Anestesia Em Serpentes

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FACULDADE DE JAGUARIUNAINSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINRIA

SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA

ANESTESIA EM SERPENTES

RIO DE JANEIRO 2010

SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA

ANESTESIA EM SERPENTES

Monografia apresentada para obteno do ttulo de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinria da Faculdade de Jaguariuna em convnio com o Instituto Brasileiro de Veterinria, sob orientao do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli

RIO DE JANEIRO

ANESTESIA EM SERPENTES

SABRINA KOLLING LEE DA ROCHA

Monografia apresentada para obteno do ttulo de especialista Latu Sensu em Anestesiologia Veterinria da Faculdade de Jaguariuna em convnio com o Instituto Brasileiro de Veterinria, sob orientao do Prof. Dr. Fabio Otero Ascoli

BANCA EXAMINADORA

Dr. Rodrigo Luiz Marucio Doutorando/FMVZ USP - SP

Dr. Antnio Jos de Arajo Aguiar Prof. Doutor/FMVZ UNESP - BOTUCATU

Dr. Adriano Bonfim Carregaro Prof. Doutor/USP Pirassununga - SP

CONCEITO FINAL: ____________ DATA: _____ / _____ / __________

DEDICATRIA A Solange Kolling Lee da Rocha, Maria Zlia Baratta Kolling e Bruno Kolling Lee da Rocha, minha me, minha av e meu irmo, as pessoas mais queridas e mais importantes da minha vida, que muito me apoiaram e me incentivaram em mais uma longa caminhada. A minha amiga Maria Alice Gress que esteve sempre presente me dando fora e incentivo. Andr Luiz Lopes de Figueiredo, meu companheiro, que com muito amor e pacincia me ajudou a ter tranqilidade para concluir essa jornada.

AGRADECIMENTOS: Agradeo primeiramente a Deus, por me dar sade e condies permitindo que eu complete mais essa conquista. Ao meu orientador, Dr. Fbio Otero Ascoli que com sua dedicao e pacincia me orientou nesse trabalho monogrfico.

Podemos muito bem nos perguntar: O que seria do homem sem os animais? Mas no o contrrio: O que seria dos animais sem os homens? Man kann gar wohl fragen: Was wre der mensh ohne die tiere? A ber nicht umgekehrt: Was wren treri ohne den menschen? CH. F. Hebbel (poeta e dramaturgo alemo, 1813 1863) dirios, 1857.

Rocha, Sabrina Kolling Lee Anestesia em serpentes Reviso de literatura Sabrina, K. L. Rocha. Rio de Janeiro 2010 24 07 45 F., enc. Monografia de Concluso do Curso de Ps Graduao (latu sensu) ANESTESIOLOGIA VETERINRIA Rio de Janeiro, 2010. Bibliografia: f. 40 45 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Rpteis; 4. Serpentes PAV Ps Anestesia Veterinria

RESUMO As serpentes tem se tornado muito populares como animais de estimao, sendo criadas por um nmero crescente de herpetologistas, alm de serem tambm animais de experimentao. Para realizar exames fsicos, testes diagnsticos e procedimentos cirrgicos necessrio o uso de anestesia. Por isso os veterinrios precisam obter conhecimentos sobre caractersticas anatmicas e as diferenas fisiolgicas comparadas aos mamferos para realizar procedimentos anestesiolgicos seguros nesses animais, alm de conhecer medidas que minimizem o estresse e a dor, uma preocupao cada vez mais freqente para os mdicos veterinrios atuais. O presente trabalho teve como objetivo rever caractersticas anatmicas e fisiolgicas, utilizao de frmacos injetveis e inalatrios, monitoramento e analgesia em serpentes. O conhecimento dos aspectos abordados nesta reviso possibilita ao anestesiologista veterinrio realizar procedimentos anestesiolgico com segurana nesses animais.

Palavras-chaves: 1. Anestesia, 2. Analgesia, 3. Rpteis, 4. Serpentes.

ABSTRACT Snakes have become very popular as pets, being created by a growing number of herpetologists, and also as animals of experiment. To perform physical examinations, diagnostic tests and surgical procedures require the use of anesthesia. That is why veterinarians need to gain knowledge about anatomical and physiological differences compared to mammals to perform procedures anesthesiologic insurance in these animals and learn about measures to minimize the stress and pain, an increasingly common concern for the veterinarians present. This study aimed to review anatomical and physiological characteristics, use of injectable and inhaled drugs, monitoring and analgesia in snakes. Knowledge of the issues addressed in this review enables the anesthesiologist to perform veterinary anesthetic procedures safely in these animals.

Key words: 1. Anesthesia, 2. Analgesic, 3. Reptiles, 4. Snakes.

SUMRIO 1 INTRODUO ........................................................................................... 14 2 REVISO DE LITERATURA ...................................................................... 17 2.1 CONTENO FSICA ............................................................................ 17 2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA .................................................................... 18 2.2.1 CARACTERSTICAS GERAIS ............................................................. 18 2.2.2 SISTEMA RESPIRATRIO ................................................................. 19 2.2.3 SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................... 21 2.2.4 SISTEMA PORTA RENAL ................................................................... 22 2.2.5 PARTICULARIDADES ......................................................................... 22 2.3 FRMACOS INJETVEIS ...................................................................... 23 2.3.1 CETAMINA .......................................................................................... 23 2.3.2 TILETAMINA-ZOLAZEPAN ................................................................. 25 2.3.3 MEDETOMIDINA ................................................................................. 25 2.3.4 PROPOFOL ......................................................................................... 26 2.3.5 BARBITRICOS .................................................................................. 26 2.3.6 ANESTSICOS LOCAIS ..................................................................... 27 2.3.7 OPIIDE .............................................................................................. 27 2.3.8 BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES ........................................ 28 2.3.9 ALFAXOLONA E ALFADOLONA ........................................................ 28 2.4 FRMACOS INALATRIOS .................................................................. 29 2.4.1 HALOTANO ......................................................................................... 29 2.4.2 ISOFLURANO ...................................................................................... 30 2.4.3 SEVOFLURANO ................................................................................. 31 2.4.4 RECUPERAO ................................................................................. 31 2.5 PLANO ANESTSICO ............................................................................ 31

