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1 ANÁLISE GEOESTATÍSTICA DA DISTRIBUIÇÃO DE CASOS DE DENGUE EM GOVERNADOR VALADARES (MG) E SUA RELAÇÃO COM VARIÁVEIS SOCIAIS E AMBIENTAIS Luana Ramos de Almeida. Aluna do 5º Período do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares. [email protected] Cristianele Lima Cardoso. Professora MSc do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares, [email protected] RESUMO: A dengue é considerada um dos principais problemas de saúde publica mundial. O vírus da dengue é transmitido através da picada da fêmea de mosquitos infectados do gênero Aedes, principalmente do Aedes aegypti, que se alimenta do sangue de um indivíduo que esteja em viremia (presença de vírus no sangue). O mosquito transmissor está adaptado a se reproduzir nos ambientes doméstico e peridoméstico, utilizando-se de recipientes que armazenam água potável. O Estado de Minas Gerais apresenta epidemias de dengue em grande parte de seus municípios, onde se destaca Governador Valadares por registrar sazonalmente uma elevada incidência desta epidemia, constituindo uma área crítica. Neste sentido, foi realizada pesquisa sobre os padrões espaciais de distribuição de dengue no município, por meio do uso do estimador de densidade Kernel e ainda avaliação da relação da dengue com algumas variáveis sociais e ambientais. Os resultados sugerem a existência de hots spots (áreas críticas) distribuídos de maneira irregular nos bairros, podendo sofrer influência de áreas propensas à proliferação de criadouros. Assim como, se pôde evidenciar quais variáveis podem melhor explicar a ocorrência da dengue no município, considerando o contexto local. Palavras-chave: Governador Valadares, dengue, saúde pública, correlação estatística, geoprocessamento. ABSTRACT: Dengue is considered one of the major public health problems worldwide. The dengue virus is transmitted through the bite of infected female mosquitoes of the genus Aedes, principally Aedes aegypti mosquito, which feeds on the blood of an individual who is in viremia (presence of virus in the blood). The mosquito is adapted to reproduce in domestic and peridomestic environments, using containers that hold drinking water. The state of Minas Gerais has dengue epidemics in most of its municipalities, which highlights Governador Valadares to register seasonally a high incidence of this epidemic, providing a critical area. Therefore, research was conducted on the spatial distribution of dengue in the city, through the use of kernel density estimator and further evaluation of the dengue with some social and environmental variables. The results suggest the existence of hots spots (critical areas) distributed irregularly in the neighborhoods, and may be influenced by areas prone to the proliferation of breeding. As if he could show that variables can best explain the occurrence of dengue in the city, considering the local context. Keywords: Governador Valadares, dengue, public health, statistical correlation, geoprocessing.

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ANÁLISE GEOESTATÍSTICA DA DISTRIBUIÇÃO DE CASOS DE

DENGUE EM GOVERNADOR VALADARES (MG) E SUA RELAÇÃO

COM VARIÁVEIS SOCIAIS E AMBIENTAIS

Luana Ramos de Almeida. Aluna do 5º Período do Curso de Tecnologia em Gestão

Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares. [email protected]

Cristianele Lima Cardoso. Professora MSc do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

do IFMG, campus Governador Valadares, [email protected]

RESUMO: A dengue é considerada um dos principais problemas de saúde publica mundial. O

vírus da dengue é transmitido através da picada da fêmea de mosquitos infectados do gênero

Aedes, principalmente do Aedes aegypti, que se alimenta do sangue de um indivíduo que esteja

em viremia (presença de vírus no sangue). O mosquito transmissor está adaptado a se reproduzir

nos ambientes doméstico e peridoméstico, utilizando-se de recipientes que armazenam água

potável. O Estado de Minas Gerais apresenta epidemias de dengue em grande parte de seus

municípios, onde se destaca Governador Valadares por registrar sazonalmente uma elevada

incidência desta epidemia, constituindo uma área crítica. Neste sentido, foi realizada pesquisa

sobre os padrões espaciais de distribuição de dengue no município, por meio do uso do estimador

de densidade Kernel e ainda avaliação da relação da dengue com algumas variáveis sociais e

ambientais. Os resultados sugerem a existência de hots spots (áreas críticas) distribuídos de

maneira irregular nos bairros, podendo sofrer influência de áreas propensas à proliferação de

criadouros. Assim como, se pôde evidenciar quais variáveis podem melhor explicar a ocorrência

da dengue no município, considerando o contexto local.

Palavras-chave: Governador Valadares, dengue, saúde pública, correlação estatística,

geoprocessamento.

ABSTRACT: Dengue is considered one of the major public health problems worldwide. The

dengue virus is transmitted through the bite of infected female mosquitoes of the genus Aedes,

principally Aedes aegypti mosquito, which feeds on the blood of an individual who is in viremia

(presence of virus in the blood). The mosquito is adapted to reproduce in domestic and

peridomestic environments, using containers that hold drinking water. The state of Minas Gerais

has dengue epidemics in most of its municipalities, which highlights Governador Valadares to

register seasonally a high incidence of this epidemic, providing a critical area. Therefore, research

was conducted on the spatial distribution of dengue in the city, through the use of kernel density

estimator and further evaluation of the dengue with some social and environmental variables. The

results suggest the existence of hots spots (critical areas) distributed irregularly in the

neighborhoods, and may be influenced by areas prone to the proliferation of breeding. As if he

could show that variables can best explain the occurrence of dengue in the city, considering the

local context.

Keywords: Governador Valadares, dengue, public health, statistical correlation, geoprocessing.

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1. INTRODUÇÃO

A dengue é uma arbovirose que acomete milhares de pessoas no mundo, sendo

considerada um dos principais problemas de saúde publica. O agente etiológico da

dengue pertence à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus e é representado por um

complexo de quatro sorotipos de vírus: Dengue-1 (Den-1), Dengue-2 (Den-2), Dengue-3

(Deng-3) e Dengue-4 (Den-4) (PONTES; RUFFINO-NETTO, 1994).

A manifestação da doença dá-se como enfermidade infecciosa aguda, variando de

uma síndrome viral, inespecífica e benigna, até um quadro grave e fatal de doença

hemorrágica com choque (TAUIL, 2001). A síndrome de febre da dengue (DF) ou dengue

clássica inicia de maneira súbita podendo ocorrer febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos

olhos, dores nas costas. A febre hemorrágica da dengue, ou dengue

hemorrágica/síndrome de choque de dengue (DH/SCD) no início os sintomas são iguais

a dengue clássica, mas após o 5º dia da doença alguns pacientes começam a apresentar

sangramento e choque (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

O vírus dengue é transmitido ao homem através da picada da fêmea de mosquitos

infectados do gênero Aedes, principalmente do Aedes aegypti. (PONTES; RUFFINO-

NETTO, 1994). O mosquito adquire o vírus quando se alimenta do sangue de um

indivíduo que esteja em viremia (presença de vírus no sangue), o vírus então se

multiplica no mosquito durante um período de incubação de 8 a 10 dias (CASTRO, 2004).

