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A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO 1. PREFÁCIO A verdade é o resultado do confronto da ideia com a realidade. A ideia é o produto do pensamento, a tentativa da mente de configurar a sua percepção, seja empírica, sobre os seres, seja psicológica, na esfera da existência dos seres humanos, seja social, no âmbito da existência dos grupos humanos. A cultura registra a história da evolução dos povos, e a educação procura conduzi- los nessa evolução com base na transmissão dos conhecimentos adquiridos. A teologia discorre sobre a existência de Deus, de forma afirmativa, natural e revelada, e negativa, mística. A filosofia discorre sobre o conhecimento, quer intuitivo, quer racional, quer fenomenológico. A ciência explica o conhecimento empírico e o conhecimento eidético, interpessoal e multipersonal. A fenomenologia científica tenta uma síntese do conhecimento e do conhecimento ético aberta ao progresso do pensamento. A evolução ocorre no ser humano e no grupo humano. O ser humano manifesta, na sua evolução, as etapas infantil, adolescente e adulta, sujeita a pequenos adiantamentos ou pequenos atrasos, com a possibilidade de inadaptações e desadaptações. O grupo humano, na sua evolução, manifesta os estágios de dependência, contradependência e interdependência, estágios estes decorrentes da evolução e das limitações de cada um de seus membros. A educação e a reeducação procuram propiciar o ambiente adequado para a evolução e para a correção das discrepâncias que nela ocorram. Uma vista panorâmica da humanidade nos mostra que o homem, que terá surgido na Terra há cerca de um milhão de anos, necessitou, para sobreviver, adaptar-se ao ambiente. Quanto mais o conhece e quanto mais conhece a si mesmo, mais leve se torna para optar, escolher sua conduta. Os registros históricos noticiam a História Antiga e as Idades Média, Moderna e Contemporânea, e um denominador comum para a evolução dos povos. Sempre num mesmo cenário, o universo, tem-se dado o enredo da evolução dos indivíduos e dos grupos, cujas personagens variam no decorrer da sua existência. O problema que ocorre é que a humanidade, na sua evolução, sofre a atuação de vários empecilhos. O maior obstáculo é a falta de autoconhecimento. Além disso, há os indivíduos psiquicamente normais e os psiquicamente frágeis, ambos necessitam de assistência ao seu temperamento e de formação ou reformulação do seu caráter. Um fenômeno universal está ocasionando a erupção de indivíduos fixados na farsa, os corruptos, e os fixados na agressividade, os terroristas, provocando medidas repressoras pelos governos. Outros empecilhos se fazem sentir, quais sejam: a ignorância sobre o sexo, seja como reprodutor, seja como fonte de prazer; as filosofias, que não oferecem nenhuma teoria consistente; as religiões que têm perpetuado a crença em um Deus vingativo, que castiga suas criaturas. A educação necessita erradicar todos esses empecilhos e direcionar os indivíduos e os grupos na sua dinâmica para assimilarem todo o conhecimento possível e o aplicarem no seu pensar sobre o próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto da sua idéia com a realidade.

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A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

1. PREFÁCIO

A verdade é o resultado do confronto da ideia com a realidade. A ideia é o produto

do pensamento, a tentativa da mente de configurar a sua percepção, seja empírica, sobre

os seres, seja psicológica, na esfera da existência dos seres humanos, seja social, no

âmbito da existência dos grupos humanos.

A cultura registra a história da evolução dos povos, e a educação procura conduzi-

los nessa evolução com base na transmissão dos conhecimentos adquiridos. A teologia

discorre sobre a existência de Deus, de forma afirmativa, natural e revelada, e negativa,

mística. A filosofia discorre sobre o conhecimento, quer intuitivo, quer racional, quer

fenomenológico. A ciência explica o conhecimento empírico e o conhecimento eidético,

interpessoal e multipersonal. A fenomenologia científica tenta uma síntese do

conhecimento e do conhecimento ético aberta ao progresso do pensamento.

A evolução ocorre no ser humano e no grupo humano. O ser humano manifesta,

na sua evolução, as etapas infantil, adolescente e adulta, sujeita a pequenos adiantamentos

ou pequenos atrasos, com a possibilidade de inadaptações e desadaptações. O grupo

humano, na sua evolução, manifesta os estágios de dependência, contradependência e

interdependência, estágios estes decorrentes da evolução e das limitações de cada um de

seus membros. A educação e a reeducação procuram propiciar o ambiente adequado para

a evolução e para a correção das discrepâncias que nela ocorram.

Uma vista panorâmica da humanidade nos mostra que o homem, que terá surgido

na Terra há cerca de um milhão de anos, necessitou, para sobreviver, adaptar-se ao

ambiente. Quanto mais o conhece e quanto mais conhece a si mesmo, mais leve se torna

para optar, escolher sua conduta. Os registros históricos noticiam a História Antiga e as

Idades Média, Moderna e Contemporânea, e um denominador comum para a evolução

dos povos. Sempre num mesmo cenário, o universo, tem-se dado o enredo da evolução

dos indivíduos e dos grupos, cujas personagens variam no decorrer da sua existência.

O problema que ocorre é que a humanidade, na sua evolução, sofre a atuação de

vários empecilhos. O maior obstáculo é a falta de autoconhecimento. Além disso, há os

indivíduos psiquicamente normais e os psiquicamente frágeis, ambos necessitam de

assistência ao seu temperamento e de formação ou reformulação do seu caráter. Um

fenômeno universal está ocasionando a erupção de indivíduos fixados na farsa, os

corruptos, e os fixados na agressividade, os terroristas, provocando medidas repressoras

pelos governos.

Outros empecilhos se fazem sentir, quais sejam: a ignorância sobre o sexo, seja

como reprodutor, seja como fonte de prazer; as filosofias, que não oferecem nenhuma

teoria consistente; as religiões que têm perpetuado a crença em um Deus vingativo, que

castiga suas criaturas. A educação necessita erradicar todos esses empecilhos e direcionar

os indivíduos e os grupos na sua dinâmica para assimilarem todo o conhecimento possível

e o aplicarem no seu pensar sobre o próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no

confronto da sua idéia com a realidade.

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2. ONTEM

A teologia, estudo de Deus, a filosofia, estudo das ideias, e a ciência, estudo de

tudo que existe, integram o conhecimento e o conhecimento ético, da moral, dos

costumes. Há um princípio único, transformado em organismo e permanecendo uno, do

qual organismos dele originados se desenvolvem e ao qual retornam, permanente e

incessantemente, segundo leis por ele estabelecidas, e que contém a chave do seu

mistério. Ao ser humano é dado vislumbrar que estas leis existem e procurar conhecê-las.

A medida que pensa estar conhecendo estas leis, sente-se partícipe da obra do universo.

Sua aspiração é compreender a vontade do Criador e atuar de acordo com ela. Sabe que,

como parte do todo, necessita, para realizar-se, que o todo se realize, que todos sejam

felizes. A felicidade não é uma utopia, ela existe, tem seu lugar: ela decorre da aquisição

da vivência mística, bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico, e do

êxtase místico, bem-estar espiritual.

2.1. Uma teologia unificada

A intuição, o conhecimento direto, interior, que o indivíduo pode ter de si mesmo,

passa, necessariamente, pela ideia da existência de Deus. A natureza do saber teológico

originou:

Teologias afirmativas naturais, aquelas decorrentes do temor ao desconhecido,

que deu origem ao sentimento de religiosidade, necessidade de ligar-se a Deus, que gerou

explicações míticas, originariamente feiticistas politeístas, cosmológicas e/ou

antropomórficas e, posteriormente, monoteístas antropológicas, surgindo o vedismo, que

originou o bramanismo, que, juntamente com o taoísmo, ofereceu o material que iria

orientar os antropologismos budista e confucionista, base dos pensamentos socrático e

platônico, pedras angulares da teologia afirmativa natural.

Teologias afirmativas reveladas, aquelas decorrentes do anseio de comunicação

com a divindade, que gerou o saber revelado, dirigido pela luz da fé, critério supremo,

aparentemente já existentes nas teologias afirmativas naturais, mas perdidas na noite dos

tempos, ressurgidas no judaísmo, no cristianismo, no islamismo e no espiritualismo, na

forma de passagens em que visões diretas da verdade são registradas.

Teologias negativas, místicas, aquelas decorrentes de um outro caminho, fazendo-

se Deus presente neles, sem palavras e sem necessidade de entendimento, o êxtase

místico, que permite viver diretamente a unificação com o divino, quando o espírito

abandona o corpo e põe-se a caminho, emerge das profundezas do seu ser, supera a dor

do mundo, ressurge em outro plano, expande-se, harmoniza-se, unifica-se com Deus pelo

amor.

2.1.1. A unificação

O homem se permite falar sobre a divindade, teologizar. Para a teologia dialética,

são características da teologia; eleger a verdade por ser já válida; não ser um ramo da

ciência histórica, embora suas fontes e seus documentos sejam os da história da

humanidade; não se ocupar da verdade geral, filosófica, mundana, limitada; não ser

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reconciliação com Deus nem caminho para ela, seja escolástico, seja sacramental, mas

serviço à palavra de Deus. Tais considerações fazem dela uma teologia negativa no

sentido de ser mais uma prática do que uma dogmática. Para a teologia radical, o niilismo,

é possível transmutar todos os valores a partir da desdivinização, descristianização, e

consequente secularização do mundo, que decorre do fato de o ser humano se permitir

ajuizar sobre a existência, ou não, de Deus. A teologia sem Deus leva ao eterno retorno

às origens, ao desafio inicial, à manifestação da coragem de ser, procurando restabelecer

uma comunidade da fé, buscando a criação de uma fraternidade universal. Para a teologia

sistemática, as formas religiosas são formas culturais, tornando-se o ponto de encontro da

prisca teologia, da teologia dialética e da teologia radical. Na união absoluta, na separação

absoluta ou na negação absoluta, gira sempre o ser humano em torno da ideia de Deus,

símbolo inalienável da sua existência.

Falando sobre a divindade, teologizando, o ser humano concluiu que um princípio

uno, geralmente denominado Deus, transformou-se no seu íntimo, em elementos diversos,

coordenados em hierarquias e funções que reforçam esta unidade, conservando o mesmo

esquema em todas as individuações menores, donde a afirmação de que todo ser é feito à

imagem e semelhança de Deus, que é a sua origem e o seu destino.

2.2. Uma filosofia unificada

A dedução, o conhecimento indireto, mas também interior como a intuição, que

o indivíduo pode ter de si mesmo, passa, necessariamente, pelos dados gerais para chegar

a uma conclusão particular, na busca da unidade do pensamento. A natureza do saber

filosófico originou:

Filosofias racionais, também decorrentes do temor ao desconhecido, como as

religiões, e que procuraram conhecer, através da reflexão, a força das leis da natureza,

simbolizá-las e procurar proteção na sua lógica. O pensamento antigo procurou: em um

primeiro momento, explicar a origem, o mecanismo e o destino do universo; em um

segundo momento, explicar a origem, o mecanismo e o destino do ser humano neste

universo; em um terceiro momento, sistematizar o conhecimento adquirido nos períodos

anteriores; em um quarto momento, repensar essa sistematização. O pensamento

medieval ocupou-se de ensinar o aprendido, em uma primeira fase, de modo apologético,

e, em uma segunda, de forma mais estruturada. O pensamento moderno procurou precisar

o conhecimento e a linguagem que o expressa. O pensamento contemporâneo retomou a

temática do maior rigor possível na busca e na comunicação do conhecimento.

Filosofias intuitivas, aquelas decorrentes do anseio de comunicação com a

realidade, buscaram a supressão do raciocínio, que permitia uma sensação de contato mais

imediato com o real. O pensamento antigo deu asas à intuição. O pensamento medieval

ocupou-se da visão intuitivo-religiosa do mundo, buscando dogmatizar e transmitir essa

visão. O pensamento moderno procurou policiar a intuição, revigorando-a com uma

linguagem mais precisa. O pensamento contemporâneo retomou a temática da visão

intuitivo-mística do universo.

