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Lucia Santaella Como as linguagens significam as coisas

A teoria geral dos signos. Como as linguagens significam as coisas

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Autora: Lucia Santaella

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Lucia Santaella

Como as linguagenssignificam as coisas

teoria geral dos signos é um livro consagrado à Aadmirável obra do lógico e filósofo americano

Charles Sanders Peirce (1839-1914), hoje interna-

cionalmente reconhecido como um dos mais impor-

tantes pensadores americanos de todos os tempos.

Suas preocupações com as leis e a organização geral

do pensamento, das ações e da sensibilidade huma-

nas o levaram a postular, como fundamento da lógi-

ca, uma teoria geral dos signos, também chamada de

semiótica, cuja tarefa é desvendar o que são e como

operam os signos e, por meio deles, o próprio pensa-

mento e, conseqüentemente, os modos pelos quais

podemos compreender as coisas.

A autora é Lucia Santaella, semioticista brasileira

que, há anos, vem se dedicando ao difícil e necessário

trabalho de percorrer a vastíssima obra de Peirce, em

boa parte ainda inédita, à cata tanto das pistas

quanto das informações explícitas que permitam

retomar e levar adiante a inacabada semiótica de

Peirce. Por isso mesmo, essa obra destina-se àqueles

que, não se satisfazendo com as versões simplistas e

reducionistas da semiótica, desejam entender o

extraordinário poder dos símbolos, sinais, códigos e

linguagens que transitam nos processos de comuni-

cação e hoje povoam as modernas mídias eletrônicas.

O extraordinário poder das comu-

nicações de massa, as modernas

mídias eletrônicas renovam a cada

minuto a perplexidade e o interesse

do homem contemporâneo diante

da proliferação dos signos e de seu

funcionamento, muitas vezes capri-

choso e obscuro.

É por essa razão que a semiótica

de Charles Sanders Peirce está na

ordem do dia, muitas décadas

depois da morte de seu mentor; e é

cada vez mais comum ouvir-se

falar de Peirce, de símbolos, ícones,

índices, semiose, etc. Esse apressa-

do mundo das mídias – que conti-

nuamos precisando decifrar, se não

quisermos ser devorados – talvez

seja um dos principais responsáveis

pelo fato de, mesmo estando na

moda, Peirce e sua semiótica conti-

nuarem sendo conhecidos “de ore-

lhada”.

É na contracorrente desse “ouvir

dizer” que Lucia Santaella não se

cansa de remar. Como ela mesma

diz, “este é um livro de amor pelas

minúcias, de calma e paciência

para com os conceitos”; a calma e a

paciência necessárias para que os

pormenores de uma primeira im-

pressão possam revelar-se, por

assim dizer, “pormaiores”, capazes

de esclarecer, na obra de Peirce, o

que já era hábito considerar “obs-

curo por natureza”.

Assim, a semiose, o complexo

processo por meio do qual o signo

constrói a representação e torna

possível a comunicação, vai

revelando a lógica única e absoluta

de seu engendramento, numa

verdadeira autogeração. Concen-

trando o melhor de seus esforços no

Peirce menos conhecido do público,

Santaella adentra o labirinto dos

manuscritos inéditos. Percorre-o

com firmeza e determinação, e não

esquece de ir desenrolando, a cada

passo, o novelo da leitura atenta e

sistemática, cujo fio garantirá a

volta segura.

Esse retorno, pelo qual vamos an-

siando tanto quanto pelo esclareci-

mento final do crime, num policial,

traz ao leitor a recompensa final da

eficácia do conceito, a surpresa de

um autor melhor delineado, a

riqueza de uma obra permanente-

mente “em progresso”. Este livro

realiza a proeza de ao mesmo tempo

nos introduzir à semiótica, nos

conduzir através de uma paisagem

pouco visitada e nos fazer mergu-

lhar numa das mais importantes

tentativas de erguer uma teoria

geral dos signos.L

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Capa Teoria Signos

quinta-feira, 14 de junho de 2012 14:20:41

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Santaella, LuciaTeoria geral dos signos : como as linguagens

significam as coisas / Lucia Santaella. – São Paulo : Cengage Learning, 2012.