O mosquito transmissor está adaptado a se reproduzir nos ambientes doméstico e

peridoméstico, utilizando-se de recipientes que armazenam água potável e materiais

descartáveis que acumulam água de chuvas, comumente encontrados nos lixos das

cidades (CÂMARA et. al, 2007), fator esse, determinante à crescente proliferação nos

centros urbanos. Assim, a manutenção e a dispersão do Aedes aegypti no meio ambiente

tem estreita relação com o modo de vida do ser humano (LEFÈVRE et. al, 2003).

Acredita-se que o Aedes aegypti é originário da África, região da Etiópica. Ele

distribui-se amplamente nas regiões tropicais e sub-tropicais do globo terrestre,

principalmente entre os paralelos 45º de latitude norte e 35º de latitude sul, não se

adaptando bem a grandes altitudes (PONTES; RUFFINO-NETTO, 1994). Mede menos

de um centímetro, cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas e costuma

picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde. O ciclo do Aedes aegypti é

composto por quatro fases: ovos, larva, pupa e adulto. Na fase do acasalamento as

fêmeas precisam de sangue para garantir o desenvolvimento dos ovos. Uma vez em

ambiente propicio, os ovos desenvolvem-se em larvas que dão origem as pupas, das

quais surgem os adultos (BRASIL, 2009). Os ovos constituem-se a principal forma de

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resistência do mosquito, podendo permanecer viáveis por cerca de um ano (PONTES;

RUFFINO-NETTO, 1994).

Há registros de incidência da dengue em mais de 100 países. Estima-se que

ocorram anualmente 50 a 100 milhões de casos de DF e várias centenas de milhares DH,

dependendo da atividade epidêmica (GUZMÁN; KOURI, 2002).

Os primeiros casos de dengue no Brasil foram relatados, baseados em critérios

clínicos, em Niterói, Rio de Janeiro, em 1923. Dessa época até o início da década de

1980 não foram observaradas novas ocorrências da doença em nosso meio (PONTES;

RUFFINO-NETTO, 1994).

A dengue reemergiu no Brasil no final de 1981, após 58 anos de ausência. Em

1982 foi registrada a primeira epidemia de dengue no país onde, em Roraima, levou ao

registro de aproximadamente 11 mil casos (MENDONÇA; SOUZA; DUTRA, 2009). Nesse

ano foram isolados os sorotipos Den-1 e Den-4 (BARRETO; TEIXERA, 2008). No ano de

1990 foi isolado pela primeira vez no Brasil o sorotipo Den-2, no Estado do Rio de

Janeiro. A introdução desse sorotipo provocou a primeira epidemia de dengue

hemorrágica no país, no mesmo Estado, em 1990-91 (MARTINS, 2002). Já o sorotipo

Den-3 foi isolado pela primeira vez em São Paulo no ano de 1998 (BASTOS, 2004). Esse

sorotipo foi responsável pela epidemia de 2002 do Brasil, quando foram notificados

aproximadamente 800 mil casos, ou seja, quase 80% das ocorrências do continente

americano (BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

Encontra-se hoje a doença em todos os 27 estados da Federação, distribuída por

3.794 municípios, sendo responsável por cerca de 60% das notificações nas Américas

(CÂMARA et. al, 2007). O Estado de Minas Gerais foi uma das unidades da federação

que apresentou crescimento mais expressivo da dengue nos últimos anos. A doença foi

encontrada pela primeira vez no estado em 1987 (PONTES; RUFFINO-NETTO, 1994).

No ano de 1998 registrou o maior número de casos do país, com 47.402 notificações

(FRANÇA, E; ABREU; SIQUEIRA, 2004). Em 2008 teve 70.743 casos notificados e em

2009 até o mês de Julho o estado contabilizou 66.971 notificações, ocorrendo assim uma

redução de 5,3 % de um ano para o outro. Nesse ano o estado de Minas ficou em

segundo lugar no ranque de maior numero de casos por estado, em destaque as cidades

com maior ocorrência: Curvelo; Coronel Fabriciano; Ipatinga; Belo Horizonte; e

Governador Valadares. Foram isolados nesse período 3 sorotipos, Deng-1, 2 e 3

(BRASIL, 2009).

Uma metodologia rápida que permite identificar os criadouros predominantes do

Aedes aegypti é denominado LIRAa – Levantamento Rápido do Índice de infestação por

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Aedes aegypti. Índices de infestação inferiores a 1% são ditos satisfatórios; de 1% à 3,9%

estão em situação de alerta e superior a 4% há risco de surto de dengue.

Segundo LIRAa no ano de 2008 dos 24 municípios que realizaram o LIRAa no

estado de Minas Gerais, nenhum município esteve em situação de risco, porém, 7

municípios se encontravam em estado de alerta, um desses é o município de Governador

Valadares com um índice de infestação de 2,3. Apesar de, na média, estar em situação

de alerta, o município teve áreas com infestação acima de 4% (BRASIL, 2008)

No ano de 2009, Governador Valadares também se destacou no estado entre os

cinco municípios com maior número de casos notificados, com um nível de infestação de

5,1 passando de nível de alerta para nível de surto, e no ano seguinte permaneceu em

nível de surto com índice de infestação 5,4 (BRASIL, 2009). No ano de 2011 foram

notificados segundo o centro epidemiológico do município, 3.126 casos da doença

(GOVERNADOR VALADARES, 2012).

A distribuição geográfica da dengue tem sido considerada desigual e algumas

explicações para isto, têm sido dadas a partir da avaliação de determinantes sociais,

econômicos e ambientais, tais como o rápido crescimento demográfico associado à

intensa e desordenada urbanização, saneamento ineficiente, o aumento da produção de

resíduos não orgânicos, níveis de renda e escolaridade (MENDONÇA; SOUZA; DUTRA,

2008). Assim as características socioambientais particulares de cada município devem

ser consideradas para compreender o comportamento do processo endêmico-epidêmico

da doença (RESENDES et. al., 2003).