Filosofias fenomenológicas, aquelas decorrentes da capacidade da ampliação da

percepção para tentar abarcar os diferentes ângulos de apreensão do fenômeno existência

e do fenômeno existência humana, tomando a realidade sob triplo aspecto, podendo ser,

ao mesmo tempo, a verdade, um ocultamento da verdade ou um caminho para ela. O

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pensamento antigo iniciou investidas de apreensão do fenômeno universo e do fenômeno

ser humano no universo. O pensamento medieval ocupou-se da ampliação do conceito de

mundo, com a abordagem intuitivo-religiosa do assunto. O pensamento moderno

procurou lançar as bases da visão dialética racional-intuitiva do fenômeno eu-mundo,

sujeito-objeto. O pensamento contemporâneo retomou a temática da visão fenomênica do

universo.

2.2.1. A unificação

Os esforços do pensamento humano no sentido do conhecimento, em geral, têm

vacilado entre dois polos: pela razão, o homem buscou a ciência, que só atinge o que é

material; como consequência, surgiu o problema do caráter irracional do mundo, e vários

sistemas de pensamento se voltaram com ardor para os princípios de altruísmo,

fraternidade e amor, culpando o cientificismo como fator básico da catástrofe cultural.

No sentido do conhecimento ético, em especial, os esforços do pensamento humano não

fugiram à mesma polaridade sintomática: pela razão, só conseguiram sistematizar o

valioso no sentido material; como consequência, surge o problema da necessidade do

sentimento para dar validade existencial ao valioso.

Falando sobre o pensamento, filosofando, o ser humano concluiu que, da

fenomenologia científica, reflexão sintética que visa a compreender e descrever o mundo

a partir dos dados unificados das diversas ciências experimentais, pode esperar-se o

equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do

pensamento nos seus dois aspectos fundamentais, intuitivo e racional. Tal sistema pode

orientar para um presente melhor, vivido e um futuro melhor programado, visando a

felicidade, que é o fim de toda cultura.

2.3. Uma ciência unificada

A indução, o conhecimento também indireto como a dedução, mas também

exterior, que o indivíduo tem de si mesmo, passa, necessariamente, pelos dados

particulares para chegar a uma conclusão geral, na busca da unidade do pensamento. A

natureza do saber científico originou:

2.3.1. A ciência empírica

Também decorrente do temor ao desconhecido, surgiu para o ser humano a

necessidade de descrever, explicar e controlar os acontecimentos naturais. Com o

desenvolvimento de todos os ramos especializados da ciência do soma, chegou-se à

conclusão de que: o homem é um animal superior; o biológico contém as condições

necessárias para a vida psíquica; o sistema nervoso e o endócrino produzem efeitos

recíprocos extremamente complexos e se acham anatofisiologicamente entrelaçados de

modo quase inextricável. A nova noção sobre o cérebro como elemento supervisor,

também afetado pelas instâncias inferiores, e não como simples órgão de comando,

modificou inteiramente o panorama, dando origem ao conceito de integração, que vem

procurando mostrar a enorme complexidade do problema do conhecimento do corpo

humano, do seu funcionamento e da sua preservação. A ciência do soma não esgota a

ciência do homem.

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2.3.2. A ciência eidética interpessoal

Necessário se fez explorar e interpretar o conteúdo dos fenômenos interpessoais

de maneira metódica e crítica. A ciência do psiquismo, desde seus primeiros passos,

vacilou entre a concretização, o exame objetivo dos fatos, empirismo, e o valor

emprestado à introspecção, racionalismo. Ambas, concretização e abstração, levaram à

análise dos conservadores e dos funcionalistas de um lado, e, do outro, dos estruturalistas,

dos associacionistas e dos mecanicistas. As teorias da configuração e do campo psíquico

representaram um passo da concretização em direção à abstração; a fenomenologia

psicológica caminhou no sentido inverso.

Contribuições valiosas, em forma de conceitos, foram, estabelecidas: Há os

automatismos, adaptações já constituídas, passíveis de mobilização e repetição sem

esforço, e os rendimentos, que são produções nas quais intervêm a intenção, propósito, e

a vontade. A tensão psicológica determina o campo mental no qual ocorre a produção. Os

rendimentos são a atenção, a aquisição e a inteligência. A inteligência manifesta fases: a

genética primária, que compreende os estágios sensório-motor, o de formação de imagens

mentais e o da linguagem; a genética secundária, quando se dá o ajustamento recíproco

das atividades fundamentais; a tipológica, quando o aspecto forma destaca-se nitidamente

do aspecto estrutura, podendo ocorrer dominâncias, ora da ação, ora verbo-conceitual, ora

da formação visual de imagens. A aprendizagem pode ocorrer por meio da associação

(habituação, condicionamento e ensaio e erro) ou pela reorganização do campo

perceptivo, compreensão súbita. A pessoa encontra-se no ponto médio de um número

limitado de círculos funcionais, que formam os respectivos campos, quais sejam: campo

dinâmico causação dos efeitos originários da pessoa e os recebidos por ela; campo da

determinação, que abarca a forma e as coisas utilizáveis e transformáveis do ambiente,

campo da intenção, que compreende a participação, a adaptação, o desejo; campo da

imaginação, que abarca o que está formado de imagens inespaciais de objetos e estados

possíveis; campo da elevação, como campo dos valores potenciais, que abarca o conjunto

dos aumentos, perfeições, melhoramentos que a pessoa pode alcançar. Cada campo

corresponde a uma determinada fase ontológica. Instinto significa dinâmica; vida é

comportar-se, é um interior, que se aperfeiçoa; forma é conduta e está dirigida para uma

meta; o indivíduo vive a finalidade, não tem conhecimento dela; a meta da evolução é a

elevação de um ser instintivo a pessoa; consciência, é toda forma de um ser-para-si da

interioridade, apresentando graus, quais sejam espontânea, pré-objetiva e reflexiva,

havendo o inconsciente como latência, como reprimido e como automatismo. São

emoções o choque, a alegria, a tristeza, o medo, a cólera, o amor, o desamor. O amor,

necessidade da pessoa de sentir que pertence a outra, interesse apaixonado, origina-se da

insatisfação do indivíduo consigo mesmo; são fases do amor o terreno propício da

insatisfação do indivíduo consigo mesmo, a idealização de um modelo do ego, a

objetivação do modelo e inveja do objeto, o ciúme do objeto, o ódio do objeto, a

revalorização positiva do objeto e o entusiasmo apaixonado. A humanidade esforça-se

sob o impulso de um instinto obscuro; a tomada de consciência do movimento que o

arrasta promove a evolução do ser humano. Nos primeiros estádios do despertar humano,

espaço e tempo permaneceram homogêneos em si mesmos e independentes um do outro.

O homem moderno tornou-se capaz de ver, não só no espaço e no tempo, mas igualmente

na duração. Surgiu, também, a percepção da terceira, dimensão do espaço, de uma tríplice

unidade, a de estrutura, a de mecanismo e a de movimento. A personalidade é estruturada

em id, que tem por objetivo evitar a dor e obter prazer, superego, que tem por objetivo

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manter a tradição e cultivar o ideal, ego, que tem como objetivo manter a vida e garantir

a reprodução.

2.3.3. A ciência eidética multipersonal

Necessário se fez, também, explorar e interpretar o conteúdo dos fenômenos

multipersonais, também de maneira metódica e crítica. As primeiras tentativas de

conhecimento científico eidético multipersonal confundiram-se enormemente com o

pensamento filosófico e com a ideologia de cada época.

Contribuições valiosas, também em forma de conceitos, foram estabelecidas: A

Lei é a vontade do povo e a diferença de classes se justifica. A humanidade é um ser

coletivo. Há uma anatomia social, ou estática social, que gera a ordem; há também uma

fisiologia social, ou dinâmica social, que gera o progresso. Só o indivíduo é capaz de

pensar, acrescentando o seu pensar ao pensar de outros homens antes dele. As pessoas

reunidas em grupo, ou se empenham em modificar o mundo, ou tentam mantê-lo em uma

dada situação. O caminho da história vai de uma utopia, ideia, até a topia seguinte,

realidade. As mudanças na configuração da mentalidade utópica apresentam estágios: o

quiliásmico, o liberal-humanitário, o conservador, o socialista-comunista. O estágio

quiliásmico é o da busca de uma comunhão com o presente imediato, a oportunidade, que

santifica o momento incidental e determina uma mudança decisiva na consecução de

alguma finalidade mundana. A ideia liberal-humanitária, também surgida do conflito com

a ordem existente, é um grito de guerra contra o estrato da sociedade cujo poder advém

da sua posição herdada, estática, e promove um plano educacional que possibilite o

progresso. A ideia conservadora é a de que o tempo encontrou a melhor corroboração no

sentido de ser um criador de valores, pois tudo que existe possui um valor positivo, o

passado continua presente, e a liberdade interna deve subordinar-se ao código moral,

código este já definido. A ideia socialista-comunista, rejeitando o imediatismo, seja,

conformista, seja quiliasta, ressalta, também, como a ideia liberal, a necessidade do

domínio da liberdade e da igualdade, quando da derrocada da cultura capitalista, e

glorifica os aspectos materiais da existência. Nenhuma das formas destas forças

dinâmicas jamais desaparece por completo, e em época alguma qualquer delas é

incontestavelmente dominante.

2.3.4. A unificação

O ser humano, de fato, possui, na sua própria essência biopsicossocial, a chave do

mistério do existir. É de supor-se que conhecê-lo, este microuniverso, será conhecer o

todo, o macrouniverso. Assim sendo, conhecer as leis que regem a harmonia do indivíduo

será conhecer as leis que regem o todo universal. A ciência do homem vem-se esboçando

pobremente e afirmando com muita reserva e cautela. A personalidade, expressão do

indivíduo em cada momento da sua vida, ocorre em função do nível de integração dos

seus componentes de temperamento (bioquímico) e de caráter (ético-social).

A ciência do ser humano desenvolve-se na medida da evolução da biologia (o

soma) e da ética (a psiquê e o socius). O pensamento humano, na busca da ciência, vale-

se da intuição (empírica sensível e psicológica, racional, inventiva, metafísica) para

chegar ao raciocínio (indutivo, dedutivo). Ao saber científico, acrescem o saber filosófico

e o saber teológico.

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Os construtos comuns, motivação, controle e organização, e os elementos

superfície-profundidade, consistência e motilidade oferecem as coordenadas iniciais para

uma metalinguagem a partir da qual se possam realizar esforços de integração das

contribuições das diferentes teorias.

O indivíduo torna-se pessoa em função da transformação do seu viver instintivo,

impulsivo, inconsciente, em um viver racional, inteligente, consciente.

A ciência total do ser humano, o conhecimento da sua estrutura e da sua dinâmica,

que incluem seus aspectos somático, psíquico e social, depende de sínteses sucessivas das

abordagens de cada objeto formal, fruto de gerações e gerações de estudiosos.

2.4. Resumindo

A integração teológico-filosófico-científica é, ao mesmo tempo, integração de

essência e existência (no absoluto infinito e no finito, na eternidade e na temporalidade),

de conhecimento e de conhecimento ético.

Defendendo a união absoluta com Deus, ou a separação absoluta d’Ele, ou a

negação absoluta da sua existência, o ser humano gira sempre em torno da ideia de Deus.

Filosofando, o ser humano conclui que a existência ultrapassa a ciência, o mundo

existe independentemente de ser bem ou mal conhecido, o homem é, independentemente

de saber que está sendo, os fenômenos ultrapassam de muito a capacidade de se tomar

consciência deles.

Os esforços no sentido do conhecimento científico mostram que o organismo

humano, no seu psiquismo, funciona em termos da sua lógica particular, com base na

percepção do campo vivencial no qual se encontra e do qual é parte atuante.

O conhecimento do ser humano na sua estrutura e na sua dinâmica, com base nas

sínteses sucessivas das abordagens de cada objeto formal, fruto de gerações e gerações

de estudiosos, permite uma descrição bastante consistente da sua evolução.

3. HOJE

O educador, o adulto maduro, seja governante, seja professor, seja genitor,

necessita conhecer a evolução dos indivíduos e dos grupos, bem como as perturbações

que possam nelas ocorrer, a fim de poder agir nos momentos adequados a cada indivíduo

e a cada grupo.