BibliografiaISBN 978-85-221-1292-0

1. Lingüística 2. Peirce, Charles Sanders, 1839-1914 3. Semiótica 4. Signos e símbolos I. Título

04-0509 CDD–401.41

Índice para catálogo sistemático:

1. Semiótica : Linguagem e comunicação : Lingüística 401.41

A TEORIA GERAL DOS SIGNOS

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Lucia Santaella

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ISBN-13: 978-85-221-1292-0ISBN-10: 85-221-1292-4

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A Teoria Geral dos Signos Como as linguagens significam as coisas

Lucia Santaella

Capa, Editoração Eletrônica e Fotolitos: Macquete Gráfica Produções

Revisão: Janice Yunes

Impresso no Brasil.Printed in Brazil.1 2 3 4 5 6 7 03 02 01 00

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Para Alexandre e Cristina

Aprendi com Borgesque uma dedicatória

é o modo mais amorosode pronunciar seus nomes.

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Omundo está ficando cada vez mais povoado de linguagens, signos, sinais,símbolos. Já no século passado, Charles Baudelaire, poeta simbolista francês,sensível às transformações que a explosão demográfica estava trazendo para oscentros urbanos, via a cidade de Paris como uma floresta de símbolos. Símbo-los que lhe lançavam olhares familiares. De fato, de lá para cá, crescentemente,as cidades foram se cobrindo de signos: sinais de trânsito, outdoors, fachadas,luminosos, miríades de direções e indicações de caminhos, lugares, destinos.Sim, todos esses signos nos olham e prevêem a nossa familiaridade com eles.

Se lá fora os signos já proliferam, o que dizer dos interiores, nossas casas,nossos locais de trabalho, lazer e socialização, nossa privacidade? A distribuiçãodos ambientes arquitetônicos que, por si só, já é prenhe de significados estápontilhada de objetos que significam seus usos: mesas de trabalho, de reuniões,de refeições, cadeiras para trabalhar, sofás para relaxar etc. junto com umaparafernália de utensílios e dispositivos para a vida doméstica e social e para asdiferenciadas jornadas de cada tipo específico de trabalho. Com todos esses ob-jetos convivemos como se fossem unha e carne de nosso próprio corpo, porquesuas formas desenham seus usos. Lemos esses desenhos com a naturalidadecom que vestimos nossas roupas, pois o hábito de interpretá-los entranhou-seem nós até o ponto de ficar imperceptível.

Somos humanos porque somos simbólicos. Falamos e gesticulamos. E is-so nos faz humanos. Também rimos e choramos, outras marcas do humano.Além disso, sonhamos, fabricamos e trabalhamos. Mas isso não basta. Pre-cisamos brincar, jogar, cantar, dançar. Tudo isso junto ainda não nos foi sufi-ciente. A aventura da linguagem parece ser infinita.

Os gestos prologaram-se na produção de desenhos, pinturas, inscritos naspedras, nos muros, paredes e telas. A fala, cuja morada estava no próprio cor-po, tornou-se escrita e imigrou para o couro, papiro, papel e hoje para amemória

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Apresentação

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do computador e telas eletrônicas. O canto prolongou-se em instrumentos mu-sicais, orquestras, gravadores de sons e ruídos e para os bancos sonoros à dis-posição dos músicos nos modernos estúdios eletroacústicos. Graças ao rádio,aos toca-fitas, aos toca-CDs, sons nos acompanham por toda parte, assim co-mo nossas vozes caminham nos quatro cantos do globo pelas ondas da telefo-nia.

Do mesmo modo que o som veio a ser gravado, o visível veio a ser cap-turadonas câmeras fotográficas.O congelamento do espaço-tempona fotografiaadquiriu movimento no cinema. O hiato cinematográfico entre o tempo de fil-magem e o de exposição foi sincronizado na televisão, ao vivo. Acontecer e verpodem se dar simultaneamente em espaços diversos. As coisas, situações e pes-soas foram se tornando cada vez mais ubiquas. Estão lá na Nigéria, Hungria ouPeru e, ao mesmo tempo, dentro das salas de nossas casas.

As imagens, pedaços roubados e duplicados da realidade para serem ex-postos nas bancas de revistas, nos livros, nas telas também ganharam autono-mia. Livraram-se da duplicação do mundo. Viraram números na memória docomputador que podem simular quaisquer coisas visíveis ou invisíveis, imagi-náveis ou inimagináveis, reais ou irreais em duas ou três dimensões e fazê-lasaparecer nas telas dos monitores tão animadas quanto os corpos vivos.

As linguagens – cada qual com sua materialidade e suporte próprios,palavras nos jornais, nas revistas e livros, imagens nas fotografias e vídeos, sons,músicas e canções no rádio e nos CDs – de repente puderam ser digitalizadas,adquirindo com isso um passaporte que lhes dá acesso às máquinas. Dentro doscomputadores, todas as linguagens juntam-se e se confraternizam na criação dehipersignos híbridos, a hipermídia.