Sabe-se, atualmente, que uma das maneiras de se conhecer mais

detalhadamente as condições de saúde da população é por intermédio de mapas que

permitem observar a distribuição espacial de situações de risco e de problemas de

saúde, ou seja, mediante a utilização de técnicas de geoprocessamento (LAGROTTA,

2006).

As geotecnologias, também conhecidas como “geoprocessamento”, são o

conjunto de tecnologia para coleta, processamento, análise e oferta de informações com

referência geográfica. As geotecnologias são compostas por soluções em hardware,

software e peopleware que juntos constituem poderosas ferramentas para tomada de

decisões. Dentre as geotecnologias podemos destacar: sistemas de informação

geográfica, cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de posicionamento global e

a topografia (ROSA, 2005). Dessa forma, as geotecnologias são importantes ferramentas

de apoio a políticas públicas de saúde relativas à dengue e outras doenças, pois

permitem extrair conclusões com base na realidade a ser analisada (LORBIESKI et. al,

2010).

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A principal vantagem dessas estratégias de processamento de dados espaciais é

a possibilidade de se produzir diferentes formas de agregação de dados, construindo-se

indicadores em diferentes unidades espaciais, conforme o interesse do estudo

(BARCELLOS; RAMALHO, 2002). Sendo assim, a aplicação de geotecnologias

apresenta maior eficiência na análise de dados espacialmente distribuídos quando

comparada aos métodos tradicionais analógicos, pois esses impossibilitam análises mais

precisas e detalhadas, resultantes de combinação entre diferentes mapas e dados

(ROSA, 2009).

A maioria das aplicações das geotecnologias no Brasil está ligada à gestão

municipal, ao meio ambiente, ao planejamento estratégico de negócios, ao agronegócio e

a concessionárias e redes. Estima-se que cerca de 80% das atividades efetuadas em

uma administração municipal (prefeitura) sejam dependentes do fator localização. Para

as ações de planejamento urbano os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são

capazes de relacionar o mapa da cidade ao banco de dados com as informações dos

postos de saúde e a população atendida, a localização das escolas e os endereços dos

alunos em potencial, a pavimentação e as ruas com maior movimento, ou quaisquer

outros cruzamentos de dados que dependem da componente espacial (ROSA, 2009).

Cada aplicação das geotecnologias apresenta características próprias e requer

soluções específicas, pois envolve aspectos diferenciados na produção de dados

geográficos, nas metodologias de análise e nos tipos de informações necessárias

(ROSA, 2009).

Teixeira (2009) exemplifica a aplicação das geotecnologias no estudo dos padrões

espaciais de distribuição da dengue a partir da análise espacial e temporal da dengue no

contexto sócio-ambiental do município do Rio de Janeiro. Foram criados mapas temáticos

com a utilização do estimador de intensidade Kernel para alisamento espacial da

distribuição da dengue, assim como foi mensurado a autocorrelação espacial da dengue

entre bairros vizinhos, por meio dos Índices Global e Local de Moran. Os resultados

evidenciaram autocorrelação positiva pelo Moran Global, o modelo GLM final apresentou

associação direta entre a incidência da dengue e: a pluviosidade; o time-lag de um mês

para pluviosidade; o Índice de Gini e o IB para Aedes aegypti.

Jácomo e Flores (2009) utilizaram Sistemas de Informação Geográfica para

armazenar, processar, analisar as informações e mapear a distribuição espacial de casos

de dengue no município de Presidente Prudente no período de 1999 a 2007, através dos

dados da SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias). A pesquisa concluiu que

a elaboração do banco de dados geográficos poderá auxiliar a SUCEN no estudo dos

casos de dengue. Este banco de dados permite o armazenamento de dados de dengue

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em qualquer período possibilitando uma visualização da distribuição espacial em

qualquer período através de comando de busca. O banco de dados geográficos auxilia

nos estudos estatísticos como, por exemplo, concentração de casos de dengue ao

decorrer dos anos (estimação de Kernel) e comportamento espacial dos casos de dengue

(geoestatística).

Outras abordagens acerca da investigação dos padrões de distribuição espacial

da dengue e outras epidemias podem ser observadas nos trabalhos de Opromolla (2005),

Rodrigues-Júnior et. al (2008), Silva (2009), Silva et. al (2007), Camargo-Neves et. al

(2001), Skaba et. al (2004), Barcellos e Ramalho (2002), Lorbieski et. al (2010), Lagrotta

(2006), Flauzino et. al (2009).

O objetivo dessa pesquisa é evidenciar o padrão da distribuição espacial dos

casos de dengue em Governador Valadares (MG) e avaliar sua possível relação com

algumas variáveis sociais e ambientais, de forma a contribuir para as ações e políticas

públicas de combate a essa doença e subsidiar posteriores trabalhos de modelamento do

comportamento da dengue no município.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo é compreendida pelo município de Governador Valadares, que

se localiza a 18º 51’ 03’’ Latitude Sul e 41º 56’ 56’’ Longitude Oeste (Sistema de

coordenadas geográficas SAD-69) na região leste do Estado de Minas Gerais (figura 01).

A cidade foi fundada em 1938 e possui uma extensão territorial de 2.342 km² com uma

população aproximada de 263.594 habitantes e densidade demográfica de 80,19

hab./km². O município se divide em 12 distritos e 83 bairros (IBGE, 2010).

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Figura 01: Mapa de localização de Governador Valadares (MG)

A metodologia da pesquisa envolveu as seguintes etapas: mapeamento espacial

da incidência da dengue, geração de mapa de densidade dos casos de dengue e análise

de correlação estatística entre os registros de dengue e variáveis socioambientais.

Dado que Governador Valadares constitui um município de médio porte, optou-se

por trabalhar o mapeamento da dengue por amostragem. O critério de escolha dos

bairros foi basicamente a logística de acesso, assim como as condições de segurança.

Desta forma, os bairros escolhidos para a pesquisa foram: Centro, Esplanada,

Esplanadinha, Ilha dos Araújos, Lourdes e São Pedro (figura 02).

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Figura 02: Bairros pesquisados em Governador Valadares (MG)

A partir da definição da área da pesquisa, partiu-se para o mapeamento da

dengue em campo. As informações necessárias a esta etapa foram os registros

individuais de ocorrência de dengue nos anos de 2011 e 2012, que foram fornecidos pelo

Centro Epidemiológico de Vigilância Sanitária do município (GOVERNADOR

VALADARES, 2012).

Os registros passaram, inicialmente por uma triagem a fim de eliminar eventuais

dados desnecessários ao desenvolvimento da pesquisa. Logo, ao final os dados

reorganizados representaram apenas a identificação do bairro, o endereço completo e o

ano para cada registro fornecido.

