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Analise Critica Do Livro Analise Biblica Do Catolicismo Romano

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Essa análise crítica é recomendada, naturalmente, em primeiro lugar, aos leitores do livro do pastor Joel Santana Análise Bíblica do Catolicismo Romano.

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ANÁLISE CRÍTICA

DA OBRA DO PASTOR JOEL SANTANA

ANÁLISE BÍBLICA DO CATOLICISMO ROMANO

Gledson Meireles

e-mail: [email protected] 

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2009

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PREÂMBULO

Considerando as palavras do pastor Joel: Caríssimo leitor, não permita que o preconceito o impeça de examinar todo este livro, pois é com muito amor e com todo o respeito que os católicos merecem que exteriorizamos aqui nossa sincera opinião acerca do Catolicismo, eu me pus a examinar atentamente o livro Análise Bíblica do Catolicismo Romano. Essa crítica é o início de um diálogo com o pastor Joel, seguindo também uma sugestão sua, ou seja, a de preparar uma crítica sobre o livro acima mencionado, e foi feita quase que totalmente seguindo a formatação do seu livro, com pouquíssimas mudanças, analisando-o de forma detalhada. Ficará patente que muito daquilo que os protestantes chamam de “bíblico”, como sendo doutrina fundamental que deve ser crida para que alguém seja um cristão de fato, nada mais é que a interpretação dos textos bíblicos dada por Lutero, Calvino ou outro líder protestante, ou ainda pelas Confissões de Augsburgo, a Confissão Belga, de Westminster, de Heildeberg etc. Então, os escritos dos reformadores, os credos e confissões protestantes, formam o que podemos chamar de tradição protestante. Mesmo a patrística não é negada. Quando o pastor Joel diz no preâmbulo da sua obra que O único padrão que nos permite aferir com precisão uma doutrina religiosa, é a Bíblia, ele está correto, mas também é um fato que o sentido do ensino bíblico está condicionado, na prática, pela tradição. Então é correto dizer que a “tradição” protestante é importante para entender suas doutrinas, embora oficialmente o Protestantismo afirme que somente a Bíblia é regra infalível de fé e prática. Isso não exclui a tradição e a autoridade da Igreja entre os protestantes, segundo o conceito original de Sola Scriptura, mas significa que somente a Bíblia constitui autoridade infalível. O típico protestante irá afirmar que aquilo que os primeiros cristãos ensinavam está na Bíblia e somente nela, não necessitando, para entender a doutrina, dos escritos sub-apostólicos dos Padres da Igreja, ainda que muitos dispensem algum respeito por pela patrística. Mas, estou certo de que o que chamei de tradição protestante foi testada, segundo o protestantismo, pela autoridade da Bíblia e considerada ortodoxa. Desse modo, a tradição é importantíssima para entender questões doutrinais, e o protestantismo não escapa dessa realidade. A salvação somente pela fé, por exemplo, é inquestionável dentro do Protestantismo, constituindo um verdadeiro dogma. Contudo, foi Lutero quem interpretou as palavras de São Paulo em Romanos 3,28 como se fossem uma declaração contra o valor salvífico de toda e qualquer boa obra. Será que São Paulo intencionava ensinar isso? Lutero afirmou que sim. Essa era a doutrina “bíblica”, segundo o seu livre exame. Os outros reformadores também ensinaram o mesmo. Portanto, quando um protestante lê a Bíblia, deve ter em mente que seu entendimento está condicionado pelos seus líderes, pelo menos nessas questões indiscutíveis. Se qualquer protestante entender que a Bíblia afirma que a fé e as boas obras são necessárias para a salvação, (fé + boas obras) esse protestante estará automaticamente fora do protestantismo, por ter dado uma interpretação bíblica incompatível com o dogma oficial, do qual não se pode abrir mão. Esse protestante estará ensinando a “heresia” da salvação pelas obras! E assim se saberá que não foi o Espírito Santo quem o inspirou! Desse modo, a “tradição protestante” é

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tão infalível quanto a Bíblia e é base para o entendimento dessa doutrina, como de outras tantas. Isso é o que a Igreja Católica ensina sem rodeios, que a Bíblia, a Tradição e o Magistério são as fontes da sua doutrina. Os católicos estão conscientes que devem submeter-se à Igreja para o correto entendimento da Bíblia, pois a Igreja é o sustentáculo da verdade 1 Tm 3,15. Então foi Deus quem ensinou esse princípio, que é bíblico. Por exemplo, se um católico entender que as obras nada influem na salvação, esse já deixa automaticamente de ser cristão católico e passa a ser um herege, pois está negando um dogma, contra a Bíblia e a Tradição cristã. Então, muitas divergências entre católicos e protestantes surgiram do livre exame que introduziu doutrinas novas que constituem o protestantismo, desconhecidas pelos cristãos primitivos! O dogma Sola Scriptura é inerente à tradição protestante, negar esse princípio equivale a não ser verdadeiro protestante. Então, temos de estudar a Bíblia e as tradições que se harmonizam com seus ensinamentos para nos certificarmos da verdade, sob autoridades, é claro, sejam elas católicas ou protestantes. Qual a tradição que está de acordo com a Bíblia, que foi ensinada desde o começo? Onde está a heresia? Das muitas definições do termo hairesis (heresia, em grego), a definição do apologista Dave Armstrong é bem simples e prática. Heresia, segundo o apologista, pode ser definida somente como os apóstolos e padres da Igreja a definiram, de acordo com o princípio da sucessão apostólica. Heresia é o que não foi transmitido desde o princípio, desde os apóstolos e Nosso Senhor Jesus. Uma novidade que não encontre seus antecedentes é heresia. Se por exemplo, a Salvação Somente pela Fé não for encontrada na Bíblia e tradição cristã até os dias de Lutero, então será essencialmente uma novidade doutrinal, uma heresia que deu origem ao protestantismo. De fato, o historiador Franco Hilário Júnior afirmou que o Protestantismo é uma heresia que deu certo. Conscientizemo-nos de que ambos os lados tem uma tradição que os auxilia nos entendimento da revelação bíblica. Diante de tudo isso, essa crítica é um diálogo com o pastor Joel bem como com os protestantes em geral, para melhor nos certificar qual é o correto entendimento da Palavra de Deus, a Bíblia, se é o que a tradição da Igreja Católica sempre ensinou ou se é o que a “tradição protestante” vem defendendo. Vamos à Bíblia, mas é inegável que a tradição é importante e até imprescindível para a entendermos. Isso não quer dizer que a Bíblia não seja clara, pois é possível entendê-la, em grande parte, sem recorrer a outras fontes, como a tradição, não sendo esse fato uma negação necessária de qualquer instância adicional para que temas mais complexos e debatidos sejam dirimidos pela autoridade da Igreja, à luz da tradição apostólica, ou, no caso protestante, à luz da tradição protestante. Essa crítica foi feita quase que totalmente seguindo a formatação do livro do pastor Joel, com poucas mudanças. (Certamente necessita de muitas correções gramaticais, dos erros de digitação e etc (necessita de uma revisão geral)). Portanto, repito que estamos de acordo que o fundamento último é a Bíblia, mas devemos aprender o que é que a Bíblia está realmente ensinando em muitos pontos fundamentais. A Bíblia é a Palavra de Deus, independente do reconhecimento do seu cânon pela Igreja, pois não foi esse fato que a fez ser o que ela é, mas, pelo contrário, por ser a Palavra de Deus, o Espírito Santo guiou a Igreja no reconhecimento dos livros sagrados. Que essa crítica seja o início de um amistoso diálogo.

[ARMSTRONG, Dave. Is Sola Fide (Faith Alone) a Legitimate Development of Patristic & Augustinian Soteriology? (http://socrates58.blogspot.com)]

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CAPÍTULO 1 A HISTÓRIA DO CATOLICISMO

 

1.1. Como e quando surgiu o Catolicismo

O Catolicismo, ou seja, a corporação dos que são chamados a vivenciar a fé apregoada por Jesus Cristo; começou no século l (...) (Dom Estêvão Bettencourt, teólogo). Essa é uma verdade irrefutável. Bem, falando das trevas em que se encontravam os povos na época imediatamente anterior a Cristo, o pastor Joel assim afirma: Em meio a essas trevas tão medonhas raiou a luz, a saber, Jesus. A maioria o rejeitou, mas milhares creram nEle, surgindo assim o que Ele chamou de Igreja, isto é, o conjunto dos seus discípulos. Igreja, como conjunto dos discípulos, não é somente um grupo assim denominado, mas uma instituição ou organização, ao mesmo tempo, também, um organismo. Aliás, enfaticamente, Cristo disse: construirei a minha Igreja (Mt 16,18). A respeito da organização da Igreja nos primeiros tempos, surgiram muitas teorias, embora não possamos adotar nenhuma que seja contrária aos textos da Sagrada Escritura. O pastor Joel afirma que inicialmente os discípulos de Jesus se organizaram em igrejas locais e independentes, exemplificando com os textos de Apocalipse 2 e 3. Afirmar independência é um tanto forte, por isso o pastor reconhece que esta independência era relativa, visto que confraternização e cumplicidade nunca faltaram entre os verdadeiros cristãos (grifo acrescentado). A independência das igrejas locais do primeiro século é comparável à independência das igrejas locais, cristãs católicas, ou comunidades locais de hoje, cada qual governada localmente por um Bispo. Todas, porém, em união total entre si e com a sede em Roma, existindo confraternização e cumplicidade. Como gostariam os protestantes que sua “unidade” e “independência” fossem comparáveis à unidade e independência católica. Assim, diz o pastor Joel: a união que havia ... era similar à que há hoje entre as diversas denominações evangélicas: somos independentes e divergentes, mas unidos, cúmplices e convergentes em Cristo. Contudo isso não é verdadeiro, pois é teológica e historicamente impossível e improvável que a Igreja Católica do primeiro século fosse composta de igrejas “divergentes”, equivalente à profunda desunião protestante. Não há possibilidade de unidade, cumplicidade e convergência em Cristo, se não houver uma só doutrina, uma só fé.

Embora tenha havido heresias desde os primeiros anos de crescimento eclesial, elas aumentaram com o passar do tempo. Esse aumento de falsas doutrinas já havia sido profetizado por Nosso Senhor. De igual modo, na era apostólica, após a Ascensão, os apóstolos viram insinuar estranhos ensinos opondo-se à ortodoxia cristã católica, veiculados por grupos judaizantes e gnósticos. Esses grupos apresentavam-se como “cristãos”, muitas vezes apresentado-se como pregadores autorizados pelos próprios apóstolos. Nos primeiros anos da Igreja os seguidores de Jesus Cristo eram conhecidos como discípulos, tendo os apóstolos uma referência especial, por terem sido escolhidos entre os discípulos. Algum tempo mais tarde, devido à pregação do nome de Cristo, o Messias, apóstolos e demais discípulos passaram a ser chamados de cristãos, tendo o nome surgido na cidade de Antioquia (Atos 11, 26). Esse nome tornou-se o designativo principal, usado até

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dissimuladamente pelos hereges. A Igreja fora fundada para se espalhar pelo mundo, como disse o próprio Senhor, ordenando aos apóstolos a ensinarem todas as nações, o que indica a universalidade da Igreja, batizando-as no nome da Trindade, e ensinando-as a observar o que Ele havia prescrito, sendo tudo isso acompanhado por Sua presença até o fim dos séculos (Mateus 28, 19-20). É pelo caráter universal da Igreja de Jesus que logo ela foi designada pelo nome de Católica, que em grego significa Universal. Esse nome aparece registrado com relação à Igreja pela primeira vez no início do segundo século, no ano 107, por Inácio de Antioquia, sucessor dos apóstolos. Assim, quando grupos heréticos surgiam apelando para o nome de cristãos, eram logo desmascarados por não estarem unidos à Igreja Católica. Certamente é a esse fato que o pastor Joel está se referindo quando disse: Mais tarde, visando dificultar a infiltração de heresias na Igreja, os cristãos tiveram a brilhante idéia de se organizar em forma de uma federação de igrejas, (...) à qual deram o nome de Igreja Católica, isto é, Igreja Universal. No entanto, as palavras do pastor Joel estão um tanto equivocadas, como vimos, pois não houve o surgimento de uma brilhante idéia para a organização de tal federação de igrejas. Essa idéia somente seria totalmente verdadeira se as igrejas fossem avulsas, desunidas, independentes, o que não era o caso. A Igreja em Eféso, em Antioquia, em Corinto, em Filadélfia, em Pérgamo, em Tiatira, em Sardes, e etc., eram todas comunidades ou igrejas locais unidas na mesma fé, organizadas de acordo com o modelo apostólico, submetidas à autoridade dos apóstolos, como podemos demonstrar no Concílio de Jerusalém, concílio que exerceu autoridade sobre todas as Igrejas. O fato é que cada Igreja local é católica por fazer parte da única Igreja. Assim também compreendemos o fato de que as epístolas eram enviadas a todas as comunidades da época, pois se tratava da mesma Igreja dispersa por diversas regiões. Como afirma o Catecismo, nº 752, a palavra Igreja designa a assembléia local ou toda a comunidade Universal dos crentes. No nº 835, o Catecismo previne contra distorções no entendimento desse assunto, mostrando que não é uma simples soma de Igrejas locais, mas a Igreja católica é que se estabelece nas várias localidades e culturas e sociedades humanas, expressando-se de diversas formas, sendo a única e mesma Igreja Católica: A Igreja universal não deve ser entendida como simples somatório ou, por assim dizer, federação de Igrejas particulares [...]. Mas é antes a Igreja, universal por vocação e missão, que lançando raiz numa variedade de terrenos culturais, sociais e humanos, toma em cada parte do mundo aspectos e formas de expressão diversos» (324). A rica variedade de normas disciplinares, ritos litúrgicos, patrimónios teológicos e espirituais, próprios das Igrejas locais, «mostra da forma mais evidente, pela sua convergência na unidade, a catolicidade da Igreja indivisa». Essas palavras não são somente bonitas ou eloquentes, mas retrata a realidade católica incomparável com qualquer outra instituição religiosa. Então, é, no mínimo, defeituosa a comparação que o pastor fez com as convenções CBB, CBN, CGADB, etc. É uma tese pouco feliz. A forma organizacional [comparável a uma federação ou corporação unida] não foi resultado de uma idéia posterior, mas um desenvolvimento de sua organização apostólica original.

A associação de igrejas locais, formando a única Igreja Católica, desenvolveu-se e passou a ser governada pelos bispados de Roma, o de Jerusalém, o de Antioquia, o de Constantinopla e o de Alexandria, sendo que

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o Bispo da Igreja local de Roma, por ser sucessor da cátedra de Pedro, sempre teve preeminência. Quando o imperador Constantino aceitou o cristianismo, a Igreja já estava assim estabelecida, de acordo com o gérmen organizacional deixado por Cristo e pelos apóstolos. Aí houve o processo de oficialização, de Constantino, até ser de fato levado ao pleno cumprimento com o imperador Teodósio em 380. Entende-se, portanto, que (...) o que ocorreu no século IV, foi a manifestação do Catolicismo sob novas formas que a liberdade lhe proporcionou a fim de cristianizar o paganismo e não para paganizar o Cristianismo (Dom Estevão). Logo após a liberdade concedida pelo Império, surgiu outro profundo problema, diverso em quantidade e qualidade: as heresias. A Igreja, após quatro séculos de perseguição, agora gozava de liberdade, e recebeu vantagens patrimoniais, financeiras e morais, como disse o pastor Joel. A Providência Divina continuou no governo da situação. Porém, o pastor afirma que a religião “oficial” (aspeado pelo pastor Joel, pois era um tipo de oficialização fatual, não de direito, ocorrida somente com Teodósio, como afirma D. Estevão), passou a ser da moda, de status, rentável e desejável pelos que antes a rejeitavam. Até certo ponto é compreensível que cessadas as perseguições, muitos conversos não possuíam o fervor semelhante àquele dos tempos das tribulações, mas seria uma generalização imprópria afirmar que esse era o caso de todos ou que de forma essencial a Igreja tenha se “descaracterizado”. Os tempos mudaram, os problemas continuaram sob novas formas, e a Igreja seguiu-se em sua expansão dentro dos moldes deixados pelo Senhor Jesus Cristo. A introdução de cristãos nominais ou de fachada na Igreja foi um problema grave, contudo, não pôde levar a obra de cristo à derrota, como historiadores protestantes costumam retratar, onde um paganismo teria “se mesclado” com o cristianismo, tornando-se “vencedor”. Teologicamente isso é inaceitável e historicamente improvável. Embora tenha havido grandes ataques perigosos contra a fé, a Igreja sempre saía vencedora, como atesta a história. O mundanismo sempre tentou dominar a vida cristã, e, de fatos como esses, a história está repleta, sendo muitas vezes usados para “provar” a corrupção da Igreja. Uma análise mais detida e imparcial é necessária para melhor compreensão de tais acontecimentos.

Os protestantes tentam provar que:

1) Os erros que surgiram nos dias de Constantino são perpetuados pela Igreja Católica até os nossos dias;  2) Tais erros se avolumam cada vez mais;  3) A “Igreja” que emergiu de tal barafunda não se caracteriza como Igreja de Cristo. 

Para provar o item 1, o pastor não poderia mostrar um só erro “introduzido” por Constantino, e nem que a Igreja o tivesse “perpetuado”. O item 2 alude a um “aumento” de erros, o que é impossível na Igreja Católica, fiel à Bíblia e à Tradição. O item 3 revela uma tese de que a Igreja teria “emergido” de uma “barafunda”, se “descaracterizando” cristãmente. Responde-se a isso que o Espírito Santo nunca permitiu que a Igreja de Cristo se transformasse em tal barafunda, portanto, nunca chegou a ser isso. Deus não é de confusão, e mesmo entre heresias, que causam mal ao corpo de Cristo, a

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Igreja sempre sai vencedora. O pastor afirma: Do que vimos até aqui, certamente está claro que podemos responder à pergunta “Como e Quando Surgiu o Catolicismo?”, mas, como exposto em seu livro, o autor tentou “provar” a suposta união, ou o imaginário “casamento” entre a Igreja de Cristo com o paganismo. É possível “ouvir” [imaginar] as palavras do pastor Joel protestando que não foi isso que ele disse, pois não se referiu à Igreja de Cristo fazendo união com os pagãos, mas “àquela federação que deixou de ser Igreja de Cristo”, “emergindo da tal barafunda”. Bem, isso só provaria que na opinião ou parecer do pastor Joel, bem como dos protestantes, de maneira geral, no seu ponto de vista, a Igreja teria “perdido” sua verdade. Contudo, como foi possível provar anteriormente, essa tese da federação não se mostrou correta, e podemos felizmente dizer que a Igreja Católica fundada pelo Divino Filho de Deus, foi, continua sendo e sempre será a Igreja de Cristo. Diante disso, a afirmação de que o Catolicismo é o resultado de uma fusão do Cristianismo com o paganismo carece de verdade, ficando apenas na opinião do autor e dos que pensam como ele. Ademais, é importante lançar o olhar para o período enorme da tal “fusão”, visto que teria iniciado no 2º século e se daria finalmente no 4º, embora nem mesmo o pastor possa afirmar quando, de fato, teria acontecido: Não é possível sabermos o exato momento em que a a sobredita associação de igrejas se descaracterizou... Para isso o autor recorre à explicação de que o Diabo entra devagar e progressivamente. Realmente essa estratégia diabólica é verdadeira, mas se considerarmos a origem divina da Igreja Católica, seria uma contradição crermos que o Diabo a tenha “vencido”. Segundo o pastor, hoje, de qualquer forma, é possível afirmar que a Igreja “não” é mais cristã, na verdadeira concepção do termo. Chega a chamá-la de paganismo gospel, paganismo cristianizado, inovação. Obviamente o pastor Joel não está sozinho nessa opinião, e diz estar ladeado por peritos de grande envergadura, evangélicos, quanto não-evangélicos, até mesmo é ombreado por Rui Barbosa, e termina citando N. Lawrence Olson, que afirma ser a Igreja uma falsa religião, cheia de invencionices. (N. Lawrence Olson. O plano divino através dos séculos. Rio de Janeiro: CPAD. 8 ed. 1986, p. 15). Que o pastor não esteja sozinho nessas idéias descabidas, do ponto de vista objetivo, é lógico, assim como o autor dessa crítica é ombreado por grandes e competentes eruditos.

As palavras do Dr. Rui Barbosa são anti-católicas. Felizmente ele se refere ao imperador não batizado, que significa não cristão ainda, segundo a doutrina católica, pois a porta de entrada na Igreja é o batismo. A real conversão de Constantino foi demorada, pois somente no leito de morte é que ele recebe o batismo. A História Universal ensina que o imperador, o Pontifex Maximus, tinha um poder ilimitado, e isso explica as tentativas de intromissão de Constantino na Igreja. Que ele tenha resolvido sobre dogmas, parece não ser uma avaliação correta, pois um pagão não poderia resolver assuntos cristãos, que nem mesmo conhecia bem. Já foi tratado sobre a crise enfrentada pela Igreja no século IV, não é necessário repetir. A Igreja é sempre reformanda, como ficou patente no Concílio de Trento. (LOPES, Hernandes Dias. O Papado e o Dogma de Maria. São Paulo: Hagnos. 1 ed. 2005, p. 63, citando Janus. O Papa e o Concílio. Rio de Janeiro: Elos. 3 ed. p. 24. Grifo nosso [citado pelo pastor Joel]). As declarações de Rui Barbosa são excessivas, pois certamente generalizam o problema, como se fosse a “regra” no catolicismo. (JANUS. O Papa e o Concílio. São Paulo: Livraria Acadêmica Saraiva & Cia. – Editores. 2 ed. 1930, p. 14. Traduzido em português e prefaciado por Rui Barbosa de Oliveira [citado pelo pastor Joel]).

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A respeito de Santo Agostinho, respeitado por muitos protestantes, a maioria das doutrinas que ensinou não são erros, mas a pura doutrina cristã. Foram citadas: sucessão apostólica, salvação através da referida associação intitulada Igreja Católica, mariolatria, oração pelas almas dos mortos, sincretismo entre Cristianismo e paganismo, etc. A sucessão apostólica é bíblica, a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira, que é a Católica, é bíblica, a “mariolatria” não é bíblica, pois o correto é a veneração, não a adoração aos santos, a oração pelas almas é bíblica, o sincretismo cristianismo-paganismo, não é bíblico, talvez o que se chama “sincretismo” aqui é a estratégia de conservar elementos da cultura pagã, que nada afetam essencialmente o culto cristão. Quanto às atitudes dos imperadores, é lícito dizer que nem sempre agiam corretamente, como é dito de Teodósio I, mas a voz de santos cristãos católicos não silenciavam contra os excessos. O professor Orlando Fedeli nos conta que certa vez o imperador Teodósio foi proibido de entrar na Igreja no domingo, por uma de suas injustas ações bélicas: Foi Teodósio, no final do século IV, que fez o Cristianismo religião oficial do Império Romano. E isso não significou que se poderia entrar na Igreja de qualquer jeito "trazendo para dentro da Igreja multidões de pessoas não convertidas, que para se tornarem "agradáveis" ao ESTADO [ao Governo do Imperador] faziam-se cristãos nominais, agindo como atores, sem experimentarem a genuína conversão por CRISTO". Prova de que isso é completamente falso, é o fato de que Santo Ambrósio, Bispo de Milão, proibiu que o próprio Imperador Teodósio entrasse na Igreja para assistir a Missa num domingo, porque o Imperador havia massacrado, sem misericórdia, os habitantes de uma cidade rebelada. Se nem o Imperador podia entrar na Igreja sem arrependimento, imagine-se as multidões!. [FEDELI, Orlando. Mentiras contra o papado. 2006_seção cartas] (algumas palavras foram corrigidas nessa citação: Mllão, domigo, Igerja, arrependiemnto). Se os imperadores eram tratados assim, pode-se imaginar qual era a exigência da Igreja quanto à obediência à Lei de Deus naqueles tempos. E essa citação é prova histórica que permite concluirmos isso de forma imparcial. Veja que não se nega que os imperadores tenham agido mal, que tenham ocorrido vários desvios de muitos naqueles tempos. O que não se pode dizer que a Igreja tenha sido vencida, pois estão sobre ela as promessas de Cristo. Muitas vezes, o próprio imperador contribuía para as heresias, como fez o próprio Constantino com relação ao arianismo. A tese de que as ditas regalias que a Igreja possuía no império, a partir de Constantino, e a imposição através da força do imperial teriam feito do cristianismo a religião da maioria (o autor coloca entre aspas “cristianismo”), um cristianismo nominal, de pagãos revestidos de cristãos, não pode ser sustentada. Esse quadro conclusivo, como já exposto, é contrário aos fatos. De fato, diversas coisas erradas aconteceram, mas não suprimiram a Igreja, não a desvirtuaram, não a venceram, pois a mesma Igreja Católica, não outra “igreja” escondida nas “montanhas”, mas a mesmíssima Igreja continuou vencedora e mantendo inalterada a doutrina cristã. A veneração de Maria e do santos é um patrimônio cristão, não uma prevalência de costumes pagãos na Igreja de Jesus Cristo. Quando se diz que aquele momento foi o “inicio” da Igreja, como citado pelo Pastor J. Cabral, se considera a grande clareza de que as doutrinas de hoje já eram cridas e ensinadas naquela época, de forma explícita. Portanto é errada a referência a uma suposta “metamorfose” eclesiástica. Dessa forma, torna-se claro, também, que o protestantismo diverge muito daqueles tempos. Não há como comprovar a existência de algum ensinamento característico do protestantismo naquela época, de

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forma secundária, é claro, pois a praxe protestante é usar somente a Escritura Sagrada, sem alusão aos santos padres que, na maioria das vezes, contradizem as doutrinas protestantes, e o texto bíblico, assim tirado de seu ambiente co-natural, como diz D. Estêvão, fica “livre” para as interpretações heterodoxas, que surgem naturalmente das imaginações dos homens. Essa é uma realidade inegável. Basta estudar as heresias que surgiram durante a história. Não se pode dizer que montanistas, donatistas, etc, são os “verdadeiros cristãos”, pois, eram hereges como os arianos, os nestorianos etc., etc., etc.) Por outro lado, as mesmas doutrinas cristãs católicas podem ser encontradas nos séculos anteriores, comprovando as suas origens bíblicas, bastando para isso estudar cuidadosamente o assunto. Os atos do imperador Teodósio foram muito criticados. É certo que houve erro. É lícito também, ao que parece, uma certa relativização no entendimento dos fatos devido às circunstâncias. Sem justificar, portanto, os erros que havia. As atitudes dos cristãos após Teodósio devem ser entendidas segundo as circunstâncias da época. Certa vez li uma explicação muito interessante da qual se pode concluir que houve uma espécie de trato, que garantia que o grupo vencedor, pagão ou cristão, dominaria o império, destituindo a parte vencida. Como foi o cristianismo o vencedor, o poder imperial cumpriu o “trato” proibindo o paganismo por toda a parte. Se o paganismo tivesse vencido, teria feito o mesmo com os cristãos intrépidos e insubmissos. Deus não o permitiu. Também não foi glorificado com tantas e tantas ações excessivas de maus cristãos. Mas tudo faz parte da liberdade e imperfeições humanas, e todo pecador não arrependido foi, é e será punido. E é certo que a Divina Providência nunca deixa a Igreja sem a necessária proteção.

Agora, o pastor Joel tenta provar que os chefões, como ele chama as autoridades da Igreja Católica, que essas autoridades sabem do que ele afirmou, ou seja, dão fé. O autor cita a primeira prova, com uma citação da Enciclopédia Católica feita por Ralph Woodrow, a respeito da suplantação do culto dos deuses pagãos pelo culto dos santos cristãos. Vejamos as provas do pastor Joel:

Primeira prova) “Tornou-se fácil transferir para os mártires cristãos as concepções que os antigos conservaram concernente aos seus heróis. Esta transferência foi promovida pelos numerosos casos nos quais os santos cristãos tornaram-se os sucessores das divindades locais, e o culto cristão suplantou o antigo culto local. Isto explica o grande número de semelhanças entre deuses e santos” (Enciclopédia Católica [Em inglês],Volume 9, páginas 130 e 131, art. “Legends”. Citado em Babilônia: a Religião dos Mistérios, de Ralph Woodrow, Associação Evangelística, página 35). No entanto, nessa obra, Woodrow parece não ter citado todo o trecho da Enciclopédia, como está no site www.newadvent.org, nem esclareceu, ao que parece, seu significado pelo contexto em que o mesmo aparece. Nesse texto, a Enciclopédia segue explicando que não há provas de uma metamorfose de deuses em santos, ou seja, os cristãos não fizeram daquelas divindades locais os seus santos de devoção, mas que, na suplantação da idolatria pagã em determinadas localidades, os santos cristãos sofriam a influência das antigas concepções lendárias aplicadas aos falsos deuses. A Enciclopédia trata, nessa ocasião, das lendas que eram inspiradas nas narrativas religiosas pré-cristãs. Esses conceitos são bem próximos e podem ser confundidos facilmente, e a prática também pode ser obscurecida. Então, pode-se dizer que o paganismo era destruído, mas as figuras dos

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santos cristãos nem sempre eram entendidas na sua pureza original, mas sofriam influência da mentalidade pagã ainda arraigada nas culturas.

A Segunda prova é uma citação do Padre Luiz Cechinato que diz assim: ...Os Batismos eram dados em massa. Ser cristão tinha virado moda. A igreja ganhava na quantidade e perdia na qualidade. De pequenas comunidades, a Igreja passou a ser multidão” (Os Vinte Séculos de Caminhada da Igreja, página 77, 4ª edição, Editora Vozes, 2001). A citação do padre Cechinato deve ser entendida no contexto do que foi exposto anteriormente, em que os cristãos livres das perseguições físicas, no século IV, passaram a ser “perseguidos” mais fortemente pelas falsas doutrinas e pela companhia de tantas almas não-convertidas que se “convertiam” ao cristianismo. Porém, mesmo nessa época eram muitos os santos cristãos e a doutrina permanecia pura.

A terceira prova seria uma apostila da Escola Pastoral Catequética [mas, segundo D. Estêvão, não existe essa escola. Deve se tratar de outra instituição.] que afirma que após o fim das perseguições, a Igreja, nesse tempo, mais ligada ao poder temporal, muita coisa surgiu de errado com a intromissão do poder temporal em certos setores eclesiásticos ou quando autoridades se uniam a tal poder [tais poderes]. Os erros, certamente morais, que se avolumaram naquela época, perpassam toda a história da Igreja até os dias de hoje, mas não podem corromper a perene doutrina cristã católica.

                                                            ***

O costume dos cristãos de terem santos padroeiros deve ser entendido segundo a sã doutrina, da verdadeira veneração.

O fato de a Igreja permitir que santos sejam lembrados como padroeiros é herança da estratégia para destruição do paganismo. Obviamente a essência mudou, pois os “deuses” deixaram de existir nas mentes dos verdadeiros cristãos. Que exista o dever de cessar a intercessão após a morte, ou seja, que quando um cristão parte deste mundo ele deixe de interceder ou receber pedidos de intercessão, é um princípio extra-bíblico, pois a Bíblia, em última instância, silencia-se sobre o assunto, deixando princípios que permitem que uma conclusão contrária à do pastor Joel. Não há registro de mandamento ou proibição quanto à prática de pedido de intercessão aos santos do céu, e é fato que os cristãos sempre oraram aos santos, mas apenas para pedirem intercessão. A veneração dos santos de da mãe de Cristo é patrimônio cristão, e os apóstolos foram iniciadores dessa prática. A forma da veneração foi desenvolvida, o princípio continua o mesmo. Afirmar que os primeiros cristãos não veneravam a mãe de Deus é falso. O mesmo é afirmar que suas expressões de veneração continuaram idênticas em todos os séculos, pois se negaria assim o desenvolvimento legítimo das práticas cristãs. Todas as doutrinas são desenvolvidas, melhor entendidas, definidas contra os erros dos hereges durante a história. Por exemplo, os apóstolos criam na divindade de Jesus e do Espírito Santo juntamente com o Pai. Mas não se pode dizer que os cristãos tinham o mesmo entendimento que temos hoje. Eles criam na doutrina da trindade, mas não conheciam esse termo e nem tinham um entendimento tão claro como temos hoje, pois a definição desse mistério é datado do século IV. Quando havia conversões ao cristianismo era necessária uma catequese

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sobre essas revelações cristãs. Um exemplo é o narrado em Atos 19, onde havia cristãos que nem sabiam que existia o Espírito Santo. O termo trindade surgiu no II século, porém, a verdade da trindade foi revelada por Jesus Cristo, no século I e pode ser encontrada implicitamente já no Antigo Testamento. Portanto, da mesma forma, o culto mariano sempre existiu na Igreja como afirmou o Concílio Vaticano II, suas expressões foram sendo enriquecidas, permanecendo sua essência, que é a veneração à Mãe do nosso Salvador Jesus Cristo. As “provas” de como surgiu o Catolicismo não provaram nada.

1.2. Desfazendo sofismas

        Neste tópico o pastor tenta desfazer os argumentos católicos que, segundo ele, são aparentemente corretos, mas, que camuflam veladamente heresias de perdição.

1.2.1. “Não adoramos aos santos”

      Sabendo que os cristãos católicos afirmam que não adoram aos santos, mas apenas os veneram, e que esses não são deuses, o pastor chama isso de sincretismo; de idolatria disfarçada. Isso seria uma influência pagã, ao contrário do que seria correto, ou seja, de uma influência cristã no paganismo. Vejamos as palavras do pastor Joel: O povo de Deus não tem um santo para cada coisa, e sim, um Santo para todas as coisas, a saber, São Jesus (Sl 121.1-2). Qualquer igreja que imita o paganismo é pagã-gospel. Isso seria verdadeiro se fosse como o pastor Joel imaginou, no caso de um sincretismo do cristianismo com a macumba, onde os “cristãos” fariam algo similar como oferecer galinha branca a Jesus, no lugar de galinha preta aos orixás, e teria razão questionar: Não seria isso uma macumba-gospel? Isso tudo não agradaria ao Senhor. Para o pastor, a Igreja Católica está no mesmo caminho. Mas o fato é essencialmente outro. Para haver idolatria é necessário haver adoração a um ídolo. Se o culto cristão não oferece adoração aos santos, e esses não são deuses ou ídolos, não há idolatria. Se pelo menos se houvesse adoração a uma criatura, a um santo qualquer, essa o transformaria em um ídolo e, portanto, o culto consistiria em idolatria. Assim, é necessário compreender o que é adoração. Todos os atos cristãos de culto dos santos não são indicativos de adoração, mas apenas de veneração.

 1.2.2 “Deus mandou fazer imagens”

   A doutrina católica concorda com o parêntese aberto pelo pastor, reconhecendo na serpente de bronze uma figura de Cristo crucificado, e a cura tipificando a salvação. O fato, porém, de que Deus utilizou imagens de escultura para ensinar o seu povo, prova que o uso religioso das imagens é lícito em si. A proibição se deu por causa da idolatria que os judeus tão facilmente adotavam. Os cristãos já estão aptos a diferenciarem entre o culto de veneração e o de adoração.

 A segunda “razão” que os protestantes encontram para acusar os católicos como sendo idólatras seria o fato de que: católicos se ajoelharem diante dos seus “santos” (sic) e o fato de rezarem a esses “santos ” (sic). Então, não é somente o uso de imagens, mas o fato principal é que os cristãos católicos pedem intercessão aos santos, mesmo não se utilizando imagens. Somente

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rezando diretamente a Deus é que os católicos deixariam de ser idólatras. Mas isso torna a oração em adoração, o que não é verdadeiro. Orar não é o mesmo que adorar, podendo até estar em íntima ligação, porém não se identificam os dois exercícios. Na oração aos santos se faz uma petição de intercessão. Se um cristão pedir a outro que reze por ele, essa petição não se torna uma adoração. A intercessão é exatamente isso: pedido aos santos que roguem por nós. Os protestantes deveriam, em primeiro lugar, provar biblicamente que o pedido de intercessão é o mesmo que adoração. Desse modo conclui-se que o culto aos santos é constituído basicamente de duas coisas: imitação de virtudes e pedidos de intercessão. A imitação dos santos é totalmente bíblica: 1 Cor 4:16; Phil 3:17; 2 Thess 3:7-9. O autor de Hebreus 13 exorta os cristãos a lembrarem-se dos que os precederam na fé. Uma forma de lembrar-lhes é sempre tê-los presente na memória cristã, o que é feito na prática, na liturgia cristã. Temos então a lembrança, a exposição de suas virtudes para serem imitadas e os pedidos para que intercedam a Nosso Senhor por todos. Podemos, repetindo, concluir que o culto dos santos é essencialmente a lembranças dos santos, a exposição de suas virtudes a serem imitadas pelos cristãos e os pedidos de intercessão. Lembrar os santos é bíblico e não constitui idolatria; imitar as suas virtudes é claramente bíblico também, portanto, não há idolatria nisso; por fim, e o mais importante nessa questão, o caso da oração que se pede aos santos. A veneração dos santos é característica do povo de Deus, algo natural ao ser humano, por isso, mesmo os pagãos possuem práticas semelhantes, contudo desvirtuadas. E esse desvirtuamento não é o que acontece com o verdadeiro culto cristão católico. Portanto, é falso que orar signifique adorar como supõem as acusações, e por isso não existe a tal “idolatria” nesse culto. O ato de ajoelhar pode significar adoração, mas não exclusivamente, pois se refere também a um profundo respeito, reverência, veneração. O ato de ajoelhar-se e a prática de oração de intercessão não constitui idolatria. E como é natural que peçamos aos irmãos que orem por nós, acrescido do fato de que a morte não desfaz a comunhão dos santos e que esses podem conhecer nossas intenções em Deus, é lícito que peçamos a intercessão deles, visto que isso não contraria os mandamentos de Deus. Isso explica o fato de não ter sido exarado explicitamente um mandamento dizendo que devemos pedir aos santos do céu para que orem por nós, visto que já conhecemos o princípio dessa prática. A falta de um mandamento ou recomendação explícita no texto bíblico para o recurso à intercessão dos santos do céu pode ser suprida pelo estabelecimento dos princípios legítimos que tornam essa prática útil e boa e, portanto, lícita, pois a identifica com a intercessão feita por qualquer fiel que ainda vive nesse mundo. Dessa forma, não existe fundamento bíblico para sua proibição. Desses princípios infere-se uma aceitação implícita por parte de Deus, por serem princípios racionais, e nunca o contrário, ou seja, uma condenação. A Sagrada Escritura ensina que a oração do justo é agradável a Deus e tem grande eficácia (Tiago 5,16). Aconselha sempre que peçamos a intercessão dos irmãos cristãos; que rezemos uns pelos outros. Sabemos ainda que os anjos e santos do céu podem rezar intercedendo por nós, e essa certeza está exarada já no livro deutero-canônico de 2 Macabeus 15,14-15, portanto no Antigo Testamento, onde está dito que o Sumo sacerdote Onias e o profeta Jeremias, já falecidos, intercediam pelo povo de Deus. Além do que, estamos unidos numa comunhão, formando um único corpo, o que é chamado desde os tempos apostólicos de Comunhão dos Santos. Se não há exemplos de pedidos de intercessão dos santos no Antigo Testamento, isso se deve ao fato de que o conhecimento era ainda imperfeito a respeito do

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estado dos mortos, e certamente também não era possível que os mortos ouvissem as orações que lhe eram dirigidas, visto que não participavam em mais nada sob o sol (Ecl 9,5.10). Já no Novo Testamento vemos que os anjos e os anciãos oferecem, no céu, diante de Deus, incenso juntamente com as orações dos santos da terra, o que indica, de alguma forma, uma participação nas nossas orações até que as mesmas cheguem a Deus por Cristo (Apocalipse 8,3). Esses motivos levam à conclusão lógica que é compatível com o ensino bíblico a prática de pedir intercessão dos santos no céu, ao mesmo tempo em que torna ilegítima, estranha e extra-escriturística qualquer proibição da mesma. Não é necessário provar que a intercessão entre os cristãos na terra é aconselhada, mas vejamos mais sobre isso. O autor do livro de Hebreus pede que os cristãos hebreus orem por ele e os outros pregadores do Evangelho: Orai por nós. Estamos persuadidos de ter a consciência em paz, pois estamos decididos a procurar o bem em tudo. Com o maior encarecimento, porém, vos rogo que oreis, para que mais depressa eu vos seja restituído. (Hebreus 13,18-19). São Paulo recorre à intercessão dos cristãos de Roma: Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e em nome da caridade que é dada pelo Espírito, combatei comigo, dirigindo vossas orações a Deus por mim (Rm 15,30). Deus sabe de todas as coisas e, assim, conhece nossas necessidades. Mas, por nossa causa, quer que tenhamos o costume de pedir a Ele por nós e por outros, mesmo que nós mesmos possamos ir diretamente a Ele, e que os outros também podem fazê-lo, mas, como está no texto citado. De fato, mesmo que o autor podia rezar diretamente a Deus, e com certeza o fazia, isso não o dispensava a que recorresse também às orações dos irmãos na fé (orai por nós) que rezariam a Deus intercedendo em favor deles. Esse pedido é o mesmo que endereçamos aos santos do céu dizendo: rogai (ou roguem) por nós. Sabe-se que os santos não nos podem oferecer nada, a não ser sua boa vontade de rezar por nós a Deus, em nome de Jesus Cristo, da mesma forma como fazemos uns pelos outros aqui neste mundo. A diferença é que eles estão mais próximos de Deus, pois o pecado não mais faz parte de suas vidas, são santos e justos, sendo suas orações muitíssimo agradáveis a Deus, pois somente podem pedir de acordo com a santa vontade divina, sendo inspiradas pelo próprio Espírito Santo (Hebreus 8,26). Contrariamente a isso, nem sempre as intenções dos fiéis neste mundo estão de acordo com o Espírito Santo, ou suas vidas estão de acordo com o santo Evangelho, o que faz necessário aprendermos sempre mais sobre a oração e deixar que o Espírito de Deus ore em nós e por nós até quando intercedemos por todos, que é uma regra para nós (Hb 8,26). Desse modo está provado que a oração que os cristãos fazem aos santos tem o sentido de pedir que intercedam a Deus por nós, juntando suas orações às nossas, e não uma forma que dispensa de ir a Cristo, como se isso fosse uma tarefa para outros. Vamos a Deus em nome de Jesus Cristo e pedimos pelos outros, os outros fazem o mesmo solicitando os favores divinos para nós, e é isso que fazem os santos que habitam o céu. A Igreja tem o cuidado de dizer rogai por nós, nas orações aos santos, e tende piedade de nós nas orações a Deus, pois somente Ele pode ter tal atitude para conosco. Porém, se se encontram orações que, às vezes, expressam um pedido de misericórdia a um santo, deve-se entendê-lo como sendo o pedido de que tal santo suplique misericórdia a Deus pelo fiel que ora, sendo esse sentido da oração mais importante que o expresso nas palavras, como afirma o teólogo Bellarmino. Embora salte aos olhos que tais palavras dirigidas a uma criatura causam confusão enorme na nossa mente, e parece mais prudente limitá-las ao essencial expresso pela petição

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rogai por nós usada oficialmente pela Igreja. Quando o art. 21 da Confissão de Augsburgo fala sobre a falta de prova de que se deve invocar os santos ou procurar o seu auxílio, e apresenta 1 Tm 2,4, logo se nota qual foi o equívoco dos protestantes. A prova que podemos apresentar é que a intercessão é recomendada entre os cristãos junto com os demais pontos tratados anteriormente. O fato de que Cristo é o único Mediador não tornou impossível ou desnecessária a intercessão que fazemos uns pelos outros neste mundo, portanto, se trata de questões inteiramente diversas a Mediação única de Cristo com as intercessões que fazemos e que nos são recomendadas por Deus. Se o texto de 1 Tm 2,4 proibisse a intercessão dos santos do céu, proibiria a nossa intercessão da mesma forma, constituindo uma negação desse próprio princípio, o que entraria em contradição com outras passagens bíblicas. A Confissão de Augsburgo afirma que somente ele (Jesus) prometeu que quer atender a nossa prece, mas isso é outro indício do pouco entendimento da intercessão. Quando pedimos por alguém estamos nos dirigindo a Cristo por essa pessoa, e o mesmo faz um santo do céu. Quando nos dirigimos aos santos e pedimos que orem por nós, estamos apenas solicitando que juntem-se a nós e orem nas nossas intenções a Cristo, o qual irá nos atender, somente Ele, que é Deus é fonte de todo a graça. A Confissão, porém, é clara em afirmar que o seu objetivo e intenção é evitar algumas tradições e abusos, crendo estar essencialmente de acordo com a Bíblia e a Igreja Católica. É fato que a Igreja afirma que a intercessão dos santos não é necessária para a salvação, os santos não são fontes de graça, mas que esse recurso é bom e útil, e não é diferente da intercessão que é praticada entre os fiéis neste mundo. Se sabemos que está em harmonia com a sã doutrina, que é possível que os santos do céu orem pela Igreja na terra, não é razoável que se negligencie essa prática cristã alegando falta de prova explícita de alguém pedindo a um santo falecido ou de um mandamento para que façamos isso. O que falta, portanto, é um princípio razoável que torne essa prática cristã proibida e condenável. A condenação da mesma é tradição protestante, como a que está no Art. 21 da Confissão de Augsburgo. A Enciclopédia Católica nos informa que na Apologia da Confissão de Augsburgo (Apology of the Augsburg Confession" (ad art. xxi, sects. 3, 4) citado na Enciclopédia Católica – em inglês) é admitida que os santos e anjos possam orar por nós, mas nega que isso prove que podemos recorrer a eles. Os calvinistas, por sua vez, negam tanto a intercessão quanto a invocação dos santos. Dessa forma, como um bom protestante, um livre intérprete, mas, como é natural, fiel à essência da doutrina protestante, o pastor Joel se nega a aceitar a verdade de que podemos recorrer à intercessão dos santos do céu, ficando com uma posição que poderíamos resumir do seguinte modo: se os santos podem orar por nós, isso não implica que devemos pedir isso a eles, que eles resolvam isso com Deus. Contudo, isso é algo sem sentido, como foi analisado acima. Se Deus não mandou isso explicitamente, não significa que seja proibido, visto que nenhuma implicação negativa afeta a sã doutrina, mas, pelo contrário, se harmoniza com a mesma. A tudo isso se soma, como comprovação da legitimidade da intercessão dos santos, a compreensão que os primeiros cristãos tinham da doutrina sobre esse ponto, que os levaram a recorrer à intercessão dos mártires, como é atestada pela arqueologia. Os escritos dos Padres da Igreja são outras fontes de comprovação dessa prática cristã. Como afirma a Enciclopédia Católica (em inglês), essa prática está aberta a abusos. Realmente a má compreensão é que tem levado a milhares de

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pessoas a abusar dessa prática legítima, como conseqüência de falta de instrução cristã.

O pastor reconhece que não se pode negar que Deus mandou confeccionar imagens de escultura e que é igualmente inegável que essa prática foi proibida em Ex 20, 4. Para explicar o paradoxo aparente, o pastor usa a mesma explicação católica: o aparente paradoxo se explica informando que Deus não se opõe ao uso de imagens, contanto que tais estátuas não sejam imagens dos deuses e usadas no culto às divindades pagãs. É meio caminho andado o reconhecimento de que Deus proíbe imagens de deuses e não simplesmente imagens. A proibição não se dirige à confecção de imagens em si, mas de deuses, ou seja, de ídolos. Contudo, o erro continua em se considerar as imagens dos santos como sendo adaptações das imagens dos ídolos. Quando o protestante conseguir desfazer essa confusão estará mais perto da doutrina cristã original sobre esse assunto. Suplicar bênçãos aos santos seria um ajuste dessa prática no cristianismo. No entanto, o que se pede aos santos é essencialmente a intercessão.

 1.2. 3. “Os santos fazem milagres” 

      O parecer do pastor Joel de que não é bom negócio nos conduzirmos por milagres, está correto. Devemos crer na palavra de Deus, isso é essencial. Muitas vezes os “milagres” são enganosos, são falsos.

 1.3. Está na Bíblia e na História Universal

 1.3.1. À luz da Bíblia e da História

       A Bíblia e a História não fornecem suporte para “provar” que a Igreja tenha, sincreticamente, perpetuado o paganismo através do culto aos santos e do uso das imagens sagradas, nem que a Igreja seja um tipo de mistura cristianismo-paganismo. Dizer que o clero católico não ignora essa paganização é um tanto impreciso. O que o clero conhece (pelo menos é o que nos ensina) é aquilo que os protestantes chamam de “paganização”, o que não o é de fato. Então, não há nada provado sobre esse aspecto. Antes de tudo, deveria ser provado que o culto dos santos seja idêntico ao “culto pagão” e que as imagens cristãs sejam de “deuses”, e que são utilizadas com a mesma intenção. Isso não pode ser provado nem historicamente, muito menos teologicamente. Podemos afirmar, com certeza, que tudo o que Deus criou é bom. Atribuir, de alguma forma, “maldade” às coisas criadas é um pensamento gnóstico. E certamente o pastor Joel não é adepto de doutrinas influenciadas pelo gnosticismo. Portanto, nem todas as práticas que os outros povos realizam são intrinsecamente más. Se os pagãos acendiam velas, nada há de mau nesses objetos e nem nesse gesto em si. As intenções contrárias ao cristianismo, seu uso religioso (interior), é que não podem ser sincretizados com a fé cristã. Por outro lado, existem costumes essencialmente maus e que não podem ser adotados em quaisquer circunstâncias como, por exemplo, o canibalismo. Esse ato é pecaminoso em qualquer tempo, lugar e/ou circunstância; é moralmente mau. Portanto, os cristãos venceram o paganismo por cristianizar ou batizar muitos de seus objetos, costumes e etc., dando-lhes, inteiramente, novo significado. Tudo isso faz parte da sabedoria cristã católica, inspirada por Deus. O primeiro grande teólogo cristão católico, São Paulo, realizou essa espécie de cristianização de idéias pagãs. Em Atenas ele pôde observar e

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ficou impressionado com a religiosidade daqueles gregos. Vendo um altar pagão onde havia uma inscrição ao Deus desconhecido (At 17,23), São Paulo se serviu daquela idéia que os pagãos tinham desse deus, e afirmou que se tratava do Deus Javé, o Deus dos judeus [e naturalmente, dos cristãos]. Nessa ocasião, o Apóstolo citou filósofos pagãos e, a partir do pensamento desses, desenvolve uma forma de pensamento cristão. (At 17, 24-29). Essa é, basicamente, a mesma atitude que a Igreja teve e tem para com os costumes pagãos: adota qualquer coisa que não seja pecaminoso e o cristianiza. Como afirmou o apologista Dave Armstrong, isso é uma ótima sabedoria prática e um profundo entendimento da natureza humana. São Paulo certamente também foi alvo de incompreensões, e, claramente, foi culpado de estar “misturando” cristianismo com paganismo. É óbvio que isso estava longe de qualquer veracidade. Podemos concluir que as críticas e acusações à Igreja quanto ao suposto casamento “pagão-cristão” são infundadas, muito menos provadas. A atitude cristã é essencialmente diferente de uma “adoção” de costumes pagãos. Isso reflete a parcialidade dos acusadores. Da mesma forma que esses protestantes acusam a Igreja de paganismo, por causa do uso de velas, imagens, etc, de igual modo os ateus, os não-cristãos ou mesmo muitos grupos cristãos protestantes, usam a mesma estratégia para negar doutrinas que outra ala do protestantismo defende, como a Trindade de Deus, a Ressurreição de Cristo, afirmando que essas doutrinas tiveram “origem” na Babilônia e no Mitraísmo pagão, respectivamente. E, nisso tudo, apresentam “provas” como o pastor Joel apresentou em sua análise. Esses protestantes não são considerados pelo maioria do protestantismo, sendo considerados membros de seitas.

[ARMSTRONG, Dave. Is Catholicism Half-Pagan? Disponível em: http://socrates58.blogspot.com/2006/02/is-catholicism-half-pagan.html. Acessos em: abril 2009]

Um fato, por assim dizer, neutro, é o costume de que os povos tinham de indicar um “deus” ou “deusa” para cada coisa. Como citou o pastor Joel, a Bíblia fornece o nome de muitos desses deuses, como Dagom, Moloque, Diana, Rainha do Céu etc. O pastor também nega que os santos possam ouvir nossas orações, por não terem o atributo da onipresença ou onisciência. Os santos não poderiam saber se o orante pede com fé ou não. Essa prática teria tido origem no “paganismo” segundo dizem. E acha curioso que a Bíblia não ensine a mediação dos santos, visto ser um livro completo, bom para toda boa obra e que nos conduz à vida eterna. [Apocalipse 22.18,19; 2Timóteo 3.14-17; Jo 20.30-31]. Por isso, afirma que a Igreja apela à Tradição, enquanto que os protestantes provam que o catolicismo não é Bíblico apenas pela Bíblia, ou, como disse, empunhando Bíblias. Para que os protestantes possam crer que a intercessão dos santos é patrimônio cristão, a Bíblia deveria conter uma afirmação exarada com respeito a isso. Os profetas deveriam ter registrado que Deus elevou os santos à categoria de medianeiros (Amós 3,7; Isaías 8, 20). Não foi lendo a Bíblia que os católicos aprenderam isso, assevera o autor. Cita Is 63, 16 que afirma que Abraão nem mesmo nos conhece, nem sabe que existimos. O pastor acusa os papas de ensinarem o que bem entendem e de que não podemos segui-los sob pena de cairmos no inferno. O que está na Bíblia é o que nos basta. Todos devemos concordar com essa última afirmação. A intercessão dos santos não é necessária à salvação, mas se trata de uma demonstração da Comunhão dos Santos, visto que a morte não quebra a ligação entre os remidos. Se há essa quebra, que o protestantismo prove

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pela Bíblia. Que apresente provas convincentes de que os cristãos santos que morrem estão desligados dos cristãos da terra e se não conseguirem provar isso, está de pé a doutrina cristã de sempre: além de ser razoável, a doutrina da intercessão dos santos é cristã de fato. Vejamos que essa doutrina cristã ensina que os santos não são oniscientes, nem onipresentes, nem onipotentes, pois são criaturas como nós. Porém, como estão no céu, podem ver em Deus [que tudo vê, tudo pode, tudo sabe, etc.] os pedidos que os santos na terra endereçam a Ele por Cristo. Tudo vem pela Graça de Cristo. Como afirma Dom Estêvão, os santos não nos dão nada, pois não são fonte de graça. [BITTENCOURT, Estevão Tavares. Católicos Perguntam.] São intercessores, como nós aqui na terra, porém, estão em melhor condição do que nós, estão no céu. Como o pastor sabe, em 2 Macabeus 15, 11-16 é narrado que o profeta Jeremias e o sacerdote Onias oravam pelo povo. Aceitando ou não a inspiração do livro de Macabeus, é certo que era crença judaica, crença de judeus verdadeiros e ortodoxos, que morreram pela fé, era crença de que os mortos podiam interceder, o que torna compreensível que os cristãos tenham facilmente assimilado essa noção, não sendo necessário que Deus tenha ordenado que peçamos a intercessão dos santos do céu, pois a intercessão na Igreja já é imensamente recomendada e somando-se ao fato de que permanecemos unidos em comunhão mesmo na morte, é lógico concluir que a oração aos santos que habitam o Paraíso é lícita. A prática de rezar pelos mortos não tem nada em comum com a necromancia, nem com a adivinhação ou outras práticas ocultas, como diz Dave Armstrong. Os judeus rezavam pelos falecidos, mas não praticavam a necromancia e outras práticas que estavam terminantemente proibidas (2 Macabeus 12, 39-45; Deuteronômio 18, 9-14). Assim também fazem os cristãos. A oração pelos mortos não contradiz as condenações daquelas outras práticas, que são essencialmente diferentes. O Novo Testamento, por sua vez, não condena a oração pelos mortos e nem os pedidos de intercessão aos santos. Essas práticas não estão em conflito com o cristocentrismo. Quanto à teoria da “associação de Igrejas” que teria se tornado Católica, é uma teoria inconsistente. O pastor reconhece a antiguidade de muitas doutrinas que ele nega: o batismo pelos mortos (século I [1Co 15.29]), e as orações à “Mãe de Deus” (século III), etc. A libertinagem, e a negação da ressurreição, essas são de fato doutrinas heréticas. Então, as “heresias” já existiam, sendo o fato que ocorreu no IV século foi o aumento do número de “hereges”, inserindo heresias do corpo doutrinal da “associação” de igrejas. Interessante que os protestantes geralmente falam do culto à Virgem Maria como datando do século V, e agora o pastor reconhece orações à Mãe de Deus no século III, ou seja, um recuo de quase dois séculos. A teoria da “degradação” do cristianismo como sendo o “início” do catolicismo é falso. Como foi visto no início deste capítulo, a Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo no século I. A esse respeito, a História Universal é uma testemunha fidedigna, e como o pastor Joel se mostra aberto a crer nos fatos historicos, e, em sua obra, costuma citar, entre outras fontes, algumas revistas, parece oportuno registrar aqui uma informação publicada na Revista das Religiões, edição 12, agosto de 2004, sobre o Cristianismo, ou Catolicismo, como preferir. Na reportagem O Universo das Religiões é dito que o Catolicismo surgiu no século I, no Oriente Médio [mais precisamente na Palestina] (p. 46). É impossível estudar a história do Cristianismo sem estudar história a Igreja Catolica, que é a mesma. Quanto às teses que tentam apontar uma “origem” tardia para a Igreja, não passam de tentativas sem respaldo histórico. E se, porventura, o ônus da prova de que a Igreja Católica é formalmente a mesma desde o

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século I, for uma atividade exclusiva dos téologos, as provas teológicas são igualmente fidedignas e abundantes. O pastor, continuando, chama os cristãos da época de endiabrados, por coagir os pagãos à conversão e matar os que discordavam deles, citando a Inquisição (que veio séculos mais tarde), e o testemunho de Marcos Bagno, que, de passagem, se expressou a respeito desse assunto em seu livro sobre o vernáculo da Língua Portuguesa. [Marcos Bagno. Preconceito Lingüístico, 23ª edição, abril de 2003, Edições Loyola: São Paulo, página 156. Ênfase no original]. O pastor Joel afirma que a Igreja, que possui um pequeno e muito rico país, o Vaticano, continuou inovando e que, no século XVI, os cristãos, lendo a Bíblia, descobriram que estavam enganando e sendo enganado, dando um golpe nos “inovadores” (o pastor se refere aos católicos). E afirma que durante a história os “cristãos” verdadeiros sofreram pela verdade, certamente se referindo às heresias montanista, valdense, albigense etc. Depois diz: Os papas tentaram e tentam refrear este movimento, mas não conseguem, porque “O SENHOR DOS EXÉRCITOS ESTÁ CONOSCO”, afirmam os integrantes deste mover de Deus. Esse movimento, ao qual se refere o pastor, é o Protestantismo. É difícil crer que Deus tenha guiado tão desorientado movimento. Que tudo esteja na Providência Divina não podemos duvidar. A doutrina dos Reformadores está cheia de contradições. O Protestantismo surgiu numa época propícia, necessária devido aos inúmeros abusos, à baixa moral e etc., mas Deus continuou sua obra na Igreja que Cristo fundou, conhecida por todos como a Igreja Católica Apostólica Romana. Bata ver a Reforma Católica operada no Concílio de Trento.

CAPÍTULO 2 AS PRETENSÕES DO CLERO CATÓLICO 2.1. A Igreja Católica é a única Igreja de Cristo.       Neste capítulo iremos analisar mais criticamente a afirmação de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo. Isso tem desconsertado a muitos protestantes, e o pastor Joel demonstra, através de várias citações de obras católicas, que essa doutrina é pregada pela Igreja, dizendo: “Se o leitor duvida, vamos às provas”. De fato, a Igreja afirma aberta e irrefutavelmente ser ela a única Igreja fundada por Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor.

Após várias citações, ele conclui que “apresentar-se como a única Igreja de Cristo é uma das características das seitas; portanto, nenhuma igreja realmente cristã prega isso”. Talvez não pregue com tanta clareza e provas como a Igreja Católica, porém, as seitas (ou, como afirmou o pastor, uma “igreja realmente cristã”) tem, em si, uma postura que demonstra convicção de que é mais “correta” que as demais. E sob essa convicção, está implícita a consideração de que se pertence à “igreja verdadeira”, ou seja, de que se a tal igreja não é a verdadeira, pelo menos está contida nela, é o que qualquer membro de uma igrejas dessas deve pensar.

Qual seria a Igreja de Cristo? É “o conjunto dos redimidos pelo sangue de Jesus, e não os adeptos de uma certa associação”, responde o pastor Joel. Quem assim afirma, certamente tem certeza absoluta de que faz parte do “conjunto dos redimidos”, sendo assim, acredita ser membro da

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verdadeira Igreja. É uma forma camuflada ou uma maneira metonímica de afirmar o mesmo que a Igreja Católica afirma.

A atitude do pastor tem alguns pontos louváveis, porém, não caracteriza uma posição correta e bíblica sobre o assunto. E se temos o direito de discordar, o que o pastor Joel sempre concede, podemos afirmar que estão errados os protestantes. Ele acusa os papas de “vaidade” por ensinar a veracidade única da Igreja Católica: “Essa vaidade dos papas de alegarem que o seu grupo é a única Igreja de Cristo, não encontra lugar entre os membros da igreja deste autor, os quais, apoiando-se em Rm 14 e outros trechos bíblicos correlatos, fazem “vista grossa’’ às falhas banais de outras igrejas e as consideram co-irmãs em Cristo. Sim, há união entre nós! Aleluia! Este respeito recíproco é importante, pois ninguém é dono da verdade.”

Embora seja correto que ser humano nenhum é dono da verdade, é preciso lembrar que devemos ser servos dela. E Romanos 14 não trata de doutrina, mas de questões disciplinares, ou melhor, alimentares, que não tinham relação essencial com a doutrina cristã, ficando a cargo do fiel, através da sua consciência, escolher o que fazer, comer ou deixar de comer. Isso é diferente do que significa entre os protestantes as adiaphora, ou doutrinas “secundárias”.

Diz o pastor Joel: “Nunca ouvimos um pastor evangélico afirmar que a sua igreja é a única Igreja de Cristo, ou a única organização verdadeiramente cristã, mas a literatura dos católicos, das testemunhas-de-jeová, dos mórmons, dos adventistas do sétimo dia e outros grupos pseudo cristãos, tem a petulância de fazê-lo.”

Comparar a santa Igreja Católica com grupos protestantes modernos é um equívoco imenso. É verdade que outros grupos protestantes afirmam estar com a verdade, como os citados anteriormente, e, por isso e por outros motivos, são tachados de “seitas” por outros protestantes.

Quando percebendo a posição moderada que a Igreja tem para com os outros grupos cristãos, o pastor acusa a Igreja dizendo que “O clero católico morde e assopra”. Continuemos nosso estudo crítico.

2.2. Fora da Igreja Católica não há salvação

O autor, citando o Catecismo pp. 232-244, ## 811-848, parece entender não entendendo, pois afirma que o texto é incoerente e contem comentário autodiscrepante. É direito nosso interpretar, para extrair o verdadeiro sentido do texto, então, vou interpretar e mostrar que o pastor está errado. Quem sabe, talvez, o texto não seja ambíguo mesmo, mas deve-se entendê-lo segundo a Tradição. Quando aludi à possível ambiguidade textual, me baseio em acusações dos cristãos católicos fiéis à Tradição, membros da Fraternidade São Pio X, por exemplo, que muitas vezes afirmam isso, por considerarem os textos do Vaticano II ambíguos. O pastor considera auto-discrepância, porque nota que mesmo afirmando a exclusividade de pertencer à Igreja para ser salvo, o catecismo diz que mesmo os evangélicos e até os muçulmanos podem ser salvos sem pertencer à Igreja, desde que não a conheçam ou saibam da sua verdade: Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus, através de Jesus Cristo, como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar ou então perseverar. O autor, então, conclui que, nesse caso, os evangélicos não são anistiáveis, visto que não são inocentes,

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pois estão sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus, através de Jesus Cristo, o que os faz incrédulos, e não desinformados. Trata-se de uma conclusão fortíssima, porém, pela sua afirmação condicional (se realmente a Igreja Católica fosse necessária para a salvação), podemos afirmar que o pastor, bem como muitos protestantes, não reconhecem a Igreja como tal, embora só Deus é capaz de julgar os corações. A única maneira de se estar nessa circunstância condenável, é conhecer a verdade e negá-la, mesmo assim. Se o pastor Joel assevera que os protestantes não são inocentes, e isso é um princípio que acarreta condenação, então estariam todos condenados. Mas ninguém, a não ser Deus, pode afirmar, sem dúvidas, que alguém não é inocente. Muitos protestantes conhecem que a Igreja afirma ser a verdadeira, mas continuam fora dela. Isso não prova que não sejam mais inocentes, mas que, por algum motivo desconhecido, seu conhecimento ainda é insuficiente para convertê-los. Isso é uma visão realista, não um morder e assoprar. E, se é assim, o pastor pode estar nessa ignorância, mas com boa intenção, mesmo conhecendo tanto sobre a Igreja, e, dessa forma, estar na graça, e pertencendo à Igreja Católica sem o saber, pois se comporta com sinceridade. Portanto, segundo a Igreja Católica, alguém nessas condições está na graça de Deus. Isso somente Deus pode julgar com certeza absoluta. É isso que a Igreja ensina. Se, porventura, alguém reconhece a Igreja como a verdadeira, mas, mesmo assim, continua combatendo-a, e recusando nela entrar, esse perde sua sinceridade, perde sua inocência e não pode ser salvo. Como muitos fariseus, que reconheciam que Cristo pregava a verdade, mas não se converteram, mesmo diante de sinais irrefutáveis, como a ressurreição de Lázaro e outros (João 11, 38-44). Portanto, somente Deus conhece esses casos. Assim, o catecismo não pode dizer com certeza que alguém esteja condenado, ou que será condenado, mas se limita a estabelecer os princípios para entender essa questão. Quando o pastor Joel diz: Realmente a Igreja Católica não crê na salvação dos evangélicos, pois ela prega oficialmente que os que não somos devotos de Maria estamos nas trevas, e assegura que sofreremos as conseqüências dessa nossa atitude, nos impetrando um “ai”, ele não interpretou essas palavras como foi explicado anteriormente. De fato, ele não as entendeu de forma correta. Ou certamente as palavras não foram suficientes para deixar a questão clara. Realmente, se a devoção à Virgem Maria é essencial para a fé cristã, e se se a entende perfeitamente como tal, mas mesmo assim, se põe contra ela, essa alma não tem outro destino a não ser o inferno, pois nega uma verdade voluntariamente. A devoção aos santos não pode salvar ninguém, mas a recusa em face a uma verdade não é atitude cristã, e se se crê que a devoção mariana é correta, não se pode recusá-la. Mas o pastor Joel vê a mediação mariana como desnecessária, impossível, inexistente, como um pecado para a morte, uma idolatria. Se o faz de acordo com sua consciência, pois ainda não foi convencido de sua veracidade, não pode ser condenado. Se, porventura, vier a entender que a devoção a Nossa Senhora é legítima, faz parte do patrimônio cristão, está totalmente em harmonia com a doutrina de Cristo, sendo essencialmente cristocêntrica, pois como diz Nossa Senhora em João 2,5, devemos obedecer a Jesus Cristo, se diante de tudo isso, ainda teime em não aceitar, sabendo que está em erro, contra sua própria consciência, que o estaria julgando, então não há como estar na graça de Deus e, portanto, salvar-se. Então está provado que a Igreja crê e ensina a salvação dos protestantes sinceros e de quaisquer outros de qualquer religião. A missão da Igreja é pregar o Evangelho, e como cremos que os protestantes estão em erro, devemos pregar a eles a verdade, corrigindo-os no que estivem errados, e acreditamos que os sinceros de

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coração estarão naturalmente abertos para acolher a mensagem da verdade, quando a entenderem e conscientemente estarem convictos de que devem abraçá-la. O Catecismo, 816, número já citado no livro, ensina isso, de que existem pessoas que, de certo modo, já pertencem ao povo de Deus. Ensina ainda que, os que nascem no protestantismo não podem ser culpados do pecado de divisão, e, no sentido exposto acima, podem ser justificados pela fé e pelo batismo (CIC, 817). Em todas as religiões, e por que não dizer com maior razão, nas igrejas protestantes, fora da Igreja Católica, existem elementos de santificação e de verdade. Todos esses elementos vêm de Cristo e devem levar a Ele, e reclamam a unidade católica. Por isso, a Igreja deve manter sua missão evangelizadora em prol da unidade (CIC, 820), também o diálogo entre teólogos, a formação ecumênica dos fiéis, o encontro de fiéis de igrejas diferentes. Portanto, o que se está fazendo nesta crítica, que não extrapola a posição da Igreja, não é proibido pelo Papa, mas recomendado (CIC, 821). Assim, entende-se que as igrejas separadas não possuem a plenitude dos meios de salvação e, por isso, devem conhecer esses meios que somente a Igreja Católica conserva. Quando se diz que os sinceros de coração abraçarão a fé logo que estiverem certos dela, não é semelhante ao que pensam também os protestantes, quando pregam aos católicos, ou a quaisquer outras pessoas, sabendo que a graça de Deus será dada aos sinceros e que desse modo estes se converterão?

