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MEMBRO DO GRUPO EUROPEU DE PENSIONISTAS DAS CAIXAS ECONÓMICAS E BANCOS Publicação Trimestral da ANAC Ano XXIII • N.º 60 • Janeiro / Março 2014 Aproximam-se dois acontecimentos importantes, um comemorativo e o outro bem ligado à realidade atual. O primeiro, a passagem dos 40 anos do 25 de Abril, data mítica pelo que representou para o país e os portu- gueses, ao derrubar uma ditadura velha de 48 anos, que tantas portas abriu e que presentemente alguém tenta insistentemente fechar. É tempo de não esquecer, voltar a refletir sobre as promessas e as es- peranças associadas ao despertar do sistema democrático, que tem como pilares os “D” de descolonizar, de- mocratizar e desenvolver. Este último, nunca completamente alcançado, enfrenta neste momento obstáculos sérios que levam à sua concretização, pelo menos no sen- tido em que o 25 de Abril foi inicial- mente entendido: uma sociedade livre, democrática, progressista, res- peitadora dos direitos dos cidadãos tão penosamente conquistados. A União Europeia, a que entusiasti- camente aderimos, e parecia ser a cristalização dos triunfos de Abril, tem-se revelado madrasta, ao mal- tratar quem no seu seio parecia ter alcançado a concretização das suas aspirações. Não tem sido assim. A tirania dos mercados financeiros, alicerçada nas políticas dominantes adotadas na Europa, muito tem contribuído para o desencanto que grassa entre os cidadãos, que se vêem cada vez mais afastados dos valores de Abril. O segundo acontecimento respeita às eleições europeias, que devemos entender como a possibilidade que a de- mocracia põe à disposição dos cidadãos, para estes mostrarem a sua vontade e manifestar as suas esperanças e aspirações na Europa. Esta oportunidade não deve ser perdida. Quis o destino que estas eleições se realizem quando os representantes dos credores saem do nosso país, permitindo-nos a esperança de alcançar algum controlo sobre as nossas vidas. l EDITORIAL

Anac boletim 60

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MEMBRO DO GRUPO EUROPEU DE PENSIONISTAS DAS CAIXAS ECONÓMICAS E BANCOS

Publicação Trimestral da ANACAno XXIII • N.º 60 • Janeiro / Março 2014

Aproximam-se dois acontecimentos importantes, um comemorativo e o outro bem ligado à realidade atual. O primeiro, a passagem dos 40 anos do 25 de Abril, data mítica pelo que representou para o país e os portu-gueses, ao derrubar uma ditadura velha de 48 anos, que tantas portas abriu e que presentemente alguém tenta insistentemente fechar.

É tempo de não esquecer, voltar a refletir sobre as promessas e as es-peranças associadas ao despertar do sistema democrático, que tem como pilares os “D” de descolonizar, de-mocratizar e desenvolver.

Este último, nunca completamente alcançado, enfrenta neste momento obstáculos sérios que levam à sua concretização, pelo menos no sen-tido em que o 25 de Abril foi inicial-mente entendido: uma sociedade livre, democrática, progressista, res-peitadora dos direitos dos cidadãos tão penosamente conquistados.

A União Europeia, a que entusiasti-camente aderimos, e parecia ser a cristalização dos triunfos de Abril, tem-se revelado madrasta, ao mal-tratar quem no seu seio parecia ter alcançado a concretização das suas aspirações.

Não tem sido assim. A tirania dos mercados financeiros, alicerçada nas políticas dominantes adotadas na Europa, muito tem contribuído para o desencanto que grassa entre os cidadãos, que se vêem cada vez mais afastados dos valores de Abril.

O segundo acontecimento respeita às eleições europeias, que devemos entender como a possibilidade que a de-mocracia põe à disposição dos cidadãos, para estes mostrarem a sua vontade e manifestar as suas esperanças e aspirações na Europa.

Esta oportunidade não deve ser perdida. Quis o destino que estas eleições se realizem quando os representantes dos credores saem do nosso país, permitindo-nos a esperança de alcançar algum controlo sobre as nossas vidas. l

EDITORIAL

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Campanha aGE para as ElEiçõEs EuropEias dE 2014

Antes das eleições do Parlamento Europeu em Maio de 2014, a AGE está a executar uma campanha de sensibilização para a necessidade de serem tomadas medidas abrangentes e efi-cazes para promover um ambiente favorável aos seniores no interior da UE, e mobilizar as organizações de idosos em toda a Europa para se envolverem ativamente naquelas eleições a nível nacional.

Com esta finalidade, a AGE redigiu um Manifesto para as elei-ções para o Parlamento Europeu 2014, que foi lançado oficial-mente num encontro nesse Parlamento, organizado pelo de-putado Claude Moraes, em 5 de novembro. O Manifesto da AGE para o PE, propõe uma série de ações nas áreas de não--discriminação, protecção social, saúde, acessibilidade, empre-go, investigação e luta contra o abuso sobre idosos, com vista a criar uma União Europeia Age-Friendly.

AGE também lançou um blog de “Rumo a um ambiente amigável aos seniores - AGE Parlamento Europeu“ (towardsanagefriendlyep.com) para apoiar a campanha. Este blog tem como objetivo tornar-se essencial na campanha, apresentando em maiores detalhes o Manifesto, reunindo compromissos de candidatos a deputados, opiniões dos cidadãos europeus seniores, material de formação em cidadania e notícias de toda a Europa sobre as campanhas em curso para as eleições da UE. Este blog vai servir comouma ferramenta interativa e abrangente para discutir e compartilhar informações sobre questões de interesse para as pessoas mais idosas da Europa.

Ficha Técnica

Propriedade da ANAC – Associação

Nacional dos Aposentados da Caixa

Geral de Depósitos

Sede: Rua Marechal Saldanha,

nº. 5-1º. 1200-259 Lisboa

Tels. 21 324 50 90/3

Fax 21 324 50 94

E-mail: [email protected]

Blogue: http://anaccgd.blogspot.com

Coordenação: Carlos Garrido

Publicação: Trimestral

Impressão: Gráfica Expansão -

Artes Gráficas, Lda.

Rua de S. Tomé, 23-A

2685-373 PRIOR VELHO

Tiragem: 3.500 exemplares

Depósito Legal: nº. 55350/92

Distribuição: gratuita aos sócios

Colaboraram neste número:

Cândido Vintém; Carlos Garrido;

Francisco Pestana; José Coimbra

(Deleg. ANAC Norte); Luís Diogo;

Orlando Santos; António Barata

ConFErÊnCia dE EnCErramEnTodo ano EuropEu do CidadÃo 2013

Sob a Presidência Lituana do Conselho da UE, Vilnius acolheu a cerimónia de encerra-mento do Ano Europeu do Cidadão, a 12 e 13 de dezembro no Parlamento da Lituânia, o Seimas. O evento reuniu mais de 300 participantes, atores da democracia europeia: formadores de opinião, representantes institucionais e representantes da sociedade civil de todos os Estados membros da UE.A Conferência incluiu um conjunto de sessões plenárias, paralelamente a sessões de trabalho, seguindo três blocos temáticos: O Papel da Sociedade Civil na Democracia Europeia; Como os cidadãos podem influenciar a orientação política e a democracia participativa e representativa: Dois lados da mesma moeda.A Conferência de Encerramento foi a oportunidade para discutir e partilhar atempa-damente os planos de campanha, à luz das próximas eleições europeias. O Provedor Emily O’Reilly, desafiou os cidadãos europeus a manterem-se mobilizados para exigir resposta às suas necessidades e expectativas.Os participantes foram sensibilizados para a necessidade de adaptar o modo de tra-balho das organizações da sociedade civil, para promover reuniões de cidadãos no sentido de os mobilizar através dos meios de comunicação social , sem esquecer os grupos mais isolados e excluídos da população. A Vice-Presidente Viviane Reding também teve a oportunidade de anunciar que 2014 será a continuação do EYC2013. As eleições Europeias serão um claro indicador do conhecimento dos cidadãos acerca da UE, e do trabalho ainda muito necessário para implementar este conhecimento e mobilizar os cidadãos para a construção da Europa na qual se possam reconhecer. Será também a ocasião para a Aliança do Ano Europeu dos Cidadãos (EYCA) da qual a AGE é membro, para disseminar e proceder à implementação das recomendações para uma cidadania ativa.Embora a AGE Plataforma Europa, tenha apoiado fortemente a proposta que decla-rava 2014 Ano Europeu para a reconciliação da vida profissional e familiar, a AGE compreende a decisão da Comissão. Mais iniciativas concretas são necessárias a nível local, regional e nacional que deem poder aos cidadãos europeus e que os informem dos seus direitos e possibilidades para influenciar as decisões de processos relevantes. A mobilização dos cidadãos europeus a nível local, e a sua ligação com os movimen-tos de cidadãos a nível nacional e/ou europeu, é a chave para se alcançar uma mais in-clusiva e democrática Europa. Por outro lado a AGE anseia por uma nova cooperação com eles e com a EYCA, tendo em vista uma maior participação nas próximas eleições europeias e incitação a uma ativa cidadania sénior.Para mais informação ler por favor AGE press release on the conference. Para mais in-formação nas recomendações da EYCA, ler Manifesto ou visite a Alliance’s website. l

