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A Maldição da Lua  The Dark One Ronda Thompson Londres, 1821.  A faísca de uma paixão. Uma maldição. Um amor para todo o sempre.. Rosalind Rutherford está ciente do escândalo que irá provocar ao tentar seduzir um homem como Armond Wulf. Acontece que, para ela, essa é a única maneira de escapar do controle de seu cruel meio-irmão. Para seu desamparo, Armond não cede à primeira tentativa, porém a deixa com um gostinho tentador do que poderia ser uma noite de amor entre ambos. E quando surge uma oportunidade de mudar não só seu próprio destino como também o de Armond, Rosalind não a deixa escapar. Ela sabe que a atração que sente por Armond é correspondida; o que ela não sabe é que ele é vítima de uma maldição que o submete, a cada noite de lua cheia, a se transformar numa criatura cujo desejo pode ser tão ardente quanto perigoso... Digitalização: Crysty Revisão: Symone Nit

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A Maldição da Lua The Dark One

Ronda Thompson

Londres, 1821. A faísca de uma paixão. Uma maldição. Um amor para todo o

sempre..Rosalind Rutherford está ciente do escândalo que irá provocar ao

tentar seduzir um homem como Armond Wulf. Acontece que, para ela,

essa é a única maneira de escapar do controle de seu cruel meio-irmão.Para seu desamparo, Armond não cede à primeira tentativa, porém adeixa com um gostinho tentador do que poderia ser uma noite de amorentre ambos. E quando surge uma oportunidade de mudar não só seupróprio destino como também o de Armond, Rosalind não a deixa escapar.Ela sabe que a atração que sente por Armond é correspondida; o que elanão sabe é que ele é vítima de uma maldição que o submete, a cada noitede lua cheia, a se transformar numa criatura cujo desejo pode ser tãoardente quanto perigoso...

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Ronda Thompson - Irmãos Wulf 2 - A Maldição da Lua (Bianca 868)

Querida leitora, Rosalind só deseja uma coisa de Armond Wulf: que ele a seduza, e assim acabar com

 sua boa reputação, arruinando os planos que o irmão tem para ela. Excluído pela sociedade,

comentado por trás de lindos leques, Armond é a escolha perfeita para esse fim. Porém, ela

desconhece a névoa de mistério que envolve a ele e sua família, Wulfglen... As leitoras que gostam de heróis incomuns que se transformam em lobos, vão amar ler 

 sobre a alma torturada de Armond. Ele pode ser tomado como um monstro louco, entretantoé um dos heróis mais sexy que já vi. Garotas, cuidem do coração, pois, mesmo terminando o

livro, ficarão eternamente apaixonadas por Armond!

Leonice Pomponio Editora

Copyright © 2005 by Ronda ThompsonOriginalmente publicado em 2005 pela St. Martin's Press.

PUBLICADO SOB ACORDO COM ST. MARTIN'S PRESS NY, NY - USA Todos os direitos reservados.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivasou mortas terá sido mera coincidência.

Proibida a reprodução, total ou parcial, desta publicação, seja qual for o meio, eletrônicoou mecânico, sem a permissão expressa da Editora Nova Cultural Ltda.

TÍTULO ORIGINAL: The Dark OneEDITORA Leonice Pomponio

ASSISTENTES EDITORIAIS Patricia Chaves

Paula Rotta Silvia MoreiraEDIÇÃO/TEXTO Tradução: Silvia Moreira Revisão: Giacomo LeoneARTE Mônica Maldonado

ILUSTRAÇÃO Thomas Schlück MARKETING/COMERCIAL Andréa Riccelli

PRODUÇÃO GRÁFICA Sônia SassiPAGINAÇÃO Dany Editora Ltda.

© 2008 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Paes Leme, 524 – 10º andar - CEP 05424-010 - São Paulo - SP

www.novacultural.com.br Premedia, impressão e acabamento: RR Donnelley

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Ronda Thompson - Irmãos Wulf 2 - A Maldição da Lua (Bianca 868)

Prólogo

Maldita seja a bruxa que me amaldiçoou.Pensei que seu coração fosse puro. Ah, meu Deus, mulher nenhuma compreende o dever  para com família, nome ou guerra.Não encontrei nada que me libertasse,nem poção, cântico ou proeza.Desde o dia em que ela lançou o feitiço,ele se transmitirá de semente a semente.

Traída por amor, minha própria língua falsa,ela ordenou à lua que me transformasse.O nome de família, antes meu orgulho,tornou-se a besta que me assombra.E na hora de sua morte a bruxachamou-me a seu lado.Sem perdão, piedade nenhuma,ela disse antes de morrer:

"Busque e encontre seu pior inimigo;enfrente-o com bravura e não fuja.O amor é a maldição que o aprisiona,mas é também a chave que o liberta."

 A maldição e enigma foram minha ruína,desta bruxa que amei mas não pude desposar.

Batalhas lutei e venci, porém é derrota que deixo em meu rastro.São os Wulf que sofrem por meus pecados,os filhos que não são bestas nem homens,

decifrem o enigma que não resolvi,e sejam desta maldição libertados.

Ivan Wulf,No ano mil setecentos e quinze de Nosso Senhor.

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Capítulo I

Londres 1821O coração de Armond se encontrava no mais profundo hiato do

inferno. Ali era um lugar frio e amargo, onde sonhos e esperanças haviamuito estavam sepultados.

Sem sonhos ou esperanças por que então se preocupar? ArmondWulf, o marquês de Wulfglen, conde de Beaumont, movimentava-selivremente pelos círculos sociais, mas como um fantasma, uma presençaobscura que assombrava a própria existência, esperando que a maldiçãoviesse tomá-lo de surpresa.

Apesar de vir de uma família abastada e com título de nobreza, osWulf estavam amaldiçoados e sem esperanças.

Os homens nasceram para aceitar riscos, testar os limites de suasforças e fraquezas. No entanto, Armond não poderia se aventurar a nadadaquilo, pois uma existência normal estava fora de questão.

A vida resumia-se em um caminhar penoso, sem se importar comdireção ou um destino particular. Mesmo assim, restava um fio deesperança ao qual ele se apegava para tornar sua existência maissuportável.

 Talvez fosse aquela a razão por não querer ficar sozinho no primeiro

baile da estação de Greenley.Apesar de não conviver bem com o enfado das reuniões sociais, vez

por outra sucumbia à simples necessidade de sentir a vida fervilhando asua volta. Porém, ninguém ousava se aproximar de um homem envolvidopor uma aura de mistério, assassinato e loucura. Contudo, ele erasimplesmente um homem... pelo menos por enquanto.

O som dos risinhos femininos chegou aos ouvidos ultra-sensíveis deArmond, que sabia ser o centro das atenções de muitas mulheres.Impossível ignorar o perfume daquela atração que tinha cheiro de terra,do almíscar feminino, docemente disfarçado pela água de rosas.

Se ele fechasse os olhos e se concentrasse, seria possível ouvir odescompasso dos corações. Contudo não se deixava torturar por aquelesestranhos. Já havia aceitado o que a vida lhe reservara, sua posição nasociedade, ou mesmo a ausência dela.

Embora fosse intenso o apelo ao mistério que emanava de suaaparência, nenhuma mulher era corajosa o suficiente para se aproximar.Outra maldição que ele teria que sofrer... ou talvez uma conseqüência doque já regia sua vida: a maldição da família Wulf.

— Lorde Wulf, que prazer em vê-lo. Por que está aqui sozinho e

amuado no canto? Deveria estar caçando jovens donzelas ou ao menos jogando cartas nos quartos do fundo com os outros cavalheiros.

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Um raro sorriso brotou nos lábios de Armond, enquanto observava oolhar esmorecido da condessa de Brayberry.

A condessa era uma velha amiga da família e a única mulher desangue azul de Londres que não hesitava em se aproximar dos irmãosWulf. A bem da verdade, ela se divertia em confrontar a sociedade,recusando-se a evitá-los como todos faziam. E Armond era grato por isso.

— O problema de caçar jovens donzelas hoje em dia é que elassimplesmente se recusam a correr — ele brincou. — Fora isso, os senhoresque estão lá nos quartos dos fundos tampouco têm espírito esportivo. Elessão capazes de se darem por vencidos, entregando-me o dinheiro sem amenor emoção do confronto.

A risada alta da condessa ecoou no canto escuro da sala. Emseguida ela fingiu bater no ombro de Armond com o leque.

— Você é terrível, meu querido. Se fosse um anjo não atrairia tanto

as mulheres. Acho que é o contraste de sua aparência que exerce umfascínio intrigante sobre elas — ela acrescentou, observando-o comatenção.

Armond bem sabia que o encanto era por conta de sua indiferença.Era só fingir um mínimo interesse por alguma donzela que ela nãohesitaria em correr ao seu encontro.

Os rumores, o mistério e a aura intrigante que pairava sobre os Wulf era o que atraía as mulheres da mesma forma como uma mariposa corriapara a luz.

— Você já conheceu sua nova vizinha? — a condessa interrompeu-lhe os pensamentos.

Interessante, ele nem sabia que tinha uma nova vizinha. Aliás, malconhecera o último... Se não lhe falhava a memória, o homem que semudara com a mãe para a propriedade ao lado havia uns dez anos,chamava-se Chapman, mas nunca trocaram uma só palavra.

— Chapman vendeu a casa? — perguntou interessado. A condessameneou a cabeça negativamente.

— A mãe dele herdou-a do último marido, o duque de Montrose.

Enquanto você esteve fora, a meia-irmã dele veio morar com eles. A moçavivia escondida no campo até então. Quando o pai faleceu, ela quisconquistar seu espaço na sociedade. Mas você ainda pode ter uma chancede encontrá-la.

— Ora, chance para quê? — ele perguntou em tom seco. — Asenhora sabe que se não houver nada de indecente com essa moça, nãoestarei interessado. Não é isso que diz minha reputação obscura?

Ela contraiu os olhos, fingindo-se chocada pela resposta.

— Ah, que homem malvado! Estou falando da possibilidade de vocêfinalmente encontrar uma esposa. Se não me engano, você ainda possui

títulos, propriedades e bens. Além disso, basta se aproximar com essa suaaparência arrasadora para roubar o coração daquela moça. E se for

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rápido, ela nem chegará a saber dos rumores que correm a respeito desua família. Talvez haja uma chance de ficarem juntos.

— E o que a faz pensar que são apenas rumores? — Armondmanteve o tom sério. — Talvez os Wulf sejam de fato uns loucosrepulsivos.

Desta vez a condessa bateu com um pouco, mais de força nosombros largos, descartando outra brincadeira.

— Besteira. Não acredito que você e seus irmãos sejam insanos.Aliás, boa estratégia essa de permanecer solteiro e ao mesmo tempo tervárias mulheres à volta.

Contudo não havia ninguém aos pés de Armond... a não ser queestivessem mortas. Além do mais, os irmãos Wulf não haviam criadoaquele padrão de comportamento, era um acordo que mantinham entre sipara ficar em segurança.

 Todos, menos Sterling, o mais jovem que fugira de Londres poucodepois que a maldição se abateu sobre a família. Os irmãos, Armond,Gabriel e Jackson fizeram um pacto de jamais entregar o coração a umamulher.

O amor era supostamente a maldição e a chave, qualquer que fosseo significado das duas palavras em conjunto.

A única referência da maldição era um poema, encontrado no meiode um livro que pertencera ao pai. Estava ali a elucidação do mistério,contudo nenhum deles fora capaz de decifrar.

— E quanto ao outro assunto? — ele perguntou. — Lembra-se doassassinato que ocorreu há apenas oito meses?

O brilho nos olhos da condessa esvaiu-se, ela aproximou-se como sequisesse falar em segredo com medo que alguém ouvisse:

— Você faria um bem enorme a si mesmo se não tocasse mais nessepote negro. Foi um infortúnio ter achado o corpo daquela pobre mulher emseu estábulo. Além do mais, ninguém conseguiu provar nada. Seus irmãose você tinham um álibi. Tudo o que você precisa é se casar com uma beladama da sociedade e assim acabar com essas maledicências. — E depois

de uma breve pausa, completou: — Seus pais, que Deus os tenha, podematé ter sido insanos, mas não vejo outra coisa em seus olhos se nãointeligência. Por que assumir os fardos de seus ancestrais? Deixe opassado para trás e siga sua própria vida. Prove a esses esnobes todoscomo estão errados.

No entanto, a sociedade não estava errada sobre Armond.

Sim, era verdade que não havia cometido assassinato algum. Mas ofato de uma mulher aparecer morta em seu estábulo manchara o nome dafamília com sangue. Armond sequer havia contestado o álibi dos irmãos.No entanto, considerava a possibilidade de aquela mulher ter sido

plantada ali propositadamente para tornar ainda mais difícil a sina de suafamília.

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Ele passara os últimos meses tentando provar sua inocência, mas apista que o levaria a encontrar o verdadeiro criminoso havia esfriado.

— Lorde Wulf?

De repente, uma voz suave chamando-o, interrompeu a conversa.

Ouvir seu nome pronunciado tão docemente caiu como uma carícia.Virando-se vagarosamente ele ficou frente a frente com uma bela

mulher vestida de branco; a personificação desafiadora do pecado,disfarçada em inocência.

Se no mundo houvesse alguém que o fizesse esquecer seusprincípios e promessas mais secretas, estava bem ali, diante de seusolhos. Apenas vislumbrá-la fez com que seu sangue corresse apressadopelas veias, convergindo para o centro de sua masculinidade. Naqueleinstante seu corpo vibrou em descompasso com a couraça que lheprotegia. No entanto, se manteve impassível, observando-a do alto de sua

arrogância, mas ciente de já ter sido cativado.— Detesto ser intrometida. — A moça quebrou o breve silêncio. —

Não encontrei ninguém que nos quisesse apresentar formalmente.Lamento se o incomodo, mas tive que tomar a iniciativa sozinha.

Armond imaginou-a tomando atitudes bem mais ousadas e queaqueles lábios carnudos fossem a representação de sua feminilidadeescondida. Naquele instante totalmente confuso pelas próprias reações,ele não conseguiu dizer uma só palavra.

A mulher à sua frente tinha os cabelos escuros como a noite. Seus

lábios cheios e vermelhos eram capazes de tentar até um santo. A peleclara, suave e delicada do colo se insinuava pelo decote do vestido.

— Pois então sinta-se apresentada, querida — a condessa deBrayberry antecipou-se a fazer as honras. — Mas devo dizer que a escolaque freqüentou não a educou apropriadamente.

— Passei boa parte da minha vida morando no campo — a moçarespondeu sem desviar a atenção de Armond. — Peço desculpas porminha grosseria, mas, agora, o tempo é mais importante do que meusmodos. Eu gostaria de requisitar a ajuda do lorde Wulf em caráter deurgência.

Ainda sob o efeito das emoções ambíguas que o assolavam, elecontinuou a encará-la apenas.

Como uma mulher daquelas, que poderia ter qualquer homem aseus pés diante de um simples estalar de dedos, estaria pedindo ajuda  justamente a ele? O que estaria a seu alcance que ela própria nãopudesse conseguir com sua beleza estonteante?

— Em que posso lhe ser útil, srta...?—perguntou, lutando contra odescompasso do coração.

— Rutherford — ela respondeu quase que em um sussurro. — Lady

Rosalind Rutherford.— Ora se não é a sua vizinha? — a condessa de Brayberry

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interrompeu. — Esta é a jovem herdeira de quem falávamos há pouco,Armond.

— A última semente... — Rosalind corrigiu, corando ao perceber quehavia deixado transparecer um ressentimento.

— Já que somos vizinhos de fato, lorde Wulf, não acho que seriainapropriado se dançássemos juntos.

Armond estava tão hipnotizado que não havia notado que a música já ecoava pelo salão. A imaginação o transportara para bem longe dali,seguindo os desejos mais profanos, que certamente não incluíamsimplesmente dançar.

— Sinto muito, lady Rosalind, além de não dançar também não souum vizinho muito sociável.

Em uma primeira reação, ele tentou ser rude e virar as costas, mas

ela tocou seu braço paralisando-o. O simples contato fez com que seucorpo sucumbisse ao calor daquelas mãos pequenas.

O desejo pulsava em sintonia entre os dois. Armond era capaz desentir a pulsação do pescoço de pele alva.

Rosalind, porém, muito determinada, continuou prendendo-o comum olhar desafiador. Uma mistura de petulância com sensualidade que ointrigou ainda mais.

Sem oferecer resistência, ele permitiu ser puxado para longe dacondessa, que espreitava a conversa dos dois.

— Será que preciso implorar? — ela perguntou, fazendo uma pausapara umedecer os lábios com a ponta da língua num gesto sensual. — Nãoimporta o que dizem a seu respeito.

— E o que falam a meu respeito? — ele desafiou.

Se Rosalind realmente soubesse dos rumores que circulavam pelacidade, saberia que ele não teria escrúpulo algum em fazer mulheresimplorarem por um minuto de sua atenção. Além disso, era consideradoum assassino, um homem amaldiçoado pela loucura e como tal nãopoderia ser tratado com compaixão.

— Sei que você é Armond Wulf, o marquês de Wulfglen, o mais velhodos irmãos Wulf de Londres. Um homem temido e proibido para qualquermulher. Certamente nenhuma debutante decente se relacionaria comvocê.

— E mesmo assim quer dançar? — Armond perguntou, encarando-a.

Rosalind deu de ombros, empertigando-se num gesto que ele julgouser uma demonstração de coragem. O decote pronunciado do vestidoinsinuava os seios fartos, que em um ritmo acelerado, movimentavam-sesensualmente a ponto de ele querer tocá-los.

— Meu desejo não se limita a uma dança apenas, lorde Wulf. Eu

agradeceria muito se você tomasse minha honra.Armond esforçou-se ao máximo para manter o ar de enfado, porém

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uma revelação inesperada como aquela o atingiu como o coice de umcavalo selvagem.

— Mas aqui? — ele perguntou, forçando um sorriso irônico.

Rosalind levantou o queixo delicado e insistiu:

— Agora, ainda esta noite e neste salão em frente a todas essaspessoas.

Armond teve vontade de beliscar o próprio braço, para ter certezade que não estava em meio a um sonho bizarro. As mulheres nãocostumavam fazer propostas daquele gênero, muito menos aquele tipo demulher.

Lady Rosalind Rutherford, e toda a tentação que representava, seriatão louca quanto a família Wulf, ou guardava algum mistério maior?

Desviando o olhar daquela boca sedutora, ele tentou recuperar o

controle. E se havia uma coisa que sabia fazer com maestria era nãodemonstrar o que se passava em sua mente, muito menos no coração.

Não seria daquela vez que se deixaria perder por um anjo decabelos negros. Era sabido que ao perder a razão, o coração não tardariaa seguir o mesmo caminho. E ele sabia que não devia permitir que aquiloacontecesse... jamais.

— Você me ouviu, lorde Wulf? — Rosalind falou mais alto dessa vez.

Aquela altura, todos os presentes prestavam atenção aosmovimentos dos dois. Ele então tomou-lhe o braço, conduzindo-a para a

pista.Ao enlaçar a cintura fina notou uma delicadeza singular sob suas

mãos, mas imbuído que estava em disfarçar seu desejo, conduziu-a aocompasso da melodia, ignorando o ritmo agitado do próprio corpo.

A platéia observava atenta o casal que tomara conta do salão.Porém Armond estava tão concentrado em dar os passos que não ligou amínima para os comentários e olhares maledicentes.

— Eu esperava mais de você — Rosalind comentou fazendo bico.

— Ora, não estamos dançando?—Armond perguntou atônito, como

se não fosse capaz de dizer uma só frase inteligente na presença dela.—Está muito comportado. Pela sua fama, ninguém ficaria chocado

perante uma agressividade maior.

— Posso assegurar que só o fato de estarmos dançando já causaespanto. — Quando percebeu que seu comentário não a satisfez,acrescentou: — Você quer ser raptada?

Rosalind arqueou as sobrancelhas, considerando a proposta.

— Achei que não precisaríamos chegar a medidas tão drásticas, masagora vejo que elas se fazem necessárias. Você se importaria?

— Se me importo? — Quase errou o passo. Ela era decididamentemaluca. — Qual o nome do jogo, lady Rosalind?

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Em vez de responder, ela desviou a atenção para as outras pessoasque os observavam atentamente.

Em silêncio, ele fez o mesmo e notou um grupo de debutantes que,com risinhos, sussurravam algo a respeito dos dois. Entendeu então quefora alvo de uma aposta entre amigas. E Rosalind, além de levar o prêmio,teria feito sua estréia na sociedade em grande estilo. Bela estratégia.

— Meu desejo é sincero, lorde Wulf— ela disse, voltando a fitá-lo. —Estou muito desapontada com o seu bom comportamento até agora. Suareputação me fez criar expectativas que nem de longe estão sendocorrespondidas. Creio que para conseguir a ajuda de que preciso, talvezseja melhor procurar outro.

Agora ela tinha ido longe demais, tirando-o do estado letárgico quese encontrava ao tê-la nos braços.

Durante os últimos dez anos, ele fora motivo de chacota na

sociedade. No entanto, não podia permitir que o fizessem de tolo.Quando Rosalind fez menção em deixá-lo no meio do salão, ele a

puxou de encontro a seu corpo, fazendo-a sentir sua respiração quente.

— Se a senhorita quer ficar falada, então procurou o homem certo —garantiu. — Aposto que não a desapontarei, pois comigo não há meio-termo, lady Rosalind.

Sem esperar por uma reação, conduziu-a para longe da pista àprocura de um lugar mais reservado.

Rosalind havia brincado com o orgulho de um Wulf. O desafio estava

lançado e se ela queria motivos para rir com as amigas tolas, certamenteteria vários.

Armond abriu as portas da varanda, permitindo que o ar frio da noiteinvadisse o ambiente.

Perplexa, Rosalind o seguiu pelo jardim até a rua, onde ascarruagens alinhadas esperavam os ocupantes retornarem do baile.

Seu coração pulsava tão ruidosamente que imaginou senti-lo saltardo peito. Apesar da atitude ousada, suas pernas estavam trêmulas. O queantes era considerado como bravura, agora poderia ser chamado de

desespero por aventurar-se a ficar sozinha com um Wulf.Logo que viu Armond Wulf entre os convidados do baile de Greenley,

Rosalind ficou surpresa pela aura sinistra que o envolvia e não disfarçou aforte atração que sentiu ao aproximar-se daquele homem misterioso.

Nunca antes vira alguém tão charmoso. Alto e musculoso, ele eradono de um corpo que se assemelhava ao de uma pantera negra comolhos de um azul-acinzentado, tão intenso quanto o prenuncio de umatempestade.

O rosto de Armond, marcado pelo maxilar protuberante, era

emoldurado por fartos cabelos castanho-claros que caíam sobre os ombrosda roupa bem cortada. O amarelo vívido dos cabelos remetia aos camposde trigo, que cobriam a paisagem dos campos. A boca de lábios carnudos

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parecia sensualmente desenhada. O contraste das sobrancelhas escuras eo cabelo claro, em perfeita harmonia com o tom bronzeado da pele,deixavam claro que ele passava boa parte do seu tempo ao ar livre.

Assim que Armond chegou a Greenley todas as mulheres presentesno baile viraram-se para admirá-lo. Não demorou muito para começaremos sussurros curiosos.