Criticando as palavras do Pe. Leonel Franca “Igreja Católica, [...] único baluarte da força moral, única tábua de salvação” [...]. E: [...] “o catolicismo vive e só ele pode dar vida”, o pastor indigna-se por entender que essas palavras fazem dos evangélicos um povo imoral, não servindo nem para soerguer a moral dos povos. E questiona, na sua indignação: Será que esse infeliz pensa que as igrejas evangélicas são imorais? Raciocine e tire suas próprias conclusões. As minhas conclusões foram outras. E parece que estão de acordo com o que disse o padre Franca. Certamente as palavras do padre Leonel Franca não tiveram essa conotação. Isso não quer dizer que suas palavras não estão dizendo o que dizem, para que o dito fique pelo não dito, mas significa que elas realmente não estão dizendo da forma que entendeu o pastor Joel. Baseio-me no que eu chamaria de “pressuposto católico”, num “instinto católico”, (sei explicar direito), que o pastor Joel talvez não conheça, o que o faria compreender corretamente as duras palavras do padre, acima citadas. Então, houve um “problema de comunicação” aqui. Isso é muito comum, e qualquer um de nós está sujeito a isso. O que de fato ocorre, segundo o padre Leonel Franca, é que somente a verdadeira Igreja e Religião tem sempre a moral perfeita e infalível, sendo as outras, igrejas e religiões, todas passíveis de permitir e/ou adotar, oficialmente em seu ensino, erros morais graves. Entre essas “outras”, estão as igrejas protestantes, que mesmo tendo intenção de soerguer a moral dos povos, intenção de realmente pregar a moral, de não ter o propósito de maculá-la, mesmo com tudo isso, são capazes de adotar os maiores erros, e oficialmente, como por exemplo: o aborto (há protestantes que o permitem), o casamento homossexual (fala-se aqui da possibilidade de que essas coisas sejam adotadas) e etc. E assim, é nesse sentido que o padre Leonel Franca disse aquelas palavras, de que só o catolicismo é baluarte da força moral. Suas palavras disseram o que disseram. Ele certamente não pensava que as igrejas evangélicas fossem imorais, deduzo isso pelos conhecimentos que tenho de alguns de seus

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escritos, mas ele não considerava essas igrejas como baluarte da força moral, pois isso só é possível no catolicismo, tudo por graça divina, que não permite que a Igreja afunde em qualquer erro de fé e moral, uma graça que falta nas outras instituições, impossibilitadas de serem o referido baluarte, o que as torna suscetíveis de ser tornarem imorais. Se são morais hoje, podem não o ser amanhã, o que não é admissível em um baluarte. A Igreja ensina que somente ela possui todos os meios de salvação que Cristo entregou. Portanto, o protestantismo não é parte da Igreja. Mas Cristo pode salvar os sinceros, os quais somente Ele conhece. Isso serve para qualquer outra religião também, onde seus membros podem ser salvos se estiverem agindo sinceramente, porém, na ignorância. Serve até para os membros da Igreja Católica, pois nem todos os que estão fisicamente na Igreja serão salvos, mesmo sendo a Igreja verdadeira, por não estarem na graça de Deus. Isso prova que é necessário ser membro vivo da Igreja para ser salvo, pois Cristo salva os que são seus e estão no seu rebanho. É verdade que nem todas as ovelhas estão no rebanho visível, que é a Igreja Católica, mas fazem pare da Igreja por seguirem a Deus sinceramente e se tornariam membros da Igreja se fossem convencidos de que a mesma é a única verdadeira. Conclui-se que se um católico afirmar que tal igreja ou religião “salva”, ou que os seus membros podem ser salvos sem a necessidade de sair dessa igreja ou religião, está errado. Se disser que todos os membros das outras igrejas ou religiões estão perdidos a menos que se convertam ao catolicismo, também está errado. Contudo, continua a necessidade de se unir à Igreja caso se certifiquem disso. Se disser que todos os cristãos católicos estão salvos, está errado. Portanto, ninguém se salva fora da Igreja Católica, como foi mostrado acima, pois fora da Igreja não há salvação, e isso foi Cristo quem ensinou. Essa é a doutrina oficial. Se alguém conhece a verdade e mesmo assim a combate, esse não será salvo. É isso que afirma sem hipocrisia o padre Vicente Wrosz na página 35 da sua obra citada no livro do pastor Joel.

2.3. “Infalíveis”

      O pastor Joel trata agora da infalibilidade papal, explicando que quando o papa fala ex-catedra, ou seja, de sua cadeira, isto é, com a autoridade de que é investido, possui o dom da inerrância, dado por Deus, o que significa que os católicos não precisam se preocupar com a ortodoxia doutrinária, bastando fechar os olhos e seguir ao papa sem medo, visto que é impossível que o papa erre. Mas é de notar que não é assim que funciona normalmente. Embora seja correto que o papa não possa errar em assuntos de fé e costumes em seus pronunciamentos ex-catedra, nem sempre, e é até raro, ele fale como Supremo Pastor ou ex-catedra. Isso significa que os pronunciamentos papais podem cometer erros ou equívocos, e os cristãos católicos estão sempre atentos às suas palavras e lhe devem obediência desde que seus ensinamentos estejam em harmonia com a fé cristã perene. Agora, quanto aos pronunciamentos ex-catedra há de fato uma tranqüilidade eclesial, visto que é o próprio Senhor Jesus que guia a sua Igreja. O autor faz quatro transcrições para provar que a Igreja ensina a infalibilidade papal, duas do Catecismo da Igreja Católica, página 255, # 889 a 891, uma da obra do Padre Cechinato, Os Vinte Séculos de Caminhada da Igreja, Editora Vozes, 4ª edição de 2001, página 358. O Catecismo ensina que a infalibilidade da Igreja é uma participação na própria infalibilidade de Cristo que assim o quis e etc. A primeira citação é

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clara e o pastor reconhece que seria o bastante, mas como havia prometido quatro citações ele prossegue. A segunda citação, nº 889 e 891 do Catecismo, ensina a infalibilidade do papa e dos bispos em união com ele. A citação do padre Cechinato confirma essa verdade afirmando que é o Espírito Santo que garante a infalibilidade do papa. Isso causa espécie nos protestantes, e o pastor pergunta:  O que o Papa pretende com essa pretensão de infalibilidade exclusiva? Resposta: Manipular os católicos a seu bel-prazer. Então, para o pastor a doutrina da infalibilidade papal é uma estratégia para manipulação a bel-prazer dos católicos. Quando o papa declara que sua infalibilidade tem a mesma extensão que o depósito da revelação está afirmando que é tão inerrante quanto a Bíblia. Mas vejamos bem que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus e é nela que está ensinada a doutrina da infalibilidade do papa, então, é um dogma de fé. O pastor cita alguns exemplos que “provariam” que o papa não é infalível nas “decisões eclesiásticas”, as quais são a proibição da leitura da Bíblia em 1229, a Inquisição, as decisões do papa Vitélio para que rezasse a missa em Latim. Para um católico que conheça bem a doutrina da infalibilidade, esses exemplos não provam nada, mas para os protestantes e o público em geral, que pouco ou nada entendem da questão, isso é prova de que o dogma é “falso”. Poderíamos até apostar que, na maioria das vezes, essa conclusão é feita a priori e que as “provas” alegadas são resultado de meras pré-concepções. Quando houve a proibição da leitura da Bíblia em Toulouse, no ano de 1229, aquela era uma medida específica que deve ser entendida segundo as circunstâncias históricas. Não foi algo universal e de sempre, mas uma decisão em um tempo definido e por motivos razoáveis. Hoje, a Igreja recomenda a leitura da Bíblia, pois aquelas circunstâncias não existem mais, e é inviável uma proibição dessas nos tempos atuais. Mas o pastor vê nisso uma contradição, pois em 1229 se proibiu a leitura Bíblica e hoje se a recomenda. Pela explicação anterior é possível dirimir a questão. No entanto, o autor acrescenta que a Bíblia católica, hoje recomendada para leitura, está “adulterada”, pois contem livros “apócrifos” e “explicações” (com aspas) nas margens inferiores, que o autor chama de heréticas. Os livros que o autor chama de apócrifos nada mais são que aqueles livros deuterocanônicos, e as explicações, embora não sejam infalíveis, não são heréticas mas tem por objetivo auxiliar na correta interpretação da Escritura, como fazem os protestantes com suas bíblias de estudo, uma exemplo é a Bíblia Apologética. A inquisição, referida pelo autor como essa tal de santa inquisição, que teria matado a bel-prazer quem se recusasse a submeter aos abusos dos emissários de Satanás, nada mais foi que uma instituição que teve como objetivo defender a fé em tempos difíceis e de heresias perigosas. Os estudos reconhecem que houve abuso de autoridade por parte de inquisidores, o que não invalida a instituição e suas intenções. Segundo o pastor, a Igreja mantem por escrito que os heréticos devem ser excomungados e mortos, embora não os matem mais, citando para isso a obra de um pastor, Homero Duncan. O pastor cita também o caso do Papa Vitélio que teria decidido falar a missa em Latim para que ninguém entendesse nada, uma idéia agradável que levou a proibir, por determinação, a tradução da Bíblia para o vernáculo. Hoje, diz o pastor, as traduções são feitas coma aprovação dos papas, querendo com isso fazer notar uma “contradição”, visto que os papas daquela época “se opuseram” às traduções bíblicas e os de hoje as aprovam, o que seria mais uma prova da falibilidade dos papas. Não é necessário provar que tudo isso é mais um anacronismo e, na prática, mais uma incompreensão do dogma da infalibilidade papal. Depois o autor cita o Padre Miguel Maria Giambelli, que

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“interpreta” (com aspas acrescentadas pelo pastor) Mateus 16, 19 como foi dito anteriormente. Para contradizer a interpretação católica, o pastor cita o caso em que São Paulo chamou a atenção de São Pedro por causa de sua atitude de evitar comer com os cristãos provenientes do paganismo, agradando aos cristãos judeus. Isso seria uma “prova”, pois se o papa é infalível, e S. Pedro era Papa, S. Paulo deveria ter se silenciado. Mas a doutrina da Igreja, mais uma vez incompreendida, não ensina que o Papa é impecável (se bem que os protestantes e, portanto, o pastor Joel, conhecem essa resposta católica e consideram-nas nas suas acusações) e que os cristãos tem o direito e o dever de criticá-lo em suas posições não ortodoxas e até desobedecê-lo se ele faltar com a verdade. A História Universal pode provar isso. Então, o evento de Gálatas 2, 11-14 não prova nada contra a infalibilidade papal. O autor afirma que Mateus 16.19 está mal traduzido na maioria das Bíblias protestantes e católicas. Segundo ele, essas traduções equivocadas estariam conferindo a São Pedro uma autoridade que o poria acima de Deus, sendo que o Céu se orientaria por Pedro e não o contrário. Então o autor apresenta a tradução da Almeida Revista e Atualizada, que teria “corrigido” o erro traduzindo assim: "... o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus". O sentido da tradução seria que Jesus não estaria dizendo que aprovaria o que Pedro fizesse, mas que Pedro ao fazer qualquer coisa, devia certificar se a mesma gozava ou não da sanção do Rei dos reis e Senhor dos senhores – Jesus Cristo – o Filho do Deus vivo. Isso significa que São Pedro não teria poder de fazer nada, mas que seus atos necessitariam da sanção de Cristo, ou melhor, que já teriam sido feitas por Cristo, como é explicado pelo pastor no texto de João 20, 23. Nesse caso de Mateus 16,19 o apostolo deveria ter certeza, se certificar de que o que estava fazendo tinha a sanção celeste ou tinha sido sancionado por Deus. Mas a doutrina católica ensina que o Papa tem poder conforme a verdade, na verdade e nunca contra a verdade. Todo o pronunciamento dentro da verdade é ratificado pelo Céu. Sendo assim, as palavras de Cristo são como foram pronunciadas: S. Pedro tinha autoridade de ligar e desligar em nome de Cristo, com a aprovação de Cristo, dentro da Lei de Cristo, conforme a vontade de Cristo. Talvez isso tenha ficado claro. Felizmente o pastor Joel reconhece que as outras traduções são também corretas: O modo como Mateus 16.19 está no original, aceita tanto esta última tradução, quanto as outras. Nestes casos, a tradução fica a cargo do bom senso e, sobretudo, do contexto bíblico. O que estaria por trás das traduções seria o bom senso e o contexto bíblico ou, mais precisamente, a orientação teológica do tradutor. Para dar razão à última tradução, o pastor “apresenta” os cristãos não se submetendo cegamente aos apóstolos, chegando mesmo a questioná-los, entendendo que esse era o “modo de tratamento” que os cristãos tinham para com os apóstolos. Para isso o autor cita Atos 11, 2-18, principalmente os versos 2, 3 e 18. Nessa passagem é dito que os cristãos se apaziguaram depois que são Pedro se explicou [por ter entrado na casa de Cornélio, que era um gentio], o que supõe um debate acirrado. O pastor termina esse raciocínio assim: Eles tinham que provar que os seus sermões tinham a aprovação de Deus (Atos 17.10,11). É necessário dizer, principalmente dessa última parte, que o pastor está totalmente equivocado. Em nenhum lugar é encontrado cristãos requerendo provas de que os sermões dos apóstolos eram aprovados por Deus, e se assim o fosse, os cristãos é que se tornariam, de certa forma, os árbitros ou o árbitro da doutrina. O texto de Atos 17, 10 e 11, que serviu ao pastor para dar “suporte” a essa posição, infelizmente não se encaixa nela. O contexto de Atos 17 fala dos judeus da Beréia que, abertos à pregação

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apostólica, examinavam as Escrituras para se certificarem de que Cristo era o Messias que os apóstolos estavam anunciando. O resultado é que muitos judeus bereanos se converteram. Eles não eram cristãos ainda. O mesmo se diz dos tessalonicenses que, ao contrário dos bereanos, foram menos nobres por não serem abertos ao anúncio evangélico e em conseqüência disso, somente alguns se converteram. Os cristãos eram totalmente submissos aos apóstolos, bastando que alguns começassem a ensinar doutrinas estranhas e serem denunciados pelas autoridades da Igreja. Em Gálatas 1, 8 se pode perceber qual era o valor de autoridade que tinham as pregações apostólicas: Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Toda a autoridade estava com os apóstolos. Nesse contexto, quem se atreveria a requerer provas de autoridade ou de aprovação de Deus a um apóstolo? Certamente isso não é impensável ou impossível, mas é mais natural que surgisse na mente de homens pouco ortodoxos e não [talvez nunca] dos cristãos fiéis. No texto de Gálatas citado, o apóstolo está tão certo de sua pregação, como também da dos demais apóstolos, afirmando que mesmo se eles ou um anjo do céu anunciasse algum diferente estaria, por isso mesmo, amaldiçoado! Esse era o clima de relação entre os fiéis e os apóstolos. Os apóstolos já haviam fornecido provas suficientes de terem sido enviados por Deus e não era necessário que a cada sermão fossem apresentadas novas provas. E mesmo o texto de Atos 11, 2-18 trata da atitude de São Pedro de entrar em casa de pagãos e não de algum sermão ou doutrina que ela tenha pregado. Igualmente pode ser dito do incidente de Gálatas 2, 11-14 que trata de um comportamento ou atitude do chefe dos apóstolos e nunca de um ensinamento. Todos eram unidos na fé, na mesma doutrina cristã e apostólica. Diante disso, provamos que podemos pensar teologicamente, e sabemos que os papas são homens pessoalmente falíveis como todos nós, e que alguns durante a história foram autores de pecados graves, sendo infalíveis somente nos assuntos que Deus os encarregou de ensinar. A posição católica está longe de ser fanática como diz o pastor, ou que somos privados do uso da razão por causa do “fanatismo”. A infalibilidade papal existe e está em plena harmonia com a doutrina cristã, nada tendo de farsa, como acusou o autor. Deus não se contradiz mesmo! Nisso concordamos sempre. Saber que os homens são falíveis e que, portanto, os papas estão nesse grupo, todos sabemos, e por isso, o pastor reconhece que foi ridículo se por a provar essa questão; mais ridículo que tentar provar a infalibilidade. Contudo, o fez, segundo ele, por amor aos católicos, pois essa “heresia” não mereceria ser refutada. Todos sabemos da falibilidade humana, a menos que alguém seja doente mental, como disse o pastor, e se alguém se julgasse infalível, não poderia ser condenado, pois os loucos não respondem por seus atos. E ao falar isso, o pastor garante não estar sendo irônico, pois mesmo a ironia sendo válida, utilizada até pelo profeta Elias diante dos adoradores de Baal, e usada por ele [pastor Joel] em outros tópicos, não estaria fazendo uso dela no momento, mas que suspeita realmente da sanidade mental de alguém que sinceramente se julga infalível. A isso respondemos que obviamente nenhum Papa pode ser chamado de louco ou doente mental, visto que são conscientes de suas imperfeições e falibilidades, próprias da natureza humana. O que não confundem é essa verdade com a outra, a da infalibilidade Papal, que independe do homem, mas vem unicamente de Deus. Um exemplo para entender melhor a questão é o ocorrido com o papa João XXII. O Papa João XXII ensinou que as almas dos salvos falecidos somente entrariam na visão beatífica após o juízo final, e mesmo pareceu

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acreditar no sono da alma. Esse parecer foi até manifestado nos sermões papais. Segundo o que os protestantes creem, e o pastor Joel assevera em seu livro sobre o catolicismo, o papa é infalível e isso desabilita qualquer ser humano a opor-se à sua opinião, e que nem mesmo um bispo ou o conjunto de todos os bispos, visto que somente teria sua autoridade infalível quando concordasse com o Papa. É necessário uma análise rápida sobre essa questão. Quem é conhecedor da doutrina da Igreja sabe que essa ensina que as almas dos salvos entram na visão beatífica tão logo são julgadas ou purificadas, o que está em contradição com o que disse o papa João XXII. Calvino tratou dessa questão no livro 4, capítulo 7, 28, da sua obra Institutas, na qual afirma que o papa citado deveria ser tirado da lista dos pontífices, já que emitiu opinião herética. Essa opinião implica num falso princípio de que se um papa errou doutrinariamente, é prova que ele não é papa ou que a questão lança dúvidas sobre o dogma da infalibilidade. Tudo isso é apenas uma falta de conhecimento sobre o assunto. O que ocorreu foi que o papa estava emitindo opinião pessoal, sobre uma questão ainda não definida pela Igreja, e nessas circunstâncias, ninguém goza de infalibilidade, nem o papa. Os teólogos da época se opuseram ao papa João XII e muitos afirmaram que a sua opinião era herética. O papa escreveu em 1333 que estava apenas expressando sua parecer pessoal. Em 1334 ele afirmou que nunca foi sua intenção ensinar algo contrário à Sagrada Escritura, e antes de sua morte, já estava convencido de que a as almas vão para o céu antes do juízo final. Parece que a noção do sono da alma já havia sido condenada em 1274. A comissão que estudou a questão a pedido do papa João XXII decidiu em favor de que as almas gozam da visão beatífica antes do juízo. Esse exemplo é prova histórica de que o papa somente é infalível quando tem intenção de ensinar uma verdade para a Igreja Universal e não quando emite parecer pessoal sobre quaisquer assuntos. [cf. para esse exemplo utilizei informações de Dave Armstrong, comentando as Institutas de João Calvino]. É o Espírito Santo quem guia a Igreja nesses assuntos. Nessa questão, os teólogos estavam certos e o papa errado! O papa abandonou suas convicções errôneas. Que esse exemplo seja suficiente para demonstrar que a infalibilidade não é o que pensa o pastor Joel e a maioria dos protestantes. Mais uma reflexão necessária sobre isso é que devemos ter em mente que nem o próprio Papa pode “escolher” usar sua infalibilidade quando bem entender, pois isso seria uma incoerência, visto que, como alguém que tendo o poder de optar por estar livre de todo erro, escolheria somente alguns momentos de sua vida, ao passo que em outros optaria a mera condição de ser falível? Outra questão importante é que não é possível que um mau papa, inspirado pelo Demônio, introduza uma doutrina ex-catedra, pois caso isso venha a ser arquitetado, em qualquer época, o próprio Deus se encarregará de não permitir a ocasião da intentada pronunciação. Diante disso, vemos que a autoridade final para um cristão católico não é o Papa, mas o próprio Deus. Creio que a maioria dos católicos concordará que esses argumentos aqui tratados serviram para nos tornar mais críticos e ainda mais fiéis à doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. O pastor termina esse tópico fazendo uma comparação inusitada do Papa com um pregador que se auto-proclama “Jesus Cristo”, afirmando que ambos estão no mesmo patamar, visto que possuindo direitos equivalentes, um se proclama infalível e o outro o próprio “filho de Deus”. E mais, são seguidos por pessoas inteligentes, “cultas”, como até uma psicóloga que seria discípula do Inri! Poderíamos relativizar as opiniões afirmando, por exemplo, que embora os fiéis do pastor Joel não o considerem infalível, as suas palavras gozam de grande autoridade, enquanto que para esses

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mesmos fiéis, os pronunciamentos do papa nada valem! As opiniões do pastor tem seu valor, porém, não derrubam a indestrutível doutrina cristã que, nem de longe, são atingidas por muitas dessas “críticas”. Algumas críticas são pertinentes, mas não destroem a doutrina, antes servem para elucidá-la.

2.4. São os únicos sucessores dos apóstolos

       A sucessão apostólica é bíblica e comprovada historicamente. É sabido que a Igreja afirma que os protestantes estão desligados dessa sucessão, não a possuindo, por haverem se separado da Igreja verdadeira. Isso é dito no respectivo item do livro do pastor Joel. Respondendo à crítica católica, o pastor Joel afirma que os protestantes possuem a sucessão por conseqüência natural do fato de seguirem a Cristo. Porém, é necessário que haja tanto a mesma doutrina do Evangelho quanto possuir a linhagem ininterrupta dos sucessores de Pedro. O protestantismo cai diante dessas duas exigências. Desse modo, os verdadeiros Ministros do autêntico Evangelho fazem parte do clero cristão católico.

 2.5. Papa – o alicerce da Igreja

       Tanto os cristãos católicos quanto os cristãos protestantes creem e ensinam que a Pedra angular da Igreja é Cristo. É Ele quem sustenta a Igreja sendo o seu fundamento mais profundo. Mas Pedro é a Pedra colocada por Cristo como fundamento visível. Isso é o que está expresso em Mateus 16,18. Portanto, é uma premissa verdadeira que Cristo tenha posto um fundamento visível para Sua Igreja, sendo Ele o infalível Arquiteto. Os protestantes preferem interpretar o texto como se ele não estivesse dizendo o que diz, e ainda afirmam que a Igreja é quem está interpretando “erradamente”.

     O pastor Joel diz: Considerar-se o alicerce da Igreja é, sim, ser pretensioso. Segundo ele, quem examina a Bíblia sem ser guiado pelo Papa, chega à conclusão de que a linguagem metafórica do texto não diz que a Pedra é Pedro, pois os apóstolos trataram de elucidar a questão (Mt 21.42; At 4.11; 1Co 3.11; Ef 2.20; 1Pe 2.4-6, etc.). Os textos citados falam de Cristo como a Pedra angular ou como a pedra da qual beberam os israelitas no deserto e que tudo isso prefigurava a Cristo (1 Cor 3,11). Esses textos não invalidam o texto de Mateus 16, 18. Ou melhor, eles não o explicam como se ele estivesse afirmando que a Pedra não era mesmo Pedro. O texto de Mateus 16,18 deve continuar dizendo o que diz, ou seja, Pedro, naquela ocasião é a Pedra e Cristo era o Edificador. Os outros textos citados apresentam a verdade de que Jesus é a Pedra. E Ele mesmo em Mateus afirma que construiria Sua Igreja sobre Pedro.

       Depois o pastor passa a explicar o sentido da passagem de Mateus 16, 18, certamente crendo que está apresentado o “verdadeiro” significado, visto não estar sendo submisso ao Papa no seu exame. O pastor afirma que tanto a palavra traduzida por pedra, quanto o vocábulo transliterado por Pedro, podem ser traduzidos por pedra. Até aqui está correto. Mas o pastor alude ao jogo de palavras que Jesus fez, o que está expresso no original grego: No original, “pedra” é petra, isto é, rocha ou penha. Já o vocábulo transliterado por “Pedro” é Petros, isto é, uma pedra pequena ou fragmento de pedra. Uma pedra que possa ser transportada. Ora, se Cristo, logo após

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comparar Pedro a uma pedrinha, afirmou que edificaria a Sua Igreja sobre a rocha, salta aos olhos que Ele não pretendia construir a Igreja sobre Pedro. E conclui que a Pedra era Cristo. Essa interpretação é negada por muitos eruditos protestantes e está teológica e gramaticalmente incorreta, pois todo o contexto aponta a Pedro como sendo a Pedra. Além do mais, essa explicação do pastor Joel não se harmoniza com o contexto. Naquele momento Cristo estava elogiando a São Pedro pela sua confissão de fé e, desse modo, colocando-o como pedra fundamental da Sua Igreja, constituindo aquele momento como o de uma condecoração. Já quando se atenta às palavras do pastor Joel, ficou subentendido que Cristo estava “desqualificando” a São Pedro, que não seria pedra, mas uma pedrinha que não servia de fundamento. Essa intenção não foi tirada do texto, mas do que se poderia chamar “teologia protestante oficial”. Também se pode argumentar que o grego tem outra palavra para pedra pequena ou pedra que pode facilmente ser transportada, a qual é lithos. Se petros também pode significar uma pedra menor, não é a palavra mais indicada para expressar isso quando comparada com lithos. Soma-se a isso o fato de que Jesus não falou em grego, mas em aramaico, e em Sua língua materna kepha significa pedra. Explica-se o motivo de o Evangelista ter traduzido diferentemente Kepha por Petros e Petra no texto de Mateus 16,18. É que Petra é nome feminino enquanto Petros é masculino. O sentido é o mesmo que foi expresso por Cristo na Sua língua original, Pedra ou Rocha, pois às vezes o nome vem transliterado, o que prova que foi Kepha o nome dado por Cristo ao apóstolo Simão (João 1,42 translitera Cefas). Outros objetam que o Espírito Santo, que é o verdadeiro autor da Bíblia, usou Petros ao invés de Petra, o que seria uma diferenciação de significado, como quer o protestantismo. Mas, mesmo assim, permanece o fato de que ambos os termos significam rocha ou pedra, assim como Kepha em aramaico, a língua original. A doutrina católica não faz dos papas o real caminho de salvação, como sendo o caminho, a verdade e a vida, como acusou o pastor, mas, é certo que Cristo salva somente os que fazem parte da Sua Igreja, que são os verdadeiros membros, seja ela entendida como quiser. Não é a Igreja quem salva, mas ela “salva” como um sacramento de salvação, visto que é o corpo de Cristo. O pastor Joel diz: Se essa crença fosse verdadeira, os assassinos que matavam em obediência aos papas, nos dias da famigerada “Santa” Inquisição, estariam hoje no Céu; ao passo que João Huss, Jerônimo Savonarola, e milhares de pessoas que ao serem ameaçadas pelos papas, preferiram a morte a desobedecer a Cristo, estariam todas no Inferno. Essa afirmação supõe uma certeza de que todos os inquisidores, ou os assassinos que matavam em obediências aos papas estão no inferno e que Huss, Savonarola e outros milhares como eles estão no céu, o que é uma certeza impossível.

     Se algum ensinamento do Papa entrar em choque com a Palavra de Deus, o princípio católico é de que se obedeça a Deus. Mas sempre que isso ocorrer, o Papa não estará apoiado pela Bíblia e tradição. E não é verdade que os cristãos católicos não pensem só pelo fato de serem submissos à Igreja. Os protestantes também devem ser submissos à autoridade de suas igrejas, por exemplo, quando elas ensinam o Sola Scriputra e desdenham a Tradição. Nenhum protestante ortodoxo poderá questionar essa verdade se pelo seu livre exame chegar a uma conclusão contrária. As palavras do pastor Joel de que os santos da Igreja concordavam com os protestantes e não com os católicos em certos pontos, são palavras que deixam de considerar certos aspectos. Por exemplo, a citação de Santo Agostinho, que

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falava da confissão de Pedro, ou seja, o próprio Cristo, como sendo a pedra, não nega que São Pedro seja a pedra, o que é confessado pelo próprio Santo Agostinho e outros padres. O pastor Joel cita a Bíblia Apologética, a qual traz o testemunho de Santo Agostinho e São João Crisóstomo referindo-se ao texto de Mateus 16,18 no qual a pedra é Cristo, confessado por Pedro: Nesta pedra...a qual tu confessaste, Eu construirei minha Igreja. Esta pedra é Cristo; e nesta fundação o próprio Pedro construiu (Agostinho, Comentário Sobre o Evangelho de João, citado na Bíblia Apologética, 1ª edição/2000, ICP Editora, página 1072, nota de rodapé alusiva a Mt 16.18). Dependendo do contexto, às vezes se fala da confissão de Pedro e outras vezes do próprio Pedro sem contradição alguma, pois os santos padres não negavam que Pedro fosse a pedra, como fazem os protestantes. Assim, os protestantes estão, nesse caso, concordando parcialmente com os santos citados. Uma prova disso é que até mesmo o Catecismo da Igreja Católica cita o texto acima nesse sentido em que foi citado na Bíblia Apologética, sem negar o primado de Pedro. Sobre os pecados de alguns papas ao longo da história, isso não quebra a sucessão apostólica, como sugere o autor, mas apenas prova que existiram maus papas e que a Igreja não é dependente, em última instância, do Papa, mas de Deus que a sustenta. Sobre os bispos da Fraternidade São Pio X que foram excomungados, é interessante que a dita excomunhão foi suspensa e o diálogo com a Fraternidade continua. Eles eram considerados cismáticos, mas parece que não eram, portanto, como eles mesmo dizem, a excomunhão foi inválida. Quanto às diferenças que não poderiam fazer diferença entre católicos e ortodoxos, é uma consideração muito oportuna e insuspeita da parte do pastor Joel, visto que muitos protestantes costumam citar essas “diferenças” enormes entre as duas Igrejas, tudo com o intuito de desqualificar a tradição cristã. Quanto às divergências bem mais acentuadas que a Igreja estaria tolerando em seu meio (mais acentuadas que aquelas pregadas pelos Católicos Velhos, seria interessante citar alguns exemplos. Faltou no livro.

2.6. Sobre os títulos honoríficos do clero

       Citar Mateus 23, 9 como proibição de chamar o presbítero de Padre ou o chefe da Igreja de Papa não prova nada, é uma interpretação falsa. O texto proíbe ter um pai segundo o entendimento pagão e meramente humano, como se os ditos “pais” fossem fonte de tudo, fora de Deus. Veja que os judeus chamavam Abraão de Pai e Jesus nunca os repreendeu por isso, mas ratificou esse costume. O sentido do termo é o que importa. Outros títulos devem ser entendidos dentro da doutrina cristã. O de Sumo Pontífice, por exemplo, é semelhante ao de Sumo Sacerdote, que os judeus conheciam. É interessante notar que Cristo nunca rejeitou tal título quando se referia ao sacerdote humano dos judeus. A respeito da hierarquia na Igreja, essa é percebida mais na prática que os textos bíblicos evidenciam do que pelos nomes (Atos 20,28). Com o desenvolvimento da doutrina se percebe já no século II os títulos sendo usados mais tecnicamente. Pode-se concluir que os títulos do clero não derrogam a autoridade de Deus.

 2.7. Donos da verdade 

      O pastor cita o fato de a Igreja ensinar que somente o Papa e os bispos em comunhão com ele podem interpretar a Bíblia autenticamente, excluindo até os padres dessa função. Assim, os protestantes estariam desautorizados de interpretarem a Bíblia. É verdade. O pastor citou o

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Catecismo: “O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado exclusivamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele” (Catecismo da Igreja Católica, página 38, # 100).

      Quanto ao texto de Atos 17, 11 como sendo um exemplo de que leigos podem julgar as pregações oficiais através do livre exame, isso não é verdade. Os bereanos que examinavam a Bíblia não eram cristãos ainda, mas judeus. Após converterem-se, e muitos se converteram, eles não poderiam continuar julgando a pregação dos apóstolos, mas aprendendo submissos às autoridades constituídas por Deus. Eles examinavam como alguém exigindo certos requisitos para que abracem ou não o que lhe está sendo apresentado. Se os apóstolos estavam certos ao afirmarem que a Sagrada Escritura apontava a Jesus como o Messias, então se tornariam cristãos. Eram conhecedores da Bíblia, não necessitaram de ir aos seus líderes judeus para questionarem se as profecias se referiam a Cristo, mas a comparação da própria pregação sobre Cristo com a Escritura foi suficiente para aceitarem o Messias prometido. É um exemplo a ser seguido pelos cristãos, o paciente e perseverante estudo das Escrituras. Quanto ao que ocorreu depois da conversão é de se supor com razão que nenhum bereano, como nenhum outro cristão, ousava discordar da doutrina pregada pelos apóstolos, como se pelo livre exame pudesse dizer que isso ou aquilo não “era bem assim”. Mesmo porque o Novo Testamento ainda estava nascendo, eles o estavam aprendendo e não tinham capacidade alguma para discernir o que era ou não doutrina de Cristo. De fato, isso era garantido pelo dom da infalibilidade que os apóstolos possuíam. Então, quanto à crítica de que não existe grupinho algum a pensar por nós, de que os leigos podem examinar a Bíblia para se certificarem da autenticidade ou não do que o clero está  ensinando, o pastor Joel, bem como todo o protestantismo está enganado sobre o real sentido de Atos 17,11. Não é verdade que se trata de tapeação o fato de que os bispos só podem interpretar corretamente a Escritura se estiverem em comunhão com o Papa. Isso é o que a Bíblia e a tradição sempre ensinaram. O pastor então questiona: E como deve reagir o católico diante da alegada infalibilidade exclusiva, que o papa e seus bispos dizem possuir? Os católicos podem discordar disso e questioná-los? Podem fazer o que os bereanos fizeram, comparando pelas Escrituras o que o apóstolo Paulo dizia, para se certificarem da autenticidade ou não do que ele ensinava, sem serem tachados de hereges, desobedientes, e sim de nobres, por este gesto tão sábio? Novamente equívoco de se conceber o exemplo do bereanos como sendo o do livre exame. Repito que naquela ocasião os bereanos não deviam obediência nenhuma a São Paulo, pois nem eram membros da Igreja ainda. Só passaram a ser quando se converteram. Aí é que não há lugar para questionamento da doutrina oficial. Imagine alguém dizendo que o apóstolo Paulo estava equivocado na sua doutrina, será que não receberia dele um anátema? (Gálatas 1,8). Deus ordenou que obedecêssemos às autoridades da Igreja e com certeza está garantido que oficialmente a mesma não poderia ensinar o erro. Sobre as atitudes eclesiásticas na época da inquisição, pode-se dizer que foram necessárias. Aí o pastor pergunta: é necessário matar? Não, não é. Mas naquelas circunstâncias em que certos delitos eram punidos com a pena de morte e sendo a população cristã e que consideravam o pecado um crime pior que qualquer outro cometido a nível social, pois é uma transgressão da Lei Divina, constituindo uma ofensa a Deus, é fácil entender que a pena capital era vista como justa para os hereges. O povo clamava por justiça, e as heresias não perturbavam até a

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ordem social, não eram imaginação dos cristãos. É bom lembrar que a pena capital é justificável pela Bíblia e pela razão e, desse modo, está justificado o princípio que moveu a Igreja a aceitar certos apelos populares. Os Papas estavam corretos na intenção, que é defender a fé, e infelizmente o Santo Ofício deu ocasião para muitos e muitos exageros e abusos, contra a vontade do Papa. O caso de Joana D´arc, por exemplo. O dever de defender a fé continua e os papas de hoje continuam com essa consciência. Não é mais imaginável um estabelecimento da Inquisição naqueles moldes, pois a sociedade pós-moderna é totalmente diferente e até a pena de morte, que em si é justa para certos casos extremos, é negada, pois impera um sentimentalismo irracional na humanidade. E é impensável também que alguém hoje possa ser julgado e morto legalmente por causa de religião, pois as circunstâncias não mais permitem. É fato que a Inquisição não existiu sempre daquela forma (1184 e 1233). Então vimos que a intenção de defender a fé, somada à legitimidade da pena capital para delitos considerados de extrema gravidade e ainda a constante solicitação popular para uma tomada de posição quanto aos perturbadores ou mesmo traidores da sociedade, como de fato eram considerados aqueles hereges (A. Souto Maior. Historia Geral) levaram a Igreja a posicionar-se, de alguma forma, pois não era mais possível mantivesse a mesma atitude, que seria considerada omissa naquela época. O meio foi instituir um Tribunal, uma forma de justiça para resolver a questão, ao invés de deixar que as massas populares fizessem “justiça” com as próprias mãos. E certamente os clérigos se pronunciavam contra aqueles linchadores, mas a Igreja não podia somente proibir tais reações do povo, talvez seria interpretada como uma defesa dos hereges. Talvez também essa posição não fosse eficaz ou uma forma correta para evitar males maiores. Tudo isso torna razoável as instituição tão criticada em nossa época. É melhor buscar o entendimento da História ao invés de julgarmos os fatos. O Tribunal do Santo ofício evitou aqueles crimes e praticou outros, é verdade. Mas isso faz parte das imperfeições humanas, que nem sempre conseguem levar cabo os bons princípios. A entrega ao braço secular para execuções eram raras, como nos conta pesquisas profundas e imparciais. As cifras de “milhões” de mortos pela Inquisição é falsa, nasce da imaginação não dos documentos históricos. É um fato curioso que na Itália, onde o poder da Igreja é mais eficaz, as execuções eram em número menor, ao passo que na Espanha, onde o poder político se impôs e controlou os tribunais, cometendo muitos crimes que são injustamente considerados eclesiásticos. Agora se continuam negando a legitimidade intencional da Igreja, paciência. Quando é dito que um católico não põe em dúvida a autoridade da Igreja está-se referindo ao princípio evangélico que Cristo ensinou, ouvir a Igreja para assim ouvi-Lo (Lucas 10,16). A citação do Pastor Hugh P. Jeter, dizendo que o professor católico merece toda confiança ao ponto de se afirmar que o branco é preto o aluno deve concordar, isso é um absurdo. O que M. Garrido Alabama disse é muito difícil de justificar-se. O pastor continua com a tese de que os padres não pensam teologicamente: Como já sabemos, há muitos livros escritos por padres,  argumentando de tudo quanto é jeito, a fim de provar que nós, os evangélicos, estamos interpretando mal a Bíblia. Mas essas críticas são destituídas de valor, já que não procedem de alguém que, raciocinando com sua própria cabeça, tenha tirado as suas próprias conclusões. Como informamos, os padres não podem fazer isso. Só o papa e seus bispos podem fornecer a real interpretação da Bíblia, segundo o Catolicismo. Ora, para que sabermos a opinião de quem não tem opinião própria? A opinião de um padre típico é: “É errado ter opinião”. Geralmente, quando um

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padre nos “refuta”, o faz à base do seguinte raciocínio: “Quem são esses evangélicos para discordarem de Sua Santidade? Na minha  opinião eles estão com a razão; porém, eu concordo com eles por causa das minhas deficiências. Se eu não fosse tão ignorante, discordaria deles. A lógica humana diz que a razão é deles; mas, como o Papa é infalível, a conclusão óbvia é que eles estão equivocados”. Quanto a isso, de que críticas católicas de que os evangélicos estão interpretando a Bíblia erradamente serem críticas sem valor, visto que os padres católicos não estão pensando por si, não é convincente, pois, se os padres escritores não merecem a consideração do que publicam, por não estarem expressando o seu parecer pessoal, poderia ser objetado que permanece de pé as suas opiniões, que são fiéis ao parecer o Papa e dos Bispos, que estariam pensando por si mesmos e concluindo aquilo mesmo que os padres informam, dando valor à mesmas, que indiretamente são apresentadas aos protestantes, sendo, portanto, em última análise, dignas de consideração. Realmente a conclusão de que não se deve raciocinar é idiota. Não parece ser isso o que de fato ocorre entre o clero cristão católico, conhecido pela cultura eminente que possui. Mas nesse caso o pastor Joel já disse que esses estão cegos (2 Cor 4,4). É óbvio que os dogmas são indiscutíveis e não poderão ser mudados. Mas isso é comum ao protestantismo também, que não abre mão do que considera fundamental, como sendo os pilares da fé cristã, onde todos devem estar unidos, sob pena que serem tachados de hereges, de não-evangélicos, de falsos profetas, de pregadores de heresias de perdição. A diferença é que a Igreja Católica tem diversos outros pontos doutrinais que são fundamentais e que os protestantes consideram “secundários” ou como questões irrelevantes. Então, não é, como foi exemplificado, uma questão de um idiota-guia e de idiotas seguidores, formando dois conjuntos de idiotices, que não resolvem nada mesmo, se assim o fosse. A citação de Romanos 14 como sendo uma “prova” de que os cristãos primitivos divergiam em questões doutrinais não prova nada. Essas divergências exemplificadas em Romanos 14 também existem na Igreja Católica e não se assemelham em nada às divisões protestantes.

     

CAPÍTULO 3

 CRIANÇAS NO LIMBO?!

 3.1. Expondo o que a “Igreja” diz

      No respectivo tópico o pastor Joel expõe que a Igreja prega que os recém-nascidos não-batizados não são filhos de Deus, nascem sob o poder das trevas, do poder do Maligno (que com inicial maiúscula significa o Diabo). Morrendo nesse estado não pode ir para o céu, mas sua alma irá para o estado chamado limbo. Desse estado talvez possa sair um dia, pela misericórdia de Jesus. Por isso, segundo diz, a Igreja ensina rezar pelas almas das criancinhas mortas sem batismo, para que possam sair do limbo e ir para o Paraíso Celestial. Depois questiona: O que levou o clero católico a essa conclusão? E responde: Jesus disse que o ser humano tem que nascer da água e do Espírito, para se habilitar a entrar no Reino de Deus (Jo 3.1-5). Sabendo que é pelo batismo, segundo a Igreja, que se nasce pela água e pelo Espírito, o batismo é necessário para a salvação, até dos recém-

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nascidos, e se morrerem sem o batismo, estão privados da visão de Deus face a face. Desconhece-se o modo pelo qual Deus aplica-lhes a salvação. De fato, essa é a doutrina cristã católica.

Depois disso, o pastor cita cinco tópicos, do Catecismo, do Compêndio do Catecismo e do Dicionário Aurélio, para provar que a Igreja ensina isso de fato.

Passa a seguir a “refutar” o que a Igreja diz.

3.2. Refutando o que a Igreja diz

       O autor irá tecer considerações quanto ao “imaginário” limbo, bem como quanto às crianças lá retidas. Podemos afirmar que o limbo é uma hipótese teológica, que o autor chamou de “imaginário”. Ele sabe que essa doutrina não é dogma de fé, pois nenhum concílio a definiu.

 3.2.1. Primeira refutação

      O pastor acredita que o Dr. Aurélio [dicionarista] equivocou-se ao afirmar que o limbo foi uma doutrina posterior ao século XIII, visto que D. Estevão afirma que santo Anselmo a ensinou, e esse santo nasceu em 1033, no século XI. Citação: “A partir de Santo Anselmo [...], os teólogos propuseram o limbo como estado de felicidade natural reservada a tais crianças; elas veriam a Deus não face a face, como no céu, mas indiretamente, através do espelho das criaturas” (BETTENCOURT, Estêvão. Católicos Perguntam. Santo André: O Mensageiro de Santo Antônio. 7 ed. 2004, p. 29). Mas D. Estevão diz que foi a partir de Santo Anselmo que a doutrina foi proposta, o que implica que Santo Anselmo não a formulou. É o que parece.

No item a) o pastor “descredencia” totalmente a Santo Anselmo, afirmando que esse não foi teólogo, nem santo, mas um “falso profeta”, por ensinar o Limbo, o que seria uma discriminação das crianças no além-túmulo, uma invencionisse. 

Afirmar que as crianças no limbo gozam de uma felicidade natural seria tampar o sol com a peneira ou por o lixo sob o tapete, uma tentativa de reparar o erro sem abrir mão dele. O pastor descreve o pensamento de santo Anselmo: a) Deus, por ser justo, não pode levar  para o Céu, as almas das criancinhas que morrem sem ser batizadas, já que as tais estão manchadas pelo pecado original; b) Deus, por ser amor, não as lançará no Inferno, pois não têm culpa pessoal quanto a isso; c) há, portanto, um lugar intermediário próprio para elas, onde, embora impossibilitadas de verem “a Deus face a face”, podem, contudo, vê-lo “através do espelho das criaturas””. E, por conseguinte, terem uma felicidade natural, inferior à daqueles que estão para o Céu;. É importante notar que essa posição é razoável. Devemos considerar três princípios verdadeiros: a) a necessidade do batismo b) vontade salvífica de Deus c) os recém-nascidos [ou mesmo os não nascidos, ainda em estado fetal] não tem pecado pessoal, mas nascem com o pecado original. A doutrina do limbo tenta resolver a questão. É, no mínimo, uma opinião teológica respeitável. O limbo das criancinhas não está exarado na Sagrada Escritura, mas a conclusão teológica de Santo Anselmo

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deve ser considerada. Não há revelação de que Deus salve automaticamente a todo ser humano, o que implica afirmar que todo homem nasce salvo. Essa certeza não é bíblica, é extra-bíblica e, pelo que podemos notar pelo teor geral da Escritura, é uma doutrina anti-bíblica. Portanto, todos nascem sob o império do Maligno, mas se morrem nesse estado antes de atingir o uso da razão, Deus certamente possui outros meios pelos quais salvá-los, fora do batismo. Um batismo de “inocência”, como ironicamente propôs o pastor, talvez não seja adequado visto que o pecado original deixa claro que o ser humano não é um inocente nato diante de Deus. Mas como os infantes não possuem pecado pessoal, a misericórdia de Deus nos inspira a esperar que a salvação deles é possível. Uma razoável hipótese é que todos os que morrem sem receberem a regeneração, e antes de atingirem o uso da razão, são postos à prova por Deus, e usando do livre arbítrio podem se colocar pró ou contra Deus, podendo ser salvo ou mesmo condenado. Diante da falta de revelação de Deus quanto a essa questão, justifica-se rezar por essas almas. Dizer que todas estão perdidas é um equívoco; afirmar que todas estão salvas constitui outro; o estado intermediário e de felicidade natural é, no mínimo razoável, a colocação à prova em liberdade de escolha para ser a mais bíblica e racional. Agora voltemos à análise das palavras do pastor Joel.

No item c) o pastor afirma que D. Estevão destoa do catecismo afirmando que Deus tem recursos invisíveis para salvar tais crianças, enquanto que o catecismo nada garante sobre o destino eterno delas. Passa a formular perguntas a D. Estevão, às quais se imagina uma resposta aqui. Diz o pastor: Formulo, porém, a esse Padre as seguintes perguntas?

Ele questiona a D. Estevão se a Igreja prega isso [sobre os recursos invisíveis], e responde que não, pois oficialmente a doutrina é insegura nesse caso. Qualquer tentativa de pedir a Deus não tem eficácia conhecida. A Igreja declara que não conhece outro meio além do batismo pelo qual uma pessoa seja salva.

Pode-se responder que isso nada mais é que uma fidelidade da Igreja ao texto sagrado. E quando a Igreja afirma que Deus pode salvar mesmo sem os sacramentos, está expressando o mesmo que D. Estevão quando aludiu aos recursos que Deus tem para salvar, e que nos são desconhecidos. Em João 3,5 Jesus não revela outro meio pelo qual o homem possa entrar no Reino de Deus, mas apenas o renascer da água e do Espírito. Se o protestantismo interpreta essas palavras como sendo outra coisa, por exemplo, a fé e a conversão, o que exclui o batismo, isso também estaria “excluindo” as criancinhas, que não podem ter fé, visto não terem chegado ao uso da razão. Mas, é óbvio que o protestantismo prega que as crianças já estão salvas. Onde os protestantes encontram essa afirmação é que é um mistério, pois a Sagrada Escritura não o revela. O próprio texto de São João citado acima é uma prova irrefutável disso.

O pastor Joel questiona assim a D. Estêvão: o senhor disse que a Igreja ora pelas almas das criancinhas que morreram sem ser batizadas. Caso essas orações sejam respondidas, em que tais almas serão favorecidas? Sairão do lugar em que estão, onde não podem ver a face de Deus, e voarão ao Céu? Se sim, pergunto: Então o senhor aquiesce que elas não estão no Céu? Ou o senhor não sabe onde elas estão? Caso esta última pergunta seja respondida positivamente, concluo que o senhor admite que as almas em

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questão podem não estar bem, assim como também reconhece que há uma possibilidade de elas já estarem na bem-aventurança eterna. Logo, o senhor não confirma a existência do Limbo, não o nega, nem se silencia sobre o assunto, mas fala como bom representante de sua insegura igreja. Sendo assim, tal qual a sua Igreja, o senhor está cheio de dúvidas, não é mesmo?

Podemos imaginar uma responta considerando a doutrina da Igreja. A Igreja reza pelas almas das crianças, pois sendo criaturas de Deus, nasceram com o pecado original e não podem ser responsabilizadas por isso, mas, igualmente, não podem ser admitidas no Céu, visto que o pecado original as priva disso. Sobre esse fato explica o professor Orlando Fedeli:  O limbo é onde ficam as crianças que morreram sem Batismo, até que Deus as prove, dando-lhes também a graça de bem escolher entre o bem e o mal. Se não há limbo, muitos iriam ao céu sem Batismo, o que contraria a palavra de Cristo. Isso também é uma explicação teológica católica, não foi o senhor Orlando quem a inventou. Ninguém nasce salvo, é preciso optar por Cristo e receber a salvação dele. As crianças ainda não tiveram tempo e condição para isso, como se salvar então? No batismo, elas são tornadas filhas de Deus pela fé da Igreja. Sem o batismo, isso não pode acontecer. Deus, que é misericordioso, tem outros meios justíssimos para salvar tantas criaturas que morreram nesse estado. Ele só pode condenar quem voluntariamente apartou-se Dele.

O pastor Joel diz: Os espíritos das crianças que estão no Limbo, embora não estejam numa condição tão ruim quanto a dos que estão no Inferno, não se pode dizer que já estão salvas, considerando que a sua Igreja prega que se deve orar pela salvação delas, como visto há pouco. Ora, se não estão salvas, então estão perdidas, não é mesmo?

Pelo que foi respondido anteriormente pode-se afirmar que as crianças no limbo não estão salvas definitivamente e, portanto, podem ser condenadas caso não optem por Deus, escolhendo livremente o mal, como o fazem tantas pessoas nesse mundo, ao chegar ao uso da razão. Não se pode dizer que estão perdidas. Por isso, a oração para que se salvem tem o mesmo sentido da oração que fazemos pelos que estão vivos.

Continua: Admitir que as almas dos recém-nascidos que morreram sem o batismo, estão carentes das nossas orações, não equivale a - na melhor das hipóteses -, ombrear “Santo” Anselmo, segundo o qual tais almas não estão no Céu, mas noutro lugar onde não podem ver a face de Deus?

Essa admissão da carência de orações que as almas dessas crianças tem, se aproxima muito da hipótese de Santo Anselmo, divergindo, no entanto, no fato de que o estado do limbo não é eterno, havendo a possibilidade de se sair dele.

E ainda, diz o pastor Joel: E essa não é uma atitude anticristã, que põe em xeque a justiça e a misericórdia de Deus?

Pelo contrário, é uma atitude que equilibra a justiça e a misericórdia de Deus. Deus não condena os inocentes e nem salva os pecadores não arrependidos. Todos os que nascem, estão privados da glória de Deus, pois nascem da carne, e devem ser postos na graça divina. O meio que Deus revelou, nós já o conhecemos. Agora, podemos ter certeza que ele possui

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outros, para salvar os que morreram sem batismo, visto que é revelado que Deus quer que todos sejam salvos.

No item f) o pastor Joel aconselha a Dom Estevão a ler a Bíblia sem os óculos dos papas, bispos e arcebispos para que dirima suas dúvidas. Certamente, dom Estevão teria uma resposta apropriada para isso.

***

O pastor acusa a Igreja de não querer se desfazer da doutrina do limbo (e também do purgatório) por motivos econômicos, que seria a vaca leiteira de inestimável valor. Se acreditam na salvação automática das criancinhas “a vaquinha vai pro brejo” diz o pastor. Tudo isso constituiria molejo, jogo de cintura e malabarismo do clero. É óbvio, diz o pastor, que se a Igreja cresse que as crianças estão no paraíso, não aconselharia a orar por elas. Isso já foi respondido acima.

O pastor conclui que tudo isso é fazer uma péssima imagem da pessoa maravilhosa de Jesus e diz: O fato de Jesus haver dito que das crianças é o Reino dos Céus (Mt 19.14) constitui prova de que elas estão automaticamente sob a graça de Deus, oriunda do sangue de Jesus.

Então, o texto de Mateus 19, 14 seria a prova bíblica de que as crianças estão automaticamente salvas, sob a graça de Deus, oriunda do sangue de Jesus. Essa doutrina afirma que as crianças não precisam ser batizadas, pois delas é o Reino dos Céus. Todavia, isso introduz uma contradição doutrinal, pois leva a crer que o ser o humano “nasce salvo” para depois, ao atingir a idade em que possa decidir por si mesma, “passar a precisar de Jesus”, o que a coloca numa posição ruim. Nascer salva para depois entrar em condenação até que tenha fé, ou seja, se converta a Cristo! Mas, em nenhuma parte do Evangelho é dito isso. Se Mateus 19, 14 dispensa as crianças do batismo, e “declara” que estão salvas pelo sangue de Jesus automaticamente, então poderíamos afirmar que todos os pobres em espírito (Mateus 5, 3) não necessitam do batismo, pois já estão salvos pelo sangue de Cristo, visto que é dito que deles é o Reino dos Céus.

      O pastor explica a posição protestante quanto ao batismo: Damos grande importância ao batismo, mas não o consideramos imprescindível para a salvação. Para nós, o batismo é uma iniciação à fé cristã. Conseqüentemente, se por uma razão justa, não for possível batizar, não há problema algum.

Para o catolicismo, como foi dito, o batismo é necessário à salvação. No entanto, se alguém tem fé em Cristo e se converte, e antes de ser batizado venha a falecer, está salvo, pois se batizaria, caso tivesse sido possível, sendo que o desejo supre a vez do sacramento. Não adianta, portanto, citar Lucas 23,43 para negar que o batismo seja necessário à salvação, pois o ladrão crucificado não foi batizado, o que já foi respondido acima. Mas, o pastor questiona: Ora, se um ex-bandido pode entrar no Céu sem batismo, uma criancinha é que não pode? Por que toda essa incerteza? O ex-bandido, por ter se arrependido, foi salvo por Cristo, do contrário seria condenado. A criancinha não pode ser condenada, a menos que no uso de sua liberdade negasse a Deus. Então, João 3, 1-5 fala do batismo sim, porém, o novo nascimento pode ocorrer sem a realização do sacramento caso não haja

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possibilidade, pois Deus, que ligou a salvação ao Batismo, ele mesmo não está limitado ao sacramento (CIC 1257). O caso de Cornélio, que recebeu o Espírito Santo antes de ser batizado é uma exceção [necessária] à regra, visto que normalmente não ocorre assim. Tudo o que ocorreu naquela ocasião foi extraordinário: a visão que teve o apóstolo S. Pedro e etc. Não podemos argumentar com as exceções à regra. O novo nascimento é o batismo. Por ter Cristo afirmado que o Reino do Céu é das criancinhas, o pastor assevera que mesmo aceitasse a necessidade do batismo, ele poderia afirma que as crianças estão salvas antes mesmo de nascer. Outra objeção contrária à necessidade do batismo para a salvação é a seguinte, segundo o autor: Vários católicos já nos disseram que o fato de Jesus haver dito que “quem crer e for batizado será salvo” prova que o batismo é necessário para a salvação até dos recém-nascidos. Mas os temos ajudado a entender que se assim fosse, a perdição dos nenéns que morrem sem o batismo seria inevitável, pois que dependeriam de duas coisas para serem salvos: fé e batismo.Ora, batizar um bebê é fácil, mas fazê-los crer foge da nossa alçada. É o que foi dito anteriormente, a criança não pode crer, é assim, nem a doutrina protestante poderia provar que só se salva pela fé. Contudo, argumentam que a salvação á automática. Para os chegados ao uso da razão e na possibilidade de receber o sacramento, esse é necessário. A Igreja não afirma que as criancinhas são “filhas do diabo”, mas que estão privadas da graça de Deus pelo pecado original, estando, de certa forma, sob poder do Maligno. Continuam sendo criaturas de Deus e, portanto, podem ser adotadas como filhas. Essa é a resposta que o pastor Joel estava procurando, sem sofisma.

      O pastor reconhece que à luz da Bíblia (Sl 51.5; Rm 5.12, etc.) podemos afirmar que os recém-nascidos são, de fato, portadores do que se convencionou chamar de “pecado original”. A Sagrada Escritura é, realmente, claríssima ao afirmar a doutrina do pecado original. Porém, a explicação para o pecado original como sendo a natureza pecaminosa causa um problema. A nossa natureza pecaminosa continua sempre como tal, inclinada ao pecado pela concupiscência, e sabemos que a concupiscência não pode ser tirada da natureza humana. Sendo assim, o pecado original se tornaria um pecado “imperdoável”, se o considerarmos como sendo a própria natureza humana pecaminosa. Contrário a isso, a Bíblia apresenta como pecado imperdoável somente a blasfêmia contra o Espírito Santo. O pastor afirma: ...quando nós formos ao seu encontro através da morte, o Espírito Santo eliminará de nosso ser a natureza pecaminosa, também chamada de pecado original. Bem, então, é na morte que ficamos livres do pecado original? Diante do fato de que todos os seres humanos morrem, todos ficam “livres” do “pecado original”, “através da morte”. Mas o pastor afirmou que é o Espírito Santo que eliminará de nosso ser a natureza pecaminosa. Isso torna claro que, segundo o pastor, há no “ser humano” uma natureza pecaminosa que se chama pecado original, e que esse pecado só é eliminado [pelo Espírito Santo] na morte. Então, o Espírito Santo eliminaria o pecado original dos salvos, quando esses morressem, e não faria o mesmo com os outros mortos. Mas assim, todos os homens convivem com o pecado original até a morte! Não havendo diferença alguma nesse aspecto! Diante de tudo isso, é necessário informar que foi Lutero quem ensinou que o pecado original é a nossa natureza, ou, mais do que disse o pastor Joel, Lutero disse que o pecado original é o nosso próprio ser. Isso é uma heresia. A doutrina cristã católica ensina [sempre ensinou] que o pecado cometido por Adão e Eva, não obstante ser para eles um

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pecado pessoal, afetou também a natureza humana, e se propagou e todos os seus descendentes, pois, como primeiros pais, pecaram na posição de cabeça da raça humana. Com esse pecado original, perderam a santidade e a justiça originais, ocasionando consequencias dramáticas para a natureza do homem, como a concupiscência, o sofrimento e outras, sendo a maior delas a morte. Como se pode perceber, a concupiscência ou a natureza inclinada ao mal é uma conseqüência do pecado original e não o próprio pecado. (Romanos 5, 19; Catecismo 397). O pecado original é transmitido com a natureza humana (CIC 419). Portanto, o ser humano deve ser posto novamente na graça de Deus, e isso acontece através do Batismo, que devolve a vida da graça, apagando o pecado original e tornando a pessoa um filho de Deus. As conseqüências do pecado permanecem, e devem ser combatidas pelo homem auxiliado pela graça recebida. Portanto, o pecado original é perdoado, é apagado no Batismo, para que vivamos a vida na graça de Deus. O que passar disso é heresia.

O santo Batismo é, portanto, necessário à salvação. De certa forma as protestantes devem concordar com isso. Imaginemos que uma pessoa receba o dom da fé, arrependa-se de seus pecados e aceite a Cristo como seu salvador pessoal, Único e Suficiente e, por um motivo qualquer, não queira submeter-se ao Batismo, não queira ser batizada. Pela doutrina cristã católica, essa pessoa não pode ser salva se permanecer assim, pois deve ter os seus pecados perdoados e ser feita uma filha de Deus. Sem isso não será salva!

Os protestantes dirão que a salvação é alcançada pela fé, arrependimento e aceitação de Cristo como Único e Suficiente Salvador. Porém, o pastor Joel diria que se tal pessoa rejeita ser batizada, é uma prova ou evidência de que não está realmente salva, não foi salva, sendo falso aquilo tudo, “fé, arrependimento e aceitação de Cristo”, pois , do contrário, não estaria rejeitando obediência a uma ordenança de Cristo. Sendo assim, não será salva!

Podemos concluir que, praticamente, os protestantes concordam com católicos, divergindo gravemente em termos teóricos. Não creem que o batismo seja necessário à salvação, mas que nas condições acima, sem ele, o “convertido” não irá para o Céu. É como que uma aceitação prática e uma rejeição teórica.

      Então, os “dois produtos” de que fala o pastor Joel, o Batismo e as exéquias, para livrar e arrancar do limbo, respectivamente, são uma conclusão natural de toda a doutrina cristã sobre o Batismo.

       Enquanto os protestantes, que se dizem “cristãos autênticos”, consideram os recém-nascidos como “anjinhos”, “salvos”, por não “terem culpa”, o pastor questiona se o catolicismo estaria ensinando a “loucura” de que as crianças são “filhas do diabo”, “endemoniadas” etc. Já foi respondido acima, mas, repetimos: ninguém nasce sendo filho de Deus. Todos nascemos como criaturas de Deus e podemos ser adotados como filhos através do Batismo. Ao chegar ao uso da razão, se alguém opta pelo caminho do Maligno, praticando suas obras, tornar-se filho do Maligno! Da mesma forma, os filhos são os que obedecem a Deus!

 

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3.3. Criança não é filho de Deus mas é gente      Respondendo à pergunta do Frei Battistini: “Será que para os protestantes criança não é gente?”, o pastor Joel, que tem o Frei na conta de falso profeta e alma penada, ao mesmo tempo ora por ele para que seja salvo, dizendo: “Já chorei por ele em minhas orações! Façam o mesmo, meus irmãos!”

Pois bem, o pastor responde à pergunta positivamente, informando ao prezado (sic) Frei que os recém-nascidos são gente, mas, muito mais que isso, “eles estão salvos, já são filhos de Deus” e etc... Numa certa ironia continua: “Logo, que as crianças são gente, católicos e evangélicos estão de comum acordo”, indo, portanto, à controvérsia principal, que é se os recém-nascidos estão perdidos, se são escravos do poder das trevas, se estão debaixo do poder do Maligno, se são filhos do Diabo e se o batismo pode salvar esses “condenados ao Limbo”. São questões interessantes para quem, por não entender a questão e perceber tanta imprecisão nos livros quanto ao assunto se põe a mostrar a falsidade da doutrina em questão.

3.5. Convergência evangélica na divergência batismal

      O pastor Joel afirma que há convergência entre os protestantes a respeito do Batismo. Os protestantes batizam crianças, entre outras razões, por julgar que isso ajuda a educar o batizado no caminho do Senhor. A maioria das igrejas não batiza crianças, o que se subentende que algumas igrejas evangélicas batizam os recém-nascidos. Mas, segundo o pastor, estas igrejas (nenhuma delas, se subentende) o fazem, não para libertar os nenéns do poder das trevas, arrancá-los de debaixo do poder do Maligno, transformá-los em filhos de Deus e, por conseguinte, livrá-los do Limbo. Essa postura do pastor é semelhante àquele que ele acusou o Bispo Miranda, pois parece desconhecer que a primeira igreja protestante, a Luterana, iniciada pelo próprio Lutero, ensina que o batismo livra do diabo sim, é o que ensina o Catecismo Menor de Lutero:

Que dá ou para que serve o batismo?

Realiza o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a salvação eterna a todas as pessoas que crêem no que dizem as palavras e promessas de Deus.

Quais são estas palavras e promessas de Deus?