2.6 ANESTESIA BALANCEADA ................................................................... 32 2.7 MONITORAMENTO ................................................................................ 32 2.8 ANALGESIA ............................................................................................ 37 3 CONSIDERAO FINAL ........................................................................... 39 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 40

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Jararacuu em tubo de conteno ................................................... 18 Figura 2 - Intubao endotraqueal em Jararacuu ........................................... 20 Figura 3 - Utilizao de Doppler ultrasnico em Jararacuu ............................ 34 Figura 4 - Utilizao de Doppler ultrasnico em Jararacuu ............................ 34 Figura 5 - Sensor do oxmetro posicionado na regio vestibular de cascavel (Crotalus durissus) ........................................................................................... 35 Figura 6 - Utilizao de cardioscpio em Jararacuu ....................................... 36 Figura 7 - Utilizao de cardioscpio em Jararacuu ....................................... 36

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS - IC = Intracardaca - IM = Intramuscular - IV = Intravenoso - SC = Sub cutneo -VO= Via Oral

14

1

I N T R O D U O Os rpteis esto se tornando muito populares como animais

de estimao (GREENE, 2004), alm de serem encontrados em zoolgicos (READ, 2004). Dentre os rpteis, as serpentes tm sido criadas por um nmero crescente de herpetologistas privados e pessoas que as criam como animais de estimao. espcies de serpentes, os bodeos (boas e Entre as e os ptons)

colubrdeos (cobras de ratos rat snakes; cobra do milho corn snakes; cobra rei King snakes) so as mais comumente mantidas adequado como das animais espcies, de as estimao. Conseqentemente, sobre o anatmicas nesses e os as veterinrios precisam obter conhecimentos caractersticas seguros manejo

diferenas fisiolgicas comparada aos mamferos, para realizar procedimentos anestesiolgicos animais (SCHUMACHER, 1996; GREENE, 2004). A conteno fsica isolada a forma mais econmica e rpida de imobilizar esses animais, porm no fornece analgesia, e consequentemente, provoca Alm sofrimento disso, quando realizam-se quando procedimentos 2001). Em serpentes, a realizao de exames clnicos e procedimentos cirrgicos requer conteno qumica e anestesia (W EST et al, 2007), assim como coleta de sangue e diagnstico por imagem (READ, 2004). Alm disso, quando a conteno fsica apresenta risco a equipe, a conteno qumica recomendada (W EST et al, 2007). Para a administrao oral de drogas pode ser necessrio o uso de anestesia geral para as serpentes mais agressivas. E existem vrios casos em que a anestesia geral necessria para evitar a conteno fsica (JACKSON, 1974). O uso de rpteis como animais de experimentao tambm tem aumentado e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum nesses animais (LAW RENCE, 1983). dolorosos. alguns rpteis

mordem so capazes de mutilar ou matar o manipulador (HEARD,

15

Diversos depende da

frmacos,

doses

e

tcnicas e e

anestsicas conhecimento a fisiologia

so do dos

utilizadas em rpteis e o sucesso da anestesia nesses animais experincia, veterinrio. habilidade A anestesiologista morfologia

rpteis diferem em muitos aspectos da anatomia e fisiologia dos mamferos (SCHUMACHER, 1996), A pacincia, o planejamento e o conhecimento da anatomia e fisiologia do rptil saudvel e doente so fundamentais para a realizao de um adequado procedimento anestesiolgico (HEARD, 2001). Outro ponto importante a monitorizao dos parmetros vitais durante de um procedimento segura anestesiolgico, a oferta de pois fornece informaes que possibilitam avaliar o plano anestesiolgico e controlar forma anestsicos (SCHUMACHER, 1996). Nas ltimas dcadas, os mdicos veterinrios e seus clientes passaram a se preocupar com a dor e seus efeitos adversos que interferem na qualidade de vida dos animais (HELLYER, 1999a). Em funo disto, houve uma evoluo gradual nas atitudes dos novos veterinrios, que passaram a utilizar mais analgsicos nos pacientes, principalmente na dor ps-operatria (DOHOO e DOHOO, 1996, CAPNER et al, 1999, LASCELLES et al, 1999), embora o uso ainda seja relativamente baixo (FLECKNELL, 2008). Todo animal capaz de sentir dor, embora em muitos casos seja difcil realizar avaliao de dor em pacientes rpteis. Outro benefcio da utilizao de frmacos analgsicos no perodo pr e trans-operatrio, a reduo na quantidade de anestsico geral necessrio para obter anestesia cirrgica (SCHUMACHER, 1996). Com o aumento das realizaes de cirurgias em serpentes, um adequado manejo da dor nesses animais uma preocupao para os mdicos veterinrios (READ, 2004). Sobrevivncia inadequada forma no de perodo avaliar ps-operatrio a segurana e imediato o uma do sucesso

procedimento anestesiolgico em rpteis, pois estes so mais

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resistentes e capazes de sobreviver a perturbaes fisiolgicas (ex: hipoxemia severa) que matariam rapidamente um mamfero. (HEARD, 2001). O objetivo desta reviso de literatura foi descrever aspectos importantes e outras a considerar de na realizao de procedimentos anatmicas e e anestesiolgicos seguros em serpentes, que so: conteno fsica formas da conteno, frmacos diferenas injetveis fisiolgicas espcie, inalatrios,

anestesia balanceada, monitoramento e analgesia.