Enfim, as linguagens crescem e se multiplicam na medida mesma em quesão ininterruptamente inventados os meios que as produzem, reproduzem,meios estes que as armazenam e difundem. Do livro para o jornal, da fotografia,gravador de som e cinema para o rádio, televisão e vídeo, da computação grá-fica para a hipermídia são todos nítidos índices de que não pode haver descan-so para o destino simbólico do ser humano; destino que hoje encontra seu clí-max nas milhares de redes planetárias de telefonia e computadores interligadasna formação de um ciberespaço dominado pela internet, um vasto labirinto co-municacional feito de impulsos eletrônicos e informação.

Não só o planeta recobriu-se de signos, mas é para o céu que os signos tam-bém estão migrando. Um incontável número de satélites equipados com sen-sores devolvem ao planeta imagens de sua superfície, assim como naves son-dam as cercanias da Terra, delas enviando imagens e sinais, enquanto antenasde rádio-astronomia auscultam os ruídos do cosmo.

Em nível microscópio, não é menor o poder das imagens. Os mais íntimosrecessos do corpo humano são visitados por máquinas não-invasivas, de ultra-sonografia, ecografia, tomografia computadorizada, ressonânciamagnética etc.,

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máquinas destinadas a explorar o interior do corpo e devolver ao exterior ima-gens para o diagnóstico médico.

Se no século XIX, Baudelaire via a cidade como uma floresta de símbolos,hoje é o planeta e suas cercanias, nossas moradas e nosso próprio corpo que setornaram densas florestas das mais variadas espécies de signos, imagens, sinaise símbolos. A semiodiversidade, a diversidade semiótica do mundo está se tor-nando cada vez mais vasta e profunda.

Quando escrevi esta Teoria Geral dos Signos (publicada inicialmente em1995 pela Editora Ática), a hipermídia ainda não havia se difundido e da in-ternetmal tínhamosouvido falar.A rapidez comqueas linguagens estão crescen-do parece estar exigindo de nós que nossa interação com elas não se limite aonível puramente intuitivo, mas que possamos dialogar com elas no nível maiscrítico e reflexivo. Essa é a finalidade de uma Teoria Geral dos Signos. Equipar-nos com uma capacidade de penetração analítica que nos permita ler os signoscom a mesma naturalidade com que respiramos, com a mesma prontidão comque reagimos ao perigo e com a mesma profundidade com que meditamos.

Lucia SantaellaKassel, junho/2000

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INTRODUÇÃO............................................................................................ 3

1. DO SIGNO............................................................................................... 11Um equívoco renitente ............................................................................ 12Sinais de alerta......................................................................................... 13A forma ordenada de um processo .......................................................... 17O fundamento do signo........................................................................... 20O caráter vicário do signo ....................................................................... 23A função mediadora do signo.................................................................. 24A questão da determinação...................................................................... 25O problema do significado ...................................................................... 28A incompletude-impotência do signo ..................................................... 29Retorno à infinitude ................................................................................ 30

2. DO OBJETO............................................................................................. 33A complexidade do objeto....................................................................... 34Experiência colateral ............................................................................... 35Dois tipos de objetos ............................................................................... 38Exemplos de objeto imediato .................................................................. 42Modalidades do objeto dinâmico ............................................................ 44Implicações do objeto dinâmico.............................................................. 45Objeto e percepção .................................................................................. 49A tríade perceptiva................................................................................... 50Gradações do percipuum............................................................................. 52Retorno ao objeto .................................................................................... 56

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Sumário

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3. DO INTERPRETANTE ............................................................................ 61O interpretante como terceiro ................................................................. 64As divisões do interpretante .................................................................... 66Momentos lógicos do interpretante......................................................... 68Uma segunda classificação do interpretante............................................ 78As duas tricotomias: uma visão de conjunto........................................... 81

4. O SIGNO REVISITADO........................................................................... 89Amplitude da noção de signo .................................................................. 90As tríades dos signos ............................................................................... 92Quali, sin e legi-signos ............................................................................ 96Ícone, hipoícone, índice e símbolo.......................................................... 107As tricotomias dos interpretantes ............................................................ 138