Em campo, as residências com registros de caso de dengue foram

georreferenciados, isto é, determinou-se a localização geográfica em termos de latitute e

longitude. O sistema de referência espacial para tanto constituiu o GCS WGS-84

(Sistema de Coordenadas Geográficas DATUM WGS-84), por convenção. Os dados do

georreferenciamento foram, posteriormente, organizados em documento Microsoft

ExcelTM, para tratamento em ambiente SIG (Sistemas de Informações Geográficas).

Como forma de identificar eventuais fatores que poderiam influenciar os padrões

espaciais da dengue, foi realizada etapa de georreferenciamento de terrenos baldios,

cemitérios e outros.

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Para o tratamento espacial dos dados foram utilizadas bases vetoriais em formato

CAD, posteriormente extraídas para o formato shapefile, representando os bairros de

Governador Valadares e as vias públicas, respectivamente em feições tipo polígono e

linhas. Os dados em formato vetorial representam os objetos do mundo real e suas

informações na forma de pontos, linhas e polígonos (PEREIRA; SILVA, 2012).

Estas bases serviram como plano de fundo para a observação da nuvem de

pontos representativa da ocorrência de dengue e também para o delineamento do

modelo de densidade.

As operações espaciais foram realizadas através do uso do aplicativo ArcGIS

10TM. Segundo a empresa ESRI, responsável pelo desenvolvimento e distribuição, o

ArcGIS é um SIG com poderosas ferramentas para análise e gerenciamento de dados

espaciais (raster e vetorial) e também para criação, visualização e cartografia de dados

geográficos. O ArcGIS é um SIG modulado que funciona na plataforma Windows.

Apresenta soluções completas para usuários de computadores pessoais ou de ambientes

compartilhados nas empresas e na Internet (FEITOSA et al., 2008).

A partir do arquivo vetorial, que ilustra a distribuição da ocorrência individual da

dengue em Governador Valadares, foi possível gerar um modelo espacial de densidade

dos registros de dengue, por meio de operações de geoprocessamento. Para tanto,

dentre as várias alternativas de estimadores de densidade disponíveis, optou-se pelo

modelo geoestatístico Kernel. A escolha deste modelo deveu-se, sobretudo, ao fato dele

permitir uma fácil visualização de grandes volumes de dados pontuais em uma

determinada área de estudo (NOGUEIRA, et al., 2009).

Ainda, segundo Nogueira et al. (2009), o estimador Kernel constitui um método

inicialmente desenvolvido para obter uma estimativa suavizada de uma densidade de

probabilidade univariada ou multivariada, a partir de uma amostra de dados observados.

A estimativa da densidade Kernel gera uma superfície simétrica que reflete a

distância de um ponto a um local de referência baseada numa função estatística. Seria

análogo ao desenvolvimento uma superfície baseando-se no histograma de distribuição

de frequência dos eventos pontuais, onde as classes do histograma são traduzidas em

intervalos e o número de casos em cada intervalo é contado e representado (AMARAL;

CÂMARA; MONTEIRO, 2001).

Caram (2006) destaca que o estimador Kernel realiza uma contagem dos eventos

dentro de uma determinada região, denominada largura de banda, centrada em um

“ponto qualquer” de uma grade gerada sobre a região de estudo. Através da função

Kernel calcula-se a intensidade de eventos para aquele ponto, que assume assim um

determinado valor. Em seguida, repete-se o cálculo para um vizinho mais próximo e

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assim sucessivamente até percorrer toda a grade gerada sobre a superfície. Isto é, a

cada ponto da superfície existe um valor associado da função Kernel, e o alisamento

desta função consiste em colorir a região de estudo de acordo com as faixas de

intensidade calculadas. O resultado deste alisamento permite a detecção de áreas com

maior e menor intensidade de eventos e áreas de transição entre elas.

De acordo com Malhado et al. (2008) o estimador de densidade Kernel tem a

seguinte forma:

𝑓𝜆(�̂�) =1/(𝑛𝜆)[∑ 𝐾0 (�̅�−𝑥𝑖)/𝜆

𝑛𝑖=1 ]

equação 01

Em que K0 é a função Kernel, λ é a largura da banda, ou seja, o parâmetro de

alisamento dos dados e x1, x2, x3..., e xn são as variáveis aleatórias contínuas. A função

de densidade normal padronizada, comumente utilizada como Kernel é

𝐾0 (𝑡)=1/√(2𝜋)𝑒𝑥𝑝(−𝑡2|2) , para -∞ < t < ∞.

A rotina que envolveu a geração da superfície de densidade de casos de dengue

partiu, a princípio, de um procedimento de vetorização do documento Microsoft ExcelTM

que continha as informações de localização espacial, de cada caso mapeado de dengue

na área de pesquisa. Para isso, o arquivo Excel foi adicionado a um projeto no aplicativo

ArcGIS 10TM, através do módulo ArcCatalog, e posteriormente exportado como shapefile.

A fim de gerar as classes de densidade em unidade facilmente interpretável, foi

necessária uma etapa intermediária de reprojeção da base vetorial de registros de

dengue de GCS WGS-84 para UTM WGS-84. Nesta etapa utilizou-se a função

Projections and transformations em Data Management Tools.

Em seguida o arquivo vetorial gerado, foi adicionado ao mesmo projeto, onde

então foi executada a rotina de geração de mapa de densidade pelo estimador Kernel,

por meio da função Kernel density, presente no toolbox Spatial Analyst Tools. Como

medida da densidade foi escolhida a opção unidades/Km2. Contudo, todos os demais

campos de customização foram preenchidos com os valores e opções padrão

especificados, na rotina da função.

O mapa gerado foi ao final, reprocessado a fim, de eliminar as superfícies que se

apresentaram, a primeira vista, fora dos limites da área de estudo. Foi utilizada nesta

etapa de pós-processamento a função Extract by Mask, do toolbox Spatial Analyst Tools,

utilizando como máscara vetorial para excluir os excedentes o arquivo poligonal dos

bairros, que compuseram a área da pesquisa.

É válido destacar ainda que, para efeito de análise dos resultados, o mapa de

densidade Kernel foi reorganizado em cinco classes, cujos intervalos de classe foram

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definidos pelo método de quebra natural (natural breaks). Segundo Moura apud Lucas et

al. (2012) tal método separa as classes a partir da mudança de comportamento dos

dados e agrupa os subconjuntos que possuem características semelhantes.