17

2

R E V I S O D E L I T E R AT U R A

2.1 CONTENO FSICA Aproximadamente 15% das 3000 espcies de cobras so consideradas perigosas para humanos (BOYER, 2006). Sob o ponto de vista biolgico, devem ser consideradas peonhentas todas as serpentes possuidoras de glndulas capazes de secretar substncia ou substncias txicas, independentemente da capacidade de inocular ou da importncia mdica. Os longos dentes (presas) so importantes na inoculao de veneno numa presa (BENEDITO BARRAVIERA, 1999). A conteno fsica econmica e bastante utilizada, porm no fornece analgesia. A realizao de procedimentos dolorosos, sem a preocupao com um mtodo eficaz de analgesia uma prtica nenhuma desumana, reao mesmo a que os animais desses no expressem durante realizao procedimentos

(HEARD, 2001). Experincia e conhecimento do comportamento da serpente e sua reao a estmulos, ajuda na elaborao de estratgias com os melhores mtodos para usar em um determinado procedimento (W EST et al, 2007). Para a manipulao segura de rpteis especialmente serpentes, fundamental o venenosos,

conhecimento de ferramentas e tcnicas de conteno, como: ensacamento, recipientes de manipulao, ganchos, pinas, tubo transparente de conteno, caixa de transporte e caixa prensa (BOYER, 2006). Embora os mtodos citados anteriormente sejam utilizados por manipuladores profissionais de serpentes na extrao de veneno, estes aumentam o risco de picada, alm de aumentar a probabilidade de ferir o animal. Os mtodos de conteno mais utilizados so tubos de conteno (Fig. 2), caixa prensa e a n e s t e s i a (W E S T e t a l , 2 0 0 7 ) . f u n d a m e n t a l q u e o d i m e t r o d o tubo seja pequeno o suficiente para que a serpente no possa

18

girar

no

tubo

(BOYER,

2006).

Alicates

e

pinas

devem

ser

utilizados como ltimo recurso em caso de emergncia, devido ao s e u p o t e n c i a l d e f e r i r o a n i m a l (W E S T e t a l , 2 0 0 7 ) . A l m d o q u e a conteno da cabea por meio de pinas e ganchos no necessariamente previne que o manipulador seja mordido (HEARD & STETTER, 2007).

Figura 1 - Jararacuu em tubo de conteno

Nos de

acidentes

com

serpentes choque

so

freqentes

fenmenos e necrose nos

como dor local, edema, hemorragias locais e sistmicas, distrbio coagulao renal. sangunea, As cardiovascular so cortical mionecroses tambm freqentes

envenenamentos botrpicos (DOS SANTOS et al,1992).

2.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA 2.2.1 Caractersticas Gerais: As serpentes constituem um grupo de rpteis reconhecvel principalmente pelo longo corpo flexvel essencialmente sem patas, e pelas modificaes que permitem a ingesto de grandes

19

animais.

No

possuem

cintura

escapular

e

plpebras

mveis

(BENEDITO BARRAVIERA, 1999). Os olhos so cobertos por uma escama convexa transparente e fina (o culo), que sai com a pele quando a serpente troca de pele (BIRCHARD e SHERDING, 1998). No possuem tmpano ou abertura externa de ouvido (BENEDITO BARRAVIERA, 1999), e possui um ouvido interno (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Constituem um grupo altamente especializado e so exclusivamente carnvoras (BENEDITO BARRAVIERA, 1999). As serpentes usam sua lngua para explorar o ambiente e suas pontas captam partculas odorferas e as colocam em contato com as papilas gustativas do rgo de Jacobson, que se situam no cu da boca (BIRCHARD e SHERDING, 1998). Possuem seis fileiras de dentes, quatro no maxilar superior (presas ao osso maxilar e palatino) e duas no maxilar inferior (uma em cada mandbula). Todos os dentes incluindo as presas venenosas podem cair e ser repostos por toda a vida da cobra. O estmago e o fgado possuem formato fusiforme e, em todas as espcies o fgado possui vescula biliar. O bao est ligado freqentemente ao pncreas, que se localiza ao lado do duodeno (BIRCHARD e SHERDING, 1998). 2.2.2 Sistema respiratrio Ao contrrio dos mamferos, a glote dos rpteis est sob controle muscular voluntrio do msculo dilatador da glote. Em serpentes, a traquia composta por anis cartilaginosos incompletos em forma de C, que permite o colapso parcial durante a alimentao (GREENE, 2004) A glote localiza se na base da lngua (MUIR et al, 2001) e a intubao endotraqueal (Fig. 2) deve ser realizada com tubo endotraqueal balonete sem balonete ou com tubo endotraqueal com inflado somente o suficiente para selar efetivamente,

quando usada a ventilao controlada. Isso porque a mucosa da

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traquia facilmente lesionada nessas espcies (GREENE, 2004). necessrio cuidado especial para rpteis que pesam menos de 100 g para evitar traquete induzida pelo tubo (MUIR et al, 2001). Burke e W all (1977) observaram uma suave hemorragia oral em cascavis jovens no momento da retirada do tubo endotraqueal quando foi realizado o procedimento de retirada da glndula de veneno.