O diagnóstico do estado de cada indivíduo e de cada grupo é a descrição do

momento atual de cada um, respectivamente, a sua personalidade, no caso do indivíduo,

e a sua sintalidade, somatório das personalidades, no caso do grupo.

A educação, condução, exige, tanto na transmissão do conhecimento em geral,

quanto na transmissão do conhecimento ético, em especial, a informação do

conhecimento em si e a formação, a adoção prática do aprendido.

Seja informação, seja formação, tal aprendizado exige a montagem de currículos

próprios a cada período, básico, médio, superior, com disciplinas explicitadas em

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

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unidades, com suas etapas e suas fases, proporcionando ao educando um progresso linear,

sem qualquer empecilho.

A reeducação é um corolário da educação, nas situações em que, por qualquer

motivo, ela não ocorreu. Visa, pois, a oferecer aos indivíduos que a não receberam na

época adequada, os conhecimentos e os conhecimentos éticos que deverão nortear sua

destinação pessoal e profissional.

3.1. A evolução do ser humano e suas perturbações

A trajetória do ser humano pode ser observada do encontro do espermatozóide

com o óvulo até a transformação do corpo em pó. Tal linha evolutiva compreende a

infância, a adolescência e a adultez, cada período com suas etapas características.

3.1.1. A evolução

- A infância

A infância é um período de preparação para a vida. As etapas do período infantil

são as que se seguem.

Do nascimento aos nove meses, a atuação da criança ocorre no campo vivencial

dinâmico, regido pelo primado do instinto, instruída por uma percepção no espaço, no

aqui e agora de estados momentâneos do organismo ao sabor da emoção choque, sem

qualquer outro tipo de defesa, pois não se pode, a rigor, falar em inteligência, senão a da

potência dinâmica diretora do universo, que orienta os processos vitais, sua consciência

é apenas espontânea pré-objetal, sem moralidade, sua sexualidade é orgiástica, sem freios,

e sua religiosidade praticamente inexiste, ocorrendo apenas a vivência místico-

homeostática.

Dos nove meses a um ano e meio, a atuação da criança ocorre nos campos

vivenciais dinâmico, da determinação, da intenção e da imaginação, esta ao nível da

crença ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor da emoção

antecipação-medo, com uma inteligência apenas ao nível da equilibração das ações

externas sensório-motoras, uma consciência espontânea objetal precária ao nível da

crença ingênua, uma moralidade pervertida no sentido da submissão passiva, uma

sexualidade sensual-masoquista.

De um ano e meio aos três anos, a atuação da criança ocorre no campo vivencial

da imaginação ao nível da dúvida ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na

duração, ao sabor da emoção antecipação-cólera, com uma inteligência apenas ao nível

da equilibração das ações internas simbólico-representativas da realidade concreta, uma

consciência espontânea objetal precária ao nível da dúvida ingênua, uma moralidade

pervertida no sentido da insubmissão ativo-agressiva, uma sexualidade sadomasoquista e

uma religiosidade mítica de cólera.

Dos três aos seis anos, a atuação da criança ocorre no campo vivencial da

imaginação ao nível da esperteza ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na

duração, ao sabor da emoção antecipação-falso amor, com uma inteligência ainda apenas

ao nível da equilibração das ações internas simbólico-representativas da realidade

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

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concreta, uma consciência espontânea objetal precária deturpada pela permissividade,

uma moralidade pervertida no sentido da pseudo-submissão, uma sexualidade

sadomasoquista permissiva e uma religiosidade mítica de farsa.

Dos seis aos doze anos, a atuação da criança ocorre no campo vivencial da

elevação ao nível concreto, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor

da emoção antecipação-amor verdadeiro ingênuo, com uma inteligência já ao nível da

equilibração das operações internas simbólico-representativas sobrea realidade concreta,

uma consciência reflexiva sobre o concreto, uma moralidade prático-utilitária, uma

sexualidade ocasional e uma religiosidade mítica latente. Está, assim, preparada a base

sobre a qual vai assentar-se a construção progressiva do ser humano, que visa sempre a

assimilar o mundo exterior, a conquistar as coisas e a si próprio. O período seguinte de

preparação para vida é o da adolescência.

- A adolescência

A adolescência é um período em que o ser humano se encontra no auge da

preparação para a existência. As etapas do período adolescente são as que se seguem.

Dos doze aos quinze anos, a atuação do pré-adolescente ocorre no campo

vivencial da elevação ao nível abstrato de pugna, instruída por uma percepção na unidade

de estrutura dos contrários analítica, ao sabor da emoção antecipação-cólera refletida,

com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a

serviço da dúvida refletida, uma consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da dúvida,

uma moralidade ao nível da pugna no plano abstrato, uma sexualidade sado-masoquista

refletida e uma religiosidade mítica aguerrida.

Dos quinze aos dezoito anos, a atuação do adolescente propriamente dito ocorre

no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de busca de consenso próprio, instruída

por uma percepção na estrutura dos contrários sintética, ampliada pela percepção na

unidade de mecanismo analítica, ao sabor da emoção antecipação-medo refletido, com

uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço

da busca de consenso próprio, uma consciência reflexiva sobre o abstrato também ao nível

da busca de consenso próprio, uma moralidade também ao nível da busca de consenso

próprio, uma sexualidade masoquista refletida e uma religiosidade mítica masoquista.

Está, assim, consolidada a base sobre a qual se vinha assentando a construção progressiva

do ser humano, que visa sempre a assimilar o mundo exterior, a conquistar as coisas e a

si próprio. O período seguinte é o da adultez.

- A adultez

A adultez é um período em que o ser humano se encontra preparado para existir.

As etapas do período adulto são as que se seguem.

Dos dezoito aos trinta anos, a atuação do adulto jovem ocorre no campo vivencial

da elevação ao nível abstrato de cooperação com a comunidade, instruída por uma

percepção na unidade de mecanismo sintética e na unidade de movimento analítica, ao

sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro extensivo à comunidade, com uma

inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da

cooperação no plano comunitário, uma consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da

cooperação com a comunidade, uma moralidade ao nível da busca de consolidação da

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

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independência e das devoções de amor à família e à comunidade, uma sexualidade e uma

religiosidade socializadas.

Dos trinta aos sessenta anos, a atuação do adulto propriamente dito ocorre no

campo vivencial da elevação ao nível abstrato de cooperação com a humanidade, instruída

por uma percepção na unidade de movimento sintética, ao sabor da emoção antecipação-

amor verdadeiro à humanidade, com uma inteligência ao nível da equilibração das

operações internas sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano humanístico, uma

moralidade ao nível da organização no sentido de cooperação com a humanidade além

das convenções, uma sexualidade e uma religiosidade humanísticas.

Dos sessenta anos em diante, a atuação do adulto velho ocorre no campo vivencial

da elevação ao nível abstrato de integração com a totalidade cósmica, instruída por uma

percepção na unidade de movimento sintética do absoluto, ao sabor da emoção

antecipação-amor verdadeiro cósmico, com uma inteligência ao nível da equilibração das

operações internas sobre o abstrato a serviço da totalidade, a consciência do absoluto, a

moralidade da liberdade plena, uma sexualidade e uma religiosidade cósmicas. Está,

assim, cumprido o destino do ser humano adulto, cuja fé em si mesmo e no destino do

mundo o faz viver em um permanente comungar e servir.

3.1.2. As perturbações

Pode haver perturbações no esquema evolutivo dos indivíduos, perturbações essas

que são de duas naturezas: inadaptação, quando o indivíduo não alcança determinada

evolução; desadaptação, quando o indivíduo perde uma adaptação já adquirida. As

perturbações no esquema evolutivo do ser humano podem ser: simples desajustamentos,

quando o indivíduo, não manifestando quaisquer outros sintomas mais graves, é afetado,

em algum momento, por circunstâncias desfavoráveis, em decorrência de problemas de

saúde física e/ou pressão excessiva do ambiente; neuroses, quando o indivíduo manifesta

afecções psicógenas em que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito

psíquico cujas raízes se encontram na história da sua infância; psicoses, quando o

indivíduo manifesta perturbações primárias da relação da energia vital com a realidade,

provocando a internalização dessa energia; retardos e lesões inatos ou adquiridos, cada

qual com sua história clínica específica; psicopatias, quando o indivíduo manifesta

imunidade patológica à atuação educativa do ambiente.

Pode dizer-se que a psicose é o estado natural observável no indivíduo, da

fecundação aos nove meses de idade, quando então manifesta-se sua trajetória em uma

das duas vias, a da normalidade ou a da psicose propriamente dita, conforme seu padrão

genético. Dos nove meses aos seis anos, em qualquer das vias, da normalidade ou da

psicose, ocorre o estado natural de neurose, em que são vividos: os resíduos da angústia

e a fobia, até os dezoito meses; os resíduos da angústia e da fobia, e a obsessão, até os

três anos; os resíduos da angústia, da fobia e da obsessão, e a histeria, até os seis anos. A

partir dos seis anos, tanto o indivíduo normal quanto o psicótico vivem a latência, estado

natural de revisão, no concreto, dos resíduos de angústia, fobia, obsessão e histeria que,

em decorrência de regime educacional inadequado, podem transformar-se em fixações.

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

11

- As neuroses

As neuroses ocorrem, pois, como fixações, ilusões, em decorrência de emoções

perturbadas no relacionamento do psiquismo com o ambiente. A NEUROSE DE

ANGÚSTIA ocorre em indivíduos que não se libertaram da sensação de estarem sendo

traídos, vivendo no campo dinâmico em seu mais precário estágio, sua determinação, sua

intenção e sua imaginação polarizadas apenas no sentido de chamar a atenção das pessoas,

sua emoção sempre próxima do terror pânico, sua inteligência voltada para a negação,

sua consciência voltada apenas para suas necessidades, com uma capacidade de comércio

com o mundo exterior praticamente nula. Devidamente tratado, o angustiado pode evoluir

para a fobia. A NEUROSE FÓBICA ocorre em indivíduos que não se libertaram da

sensação de estarem sendo abandonados, vivendo no campo dinâmico estabilizado, sua

determinação e sua intenção atuando no sentido da passividade, sua imaginação toda

polarizada para a obediência em quaisquer circunstâncias, sua emoção a da antecipação-

medo, sua inteligência voltada toda para a criação de situações de medo e de abandono,

sua consciência voltada para descobrir atividades, ocupar o tempo. Devidamente tratado,

o fóbico pode evoluir para a obsessão. A NEUROSE OBSESSIVA ocorre em indivíduos

que não se libertaram da sensação de que, traídos e abandonados, precisam reagir,

vivendo também no campo dinâmico estabilizado, sua determinação e sua intenção,

atuando no sentido da impulsividade, sua imaginação toda polarizada para a

desobediência em quaisquer circunstâncias, sua emoção a da antecipação-cólera, sua

inteligência voltada toda para conjurar o universo invencível e hostil, sua consciência toda

polarizada no sentido de evitar a trégua para não correr o risco de ter que enfrentar a

realidade da sua incapacidade de viver. Devidamente tratado, o obsessivo pode evoluir

para a histeria. A NEUROSE HISTÉRICA ocorre em indivíduos que não se libertaram

da sensação de que, traídos, abandonados e mal sucedidos na sua violência, devem

abdicar da auto-afirmação, vivendo também no campo dinâmico estabilizado, sua

determinação e sua intenção, atuando no sentido da farsa, sua imaginação toda polarizada

para a fabricação de papéis que supõem serem os adequados aos seus propósitos, sua

emoção a da antecipação-falso amor presa à necessidade de agradar a qualquer preço, sua

inteligência voltada toda para a criação do seu universo, sua consciência sempre

direcionada no sentido de evitar desagradar, sua moralidade sendo a do ambiente.

Devidamente tratado, o histérico pode evoluir para a maturidade.