Assim, as classes contiveram os intervalos descritos no quadro 01, conforme

descrito abaixo:

Quadro 01: Intervalos de classe de densidade Kernel

CLASSE INTERVALO DE CLASSE (CASOS/Km2)

1 0 – 27

2 27 – 75

3 75 – 137

4 137 – 225

5 225 – 375

A etapa metodológica final consistiu em analisar o nível de relacionamento entre

algumas variáveis sociais e ambientais e o nível de ocorrência de dengue nos bairros

estudados, a fim de evidenciar se algumas destas variáveis poderiam melhor explicar ou

justificar os padrões espaciais da dengue em Governador Valadares.

As variáveis explicativas em questão consistiram em um conjunto de 28, divididas

em classes conforme sua natureza, isto é, foram utilizadas quatro variáveis relacionadas

à “estatística populacional de domicílios”, doze relativas à “renda de chefes de família”,

sete relacionadas aos “domicílios com coleta de resíduos e tipologia de destinação de

esgoto” e, ainda, quatro variáveis ligadas as “estatísticas de educação”.

Os dados relativos às variáveis, determinados para cada bairro estudado, foram

cedidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através de sua sede

municipal.

Como viés metodológico para esta análise, foi utilizada técnica de correlação

linear estatística, tendo como variáveis independentes aquelas sociais e ambientais, já

descritas, e como variável dependente, o número total de registros de dengue de cada

bairro. É válido ressaltar que, o horizonte temporal de análise nesta etapa se estendeu de

2010 a 2012.

Segundo Ayres et al. (2007) a análise de correlação proporciona um meio de se

verificar o grau de associação entre duas ou mais variáveis. Tal nível de associação pode

ser mensurado através da determinação do coeficiente de correlação linear de Pearson.

Triola (2011) ratifica Ayres et al. (2007) ao afirmar que, como o coeficiente de

correlação linear r é calculado com o uso de dados amostrais, ele constitui uma

estatística usada para medir a intensidade da correlação linear entre as variáveis x e y.

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O coeficiente de correlação de Pearson é dado, segundo Crespo (2009) pela

equação:

𝑟 = 𝑛 ∑ 𝑥𝑖𝑦𝑖−(∑ 𝑥𝑖) (∑ 𝑦𝑖)

√[𝑛 ∑ − (∑ 𝑥𝑖)2𝑥𝑖

2 ] [𝑛 ∑ 𝑦𝑖2− (∑ 𝑦𝑖)2]

equação 02

Onde n é o número de observações.

O valor do coeficiente pode variar de -1 a +1, e quanto mais próximo destes

valores, mais forte é a associação das variáveis investigadas. O escore zero desse

coeficiente indica ausência de correlação (AYRES et al., 2007).

Dos valores obtidos pelo coeficiente para se obter algumas conclusões

significativas sobre o comportamento simultâneo das variáveis analisadas, é necessário

que 0,6 ≤ │r│≤ 1. Caso 0,3 ≤ │r│< 0,6 há uma correlação relativamente fraca entre as

variáveis, e também se 0 < │r│< 0,3 a correlação é muito fraca e, praticamente, nada

pode-se concluir sobre a relação entre as variáveis em estudo (CRESPO, 2009).

Nos casos em que há uma gama de variáveis a serem correlacionadas, pode-se

calcular vários valores de r para cada associação entre as variáveis, resultando mão de

uma matriz chamada de matriz de correlação (AYRES et al., 2007).

Como ferramental metodológico desta etapa foi utilizado o pacote estatístico

Microsoft Excel 2007TM.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA DENGUE

A distribuição espacial da dengue em Governador Valadares (MG) aferida pela

aplicação do estimador Kernel apresentou a configuração expressa na figura 03.

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Figura 03: distribuição espacial da dengue em Governador Valadares

Para efeito de discussão considerou-se como classes relevantes apenas as que

compreendem a maior densidade de casos de dengue no município, a saber: classes 04

e 05 (hot spot).

As regiões, em cada bairro onde foram identificadas manchas de alta incidência

de dengue, foram inventariadas conforme quadro 02

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Quadro 02: regiões de maior incidência de dengue em Governador Valadares

BAIRRO ÁREA DE INFLUÊNCIA

BAIRRO SÃO PEDRO

AVENIDA RIO DOCE-RUA MOACIR PALETA: TRECHO ENTRE RUA AMÉRICO MENEZES E RUA MATIAS GOMES

AVENIDA MOACIR PALETA - RUA PROFESSOR JOSÉ DE CARVALHO: TRECHO ENTRE RUA OTONIEL MOTA E RUA IBITURUNA

OBS: HOT SPOT-SEM REGISTRO DO MAIOR NIVEL DE CASOS - RUA ISRAEL PINHEIRO-RUA RAUL SOARES: TRECHO ENTRE RUA PASTORIL E RUA IBITURUNA

BAIRRO ESPLANADINHA RUA ISRAEL PINHEIRO-AVENIDA BRASIL: ENTRE RUA SAMUEL

BARBOSA E AVENIDA DO CANAL

BAIRRO ESPLANADA RUA AFONSO PENA-RUA SETE DE SETEMBRO: ENTRE RUAS GARÇA AMARAL E MARTINHO LUTERO

ILHA DOS ARAÚJOS

RUA DEZ-RUA DOZE: ENTRE AV RIO DOCE E RUA QUARENTA

RUA ONOFRE DIAS DA SILVA-RUA DOZE: ENTRE AVENIDA SUASUI E RUA TRINTA E OITO

AVENIDA RIO DOCE-RUA QUATORZE: ENTRE RUA TRINTA E OITO E AVENIDA SUASUI

RUA TRINTA-SEIS: ENTRE AVENIDA RIO DOCE E RUA DOZE

RUA SEIS-AVENIDA PIRACICABA: ENTRE RUA TRINTA E SEIS E RUA TRINTA E QUATRO

BAIRRO DE LOURDES

RUA PEDRO LESSA-RUA PST. OMÍDIO SIQUEIRA: ENTRE RUA VER. JOSÉ DOMNGOS VIEIRA E RUA MARANHÃO

RUA CÉARA: ENTRE RUA MATO GROSSO E RUA SANTOS DRUMONT

RUA RIO GRANDE DO NORTE: ENTRE RUA MATO GROSSO E RUA SANTOS DRUMONT

RUA MARECHAL FLORIANO-RUA PARANÁ: ENTRE RUA PARAÍBA E PERNANBURCO

AVENIDA JK: ENTRE RUA BAHIA E ESPÍRITO SANTO

RUA PEDRO LESSA-RUA TV PIRACICABA: ENTRE RUA SERGIPE E RUA OZANAN M CAMARA

CENTRO

CRUZAMENTO DA RUA ANA NERI, RUA OSVALDO CRUZ, RUA TEÓFILO OTONI E RUA ISRAEL PINHEIRO: ENTRE RUA OLEGÁRIO MACIEL E FRANCISCO SALES