MANIFESTO

A visão da AGE é de uma sociedade para todas as idades, livre de discriminação e estereótipos, com base na solidariedade e cooperação entre gerações, onde todos sejam motivados a desempenhar um papel ativo na comunidade e gozar de direitos iguais e oportunidades em todas as iades, género ou etnia, religião ou crenças, estatuto económico ou social, orientação sexual, condição física ou mental ou necessidade de cuidados.

Conseguir uma sociedade intergeracional requer dos deciso-res e todos os atores relevantes, que assumam a responsabi-lidade colectiva, trilhando novos caminhos para a organização das nossas sociedades, que assegurem um futuro mais justo e sustentável para todas as gerações e dialogar em ambiente de crise económica e social. O envolvimento da sociedade civil na realização de políticas a todos os níveis poderia pressionar a integração europeia baseada em democracia, transparência e a participação de todos os cidadãos na construção das nossas sociedades.

Chama-se a atenção dos candidatos a deputados do Parla--mento Europeu para a criação de uma UE com preocupações com os idosos, através das seguintes políticas e iniciativas:

1. Promover a igualdade de oportunidades e a existência de direitos humanos para todos

2. Garantia da suficiência, justiça e sustentabilidade dos sis--temas europeus de proteção social e de saúde

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os sEniorEs E a saÚdE PORQUE OS ACIDENTES SURGEM CADA VEZ MAIS CEDOComo noticiado num artigo da revista S.V., o acidente vascular cerebral, AVC, atinge as pessoas cada vez mais cedo. Na origem deste fenómeno mundial estão as patologias ligadas à maneira de viver atual. É sabido que o AVC acontece quando um vaso sanguíneo do cérebro é entupido por um coágulo ou por aterosclerose, ou se rompe por tensão ar-terial elevada. A zona cerebral irrigada por esse vaso, fica privada de oxigénio, o que origina danos (paralisia, perda da fala) por vezes permanentes, ou a morte.

Segundo um estudo francês publicado em novembro passado, a ocorrência de AVC está a subir nas faixas etárias abai-xo dos 55 anos. O registo das hospitalizações, obtido ao longo de trinta anos, mostra que abaixo da citada idade, no período de 1985 a 1993, a frequência era de oito casos anuais por cem mil habitantes, dez casos entre 1994 e 2002, e subiu a dezoito casos entre 2003 e 2011. E esta progressão inclui também os jovens: todos os anos, o número de AVC cresce de 2,5% dos 25 aos 34 anos. Os resultados são tanto mais preocupantes, porque fazem eco a dois outros estudos internacionais. No mundo, segundo os cálculos de pesquisadores neozelandeses, o número de AVC abaixo dos 65 anos aumentou 25% nas últimas duas décadas.

Como explicar a diminuição na idade do surgimento do AVC? De acordo com o chefe do serviço de neurologia vas-cular do hospital Purpan (Toulouse) é um dado inesperado. De acordo com estado actual do conhecimento, apenas existem pistas. Se é possível explicá-lo em parte por uma melhoria no diagnóstico, graças à qualidade das técnicas de

imagiologia atuais, é muito seguramente pelo lado do modo de viver que se vão encontrar as respostas. Assim, o sedentarismo, os exageros alimentares, o colesterol elevado no sangue estão entre os principais fatores apontados.

O maior estudo mundial realizado sobre o AVC, designado Interstroke, identificou dez fatores de risco a que se podem atribuir 90% dos AVC. Pondo de lado as disfunções cardíacas e a hipertensão, eles estão to-dos ligados a hábitos de vida pouco sãos. Felizmente, o facto do AVC acontecer mais cedo, não leva forçosamente a consequências mais graves.

O artigo foi escrito para a realidade francesa, mas pode admitir-se que não seja muito diferente em Portugal.

Os franceses têm uma boa assistência médica, que faz com que a taxa de mortalidade do país esteja entre as mais baixas do mundo (27 por 100.000 ano, de acordo com o estudo Interstroke).

Resumindo, as causas mais importantes do AVC são as seguintes:

Causa nº 1 – Os hábitos de vida degradam-seNo mundo a primeira causa de AVC é a hipertensão arterial que multiplica o risco de acidente por 2,6. A maior parte dos outros fatores de risco estão fortemente ligados aos hábitos de vida: tabagismo, excesso de álcool, uma alimenta-ção demasiado rica em carne, em sal e gorduras, actividade física insuficiente, exposição ao stresse e a depressão são fortemente associados ao modo de vida contemporâneo.

Causa nº 2 – A obesidade não cessa de aumentarNos últimos 15 anos, a população francesa aumentou de peso 3,6 Kg em média e 0,7 cm de perímetro de cintura. O número de obesos aumentou muito, particularmente entre as mulheres, os jovens e os mais desfavorecidos, tocando os 7 milhões em 2012. Ora, entre estas pessoas, a frequência dos AVC cresceu 65%, segundo um estudo conduzido em 22 países.

Causa nº 3 – A diabetes tornou-se uma verdadeira epidemiaEm França, as pessoas tratadas por diabetes quase duplicaram em dez anos, atingindo hoje 3 milhões de casos. Os epidemiologistas não hesitam em falar de epidemia, fortemente ligada à progressão do excesso de peso e à obesidade. Estima-se que a diabetes exponha a um risco duplo, talvez triplo, de AVC, risco que ainda duplica nos diabéticos que fumam.

Causa nº 4 - Foi estabelecida nova ligação entre drogas e o AVCUma nova hipótese é presentemente estabelecida: um certo número de AVC manifesta-se a no seguimento da ingestão de drogas como a canábis, a cocaína e as anfetaminas. Sem que uma ligação direta tenha sido provada, as estimativas do risco incorrido são importantes (de 76% para a canábis a 495% para as anfetaminas). Neurologistas franceses exploram esta pista, porque o número de pessoas que experimentou drogas, aumentou constantemente nos últimos 20 anos. l C.G.

3. Assegurar o acesso universal a bens e serviços, em particu-lar nas áreas do ambiente, mobilidade e serviços públicos

4. Assegurar o direito à existência de boas condições mentais e físicas para o aumento da esperança de vida

5. Criar condições de trabalho, mercado e economia para uma sociedade sénior

6. Envolver as pessoas idosas em todas as políticas e proces-sos de pesquisa que lhes digam respeito

7. Garantia dos direitos de todos a uma vida e morte com di--gnidade

A AGE Plataforma Europa reivindica o restabelecimento do Grupo Intergeracional de Solidariedade e colocar estes itens no topo da agenda do Parlamento Europeu. l

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Dependendo do fornecimento exterior em grande parte da energia que consome, e com o financiamento condicionado pelas exigências dos credores financeiros, as ações destinadas a desenvolver uma estratégia para o país estão limitadas, incluindo as opções energéticas.

