Alcool e drogas.pdf

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  • Celso Maaneiro

    PREVENO E TRATAMENTO

    DO

    LCOOL E DROGAS

    NA

    EMPRESA

    Curitiba Paran Brasil 2002

  • Capa: FERNANDO SOUZA JUNIOR

    Reviso: BEATRIZ MARIA ALESSI

    Digitao: IVSON RENATO FILIPAK

  • Ficha da Biblioteca

  • .

    Este livro um trabalho da Comisso de Preveno ao Uso e Abuso do lcool e Outras Drogas do Rotary Club Curitiba Gralha Azul. Reproduo permitida desde que citada a fonte.

  • NDICE

    Apresentao 15

    Uma Reflexo 17

    Ponto de Vista de um Funcionrio 19

    Histrico 21

    Introduo 25

    O lcool e Outras Drogas nas Empresas 27

    Compreenso do Problema 29

    A Dependncia Feminina de lcool e Drogas 31

    O Desconhecimento do Problema 32

    A Negao do Empregador 34

    A Negao da Famlia 37

    O Que a Empresa Ignora 38

    A Gravidade do Problema 40

    Quando a tica Tem Que Funcionar 42

    O Momento de Ajudar o Dependente Qumico 43

    Drogas 44

  • Droga Leve ou Pesada 45

    Sou Um Dependente, Ou No? 47

    Questes Freqentes Por que algumas pessoas acreditam que alguns tipos de drogas no fazem mal? 49 O tratamento de um dependente qumico Pode deix-lo dependente de medicao? 50 possvel estabelecer um grau de dependncia? 51 Qual o prazo que o dependente precisa para se tratar? 54 necessrio o internamento para tratamento de dependentes de lcool e outras drogas? 56 comum a famlia e o empregador perguntarem: E se ele recair? 57

    As Principais Drogas: Efeitos e Repercusses Biopsicosociais lcool 59 Maconha 61 Cocana 62 Crack 63 LSD 64 Ecstasy 65 Ansiolticos ou Tranqilizantes 66 Narcticos pio e seus derivados: Herona, Morfina e Codena 67 Polidependncia e Multidrogas 68

    Comentrios Finais 69

  • Projeto de Preveno e Tratamento do lcool e Drogas na Empresa 71

    Fundamentao 73

    Objetivo Geral 73

    Prioridade 74

    Os Primeiros Passos 74

    Ao da Equipe 75

    Abrangncia do Programa de Preveno Agentes dificultadores de aes 77 Aes da equipe de preveno 78 Aes instrutivas da equipe de preveno 82 Aes instrutivas burocrticas da equipe de preveno 84

    Papel da Equipe de Preveno da Empresa no Tratamento do Empregado 86

    Trabalho do Programa de Preveno Ps-Tratamento 88

    Avaliando o Programa 89

    Procedimento do Servio que Atende a Empresa 90

    Anexo Modelo Ficha de Avaliao dos Empregados 91

  • AGRADECIMENTOS

    Pessoas especiais que colaboraram para a realizao desta obra:

    Araclis Canelada Coped Filha

    Beatriz Maria Alessi

    Carla Cristina Cabral

    Fernando Souza Junior

    Ivson Renato Filipak

    Jos Cndido de Abreu

    Luiz Antonio Marques de Mendona

    Noeli Cardoso de Lima

  • APOIO INSTITUCIONAL

    Organizao No Governamental

    COMISSO de Preveno ao Uso e Abuso do lcool e Outras Drogas, do ROTARY CLUB Curitiba Gralha Azul

    Distrito 4730

    Membros:

    Celso Maaneiro (Presidente) Edma Coquemala (Secretria)

    Azizi Colleto Csar Augusto S. Leining

    Cristina Surek Laila Vezozzo Leonilda Enke

    Ligia S. Baptista Lorys Jorge Marchesini

    Nilse Sandeski Silvia Maria de Campos Vera Lcia Belo Chagas

    Wilma C. Korsters

  • DUALISMO

    No s bom, nem s mau: s triste e humano... Vives ansiando, em maldies e preces, Como se, a arder, no corao tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano.

    Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vrtice vesano, Oscilas entre a crena e o desengano, Entre esperanas e desinteresses.

    Capaz de horrores e de aes sublimes, No ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

    E, no perptuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demnio que ruge e um deus que chora.

    Olavo Bilac

  • APRESENTAO

    A partir deste momento, os empresrios tm a sua disposio um manual de preveno e tratamento contra o uso de lcool e drogas, para ser aplicado entre os funcionrios de suas empresas. Nele, esto contidos esclarecimentos e orientaes sobre o problema da dependncia qumica.

    Esta obra representa um marco no combate dependncia qumica. Todos sabemos da dificuldade que os usurios encontram para abandonar a dependncia. Sabemos, tambm, que o dependente precisa de todo o auxlio possvel para lutar contra a doena. Nessa situao, no basta apenas o apoio da famlia e dos amigos, no trabalho que o usurio passa a maior parte do dia, e nada mais coerente que receba socorro, tambm, por parte do empresrio.

    O livro apresenta, de uma forma clara e objetiva, procedimentos teis para se articular um programa de preveno e tratamento do lcool e outras drogas dentro de empresas. Este possibilitar que empresrios preocupados com a sade de seus funcionrios possam, enfim, colaborar de maneira efetiva no combate a estas doenas. Alm disso, promete atingir familiares e amigos de funcionrios, pois o ambiente de trabalho propcio para o desenvolvimento e disseminao de prticas preventivas ao uso de drogas.

  • Por estes motivos, sinto-me feliz e honrada em apresentar um livro que explica passo-a-passo, de que maneira empresrios conscientes da sua responsabilidade na sade de seus colaboradores, podem implantar em suas empresas esta metodologia de Preveno e Tratamento ao Uso do lcool e outras Drogas.

    No tenho dvidas de que atravs da conscientizao que podemos combater grande parte dos problemas que afligem a humanidade. No diferente neste caso: a maior dificuldade encontrada na luta contra a dependncia qumica tem origem na falta de informao. a falta de informao que desperta a curiosidade; a curiosidade que gera a dependncia; da dependncia que nasce o preconceito; o preconceito que dificulta o tratamento e, que, por fim, desencadeia a violncia. Tenho certeza de que programas como este no s combatem o uso de drogas, como aumentam o dilogo e a confiana entre empresrios e trabalhadores.

    Atravs de sua experincia pessoal e profissional, o Companheiro Celso Maaneiro no mede esforos para semear idias de esclarecimentos e preveno s drogas. Companheiro Celso, continue plantando sementes do amor atravs de exemplos como este livro, sementes que, ao germinarem, possibilitem a empresrios e colaboradores um ambiente melhor e mais saudvel para atuarem em suas reas.