São as palavras que nosso Senhor Jesus Cristo diz no último capítulo de Marcos:"Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado."

Pelo que foi provado acima, Lutero ensina que o batismo perdoa os pecados, livra da morte, livra do diabo e dá a salvação eterna. Certamente, se o pastor já conhecia essa doutrina luterana [dá a entender que não], ele excluiu os luteranos do protestantismo, pois afirmou que as igrejas que batizam as crianças não o fazem para libertar os nenês do poder das trevas, arrancá-los de debaixo do poder do Maligno, ou como o mesmo Lutero escreveu: livrar do diabo. Com isso, pode-se dizer que

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quem mudou de doutrina [protestante] não foi Lutero, mas os protestantes reformados.Comentando as argumentações de muitos protestantes que afirmam ser desnecessário batizar os bebês, pois esses não tem pecado, e que os católicos retrucam afirmando a realidade do pecado original, e também pelo fato de que Jesus mesmo sem pecado se deixou batizar, o pastor reconhece que os católicos tem uma dose de razão, pois o pecado original e o batismo de Jesus, são fatos inegáveis à luz da Bíblia. Mas afirma que se os católicos querem se inspirar em Jesus, deverão batizar exclusivamente os adultos. A isso se responde que o batismo que Cristo recebeu não foi o batismo cristão, pois esse logicamente Ele mesmo iria instituir. Depois questiona: Porém, será que o batismo lava pecado original? Mas é claro. Sendo o pecado original e privação da santidade e justiça, e o batismo a operação da justificação, então o pecado original é apagado. Se se considerar o pecado original como a concupiscência, que é um erro doutrinal, então não há como crer que esse fosse apagado. O pastor afirma optar por batizar somente os que creem, o que exclui os recém-nascidos, e respeita os que divergem dele, se não atribuem valor salvífico ao batismo. Em outras palavras, creio que nesse caso somente se o batismo é segundo a teologia calvinista-reformada. O pastor Joel apresenta três razões para considerar o batismo católico como “não bíblico”: Primeiro, porque é por aspersão; segundo, porque é extensivo às criancinhas; terceiro, porque é visto como tábua de salvação. Os dois primeiros “erros”, segundo ele, não descaracteriza nenhuma igreja cristã, mas o último sim, é um “erro gravíssimo”, pois faria de Cristo um mostro, que condena até os bebês e negaria que o sangue do Senhor é a única fonte purificadora. A essa objeção do pastor Joel, até Lutero já havia respondido, visto que o batismo confere a graça através do sangue de Cristo, pois que o batismo não é só água, mas é a água contida no mandamento de Deus e ligada à palavra de Deus (Catecismo Menor de Martim Lutero). Portanto, mesmo estando tão convicto, e aberto quanto à questão, como está o pastor Joel, afirmando que mesmo se estiver em erro por negar o batismo aos recém-nascidos e adotar a imersão como forma única, ele diz estar tranqüilo, pois é o sangue de Cristo a única tábua de salvação, o pastor deve reconhecer que a questão não necessita de compreensão maior, já que Lutero (para citar os protestantes) havia respondido a esse aparente problema. Os luteranos, certamente, não fazem parte daqueles que convergem nesse assunto, segundo o pastor. Se o luteranos são protestantes [e são realmente], não há a tal convergência na divergência aludida nesse tópico.

CAPÍTULO 4

O CATOLICISMO VERSUS BÍBLIA

 4.1. A Igreja Católica traiu a Bíblia!

O pastor Joel acredita que pode provar a incompatibilidade da doutrina católica com a Bíblia. O próprio título é equivocado, pois o catolicismo está enraizado na Bíblia, sendo impossível ser colocado versus Bíblia.

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4.1.1.              Adicionando-lhe os apócrifos

 A) Quando? 

       Nesse capítulo, tópico 1.1 a), o pastor Joel tenta provar que foi oficial e definitivamente no século XVI que os livros deutero-canônicos (que os protestantes chamam apócrifos) foram adicionados à Bíblia. Vejamos a explicação:

Poucos sabem que em 1546, no Concílio de Trento, o clero católico adicionou à Bíblia sete livros apócrifos. Eles já vinham fazendo isso desde o século IV, contudo, o reconhecimento oficial e definitivo desses livros por parte da Igreja Católica se deu a partir do século XVI. Século XVI? Bem, esse Concílio foi relevante quanto à aprovação dos apócrifos, mas não podemos esquecer que no século XIX, no Concílio Vaticano I, datado de 1870, se ratificou a canonicidade dos apócrifos. Por que tantas ratificações? O leitor não desconfia de nada?

       Na explicação supra-citada podemos notar que não foi algo novo o que se deu no século XVI, pois é reconhecido que a Igreja já havia aprovado os deuterocanônicos desde o fechamento do cânon no 4º século. Mas o pastor Joel afirma que a adição (que nunca houve) foi, de forma oficial e definitiva, feita no século XVI, e mostra que essa decisão foi ratificada em 1870. Após essas explanações, o autor questiona se o leitor não desconfia de nada. A isso pode-se responder que se houve mais ratificações é porque foi necessário! Mesmo a definição do século XVI não foi em vão, de forma arbitrária ou sem necessidade. Por que o Concílio de Trento tratou da questão do Canon? Porque os protestantes, iniciando com Lutero, estavam colocando em dúvida e retirando muitos livros da Sagrada Escritura, entre os quais os deuterocanônicos. A Igreja, depois de vários anos, à luz da Bíblia e tradição cristã, responde a todas as dúvidas e acusações dos protestantes, definindo (contra todas essas dúvidas) o cânon bíblico que a Igreja recebeu de Deus.

       Contudo, o pastor Joel apresenta outras razões pelas quais a Igreja teria adicionado livros à Bíblia. Por exemplo: A adição dos apócrifos à Bíblia se deu pela seguinte razão: Prover aos padres recursos para “provar” pela “Bíblia” que o Catolicismo é ortodoxo. Por exemplo, 2Macabeus, capítulo 12, versículos 40 a 46 diz que é certo rezar pelas almas dos mortos. E no capítulo 15, versículos 11-16 deste mesmo livro, consta que Onias e Jeremias, então já falecidos, intercediam a Deus em prol dos judeus. Ora, uma "Bíblia" assim era tudo que o clero católico precisava. Nenhum livro da Bíblia manda rezar pelos mortos, tampouco dizem que os mortos oram por nós; só 2Macabeus o faz; e o leitor não desconfia de nada?

       Interessante o início da suposta razão apresentada: “provar” que o catolicismo é ortodoxo! Mas mesmo sem nenhum dos deuterocanônicos a Igreja pode provar que é ortodoxa! Basta ler os Evangelhos! A questão é que Lutero e os seus seguidores (sucessores?), negaram a inspiração dos 2 livros dos Macabeus porque neles estava a verdade sobre o Purgatório. A questão pode, mais logicamente, ser colocada contra a posição protestante, pois se o livro apresenta a doutrina da oração pelas almas e da intercessão dos santos, isso não o desqualifica como livro sagrado, o que necessitaria de um critério objetivo, mas, antes, é uma prova de que o escrito é mais

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explícito sobre essa questão, e sendo esse assunto negado pelo protestantismo, será uma parte da Escritura que não poderá ser tolerada por ele. A respeito da oração pelas almas dos falecidos, o pastor Joel insinua que esse expediente de 2 Macabeus 12, 40-46 faria com que o tormento eterno para os ímpios deixasse de existir (se as orações tivessem efeito positivo), visto que então esvaziaríamos o Inferno. Após apresentar esse arrazoado, o pastor Joel previne de uma eventual resposta que os católicos venham a apresentar para essa questão: Talvez alguns católicos tentem se defender dizendo que a religião deles não ensina a rezar pelos que estão no Inferno, mas sim, pelos que estão no purgatório (...) e caso eles apresentem esse possível argumento,  podemos replicar das seguintes maneiras.

       De fato, se os protestantes objetarem que a oração pelas almas serviria para “salvar” os condenados ao Inferno, os cristãos católicos responderiam que essas orações servem de auxílio àquelas almas que padecem no purgatório. Esse auxílio é possível pelo fato da existência da comunhão dos santos. E, então, quais as razões que poderiam “refutar” essa resposta cristã católica? O pastor Joel afirma que o texto citado de 2 Macabeus ensina a rezar pelos que estão no Inferno, pois aqueles que morreram haviam cometido idolatria. O autor apresenta mais o seguinte: a Igreja Católica ensina que a idolatria é pecado grave e que conduz ao Inferno. Conclui-se, assim, que as orações, para estarem de acordo com aquele texto de 2 Macabeus, devem ser oferecidas pelas almas dos condenados!!!! Leiamos as próprias palavras do autor: Se os católicos querem mesmo obedecer o que está escrito no capítulo 12 de 2Macabeus, devem rezar pelos que estão no Inferno, visto que este texto manda rezar pelos que haviam morrido na idolatria.

       Essa objeção não refuta a doutrina do purgatório pelas seguintes razões: os Macabeus estavam servindo a Deus e faziam a Sua Vontade; não se esqueciam de louvar a Deus, e, portanto, pediram o auxílio do Senhor para as suas batalhas. Alem do mais, o texto afirma que o Senhor os ouvia (2 Mc 10, 1-3.7.16.28). Tudo isso prova que os judeus macabeus estavam na graça de Deus, ou seja, em comunhão com Deus e, portanto, não foram condenados ao Inferno. O senhor Rondinelly Ribeiro afirma: Por isso os companheiros de Judas Macabeu, apesar do pecado, morreram piedosamente, e ele, por crer na ressurreição dos mortos, mandou realizar a oração expiatória em favor deles, o que seria supérfluo se não cressem nesta ressurreição.        Aqueles judeus não eram idólatras, mas, certamente por fraqueza, guardaram consigo bens de valor material que eram consagrados aos ídolos, e foi nisso que consistiu o seu pecado. Como piedosos, receberam o perdão divino, mas suas penas deveriam ser expiadas, e por isso o texto de 2 Mac 12,40-46 afirma que é santo e salutar orar pelos mortos. E mais, Ribeiro afirma que: A purificação final somente é concedida aos que se reconciliaram com Deus nesta vida. Estando aqueles judeus reconciliados com Deus, foram salvos. Porém, no purgatório sofreram as consequências daquele pecado em que tinham caído. A objeção protestante caiu por terra.

[RIBEIRO, Rondinelly. Apostolado Veritatis Splendor: RESPONDENDO ARGUMENTOS CONTRA A DOUTRINA DO PURGATÓRIO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/2860. Desde 28/06/2004.]

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       A segunda objeção é relativa ao fato de que a Igreja tem uma oração assim: “Senhor, lembrai-vos de nossos irmãos que morreram na esperança da ressurreição, e de todos aqueles que já partiram deste mundo! Acolhei-os junto de Vós, na luz da vossa face!” (Grifo acrescentado pelo pastor). O pastor Joel afirma ter um folheto com aprovação eclesiástica, (que ele chama de obra oficial dessa “seita”) que contem essa oração. Logo, o clero está ensinando a rezar por todos, todos os que partiram, até os condenados, não só os que padecem no purgatório!

       Poderia afirmar que padres já teceram críticas a essa expressão (já ouvi crítica de um padre quanto a isso). Parece que essa crítica foi feita também por Bento XVI, pois essa oração insinuaria uma salvação para todos os que morreram. Mas, visto que a doutrina cristã católica nunca ensinou a rezar pelos condenados, e o Catecismo ratifica essa doutrina (os condenados não tem possibilidade de salvação), podemos concluir que essa oração contém uma ambiguidade ou uma má articulação gramatical ou outro erro dessa espécie, e seria oportuna uma correção. Portanto, a segunda objeção não tem sentido fora disso. Entretanto, a objeção está correta quando notou a que resultado errôneo aquelas palavras podem levar.

B) Provas cabais da fraude

       O pastor Joel reconhece a importância histórica dos livros 1 e 2 Macabeus, negando-lhe, porém, a inspiração. Uma das provas de que o livro de Macabeus não é inspirado seria o fato de que o autor (do livro de Macabeus) humildemente pede perdão pelas possíveis falhas que nele os leitores viessem a encontrar. Deus não pede perdão, então, o livro não seria inspirado! Segundo o pastor, Isto prova a humildade do autor, bem como a falta de inspiração divina. Esse parecer está correto em parte, pois se o pedido de perdão que o autor de Macabeus faz é prova de sua humildade, não pode, porém, ser usado como prova de que o livro seja não inspirado. O autor apenas diz que se sua composição contiver alguma falha, pois, todo homem comete falhas, que o leitor o perdoe. Isso somente prova que o autor estava consciente de sua pequenez diante de Deus, e que qualquer defeito em seu escrito seria devido às suas capacidades humanas, que poderia demonstrar fragilidade na transmissão da verdade infalível de Deus. De forma alguma essa “prova” a mais constitui prova contra a inspiração do livro em questão. De fato, para que o protestante considere que 2 Macabeus 15, 38 é uma prova da não inspiração do livro, ele deve a priori crer que o livro não é inspirado. Assim, fica fácil considerar qualquer aparente defeito como uma prova da não inspiração. Se surgirem dificuldades semelhantes em outros livros que o protestante considera canônico, logicamente tentará compreender a questão, mas não dirá que isso se trata de prova contra a canonicidade da obra. Da mesma forma, para o estudante católico, que reconhece a canonicidade de todos os 72 ou 73 livros, tais “defeitos” ou “falhas” nunca depõem contra a inspiração dos mesmos. Outro fato que torna mais evidente a subjetividade dessas opiniões é, por exemplo, a de um ateu, para o qual a Bíblia é um livro meramente humano. Textos como o de 2 Mac 15,38 e tantos outros, de qualquer um dos livros bíblicos, serão “provas” de que a Bíblia não é inspirada. O que leva o ateu a essas conclusões é a sua fé na inexistência de Deus. Realmente o ateu crê nisso e, portanto, ele tem uma crença que o condiciona a esses disparates. Voltando ao âmbito cristão, sabemos que nenhum católico ou protestante irá afirmar que a opinião do escritor do Eclesiastes em 2,11 será prova de

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que Deus não o havia inspirado. Assim como em Mateus 27, 9, o evangelista atribui a profecia a Jeremias, quando o texto pode ser o que está em Zacarias 11,12-13. Um estudioso pode considerar isso um “equívoco”, outro pode afirmar que Jeremias tenha dito, mas que foi Zacarias quem escreveu um texto semelhante, ainda, que o volume no qual está o texto de Zacarias era chamado de Jeremias, como explica Hélio de Menezes em sua Bíblia LTT anotada. São explicações que talvez não convençam alguém que esteja “certo” de que não houve inspiração. Porém, tudo isso não depõe contra a inspiração dos livros citados, e assim, não tem fundamento usar 2 Mac 15,38 para desacreditar da origem inspirada do mesmo, pois o texto não tem nada a ver com a questão. O autor também nega que os deuterocanônicos foram citados por Jesus e, mesmo se o fossem, isso não seria prova de inspiração divina, salvo se Cristo previamente informasse com termos como Está escrito.., ou as Escrituras contem etc... Concordamos que a mera citação não faz um livro inspirado. Contudo, o Novo Testamento cita a septuaginta e, indiretamente, várias citações podem ser encontradas dos livros deuterocanônicos. Mas esse argumento não é conclusivo, e é rejeitado pelo pastor Joel. Segundo ele, basta os protestantes perguntarem o motivo de o livro A Vida de Enoque não ter sido adicionado no cânon, pois Judas o cita nos vv. 14 e 15. Essa objeção já está respondida acima, mas repeto aqui: a mera citação não faz um livro inspirado.

       O pastor lembra o fato de que o Antigo Testamento já estava escrito no tempo de Cristo, e que na opinião popular, bem como na dos rabinos, os deutorocanônicos não eram parte da Escritura. Qual seria a prova para isso? É que, até hoje, os judeus, por não crerem em Jesus, rejeitam o Novo Testamento e como tradição, os apócrifos nunca foram reconhecidos como canônicos, sendo que a Bíblia judaica contem somente os livros que os protestantes passaram a adotar. Flávio Josefo atesta que os livros do Antigo Testamente eram somente os da Bíblia Hebraica. O pastor Joel também afirma que do século V ao XVI a Igreja adotava 10 livros a mais como “inspirados”. Dentre esses estavam III e V Esdras e a Oração de Manassés, que teriam sido retirados no Concílio de Trento. Logo após, o pastor Joel afirma que a primeira adição de livros “apócrifos” à Bíblia foi feita na Tradução dos Setenta ou Septuaginta, e, no entanto, reconhece o valioso trabalho que é a tradução referida. Cita o fato de que os ortodoxos aceitam outros livros que foram rejeitados pelo catolicismo e ironiza com a possibilidade de mais “adição” ou mesmo “retirada” de livros “Bíblicos” pela Igreja: É bem provável que em um próximo concílio os papas acrescentem à Bíblia (ou removam dela) mais alguns apócrifos. Por que não? Se o fizeram em 1546, não poderão fazê-lo novamente? Outro fato seria a tradução da Vulgata, que incluiu os deuterocanônicos, mas, não para fins doutrinários. Prossegue o autor: Os apócrifos sofreram forte oposição, na qualidade de livros inspirados, por Júlio Africano, Atanásio, Jerônimo e muitos outros valores da igreja primitiva. Houve muita polêmica, sempre decidida em Concílios, os quais foram: oConcílio de Hipona (393 d.C.), Concílio de Cartago III (397 d.C), Concílio de Cartago IV (419 d.C.), Concílio de Trulos (692 d.C), Concílio de Florença (1442 d.C.), Concílio de Trento (1546 d.C.) e Concílio Vaticano I (1870 d.C.). Agora, surge uma questão importantíssima, e é o próprio pastor quem a sugere quando afirma: Uma vez que a Bíblia dos católicos, em relação à Bíblia dos evangélicos, tem sete livros a mais, como dois mais dois são quatro, ou os católicos acrescentaram algo à Bíblia ou os evangélicos tiraram algo da Bíblia. E, segundo Apocalipse 22.18-19, há alguém indo para o inferno por causa disso: ou os católicos, ou os

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evangélicos. Daí a necessidade de pesquisarmos bem, para ficarmos do lado certo, antes que seja tarde demais. É reconhecidamente uma posição de suma importância, e não se pode deixá-la de lado, como se fosse, pelo contrário, um assunto de mera importância. O pastor Joel também pede que se os católicos descobrirem que foram os protestantes que diminuíram a Bíblia, que os considerem perdidos e esforce para ajudá-los; e se chegar à conclusão que foi o contrário, ou seja, uma adição de livros à Escritura, que saiam do catolicismo já. A tudo isso, pode-se responder que não há possibilidade de adicionar e/ou retirar livros da Bíblia, visto que a Igreja nunca o fez e, se não o fez, não há tradição para fundamentar essa prática. Além disso, o Espírito Santo conduziu todo o processo de reconhecimento do Canon. Os livros III e IV Esdras e a Oração de Manassés nunca fizeram parte do catálogo sagrado, não sendo canonizados em nenhum concílio. No quarto século, esse e outros apócrifos (os não inspirados) foram rejeitados pela Igreja e os livros inspirados foram canonizados (protocanônicos e deuterocanônicos; toda a Bíblia, Antigo e Novo Testamento). O mesmo foi ratificado nos concílios posteriores, até que definitivamente a mesma lista (Cânon) foi definida em Trento. O Espírito Santo guia a Igreja nessas questões de importância crucial para a salvação das almas. É importante informar que o mesmo Concílio que definiu todo o Antigo Testamento, também o fez com relação ao Novo Testamento, e os protestantes aceitam o cânon cristão católico para o Novo Testamento, enquanto optam por continuar a usar o cânon judaico para o Antigo Testamento, o que é uma incoerência. Quanto à razão pela qual os católicos deram um nome diferente aos deuterocanônicos, ao lado dos protocanônicos, é que aqueles foram disputados (várias vezes, e a Igreja não esconde isso) enquanto que os outros tiveram aceitação rápida. É esse o motivo do nomezinho especial, como se referiu o pastor Joel. O termo deuterocanônico surgiu no século XVI, como afirma o erudito Bruce, e sua separação dos outros livros se deu, mais exatamente, em 1520. Isso pode ser confirmado pela introdução da tradução protestante New English Bible. São Jerônimo (quem os protestantes costumam citar como ombreando a sua posição) tinha sua opinião (pessoal) a respeito dos deuterocanônicos (lembramos que esse termo era desconhecido em sua época), e sabemos que os Padres da Igreja não são individualmente infalíveis. Portanto, como filho da Igreja, submetia sua opinião à autoridade da Igreja Católica. Desse modo, mais tarde, São Jerônimo reconheceu a inspiração dos deuterocanônicos.

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       A verdade é que os deuterocanônicos, após disputas mil, foram reconhecidos como livros inspirados no quarto século, juntamente com todos os outros livros do Antigo Testamento e do Novo, nos concílios citados anteriormente. Não existiu “dois canons”, mas os termos proto e deutero serviram para indicar os livros que foram aceitos sem disputa e aqueles polemicamente disputados, respectivamente. É fato que outras vezes os cristãos influenciados por ideias contrárias aos deuterocanônicos, lançaram dúvidas e tentaram levantar novas polêmicas. Um exemplo disso foi o ocorrido no século XVI, quando os protestantes, rebelando-se contra a autoridade da Igreja, retiraram esses livros da Bíblia, e a Igreja, por sua vez, teve de defendê-los explicitamente no Concílio de Trento.

[ARMSTRONG, Dave. Reply Concerning the Canonicity of the So-Called "Apocrypha" (vs. Dr. John Ankerberg & Dr. John Weldon) ]

4.1.2. Igualando-a à tal de Tradição 

      A questão da Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição. Sabemos que Deus nos deu uma só revelação e que essa revelação foi transmitida de dois modos: escrito e oral. Sendo apenas duas as vias de transmissão da revelação única de Deus, as sagradas Escritura e Tradição são iguais e harmônicas. O pastor Joel diz que os papas não se apóiam só na Bíblia que eles adulteraram em 1.546 mas também na Tradição sagrada. Sabendo que nunca houve adulteração a acusação caiu por terra. Nenhum papa “adulterou” a Bíblia, muito pelo contrário, a Igreja sempre defendeu a Sagrada Escritura dos erros heréticos. Quanto ao valor da Tradição certamente o acima exposto já é suficiente para entender. O autor cita o Catecismo número 97 que ensina ser a Bíblia e a Tradição um só sagrado depósito da Palavra de Deus. Agora o pastor quer demonstrar o que é a Tradição. Segundo ele, o católico quando encurralado por um expositor da Bíblia recorre à Tradição, que seria o conjunto das tradicionais incoerências que constituem o Catolicismo; as quais, além de chocarem com a Bíblia, são autocontraditórias. Uma “tradição” incoerente e autocontraditória não pode ser a Sagrada Tradição. Uma tradição incoerente consigo mesma e com a Bíblia, é uma tradição com “t” minúsculo, humana, falível. A Tradição cristã deve ser entendida como a Palavra de Deus transmitida nos atos magisteriais e no seu culto ao longo da história da Igreja, é a Tradição com “T” maiúsculo [simbolicamente para diferenciá-la das tradições humanas; e mesmo que seja escrita com “t” minúsculo, o que importa é o entendimento que temos sobre a mesma]. O pastor está equivocado, certamente, ao chamar a tradição cristã de “tradição humana”. Mas ele sabe que a Igreja se apóia em 2 Ts 2,15 que ordena conservar as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. Segundo ele, os papas usam essa passagem como prova irrefutável de que Deus nos legou a Bíblia e a Tradição, mas crê [o pastor] que a passagem significa que a sã doutrina é tradição da Igreja, e que esta doutrina tradicional era transmitida nos seus dias, tanto oralmente, quanto por epístolas. Isto, e mais nada. Então, a Tradição é a sã doutrina de sempre, dos dias dos apóstolos e dos nossos dias, transmitidas naquele tempo por via oral e escrita. Sendo assim, não há nada a objetar, pois é essa a Tradição cristã católica. Quanto à suposta incoerência com a Bíblia e consigo mesma, como provas de que a Tradição “não” é divina, isso não é verdade. Portanto, chamar a Tradição de barafunda e afirmar que a mesma não vem de Deus é não entender corretamente a Tradição. Em João 14,26 e 16,13 Nosso Senhor promete o

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envio do Espírito Santo, o que se cumpriu em Pentecostes. O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade, portanto é Deus, e veio para ensinar, fazendo lembrar o que Jesus tinha dito. Essa explicação é necessária porque muitos usam o texto para justificarem o ensino de novidades totalmente contrárias á Bíblia, como o faz o Espiritismo. Tudo o que Jesus havia ensinado foi gravado na mente dos apóstolos para que ensinassem. Dessa promessa pode-se concluir que não há verdades adicionais e nem necessidade de completar a verdade já ensinada. A Igreja recebeu verdades futuras, certamente as verdades escatológicas, já no primeiro século. Jesus diz que o Espírito Santo fala daquilo que é próprio dEle e o interpreta aos apóstolos. Então, toda a verdade está completa e o Espírito Santo guia a Igreja na compreensão dessa verdade, que muitas vezes está implícita, e não ensinando mais verdades essencialmente diversas. Um exemplo é a doutrina da Santíssima Trindade, que somente pôde ser compreendida no Novo Testamento, mas já está presente implicitamente na Bíblia desde o Gênesis. Quando a tradição deduz verdades bíblicas está somente explicando e definindo o que já está no texto sagrado, de forma que compreendamos. Isso significa que cremos que tais verdades já estão reveladas na Bíblia, precisando apenas de maior compreensão por parte da Igreja.

 

4.1.3. Pondo-a abaixo da tal de Tradição.

      O pastor cita um livro [com imprimatur] no qual é afirmado que a Tradição está acima da Bíblia e questiona: Por que as palavras de Cristo que não foram escritas valeriam mais do que as que estão registradas na Bíblia? Será que as doutrinas católicas dependem disso para se sustentar? Obviamente que sim. Mas a doutrina cristã católica se prova pela Escritura e Tradição e não pela última somente. Negando a Tradição os protestantes “podem” dar diversos significados aos escritos bíblicos que a Tradição nunca conheceu. Quanto a uma possível fuga pela tangente do católico que alegar que o livro citado pelo pastor não se trata de uma obra oficial, o pastor afirma que tal obra foi sancionada pelo Mons. Aristides, que era Bispo e, portanto, “infalível” também (sic) e que os envolvidos na elaboração da obra não foram advertidos desse erro de somar algo à Bíblia ou considerá-la inferior! Por fim, afirma que o catolicismo enquadra-se em Mateus 15, 6. Mas, nesse texto Nosso Senhor trata das tradições humanas e não da Tradição cristã católica que, como vimos, é aconselhada em 2 Ts 2,14-15. O bispo, por sua vez, e como sabe o pastor Joel [suponho que saiba], não tem, individualmente, o dom da infalibilidade! Certamente, o pastor equivocou-se aqui. Por outro lado, o catecismo afirma que a Bíblia e a Tradição são iguais em valor. Para provar que mesmo outras obras católicas afirmam que a Bíblia e a Tradição tem o mesmo valor, basta citar a obra do Frei Battistini, citada no livro do pastor Joel, na qual o frei afirma na p. 20 o seguinte: a Tradição tem o mesmo valor da Bíblia. [A Igreja do Deus Vivo, 25ª Edição /1996, Editora Vozes] Pelo exposto, o mínimo que poderíamos afirmar é que existem duas afirmações conflitantes, uma na obra aprovada pelo Bispo Aristides e outra registrada pelo frei Battistini, implicando numa contradição, embora isso seja uma suposição, visto que não se sabe qual o contexto da frase citada pelo pastor Joel, mas acredita-se que está correto. Mas visto que o Catecismo e outras obras igualmente católicas afirmam que são igual em valor, a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição, é correto afirmar que essa é a posição oficial. Então, quando o pastor prometeu

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provar que para a Igreja embora a Bíblia e a Tradição constituam “um só sagrado depósito da Palavra de Deus”, a Tradição está acima da Bíblia, ele apenas citou uma obra que parece “destoante” do correto entendimento da questão. Não negamos que os apologistas católicos utilizem muitas comparações e exemplos que deixam transparecer essa posição destoante, mas, pelo testemunho unânime da Bíblia, do Catecismo e de outra obra católica, concluímos que o ensino católico tem a Escritura e a Tradição como um só sagrado depósito da Palavra de Deus. Se porventura o pastor venha a ingressar na Santa Igreja Católica, é nisso que deverá crer, e ajudar a corrigir as imperfeições que aparecem nos arrazoamentos de outros autores.

 4.1.4. Sujeitando-a às arbitrariedades dos papas 

4.1.4.1. Quanto à interpretação 

       O pastor tem a opinião de que se somente os papas e bispos podem fornecer a real interpretação da Sagrada Escritura, tolhendo os padres, as freiras, os pastores protestantes, os católicos leigos e outros de beberam diretamente na Fonte, isso seria uma tentativa de privar a Bíblia de sua própria autoridade. Ou seja, o pastor argumenta que é direito de todos, padres, pastores, leigos e etc, de interpretarem a Bíblia. Mas se formos raciocinar [teologicamente], notaremos que posição da Igreja tem o sentido inverso: ao manter sob autoridade do Magistério Eclesiástico o ofício da correta interpretação Bíblica, está-se evitando que as interpretações conflitantes se tornem numa barafunda oficializada, onde vários pontos de vista humanos se passam por “doutrinas cristãs legítimas”. E realmente sempre funcionou assim. Basta notar o exemplo do Antigo Testamento em que todos ouviam a leitura a Palavra de Deus, eram ensinados pelos sacerdotes, profetas etc., sendo a Escritura transmitida por uma autoridade divinamente autorizada, como, por exemplo, Moisés ou o Rei. Essa verdade é demonstrada com maestria no artigo do site Montfort, Leia a Bíblia!?. Artigo criticado e mal entendido por muitos protestantes, que o interpretam como sendo uma “proibição” da leitura da Bíblia, algo não intencionado pelo autor [ou autores (?)]. 

4.1.4.2. Quanto à leitura. 

       A proibição da leitura da Bíblia em 1229 foi necessária e é compreensível. É interessante notar que foi um período curto da história. A Igreja Católica, oficialmente e seguindo a doutrina de sempre, recomenda a leitura da Bíblia. São Jerônimo já dizia: "Lê com freqüência e aprende o melhor que possas. Que o sono te encontre com o livro nas mãos e que a página sagrada acolha o teu rosto vencido pelo sono" (PL 22,404). Quando em 1229 foi proibido o uso das traduções vernáculas da Bíblia, deveu-se a motivos justificáveis, pois os hereges utilizam a Bíblia para ensinarem suas heresias. A proibição foi suspensa em 1233. Apareceu também uma proibição em 1235 num decreto do rei Jaime da Espanha. Tudo para proteger a Bíblia contra os erros. No entanto, as palavras de São Jerônimo (+420) tornaram-se norma da autoridade eclesiástica.      Usar desse expediente para ensinar que o catolicismo proibiu o povo de ler a Escritura é um sofisma, pois deixa uma falsa impressão de que essa tenha sido sempre a regra, o que é falso.

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JOSÉ AUGUSTO. Apostolado Veritatis Splendor: A IGREJA PROIBIU A LEITURA DA BÍBLIA?. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/288. Desde 06/11/2001.

 4.1.4.3. Quanto à tradução 

       A História da Bíblia mostra que as traduções iniciaram muito cedo. A Igreja se empenhou nesse trabalho e sempre foi a defensora da Palavra de Deus. O que o Dr. Marcos Bagno falou é compreensível. De fato, a popularização da Bíblia se tornou maior depois do século XVI, e as traduções foram intensificadas. Mas é correto também que durante a história da Igreja sempre existiram traduções parciais ou totais da Bíblia para outras línguas, o que prova que as acusações protestantes não tem fundamento, são parciais e pouco críticas. Há obras que alimentam esses equívocos. No entanto, obras mais especializadas provam que existiam várias traduções vernáculas da Bíblia, não somente em Latim. Lutero não foi o primeiro a traduzir a Bíblia para o alemão e mesmo em sua época ouviu protestos quanto a apresentar seu trabalho como o primeiro nesse âmbito. Max Weber, por exemplo, analisando a repercussão que a empresa de Lutero teve na sociedade, compara a tradução do reformador com outras feitas anteriormente, o que seria impossível se essas não existissem. De fato, existiam várias edições da Bíblia em alemão já no século XV, bem antes da Reforma. Se a Igreja começou a tolerar as traduções vernáculas após a Reforma, se deve ao fato de que as circunstâncias histórias estavam em mudança, não era possível manter as mesmas medidas se a causa das mesmas estava desaparecendo. Mas mesmo essa “tolerância” não era novidade. A história afirma que já existiam traduções parciais da Bíblia em diversas línguas, inclusive em alemão (no século VII, por exemplo).

4.1.4.4. Quanto às distorções. 

Pare que é o contrário: quem raciocina profundamente logo percebe a harmonia da doutrina cristã católica.

4.1.5. Negando-a sorrateiramente 

      O autor cita apologistas norte-americanos, como John Weldon, John Ankerberg e Dave Hunt, anti-católicos, para dizer de passagem, que afirmam estar a Igreja negando a Bíblia quando diz que essa não é infalível em assuntos científicos. O autor cita uma afirmação católica: “As Escrituras são inerrantes, mas não em sua totalidade”. “Daí afirmarmos que a Bíblia é livre de erro naquilo que pertence à verdade religiosa revelada para nossa salvação. Não é necessariamente livre de erro em outros assuntos (por exemplo, ciências naturais)”. Bem, o autor interpreta que se a Bíblia é inerrante, mas, não em sua totalidade, ela não é inerrante, de inerrante ela não tem nada, pois a definição não é que a Bíblia erra pouco, mas que não contém erro algum. E, sendo assim, o clero católico não está falando coisa com coisa. Mas o pastor Joel precisa saber que quando a Igreja afirma que a Bíblia é inerrante em assuntos religiosos e não em outros, não está negando que ela possa ser inerrante em outros assuntos, mas que a Revelação não tem intenção de ensinar a não ser a verdade religiosa, portanto, não fazendo diretamente afirmações de cunho histórico, científico e etc. Então, a Bíblia não se torna suspeita, muito menos 100% suspeita, como afirmou o

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pastor, pois Deus é e pode ser infalível em qualquer assunto, mas teve intenção de revelar somente as verdades do campo religioso, o que torna compreensível as afirmações católicas. Deus pode infalivelmente ensinar qualquer assunto, e se a Bíblia traz qualquer desses exemplos, serão sempre inerrante, seja qual for o campo a que esteja ligado. Por outro lado, pode haver aparentes “equívocos” no campo científico, como, por exemplo, a afirmação de que a semente de mostarda é a menor de todas (Mateus 13,32), quando a ciência atual poderia mostrar a existência de sementes menores que a de mostarda. Nesse caso, Jesus não tinha intenção de ensinar ciência, mas naquele momento, dentro da cultura em que estava e considerando o nível conhecimento do público sobre a questão, usando como referência as sementes que os judeus usavam em suas plantações, Ele se serve de um exemplo compreensível para revelar uma verdade religiosa infalível. Um cientista não pode levantar objeções legítimas quanto a isso. O autor ironiza que o Papa seria, então, o infalível intérprete da falível Bíblia, considerando aquelas incompreensões dos protestantes da posição católica sobre o assunto, e que a Igreja usa a Bíblia somente para impressionar os desavisados, onde o pastor chega a pedir piedade para a cúpula da Igreja e dos que confiam em seus membros. Tudo isso não é verdade, como vimos. Tudo isso o quê? Que a Igreja pregue que a Bíblia é falível. A Igreja prega que a Bíblia não tem intenção de ensinar outra coisa a não ser a verdade religiosa, ou que primeiramente seja somente essa sua intenção, e que outras verdades aparecem apenas eventualmente. Nesse contexto, o pastor Joel cita o Frei Battistini, que estaria induzindo suas vítimas a suspeitarem das Bíblias protestantes, pois o Frei diz assim em seu livro: Nenhum protestante pode demonstrar que a sua Bíblia é a autêntica Palavra de Deus. (A Igreja do Deus Vivo, 33ª Edição /2001, Editora Vozes, página 20). A citação está correta, é verdadeira, mas não o sentido que o pastor deu a ela. Pelo contexto da lição, o frei quis dizer que os protestantes não podem demonstrar que a sua Bíblia seja a Palavra de Deus, pois como negam o papel da autoridade infalível da Igreja, e a Bíblia não traz em si a lista dos livros inspirados, os protestantes tem de recorrer à autoridade católica, à tradição, para se certificarem da autenticidade da Escritura, ou pelo menos, do Novo Testamento, pois com relação ao antigo, terão de recorrer à tradição judaica. Não se trata de uma ou outra versão protestante da Bíblia, nem do imprimatur, mas o de afirmar que tais e tais livros são inspirados por Deus. É a conclusão que pode ser tirada de juízo do pastor sobre a citação do Frei Battistini examinando-se a lição inteira da obra citada. Se a interpretação acima está errada, estou pronto a analisá-la novamente e corrigi-la, caso estiver errada mesmo. Então o Frei não está se referindo às interpretações da Bíblia, nem o papel da tradição para essas interpretações, mas ao valor da tradição para reconhecermos os livros inspirados. Nabeto afirma que a Bíblia é infalível nos assuntos de fé.

 NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: A BÍBLIA É INFALÍVEL?. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/1390. Desde 05/09/1999.

 

CAPÍTULO 5 

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O PERDÃO E A DOUTRINA DO PURGATÓRIO 

5.1. A doutrina do Purgatório

       O pastor Joel afirma nesse capítulo, no qual chama o perdão católico de “falso perdão” e o purgatório de “rentável”, faz sua análise na seguinte estrutura: a) dissertaremos sobre o que a Igreja Católica prega a respeito do perdão; b) exibiremos as provas; c) refutaremos à luz da Bíblia; estrutura adotada nos outros capítulos.

5.1.1. Dissertando sobre o “perdão” católico

       A respeito da doutrina sobre o inferno, estão de acordo os católicos e os protestantes, como afirma o pastor Joel: Tanto a Igreja Católica, como as igrejas evangélicas, pregam que existe o Inferno, de cujo tormento nunca sairão os que ingressam nesse abismo. Contudo, sabemos que alguns, como os adventistas, negam essa doutrina e são considerados seitas pela grande maioria protestante. Para a Igreja Católica, os Adventistas também são igualmente protestantes, mas fazem parte do protestantismo moderno. A respeito do Céu, cristãos católicos e cristãos protestantes também estão de acordo, conforme as palavras do pastor Joel: Ambas pregam também, que existe o Céu, no qual, católicos e evangélicos querem morar. A divergência está no como ir para o Céu, pois os protestantes creem que os que morrem com todos os pecados perdoados, vão, na hora, para o Paraíso Celestial e a Igreja Católica ensina, como já vimos, que não basta estarmos perdoados por Deus para entrarmos no Céu [palavras do pastor em destaque]. O perdão que a Igreja prega reduziria somente a pena, mas não anularia a sentença: Segundo ela, o perdão dos pecados não anula a sentença, mas tão-somente reduz a pena. O autor reconhece que a Igreja prega que existe a possibilidade de pagar a pena aqui na terra e caso não seja cumprida poder ser paga no purgatório. O pastor refere-se à Igreja Católica como a tal igreja, ao tratar da questão das indulgências: A tal igreja diz que dispõe de um expediente chamado indulgência. Há, segundo ela, dois tipos de indulgências: 1) A indulgência parcial, que diminuiria a pena que o perdoado teria de cumprir antes de entrar no Céu; e 2) a indulgência plenária, que eliminaria todos os resíduos que o perdão divino não consegue eliminar. A respeito do perdão, explicado como sendo apenas para reduzir a pena sem anular a sentença, não deixa clara a doutrina da Igreja. De fato, o perdão do pecado mortal anula as penas eternas, do contrário haveria condenação ao perdoado! Então, o perdão cristão católico anula a sentença. E sobre os pecados veniais, que não levam para a morte eterna, mas, como pecados que são, deixam uma espécie de mancha na alma, esses conservam suas penas temporais a serem expiadas e podem até ser perdoados no purgatório. Pecados veniais são aqueles pecados que mesmo os santos geralmente caem, mas que não separam o fiel de Deus, não destroem a graça. A respeito do perdão, uma passagem do Catecismo, nº 1473, afirma assim: O perdão do pecado e o restabelecimento da comunhão com Deus trazem consigo a abolição das penas eternas do pecado. Mas subsistem as penas temporais . Em outra passagem as penas temperais são consideradas uma graça de Deus, que nos educa em seu caminho, nos torna responsáveis pela parte que nos toca.

O pastor conclui assim a doutrina cristã católica sobre como alguém entra no Céu: a) Obter o perdão dos pecados (especialmente dos pecados

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graves); b) cumprir a pena devida pelos pecados já perdoados, ou obter uma indulgência plenária; c) tornar-se perfeito. Caso a pessoa morra após cumprir a exigência “a”, ou até mesmo após preencher os requisitos “a” e “b”, mas sem satisfazer a exigência “c”, terá que sofrer por um tempo no purgatório, antes de entrar na bem-aventurança eterna. Ou seja, aquele que, mesmo tendo morrido com todos os pecados graves e veniais perdoados, mas sem cumprir as exigências “b” e “c”, permanecerá no purgatório até cumpri-las. Só a partir daí, terá livre acesso ao Paraíso Celestial. E os cristãos podem ajudar as almas com orações, esmolas, missas etc., e as próprias almas do purgatório em suas orações pelos vivos. Podemos dizer mais a respeito da letra a, que o perdão dos pecados graves é imprescindível para entrar no céu, pois quem não obtém esse perdão de Deus, não pode ser salvo. As penas de que fala a letra b, bem como a indulgência plenária, são as penas temporais, que sempre ficam como conseqüências dos pecados. E a indulgência é a remissão dessas culpas. O tornar-se perfeito, expresso na letra c, é uma ordem do próprio Deus que diz para sermos perfeitos assim como Ele é, e Deus não ordena nada que Ele não possa tornar possível, se foi exigido é porque é possível. Sendo a Igreja a dispensadora dos dons de Deus e tendo autoridade dada por Deus, pode exigir certas obras do fiel para que possa alcançar indulgências. Certamente é isso que está no exemplo que o pastor apresentou: Antigamente uma indulgência custava um terço do que se gastaria com uma peregrinação a Roma. Em qualquer parte do mundo, bastava o católico calcular o que ele gastaria para sair do seu país, ir a Roma e retornar à sua casa. Depois dividia este valor pelo algarismo três e doava o quociente à Igreja Católica.

 5.1.2. Exibindo as provas

       Nesse item o pastor exibe doze provas do que disse anteriormente.

       É muito importante frisar o modo como se obtém a indulgência, que está na quarta prova: estar na graça de Deus, ter seus pecados perdoados, obviamente depois de sincero arrependimento e confissão. É o ensino bíblico.

       Na quinta prova é dito sobre a santidade necessária é aquela que a Justiça e Santidade de Deus requerem do salvo. Não é possível negar isso com base na Bíblia.

       A sexta prova, citando a Seção VI do Concílio de Trento que sentenciou contra quem negasse a existência de penas.

       Todas as provas devem ser entendidas nesse sentido.

       Não são somente os católicos que podem ir ao purgatório, mas qualquer fiel, por exemplo, um protestante que não tiver em estado de santidade suficiente para ver a Deus face a face.

       A chance póstuma não é, como vimos, uma chance de um pecador fora da graça de Deus se salvar após a morte, pois essa chance não existe, mas trata-se de uma purificação necessária dos já salvos, que morrem na amizade de Deus, sendo uma ordem ditada pela justiça divina. E a fé na

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possibilidade de alcançar a perfeição nesta vida é baseada em vários textos bíblicos como Mateus 5,48. Deus não exige o impossível.

       Todos os excessos, os charlatanismos de muitos pregadores de indulgências, que não tinham o aval da Igreja para seus erros, foram resolvidos no Concílio de Trento.

5.2. Qual é o fundamento evangélico?

        Depois de demonstrar que há divergência entre católicos e protestantes sobre o perdão dos pecados, o pastor passa a elencar seis fundamentos evangélicos do perdão:

a) para entrarmos no Céu, basta-nos o perdão que Deus nos dá;

Essa afirmação nega a participação do homem, a parte do homem que o próprio Deus deixou à nossa responsabilidade.

b) para o pecado perdoado não há pena alguma a ser cumprida, visto que perdão e cumprimento de pena são termos incompatíveis entre si, e, portanto, auto-excludentes;

Não são necessariamente auto-excludentes, como não é auto-excludente que um ladrão arrependido tenha de devolver, como uma pena devida, o que roubou ou prestar algum serviço reparatório. Isso é exigido pela justiça. Arrepender-se de ter roubado e ficar com o objeto roubado, essa seria uma contradição ou auto-exclusão de um arrependimento sincero. Deve haver uma reparação.

c) não é preciso atingir a perfeição nesta vida, para ir morar no Céu, visto que se isso fosse verdade, ninguém iria direto para o Céu, já que a Bíblia diz que todos nós pecamos (1Jo 5. 8,10; 2Cr 6.36; Tg 3.2). Morrer antes de atingir a perfeição, não é algo apenas “bastante freqüente”, como o supõe o Padre Estêvão, mas sim, algo inevitável a todos os humanos;

Então, na ótica do pastor Joel e, consequentemente, do protestantismo, não é preciso, ou mesmo é impossível tornar-se perfeito para que assim possa ir direto ao Céu. Os protestantes podem entrar na visão de Deus com todas as suas imperfeições, mesmo que leves, pois já tem certeza da salvação e crêem que o sacrifício de Cristo pagou tudo por eles. É necessário frisar que nós pecamos, sofremos as conseqüências do pecado original (pois este já fora perdoado no batismo), porém, podemos atingir a perfeição que Deus requer e, assim, ir diretamente ao Céu. Isso não é impossível, mas, como bem afirmou Dom Estevão, é algo menos freqüente. O autor citou os textos de 1 João 5, 8 e 10; 2 Crônicas 6, 36 e Tiago 3, 2, que, de maneira geral, afirmam que todo homem tem pecado. Mas é justamente isso que a doutrina católica está ensinando. Que todo homem tem pecado, isso é certo, mas também é certo que com a graça de Deus podemos chegar à perfeição que Ele requer de nós para entrarmos no céu, o que está exarado em outros textos como Mateus 5, 48 já citado anteriormente. O texto de Tg 3,2 também deixa isso claro, pois termina assim: ...Se alguém não cair por palavra, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo. [Bíblia Ave Maria] [...Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo – Almeida Corrigida e Revisada Fiel].

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d) as almas dos verdadeiros cristãos que já partiram desta vida, não estão aguardando maior purificação para, então, adentrarem à presença de Deus, visto que já partiram desta vida cem por cento purificados mediante o perdão que nos é dado por meio do sangue de Jesus, vertido por nós na cruz;

Que Jesus tenha quitado 100 por cento toda a dívida com o seu sacrifício redentor ninguém pode duvidar. Porém, Cristo salvou e redimiu a humanidade para que todos tenham acesso ao céu e não para que sejamos dispensados de sofrer as conseqüências temporais (penas) de nossos pecados voluntários. Nesse item parece que não houve uma harmonia entre a misericórdia e a justiça de Deus. Ele perdoa cem por cento, mas não requer mais nada da parte do perdoado?

e) realmente, só os perfeitos podem entrar no Céu, mas na hora em que Cristo voltar para arrebatar os cristãos ao Céu (Jo 14. 1-3; 1Ts 4.13-17), ou quando nós formos ao seu encontro através da morte, o Espírito Santo eliminará de nosso ser a natureza pecaminosa, também chamada de pecado original (Rm 8.11; Fp 3.21; Ap 14.13); e é essa depuração futura, que será tão instantânea quanto o é hoje o perdão, que nos habilitará a vermos Deus face a face. Sim, todo aquele que está perdoado, já está pronto para entrar no Paraíso Celestial, tão logo Cristo venha nos arrebatar ao Céu. E assim como, no dia do arrebatamento da Igreja, os cristãos não irão para uma sala de espera, para ali purgar suas imperfeições, mas prontamente subirão ao Céu, de igual modo, quando morre um servo de Deus, sua alma voa direto para o paraíso;

O pecado original é a privação da graça santificante, não a natureza pecaminosa do nosso ser. A depuração ocorre no batismo, que confere a graça santificante ao cristão, permanecendo a natureza decaída. A graça é que nos torna aptos a ver Deus face a face. No que concerne ao arrebatamento, esse se dará no Juízo Final. É necessário também lembrar que a Sagrada Escritura fala que haverá uma purificação através do fogo, na qual o fiel sofrerá as conseqüências por ter praticados obras imperfeitas, porém será salvo por ter construído suas obras (mesmos que imperfeitas) sobre o verdadeiro fundamento que é Cristo. Portanto, a passagem de 1 Cor 3, 11-15 não fala somente do fiel que não receberá o galardão, mas do fogo que purificará para a salvação, e esse fogo é o do Purgatório. Por outro lado supõe que muitos não terão que sofrer no fogo, pois obraram perfeitamente.

f) não existe esse negócio de pena devida pelos pecados já perdoados, indulgência parcial, indulgência plenária, tornar-se perfeito ainda nesta vida, purgatório, missas e esmolas pelos que padecem no purgatório, etc. O purgatório do verdadeiro cristão é o sangue de Jesus.

A letra f já foi devidamente refutada na resposta à letra e. Entender perfeitamente a Comunhão dos Santos é imprescindível para entender as indulgências. A última afirmação acima lança luz no entendimento do purgatório, que realmente só existe (segundo o ensino cristão católico) por causa do sangue de Jesus, pois sem Ele, todos pereceriam. Foi Deus quem criou o purgatório.

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       Para “provar” que o catolicismo está “errado”, o pastor cita as seguintes passagens bíblicas, que quando bem entendidas somente corroboram o que a doutrina da Igreja ensina. Vejamos essas brevíssimas reflexões:

Romanos 8:1: Entende-se claramente, nesse texto, que se trata da condenação ao inferno, que não existe para os que estão em Cristo Jesus.

2 Coríntios 5: 17: Tudo se fez novo, mas o homem ainda está sujeito a pecar, e não pode entrar no céu com o pecado ou pena temporal. 

Lucas 23: 43: É a promessa de que nós estaremos com Cristo no paraíso. O ladrão foi salvo por Cristo depois de arrepender-se. Após sua justificação, seu novo nascimento, sem o batismo, pois, como diz o Catecismo, Deus não está ligado aos sacramentos. Portanto, não havia mais penas, eternas ou temporais, para que cumprisse. Mesmo assim, o ladrão aceitou pacientemente o seu sofrimento como um verdadeiro regenerado. 

João 8:32,36: Realmente e verdadeiramente, Cristo é o libertador! 

Hebreus 7:25: O texto diz que Cristo pode salvar, mas não aplica Sua salvação de qualquer forma, ou seja, não salva de qualquer jeito, mas somente os que se chegam a Deus por Cristo.

 Efésios 2:8: Essa passagem fala da justificação.

 1 João 1:7: O sangue de Jesus nos purifica após o arrependimento. Não há refere às penas aqui.

 Hebreus 10:17,18: O texto fala da remissão perfeita que Cristo realizou de uma vez por todas. Deus fala que não se lembrará dos pecados, mas e as penas temporais devidas? Não há nenhuma alusão contrária aqui.

 Comentando um dos versículos supracitados, a saber, Lc 23:43, os evangélicos dizem que o fato de o ladrão mencionado neste texto, não necessitar de purgatório e indulgência para se salvar, podendo ir para o Paraíso naquele mesmo dia, prova cabalmente que o perdão que Deus nos oferece em Cristo, nos basta, para entrarmos no Céu, visto que o restante é da competência do próprio Cristo. (Pr. Joel) Mas devemos prestar atenção que, de acordo com a doutrina da Igreja, a justificação apaga e perdoa todas as penas. É interessante, também, que o ladrão creu em Jesus, arrependeu-se e foi justificado, sofreu pacientemente as dores atrozes da crucificação reconhecendo-se culpado. Tudo isso lhe foi meritório por ter aceitado e recebido a graça santificante. Se, como reconheceu o pastor Joel, os perdoados sofrem as conseqüências físicas do pecado original e dos pecados pessoais, por que isso não acontece isso após a morte? Por que não haveria as consequências espirituais? O pastor reconhece que os perdoados sofrem, sem dúvida, as conseqüências físicas do pecado, mas afirma que tão logo morre um perdoado, a sua alma voa imediatamente ao Paraíso Celestial. Isso nega, de certa forma, a justiça de Deus, exaltando somente a misericórdia. Onde está escrito que não há consequências espirituais a serem sofridas pelo cristão e que tão logo esse morre vai sempre direto pra o céu? Certamente o pastor irá citar textos como 1 Pedro

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2,24 que diz que Cristo levou os nossos pecados, completamente. Mas pena e pecado são diferentes. As penas temporais que foram requeridas a Davi, um santo do Antigo Testamento, mostram que as penas não são suspensas quando do arrependimento e recebimento do perdão. Ele não foi condenado, mas pagou as penas temporais. E foi salvo pelo sacrifício expiatório futuro de Cristo. Por que as penas existiriam somente enquanto a pessoa vive e não depois também que morre sem tê-las experimentado ainda? Seria o pagamento das penas em vida algo que acontece desnecessariamente? Seria a morte o pagamento de toda pena temporal? Se Cristo permite que permaneçam penas em conseqüências dos pecados perdoados, por que essas deixariam de existir depois da morte, mesmo não sendo expiadas? Qual o motivo para não suspendê-las enquanto o fiel contrito ainda vive? Por que não se experimenta o “perdão total”, que inclui a dispensa de toda pena temporal, ainda em vida? Como é que sofre danos no julgamento aquele salvo que construiu sua obra sobre Cristo, mas a construiu de forma imperfeita? (1 Coríntios 3,15). Esse dano, esse fogo purificador, indica sofrimento por causa da imperfeição da obra, que não resistiu ao fogo. Mas é obvio que a obra não sofre, quem sofre é o dono da obra, que perde sua recompensa, conquanto não seja condenado. Generalizando o caso daqueles pregadores de Coríntios 3,15 ao contexto que estamos tratando, é bíblica e razoável a posição cristã a respeito das penas temporais.

O pastor tem uma atitude de respeito aos que divergem da posição evangélica quanto ao perdão e sugere que se estude a Bíblia e baseie a opinião nela: E se você já estudou a Bíblia, e concluiu em sua mente que realmente o perdão que Deus nos oferece nos habilita ao Céu na hora, saiba que então você não é católico, nem tampouco, espírita. E talvez você até seja evangélico e nem saiba. Realmente, quem nega a existência do purgatório, da necessidade e possibilidade de ser perfeito como o Senhor nos ordenou (Mt 5,48), esse não é mais um cristão católico. Por isso o pastor convida alguém que se encontra nessas circunstâncias: Una-se a nós! Mas, se alguém crê que Cristo realmente perdoa, nos livra da condenação, mas, requer de nós uma vida santa e sem a mínima mancha para vê-lo face a face, e que isso não significa um “perdão fajuto, nem cheio de cicatrizes, nem uma venda de gato por lebre”, mas um perdão harmonioso com a justiça de Deus, esse é um cristão católico, que deve estudar a Palavra de Deus mais e mais para não perder a verdadeira fé. Aproveitando as palavras do pastor Joel, afirmo também que é bíblico usufruir simpatia de idéias.

O pastor Joel argumenta a respeito do perdão que a Igreja ensina, que se Bíblia ordena que devemos nos inspirar no tipo de perdão de Deus, e se temos que pagar as penas temporais dos pecados perdoados, conclui-se que aqueles que por nós foram perdoados, ainda tem muito que acertar conosco. Porém, essa argumentação, muito interessante, não é de todo conclusiva, pois, se, por exemplo, alguém difama uma pessoa publicamente e depois se arrepende, pode, pedindo perdão, ser perdoado pela pessoa ofendida, mas essa, por sua vez, tem por direito, com toda a justiça, de exigir que o ofensor repare sua falta reabilitando, diante de todos, aquela pessoa a quem ofendeu. Portanto, isso não significa colocar Deus abaixo dos nossos pés, como afirmou o pastor Joel, nem que o perdão seja fajuto, e nem que o nosso perdão seja maior que o de Deus, mas que o nosso perdão deve refletir e reflete (e nisso o pastor Joel concorda), de certo modo, o perdão perfeito de Deus. E o perdão de Deus é da forma que a Igreja

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Católica tem ensinado nesses milênios da era cristã, que existe a pena temporal dos pecados perdoados, pois somente assim se harmoniza com a exigência da justiça perfeita de Deus. Reconhece [parcialmente] o autor: Os perdoados sofrem, sem dúvida, as conseqüências físicas do pecado, tanto do pecado original, como das culpas pessoais: doenças, envelhecimento, morte, danos patrimoniais e morais, etc., como ocorreu a Davi, o qual, mesmo estando perdoado, amargou inúmeros sofrimentos neste mundo; ou, ainda, como ocorreu aos apóstolos, os quais, mesmo estando perdoados por Deus, continuaram sujeitos às mazelas supracitadas: envelhecimento, doenças, morte, etc. Mas tão logo morre um perdoado, a sua alma voa imediatamente ao Paraíso Celestial. Como o pastor Joel sabe e até citou em seu livro, Davi pecou, arrependeu-se e foi perdoado, cento por cento, é claro, mas não somente amargou inúmeros sofrimentos neste mundo, mas, mais precisamente, perdeu seu filho primogênito como expiação da sua culpa específica já perdoada. Outro fato é o de Moisés, que pecou e também se arrependeu, mas pagou a pena de não poder entrar na Terra Prometida. Embora o pastor reconheça as consequências do pecado, seu argumento deixa implícito que Deus deveria ter poupado a Davi, não lhe tirando o filho, ou permitido a Moisés entrar na Terra Prometida, pois ambos foram perdoados, e deixa igualmente implícito o questionamento do motivo para se pagar ou sofrer tal pena. Mas é esse o modo de agir de Deus. Onde está escrito que Deus não requer de nós que expiemos nossas faltas cumprindo as penas temporais devidas, e que iremos diretamente ao céu assim que morremos? Se houvesse algum lugar afirmando isso, estaria em contradição com os exemplos acima, de pessoas perdoadas e ao mesmo tempo sofrendo penas temporais. Por que Deus agiria diferentemente após a morte do cristão, se a Sua justiça continua a mesma? Aqui, trata-se da maneira de Deus, de como Ele e age, ou seja, do princípio de exigência de uma reparação do pecado perdoado.

As mazelas (doença, envelhecimento, morte) desta vida somente podem ser penas temporais se vividas em espírito de oferecimento de tudo a Deus. Como diz Romanos 8, 17, texto que revela a necessidade de sofrer com Cristo para ser glorificado com Ele, é isso que ensina a Igreja. Não são quaisquer mazelas que, muitas vezes, afligem os homens, mas, não são vividas em espírito de expiação, o que não reduz em nada as penas temporais. Quanto ao argumento que nega que as penas sejam as mazelas da vida, visto que os indulgenciados não deveriam sofrer mais nenhuma delas e de que no além-túmulo não existem essas tais mazelas, pode-se responder que: se as penas redimidas são as de pecados passados e não de futuros pecados o argumento perde sua força, pois enquanto vivemos temos possibilidade de pecar e acumular, infelizmente, mais penas. Portanto, é certo que o cristão só entra no céu depois de expiadas todas as penas temporais, e é pela compreensão de que temos a esperança da salvação e não uma certeza absoluta, que muitos católicos tem se mostrado humildemente cheios de temor e tremor diante de Deus, como os depoimentos do Cardel O´Connor, de Helder Câmara e de Madre Teresa registrados pelo pastor Joel, que não constituem uma simples insegurança. 

O perdão – total não parcial - que a Igreja sempre ensinou, e que os protestantes anatematizam, está profundamente contido na Bíblia, é o Evangelho Verdadeiro, e desse modo, a sua negação é que poderia ser enquadrada em Gálatas 1, 8.

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5.3. Os atravessadores do “perdão” católico

O pastor cita o Catecismo para dizer que o catolicismo ensina que deve-se confessas o pecas pelo menos uma vez por ano e cita dos números 1448 e 1449. Segundo o pastor a Igreja está tirando proveito de um texto de difícil interpretação, o qual é João 20, 23. Realmente, para o protestante que segunda o sacramento da penitência, esse é outro texto que não se encaixa em sua teologia protestante. De fato somente Deus perdoa dos pecados, (2 Cr 7.14; 6.21; Sl 103.2,3; 1Tm 2.5; Jo 14.6; Hb 10.19, etc.), mas a negação de que Cristo deu a homens o poder de perdoar em seu nome, recorda as acusações dos fariseus contra Cristo, dizendo que só Deus pode perdoar os pecados. O tempo perfeito está dizendo que o que o apóstolo pronunciasse já foi concedido, tem o aval do céu, ou seja, ele tem a permissão para tal, para que fosse aplicado no tempo necessário: o poder de perdoar e reter os pecados. Tudo de acordo com a vontade de Deus, pois é óbvio que Ele não ratifica o que destoe de Suas palavras. O texto de Mateus 16, 19 também é alvo do pastor Joel. Esse texto estaria apenas dizendo que Pedro teria o direito de: ...declarar ligado o que à luz da Palavra de Deus, demonstrasse estar ligado nos céus; bem como declarar desligado dos céus o que, pela mesma razão, demonstrasse estar alienado de Deus. Logo, o texto em apreço não delega a Pedro o poder de perdoar ou não os pecadores, mas sim, o poder de mostrar aos pecadores o caminho do perdão, bem como o poder de declará-los perdoados ou não, à luz da Palavra de Deus [Pastor Joel]. Será que Cristo não tinha pessoas em mente quando disse “tudo” o que ligares e não “todos”? São Pedro teria autoridade de dizer: “Fulano não pode ser reconhecido como membro da Igreja, até que se converta”. Ele podia dizer também: “Se tua fé e arrependimento são sinceros, estás em sintonia com os Céus, isto é, tens comunhão com Deus; e, portanto, te reconhecemos como membro da Igreja do Senhor”. Para fazer tal afirmação parece óbvio não ser necessário receber um poder de Deus como aquele dado a São Pedro e aos Apóstolos. Que alguém não possa ser reconhecido como membro da Igreja até que se converta, todos os cristãos sabem, pelo menos os mais esclarecidos. É, assim, difícil imaginar Nosso Senhor apenas dando o direito de reconhecimento aos apóstolos, para que dissessem: olha, se você tem fé e se arrependeu sinceramente, você está em comunhão com Deus! Essa interpretação talvez nem Lutero tinha em mente! É novíssima. [A Almeida Corrigida e Revisada Fiel traduz Mateus 16,19 assim: E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.]. É mais fácil aceitar o que o insofismável texto está dizendo: àqueles que os apóstolos perdoassem seriam perdoados e àqueles aos quais não perdoassem esses teriam seus pecados retidos, e em Mateus 16, 19 é dado o poder e autoridade de ligar e desligar pessoas na Igreja.

5.4.1. A doutrina do Purgatório é Bíblica

       Para o protestantismo o purgatório é o resultado imediato do falso perdão católico. Mas, como foi provado que o perdão cristão católico é verdadeiro, então o purgatório, que o resulta o é também. O pastor explica que depois do perdão (termo que coloca entre aspas) o católico entra no estado chamado purgatório do qual não sairá, mesmo após a morte, até que cumpra a pena devida pelo pecado já perdoado, e que através de missas,

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esmolas e rezas em favor dos mortos se obtém a abreviação desse estado. Cita o padre Euzébio Tintori, que assim define o purgatório: “...estado médio das almas, sofrendo por certo tempo em expiação de seus pecados...”.     Para o pastor, (como foi tentado provar) o purgatório é crendice, mas como a Igreja apresenta provas bíblicas, o autor se põe a analisar as referidas provas. Ele se limita a analisar uma só passagem bíblica, pois não crê ser necessário que apresente todas, pois o Espírito Santo é que pode convencer os católicos de seus desvios e convertê-los do mau caminho e não a força dos argumentos protestantes. Confiar somente nos argumentos não é atitude cristã, concordo com o pastor Joel. É o Espírito Santo quem convence, dando força aos argumentos. O pastor passa então a “refutar” a explicação de Mateus 12,32, que seria o texto predileto para provar a doutrina do purgatório. Vejamos como o pastor inicia a explicação:  A referência bíblica em apreço, que é Mt 12.32, diz que a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada nem no presente século nem no século futuro. Desta afirmação do Senhor Jesus, a cúpula da Igreja Católica se serve para apresentar mais uma “prova bíblica” de que o purgatório existe. Senão, vejamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica, página 290, # 1.031: “...Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro”. Mas este argumento é fraco por três razões...” As razões que o pastor Joel apresenta são: se o pecado não é perdoado nem neste século nem no futuro, quer dizer apenas que é imperdoável e que não há mais pecados para serem perdoados além-túmulo; prova com o texto de Marcos 3, 29 o qual afirma que a blasfêmia contra o Espírito Santo jamais terá perdão; se houver pecado a ser perdoado não haveria necessidade de cumprimento da pena, pois cumprir pena é diferente de ser perdoado, e questiona: Cristo perdoa ou não perdoa? Conclui que a doutrina do purgatório é facilmente refutável e que é antibíblica não porque o termo não apareça na bíblia, nem porque os textos bíblicos usados como prova falam de outro assunto, mas também porque há doutrinas bíblicas que serão insustentáveis, caso aceitemos o purgatório católico. Para provar convincentemente deve-se, então, provar que a doutrina do purgatório não contradiz outras doutrinas bíblicas. Esse é o ponto-chave. Primeiramente, é oportuno raciocinar um pouco mais. A argumentação do pastor Joel conclui corretamente, porém, não é conclusiva para toda a questão. De fato, se o pecado contra o Espírito Santo não é perdoado nem neste século e nem no século futuro, quer dizer que é imperdoável, e isso é confirmado por Marcos 3,29; mas o texto deixa margem para se crer que existem pecados que podem ser perdoados no século futuro, pois é isso que a expressão permite deduzir: nem no presente século nem no século futuro. Embora perdoar seja diferente de cumprir uma pena, o perdão (neste caso, de pecados veniais) pode deixar uma pena a ser paga, e essa, segue-se ao perdão mesmo no século vindouro, através do purgatório. É óbvio que os seres humanos querem evitar o sofrimento o máximo possível, e crer que instantaneamente o salvo está no céu após partir desse mundo é o que todos querem. Apesar de isso ser possível, não é sempre assim. Ao céu, todos os salvos irão, porém, nem todos no mesmo instante em que morrerem. E a pergunta: Cristo perdoa ou não perdoa? Claro que perdoa, tão profundamente que deixa a alma tão branca quanto a neve. Porém, a sua justiça infinita requer a expiação das penas temporais (pois a pena eterna já foi tirada por Cristo). Enfim, Mateus 12,32 realmente permite crermos no purgatório e podemos afirmar que é uma doutrina bíblica (não

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uma crendice), que é conforme a sã razão e não se choca com o ensinamento cristão em geral.

