátions fixos) e os minerais com carga negativa (ânions fixos) da dieta (não metabolizados e biodisponíveis). Os principais cátions envolvidos no balanço são Na e K e os principais ânions Cl e S (Ortolani, 1995). Mas há também interação com Mg e P.

Segundo Goff (1994), a fórmula que resume a diferença cátion / ânion é:

{( Na + + K + ) – (Cl - + S 2- )}

Estes elementos modificam o balanço dietético cátion-ânion, aumentando a absorção do Ca pelo trato gastrointestinal, e sua mobilização óssea devido as suas propriedades acidificantes ou seja, os íons afetam indiretamente a concentração de [H+] no organismo através de sistema tampão, função renal e respiração celular (Block, 1996). A meta a ser atingida é o oferecimento de uma dieta com um balanço negativo de –30 a –100mEq/kg de matéria seca (MS) e não superior a –200mEg/kg de MS (Ortolani, 1995).

Segundo McDowell (2001) e xistem várias opções com relação aos métodos para o controle da febre do leite. O atual conceito de dieta catiônica sugere que a febre do leite possa ser controlada mais efetivamente se o K dietético for reduzido. O cloreto de cálcio foi usado para reduzir o pH do sangue mas, o excesso de cloreto de cálcio oral pode induzir acidose metabólica, podendo causar inapetência uma vez que o consumo de alimento já está comprometido. A acidez dietética pode ser monitorada pelo pH da urina que deve estar abaixo de 7,5. O tratamento com propionato de cálcio foi benéfico, em todas as tentativas para se reduzir a hipocalcemia subclínica e a incidência de febre do leite em um rebanho que já tenha problema com febre do leite .

A disponibilidade do cálcio é reduzida entre (20 a 40%), quando a planta apresentava altos teores em oxalato. Como a maior parte do rebanho bovino brasileiro é criada a pasto, recomenda-se a observação quanto as formas de oxalato predominante na forragem, bem como a situação nutricional e fisiológica do animal (Ward et al., 1979; McKenzie et al., 1982, citado por Martin, 1993).

Um trabalho conduzido no Mato Grosso do Sul por Schenk et al. 1982, relatou que vacas neloradas recém paridas e em condições nutricionais precárias, após colocadas em pastagens de Setaria anceps cv. Kazungula com brotações novas (onde o percentual de ácido oxálico é elevado), apresentaram intoxicação por oxalato com sintoma caracterizados por: andar cambaleante, tetania, diarréias, corrimento nasal, sendo alguns casos sanguinolentos e chegando até ao óbito. Foi observado uma queda considerável nos níveis de cálcio no plasma sanguíneo dos animais intoxicados e do lote controle, sendo que os animais sadios apresentaram uma média de 8,6mg/100ml de cálcio no plasma, enquanto que nos intoxicados esse nível foi de 6,7mg/100ml. Concluindo que a ingestão de altos teores de oxalato solúveis, interferiu no metabolismo

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do cálcio de forma considerável.

Outra doença correlacionada a deficiência de cálcio no sangue é a "cara inchada" ou hiperparatireodismo nutricional secundário. A deficiência de cálcio no sangue estimula a glândula paratireóide a produzir o parathormônio que mobiliza o cálcio dos ossos para o sangue, sendo que, o cálcio retirado dos ossos é substituído por um tecido cicatricial fibroso, que provoca o aumento do volume dos ossos da face. O corre com maior freqüência em animais jovens no período pós-desmama, podendo também afetar os adultos. Os sintomas clínicos da "cara inchada" indicam uma periodontite, seguida de afrouxamento e ruptura dos dentes (molar e pré-molar), com abaulamento facial uni ou bilateral. As lesões orais são seguidas por amaciação, diarréia severa, acromotriquia e crescimento retardado (McDowell, 1999).

Deficiência de Ca e P è Osteodistrofia fibrosa é "Cara Inchada" (Nunes & Nunes 1998).

Uma severa deficiência na ingestão de P podem ser observados sintomas como: fragilidade óssea, fraqueza generalizada, baixa fertilidade, perda de peso, enrijecimento das articulações, redução da produção de leite, perversão do apetite levando o animal a mastigar madeiras, pedras, ossos e outros materiais estranhos a sua dieta normal. Apresentando o apetite depravado, o animal poderá ingerir ossos infectados com Clostridium botulinum e com formação da toxina durante o processo de putrefação. Com a ingestão da toxina o animal desencadeia um quadro clínico de botulismo e morte (Underwood & Suttle, 1999).

A deficiência de fósforo é mais comum em gado sob pastejo, pois, a maior parte das gramíneas estabelecidas em solos de regiões tropicais, são deficientes nesse mineral. E para agravar o problema a presença de Al e Fe nos solos tornam o fósforo indisponível para as plantas pela formação de complexos. Durante o período da seca há redução de energia utilizável, proteína, caroteno, fósforo e de outros elementos. O fósforo não é o principal nutriente limitante, mas sim a proteína. Daí o nitrogênio não protéico (principalmente a uréia) e os suplementos protéicos melhorarem grandemente o consumo de pasto e induzirem os animais à ingestão de gramíneas pouco apetecidas (Vianna, 1977).

Van Nierkerk & Jacobs (1985) avaliaram o efeito de suplementos de proteína, energia e fósforo isolados e em combinações em dietas de bovinos, usando como fonte volumosa de baixa proteína, a cana-de-açúcar, simulando a época da seca para verificar a deficiência nutricional nesta época do ano. A suplementação protéica, em todos os tratamentos, aumentou a ingestão 34,5% em relação ao grupo controlem e induziu menor perda de peso em relação aos outros tratamentos. A resposta para a proteína é aumentada quando usada em conjunto com fósforo e energia, mostrando que a deficiência protéica é a mais importante causa de perda de peso em bovinos mantidos em pastagens de baixa qualidade .

4.2 Magnésio

O magnésio é o segundo maior cátion, depois do potássio, dos fluídos intracelulares (Underwood & Suttle, 1999). É essencial as plantas sendo constituinte da clorofila, e aos

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animais presente nos ossos e tecidos moles. Apresenta-se abundante na maioria dos alimentos em relação aso requisitos aparentes dos animais, estando amplamente distribuído entre as planta e tecidos animais, onde, 70% do Mg do corpo animal esta concentrado nos ossos (McDowell, 1999).

Exerce muitas e diversificadas funções fisiológicas, além de também ser importante para integridade dos ossos e dentes. O magnésio desempenha função fundamental como íon essencial em muitas reações enzimáticas indispensáveis ao metabolismo intermediário e também como ativador enzimático. Esta diretamente envolvido no metabolismo dos carboidratos e lipídeos atuando como catalizador de uma ampla variedade enzimática. Esta também envolvido na síntese proteica e exerce uma importante função na transmissão e atividade neuromuscular.

A deficiência de magnésio pode causar a “tetania dos pastos” ou tetania hipomagnesêmica podendo acometer animais mais velhos em pastejo no início da primavera ou em outonos úmidos ou bezerros recebendo leite por muito tempo sem outra suplementação alimentar. Os sinais clínicos da hipomagnesemia em ruminantes podem ser caracterizados como: redução do apetite, aumento da excitabilidade, salivação profusa e convulsões (McDowell, 1999).

4.3 Potássio

O potássio é o terceiro mineral mais abundante no organismo animal e o principal cátion do fluido intracelular exercendo uma série de funções indispensáveis ao organismo. Dentre as principais funções do potássio pode-se destacar: equilíbrio osmótico, equilíbrio ácido - base, vários sistemas enzimáticos e balanço hídrico, constituindo também o fluido extracelular, onde exerce influencia sobre a atividade muscular (McDowell, 1999).

Geralmente a deficiência de potássio nas forrageiras é rara, porém, variações na sua concentração podem ocorrer pois esta diretamente correlacionada com a disponibilidade do mineral no solo, espécie forrageira e idade da planta (Underwood & Suttle, 1999).

A deficiência de potássio nos ruminantes provoca sintomas não específicos como: desenvolvimento lento, redução do consumo e da conversão alimentar, fraqueza muscular, distúrbios nervosos, rigidez, perda de flexibilidade do couro, definhamento, acidose intracelular e degeneração de orgãos vitais (McDowell, 1999).

4.4 Sódio e Cloro

O sódio e o cloro, juntamente com o potássio, atuam na manutenção da pressão osmótica e na regulação do equilíbrio ácido-base e controla o metabolismo da água no corpo (Underwood & Sutlle, 1999).

O Na e o Cl funcionam como eletrólitos dos fluídos corporais e estão envolvidos no metabolismo da água, utilização de nutrientes e transmissão de impulsos nervosos. O Cl atua na ativação da amilase e é um componente essencial do ácido clorídrico (HCl) do suco gástrico (McDowell, 1999).

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Estes dois elementos ocorrem em concentrações maiores nos tecidos moles e nos fluídos corporais, sendo que, a concentração do Na no corpo é de 0,2% nos fluídos extracelulares. O cloro encontra-se tanto dentro como fora das células, onde que, 60% do Cl do organismo está na forma de íons acídicos, importante no equilíbrio ácido-base (Nunes, 1998)

O sinal característico inicial de deficiência de Na é uma avidez por sal, demonstrado pelo animal ao comer madeira, solo, lamber suor de outros animais e o consumo de água, podendo até ferir uns aos outros, tornando-se vorazes na tentativa de obter sal. Uma deficiência prolongada pode causar: perda de apetitie, crescimento retardado, aparência doentia, queda na produção de leite e perda de peso. Os sintomas mais severos podem ser caracterizados como: tremores, incordenação motora, fraqueza e arritmia cardíaca, podendo resultar na morte do animal (McDowell, 1999).

A deficiência de Na pode ocorrer com maior probabilidade:

durante a lactação, devido a secreção de Na no leite, em animal de crescimento rápido em condições tropicais ou semi-áridas quentes, onde grandes quantidades de água e sódio se perdem pelo suor e há deficiência de Na nas forrageiras em animais sob pastejo em áreas com elevada fertilização fosfatada, que reduz o Na das forragens (McDowell, 1999).

4.5 Enxofre

É um elemento muito importante na síntese de proteína, pois, os aminoácidos essenciais cisteína e metionina contêm S, participando também das vitaminas biotina, tiamina, dos polissacarídeos sulfatados incluindo a condroitina que é componente chave da cartilagem, ossos, tendões e paredes dos vasos, sanguíneos.

As funções básicas do elemento podem ser relacionadas ao metabolismo das proteínas, carboidratos e gorduras, coagulação do sangue, função endócrina e equilíbrio ácido-base, dos fluídos intra e extracelulares (McDowell, 1999).

A deficiência de S pode ser caracterizado por: perda de peso, fraqueza geral, lacrimejamento, aspecto emaciado e morte, reduz a síntese microbiana e apresenta subnutrição protéica. A ausência de S na dieta resulta em uma população microbiana ineficiente na utilização do lactato e assim o ácido láctico se acumula no rúmen, sangue e urina (McDowell, 1999).

O excesso de S na dieta pode causar intoxicação aguda, resultando em sintomas clínicos de dor abdominal, contrações musculares, diarréia desidratação grave, hálito com forte odor de sulfeto, congestão pulmonar e enterite aguda (Miller, 1979 citado por McDowell, 1999).

5. MICROMINERAIS

5.1 Cobalto

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O cobalto é componente essencial da vitamina B12 (cobalamina) que contém 4,5% deste mineral. Os microorganismos ruminais são capazes de sintetizar a B12 desde que a dieta contenha concentrações adequadas de cobalto. Duas enzimas dependentes de vitamina B12 ocorrem nos tecidos – metilmalonil CoA mutase que é essencial para o metabolismo do propionato em succinato e para a conversão do L-metilmalonil CoA para succinil CoA; e a metionina sintase, importante na reação de transferência do grupo metil da metionina (NRC, 1996). A vit. B12 é essencial em vários sistemas enzimáticos envolvendo transferência ou síntese de 1-carbono, metabolismo de ácidos nucléicos, proteínas gorduras e carboidratos.

O ruminante deficiente em vit. B12 falha em converter eficientemente propionato em succinato, diminuindo assim sua eficiência energética. Os sintomas clínicos da deficiência de cobalto em ruminantes não são específicos sendo semelhantes ao quadro de subnutrição protéica ou energética. Os animais perdem o apetite gradualmente e à medida que o quadro se agrava ocorre parada do crescimento ou perda de peso, seguidos de extrema inapetência, rápida perda de massa muscular, apetite depravado, anemia severa e morte (McDOWELL, 1999).

5.2 Cobre

O cobre componente essencial de enzimas como a ceruloplasmina, tirosinase, lisil oxidase, citocromo oxidase e superóxido dismutase (SOD). É necessário para respiração celular, formação óssea, função cardíaca normal, desenvolvimento do tecido conjuntivo, mielinização da medula espinhal, queratinização e pigmentação dos tecidos. Relativamente ao sistema imune a deficiência de cobre afeta as células T e B, os neutrófilos e macrófagos, resultando em um decréscimo das células produtoras de anticorpos (McDowell, 1999). Vários estudos citados por Harmon (1998) relatam a importância do cobre para o sistema imune, onde dietas com níveis baixos de cobre diminuem a quantidade de granulócitos, leucócitos, neutrófilos, a atividade da superóxido dismutase, reduzindo a capacidade do organismo bovino em combater às infecções. Este mesmo autor trabalhando com novilhas Holandesas 84 dias pré-parto e 105 dias pós-parto relata que o grupo suplementado com cobre (+20 ppm além da dieta basal com 6-7 ppm de Cu), em relação ao grupo controle, sem adição de cobre, tiveram menor número de quarto mamário infectado : 60 x 36% (P<0,05), menor infecção intramamária por maiores patógenos : 6 x 28% ( P<0,01) e tendência a menor número de células somáticas após desafio com endotoxina nos dias 1 e 4 pós parto : 2,624 x 3,954 x 10 3 / ml; 877 x 1,213 x 10 3 / ml ( P< 0,1).

O requerimento de cobre na dieta varia de 4 a 12mg/kg MS de acordo com a concentração de molibdênio e enxofre na dieta. A recomendação é de 10mg/kg de MS de cobre para bovinos de corte, se a dieta não exceder 0,25% de S e 2mg/kg de Mo. O enxofre age com o molibdênio no rúmen formando tiomolibidatos que por sua vez reagem com o cobre formando compostos insolúveis pobremente absorvidos para bovinos pastejando forragens contendo 20mg de Mo/kg, concentrações de 14mg Cu/kg foram inadequadas. Altas concentrações de ferro e zinco também reduzem o estado de cobre e podem aumentar a necessidade de cobre (NRC, 1996). O NRC (2001) assume uma variação de 12 a 15,7mg/kg de MS de cobre/dia para gado leiteiro, respectivamente para novilhas e vacas em lactação.

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Segundo Underwood (1981) citado por McDowell (1999), existe uma ampla variedade de alterações em ruminantes associadas com a deficiência de Cu simples ou induzidas (alto Mo e S), tais como: anemia, diarréia grave, redução do crescimento, mudança de cor dos pêlos, ataxia neonatal, infertilidade temporária, falência cardíaca e fragilidade dos ossos longos que se quebram com facilidade.

5.3 Cromo

Cromo é componente do fator de tolerância à glicose e potencializa a ação da insulina (Mertz, 1992). O suprimento de 0,4 mg de picolinato de cromo/kg de dieta para animais em crescimento aumentou o clearance médio de glicose seguida de administração intravenosa de glicose (Bunting et al. 1994; Kegley e Spears, 1995). Adições de 0,2 a 1,0 mg de Cr/kg aumentaram a resposta imune de bovinos em crescimento em situações de stress (Chang e Mowat, 1992; Monsier-Shageer e Mowat, 1992).

O cromo está fisiologicamente ligado a um aumento da ação da insulina. Este elemento é um componente ativo do Fator de Tolerância à Glicose (GTF) que é necessária para o normal metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos. O átomo do Cr 3+ do GTF facilita a interação entre a insulina e seus receptores, aumentando o número de receptores da insulina na membrana celular e a afinidade entre estes nos tecidos, como os músculos e gorduras (Anderson et al. 1987; Mertz, 1992).

Os benefícios da suplementação com o cromo à alimentação de bovinos de corte e leite estão ligados ao desempenho – ganho médio diário e produção de leite (Chang e Mowat, 1992; Monsier-Shageer e Mowat, 1992; Subiyatno et al. 1995), ao sistema imune – aumento nos níveis de imunoglobulinas e anticorpos (Chang e Mowat, 1992; Monsier-Shageer e Mowat, 1992), à redução de desordens metabólicas – cetose subclínica (Subiyatno et al. 1995), à redução dos efeitos do stress – diminuição do cortisol sérico (Chang e Mowat, 1992; Monsier-Shageer e Mowat, 1992).

De acordo com o NRC (1996) e o NRC (2001) as informações atualmente disponíveis não são suficientes para determinar os requerimentos diários de cromo para bovinos.

5.4 Ferro

O ferro é componente de várias proteínas envolvidas no transporte e utilização de oxigênio. Estas proteínas incluem a hemoglobina, mioglobina, citocromos e ferro-enxofre proteínas envolvidas na cadeia de transporte de elétrons. Mais de 50% do ferro do organismo está presente na forma de hemoglobina.

Os ruminantes jovens estão mais sujeitos à deficiência de ferro porque o leite é pobre no elemento, exibindo sinais de anemia microcítica normocrômica, baixo ganho de peso, letargia, incapacidade de suportar o esforço circulatório, respiração laboriosa após exercício moderado, redução de apetite, atrofia das papilas da língua e palidez das mucosas visíveis. Dificilmente a deficiência de Fe acomete animais adultos, a menos que ocorra considerável perda de sangue por parasitoses ou outra doença (McDOWELL, 1999).

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5.5 Iodo

O iodo é componente essencial dos hormônios da tireóide - tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) - que regulam o metabolismo energético no organismo, termorregulação, metabolismo intermediário, crescimento, reprodução, desenvolvimento físico e mental e a diferenciação ou metabolismo dos tecidos. Afetam glândulas endócrinas, hipófise e gônadas, que influenciam o funcionamento neuromuscular, crescimento de pêlos e pelagem e ainda o metabolismo de nutrientes inclusive o de minerais.

Cerca de 70 a 80% do iodo é absorvido no rúmen sendo que pode haver alguma no abomaso. O requerimento de iodo para bovinos é afetado por substâncias goitrogênicas que interferem no metabolismo do iodo. Estes compostos são encontrados em farelos de soja e de algodão e pastagens e sementes de Brassica (NRC, 1996).

A deficiência de iodo nos ruminantes é caracterizada por bócio endêmico. Em animais jovens manifesta-se também por fraqueza geral, retardo no desenvolvimento cerebral, nascimento de animais fracos, cegos e sem pêlos. Em animais em reprodução reduz a produtividade devido a irregularidades ou supressão de ciclo estral. O desenvolvimento fetal pode ser paralisado, resultando em morte, reabsorção embrionária, aborto ou natimorto, associados à gestação prolongada, partos trabalhosos e retenção de membranas fetais (ALLCROFT et al., 1954; POTTER et al., 1981; McDOWELL, 1999).

5.6 Manganês

O manganês é componente de enzimas como a piruvato carboxilase, arginase, superoxido dismutase e ativador de várias outras enzimas. É necessário ao organismo para estrutura normal dos ossos, a reprodução e o funcionamento normal do sistema nervoso central (McDOWELL, 1999). A quantidade de manganês necessária para máximo crescimento é menor que para o desenvolvimento normal do esqueleto, e para a reprodução, os requerimentos de manganês são mais elevados do que para crescimento e desenvolvimento ósseo.

Os sinais clínicos de deficiência incluem crescimento sub-ótimo de tecidos moles e esqueléticos, redução da resistência à fraturas dos ossos, conformação óssea anormal, ataxia, fraqueza muscular, acúmulo de gordura corporal, diminuição da lactogênese, cio tardio, irregular ou ausente, reabsorção fetal, deformidades fetais, baixo peso ao nascer (McDOWELL, 1999).

5.7 Selênio

O selênio é essencial para funções orgânicas como crescimento, reprodução, prevenção de várias doenças e manutenção da integridade dos tecidos. A função metabólica do selênio está intimamente ligada à vitamina E, onde ambos atuam protegendo membranas biológicas contra degeneração oxidativa. O selênio é parte integrante da glutationa peroxidase (GSH Px), que destrói os peróxidos antes que eles possam atacar as membranas celulares. Além disto o selênio é importante na formação de selenoproteínas que atuam em espermatozóides, RNA, síntese de prostaglandinas e metabolismo de ácidos graxos, conversão de T4 (tetraiodotironina) em T3 (triiodotironina) e resposta imunológica (Underwood & Suttle, 1999; McDowell, 1999).

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Selênio também está envolvido no sistema imune dos animais, de acordo com a revisão de Smith et. al (1997), citando vários trabalhos sobre o assunto. Larsen (1988), observou tendência de aumento na concentração de IgG, em ovelhas e cordeiros suplementados com selênio. Turner & Finch (1990), reportaram diminuição da resposta linfocitária em cordeiros deficientes em Se e vit. E. Smith et al. (1985) suplementaram novilhas 60 dias antes do parto e durante a lactação com 0,3 mg/kg de Se e encontraram menor infecção da glândula mamária ao parto, redução da prevalência da infecção durante a lactação, menos casos de mastites clínicas, infecções com durações mais curtas e baixa contagem de células somáticas (CCS) comparada às novilhas não suplementadas. Erskine et.al (1989) encontraram atrofia, agalactia e redução de produção de leite em vacas recebendo dietas com baixos níveis de Se ( 0,04mg/kg MS) em comparação às vacas suplementadas com Se ( 2,0mg de Se/dia) ( P<0,05). As vacas Se-deficiente também tiveram maior contagem de células somáticas e maior duração da infecção mamária. Hogan et.al (1990) suplementou vacas com 0,2mg de Se/kg MS a partir de 21 a 51 dias de lactação e encontrou aumento (p<0,05) de neutrófilos intracelulares contra Staph. aureus e tendência contra E.coli.

Resultados semelhantes encontraram Paschoal et al (2002) suplementando vacas holandesas no pré-parto com 5 mg de Se por dia, obtendo redução de contagem de células somáticas nas primeiras oito semanas de lactação. Quando suplementaram em conjunto ao Se, 1.000 UI de vit. E por dia reduziram em 72% a incidência de mastite clínica quando comparado ao grupo controle.

Basini & Tamanini (2000) avaliaram o efeito do selênio nas células da granulosa de bovinos, com e sem estimulação com FSH, e determinaram a produção de óxido nítrico que possui papel importante na atividade ovariana. Demonstraram que o selênio estimulou (P<0,001) a proliferação de células dos pequenos folículos ovarianos, além disso, promoveu potencialidade estimulatória do efeito gonadotrópico nas mesmas células. Ainda aumentou a produção de estradiol das células foliculares. Selênio inibiu (p<0,001) a produção de óxido nítrico pelas células. Concluíram que o selênio atua nas células da granulosa pela modulação de sua proliferação e síntese de estradiol, além disso, este efeito pode ser mediado, em pequena parte pela inibição de óxido nítrico.

Jukola et al (1996) avaliaram o efeito de selênio em 511 vacas leiteiras durante um ano e relataram que o aumento da concentração de Se sanguíneo está associado com diminuição de todas as infecções, incluindo Staphylococcus aureus, Actinomyces pyogenes, Corynebacterium sp. (-17,7, -31,7, -70,6%, respectivamente). A concentração de Se sanguíneo de 200 microgramas/L foi aceita como valor para otimizar a saúde do úbere. Não encontraram associação de Se sanguíneo com desordens de fertilidade ou sucesso na primeira IA.

Os sintomas de deficiência de Se se manifestam por diminuição do crescimento e distrofia muscular nutricional (“doença do músculo branco”) em bezerros e cordeiros. Os bezerros têm a musculatura da língua afetada, impedindo-os de mamar. Freqüentemente a morte ocorre subitamente por falha cardíaca, devido aos danos nos músculos do coração. Em casos menos severos, os bezerros ficam enrijecidos e com dificuldade de manter-se de pé. A baixa eficiência reprodutiva inclui a retenção de placenta, cuja alta incidência pode ser reduzida por níveis adequados de selênio na dieta como demonstrados em estudos nos Estados Unidos, Escócia e Brasil (McDowell,

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1999).

5.8 Zinco

Zinco é componente de várias enzimas envolvidas no metabolismo de ácidos nucléicos, proteína, e carboidratos, e no desenvolvimento e funcionamento normal do sistema imune (NRC, 1996). Atua sobre a produção e secreção de testosterona, insulina e adenocorticóides, é importante para a espermatogênese e características sexuais primárias e secundárias nos machos, bem como todas as fases do processo reprodutivo das fêmeas, desde o início do cio até o parto e lactação (McDowell, 1999). Segundo Harmon (1998), a ligação entre zinco e a função imune data do início da década de 70, onde trabalhos com bezerros Black Pied Danish descendentes de Frísio encontraram sintomas incluindo perda de pêlo, paraqueratose em volta da boca, olhos, maxila, diarréia, conjuntivite, rinite e broncopenumonia. Na necropsia foram encontrados atrofia de timo e placas de Peyers. A suplementação de zinco tem sido usada para diminuir os efeitos de pododermatite infecciosa em gado Frísio (Suttle & Jones, 1989, citado por Harmon, 1998).

Tem sido postulado que a deficiência de zinco em ruminantes enfraquece a pele e outros epitélios estratificados, assim como reduz a magnitude do aumento do metabolismo basal seguida de um desafio infeccioso. Como a glândula mamária é essencialmente epitelial, o zinco assume importância no revestimento no canal da teta na prevenção da mastite. Especula-se que a suplementação com zinco pode aumentar a resistência à mastite. Estudos experimentais com infecção intramamária com E.colie endotoxinas resultaram em diminuição dos níveis de zinco no organismo (Harmon, 1998).

5.9 Molibdênio

Molibdênio é componente de várias enzimas – xantino oxidase, sulfito oxidase e aldeído oxidase. Não há evidência de deficiência de molibdênio ocorrer em gado de corte na prática, mas molibdênio pode aumentar a atividade microbiana no rúmen em alguns momentos. O metabolismo do molibdênio é bastante afetado pelo cobre e enxofre que agem antagonicamente (NRC, 1996). Em altas concentrações (> ou = 20mg de Mo/kg de MS) apresenta quadros tóxicos de diarréia, anorexia, perda de peso. O máximo tolerável em bovinos de corte é estimado em 10mg de Mo/kg (NRC, 1980).

5.10 Níquel

A função do níquel no metabolismo dos mamíferos não é conhecida. Este elemento é componente essencial da urease das bactérias ureolíticas (Spears, 1984), além estar envolvido na reação final de metanogênese, capacidade de alterar as proporções de gases produzidos na fermentação ruminal e efeito na digestibilidade de componentes da dieta (Lopes & Tomich, 2001). A necessidade de níquel para bovinos não está totalmente esclarecida, sendo sugerida de 0,5 a 1ppm na dieta (Speras, 1984; McDowell, 1992). Normalmente as forrageiras apresentam teor de níquel variando de 0,5 a 3,5ppm (Underwood & Sutlle, 1999). O máximo tolerável de concentração de níquel é estimado em 50mg /kg da dieta (NRC, 1980).

5.11 Flúor

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O flúor em pequenas quantidades aumenta a resistência dos dentes a cáries em humanos e animais de laboratórios. Os ruminantes são mais susceptíveis à toxicidade do F do que não ruminantes. Sendo sua toxicidade reflexo da quantidade e duração da ingestão do elemento, da solubilidade dos compostos que contém flúor, idade do animal, estado de nutrição, fatores de stress e diferenças individuais. Os sinais clínicos são alterações dentárias de forma, tamanho e cor, exostose óssea, enrijecimento de articulações, retardo de crescimento, queda na fertilidade, produção de leite, morte de recém-nascidos. Níveis de 20 a 30ppm de F total na dieta causam mosqueamento dentário e acima de 50 ppm provocam claudicação e queda de produção de leite e redução de consumo. Fosfatos que possuem altas concentrações de F são mais apropriados para uso com bovinos em confinamento, suínos e aves, do que para gado de cria, que é mantido no rebanho por tempo prolongado (McDowell, 1999).

Lopes e Tomich (2001) relatam que experimentos de longo prazo, em que animais receberam sal mineral com superfosfato triplo ou fosfato bicálcico, durante toda sua vida produtiva, da concepção até o abate, comprovaram que os teores de metais pesados, arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio, em nenhuma das amostras de carne e vísceras provenientes dos animais alimentados com ambas fontes de fósforos ultrapassaram os limites críticos de tolerância internacionalmente aceitos. Todos os trabalhos conduzidos pela Embrapa Cerrados, comprovaram que a utilização de superfosfato triplo produzido a partir de rocha brasileira, não acarreta nenhum risco para a saúde humana e animal, bem como foram similares os índices zootécnicos para ganho de peso, fertilidade, rendimento e produtividade quando comparados com o fosfato bicálcico.

6. BIODISPONIBILIDADE DAS FONTES MINERAIS

A absorção de íons minerais é dependente de vários fatores, incluindo níveis do elemento ingerido, idade do animal, pH intestinal, condições ambientais, estado nutrcional do animal com deficência ou não do elemento, presença de antagonistas minerais ou outros nutrientes (Herrick, 1993).

Existem diferenças consideráveis na disponibilidade de um elemento mineral fornecido por diferentes formas. A análise química de um mineral num alimento ou mistura mineral não fornece informação sobre a disponibilidade do mineral para os animais. A disponibilidade biológica pode ser definida como aquela porção de um mineral que pode ser usada pelo animal para atender suas necessidades metabólicas (McDowell, 1999). O termo “biodisponibilidade” é definido como o grau de absorção de um nutriente ingerido de uma forma que possa ser utilizado pelo metabolismo de um animal normal. Portanto, o elemento mineral está disponível a nível tecidual, assim como ao nível de dieta. Valores de biodisponibilidade relativa são calculados para diversas formas de elementos minerais relacionando sua resposta a uma fonte padrão do elemento com um valor de biodisponibilidade designado como “100”. Os valores de biodisponibilidade relativa resultante são úteis na formulação de dietas e na comparação de custos (Ammermam & Henry, 1999).

Fatores físico-químicos afetam a entrada de nutrientes pelo lúmen intestinal e sua incorporação no complexo bioquímico dentro do ambiente celular. Fatores como a forma química do elemento ou a presença de outro íon inorgânico que compete pelo mesmo mecanismo de entrada, outros ligados à interação do nutriente mineral com seu carreador molecular podem aumentar a absorção via receptores específicos de mucosa ou outras moléculas orgânicas podem reduzir esta absorção também, como exemplos incluem os fitatos, que diminuem a disponibilidade de Zn, Fe, Cu, Mn; certos açúcares , diminuem Cu; fosfatos, diminuem, Fe e Mn;

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polifenóis diminuem Fe; alguns aminoácidos, aumentam a disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn. Além disto ouros fatores como sexo, idade, nível de produção (crescimento, lactação, prenhes), status nutricional, doenças, secreção gastrointestinal, microflora (Johnson, 1989; Fairweather-Tait, 1996) citado por Power & Horgan (2000).

Figura 1 - Inter-relação entre os diversos minerais (Georgiesvskii, 1982)

.

Tabela 5 - Percentual de minerais em algumas fontes usadas em suplementos e sua disponibilidade relativa.

Elemento Fonte % do elemento na fonte

Biodisponibilidade

Cálcio Farinha de ossos autoclavados

29 ( 23-37) alta

 Fosfato de rocha desfluorizado

29,2 ( 19,9-35,7)

Intermediária

 Carbonato de cálcio

40 Intermediária

  Fosfato mole 18,0 Baixa

 Calcário calcítico

38,5 Intermediária

 Calcário dolomítico

22,3 Intermediária

 Fosfato monocálcio

16,2 Alta

  Fosfato tricálcio 31,0-34,0 ---

  Fosfato bicálcio 23,2 Alta

  Fenos em geral --- Baixa

  Sulfato de cálcio 20,0 Baixa

Fósforo Fosfato de rocha desfluorizado

13,1 (8,7 – 21,0)

Intermediária

  Fosfato de 18,6 - 21,0 Alta

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cálcio

  Fosfato bicálcico 18,5 Alta

 Fosfato tricálcico

18,0 ---

  Ácido fosfórico23,0 – 25,0

Alta

  Fosfato de sódio21,0 – 25,0

Alta

 Fosfato de potássio

22,8 ---

  Fosfato mole 9,0 Baixa

 Farinha de ossos autoclavados

12,6 ( 8-18)

Intermediária

Magnésio Carbonato de magnésio

21,0 – 28,0

Alta

 Cloreto de magnésio

12,0 Alta

 Óxido de magnésio

54,0 – 60,0

Alta

 Sulfato de magnésio

9,8 – 17,0 Alta

Enxofre Sulfato de cálcio (gesso)

12,0 – 21,0

Baixa

 Sulfato de potássio

28,0 Alta

 Sulfato de magnésio e potássio

22,0 Alta

  Sulfato de sódio 10,0 Intermediária

 Sulfato de sódio anidro

22,0 ---

  Flor de enxofre 96,0 Baixa

 Sulfato de amônio

24,0 Alta

Potássio Cloreto de potássio

50,0 Alta

 Sulfato de potássio

41,0 Alta

 Sulfato de potássio

18,0 Alta

Cobalto Carbonato de cobalto

46,0 – 55,0

a

 Sulfato de cobalto

21,0 a

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 Cloreto de cobalto

24,7 a

Cobre Sulfato de cobre 25,0 Alta

 Carbonato de cobre

53,0 Intermediária

  Cloreto de cobre 37,2 Intermediária

  Óxido de cobre 80,0 Baixa

  Nitrato de cobre 33,9 Intermediária

Ferro Óxido de ferro46,0 – 60,0

Não disponível

 Carbonato de ferro

36,0 – 42,0

Baixa

  Sulfato de ferro20,0 – 30,0

Alta

Iodo Iodato de cálcio 63,5 Alta

 Iodato de potássio estabilizado

69,0 Alta

  Iodeto de cobre 66,6 Alta

 Etilenodiamino dihidroiodeto

80,0 Alta

Manganês Sulfato de manganês

27,0 Alta

 Óxido de manganês

52,0 – 62,0

Intermediária

Selênio Selenato de sódio

40,0 Alta

 Selenito de sódio

45,6 Alta

Zinco Carbonato de zinco

52,0 Alta

  Cloreto de zinco 48,0 Intermediária

  Sulfato de zinco22,0 – 36,0

Alta

  Óxido de zinco46,0 – 73,0

Alta

Não foram feitos testes críticos, mas a fonte é efetiva FONTE: McDowell (1999).

6.1 Quelatos ou minerais complexados

Um quelato de metal é formado por uma estrutura cíclica produzida por uma atração entre cargas positivas e certos cátions polivalentes com dois ou mais sítios de alta atividade eletronegativa. Geralmente, os quelatos requerem ligações iônicas e covalentes. As ligações covalentes de coordenação ocorrem quando ambos elétrons compartilhados são oriundos de

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um mesmo átomo. Os elétrons dos metais de transição (Cu, Mn, Zn, Cr, Se, etc.) possuem alta capacidade de formar íons complexados, isto é, um átomo de metal central ao qual vários ânions ou moléculas estão ligados (Russel, 1982; Herrick, 1993).

A quelação pode ser definida como um processo especial de complexo formado entre um ligante e um íon metálico, onde o ligante ou o agente quelante deve conter no mínimo dois grupos funcionais (oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre) capazes de doar um par de elétrons para combinar através de ligação covalente de coordenação com um metal (Langwinski & Patino, 2001).

Várias moléculas orgânicas podem ser utilizadas como ligantes. Os aminoácidos podem formar quelatos a partir de seus grupos funcionais carboxil e a-amino. As proteínas hidrolisadas formam complexos através de ligações das extremidades ionizáveis dos aminoácidos de sua molécula. Os polissacarídeos podem se ligar aos metais através de seus grupos carbonila e hidroxilas ou através de seus grupos fosfatados quando se tratam de moléculas fosforiladas (Langwinski & Patino, 2001).

São basicamente três tipos de quelatos reconhecidos e essenciais nos sistemas biológicos.

O primeiro grupo inclui quelatos que transportam e armazenam íons metálicos. Os ligantes transportam este metal pela corrente sanguínea passando através de membranas celulares e depositando-o nos sítios onde são necessários. Exemplo deste quelato é a transferrina que transporta o ferro. O segundo grupo consiste daqueles essenciais para a fisiologia e com função metabólica definida como a hemoglobina (ligando com o ferro), a vitamina B12 (ligando com o cobalto) e as metaloenzimas. O terceiro grupo é formado por aqueles que interferem com a utilização de cátions essenciais, que são formados acidentalmente e sem valor valor biológico. Os cátions são necessários para função catalítica das enzimas e a formação destes quelatos com metais errados pode desativar ou inibir estas enzimas (Herrick, 1993).

A Association of American Feed Control Officials (AFFCO, 1999) dá as seguintes definições para produtos minerais vendidos nos Estados Unidos como compostos minerais orgânicos:

Quelato Metal-Aminoácido (57.142) é o produto resultante da reação de um íon metálico de um sal solúvel de metal com aminoácidos na proporção molar de um mol de metal para um a três moles (preferencialmente dois) de aminoácidos para formar ligações covalentes coordenadas. O peso médio dos aminoácidos hidrolisados dever ser de aproximadamente 150 daltons e o peso molecular do quelato resultante não deve exceder a 800 daltons. Complexo Metal-Aminoácido (57.150) é o produto resultante da complexação de um sal metálico solúvel com aminoácido (s). Complexo Metal-Aminoácido Específico (57.151) é o produto resultante da complexação de um sal metálico solúvel com aminoácido (s) específico (s). Proteinato de Metal (57.23) é o produto resultante da quelação de um sal solúvel com aminoácidos e/ou proteína parcialmente hidrolisada Complexo Metal-Polissacarídeo (57.29) é o produto resultante do complexo de um sal solúvel com uma solução de polissacarídeo declarada como um ingrediente como complexo metálico específico.

Metodologias simples e de uso fácil para verificação da especificação e do grau de ligação dos compostos orgânicos minerais ainda não estão disponíveis, prejudicando o progresso da pesquisa destes produtos (Ammerman & Henry, 1999).

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6.1.1 Absorção e metabolismo dos quelatos

Após a ingestão, os sais metálicos, geralmente, são ionizáveis no estômago, tornando solúveis. Não havendo interferências de reações químicas, os cátions entram no lúmen onde são ligados às proteínas carreadoras e encaixados nas membranas da mucosa intestinal. Os minerais são transposrtados para o interior das células por transporte ativo ou passivo, podendo ocorrer em qualquer parte do intestino delgado, sendo na sua maior parte feita no duodeno devido ao mais baixo pH (Ashmead, 1993).

O processo de absorção do complexo metal-aminoácido é diferente pois o metal complexado é uma molécula quimicamente inerte, sendo assim não sofre influências de íons de metais livres de sais solúveis, gorduras e fibras. E também não requer intervenção de vitaminas para absorção como no caso de alguns metais. Este complexo é estável e não sofre mudança na sua estrutura química durante o processo digestivo, pois estão como dipeptídeos ou tripepdtídeos, similar aos originados do processo de digestão protéica. Já o complexo proteinato de metal, devido seu maior tamanho, poderá sofrer hidrólise no lúmen intestinal. A absorção do metal-aminoácido ocorre normalmente no jejuno por transporte ativo através da ligação com a gama glutamil transpeptidase formando a molécula quelato gama glutatione. Esta molécula será clivada pela gama glutamil ciclotransferase em 5-oxyoprolina e no complexo metal-aminoácido que passará ao citoplasma celular. A separação do metal e do aminoácido será feita no sítio de ação específico (Ashmead, 1993).

Microelementos seqüestrados como aminoácidos ou complexos de polissacarídeos geralmente têm mais elevada biodisponibilidade e também a mais alta estabilidade e solubilidade. Uma vez alcançando o sistema circulatório, os minerais são ligados a proteínas para serem transportados pelo sangue a vários tecidos. A união dos minerais a aminoácidos antes da sua ingestão pelos animais pode facilitar a sua ligação com proteínas de transporte do sangue. As formas orgânicas de minerais não interagem com vitaminas e outros íons e são eficientes a baixos níveis, comparado às formas inorgânicas. (McDowell, 1999).

A establidade dos quelatos é dependente do número de átomos que compõem o anel, sendo mais estável com dois ou três átomos pois resultam em quatro ou seis ligações que formam ângulos tetraédricos do anél heterocíclico que impedem competições com moléculas eletrofílicas e átomos que possam destruir a ligação do quelato. Além disto, depende do número de áneis fechados, onde, quanto maior este número mais estável será o quelato. Quanto mais básico for o ligante maior será sua capacidade de doar elétrons e mais estável. São mais estáveis quando os ligantes possuem pequeno raio atômico, maior eletronegatividade e devem possuir no mínimo dois átomos doadores de elétrons , como por exemplo os átomos da coluna V e VI da tabela periódica (Langwinski & Patino, 2001; Ashmead, 1993; Graddon, 1968 ciatdo por Hynes & Kelly, 1995).

Segundo Langwinski & Patino (2001), existem os aspectos químicos das reações de quelação que influenciam na estabilidade e modo de ação dos quelatos:

equilíbrio em solução do íon metálico, os prótons e os ligantes; cinética da reação de substituição do íon metálico e o complexo formado; comportamento redox do íon metálico e seu complexo; reações envolvendo os ligantes coordenados.

6.2 Trabalhos de pesquisas com microminerais quelatados

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É necessário saber sobre a estabilidade dos complexos minerais quelatados no trato digestivo dos ruminantes para a compreensão dos possíveis mecanismos de ação destes compostos. Vários trabalhos de pesquisas têm sido feitos para estudar a biodisponibilidade destes compostos em comparação com as formas inorgânicas. A maioria dos trabalhos revisados relata melhoria na biodisponibilidade das fontes minerais quelatadas em comparação às fontes inorgânicas, entretanto, faltam trabalhos para avaliar o potencial do uso das fontes inorgânicas em dosagens maiores (o dobro, por exemplo) em comparação às fontes complexadas. Brow & Zeringue (1994) citados por Pereira (2002), avaliaram a estabilidade e solubilidade de 15 proteinatos, complexos metal aminoácido de Cu, Zn, Mn de 5 empresas. Estudos i n vitro mostraram que apenas 2 produtos tiveram solubilidade inferior a 92,7% em pH 5, e em pH 2 todos tiveram solubilidade próxima a 100, quando incubados a 39 ° C por 12 horas em concentrações variando de 0,125 a 12,5 mg/ml. Para avaliar a integridade estrutural foram feitos testes de cromatografia em colunas com nihidrina nas soluções filtradas. Os resultados mostraram que os picos de mineral não ocorreram na mesma fração eluída, sugerindo que os metais solubilizados não estavam fisicamente associados a aminoácidos ou outras moléculas protéicas. Estes autores concluíram que estes quelatos não foram estáveis nos tampões utilizados ou não foram capazes de se manter complexados durante a filtragem em gel, sendo pouco provável que se mantenham estáveis no trato digestivo.

Em um total de 27 trabalhos revisados para os microminerais cobre, selênio e zinco as respostas são contraditórias em relação à biodisponibilidade dos minerais complexados quando comparados as fontes inorgânicas (Tabela 6) (Pherson et al., 1989; Spears, 1989; Wittenberg et al., 1990; Debonis & Nockels, 1992; Ward & Spears, 1993; Nockels et al., 1993; Ward et al., 1993; Hemken et al., 1993; Kegley & Spears, 1994; M albe et al., 1995; Du et al., 1996; Rojas et al., 1996; Ward et al., 1996; Kincaid et al., 1997; Koeing et al, 1997; Awadeh et al., 1998; Reid & Attaelmannan, 1998; Ammermam et al., 1999; Ammerman & Hemry, 1999; Knowles et al., 1999; Kincaid et al., 1999; Ling & Ploom, 1999; Rabiansky et al.,1999; Ortman et al., 1999; Falkowska et al., 2000; Power & Horgan, 2000).

Tabela 6 - Comparação dos efeitos dos minerais complexados em relação a sua biodisponibilidade relativa em trabalhos de pesquisas.

  Número de trabalhos

Elemento Mineral Efeito Positivo Sem Efeito

Cobre 5 6

Selênio 8 2

Zinco 3 3

As formas complexadas de cobre tiveram melhor biodisponibilidade do que as fontes inorgânicas, com maior efeito na redução de infecção intra-mamária, entretanto quando avaliou o seu efeito em índices produtivos não foram encontradas diferenças em relação às fontes inorgânicas (Tabela 7) (Ward et al., 1993; Rabiansky et al., 1999; Harmon, 1999; Muehlenbein et al, 2001).

Tabela 7 - Comparação dos efeitos do cobre complexado em relação a fonte inorgânica em nove trabalhos com bovinos.

  Número de trabalhos

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Parâmetros Efeito Positivo Sem Efeito

Ganho médio diário - 3

Consumo matéria seca - 1

Conversão alimentar - 1

Resposta imune - 1

Reduz infecção intramamária 4 3

Produção e composição leite - 2

Reprodução 1 1

As formas complexadas de cromo melhoram o sistema imune de bovinos, índices de produção leiteira e reprodutivos, redução de doenças, principalmente em gado leiteiro, entretanto, sua resposta em ganho de peso não apresentou resultados favoráveis na maioria dos trabalhos revisados, a não ser em condições de stress de transporte (Tabela 8) ( Monsier-Shageer & Mowat, 1992; Chang & Mowat, 1992; Burton et al., 1993; Bunting et al., 1993; Mowat et al., 1993; Wright et al., 1994; Chang et al., 1995; Kegley & Spears, 1995; Chang et al., 1996a; Chang et al., 1996b; Yang et al., 1996; Kegley et al., 1996; Bonomi et al., 1997; Villalobos et al., 1997; Bonomi et al., 1998; Danielsson & Pehrson, 1998; Vasquez, 1999; Ly-Shao et al., 1999; Back et al., 1999; Pollard & Richardson, 1999; Bonomi et al., 2000; Zanetti et al., 2000; Swanson et al., 2000; Hayirli et al., 2001).

Tabela 8 - Efeitos do cromo complexado em vinte e quatro trabalhos com bovinos .

  Número de trabalhos

Parâmetros Efeito Positivo Sem Efeito

Ganho médio diário 7 6

Conversão alimentar 4 5

Rendimento Carcaça 2 1

Reprodução 3 1

Redução de doenças 8 3

Produção leite 4 1

Composição do leite 1 2

Redução céls. Somáticas - 2

Redução glicose sanguínea 2 -

Redução de cortisol 2 2

As formas complexadas de selênio apresentaram maior biodisponibilidade em relação às formas inorgânicas na avaliação de biodisponibilidade, com menor contagem de células somáticas, mas não nos índices de conversão alimentar, ganho em peso e reprodução (Tabela 9) (Nicholson et al., 1991; Aspila et al., 1994; Malbe et al., 1995; Awadeh et al., 1998; h emken et al., 1998; Clyburn et al., 2000).

Tabela 9 - Comparação dos efeitos do selênio complexado em relação a fonte inorgânica em onze trabalhos com bovinos.

  Número de trabalhos

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Parâmetros Efeito Positivo Sem Efeito

Ganho médio diário - 4

Consumo matéria seca 1 -

Conversão alimentar - 2

Resposta imune - 1

Reprodução - 1

Produção de leite 1 1

Redução de céls. somáticas 5 -

Composição do leite 1 1

As formas complexadas de zinco apresentaram resultados favoráveis na redução de infecção intra-mamária, da contagem de células somáticas e de doenças do casco. Foram avaliados os resultados em ganho de peso, eficiência alimentar e produção de leite os trabalhos revisados não mostraram efeito muito marcante em comparação às fontes inorgânicas (Tabela 10) ( Greene et al., 1988; Moore et al., 1988; Kellog, 1990; Galton, 1990; Chirase et al., 1991; Spears et al., 1991; Muirhead, 1992; Spain, 1993; Brazle, 1994; Kirchgessner et al., 1994; Spears & Kegley, 1994; Harmon, 1998; Gruber & Bellof, 1998; CorbelliniI et al., 1998; Kegley & Silzell, 1999; Malcolm-Callis et al., 2000; Chirase & Greene, 2001).

Tabela 10 - Comparação dos efeitos do zinco complexado em relação a fonte inorgânica em trinta trabalhos com bovinos.

  Número de trabalhos

Parâmetros Efeito Positivo Sem Efeito

Ganho médio diário 5 4

Consumo matéria seca 2 2

Conversão alimentar - 1

Resposta imune 1 1

Problemas casco 1 -

Produção de leite 2 3

Redução de céls. somáticas 9 3

Redução de doenças 3 2

7. DIAGNÓSTICO DAS DEFICIÊNCIAS MINERAIS

O s problemas relacionados a minerais variam desde deficiências ou toxicidade aguda, caracterizada por sinais clínicos marcantes e alterações patológicas, até condições amenas e transitórias, difíceis de diagnosticar, que se expressam por estado geral insatisfatório e crescimento e produção reduzidos. Esta última situação assume grande importância pois ocorre em extensas áreas e com grande número de animais e podem ser confundidas com deficiência de energia, proteína e parasitismo (Underwood, 1977, citado or McDowell, 1999). Estes sintomas ligados a reprodução e produção somente são percebidos a um médio prazo sendo necessário monitoramento constante.

No diagnóstico de deficiências minerais são importantes vários fatores como exame clínico do rebanho, as análises de materiais dos animais (tecidos e fluídos), solo, água, forrageira,

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suplemento mineral, entre outros. Segundo Tokarnia et al. (2000) grande parte das deficiências minerais mais acentuadas, o histórico, o exame clínico, a realização de necropsia e os estudos histopatológicos podem ajudar no estabelecimento do diagnóstico. O método mais confiável para determinar deificência é a resposta do animal à suplementação específica, entretanto, para isto necessita-se de tempo, recursos, além de adequado controle e monitoramento. A maioria dos desequilíbrios minerais, particularmente aqueles de nível marginal, não provocam alterações patológicas ou sinais clínicos específicos de um mineral isolado. Portanto, faz-se necessário determinar a deficiência mineral através de análises químicas e ensaios biológicos para confirmação além da experimentação com o mineral deficiente (McDowell, 1999, Tokarnia et al. 2000).

As análises de solo para determinar as formas de minerais disponíveis podem oferecer alguns indícios sobre a deficiência, entretanto, os dados são pouco confiáveis, de difícil interpretação e com baixa correlação. Segundo Conrad et al. (1980) em trabalhos no Brasil, citado por McDowell (1999), ferro, manganês e zinco apresentaram correlações de 0,12, 0,12 e 0,30 respectivamente. De acordo com Tokarnia et al (2000) estas análises ajudam a complementar o diagnóstico, mas deve ser considerado que nem todas as quantidades de minerais no solo são aproveitáveis pela planta por diversos fatores como pH e forma química do elemento no solo.

A análise de minerais nas forrageiras, como auxílio no diagnóstico de deficiência, deve ser realizada com cautela e de forma que possa representar o pastejo seletivo dos animais, este fator torna-se mais complicado quando a área é extensa e constituída de diversos tipos de forrageiras. McDowell (1999) cita que Fick et al. (1979) recomendam para obtenção de amostras representativas de forragem que se observe o comportamento de pastoreio dos animais retirando as amostras mais representativas possível, não retirar amostras de locais com acúmulo de excremento ou com sobra de pasto rejeitado pelo animal. Deve ser considerada também a época do ano a ser coletada a amostra pois ocorre variação dos minerais nas forrageiras ao longo do ano. As desvantagens segundo McDowell (1999) em relação à analise de forrageira são:

incerteza da amostra ser representativa da dieta; dificuldade de estimar o consumo de pastagem; variação na biodisponibilidade dos minerais nas pastagens; contaminação da amostra por partículas de solo.

A análise de material (tecidos e fluídos) provenientes do animal permite verificar de forma direta, com maior rapidez e mais facilmente, as deficiências existentes. As análises de amostras de fígado servem para avaliar a condição do animal em relação ao Cu, Co, Mn, Se e eventualmente Zn. As análises de tecido ósseo podem ser usadas para Ca e P. As análises de sangue, soro e plasma são úteis no diagnóstico do estado de Mg, Zn, Cu, P, Ca. Entretanto, fatores como estresse, exercício, hemólise, temperatura e tempo de separação do soro podem alterar estes níveis. A análise de saliva, urina e fezes pode auxiliar no diagnóstico de Na e K (McDowell, 1999; Tokarnia et al., 2000). A secreção de iodo no leite está diretamente controlada por consumo na dieta podendo ser utilizado como indicador do status do elemento (Miller, 1975, citado por Nicodemo 1999).

A dosagem de enzimas como superóxido dismutase, glutationa-peroxidase, no sangue e outros tecidos podem auxiliar no diagnóstico de deficiências de Zn e Se. Além da dosagem de vit. B12 para avaliar “status”de Co, do hormônio tiroxina para o iodo e da hemoglobina para o Fe.

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Os animais possuem capacidade de acumular reservas de minerais e utilizá-las em períodos de restrição. Apesar da deficiência mineral na dieta, o animal pode permanecer em bom estado por alguns meses, dependendo da severidade da deficiência e de suas reservas. Minerais como Cu, Se, Ca e P podem ficar armazenados por mais tempo, entretanto outros como Zn, Mn, Na e Mg não são armazenados em quantidades suficientes ou suas reservas não estão suficientemente disponíveis (Judson & McFarlane, 1998; citado por Nicodemo, 1999).