Estas, para além dos interesses instalados, dependerão da própria evolução da situação europeia, das tendências mundiais da oferta e da procura de fontes de energia, e das implicações que as convenções internacionais possam impor, pelos efeitos mais que evidentes das alterações climáticas, que exigem políticas conjuntas a nível internacional.Os combustíveis fósseis têm sido, até hoje, hegemónicos na produção de energia em Portugal, facto que tem contribuído de forma intensa, para o permanente deficit da balança de bens e serviços, que já foi excedentária há décadas atrás.É muito provável que a baixa produtividade que a economia portuguesa apresenta, seja em boa parte consequência de que o aumento do produto seja inferior ao aumento do consumo final de energia.Esta falta de eficiência no consumo é evidenciado pelo crescimento do transporte rodoviário, resultante de uma urbanização desordenada e da mobilidade em transporte privado que a mesma origina.No entanto nem tudo é mau. Não pode esquecer-se que nos últimos anos, foi tomada a opção pela utilização do gás natural, pouco poluen-te, e a sua utilização nas centrais termoeléctricas de ciclo combinado, com maior rendimento e menor poluição que as centrais a carvão ainda em serviço.Porém a opção mais inovadora foi a decisão de desenvolver energias renováveis, cuja fracção na produção de energia eléctrica tem vindo a aumentar, tais como a eólica, a biomassa, as mini-hídricas e a fotovoltaica que no seu conjunto já suplantam a originada pela origem hídrica.Do ponto de vista interno, a alteração de governação tem permitido diminuir a importância dos investimentos em energias sustentáveis. Porém, não parece adequado não dar continuidade a essa estratégia, cuja importância já foi demonstrada pela criação de novos empregos, incremento de inovação tecnológica nacional e diminuição na importação de produtos fósseis.O seu impacto na estrutura da tarifa da energia eléctrica, não considerando os custos não energéticos, tenderia a ser cada vez maior.A atual política seguida pela Comissão Europeia, que pretende transformar a Europa num espaço económico de baixa emissão de carbono, sob a influência da Fundação Europeia do Clima, poderá ser bem sucedida se o projeto europeu tiver sucesso. O objetivo a alcançar, seria a Europa tornar-se no horizonte de 2050, um espaço de utilização de energia verde, juntando crescimento com proteção do ambiente, redução do consumo e maior eficiência, e com manutenção da qualidade de vida.Se os esforços para a construção de um espaço europeu viável não forem bem sucedidos, corremos o risco de que a estratégia que tem em conta as alterações climáticas seja metida na gaveta e regresso em força às energias fósseis convencionais, gás e a recente tecnologia de extracção de petróleo da rocha de xisto, por exemplo, venha atrasar a aposta nas renováveis, com implicações severas no futuro, com custos a pagar pelas gerações vindouras. l

C.G.

O 25 de ABRIL

A ENERGIA EM PORTUGAL

Espaço dE rEFlEXÃo

Muito já foi dito sobre o 25 de Abril, e na influência que teve nas mudanças ocorridas na sociedade portuguesa nas mais diversas verten-tes. Passaram já 40 anos desde esse dia histórico, em que o que começou por ser um movimento de natureza militar, rapidamente, com

o apoio maioritário dos portugueses se tornou numa esperança de vida em liberdade, desenvolvimento e maior justiça social.Os anteriores 48 anos, em que a ditadura governou o país, a forte repressão exercida sobre os seus opositores e contestatários, a duração da longa guerra que foi travada nas ex-colónias, foram como um deserto em que de súbito, alguém sequioso se visse inesperadamente no centro de um oásis com inúmeras fontes, onde seria possível matar as diversas sedes que atormentavam a maioria da população portu-guesa.Inicialmente levado a cabo pelo Movimento dos Capitães e rapidamente endossado o poder à Junta de Salvação Nacional, elaborou esta uma declaração de princípios abrangendo três palavras chave, sobre as quais pretendia fazer incidir a sua ação: Descolonizar, Democra-tizar, Desenvolver.A descolonização foi conseguida, não podendo porém esquecer-se o contexto geoestratégico da época em que os acontecimentos de-correram. A luta pelo domínio de diferentes áreas do planeta, em função dos interesses das duas grandes potências dominantes na altura, condicionou a ação dos movimentos de libertação nas diferentes tentativas de se imporem e apressar o processo que, passado este tempo, com o distanciamento que isso permite, torna possível a visão dos erros cometidos no decurso do processo, e que deram origem poste-riormente ao desencadear de sangrentas guerras civis.O processo de democratização do ponto de vista formal foi conseguido. Apesar das convulsões iniciais provocadas pela inexperiência e imaturidade popular e partidária, que deu origem a algumas convulsões, foi possível construir um sistema democrático do tipo ocidental, no qual o povo é chamado a votar de quatro em quatro anos, ficando-se normalmente por aí a sua participação na vida democrática. Seria de esperar ao fim de quarenta anos, e com as condições favoráveis permitidas pela adesão à União Europeia, uma maior participação, in-tervenção e controlo sobre as decisões da classe política, que infelizmente tem levado à muito deficiente concretização da terceira palavra da Junta de Salvação Nacional, desenvolvimento. Sendo o desenvolvimento um processo em permanente evolução e tendo já decorrido quatro décadas, podem ser apreciados alguns indi-cadores que mostram melhorias , tendo havido progressos assinaláveis, pelo menos até agora, na situação social portuguesa.É verdade que muitas aldeias passaram a dispor de água, eletricidade e saneamento básico; a taxa de mortalidade infantil foi reduzida, a longevidade aumentou, reduziu-se a taxa de analfabetismo que se tornou praticamente nula; o nível de instrução médio melhorou clara-mente, tendo subido muito o número de pessoas com formação superior. De todas as conquistas uma das mais relevantes foi sem dúvida o Serviço Nacional de Saúde, em grande parte responsável pelas melhorias sensíveis de que a população portuguesa beneficiou.É verdade que este processo foi conseguido pelas diversas gerações que não souberam tornar sólido este pilar de Abril, que hoje se encon-tra ameaçado por um retrocesso não desejado, não tendo sabido compatibilizar as perspetivas de desenvolvimento do país e as ambições individuais dos cidadãos. Esse fosso ocupado pelo desespero e desesperança, pode ser caminho fácil a diferentes populismos, que só nos poderão afastar da vida democrática e criar oportunidades ao aparecimento de fenómenos de regressão.A falta do cumprimento do terceiro “D” do 25 de Abril, pode por em causa a democracia instituída e dar origem a uma perda de soberania encapotada e a uma possível nova colonização em que agora os colonizados seríamos nós.Sem um desenvolvimento que nos traga a normalidade de vida, arriscamos voltar ao passado, tornando dolorosamente esquecidas as conquistas que pensávamos irreversíveis.Não haja dúvidas que só o desenvolvimento e a independência financeira nos poderão evitar a vergonhosa situação de dependência em que nos encontramos. É na mobilização pelo terceiro “D” de Abril que nos podemos encontrar e encontrar o país.

Abril não está cumprido. l C.G.

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ATIVIDADES

ASSEMBLEIA GERAL DA ANAC

Sob convocatória do Presidente da Mesa da Assembleia Geral da ANAC, reuniu-se no passado dia 26 de Março a respetiva assembleia para apreciar o relatório de ativida-des da Direção e as contas do ano de 2013.Sob a presidência do Sócio Alves Silva, a reunião decor-reu em ambiente de livre discussão dos assuntos que os Sócios pretenderam ver esclarecidos.

O museu divide-se em três núcleos onde, no primeiro, se podem recordar os primórdios da empresa com os veí-culos de tração animal, passando pelos elevadores e as-censores da Glória, Lavra e Santa Justa, representados em fotografias e pequenos modelos. É também mostra-da a forma como foi realizada a electrificação da frota, o aparecimento dos autocarros e fotografias alusivas à fundação e desenvolvimento da rede do Metropolitano. A última sala deste núcleo é dedicada à célebre Banda da Carris, onde estão expostos muitos dos instrumentos que estiveram em serviço ao longo da história da empresa. No segundo núcleo, instalado nas antigas oficinas compostas por diversas naves, são mostradas viaturas antigas, máquinas usadas nas diferentes reparações, e uma oficina de tipografia onde eram impressos diversos documentos, entre os quais os antigos bilhetes de transporte que se encontram ainda no nosso imaginário. Muitas dessas viaturas encontram-se em condições de funcionamento.