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 151

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Esse livro começou a ser escrito em 1987. De lá para cá, passou, pelo me-nos, por três interrupções. Duas delas, longas e por força de sofrimentos tãoprofundos e penosos que, por muito tempo, desacreditei que o alento espiri-tual e a pregnância do ideal, necessários para levar à frente o projeto de um li-vro, algum dia voltariam a me animar. Mas a vida tem vias de secreta sabedo-ria. Só as conhecemos se dermos a ela, vida, a chance demanifestá-las. A terceirafoi mais recente e se deveu a uma razão diametralmente oposta às anteriores.Esse livro foi interrompido para que um outro fosse escrito. Como ambos sãoaté certo ponto complementares, um ajudou o outro, assim como espero queum possa auxiliar o leitor a ler o outro. Refiro-me ao livro A assinatura das coi-sas – Peirce e a literatura, publicado pela Imago, em 1992. Faço tal referênciaporque a existência desse livro acabou por trazer conseqüências para essa in-trodução que abre o estudo sobre a semiose, apresentado nos capítulos subse-qüentes. Octavio Paz diz que se ruim é citar-se, pior é parafrasear-se. Sigo, por-tanto, o caminho do menos pior.

A introdução originalmente prevista deveria ser consideravelmente maislonga do que esta. Ela visava introduzir um estudo eminentemente monográfi-co que tem por objetivo colocar, em foco de aproximação máxima, a lógica doengendramento da semiose, o modo como o signo age ou – o que é a mesmacoisa – como ele é interpretado para, então, seguir o trajeto dessa ação em câ-mera lenta. Numa explicação menos metafórica, o que se busca é examinar de-talhada e vagarosamente a definição triádica do signo formulada por Peirce, comatenção às minúcias, em estado de alerta contra as ciladas das interpretaçõesequivocadas e com abertura para as possíveis implicações, tanto dos fundamen-tos filosóficos, de um lado, quanto do potencial de aplicação dos conceitos se-mióticos, de outro.

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Introdução

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A menção à câmera lenta é procedente. São muitas as variações das defini-ções de signos que Peirce elaborou. Todas muito sintéticas. Nenhuma vai alémde um parágrafo. Pois bem, dois terços desse livro versarão apenas sobre a de-finição geral do signo. A cada membro da tríade da semiose (signo-objeto-in-terpretante) será dedicado um capítulo autônomo para, só ao final, no Capítu-lo 4, proceder-se ao exame dos diferenciados tipos de signos, das suas misturas,seus modos de significar, denotar, conotar, nascer, crescer, tudo isso à luz, en-tão, de uma pluralidade de exemplos para trazer os conceitos para mais pertoda experiência e do nosso convívio cotidiano.

Quanto mais o tempo passa e quanto mais me aprofundo na obra peircea-na, mais convencida vou ficando do valor extremo dessa obra na contribuiçãoque pode prestar à compreensão de todos os processos de comunicação de qual-quer tipo, ordem ou espécie, tanto no universo biossociológico das humanida-des, quanto dos animais e também no mundo das máquinas inteligentes, atéem qualquer outro mundo que possamos imaginar no qual ocorram processoscomunicativos. Afinal, não há, de modo algum, comunicação, interação, pro-jeção, previsão, compreensão etc. sem signos.

Provavelmente, a tarefa mais cabal desse livro será patentear a onipresen-ça inalienável dos signos. Tudo é relativo, porque tudo depende dos signos demodo absoluto. No limite, signo é sinônimo de vida. Onde houver vida, have-rá signos. A ação do signo, que é a ação de ser interpretado, apresenta com per-feição o movimento autogerativo, pois ser interpretado é gerar um outro sig-no que gerará outro e assim infinitamente, num movimento similar ao dascoisas vivas.

O mundo está se tornando cada vez mais complexo, hiperpovoado de sig-nos que aí estão para serem compreendidos e interagidos. Já é mais do quetempo de nos livrarmos, de um lado, do preconceito estreito e empobrecedorde que a noção de signo equivale exclusivamente a signo lingüístico, ou se-ja, de que só o signo verbal é signo. Também não ajuda muito, para superaresse preconceito, constatar que existem outros signos além ou aquém dos ver-bais, mas continuar a enxergá-los com os mesmos recursos de análise utiliza-dos para entender os signos verbais. É enorme a profusão de signos distintosdos verbais. Cada um deles só será compreendido se for respeitado na sua di-ferença.