    Vera Lucia Belo Chagas Presidente 2002-2003

    Rotary Club Curitiba Gralha-Azul

  • UMA REFLEXO

    Quando o tema o alcoolismo, nos seus diferentes enfoques, lembro um adgio muito significativo que deve se aplicar a todos os cidados e muito especialmente, aos empresrios: O lcool aproxima as pessoas, mas a embriaguez as distancia.

    O alcoolismo cresceu muito na sociedade contempornea, atingindo homens e mulheres, alm das crianas e adolescentes.

    o chamado Mal do Sculo, juntando-se o lcool s outras espcies de drogas pesadas.

    Por isso, as foras vivas da sociedade devem unir-se no permanente combate ao terrvel mal, que prejudica o Mundo Moderno.

    Assim, s posso louvar o diligente e destacado trabalho do Companheiro Celso Maaneiro, neste seu valioso livro intitulado Preveno e Tratamento do lcool e Drogas na Empresa, que servir para, no mnimo, reduzir o grande mal e conduzir o empresariado brasileiro a um novo porvir.

    Por ter tido o privilgio de ler o livro antes de seu lanamento, recomendo sua leitura e sado seu autor, que s engrandece o Lema Rotrio: Quem no vive para servir, no serve para viver.

    Prof Lorys Jorge Marchesini Vice-Presidente 2002-2003

    Rotary Club Curitiba Gralha Azul

  • PONTO DE VISTA DE UM FUNCIONRIO

    Acredito que os dependentes sejam indivduos doentes. A sociedade muitas vezes no possui essa viso, adjetivando-os pejorativamente.

    Devido ao consumo das drogas com freqncia, existe ao redor do dependente violncia, e uma minoria de usurios escapa desse tipo de conduta ou situao.

    Um empregador frente a um funcionrio que tem problemas com lcool ou outras drogas, como deve agir? Como evitar uma postura preconceituosa ao indivduo doente?

    O empresrio ter que superar o estigma colocado sobre o dependente por parte da sociedade, compreender que a dependncia uma condio tratvel.

    Defendo que os rgos governamentais, em curto prazo tomem conscincia que a Dependncia Qumica uma doena, e que possam estender sociedade esta compreenso.

    Jos Cndido de Abreu

  • HISTRICO

    O interesse dos seres humanos pelas drogas, apesar de no haver provas, to antigo quanto o interesse por si mesmo.

    Ento, pode-se acrescentar que a droga existe desde que a nossa espcie comeou a interagir no mundo. O lcool, at 1250 d.C., era consumido com um baixo teor alcolico das bebidas fermentadas (de 10 a 20), s ento comearam a serem destiladas, chegando estas a um teor alcolico de 50 ou mais.

    A partir de 1500 d.C. com os descobrimentos, atravs das grandes navegaes, houveram contatos entre os continentes, a disseminao e trocas de drogas comearam a acontecer. J se configurava o trfico.O pio da China, por exemplo, foi fruto dessas trocas por vias martimas e durante sculos foi fumado, comeando seu uso hipodrmico a partir de 1583.

    O princpio ativo tanto do pio como da coca ficam muito mais apurados sob as formas de herona e cocana. Como se v, medida que o homem evoluiu, cientificamente, foi produzindo drogas mais potentes. Basta ver, hoje, o que faz em laboratrios: drogas sintticas, lcitas ou ilcitas, como o LSD, Ecstasy, ICE, Narcticos, Metanfetaminas, entre outras.

  • O problema da dependncia, mais especificamente o alcoolismo nas empresas, foi apontado por volta do ano 1940, e o pas que acordou para esta problemtica foi os Estados Unidos da Amrica.

    As primeiras pesquisas comearam a preocupar os americanos e a partir desta poca, embora lentamente, foram se expandindo as preocupaes a este fenmeno, que a alcoolizao, mesmo porque naquela dcada no se considerava o alcoolismo como doena, e os dependentes de lcool ou outras drogas eram tratados como doentes psiquitricos, psicticos, esquizofrnicos, neurticos, dentre outras doenas mentais.

    O que comeou a chamar a ateno dos mdicos foi que estes loucos bebiam demais e logo aps a desintoxicao voltavam ao normal. E estes se diferenciavam dos que realmente portavam doenas psquicas de difcil tratamento e prognstico.

    Passaram-se mais duas dcadas para que a N.C.A. (National Council on Alcoholism) iniciasse investigaes mais severas sobre o problema do lcool e conseqncias nas empresas americanas.

    Nas dcadas de 60 e 70, as preocupaes comearam a tomar vultos maiores, pois j no era somente o lcool a chamar a ateno dos estudiosos, mas tambm as outras drogas lanadas no mercado mundial. Praticamente todos os pases comearam a se preocupar com a dependncia do lcool e outras drogas

  • em todos os meios sociais, pois os malefcios estavam crescendo nas famlias, escolas e trabalho.

    Hoje, h mais conscincia sobre este problema: governo, sociedade e, embora seletivamente, algumas empresas comearam a ver com outros olhos a dependncia nos locais de trabalho.

    Objetiva-se, portanto, nesta obra, colaborar para que cada vez mais este problema seja visto e tratado com o merecido interesse.

  • INTRODUO

    Os valores que a criana recebe da famlia j uma forma preventiva ao uso de drogas, e neste ambiente que este ser vai desenvolver a sua personalidade e estrutura emocional. Por outro lado, nela que comea a correr os primeiros riscos com o uso de analgsicos para uma dor de dente ou de cabea, o xarope para a tosse e, s vezes, at o prprio pai que d um golinho de cerveja ao seu filho.

    Estes valores, porm, quando no so respeitados pela famlia e pela sociedade, podero trazer-lhe desiluses na vida adulta. Pois, ao longo do seu desenvolvimento fsico e mental, se houver uma predisposio dependncia, no lograr progresso profissional e social, a menos que a ele seja oferecido ajuda para o seu problema.

    Para que este cidado tenha, no futuro, uma vida digna fundamental que sejam respeitados os princpios ticos e morais, afastando-o do mal que lhe aflige que a dependncia do lcool e drogas ilcitas. Desta forma, no exerccio da sua profisso este cidado, alm de realizar-se como pessoa, dar conforto sua famlia.

    A empresa o local de trabalho, o lugar sagrado deste profissional que teve sua histria de vida. Por outro lado, ele tambm um ser humano com boas qualidades, capaz de contribuir para o crescimento da empresa, porm pode ser algum que esteja apresentando o problema da dependncia.

  • Com louvor, o empregador pode ajudar o funcionrio com este tipo de problema, geralmente via Servio Social da empresa, que servir de conselheira familiar daquela dinmica difcil causada pela dependncia qumica. Numa ltima instncia, a ajuda dar-se- com o internamento do funcionrio num servio especializado.