5.4.2. A doutrina do purgatório solapa a fé no arrebatamento da Igreja

       Se a doutrina do arrebatamento é aquela que afirma que no Juízo Final todos os salvos irão para o Céu quando Cristo disser: Vinde benditos de meu Pai..., então a doutrina do purgatório está em perfeita harmonia com ela. Agora, se o arrebatamento é a doutrina que afirma que mais de mil anos antes do Juízo Final, Jesus virá buscar o Seu povo (João 14.1-3; Apocalipse 19.11 a 20.15), temos de concordar que essa doutrina não tem lugar na fé cristã católica. A ressurreição, a glorificação dos cristãos vivos, o Juízo Final e o arrebatamento ocorrerão no último dia (1 Coríntios 15.52). Corretamente o pastor Joel afirmou que quem pensa assim (na expiação das penas temporais neste mundo ou no purgatório), certamente não crê na possibilidade de ser arrebatado agora, caso Cristo venha neste exato momento. De fato, somente os que se consideram já salvos (no sentido de prontos para entrar no céu agora), só os que assim pensam é que creem no arrebatamento secreto, que ocorreria num atómo de tempo, num abrir e fechar de olhos, onde só os salvos veriam, e portanto, nega a existência do purgatório, pois, segundo imaginam, não há penas a sofrer. O verdadeiro cristão, na verdade, crê o contrário, pois sabe que seus sofrimentos em Cristo, são necessários por causa dos pecados veniais a que sempre está sujeito, ou mesmo como conseqüência de um pecado grave já arrependido, confessado e perdoado. O pastor Joel afirma: Deve ser esse o motivo pelo qual nunca ouvimos um integrante do clero católico pregar sobre o arrebatamento da Igreja, e, logo mais adiante, diz: E faz ela muito bem, porque se essa seita, sem abrir mão do purgatório, pregar o arrebatamento da Igreja, será mais incoerente do que já é. Chamando a Igreja de seita e de incoerente, admite que aqui, felizmente não houve incoerência, por isso a Igreja faz muito bem, em não pregar o arrebatamento sem abrir mão do purgatório. Porém, é oportuno afirmar que essa coerência aqui ocorre também em todos os outros assuntos doutrinais, basta que não se compare a doutrina do perdão protestante com a doutrina do purgatório, que realmente são autoexcludentes. Autoexcludentes porque o perdão protestante é da idade do protestantismo, em seus inícios luteranos.

5.4.3. Induz à salvação pelas obras

       Não existe salvação pelas obras, mas pela fé e pelas boas obras. E isso não é um expediente estranho à Bíblia, pelo contrário, é a própria doutrina bíblica. Para o pastor Joel, a salvação pelas obras seria um pechinchar com Deus, uma pechincha vã, já que o preço estipulado é o Sangue de Jesus e Deus não abre mão disso, o que seria, de outro modo, uma salvação barateada. (Apocalipse 5.9; 1 Pedro 1.18-19). Diz o pastor Joel: Somar ao sangue de Cristo o mérito de nossas obras, é subestimar o preço. No entanto, não haveria sofrimentos ou obras ou invencionices que para baratear a salvação. Há grande equívoco aqui.

       O pastor Joel explica como é a salvação, vejamos:   A salvação é assim: Ou o pecador a recebe de graça, valendo-se do preço que já foi pago por Jesus, ou irá para a eternidade sem ela; porque Deus não a negocia,

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vendendo-a, a quem quer que seja (Apocalipse 22.17; Efésios 2.8-9; Romanos 11.6). O pastor estabelece o princípio de que é proibido cooperar na salvação e que isso é vontade de Deus. Isso realmente está em contraste total com a doutrina católica e em contradição com texto que revelam a participação que Deus requer do fiel.

       Os protestantes não negam algum valor das boas obras. É claro que não. Vejamos o que diz o pastor Joel: A Bíblia dá muito valor às obras de justiça feitas pelos verdadeiramente salvos. Mas isso porque os verdadeiramente cristãos fazem obras por serem salvos, e não para serem salvos (1 Coríntios 6.20). Nossos sofrimentos e boas obras não podem nos salvar. Se pudessem, o Senhor teria morrido em vão. Então as obras têm valor no protestantismo. Qual é o valor, o mesmo que a Bíblia dá ou um valor diferente, ou mesmo, um mínimo e até dispensável valor? É difícil conciliar a necessidade e valor das obras, sem as quais ninguém entra no céu, e ao mesmo tempo afirmar que elas nada valem em termos de salvação.

       Deixemos que o pastor Joel explique mais um pouco: O fato de os capítulos 10 e 11 de Atos dos Apóstolos nos falarem que, embora Cornélio fosse justo, temente (reverente) a Deus, generoso (fazia muitas esmolas ao povo), dedicado à oração e ao jejum, Deus o mandou chamar à sua residência o apóstolo Pedro, para que este lhe falasse de Cristo, prova cabalmente que só o sangue de Jesus nos quita para com Deus. As boas obras não salvam. E se somarmos a elas o sangue de Cristo, continuaremos perdidos. Apelemos para o sangue, e só para o sangue.

       Mas os capítulos 10 e 11 dão realmente um grande valor às boas obras. O fato de que Deus enviou São Pedro até a residência de Cornélio para falar de Cristo não invalida o valor das boas obras. Outrossim, a própria Escritura nos diz que aquelas boas obras de Cornélio foram aceitas por Deus. Diante disso, afirmamos que Cristo é o Salvador, e todos devem necessariamente estar nele para ser salvos. Cornélio era temente a Deus, e com toda a certeza abraçaria o cristianismo assim que o conhecesse. Se, porventura, Cornélio morresse antes de conhecer Jesus, ele seria salvo, e salvo por Jesus Cristo, pelo Seu sacrifício na cruz, pois aquele homem era justo e temente a Deus e havia sido aceito por Deus. No entanto, ninguém está dispensado de ouvir falar de Cristo, de o conhecê-lo e de aceitá-lo, como se já fosse o “bom bastante” para se salvar por sua própria conduta. Portanto, o episódio de Atos 10 e 11 está em total conformidade com a doutrina católica, que ensina a salvação pela fé e pelas boas obras. Não se trata de somar a elas o sangue de Cristo. O sangue de Cristo é o que salva e que faz com que nossas boas obras influam na nossa salvação. Para os protestantes, como explica o pastor Joel, a salvação é instantânea, e se o convertido morrer logo após sua justificação, entrará no céu imediatamente, e se viver, deverá gastar sua vida em boa obras em gratidão pelo perdão total e instantâneo que o Senhor já lhe deu. Ele diz ainda: Quem diz que está salvo, mas não se dedica às boas obras, é mentiroso. Então o salvo praticaria as obras porque é salvo e não para ser salvo, ou seja, continua o pastor: Não as faria para se salvar, mas sim, por ser salvo (Efésios 2.8-10). Os versículos 8 e 9 dizem que somos salvos sem o auxílio das obras; e o versículo 10 diz que somos salvos para as obras.

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      Conclui que o clero católico não está ajudando o povo a entender que a salvação é pela graça, e explica como é a salvação na doutrina cristã católica: A “graça” católica pode ser explicada assim: “A salvação é para as pessoas boas. Logo, as ruins estão perdidas. Mas, se estas pessoas, arrependidas imploram salvação, Deus lhes dá a graça da força para deixarem de ser más e se tornarem boas de fato, praticando o bem, mediante a graça da força que receberam por meio da fé em Deus, na Igreja Católica e nos seus sacramentos. Deste modo, o católico entra no Céu porque merece o Céu; merece o Céu porque é de fato bom; ele é bom porque teve forças suficientes para dedicar-se ao bem; teve forças suficientes para dedicar-se ao bem porque Deus lhe deu tais forças; Deus lhe deu tais forças antes dele merecê-las, por ainda não ter feito o bem, estando apenas desejoso de deixar de ser mau; e, se ele não merecia esta força dada por Deus, para fazer por onde merecer o Céu, então foi salvo pela graça por meio da fé. O pontapé inicial é graça pura”. Em outras palavras: “O pecador é admitido na empresa de Deus sem méritos, mas receberá o galardão (recompensa, pagamento) da bem-aventurança eterna nos Céus, pelo trabalho prestado. As boas obras e os sofrimentos aos quais ele será submetido após a admissão na empresa de Deus pela graça por meio da fé, tem os respectivos objetivos: Acumular méritos e expiar o seu passado. E, se os sofrimentos e obras por ele experimentados até o momento da morte, não forem suficientes para torná-lo digno do Céu, o sofrimento do purgatório entrará em ação no além-túmulo e completará a obra. E, enquanto ele estiver sofrendo lá, seus correligionários devem dar esmolas e dizer missas em favor de sua alma. Estes, por sua vez, estão acumulando méritos para também se tornarem suficientemente bons a ponto de merecerem o Céu, quando morrerem; ou, na pior das hipóteses, não terem que sofrer por muito tempo na fornalha do purgatório”.

       Muito bem explicado, porém, o pastor não está convencido de que realmente é assim. E mesmo essa boa explicação parece ter cometido um pequenino equívoco, quando disse: As boas obras e os sofrimentos aos quais ele será submetido após a admissão na empresa de Deus pela graça por meio da fé, tem os respectivos objetivos: Acumular méritos e expiar o seu passado. De fato, não é isso que a Igreja prega, pois o Batismo apaga e perdoa todas as faltas e remite todas as penas eternas e temporais. Isso impossibilita o acúmulo de méritos para “expiar o passado”, pois esse não tem necessidade mais disso. Assim como numa criancinha recém-nascida, o batismo apaga o pecado original e a torna filha de Deus e herdeira do céu, o adulto batizado está pronto a entrar na bem-aventurança. O pastor, chega, logo depois, a chamar o purgatório de desgraça.

       De fato, os que Deus fez bons se salvam. Os maus que se convertem, recebem a graça e são justificados, tornam-se bons. Então, a salvação, ou como foi chamado pelo pastor Joel de pontapé inicial, ou seja, a justificação, essa é somente graça, sem obras. A partir daí, o cristão deverá viver como salvo, em boas obras, para ser salvo, ou seja, glorificado no céu. Santo Agostinho ensinava que Deus nos recompensa pelos próprios benefícios que ele ofereceu a nós. As boas obras influem sim na nossa salvação. O mérito é verdadeiro, apesar de ser secundário, pois em primeiro lugar sabemos que foi Deus quem nos deu o dom de tê-lo (CIC, 2025-26). O cristão que não pratica boas obras não será salvo! Não porque nunca tenha sido salvo, como se a justificação levasse automaticamente ao salvo a praticar boas obras, e essas fossem sinal inquestionável de que se trata de um salvo! O

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texto de Efésios 2, 8-9 ensina o seguinte: os pecadores que, mortos em seus pecados, são salvos imerecidamente pela graça de Deus, devem agora praticar as boas obras, v. 10, não como gratidão apenas, mas também, como necessário para continuar no caminho da salvação, já que se trata das obras que Deus preparou para o salvo praticar livremente, pois a fé sem obras é morta. Portanto, existem salvos (que foram justificados verdadeiramente) de verdade que não estão praticando boas obras e não podem, assim, ser recebidos no céu, ou melhor, pode ser condenados. Podem ter fé, mas não tem boas obras. Certamente, o pastor Joel não crê nessa verdadeira doutrina, que parece ter entendido, porque não está convencido de que a Bíblia a ensina. Porém, no próprio texto de Efésios acima está clara a doutrina católica, apesar de aparentemente se harmonizar com a teologia protestante.

5.4.4. Serve de fundamento à simonia

      A simonia é condenada pela doutrina cristã católica. Basta ler o Catecismo [nº 2118/2121] que assim define esse pecado: compra ou venda das realidades espirituais. Quem vende ou quem compra alguma realidade espiritual está pecando!       O pastor Joel acusa a Igreja de estar praticando charlatanismo através dos séculos, cometendo o pecado da simonia, ou seja, o “comércio de coisas sagradas”. Segundo o autor, esse negócio de perdão com cicatrizes, indulgência parcial, indulgência plenária, purgatório, missas pelas almas dos mortos, Limbo, exéquias pelas almas das criancinhas que morreram sem o batismo e outras mais, foram inventados para ganhar dinheiro, e afirma que é possível que padres ingênuos não percebam isso, mas que é “verdade”, pois até o catecismo ensina que a “oferta” é uma das coisas sugeridas para “remissão dos pecados”. Cita uns casos em que existem preços distintos para missa simples ou missa com fundo musical, e o preço da indulgência que teria sido estabelecido pelo Papa Adriano VI como sendo 1/3 da viagem a Roma. O pastor questiona: É charlatanismo ou não é ? O purgatório seria a vaca leiteira do vaticano (citação feita pelo autor). O autor acusa a Igreja, que chama de “religião” (entre aspas), de viver da exploração da fé pública e da ingenuidade do povo. Essas palavras se parecem até com aquelas notícias dos meios de comunicação que denunciam as falcatruas das seitas protestantes pelo Brasil a fora, embora não seja comum nesses noticiários qualquer notícia que pelo menos lembre a participação a Igreja Católica nesses crimes. Essa acusação não tem cabimento. Para quem já está plenamente convencido de que o que foi citado acima é “charlatanismo”, é quase impossível convencê-lo do contrário. Porém, para os que ainda estão dispostos a ver as coisas mais imparcialmente, e mesmo os plenamente convencidos, pois não é impossível que mudem de opinião, é necessário entender que todos os itens citados não se encaixam no pecado de simonia. A Igreja não vende o perdão ou a remissão dos pecados. Há mesmo ofertas que servem como penitência para quem já foi perdoado, penitência para remissão das penas temporais. Isso é veementemente atacado pelo pastor Joel, que garante não existir as penas temporais. Então, o fundo de tudo isso deve ser resolvido segundo a concepção teológica ortodoxa.

5.5. Condena seus “inocentes” e absolve os culpados

      O pastor afirma que a Igreja Católica é a que mais ensina incoerências. Certamente essa “percepção” se dá pelo fato de ele, o pastor Joel, não ter

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conseguido conciliar todo o ensino católico, e devido ao fato de crer, como um bom protestante, na teologia dos reformadores, pois crer que essencialmente ela é a doutrina cristã pura. O pastor afirma que o fato de que a Igreja ensina rezar por todos os mortos equivaleria a ensinar a possibilidade de que no final ninguém será condenado. Isso estaria contido nas palavras seguintes, com grifos do autor: Senhor, lembrai-vos de nossos irmãos que morreram na esperança da ressurreição, e de todos aqueles que já partiram deste mundo! Acolhei-os junto de Vós, na luz da vossa face!” (Grifo nosso). De fato, estas palavras são ambíguas, no mínimo, e não estão de acordo com a tradição cristã católica. Deveriam ser retificadas. Parece-me que o próprio papa Bento XVI já se pronunciou contra essa falsa noção inspirada na oração citada. O pastor conclui que essa oração implica em muita confusão e que Jesus não o ensinou, e relembra que a Igreja nega que ofereça preces pelos condenados. Diante de tudo isso, pode-se dizer, com base na doutrina da Igreja, que é verdade que não há esperança para os condenados ao inferno e que esses não podem receber orações dos cristãos, visto ser isso uma ação inútil. Como foi dito, a noção (falsa) que a oração citada deixa transparecer não é católica e essas palavras deveriam ser corrigidas. O melhor e estarmos bem conscientes disso, baseados na Bíblia e na Tradição, no ensino oficial da Igreja.

  5.6. Estou interpretando mal?

       Nesse tópico o pastor Joel procura mostrar quem estaria interpretando mal a doutrina da instantaneidade do perdão: ele ou o católico (Anderson) que o havia acusado de ter tirado de sua própria cabeça conclusões que se passariam como doutrina da Igreja. Para isso, o autor cita trechos dos e-mails onde discutiram a questão: O cristão católico que remeteu o e-mail ao pastor, afirmou que: “A penitência ordenada pelo Sacerdote, após a confissão, não tem nada a ver com o perdão do pecado em si, nem é uma paga pelo pecado perdoado, mas, ao contrário, visa restituir o caminho de santidade na vida do pecador. E, logo depois, afirma que o sofisma do pastor Joel cai por terra se continuarmos a ler o que diz o Catecismo , passando a citar o n. 1460 do mesmo. Em seguida o pastor Joel apresentou sua defesa, mais ou menos assim: Veja o que diz o Catecismo da Igreja Católica..., citando os trechos dos números 1471 e 1473 com grifos acrescentados. Nessa defesa, argumentando que o senhor Anderson disse que “A penitência ordenada pelo Sacerdote, após a confissão, não tem nada a ver com o perdão do pecado em si, ...”, o pastor mostra que o Catecismo da Igreja Católica, fala de uma tal (sic) de “... pena ... devida pelos pecados já perdoados”, que pode ser eliminada pela indulgência, e que as indulgências podem ser para os fiéis vivos ou para as almas do purgatório, concluindo que o senhor Anderson está equivocado quanto à interpretação da palavra indulgência. Afirma que o vocábulo não quer dizer restituição do caminho de santidade..., a não ser que isso signifique o cumprimento das penas citadas e, assim, o senhor Anderson entraria num beco sem saída, pois afirmou que o pastor estaria interpretando mal, quando disse que: a Igreja Católica prega que o perdão dos pecados não anula a sentença, mas que tão-somente reduz a pena. Dessa forma, o senhor Anderson queria fazer crer que o Catecismo não está dizendo o que diz.

Então, o pastor Joel explica que o pecador perdoado, ao receber Cristo como seu único e todo suficiente Salvador deve apenas ser orientado a viver a vida em Cristo, e não ser ensinado a como se remir da pena pelo pecado já

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perdoado. Isso seria uma heresia que minimizaria a Obra Redentora de Cristo na cruz, negando a totalidade do perdão no ato da conversão, sendo, portanto, indubitavelmente, heresia de perdição, sim, senhor. Eis a conclusão do pastor.

       O pastor Joel está tratando de algo muito sério, o qual é o perdão no ato de conversão, ou melhor, na justificação, na regeneração do pecador. A doutrina católica ensina que, pela fé e batismo, o homem é justificado, enquanto os protestantes definem o ato da justificação no momento em que, pela fé, o cristão aceita a Jesus como seu único e todo suficiente salvador, antes do batismo. De qualquer forma estamos falando do momento inicial, da justificação e, portanto, devemos entender o perdão que Deus confere ao justificado nesse instante. Negar a totalidade do perdão no ato da conversão é, portanto, heresia de perdição, sim senhor, nas palavras do pastor Joel. Nesse aspecto nem o pastor Joel, nem qualquer protestante, precisa mudar de fé, pois converge com a doutrina cristã católica. Portanto, se esse for não apenas um dos motivos, mas, o principal motivo pelo qual o pastor Joel Santana não pode se converter ao catolicismo, por causa dessa suposta heresia de perdição, então, o pastor pode ficar tranquilo e ingressar na Santa Igreja ou preparar seu ingresso, pois, essa é doutrina cristã católica, portanto da Sagrada Escritura, que o perdão recebido na justificação é total, perdoando o pecado e não restando pena alguma. Não existe a suposta heresia. Se o batizado morrer logo após sua justificação, irá direto para o Céu, não há purgatório para ele, pois seus pecados e penas não existem mais! É o que ensina o Catecismo, número 978, para não falar que estou interpretando errado: No momento em que fazemos a nossa primeira profissão de fé, ao receber o santo Baptismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e total que não fica absolutamente nada por apagar, quer da falta original, quer das faltas cometidas de própria vontade por acção ou omissão; nem qualquer pena a suportar para as expiar [...] (Grifo acrescentado). Eis a doutrina católica: na justificação o perdão é pleno e total, não restando nem pecado e nem pena. A Bíblia ensina isso.Agora, não podemos afirmar que o cristão regenerado fique, sempre e infalivelmente, dessa forma por toda a vida (e nisso também os protestantes tem de concordar), pois a natureza humana decaída, ainda, pela concupiscência, inclina o homem ao pecado. Isso também está exarado no número 978: ... Mas apesar disso, a graça do Baptismo não isenta ninguém de nenhuma das enfermidades da natureza. Pelo contrário, resta-nos ainda combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de nos arrastar para o mal. Quer dizer que a natureza humana continua enferma, e o combate contra o pecado deve continuar.Mas, certamente, o pastor Joel não ficaria contente e convencido se não tivermos a visão de Lutero quanto à salvação, que aconteceria hapax, de uma vez por todas, sendo o homem tão salvo na justificação quanto o é no dia da sua morte. E crer também naquela doutrina herética de que pecados passados, presentes e futuros já estão perdoados. Isso nega o mérito, as penas devidas aos pecados que o cristão venha a cometer após a justificação e, portanto, que as obras influam na salvação, na glorificação. Isso é doutrina de origem luterana, e se o autor crê assim, deve coerentemente reconhecer que seu mestre (pelo menos nessa questão) é Lutero. Esse foi o jeito que Lutero encontrou para resolver o impasse que se passava em seu próprio íntimo. Ele passou a negar o livre arbítrio (para a salvação), e consequentemente o valor das boas obras (o mérito), como se

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isso minimizasse o sacrifício redentor de Jesus Nosso Senhor. A justificação forense não é bíblica, é luterana, pois como Lutero não conseguia ver-se livre da concupiscência (como ninguém consegue mesmo) e, erradamente, considerando-a como sendo o próprio pecado, chegou à conclusão de que o homem está irremediavelmente perdido e, mesmo na justificação, seus pecados não são perdoados como ensina a sã doutrina cristã católica, que afirma que Deus apaga, perdoa, purifica verdadeiramente nossos pecados, mas Lutero ensinava que Deus apenas não leva os pecados em conta, (uma não imputação, ensinando uma justificação forense, jurídica, que não opera transformação no interior do homem. Nesse caso não se sabe se o pastor Joel crê como Lutero, mas si assim for, está errado. Lutero não estava correto, e sua doutrina não era, como supunha, a mesma da Bíblia. [BETTENCOURT, Dom Estêvão Tavares. Apostolado Veritatis Splendor: COMO E QUANDO SURGIU O CATOLICISMO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3567. Desde 03/04/2006.] Continuando a exibir as provas de que o senhor Anderson “interpretou” erradamente o que diz o Catecismo da Igreja Católica acerca da indulgência, e o fato de que as indulgências servem para os vivos e para os mortos, a explicação do Sr. Anderson sobre o restituir o caminho de santidade... estaria se referindo também aos falecidos salvos que estão no purgatório, e isso não seria o conceito que o catecismo ensina. Com isso, ele prossegue: Ou o clero católico quer que os tais cumpram no Paraíso Celestial onde estão, a pena devida pelo pecado já perdoado (cumprir pena no Céu não deve ser nada mau), ou que a cumpram no purgatório, o que, por sua vez, prova que a Igreja Católica prega mesmo que o perdão não anula a sentença, mas apenas reduz a pena. Isso seria desfavorável aos líderes da Igreja pois seria dizer que o Magistério da Igreja não desgruda do pé de suas vítimas, nem depois de mortos (considerar os cristãos católicos como vítimas é fazer um conceito injusto, da santa Igreja, mesmo considerando a boa intenção do autor.) Não haveria como restituir o caminho de santidade aos salvos que estão no céu, nem aos do purgatório, pois, como diz o pastor, o Catecismo assim afirma, : “indulgência é a remissão ... da pena devida pelos pecados já perdoados” e não, a restituição do caminho de santidade, como disfarça o senhor Anderson, enganando os seus leitores propositadamente, diz o pastor Joel. Passa a analisar o contexto do texto citado pelo senhor Anderson para saber se a indulgência é pena devida pelos pecados já perdoados, ou é a restituição do caminho de santidade. Vejamos o que diz o pastor Joel: Pelo contexto do texto de onde o senhor Anderson fez a sua transcrição, se pode ver que a definição que o Catecismo da Igreja Católica dá a esta expressão é a  seguinte: Uma vez perdoado, o cristão deve reparar o seu erro, devolvendo o roubado, se retratando de uma calúnia, pedindo perdão às pessoas por ele prejudicadas, etc. Ora, com isso concordamos plenamente. Devo afirmar que essa interpretação quanto à restituição do caminho da santidade está no contexto, porém, é apenas a primeira parte. Assim, o Catecismo diz: Mas, além disso (...) Aliviado do pecado, o pecador deve ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. E fala do “satisfazer”, do “expiar”, ou seja, da satisfação, chamada também de “penitência”. A satisfação é algo mais, mais do que a reparação ao próximo, como o pastor Joel entendeu (nesse ponto, entendeu corretamente, mas de forma incompleta, pois faltou entender sobre a satisfação diante de Deus). E, realmente, no contexto fala-se da satisfação e não das indulgências. A respeito da reparação: para o pastor, a reparação do erro significa somente viver a vida de absolvido por Cristo, não constituindo uma pena. Assim, se o absolvido não cumprir sua

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reparação, não tem problema, vai para o Paraíso no mesmo dia. Nesse ponto é negada a obrigatoriedade de cumprir a pena temporal que a justiça divina impõe ao pecador arrependido, o que constitui um equívoco, visto que, como a justiça divina é inexorável, suas exigências permanecem, devendo a pena ser cumprida de alguma forma. 

Citando os abusos das indulgências na época da revolta protestante, o autor fala do “perdão prévio”, pregado por Tetzel, porém, condenado no Concílio de Trento. De fato, isso é algo estranho à doutrina oficial, pois é verdade que nunca a Igreja Católica pregou tal doutrina. Comentando as citações do senhor Anderson, o pastor Joel chama a Igreja de charlatã (continua charlatã, diz); e em sua explicação, grifa a palavra OFERTA, no número 1460 do Catecismo, que seria uma oferta para comprar a absolvição dos que padecem no purgatório. Pelo contexto, a palavra oferta parece não ter o sentido como entendeu o pastor Joel. Afirma também que o purgatório é fruto das imaginações da cuca do Papa Gregório, chamando, de maneira pouco respeitosa, esse Papa de O Grande embusteiro. Permita-me dizer que não parece ser respeitoso chamar alguém de embusteiro, se esse de fato não o for. Sabemos, ainda, que a doutrina do purgatório é bíblica, já ensinada pelos padres da Igreja muito tempo antes do Papa Gregório, bastando ler Tertuliano, nascido no 2º século, cujos escritos aludem ao purgatório. Certamente não é a idade da doutrina que o pastor está procurando saber, mas é necessário mostrar que a fé no purgatório tem origens ainda no Antigo Testamento e aparece em escritos cristãos anteriores ao 6º século, tornando equivocada a afirmação dos protestantes de que essa crença foi “criada” nesse século - sexto.

Citando Hebreus 10:17,18, o pastor Joel grifa novamente a palavra oferta, e, entre colchetes, alude interrogativamente à indulgências: “E não me lembrarei mais de seus pecados e de suas iniqüidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oferta [indulgências?] pelo pecado”. Diz que se há pena, o perdão é mentiroso, e questiona: E porventura, o fato de o Catecismo da Igreja Católica nos falar duma tal de pena devida pelo pecado já perdoado, não está, por conseguinte, ratificando a negação da totalidade e instantaneidade do perdão de Deus em Cristo, no ato da conversão, como também o fizera o Concílio de Tento? Após isso, chama o senhor Anderson de cego, pois esse não quer enxergar, e afirma que gostaria de livrá-lo dessa cegueira.

O pastor Joel está defendendo e está convencido de que o perdão católico não é total, nem instantâneo, mesmo que a Igreja o afirme. Quando o Catecismo afirma que Cristo sozinho expiou nossos pecados, o pastor Joel chama isso de incoerência ou mais uma incoerência, visto que a Igreja crê nas penas devidas aos pecados já perdoados. Ao mostrar como o senhor Anderson prosseguiu em seu arrazoado para provar que o pastor havia mentido de propósito, o autor diz que o tiro saiu pela culatra, verificando que o Sr. Anderson ao citar o texto que continha a palavra pagamos ele se compararia a um advogado que argumentando a favor do seu cliente, exibisse provas cabais de que o mesmo é culpado.

E diz o Pastor Joel: Não! Não! Não! Senhor Anderson! Os perdoados nada pagam pelos seus pecados! A verdadeira Teologia não admite isso em hipótese alguma. Os frutos de vida do cristão seriam apenas de gratidão e nunca para expiar seus pecados, que foram total e instantaneamente

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expiados por Cristo, e o fiel nada mais tem que fazer nesse sentido, e, além do mais, segundo sua conclusão, perdão e cumprimento de pena são autoexculdentes.

O Pastor Joel não leva em conta que Deus, em sua infinita e soberana Vontade, age através da lei da cooperação, no qual o cristão tem a obrigação de, com a graça divina, satisfazer a Deus pelas penas devidas. [Catholic Encyclopedia: http://www.newadvent.org/cathen/12677d.htm]. Quando digo “não leva em conta”, não quer dizer que não saiba que é isso que a Igreja ensina, mas que considera isso um erro, visto que sua “teologia” é protestante e, segundo esse entendimento do texto bíblico, não existiria nenhuma pena após a justificação do pecador. Devemos entender que Cristo ofereceu um sacrifício perfeito, instantâneo e pleno. A forma como nos apropriamos do seu sacrifício redentor, não é somente crendo, mas também através da nossa cooperação. É um ponto importante, pois segundo os protestantes, é somente pela fé que o homem recebe a graça da salvação. Mas a fé supõe o livre arbítrio, o que já é uma cooperação da sua parte, antecedido, é claro, pela graça divina. Contudo, sabemos que a fé e as obras não são meritórias para a justificação do pecador, mas que o são para a glorificação, sua entrada na bem-aventurança do céu. A Igreja sempre entendeu que a apropriação da salvação, pelo homem, se dá através da fé e das obras, uma cooperação, segundo o livre arbítrio, antecedida e sustentada pela graça de Deus. Cristo não veio tirar todo o nosso sofrimento, mas perdoar os pecados e as penas eternas, cem por cento. Sendo assim, Ele pagou totalmente a dívida a qual veio sanar. Por outro lado, as penas temporais existem, pois não houve o cancelamento dos sofrimentos e do nosso dever de cooperar, pela graça de Deus, com e em Cristo. Isso não fez parte do que o nosso Redentor veio pagar. Não foi a Sua vontade livrar o homem das penas temporais, pois se o fosse, poderia ter feito sem problemas e, por isso, não existe o perdão automático e instantâneo das penas temporais, a não ser quando o homem nasce de novo, passando da morta para a vida, através do batismo. Deus quis que fosse assim para o nosso próprio benefício. Deus é perfeitamente Santo e, por esse motivo, Sua Justiça requer o pagamento das penas temporais. Diante disso, é possível entender que tanto o cristão católico quanto o cristão protestante estão olhando para Cristo, como o Salvador. A diferença é que segundo a doutrina original, o cristão deve cooperar para entrar no Céu e de acordo com o protestantismo não há cooperação do cristão na sua salvação, sendo essa obra exclusiva de Deus. Isso é uma posição teórica, pois na prática tanto católicos quanto protestantes se esforçam por cumprir a vontade de Deus praticando boas obras, embora os primeiros tenham consciência de que estão cooperando livremente com a graça, como algo extremamente necessário à salvação, imprescindível para a permanência na graça de Deus, enquanto que os últimos creem que somente estão vivendo a vida de obras que Deus preparou para que vivessem nelas, sendo uma consequencia da fé, visto que os que não tem fé não podem provar ser verdadeiros cristãos regenerados por não possuírem obras. O problema é que as obras são ditas, na Escritura, como parte intrínseca do plano de salvação (Efésios 2, 8-10). Outro problema é que só existiria verdadeira fé quando existissem boas obras, que necessariamente a refletissem. Isso supõe algo automático, visto que aquele tem fé a refletiria na vida. Essa noção cria um amálgama inseparável de fé-obras, onde há fé há boas obras, onde não há fé não há boas obras. Mas é verdade que existe fé verdadeira que somente faz barulho e que não age, por obras, através do amor (1

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Coríntios 13). A noção amalgamada de fé-obras contradiz essa específica noção bíblica, pois a fé é distinta das obras, sendo essas formalmente vivificadas pelo amor. Por isso é que é possível que alguém possua a verdadeira fé, a ponto de transportar montanhas, o que só pode ser uma fé verdadeira, mas que não possua obras, por não possuir o amor, que é outra virtude necessária à salvação. Nessa noção, a responsabilidade do homem permanece, visto que as obras não virão naturalmente, de forma automática, mas que necessitarão da vontade livre daquele que tem fé para praticá-la, com a graça de Deus, graça que pode ser resistida pelo homem. É assim que se explica a possibilidade de ter fé e não ter obras, sendo essa fé, mesmo que verdadeira, uma fé morta, pois não dá a vida eterna, por não agir por meio do amor. Isso certamente pode ser exemplificado no caso de Abraão que, justificado pela fé, depois de algum tempo foi justificado pelas obras, onde é evidente que sem essa justificação das obras, aquela da fé não o salvaria, pois uma coisa não pode negar a outra. E essa justificação é feita também diante de Deus e não só dos homens, pois esses não possuem o poder de justificar como Deus possui. São Paulo nunca condenou a doutrina que combina fé e boas obras em obediência ao Decálogo para a salvação, mas tão somente ensinou que a Lei Mosaica não salva, mas sim, a graça através da fé em Cristo, pois é defensor da salvação pela fé e boas obras. De fato, a fé que São Paulo ensina é aquela que está em conexão com a ação e age por meio do amor (Gl 5,6). Em Tiago 2, 14-26, pelo contexto, não parece que São Tiago esteja tratando de falsa fé, mas de uma fé que não é aperfeiçoada pelas obras, sendo morta, portanto, não pode salvar e de uma fé que é auxiliada por boas obras. O v. 14 questiona se somente a fé pode salvar, e o v. 22 é importantíssimo, pois além de ratificar que a fé e as obras são duas coisas separadas, afirma que a fé coopera com as obras e que por essas ela é aperfeiçoada: ... a fé cooperou com a suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E o v. 24 afirma claramente que o homem é também justificado pelas obras. Outro verso importante para compreendermos o valor das boas obras na salvação é o v. 23, onde está a noção de que a fé deve conter a disposição para obedecer e praticar a lei de Deus, segundo o contexto em que o texto é apresentado por São Tiago. A noção de que fé se reflete nas obras deixa implícito que fé e obras não são duas coisas, mas se trata de uma coisa só, existindo somente uma fé-obras, e não fé e obras, ou seja, duas coisas separadas. É claro que o pastor Joel admite que são distintas a fé e as obras, o que converge com a doutrina católica, mas não crê que as obras salvem, mas que são inseparáveis da fé, e que servem somente para santificação. Por outro lado, sabemos que a fé, dom gratuito e imerecido, dado por Deus sem obras, serve para a salvação que se dará após uma vida de boas obras. A noção protestante traz alguns equívocos, revelados nessas incompatibilidades com certas passagens da Escritura como tratado acima.

Quando o Catecismo cita Fl 4, 13 no texto em que mostra a cooperação do cristão em satisfazer, em Cristo, por suas penas, o pastor Joel dá outra explicação ao texto, o qual se referiria somente à força que Deus nos dá para vivermos como autênticos cristãos em meio às adversidades da vida, dizendo que a única satisfação que Deus aceita é a de Cristo, e a cooperação do homem subestimaria o preço pago por Ele. Então, quando o texto afirma TUDO POSSO NAQUELE (em Cristo) que me conforta, esse tudo excluiria a satisfação que Cristo quer de nós! Nega, então, não só a satisfação, mas até a co-satisfação. Não podemos satisfazer nem em nome do Filho e nem à base dos méritos Dele. Essa afirmação

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tem que ser provada pela Sagrada Escritura, pois é o ponto-chave dessa discussão. É um princípio não-demonstrado, portanto, não há prova bíblica de que é “proibido” que cooperemos com Cristo na nossa salvação. Se for verdadeira a afirmação, o pastor terá razão, e mostrará textos claros a esse respeito, se não, terá de converter-se ao catolicismo como prometeu, e continuar em seu trabalho de defesa da Fé que ele ama. O cristão católico crê que essa é a vontade de Cristo, que Ele revelou para o homem e apresenta prova bíblica, pois somente assim se entende os textos em que o homem aparece associado no plano de sua salvação, como sendo um agente ativo. É nesses textos que aparece a parte que nos toca, na qual podemos cooperar para o pagamento da dívida temporal dos pecados que já foram perdoados. É certo que a dívida eterna, somente Cristo é capaz de pagar. O pastor entende (na verdade não entende bem ou tem dificuldade para entender ou aceitar) que se Cristo expiou o pecado sozinho, não há como pagarmos as nossas penas. À primeira vista isso se assemelha a uma contradição, mas não é. Aquilo Cristo veio pagar, somente Ele pode pagar, e não foi o que é interpretado como sendo a total impossibilidade do homem em participar do plano de Deus. Isso é doutrina protestante, não bíblica. É necessário perceber que não é o texto bíblico que disse isso, mas os reformadores. Isso fica patente quando estudamos o a Bíblia, a tradição católica e a “tradição” protestante, pois é, de certa forma, essa tradição protestante a que está por detrás dessa compreensão do “perdão”. Falta, então, somente aceitar a nossa cooperação que Cristo ensinou. O Catecismo não é incoerente. O pastor, e os protestantes em geral, negam a parte que nos toca! Ele diz: indulgência é o nome da remissão da pena. Aqui, realmente está correto o pastor Joel, e o católico Anderson se mostrou (um pouco) confuso, certamente interpretando mal. O pastor Joel continua:  O senhor Anderson não mentiu, quando afirmou que eu dissera que “o Catolicismo sustenta que o perdão não anula a sentença, mas tão-somente reduz a pena. Ao ser perdoado, o castigo eterno é trocado pelo castigo temporário”, mas mentiu quando disse que o Catolicismo não prega o que eu disse que prega. Como vimos, no batismo (justificação), não há essa “troca de castigo”, mas o perdão é pleno e total. E nesse ponto, da justificação do pecador, o pastor Joel equivocou-se quanto à posição católica. Após a justificação, tudo muda. As obras, que antes nada valiam, passam a ter o seu mérito, dado pela graça de Cristo, o cristão passa a poder cooperar, trabalhar, obrar a sua própria salvação, ao mesmo tempo que Cristo é o Único Salvador, sem contradição. É a própria Sagrada Escritura que assim ensina, sem sofisma, sem tentar fazê-la dizer o que não está dizendo, nem mudar o sentido da palavra salvação, nem do verbo salvar, que se referem contextualmente à salvação eterna: Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai na vossa salvação com temor e tremor, não só como quando eu estava entre vós, mas muito mais agora na minha ausência (Fl 2, 12) [Grifo acrescentado]. Nesse esforço livre e auxiliado pela graça de Deus o cristão pode dizer que, de certa forma, ele pode salvar até mesmo os outros: Olha por ti e pela instrução dos outros. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem (Bíblia Ave Maria) [Grifo acrescentado]... Podemos trabalhar na {operar a, segundo tradução Corrigida e

Revisada Fiel} nossa salvação, salvar a nós mesmos e aos outros! Quem o disse foi Deus! Estamos sendo cooperadores obedientes de Deus, de certo modo, co-redentores com Ele. Porém, é Ele o nosso Único Salvador, do qual tudo procede. São as palavras humanas muitas vezes imprecisas para revelar o profundo significado dessa verdade.

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Depois o autor cita os textos (nos números 1471 – 1473; Concílio de Trento seção VI) para provar que não faltou com a verdade em suas afirmações sobre a doutrina em questão. Termina afirmando que o senhor Anderson cava a sua própria sepultura quando tentou provar que a Igreja não ensina a parcialidade do perdão e, ao mesmo tempo, citou um texto afirmando que pagamos por nossos pecados. O pastor cita o Aurélio (dicionarista) que fala da remissão como perdão total ou parcial, dizendo que para entender isso basta bom senso e honestidade. 

Enfim, podemos afirmar com certeza que a Igreja ensina a totalidade e perfeição do Sacrifício realizado por Cristo na cruz. O entendimento dessa questão é que é “danificado”, insistindo que Cristo veio pagar aquilo que não era dívida Sua e nem constava do Seu plano. No entanto, a apropriação que desse sacrifício fazemos é mediante a fé e as obras, na cooperação até o final das nossas vidas, segundo a graça e vontade de Deus. Diz Dom Estevão: ... a Igreja nunca negou a totalidade e a instantaneidade do perdão obtido por Cristo. (...) Na verdade, a Redenção realizada por Cristo foi total e instantânea, mas ela é mais do que um bilhete de entrada na ceia da vida eterna dado a um homem sem a veste nupcial ou a um pecador portador das manchas do pecado; é mais do que uma habilitação jurídica. Ela produz em nós, mediante os sacramentos, uma nova criatura, que tende a se formar na medida em que a velha criatura é mortificada (cf. Ef). Essa formação da nova criatura não se faz apenas mediante a fé do crente, mas requer boas obras ou o exercício do amor, como incute o Apóstolo São Tiago; (...) cf. Tg 2, 19) [Fonte já citada acima]. A citação de São Tiago não contraiz os escritos paulinos, especialmente de Romanos a Filemon, pois S. Paulo ensina que a fé opera pela caridade; se o cristão não tiver amor (caridade) não vale nada.

5.7. A diferença que faz diferença

       A principal diferença entre o catolicismo e o protestantismo, no parecer do pastor Joel, é aquela referente à Redenção de Cristo, e que, se porventura, pudéssemos convergir nesse ponto, as outras dificuldades seriam de menos importância: As disparidades que há entre o Catolicismo e o movimento evangélico são enormes. Porém, muitas dessas divergências, são diferenças que não fariam diferença, caso convergíssemos a respeito da redenção em Cristo. Unidos nesse ponto, continua o pastor, os protestantes poderiam até tolerar o que consideram gravíssimo, como a obrigatoriedade do celibato, a virgindade de Maria, sua imaculada conceição e assunção ao céu. Na crítica dos capítulos respectivos a esses temas poderemos analisar esses pontos mais detalhadamente, mostrando que não são graves, nem gravíssimos, nem, muito menos, erros. Então, se houver convergência na doutrina da Redenção, os protestantes poderiam até, quem sabe, se tornarem cristãos católicos. Mas, a respeito desse ponto, a Boa Nova da Salvação pela Fé em Jesus, o pastor afirma não poder ser tolerada divergência, sob pena de irmos para o inferno. O erro consistiria em que a Igreja prega o “perdão parcial” e não o “perdão total”. Isso consistiria na “não-pregação” do Evangelho.    Segundo o pastor Joel, a idéia de que o perdoado tem uma dívida a pagar é algo estranho às Escrituras Sagradas. No entanto, melhor seria dizer que tal ensino é estranho à doutrina iniciada por Lutero e não à Sagrada Escritura. O perdão “parcial”, diz o pastor, seria uma renegociação da dívida, ou um abatimento [de mais de 50%], ao passo que Cristo trouxe um perdão total. Um fato, já esclarecido, que é necessário

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repetir, é que o perdão, na justificação [que o catolicismo ensina] é pleno e total, não restando nem pecado nem pena. Há então a convergência necessária nesse ponto. O homem antes da justificação está morto espiritualmente.

       É injusto afirmar, como faz o pastor Joel, que a Igreja não pregue e não viva o Evangelho ou que não é um movimento Evangélico. Igualmente não é verdade que a doutrina protestante seria “convincente”, e que os padres não racionariam teologicamente (pois teriam quem raciocinasse por eles, que seriam os bispos e papas que se julgam acima dos homens) e por isso não a aceitam (a doutrina protestante). Pode-se ver que não é assim que acontece. Negar que os padres raciocinem teologicamente, e afirmar que os papas e bispos são presunçosos não é condizente com a realidade!

       É necessário frisar que o Evangelho afirma que na justificação ocorre a regeneração do pecador, esse se torna uma nova criatura, filho de Deus e membro da Igreja de Deus. Inicia-se a vida da graça, onde a cooperação no tomar a cruz e seguir a Jesus constitui a regra. Tomar a cruz e seguir o Crucificado é participar com Ele do Seu plano, para ser digno dEle (Mateus 6, 24). Quem não crê no Evangelho está condenado, e, como disse o pastor, se a Igreja não está pregando o Evangelho, já que crê no perdão que deixa penas temporais, então, o pastor está ensinando que os católicos estão condenados.  O pastor Joel afirma que os protestantes poderiam suportar as fraquezas dos irmãos, mas, não dos católicos, que são falsos profetas! Veja o conselho que o pastor Joel dá aos protestantes:  Caro irmão em Cristo, quando um católico lhe perguntar por que você não crê que a Igreja Católica é de Deus, diga-lhe que é porque ela não prega o Evangelho. Aconselha até a comprar o Catecismo para evangelizar os católicos! O autor afirma que as diferenças entre católicos e evangélicos não é que um seja certo e o outro errado, pois ambos somos igualmente fracos (como criaturas passíveis de erros). Então, ele passa a elencar as diferenças. Façamos uma avaliação críticas dos tópicos indicados pelo pastor.

1ª) É Cristo quem salva, segundo o modo que ele mesmo instituiu. O católico crê que a salvação o faz responsável em manter-se, com a graça de Deus, no caminho da salvação pela prática responsável (pois é e continua sempre livre) das boas obras, ao passo que os protestantes creem que a salvação os dispensa de tudo, de toda obra. Isso, segundo o pastor, faz de Cristo um “Salvador Onipotente”, que salva instantaneamente, sem nossa ajuda, enquanto a visão católica o faria “frágil”, e que salva progressivamente. No entanto, para defender a Onipotência de Cristo, o pastor apresenta uma doutrina inconsistente com o Evangelho, pois leva a tirar a obrigação do cristão em cumprir a Lei de Deus. Não quero com isso afirmar que o protestantismo esteja ensinando uma doutrina abertamente imoral, mas que a lógica nos aponta a isso, visto que as premissas constantes da doutrina protestante são, pelo menos implicitamente, antinomistas. Se a doutrina cristã católica, ao afirmar que devemos cumprir a Lei de Deus e, dessa forma, participar cooperando com a graça que recebemos gratuitamente de Deus para que possamos ir para o céu (ser salvo) se isso é “diminuir” o sacrifício de Cristo, segundo a lógica nos levaria a pensar, no ponto de vista protestante, da mesma forma a consideração de Cristo como realizando tudo por nós, sem nos fazer participantes em nada da nossa salvação, nem nos fazer dignos de méritos, estaria logicamente levando, ou, pelo menos, abrindo caminho a uma preguiça, uma vida

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alicerçada numa falsa certeza de salvação, tendo em conseqüência a vida levada na frouxidão moral. Foi o que se deu nos dias de Lutero e pode acontecer sempre, em qualquer lugar ou época. Portanto, na doutrina cristã católica o nosso Onipotente Salvador veio para nos salvar, redimir, justificar, regenerar, santificar e nos fazer reinar com Ele no Céu, porém, não veio nos dispensar das obrigações que temos de praticar para a apropriação dos seus dons gratuitos, que não merecemos. O mérito só se inicia a partir da recepção da graça de Deus, que não é somente uma inclinação divina, bondosa e misericordiosa para nós, mas um dom divino interno e gratuito que nos auxiliar na prática da virtude. Uma simples inclinação de Deus para o homem, não é a definição de graça, tal como é entendida no protestantismo, segundo os apologistas John Ankerberg e John Weldom. [John Ankerberg e John Weldom. Fatos sobre o Catolicismo Romano]. Isso seria nada mais que um sentimento divino para com o homem, sem, no entanto, agir nele. A doutrina cristã católica define graça de acordo com a teologia legítima da Sagrada Escritura, não segundo a teologia luterana, que é a raiz das teologias protestantes ou da Teologia Protestante. Então, com o intuito de “salvar” a doutrina da Onipotência do Salvador, os protestantes caem, no mínimo, no erro de fazer de Cristo [indiretamente] um “liberal” em questões morais.

 2ª) Sobre o perdão, o católico crê, como revela a Escritura, num perdão total e pleno ocorrido no Batismo, na justificação. Porém, caso venha o cristão cair em pecado, o perdão que receberá o livrará do pecado e da pena eterna, mas deixará as penas temporais a serem expiadas pelo penitente, neste mundo ou no purgatório caso não houver a completa expiação. Já o protestante crê que o perdão deixa para sempre o cristão livre de todo o pecado e de toda a pena (passada, presente e futura), não tendo que pagar ou expiar mais nada. Sabemos que as boas obras feitas com a graça de Deus servem para a expiação, mas os protestantes negam essa verdade. 

3ª) Cristo pagou toda da dívida na cruz, e alcançou toda a graça para a salvação do mundo. As penas temporais pagas pelo pecado fazem parte do plano de Deus, são uma conseqüência de sua justiça, e Cristo não veio pagá-las, deixando-a ao pecador arrependido, que pode expiá-la com a ajuda da graça de Deus. Em primeiro lugar, o perdão das penas eternas é que foram expiadas por Cristo.

 4ª) Não é verdade que Cristo seja mais um exemplo a ser seguido do que um substituto do pecador na cruz. Isso é outra doutrina, não a católica. Cristo é o Redentor e Salvador do mundo no sentido exposto anteriormente.

 5ª) O pastor Joel acusa os católicos que se esforçarem para imitar o arquétipo [Cristo] para merecer a salvação, enquanto o protestante se esforça para agradar aquele que o tornou digno da salvação. Isso não é verdade. Essa uma falsa “consequência” do entendimento que se fez da doutrina católica em comparação com a protestante. Nada que possamos fazer nos coloca no caminho da salvação ou nos salva. Uma vez salvo, o homem deve cooperar com a graça até que seja levado ao céu. Não é somente um “agrado”, mas trata-se da obrigação, da obediência a Cristo. É nisso que consiste o agradar-lhe.

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 6ª) O autor reconhece que o evangélico afirma com ousadia que já está salvo, mas o católico acha que afirmar isso é cometer o grave pecado chamado presunção. É, de fato, presunção, pois ninguém pode garantir que continuará no caminho da salvação até a sua morte. O certo é termos esperança de salvação e não uma “absoluta certeza”, o que não é revelado nas Escrituras, nem compreensível à luz da razão.

 7ª) A idéia do suposto “Advogado” que pagou a dívida do réu, na doutrina protestante, e a “advogada” que suplica ao justo Juiz que assistiu ao crime, o qual não pode perdoar, é um outro modo errôneo de entender a doutrina da Igreja Católica. O Advogado realiza aquilo que veio realizar, o qual não inclui a dispensa de todas as penas temporais de que tratamos anteriormente. Já a “advogada”, certamente o autor está se referindo à Virgem Maria, ela não pode rogar por um pecador que não queira se converter, que rejeite a graça de Cristo. Santo Afonso afirma que o Juiz é cheio de misericórdia e que não devemos pensar que essa misericórdia não nos seja suficiente para irmos até Ele.

8ª) Quando se fala em mérito, entende-se aquele mérito obtido pelo cristão com o auxílio da graça de Deus. Os protestantes negam todo o mérito pessoal, para a salvação, e, consequentemente, se esquivam de todo o real dever de obedecer à Lei Moral Divina. Os méritos de Cristo são suficientes (não só importantes, como disse o pastor referindo-se à doutrina cristã católica) para salvar-nos sim, esse é o pensamento católico típico. Suponhamos que um batizado viva conforme a lei de Cristo por toda a sua vida, durante anos. É obvio que será salvo. Agora, suponhamos que um batizado morra após o seu batismo. O que acontecerá com ele? Passará pelo purgatório? Não. Irá diretamente ao céu, mesmo que não tenha tido tempo de praticar nenhuma boa obra. Esse é o pensamento católico típico. Ele salvou-se no momento da justificação. 

9ª) O católico está totalmente entregue à graça de Deus, em cada ação que pratique, e confia nessa graça com todo o seu ser. Isso não equivale a dizer que toda a boa obra que faça não influa em sua salvação, como imaginam os protestantes e seu sistema. E nem quer dizer que esteja “pagando” a Deus “em dia” com “medo de calote”. Isso é apenas a expressão de um coração arrependido e disposto a obedecer o Salvador, sofrer com Ele e ser, por isso, glorificado com Ele (Romanos 8, 17). 

10ª) Novamente, acusar o católico de ver em Jesus somente um “arquétipo” é fazer uma injusta avaliação da doutrina católica. Cristo é o nosso Cordeiro, o nosso Bode expiatório sim, como o pastor sabe que cremos, porém, “interpreta” a posição da Igreja erroneamente.

      Todas as acusações que o pastor faz sobre esse assunto seriam pelo suposto motivo de que o cristão católico não sabe porque Jesus morreu. Essa é uma “opinião” das mais estranhas do livro. Segundo o autor, são raríssimas as exceções, mas os católicos creriam assim: “Para o homem se salvar, basta-lhe ser bondoso até para com seus inimigos. E Jesus veio ensinar isso. E o fez não só com palavras, mas sobretudo, com atos, não pagando na mesma moeda o mal que lhe fizeram.” E depois julga assim: Nada, porém, está mais longe da verdade. De fato, isso é extremamente longe da realidade, pois, não é verdade que a salvação que Cristo nos mereceu seja essa, e muito menos que os católicos assim creiam. A

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doutrina oficial é outra. Se há católicos que pensam assim, e certamente há, esses devem ser evangelizados urgentemente!

Então, o pastor Joel explica a doutrina da salvação: O homem é pecador e Deus é justo, por cujo motivo ficamos irremediavelmente perdidos. Então Jesus desceu do Céu para cumprir a pena em nosso lugar... Quem apela para com Deus fica quitado. Então, o sangue de Jesus expia todo o pecado, como está em 1 João 1,7. É bom lembrar que mesmo o purgatório só é possível através do sangue de Jesus. Continua o autor: Precisamos informar aos católicos que aceitar Cristo como Salvador é mais do que crer na Sua existência, Seu nascimento virginal, Sua vida santa, Sua morte, Sua ressurreição, Sua divindade; é mais do que cumprir normas, ou seja, guardar Sua Lei moral. Segundo o autor, não são os exemplos de Cristo, e nem suas palavras, mas o Seu sangue é que nos salva. Bem, isso é a doutrina cristã católica, mas, mais ainda, até mesmo as palavras de Cristo nos purifica, tudo por mérito obtido no Calvário! O pastor explica que o perdão é mais pagamento do que perdão da dívida. Com isso concordamos, sem os exageros que levem a heresias. O pastor explica ainda que Deus não pode perdoar os pecados: E, embora Ele não possa perdoar pecado, por ser o justo Juiz, a Bíblia diz que ele perdoa. Você entendeu agora o arranjo de Deus? Sirva-se deste arranjo, e seja salvo pela graça, por meio da fé, agora. Sim, agora, pois Romanos 8.1 diz que agora não há nenhuma condenação para os cristãos! Esse “arranjo” foi confuso: a Bíblia diz que Deus perdoa, mas Ele não pode perdoar, por ser Juiz! Então a Bíblia fala de algo que não existe, de uma ilusão! Bem, essa explicação é confusa, e como Deus não é de confusão, a explicação é que falhou! Creio que Deus perdoa o pecador por causa do sacrifício da cruz, deixando a alma tão branca quanto a neve, infundindo a justiça de Cristo.

O pastor afirma que os católicos, em sua maioria, desconhecem que a Igreja nega a totalidade do perdão explicitamente e que os padres ensinam isso implicitamente, rezando missas pelos mortos do Purgatório (que ele chama de “imaginário”), distribuem indulgências e determinam penitências etc. Mas, é bom lembrar que, quando bem entendido, a Igreja ensina a totalidade do perdão, não como querem os protestantes, que desejam verem-se livres do cumprimento da Lei Moral para serem salvos, salvando-se pela fé “somente”. Tudo o que foi citado já está respondido acima. Mas, o autor afirma que os leigos não sabem disso porque se movem no “automático”, ou seja, não filosofam suas práticas religiosas. O “verdadeiro” Evangelho não admitiria essas práticas coadjuvantes, pois o sangue de Jesus é suficiente (Cl 2, 14). Que o sangue de Jesus seja suficiente ninguém nega, porém, que dispense o homem de cooperar com a graça, isso não é ensinado pelo Evangelho. Já que a maioria dos católicos “desconhece” o perdão, uma minoria “conhece”, diz o pastor Joel, e que seria incoerente crer e negar o “perdão” bíblico e se proclamar cristão. Os clérigos, então, estariam cometendo dois equívocos:

 1º) pregam o perdão, negando-o. Eles não dizem que Jesus não perdoa. O que eles dizem é que não basta estarmos perdoados. Isso seria um perdão que não anularia a sentença, mas reduziria a pena. Com relação às indulgências (a parcial e a plenária), o pastor acusa o Papa Leão X de ter inventado tal distinção, pois seria uma forma de fazer oferecer àqueles que não podiam pagar por uma “graça” maior. Seria um produto de qualidade inferior, ao invés de “vender” o mesmo produto por um preço camarada,

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um quebra-galho. Quem não tem cachorro, caça com gato. Talvez seja necessário saber quais os meios necessários para alcançar os diferentes tipos de indulgência.

 2º) Para o pastor, os católicos deveriam assumir que não são cristãos, como o Budismo, o Confucionismo, etc, para não serem incoerentes. Ele diz: Não assumem que não são cristãos. Ou não ser religioso, sob pena de ser hipócrita e incoerente.

 O pastor acusa a Igreja de cometer os “pecados” de não pregar, de negar, de mercantilizar e de falsificar o Evangelho, por não “pregar” a “totalidade e instantaneidade do perdão”, o que teria a conseqüência de estar negando o evangelho. Sobre as “ofertas” para remir-se das penas do pecado, faz acusação de mercantilismo e charlatanismo. Segundo o pastor, não pregar e negar o Evangelho seria um perigo menor que falsificá-lo, pois vendendo gato por lebre estaria enganando pessoas bem intencionadas que poderiam estar servindo a Deus, (imagino que seja no protestantismo é claro), e que estão crendo num “falso Jesus”, membros de uma “falsa igreja” e indo para um “falso Céu”. Mas se a Igreja está com o Evangelho de sempre, e as razões aqui demonstradas indicam que seja esse o caso, a doutrina que o pastor Joel está ensinando é que toma a posição de falsa, e está na mira de suas próprias acusações.

                                                           *  *  *

 O pastor acredita que sua apresentação “provou” que a Igreja prega a nega o perdão, bem como prega e nega o castigo eterno, sendo a pregação e a negação simultâneas. E não somente isso, o pastor avalia essa “ambigüidade” como tendo o alvo de que o dito fique pelo não dito, para com isso confundir os ingênuos; disso, segundo ele, milhões se libertaram e milhões se libertarão, desse “egito” (sic) para levá-los à “terra que mana leite e mel” (sic). A “terra prometida” aqui é o Protestantismo, ou como preferir, é “Jesus”, entre aspas porque o evangelho é entendido conforme o protestante entende: nada a fazer para ser salvo, somente crer e pronto!. Tudo isso fica claro, mais do que o pastor imaginou, fica claríssimo que há uma falta de compreensão mais exata da doutrina cristã e uma negação da doutrina bíblica. A falta de compreensão se resolve estudando mais a fundo e de maneira receptiva a questão em pauta. Por outro lado, a negação é mais profunda, visto estar convicto de que já está em posse da verdade bíblica quando na verdade está-se arvorando em defesa da “verdade” luterana e reformada. O pastor fala da contenda que há entre os católicos e os evangélicos, pois quando esses denunciam a Igreja Católica, os católicos partem para a revanche, alegando que os protestantes também falham; e o autor admite que isso não é novidade, pois acredita que a Igreja de Cristo nunca foi perfeita. Essa última parte é uma opinião errada. A Igreja de Cristo é perfeita em Seu fundador. A imperfeição que os seus membros possuem é certamente àquela a qual o autor está se referindo. A pregação “evangélica” tem também os católicos como alvo, e isso é, no mínimo, um equívoco, mas não de todo destituído de razão, devido ao fato de que a imensa maioria dos católicos são nominais e desconhecem a doutrina cristã, mas deveriam ser evangelizados com o Evangelho original que a própria Igreja prega. O Pe. Fernando bem descreve essa realidade em seu programa de 24/04/2009: O nosso povo cristão e católico tem fome de Deus. ’E verdade que existem cristãos católicos relaxados, medíocres e que tem

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mais fome de coisas mundanas do que do Pão, último e definitivo, que desce do Céu. Mas é verdade também que existem, graças a Deus, milhões desejosos de receberem a Palavra de Deus, pois cada fiel católico tem o direito de possuir um ministro de Deus, tem o direito de possuir um sacerdote que lhe sirva diariamente este Pão, que o homem não pode buscar com suas próprias forças. É disso que o pastor Joel está falando, e mesmo que negue a mediação sacerdotal existente na Igreja Católica, os pastores protestantes, ao anunciar o Evangelho, estão, de certa forma, agindo como os sacerdotes católicos. Mas o pastor afirma que os protestantes são clientes de um Advogado que conseguiu a nossa absolvição e desejam que os católicos ajustem ao Dr. Jesus para saírem da prisão espiritual como os protestantes já saíram. Isso quer dizer que os católicos ainda permanecem “prisioneiros”. Essa “boa nova” que os protestantes querem anunciar aos católicos é aquela que dispensa o homem de agir para ser salvo, mesmo que seja com a graça de Deus, o que eles consideram uma “auto-justificação”, como o homem “se salvando”, um tipo de “impedimento” de “confiar” só no sangue de Jesus. Mas isso é o que podemos chamar de heresia de perdição de uma religião falsa. Se todos temos erros, pois somos humanos, nem todas a igrejas pregam essa salvação tão fácil, que diz: basta a fé e serás salvo, sem as obras!. Sabemos, no entanto, que concordamos na prática com essa doutrina, pois a Igreja ensina que a fé viva é aquela que opera através da caridade, é que a caridade não é só de palavras, mas de obras, enquanto que os protestantes ensinam que aquele cristão que não dá testemunho de sua conversão, não vive a vida conforme o Evangelho, esse nunca foi salvo. É como se disséssemos que mesmo não atribuindo valor salvífico às obras, os protestantes [pelo menos é assim que o pastor Joel felizmente crê] creem que sem as obras, que foram deixadas por Deus para que vivamos nelas, os “crentes” não entrarão no céu por não serem de fato crentes. O erro grave do pastor Joel é afirmar que a única Igreja verdadeira, a Igreja Católica, não é Igreja. Parece até uma revanche, visto que a Igreja Católica no documento Dominus Iesus afirma que igrejas protestantes não são igrejas na verdadeira concepção do termo, certamente porque falta nelas a sucessão apostólica e etc. Mas, sei que não é por isso. De fato o pastor Joel afirma que a Igreja Católica não “tem nada a ver com igreja”, considerando-a fora do cristianismo, algo que a Igreja não afirma do Protestantismo, a não ser a respeito daquelas seitas que pregam doutrinas que descaracterizam qualquer grupo como não cristão, como por exemplo a negação da Santíssima Trindade. Se fôssemos argumentar apontando os pecados dos membros das outras igrejas, sabemos que poderiam fazer o mesmo conosco, visto que isso é comum a todos os homens e, com toda a razão, o pastor diz dos pastores charlatães: Mas eles [os católicos] precisam saber que tais “pastores” também estão indo para o Inferno. Finalizando esse raciocínio, o pastor sugere deixar de lorota e aceitar a Cristo como único e suficiente salvador e senhor Pessoal, e para os que já o fizeram e continuam na Igreja Católica, aconselha que saiam dela pois está sendo um peixe fora d´água, crendo num “evangelho” diferente daquele ensinado pela Igreja e, sabendo que a Igreja não muda, é “incorrigível”, o melhor seria abandoná-la. A última avaliação é bem pertinente, pois sabemos que a verdade é sempre a mesma, ontem, hoje e sempre, como o é o próprio Senhor Jesus, que é a Verdade. Então, é impossível que a verdade mude, e essa é a razão pela qual a Igreja Católica é imutável, sempre a mesma, irreformável em sua doutrina santa, mas sempre em reforma nos seus membros sempre falhos. Nesse ponto ela é totalmente corrigível. Na doutrina, como não há

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erros, não existe possibilidade de correção. Ao que os protestantes chamam de “incorrigível”, está a presença da fidelidade da Igreja à verdade.

      Ao que abandonar a Igreja, o pastor aconselha a não se dirigir às igrejas que se intitulam evangélicas, mas que estão a serviço de satanás. Essa pessoa deve orar, pedindo direção de Deus, vincular-se a um trabalho sério ou fundar sua própria denominação, e se precisar de ajuda é só contatá-los. Se o pastor Joel encontrar na Bíblia Sagrada um exemplo de aconselhamento como o que deu aqui, que me informe, pois sabemos que é um pecado fundar denominações, visto que introduz divisão, sectarismo no Corpo de Cristo.

     Diz ainda que a Igreja Católica tem sido usada pelo Diabo para esconder o Evangelho, e a chama de arapuca de Satã! Será que precisamos de mais exemplos para afirmar que a Igreja Católica está sendo perseguida?

      Por fim cita o Padre Vicente Wrosz: “A diferença entre católicos e protestantes é essencial, e bem maior do que parece” (Respostas da Bíblia às Acusações dos “Crentes” Contra a Igreja Católica, Livraria Editora Pe. Reus, 48ª edição /2000, página 13).

O que o padre Wrosz escreveu é uma verdade: o protestantismo difere essencialmente do catolicismo. 