CLÁUDIO EMANUEL COM CRUZAMENTO COM SÃO JOÃO

RUA PUDENTE DE MORAIS: ENTRE RUAS ENI CABRAL E CLÁUDIO MANOEL

RUA CASTRO ALVES-RUA SETE DE SETEMBRO: ENTRE RUA PEÇANHA E RUA BELO HORIZONTE

RUA CARTRO ALVES: ENTRE RUA SÃO PAULO E BELO HORIZONTE

RUA AFONSO PENA-RUA BARBA HELIODORA: ENTRE RUA BEIJAMIM CONSTANT E RUA VEREADOR EUZEBINO CABRAL

RUA AFONSO PENA: ENTRE RUA EUCLIDES DA CUNHA E RUA OSMAN MONTEIRO

AVENIDA BRASIL-RUA VEREADOR OMAR DE MAGALHÃES: ENTRE RUA VEREADOR JOÃO DORNELES E RUA VEREADOR EUZEBINHO CABRAL

O bairro São Pedro de forma geral apresenta predominância de hots spots de

dengue com grande dimensão e representatividade, considerando a área total do bairro.

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Nas proximidades da fronteira do bairro São Pedro, que se estende desde a

avenida rio Doce, limite do bairro mais próximo ao rio Doce, até o limite mais ao norte do

bairro (rua Moacir Paleta) há a presença de uma mancha bastante significativa de

classes de dengue mais críticas, constituindo o hot spot mais significativo do bairro.

Nas imediações da mancha pode-se identificar a presença de quatro terrenos

abandonados (lotes vazios) e uma praça, que podem constituir fatores relacionados à

grande incidência de registros de dengue nesta região do bairro, visto que terrenos

baldios podem conter latas, garrafas, pneus e outros resíduos sólidos que constituem

criadouros quando da ocorrência de chuvas. Soma-se a isso, a presença da praça, que

quando não possui manutenção e limpeza frequentes também pode constituir um grande

risco de dengue.

No sentido centro-leste, ainda no bairro São Pedro há a ocorrência de duas

manchas com menor dimensão espacial que a anterior, mas ainda bem representativas. A

menor delas não apresenta a classe de maior densidade de casos e situa-se já próxima à

fronteira com o bairro Universitário. Neste local foi identificada a presença de um terreno

baldio e um ferro velho, que podem exercer influência no padrão da dengue neste local.

O ferro velho, em particular constitui um grande risco, em função do fato de possuir

grande volume de entulhos alocados em uma área que possui cobertura incipiente,

levando à possível acúmulo de água quando da ocorrência de precipitações.

Já o hot spot da região central do bairro, cuja representatividade em termos de

área é bem significativa, possui um lote abandonado nas imediações, representando

também uma fonte potencial de criadouros, que pode explicar o padrão da dengue na

região.

Apesar de não haver número elevado de hot spots no bairro São Pedro, as

manchas de densidades de dengue são bem representativas espacialmente se

considerada a dimensão do bairro, de forma que ele acaba por constituir uma região de

grande incidência e, portanto, elevado risco de infecção.

O bairro Esplanadinha apresenta apenas um hot spot, localizado na região mais

ao norte do bairro, próximo a fronteira com os bairros Esplanada e São Pedro. Contudo,

de forma geral o bairro apresenta apenas representatividade das classes de densidade

de dengue menos críticas, de forma que, é de se supor que, alguma condição muito

particular ocorrente apenas ao norte do bairro pode estar modulando a presença da

mancha. Nas imediações ao norte e sul, respectivamente, do hot spot foi evidenciada a

presença de dois terrenos baldios, que em função da falta de limpeza e manutenção,

pode conter resíduos sólidos que transformam-se em criadouros de dengue,

eventualmente.

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16

Igualmente ao bairro Esplanadinha, o bairro Esplanada, possui apenas um hot

spot localizado a noroeste, próximo à fronteira com o bairro Centro. Contudo,

considerando a dimensão do hot spot comparativamente à área do bairro existe maior

representatividade da mancha.

Considerando o número de hot spots, o Centro apresenta-se como o bairro mais

crítico, uma vez que foram identificadas oito destas unidades.

Na região sudeste do bairro, há a ocorrência de dois hot spots bem delineados,

um deles encontra-se próximo ao leito do rio Doce. O outro apresenta-se mais

pronunciado em área próxima a fronteira com os bairros Esplanada e Esplanadinha.

Deve-se notar que este hot spot localiza-se nas imediações do cemitério de Santo

Antônio. Nestas áreas há presença de estruturas como vasos e as próprias sepulturas,

em que na ocorrência de precipitações, pode acumular água tornando-se criadouros para

reprodução do mosquito A. aegypti. O cemitério pode constituir um agente modulador da

grande incidência da dengue nesta região.

Na região oeste do bairro do Centro é que se concentram a grande maioria dos

hot spots do bairro, com relativa proximidade entre os pontos. O hot spot que apresenta a

maior dimensão da classe mais crítica de densidade da dengue, localiza-se próximo a

fronteira com os bairros de Vila Mariana e Morada do Acampamento. A oeste desta

mancha foi possível identificar a presença de um lote abandonado que pode constituir um

foco em potencial para reprodução dos mosquitos. Também evidenciou-se a presença de

um depósito de materiais de construção nas imediações, em que parte dos produtos,

como tijolos de argila, ficam expostos em uma área não cobertura, o que sugere que em

eventos de precipitação pode haver acúmulo de água, gerando criadouros do mosquito

da dengue.

No bairro de Lourdes o estimador Kernel sugere a existência de seis regiões de

grande incidência de dengue. Três hots spots encontram-se localizados na porção oeste

do bairro, com proximidade entre si, o que sugere a presença de eventuais criadouros do

mosquito vetor nas redondezas.

Mais ao norte, próximo à fronteira do bairro com Vila Mariana, há um hot spot que

pode estar sofrendo influência de um terreno abandonado, presente nas imediações.

Neste local há propensão ao acúmulo de resíduos sólidos lançados por transeuntes ou

mesmo moradores locais, levando ao risco de proliferação de criadouros.

Um hot spot localizado na região centro-sul do bairro, não possui grande

dimensão, porém apresenta proximidade com um campo de futebol de várzea. Por se

tratar de um terreno baldio, há possibilidade que resíduos sólido presentes na área,

possam estar modulando o padrão espacial da dengue nestes locais.