- As psicoses

As psicoses ocorrem como vivência dos indivíduos nos polos das relações com a

realidade, que os coloca, nos momentos de surto ou de crise, à margem do comércio com

o mundo, em estado de alienação, que pode manifestar-se desde a infância. A

ESQUIZOFRENIA é um modo de vida alienado da realidade como a concebe o adulto.

O esquizofrênico não se liberta da sensação de ter sido traído. Sua relação é pré-objetal;

sua percepção é sincrética, globalizante, isto é, vê o todo sem ver as partes ou, se vê uma

parte, toma-a pelo todo; não percebendo o sentido de causa e efeito da duração; sua

emoção é emoção-choque, sem qualquer outro tipo de defesa; sua inteligência é,

praticamente, a da potência dinâmica diretora do universo; sua consciência é precária,

espontânea, pré-objetal, não lhe permitindo perceber sua individualidade; sua moralidade

é inexistente ou infantil; sua sexualidade é orgiástica, sem freios; sua religiosidade é,

praticamente, inexistente, ocorrendo apenas a vivência místico-homeostática. Há a

esquizofrenia simples, que se instala, principalmente, sobre um fundo de alterações do

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

12

sistema lógico e de desorganizações da vida afetiva. Predomina o pensamento arcaico,

mágico, animista, impermeável à experiência, metafórico e arquetípico, que leva a

raciocínios irreais, paralógicos, simbólicos e sincréticos, a abstrações sem sentido. Seu

raciocínio corta ou falsifica as comunicações, alimentando uma constante discordância

afetiva, manifestada na impossibilidade de afastar-se da figura materna, a qual odeia, na

dinâmica incestuosa de objeto desejado e proibido, o que gera ciúme desenfreado. Repete

a dinâmica com qualquer outra pessoa a quem se apegue, donde amizades tirânicas e

inimizades absolutas. Suas manifestações emocionais ocorrem sob um clima de frieza e

desapego desconcertantes, acompanhados de impudor e de falta de higiene. Não é raro

chegar ao suicídio ou ao assassinato. Ao final de vários anos, regride à manipulação dos

órgãos genitais de maneira automatizada, à manipulação de fezes e à ingestão de fezes e

urina. O quadro final é de total abulia. Há a esquizofrenia paranoide, que surge como um

segundo momento da vivência esquizofrênica, o modo paranoide de sobreviver, que

consiste na reação à incapacidade de viver no mundo real com a criação de um mundo

imaginário, onde o vazio da desagregação é preenchido pela vivência fantasiosa. Ocorrem

sensações angustiantes de pressentimentos de catástrofes ou, ao contrário, sensações de

clarividência e onipotência. Ocorrem, também, alucinações e estados de

despersonalização. O esquizofrênico-paranoico cria um mundo próprio, impenetrável,

onde os fantasmas arcaicos e o pensamento mágico passa a constituir uma cosmogonia

hermética. Sua consciência espontânea é precária, incapaz de possibilitar a visão de si

mesmo separado do objeto, o que resulta em atitudes inconsequentes, pela ausência da

capacidade de reflexão, vigorando o viver inconsciente. Sua incapacidade de

comunicação com o real vai anulando as já precárias relações sociais, até o completo

isolamento, pela incapacidade de manter quaisquer laços com o mundo exterior, sobre o

qual só sabe agir com prepotência. Mal sucedido, só se mantém se consegue subjugar

algum indivíduo deficiente, que se disponha a servir ao seu mundo autístico, ou se é

assistido inteligentemente por um adulto capaz, que o oriente e apare podendo, nesse caso,

chegar a trabalhar e constituir família. Há a esquizofrenia hebefrênica, assim denominada

em decorrência da época em que é percebida, a adolescência, quando começam a

evidenciar-se as dificuldades escolares, fadiga e queixas hipocondríacas. Ocorre perda de

concentração e dedicação ao desenvolvimento de sistemas ideológicos ou pseudo-

científicos, inventos, projetos de reforma, grandiosos, mas inconsistentes e irrisórios. O

fracasso dessas idealizações leva a uma apatia progressiva, com indiferença, ou a um

comportamento pueril e caprichoso. Instalam-se a indolência e o descaso em relação a

todos os valores sociais, e degenera rapidamente para o quadro da esquizofrenia simples,

que permanecia latente. Há a esquizofrenia senil, cujo surgimento decorre de uma

debilidade geral do indivíduo, orgânica e psíquica. Surge, geralmente, nos pródromos da

menopausa e da andropausa, podendo instalar-se quadro semelhante ao da esquizofrenia

simples ou, mais comumente, da esquizofrenia paranoide. A esquizofrenia senil leva à

necessidade de atendimento especial, que pode ser feito na residência do paciente, se ele

puder contar com serviçais permanentes, ou exigir reclusão em clínicas especializadas,

no caso de não ser possível manter o atendimento no lar. A PARANÓIA é, também, um

modo de vida alienado da realidade como a concebe o adulto. O paranóico não se liberta

da sensação de ter sido traído e de estar abandonado. Sua relação é objetal precária com

dependência fóbica ou com reação obsessiva; sua percepção, embora unitária, é de uma

estruturação basicamente defeituosa, de uma pseudo-harmonia acidental, pois, embora

procure explicar para si mesmo a mecânica do seu mundo interior e do mundo exterior,

seu único intento é a conquista, embora culposa, do poder sobre os demais; sua emoção

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

13

conflituosa, fóbica e obsessiva, torna-o incapaz de ficar só, e empresta às suas condutas

exigências desmedidas de atenção; sua inteligência não sofre déficit; sua consciência é

precária, espontânea, e alimenta condutas inconsequentes; sua moralidade é distorcida,

com aparente independência; sua sexualidade serve aos seus propósitos de dominação;

sua religiosidade é aguerrida. Há o delírio de infidelidade e de rivalidade, e a ilusão

delirante de ser infinitamente amado, ambos surgindo na juventude, podendo prolongar-

se por toda a existência. Há os casos particulares de delírios sensitivos de relação e

delírios de interpretação, com características bastante semelhantes. Há estados crônicos

de alucinação, que são percepções sem objeto, que o indivíduo considera absolutamente

reais. Há os chamados delírios fantásticos, com temas decorrentes de impressionante

riqueza imaginativa, também chamados parafrenias, situados entre a paranoia pura e a

esquizofrenia-paranóide, podendo ser, inclusive, altamente estéticos, não impedindo o

indivíduo de haver-se corretamente em todos os seus papéis sociais. A MANIA é uma

crise de alienação da realidade como a concebe o adulto. O maníaco sofre de

hiperexcitação das funções psíquicas, com exaltação do humor e desencadeamento de

comportamentos impulsivos, inadequados. Sua relação é pré-objetal, com oralidade

desenfreada; sua percepção, embora unitária é, basicamente, desestruturada, sincrética,

onde fundo e figura constituem um padrão único, o da cosmogonia primitiva; sua emoção

é exaltada, sem motivo; sua inteligência é afetada nas funções de síntese, levando a um

comportamento de jogo, à ficção ou à fabulação, com a liberação dos impulsos; sua

consciência sofre um súbito desequilíbrio, havendo uma dilatação da sua existência ao

máximo das suas possibilidades de otimismo e de ilusão; sua moralidade é inexistente;

sua sexualidade é orgiástica, sem freios; sua religiosidade busca desenfreadamente o

êxtase como catarse de impulsos reprimidos até o limite suportável para a existência. Seu

surgimento ocorre, habitualmente, na juventude, a partir de uma emoção, podendo,

porém, surgir, pela primeira vez, na época da menopausa e da andropausa, ou, apenas, na

velhice. A crise propriamente dita ocorre após uma fase depressiva logo seguida de

exaltação emocional, podendo observar-se excesso de atividade de toda ordem. Há a

excitação maníaca simples, com uma hiperatividade desordenada e com infatigabilidade.

Há a mania delirante e alucinatória, com uma desestruturação mais profunda da

consciência, com mania de grandeza, de poderio e profética. Há a mania confusa, com

estados de grande agitação, desordem do pensamento e fuga de idéias. Há o furor

maníaco, com uma agitação típica e obscurecimento da consciência, com sinais gerais de

esgotamento orgânico grave. Há o estado misto maníaco-depressivo, com alternância

entre a mania e a melancolia, conflitos de consciência e antagonismo. Há estados crônicos

de mania, que podem ocorrer após várias crises agudas, ou instalar-se na meia-idade ou

na idade senil. Há as manias sintomáticas, cujos fatores etiológicos, podem ser detectados,

por um exame clínico psicossomático e desaparecer após o tratamento clínico adequado.

A MELANCOLIA é uma crise de alienação da realidade como a concebe o adulto. O

melancólico sofre de redução das funções psíquicas, com baixa de humor e

empobrecimento geral dos reclamos instintivos. Sua relação é pré-objetal, com

inapetência; sua percepção é unitária, de uma unidade basicamente desestruturada,

pseudo-harmônica com a finalidade do seu existir melancólico; sua emoção é a da

angústia da perda do objeto; sua inteligência é a da lógica do sofrimento, ao nível

irracional da inapetência; sua consciência espontânea está ausente, e ocorre a vivência

direta da inconsciência auto-devoradora em toda a sua dramaticidade; sua moralidade,

peça de fundo da sua crise, faz com que se sinta sempre em falta, culpado, devedor,

indigno; sua sexualidade é a da completa apatia; sua religiosidade é sem expectativas,

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

14

sem futuro de qualquer espécie. Há a depressão melancólica simples, quando ocorrem,

apenas, a inibição e a inação, com fatigabilidade. Há a melancolia estuporosa, quando

ocorre o máximo de inibição psicomotora, com expressão fixa de dor e tristeza. Há a

melancolia ansiosa, quando ocorre agitação decorrente de medo intenso, terror-pânico,

com gestos de desespero, súplicas e ideia ativa de suicídio. Há a melancolia delirante,

quando ocorrem temas de culpabilidade, de frustração, hipocondríacos, de influência e de

negação. Há o estado misto maníaco-depressivo, com alternância entre a melancolia e a

mania, conflitos de consciência e antagonismo. Há estados crônicos de melancolia, que

podem ocorrer após várias crises agudas, ou instalar-se na meia-idade ou na idade senil.

Há as melancolias sintomáticas, cujos fatores etiológicos podem ser detectados por um

clínico psicossomático e desaparecer após o tratamento clínico adequado.

As perturbações no esquema evolutivo do indivíduo são pois: as neuroses, que

ocorrem como fixações, ilusões, em decorrência de emoções perturbadas no

relacionamento com o ambiente, que visa à sobrevivência e à reprodução; as psicoses

que, assim como as neuroses, ocorrem como fixações, ilusões, mas não como aquelas,

apenas em decorrência de emoções perturbadas no relacionamento do psiquismo com o

ambiente, mas em decorrência, principalmente, de déficit orgânico que compromete de

modo definitivo o funcionamento do psiquismo mesmo, e que pode ser endógeno ou

exógeno.

3.2. A evolução do grupo humano e suas perturbações

A trajetória do grupo humano, assim como a do ser humano, pode ser observada

do seu surgimento à sua dissolução. Tal linha evolutiva compreende, também, a infância,

a adolescência e a adultez, cada período com suas etapas características.

3.2.1. A evolução

- A infância do grupo

A infância do grupo decorre da agregação espontânea dos indivíduos na busca de

proteção mútua, comum aos animais, e passa por estágios.

O grupo que vive o seu primeiro estágio vive no campo dinâmico, regido pelo

primado do instinto, instruído por uma percepção no espaço, no aqui e agora, prototáxica,

de estados momentâneos, ao sabor da emoção choque, sem qualquer outro tipo de defesa,

com uma consciência espontânea, imediata, vivendo a finalidade sem consciência dela.

O seu segundo estágio ocorre nos campos vivenciais dinâmico, da determinação,

da intenção e da imaginação ingênua, ao sabor da emoção antecipação-medo, instruído

por uma percepção no espaço, no tempo e na duração, mas com distorção de causa e

efeito, levando a uma relação desarrazoada de obediência que ocasiona o medo, a fobia

do objeto em cujas mãos sente insofismavelmente entregue o seu destino.