Figura 2 - Intubao endotraqueal em Jararacuu

A anatomia dos pulmes das serpentes apresenta grande variedade. A maioria das serpentes possui o pulmo direito desenvolvido e funcional, enquanto o pulmo esquerdo vestigial ( C A L D E RW O D , 1 9 7 1 ; H E A R D , 2 0 0 1 ) . E n t r e t a n t o a s b o i d e a s ( b o a s e ptons) apresentam ambos os pulmes desenvolvidos. Existem duas regies nos pulmes das serpentes: o pulmo vascular e o saco areo. O pulmo vascular localiza-se na parte anterior do corpo e apresenta grande superfcie de troca gasosa. (HEARD, 2001) Serpentes apresentam sacos areos caudais que retm o ar durante a respirao, mas no esto envolvidos nas trocas gasosas. Conseqentemente a superfcie de trocas gasosas

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menor em rpteis do que em mamferos, embora a quantidade de ar inspirado seja maior (GREENE, 2004). Os rpteis no possuem diafragma (BIRCHARD e SHERDING, 1998) ou uma verdadeira cavidade torcica. Estes animais podem apresentar dois padres respiratrios distintos: 1) movimento respiratrio nico separado por perodo de inspirao mantida; e 2) fases de consecutiva ventilao seguida por perodos longos de apnia com durao de poucos minutos at mais de uma hora (W ang et al., 1998). O limiar de hipxia aumentado quando ocorre aumento da temperatura corporal da serpente (HEARD, 2001). 2.2.3 Sistema cardiovascular Possuem um corao com trs cmaras, dois trios e um ventrculo, mas funcionalmente o corao dividido em cinco cmaras (Pough et al,1998, apud Lumb & Jones, 2007) porque o ventrculo nessas espcies ainda subdividido em cavum venosum, cavum pulmonale e cavum arteriosum (W EST et al, 2007). Essa diviso do ventrculo em trs cmaras minimiza a mistura do sangue oxigenado com o no oxigenado. Todos os rpteis apresentam duas aortas surgindo do ventrculo ou dos ventrculos. A presena de subdivises ventriculares e de duas comunicantes articas permite ao rptil redirecionar o fluxo de sangue e desviar o mesmo para fora dos pulmes. Esse desvio uma adaptao decorrente da evoluo para viver em ambientes com pouco oxignio e em ambientes aquticos. A habilidade de desvio pulmonar e a reteno da respirao podem resultar em tempos rpteis de so e induo bastante prolongados, capazes que de se forem a usadas severa outros mscaras faciais ou cmara de induo (GREENE, 2004). Muitos fisiologicamente hipotermia, o sobreviver hipoxemia facilmente mataria

vertebrados (HEARD & STETTER, 2007).

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O corao das serpentes est localizado a um quarto do sentido variar descendente entre 40 a do 70 comprimento batimentos da cobra. A freqncia e cardaca varia com a espcie e a temperatura corporal, mas pode por minuto (BIRHCARD SHERDING, 1998). A posio do corao influenciada pelo estilo de vida. As serpentes arborgenas apresentam o corao mais cranial que as terrestres e as aquticas (ordem decrescente da posio do corao: arborgena < terrestre < aqutica) (HEARD, 2001, n20). As nuances da fisiologia cardiovascular em serpentes, podem contribuir para um desafio na mensurao da presso arterial precisa e em rpteis a avaliao da presso arterial invasiva complicada por falta de vasos superficiais, o qual necessita de acesso cirrgico para canulao de uma artria. sobre artria perifrica, entretanto s (CHINNADURAI avaliar a et al, 2009). O Doppler pode ser utilizado ao posicionar o sensor possvel presena de fluxo e a freqncia dos batimentos cardacos (MUIR et al, 2001). 2.2.4 Sistema porta renal A excreo renal influenciada pelo sistema porta renal, que drena diretamente o sangue venoso da parte caudal do corpo atravs dos rins antes de retornar para a circulao sistmica. A excreo renal de anestsicos injetveis largamente usados como a cetamina pode na parte produzir caudal resultados do corpo. A variveis quando de administrada administrao

frmacos nefrotxicos pode apresentar potencial de acumulao nos rins e induzir o comprometimento renal. (GREENE, 2004). 2.2.5 Particularidades Na anestesia em rpteis existem alguns problemas que no so encontrados nos mamferos. Um dos mais importantes a

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menor taxa metablica, o que resulta prolongada durao de ao de anestsicos injetveis e, conseqentemente, recuperao prolongada que pode chegar at dois dias (CALDERW OOD, 1971). Importante lembrar que rpteis carnvoros ingerem a presa inteira, logo necessrio jejum alimentar de mais de cinco dias antes de realizar um procedimento anestesiolgico (MUIR et al, 2001). 2.3 FRMACOS INJETVEIS Os frmacos usados para anestesiar animais selvagens so os mesmos utilizados para animais domsticos. Todos os agentes injetveis Certamente anestesista e inalatrios alguns com os tm sido usados ser mais satisfatoriamente. adequados para mais agentes agentes devem

determinadas espcies do que outras, mas a familiaridade do anestsicos certamente impo rtante do que a esco lha de um frma co (FOW LER, 1 974 ). As vias de administrao de frmacos utilizadas em rpteis so via intravenosa (IV), intraperitonial (IP), intramuscular (IM), e i n t r a c a r d a c a ( I C ) ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . N o s e r e c o m e n d a m a s injees IC devido ao potencial de traumatismo, no entanto, a via IC til para administrao de frmacos de eutansia (BIRCHARD e SHERDING, 1998). serpentes, necessidade Os exceto estes 2001). 2.3.1 Cetamina mas de a A via intramuscular tem sido relatada em de massa volumes muscular ou pesada exige a administrar so na em vrios falta

pequenos

lugares (CALDERW OOD, 1971). frmacos em rpteis a pr-anestsicos grandes, atropina no raramente ou indicada indicados, Dentre de agressivos venenosos.