CAPÍTULO 6

ANÁLISE DA MARIOLOGIA CATÓLICA

      Nesse capítulo o pastor inicia mostrando que a Igreja prega que Jesus é o Salvador, e que a Virgem Maria e os santos podem interceder pelos cristãos junto a Jesus Cristo, e alude também à diferença básica entre a posição católica e a protestante quanto à intercessão dos santos, pois segundo o parecer protestante isso é antibíblico, pois não se poderia pedir aos espíritos dos mortos que intercedam por nós. Agora, uma “novidade”, que o autor vem apresentar, é que a cúpula da Igreja estaria pregando uma heresia ainda maior (“heresia” no entender protestante, comparada pelo autor à doutrina da intercessão, embora saibamos que isso não é heresia, mas é a fé cristã desde os tempos apostólicos), e seria a de que Cristo constituiria o justo Juiz cuja missão é nos julgar e punir, e não o Salvador que veio nos salvar. E mais: isso estaria sendo pregado pelos papas, bispos e demais clérigos. O ofício de advogar junto a Cristo para obter nossa salvação seria de Maria, uma doutrina pregada pelos chefões do catolicismo. Entre as “negações” da verdade salvadora de Cristo, estaria, às vezes, sendo reconhecida Sua mediação única, entretanto, seguida da afirmação de que essa não é Sua missão. Deve-se concordar com o pastor Joel quanto às críticas dentro dessa “compreensão” do assunto, pois, se assim fosse, isso seria um verdadeiro disparate, pois não há como ser Mediador e único Salvador e ao mesmo tempo não realizar essa missão exclusivamente ou mesmo não realizá-la nunca. O pastor diz que geralmente isso fica implícito, sendo às vezes dito explicitamente, constituindo um emaranhado que tem por objetivo fazer com que o dito fique pelo não dito e a arapuca do Diabo funcione. Se fosse assim, deve-se

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repetir, o pastor teria razão, pois seria uma contradição e uma sutileza que objetivaria destituir a Cristo de Sua investidura e conferir a Maria o Seu ofício. Pode ser dito “se fosse assim”, porque de fato não o é, mas será necessária uma reflexão pormenorizada ao longo da crítica desse capítulo para nos certificarmos disso. O pastor apresenta uma lista de 26 afirmações que “provaria” duas asserções conflitantes, ou seja, a de que Cristo é o salvador e a negação dessa verdade, e mais 4 itens que “provaria” o “endeusamento” que Maria teria, também, entre os católicos carismáticos. Apresenta ainda uma notícia veiculada em 28/08/1998 pelo jornal O Globo, de que existiria um grupo católico instando junto ao Vaticano para que Maria fosse reconhecida como a “quarta” pessoa divina!!! Não é necessário comentário dessa heresia, se de fato foi pensada pelo tal grupo formado por católicos. O pastor sabe que Dom Estêvão negou tal informação, o qual disse que o dito jornal faltou com a verdade, mas como não foi possível saber a origem da notícia publicada no artigo, ficou uma suspeita no ar. O pastor Joel afirmou somente que tem as palavras da articulista contra as do padre Estêvão, sem saber quem faltou com a verdade, o que é, no mínimo, uma atitude prudente. Que a atitude anti-Maria é comum entre os protestantes é um fato bem conhecido. É por tal motivo que o pastor pode aludir à conclusão dos cristãos católicos de que os protestantes odeiam a Virgem Maria. Para fundamentar suas notícias, o pastor cita dados da Revista Defesa da Fé, órgão oficial do ICP, que traz palavras do padre André Carbonera sobre a atitude dos protestantes quanto à Virgem Maria, o qual chamou de burros os que não recorrem à sua intercessão: ... Seria uma inútil auto-suficiência e uma enorme burrice!...” Então, o pastor afirma poder provar que os protestantes não odeiam a Maria, mas que a deixam quietinha no lugar onde ela mesma se pôs (Lucas 1, 38.46-48), e que isso significa submissão a Deus, não um ato de burrice como suposto pelo padre Carbonera. Bem respondido, por sinal. Mas acredito que é bom dizermos que os cristãos sempre reconheceram a posição especial da Mãe do Senhor, e sem tirá-la de sua posição de serva do Senhor, sempre a exaltaram, com veneração (amor, reverência, respeito, imitação, pedido de intercessão). Essa atitude não a tira do seu lugar, de criatura serva de Deus (ao mesmo tempo que exaltada por Ele à dignidade de mão do Salvador). Outra informação contra a atitude dos protestantes é a do padre D. Francisco Prada, acusando os protestantes de ignorar e denegrir a Virgem Maria, negando sua virgindade. Enfim, traz também palavras do Frei Battistini sobre a falta de veneração a Nossa Senhora entre os protestantes, considerando-os como os que não gostam de Maria. Obviamente o pastor Joel nega que essa seja a atitude do protestantismo, e chega a apontar provas do amor que os protestantes praticam, como a manutenção de orfanatos, asilos, cuidados com bandidos e etc. Segundo o autor, o fanatismo e a desonestidade predomina entre os clérigos católicos, e isso é uma conclusão tirada das leituras de obras católicas. Tudo isso seria porque os católicos não possuem argumentos sólidos extraídos da Bíblia para responder aos ataques protestantes. Talvez essa questão também mereça algum comentário. Todos conhecem a atitude de negação e/ou indiferença que os protestantes têm para com a mãe de Jesus. Muitos já ouviram palavras de baixo calão, proferidas por protestantes leigos, referentes a Nossa Senhora. Então, não é destituído de verdade as palavras do padre Carbonera e do Frei Battistini. Certamente não é exata uma generalização, acusando a todos os protestantes de atitudes como essas. Mas é verdadeiro que predomina uma indiferença considerável, no que diz respeito ao culto de veneração mariano, entre as igrejas protestantes, o que as coloca em

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desarmonia com o cristianismo de sempre. É útil frisar que essa observação não nega que os protestantes sejam cristãos, mas apenas tem como objetivo auxiliar nossa reflexão. Portanto, a atitude dos clérigos acima mencionados não constitui uma falta de ética ou sofisma enganador, mas retrata, se não exatamente, pelo menos boa parte da realidade observável entre os protestantes. O diálogo onde há amor, respeito e franqueza, como aconselha o pastor Joel, é o ideal que devemos ter e praticar. Mas quando o pastor diz que as crendices católicas a respeito de Maria não são respaldadas pela Bíblia, essa afirmação não é verdadeira. Pode até conter verdade, mas como tal, absolutamente, não o é, pois se é exato que entre as muitas expressões populares se encontrem desvios, excessos e outras distorções do verdadeiro culto a Maria, isso não pode ser encontrado na genuína atitude cristã na veneração à mãe do céu. Toda essa atitude deve estar em harmonia com a revelação de Deus na Bíblia Sagrada, vivida na Tradição. E aqui, deve-se lembrar que a veneração que os protestantes chegam a ter para com a virgem Maria ainda fica aquém da tradicional veneração inspirada pelas páginas do Novo Testamento. E Tradição não pode ser entendida segundo a definição dada pelo pastor Joel, mas deve ser tida como a palavra de Deus transmitida por via oral. Quanto à pretensão de provar que a Igreja Católica está a serviço de Satanás, é uma tarefa impossível, se ela de fato não estiver, e acreditamos e provamos que não está, como será patentemente mostrado nessa crítica. O múnus salvífico de Nossa Senhora (CIC, 969) será melhor entendido no decorrer das nossas reflexões, as quais provarão que Jesus Cristo é o único e suficiente salvador, único nome pelo qual somos salvos (At 4,12). Toda a pesquisa do pastor Joel (leituras, entrevistas com ex-membros da Igreja, missas assistidas (pela TV ou pessoalmente na Igreja?) mostra que suas palavras não tem o caráter de calúnia, como ele mesmo diz. Mas faz-se necessário refletir, pois talvez o autor chegue a novas conclusões, ainda não previstas.

6 1. Literatura, santos , contos e outros gestos mariolátricos.  

6.1.1. O Livro de “Santo” Afonso

      A respeito do livro de Santo Afonso, o pastor Joel dedicou esse extenso capítulo a uma profunda análise das afirmações que o autor faz na dita obra. São muitas citações e provas de que a Igreja concedeu permissão e até mesmo aconselhamento para sua leitura. Não é necessário repetir tantas citações da obra e nem das provas de sua aprovação pela Igreja, pois os leitores da obra do pastor Joel já as conhecem. A obra de Santo Afonso é de fato muito apreciada, aconselhada a sua leitura, elogiada, difundida em várias línguas e etc. O seu autor, que era bispo, foi canonizado e, segundo o que está exarado na página 13 da edição da obra usada pelo pastor Joel, a Igreja aprovou os escritos de Santo Afonso, o que inclui o livro Glórias de Maria, e é dito que esses escritos foram cuidadosamente lidos. Portanto, segundo o parecer oficial, a obra não contém heresia. Esse fato explica o motivo de não haver “repreensão” por parte das autoridades, numa época em que as heresias eram combatidas com rigor mais extremado, e que o pastor Joel nos faz lembrar os rigores da inquisição. Diante de todos esses acontecimentos, é lícito questionar ainda mais o motivo pelo qual todas as afirmações “excessivas” contidas no livro nunca terem sido vítimas de uma “censura”, e o autor das mesmas ser até elevado à categoria de santo. O pastor Joel tem essa atitude na conta de cumplicidade de todo o clero, e cumplicidade num ensino de estar favorecendo uma doutrina de “perdição”.

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É algo um tanto curioso que o livro nunca tenha sido entendido assim, e poderia ser apresentada uma explicação para isso. Sirvo-me, em parte, das idéias do apologista Dave para formular essa resposta. A mente cristã católica está “acostumadíssima” com as honras prestadas à Virgem Maria. Sempre foi tradição oferecer o máximo da veneração à mãe do Senhor. Além do mais, a cristologia católica é perfeita, e toda a doutrina aponta para Cristo como único Salvador e Redentor da humanidade, digno de toda honra, glória e louvor, o único santo, o próprio Deus feito Homem. Sendo a fé cristocêntrica, todas aquelas afirmações excessivas (concordo plenamente que de fato são assim mesmo), todas elas são entendidas (e assim é necessário ser) através dessa sã doutrina, não sendo consideradas literalmente (pois isso daria o resultado que o pastor Joel já apontou). Toda essa linguagem estaria afirmando apenas a posição singular da Virgem Maria no culto cristão, sem elevá-la acima daquilo que sempre foi, uma serva do Senhor. Então, as lentes católicas estariam filtrando todos esses excessos de linguagem (hipérboles), harmonizando-os com a reta doutrina, sem nunca serem entendidos ao pé da letra. Sendo assim, o “silêncio” do clero não poderia sofrer nenhuma condenação. Mas esse fato não poderia deixar de lado a prudência necessária. É igualmente verdadeiro que o culto popular dos santos e, sobretudo, da Virgem Maria, tem conotações muito estranhas, pouco ou nada críticas, desvirtuadas até, que requerem uma instrução religiosa urgente, uma evangelização contundente e instrutiva, uma verdadeira conversão. Muitos expressam uma mariolatria pela grande ignorância que possuem. Não é o caso de Santo Afonso, ao que parece, que, se de fato concebia aquelas idéias literalmente, seria um idólatra consciente! As afirmações das quais o pastor Joel se serviu e que estão contidas no livro Glórias de Maria, à primeira vista, dizem o que dizem, ficando difícil entendê-las de outra forma, e a interpretação do pastor Joel é muito oportuna, lógica, e qualquer um que se pusesse a considerá-las objetivamente para tirar uma conclusão baseada nelas mesmas, chegaria a um resultado semelhante. Mas parece que podemos entendê-las segundo algumas direções encontradas na própria obra de Santo Afonso, segundo a sã doutrina, através da posição cristocêntrica. E a sã doutrina proíbe veementemente que tenhamos um “outro salvador ou salvadora”, a não ser Jesus Cristo. E se é fato que a Igreja prega que somente Cristo pode nos salvar, toda a linguagem que trata de Maria como “redentora”, “porta do céu” e outras afirmações mais, devem ser entendidas metaforicamente, como dizendo algo diferente, sob pena de serem blasfemas. E se se disser que essas afirmações são literais, temos o dever de negá-las, ombreados pela Bíblia e pela tradição cristã, que só podem estar em harmonia. Do contrário, como foi dito, um cristão católico não somente pode, mas deve rejeitar qualquer engrandecimento ou exaltação de uma criatura além dos seus limites intrínsecos. Por exemplo, na citação de São Bernardino de Sena, que diz: ao império de Maria todos estão sujeitos, até o próprio Deus, essa afirmação, segundo o que diz em si mesma, é incompatível com toda a sã doutrina, pois se Deus fosse “sujeito” a Maria, essa seria a “Deusa” (com artigo definido, pois seria a maior), acima de tudo e de todos. Seria mesmo o cúmulo do absurdo! Deus não obedece a ordens. Mas, seria preferível não tachar o santo de mariólatra tão apressadamente, e nem mesmo a santo Afonso, que o citou, visto que em outro lugar do livro é dito que, após a ascensão, Cristo não estava sujeito a ninguém, nem à Sua mãe, pois não mais lhe devia aquela obediência que prestava quando viveu nesse mundo. Conclui-se, com razão e verdade, que Deus não pode estar sujeito a nada e a ninguém, e de fato jamais esteve, não está e nunca estará, pois somente

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Ele é Deus, é Senhor, é Criador do universo, e fora dEle nada poderia ter vindo à existência. Esse princípio não parece ter sido negligenciado por Santo Afonso. Poderemos, no decorrer dessa crítica, refletir mais sobre isso. A respeito da consagração a Nossa Senhora, é verdade que também possui palavras muito chocantes (até para os meus ouvidos cristãos católicos). Ou são entendidas à luz de Cristo ou não podem ser nem mesmo pronunciadas. Quanto ao decreto do Concílio Vaticano II (acusado por muitos católicos de possuir decretos ambíguos), o pastor Joel, assim como outros protestantes, notou uma grave imperfeição de linguagem: Os fiéis devem venerar... a memória ‘primeiramente da gloriosa sempre virgem Maria, Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo’ ” (Compêndio do Vaticano II, Editora Vozes, 29ª edição, 2000, página 103, # 140. Grifo nosso). Ora, se Maria é Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo, então, das duas uma: Ou ela não é mãe só do lado humano de Jesus, mas também de Sua Divindade (o que é um absurdo), ou ela, além de ser mãe do Filho, é, também, mãe do Pai. E, de um jeito ou de outro, isso é o ápice da mariolatria. A Igreja sempre ensinou que Maria é mãe de Jesus Cristo, que é Deus, mãe da Sua Pessoa, não da sua natureza ou lado humano, portanto, mãe de Deus como homem, nunca mãe da divindade, nem mãe de Deus Pai. A Igreja não pode ser acusada de tão grave heresia, por ela mesmo condenada, e é fácil certificar-se disso lendo o próprio Catecismo ou qualquer obra séria publicada pela Igreja sobre o assunto. Portanto, o pastor Joel tem razão em criticar essa construção gramatical inadequada. Um exemplo prático a respeito das expressões de veneração à Virgem Maria, seria o caso em que é comum a afirmação de que o coração de Maria é o caminho que nos conduz a Deus, o que não é possível conciliar, ao menos à primeira vista, com o texto de João 14, 6 onde Nosso Senhor é o caminho, a verdade e a vida, e sem o qual ninguém chega ao Pai. Porém, se for entendido que seguindo os exemplos e inspirações da vida de Nossa Senhora, as virtudes de seu coração, essa constitui uma atitude que nos estaria levando a Deus, como suscitado pela boas inspirações do coração da Virgem Maria, e essa compreensão não está conflito com a revelação, a Bíblia, pois cada boa ação de um cristão, que pode ser imitado como exemplo de vida, pode auxiliar os outros na aproximação a Deus, tendo essa função benéfica de produzir conversões e contribuir para o maior fervor cristão nos outros. E como tal, não somente o coração de Maria poderia contribuir para isso, mas todos os corações santos, de todos os justos e santos que partiram para o céu, e que nos são apresentados como modelos a ser seguidos. Mas, no entanto, o coração da mãe do Senhor, criado, predestinado, preparado, purificado pelo próprio Deus Uno e Trino, esse coração é, entre todos os corações, o que pode nos inspirar maior devoção e piedade e nos “levar” a Deus, apontando-nos a Cristo, o único caminho, sob inspiração do Espírito Santo Paráclito. Essa compreensão está em completa consonância com a Sagrada Escritura. E assim podemos, com o total aval da doutrina bíblica, entender dessa forma. E essa não é uma novidade de compreensão, mas a única forma ortodoxa de se aderir à devoção mariana, uma forma católica tradicional, da era apostólica, oficial, sempre constituindo o fundamento de toda a verdadeira devoção. Qualquer desvio (e é quase impossível evitar que apareça) deve ser combatido e corrigido. Para melhor compreender isso é necessário mostrar o princípio bíblico de que os homens, criaturas de Deus, podem ser canais de graça, não apenas pelo exemplo e palavra pregada, mas como instrumentos de Deus, segundo estabelecido pela sua soberana vontade, sendo como que ferramentas pelas quais Ele quis livremente associar a Seu plano para distribuição de graças, através de orações, do espírito de

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penitência etc. Em outras palavras, Deus pode não distribuir sua graça diretamente, mas usar de outros meios. E é sabido que não há fundamento para negar que Deus esteja proibido de agir assim, como se se tratasse de um conceito impossível a priori, nem um dado revelado asseverando que tal não possa ocorrer. Contrariamente a isso, podemos, sem dificuldade, estabelecer o princípio divino de distribuição de graças, presente na Bíblia, através dos seres humanos. Para tanto, podemos citar 1 Coríntios 9, 22: Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos, onde São Paulo afirma ter se tornado tudo para todos a fim de salvar, e essa salvação, que somente vem de Deus, é possível pela graça que unicamente Ele concede, e nesse caso específico, estava concedendo através do seu servo, o apóstolo Paulo. Para negar que essa salvação seja a salvação eterna, seria necessário recorrer a uma noção diversa do termo, que não é encontrada no contexto imediato em nem no conjunto geral do ensino bíblico (da forma em que foi expresso aqui_1 Cor 9,22), mas um recurso que tem como origem a teologia adotada pelo intérprete, a qual é a teologia calvinista, ao que parece. Porém, permanece o fato de que “alguma” graça foi conferida mediante a ação do apóstolo. Pelo contexto, porém, é certo que se trata da salvação eterna da pessoa no céu. Da mesma forma, 2 Coríntios 4, 15 diz que os sofrimentos do apóstolo serviam para aumentar a distribuição de graças, diríamos assim, a ação de graças para a glória de Deus. Como a graça se estende a mais e mais pessoas, da forma que pelos sofrimentos vividos em união com Cristo a graça é distribuída. Ao afirmar que a Virgem Maria pode nos obter as graças de Cristo, como um vaso eleito, está-se respaldado por uma noção bíblica, onde seres humanos servem de canais da graça de Deus em favor dos irmãos. Quanto às afirmações ou expressões excessivas e tão comuns na devoção mariana, o cristão católico não é, absolutamente, obrigado a ater-se a elas, nem pronunciá-las, nem mesmo conhecê-las. O livro de Santo Afonso não faz parte da catequese (eu mesmo não o conhecia, e ainda o conheço pouco). No máximo podemos entendê-las segundo a sã doutrina, como foi visto. O que é essencial é o culto mariano de sempre: tê-la como nossa mãe, visto que somos membros do corpo de Cristo_somos outros “cristos”_, confiar na sua intercessão, como confiamos na intercessão de todos os santos, do céu e da terra, mas de uma forma especial, pois ela foi alvo de uma graça sem igual, e por esse motivo, recebe o mesmo culto que todos os demais santos, chamado de dulia, mas com uma ênfase maior, por isso classificado como hiperdulia, continuando o mesmo em essência. E como está em João 2,5, a vontade de Nossa Senhora é que obedeçamos a Cristo, fazendo tudo o que Ele nos disser. Qualquer culto de veneração que não tenha esse foco está desvirtuado. Assim, se qualquer expressão de veneração (amor, respeito, imitação) fosse idolatria, o sentimento mesmo da veneração já o seria, sem necessidade do culto externo. Mas isso não é verdade, visto que a veneração é inerente à fé cristã, é até natural ao ser humano. Idolatria, ao contrário, é a adoração a um ídolo, tendo-o como um deus. A sã doutrina proíbe isso. Se mesmo conhecendo os escritos da Igreja, sua doutrina oficial, alguém caiu em idolatria, não é culpa da Igreja, pois é inadmissível que a doutrina católica leve alguém a ser idólatra, porque a mesma doutrina não permite esse pecado e, portanto, o cristão católico de fato não é idólatra. Se foi por alguma ambiguidade de obras publicadas ou por falta de compreensão ou por não estudar a doutrina cristã e viver na ignorância, praticando um cristianismo católico nominal e etc, tudo isso é outra questão. É certo que o Catecismo proíbe a idolatria e não confunde o

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culto de dulia (que é o mesmo que hiperdulia, diferindo só no grau). Podemos sim, venerar os santos, desde que seja veneração mesmo.

6.1.10. O parecer dos clérigos católicos

      Popularmente, os santos receberam, e muitas vezes continuam recebendo, tratamento excessivo por parte dos fiéis, e misturado mesmo a superstição, algo que ainda hoje é percebido.       Venerar demais os santos e esquecer de Jesus é o erro fundamental. O fato de o Concílio ter admitido que foi sua tarefa colocar os santos abaixo da Trindade é estranhíssimo. Ficou pouco explicado. Pois deixou a questão: Foi a doutrina e a liturgia oficial ou foram as expressões da devoção que os cristãos católicos foram absorvendo ao longo dos séculos, o que levou a essa troca de posições e consequente idolatria?       Percebo que realmente as devoções populares tem os santos e a Virgem Maria em primeiro lugar, pois muitos nunca chegam a falar de Jesus, limitando-se a citar a Virgem Maria. Isso está errado!       Segundo o que a Lúmen Gentium afirma sobre a verdadeira veneração à Virgem Maria, o livro Glórias de Maria deveria ser evitado, pois lá encontram-se exageros, que são difíceis até de conciliar com a sã doutrina. O que faço aqui, é entender aquelas afirmações segundo a doutrina cristã, mas reconheço que não são saudáveis as declarações metafóricas de muitos desses santos escritores.

6.2. O supremo culto a Maria 

      Nesse tópico o pastor passa a mostrar a classificação dos cultos, “segundo” a Igreja Católica, que “ensinaria” que esses se dividem em três categorias: dulia, hiperdulia e latria. O primeiro é devido aos santos e anjos, o segundo à Virgem Maria e o terceiro é prestado somente a Deus. Numa demonstração cristã católica preferiria classificar didaticamente em primeiro lugar o culto de Latria, pela sua superioridade essencial a todos os outros cultos, seguido do culto de hiperdulia, devido à singularidade de Maria entre as criaturas, e o culto de dulia, prestado aos demais santos servos de Deus. O pastor prossegue afirmando que segundo a Bíblia há somente um tipo de culto, e este é tributado a Deus. Dessa forma somente Deus, o Criador, pode ser cultuado. As “provas” disso seriam: Apocalipse 19, 19 e 22, 9 onde é registrado que um anjo rejeitou a adoração que o apóstolo João lhe quis prestar. São Paulo, em Cl 2, 18 ensina que não se deve cultuar os anjos: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu, estando debalde inchado na sua carnal compreensão” (Cl 2.18).. Outra prova seria a recusa de São Pedro em receber a homenagem de Cornélio (Atos 10, 25-26). Os protestantes negam o culto de dulia, afirmando somente que: Com todo o respeito e amor para com Maria, afirmamos que a Hiperdulia é idolatria. Com isso afirmam que Nossa Senhora certamente rejeitaria tal culto, visto que era humilde e santa, e faria como o apóstolo São Pedro o fez no exemplo acima. O pastor afirma que podemos amar Maria, respeitá-la, honrá-la, admirá-la, elogiá-la, apreciá-la, sem cultuá-la. Essa afirmação foi ótima até o momento em que disse sem cultuá-la, devido ao fato de que não apresentou a forma de proceder nesse caso. Como amar, respeitar,

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honrar, admirar, elogiar, apreciar sem o auxílio de atos que expressem isso? Isso teria pouca “força”, visto que somos corpo e alma, e não conseguimos viver somente de idéias abstratas. Não podemos manter o culto de veneração e nem mesmo o de adoração se não o cultivarmos ativamente através das nossas ações. A participação dos cultos na Igreja é um exemplo disso. Para avaliar a importância das atitudes basta imaginar o “fervor” de um “cristão” que frequenta a Igreja de vez em quando, uma vez a cada cinco anos, por exemplo, ou que reza às vezes, quando “acha” necessário, ou que “lembra” de Deus em certos momentos etc. Com toda a certeza, uma pessoa nessas condições não vive uma vida cristã. Visto que no protestantismo a Virgem Maria não tem lugar nas suas celebrações, nos sermões, enfim, não é lembrada na vida cristã, é praticamente impossível “venerá-la” sem o culto de veneração. O pastor afirma que o clero ensina que a hiperdulia está acima da Dulia e abaixo da Latria mas acredita que na prática não é assim, visto que os escritos endossados pelo clero católico estariam colocando Maria acima de Cristo, como a obra de Santo Afonso tão criticada pelo pastor. Então o pastor apresenta “as provas” de que o clero católico é mais devoto de Maria do que de Cristo. A primeira prova seria o Rosário, e apresenta a definição: segundo o Novo Dicionário Aurélio, uma enfiada de 165 contas, correspondente ao número de 150 ave-marias e 15 padre-nossos. O terço, explica o pastor, correspondente ao número de 50 ave-marias e 5 padre-nossos. E o autor resume assim: Nos dois exemplos acima, a Cristo coube apenas menos de um décimo da devoção a Maria. E você acha que isso se dá por acaso? Não seja ingênuo caro leitor! Abra os seus olhos!; esse quadro é sim, sintomático. Pode-se dizer desses dois exemplos que, quando analisamos o rosário e o terço, a conclusão é justamente contrária àquela do pastor Joel. Primeiro deve-se notar que os dois exemplos citados são de orações marianas, próprias da veneração da Igreja para com Nossa Senhora. Nada mais natural que nessas orações o nome de Maria apareça repetidas vezes. Mas será que nessas orações marianas o culto a Jesus seja diminuído ou até mesmo excluído ? Se assim o fosse deveríamos rejeitar essas orações, como querem os protestantes. E mais, eles teriam razão. No entanto, compreendamos a reza do terço e do rosário conforme nos explica a Rosarium Virginis Mariae. A carta apostólica diz: O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. O pastor Joel não ficaria surpreso ao encontrar tal afirmação, e, certamente, também não se convenceria da verdade da mesma. Por isso é necessário mais algumas palavras. Como tudo no culto da Igreja Católica, o Rosário e o terço, que são orações próprias da devoção a Nossa Senhora, essas mesmas orações são no fundo, no seu âmago, um culto a Cristo, visto que todo o culto cristão tem por objetivo render a honra, a glória, o louvor etc. a Deus. Senão vejamos: o pastor notou obviamente que de 165 contas, 15 são de Pai Nossos e 150 de Ave-Marias. É isso um sinal de que a devoção “diminui” o culto a Cristo? NÃO. É preciso notar que inicia-se a reza do Rosário com a profissão de fé cristã: O CREDO. A primeira conta é própria para a reza do Pai Nosso, como início de tudo, o Alfa do rosário. Os mistérios contemplados em todo o Rosário são aqueles da vida de Cristo: encarnação, morte, ressurreição, ascensão, descida do Espírito Santo e assunção de Nossa Senhora. Em todo o Rosário está se contemplando a vida do Nosso Senhor, Salvador e Redentor. Cada mistério inicia-se com o Pai Nosso e termina com um Glória ao Pai. Com isso vemos que essencialmente o Rosário é, de fato, cristocêntrico. Ironicamente diríamos que se os protestantes tivessem para com Jesus uma devoção como os cristãos

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católicos tem para com a Virgem Maria, estariam negando a Ele, tanto o centro como todo o objetivo do culto. A Virgem Maria é venerada apenas por sua união com Cristo, e isso já é razão suficiente para ver o amor que tributamos a Nosso Senhor. Então, é sintomático que a quantidade de Ave-Maria não muda a qualidade do Rosário, que é uma oração com fisionomia mariana, mas com âmago cristológico. Quantos às estampas, estando em primeiro lugar as figuras de Maria e em segundo as de São Cristóvão, e, por fim, as dedicações dos templos a Nossa Senhora não prova uma mudança essencial no culto cristão. Não se pode deixar de concordar que o povo é muito inclinado a superstição e essas práticas podem tornar-se ocasião desse pecado. Quanto aos sermões, esses seriam de tônica “mariana” enquanto que os sermões “evangélicos” teriam a tônica apostólica: Jesus. Os católicos instintivamente estariam colocando Maria em segundo ou terceiro lugar, tendo um propósito do clero para isso. Então, 90% das mensagens católicas seriam referentes a Nossa Senhora. O autor diz que sua obra talvez leve os católicos a aumentarem a confecção de folhetos que falem de Cristo, mas que até agora não é essa a ênfase. O clero estaria destituindo, há séculos, o Senhor Jesus de Sua função. O pastor considera essa afirmação muito forte, porém, diz que tem base firme para suportá-la, podendo provar como dois mais dois são quatro. O clero pregaria sempre que Cristo estaria irado e que aplacado pelos rogos de Maria, seria aplacado o seu furor. Para isso, cita as “provas”, sendo essas constituídas de palavras de Santo Afonso, um testemunho do ex-padre Charles Chiniquy, que pregava, quando era padre, que não devemos ir a Cristo, visto que o Rei está irado, e cita as palavras de Lutero que apresentam os mesmos argumentos. O pastor imagina que alguém talvez pergunte sobre a veracidade das afirmações do Padre Charles Chiniquy e de Lutero, e propõe outra questão, sobre se seria impossível que um clérigo pregasse esse absurdo, visto que ele havia “provado” que próprio Santo Afonso havia feito em sua obra, chamando a declaração de grande blasfêmia, e o bispo de herege. Assim ninguém teria moral para acusar Lutero e Chiniquy de calúnia e que a atitude de Santo Afonso não foi ato isolado, pois ele foi até canonizado e elevado a Doutor da Igreja; chama o livro Glórias de Maria de pernicioso, e de que tem ensino infernal, como aquele de que “Maria socorre e alivia” e “Cristo julga e pune”, sendo que quem aprovou a abra seria cúmplice explicito e quem não protestou contra ela, seria um cúmplice implícito, mesmo os leigos: E você que é católico leigo, e contribui financeiramente para sustentar essa seita, não pense que escapará ao juízo de Deus.

      O pastor reconhece que a palavra dulia é realmente bíblica, e que significa servir, como em Romanos 12,11. Explica o pastor que nesse texto se manda servir ao Senhor, logo, dulia é culto ou serviço a Deus. Isso significaria, segundo o mesmo autor, que a dulia deve ser prestada a Deus, e, contrariamente a isso, a Igreja estaria prestando dulia aos santos e anjos. E não somente isso, pois enquanto se presta a Nossa Senhora um culto de hiperdulia, estaria assim afirmando que seria um culto “maior” que aquele prestado a Deus. Mas isso é mais um equívoco. A exegese feita pelo pastor da palavra dulia conclui erradamente. Como se entende a palavra dulia com referencia aos santos e anjos não há como confundir com o culto de Deus. O serviço devido a Deus e devido ao homem é expresso em diferentes aspectos. A latria se presta unicamente a Deus. A dulia que se oferece a Deus é distinta da dulia que se presta ao homem. A latria é somente devida a Deus, que é o Criador. Mas a dulia que se deve a Deus pelo seu Senhorio,

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o próprio Deus comunica de certa forma às criaturas, permitindo que a essas possam ser tributadas uma dulia própria das criaturas. A hiperdulia nada mais é que o mais alto significado de dulia, prestado a alguém que tenha uma especial comunhão com Deus como, por exemplo, Nossa Senhora.

      Dulia é a honra prestada aos santos. Latria é o culto de adoração prestado a Deus somente. Hiperdulia é a veneração à Virgem Maria. A diferença entre latria e dulia não é somente de grau, mas de tipo. Santo Agostinho diz que a dulia é dita dos servos em relação aos senhores, o que ajuda a compreender o uso do termo com relação aos santos (Cl 3, 22.24).

6 3. A casa de “Maria” Quanto ao que foi dito por Ralph Woodrow, com base em informações

fidedignas da Enciclopédia Católica, sobre o transporte angélico da Casa de Maria para a Itália, pode ser dito o seguinte: é algo herdado da tradição, não é dogma de fé, nem doutrina imposta, não somos obrigados a crer nessa estória, não é necessária para nossa salvação. Agora parece que ficou claro.

Realmente, concordando com o pastor Joel, não precisamos da casa de Maria, mas da graça de Jesus, e cristãos autênticos não se preocupam com crendices, seja qual for (não conheço essa estória sobre a casa de Maria, mas também não sou obrigado a conhecer), e essa é uma postura de cristãos católicos que conhecem a Bíblia e a Tradição (que não pode contradizer o que está escrito).

De tudo isso, pode ser dito, com certeza, que um protestante não precisa temer ingressar-se na Igreja por esse tipo de questão.

6.4. Os “Honoríficos” Títulos de Maria 

6.4.1. Nossa Senhora

O pastor inicia afirmando que: Embora a Bíblia diga que Jesus Cristo é o nosso único Senhor (1 Coríntios 8.6; Judas 4), não é novidade para ninguém que os clérigos católicos pregam que Maria, a mãe de Jesus, é Nossa Senhora. É um fato. Mas devemos primeiramente saber em que sentido a Virgem Maria é tratada como Senhora. Que Cristo é o Senhor, no mais alto sentido, que exerce senhorio sobre os vivos e os mortos, ninguém pode duvidar. O necessário é mostrar que o título que a Virgem Maria recebeu não a torna uma senhora nesse sentido do senhorio de Cristo. Somente assim seria conflitante. A imaginada tentativa de defesa que os cristãos católicos tomariam, como se o ter uma “senhora” não derrogaria o Senhorio de Jesus, seria realmente uma balela, não convincente. O exemplo que o pastor Joel apresentou mostra muito bem esse fato. As tarefas que se atribui a cada santo, não noções populares que, com o tempo, tomaram conta do imaginário cristão. É certo que os títulos da Virgem Maria são muito mais abundantes, mas tudo isso é devido à sua maior proximidade com Jesus Cristo. O autor faz um resumo dos vários títulos que se atribui a Nossa Senhora, tendo como fonte a Revista das Religiões, edição especial, Editora Abril, página 66, maio de 2005, os quais são Nossa Senhora do Ó, do Carmo, Desatadoras dos Nós (interpretados como “pecados”). Após essas explicações, o autor propõe sete perguntas que, segundo ele, trazem as respostas no seu próprio bojo. A primeira indica que se se estende o

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senhorio a qualquer outra criatura, o Senhorio de Cristo é alterado, o que de fato é verdade e, portanto, não se pode compreender o título de Senhora como tendo o significado bíblico. O fato de Maria ser senhora resultaria que outros personagens bíblicos fossem senhores também. Mas visto que o título é apenas popular, a dificuldade de entendimento não se impõe. Assim como nenhum grande homem pode ser nosso senhor, assim também nenhuma grande mulher pode ser nossa senhora, no sentido bíblico. Se fosse dado à Virgem Maria o título com a denotação que tem o título de Cristo, isso seria realmente um endeusamento, mas isso não pode existir, o que requer uma conscientização sobre o significado do termo. Quanto à mudança de se considerar “nossa conserva” ao invés de “nossa senhora”, isso não é necessário se se tem o devido entendimento que damos ao título. O considerá-la conserva não é uma falta de respeito, mas pode inspirar em muitos a falsa noção de que já alcançaram as virtudes que a mãe do Senhor possuía. As graças que Nossa Senhora recebeu devem inspirar em nós uma imitação de suas virtudes, e isso é cristão. Servir a “dois senhores”, e conciliar esse “comportamento” com Mateus 6,21 e I Samuel 7, 3-4 é um erro, e uma tarefa impossível. Como pudemos notar, o titulo é somente popular, não denotando um “senhorio” de Maria sobre nós, como se devêssemos “servi-la”. O que ela certamente deseja de todos os cristãos, é que sejam fiéis no seguimento do seu Filho Jesus Cristo. A Bíblia não registra a existência de “outro senhor” ou “senhora”, portanto, como a pergunta já traz no seu bojo a resposta, Deus não se esqueceu disso, pois é algo inexistente. E como cristãos católicos sirvamos ao único Senhor Jesus Cristo. E para não pensarem que essa é uma posição isolada, particular, é necessário mostrar que isso é totalmente católico, uma posição oficial: A Mãe de Jesus, com toda certeza, merece esse respeito e, por isso, a designamos comumente como Senhora, sem qualquer conotação com o sentido especificamente bíblico do termo Senhor [Disponível em: http://www.diocesedeanapolis.org.br/ (link perguntas)]. O pastor faz uma confabulação imaginária (um diálogo fictício) na qual trata a Virgem Maria de senhora, no sentido de respeito, como se ele estivesse vivendo entre nós, e é igualmente chamado por ela de senhor: Veja o leitor que no fictício diálogo acima, chamamos a Maria de senhora, e ela por sua vez, nos chamou de senhor. No entanto, não se pode esquecer que é natural ao ser humano o reconhecimento das virtudes de outrem, inspirando um respeito profundo, e é certo que os cristos assim tratavam a Virgem Maria e, se porventura ela vivesse entre nós, teria um tratamento todo especial. O fato de se usar iniciais maiúsculas, certamente se dá pelo motivo de que seu uso já é tradicional, o que não indica que o sentido tenha extrapolado seus limites. Se o povo simples confunde as coisas, é dever das autoridades eclesiásticas fornecer a devida orientação, assim como é do povo a responsabilidade de instruir-se. Esse título honorífico, recebido pela Virgem Maria, não a torna deusa (o que introduziria a idéia blasfema e herética de quarteto ou tetrandade divina). O pastor afirma que não basta apelar para o bom senso para certificar-se se Maria é ou não senhora, mas devemos usar a Bíblia. Essa afirmação do pastor está correta. Assim, aprendemos que a Virgem Maria se considerava a serva do Senhor (Lucas 1,38). Que isso possa nos ensinar a praticar as virtudes daquela mulher singular, dada como mãe ao apóstolo João, e tida por nós, assim como São João a considerou, como nossa mãe do céu.

6.4.2. Mãe de Deus.

 

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      O pastor Joel afirma que não é necessário provar com transcrições que a Igreja prega que Maria é Mãe de Deus, e expõe o raciocínio encontrado no Catecismo: se Jesus é Deus e Maria é Mãe de Jesus, logo Maria é Mãe de Deus. Salta aos olhos que o silogismo é perfeito. As premissas são verdadeiras e seu resultado é lógico. É verdade, porém, que o homem pode raciocinar mal com premissas corretas e tirar delas um resultado falso. Esse não é o caso do católico, mas, evidentemente, do protestante.

      De Maria foi formada e herdada a natureza humana de Cristo. E, como mãe, ela deve, naturalmente, ser a mãe da Pessoa do seu Filho. E a Pessoa de Cristo, que é Deus, é a Pessoa Divino-Humana, a partir da encarnação. Maria não é mãe desde toda eternidade, mas a partir da encarnação, no tempo.

      Maria nunca foi, não é e nem será mãe da Divindade de Cristo, nem mãe do Pai. Isso é heresia pura! A Igreja não prega isso e, portanto, não podemos crer nesse ensino. Se isso for um motivo que alguém alegue para não ser católico, esse “motivo” não existe e tal pessoa pode voltar, ou ingressar na Igreja sem problemas, crendo que Maria é a mãe da Pessoa de Cristo enquanto homem. Sendo essa Pessoa o Próprio Deus, ela é verdadeiramente Mãe de Deus, somente nesse sentido.

      A Cristologia católica não é deficiente. Maria, por ser descendente de Adão, foi salva por Cristo, mas salva já em sua concepção, para ser a mãe do Salvador dela própria e do mundo. O pastor rebate o silogismo afirmando que seria ilógico, pois se Jesus é Deus e ele dormia, conclui-se que Deus dorme (Mateus 8, 24-25), se ele disse que não poderia fazer coisa alguma, então Deus não pode fazer nada (João 5,30) e etc. (Mateus 26,26; João 11,15; 1Coríntiso 15,3). Mas tais questões fazem parte do mistério de Deus e não destroem o ensino da maternidade divina, que é totalmente coerente com a sã doutrina.

Não há problema algum com o silogismo apresentado no início. Afirmar que ele seja “ilógico” chega a ser um absurdo. Sabemos que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É necessário atenção como começou a afirmação: Jesus é... Isso significa que a pessoa que é Jesus, ou a pessoa de Jesus, é DEUS-HOMEM. Portanto, tendo todos os atributos divinos (onipotência, onisciência, onipresença...) em sua pessoa, possui também os atributos humanos: certas limitações próprias da natureza humana. É de extrema necessidade crer nessa verdade: a Pessoa de Jesus Cristo, que é Deus, assumiu a natureza humana. Está, portanto, desfeita a confusão. Sabemos que os protestantes creem que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas mesmo assim caem diante dessas dificuldades como foi evidenciado pelas colocações do pastor. O arrazoado do pastor Joel começa bem e termina errado: Assim fica claro que católicos e evangélicos não ignoram que Jesus é portador de duas naturezas: humana e divina. Deste modo Maria pode ser mãe de Jesus sem ser Mãe de Deus. Ela é mãe do lado humano do Senhor, e não da Sua Divindade. É um bom começo reconhecer que as limitações de Jesus se referem ao seu lado humano. Porém, a argumentação posterior, volta à estaca zero, antes mesmo do raciocínio antecedente. Nestório assim tinha feito e estava errado. Quando afirmou que Maria era mãe do homem Jesus, ele criou uma outra pessoa de Cristo: uma pessoa humana juntamente com outra pessoa divina. Maria seria mãe somente da pessoa humana. O protestantismo, fazendo a mesma

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argumentação, se apega ao lado humano como que transformando-o em outra pessoa, o que chamam de “natureza”. A verdade é que não existe outra “pessoa” e não existe, também, tal caso de uma mãe ser apenas “mãe da natureza” do filho. De fato, Maria é mãe da natureza humana que subsiste na Pessoa de Jesus Cristo que é Deus. A razão nos indica que uma mãe é sempre mãe do filho, mãe da pessoa do filho. Sendo assim, Maria é mãe da Pessoa do Filho de Deus, que é o mesmo Deus, a Segunda Pessoa da Trindade Santíssima, desde o momento em que se fez homem, assumindo a natureza do homem. Portanto, conclui-se com a Sagrada Escritura e com todo o bom senso, que Maria é Mãe de Deus a partir da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. De qualquer modo está desfeita toda a confusão aludida no início da argumentação.

A Bíblia chama Maria de mãe de Jesus e mãe de Deus. De fato, a Bíblia a chama de Mãe de Deus através da saudação a Isabel em Lucas 1, 43, quando diz mãe do meu Senhor, que significa Deus. Desse modo, esse parecer é indiscutível.

1. Não é opinião, nem ponto de vista. Está exarado em Lucas 1,43.2. Ninguém é dono da verdade mesmo. Mas o que a Igreja está

ensinando tem todas as características da verdade: é bíblico, está de acordo com o bom senso, e em conseqüência disso é tradicional, pois a verdade não muda.

3. De fato, não é apoiado na Tradição apenas, pois está na Sagrada Escritura.

      Jesus, como foi visto anteriormente, é Deus e filho de Maria a partir da encarnação e não desde toda eternidade. Isso ficou claro. O fato de Jesus ter existido sempre não o impediu de tornar-se homem, nascer no tempo, ter uma mãe humana. A argumentação do pastor trouxe certa confusão e contradição. A Bíblia diz simultaneamente que Maria é mãe de Jesus e que Ele não tem mãe. Isso se resolveria, segundo o pastor, com a consideração da questão das duas naturezas. Votamos a essa questão. Mas parece que o pastor continua na estaca zero. Primeiro: nunca é dito que uma mãe é mãe da natureza do filho. Quanto ao texto de Hebreus 7, 3 o significado é o seguinte: Sem pai, sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável sob todos os pontos ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. (Outra tradução, Almeida Corrigida Fiel: Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre.) O próprio pastor entendeu que isso se refere ao lado Divino. Como Deus, desde toda eternidade, Cristo não tem pai humano, é claro, nem mãe, nem descendentes, nem princípio, nem fim. Como Homem, ou Deus-Homem, no tempo, possui princípio (quando nasceu), pai (adotivo), mãe (em Sua Pessoa Divina e Humana, segundo a natureza humana), possuiu um fim temporário, enquanto homem (na morte de cruz). A definição cristã católica é clara nesse ponto, pois afirma que a divindade não foi proveniente de Maria, que é uma criatura. Evita corretamente a heresia nestoriana que o protestantismo parece não perceber que está adotando. Que Cristo é criador de Maria, todos afirmamos, tanto os cristãos católicos quanto os protestantes. Deus não dependeu de Maria para vir ao mundo, mas, numa expressão compreensível, “quis depender”, quis fazê-la participante dessa grandiosa graça. Como afirma um canto católico, “Maria é esposa, mãe e filha do mesmo Deus de amor”. Ou mesmo, como disse o

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pastor Joel, Deus se serviu de uma das obras de Suas mãos. É verdade que a Virgem Maria não tinha o mérito de receber a graça que Deus a concedeu, sendo essa graça totalmente gratuita, imerecida. Sobre a tradução de Lucas 1,28 pode-se dizer que o mais correto, mesmo quando se pensa na grandiosa graça da maternidade divina, é traduzir como cheia de graça, ao invés de agraciada, contrariamente ao parecer do pastor. Agora, será que os pedidos da mãe de Jesus, sejam quais forem, devem ser atendidos, como disse o pastor referindo-se à crença dos católicos? Ele diz: Por ser Maria a mãe de Jesus, os católicos deduzem que um pedido dela é tiro e queda. Pode-se dizer que Santo Afonso, são Germano e tantos outros usaram de linguagem imprópria ao falar de muitos privilégios da mãe de Jesus. Certamente santo Afonso não cria estar exagerando, mas o que se vê em suas comparações é que exageros ou linguagens impróprias foram artifícios muito usados.       Assim como é citado são Germano falando da autoridade dos pedidos de Maria, em outra parte da obra de Santo Afonso é dito que após a ascensão, Jesus já não está sujeito à Sua Mãe. Sendo isso bíblico, é por esses princípios que devem ser entendidos outras passagens. Se, de acordo com Mateus 12, 46-50, somos todos família de Jesus, aqueles que obedecem a vontade do Pai do céu, podemos pedir o que quisermos e nos será dado. E Nossa Senhora certamente foi o modelo de uma serva que faz a vontade do Pai, sendo apresentada nessa passagem para imitação. E como o Reino dos Céus não é réplica do reino humano, somente as petições que estiverem segundo a vontade de Deus é que serão atendidas, e é certo que a Virgem Maria somente pode unir-se a nós nas intenções que atendem esses requisitos. As palavras de Cristo em João 2, 3-4 servem para corrigir o mal entendido dos ouvintes do Evangelho e nunca uma mal-criação à Sua mãe, como bem entendeu o pastor. Aquela resposta, ainda, demonstrou que Cristo antecipou a sua hora (de realizar os milagres) realizando o primeiro sinal.

6.4.3. Imaculada     

      O pastor Joel inicia esse item com uma explicação heterodoxa sobre a maternidade divina, visto que diz: Deus escolheu Maria para ser mãe do lado humano de Seu Filho Jesus. É um erro próximo ao nestorianismo, praticamente idêntico até, pois afirma que Maria é mãe somente do lado humano de Cristo, e não de Cristo. Nestório, por sua vez, dizia que Maria era mãe do Cristo homem e não do Cristo Deus. Nisso ele criava dois “Cristos”. Assim, os protestantes “ortodoxos” tem, de certa forma, um antecedente em sua crença: Nestório e o nestorianismo. O pastor continua afirmando que por ser Mãe de Jesus Cristo, muitos acreditam ser ela a mulher mais pura que já pisou neste planeta, possuidora da maior santidade, sendo eleita por isso. O pastor deve reconhecer que é, no mínimo, racional essa posição. Deus não se encarnaria numa mulher pecadora; bastar pensar na Sua grandeza infinita. Mas o pastor Joel afirma que essas considerações da santidade da Virgem Maria são frutos da imaginação, não tendo respaldo bíblico. Por essas poucas linhas já é possível perceber que a razão lança luz para a compreensão dessa verdade, não sendo uma “fabricação da imaginação”, e que o pastor não foi feliz em sua afirmação. Pelo exposto pelo autor, a Bíblia afirmaria o “contrário”, ou seja, “que Maria é pecadora”. Mas onde estaria essa afirmação? Por sua vez, o pastor pergunta o contrário: Onde está escrito que Maria era a mulher mais pura do mundo? E ele imagina a resposta: “Se não o fosse, não

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teria sido a única eleita”. E retruca afirmando que a pergunta permanece sem resposta: “Nossa pergunta não foi respondida. Queremos saber onde está escrito. Mas, como vocês apelam para a lógica, respondam-nos: Se existissem dez donzelas tão fiéis quanto Maria, Deus faria Jesus nascer de todas elas?” Vejamos bem. Da mesma forma como foi questionado anteriormente, o pastor quer uma prova “escrita” para a doutrina da imaculada conceição, enquanto que a primeira pergunta requer igualmente uma prova “escrita” do “estado pecaminoso” da Virgem Maria. Interessante que o pastor percebeu que existe um fundo racional nessa doutrina, pois questionou: ...como vocês apelam para a lógica, respondam-nos. Mas a sua pergunta não é muito oportuna: Se existissem dez donzelas tão fiéis quanto Maria, Deus faria Jesus nascer de todas elas?” A isso responde-se que não foi apenas a “fidelidade” de Maria que fez com que Deus a elegesse, mas Ele a elegeu antes da sua concepção, preparando-a em todos os momentos da sua vida para ser a Mãe do Seu Divino Filho, sendo uma predestinação única, e Deus não prepararia várias mulheres iguais para depois escolher uma, pois Ele é Onisciente. O pastor afirma que os sacrifícios da Lei Mosaica (Hebreus 10.4; 9.22 Lucas 2.24; Levítico 12.68) era um tipo da morte expiatória de Cristo, e que Maria não se julgou dispensada dos mesmos, auto declarando-se dependente do sangue de Jesus. Nesse ponto, a doutrina cristã católica está totalmente de acordo, pois o Salvador de Maria é Jesus Cristo. Mas parece que o pastor não conhecia esse detalhe da doutrina a Igreja, ou conhecia? Se conhecia, ele raciocinou como se não conhecesse. Logo após, o autor diz abertamente: A Bíblia não diz que Maria era a mulher mais pura que já existiu, mas os que fizeram dela uma deusa, alegam que ela não tinha o pecado original, ou seja, a natureza pecaminosa. Conquanto a Bíblia não afirme que a Virgem Maria tenha herdado o pecado original, o pastor assevera que a própria Bíblia não diz que Maria é toda santa. Qual a verdadeira doutrina aqui? Primeiro, pecado original é a privação da graça de Deus, é estar fora da graça divina, e não a nossa natureza pecaminosa. O pastor afirma que a nossa natureza pecaminosa é hereditária, e Jesus é a única exceção da regra (Romanos 3.23). Deve-se entender que o pecado original é hereditário através da natureza humana, não sendo a própria natureza humana. A prova é que Jesus herdou a natureza humana, foi igual a nós em tudo exceto no pecado. O pastor Joel prossegue com sua explicação: Jesus foi isento do pecado original porque foi gerado pelo Espírito Santo (Mateus 1.20-25; Lucas 1.26-38), mas Maria foi concebida pelo concurso natural de seus pais. E provem-nos biblicamente o contrário, se puderem fazê-lo. Mas se o pecado original é a natureza pecaminosa, que natureza herdou Jesus? Obviamente Ele não teve pecado, mas, então, Sua natureza seria outra e não a humana. Isso poderia implicar na negação da verdadeira humanidade de Cristo, embora saibamos que o pastor Joel não quer dizer isso, visto que crê que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, como ensina a doutrina cristã católica. Dessa confusão se concluiria que virgem Maria não teria herdado essa “outra” natureza. Mas toda essa dificuldade repousa na falsa definição do pecado original. O pecado original é a privação da graça santificante, sendo que os homens nascem fora da graça de Deus, sob o poder do Maligno. A virgem Maria não poderia, em um só instante da sua vida, estar sujeita ao poder do Demônio visto que fora predestinada para ser Mãe do Filho de Deus, que é Deus, e ela comunicaria a natureza humana ao Deus-Homem. Essa natureza não poderia estar manchada, mas pura e imaculada. Foi isso que ocorreu. Deus, em virtude dos méritos de Cristo, salvou a Virgem Maria, não permitindo que o poder do Maligno a tocasse,

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preservando-a de toda mancha pecaminosa para ser a Mãe do Divino Filho de Deus. A Sagrada Escritura ensina que ninguém tem o direito à graça de Deus, nem a virgem Maria, pois mesmo ela estaria privada da graça. No entanto, todos podemos ser postos por Deus em sua graça, pelo Sacrifício Salvador e Redentor de Cristo. Maria foi cheia de graça no instante de sua concepção, na própria gênese de sua existência, tudo por graça de Jesus Cristo. Então, ela herdou a natureza humana já na graça de Deus, por obra Dele. A virgem Maria foi concebida e nasceu de pais piedosos e santos, que pelo concurso natural comum a todo casal, conceberam a Virgem Maria, porém, como eram todos manchados pelo pecado original, o transmitiriam a ela se Deus não interviesse. Assim, a virgem Maria nasceu na graça de Deus, com uma natureza humana nunca manchada pelo pecado original e foi essa natureza imaculada que Cristo herdou, uma natureza perfeita. Somente Cristo é, por direito, o Imaculado, sendo que Maria foi imaculada em vista dos méritos de Seu Filho, sendo ela mesma, como criatura, não merecedora de tão alto benefício. Isso não é fazer da Virgem Maria uma “deusa”, como querem os protestantes acreditar. Não era necessário também que o pastor nos desafiasse para que mostrássemos a prova de que Maria não foi concebida de modo natural, pois essa nunca foi a doutrina da Igreja Católica. Estamos unidos nesse ponto. O autor nos conta que uma católica falou que a Bíblia não fala dos pecados de Maria, embora registre os pecados de todas as pessoas nela abordadas, o que seria um indício de que ela foi isenta do pecado original. O pastor, porém, afirma que a Bíblia não registra os pecados de José, Misael, Azarias, Ana, etc., o que seria válido também pensar que esses não tiveram o pecado original. Certa vez li um argumento semelhante num relato de conversão de um ex-pastor assembleiano, hoje cristão católico, que desafiou a quem provasse pela Bíblia que Maria tinha pecado. É um bom argumento, porém, não conclusivo e não é o fundamento da fé católica. Não é o fato de que se não se descreve “os pecados” de alguém, que esse alguém seja isento deles. Então, com certeza, José, Misael, Azarias, Ana e outros tantos contraíram o pecado original, exceto Jesus e Maria. É pelo teor geral do ensino bíblico que posso afirmar isso. Os protestantes ensinam que Maria é “pecadora”, que foi contaminada com o “vírus” do pecado, e o pastor Joel diz que isso pode levar uma pessoa mal informada a pensar que estamos blasfemando. E para contrabalançar, o pastor diz que grandes vultos da Igreja Católica também pensavam assim. Cita informações do CPR_Centro de Pesquisas Religiosas_, afirmando que Santo Tomás de Aquino e Santo Anselmo acreditavam que Maria era portadora do pecado original, ou seja, pecadora por natureza. Cita também um livro do Pe. Dom Francisco Prada confessando que Santo Tomás negava o que ele chama de “suposta” Imaculada Conceição de Maria, e que essa questão agora estava resolvida. Mas o pastor questiona a base para concluir que finalmente findou a discussão teológica sobre esse assunto. Segundo ele, o Padre Prada se respaldava em duas bases nada sólidas, a primeira seria uma aparição da virgem a Bernardete Soubirous e a segunda as próprias palavras infalíveis de Pio IX. Segundo o pastor esse dogma “criou” um outro, ou seja, “forçou” o clero a “criar” o dogma da Assunção, pois sendo Maria isenta do pecado, ela não tinha porquê morrer, pois a morte é consequência do pecado. De tudo isso o pastor conclui erradamente: À base dessa falsa premissa, a Igreja Católica proclama que Maria morreu para nos salvar, já ressuscitou dentre os mortos e subiu ao Céu. Primeiro, Maria não morreu para nos salvar, pois é não é “salvadora”, nem “redentora”. É certo que ela é co-redentora com Cristo. Esse título é facilmente deturpado, pois parece afirmar que Maria “nos

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salvou” juntamente com Cristo, como que auxiliando a obra do Salvador. Mas não é isso. Cristo nos salvou sozinho e redimiu toda a humanidade, mesmo a Sua a mãe, que foi salva por Ele. Quando os teólogos afirmam que Maria é co-redentora, estão apenas ensinando que Deus quis associar a pessoa da virgem Maria na obra de salvação, como uma participante. Porém, essa participação não acrescentou nada à obra de Cristo, pois ela mesma estava sendo salva. A participação da virgem Maria começou com o seu “Fiat”, na encarnação do Verbo. A obra de Cristo é toda suficiente, não necessitando de nada e de ninguém. Para esclarecer mais, podemos afirmar que, de certa forma, quando um pregador do Evangelho (um cristão), sofre pela causa do mesmo, sofre por e com Cristo, em favor das almas, ele está salvando almas, co-redimindo-as, pois está abrindo o caminho da graça de Cristo. Somente isso. Se a linguagem é inadequada é por falta de termos apropriados para explicar essa questão. A respeito da doutrina da Imaculada Conceição devemos lembrar que é bíblica, portanto, antiqüíssima. No entanto, seu entendimento não foi completamente possível senão com o desenrolar dos séculos. Dom Estêvão relata que o povo de Deus, tanto no Oriente como no Ocidente, desde os primeiros séculos, se comprazia de celebrar a pureza e santidade de Maria. Os teólogos não haviam dirimido nessa questão, pois parecia incompatível com a universalidade da Redenção e da singular santidade de Jesus. Nessas circunstâncias, grandes santos teólogos fizeram declarações contrárias, como Santo Anselmo, São Bernardo e Santo Tomás de Aquino. [Estêvão Bettencourt, OSB. Imaculada Conceição de Maria. 2004. Panfleto]. A isso, muitos podem irrefletida e erradamente concluir que esses santos tinham uma visão comparável à opinião protestante. Mas isso não ocorre. Santo Tomás, por exemplo, tinha em alta consideração a santidade da Virgem Maria, crendo que ela havia sido purificada ainda no ventre materno e que não cometeu nenhum pecado, sendo imaculada. Santo Tomás primeiramente se pronunciou a favor da Imaculada Conceição, mas terminou por concluir contra ela na Summa Teológica. No entanto, ele deixou os princípios capazes de fornecer a solução verdadeira dessa dificuldade [Enciclopédia Católica]. Se os protestantes seguissem esse exemplo poderíamos nos unir nessa verdade cristã. A dificuldade era que a doutrina cristã católica afirma a salvação universal realizada por Cristo e, sendo Maria sem pecado, os teólogos criam não ser possível uma conciliação dessa verdade com a verdade da redenção e temiam isso fosse uma consideração de que Maria estivesse fora da redenção, o que seria inaceitável. Essa razão explica as declarações em contrário desses teólogos. Mas no século XIV o impasse foi resolvido por João Duns Scoto, explicando assim a questão: pela aplicação antecipada dos méritos de Cristo, Maria foi preservada das conseqüências do pecado original; ela nasceu portadora da graça santificante... [Dom Estêvão]. As dúvidas foram se dissipando até que em 1854 o dogma foi definido pela bula Ineffabilis Deus. Antes da definição, certamente um assunto livremente discutido, porém, as posições contrárias parecem terem sido menores. Pode-se ler nos Sermões do padre Antônio Vieira, século XVII, sobre a Imaculada Conceição. O padre Miranda explica Romanos 5, 12 onde São Paulo afirma que todos pecaram. Pensar que Maria esteja fora dessa afirmação é incompreensão da doutrina da Igreja. Pecar em Adão é ser membro da raça de Adão, e Maria sendo dessa raça, contraiu o débito do pecado, pecou em Adão mas não contraiu a mancha deste pecado. [MIRANDA, Antônio. Súmula Bíblica contra os protestantes. Manhumirim, 1960]. Portanto, ela foi concebida e nasceu na graça de Deus, sem pecado. A redenção de Maria foi preservativa.

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Deus não permitiu que ela contraísse a mancha do pecado original. A explicação é clara. Voltando ao raciocínio do pastor Joel, ele transcreve três “provas” das afirmações da co-redenção, da ressurreição e da assunção de Maria: a primeira sendo uma citação da Enciclopédia Católica feita na obra Será Mesmo Cristão o Catolicismo?  P. 77, que afirma que Maria experimentou sofrimento por nossa salvação; o que é confirmado pelos apologistas protestantes John Ankerberg e John Weldon com base na mesma Enciclopédia; a segunda é uma citação de Ralph Woodrow que conta a respeito da ressurreição de Maria ao terceiro dia e uma citação de Santo Afonso dizendo que Jesus preservou o corpo de Maria, citação da obra Glórias de Maria, página 242; a terceira e última é uma citação do Catecismo, onde é afirmado que Maria foi assunta ao céu em corpo e alma Catecismo da Igreja Católica, página 273, # 966, Editora Vozes, 1.993. Todas, certamente, citações verdadeiras.

***

Para finalizar esse item, o pastor afirma ter provado a doutrina oficial católica de que Maria está no céu em corpo e alma, e que para isso deve ter ocorrido, das duas uma: ou ela morreu e ressuscitou ou foi trasladada viva, como o foram Enoque e Elias (2 Rs 2; Hb 11. 5). O pastor questiona: E qual é a posição da Igreja Católica acerca desta questão? O autor afirma que como ele havia dito, Maria morreu e ressuscitou para a nossa salvação, embora não tenha explicado o sentido dessa afirmação, como vimos acima, mas em suas pesquisas pôde notar que nos bastidores da Igreja circula que Maria foi arrebatada ao Céu sem experimentar a morte, o que seria correto se ele tivesse dito que Maria não morreu. Isso é confirmado pelos apologistas norte-americanos citados e pela obra Roma Sempre a Mesma, de um ex-padre, Hipólito Campos, lida pelo pastor Joel há mais de 30 anos. O autor não cita página, edição e etc por não tê-la em mãos. Diga-se de passagem que eu nem existia quando o pastor Joel leu essa obra. Disso tudo, o pastor encontra uma grande “confusão”, considerando que “São” (sic) Bernardo escreveu que Maria morreu, o que foi registrado pelo pastor Woodrow, e existe a tradição de que ela foi trasladada. Vejamos: 1) Ela sofreu para nos salvar, mas não chegou a morrer, antes foi trasladada viva, sem passar pela morte; 2) Ela experimentou sofrimentos diversos e, inclusive, a morte, por nossa salvação, mas foi ressuscitada e assunta ao Céu em corpo e alma, como o fora Jesus Cristo. Essas são as duas conclusões interessantes as quais chegou o pastor Joel. Depois ele pergunta: E como a Igreja Católica administra esse emaranhado? Na verdade não existe verdadeiramente uma “confusão” e nem um “emaranhado”. O que existe é uma incerteza do fato. A tradição mais antiga e a mais provável é a de que Maria passou pela morte, embora exista a possibilidade ou é aceitável a outra posição, que é mais recente e menos provável. O pastor depois cita a A Revista das Religiões de maio de 2005, editada pela Editora Abril p. 30, a qual fala do dogma da Imaculada Conceição e Assunção, de 1854 e 1950 respectivamente, que não falam sobre a morte de Nossa Senhora, o que não é negado pelo papa da época, Pio XII, mas que não foi definido na ocasião, sendo importante crer somente que ela está em corpo e alma no céu. Poderíamos dizer, de passagem, que a verdade sobre a questão não pôde ser definida, permanecendo uma incógnita, e o papa não pôde explicitamente tomar partido de maneira infalível. A Tradição ensina as duas coisas: a Enciclopédia ensina que a Virgem Maria morreu e o papa afirma que conhecer isso, ou melhor, ter

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certeza sobre isso é irrelevante. Como disse o pastor, o Papa Pio XII preferiu deixar os católicos bem à vontade quanto a isso, o que poderia ser dito mais: o papa, mesmo não negando o fato da morte de Maria, e se é fato ela morreu realmente, ele não pode com certeza absoluta afirmar ex-cathedra essa sua convicção, pois, na hipótese de não ser fato, e a Virgem não tendo experimentado a morte, o papa estaria pronunciando falivelmente, o que nesses casos é impossível que ocorra. Certamente essa não é uma verdade revelada. É melhor que fiquemos com a mais provável e mais antiga tradição. O pastor fala do título Co-redentora, ainda não definido solenemente como dogma. A Revista de Religiões, à página 29, registra que milhões de fieis de 148 países solicitam pronunciamento desse dogma, o mais alto cargo, igualmente estaria sendo pensado em proclamar o título de Medianeira. O pastor diz que alguém menos culto em assuntos teológicos poderia concluir que a Igreja não prega ainda sobre os títulos citados, visto não terem sido proclamados, estando mesmo, um deles, em fase de análise. Mas isso, segundo o pasto, é ledo engano. Diz o autor: A Igreja Católica já prega abertamente que Maria é medianeira. O autor chama isso de “heresia”, cita o Catecismo, p. 274, e elabora uma questão que o leitor poderia fazer, questionando o que falta para a proclamação dessa verdade visto que até o catecismo aprovado pelas autoridades de Igreja já a ensina. Para isso o autor faz três considerações: a primeira seria de que todo dogma é doutrina, mas a recíproca não é verdadeira, e para chegar a essa conclusão o autor citou o exemplo do dogma da virgindade de Maria que é ensinado, mas não foi definido solenemente; a segunda consideração do pastor é que o porquê disso, é que, segundo se crê, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, palavras do autor; a terceira e última ele ironiza: Se ainda não fui claro, saiba que o filho não é meu. Enfim, são meras ironias. O pastor termina questionando se o leitor entendeu ou não, e se não, aconselha a ficar tranquilo, pois o importante é crer que Nossa Senhora foi assunta ao céu, o que é dogma infalível, do contrário se estaria suspeitando da infalibilidade papal e já não sendo católico. A questão que não cala na mente dos protestantes é essa que o pastor imagina para um momento de “incredulidade” de um fiel: E como podemos saber se o Papa é infalível mesmo? A resposta seria fácil, segundo o autor, pois ele diz: Basta você atentar para o fato de que quem está se dizendo infalível, é o próprio, nisso não poderia haver equívoco. O infalível dizendo-se infalível assegura sua própria infalibilidade, bastando não pensar para “crer” nisso, e o pastor termina afirmando que uma vez crendo nessa verdade, poderemos crer em tudo menos no Evangelho. De fato, voltando um pouco atrás, os títulos de Co-redentora e Medianeira não gozaram de especial definição, mas são verdades de fé, ou seja, esses títulos traduzem, de certa forma, a fé da Igreja. Qualquer definição não introduzirá novidade de fé. Quanto ao fato da infalibilidade, o papa somente o é, e o pastor sabe disso ou pelo menos conhece essa definição, em questões de fé e moral. É o próprio Evangelho, a própria Teologia Bíblica que assim afirma, e a razão humana não depõe contrariamente. Portanto, não foi o Papa que se auto-proclamou infalível, mas a doutrina cristã católica de sempre assim ensinou, embora tenha sido definida no século XIX. E crendo nessa verdade, que o Evangelho revelou, estamos crendo nada mais nada menos que no Evangelho.