A tabela 11 ilustra análise de valor considerável na determinação de deficiências e toxicidades de minerais específicos.

Tabela 11 - Diagnóstico de deficiências minerais específicas ou toxicidades em bovinos

Deficiência Mineral

Tecido Níveis críticos

Cálcio (%) Osso (desengord.) Cinza óssea Plasma 24,5% 37,6% 8mg/100ml

Magnesio (%) Soro Urina Fluído cérebroespinhal1-2mg/100ml 2-10mg/100ml 1,6mg/100ml

Fósforo (%)Osso (desengord.) Cinza óssea Volume ósseo Plasma

11,5% 17,6% 120mg P/cm3 4,5 mg/100ml

Potássio (%) Plasma 9-28meq/l

Sódio (%) Saliva Fezes Urina Relação Na/K (saliva)100-200mg/ml 1000ppm 1meq/L < 10

Cobalto (ppm) Fígado Vit.B12 0,05-0,07ppm 96mg/ml

Cobre (ppm) Fígado Soro 25-75ppm 0,65mg/ml

Iodo (ppm) Leite T4 300mg/dia 4,2mg/dl

Ferro (ppm) Hemoglobina Transferrina 10g/100ml 13-15% saturação

Manganês (ppm) Fígado 6ppm

Selênio (ppm) Fígado Soro Pêlo ou lã 0,25ppm 0,03mg/ml 0,25ppm

Zinco (ppm) Soro 0,6 - 0,8mg/ml

Toxicidade    

Cobre (ppm) Fígado Soro 700ppm - 1,2ppm

Flúor (ppm) Ossos 4500 - 5500ppm

Manganês (ppm) Pêlos 70ppm

Molibdênio (ppm)

Fígado 4ppm

Selênio (ppm) Fígado Pêlos 5 – 15ppm 10ppm

FONTE: NRC (1996); McDowell (1999), González (2000).

8. MÉTODOS DE SUPLEMENTAÇÃO MINERAL

A suplementação mineral pode ser feita por métodos indiretos como uso de fertilizantes minerais, mudança de pH do solo e o estímulo do crescimento de determinadas espécies forrageiras. O aumento do pH do solo influencia a absorção de minerais pela planta provocando deficiências de Cu e Co e excesso de Se e Mo. A fertilização das pastagens aumenta a

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produção de matéria seca, além de aumentar os minerais nas forrageiras, entretanto está relacionada à forma química do elemento e tipo de solo, entre outros fatores (McDowell, 1999).

O método mais eficiente de fornecer minerais para bovinos é através de suplementos minerais combinados com concentrados, se assegura maior exatidão na quantidade a ser ingerida diariamente. Mas, para bovinos em pastejo nem sempre isto é possível ( McDowell, 1999), sendo mais utilizado para bovinos de leite ou através do uso de misturas múltiplas para gado de corte, que vem aumentado nos últimos anos, principalmente na época da seca.

Segundo McDowell (1999) a administração direta de minerais pode ser feita por água, misturas minerais, blocos, dosificações orais, preparações ruminais e injeções. As dosagens orais asseguram quantidades específicas a intervalos conhecidos, mas é dependente de mão de obra e dependendo do tamanho do rebanho torna-se impraticável. Minerais como Cu e Se que podem ser estocados por mais tempo no fígado tem mostrado resultado satisfatório, mas o Co que necessita de suplementação semanal mostra-se inviável. As injeções intramusculares têm sido usadas para Cu, Se, I e Zn. As preparações ruminais são baseadas em balas ou “pellets” que podem conter Co, Se ou Zn e ficam retidos no rúmen-retículo e são liberados de maneira lenta e constante. A maior desvantagem de fornecimento de um ou alguns minerais a animais sob pastejo em extensas áreas do mundo é que existem outros minerais como o P e Na que não podem ser fornecidos desta maneira, sendo assim a preferência de escolha é a suplementação é através de misturas de sal comum com fontes de Ca, P e microelementos.

O consumo de minerais à vontade é a maneira mais comum de oferecer minerais aos bovinos sob pastejo. O sal comum é o veículo usado para dar palatabilidade à mistura mineral ao mesmo tempo que também funciona como regulador de consumo, normalmente sendo usado de 30 a 40% na mistura final (McDowell, 1999; Tokarnia et al. 2000). Uma mistura mineral completa normalmente inclui o sal comum, uma fonte de P com baixo F, além de Ca, Co, Cu, I, Fe e Zn, entretanto em regiões tropicais de solos ácidos o Mn e o Fe podem ser eliminados da mistura. O S, K, Mg e Se de acordo com a necessidade específica (McDowell, 1999). A tabela 12 mostra o efeito da mistura mineral completa sobre os índices zootécnicos comparado ao uso de somente sal comum na dieta de bovinos. Segundo Tokarnia et al. (2000) o uso de misturas minerais completas é um método anti-econômico, pois no Brasil deveriam ser suplementados somente o P, Co, Cu, I e Zn e como veículo o sal branco, sendo que em certas regiões não há necessidade de todos estes elementos. Além disto, na mistura mineral completa existe o risco das interferências antagonistas entre os minerais.

Souza et al. (1983) suplementaram novilhos em pastagens de capim colonião, no Mato Grosso do Sul, durante 336 dias, com NaCl; NaCl +P+ micro; NaCl+P e mistura comercial, e encontraram ganho em peso de 40, 144, 68 e 130kg respectivamente. O tratamento NaCl+P+micro obteve maior benefício líquido.

Tabela 12 - Estudo colombiano de quatro anos avaliando o uso suplementos minerais comparados ao sal comum.

Ítem Sal Comum Mistura Mineral Completa

Abortos (%) 9,3 0,75

Nascimento/ano (%) 50,0 67,0

Mortalidade até a desmama (%) 22,6 10,5

Bezerros desmamados do total do rebanho (%) 38,4 60,0

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Peso a desmama – 9 meses (kg) 117 147

Ganho de peso em 572 dias (kg) 86 147

Ganho médio diário (g) 150 247

Kg bezerro desmamado/vaca/ano 44,9 88,2

FONTE : McDowell (1999)

Tabela 13 - Características de um suplemento mineral a pasto recomendado para bovinos.

Um suplemento mineral completo aceitável para bovinos deveria ser:

1.Conter um mínimo de 6-8% de P total. Em áreas onde as forragens constantemente têm teor de P mais baixo que 0,20%, são preferidos os suplementos minerais com 8-10% P.

2. Não ter substancialmente uma relação de Ca:P maior que 2:1.

3.Fornecer uma proporção significante (aproximadamente 50%) das exigências de minerais traços como Co, Cu, I, Mn, e Zn. Em regiões conhecidas como deficientes em minerais traços, deveriam ser fornecidos 100% de minerais traços específicos.

4.

Incluir sais minerais de alta qualidade que contenham as melhores formas biologicamente disponíveis de cada elemento mineral, e evitar a inclusão mínima de sais minerais contendo elementos tóxicos. Como um exemplo, deveriam ser evitados fosfatos que contenham alto teor de F, ou formular sais para que os animais em reprodução, recebessem não mais que 30-50 mg/kg de F na dieta total. Poderiam ser usados fertilizantes ou fosfatos não tratados, com algumas limitações para o gado confinado.

5. Ser suficientemente palatável para permitir o consumo adequado em relação às exigências.

6.Ser produzido por um fabricante idôneo com controle de qualidade, e garantias quanto aos valores de etiqueta.

7.Ter um tamanho de partícula aceitável, permitindo uma mistura adequada, sem partículas muito pequenas que acabam sendo perdidas.

8.Ser formulado para uma determinada área, nível de produtividade animal, ambiente (temperatura, umidade, etc.) na qual será utilizado, e ser tão econômico quanto possível.

3. Para a maioria das regiões seria apropriado incluir Se, a menos que fossem observados problemas de toxidez.

FONTE : McDowell (2001)

8.1 Consumo dos suplementos minerais

A palatabilidade de um suplemento afeta o consumo mais do que a necessidade fisiológica. Ao formular-se uma mistura mineral, a estimativa das necessidades a ser atendida deve coincidir com o consumo adequado. O consumo médio da mistura mineral é altamente variado e dependente de vários fatores segundo McDowell (1999) :

bovinos em pastagens de baixa qualidade ou disponibilidade consomem mais minerais, que coincide também com a época seca do ano devido à maior quantidade de fibra, menor digestibilidade e quantidade de proteína na forragem;

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suplementos protéicos e energéticos podem fornecer também minerais e diminuir a necessidade e apetite dos animais quando oferecidos isoladamente, mas caso seja adicionado à mistura mineral funcionam como palatabilizante e aumentam o consumo da mistura total; quanto maior o nível de produção maior a necessidade de minerais e maior o consumo da mistura mineral; o sal comum funciona como palatabilizante devido ao apetite particular dos bovinos por este, entretanto é também regulador de consumo onde quanto maior a quantidade de sal comum no suplemento mineral menor será seu consumo; quando os animais não têm acesso ao suplemento mineral por tempo prolongado podem consumir de duas a dez vezes mais minerais do que o esperado até que seu apetite esteja satisfeito; o umedecimento e o empedramento diminuem o consumo do suplemento mineral; a localização do cocho de suplemento mineral próximo de aguada ou malhadouro permite o consumo regular do suplemento, pois o consumo é menor se os animais têm que andar longas distâncias.

8.2 Cocho para os suplementos minerais

Os suplementos adequadamente formulados são capazes de produzir resultados benéficos somente quando estão à disposição permanente dos animais sob forma fresca e seca. O manejo da suplementação mineral através de uma rotina de inspeção semanal dos cochos para verificar a quantidade e aspecto da mistura tem sido negligenciado pela maioria dos pecuaristas (McDowell, 1999) e causando à “síndrome do cocho vazio” que acarreta sérios prejuízos na bovinocultura.

Aspectos ligados ao cocho como altura em relação ao solo para a categoria a ser suplementada, espaçamento linear, tipo de acesso (unilateral ou bilateral), proteção contra chuvas, localização influenciam o consumo e por sua vez afetam o desempenho dos animais (McDowell, 1999). Segundo Martin (1993) indica 4cm de espaço linear por animal para mistura mineral como suficiente, entretanto se for usado mistura múltipla (mineral com uréia, farelos e/ou grãos), esta medida pode chegar a 20cm linear por animal devido ao maior ingestão do suplemento e tempo de permanência no cocho. A altura em relação ao solo deverá ser de 50cm para vacas de cria, para que os bezerros tenham acesso ao suplemento, 60 a 70 para recria e 100cm para engorda. A profundidade de 20 - 30cm, a largura superior de 40 - 50cm e inferior de 30 - 40cm (Martin, 1993; Lazzarini Neto, 2000).

A localização do cocho deve ser de fácil acesso para o animal e para a pessoa responsável pelo abastecimento e em local seco. Cochos localizados em áreas próximas ao bebedouro cerca de 300 metros de distância, malhadouro ou sombreada, são usados com maior freqüência pelos animais (Martin, 1993; McDowell, 1999; Lazzarini Neto, 2000).

9. CONCLUSÕES

A nutrição mineral inadequada é um severo limitante da produção de ruminantes em regiões tropicais. As forrageiras normalmente não atendem todos minerais em quantidades necessárias, sendo importante a suplementação mineral dos bovinos a pasto de maneira racional e lógica baseada nas exigências de cada categoria, no diagnóstico de deficiências clínicas e sub-clínicas e através da experimentação. O diagnóstico diferencial de deficiências nutricionais (protéica e energética), doenças que relacionam com o sistema reprodutivo, neurológico e imunológico dos animais, são importantes para concluir a respeito da deficiência

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mineral em um rebanho. Portanto, é necessária uma avaliação criteriosa do técnico baseada em fatores citados como exame clínico do rebanho, as análises de materiais dos animais (tecidos e fluídos), solo, água, forrageira, suplemento mineral, consumo da mistura, biodisponibilidade das fontes usadas, tipos de cocho, índices zootécnicos entre outros.

O uso de quelatos na nutrição de bovinos de leite e de corte não está totalmente elucidado pelo fato dos trabalhos de pesquisas apresentarem resultados contraditórios, ora com resultados favoráveis e ora sem efeito. Os resultados do uso de quelatos na nutrição de bovinos são influenciados por diversos fatores como: a fonte a ser usada em comparação aos quelatos em estudos de pesquisas e o nível de ingestão das mesmas, o teor do mineral no alimento que compõe a dieta bem como os teores de seus antagonistas, a composição química do quelato fornecido; o status mineral e imunológico, idade, sexo, raça, estágio e nível de produção do animal. São necessárias mais pesquisas científicas para avaliar estes produtos na alimentação bovina, uma maior padronização de metodologias e materiais a serem usados para diminuir as variáveis que influenciam nesta resposta, principalmente em nosso país onde as condições são bem distintas dos países de clima temperado. Além disto, devem ser mostrados nos resultados de pesquisas a relação benefício/custo do uso destes complexos.

FENO E FENAÇÃO Herbert Vilela*

1. INTRODUÇÃO

A conservação e o armazenamento de forragens são atividades prioritárias de um sistema de produção de bovinos. O propósito da fenação é obter uma forragem desidratada de alta qualidade. Qualidade é a combinação das propriedades química, física e biológica que afetam o consumo, digestão e utilização da forragem.

Para produzir um feno de alta qualidade pelo menos duas condições são necessárias: a forragem a ser cortada deve ser de boa qualidade e a secagem deve ser feita com um mínimo de perda de nutrientes, que se consegue com uma secagem rápida que leva a planta à sua inatividade.

O processo de fenação envolve remoção de grande quantidade de água da planta. De um modo geral uma forrageira durante a fase de crescimento vegetativo, em condições normais de umidade no solo, apresenta 75 a 85% de água (15 a 25% de matéria seca), durante a fase de floração cerca de 65 a 75% de água e na fase de sementes maduras, cerca de 55%.

Por outro lado o estágio de crescimento da planta é que determina o seu valor nutritivo. Plantas forrageiras durante o crescimento vegetativo apresentam alto valor nutritivo e à medida que passam do crescimento vegetativo para o reprodutivo (floração) este valor decresce acentuadamente. Contudo cortar uma planta muito jovem não é interessante, pois a produção de matéria seca cresce segundo o modelo sigmoidal com a idade da planta e ainda por ela conter um teor de água muito elevado.

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O processo de secagem começa quando a planta é cortada. Alterações mecânicas no tecido da planta aumentam a taxa de secagem pela ruptura dos tecidos (células) facilitando o movimento de água e aumentando a superfície de evaporação. Portanto, secagem mais rápida, por um ou outro processo, determinará menores perdas na respiração e conseqüentemente obtêm-se uma forragem conservada com valor nutritivo mais elevado.

2. QUALIDADE DA PLANTA

2.1 Estagio de crescimento e Maturidade:

Observações gerais:

A composição bromatológica e o valor nutritivo de uma forragem em um determinado momento é o resultado dos fatores do meio e do potencial genético. Estes fatores estão de tal modo interrelacionados que não podem ser separadamente, avaliados para o objetivo dessa discussão. Os fatores genéticos determinam as espécies de plantas, os cultivares dentro das espécies, o tipo de crescimento e à resposta a determinados fatores do meio. como clima, solo, manejo, pragas e doenças, etc. É praticamente impossível distinguir quantitativamente, através de pesquisa, o efeito de cada um. Por exemplo, é impossível quantificar a influência relativa da luz e temperatura no crescimento de plantas.

Devido à alta variação entre plantas e da ampla mudança das condições ambientais, mesmo em uma área limitada geograficamente, a composição bromatológica e o valor nutritivo de uma determinada planta em certa época de corte, não são exatamente iguais em uma outra. Por estas razões, um certo dado obtido, poderá ser aplicado para determinadas plantas somente para aquelas que crescerem sob definidas condições.

Estagio de Desenvolvimento:

O estagio de desenvolvimento ou a maturidade de uma planta é um fator importante na determinação da composição bromatológica da forragem.

A planta forrageira durante o crescimento vegetativo tem uma alta proporção de folhas, é suculenta e tem alto conteúdo de umidade, proteína e minerais, e baixo em fibras e lignina. A planta ao passar do estagio de crescimento vegetativo para reprodutivo sofre várias alterações, resposta em função das características genéticas e é controlada pelo comprimento do dia e temperatura. As mudanças morfológicas que ocorrem durante esta fase são alongamento do caule, queda das folhas e aumento de produtos fotossintéticos. A porção citoplasmática de cada célula torna-se menos importante e a porcentagem de muitos constituintes, tais como proteínas, lipídios, carboidratos solúveis e minerais solúveis decrescem. As paredes das células tornam-se relativamente mais importantes e os constituintes fibrosos aumentam e tornam-se mais lignificados. A matéria seca total aumenta segundo o modelo sigmoidal, mas ocorre um progressivo decréscimo em qualidade, particularmente na digestibilidade e em especial da energia digestível.

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A altura da planta e a porcentagem de matéria seca aumentam consistentemente, à época do início da fase reprodutiva, enquanto a relação folha-caule e porcentagem de proteína declinam.

A variação, em gramíneas, em função do estagio de desenvolvimento da planta, dos seguintes constituintes é: matéria seca (de 25 para 35%), fibra (de 21 para 35%), proteína (de 13 para 5%). Semelhantes variações são também observadas nas leguminosas, redução em proteína de 32 para 14% e aumento na porcentagem de fibra de 15 para 38%, de lignina de 5 para 8% para a Medicago sativa. Mais importante do que este detalhe de composição bromatológica é a redução do valor nutritivo, quando a planta se torna madura. Ocorre um significativo aumento no valor calórico nas fezes dos animais, em relação à energia da forragem consumida, um decréscimo de 79 para 69% no coeficiente de digestão da energia bruta da forragem de alfafa e ainda 73 para 60% para a matéria orgânica.

Verifica-se que o declínio no valor nutritivo é mais suave nas leguminosas do que nas gramíneas, à medida que as plantas se tornam mais maduras.

Folhas e composição de partes da planta:

Um importante fator que determina a qualidade do feno é a relação folha-caule ou a proporção de folhas na forrageira.

Com certa gramínea verifica-se que no primeiro estagio de desenvolvimento, quando os perfilhos estavam quase todos floridos, 38,2% era lâmina de folhas, 23,2% de bainha, 36,6% de caule e 12% de inflorescência, em relação ao total de matéria seca da parte aérea. No estagio final de desenvolvimento, quase todas as inflorescências estavam maduras, as porcentagens foram 10, 11,2, 38,7 e 40,1% respectivamente. Estas variações refletem o aumento em caule e em inflorescência e o decréscimo em folhas. A composição bromatológica também sofreu variação. A proteína das folhas caiu de 11,6 para 6,6% e do caule de 4,4 para 2,8%. A fibra aumentou em todas as partes, ligeiramente nas folhas, mas acentuadamente no caule (de 33,8 para 41,6%).

Há um decréscimo progressivo da relação folha-caule de gramínea de 2,57 para 0,16 respectivamente, nos meses de maio a julho. Verificou-se decréscimo para a proteína bruta e acréscimo na fibra para o feno da gramínea.

Digestibilidade de partes da planta pode ser determinada pela técnica "in vitro". Partes da planta, quando a forrageira é nova, são de alta digestibilidade, como também da planta toda. Estes valores caem à medida que a planta se torna mais velha, mas as taxas de decréscimo são diferentes em relação as partes da planta. Verificaram valores de 45 a 65% nos coeficientes de digestibilidade para o caule e para as folhas de uma gramínea, respectivamente. Mesmo em um estagio de maturação avançado, e com uma baixa relação folha-caule, as lâminas da folha são mais digestíveis que o caule.

O declínio na digestibilidade de uma forrageira é resultado da ação de três componentes. Redução na proporção dos tecidos mais digestíveis, menor

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concentração dos constituintes mais digestíveis e uma redução da digestibilidade pela lignificação dos constituintes fibrosos.

Nas leguminosas, as folhas são também mais nutritivas que o caule e com o avanço da idade, torna-se mais fibroso em uma taxa mais rápida do que as folhas. As folhas, no estagio de pré-floração, tinham 24% de proteína, 16,4% de fibra e 10,7% de cinza, enquanto o caule tinha 10,7, 44,4 e 6,3% daqueles constituintes respectivamente. O caule contém três vezes mais lignina do que as folhas, para um mesmo peso seco. O caule contém, aproximadamente, 75% de celulose em relação à planta toda.

Conteúdo de água na planta:

O processo de fenação envolve uma remoção de grande quantidade de água. De modo geral, uma forrageira durante a fase de crescimento vegetativo, em condições normais de umidade no solo, apresenta uma variação média de 15 a 25% de matéria seca; durante a floração cerca de 25 a 35% e na fase de sementes maduras, cerca de 45%. É óbvio que o conteúdo de água cai rapidamente, ao alcançar a planta, a fase de floração.

O conteúdo de água ao ser cortada para fenação é cerca de 60 a 75% para as gramíneas e 70 a 75% para as leguminosas. Tecidos novos contêm mais água que os tecidos mais maduros, quando os dois são comparados numa mesma época. Contudo, em algumas ocasiões é possível que certas plantas apresentem maior porcentagem de matéria seca nos tecidos da folha do que do caule. Isto é explicado pela alta concentração de material solúvel, antes do material estrutural, nos tecidos das folhas.

A porcentagem de matéria seca da parte aérea de leguminosas aumenta linearmente, durante o período de crescimento. Contudo, certas gramíneas apresentam um decréscimo no teor de matéria seca durante o início da fase reprodutiva, para em seguida aumentar. Estas diferenças podem ser devido às variações de hábito de crescimento e mudanças nas proporções das diferentes partes da planta. Tecidos formados especialmente por paredes de células delgadas (células parenquimatosas têm alto conteúdo em água, > 90%), enquanto aquelas células de tecidos que formam paredes espessas, o seu conteúdo de água é menor. O conteúdo em água dentro de uma célula é variável. Nas folhas de plantas suculentas, os vacúolos são grandes e contêm grande quantidade de água. Nos tecidos meristemáticos que contêm poucos vacúolos e pouco material nas paredes das células, maior parte de água está no protoplasma. A água na forma de colóides ou de moléculas hidratadas está retida fortemente e a proporção que esta se encontra nesta forma varia largamente. As paredes das células têm um alto grau de higroscopicidade e alta capacidade absorvente, devido aos seus conteúdos em celulose e pectina.

Paredes de células lignificadas são menos higroscópicas do que as não lignificadas. A lignina pode absorver cerca de 23%, holocelulose cerca de 50% e hemicelulose cerca de 100% de seus pesos secos em água. O fluído vacuolar, o qual tem maior conteúdo em água das fases da célula, também contém grande quantidade de

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substâncias dissolvidas (orgânicas e inorgânicas).

A hora do dia em que faz o corte da forragem também afeta o conteúdo de umidade do material a ser fenado. A porcentagem de matéria seca é alta durante o dia, entre meio dia e 15 horas e é menor durante a noite e pela manhã. Tanto gramíneas quanto leguminosas apresentam variações diárias de cerca de 11% durante um dia de sol e de 6% em um dia nublado, quanto ao teor de água. Cortes feito pela manhã fornecem forragens com alto teor de umidade, mas permitem um período maior de exposição ao sol.

2.2 - Época do corte:

A produção acumulada de matéria seca cresce segundo o modelo sigmoidal com a idade da planta enquanto, o valor nutritivo decresce quando a planta passa da fase de crescimento vegetativo para reprodutivo. Cortes no início da fase de crescimento vegetativo trariam como desvantagens, menor rendimento forrageiro e ainda alto teor de umidade da forrageira, Cortes durante a fase de crescimento reprodutivo teriam como desvantagens, maior lignificação das células e menor digestibilidade da proteína e energia. A digestibilidade global de uma forragem ao seu primeiro corte, pode depender mais da data de corte do que da espécie forrageira, ou de seu estagio de crescimento. Verificaram que a taxa de declínio na digestibilidade da matéria seca total foi a mesma para várias forrageiras, havendo diferenças apenas nas datas de florescimento e/ou outro critério de maturidade. Os coeficientes de digestão de gramíneas, leguminosas ou misturas (gramíneas + leguminosas) decrescem 0,48 unidades por dia em um período de 70 dias após o início do verão. Este decréscimo varia em função da região geográfica. Por exemplo, foi obtido um decréscimo de 0,32 unidades na Virgínia (USA) e de 0,50 unidades na Inglaterra.

A época ideal de corte seria aquela em que a forrageira estaria mais adequada para a fenação, sob o aspecto qualitativo e quantitativo. Portanto esta época não pode ser definida em termos somente de crescimento ou de datas de cortes pré-fixadas, mas sim em períodos de descanso da cultura, condições locais do meio, aspectos econômicos, etc. Convém portanto, enfatizar que a qualidade da forragem à época do corte é de importância primária na qualidade do feno.

3. REAÇÕES DA PLANTA AO CORTE

3.1 Reação geral ao corte e a secagem:

O processo de secagem começa quando a planta é cortada. A taxa de secagem depende da diferença entre a pressão de vapor exercida pela água interna próxima a superfície e a pressão de vapor de água no ar. Fatores que afetam a pressão de vapor são a temperatura, concentração de substâncias dissolvidas, movimento de água dentro dos tecidos e movimento do ar. Quando a diferença alcança zero a transferência de umidade cessa e ocorre um estado de equilíbrio entre o feno e a umidade do ar.

As partes da planta diferem quanto a resposta à perda de água. Folhas de leguminosas secam mais rápido do que o caule e isto contribui para a queda das

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mesmas e perdas subseqüentes da parte mais nutritiva.

Alterações mecânicas causadas ao tecido aumentarão a taxa de secagem pela ruptura das células, facilitando o movimento de água e aumentando a superfície de evaporação. Secagem mais rápida, por um ou por outro processo, determinará menores perdas na respiração e em algumas culturas haverá menor perda mecânica das folhas devido a uma uniformização na secagem de folhas e caules.

O sol é fator importante na secagem a campo por fornecer calor, tanto para fornecer rápida fermentação, como também para promover mais rápida secagem. Promove ainda, destruição das vitaminas A e E e a formação de vitamina D. Algumas operações práticas no campo, tais como viragem, ajudam a secagem, como também a aplicação de calor por vários modos e práticas. Dependendo da temperatura e da técnica usada, perdas no valor nutritivo são usualmente reduzidas pela secagem através do aumento moderado da temperatura. Mas as perdas podem ser aumentadas por altas temperaturas, particularmente os carboidratos digestíveis e a digestibilidade da proteína.

3.2 Secagem e o papel da superfície foliar:

Cerca de 5 a 10% da perda de água se dá através da cutícula, mas a maior perda é feita através do estomato, ou seja, através da superfície úmida das células do mesófilo, na cavidade sub-estomacal. Se o ar em volta da folha não está saturado com umidade, o vapor de água difundirá através do estomato até alcançar a parte externa. Alguns dos fatores que determinam a taxa de perda de água são, disponibilidade de água na superfície das células, abertura do estomato e força de evaporação no ar.

A maioria das informações disponíveis a respeito de abertura de estomato se refere a plantas intactas. O mecanismo que controla esta abertura ainda, não foi descrito com muita precisão. Os estomatos estão abertos se as células guardas estiverem túrgidas antes das células adjacentes da epiderme. Isto pode ocorrer em decorrência de solutos orgânicos produzidos pela fotossíntese ou da recepção de íons das células adjacentes. A turgescência também depende do suprimento completo de água, de certas substâncias orgânicas, de CO2 e da luz. O estomato normalmente abre com a presença da luz mas, pode fechar em torno do meio dia por causa de um déficit de água localizado (naquele momento). Isto porque a pressão osmótica das células da epiderme torna-se maior do que das células guardas. Não se sabe se o mesmo acontece com folhas de plantas já cortadas.

A interrupção da transpiração causa fechamento dos estomatos mas, não é de efeito imediato. Quando as folhas são cortadas há, temporariamente, aumento na taxa de transpiração. Depois de cerca de uma hora o estomato se fecha e a taxa transpiratória diminui. Se sua abertura temporária se estende por um período de tempo maior, sob condições de pouca água, mas não em condições de grande déficit de água, conclui-se que a perda de água está relacionada com este tempo. A taxa transpiratória permanece baixa por poucas horas, dependendo das condições, mas logo há um forte e pronunciado aumento que está associado com sinais visíveis de emurchecimento. Neste momento, cerca de 10% em água se perdeu e a

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habilidade da planta regular sua transpiração foi deteriorada.

Perda de vapor de água através da epiderme foliar é insignificante em relação ao total da transpiração, quando o estomato está aberto. Mas, quando está fechado esta perda de água é muito importante. Há grande variação entre plantas em respeito a perda de águas pelas cutículas e está intimamente relacionada com a espessura da cutícula.

A deterioração de um tecido cortado, que está associado com o emurchecimento, pode ser semelhante a que ocorre durante o emurchecimento sem contudo, haver o corte.

Como o vacúolo contrai-se durante o emurchecimento, é exercido sobre o protoplasma uma força interna; e uma força externa é manifestada pela parede celular. Desta tensão resulta em injúria mecânica, havendo conseqüentemente, rápida perda de água e os fatores externos controlam a evaporação.

4. SECAGEM À TEMPERATURA AMBIENTE

4.1 Perdas de carboidratos:

Devido a dificuldade em determinar e controlar, em condições de campo, as perdas que ocorrem, a maioria dos dados são obtidos em laboratório.

Variações na composição são causadas por enzimas e é sabido que as enzimas respiratória e hidrolítica presentes nas células vivas continuam suas funções até que alguma condição letal intervenha.

Forragem verde, dependendo de seu estádio de crescimento e outras variáveis, contêm cerca de 55 a 85% de água e deve ser reduzida pela secagem para 15 a 20%. A taxa de secagem não tem um valor constante mas é provavelmente, proporcional à diferença na saturação, exceto no estagio final. A taxa continuará até que a diferença em saturação alcance o ponto mais baixo ou seja o ponto em que o conteúdo de água da forragem estiver em equilíbrio com a umidade do ar. A respiração é ativa durante este tempo mas em seguida cai progressivamente. Muitos pesquisadores têm estudado a respiração durante esta fase. A troca gasosa entre gramíneas e leguminosas cortadas a uma temperatura de 20,5ºC e no escuro, o consumo de oxigênio foi maior que a produção de CO2 no princípio do emurchecimento. Quando a umidade diminui a taxa respiratória caiu rapidamente e em alguns casos, como nas gramíneas que haviam alcançado 20% de água, a proporção foi inversa, ou seja, havia maior consumo de O2 e menor produção de CO2. Abaixo de certo grau de umidade a respiração cessa, variando de 33 a 38% de água.

O calor envolvido durante a respiração de uma forragem verde foi medido, entre 7 e 27ºC a temperatura teve mais efeito sobre a evolução de calor do que a umidade. Em temperaturas maiores a energia desprendida de uma leguminosa verde e suculenta após três dias de corte foi de 25.200kJ (kilojoules) por hora, por tonelada de matéria seca. Isto equivale a uma perda de 4,5% de matéria seca por dia. Em

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uma leguminosa verde mas já madura, a perda foi de 2,2% de matéria seca por dia.

Abaixo de zero graus não há respiração independentemente da umidade da forragem. Umidade em torno de 10% na forragem não há respiração independentemente, da temperatura.

Respiração é acompanhada por perda de matéria seca e nas condições de campo (preparo do feno) e de galpão (armazenamento) as perdas são extremamente variáveis.

A principal mudança na composição química refere-se à perda de carboidratos mais solúveis. Como estes carboidratos são de alta digestibilidade, a perda no valor nutritivo é maior que a perda de matéria seca considerada isoladamente. As perdas em açúcares e ácidos orgânicos foi demonstrada várias vezes. Por exemplo, ocorre decréscimo de 7 para 3,7% nos açucares totais (base MS) em leguminosas, em seu primeiro corte e mantida a temperatura de 27ºC. A maior perda é de glicose e frutose mas há algum decréscimo também de sacarose. Há pouca variação no teor de hexoses após a secagem de uma gramínea por 24 horas, mas significativa perda em sacarose (6,2 para 5,4%) e frutose (9,6 para 5,2%), o que evidencia a hidrólise e a respiração de hexoses livres. A frutosana em uma gramínea decresce, hexoses não mostraram perdas e a sacarose aumenta. Este último fenômeno é explicado pela sua síntese durante o período de emurchecimento.

Em todos os casos, as perdas de carboidratos de uma forma ou outra, parece acompanhar a perda de matéria seca durante o emurchecimento e a secagem. Perdas de ácidos orgânicos têm sido observadas, com decréscimo dos ácidos málico, cítrico e succínico, durante o emurchecimento de uma gramínea por 48 horas.

Muitos pesquisadores verificaram que o amido como também a frutosana são hidrolisados e que açucares desdobrados são perdidos através da respiração. Por outro lado, alguns pesquisadores verificaram aumento de polissacarídeos, possivelmente por síntese. Os carboidratos das paredes das células freqüentemente, aumentam. Este fato pode ser somente aparente, por causa da variação da matéria seca e a porcentagem a ser calculada tendo ela como base. A fotossíntese também pode contribuir no estagio inicial de emurchecimento mas isto representa muito pouco. Não há evidência de rompimento das moléculas de celulose, a menos que haja atividade bacteriana.

4.2 Constituintes nitrogenados:

Secagem à temperatura ambiente resulta em pequena perda de substâncias nitrogenadas quando comparadas com a perda de carboidratos.

As proteases da planta são ativas durante o emurchecimento e o nitrogênio solúvel total aumenta. Este é formado por peptídeos, aminoácidos, amidas e bases voláteis.

Ocorre perdas de glicina, serina, treonina, alanina, metionina, leucina e isoleucina e há aumento em prolina, amidas, glutamina e aspargina em gramíneas. Folhas

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emurchecidas de uma leguminosa têm alto teor em prolina em relação ao normal, indicando que carboidratos têm algum efeito sobre este fenômeno. O mecanismo é o seguinte, a prolina é sintetizada do ácido glutâmico e que há interconvenção entre serina-glicina e alanina-aspártico.

Verifica-se que o nitrogênio total de uma gramínea cai de 2,02 para 1,83% em 2,5 horas de emurchecimento, a proporção de nitrogênio não protéico sube de 8,9 para 11,4% do total de nitrogênio e os grupos aminas livres crescem de 2,6 para 5,9%. A quantidade de amônia dobrou.

Todas as formas de nitrogênio são disponíveis para os ruminantes, não havendo grande perda no valor nutritivo causada por estas interconversões. A estimativa é que ocorre uma perda de 2,5% de nitrogênio.

Nitratos são pouco afetados pela secagem. Substâncias cianogênicas presentes no sorgo (Sorghum sp), trevo branco (Trifolium repens) e algumas outras poucas forrageiras perdem sua toxidez, quando elas são fenadas. Isto pode ser devido à desnaturação de enzima que libera o cianeto, ou pela volatilização do cianeto, ou ambos.

4.3 As vitaminas:

Três das vitaminas requeridas pelos ruminantes são afetadas pelo processo de secagem, A, D e E.

O precursor da vitamina A, o caroteno, é relativamente alto, o seu teor nas forragens novas decresce à medida que a planta se torna madura. A redução em função da idade da planta é de 400 para 100ppm, respectivamente em plantas jovens e maduras. O pigmento amarelo é altamente correlacionado com a clorofila, proteína e com outros componentes que são freqüentes nas plantas jovens. Por causa de tais correlações, a cor verde da forragem fresca ou fenada é na prática um critério de julgamento de qualidade do feno e do conteúdo de caroteno.

O caroteno é instável na presença da luz e ar e considerável perda ocorre pela ação da lipoxidase. Secagem lenta, ao sol, em uma temperatura de 37ºC, pode causar destruição rápida de 80% do total de caroteno, Secagem rápida, por meio artificial ou natural, inativa a enzima e há tendência de conservar mais o caroteno. Feno é freqüentemente, uma fonte pobre nesta vitamina, porque ele normalmente é feito quando a planta está mais madura e ainda, devido à ação de raios solares.

A vitamina D não ocorre em plantas verdes, ou quando ocorre em quantidades extremamente pequenas. Os precursores da vitamina D são os esteróis, largamente distribuídos nas plantas, mas em pequenas quantidades. Com a morte das células de um tecido durante o emurchecimento ou após, certos esteróis ao serem expostos ao sol, transformam-se em vitamina D (atividade antirraquítica). Alguns dos esteróis são b sitosterol, stigmasterol, spinasterol e ergosterol, o qual pode ocorrer livre, como glicosidades ou como ésteres de ácidos graxos. Pouco é sabido das reações que ocorrem com os esteróis, na presença de luz com a planta emurchecida e

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porque eles não reagem à ação da luz quando a planta está túrgida.

A luz ultravioleta (280-300nm) é a mais eficiente no rearranjamento das moléculas com o fim de produzir a vitamina D. A intensidade desta reação é proporcional ao tempo de exposição ao sol ou à luz artificial (ultravioleta). O feno curado com exposição limitada tem menos vitamina D do que o curado com completa exposição.

A formação da vitamina D é um processo lento e pode continuar por 6 a 8 dias, após alcançar o máximo. Folhas são mais susceptíveis a radiação do que o caule. Tem sido observada que a quantidade de vitamina D pode ser maior em forragens maduras, por causa da alta concentração de esteróis que se acumula nos tecidos reprodutivos. O feno de alfafa curado ao sol tem 890UI, curado a sombra, 259UI e o farelo de folha desidratada, 169UI. Feno de uma gramínea curado ao sol tem 1.000UI e a sombra, 455UI.

A vitamina E é um tocoferol. Os tocoferóis mais comuns são, o a tocoferol (mais ativo) b, g e d, tendo somente 30, 20 e 1% de atividade, respectivamente. O a tocoferol é o mais abundante nas forragens e por propósitos práticos, vitamina E pode ser expressa em termos do total de tocoferol.

Forragens verdes são ricas em vitamina E, forragens maduras são pobres e fenos secos são muito pobres. Um feno de forragens de gramíneas jovens tem 277ppm, ao florescimento 98ppm e após sementeação 24ppm. Estas diferenças foram atribuídas a menor relação folha-caule, nas plantas mais maduras.

Perdas durante o emurchecimento têm sido constatadas. Secagem artificial pode causar perdas e exposição ao sol tem pouco efeito mas, exposição excessiva causa perda.

O conteúdo de tocoferol no sangue de animais em pastagem é alto, tanto que animais sendo confinados em galpões é recomendado o fornecimento de forragem verde.

A falta de vitamina E pode ser acompanhada por esterelidade e em, conecção com deficiência de selênio, com distrofia muscular.

4.4 Perdas gerais do valor nutritivo:

Os fenos variam grandemente, em composição e valor nutritivo mas mesmo o melhor deles sofre alguma perda no processo de secagem.

A perda total de matéria seca no processo de fenação a campo é, por respiração durante o emurchecimento e secagem, 4 a 15% dependendo das condições climáticas; perda por queda de folhas, gramíneas 2 a 5% e para leguminosas 3 a 35% e nas melhores condições 15 a 20%; lixiviação por chuvas 5 a 14%.

A chuva é um dos fatores que mais contribui para reduzir a qualidade do feno e o caroteno é o constituinte mais susceptível. A lixiviação pela chuva pode remover de 20 a 40% de matéria seca, 30% de fósforo, 65% de potássio e 20% de proteína

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bruta.

Há poucos trabalhos de digestibilidade em que se compara forragem verde e feno. A forragem congelada após o corte, a digestibilidade da matéria orgânica foi de 73%, enquanto o feno do mesmo corte seco em leiras no campo foi de 64,7% e o feno ainda do mesmo corte seco por pressão foi de 66,4%.

Coeficientes de digestibilidade do feno e da forragem verde de aveia, ambos cortados à idade de 120 dias foi de 55,7 e 55,9, 58,6 e 59,4, 58,8 e 61,1% respectivamente, para a matéria seca, proteína e energia brutas. A perda em NDT de 42,1% quando a forragem cortada recebeu chuva e de 25,5% se não recebeu, enquanto aquela seca em galpões foi de 24%. A perda em energia líquida foi de 47,2, 29,6, 28,6%, respectivamente. O feno seco em galpões sem calor apresenta menor perda do que aquele seco no campo.

5. TRATAMENTOS MECÂNICOS SOBRE A SECAGEM

Diversos dispositivos mecânicos e métodos são usados para promover mais rápida eliminação de água. Tais forragens têm seus tecidos rompidos após o corte. Isto reduz a respiração e previne o desenvolvimento de fungo, reduz a queda de folha e reduz o tempo de exposição.

Esmagar ou dilacerar uma forragem aumenta a taxa de perda de água. O esmagamento provoca um estímulo na respiração, principalmente no caule e pecíolos de leguminosas, mas o material seca muito mais rápido e a respiração cessa muito antes do que o material intacto.

Uma combinação de esmagamento e calor (rolos aquecidos) reduz a perda de caroteno. Outro procedimento usado é o uso de vapor de água, por certo período de tempo o que aumenta a taxa de secagem pela modificação da permeabilidade da cutícula. Estudos microscópicos mostram que tratamentos mecânicos não rompem as paredes das células em certas extensão e o tratamento por vapor destrói a função do estomato.

6. QUALIDADE GERAL DO FENO

6.1 Composição dos fenos:

Muitas compilações de composição e valor nutritivo têm sido feitas. Normas indicativas de qualidade do feno, como composição química e digestibilidade são determinadas experimentalmente. Ainda existem nos EUA outras normas que regulam a qualidade do feno ao mercado (USDA, 68). Os "standards" são baseados no tipo de feno (espécie), pureza, qualidade de folhas, presença de sementes, coloração, espessura do caule e teor de umidade. Baseados nestes "standards" foram estabelecidos quatro classes de qualidade: (1) - alta qualidade, (2) - regular, (3) - relativamente pobre e (4) - muito pobre. Exemplos de classes de qualidade de um feno de gramínea e de leguminosa são apresentados no quadro 1. A composição química não participa diretamente neste tipo de classificação mas alguns autores têm feito estas comparações (quadro 2).

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Quadro 1 - Requerimentos para Certas Classes de Feno (USDA, 71)

Tipos e classes de fenos

Mínimo de folhas (%)

Mínimo de cor verde (%)

Máximo de impureza (%)

Fenos de leguminosas e mistos

(1) alta qualidade 40 60 5

(2) regular 25 35 10

(3) relativamente pobre

10 10 15

Fenos de gramíneas

(1) alta qualidade 45 40 10

(2) regular 30 30 15

(3) relativamente pobre

15 10 20

Quadro 2 - Classes de Fenos de Leguminosas e Conteúdo em Nutrientes (USDA, 71)

ClassesProt. Bruta (%MS)

Fibra Bruta (%MS)

ENN (%MS)

(1) 22,5 22,8 45,2

(2) 16,9 30,8 43,2

(3) 16,8 38,3 36,8

6.2 Qualidade de alguns fenos de gramíneas e leguminosas:

Dados referentes ao valor nutritivo de fenos de gramíneas e leguminosas principalmente, da América Latina são apresentados no quadro 3.

Quadro 3 - Valor nutritivo de alguns fenos de gramíneas e leguminosas

Gênero, espécie e processamento

MS (%)

PB(%MS)

ED (Mcal/kg)

NDT (%MS)

Ca(%MS)

P (%MS)

Glycine max (feno curado ao sol)

89 15,9 2,49 56,6 1,33 0,32

Hyparrenia rufa (feno curado ao sol)

90,1 7,2 2,56 53,1 0,52 0,14

Manihot esculenta

69,8 26,9 2,78 63,1 4,23 1,06

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(folhas curada ao sol)

(parte aérea desidratada)

90,3 12,1 2,64 59,9 0,6 0,26

(raízes desidrat. e moído)

87,3 2,8 3,48 78,9 0,17 0,09

Medicago sativa (curado ao sol, flor.)

90,1 12,5 2,57 58,2 1,4 0,19

(desid.,flor. e moído)

92,4 19,5 2,54 57,5 - 0,3

Melinis minutiflora (curado ao sol)

93,2 6,8 - 50,6 - -

Musa paradisíaca (folhas desidrat.)

96,7 16,6 2,89 - - -

Oryza sativa (casca de arroz)

90,6 4,5 1,76 49,3 - -

Oryza sativa (palha de arroz)

89 5,4 1,87 68,0 1,90 0,25

Panicum maximum (colonião desidrat.)

93,5 6,7 2,16 48,9 0,47 0,26

(Tanzânia) 90 8 - 55 1,1 0,25

(Tobiatã) 90 7,8 - 55,3 1 0,25

Pennisetum ciliare (capim buffel curado ao sol)

92,7 7,9 2,14 48,6 - -

Pennisetum purpureum (feno curado ao sol)

89,1 8,2 - 45,4 - -

Elefante Híbrido Paraíso

90,6 14,6 - 65,6 1,1 0,35

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Gênero, espécie e processamento

MS (%)

PB(%MS)

ED (Mcal/kg)

NDT (%MS)

Ca(%MS)

P(%MS

Saccharum officinarum (ponta da cana curada ao sol)

88,4 4,1 2,54 57,5 - -

(bagaço seco) 91,8 1,2 - 55,3 0,32 0,14

Sorghum vulgare (paniculas curadas ao sol)

88,5 10,4 - - 0,18 0,12

(parte aérea curada ao sol)

90,6 4,2 2,19 49,7 0,3 0,15

7. MÉTODOS DE PREPARO DO FENO

Os estudos têm demonstrado que um bom equipamento concorre para reduzir o custo de mão de obra e para melhorar a qualidade do produto. O feno seca mais rapidamente, distendido e espalhado do que em leiras, mesmo que estas sejam espalhadas e frouxas. Quanto maiores forem as leiras, tanto mais lenta será a cura sendo esta mais lenta ainda, quando se dispõem as forrageiras para secar em pequenos montes.

Embora o feno se cure mais rapidamente estando espalhado, não é aconselhável curá-lo totalmente dessa forma, exceto no caso de fenos de gramíneas quando o tempo estiver frio e seco. Realizando-se a cura total desse modo, as folhas se tornam secas e quebradiças muito antes que as hastes estejam suficientemente secas. Em se tratando de leguminosas, haverá grande perda de folhas ao ser o feno manipulado. A exposição prolongada de feno ao sol também o tostará destruindo grande parte do caroteno.

A disposição de forragem verde em leiras, embora pequenas e frouxas, imediatamente antes do preparo das medas, prolongará o tempo necessário para a cura do feno exceto em um clima muito seco. A cura realizada lentamente aumenta o risco de prejudicar a fenação no caso de chuvas. O enleiramento da forragem verde dá margem aos acidentes, com fermentações e emboloramento do feno.

7.1 Secagem:

Para preparar um feno de qualidade, folhudo e verde, deve-se proceder da seguinte maneira:

ceifar pela manhã, bem cedo, pois não há necessidade de retardar o corte por causa do orvalho. As forrageiras ceifadas logo cedo, embora úmidas pelo orvalho apresentam-se mais secas à tarde do que as ceifadas em horas mais avançadas do dia; em seguida proceder ao acondicionamento quantas vezes necessárias -

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mínimo de duas passagens; deixar a forragem espalhada por algumas horas, até que ela fique parcialmente curada; ceifar apenas a quantidade que se puder manejar convenientemente, sob as condições comuns de tempo; antes que haja perigo de desprendimento das folhas, a forragem deve ser amontoada, em pequenas leiras, frouxas, de preferência, com um ancinho de descarga lateral; caso o tempo esteja propício à fenação, a cura deverá prosseguir nessas leiras, sendo o feno daí enfardado; a cura do feno processando lentamente por causa do tempo, poderá ser conveniente, após algumas horas, revirar parcialmente as leiras para apressar a secagem. Este revolvimento ainda poderá ser necessário se o feno estiver molhado por causa das chuvas.

8. ARMAZENAMENTO DO FENO

8.1 Efeitos gerais

Outras perdas na qualidade do feno ocorrem quando o feno, após secagem, é armazenado. Uma série de trabalhos indicam que perdas na matéria seca aumentam com a temperatura de armazenagem e com o conteúdo de umidade do feno. Entre 18 a 7ºC a 12% de umidade as perdas foram insignificantes. A 36ºC e 18% de umidade a perda de matéria seca foi de 8% durante 9 meses de armazenamento. As perdas foram principalmente, de açúcar, outros carboidratos solúveis e alguns lipídeos possivelmente, por desenvolvimento de fungo.

Perdas variáveis de carotenóides ocorrem, principalmente, se o teor destes no feno é alto.

As perdas podem resultar da oxidação na presença de ar, enzimas ou microorganismos. Atribui-se a hidrólise de sacarose de feno estocado à 25ºC de temperatura e umidade relativa do ar de 76%, à atividade enzimática. Isto porque o feno não foi aquecido acima de 45ºC durante a secagem. As hexoses desapareceram mas, somente na presença de oxigênio e isto foi atribuído ao desenvolvimento de fungo.

Feno contendo 16% de água a temperatura subiu muito pouco e microflora foi muito pouco diversa. Feno com 25% de água causou elevação da temperatura a 45ºC e houve desenvolvimento de mofo, principalmente de Aspergillus glaucus. Com 40% de água a temperatura alcançou 65ºC e continha grande número de fungos termofílicos.

A fermentação resulta em perda de açucares e formação de bases voláteis de nitrogênio, que tendem a elevar o ph. Verificou-se que feno com mais de 30% de umidade não é adequado para armazenamento e como conseqüência há decréscimo na digestibilidade, particularmente da proteína. E ainda os açúcares e algumas proteínas decrescem no feno estocado mas, a maior perda relativa foi de caroteno; 81% do caroteno desapareceu após seis meses de armazenamento.

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Aquecimento expontâneo da massa a ser fenada, conduz o aparecimento de material de cor marrom. A composição deste feno é semelhante a um feno de qualidade pobre. Contudo, se o calor produzido levar ao aparecimento de cor escura, há acentuada queda nos carboidratos digestíveis e conseqüentemente aumento no teor de fibra.

8.2 Enfardamento do feno no campo:

Usa-se fazer o enfardamento do feno no momento de retirá-lo das próprias leiras com enfardadeira, é necessário que sejam tomadas determinadas precauções.

O feno deve estar um pouco mais seco que o comum. É preferível que sua umidade esteja entre 20 e 22%. Os fenos de leguminosas, excessivamente secos, antes do enfardamento perdem considerável quantidade de folhas. O enfardamento nas próprias leiras evita boa parte da perda das folhas.

Para permitir a ventilação nas pilhas de fardos estes devem ser colocados na primeira camada, de lado. A camada seguinte será constituída de fardos depositados sobre os lados maiores e assim sucessivamente, conservando os ângulos retos. Os fardos não devem ser colocados juntos, pois é necessário deixar um bom espaço entre eles. Todo feno solto deverá ser retirado no topo das camadas de fardos antes de depositar a camada seguinte.

8.3 Feno Picado:

Nestes últimos anos tem-se intensificado o emprego de máquinas para picar feno, apanhando-o diretamente nas leiras e lançando-o por meio de um ventilador da própria máquina para o veículo de transporte. Às vezes o feno é transportado sem ser picado até o local de armazenamento onde, com o auxílio de uma picadeira do tipo das ensiladeira, é picado e amontoado. A fragmentação do feno é conveniente para a alimentação contudo, o valor de um feno de boa qualidade para o gado bovino, ovino e eqüino não aumenta apreciavelmente ao ser picado. Ocorre é um aumento do consumo deste feno. Um animal adulto (300kg PV) consome 6kg de feno moído ou picado, enquanto integral é de 4kg.

Pode haver uma pequena vantagem em picar o feno de qualidade inferior. O feno picado fino pode se tornar poeirento e portanto menos apreciável pelos animais. Para uma conservação segura, o feno picado deve estar um pouco mais seco do que o necessário para um feno comum, já que tem maior tendência para se aquecer porque se amontoa mais densamente, oferecendo menor oportunidade para que a umidade e o calor se dissipem. O feno picado ocupa apenas a metade ou um terço da área necessária para armazenar o feno comum. O feno deve ser distribuído em camadas, pelo ajustamento do tubo lançador. Nunca se deve permitir que o feno se acame por si próprio, pois poderá provocar aquecimento em vários pontos.

Sendo o custo destes equipamentos muito elevado aí se tornam econômicos quando o volume de feno a ser produzido justificar seu emprego. O custo da produção de feno será reduzido quando a mesma máquina for utilizada no corte de outras

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forrageiras ou de milho para silagem.

9. MATERIAL

9.1 Ceifadeira:

Preferencialmente este equipamento deve ser de disco. De acordo com o modelo pode-se ter larguras de cortes de 1,7 a 2,4m podendo ser de quatro a seis discos. Normalmente cada disco tem duas facas, portanto, tem-se ceifadeira de oito e 12 facas. A potência requerida na tomada de força é de 25 a 38cv dependendo do modelo (4 e 6 discos). A capacidade de produção máxima de corte é de 3 a 4ha/hora, variando de acordo com a quantidade de forragem a ser cortada. A rotação requerida na tomada de força é de 540rpm , independente do modelo. Os discos em movimentação normal adquirem uma velocidade de 3.000rpm, com a ceifadeira acoplada ao sistema hidráulico de um trator agrícola com a marcha em segunda reduzida.

9.2 Condicionador-secador:

É um equipamento indispensável ao preparo de um bom feno. Ele promove a aceleração da secagem pelo aumento da superfície de evaporação da água pelos tecidos da planta.

A primeira passada (batida) do condicionador-secador é importante para se obter um bom feno. Esta passagem deve ser feita imediatamente após a ceifa, quando a forragem ainda não murchou. Se ocorrer da forragem perder muita água após a ceifa e antes da primeira batida haverá dificuldades nesta etapa, ocasionada por embuchamento do material nos rolos-faca.