Ao saber seu nome, Rosalind entendeu que se tratava do vizinhoque Franklin, seu meio-irmão, a advertira para manter distância. Armondestava sumido desde que ela chegara a Londres, mas seu retorno naquelanoite não poderia ser mais providencial. Ela tinha um plano para arruinar oesquema que o irmão havia montado para ela, e com isso, esperava que amandasse de volta à propriedade de seu pai no interior, para onde ansiavavoltar.

— Thomas, pode ir dar uma volta — Armond dispensou o cocheiro ao

chegar à carruagem.Rosalind sentiu o rosto corar. O que o cocheiro iria pensar a seu

respeito? Se bem que já não havia mais tempo para se preocupar comfalsos conceitos.

—Por quanto tempo devo me afastar, milorde? — Thomasperguntou.

Wulf estudou Rosalind dos pés à cabeça antes de responder:

— O tempo que quiser.

Desesperada, ela olhou para a casa onde estavam e para os dois

homens à sua frente. Eram grandes as chances de Franklin aparecer aqualquer momento e estragar tudo.

— Será que não poderíamos dar uma volta enquanto nós... Bem,você sabe... — Estava constrangida demais para completar a frase.

— Interessante — ele comentou. — Mudança de planos, Thomas.Leve-nos para dar um passeio.

 Thomas assentiu com um sinal de cabeça.

Armond abriu a porta e em vez de estender a mão para ajudá-la asubir, tomou-a nos braços, colocando-a dentro da carruagem. Em seguidasubiu e sentou-se à sua frente.

A situação era muito estranha e agora que Rosalind conseguira seuobjetivo, não tinha a menor idéia do que fazer.

Observou que Armond parecia bravo. Mas por quê? Afinal ela tinhase oferecido, e não era isso que todo homem desejava? Poder tocar umamulher por baixo de suas saias na primeira oportunidade não era umpensamento comum a todos eles?

A noite estava linda e a carruagem movia-se lentamente. Rosalindreconsiderou se fizera a escolha certa. Ainda estava em tempo de desistir,

olhando pela janela, pensou que se pulasse naquele instante não semachucaria muito, já que o coche movimentava-se devagar.

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— Está arrependida? — ele perguntou, adivinhando os pensamentosdela.

Apesar de a noite estar clara, Rosalind não conseguiu ver aexpressão daquele rosto sombrio, mas estava ciente do efeito do olharque lhe queimava a pele.

— A minha oferta foi sincera.

— Não estamos mais sendo observados por ninguém. — Armondsuspirou. — Portanto não precisa mais fingir.

Rosalind esperava que ele a seduzisse e achou que ele houvesseentendido a proposta. Contudo, talvez tivesse sido presunçosa demais.

A simples presença de um homem tão imponente tirava sua razão aponto de fazê-la esquecer o propósito que a trouxera ali. Qualquerfantasia que tivesse sonhado não chegava perto do que vivenciava

naquele momento. As emoções embriagavam seus sentidos, emboraestivesse consciente de que eram perniciosas.

—Você deveria saber que homem nenhum gosta de servir de joguete. E eu não sou diferente — ele a alertou com uma voz rouca.

Pelo aviso, ficou claro que Armond não havia acreditado naseriedade de sua proposta. Foi então que Rosalind se deu conta de queera mesmo difícil de acreditar que uma dama, bem-nascida, seaproximava de um homem para pedir que roubasse sua honra.

— Talvez eu tenha sido impulsiva — admitiu e mesmo no escuroprocurou encará-lo. — Se voltarmos logo, quem sabe nossa ausência não

tenha sido notada.Ele soltou uma gargalhada sonora.

— Não há a menor chance de voltarmos agora. Você não queria criarum escândalo, lady Rosalind? Pois então conseguiu. — Armond assumiuum tom ameaçador. — Além do mais, fui usado para atingir um objetivoque sequer compreendi direito. Aliás, você poderia me esclarecer melhor,não acha?

Não. Ela não podia explicar. Como dizer a ele que tudo o quedesejava era obter sua liberdade de volta? A idéia era simples, se alguém

a desonrasse, seria possível fugir dos planos mirabolantes de Franklin.Porém, escolhera a pessoa errada. Armond estava longe de prestarqualquer favor, sem entender as verdadeiras razões.

— Estou surpresa por me pedir explicações, lorde Wulf. Duvido quequalquer outro homem o faria. — Ergueu o queixo, desafiando-o. — Penseique pudesse contar com você. Eu...

De repente em meio à penumbra viu-se tomada por uma bocaávida, cobrindo seus lábios com um beijo lascivo. Rosalind tentou impedir,contraindo-se, mas, com as mãos fortes e determinadas, Armond prendeuseu o queixo, impedindo-a de virar o rosto.

Apesar do medo e da surpresa, ela entregou-se ao gostoembriagante de champanhe e morangos frescos. Era um beijo de punição,

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como se ele quisesse ensiná-la a lição de não brincar comum homem poderoso. Rosalind reagiu, afastando-se com um suspiro demedo.

— Está me machucando — sussurrou.

Armond soltou-lhe o queixo, acariciando a pele aveludada com ascostas das mãos, tocando o que parecia ser uma delicada asa de umaborboleta. Em seguida, inclinou o rosto novamente e apenas roçou oslábios nos dela. A diferença entre a delicadeza daquele beijo e aimpulsividade do primeiro deixou-a intrigada quanto à facilidade com queele transitava pacificamente entre a agressividade e a sedução.

Ele continuou proporcionando momentos de puro prazer ao delinearseus lábios com a ponta da língua quente, ansiando por descobrir mais emais. Uma força desconhecida fez com que ela relaxasse para receber acarícia.

— Oh, Deus, como você é doce. — A voz rouca atuou como umcarinho obsceno nos lugares mais íntimos do corpo de Rosalind. Entãoderrubando barreiras, ela rendeu-se aos beijos ardentes e permitiu que elea guiasse em uma viagem de desejo e entrega.

Rosalind havia sido beijada apenas uma vez, aos doze anos, pelofilho do jardineiro. Fora um beijo inexpressivo se comparado à volúpia quea consumia naquele momento. Era como se estivesse sonhando, embora jamais imaginasse que pudesse ficar naquele estado de total torpor.

A paixão passou a dominar a razão e as carícias ficaram ainda maisousadas. E respondendo a um anseio de amoldar-se ao corpo de Armond,ela enlaçou-o pelo pescoço.

As respirações ofegantes entraram em sintonia e ressoavam nointerior da carruagem, um sussurro do prazer que os dominava. Rosalind já não se preocupava se estava correndo perigo, pois nada mais tinhaimportância no mundo de sonhos que estava vivendo.

Inesperadamente, a carruagem passou por uma pedra. Perdendo oequilíbrio, ela caiu de costas no assento; não demorou muito para queArmond se inclinasse sobre ela.

Sentir o peso daquele corpo másculo a deixava totalmente

vulnerável, despertando sensações que durante anos ela tentara abafar.No entanto, a força do desejo era tamanha que sequer podia imaginar ocaminho de volta.

Armond deslizava os lábios levemente por seu rosto, provocandosuaves arrepios em sua pele. A língua ávida traçava uma linha de fogo acada centímetro que passava, porém sem qualquer aviso prévio ele paroude repente para observá-la longamente.

Rosalind assustou-se com a interrupção brusca. No entanto, nãoteve tempo de imaginar as razões, pois sua boca foi coberta por outrobeijo sedento, transportando-a novamente pelos caminhos sinuosos doprazer.

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Quando mãos fortes cobriram seus seios, ela recobrou um pouco dobom senso e esgueirou-se. Foi um movimento tolo, admitiu no minutoseguinte. Claro, se não permitisse que Armond a tocasse maisintimamente, como esperava que ele pudesse manchar sua honra?

 Tentando retomar o clima de sedução, ela então arqueou as costas,oferecendo os seios fartos. Antes de tomá-los com as mãos, ele mais umavez cobriu seus lábios com um beijo provocante. A língua a tocava ansiosapor descobrir seus segredos mais íntimos. Rosalind se deixou levar porcada uma das sensações alucinantes, fingindo não perceber por ondeaquelas mãos fortes passeavam. Com extrema habilidade, Armonddesamarrou as fitas do corpete e acariciou-lhe os mamilos até enrijecê-los.Foi quando ela deixou escapar um gemido alto, traduzindo o desejo que aconsumia.

Agora se oferecia por inteira, sem barreiras, deixando claro que suavontade maior era ser tocada nos recônditos de seu corpo virgem por

aquelas mãos experientes.Dominada que estava pela paixão, ela só se deu conta de que  os

seios estavam expostos quando sentiu o ar frio da noite em sua pele.Envergonhada, tentou cobrir-se cruzando os braços sobre o peito. Porém,antecipando o movimento, Armond segurou-a pelos pulsos, voltando adesnudá-la.

— Está com medo?

— Sim—ela respondeu, embora soubesse estar mentindo. — Estoucom medo de mim.

— Quer que eu pare?

A resposta não veio, pois não havia espaço para palavras. Com abreve interrupção, Rosalind experimentou uma sensação diferente, comose fosse possível, perante a avalanche que a havia assolado na últimahora. De repente, compreendeu que a saudade podia se instalar em umcurto espaço de tempo. Não pretendia perder-se em palavras quedescrevessem um receio, pois sabia que existia muito mais a ser trocado.

Em seu íntimo sabia estar agindo errado, contrariando todos ospreceitos morais que aprendera. Mas daquele minuto em diante, estava

decidida a seguir suas próprias regras. E para começar, era preciso serdesonrada e frustrar um casamento que seu irmão tinha em mente.

O que ela não previra era que fosse se afogar em um mar desensações desconhecidas. Sua mente agora fervilhava com dúvidas.

— Não. Por favor, não pare — finalmente respondeu, deixando pararesolver depois como lidaria com o futuro,

Armond, porém, não obedeceu imediatamente ao pedido de seguiradiante. A longa pausa aumentou ainda mais sua insegurança. Queatitude tomaria se ele resolvesse parar com a exploração minuciosa deseu corpo? Começou a considerar a humilhação de ser rejeitada por umhomem a quem se oferecera de corpo e alma. Conforme os minutos searrastavam, ocorreu-lhe que o problema poderia ser dele também. Por que

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não?

— Você tem problemas para...? — perguntou sem saber ao certocomo abordar o assunto.

— Problemas de consciência? — Armond indagou em tom irônico.

Ela limitou-se a sorrir, fazendo-o entender que estava preocupadacom outro aspecto da masculinidade dele.

— Que insolência a sua! — Armond exclamou, ao pressionar seucorpo contra o dela, fazendo-a sentir a intensidade do seu desejo.

— Então, continue — insistiu ela persuasiva.

Vagarosamente Armond baixou a cabeça e aprisionou um dosmamiíos em sua boca, sugando-os. A língua indecente movia-se agilmentede um seio a outro.

Eosalind sentiu cada músculo de seu corpo contrair em respostaàqueles carinhos tão insinuantes. Foi com certa surpresa que percebeuuma umidade diferente por entre suas coxas.

Armond levantou-se o suficiente para voltar a beijá-la. Conformeexplorava a boca bem desenhada, conduzindo-a naquele frenesi delínguas ansiosas, ele pressionava os quadris contra o corpo frágil einiciava outra dança de ritmo tão conhecido. Ela o seguiu na cadênciasensual até ficar quase sem fôlego, trêmula, desejando que o ritual secompletasse em um êxtase profundo.

Rosalind estava totalmente perdida em um abismo de sensações

onde só cabiam os dois e as mais devastadoras respostas de seus corpos.De repente, os toques ficaram ainda mais atrevidos e as mãos fortescomeçaram a explorar por baixo do vestido.

Com uma paciência ensaiada, ele começou a tirar-lhe as meias,deslizando-as suavemente pelas coxas. Em seguida, desabotoou a camisafina de linho, deixando visíveis o torso de músculos definidos.

Rosalind não podia decifrar a expressão daquele rosto másculo naescuridão da carruagem, mas percebeu que ele fitava com intensidade. Osolhos de Armond brilhavam estranhamente no escuro como se fossem deum animal prestes a atacar uma presa inofensiva. Ao sentir um calafrio,

ela levou as mãos ao pescoço para se proteger.A luz baça da rua invadiu a carruagem, e Rosalind vislumbrou o

peito forte insinuando-se pela abertura da camisa, revelando a pelebronzeada. No entanto, o brilho intenso daqueles olhos azuis continuavamisterioso, fazendo-a encolher-se ainda mais.

Inesperadamente, ele alcançou a bengala e bateu com força no tetoda carruagem.

— Cubra-se — ordenou, mudando por completo o comportamento deaté então.

Rosalind levantou-se envergonhada, puxando o vestido para cobriros seios, embora ainda entorpecida pelo emaranhado de emoções que

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acabara de viver... e pelo que ficou por acontecer.

— Quando voltarmos siga direto para sua carruagem e peça aococheiro que a leve para casa — Armond instruiu-a. — Não fale comninguém. Vou mandar uma mensagem para seu irmão, dizendo que vocênão estava bem, entendeu?

Rosalind estranhou por ter ganhado um álibi que não havia pedido.

— Está sugerindo que eu minta sobre onde estive?

— É melhor que algumas pessoas não saibam da verdade — elerespondeu, abotoando a camisa. — Mas pode confidenciar tudo às suasamiguinhas. Espero que tenha atingido seu objetivo.

Ela mal acreditou no que ouvira! Armond não cumprira o prometido,e ela ainda estava tão pura quanto quando saíra do baile de Greenley.

Além do mais, não tinha amigas para trocar segredos. Por que

aquela sugestão tão absurda? E pior, por que ele não tinha terminado oque começara?

— Não me deseja... — sentenciou ela. Talvez fora desprezada porseu atrevimento.

— O jogo acabou — Armond concluiu friamente, contrariando aatração que ainda pairava entre ambos. — Já passamos do limite, masagora já tem motivo suficiente para fofocar com suas amiguinhas tolas.Fui responsável por tornar o seu début  memorável na sociedade. Fiquefeliz por não ter conseguido o que pediu.

Naquele instante, a carruagem parou. Sem demora, ele desceu eestendeu a mão para ajudá-la a fazer o mesmo. Rosalind seguiu-o emsilêncio, embora seu corpo ainda estivesse trêmulo. Contudo não saberiaexplicar se estava insegura por ter sido rejeitada ou se temia asconseqüências que teria de enfrentar.

— Qual é a sua carruagem?

Sem nada dizer, ela apontou para o coche estacionado não muitolonge dali.

— Boa noite, lady Rosalind. O prazer foi... bem, foi basicamente meu— Armond disse após acomodá-la. Então fechou a porta, e ela ouviu asordens sendo dadas ao cocheiro.

Por um impulso juvenil, ela debruçou-se sobre a janela assim que acarruagem começou a andar. Armond continuava parado no mesmo lugar,observando o coche se afastar.

Os olhares se cruzaram e ela percebeu que o desejo ainda os unia.Sentiu que toda a sua inocência esvaia-se rapidamente. Por meio de umpedido inconseqüente, alcançara muito mais do que havia solicitado.Agora tinha certeza de que eles haviam compartilhado um desejo comum.

Entretanto ainda restava um mistério por descobrir: por que ele se

recusara a consumar a relação? Talvez fossem infundados os rumores deque um Wulf não tivesse o mínimo senso de decência.

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Por outro lado, se Armond houvesse respeitado um código de ética,estipulado por uma sociedade que o havia abominado, ela então errara naescolha. Pois em vez de cumprir o que havia prometido, ele brincara comuma proposta tão séria.

Foi então que o calor, que ainda a consumia pela experiênciaavassaladora, foi substituído por uma raiva incontida. Armond zombara desuas intenções tão verdadeiras. Pior, havia arruinado seus planos e agorahaveria de enfrentar sérias conseqüências, a começar pela ira de Franklin.

— De todos os rumores que ouvi a seu respeito, lorde Wulf —murmurou baixinho. — Nenhum chega aos pés da impressão que tive.Você é um covarde.

* * *

A força do tapa quase a fez cair. Rosalind levou a mão ao rosto, jácoberto por lágrimas de dor e humilhação.

— Como ousou se comportar assim?—Franklin Chapman vociferou.— Você deveria estar se guardando para um marido rico e com título denobreza e não criando escândalos com um tipo como Armond Wulf.

— Mas foi apenas uma dança — ela respondeu em um fio de voz.

Imaginou o que Franklin faria se soubesse o que de fato haviaacontecido. Se tudo tivesse saído conforme planejara, contaria ao irmão

como se deixara seduzir por Armond e ele a mandaria de volta para ointerior. Mas, infelizmente, não havia acontecido nada, portanto aquelareação violenta e exagerada era infundada.

Rosalind era ainda uma criança quando Franklin foi expulso daprópria casa pelo pai. O irmão fora uma criança odiosa e o tempo só o fezpiorar.

As intenções dele eram claras, o fardo de restaurar a fortuna dafamília estava sobre as costas dela. Ele não soubera administrar o dinheiroe havia esbanjado negligentemente toda a herança.

Casá-la com um homem rico, disposto a pagar um dote alto era asolução mais fácil... pelo menos na ótica de Franklin Chapman.

Ela não rejeitava a idéia de se casar, mas era totalmente contra serforçada para tal. Afinal não era sua culpa se o irmão estava enfiado emdívidas de jogo.

— Uma dança só? — ele repetiu, vermelho de raiva. — Você deixouo salão com ele! Todo mundo viu! Eu tinha avisado para ficar longedaquela família. Qualquer proximidade com aquele homem amaldiçoadopode colocar sua reputação em risco. Sem contar que ele seria capaz dedevorar sua alma. Armond Wulf é perigoso!

Rosalind, entretanto, tinha fortes razões para acreditar que nãohavia homem mais perigoso do que Franklin Chapman. As memórias que

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trazia da infância não eram as melhores.

Antes de voltar para Londres, tivera a impressão de que o irmãohavia mudado, mas estava enganada.

A desculpa para trazê-la de volta fora a doença da duquesa de

Montrose, que estaria à beira da morte e gostaria de vê-la pela última vez.O pai havia se casado com a duquesa de Montrose após a morte de suamãe. Enquanto viveram todos sob o mesmo teto, a duquesa tinha sido suasegunda mãe.

Em consideração a ela, Rosalind saiu do interior de onde vivia e veiopara Londres com Franklin. A duquesa, segundo a versão dele, estava emum quarto na parte superior da casa, morrendo aos poucos, muito fraca,mas vê-la talvez trouxesse algum alento.

No entanto, não demorou muito para que ela descobrisse asverdadeiras intenções do irmão.

— Seu comportamento tolo virou fofoca. Agora não me resta outraalternativa senão encerrar sua temporada social mais cedo. Vou aceitar aoferta que recebi do visconde Penmore. — Rosalind o encarou espantada.— Você se lembra dele? Nós o encontramos na cidade na semana passadaquando visitamos a modista de chapéus.

Era fácil lembrar-se do visconde, pois não obteve permissão deconhecer muitas pessoas antes de ser devidamente apresentada a todosno baile de Greenley. Lorde Penmore era um homem de baixa estatura,gordo e careca. Tão cedo não se esqueceria da maneira asquerosa comoele havia beijado sua mão.

— Ele tem idade para ser meu pai — ela contra-argumentou. — Jáque sou forçada a me casar, imaginei que ao menos teria o direito deescolher o noivo.

Franklin tomou-lhe o queixo com sua mão fria, apertando-o  comforça.

— E uma caipira do interior como você saberia escolher um marido?Eu sei o que é melhor para você. Serei seu tutor até que passe a tarefapara um homem que julgo capaz. — Os dedos frios apertaram ainda maisa pele delicada. — A não ser que você já tenha arruinado suas chances por

conta do deslize desta noite.— Já disse que não houve nada de mais — mentiu. — Eu me senti

mal na pista de dança e lorde Wulf me escoltou até a carruagem antesque eu caísse ali mesmo.

O irmão era muito mais violento do que ela julgara. Já era a segundavez, em poucas horas, que era humilhada por um tapa no rosto. Oprimeiro havia sido naquela tarde quando se recusara a usar o vestidodecotado que ele escolhera.

Se de fato a relação entre ela e Armond Wulf houvesse se

consumado, era certo que Franklin a mataria.Depois de um breve silêncio, ele afastou-se, mas o clima tenso

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continuou pairando sobre os dois.

— É bom que não esteja mentindo — ele vociferou. — Suavirgindade é um bem importante para garantir um bom marido. Fiquelonge de Armond Wulf. Ele poderia tê-la violentado. Poucas mulheresconseguem sair ilesas depois de encontrar-se com ele... isto é, quandosobrevivem para contar.

— O que quer dizer com isso?

— Eu deveria tê-la prevenindo sobre Wulf. — Franklin respondeucom um tom sibilar. — Ele matou uma mulher há alguns meses no próprioestábulo, mas não foi chamado para prestar contas do crime.

— Um assassino... — ela sussurrou, sentindo um calafrio na espinha.— Mas comigo ele foi um perfeito cavalheiro ao evitar que eu desmaiasseem pleno salão.

 Talvez tivesse exagerado ao chamá-lo de "perfeito cavalheiro", masenquanto estiveram sozinhos não sentiu que sua vida estivesse emperigo... Sua virtude sim, mas não a vida.

— Vocês foram vistos ao saírem juntos — Franklin lembrou. — Elenão seria tolo o suficiente para imaginar que poderia livrar-se de um crimepela segunda vez com tantas testemunhas.

Rosalind continuou ouvindo incrédula.

—Ah, temos um encontro com Penmore — avisou o irmão, mudandode assunto. — Ele estará no chá de lady Pratt depois de amanhã. Sejasimpática.

— Serei civilizada se ele se comportar melhor do que da última vezem que nos vimos.

Mais uma vez, Franklin a segurou com força, dessa vez pelosombros.

— Você usará todo o seu charme, independentemente da maneiracomo ele a tratar. Penmore e eu temos acordos de negócios. Eu devo a eleuma razoável quantia. Isso entre outras coisas... — acrescentou como seestivesse falando sozinho. — A atração que ele sente por você caiu comouma luva. Sorte a minha ele gostar de coisas bonitas.

Franklin jamais a vira como uma pessoa com sonhos, esperanças ousentimentos.

Desde criança ela se sentia amedrontada perto dele. Na verdade,suspeitava que Franklin houvesse sido a razão da discórdia entre seu pai ea madrasta.

— Vou ver se sua mãe está bem — disse ela, dirigindo-se até aescada. — Suponho que Mary queira descansar de sua vigília constante.

— Minha mãe sequer sabe quem é você — Franklin atacou. — Emvez disso acho melhor escolhermos a roupa que você vai usar no chá da

lady Pratt. Quero que esteja deslumbrante.Ninguém melhor do que Rosalind para entender por que Franklin

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valorizava mais a beleza exterior do que os sentimentos de uma mulher.Seu irmão se passava por um homem muito charmoso na presença deestranhos. No entanto, apenas ela e o pai o conheciam verdadeiramente.Não fora à toa que o pai o expulsara de casa. Na época a madrasta optarapor acobertar o filho, deixando a casa também.

Por aquelas e outras razões que Rosalind não o queria em seuquarto, pois ali era o único lugar onde se sentia protegida dos abusos queele cometia.

— Acho que posso perfeitamente escolher uma roupa sozinha — elaargumentou. — Não precisa se incomodar com um assunto tão superficial.