O relatório da Direção foi parcialmente lido pelos Vice--presidentes e o Presidente da Direção fez uma apresen-tação gráfica de todos os pontos do relatório e dos da-dos considerados relevantes das rubricas contabilísticas.O Presidente do Conselho Fiscal leu o parecer do mesmo Conselho onde era proposta a aprovação dos documentos referidos e votos de louvor à Direção e aos Delegados da zona Norte e um aplauso aos Sócios que trabalharam para a criação da Delegação da Beira Interior, entre outras.Os Sócios colocaram várias perguntas à Direção, visando esclarecer valores referidos quer no balanço quer na de-monstração de resultados. Foi discutida a utilidade da manutenção dos valores exis-tentes no “Fundo Social”. A Direção defendeu a sua im-portância para assegurar o futuro da Associação.Todos os documentos foram aprovados unanimemente.Tal como acontece com a grande maioria das Associa-ções no nosso país, a presença de Sócios nas Assem-bleias Gerais é muito limitada. Da parte da Direção esta ausência é considerada como uma prova de que os Só-cios depositam nela a confiança necessária para a gestão dos assuntos da nossa Associação. No entanto, gostaríamos que na realidade os Sócios marcassem presença significativa nestes atos pois eles são o momento próprio para que sejam discutidos livre e frontalmente todos os assuntos que dizem respeito a este nosso espaço comum. Só com a participação ativa e construtiva dos Sócios a ANAC será tão grande como todos nós desejamos. l

(Cândido Vintém)

VISITA AO MUSEU DA CARRIS

Dando início ao programa de atividades planeado pela Direção da ANAC, reuniram-se no passado dia 15 de janeiro, 24 sócios e amigos para realizar uma visita ao museu da Carris. Após o almoço num restaurante das imediações, tivemos oportunidade de apreciar a história, ao longo das muitas décadas da existência de uma empresa que, para os habitantes da cidade de Lisboa e provavelmente do resto do país foi, e talvez ainda seja, uma das componentes mais significativas da identidade da própria cidade.É patente o propósito do museu em conservar a memória do seu património e, em simultâneo, chamar a atenção para o seu contributo no desenvolvimento urbano, pela forma como foi adaptando a sua estrutura e frota às exi-gências que o progresso colocou.

No terceiro núcleo, estão expostos veículos de trabalho, reparação e transporte, representativos de várias épocas, para restauro. A visita foi muito apreciada por todos, aconselhando-a, a quem queira passar umas horas de entretenimento, e evocação de memórias de tempos passados. l

C. Garrido

WORSHOP DO PORCO

Cerca de quarenta sócios da ANAC, familiares e convida-dos, realizaram um passeio de três dias à zona do pinhal, no qual alguns recordaram e outros tiveram um primeiro contacto com o ritual da matança do porco.Este foi o pretexto para conviver, rever amigos e recordar o passado. Tudo isto teve o seu início logo no primeiro dia, com o almoço a bordo do barco São Cristóvão na Barragem do Castelo de Bode.

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Foi também visitada Vila de Rei, que oferece como im-portante atração turística, o Centro Geodésico, o Museu da Geodesia e o Museu do Fogo e da Resina, bem como o Museu Municipal, que possui um interessante acervo de objetos de utilização diária nas lides campestres.Após a visualização dum filme, foi visitado o local onde decorreu a acção, em Dornes.O regresso a Lisboa efectuou-se sem incidentes, com a manifesta satisfação dos participantes pelos dias de descontração ali passados e vontade de partir para nova viagem. l

C.G.

ROTA DO MÁRMORE

Em cumprimento do programa de actividades, realizou--se no passado dia 14 de março um passeio à “Rota do Mármore”, localizada na região de Vila Viçosa e Estremoz.A visita começou por Vila Viçosa, ao emblemático Palácio Ducal onde, dirigidos por um excelente guia da Fundação Casa de Bragança, nos foram recordados acontecimen-tos importantes da história de Portugal diretamente liga-dos à origem da própria Casa de Bragança, cujos duques vieram a reinar após a restauração da nossa independên-cia em 1640.A construção teve início em 1501, por ordem de D. Jaime, quarto duque de Bragança, porém as obras que lhe de-ram o aspeto que hoje conhecemos, com os 110 metros de fachada revestida a mármore da região, um exemplar único na arquitectura portuguesa, prolongaram-se pelos séculos XVI e XVII. O grupo percorreu cerca de 40 salões no piso superior do Palácio, onde predominam frescos e azulejos seiscen-tistas, os tetos em caixotões pintados e as lareiras em mármore, que caracterizam as diversas salas, onde estão expostas valiosas coleções de pintura, escultura, mobiliá-rio, tapeçaria, cerâmica e ourivesaria. São de destacar as pinturas do teto da Sala dos Duques, onde estão paten-tes os retratos de todos os príncipes de sangue da Casa de Bragança, quadros de Columbano e Malhoa e do Rei D. Carlos, que mostram as suas qualidades artísticas, para destacar os mais conhecidos.No final a cozinha impressiona pela variedade e tamanho da enorme coleção de utensílios em cobre, que se encon-tram em excelente estado de conservação.

O passeio prosseguiu pelo centro histórico, com pas-sagem pelo Santuário de Nossa Senhora da Conceição, igreja matriz de Vila Viçosa. Lacalizada no interior da cerca amuralhada do Castelo, o seu interior divide-se em três naves, apoiadas em colunas de mármore e as pare-des revestidas de azulejos. Na capela-mor está coloca-da a imagem de Nossa Senhora da Conceição, ladeada por duas telas quinhentistas que descrevem cenas bíbli-cas. Seguiu-se o Castelo, mandado edificar por D. Dinis e reestruturado na época das Guerras da Restauração, devido à sua posição estratégica em relação a Castela. É edificado em planta quadrada, com dois torreões em ângulos opostos e mecanismos defensivos inovadores, características que dão ao Castelo um lugar importante na nossa arquitetura militar. Após o almoço no restaurante “Cuco”, prosseguiu-se o passeio em direção a Estremoz. Aí realizou-se a visi-ta ao centro histórico e conjunto medieval da Alcáçova de Estremoz, com as Muralhas Medievais e as respetivas Portas. No centro da vila medieval localiza-se a Torre de Menagem. Com cerca de 27 metros de altura tem planta quadrangular e é coroada de ameias com forma pirami-dal. O antigo Paço Real que lhe é anexo, está atualmen-te ocupado pela Pousada da Rainha Santa Isabel. Junto encontra-se o Paço da Audiência, a Igreja de Santa Maria e a Capela da Rainha Santa Isabel, local onde se diz que eram os seus aposentos quando ali morreu em 1336.Seguiu-se a visita a uma pedreira nos arredores, onde foi possível admirar a qualidade e a quantidade de pedra ali extraída, bem como a explicação das pessoas destacadas para o efeito.Faltava ainda a visita ao Convento das Maltesas, que foi sede de clausura de freiras da Ordem de Malta a partir do século XVI. O seu claustro é de arquitetura manue-lina e muito amplo. Em 1973 teve obras de recuperação que colocaram a descoberto o portal primitivo da Sala do Capítulo do período manuelino. O estilo renascentista também está presente no tanque central do jardim de planta quadrangular. Hoje é propriedade da Misericórdia de Estremoz, funcionando nas dependências do claustro o Pólo local da Universidade de Évora e na ala sul o Cen-tro de Ciência Viva, um museu interactivo e pedagógico dedicado à Geologia, onde nos foi explicada a formação das rochas metamórficas existentes na região.O regresso a Lisboa decorreu sem incidentes, tendo to-dos mostrado satisfação pelo passeio. l

C.G.

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A PAISAGEM NÓRDICA

Espaço CulTural

Com a designação de A Paisagem Nórdica do Museu do Prado, realizou-se uma exposição no Museu Nacional de Arte Antiga, com início a três de Dezembro passado, de um conjunto de paisagens pintadas pelos grandes mestres flamengos e holandeses, cedidas pelo Museu do Prado, com incidência na obra de Rubens, da família Brueghel (Pieter o Velho e Jan o Novo) e Lorrain.

Este tipo de pintura aparece nos países baixos, em resultado das alterações sociais ocorridas com a mudança das rotas comerciais deslocadas do Mediterrâneo para o Atlântico e o Mar do Norte, no século XVI, devidas às navegações portuguesas que abriram estas vias marítimas, com o consequente desenvolvimento económico e financeiro do norte da Europa.

A classe social que ascendeu nestas circunstâncias, a burguesia mercantil e financeira passou a ter rendimentos que lhe permiti-ram adquirir conhecimentos e cultura que lhe possibilitou rivalizar com as classes até aí dominantes, a nobreza e o clero.