A primeira passagem do condicionador é considerada uma etapa pesada, requerendo do trator acoplado a marcha de primeira reduzida, para grandes quantidades de forragem ceifada ou segunda reduzida para quantidades menores (< 8t/ha de forragem verde). A potência requerida é de 35cv e a velocidade de rotação na tomada de força é de 1.800rpm.

A segunda passagem (batida) deve ser feita logo após a primeira. Pode-se usar a marcha de segunda reduzida para grande quantidade de forragem ceifada (> 10t/ha de forragem verde) ou a terceira reduzida para quantidades menores de forragem.

Quando se tem uma quantidade de forragem grande (> 15t/ha de forragem verde), recomenda-se uma terceira batida que deve ser feita logo após a segunda. Esta pode ser feita com trator em primeira simples, com 1.600rpm.

9.3 Ancinho enleirador:

Existem vários tipos deste equipamento no mercado. Um deles é o modelo GIROBAR-90, que pesa 250kg, com uma largura total de 3m. A potência requerida para o trator agrícola é de 25cv. O sistema de roda é giro livre com 540rpm e com levante acoplado em três pontos. A velocidade de operação do trator agrícola é com

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a marcha de terceira reduzida ou primeira simples, dependendo da quantidade de forragem cortada. A sua capacidade máxima de produção é de 5 hectares por hora.

9.4 Enfardadeira de rolo:

Preferencialmente deve-se usar este equipamento. A enfardadeira requer na tomada de força do trator agrícola 40cv e ainda 540rpm, na segunda marcha reduzida. O seu rendimento médio é de 50t/ha de feno por dia.

10. ASPECTOS ECONÔMICOS

Na apuração dos custos de produção do feno apropriou-se o custo de produção da massa verde, desde a destoca do terreno até os tratos culturais, considerando que a vida útil é de 8 anos. Computou-se o custo da massa verde como se o campo de produção de forragem fornecesse três cortes fenáveis por ano.

As depreciações foram calculadas em função da vida útil do equipamento (10 anos) e do número de horas de utilização por ano. Dos preços de aquisição dividiu-se o valor residual do equipamento, ao de sua vida útil. A incidência nos custos de produção do feno foi calculada na razão direta de sua efetiva utilização na fenação utilizada (Quadro 4).

A mão de obra incidiu à base do salário mínimo e os serviços de trator foram apurados de acordo com o preço vigente na região (Quadro 4). Tomou-se os índices de rendimento do fabricante para os cálculos efetuados.

Quadro 4 - Custos de produção por quilo de feno em fardo

COMPONENTESCUSTOS (R$/kg)

Custo do capim braquiária 0,005

Ceifador - capim braquiária 0,004

Condicionamento - capim braquiária brizantha 0,006

Enleiramento - capim braquiária brizantha 0,002

Enfardamento - capim braquiária brizantha 0,040

Depreciação 0,006

Encargos diversos 0,006

TOTAL 0,069

10.1 Relação benefício/custo:

Considerando um ganho médio diário por cabeça de 0,65kg de novilhos suplementados com feno e minerais, com peso vivo médio diário de 300kg, durante a época seca do ano (julho a novembro). O benefício diário por animal seria da

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ordem de U$ 0,54.

Considerando ainda, um consumo de 6,5kg de feno por dia e de 0,06kg de mistura mineral, o custo da alimentação diária seria de U$ 0,47 (U$ 0,45 do feno e U$ 0,02 da mistura mineral). A relação benefício/custo seria da ordem de 1,1489.

FORMAÇÃO DE PASTAGENS Herbert Vilela

1. INTRODUÇÃO

A área de pastagem com espécies cultivadas no Brasil, está em torno de 115 milhões de hectares, destacando-se nesta categoria a predominância de capim Brachiaria, enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões, onde predominam centenas de espécies nativas. Anualmente, semeiam- se cerca de 5,5 milhões de hectares para formação de pastagem, quer na forma de renovação ou formação propriamente dita (Zimmer & Euclides, 2000). Estas áreas que abrigam numericamente: 191,2 milhões de bovinos, 18,7 milhões de ovinos, 10,6 milhões de caprinos, 9,6 milhões de eqüinos, 2 milhões de muares, 1,3 milhões de asininos e 1,5 milhões de bubalinos. Estes números proporcionam uma taxa de lotação de 1,10 cabeças por hectare (Anualpec, 2004). A produção bovina atual é da ordem de 8 milhões de toneladas/ano de equivalente carcaça, com uma taxa de abate de 20,87% (CNA, 2004).

A omissão de critérios técnicos na utilização dos recursos naturais e das pastagens, pela exploração da pecuária, vem causando severas alterações no meio ambiente através de vários tipos ações antrópicas:

Redução da vegetação clímax - uso generalizado do fogo como meio auxiliar no manejo de pastagens e desmatamento mecânico e/ou químico com uso indiscriminado de máquinas, fogo e herbicidas; Aumento do processo de erosão - super-pastejo e uso de gramíneas inadequadas a certas áreas e regiões. Não há obediência aos limites de declividade, para formação e utilização de pastagens, não há proteção dos topos das elevações e falta meios para o controle da erosão; Redução da água fluvial - não há adequada proteção vegetal às nascentes e ao longo dos cursos d'água resultando, consequentemente, em "assoreamento" destes mananciais.

As ações antrópicas devem e podem ser evitadas para que os acidentes associados a degradação das pastagens e suas conseqüências sócio-econômicas sejam minimizadas ou evitadas. Um recurso que deve ser adotado pelos atores destas ações seria primariamente, o uso do sistema agropastoril, integração lavoura e pecuária, principalmente devido ao uso do plantio direto. Contudo, a adoção do primeiro plantio direto nos cerrados é impedido geralmente, pela necessidade de se fazer uma "toillet" na área, como eliminar certos arbustos, preparo do solo

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propriamente dito, nivelamento e plantio, por meio de implementos como arados, grades e compactadores.

A integração lavoura pecuária, em áreas com declividades moderadas, tornou-se um sistema importante devido ao uso do plantio direto. O plantio direto traz as seguintes vantagens para o sistema:

maior conservação da água e menor variação na temperatura do solo; maior capacidade de supressão física das ervas daninhas (reduz o uso de herbicidas pós-emergentes) especificamente para a palhada de Brachiaria; controle de doenças (mofo branco, podridão de Fusarium, e podridão de Rhizoctonia), por ação alelopática causada pela microflora do solo sobre os patógenos, maior longevidade na cobertura do solo em razão da lenta decomposição de seus resíduos. Por isto e pelo ponto de vista de sustentabilidade os agrossistemas (agropastoril e outros) têm recebidos nos últimos anos atenção especial a partir do entendimento agronômico, econômico, ecológico e social (SISTEMA SANTA FÉ, CNPAF, EMBRAPA).

O Sistema Barreirão (SISTEMA BARREIRÃO, CNPAF, EMBRAPA) que foi o usado em um passado próximo, para a recuperação de pastagens degradadas é hoje substituído pelo Sistema Santa Fé, mais moderno e com várias alternativas, sendo mais direcionado para o sistema agropastoril. Por exemplo, uma das alternativas é colocar a semente da forrageira a ser plantada junto com o adubo usado para o plantio do grão, antecedida ou não de dessecamento (herbicida) das plantas existentes na área (ervas e/ou forrageiras), ou o plantio da forrageira entre as linhas de plantio do grão. Para retardar o crescimento da forrageira, em ambos os casos, para evitar a competição pela luz entre ela e a cultura de grão, se usa uma sub dosagem de um herbicida seletivo para folha estreita. Antes da colheita dos grãos pode haver a necessidade de nova aplicação de herbicida para facilitar a colheita do grão, devida ao volume da forrageira. Após a colheita do grão, se usa a forragem para pastejo, fenação e/ou silagem. Uma característica deste sistema é que após o primeiro ano, anualmente se faz o plantio de grão sobre a forrageira dessecada, que foi plantada simultaneamente com a cultura anterior e também se faz o re-semeio da mesma forrageira ou de nova forrageira. Outra variação do sistema agropastoril é a aplicação do herbicida ao final do ciclo da cultura do grão (normalmente soja) para acelerar a queda das folhas senescentes e em seguida fazer o plantio da gramínea forrageira. Neste caso tem-se menor competição por luz entre a soja e a forrageira, e consequentemente maior produção de grãos. A implantação da cultura do grão deve ser feita o mais cedo possível.

Os conceitos de formação e de renovação de pastagens devem ser bem caracterizados. Ambos se referem ao estado atual de uso, da área em questão, como pastagem. O conceito de formação de pastagem é aplicado quando não há presença de pastagem cultivada na área. Por outro lado, o conceito de renovação de pastagem é aplicado á diferentes situações e que estão em função do grau de degradação da pastagem cultivada. Assim, tem-se pastagens caraterizadas pela menor produção quantitativa e qualitativa de forragem a época de crescimento vegetativo, até situações em que há pequena produtividade da pastagem pela predominância de plantas invasoras e com processos erosivos acelerados. Entre

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estas gradações, há situações intermediárias, que podem determinar a intensidade em que ocorrerá a renovação. Pode haver situações em que o estado de degradação da pastagem está caracterizado por apresentar apenas redução na produção de forragem, o que pode ser ajustado pela adubação corretiva do solo. Há, por outro lado, o extremo da degradação, o que envolve, além do preparo de solo, o plantio, a correção da acidez e a adubação corretiva (de formação).

A intensidade da agricultura, à base de forragens, nas distintas regiões pastoris do Brasil, é determinada pelo solo e clima, em união com os princípios que regulam a produção e utilização destas. Embora as plantas forrageiras de regiões secas sejam diferentes daquelas de regiões úmidas, os princípios básicos de manejo que norteiam a sua utilização serão os mesmos, qualquer que seja a região.

O objetivo deste trabalho é discutir técnicas agronômicas envolvidas com formação e adubação de pastagens, exigências das plantas forrageiras, descrição das principais gramíneas e leguminosas recomendadas, suas limitações e potencialidades, e sementes forrageiras.

2. FORMAÇÃO DE PASTAGEM - TÉCNICAS AGRONÔMICAS

2.1. PREPARO DO SOLO

Dependendo do tipo de vegetação existente na área e do grau de declividade tem-se a destoca, com lâminas em tratores pesados com ou sem auxilio de correntes, para áreas com cobertura vegetal do tipo cerrado denso e com pouca declividade. Conquanto, estas áreas no Brasil estão se tornando cada vez mais escassas (IBGE, 2004).

Em áreas cobertas com tipos de vegetação que, predominantemente são baixas, como naquelas cobertas por cerrados ralos, campos nativos e de pastagens degradadas, com pequeno grau de declividade, deve-se como primeira medida, fazer aração com arado tipo aiveca. Esta aração irá também promover uma incorporação do calcário, da matéria orgânica superficial, das sementes de ervas daninhas e ainda promover uma maior descompactação deste solo. De acordo com a potência disponível no trator, pode-se usar arados com duas ou quatro aivecas. Sendo que a potência requerida variará de 70 a 110HP. Ainda, a aiveca poderá ser lisa ou recortada, se o solo for caracterizado como arenoso ou argiloso. O arado tipo aiveca deve ser dotado de um opcional que permita que a aiveca se desarme quando encontrar algum tipo de resistência. Após a aração, proceder a uma gradagem de nivelamento, antes do plantio. Esta operação deve ser feita, se possível, durante o período de seca. Segundo a textura do solo, nos arenosos recomenda-se fazer uma compactação do solo com rolo compactador, antes e após plantio. Este cuidado é muito importante, pela característica das sementes forrageiras (pequeno tamanho), principalmente das gramíneas. Normalmente, em solos areno-argilosos ou francos é recomendada uma compactação imediatamente após o plantio. Poderá também ocorrer situações de plantio direto após o dessecamento da vegetação existente, principalmente em se tratando de pastagem degradada e campos nativos.

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Após as operações de limpeza, sempre proceder à conservação do solo, nos casos pertinentes. Áreas com declividade inferior a 8%, não é necessário conservação do solo, por constituir a cobertura da pastagem uma medida eficiente neste sentido, exceção em solos arenosos. Neste caso deve-se usar cordão em contorno. Estas áreas são, hoje, as mais usadas para o sistema agropastoril, em que se usa o plantio direto. Áreas com declividades entre 8 e 18%, devem ser preparadas com construção de cordão em contorno, sem gradiente, aração e uso de plantas que protejam bem o solo (estoloníferas), independente da textura do solo. Áreas com declividade entre 18 e 35%, as operações de desmatamento e/ou destoca e abertura de sulcos para plantio devem ser feitas apenas em 2/3 da superfície inferior da elevação. A parte superior (1/3), se possuir alguma vegetação arbustiva, deve ser cercada por um período superior a cinco anos e não receber nenhum tratamento mecânico ou químico, independentemente da textura do solo. Nestas áreas, não havendo vegetação arbustiva, deve-se proceder ao plantio de plantas arbóreas frutíferas e/ou leguminosas. A parte inferior (2/3 inferior), deve-se usar espécies forrageiras estoloníferas e não fazer nenhum tipo de conservação de solo, para evitar acidentes com animais, devido a altura dos degraus formados pelos terraços. Áreas com declividade acima de 35%, não devem ser utilizadas na forma de pastagens e se o são devem ser transformadas em sistema Silviopastoril.

2.2. AMOSTRAGEM DO SOLO

Após a limpeza da área deve-se proceder a amostragem do solo para as análises química de macro e micros elementos, e a análise física. A amostra do solo para ser representativa, a área a ser amostrada deve ser o mais homogênea possível. Assim, a propriedade (fazenda) ou a área a ser amostrada deverá ser subdividida em glebas ou talhões homogêneos. Nesta subdivisão ou estratificação, levam-se em conta o tipo de vegetação, a posição geográfica (topo do morro, meia encosta, baixada, etc.), as características perceptíveis do solo (cor, textura, condição de drenagem, etc.) e o histórico da área (cultura atual e anterior, produtividade observada, uso de fertilizantes e corretivos, etc.). Para maior eficiência na amostragem, o tamanho da gleba não deve ser superior a 10ha. Portanto, glebas homogêneas, mas muito grandes, devem ser subdivididas em sub-glebas de 10ha. Para as análises do solo trabalha-se com amostras simples e amostras compostas. A amostra simples é o volume de solo coletado em um ponto da gleba e a composta é a mistura homogênea das várias amostras simples coletadas da gleba. As amostras simples são obtidas através de um caminhamento em zig-zag na gleba em pelo menos 21 pontos e posteriormente homogeneizada (misturada) para formar a amostra composta. Para que a amostra composta seja representativa da gleba, deve ser coletadas de 20 a 30 amostras simples por gleba. Para a maioria dos solos, as amostras simples devem ser coletadas na camada de 0 a 20cm, devendo levar em consideração os locais de maior concentração do volume de raízes. Antes da coleta da amostra simples deve-se limpar a superfície do solo, remover os restos vegetais sem, contudo, remover a camada superficial do solo. O tamanho da amostra composta para ser remetida ao laboratório de análise deve ser de pouco menos de meio litro (aproximadamente ¼ de litro) e ser seca a sombra antes da remessa (CFCSMG, 1999).

Como exemplo, será tomado os resultados analíticos da amostra de solo de uma

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gleba da Fazenda Paraíso (Quadro1), para o desenvolvimento de cálculos de correção de acidez e de fertilização.

Quadro 1 - Resultados analíticos da amostra de uma gleba do solo da fazenda paraíso (amostras obtidas em uma camada com 20cm de profundidade).

Características UnidadesClassificação

Baixo Médio Alto

Cálcio Trocável (Ca) 2 cmolc/dm³ - 1,51 -

Magnésio Trocável (Mg) 2

cmolc/dm³ - 0,60 -

Acidez Trocável (Al) 2 cmolc/dm³ - 0,51 -

Acidez Potencial (H+Al) 4

meq/100 cm³ - 5 -

Potássio Disponível (K) 1

mg/dm³ - 50 -

Fósforo Disponível (P) 1

mg/dm³ 6,0 - -

Fósforo rem (P-rem) 3 mg/L 4,0 - -

Zinco disponível (Zn) 1 mg/dm³ 4 - -

Cobre disponível (Cu) 1

mg/dm³ 0,4 - -

Boro disponível (B) 1 mg/dm³ 0,20 - -

Manganês disponível (Mn) 1

mg/dm³ 4 - -

Ferro disponível (Fe) 1 mg/dm³ - 32 -

Enxofre disponível (S) 5

mg/dm³ 6,0 - -

Soma de bases (SB) 4 cmol c /dm³ - 2,26 -

Saturação por bases (V) 6

% 42

(Solo Textura Média) 40% argila - - -

1 Método Mehlich-1. 2 Método KCl 1mol/L. 3 P-rem. 4 Método Ca(OAc) 2. 5 Método Hoeft et al, 1973. 6 V = 100 x SB/T. 2.3 CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO

2.3.1 Tipos de corretivos

Os benefícios da correção com calcário ou silicato de cálcio e magnésio são melhoria no pH do solo, que irá proporcionar maior disponibilidade de fósforo para a planta, redução dos valores de Al+++ trocável e aumento dos níveis de Ca e/ou Mg no solo. Os Calcários são classificados em função do teor de MgO neles, assim eles podem ser calcíticos (< 5% = < 5dag/kg de MgO), magnesianos (5-12% = 5-12dag/kg de MgO) e dolomíticos (>12% = >12dag/kg de MgO).

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Os Silicatos são classificados conforme sua origem, a qual determina o teor de SiO2

total e solúvel. Os valores dos óxidos (CaO e MgO) nos Silicatos também variam conforme a origem e podem variar de 26 a 43% de CaO e de 2,9 a 19,1% MgO (KONDORFER et al, 2004).

Quanto ao Silicato, ele pode fornecer ao solo conforme sua origem, o Si solúvel (até 43% de SiO2 solúvel), que é disponível para as plantas (RAIJ, 1991), e se torna muito importante em solos intemperizados de cerrado, normalmente com nível crítico deste elemento (<18ppm) para as plantas acumuladoras deste elemento, como também o cálcio e o magnésio.

Em situações em que se faz uso do calcário, ou seja, em áreas cujo grau de declividade permitir, (devido a necessidade de sua incorporação) procede-se a sua aplicação no início das chuvas, seguida de incorporação, a uma profundidade de 20 a 30cm, de preferência com arado tipo aiveca. Após a aração, recomenda-se proceder a uma gradagem de nivelamento, logo antes do plantio.

O silicato da cálcio e magnésio, por apresentar comportamento semelhante ao dos carbonatos, pode substituir os calcários. Assim sendo, a dose de silicato a ser aplicada nos solos, deve ser baseada em qualquer dos métodos de recomendação de calagem (Alumínio, Saturação por bases, Ca +Mg, etc.). A forma de aplicação é a mesma do calcário sem ser necessário contudo, a sua incorporação, e apresenta efeito residual longo (5 anos), (KONDORFER et al, 2004).

O uso do silício, segundo Kondorfer et al (2004), traz os seguintes benefícios ao solo:

corrige a acidez (aumenta o pH); reduz o efeito do Al+++ trocável; aumenta os teores de Ca e Mg; aumenta ainda mais a disponibilidade de fósforo e microelementos, pelo fato do Si fornecido ao solo competir para fixação destes, liberando-os para a planta; reduz o efeito tóxico do Fe, Mn e Alumínio; aumenta a saturação por bases; e aumenta o teor de Si solúvel no solo.

Ainda, confere a planta maior tolerância as pragas (sugadores e mastigadores) e doenças (principalmente fungos) devida a maior resistência da parede celular pela presença de sílica amorfa nesta, maior resistência ao acamamento e ainda maior taxa fotossintética devida a melhoria da arquitetura foliar pela presença de maior quantidade de silício nos tecidos de sustentação/suporte do caule e das folhas.

De modo geral, os solos brasileiros apresentam níveis muito baixos em fósforo, com grande quantidade de fósforo na forma indisponível à planta, quando o pH é baixo. Em pH maior, esse fósforo torna-se disponível. Talvez esse seja o grande benefício de se fazer calagem em solos de cerrado. O malefício que uma calagem pode trazer ao solo é o de reduzir a disponibilidade de micronutrientes, podendo levar a planta a alguma deficiência (cobre, zinco, manganês ou boro).

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2.3.2. PRNT dos corretivos

Para o cálculo da quantidade de corretivo deve-se conhecer algumas características do corretivo usado. Uma delas é o poder relativo de neutralização total (PRNT). O PRNT tem haver com a percentagem de CaO e MgO e a granulometria do corretivo. Para se conhecer o PRNT é necessário também conhecer a reatividade (RE) e o teor de neutralizantes. A reatividade varia de zero a 100% e está em função do número da peneira (granulometria) que o classificou. Por exemplo, um corretivo retido na peneira ABNT nº 10 (partículas >2mm), sua RE é zero. Passando na peneira ABNT nº 20 (partículas entre 0,84 -2,0mm) e sendo retido na peneira ABNT nº 50 (partículas entre 0,30 - 0,84mm) sua RE é de 60%. Se todo o corretivo passar na peneira ABNT nº 50 (partículas menores que 0,30mm) a RE é de 100%.

O teor de neutralizantes é obtido do poder de neutralização (PN) e ele é expresso em equivalente de carbonato de cálcio, de acordo com a legislação vigente. Portanto, o PRNT é determinado pela seguinte expressão:

PRNT = PN x RE/100.

Tomando como exemplo um corretivo com 38% de CaO e 10% de MgO o seu PN será de 93%. Para se determinar este valor toma-se primeiramente os pesos atômicos dos elementos: (Ca = 40,08), (O = 16), (C = 12,01) e (Mg = 24,32).

Em relação ao [CaO] - Peso atômico do óxido = 56,08. Em relação ao [MgO] - Peso atômico do óxido = 40,32.

Como o PN é expresso em equivalente de CaCO3 tem-se: Em relação ao [CaCO3] - Peso atômico sal = 100,09. O PN para o CaO será: 100,09/56,08 = 1,784, relação entre sal e óxido.

Se tem 38% de CaO no corretivo tem-se: 1,784 x 38 = 67,79%.

Consequentemente o PN para o MgO será: 100,09/40,32 = 2,482 relação entre sal e óxido. Se tem 10% de MgO no corretivo tem-se: 2,482 x 10 = 24,82.

Portanto o PN é de 67,79 + 24,82 = 92,61%, por arredondamento tem-se; PN = 93%. A sua RE será de 65,60% considerando que cerca de 26% do corretivo passou entre a peneira 20 e 50 (60 x 26 = 15,6) e 50% passou na peneira ABNT nº 50. Portanto a sua RE será de (60 x 26% = 15,6) + (50 x 100% = 50) = 65,60 e consequentemente o PRNT = PN x RE/100, será de 93% x 65,60% = 61,00.

Os poderes neutralizantes da acidez (PN) para o calcário é de 67%, para a cal virgem é de 125%, para cal hidratada é de 94% e para os silicatos de Ca e Mg (escórias de alto forno) é de aproximadamente 65%.

2.3.3 Método de correção da acidez.

a. Saturação por bases

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Quadro 2 - Interpretação de análise de solos pelos índices de saturação.

Atributos Interpretação de Análise de Solos - Saturação

Muito Baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

Por Bases V < 20 21 - 40 41 - 60 61 - 80 > 80

Por Alumínio < 15 16 - 30 31 - 50 51 -75 > 75

pH em água < 4,5 4,5 - 5,4 5,5 - 6,0 6,1 - 7,0 > 7,0

pH em CaCl2 < 4,3 4,4 - 5,0 5,1 - 5,5 5,6 - 6,0 > 6,0 Neste método considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V). Quando se quer, com a correção, alcançar definido valor de saturação por bases, pretende-se corrigir a acidez do solo até definido pH, considerado adequado a certa cultura. Para este método deve-se conhecer os valores de Ca, Mg, e K trocáveis e, em alguns casos, de Na trocável, além da acidez potencial (H + Al). Para se calcular a necessidade do corretivo a ser usada, vale-se da fórmula:

NC = T (V2 - V1)/100 x PRNT através do método de saturação de bases.

Em que: T = capacidade de troca de cátions do solo a pH 7. Obtém-se o T somando os valores de Ca + Mg + K + H + Al/100cm³, obtidos na análise do solo. Como na fórmula anterior de capacidade de troca de cátions (T) todos os valores são representados com meq/100cm³, há necessidade de transformação do K, portanto:

T = 1,5 + 0,6 + 0,127 ?+ 5,0 + 0,51 T = 7,73 meq/100cm³

Nota-se que o teor de K (Quadro 1) é expresso em mg/dm³ ou ppm é necessário transforma-lo em meq/100cm³ de solo: 1 meq = 50 / 390,9 = 0,127 ? (peso atômico do K = 39,09).

Ainda: V2 = percentagem de saturação de bases desejada (obtida por dados de pesquisa para pastagem). Variam em pastagem de 60 para as leguminosas mais exigentes a 40 para as de menor grau. Para gramíneas variam de 50 a 40, segundo seus graus de exigências. V1 = percentagem de saturação de bases do solo.

V1 = 100 x SB/T, em que SB = Ca + Mg + K meq/100cm³ = 2,26 V1 = 100 x 2,26/7,73 = 29,63 Portanto: T = 7,73, V2 = 60,00, V1 = 29,63

Necessidade do corretivo (NC) = T (V2 - V1)/100 = 7,73 (60,0 - 29,63)/100

NC = 2,31t/ha de calcário dolomítico por hectare com PRNT = 100%.

b. Neutralização do Al 3+ e da elevação dos teores de Ca2++ Mg2+

A necessidade de corretivo para uma camada de 0 - 20cm de solo é assim calculada:

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NC = Y x Al + [X - (Ca + Mg)] = t por hectare com PRNT de 100%.

O valor Y varia em função da textura do solo (Quadro 3).

Quadro 3 - Valores de Y baseados na textura do solo.

Classisicação do Solo Argila % Valores de Y

Arenoso 0 a 15 0,0 a 1,0

Textura Média 15 a 35 1,0 a 2,0

Argiloso 35 a 60 2,0 a 3,0

Muito Argiloso 60 a 100 3,0 a 4,0 Aproximadamente, o valor X varia de acordo com a cultura: valor 1 - para eucalípto, valor 2 - para maioria das culturas e pastagens, valor 3 - para cafeeiro. Detalhando para as forrageiras tem-se:

Valores de X que variam de 2,5 a 1 para as leguminosas mais exigentes e as menos exigentes. Valores de X de 2 a 1,5 para as gramíneas mais e menos exigentes.

Portanto, para uma pastagem de uma gleba da Fazenda Paraíso (Quadro 1):

NC = 3 x 0,51 + [2,5 - 1,1] NC = 1,53 + 1,40 NC = 2,93/ha de corretivo.

2.3.4 Escolha do corretivo (CFSEMG, 1999).

A necessidade calculada (NC) de corretivo com os critérios ou métodos anteriormente apresentados indica a quantidade de CaCO3 ou de calcário PRNT = 100% a ser incorporado por hectare, na camada de 0 a 20cm de profundidade. Portanto, indica a quantidade de corretivo teórica. Na realidade, a determinação da quantidade de corretivo a ser usada por área deve levar em consideração os seguintes critérios:

A percentagem da superfície do terreno a ser coberta na correção (SC, em %). A que profundidade será incorporado o corretivo (PF, em %). O poder relativo de neutralização total do corretivo a usado (PRNT, em %).

Portanto, a quantidade de corretivo a ser usado será (QC, em t/ha):

SC em pastagem é 100 por ser aplicado em toda a superfície do solo.

PF em pastagem a profundidade de aplicação é de 0 a 20cm

QC = NC x SC/100 x PF/20 x 100/PRNT = 2,93 x 1 x 1 x 100/90 = 3,257t/ha.

O corretivo é comercializado com base no peso do material, portanto a escolha do corretivo deve levar em consideração também o uso de critérios técnicos (qualidade

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do corretivo) e econômicos, procurando maximizar os benefícios e minimizar os custos.

Preço por tonelada efetiva = Preço por tonelada na propriedade/PRNT

Em relação a qualidade do corretivo deve levar em conta o poder de neutralização (PN) que está em função de sua natureza geológica, sua granulometria e o teor de nutrientes, especialmente de cálcio e de magnésio. O PN avalia o teor de materiais neutralizantes do corretivo, ou seja, a capacidade de reação dos ânions presentes. Considera-se o CaCO3 como padrão igual a 100%. Determina-se o PN por neutralização direta com ácido clorídrico, sendo expresso em %.

2.3.5 Época e modo de aplicação do corretivo (CFSEMG, 1999)

O calcário por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, ele deve ser aplicado 2 a 3 meses antes do plantio, para que as reações esperadas se processem. Não havendo umidade suficiente no solo não haverá reações com o solo. Os silicatos de cálcio e magnésio oriundos de fornos de fabricação de aço especial, podem ser usados logo antes do plantio por apresentarem reação alta, mas requerem também umidade no solo. O calcário deve ser distribuído uniformemente sobre a superfície do solo, manualmente ou por meio de máquinas próprias e incorporado com arado ou grade até uma profundidade de 15 ou 20cm. Em relação aos silicatos basta apenas uma gradagem para sua incorporação. A análise do solo, 3 ou 4 anos depois da sua correção, pode indicar sobre a necessidade ou não de nova aplicação de corretivo de acidez.

Imbuído no sentido de diminuir o custo da correção da acidez (quantidade de corretivo e modo de aplicação) muitos agricultores tem usado o corretivo no sulco de plantio, prática denominada de "Filler". Para fornecer os nutrientes cálcio e magnésio em solos deficitários nestes elementos, pode-se usar o "Filler". Há contudo, trabalhos de pesquisa mostrando a ineficiência deste método, pelo risco de desenvolvimento do sistema radicular localizado, podendo ocasionar tombamento da planta e maior estres "déficit" hídrico.

Cuidado especial deve ser tomado em relação á aplicação de excesso de corretivo. A super-calagem pode causar a precipitação de vários nutrientes do solo, como o fósforo, zinco, cobre, manganês e ferro, além de causar danos as propriedades físicas do solo. O fato mais comum que causa super calagem é aplicar o corretivo na camada de 0 a 10cm de profundidade, levando a duplicação da quantidade de corretivo calculada. Caso muito comum é usar 500g de corretivo por cova (40 x 40 x 40cm = 64dm²), significando uma dose 3,125 vezes maior do que a indicada, que é de 5t/ha ou seja de 160g/cova.

2.4 ADUBAÇÃO DE CORREÇÃO OU DE FORMAÇÃO

2.4.1. Macro nutrientes

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Cálculo das adubações corretivas ou de formação para o fósforo e o potássio antes de se proceder a implantação da pastagem.

Em relação ao fósforo, o tipo de solo (textura e pH) vai afetar o equilíbrio de fósforo, conforme o seguinte esquema:

P - não lábil ? P - lábil ? P - solução ? P - planta

O P - não lábil representa as formas de fósforo precipitados (solos ricos em Al e Fe) ou absorvidos no solo com elevada energia (caso de solo argiloso). O P-lábil é representado por alguma forma que está em equilíbrio com o P-solução, podendo, assim, repor para a solução os íons fosfatos (HPO³¯ ou HPO4 à medida que estes são absorvidos pela planta. Portanto, de acordo com o tipo de solo, tem-se a disponibilidade e a quantidade de fósforo recomendada (Quadro 4).

Quadro 4 - Classes de interpretação da disponibilidade e das quantidades a ser aplicadas de fósforo de acordo com teor de argila do solo. (CFSEMG,1999) (Análise feita em uma camada de 20cm de solo e extraído pelo método MEHLICH-1).

% de Argila no solo

Níveis críticos de Fósforo disponível em mg/dm³ = ppm

Quantidade de Fósforo para os níveis críticos (kg/ha de P2O5)

60 -100% 2,8 - 5,4 baixo

8,1- 12,0 bom

120 50

35 - 60% 4,1 - 8,0 baixo

12,1- 18,0 bom

110 40

15 - 35% 6,7- 12,0 baixo

20,1- 30,0 bom

90 30

0 - 15% 10,1- 20,0 baixo

30,1- 45,0 bom

70 20

Reportando ao Quadro 4, solos com textura média (40% argila) mas que apresentam em sua subsuperfície (0-20cm) níveis de P2O5 disponível que variam de 4,1 a 8,0, necessitam cerca de 110kg de P2O5 para corrigir este nível baixo. Em relação ao solo arenoso, os níveis críticos são maiores, porque este tipo de solo não tem poder de retê-lo e, posteriormente, fornecê-lo gradativamente para a solução do solo.

Como princípio geral de fertilização com fosfatos, a colocação do fertilizante sempre deve ser feita próxima á semente, como não deve ser diferente das outras culturas, mas também de acordo com a capacidade tampão do solo, ou seja, a quantidade de argila presente neste solo. Portanto, de acordo com a quantidade de P remanescente (P-rem, mg/L), que é uma função do poder tampão do solo, deve-se proceder a correção da quantidade de fósforo a ser aplicada pelos fatores correspondentes (Quadro 5).

Quadro 5 - Fatores usados para correção da quantidade de fósforo a ser aplicada. (CFSEMG,1999)

Premanescente - mg/L

0 a 4

4,1 a 10

11a 19

19,1 a 30

31 a 44

45 a 60

Page 94: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Fator 1,3 1,15 1 0,85 0,7 0,6

Reportando ao Quadro 4, a quantidade de P-rem é da ordem de 4, necessitando usar o fator 1,3 para se determinar a quantidade de fósforo recomendada. Portanto, a quantidade é de cerca de 140kg/ha de P2O5.

Algumas fontes de fósforo disponíveis no mercado brasileiro são apresentados no Quadro 6.

Quadro 6 - Fertilizantes fosfatados, garantias mínimas e especificações.

FertilizanteGarantia Mínima

Forma do Nutriente

Escória de Thomas 12% P2O5P2O5 sol. em ácido cítrico

Fosfato bicalcico 38% P2O5P2O5 sol. em CNA + H2O

Fosfato monoamônico (MAP)

48% de P2O5P2O5 sol. em CNA + H2O

44% de P2O5 P2O5 sol em H2O

9% de N N na forma de NH4

+

Fosfato diamônico(DAP)

45% de P2O5P2O5 sol. em CNA + H2O

38% de P2O5 P2O5 sol. em H2O

% de N N na forma de NH4+

Fosfato natural 24% de P2O5 P2O5 Total

4% de P2O5 P2O5 sol em H2O

Fosfato natural parcialmente acidulado

25% de P2O5 P2O5 Total

18% de P2O5P2O5 sol. em CNA + H2O

Super-fosfato simples 18% de P2O5

P2O5 sol. em CNA + H2O

16% de P2O5 P2O5 sol. em H2O

Super-fosfato triplo 41% de P2O5

P2O5 sol. em CNA + H2O

37% de P2O5P 2 O 5 sol. em H2O

Termofosfato magnesiano 17% de P2O5 P2O5 Total

14% de P2O5P2O5 sol. em acido cítrico

Hiperfosfato 28% de P2O5 P2O5 Total

12% de P2O5P2O5 sol. em acido cítrico

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Quanto ao potássio, este não apresenta problema em relação ao tipo de solo, como o fósforo. Contudo, solos ácidos são pobres em potássio disponível, por causa da excessiva lixiviação que pode ocorrer. A adubação com potássio deve ser feita em cobertura, quando a forrageira cobrir 60 a 70% do solo, visando melhor aproveitamento do fertilizante. Os níveis críticos de K e a quantidade recomendada como corretivo são apresentados no Quadro 7.

Quadro 7 - Classes de interpretação da disponibilidade para o Potássio (CFSEMG,1999), (Análise feita nas amostras de solo na camada de 0,20cm de solo).

Nível Crítico de Potássio Disponível 1 no Solo mg/dm³ ou ppm

Quantidade Corretiva Recomendakg/ha de K2O

< 15 - muito baixo 200

16 - 40 - baixo 150

41 - 70 - médio 100

71 - 120 - bom 50

> 120 - muito bom 0

1 Método Mehlich-1

Portanto, são necessários 100kg de K2O por hectare, para corrigir o nível de potássio encontrado na análise (Quadro 1).

Algumas fontes de potássio, disponíveis mercado brasileiro são apresentadas no Quadro 8.

Quadro 8 - Fertilizantes potássicos, garantias mínimas.

FertilizanteGarantia Mínima

Forma do Nutriente

Observações

Cloreto de potássio

58% K2OK2O sol. em água

45 a 48% de Cl

Sulfato de potássio

48% K2OK2O sol. em água

15 a 17% de S e 1,2% Mg

Sulfato de potássio e Magnésio

18%de K2OK2O sol. em água

23% de S e 4,5% Mg

Nitrato de potássio

44% de K2O

K2O sol. em água

13% de N, forma Nítrica

Referindo-se ao nitrogênio, a solubilidade dos sais de N é alta em toda faixa de pH. Contudo, a mineralização do N é maior em pH de 6 a 8, por causa da presença favorável dos microorganismos no solo. Em relação à quantidade de N recomendada, esta difere de fósforo e potássio, devido ao seu comportamento no solo. Portanto, o nitrogênio é aplicado parceladamente e anualmente, e não depende da análise do solo. Atenção deve ser dada à aplicação de N, no que se refere a acidez do solo. Verificar regularmente este aspecto. Trabalhos de pesquisa mostram a ineficiência do fósforo e do potássio em solos pobres em matéria orgânica e consequentemente limitante em nitrogênio, principalmente em áreas com

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pastagem degradada. Existe uma grande interação entre fósforo e potássio com o nitrogênio nestas condições de solo.

Após as aplicações de corretivo e de fósforo e potássio (corretivos) recomenda-se a aplicação de N em cobertura, parcelado em 2 a 4 vezes no período de primavera com pequena intensidade (20-30% após primeira chuva), de verão com maior intensidade (60-70%) e de outono com baixa intensidade (10-20%), nas seguintes quantidades por aplicação: médias produções de forragem usar de 50 a 70kg de N/ha, para altas de 71 a 150kg de N/ha e ainda para produções mais elevadas de 151 a 200kg de N/ha. Sempre aplicar a lanço e em cobertura quando o solo estiver coberto com forragem (60 a 70%). Dar preferencia ao sulfato de amônio, para evitar perdas de nitrogênio. Usar uréia em condições de boa cobertura vegetal, com bom nível de umidade no solo e sem sol pleno e dias não muito quentes.

As fontes de nitrogênio disponíveis no mercado brasileiro são apresentadas no Quadro 9.

Quadro 9 - Alguns fertilizantes nitrogenados, garantias mínimas.

FertilizanteGarantia Mínima

Formas do Nutriente Observaões

Amônia anidra

82% de N Amoniacal - NH4+

Nitrato de amônio

32% de N 50% Amoniacal e 50% nítrica - NO3

-

Nitrato de cálcio

14% de N Nítrica (NO3

-) e 1,5% Amoniacal

18% de Ca

Sulfato de amônio

20% de N Amoniacal - NH4+ 23% de S

Uréia 44% de N Amídica (NH2)

Quanto ao cálcio e magnésio, eles se encontram em formas disponíveis em pH acima de 5. Solos muito ácidos são pobres nestes elementos (Quadro 10). De modo geral, quando se faz a correção da acidez com calcário ou silicato, as quantidades exigidas em cálcio e magnésio são alcançadas.

O potássio concorre com o magnésio no sítio de absorção pela planta. Adubações com potássio reduzem o teor de magnésio na planta. Níveis maiores de magnésio no solo reduzem, por outro lado, o teor de proteína na planta, por afetar a sua síntese. Níveis deficientes de magnésio na planta causam a tetania das pastagem. Os íons de potássio, de amônio reduzem a absorção do íon de magnésio. Portanto, tem-se uma interação entre elementos em suas absorções (ROBINSON, 1989). Contudo, se for necessário adicionar mais cálcio e magnésio ao solo, a forma mais simplificada para se determinar a quantidade de Ca + Mg é baseada no nível crítico deles, que é expresso em cmol c/dm³.

Quadro 10 - Classes de interpretação de fertilidade do solo para o complexo de troca catiônica (CFSEMG,1999) (Amostra de uma camada de solo de 20cm).

Características UnidadeClassificação

Baixo Médio Bom

Page 97: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Cálcio Trocável cmolc/dm³

0,41 - 1,20

1,21 - 2,40

2,41 - 4,00

Magnésio Trocável

0,16 - 0,45

0,46 - 0,90

0,91 - 1,50

As fontes de cálcio e magnésio mais comuns são os calcários e os silicatos de cálcio e magnésio. Portanto, para calcular a quantidade de calcário ou de silicato para se adicionar ao solo, com o fim de fornecer cálcio e magnésio, vale-se da fórmula: Q de corretivo de Ca + Mg = 2 [ - ] cmol c /dm³ Ca + Mg = t de calcário ou silicato de cálcio e magnésio (PRNT = 100%) por hectare.

Tomando o solo da Fazenda Paraíso (Quadro 1) como exemplo, procede-se da seguinte forma para se calcular a quantidade de Ca e Mg para este solo:

Ca = 1,51 cmol c/dcm³ e Mg = 0,60 cmol c/dm³ de solo.

Aplicando a fórmula tem-se: Q.C.= 2 [ - ]cmol c/dm³ de Ca + cmol c/dm³ de Mg = t de corretivo. Q.C. = 2 - 1,51 + 0,60 = zero como corretivo de cálcio e magnésio. Portanto não é necessária a correção de Ca e Mg neste solo.

Em relação ao enxofre baseado em fósforo remanescente, pode variar de muito baixo a muito bom. Em solo com 15mg/L de P-remanescente, o enxofre disponível deve estar em torno de 6,0mg/dm³ 6ppm, o que é considerado nível médio no solo. O enxofre é o último macronutriente colocado em escala de importância para a adubação de pastagem. Normalmente, o enxofre contido nos superfosfatos e sulfatos pode ser o suficiente para pastagem, se o solo não for muito deficiente. O gesso (sulfato de cálcio, 16% de Ca e 13% de S) é muito usado para eliminar o Al trocável, fornecer Ca às subsuperfícies mais profundas (>20cm) e fornecer quantidade apreciável de S ao solo.

As fontes de cálcio, magnésio e enxofre disponíveis no mercado brasileiro são apresentadas no Quadro 11.

Quadro 11 - Fertilizantes com macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e enxofre), garantias mínimas.

FertilizanteGarantia Mínima

Formas do Nutriente

Observações

Carbonato de magnésio

27% Mg MgCO3 -

Cloreto de cálcio 24% de Ca CaCl 2 . 2H2O -

Enxofre 95% de S Enxofre total -

Óxido de magnésio

55% de Mg Na forma de MgO

-

Sulfato de cálcio(gesso)

16% de Ca Forma elementar

14% de S

Sulfato de magnésio

9% de Mg Solúvel em água

13% de S

Page 98: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Plantas deficientes em enxofre apresentam níveis elevados de nitrogênio solúvel (amidas, amino ácidos solúveis, asparagina, arginina, glutamina), nitrato e baixos níveis de nitrogênio protéico, pois o enxofre faz parte de amino ácidos essenciais (metionina e cisteina), (BALSALOBRE, 2004).

2.4.2 Micronutrientes

Para interpretar a disponibilidade de micronutrientes (Zn, B, Cu, Fe, Mo, Co e Mn), tem-se poucas informações, mesmo sendo freqüente a deficiência de Zn e/ou B em várias regiões brasileiras. Contudo tem-se algumas referências de níveis muito baixo, baixo, crítico e bom de certos micronutrientes no solo (Quadro 12).

Quadro 12 - Classes de interpretação da disponibilidade para os micronutrientes (CFSEMG,1999). Amostra obtida no perfil de 0 a 20cm do solo.

MicronutrienteClassificação e Unidade mg/dm³ = ppm

Muito baixo Baixo Crítico Bom

Zn disponível (Zn) 3 <= 2,0 2,0 - 4,0 4,0 >4,0

B disponível (B) 1 <= 0,5 0,5 - 1,0 1,0 >1,0

Cu disponível (Cu) 3 <= 0,30 0,30 - 0,60 0,6 > 0,6

Fe disponível (Fe) 3 <= 20 20 - 30 30 >30

Mo disponível (Mo) 4 < 0,10 0,10 - 0,20 0,20 > 0,20

Co disponível (Co) 2 0,10 0,10 - 0,25 0,25 >0,25

Mn disponível(Mn) 3 <= 2,5 2,5 - 5,0 5,0 >5,0

1 Extração por água quente2 Acido acético3 Extração rotineira de Carolina do Norte4 Extração por oxalato de amônio

Quanto a correção do solo no que se refere aos micronutrientes (Zn, B, Cu, Fe, Mo, Co e Mn) principalmente, quando se trata de leguminosas, deve-se usar, de preferencia as fritas (oxi-silicatos) como o FTE (Frited trace elements). As formulações de micronutrientes são apresentadas no Quadro 13. Para forrageiras mais produtivas e para leguminosas recomenda-se 80kg/ha de FTE- BR.12 à época da correção do solo.

Quadro 13 - Formulações comerciais de micronutrientes mais comuns

ProdutosConcentração - %

Zn B Cu Fe Mn Mo Cu

FTE-BR.8 7 2,5 1 5 10 0,1 -

FTE-BR.9 6 2 0,8 6 3 0,1 -

FTE-R.10 7 2,5 1 4 4 0,1 0,1

FTE-BR.12 9 1,8 0,8 3 2 0,1 -

BR.EXTRA 15 2,5 1 3 3 0,1 -

FTE-BR.13 7 1,5 2 2 2 0,1 -

FTE-BR.15 8 2,8 0,8 - - 0,1 -

Page 99: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

FTE-BR.16 3,5 1,5 3,5 - - 0,1 -

FTE-BR24 18 3,6 1,6 6 4 0,2 -

MICRONUTRI-121

12 1 - - - 0,6 0,15

MICRONUTRI-155

15 5 - - 6%de Mg

- -

MICRONUTRI-301

30 1 1 - - - -

ZINCOP 101 10 2 10 - - - -

ZINCOP 210 20 - 10 5 - - -

NUTRIZINCO I 30 - - 2 - - -

NUTRIZINCO II 20 - - - - - 6% de S

As fontes de micronutrientes (B, Cu, Mo, Zn, Co, Fe, Mn) disponíveis no mercado brasileiro são apresentadas no Quadro 14.

Quadro 14 - Fertilizantes contendo micronutrientes, garantias mínimas.

FertilizanteGarantia Mínima

FORMAS DO NUTRIENTE

OBSERVAÇÕES

Bórax 11%B Borato de sódio(Na2 B4

O7 .10H2O) Solúvel em água

Ácido bórico 17% B Ácido (H3 BO3 ) Solúvel em água

Sulfato de cobre

13% Cu Sulfato Sol. em água - 17% de S

Fosfato cúprico

32% Cu Fosfato de amônio e cobre

5% de P2 O5 sol. em CNA

Óxido cúprico

75% Cu Óxido ( Cu O) 13% de S

Molibdato de sódio

39% Mo Na2MoO4.2H2O Sol. em água

Sulfato de zinco

20% Zn ZnSO4 .7H2OSol. em água - 17% S

Óxido de zinco

75% Zn Zinco total (ZnO) Não solúvel em água

Cloreto de cobalto

34% Co Co Cl 2 .2H2O Solúvel em água

Óxido de cobalto

75% Co Cobalto total (CoO)

Não solúvel em água

Sulfato ferroso

19% Fe FeSO4 .7H2OSol. em água-10% S

Sulfato manganoso

26% Mn MnSO4 .3H2OSol. Em água-15%S

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3. RENOVAÇÃO E MANUTENÇÃO DE PASTAGEM

Por definição, renovação de pastagem se refere a técnica ou conjunto de técnicas que se aplicam a uma pastagem cultivada em certo estado de degradação. Esta degradação está associada a um ou vários fatores determinantes. Os principais fatores são: manejo inadequado, invasão de plantas indesejáveis, falta de adaptação da espécie, baixa fertilidade do solo e incompatibilidade entre as espécies associadas.

Grande parte da área de pastagem se encontra em algum estádio de degradação. Nos cerrados, por exemplo, é estimado que 80% dos 50 milhões de hectares apresentam sinais de degradação (KITCHEL, 1997). Pode haver situações em que o estado de degradação da pastagem está caracterizado por apresentar apenas redução na produção de forragem, o que pode ser ajustado pela adubação corretiva do solo. Um dos problemas nesta prática é definir os nutrientes limitantes para sua consecução. Assim sendo, estudou-se (TOWNSEND et al, 2001) (Figura 1) em uma pastagem de Brachiaria brizantha, com 8 anos de uso, os efeitos de uma adubação completa com 120kg de N, 100kg de P2O5, 100kg de K2O, 50kg de S, 30kg de FTE-BR 12 e 2t/ha de calcário dolomítico, acompanhada do uso de um elemento faltante (diagnose por subtração). Os tratamentos estudados foram adubação completa (T1), completa menos nitrogênio (T2), completa menos fósforo (T3), completa menos potássio (T4), completa menos enxofre (T5), completa menos calagem (T6), completa menos microelementos (T7) e controle. Pode-se notar que o elemento faltante, neste Latossolo, mais importante foi o potássio (1348kg), seguido pelo nitrogênio (1411kgMS/ha) (Figura 1). A maior produção de forragem foi 2574 no tratamento com adubação completa e a menor foi 1185kg/ha de MS no tratamento controle.

A renovação de pastagem pode consistir, como foi citado, de somente adubação de manutenção, até preparo completo do solo consistido por destoca, aração, gradagem e plantio da forrageira, dependendo do nível de degradação da pastagem. Esta degradação segundo seu nível pode ser não muito intensa, caracterizada pela redução na produtividade de forragem (qualidade e quantidade), de média intensidade, mostrada pela menor área coberta por vegetação com pequeno número de plantas invasoras e alta intensidade, revelada pela presença de alto número de plantas invasoras e surgimento de processos erosivos.

Convém salientar que na renovação de pastagem, quando for necessário o preparo do solo, todas as recomendações conservacionistas de solo devem ser adequadas.

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3.1 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO

Com relação à adubação de pastagens formadas, adubação de manutenção, tem-se que considerar as seguintes características peculiares:

obtém-se maior rendimento em carne e leite por hectare; melhor valor nutritivo da forragem; alteração na composição botânica; maior sustentabilidade.

A primeira característica está relacionada com o número de animais por hectare e com a produção animal. O número de animais por unidade de área está correlacionado com a disponibilidade de forragem no período considerado, enquanto o desempenho do animal depende da composição bromatológica, da digestibilidade, da taxa de consumo do pasto, etc. A segunda está vinculada composição botânica da pastagem (presença de leguminosas) e a quantidade de fertilizante aplicada. Para se conseguir uma alteração no valor nutritivo da forragem com fertilizações elevadas, esta prática é inviabilizada pelo aspecto financeiro.

A alteração na composição botânica de uma pastagem é o resultado principalmente da competição entre plantas, tem-se também a interação de vários fatores relacionados ao manejo. Como um exemplo, as leguminosas que tem um sistema radicular menos efetivo do que as gramíneas, respondem mais eficientemente a uma adubação fosfatada, nas condições dos solos brasileiros, do que as gramíneas. Por outro lado, uma adubação nitrogenada favorece as gramíneas. Em relação a sustentabilidade da pastagem esta está relacionada a várias ações antróficas, sendo o nível de fertilidade do solo o preponderante.

As recomendações de correção da acidez e da adubação para a manutenção, ou seja, pós estabelecimento, devem ser baseadas na análise de solo de amostras coletadas nos 10cm superficiais. No cálculo da calagem é importante levar em consideração uma profundidade efetiva de incorporação natural de até 5cm. Para incorporação ás camadas mais profundas, quando detectado acidez ou deficiência de cálcio nestas camadas, deve-se associar a aplicação de silicato de cálcio e magnésio, e de gesso a estas áreas com pastagens.

Verifica-se pelo Quadro 15 que o fósforo de manutenção pode ser fornecido ao solo em função da quantidade de argila ou do fósforo remanescente.

Quadro 15 - Recomendação de adubação fosfatada para a manutenção de pastagens, considerando a disponibilidade de fósforo de acordo com a textura do solo ou valor do fósforo remanescente (P-rem).

ARGILA %

P-rem 1

mg/L

DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO 1 - mg/dm³

Baixa Média Boa

kg/ha de P2O5

< 60 < 9 60 40 0

35-60 09-19 50 30 0

15-35 19-33 40 20 0

<15 >33 30 15 0

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1 P-rem = Fósforo remanescente2 Método Mehlich - 1.

Em pastagens já formadas é aconselhável aplicar o fósforo em cobertura embora o seu aproveitamento esteja em função da textura (da ordem de 15%, em solos argilosos). Portanto, seria aconselhável usar doses maiores de fósforo como corretivo (plantio) e renovar a pastagem de 5 em 5 anos. Esta renovação far-se-ia mediante o uso do corretivo de acidez e de fertilizantes, segundo a análise do solo. Esta operação deve ser feita em novembro, quando o regime chuvoso estiver estabelecido. Em se tratando de forrageiras que multiplicam por sementes, proceder a um ré-semeio quando o "stand" estiver precário. Caso esta situação não ocorra, não deve haver preocupação com a recuperação do relvado. O mesmo deve ser levado em consideração quando a forrageira se multiplica vegetativamente.