Por outro lado, é tempo de nos livrarmos das visões mortificantes que aperplexidade diante do crescimento ininterrupto dos signos, linguagens e men-sagens está produzindo em intelectuais conservadores, disfarçados de profetasdo apocalipse. As postulações correntes de desrealidade, desreferencializaçãodo mundo, morte da identidade do sujeito estão ainda, a meu ver, carregadasde todos os equívocos de uma herança cartesiana mal resolvida, como se tives-se havido algum momento privilegiado, adâmico, em que os signos não eram

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necessários para um sujeito auto-idêntico ter acesso a um “real” em estado depureza, ainda não contaminado pelas linguagens.

Evidentemente, essas questões são muito complexas. Nesse livro não se irácolocar foco direto nelas. Acredito, contudo, que se aprendermos a olhar ossignos de frente, tanto na finíssima película de sua superfície, quanto na visãoem raio X, despidos dos subterfúgios ardilosos que o racionalismo exclusivistanão cessa de procriar, poderemos mediatamente enxergar com olhos renovadosas eternas questões do “real”, da referência, do sujeito, do papel da representa-ção e da interpretação. A obra de Peirce tem muito para nos ajudar nisso.

Este é um livro de amor pelas minúcias, de calma e paciência para com osconceitos. Ir seguindo, com certo carinho, as nervuras de sua construção naconvicção de que, quando bem-definidos e bem-compreendidos na sua formu-lação, os conceitos nos oferecem sua eficácia como recompensa. O leitor tam-bém encontrará aqui um grande número de citações de passagens dos escritosde Peirce. Isso é inteiramente proposital. A gigantesca obra inédita, que Peircedeixou ao morrer, foi e continua sendo vítima da tragédia de não ter recebidoaté hoje uma publicação decente e que lhe faça jus. A intenção é também orga-nizar, comparar, oferecer ao leitor, tanto quanto possível, o acesso às fontes, pa-ra que ele possa me acompanhar no ato interpretativo quase em igualdade decondições. Aliás, esse ato não se fez sozinho. Há uma seleção de autores, intér-pretes de Peirce pelos quais cultivo grande admiração. São objetos de minha es-colha. Com eles, pus meu pensamento em diálogo para iluminar a teoria peir-ceana dos signos.

Há ainda nesse livro, em cada frase, em cada palavra, um forte sentimentode gratidão que precisa ser explicitado. Graças à confiança que os órgãos de fo-mento à pesquisa, muito especialmente a Fapesp, mas também o CNPq e mes-mo a Fulbright, têm depositado nos meus projetos, tive a oportunidade e o pri-vilégio (aos quais não tenho poupado esforços para fazer jus) de estagiar, porvárias vezes (algumas mais longas, outras mais curtas), na Universidade de In-diana, EUA, tanto no campus de Bloomington, com sua fantástica biblioteca –monumento de amor à beleza do saber, da cultura e ciência, localizada na Acró-pole do campus – quanto em Indianápolis, no Peirce Edition Project, onde es-tão depositados os noventa mil manuscritos inéditos de Peirce. Durante essesestágios, assisti a vários cursos sobre Charles S. Peirce, em 1983, ministrado porJoseph Ransdell, em 1985, por Gérard Délledale, em 1988, por Christian J. W.Kloesel e Nathan Houser (editores do Peirce Edition Project), em 1992, por Na-than Houser e André De Tienne. A todos esses professores e especialistas, sem-pre tão abertos à escuta da alteridade, sou sinceramente grata.

Com Joseph Ransdell, mais particularmente, tenho uma dívida de apren-dizagem inolvidável. Em 1983, esse grande mestre colocou nas mãos de seusalunos o manuscrito de sua obra sobre a semiótica peirceana. Esta obra, até ho-je em progresso, infelizmente não foi ainda publicada, mas o efeito desse ma-

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nuscrito sobre o meu entendimento de Peirce foi e continua sendo indelével.Creio que, ao longo de tantos anos de consultas e leituras repetidas, devo saberesses manuscritos quase de cor. A presença de J. Ransdell, nesse livro, é mar-cante. Espero que o espírito de generosidade, concentração quase insana no ob-jeto do pensamento, disponibilidade para a dúvida, que definem o perfil dessemagnífico professor, também tenham deixado aqui, talvez por obra de algumamagia contagiosa, algumasmarcas. É ainda profunda aminha gratidão para comThomas A. Sebeok e Jean Umiker-Sebeok, diretor e diretora associada do Re-search Center for Language and Semiotic Studies, em Bloomington, pela exí-mia eficiência profissional, aliada ao calor sincero de uma amizade honesta esadia com que me recebem na sua grande casa intelectual.