As consequências da cisão religiosa que levou ao aparecimento da reforma protestante naquelas regiões, foram o pano de fundo para que as caraterísticas das encomendas efetuadas aos pintores, fossem diferentes das exigidas às obras de arte criadas até então.

Com o aparecimento da paisagem como tema central da obra e a oposição à adoração de imagens, estavam criadas as condições para o tipo das obras que hoje são classificadas como paisagem nórdica.

A exposição apresenta-se organizada por núcleos: A montanha, cruzamento de caminhos, encontro de viajantes; A vida no campo; Paisagem de gelo e neve; O bosque como cenário; Rubens e a Paisagem; No jardim do palácio, paisagens exóticas, terras longín-quas; Paisagem de água: marinhas, praias, portos e rios; E na Itália pintam a luz.

O termo nórdico, referente à Paisagem tem que ser entendido com o sentido antigo, isto é, nos Países Baixos, territórios situados para lá dos Alpes, como era designado pelos artistas italianos. A localização territorial marca as diferenças entre os pintores ita-lianos de Veneza, flamengos e holandeses.

A paisagem deixa de ser só um cenário, como sucedia com os italianos e passa a ser um elemento envolvido na representação pictórica. A pintura representava um bosque, uma montanha, algo com existência real ou imaginado.

Pieter Brueghel, o Velho, foi o primeiro de uma família de pintores famosos. Nasceu cerca de 1525 em Breda e faleceu em 1569 em Bruxelas. É uma figura chave da arte holandesa do século XVI. Foi um grande especialista em paisa-gens campestres, abrindo novos caminhos com as suas descrições realistas e detalhadas da vida rural. Foi discípulo de Pieter Coecke, cuja segunda esposa foi uma grande artista que influenciou a formação dos filhos de Brueghel, Pieter o Jovem e Jan o Velho.

Em 1551 ingressou no grémio de pintores de Amberes, antes de fazer uma via-gem crucial a Itália. Grande parte da sua obra inicial reflete a influência da tra-dição flamenga, começando posteriormente a integrar a influência italiana nas suas paisagens. A obra “Os Ceifeiros”, ilustra as atividades rurais nas distintas estações do ano. Esta corresponde ao mês de Agosto durante a colheita do trigo. É uma obra representativa da paisagem onde estão bem definidas as três zonas que dão a ilusão de profundidade, técnica usada na pintura nórdica, dada a não utilização ou desconhecimento da perspetiva italiana, colocando as figuras com cores bem definidas e quentes na zona mais baixa, uma zona intermédia na qual se destacam os tons verdes, simulando os campos a maior distância e, por último, em cores mais frias, com predominância do azul na zona superior, a linha do horizonte que se encontra com o céu de forma indefenida.

Entre 1560 e 1569, executou uma série de obras mostrando cenas da vida camponesa, com as quais desenvolveu um novo género de pintura, que passou a ter grande importância na história da arte. Durante esta década os Países Baixos rebelaram-se contra a dominação espanhola, o que deu origem a uma reinado de terror. Brueghel pintou todo o horror dos acontecimentos, mas pintou igualmente cenas festivas da vida quotidiana campestre.

O que o tornou um pintor destacado da Renascensa, foi a sua capacidade de representar esses temas no contexto do mundo natu-ral, com paisagens reais, onde se percebe a passagem da vida e as atividades, os rostos, o vestuário e os gestos dos camponeses.

Peter Paul Rubens nasceu provavelmente em 28 de Junho de 1577 em Siegen Alema-nha, filho de Jan Rubens e Maria Pypelincks. Os pais praticantes da religião calvinista, foram obrigados a sair de Antuérpia para Colónia em 1568, devido à crescente agita-ção relativa à religião e às perseguições aos protestantes durante o reinado do Duque de Alba nos Países Baixos. Após a morte do pai a família regressou a Antuérpia onde foi criado como católico. A religião teria uma posição destacada no conjunto da obra de Rubens que se tornaria numa das mais importantes na pintura da Contra-Reforma.

Em Antuérpia teve uma formação humanista , tendo começado a aprendizagem artís-tica com Tobias Verhaegt, tendo continuado a sua formação com os pintores manei-ristas Adam van Noort e Otto van Veen. Foi Van Veen que despertou em Rubens uma grande admiração pela Itália e pela cultura latina clássica que lhe permitiu trabalhar para reis latinos católicos, sendo germânico e filho de pai protestante.

Em 1600 Rubens viajou para Itália, primeiro Veneza, e depois em Mântua, onde se fixou na corte do Duque Vincenzo I Gonzaga. Tendo visto as pinturas dos grandes mestres italianos, Tintoretto e Veronese, que tiveram efeito imediato nas suas obras, o seu trabalho posterior foi influenciado por Ticiano. Com apoio dos Gonzagas, Ru-bens viajou pela Itália tendo até desempenhado missões diplomáticas em Espanha na corte de Filipe III onde pintou o Retrato Equestre do Duque de Lerma, no qual se

revelam influências de obras de Ticiano como o Retrato de Carlos V.

A vida de Rubens, decorreu entre a pintura e a diplomacia, tendo permanecido em Itália (1600-1608), principalmente em Roma, onde pintou o grande altar da igreja de Santa Maria de Vallicella, também conhecida como Chiesa Nuova, sendo o tema principal São Gregório Magno.

Regressou a Antuérpia, tendo sido escolhido como pintor da corte por Alberto VII de Áustria e pela Infanta Isabella Clara Eugénia, soberanos dos Países Baixos Espanhóis. Obras como “O Erguimento da Cruz” (1610) e “A Descida da Cruz” (1611-1614) para Catedral

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lisboa cidade de encantos retirado da internet por Orlando Santos

O Largo do Chiado pertence às freguesias da Encarnação, Mártires e Sacramento. Tem como afluentes as ruas Garrett, Paiva de Andrade, António Maria Cardoso, Nova da Trindade e Praça Luís Camões.No extremo poente do largo em frente o Largo de Camões, com a estátua do poeta, ergueram-se as torres das antigas portas de santa catarina, construídas no séc. XIV e demolidas no início do séc. XVIII. O local que foi das torres da muralha é hoje ocupado por duas igrejas barrocas, a do Loreto e a da Encarnação, com as paredes exteriores parcialmente decoradas com azulejos, e por esta razão também este largo já foi chamado de Largo das duas Igrejas.De 1771 a 1853 existiu no mesmo local o chafariz de Neptuno do Lore-to, abastecido pelo Aqueduto das Águas Livres através da galeria do Loreto. A estátua de Neptuno que encimava o chafariz encontra-se hoje no centro da fonte de Dona Estefânia.Área tradicionalmente conhecida pelas suas ligações inteletuais, en-contram-se aí várias estátuas de figuras literárias. Fernando Pessoa um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, está sentado a uma mesa no exterior do café A Brasileira, imortalizado numa estátua de bronze da autoria de Lagoa Henriques. Além desta estátua do século XX, encontramos também a de António Ribeiro, que ficou conhecido como «Chiado» por frequentar a zona.Dizem uns que o Chiado terá sido um taberneiro quinhentista de nome Gaspar Dias e de alcunha «o chiado», proprietário de uma ta-berna aberta neste local defronte do Convento do Espírito Santo, de-pois Palácio Barcelinhos e Armazéns do Chiado, outros dizem que foi um frade franciscano, de nome António Ribeiro Chiado, arruaceiro e devasso, mas com algum talento poético.O Largo do Chiado foi o grande centro cultural de Lisboa. Guerra Junqueiro, frequentador assíduo dos cafés da zona, divulgou sobre ele muitos elogios, como por exemplo: «Para ver o Mundo, só há dois píncaros: o Himalaia e o Chiado». !!!!!!!

expressões populares: Fazer tijolo (signif.: Morrer)

Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo. O cemitério mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, coberta de arvoredo. Após o terramoto de 1755, começando a reedificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar-se todo o que aparecesse.O cemitério árabe foi tão amplamente explorado que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para fazer tijolo. Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como esta: “Daqui a dez anos já estou a fazer tijolo”. !!!!!!!