O ponto importante a ser considerado neste contexto é que a incorporação do fósforo nas camadas sub-superficiais do solo. Isto porque o fósforo e o cálcio, este na forma de CaCO3

(calcário), não descem da camada superficial para as camadas sub superficiais. Exceção feita ao cálcio na forma Ca(S04)2, (gesso) ou na forma de Silicato. Não havendo descida do fósforo e do cálcio para as camadas sub superficiais, ter-se-á um crescimento direcionado das raízes das plantas forrageiras, para a camada superficial do solo. Como conseqüência, não haverá crescimento radicular irregular no perfil deste solo e estas plantas estarão sujeitas a manifestarem ressecamento da parte aérea, até a pequenos "déficit" hídricos.

Em relação ao nitrogênio, deveria aplicar 4 vezes a quantidade de fósforo recomendada (Quadro 14), ou seja, variação de 60 a 240kg de N/ano, independente da análise do solo. Entretanto, muito pouco se sabe sobre sua recuperação, podendo ser esta quantidade ser diferente da real. Outro aspecto a respeito da adubação de manutenção com nitrogênio diz respeito à sua economicidade. Portanto, a sua viabilização está em função do tempo e do espaço. O tempo conjuntural é que determina o preço da carne, do leite, do adubo, etc. O espaço o viabiliza, à medida que se encontra próximo a grandes centros urbanos, onde se pratica uma agricultura mais intensiva.

Quanto ao potássio de manutenção (Quadro 16) este é fornecido ao solo, em função da análise do solo. Isso porque ele é reciclado em grande intensidade, ou seja, do total extraído mediante pastejo, 99% é devolvido ao solo. Isto se prende ao fato do potássio não ser um elemento

Quadro 16 - Quantidades e freqüências de aplicação de potássio, enxofre e nitrogênio a serem usadas nas adubações de manutenção (CFCEMG, 1999).

Elementos e Quantidades no Solo

Freqüência Quantidade (Kg/ha)

K < 60 *mg/dm³ - 40 - K2O

K = 60 - 80*mg/dm³ - 20 - K2O

K > 80*mg/dm³ - -

N* anual 60 -240 - N

S** trianual 20 - S

* Independente da análise do solo.** Depende da análise do solo que faz parte de estruturas, ou seja,

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não é um elemento estrutural. Contudo, é questionável a reciclagem de nutrientes no ecossistema de uma pastagem. Entretanto, se sabe que doses mais elevadas de nitrogênio requerem doses mais elevadas de potássio e ainda correções da acidez do solo.

Por outro lado, alguns cuidados devem ser observados, quando se pratica uma adubação de manutenção. O primeiro deles seria o fracionamento das quantidades aplicadas, com objetivos de melhorar a recuperação do adubo aplicado e prevenir absorção de luxo. Contudo, com estas quantidades recomendadas, não é necessário este cuidado especial, exceto para o nitrogênio. Outro cuidado a ser tomado é permitir que o adubo entre em contato imediato com o solo, e isso se consegue com um pastejo intenso da área após aplicação do fertilizante

TRABALHOS COM MISTURAS MÚLTIPLAS ELABORADOS NO BRASIL * Fabiano Alvim Barbosa

Diversos são os trabalhos de PAULINO et al. (1999) mostrando a utilização de misturas múltiplas na suplementação de bovinos de corte, com consumo variando de 630 a 2.620g/cabeça/dia e o ganho médio diário de 132 a 429g/cabeça durante a época da seca. Os ganhos são dependentes da disponibilidade de matéria seca da pastagem e segundo EUCLIDES et al. (1998) a massa equivalente a 2,5t de MS/hectare no início do período seco faz-se necessária para que a suplementação propicie resultados satisfatórios. Além disto o ganho de peso também está em função do animal - raça, sexo, peso e idade -, a sanidade do animal e o clima - temperatura, umidade relativa, entre outros.

ZANETTI et al. (1997) realizou um experimento com animais Nelorex Caracu, com peso inicial de 207,3kg, em pastagens de Brachiaria decumbens com suplementação de 10,5kg de cana-de-açúcar/animal/dia e quatro tratamentos diferentes: sal mineral, sal mineral com uréia, proteinado e proteinado com uréia. Os animais que receberam somente sal mineral perderam 0,096g/dia, os com sal mineral e uréia ganharam 0,207kg/dia, os com proteinado 0,086kg/dia e os com proteinado com uréia 0,357kg. Os consumos médios diário foram 0,056, 0,135, 0,320, 0,650kg do sal mineral, sal mineral com uréia, proteinado, proteinado com uréia, respectivamente.

VILELA et al. (1983) trabalharam com novilhos azebuados com 350kg de peso vivo inicial, durante o período de seca em pastagens de capim colonião, e mostraram que os animais que receberam pasto e mistura mineral comum perderam 0,083kg por dia, os que receberam pasto e mistura mineral (50%) com uréia (50%) ganharam 0,350kg por dia e os que receberam pasto, mistura mineral (40%) com uréia (40%) e fubá de milho (20%) ganharam 0,593kg por dia. O consumo foi de 55, 70 e 100 gramas por cabeça por dia, respectivamente.

BERGAMASCHINE et al. (1998) trabalharam com novilhos da raça Guzerá, com aproximadamente 17 meses e 246kg de peso vivo, em pastagens de Brachiaria

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decumbens, Stapf, recebendo suplemento mineral múltiplo, de julho a setembro. Estes animais foram submetidos aos tratamentos: T1 - 1,2; T2 - 0,8 e T3 - 0,5UA/ha. O ganho de peso médio diário foi influenciado (p < 0,05) pela taxa de lotação. A lotação de 0,5UA, proporcionou maior ganho, 0,655kg e a lotação de 1,2UA, o menor, 0,503kg, enquanto que a lotação de 0,8UA, foi intermediária, 0,561kg/animal/dia. O ganho de peso dos animais variou com a disponibilidade média de matéria seca, que foi de 789, 1085 e 1856kg/100kg de peso vivo, para as cargas, 1,2, 0,8 e 0,5UA/ha, respectivamente. O consumo dos suplementos múltiplos foi de 0,775, 0,707, 0,777kg/cabeça/dia para as cargas de 1, 2, 0,8 e 0,5UA/ha, respectivamente.

PAZIANI et al. (1998) trabalharam no período de julho a outubro, com machos inteiros Nelore, com peso vivo médio inicial de 277,54kg, em pastagens de Brachiaria brizantha (Hochst. Ex. A. Rich) Stapf cv Marandu. O suplemento utilizado foi do tipo proteico-mineral, com 10,6MJ de energia metabolizável, 390g de PB e 169g de proteína degradável (por kg de produto), formulado à base de farinha de carne, glutenose 60, farelo de soja, levedura e sal mineralizado. O consumo médio foi de 1kg/animal/dia. Os animais do grupo controle tiveram um ganho médio diário de 0,226kg, enquanto os animais suplementados 0,376kg (qualidade superior) e 0,403kg (qualidade inferior) (p < 0,05).

BARBOSA et al. (1998) trabalharam no período de agosto a outubro, com machos inteiros Nelore, com peso vivo médio inicial de 400kg, em pastagens de Brachiaria brizantha (Hochst. Ex. A. Rich) Stapf cv Marandu, utilizando dois tipos de misturas múltiplas comerciais, conseguiram um ganho de peso diário de 121 e 59g e um consumo de 160 e 320g/cabeça/dia para a mistura múltipla 1 e mistura múltipla 2, respectivamente. Sendo que a mistura múltipla 1 proporcionou ganho de R$ 3,44/animal e a mistura múltipla 2 um prejuízo de R$ 7,33/animal, no período considerado.

LOPES et al. (1991) trabalhando, em Planaltina - DF, com novilhas Nelore suplementantadas com mistura mineral múltipla, no período da seca, em pastagens de Brachiaria brizantha, e avaliando o ganho de peso constatou que existe potencial, com vantagem econômica, no uso deste tipo de mistura em pecuária extensiva propiciando precocidade dos animais. O lote que recebeu mistura mineral comum teve um ganho de peso diário de 0,113kg/cabeça com consumo de 30g/cabeça/dia e o outro lote recebendo a mistura mineral múltipla ganhou 0,224kg/cabeça/dia com consumo de 265g/cabeça/dia.

TABELAS

Tabela 1 - Efeito da idade sobre os teores de matéria seca (MS), de proteína bruta (PB) e digestibilidade do capim colonião.

IDADE (DIAS)

MS (%)

PB (%)

DIGESTIBILIDADE (%)

MS CELULOSEMATÉRIA ORGÂNICA

28 15,00 12,30 50,30 61,90 57,60

Page 105: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

56 20,80 8,40 40,30 47,60 51,60

84 24,60 4,80 36,90 40,10 48,60

112 28,80 4,10 32,40 34,50 40,40

FONTE: Adaptado de EUCLIDES et al., 1993

Tabela 2 - Quantidade estimada de consumo de forragem Brachiaria sp. de acordo com a época do ano.

PESO VIVO (KG)

CONSUMO MATÉRIA SECA (KG)

CONSUMO DE MATÉRIA NATURAL (KG)

ÁGUAS SECAS ÁGUAS SECAS

300 8,34 6,12 27,80 20,40

400 11,12 8,16 37,07 27,20

500 13,90 10,20 46,33 34,00

FONTE: GOMIDE, 1982.

MODELOS DE PRODUÇÃO DE LEITE À PASTO PRODUÇÃO DE LEITE À PASTO(Equipe Técnica da Matsuda)

I. INTRODUÇÃO

O potencial dos sistemas de produção de leite a pasto no Brasil é inegável, tendo em vista que quase 80% do seu território está na faixa tropical com possibilidades de produção forrageira durante todo o ano. As forrageiras tropicais apresentam crescimento estacional marcante, com mais de 70% da produção de matéria seca realizada no período de primavera-verão. A pressão de pastejo deve variar ao longo do ano, procurando equilibrar a oferta e a demanda de nutrientes para o animal, e evitar períodos de super e subpastejos que comprometam a persistência e a qualidade da pastagem (ASSIS et al. 1997).

O rebanho bovino brasileiro possui uma produção da ordem de 20 bilhões de litros por ano, sendo 8,5% das vacas submetidas à ordenha. Estas vacas podem ser vacas de corte, de duplo propósito ou especializada. Cabe ressaltar que grande proporção de leite produzido é a pasto pois o concentrado somente é oferecido aos animais de produções superiores a 8l vaca/dia, como complemento da pastagem (ZIMMER e EUCLIDES FILHO, 1997).

Tabela 1 - Características básicas dos sistemas predominantes nas principais regiões produtoras de leite no mundo

Região Sistema Alimentação Custo Preço

Page 106: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

(U$/L) (U$/L)

Nova Zelândia e Sul Austrália

Pastejo intensivo (estacional)

Azevém adubado e trevo

10-14 15-19

Norte Austrália

Pastejo intensivo

Gram. Tropical adubada, forrag. Inverno, silagem,  concentrado (médio)

12-20 17-25

Argentina e Chile

Pastejo intensivo

Alfafa, feno, concentrado (baixo)

13-17 18-25

União Européia

Pastejo intensivo

Azevém, silagem, feno, concentrado (médio)

27-38 29-40

USA e Canadá

Confinamento Silagem, feno, concentrado (alto)

24-34 25-36

Brasil Pastejo extensivo

Gramínea tropical

10-15 15-20

Brasil Pastejo intensivo

Gram. Tropical adubada, silagem/cana, concentrado (médio)

18-22 23-28

Brasil Confinamento

Silagem de milho, feno, concentrado (alto)

35-38 38-40

FONTE : Assis, A.G. 1997

MODELOS PRODUÇÃO INTENSIVA A PASTO

Tabela 2 - Modelo brasileiro de produção intensiva a pasto

Instituição

VerãoTx. lotação

Adubação

Produção leite

Inverno

Esalq- USP

Capim Elefante1

7-10 vacas/ha

400kg N/ha/ano

20kg/vaca/dia2

Silagem, feno

CNPGL Capim Elefante3

6 vacas/ha

200kg N e K

12 a 13,3kg/vaca/dia4

Cana e uréia

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2O/ha/ano

1 - Pastejo de 1 dia e 45 dias de descanso;2 - Suplementação com concentrado 1kg:2,5kg leite;3 - Pastejo de 3 dias com 33 dias de descanso;4 - Até 12kg/leite/dia sem suplementação concentrada.Tabela 3 - Índices técnicos e econômicos de fazendas produtoras de leite, antes e após a adoção do pastejo de capim elefante

Indicador Antes Depois

Produção diária (litros/vaca) 5,8 7,0

Produção por lactação (litros/vaca) 1.746 2.090

Taxa de lotação (UA/ha) 0,82 2,00

Produção por hectare (litros/ano) 1.578 2.391

Concentrado (kg/UA/ano) 225 421

Custo total (R$/litro) > 0,23 0,18

Preço médio recebido (R$/litro) 0,20 0,19

Ponto de nivelamento (litros) 165.681 205.394

Produção obtida (litros/ano) 140.284 223.820

Fonte: EMATER-MG (Silvestre e Reis, 1994)

II. VACAS

A produção animal por área é o resultado do número de animais por área e do desempenho individual animal. Este desempenho por sua vez depende do potencial genético deste animal, da qualidade da dieta consumida e do consumo voluntário, sendo a qualidade da dieta e o consumo em função da pastagem e do animal. Portanto, desde que o potencial genético do animal não seja limitante o desempenho individual será em função das características da forragem disponível, das características do animal (espécie, estádio fisiológico e tipo de produção) e do comportamento animal frente às condições das pastagens (DAMASCENO et al. 1997).

A filosofia de utilizarmos o pastejo rotativo é que o animal sempre está consumindo uma forragem com alto teor de folhas, parte mais digestível e de melhor valor nutricional da gramínea, podendo assim expressar o seu potencial para leite e reduzirmos, então, o concentrado (custo alto) desta dieta. Sendo assim utilizamos o Top Milk Proteinado para estimular um aumento no consumo do pasto, devido a um maior aporte de energia e proteína no rúmen, aliado a um correto balanceamento de minerais, vitaminas e aminoácidos permitindo um aumento na produção de leite.

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Com a maturação da forragem, em decorrência da menor luminosidade, temperatura e umidade, temos um decréscimo do seu valor nutritivo. Fato este devido a translocação de nutrientes para produção de semente passando do seu estado vegetativo para reprodutivo aliado ao processo de lignificação da parede celular diminuindo os níveis de proteína, energia, minerais e vitaminas disponíveis para os animais. Sendo assim, na estação seca do ano, fica impossível mantermos a mesma produção de leite obtidas nas águas devido à baixa quantidade e qualidade nutricional das pastagens. Temos então que partimos para uma suplementação tanto concentrada quanto volumosa silagem de capim ou de grãos, cana-de-açúcar, feno de gramíneas ou pasto diferido. Este concentrado é balanceado para a relação 1kg de ração para 3kg de leite/vaca/dia. Contém 4% do Top Milk Núcleo e 1% de sal branco, que atende as necessidades diárias de todos os minerais sendo importante salientar  as quantidades de zinco, cobre e selênio que reduzem a incidência de mastite nas vacas. O Top Milk Núcleo não possui sal branco, pois sua inclusão na formulação não permitiria fechar a exigência dos outros minerais.

As vacas secas merecem atenção especial, pois devem parir em boa condição corporal para  um retorno ao cio mais rápido e consequentemente um menor intervalo entre partos. Além disso, evitamos problemas de doenças metabólicas e carenciais ao parto (febre vitular, cetose, acidose entre outras) e nascimento de bezerros fracos.

Tabela 4 - Plano nutricional para vacas

  VACAS EM LACTAÇÃO1 VACAS SECAS*

  SECA ÁGUAS SECA ÁGUAS

Volumoso

Silagem capim, cana ou pasto diferido

Pastejo rotacionado

Silagem capim, cana ou pasto diferido

Pastejo rotacionado

Suplemento 1kg ração: 3kg de leite

Top Milk Proteinado

1kg  de ração

Top Milk Proteinado

* 20 dias antes do parto - aumentar gradativamente a ração 1,0kg até 1% do peso vivo para ir adaptando com a quantidade de ração que irá receber quando em lactação.

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Vacas de produção superior a 12kg leite/dia  necessitam de maior quantidade de concentrado

Tabela 5 - Opções de formulações de concentrados para vacas em lactação

  LACTAÇÃO LACTAÇÃO LACTAÇÃO

Fubá milho 59,00 65,00 57,00

Farelo Soja 36,00 29,00 21,00

Polpa cítrica - - 15,00

Uréia - 1,00 2,00

Sal Branco 1,00 1,00 1,00

TOP MILK NÚCLEO 4,00 4,00 4,00

PB 22,00 % 22,00 % 22,00 %

NDT 75,00 % 75,00 % 72,00 %

Cálcio 1,15 % 1,16 % 1,32 %

Fósforo 0,66 % 0,66 % 0,59 %

III. CRIAÇÃO DE BEZERROS

Um dos problemas que ocorrem para a baixa produtividade da atividade leiteira no Brasil é a avançada idade ao primeiro parto das novilhas. Isso devido a muitas causas, mas a principal é a má alimentação e manejo incorreto dessa categoria animal, especialmente durante a estação seca do ano. O resultado de uma alimentação deficiente é o atraso no primeiro cio e consequentemente na idade da parição.

Essa idade avançada ao primeiro parto tem efeitos negativos para o produtor:

atraso no melhoramento genético do rebanho; diminui a taxa de descarte de vacas velhas ou de baixa produção; diminuição de produção leiteira, pois  antecipando a parição da  novilha  mais cedo será a sua produção de leite; permanência de uma categoria animal , novilha de 2 a 3 anos, significando em menor giro de capital e custos mais altos para mantê-la na propriedade sendo que uma outra categoria, vaca seca, vaca em lactação ou bezerros poderiam estar em seu lugar.

Um fator importante a ser observado é que o bezerro e a novilha devem ser encarados como investimentos da propriedade pois o futuro desta dependerá do manejo nutricional, sanitário e do melhoramento genético imprimido nestas categorias. E por estas categorias não gerarem receitas em curto prazo, na maioria das propriedades brasileiras elas são destinadas aos piores pastos, esquecendo que são animais com uma exigência nutricional alta, sensíveis a deficiências de energia, proteína, minerais e vitaminas. Uma novilha decorrente do cruzamento de uma vaca com um touro com alto potencial genético para leite, teoricamente, será  melhor de produção que sua mãe, por isso devemos enxergar estes animais com olhos para o

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futuro.

A qualidade do alimento, especialmente dos  volumosos é um fator a ser considerado. Um  volumoso de qualidade implica em menores gastos com concentrado, que é o mais caro da alimentação animal, implicando em maior custo final  no preço do leite e menor rentabilidade da atividade.

3.1 ALIMENTAÇÃO DOS BEZERROS

Os cuidados com o bezerro começam com a vaca gestante:

a vaca gestante necessita de energia, proteína, Ca, P, I, Mg, Co, Se, vit. A, D e E; a deficiência nutricional no final da gestação acarreta em nascimentos de bezerros fracos susceptíveis às doenças, animais mais leves, natimortos, abortos; as vacas devem ganhar 500 a 600g/dia pois o feto ganha metade de seu peso (15 a 20 kg) no final da gestação

as vacas devem ficar em baias ou pastos maternidades no pré-parto, em locais limpos, bem drenados, com cochos, sombras, com certa declividade para evitar poças e próximo à sede ou casa do encarregado. a mortalidade dos bezerros ocorre por deficiência alimentar da vaca gestante,  o não fornecimento ou quantidade pequena de colostro, subnutrição, más condições de higiene e alta umidade. Evitar colocar os bezerros junto aos currais e misturados com bezerros mais velhos; cuidados com o bezerro: colostro o mais cedo possível, cura do umbigo até secar completamente (média de 3 dias), retirar as secreções do nariz e boca ao nascimento, pesar e identificar; colostro: tem de 13 a 14% PB (principalmente de imunoglobinas), tem de ser rico e ser dado o mais rápido possível com 6 horas após o nascimento tem absorção de 70%, com 12 horas 50% e com 24 horas só 10% pois tem uma alta concentração de imunonoglobinas, maior permeabilidade intestinal, maior taxa de absorção e ausência de secreção gástrica nas primeiras 24 horas de vida do bezerro; Deve ser dado por pelo menos três dias: o passar a fase de aleitamento o mais rápido possível é mais lucrativo o quantidade de leite a ser oferecida vai depender do tamanho do bezerro, em torno de 10% do peso vivo os animais jovens devem ser separados em categorias por faixas etárias, o número de categorias dependerá do espaço físico de cada propriedade, por exemplo : de 0 a 2 meses, de 2 a 4 meses, 4 a 7 meses, 7 A 10 meses.

3.2 SISTEMAS DE ALEITAMENTO

Basicamente as formas de aleitamento são:

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natural = bezerro mamando na vaca artificial = mamadeiras, biberões e balde

Critérios para escolha do sistema de aleitamento:

Natural

quando a produção total for igual ou inferior a 8kg de leite por dia quando as vacas não descem o leite sem a presença do bezerro quando as condições de higiene são precárias quando não possue mão de obra adequada

Aleitamento natural controlado = durante o primeiro mês uma teta é deixada para o bezerro na ordenha da manhã e outra na da tarde (o bezerro ingere + ou - 4 litros/dia). No segundo mês a ordenha é realizada nas quatro tetas sem a esgota total do úbere (o bezerro ingere o leite residual + ou - 2kg/dia)

Artificial

quando as vacas descem o leite sem a presença do bezerro; quando a produção média diária é superior a 8kg de leite; quando o tratador dos bezerros reconhece a importância da higiene.

O aleitamento artificial permite a racionalização do manejo, uma ordenha mais higiênica e o controle do leite. Este aleitamento consiste no fornecimento de 3 a 4kg de leite/dia, sendo oferecido 1 ou 2 vezes ao dia. A alimentação uma vez ao dia deve ser iniciada na segunda semana de vida; vantagem = mão-de-obra livre pela manhã, diminui volume de leite que irá para o resfriador para o dia seguinte e ingestão de alimentos sólidos mais precocemente.

3.3 ALIMENTAÇÃO SÓLIDA

Para que o desaleitamento ocorra precocemente é necessário que os animais comecem a ingerir concentrado o mais cedo possível. Medidas para estimular o consumo do concentrado:

fornecimento de leite uma vez ao dia; fornecimento de quantidade restrita de leite; colocação do concentrado à disposição do bezerro a partir do terceiro dia de vida, colocando um pouco no fundo do balde ao final da alimentação líquida ou diretamente na boca do bezerro; ser oferecida à vontade até 3 meses de idade, assegurando crescimento rápido.

3.4 VOLUMOSO

O consumo de pequena quantidade de forragem pode ajudar a estimular a função do rúmen, mas grandes quantidades reduzirão o consumo de ração e com isto a taxa de crescimento.

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a ordem de utilização de volumosos é: feno, gramíneas verdes picadas, silagem; consumo médio é de 200g/dia até sexta semana, a partir daí cresce rapidamente; pastos: esta categoria é muito exigente nutricionalmente, portanto deve permanecer em pastos de melhor qualidade.

3.5 ÁGUA

Água fresca e limpa, deve ser colocada a disposição dos bezerros logo após o nascimento.

3.6 MINERAIS

Os animais desde o nascimento necessitam de minerais, portanto devem receber suplementação via cocho ou junto à ração estes elementos, pois o leite não supre todas as exigências de minerais e vitaminas do animal. Altura do cocho para minerais de 50cm em relação ao solo.

3.7 DESMAMA

A desmama pode ocorrer entre 4 a 8 semanas, quando os bezerros normalmente estão ingerindo 600-800g/dia de ração concentrada. Deve ocorrer de forma abrupta para evitar que o bezerro fique esperando pelo leite sem comer ração. Bezerros desmamados devem permanecer no mínimo 5 dias no mesmo local, para evitar stress. Bezerros doentes devem permanecer com dieta líquida até se recuperarem. Avaliar peso, idade e tamanho para o desaleitamento.

Vantagens da desmama precoce:

minimiza os problemas de diarréia; redução dos custos da alimentação já que os alimentos sólidos são mais baratos que o leite; redução no número de bezerros com alimentação líquida resulta em sobra de tempo para outras atividades.

3.8 INSTALAÇÕES PARA BEZERROS

Nos primeiros 2 meses de vida os bezerros devem ser mantidos isolados uns dos outros. Um sistema que tem apresentado bons resultados é o de casinha.

Recomendações:

podem ser de madeira com 1 x 1,20 x 2m, sem piso; cocho para concentrado interno e bebedouro no solário; casinhas dispostas a permitir entrada do sol da manhã; localizadas em terreno seco e bem drenado;

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camas limpas e secas; desinfetar e trocar de local para ser utilizada por outro bezerro; piquetes para bezerros devem ter alguma declividade.

IV. CRIAÇÃO DE NOVILHAS

A criação de novilhas é uma das etapas determinantes para o sucesso da atividade leiteira. Se por um lado representa um custo expressivo na composição da produção, por outro, é a genética futura. A criação deve ser econômica e eficiente. A taxa de crescimento e ganho de peso vão afetar diretamente a idade de cobertura; do primeiro parto, a lactação e a reprodução.

Durante a fase de 3 a 9 meses de idade existe uma correlação negativa entre altos níveis de energia e níveis de somatotropina. Altas taxas de ganho de peso estão associadas a baixos níveis de somatotropina, provocando desenvolvimento inadequado da glândula mamária e comprometendo a futura lactação, devendo nesta fase ser evitado ganho de peso superior a 700-800g/dia.

Não apenas a super alimentação mas também a carência de energia por períodos extensos é prejudicial à criação de novilhas, retardando a idade a puberdade, diminuindo a freqüência e duração do estro, aumentando a incidência de partos distócicos e reduzindo a lactação subsequente.

4.1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO

Normalmente o crescimento é medido pelo ganho de peso, mas esta não é uma medida correta uma vez que o esqueleto cresce linearmente e o peso aumenta em progressão geométrica. A melhor forma para medir o crescimento animal é associar

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o ganho de peso à altura (obtida na cernelha).

Tabela 6 - Recomendações para cobertura:

RAÇA PESO (kg) IDADE (meses)

Holandês e Pardo Suíço 350 a 400 15

Jersey e Ayrshire 300 a 320 15

Mestiças 300 a 330 22

Tabela 7 - Recomendações para pesos e idade ao parto:

RAÇA PESO (kg) IDADE (meses)

Novilhas 75 a 80% do peso adulto  

Holandês 550 a 600 kg 24

Mestiças 450 a 500 kg 31

Tabela 8 - Recomendações para escore corporal (escala de 1 a 5 - 1 = animal magro e 5 = animal obeso)

NOVILHOS ESCORE CORPORAL

Novilhas jovens 2 a 3

Novilhas acima de 6 meses 3 a 3,5

Novilhas próximas ao parto Até 4

4.2 ALIMENTAÇÃO

Após a desmama o bezerro está fisiologicamente apto a digerir forragem. No entanto, ele não pode ser alimentado apenas com volumosos, pois seu estômago não tem o tamanho suficiente para a quantidade de volumoso necessário para cobrir suas exigências nutricionais. Isto é ainda agravado pelo fato das forragens de clima tropical apresentarem um rápido amadurecimento com aumento do teor de hastes em relação às folhas, reduzindo o valor nutritivo em um curto tempo. Forragens de baixa digestibilidade têm lenta taxa de passagem e reduzem o consumo de matéria seca. Desta forma é necessário que após a desmama os animais continuem recebendo concentrado para que possam ter seus requisitos nutricionais satisfeitos.

Tabela 9 - Parâmetros econômicos da criação de novilhas

CARACTERÍSTICAS Idade ao primeiro parto (mês)

24 30 36

Inseminação (meses) 15 21 27

Situação aos 3 anos (lactação) 1ª encer. 6 meses

Início

Produção de leite (Kg) 3000 1800 -

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Receita em leite R $ (0,24) 720,00 432,00 -

Quantidade de ração (Kg) 1500 1365 480

Custo com ração (0,20/ Kg) 300,00 273,00 96,00

Balanço  + 420,00 +159 -96,00

Gasto com ração para lactação (Kg)

1000 600 -

Custo da ração de leite (0,26/Kg)

260,00 156,00 -

Balanço até 36 meses 160,00 3,00 - 96,00

Situação reprodutiva 1 cria + gest

1 cria -

Fonte: Saturnino, 1994

V. RESUMO DO SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO

de 0 a 48h após nascimento = bezerro de permanecer com a mãe e ingerir pelo menos 2 litros de colostro (6h); de 48h até desmama = 3-4 litros de leite, água e ração à vontade (20% PB, 76% NDT); da desmama até 6 meses = 2kg de ração (18% PB, 74% NDT), feno e gramíneas de boa qualidade + Top Milk Vitaminado no cocho (somente o pasto e esta quantidade de ração não fornece a quantidade necessária de minerais para desenvolvimento correto do animal); de 6 meses até adulto = pelo menos 1kg de ração (16% PB, 70% NDT), feno, silagem e gramíneas + Top Milk Vitaminado no cocho (somente o pasto e esta quantidade de ração não fornece a quantidade necessária de minerais para desenvolvimento correto do animal) exceto quando da indicação do Top Milk Proteinado ou Phós Verão ;

Tabela 10 - Plano nutricional para bezerros de 0 a 10 meses de idade

  Até a Desmama

Desm. a 4 m 4-7 / 7-10 m

  SecaÁguas

Seca Águas Seca Águas

Volumoso

Feno Feno

Feno ou silagem capim

Pastejo rotacionado

Silagem de capim ou cana

Pastejo rotacionado

Suplemento

Ração à vontade e

Ração à vontade e

Até 2 kg de ração

Até 2 kg de ração

1-2 kg de ração

Até 1 kg de ração

Page 116: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

3-4 litros leite

3-4 litros leite

Tabela 11 - Plano nutricional de novihas de 10 meses até o primeiro parto

  10 m ao acasalamento 1º serviço ao 1º parto*

SECA ÁGUAS SECA ÁGUAS

Volumoso

Silagem capim, cana ou pasto diferido

Pasto de boa qualidade

Silagem  capim, cana ou pasto diferido

Pasto de boa qualidade

Suplemento1 kg de ração

 Milk Proteinado ou Phós Verão.

1 kg  de ração

 Milk Proteinado ou Phós Verão

* 20 dias antes do parto - aumentar gradativamente a ração de 1,0 quilo até 1% do peso vivo para ir adaptando com a quantidade  que irá receber quando em lactação e passá-la na sala de ordenha junto com as outras vacas para adaptação.

Tabela 12 - Opções de formulações de concentrados de acordo com a categoria

Até a Desmama

Desmama a 4 meses

4 meses a Adulto*

Fubá milho 63,50 53,50 42,50

Farelo Soja 32,00 28,00 12,00

Polpa cítrica - 15,00 28,00

Farelo Trigo - - 14,00

Sal Branco 0,50 0,50 0,50

TOP BEEF - 3,00 3,00

TOP MILK NÚCLEO

4,00 - -

PB 20,00 % 18,00 % 16,00 %

NDT 76,00 % 74,00 % 70,00 %

Cálcio 1,16 % 0,84 % 0,97 %

Fósforo 0,67 % 0,49 % 0,53 %

* inclui nesta categoria a vaca seca.

VI.  METAS DA CRIAÇÃO DE BEZERROS E NOVILHAS

mortalidade até 60 dias < 5% mortalidade de 2 a 6 meses <  2% mortalidade de 6 a 24 meses < 2%

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novilhas Holandesas - Novilhas Mestiças o cobertura com 15 meses e 350 kg o cobertura de 15 aos 24 meses e  300 a 330  kg  o parição com 550 a 600 kg o parição com 450 a 500 kg

O sucesso do programa PAP leite depende não só da utilização dos produtos indicados como também da qualidade das pastagens utilizadas, de um correto manejo destas pastagens, da qualidade da suplementação volumosa (cana-de-açúcar, feno e silagem) e dos animais no programa. Na falta de um correto manejo não poderá contar com ganhos tão positivos de peso e de produção de leite, sendo que este está baseado em animais cruzados de 10 a 12kg de leite dia. Sendo animais de maior produção leiteira faz-se necessário mudarmos o plano nutricional. Para um melhor acompanhamento sugerimos que avaliações sejam feitas no decorrer do tratamento para evitar surpresas futuras. Estes índices sugeridos servem de parâmetro para a avaliação do desempenho do animal ao tratamento, sendo que pode ser lançada mão de outras técnicas para recuperação dos índices caso seja necessário. Os parâmetros a serem avaliados são: peso do animal, produção leiteira , idade e época do ano.

PRODUÇÃO DE NOVILHO JOVEM PARA CORTE Herbert Vilela*

I. RESUMO

O objetivo de trabalho foi verificar a viabilidade biotecnológica e financeira de se obter novilhos da raça Canchim, com treze meses de idade e com o peso vivo de 16,30 arrobas. Os sessenta animais utilizados no trabalho nasceram em outubro, (peso vivo médio 36kg) e permaneceram com as mães, em regime de pasto de capim brachiária (Brachiaria brizanta cv. Marandú) e suplementação mineral completa, até julho. Após este período os bezerros foram confinados (10m2 por animal) recebendo uma suplementação com silagem de milho e mistura concentrados, e de minerais até dezembro.

Durante a fase de amamentação e desmame os bezerros ganharam 0,92kg em peso vivo por animal e por dia. Considerando custo e um bezerro desmamado de R$ 170,00 custos da fase de adaptação (desmame) e confinamento de R$ 207,00 por cabeça; preço de venda R$ 35,00 por arroba e um rendimento de carcaça de 57,0%; houve um resultado positivo de R$ 193,00 por animal (incluindo mão-de-obra).

II. ABSTRACT:

SYSTEM OF INTENSIVE PRODUTION OF YOUNG STEER: The main purpose of this work was to determine a system of young steer prodution, with economical appreciation. The steer used was Canchim catle born in october, 1996; the steer remains with until eight months of age. In time, sixty steer finished in a 165 days confinement on the Farm San Lucas, Betim/MG were slaughtered in a comercial

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packing plant. After 24 hour, the carcasses were evoluated. The dressing percentage of steer was of 57,2%. The life weight mean was 489kg. The steers were commercializes for U$ 320,50 per head.

III. INTRODUÇÃ0

Os elementos que compõem qualquer sistema de produção são os animais, a alimentação e as instalações. Destes, os primeiros são os mais importantes, uma vez que representam a própria base de exploração. Segundo CARTWRIGHT et al. (1964) os critérios para seleção de bovinos de corte, podem ser divididos em duas fases: Reprodução e Produção de peso. Esta segunda fase, deve apresentar as seguintes características: rapidez e eficiência de crescimento, quantidade elevada de carne, carcaça de qualidade superior e com alto rendimento. Por outro lado, este trabalho está inserido na linha de pesquisa sugerida por PEROTTO (1986) no que se refere às taxas de progresso de genética para características de interêsse econômico entre raças sintéticas e raças puras usadas na formação. Portanto o objetivo básico de trabalho foi verificar a habilidade de novilhos da raça Canchim de produzirem peso vivo comercial com 13 meses de idade.

IV. MATERIAL E MÉTODOS

Sessenta animais da raça Canchim oriundos de rebanho selecionado na Fazenda San Lucas, (Betim/MG), foram utilizados no trabalho. A data média de nascimento destes animais foi em 31/10 e com peso vivo médio de 36kg. Estes animais foram mantidos com as mães, em regime de pasto (Brachiaria brizanta cv. Marandu) e com disponibilidade de mistura mineral completa desde o nascimento até o início do mês de julho. Durante o mês de julho, passaram por um período de adaptação deixando de receber o leite materno e tinham a sua disposição, milho integral moído (2kg/cabeça), um piquete com capim estrela (Cynodon fluensis) e mistura mineral. Durante a fase de confinamento (100 dias) os animais dispunham de uma área de 10m2 por cabeça. Nesta fase os animais tinham a sua disposição e a vontade, silagem de milho (BR-201) e ainda mistura de concentrados com fornecimento controlado (milho integral moído, farelo de soja, farinha de carne, melaço em pó e mistura mineral). As instalações eram simples e dispunham de cocho descoberto com livre acesso dos dois lados e com 0,70m disponível por animal. A área foi cercada com cercas convencionais de arame liso. Os alimentos volumosos e concentrados foram fornecidos duas vezes ao dia, pela manhã e á tarde.

V. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A disponibilidade aparente da forragem da pastagem de capim Brachiaria brizanta cv. Marandú, variou entre épocas do ano. A disponibilidade durante o verão foi de 4.650kg/ha e de 2.980kg/ha de matéria seca de forragem, durante o período de inverno. A cobertura vegetal em forragem variou de 89 para 72% respectivamente no verão e inverno. Os demais componentes de cobertura foram principalmente representados por plantas invasoras. A composição bromatológica variou segundo o modelo de variação de gramíneas tropicais. Durante o período de amamentação os bezerros (novembro a julho) apresentaram um ganho diário  (0,92kg/cabeça) o que demonstra a habilidade materna na matriz Canchim, uma vez

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que as mesmas se encontravam apenas em regime de pasto suplementado com mistura mineral. Os animais entraram na fase de confinamento com 263 dias de idade e com peso vivo médio de 277,9kg. Durante o confinamento, o consumo médio de silagem de milho foi de 13,3kg por animal/dia. Iniciou-se  com 3,5kg e finalizou-se com 4,5kg/animal/dia, o fornecimento concentrado. O ajuste do fornecimento foi feito com base na média em peso vivo dos animais. Os resultados das análises bromatológicas da silagem de milho e da mistura de concentrados são apresentados no Quadro 1 .

Quadro 1 - Análises bromatológicas da silagem de milho  e da mistura de concentrados:

PARÂMETROSCOMPOSIÇÃO (%)

Matéria seca - Silagem 32,74

Matéria seca - Concentrado 94,7

Proteína bruta - Silagem 6,31

Proteína bruta - Concentrado 25,37

Nutrientes digestíveis totais - Silagem 60,2

Nutrientes digestíveis totais - Concentrado 76,1

Cálcio - Silagem 0,2

Cálcio - Concentrado 0,76

Fósforo - Silagem 0,11

Fósforo - Concentrado 0,34

O consumo de matéria seca expresso em porcentagem do peso vivo foi de 2,20 a 2,30% durante o período de confinamento. Esta porcentagem foi representada por um consumo de 65% de concentrados e 35% de volumosos. A quantidade de matéria seca consumida expressa em porcentagem de peso vivo está semelhante e citada pelo NRC (1994). Por outro lado as quantidades consumidas e avaliadas pelos nutrientes digestíveis totais (NDT) e pela proteína bruta foram de 12 e 40% respectivamente maiores do que aquelas apresentadas pela tabela do NRC (1984) para estes desempenhos dos animais. Os animais ganharam 1,54kg por cabeça/dia nesta fase. Considerando o custo de um bezerro desmamado com 277,9kg, de R$ 170,00; o custo do ganho de 154,0kg (confinamento), de R$ 207,00 (inclui alimentação e mão de obra) e o rendimento da carcaça de 57,2%, houve uma receita por animal de R$ 570,50 (arroba = R$ 35,00) e um resultado positivo por animal de R$ 193,00.

VI. CONCLUSÃO

Pelos resultados obtidos em 2.000, neste trabalho, pode-se observar a habilidade da raça Canchim, ao se obter um animal com 16,3 arrobas com 13 meses de idade ao custo de produção por arroba de R$ 23,12. Observa-se ainda que os resultados

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financeiros obtidos por animal foram viáveis. Por outro lado, observou-se resultados diferentes no consumo de NDT e proteína bruta em relação ao NRC (1994) para aqueles ganhos diários obtidos. Houve contudo, semelhança no consumo de matéria seca expressa em porcentagem do peso vivo.

ALIMENTOS NA NUTRIÇÃO DE BOVINOS Fabiano Alvim Barbosa - Médico Veterinário, Mestre em Zootecnia/Nutrição de Ruminantes, Doutorando – Produção Animal da Escola de Veterinária/UFMG - junho/2004.

1. ALIMENTOS, RESÍDUOS E SUBPRODUTOS

Os alimentos são classificados de acordo com a Associação Americana Oficial de Controle de Alimentos (AAFCO) e o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (NRC) e adaptada por F.B. MORRISON:

Alimentos volumosos – são aqueles alimentos de baixo teor energético, com altos teores em fibra ou em água. Possuem menos de 60% de NDT e ou mais de 18% de fibra bruta (FB) e podem ser divididos em secos e úmidos. São os de mais baixo custo na propriedade. Os mais usados para os bovinos de corte são as pastagens naturais ou artificiais (braquiárias e panicuns em sua maioria), capineiras (capim elefante), silagens (capim, milho, sorgo), cana-de-açúcar, bagaço de cana hidrolisado; entre os menos usados estão: milheto, fenos de gramíneas, silagem de girassol, palhadas de culturas, etc. Alimentos concentrados – são aqueles com alto teor de energia, mais de 60% de NDT, menos de 18% de FB, sendo divididos em: o Energético: alimentos concentrados com menos de 20% de proteína bruta (PB); origem vegetal – milho, sorgo, trigo, arroz, melaço, polpa cítrica; origem animal – sebos e gordura animal; o Protéicos: alimentos concentrados com mais de 20% de PB; origem vegetal – farelo de soja, farelo de algodão, farelo de girassol, soja grão, farelo de amendoim, caroço de algodão, cama de frango -; origem animal – farinha de sangue, de peixe, carne e ossos (sendo esta última atualmente proibida pelo Ministério Agricultura para uso em ruminantes). Minerais – compostos de minerais usados na alimentação animal: fosfato bicálcico, calcário, sal comum, sulfato de cobre, sulfato de zinco, óxido de magnésio, etc. Vitaminas – compostas das vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis; Aditivos – compostos de substâncias como antibióticos, hormônios, probióticos, antioxidante, corantes, etc. Outros alimentos – aqueles que não se classificam nos itens anteriores (TEIXEIRA, 1998; MELLO, 1999).

2. ALIMENTOS VOLUMOSOS

As leguminosas e as gramíneas são as principais fontes de forragem para bovinos. Forragens de alta qualidade podem suprir a maioria dos nutrientes dependendo da

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categoria animal em questão, da espécie forrageira, tipo de solo e fertilidade, idade da planta entre outros. Fatores importantes na determinação da qualidade é a idade ao corte ou pastejo e o estágio de maturação da planta, com idade avançada, as plantas decrescem em proteína, energia, cálcio, fósforo e matéria seca digestível enquanto aumenta a fibra (FDN, FDA e lignina. Podem ser utilizadas in natura, silagem, pré-secada, ou feno.

As pastagens se bem manejadas são boa fonte de nutrientes. Elas têm a vantagem adicional de eliminar a necessidade de manejo manual do material. Adequada fertilização e manejo são necessários para manter uma boa pastagem. Freqüente rotação de pequenos lotes reduz perdas, mas requer maior mão de obra. Como a quantidade e qualidade das pastagens mudam durante o inverno, os animais necessitam um manejo diferenciado: pastagem diferida, pastagens armazenadas e outros alimentos (TEIXEIRA, 1997).

As pastagens tropicais se caracterizam por altos rendimentos forrageiros quando adubadas, mas o valor alimentício da forragem produzida não é muito alto. Graças ao alto teor de fibra, baixo teor de proteína e baixa digestibilidade das gramíneas tropicais, a produção por animal é inferior àquela realizada em pastagens de azevém, aveia, etc. Os ganho de peso vivo da ordem de 0,4 a 0,6kg/dia/novilho tem sido observados em pastagens tropicais, sem suplementação.

O manejo da pastagem deve ser conduzido de modo a manter constante a disponibilidade de forragem em torno de 2000kg de MS/ha durante a estação de pastejo, e/ou uma oferta de forragem em torno de 8 a 10% de peso vivo animal. Diferimento de pastagem e uso de feno, silagem, cana+uréia são práticas de manejo para aliviar a falta de pasto na seca, e assim, contornar o problema da estacionalidade da produção de forragens das pastagens (GOMIDE, 1999).

3. ALIMENTOS CONCENTRADOS

3.1 Milho

Segundo TEIXEIRA (1998) o milho, dentre os grãos de cereais é o mais largamente empregado, rico em energia e pobre em proteína, principalmente lisina. É rico em pró-vitamina A (betacaroteno) e pigmentantes (xantofila). Baixos teores de triptofano, lisina, cálcio, riboflavina, niacina e vitamina D (LANA, 2000). A parte principal da planta é a espiga composta de 70% de grãos, 20% de sabugo e 10% de palhas. O milho pode ser usado de diversas formas como fonte volumosa ou concentrado energético. É considerado alimento concentrado energético padrão.

ROLÃO DO MILHO – é constituído da palhada do milho depois de feita a colheita das espigas. Contudo pode ser feito de toda a planta, incluindo a espiga, tornando-o mais rico em nutriente, usado como fonte volumosa na dieta de ruminantes; SILAGEM DE MILHO – é uma excelente cultura para confecção de silagem por apresentar boa produção forragem por área e boa quantidade de açucares para produção de ácido lático, fundamental para o processo. É fonte volumosa para ruminantes; PALHADAS e SABUGOS – é um resíduo da colheita do grão que pode ser

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utilizado como fonte de fibra na dieta de ruminantes, é de baixo valor nutritivo; MILHO DESINTEGRADO COM PALHA E SABUGO (MDPS) – é obtido pela moagem das espigas inteiras, é fonte energética na dieta de ruminantes, apresenta menor valor nutritivo do que o milho grão é rico em fibra; MILHO GRÃO – constitui a base energética da dieta de várias espécies animais, deve ser isento de fungos, micotoxinas, pesticidas, sementes tóxicas.  É composto de amido (60%), casca (6,5%), glúten (10%), gérmen (8,5%), água (15%). O processamento do grão pode alterar o seu valor nutritivo pela moagem, gelatinização, floculação e laminação, mudando o local e a intensidade de digestão. FARELO DE GLÚTEN DE MILHO 60 – é o resíduo seco de milho após a remoção da maior parte do amido e do gérmen, e da separação do farelo pelo processo empregado nas fabricações do amido de milho ou do xarope, por via úmida, ou ainda, pelo tratamento enzimático do endosperma. Ë uma excelente fonte de proteína (e proteína não degradada no rúmen) e energia, não é muito palatável (TEIXEIRA, 1997). Como nome comercial é conhecido por protenose ou glutenose. FARELO DE GLÚTEN DE MILHO 22 - é a parte da membrana externa do grão de milho que fica após a extração da maior parte do amido, do glúten e do gérmen pelo processo empregado na produção do amido, ou do xarope por via úmida. Pode conter extrativos fermentados do milho e/ou farelo de gérmen de milho. É uma boa fonte de proteína (aproximadamente 22%, de alta degradabilidade ruminal) e energia comparável ao do sorgo, tem média palatabilidade (TEIXEIRA, 1997). Como nome comercial é conhecido por promil ou refinazil. 

3.2 Sorgo

Segundo TEIXEIRA (1998) o sorgo pode ser utilizado para produção de forragem ou de grãos para alimentação animal. O sorgo vassoura é cultivado para a indústria de vassouras. Pode ser utilizado para processamento industrial como o milho, produzindo o amido, açúcar e óleo. Algumas variedades de sorgo apresentam em seu pericarpo substâncias amargas denominadas taninos, que é responsável por inibição de algumas enzimas no sistema digestivo, interferindo no metabolismo de proteínas e carboidratos, diminuindo sua digestibilidade e conseqüentemente a resposta animal. O ácido tânico quando presente nas dietas combina com grupamentos metil da metionina e colina, provocando redução nas disponibilidades destes compostos reduzindo a taxa de crescimento. Pode também inibir a ação da tripsina.O grão de sorgo destinado ao consumo animal deve ser isento de fungos, micotoxinas, sementes tóxicas, pesticidas, conter no máximo 1% de taninos, expresso em ácido tânico (ANFAR, 1985). O grão apresenta composição semelhante à do milho, com pouco menos de energia e pouco mais de proteína, que varia de 9 a 13%, dependendo da variedade. Tem baixo teor de caroteno, pigmentos xantofílicos, isoleucina e leucina. Deve ser fornecido triturado ou moído devido à baixa digestibilidade do grão inteiro (LANA, 2000).

3.3 Trigo

Segundo TEIXEIRA (1998) é de interesse para alimentação animal os subprodutos da indústria moageira como:

triguilho, que contém grãos pequenos e quebrados de trigos e grãos chochos resultantes da limpeza do cereal antes da moagem, sua composição é bastante variável.

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farelo de trigo, é um subproduto que consiste principalmente do tegumento que envolve o grão, possui relativo teor de fibra e em excesso é laxativo, pode ser composto também do farelinho de trigo que diminui o valor nutritivo o produto. É rico em niacina, tiamina, fósforo e ferros e pobre em caroteno e pigmentantes.

3.4 Arroz

Segundo TEIXEIRA (1998) o seu uso para alimentação animal é quase que exclusivamente de seus subprodutos:

quirera de arroz, constituída por grãos sem casca, quebrados, tem valor nutritivo um pouco inferior ao do milho; casca de arroz, tem alto teor de sílica e lignina com baixa digestibilidade e valor nutritivo, em muitos casos é moída e adicionada ao farelo de arroz diminuindo seu valor nutritivo, segundo LANA (2000) pode ser usada por ruminantes em até 20% da ração; farelo de arroz integral, proveniente do beneficiamento do arroz para o consumo humano, constituído por tegumentos que envolvem o grão, tem que ser utilizado fresco ou estabilizado com antioxidante devido ao seu alto teor de gordura, segundo LANA (2000) é pobre em Ca e rico em P, tiamina, riboflavina e niacina; farelo de arroz desengordurado, é proveniente da extração industrial do óleo do farelo de arroz integral.

3.5 Mandioca

Segundo TEIXEIRA (1998) a mandioca tem a grande vantagem de poder ser utilizada integralmente como alimento, inclusive a parte vegetativa, in natura ou na forma desidratada e moída e para produção de concentrado protéico (LANA, 2000). O valor nutritivo do farelo de ramas e hastes desidratadas se aproxima à da alfafa. Pode ser fornecida na forma de planta inteira ou só a raiz picada e secada na foram de raspas, além do uso na forma de farelos e farinhas. É pobre em proteína necessitando sua complementação. Como concentrado energético pode ser à base da dieta. Nas cascas e raízes inteiras das mandiocas chamadas bravas, existe o ácido cianídrico (HCN) com teores variando de 0,02 a 0,03%. Estes efeitos tóxicos podem ser evitados pela desidratação da mandioca, que consiste em picá-la e deixá-la espalhada ao ar livre por 24 horas. Nas variedades mansas o teor de HCN não passa de 0,005%.

As raízes frescas são ricas em amido e pobre nos outros nutrientes, tem limitação devido ao glicosídeo cianogênico e a linamarina que são convertidos a HCN. A raiz fresca é recomendada de 2 a 3% do peso do animal/dia. A raspa de mandioca moída não tem caroteno e é deficiente em proteína, metionina e pigmentantes (LANA, 2000).

3.6 Polpa cítrica

Segundo TEIXEIRA (1997) a polpa de citrus seca e peletizada é um sub-produto da indústria de processamento de laranja, constituída de cascas, polpa de frutos inteiros descartados. Contém aproximadamente 6% de PB, 11% de fibra bruta, 70 a 75% de NDT. É uma boa fonte de fibra digestível (pectina) e energia, devendo-se cuidar com o cálcio, pois pode chegar a ter 2%. Pode ser usado como base energética de dieta de bovinos. O alto teor de cálcio é devido à adição de cal para separar a água. As fontes de cal podem apresentar dioxina, substância cancerígena que pode ser transmitida ao

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homem pelo leite e carne contaminados (LANA, 2000).

3.7 Soja

Segundo TEIXEIRA (1998) a soja é uma das mais importantes culturas para produção de grãos destinados a industria para obtenção do óleo e o farelo. Pode ser usada na alimentação animal na forma de semente, casca ou farelo. A semente é rica fonte de proteína (38 a 39%), energia (18% de óleo). Quando da utilização da semente crua, deve-se evitar a utilização conjunta da uréia, em virtude da urease contida nas sementes desdobrar a uréia em amônia. Quando o grão é tostado torna-se excelente fonte de proteína não degradada no rúmen além de destruir a urease. A soja crua possui ainda outros fatores antinutricionais divididos em termolábeis, que são destruídos pelo calor, e os termoestáveis, que não são destruídos pelo calor. Entre os termolábeis estão presentes os inibidores de proteases, sojina, que provocam redução de crescimento e hipertrofia de pâncreas; lecitinas, que se ligam a carboidratos e glicoproteínas, são hemaglutinantes e deprimem ingestão de alimentos e o crescimento; fatores bociogênicos, provocando aumento da tireóide; fatores antivitamínicos que aumentam os requisitos de vitaminas D3, B12 e E; antiminerais, pela presença do ácido fítico, aumentando a necessidade de cálcio, zinco, cobre e ferro. Entre os fatores termoestáveis estão as isoflavanas, substâncias estrogênicas; fatores de flatulência, sacarose, rafinose e amilose, que provocam náuseas, gases, diarréia e cólica; fatores alergênicos, glicinina e conglicinina provocam distúrbios gastrintestinais e alergias; lisinoalanina, resultante da extração alcalina da soja que provoca lesões renais em ratos (GONÇALVES e BORGES, 1997). A urease é destruída pelo aquecimento (tostagem), e a sojina, pelo aquecimento e os microrganismos do rúmen. O grão quando triturado fornecer rapidamente para evitar para evitar rancificação (LANA, 2000).

O farelo de soja é o subproduto obtido após a extração do óleo do grão da soja para consumo humano. Dependendo do processo de extração (solvente ou expeller) o farelo pode ter de 44 a 48% de proteína. A proteína do farelo na forma de expeller é menos degradável no rúmen que a obtida de solvente. É considerado o melhor alimento protéico, tem altos níveis de proteína de boa qualidade, energia e palatabilidade. 