O seu terceiro estágio ocorre nos campos vivenciais dinâmico, da determinação,

da intenção e da imaginação do revide, ao sabor da emoção antecipação-cólera, instruído

por uma percepção no espaço, no tempo e na duração, ainda com distorção de causa e

efeito, levando a uma relação desarrazoada de desobediênciaque ocasiona a raiva, a

reação obsessiva contra o objeto em cujas mãos se encontra o seu destino.

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

15

O seu quarto estágio ocorre nos campos dinâmico, da determinação, da intenção

e da imaginação do melhor papel possível, ao sabor da emoção antecipação-amor, falso

amor, instruído por uma percepção no espaço, no tempo e na duração, arquitetando planos

estratégicos de conduta, assumindo uma pseudo-responsabilidade do seu existir, uma

falsa aquiescência aos padrões sociais.

O seu quinto estágio ocorre nos campos dinâmico, da determinação, da intenção

e da imaginação, inaugurando o campo da elevação, muito embora apenas ao nível das

situações concretas, da praticidade, ao sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro

ingênuo, instruído por uma percepção sintáxica, de causa e efeito reais, permitindo a

dúvida metódica, que leva a uma relativa estabilidade, maturidade, e ao período seguinte,

o da adolescência.

- A adolescência do grupo

A adolescência do grupo, partindo da maturidade infantil, repensa as experiências

anteriores da angústia, da fobia, da obsessão e da farsa em nível mais elevado.

O seu primeiro estágio ocorre no campo da elevação ao nível da abstração, ao

sabor da emoção antecipação-cólera refletida, instruído por uma percepção que o leva a

buscar reações elaboradas de paz e amor, mas com uma consciência ainda sem muito

discernimento sobre as formas de encaminhamento da sua conduta, sucumbindo ao hábito

de luta acirrada e de questionamentos.

O seu segundo estágio ocorre no campo da elevação ao nível da abstração, ao

sabor da emoção antecipação-medo refletido, instruído por uma percepção que o leva a

buscar reações verdadeiras, de paz e amor, com uma consciência voltada para a

confraternização e busca de apoio nos grupos adultos.

- A adultez do grupo

A adultez do grupo se caracteriza, como a adultez do indivíduo, pela

interdependência, inicialmente apenas reflexiva, caminhando para a comunhão no

absoluto. É, pois, um período de plena realização, para a qual ele foi preparado desde o

seu surgimento, e de consecução do seu término, se, e quando a finalidade para a qual foi

criado atingir o seu fim. A evolução do grupo, tendo atingido um equilíbrio estável, passa

a uma nova vivência do desenvolvimento, a vivência em profundidade.

Garantidos os meios de sobrevivência e reprodução, consolidados essas

realizações e seu amor à humanidade, o grupo maduro, cuja fé em si mesmo e no destino

do mundo o leva a um permanente comungar e servir, dissolve naturalmente suas

fronteiras, estabelece um controle organizacional equilibrado, onde podem ter lugar as

contribuições da catarse quiliásmicos, do zelo ético-liberal, do conservadorismo e da

coerência socialista, e amplia sua atuação sobre os demais grupos humanos no sentido de

auxiliá-los na sua evolução.

3.2.2. As perturbações

Assim como há perturbações no esquema evolutivo do ser humano, pode haver

perturbações no esquema evolutivo do grupo humano, perturbações essas que podem ser

também, de duas naturezas: inadaptação, quando o grupo não alcança determinada

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

16

evolução; desadaptação, quando o grupo perde uma adaptação já adquirida. As

perturbações no esquema evolutivo do grupo humano podem ser, também, simples

desajustamentos, atuações neuróticas, psicóticas, de retardo ou psicopáticas.

O grupo fixado na infância continua a viver na fase de dependência (abdicrata,

hiperpessoal), desejando receber aquilo de que necessita sem nenhum esforço, o que

incentiva o paternalismo. O grupo fixado na adolescência continua a viver na fase de

contra dependência (autocrata, interpessoal), cada membro desejando fazer-se valer,

todos os membros vivendo em um clima de revolta (luta) contra o líder paternalista e de

negação de participação (fuga), caso o líder não reformule sua atitude paternalista.

O grupo que vive a angústia coletiva vai deixando, aos poucos, de ser funcional.

O choque emotivo que o atinge é sempre provocado por uma crise de liderança, por uma

sensação de estar sendo traído pelo líder, levando à busca de catarse quiliásmico-

instintiva, constituindo um valor em si, sua forma peculiar de resolução.

O grupo que vive a fobia coletiva vai tentando, aos poucos, tornar-se funcional.

O medo do grupo é sempre provocado por uma crise de liderança, por uma sensação de

estar sendo abandonado pelo líder, levando à busca de equilíbrio liberal-instintiva,

constituindo um valor em si, sua forma peculiar de solução.

O grupo que vive a obsessão coletiva procura manter, a qualquer custo, sua

funcionalidade. A cólera do grupo é sempre provocada por uma crise de liderança, por

uma sensação de estar sendo desafiado pelo líder, levando à busca de equilíbrio

conservadora-instintiva, constituindo um valor em si, sua forma peculiar de solução.

O grupo que vive a histeria coletiva procura manter, por meio da teatralidade, sua

funcionalidade. O falso-amor do grupo é sempre induzido por uma crise de liderança, por

uma sensação de estar sendo desprezado pelo líder, levando à busca de equilíbrio também

conservadora-instintiva, constituindo um valor em si, sua forma peculiar de solução.

O grupo que vive a latência coletiva procura manter sua funcionalidade por meio

da razão prática. A latência subjacente nos seus membros inspira a reflexão que permite

a atitude socialista; surgem movimentos social-capitalistas e social-comunistas, pela

ordem, sempre na busca racional de sobrevivência.

A esquizofrenia coletiva é um estado decorrente da predominância da angústia

coletiva. O grupo vive em constante estado de choque. Sentindo-se traído pelo líder, busca

a catarse quiliásmico-instintiva, podendo chegar ao autoextermínio ou ao extermínio do

líder.

A paranoia coletiva é um estado decorrente da predominância da fobia e da

obsessão coletivas. Sentindo-se abandonado e desconsiderado pelo líder, o grupo busca

ora o equilíbrio liberal-instintivo, ora o conservador-instintivo, perseguindo e buscando

ser perseguido; temendo seu poder, tudo faz para ser dominado.

A mania coletiva é, como a esquizofrenia coletiva, um estado decorrente da

predominância da angústia coletiva. O grupo vive em constante estado de choque que o

leva a acessos de liberação desordenada e excessiva da energia vital, com a oralidade

desordenada de todos os seus desejos (sede, fome e sexo orgiástico).

A melancolia coletiva é um estado decorrente da predominância da fobia e da

angústia coletivas. O grupo vive baixa de humor e empobrecimento da energia vital, com

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

17

o comprometimento dos mecanismos naturais de satisfação oral, manifestando-se na

forma de inapetência geral.

As perturbações no esquema evolutivo dos grupos são indicadores das

perturbações da maioria dominante dos seus membros. Pode dizer-se que a humanidade,

no seu todo, está praticamente fixada na infância, nos seus quatro primeiros estágios, com

alguns esforços de latência, ao nível da concretude infantil, e de abstração adolescente. A

partir daí, toda repetição é residual, neurótica, e toda fixação prolongada e psicótica.

3.3. A educação e a reeducação

A felicidade é o fim de toda cultura; ela decorre da aquisição da vivência mística,

bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico, e do êxtase místico, bem-

estar espiritual. A cultura decorre do conhecimento, em geral, e do conhecimento ético,

em especial. Transmitir a cultura de forma correta em todos os seus tramites é tarefa

precípua da humanidade; essa transmissão se faz através da educação e da reeducação.

3.3.1. A educação

Educar é conduzir. Tal condução exige, tanto na transmissão do conhecimento,

em geral, quanto na transmissão do conhecimento ético, em especial, a informação e a

formação.

3.3.2. A transmissão do conhecimento

O conhecimento, em geral, só atinge o que é material. Quanto mais conhece, mais

o ser humano se torna livre para optar, para escolher sua conduta; quanto mais livre, maior

sua responsabilidade pessoal e social.

A INFORMAÇÃO é a transmissão do conhecimento do conteúdo a ser

assimilado. A didática é a arte de ensinar, que determina a técnica a ser utilizada nessa

transmissão, que decorre do conhecimento da evolução do público alvo, indivíduo ou

grupo.

O conteúdo a ser transmitido diz respeito aos objetivos a serem colimados em

cada período da evolução, de acordo com as diretrizes do ensino. São períodos da ação

educativa o ensino básico, o ensino médio e o ensino superior.

Em todos os períodos se faz necessária a montagem de um currículo que satisfaça

seus objetivos. Qualquer currículo, de qualquer período, exige a seleção das disciplinas

que, no seu conjunto, garantam que sejam atingidos os seus fins.

Cada disciplina de cada período deve desdobrar-se em unidades, com suas etapas

e suas fases, proporcionando ao educando o capacitamento gradual do conhecimento, o

que vai permitir seu progresso linear, sem qualquer empecilho.

O ensino básico é a fase ideal para o aprendizado da leitura, da escrita, da

aritmética e de uma língua universalmente festejada, aprendizado este que nos seus

rudimentos, pode começar bem antes. Outras disciplinas devem ser consideradas

complementares, todas elas também operacionalizadas em etapas, linearmente.

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

18

O ensino médio, continuando o aprendizado básico de duas línguas e da

aritmética, ao introduzir as disciplinas necessárias aos seus fins de ampliação dos

conhecimentos já com vistas ao ensino técnico e ao superior, deve evitar o excesso delas

e cuidar, também, da sua operacionalização linear.

O ensino superior, na sua objetivação profissional maior, necessita, também,

promover currículos racionais, sempre operacionalizados linearmente, na amplitude do

leque de suas especializações, com vistas a abarcar todo o conhecimento que a

humanidade amealhou na sua evolução.

A FORMAÇÃO decorre da aplicação das informações em todos os períodos da

ação educativa, básica, média e superior. Para cada informação há um correspondente

prático do aprendido, sua aplicação. Assim, todo aprendizado se faz, necessariamente,

útil, levando à aplicação do aprendido em todos os seus níveis.

O ensino básico exige que, na formação dos alunos, aplicação do aprendido, haja

no ambiente escolar, miniaturas das organizações da comunidade, onde possam eles viver

os papéis correspondentes aos papéis ali existentes, reproduzindo seus afazeres em termos

semelhantes aos reais, a fim de ajustarem sua visão de mundo.

O ensino médio exige a vivência de situações reais que propiciem o conhecimento

prático das atividades técnicas e de nível superior que são vislumbradas no seu futuro,

permitindo-lhes uma compreensão do panorama que lhes será oferecido, e condições de

opção de suas preferências na formação que lhes é oferecida.

O ensino superior necessita, todo o tempo, promover o contato com todas as

atividades que lhes serão exigidas no seu futuro profissional, de modo que sua formação

lhes seja garantida em termos reais e a noção de vocação e excelência profissionais os

encaminhe para uma verdadeira performance na sua especialidade.

3.3.3. A transmissão do conhecimento ético

O conhecimento ético, em especial, ensina que é necessário o sentido para dar

validade existencial ao materialmente valioso, e que o ser humano deve aspirar ao melhor

para o maior número de pessoas.

A INFORMAÇÃO, transmissão do conhecimento ético a ser assimilado, deve ser

feita nos mesmos moldes daquela feita para a assimilação do conhecimento em geral,

quais sejam, currículos adequados a cada período, básico, médio, superior e disciplinas

desdobrando-se em unidades, etapas e fases, possibilitando ao educando a aquisição

linear do conhecimento ético, que vai permitir seu progresso sem qualquer empecilho.

O ensino básico permite as informações sobre a estrutura das genitálias masculina

e feminina, e sobre a fecundação, a gestação e o parto. Permite, também, a correção dos

falsos conceitos de pecado, culpa e castigo de Deus, caso as crianças estejam imbuídas

dessas informações primitivas, irracionais.