de Nossa Senhora, celebrizaram Rubens como o mais importante pintor da Flandres, sendo “O Erguimento da Cruz” reconhecida como um grande exemplo da pintura religiosa barroca.Não se conhecem pinturas de paisagens em Rubens nos seus tempos de formação, se bem que os fundos de algumas represen-tações religiosas ou mitológicas anteriores a 1600, ano da ida para Itália, revelassem os seus extraordinários dotes como paisa-gista, talvez ainda influência indirecta de Pieter Brueghel, o Velho. Os anos de Itália foram decisivos para a evolução de Rubens como pintor de paisagens. As obras pintadas nessa altura “O Naufrágio de Eneias” revela já a mudança da minuciosa descrição dos elementos e a tradicional fragmentação espacial flamenga, em três faixas de cor paralelas que se estendem até à mistura da paisagem com o céu num horizonte difuso e pouco definido, deram lugar a uma visão conjunta da natureza e a um jogo de luzes e sombras que reúne os diversos elementos num espaço único e contínuo. A representação simbolista e objectiva da natureza deu origem a outra, dramática e sentimental. Claude Lorrain, cujo verdadeiro nome era Claude Gellée, nasceu em 1600 em Chamag-ne, na Lorena. Perdeu os pais aos doze anos, e foi viver com um irmão mais velho, Jean Gellée, escultor em madeira, com quem aprendeu rudimentos de desenho. Tendo viajado para Roma, foi trabalhar para o paisagista Agostino Tassi, de quem se tornou discípulo. Viajou pela Itália, estudou em Nápoles e regressou ao seu lugar de ori-gem onde trabalhou nos frescos da Igreja das Carmelitas de Nancy. Em 1627 regressou a Roma, onde permaneceu até à sua morte em 1682.Afirmou-se como artista paisagista inspirado na campina romana e assinando os qua-dros como “le lorrain”, ficou conhecido como Claude Lorrain.A especialidade de Lorrain foi a paisagem de ambiente religioso ou mitológico. Seguiu nas suas obras uma tradição de paisagem lírica, com gosto pelos panoramas amplos, os portos de mar, a análise da luz, o que, seguindo a tradição anterior, contribuiu para a sua visão enaltecedora da Antiguidade e dos ideais do passado. O seu estilo reflete a realidade, inspirado nas vastas panorâmicas da campina romana, nos palácios urbanos, nas ruínas latinas e nas costas e ilhas do litoral italiano. Trabalhou para Filipe IV, tendo pintado as obras de maior dimensão, mar-cando o ponto alto da sua maturidade artística.Lorain tornou-se por excelência o intérprete da luz solar, uma caraterística central da sua obra, uma luz direta e natural que situa no meio da cena. l

C.G.

HUMOR NO TRABALHO - IIAinda voltando ao ambiente após (mas próximo) do 25 de Abril de 1974 e no universo da CGD que, no fundo, fez parte da nossa vida profissional ao longo desses anos, condicionando e de certo modo moldando o nosso modo de viver. Ali encontrámos não só a subsistência, que nos permitiu viver com dignidade, mas também a realização profissional e pessoal, que cada um conseguiu, em maior ou menor grau. Daí que, expurgado que seja algum saudosismo menos salutar que possa condicionar o acompanhar e mesmo viver os novos tempos, parece-me interessante revisitar episódios e vivências que eram próprios desses tempos.Por isso, gostaria de partilhar com os colegas leitores do “A Nossa Voz” alguns desses momentos que achei mais interessantes e que poderão sê-lo também para outros. l

O ELOGIOÀ tesouraria do Serviço de Depósitos Obrigatórios, na Rua do Ouro, chegavam amiúdas vezes pedidos para substituição ocasional de tesoureiros que numa ou noutra Agência era preciso substituir, por diversas razões. Decorriam os anos do pós 25 de Abril (próximos ainda), a autoridade hierárquica estava ainda abalada mas, era preciso enviar alguém. Mas, com o chefe daquela tesouraria, a autoridade hierárquica era complementada com uma outra que, efetivamente, funcionava com bons resultados. Com a sabedoria dos seus cabelos brancos, a sua bonomia, braço sobre os ombros do “escolhido”, começava o elogio: “que ele era a pessoa mais indicada para aquela missão, pela sua competência, pelas suas capacidades”, etc…Deste modo, o escolhido (frequentemente um novato), sentia-se confortado com aquele elogio e aquela afabilidade e, da sua mente logo se afastava qualquer ideia “revolucionária” de reclamar ou contestar, como era frequente naqueles tempos algo conturbados. E lá seguia, animado com aquele afável e humano tratamento. Deste modo, e naquele contexto, aquela autoridade ainda que menos convencional, funcionava na perfeição.Deixo aqui expresso o meu obrigado ao Sr Almeida Dias pelas suas lições de vida! l

O DISCURSO MATINALAinda na Rua do Ouro, na mesma tesouraria. Havia um colega que vinha da margem sul. À hora de abertura dos bancos a Baixa fervilhava de gente, as cafetarias ficavam apinhadas de clientes.O referido colega de apelido R. não se dava bem com aqueles “apertos” entrava numa cafetaria muito concorrida cheia de clientes e aí, com um ar enigmático, abstrato, protestava, bem alto, sem se perceber bem o alvo a atingir, ameaçava que ”aquilo tinha de acabar, que tinha poderes para arrasar tudo, que aqueles hábitos burgueses tinham de acabar” etc…Os que não o conheciam ficavam algo intimidados; os que já o conheciam sorriam discretamente. Entretanto lá chegava a sua vez de ser atendido e as coisas serenavam. Não muitos minutos depois já estava no seu posto de trabalho. E não constava que não desse boa conta das suas tarefas. l

António Barata, sócio nº 2993-1Fevereiro de 2014

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A João Bénard da Costa, pelos filmes da sua (nossa) vidaA Lauro António, pelo pioneirismo da crítica de filmes, frontal e pedagógicaE a Pedro Bandeira Freire, pelo amor às fitas, e pelas tardes e noites inesquecíveis do QUARTETO

As tiMe gOes by,CAsAblAnCA: 70º ANIVERSÁRIO

Ano de 1942.A II Guerra Mundial estava no auge da sua fúria cega e destruidora. De um lado e do outro, das forças negras do Eixo e dos exércitos da

liberdade, registam-se avanços e recuos, mas é neste ano que a balança começa, irreversivelmente, a pender para o campo da Esperança: às ofensivas japoneses e alemãs, na Ásia e África, respondem os Aliados com a paragem do avanço nipónico (batalha de Midway- 3/6 de Junho), Rommel é vergado no Norte de África (El-Alamein, 23 de Outubro a 4 de Novembro), os aliados desembarcam também no Norte de África (8 de Novembro) e, por fim, acontece o xeque-mate do Exército Vermelho à Wehrmacht, em Estalinegrado (a partir de 23 de Novembro).

Nesse ano, também, e sem dúvida impulsionadas pelo esforço de guerra, a ciência e a tecnologia registam significativos avanços: instalação do primeiro cabo telefónico subterrâneo “coast to coast” (E.Unidos), produção de hormonas para crescimento de plantas (cadeia alimentar-E.Unidos), produção e utilização da estreptomicina (E.Unidos), utilização do escafandro autónomo (França), etc.

No domínio das artes, John Steinbeck publica Noite sem Lua, onde defende a eficácia da resistência passiva, Jackson Pollock realiza a sua primeira exposição individual em Nova Iorque e, em Julho desse ano, os dirigentes da indústria cinematográfica norte-americana passam a apresentar os cidadãos de raça negra como parte integrante da sociedade americana e do “esforço de guerra”, já que assim o exigia a dinâmica nacional, despertada pelo ataque a Pearl Harbour ( 7/12/1941).

Perto de 4 meses após esta data, na cidadezinha de Flagstaff, no Arizona, começava a ser rodado um filme produzido pela Warner Brothers, baseado na peça Everybody Goes to Rick, de Murray Burnett e Joan Allison, e que seria intitulado CASABLANCA.

Pretendia-se um filme sobre a guerra, hesitando os produtores entre uma ficção levemente propagandística, e a pura propaganda do filme de acção, o que levou a que o núcleo principal de argumentistas – Julius e Phlip Epstein, a que se juntaria Howard Koch –, às tantas já não sabiam como acabar a história, nem os actores, por vezes, percebiam o que andavam por ali a fazer. Como o produto final seria bem diferente!