3.8 Algodão

Segundo TEIXEIRA (1998) a cultura do algodão é cultivada para obtenção da fibra, suas sementes são aproveitadas para extração do óleo alimentício, de cujo processo resulta o farelo de algodão, que representa a segunda mais importante fonte de proteína disponível para alimentação animal. Possui de 30 a 38% de PB, boa palatabilidade, e pode substituir totalmente o farelo soja em dietas de vacas, apesar de apresentar o problema do gossipol em níveis que não afetam a vaca a não ser quando utilizado em conjunto com o caroço de algodão. É rico em fósforo e pobre em lisina, triptofano, vitamina D e pró-vitamina A (LANA, 2000). O caroço de algodão é um alimento com moderado nível de proteína, alta gordura, fibra e energia. Pode ser encontrado com línter ou deslintado, que possui um pouco mais de energia e proteína. Devido a sazonalidade de sua produção deve ser armazenado em lugar limpo, seco. Sua utilização inteiro apresenta melhores resultados que na forma moída ou triturada (TEIXEIRA, 1997).

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Os problemas provocados pelo uso de farelo de algodão e caroço são atribuídos ao gossipol e aos ácidos graxos ciclopropenóides. O gossipol é um alcalóide polifenólico de cor amarela encontrado nas sementes em formas de grânulos. Os ácidos graxos ciclopropenóides são encontrados no óleo contido nas sementes que causa diminuição da fertilidade do touro e da vaca (LANA, 2000). Segundo SANTOS (1997) os sinais de intoxicação do gossipol incluem dispnéia, diminuição da taxa de crescimento e anorexia. Em fêmeas ruminantes estudos in vitro há um comprometimento no desenvolvimento de embriões e produção de progesterona por células luteínicas, mas in vivo no que se refere à fertilidade, ciclicidade e morfologia de ovários não houve efeitos do gossipol devido à capacidade de detoxificação. Nos machos o gossipol provoca alterações específicas sobre a cauda do espermatozóide, aumento do diâmetro do lúmen dos túbulos seminíferos, diminuição de camadas celulares e epitélio seminífero e do tamanho das células de Sertoli, o estudo mostrou que após voltar à dieta controle sem farelo e caroço de algodão ocorreu reversibilidade dos efeitos no epitélio seminífero.    

3.9 Farelo de Girassol

Segundo TEIXEIRA (1998) o farelo de girassol é resultante da moagem das sementes de girassol no processo industrial para extração de seu óleo para consumo humano. Nele é permitido a detecção de cascas de girassol, desde que não ultrapasse o nível máximo estipulado para fibra bruta (15%). É adequado suplemento protéico apresentando boa apetecibilidade pelos ruminantes. O teor de proteína bruta varia de 28 a 45%, mas é deficiente em lisina.

3.10 Farelo de amendoim

Segundo TEIXEIRA (1998) o amendoim é cultivado em larga escala em muitos países, inclusive no Brasil, principalmente para ser empregado na alimentação humana, produção de óleo e de manteiga. Da indústria do óleo resulta o farelo, que é um suplemento protéico para alimentação animal. Quando proveniente por processos vindo do amendoim descascado e desticulado, tem seu valor nutritivo muito próximo ao farelo de soja e superior ao do algodão. É pobre em Ca, caroteno e metionina, triptofano e lisina e é rico em niacina e ácido pantotênico (LANA, 2000). Um sério problema enfrentado neste farelo é sua freqüente contaminação por fungos produtores de micotoxina. Quando a estocagem é feita em ambiente favorável de temperatura e umidade, ocorre condição ótima para desenvolvimento de fungos. Seu teor de aflatoxina deve ser declarado para comercialização de no máximo 0,5 ppm (ANFAR, 1985).

3.11 Farinha de carne e ossos

Segundo TEIXEIRA (1998) é produzida em graxaria de frigoríficos a partir de ossos e com resíduos de tecidos de animais após desossa completa da carcaça de bovinos e/ou suínos. Não deve conter cascos chifres, pêlos, conteúdo estomacal, sangue e outras matérias estranhas. A maior participação de restos de carne em relação ao conteúdo de ossos determinará o teor protéico, de cálcio e de fósforo do produto. Contêm cerca de 54% de PB, sendo aproximadamente 50% não degradada no rúmen. Não é palatável devendo ser introduzida gradativamente na dieta (TEIXEIRA, 1997). De acordo com a Portaria no. 365 de 03/07/96 do Ministério da Agricultura está proibido o uso de farinha de carne e ossos e proteína in natura oriunda de ruminantes nas rações desses

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animais. Segundo LANA (2000) os teores de proteína bruta varia de 40 a 55%, e a relação Ca:P deve ser de no máximo 2,2:1. Possui P maior que 3,8%.

3.12 Farinha de peixe

Segundo TEIXEIRA (1997)  é um sub-produto da industrialização de pescados, contém mais de 60% de PB da qual 65% não é degradada no rúmen. Tem excelente balanço de aminoácidos, sendo rica em metionina e lisina. Entretanto, considerável variação na degradabilidade ruminal ocorre devido a diferentes métodos de processamento. É rica em cálcio e fósforo e por causa do odor e gosto, a aceitabilidade pode ser problema, necessitando adaptação, pode ter também elevado teor de cloreto de sódio, não podendo exceder 7% do produto (TEIXEIRA, 1998).

3.13 Farinha de sangue

Segundo TEIXIERA (1997) é um produto constituído de sangue coagulado, seco e moído, na forma de farinha. É rica em proteína bruta (80%) com alto nível de proteína não degradável no rúmen (acima de 80%), sendo fonte de aminoácidos de excelente qualidade. Entretanto o método de processamento pode afetar a qualidade do produto, diminuindo a disponibilidade de aminoácidos, fato que pode ocorrer também com outros produtos que sofrem tratamento térmico. Segundo LANA (2000) sua proteína é de baixa qualidade (pequena concentração de isoleucina), pobre em vitaminas e baixa palatabilidade. Deve ter no máximo 11% de umidade, pois pode ocorrer contaminação microbiana. De acordo com o Ministério da Agricultura está proibido o uso deste alimento nas rações desses animais.

3.14 Cama de frango

Segundo TEIXEIRA (1998) a cama de frango é uma mistura de substrato, comumente chamado de cama, de fezes, pena de aves e restos de ração. Sua composição química varia de acordo com o tipo de cama, densidade das aves no galinheiro que a produziram, tipo de alimentação, manejo da cama, tempo de armazenagem e altura da cama. Contudo, apresenta de 19 a 25% de proteína bruta, sendo que 40 a 44% dela é constituída de proteína verdadeira e 60% de NDT. Apresenta boa aceitabilidade pelos animais e normalmente é fornecida como substituto de farelo protéicos – algodão e soja – na proporção de 40 a 60% da ração concentrada para bovinos de corte. De acordo com o Ministério da Agricultura está proibido o uso deste alimento nas rações desses animais

3.15 Sebo

Segundo TEIXEIRA (1997) o sebo é 100% gordura e não supri outro nutriente para a ração a não ser a energia, apresentando alta densidade energética (177% NDT). Segundo LANA (2000) não ultrapassar o nível de 5% de extrato etéreo na dieta de bovinos de corte, por causar diminuição da digestibilidade da fibra. De acordo com o Ministério da Agricultura está proibido o uso deste alimento nas rações desses animais

3.16 Uréia

Page 127: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Segundo TEIXEIRA (1998) a uréia é um composto quaternário, constituído por nitrogênio (46,4%), carbono, oxigênio e hidrogênio, de cor branca cristalina e de sabor amargo, solúvel em água e álcool. Sua síntese industrial se faz a partir do gás metano submetido à temperatura superior a 1000 graus.

A uréia é utilizada pelos ruminantes como fonte protéica, ao atingir o rúmen do animal, é imediatamente degradada pela ação da enzima urease produzida pelas bactérias ruminais, formando o gás carbônico e amônia. Determinadas bactérias promovem a combinação de amônia com os esqueletos de carbono (cetoácidos) resultantes da degradação de carboidratos, sintetizando aminoácidos que são utilizados na constituição de sua proteína. As bactérias do rúmen (proteína microbiana) sofrem hidrólise no intestino delgado com formação de aminoácidos que são absorvidos e vão ser utilizados como fonte protéica para o animal. Seu valor protéico é de 290% (46,4% de N x 6,25).

Deve ser feita uma adaptação no seu fornecimento para que não ocorra intoxicação, sendo na primeira quinzena 33% do total ou 13g/100kg de peso vivo; na segunda quinzena 66% do total ou 26g/100kg de peso vivo; a partir da terceira quinzena 100% do total ou 40g/100kg de peso vivo, sendo usado este limite por animal por dia. Pode ser usado 50g de uréia/100kg de peso vivo, quando se usa amido (cereais) na dieta e o fornecimento é feito parcelado durante todo o dia. O fornecimento deve ser contínuo, pois os animais perdem a adaptação em 3 dias, tendo que fazer nova adaptação caso haja interrupção desta. Os níveis de intoxicação causados pelo excesso de amônia começam a aparecer quando o nível de nitrogênio amoniacal alcança valores de 1mg/100ml de sangue e o pH ruminal chega a 8. A capacidade do fígado em converter a amônia absorvida do rúmen em uréia, está em torno de 84 mg de nitrogênio amoniacal/100ml de fluído ruminal.

USOS:

Volumosos secos (70 a 90% de matéria seca (MS)): até 2% de uréia Volumosos úmidos (20 a 40% de MS): até 1% de uréia Ensilagem: até 1% de uréia Cana-de-açúcar (15 primeiros dias): 0,5% de uréia Cana-de-açúcar (após 15 dias): 1% de uréia Mistura mineral: de 10 a 40% Mistura múltipla: de 2 a 20% Melaço: 9kg de melaço + 1kg de uréia Ração concentrada: até 3% de uréia

Quadro 1 - Níveis recomendados dos principais ingredientes para rações de bovinos

IngredientesNível de uso Observações

Milho grãosem restrição 3kg/UA/dia

UA= Unidade Animal (450kg peso vivo)

Farelo Glúten 60

2,5kg/UA/dia 20 - 40% da dieta (MS)

Page 128: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Farelo Glúten 22

2,5kg/UA/dia 20 - 40% da dieta (MS)

Sorgo grão 3kg/UA/dia substitui 100% do milho

Farelo trigo30 a 40% do concentrado

bezerros 10 a 20 % do concentrado

Farelo arroz desengord.

20 a 30% do concentrado

bezerros 10 a 20% do concentrado

Farelo raspa mandioca

substitui 100% do milho

-

Polpa cítrica 3kg/UA/dia 20% a 40% da dieta (MS)

Farelo soja sem restrição base protéica do concentrado

Soja grão 2kg/UA /dia 10 a 15% da dieta (MS)

Farelo algodão

até 30% do concentrado

bezerros até 20% concentrado

Caroço algodão

2,5 a 3kg/dia (engorda)

10 a 15 % dieta - touros não é recomendado

Farelo de girassol

até 30% do concentrado

-

Farelo de amendoim

20 a 30% do concentrado

3kg/UA/dia

Farinha de carne e ossos

3 a 5% do concentrado

Proibido pelo MAARA - fonte bovina

Farinha de sangue

3 a 5% do concentrado

Proibido pelo MAARA - fonte bovina

Farinha de peixe

até 10% do concentrado

3 a 4 % na dieta (MS)

Cama de frango

40 a 60% do concentrado

Proibido pelo MAARA - fonte bovina

Seboaté 5% de Ext. etéreo na dieta

Proibido pelo MAARA - fonte bovina

Uréia - Vide item 2.16

Casca amendoim

12 a 15% da MS total

Substituição do volumoso

Casca de arroz

10 a 15% da MS total

Substituição do volumoso

Casca de algodão

30 a 35% da MS total

Substituição do volumoso

FONTE: Teixeira (1997), Santos (1997), Gonçalves & Borges (1997), Teixeira (1998), Lana (2000), Valadares Filho (2002).

Page 129: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

4. BALANCEAMENTO DE DIETA

4.1 Exigência nutricional de bovinos de corte - N.R.C. - Beef Cattle, 1996.

Animais em crescimento com peso vivo de 295kg - peso ao abate de 454kg (28% gordura corporal).

Quadro 2 - Exigência nutricional de acordo com o ganho de peso.

 

Ganho médio diário 0,290kg

Ganho médio diário 0,800

Ganho médio diário 1,220kg

Mat. seca ing. (MSI) (kg/dia)

7,9 8,3 8,1

Eng. líq. mantença (Mcal/kg)

0,99 1,34 1,67

Eng. líq. ganho (Mcal/kg)

0,44 0,77 1,06

Proteína. bruta (% MS) 6,9 9,2 11,5

Cálcio (%MS) 0,20 0,32 0,42

Fósforo (% MS) 0,12 0,17 0,21

Animais em engorda com peso vivo de 409 kg - peso ao abate de 545kg (28% de gordura corporal).

Quadro 3 - Exigência nutricional de acordo com o ganho de peso.

Exigência nutricional

Ganho médio diário 0,330 kg

Ganho médio diário 0,910

Ganho médio diário 1,380kg

Mat. seca ing. (MSI) (kg/dia)

10,0 10,6 10,3

Eng. líq. mantença (Mcal/kg)

0,99 1,34 1,67

Eng. líq. ganho (Mcal/kg) 0,44 0,77 1,06

Proteína. bruta (% MS) 6,6 8,4 10,2

Cálcio (% MS) 0,19 0,28 0,37

Fósforo (% MS) 0,12 0,16 0,20

Novilhas prenhas com peso à maturidade de 533 kg, 15 meses de idade à concepção.

Quadro 4 - Exigência nutricional de acordo com os meses de gestação.

Page 130: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Exigência nutricional

3 meses após concepção

6 meses após concepção

8 meses após concepção

Mat. seca ing. (MSI) ( kg/ dia)

9,5 10,2 10,7

Eng. líq. requerida ( Mcal/dia)

8,88 10,54 13,22

- Mantença 6,30 6,77 7,07

- Crescimento (390 g/dia)

2,42 2,59 2,71

- Prenhês 0,16 1,18 3,44

Prot.metabol. requerida (g/dia)

437 501 613

- Mantença 311 334 349

- Crescimento (390 g/dia)

119 117 113

- Prenhês 7 50 151

Proteína bruta requerida (g/dia)

652,2 747,8 915

Cálcio requerido (g/dia)

20 20 33

- Mantença 11 12 13

- Crescimento (390 g/dia)

9 8 8

- Prenhês 0 0 12

Fósforo requerido (g/dia)

12 10 20

- Mantença 8 9 10

- Crescimento (390 g/dia)

4 3 3

- Prenhês 0 0 7

Vacas Angus com peso vivo de 533 kg e 8 kg de leite no pico de produção

Quadro 5 - Exigência nutricional de acordo com a fase de lactação.

Exigência nutricional

2 meses após nascimento

6 meses após nascimento

10 meses após nascimento

Mat. seca ing. (MSI) ( kg/ dia)

12,23 11,90 11,28

Page 131: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Eng. líq. requerida ( Mcal/dia)

15,99 12,64 10,62

- Mantença 10,25 10,25 8,54

- Lactação 5,74 2,23 0

- Prenhês 0 0,16 2,08

Prot.metabol. requerida (g/dia)

840 592 510

- Mantença 422 422 422

- Lactação 418 163 0

- Prenhês 0 7 88

Proteína bruta requerida (g/dia)

1.253,7 883,6 761,2

Cálcio requerido (g/dia)

36 24 28

- Mantença 16 16 16

- Lactação 20 8 0

- Prenhês 0 0 12

Fósforo requerido (g/dia)

24 17 18

- Mantença 13 13 13

- Lactação 11 4 0

- Prenhês 0 0 5

5. COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS

Quadro 6 - Composição de alimentos e seus nutrientes expressos em base matéria seca (MS).

Composição

MS (%)

PB (%)

NDT (%)

ELm (Mcal)

Elg (Mcal)

Ca (%)

P (%)

FDN (%)

FDA (%)

Milho grão88,0

9,0 85,02,067

1,393

0,02

0,29

9,0 3,0

Sorgo grão

88,0

9,0 82,01,820

1,190

0,03

0,20

8,8 3,0

Farelo arroz

91,0

14,8

69,01,663

1,056

0,06

0,99

33,0

18,0

Raspa mandioca

87,3

3,5 68,01,569

0,913

0,17

0,09

13,0

7,0

Farelo trigo

89,0

14,0

71,01,662

1,056

0,13

1,02

31,0

15,0

Page 132: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Polpa cítrica

91,0

6,7 77,01,910

1,235

1,84

0,12

25,0

22,0

Farelo soja

88,0

45,0

82,02,112

1,438

0,30,68

12,0

10,0

Soja grão91,0

38,0

93,02,350

1,650

0,40,52

12,0

10,0

Caroço algodão

90,0

23,5

96,02,471

1,730

0,21

0,64

47,4

38,6

Farelo algodão

88,0

38,0

68,01,865

1,236

0,15

0,825,0

18,0

Far. amendoim

91,0

49,5

72,01,910

1,235

0,12

0,58

25,0

15,0

Far. girassol

93,0

28,0

67,01,470

0,880

0,40

1,10

40,0

17,0

Cama frango

86,0

18,0

61,01,342

0,765

2,32

0,60

38,0

15,0

Farinha peixe

94,0

55,0

60,01,775

1,120

8,80

4,80

1,0 0

Farinha sangue

91,5

80,0

60,01,510

0,910

0,40

0,25

1,0 0

Sebo animal

99,0

0177,0

4,750

3,510

0,57

0,06

0 0

B. brizantha - águas

27,9

9,0 54,51,067

0,517

0,22

0,16

69,7

39,6

B. brizantha - seca

57,0

4,0 48,00,970

0,320

0,20

0,12

80,0

45,0

Cana de açucar

21,0

1,9 60,01,314

0,736

0,13

0,03

55,0

42,0

FONTE : N.R.C (1996), PLERUMI.

6. CÁLCULO DA DIETA

Quadro 7 – Dieta total para diferentes categorias de bovinos de corte, expressos em matéria natural e seca, e análise de seus respectivos nutrientes de acordo com a formulação.

Ingestão diária

Vacas Novilhas Crescimento Engorda

Matéria seca

Matéria natural

Matéria seca

Matéria natural

Matéria seca

Matéria natural

Matéria seca

Matéria natural

Page 133: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Braquiária brizantha - águas (kg)

- - - - 5,81 20,84 - -

Braquária brizantha - secas (kg)

9,37 33,58 8,57 15,04 - - - -

Cana de açúcar (kg)

- - - - - - 4,64 22,07

Caroço de algodão (kg)

1,34 1,49 2,01 2,23 0,77 0,86 2,06 2,29

Polpa cítrica (kg)

1,43 1,57 - - 1,66 1,82 2,06 2,29

Sorgo grão moído (kg)

- - - - - - 1,40 1,59

Uréia (kg) - - 0,04 0,04 - - 0,08 0,08

Suplemento mineral (kg)*

0,10 0,10 0,09 0,09 0,06 0,06 0,07 0,07

TOTAL (kg)

12,23 36,73 10,7 17,39 8,3 23,58 10,3 28,36

Quadro 8 – Análise das formulações

Nutrientes

Exigência

Atendida

Exigência

Atendida

Exigência

Atendida

Exigência

Atendida

P.B. (%)

10,25 10,25 8,6 8,6 9,2 9,83 10,20 10,20

NDT (%)

- 61,21 - 56,44 - 62,50 - 72,77

Elm (Mcal/kg)

1,31 1,31 1,24 1,24 1,340 1,360 1,67 1,715

Elg (Mcal/k

- - - - 0,770 0,770 1,06 1,086

Page 134: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

g)

FDA (%)

- 37,12 - 43,3 - 35,7 - 32,25

FDN (%)

- 61,49 - 73,0 - 58,2 - 40,44

Ca (%) 0,29 0,54 0,31 0,39 0,20 0,65 0,37 0,58

P (%) 0,20 0,28 0,19 0,29 0,12 0,25 0,19 0,25

Na (%) 0,10 0,10 0,1 0,1 0,08 0,08 0,08 0,08

* Suplemento mineral: 16% Ca; 8,8% P; 0,5%Mg; 1,2% S; 12,3% Na; 1687 ppm Fe; 4250 ppm Zn; 1550 ppm Cu; 150 ppm I; 107 ppm Co; 18ppm Se; 1400 ppm Mn

Os cálculos foram feitos com o Software "PLE RUMI" (versão 1.2 - E.T.S.I.A.).

ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE PASTAGEM CONSORCIADA DE PANICUM MAXIMUM E LEGUMINOSAS SOB PASTEJO 1. AVALIAÇÃO AGRONÔMICA (AGRONOMIC VALUATION)

Herbert Vilela1, Duarte Vilela2, Fabiano A. Barbosa3, Edmundo Benedetti4

1. Engenheiro Agrônomo, professor visitante do Departamento de Produção Animal da Universidade Federal de Uberlândia. Belo Horizonte/MG, Brasil. [email protected] e [email protected]. Engenheiro Agrônomo, pesquisador da EMBRAPA – CNPGL. Juiz de Fora/MG [email protected]. Médico Veterinário, M.Sc., Doutorando em Produção Animal, Escola Veterinária/UFMG. [email protected]. Médico Veterinário, professor titular do Departamento de Produção Animal. Univ. Fed. Uberlândia/UFU. [email protected]

RESUMO

O trabalho foi conduzido na Região Fisiográfica do Alto São Francisco do Estado de Minas Gerais, em uma pastagem consorciada de Panicum maximum Jacq. (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis e com Glycine wighti. O solo, durante o plantio, foi corrigido e adubado com 2,5t/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5

e 60kg/ha de K2O, nas formas de termofosfato e cloreto de potássio, respectivamente. Nos meses de janeiro, nos anos subseqüentes ao da formação da pastagem, procedeu-se à adubação de manutenção. Esta consistiu na aplicação, em cobertura, de 20 ou 40kg/ha/ano de P2O5 e 20 ou 40kg/ha/ano de K2O, nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. O sistema de pastejo foi o contínuo e o ajuste da forragem-animal foi feito pelo método de carga variável. As taxas de lotações médias para os piquetes que receberam níveis zero, 20kg e 40kg/ha, foram 0,57, 1,08 e 1,54UA por hectare (1UA = 450kg peso vivo)

Page 135: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

respectivamente. A adubação de manutenção de 40 kg de P2O5 e 40 kg de K2O por hectare por ano elevou os teores médios de fósforo e potássio no solo. A cobertura vegetal da gramínea e das leguminosas diminuiu para o tratamento com nível zero, do primeiro ao último ano, de 63 para 18% e de 18 para 6%, respectivamente. Já para o tratamento com 40kg/ha de P2O5 e K2O aumentou de 63% para 72% para as gramíneas e de 18% para 19% para as leguminosas, do primeiro ao nono ano. A adubação de manutenção com fósforo e potássio aumentou a disponibilidade de matéria seca de forragem por hectare. A adubação de manutenção com fósforo e potássio influenciou a composição bromatológica da forragem aumentando os níveis de proteína bruta, cálcio, fósforo e potássio.

Palavras chave: adubação de pastagens, composição bromatológica, disponibilidade de forragem.

SUMMARY

Fertilization of Maintenance of Pastures with Panicum maximum and Leguminous under Grazing

This work was developed in Minas Gerais, Alto São Francisco region’s, on pasture of Panicum maximum Jacq. (cv Makueni) with Stylosanthes guianensis and Glycine wighti. The soil was corrected, during of plantation, with application of 2,5t/ha of dolomitic limestone, and was fertilized with 100kg of P2O5 and 60kg of K2O/ha in the forms of thermophosphate and potassium chloride. The fertilizer levels consisted of the usage of 20kg or 40kg of P2O5 and 20 or 40kg of K2O/ha in the form of simple super phosphate and potassium chloride. The average stocking rate, during nine years, was 0,57; 1,08 and 1,54UA per hectare to zero, 20 and 40 levels of fertilization, respectively. The grazing was continuous and adjustment of the animal was made by a put and take method. The botanical composition of pastures varied according to the treatment used. The grasses and the legumes decreased progressively in the treatment without fertilizers the first for the last year, 63 to 18% and 18 to 6%, respectively. On the other hand, the treatment with 40kg of fertilizer increased grasses and legumes, 63 to 72% and 18 to 19%, respectively. The phosphorus and potassium fertilization’s increased the available forage and nutritive value. The levels of crude protein, calcium, phosphorus and potassium increased with fertilization.

Key words: available forage, nutritive value, pasture fertilization’s.

INTRODUÇÃO

A pastagem é um componente importante da produção agropecuária em todas as regiões do Brasil. Ela é a fonte quase que exclusiva de alimentação da grande maioria dos sistemas de produção de gado de corte no país. A baixa produção de espécies forrageiras e as reduzidas concentrações de minerais na forragem influenciam diretamente o desempenho do animal em pastejo. Uma das alternativas para aumentar a produção e melhorar a qualidade da forragem é o estabelecimento de pastagens de gramíneas e leguminosas tropicais em consórcio (Mesquita et al,

Page 136: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

2002).

O potencial das leguminosas tropicais é relatado como planta forrageira de qualidade superior ao das gramíneas (Bryan & Evans, 1971; Thomaz, 1973 citados por Lourenço et al, 1998), podendo influir positivamente no desempenho animal. O insucesso da utilização de pastagens consorciadas tem sido atribuído à baixa persistência das leguminosas, quando submetidas ao pastejo prolongado, às técnicas de manejo inadequadas, à incompatibilidade fisiológica entre as duas espécies, em razão das exigências nutricionais diferenciadas, ou ainda à falta de adaptação edafoclimática (Lourenço et al, 1998).

O valor nutritivo da forragem pode ser bastante diferente para as diversas espécies forrageiras e partes da planta e, como relaciona-se com o consumo, os estudos que caracterizam as pastagens em termos de composição química da forragem são relevantes na avaliação de pastagens, pois auxiliam na indicação quanto à necessidade de suplementação para as categorias de animais (Brâncio et al, 2002).

Portanto, o objetivo do trabalho foi verificar as características agronômicas de uma pastagem consorciada estabelecida na região de cerrado e mantida com níveis de fósforo e de potássio em manutenção.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido na Região Fisiográfica do Alto São Francisco do Estado de Minas Gerais, em uma pastagem consorciada de Panicum maximum Jacq, (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis e com Glycine wightii, estabelecida em um Latossolo vermelho-amarelo, textura argilosa (40% argila). O solo apresentou-se inicialmente, com 1ppm de fósforo, 39ppm de potássio, 0,65eq. mg/100cc de Ca+Mg, 0,80eq. mg/100cc de Al.

O clima da região, segundo Köppen, situa-se na faixa de C/a mesotérmico, com temperatura média do mês mais quente de 22ºC, apresentando um mês mais seco, com menos de 20mm de chuvas. A precipitação média acumulada por ano é de cerca de 1200mm.

A pastagem foi estabelecida em outubro 1990 após a derrubada da vegetação natural de cerrado. Na ocasião, foram aplicados 2500kg/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5 na forma de termofosfato e 60kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio.No plantio a lanço usou-se 15kg/ha de semente, de capim Panicum maximum e 6kg/ha de uma mistura de sementes das leguminosas estilosantes e soja perene em proporções iguais.

Durante os meses de janeiro, nos anos subseqüentes ao da formação da pastagem procedeu-se à adubação de manutenção. A adubação de manutenção, que correspondeu aos tratamentos com níveis zero de fósforo e de potássio, níveis 20kg de P2O5/ha e de 20kg K2O/ha, e níveis 40kg de P2O5/ha e 40kg de K2O/ha, aplicados nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente.

O acompanhamento dos níveis de fósforo e potássio no solo foi feito anualmente, no

Page 137: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

final do período das águas (maio), na profundidade de 0-15cm, em três amostras por piquete (Tabela 1). O delineamento experimental foi blocos casualizados com parcelas divididas com três repetições (piquetes). As parcelas (piquetes) foram formadas por níveis de P2O5 e K2O aplicados por hectare.

Tabela 1 - Cobertura vegetal das pastagens com e sem adubação de manutenção, por ano.

Ano

P2O5

e K2O

Capim Guiné

Capim-Gordura

Estilosantes

Soja Perene

Ervas e Arbustos

Cobertura Morta

1

0 53Ab 10Aa 11Aa 8Ab 8Ac 10Ac

20 52Ab 10Aa 11Aa 8Ab 9Ac 10Ac

40 53Ab 10Aa 10Aa 8Ab 9Ac 10Ac

3

0 35Cc 10Aa 6Bbc 5Bc 27Aa 17Ab

20 56Bb 10Aa 13Aa 6Ab 7Abc 8Bb

40 65Aa 8Bb 14Aa 7Ab 3Bd 3Cd

6

0 12Cd 10Aa 4Bc 4Cc 47Aa 23Aa

20 59Bb 10Aa 12Aa 6Bb 10Bb 3Bd

40 70Aa 1Bc 15Aa 10Aa 3Cd 1Be

9

0 8Ce 10Aa 3Bc 3Bc 51Aa 25Aa

20 59Bb 10Aa 12Aa 8Ab 10Bc 01Be

40 70Aa 1Bc 14Aa 10Aa 4Cd 01Be

Médias

0 27C 10A 6C 5B 33A 19A

20 56B 10B 13AB 7A 9B 5B

40 67A 5C 10A 9A 5C 4C

Médias dentro de cada ano, na coluna, entre tratamentos seguidos por letras maiúsculas diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste F

Médias para cada parâmetro, dentro da coluna, seguidas por letras minúsculas diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste FOs piquetes (com 1,5ha cada) foram submetidos a pastejo com lotações variáveis, a partir de fevereiro de 1991. Cada piquete foi pastejado por três animais "testers" do grupo genético Nelore, com idade média inicial de nove meses e peso vivo médio de 170kg e número variável de reguladores. A oferta de forragem pretendida foi de 10% do peso vivo (10kg de MS disponível para cada 100kg de peso vivo por dia). Os animais testes eram substituídos por outros da mesma categoria, anualmente. Portanto o pastejo foi o contínuo com lotação variável, empregando a técnica do "put and take" (Mott & Lucas, 1952). Nesta mesma época, para estimar a forragem disponível eram coletadas 10 amostras de forragem (0,25m²) por piquete, as quais foram cortadas rentes ao solo (McMeniman, 1997). Simultaneamente, media-se a

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altura da planta.

Uma amostra composta mensal por piquete foi analisada para proteína, cálcio, fósforo e potássio segundo metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002), no laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. Ainda, para estimar a freqüência das espécies forrageiras (cobertura vegetal) utilizou-se o método "point analysis method", uma variação em sua modalidade vertical.

As análises estatísticas dos parâmetros avaliados foram realizadas de acordo com o delineamento experimental de blocos ao acaso, com os tratamentos distribuídos em parcelas que eram constituídas pelos níveis de fósforo e potássio usados. Para a cobertura vegetal, fez-se a análise de variância, transformando-se previamente os dados em arco seno, raiz quadrada da porcentagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As adubações de manutenção promoveram elevação dos níveis de fósforo (P) e potássio (K) no perfil do solo amostrado em zero a 15cm: 1, 5 e 8ppm de P; 35, 50 e 70ppm de K, para os tratamentos zero, 20 e 40kg/ha/ano, respectivamente. A elevação destes níveis no solo indica que os níveis usados de adubação de manutenção proporcionaram também um melhoramento do solo, avaliado pelo fósforo e potássio.

A altura da planta permaneceu em 20cm em ralação ao solo nos três tratamentos. A disponibilidade de forragem foi de 3500, 4460 e 4600kg de matéria seca (MS)/ha para os níveis zero, 20 e 40, respectivamente (P < 0,05). Embora tenha obtido uma altura de pastejo constante entre os tratamentos a disponibilidade de forragem variou em função dos tratamentos usados. Ou seja, a adubação aumentou a área de solo coberta pela forrageira e, conseqüentemente a disponibilidade de forragem por área.

As taxas de lotações médias, durante os nove anos de estudo, para os piquetes que receberam níveis zero, 20kg e 40kg/ha, foram de 0,57, 1,08 e 1,54UA por hectare (1UA = 450kg peso vivo) respectivamente.

Os níveis de adubação usados modificaram a cobertura vegetal das pastagens ao longo dos anos (Tabela 1). Estes resultados mostram a tendência de ervas e arbustos substituírem gradativamente as forrageiras introduzidas em uma pastagem sob pastejo, quando não se procede à adubação de manutenção (Werner & Haag, 1972). Por outro lado, verifica-se que a leguminosa estilosantes teve maior participação na cobertura do que a soja perene. Este resultado pode ser devido a melhor adaptação do estilosantes ao nível de adubação usado.

A composição bromatológica (Tabela 2) foi influenciada pelos níveis de adubação de manutenção usados de forma direta. De forma direta, através da maior contribuição das leguminosas nas pastagens (19%) (Guss, 1988). Indiretamente, pelo fato das adubações usadas proporcionarem maiores teores de proteína bruta, cálcio, fósforo e potássio nas forrageiras (Haag & Dechen, 1984; Rossi et al., 1997; Carvalho et al., 1985).

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Tabela 2- Composição bromatológica (%MS) parcial da forragem de pasto de gramíneas e leguminosas por tratamento e por ano.

AnoP2O5 e K2O (kg/ha/ano)

Proteína bruta (% MS)

Cálcio (%MS)

Fósforo (%MS)

Potássio (%MS)

1

0 11,50 0,45 0,16 2,01

20 11,60 0,50 0,20 2

40 11,30 0,58 0,22 2,15

3

0 10,50 0,41 0,15 1,80

20 12 0,54 0,23 2,10

40 12,50 0,58 0,25 2,45

6

0 8,90 0,36 0,09 1,80

20 12 0,56 0,25 2,20

40 12,50 0,62 0,30 2,95

9

0 8,60 0,37 0,10 1,70

20 11,70 0,58 0,26 2,30

40 12,40 0,63 0,31 2,95

Médias

0 9,90B 0,39C 0,12B 1,83C

20 11,80A 0,55B 0,23B 2,13B

40 12,17A 0,60A 0,27A 2,62A

Médias seguidas por letras diferentes, dentro da coluna, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de FCONCLUSÕES

Nas condições deste trabalho a adubação de manutenção de 40kg de P2O5 e 40kg de K2O por hectare por ano elevou os teores médios de fósforo e potássio no solo.

A adubação de manutenção com fósforo e potássio aumentou a disponibilidade de matéria seca de forragem por hectare.

O nível de 20kg de P2O5 e K2O por hectare mostrou-se suficiente para manter a pastagem, ao longo do tempo, com aproximadamente a mesma composição botânica.

O nível de 40kg de P2O5 e K2O por hectare apresentou aumentos progressivos na cobertura vegetal de forragem e diminuição de ervas e arbustos.

A adubação de manutenção com fósforo e potássio influenciou a composição bromatológica da forragem aumentando os níveis de proteína bruta, cálcio, fósforo e potássio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 140: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

ALMEIDA, R.G., FONSECA, D.M., BARBOSA, R.A. Avaliação de três cultivares de panicum maximum jacq. sob pastejo. composição química e digestibilidade da forragem. RBZ, v.31, n.4, p.1605-1613, 2002.

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GUSS, A. Exigência de fósforo para o estabelecimento de gramínea e leguminosas forrageiras tropicais em solos com diferentes características físicas e químicas. Viçosa: U.F.V., 1988, 74p. Tese (Doutorado em Zootecnia).

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McMENIMAN, N.P. Methods of estimating intake of grazing animals. In: Simpósio sobre Tópicos Especiais em Zootecnia. Anais... Juiz de Fora: SBZ, 1997, p.133-168.

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MOTT, G.O., LUCAS, H.L. The design conduct and interpretation of grazing trials on cultivated and improved pastures. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 6. Proceedings… Pennsylvania, 1952. State College Press. p.1380.

ROSSI, C., FAQUIN, V., CURI, N., EVANGELISTA, A.R. Calagem e fontes de fósforo na produção do brachiarão e níveis críticos de fósforo em amostra de latossolo dos Campos das Vertentes (MG). Revista Bras.Zoot., v. 26, n.6, p.1074-1082, 1997.

SILVA, D.J., QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos. Métodos químicos e biológicos. 3 ed., Viçosa: UFV, 2002, 235 p.

WERNER, J.C. e HAAG, H.P. Estudos sobre a Nutrição mineral de alguns capins tropicais. Bol. Ind. Animal, v.29 p.191-245, 1972.

2. PRODUÇÃO ANIMAL (ANIMAL PRODUCTION)

Herbert Vilela1, Duarte Vilela2, Fabiano A. Barbosa3, Edmundo Benedetti4

1 - Engenheiro Agrônomo.Professor Visitante do Departamento de Produção Animal da Universidade Federal de Uberlândia. BeloHorizonte. MG. Brasil. [email protected] e [email protected] - Engenheiro Agrônomo. Pesquisador da EMBRAPA - CNPGL. Juiz de Fora.

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[email protected] - Médico Veterinário, M.Sc. Doutorando em Produção Animal - Escola Veterinária - UFMG - [email protected] - Médico Veterinário. Professor Titular. Departamento de Produção Animal. UFU - Univ. Fed. Uberlândia. [email protected]

RESUMO

O trabalho foi conduzido na Região Fisiográfica do Alto São Francisco do Estado de Minas Gerais, em uma pastagem consorciada de Pannicum maximum Jacq, (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis e com Glycine wighti. O solo, durante o plantio, foi corrigido e adubado com 2,5t/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5

e 60kg/ha de K2O, nas formas de termofosfato e cloreto de potássio, respectivamente. Nos meses de janeiro, nos anos subseqüentes ao da formação da pastagem, procedeu-se à adubação de manutenção. Esta consistiu na aplicação, em cobertura, de 20 ou 40kg/ha/ano de P2O5 e 20 ou 40kg/ha/ano de K2O, nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. O sistema de pastejo foi o contínuo e o ajuste da forragem-animal foi feito pelo método de carga variável. A adubação de manutenção com fósforo e potássio aumentou a disponibilidade de matéria seca de forragem e influenciou a composição bromatológica da mesma aumentando os níveis de proteína bruta, cálcio, fósforo e potássio. As taxas de lotações médias para os piquetes que receberam níveis zero, 20kg e 40kg/ha, foram 0,57, 1,08 e 1,54UA por hectare (1UA = 450kg peso vivo) respectivamente. Os rendimentos em peso vivo médio, obtidos com novilhos Nelores, por hectare e por ano, foram 155, 363 e 476kg (P < 0,05) respectivamente para os tratamentos com níveis zero, 20kg e 40kg de adubação de manutenção. Para o nono ano, os rendimentos obtidos por hectare e por ano foram 50, 350 e 560kg (P < 0,05) respectivamente para os níveis zero, 20 e 40 kg/ha de adubação de manutenção estudados.

Palavras chave: adubação de pastagens, produtividade, rendimento de peso vivo, taxa de lotação.

SUMMARY

Fertilization of Maintenance of Pastures with Panicum maximum and Leguminous under Grazing

This work was developed in Minas Gerais, Alto São Francisco region’s, in Pannicum maximum Jacq. (cv Makueni) with Stylosanthes guianensis and Glycine wighti. The soil was corrected, during of plantation, with application of 2,5t/ha of dolomitic limestone, and was fertilized with 100kg of P2O5 and 60kg of K2O/ha in the forms of thermo phosphate and potassium chloride. The fertilizer levels consisted of the usage of 20kg or 40kg of P2O5 and 20 or 40kg of K2O/ha in the form of simple super phosphate and potassium chloride. The phosphorus and potassium fertilization’s increased the available forage and nutritive value. The levels of crude protein, calcium, phosphorus and potassium increased with fertilization. The average stocking rate, during nine years, was 0,57; 1,08 and 1,54UA per hectare to zero, 20 and 40 levels of fertilization, respectively. The grazing was continuous and

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adjustment of the animal was made by a put and take method. The live weight gain, obtained with steers for hectare in a year, was for the first year 229, 369 and 376kg (P < 0.05) respectively treated with zero levels, 20kg and 40kg of fertilization. For the ninth year the gain obtained for hectare in one year was 50, 350 and 560kg for the 3 levels of fertilization studies.

Key words: bovine productive, live weight gain, pasture fertilization’s, stocking rate.

INTRODUÇÃO

A área de pastagem, com espécies cultivadas no Brasil, está em torno de 115 milhões de hectares (ha), enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões (Zimmer & Euclides Filho, 1997). Estas áreas abrigam cerca 167 milhões de cabeças de bovinos o que proporciona uma taxa de lotação de 0,64 cabeças por hectare e produção de cerca de sete milhões de toneladas de equivalente carcaça (Anualpec, 2003).

Contudo, os solos que estão sob esta vegetação são, em sua maioria, pobres, com um horizonte com argilas de baixa atividade, que consiste de uma mistura de caolinita, óxidos de ferro e quartzo e com um baixo conteúdo de minerais. Conseqüentemente, as forrageiras nativas existentes sobre estes solos apresentam uma baixa produtividade (Vilela et al, 1978) e as forrageiras estabelecidas, mediante correção do solo, para a formação destas pastagens, têm apresentado, em curto período de tempo, um acentuado declínio em sua produtividade (Vilela, 1998). Este curto período de utilização da pastagem cultivada está intimamente relacionado ao insuficiente fornecimento de nutrientes do solo para a espécie forrageira introduzida (Haag & Dechen, 1984; Rossi et al, 1997).

Portanto, o objetivo do trabalho foi verificar a produtividade animal de uma pastagem consorciada estabelecida na região de cerrado e mantida com níveis de fósforo e de potássio em estudo de sustentação.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido na Região Fisiográfica do Alto São Francisco do Estado de Minas Gerais, em uma pastagem consorciada de Pannicum maximum Jacq, (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis e com Glycine wightii, estabelecida em um Latossolo vermelho-amarelo, textura argilosa (40% argila). O solo apresentou-se inicialmente, com 1ppm de fósforo, 39ppm de potássio, 0,65eq. mg/100cc de Ca+Mg, 0,80eq. mg/100cc de Al. O clima da região, segundo Köppen, situa-se na faixa de C/a mesotérmico, com temperatura média do mês mais quente de 22ºC, apresentando um mês mais seco, com menos de 20mm de chuvas. A precipitação média acumulada por ano é de cerca de 1.200mm.

A pastagem foi estabelecida em outubro 1990 após a derrubada da vegetação natural de cerrado. Na ocasião, foram aplicados 2500kg/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5 na forma de termofosfato e 60kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio. No plantio a lanço usou-se 15kg/ha de semente, de capim Panicum maximum e 6kg/ha de uma mistura de sementes das leguminosas estilosantes e

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soja perene em proporções iguais.

Durante os meses de janeiro, nos anos subseqüentes ao da formação da pastagem procedeu-se à adubação de manutenção. A adubação de manutenção, que correspondeu aos tratamentos com níveis zero de fósforo e de potássio, níveis 20kg de P2O5/ha e de 20kg K2O/ha, e níveis 40kg de P2O5/ha e 40kg de K2O/ha, aplicados nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente.

Os piquetes (com 1,5ha cada) foram submetidos a pastejo com lotações variáveis, a partir de fevereiro de 1991. Cada piquete foi pastejado por três animais "testers" do grupo genético Nelore, com idade média inicial de nove meses e peso vivo médio de 170kg e número variável de reguladores. A oferta de forragem pretendida foi de 10% do peso vivo (10kg de MS disponível para cada 100kg de peso vivo por dia). Os animais testes eram substituídos por outros da mesma categoria, anualmente. Portanto o pastejo foi o contínuo com lotação variável, empregando a técnica do "put and take" (Mott & Lucas, 1952). Nesta mesma época, para estimar a forragem disponível eram coletadas 10 amostras de forragem (0,25m²) por piquete, as quais foram cortadas rentes ao solo (McMeniman, 1997). Simultaneamente, media-se a altura da planta. Uma amostra composta mensal por piquete foi analisada para proteína, cálcio, fósforo e potássio segundo metodologias descritas por Silva & Queiroz (2002), no laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.

Os animais testes foram pesados a cada 28 dias.O ganho de peso médio diário dos animais foi obtido pela diferença entre o peso vivo final e inicial dos testers, em cada período experimental (ano), dividido pelo número de dias do período. A carga animal (kg de peso vivo por hectare) por ano foi calculada pelo somatório do peso vivo médio dos animais testers com o peso médio dos reguladores, multiplicado pelo número de dias que os últimos permaneceram na pastagem, dividido pelo número de dias do período de pastejo.

As análises estatísticas dos parâmetros avaliados foram realizadas de acordo com o delineamento experimental de blocos ao acaso, com os tratamentos distribuídos em parcelas que eram constituídas pelos níveis de fósforo e potássio usados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A altura da planta permaneceu em 20cm em ralação ao solo nos três tratamentos. A disponibilidade de forragem foi de 3500, 4460 e 4600kg de matéria seca (MS)/ha para os níveis zero, 20 e 40, respectivamente (P < 0,05). Pode-se observar que embora tenha obtido uma altura de pastejo constante entre os tratamentos a forragem disponível variou em função dos tratamentos usados. Ou seja, a adubação aumentou a área de solo coberta pela forrageira e, conseqüentemente à forragem disponível por área. Sabe-se que no complexo pastagem, a massa de forragem e a altura da planta implicam em um conceito de densidade do relvado (peso da forragem/volume) (Hodgson, 1982). Por outro lado, sabe-se que o consumo de forragens é afetado assintóticamente pela densidade da forragem e decrescentemente pelo estágio de crescimento da planta (Laca et al, 1992.) Tudo

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isto leva a alterar a produção animal.

A composição bromatológica da forragem foi influenciada pelos níveis de adubação de manutenção usados de duas formas (Tabela 1). De forma direta, através da maior contribuição das leguminosas nas pastagens (Guss, 1988) e indiretamente, pelo fato das adubações usadas proporcionarem maiores teores de proteína bruta, cálcio, fósforo e potássio nas forrageiras (Haag & Dechen, 1984; Rossi et al, 1997).

Tabela 1 - Composição bromatológica (%MS) parcial da forragem de pasto de gramíneas e leguminosas por tratamento e por ano.

AnoP2O5 e K2O (kg/ha/ano)

Proteína bruta (% MS)

Cálcio (%MS)

Fósforo (%MS)

Potássio (%MS)

1

0 11,50 0,45 0,16 2,01

20 11,60 0,50 0,20 2,00

40 11,30 0,58 0,22 2,15

3

0 10,50 0,41 0,15 1,80

20 12,00 0,54 0,23 2,10

40 12,50 0,58 0,25 2,45

6

0 8,90 0,36 0,09 1,80

20 12,00 0,56 0,25 2,20

40 12,50 0,62 0,30 2,95

9

0 8,60 0,37 0,10 1,70

20 11,70 0,58 0,26 2,30

40 12,40 0,63 0,31 2,95

Médias

0 9,90B 0,39C 0,12B 1,83C

20 11,80A 0,55B 0,23B 2,13B

40 12,17A 0,60A 0,27A 2,62A

Médias seguidas por letras diferentes, dentro da coluna, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de FAs adubações usadas mostraram efeitos consistentes sobre os rendimentos em peso vivo obtidos ao longo dos anos (Tabela 2). Observa-se que os níveis 20kg/ha de P2O5 e de K2O tendem a manter os rendimentos em peso vivo em determinado patamar, os níveis 40kg/ha de P2O5 e de K2O a aumentá-los e os níveis zero a decrescê-los em relação aos obtidos inicialmente (Tabela 3). O maior rendimento em peso vivo por ano obtido neste trabalho (560kg/ha) foi superior aos obtidos por Zimmer & Euclides Filho (1997), Vilela et al (1998) e Euclides et al (1998).

Tabela 2 - Taxa de lotação e rendimento em peso vivo de pastagem submetida a três níveis de adubação de fósforo e potássio, durante nove anos.

AnoAdubação de ManutençãoKg P2O5 e

Taxa de Lotação UA/ha

Ganho de Peso Vivo Kg PV/ha/ano

Page 145: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

K2O/ha/ano

1

0 0,90 299eC

20 1,07 369dB

40 1,29 376dA

3

0 0,65 170fC

20 1,02 339dB

40 1,42 448cA

6

0 0,46 100dC

20 1,10 365cB

40 1,60 520bA

9

0 0,26 50hC

20 1,11 350dB

40 1,82 560aA

Médias

0 0,57 155C

20 1,08 363B

40 1,54 476A

Médias com letras maiúsculas, dentro do ano, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de F

Médias com letras minúsculas, dentro da coluna, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de FObserva-se que a sustentabilidade de pastagem cultivada em cerrado é precária, requerendo atenção especial às causas de degradação das pastagens principalmente, a que se refere às práticas culturais de adubação de manutenção. Verifica-se que a produção de carne por hectare por ano, ao nono ano de sua utilização, sem nenhuma adubação de manutenção, é igual à produção de carne de uma pastagem nativa (Vilela, 1978).

PASTEJO ROTACIONADO Tabela 1 - Período de descanso para algumas gramíneas forrageiras utilizadas sob pastejo rotativo

GramíneasPeríodo de descanso (dias)

Capim elefante 45 (35-45)

Panicum e seus cultivares 35 (30-35)

Andropogon 30 (25-30)

Brachiaria brizantha 35 (30-35)

Brachiaria decumbens 30 (25-30)

Coast-cross - cynodon 25 (20-28)

 

 

Parceiros

Page 146: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Tabela 2 - Altura de manejo (cm) de algumas gramíneas forrageiras

Espécie ou variedades

Altura (cm) das forrageiras quando os animais

Entrada na pastagem

Saída na pastagem

Capim elefante 160 - 180 35 - 40

Tobiatã 160 - 180 50 - 80

Colonião, Tanzânia 100 - 120 30 - 40

Mombaça 120 - 130 40 - 60

Andropogon 50 - 60 20 - 30

Brachiaria brizantha 40 - 45 20 - 25

Pangola, Cynodon, B. decumbens

25 - 30 10 - 15

Brachiaria humidicola 15 - 20 5 - 8

Modificado de RODRIGUES (1986)

Tabela 3 - Ganho de peso vivo de bovinos, Canchim e NelxCan, em pastagens, nas águas

GramíneasCategoria kg pv/ animal/dia

Tanzânia

novilhas 0,680

bezerros 0,600

garrotes 0,820

Coast-crossnovilhas 0,713

novilhas 0,600

Mombaça novilhas 0,590

Marandu garrotes 0,680

Tabela 4 - Lotação e ganho de peso vivo de bovinos, Canchim e NelxCan, em pastagens, nas águas

Gramíneas

No animais

Categoria

No dias

Adubação (kg N/ha)

Ganho peso

Tanzânia/96 65 novilhas 150 200 803

Tanzânia/97 - bezerros 150 300 909

Page 147: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Coast-cross/96

121 garrotes 144 300 900

Coast-cross/97

134 novilhas 132 300 780

Mombaça/97

75 novilhas 111 200 491

Marandu/97 62 novilhas 126 200 437

 

PRODUÇÃO DE CARNE À PASTO Herbert Vilela *Fabiano Alvim Barbosa **

I. INTRODUÇÃO

O baixo rendimento observado nos trópicos pode ser atribuído em grande parte, a desnutrição resultante da sazonalidade característica da produção de forragem nesta região. Em um programa de produção de carne, é relevante considerar as fases negativas de desenvolvimento do animal. Deve haver condições para que o mesmo se desenvolva normalmente, proporcionando um crescimento durante todo o ano.

Devido ao desequilíbrio entre os ganhos na época das águas e da seca faz-se necessária a suplementação alimentar em certos períodos, para que se possa abater animais com idades inferiores a 30 meses. Essa suplementação pode ser a pasto, podendo-se ainda utilizar pastagem cultivada anual na seca ou inverno ou mesmo a pastagem fenada naturalmente (macega).

A suplementação protéica tem sido utilizada para diminuir as perdas de peso ou aumentar a produção animal durante os períodos críticos. Vários trabalhos de pesquisa (RICHARDSON et al. 1976, THOMAS e ADDY, 1977, HAFLEY et al., 1993, POPPI e MCLENNAN, 1995) estudaram o efeito de diversos tipos de suplementos protéicos sobre a produção animal e geralmente, as melhores respostas foram obtidas onde havia alta disponibilidade de forragem, mesmo que de baixa qualidade.

Durante o período do ano, em que a pastagem apresenta baixa qualidade, a suplementação protéica ou protéico-energética proporciona ganho de peso satisfatório, enquanto que a suplementação exclusivamente energética não apresenta ganho satisfatório (SCALES et al., 1974). Com a suplementação protéica normalmente, tem-se ganho em peso por diversos fatores, entre eles o aumento na ingestão de matéria seca (MCCOLLUM e HORN, 1992). O consumo de matéria seca de gramíneas tropicais é influenciado positivamente pelo nível de proteína da gramínea, até o nível de 7% (MILFORD e MINSON, 1965). O aumento de ingestão de matéria seca e consequentemente no ganho em peso vivo, quando se suplementa com nitrogênio, pode estar relacionado com o aumento de nitrogênio amoniacal no rúmen o que proporciona o desenvolvimento microbiano (HENNESEY

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e WILLIANSOM, 1990).

A decisão de engordar bovinos em condições de pasto, utilizando-se a suplementação alimentar com concentrado ou terminá-los em confinamento depende de uma série de variáveis, como condições peculiares da região e propriedade como também do comércio. O emprego de qualquer destes sistemas pode viabilizar o abate de animais mais jovens, com carcaças de melhor qualidade, além de aumentar a capacidade de suporte da propriedade (EUCLIDES et al., 1998).

Os objetivos deste trabalho foram estudar a eficiência de sistemas de alimentação a pasto, durante os períodos críticos do ano como alternativa de redução da idade de abate.