O ensino médio permite a ampliação das informações sobre a sua genitália e a

genitália do parceiro, bem como sobre a procriação e os meios de a evitar, além do

desencorajamento de práticas sexuais precoces ou puramente animais, firmando-se,

assim, as bases da sua educação sexual comunitária e humanística. Permite, também, a

ampliação do livre pensar no sentido da compreensão do decálogo mosaico e das virtudes

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

19

fundamentais da fé, da esperança e da caridade, e da distinção entre bondade e

conformismo.

O ensino superior permite a definição do viver sexual com vistas ao bem comum,

que inclui a procriação responsável, programada, a fidelidade e a devoção. Permite,

também, erradicados os conceitos vulgarizados da existência de um Deus ilógico,

primitivo e irracional, e conhecidos os valores universais da bondade, da beleza, da

verdade e da santidade, informar-se sobre a vida já no plano do absoluto.

A FORMAÇÃO decorre da aplicação das diretrizes éticas assimiladas em todos

os períodos da ação educativa, básica, médica e superior. Para cada informação há,

também, um correspondente prático do aprendido, sua aplicação. Assim, todo o

aprendizado ético se faz, necessariamente, útil, levando, também, à aplicação do

aprendido em todos os seus níveis.

O ensino básico exige que, na formação ética dos alunos, aplicação do aprendido,

haja os cuidados adequados com a sua genitália, nos aspectos higiene e manipulação.

Exige também que os alunos pratiquem sua reflexão constante sobre a impossibilidade da

existência de um Deus castigador.

O ensino médio estimula a castidade, o não uso de práticas sexuais precoces, com

vistas à aceitação de uma sexualidade controlada para o bem individual e comunitário.

Estimula, também, a prática da caridade no seu dia a dia, em todos os ambientes que

frequenta.

O ensino superior estimula o viver sexual com vistas ao bem comum, à procriação

responsável, à fidelidade e à devoção. Estimula, também, o viver a bondade, a beleza, a

verdade e a santidade, e o aspirar ao êxtase sempre que possível.

3.3.4. A reeducação

A reeducação é um corolário da educação, nas situações em que, por qualquer

motivo, ela não ocorreu. Visa, pois, a oferecer aos indivíduos que não a receberam na

época adequada, os conhecimentos e os conhecimentos éticos que deverão nortear sua

destinação pessoal e profissional.

Faz-se, também, necessária a montagem de currículos que satisfaçam seus

objetivos, com a seleção das disciplinas que, no seu conjunto, garantam que sejam

atingidos os seus fins. Cada disciplina deve, pois, desdobrar-se, também, em unidades

com suas etapas e suas fases, possibilitando o progresso linear desses indivíduos, sem

qualquer empecilho.

Na impossibilidade de reeducação ética dos indivíduos no plano da organização

escolar de reeducação, há a possibilidade dessa reeducação ocorrer por meio da

psicoterapia, formação do caráter, o substrato psíquico que, com a colaboração do

tratamento do temperamento, substrato orgânico, vai garantir o surgimento e a

manutenção da personalidade.

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

20

3.4. Resumindo

O universo, o campo total, conhecido e cognoscível, a realidade de tudo que é, a

obra do Criador, pode ser representado na mente de cada ser humano, constituindo o seu

campo vivencial particular, um retrato da realidade que lhe é dado configurar. O campo

vivencial de cada ser humano pode ampliar-se ao máximo da sua capacidade evolutiva,

acumulando o dinâmico, o da determinação, o da intenção, o da imaginação e o da

elevação.

No campo vivencial ocorrem: a percepção, no espaço, no tempo na duração, na

unidade de estrutura dos contrários, de mecanismo e de movimento; a emoção, choque,

medo, cólera, amor; a inteligência, equilibradora das ações externas e internas, estas

últimas simbólico-representativas da e sobre a realidade concreta; a consciência

espontânea pré-objetal ou objetal precária, reflexiva e do absoluto; a moralidade, infantil,

adolescente e adulta; a sexualidade, parcial e total; a religiosidade, também parcial e total.

A evolução do ser humano e a evolução do grupo humano, ambas com suas

perturbações, são bem conhecidas nas suas etapas e nas suas contingências. A evolução

do ser humano compreende a infância, a adolescência e a adultez, e suas perturbações

compreendem as neuroses e as psicoses, com os seus desdobramentos. A evolução do

grupo humano compreende a dependência, a contra-dependência, e a interdependência, e

suas perturbações decorrem das neuroses e psicoses dos seus membros.

A felicidade é o fim de toda cultura. Transmitir a cultura é a tarefa precípua da

humanidade, e se faz através da educação e da reeducação. Educar é conduzir; tal

educação exige, tanto na transmissão do conhecimento, em geral, quanto na transmissão

do conhecimento ético, em especial, a informação e a formação, que se dão nos vários

períodos da evolução, básico, médio e superior, em currículos que satisfaçam seus

objetivos, e disciplinas explicitadas em unidades, com suas etapas e fases. A reeducação

é um corolário da educação, que deve obedecer às mesmas orientações dela ao oferecer o

conhecimento e o conhecimento ético aos indivíduos que não os receberam na época

adequada; há o caso especial da formação do caráter desses indivíduos, que ocorre na

psicoterapia.

O verdadeiro obstáculo a evolução, quer dos indivíduos, quer dos grupos, são os

motivos ocultos subjacentes às decisões individuais e coletivas, que impedem a escolha

do verdadeiro, do bom, do belo e do santo, que decorre do livre pensar. A solução para

esse problema encontra-se no autoconhecimento, na passagem da ignorância para a

sabedoria. O poder dos governos é que vai garantir os meios para que os indivíduos se

conheçam e possam efetivar a vivência, a experiência e o êxtase místicos, que vão

permitir a felicidade, a meta natural da humanidade.

4. SEMPRE

A educação e a reeducação constituem o caminho para a busca da felicidade. Elas

ocorrem na família, na escola e na comunidade em geral. O indivíduo se expressa, em

cada momento da sua vida, em função do nível de integração dos seus componentes de

temperamento (bioquímico) e de caráter (ético-social), que vão compor sua

personalidade, sua forma de ser. Ele nasce, vive e morre só, e sua solitute o leva a

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

21

necessidade de se comunicar para sobreviver, pois ele não se basta, o que o obriga a

buscar a assimilação do mundo exterior para o conquistar.

A humanidade, no seu afã de criar cultura, busca sempre a verdade, resultado do

confronto da idéia com a realidade. Há a verdade individual, decorrente de cada momento

da vida de cada indivíduo, a verdade coletiva, decorrente da aceitação da verdade

individual por um ou mais indivíduos, e a verdade absoluta, jamais conhecida e talvez

incognisível, o mistério. A verdade ocorre sempre no indivíduo e se comunica com a

coletividade. Há a verdade da ciência, a verdade da filosofia e a verdade da religião.

Quer no plano individual, quer no coletivo, há que considerar que a vida por si

mesma se corrige, e que o educador é, apenas, uma peça da engrenagem, cabendo-lhe dar

o exemplo de sua conduta, oferecer informações verdadeiras e contribuir para a formação

dos indivíduos e dos grupos, ensinando-os a cultivar as emoções positivas de amor, com

inteligência cada vez mais aguçada a caminho da consciência do todo e a adoção de uma

moralidade, uma sexualidade e uma religiosidade universais.

4.1. Uma visão panorâmica

Embora seja difícil precisar a época do aparecimento do homem sobre a terra,

sustenta-se que os nossos antepassados já existiam no fim do período terciário. Do início

do período quaternário foram encontrados esqueletos humanos, armas e utensílios,

comprovando a sua existência desde então. Portanto, o homem, que terá surgido na Terra

há cerca de um milhão de anos, vem-se libertando, muito lentamente, das limitações

ecológicas. Sua libertação tem sido possibilitada pelo acúmulo de conhecimentos sobre o

mundo, as coisas, os seres, em geral, e sobre si mesmo, em particular.

Para sobreviver, o homem necessitou voltar sua atenção, inicialmente, para o

espaço circundante, ao qual deveria adaptar-se e de onde deveria retirar o seu sustento. A

noção de espaço acrescentou a noção de tempo, dadas a relativa regularidade das

exigências do seu organismo e a constância, também relativa, dos fenômenos externos,

da natureza, do seu “habitat”. Quanto mais conhece, mais o homem se torna livre para

optar, para escolher sua conduta; quanto mais livre, maior a sua responsabilidade pessoal

e social.

Embora não seja provável, é possível que rudimentos do que pode considerar-se

uma tentativa de administração dos seus bens tenham surgido desde o início da

humanidade, pois a preocupação fundamental com a sobrevivência terá originado o

conceito de propriedade desde sempre. Os registros históricos, que começaram em datas

variadas nas diferentes partes do mundo, mostram, desde a antiguidade, através dos

tempos, vestígios de cooperativismo e de belicosidade intra e intergrupal.

A História Antiga e as Idades Média, Moderna e Contemporânea, no seu todo,

oferecem subsídios para a compreensão de como a humanidade foi evoluindo nos seus

conceitos de como administrar a sua convivência. As hordas, no seu viver nômade,

necessitaram desenvolver a sua belicosidade, ainda com muito pouca disciplina. As tribos

já com noção de família, exigiram chefes e formaram sociedades rudimentares. Os feudos

desenvolveram o conceito de protegidos e protetores, reunindo-se, inclusive, muitas

vezes, em torno de um chefe, o rei, e instituindo os reinos. Os impérios, reunião de vários

reinos, fortaleceram o conceito de poder até que o abuso dele levou à luta pelo

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

22

constitucionalismo. As repúblicas, por meio das constituições, constataram a soberania

dos povos, e a evolução cultural levou a parâmetros de vida cada vez mais elevados.

A cultura, no seu tríplice aspecto, teológico, filosófico, e científico, levou à

compreensão de um denominador comum para a evolução da humanidade. A teologia,

nas suas três vertentes, a afirmativa natural, a afirmativa revelada e a negativa, mística,

tem-se revelado em todas as épocas e em todos os lugares. A filosofia, também nas suas

três vertentes, a racional, a intuitiva e a fenomenológica, pode ser notada em todas as

épocas e em todas as civilizações. A ciência, nos seus diferentes ramos, apresentou

contribuições preciosas para o conhecimento do ser humano: a empírica desenvolveu o

conceito de integração permanente de todos os sistemas vigentes; a eidética interpessoal

integrou fisicalismo e mentalismo num conceito coerente sobre o psiquismo como um

todo; a eidética multipersonal afirmou que não existe natureza humana sem ambiente

social.

As coordenadas que levam à compreensão de um denominador comum para a

evolução dos povos apontam para as tendências quiliásmica, liberal-humanitária,

conservadora e socialista-comunista, sendo que nenhuma das formas destas forças

dinâmicas, que emergem de uma sequência histórica, jamais desaparece por completo, e

em época alguma qualquer delas é incontestavelmente dominante. O quiliasta se vale do

presente para, de uma forma mística e abrupta, realizar o seu anseio. O liberal-

humanitário, aceitando positivamente a cultura e a ética, desenvolve um plano

educacional de acordo com essa percepção. O conservador considera o passado como um

criador de valores positivos, que devem ser cultivados e transmitidos. O socialista-

comunista, baseado em uma síntese das várias idéias em questão, valoriza a liberdade e a

igualdade, mas ressalta a glorificação dos aspectos materiais da existência.

A humanidade transita, desde tempos imemoriais, no universo, o campo total,

conhecido e cognoscível. Sua cultura registrou sua infância, suas angústias, seus medos,

suas cóleras, suas farsas e uma fraca tentativa de praticidade. Registrou também, sua

adolescência, em um primeiro momento belicosa e em um segundo momento, pacifista.

Nenhum esforço, até no presente momento, havia sido feito no sentido do registro da sua

adultez. O registro da infância e o da adolescência dos povos é um registro histórico das

tendências dominantes de cada época, pois sempre houve e haverá indivíduos e grupos

na infância e na adolescência, não significando que não tenham existido indivíduos e

grupos adultos naquelas ocasiões.