—Não é incomodo algum — Franklin respondeu de forma calculada.— Os credores logo baterão à porta para receber a soma considerável quepaguei por renovar seu guarda-roupa. Você precisa expor seus dotes navitrine. E quem melhor para lhe dizer que vestidos caem melhor para esse

propósito do que um homem?Quando ele tomou a frente na escada, esperando que ela o seguisse

como um cachorrinho ensinado, Rosalind bateu o pé.

— Eu não o quero em meu quarto, Franklin. Foi meu pai quem pagoupor esta casa, mesmo que por direito pertença à sua mãe. Ele jamaisdeixaria meu futuro em suas mãos se soubesse que ela adoeceria logo emseguida da sua morte.

Franklin sequer virou-se para responder.

— Verdade, uma pena para a duquesa. Mas os advogados

concordam em dizer que ela não tem condições de cuidar do seu futuro,muito menos da herança. — Quando virou-se para encará-la, seu rostoestava vermelho de raiva. — Eu tenho controle absoluto sobre você,Rosalind. Seu papaizinho não está mais vivo para me expulsar de casa. Evocê vai fazer exatamente o que eu disser, pois duvido que goste do quepoderá acontecer, caso não obedeça... quer dizer, talvez até goste. Estáinteressada em descobrir?

Por mais corajosa que Rosalind fosse, precaução era a melhoratitude naquele momento. Franklin estava de fato com sua tutela, nãohavia como contestar. Agora, tinha controle sobre seu dinheiro, por isso a

fortuna havia se perdido tão descuidadamente.Franklin voltou a subir as escadas.

— Você não vem comigo, irmãzinha?

Rosalind olhou para a porta e ficou tentada a sair correndo e voltarpara o interior, mas não poderia arcar com as despesas da viagem. Aomenos por enquanto estava à mercê de Franklin.

— Rosalind! — ele gritou ainda mais agressivo. — Obedeça e venhalogo.

Sentindo um peso nos ombros e ainda sentindo a pele do rosto

queimar pelo tapa, não lhe restou outra alternativa senão segui-lo.

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* * *

—Ele é tudo o que você disse mesmo. O animal é magnífico — lordePratt elogiou.

Armond tirou o pó dos ombros com  certa soberba. Não conseguiaacreditar que sua reputação como íntegro criador de cavalos não fizessecom que as pessoas mudassem de opinião a seu respeito.

Recentemente havia retornado de sua propriedade no interior,Wulfglen, onde cuidadosamente escolhera os cavalos que traria de volta aLondres para vender.

— Vamos entrar — o conde convidou. — Podemos tomar um brandy,e eu faço o pagamento pelo animal.

— Está quase na hora do chá — Armond lembrou. — Não ligo muito

para bebidas. Vamos tratar apenas do pagamento e eu tomo meu rumo.O conde meneou a cabeça, provavelmente por se ver livre das

formalidades de um bom anfitrião. Armond acompanhou-o pelo caminhode pedra que conduzia à porta da frente da casa. Assim que entraram nohall, ouviram-se vozes vindas da sala de estar.

— Minha esposa está recebendo alguns convidados para o chá —Pratt anunciou. — Ela está apresentando a filha caçula do duque deMontrose para a sociedade. Oh, desculpe-me. Esqueci que vocês já seconheceram no baile de Greenley.

A julgar pelo brilho malicioso dos olhos do duque, Armond percebeuque as maledicências sobre o baile já haviam chegado aos seus ouvidos.

— Eu a conheço. Aliás, uma mulher adorável. — Surpreendeu-secom o próprio comentário. — Foi uma pena que o prato servido durante o jantar não lhe fez muito bem e tive que acompanhá-la até a carruagem,poupando-a do constrangimento no meio da pista de dança.

— Ah. — Suspirou o conde. — Bem, foi isso mesmo que eu soube.Mas acho que ela foi imprudente ao dançar com um homem a quem nãotinha sido apresentada de forma adequada.

— Imprudente por dançar comigo, o senhor quer dizer, não é? —Armond desafiou. — A srta. Rosalind é minha vizinha. Como veio dointerior, provavelmente não sabia que eu não era um parceiro de dançaapropriado.

— Ora, não é bem assim. — Pratt percebeu sua insinuação maldosae corou. — Mas, por favor, passemos ao meu escritório.

— William.

O duque parou abruptamente, forçando Armond a fazer o mesmo.

—Você me prometeu participar do chá e disse que poderia resolver

o assunto dos cavalos depois.Lady Pratt veio encontrá-los no hall mal iluminado e quando viu

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Armond levou uma das mãos ao peito instintivamente.

— Oh, eu não sabia que você ainda estava tratando de negócioscom lorde Wulf. Por favor, perdoem-me pela interrupção.

Armond sorriu para a tão atormentada senhora, sabendo que assim

a irritaria ainda mais.— Sou eu quem deve desculpas por desviar seu marido das

obrigações sociais.

Ela respondeu que aceitava as desculpas com um sinal de cabeça,mantendo ainda a mão no peito, demonstrando que não havia serecuperado do susto de vê-lo ali.

— Eu ofereci um brandy para lorde Wulf, mas ele recusou. Seria debom-tom, querida, oferecer uma xícara de chá, enquanto eu me ocupo empagar pela compra do cavalo.

— Ora, mas é claro que lorde Wulf é muito bem-vindo para tomarchá conosco — resmungou lady Pratt, olhando assustada para Armond.

— Será uma honra acompanhá-la.

Ele mesmo se espantou com a resposta, e lady Pratt revirou os olhosmostrando que também se surpreendera. No instante seguinte, ele tevevontade de mudar de idéia, mas o orgulho o impediu. Se bem que averdadeira razão que o fazia agir de modo contrário ao comportamentonormal era a vontade de rever Rosalind e nada o dissuadiria de seupropósito.

Armond seguiu lady Pratt até a sala. A conversa estava animada,mas no momento em que ele entrou, transformou-se em sussurros ditosao pé do ouvido. Além de tudo, não estava vestido de acordo para oevento, mas mesmo que estivesse, o choque dos presentes seria omesmo.

—Lorde Wulf— lady Pratt anunciou. — Ele irá nos fazer companhiapara o chá enquanto meu marido termina uma negociação com cavalos.

Ele se acomodou em uma cadeira que estava um pouco afastadados outros convidados e aceitou uma xícara de chá.

Uma vez que os sussurros sobre sua presença diminuíram, correu osolhos pelo salão e imediatamente reconheceu Rosalind, apesar de elaestar de costas.

A postura ereta realçava ainda mais o corpo curvilíneo. Os cabelosencaracolados caíam pelas costas como se fossem Uma cascata, cujanascente era um delicado chapéu azul com um pequeno véu.

A pele de Rosalind parecia mais pálida em contraste com o véuescuro. As maçãs salientes do rosto e os grandes olhos expressivostambém estavam parcialmente escondidos pelo tecido fino. Mas a boca...Ah, aquela boca de lábios tão vermelhos... Aquela sim era a responsável

por prender o olhar de Armond e fazê-lo lembrar do prazer de provardaqueles doces lábios.

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Como se pudesse sentir o olhar perturbador, Rosalínd virou-se emsua direção. Os olhares se cruzaram e se fixaram por um breve momento,mas o véu camuflou qualquer emoção que aqueles olhos adoráveispudessem demonstrar.

Ela voltou-se novamente, fingindo não ter notado a presençaperturbadora. Mesmo com pouco tempo de cidade, já havia aprendidocomo jogar com um homem perigoso.

Quando saiu da roda de amigas, afastando-se para admirar umquadro, Armond ficou com o olhar preso na figura tão feminina.

O vestido mostrava uma cintura fina e caía em camadas por umquadril proporcional ao corpo miúdo. Não era uma mulher alta, porémtudo em seu corpo guardava uma perfeita simetria sensual. Apesar daroupa modesta, a curva dos seios, marcada sobre o corpete, era capaz delevar um homem à loucura só ao imaginá-la nua. Armond já conhecia a

sensação devastadora de tocar aquela pele macia e isso só intensificava aidéia de haver provado apenas uma pequena gota do orvalho existenteem uma imensa vegetação viçosa.

Colocando a xícara sobre a mesa de centro, ele ignorou os olharesde reprovação e aproximou-se.

— Vejo que já se recuperou do baile — disse quase sussurrando-lheao ouvido. — E presumo que não aconteceu o pior por conta da suaousada escapadela, caso contrário não estaria aqui hoje.

— Por favor, não fale comigo. — Rosalind virou-se rapidamenteapenas para responder e voltou a atenção parado quadro.

Contrariando seu comportamento-padrão, que seria obedecer a umaordem insolente como aquela, Armond estreitou ainda mais a distânciaentre eles. E, parado a seu lado, fingiu estudar a pintura atentamente.

— Há duas noites me pediu para desonrá-la. Hoje me pede para agircomo se não a conhecesse. Como entender as mulheres...

— Errei ao me aproximar de você naquela noite — ela murmurou. —Se tivesse um mínimo de consideração, faria o que estou pedindo e medeixaria sozinha.

— Lamento, mas não tenho tal consideração — ele respondeu,passando a mão pelo queixo. — Pensei que já soubesse disso.

Rosalind deu alguns passos para o lado, parando diante de outroquadro.

— Discordo. Você é muito bem-educado, apesar de permitir que asociedade inteira pense o contrário.

— Eu não ligo a mínima para o que a sociedade pensa — sentenciou.— Pensa que não sei qual era a sua intenção no baile? Você se aproximoude mim num ato de coragem, fazendo-se de isca para ganhar favores desuas amigas. Sorte a sua que não levei a brincadeira até as últimas

conseqüências, como era seu desejo.— Sorte? — Percebendo que tinha falado alto demais, ela deu um

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passo atrás. — Sorte não tem nada a ver com isso. Apesar de suareputação sombria, eu sabia que não corria sérios perigos. Nenhumhomem é tolo o suficiente para achar que pode seduzir uma damainocente e não arcar com a repercussão de seus atos. Nem mesmo você.

— Isso quer dizer que sou um covarde.

Rosalind virou-se bruscamente para encará-lo.

— O que foi que disse?

Armond estreitou a distância entre eles.

— Você acha que sou um covarde — repetiu. — Acredita que não meaproveitei da situação por temer alguma represália? Não está totalmentesem razão, mas o que pretendo em relação à sociedade não tem nada aver com que você imagina. Gostaria de ter uma chance para provar oquanto está errada.

— Não haverá um segundo encontro. — Ela sentiu-se corar desde abase do pescoço. — Cometi um erro e não tenho intenções de repeti-lo.

Quando Rosalind se afastou, ele não a seguiu. Ainda restava umpouco de bom senso, que se esvaía a cada vez que a encontrava. Porém,não deixou de observá-la com o canto dos olhos e viu quando elaperguntou algo para a esposa de Pratt e deixou a sala. Provavelmente foraao toalete.

Armond bem sabia que deveria sair também, tinha negócios aconcluir e quanto mais cedo o fizesse, melhor. No entanto, tornaram a secruzar no hall da casa mais uma vez. Cada um tentou dar um passo para o

lado oposto a fim de evitar o encontro, mas terminaram por fazê-lo namesma direção.

— Quer dançar novamente? — ele brincou.

— Por favor, deixe-me passar — Rosalind respondeu sem esboçarum sorriso sequer.

Diante da resposta fria o senso de humor de Armond desapareceutambém.

— Não está sendo tão simpática quanto na primeira vez em que nosvimos. É um hábito seu sair fazendo propostas a homens que malconhece? Caso seja, vejo-me na obrigação de avisá-la que talvez não sejauma atitude recomendável.

— Já disse que não haverá uma próxima vez, lorde Wulf —respondeu ela friamente. — Não foi uma atitude apropriada da minhaparte provocar um encontro, talvez eu tenha agido sob o efeito dochampanhe. Já me avisaram para evitar bebidas alcoólicas, bem comoevitar sua companhia. Compreendi que nada disso faz bem à saúde deuma dama.

A luz do hall estava fraca, mas Armond viu algo que maculava a

imagem do rosto lindo sobre o véu. Quando tentou aproximar a mão, elaafastou-se, o que não o impediu de tentar novamente. E o que viu o fezestremecer.

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— O que aconteceu com seu rosto?

Mais uma vez, ela afastou a mão dele e abaixou o véu.

— Isso não lhe diz respeito, lorde Wulf. De novo peço que me deixepassar. — Ao tentar passar, ele bloqueou o caminho.

— Fui eu quem fez isso com você?— Não. Sou muito desastrada e tropecei ao chegar em casa depois

do baile e bati com o rosto numa cadeira. Mas não foi nada.

Armond levantou o véu novamente e tocou na pele ferida.

— Jamais vi uma mulher que se movimentasse tão graciosamentecomo você. Vê-la passar é como observar uma princesa desfilando dianteda corte.

— É seu costume ofender mulheres que mal conhece, lorde Wulf,para depois vir com poesias no instante seguinte?

— Não, nunca. E pode me chamar de Armond. Creio que podemosdispensar as formalidades depois do que compartilhamos.

— Já pedi mais de uma vez para esquecer aquele incidente. —Rosalind levantou os olhos para encará-lo.

Ele reconheceu aquele olhar, porém não sabia ao certo se poderiatraduzi-lo por raiva... ou desejo.

— Pode ter certeza que tentei — admitiu. — Tentei centenas devezes.

— Pois então deveria tentar mais algumas. Será que é difícilacreditar que eu não sabia do perigo de...

— Entendo — Armond interrompeu-a. — Mas você não tinha dúvidassobre minha pessoa quando se aproximou durante o baile.

Rosalind fitou-o friamente através do véu.

— Você é um assassino, lorde Wulf?

Armond estava acostumado que falassem a seu respeito pelascostas. Ela era a primeira a ter coragem o suficiente para confrontá-lofrente a frente.

— O que você acha? — perguntou e aguardou a resposta ansioso.

— Se eu o achasse um assassino, provavelmente não estaríamosconversando agora. Só quis ter certeza...

Ele sorriu perante a resposta e ela o surpreendeu acrescentando:

— Você deveria sorrir com mais freqüência, assim não parece tãoassustador.

Armond assumiu um ar sombrio. Rosalind poderia não acreditar queele era um assassino. Porém, estava longe de saber de toda a verdade,

sobre a maldição que pairava sobre sua cabeça. Ambos eram proibidosum para o outro.

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— Prometa-me que daqui para a frente, tomará mais cuidado antesde subir na carruagem de desconhecidos.

Rosalind de repente sentiu o rosto em brasa sobre o véu quandopercebeu que estava flertando, apesar de ter pouca prática no assunto.

— É bem verdade que lhe devo minha gratidão. — Tentou recobrar acompostura e terminar logo a conversa. — Que bom que ao menos um denós conservou o bom senso. Suponho ser afortunada por você ser um...

— Um covarde?

Um arrepio a fez tremer. Como ele poderia saber o que disseranaquela noite ao voltar para casa sozinha?

— Eu ia dizer um homem honrado. Demorei para dizer porquetambém não é verdade.

— Foi você quem pediu — ele a lembrou. — Eu apenas obedeci.

Na verdade Armond não tinha cumprido com o que prometera, masali não era a hora nem o lugar mais adequado para continuar a conversa.Era melhor voltar para a sala e afastar-se daquela presença tãoperturbadora.

— Quando você me olha dessa forma, chego a me arrepender donosso primeiro encontro.

Ela baixou o olhar rapidamente.

— Envergonho-me do meu comportamento também. Precisamosesquecer o que aconteceu.

— Eu me arrependi por não ter aproveitado mais da sua presença,por não ter me inebriado com o seu perfume doce e por ter interrompido aviagem por sua pele macia.

Rosalind voltou a encará-lo. Armond estava com uma idéia errada aseu respeito. Mas também, que outro homem não estaria? Não poderiaculpá-lo, pois o ato leviano de aproximar-se de um estranho com umaproposta daquelas era mesmo inusitado, por mais que estivesse repletade razões para abordá-lo.

— Você não é um gentleman, lorde Wulf.

— Mas você já sabia disso. — Ele tomou-lhe a mão, virando-a ebeijando a parte sensível do pulso.

Ao sentir os lábios quentes roçarem sua pele, Rosalind puxou a mãorapidamente como se houvesse sido queimada.

— Algum problema, Rosalind?

O som frio da voz a fez estremecer. O que mais temia acabara deacontecer. Franklin estava parado, encarando-a numa calma aparente,mas ela percebeu que a veia saltada na testa denunciava o real estado deespírito do irmão.

— Está tudo bem, Franklin. Eu já estava voltando para a sala.

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Armond virou-se e olhou para o irmão de Rosalind e o reconheceudas mesas de jogo, apesar de nunca terem conversado.

— Peço desculpas por afastar sua irmã da festa. Nós nosencontramos por acaso aqui no hall. Como dançamos juntos no baile deGreenley e ela não passou bem, quis saber se tinha melhorado.

— A saúde dela está ótima — Franklin respondeu friamente. — Pelomenos por enquanto.

Sendo dotado de uma intuição aguçada, Armond percebeu aestranha ligação entre Rosalind e o irmão.

— Volte para a sala, Rosalind — Franklin ordenou. — Vou encontrá-ladaqui a pouco.

Ela olhou de um para outro e tentou evitar um confronto entre osdois:

— Pensei que você fosse me acompanhar — sugeriu ao irmão.— Faça o que pedi — Franklin respondeu com um tom ríspido.

Em silêncio, Armond observou-a passar por eles e atravessar o hall,admirando o movimento sensual dos quadris femininos. Percebendo aintenção, Franklin comentou:

— Ela é encantadora, não é?

— Muito.

—Pois mantenha distância.—Estreitou os olhos em sinal de ameaça.

Apesar de não culpá-lo por estar protegendo a irmã, Armondpercebeu algo em Franklin que o intrigava, fazendo com que acreditasseque havia outros interesses escusos na relação entre os dois.

— Lady Rosalind não precisa ter medo de mim... E espero que nãotenha medo de você também.

— Não sei o que está querendo dizer. — Franklin respondeu com orosto em brasa. — Mas minha irmã é assunto meu.

— Meia-irmã, não é? — Armond continuou a provocar. Franklinmudou de estratégia e sorriu, apesar de sua expressão continuar sombria.

— É verdade. Apesar de não termos laços de sangue, posso garantirque tenho Rosalind na mais alta estima. Espero que ela arrume um noivodigno nesta temporada—anunciou do alto de uma falsa arrogância.

— Com certeza tem toda a razão — Armond respondeu comindiferença, porém mantendo também o sorriso cínico nos lábios. — Eunão terei essa honra.

Em seguida, virou-se para ir encontrar com o conde em seu estúdio.Sentiu o olhar de Franklin queimando suas costas, mas isso não ointimidou a virar-se para também ameaçá-lo.

— Ah, daqui para a frente mantenha suas mãos longe de Rosalind,caso contrário terá que acertar as contas comigo. Pode ter certeza de que

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isso não será comparável nem a uma vingança de seu pior inimigo.

Não houve resposta, mas Armond não esperava outra reação. Pormais que aceitasse sua condição de viver nas sombras e à margem dasociedade, tampouco poderia aceitar um homem abusando de umamulher. Talvez Rosalind tivesse se machucado sozinha, mas havia fortesindícios de que não era o caso.

Por enquanto, se manteria apenas como espectador.

Franklin, porém, se arrependeria amargamente se porventuraencostasse a mão em Rosalind mais uma vez.

Se alguém lhe dissesse que um dia estaria preocupado em protegeruma mulher, ele próprio teria feito galhofa da situação. Mas agora, sentiaque algo o impulsionava para perto daquela mulher deslumbrante e tãofrágil.

A bem da verdade seria mais prudente preocupar-se com quem aprotegeria contra ele mesmo, uma vez que perdera totalmente o controledurante o baile. Ele não se lembrava de ter ficado tão fascinado por umamulher quanto ficara por Rosalind. Só em lembrar-se do encontro quetiveram na carruagem, sentia o corpo pulsar de desejo.

E a certeza de que a encontraria novamente era tão forte quanto amaldição que pairava sobre seu futuro. Que os Céus o ajudassem, porqueseria difícil resistir.

* * *

Quando Penmore aproximou-se, Rosalind imaginou por que Armondnão poderia ser considerado um bom partido em vez daquele homemasqueroso que Franklin a estava forçando a aceitar.

— Lady Rosalind — Penmore cumprimentou-a, tomando-lhe a mão erepetindo o beijo melado. — Ainda bem que consegui encontrá-la por aquiainda. É uma lástima que me atrasei tanto.

Rosalind pensou que lástima mesmo era sua presença odiosa, masmesmo assim forçou um sorriso.

— Que bom encontrá-lo de novo — respondeu e puxou a mão paraem seguida limpá-la disfarçadamente no vestido.

— Boa tarde, visconde — Franklin cumprimentou-o aproximando-setambém. — Infelizmente você se atrasou e perdeu a chance de enxotarWulf daqui.

— E que animal seria esse? — Penmore levantou uma dassobrancelhas com um ar de desdém.

— Lorde Armond Wulf— Franklin respondeu. — Parece que ele está

interessado na minha doce irmãzinha.Rosalind ficou chocada ao ver-se motivo de chacota de dois homens

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tão repugnantes.

— O amaldiçoado nunca mostrou interesse em alguém que nãofosse ele mesmo. Além do mais, se não me engano, ele só gosta deprostitutas — Penmore acrescentou e piscou para Rosalind, que não achougraça nenhuma no comentário.

— Lorde Penmore está se referindo à mulher encontrada morta napropriedade dos Wulf — Franklin explicou. — Ela era uma dessas moças dereputação duvidosa.

Rosalind continuou sem achar a menor graça.

— Não acho que falar sobre lorde Wulf ou esse tipo de mulher, sejaum assunto adequado para se discutir entre damas e cavalheiros.

Os dois homens olharam-na em sinal de reprovação, como se elanão tivesse o direito de expressar sua opinião. Por fim, Penmore deu de

ombros.— Desculpe-nos pela falta de educação. Claro que podemos

encontrar algo mais agradável para conversar do que os irmãos Wulf.Você sabe da maldição que os assombra?

— Maldição? — Apesar de o assunto não ter mudado, Rosalind ficoucuriosa.

— Insanidade — Penmore continuou. — O pai se matou. A mãefaleceu pouco depois, também totalmente louca. Os irmãos, os quatro,apesar de eu não saber o que aconteceu com o mais novo, foramenvenenados pelo mesmo sangue. Como a doença veio dos dois lados,

eles não têm escapatória. Nenhuma mulher decente se comprometeriacom alguém assim. Acredito que por esta razão, eles tenham jurado nuncase casarem. O que certamente foi uma decisão sábia.

— Talvez devêssemos mesmo mudar o rumo da conversa — Franklininterrompeu. — Você irá ao clube depois que sairmos desse encontroenfadonho?

— É uma excelente idéia. Por que não vem comigo, Franklin? Quemsabe não tenha sorte o suficiente para ganhar e me pagar parte da fortunaque já me deve?

Rosalind percebeu que o irmão estava sendo cobradoacintosamente, mas não estava interessada na conversa. Seuspensamentos estavam voltados para Armond Wulf.

Que sina terrível ser amaldiçoado pela doença dos pais. Teria eleherdado a mesma loucura? Até então ele não mostrava nenhum sinal, noentanto se a família padecera daquele mal, não restava dúvidas que emalgum momento a doença se manifestaria.