6.4.4. Nossa Mãe

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A exegese cristã católica de João 19, 26-27 está totalmente de acordo com o referido texto. “Ora, Jesus, vendo ali a sua mãe, e ao lado dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe: Mulher eis aí o teu filho. Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.Nosso Senhor, na cruz, entrega Sua mãe aos cuidados de S. João, o discípulo amado, e, daquela hora em diante, ele literalmente a leva para sua casa. Com certeza ele a tratou como mãe, segundo as palavras de Cristo. A Igreja tem nesse fato um exemplo, e ensina aos cristãos a acalentar nobres sentimentos filiais para com Nossa Senhora, como o fez São João. Como bem notou o pastor Joel, os cristãos católicos ‘Crêem que o apóstolo João estava representando os cristãos de todo o mundo, em todos os tempos. “Se Maria era a mãe do apóstolo João, então ela é nossa mãe também”. É óbvio que, nesse contexto, São João teve cuidados filiais para com Maria. Que ele não a tinha como “potente protetora” (nas palavras do autor) em sentido físico ou espiritual, isso entende-se, como disse o pastor, pois não foi ela quem o levou para casa, mas o contrário, desde que ele recebeu ordem do Senhor de tê-la sob sua custódia. Porém, seu respeito e sincera veneração pela Mãe de Deus certamente foi o início e a inspiração para essa atitude cristã.Segundo o pastor Joel, as leis hermenêuticas não permitem que se “espiritualize” essas palavras, e que elas apenas ensinam a honra que os filhos devem prestar aos pais como ele o fez. Não podemos negar que Cristo tenha honrado sua mãe de modo sublimíssimo, pois foi fiel cumpridor dos mandamentos de Deus. A esse respeito, porém, a espiritualização das palavras literais de João 19, 26-27 não é excluída, visto que no Evangelho de São João podemos encontrar palavras que, à primeira vista, pareciam ser literais, em sentido material, mas o eram profundamente espirituais.O catecismo afirma que a “... maternidade espiritual (de Maria) estende-se a todos os homens que ele veio salvar. “Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez ‘o primogênito entre uma multidão de irmãos (Rm 8, 29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor materno. (CIC, 501). Nesse sentido, as palavras de Cristo não queriam apenas significar um “amparo” para sua mãe e uma filiação restrita somente a São João, ou mesmo somente aos apóstolos, mas, como ele e como todos os outros apóstolos, a todos os fiéis cristãos, irmãos espirituais de Cristo. Cristo não a daria por mãe ao apostolo se fosse proibido aos cristãos de tê-la como Mãe. É importante notar que Jesus não disse “Eis aí a tua irmã” mas “Eis aí a tua mãe”.Além do mais, o pastor Joel reconhece que o fato de ter Maria Santíssima por mãe não torna ninguém um “mariólatra”. Porém, nesse arrazoado ele nega a hiperdulia. Chega até a exemplificar com Gl 3.7 e 1 Pe 3.6, textos que afirmam ser Abraão e Sara “nossos pais na fé” e questiona: “Se Abraão pode ser nosso pai, e Sara, a mãe das cristãs, por que Maria não poderia ser nossa mãe?” É bom deixar claro que o pastor Joel não considera que Maria seja nossa mãe. Embora a Sagrada Escritura atribua a filiação de todos os crentes a Abraão, não o faz a Sara, a qual São Paulo faz apenas mãe das fiéis e exemplares esposas cristãs, como disse o pastor: “a mãe das cristãs”. Maria pode mesmo ser, e é de fato, nossa mãe espiritual sem problema algum, pois não há argumento que torne isso incompatível com a doutrina cristã, como estamos vendo.No final da argumentação, o pastor Joel assevera que mesmo que Jesus tivesse espiritualizado suas palavras (o que de fato aconteceu), ninguém poderia se servir disso para fazer de Maria uma “deusa”, o que poderia ser igualmente atribuído a Abraão e Sara. De fato, essa é uma verdade. O

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cristão católico não pode absolutamente e em hipótese alguma “endeusar” nem nossa mãe do céu nem qualquer outra criatura. O culto de hiperdulia ou superveneração, se dá pelo fato de ela ter sido a criatura mais unida ao Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. E essa maternidade acontece no tempo, não é de toda a eternidade, pois a Virgem Maria não existia, mas sua maternidade divina passou a ser realidade no Natal do Senhor e, em relação ao Corpo de Cristo, ocorreu quando Jesus a entregou por mãe a São João. Desse modo, não é necessário recorrer a uma “necessidade” de preexistência da mãe.Para finalizar, é necessário entender que as palavras de Cristo tinham total autoridade na mente dos seus discípulos e, muitas vezes, eram entendidas literalmente como em João 21, 22-23, sem compreenderem o sentidos das mesmas. Nessa ocasião, após ter profetizado o modo como São Pedro iria glorificar a Deus, as palavras de Cristo a respeito de São João deram margem à equivocada interpretação de que ele não morreria mais, fisicamente. Mas o fato é que São João representava os cristãos naquela ocasião. Portanto, essas mesmas palavras, entendidas espiritualmente, significam: “São João”, ou seja, a Igreja, não morrerá até que Cristo venha. Ao entender espiritualmente João 19,26-27 e João 21,22-23 é possível harmonizar a maternidade de Maria Santíssima concedida ao apóstolo João em relação à Igreja.

6.4.5. Bendita entre as mulheres

O pastor afirma que os católicos citam o texto de Lc 1,42 para apoiar a devoção à Virgem Maria, e diz que Maria é bendita, conforme Lucas 1.42, mas afirma, corretamente, que isso não a torna deusa. Ele cita o caso de Jael, chamada de bendita entre as mulheres em Jz 5,24, e diz que todos os servos de Deus são benditos (Mateus 25, 34; Deut 28,3-6). Porém, o fato de um anjo saudar alguém é singular, e o anjo saudou a Maria. Parece que em nenhum outro lugar na Bíblia um anjo presta esse tipo de veneração a outro servo de Deus.

 

6.4.6. Bem-Aventurada

        O pastor considera irrelevante que em Lucas 1,48 a Virgem Maria afirme que todas as gerações a chamarão de bem-aventura, pois diz que todos os servos de Deus são bem-aventurados. Se todos os servos são bem-aventurados por ter Cristo no coração, incluindo, entre esses servos, a Virgem Maria, isso torna todos igualmente bem-aventurados, sem que a Virgem seja nem mais nem menos bem-aventurada que qualquer outro cristão. O mais importante é ter Jesus no coração, não no ventre. Essa é a conclusão do pastor Joel, tirada de Lucas 11.27,28, onde diante das palavras de uma mulher que se referia à Virgem como bem-aventurada por ter dado à luz e amamentado a Jesus, o Mestre aproveita para dizer que os bem-aventurados são os que ouvem e observam a Palavra de Deus. Mas, como sabemos que existem graus de santidade, nem todos são igualmente santos, e os méritos da Virgem Maria, que creu de todo o coração e entregou-se sem reservas a Deus para o Seu plano de salvação, justifica que a tenhamos como a mulher mais bendita, assim como Jesus, como homem, foi o mais bendito dos homens e o exemplo máximo do servo em obediência ao Pai. O texto evangélico aponta-nos o Bendito e a Bendita, o

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que podemos entender como o mais bendito entre os homens e a mais bendita entre as mulheres, o novo Adão e a nova Eva, tudo por obra e graça do Bendito Salvador e Redentor e Senhor Jesus Cristo. Portanto, está justificado o tratamento singular que os cristãos oferecem à Mãe de Deus. O pingo d´água no oceano, como se referiu o pastor Joel ao fato da Virgem ter Jesus no ventre, que é a maternidade divina, acrescida da sua entrega total a Jesus, a torna mesmo uma mulher singular, pois sem deixar o mais importante, ela não desdenhou o menos, mas foi fiel em tudo. Certamente poderia afirmar que Jael era uma figura da Virgem Maria, e assim ela foi bendita entre as mulheres das tendas, enquanto a Virgem Maria, por causa da honra do seu Divino Filho, foi bendita entre todas as mulheres do mundo (Jz 5,24; Lc 1,28). O bom senso já aponta para essa conclusão, por isso não é despropositado traçar esse simples paralelo.

6.4.7. Rainha do Universo

      O título de Rainha do Universo não contradiz a doutrina bíblica. Se Cristo é o Rei, sua mãe pode ser, de certa forma, a Rainha. Isso não significa que literalmente haja um trono central, como disse o pastor, no qual Maria está assentada. Se trata apenas de uma analogia ao reinado de Cristo e à participação de sua mãe nesse reinado, de modo especial, pois também todos os cristãos participarão dele. Sendo que foi o próprio Deus quem escolheu a Virgem para ser a mãe de Cristo, por obra do Espírito Santo, a “coroação” de Maria é feita por graça da Trindade santíssima, e é isso que retratam as imagens da coroação. Os cristãos dos primórdios certamente não tinham Maria como uma “conserva” somente, mas a tinham como mãe (o que é compreensível à luz de João 19,25-27), e a veneravam certamente como a primeira santa serva de Deus em dignidade. Tudo por causa de Cristo. Desse modo, toda a verdadeira devoção mariana é necessariamente cristocêntrica. Isso é razoável e não contradiz os dados da revelação. Assim, não há indícios de que os cristãos dos primórdios do Cristianismo a tinham como uma fervorosa serva Deus, cheia do Espírito Santo e nada mais, pois tal virtude pode ser vista em tantos outros servos e servas. Dessa forma, Maria seria considerada uma mera serva (mesmo nessas condições expostas acima), contrariamente ao razoável fundamento da devoção religiosa mariana, sempre tida como a maior das devoções pelo fato de sua maternidade divina, por ser a mãe do Salvador. Tal atitude de equiparação da Mãe do Senhor com todos os demais servos de Deus, também não harmoniza-se tranquilamente com o bom senso. Por outro lado, a verdadeira devoção a Maria, que é cristocêntrica, está em harmonia com a Bíblia e a razão. 

6.4.8. Perpetuamente virgem

O pastor Joel afirma que todos sabem que a Igreja Católica prega oficialmente que Maria nunca se relacionou sexualmente com José, e acrescenta: Ora, quando se diz que o senhor “X” é casado com a dona “Y”, não se especula se eles se relacionam  ou não sexualmente, pois fazê-lo é ser extremamente indiscreto. Tal era o caso de José e Maria. De fato é esse o motivo pelo qual a Sagrada Escritura não trata dessa questão explicitamente, mas indiretamente deixa claro que Maria fez voto de virgindade e, de fato, teve somente um Filho, Jesus. A Bíblia não se

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interessa em apresentar a vida conjugal dos casais, mas a história da salvação da humanidade.

Mesmo que o relacionamento conjugal comum seja um dom de Deus e não possui mácula, a vida celibatária é apresentada como superior à vida matrimonial. Isso é Evangelho. O que ultrapassar isso é paganismo.

Portanto, a Bíblia prova que a Mãe de Jesus permaneceu virgem. Isso não é invenção, não é apresentado somente pela Tradição e, na verdade, os “irmãos” de Jesus eram seus primos. Se não, não é possível identificar seus pais, muito menos afirmar que eram filhos de Maria, pois a Bíblia não o diz. A separação dos personagens de Mateus 13,55 como sendo diferentes dos citados em Marcos 15,40; Atos 1,14 etc não tem fundamento. Nada de sofisma da parte cristã católica. Pode-se verificar que nunca os primos de Jesus são chamados filhos de Maria. E a harmonia da interpretação católica é uma característica da verdade.

[PINTO, Cláudio. Apostolado Veritatis Splendor: OS "IRMÃOS" DE JESUS: MARIA TEVE OUTROS FILHOS?. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4852. Desde 07/03/2008.]

6.4.8.1. “São seus parentes próximos” O pastor Joel inicia sua análise do dogma sobre a Virgindade de Maria

Santíssima. Ele sabe e informa que “o clero católico sustenta que os irmãos de Jesus mencionados em Mt 13.55-56, não eram filhos de Maria; antes tratava-se de parentes próximos.” Após essa informação, faz uma exposição na qual acredita que a mesma “põe a frangalhos esse conto do vigário.” E o “conto do vigário” obviamente seria a doutrina da Igreja!!!!

Então, essa doutrina cristã (crida pelos cristãos de sempre) é chamada de “conto do vigário”, o que seria, portanto, uma “invencionice”, uma “fábula” e etc. O leitor poderá refletir que sobre essa questão seriamente: todos os cristãos, em todos os séculos, de maneira geral e oficial, creram na virgindade de Maria, e que aqueles “irmãos” de Jesus, eram de fato seus primos. Alguns na antiguidade começaram a duvidar dessa verdade por não entenderem as passagens bíblicas que mencionam esses irmãos do Senhor. Mas sempre foram os hereges que assim acreditavam. Nem mesmos o protestantismo original, com Lutero e Calvino e etc., nem mesmo eles negaram essa verdade. Ou seja, a tradição protestante mais remota é unânime com a doutrina católica, e os protestantes de hoje, nesse ponto, estão mais em consonância com os Hereges que surgiram a partir do 4º século. Se se objetar que os protestantes não estão ligados aos seus líderes históricos, os reformadores, como se esses fossem homens infalíveis, e então não estão obrigados a concordar com eles nesse ponto, é necessário reconhecer também que esse fato prova que a presente questão não é tão clara e óbvia como querem os protestantes atuais fazer crer, pois seus grandes mestres, que tinham realmente cultura altíssima e conhecimento muito profundo das Escrituras, nem mesmo eles concordaram com o que ensinam a maioria dos líderes do protestantismo atual. E, pelo contrário, estavam em perfeita harmonia com o catolicismo na fé na virgindade de Maria.

Leiamos a exposição do pastor:

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É verdade que as palavras para irmãos e irmãs podem referir-se a um parente próximo. O sentido, porém, tem de ser determinado pelo contexto e por outros textos das Escrituras. E no caso dos irmãos e irmãs de Jesus, o contexto indica que se trata realmente dos meios-irmãos e meias-irmãs de Jesus.

Primeiro, em parte alguma a Bíblia afirma a doutrina da perpétua virgindade de Maria...

Segundo, quando o termo ‘irmãos e irmãs’ é empregado em conjunto com ‘pai’ ou ‘mãe’, então o sentido não é o de primos e primas, mas sim de irmãos e irmãs mesmo (cf. Lc 14:26). Tal é o caso a respeito das menções dos irmãos e irmãs de Jesus. Mateus 13:55 diz: ‘Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?’ (cf. Mc 6:3). Terceiro, há outras referências na Bíblia aos irmãos de Jesus. João nos informa de que ‘nem mesmo os seus irmãos criam nele’ (Jo 7:5). E Paulo fala de ‘Tiago, o irmão do Senhor’ (Gl 1:19). Em outra ocasião Marcos refere-se a ‘sua [de Jesus] mãe e seus irmãos’ (Mc 3:31). João falou de ‘sua mãe, seus irmãos e seus discípulos’ (Jo 2:12). Lucas menciona que estavam no cenáculo ‘Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele’ (At 1:14) ”

(Geisler, Norman; e Howe, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia, Editora Mundo Cristão, página 355, 1ª edição brasileira, 1.999).

Bem, essa foi a explicação que deveria por a “frangalhos” a doutrina católica em questão. Mas parece que não cumpriu o que era suposto. A doutrina católica continua inabalável, e iremos ter a oportunidade de perceber isso ao continuarmos a análise.

O pastor continua, afirmando que os “clérigos católicos não se inspiraram na Bíblia para criarem o dogma da perpétua virgindade de Maria”; e que não foi uma interpretação errada: “Não, não, não!”, assevera o pastor. Ele afirma claramente que essa doutrina foi “criada” ou “inventada” ou fruto da “criatividade” do clero, e está na Tradição, e não na Escritura.

Desse modo, ao refutarmos os protestantes, que negam essa verdade, estaríamos recorrendo à Bíblia apenas para mostrar que eles a interpretaram mal, e não para extrair a prova. Isso tornaria a atitude protestante bem “menos errada”, pois eles estariam apenas em erro de interpretação de uma fonte fidedigna, enquanto os católicos estariam menosprezando-a, comparando-a igual ou inferior à Tradição (interpretada pelo autor como “transitória”, “falível” e “contraditória”).      É bom lembrar que a Igreja não procura justificar pré-conceitos ou pré-concepções.  A Igreja vem do início do cristianismo e tem sua doutrina toda enraizada na Escritura e na Tradição.

O pastor afirma que os textos-prova da virgindade de Maria nunca conseguiriam provar tal fato e mal podem provar que os protestantes estão em erro de interpretação. Além do mais, segundo o pastor, os textos estão “deturpados”. Aqui poderíamos contradizer que esse argumento não passa de um argumento do silêncio, e não serve nem para provar um lado e nem o outro, pois é fraquíssimo. Não há na Escritura um texto afirmando explicitamente a virgindade de Maria, como seria, por exemplo: Maria foi sempre virgem. No entanto, não há igualmente nenhuma afirmação contrária: Maria não foi sempre virgem, ou qualquer afirmação do gênero. Além disso, há provas de que os “irmãos” de Jesus eram seus primos, e que Maria foi mãe apenas de Jesus. E a Tradição e o bom senso confirmam esse fato.

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Enfim, o pastor considera a hermenêutica católica (desse texto), uma “hermenêutica” tão deslavada e descabida (aspas inseridas pelo autor).

Prosseguindo, ele faz um questionamento: “Considerando que Mt 13.55 dá os nomes dos quatro irmãos de Jesus, e ainda nos fala de suas irmãs, e supondo que estes sejam parentes próximos, perguntamos, para que o caro leitor reflita calmamente e responda a si mesmo: Será que Jesus tinha só seis parentes? O leitor conhece alguém que tenha só seis parentes?”.

Embora reconhecendo que o termo “irmãos” tenha o significado de “parentes próximos”, o pastor argumenta que em Mateus 13, 55-56 o significado deveria ser de irmãos mesmo. Do contrário, até Maria seria incluída entre os “irmãos” ou parentes próximos de Jesus, visto que pais, tios, e avós são parentes próximos.

Nesse caso, o evangelista “tão-somente diria: “E não estão entre nós todos os seus irmãos, isto é, sua mãe e os demais parentes dele?”. ”

O pastor questiona a razão para José e Maria se casarem, se tinham votos de permanecer celibatários. À primeira vista isso é um contra-senso: “uma donzela que quer manter-se virgem para sempre, mas não quer ficar solteira”, o mesmo é dito de um noivo que casasse com tal noiva. O autor até pergunta por que os padres não se casam então com as freiras, já que são celibatários? Deixo de lado as perguntas irônicas e continuo na análise da questão.

Embora só tenha ficado sabendo da sua eleição quando da aparição do anjo Gabriel, Maria tinha sido eleita desde toda eternidade. Ela foi avisada, e ficou sabendo naquela ocasião, mas Deus o sabia sempre. Seu voto de virgindade, que suas palavras deduzem com evidente certeza, não necessitava do conhecimento de sua eleição. Livremente e segundo o plano de Deus, ela concebeu aquele voto. São Tomás de Aquino explica que esse voto era, no início, relativo, pois como a virgem Maria era filha de Israel, um de seus deveres como esposa era contribuir para o crescimento do povo eleito. Mas no momento da aparição e após a explicação do anjo, seu voto se tornou absoluto, visto que não tinha qualquer impedimento para que se concretizasse perpetuamente, já que o próprio Deus o havia ratificado através do seu mensageiro Gabriel (cf. São Tomás de Aquino. Summa Teológica).

Por que estava desposada então? Desposada equivalia ao noivado (ou mesmo ao casamento, segundo muitos autores). Quem faz isso quer se casar! Certamente, Maria não queria se casar, pelo menos não há o mínimo indício disso, e, além do mais, o isso está implícito nas suas palavras em Lucas 1, 34.

O costume dos povos antigos de prometerem suas filhas em casamento certamente lança luz sobre essa questão. Quanto ao serem real e verdadeiramente marido e esposa, como afirma categoricamente a sagrada Escritura, não devemos concluir que tenham vivido como todos os esposos do mundo. Bastam, para entender isso, os acontecimentos singulares que ocorreram na família de Nazaré, aptos a contrabalançar esse questionamento. Por exemplo, Jesus é chamado, categoricamente pela Sagrada Escritura, de o filho do carpinteiro, José, embora saibamos o sentido dessa filiação, diverso do habitual, pois era filho nutrício, adotivo, e ninguém concluiria, com razão, que por essa expressão (filho do carpinteiro) devemos entender segundo ponto de vista biológico. A Bíblia não explica detalhadamente a filiação adotiva por ser algo desnecessário, claro pelo contexto.

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6.4.8.2. “Unigênito é primogênito”

 Nessa questão, o pastor procura fazer-nos refletir sobre o motivo que levou os Evangelistas Mateus e Lucas a chamar Jesus de primogênito ao invés de unigênito. Seria esse um sólido argumento para “provar” que Jesus não era o único filho? Para os protestantes, pelo menos é o que parece, isso deveria ser dito com todas as letras: Jesus é filho unigênito de Maria.

O pastor Joel apresenta as palavras do Pe. Euzébio Tintori, com as quais concorda: Primogênito era assim denominado o unigênito para todos os efeitos legais.” Porém, tendo em conta que o texto evangélico foi escrito décadas após o nascimento de Cristo, supõe que o evangelista poderia ter se expressado com a palavra unigênito, pois “já se sabia se Maria havia tido ou não outros filhos”. E diz: “Logo, Mateus poderia chamá-lo de unigênito, se Ele fosse filho único”, questionando a seguir: “Por que não o fez?”

Naturalmente, essa possibilidade de uso não supõe obrigatoriedade para tal. Nem há razões explícitas para que isso devesse ocorrer.

Bem, é oportuno informar que diversos manuscritos gregos não trazem o termo primogênito em Mateus. {muitos protestantes dirão que se trata de manuscritos

corrompidos}. Porém, temos a palavra em Lucas. Não há razão para fugir à explicação da mesma, o que não é uma estratégia correta. Primogênito é um termo jurídico que significa aquele antes do qual não tinha nascido outro (Diácono Francisco, livro Em Defesa da Fé). Pelo próprio termo, portanto, não podemos afirmar solidamente nada contra a virgindade de Maria. O primeiro filho era consagrado a Deus por ser o primogênito, e, para isso, não se esperava que nascessem outros. A prova disso, por exemplo, está em Êxodo 13, 1-2; 34, 19. O termo também não tem sua significação baseada numa suposta expectativa de que sejam gerados outros filhos, como se o significado dependesse dessa atitude psicológica. Portanto, de fato, todo unigênito é primogênito, embora a recíproca não seja assim, obviamente. Sendo termo técnico, e sendo perfeitamente usado pelos evangelistas nesse sentido, não há razão para suspeitar de que São Mateus tenha intencionado utilizar o termo para sugerir que Cristo não é era filho único, ou que tenha se esquivado de usar outro termo por esse suposto “fato”.

Não há muitos empregos do termo pelos evangelhos com respeito a Jesus. Em João 3,16 é empregado o termo unigênito, em relação à sua filiação Divina. Com o mesmo sentido, Hebreus 1,6 emprega primogênito.

O fato de que nas duas ocorrências que se referem ao seu nascimento se use primogênito, é, com certeza, válido para enfatizar seu significado definido de consagrado a Deus.

Assim, fica claro que o suposto argumento “sólido” que os protestantes costumam apresentar, carece de qualquer solidez.

Continuando a crítica contra as afirmações do Pe. Euzébio a respeito do significado de primogênito, o pastor Joel afirma que esse não é o único argumento protestante. É não é mesmo. Porém, que outros argumentos que usem sejam “irrefutáveis”, isso também não é correto afirmar.

Concluindo a seção, o pastor diz que se o argumento protestante é fraco (segundo o padre), o contraargumento é “fraquíssimo”, pois não pode provar o contrário, ou seja, a virgindade de Maria. Pelo que foi dito acima essa questão já está resolvida. Agora, se o termo primogênito em Mateus 1, 25 não pode provar qualquer um dos lados do debate, resta ainda a prova da virgindade de Nossa Senhora como uma dívida para com os

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protestantes. E, por que não dizer, restaria ainda, também, provar que ela tenha tido outros filhos, constituindo uma dívida para com os católicos.

6.4.8.3. O “Até” de Mt 1.25 não prova nada?

Existe na Tradição mais antiga, a doutrina da virgindade de Maria. É um fato. Para sermos salvos não era necessário sabermos sobre a vida matrimonial de José e Maria, por isso, a Bíblia não traz os detalhes desses acontecimentos. Não haveria debates sobre a questão, de maneira específica, se os protestantes se dobrassem aos dados que a Bíblia oferece e se pusessem à luz da tradição na compreensão dessas coisas. O dobrar-se diante dos dados bíblicos qualquer um cristão fiel, em tese, está disposto a fazer. Já com relação à tradição, isso é, há muito tempo, uma questão complicada, pois muitos a vêem como um conjunto de invencionices humanas. É necessário que os dados da Revelação escrita e os dados recebidos por tradição não entrem em colisão. Somente assim estaremos ombreados pela Palavra de Deus. Quando se diz “dobra-se” diante dos dados bíblicos, a questão ainda não se resolve, pois sabemos que a razão humana comete falhas e pode “achar” que um certo dado é “bíblico” quando na verdade não o é. Não é de hoje que todos os hereges arvoram-se como fiéis à Sagrada Escritura, apresentando as mais disparatas “interpretações”.

O pastor Joel apresenta uma “prova” clássica contra a virgindade perpétua de Maria, que é o texto de Mateus 1, 25, o qual diz que José não a conheceu até que deu à luz seu filho... Usando o dicionário Aurélio o pastor mostra a definição de “até”, que se refere a um limite de tempo, no espaço ou nas ações. Esse fato seria claríssimo para entender que após o nascimento de Cristo as coisas mudaram entre o casal José e Maria, e só não ficaria assim entendido se não formos tendenciosos. Concordamos que o “até” do texto de Mateus serviria, pelo menos à primeira vista, como um atestado claro contra a virgindade. Mas as coisas podem não ser tão claras assim, e não por causa de uma suposta posição tendenciosa, mas por motivos mais profundos que revelam a possibilidade de uma visão mais relativa sobre o assunto, se se tomar como base o texto em questão. Como bem entendido através das explicações do Padre Euzébio, citado pelo pastor Joel, fica exposto que a Bíblia é explícita quanto à virgindade de Maria antes do parto e que após o nascimento de Jesus há um silêncio sobre essa questão. As fontes fidedignas para resolvermos esse assunto seriam, também, os Santos Padres e a Igreja, que é infalível. Foi dito “também” porque apesar do silêncio da Bíblia sobre o fato, qualquer afirmação posterior tem de passar pelo teste bíblico para ser aceito como verdadeiro ou falso, através de comparações com os dados da revelação. Para avaliar o pensamento do padre Euzébio, o pastor propõe a seguinte questão: Agora, vamos avaliar as afirmações do padre Euzébio. Se dissermos que fomos para o Rio de Janeiro em 1970 e que lá permanecemos até 1.988, o leitor entenderá que nunca nos mudamos do Rio de Janeiro e que lá permanecemos até hoje? Certamente que não, mas o padre Euzébio demonstra não pensar assim. O pastor cita também o texto de Mateus 28,20, uma prova usada pelos católicos, de que o “até” nem sempre possui o sentido visto anteriormente. Mas o texto de Mateus 28, 20 estaria se referindo ao apoio à evangelização mundial que cessará quando do fim do mundo, mantendo o sentido do “até”, já conhecido. No entanto, essa questão sobre o “até” é bem antiga. Os primeiros a negarem a virgindade

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de Nossa Senhora com base nesse texto foram os hereges Joviniano e Helvídio, no século IV. Loisy, que foi um negador do Evangelho, e não teria escrúpulos em negar uma verdade cristã católica, afirmou que a partir desse “até”, ninguém pode deduzir nada contra a virgindade de Maria. E certamente esse comentário insuspeito teve como base as conotações do “até” nas línguas originais da Bíblia, o que torna o parecer do Dr. Loisy mais apropriado que o do Dr. Aurélio, que define o significado do termo em português. Esse sentido diferente do termo “até”, que certamente é o que está em Mateus 1,25, é bem nítido em 2 Samuel 6,23, onde é dito que Micol, filha de Saul, não teve filho até a sua morte, o que seria ridículo concluir que Micol tenha dado à luz depois de morta e enterrada, tendo por “prova” o até do texto. Pelo contexto, pode-se perceber claramente que São Mateus não tinha intenção alguma de afirmar nada sobre o futuro relacionamento do casal Maria e José, mas apenas enfatizar a concepção virginal de Jesus no ventre de Sua mãe. É sobre esse pressuposto, bem razoável, que podemos afirmar que o texto não depõe contra a fé da Igreja nessa questão. A explicação do pastor Joel sobre o significado do “até” em Mateus 28,20, que não estaria se referindo à permanência de Cristo com os apóstolos e discípulos, enfim, com a Igreja, mas que tinha por objetivo tratar do tempo da ação evangelizadora, é um significado que não traz nenhuma conseqüência contra a fé e se harmoniza bem com o texto, sendo, portanto, uma interpretação válida também. Tendo em vista a permanência de Cristo com a Igreja, essa não cessará nunca, já quanto à sua assistência à evangelização no mundo, essa terá fim quando tarefa chegar ao seu término. Agora é necessário concordar também, à luz do contexto, que São Mateus não teria motivos de informar qual foi a relação do casal após o Natal, uma preocupação irrelevante, mas que tinha em mente provar a ação exclusiva do Espírito Santo na concepção do Filho de Deus no ventre da Virgem Maria. Nesse caso, o “até” não traz o sentido de futuro, mas olha apenas para o passado. Assim como em Gênesis 8, 7, onde está dito que Noé soltou o corvo, e que esse não voltou à arca “até” que as águas baixassem. Pelo contexto, Moisés não tinha em mente informar se o corvo voltou ou não à arca, algo sem relevância, mas dizer somente que o corvo não voltou (e não voltou mais), sem indicações futuras. Quaisquer outras elucubrações contraditórias a isso não encontram suporte nessa passagem. E a respeito da confissão do padre Euzébio de que é através dos Padres e da Igreja que nos certificamos da virgindade de Maria, o pastor conclui que os protestantes tem razão em dizer que não é lendo a Bíblia que aprendemos tais coisas, baseado nas mencionadas palavras do padre. A alusão de que a Igreja diverge de seus santos em alguns assuntos, é correta, pois os santos não possuem infalibilidade. Mas a divergência entre os santos e a Igreja é diversa da divergência entre os protestantes e a Igreja, pois quando do pronunciamento ex-catedra muitos deveriam ceder de suas posições divergentes, e os santos estavam dispostos a isso. Quanto ao direito de divergir, isso não pode ser tirado. Mas na Igreja, temos de ter o espírito de humilde submissão, estudar e abraçar a doutrina que é proposta. Temos, também, como os protestantes, compromisso com a Bíblia. E é por isso que podemos continuar filosofando nossas crenças e práticas juntos. Mas isso não significa que não tenhamos de nos submeter às decisões eclesiásticas, como foi dito, como se se tratasse de um juízo privado, mas que temos o direito de estudar e compreender os motivos de um ensinamento ser como é. Se a Igreja ensina que Maria permaneceu virgem, vamos estudar e compreender melhor a questão e responder as objeções. A Igreja é infalível, é doutrina bíblica, mas nem por isso nós devemos crer

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cegamente em tudo, sem qualquer reflexão. O pedido de explicação, que o pastor Joel fez, é válido e necessário. Devemos crescer na fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3). A virgindade perpétua de Maria implica que ela permaneceu literalmente virgem, e se para isso for necessária uma explicação do que significa ser virgem, deve-se dizer que o hímem não foi rompido, algo um tanto desnecessário (em si) tornar claro, mas certamente foi dito para expressar que mesmo o corpo físico de Nossa Senhora ficou intacto E como estamos raciocinando, não é pecado detalhar. Certamente é isso que faz com que os teólogos tragam essas ponderações, uma “elucubração” que foi vítima das sátiras de Erasmo de Roterdã. De qualquer forma é dogma de fé que Maria foi virgem antes do parto, no parto e após o parto. Por isso é que se compara o nascimento de Cristo como um raio que atravessa um cristal sem maculá-lo [PRADA, Francisco. Novenário. São Paulo: A M Edições. 3 ed., 1996, p. 66_citado pelo pastor Joel]. Se a questão do “hímem” e do “relacionamento” entre os esposos da sagrada família é tão irrelevante, e de fato o é, entende-se a razão para que isso não tenha sido exarado nas páginas sagradas, e, por isso, não é necessário brigarmos, basta que os protestantes creiam nas legítimas interpretações da tradição cristã, harmônicas com a Bíblia, mais antigas (embora antiguidade em si não é critério de verdade), e sempre cridas na Igreja, unam-se aos cristãos católicos na fé de sempre e, nesse caso, deixem de desobediência à Igreja nessa questão (e em outras), o que faz diferença, e que entendemos ser necessário para a salvação (porque leva unidade de fé_doutrina), considerando que quem ouve a Igreja, ouve a Cristo. Ficou patente que a Bíblia, bem interpretada como foi mostrado nessa crítica, não deixa dúvidas sobre a virgindade da Virgem Maria.

6.4.8.4. Voto de castidade?! 

      O pastor cita o parte do padre Euzébio Tintore (no aludido Novo Testamento por ele comentado) e do bispo Dom Mateus Rocha (este, revisor de uma Bíblia de estudo editada “Com aprovação eclesiástica” pela Edições Paulinas [editora católica]), que explicam que Maria fez voto de virgindade, o que está implícito na pergunta que fez ao anjo Gabriel sobre como poderia engravidar, visto não conhecer varão. Seria essa explicação parcial, sem levar em conta Lucas 1, 27 e por isso diz o pastor: Mas eles se esqueceram que Lc 1.27 diz que Maria era desposada, isto é, noiva. Ora, será que já existiu neste mundo uma noiva tão ingênua que não soubesse que virgindade e casamento são incompatíveis? E se sim, seria Maria uma dessas ingênuas? Que pensam eles de Maria? Pois bem. Os casamentos na antiguidade, especificamente na cultura judaica, seguiam modelo diverso do existe hoje, principalmente na cultura ocidental. A jovem Maria estava prometida em casamento a um jovem, José. A virgem Maria não tinha “sonho de casar-se e gerar filhos e etc.”, e nem há vestígio disso. Pelo contrário. Certamente, sua vocação não era o matrimônio. A sua pergunta ao anjo não tem outra explicação razoável senão que ela tinha profundo desejo de permanecer virgem. Portanto, não se tratava de ingenuidade, mas de algo que se harmonizaria plenamente, como sempre, no projeto divino. Quando o anjo anuncia-lhe o plano de Deus, ela expõe sua dúvida, que é logo respondida para que não se preocupasse, pois Deus é quem iria realizar tudo. Era plano de Deus que Seu Filho nascesse de uma virgem casada, pois, era inadmissível na sociedade da época a existência de mães solteiras, e não era Deus quem o iria introduzir, e muito menos que uma

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noiva fosse culpada de traição, o que resultaria na pena de morte pelo apedrejamento. Isso explica o motivo de José, varão justo e, naquele momento, desconfiado de ter sido traído (desconfiança desfeita miraculosamente por um anjo que lhe apareceu em sonho), pensar em abandonar às escondidas sua noiva. É isso o que a Igreja pensa sobre a Virgem Maria.

6.4.8.5. À “Bíblia” finalmente 

     O pastor afirma que dificilmente se recorre à Bíblica para provar a virgindade perpétua de Nossa Senhora, como se isso fosse uma “regra”, dizendo que existem exceções, e nessas exceções a Igreja “tentaria” dar razões desse dogma à luz da Bíblia. É bom lembrar que a regra sempre foi a Bíblia e a Tradição.

“O Filho”

Citando um catecismo, distribuído pela Arquidiocese Militar de Brasília, o pastor mostra um argumento usado na p. 30 do mesmo para provar que Jesus é o único Filho de Maria: “Jesus é o único Filho de Maria mostrado ainda pela designação enfática (com o artigo), ‘O Filho de Maria’ (Marcos 6.3)”. Então, o pastor diz: Quer-se dizer com isso que o fato de Jesus ser chamado de “o” Filho de Maria ( o artigo “o” realmente consta do original) prova que Ele é filho único dela. Após isso, o pastor explica que o artigo não se destina a provar isso, e que esse argumento seria ou ingenuidade ou má fé [dos clérigos], pois seria uma ignorância das regras da língua grega ou um fingimento disso. O artigo definido, afirma o pastor, não tem finalidade única demonstrar unicidade, mas também destacar individualidade. Uma prova disso seria que na mesma passagem Jesus é chamado de “o carpinteiro”, razão que faz o pastor questionar: Revelaria erudição deduzirmos daí que nos seus dias, Jesus era o único carpinteiro do mundo? Pensem e repensem nisso os padres sinceros. Depois afirma que aqui o tiro sai pela culatra e o feitiço vira contra o feiticeiro, mostrando que em Gálatas 1, 19, o apóstolo Tiago é chamado de “o irmão do Senhor”, da mesma forma que a passagem comentada anteriormente, o artigo consta do original. Se em Mc 6,3 o artigo tivesse a função de indicar unicidade, também o seria em Gálatas 1, 19, sendo que Tiago seria considerado o “único irmão de Jesus”. Mas filho único não tem irmão, e como a Igreja ensina que os irmãos de Jesus são, de fato, seus primos ou parentes próximos, concluiríamos que haveria contradição na Bíblia, afirmando que em Mateus 13,55 Jesus tinha quatro parentes e em Gálatas 1, 19 somente um. Vejamos a dificuldade que o pastor apresenta: Afinal, Tiago era irmão único, ou parente único? Se os clérigos católicos disserem que era parente único, terão que se ver com Mt 13.55, visto dizerem que “os irmãos” aqui aludidos são parentes próximos. E, se disserem que era seu único irmão, lá se vai a eterna virgindade de Maria, pois que então Jesus teria dois parentes chamados Tiago: um primo e um irmão. Logicamente não havia um só Tiago naqueles dias, reconhece o pastor, e o autor sabe ainda que um Tiago, irmão de José e filho de Maria e Cléofas era parente de Jesus, mas afirma que recorrer a isso para provar que os personagens de Mateus 13, 55 eram parentes de Jesus, revela o desespero do clero. Diante de tudo isso, poderíamos afirmar as dificuldades apresentadas podem ser resolvidas. O uso do artigo é somente mais um indício da verdade do dogma da perpétua

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virgindade de Maria, pois isso o texto citado traz o advérbio ainda “...mostrado ainda ” , pois existem muitas outras provas. Embora o artigo tenha a função de designar, também, a individualidade, indica da mesma forma, como o pastor reconhece, a unicidade. Mas seria isso desprovido de sentido em Marcos 6,3? É importante considerar o fato de que há evidência de que São José, o carpinteiro de Nazaré, já havia falecido naquela época, e isso explica porque Jesus é chamado de “o carpinteiro”, com artigo. Segundo o padre José Bortolini existem opiniões recentes que afirmam que o fato de Jesus ter sido chamado de “o filho de Maria” não indicaria necessariamente que José tinha morrido. Mas, se não é necessariamente verdadeiro continua sendo uma hipótese de valor, podendo ser verdadeiro, e, além do mais, é o entendimento mais comum e compreensível durante a história, acredito. Isso significa que, naquela região de Nazaré, José era certamente o único carpinteiro, e após sua morte, Jesus tornou-se o carpinteiro. Não se exclui a existência de carpinteiros em todo o mundo da época, mas somente na pequena cidade de Nazaré. Desse modo, ao dizer que Jesus é “o Filho” de Maria, a unicidade pode realmente estar sendo intencionada. Os estudiosos cristãos católicos tem conhecimento da língua grega e, como cristãos, não costumam “fingir” ou usar de artifícios enganosos para quaisquer fins, como insinuou o autor. Quanto a Gálatas 1, 19, o artigo tem por função diferenciar o Tiago, filho de Zebedeu, do Tiago “irmão” do Senhor, explicando assim o uso do artigo sem se chocar como Mateus 13,55. O assunto não é o número de parentes do Senhor, mas mostrar qual dos apóstolos foi visto por São Paulo em sua viagem a Jerusalém. São Paulo tinha ido a Jerusalém para visitar São Pedro, e lá, não viu outro apóstolo a não ser a Tiago, o irmão do Senhor, contrastando-o com o outro Tiago apóstolo. Então, o artigo em Gálatas 1, 19 não poderia indicar mesmo a unicidade no sentido de que o apóstolo era o único parente de Jesus, mas pode ser entendido como o único Tiago apóstolo parente de Senhor. Tendo o artigo as funções de indicar unicidade e individualidade, se entende as duas passagens dentro do respectivo contexto e do conhecimento prévio que temos da questão. Como dito anteriormente, o artigo não é a única prova ou evidência, pois nem todos os apologista recorrem a ele em suas defesas, como não o fez o Padre Wrosz, nem o Frei Battistini. Então, percebe-se que se o tiro saiu pela culatra e o feitiço virou contra o feiticeiro, a culatra e o feiticeiro não estão do lado católico. Que artigo em Marcos 6, 3 tem seu valor a favor da posição cristã católica nessa questão, isso tem!

6.5. A “Virgem” e os carismáticos.

Se o catolicismo é contra a idolatria e a mariolatria, não pode haver católico carismático “mariólatra”. Se existem é porque estão mais desorientados do que nunca. E para piorar copiam coisas reprováveis de protestantes pentecostais. A falta de critica nesses movimentos é muito alta, talvez por isso chegam a dizer Aleluia a Maria. Sobre o fato de chamarem a Nossa Senhora de Estrela da Manhã, que é título bíblico de Cristo, Porta do Céu e etc., são termos bem tradicionais usados na ladainha. Não devem ser entendidos ao pé da letra, mas como uma linguagem ornamentada para refletir a devoção cristã para com a mãe de Jesus. Falar que Maria está presente em todos os grupos de oração é linguagem imprópria, muito imprópria. Para tal fato seria necessária a onipresença que só Deus tem. Sabemos que Deus permite que as orações dos santos da terra sejam conhecidas pelos santos do céu, mas os santos não podem estar

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presentes em mais de um lugar ao mesmo tempo. Quanto ao trocadilho usado pelos católicos, parece que é uma resposta aos protestantes, que não são devotos à Nossa Senhora. São palavras pouco críticas.

6.6. Maria-de-menos e Maria-demais?! 

O pastor Joel defende a posição protestante oficial, a que deve ser seguida pelos autênticos protestantes. Ele não concorda com a seguinte afirmação de certo pastor:“ De uma forma geral, o povo evangélico menospreza Maria. Nós temos de dar as mãos à palmatória, pois de uma forma geral, nós evangélicos zombamos e ridicularizamos a figura de Maria” (J. Jacó Vieira, Em Defesa da Virgem Maria, produção independente, página 13_citação do livro do pastor Joel.). Para defender a posição protestante ele diz que entre os evangélicos há os que o são de fato, bem como os falsos. Considerando isso, o mesmo pode ser dito dos católicos, pois há católicos de fato e católicos falsos, nominais. Ele prossegue dizendo: Conseqüentemente, é possível que haja entre nós alguém que não tenha para com Maria o respeito que lhe é devido. Contudo, se há, são tão poucos que ainda não encontramos sequer, um. É um “fato” interessante, pois católicos sempre observam desprezo para com Nossa Senhora entre os protestantes, chegando a conhecer protestantes que expressam esse desprezo. De modo semelhante, os protestantes sempre percebem “mariolatria” nos católicos, embora a Igreja afirme que não ensina adorar criaturas, mas somente a Deus. O pastor diz já ter conhecido crentes que consideram Maria-demais, que seriam resquícios do catolicismo, mas não conhece quem possa ser acusado de Maria-de-menos entre eles. Portanto, o pastor Joel conclui que seu colega pastor se equivocou na sua observação. Talvez, como explicou o pastor Joel, possamos entender as atitudes anti-marianas dos protestantes como um desprezo pela “idolatria”, não uma desprezo por Maria, e seria isso que os católicos estariam “compreendendo mal”. Mas, também, pode-se dizer que são atitudes não-críticas de católicos, certamente nominais em sua maioria, que sempre provocam reações entre os protestantes, incapacitando-os de compreenderem a posição católica verdadeira. Assim diz o pastor: Todos os verdadeiros evangélicos amam e respeitam a Maria, mas desdenham o culto a Maria, bem como às suas estampas e estátuas. Desse modo não haveria justiça em acusar os protestantes de ensinar o Maria-de-menos e, muito menos, o Maria-demais. Maria seria considerada uma valorosa varoa para os protestantes. No entanto, deve-se questionar o modo pelo qual os protestantes expressam essa sua atitude “positiva” para com Nossa Senhora, visto que não é natural que os conteúdos internos de nossa alma não venham à tona em gestos concretos que os expressem. A posição oficial protestante, como mostra o pastor a respeito do que os protestantes creem, é que a Virgem Maria foi manchada pelo pecado original (os textos-prova seriam: 1Rs 8.46; Sl 14.3; Rm 3.23, etc.), e que ela reconheceu sua pecaminosidade (o pastor cita Lucas 1,47). O texto citado de São Lucas não fala de pecaminosidade, mas revela que a Virgem Maria reconhece a Deus como seu Salvador. Isso é ensinado pela Igreja. Para tanto, não era necessário que ela estivesse manchada pelo pecado, mas era suficiente uma atitude de criatura diante do Criador, uma criatura que tinha sido liberta por Deus de toda a corrupção pecaminosa, uma necessidade de toda a criatura humana, o que se deu na sua concepção. Assim, vemos que Lucas 1,47 não ensina necessariamente que Maria tenha contraído o pecado original, o que nos faz perceber que essa noção da pecaminosidade de Maria tem outra origem, que são os pressupostos teológicos adotados em

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contrário à doutrina cristã católica, não a Bíblia. Os textos bíblicos usados por católicos e protestantes podem ser os mesmos, a divergência será no entendimento deles, em consequencia da teologia (protestante) adotada. O pastor Joel, falando das graças que Nossa Senhora recebeu diz: A graça concedida a Maria é muito grande, mas nenhuma graça divina nos transforma em deuses. Quanto a isso não seria necessário dizer que os cristãos católicos convergem plenamente, pois é sabido que não devemos colocar ninguém no lugar de Deus. Quanto à posição protestante em relação aos servos de Deus, afirma o pastor: Nós, os evangélicos, amamos e honramos a Maria tanto quanto amamos e respeitamos a Moisés, Abraão, Elias, Hulda, Débora, Pedro, Paulo, João, etc. Mas é sintomático que todos esses outros nomes ocupem grande parte dos sermões, nos púlpitos, enquanto que Maria parece ser raramente lembrada, a não ser quando se faz referência às “idolatrias” católicas. Ela não ocupa lugar especial e, além disso, parece ocupar um lugar que faz lembrar o que o outro pastor disse, o de Maria-de-menos, que talvez seja uma conseqüência inconsciente no meio protestante, como sendo um modo de “evitar” falar de Maria. Essa posição é tida entre os protestantes como a atitude correta, a de “deixar” Maria no seu “devido” lugar, humilde e realista, no qual ela mesma se pôs. De qualquer forma o pastor assevera que entre os verdadeiros protestantes ninguém coloca Maria-de-menos, alguns até podem ser tidos como tendo Maria-demais, o que seria o único desequilíbrio. Quanto a isso, há protestantes que já expressaram o desejo de ver a Virgem mais reconhecida pelo protestantismo, como nos informa o pastor Joel. Mas a respeito da acusação de Maria-de-menos, o pastor propõe a pergunta: Se realmente estamos deixando a desejar no apreço devido a Maria, como erroneamente crêem os que nos acusam de Maria de menos, perguntamos: Não fizeram os apóstolos o mesmo?. Essa pergunta parece negligenciar o fato de que não há prova de atitudes dos apóstolos que se assemelhassem às atitudes protestantes. Os pressupostos que o protestantismo adota é que os faz “ver” isso. A Bíblia é um livro que trata da história da salvação, tendo Cristo como centro. Tudo converge nele. As palavras que revelam a pessoa da Sua mãe a mostram como uma criatura muito especial (e os protestantes o reconhecem) e os indícios de tratamento dos apóstolos para com ela, podem ser deduzidos de textos como João 19,25-27, no qual Jesus a entrega como mãe ao apóstolo João. É natural que os cristãos dos primórdios lembrassem dessa maternidade ensinada por Cristo e reconhecida pelo apóstolo João, e, na imitação do apóstolo, o culto religioso da Virgem Maria se desenvolveu. É verdade que não encontramos nada, nas páginas do Novo Testamento, que seja contrário ao culto mariano. Um culto explícito também não está exarado, e as menções à pessoa da Virgem são muito limitadas. De fato, muitas coisas somente estão implícitas na revelação. No entanto, a dedução lógica que legitimamente pode ser tirada é a de que os cristãos iniciaram na era apostólica o culto de veneração da mãe do Senhor e não o contrário. A notícia de que uma senhora “católica” disse não gostar da Bíblia porque o livro não dá a honra devida a Nossa Senhora, é de se deplorar. Não se pode negar que uma devoção desorientada a tenha levado a tal posição. E é igualmente verdadeiro que a falta de cultura bíblica fomentou tal parecer. E é triste que esse possa ser o parecer de tantos “católicos” por aí (“católicos”, entre aspas mesmo). Quanto aos diversos títulos marianos, chamados pelos protestantes de “mariolátricos”, os quais são Nossa Senhora, advogada dos pecadores, medianeira entre Deus e nós, Rainha do Universo, digna de Hiperdulia, nossa Mãe, nossa intercessora..., e que nenhum protestante concorda, se forem entendidos como os

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protestantes entendem, como sendo um “endeusamento” de Maria, os católicos deveriam concordar nesse ponto e rejeitá-los. Se, no entanto, o sentido dos mesmos forem como ficou explicado nessa crítica, parece que os protestantes deveriam concordar, pois não trazem heresia alguma os tais títulos. E se as palavras são importantes, o sentido das mesmas parece que são importantíssimos. Não adianta manter as palavras sem conservar o sentido. Como por exemplo, os testemunhas de Jeová acreditam no Espírito Santo, o qual é escrito com letras minúsculas (espírito santo) na sua tradução da Bíblia (Tradução do Novo Mundo), mas o entendem como uma “força vital” de Deus, e não como uma Pessoa Divina, portanto, negam a Santíssima Trindade. Não adiantou acreditar no “espírito santo” para que pudéssemos convergir com eles nessa questão. Se houvesse apenas mudança de nomes, conservando-se o sentido, não haveria problema. O contrário é que é inadmissível. A parte final desse tópico é importante reproduzir aqui e analisá-la em seguida. O pastor Joel afirmou: Se realmente estamos deixando a desejar no apreço devido a Maria, como erroneamente crêem os que nos acusam de Maria de menos, perguntamos: Não fizeram os apóstolos o mesmo?. Os apóstolos enfatizavam o nome de Jesus e falavam de Maria só de passagem. O apóstolo Paulo chegou a dizer: “Porque nada propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co. 2.2). E por que teríamos que falar mais das virtudes de Maria, do que de outros heróis da fé? Moisés, Jó, Daniel, Paulo, Misael, Ananias, Azarias e outros, foram menos virtuosos do que Maria? Se sim, em que ela os sobrepujou? Além disso, não é Cristo nosso modelo maior de perfeição? Lembre-se: Maior do que Maria, é o fruto de seu ventre (Jesus); e que tê-lo no coração é mais importante do que tê-lo no ventre. Esta não é apenas a opinião deste autor; antes se refere ao parecer infalível de Jesus (Lucas 11.27,28). A indizível felicidade de ter Jesus no ventre, foi exclusiva de Maria; mas a  inefável bênção da salvação é comum a todos os verdadeiros cristãos, inclusive a Maria. E é esta, a bênção que faz diferença. A postura protestante acusada como Maria de menos não pode ser comparada com a atitude apostólica. Então a resposta à pergunta do pastor é: não, os apóstolos não fizeram o mesmo que os protestantes fazem! Sendo que a Bíblia trata de Cristo, e isso é dito pelos teólogos católicos, como D. Estêvão, entende-se que o personagem central é Cristo, e que todos os outros personagens orbitam esse centro. Agora, basear-se nas menções passageiras de Maria na Escritura para deduzir que ela era uma personagem sem predileção especial ou que não tenha recebido devoção religiosa é um critério inválido para deduzir o culto mariano naquela época. Obviamente quando se escreve a respeito da Virgem Maria nos dias de hoje, o seu nome aparece mais “incrementado” ou numa linguam floreada, com títulos como Virgem Santíssima, Nossa Senhora e etc. As menções bíblicas eram mais “simples”, porém, de significado igualmente profundo. Por exemplo, falando da encarnação de Cristo, São Paulo diz em Gálatas 4,4 que Ele nasceu de uma mulher. O título mulher foi pronunciado na cruz (João 19,25-27), lembrando Gênesis 3,15, o protoevangelho, onde Cristo é predito como a semente da mulher que esmagará a cabeça da Serpente. E outras passagens a chamam de mãe de Jesus, como em Atos 1,14, falando da reunião no cenáculo à espera da vinda do Espírito Santo. A Bíblia não traz explicitamente qual era os sentimentos dos apóstolos e discípulos pela mãe de Jesus, e assim não diz que eles a tinham como uma “conserva” apenas, nem diz que a tinham com o status em que é tratada hoje na Santa Igreja Católica. Há, portanto, um silêncio sobre esse sentimento de veneração, pelo menos explicitamente. Para deduzi-lo, porém, as “menções

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passageiras” ao nome da mãe de Jesus no Novo Testamento não indica nada. Já o sentido dos acontecimentos da sua vida permite uma dedução segura de que os primeiros cristãos a veneraram de forma especial, e que a devoção cristão a ela tenha iniciado muito cedo, na era apostólica. É uma explicitação das passagens como a de Cristo a entregando como mãe a João; sua intercessão pelos noivos em Cana; a mulher de Apocalipse 12 (mesmo essa passagem sendo considerada primeiramente como simbolizando a Igreja), e que mesmo sendo negado pelos protestantes que essa figura apocalíptica trate de Maria, é difícil ou mesmo impossível ler o relato de Apocalipse 12 sem que venha à mente a Virgem Maria, mãe do Varão que governará as nações com cetro de ferro, a não ser que se negasse, infundadamente, que o menino nascido não era Cristo. Portanto, é impossível negar que os primeiros cristãos tenham tido uma veneração religiosa especial para com a mãe do Senhor, recorrendo-se a um juízo a priori. Estabelecido isso, é fácil comprovar, com os escritos subapostólicos, o reconhecimento da figura de Maria no culto cristão como essencialmente é mantido na Igreja Católica. Diante disso, a pregação apostólica usando exclusivamente o nome de Cristo, não nega o culto de veneração a Nossa Senhora e nem aos santos, pois se trata de questão diversa. Realmente é Cristo crucificado que devemos receber. É verdade que a figura de Maria sobrepujou a de todos os outros heróis da fé. Ela foi digna, por pura graça de Deus, de ser a Mãe do Deus feito Homem. É uma razão que fala por si mesma. É justo que seu nome seja reconhecido como o mais importante entre os nomes dos santos servos de Cristo, não apenas por sua maternidade física, literal, mas espiritual também, pois ela se entregou totalmente a Deus, e como conhecedora de Sua palavra, como está exarado no Magnificat, ela não deve somente ser honrada como a mãe biológica do Cristo, mas como aquela que cumpriu a palavra de Deus de maneira exemplar: Eis aqui a serva do Senhor... (Lucas 2; 11,27-28), sendo o exemplo mais perfeito entre as criaturas, que soube seguir o perfeitíssimo modelo que é Jesus Cristo. E a idéia de se imitar seres humanos em suas boas ações é doutrina bíblica, como dizia São Paulo: Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo (Tessalonicenses). Os protestantes reconhecem essa verdade. Um cântico da missa do natal diz o seguinte: O Cristo já nasceu na gruta de Belém, mas é preciso ainda nascer em nós também (naqueles que ainda não o receberam). E a Ave Maria tem o seu ponto mais alto quando diz: Bendito é o fruto do seu ventre, JESUS. Portanto, essa é a doutrina católica oficial, ensinada por Cristo. Então, podemos concordar com as palavras do pastor Joel, quando disse: Maior do que Maria, é o fruto de seu ventre (Jesus); e que tê-lo no coração é mais importante do que tê-lo no ventre. Esta não é apenas a opinião deste autor; antes se refere ao parecer infalível de Jesus (Lucas 11.27,28. Que Nossa Senhora teve Cristo no coração antes de tê-lo no ventre, já diziam os santos Padres. Ela a teve no coração, depois no ventre, até o nascimento de Cristo, e continuou para sempre tendo-O no coração. Isso é o que devemos imitar, pois cabe também a nós ter o Cristo no coração, ter a benção da salvação de Cristo em nós, como teve a Sua mãe. Voltando àquela pergunta do pastor: Que outra honra podemos tributar a Maria, além do que já fazemos, sem nos tornarmos mariólatras? A honra que os protestantes afirmam tributar à Virgem Maria é insuficiente, pois ainda a consideram como uma pecadora, equiparam-na com outras mulheres santas, apesar de ela ter recebido honra sem igual por ser a mãe do Salvador do mundo, não reservam a ela nenhum lugar na liturgia e tantas outras coisas. O conceito que os protestantes tem da mãe de Jesus Nosso Senhor é errôneo, parcial e, portanto, insuficiente

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para uma mariologia correta. O erro é crer que os devidos tratamentos para com Nossa Senhora são erros da mariologia católica, antes que um desenvolvimento natural do cristianismo original. Aceitem a imaculada conceição, a maternidade de Maria com relação à Igreja, a sua intercessão, de acordo com a vontade de Deus.... Essa é a doutrina católica de sempre. Isso não é mariolatria. Somente seria assim se a considerassem como “deusa”, “fonte de graça”, “salvadora”, como se tivesse acrescentado algo ao sacrifício de Cristo (o que não pode ser deduzido,da doutrina católica) e etc.

    6.7.1. A bênção da existência

       Todos os católicos devem saber que a veneração que temos para com a Virgem Maria é devido ao seu papel de mãe de Jesus, é por Ele que tudo tem sentido e é nele que tudo deve convergir.

6.7.2. A bênção de ter um marido temente a Deus

        O pastor iniciar imaginando os “sonhos” que a Virgem Maria tinha: Basta-nos ler Mt 1.18-25; e Lc 1.26-38, para sabermos que Maria, por ser uma moça normal, sonhava com o que todas as donzelas sonham: tornar-se esposa e mãe. Os textos não permitem tirar essa conclusão. É certo que até padres já escrevem algo parecido, a respeito do sonho de Maria de ser esposa e mãe, mas é justamente o contrário que pode-se concluir da Escritura. Certamente a Virgem Maria tinha em seu íntimo o voto de castidade, de maneira relativa, pois não poderia ir contra a lei de Deus, se fosse do Sua vontade que não permanecesse virgem. Mas como o anjo a tranqüiliza dizendo que a concepção de Jesus seria obra do Espírito Santo, então ela se entrega como a serva do Senhor e o milagre acontece. Entre a serva bendita Jael e a serva bendita Maria, a razão nos diz que a graça de a Virgem Maria recebeu transcende em grau muitas vezes à que recebeu Jael. (Juízes 5.24; Lucas 1.28)

6.7.3. A bênção de ser mãe

        Segundo a Bíblia, enquanto Maria tomava as medidas necessárias para casar-se com o homem de seus sonhos _ o seu amado noivo José _, foi surpreendida com uma notícia angelical de que ela havia sido eleita por Deus para ser a mãe do Salvador do mundo. A Bíblia não relata que esse era o sonho de Maria e como foi visto acima essa tese é infundada. É certo que os noivos já tinham plenos direitos de se relacionarem como esposos. A pergunta de Nossa Senhora se torna incompreensível se não considerarmos que havia um voto de virgindade: “Como se fará isso, visto que não conheço homem?”, (Lc 1.34,35). Em Jz 13, 4.5.7, o anjo anuncia à esposa de Manoá que ela conceberia e teria um filho. A mulher era estéril. Das palavras do anjo, que são óbvias, a mulher não questionou sobre como poderia ela engravidar: 5  Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça näo passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre; e ele começará a livrar a Israel da mäo dos filisteus. A mesma anunciação foi feita à Virgem Maria, que estava desposada com o varão José: 31  E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pór-lhe-ás o nome de Jesus. Como iria casar-se era lógico esperar filhos, ainda mais que o anjo estava anunciando. Veja que a esposa de Manoá não questiona, mas vai

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contar ao esposo o que o anjo dissera. Já a Virgem Maria logo revela sua dificuldade diante daquele mensageiro de Deus (v.34). Então a Virgem pronuncia o fiat (v.38). O Espírito Santo faria todo o trabalho e por que não daria ao esposo José o dom da castidade? Tudo é possível para Deus. Vê-se assim que a pergunta feita ao anjo não foi porque estava “noiva”, pois o anjo só disse que ela iria conceber, o que é óbvio a uma mulher casada, não estéril e em relacionamento normal com seu esposo. Os noivos já tinham direitos matrimoniais, poderia dizer que eram “casados” que ainda não moravam juntos, o que clareia ainda mais a questão. Deve-se concordar com o pastor Joel quando diz: O fato de Maria tornar-se mãe do Senhor, fez dela a mais bem-aventurada mãe de todos os tempos, pois ter um filhão da envergadura de Jesus é, sem dúvida, uma felicidade infinita. Agora quando diz que teve outros filhos (Mateus 13,55-56), volta-se à estaca zero. A felicidade infinita da Virgem Maria em ter o seu Filho Jesus dispensou-a de qualquer felicidade adicional de ter outros filhos. Ela foi a mãe mais completa que já existiu, como seu filho primogênito e unigênito. E sobre os supostos “filhos” de Maria que não criam em Jesus (Jo 7,5), que por não crerem em Jesus estariam correndo perigo de condenação, mas que se converteram depois (At 1,14), é somente incompreensão dos fatos. Aqueles eram os seus primos e não irmãos. Esse quadro imaginário é destituído de fundamento.

6.7.4. A bênção de ser serva de Deus

       Os católicos concordam nesse ponto. 

6.7.5. A bênção da humildade

      O mesmo pode ser dito desse tópico também. E, graças a Deus, Maria se pôs entre os que sabem que nada somos e que só Deus é grande. Ela disse que Deus “atentou na humildade de sua serva”  (Lc 1.48). O exemplo perfeito de humildade de uma criatura que se tornou desde a concepção filha e serva de Deus.

6.7.6. A bênção do batismo no Espírito Santo

      A promessa que Deus fez na instrumentalidade do meu xará, de derramar o Espírito Santo sobre toda carne (Jl 2.28), se cumpriu no dia de Pentecostes (At 1 e 2); e Maria estava entre os agraciados At 1.14). Sim, Maria recebeu a promessa que João Batista e Jesus chamavam de batismo no Espírito Santo (Mt 3.11; At 1.5), e falou em outras línguas (At 2.4). A Virgem Maria que tinha, desde a concepção, o Espírito Santo, foi coberta pelo poder de Deus, teve Jesus no ventre e agora participa da recepção do Espírito Santo junto com a Igreja.

 6.7.7. A bênção de ser um exemplo de vida

     O pastor Joel explica com tons que lembram um sermão católico: A fidelidade de Maria é um estímulo a todos nós. A sua vida inspira fé e amor. Tal se dá porque se ela pôde ser fiel, todos podemos sê-lo também, já que ela era um ser humano normal igual a todos nós; e não um anjo, tampouco uma deusa. O católico deve concordar que Virgem Maria é um ser humano normal, porém sem pecado, pois foi santificada na concepção. Isso não tira

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sua liberdade, por isso é exemplar sua vida. Lembre-se que Eva pecou mesmo sendo pura, pois obedeceu ao Diabo. Pelo contrário, a Virgem Maria obedeceu a Deus em todos os sentidos. Ela não foi um anjo, nem semi-deusa, nem muito menos deusa.

Outro exemplo que lembra um verdadeiro sermão católico são essas palavras do pastor Joel: Inspiremos, pois, no belo exemplo de Maria e deixemos que o Espírito Santo “gere” Cristo em nossos corações!

A diferença está em que o protestantismo não a considera como Mãe, mas como irmã; não a considera como Nossa Senhora, embora saibamos que esse título é popular, não tem a conotação de uma Senhora no sentido semelhante ao senhorio de Cristo, mas é apenas uma forma carinhosa dos cristãos de tratarem a virgem Maria, e assim deve ser sempre, pois o que passar disso está errado. Ela, a serva do Senhor, não é caminho de salvação mas um brilhante exemplo a ser imitado, o que converge com a doutrina católica. Ela não é a luz, mas pode ser luz como todo cristão pode ser, e, certamente, sua luz brilha muito mais pela sua perfeita obediência a Deus. O pastor continua dizendo: ela não é nossa medianeira, mas foi por seu intermédio que o Pai enviou ao mundo o único Mediador entre Ele e nós . Ela não pode salvar, nem perdoar, nem fazer nada por nós, a não ser é claro, rogar por nós a Deus em nome de Jesus. O pastor aconselha amar a Maria e a todos os servos de Deus do passado, do presente e do futuro, mas cultuar somente a Deus. Deve-se dizer que esse culto a Deus é o de latria, enquanto que o culto de veneração aos servos de Deus pode ser mantido, desde que não ultrapasse seus limites, mas é intrínseco à vida cristã. Portanto, hiperdulia, dulia e latria não são modas iventadas, mas apenas uma maneira de entender melhor as coisas. Segundo o pastor, a hiperdulia não existe e a dulia é o serviço sagrado a Deus. Devemos concordar. Mas compreende-se que é permitido a dulia aos serviços, é que essa dulia singular à mãe de Jesus, à qual foi acrescentado o prefixo hiper para mostrar o nosso amor a Jesus. A Virgem Maria só recebe tamanha honra por ter sido escolhida por Jesus, ela não seria lembrada se não fosse por causa dEle. Isso é cristianismo católico. O resto, o que ultrapassar isso, é mariolatria deslavada.

6.7.8. A bênção da salvação

É certo que a Virgem Maria necessitava do perdão e da salvação, mas tudo isso ocorreu na concepção, preservando-a do pecado. Foi Cristo quem a salvou. Ela correspondeu à graça de Deus durante toda a sua vida e foi levada ao Paraíso celeste. Sabemos que Adão e Eva foram salvos pro Cristo assim como todos os homens que existiram, que existem e que existirão, portanto não é difícil aceitar que a Virgem foi salva antes do sacrifício ter sido consumado na cruz (2 Cr 6.36; Sl 14.2-3; Rm 3.23; Gl 3.22; 1 Jo 1.10). O pastor diz ainda: E ela foi suficientemente realista para admitir isso e refugiar-se em Cristo, em cujo sangue carmesim lavou-se, tanto do pecado original, quanto de suas culpas pessoais. Esse reconhecimento que o pastor Joel apresenta aqui, de que a Virgem Maria admitiu sua dependência de Cristo, que ela lavou-se do pecado original em seu Seu sangue está corretíssima. As culpas pessoais não chegaram a ocorrer, pois já não tinha mais o pecado original e continuou obediente a Deus em tudo. Tudo por

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graça de Deus. Como filha de Adão a Virgem Maria estaria sob o pecado original, mas foi salva no momento de sua concepção, pois estava sendo preparada para ser a mãe de Cristo. O pecado original não é a natureza pecaminosa hereditária não é o pecado original, mas é afetada por ele. Veja que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, herdou a natureza humana imaculada, pois não era sujeito ao pecado original.