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O hot spot, que apresenta a maior representatividade da classe de densidade

mais elevada, encontra-se ao norte do bairro em região próxima aos bairros

Acampamento da Vale e Vila Mariana. Considerando que, no bairro Centro há expressiva

presença de hots spots na região de fronteira com estes bairros, há indícios que existam

focos de criadouros nesta região, permitindo a proliferação da dengue para as regiões

vizinhas.

Mais ao sul há uma área crítica já próxima ao bairro São Paulo, porém sem

representatividade da classe de densidade mais elevada.

No bairro Ilha dos Araújos os focos de maior incidência concentram-se no sentido

centro-sudoeste. Há a presença de cinco hot spots, três mais ao centro e dois ao sul. Os

três hot spots centrais são bem representativos e encontram-se relativamente próximos,

de forma que sugerem a presença de criadouros nesta região. O que pode ser explicado

pela presença no entorno de dois lotes abandonados; um lote vazio, porém limpo; uma

praça em que aparentemente não há manutenção frequente; e uma propriedade com um

quintal de grande extensão.

Contudo, é interessante notar que nesta região há cotas intermediárias, de forma

que as cheias sazonais que inundam parcialmente a ilha não deve constituir um fator que

modula a geração de criadouros nesta área.

Mais ao sul há dois hot spots, um próximo ao extremo sul da ilha, próximo às

margens do rio Doce. O outro ponto mais ao sul possui maior área de influência e ainda a

classe mais crítica representada, o que não se reproduz na mancha mais ao sul. Contudo

de forma geral, no bairro não há grande distribuição de focos de incidência da dengue

nem distribuição espacial homogênea da mesma.

3.2 ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ESTATÍSTICA

A análise de correlação estatística entre os registros de dengue em Governador

Valadares e as variáveis sociais e ambientais reportou aos resultados apresentados no

quadro a seguir.

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Quadro 03: Matriz de correlação estatística

GRUPO DE VARIÁVEIS

VARIÁVEL COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO

ESTATÍSTICA POPULACIONAL DE DOMICÍLIOS

Registros de ocorrência de Dengue 1.000000

Domicílios particulares permanentes (Unidades)

0.910112

Moradores em domicílios particulares permanentes (Pessoas)

0.913272

Média de moradores em domicílios particulares permanentes (Pessoas)

-0.061101

PERCENTUAL DE RENDA DE CHEFES DE

FAMÍLIA

Até 1/4 de salário mínimo 0.146932

Mais de 1/4 a 1/2 salário mínimo 0.023676

Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 0.099345

Mais de 1 a 2 salários mínimos 0.105158

Mais de 2 a 3 salários mínimos 0.171257

Mais de 3 a 5 salários mínimos 0.039044

Mais de 5 a 10 salários mínimos -0.098493

Mais de 10 a 15 salários mínimos -0.092647

Mais de 15 a 20 salários mínimos -0.164298

Mais de 20 a 30 salários mínimos -0.126215

Mais de 30 salários mínimos -0.025687

Sem rendimento 0.033157

rendimento nominal médio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade

(Reais) -0.131523

PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM COLETA DE RESÍDUOS E TIPOLOGIA

DE DESTINAÇÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS

Percentual de resíduos sólidos coletados de diversas formas

0.242883

Rede geral de esgoto ou pluvial 0.282352

Fossa séptica -0.123617

Fossa rudimentar -0.242881

Vala 0.030275

Rio, lago ou mar -0.087612

Não tinham -0.043424

ESTATÍSTICAS DE EDUCAÇÃO

Taxa de alfabetização de pessoas com 10 ou mais anos de idade (%)

-0.012433

População Alfabetizada 0.869892

População não-alfabetizada 0.787776

Sem declaração 0.000000

O grupo de variáveis “estatística populacional” do município, em geral apresentou

forte correlação positiva com a distribuição da dengue em Governador Valadares, com

valores do coeficiente de correlação variando de 0.91 a 1, a exceção do parâmetro

“média de moradores em domicílios particulares permanentes”. Entretanto, este cenário

apenas reflete a dimensão da área de cada bairro, isto é, é de se pensar que de maneira

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geral, bairros com maior dimensão tem maior probabilidade de registrar maior valor

absoluto quanto ao número de ocorrências que bairros com dimensões menores,

refletindo-se no coeficiente de correlação de Pearson. Logo, pode-se afirmar que este

grupo de variáveis não é apropriado para pesquisas desta natureza.

As variáveis do grupo “percentual de renda de chefes de família” também não

apresentaram boa correlação, tanto positiva quanto negativa, com a dengue, tendo

reportado valores do coeficiente muito baixos e nunca maiores que 0.17 (melhor nível de

correlação positiva) e menores que -0.16 (melhor correlação negativa). Deve-se notar

que, supostamente, a faixa de renda pode determinar a escolha de habitação em áreas

mais nobres, com melhores estruturas urbanas, e ainda pode prover melhores condições

educacionais, com desdobramentos em uma maior responsabilidade na disposição de

resíduos sólidos e outros, o que em tese reduziria a possibilidade de reprodução de

criadouros do vetor da dengue. Contudo, esta hipótese não se faz refletir nos valores do

coeficiente de correlação. Logo, uma possível justificativa para tal comportamento

inesperado seja que este grupo de variáveis esteja relacionado à ocorrência de dengue,

mas seu nível de relacionamento não pode ser descrito por um modelo linear, como de

fato é o coeficiente de Pearson, o que poderia explicar a fraca correlação observada.

Das sete variáveis em estudo do grupo “percentual de domicílios com coleta de

resíduos e tipologia de destinação de esgotos domésticos” três apresentaram

coeficientes de correlação desprezíveis, isto é, com valores menores que 0.01 em

módulo e quatro apenas apresentaram algum nível de relacionamento, ainda que muito

fraco. O melhor relacionamento foi observado na variável “percentual de resíduos sólidos

coletados de diversas formas”. Teoricamente, bairros em que há um eficiente

gerenciamento de resíduos sólidos, com coleta e disposição adequados, não há

propensão de acúmulo de lixo nas ruas ou em terrenos baldios ou abandonados, o que

reduz a possibilidade de proliferação de criadouros do mosquito vetor da dengue. Neste

contexto, essa correlação deveria ser negativa uma vez que quanto maior o percentual

de coleta dos resíduos menor é a possibilidade de infecção por dengue.

Contudo, esta correlação apresenta comportamento anômalo, sendo positiva.