Mas acreditava que a decisão de não se casar teria sido impostapela sociedade e não por vontade dos irmãos.

— Você irá nos acompanhar amanhã?A pergunta de Penmore tirou-a dos devaneios, trazendo-a de volta à

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conversa.

— Desculpe, não estava prestando atenção.

— Considerando os últimos fatos, não acho que seja uma boa idéia— Franklin respondeu por ela.

— Ora vamos, meu amigo, ela estará conosco. Quero pegar Wulf desurpresa.

Franklin sorriu ante a possibilidade de enfrentar Wulf novamente,mas Rosalind ainda não estava certa sobre o real motivo do confronto.

— Sinto muito, mas não entendi aonde quer que eu o acompanhe,visconde.

— Estou pensando em comprar um par de cavalos para minhacarruagem. Wulf pode ser um assassino prestes a enlouquecer como ospais, mas é um excelente criador de cavalos. Pensei que talvez você

pudesse nos acompanhar nessa aventura.— Acredito que negociar cavalos seja um assunto entre homens —

comentou ela, embora não acreditasse nas próprias palavras. Desdecriança gostava muito de cavalos e saberia distinguir perfeitamente asqualidades de um belo exemplar.

— Mas eu quero que você vá — Penmore sentenciou e assumindoum ar mais sério, dirigiu-se para Franklin. — Eu a quero conosco.

Franklin encarou o outro homem por alguns instantes, depoisencolheu os ombros.

— Não vejo mal algum que ela nos acompanhe. Como você disse,nós a protegeremos.

Rosalind entendeu que não havia nada a dizer uma vez que os doisvoltaram a discutir sobre o jogo que teriam assim que saíssem dali. Entãoficou acertado que se veriam novamente no dia seguinte. Só em imaginar-se diante de Armond outra vez, ela sentiu o corpo inteiro reagir,lembrando-se do prazer que haviam compartilhado na meia-luz dacarruagem.

— Vou pedir ao cocheiro que a leve em casa — Franklin anunciou. —Nos veremos mais tarde, aí então falaremos sobre seu pequeno incidentede hoje no hall de entrada.

Rosalind fora uma tola ao pensar que o irmão teria dado aquele casopor encerrado. Só em imaginar a possibilidade de enfrentá-lo sentiu umapontada de dor no peito. A tarde se arrastaria enquanto estivesseesperando pela volta de Franklin.

Costumava andar para se acalmar. E foi isso que fez enquanto Lydia,sua criada de quarto, trocava os lençóis de linho da cama. Sua opinião arespeito de Penmore não mudara, continuava achando-o desagradável erepugnante. No entanto, já não pensava da mesma forma quanto a

Armond Wulf. Mas não queria pensar nele. Muito embora desejasse afastá-lo de seus pensamentos, ao sair na varanda do quarto e olhar para apropriedade vizinha, foi ele que veio a sua mente.

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— O que devo fazer?

— Deve fazer o que seu irmão diz e encontrar um marido — Lydiarespondeu, embora soubesse que Rosalind estava apenas divagando. — Jápercebi o jeito que ele olha para seu corpo quando está distraída. Nãodemora muito estará recebendo visitas noturnas em sua cama.

— Lydia!! Não diga uma coisa dessas.

Rosalind sabia que Franklin tinha costumes sexuais bizarros, masrecusava-se a acreditar que estivesse incluída neles. No entanto, Lydia eraa única amiga que tinha e tornara-se sua confidente.

— Acha que não conheço o apetite secreto do patrão? — Lydiacontinuou apesar da reprimenda. — Ele consegue tudo o que quer. Naúltima vez em que ordenou que eu deitasse em sua cama, pensei quefosse morrer com a maneira rude com que ele me dominou. Sangreidurante uma semana.

Rosalind ficou boquiaberta. Já ouvira muitos comentários de criados,mas nada semelhante ao que acabara de ouvir.

— Você está me dizendo que Franklin... que ele forçou-a a fazeralguma coisa?

— Acho que nenhuma mulher diria não a um homem tão bonito — acriada comentou, enquanto afofava os travesseiros. — Mas nós duassabemos que ele não é tão bonito por dentro, não é?

— Por que não contou isso para alguém? Por que continua aqui, jáque é obrigada a fazer coisas contra sua vontade?

— Não tenho família — Lydia argumentou dando de ombros. — Epreciso do emprego. O patrão disse que se eu não obedecesse, não teriaboas referências para os próximos empregos.

— Esse comportamento é inaceitável. Franklin não tem poder algumsobre seus desejos. Creio que ele a vê como um cordeirinho que Deuscolocou em um pasto verde sob os comandos dele e assim pode dominarinclusive suas vontades.

— Agora já é tarde. — Lydia colocou a mão sobre o ombro deRosalind. — Fico com medo por vocês viverem sobre o mesmo teto. Faça o

que ele pede para continuar em segurança. Nenhuma mulher merecesofrer tamanha humilhação.

— Sinto muito — Rosalind disse docemente. — Lamento por suavergonha e sofrimento. Pode estar certa de que vou falar com Franklin arespeito.

— Não, milady — Lydia implorou. — Se ele souber que andocontando histórias, vai me machucar ainda mais. Não fale nada, por favor.

Quando Rosalind ia responder, uma batida seca na portainterrompeu a conversa. Foi só mencionar o monstro, que ele apareceu

em pessoa no quarto. Lydia abaixou a cabeça e saiu rápido, deixandoRosalind frente a frente com o irmão.

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— Precisamos conversar, irmãzinha.

Ainda cheia de ódio pelas confissões que acabara de ouvir, semsaber se tomava as dores da criada ou não, Rosalind optou por ficar emsilêncio, na defensiva.

— Foi por acaso que encontrei com lorde Wulf no hall da casa delady Pratt — justificou, antes de ser inquirida. — Eu não o procurariadepois de você ter me alertado.

Franklin limitou-se a levantar uma das sobrancelhas. No entanto,para ela, foi impossível calar-se diante do abuso contra Lydia.

— E... você não deve tocar em nenhuma criada novamente.

A reprimenda transformou a expressão complacente do rosto deFranklin.

— O que aquela vadia andou contando?

— Ela deixou escapar, sem querer, que você tem pedido certosfavores. Soube também que a forçou a fazer o que ela não queria.

Franklin tomou-a pelos ombros com as mãos pesadas, enterrando osdedos fortes na pele delicada. Ela tentou recuar, mas foi em vão.

— Os empregados desta casa não lhe dizem respeito — disse ele porentre os dentes. — Você prefere acreditar na palavra de uma vagabunda,e não na minha? Pois eu digo que foi ela que veio para a minha cama, naesperança de ganhar algumas moedas. Eu não tomei nada que ela nãoquisesse me dar. Como ousa me enfrentar em um assunto como este?

Quanto mais forte era a dor que sentia nos ombros, mais difícil setornava enfrentar o inimigo. E não tinha dúvida alguma de que o irmão erade fato seu inimigo.

— Eu entendo — disse baixinho. — Por favor, Franklin, você está memachucando.

Movido por uma força maior que a própria vontade, ele a soltou,virando-se de costas.

— Você me provoca. Parece esquecer que está numa condição bemdiferente de antes. Seu pai me expulsou de casa, lembra-se? Mas agora a

casa é minha.— Isso já faz muito tempo. — Rosalind relembrou, enquanto

massageava os ombros. — Eu era criança e não tive nada a ver com suaexpulsão. Chorei muito quando a duquesa me disse que estava indoembora também. E só voltei para cá porque você me disse que ela estavadoente e precisava me ver.

— Claro que eu sabia do seu amor por ela e a recíproca eraverdadeira. Foi assim que tive a certeza de que a atrairia para cá. Vocêcaiu na minha armadilha, irmãzinha — ele sentenciou em tom de chacota.— Agora voltemos para os assuntos mais urgentes. Amanhã de manhã

você vai acompanhar a mim e Penmore à casa do nosso vizinho paracomprarmos alguns cavalos. Espero não ter mais nenhum problema entre

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vocês dois. Eu odiaria ter que espancá-lo. Como contei a Penmore, Wulf ficou amedrontado depois que eu o avisei para manter-se afastado.

Rosalind segurou a língua, mas duvidava sinceramente que seuirmão pudesse assustar Armond Wulf.

— Se você deseja assim, então irei — ela assentiu. — Posso visitarsua mãe hoje à tarde? Tenho sido relapsa e quero reparar minha falta.

—Faça como quiser. — Franklin deu de ombros. — Acabei de pedirque uma bandeja com o chá fosse levada até o quarto. Dê a ela minhaslembranças.

A maneira como ele se referiu à mãe foi sarcástica, mas Rosalindfingiu não perceber, para que não houvesse mais comentários.

A duquesa estava cochilando em uma cadeira em frente à janela. Abandeja com os restos do chá estava em uma mesinha. Mary, a

governanta, estava ocupada arrumando o quarto melancólico.— Ela teve alguma melhora hoje?

— Há dois dias não consigo ver nenhum sinal. — Mary negou comum sinal de cabeça. — Ela está muito cansada e mal consigo levá-la até acadeira.

Rosalind ajoelhou-se em frente à madrasta e tomou as mãos finasnas suas.

— Boa tarde, duquesa. Lamento não ter vindo vê-la mais vezes. — Evirando-se para Mary, continuou: — Vou ficar aqui um pouco mais. Pode

seguir com seus afazeres.—Ah, abençoada seja, milady! —Mary admitiu. —Desde que o sr.

Chapman reduziu os empregados estou cheia de serviço por fazer.

Depois que Mary saiu, ela tentou pensar em alguma coisa alegrepara conversar com a madrasta, embora não esperasse resposta alguma.A duquesa mantinha um olhar apático, como se não pertencesse mais aeste mundo e sim houvesse escapado para algum outro lugar distante.

Naquele momento, Rosalind quis fugir da realidade também. Masinfelizmente seu destino já estava traçado. A dor nos ombros era alembrança vivida de que teria que continuar a viver em uma casa onde oabuso tornara-se um companheiro diário.

De repente, lágrimas começaram a cair e para seu espanto, aduquesa tocou em seus cabelos.

O toque de uma pessoa que estava quase vegetando era um sinalde esperança. Rosalind deitou a cabeça no colo da madrasta e chorouainda mais. A duquesa ainda mantinha o olhar perdido no horizonte, mascontinuava a afagá-la. As duas confortaram-se mutuamente por maisalguns segundos, até que a mão da madrasta escorregou e Rosalindpercebeu que ela havia adormecido.

A noite começava a cair quando a criada preparou um banho quentepara Rosalind. Entrar na banheira com água perfumada foi um bálsamo

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para suas dores. Porém nada poderia abrandar o tumulto de emoções quea dominava, para isso somente uma pessoa poderia ajudá-la.

Pensando nisso, a visão do rosto bonito de Armond surgiu em suamente. Talvez tivesse lembrado por ele se parecer com um anjo comaqueles cabelos dourados.

Recobrando a razão, balançou a cabeça para afastá-lo dospensamentos. Pelo pouco que o conhecera, sabia que ele não era um anjo.Por outro lado, não acreditava nos boatos que o tachavam de assassino elouco.

Depois do banho, deitou-se ainda intrigada por tantas dúvidas.Estava quase pegando no sono quando sentiu que havia alguém bemperto de sua cama.

Lembrou-se da conversa com Lydia e encolheu-se amedrontada.Franklin tinha a chave de todos os aposentos. Assustada, apertou os olhos,

procurando enxergar na penumbra do quarto, quando viu um vulto pertoda porta dupla da varanda.

— Franklin? — perguntou em um sussurro com o coração aos pulos.

Ele entrou no quarto e o luar desvendou uma figura bem diferentede seu irmão. E em vez de ficar mais apavorada, sentiu-se aliviada.

— O que está fazendo aqui? Como entrou?

Vestido com uma camisa branca, desabotoada o suficiente pararevelar parte do peito musculoso e calças pretas justas, Armondaproximou-se da cama.

—Você não deveria dormir com as portas do terraço abertas —anunciou ele com aquela voz gutural. — E a treliça na parede só facilita asubida de um homem determinado.

Rosalind puxou as cobertas até o queixo, procurando proteção.

— E determinado a fazer o quê?

— Eu precisava saber como conseguiu esse hematoma no rosto.Fiquei muito preocupado.

Rosalind respirou mais fundo para se acalmar e sentiu um perfume

cítrico tomar conta do ambiente. Armond não exalava a uma loçãocomum, mas sim uma fragrância inebriante, carregada de perigo,masculinidade ou talvez algo ainda mais selvagem.

— Eu já disse que sou desastrada — ela relembrou. — Não deveriaestar aqui.

— Por um instante você pensou que fosse seu irmão que estivesseaqui.

Ela desejou que a penumbra do quarto disfarçasse seuconstrangimento.

— E por que não? Ele é o homem da casa. Para mim faz todo osentido pensar que você fosse Franklin, que talvez tenha vindo checar se

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estou bem.

— E ele costuma fazer isso?

Rosalind suspirou quando ele sentou na beira de sua cama.

— Não. E mesmo que fizesse isso não é assunto seu. É melhor sairagora. Não é apropriado ficarmos aqui sozinhos. Se não sairimediatamente, chamo meu irmão. Franklin me disse que o assustou naúltima vez em que nos encontramos.

Armond soltou uma gargalhada alta e seus dentes brancos reluziramna escuridão.

— E você acreditou?

A resposta sarcástica confirmou o que ela já suspeitara.

— O que quer, afinal?

Ele não respondeu de imediato, limitando-se apenas a estudá-la.— Você sabe o que eu quero.

Armond tentara se convencer que só iria procurá-la para perguntarsobre a marca roxa no rosto. No entanto, mentira para si mesmo. Averdadeira intenção era poder tocá-la novamente, beijá-la e atiçar achama do desejo que brotara na noite do baile de Greenley. Rosalind ofizera ter sentimentos como qualquer outro homem. Como se fosse umrapaz tolo e apaixonado, ele estava ali diante daquela figura frágil eamedrontada contendo o impulso de tomá-la nos braços mais uma vez.

— Eu deixei uma impressão errada a meu respeito — ela disse,acuando-se ainda mais. — Apesar do meu comportamento no baile, nãosou o tipo de mulher que permite que um homem entre no quarto sem serconvidado. Que esse assunto fique bem claro entre nós de uma vez portodas.

Ele bem sabia que tipo de mulher tinha diante dos olhos.

Os beijos trocados o afetaram mais do que qualquer outro que jáhavia recebido de outras mulheres. Os lábios se tocaram, mas com apureza de uma amante inocente.

— Essa formalidade toda comigo não lhe cai bem, principalmente

quando sei que por baixo desse olhar frio, existe o calor do desejo. Nãoapague a faísca que brilha impune a cada vez que nos encontramos —pediu ele.

Com as mãos trêmulas, Rosalind fechou o botão do decote.

— Se pudesse voltar atrás e mudar o que aconteceu entre nós emGreenley, eu o faria. Só agora entendo como fui tola ao deixar o baile emsua companhia. Acredito que não estava raciocinando direito, pois nãoconsiderei as conseqüências da minha ousadia. Eu o usei por razõesminhas e já me desculpei por isso. O que mais quer de mim?

Armond desejou responder que queria muito mais do que desculpas,mas apesar daqueles lábios tão convidativos, Rosalind ainda possuía uma

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aura de inocência que o fez recobrar a razão. Porém, deparar-se comaquela figura tão feminina, com os cabelos negros caindo em desalinhosobre os ombros e as curvas do corpo insinuando-se através da camisola,não haveria como conter o desejo. Como que uma mulher podia despertara doce contradição entre a decência e a paixão selvagem? O que mais ele

poderia pedir? Nada mais do que seu instinto queria, mas certamentemuito mais do que deveria. Dominado ainda pelo desejo, indiferente aossentimentos opostos, aproximou-se:

— Quero ao menos um beijo.

— Só isso? — ela sussurrou quase sem ar e ergueu a mão paraimpedi-lo. — Um beijo e nada mais? Depois você vai embora?

—Se esse for o seu desejo... — dizia a verdade. No entanto, sabiaque seria difícil ater-se a um beijo apenas, mas ignorando a razão, deixou-se dominar pela ânsia de sentir aquela boca úmida contra a sua, e ele

tomou os lábios macios num beijo faminto.Rosalind também queria beijá-lo de novo. Além do mais, sentiu que

poderia confiar que seria apenas um beijo, pois na noite em que estiveram  juntos, ele poderia ter se aproveitado da ocasião e não o fez. Tudoindicava que estaria relativamente a salvo com ele... até acontecer outrobeijo. O desejo que começara com um arrepio, agora lançava labaredaspor todo o seu corpo.

— Rosalind... — ele sussurrou. — Como posso prometer que nãopedirei mais quando a vejo como a interpretação dos mais escondidosdesejos? Preciso do seu calor, do seu corpo, sentir muito mais do que

minha vida amaldiçoada pode me dar.E a simples menção da maldição, despertou-a, tirando-a

parcialmente daquele delicioso estado letárgico. Será que ele era louco defato? Se fosse então ela já estava totalmente contaminada.

Rosalind achou-se igualmente insana ao permitir que a beijassedentro de seu próprio quarto. Mesmo sabendo que deveria afastá-lo, optoupela insanidade total, puxando-o pelo colarinho, aproximando-onovamente.

— Quanta insensatez... — murmurou ela entre beijos. — Isso não

está certo, mal o conheço.De repente Armond se afastou, deixando visível um estranho brilho

no olhar. Algo como uma cor latente que por uma fração de segundos semisturou ao azul daqueles olhos indecifráveis, mas sumiu tão rápidoquanto apareceu.

— É verdade, você não me conhece...

Armond tirou delicadamente os braços que o envolviam e semnenhuma palavra mais, afastou-se e sumiu pela porta.

Rosalind ficou com a impressão de que havia sonhado acordada.

Mas não havia como duvidar, pois seus lábios ainda latejavam. O corpopermanecia dominado pela mistura pecaminosa de prazer e desejo.

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Por baixo da camisola fina, os seios estavam inchados e doloridos euma estranha umidade brotava entre suas pernas.

Contudo, o mais intrigante era o fogo implacável que a consumia pordentro, deixando-a faminta, ansiosa por receber mais do que aquelassimples carícias.

Como um homem teria o poder de transformá-la daquela forma? Epela segunda vez, ele praticamente fugira. Foi possível sentir que Armondtambém a desejava e estava totalmente entregue aos beijos, mas entãopor que deixá-la tão inesperadamente?

Bem, ele era um completo mistério.

* * *

Na manhã seguinte, Rosalind estava exausta, tinha demorado apegar no sono depois que Armond saíra de seu quarto.

Durante o café da manhã, implorou a Franklin para que a deixasseficar em casa, mas ele se recusou a ouvi-la. Algumas horas mais tarde, aliestava ela na propriedade dos Wulf, na companhia forçada de doishomens, a quem desprezava com igual fervor. A companhia forçada dePenmore a deixava com os nervos à flor da pele. Franklin agia de maneiraestranha. Ele estava com o rosto todo arranhado e Rosalind lembrou-se deque não vira Lydia naquela manhã. Havia alguma coisa errada... um maupresságio.

— Ah, aí está você, lorde Wulf.

Rosalind desviou a atenção de seus pensamentos e viu Armondparado, observando os dois homens de costas para ela.

Ao observá-lo, sentiu um arrepio percorrer seu corpo parafinalmente instalar-se em seu ventre. Que homem maldito! Como ele eracapaz de afetá-la daquele jeito?

— O que você está fazendo aqui, Chapman?

— Estou aqui a convite de Penmore — Franklin respondeu. — Eu e

minha irmã...Uma vez que Franklin meneou a cabeça em sua direção, Rosalind

esperou que Armond a visse, porém não contava com o forte vínculo quese estabeleceu quando seus olhares se encontraram, e assimpermaneceram por longos e desconfortáveis segundos.

— Os cavalos cinzentos estão presos à minha carruagem, Penmore— Armond informou mudando o foco de atenção. — Achei que vocêquisesse testá-los antes de tomar uma decisão final.

Penmore consentiu com um sinal de cabeça que fez com que suas

bochechas gordas se movessem sobre o colarinho da camisa.—Excelente idéia, Wulf. Talvez lady Chapman queira me

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acompanhar em um passeio — ele sugeriu, lançando um olhar lânguidopara Rosalind.

— Não permito que mulheres acompanhem o teste de meus cavalos— Armond interveio. — Acho muito perigoso e presumo que você queiraforçá-los ao máximo, não é?

Penmore contraiu os lábios, mas concordou.

— Você vem comigo, Chapman? Gostaria de sua opinião sobre oscavalos.

— Não acho que seja apropriado deixar Rosalind sozinha — Franklindisse. — Fico aqui esperando você voltar.

— Pode ir, Franklin, não me importo.

— Posso assegurar que lady Rosalind ficará bem — garantiuArmond. — Mas compreendo se decidirem voltar outro dia. Quem sabe os

animais ainda estejam disponíveis até lá.O visconde mostrou-se contrariado, mas acabou cedendo.

— Vamos, então. Acho que ela ficará bem enquanto nós damos umavolta com os animais. Se me fizer esse favor, posso reconsiderar suasdívidas da noite passada.

Franklin não titubeou em aceitar a proposta tentadora.

Quando os dois saíram do estábulo, Rosalind teve vontade de gritarde alegria. Eram raras as oportunidades em que podia ficar sozinha.

Suspirando, se pôs a acariciar uma bela égua árabe. O animal tinhalinhas perfeitas e os olhos castanhos lembravam o seu cavalo que gostariade ter consigo em Londres. Andar pelas campinas do interior sempre foiseu maior prazer, pena que agora não podia mais desfrutá-lo.

— Você tem bom gosto para cavalos.

A voz de Armond a assustou, fazendo-a virar rapidamente eperceber que estava sendo observada.

— Achei que iria conduzir a carruagem, quer dizer, presumi que vocêtivesse ido junto com eles...

— Meu cocheiro é bem habilitado para mostrar melhor as qualidadesdos animais. Além do mais, não vi razão alguma para acompanhar doishomens que me irritam profundamente.

— Ah...

Rosalind sentiu-se uma tola por não ter conseguido pensar em nadamelhor para responder. Mas o que poderia dizer depois da noite anterior?A mesma aura de sedução os envolvia naquele momento, apesar deestarem distantes. — Não quero interromper seus afazeres — ela dissefinalmente. — Não me importo em esperar sozinha.

— Você está com medo?

— Medo de quê?

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Armond seguiu em sua direção, recostando-se a uma cocheirapróxima.

— Medo de ficar sozinha comigo, onde uma mulher morreu — eleespecificou.

O sopro frio do mistério pela simples menção do crime fez com queela tremesse da cabeça aos pés.

— Onde você a encontrou?

— Lá no fundo. — Armond indicou um canto escuro do estábulo. — Olugar está vazio agora, não posso mais colocar os animais ali, pois pareceque eles sentem o cheiro de sangue.

— Você a conhecia?

— Seu nome era Bess O’Conner, mas eu não a conhecia —respondeu sem encará-la. — Ela era uma prostituta sem muita

importância, caso contrário o esforço para encontrar o assassino teria sidomuito maior.

— Como será que ela chegou aqui? — Rosalind caminhou até ocentro do estábulo e observou a longa fileira de cocheiras.