frmacos,

presena

secrees respiratrias, pois a torna mais viscosa (MUIR et al,

24

A cetamina muito utilizada para imobilizao e captura de animais selvagens (ADDISON, 1977 apud LUMB & JONES, 2007) e historicamente tem sido o frmaco injetvel mais comumente usado para muitas espcies de rpteis (READ, 2004). Pode ser aplicada com ampla margem de segurana em animais sadios, reduzindo assim a necessidade de estimar o peso com preciso (GREEN et al., 1981). Apesar desta caracterstica se utilizado em rpteis debilitados, pode levar a morte ou pode causar um retorno prolongado de at seis dias (LAW RENCE, 1983). A cetamina pode ser administrada pela via intramuscular, intravenosa ou oral e suas maiores desvantagens so promover recuperao prolongada, pobre relaxamento muscular e inadequada anestesia quando utilizada sozinha (HEARD, 2001). Diferentes doses de cetamina foram utilizadas em serpentes em diversos estudos e estas variaram de 60mcg. Kg-1 a 131mg. kg1

.

Nestes

estudos

foram

utilizadas

diferentes

vias

de

administrao para diferentes finalidades como: coleta de veneno, anestesia e cirurgia (Peters, 1977; Harding, 1977; Patterson, realizado por 1979; Rosenberg, 1992). Para a coleta de veneno foi utilizado a cetamina nas doses de 60 mcg. kg no estudo Rosenberg (1992) e 131 mg.kg-1 no estudo de Harding (1977). J em estudos de anestesia foram utilizadas as doses de 10 a 66 mg.kg-1, e observou-se um perodo de recuperao prolongada, . Nesses estudos, os animais demoraram de 24 a 72 horas para retornar as suas atividades normais (Jackson 1976; Harding, 1977; Peters, 1977) A recuperao pode ser mais lenta em indivduos idosos e doentes e a doses para esses animais deve ser ajustada de acordo com a idade e o estado clnico do animal. Alm disso, a temperatura um fator importante, pois influencia o metabolismo dos frmacos anestsicos (JONES, 1977). Hill e Mackessy (1997) observaram que todas as serpentes dos seus experimentos se recuperaram dos efeitos da cetamina sem efeitos nocivos.

25

Jackson observou que muitos rpteis, particularmente as serpentes, tornaram se permanentemente agressivas depois do retorno da anestesia com cetamina. Este comportamento sugere que a serpente de alguma maneira afetada durante o estado de catalepsia, e com isso reage como se fosse ser atacada ao ser manipulada sob efeito desse frmaco (LAW RENCE, 1983). Uma boa estratgia para evitar a sobredose durante a anestesia com cetamina em serpentes administrar metade da dose calculada e, ento, tomar a deciso quanto a administrao da outra metade de anestsico utilizaram remanescente. 15 Patterson IP e colaboradores (1979) cetamina mg.kg-1 para

realizao de cirurgia em uma pton, entretanto no foi obtido plano cirrgico com esta dose. Foi utilizado outra dose de 15 mg.kg-1 para conseguir plano superficial de anestesia, e a realizao de cirurgia s foi possvel quando foi completada a dose total de cetamina de 37,5 mg.kg-1. O nico inconveniente deste mtodo o aumento no tempo gasto para se realizar a anestesia (GREENE, 2004). 2.3.2 Tiletamina-zolazepam Esta associao, quando administrada na dose de 3 a 4 mg.kg-1 pela via IM, promoveu imobilidade completa aps 30 - 40 minutos e contribuiu para analgesia (HEARD, 2001). Jekl e Knotek (2006) utilizaram tiletamina-zolazepam na dose de 3 a 8 mg.kg-1 para anestesiar serpentes com o comportamento agitado ou agressivo para realizao de endoscopia. 2.3.3 Medetomidina A medetomidina oferece muitas vantagens quando usada em repteis, ela proporciona sedao profunda, relaxamento muscular e analgesia (GREENE, 2004).

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A medetomidina tem sido utilizada (40 a 160 mg/kg, IM) em associao com opiides para promover anestesia e analgesia durante procedimentos cirrgicos. O uso de medetomidina (80 mcg. kg-1) em combinao com a quetamina (5 mg.kg-1) em vrias espcies de rpteis, incluindo cobra amarela de ratos (yellow rat snakes) e pton bermuse, tem tido sucesso. (GREENE, 2004). Jekl e Knotek (2006) utilizaram medetomidina na dose de 0,1 a 0,25 mg.kg-1 associada a cetamina na dose de 5 a 20 mg.kg-1 para anestesiar serpentes com comportamento agitado ou agressivo para realizao de endoscopia 2.3.4 Propofol O propofol possui incio de ao rpido devido a rpida absoro no sistema nervoso central, durao curta e recuperao suave (ZORAN e RIEDESEL, 1993 apud LUMB & JONES, 2007). Ele apresenta qualidade anestsica melhor do que a barbitrica, pois, alm de ser empregado em pacientes de alto risco com uma margem de segurana superior aos demais agentes indutores, permite recuperao isenta de reaes adversas (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). A dose de administrao de 5 a 7 mg.kg-1 (MUIR et al, 2001) pela veia coccgea para realizao da induo anestsica, aps a conteno fsica no tubo (W EST et al, 2007). A utilizao de propofol e pela via intravenosa de permite uma induo Este com segurana durao anestesia curta. frmaco

proporciona uma recuperao completa mais rpida que outros anestsicos injetveis gerais (READ, 2004). 2.3.5 Barbitricos Os barbitricos so amplamente usados em rpteis e a dose depende do agente especfico, via de administrao, espcie, tempo anestsico e temperatura ambiental. Quando serpentes so