    Ento, certamente, este empregador que prestou socorro ao seu funcionrio, doente, estar colaborando para que se trate e resgate valores que se perderam em funo da doena ao longo do tempo.

  • O LCOOL E OUTRAS DROGAS NAS EMPRESAS

    A Dependncia Qumica, termo genrico para o uso patolgico de lcool e outras drogas, constitui, hoje, um dos mais srios problemas de ordem biopsicosocial da humanidade.

    No deve ser encarado no sentido mdico e social apenas, ou pelos casos mais graves de complicaes fsicas ou a dependncia crnica total, assinalando assim o fim da vida do indivduo. Ao contrrio disso, as consideraes ao problema devem-se voltar tambm, independente de sua forma e grau, para os malefcios causados no trabalho, famlia, violncia, criminalidade, acidentes de trnsito e outras complicaes que podem ser levadas ateno da alta administrao de uma empresa. Assim como perda de produtividade, relacionamento com o grupo de trabalho, acidentes no trabalho, faltas justificadas, injustificadas, e outras ocorrncias prejudiciais harmonia e ao desenvolvimento da empresa.

    Quanto mais os empregadores desconhecerem o problema da dependncia qumica, ou souberem meias verdades e irem para o lado do preconceito, quanto mais a empresa e seus administradores fecharem seus olhos para os trabalhadores, portadores desta doena, a droga ir ganhando terreno e o empresrio continuar a desperdiar dinheiro, tempo e recursos humanos deste pas.

  • Quem vai tentar diminuir esta crise no somente a famlia, o Estado ou o Presidente da Repblica, ou at a religio, mas sim o empregador que ter um papel fundamental nesta ajuda ao seu empregado.

  • COMPREENSO DO PROBLEMA

    A dependncia de qualquer tipo de droga uma doena progressiva, vai se agravando com o passar do tempo devido tolerncia que o indivduo vai desenvolvendo, por uma ou mais drogas que ele se adaptou fisiologicamente e psiquicamente.

    Devido a fenmenos que envolvem a sintomatologia da doena, cujo assunto est longe de ser esgotado devido sua complexidade, no de admirar que o empresrio fique perdido quando h estes casos na sua empresa.

    Sabe-se, que cerca de 15% a 20% ou mais, de uma populao, so portadores da dependncia qumica, com isto d para explicar que no h lugar, muito menos numa empresa, que certamente haver prximo a este nmero de pessoas que sofrem com esta doena e que podem estar l h muito tempo, at sendo bons funcionrios, mas que comearam a se exceder no lcool ou outras drogas desde um tempo para c. Alis, este comentrio muito comum no meio de colegas, chefes e patres sobre o funcionrio com o problema.

    O sculo XXI j chegou e so poucos os empregadores que conhecem os nmeros assustadores do problema: estima-se que perto de 51% dos leitos em instituies psiquitricas, e em torno de 30% nos hospitais clnicos, so devidos a internamentos por dependncia qumica. Isto gera um dficit para o Pas de US$ 1 bilho por ms, segundo ltimas estimativas

  • oficiais, informe da Comisso de Seguridade Social e Famlia da Cmara dos Deputados.

    Infelizmente, ainda hoje, a dependncia qumica muito pouco difundida nas nossas universidades entre estudantes de medicina, psicologia, psiquiatria, e o que mais visto so os sintomas e no a causa primria que o alcoolismo ou outras drogas. Basta um laudo de causa mortis e nele no encontrar-se- morte por alcoolismo, mas por cirrose heptica, parada cardaca, entre outras, sendo que na realidade foi o lcool que causou os sintomas secundrios e a morte.

  • A DEPENDNCIA FEMININA DE LCOOL E DROGAS

    Foi abordado no final do pargrafo do captulo anterior sobre o funcionrio com problemas de dependncia, mas sabe-se que nas empresas existem mulheres que usam drogas e um problema que deve ser encarado, pois no escolhe sexo, raa ou cor. Estatsticas recentes apontam que de 6% a 8% das mulheres sofrem com a Dependncia Qumica.

    Geralmente a mulher paga um custo emocional muito grande pela sua dependncia: sentimento de culpa, desvalorizao, raiva, muitas sofreram de incesto na infncia, fazendo um acmulo de violncia e sofrimento.

    No trabalho, os sintomas aparecem sob diversas formas: tentam estar bem maquiadas para esconderem as olheiras do porre da noite anterior, manipulam o chefe com posturas maternais, isso quase sempre de forma inconsciente, e sempre conseguem de forma muito natural. comum as mulheres com o problema fazer uso de medicamentos que alteram o humor. Alm de tudo, muitas sofrem da sndrome do ninho vazio, em funo de perderem marido e filhos pela sua dependncia de drogas.

  • O DESCONHECIMENTO DO PROBLEMA

    normal que grande parte dos empregadores desconheam realmente o problema, pois esta no a sua rea de conhecimento.

    Algumas empresas de grande porte tm assistncia mdica e social aos seus empregados, outras preferem terceirizar este trabalho e, de maneira geral, as de mdio ou pequeno porte no se preocupam com a dependncia qumica. Embora se atenham a outros problemas com seus empregados, como por exemplo: a qualidade de vida, exames peridicos, cesta bsica, auxlio escolar, vales transporte, entre outros, obviamente tudo isto muito vlido, mas muitas vezes, apesar de toda esta assistncia fica despercebido os casos de dependncia do lcool e outras drogas.

    Num organograma de uma mega empresa, por exemplo, tem-se a idia de um quadro funcional perfeito at a portaria, que o setor muito importante, pois a entrada da empresa. Ser que ali existe o problema? Provavelmente sim. E isto est sendo observado? A alta direo e a chefia podem pensar que sim, mas tratando-se de dependncia qumica o uso de alguma droga por funcionrio pode passar despercebido, como, por exemplo, o alcolatra que no beba em servio no deixa de estar intoxicado prejudicando seus reflexos, senso crtico e percepes, o mesmo acontecendo com os dependentes de outras drogas, o que poder trazer srios problemas para a empresa: alguma carga num

  • veculo passar sem ser anotada; mal pesagem em balanas; na construo civil, aquele funcionrio que no misturou bem a massa para o concreto que vai segurar grandes estruturas; na empresa de transporte coletivo, o motorista que no consegue comear o seu dia de trabalho sem antes ter que beber para sentir-se normal e levando vidas humanas sob sua responsabilidade.

    Pode-se citar, tambm, aquele executivo que no fecha negcios para sua empresa sem antes cheirar cocana ou usar algum tipo de droga estimulante, e ainda pilotos de Companhias Areas que no decolam seus avies sem antes beberem para relaxar.

    A dependncia qumica est em todos os segmentos sociais e profissionais, mas o empresrio tem pouco conhecimento, at por desconhecer o problema, e o risco que a sua empresa est correndo em todos os aspectos: processos trabalhistas, indenizatrios, entre outros, alm dos j normais que norteiam uma empresa.