— Não sei. Um dos cavalariços ia se casar naquela noite e eu tinhadispensado os empregados para a cerimônia. Quando voltei para casa,tarde da noite, e fui guardar meu cavalo, ouvi um gemido e então aencontrei.

— Ela disse algo? — Rosalind cruzou os braços sobre o peito numa

tentativa inconsciente de se proteger.Armond continuou perdido em pensamentos, mas quando percebeu

que ela aguardava uma resposta, afastou-se da cocheira e voltou aencará-la.

— Ela havia sido espancada e não estava em condições de dizernada. Mais tarde, tentei descobrir mais a seu respeito, e fazer com que oresponsável pagasse por aquilo.

— Rosalind!

O grito de Franklin, parado à porta do estábulo junto com Penmore,

fez com que seu coração disparasse.— Já voltaram? — Armond propositadamente postou-se entre ela e

os dois homens. — Eu estava mostrando os cavalos a lady Rosalind. Elagostou muito da égua árabe. Quer que eu a sele para testá-la?

— Você nos enganou de propósito — Franklin acusou-o com a raivaestampada no rosto. — Pensei que você conduziria a carruagem. Se eusoubesse que não nos acompanharia, jamais teria permitido que minhairmã ficasse aqui, e você sabe disso!

Armond manteve-se impassível diante do tom ameaçador de

Franklin.— Lady Rosalind não me pareceu temerosa na minha companhia.

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Veja você mesmo.

— A questão não é essa — Franklin disse por entre os dentes.

— Ah, não? Então qual seria? — Armond limitou-se apenas alevantar uma das sobrancelhas em sinal de desdém.

Franklin estreitou a distância entre eles, ameaçando-o.— Alguém poderia suspeitar que alguma coisa a mais estaria

acontecendo se visse vocês dois sozinhos aqui. Penmore tem outrosplanos para ela. Garanto que ele não iria querer se casar com uma mulhercom a honra manchada.

Armond continuou com a mesma postura inabalável, nem um poucointimidado quando virou-se para o visconde:

— É verdade, Penmore? Pretende fazer uma oferta por ladyRosalind? Seria uma proposta semelhante a que vai me fazer pelos

cavalos?Penmore, que até então parecia se divertir com o confronto,

assumiu um ar sério diante da insinuação.

— Meça suas palavras, Wulf! O que pretendo oferecer a ela só dizrespeito a mim e a Franklin Chapman. — E assumindo também um tom deprovocação, levantou uma sobrancelha. — A não ser que você tambémqueira fazer uma oferta por ela.

Ainda temerosa pelas conseqüências daquele encontro, Rosalindlimitou-se a olhar de um homem para outro. Por um breve momento

desejou que Armond dissesse que a tiraria do martírio em que se tornarasua vida.

Porém quando ele desviou o olhar e o manteve fixo no horizonte, elateve a certeza de que até aquela opção lhe tinha sido tirada. Armond ficouem silêncio.

— Foi o que pensei — Penmore resmungou. — Você bem sabe quenão deve ficar de olho nas senhoritas bem-nascidas. Nenhuma mulherhaveria de querer um louco como marido a ter a doença disseminada paraos filhos. — E depois de clarear a garganta, questionou: — Será que agorapodemos resolver a questão da venda dos cavalos?

Rosalind ficou desapontada ao perceber que por um instanteArmond perdeu sua postura superior diante de Penmore, por não poderresponder à altura.

— Por que não vamos discutir os detalhes da venda em minha casaenquanto peço para servirem um chá para lady Rosalind e Franklin? —perguntou Armond.

— Não acho que sua casa seja um lugar apropriado para minha irmã— Franklin adiantou-se em responder. — Vamos esperar por você nacarruagem, Penmore.

— Assim está bem para você? — Armond a inquiriu cordialmente. —O dia está muito úmido. Presumo que seria bem mais confortável ficar em

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minha sala de visitas, bebendo um chá quente.

— Ficarei bem na carruagem, obrigada — ela respondeu, evitandoencará-lo.

Assim que subiu na carruagem, Franklin começou a interrogá-la.

— O que houve entre você e Wulf no estábulo?— Nada. Ficamos vendo os cavalos.

— Quando cheguei ouvi que vocês estavam falando do assassinatoque aconteceu ali. O que ele contou sobre o assunto?

— Não falou muita coisa — Rosalind respondeu, dando de ombros. —Disse apenas que não conhecia a pobre mulher e não tem idéia de comoela foi parar no estábulo. Ele também disse que está à procura doassassino.

— Pelo que se sabe, foi ele mesmo que a matou. E se não foi ele,certamente foi um de seus irmãos. Por isso, insisto para que você semantenha distante. Qualquer ligação com ele pode acabar com suareputação. Penmore pode passar a impressão que não liga a mínima paraos ditames da sociedade, mas pode acreditar que ele segue a cartilhasocial direitinho.

Rosalind estava distraída observando a garoa fina cair sobre ocampo e esperando que o visconde voltasse logo.

— Saiba que não me importo com Penmore. Não gosto da maneiravulgar como ele olha para mim, sinto-me observada como um corpo sem

alma.— Já disse que não quero sua opinião sobre isso. — Franklin

suspirou. — O que importa é que ele está interessado e você deve fingirestar de acordo. O visconde pode parecer um sujeito alegre, mas estáacostumado a conseguir que quer, sem se importar em destruir algumacoisa durante o processo. Minhas dívidas com ele são altas e por mais queeu odeie, tenho que dançar conforme a música que ele toca...

Franklin calou-se ao ver que o visconde abria a porta da carruagem.

— Que homem degenerado e arrogante! — resmungou Penmoresentando-se perto de Rosalind. — Consegui fechar negócio, mas por umpreço muito maior do que o esperado. Quando fiz minha oferta, Wulf riu esaiu da sala. Precisei ir atrás dele pelo corredor para fechar o negócio.

— O homem devia ser escorraçado de Londres — Franklinconcordou.

— É eu sei, mas ele conhece cavalos como ninguém — o viscondeadmitiu com rancor. — Não há melhor criador no país, além de não sedeixar enganar nas negociações. — Dando o assunto por encerrado, virou-se para Rosalind. — Nós nos veremos no sarau de lady LeGrande daqui aduas noites, meu docinho?

Rosalind demorou a perceber que Penmore se dirigia a ela. Atéentão evitara olhar para aquele rosto tão suado, que deixava-o com uma

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aparência ainda mais asquerosa.

— Claro que sim — Franklin adiantou-se em responder. — Naverdade você terá a honra de escoltá-la e eu irei de acompanhante, claro.

Ela precisou morder a língua para não deixar claro que ele estava de

acordo com nada daquilo. Mesmo que a intenção fosse dizer alguma coisa,não houve tempo, pois Penmore fechou a cara como de costume.

— Eu gostaria de estar a sós com lady Rosalind. Precisamos nosconhecer melhor.

— Você sabe tão bem quanto eu que uma moça solteira não deveser vista em público sem acompanhante — Franklin contrapôs. — Você aterá no tempo devido, mas primeiro deve cortejá-la. Não se pode saborearum doce antes de pagar por ele.

— Por que vocês falam de mim como se eu não estivesse presente?

— Rosalind não conseguiu mais ficar em silêncio. — Eu...Antes que pudesse terminar de falar, Franklin aproximou-se e deu-

lhe um tapa no rosto. O susto e a dor fizeram com que ela levasse asmãos à face, mas não sem antes lançar um olhar suplicante para quePenmore a salvasse de tamanha vergonha e humilhação. Ele, no entanto,limitou-se apenas a franzir as sobrancelhas.

— Se você for disciplinar sua irmã, Franklin, não bata no rosto. Ela émuito bonita para aparecer com marcas visíveis. Controle-se, embora seique esse não é o seu forte.

Ambos trocaram um olhar cúmplice. Rosalind estava indignada por

Penmore aceitar o abuso do irmão sem defendê-la. Era esse tipo demarido que a esperava? Um homem que afirmava que bater em mulherera permitido, desde que não se deixasse marcas visíveis? Olhar para ume para outro era o mesmo que ferir os olhos e despedaçar o coração.

Se Armond estivesse ali certamente não teria reagido comoPenmore.

 Talvez houvesse dito a verdade a Armond... Se bem que ele nãopoderia fazer nada, pois não era sequer um pretendente.

Capítulo II

No dia seguinte Lydia não apareceu para ajudar Rosalind a sepreparar para a festa dos LeGrande. Mary contou que Franklin adespedira. Sabia que ele tomara aquela atitude pelo fato de ela terenfrentado o irmão, pedindo explicações. Embora soubesse que a amigaficaria bem melhor longe dali, gostaria de ter se despedido da criada. Seus

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pensamentos ainda estavam voltados ao que mais poderia ter feito pelamoça, quando Penmore chegou para acompanhá-la até a festa.

Ao chegarem ela notou que todos pareciam animados com aocasião, menos ela.

— Como se sentiu? — Amélia Sinclair, a jovem socialite a quemtinha sido apresentada anteriormente, perguntou baixinho.

—Desculpe-me, não entendi. — Rosalind achou que havia sedistraído e perdido parte da conversa. — Como é dançar e depois sairacompanhada pelo lorde Wulf? — a moça reformulou a pergunta. Era certoque todos haviam testemunhado sua atitude no baile anterior.

— Foi um erro — ela murmurou, tentando mostrar desinteresse peloassunto.

— Você foi a única a realizar o sonho de todas nós — a dama

admitiu. E disposta a saber mais detalhes, Amélia puxou-a pelo braço,afastando-a do pequeno grupo. — O que aconteceu quando vocês ficaramsozinhos?

Rosalind não gostou muito de ser interrogada daquela forma, masse não satisfizesse a curiosidade da moça com muita educação, seria alvode mais fofocas.

— Não houve nada, lorde Wulf foi um perfeito cavalheiro — mentiu.

— Ah, que pena — Amélia lamentou, franzindo a testa em sinal dedesapontamento, mas seus olhos claros brilhavam maliciosamente. —Acho uma injustiça que o homem mais atraente de Londres seja proibido

para nós.Chocada pela franqueza da moça, Rosalind apenas assentiu.

— Acho que os rumores de ele ser um homem perigoso são umtanto exagerados. Não acredito que o fato de eu tê-lo procurado paradançar tenha chamado tanta atenção assim.

— Pois é aí que você se engana, todos notaram. Eu mesma morri deinveja da sua audácia. Imagine ter a coragem de dançar com o monstroem pessoa. Ninguém jamais vai esquecê-la, Rosalind, pode estar certadisso. Acho sua ousadia admirável. Nenhuma teria coragem suficiente

para desrespeitar as regras e ser alvo de fofocas.— Você também não é nada comum, não é? — Rosalind comentou

sorrindo.

— Acho que não sou mesmo — Amélia respondeu, dando de ombros.— Minha mãe costuma dizer que com esse atrevimento vai acabarmanchando minha reputação. Cá entre nós, espero que ela esteja certa.

Amélia era de fato diferente das demais. Rosalind sorriu novamentee descobriu-se divertindo na companhia da nova amiga.

— Seu irmão parece mantê-la sob rédea curta — Amélia comentou.

— Aliás, ele está vindo em nossa direção e não me parece satisfeito porestarmos conversando.

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Rosalind olhou na direção em que vira Franklin e Penmore pelaúltima vez.

— Com licença, o acompanhante da minha irmã precisou seausentar, mas pediu que eu me certificasse de que ela aproveitaria o baile— Franklin as interrompeu, tomando Rosalind pelo braço com uma forçadesnecessária.

Ele não precisou dizer mais nada para fazer com que Améliavoltasse às pressas para o lado da mãe.

— Eu estava apenas fazendo amizade com Amélia...

— Você não precisa de amigas — Franklin disse em tom ríspido. —Se precisar, Penmore as escolherá para você depois de casados.

— Eu ainda não concordei com esse casamento. E se eu escolheroutra pessoa? Quem sabe um homem que aceite pagar suas dívidas e me

aceite sem dote?— Não conte demais com sua aparência, minha querida. Você não

tem muita escolha. Eu até tinha outros nomes, mas desde que Penmore seinteressou por você, seu futuro ficou decidido. Aliás, ele deixou isso clarohoje à tarde.

— Aquele homem me causa repulsa, se ao menos ele fosse umpouquinho mais gentil...

— Pare com essa lamentação tola — Franklin a repreendeu. — Nãoestou nem um pouco interessado em suas opiniões. Mas como não sou tãoruim assim, posso confortá-la contando um segredinho sobre o nosso

visconde.— Um segredo? — perguntou ela curiosa.

— Nosso visconde tem problemas com suas partes masculinas.Duvido que consiga manter sua masculinidade ereta por tempo suficientepara consumar o matrimônio. Embora goste de um bom jogo, como sefazer passar por um homem capaz de tudo.

Rosalind não era tão ingênua para não entender o que Franklinacabara de dizer. Embora fizesse o casamento com um homem parecerum pouco menos intolerável, o visconde ainda a enojava com sua

conversa libidinosa e mãos grudentas. Ela se perguntou então por que suareputação seria tão importante para um homem que não podia cumprircom suas obrigações maritais.

— Sei o que está pensando — Franklin comentou. —Penmore estásolteiro há muito tempo, por isso é muito importante que se case comuma dama de boa reputação e boa linhagem, para afastar qualquercomentário. Devo avisar que se tiverem filhos, não serão dele e sim de umpai que ele próprio escolherá.

Ela sentiu o estômago se contrair só em pensar naquela hipótese.

Desviou o olhar para o salão e assustou-se ao vislumbrar Armond semovimentando fora da pista. Como de costume, ele estava de preto emum contraste perfeito com os cabelos claros e a pele bronzeada.

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De repente ela percebeu que aqueles olhos misteriosos estavamconcentrados em seus movimentos pela pista. A distância, como um felinoà espreita, ele continuava parado, analisando-a.

— Não olhe para ele — Franklin sibilou. — Vocês dois estão dandoum espetáculo!

Difícil imaginar que faziam parte de algum show quando estavamdistantes por dez passos. Contudo, havia certa razão no comentário doirmão. De uma hora para outra o ambiente ficou pesado, como se o arestivesse carregado de especulações. Entretanto não conseguia desviardo olhar que a hipnotizava. Sentia-se como um coelho indefeso, prestes aser devorado por um predador.

Sentiu o sangue corar suas faces, mas Franklin a trouxe de volta àrealidade, apertando sua mão com uma força que quase a fez gritar dedor.

— Está na hora de nos despedirmos e partir — falou ele entre osdentes. — Aquele homem a faz perder a cabeça. Não deixarei que eleestrague tudo! Está me ouvindo, Rosalind?

— Franklin... — chamou ela, apressando o passo para alcançá-lo.

— Você não tem jeito mesmo, Armond Wulf— a condessa deBrayberry declarou. — Aqui estava eu pensando no halo que rodeia suacabeça angelical, erroneamente julgado pelas fofocas infundadas, quandoo pego em flagrante, provando que estão todos certos.

Armond forçou-se a desviar seus olhos de Rosalind e encontrar a

testa franzida da condessa. Ele ergueu uma sobrancelha como queinquirindo sobre o que estava fazendo de errado. E a resposta silenciosaveio por meio do leque apontado para Rosalind, de quem ele não haviatirado os olhos desde que chegara à festa de lady LeGrande.

— Agindo assim tão descaradamente, lançando olhares significativosa lady Rosalind, vai acabar levantando as piores especulações a seurespeito.

— Não tinha notado que a estava encarando — disse com ar maroto.

— Ora, ora — a condessa comentou sorrindo. — Armond Wulf 

finalmente se apaixonou! Já era hora. Eu estava certa quando disse quevocês fazem um belo par.

— Posso garantir que não é meu coração que olha para ladyRosalind.

 A condessa o golpeou fortemente com o leque.

— Mas que coisa! Você deveria controlar sua libido em público! Do jeito como a encara parece que vai despi-la e possuí-la aqui mesmo, emfrente a todos nós. Você é sempre tão intenso assim?

Sem desviar os olhos de Rosalind, ele pensou um momento antes

de responder.— Sou sim.

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— O irmão dela está ficando cada vez mais tenso — comentou acondessa. — Você deveria disfarçar um pouco, Armond. Sabia que elachegou aqui pelos braços rechonchudos de Penmore? Espero que apobrezinha consiga alguém melhor do que ele. Seria uma pena vê-lacasada com aquele canalha.

Então, Rosalind havia permitido que o visconde a conduzisse àfesta? Uma resolução difícil de entender, quando se tratava da mulhermais linda que ele já tinha visto. Se quisesse, ela poderia ter qualquerhomem! Qualquer um, menos ele próprio...

— Não pense que vou fazer papel de idiota perante ela — advertiuele, forçando-se a desviar o olhar de Rosalind. — A senhora bem sabe quefiz um juramento de nunca me casar.

— Não percebeu que já está fazendo papel de tolo? — perguntou acondessa em tom suave. — Não foi para me ver que está aqui, tenho

certeza.Sim, estava ali para encontrar Rosalind novamente, admitia-se

totalmente incapaz de lutar contra a forte atração que os unia.

— Não entendo a dúvida. Claro que vim vê-la, milady. — Armonddirecionou todo o seu charme e atenção para a mulher que fora amiga deseus pais e que não abandonou as crianças quando a maldição se abateusobre sua família. — Eu a adoro, e se existe uma mulher em toda aLondres que me faça considerar quebrar o juramento de permanecersolteiro, é a senhora.

A condessa, apesar da idade, corou como uma garota. Porém, logose recompôs, acertando o leque no braço forte.

— Ora, pare com isso.

Durante a viagem para casa, Franklin não tirava os olhos da irmã.Para fugir do assédio, Rosalind fechou os olhos e se recostou contra oassento, revivendo os acontecimentos da noite.

Os sentimentos conturbados que a invadiam toda vez em que seaproximava de Armond não lhe faziam bem. Seu futuro marido já estavaescolhido, e mesmo se não estivesse, Franklin jamais permitiria que fossecortejada por um Wulf.

O barulho dos cascos dos cavalos contra as pedras da rua e obalançar da carruagem embalaram os sonhos de Rosalind. De súbitoestava revivendo aquela noite inesquecível em outra carruagem, comoutro homem.

E na escuridão, Armond se fez presente, fazendo-a arrepiar-sediante das súplicas daqueles lábios exigentes contra os seus. Sentiu osseios doídos com saudade das carícias, da boca sequiosa e da línguaatrevida. Em segundos seu corpo inteiro voltou a clamar por aquelesbraços fortes que amoldaram seus corpos com a habilidade de umescultor, transformando-os em um só. O calor do desejo a envolveu, avoracidade da paixão... E foi o som do próprio gemido rouco que a trouxede volta à realidade, e abriu os olhos abruptamente.

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Franklin a encarava com a expressão de um gato faminto queestuda o rato adormecido, pensando em torturá-lo, antes de qualqueroutra coisa.

— Com o que você estava sonhando ainda agora? —- inquiriu ele. —Ou devo perguntar, com quem?

Rosalind se endireitou.

— Devo ter cochilado. Já chegamos em casa? — Abriu a cortina dacarruagem. — Oh! Vejo que já chegamos. Estou exausta!

— Não pense que vai se refugiar no quarto e escapar da puniçãopelo seu comportamento dessa noite — Franklin sibilou. — Tenho pensadono que seria apropriado.

— Sou uma mulher adulta. Não posso admitir ser punida como umacriança nem por você e nem por homem algum.

A sobrancelha erguida e o ar de falso espanto foi uma respostamuito mais contundente do que se ele tivesse reagido com raiva.

— Isso é o que veremos. — Ele se inclinou e abriu a porta dacarruagem, então saiu. Quando estendeu a mão para ajudá-la a descer,Rosalind se recusou, saindo sozinha do coche.

— Você não vai me bater — sentenciou ela severamente. — Não voumais suportar esse abuso.

A máscara de cinismo caiu do rosto de Franklin e os olhos brilharamcom a fúria conhecida.

— Como ousa me dizer o que posso ou não fazer sob meu teto?Franklin agarrou-a pelo braço, quase o deslocando. Ela engasgou

com a dor. Em pânico, tentou escapar. O primeiro lugar que pensou em irfoi para a casa vizinha. Mas teria que correr muito antes que o irmão aalcançasse.

— Você acha que ele pode ajudá-la? — Franklin falou em baforadasao ouvido dela. Apertou o braço já dolorido com mais força, fazendo-achoramingar. — Ninguém pode ajudá-la, Rosalind!

O desespero a fez pronunciar o nome de Penmore enquanto Franklin

a arrastava em direção da casa. Ele apenas riu da insinuação.— Ele não se importa, desde que os machucados não apareçam. —

Passeou os olhos pelo corpo dela. — Claro que primeiro precisamos noslivrar desse vestido. Custou uma fortuna e eu não quero vê-lo rasgado oumanchado.

Rosalind tentou afundar os saltos do sapato no chão, mas nãofuncionou. Franklin era muito forte. Mesmo se Mary abrisse a porta etestemunhasse a cena, não seria capaz de ajudá-la. Realmente não haviaqualquer saída a não ser submeter-se à vontade do irmão. Franklinarrastou-a para dentro, levando-a na direção das escadas. De repente

pararam diante da visão aterrorizante que surgiu à frente dos dois.Ali, presa à viga que corria pela extensão do teto havia uma corda,

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da qual pendia um corpo, que balançava para frente e para trás. Rosalindlevou as mãos à boca. Era Lydia.

Armond havia acabado de chegar em casa, depois de umas poucasrodadas de carteado e acabara de tirar o casaco quando o som chegou atéele. Aguçou os ouvidos em direção à janela aberta e ouviu o som distantede um choro.

Por conta da maldição, alguns de seus sentidos eram mais aguçadosdo que em outras pessoas. A audição e o olfato eram os mais afiados. Eracomo se fosse um animal... que aguardava para ser libertado a qualquermomento.

E por isso não tinha dúvidas de que quem chorava era Rosalind.Havia algo errado e a necessidade de vê-la tornou-se iminente.

Sem se importar em colocar o casaco, ele deixou o quartoapressado. A mansão estava em silêncio, nenhum serviçal acordado.

Desceu as escadas e irrompeu pela porta da frente. A noite estavaúmida, a grama molhada e uma neblina espessa não permitia a visão aolonge. Ainda assim, seguiu sob uma chuva fria e fina. Quanto mais seaproximava da casa de Rosalind, mais nítido era o choro, mais palpáveltornava-se aquela angústia.

Sem esforço algum, escalou as treliças até a varanda do quarto. Porum instante imaginou se as portas não estariam trancadas, mas por sorteestavam apenas encostadas. Com a agilidade de um ladrão, esgueirou-separa dentro do quarto. Seus olhos se ajustaram facilmente à escuridão. Foientão que ele a viu, encolhida sobre as cobertas.

— Rosalind? — chamou-a em um sussurro.

Com um pulo, ela jogou as cobertas de lado e se sentou.

— Oh! Armond!—Ela saiu da cama e atravessou o quarto,surpreendendo-o ao enlaçá-lo pelo pescoço à procura de proteção. — Foihorrível!

Por impulso, ele deixou as mãos deslizarem por entre os longoscabelos soltos, que pareciam a mais fina seda debaixo de seus dedos.

— O que foi horrível? Por que está chorando?

— Lydia — ela começou a contar entre soluços. — Ela se enforcou!

Armond conduziu-a até a cama, sentando-se a seu lado.

— Quem era Lydia?