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anestesiadas com barbitricos so colocadas sob lmpadas e algumas se recuperam no perodo de 10 15 minutos. Essa rpida recuperao pode ser devido aos aumentos na taxa metablica e na freqncia cardaca, com subseqente redistribuio do frmaco (CALDERW OOD, 1971). O tiopental sdico na dose de 16 a 25 mg.kg-1 administrado pela via intraperitoneal em serpentes, promove anestesia superficial com durao de 25 40 minutos. O Pentobarbital apresenta efeitos similares na dose de 15 50 mg.kg-1. A maior desvantagem da utilizao desses frmacos para o profissional que o mesmo dever ter algum conhecimento da anatomia do rptil para realizar administrao intraperitoneal e em muitos casos a induo pode demorar at seis horas e a recuperao pode demorar de dois a trs dias (JONES, 1977). ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . 2 . 3 . 6 An e s t s i c o s l o c a i s A pele dos rpteis muito sensvel a estmulo doloroso e por isso o uso de anestsico local como a lidocana 2% para remover abscessos, reparar laceraes de pele e outros procedimentos menores recomendado. Em serpentes venenosas, o anestsico local sozinho no seguro e por isso necessrio adicionar drogas para imobilizar o paciente (LUMB & JONE`S, 1996). 2.3.7 Opiides Etorfina um opiide que pode ser usado em muitas No existe diferena na induo e recuperao entre tiopental e pentobarbital

espcies e o tempo de induo e durao da imobilizao dose dependente (LUMB & JONES, 2007). Este frmaco foi usado em serpentes na dose de 1,0 - 3,0 mg.kg-1 e se obteve analgesia e relaxamento muscular, o que permitiu a realizao de cirurgia superficial. Essa dose bem alta em comparao ao que usada

28

em mamferos, desta forma a utilizao deste frmaco no prtico ou econmico para o uso extensivo em rpteis (JONES, 1977). Etorfina foi administrada na dose de at 5 mg.kg-1 e no a p r e s e n t o u e f e i t o ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . 2.3.8 Bloqueadores neuromusculares Bloqueadores neuromusculares no possuem nenhum efeito analgsico ou anestsico, logo no devem ser utilizados sozinhos. Alm disso, necessria disponibilidade de equipamentos e material para ventilao artificial. A tubocurarina foi usada em Colubrides Australianas e em uma Pton nas doses de 6 mg.kg-1 e 1,8 mg.kg-1, respectivamente e demorou de 60 a 85 minutos para produzir paralisia nessas espcies. A dose alta para paralisar as Colubrides foi atribuda a alta imunidade do veneno desta, pois o veneno no homem parece exercer uma ao curarizadora ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . 2 . 3 . 9 Al f a x o l o n a e Al f a d o l o n a Tratase de uma associao de dois esterides: 3-hidroxi-5pregnano-1,20-diona (alfadolona) e 21-acetoxi-hidroxi-5-pregnano11,20-diona, (alfaxolona). lagartos e estruturalmente quelnios promove semelhante desde progesterona anestesia (FANTONI e CORTOPASSI, 2002). O seu uso em sedao

profunda, porm em serpentes, promoveu efeitos variados, que foram desde a nenhum at anestesia profunda. Parece que a ausncia de efeitos nas serpentes foi devido administrao subcutnea, pois em gatos e macacos alfaxolona e alfadolona no so efetivos quando realizados por esta via. O tempo de induo variou entre 25 e 40 minutos, com um plano cirrgico de anestesia com durao de 15 a 35 minutos. No foram observadas depresso cardaca ou respiratria, nem reao local no lugar da

29

administrao intramuscular em nenhum dos rpteis em que esse frmaco foi empregado. (LAW RENCE, 1983). 2.4 FRMACOS INALATRIOS Anestesia inalatria bastante utilizada para manuteno anestsica em animais. Sua popularidade cresceu devido as suas caractersticas farmacocinticas quando fonte utilizados, de necessitam que de permite uma previsvel e como tubo pois rpida mudana de plano anestsico. Entretanto, estes frmacos materiais circuito dos especficos, anestsico, pacientes, oxignio, a vaporizador, e

endotraqueal ou mscara facial, entre outros. Estes materiais minimizam morbidade mortalidade facilitam a ventilao pulmonar e oxigenao arterial (Steffey & Mama, 2007). Uma variedade de recipientes para serpentes venenosas podem ser usados, como cmara de Hiss e tubos transparentes. Estes recipientes permitem a observao da serpente no momento da induo. Alm disso, serpentes contidas em sacos de pano, prprios para estes animais, podem ser colocados dentro de uma cmara de Hiss e o plano anestsico pode ser julgado pela d i m i n u i o d o m o v i m e n t o d a s e r p e n t e d e n t r o d o s a c o (W E S T a t a l , 2007). Heard (2001) prefere utilizar induo anestsica na cmara de Hiss com isoflurano em serpentes venenosas. Para saber se uma serpente est seguramente anestesiada, deve-se observar a perda da resposta a estimulao ttil e inibio do movimento da lngua (WEST et al, 2007). sedao (HARDING, 1977). 2.4.1 Halotano Na maioria dos rpteis, induo anestsica com halotano conseguida com a utilizao de 3 a 5% diludo em oxignio. Para No caso de

uma cascavel a abolio do reflexo barulhento um guia til para

30

a manuteno anestsica, a concentrao do halotano necessria normalmente de 1,5 a 2,5% (SHUMACHER, 1996). As serpentes podem ficar em apnia por tempo prolongado, o que aumenta o tempo de induo quando se utiliza anestsicos inalatrios. A manuteno da anestesia com halotano tem o seu valor e para assegurar nveis adequados desse frmaco durante a anestesia, o mesmo deve ser ofertado O atravs de de um tubo com endotraqueal (LAW RENCE, 1983). tempo induo