Quando mencionei, no início da introdução, que esse livro e A assinatu-ra das coisas são complementares, essa complementaridade não deve ser en-tendida como sinônimo de similar. Embora ambos tratem da obra de Peirce,creio que eles são diametralmente opostos. Esse é um livro monográfico e de-talhista na sua verticalidade. Da gigantesca obra de Peirce, foi selecionada ape-nas uma parte, a semiótica. Uma vez mais ainda, num outro recorte, dentroda semiótica e dentre seus três ramos (gramática especulativa, lógica críticae retórica especulativa), foi selecionado apenas o primeiro ramo. Enfim, tra-ta-se aqui apenas de tentar compreender a lógica do signo e seus mecanismosde engendramento, misturas e multiplicação, com toda a perfeição possível,ou melhor, numa luta cabal pela perfeição, justo porque se sabe que a imper-feição é a sina humana, nossa fragilidade e, ao mesmo tempo, nossa grande-za. Costumo dizer que se os deuses fossem humanos, saberiam o que é a lu-ta pela perfeição.

A semiótica está no coração da obra peirceana. Ocupa a posição de umcentro vital. Mal se pode compreender essa obra sem o batismo da compreen-são da semiose, verdadeiro sistema nervoso central ou corrente sangüínea dopensamento peirceano. Para ficarmos por aqui nessas robustas metáforas bio-lógicas, esse livro pretende circular nessas veias. Um tal nível de especialida-de pressuporia que o leitor fosse apresentado, antes de tudo, ao panorama ge-ral da obra de Peirce para que, dentro dela, pudesse localizar a semiótica e,nesta, o papel da semiose. Ora, essa visão panorâmica aprofundada está dadano livro A assinatura das coisas, especialmente no Capítulo 4, denominado “Otempo da colheita”.

Não incorrerei na segunda falha apontada por Octavio Paz, não me para-frasearei. Remeto para A assinatura das coisas os interessados num aprofunda-mento sobre o diagrama geral da obra peirceana, razão por que esta introduçãopôde ser reduzida em relação ao seu plano original. Mas, para que não fiquenesse livro, que ora entrego à atenção do leitor, uma lacuna que o colocaria desobressalto diretamente no curso do signo, que é aquilo sobre o que o Capítu-lo 1 discorrerá, passo a apresentar, a seguir, uma brevíssima panorâmica de um

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setor da obra de Peirce, especialmente voltada para suas categorias fenomeno-lógicas, pois é diretamente delas que nasce a semiótica e a definição de signosnas suas múltiplas facetas.

Da fenomenologia à semiótica

Foi em torno dos 12 anos que Peirce começou a estudar lógica. Poucos anosdepois, estudou intensivamente as cartas de Schiller e, então, passou para Kant,cujaCrítica da razão pura, depois de dois anos de estudos obstinados, sabia qua-se de cor. Conhecia profundamente os gregos, os empiristas ingleses, a lógicaescolástica e todos os idealistas. Ao completar 28 anos, já havia publicado al-guns trabalhos importantes, mas aquele que viria marcar profundamente suaobra futura seria Sobre uma nova lista das categorias. Resultado de dois anos deestudos intensíssimos, a tarefa pretendida e realizada nesse trabalho foi dar àluz as categorias mais universais de todas as experiências possíveis. Seguindoa mesma terminologia de Aristóteles (hai kategoriai) e de Kant (die kategorien),por considerar seus propósitos comparáveis aos desses pensadores, Peirce viasua empresa como muito mais ambiciosa e radical do que aquelas que seus an-tecessores, inclusive Hegel, levaram adiante.

Como ponto de partida, sem nenhum pressuposto de qualquer espécie,Peirce voltou-se para a experiência ela mesma. Como entidade experienciável(fenômeno ou phaneron), considerou tudo aquilo que aparece à mente. Sem ne-nhuma moldura preestabelecida, sua noção de fenômeno não se restringia a al-go que podemos sentir, perceber, inferir, lembrar, ou localizar na ordem espa-ço-temporal que o senso comumnos faz identificar como sendo o “mundo real”.Fenômeno é qualquer coisa que aparece à mente, seja ela meramente sonhada,imaginada, concebida, vislumbrada, alucinada... Um devaneio, um cheiro, umaidéia geral e abstrata da ciência... Enfim, qualquer coisa.