II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. Suplementação a pasto e consumo de pasto:

O suplemento deve ser considerado como um complemento da dieta, o qual supre os nutrientes deficientes na forragem disponível na pastagem. Na maioria das situações, a forragem não contém todos os nutrientes essenciais, na proporção adequada, de forma a atender as exigências dos animais em pastejo (REIS et al., 1997).

Em muitos sistemas de produção de ruminantes, que tem como base o uso de pastagens, nutrientes suplementares são necessários para se obter níveis aceitáveis de desempenho animal. Um desafio constante é predizer com eficiência o impacto que a suplementação terá no desempenho animal. Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível. Contudo deve-se ter em mente que o suplemento não deve fornecer nutrientes além das exigências dos animais (PARSONS e ALLISON, 1991, PATERSON et al., 1994). Este objetivo pode ser atingido através do fornecimento de todos, ou de alguns nutrientes específicos, os quais permitirão ao animal consumir maior quantidade de matéria seca disponível e digerir ou metabolizar a forragem ingerida de maneira mais eficiente (SIEBERT e HUNTER, 1982, HODGSON, 1990).

A suplementação a pasto tem por objetivos os seguintes aspectos:

corrigir a deficiência dos nutrientes da forragem; aumentar a capacidade de suporte das pastagens; fornecer aditivos ou promotores de crescimento; fornecer medicamentos; auxiliar no manejo de pastagens.

Segundo HODGSON (1990) há poucas circunstâncias nas quais o concentrado convencional ou a forragem conservada agem realmente como suplemento, ou seja, são consumidos sem acarretar diminuição no consumo de forragem.

Neste sentido, para uma eficiente utilização de suplementos para ruminantes em

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pastejo, há necessidade de se conhecer as exigências dos animais. A diminuição no consumo de forragem por animais em pastejo é semelhante ao ocorrido com aqueles confinados. Em resposta a suplementação energética há uma progressiva diminuição no tempo de pastejo e tamanho do bocado (REIS et al., 1997, FORBES et al., 1996) encontraram um coeficiente de substituição de 0,83 da pastagem de gramínea pelo suplemento usado.

Trabalho de PAULINO et al. (1995) mostraram que a suplementação com farinha de carne e outra com farinha de peixe juntamente com mistura mineral promovem melhor desempenho dos animais, em pastagem de capim colonião. Mas não há referência aos efeitos da suplementação no consumo e na digestibilidade da forragem disponível nas pastagens, o que não permite o cálculo do coeficiente de substituição.

2. Suplementação na época das águas:

Quando a forragem é o único alimento disponível para os animais em pastejo, esta deve fornecer energia, proteína, vitaminas e minerais necessários para o requerimento de mantença e de produção. Considerando que os teores destes compostos estão em níveis adequados, a produção animal será função do consumo de energia digestível (ED), uma vez que é alta a correlação entre consumo de forragem e ganho de peso. Assim a quantidade de alimento que um bovino consome é o fator mais importante a controlar a produção de animais mantidos em pastagens (MINSON, 1990).

Pequenas quantidades de energia e N prontamente solúveis podem aumentar a digestão da forragem de baixa qualidade e, em alguns casos, o seu consumo (SIEBERT e HUNTER, 1982, OWENS et al., 1991). A produção de N microbiano no rúmen pode ser limitada também pelo suprimento de substratos facilmente fermentecíveis no caso de forragens tropicais; assim pequenas quantidades de grãos, no caso de animais em crescimento, para elevar a quantidade de N microbiano que chega ao intestino delgado pode melhorar a performance (JONES et al., 1989). De acordo com SIBERT e HUNTER (1982), a resposta na produção de animais em pastejo ao uso de suplemento é, provavelmente influenciado pelas características do pasto e do suplemento, bem como pela maneira de seu fornecimento e pelo potencial de produção do animal.

O consumo de energia e proteína do bovino deve ser balanceado para otimizar a fermentação e maximizar a produção de proteína microbial. Consumo excessivo de proteína sem quantidade adequada de energia, resulta em perda de nitrogênio na excreta. Cerca de 75% do carboidrato digerido pelos ruminantes é fermentado pelos micróbios no rúmen, com estes micróbios suprindo cerca de 50% da proteína (aminoácidos) necessária pelo animal ruminante (NRC Beef, 1984). Suplementos energéticos para o rúmen e suplementos com alto teor de proteína escape seriam igualmente benéficos. O tipo de energia suplementada é importante, uma vez que a energia deve estar disponível para os micróbios ao mesmo tempo que o NH3

(NOLLER et al., 1997).

VANZANT et al. (1990) estudaram o efeito da suplementação com grãos de sorgo

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sobre o consumo e utilização de forragem no início da estação de crescimento. Forneceram este suplemento a novilhos na base de 0, 0,17, 0,32, e 0,66% do peso vivo. A forragem fornecida tinha 37,2% de matéria seca (MS), 6,1% de proteína bruta (PB) e 62,7% de fibra detergente neutro (FDN). A suplementação com sorgo não afetou a concentração de proteína bruta nas amostras de alimento coletadas por novilhos com cânula esofageal, embora as amostras tivessem maior teor protéico que a forragem fornecida. A suplementação também não afetou o consumo de MS da forragem, mas aumentou linearmente o consumo de MS conforme os níveis de suplementação.

3. Suplementação na época da seca:

Sob condições tropicais, o consumo de nutrientes é freqüentemente afetado adversamente por concentrações insuficientes de N, P, S, Co e até mesmo outros minerais traços, dependendo da área sob pastejo. O Brasil central tende a ter deficiência de todos os minerais mencionados. A suplementação dos nutrientes deficientes, aumentando a concentração para atender as exigências, freqüentemente resulta em dramática resposta no consumo de alimentos e produção animal. Sintomas de deficiência são freqüentemente relatados, não para um nutriente, mas uma combinação de deficiências, de modo que nutrientes não devem ser considerados isoladamente. Deficiências múltiplas freqüentemente ocorrem em ambientes tropicais e subtropicais, com resposta em produção se o primeiro nutriente limitante é corrigido, seguido por resposta adicional a medida que outros nutrientes deficientes são corrigidos e a dieta é conduzida para o balanço (NOLLER et al., 1997).

No Brasil central ocorre uma queda acentuada na disponibilidade de forragem no período de seca invernal, que se caracteriza por uma produção extremamente baixa de aproximadamente 10% do total anual (TOSI, 1973, PEDREIRA, 1985). Além da menor oferta de alimento no pasto, o animal dispõe de uma forragem pobre em proteína, com maior teor de fibra bruta, altamente lignificada. Como conseqüência desse fato, os animais consomem menos matéria seca do que em épocas mais favoráveis e o que ingerem é de qualidade insatisfatória, resultando invariavelmente em perda de peso e, às vezes, até a morte, devido ao déficit energético, protéico, mineral e vitamínico (TOSI, 1997).

Suplementação protéica com NNP ou proteína verdadeira, aumenta a eficiência de utilização de forragens de baixo valor nutritivo. Com forragens pobres em PB e resíduos de cultura (< 7,0% de PB), a principal resposta à suplementação protéica tem sido devido ao atendimento da exigência microbiana ruminal por N e fornecimento de aminoácidos específicos e ou energia contida nesse suplemento (PATERSON et al., 1994, BURTON e MERTENS, 1995).

Segundo PAULINO et al. (1995), os suplementos múltiplos tem o objetivo de estimular o consumo de forragem seca e melhorar a sua digestibilidade e não a de suplementação direta (efeito substitutivo). É importante considerar que o conteúdo de N fermetável abaixo do ótimo na dieta pode decrescer a digestibilidade da fibra e também resultar em baixa relação entre aminoácidos/energia nos nutrientes absorvidos (PRESTON e LENG, 1987). Ademais, aumentando a disponibilidade de

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N fermentável, eleva-se a digestibilidade e a relação nos produtos absorvidos, devido ao aumento na eficiência da fermentação no rúmen e ambos os efeitos elevam o consumo de forragem (REIS et al., 1997).

ZANETTI et al. (1997) realizou um experimento com animais NelorexCaracu, com peso inicial de 207,3kg, em pastagens de Brachiaria decumbens com suplementação de 10,5kg de cana de açúcar/animal/dia e quatro tratamentos diferentes: sal mineral, sal mineral com uréia, proteinado, proteinado com uréia. Os animais que receberam somente sal mineral perderam 0,096 gramas/dia, os com sal mineral e uréia ganharam 0,207kg/dia, os com proteinado 0,086kg/dia e os com proteinado com uréia 0,357kg. Os consumos médios diário foram 0,056, 0,135, 0,320, 0,650kg do sal mineral, sal mineral com uréia, proteinado, proteinado com uréia respectivamente.

VILELA et al. (1983) trabalharam com novilhos azebuados com 350kg de peso vivo inicial, durante o período de seca em pastagens de capim colonião, e mostraram que os animais que receberam pasto e mistura mineral comum perderam 0,083kg por dia, os que receberam pasto e mistura mineral (50%) com uréia (50%) ganharam 0,350kg por dia e os que receberam pasto mineral (40%) com uréia (40%) e fubá milho (20%) ganharam 0,593kg por dia. O consumo foi de 55, 70 e 100 gramas por cabeça por dia, respectivamente.

BERGAMASCHINE et al. (1998) trabalharam com novilhos da raça Guzerá, com aproximadamente 17 meses e 246kg de peso vivo, em pastagens de Brachiaria decumbens, Stapf., recebendo suplemento mineral múltiplo, de julho a setembro. Estes animais foram submetidos aos tratamentos: T1 - 1,2; T2 - 0,8 e T3 - 0,5UA/ha. O ganho de peso médio diário foi influenciado (p < 0,05) pela taxa de lotação. A lotação de 0,5UA, proporcionou maior ganho, 0,655kg e a lotação de 1,2UA, o menor, 0,503kg, enquanto que a lotação de 0,8UA, foi intermediária, 0,561kg/animal/dia. O ganho de peso dos animais variou com a disponibilidade média de matéria seca, que foi de 789, 1085 e 1856kg/100kg de peso vivo, para as cargas, 1,2, 0,8 e 0,5UA/ha, respectivamente. O consumo dos suplementos múltiplos foram de 0,775, 0,707, 0,777kg/cabeça/dia para as cargas de 1,2, 0,8 e 0,5UA/ha, respectivamente.

PAZIANI et al. (1998) trabalharam no período de julho a outubro, com machos inteiros Nelore, com peso vivo médio inicial de 277,54kg, em pastagens de Brachiaria brizantha (Hochst. Ex. A. Rich) Stapf cv Marandu. O suplemento utilizado foi do tipo protéico-mineral, com 10,6MJ de energia metabolizável, 390g de PB e 169g de proteína degradável (por kg de produto), formulado à base de farinha de carne, glutenose 60, farelo de soja, levedura e sal mineralizado. O consumo médio foi de 1kg/animal/dia. Os animais do grupo controle tiveram um ganho médio diário de 0,226kg, enquanto os animais suplementados 0,376kg (qualidade superior) e 0,403kg (qualidade inferior) (p < 0,05).

BARBOSA et al. (1998) trabalharam no período de agosto a outubro, com machos inteiros Nelore, com peso vivo médio inicial de 400kg de peso vivo, em pastagens de Brachiaria brizantha (Hochst. Ex. A. Rich) Stapf cv Marandu, utilizando dois tipos de misturas múltiplas comerciais, conseguiram um ganho de peso diário de 121 e 59g e

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um consumo de 160 e 320g/cabeça/dia para a mistura múltipla 1 e mistura múltipla 2, respectivamente. Sendo que a mistura múltipla 1 proporcionou um ganho de R$ 3,44/animal e a mistura múltipla 2 um prejuízo de R$ 7,33/animal, no período considerado.

4. Adubação nitrogenada de pastagens:

O crescimento e a persistência de gramíneas nos trópicos são freqüentemente limitados por deficiência de nitrogênio no solo. Há duas formas práticas de aumentar o suprimento de nitrogênio no solo visando melhorar a produtividade das gramíneas: uma seria a aplicação de fertilizantes nitrogenados e a outra, a incorporação do N fixado simbioticamente pelas leguminosas (EUCLIDES et al., 1998).

Vários trabalhos tem demonstrado a superioridade em produção animal de pastagens adubadas com nitrogênio ou consorciadas em comparação à pastagens sem adubação ou solteiras.

VILELA et al. (1979) trabalhando com novilhos azebuados (Nelore) encontraram rendimentos de peso vivo por hectare/ano de 405 e 430kg (p < 0,05), e taxa de lotação de 1,92 e 2,02UA/ha em pastagens de Brachiaria decumbens Stapf. exclusiva e B. decumbens Stapf. consorciada com Leucaena leucocephala cv. Peru, Macroptilium artropurpureum cv. Siratro e Centrosema pubescens respectivamente, em Minas Gerais (região de cerrado). Também em Minas Gerais (região cerrado) os mesmos autores obtiveram com novilhos mestiços (HZ) um rendimento em peso vivo de 501 e 540kg (p < 0,05), para pastagens de Panicum maximum cv Guiné exclusiva e com soja perene (Glycine javanica cv. Tinaroo) e siratro (Macroptilium artropurpureum cv. Siratro) respectivamente e taxas de lotações de 2,51UA/ha em ambas pastagens.

EUCLIDES et al. (1998) trabalhando durante três anos, no Mato Grosso do Sul (região de cerradão), com novilhos e encontraram ganho médio diário de 390 e 340g (p < 0,05) e 404 e 352kg/ha/ano, em pastagens de Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha consorciadas com Calopogonium mucunoides, e pastagens sem consorciação respectivamente. Como não houve alteração na taxa de lotação de ambas pastagens (3,1 novilhos/ha) consorciadas ou não os autores concluíram que este aumento de produção animal ocorreu devido a maior contribuição do calopogônio no aumento da proteína bruta (PB) da dieta do animal. Sendo que no período seco por efeito direto da leguminosa na dieta e nas águas, um efeito indireto da leguminosa, aumentando o suprimento de N no sistema, e consequentemente, o conteúdo de PB da gramínea.

VILELA et al. (1980) trabalhando, durante três anos, com novilhos mestiços (HZ) em pastagens de Panicum maximum cv Guiné com adubação de 100kg de N/ha/ano e outra de Panicum maximum cv Guiné com soja perene (Glycine javanica cv. Tinaroo) e siratro (Macroptilium artropurpureum cv. Siratro) encontraram rendimentos de peso vivo/ano de 510 e 521kg (primeiro ano), 760 e 675kg (segundo ano), 754 e 540kg (terceiro ano) respectivamente. A taxa de lotação nos dois primeiros anos foi a mesma para ambas pastagens, 1,5UA (primeiro ano) e 2,5UA (segundo ano). No terceiro ano foram de 2,55UA e 1,85UA para pastagens com

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nitrogênio e com leguminosas respectivamente. Também em Minas Gerais (região cerrado) estes mesmos autores, durante três anos, em pastagens de Brachiaria decumbens Stapf com adubação de 90kg de N/ha/ano e outra de Brachiaria decumbens Stapf consorciada com Leucaena leucocephala cv. Peru, Macroptilium artropurpureum cv. Siratro e Centrosema pubescens trabalhando com novilhos mestiços (HZ) encontraram os seguintes rendimentos em peso vivo por hectare: 665 e 600kg (primeiro ano), 520 e 550kg (segundo ano), 545 e 495kg (terceiro ano) (p < 0,05) para pastagens com nitrogênio mineral e com leguminosas respectivamente. A capacidade de suporte da pastagem, foi respectivamente na mesma ordem: 2,5 e 2,45UA, 2,18 e 2,29UA, 2,3 e 1,95UA.

5. Desempenho de novilhos zebu em pastagem durante o primeiro período de seca após a desmama:

Novilhos zebu (Nelore) apresentam em média, peso vivo em torno de 175kg, à desmama. Durante esta época do ano tem observado um ganho médio diário de 0,160kg por cabeça e um ganho por hectare, por período de 6 meses, de 30kg de peso vivo, quando suplementados somente com mistura mineral completa. Estes animais quando suplementados à pasto com uma mistura de concentrados (75% de milho desintegrado com palha e sabugo e 25% de farelo de soja) na base de 0,8% de peso vivo e mistura mineral completa, apresentaram um desempenho nesta pastagem de 0,450kg por cabeça/dia, o que representaria um ganho por hectare, por período de 6 meses, de 81kg de peso vivo (ZIMER e EUCLIDES, 1997).

Outros trabalhos (ZANETTI et al., 1997, VILELA et al., 1981) mostram que mistura mineral múltipla contendo uréia pode conferir a êste padrão de animal, um ganho médio que varia de 0,350kg a 0,460kg por dia, para um consumo que varia de 0,400 a 0,600kg por animal/dia. A variação no desempenho dos animais foi atribuída à diferença entre as pastagens de braquiária nesta época do ano.

6. Desempenho de novilhos zebu em pastagem durante o primeiro período de verão após a desmama:

Neste contexto, deve-se fazer uma diferenciação entre aqueles animais suplementados e os não suplementados durante o período anterior. Muitos trabalhos (BOIN e TEDESCHI, 1996, EUCLIDES et al., 1997) têm mostrado diferenças no desempenho dos animais não suplementados e os suplementados no período anterior, devido ao ganho compensatório. Os autores concluem que os casos de compensação total são raros na literatura e nas condições práticas de produção. Estes autores mostram que o peso final dos animais suplementados no período anterior é sempre maior, 350kg de peso vivo, do que aqueles não suplementados, 305kg de peso vivo. Estes pesos correspondem a um ganho diário de 0,550 e 0,700kg/cabeça, respectivamente.

7. Desempenho de novilhos zebu em pastagem durante o segundo período de seca após a desmama:

Animais não suplementados durante esta época do ano, geralmente perdem peso. Esta perda está associada à aspectos quantitativos e qualitativos da pastagem e ao

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peso vivo dos animais. Animais com peso vivo acima de 350kg perdem mais peso que aqueles com menos de 300kg (EUCLIDES et al., 1997, ZANETTI et al., 1997, POPPI e MCLENNAN, 1995, BISSCHOFF et al., 1967). Outros trabalhos mostram o efeito quantitativo das pastagens sobre o desempenho do animal (BISSCHOFF et al., 1967, EUCLIDES et al., 1997, VILELA, 1982). As perdas em peso vivo observadas nestes trabalhos alcançam valores de até 0,118kg por animal por dia.

Trabalhos de pesquisa objetivando a suplementação de novilhos com 350kg ou mais, em pastejo durante esta época do ano, são numerosos na literatura brasileira. Ora os pesquisadores investigam o tipo de suplemento, ora os níveis destes suplementos ou a qualidade das pastagens.

TEIXEIRA et al. (1998) verificaram o efeito da suplementação com sal mineral mais uréia (1:1) e sal mineral mais Amiréia 150S (1:2) em animais em pastejo. Observaram um melhor desempenho dos animais que receberam a uréia na forma tratada (Amiréia 150S) em relação àqueles que receberam a uréia na forma natural, 0,412 e 0,276kg/cabeça/dia, respectivamente.

ALVIM BARBOSA et al. (1998) estudaram o efeito de duas misturas múltiplas sobre o desempenho de novilhos zebu em pastejo. Uma das misturas continha 50g de Ca, 18g de P, 111g de Na, 120g de uréia e 27% de NDT e a outra 30g de Ca, 17g de P, 70g de Na, 150g de uréia e 35% NDT. O consumo foi de 0,160 e 0,320kg/cabeça/dia, respectivamente. Os autores mostraram melhor retorno financeiro em relação ao uso da primeira mistura (R$ 8,14) do que a segunda (R$ 3,96), no período considerado.

PAZIANI et al. (1998) suplementaram novilhos cruzados das raças Nelore, Marchigiana e Simental, em pastagem de capim Brachiaria brizantha cv. Marandu, durante o período de seca. Comparam o farelo de soja com o grão integral de soja em uma mistura de concentrados que participavam em 25% em sua composição com o grão de milho inteiro e moído. Este concentrado foi fornecido na base de 1,6% do peso vivo. O desempenho dos animais que receberam farelo de soja e milho moído foi melhor (1,593kg/animal/dia) do que aqueles que receberam soja integral e grão de milho (0,970kg/animal/dia). Estes mesmos autores concluíram que taurinos alimentados, à vontade, com rações ricas em concentrados são melhores ganhadores em peso vivo do que os zebuínos.

EUCLIDES et al. (1998) verificaram o efeito de um nível de suplementação durante o período da seca de novilhos nelore com 350kg de peso vivo em pastagem de Brachiaria decumbens com uma taxa de lotação de 1,01UA/ha. Verificaram que a suplementação com milho moído (75%) e farelo de soja (25%) fornecida na proporção de 0,8% do peso vivo, proporcionou um ganho médio diário de 0,613kg por cabeça por dia. Por outro lado, os animais com mistura mineral simples e pasto perderam 0,118kg por cabeça por dia.

PAULINO et al. (1996) estudaram a suplementação de novilhos Nelore, durante a época da seca, com mistura minerais mais fubá de milho, minerais mais milho desintegrado com palha e sabugo e minerais mais farelo de trigo. O desempenho

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dos animais foi de 0,190, 0,230 e 0,300kg por cabeça por dia.

No que se refere a qualidade das pastagens sobre o desempenho de animais durante o período da seca, observa-se que quando se dedica atenção especial às pastagens nesta época do ano não ocorre perda de peso dos animais. Este melhoramento pode constituir desde um pastejo deferido (LOURENÇO et al., 1998) até uma pastagem consorciada ou devidamente manejada com adubações de manutenção. Quando consorciada, verifica-se melhor desempenho dos animais (0,240kg por anima/dia) em relação a pastagem não consorciada (0,183kg por animal/dia) (EUCLIDES, 1998). Outros trabalhos (PEREIRA et al., 1992, LOURENÇO et al., 1996) também evidenciaram este efeito.

VILELA et al. (1992) estudaram três níveis de adubação de pastagem de Panicum maximum, durante sete anos. Os autores verificaram uma melhoria na qualidade das pastagens com níveis de adubação de manutenção. Os níveis estudados foram zero, 20 e 40kg de P2 O5 e K2O por hectare. Os ganhos anuais em peso vivo variaram de 70 a 500kg por hectare, por ano nos tratamentos sem e com o nível maior de adubação de manutenção. Neste trabalho pode ser observado também que os animais durante o período de seca não perderam peso quando as pastagens eram adubadas com P e K para suas manutenções.

8. Desempenho de novilhos de zebu em pastagens durante o segundo período de verão após a desmama:

O desempenho de novilhos em regime de pasto, durante o verão, é pouco relatado na literatura brasileira. Contudo, EUCLIDES et al. (1998) mostram efeito do ganho compensatório neste período, quando os animais não receberam nenhuma suplementação nos períodos anteriores (testemunha). O ganho em peso vivo dos animais, com peso vivo médio de 420kg, foi de 0,468kg/cabeça/dia em pastagem de Brachiaria decumbens, com uma lotação de 1,1UA/ha. Por outro lado, quando um lote de animais foi suplementado na primeira e segunda seca e outro lote suplementado na segunda seca, o desempenho destes animais foram menores (p < 0,05) ou seja 0,412 e 0,370kg por cabeça/dia, respectivamente. A suplementação no primeiro período seco reduziu a idade de abate em 5 meses, a suplementação no segundo período seco reduziu a idade em 7 meses, enquanto a suplementação nos dois períodos secos houve redução de 9 meses. O peso de abate correspondeu a um peso médio de 440kg ou 14,66 arrobas. Neste trabalho também verificaram que o maior valor líquido apurado foi aquele em que os animais foram suplementados nas duas estações de seca e o menor no tratamento onde os animais não receberam suplementação. Os animais sem suplementação alcançaram peso vivo de abate (440kg) com 3,5 anos de idade.

III. CONCLUSÃO

Atualmente devido ao aumento da demanda de uma carne com qualidade e natural, sem resíduos de medicamentos, o Brasil surge como um enorme potencial para atender esta necessidade de mercado, pois possui condições ligadas tanto ao clima, quanto ao animal e às pastagens para produzir o boi "ecológico, natural ou verde". Frente à isto não há condições de continuar trabalhando com os baixos índices de

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produtividade, tem-se, então, que maximizar as respostas com uso de tecnologias viáveis economicamente.

Uma condição necessária para produzir estes animais à pasto e a custo mais baixo é a otimização do sistema de produção, por meio de técnicas como:

correção e adubação do solo para maximizar a produção forrageira; um correto manejo da pastagem aliado à incorporação de nitrogênio para proporcionar alimentos de alto valor nutritivo para os animais e altas cargas de suporte; uma suplementação com proteína, energia e minerais para suprir as deficiências encontradas nas nossas pastagens tropicais em determinados períodos; uma genética adequada para produzir animais adaptados e precoces; um correto manejo sanitário e reprodutivo.

Os resultados alcançados refletirão em um abate mais cedo dos animais com aumento de produtividade (kg de carne/hectare/ano) da propriedade, bem como um aumento do capital de giro.

PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS PARA AUMENTO NA RENTABILIDADE DA PECUÁRIA DE CORTE Fabiano Alvim Barbosa, Médico Veterináro, M.Sc. Nutrição Animal, Doutorando Produção Animal, Escola de Veterinária/UFMG, [email protected]

1. O CENÁRIO DO SETOR AGROPECUÁRIO BRASILEIRO

A economia brasileira tem passado por rápidas transformações nos últimos anos. Neste contexto ganham espaço novas concepções, ações e atitudes, em que produtividade, custo e eficiência se impõem como regras básicas de sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado (IEL et al, 2000). A conscientização dos pesquisadores, técnicos e produtores rurais envolvidos nesse sistema, bem como, o ajuste para este novo cenário é primordial para a competitividade da atividade.

O agronegócio tem tido papel da maior importância nas contas externas do País. Em 2003, suas exportações alcançaram US$ 30,6 bilhões, permitindo um superávit de US$ 25,8 bilhões ou 27% a mais que o saldo apurado no ano anterior. O expressivo crescimento do agronegócio elevou sua participação no PIB brasileiro, ou seja, na soma de todas as riquezas produzidas no País, para 33,8% em 2003. Em outras palavras, um em cada três reais gerados pela economia brasileira tem origem no agronegócio (Brasil..., 2004). Como mostrado na figura 1, os maiores crescimentos na pecuária ocorreram nos setores de insumos e no primário, isto é, nas propriedades rurais.

Para 2004, as perspectivas permanecem favoráveis. O saldo acumulado nos doze meses até maio/04 alcançou US$ 28,9 bilhões, contra US$ 23,3 bilhões verificados

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em igual período do ano anterior. A produção brasileira de carne bovina, em 2003, foi de 7,40 milhões de toneladas, com crescimento de 3,5% sobre o ano anterior. O Brasil ocupou a segunda posição entre os países produtores e assumiu a liderança mundial na quantidade exportada, com 1,1 milhão de toneladas. A receita cambial foi de US$ 1,4 bilhão (Brasil..., 2004).

Figura 1 - Variação percentual acumulada do PIB da Agropecuária divido por setores.Fonte: CNA/CEPEA-USP, 2004.2. PLANEJAMENTO

Planejar é a palavra apropriada para se projetar um conjunto de ações para atingir um resultado claramente definido, quando se tem plena certeza da situação em que as ações acontecerão e controle quase absoluto dos fatores que asseguram o sucesso no alcance dos resultados (Alday, 2000).

Segundo Souza et al (1988) o planejamento estratégico é um instrumento elaborado para que o empresário possa visualizar sua atuação futura, sendo assim, normalmente, é projetado para longo prazo, com uma abordagem global, definindo o que produzir e o quanto produzir nos anos seguintes. Algumas etapas são importantes para estabelecer o planejamento estratégico:

2.1 Determinação dos objetivos

É o ponto principal do planejamento, com definições genéricas, como os propósitos da empresa relacionados ao ramo de atuação, pretensão futura, busca pelo lucro, segurança, prestígio, social entre outros.

2.2 Análise do ambiente externo

É necessária a busca de informações mais precisas possíveis com relação às ameaças, oportunidades e restrições no cenário nacional e mundial que possam aumentar o diminuir a rentabilidade da atividade. Fatores como preço dos commodities, juros, balança comercial, análise de mercado (oferta e demanda), estudo de tendências futuras, barreiras alfandegárias, taxas de exportações e

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importações, entre outras.

2.3 Análise interna da empresa

É uma análise dos recursos existentes na empresa como os físicos, financeiros, administrativos, mercadológicos, humanos. Sendo necessário levantar suas disponibilidades, necessidades, fornecedores, etc.

2.4 Geração e avaliação das metas e estratégias

Após estabelecer os objetivos e analisando o ambiente externo e a empresa, através de dados de pesquisas, de experimentação e da experiência são definidas as estratégias para alcançar as metas propostas no projeto.

Segundo Veloso (1997) citados por Barioni et al (2003) para determinação das metas alguns fatores deverão ser avaliados como:

recursos disponíveis na fazenda - solos, vegetação, relevo, animais, recursos hídricos, recursos financeiros disponíveis, mão-de-obra qualificada, estradas, energia elétrica, benfeitorias, etc; imposições ambientais, legais e de mercado; objetivos do empreendedor.

Definido qual o projeto parte-se para a sua implantação e execução das estratégias que serão executadas pelos gerentes, técnicos e funcionários da propriedade. Um ponto fundamental neste planejamento é a coleta de dados das informações de produção (técnica e econômica) levantadas, pois, a partir destas, faz-se o monitoramento comparando o planejado com o realizado. Pelo monitoramento consegue-se avaliar quais os pontos críticos do sistema e se alguma estratégia planejada não está correta, sendo assim, avalia-se a possibilidade da inclusão de uma nova estratégia alternativa que possa atender aos objetivos. Ou ainda, corrigir os erros cabíveis e continuar com a mesma estratégia.

Estas mudanças dos planos segundo Barioni et al (2003) podem ocorrer devido à:

modificações na área de produção (compra, arrendamento, venda, utilização para outra atividade, intensificação do sistema); mudanças nas condições externas de mercado, relações de preço, nova legislação ou política agrícola; circunstâncias e atitudes pessoais (aversão ao risco e carga de trabalho desejada); respostas imprevistas do sistema identificadas no monitoramento.

3. PLANEJAMENTO NUTRICIONAL

O primeiro passo para iniciar o planejamento nutricional é levantar os recursos físicos da propriedade (benfeitorias, tipos de solos, espécies forrageiras, recursos hídricos, tamanho da área, topografia) e as características climáticas da região. É fundamental a planta planialtimétrica (mapa) para levantamentos do inventário, de índices de

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produção de matéria seca das forrageiras por área, para recomendações de correções e adubações de solos, planejamento de novas espécies forrageiras, divisão de áreas, entre outros.

Após conhecer a propriedade e as particularidades da região deve-se determinar o sistema de produção de acordo com os objetivos do proprietário, recursos financeiros disponíveis, condições ambientais e físicas, análises de mercado e externas à propriedade. O planejamento forrageiro deverá proporcionar quantidade anual adequada de forragem à demanda dos animais no sistema, seja somente por pastagens ou em sistemas mais intensificados por meio de rotação e/ou adubação, irrigação ou suplementação volumosa no cocho. A falta de informações sobre a distribuição produtiva de forragem ao longo do ano é, atualmente, a principal limitação para o planejamento de sistemas pastoris. Estas informações podem ser conseguidas por meio de:

experimentos avaliando o crescimento da forragem ao longo do ano; modelos matemáticos de crescimento de pastagens; dados locais de monitoramento da massa de forragem; dados locais das taxas de lotação e desempenho animal (Barioni et al, 2003).

Estes dados auxiliam a iniciar o planejamento, entretanto, devido as inúmeras fontes de variações de um local e de um ano para outro, o monitoramento é primordial após a implantação do projeto. Metodologias para estimar a produção de forragem por métodos diretos, usando um quadrado metálico de 1m2, ou indiretos, como a estimativa visual, medidor de prato ascendente e medições de altura e densidade da pastagem devem ser utilizadas para maior precisão da informação. Outra alternativa é utilizar o monitoramento da taxa de lotação usada para estimar a demanda de forragem anual (Barioni et al, 2003).

Outro fato importante no planejamento nutricional que está intimamente ligado à demanda e ao planejamento forrageiro é a exigência nutricional do animal ao longo do ano. A exigência nutricional está em função da idade, sexo, raça, estádio fisiológico e ganho de peso projetado. Analisando a exigência nutricional com o a qualidade da forragem ao longo do ano defini-se qual a demanda de forragem e a necessidade de suplementação protéica, energética, mineral e vitamínica para atender os objetivos de ganho de peso e/ou reprodução.

Devido ao crescimento das pastagens e sua qualidade na estação seca do ano ser bem menor, torna-se necessário assumir estratégias caso não ocorra nenhuma venda de animais no final da estação das águas. Caso contrário, a propriedade não terá pastagem o suficiente para a demanda. Estas estratégias podem ser:

utilizar pastagem diferida, isto é, vedar parte dos pastos na época das águas para sua utilização na seca; suplementação volumosa com silagens ou cana-de-açúcar; suplementação de rações concentradas (cerca de 1% do peso vivo por dia).

No planejamento nutricional de sistemas mais intensivos com taxas de lotações acima de 2UA/ha deve-se utilizar tecnologias como rotação e adubação de

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pastagens, suplementação volumosa, suplementação concentrada e em algumas situações irrigação de pastagens e/ou culturas.

A escolha de quais estratégias utilizar no planejamento nutricional é dependente do planejamento financeiro, isto é, analisando qual a necessidade de investimento, fluxo de caixa, rentabilidade e retorno do capital investido de cada estratégia isolada ou em conjunto. Para estas simulações de planejamento as planilhas eletrônicas e softwares são importantes ferramentas para utilizar devido à maior agilidade na geração das informações para que o proprietário tome a decisão de qual o projeto assumir.

4. GERENCIAMENTO DO CUSTO DE PRODUÇÃO

Embora seja de importância fundamental para a tomada de decisão dos pecuaristas, o custo de produção é uma variável desconhecida pela imensa maioria dos produtores brasileiros. Com honrosas exceções de alguns produtores mais tecnificados, a grande maioria não tem nem como saber quanto está tendo de lucro (ou prejuízo), ou que ajustamentos podem ser feitos para reduzir custos e melhorar a rentabilidade de suas propriedades (IEL et al, 2000).

Dados do IEL et al (2000) relatam que a falta de controle de custos, apontada anteriormente, faz com que os pecuaristas baseiem-se em apenas um ou poucos parâmetros para tomar a decisão de vender os animais. Além das "regras" de preços, algumas vezes as decisões são tomadas em função de situações contingenciais. Alguns produtores vendem quando necessitam de capital de giro, enquanto outros o fazem quando não têm mais como manter os animais no pasto. A carência de controles gerenciais tem levado os pecuaristas ao uso de regras de decisão muitas vezes inadequadas no sentido de maximizar seus lucros. Isso mostra que de nada adiantaria a adoção de tecnologia moderna, caso os mesmos cuidados não fossem tomados sob a ótica gerencial.

4.1 Análise econômica e de investimentos

O sistema de custos é um conjunto de procedimentos administrativos que registra, de forma sistemática e contínua, a efetiva remuneração dos fatores de produção empregados nos serviços rurais. Tem os objetivos de auxiliar a administração na organização e controle da unidade de produção, revelando ao administrador as atividades de menor custo e mais lucrativas, além de mostrar os pontos críticos da atividade. Além disto, oferece bases consistentes e confiáveis para a projeção dos resultados e auxiliar o processo de planejamento rural para tomada de decisões futuras (Santos et al, 2002).

Toda produtividade agropecuária deve passar por um teste econômico, para verificar se a tecnologia ou o sistema de manejo empregado estaria levando a custos compensadores de produção (Guimarães, 2003).

Segundo Universidade Federal de Lavras (1999) a estimativa do custo de produção está ligada à gestão de tecnologia, ou seja, a alocação eficiente de recursos produtivos, e ao conhecimento dos preços destes recursos. O custo total de

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produção constitui-se na soma de todos os pagamentos efetuados pelo uso dos recursos e serviços, incluindo o custo alternativo do emprego dos fatores produtivos. Estes recursos podem ser classificados em custos fixos e variáveis, como se segue:

Os custos fixos são aqueles correspondentes aos recursos que não são assimilados pelo produto no curto prazo. Assim, considera-se apenas a parcela de sua vida útil por meio de depreciação. Também se incluem neste grupo os recursos que não são facilmente alteráveis no curto prazo e que seu conjunto determina a capacidade de produção, ou seja, a escala de produção. Enquadram-se nesta categoria: terras, benfeitorias, máquinas, equipamentos, impostos e taxas fixas, etc. Os custos variáveis são aqueles referentes aos insumos que se incorporam totalmente ao produto no curto prazo, não podendo ser aproveitados ou claramente aproveitados para outro ciclo. Aqueles que são alteráveis no curto prazo, ou seja, durante a safra podem ser modificados. Também os recursos que exigem dispêndios monetários de custeio durante a safra, enquadram-se nesta categoria: fertilizantes, agrotóxicos, combustíveis, alimentação, medicamentos, manutenção, mão-de-obra, serviços de máquinas e equipamentos, entre outros. A análise econômica é a comparação entre a receita obtida na atividade produtiva com os custos, incluindo, em alguns casos, os riscos, permitindo a verificação de como os recursos empregados no processo produtivo estão sendo remunerados e como está a rentabilidade da atividade comparada a outras alternativas de emprego de capital (Reis, 2002).

De acordo com Nix (1995) e Corrêa et al (2000), para se fazer esta comparação podem ser utilizados os seguintes indicadores:

Margem bruta = receitas totais - custos variáveis. Renda líquida em dinheiro = receita total - desembolsos. Lucro operacional = renda líquida em dinheiro - depreciações.

4.2 Análise de investimento

Outra maneira de se avaliar a rentabilidade da atividade é a análise de investimento. Uma empresa é estruturada para maximizar lucros de seu investimento. Desta forma, os critérios de investimento permitem determinar o valor de um investimento ou de um grupo de propostas de forma que se possa escolher entre elas, a partir de uma ordenação das mais lucrativas. Chudleigh (1982b) cita a taxa interna de retorno, o período de pagamento (“Payback”) e o valor presente líquido (VPL) como critérios comumente utilizados para análise de investimento.

Outros indicadores financeiros que podem ser usados para se avaliar um investimento são segundo Corrêa et al (2000):

Retorno do capital investido = Remuneração do capital ÷ capital investido na atividade.

5. SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE

Atualmente, a pecuária de corte passa por um processo nítido de incorporação de

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tecnologias, em áreas produtoras de maior importância, com reflexo positivo sobre a produtividade. Observa-se nessas áreas uma mudança de atitude de parcela significativa de pecuaristas, movidos pela necessidade de obter maior eficiência produtiva, após a estabilização da moeda, que desestimulou a produção com fins especulativos e a compra e venda de gado como forma de obtenção dos lucros anteriormente proporcionados pela elevação de preços (IEL et al, 2000).

Tabela 1 - Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro em diversos sistemas de produção

ÍndicesMédia Brasileira

Sistema Melhorado

Sistema c/Tecnologia Média

Natalidade 60% > 70% > 80%

Mortalidade até a desmama

8% 6% 4%

Taxa de desmama

54% 65% 75%

Mortalidade pós-desmama

4% 3% 2%

Idade à primeira cria

4 anos 3-4 anos 2-3 anos

Intervalo de partos

21 meses 18 meses 14 meses

Idade de abate 4 anos 3 anos 2,5 anos

Taxa de abate 17% 20% 22%

Peso da carcaça

200kg 220kg 230kg

Rendimento da carcaça

53% 54% 55%

Lotação 0,9a/ha 1,2a/ha 1,6a/ha

Fonte: Zimer e Euclides Filho (1997); observadas junto a produtores e experimentos em andamento. Como mostra a tabela acima os pecuaristas devem estabelecer como metas a serem alcançadas o sistema com média tecnologia, e aqueles já a atigiram, devem melhorar estes números para maximizar a produtividade na propriedade.

6. PASTAGENS

A pastagem é a base da produção de bovinos de corte no país e a de custo mais baixo quando comparado com as suplementações. A área de pastagem, com espécies cultivadas no Brasil, está em torno de 115 milhões de hectares, enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões destacando-se nesta categoria a predominância das Brachiarias (Zimmer & Euclides Filho, 1997; Zimmer & Euclides, 2000). Estas áreas abrigam cerca 178,6 milhões de cabeças de bovinos e produção

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de cerca de 7,6 milhões de toneladas de equivalente carcaça (Anualpec, 2004).

A capacidade de suporte das pastagens é bastante variável em função do solo, clima, estação do ano e espécie ou cultivar forrageira. O desempenho animal necessário ou desejado e o sistema de produção adotado têm também efeito marcante sobre a capacidade de suporte.

Segundo Zimmer & Euclides Filho (1997), o principal problema na produtividade das pastagens é a ausência ou o uso inadequado de adubação de manutenção, resultando em queda acentuada da capacidade de suporte e no ganho de peso animal nos três ou quatro anos após sua formação.

Segundo Euclides (2000), os resultados obtidos em pastagens de Panicum maximum cvs. Colonião comum, Tobiatã e Tanzânia, de Brachiaria decumbens e B. brizantha apresentam valores de ganho de peso anual diferentes (Figura 2). Nos pontos máximos, os ganhos diários foram de 500g e 580g e as disponibilidades de MSV de 1000kg/ha e 900kg/ha, respectivamente, para Brachiaria e Panicum. Desses resultados, depreende-se que os fatores que influenciam a produção de animais em pastejo, além de não serem facilmente identificados, variam com a época do ano. Dessa forma, em qualquer região, limitações nutricionais ocorrem como conseqüência da inadequação da quantidade e da qualidade da forragem disponível às necessidades do animal.

Figura 2 - Relações entre os ganhos de peso diários por animal (y) e as disponibilidades de matéria verde seca (x) em pastagens dos gêneros Panicum e Brachiaria.

Fonte: Euclides & Euclides Filho (1998).

7. USO DE TECNOLOGIAS PARA AUMENTO DA PRODUTIVIDADE

Diversos são os trabalhos de pesquisas mostrando o aumento da produtividade da pecuária de corte bovina com o uso de tecnologias como suplementação nutricional estratégica, aduação de pastagens, rotação e/ou irrigação de pastagens, melhoramento genético, controle sanitário, entre outros. Entretanto, a maioria da

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pecuária brasileira continua aquém de suas reais potencialidades. Será abordado a seguir algumas destas tecnologias ligadas à melhora na quantidade e qualidade nutricional da dieta para o bovino, proporcionando maior desempenho por animal e/ou por área.

7.1 Suplementação de bezerros

Robison et al (1978) citado por Silva (2000) concluíram que a energia disponível no leite é insuficiente para atender os requisitos para ganho de peso dos bezerros após o primeiro mês de lactação, o que, posteriormente, produziria um déficit que teria que ser suprido pelo meio. Considerando que o leite possui 0,75Mcal/kg, para suprir o requisito do bezerro no primeiro e segundo meses de vida seriam necessários em torno de 4,4 e 6,8kg de leite/dia, respectivamente. Para vacas zebus seria difícil suprir totalmente com o leite o requisito de energia digestível necessário do segundo mês de vida em diante (Silva, 2000).

CREEP-FEEDING

É a utilização de um cocho privativo, ao qual só o bezerro tem acesso. Estando o bezerro ainda mamando recebe um reforço alimentar com uma ração concentrada balanceada. Os fatores que afetam as respostas são a quantidade e qualidade do pasto, a produção de leite das mães, o potencial de crescimento, idade e sexo dos bezerros a desmama, tempo de administração, o consumo e tipo de suplemento. O aumento pode variar de 8 a 42kg por bezerro, como mostra os trabalhos da Tabela 2.

Tabela 2 - Efeito do creep-feeding no desempenho de bezerros

Fonte RaçaConsumo kg/dia

SuplementoPeso à desmama(kg)

Creep Sem

Pacola et al (1977)

Guzerá 1,15714% PB, 80% NDT

171,6 144,8

Cunha et al (1983)

Sta. Gertrudis 1,317% PB, 82% NDT

180 139,5

Pacola et al (1989)

Nelore 0,32815% PB, 80% NDT

193,8 180,8

Holloway & Totusek, (1973)

Angus e Hereford

- - 226 206,5

Tarr et al (1994)

Angus e Hereford

3,4 12,4 % PB 235,4 199,8

Sancevero (2000)

Simental x Nelore

- - 250 208

Nogueira (2001)

Nelore 0,6120% PB, 75% NDT

163,80 155,1

Sampaio et al (2001)

Canchim 0,595 16% PB 216 207,9

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Siqueira at al (2001)

Nelore-Limousin, Nelore-Belgian Blue

0,718 16%PB 174 148,9

Benedetti et al (2002)

Simental x Nelore, Angus Nelore

1,419% PB, 75% NDT

256,73 224,40

Fonte: Carvalho et al (2003)7.2 Suplementação de recria e engorda

Devido à sazonalidade das gramíneas forrageiras nos trópicos, que é caracterizada pela diminuição da produção e do valor nutritivo nos períodos secos do ano, ocorre a desnutrição nos animais criados a pasto e conseqüentemente baixo ganho de peso, nesta época. O desenvolvimento dos bovinos pode também ser comprometido com a ocorrência de veranicos prolongados. Estas fases negativas no desempenho do animal devem ser consideradas em um programa de produção de carne. O ideal seria o crescimento ocorrer uniformemente durante a vida do bovino. Devido ao desequilíbrio entre os ganhos na época das águas e da seca, é necessária a suplementação alimentar em certos períodos, para que se possa abater animais com idades inferiores à 30 meses (Carvalho et al, 2003).

O uso de suplementos múltiplos - proteína, energia, minerais, vitaminas, aditivos - na época da seca tem mostrado resultados satisfatórios evitando a perda de peso característica para animais não suplementados nesta época crítica do ano. Vários são os trabalhos que comprovam o ganho de peso de bovinos entre 0,059 a 0,740kg/cabeça/dia e consumo diário por cabeça de suplementos de 0,05 a 0,6% do peso vivo (Vilela et al, 1983; Barbosa et al, 1998; Bergamaschine et al, 1998; Paulino, 1999; Euclides, 2001; Gomes Jr. et al, 2001).

Animais, freqüentemente, respondem a proteína extra durante a estação de águas, um período em que a qualidade da pastagem, em termos de digestibilidade e conteúdo de proteína é alta, ensejando ganhos adicionais diários de 200-300g/animal (Paulino et al, 2002). Os trabalhos de pesquisas mostram ganhos de pesos médios diários de bovinos, na fase de recria, variando de 0,543 a 1,380kg/cabeça/dia, para consumos de suplementos de 0,2 a 0,5% do peso vivo. Na fase de engorda os ganhos variam de 0,671 a 1,24kg /cabeça/dia para consumos de suplementos de 0,06 e 1,2% do peso vivo os ganhos (Carvalho et al, 2003). Este ganho de peso está em função da quantidade de matéria seca disponível por hectare da forragem e de sua qualidade. Além disso, fatores ligados ao animal - raça, sexo, peso, estádio fisiológico, idade, sanidade - e o clima - temperatura, umidade relativa, entre outros, também irão influenciar o ganho de peso.

7.3 Semiconfinamento e confinamento

Os sistemas de produção de bovinos em semiconfinamento ou confinamento são estratégias adotadas na estação seca para evitar a perda de peso dos animais, fornecendo ração concentrada além do pasto seco no caso de semiconfinamento, e fornecer além da ração concentrada também o volumoso no cocho. A diferenças entre os dois sistemas relaciona-se basicamente a custo e ganho de peso dos animais. No confinamento tem-se um custo mais elevado devido à demanda por

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instalações, máquinas, mão de obra específica entre outros, mas em compensação o animal ganha mais peso que no semiconfinamento, desde que a dieta esteja bem balanceada (Mello, 1999). Estas tecnogias devem ser analisadas como atividades estratégicas dentro do sistema de produção, pois, proporcionam um maior desempenho animal e, conseqüentemente, a retirada de uma categoria (novilha de 2 a 3 anos, garrotes de 2 a 3 anos, ou bois de 3 a 4 anos) do sistema, causando um aumento na produtividade anual - arrobas produzidas/hectare/ano - e normalmente aumento da rentabilidade da atividade.

Segundo Mello (1999), o sistema de confinamento visa o fornecimento total da dieta do animal no cocho. As rações contêm entre 50 e 80% de volumosos na matéria seca. Os volumosos mais comuns são: silagens de capins tropicais (Panicuns sp, Brachiaria brizantha, etc.) silagem ou capineira de capim elefante, silagem de milho, sorgo, cana de açúcar, bagaço hidrolisado, etc.

Estas proproções de volumoso (50 a 80%) podem ser diminuídas em virtude de maior necessidade de ganho de peso e maior giro de bois dentro do sistema. Os ganho de peso variam de 1 a 1,6kg/cabeça/dia dependendo da genética dos animais, da quantidade de ração concentrada e da qualidade do volumoso. As dietas ficam entre R$ 1,70 a R$ 2,30/cabeça/dia e os custos totais (fixos e variáveis) da arroba produzida de R$ 50,00 a 61,00.

O semiconfinamento consiste no fornecimento de concentrado para animais que estão em pastagens diferidas. Pastagens diferidas são aquelas áreas vedadas, durante o final das águas, abril a julho, onde será acumulada uma quantidade de volumoso suficiente para os animais pastejarem por um certo período da seca. Esta técnica baseia-se na alimentação do animal no pasto (volumoso) e no cocho (ração farelada). A ração é distribuída na proporção de 1 a 1,5% do peso vivo dos animais e o pasto diferido, se estiver com uma boa quantidade de massa, suportará 1,5 a 3 cabeças/ha, durante 90 a 120 dias. Esta técnica tem algumas vantagens como a utilização de pouca estrutura e pouca mão de obra (Mello, 1999).

O ganho esperado estará entre 500 a 900g/cab/dia, variando de acordo com a genética e condição corporal do animal, qualidade da massa diferida e clima, entre outros fatores. As perdas por pisoteio e chuvas fora de época são as mais importantes, pois com a chuva, parte da pastagem pode apodrecer, diminuindo a lotação da área e o ganho de peso dos animais (Mello, 1999).

7.4 Suplementação de matrizes

Como mostrado na tabela 3, as novilhas podem chegar à concepção aos 14 meses de idade, com uso de mistura múltipla (40% PB), com um consumo de 500g/cabeça/dia, durante a estação seca, reduzindo sua idade ao primeiro parto, e aumentando a produtividade (bezerros nascidos/ano) do sistema.

Tabela 3 – Influência da mistura múltipla, na época da seca, no ganho de peso e desempenho reprodutivo de novilhas de corte

- ½ Limousin ½ Santa Gertrudis

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½ Tabapuã¼ Limousin ¼ Tabapuã

Ganho médio diário - 9 aos 14 meses de idade (kg/cabeça)

0,559 0,526

Peso aos 14 meses idade (kg)

321 331

% animais inseminados 91,43 98,33

% animais cheios 80 86,66

% animais cheios na 1a. IA

75 69,23

Índice de serviço - doses 1,44 1,7

Fonte: Adaptado Graça & Duarte, (1998)As pesquisas relatam que, mesmo durante a época das águas, a suplementação de novilhas com mistura múltipla propicia ganhos adicionais, que variam de 0,07 a 0,2kg/cab/dia. Isto significa que a novilha atingirá seu peso, à puberdade, mais cedo.

A categoria de novilha gestante, na época da seca, deverá receber uma mistura múltipla com consumo variando de 0,05 a 0,1%, para que possa parir em condições adequadas para amamentar o bezerro e retornar ao cio, rapidamente (Carvalho et al, 2003).

Leite et al (1994) citado por Paulino et al (2001) trabalharam com matrizes em estação de monta de agosto a outubro aumentando % de prenhês em cerca de 15 pontos percentuais quando suplementaram com uma mistura múltipla com consumo médio de 533g/cab/dia. Os grupos sem suplementação tiveram índices de 53,33 e 55,55% enquanto o grupo suplementado foi de 68,42%.

7.5 Adubação de pastagens

A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente a pasto, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. Considerando a fase de recria e engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 2 arrobas/ha/ano, enquanto em uma pastagem em bom estado pode atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano (Kichel & Kichel, 2002).

De acordo com Corrêa et al (2000), baseados em dados de pesquisas realizadas no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte - Embrapa, é possível manter uma capacidade de suporte de até 1,4 unidade animal (UA) por hectare na seca, utilizando adubação de manutenção a cada três anos. Estes valores estão de acordo com os dados obtidos no levantamento feito por Zimmer & Euclides Filho (1997) e Euclides (2002). Euclides et al (1997) estudaram a recuperação de pastagens de Panicum maximum com aplicação de calcário, fósforo e potássio durante a formação, mas sem adubação de manutenção. Os resultados mostraram que a produtividade caiu do primeiro para o terceiro ano em sistema de pastejo contínuo. Essa redução de produtividade se deve ao fato de que não foi realizada adubação de manutenção (Kichel & Kichel, 2002).