— Minha criada — ela respondeu. — Franklin a demitiu no começoda semana, mas hoje à noite quando chegamos dos LeGrande, lá estavaela, o corpo inerte pendendo de uma corda.

Quando Rosalind cobriu o rosto com as mãos soluçando, Armondcedeu ao impulso de aconchegá-la, passando o braço sobre os ombros

trêmulos.— Foi por minha culpa. Foi por minha causa que Franklin a expulsou

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daqui. Acredito que por não ter arranjado outro emprego, ou outramaneira de sobreviver, ela não viu outra saída senão dar fim à própriavida.

O sofrimento profundo de Rosalind por causa da criada osurpreendeu. Se ela fosse como as outras moças da sociedade, teriaesquecido o problema rapidamente. O que reafirmava o fato de ter a seulado uma mulher diferente e sensível.

— Ela deixou algum bilhete? Qualquer explicação sobre o motivo deter tomado tal decisão? — Armond quis saber.

— Não. Nada que alguém tivesse achado pelo menos. Ela...

— O que houve?

— Ela estava com o corpo tomado por hematomas.

— Hematomas? — No mesmo instante Armond associou os fatos.

— No rosto — Rosalind continuou. — A impressão é que havia sidoespancada recentemente. Segundo Franklin, ela andava com um bando dearruaceiros. Eu o ouvi dizendo ao policial que provavelmente um desseshomens a teria machucado.

— Seu irmão a acompanhou durante a noite inteira?

— Sim, por que pergunta?

Armond tinha fortes suspeitas sobre Franklin, porém se Rosalindconfirmava que ele estivera em sua companhia, talvez não tivesseparticipado diretamente.

— Por que ela foi demitida?

De repente, Rosalind desviou o olhar para evitar a resposta. Armondtocou-a no braço e ela involuntariamente soltou um gemido de dor.

— O que foi isso? — indagou ele, notando os hematomas no braçodelicado.

— Eu devo ter esbarrado em alguma coisa — Rosalind respondeubaixinho, ainda recusando-se a encará-lo.

— Como?

— Não me lembro.Uma onda de ódio o invadiu. Movido pela certeza que já tivera

antes, Armond rasgou a manga da camisola e, perplexo, viu a nítidamarca de dedos na pele alva de Rosalind.

— Quem fez isso a você?

Diante da dolorida evidência, ela soluçou, desta vez não disfarçandoo pranto que precipitava em seus olhos.

— Franklin — respondeu depois de respirar fundo. — Não é aprimeira vez. Ele tem um temperamento horrível!

Armond praguejou, levantou-se e dirigiu-se para a porta do quarto.

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— Vamos ver se ele é valente o suficiente para agredir um homem!

Rosalind saltou da cama, postando-se à sua frente, impedindo apassagem.

— Não, Armond, não piore a situação! Franklin nem mesmo está em

casa. Depois do incidente ele saiu, provavelmente para ir jogar cartas.Determinado, Armond voltou para a sacada. A raiva crescendo a

cada minuto, tomando-o por completo.

— Então, vou procurá-lo.

— Por favor, não me deixe sozinha!

Ele cedeu ao apelo e, movido por um misto de sensações entredesejo e afeto, aproximou-se e envolveu-a num abraço terno.

— Volte para a cama. Você deve estar exausta.

Como uma criança obediente, ela entrou debaixo das cobertas, semdeixar de observá-lo. Armond sentou-se na beira da cama. Sua camisaestava úmida por conta da garoa ou talvez pelo calor da paixão que ofazia transpirar.

— Naquela noite do baile de Greenley você não tropeçou semachucando também, não foi?

— Não — ela murmurou. — Franklin me bateu por eu... ter saído comvocê.

— Isso deixa claro que você não me procurou naquela noite para

impressionar suas amigas, não é?— Não tenho amigas. Franklin não permite. Ele decidiu que devo mecasar para ajudá-lo em suas finanças. Se você tivesse manchado minhahonra naquela noite, não haveria casamento e eu poderia voltar para ointerior.

Armond suspirou, afastando uma mecha de cabelos úmidos datesta.

— Rosalind, deve haver alguém que possa ajudá-la. Família...

— Engano seu, não tenho ninguém. Meu pai me deixou aos cuidados

de minha madrasta. Infelizmente ela adoeceu e minha guarda passou paraFranklin, que já acabou com minha herança.

Armond percebeu que a realidade era ainda pior do que suassuspeitas.

Se Franklin aparecesse naquele instante, ele o esganaria.

— Por que você não me disse a verdade quando nos encontramos?

— Eu não o conhecia. Não sabia como poderia pedir ajuda, além damaneira como fiz — ela respondeu com o olhar baixo.

Rosalind tinha razão. O que poderia fazer por ela exceto matar o

homem que ousava tratá-la daquela forma? Porém, se o fizesse, asociedade iria aplaudir por finalmente poder provar que ele era de fato um

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assassino.

Como faria para protegê-la sem que seu nome fosse citado? O quepoderia oferecer a ela? Provavelmente muito menos do que ela merecia,pois seu futuro estava preso a uma maldição que não lhe permitia laçosafetivos.

— Você está tremendo...

Armond puxou as cobertas para cobri-la. No entanto, o tremor nãoseria apaziguado por lã, tampouco pelo fogo. Ciente disso, ele tirou acamisa úmida e, ao deitar-se, puxou-a para bem perto, emprestando ocalor do seu corpo.

— Não tenha medo de mim — disse, fazendo-a apoiar a cabeça emseu peito.

Não demorou muito para que Rosalind se aquietasse sob o bálsamo

daquele perfume cítrico e se deixasse envolver pela ternura do momento.—Você não me disse por que a criada foi demitida.

Rosalind aninhou-se ainda mais àqueles músculos firmes, como seprocurasse abrigo até por mencionar o nome do irmão.

— Poucas horas antes, Lydia me contou que Franklin a violentava.Fiquei furiosa quando soube e chamei a atenção dele. Ele ficou furioso e ademitiu.

Um estuprador, além de espancador de mulheres? Quanto mais averdade sobre Franklin se desnudava, mais Armond pensava em Bess

Conner. Na época, ele não havia entendido como aquela mulher apareceraem seu estábulo.

Mas agora, os fatos começavam a fazer sentido. E se Bess estivessefugindo da propriedade vizinha para se esconder ali?

— Por favor, fique mais um pouco — Rosalind pediu. — Até euadormecer.

— Está bem, eu fico — ele respondeu, acariciando-lhe os cabelos. Derepente uma dúvida o assolou: — Qual é o papel de Penmore em tudoisso?

— Franklin deve muito dinheiro a ele por dívida de jogo. Ele me querem troca.

— E seu irmão se propôs a negociá-la como se fosse um objeto?

Rosalind permitiu que um silêncio eloqüente servisse de resposta.Sentia-se humilhada por revelar seus segredos e por não ter como reagir.Naquele instante, Armond lhe fez uma promessa velada: faria tudo o queestivesse ao seu alcance para tirá-la daquela casa. E o mais rápidopossível. Finalmente a exaustão a dominou. Havia praticamente esgotadoseu pranto. Permitiu-se fechar os olhos enquanto ele gentilmente afagavasuas costas. Não precisaria existir o amanhã, se o mundo terminasse

naquele momento, ela estaria feliz.A madrugada já estava alta quando Armond levantou-se da cama de

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Rosalind. Enquanto vestia a camisa, seu olhar estava fixo na silhuetafeminina desenhada sobre os lençóis. O rosto perfeito era emoldurado poruma profusão de cachos escuros. A boca rosada era um convite a beijostórridos, ao início de uma busca por uma plenitude maior.

Difícil acreditar que passara a noite inteira ali, abraçado à dona deseus pensamentos, sem sequer tentar seduzi-la. Mas saber queconseguira com que ela relaxasse em seus braços já o compensava, aomenos por enquanto...

A uma certa hora da noite ouviu Franklin chegar e teve vontade deenfrentá-lo. Porém com receio de não ter explicações convincentes paraestar no quarto de<Rosalind àquela hora, preferiu dominar a ira. Pretendiaagir com cautela, agora que sabia das verdadeiras intenções de Rosalindao abordá-lo naquela noite. Decidiu que visitaria a condessa de Brayberrye solicitaria sua ajuda para tirar Rosalind daquela casa.

 Já vestido, dirigiu-se à porta da sacada.Depois de descer pela treliça e vencer a distância que separava as

duas propriedades, Armond alcançou seu estábulo, quando notou algoestranho. Os cavalariços já estavam acordados e conversando.

Um deles, Henry, o viu antes de ele chegar ao estábulo. Os olhos dorapaz se arregalaram assustados, enquanto fazia sinais para que Armondse afastasse. Mesmo sem entender a razão ele se escondeu atrás de umaárvore. Em seguida dois homens saíram do estábulo. Eram os inspetoresque o interrogaram na noite em que Bess O’Connerfora assassinada.

— Lá está ele! — gritou um deles ao vê-lo. — Não tente correr, lordeWulf!

Por que correria? De longe já sentira o cheiro de sangue,antecipando pelo pior. Mantendo-se calmo, caminhou em direção aoshomens da lei.

— Lorde Wulf — o inspetor o interpelou assim que se reuniu aogrupo. — O senhor está preso por assassinato!

Armond passou pelo grupo e entrou no estábulo. Ali no chão domesmo jeito que encontrara Bess havia outra mulher espancada e morta.A pintura do rosto, nos lábios e a maneira de se vestir mostravam

claramente que também era uma prostituta.— Lorde Wulf, existe alguma testemunha que possa nos dizer onde

passou a noite?

Sim, ele tinha um álibi, mas jamais o revelaria.

— Não — respondeu seco.

— Então terá de nos acompanhar.

* * *

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Rosalind surpreendeu-se ao ver Franklin ainda pela manhã. Era decostume sabê-lo dormindo durante a maior parte do dia, por conta dasaltas horas que costumava chegar em casa.

Estranhou ao notar que o irmão, contrariando o costume, estava debom humor e muito contente.

— Tenho novidades sobre nosso vizinho — anunciou ele, passandomanteiga em uma fatia de pão. — Parece que lorde Wulf foi preso hoje demanhã por assassinato. Encontraram outra mulher morta em seuestábulo.

Rosalind o encarou por sobre a mesa com o garfo a meio caminhoda boca.

— Duvido que desta vez alguém o ajude a livrar-se da culpa. Não hátestemunhas de que o tenham visto a noite passada, eu inclusive. Nosdepoimentos, os empregados dele disseram que, por volta da meia-noite,

estava tudo normal, quando terminaram uma rodada de carteado antes dese recolher. Além disso, o responsável pela segurança se embebedou atécair e não ouviu nada.

— Ele não é culpado — Rosalind murmurou.

— Como pode ter tanta certeza? — Franklin perguntou, parando demastigar. — Só porque ele é atraente? Ou por que você quer que sejaverdade? — indagou, rindo alto antes de morder o pão. — Todos osdesejos do mundo não salvarão o pescoço dele dessa vez, irmãzinha.

Rosalind sentiu o estômago embrulhar. Outro assassinato. Outra

mulher morta encontrada no estábulo de Armond. Tentou se lembrar domomento em que o sentiu levantar-se de sua cama. Não podia precisar,apenas sabia que já amanhecera, prova incontestável de que ele não erao assassino.

Armond continuava sendo interrogado por várias horas a fio. Asperguntas repetiam-se, alterando-se apenas na forma e as respostastambém eram iguais. Estivera sozinho durante toda a noite. Não, nadatinha a ver com a morte de outra mulher, encontrada em seu estábulo,mas não tinha testemunhas para depor a seu favor.

Uma leve batida na porta interrompeu o interrogatório. Antes

mesmo que o visitante fosse convidado a entrar, Armond sentiu o perfumede lavanda já tão conhecido.

Que diabos Rosalind estava fazendo ali?

Depois de trocadas algumas palavras, ela entrou na sala minutosdepois.

— Essa dama tem informações sobre lorde Wulf — um dosinspetores comunicou ao outro. — Parece que ela sabe onde ele esteve nanoite passada.

—Não faça isso, Rosalind — Armond ordenou calmamente. Ela

endireitou os ombros, ignorando-o.— Quem é a senhorita? — o inspetor, que estava sentado,

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perguntou.

— Lady Rosalind Rutherford, filha do falecido duque de Montrose evizinha de lorde Wulf.

— A senhorita por acaso viu algum movimento estranho de sua

  janela ontem à noite? — o inspetor perguntou, arqueando assobrancelhas.

— Não — Rosalind admitiu. — Não vi nada, mas sei onde lorde Wulf esteve.

— Rosalind — Armond a advertiu novamente. — Pense bem no queestá fazendo.

— Cale-se enquanto lady Rosalind estiver falando — um dos homensinterveio. — Caso contrário, seremos forçados a tirá-lo da sala até que adama tenha saído.

— Mas ela está mentindo! — Armond estava quase gritando.— Como pode saber se ainda não ouvimos o que ela tem a dizer? —

foi o que um dos inspetores perguntou atônito.

— Sei o que ela vai dizer — Armond respondeu. — Espero estarerrado — acrescentou, encarando Rosalind, que fingia não vê-lo.

— Lady Rosalind, se não o viu pela janela, ou de sua propriedade,como sabe onde lorde Wulf estava? — o inspetor reiniciou o interrogatório.

Ela observou a tensão de Armond com o canto dos olhos antes deprosseguir, mesmo assim não desistiu de ir em frente.

— Sei porque ele estava comigo — ela respondeu sem titubear. —Em meu quarto, na minha cama.

Armond teria adorado apreciar a expressão de espanto de todos nasala se não fosse pela seriedade da situação. Depois da confissão receouas conseqüências que recairiam sobre Rosalind.

—A senhorita jura estar dizendo a verdade, lady Rosalind? Admitiruma coisa dessas vai gerar comentários a seu respeito. Pessoas duvidarãodo seu caráter. Pergunto mais uma vez: Tem certeza do que está medizendo?

— Sim, eu estou ciente das conseqüências, inspetor. Mas não possopermitir que um homem inocente seja condenado por um crime que nãocometeu. Tenho obrigação de dizer a verdade.

— Posso ter uma palavrinha a sós com ela? — Armond pediu.

Era preciso fazer com que Rosalind retirasse a declaração. Elaprecisava entender que se arruinasse sua reputação, nem mesmo acondessa de Brayberry poderia ajudá-la. Se assim fosse, teria que voltar aficar à mercê de Franklin e o sonho de liberdade jamais seria alcançado.

— Lorde Wulf, até agora não podemos inocentá-lo. Seria loucura

demais de nossa parte deixar um assassino a sós com uma dama — umdos homens ressaltou.

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—Mas eu sei que estarei perfeitamente segura — Rosalind osinterrompeu. — Lorde Wulf não é um assassino. Caso contrário, nãopermitiria sua presença em meu quarto por mais de uma vez.

— Então, são... amantes?

— Tudo indica que sim — ela respondeu sentindo o rosto arder embrasa.

Armond teve vontade de gritar para impedi-la de continuar falando.Aquela altura não sabia se era melhor morrer enforcado ou passar o restoda vida atrás das grades, que certamente eram opções melhores do que aatitude que se via obrigado a tomar. Mas Rosalind o forçava a quebrar um juramento feito aos irmãos. Não restava outra saída.

— A senhorita faria um depoimento por escrito? — pressionou-a oinspetor.

— Sim, claro que sim.O inspetor que estava sentado em silêncio até então, inflou as

bochechas, soltando o ar ruidosamente. Em seguida, lançou um olhargélido para Armond ao acrescentar:

— Estranho, lorde Wulf, mulheres aparecem mortas em suapropriedade e o senhor tem sempre um álibi que o permite se safar doscrimes.

— E se a culpa for de alguém que obviamente está querendo meincriminar? — Armond perguntou com uma calma apenas aparente. —Quando sair daqui, meu maior objetivo será descobrir quem é essa

pessoa.— Se for verdade, garanto que compartilhamos do mesmo desejo —

o inspetor assegurou antes de dirigir-se a Rosalind: — Mora sozinha, ladyRosalind? Preciso do seu depoimento por escrito, admitindo estar comlorde Wulf na hora do crime.

— Moro com minha madrasta e meu irmão — ela respondeu. —Franklin Chapman.

— Chapman? — O inspetor estava providenciando papel e tinta. —Se não me engano houve uma morte em sua casa também. Embora

sabemos que não foi crime, a mulher se enforcou, não foi?— Sim, uma criada, Lydia. Franklin a havia demitido e acredito ser

essa a razão de seu suicídio. Aliás, foi por isso que lorde Wulf meprocurou... para me confortar.

Os investigadores se entreolharam com risos maliciosos. Eraevidente que todos imaginaram como ele a havia confortado.

— Seu irmão o deixou entrar pela porta da frente? — o interrogatóriorecomeçou.

Rosalind negou com um sinal de cabeça.

— Não. Lorde Wulf escalou uma treliça que termina na varanda domeu quarto. Meu irmão não tem sequer noção dessas visitas.

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— Sei. — O inspetor entregou papel, pena e tinteiro. — A senhoritasabe que o Sr. Chapman logo saberá do seu depoimento, não?

— Sim, Rosalind, você tem consciência disso? — Armondacrescentou. — Ainda está em tempo de mudar de idéia.

Ela finalmente encarou Armond.— Eu não poderia viver com a culpa de ver um inocente ir para a

cadeia se soubesse como devolver sua liberdade. Entendo e agradeço queesteja sacrificando a vida para manter minha reputação, mas não vouvoltar atrás na minha decisão.

— Bem, Rosalind, se assinar esse papel, estará concordando em serminha esposa — Armond sentenciou para surpresa de todos.

— Como? — ela perguntou, sentindo o sangue sumir do rosto.

— Eu seria incapaz de expô-la a esse ponto para depois deixá-la

vivendo sob o mesmo teto de Franklin — Armond justificou-se. — Pensemuito bem antes de assinar porque estará se comprometendo comigo.Mas será um casamento sem amor. — Embora o olhar significativo deRosalind o tenha atingido profundamente, ele não vacilou em continuar: —Eu não a amo e provavelmente nunca amarei. Rosalind sentiu o corpointeiro falhar e ouviu quando o inspetor praguejou contra Armond.Contudo chegou a duvidar que aquele homem que a confortara na noiteanterior fosse o mesmo que estava ali sentado à sua frente, assumindouma frieza incomum.

Por mais que doesse o fato de ele não ter amor por ela, admitia que

estava recebendo o amparo e a ajuda que solicitara quando o conhecera.No entanto, por mais que a razão favorecesse Armond, ouvi-lo admitir que jamais a amaria era de uma crueldade ímpar. Ao mesmo tempo, sabia queestava fadada a um casamento por conveniência. Se não fosse esposa deArmond seria de Penmore. Ao menos tinha certeza de que lorde Wulf  jamais levantaria a mão para agredi-la, mas talvez para acariciar-lhe oscabelos ou aninhá-la em seus braços fortes.

Mesmo com todas as considerações favoráveis, sabia que asociedade a evitaria no momento em que entrasse para a família Wulf.Contudo era melhor ser rejeitada, mas casada, do que ser aceita por todos

e viver sob o mesmo teto de Franklin ou Penmore.Rosalind tentou controlar o tremor enquanto escrevia a declaração

inocentando-o do assassinato. Quando terminou, deixou a pena sobre amesa e respirou fundo, aprumando-se.

— Você está livre, lorde Wulf — concluiu o inspetor. — Mas saiba queo estaremos vigiando. Reze para não aparecer outra mulher assassinadaem sua propriedade.

Armond levantou e encaminhou-se para a porta. Rosalind o seguiu.

Quando saíram da delegacia, a carruagem de Armond os aguardava.

— Para onde vamos, agora? — ela questionou assim que entraramno coche.

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— Vamos procurar o arcebispo de Canterbury. Conseguirei umalicença especial e nos casaremos hoje.

— Hoje?

— Você acha que teremos tempo e permissão para publicar os

proclamas e planejar uma festa?— Claro que não.

Imaginar a reação de Franklin quando soubesse que ela se casarasem seu consentimento a fez tremer de pavor.

— Você não precisa tomar uma atitude tão drástica, Armond — elaponderou tão logo a carruagem se pôs em movimento. — Não quero forçá-lo a se casar. Vim ajudá-lo da mesma forma como fez comigo ontem ànoite.

— Entenda Rosalind, não pretendo ser cruel. Mas fiz um juramento

com meus irmãos que nunca nos casaríamos. Existe uma forte razão paraisso.

— Por causa da maldição?

— Isso mesmo.

— Talvez você e seus irmãos sejam poupados da insanidade queacometeu seus pais.

Armond a surpreendeu com uma sonora gargalhada. Era um risocínico e sem humor, como se estivesse fazendo chacota da própria sorte.

— Dizem que a maldição que recaiu sobre os irmãos Wulf estáligada à loucura, mas a verdade é bem diferente.

— Então qual é? — Rosalind perguntou confusa.

—Reze para nunca descobrir—sentenciou ele, virando-se para a janela.

  Já era noite alta quando Rosalind acordou com  a  parada dacarruagem em frente à casa de Armond.

O dia havia sido extenuante e tão logo iniciaram a jornada de volta,ela adormeceu profundamente. O casamento fora realizado em uma

pequena paróquia a duas horas de viagem, tendo como testemunhas oferreiro e seu filho.

Agora, em vez de desfrutar de momentos mágicos ao lado dohomem amado, Rosalind foi invadida por uma onda de medo einsegurança.

Mal se lembrava de ter dito "sim" durante a cerimônia que a uniapara sempre a Armond Wulf. Sim, havia se casado com um estranho, poiso conhecera havia apenas uma semana.

Armond ajudou-a a descer da carruagem e seguiram para a porta dafrente, que foi imediatamente aberta pelo prestativo Hawkins.

— Por favor, prepare o quarto ao lado do meu para lady... lady Wulf.

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— Está certo, milorde — o mordomo respondeu sem demonstrarqualquer espanto pela novidade. — Coloquei à mesa uma refeição fria, naesperança que voltasse para casa ainda esta noite.

— Obrigado, Hawkins — Armond agradeceu e conduziu Rosalindpara dentro da mansão sombria.

A sala de jantar estava iluminada por um enorme candelabro,colocado ao centro da mesa longa com apenas um lugar arrumado àcabeceira. Armond dirigiu-a para uma poltrona ao lado da sua.

— Como sua presença não era esperada, vamos dividir o prato. Estácom fome?

— Muita — ela respondeu, ansiosa por livrar-se do vazio noestômago.

A mesa era farta e Armond serviu-os com pedaços de presunto,

galinha, grossos pedaços de queijo e pão. Em seguida, pegou a taça devinho, provou a bebida e passou-a para que Rosalind fizesse o mesmo. Pormais bizarro que pudesse parecer, compartilhavam de um jantar íntimo.

— Precisamos discutir alguns assuntos importantes — ele anunciou.

De fato havia muita coisa por definir, a primeira delas seriaestabelecer quais os deveres de uma esposa em um casamento tãoinusitado quanto aquele. Depois, certamente teriam que resolver comoprocederiam em relação a Franklin e sua mãe. Em meio a tamanhotumulto, Rosalind esquecera-se completamente de suas obrigações com amadrasta.

— Não quero que volte àquela casa sem a minha companhia.— Está bem — Rosalind concordou. — Não pretendo ficar sozinha

com Franklin. Nunca mais.