Como procedimento, Peirce realizou o mais atento e microscópico exa-me do modo como os fenômenos se apresentam à experiência. Esse exame ti-nha por função revelar os diferentes tipos de elementos detectáveis nos fenô-menos para, a seguir, agrupar esses elementos em classes as mais vastas euniversais (categorias) presentes em todos os fenômenos e, por fim, traçarseus modos de combinação. Essa análise radical de todas as experiências, se-gundo Peirce, é a primeira tarefa a que a filosofia tem de se submeter. Ela é di-fícil, talvez a mais difícil de suas tarefas, exigindo poderes de pensamentomui-to peculiares.

Não obstante a dificuldade de tal empresa, Peirce a enfrentou sem desvios,chegando à conclusão de que só há três elementos formais ou categorias uni-versalmente presentes em todos os fenômenos, as quais não podem ser confun-

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didas com entidades puras. Há infinitas modalidades de categorias particularesque habitam todos os fenômenos. Estas, no entanto, são as mais elementares euniversais, tão gerais que podem ser vistas mais como tons, humores ou finosesqueletos do pensamento do que como noções definitivas. São pontos para osquais todos os fenômenos tendem a convergir.

Terminado o estudo, apesar do rigor que nele empenhara, Peirce julgou-sevítima de uma auto-ilusão. Reduzir a multiplicidade e variedade dos fenôme-nos a três elementos parecia-lhe fantasia absurda. Mas as categorias continua-ram resistentes às suas repetidas investidas para refutá-las. Tanto é que, em1885, treze anos mais tarde, ele produziu um outro estudo: Um, dois, três: ca-tegorias fundamentais do pensamento e da natureza. As categorias voltavam ago-ra com mais vigor, estendidas para toda a natureza. Por quase trinta anos, Peir-ce buscou comprovações empíricas para elas, encontrando-as em todos osdomínios, da lógica e psicologia, à metafísica, fisiologia e física.

As denominações que as categorias receberam foram várias, visto que elasassumem naturezas diferenciadas, dependendo do campo ou fenômeno em quetomam corpo. Apesar da variabilidade material de cada fenômeno específico,contudo, o substrato lógico-formal das categorias se mantém sempre. Daí Peir-ce ter finalmente fixado para elas a denominação logicamentemais pura de “pri-meiridade, secundidade e terceiridade”. O primeiro está aliado às idéias de aca-so, indeterminação, frescor, originalidade, espontaneidade, potencialidade,qualidade, presentidade, imediaticidade, mônada... O segundo às idéias de for-ça bruta, ação-reação, conflito, aqui e agora, esforço e resistência, díada... O ter-ceiro está ligado às idéias de generalidade, continuidade, crescimento, repre-sentação, mediação, tríada...

É justamente a terceira categoria fenomenológica (crescimento contínuo)que irá corresponder à definição de signo genuíno como processo relacional atrês termos oumediação, o que conduz à noção de semiose infinita ou ação dia-lética do signo. Em outras palavras: considerando a relação triádica do signocomo a forma básica ou princípio lógico-estrutural dos processos dialéticos decontinuidade e crescimento, Peirce definiu essa relação como sendo aquela pró-pria da ação do signo ou semiose, ou seja, a de gerar ou produzir e se desenvol-ver num outro signo, este chamado de “interpretante do primeiro”, e assim adinfinitum, conforme será visto detalhadamente no Capítulo 1.

Assim sendo, uma interpretação, um ato interpretativo aqui e agora de umsigno não é senão um caso especial do interpretante, uma vez que este é, pornatureza, mais geral, social e objetivo do que um ato particular e exclusivo deum só intérprete, questões estas que serão aprofundadas no Capítulo 3.

Mas um signo só pode funcionar como tal porque representa, de uma cer-ta forma e numa certa medida, seu objeto. O objeto do signo não é necessaria-mente aquilo que concebemos como “coisa” individual e palpável. Ele pode serdesde mera possibilidade a um conjunto ou coleção de coisas, um evento ou

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uma ocorrência até uma abstração ou um universal. No caso da semiose genuí-na (triádica), o objeto do signo é sempre um outro signo e assim ad infinitum,conforme veremos no Capítulo 2.