  • A NEGAO DO EMPREGADOR

    comum empregadores negarem que seus funcionrios fazem uso de lcool ou outras drogas em sua empresa, e por medo de comprometer a imagem da mesma. Como se fossem pais negando o uso de drogas pelos filhos, motivados pela vergonha e preconceito.

    Erroneamente, eles acreditam que esto protegendo a sua companhia, porm o aumento das despesas visvel, se forem contabilizados: danos em equipamentos; acidentes; afastamentos por doenas causadas pela dependncia; atrasos, entre outros problemas.

    Muitas vezes a negao vem em forma de instinto protetor pelo empregador, a exemplo das conotaes que vm a seguir:

    a) O funcionrio dependente sente-se derrotado pela morte de um de seus familiares;

    b) Est com muitos problemas na famlia;

    c) Os filhos so problemticos;

    d) Est passando por sria crise financeira.

    O empregador comete um grande equvoco ao ficar conivente com a dependncia do empregado, quando um dependente qumico usa os tipos de negaes observados acima, pois alguns dos sintomas

  • da dependncia qumica entre vrios so: a manipulao; se fazer de vtima; omisses, entre outros que fazem parte da doena com justificativa para beber.

    Quando a empresa no tem um programa de preveno, pessoas tcnicas para entender esta dinmica do doente, certamente no estar ajudando e sim afundando-o cada vez mais nas drogas; pois filhos problemticos, casamentos desfeitos, problemas financeiros (por excesso de retiradas de vales) so muito prprios do dependente do lcool ou de outras drogas.

    Outro motivo que faz com que o empregador no veja ou no queira ver o problema se d pela prpria caracterstica da personalidade do dependente, ele aquele funcionrio trabalhador, que no d problemas no servio, mas isto acontece quando ainda no est to prejudicado fsica e psiquicamente pelo lcool ou outras drogas, precisando defender o seu emprego, embora a vida familiar no transcorra bem, como ser visto mais adiante.

    O empregador, cedo ou tarde, vai percebendo, com o passar do tempo, o problema daquele funcionrio por vrias vias: queixas de outros funcionrios, chefias, supervisores, at de clientes, quando o dependente atende-lhe exalando lcool ou com postura alterada, principalmente se o setor for de atendimento ao pblico, enfim a situao foge do controle e decises tero que ser tomadas.

  • O manejo mais correto na interveno dessas situaes sero norteadas na seqncia deste livro, num modelo de Preveno e Tratamento de lcool e Drogas na Empresa.

  • A NEGAO DA FAMLIA

    Pode-se comprovar atravs dos longos anos de trabalho com preveno e tratamento de dependentes qumicos, invariveis perdas pelo dependente causadas pela doena: primeiro, da famlia e segundo, o emprego.

    Em razo disso, a negao da famlia, no sentido de esconder o problema do dependente, pode acarretar problemas funcionais e financeiros empresa. Pois esta quem garante o sustento da famlia, at mesmo nos casos que tenha que pagar penso.

    Esta dinmica de negao familiar pode levar anos, que com medo e insegurana de que o marido seja mandado embora do emprego, a esposa chega ao desespero de at mentir, por exemplo: o marido falta ao trabalho, ela liga avisando que ele se encontra adoentado por intoxicao alimentar, estado gripal grave, inflamao dentria, entre outras, mas que na realidade no aconteceu nada disso. O porre na noite anterior ou no final de semana foi a causa de sua falta ao servio.

    neste momento que as negaes do dependente, do empregador e da famlia tornam-se visveis, mas separados de uma percepo global. E este o momento que a empresa deve abrir olhos para no adoecer com o funcionrio doente e seus familiares, tudo ocasionado pelo problema da Dependncia Qumica. Por esta razo, o Programa de Preveno ao lcool e Outras Drogas, na empresa, importante porque uma tentativa de auxiliar o empregador a enfrentar este problema.

  • O QUE A EMPRESA IGNORA

    Nos captulos anteriores foram vistos as ms repercusses, as negaes familiares e empresariais diante do problema da dependncia qumica. Ser abordado agora, o que a empresa ignora, embora hoje felizmente muitas j tenham programas sociais voltados para o problema e integrando as equipes de preveno.

    a) O dependente espera ansioso o trmino do expediente de trabalho para beber ou usar outros tipos de drogas, se bem que muitos fazem isto no trabalho, por no agentarem muitas horas em abstinncia, conforme for o seu grau de dependncia.

    b) So poucos os dependentes qumicos que no se tornam violentos ou com outras alteraes de condutas e comportamentos, dependendo da droga usada, tempo e grau de dependncia.

    c) No imagina, por exemplo, um pai de famlia chegando em casa sob o efeito de lcool ou outras drogas, repetindo isto todos os dias, j h alguns anos, e que certamente, no um quadro bom de se ver, mas sentido diariamente pela esposa e filhos que, assustados, no sabem o que fazer ou em que lugar recorrer.

    d) No percebe que sempre a famlia mais visada, pois ali o dependente, involuntariamente, se torna poderoso e agressivo, devido vulnerabilidade aos seus ataques e desabafos. Embora o dependente sinta-se culpado no dia seguinte, haja visto que ele no

  • queria ter feito o que fez, mas pelo estado em que se encontrava devido dependncia, no pode evitar: a sua crtica e percepo estavam comprometidas pela doena.

    e) A vida na casa de um dependente de lcool ou outras drogas norteada de crises, na qual o respeito cede lugar ao medo abrangendo todos os seus integrantes, pois os filhos sofrem srios problemas psicolgicos, no vo bem na escola, se autodiscriminam e so discriminados por seus amigos.

    f) No h como avaliar os danos emocionais e materiais sofridos pela famlia do dependente qumico.

    Para finalizar, o empregador ignora que ele tambm passa por problemas semelhantes com este funcionrio, que pode trazer danos morais e/ou materiais empresa, pois intoxicado, capaz de provocar, por exemplo, acidente com veculo da empresa ou recepcionar mal um cliente, denegrindo a imagem da mesma.

  • A GRAVIDADE DO PROBLEMA

    A seqncia de exposies de danos da dependncia qumica um assunto que vai muito alm do que foi apresentado at aqui, pois o dependente qumico, quer seja de lcool ou qualquer outro tipo de droga, paga um custo emocional muito grande pela sua doena, bem como a sua famlia.

    Devido ignorncia social e cultural sobre a doena, muitos nomeiam o dependente com adjetivos pejorativos e discriminantes, como: bbado, viciado, maconheiro, louco, drogado, entre outros. Isto os prejudica muito, porque na realidade so pessoas doentes e que precisam de ajuda.