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Tabela 4 - Médias das taxas de lotação, ganhos por animal e por área em pastagens de Andropogon gayanus cv. Planaltina, Brachiaria decumbens cv. Basilisk, B. brizantha cv. Marandu e de Panicum maximum cvs. Colonião, Tobiatã e Tanzânia, sob diferentes adubações no estabelecimento

Pastagem

Classe de solo

Adubação estabelecimento kg/ha

Taxa de lotação UA/ha

Ganho de peso vivo

Referênciasg/

cab/dia

kg/ha/ano

Andropógon Marandu

LVE Sem1,10,7

370450

142148

Nunes (1980)

AndropógonMarandu

LV

2000 calcário500 supersimples100 KCl40 microelementos

1,11,1

500390

310242

Andrade* (1986)

Marandu

LVE Sem1,41,8

357273

290320

Bianchin (1991)

DecumbensMaranduColoniãoTobiatãTanzânia

LVE

1.000 calcário350 supersimples100 KCl40 microelementos

1,41,31,21,41,3

380395420450520

345345325415445

Euclides et al. (1993a, b)

* Comunicação pessoal Fonte: Euclides, 2000.7.6 Rotação de pastagens

Os diferentes métodos de manejo de pastagens podem ser agrupados, basicamente, em três sistemas: contínuo, rotacionado e diferido. As opiniões sobre qual é o melhor sistema de utilização das pastagens são numerosas e divergentes, principalmente com relação às alternativas pastejo contínuo e pastejo rotacionado. Poucos experimentos comparando sistemas de pastejo têm sido conduzidos em regiões tropicais (Euclides, 2000).

Ainda, segundo Eculides (2000), diversos estudos têm mostrado efeito significativo da pressão de pastejo sobre o desempenho animal independente do sistema de pastejo utilizado. Um elemento comum nesses experimentos tem sido a interação

Page 169: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

entre a taxa de lotação e o sistema de pastejo. Com taxas de lotação de leve a moderada o desempenho animal em pastejo contínuo pode ser igual ou superior ao obtido em pastejo rotacionado. Por outro lado, o pastejo rotacionado favoreceria o desempenho animal em pastagens onde utilizam taxas de lotação mais altas. Como exemplo, cita-se a produtividade de B. brizantha cv. Marandu, que, quando sob pastejo rotacionado e adubação nitrogenada, foi 50% maior do que aquela obtida em sistema de pastejo contínuo sem aplicação de nitrogênio. Da mesma forma, acréscimos de 75% e 100% foram observados em pastagens de P. maximum cv. Tanzânia, submetidas a pastejo rotacionado e adubação nitrogenada de 50kg e 100kg de nitrogênio/hectare quando comparado com pastagens da cv. Tanzânia, em pastejo contínuo e sem o uso de fertilização nitrogenada.

Tabela 5 - Médias das taxas de lotação, dos ganhos de peso por animal e por área em pastagens de Panicum maximum cvs. Tanzânia, Mombaça e Massai.

PastagemTaxa de lotação UA/ha

Ganho de peso g/cabeça/dia Ganho PV

kg/ha/anoseca águas seca águas

Mombaça + 50 N

1,0 3,0 130 570 700

Massai + 50 N

1,1 3,2 10 400 620

Tanzânia + 50 N

1,0 2,9 140 615 725

Tanzânia + 100 N

1,1 3,2 125 635 820

Fonte: Euclides (2000)

8. AVALIAÇÕES ECONÔMICAS NA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE

As pesquisas mostram que o uso de tecnologias como a suplementação nutricional estratégica, adubação e rotação de pastagens, aumentam a produtividade, entretanto, nem sempre é mostra-se nessas pesquisas a parte econômica. Não é avaliado o impacto econômico da tecnologia nos custos variáveis e fixos e nem na eficiência econômica do sistema de produção global.

Cavagutti et al (2002) suplementando bezerras em pastagens de Brachiaria decumbens, encontraram maior margem bruta de lucro para suplementos múltiplos de 45% de PB em comparação ao suplemento mineral e suplemento mineral com 30% de uréia. Resultados semelhantes encontraram Thiago et al (2002) suplementando bezerros Pardo Suíço x Nelore em pastagens de Brachiaria brizantha. A suplementação teve efeito linear no ganho de peso, onde foram avaliados 0, 0,5, 1 e 2kg de suplemento. Os ganhos e as margens brutas foram respectivamente: 0,543, 0,695, 0,758, 0,925kg/cabeça/dia; 0; 12,85; 12,26; 21,79 R$/cabeça/período.

Page 170: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Euclides (2001) suplementou novilhos em pastagens de B. decumbens e B. brizantha, com uma mistura múltipla na base de 0,2% do peso vivo. Os novilhos suplementados apresentaram ganhos médios diários de 740g/dia e os não suplementados de 535g/dia. O custo da suplementação foi de R$ 26,00/novilho, e a diferença de cerca de 200g/cab/dia em 184 dias significa 36,8kg de peso vivo ou 1,28@ (52% de rendimento de carcaça). Esta diferença de cerca de 40kg significa R$ 56,00 (@ = R$ 44,00), ou ainda, que este animal poderá ser abatido no período seco subseqüente sem ter que permanecer mais uma estação na propriedade.

Outras pesquisas fazem a avaliação econômica utilizando dados através de orçamentação parcial computando os custos varáveis, assumindo os custos fixos e os outros variáveis através de dados de outras fontes que sejam mais próximas a realidade do trabalho.

Barbosa et al (2003) realizaram a avaliação econômica da adubação anual de manutenção de fósforo e potássio em pastagens e encontraram que a adubação de manutenção de 40kg de P 2 O 5 e K 2 O por hectare por ano (T3) aumentou a produtividade ao longo dos anos com 23,44 e 34,14 @/ha/ano para o ano 1 e 9, respectivamente. O custo da arroba diminuiu, R$ 44,06 e 38,87 para o ano 1 e 9, respectivamente, pois a produtividade aumentou diluindo os custos totais. O T3 obteve retorno do capital investido no Ano 6 tornando a atividade economicamente viável, isto é as receitas obtidas da atividade pagaram os desembolsos, depreciações, juros de capital de 8% a.a., além de retornar o investimento inicial aplicado.

Euclides et al (1998) realizaram um experimento para avaliar a eficiência de sistemas de alimentação, durante os períodos críticos, como alternativa de redução da idade de abate de bovinos recriados em pastagens de Brachiaria decumbens, e avaliar a economicidade dos mesmos, distribuídos nos seguintes tratamentos:

os animais não receberam suplementação; os animais receberam suplementação somente no primeiro período seco; os animais receberam suplementação apenas no segundo período; os animais receberam suplementação nos dois períodos secos; e os animais receberam suplementação no primeiro período seco e foram confinados no segundo.

A suplementação alimentar, durante o período seco, combinada ou não com o confinamento, mostrou-se uma atividade economicamente viável. O tratamento que apresentou maior valor presente líquido (VPL) foi aquele em que os animais foram suplementados a pasto nas duas estações secas (D), e o menor VPL pelos animais que não receberam qualquer suplementação (A).

As pesquisas mostrando a avaliação econômica de sistemas de produção de bovinos de corte, avaliando custos variávies, custos fixos, índices econômicos de renatbilidade, são escasssos, sendo encontrados isoladamente em condições regionais, em um determinado ano e/ou determinado segmento da fase de produção.

Quinoz (1970) avaliou os custos e retornos do ganho de peso por cabeça, na fase de recria e engorda, de bovinos Nelore, Guzerá e Indubrasil, durante os anos de 1967 a 1969, no norte de Minas Gerais. Entretanto não foram computados gastos adiministrativos, renda da terra, equipamentos e máquinas e custos sociais.

Page 171: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Simões (1971) estimou a estrutura de custos totais, fixos, variáveis e médios da fase de engorda na pecuária de corte, na região de Governador Valadares (MG). Mostrou que a variável compra de animais magros representa 75% do custo total, e que o regime de confinamento apresentou resultados econômicos favoráveis.

Coutinho (1978) avaliou economicamente a fase de cria e recria na pecuária de corte, em quatro microrregiões de Minas Gerais, encontrando resultados diferentes de acordo com o grau de tecnificação, onde o uso de tecnologias como suplementação nutricional e melhoria das pastagens, melhoraram os índices zootécnicos, aumentaram as receitas e a remuneração do capital investido.

As pesquisas feitas após a mudança econômica brasileira, com maior estabilização e menores índices de inflação, também são escassas e apresentam os mesmos fatores acima mencionados.

Gomes et al (1999) avaliaram o retorno financeiro da bovinocultura de em quatro regiões pastoris da Bahia e encontraram que existiu uma tendência de elevação de retorno financeiro à medida que o tamanho médio das fazendas aumentou (100 a 2000ha), e a precipitação pluviométrica foi mais abundante e melhor distribuída, contribuindo talvez para melhor manejo da pastagem e maior produtividade.

Ferreira (2003) avaliou o desempenho de machos inteiros, confinados por períodos variáveis de acordo com o acabamento de carcaça, em Campo Grande, MS. Foram utilizados para avaliar a eficiência econômica dos grupos genéticos (Nelore, ½ Valdostana ½ Nelore, ½ Simental ½ Nelore, ½ Braford ½ Brangus, ½ Braford ¼ Angus ¼ Nelore, Brangus, ½ Canchim ¼ Angus ¼ Nelore ½ Canchim ¼ Simental ¼ Nelore) os dados de custo operacional variável, custo por arroba produzida e margem bruta. Os grupos genéticos mais pesados no início do confinamento e que permaneceram menos tempo confinados apresentaram maior margem bruta.

Lopes & Magalhães (2003) também avaliaram economicamente um confinamento de 3583 bovinos no Sul de Minas Gerais, e encontraram uma margem líquida de R$ 161.921,30, um resultado positivo de R$ 54.169,33 e uma rentabilidade de 1,19%.

9. ESTUDO DE CASO

A seguir são apresentados os dados zootécnicos de um sistema de produção intensiva de engorda de bovinos utilizando sistema de pastejo rotacionado adubado e confinamento.

Fazenda: Baco PariProprietário: Antônio Pontes Fonseca (Grupo Calsete)Município: Inhaúmas/MGÁrea total: 155 hectaresÁrea de pastagens: 88 hectaresÁrea de cana-de-açúcar: 19 hectaresÁrea de milho para grão: 25 hectares

9.1 Manejo das pastagens

4 módulos de rotacionados de pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu.

Page 172: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Rotacionado ForragemÁrea (ha)

No. piquetes

Dias pastejo

Dias descanso

1 Brachiaria 18 9 4 32

2 Brachiaria 18 9 4 32

3 Brachiaria 24 12 3 33

4 Brachiaria 12 7 5 30

TOTAL 72 - - -

9.2 Taxa de lotação média

ÉpocaQtde. Animais

Peso (@)

Peso Total (@)

Taxa Lotação (UA/ha)

Jan-Fev 275 13,48 3570 3,22

Fev-Mar 285 14,16 3906 3,51

Mar-Abr 305 14,20 4093 3,59

Abr-Mai 273 14,18 3796 3,34

Mai-Jun 248 13,80 3422 3,68

MÉDIA 277 13,55 3757 3,47

9.3 Alturas do pasto na data de entrada e saída dos animais nos piquetes (Jan a Jun/04).

Pasto RotacionadoEspécie de forragem prevalente

Altura (cm)

Entrada1 Braquiarão

50

Saída 36

Entrada2 Braquiarão

48

Saída 32

Entrada3 Braquiarão

50

Saída 36

Entrada4 Braquiarão

43

Saída 27

9.4 Produção estimada de cana-de-açúcar

Local amostrado Produção estimada

Talhão 1 150 ton/ha de matéria verde

Talhão 2 295 ton/ha de matéria verde

Talhão 3 60 ton/ha de matéria verde

Talhão 4 160 ton/ha de matéria verde

Média 166 ton/ha de matéria verde

9.5 Ganho médio diário de peso dos animais

Page 173: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Peso inicial dos animais que chegam a propriedade de 11 a 12@ Peso final dos animais ao abate de 16 a 17@ à pasto

Ganho kg/cab/dia

Jan-Fev

Fev-Mar

Mar-Abr

Abr-Mai*

Mai-Jun

Total Médio

1,397 0,893 0,527 0,782 0,261 0,770

* início da suplementação com suplemento proteinado (0,1% do peso vivo)

9.6 Confinamento - início 02/07/04

578 bois Nelore com peso inicial médio 13,40@

Projeção de ganho de peso de 1,3kg/cabeça/dia com cana-de-açúcar e ração concentrada (1,3% do peso vivo/dia).

9.7 Dados econômicos

PLANILHA GERAL - Engorda

Planilha Quant Custo Fixo (Unidade) R$ unitário TOTAL(R$) % Custo

Veículos 1 unid. 20.364,80 20.364,80 3,18

Benfeitorias 1 unid. 10.728,22 10.728,22 1,68

Pastagens - - - - -

Brizanta 72 hectare 45,76 3.294,41 0,51

Subtotal 72 - - 3.294,41 0,51

Forragens silagem - - - - -

Milho - hectare 1.381,10 - -

Sorgo - hectare 1.210,60 - -

Elefante - hectare 81,81 - -

Mombaça - hectare 104,97 - -

Cana - hectare 367,42 - -

Subtotal - - - - -

Cercas liso 5 fios - - - - -

Madeira lei 4 km 162,11 648,45 0,10

Subtotal - - - 648,45 0,10

Cercas farpado - - - - -

Madeira lei - km 190,80 - -

Eucalipto - km 266,83 - -

Mourão Aço - km - - -

Subtotal - - - - -

Cercas eléltrica - - - - -

2 fios 72 hectare 18,64 1.341,82 0,21

Subtotal - - - 1.341,82 0,21

Despesas Gerais 1 unid. 9.240,00 9.240,00 1,44

Page 174: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

TOTAL - - - 45.617,70 7,13

CUSTOS VARIÁVEIS

Custos Quant. unidade R$ unitário TOTAL(R$) % Custo

Mão Obra 1 unid. 32.177,60 32.177,60 5,03

Compra animais 667 unid. 605,00 403.535,00 63,04

Manutenção Adubação - - - - -

Brizanta 72 hectare 356,61 25.676,06 4,01

Subtotal 72,0 - - 25.676,06 4,01

Medicam. Outros - - - - -

Engorda 667,0 cabeças 7,04 4.692,35 0,73

Subtotal - - - 4.692,35 0,73

Confinamento - - - - -

Milho - cabeças 521,87 - -

Sorgo - cabeças 637,86 - -

Elefante - cabeças 412,24 - -

Mombaça - cabeças 647,52 - -

Cana - cabeças 215,29 - -

Subtotal - - - - -

Suplementação Seca - - - - -

Engorda 578 cabeças 215,29 124.438,34 19,44

Subtotal 578 - - 124.438,34 19,44

Suplement. Águas - - - - -

Engorda 285 cabeças 13,93 3.968,91 0,62

Subtotal 285 - - 3.968,91 0,62

TOTAL - - - 594.488,26 92,87

Patrimônio (terra e benfeitorias) = R$ 1.234.224,00

Receitas Quant @ Total @$ Unit.

TOTAL(R$)

Bois Águas 89 16,50 1.468,50 52,25 76.728,50

Bois Secas 578 18,00 10.404,00 62,00 645.048,00

Patrimonial variação

0 0,00 - - 93.000,00

TOTAL 667 - 11.872,50 - 814.776,50

Custo variável 594.488,26

Custo fixo 45.617,70

Custo fixo + variável 640.105,96

Receitas totais 814.776,50

Lucro Operacional 174.670,54Retorno do Capital Investido com terra (% ao ano) = 9,51 Retorno do Capital Investido sem terra (% ao ano) = 9,54

Page 175: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Total de UA 669

Pasto e reserva (10%) - ha 155,0

Taxa de lotação (UA/ha) 4,3

Número de Empregados 3

UA/Empregados 223,0

Custo/arroba/ano 53,92

Custo/animal/ano 354,68

Arrobas/ha 33,56

Receita bruta (R$/ha) 5.256,62

Lucro Operacional/ha (R$) 1.126,91

Comparando este sistema no mesmo local mas com engorda extensiva os dados abaixo econômicos mostram que tornam inviável econômicamente.

Total de UA 126

Pasto e reserva (10%) - ha 155,0

Taxa de lotação (UA/ha) 0,8

Número Empregados 1

UA/Empregados 126,0

Custo/arroba/ano 67,89

Custo/animal/ano 413,35

Arrobas/ha 3,25

Receita Bruta (R$/ha) 1.356,00

Lucro Operacional/ha (R$) 528,18

Patrimônio (terra e benfeitorias) = R$ 1.112.550,00

PLANILHA GERAL - Engorda

Custos Fixos

Quant UnidadeR$ unitário

Total (R$)% Custo

Veículos 1 Unid. 322,50 322,50 0,25

Benfeitorias 1 unid. 8.305,72 8.305,72 6,47

Pastagens

Brizanta 140 hectare 45,76 6.405,80 4,99

Subtotal 140 6.405,80 4,99

Forragens silagem

Milho - hectare 1.381,10 - -

Sorgo - hectare 1.210,60 - -

Elefante - hectare 81,81 - -

Mombaça - hectare 104,97 - -

Cana - hectare 367,42 - -

Subtotal - -

Page 176: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Cercas liso 5 fios

Madeira lei 8 km 162,11 1.296,90 1,01

Subtotal 1.296,90 1,01

Cercas farpado

Madeira lei - km 190,80 - -

Eucalipto - km 266,83 - -

Mourão Aço - km - - -

Subtotal - -

Cercas eléltrica

2 fios - hectare 23,18 - 0,00

Subtotal - 0,00

Despesas Gerais

1 unid. 3.240,00 3.240,00 2,53

TOTAL 19.570,92 15,25

CUSTOS VARIÁVEIS

CustoQuantidade

unidadeR$ unitário

Total(R$) % Custo

Mão Obra

1,0 unid.7.425,60

7.425,60 5,79

Compra animais

126,0 unid. 605,00 76.230,00 59,41

Manutenção Adubação

Brizanta - hectare 283,34 - 0,00

Subtotal 0,00

Medicam. Outros

Engorda 126,0 cabeças

7,04 886,41 0,69

Subtotal 886,41 0,69

Confinamento

Milho - cabeças

482,24 - -

Sorgo - cabeças

537,64 - -

Elefante - cabeças

340,88 - -

Mombaça

- cabeças

544,89 - -

Cana - cabeças

262,08 - -

Subtotal - -

Page 177: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

Suplementação Seca

Engorda 126 cabeças

181,16 22.826,14 -

Subtotal 126 - - 22.826,14 17,79

Suplement. Águas

Engorda 126 cabeças

10,90 1.373,27 1,07

Subtotal 126 - - 1.373,27 1,07

TOTAL108.741,43

84,75

Retorno do Capital Investido com terra (% ao ano) = 6,70Retorno do Capital Investido sem terra (% ao ano) = - 4,62

Neste caso a propriedade não é eficiente na produção de bovinos, pois, somente computando a valorização patrimonial é que possui retorno do capital investido positivo.

Receitas Quant @ Total @$ Unit.

TOTAL(R$)

Bois Águas 0 16,50 - - -

Bois Seca 126 15,00 1.890,00 62,00 117.180,00

Patrimonial variação

0 0,00 - - 93.000,00

TOTAL 126 1.890,00 210.180,00

10. CONCLUSÕES

É necessário mensurar e avaliar economicamente o impacto do uso das tecnologias disponíveis para o aumento da produtividade nas diversas fases do sistema de produção de bovinos, para que possa ser indicado técnica e economicamente as tecnologias.

O planejamento nutricional aliado ao financeiro é uma ferramenta imprecindível para verificar a viabilidade operacional e econômica das estratégias assumidas dentro do sistema e fornecer com maior precisão as informações necessárias para a tomada de decisão.

SILAGEM DE GRAMÍNEA (CAPIM) TROPICAL Herbert Vilela*

I. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da atividade pecuária para alcançar níveis mais produtivos, tem levado os pesquisadores à procura de soluções para atender a demanda crescente

Page 178: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

de alimento volumoso, durante o período de estiagem (seco).

Desta procura têm surgido muitas opções: produção de silagem e feno de excedentes de pastagens (verão), plantio de áreas com espécies forrageiras, cana-de-açucar, capim elefante (tradicionais capineiras), milheto, girassol e com outras espécies mais nobres como o milho e o sorgo.

Destas opções, a que vem alcançando destaque entre os pecuaristas é a produção de silagem de excedentes de capins das pastagens cultivadas durante a estação de verão (chuvas). Normalmente, os produtores vedam alguns piquetes em suas propriedades, nos meses de maior crescimento das forragens e ensilam esta sobra. A silagem obtida tem apresentado como atrativo, o seu baixo custo de produção. Outro fator que tem induzido o produtor a optar pelo uso desta prática é o fato de que estas propriedades já dispõem de pastagens formadas e de estruturas que permitem este tipo de manejo. Entretanto, os resultados alcançados tem sido variáveis e muitas vezes insatisfatórios, principalmente, devido à falta de maiores informações e orientação técnica.

O objetivo deste trabalho é discutir o uso de gramíneas tropicais tradicionais para produção de silagem, suas vantagens e limitações.

II. PRODUÇÃO DE FORRAGEM DE ESPÉCIES TROPICAIS

A obtenção de forragens de alto valor nutritivo para a alimentação animal, constitui um dos objetivos básicos a serem alcançados. No entanto, no caso de ensilagem, há que se aliar tal preensão à produtividade por área da forrageira escolhida, pois caso contrário, seu uso prático se inviabiliza.

Entre as gramíneas tropicais (Quadro 1) merece destaque o Pennisetum purpureum Schum, suas variedades e seus híbridos, pelo seu potencial de produção por área, o que o diferencia de outras espécies, seja para corte e fornecimento direto (CARVALHO, 1985) ou seja para a produção de silagem devido a certas particularidades (LIMA, 2000).

Quadro 1 - Produção de matéria seca de seis gramíneas tropicais.*

Espécie ForrageiraProdução hectare por ano

Pennisetum purpureum 50

Panicum maximum 25,8

Brachiaria brizantha 26,5

Brachiaria decumbens 20,3

Brachiaria ruziziensis 33,5

Cynodonn lemfluenis 28,3

* FARIA e REIS (1996). Eng. Agrônomo, M.Sc. e D.Sc. Pesquisador Matsuda Genética.Verifica-se, pelo Quadro 2, que as produções de matéria seca do capim elefante é

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variável, devido a fatores como suas variedades, seus híbridos, níveis de adubação, idade da planta, número de cortes e número de anos após plantio.

Quadro 2 - Produção de matéria seca (t/ha) de variedades, cultivares e híbrido do capim elefante.

Variedades, cultivares e híbrido

Produção de matéria seca (t/ha)

1 2 3 4 5

Mineiro 20        

Cameroon     36,8    

Vruckwona     34,6    

Napier       11,2  

Taiwan A143       43,1  

Taiwan A146       50,3  

Porto Rico       27,4  

Mercker       21,2  

Paraíso         50,2

GOMIDE et al.,1974, PEDREIRA et al., 1975, ALCÂNTARA et al., 1980, PEDREIRA E MATTOS, 1982, VILELA et al., 1998.No que se refere aos carboidratos solúveis em água, tem sido enfatizado que as gramíneas tropicais possuem teores baixos (CATCHPOOLE e HENZEL, 1971) os quais seriam insuficientes para confecção de silagens láticas. Estes valores devem ser superiores a 16% na matéria seca ou > 4% na matéria verde.

Por outro lado, a disponibilidade de carboidratos não estruturas e solúveis em água, de uma forragem depende da espécie forrageira (Quadro 3), sua relação caule/folha, estádio de maturidade, densidade do plantio, fertilização nitrogenada, etc.

Quadro 3 - Carboidratos solúveis e matéria seca de seis gramíneas tropicais*.

Espécie forrageiraCarboidrato solúvel (%)

Matéria seca (%MS)

Andropogon gayanus 6,30 39,70

Brachiaria decumbens 6,80 28,60

Panicum maximum 6,25 28,80

Hyparhenia rufa 5,94 22,66

Pennisetum purpureum 11,44 13,46

Pennisetum hybridum** 18,10 17,16

* TOSI, 1973. ** VILELA, 2000.III. FASES DO PROCESSO DE ENSILAGEM

1. Primeira Fase:

Na fase I (fase aeróbica) técnicas adequadas de carregamento do silo ajudam a minimizar as perdas como conseqüência da quantidade de oxigênio presente entre

Page 180: APOSTILA - EXIGÃ-NCIAS E APTIDÃ-ES DAS PLANTAS FORRAGEIRAS

as partículas de forragem no silo. Boas práticas de colheita (ajuste das máquinas), principalmente aqueles relacionados com o tamanho da partícula da forrageira a ser ensilada (partículas > 1,5cm, participando com 15%), combinada com bom rendimento (distribuição de camadas e compactação) minimizam as perdas de carboidratos solúveis através da respiração no campo e no silo. A densidade da silagem obtida é uma junção de compactação, de tamanho da partícula e de porcentagem da matéria seca da forrageira.

2. Segunda Fase:

Na fase II (fase anaeróbica) ela é uma conseqüência do poder tampão, da disponibilidade de carboidratos solúveis, da presença de bactérias láticas e da porcentagem adequada de matéria seca na forragem; da anaerobiose do meio.

3. Terceira Fase:

Na fase III ocorre a estabilização do material. Nesta fase o pH estará em torno de 3,8 a 4,2 e a temperatura do material normal é a ambiente.

Figura 1 – Seqüência de fases no silo para uma boa fermentação.

IV. OCORRÊNCIA BIOQUÍMICA EM CADA FASE

1. Fase aeróbica:

a. Atuação de proteases da forrageira (pH > 60):Atividades de proteasesProteínas amônia (NH3) (+ redução de proteína)

b. Presença de oxigênio (O2):Respiração da planta, crescimento de fungos e bactérias aeróbicas.RespiraçãoC6H12O6 + O2

6H2O + CO2 + 674kcalConsumo de açucares (perda de energia)Aquecimento da silagem (> 38ºC => Reação de Maillard => escurecimento da silagem e transformação de açúcares e aminoácidos em produtos não digestíveis).

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(++ perda de energia)

c. Ação de coliformes:C2H5OH + O2

CH3COOH + H2OÁlcoolÁcido acético (++ perda de energia)(Fermentação lática => queda do pH => coliformes deixam de atuar)+++ perdas totais acumuladas de proteína e de energia como conseqüências da perdas por proteólise, por fermentação e por ação de coliformes.

d. Final da fase aeróbica:

Consumo total do oxigênio: quanto melhor a compactação e a vedação e mais rápido o enchimento do silo, menor será a extensão da fase aeróbica.

2. Fase anaeróbica (fermentativa):

a. Primeira etapa: pH > 5,0- Bactérias heterofermentativasaçúcares => ácidos láticosÁcido acético, ácido propiônicoEtanol, manitol, CO2, calor

- Atuação das proteasesProteína => amônia (redução de proteína)Perda de energia e proteína. paralelamente pode haver fermentação butírica.

- Condições propícias para a fermentação butírica:Alta umidade, pH > 4,50 e temperatura de 20º a 45ºC.

b. Clostridium (deterioração da silagem).- ProteasesAçúcares e lactato => ácido butírico + CO2 + H2OProteína => aminoácidosNH3 + CO2 + ácido acético

- Ácido iso-butírico e outros ácidosAminas tóxicas (b-alanina, putrecina, ácido g-aminobutírico, cadaverina, triptamina, tiramina e histamina).Perda de proteína e energia da silagem escura e cheiro de podridão.

c. Segunda etapa: homofermentativa:Bactérias homofermentativas pH 4,0-5,5Glicose => ácida láticoAs proteases não atuam em pH < 5,0.

* Não há perda de proteína.

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- Bactérias envolvidas no processo homofermentativo:Lactobacilo plantarum, Lactobacillus sp., Pediococcus sp., Streptococcus (Enterococcus) faecium

Uma grande população de bactérias homofermentativas no início do processo de fermentação irá reduzir rapidamente o pH da silagem, evitando as fermentações indesejáveis e as perdas de energia e proteína.

V. PERDAS ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE ENSILAGEM

Através de diferentes processos têm-se diferentes tipos de perdas com os respectivos agentes causais. No Quadro 4, tem-se uma tentativa de apresentar estas perdas.

Quadro 4 - Processos e respectivas perdas, tipos de perdas e agentes causais*.

ProcessoCaracterística da perda

Perda (% MS)

Agentes causais

Respiração Inevitável 1-2 Enzimas da Planta

Fermentação Inevitável 2-4 Bactérias

Efluentes Evitável 0-7 Água (% MS)

Fermentações secundárias

Evitável 0-5 % MS, ambiente silo

Aerobiose no silo Evitável 0-5Vel. Carregamento, Densidade e Vedação

Aerobiose na descarga Evitável 0-15 Manejo

Total   3-18  

*BOVIPLAN Consultoria Agropecuária, 1995.VI. FATORES LIMITANTES PARA O USO DE GRAMÍNEAS TROPICAIS

1. Poder tampão da forrageira:

O Poder Tampão das forrageiras tropicais é relativamente alto. Para exemplificar, o poder tampão é de 3,5g de ácido lático/100g de matéria seca na forragem de milho (valor muito baixo) até 7,4 na forragem de alfafa que é um valor muito alto (NUSSIO, 2000). O poder tampão está em função da quantidade de ácidos orgânicos presentes na forragem. Os ácidos orgânicos são o ácido málico, ácido cítrico e ácido aspártico principalmente, podendo também estar presente o ácido oxálico. Estes ácidos agem com efeito tamponante, impedindo a queda do pH da massa ensilada (inibidor da ação do ácido lático). Estes ácidos estão presentes em maiores quantidades nas gramíneas tropicais pelo fato das mesmas apresentarem o ciclo alternativo da fotossíntese de Hatch e Slack, das plantas do grupo C4. Estes valores variam de 3,5 a 4,5.

2. Nível de carboidrato da forrageira:

O nível de carboidrato na forragem a ser ensilada é afetado por fatores como (LIMA,

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2000):

a. Radiação solar no dia de corte: Dias ensolarados (sol pleno) provocam uma maior deposição de açucares na forragem do que dias nublados. Esta variação é da ordem de 2 a 3 unidades porcentuais para a mesma espécie de forrageira entre dias nublados e com sol pleno.

b. Horário de corte: Os níveis de açucares, na mesma espécie de forrageira, são maiores no final do dia (17h) do que pela manhã. Esta variação pode alcançar valores de 2 unidades porcentuais.

c. Extensão do período de emurchecimento: O emurchecimento por período muito longo (> 24h) reduz o conteúdo em carboidratos da forragem a ser ensilada. Esta redução pode alcançar valores de 3 a 4 unidades, dependendo da área de exposição do material picado.

d. Exposição á chuva no campo: A chuva lixiviará os carboidratos e aumenta a respiração das células.

e. Compactação da forragem: Havendo um a compactação satisfatória conseqüentemente, reduz a fase aeróbica e portanto menor será a perda de açúcar por respiração.

f. Fechamento do silo: Velocidade no carregamento e fechamento do silo. Mais rápido se obtém a anaerobiose, resultando em menor perda de açucares através da respiração. As concentrações típicas de carboidratos em gramíneas tropicais ensiláveis deveriam ser de aproximadamente 17% na matéria seca. Quando se tem valor de 2% de carboidratos solúvel na matéria orgânica da forragem, fatalmente obter-se-á uma silagem escura, com alto teor de ácido butírico e baixo valor nutritivo. Este valor corresponde a menos de 14% de carboidratos solúveis na matéria seca.

3. Teor de matéria seca da forrageira:

Forrageiras muito tenras (< 15% MS) dificilmente terão nível satisfatório de carboidratos solúveis para se obter uma fermentação adequada. Teoricamente uma forrageira com 15% de MS deveria conter pelo menos 20% de carboidratos solúveis. Entretanto, tem-se obtido silagens com características satisfatórias com 17,5% de MS e 18,67% de carboidratos solúveis (VILELA, 2000). Outros com 24% de MS e 11,44% de carboidratos solúveis (TOSI, 1973). Verifica-se pela Figura 2, o efeito do teor de matéria seca da forragem a ser ensilada sobre as perdas totais da silagem obtida.

Figura 2 - Perdas de MS durante a colheita e armazenamento relacionados à MS da forragem na colheita.

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Porcentagem de MS da forragem, quando colhida

4. Coeficiente de Fermentação:

O coeficiente de fermentação de uma forragem é determinado pelo seu teor de carboidrato solúvel, seu poder tampão e pelo teor de matéria seca. Para esta determinação tomam-se os valores como exemplo:

Capim elefante Paraíso:- Carboidratos solúveis (% MS) = 18,67- Poder tampão (g de ácido lático/100g de MS) = 3,00- % de MS no corte = 17,00- Coeficiente de Fermentação = MS (%) + 8 x CHO/PT- Coeficiente de Fermentação = 17 + [(8 x 18,67)/3,0] = 17 + 48 = 65

Capim elefante Cameroon:- Carboidratos solúveis (% MS) = 11,17- Poder Tampão = 3,92- % de MS no corte = 24,00- Coeficiente de Fermentação = 24 + [(8 x 11,17)/3,92] = 24 + 22,79 = 46,79

Teoricamente, ambas forrageiras estão aptas para produzir uma silagem com boa fermentação lática, pois o valor inferior de coeficiente de fermentação é de 35.

Entretanto, na prática para se obter a forragem de capim elefante (Pennisetum purpureum Schum) com teor de matéria seca adequada para ensilar, o estádio de desenvolvimento da planta (maturação) tem que se encontrar em estádio de crescimento bem avançado. Tal situação é incompatível com a obtenção de silagem de valor nutritivo aceitável. Portanto, a forrageira deverá ser ensilada quando nova, época em que a mesma apresenta níveis satisfatórios de proteína e energia (NDT). Nesta situação, o alto teor de água, que de há muito foi correlacionado como indicador de silagem de baixa qualidade, ou seja, níveis altos de ácido butírico , bases voláteis e amônia (LAVEZZO, 1990).

Finalmente para maximizar a fermentação lática deve lançar mão de técnicas e/ou produtos com objetivo de contornar o efeito do baixo nível de matéria seca da forragem a ser ensilada.

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VII - TÉCNICAS E PRODUTOS UTILIZADOS NA ENSILAGEM DE GRAMÍNEA TROPICAL

1. Emurchecimento da Forragem:

Recomendável para forragem com menos de 18% de MS. Neste caso, se não houver a remoção da água, haverá redução dos efeitos preservativos das fermentações ácidas primárias (ácido lático) e não ocorrerá valor de pH entre 3,8 e 4,2, que prevenirá o crescimento das bactérias do gênero Clostridium.

Para gramínea tropical foi relatado o decréscimo no poder tampão ao ácido lático de 44,9 para 35,73mg/g MS, quando a forragem com 18% de matéria seca foi submetida ao tempo de emurchecimento de 8 horas (TOSI, 1973).

Para outra gramínea tropical (VILELA et al, 2000) com 17,50% de matéria seca, observaram efeito sobre o teor de matéria seca (25,6% MS), o teor de ácido lático e o poder tampão da forragem quando submetida ao tempo de emurchecimento de 6 horas.

Como conceito geral, tem-se que, reduzindo a umidade das plantas forrageiras, através do emurchecimento, obtém-se aumentos na eficiência de preservação da silagem (LAVEZZO, 1990).

De modo geral pode-se concluir que o teor de matéria seca da silagem não altera diretamente o consumo pela redução da umidade, mas sim indiretamente pela modificação das fermentações no silo. Somente 16% das variações de consumo é explicado pelo teor de MS da forragem.

Pode-se observar (Quadro 5) o efeito de emurchecimento sobre o teor de matéria seca, de carboidrato solúvel, ácido lático e digestibilidade "in vitro" da MS da silagem de capim elefante Mineiro.

Quadro 5 - Efeito do tempo de emurchecimento sobre a qualidade da silagem de capim elefante.

ParamêtrosTempo de Emurchecimento (horas)

0 6 30 54

MS (%) 22,7 36,9 46,8 71,5

CHO solúvel (% MS) 0,51 0,72 0,77 0,92

Ácido Lático 1,10 1,80 2 0

DIV MS 41,20 43,50 50,50 50,70

*VILELA e MILKINSON, 19872. Adição de materiais com alto teor de matéria seca.

a. Fenos e Palhadas.

Com o intuito de aumentar o teor de matéria seca da forragem tropical que

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apresenta baixo teor nesta quando seu valor nutritivo é alto, tem sido usado alguns tipos de fenos (Quadro 6). Além dos fenos, tem-se também usado palhadas de sorgo e soja, polpa de café, sabugo de milho moído e outros, sendo que normalmente, as silagens resultantes são de discutível valor nutritivo.

Quadro 6 - Efeito da adição de fubá, fenos, palhas e emurchecimento sobre a qualidade da silagem de capim elefante*.

TratamentoMS (%)

PB (% MS)

pHÁcido lático

Ácido butírico

Testemunha 19,20 3,50 4,4 6,90 0,11

Capim + 20% Milho 32,80 7,30 4,3 4,70 0

Capim + 15% Capim Rhodes

28,60 4,10 4,2 5,30 0

Capim + 15% Palha de.Arroz

29,40 3,90 4,3 4,40 0

Capim + 15% Feno de soja perene

37,30 8,10 4,4 3,50 0

Capim moído + emurchecimento (4hs)

35,00 3,80 4,5 5,10 0

Capim integral emurchecido (8hs)

28,80 3,90 4,5 4,60 0

*CORSI et al, 1971.b. Polpa de Laranja e Cama de Frango.

Com o objetivo de aumentar o teor de matéria seca da forragem de gramínea tropical pode-se lançar mão de alguns produtos que também contribuem para melhorar a qualidade da silagem obtida bem como seu valor nutritivo.

Com polpa de laranja (FARIA et al., 1972) verificam que a adição de 5 a 20% resultou em aumento linear nos teores de matéria seca, de carboidratos solúveis e de ácido lático.

Com polpa de laranja ou polpa cítrica os melhores resultados parecem ser com as silagens de gramíneas tropicais com 5 a 10% de polpa cítrica.

Ainda, com o propósito de verificar o efeito da adição de cama de frango à forragem verde de gramínea tropical, fez-se um estudo (Quadro 7) envolvendo seis níveis de adição sobre os parâmetros de qualidade da silagem e seu valor nutritivo.

Quadro 7 - Efeito da adição de níveis crescentes de cama de frango à forragem de capim elefante sobre a qualidade e valor nutritivo da silagem obtida*.

Parâmetros

Níveis de Cama de Frango

0 5 10 15 20 25

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MS (%) 20,7 22,7 26,3 28,8 32,6 33,3

PB  (%) 6,3 10,7 12,4 14,7 14,1 16

Ácido Lático 6,4 3,6 5 4,9 3,7 4,5

CHO solúveis 1,2 1,3 1,3 1,5 2 1,9

DIV MS (%) 26,1 26 26,7 29,8 31,2 31,9

Ganho diário 0,060 0,380 0,476 0,316 0,478 0,197

*LAVEZZO e CAMPOS, 1978.

c. Outros Produtos.

- Bagaço de cana-de-açúcar tem efeito positivo sobre o aumento do teor de matéria seca da forragem ensilada mas reduz acentuadamente o valor nutritivo da silagem obtida (TOSI et al., 1989, LAVEZZO et al., 1992).

- Parte aérea da mandioca: na forma de feno da parte aérea a melhor inclusão foi de 25% enquanto na forma de farelo da parte aérea a melhor inclusão foi de 5%, com melhor silagem e melhor valor nutritivo.(CARVALHO, 1984 e 1985).

3. Aditivos na ensilagem de gramínea tropical:

Segundo McDONALD (1981) os aditivos de silagens podem ser classificados em:- estimulantes da fermentação (culturas bacterianas e fontes de carboidratos solúveis);- inibidores da fermentação (ácido fórmico e outros);- inibidores da deterioração aeróbica (ácido propiônico);- nutrientes: muitas substâncias relacionadas como fontes de carboidratos podem ser enquadradas nesta categoria.

4. Aditivo Inoculante Bacteriano:

a. Característica do aditivo inoculante (McDONALD, HENDERSON e HERON, 1991):- conter bactérias láticas: Lactobacillus plantarum, Lactobacillus sp., Streptococcus faecium, Pediococcus sp.;- crescer rapidamente dentro de uma larga faixa de umidade, temperatura e pH;- produzir ácido lático a partir de açúcares.

b. Efeitos do aditivo sobre a silagem:- aumentar velocidade de fermentação;- inibir a ação de enzimas da planta (proteases);- reduzir o crescimento de microorganismos e indesejáveis (Closrtidium e Enterobactérias);- reduzir a estabilidade aeróbica;- aumentar a recuperação da matéria seca.

c. Ensaios comprobatórios do efeito do aditivo bacteriano em silagens (Quadros 8 e

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9).

Quadro 8 - Ensaios publicados (1990-1995) comprobatórios do efeito de aditivo bacteriano em silagem*

Parâmetros da silagem

% Ensaios positivos

Observações

PH 63 Efeito principal em gramíneas

Relação: ácido lático/acético 63 Efeito principal em gramíneas

Redução de amônia 65 Efeito principal em gramíneas

Redução de perdas de MS 37 Efeito principal em gramíneas

Menor estabilidade aeróbica 28 Efeito principal em gramíneas

Maior digestibilidade da MS 29Efeito principal gramínea (aumento 6% na digestibilidade)

* MUCK e KUNG, 1997.

Quadro 9 - Ensaios publicados (1990-1995) comprobatórios do efeito do aditivo bacteriano sobre o valor nutritivo da silagem*.

ItemAvaliações

Estudos com respostas

Digestibilidade ConsumoProdução de Leite

Ganho em Peso

69% (13) 28% (67) 47% (36) 53% (15)

* KUNG e MUCK, 1997

d. Fatores que afetam a atividade dos inoculantes (PITT, 1990):- baixo teor de açucares solúveis (< 18%);- teor de matéria seca da forragem (< 18%);- forma de aplicação (líquida);- qualidade da água usada (> 1ppm de Cl);- espécie forrageira (específicos);- quantidade aplicada (90 bilhões de UFC/ton forragem).

5. Aditivos - Fontes de carboidratos solúveis:

a. Polpa de laranja (cítrica) fresca (10%).

Alto teor de CHO (40% na MS). Resultado satisfatório com melhoramento na qualidade da silagem (FARIA et al, 1972)

b. Cana-de-açúcar:

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- 30% resultados favoráveis (de FARIA e PEIXOTO, 1974);- 30% resultados indiferentes (ALMEIDA et al, 1986).

c. Melaço de cana-de-açúcar:- 3% resultados favoráveis (SILVEIRA et al, 1973);- 3% dependentes do teor MS da forragem (TOSI, 1972).

d. Milho e mandioca.

Ambos não favoráveis como fontes de carboidratos. As bactérias láticas não usam este polissacarídeo como fonte de energia.

6. Aditivos - Inibidores de fermentação:

São compostos genéricos que, além de reduzirem o pH da silagem tem efeito bactericida ou bacteriostático.

São os ácidos minerais e seus sais e os ácidos orgânicos e seus sais:

Metabissulfito de sódio; Pirossulfito de sódio; Ácido fórmico; Formaldeído.

Dos ácidos orgânicos utilizados na ensilagem de forragens, o ácido fórmico é o mais empregado.A quantidade empregada varia (LAVEZZO, 1981) 2,2l a 3,3l/t de forragem verde de ácido fórmico a 85%. O formol, comercializado em solução de 37 a 45% de formaldeído possui duas propriedades que o recomendam como aditivo: é bacteriostática e insolubilizante de proteínas. Graças a este efeito as proteínas não são degradadas também no rúmen e são absorvidas no intestino delgado.Os níveis recomendados variam de 1,3g de a 8,0g de formaldeído/100g de proteína bruta da forragem. Valores como 8,0g provocam depressão no consumo e na digestibilidade da MS. Níveis ideais estariam em torno de 3 a 5g/100g de PB.

BOIN (1975) ensilou o capim elefante cv. Napier com 0,4, 0,6 e 0,8% de formol (38% de formaldeído) e observou baixa fermentação do material ensilado quando verificou os níveis de ácidos orgânicos formados e constatou esterilização da massa ensilada quando usou nível 0,8%.

A solução de "Viher" que é constituída de 70% de formol (40% de formaldeído) e 26% de ácido fórmico (85% de pureza) e 4% de água é muito usada na Europa para proteger a proteína da forragem ensilada e assegurar um bom consumo de MS. Trabalhos feitos com 0,2% de solução de "Viher" mostram melhoria na qualidade da silagem de gramínea tropical na digestibilidade e no consumo de MS.

Trabalhos feitos com cloreto de sódio não tiveram efeitos quando a MS era de 20% na forragem de capim. Foram usadas quantidades de até 1kg/100kg de forragem verde sem nenhum resultado positivo. Portanto os autores concluíram que o NaCl

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neste nível não teve ação inibitória na fermentação.

7. Aditivos - Nutrientes:

Uréia; Amônia; Biureto; Minerais.

URÉIA - Vários trabalhos relatam o efeito da uréia na ensilagem de gramínea, ora elevando o teor de proteína da silagem (LAVEZZO, 1990), ora elevando o pH, em doses superiores a 0,75%, (SINGH e PANDITA, 1984), ora elevando o teor de ácido acético (COLENBRANDER et. al., 1971), ora elevando a capacidade de tamponante da massa ensilada (SHIRLEY et. al., 1972), ora não interferindo na produção de ácido lático (VILELA e WILKINSON, 1987), ora aumentando o consumo de matéria seca (VILELA e WILKINSON, 1987). VILELA et. al (1990) estudaram o efeito da adição da uréia (0, 1,8, 3,5 e 5,2% na MS) na forragem emurchecida de capim elefante Mineiro (Quadro 10).

Quadro 10 - Efeito de níveis de uréia sobre o valor nutritivo de silagens de capim elefante emurchecido*.

MS

Níveis de Uréia e Parâmetros

0 1,7% 3,4% 5,2%

(%) Digestibilidade da MS

38,6 52,24 54,96 44,07 41,15

43,2 50,96 55,26 53,84 60,63

  Consumo de Matéria Seca**

38,6 43,37 35 29,87 24,63

43,2 40,34 37,97 31 29,30

*VILELA et al., 1990. **Consumo: g/UTM.

Uréia hidrolizada. Amônia rompe ligações ésteres entre lignina, celulose e hemicelulose e outros carboidratos com lignina. Está em função da matéria seca da forragem ensilada (VILELA, 1970).

VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se abordar, de modo abrangente, os fatores que levam a gramínea tropical (capim) a tornar uma forragem mais atrativa para a confecção de silagens e ressaltando entre as gramíneas, as mais produtivas e com características nutricionais adequadas. Foi também comentado um dos principais fatores que limita a produção de silagem deste material, que é o teor de matéria seca, quando a planta apresenta seu maior valor nutritivo.

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Da literatura consultada, pode-se concluir que não existe uma técnica única e consensual que possa ser generalizada e preconizada como sendo a mais correta. Acredita-se que a aplicação da técnica do emurchecimento da forragem, mediante o uso de equipamentos modernos de corte e colheita, ela torna-se padrão para ensilagem de gramínea tropical, que aliada a outras incrementam a qualidade e o valor nutritivo das silagens.

SILICATO DE CALCIO E MAGNÉSIO I. INTRODUÇÃO

O agregado gerado do tratamento da escória de aço inox (Silicato de Cálcio e Magnésio) possui menos metais pesados que a maioria dos calcários naturais, conforme estudo realizado pela Universidade Federal de Viçosa.

Obteve a autorização do órgão ambiental FEAM e registro no Ministério da Agricultura como corretivo da acidez do solo, já que é fonte de Silício Solúvel e micronutrientes.

Por ser um Silicato de Cálcio, o agregado de escória é 6,7 vezes mais solúvel que o calcário, proporcionando maior eficiência na ação corretiva, no crescimento das plantas e na proteção contra doenças.

Tem sido aplicado, com resultados excelentes, na produção de cana-de-açúcar, café, soja, milho e pastagens.

II. CORREÇÃO DO SOLO

O tradicional calcário está cedendo lugar ao corretivo silicato de Ca e Mg, que é um resíduo da fabricação do aço especial, recentemente disponibilizado no mercado brasileiro com os nomes comerciais Silicato de Cálcio. Em certas situações o silicato substitui o calcário com várias vantagens. Esta substituição como corretivo depende da distancia a ser percorrida pelo silicato em relação ao calcário, pois constitui o fator determinante do custo do corretivo colocado no ponto de consumo.

Como corretivo a comparação pode ser feita levando em consideração que o silicato substitui o calcário com vantagens ou seja, gasta-se menos silicato (85%) em relação ao calcário e não há necessidade de sua incorporação ao solo, ou seja, pode ser aplicado na superfície do solo. Contudo o calcário não substitui o silicato como fonte de microelementos para a planta, principalmente o silício.

III. INFORMAÇÕES TÉCNICAS DO SILICATO

Análise Química:(teores médios) Método de Análise por Absorção Atômica (Fonte: UFV/ABCP)

SiO2 - 23% P2O5 - 0,42%

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K2O - 0,19% SO3 - 0,37% Fe2O3 - 11% MnO - 1,8% Mo 0,400 µg.g-1 Zn - 0,133 µg.g-1 N - 0,1 %.

Aspectos Físicos:

granulometria uniforme; bom desempenho operacional; menor deriva pelo vento na aplicação.

Solubilidade no Solo:

Calcário (Carbonato de cálcio) 0,014g/l; Silicato (Silicato de cálcio) 0,095g/l.

O Silicato de Cálcio é 6,78 vezes mais solúvel que o calcário, portanto, ocorrem reações com maior velocidade, resultado em menor espaço de tempo, para que se efetue sua ação corretiva.

Vantagens do Silicato:

correção de acidez do solo; fornecimento de Silício (Si) solúvel; fornecimento de micronutrientes.

Benefícios do Silício (Si) para a agricultura:

aumenta a resistência da parede celular; aumenta a resistência das plantas à incidência de doenças e pragas; regula a evapotranspiração (maior economia de água); aumenta a rigidez estrutural dos tecidos reduzindo desta forma a susceptibilidade ao acamamento; melhora a arquitetura da planta; proporcionando menor sombreamento e folhas mais eretas, com maior absorção de CO2; aumenta a taxa fotossintética; aumenta a tolerância a elementos tóxicos; aumenta a produtividade.

Benefícios do Silício (Si) para o meio ambiente:

diminui o emprego de fungicidas; diminui o uso de inseticidas; mantêm os inimigos naturais contra as pragas; melhora o aproveitamento da água;

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preserva a camada de ozônio pois não emite CO2 para atmosfera.

EFEITO DE NÍVEIS DE SILICATO SOBRE A PRODUÇÃO DE FORRAGEM, COMPOSIÇÃO BROMATOLÓGICA E DIGESTIBILIDADE DE GRAMÍNEA TROPICAL ($)

(EFFECT OF SILICATE LEVELS ON THE FODDER PLANT PRODUCTION, GRASSY COMPOSITION AND DIGESTIBILITY OF TROPICAL GRASS)

Herbert Vilela1, Duarte Vilela2, Fabiano Alvim Barbosa3, Adilson Antônio Melo4 e Edmundo Benedetti5.

1. Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Visitante da UFU, Consultor do Conselho Nacional de Pesquisas. [email protected]. Engenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador do CNPGL-EMBRAPA. [email protected]. Médico Veterinário, Doutorando da UFMG. [email protected]. Zootecnista, Aperfeiçoamento em Produção Animal e Supervisor da MATSUDA. [email protected]. Médico Veterinário, Doutor, Professor Titular da UFU. [email protected]

($) Trabalho financiado por SILIFERTIL AMBIENTAL e RECMIX

RESUMO

O objetivo do trabalho foi estudar um caso de uso de silício em forrageira e seu efeito sobre a composição bromatológica e digestibilidade. A forrageira usada foi o capim elefante Paraíso (Pennisetum hybridum cv Paraíso) que foi implantada em latossolo vermelho, fase cerrado. Como delineamento experimental usaram-se blocos inteiramente casualizados com quatro repetições.

Os tratamentos consistiram de três níveis de silicato de cálcio e magnésio como corretivo (Zero, 500 e 1000kg de silicato por hectare) e de três níveis de nitrogênio como adubação em cobertura (zero, 35, 70kg de N/ha). Portanto, foram nove os números de tratamentos. Após a aplicação de silicato de cálcio e magnésio, o nível de Si no solo passou de 12 para 19ppm, que é considerado nível médio. Após aplicação de 1000t/ha de silicato o nível passou para 21ppm sendo classificado como nível satisfatório. Em relação aos valores de pH, Ca e Mg, SB e V, verifica-se que estes variaram em função dos níveis de silicato aplicados, principalmente em relação ao cálcio e magnésio, SB e V na profundidade amostrada de zero a 20cm.

A produção de forragem obtida nos níveis zero de silicato e de nitrogênio foi de 10,20t MS/ha á idade de 90 dias após plantio. O nível de silicato de 1000kg/ha e sem nitrogênio não mostrou ser mais eficiente do que o nível de 500kg/ha (11,75t MS/ha) quando avaliado pela produção nesta espécie forrageira e para este solo. Os maiores níveis de matéria seca na forragem foram obtidos nos tratamentos com silicato sem nitrogênio. Nos tratamentos com silicato e com nitrogênio os níveis de matéria seca foram menores do que naqueles sem nitrogênio. Em relação aos níveis de FDN na forrageira (Tabela 4), observa-se que eles aumentaram (P<0,05) com as doses de silicato usadas, mas não foram afetados pelas doses de nitrogênio usadas dentro de cada tratamento com silicato. Em relação a digestibilidade, com zero de Si (Tabela 4),

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esta foi menor (P<0,05) em situações em que se usou 35kg de nitrogênio ou não se usou nitrogênio em cobertura, quando comparada com os outros tratamentos com nitrogênio e Si. Contudo, nos outros tratamentos, a digestibilidade não foi afetada pelos níveis de silicato usados e nem pelas doses de nitrogênio usadas.