Disto ocorre que, para eventuais exercícios de modelamento posteriores, do

comportamento da dengue, esta variável apesar de ser a que apresentou a melhor

correlação com a dengue, quanto ao grupo “percentual de domicílios com coleta de

resíduos e tipologia de destinação de esgotos domésticos”, deve ser descartada, uma

vez que possui comportamento não esperado.

Analogamente, a variável discutida anteriormente, é o comportamento da variável

“rede geral de esgoto ou pluvial”, que apresenta correlação fraca, mas ainda um nível

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significativo, dado o valor de correlação registrado face às outras variáveis já discutidas.

No que se refere a seu significado também não há lógica no fato da correlação desta

variável com a dengue ser positiva, uma vez que em tese uma disposição adequada de

efluentes também deve incorrer em menor possibilidade de desenvolvimento de

criadouros. Desta forma, assim como no caso anterior, esta variável não deve ser

considerada para trabalhos de modelamento do comportamento da dengue em

Governador Valadares.

Interessante notar que as outras duas variáveis do grupo possuem correlação

positiva, ainda que fraca, diferentemente das outras duas já comentadas. No que se

refere ao significado do relacionamento da variável “fossa rudimentar” o coeficiente de

correlação de Pearson por apresentar valor negativo, poderia levar a crer que em tese o

aumento do uso de fossas rudimentares seria de certa forma acompanhado por uma real

possibilidade de redução no risco de proliferação da dengue, o que é totalmente

incoerente e descabido. Logo, esta variável também não constitui uma boa variável

explicativa para a distribuição da dengue em Valadares, e deve igualmente ser

descartada para efeito de modelamento.

De todas as variáveis deste grupo a única que apresentou correlação não

desprezível (fraca correlação) e significado tangível foi “fossa séptica”, pois o uso de

fossa séptica apesar de não constituir a disposição ideal para os efluentes sanitários

gerados pela população de um município ainda é uma forma que apresenta menos riscos

quanto à proliferação de dengue que as fossas negras ou rudimentares, uma vez que em

geral encontram-se enterradas no solo. Contudo, dada à fraca correlação (r= -0.12) ela

não representa uma variável muito significativa que explique de forma satisfatória o

padrão da dengue no município.

Quanto ao grupo “estatísticas de educação” as variáveis “sem declaração” e “taxa

de alfabetização de pessoas com 10 ou mais anos de idade (%)” não apresentaram

níveis de relacionamento consideráveis visto seus valores do coeficiente de correlação

variaram de 0 a -0.01. A variável “população alfabetizada” em uma primeira análise

apresenta-se matematicamente como uma boa variável preditiva do comportamento da

dengue no município, pois seu coeficiente de correlação da ordem de aproximadamente

0.87 pode ser considerado uma forte correlação. Entretanto, a interpretação deste nível

de relacionamento sugere uma absoluta incoerência, pois em tese pela análise

matemática do modelo o crescimento na incidência da dengue em Governador Valadares

poderia ser justificado pelo aumento da população alfabetizada, o que é de fato

totalmente descabido, dado que uma população com satisfatório nível educacional em

geral é mais esclarecida e comprometida com as formas de disposição de seus resíduos

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e efluentes, pelo próprio acesso a informação que a educação permite. Logo, a forma de

relacionamento positiva, reportada pela correlação linear de ambas as variáveis, é

inesperada. Assim, para efeito também de modelamento esta variável não deve ser

utilizada, pois poderia conduzir a resultados inconsistentes.

A única variável, do espectro total de variáveis estudadas na pesquisa, que

reportou um nível de relacionamento significativo foi a “população não-alfabetizada”,

pertencente ao grupo de variáveis “estatísticas da educação”.

Esta variável apresentou um valor do coeficiente de correlação de Pearson da

ordem de 0.78, constituindo uma forte correlação positiva. Disto ocorre que é possível

inferir que quanto maior a representatividade da população não-alfabetizada no município

há maior propensão a ocorrência de registros de dengue. De fato, populações não-

alfabetizadas tem maior restrição ao acesso a informação e muitas vezes nem possuem

condições de interpretá-las, de forma que talvez nem consigam assimilar a relação

existente entre a disposição inadequada de resíduos sólidos e efluentes com o risco de

proliferação de criadouros de dengue, aumentando sua fragilidade a disseminação desta

epidemia.

Outro fator que também justifica a boa correlação desta variável com a dengue é

que o fato de uma população ter menor nível educacional é muitas vezes reflexo da baixa

condição social e econômica, o que sugere que em geral estas populações ocupam as

áreas mais periféricas das cidades, onde há déficit nos serviços urbanos, como coleta e

disposição de lixo, aumentando assim os riscos de proliferação de criadouros dos vetores

da dengue. Desta forma, esta variável é uma boa variável explicativa do padrão da

distribuição da dengue em Governador Valadares e poderia orientar eficientemente uma

etapa posterior de modelamento desta epidemia no município.

4. CONCLUSÃO

O uso do estimador de densidade Kernel permitiu elucidar os padrões da

distribuição da dengue em Governador Valadares (MG). De forma geral, os bairros de

maior dimensão como o Centro e Ilha dos Araújos apresentaram maior número de áreas

críticas (hot spots) quando comparado aos bairros de menor dimensão, como o bairro

São Pedro. Contudo, os bairros menores que apresentaram manchas de grande

dimensão, comparativamente à área total de cada bairro, merecem atenção especial,

visto que, apresentam grande incidência de dengue na maior parte de suas áreas.

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Em função da determinação das áreas críticas, cabe ao poder público municipal

realizar posteriores investigações a fim de identificar eventuais criadouros do mosquito

vetor que poderiam estar modulando os hot spots, podendo assim prover ações efetivas

que levem a redução da probabilidade de ocorrência de epidemias sazonais nestas áreas

e melhorando os indicadores de saúde pública municipal.

O estudo da relação da dengue com variáveis sociais e ambientais revelou haver

fraco ou nenhum nível de correlação significativo entre a ocorrência desta epidemia e os

grupos de variáveis estudados. Apenas a variável “população não-alfabetizada” parece

estar correlacionada de forma determinante com a distribuição da dengue no município, e

portanto, poderia ser utilizada como variável explicativa em um posterior exercício de

modelamento.

Neste sentido, é necessário que trabalhos posteriores desta natureza, utilizem

outros grupos de variáveis a fim de compreender melhor os fatores que explicam o

comportamento da dengue no município. Além do que, devido ao fato da dengue,

aparentemente, apresentar relação direta com o nível educacional da população

municipal, uma das ações que cabe ao poder público, a fim de mitigar e combater esta

epidemia, é prover melhores condições de acesso à educação e informação aos

municípios.

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