— Da mesma forma como se você quiser sair ou mesmo comparecera algum evento social, eu a acompanharei. Se bem que, agora queestamos casados, tenho dúvidas de que será convidada para algumevento, infelizmente. Se quiser fazer compras, Hawkins ou eu mesmo aacompanharemos. Não pretendo mantê-la como prisioneira, mas queroprotegê-la como prometi.

Armond assumiu um tom extremamente formal, embora sem perdero charme.

— E quanto a nós dois? Qual o tipo de relacionamento que teremosdaqui para frente? — Rosalind perguntou, corajosa.

A luz amarelada das velas refletiu-se nos olhos de Armond, quandoele a encarou.

— Está em dúvida se partilharemos o mesmo leito?

— Exatamente — ela respondeu, ignorando o sangue arder em suasfaces.

— Não...

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— Não? — Rosaiind insistiu, corando ao perceber a doce provocação.— Nunca?

—Prefiro deixar a seu critério. Apesar de ter direitos como marido,não vou exigi-los a menos que seja de sua vontade. O que não me impedede tentar infringir a regra...

— E filhos?

Mesmo antecipando a resposta, Rosalind resolveu arriscar. Àquelaaltura já sabia ao menos que Armond trapacearia naquele jogo de seduçãose preciso fosse.

— Nem pensar. — E assumindo um ar mais grave, continuou: — Amaldição se perpetuará por todas as gerações.

— Não entendi o que disse.

Prendendo-a com o olhar, ele tomou um gole de vinho providencial

antes de mudar de assunto.— Você acha que Franklin seria capaz de matar?

Rosalind foi tomada de surpresa com a pergunta e terminou porengasgar com um pedaço de galinha.

— Você quer saber se o considero um assassino? — ela perguntou,aceitando o vinho que ele lhe oferecia.

— Acredito que ele tenha assassinado Bess Conner, ou a tenhaferido bastante. Acho que ele foi o responsável por plantar o corpo,encontrado em minha propriedade esta manhã, por vingança, ou para me

afastar do seu caminho.— Mas quais as razões que ele teria para praticar algo tão horrível

assim?

Armond deu de ombros.

— Você é a razão de tudo. Na certa, Franklin achou que você mepediria ajuda. Ou talvez por eu ser um alvo fácil no jogo que ele própriocriou.

Rosalind ficou em silêncio, considerando que as suspeitas eram defato verdadeiras. Franklin era um homem cruel, violento, mas seria

também um criminoso?— Sei que ele perde a cabeça facilmente. Mesmo assim, não consigo

crer que Franklin seja capaz de matar uma mulher.

— Caso eu consiga provar que seu irmão é responsável pelos doiscrimes, como você reagirá?

Era difícil prever uma reação diante de fatos tão sórdidos. Ela temiapela madrasta. Se bem que a duquesa de Montrose não estava conscienteo suficiente para perceber o que se passava à sua volta. Quem poderia semachucar seria ela própria.

— Como pretende provar que Franklin é culpado? Aliás, quandovamos enfrentá-lo para comunicar nosso casamento? A essa altura ele já

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deve ter notado minha ausência.

—Vamos encontrá-lo logo pela manhã — Armond respondeuservindo-se de mais um pedaço de pão. — E quanto ao que farei paraprová-lo culpado, vou segui-lo até pegá-lo em flagrante.

O medo que a atingira quando da chegada à mansão, voltou a lhecausar arrepios pelo corpo. Embora soubesse que em algum momentoteria que enfrentar Franklin, estava temerosa das reações de Armond etambém ao perigo que se exporia se seguisse um criminoso.

— Acho que seguir Franklin é muito perigoso — ponderou.

— Se ele for tão vil a ponto de matar uma mulher, não acredito quepensará duas vezes antes de enfrentar um homem.

— Estou ciente disso. Saiba que o que eu menos queria naquelemomento era ser covarde — ele sentenciou, delineando a borda da taça

com a ponta do dedo para depois chupá-lo.—Vejo agora que estava sendo sensato, enquanto eu não... — ela

respondeu, atenta aos movimentos daquela mão forte. Rosalind entendeuque ele de fato não jogaria honestamente. O jogo da sedução estavaapenas começando. Na verdade, começara desde a noite em quetrocaram o primeiro olhar. Havia uma forte atração física entre eles, inútilnegar a resposta dos corpos sedentos. Rosalind ansiava por mais, mereciamuito mais. Mas como fazê-lo entender seu desejo?

—Desculpe-me interromper, lorde Wulf, mas Gabriel acaba dechegar.

Perplexa, ela desviou a atenção de Armond para Hawkins queacabara de entrar sem se fazer notar.

— Gabriel? — Armond pareceu tão surpreso quanto Rosalind. — Oque ele está fazendo aqui?

—Tomei a liberdade de chamar seus irmãos quando soube que tinhasido preso.

— Está certo, mande-o entrar.

Armond tomou mais um gole de vinho, enquanto ela mantinha osolhos fixos na porta da sala. Não demorou muito e ouviu o ruído surdo debotas pesadas no assoalho de madeira e um homem imponente entrou nasala. Gabriel não era tão alto quanto Armond, mas era mais musculoso,dono de um físico de camponês.

Impossível manter o olhar longe da figura tão atraente de Gabriel.Este, por sua vez, mostrou-se menos refinado do que o irmão mais velho.No entanto, o que faltava em refinamento era perfeitamente compensadopela beleza selvagem. O rosto marcante era delineado por escuras suíças.O maxilar era tão protuberante que parecia ter sido esculpido em granito.Os cabelos eram mais escuros do que os de Armond, mas entremeado pormechas tão claras que pareciam brancas à luz das velas. Gabriel era

capaz de tirar o fôlego de uma mulher com a simples força de suapresença.

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— O que diabos aconteceu esta manhã e como... — Gabriel parou defalar assim que notou a presença de uma mulher na sala.

— Essa é lady Rosalind, minha esposa — Armond fez as devidasapresentações. — E esse é meu irmão Gabriel.

— Esposa? Você está louco?— Vamos conversar no escritório — Armond instruiu o irmão. —

Estarei lá daqui a pouco.

— Mas antes responda por que se casou? — Gabriel insistiu,ignorando a presença de Rosalind. — Em nome de Deus, por que fez umacoisa dessas? Nós combinamos que...

— Gabriel — Armond o advertiu, subindo o tom de voz. —Cumprimente minha esposa e saia daqui.

A voz imperativa do irmão foi acatada e Gabriel empertigou-se,

dirigindo-se à cabeceira da mesa.— Sra. Wulf... — Uma leve reverência terminou o cumprimento.

—Pode me chamar de Rosalind — ela respondeu, sorrindo para ocunhado.

— Se assim o desejar... — Gabriel murmurou com expressão graveno rosto.

—Meu irmão não é dos homens mais educados — Armondapaziguou. — Talvez seja porque passa a maior parte do tempo nointerior.

— Acho melhor eu me retirar — informou ela pressentindo que seucasamento não começara bem.

— Como quiser. Hawkins lhe mostrará o quarto — respondeuArmond, levantando-se para puxar a cadeira para que ela fizesse omesmo.

Quando a distância entre eles se estreitou, ele a enlaçou pelacintura, puxando-a contra si. Rosalind então reparou que os olhos deleassumiam novamente aquele brilho enigmático. Ou talvez fosse apenas oefeito da luz indireta.

— Boa noite, Rosalind.Aproximou-a ainda mais, e ela limitou-se a fechar os olhos e

entreabrir a boca em um convite. Talvez tenha sido pelo vinho ou quemsabe estivesse embriagada pela proximidade dos corpos. Armond deixouque seus lábios brincassem com aquela boca ansiosa por algunssegundos, antes de tomá-la em um beijo ávido. Rosalind permitiu que alíngua explorasse sua boca enquanto as mãos dele deslizavam por suascostas, pressionando seus quadris contra as coxas musculosas.

O desejo se materializou através da protuberante masculinidade que

pressionou seu ventre. Agora tinha certeza de sua habilidade em excitá-lo,encharcando-o pelas mais primárias emoções. A fantasia, ensaiada nocopo de vinho, foi aos poucos sendo realizada quando as mãos do marido

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percorreram as curvas de seu corpo.

Não demorou muito para que ela subisse as mãos pelo torso forte eterminasse por emaranhar os fios da vasta cabeleira loira.

— Ainda me lembro do que senti a primeira vez que a toquei —

Armond sussurrou-lhe ao ouvido. — Não me esqueci do seu perfume, doseu gosto... desde então você é única em meus sonhos, Rosalind.

Um calor já conhecido umedeceu suas partes íntimas latentes e sefez presente na recordação da boca quente beijando seus seios,mordicando os mamilos. Ah, como era difícil controlar a vontade deimplorar para que aquelas carícias extasiantes se repetissem. Doce torturaà espera por sentir novamente os lábios dominando seus sentidos,deixando em chamas a alma desprotegida.

De repente foram despertados da hipnose que os transportara paraum lugar distante pela voz grave de Hawkins que anunciava:

— Lorde Gabriel está ficando impaciente, milorde. Pediu para que euverificasse o porquê da sua demora. O quarto da senhora já está pronto.

Rosalind agradeceu silenciosamente ao mordomo por tê-laresgatado do estado de torpor em que se encontrava. Como pôde deixarque a emoção suplantasse a razão? Momentos antes, concluíra quedesejava muito mais do que prazeres sexuais, mas quem sabe, haviaesquecido de avisar ao próprio corpo daquelas decisões. No entanto,resistir a Armond não era tarefa fácil. Ele exalava sedução, bastavaestarem na mesma sala para que a química se estabelecesse e ela seesquecesse das juras que fizera anteriormente.

— Acho melhor subir com Hawkins — ela anunciou já se dirigindopara a porta. — Boa noite.

Rumando em direção à saída, mesmo não olhando para trás, sentiuum olhar penetrante devastando suas costas.

Quanto mais se afastava de Armond, mais fácil ficava recobrar aconsciência. E foi subindo os degraus para o segundo piso, que sentiudissipar o calor que a deixara lânguida momentos antes, permitindo quereassumisse a lucidez.

Hawkins abriu a porta de folha dupla, revelando um quarto enormemuito bem mobiliado, embora um tanto antiquado.

As chamas do fogareiro relutavam em acender pelas mãos domordomo, fazendo-a passar as mãos pelos braços, na tentativa de seesquentar.

O mordomo fez uma mesura e deixou o quarto. Somente quando aporta bateu que Rosalind entendeu o que tinha acontecido: estava casada.Casada com Armond Wulf, vivendo sob o mesmo teto.

— Vou perguntar mais uma vez, você está louco? Armond serviu umcálice de brandy e estendeu-o para o irmão. Gabriel estava sentado em

uma poltrona de veludo em frente à mesa de mogno de Armond, quepreferiu sentar-se ao lado do irmão.

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— Bem, o boato é esse mesmo, não é? — Armond respondeu seco eapoiando os cotovelos nas pernas dobradas, afundou o rosto nas mãos. —As coisas não são assim tão simples. Rosalind é nossa vizinha. Eu estiveem seu quarto em duas ocasiões, a noite passada foi uma delas.Passamos a noite juntos, porém eu apenas a confortei. Quando cheguei

em casa hoje cedo, havia dois inspetores à porta do estábulo meaguardando. Outra mulher foi assassinada e encontrada em nossapropriedade.

— Entendi, a vizinha é seu álibi?

— Exatamente, mas ela se apresentou sem que eu tivesse pedido.Arriscou-se arruinando a própria reputação sem que tivéssemos qualquerrelação mais intensa... bem, ao menos não totalmente. Não me restououtra alternativa senão pedi-la em casamento.

— Você não perde a mania de bancar o cavalheiro, não é Armond?

— Gabriel quis saber em tom de ironia. — E por quê? Não fará diferençaalguma perante a sociedade. Aqueles que um dia foram amigos dosnossos pais, hoje ficarão felizes em nos ver pelas costas.

Apesar da triste situação, Armond riu do jeito como o irmãodescreveu.

— Além do mais, tenho fortes suspeitas de que o irmão de Rosalindé o culpado pela morte de Bess O’Conner e pela outra, encontrada hojecedo. Franklin Chapman tem sido violento com Rosalind, sem contar quequeria forçá-la a se casar com um devasso. Ela precisa da minha proteção— ele continuou o relato, endireitando o corpo na cadeira.

— Você não pode assumir esse papel — Gabriel concluiu, meneandoa cabeça. — Aliás, nenhum de nós pode. Não temos sequer o direito desermos os cavalheiros que aprendemos. Você já está apaixonado por ela.Não precisa esconder. Mas... quem irá protegê-la de você?

A pergunta feriu-o como uma adaga afiada. Por que imaginara quecasando-se com ele, Rosalind estaria mais segura do que ao lado de outrohomem? Ele não se imporia a ela, mas se por acaso viesse a se apaixonar,podia também matá-la. Isso não podia acontecer. Nunca.

— Bem, agora é tarde — finalizou ele. — Não posso desfazer o que

está feito. Serei o protetor de minha esposa, nem que para isso preciseusar a fúria do lobo que existe em mim. Ao menos essa inverdade aonosso respeito conseguirei provar.

Gabriel levantou-se pensativo e dirigiu-se até o móvel das bebidaspara servir-se de mais uma dose.

— Temos um outro problema. Jackson sumiu.

Armond presumiu que o irmão mais novo estivesse mais interessadoem visitar os bordéis londrinos do que procurar saber o que acontecera noestábulo da família naquela manhã.

— Desaparecido desde quando?—Logo depois que você saiu. Pensei que ele havia decidido

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acompanhá-lo e estivesse por aqui. Hawkins me disse que não o vê desdeque você voltou para casa.

— Eu também não o vi.

 Jackson era uma das preocupações de Armond. O caçula dos irmãos

Wulf era o responsável pela má reputação da família. Era um mulherengovaidoso e amigo de um bom copo, desde que voltara do exterior oitomeses atrás. Jackson não tinha interesse algum nas propriedades dafamília. Aliás, em nada além de mulheres ou bebidas.

— Não quero preocupá-lo e não direi nada antes de ter provas. Masacredito que alguma coisa aconteceu a ele enquanto esteve no exterior.

— Você acha que ele caiu de amores por alguém? — Armond sentiuo sangue congelar.

Gabriel estreitou a distância que o separava do irmão.

— Ele tem passado muito tempo embrenhado pelos bosques atrásda nossa propriedade; principalmente nas noites de lua cheia.

De repente um pensamento obscuro ocorreu a Armond. Jacksonestivera na cidade quando haviam encontrado o corpo de Bess. E agora,que outro corpo fora encontrado, ele também estava por perto, apesar deandar sumido. A suspeita causou-lhe arrepios. Talvez fossem apenasestranhas coincidências, daria ao irmão o benefício da dúvida.

— Precisamos encontrá-lo. Vamos iniciar a busca logo cedo —Armond concluiu.

Gabriel assentiu com um sinal de cabeça, para em seguida olhar emdireção ao estábulo.

— E o que vai fazer com sua esposa? Ela não estará esperando pelomarido na cama? Que tipo de casamento é esse, Armond?

— É um casamento de conveniência e nada mais.

— Ah, sei. — Gabriel soltou uma sonora gargalhada. — Reparei queela também é convenientemente bonita, certo?

— Melhor afastar qualquer olhar em direção a ela — Armond orepreendeu, com um tom sério de voz. — Rosalind é problema meu. Pode

deixar que eu me encarregue desse assunto.— Não se esqueça do que aconteceu com nosso pai, quando um

casamento do mesmo tipo transformou-se em algo mais sério, mesmodepois de anos convivendo com mamãe. Você foi testemunha de comotodos nós... Quer ter o mesmo triste destino?

Armond se lembrava muito bem do que havia acontecido e claro quenão deixaria que o mesmo acontecesse novamente.

—Assim que encontrarmos Jackson, quero que vocês dois voltempara o interior. Deixe que eu mesmo enfrente meus conflitos.

—Talvez seja esse o conflito que poderá nos salvar a todos.Armond não havia considerado que aquela poderia ser a chave

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deixada em poema pelo primeiro Wulf amaldiçoado. Ele não saíra àprocura do inimigo, o caminho havia sido o inverso.

O banho estava delicioso. Sabendo que Rosalind não levara nenhumde seus sabonetes perfumados, Hawkins lhe entregara uma barra com operfume de Armond. Tinha um toque de sândalo que remetia àmasculinidade do marido.

Teria de se conformar com o que recebera, enquanto não pudessebuscar suas coisas na casa do irmão. Só em pensar na possibilidade deencontrar com Franklin, sentiu um arrepio de medo percorrer seu corpointeiro. De qualquer forma, não sentiria saudade dos vestidos que ganharado irmão. Eram roupas compradas apenas para exibir seu corpo esculturale assim atrair um possível casamento lucrativo.

E por ironia do destino, percebeu que tinha atraído um casamentode conveniência de uma forma ou de outra.

Passara a primeira noite sozinha e havia acordado várias vezes coma nítida sensação de estar sendo observada, desnudada por um olharmisterioso. Embora tivesse certeza de que estava cochilando, a sensaçãode ter como companhia a sombra de um corpo másculo, com olhos azuisbrilhantes como brasa, fora muito real.

Mais uma vez sentiu a pele levantar em um doce arrepio, talvezpelas lembranças reais e imaginárias, ou mesmo porque a água do banho já estava fria.

Pondo de lado os pensamentos, alcançou a toalha que Hawkinshavia providencialmente deixado ali. Ao sair da banheira, enrolada notecido aveludado, a porta de ligação se abriu com um estrondo.

O olhar assustado deparou-se com o de Armond que sequerpreocupou-se em desviar a atenção de seu corpo frágil e trêmulo.

— Desculpe se a interrompi — ele disse, estudando-lhe as pernasbem torneadas. — É melhor buscarmos suas coisas.

— Vamos sair agora? — ela perguntou esquecendo-se de sua nudezparcial.

— Eu disse a noite passada que seria a primeira coisa que faríamos

hoje. Você precisa dos seus pertences.— Fico pensando se não seria melhor vestir o mesmo vestido peloresto da vida. Poderia dormir com as suas camisas...

Armond pegou a camisa que estava jogada sobre a cama, levou-a aorosto e de olhos fechados sentiu o perfume que dali exalava. Em seguida,recolocou-a na cama.

— Sou um homem de bens, Rosalind. Posso inclusive comprar umguarda-roupa novo, se essa for a sua vontade. Mas pensei que vocêquisesse pegar algumas coisas de uso particular.

— Quase nada restou que me seja realmente importante.Lembrou-se quando meses atrás fora procurar um par de brincos de

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pérolas, que pertenceram à sua mãe, e descobriu que a caixa de jóiasestava vazia. Não havia nada de muito valor, mas mesmo assim Franklinpenhorara tudo. Quando questionado, ele dera de ombros dizendo queprecisava do dinheiro.

— Tenho uma escova de cabelos e um pente de prata quepertenceram à minha mãe. Gostaria de mantê-los comigo.

— Você dormiu bem?

Armond mudou de assunto tão repentinamente que a pegou desurpresa.

— Sim... — respondeu sem jeito. — Agora gostaria de me trocar, sevocê não se importar.

— Ora, fique à vontade — ele respondeu com um sorriso maliciosonos lábios.

— Bem, com você aqui vai ser impossível. Sei que sou sua esposa,mas espero que isso não signifique que perderei minha privacidade.

— Bem, não temos uma aia de quarto para você. Então, pensei queenquanto não arrumarmos alguém, eu poderia...

Imaginar Armond ajudando-a se vestir foi como imaginá-lo tocandosua pele.

— Obrigada, posso resolver o assunto sozinha — respondeu,virando-se para esconder o rosto corado.

Mesmo de costas para ele, sentiu o calor da respiração ofegante de

encontro à pele nua do pescoço. Em um gesto sensual, Armond afastouuma mecha de cabelo que cobria um dos ombros desnudos e encaixou aboca na curva insinuante, cobrindo-a de beijos ardentes.

— Você tem idéia do quanto é linda? Sua beleza beira a perfeição.Sabe o quanto a desejo, não?

Rosalind lutou contra a vontade de se deixar apoiar naquele corpoviril. O timbre da voz de Armond era como uma carícia que a deixavaenfeitiçada. No entanto, a razão sobrepujou o desejo, fazendo-a lembrarque queria mais do que prazer físico. O que desejava era uma comunhãode almas.

— Você disse que eu diria o momento exato para as carícias — elarelembrou apesar de sentir as pernas trêmulas. —Há muito tempo que nãofaço as minhas próprias escolhas. Além disso, quero muito mais do quevocê imagina me dar.

Pela reação de Armond, ela sentiu que suas palavras não o afetaramapenas fisicamente e sorriu com a pequena vitória.

— O prazer que podemos compartilhar pode ser um frágil substitutopara o amor que deseja, mas é o máximo que poderemos ter. Eu aviseiantes mesmo que fizéssemos nossas promessas diante da igreja.

A sinceridade poderia ser admirável em certos momentos, mas emoutros tinha o poder de arrasar um coração. Foi o que sentiu Rosalind ao

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ouvir aquelas palavras e prever um futuro sombrio para ambos.

— Presumo que então fizemos promessas falsas — concluiu,amarga. — Nada em nossa união é verdadeiro. Eu teria o mesmo destinose houvesse casado com Penmore.

Ele surpreendeu-a ao encará-la no fundo dos olhos com a mais sériadas expressões:

— Você realmente acredita no que está dizendo?

Uma onda de culpa a invadiu, pois sabia que nada poderia sermelhor do que estar ao lado de Armond.

— Não — admitiu. — Peço desculpas pelo que disse. Mas aconteceutudo muito rápido. Preciso de tempo para me acostumar à nova realidadee saborear a idéia de tomar minhas próprias decisões novamente.

O que ela omitiu foi o fato de que havia muito tempo que não se

sentia tão segura de si, mas ansiava por mais, queria ser amada. Sabiaque tinha forças para enfrentar qualquer desventura, contanto quecontasse com uma ligação afetiva muito forte.

— Então cabe a você decidir — Armond sentenciou, embora nãoestivesse satisfeito com a postura que ela acabara de tomar. E antes desair do quarto, virou-se para acrescentar: — Encontre-me na sala derefeições quando estiver pronta. Vou pedir a Hawkins que prepare umgeneroso café da manhã.

Segurando a toalha com força, como se estivesse se protegendo,Rosalind limitou-se apenas a assentir com a cabeça. Assim que ele saiu,

deixou escapar um longo suspiro. A situação toda era muito estranha. Eracomo se houvesse pulado as fases da conquista, do noivado, para depoistornar-se a esposa de Armond. Agora portavam-se como pessoaseducadas, dançando ao som de frases de cortesia e mesura.

Concluiu que era melhor ocupar-se dos percalços mais próximos.Lembrou-se da conversa que tiveram na noite anterior e o medo voltou aassombrá-la. E se Franklin fosse mesmo um assassino? Apesar de tudo,não acreditava que seu irmão fosse capaz de tamanha atrocidade, masàquela altura, já não tinha mais certeza de nada. Um homem que nãotinha o menor respeito a ponto de bater em uma mulher, podia muito bem

desprezá-la o suficiente para tirar-lhe a vida.Pouco depois, já pronta, desceu as escadas e ouvindo o som de

talheres batendo nos pratos, dirigiu-se para a sala de refeições. Armond eo irmão estavam à mesa, em silêncio.