    H relatos de dependentes que embora no querendo, precisam beber ou usar qualquer tipo de droga, ou juram e prometem no mais us-la, porm a compulso to violenta que no podem controlar-se, seguindo de culpa e sentimento de vergonha.

    A famlia cobra muitas vezes de forma incoerente e errnea o seu comportamento, mesmo porque eles no sabem lidar com o problema, pois de nada adianta falar quando a pessoa est sob efeito de alguma droga, o que s tende a complicar mais o caso.

    No captulo em que foi abordado a negao da famlia, observou-se a dificuldade da mesma em pedir ajuda, especialmente ao empregador. Igualmente quando ela vai em busca de outros recursos, o drama continua, pois instituio especializada, em tratamento

  • de dependncia qumica, na qual pea ajuda, o mdico, psiclogo ou psiquiatra certamente indicar o internamento como possibilidade de tratamento, se o caso for grave, ainda assim, a famlia - por medo, insegurana, culpa, vergonha - resiste a esta orientao.

    Por isso o dependente chega a um hospital ou em clnicas de servios especializados com o estado de sade j crtico, pelos motivos j expostos aqui. Em funo disso, visto a grande importncia de um programa de preveno ao lcool e drogas nas empresas.

  • QUANDO A TICA TEM QUE FUNCIONAR

    No importa a forma, mas o dependente qumico precisa ser ajudado. Isto tico.

    Tem-se, por exemplo, uma pessoa que esteja se afogando em alto mar, um salva-vidas nada at a vtima, estuda a situao e chega concluso que o nico jeito de traz-la a terra firme ser desacordando-a, com uma tcnica especial que foi ensinado a este profissional, pois o afogando est se debatendo e impedindo a sua ao salvadora. Feito isto ele nada com a pessoa para a terra, salvando-a.

    Existe um processo atico nisto? Cr-se que no. Ento, deve-se usar o mesmo procedimento ao dependente em crise, porque neste momento ele est sem crtica e percepo do risco e perigo que corre, todavia se no h ajuda tem-se a uma atitude no tica.

    Por isso, aconselha-se ao empregador que tome atitudes firmes com seus empregados com o problema, a fim de ajud-los e encaminh-los a um tratamento para mais tarde estes poderem lhes agradecer, como geralmente acontece.

  • O MOMENTO DE AJUDAR O DEPENDENTE QUMICO

    Muito embora haja exceo, o dependente no procura ajuda espontaneamente. Mesmo nas excees pode ser uma conduta manipulatria, ele aceita se tratar, mas somente para agradar a empresa ou a famlia.

    H sinais, embora bastante imperceptveis, pelo dependente em pedir ajuda, que podem ser reais, contudo, somente uma equipe bem treinada, na empresa, perceber se estes sinais so verdadeiros ou manipulatrios, pois existe uma negao macia do indivduo em aceitar a sua dependncia, quer seja do lcool ou de outras drogas, pela prpria natureza da doena: o paciente no se sente doente.

    Deve-se saber que a negao um dos sintomas da dependncia qumica e geralmente est muito crnica na pessoa, porm o pedido de socorro vem de algumas formas tais como: s vou para um tratamento, morto, levem-me se forem capazes, quando eu sair eu sumo de casa, entre outras. bvio que ele no est falando bem isto, mas por experincia do terapeuta que trabalha com preveno e tratamento, o dependente est pedindo auxlio, indiretamente, e a a hora de ajud-lo, realmente, quer seja na empresa ou na famlia.

  • DROGAS

    Vrios autores podem defini-la na mesma linguagem, mas de forma diferente quanto aos seus efeitos e formas de dependncia. Isto quando se trata de drogas ilcitas que o objetivo de inform-los neste livro, porm sabe-se que h drogas lcitas (medicamentos) que podem ajudar a pessoa, uma vez prescrito pelo mdico, claro, especialmente as psicotrpicas, caso contrrio, como na automedicao, podero causar os mesmos danos ou at piores que as ilcitas.

    Como as drogas atuam no crebro afetando as condies mentais do indivduo, so chamadas psicoativas. Basicamente so trs os tipos:

    - Depressoras diminuem a atividade mental fazendo com que o crebro funcione de forma mais lenta, reduzindo a ateno, a concentrao e a capacidade intelectual;

    - Estimuladoras aumentam a atividade mental fazendo com que o crebro funcione mais aceleradamente;

    - Alucingenas alteram a percepo provocando distrbio no funcionamento cerebral.

    Na seqncia deste livro ser mostrado ao empregador o qu tanto as drogas ilcitas ou lcitas usadas pelo dependente afetar o seu trabalho na empresa.

  • DROGA LEVE OU PESADA

    Esta uma discusso ampla entre os profissionais que trabalham nesta rea. Do ponto de vista legal, a lei no difere drogas leves ou pesadas, mas como lcitas ou ilcitas.

    Trabalhando, como especialista em preveno e tratamento de dependentes de lcool e outras drogas, h mais de vinte anos, pode-se conceituar que drogas leves, mesmo sendo medicaes prescritas por mdicos, tornam-se perigosas, ainda mais se estes no souberem que a pessoa um dependente qumico e que uma grande maioria no abre o problema aos profissionais, por vergonha ou preconceito, especialmente num exame peridico que feito aos funcionrios de muitas empresas.

    Infelizmente, no Brasil, h pouca fiscalizao sobre compras de medicamentos controlados, da tm-se dependentes de remdios, que, invariavelmente, so casos de difcil tratamento.

    Ao indivduo que faz uso de maconha, por exemplo, pode no trazer as mesmas conseqncias em curto prazo, do que para aquele que usurio de cocana ou crack, mas certamente o uso prolongado da maconha traz conseqncias psquicas/fsicas ao usurio. Portanto, tem-se que considerar a maconha uma droga sutil e perigosa. J foram tratados jovens adultos, com esta dependncia, na Clnica Nova Esperana, que no conseguiram nem concluir o Ensino Fundamental, em seus estudos, pelo uso dela.

  • O mesmo acontece com o lcool: o uso de uma droga lcita, para o alcolatra torna-se pesada, devido este ser portador do alcoolismo, que se considera uma das doenas que mais mata no mundo.

    A reao ou efeito de determinadas drogas no a mesma para todos os dependentes. So trs fatores bsicos que diferenciam:

    - A droga usada;

    - O perfil da personalidade do usurio;

    - O meio em que est inserido.

    Cada droga tem seu efeito diferente, em psiques diferentes pela sua pureza, quantidade e forma consumida: seja ingerida, inalada, cheirada, injetada, entre outras.

  • SOU UM DEPENDENTE, OU NO?

    Nem todos que usam lcool ou que experimentam outras drogas vo se tornar dependentes, todavia cabe-se acrescentar que muito arriscado algum provar qualquer tipo de droga pelo fato de no saber se tem ou no pr-disposio para a dependncia, ou que pertena a um grupo de risco, j que a gentica e a hereditariedade entram no conceito etiolgico da doena.