halotano em uma variedade de serpentes foi de 2 a 28 minutos (BURKE e W ALL, 1977). possvel promover anestesia leve colocando-se o rptil dentro de uma caixa ou jarra de vidro, com um pedao de algodo embebido em halotano. O perodo necessrio para anestesiar o animal em torno de trs a cinco minutos. Em serpentes pequenas, a utilizao desse mtodo uma boa estratgia devido a dificuldade de pesar e ou administrar frmacos injetveis nesses animais (JONES, 1977). O halotano foi utilizado em serpentes venenosas para permitir uma manipulao segura durante a coleta de veneno, e o tempo de recuperao nunca excedeu 10 minutos. O xido nitroso foi utilizado associado ao halotano para anestesiar serpentes e o tempo necessrio para a induo em Colubrides foi de 20 a 30 minutos quando 72% de xido nitroso foi u t i l i z a d o c o m 4 % d e H a l o t a n o ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . 2.4.2 Isoflurano A administrao de isoflurano resulta em rpida induo e rpida recuperao (READ, 2004). A maioria dos rpteis com menos de 500g pode ser induzida por meio de tubo de conteno e ou cmara de Hiss com a utilizao de isoflurano 2 a 4% (MUIR et al, 2001). Para realizao de endoscopia em serpente foi utilizado isoflurano 5% para induo e 2 4% para manuteno (JEKL e KNOTEK, 2006).

31

2.4.3 Sevoflurano A administrao de sevoflurano tambm resulta em rpida induo e recuperao na maioria dos rpteis. Atualmente o isoflurano parece ser o padro na prtica anestsica, mas com o aumento do nmero de pesquisas sobre a eficcia e segurana do sevoflurano em rpteis, este pode se tornar cada vez mais comum na prtica anestesiolgica destes animais (READ, 2004). O isoflurano ou o sevoflurano so os anestsicos inalatrios de escolha em serpentes (MUIR et al, 2001). 2.4.4 Recuperao Durante o perodo de recuperao essencial que seja ofertado oxignio at o plano anestsico ficar mais superficial e a serpente deve ser mantida a uma temperatura de vinte e quatro graus at a recuperao completa (JACKSON, 1974). O perodo de ventilao ou recuperao deve ser longo quando o agente usado possui um alto coeficiente de solubilidade em tecido e lipdeos, c o m o o t e r e o m e t o x i f l u r a n o ( C A L D E RW O O D , 1 9 7 1 ) . A recuperao com o isoflurano geralmente de 20 minutos para procedimentos com durao inferior a uma hora. A ventilao a presso positiva intermitente deve ser continuada at que o animal ventile espontaneamente de forma regular. O ar ambiente ou o ar exalado podem ser usados para aumentar a concentrao de dixido de carbono e com isso estimular a ventilao. Se houver apnia, pode ser realizado a administrao do doxapram na dose de 5 mg.kg-1 IV VO ou IM (MUIR et al, 2001). No estudo realizado por Soares e colaboradores (2002), todos animais foram extubados aps apresentar ventilao espontnea e incio dos movimentos de lngua. 2.5 PLANO ANESTSICO

32

O plano anestsiolgico pode ser avaliado pelas contraes musculares corporais e pelos movimentos da lngua (Soares et al., 2002). De acordo com Heard (2001), o relaxamento muscular produzido pelos anestsicos inalatrios comea na poro cranial e conforme a profundidade anestsica aumenta, este relaxamento se pronuncia no sentido caudal e o inverso ocorre durante a recuperao anestsica. 2.6 ANESTESIA BALANCEADA A anestesia balanceada aquela promovida por dois ou mais agentes, ou tcnicas anestsicas distintas como, por exemplo, anestesia intravenosa e anestesia inalatria, utilizadas em um mesmo procedimento anestsico. O uso dessa tcnica garante uma anestesia mais segura e a melhor conduta para o uso em rpteis. A sedao pr-anestsica, com o uso de anestsicos injetveis relativamente fcil de administrar, evitando problemas de perodos de induo prolongados associados com induo com mscara e acalmando espcies agressivas. A maior desvantagem da administrao o que de pode frmacos resultar anestsicos em injetveis para a manuteno da anestesia a estimativa adequada da massa corporal, superdosagem anestsica (GREENE, 2004). 2.7 MONITORAMENTO A fornece monitorao informaes e dos que parmetros de de possibilitam forma vitais durante o um pois plano de

procedimento

anestesiolgico controlar

grande

importncia, avaliar a oferta

anestesiolgico

segura

anestsico (Schumacher, 1996). Em geral, o metabolismo termodependente (BIRCHARD e SHERDING, 1998) e a hipotermia deprime o sistema imune e retarda a cicatrizao. Desta forma, durante a cirurgia a

33

manuteno da homotermia deve ser realizada atravs de fontes externas para manter a temperatura corporal, pois os rpteis no produzem seu prprio calor (MUIR et al. 2001). A confivel. deve-se temperatura Para sempre evitar deve ser monitorada e atravs de um termmetro retal ou cloacal, pois a temperatura da pele no queimaduras as hipertermia de calor iatrognica, a monitorar fontes observando

temperatura da superfcie com a qual o corpo do paciente entra em contato (MUIR et al, 2001).Para a recuperao anestsica essencial 1977). Todos os rpteis possuem um reflexo de endireitamento e a perda desse reflexo ajuda a determinar o estgio da anestesia (BIRCHARD anestesia as e SHERDING, freqncias 1998). Em e estado cirrgico de respiratria cardaca diminuem que as serpentes sejam colocadas em um recinto aquecido, com a temperatura em torno de trinta graus (JONES,

(JONES, 1977). A oximetria de pulso e o Doppler ultrasnico so muito teis, pois fornecem em tempo real o pulso do paciente, ritmo e estado de perfuso perifrica. O monitoramento por Doppler (Fig. 3 e 4) verstil e pode ser usado em uma variedade de espcies e por essa razo tem sido recomendada para estudos cardiopulmonares em rpteis. Entretanto, difcil encontrar um lugar no animal apropriado para posicionar o oxmetro de pulso e obter um sinal forte (READ, 2004).