6.7.8. A bênção da salvação

O pastor Joel fala salvação que Nossa Senhora recebeu, reconhecendo-se necessitada de um Salvador, e que ela o encontrou em seu Filho Jesus. Isso está corretíssimo (Jo 14.6; At 4.12). Uma prova é Lucas 1,47. O pecado maculou a todos, sem exceção (2 Cr 6.36; Sl 14.2-3; Rm 3.23; Gl 3.22; 1 Jo 1.10). Devemos compreender somente que Maria foi isenta de pecado em vista dos méritos de Cristo na cruz, não tendo ela direito algum nisso, tudo por pura graça divina. Jesus foi o Salvador de Sua própria mãe. O perdão do pecado de Maria ocorreu no instante mesmo da sua concepção, e por isso ela nasceu imaculada. Sendo imaculada em sua concepção, não cometeu pecado pessoal por graça de Deus. Mas o pastor Joel traz a definição de pecado original bem diversa daquela entendida desde os primórdios da era cristã: Sim, a natureza pecaminosa hereditária, conhecida pelo nome de pecado original, é um vírus que nos é comum, mas suas desastrosas conseqüências não nos afetarão na eternidade se, como Maria, recorrermos a Cristo enquanto há tempo. (Pastor Joel). Se o pecado original fosse a natureza pecaminosa hereditária, Cristo não o teria “perdoado”, pois todos, como sabemos, somente somos livres dela (da natureza pecaminosa) quando da hora da morte. E essa natureza Cristo herdou sem o pecado original. Portanto, o pecado original não é a natureza humana, mas está nela, e pode ser apagado dela. As conseqüências do pecado permanecem, como o sofrimento, a concupiscência e etc., mas o pecado não. O pastor Joel lembra o bispo Santo Irineu, que, falando da Virgem Maria, disse: obedecendo, se fez causa de salvação tanto para SI como para todo o gênero humano” (Citado em Compêndio do Vaticano II, 29ª edição, Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 2000, página 106, # 144. Grifo nosso (PR. Joel)). Aqui o pastor “brinca”, ironicamente: Ora, se até os santos católicos tinham a mesma opinião dos evangélicos, então não estamos tão errados como alguns católicos pensam. Podemos até, a qualquer momento, sermos também canonizados pelo Papa, não? De fato, nesse ponto, de que Nossa Senhora foi salva por Cristo, estão de acordo os cristãos católicos e cristãos protestantes. E das palavras de Santo Irineu, o pastor Joel diz: O fato de Irineu dizer que Maria foi “causa de salvação, ... para todo o gênero humano”, não faz dela nossa Co-Salvadora, já que Paulo afirmou que se Timóteo vivesse o que pregava, ele (Timóteo) se salvaria tanto a si mesmo como aos que o ouviam (1Tm. 4:16). As palavras de santo Irineu, que mostram Maria como salvando a si mesma e também a todo o gênero humano, são iguais à de São Paulo em 1 Timóteo 4, 16, onde o bispo é dito como podendo salvar a si mesmo como aos que o ouvissem. Isso é o que chamamos de co-redenção de Maria dando a ela o título de Co-Redentora, o que também, em algum grau, pode ser dito dos cristãos empenhados em salvar almas. Está, portanto, respaldada na Bíblia a doutrina de que Maria é co-redentora, somente nesse sentido dito anteriormente. É óbvio que Nossa Senhora não se torna por isso a “salvadora” do gênero humano, e nem de si mesma, como ninguém pode assim tornar-se. O que esse textos querem dizer é que,_e isso não foi explicado pelo pastor Joel_, nós cooperamos com

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a graça de Deus, deixando que Ele nos salve, e trabalhando para que salve outros (foi dito “deixando”, para indicar o nosso livre arbítrio). É isso que diz 1 Timóteo 4,16 e, por que não lembrar, também é o que afirma S. Irineu. Isso não é usurpação do lugar de Deus, mas efetivação do plano que Ele mesmo deixou para o homem. O pastor Joel diz ainda que concordou (ele e os colaboradores da obra) com Santo Irineu em seu parecer (de santo Irineu) porque estava respaldado na Bíblia, a única fonte a qual devem compromisso, pois do contrário o tachariam de falso profeta, assim como fez a Igreja Católica condenando doutrinas de Orígenes. De fato, os cristãos católicos concordam com isso, pois essa é uma norma cristã, pois o que não está em harmonia com a revelação desse ser descartado, seja qual for a fonte.

6.8. Maria através dos séculos

O pastor Joel admite que os cristãos sempre amaram, elogiaram e imitaram a Virgem Maria, mas acusa os “idólatras” de terem-na como deusa.  A tese de que a federação de igrejas do século II foi corrompendo-se e fazendo sincretismo religioso já foi tratada em 1.1. É certo que o culto do santos mártires data do primeiro século, certamente também o culto dos anjos. O culto à Virgem Maria já deveria ter alguma expressividade nessa época. Os erros que surgiram na época de Constantino não fazem parte do patrimônio católico. Afirmar que o fingimento deu origem ao catoliscismo é uma posição errônea. O certo é que muitos fingidos entrou no catolicismo, como entra em qualquer igreja ou religião, seja ela falsa ou verdadeira, e que esses tais fingidos se serviram da verdadeira religião para fugir das condenações que os imperadores estavam dispensando. Afirmar que a Igreja teria surgido propriamente no século IV em diante é outro erro, como já foi visto nessa crítica. Se há quem diga que por volta do ano 130 d. C. os cristãos prestavam culto à Virgem Maria, é um indício que nos leva a crer que não se tratava de novidade, mas de desenvolvimento da verdadeira veneração mariana. Nessa época muitos cristãos que conviveram com os apóstolos ainda viviam e não perceberiam inovações sem que protestassem. Então, o devido respeito à Virgem Maria e o culto impróprio dos pagãos modernos são realmente distintos.

O primeiro é cristão católico e o último é “católico nominal”, mas como ambos são antigos, o primeiro é mais antigo ainda pois vem do 1º século. O pastor Joel reconhece que o anjo Grabriel foi o primeiro a venerar a Virgem Maria, seguido por santa Isabel. Assim é que os cristãos fizeram sempre. O pastor diz que a mariolatria começou no 3º século ou, mais acentuadamente, do 4º em diante. De qualquer forma cremos estar de acordo com os cristãos do primeiro século que devotaram um culto de veneração condizente com a doutrina cristã.

6.9. A virgindade de Maria e a Arqueologia

 As palavras finais desse tópico podem ser totalmente adotadas pelos católicos, inclusive para o assunto em questão: Depois de tudo isso, consola-nos a verdade maior de que qualquer descoberta científica que corrobore com os ensinos bíblicos, é, para nós que temos uma experiência pessoal com o Senhor, como uma gota d’água no Oceano, embora reconheçamos a sua importância. E de nenhum valor é, qualquer suposta ciência que queira pôr em xeque a veracidade bíblica. Se nós, que tempo

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experiência pessoal com Cristo, temos a virgindade de Maria como fato verdadeiro e, por isso, inquestionável, qualquer suposta ciência que venha negá-lo, não tem valor. Cada descoberta científica verdadeira é importante, mas para o católico essa descoberta do tal ossuário não tem cientificidade comprovada. E de fato não tem, para qualquer investigador imparcial. Já para um protestante, qualquer mera ilusão sobre essa questão particular, que contribui para a negação da virgindade de Maria, é acatada mesmo sem escrúpulos, o que é natural, pois é vista como uma razão a mais para suas crenças. O mesmo pode ser dito dos cristãos católicos. É verdade que a ciência verdadeira não pode contradizer a Bíblia. Esperemos maiores esclarecimentos sobre esse fato.

A história realmente nos ensina que devemos ter uma certa dose de desconfiança de tudo e de todos, como diz o pastor. Todo achado arqueológico verdadeiro estará de acordo com a Bíblia. Desse modo, sob a perspectiva católica, pode-se afirmar que a arqueologia pode também ajudar os protestantes a entender que não há provas arqueológicas contrárias à virgindade de Maria. O caso do ossuário que contém uma inscrição que fala de um Tiago filho de José e irmão de Jesus não concluiu nada contra a doutrina católica. O pastor apresenta questões interessantes: Uma pessoa que tivesse sob sua guarda os restos mortais de Tiago, não poderia guardá-los numa urna antiga? O fato de a inscrição não datar do século I, prova cabalmente que se trata de uma gaiatice? De fato, a inscrição não é verdadeira (do 1º século) e se o achado continua sendo de importância, é igualmente digno de nota que o ponto principal que poderia ser usado contra a virgindade de Maria foi provado ser falso ou altamente questionável, o que ainda está de acordo com a Bíblia que nunca apresenta filhos de Maria. Aliás, nem mesmo a inscrição diz isso. No entanto é verdade que se a inscrição fosse verdadeira poderíamos supor que Maria teria tido outros filhos, mas nem assim poderíamos ter a questão como conclusiva, pois não traria novidade, já que há uma tradição que apresentam os irmãos de Jesus como sendo filhos que José teria tido em casamento anterior. Nada comprovado.

6.10. A respeito dos “milagres” da “virgem”

       Que os anjos e santos tenham a possibilidade de um certo conhecimento do que se passa na terra, é uma verdade que se pode deduzir da Bíblia. Certamente Deus os informa de coisas que estão segundo Seu plano de salvação. Não há um mandamento e nem uma proibição para que façamos ou não orações de pedidos de intercessão aos santos do céu. No entanto, a sã doutrina não apresenta nada contrário a essa prática, mas, pelo contrário, torna-a compreensível e aceitável, tendo por fundamento a comunhão de todos os santos. Realmente sem fé não se obtem a graça pedida (Tg 1,6-7), mas os santos não precisam saber se aquele que está orando tem fé ou não, pois quem atenderá o pedido é Deus, que é onisciente. Os santos não podem nos dar nada, pois, como diz o teólogo D. Estêvão, eles não são fontes de graça. Do mesmo modo nós não temos o dever e nem a possibilidade de saber se os nossos irmãos tem fé ou não quando nos pedem que orem por eles, o que não nos inviabiliza desse dever de interceder por eles. O mesmo pode ser dito dos santos dos céu. Se os pagãos tem o costume de fazer pedidos aos deuses ou aos antepassados, somente prova que tal inclinação é humana, e tem a possibilidade de ser encontrada em qualquer tempo, cultura ou religião. A doutrina bíblica não

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oferece obstáculo a essa prática. Deus ensinou que os santos da terra podem ser intercessores ou “mediadores”, de alguma forma, e desse princípio se deduz que os santos do céu o podem também sem problema algum. Isso não é invenção arbitrária dos papas. Os cristãos primitivos já oravam aos santos, como atesta a arqueologia, por exemplo. O princípio de tudo isso foi revelado então (Amos 3,7; Is 8,20). Dizer que os cristãos primitivos não recorreram aos santos é um tanto inexato. A arqueologia traz comprovações. A Bíblia silencia-se sobre o assunto, portanto, não é certo que desse silêncio se tire a conclusão de que tal atitude é proibida, nociva ou que nunca tenha sido tomada pelos cristãos. O motivo porque não pode ser tirada tal conclusão é devido ao fato de que a prece de intercessão aos santos do céu não derroga em nada a mediação única de Cristo. Não é pelo fato de ser um argumento do silêncio apenas. Sabemos que a Bíblia à vezes não traz explicitamente uma proibição sobre certas coisas, mas, pelo contexto geral da Escritura é correto concluir que tal coisa é ou não verdadeira ou lícita. Isso não acontece com a questão da intercessão dos santos, pois essa não é intrinsecamente má ou errada, mas é sadia é logicamente útil. Por tudo isso, a afirmação de que os cristãos primitivos não recorreram uma única a esse expediente é improvável. É correto que tudo o que está registrado na Bíblia é suficiente para nos dar vida, para a nossa salvação (2 Tm 3,15-16 e Jo 20,30-31). Por isso, a intercessão dos santos não é necessária á salvação. Ir além do que a Bíblia manda significa, antes, ir contra o que ela manda, e a intercessão dos santos do céu não contradiz nada do que foi revelado.

6.11. Afinal, Maria salva ou não salva? 

A pergunta acima tem embutido o objetivo de “demonstrar” que a Igreja estaria “ensinando” que, no final das contas, é Maria quem “salva”. O pastor tenta “cumprir a promessa” de “provar” as incoerentes afirmações eclesiásticas sobre o múnus salvífico de Maria. Segundo ele, a Igreja estaria fazendo 4 afirmações incoerentes simultaneamente: a primeira é a de que Maria não salva, a segunda é que Maria ajuda Cristo a nos salvar, a terceira afirma que Maria salva mais do que Cristo, e a quarta declara que é só Maria salva. Pelo que podemos ver, a primeira é realmente cristã católica, a segunda poderia ser, se houver o entendimento ortodoxo da afirmação, a terceira é herética e a quarta é pior ainda. Compreenderemos melhor na crítica dos próximos itens.

6.11.1. “Maria não salva, pois Jesus é o único Salvador”

      O pastor escreve: A literatura oficial da Igreja Católica diz categoricamente que Cristo é o único Salvador: “Jesus Cristo, único Redentor e Salvador nosso...” (Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Vozes. 29 ed. 2000, p. 101, # 136);. Podemos ver que até aqui, nada há de errado, pois essa é a doutrina cristã católica. 

6.11.2. “Maria salva juntamente com Cristo”

      O pastor relembra o exposto no item 6.1.3 do seu livro, sobre os panfletos que afirmam ser Maria a “salvadora”. Logo após ele cita as palavras de Nossa Senhora em sua aparição aos pastorinhos portugueses, no ano de 1917: O meu Imaculado coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus {grifo acrescentado pelo pastor}. Ao afirmar que

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essas são informações oficiais, o pastor cita o Catecismo, p. 274, que fala do múnus salvífico de Maria e de seus títulos: advogada, auxiliadora, protetora e medianeira. Sendo assim, interpretando essas palavras em conexão com as anteriores [expressas em 6.11.1], Maria seria a “co-salvadora”, o que faria de Cristo um “co-salvador”, logicamente. A salvação seria pelo sacrifício de Cristo e pelos “rogos” de Maria, que ajudaria Cristo a nos salvar. O pastor confessa a sua confusão, um pouco irônica: Aliás, confesso que não sei se é ela que ajuda a Cristo, ou se é Cristo que ajuda a ela. Ou se trataria de dois adjuvantes, um auxiliando o outro? É preciso saber que se a doutrina da Igreja afirma sem rodeios que Cristo é o único salvador, é porque é isso mesmo, sem sofisma, sem sombra de dúvida: só existe um nome pelo qual podemos ser salvos, e esse nome é o de Jesus (Atos 4,12). Quanto ao múnus salvífico de que fala o catecismo, Maria o tem em grau mais elevado que nós, por ser a Mãe do Senhor Jesus Cristo, que é Deus. Portanto, esse múnus é essencialmente o mesmo que cada um de nós, cristãos, temos. Talvez não tenha ficado claro. É o seguinte: nós também, assim como os santos no céu, possuímos esse múnus salvífico, quando rogamos a Deus por alguém, pela conversão das almas e etc. Se formos atendidos, e Deus conceder a conversão àquelas almas por nossa intercessão, estamos de alguma forma auxiliando ou contribuindo para aquele ato de Deus, agindo com o múnus que Deus concedeu às Suas criaturas. Então, quer dizer que salvamos os outros ou ajudamos a Cristo? Depende: se for no sentido de que acrescentamos algo ao sacrifício de Cristo, então a resposta é um infinito e sonoro NÃO! Porque é impossível acrescentar algo ao infinito, e o sacrifício da Cruz é infinito, não necessitando de nada mais. Agora, se for no sentido de que, segundo o plano de Deus, participando da comunhão dos santos, podemos pedir as graças necessárias aos irmãos, então a resposta é sim, pois Jesus nos deu esse encargo, por Sua graça. Assim, fica claro que a Virgem Maria, estando no céu, sendo a Mãe de Cristo, pode alcançar, dentro dessa comunhão dos santos, as graças que Deus ofereceu para que pudéssemos receber, segundo o Seu eterno plano de associar a Seus atos as criaturas. Aliás, é um principio cristão de que a oração do justo tem grande eficácia e ninguém pode negar que a Mãe de Jesus tem elevado grau de justiça e santidade. (Tiago 5, 16). [tradução Bíblia Ave Maria]

6.11.3. “Maria é a principal Salvadora”

      O pastor passa a citar agora as palavras floreadas de Santo Afonso, que se não atentarmos bem e contextualizá-las, podem mesmo nos levar a dificuldades sérias como aquelas apontadas pelo pastor Joel. O texto citado é o seguinte:“Quando nos dirigimos a esta divina Mãe, não só devemos ficar certos de seu patrocínio, mas às vezes seremos até mais depressa atendidos e salvos chamando pelo nome de Maria, do que invocando o santíssimo nome de Jesus, nosso Salvador” (Glórias de Maria, op.cit., p. 118.) [grifo acrescentado pelo pastor]. O pastor Joel conclui, a partir desse texto, que Cristo salva, mas não tão rápido e eficiente quanto Maria, sendo que a salvação seria de Cristo e a rapidez e a eficiência seriam de Maria, e que para os apressados é só recorrer a Maria, enquanto que aos outros, que esperem por Cristo. Isso é um absurdo, uma conclusão perigosa e falsa, embora seja assim que o texto fora de seu contexto global nos levaria a concluir. Certamente não pode ser assim. É Cristo o único e suficiente salvador do mundo, que prontamente, com toda a rapidez e eficiência, nos salva a todos. As palavras de Santo Afonso devem, necessariamente, ser

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entendidas com o olhar para o ser humano, no sentido de que somos tão imperfeitos e pecadores que nossa pequenez nos afasta do santíssimo Salvador, e, nessa circunstância, um pedido de alguém especial e santo, poderá “agilizar” aquilo que nosso estado deplorável estaria impedindo. Assim, a ênfase não é na infinita e perfeita misericórdia de Cristo, sempre disposto a socorrer àquele que se dirige a Ele, mas, repetimos, a ênfase está na fraqueza e pecaminosidade humana, entendida como um empecilho para alcançar a graça. A intercessão é já um plano divino, permitido e aconselhado por Deus. Sendo assim, o salvador único e suficiente e perfeito é somente o Senhor Jesus Cristo. Finalmente, o pastor usa de ironia afirmando que o ofício de Jesus é julgar e punir, ofício que o “Pai lhe Deus” [uma alusão às palavras de Santo Afonso] e, por isso, não sendo sua especialidade a salvação, haveria “demora” nesse ofício! Meras ironias, nascidas de incompreensões justificadas, obviamente, mas que devem ser vistas e entendidas segundo o santo Evangelho. Jesus Cristo é nosso único Salvador e Redentor. 

6.11.4. “Maria é a única Salvadora”

     Agora, para finalizar, o pastor volta a usar as floreadas palavras de Santo Afonso, naquele sentido errôneo que vimos anteriormente e que foi devidamente explicado acima. O pastor relembra que em 6.1.1 ele apresentou um texto do livro Glórias de Maria, interpretado por ele como sendo a prova de que é ensino oficial, registrado nessa obra, que Maria é a “única” “salvadora”. Logo já podemos notar que se fosse assim a incoerência seria gritante: a Bíblia e o Catecismo da Igreja Católica afirmam categoricamente, sem rodeios, sem sofisma, objetivamente que Jesus Cristo é o único e suficiente Salvador e Redentor. Maria não poderia nunca acrescer uma til à obra do Divino Salvador. Vejamos, no entanto, o texto citado: “Consistindo o reino de Deus na justiça e na misericórdia, o Senhor dividiu: o reinado da justiça reservou-o para si, e o reinado da misericórdia o cedeu a Maria”. E: “O Eterno Pai deu ao Filho o ofício de julgar e punir, e à Mãe o ofício de socorrer e aliviar os miseráveis” (pp. 36 e 37. Grifo nosso). E diz mais:“Vós sois a única advogada dos pecadores” (página 105. Grifo acrescentado pelo pastor). O pastor usa de mais ironias aqui, dizendo que se você quer ganhar chibatadas, vá a Jesus Cristo mas se você quer cafuné, então recorra a Maria. Ou melhor (ou pior, diria), o pastor diz os que se dirigem a Jesus são condenados, sendo salvos somente aqueles que vão a Maria, como se isso fosse o pensamento de Santo Afonso. Barbaridade! Isso seria terrível concluir. Cristo é a fonte de toda bondade, de toda misericórdia, de toda justiça, de toda luz, de toda graça, de tudo que podemos pensar que mais perfeito que exista. Como poderia ser seu oficío diminuído a tal ponto de não poder ser misericordioso, mas apenas terrível juiz? Certamente nem Santo Afonso pensava assim, visto que em sua obra citada, ele afirma que Cristo é o misericordioso salvador, mas que se o pecador se achar indigno e temeroso de recorrer a ele, não receie pedir a intercessão de Nossa Senhora. Porém saiba que, a salvação é proveniente unicamente Dele, que pagou o preço do resgate por nós na cruz. Aquelas palavras tão doces e suaves não devem levar a tão drástica conclusão. Infelizmente o povo mal instruído poderia pensar assim, imaginando uma falsa “dureza” no Divino Salvador, no estilo, mais ou menos semelhante, da cena final do Auto da Compadecida. Quem sabe até católicos “instruídos”, que, se concebem assim, continuam “mal instruídos”. Nos temos o mesmo

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Jesus profetizado na Antiga Aliança, nascido de mulher [Gl 4,4], a Virgem Maria, não um “jesus” diferente.

De fato, o pastor afirma que talvez o clero tente de defender, alegando que não é bem assim. É uma previsão lógica, pois as coisas não são assim, como vimos, e a defesa se torna necessária. Que Deus auxilie o clero a produzir uma defesa santa e objetiva com relação a essa questão. Mas já podemos ver que as coisas são diferentes, são conforme o ensino oficial expresso no Catecismo da Igreja Católica. Contudo, o pastor parece ter certa razão quando afirma: Mas, se as palavras ainda dizem alguma coisa, é isso que diz o livro do Bispo Afonso... Podemos ver que se não forem interpretadas à luz da doutrina cristã católica, as palavras de Santo Afonso poderiam ensinar o que não pretendiam (é uma opinião minha), pois se assemelham ao que o pastor Joel entendeu, tornando-se assim uma heresia de perdição. Conclui-se assim que as palavras de Santo Afonso são metáforas que tem por fim ressaltar o papel de Nossa Senhora no plano de Deus, embora sejam exageradíssimas e (gostaria que não fossem) até mesmo blasfemas. E o fato do clero canonizar o autor, elevá-lo a Doutor, aprovando assim a sua obra, além de promover sua distribuição, traduzi-la, editá-la, prefaciá-la com sobejos elogios e recomendar sua leitura? A resposta mais simples seria que essa obra não contém heresia, de fato, ou pelos menos não poderia haver, visto que as interpretações “drásticas” das suas palavras, como fez o pastor Joel, e realmente é difícil não chegar a essas conclusões, somente seriam possíveis se “descontextualizadas” da sã Teologia, parecendo ensinar o que não ensinam, se é que não ensinam mesmo. Mas como parecem ser, muitas e muitas vezes, claras as afirmações destoantes do Evangelho, talvez tenha havido incoerência mesmo, e sendo uma experiência ou revelação particular do autor, não obriga a nós cristãos a professá-la. Essa obra, sem os exageros, se for bem entendida, dentro do depósito da fé, alimenta a nossa devoção para com a Mãe de Deus, o que não deve nunca ultrapassar aquilo que é essencial à veneração. O pastor Joel tem razão na maior parte dessas críticas.

6 7. Maria: mulher hiper abençoada 

      Hiper abençoada mesmo, os católicos devem concordar.  

CONCLUSÃO

      A vida conjugal de José e Maria foi singular. Não há motivo razoável para acreditar que isso não possa ter ocorrido, como quer o protestantismo. Uma concepção virginal sem intervenção humana é uma singularidade maior e supera a razão, e nem por isso iremos rejeitá-la, portanto, outros fatos singulares não são necessariamente impossíveis. Pode-se objetar que concepção virginal é revelada explicitamente. Está certo. Mas a Bíblia não diz que os “irmãos” de Jesus eram filhos de Sua mãe e nem de José, desse modo, a conclusão protestante se baseia em um pressuposto fundamental epistemológico protestante, que é o que faz com que um protestante pense como protestante. O mesmo pode ser dito dos cristãos católicos, mas a diferença é que a doutrina católica é ombreada pela Bíblia, visto que essa

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não a contradiz quando analisada objetivamente, também pela tradição cristã, que não contradiz a Bíblia, do contrário não é tradição cristã. E de maneira geral, não há negação da virgindade pós- parto de Maria senão após o século IV, mais explicitamente (pois Tertuliano já havia escrito algo nesse sentido), e também pela razão, que não apresenta dificuldade nenhuma. Certamente José estava mais preocupado com sua fidelidade ao plano de Deus para sua vida, do que com a sua masculinidade diante do povo, ou seja, daquilo que o povo poderia conceber a seu respeito, caso esse soubesse que sua vida matrimonial era casta. Era mais importante que a verdade da concepção virginal fosse acreditada. É verdadeiro o que disse o professor Orlando: E se o sinal dado pela profecia era que "uma virgem daria à luz", se ela, depois, se tornasse mãe de outros filhos de modo normal, se poria muito mais em dúvida sua virgindade e sua honestidade no caso da geração de Jesus. Esse argumento racional reforça ainda mais a doutrina da virgindade de Maria.

Disponível em: http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=apologetica&artigo=20040827093000&lang=bra_acesso em 26/06/2009.

CAPÍTULO 7

 OS 7 SACRAMENTOS

      O autor exibe a definição de sacramento (do dicionário Aurélio) e informa que são três as questões nas quais divergem católicos e evangélicos: nome, quantidade e finalidade. O nome, segundo ele, é questão periférica e não cardeal, uma posição na qual devem concordar os católicos. É uma infantilidade brigar por causa de meros nomes.

      Os protestantes consideram apenas dois sacramentos (ordenanças): Batismo e Ceia. E creem que os mesmos não podem  preceder a salvação. Logo, esta não é conseqüência daqueles. Qual o apoio para crerem assim? É que existem pessoas que se salvaram antes do batismo e antes de participaram de outros atos de fé, como o Ladrão crucificado ao lado de Jesus. Textos: Lc 7. 7 50; 19.9; At 10. 11-18, Lucas 23,43. O pastor Joel explica: cremos paralelamente que, se por um motivo qualquer, não for possível participar destes ritos, não haverá condenação alguma.

      Os sacramentos são indispensáveis para a salvação, mas, se porventura for impossível participar deles, ou seja, recebê-los, Deus pode salvar sem o sacramento, constituindo isso uma exceção. A doutrina católica ensina isso. Portanto, esse ponto não é motivo para um protestante continuar fora da Igreja Católica. O ponto-chave da discussão é o valor salvífico dos sacramentos, pois os protestantes creem na salvação somente pela fé, e, por isso, excluem esse valor dos sacramentos.

      Quanto a João 6,53, é importante o reconhecimento que dele faz o pastor Joel: É verdade que Cristo disse que comer Sua carne e beber Seu sangue são condições imprescindíveis à salvação (Jo 6.53) (...). Reconhecendo que João 6,53 expõe uma condição imprescindível à salvação já é um bom começo. É necessário, agora, reconhecer que Mateus 6,53 e

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Mateus 26, 26-28 estão tratando da Eucaristia: Cristo, que havia prometido dar seu corpo e sangue como comida e bebida, cumpriu essa promessa no momento oportuno, na Última Ceia. Os protestantes deveriam refletir nesse ponto seriamente, pois, a Eucaristia provoca decisão. Quanto ao fato de considerar que João 6,53 fala do sacrifício de Cristo na cruz e da nossa fé no sangue que por nós Ele derramou, isso é uma interpretação que não se encaixa no contexto, mas que está de acordo com a teologia protestante adotada, a qual fornece essa compreensão (de que a salvação se daria somente pela fé), excluindo o valor salvífico dos sacramentos, nesse caso a Eucaristia, mesmo que Cristo tenha afirmado claramente isso em João 6,53. E, quando a Sagrada Escritura fala de pessoas que se salvaram sem batismo, sem comunhão (eucaristia), e etc., isso não é prova para que neguemos o valor salvífico dos sacramentos. Aqueles casos são exceções, e uma exceção não invalida o uso comum, e nós devemos seguir as ordens de Cristo. E necessário que o protestante conscientize-se de que está errado em não considerar João 6,53 como tratando da Eucaristia, e considerando que o texto claramente afirma a salvação ligada a esse ato, ao certificar-se dessa verdade, deverá procurar o grupo cristão que mantém essas palavras como são ensinadas no Evangelho, a Igreja Católica. É oportuno que analisem melhor a sua posição em considerar que Cristo estaria falando do seu sacrifício na Cruz e da nossa fé no seu sangue derramado, ao invés de falar, como está claro, da Eucaristia.

      Portanto, os sacramentos conferem a graça. O autor chama a Igreja de intolerante, por anatematizar até quem diverge por questão de quantidade (dos sacramentos). Mas isto, em matéria de fé, constitui um reconhecimento e um elogio dos protestantes à Igreja Católica. Quem nega um sacramento instituído por Cristo, ou acrescenta um, está errado, isso não é questão banal, já que é vinculada à obediência a Cristo.

 BATISMO: O Catecismo da Igreja Católica diz: “... A Igreja não conhece outro meio senão o batismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna...” (página 350 # 1.257). Este é o motivo pelo qual o clero católico duvida da salvação até do recém-nascido que morreu sem o batismo. Ora, a Igreja Católica nos aconselha a fazermos exéquias pelas almas das criancinhas que estão no Limbo, como já vimos, mas o fato dela dizer paralelamente que não conhece outro meio senão o batismo, que garanta a entrada no Paraíso, prova que ela não garante que as exéquias produzirão o efeito desejado. De fato, a Igreja não se pronuncia abertamente sobre a salvação das criancinhas mortas sem o batismo visto que a Bíblia não trata da questão diretamente. É necessário que outros princípios sejam considerados para o correto desenvolvimento do tema. O texto de 1 Tm 2,4 é o principal, visto que Deus deseja que todos sejam salvos. É interessante que o Catecismo não cita o Limbo, que é uma hipótese teológica aceitável, mas nunca definida ex-catedra, mas também não se pronuncia com a certeza de que os bebês mortos sem o batismo estejam no céu. Um dos motivos é que as palavras de João 3, 5 não devem ser negligenciadas, assim como as conseqüências nefastas do pecado original. Afirmar que Cristo as cobre com seu sangue é um recurso protestante muito simples, mas que acarreta contradições, visto implicar que todos nascemos “salvos”. O pastor afirma: Vários católicos já nos disseram que o fato de Jesus haver dito que “quem crer e for batizado será salvo” prova que o batismo é necessário para a salvação até dos recém-nascidos. Mas os temos ajudado a entender que se assim fosse, a perdição dos nenéns seria inevitável, pois que

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dependeriam de duas coisas para serem salvos: fé e batismo. Batizá-los é fácil, mas fazê-los crer foge da nossa alçada. Os recém nascidos são batizados na fé da Igreja, pois não possuem impedimento para que possam ir até Jesus (Mateus 19,14).

A CONFIRMAÇÃO OU CRISMA: É uma invencionice inteligente, diz o pastor. Inteligente porque torna a pessoa mais ligada à Igreja. Mas esse sacramento é deixado por Cristo, senão os apóstolos não o teriam praticado. Portanto, não é invencionice.

 EUCARISTIA: O valor salvífico da Eucaristia é bíblico, contrariamente ao que o pastor Joel afirmou.

 CONFISSÃO: Os clérigos receberam o poder de perdoar pecados e para exercê-lo devem logicamente conhecer os pecados através da confissão. Isso não diminui a mediação de Cristo (1 Tm 2.5).

A explicação do pastor sobre a confissão é a seguinte: Confessarmos uns aos outros, é bíblico (Tg 5.16); mas ao padre, não. Confessarmos mutuamente significa que quando pecarmos contra o nosso irmão, teremos que dizer-lhe que reconhecemos que erramos e suplicar-lhe o perdão. Mas essa explicação não convence porque em Tiago 5,16 supõe que a confissão seja dos cristãos aos seus superiores na hierarquia eclesiástica. Quando alguém peca contra outro, o dever do ofendido é perdoar aquele que pediu seu perdão. Enquanto que na confissão é previsto que os pecados não perdoados fiquem retidos. As ajudas dos pastores protestantes (em forma de orientação, jejum, oração...) podem ser eficazes em muitos casos, mas parece que não se comparam aos benefícios que Deus oferece através da Confissão auricular. Um fato interessante é que, segundo Gilberto Freyre, no Brasil colônia o número de problemas mentais nas mulheres era muito menor quando comparado com casos na América do Norte, onde, por falta da confissão ao sacerdote, muitas mulheres, que viviam numa sociedade repressora, como também era o caso do Brasil, enlouqueciam, pois não tinham como livrar-se das suas angústias e outros problemas psíquicos na confissão. Obviamente o objetivo era o perdão dos pecados, mas é evidente que seus frutos agem em todo o ser. Esse exemplo é só para citar o ponto de vista meramente humano dos benefícios desse sacramento [Obra: Sobrados e Mucambos].

MATRIMÔNIO: O pastor pergunta: Que tem a ver casamento com salvação? Se o matrimônio é sacramento, e esse é um sinal sensível da graça, o matrimônio confere uma graça especial para os fins específicos do matrimônio.

 A ORDEM: A ordem é para anunciar, mas também, para distribuir, de certa forma, a redenção de Cristo. É o que parece ser dito em vários textos bíblicos. Como um sacramento, que é canal de graça, é licito dizer algo semelhante como foi dito acima sobre o matrimônio. O Catecismo explica que o sacramento da ordem e do matrimônio tem como fim a salvação dos outros, donde pode-se afirmar que esses sacramentos servem para a salvação pessoal indiretamente. O pastor Joel talvez não tenha lido todo o catecismo, pois isso é explicado (CIC, 534).

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A EXTREMA-UNÇÃO: Esse é um sacramento e, como tal, confere graça também. É meio de salvação dado por Cristo, portanto, não pode contradizer nenhum texto bíblico. Se o sacramento confere a graça é porque Cristo mesmo está agindo por meio desse sinal sensível, e não o mero sinal que em si tem o poder fora de Cristo (Tg 5.14,15 Ef 2.8 At 4.12). Sacramentos não são criações dos teólogos, como disse o pastor. E sobre a “possível” criação de vários outros “sacramentos” como sacramento da oração, sacramento do louvor, sacramento do cântico, sacramento da caridade, sacramento da leitura da Bíblia, sacramento das coletas para os santos, sacramento do jejum, sacramento do ensino, sacramento da pregação do Evangelho, sacramento da fé, etc., não é possível que aconteça. Que tradição poderia apresentar para tal invenção?

CAPÍTULO 8

 SOBRE A EUCARISTIA

 8.1. A postura evangélica

 O Pastor Joel explica que a postura evangélica quanto à Eucaristia é que essa é um memorial, uma comemoração espiritual, na qual o corpo e sangue são simbolizados pelo pão e o vinho, e que as palavras isto é o meu corpo... sangue não devem ser entendidas ao pé da letra.   Assim explica: É comum, entre nós, repetirmos as palavras de Jesus: “Isto é o meu corpo” e “Isto é o meu sangue”, mas explicamos que estas frases não podem ser entendidas ao pé da letra. E mais: somente os salvos participam da Ceia, pois esta não tem valor salvífico, não salva, mas é praticada por quem já é salvo. Vejamos suas palavras: o "salvo" que recusar a tomar parte deste ato de fé, estará, com este gesto, deixando claro que ainda não é salvo. É que o salvo não necessita fazer isso para se salvar, visto que já é salvo; mas precisa fazer isso por ser salvo, já que a Santa Ceia existe para os salvos . Cremos, contrariamente a isso, que Eucaristia é alimento espiritual, o próprio Pão do Céu, que é Cristo, que confere a graça para fortalecer a vida cristã. De qualquer forma, na prática concordam os cristãos católicos e protestantes, já que a Eucaristia é, via de regra, necessária ao salvo, ou seja, àquele que está na graça de Deus, e se alguém se esquiva de participar do corpo e do sangue de Cristo, não entrará no céu. O protestante dirá que ele não participa da ceia por não ser salvo, como foi explicado pelo pastor. Porém, a doutrina protestante é incoerente, pois mesmo concordando na necessidade da ceia para o salvo (a menos que ele não tenha tempo ou condições para dela participar, como no caso do ladrão crucificado), nega-se que seja um sacramento, o qual confere a graça de Deus. É como se fosse algo de tamanha necessidade, mas que não traria nada a mais ao cristão.

8.2.  Com a palavra o clero católico

      Nesse tópico o pastor Joel deixa claro que não se filia à interpretação católica. Os católicos tratam desse assunto ao pé da letra. Como, segundo o autor, os católicos defendem essa doutrina? Utilizando a Bíblia (entre aspas) e apelando para o conto do vigário, segundo o pastor Joel. É bom saber, e responder ao pastor Joel que é na Bíblia que está toda a doutrina da

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Eucaristia e só nela está fundamentada. Qualquer milagre acontecido ou que venha a acontecer somente serve para comprovação.

 8.2.1. Recorrem à “Bíblia”.

      Sabendo que os padres creem literalmente nas palavras espirituais que estão na Bíblia, o pastor cita uma passagem da Summa Theologia de São Tomás de Aquino, citada por um ex-padre, Aníbal Pereira Reis, que diz: Por virtude deste sacramento, contém-se sob as espécies [...] o Corpo de Cristo, com Seus ossos, nervos etc.”. Comentando sobre o significado desse “etc.” o pastor afirma que Santo Tomás se referia a todos os demais componentes do corpo humano, e o pastor se põe a citar vários, talvez com a intenção de fazer o leitor acreditar que a fé cristã na Eucaristia seria “ridícula”. Conclui que a Missa é um ato obsceno, imoral, ilegal, anti-higiênico e que a essa doutrina católica é uma crendice. Ele diz: os padres precisam saber que estas palavras de Jesus não podem ser interpretadas literalmente. E explica, então, as palavras da Ceia do Senhor: Jesus disse, por exemplo, que os Seus discípulos eram o sal da Terra (Mateus 5.1,3). Eram eles sal de fato? Cristo disse também: “Eu  sou o caminho, eu sou a porta, eu sou a videira, eu sou o pão...”. Será que não é mais teológico encararmos estas palavras como metáforas? Logicamente que sim, e o mesmo devemos fazer em relação aos elementos da Ceia do Senhor.

      Por isso é que cita, com razão, afirmações que falam da adoração da Hóstia pelos cristãos católicos, pois se a Hóstia É Jesus Cristo, devemos culto de Adoração a Ele. Desse modo, até mesmo o autor reconhece que a Missa é das duas uma: ou um verdadeiro culto de adoração a Deus, do qual quem não participa está perdido, por estar negando adoração a Jesus; ou é um ato de idolatria. Bem, provado que a Missa é o mesmo culto cristão apostólico, os protestantes tem de se posicionar quanto a isso, aceitando a Eucaristia ou negando-a, participando da Missa (o único sacrifício de Cristo tornado presente no altar) ou recusando de participar dela conscientemente. É necessário: Oração, estudo da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição cristã. Com relação à celebração da festa de Corpus Christi, se o pastor Joel crê que o pão, (a “bolacha”) não é Cristo, então, para ele, há uma “bolacholatria”. Pode-se dizer que, se ela é Cristo (como de fato é), há realmente o culto de latria ao Senhor Jesus. E desse modo os cristãos católicos estão oferecendo o culto de adoração requerido por Deus. O pastor ainda comenta o seguinte: Só de passagem queremos fazer constar que esse feriado é uma falta de respeito aos evangélicos, bem como aos adeptos de outras confissões religiosas que não crêem nisso. Por que temos que cessar nossas atividades, deixar de faturar, por causa de uma crença alheia? Pensem nisso nossos políticos! Se a festividade está de acordo com o Evangelho e é uma forma de pregar publicamente essa fé evangélica na Eucaristia, então, como o direito é da verdade, que essas comemorações ajudem aos outros, que não creem (a maioria dos protestantes e os adeptos de outras religiões), a se converterem. Depois, o pastor prossegue: Pesquise, pois, a Bíblia com humildade e oração; e só adore à hóstia, se a Bíblia lhe convencer a fazê-lo. Para isso, basta crer na Bíblia, a qual ensina em João 6, que o Pão eucarístico é o Corpo de Cristo e pronto: devemos adorar a Cristo sempre, também quando se mostra a nós sob a espécie de Pão.

8.2.2. Apelam para o conto do vigário

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      Nesse tópico, ao citar o relato do Padre Prada sobre um acontecimento de uma mula que ajoelhou-se diante da Hóstia, o que teria causado a conversão de muitos hereges, o autor não contraargumenta: Contra-argumentar para quê? Tendo a mula feito ou não o que nos historia o Padre Prada, convém que não façamos o mesmo. Adoremos somente o Cristo vivo. Mas, responde-se a isso que a Hóstia é Cristo vivo e glorificado, não morto. O pastor faz alusão ao milagre em que a hóstia tornou-se carne, o que foi informado por católicos. Ele não se põe a refutar, dizendo: Novamente, não vou refutar. Contra-argumentar para quê? Basta, aos meus leitores, o uso do bom senso, não é mesmo?  Até porque tendo ou não a mula adorado a hóstia, é prudente não fazermos o mesmo. Bem, que os protestantes, com exceção, dos Luteranos, não creem literalmente nas palavras da Ceia do Senhor, é um fato. É uma negação das palavras de Cristo. Cristo está vivo na Hóstia, por isso logicamente é preciso adorá-lo. 

8.3. Questionando as missas

      Nesse tópico, o pastor questiona que a Missa comemora a Ceia do Senhor e não o Sacrifício de Cristo, segundo a definição do dicionário Aurélio. Que a Missa é oferecida pelas almas, e que os católicos só comem o Pão. Chega a dizer que “hóstia” era uma forma pagã de sacrificar aos deuses, e que depois o termo passou a significar holocausto. Não há provas históricas para essa analogia com o paganismo, como uma pesquisa objetiva pode demonstrar.

  8.4.  Uma flagrante contradição

Nesse tópico afirma que Cristo é sacrificado em cada missa, enquanto o sacrifício de Cristo foi uma única vez, e cita Hebreus 9, 28; 10, 2.14.18. No v. 18 ele questiona sobre a oferta, sacrifício (Missa?).

Comentando o número 1367 do Catecismo, o qual explica que o sacríficio da Missa é incruento (em derramamento de Sangue), e citando o dicionário Aurélio, o qual traz definições de que a eucaristia contem o corpo e o sangue de Cristo, o pastor tenta fazer com que a eucaristia caia por terra. Se a hóstia é Cristo completo, então não seria o sacrifício incruento! O pastor termina citando Hebreus 9,22, onde se diz que sem derramamento de sangue não há remissão. E, de fato, não há mesmo.

É fácil perceber a confusão: Cristo não é sacrificado novamente na Missa, quando a hóstia é comida, mas o seu sacrifício (cruento) torna-se presente. Então, na Missa não há outro derramamento de sangue. Sendo que o sacrifício de Cristo foi cruento, uma vez por todas, e torna-se presente na Missa (sem ser necessário derramar o sangue de novo: incruento), então a Missa é o mesmo sacrifício de Cristo, que foi cruento lá no Gólgota e, portanto, remite os pecados. As espécies do pão e do vinho simbolizam a separação do corpo e do sangue de Cristo na cruz. A celebração é simbólica e real, ao mesmo tempo, o símbolo está na apresentação das espécies separadas, e a realidade do sacrifício está presente com todos os seus frutos, que são eternos e irrepetíveis.

O pastor Joel lembra as palavras do Padre Vicente Wrosz que chamou os pastores de “curiosos”, por não serem ordenados pelo Papa para celebrar o sacrifício de Cristo, e que teria insinuado à “base” (sic) de João 6,53 que os

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protestantes estariam mortos espiritualmente, a ainda sentisse dó deles dizendo: “que pena...” (sic).

Mas o pastor Joel certamente também sente pena dos católicos por vários motivos. Parece que estão quites ele e o padre Wrosz nesse ponto. Enfim, para entender a Eucaristia basta aceitar as palavras de Cristo da forma em que foram pronunciadas. E o que parecia “contradição” é resolvido. E como bem diz a liturgia: Eis o mistério da fé.

8.5. Divergências entre os clérigos sobre a transubstanciação

O autor cita a obra do teólogo protestante Karl Weiss, na qual está dito que os clérigos católicos divergiram quanto à transubstanciação, incluindo papas e Santo Agostinho. Mas está provado que Santo Agostinho ensina a presença real ao mesmo tempo em que ressaltava o simbolismo da Eucaristia, segundo Dave Armstrong. Então o protestantismo conserva parcialmente o que ensinou Santo Agostinho. Mesmo que um papa ou algum teólogo afirme algo contrário à fé, devemos continuar pregando a fé contra a opinião privada deles.

8.6. Outros absurdos 

Segundo o pastor, afirmar que a hóstia é Cristo seria uma falsa premissa. Mas como o Evangelho deixa claro que Cristo afirmou que o Pão é o Seu corpo, a premissa é verdadeira.

 8.6.1. Só comem o pão

Como os protestantes celebram a Ceia comendo o pão e bebendo o vinho, mas não creem que estejam comento e bebendo a carne e o sangue do Senhor, os católicos na maioria das vezes só comem o corpo de Cristo, no qual está espiritualmente o Cristo todo. O pastor acusa a Igreja de muitas incoerências, e uma delas é que só o padre tem direito de comungar ambas as espécies. Basta lembrar que é mais grave negar a realidade da Eucaristia do que comungar apenas uma espécie crendo que se está comungando o Corpo do Senhor. Pensem nisso.

 8.5.2. Intolerância

      "Se alguém negar que aquilo que se oferece na missa não é Cristo para ser comido, seja excomungado" (Concílio de Trento, citado em A Igreja que veio de Roma, op. cit., p. 127). Após essa citação, o pastor ironiza sobre o ecumenismo e questiona se talvez Santo Agostinho e os Papas Gelásio I e Gelásio II estivessem vivos hoje, seriam excomungados. Conclui que Santo Agostinho talvez seria, mas os papas não porque são infalíveis! Mais ironias. Basta lembrar que o papa João XXIII na Idade Média foi julgado e condenado por um Concílio.

8.5.3. Eca! Que nojeira!

      Termina com citações e imaginações que levam a qualquer uma a sentir nojo! Nada muito instrutivo aqui.

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CAPÍTULO 9 O CELIBATO ECLESIÁSTICO 9.1. A Bíblia é contra?       O celibato sacerdotal é lei eclesiástica não uma lei divina e a Igreja afirma isso claramente e sem rodeios. Porém, o celibato está em conformidade com o Evangelho e, nesse caso, resiste a uma análise bíblica. O pastor Joel cita 1 Tm 3,1-7: “Fiel é esta palavra: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra deseja. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, MARIDO de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, tendo seus FILHOS em sujeição, com todo o respeito (pois se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da Igreja de Deus?); não neófito, para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do Diabo. Também é necessário que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em opróbrio, e no laço do Diabo” [ênfase acrescentada pelo autor do livro original].     O pastor afirma que muitos padres apelam para textos fora do contexto em defesa do celibato, e explica que em 1 Corintios 7, São Paulo aconselha a todos os cristãos o celibato, não somente ao clero. De fato, existem aqueles com o dom do celibato, enquanto a maioria opta pelo matrimônio. A Igreja, com sua liberdade legisladora, optou por admitir ao sacerdócio aqueles que tem esse dom. Aos demais, o matrimônio é o recomendado. Por isso, foi dito no início que nesse caso esse assunto resiste a uma análise bíblica, como resistiu aqui. Não há engano algum: 1 Cor 7 fala do dom do celibato e até o aconselha. Aconselha também o matrimônio para aqueles que não possuem tal dom. Em 1 Tm 3, 1-7 estão os conselhos para admissão ao episcopado. Naquela época a Igreja não havia adotado a lei do celibato clerical, portanto, o texto não tem nada contrário a essa posição eclesiástica. O dom do celibato é tão real que mesmo protestantes tem optado por ele, como afirmou o autor: Muitos evangélicos optaram pelo celibato... Cita até o caso de um ex-padre que continua celibatário, para melhor servir a Deus.Portanto, essa lei da Igreja tem respaldo bíblico e não está apoiada em verso isolado do contexto. Pergunta-se então: Os seminaristas optam pelo celibato de livre espontânea vontade ou de livre espontânea pressão? Na ótica do pastor Joel, a segunda alternativa seria a correta! Mas, a Igreja está apenas admitindo os candidatos que sentem ter esse dom! São eles que procuram o ministério sacerdotal, conscientes do que terão de cumprir, não é a Igreja que o impõe a um leigo qualquer. É nisso que consiste a liberdade. Não há colisão com 1 Tm 3, 1-7, pois nessa passagem, realmente, o apóstolo aceita o vocacionado para o ministério mesmo que não seja celibatário. São Paulo e o Bispo Timóteo eram celibatários, e o texto não está ordenando e nem aconselhando a Timóteo a ser casar, mas fornecendo recomendações para a escolha dos ministros. Uma delas é que, se o candidato é casado, que seja com “uma só mulher”. Trata-se de uma recomendação, não uma ordem para que os bispos e padres se casem, pois, se assim o fosse, que lugar seria concedido àqueles que possuem o dom do celibato? Os que possuem esse dom estariam eliminados desse ofício, e isso se choca com 1 Coríntios capítulo 7. O autor questiona: E por que o clero

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católico não age hoje como o apóstolo Paulo agia? Naquela ocasião a Igreja aceitava o casamento dos presbíteros, hoje não aceita, amanhã quem sabe? Trata-se de uma lei eclesiástica. Em alguns casos, pastores casados são admitidos nos sacerdócio. O pastor chamou isso de politicagem. Como estava dizendo, é como explica o Pe. Vicente Wrosz, a respeito de 1 Tm 3,2, que S. Paulo naquela época, recomendava que se escolhessem homens casados, virtuosos, e que a ênfase do texto cai sobre as palavras “com uma só mulher”: Daí na sua carta (I Tim 3,2) ele não coloca acento nas palavras: “que seja casado”..., mas nas palavras: ... ”como uma só mulher”... – e não com duas ou três, mesmo que sucessivamente – o que seria sinal de moleza e muita paixão, deixando pouco zelo e dedicação para Deus e as almas. [grifo no original]. E, como foi dito, a Igreja Católica reconhece que a exigência do celibato dos padres não é de lei divina, mas de lei eclesial, que em circunstâncias especiais poderia ser abolida, mas opta pela maior perfeição, já que por este motivo os Apóstolos de Jesus deixaram a convivência matrimonial e familiar, para se dedicar inteiramente à propagação do Reino de Deus, - como consta de Lc 18, 28-30. [WROSZ, p. 20].Portanto, concluímos, com certeza, que a lei eclesial do celibato está em conformidade com a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.[Pe. Vicente Wrosz. Respostas da Bíblia às Acusações dos “Crentes” Contra a Igreja Católica, Livraria Editora Pe. Reus, 22ª Edição, abril/2000] 

9.2. Padre feiticeiro, sim; casado, não.       O pastor cita casos em que há padres envolvidos com o Candomblé, com o Budismo, o Kardecismo, a Umbanda e outras religiões não cristãs, tentando provar até através de livros, que elas são tão válidas quanto o Cristianismo. Ninguém nega que isso exista, ainda mais nesses tempos maus e de apostasia. Não parece muito oportuno comparar as heterodoxias dos padres com a imposição do celibato, como se a Igreja acolhesse qualquer tipo de desvio, menos o do casamento de um sacerdote, que em si não constituiria pecado algum. Isso não corresponde à verdade. Todas as heresias são rechaçadas, e sempre que necessário a Igreja toma uma atitude corretiva. Porém, que existem e estão sendo disseminadas, ninguém duvida. O mesmo se diga dos desvios de membros da Igreja em contato com as práticas espíritas, o que constituiria uma espécie de “espiritólicos”. Não é de se crer que sejam católicos praticantes. A respeito do fato da aparição de uma alma pedindo missas para que fosse liberta do purgatório, citado no livro Glórias de Maria, isso não constitui espiritismo, visto que não houve (e é proibido que haja) evocação da dita alma. Acusar Santo Afonso de espiritismo, de não ser sucessor dos apóstolos, nem ministro do Evangelho, por ter feito tais relatos incorre, no mínimo, que o autor esteja equivocado quanto à natureza do espiritismo e da mediunidade.Quanto ao empreendimento de uma cruzada de conscientização e esclarecimento ao provo sobre o pecado de feitiçaria, isso é muito oportuno em todas as épocas, e em nossos dias, especialmente no Brasil, é algo de muita importância. De fato, o espiritismo é muitíssimo mais pernicioso para um cristão. O protestantismo contem maiores pontos de contato com o catolicismo. Atualmente, o papa Bento XVI condenou as práticas de bruxaria na África, e suas palavras podem ser adaptadas aos casos de cultos afro-brasileiros no Brasil.

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Quanto ao tipo de “respeito” que faz vista grossa aos erros doutrinários, se trata de um respeito humano incompatível com a Palavra de Deus. À acusação de que todo bom católico é, necessariamente, um bom espírita, repito o que disse anteriormente, que é um equívoco considerar as práticas de orações cristãs católicas e as práticas espíritas como equivalentes. Chamar isso de mediunidade, e ainda afirmar que isso é promovido pela Igreja através dos séculos é uma deturpação dos fatos.   9.3. As pirraças do Papa       Muito demorada, segundo os exemplos citados, a burocracia do Vaticano relativa aos pedidos de dispensa dos padres. 9.4. A idade do celibato na “Igreja”       Com já foi visto anteriormente, com o passar do tempo a Igreja adotou a lei do celibato clerical. São Paulo era celibatário e dessa forma vários ministros foram seguindo esse exemplo cristão. A lei se tornou obrigatória mais tarde, mas suas raízes são reconhecidamente evangélicas. O pastor Joel, ao citar D. Estevão como uma testemunha de que a Igreja reconhece que o celibato foi imposto posteriormente, parece estar surpreso por esse reconhecimento. No entanto, esse e outros mal entendidos são claramente explicados pela Igreja aos interessados. Palavras do Pr. Joel: Até o Padre D. Estêvão Bittencourt, ardoroso defensor do celibato clerical, demonstrou reconhecer que na Igreja Primitiva os Ministros do Evangelho eram casados. Disse ele: “...A partir do século IV Concílios regionais foram impondo essa prática como obrigatória aos candidatos ao sacerdócio no Ocidente...” (Pergunte e Responderemos, Ano XLIV, nº 489, março/2003, página 32 [ou página inferior 128] citação do pastor Joel). Termina dizendo que na igreja primitiva não havia monges e freiras, porém, esquecendo-se que a inspiração dessa prática já estava lá. O problema é saber desenvolver o entendimento, conquanto que não haja mudança essencial do decorrer do mesmo. E como no século 1º o dom do celibato já havia sido revelado, a existência de monges e freiras no decorrer da história indica o desenvolvimento da compreensão do mesmo dom. 9.5. Há padres que também pensam assim Para o pastor Joel, os padres que ainda “pensam” (teologicamente), conseguem enxergar o absurdo da imposição do celibato. E cita a revista Time, de 23/02/1970, com milhares de pedidos de dispensa dos padres.Certamente, todos os padres pensam, principalmente em termos teológicos, ao contrário do que afirma o pastor Joel e outros, e estão de acordo com a lei do celibato. Um exemplo foi o citado Pe. Vicente Wrosz. 9.6. Que pena!       O pastor afirma ter pena dos padres, dos quais foi roubado direito de constituir família e ter filhos e etc.  Chega a aludir que há padres que se dão por realizados, por estarem se relacionando sexualmente com freiras e outras mulheres, inclusive casadas. É óbvio que os padres que assim o fazem estão em pecado mortal. Porém, essa é uma questão moral. E a pena que o pastor sente não é razoável, visto termos provado, e o pastor sabe

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disso, que o celibato é uma opção vivida por muitos e é dom dado por Deus segundo a Bíblia. Será que Deus rejeita para o sacerdócio aqueles a quem Ele mesmo concedeu o dom de serem eunucos por amor ao Reino dos Céus? É evidentemente sem fundamento “ter pena dos padres” por esse motivo, pois parece mais razoável ter pena dos que tem esse tipo de pena! 9.7. Incoerência        Nesse tópico o Pr. Joel fala de casos em que pastores protestantes convertidos ao Catolicismo são admitidos como padres. Por que não estendem também aos leigos católicos, ilibados e conhecedores da doutrina da Igreja, e permitem aos pastores convertidos? E chega a fazer uma pergunta que poderia dar até um samba, segundo o autor: O que os ex-pastores têm, que os outros católicos não têm?  Aos pastores que conheceram a verdade completa e se tornaram católicos, esses são comparados a Judas Iscariotes, os quais estariam dando um testemunho, considerado pelo autor como sendo um “tristemunho”. Isso, a Igreja estaria usando para impressionar os “incautos, ou fazendo politicagem. É certo que essa lei é eclesiástica e, não sendo contaria à lei de Deus, pode ser administrada pela Igreja. É lógico que os padres que desejam casar-se não tinham verdadeiramente o dom do celibato.

CAPÍTULO 10

RASTRO DO CLERO ATRAVÉS DOS SÉCULOS

       Neste capítulo o pastor Joel registra as palavras do Papa Marcelo II, que teria afirmado: “Dificilmente um papa escaparia do inferno” (Vita Del Marcelo, página 132), no que teria o papa, em sua [do pastor] opinião, razões sobejas para se expressar assim. O autor põe-se então, a registrar com pesar a dissoluta vida do clero católico, admitindo não ter prazer em fazer essas acusações, pois só Deus pode julgar e condenar, reconhecendo que todos os seres humanos estão sujeitos às mesmas paixões, mas revela esses fatos porque lhe parece que os católicos não sabem disso, o que se reflete no tratamento que dão ao clero, seguindo-o cegamente, como se eles fossem deuses. Os católicos se mostrariam muito exigentes nos diálogos com os protestantes, mas não igualmente exigentes para com a liderança do Catolicismo. Aceitariam as heresias dos papas, mas não os sólidos argumentos dos evangélicos. Isso se daria porque os católicos são iludidos pelos papas, que negam que os pastores protestantes tenham o encargo de interpretar a Palavra de Deus, treinando os católicos para rejeitar nossos sermões, por mais que provem que sejam autênticos, e, ao mesmo tempo, aceitando as maiores aberrações dos papas e bispos. Ensinam que as interpretações dos papas seriam infalíveis e a dos pastores questionáveis. O motivo de toda essa reflexão é o seguinte: Não queremos que os católicos nos idolatrem como o fazem aos papas. O que desejamos é que saibam que seus líderes espirituais são seres humanos, e não deuses. Acha até incrível que um católico acredite que o papa seja infalível.

      O pastor Joel se põe a apresentar mais de dez parágrafos nos quais são registrados os pecados de vários papas durante a história. No final, afirma que o século XXI não tem se revelado melhor. Será que os católicos confiam aos papas o futuro de suas próprias almas [como afirma o pastor Joel], ao

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contrário dos evangélicos que pensam com suas próprias cabeças? Um exemplo que serviria para provar que seria verdadeira a primeira parte dessa interrogação, foi assim expresso: Por exemplo, quando um Pastor protestante cai em pecado, em nada abala a fé dos leigos, visto que estes aprendem desde cedo que os pastores não são infalíveis e donos da verdade.

Enfim, todas essas afirmações tiveram como objetivo provar que os papas são iguais a qualquer homem, falível e pecador e que não fazem parte de uma outra espécie como muitos ingenuamente acreditam. Os papas estariam se considerando acima de todos os seres humanos, quer protestantes, quer católicos e etc., por afirmarem ter o encargo de interpretar a Palavra de Deus. Como os católicos podem se defender de tudo isso? Geralmente mostram o seguinte, nas palavras do pastor Joel: Às vezes os clérigos católicos se defendem dizendo que os papas não são infalíveis quanto ao pecado; antes, a infalibilidade deles se limita à pronunciação ex-cátedra. E passa a afirmar que foi ex-cátedra que ordenaram a execução de milhares de pessoas. Questiona a seguir: Como saber se foi ou não ex-cátedra, se não podemos divergir do Papa, e que quando isso acontece os errados somos nós? [para isso cita as palavras do Pe. Álvaro: "Quando nossos pontos de vista não coincidirem será por deficiência nossa!"; cita também o Catecismo que afirma ser do Papa o encargo de interpretar corretamente a Bíblia]. Isso mostraria que a proibição do livre exame é contrária à Bíblia e à razão. Se para sabermos que um ensinamento foi proclamado ex-cétedra, basta pesquisarmos se esse já é dogma (e se, segundo o seu parecer, toda doutrina de uma religião é dogma), esse argumento seria mais um conto do vigário, um dito pelo não dito, ou o famoso 171!!!!.

Bem, depois de tanta acusação é imprescindível que tenhamos uma noção mais clara ainda do que seja o dogma da infalibilidade papal. Me sirvo aqui das palavras do prof. Orlando Fedeli: (o senhor) ... não distingue entre a pessoa que é Papa e o papa enquanto sucessor de Pedro e Vigário de Cristo na terra. E agora, entendamos as condições em que se exercem a infalibilidade: Quando Cristo deu o poder das chaves ao Apóstolo São Pedro, fazendo dele o chefe da Igreja, a pedra sobre a qual ia fundar a sua única Igreja, prometeu-lhe que as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela, e que tudo o que Pedro ligasse na terra, seria ligado no céu, e o que ele desligasse na terra, seria desligado no céu. Isto é, que Pedro, sempre que falasse, sobre fé e moral , para toda a Igreja, como o poder que Cristo lhe concedera , seria infalível. Essa promessa dava a Pedro o dom da infalibilidade, nas condições expostas acima. (...) Pedro era infalível, mas Simão continuava pecável. (...) Nos Papas é preciso distinguir, então, o homem e o Papa. O homem pode ser até criminoso -- como Alexandre VI -- mas o Papa continua infalível, porque o dom de Cristo é incontaminável. [Orlando Fedeli] [Disponível em: http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=papa&artigo=20040818102436&lang=bra. Acesso em: Março/2009] O cargo de papa tem o dom da infalibilidade, isso não depende do homem, mas de Deus. O professor Alessandro Lima também nós dá uma explicação sobre a infalibilidade do papa, a qual não é sinônimo de Impecabilidade Papal. Dizer que o Papa não erra quando ensina sobre Fé e Moral a toda Igreja, não é dizer que ele não peca. O papa não é um anjo, muito menos um deus, não é um ser diferente do humano, não é superior aos outros seres humanos, nada disso. Mas, por ser Papa, ocupa

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uma posição instituída por Deus, a qual merece nossa devida veneração e obediência. Os maus papas nunca introduziram uma doutrina contrária à Fé cristã católica, e isso é uma comprovação histórica do que está sendo tratado aqui. As doutrinas cristãs católicas só são “heresias” aos olhos dos protestantes, assim também pode ser dito em referência a seus (dos protestantes) argumentos “sólidos”. O primeiro argumento fundamental que poderíamos elencar para falar do dom da infalibilidade é o da vontade de Deus de que todos os seres humanos se salvem. Para se salvarem devem conhecer a verdade, e para conhecer essa verdade é necessário que alguém ensine, e como todos os homens sem exceção [nem o papa foge a essa regra], sem exceção são falhos, Deus mesmo institui um Magistério, composto de homens, mas que através do qual, Ele mesmo ensina infalivelmente, por um dom conferido, sua verdade através de homens que são, em si mesmos, falíveis. Assim explica o professor A. Lima: Deus quer que todos conheçam a Verdade, que é anunciada aos homens pela pregação e pelo ensino. Logo, quem prega e quem ensina a Verdade não pode errar, não pode ensinar o erro, pois então já não ensinaria a Verdade mas a Mentira. Por isso Deus desde tempos remotos instituiu Seu Magistério através de pessoas autorizadas, que gozando de um carisma especial, anunciariam a Verdade sem defeito, sem mancha, sem ruga, sem mácula. Todos os homens podem ensinar, conquanto estejam de acordo com a doutrina ensinada pelo próprio Deus, da forma como foi entregue. O Magistério foi através dos tempos, ocupado por homens de Deus que, mesmo sujeitos a falhas, guardavam a Sua Palavra por um dom especial de Deus: A autoridade do Magistério foi dada primeiro a Moisés, depois aos Levitas e anciãos de Israel (cf. Deut 31,9-13). Também foi dada aos Reis (cf. 2 Cr 34,30). Como se vê não cabia ao povo ler e pedir a Deus entendimento da Escritura, pois seu (sic) autoridade não há unidade. [Prof. A. Lima]. O prof. Alessandro Lima faz a seguinte pergunta: Ora, se tal proteção divina era garantida desde o Antigo Testamento, será que esta infalibilidade não será mais plena no Novo Testamento? Como Deus é o mesmo sempre, seu Magistério no Novo Testamento é exercido na Igreja Católica e aos Papas é conferido o carisma da infalibilidade. S. Pedro deveria confirmar os irmãos na fé, portanto, a autoridade Petrina é fonte de toda autoridade e unidade na Igreja de Deus. Pois a Pedro foi dado o poder de dar a última palavra (“confirma os teus irmãos”). Logo, quando Pedro se pronuncia não há mais um ou duas palavras na Igreja, mas uma só.[Prof. A. Lima].

Portanto, não é ingenuidade crer na infalibilidade do Papa. Todos sabemos que esse dom é garantido devido ao plano de salvação das almas, criado pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Quando cremos nessa verdade estamos nos conformando à vontade do Nosso Deus e Salvador. Isso não é entregar a salvação da alma ao Papa ou a quem quer que seja. O Papa não tem poder contra a verdade, e somente o exerce segundo a soberana graça de Deus, que não permite que ensine o erro e assim faça perecer as almas. Quando os evangélicos pensam com suas próprias cabeças, e contra a autoridade da Igreja Católica, estão fazendo como afirmou o Prof. A. Lima: ...cada crente é seu próprio mestre da Fé. Cada crente é infalível, pois crê que lendo a Escritura a entende perfeitamente. Ora, se há tantos infalíveis no protestantismo, porque não concordam nas questões mais simples? Por quê (sic) cada denominação protestante tem sua própria doutrina totalmente diversa de outra denominação?