    No caso do lcool, culturalmente, uma grande maioria de pessoas faz uso dele, praticamente em todos os pases do mundo: em festas, finais de semana, ocasies especiais, ou at diariamente de uma forma controlada. O que pode acontecer, se passarem do ponto, terem uma grande ressaca no dia seguinte, acompanhada de dores de cabea.

    Por outro lado, tm-se os alcolatras, que hoje so de 15% a 20% de uma populao. Este percentual pode ser elevado se incluir os dependentes de outras drogas, pois experincias mostram que existem dentro das doenas pr-dispostas os monodependentes e polidependentes, conceito este aceito pela maioria de especialistas que trabalham com este problema.

    Por isso bom entender que somente quem tem uma pr-disposio, e que logo aps conhecer e se identificar com a droga eleita pelo seu crebro (o que j poder ocorrer na adolescncia), vai tolerando mais rapidamente a substncia psicoativa do que os outros,

  • isto : ter que usar cada vez mais para obter o mesmo efeito desejado, antes conseguido com menos quantidade, e que j esto a um passo da dependncia, inevitavelmente.

    Isto acontece tambm, com outras drogas, em especial as ilcitas que so os grandes problemas que nos afligem, pois se referindo a elas no existe o uso social e o trfico est crescendo cada vez mais.

  • QUESTES FREQENTES

    A fim de respaldar o leitor, com base nas experincias em Preveno e Tratamento das Dependncias Qumicas, haver aqui uma tentativa de responder algumas questes que so comuns s pessoas fazerem.

    POR QUE ALGUMAS PESSOAS ACREDITAM QUE ALGUNS TIPOS DE DROGAS NO FAZEM MAL?

    Por questes ou razes que parecem muito simples:

    1) Qualquer droga tem o seu efeito prazeroso para a maioria das pessoas ao us-las pela primeira vez;

    2) Na fase inicial o usurio no se acha prejudicado por ela em nenhum aspecto biopsicosocial;

    3) Ele chega at defender a droga, dizendo que pode parar quando quiser, quando cobrado pelo seu uso;

    4) No caso do lcool, o alcolatra acha que est bebendo igual aos outros, muito embora, quando se excede, tem pouca percepo disso.

  • Enfim, existem muitos obstculos na vida do prprio indivduo, que o impede de perceber que est a caminho de uma das dependncias. Por esta razo, no percebe a necessidade de uma interveno para ajud-lo, o que dificulta o encaminhamento para um tratamento especializado.

    O TRATAMENTO DE UM DEPENDENTE QUMICO PODE DEIX-LO DEPENDENTE DE MEDICAO?

    Quando o dependente encaminhado para um servio especializado, nesta rea, a medicao no o deixa dependente. O paciente passa por vrias avaliaes muito criteriosas pela equipe que vai trat-lo. O primeiro passo desintoxic-lo da droga, ou drogas, que j esteja usando.

    Para isto existem medicaes especficas que vo lhe ajudar a passar pela sndrome de abstinncia, isto pela falta da(s) droga(s) que ele usava, medicaes, estas, que vo sendo retiradas gradativamente, dependendo do grau de intoxicao do paciente, at a sua melhora geral, para que no sinta vontade ou compulso por nenhuma substncia psicoativa.

    Ento, o tratamento do dependente qumico, geralmente, precisa de medicao, contudo o objetivo final deix-lo livre das mesmas.

  • POSSVEL ESTABELECER UM GRAU DE DEPENDNCIA?

    As dependncias fazem parte da vida e principalmente da natureza humana. Pode-se associar esta necessidade ao exemplo de uma criana que, ao nascer, precisa dos cuidados da me e durante toda a sua vida vo-se criando relaes de dependncia generalizadas com pessoas, objetos e ambientes, que trar-lhe-o, ou no, situaes de bem estar.

    Segundo estudos cientficos, existem tipologias e graus de dependncias qumicas, independentes dos tipos de drogas usadas pela populao.

    O primeiro contato do indivduo com a droga com o uso social, sem perceber que predisposto mesma. Como por exemplo, uma situao em que num passado recente um grupo de jovens comeou a freqentar festas e a beber. Dentre estes, existem alguns que, embora bebendo como os outros, no conseguem ficar igualmente eufricos ou acompanhar o clima. Conseqentemente, querem se igualar nesta euforia e, para que isso ocorra, dobram ou triplicam suas doses. Realmente o que acontece: alcanam o ponto e o efeito desejado. Estes jovens descobriram que sempre tero de beber um pouco mais, e perceberam que no se embriagam com facilidade. Ficam at satisfeitos com isso, pois se consideram fortes para beber.

  • Com este exemplo, chama-se a ateno para o fato de que alguns jovens aparentemente comearam a beber como todos comeam, e de que outros beberam pouco e se divertiram sem precisar aumentar as doses.

    Em seguida, como foi visto no captulo Sou um dependente, ou no?, estes indivduos vo desenvolvendo a tolerncia, ou seja, somente os que tm pr-disposio dependncia qumica sero afetados por este fenmeno.

    Junto com a tolerncia vai acontecendo um outro fenmeno denominado escalada, que a passagem do uso de uma droga para outra mais pesada.

    O adolescente, por exemplo, comea a beber, fumar (tabaco), cheirar cola, passando a fumar maconha e, logo, pode estar cheirando ou injetando cocana. s vezes, at segue em frente com outros tipos de drogas e, invariavelmente, esta escalada vai sendo acompanhada pelo lcool que, segundo indicaes estatsticas, a entrada principal para todas as outras drogas.

    Todo o indivduo, ao experimentar lcool ou outras drogas, corre o risco de desenvolver a dependncia. No caso do alcoolismo, os jovens em questo foram aumentando as doses pelo processo de tolerncia. Os fatores causadores disso so mltiplos. Pesquisas recentes apontam principalmente para causas biolgicas uma diferenciao funcional nas clulas hepticas com enzimas e fermentos interagindo de forma a facilitar o processo de desdobramento do lcool - que faz com que uma pessoa consiga beber mais que a outra sem ter

  • grandes danos a princpio. Em decorrncia, o usurio gradativamente vai aumentando as doses e, sem perceber, entra na dependncia. Neste momento, quando esta j estiver instalada, ser impossvel voltar ao beber social, que existe e muito bem administrado por pessoas que no apresentam o problema.

  • QUAL O PRAZO QUE O DEPENDENTE PRECISA PARA SE TRATAR?

    Toda a instituio tem a sua proposta de tratamento, quanto ao tempo e tcnicas teraputicas prprias, voltadas s necessidades dos pacientes.