SUMMARY

The objective of the work was to study a case of silicon use in forage and its effect on the composition and digestibility. The used forage was grass Paraíso (Pennisetum hybridum cv Paraíso) that it was implanted in latossolo red, closed phase. As experimental delineation randomized blocks with four repetitions had been used entirely. The treatments had consisted of three silicate levels of calcium and magnesium as corrective (0, 500 and 1000kg of silicate for hectare) and have three nitrogen levels as fertilization in covering (0, 35, 70kg of N/ha). Therefore, they had been 9 the number of treatments. After the silicate application of calcium and magnesium, the level of itself in the ground passed of 12 for 19ppm, that average level is considered. After application of 1000t/ha of silicate the level passed to 21ppm being classified as satisfactory level. In relation to the values of pH, Ca and Mg, SB and V, are verified that these had varied in function of the applied silicate levels, mainly in relation to calcium and magnesium, SB and V in the showed depth of 0 20cm.

The production of fodder plant gotten in nitrogen and silicate levels zero was of 10,20t DM/ha age of 90 days after plantation. The silicate level of 1000kg/ha and without nitrogen did not show to be more efficient of the one than the level of 500kg/ha (11,75t DM/ha) when evaluated by the production in this forage species and for this ground. The biggest levels of dry substance in the fodder plant had been gotten in the treatments with silicate without nitrogen. In the treatments with silicate and nitrogen the levels of dry substance had been lesser of that in those without nitrogen. In relation to the levels of FDN in the forage (Table 4), it is observed that they had increased (P<0,05) with the used doses of silicate, but they had not been affected by the used doses of nitrogen inside of each treatment with silicate. In relation the digestibility, with zero of Si (Table 4), this was lesser (P<0,05) in situations where if it used 35kg of nitrogen or nitrogen in covering was not used, when compared with the other treatments with nitrogen and Itself However, in the other treatments, the digestibility it was not affected by the used silicate levels and nor by the used doses of nitrogen.

INTRODUÇÃO

O trabalho de revisão sobre silício de KORNDÖFER et al. (2001) mostra aspectos importantes deste elemento na planta como absorção, translocação, ‘sites’de deposição, funções na planta etc. Assim sendo, o silício solúvel é absorvido pelas raízes das plantas como ácido monosilícico (H4SiO4) de forma passiva, acompanhando a absorção de água, ou de forma ativa (Jones & handreck, 1967; ma et al., 2001). É transportado através da planta e depositado nas paredes das células, principalmente nas folhas. Parte do silício absorvido permanece na forma solúvel, mas a maior parte dele é incorporado na parede das células da epiderme, dos estômatos e tricomas das folhas e pequena parte forma depósitos amorfos (JARVIS, 1987, EPSTEIN, 2001).

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As plantas podem ser classificadas como acumuladoras e não acumuladoras de silício de acordo com suas habilidades e que podem ser avaliadas de acordo com a relação molar Si:Ca encontrada nos tecidos. Relações acima de um, as plantas são consideradas acumuladoras, e entre um e 0,5 são consideradas intermediárias e menor do que 0,5 não acumuladoras (MIYAKE &YAKAHASHI, 1983; MA, et al. 2001).

O silício resulta em vários benefícios para as plantas, principalmente às gramíneas sendo que, destaca-se maior tolerância da planta ao ataque de insetos (CARVALHO, 1998, SAVANT et al, 1994, MOORE, 1984) e doenças (MENZIES et al.2001), redução na transpiração (DATNOF et al, 2001), maior taxa fotossintética das plantas (melhoria na arquitetura foliar) (DEREN, 2001).

Em algumas gramíneas, como o arroz, a cana de açúcar, o milho, o capim kikuiu, o capim Bermuda e algumas não gramíneas como a alfafa, feijão, tomate, alface e repolho foram constatados aumentos na produtividade com aumento de níveis de silício solúvel no solo (elaward & GREEN, 1979, KORNDÖRFER & LEPSCH, 2001).

Doses crescentes de nitrogênio em gramíneas, na presença de silício, aumentaram a produção de matéria seca. Contudo, doses elevadas de nitrogênio resultaram em menor produção de matéria seca (HO et al., 1980), pois neste caso o nitrogênio provoca maior flacidez nas plantas, principalmente nas folhas. Por outro lado, o silício torna-se as plantas mais rígidas, predominantemente as folhas e conseqüentemente, as tornam mais eretas e com melhor aproveitamento da energia eletromagnética incidente, resultando daí em maior taxa fotossintética, seguindo-se maior produção de forragem (YOSHIDA, 1981).

Há suposições de que níveis mais elevados de silício solúvel no solo e na planta afetariam a digestibilidade da matéria seca da forragem. Contudo, trabalhos de VAN SOEST (1994), MINSON (1990), SHEWMAKER et al. (1989), WOODWART (1989) não encontraram nenhuma correlação entre a presença de silício na forrageira e sua digestibilidade. Por outro lado, o silício pode ser encontrado em diferentes concentrações, dependendo da disponibilidade no solo para uma mesma espécie forrageira e em diferentes locais da planta forrageira (MA et al., 2001), ainda formando diferentes ligações com lignina, carboidratos, proteínas e outros compostos orgânicos. Assim sendo, como ocorre em outros elementos, poderá haver diferenças na qualidade nutritiva e no aproveitamento pelos ruminantes (MA et al., 2001; INANAGA & OKASAKA, 1995). Portanto as interações destas forrageiras tratadas com silício e o animal devem ser mais avaliados (KORNDÖFER et al., 2001).

Com o objetivo de contribuir com pequena parcela destes estudos, se propõem este trabalho sobre um caso de uso de silício em forrageira e sua composição bromatológica e digestibilidade.

MATERIAL E MÉTODOS:

O trabalho foi implantado no município de Cristais (MG) localizado na Zona Fisiográfica Campos das Vertentes com as coordenadas geográficas 20° 50’ de latitude sul e 45°30’ longitude W. A forrageira usada foi o capim elefante Paraíso (Pennisetum hybridum cv Paraíso) que foi implantada em latossolo vermelho, fase

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cerrado, em área com pequena declividade (2%) e com exposição norte, em um espaçamento de 0,70m entre linhas e contínuo na linha, segundo as recomendações técnicas da Empresa MATSUDA Sementes e Nutrição Animal, detentora do registro no SNPC (MAPA).

Como delineamento experimental usaram-se blocos inteiramente casualizados com duas repetições. Cada parcela experimental foi formada por três linhas de plantio com 30m de comprimento, portanto cada unidade experimental tinha uma área útil de 21m2. A área foi totalmente irrigada por aspersão convencional (tubulação fixa/ subterrânea). As análises de solos foram feitas no Laboratório do Departamento de Ciências do Solo da UFU. As amostras de forragem foram obtidas à época do corte, aos 90 dias de idade e remetidas aos laboratórios. As análises de solos foram feitas no laboratório do departamento de Ciências do Solo da UFU, as análises bromatologicas foram feitas no laboratório de Análise de Alimentos do Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG e no Laboratório de Análise de Alimentos do CNPGL da EMBRAPA.

A adubação corretiva foi com 800 Kg/ ha da fórmula 00-15-10(NPK) + Zn (15 Kg/ha de Sulfato de Zinco), distribuída na linha de plantio. Na medida do possível a cultura foi mantida sem invasoras através de capinas manuais. A irrigação foi feita antes de ocorrer o "déficit" hídrico (mais de cinco dias consecutivos sem chuvas).

Os tratamentos consistiram de três níveis de silicato de cálcio e magnésio como corretivo (Zero, 500 e 1000kg de silicato por hectare) (KORNDORFER et al., 2004) e de três níveis de nitrogênio como adubação em cobertura (Zero, 35, 70 kg de N/ha). Portanto, foram nove os números de tratamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1 – Análise do solo antes da aplicação de silicato.

NÍVEIS NO SOLO

N° Amostra

pH

P ppm

K mg/dm³

Ca cmolc/dm³

Mg cmolc/dm³

Al cmolc/dm³

Si ppm

SB cmolc/dm³

V%

14,5

6,9 43 2,5 1,5 1,8 12 3,8 60

Tabela 2 – Análise do solo após aplicação de silicato.

Quant. aplicadas de silicato/ha

NIVEIS NO SOLO

pH

P ppm

K mg/dm³

Ca cmolc/dm³

Mg cmolc/dm³

Al cmolc/dm³

Si ppm

SB cmolc/dm³

V%

Zero 4, 7 42 2,4 1,4 1,8 12 3,9 61

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4

500kg5,9

8 42 3,5 2,1 0 19 4,8 70

1000kg6,0

8 43 3,9 2,8 0 21 5,1 75

Pelas tabelas 1 e 2 podem-se verificar os níveis dos principais componentes químicos analisados do solo, antes e após a aplicação do silicato. Segundo KORDORFER et al (2001) solo arenoso e com nível de silício inferior a 18ppm, freqüentemente apresenta resposta á aplicação de silício. Após a aplicação de silicato de cálcio e magnésio, o nível de Si no solo passou para 18ppm, que segundo o mesmo autor é considerado nível médio. Após aplicação de 1000t/ha de silicato o nível passou para 21ppm sendo classificado como nível satisfatório, embora (KORNDORFER et al., 2001) ressalte que a calibração da análise do solo para silício é ainda insuficiente e necessita de mais estudos.

Em relação aos valores de pH, Ca e Mg, SB e V verifica-se que estes variaram em função dos níveis de silicato aplicados, principalmente em relação ao cálcio e magnésio, SB e V na profundidade amostrada de zero a 20cm. Os resultados obtidos por KORNDORFER et al. (2001a) mostram a mesma tendência.

Em relação ao Al verificou-se que o mesmo foi neutralizado a partir da dose de 500kg por hectare.

Tabela 3 - Produção de matéria seca (MS) aos noventa dias de idade, em função dos tratamentos:

NIVEIS DE SILICATO, DE N E PRODUÇÃO DE MATÉRIA SECA (kg/ha)

0Kg/ha silicato 500Kg/ha silicato 1000kg/ha de silicato

0kg N35 kg N

70kg N

0kg N35kg N

70kg N

0kg N35kg N

70kg N

10,20F 13,50D 14,20C 11,75E 16,60B 17,10A 11,80E 16,65B 17,70A

Teste de T(P< 0,05); A>B>C>D>E, dentro da mesma linha.

A produção de forragem obtida nos níveis zero de silicato e de nitrogênio (testemunha) foi de 10,20t MS/ha à idade de 90 dias após plantio. Verifica-se que a aplicação de nitrogênio (35kg/ha) resultou em aumento (P<0,05) de 32,35% de forragem (13,50t MS/ha) enquanto o tratamento com 70kg/ha de nitrogênio resultou em uma produção de 14,20t MS/ha, aumento (P<0,05) de 39,21% em relação a testemunha. Estes resultados evidenciam o efeito de nitrogênio em cobertura, já comprovado em inúmeros trabalhos com forrageiras.

Por outro lado, a aplicação de 500kg/ha de silicato sem nitrogênio resultou em uma produção de 11,75t MS/ha, aumento (P<0,05) de 15,19% (testemunha). Este aumento de produção de forragem devido ao efeito do silicato, pode estar relacionado com a interação com outros nutrientes disponíveis no solo e a melhoria na arquitetura foliar da planta, fato que já foi comprovado com outras espécies forrageiras (ELAWAD & GREEN,1979; KONDORFER & LEPSCH, 2001; KONDORFER et al, 2001). Neste

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tratamento com 500kg/ha de silicato, as aplicações de nitrogênio (35kg e 70kg) resultaram em aumentos (P<0,05) de 40,42% e 45,43% (16,60t/ha e 17,10t MS/ha). Estes resultados evidenciam que o silicato potencializou a forrageira a uma maior produção pela sua interação com o nitrogênio aplicado em cobertura quando comparado com o tratamento sem silicato e nitrogênio (HO et al.,1980) como também pode ser associada a melhoria na arquitetura foliar da planta promovida pelo Si e conseqüentemente maior taxa fotossintética (YOSHIDA,1981).

A aplicação de 1.000kg/ha de silicato sem nitrogênio também proporcionou aumento (P<0,05) de produção de forragem de 15,68%(16,50t/ha) em relação a testemunha. Pôde-se verificar que este aumento foi igual (P>0,05) ao proporcionado pelo nível de 500kg/ha de silicato. O mesmo ocorreu com as doses de 35 e 70kg de nitrogênio por hectare. Portanto esta forrageira neste tipo de solo foi capaz de responder a aplicação de até 500kg/ha de silicato. O nível de silicato de 1000kg/ha não mostrou ser mais eficiente do que o nível de 500kg/ha, quando avaliado pela produção nesta espécie forrageira e para este solo.

Tabela 4 – Composição bromatológica e Digestibilidade "IN VITRO" da matéria seca(DIVMS*) da forragem de capim elefante Paraíso.

TIPOS DE ANÁLISES TRATAMENTOS E PORCENTAGEM DE ELEMENTOS NA MATÉRIA SECA

0Kg/ha Silicato 500kg/ha de silicato 1000kg/ha de silicato

0kgN35kgN

70kgN

0kgN35kgN

70kgN

0kgN35kgN

70kgN

MS23,00 C

21,70 D

21,60 D

25,65 A

24,37 B

24,48 B

25,50 A

24,36 B

24,48 B

Proteína

13,50 C

14,60 B

15,50 B

13,60 C

16,05 A

16,70 A

13,52 C

16,50 A

16,80 A

FDN75,60C

75,70C

75,80C

76,50B

76,80B

76,60B 77,0A 77,0

2A77,03A

Minerais

6,00C 6,50C 6,55C 6,95B 7,00B 7,00B 7,10A 7,15A 7,15A

Cálcio 0,42C 0,40C 0,40C 0,58B 0,60B 0,58B 0,77A 0,79A 0,79A

Fósforo

0,15B 0,15B 0,15B 0,16A 0,16A 0,16A 0,16A 0,17A 0,17A

Silício 1,20C 1,21C 1,22C 1,60A 1,61A 1,59A 1,59A 1,60A 1,59A

NDT53,16C

54,16B

54,21B

54,10B

55,69A

55,12A

55,13A

55,65A

55,56A

DIVMS*

51,48C

53,46B

54,51A

54,40A

54,50A

54,92A 54,1A 54,3

9A53,95A

Teste de T (P<0,005); A > B >C, dentro da mesma linha.

Observa-se (Tabela 4) níveis menores de matéria seca na forrageira nos tratamentos sem silicato e menores (P<0,05) ainda na presença de nitrogênio. Contudo, os maiores níveis de matéria seca foram obtidos nos tratamentos com silicato sem nitrogênio. Nos tratamentos com silicato e com nitrogênio os níveis de matéria seca

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foram menores do que naqueles sem nitrogênio. Estas variações podem ser devidas a maior participação do silício na celulose (INANAGA & OKASAKA, 1995) e ao maior acumulo de água nas células promovidas pelo nitrogênio (HO et al., 1980).

Nos tratamentos sem silício verifica-se (Tabela 4) que houve aumentos dos níveis de proteína da forrageira entre os níveis de nitrogênio estudados (P<0,05), conforme já obtido em inúmeros outros trabalhos com forrageiras, devido ao a maior disponibilidade de nitrogênio no solo. Verifica-se que a adição de silicato sem nitrogênio não promoveu aumento (P>0,05) no teor de proteína na forragem, possivelmente devido ao baixo nível de nitrogênio disponível no solo. Nos tratamentos com silicato, todos os níveis de nitrogênio usados em cobertura foram acompanhados pelos maiores (P<0,05) teores de proteína na forrageira. Sendo que não há nenhuma indicação na literatura, a não ser uma maior interação do Si com o nitrogênio disponível no solo (BIRCHAL, 1995).

Em relação aos níveis de FDN na forrageira (Tabela 4), observa-se que eles aumentaram (P<0,05) com as doses de silicato usadas, mas não foram afetados pelas doses de nitrogênio usadas dentro de cada tratamento com silicato. Resultados estes que podem ser atribuídos a participação do Si neste componente.

Os níveis de minerais, cálcio e o fósforo aumentaram (P<0,05) com as doses de silicatos usadas e não foram afetados pelos níveis de nitrogênio usados dentro de cada tratamento. Os níveis de minerais, fósforo e cálcio aumentaram devidos suas adições via fertilizante e silicato e o nível de fósforo em parte, atribuído possivelmente à competição do Si nos "sites" de argilas com fósforo adsorvido.

O nível de silício na planta foi afetado (P<0,05) pela maior disponibilidade do mesmo no solo. Segundo MIYAKE & TAKAHASHI (1983) as plantas são consideradas acumuladoras quando possuem mais do que 1% de Si na matéria seca e uma relação Si:Ca maior do que um. Portanto, o capim elefante Paraíso é um planta acumuladora de silício.

Em relação aos nutrientes digestíveis totais (NDT) da forragem, eles foram aumentados (P<0,05) com a adição de silicato e nitrogênio, como conseqüência da maior disponibilidade de nutrientes na matéria seca da forragem.

Em relação a digestibilidade, com zero de Si (Tabela 4), esta foi menor (P<0,05) em situações em que se usou 35kg de nitrogênio ou não se usou nitrogênio em cobertura, quando comparada com os outros tratamentos com nitrogênio e Si. Contudo, nos outros tratamentos, a digestibilidade não foi afetada pelos níveis de silicato usados e nem pelas doses de nitrogênio usadas. Estes resultados em relação ao uso do silicato e seu efeito sobre a digestibilidade foram também observados por VAN SOEST (1994), MINSON (1990), SHEWMAKER et al. (1989), WOODWART et al. (1989).

CONCLUSÕES

O nível de 500kg/ha de silicato foi suficiente para se obter a maior a produção de matéria seca na forragem estudada.

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Os níveis de nitrogênio usados foram mais eficientes para produção de forragem do que o silício, contudo o silício potencializou a planta para maiores produções quando se usou o nitrogênio.

Os níveis de silício estudados não alteraram o teor de proteína da forragem, mas o silício na presença do nitrogênio proporcionou os maiores teores de proteína.

A FDN, os minerais, o cálcio, o fósforo e o silício aumentaram consistentemente na forragem com o aumento dos níveis de silicato usados.

O capim elefante Paraíso não sofreu alteração em sua digestibilidade com a adição do silício ao solo, nas condições do presente trabalho.

O capim elefante Paraíso é uma planta acumuladora de silício

SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE EM PASTAGEM NA ÉPOCA DAS ÁGUAS (1) Fabiano Alvim Barbosa, médico veterinário, mestrando em Zootecnia/EVUFMG, [email protected](2) Décio Souza Graça, professor adjunto/EVUFMG, [email protected]

Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG, Caixa Postal 567, 30.123.970,Belo Horizonte/MG

1. INTRODUÇÃO

Atualmente com a crescente demanda do mercado por carne bovina de qualidade proveniente de um animal criado a pasto aliado a erradicação e confirmação de área de livre de febre aftosa, o país passa a ter um grande mercado para conquistar. Para obter o animal de qualidade e precoce novas tecnologias devem ser adotadas para a viabilização desta pecuária moderna e de ciclo curto.

Sob condições tropicais, o consumo de nutrientes é freqüentemente afetado adversamente por concentrações insuficientes de N, P, S, Co e até mesmo outros minerais traços, dependendo da área sob pastejo. O Brasil Central tende a ter deficiência de todos os minerais mencionados. A suplementação dos nutrientes deficientes, aumentando a concentração para atender as exigências, freqüentemente resulta em dramática resposta no consumo de alimentos e produção animal (NOLLER et al., 1997).

Em muitos sistemas de produção de ruminantes, que tem como base o uso de pastagens, nutrientes suplementares são necessários para se obter níveis aceitáveis de desempenho animal. Um desafio constante é predizer com eficiência o impacto que a suplementação terá no desempenho animal. Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a maximizar o consumo e a digestibilidade da

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forragem disponível. Contudo deve-se ter em mente que o suplemento não deve fornecer nutrientes além das exigências dos animais (PARSONS & ALLISON, 1991; PATERSON et al., 1994). Este objetivo pode ser atingido através do fornecimento de todos, ou de alguns nutrientes específicos, os quais permitirão ao animal consumir maior quantidade de matéria seca disponível e digerir ou metabolizar a forragem ingerida de maneira mais eficiente (HODGSON, 1990).

O uso de suplementos múltiplos - proteína, energia, minerais, vitaminas, aditivos - na época da seca tem mostrado resultados satisfatórios evitando a perda de peso característica para animais não suplementados nesta época crítica do ano. Vários são os trabalhos que comprovam o ganho de peso de bovinos entre 0,059 a 0,740 kg/ cabeça / dia e consumo diário por cabeça de suplementos de 0,05 a 0,6% do peso vivo (VILELA et al., 1983; BARBOSA, et al., 1998; BERGAMASCHINE et al., 1998; PAZIANI et al., 1998; PAULINO, 1999; EUCLIDES, 2001b; GOMES JR. et al., 2001).

A suplementação múltipla na época das águas tem sido usada com maior ênfase após o sucesso de seu uso na época seca. Também tem sido usado o argumento de que no período chuvoso, em função do aumento das concentrações protéicas das gramíneas e da alta taxa de degradabilidade ruminal desta fração, haveria um excesso de nitrogênio em relação a disponibilidade de energia. Deste modo, parte do nitrogênio, além de não estar sendo utilizado, estaria consumindo energia para excreção urinária na forma de uréia. A suplementação passa a ter níveis nutricionais diferentes - principalmente menor teor de uréia - devido à mudança sazonal das forrageiras na época das águas em relação à época da seca, com maiores teores de energia, proteína, minerais, vitaminas e digestibilidade.

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre o efeito da suplementação na época das águas na nutrição de bovinos em pastagens tropicais.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Suplementação a pasto e consumo de pasto

Quando a forragem é o único alimento disponível para os animais em pastejo, esta deve fornecer energia, proteína, vitaminas e minerais exigidos para mantença e produção. Considerando que os teores destes compostos estão em níveis adequados, a produção animal será função do consumo de energia digestível (ED), uma vez que é alta a correlação entre consumo de forragem e ganho de peso. Assim a quantidade de alimento que um bovino consome é o fator mais importante a controlar a produção de animais mantidos em pastagens (MINSON, 1990).

O suplemento deve ser considerado como um complemento da dieta, o qual supre os nutrientes deficientes na forragem disponível. Na maioria das situações, a forragem não contém todos os nutrientes essenciais, na proporção adequada de forma a atender as exigências dos animais em pastejo (REIS et al., 1997).

A suplementação a pasto tem por objetivos os seguintes aspectos: corrigir a deficiência dos nutrientes da forragem, aumentar a capacidade de suporte das

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pastagens, fornecer aditivos ou promotores de crescimento, auxiliar no manejo de pastagens.

O sucesso da implantação de programas de alimentação para ruminantes em pastejo está baseado no fato de reconhecer a existência de dois tipos de exigências nutricionais que precisam ser preenchidas: a dos microrganismos ruminais e do animal propriamente dito a partir do metabolismo dos principais nutrientes contidos nas pastagens e ingeridos pelo ruminante, principalmente os carboidratos, proteína e minerais (OSPINA. et al., 1999).

Segundo HODGSON (1990) há poucas circunstâncias nas quais o concentrado convencional ou a forragem conservada agem realmente como suplemento, ou seja, são consumidos sem acarretar diminuição no consumo de forragem.

Neste sentido, para uma eficiente utilização de suplementos para ruminantes em pastejo, há necessidade de se conhecer as exigências dos animais. A diminuição no consumo de forragem por animais em pastejo é semelhante ao ocorrido com aqueles confinados. Em resposta a suplementação energética há uma progressiva diminuição no tempo de pastejo e tamanho do bocado (REIS et al., 1997). Quando a forragem é abundante e energia é fornecida existe aumento total de alimentos, entretanto menos que proporcional à quantidade de suplemento ingerido. Coeficientes de substituição (depressão no consumo de forragem/ingestão de suplemento) para ingredientes energéticos podem variar de 0,25 a 1,67 (MINSON, 1990). E FORBES et al. (1996) encontraram um coeficiente de substituição de 0,83 da pastagem de gramínea pelo suplemento usado. O uso de suplementos energéticos até 0,5% do peso vivo não altera o nível de ingestão e digestibilidade da matéria seca ingerida (GARCIA-YÉPES et al., 1997), entretanto o tipo de amido afeta este efeito substitutivo, onde suplementação com grão de milho acima de 0,25% do peso vivo (p.v.) resulta em efeitos adversos sobre a utilização da forragem, já o trigo somente teve efeito em níveis acima de 0,34% do p.v. (PORDOMINGO et al., 1991; HESS et al., 1996; CATON & DHUYVETTER, 1997).

A necessidade de suplementar os animais e as quantidades são dependentes das metas a serem conseguidas de acordo com o planejamento proposto na propriedade. A suplementação depende da qualidade da pastagem, sua massa disponível e tamanho da área de pastagem. Além disto, de recurso financeiro disponível, dos animais - sexo, idade, raça, estágio fisiológico -, da infraestrutura adequada de cochos e bebedouros, mão de obra, entre outros fatores.

Como é demonstrado no gráfico 1, o consumo de matéria seca de forragem diminui com a inclusão da suplementação com grãos e farelos, afetando também a digestibilidade aparente da fibra detergente neutro.

Gráfico 1 - Médias de consumo de matéria seca total (CMST), matéria seca de forragem (CMSF), digestibilidade aparente da fibra detergente neutro (DFDN) da dieta total, em função dos diferentes tratamentos.

SAL - sal mineral MS1 - Milho e farelo de soja 1 kg/cab/dia - MS2- Milho e farelo de soja - 2

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kg/cab/dia TS1 - Farelo trigo e de soja 1 kg/cab/dia - TS2 - Farelo trigo e de soja - 2 kg/cab/dia. Pastagens de Brachiaria decumbens - Animais - Limousin x Nelore - 396 kg peso vivo

Fonte: Detmann et al. (2001)

2.2 Suplementação na época das águas

Pequenas quantidades de energia e N prontamente solúveis podem aumentar a digestão da forragem de baixa qualidade e, em alguns casos, o seu consumo (SIEBERT & HUNTER, 1982; OWENS et al., 1991). A produção de N microbiano no rúmen pode ser limitada também pelo suprimento de substratos facilmente fermentescíveis no caso de forragens tropicais; assim pequenas quantidades de grãos, no caso de animais em crescimento, para elevar a quantidade de N microbiano que chega ao intestino delgado pode melhorar a performance . De acordo com SIBERT & HUNTER (1982), a resposta na produção de animais em pastejo ao uso de suplemento é, provavelmente influenciada pelas características do pasto e do suplemento, bem como pela maneira de seu fornecimento e pelo potencial de produção do animal.

As flutuações no valor nutritivo das pastagens também ocorrem na época das chuvas e são capazes de influenciar a produção animal (LOPES et al., 1998). A suplementação passa a ter níveis nutricionais diferentes - principalmente menor teor de uréia - devido à mudança sazonal das forrageiras na época das águas em relação à época da seca, com maiores teores de energia, proteína, minerais, vitaminas e digestibilidade. Entretanto, acredita-se que à medida que a estação das chuvas vai avançando, principalmente no seu terço final, o teor de proteína bruta das pastagens vai decrescendo , justificando, assim, a inclusão da uréia em pequenas proporções neste tipo de mistura (TOMICH et al., 2002).

Normalmente, animais respondem a suplemetação extra de protéina durante a época das águas, período quando a qualidade da pastagem em termos de digestibilidade e proteína são altas. Suplementos energéticos a nível ruminal e suplementos com alto teor de protéina não degradada no rúmen (PNDR) podem ter efeitos benéficos similares. Outra estratégia é a de suplemtação com frações protéicas com altos níveis de aminoácidos essenciais, mas de baixa degradabilidade ruminal, mas os níveis requeridos destes aminoácidos não estão biologicamente mensurados (POPPI & MCLENNAN, 1995).

O consumo de energia e proteína do bovino deve ser balanceado para otimizar a fermentação e maximizar a produção de proteína microbial. Consumo excessivo de proteína sem quantidade adequada de energia resulta em perda de nitrogênio na excreta. Perdas de proteína podem ocorrer com gramíneas e leguminosas quando a quantidade de proteína excede a 210 gramas de PB/ kg de matéria orgânica digestível. Gramíneas tropicais com degradabilidade entre 55 e 65% dificilmente ultrapassarão este limite crítico, com exceção de pastagens adubadas com nitrogênio (POPPI & MCLENNAN, 1995).

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Cerca de 75% do carboidrato digerido pelos ruminantes é fermentado pelos micróbios no rúmen, com estes micróbios suprindo cerca de 50% da proteína (aminoácidos) necessária pelo animal ruminante (NUTRIENT Requeriments of Beef Cattle, 1984). Suplementos energéticos para o rúmen e suplementos com alto teor de proteína escape seriam igualmente benéficos. O tipo de energia suplementada é importante, uma vez que a energia deve estar disponível para os micróbios ao mesmo tempo em que o NH3 (NOLLER et al., 1997). Suplementos energéticos parecem ter sua importância destacada quando existe potencial para alta produção de NH3 e perda de proteína a nível ruminal. Isto certamente ocorre com pastagens temperadas, especialmente na primavera, com algumas leguminosas tropicais e com gramíneas tropicais imediatamente após período chuvoso (GRANDINI, 2001).

A relação energia e proteína no rúmen varia de acordo com o sitema de produção, categoria animal, nível de produção, tipo de alimentação. Segundo POPPI & MCLENNAN, (1995), os tipos de suplementos energéticos para forragens são divididos em três categorias: amido (p.ex., sorgo e cevada), açucares (p.ex., melaço), e fibras (p.ex., polpa de beterraba e abacaxi) sendo que este último são eficientes em captação de amônia, além de apresentarem fibras de alta digestibilidade e baixa proteína, entretanto seu conteúdo de fibra pode ter efeito substitutivo, e preferencialmente deve ser usado em dietas com baixos conteúdos de fibra. O melaço apresenta alta taxa de fermentação e não contribui para efeito de distensão ruminal podendo ser usado em dietas com altas fibras. A suplementação de grão e amido é que possui maior quantidade de trabalhos de pesquisas, sendo seu efeito de substtituição bastante documentado. Entretanto, a distinção entre amido rapidamente fermentado (trigo e cevada) e lentamente fermentado (sorgo e milho) contribui para maior quantidade de amido que escapa a fermentação ruminal. Apresentando então, diferenças de quantidade de matéria orgânica fermentada no rúmen, captação de amônia, síntese microbiana e consequentemente proteína que chega ao intestino.

PAQUAY et al. (1973) estabeleceram uma relação ótima de nitrogênio digestível (g) e energia metabolizável (MJ) com valores de 1,55; 1,3; 1,1; para os primeiros três meses, 6o. e 7o., 10o. mês de lactação. HUBER & HERRERA-SALDANHA (1994), sugerem uma relação de 1,5 a 2,25 entre amido e PDR para vacas em lactação com dietas em altas em enregia. HOOVER & STOKES (1991) estabeleceram que a máxima digestão da matéria seca, síntese e produção de proteína microbiana foram obtidas com dietas contendo 10 a 13% de PDR e 56% do total de carboidratos na forma de CNE (carboidratos não estrutural). Segundo NUTRIENT Requeriments of Beef Cattle (1996) em dietas com mais de 40% de forragem a proteína microbiana (PM) é igual 12,8% dos nutrientes digestíveis totais (NDT) ingeridos.

ELIZALDE et al. (1998) avaliou a performance de novilhos em pastejo, sob forrageira de alta qualidade (20,7% PB/ mat. org.) com diferentes quantidades (0,5 X 1,0% do peso vivo) e tipos de suplementos (protéicos e energéticos). A performance obtida foi maior para todos os tratamentos em relação ao tratamento sem suplementação, entretanto não foi verificado diferenças entre tipos de suplemento.

Segundo EUCLIDES (2001a) quando as pastagens são manejadas, durante a época das águas nas suas capacidades de suporte, as gramíneas tropicais são capazes de promover ganhos de peso entre 600 e 800 g/dia. Por outro lado, ganhos acima de

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1.000 g/cabeça/dia podem ser obtidos quando as pastagens são utilizadas com baixa pressão de pastejo (GUERRERO et al., 1984; ALMEIDA et al. 2000; PAULINO et al., 2000b). Pois a pressão de pastejo passa a ter efeito sobre o consumo de nutrientes a partir do ponto em que disponibilidade de forragem limita diretamente o consumo de matéria seca (PAULINO et al. 2002).

Isso evidencia que, de modo geral, sistemas de produção baseados no uso exclusivo de pasto não utilizam o potencial genético do animal. Assim, para solucionar o impasse criado por essa dicotomia entre a produção/animal e a produção/área pode-se utilizar a suplementação alimentar durante o período das águas. Nesse caso, vale ressaltar a importância do efeito substitutivo, pois, geralmente, a suplementação alimentar em uma pastagem de alta qualidade resulta em redução de consumo da forragem por parte do animal, como conseqüência de sua substituição pelo concentrado. Isso se dá em função do controle quimiostático, que é sensível à quantidade de energia digerível ingerida. Dessa forma, para se evitar esse efeito de substituição, a suplementação, durante o período das águas, deve ser utilizada para corrigir nutrientes específicos que estão deficientes na forrageira. Por exemplo, mesmo no início do período das águas, as pastagens de B. decumbens e B. brizantha, sob pastejo contínuo, apresentam conteúdos de PB inferiores (EUCLIDES, 2000) ao necessário para produção máxima que, segundo ULYATT (1973), é de 12% para todos os propósitos em um rebanho de bovino de corte. Durante esse período, também são encontradas deficiências de macro e micronutrientes nas forrageiras. Assim, a utilização de uma mistura mineral múltipla poderia corrigir essas deficiências.

Animais freqüentemente respondem a proteína extra durante a estação de águas, um período em que a qualidade da pastagem, em termos de digestibilidade e conteúdo de proteína é alta, ensejando ganhos adicionais diários de 200-300 g/animal. (PAULINO et al. 2002). Os trabalhos de pesquisas mostram ganhos de pesos médios diários de bovinos, na fase de recria, variando de 0,543 a 1,380 kg /cabeça/dia, para consumos de suplementos de 0,2 a 0,5% do peso vivo (Tab. 1) e mostram ganhos de pesos médios diários, na fase de engorda, variando de 0,671 a 1,24 kg /cabeça/dia para consumos de suplementos de 0,06 e 1,2% do peso vivo (Tab. 2).

Tabela 1 - Ganhos de pesos diários (GPD) de bovinos recebendo diferentes suplementos, com diferentes ingestões em diferentes pastagens.

 ANIMAIS

PASTAGEM

SUPLEMENTO

INGESTÃO

GPD (kg/dia)

ZERVOUDAKIS et al. 2000

Novilhas HZ 14m; 245 kg 1,5 UA / ha

B. brizantha 14,2 ton MS/ha

40% Proteína Bruta

0,2% do peso vivo

SM - 0,708 b MFG - 0,883 a MFS - 0,920

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a

MARCONDES et al. 2001

Novilho (as) Guzerá, 12 a 15 m; 237 kg

B. decumbens 2,6 ton MS / ha

diferentes fontes protéicas e energéticas

0,5% do peso vivo

SM - 0,500c M - 0,621 bc PDR - 0,731 ab PNDR - 0,765 ab - PNDR - 0,658abc + PNDR - 0,787 a

PAULINO et al. 2002

267 kg p.v.

Braquiária

41% Proteína Bruta

0,5% do peso vivo

SM - 1,16 a M - 1,29 a MDPS - 1,38 a SG - 1,16 a

ZERVOUDAKIS et al. 2002

172 kg p.v.

 53% Proteína Bruta

0,4% do peso vivo

SM - 0,82 a MFS - 0,95 a FGFS - 1,02 a FTFS - 0,97 a

CAVAGUTI et al. 2002.

Novilhas 269 kg peso vivo (kg.p.v.) 2,8

Brachiaria decumbens 4,91% proteína bruta

25% Proteína Bruta

0,13% P.V.

SM - 0,410 b FA - 0,480 a

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UA / ha

MARIN et al. 2002

Novilhos 232 kg.p.v. 0,88 UA / ha (unidade animal / hectare)

Brachiaria decumbens, 4,2 ton MS/ha, 6,1% PB

78% PB 34% PB 24% PB 18% PB

0,1% p.v. 0,3% p.v. 0,5% p.v. 0,75% p.v.

SM - 0,751b 78% - 0,747 b 34% - 0,882 ab 24% - 0,863 ab 18% - 0,953a

ARAGÓN V.E.F, 2002

Novilhas HZ 286 k.p.v., 7 UA / ha

P. maximum 1,8 ton MS disponível "pastejada"/ ha

6,5% Proteína Bruta

0,1 e 0,3% do peso vivo

Pasto - 0,540 a Sup. 0,1%- 0,543 a Sup.0,3% - 0,627 a

SM - Sal mineral; MFG - milho e farelo de glúten; MFS - milho e farelo soja; M - milho; SG - sorgo moído; MDPS - milho desintegrado, palha e sabugo; PDR - suplemento com proteína degradada no rúmen; PNDR - sup. prot.não degradada no rúmen; PNDR - sup. com 20% menos de prot. não degrada no rúmen; + PNDR - sup. com 20% mais prot. não deg. rúmen; FGFS - far. soja e farelo de glúten; FTFS - far. de trigo e far. de soja; FA - farelo de algodão.

Médias de ganho de peso diário com letras diferentes entre si diferem estatisticamente (P<0,05).

Tabela 2 - Ganhos de pesos diários (GPD) de bovinos recebendo diferentes suplementos, com diferentes ingestões em diferentes pastagens.

  ANIMAIS PASTAGEM

SUPLEMENTO

INGESTÃO

GPD (kg/d

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ia)

GOES et al. 2000

Novilhos Nelore inteiros 335 kg

B. radicans e capim gordura

48% e 14,5% Proteína Bruta

0,06% do peso vivo

SM - 0,600b 48% PB - 0,880a 14,5% PB- 0,760 ab

PAULINO et al. 2000 a

Novilhos HZ inteiros; 365 kg; 1,27 an/ha

B. decumbens 9,95 ton MS / ha

12,5% e 5,8% Proteína Bruta

0,09 e 0,05% do peso vivo

SM - 1,22a M - 1,19a MFA - 1,24a

PAULINO et al. 2000 b

Novilhos HZ inteiros; 367 kg; 2,57 an/ha

Andropogon 9,95 ton MS / ha

16,7% e 5,8% Proteína Bruta

0,20 e 0,17% do peso vivo

SM - 1,15a M - 1,04a MFS - 0,98 a

PÁDUA et al. 2001

Novilhos inteiros 22 m, 400 kg

P. maximum > 2 ton MS/ha

20% PB

0,8 a 1,2% do peso vivo

SM - 0,08a 0,8% - 0,671 b 1,0% - 0,720b 1,2% - 0,748b

PROHM Novilhos Coast Casca de 0,2 a SM -

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ANN et al. 2001

cruzados, 13m, 363 kg, 6,3 UA/ha

cross soja0,6% do peso vivo

0,859 0,2% - 0,853 0,4% - 0,949 0,6% - 0,988

ALCALDE et al. 2002

Novilhos 357 kg.p.v., 1,8 animal/hectare

B. brizantha , 1,97 t MS/ha , pressão pastejo 7%, 6,7% PB

41 % PB0,2% do peso vivo

SM - 0,725b 0,2% - 1,064a

SM - Sal mineral; MFA - milho e farelo de algodão; MFS - milho e farelo soja; M - milho;

Médias de ganho de peso diário com letras diferentes entre si diferem estatisticamente (P<0,05).

2.3 Relação benefício X custo da suplementação na época das águas

O uso da suplementação implica em maior capital investido no início do trabalho. Para que esta técnica seja difundida é necessário que seja economicamente viável, isto é, apresente uma relação benefíco x custo positiva. O ganho em peso do animal tem que pagar o investimento com a suplementação.

EUCLIDES (2001b) suplementou novilhos em pastagens de B. decumbens e B. brizantha, com uma mistura múltipla na base de 0,2% do peso vivo. Os novilhos suplementados apresentaram ganhos médios diários de 740 g/dia e os não suplementados de 535 g/dia. O custo da suplementação foi de R$ 26,00/novilho, e a diferença de cerca de 200 gramas/cab/dia em 184 dias significa 36,8 kg de peso vivo ou 1,28@ (52% de rendimento de carcaça). Esta diferença de cerca de 40 kg significa R$ 56,00 (@ = R$ 44,00) ou ainda que este animal poderá ser abatido no período seco subseqüente sem ter que permanecer mais uma estação na propriedade.

TOMICH et al. (2002) não encontraram diferenças estatísticas no ganho de peso de

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novilhos Nelore em pastagens de Brachiaria brizantha e B. ruziziensis, suplementados com mistura múltipla, durante a época das águas, com consumo de 168 gramas/cabeça/dia. Entretanto, ao analisarem o lucro líquido por cabeça (receita - custo de suplementação) encontraram R$ 86,40/cabeça para a mistura múltipla e R$ 84,09/cabeça para o suplemento mineral (controle), com uma relação benefício x custo de 21% superior para a mistura múltipla.

Resultados semelhantes encontraram ZERVOUDAKIS et al. (2002) ao trabalharem com novilhas mestiças Holandês - Zebu, em pastagens de Brachiaria brizantha suplementadas diariamente com 0,5 kg de milho e farelo glúten milho (MFGM) e 0,5 kg de milho e farelo de soja (MFS), durante a época das águas. O tratamento MFGM proporcionou um ganho excedente em relação ao controle (suplemento mineral) de 0,175 kg/cabeça/dia enquanto o MFS de 0,212 kg/cabeça/dia. O que significa R$ 0,25 /dia para MFGM e R$ 0,30/dia para o MFS. Os custos da suplementação foram de R$ 0,24 / dia para MFGM e de R$ 0,22 para o MFS.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os suplementos múltiplos são uma das ferramentas para conseguir otimizar e maximizar esta produtividade em escala na propriedade rural. Propiciando ganhos elevados desde a recria ao abate, fazendo com que estes animais possam ser abatidos com idades entre 16 a 24 meses a pasto (ganho médio diário acima de 0,720 kg).

Uma condição necessária para produzir estes animais a pasto e a custo mais baixo é a otimização do sistema de produção, por meio de técnicas como:

um correto manejo da pastagem aliado à incorporação de nitrogênio para proporcionar alimentos de alto valor nutritivo para os animais e altas cargas de suporte; uma suplementação balanceada com proteína, energia e minerais para suprir as deficiências encontradas nas nossas pastagens tropicais;

Os resultados alcançados refletirão em um abate mais cedo dos animais com aumento de produtividade (kg de carne/hectare/ano) e taxa de desfrute, bem como um aumento do capital de giro e diminuição do tempo de permanência do animal nas pastagens. Além de precocidade da idade da fêmea ao primeiro parto, contribuindo para maior número de bezerros nascidos/hectare/ano.

Para uma tomada de decisão da suplementação do rebanho deverá ser feita uma análise benefício X custo, levando em consideração o custo da suplementação, o ganho em arrobas, o custo de permanência diária do animal na propriedade e o retorno do capital investido.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DA ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO COM FÓSFORO E POTÁSSIO EM PASTAGEM CONSORCIADA DE PANICUM MAXIMUM E LEGUMINOSAS SOB PASTEJO E SEU IMPACTO NA CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA.

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Herbert Vilela 1, Fabiano Alvim Barbosa2, Duarte Vilela3, Francisco Veriano da Silva Júnior4

1- Engenheiro Agrônomo.Professor Visitante do Departamento de Produção Animal da Universidade Federal de Uberlândia. BeloHorizonte/MG. Brasil. [email protected] Médico Veterinário. Mestrando em Zootencia - Esc. Veterinária/UFMG - [email protected] - Engenheiro Agrônomo. Pesquisador da EMBRAPA - CNPGL. Juiz de Fora/MG. Brasil. [email protected] -Engenheiro Agrônomo. Mestrando em Zootencia - Esc. Veterinária/UFMG. [email protected]

PROPOSTA DE TRABALHO

A área de pastagem, com espécies cultivadas no Brasil, está em torno de 115 milhões de hectares, enquanto a área com pastagem nativa é de 144 milhões. Estas áreas abrigam cerca 167 milhões de cabeças de bovinos o que proporciona uma taxa de lotação de 0,64 cabeças por hectare e produção de cerca de 7 milhões de toneladas de equivalente carcaça (Anualpec, 2003). A maior concentração dos cerrados localiza-se nas Regiões Fisiográficas Sudeste e Centro Oeste. Nestas Regiões, concentram-se 77,3% dos cerrados e 41,7% do rebanho bovino nacional (Saturnino et al., 1976).

A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, por ser esta desenvolvida basicamente a pasto, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. Considerando a fase de recria e engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 2@/ha/ano, enquanto em uma pastagem em bom estado pode atingir, em média, 16@/ha/ano (Kichel & Kichel, 2002). Euclides et al. (1997) estudaram a recuperação de pastagens de Panicum maximum com aplicação de calcário, fósforo e potássio durante a formação, mas sem adubação de manutenção. Os resultados mostraram que a produtividade caiu do primeiro para o terceiro ano em sistema de pastejo contínuo. Essa redução de produtividade se deve ao fato de que não foi realizada adubação de manutenção (Kichel & Kichel, 2002). Vilela et al. (1980) trabalhando com novilhos em pastagens de Panicum maximum com adubação de 100 kg de N/ha/ano e outra de Panicum maximum com Glycine javanica cv. Tinaroo e Macroptilium artropurpureum cv. Siratro, encontraram rendimentos de peso vivo /ano de 510 e 521kg (primeiro ano), 754 e 540kg (terceiro ano) respectivamente.

A estrutura de participação dos diversos componentes do agronegócio brasileiro, em termos de valores e taxas percentuais, mostra que em 2001 o PIB do agronegócio total atingiu R$ 344.954,5 milhões representando 27,06% do PIB do Brasil, enquanto que o PIB da pecuária com R$ 106.917,3 milhões, representa 8,39% do PIB do Brasil (CNA/CEPEA-USP, 2002).

Nas estimativas do projeto CNA/CEPEA-USP com relação ao agronegócio do Brasil, o valor total do PIB do agronegócio em cada um dos seus complexos é composto em:

insumos; o próprio setor; processamento; e distribuição e serviços.

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Com relação a estes quatros componentes tem-se que no complexo do agronegócio da pecuária os percentuais de participação registrados são 6,85%, 41,96%, 17,11% e 34,35%, respectivamente. Especificamente para a pecuária, o próprio setor é que possui uma maior participação no PIB (41,96%) (CNA/CEPEA-USP, 2002). O PIB da agropecuária tem efeito multiplicador nos demais setores da economia brasileira. Cada R$ 1,00 de renda obtida na atividade primária da agropecuária consegue gerar R$ 2,40 na indústria de insumos, na indústria de processamento de produtos agropecuários e nos serviços agregados a essas atividades, o que representa uma multiplicação de renda de 140% (CNA, 2002).

As exportações brasileiras de carne bovina no ano de 2002 foram de 930 mil toneladas de equivalente carcaça obtendo um valor de exportação de R$ 3.600 milhões (Anualpec, 2003).

A proposta de trabalho está relacionada ao impacto da participação das exportações de carne bovina no PIB nacional e fundamentada na economicidade da adubação de manutenção de fósforo e potássio em pastagens de gramíneas consorciadas com leguminosas em um sistema de pecuária bovina de corte. Portanto, o que se propõe é a criação de um Programa Nacional de Sustentabilidade de Pastagens Cultivadas (com leguminosas), mediante o uso criterioso porém sistemático de Fósforo e Potássio, como adubação de manutenção.

METODOLOGIA

O trabalho foi conduzido na Região do Alto São Francisco de MG, em pastagem consorciada de Panicum maximum Jacq, (cv Makueni) com Stylosanthes guianensis (estilosantes) e com Glycine wightii (soja perene). A pastagem foi estabelecida em out/90 após a derrubada da vegetação de cerrado. Foram aplicados 2.500kg/ha de calcário dolomítico, 100kg/ha de P2O5 na forma de termofosfato e 60kg/ha de K2O na forma de cloreto de potássio. No plantio usou-se 15kg/ha de semente, de capim Panicum maximum e 6,0kg/ha de uma mistura de leguminosas estilosantes e soja perene em proporções iguais.

Nos meses de janeiro, dos anos subseqüentes ao da formação da pastagem procedeu-se a adubação anual de manutenção, que correspondeu aos tratamentos: T1 - níveis zero de fósforo e de potássio, T2 - níveis 20kg de P2O5/ha e de 20kg K2O/ha, T3 - níveis 40kg de P2O5/ha e 40kg de K2O/ha, aplicados nas formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente.

As análises estatísticas dos parâmetros avaliados foram realizadas de acordo com o delineamento experimental de blocos ao acaso, com os tratamentos distribuídos em parcelas que eram constituídas pelos níveis de fósforo e potássio usados. Para a cobertura vegetal, fez-se a análise de variância, transformando-se previamente os dados em arco seno, raiz quadrada da porcentagem.

JUSTIFICATIVAS

O nível de adubação de fósforo e potássio aumentou a disponibilidade de forragem disponível com maior partcipação das leguminosas nas pastagens além de menor porcentagem de ervas e arbustos e cobertura morta que influenciaram no aumento da produtividade. A adubação aumentou a área de solo coberta pela forrageira e, conseqüentemente a forragem disponível por área. Os níveis de adubação usados modificaram a cobertura vegetal das pastagens ao longo dos anos. A leguminosa estilosantes teve maior participação na cobertura do que a soja

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perene. Este resultado pode ser devido a melhor adaptação do estilosantes ao nível de adubação usado.

As adubações usadas mostraram efeitos consistentes sobre os rendimentos em peso vivo obtidos ao longo dos anos (Tabela 1). Observa-se que os níveis 20kg/ha de P2O5 e de K2O tendem a manter os rendimentos em peso vivo em determinado patamar, os níveis 40kg/ha de P2O5 e de K2O a aumentá-los e os níveis zero a decrescê-los em relação aos obtidos inicialmente (Tabela 1). O maior rendimento em peso vivo por ano obtido neste trabalho (560kg/ha) foi superior aos obtidos por Zimmer & Euclides (1997), Vilela et al. (1978) e Euclides et al. (1998).

Observa-se que a sustentabilidade de pastagem cultivada em cerrado é precária, requerendo atenção especial às causas de degradação das pastagens principalmente, a que se refere às práticas culturais de adubação de manutenção. Verifica-se que a produção de carne por hectare por ano, ao nono ano de sua utilização, sem nenhuma adubação de manutenção, é igual à produção de carne de uma pastagem nativa (Vilela, 1978).

Tabela 1 - Taxa de lotação e rendimento em peso vivo de pastagem de Panicum com leguminosas submetida a três níveis de adubação de fósforo e potássio, durante nove anos.

Ano

Adubação de ManutençãoKg P2O5 e K2O / ha/ano

Taxa de LotaçãoUA / ha

Ganho de Peso VivoKg PV/ ha/ano

1

0 (T1) 1,01 299 eC

20 (T2) 1,20 369 dB

40 (T3) 1,45 376 dA

3

0 (T1) 0,73 170fC

20 (T2) 1,15 339 dB

40 (T3) 1,60 448 cA

6

0 (T1) 0,52 100 dC

20 (T2) 1,24 365 cB

40 (T3) 1,80 520 bA

9

0 (T1) 0,29 50 hC

20 (T2) 1,25 350 dB

40 (T3) 2,05 560 aA

Médias

0 (T1) 0,64 155 C

20 (T2) 1,21 363B

40 (T3) 1,73 476 A

Médias com letras maiúsculas, dentro do ano, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de F.

Médias com letras minúsculas, dentro da coluna, seguidas por letras diferentes, diferem entre si (P < 0,05) pelo teste de F.

Barbosa et al. (2003) realizaram a avaliação econômica deste trabalho e encontraram que a adubação de manutenção de 40 kg de P2O5 e K2O por hectare por ano aumentou a

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produtividade ao longo dos anos com 23,44 e 34,14 @/ha/ano para o ano 1 e 9, respectivamente. O custo da arroba diminuiu, R$ 44,06 e 38,87 para o ano 1 e 9, respectivamente, pois a produtividade aumentou diluindo os custos totais. O T2 e o T3 obtiveram retorno do capital investido no Ano 7 e 6, respectivamente, tornando a atividade economicamente viável, isto é as receitas obtidas da atividade pagam os desembolsos, depreciações, juros de capital de 8% aa, além de retornar o investimento inicial aplicado. O T3 apresentou melhor resultado econômico com maior valor presente líquido e maior taxa interna de retorno.

Tomando por base os resultados obtidos neste trabalho pode-se obter uma lotação de 1,73UA por hectare nas áreas de pastagens cultivadas, o que resultaria em, pelo menos, um suporte para 198.950.000 cabeças, em 115 milhões de hectares, significando um aumento de 19%. Considerando que este aumento da produção de carnes seja exportado, significa uma produção de 1.110 mil toneladas de equivalente carcaça gerando uma receita de R$ 4.290 milhões, e quando comparado aos dados do ano de 2002, propicia uma receita adicional direta de R$ 690 milhões e na cadeia produtiva de R$ 966 milhões.

CONCLUSÕES

Nas condições deste trabalho a adubação de manutenção mostrou-se importante a partir do segundo ano de utilização da pastagem.

O nível de 40kg de P2O5 e K2O por hectare pode aumentar a capacidade de suporte de pastagens para 1,73 UA/hectare com viabilidade econômica, propiciar uma receita adicional direta de R$ 690 milhões proveniente da exportação de carne bovina e na cadeia produtiva de R$ 966 milhões