O cenário onde surgiu, sobreviveu, procriou e se desenvolveu a humanidade, o

universo, esta imensidão maravilhosa, não é ainda totalmente conhecido, se é que o será

algum dia. O ser humano tem buscado conhecê-lo, conhecer a humanidade e conhecer a

si mesmo. Nessa busca, desenvolveu, de início, um sentimento de religiosidade e, em

seguida, procurou o conhecimento pela reflexão, pela intuição e pelas causas dos

fenômenos. Seu sentimento de religiosidade levou-o a reverenciar as forças da natureza,

a crer em um Deus que lhe ditava regras de conduta e que lhe proporcionava momentos

de beatitude. Sua reflexão e sua intuição levaram-no a recomendar o verdadeiro, o belo,

o bom e o santo. A busca das causas dos fenômenos levou-o ao conhecimento do seu

corpo, do seu psiquismo e da dinâmica do ambiente social onde se encontra inserido. Tal

o cenário onde ocorre o enredo da humanidade.

O enredo que se observa neste cenário é o do grupo humano, este aglomerado de

indivíduos já bastante conhecido na sua estrutura e na sua dinâmica, e do ser humano

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

23

também já bastante conhecido na sua estrutura e na sua dinâmica, bem como na sua

interação com os pequenos grupos. O desenvolvimento do grupo e o do indivíduo

ocorrem de modo similar, infância, adolescência e a adultez. As mudanças ocorrem no

germe, e não na espécie, no indivíduo e não no grupo, donde a necessidade de se conhecer

as personagens que atuam neste cenário.

As personagens que o ser humano representa neste cenário, constituindo o seu

enredo, variam no decorrer da sua existência. No início, ele é sem saber que está sendo,

é uma criança carente e desvalida. Ao surgir a memória, acrescenta, ao papel de carente

e desvalida, o de medrosa e obediente, para que nada lhe falte. Decepcionada porque a

obediência nem sempre lhe garante cuidados de que necessita, irrita-se. Percebendo que

a cólera, também, nem sempre lhe traz o benefício desejado, procura variar suas condutas

para obter aquilo de que necessita. Em decorrência da maturação do seu organismo,

consegue evoluir para a praticidade, para a pré-adolescência aguerrida, para a

adolescência pacifista, para a adultez comunitária, humanística e cósmica. A sintalidade

dos grupos humanos é a síntese das personalidades dos indivíduos que os formam,

manifestando dependência na infância, contra-dependência na pré-adolescência e

interdependência na adolescência propriamente dita e na adultez.

O problema que ocorre é que a história da humanidade tem registrado inúmeros

empecilhos para a sua evolução. O maior obstáculo é a falta de conhecimento, que fixa

os indivíduos e os grupos na comunicação ao nível consumatório inferior, aquela que só

se ocupa do bem-estar individual. Podem visualizar-se os desentendimentos dos

diferentes indivíduos entre si, deles com os diferentes grupos e dos diferentes grupos entre

si. Os adultos imaturos falham na assistência às crianças, aos pré-adolescentes e aos

adolescentes, pois se encontram no mesmo nível evolutivo que eles. O mesmo ocorre com

a atuação dos grupos imaturos. Tal estado de coisas é bastante desanimador para o

progresso do indivíduo e da humanidade.

4.2. Perspectivas

A humanidade é uma entidade em evolução, em cujo cadinho cada indivíduo e

cada grupo atingem o desenvolvimento de que é capaz. Há os indivíduos psiquicamente

normais possuidores de bom caráter, e os que não o possuem espontaneamente, podendo

adquiri-lo se devidamente orientados. Há os indivíduos psiquicamente frágeis,

denominados psicóticos, que podem adquirir, reformular e manter um bom caráter, e os

que, basicamente não o podem. A incapacidade de formar o caráter é denominada

psicopatia, doença do psiquismo. Os grupos são o somatório dos psiquismos dos seus

membros.

Há, pois, os indivíduos com psiquismo normal que não tiveram orientação ético-

social para formar o bom caráter, podendo fazê-lo se receberem tal informação. Há os

indivíduos com psiquismo frágil, chamado de psicose, de duas naturezas: os educáveis,

aqueles, cujo temperamento, devidamente tratado e medicado se necessário, permite a

aquisição, a reformulação e o mantenimento do caráter no sentido do bem; os ineducáveis,

aqueles que, embora o temperamento receba tratamento adequado, têm incapacidade

intrínseca de formular o caráter.

Pode observar-se que apenas uma pequena parte dos indivíduos atinge as etapas

evolutivas esperadas na adultez. Uma grande parte deles não atinge sequer a adolescência

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

24

nas suas fases. Há que considerar que o temperamento em desequilíbrio provoca a

fragilidade psíquica, denominada psicose, nos três níveis: o da imunidade, o do indivíduo

incapaz de formar o caráter; o da desumanidade, do indivíduo incapaz de reformular o

seu caráter pervertido, voltado para o mal; o da humanidade do indivíduo capaz de

formular o seu caráter voltado para o bem e o manter.

A maior parte da humanidade encontra-se na infância psíquica, seja pela

ignorância cultural, seja pela fragilidade psíquica, denominada psicose, que a incapacitam

de formular um bom caráter, exigindo atendimento adequado em ambos os casos. Os

incapazes de adquirir ou de reformular o caráter, embora altamente prejudiciais à vida

comunitária, podem exercer funções específicas úteis, dentro das suas habilidades

produtivas.

Um fenômeno universal está ocorrendo na humanidade, com o despontar franco

e decisivo da fase da farsa, da escamoteação. Inicialmente angustiados, medrosos e

coléricos, muitos indivíduos evoluíram abertamente na busca de meios espúrios para

satisfazer suas necessidades; este é um movimento de grande monta para a evolução da

humanidade, que está a necessitar de uma regulamentação severa para tal erupção.

Os indivíduos chamados corruptos são os que, com o tempo evoluíram da

angústia, do medo da angústia, e da raiva do medo da angústia, para a farsa, necessitando

ser conduzidos para a praticidade, forma infantil de obterem a satisfação de suas

necessidades sem se prejudicarem e sem prejudicarem a terceiros. Tais indivíduos, os

corruptos, fixados na farsa, cumprem o seu papel de pontuar seu exemplo para os

angustiados, os medrosos, os irados e, de alertar os governos para a necessidade da

educação do povo.

Do ponto de vista da evolução da humanidade, é necessária uma severa revisão

do quadro de valores que norteia a educação. As escolas devem instituir disciplinas para

a formação do caráter dos alunos desde cedo, ensinando-os a agir corretamente, na

linguagem própria da sua idade. O angustiado deve ser retirado da angústia, o medroso

deve distinguir o medo real do medo imaginário, o raivoso deve aprender a refrear sua

conduta de raiva, o farsante deve aprender a não se prejudicar e a não prejudicar ninguém,

o prático deve ser assistido e festejado na sua maneira de ser, e estimulado a ampliar o

leque dos seus conhecimentos sobre o viver.

Na sequência: o pré-adolescente deve ser informado sobre a responsabilidade dos

seus atos ao invés de procurar “bodes expiatórios” para suas frustrações (vide os

terroristas); o adolescente deve distinguir as explicações lídimas sobre os medos reais e

imaginários; o adulto deve encarar suas responsabilidades pessoais e profissionais, na

comunidade e na humanidade como um todo. Para colimar este objetivo, todos os

indivíduos devem ser amparados e orientados, de acordo com a sua capacidade, na busca

do maior bem estar possível para todos.

O pensamento contém a realidade, topia, em cujo meio opera. Tudo o mais é

utopia. O caminho da história vai de uma utopia até a topia seguinte, e assim por diante.

A topia é uma realidade concreta, histórica e socialmente determinada, que se acha em

constante processo de mudança. Podem distinguir-se entre o relativo utópico e o

totalmente utópico. A relação, entre a utopia e a ordem existente, topia, aparece como

uma relação dialética: cada época permite surgir, em grupos sociais diversamente

localizados, as ideais e os valores em que se acham contidas de forma condensada, as

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

25

tendências não realizadas, que representam as necessidades de tal época. A função utópica

é a de romper os laços existentes e propiciar a evolução.

A evolução do ser humano e do grupo humano se faz por etapas, a tópica, do

momento, e as utópicas, do por vir. O verdadeiro obstáculo à evolução, quer no indivíduo,

quer da humanidade como um todo, são os motivos ocultos subjacentes às decisões

individuais e coletivas que impedem a escolha do verdadeiro, do bom, do belo e do santo,

que decorre do livre pensar, que inexiste na alienação mental, processo que consiste no

afastamento do indivíduo da realidade à qual pertence. A alienação mental é natural no

indivíduo imaturo, cultural no indivíduo ignorante e patológica na vesânia, doença

mental.

Cada fase evolutiva do ser humano e do grupo humano manifesta alienação

mental característica, que pode ser parcial ou total. A alienação mental parcial

compreende o conhecimento possível para o indivíduo sobre o seu soma e a sua psique,

em um primeiro momento apenas a nível concreto, e, em um segundo momento também

a nível abstrato de pugna e de consenso próprio. A alienação mental total compreende o

desconhecimento total do indivíduo sobre sua estrutura e sua dinâmica. A alienação

mental grupal é sempre o somatório das alienações mentais dos indivíduos que compõem

os grupos.

A cultura oferece, a cada momento evolutivo do indivíduo e do grupo, a

informação e a formação necessárias para que ambos, indivíduo e grupo, consigam atuar

sua personalidade e sua sintalidade na busca da racionalidade ao nível das etapas que

estejam vivendo, no caminhar para a maturidade, como objetiva todo o processo

educativo. As informações e formações visadas na educação devem ser verdadeiras,

atualizadas constantemente, buscando assimilar todas as aquisições das ciências, das

filosofias e das religiões.

Do ponto de vista dos empecilhos para os indivíduos atingirem a maturidade, o

sexo tem sido um verdadeiro tormento na história da humanidade. Inicialmente associado

à idéia de proibição, pecado e castigo, foi considerado um mistério que o ser humano não

poderia conhecer, pois, com tal conhecimento, se assemelharia a Deus. Conhecer a

verdade sobre o prazer por ele propiciado seria a libertação da ignorância, no seu todo, o

que era proibido. O conhecimento atual sobre o sexo mostra suas duas funções, a da

procriação e a do prazer. A função da procriação exige todas as informações para que ela

seja exercida com responsabilidade. A função do prazer exige o conhecimento de todos

os cuidados que o indivíduo necessita ter para consigo mesmo e para com o parceiro, no

sentido de preservar, em ambos, a humanidade do ser.

Um outro empecilho para que os indivíduos atinjam a maturidade tem sido as

filosofias. O conhecimento filosófico, tal como a história o registra, não oferece nenhuma

teoria consistente, nenhum sistema dedutivo ao qual certas conseqüências observáveis se

seguissem do conjunto dos fatos observados. Não se observa nenhuma conclusão

conseqüente de princípios postos que junte algo a um saber inicial. Os princípios básicos

que preexistem a qualquer teoria, e que são o de identidade, o de contradição e o de

finalidade, não são explicitados em nenhuma exposição filosófica. Nem mesmo um

fundamento, um princípio que pudesse abarcar todos os princípios particulares, se faz

notar, seja real, material, da idéia de causa, origem, seja lógico, formal, da idéia de razão.

Nota-se a falta de uma taxionomia, de uma ordenação e classificação adequada dos termos

utilizados pelos diferentes pensadores, uma metalinguagem.

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

26

Outro empecilho, maior ainda, para que os indivíduos atinjam a maturidade têm

sido as religiões. Cada indivíduo crê no que necessita crer, conforme o seu momento

evolutivo. Nenhuma comprovação da experiência particular de um indivíduo é

consistente para outro indivíduo que não tenha vivido experiência semelhante. As

alternativas a respeito do destino do homem além túmulo (materialista, panteísta,

eclesiástica, espírita, teosófica) não determinam, nenhuma delas em particular, diretrizes

insofismáveis para existir aqui e agora; de fato, qualquer delas pode servir para quaisquer

argumentos pró ou contra as diferentes condutas possíveis. As crenças todas utópicas,

enquanto preconizam o castigo de Deus, prestam um desserviço à humanidade.