    Na Clnica Nova Esperana, por exemplo, o tratamento em regime de internamento no finaliza com o tempo do paciente internado, pois neste perodo ele far uma grande desintoxicao dentro de uma imerso psicoteraputica e ser tratado dos demais danos fsicos advindos da dependncia.

    O prosseguimento desta medida teraputica de extrema necessidade para praticamente todos os casos, pois, criteriosamente, lhe ser indicado a modalidade de continuidade de acordo com a evoluo do paciente no perodo interno.

    Para alguns pacientes indicado o hospital-dia, isto , ser desligado aos poucos do regime interno para a readaptao familiar e social. O tempo nesta modalidade de continuidade do tratamento varia de um a trs meses, conforme o caso.

    Para outros pacientes, recomenda-se a freqncia semanal na Clnica para participao em atendimentos individuais ou grupais, alm da possibilidade de integrar o corpo de voluntrios, que funciona muito bem para a grande maioria deles.

  • Enfim, o tempo de tratamento varia para cada caso, pois o paciente tem muito que resgatar dos danos causados pela dependncia em todo o contexto biopsicosocial, familiar e espiritual.

    Sabe-se e trabalha-se para que o paciente e famlia entendam que a dependncia qumica no tem cura, mas pode ser estacionada com a abstinncia total das drogas, quer sejam lcitas ou ilcitas, sendo uma doena incurvel, a manuteno e cuidados sero pelo resto da vida do dependente de qualquer droga.

    Portanto, de suma importncia o empregador ter um Programa de Preveno na sua empresa que incentive o paciente e a famlia a continuidade do tratamento ps-internamento.

  • NECESSRIO O INTERNAMENTO PARA TRATAMENTO DE DEPENDENTES DE LCOOL E OUTRAS DROGAS?

    As opinies dos especialistas se dividem ao responder esta questo. Porm, pela experincia de longo tempo j trabalhado nesta rea, pode-se dizer que necessrio o internamento para dependentes de lcool ou outras drogas, para que, no mnimo, estes possam desintoxicar-se. Haja visto, que durante o internamento tero que separar-se da famlia, dos amigos e amigos, do social e do trabalho, enfim eles se separaro daquela teia de aranha em que todos estavam emaranhados e no se entendiam e nem se viam.

    O motivo que leva a tal concluso que o dependente no o nico doente na clula familiar, pois a famlia adoece tanto quanto ele devido ao longo perodo de sofrimento, e esta tambm precisa ser tratada tanto quanto o dependente.

    Pela experincia, do especialista, o internamento trar possveis benefcios ao paciente, mas no milagrosos, porque este no est livre de uma recada, mesmo sendo tratado numa Clnica especializada e a menos que haja a colaborao e acompanhamento do seu familiar, ao contrrio disso, haver pouco xito na reabilitao deste paciente, o mesmo ocorre com outros tipos de doena se no houver incentivo familiar.

  • COMUM A FAMLIA E O EMPREGADOR PERGUNTAREM: E SE ELE RECAIR?

    No tratamento interno o paciente ser ajudado a enfrentar a recada. Ele no somente ser tratado da sua dependncia, mas tambm dos seus problemas: emocionais, condutas, culpas, vergonha, afetividade e especialmente a aceitao da doena. Uma instituio que trabalha com dependncia qumica age de forma que o tratamento no termina com o final do internamento.

    O paciente continuar seu tratamento, assim como a famlia, em atendimentos semanais, individuais ou grupais conforme for a indicao. Isto, porque, no internamento o paciente dever ser ajudado a enfrentar os problemas da vida sem as drogas, que antes, eram usadas como fuga.

    Alm das ajudas acima citadas, os pacientes so aconselhados a procurar grupos de auto-ajuda como os Alcolicos Annimos e Narcticos Annimos. Tambm so orientados a evitar os antigos hbitos nocivos, as pessoas que fazem uso de drogas e de se colocar em situaes de risco.

    Por fim, muitos pacientes que passam por internamentos em instituies, tornam-se voluntrios, se ajudam e do ajuda a outros internos com suas experincias.

  • AS PRINCIPAIS DROGAS: EFEITOS E REPERCUSSES

    BIOPSICOSOCIAIS

    A seguir ser feito um apanhado das principais drogas usadas, seus efeitos no organismo e como repercutem no indivduo e no seu trabalho.

    LCOOL

    Obtido a partir da cana-de-acar, frutas ou cereais, atravs de um processo de destilao ou fermentao. O lcool em pequenas doses traz pessoa desinibio, euforia, perda parcial da crtica e percepo. J em doses maiores vm uma sensao de anestesia e sonolncia.

    Os sintomas para o dependente de lcool so bastante desagradveis: tremores pela manh, suor abundante, tonturas, aparecem agressividade, diminuio da capacidade de ateno, concentrao, o que aumentam em muito os riscos de acidentes no trabalho ou fora dele.

    Independente das doenas psquicas ocasionadas pelo lcool, fisiologicamente vo aparecendo vrios problemas de sade: cirrose heptica, pancreatite, esofagite, problemas cardacos, polineurite (dores nos membros superiores e inferiores), impotncia sexual, atrofia cerebral (diminuio do crebro), dentre outros danos fsicos e mentais.

  • No trabalho, aparecem os absentesmos, atrasos, apresentao constante de atestados mdicos, situao financeira sempre comprometida (por retiradas constantes de vales), uso excessivo do lcool no horrio de almoo e nas festas de confraternizao patrocinadas pela empresa.

  • MACONHA (TETRAHIDROCANABINOL)

    Esta substncia extrada da planta cannabis sativa, os seus efeitos vo sendo observados por euforia excessiva, relaxamento, falta de percepo de tempo e espao, falar ou se justificar em demasia, fome intensa, taquicardia, palidez, olhos avermelhados (uso contnuo de colrios), pupilas dilatadas e secura na boca.

    So comuns os prejuzos da ateno e da memria para fatos recentes, podendo vir com o uso contnuo: alucinaes visuais e auditivas, e o excesso do uso podem trazer: ansiedade intensa, estado de pnico, parania e, por outro lado, desnimo generalizado.

    No trabalho, os sintomas podem causar acidentes graves. comum o usurio crnico da maconha procurar lugares isolados para esconder a dependncia.

  • COCANA

    Extrada da folha de coca, planta encontrada na Amrica do Sul, seu uso mais comum cheirada ou injetada. No incio o usurio tem a sensao de poder, excitao e euforia. Estimula a atividade fsica e mental, diminui o cansao e a fome, o usurio v o mundo fantasioso, com muita intensidade (ilusria).

    Porm, com o consumo, j dependente, complicaes srias comeam a aparecer: taquicardia, dilataes das pupilas, suor excessivo e presso arterial alta, seguida de insnia, ansiedade, parania, sensao de medo e pnico, irritabilidade e agressividade. comum surgirem complicaes cardacas, circulatrias e cerebrais.