O que disso se pode provisoriamente concluir é que a semiótica peirceanaé uma teoria lógica e social do signo. A objetividade do interpretante é, por na-tureza, coletiva, não se restringindo aos humores e fantasias pessoais de um in-térprete particular. A ação de gerar, cedo ou tarde, interpretantes efetivos é pró-pria do signo, cujo caráter não é aquele de uma matéria inerte e vazia à esperade um ego auto-suficiente que venha lhe injetar sentido. Além disso, a semio-se não é antropocêntrica. A autogeração não é privilégio exclusivo do homem.Ela também se engendra no vegetal, na ameba, em qualquer animal, no homeme nas inteligências artificiais. Para completar, a teoria dos signos é, por fim, umateoria sígnica do conhecimento. Todo pensamento se processa por meio de sig-nos. Qualquer pensamento é a continuação de um outro, para continuar em ou-tro. Pensamento é diálogo. Semiose ou autogeração é, assim, também sinôni-mo de pensamento, inteligência, mente, crescimento, aprendizagem e vida.Como isso se dá é o que esse livro pretende trazer à luz.

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Lucia Santaella

Como as linguagenssignificam as coisas

teoria geral dos signos é um livro consagrado à Aadmirável obra do lógico e filósofo americano

Charles Sanders Peirce (1839-1914), hoje interna-

cionalmente reconhecido como um dos mais impor-

tantes pensadores americanos de todos os tempos.

Suas preocupações com as leis e a organização geral

do pensamento, das ações e da sensibilidade huma-

nas o levaram a postular, como fundamento da lógi-

ca, uma teoria geral dos signos, também chamada de

semiótica, cuja tarefa é desvendar o que são e como

operam os signos e, por meio deles, o próprio pensa-

mento e, conseqüentemente, os modos pelos quais

podemos compreender as coisas.

A autora é Lucia Santaella, semioticista brasileira

que, há anos, vem se dedicando ao difícil e necessário

trabalho de percorrer a vastíssima obra de Peirce, em

boa parte ainda inédita, à cata tanto das pistas

quanto das informações explícitas que permitam

retomar e levar adiante a inacabada semiótica de

Peirce. Por isso mesmo, essa obra destina-se àqueles

que, não se satisfazendo com as versões simplistas e

reducionistas da semiótica, desejam entender o

extraordinário poder dos símbolos, sinais, códigos e

linguagens que transitam nos processos de comuni-

cação e hoje povoam as modernas mídias eletrônicas.

O extraordinário poder das comu-

nicações de massa, as modernas

mídias eletrônicas renovam a cada

minuto a perplexidade e o interesse

do homem contemporâneo diante

da proliferação dos signos e de seu

funcionamento, muitas vezes capri-

choso e obscuro.

É por essa razão que a semiótica

de Charles Sanders Peirce está na

ordem do dia, muitas décadas

depois da morte de seu mentor; e é

cada vez mais comum ouvir-se

falar de Peirce, de símbolos, ícones,

índices, semiose, etc. Esse apressa-

do mundo das mídias – que conti-

nuamos precisando decifrar, se não

quisermos ser devorados – talvez

seja um dos principais responsáveis

pelo fato de, mesmo estando na

moda, Peirce e sua semiótica conti-

nuarem sendo conhecidos “de ore-

lhada”.

É na contracorrente desse “ouvir

dizer” que Lucia Santaella não se

cansa de remar. Como ela mesma

diz, “este é um livro de amor pelas

minúcias, de calma e paciência

para com os conceitos”; a calma e a

paciência necessárias para que os

pormenores de uma primeira im-

pressão possam revelar-se, por

assim dizer, “pormaiores”, capazes

de esclarecer, na obra de Peirce, o

que já era hábito considerar “obs-

curo por natureza”.

Assim, a semiose, o complexo

processo por meio do qual o signo

constrói a representação e torna

possível a comunicação, vai

revelando a lógica única e absoluta

de seu engendramento, numa

verdadeira autogeração. Concen-

trando o melhor de seus esforços no

Peirce menos conhecido do público,

Santaella adentra o labirinto dos

manuscritos inéditos. Percorre-o

com firmeza e determinação, e não

esquece de ir desenrolando, a cada

passo, o novelo da leitura atenta e

sistemática, cujo fio garantirá a

volta segura.

Esse retorno, pelo qual vamos an-

siando tanto quanto pelo esclareci-

mento final do crime, num policial,

traz ao leitor a recompensa final da

eficácia do conceito, a surpresa de

um autor melhor delineado, a

riqueza de uma obra permanente-

mente “em progresso”. Este livro

realiza a proeza de ao mesmo tempo

nos introduzir à semiótica, nos

conduzir através de uma paisagem

pouco visitada e nos fazer mergu-

lhar numa das mais importantes

tentativas de erguer uma teoria

geral dos signos.

Lucia Santaella

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Capa Teoria Signos

quinta-feira, 14 de junho de 2012 14:20:41