Conta-se que o produtor Hal B. Wallis terá convidado o prestigiado William Wyler para realizador, o que este declinou, tendo, então sido escolhido Michael Curtiz, conhecido por ter dirigido filmes de aventuras com o controverso Errol Flynn: Capitão Blood, 1935, A Carga da Brigada Ligeira, 1936, As aventuras de Robin dos Bosques, 1938, e O Gavião dos Mares, 1940.

Tal como William Wyler, também os candidatos a actores principais, George Raft (para “Rick Blaine”) e Hedy Lamarr (para “Ilse Lund”), recusaram o convite.

É nesta altura que surge o mito de que um rapaz desenvolto, de seu nome Ronald Reagan, teria sido a escolha para o papel principal masculino, o do Rick Blaine, proprietário do “Rick’s Café”. Nada mais falso, uma vez que, na mente do produtor Hal Wallis, e desde que a aventura do filme CASABLANCA começou a ser concebida, lá para os finais de 1941, havia apenas um nome: Humphrey Bogart, tudo o resto não passaria, talvez, de uma manobra de marketing de Reagan .

Humphrey Bogart que, neste filme, terá um dos papéis da sua vida, actor-personagem-fetiche, após tantos anos, ainda aparece como alter ego de Woody Allen em Play it again, Sam, baseado na peça do mesmo nome da autoria de Allen, dirigido por Herbert Ross (1972), intitulado em Portugal como O Grande Conquistador, e no qual Woody Allen interpreta, durante alguns minutos, uma inesquecível personificação de Bogart.

E embora os Cahiers du Cinéma não morram de amores por Casablanca, o certo é que um dos seus ícones, Jean Luc Godard, utiliza a personagem-actor Bogart (Rick?, ou seria Sam Spade?) como inspiração para o pequeno escroque parisiense que Jean-Paul Belmondo interpreta em A Bout de Souffle (O Acossado, 1959).

Fechado esta parêntisis sobre o equívoco Ronald Reagan, refira-se ainda que a produção musical foi confiada a Max Steiner, que, mais não fosse, estava consagrado pelo chamado “Tema de Tara” de E Tudo o Vento Levou (M.G.M., 1939).

Steiner soube combinar a fragância da música norte africana (vd. os primeiros acordes do filme, misturados com a “Marselhesa”), a canção francesa ( os medley “Paris Montage” – Perfidia- e “A la Belle Aurore”, na qual, para além do eterno “As Time Goes By”, de que falaremos adiante, se misturam acordes marciais prussianos com o som de botas maquisardes-tipo Chant des Partisans, ou “Parle-moi d’amour”, de Jean Lenoir – quando Victor e Ilse entram no Rick’s Café), a música americana, com sabor a Gershwin ou a drama romântico (“Knock on the Wood”, “The very thought of you”, “It had to be you”- ouçam a versão de Sinatra, disco “Trilogy”, Reprise, 1979, ou ” Love for Sale” de Cole Porter – cantada por nomes de prestígio, de Ella Fitzgerald a Jon Bon Jovi ), bem como a música de fundo na despedida, no aeroporto, sempre o “As time….(com, em primeiro plano, a fabulosa frase “Here’s looking at you kid”).

Steiner também queria uma música para os dois (ou três?) amantes de Paris. Sugeriram-lhe um tema. De início recusou, por fim, aquiesceu, do género “ponham lá isso!”. Chama-se “As time Goes By”, escrito em 1931 por Herman Hupfeld, e Casablanca tornou esta belissima melodia num tema universal, classificada pelo American Film Institute como a 2ª. Melhor música de filmes, apenas ultrapassado pelo inesquecível “Over the Rainbow” de O Feiticeiro de Oz (M.G.M., 1939), e cantada por dezenas de vozes consagradas (pessoalmente, recomendamos a versão do melhor cantor de todos os tempos: Frank Sinatra – disco “Point of no Return”, 1962, Capitol).

A título de curiosidade, refira-se que o livro de memórias do antigo publicista de The Beatles, Derek Taylor, se intitulou As Time Goes By: Living in the Sixties (Rock and Roll Remembrances Series No. 3 (Popular Cultures Ink, E.U.A., 1990)

Aos nomes atrás enunciados, é de justiça juntar a doce Ingrid Bergman (Ilse Lund Laszlo), Claude Rains (capitão Renault), Paul Heinreid (Victor Lazlo), Conrad Veidt (Major Strasser), Peter Lorre (Ugarte) e muitos outros.

E o que vem a ser Casablanca?O início do filme informa-nos que muitos exilados da Europa Continental, principalmente opositores políticos, fugiam através de Marselha para

Orão, na Argélia e, daí, para o Marrocos francês (sob o “governo” de Vichy), demandando Casablanca de onde partiam aviões para Lisboa, e da qual seria fácil chegar aos Estados Unidos, à Terra Prometida.

Para tal, era necessário obter “cartas de trânsito”, ou através do local comandante da Polícia (capitão Renault-Claude Rains), sob o olhar inquisidor da “autoridade” alemã (major Strasser-Conrad Veidt), ou pagando altos preços no mercado negro, a pequenos contrabandistas (Ugarte-Peter Lorre). E onde era o ponto de encontro de toda esta fauna humana: No Rick’s Café Américan, cujo gerente era um americano de cujo passado nada ou pouco se sabia – Rick Blaine – Humphrey Bogart.

“O café do Rick é um círculo mágico onde tudo pode acontecer e acontece: o amor, a morte, a perseguição, a espionagem, jogos de sorte, sedução, música, patriotismo” .

O café torna-se, assim, a placa giratória onde acontecem o romance, o sacrifício, o altruísmo, a nobreza, o amor, de três pessoas (e não A TRÊS), rodeados por inesquecíveis personagens que, de secundárias, só têm o nome, e que dão corpo a um dos momentos mais altos da história do cinema.

É a esse café que, um dia aportam Victor Lazlo (Paul Heinred), um dos chefes da resistência europeia, fugido de um campo de concentração, acompanhado de sua mulher Ilse (Ingrid Bergman), que se virá a descobrir ter sido antiga amante de Rick em Paris, até que a ocupação nazi os separou. Victor pretendia, acima de tudo, fugir para Lisboa para reorganizar a sua actividade, pelo que necessitava das tais “cartas de trânsito”. No meio de todas as conversas, Ilse reconhece o pianista e sócio de Rick, Sam de seu nome (Dooley Wilson), e pede-lhe para tocar “As Time Goes By” ( é verdade, a frase “Play it again, Sam” nunca existiu).

De toda esta trama construiu-se um filme único! Filme de Guerra? Filme Policial? Filme Romântico? Triângulo Amoroso? Filme de Clichés? Um pouco de tudo, e um pouco de nada.

Para já, e se conseguissemos olhar neutralmente para a película a preto e branco (e não a cores, como já o tentaram fazer, desvirtuando-o), e para os parcos cenários, seremos tentados a dizer, como de início o fez Umberto Eco na sua análise, : “… do ponto de vista estético (ou por quaisquer padrões puramente críticos), Casablanca é um filme muito medíocre.” .