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Quanto à alusão de que os pecados dos líderes não afetariam os liderados, isso não é bem assim. Embora saibamos que nossa salvação é pela graça de Deus, quando os ministros caem, isso pode levar muitos à perdição, seja no catolicismo, seja no protestantismo ou em qualquer outro lugar. Quando o pastor Joel afirmou, quando um Pastor protestante cai em pecado, em nada abala a fé dos leigos... esse em nada portanto, não é absoluto. Muitos protestantes pouco instruídos certamente podem ser e são abalados! Isso não ocorreria somente na hipótese de que o fiel considera o seu “superior” como infalível ou dono da verdade ou mesmo impecável! Isso faz parte da natureza humana; sempre há possibilidade de que tais fatos ocorram. Da mesma forma, um cristão católico consciente de sua fé não é abalado a ponto de perdê-la por causa de pecados de (um) ministro(s) da Igreja. Voltando ao caso do Papa, ele não erra e nem pode errar por um dom que Deus o conferiu, não por um privilégio pessoal. A infalibilidade consiste nas questões de fé e moral. A grande maioria atitudes dos papas (poderíamos assim dizer) não cai sob esse carisma, portanto, para saber se um pronunciamento é ex-catedra, basta verificar se ele é uma doutrina de fé e moral, onde o papa fala intencionalmente a toda a Igreja como Pastor. Visto que os fiéis deve obediência ao Papa, se fosse possível que ensinasse ex-cátedra uma doutrina errada, a Igreja perderia a verdade, e seria vencida. Isso é impossível visto que Cristo garantiu que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja. Se todas as doutrinas de uma religião são dogmas, elas o são em si mesmas, não o são no entendimento, às vezes, um entendimento incompleto dos homens. Se há dificuldades, há questionamentos. Por exemplo, o dogma da Imaculada Conceição sempre foi verdade em si, inquestionável. Porém, somente tardiamente ele foi proclamado, quando todas as dificuldades foram resolvidas, proclamado com toda a certeza de ser um dogma [como sempre foi] cristão.

[Disponível em: LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: PROTESTANTE PERGUNTA SOBRE A INFALIBILIDADE PAPAL. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4602. Desde 03/10/2007. Acesso em: 30/03/2009]

CAPÍTULO 12

 A IGREJA CATÓLICA É A 1ª IGREJA

 12.1. Nascemos no século XVI?

O pastor Joel acusa a Igreja de iludir as pessoas por ensinar que ela foi fundada por Jesus Cristo no primeiro século e que permaneceu una até que apareceu o Protestantismo no século XVI, o que seria uma inverdade. Mas, a primeira afirmação está correta, pois a Igreja Católica foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo na Palestina, no século I. Enfrentou muitas heresias e, no entanto, permaneceu una podendo ser uma barreira contra todas as heresias, o que valida quase toda a segunda afirmação acima. A falha da segunda parte da afirmação é que não é verdade que não existissem outras igrejas, como a Ortodoxa, e tantos outros grupos anti-católicos como os Valdenses, Albigenses, para citar os posteriores ao século XI. Por isso foi dito que a Igreja enfrentou muitas heresias. A tal ilusão da inexistência de outras igrejas antes do século XVI estaria na

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obra editada sob o Imprimatur do padre Aristides Rocha, Os Erros ou Males Principais dos Crentes ou Protestantes, 7ª edição, 1957, editora O Lutador, que à pagina 4 afirmaria que antes do século XVI só existiam os católicos romanos. O pastor tenta mostrar que o catolicismo não foi fundado pelo Senhor Jesus Cristo (afirma que isso seria “ofender” o Senhor, pois crê que a Igreja está cheia de “heresias”). Mas essa é uma tarefa impossível. Por outro lado é sabido que as heresias estavam profetizadas desde os primeiros dias, como bem demonstra o pastor Joel citando Atos 20,30; 1 Tm 1, 19-20 e etc. O pastor acusa o monsenhor Aristides de tirar proveito dos seus liderados e prossegue “demonstrando” que a Igreja Católica seria diabólica. Obviamente as “provas” de que existiram grupos heréticos anti-católicos em toda a história não são negadas pela Igreja, e para provar isso não seriam necessárias tantas citações de livros de história, já que bastaria apenas citar as obras de Dom Estevão que tratam claramente desse fato (e são obras católicas). Seria o suficiente, por exemplo, o livro Crenças, religiões, igrejas & seitas: quem são?, aliás, citado pelo pastor Joel. Contudo foi importante para melhor fundamentar a questão.

12.2. Erros e virtudes de Lutero

Certamente ao mostrar, como um bom protestante, os erros e virtudes do pai do protestantismo, o pastor Joel, naturalmente, se coloca como alguém que já não comete os erros que o seu fundador cometeu em matéria de fé e moral (e de alguma forma terá de admitir que, sendo Lutero o iniciador da “reforma” protestante no século XVI, posso chamá-lo de “seu fundador”, como fiz anteriormente). Isso é natural, assim como o autor dessa crítica acredita não crer em erros doutrinais. Que os arrazoados aqui expostos possam auxiliar-nos a ver a verdade com mais clareza, com a ajuda da graça de Deus.

 

12.2.1. Virtudes de Lutero

Dentre as “boas ações” de Lutero, o pastor Joel aponta a reação contra a idolatria, contra a “intolerância religiosa”. Nesse tópico devemos saber (e o pastor Joel sabe, e até aponta como um erro de Lutero) que Lutero foi intolerante ao máximo, talvez pior que os papas que tanto passou a odiar, pois foi conivente no massacre a milhares de camponeses. De fato, Lutero disse que esses deviam ser assassinados como se fossem cães. Isso é história. O próprio pastor Joel cita esse fato noutro tópico (História e Consciência do Mundo, Gilberto Cotrim, 2º Grau, Editora Saraiva, 4ª edição de 1996, páginas 228-229 [citado pelo pastor Joel]). Então, suas palavras contra a intolerância religiosa, não tem força moral. Lutero também se colocou contra a infalibilidade papal, contra a simonia, e contra a salvação pelas obras. Embora saibamos que a Igreja ensina que a salvação é pela fé e obras, o que é negado, pelo menos em teoria pelos protestantes, pois como disse o pastor Joel: Salvação pelas obras (como vimos no capítulo 5, a salvação é só pela fé, mas a Igreja Católica pregava, prega e pregará que a salvação é pela fé mais obras). É interessante que o pastor Joel creia que a Igreja tem uma doutrina imutável, que é uma característica da verdade.

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12.2.2. Erros de Lutero

O pastor passa a apontar os equívocos do “mestre”: E quais foram os equívocos de Lutero? Ele cometeu os seguintes erros: a) amar da Igreja Católica e b) Aceitar e praticar alguns dos erros da Igreja Católica. O primeiro “erro” de Lutero é o amor que tinha pela Igreja, querendo reformá-la. O pastor Joel considera isso um erro, pois crê que a Igreja é “incorrigível”. O segundo “erro” foi que Lutero continuou praticando doutrinas católicas como o batismo infantil, a forma de batizar por aspersão, a consubstanciação (que admite a presença de Cristo na Eucaristia), o cesaropapismo (algo que a Igreja Católica nunca admitiu por completo). A atitude de Lutero de praticar o cesaropapismo e as outras doutrinas citadas, não eram vistas pelo reformador como erro, pois acreditava que sua doutrina vinha do céu, não admitindo que o contradizesse. Da mesma forma, é possível que o pastor Joel esteja errado em considerar “erros” aquilo que Lutero conservou, da Igreja Católica, como ensino bíblico, e elogiar como virtudes aquilo que talvez fossem os verdadeiros erros do Reformador, pois sabe-se que o pastor Joel não se arvora como inspirado, como fazia Lutero. É correto dizer que o critério de julgamento que o pastor Joel usa é seu entendimento “bíblico” da doutrina cristã, que, relativamente, nada mais é que a doutrina reformada-batista-dispensacionalista, essencialmente formulada por Calvino, que em muitos pontos contrariou Lutero. É necessário pelo menos refletir na possibilidade de Calvino ter-se distanciado do Evangelho mais ainda que o primeiro reformador, e essa doutrina, que tanto é defendida no meio protestante, e que é considerada a doutrina “bíblica”, ser somente uma doutrina humana.

 

12.3. Lutero e o clero católico

      O pastor inicia esse tópico citando as palavras do livreto Os Erros ou Males Principais dos “Crentes” ou Protestantes, que diz: “Sabido é ser o protestantismo oriundo da revolta e do protesto de Lutero contra a Igreja Católica, de que fazia parte e donde foi excluído por insubordinação e libidinagem”. O pastor indigna-se contra essas palavras, pois não vê como ser subordinado ao Papa naquelas circunstâncias de comércio de indulgências. Quando à libidinagem, o pastor diz estar surpreso com isso, e questiona: Desconheço a seara onde ele coletou essa surpreendente revelação. Será que esse Monsenhor chama de libidinagem ao casamento de Lutero?! Sei lá. Mas essa surpresa é que é surpreendente, pois quem tem conhecimento da vida de Lutero sabe que ele não tinha o dom do autodomínio e que por não conseguir ver-se livre dos seus impulsos pecaminosos, o quais considerava pecados, criou a doutrina da salvação somente pela fé, doutrina composta de forte carga subjetiva, segundo a Enciclopédia Barsa Britânica (1998), visto que não há como ser livre pecado, e onde o crente seria “coberto” com o manto de Cristo, permanecendo o mesmo pecador de sempre. E comparando a visão do dicionário de filosofia anteriormente citado e o parecer do clero quanto a Lutero, o pastor afirma que essa discordância se dá porque o clero não se orienta pela razão, mas por um fanatismo cego e doentio que os priva de pensar, e repete que Padre não pensa teologicamente. É interessante, quando estamos falando de Lutero, que o pastor Joel fale de razão, a qual não era vista com bons olhos pelo reformador, que disse ser a razão a

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meretriz louca (FEDELI, Orlando. Relação entre fé e razão_cartas. Disponível em: http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=doutrina&artigo=20040821164557&lang=bra). Certamente a citação do livro acima não se referia ao casamento de Lutero. O adágio popular citado pelo pastor, em muitos casos, serve para os dois lados, católico e protestante: quem tem telhado de vidro não atira pedras ao do vizinho. Se Lutero não conseguir superar as barbaridades praticadas muitos clérigos através dos séculos, ele foi um bom concorrente, pois em pouco tempo, fora da Igreja, munido de “melhor” doutrina, conseguiu subordinar a Igreja ao Estado, a aconselhar o massacre de milhares, a permitir poligamia, e atacar os judeus com palavras que podem ter alimentado o anti-semitismo e etc., tudo isso depois de ter abandonado o Catolicismo! O adágio acima é mesmo útil (leia o artigo: Lutero, o filme: uma boa e grossa mentira, no site Montfort). O artigo, que trata do filme Lutero, de suas omissões, é duríssimo para com Lutero, mas não é mentiroso. Qualquer um que tenha capacidade de entender a real história do reformador, verá que as informações desse artigo são verdadeiras.

 

12.4. Escondendo atrás dos erros de outrem

O pastor Joel fala da intolerância dos protestantes contra os “hereges” (entre aspas), de cita o exemplo de Miguel de Servet, vítima da inquisição calvinista. Desse modo, os protestantes foram tão intolerantes quanto os católicos. Nisso o pastor Joel está com a razão. O pastor continua afirmando que Contudo, o clero católico não pode esconder atrás dos erros dos protestantes, visto que um erro não justifica o outro. Outra vez o pastor está com a razão. Logo após ele diz: Qualquer "Igreja" assassina, intitule-se ela protestante ou católica, não tem moral para dizer que é a Igreja de Cristo. Disse “Igreja” (entre aspas), pois não crê que a Igreja verdadeira cometa tais erros. Diante disso, afirma que a Igreja Católica deixou de ser de Cristo, e se João Calvino e seus comparsas não se arrependeram, estão ardendo no Inferno juntamente, com os papas e outros clérigos não seguiram a “verdade em amor” (Ef 4,15). Não se pode negar a verdade dessas palavras, exceto quando diz que a Igreja deixou de ser de Cristo. Que os pecadores que não se arrependem são condenados, isso estamos de comum acordo. Quanto à Igreja deixar de ser Igreja de Cristo, isso seria somente possível em igrejas particulares, nunca a Igreja Católica como um todo, pois, desse modo, as palavras de Cristo, de que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja, teriam falhado, o que não é possível ocorrer nunca, pois se a Igreja apostata, essa foi vencida pelos poderes do inferno, indo contra as promessas do Evangelho. E além do mais, se esses erros dos católicos (a intolerância religiosa) forem contados para descaracterizar a Igreja como não sendo mais de Cristo, ou pelo menos, não sendo infalível enquanto duravam aqueles “erros”, os mesmos erros dos protestantes poderiam ser citados para descaracterizar o luteranismo e o calvinismo, as raízes do protestantismo (o protestantismo histórico) como não sendo de Cristo já no seu nascedouro, pois já produziram maus frutos no século XVI, o que complicaria a posição dos protestantes. Então seria melhor argumentar teologicamente.

12.5. A Igreja Católica já Foi de Cristo

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      O pastor Joel volta a afirmar que a Igreja tornou-se a sinagoga de Satanás: Que a associação de igrejas, que se convencionou chamar de Igreja Católica, um dia foi de Cristo, nenhum teólogo evangélico nega, segundo nos consta. Essa tese, como vimos, diz que houve uma degeneração da qual o Catolicismo “surgiu”. Onde estaria a verdadeira Igreja então? Novamente o pastor responde que a Igreja de Cristo não está na rua tal, número tal. Dessa forma, nem o Catolicismo e nem o Protestanismo seria a “Igreja” de Cristo, mas essa É, antes, o conjunto dos que seguem a Jesus. Embora possamos dizer que, como foi analisado no livro do pastor Joel, o protestantismo é que estaria “dentro” dessa definição, visto que o Catolicismo desconsiderado como Igreja ou Religião. Mas é interessante as obras os seguidores de Cristo, citadas pelo pastor: Estes seguidores de Cristo não praticam homicídio, fogem da idolatria, proclamam a salvação exclusivamente pela fé no sangue de Jesus, vivem o amor, etc. Ao citar a salvação exclusivamente pela fé já está indicando os protestantes como os seguidores de Cristo. Nos primeiros séculos, os “cristãos” que saíam da Igreja Católica é que são considerados, pelos protestantes, como os “verdadeiros” “cristãos”. Essa tese traz em seu bojo a impossibilidade de ser provada historicamente, visto que esses grupos de cristãos não mantinham a pureza doutrinal. Pelo contrário, eles são conhecidos como hereges, os verdadeiros representantes das heresias que lutavam contra a Igreja Católica. E tais grupos, sempre desunidos, não possuem as características da verdadeira Igreja, que a Sagrada Escritura apresenta.

 

12.6. Separamo-nos da verdadeira Igreja?

     Já é possível imaginar a resposta protestante para a pergunta, que seria “não”. Mas é óbvio que a resposta correta é “sim”, portanto, resposta errada. A sucessão apostólica seria o fato de estarem unidos da Jesus, sendo conseqüência disso, o que implica a não necessidade do que realmente entendemos por sucessão apostólica. Vejamos a crítica do pastor: Cristo não deixou sucessores, e sim, seguidores; não deixou vigários, e sim, representantes; não deixou inquisidores assassinos, e sim, mártires; não deixou ditadores, e sim, evangelistas e mestres; não deixou déspota algum, mas discípulos exemplares, dignos de serem seguidos; não deixou papas e padres, mas sim, irmãos (Mt. 23.9 ["Papa" deriva do latim, e é o mesmo que "pai". “Padre”  também é "pai", em espanhol]), etc. Enfim, conclui-se que Cristo não deixou a Igreja Católica mas a “Igreja” Protestante, onde seus membros seriam os “seguidores”, os “representantes”, o “mártires”, os “evangelistas e mestres”, os “discípulos exemplares dignos de serem seguidos”, os “irmãos”. Isso tudo quer dizer o mesmo que a Igreja Católica afirma sobre ela mesma, mas o Protestantismo afirma não afirmando e não afirmando afirma. Afirma que o Protestantismo e o Catolicismo não são a Igreja de Cristo, mas pela definição que apresenta, o Catolicismo está descartado, pois somente o Protestantismo se encaixa perfeitamente. Então, conclui-se, diante disso tudo, que a Igreja Católica, além de ser a verdadeira Igreja, afirma isso aberta e inegavelmente. Outras seitas o fazem, mas sem moral para isso. O resto do Protestantismo também o faz, mas de forma diferente, como vimos, para se diferenciar das outras “seitas” protestantes. Pelo menos é

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o que foi visto aqui. O pastor afirma ainda: O clero católico adora dizer que os protestantes saíram da Igreja Católica, mas a verdade é outra. Não saímos; antes fomos expulsos por um charlatão chamado Papa Leão X. Só não foram expulsos da "Igreja" por esse sanguinário e vendedor de "indulgências", os que eram da mesma laia dele. Então os Protestantes tiveram que sair de uma “Igreja falsa”, ao invés de saírem voluntariamente do ninho de cobras? Segundo o pastor Joel, a Igreja não mata mais hoje os hereges porque a liberdade religiosa foi conquistada, não por terem mudado de opinião. Até parece que durante milênios a Igreja passava o tempo “matando”. Bem, essa é a opinião dos protestantes. Mas, é necessário refletir sobre isso de forma imparcial. Depois, o pastor cita a omissão ou mesmo o apoio de católicos ao nazismo. Nesse caso também os protestantes não são inocentes, visto que muitos protestantes se mostraram igualmente coniventes. A Igreja Católica oficialmente era contrária ao nazismo. O pastor cita ainda notícias sobre envolvimento de clérigo católicos na ditadura argentina e as estratégias políticas do papa João Paulo II para a derrubada do comunismo no leste europeu. Tudo isso estaria ratificando o parecer de Rui Barbosa. Para isso é necessário ler obras especializadas sobre o assunto.

12.7. Padre Luiz Cechinato, o advogado do diabo

As explicações do padre Cechinato, sobre os reais fatos da inquisição, são interpretadas como tentativas de inocentar a Igreja Católica: :"...O Papa quis que os inquisidores fossem religiosos (bispos e padres), porque no tribunal civil entrariam interesses políticos, e muitos inocentes poderiam ser condenados. De fato, nos últimos tempos, o Estado estava atribuindo a si o direito de julgar os hereges......Às vezes, o povo mesmo jogava o herege na fogueira, por conta própria, sem o julgamento......Como se vê, não podemos pensar que a Igreja seja a única responsável pela inquisição. Antes, quem levava os hereges à fogueira era o poder civil. Os peritos em Teologia julgavam se havia crimes contra a fé. Mas a sentença e a execução ficavam por conta do Estado..." (Os Vinte Séculos de Caminhada da Igreja, páginas 191 a 193, 4ª edição de 2001, Editora Vozes). Pelo texto acima o padre Cechinato não tira a responsabilidade da Igreja, mas tão somente aponta que outras instituições eram igualmente responsáveis, pois afirma: podemos pensar que a Igreja seja a única responsável pela inquisição. Mas o pastor Joel faz uma interessante análise, como se o padre Cechinato tivesse esquecido de que a Igreja podia intervir em favor da não execução dos hereges, excomungando que o fizesse. Eis suas palavras: se o Papa ameaçasse excomungar da Igreja quem ousasse assassinar os "hereges", logicamente ninguém se atreveria a executá-los. É, como foi assinalado, um ponto interessante, mas deve-se ver no contexto histórico, qual o alcance da sentença da excomunhão, que era muito considerada, não se pode negar, mas que talvez não fosse totalmente eficaz para “salvar” os hereges das mãos do povo ou mesmo do Estado. É óbvio que se assim tivesse acontecido, a Igreja gozaria de menos repreensão por parte dos protestantes e outros que vêem na inquisição um “atentado” contra a humanidade. Quanto ao poder “ilimitado” dos papas, que o pastor Joel afirma que, na época, eram semideuses, que podiam mandar e desmandar a bel-prazer, entronizando e depondo reis, isso é discutível. Não se pode negar o grande respeito que tinham os papas, mas é certo

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que parece exagero dizer que seus poderes fossem como os de semideuses. Dessa forma, os papas seriam não somente omissos, mas teria pecado por comissão, auxiliando na “maldade” que estavam praticando contra os hereges, chamados entre aspas pelo pastor Joel (“hereges”), como se não o fossem. Mas é certo que eram. Por exemplo, os albigenses eram contrário ao matrimônio, eram maniqueístas, portanto, eram hereges, não “hereges”. Mas a conclusão do pastor Joel, típica no protestantismo, é essa: Os "hereges" eram entregues ao Estado, o qual lavrava e executava a sentença de morte nas fogueiras, porque os papas, quais Pilatos, queriam "lavar" suas mãos. Certamente o Padre Luiz Cechinato sabe disso, mas o amor doentio pelo seu "time" não o deixa confessar que o seu clube faliu. Mas é óbvio que o padre Cechinato conhece a história, não de uma suposta “lavagem” de mãos à moda de Pilatos, mas que a pena capital, parte da legislação da época, era vista como uma punição justa, e a Igreja, depois de tudo fazer, entregava os hereges ao braço secular como parte da medida que tinha adotado nos tribunais inquisitoriais. E a pena de morte justa é moral, portanto, nesse particular, somente a injustiça, que ocorreu em muitos casos, é que pode ser motivo de acusação contra muitos membros da Igreja, não a instituição da Inquisição em si. A questão é polêmica, pois, mesmo a solução que o pastor Joel apresenta, que é a opinião de tantos, até de católicos, não é um solução tão simples assim: Mas ele (o padre Cechinato) não atenta para o fato de que tais linchadores de "hereges" não eram julgados pela "Igreja", tachados de hereges, excomungados e entregues à "justiça". Então a Igreja deveria intervir para evitar essa ação. Será que interviu ou não? A resposta é sim. Não da forma como foi expressa, como se fosse “correto” julgar os “linchadores”, o que se assemelharia a uma condescendência com a heresia, causa daquelas reações populares. A Igreja criou os tribunais da inquisição justamente para coibir aquelas manifestações do povo, o que ao mesmo tempo estava de acordo com o objetivo de reprimir as heresias. Os estudos imparciais sobre a inquisição mostram um quadro bem diverso daquele retratado nas obras adversárias, vamos dizer, pois revelam uma justiça cautelosa, onde casos de execução eram relativamente baixos. Para os que não concordam com tudo isso, o jeito é apelar para a condenação de todo o “sistema inquisitorial”, no entanto, sem uma base razoável para tal condenação. O melhor seria tentar compreender a questão, já com relação aos culpados, a esses está reservado o julgamento de Deus. A Igreja não via como uma “boa ação” o assassinato de hereges, mas como uma justa ação, prevista para muitos casos. Quanto ao que o padre Cechinato afirmou, e que foi comentado acima, de que a Igreja não era a única responsável, o pastor Joel concorda, mas afirma que a Igreja não estava sozinha, pois tinha o Diabo ao seu lado, e que na questão em apreço, estavam também os demônios, bem como reis e rainhas tão endiabrados quanto essa "Igreja. Bem, isso é uma afirmação que, à luz dos fatos em si, não pode ser provada, nem pela Bíblia, nem pela História imparcial, como se a Igreja estivesse “diabolicamente” inspirada. Fica a critério do pastor e dos protestantes escolherem o que pensar sobre essa questão, não permitindo que o sentimentalismo seja a base dos seus “arrazoados”. Também não é surpresa que diante de uma visão totalmente negativa da Igreja e de seus atos, alguém naturalmente tenha essas conclusões. É verdade, porem, que podemos chegar a falsas conclusões a partir de dados corretos, e, nesse caso, cabe saber o lado que mais está apto, como resultante de estudos científicos, a apresentar

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uma tese mais próxima da realidade, que não contradiga os fatos históricos. Nenhum cristão católico pode procurar inocentar culpados, mas afirmar que todos os processos inquisitoriais são como que “marcados” pela “injustiça”, isso não parece fazer jus ao que as pesquisas mais profundas revelam.

 

12.8. Recapitulando

Agora, nesse “recapitulando” o pastor Joel afirma que a “Igreja” de Cristo estava no 4º século de existência quando a Igreja Católica “nasceu”. As “provas” já foram dadas no seu livro, e refutadas nessa crítica.   E diz o pastor: Resumidamente, a seqüência é a seguinte (e resume o que está em 1.1).

1º) Nasceu a Igreja de Cristo. Esta era, no princípio, constituída de igrejas locais, independentes, como já vimos em 1.1.... Já foi possível refutar isso. Mas o pastor apela para a divisão de trabalho missionário entre Pedro e Paulo, pois aquele se dirigiu aos judeus e esse aos gentios. Isso seria um “prova” de que não havia um líder universal, mesmo que ambos podiam pregar em todo o mundo, mas com ênfase nas suas respectivas áreas. É falso isso. Pois os carismas de serviço não provam que a liderança universal não tenha existido. São Pedro foi o primeiro a pregar aos judeus (Atos 2), e também o primeiro a pregar aos pagãos (Atos 10), como líder da Igreja. São Paulo começou seu apostolado pregando especialmente aos judeus nas sinagogas, passando a pregar aos pagãos depois que os judeus se mostravam endurecidos. O Espírito Santo cumulou o apóstolo dos gentios de dons que seriam úteis em suas viagens missionárias em terras gentias. Isso não nega que a autoridade tenha sido São Pedro. O Concílio de Jerusalém mostra que Pedro foi quem resolveu a questão, sendo as falas de São Paulo, São Barnabé e São Tiago não depõem contra a sua liderança na Igreja. De fato, as sugestões de São Tiago não acrescentaram novidade alguma no discurso de São Pedro. Até mesmo o fato de São Paulo ter ido a Jerusalém para conhecer a Pedro especificamente é um indício que esse tinha um papel singular na Igreja (Gálatas 1 e 2). Não seria o dispensacionalismo uma nova barreira para entender a questão do primado de Pedro? Também o trabalho de São Paulo, maior do que o de todos os outros, não prova que esse fosse o “líder” como há protestantes que forçam os textos a afirmarem isso. Mesmo com o líder Pedro, instituído por Cristo, é Cristo o líder universal de sempre. Com referência ao título “romano”, em católico romano, ou Igreja Católica Romana, esse é um título histórico, não essencial. Portanto, não é contraditório: a Igreja é Universal (Católica) essencialemente, e Romana somente porque sua sede está em Roma.

 

12.9. Quem saiu da Igreja?

     O pastor Joel se explica melhor aqui, quase aparentemente contradizendo o que disse anteriormente, quando afirmou que os protestantes foram “expulsos” da Igreja: Para manter a sua primazia, a Igreja Católica alega que os protestantes se separaram dela. Até certo ponto isso é verdade. Realmente nos separamos dela. Porém, jamais nos separamos da Igreja de Cristo. Até porque a Igreja não pode se separar da

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Igreja. Nada pode se separar de si mesmo. O motivo da separação, segundo o pastor, seria bem explicado à luz da Teologia. Isso realmente é verdadeiro e podemos concordar. Diz o pastor ainda: E é a parte que for achada pregando heresias, que é a que se separou, visto que primeiro nasceu a Igreja, e depois as heresias no seio daquela. O erro é que ele crê que foi a Igreja quem iniciou a pregação de heresias. Mas o fato é que os protestantes é que inovaram, basta um estudo cuidadoso das bases do protestantismo para certificar-se disso. Nenhum teólogo pode provar que a Igreja pregou novidades ou heresias, como afirmou o pastor Joel. As seguintes palavras do pastor são essencialmente iguais à que eu disse anteriormente em relação à Igreja Católica, que é a única Igreja de Cristo: Ora, qualquer grupo de cristãos, isto é, qualquer igreja local, ou ainda uma associação mundial ou nacional de igrejas, pode se desviar da rota traçada por Jesus e se perder, mas a Igreja de Cristo nunca esteve fadada ao fracasso. Ela jamais foi derrotada. Jesus garantiu que as portas do Inferno não prevaleceriam contra a Igreja. Basta que o protestante creia que essa Igreja de Cristo, que eles creem que existe, é a Igreja Católica, visível e invisível. Não adianta criar teses e mais teses sobre uma Igreja de Cristo que não seja a Católica, como foi provado nessa crítica.      Um exemplo é a doutrina de que a verdadeira Igreja é “invisível”. Essa doutrina foi muito utilizada pelos reformadores. Calvino ensinou que a Igreja, enquanto vista por Deus, é composta de todos os salvos, e enquanto vista pelos homens é percebida como tendo joio e trigo misturados. Esse conceito é verdadeiro, visto que a Igreja Católica o ensina, na doutrina sobre o Corpo Místico de Cristo. O que não é verdade é que a Igreja não seja também visível, possuindo seus atributos que a fazem ser reconhecidas pelo mundo. Na tese protestante a “Igreja visível” está retratada de certa forma nas diversas denominações que vemos pelo mundo afora. Os verdadeiros membros da Igreja estão em todas elas, inclusive na Igreja Católica, e também há membros que não fazem parte de nenhuma delas, mas são conhecidos somente por Deus. Todos esses constituem a Igreja invisível. A doutrina católica, por sua vez, ensina que realmente só Deus conhece os verdadeiros membros da Igreja, contudo, a Igreja Católica é visível e invisível. Isso significa que nem todos os membros da Igreja Católica visível estão contados entre os verdadeiros membros de Cristo, ou seja, não são membros vivos da Igreja, ao passo que existem muitos que não estão na Igreja Católica fisicamente, mas já fazem parte dela, da sua alma, sejam membros das outras igrejas ou até mesmo membros de outras religiões, pois somente Deus sabe onde estão. Mas Jesus chama essas ovelhas para o seu rebanho visível, a Igreja Católica (João 10,16). A razão para negar que a Igreja seja somente invisível é que muitas passagens da Escritura não se harmonizam com tal conceito, tornando-o impossível de ser verdadeiro, ao passo que a doutrina cristã católica está totalmente em harmonia com essas passagens bíblicas e com o teor geral da Escritura. Os laços de união da Igreja devem ser visíveis e testemunhar essa união ao mundo, o que não seria possível se a Igreja fosse unida só invisivelmente. Isso é expresso claramente em João 17, 18.19.21. Nesses versos Cristo afirma que enviou Sua Igreja ao mundo e que a unidade da Igreja é sinal para a conversão: E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste (v. 21). Essa unidade a Igreja Católica sempre testemunhou a todos. A “unidade” protestante não serve como sinal para o mundo! Um pesquisador imparcial, não é necessário que seja nem mesmo cristão, certamente concordará com isso. Não adianta querer

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provar que uma suposta associação de igrejas locais chamada de Igreja Católica tenha perdido o rumo. Isso não existe. Os que se desviaram foram justamente os que saíram da Igreja Católica durante os séculos. Com a tese de que o Protestantismo é que seria a Igreja, como vimos, o pastor continua afirmando que se o Protestantismo se transviar, Deus suscitaria o Protestantíssimo, e se esse falir, Deus levantaria outro movimento para protestar contra esse, até Cristo nos “arrebatar”, ou poderia ser dito, até o fim do mundo. Essa é uma conclusão necessária, quando não se aceita que a Igreja nunca caiu, está sempre em reforma e não precisará nunca de recomeço. Se um adúltero não pode tachar seu fiel cônjuge de destruidor da família, essa metáfora não cabe à Igreja Católica, mas aos reformadores. Veja que o Concílio de Trento reformou a Igreja, uma obra de reforma dirigida por Deus, levada a cabo pela Providência Divina que permitiu a revolução protestante para castigar a Igreja pelos seus pecados e reformá-la moralmente, não doutrinariamente. Já os protestantes se mostraram desunidos desde o início, característica das obras humanas. Quanto ao fato de sempre surgirem movimentos necessários “protestando” contra os anteriores, que estariam corrompidos, isso é sempre possível e natural que ocorra, mas não é provável que sejam necessariamente inspirados por Deus.

CAPÍTULO 13 O MATRIMÔNIO E O CATOLICISMO

13.1. Divórcio: um mal às vezes inevitável        O pastor Joel deixa claro que o divórcio é um mal, uma desgraça, e que Deus não o quer para o homem. Certamente essa é a opinião do protestantismo. Porém, segundo o protestantismo, em alguns casos, o divórcio seria permitido, assim como as novas núpcias, ou o novo casamento (Mateus 19.9). O pastor conhece a postura da Igreja Católica, a qual respeita o casamento como um verdadeiro sacramento, sendo indissolúvel e, portanto, não permitindo novo casamento exceto pela separação por morte de um dos cônjuges. Para os protestantes, a infidelidade conjugal daria permissão ao novo casamento. Assim, depois de citar o catecismo que é claramente contrário às novas núpcias, o autor adverte o católico que vive um novo “matrimônio” dizendo que ele é um adúltero aos olhos da Igreja, e sendo o adultério um pecado punido com a condenação eterna, todos os que assim vivem estejam conscientes de sua posição. Realmente severo o Evangelho que a Igreja defende! Mas, assim o é de fato. Porém, o pastor Joel diz: E, se  os clérigos católicos não querem ser mais incoerentes do que já são, precisam aconselhá-los (a você e a seu novo cônjuge) a se separarem, e não tapeá-los com “freqüência às missas, penitências” e outras mais, e conclui que o catolicismo é prejudicial à família, e pode destruir um lar. O ideal seria mesmo a separação, e é isso que se conclui do ensino da Igreja. Isso é pregar o Evangelho. Porém, a defesa do Evangelho da forma como ele é, torna-se “motivo” para acusar a Igreja de ser um mal contra a família! 13.2. A indissolubilidade do matrimônio em Romanos 7

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       Ao tratar de Romanos 7,1-3, o autor afirma que muitos são mal informados ao provar que o adultério não dá à parte traída o direito de divorciar-se da parte traidora e contrair novo matrimônio. Passa, então, a falar de contexto imediato, contexto remoto e contexto histórico, os quais seriam o meio para se entender que o texto não erradica a ideia da possibilidade de um novo casamento. Mas, será que isso é mesmo encontrado no texto de Romanos 7?       Para o pastor, em sua exegese, o v. 4 é a chave para a compreensão. O apóstolo estaria se referindo ao passado, ao Antigo Testamento, da forma que era, não da forma que é atualmente. Assim explica: Paulo estava dizendo que como a morte do marido na Antiga Aliança, dava à viúva o direito de arranjar outro marido, nós, os cristãos, não somos obrigados a nos submetermos ao jugo da Lei de Moisés, visto ter Cristo morrido. O texto não estaria reprovando o divórcio, mas, apenas que o apóstolo está dizendo é que Cristo nos libertou da Lei (Romanos 7.6).       Mas, na Antiga Aliança era predominante a poligamia, enquanto na Nova, o casamento considerado como em sua forma original, como no início, no Éden, apenas entre um homem e uma mulher. A explicação foi um tanto confusa. 13.3. A indissolubilidade do matrimônio em Mateus 19        Quantos “irmãos” infelizes (protestantes?) no casamento que se divorciam e casam-se novamente! Embora o Evangelho não permita! Mas, o homem sempre encontra um jeitinho, e com o aval da “igreja” a que pertence! O pastor Joel diz que apresentar Mateus 19 como uma prova contra o novo casamento após um divórcio é exibição de uma falsa Hermenêutica. O pastor questiona: Senão, vejamos: Os fariseus não só perguntaram a Jesus se “é lícito ao homem repudiar a sua mulher”, mas acrescentaram: “Por qualquer motivo?” (Mateus 19.3). Vejamos qual é a resposta e a explicação disso, segundo o pastor Joel: E, no versículo 9, Jesus dá Sua Nova Lei nestes termos: “Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra, comete adultério...” Aí Jesus diz bem claro que a parte traída pode divorciar-se da parte traidora e casar-se novamente. E para tornar mais claro o entendimento dessa questão, o autor sugere o seguinte raciocínio: Se o diretor duma empresa fizesse a seguinte comunicação interna: “Aquele que tiver mais de cinco faltas ao trabalho, num período de trinta dias, a não ser que apresente uma razão convincente, será demitido”. Deveríamos concluir que o referido diretor estaria dizendo que todos que tivessem mais de cinco faltas ao trabalho, num período de trinta dias, seriam demitidos sumariamente? Claro que não. E não temos nós, em Mateus 19.9, um caso similar?Se o texto permitiu um novo matrimônio nesse caso, as palavras e/ou o seu significado ficaram não identificados. Somente uma “hermenêutica” dessas é que foi visto um aval para novas núpcias em Mateus capítulo 19, versículos 1-8.       Em sua conclusão, temos, entre outras, as seguintes palavras: Ora, o divorciar-se do cônjuge infiel e contrair novas núpcias é tão-somente um ponto facultativo da Lei de Cristo.        Muito fácil, então. Basta uma infidelidade conjugal e o divórcio está permitido! Não é isso que pensa qualquer pagão? E o evangelho teria ponto de contato com uma doutrina singular proveniente dos desejos desordenados do homem? Fica fácil compreender porque o protestantismo encontra enorme receptividade, principalmente entre pessoas que vivem

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esse tipo de situação. Bem, os pastores até podem aconselhar uma reconciliação, mas, segundo eles, Deus não ordenou isso. Deus é indiferente se o homem e a mulher se divorciem por motivos de infidelidade? E tudo isso na Nova Lei do Evangelho? Então, segundo o protestantismo, façam (os cônjuges) como quiserem! Onde o Evangelho ensina isso? É óbvio que é em lugar nenhum. É uma falsa tradição ou doutrina ou ensinamento ou uma mera invenção, ou seja, qualquer coisa vinda de homens, não de Deus.       É óbvio que a Igreja, fiel à Lei de Deus, não permite tal doutrina. E ainda é acusada de ser contra a família! 13.4. Consideremos 1 Coríntios 7.10,11 e 39 Segundo o pastor Joel, o que está exarado em 1 Coríntios 7,10-11 tem que ser interpretado  à luz do seu contexto remoto, que é Mateus 19,9. Realmente, o texto de Mateus 19,9 ensina o mesmo que 1 Cor 7, 10-11, ou seja, a indissolubilidade do matrimônio, não o seu contrário. Mas aqui, o pastor admite que o texto não permite novo casamento, pois não fala da infidelidade conjugal: Logo, a separação tratada nestes dois versículos não permite um novo casamento, por não concernir à infidelidade conjugal. Logo, segundo o autor, só a morte pode dissolver a união conjugal; mas, se uma das partes não respeitar este princípio divino, a outra fica livre, à luz da Bíblia, e não à luz de alguns versículos isolados de seu contexto imediato e/ou remoto.Depois, passa a tratar da questão de uma união de pessoas não batizadas, que, portanto, não contraíram o sacramento do matrimônio e, se porventura, queiram casar-se na Igreja teriam essa liberdade, o que resultaria em “adúlteros” entrando na Igreja. Mas, se o casamento deles não era válido, ou seja, não era casamento de fato, não há adultério quando se casam com outro cônjuge, pois se trata do primeiro casamento. Na verdade, vivam antes em “adultério” ou em “fornicação”, agora não. E sobre o casamento realizado por ministros protestantes, que para a Igreja Católica não seria válido, o pastor questiona: Talvez você queira me perguntar: “Pastor Joel, então, segundo o Catolicismo, você e sua esposa são adúlteros ou fornicários? Ora, se o nosso casamento não é válido, que somos, senão adúlteros e/ou fornicários? Depois disso, conclui ele: Mas eu posso abandonar a minha esposa, me converter ao Catolicismo, e me casar de novo numa Igreja Católica. Realmente hilário: isso não é o que ensina a Igreja. O pastor Joel está redondamente enganado e escreveu sobre o que conhecia muito pouco. A questão é um pouco mais complexa. O Código de Direito Canônico, no cânon 1.055, §, afirma que: 'O pacto matrimonial...entre batizados foi por Cristo Senhor elevado à dignidade de sacramento'. Podemos supor, com certa certeza, que ambos, o Pr. Joel e sua esposa eram batizados (numa igreja protestante) quando se casaram. Pelo que foi dito, eles realmente contraíram o matrimônio validamente, e estão casados segundo o que ensina a Igreja Católica.Tratando de um caso parecido, o Pe. Jesús Hortal afirma: Os DOIS eram protestantes, BATIZADOS, mesmo que pela confissão a que pertencem (batistas) o tinham sido na idade adulta e por imersão. Em princípio, devemos supor a validade desse batismo, porque a matéria e a forma empregada pelos batistas são perfeitamente válidas e porque a intenção prevalente do ministro é, sem dúvida, realizar aquilo que Cristo mandou (cf. cânon 869, §2). [grifo no original]. Nesse caso, se não houve impedimento algum por parte dos noivos, devemos supor que o pr. Joel e sua esposa estão realmente casados. E, se porventura ele se converter ao catolicismo,

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não pode abandonar sua esposa, e, se o fizer, não pode casar-se numa Igreja Católica.E, para os que vivem sem os sacramentos, esses estariam perdidos, pois os sacramentos são necessários à salvação. Questionando se haveria exceção para essa regra, relembra, ironicamente, as crianças mortas sem batismo e a doutrina do limbo.

[NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: O MATRIMÔNIO ENTRE PROTESTANTES É VÁLIDO?. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4095. Desde 12/02/2007.]

13.5. Os anticoncepcionais são proibidos? O pastor supõe que a Igreja seja totalmente contrária ao planejamento familiar assim como o é aos anticoncepcionais. Cita o Catecismo:  “...é intrinsecamente má ‘toda ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento de suas conseqüências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação...’ ” (Catecismo da Igreja Católica, pág. 614, # 2.370). Assim, a Igreja (ou o papa) deveria bancar todas as despesas dos casais na criação de seus filhos, em todo o mundo, ou então, não deveríamos dar crédito a ela (a Igreja). Foi o que sugeriu o pastor Joel. E afirmou, com certa verdade: Ainda bem que a maioria dos católicos não está nem aí para o Papa, quanto ao controle de natalidade. Com relação aos católicos nominais isso deve estar correto, pois muito não guiam suas vidas pelo Evangelho, mas pela moda mundana e pagã. Evitar os filhos é uma irresponsabilidade dos casais, em muitos casos. Contudo, nem toda relação sexual deve necessariamente gerar filhos. Mas ela deve estar sempre aberta à procriação, o que é muito raro hoje em dia. O controle de natalidade pode ser feito desde que não ofenda os princípios morais. Isso está de acordo com o Evangelho, com a Lei de Deus.

LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: LEITORA PERGUNDA SOBRE PLANEJAMENTO FAMILIAR. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/2662. Desde 12/04/2004.

PIMENTA, Marcus Moreira Lassance. Apostolado Veritatis Splendor: ANTICONCEPÇÃO: UM ATENTADO AO PLANO DE DEUS . Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3226. Desde 12/09/2005. 13.6. Sempre foi assim?      Nesse tópico o pastor fala da seriedade e severidade (todas entre aspas) da Igreja no trato com as famílias, e acusa a Igreja de, no passado, ter permitido o divórcio aos que doavam altas somas. É bom relembrar o caso do Rei Henrique VIII, na Inglaterra, que pediu o divórcio ao Papa e não foi atendido. Será que o rei não tinha dinheiro? Ou é melhor concluir que a Igreja é fiel ao Evangelho? Se ao Rei foi dispensada tal severidade, que teve por consequência a separação da Igreja da Inglaterra, uma nova cisão na cristandade, pode-se imaginar o tratamento dado ao resto dos “fiéis” que pedissem o divórcio. 

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CAPÍTULO 14

TENTANDO SAIR DA CRISE

 14.1. O porquê da crise

       A Igreja está em crise, e mesmo sendo o Brasil a maior nação católica do mundo, (o pastor diz “infelizmente”) a maioria dos católicos é composta de não-praticantes. Mesmo entre os praticantes, boa parte não é tão praticante como se alardeia por aí. O autor afirma: É grande o número dos que pensam que ser católico praticante consiste apenas de assistir às missas assiduamente, comungar amiúde e confessar aos padres pelo menos uma vez por ano. Muito bem lembrado que ser cristão católico não é somente ir à Missa, comungar e confessar (raramente). O pastor afirma que muitos dos católicos chamados “praticantes” pensam que a salvação consiste em manter os padres bem informados das desgraças que andam fazendo, pois confessam um pecado com vários outros previamente agendados, pintando e bordando sem qualquer remorso, sequer pensam em mudar de vida, vivendo debaixo da uma capa religiosa, hipocritamente como a seita da qual são adeptos. Entre esses fatos, a hipocrisia, a vida incoerente de muitos católicos, ninguém pode negar que isso ocorra. Tudo é consequência do pecado dos homens. Quando à acusação de que a Igreja (chamada injustamente de seita) seja hipócrita, isso não é verdadeiro afirmar. A Igreja Católica foi fundada por nosso Senhor, é santa em seu fundador e não pode ser culpada pelos pecados dos seus membros. A santidade da Igreja vem de Cristo, que ensinou uma doutrina perfeita e santa, uma lei santa, justa e boa, sacramentos que, de certa forma, são análogos às fases da vida natural, pois através deles o Senhor Jesus Cristo regenera, alimenta e cura sobrenaturalmente. Os maus membros da Igreja não podem corromper o que a Igreja tem de incorruptível, mas apenas condenam-se a si mesmos, rejeitando a graça de Deus. Depois disso, o autor alude a um número não pequeno de católicos “sinceros” que, ouvindo a pregação protestante, logo se “convertem” a Cristo, deixando a Igreja. E diz: Por tudo isso a Igreja Católica está em crise no Brasil. Aliás, não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Pelo que foi dito pelo pastor a respeito da formação religiosa dos católicos, é fácil perceber o motivo de tantos serem atraídos pelas seitas protestantes. A própria percepção do pastor Joel, da vida insubmissa aos princípios cristãos, de católicos nominais, nos permite concordar que é real o estado lastimável de muitos membros da Igreja. Porém, um sinal de que se é católico sincero não é a conversão ao protestantismo, pois poderia igualmente ser dito que os protestantes sinceros se converteriam infalivelmente ao catolicismo, assim que ouvissem a pregação do verdadeiro Evangelho. É claro que uma pessoa sincera, diante de uma verdade convincente, adere a essa com prontidão. Mas, pelo que se pode entender, o protestantismo não é a verdadeira religião, mas uma heresia que combate a Igreja Católica. Portanto, os cristão católicos que aderem ao protestantismo, nem sempre o fazem por estarem sedentos da verdade, o que implicaria em sinceridade, mas o fazem por “motivos” diversos, um deles, como foi visto acima, o desconhecimento da própria doutrina cristã católica, a vida irregular, contrária aos ensinamentos que deveriam regular suas vidas etc. Esses católicos, continua o pastor, estariam examinando as Escrituras, como os bereanos de Atos 17,11. A respeito dqueles judeus bereanos, conhecedores do Antigo Testamento, eles comparavam a pregação apostólica com as

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Escrituras, e muitos se convertiam à fé cristã por certificarem-se que Jesus era de fato o Messias. Se os cristãos católicos tivessem um conhecimento das Escrituras comparável ao daqueles judeus da Beréia, esses católicos se certificariam que a pregação protestante é uma heresia surgida com os Reformadores do século XVI, sob moldes modernos, se tornariam convictos da veracidade da sua fé cristã católica, e saberiam onde está o engano.

 14.2. Os clérigos têm consciência da crise 

      O descontentamento da Igreja diante do surgimento de mais heresias é natural, já que é seu dever velar pela exposição incorrupta do Evangelho de Cristo. Portanto, o pastor não faltou com a verdade quando afirma que os clérigos tem consciência da crise.

 14.2.1. O papa reage

      O pastor fala das visitas do papa João Paulo II, que visitou o Brasil devido à crise da Igreja, mostrando que o papa estava disposto a tudo, para que o movimento protestante não continue iludindo e confundindo os católicos. Isso também foi o motivo da visita do papa Bento XVI para lembrar aos católicos da veracidade da Igreja, para que não a troquem pelas seitas. Não há tanto o que falar sobre esse assunto, visto que essas intenções são justas, pois, sendo a Igreja a única verdadeira, sua posição de combate às falsas doutrinas se torna compreensível, como foi dito acima. É só comparar o “apostolado” do pastor Joel, que em sua convicção profunda de que a Igreja Católica não é Igreja, a combate arduamente. Os papas apenas estão usando de um direito que também lhes assiste.

 14.2.2. Os padres aquiescem

       A citação do Padre Vicente Wrosz é apresentada pelo pastor como uma prova de que os padres conhecem e concordam com as diretrizes evangelizadores da Igreja em combate à seitas protestantes: “Os bispos latino-americanos, reunidos com o Papa João Paulo II em Santo Domingo, em outubro de 1992, reconheceram que o avanço das seitas é um sério desafio para o catolicismo na América Latina, e recomendam ‘instruir amplamente o povo, com serenidade e objetividade, sobre as respostas que devem dar às injustas acusações contra a Igreja Católica’ ” (Respostas da Bíblia às Acusações dos “Crentes” Contra a Igreja Católica, Livraria Editora Pe. Reus, 48ª edição de abril/2000, página 3, grifo nosso). Quanto à consideração do pastor de que o livro do padre Vicente é herético, assim como outros lançados com o mesmo objetivo, que é o de defender o Evangelho, somente o dito livro seria herético se o compararmos com a doutrina protestante, ou seja, na ótica protestante, não em comparação com a doutrina bíblica tradicional. E a doutrina protestante não serve de critério para discernirmos se uma doutrina é verdadeira ou herética, pois foi nasceu no século XVI.

14.2.3. Imitando os evangélicos

       O pastor fala da imitação que os católicos nominais estão praticando para reavivar a Igreja, depois de notarem, através dos veículos de comunicação, que a Igreja estaria naufragando, enquanto os clérigos

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modernizam a parte externa do culto, mecanizando um “fervor” que nunca tiveram (grito do pastor), seguindo um raciocínio como: ... Se os evangélicos são bem sucedidos assim, quem assim fizer, bem sucedido será. Os católicos estariam plagiando os protestantes, copiando não somente o que há de bom entre eles, mas também, por causa da intensidade da sede com que foram ao pote, estariam copiando as meninices, as papagaiadas “evangélicas”. O pastor reconhece que essas papagaiadas, como as de “cair no espírito”, são de origem protestante: Ora, isso é plágio, pois podemos provar que essa papagaiada é evangélica, diz. Isso estaria sendo, principalmente nos EUA, uma estratégia de êxito, pois muitos estariam se deixando levar, crendo que as diferenças entre protestantes e católicos não são mais relevantes, o que, faria do catolicismo mais perigoso do que nunca. Essa crítica pode igualmente ser feita de forma contrária, pois se o protestantismo se assemelha mais e mais ao catolicismo a cada dia, ele se torna um perigo maior para a Igreja do que antes. Talvez, segundo o autor, a regravação dos hinos evangélicos pelo Pe. Marcelo Rossi faça parte do plano citado. Entre esses hinos, a Virgem Maria estaria sendo adorada como Deusa. O pastor exorta os protestantes citando Mateus 24,24 prevenindo contra os falsos profetas. Diante de tudo isso, posso afirmar que quase a totalidade do que foi dito é verdadeira. Quase, pois não é verdade que a Igreja esteja plagiando até as papagaiadas protestantes, mas que o movimento carismático católico, muitas e muitas vezes, por uma religiosidade pouco crítica, no calor das emoções e, às vezes, na desobediência de seus superiores, estão imitando os protestantes, acreditando, com isso, estarem fazendo um grande bem à Igreja. O pior é que muitos padres também se deixam levar, tornando-se muito liberais com relação a essas práticas. Outros até mesmo insinuam heresias. Não que o movimento seja de todo reprovável, mas que existem muitos erros que são de origem protestante, um estudo sério pode provar, como o próprio pastor Joel admitiu. É necessária uma orientação aos grupos da Renovação Carismática Católica, pois estão sendo caminho para muitos deixaram a Igreja e voarem para as seitas protestantes. De fato, olhando pela perspectiva católica, essas estratégias estão favorecendo o protestantismo. Estão desorientando ainda mais os católicos já desorientados. É isso mesmo! O perigo que o pastor percebe nos movimentos pentecostais para com o protestantismo histórico, é muito maior quando se considera a repercussão negativa que os exageros “carismáticos” tem efetuado no seio da santa Igreja. Um fato positivo, graças a Deus, é que não faltam padres que protestam e denunciam esses abusos.

 14.2.4. avivando a idolatria 

       Esse item se refere às medidas tomadas para tirar a Igreja da letargia, como a distribuição de panfletos sobre os prodígios que as imagens de Nossa Senhora estariam realizando... Segundo o pastor, a Igreja estaria querendo manter o povo longe de Deus, no obscurantismo, idolatria e etc., através desses meios.

 14.3.5. Incentivando ao ecumenismo (erro de digitação no livro; deveria ser 14.2.5, o próximo 14.2.6)

       Através dessas palavras do pastor Joel, podemos entender a posição que os protestantes, pelo menos os mais radicais, tem perante o Ecumenismo: Os líderes da Igreja Católica querem dialogar conosco, como o

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Diabo dialogou com Eva no Jardim do Éden, mas a missão que o nosso Senhor nos confiou é a de evangelizar o mundo. Portanto, sempre que quiserem dialogar conosco, abramos nossas Bíblias e mostremos a eles que Jesus salva. Não desperdicemos estas oportunidades! Se os protestantes creem nisso, que o façam segundo a sua consciência, e que os católicos dialoguem ou mesmo evangelizem com a mesma sinceridade e franqueza. O pastor diz que os católicos são “pagãos”. Essa certamente é a característica principal do anti-catolicismo. O exemplo apresentado, pelo pastor, de católicos que “evangelizam”, mas sem conhecerem bem o que a Igreja prega, portanto, não a representando bem, é um fato comum e que deveria ser evitado, através de uma melhor formação desses evangelizadores.

       A pergunta do pastor Joel é interessante: A Igreja Católica não quer abrir mão de suas heresias. Ela quer que todos se unam a ela, mas ela não quer se unir a ninguém. O que ela aspira é que todos reconheçam que estão errados, se retratem e se unam a ela, submetendo-se ao Papa. E, sendo assim, perguntamos: Onde está a novidade? Não pregam todas as religiões exatamente isso? Todas as religiões, de per si, não fazem o mesmo? E assim, os protestantes estão incluídos nesse bojo, pois pensam, se não a totalidade, a maioria deles, que todos deveriam crer no evangelho como foi apresentado no livro do pastor Joel. Como o pastor, creem que esse é o “verdadeiro” evangelho. O pastor continua: Os evangélicos que estão se deixando levar pelo ecumenismo, são extremamente ingênuos. Eles estão sendo enganados por Satanás. Aliás, muitos dos que se dizem evangélicos, estão indo para o Inferno, juntamente com todos os que, como eles, rejeitam a Cristo. (...) Será que o Ecumenismo produzirá o efeito desejado? Parcialmente sim. Muitas igrejas protestantes já não protestam mais nada. Porém, o Ecumenismo nunca conseguirá acabar com a Igreja de Cristo. Sempre haverá alguém que não se deixará levar. Essa opinião não é típica dos protestantes, pois também há católicos que rejeitam o ecumenismo e acusam os homens da Igreja de estarem traindo o Evangelho, ao abrir mão de verdades cristãs católicas tradicionais, e de usar de ambiguidade para agradar aos protestantes e etc. Certamente, nessa questão do Ecumenismo há muitas distorções. Agora, que a Oração é mais eficaz os argumentos creio que devemos concordar.

 14.3.6. Ensinando o povo a rezar

       No tópico respectivo a este, o pastor cita o Catecismo da Igreja Católica, página 680, # 2.650, o qual fala sobre a oração da seguinte forma: “A oração não se reduz ao surgir espontâneo de um impulso interior; para rezar é preciso querer. Não basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração; também é indispensável aprender a rezar. E é por uma transmissão viva (a sagrada Tradição) que o Espírito Santo, ‘na Igreja crente e orante’, ensina os filhos de Deus a rezarem”. Não há nada de errado no que foi expresso acima, porém, não foi o que entendeu o pastor Joel. Para ele a declaração acima é contrária à Bíblia pelo menos por duas razões. Segundo o pastor, a primeira razão é que a Bíblia é categórica ao afirmar que a oração realmente pode ser o “surgir espontâneo de um impulso interior”, e a segunda razão é que a Bíblia diz de si mesma que ela tem condição de nos preparar “para toda boa obra” (2 Tm 3.15-17). Será que “toda boa obra” não inclui a oração? Certamente que sim, diz o autor. Vejamos: o catecismo não afirmou que a oração não possa ser o surgir espontâneo de

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um impulso interior, mas que ela não se reduz a isso. Então há a possibilidade, pois, o que não pode é que a oração seja somente isso. E o motivo, o Catecismo esclarece: para rezar é preciso querer. Ninguém deve somente esperar “brotar” espontaneamente o desejo da oração ou a própria oração, mas, devemos querer rezar. Depois o pastor afirma que na Escritura não encontramos os servos de Deus repetindo palavras decoradas, sendo todas as orações o “surgir espontâneo”, o brado da alma. O autor também questiona como o ladrão arrependido orou, e em que livro de rezas ele se inspirou, e lembra ainda as orações de Abraão, de Jacó, de Moisés, de Salomão, de Jesus, dos primeiros cristãos e muitos outros. Certamente, isso é uma crítica ao costume cristão católico de usar livros de orações. Porém, isso não demole a doutrina da Igreja, pois não é proibido fazer orações espontâneas, ao mesmo tempo que as preces aprendidas são de grande valor. A respeito da afirmação de que não basta saber o que as Escrituras revelam sobre a oração, o pastor questiona: Mas quem disse que não basta? Pode-se responder a isso afirmando que a Bíblia basta para aprendermos, mas não basta sabermos, temos de praticar orando, aprendendo a rezar. Não é isso que o Catecismo está dizendo? Mas o pastor entendeu que os clérigos católicos dizem que não basta... pelo fato de quererem também dizer algo sobre o assunto, aproveitando para ensinar a Ave-Maria e as rezas aos santos (que o pastor cita entre aspas: “santos”), e anjos diversos. E afirma que Cristo nos ensinou a rezar direto a Deus Pai, e nunca falou da necessidade de intermediários entre nós e Deus. O intermediário que, no entanto, necessitamos, é Cristo. O pastor Joel pergunta: Por que Cristo não nos ensinou a rezar aos espíritos dos mortos que já estão no Paraíso, pedindo-lhes que roguem por nós? Será que os papas são mais sábios do que Cristo? Esse raciocínio tem a intenção de provar a invalidez da oração de intercessão do santos. Podemos afirmar que o Único Mediador e Intercessor é Cristo, mas, ao mesmo tempo, quando oramos uns pelos outros, e isso é uma ordem bíblica, nós nos tornamos intercessores e mediadores, o que nunca visão primária constituiria uma contradição. Na verdade nada há de contradição. A intercessão que fazemos é possível somente no nome de Jesus Cristo, pois ele é o único Mediador de salvação. A doutrina cristã católica ensina que a nossa intercessão, bem como a dos santos no céu, é uma intercessão secundária. Se fôssemos ser coerentes, ao negarmos a intercessão dos santos baseados no argumento de que Cristo é o único Intercessor, deveríamos cessar de orar pelos nossos irmãos, o que constituiria uma explícita desobediência à ordem expressa de rezarmos uns pelos outros. Mas os protestantes logo argumentariam que, de fato, devemos rezar pelos irmãos e por todos, mas que não podemos orar aos santos do céu. Assim, estabelece-se que a oração de intercessão é possível unicamente entre os cristãos vivos. Chegamos ao limite da argumentação, pois a Bíblia não nos fornece provas para que creiamos que os cristãos no céu estejam totalmente desligados dos cristãos na terra. Pelo contrário, o que vemos é que a comunhão dos santos nunca cessa. O apocalipse mostra, simbolicamente, os mártires muito cônscios e preocupados com os acontecimentos na terra, clamando vingança (Ap 6,9). De fato não há ensinamento que prove um desligamento ou uma cessação da comunhão dos santos depois da morte. Trata-se do mesmo fato, visto que as orações de intercessão que fazemos pelos vivos e aquelas que pedimos aos santos são essencialmente idênticas.

       A respeito das palavras decoradas, o pastor afirma que isso não é o que Deus mais espera ouvir de nós, quando nos dirigimos a Ele em nossas

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orações. Mas é isso o que a Igreja Católica ensina, afirmando que a reza não pode ser meramente mecânica. Contudo, isso não invalida o uso das palavras dos livros de orações. É o Espírito Santo que reza conosco e por nós, conhecendo o nosso coração muito melhor que nós mesmos. Se alguém reza sem a devida disposição, tanto faz usar palavras espontâneas ou decoradas, a ineficácia será a mesma. O mesmo pode ser dito do contrário.

       O pastor Joel logo se lembrou de Mateus 6, 9-13, a passagem em que nosso Senhor ensina a rezar. O autor explica que o leitor talvez pense que o que foi dito colide com o referido texto bíblico, visto que este texto parece dizer que Cristo pôs na nossa boca as palavras que devemos pronunciar quando estivermos orando. Mas explica que o que Cristo quer é que entendamos Sua atitude, o que Ele quis dizer com isso. Mais uma vez, nada há de contraditório com a doutrina católica, pois é o mesmo que a Igreja ensina. Convergimos plenamente nesse ponto. Quando o pastor explica que o desejo de Jesus é que tenhamos na Sua oração-modelo a inspiração para as nossas, ou melhor, que façamos da oração-modelo que Ele nos ensinou, o esboço das nossas, parece que o autor aprendeu isso lendo o Catecismo. Se não o foi, ou seja, se ele aprendeu isso diretamente da Bíblia, é mais uma evidência de que a doutrina bíblica é fielmente retratada nos compêndios que a Igreja elabora para nos ensinar; o que permitiu essa feliz coincidência. De fato, certamente ele dirá, de imediato, que foi na Sagrada Escritura que aprendeu essas verdades. Então, aqui temos, mais uma vez, a oportunidade de verificar a fonte bíblica da Igreja, expressa em seus Catecismos. O autor prossegue explicando: Quando Ele diz que devemos orar dizendo “Pai nosso que estás nos Céus”, o que Ele quer é inculcar em nós que podemos relacionarmos com Deus como os filhos se relacionam com seus pais, e que não necessitamos de intermediário algum, visto termos livre acesso ao Pai. “Santificado seja o teu nome” significa que o orante não pode levar uma vida de profanação. Santificar é o contrário de profanar. “Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”, não significa que tenhamos que memorizar estas palavras e repeti-las, mas sim, que se não perdoarmos aos nossos devedores, não alcançaremos o perdão de Deus. Depois ele afirma que uma das provas de que estamos na trilha certa é o fato de que Lucas, ao registrar a mesma oração, deixou claro que ele não havia decorado a reza , pois omitiu a palavras que Mateus havia registrado. Felizmente o autor afirma não incriminar os que rezam o Pai-Nosso (entre aspas), pois não vê nisso nenhum mal; mas deixou claro que a “sólida argumentação” que foi feita se destina tão somente a provar que os que afirmam que “a oração não se reduz ao surgir espontâneo de um impulso interior” e que não basta saber o que as Escrituras ensinam sobre as orações não são biblicistas. Porém, visto que os biblicistas católicos estão de acordo com o pastor sobre a essência da oração, a crítica não os atinge. Outra razão é que os apóstolos não aparecem rezando o Pai Nosso, mas rezando com suas próprias palavras. Contudo, é ilógico e sem fundamento afirmar que eles não o fizessem. As palavras de Cristo na oração do Pai Nosso constituem a mais perfeita e bela oração cristã, e os apóstolos nunca diriam o contrário. Como já pudemos ver anteriormente, não houve razão para tantos ataques, pois a doutrina católica está totalmente de acordo com os principais arrazoamentos do pastor. Certamente, porém, o autor se apegou demais à afirmação não se reduz..., e a entendeu como se fosse uma proibição da oração espontânea, o que não existe, e que o não basta saber... não é uma

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negação de que a Escritura seja fonte de aprendizado também nesse sentido, como o próprio Catecismo afirma mais adiante, no número 2653, falando sobre o aprendizado da sublime ciência de Jesus Cristo, que certamente inclui todo o Evangelho: A Igreja «exorta com ardor e insistência todos os fiéis [...] a que aprendam "a sublime ciência de Jesus Cristo" (Fl 3, 8) pela leitura frequente das divinas Escrituras [...]. Lembrem-se, porém, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração, para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem, porque "a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos"». Na leitura da Escritura, e em espírito de oração, aprendemos a ciência de Cristo, e aprendemos mais a orar.

CAPÍTULO 15 

COMO EVANGELIZAR OS CATÓLICOS 

      Nesse capítulo o pastor apresenta algumas técnicas para a evangelização dos católicos que podem ser usadas também pelos católicos para a evangelização dos protestantes.

      São 11 itens, de 15.1. a 15.11 intitulados: Ame-os, Ore por eles, Seja sábio, Seja amigo, Seja cortês e franco simultaneamente, Saiba como começar e como parar, Encoraje os católicos ao diálogo, Modere suas críticas, Não se julgue dono da verdade, Pregue o Evangelho, Peça Sabedoria a Deus. São técnicas muito interessantes para um trabalho de evangelização. E se cremos que são os protestantes os que estão equivocados, essas técnicas podem ser usadas para instruí-los e logicamente serem respeitadas no diálogo por ambos os lados.

      Alguns exemplos que o pastor apresenta sobre a falta de instruções de muitos católicos, como o de uma senhora beata e adúltera, servem para convencer-nos mais ainda da necessidade de evangelização dos “católicos” nominais para que se tornem cristãos católicos de fato. Cremos que o Catolicismo é o Cristianismo original.

      O fato de que às vezes os católicos são desencorajados de dialogar e discutir sua religião com os protestantes não significa que o Catolicismo não tenha argumentos. O pastor Joel diz assim: Porque os clérigos sabem que é fácil provarmos a um católico que o Catolicismo não resiste a um confronto com a Bíblia. Mas essa postura parece também ser ensinada a alguns protestantes, pelo menos, como aos iurdianos, protestantes criticados por estarem praticando sincretismo religioso. É certo também que a maioria dos católicos não tem preparo para um diálogo com protestantes, e esse fato torna compreensível essa postura. Interessante também é essa afirmação do autor: Muitas de nossas igrejas cometem erros que a Igreja Católica nunca cometeu.

EPÍLOGO

      Podemos questionar as seguintes palavras sobre as sugestões que a Igreja deveria seguir para se fazer aceitável como Igreja de fato, pelos

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protestantes: Se fizerem isso, daremos as mãos e caminharemos juntos para o Céu. Se porventura a Igreja adotasse as sugestões dos protestantes, esses se tornariam cristãos católicos ou continuariam divididos em várias igrejas e seitas? (2 Timóteo 3, 5).