34

Figura 3 - Utilizao de Doppler ultrasnico em Jararacuu

Figura 4 - Utilizao de Doppler ultrasnico em Jararacuu

Trabalho (Fig. 5)

realizado a

por

Soares da

e

colaboradores de

(2002) na

demonstrou que o posicionamento do sensor na regio vestibular permitiu aferio saturao e oxignio da hemoglobina, freqncia cardaca visualizao onda

plestimogrfica. Neste mesmo trabalho foi possvel a colocao do sensor peditrico do Doppler sobre a arteira ventral da cauda, para audio do fluxo sanguneo arterial.

35

Figura 5 - Sensor do oxmetro posicionado na regio vestibular de cascavel (Crotalus durissus)

Geralmente a freqncia cardaca o nico indicador do nvel de anestesia do rptil e ento deve ser cuidadosamente monitorada. A diminuio da freqncia cardaca para menos de 80% indica que a anestesia deve ser superficializada. (MUIR et al, 2001). O eletrocardiograma (ECG) de um rptil apresenta ondas P, QRS e T semelhante ao dos ECG dos mamferos. O padro de ECG de serpentes apresenta um QRS invertido semelhante ao obtido na base apexiana do eqino. O aparelho de ECG deve ter velocidade variveis (velocidades baixas menor ou igual a 25 cm/s) e sensibilidades (sensibilidade aumentada, 1mV maior ou igual a 1 cm) que permitam a contagem da baixa freqncia cardaca dos rpteis e a maior impedncia eltrica (GREENE, 2004). O monitoramento cardaco (Fig. 6 e 7) tem sido til em vrios estudos e o seu uso prtico no parece ser incomum (READ, 2004).

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Figura 6 - Utilizao de cardioscpio em Jararacuu

Figura 7 - Utilizao de cardioscpio em Jararacuu

Soares e colaboradores (2002) realizaram eletrocardioscopia em cascavis atravs de quatro eletrodos conectados a agulhas hipodrmicas (25X7) posicionadas no tecido subcutneo ao redor do corao, aps prvia palpao cardaca. Neste trabalho foi possvel observar atividade eltrica freqncia e ritmo cardaco. Em oxignio caso 100%, de uma parada cardaca, deve-se e administrar administrar realizar compresso torcica

epinefrina 5 10 mg.kg-1 . A massagem cardaca aberta pode ser necessria e para isso deve-se realizar uma laparotomia, para a exposio do corao (MUIR et al, 2001).

37

A velocidade e administrao de lquidos durante a cirurgia de 10 a 20 ml.kg-1/h-1, para velocidades abaixo de10ml/h ser necessrio uma bomba de infuso, para a garantia da preciso (MUIR et al, 2001). 2 . 8 AN A L G E S I A Os rpteis possuem um sistema nervoso central bem

desenvolvido e sentem dor quando so realizados procedimentos dolorosos. A avaliao da dor em serpentes um desafio, pois esses animais no tm pernas nem movimentos palpebrais, portanto no so possveis a avaliao da retrao de membros e dos reflexos palpebral e corneal. O recolhimento ou movimento da lngua e o reflexo ao pinamento da cauda e da cloaca so usados para estimar analgesia e efeitos anestsicos nestes animais. (GREENE, 2004). Condies consideradas dolorosas para humanos e outros mamferos O devem ser consideradas analgsica dolorosas mais em todas as espcies de vertebrados (SLADKY; KINNEY e JOHNSON, 2008). butorfanol droga utilizada como analgsico em rpteis, administrado pela via IM em altas doses (20 mg.kg-1) proporcionou efeito analgsico em serpentes (READ, 2004; SLADKY; utilizado em KINNEY e JOHNSON, 2008). Este frmaco a medetomidina entrevistou para 165 se obter combinao em com

resultados consistentes de analgesia (GREENE, 2004). Read (2004) seu trabalho mdicos veterinrios, que residiam na Amrica do Norte e trabalhavam com animais selvagens, sobre o uso de analgsicos em rpteis e concluiu que o analgsico mais utilizado por estes veterinrios o antiinflamatrio no-esteroidal. O conhecimento do comportamento normal da espcie importante para identificar alteraes relacionadas a dor (SLADKY,2008).

38

Providenciar adequado manejo da dor para animais tem se tornado muito importante para veterinrios e pesquisas recentes tem sido direcionadas para criar mtodos de identificao de dor animal (READ, 2004).

39

3

C O N S I D E R A O F I N AL O conhecimento dos aspectos abordados nesta reviso

possibilita ao anestesiologista veterinrio realizar procedimentos anestesiolgicos com segurana em serpentes, pois necessrio o conhecimento sobre caractersticas anatmicas e diferenas fisiolgicas comparadas aos mamferos. Alm disso, o uso de rpteis como animais de experimentao tambm tem aumentado e com isso o uso da anestesia torna-se mais comum nesses animais. A conteno fsica econmica e bastante utilizada, mas no fornece anestesia e nem analgesia e condies dolorosas para humanos e outros mamferos devem ser considerados dolorosos em todas as espcies de vertebrados. Desta forma, se torna desumano a prtica de procedimentos que sabidamente causam dor sem anestesia, e isso demonstra mais uma vez a importncia veterinrios. do conhecimento sobre comportamento dessas espcies e frmacos que podem ser utilizados pelos mdicos

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