Mas, tal como Eco depois o desmonta, temos de escavar debaixo da fachada e ir ao cerne da questão. Luís Diogo – 20/07/2012 (CONtiNUA NO PRÓXiMO NÚMeRO De “A NOssA VOZ”)

i “Casablanca Behind the Scenes”, Lebo, Harlan, Simons & Schuster, New York, 1992 e “Round Up the Usual Suspects”, Harmetz, Aljean, Hyperion, New York, 1992, coligido por Barbara e David P. Mikkelson, Urban Legends Reference Pages, 1995/2012ii “Casablanca, or, The Clichés are Having a Ball”, Eco, Umberto, in Signs of Life in the U.S.A.: Readings on Popular Culture for Writers, edição de Sonia Maasik e Jack Solomon, Bedford Books, Boston 1994, pgs. 260-264 – tradução de Filomena Diogoiii Idem, ibidem

CASABLACA - O FILME

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(…) O maior jugo de um reino, a mais pesada carga de uma república são os imoderados tri-butos. Se queremos que sejam leves, se quere-mos que sejam suaves, repartam-se por todos. Não há tributo mais pesado que o da morte, e contudo todos o pagam, e ninguém se queixa, porque é tributo de todos. Se uns homens mor-reram e outros não, quem levara em paciência esta rigorosa pensão da imortalidade? Mas a mesma razão que a estende, a facilita; e porque não há privilegiados, não há queixosos. Imitem as resoluções políticas o governo natural do Cri-ador: “O qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos”. Se amanhece o Sol a todos aquenta; e se chove o céu, a todos molha. Se toda a luz caíra a uma

parte e toda a tempestade a outra, quem o so-frera? (…) (…) Deus tirou a costa a Adão, mas ele não o viu nem o sentiu; e se o soube, foi por revelação. Assim, aconteceu aos bem governados vassalos do imperador Teodorico, dos quais por grande glória sua dizia ele: “Eu sei que há tributos, por-que vejo as minhas rendas acrescentadas; vós não sabeis se os há, porque não sentis as vossas diminuídas.” Razão é que por todas as vias se acuda à conservação; mas como somos compos-tos de carne e sangue, obre de tal maneira o racional, que tenha sempre respeito ao sensiti-vo. Tão ásperos podem ser os remédios, que seja menos feia a morte que a saúde. Que me importa a mim sarar do remédio, se hei-de mor-rer de tormento? (…)

Delegação Norte da Anac / Março 2014

DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC

Por N

é do

Resposta à Rubrica “Quem é o Autor ?”

Quem é o Autor ?

Protesta como quiseres, Dá bom uso à LIBERDADE: Se não mudas, como queres Que mude a sociedade? Do défice à bancarrota Foi um passo mail medido; Por isso é que não se nota Que a Troika não faz sentido. Quem inventou o dinheiro Ao inferno vai parar: Quem o tem é usureiro, Quem o não tem vai migrar. Embora as gentes do mando P’ra muitos desmandos olhem, Há os que, não trabalhando, Sempre dividendos colhem. Uns partiram sem dinheiro, Outros vão com um canudo; Ficará, a tempo inteiro, Quem tem dinheiro p’ra tudo?

VIDA ESTRELADA foi bela, Mas já não dá luz p’ra festas; Surgirão outras estrelas Que brilhem mais do que estas? O Povo cantou nas ruas Que é Ele “quem mais ordena”, Mas deixaram de ser suas As varas de quem condena. Trinta e nove bons preceitos, Trinta e nove primaveras, Trinta e nove anos, feitos D’ilusões, sonhos, quimeras. SE É CONTRA OU A FAVOR; SERVE SEMPRE A LIBERDADE QUEM DEFENDE COM CALOR A JUSTIÇA E A VERDADE.

Costa Neves

A resposta à rubrica “Quem é o Autor?” publicada no último boletim da Anac, é a seguinte: Roberto Musil (1880/1948) In “O HOMEM SEM QUALIDADES”. Austríaco, foi um dos mais importantes roman-cistas modernos. Ao lado de Franz Kafka, Marcel Proust e James Joyce forma o grupo dos grandes prosadores do século XX . O nosso Colega António Barata, descobriu a resposta correta à pergunta “Quem é o Autor?”. Parabéns e o agradecimento da Delegação Norte da Anac pela sua colaboração. A resposta à rubrica deste nú-mero, deverá ser dirigida à Delegação Norte da Anac e será divulgada no próximo número deste jornal.

Caldo de Letras

O TRIBUTO À PÁTRIA

In “Gotas de Orvalho” - 2011

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Delegação Norte da Anac / Março 2014

DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC

Visita às Fábricas de Calçado em São João da Madeira

No âmbito dos Circuitos pelo Património Cul-tural de S. João da Madeira, a Delegação Norte da Anac realizou uma visita a duas Fá-bricas de Calçado daquela cidade. O passeio foi realizado no dia 16 de Janeiro de 2014, com a participação de mais de 50 Sócios e Amigos.

Passeio a Penafiel

No dia 26 de Fevereiro de 2014, a Delegação

Norte da Anac realizou um Passeio a Penafi-el, com passagem por Paço de Sousa. Visita-mos o Mosteiro do Salvador em Paço de Sou-sa e o Museu Municipal de Penafiel, a Igreja da Misericórdia e o Museu de Arte Sacra em Penafiel. O passeio reuniu um número signi-ficativo de Colegas e Familiares que aprecia-ram a arte Românica portuguesa e confrater-nizaram em Penafiel.

Visita a Guimarães

No Dia 22 de Março de 2014, a Delegação Norte da Anac realizou um passeio à cidade de Guimarães, Capital da Cultura de 2012 e berço da nacionalidade portuguesa. Visita-mos os monumentos mais importantes de Guimarães, nomeadamente o Palácio dos Duques de Bragança, a Igreja de S. Miguel, o Castelo de Guimarães e o Museu Alberto Sampaio. Efetuamos ainda uma visita pedo-nal ao Centro Histórico de Guimarães e al-moçamos na Quinta de Castelães, em S. João da Ponte.

Atividades na Delegação

Desde o início do ano, demos início às seguintes atividades nas instalações da Delegação Norte da Anac: Formação em Informática, com três Tur-

mas, a decorrer às terças e quintas feiras; Formação em Fotografia, com uma Tur-

ma, a decorrer às quintas; Apoio Jurídico aos Sócios, semanalmente

às quintas feiras; Aulas de Yoga, a decorrer às quartas, no

salão de atividades da Delegação; Concurso de Fotografia, que teve a Sessão

Solene de Entrega de Prémios no dia 6 de fevereiro e uma exposição dos trabalhos premiados a partir dessa data;

Projeções às Quintas, que apresenta se-

manalmente vídeos e slideshow dos pas-seios e viagens realizados pela Delegação;

Torneio do Aposentado, a decorrer desde Novembro de 2013 e que terá o seu epílo-go em Maio deste ano;

Grupo de Cantares, com ensaios às segun-das;

Palestra pelo Prof. Helder Pacheco, sobre o tema “Porto! Que futuro?...”

Passeios no Porto

O ciclo da Primavera dos passeios à descoberta do Porto, vai ter início em 29 de Março com a visita à Quinta de Vilar D’Allen e terá mais três programas. Este ciclo da Primavera irá privilegiar a visita aos Jardins da Cidade do Porto.

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plano dE aTiVidadEs Em 2014

da iniCiaTiVa da dElEGaçÃo norTE da anaC

abril – dia 2 BAIXA POMBALINA

maio – dias 2 a 9 XX EUROENCONTRO

– dia 14 CONVENTO DA ARRÁBIDA

– dias 21 e 22 ROTA DO MONTADO

junho – dias 1 a 15 ESTEPONA PLAYA – 1º TURNO

– dias 18 a 27 CAPITAIS BÁLTICAS

setembro – dias 1 a 15 ESTEPONA PLAYA – 2º TURNO

– dias 20 a 27 BéLGICA, NORMANDIA E PARIS

outubro – dia 4 ENCONTRO NACIONAL

novembro – dias 10 a 12 S. MARTINHO

dezembro – dia 13 ALMOÇO DE NATAL

abril – dias 1 a 3 VIAGEM A LISBOA

– dia 26 MONTALEGRE E ALTO RABAGãO

maio – dias 17 e 18 COIMBRA

junho – dias 5 a 8 AÇORES - S. MIGUEL

– dia 28 ENTREGA DE PRéMIOS

julho – dias 4 a 13 ROMéNIA E BULGÁRIA

– dia 26 PÓVOA DE LANHOSO

agosto – dias 4 a 10 CAPITAIS DA EUROPA CENTRAL

setembro – dia 6 FERRADOSA – VIAGEM FERROVIÁRIA

– dias 13 a 23 FéRIAS EM ESPANHA – OROPESA DE MAR

outubro – dia 4 ENCONTRO NACIONAL

– dias 10 a 12 GALIZA-ENCONTRO COM A RIBEIRA SACRA

– dia 18 AROUCA

novembro – dia 8 S. MARTINHO

dezembro – dia 13 ALMOÇO DE NATAL

DÊ ASAS À SUA CRIATIVIDADE E COLABORE COM “A NOSSA VOZ”

Lançamos daqui um desafio aos nossos sócios para que nos enviem colaborações para publicação

no nosso boletim. Poderão assumir a forma de texto, desenho ou fotografia. A Nossa Voz é de

todos os sócios e para todos.

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