    A cocana causa derrames microvasculares cerebrais que at podem passar despercebidos ao indivduo, mas no se quando coincidentemente atingem uma regio nobre do crebro, e a pode haver complicaes graves em nvel de psicomotriciade (movimento, fala, audio e viso).

    No emprego aparece: oscilao do humor, problemas com outros colegas, produtividade desigual com o passar do tempo. Alm do uso, pode fazer trfico - como acontece com outras drogas - no prprio local de trabalho. Furtar o empregador, absentesmo e atrasos, assim como sadas rpidas fazem parte da conduta do dependente de cocana.

  • CRACK

    O crack praticamente a cocana, somente com roupagem diferente, deriva-se da prpria pasta bsica da cocana, transformada em pequenas pedras quando misturada com bicarbonato de sdio. O nome lembra o som das pedras queimando, numa espcie de cachimbo que o usurio faz para consumi-las (fumando como os fumantes de cachimbo).

    Pode-se dizer que os danos causados sade dos usurios pelo crack so triplicados em relao aos danos da cocana, tornando-os rapidamente dependentes. Os efeitos desta droga so os mais devastadores possveis: emagrecimento muito rpido pela perda do apetite, comprometimento sexual, personalidade deteriorada, isolamento social e marginalidade. O usurio do crack vende tudo o que seu, dos parentes, e at roubam ou matam se for preciso na nsia de conseguir dinheiro para comprar a droga.

    uma droga muito perigosa quando chega aos locais de trabalho, sendo o problema dificlimo de lidar pelo empregador.

  • LSD (cido lisrgico)

    Mais comumente vendido em cpsulas, comprimidos ou em pedaos de papel absorvente. Pode ser usado por via oral ou injetado na veia.

    O cido Lisrgico (LSD) um potente alucingeno, no tendo cor nem sabor. O usurio, na alucinao, acredita que pode voar ou andar sobre as guas. Os efeitos se iniciam de 30 a 60 minutos aps o uso, e atingem o pico em 90 minutos, durando de 6 a 12 horas.

    No local de trabalho, apresenta fraqueza, tontura e uma srie de alteraes fisiolgicas constitudas por condutas de euforias e alucinaes. Como no crack, difcil a interveno de ajuda com estes indivduos.

  • ECSTASY

    Muito conhecida como a droga do amor, mas que no tem o efeito afrodisaco que se apregoa. Alm de ser estimulante, tem tambm efeito alucingeno, o que duplamente perigoso.

    Com o estmago vazio, os efeitos aparecem de 20 a 60 minutos aps a ingesto dos comprimidos, e podem durar por 6 a 8 horas.

    Com o uso, o indivduo sente intensa felicidade, sensao de leveza e segurana, e aumento da sociabilidade e sensualidade. H aumento da temperatura corporal (at 42 graus), sede intensa (desregula o sistema diurtico), e sensao de eletrificao da pele. A combinao da droga com a msica determinam a vontade de tocar as pessoas. A dana vira um transe semelhante aos experimentos em rituais tribais ou em primitivas cerimnias religiosas.

    Numa festa de confraternizao, da empresa, esta droga pode causar situaes desagradveis para at a imagem da empresa.

  • ANSIOLTICOS OU TRANQUILIZANTES

    So substncias sintticas, produzidas em laboratrios em forma de tabletes ou cpsulas, e, indivduos que desenvolvem dependncia dessas medicaes, mesmo sendo lcitas, sofrem muito pela sndrome de abstinncia, quando lhes faltam meios para consegu-las.

    Os primeiros sintomas patolgicos so queda de presso arterial e, se misturados com lcool aumentam os seus efeitos, podendo levar a estado de coma e morte. Em grvidas podem causar m formao fetal. Por isso, deve-se retomar que toda a medicao psicotrpica deve ter acompanhamento mdico.

    No trabalho aparece: produes errticas, indiferenas pelas normas e regulamentos da empresa, faltas, atrasos. So pessoas queixosas em excesso e sempre procura de benefcios mdicos, geralmente para conseguirem receitas para comprar remdios. Por isso, a necessidade de um programa de preveno, com um mdico integrando a equipe, para avaliar, detalhadamente, os casos de dependncia ou no.

  • NARCTICOS PIO E SEUS DERIVADOS:

    HERONA, MORFINA E CODENA.

    Tambm so drogas que diminuem a atividade mental, extradas da papoula ou sinteticamente produzida em laboratrios.

    A sua composio entra em vrios medicamentos: Xaropes para tosse, Tylex, Elixir Paregrico, Dolantina e muitos outros. Seus efeitos nocivos ao organismo se assemelham aos ansiolticos ou tranqilizantes.

    Com grau de dependncia aguda, poder haver queda de presso arterial, falncia de respirao e dos batimentos cardacos, podendo levar morte.

    No trabalho, a pessoa torna-se incapaz de pensar claramente, perde o interesse pela aparncia fsica, h baixa motivao pelo que faz, faltas, atrasos e pode vender ou traficar estas drogas na empresa.

    bom lembrar, como j foi citado nesta obra, que h uma grande porcentagem de mulheres dependentes de ansiolticos ou narcticos.

  • POLIDEPENDNCIA E MULTIDROGAS

    Com uma infinidade de drogas no mercado, comum o uso de mltiplas drogas pelo dependente qumico. Quem usa cocana em excesso, em seguida necessita de outra droga o lcool, por exemplo - que compense a euforia para ficar normal; o alcolatra precisa de alguma substncia para apoi-lo em um dia de trabalho, quando impossvel beber na sua repartio; os que usam estimulantes, dependem de tranqilizantes para poder dormir.

    Enfim, no trabalho, seja qual for a droga que o seu empregado dependa, h outras no mercado, lcitas ou ilcitas, para complicar a vida do indivduo, biopsicosocialmente, e trazer problemas para a empresa.

    Da a importncia da preveno para um bom desenvolvimento empresarial e social.

  • COMENTRIOS FINAIS

    Espera-se que os leitores, especialmente os empresrios dos vrios segmentos da indstria e do comrcio, tirem algum proveito deste livro. No se fez um grande tratado sobre a Preveno de lcool e Drogas nas Empresas, mas no se mediram esforos para inform-los mais claramente possvel sobre este problema.

    Sabe-se que o empregador contribui muito para o progresso social de um pas, no s dando emprego s pessoas, mas enfrentando crises e outras complicadas situaes que norteiam uma empresa.

    Para finalizar deseja-se que empregador e empregado se unam para enfrentar este epidmico problema que no deixa de chegar aos locais de trabalho, trazendo srios danos biopsicosociais. Para isto, prope-se tambm aqui, um Projeto de Preveno e Tratamento do lcool e Drogas na Empresa.

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