Quanto mais conhece, mais o homem se torna livre para optar, para escolher sua

conduta. Quanto mais livre maior sua responsabilidade pessoal e social. O conhecimento

é abordado, de um lado, pela intuição e, de outro pela razão: intuicionistas e racionalistas

existem em todos os tempos e em todos os lugares, assim como existem os conciliadores,

os neutrais; tese, antítese e síntese apresentam-se, geralmente, em simultaneidade espacial

e temporal. Problemas tais como a estática e a dinâmica das coisas e do universo, a

estrutura e a dinâmica dos organismos, têm sofrido melhor tratamento pelas abordagens

experimentais, racionalistas. Problemas insolúveis, como o da existência de Deus e o da

origem e do destino do universo, têm-se dado melhor com as abordagens de cunho

intuicionista-sentimental, ou irracionalista, ou utópico. A maior limitação decorre da

cristalização dos conhecimentos adquiridos em sistemas fechados.

Da fenomenologia científica, reflexão sintética que visa a compreender e

descrever o mundo a partir dos dados unificados das ciências experimentais, pode esperar-

se o equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do

pensamento nos seus dois aspectos fundamentais, intuitivo e racional. O passado da

humanidade assim elaborado constitui a fonte permanente de informações válidas para

um presente melhor vivido e um futuro melhor programado. Se a felicidade é o fim de

toda a cultura, necessário se torna programar o processamento adequado ma transmissão

dos conhecimentos e dos valores, educação, a fim de que cada indivíduo e cada grupo

atinja, com o desgaste mínimo de energia, o máximo progresso de que for capaz.

4.3. Resumindo

A educação e a reeducação, o caminho para a busca da felicidade, valem-se dos

conhecimentos científicos, filosóficos e religiosos. A humanidade busca sempre a

verdade, resultado do confronto da ideia com a realidade. A vida por si mesma se corrige,

e o educador é, apenas, uma peça da engrenagem na busca da consciência do todo

universal.

O homem, que terá surgido na Terra há cerca de um milhão de anos, necessitou,

para sobreviver, adaptar-se ao ambiente. Quanto mais o conhece a si mesmo, mais livre

se torna para optar, escolher sua conduta; quanto mais livre mais responsável se torna,

pessoal e socialmente. A preocupação fundamental com a sobrevivência originou o

conceito de propriedade.

Os registros históricos, que começaram em datas variadas nas diferentes partes do

mundo, mostram uma relativa seqüência de como os povos administraram sua

convivência, ora belicosa, ora cooperativista. Assim foi na História Antiga e nas Idades

Média, Moderna e Contemporânea. As hordas levaram às tribos e estas aos feudos e

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

27

reinos e impérios. O abuso do poder pelos impérios levou à luta pelo constitucionalismo,

pela formação das repúblicas, pela soberania dos povos, levando à evolução cultural, à

busca de parâmetros de vida cada vez mais elevados.

A cultura, no seu tríplice aspecto, teológico, filosófico e científico, levou às

coordenadas que permitiram a descoberta de um denominador comum para a evolução

dos povos, qual seja, o das tendências quiliásmica, liberal-humanitária, conservadora e

socialista-comunista, tendências estas que emergem em uma seqüência histórica e jamais

desaparecem por completo. A tendência socialista-comunista baseia-se em uma síntese

das várias ideias em questão, valoriza a igualdade e a liberdade, mas ressalta a

glorificação dos aspectos materiais da existência.

A cultura da humanidade registra sua infância e adolescência e, muito

precariamente, sua adultez. O cenário onde surgiu, sobreviveu, procriou e se desenvolveu

a humanidade, levou-a a um sentido de religiosidade e à necessidade de conhecer os

fenômenos e a si mesma como tal, por meio da reflexão, da intuição, e das causas deles.

O enredo que aí ocorre é o dos grupos humanos e dos seres humanos que os constituem,

ambos bastante conhecidos na sua estrutura e a sua dinâmica. As personagens que os seres

humanos representam nesse cenário, constituindo o seu enredo, variam no decorrer da sua

existência.

O problema que ocorre é que a humanidade, na sua evolução, sofre a atuação de

vários empecilhos. O maior obstáculo é a falta de autoconhecimento, que fixa os

indivíduos e os grupos na comunicação ao nível consumatório inferior, aquela que só se

preocupa do bem-estar individual. Há os indivíduos psiquicamente normais, com

temperamento equilibrado e bom caráter. Há os indivíduos psiquicamente normais com

temperamento equilibrado, que não possuem, espontaneamente, o bom caráter, mas que

o podem adquirir se devidamente orientados.

Os indivíduos psiquicamente frágeis, cujo temperamento necessita ser medicado,

podem adquirir reformular e manter um bom caráter, a não ser aqueles que têm uma

incapacidade inata de assimilar qualquer ensinamento moral, os psicopatas. Apenas uma

pequena parte dos indivíduos atinge as etapas evolutivas esperadas na adultez. Uma

grande parte deles não atinge sequer a adolescência nas suas duas fases. A grande maioria

da humanidade não ultrapassa a infância, fixando-se, numa proporção maior, na farsa, na

cólera e no medo; alguns poucos se fixam na angústia.

Os indivíduos com psiquismo frágil, denominados psicóticos, são inumanos se

incapazes de formar o caráter, desumanos se incapazes de reformular o seu caráter

pervertido, e humanos se capazes de formular e manter o seu caráter voltado para o bem.

Um fenômeno universal está ocorrendo com o despertar franco e decisivo da fase da farsa,

da escamoteação. Inicialmente angustiados, medrosos e coléricos, muitos indivíduos

evoluíram abertamente na busca de meios espúrios para satisfazer suas necessidades; este

é um movimento de grande monta para a evolução da humanidade, que está a necessitar

uma regulamentação para tais indivíduos denominados corruptos.

A verdade, o encontro da idéia com a realidade, apossa-se da topia, em cujo meio

o pensamento opera. Tudo o mais é utopia, cuja função é a de romper os laços existentes

e propiciar a evolução. O verdadeiro obstáculo à evolução, quer do indivíduo, quer da

humanidade como um todo, são os motivos ocultos subjacentes às decisões individuais e

coletivas que impedem a escolha do verdadeiro, do bom, do belo e do santo, que decorre

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

28

do livre pensar, que inexiste na alienação mental, processo que consiste no afastamento

do indivíduo da realidade à qual pertence.

Do ponto de vista dos empecilhos para os indivíduos atingirem a maturidade, de

grande monta é a abordagem feita sobre a sexualidade nas suas duas funções, de prazer e

de procriação, eivada de mitos e preconceitos. Outro empecilho para que os indivíduos

atinjam a maturidade, têm sido as filosofias, que não oferecem nenhuma teoria

consistente, coerente com os princípios básicos de identidade, de contradição, de

causalidade e de finalidade que preexistem a qualquer teoria.

Outro empecilho, maior ainda, para que os indivíduos atinjam a maturidade têm

sido as religiões. Cada indivíduo crê no que necessita crer, conforme o seu momento

evolutivo. As crenças, todas utópicas, enquanto preconizam a existência de um Deus

vingativo, que castiga suas criaturas, têm prestado um grande desserviço à humanidade.

Da fenomenologia científica, reflexão sintética que visa a compreender e descrever o

mundo a partir dos dados unificados das diversas ciências experimentais, pode esperar-se

o equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do

pensamento nos seus dois aspectos fundamentais, intuitivo e racional, e nas suas

produções básicas, tópica e utópica.

5. PERORAÇÃO

A fenomenologia científica, tomando a realidade no seu triplo aspecto, podendo

ser, ao mesmo tempo, a verdade, um ocultamento da verdade ou um caminho para ela, é

uma reflexão sintética que visa a compreender e descrever o mundo a partir dos dados

unificados das diversas ciências experimentais, procurando o equilíbrio dos sistemas, um

sistema médio que permaneça aberto ao progresso do pensamento nos seus aspectos

fundamentais, intuitivo e racional. O passado da humanidade assim elaborado constitui a

fonte permanente de informações válidas para um presente melhor vivido e um futuro

melhor programado.

O progresso do pensamento afirma a necessidade da busca da verdade sobre a

verdade, o resultado do exame de cada verdade obtida, levando-se em conta o progresso

do indivíduo do qual se origina, no sentido da sua própria evolução, que inclui todas as

informações que terá obtido no decorrer do seu amadurecimento. O indivíduo e o grupo,

bastante bem conhecidos na sua estrutura, necessitam ser direcionados na sua dinâmica

para assimilarem todo o conhecimento possível sobre o seu viver e o aplicarem no seu

pensar sobre o seu próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto entre

sua idéia e a realidade, necessitam ser educados.

A educação visa a criação racional do homem, único meio para a obtenção da

verdade, alicerce da liberdade, que vai promover a criação de uma sociedade que permita

que todos, indivíduo e grupo, atinjam a plenitude da sua humanização. A integração

científica, das leis que regem a harmonia do indivíduo e a harmonia do todo universal,

reza que o indivíduo é bios, psique e soma. O organismo humano, bios, parte do

organismo universal, pode ser assistido, na sua evolução e nas suas inadaptações e

desadaptações, pelos conhecimentos adquiridos sobre o soma, que permitem a

manutenção do temperamento sadio e o tratamento de suas perturbações. O psiquismo

humano, psique, pode ser também assistido na sua evolução e nas suas inadaptações e

A VERDADE SOBRE A EDUCAÇÃO

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desadaptações, pelos conhecimentos adquiridos sobre a psique, que permitem a formação

do caráter sadio e o tratamento de suas perturbações. A socialização humana, socius,

condição para sua humanização, exige que os indivíduos e os grupos festejem a

interdependência.

A integração filosófica, do pensar humano, aponta para as tendências racional,

intuitiva e fenomenológica, bem como para o movimento nelas observado. A tendência

racional registra as tentativas de explicação da origem, do mecanismo e do destino do

universo e do ser humano no universo, bem como da transmissão de tais explicações. A

tendência intuitiva registra as tentativas de ampliação de tais explicações. A tendência

fenomenológica registra as tentativas de ampliação de tais explicações valendo-se de uma

síntese das contribuições da razão e da intuição, portanto, da participação. O

conhecimento filosófico, tal como a história o registra, não oferece nenhuma teoria

consistente, nem mesmo um fundamento, um princípio que possa abarcar todos os

princípios particulares elaborados. Uma ordenação do conhecimento filosófico inclui,

necessariamente, o conceito de que compete à filosofia unificar inteiramente o

conhecimento.

A integração teológica, do pensar humano sobre Deus, aponta para as teologias

afirmativas, natural e revelada, e negativa. A teologia afirmativa natural, um saber de

Deus à base do conhecimento do mundo, gerou uma pluralidade de dogmas, com crenças

confusas, carregada de lendas. A teologia afirmativa revelada, um saber de Deus à base

de verdades comunicadas diretamente por Ele, deu origem ao monoteísmo, que fez da

crença na revelação divina um dogma de fé. A teologia negativa, mística, ensina que o

ser humano possui uma capacidade de comunicar-se direta e inenarravelmente, com o

desconhecido, com a certeza, com a verdade absoluta. Nenhuma comprovação

consistente existe contra ou a favor de qualquer das alternativas. Cada indivíduo é livre

para crer no que necessita, conforme o seu momento evolutivo.

A educação, condução, é o instrumento por meio do qual os indivíduos e os grupos

contam com o ambiente adequado e com as informações corretas, verdadeiras, para

evoluir até o máximo de suas potencialidades. Para que tal evolução ocorra, é necessário

que os educadores, sejam os dirigentes, sejam os professores, sejam os genitores, estejam

preparados para cumprir os seus misteres, tenham-se tornado adultos comunitários,

humanísticos e com visão cósmica. Cada indivíduo e cada grupo receberá, assim, a

orientação adequada a cada etapa e à modulação para cada etapa seguinte, pois o princípio

da liberdade é inerente ao saber. O por vir da humanidade, uma realidade para alguns de

nós, é auspicioso, bastando que nos congreguemos para contribuirmos para que cada vez

mais indivíduos e grupos façam dele, também, o seu presente.

Maria Auxiliadora de Souza Brasil

Psicóloga

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