Embora caminhasse sem fazer barulho, Armond levantou os olhosantes de ela entrar na sala.

— Venha, Rosalind, sente-se ao meu lado — convidou, levantando-se, e, com um sinal de mão, instruiu o irmão para fazer o mesmo.

Não se preocupando em demonstrar o descontentamento, Gabriel

levantou e fez uma leve mesura cumprimentando-a.— Bom dia, lorde Gabriel — ela cumprimentou, enquanto Armond

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puxava a cadeira.

— Dia... — ele murmurou, voltando a se sentar e concentrar-se nacomida.

Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente. Tudo fazia

crer que conversar durante a refeição não era o forte dos irmãos Wulf.Contudo, Rosalind achou importante tentar ser simpática com o cunhado,pelo bem de Armond. Mas, qual assunto que deveria abordar? Logo,lembrou-se de que ele gostava de ficar no campo, cuidando daspropriedades da família.

— Fale um pouco sobre a propriedade Wulfglen, lorde Gabriel. Euadorava morar nas terras do meu pai no campo. Fui muito feliz lá atéprecisar vir a Londres — interrompeu o que dizia ao lembrar que depois docasamento, Montrose passaria para as mãos de Armond, porém o título denobreza não faria parte do dote, que seria de seus filhos... mas por que se

preocupar? Sabia que não teriam filhos.— O lugar é lindo — Gabriel admitiu, embora relutante. — A terra é

muito boa, o pasto é ótimo para os cavalos, sem contar o espaço que elestêm para galopar.

— Eu amo cavalos — ela disse com os olhos brilhando. — Já meencantei com a égua árabe que vi no estábulo de Armond.

— Sim, ela é muito bonita. — Gabriel largou o garfo. — Ela ainda nãoprocriou. Armond acha que ela não tem estrutura para tanto e que serviriamelhor como montaria de uma mulher.

— Ela é mesmo delicada e tem uma bela linhagem. Percebe-se queé um exemplar árabe, com as narinas largas e um arco de pescoçoperfeito. Talvez se a cruzasse com um garanhão não muito maior do queela, fosse possível gerar potros com a mesma linha, mas com umaestatura mais robusta.

— É exatamente isso que tenho sugerido ao meu irmão — Gabrielvibrou e Rosalind notou que o havia conquistado enfim. — Viu, até ladyWulf concorda comigo.

Armond pareceu confuso com a sintonia repentina entre os dois.

— Rosalind gostou tanto da égua que eu já tinha decidido empresenteá-la com o animal —Armond informou. — Agora cabe a ela decidirse a égua deve procriar ou não.

— Um presente? — Rosalind gostou da idéia. — Obrigada, Armond,mas não posso aceitar. É um animal muito caro.

— Claro que pode, afinal estamos casados. Não há nada de erradoem um marido querer presentear a esposa.

Novamente, o silêncio se fez reinar e assim permaneceu até o finalda refeição.

Hawkins e mais dois empregados entraram para tirar a mesa.Armond levantou-se e puxou a cadeira para que Rosalind se levantasse.

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— É hora de irmos buscar suas coisas.

— Você está armado? — ela perguntou, sentindo o estômago revirarcom a antecipação do encontro. — Não tenho idéia do que Franklin écapaz de fazer, temo que ele atire em você.

— Se quiser posso acompanhá-los — Gabriel ofereceu. — Os Wulf sabem se proteger.

— Seria bom se estivesse na minha retaguarda — Armondconcordou.

Os três seguiram para o hall de entrada. Quanto mais perto seaproximavam da saída, maior era a ansiedade de Rosalind. Ao contráriode Armond, que não demonstrava nervosismo, mas sim determinação.

Hawkins abriu a porta e o sol entrou glorioso, iluminando a todos.Menos a Rosalind que sentia-se nas trevas.

Mal haviam saído, quando uma carruagem parou à porta dela esaltaram Franklin e Penmore. Rosalind viu o ódio estampado no rosto doirmão, quando este a viu ao lado de Armond e não hesitou em partir paracima dos dois.

— Solte minha irmã agora mesmo! — gritou. — Você não tem odireito de tirá-la de mim.

Armond sequer respondeu, apenas desferiu-lhe um soco do maxilar.Franklin cambaleou e não teve tempo de se equilibrar, quando outro socoo atingiu em cheio de novo.

— Eu deveria matá-lo — Armond vociferou. — E farei isso mesmo seousar tocá-la novamente.

— Wulf — Penmore tentou intervir.

— O que disse, visconde? — Gabriel perguntou em tom ameaçadorpostando-se ao lado do irmão.

O rosto gordo de Penmore ficou vermelho e ele retrocedeu algunspassos.

— Covarde! — Franklin zombou.

— Ele é tão grande quanto uma árvore, Chapman, você que o

enfrente. — Penmore apressou-se em voltar para dentro da carruagem,fechando a porta.

Enraivecido pela covardia do companheiro, Franklin enfiou a mãodentro do casaco e sacou uma arma. Rosalind quase gritou de pavor.

De repente, ela ouviu o som de uma outra arma sendo engatilhada.Virou-se e viu Hawkins apontando um revolver para seu irmão.

— Presumo que não seja bem-vindo aqui, senhor — disse, fazendouso de sua linguagem formal, agravada pela expressão séria.

Franklin baixou a arma, mas seus olhos frios faiscavam de raiva aoencarar a irmã:

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— Você estragou tudo. Uniu-se a um assassino. Ele vai matar denovo, tenho certeza. E a próxima vítima poderá ser você, irmãzinha.

— Não dirija a palavra à minha esposa novamente — Armondameaçou. — Não sou criminoso, mas a tentação de fazer minha primeiravítima é enorme. Não me provoque, Chapman.

O desafio estava lançado. Franklin seguiu em direção à carruagemde Penmore e entrou sem dizer mais nada. Depois do comando dovisconde, partiram em disparada.

Rosalind respirou aliviada. O primeiro confronto já havia passado.Notou que a carruagem não seguiu para a propriedade vizinha, o quesignificava que ela poderia ir até lá e pegar suas coisas.

— Ele já foi — ela disse, vendo que Armond ainda estava paradovendo a carruagem se afastar.

— Por enquanto — ele concordou, sem desviar o olhar da estrada. —Mas não acho que isso tenha terminado. Você me odiará se eu der um fimà vida dele.

— Espero que não chegue a tanto. Quem sabe você não o tenhaassustado para sempre?

— Não acredito que ele se amedronte tão facilmente. Nunca baixe aguarda quando ele estiver por perto... talvez seja melhor ficar com um péatrás em relação a mim também — ele acrescentou, encarando-a.

Rosalind estremeceu ao conhecer um outro lado de Armond. Umlado perigoso, de raiva contida, que não notara antes. Era quase palpável

o desejo de matar Franklin e terminar o assunto de uma vez por todas.— É aquela casa? — Gabriel perguntou, apontando para a

propriedade vizinha.

— Sim — Rosalind respondeu. — É melhor irmos agora enquanto elenão está.

Armond virou-se para Hawkins e ordenou:

— Mande um coche até lá para buscar os pertences de lady Wulf. —Virando-se para Rosalind, acrescentou: — Venha.

Ela concordou com um aceno de cabeça.— Vou também — Gabriel avisou. — Acho que vocês precisam de

alguém para vigiar a porta.

E os três partiram com Rosalind preocupada em acompanhar aslargas passadas de Armond. O perigo estava evidente em cada traço dorosto marcante e, para sua surpresa, ela notou o quanto aquilo aestimulava.

Foi com enorme satisfação que viu Franklin apanhar. Durante meseshavia sofrido a violência calada, sem poder revidar. Mas agora tinha

alguém para protegê-la. E, querendo estar ligada àquele homem pelo maissimples dos gestos, ela tomou as mãos grandes nas suas.

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Armond sorriu, deixando transparecer que sua raiva fora amenizada.Durante todo o trajeto não trocaram olhares, mas, ao se aproximarem dodestino, ele apertou a mão delicada como se quisesse ter certeza da suavontade de entrar naquela casa novamente.

Com a ajuda de Mary, Rosalind embalou seus pertences, deixandode lado os vestidos que Franklin a presenteara. Depois pediu que ococheiro subisse para carregar os baús. Graças à ganância de seu irmão,saía de casa com pouquíssima coisa.

— Preciso falar com minha madrasta antes de partir — elacomunicou a Armond e seguiu para os aposentos do terceiro andar dacasa.

Infelizmente a duquesa não apresentava nenhum sinal de melhora.Rosalind curvou-se e tomou as mãos frias da madrasta e sussurrou-lhe aoouvido:

— Eu me casei. Não moro mais aqui, mas prometo vir visitá-lasempre que puder.

Não houve resposta. Rosalind levantou suspirando e dirigiu-se aMary:

— Preciso de um favor.

A criada estava parada em um canto, enxugando as lágrimas comum lencinho de linho.

— Lamento tanto por tudo isso. A senhora forçou esse casamentocom esse homem misterioso. Não ouso imaginar o que pode acontecer,

milady.— Estou bem — Rosalind procurou tranqüilizá-la. — Mas preciso

continuar visitando a duquesa.

— Milady pede que eu vá até aquela casa sombria?

— Pensei em outra coisa para não sujeitá-la a isso. Quando Franklinnão estiver em casa, estenda um lençol na varanda do quarto que eucostumava ocupar. Se ele perguntar, diga simplesmente que estácolocando as roupas de cama para arejar.

— Acho que vai funcionar — Mary concordou. — Acredito que aduquesa sabe que está aqui, mesmo que não expresse. Acho que suapresença a conforta.

Rosalind colocou a mão carinhosamente sobre o ombro damadrasta.

— Espero que ela saiba o quanto a amo — disse com os olhosmarejados. — Franklin vem visitá-la, Mary?

— É muito raro. A única coisa que faz é preparar o chá que elacostuma tomar diariamente.

— Só Deus sabe quanto sacrifício ela fez por ele, a começar pelocasamento com meu pai. Espero que meu irmão reconheça essa devoçãode sua mãe.

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— Se permite dizer, o Sr. Chapman não se preocupa com maisninguém a não ser com ele mesmo. Presumo que saiba disso, não?

Rosalind não precisou responder. Mary sabia o quanto Franklin amaltratava. Tudo o que se passava sob o teto da família os empregadosficavam sabendo. De repente se lembrou das suspeitas de Armond quantoà ligação de Franklin no assassinato de Bess O'Conner.

— Mary, alguma vez Franklin trouxe mulheres para cá?

— Ele costumava receber algumas — confessou a criada. — Mas issofoi antes de a senhora vir para cá. Ele me pedia para passar a noite foraquando ia receber seus amigos.

— Quando exatamente a duquesa começou a mostrar sintomas dadoença?

— Ah, já faz tempo. — Mary franziu o cenho, tentando lembrar. —

Ela começou a ficar estranha de uma hora para outra. Ficava nervosa echateada por qualquer coisa. Nessa época, os dois brigavam muito. Achoque ela não gostava dos amigos e das festas.

— Rosalind, sua bagagem já está na carruagem — gritou Armond doandar de baixo.

— Já estou descendo — anunciou e abaixando-se para beijar a testada madrasta, murmurou: — Não a abandonarei jamais. Virei vê-la sempreque puder. Se fosse possível, eu a levaria para morar comigo —sentenciou, olhando em volta do quarto sombrio e frio.

E ao puxar a mão para sair, teve a nítida sensação de que a

duquesa apertou seus dedos levemente. Mesmo que tivesse sido sóimpressão, ao menos era um alento de que um dia a veria com saúde denovo.

— É melhor a senhora ir antes que o Sr. Chapman chegue — Maryadvertiu.

Rosalind abraçou a governanta antes de sair. Armond a aguardavano pé da escada. Ao vê-lo a sua espera, soube que sua vida, a partirdaquele momento, teria outro sentido e que valeria a pena. No entanto,não sabia se conseguiria conviver com o pouco sentimento que o marido

estava disposto a oferecer. Gostaria muito de acreditar que o seucasamento fosse diferente dos tantos que aconteciam diariamente emLondres. Ao contrário das outras esposas que dividiam o leito matrimonialapenas por obrigação, Armond havia deixado ela escolher se o queria emsua cama ou não. Mas demandaria muito manter a opção feita, sabendoque o homem que tanto desejava estava ali ao lado, separados por apenasuma porta destrancada.

Ao deixá-la de volta em casa, Armond sabia que Rosalind passaria orestante do dia desfazendo os baús. Então, instruiu Hawkins para nãoperdê-la de vista enquanto ele e Gabriel saíam à procura de Jackson.

— Por onde devemos começar? — Gabriel perguntou ao montar emseu cavalo.

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— Achei que soubesse — Armond comentou secamente.

— Quero saber por qual bordel deveremos começar.

— Sabemos que a preferência de Jackson era pelo Queenie's, forados limites da cidade. Vamos até lá — Armond respondeu, enquanto

selava o alazão castanho.Os dois homens deixaram o estábulo, e Armond procurou não olhar

para o lugar onde haviam recentemente achado uma mulher morta.Apesar de não a ter conhecido, olhar para aquele corpo lívido o deixaratranstornado, com um desejo de vingança tanto por ela quanto por elepróprio. Talvez a primeira mulher que fora encontrada naquele mesmolugar, tivesse ido para lá por achar que encontraria em sua propriedadeum refúgio de um provável criminoso. Contudo, daquela vez havia sidodiferente. Era certo que alguém plantara o corpo ali para incriminá-lo,aproveitando o precedente. Acreditava que Franklin tinha motivos de

sobra para fazer tamanha maldade. Mas por que ele fora tão descuidadoem cometer um segundo crime, logo após o corpo da criada ter aparecidoem sua própria casa?

— Sua mulher parece ser boa pessoa — Gabriel comentou derepente. — Em outras circunstâncias eu a teria olhado com outros olhos.

— E eu a amaria se pudesse — Armond retrucou na mesma hora.

— Já o irmão não merece consideração nenhuma. Aliás, ficariamelhor com uma bala bem no meio da testa.

Gabriel estava com um semblante sério. Sempre fora briguento.

Seguiram em silêncio até o centro de Londres.— Estamos causando espanto — Gabriel observou ao notar que as

pessoas procuravam se esconder ao vê-los passando pela rua principal. —Mas afinal o que esperam de nós? Que deixemos à mostra as patas e oscaninos afiados para persegui-los?

Armond observou as pessoas desviarem do caminho, pararem defazer suas atividades para espreitá-los. Em meio a todos, viu uma jovemcom quem Rosalind conversara durante o baile dos LeGrande, ladyAmélia. Ela e a irmã os encararam para em seguida levarem um cutucão

severo da mãe preocupada. Claro, eles não mereciam sequer os olharesdas mulheres de bem.

— Quem era?

— Como? — Armond fingiu não entender.

— A linda loira de olhos azuis que acabamos de passar.

— Acredito que seja uma amiga de Rosalind. Eu as vi conversandoquando cheguei a um dos últimos bailes da temporada.

Gabriel ficou surpreso.

— Meu Deus! Não me diga que você anda freqüentando as rodassociais. O que aconteceu? Você sabe que quanto mais reservados formos,melhor será para vivermos em paz.

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— Eu andava muito sozinho. Não me diga que não sente o mesmo,Gabriel.

— Não — respondeu seco. — Não me deixo abater pela solidão.Além do mais, não me envolvo com mulheres, mesmo porque não asdeixo se aproximar. Você deveria ter seguido meu exemplo.

Armond sentiu-se aliviado por saírem dos limites da cidade. Logochegariam ao Queenie's. Assim a discussão estaria encerrada. A últimacoisa de que precisava naquele momento era levar sermões de Gabriel.

A própria Queenie atendeu a porta quando Armond e Gabrielchegaram. A senhora já tinha certa idade, apesar da tentativa de disfarçarcom uma maquiagem pesada.

— Voltem à noite. As meninas ainda estão dormindo.

A mulher estava prestes a fechar a porta quando Armond a impediu,

colocando a bota entre a porta.— Estamos procurando nosso irmão.

— Não os tenho visto aqui há muito tempo — ela respondeu,ajeitando os cabelos vermelhos. — Mas Jackson está lá em cima.

— Gostaríamos de vê-lo, é possível?

— Entrem, mas não façam barulho. Estão todos dormindo.

Armond e Gabriel seguiram a senhora por um hall todo decoradocom peças douradas, em forte contraste com a mobília de veludovermelho.

— Bem, vocês conhecem o caminho. — Ela indicou a escadaria. —Batam na primeira porta à esquerda. Fiquem à vontade para sair depois —instruiu, amarrou o roupão em volta da cintura e seguiu para o quarto.

— Pode deixar que eu subo sozinho — Armond disse a Gabriel. —Não vejo necessidade de os dois invadirem o quarto de supetão. Esperepor mim aqui.

— Não demore — Gabriel assentiu.

Armond subiu as escadas e bateu de leve na porta indicada. O ruídodo ronco dava para ser ouvido do lado de fora. Ele entrou no quarto

totalmente às escuras, e viu o irmão jogado na cama. Dada a situação,chegava a ser irônico encontrá-lo tão inocente e desprotegido. Havia umamulher nua a seu lado. Ao aproximar-se um pouco mais, notou que haviaoutras duas mulheres enroscadas em Jackson, ressonando também.

— Jackson, acorde!

De repente o irmão se mexeu languidamente e levantou paraencarar Armond com os olhos nublados.

— O que está fazendo aqui?

— Eu poderia perguntar o mesmo, apesar de ser óbvio, não?—indagou, apontando as mulheres ainda adormecidas. — Já sei de ondevem a nossa fama...

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  Jackson abriu um sorriso encantador que lhe conferia um ar demenino inocente.

— Ora, onde está o pecado em se gostar de mulheres?

— Talvez o pecado seja em estar com três mulheres na cama ao

mesmo tempo. Mas, ande, vista-se. Precisamos conversar.— Como sabia que eu estava aqui? — Jackson perguntou,

levantando-se cuidadosamente para não acordar as mulheres.

— Gabriel está nos esperando lá embaixo. Hawkins o chamou aLondres para discutirmos um assunto importante. Quando Gabriel chegoue não o encontrou, presumimos que estaria aqui, ou em algum outro lugarsimilar.

— Eu estava entediado — Jackson disse ao espreguiçar-sedemoradamente. — Queria me despedir de todas as mulheres e bebidas

antes de partir.— Bem, vista-se e nos encontre lá embaixo — Armond disse e

deixou o quarto.

 Jackson demorou mais do que o esperado para descer.

— Já não era sem tempo — Gabriel resmungou. — Já estávamoscansados de ficar aqui esperando.

— O dever estava me chamando — Jackson respondeu só para irritaro irmão.

— Vamos embora — Armond ordenou, antes que a briga se

prolongasse. Jackson passou o caminho de volta reclamando de dor de cabeça.

Hawkins apressou-se em abrir a porta antes mesmo que elesterminassem de subir as escadas da frente.

— Lady Rosalind está bem? — Armond perguntou.

— Acredito que esteja cochilando. Até agora está tudo em paz, lordeWulf.

— Posso saber quem é lady Rosalind? — Jackson postou-se ao lado

do mordomo.— Vamos até o escritório — Armond ordenou.

— Vou arrumar um banho para o senhor imediatamente, lorde Jackson — Hawkins sugeriu com cara de desgosto pelo cheiro do rapaz.

Quando estavam os três reunidos no escritório, Armond trancou aporta e sentou-se na poltrona de costume. Jackson seguiu direto para oarmário de bebidas.

— Será que agora posso saber quem é lady Rosalind e o que elaestá fazendo nesta casa?

— É minha esposa — Armond sentenciou.— Como assim? — perguntou o irmão mais novo, deixando o copo

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de bebida cair no chão.

  Jackson ficou petrificado, encarando o irmão com os olhosarregalados. E antes que ele explodisse em perguntas, Armond começou acontar a mesma história que havia dito a Gabriel na noite anterior. Nãoomitiu dizer também a respeito de Franklin Chapman e sobre as suspeitasque mantinha.

 Jackson tomou outro copo e serviu-se de outra bebida.

— E pensar que sou eu que tem fama de se meter em encrencas.Santo Deus, Armond, até mesmo eu, que sou o mais avoado de todos,consigo manter o acordo que temos de não nos casarmos. Você não amaessa mulher, não é? Por acaso já está sentindo os efeitos da maldição?

— Não — Armond garantiu. — Mas ela não me deixou outraalternativa. Pretendo protegê-la, dar meu nome e nada além disso.

Por alguns instantes Jackson ficou perdido em pensamentos,enquanto observava a bebida. Depois virou tudo em um gole só.

— Espero sinceramente, para o seu bem, que você resista aqualquer sentimento em relação a essa mulher. Acredito que sejaresponsável o suficiente para não cair na maldição e ficar à mercê dasfases da lua.

Como Jackson levantou o assunto, Armond sentiu-se confiante paraperguntar:

— E quanto a você, meu irmão? Gabriel anda preocupado com seucomportamento desde que chegou de viagem. Aconteceu alguma coisa

em Paris? Jackson estreitou os olhos em direção a Gabriel antes de responder.

— Não aconteceu nada fora do normal; jogos, mulheres e caça, nãonecessariamente nessa ordem.

— Conheceu alguém em especial?

— Quer saber se me apaixonei? — Jackson perguntou, levantandouma das sobrancelhas. — Eu me apaixono toda noite. Não se preocupecomigo, Armond. Aliás, não fui eu quem casou — ele completou com umsorriso irônico. — Quando terei a honra de conhecer a noiva? Eu gostariade tirar uma soneca. Talvez seja melhor eu subir, deitar com ela e já meapresentar — concluiu zombeteiro. Em vez de responder, Armond limitou-se a lançar um olhar ameaçador ao irmão, que faria tremer umdesconhecido. Jackson, no entanto, apenas deu de ombros.

— Já percebi que o casamento lhe tirou o bom humor. Espero queseja só isso que você tenha perdido.

— O que vamos fazer em relação ao canalha do irmão da suaesposa? — Gabriel, que estava em silêncio até então, pronunciou-se. —Acho que deveríamos acabar com essa ameaça ainda esta noite.

— Preciso ir também? — Jackson perguntou com ar de desdém. —Meu forte não é brigar, só amar. Mas se vocês fizerem questão da minha

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presença, posso dar um jeito.

— O seu problema é esse, você perde muito tempo preocupando-secom coisas sem importância — Gabriel disse. — Melhor deixar que eu eArmond cuidemos disso.

Naquele momento, Armond tomou uma decisão, talvez não a maissábia, mas a melhor como chefe da família.

—Este é um assunto meu e pretendo cuidar sozinho. Quero que osdois voltem para o campo amanhã e fiquem longe do perigo.

Os dois irmãos estavam prontos para protestar quando ele levantoua mão, pedindo silêncio:

— Tenho um pressentimento de que os assassinatos não vão parar.E enquanto eu não capturar o criminoso, sou um suspeito. Se vocêsestiverem em Londres estarão na mesma posição.

— Não precisa se preocupar comigo — Jackson defendeu-se. — Aocontrário do que pensam, sou muito responsável quando a hora se faznecessária.

— Gabriel, se você não se importa, gostaria de conversar a sós com Jackson.

A princípio Gabriel não gostou da idéia, mas acabou concordando esaiu da sala. Armond indicou uma cadeira para que Jackson se sentasseem frente a ele.

— Qual é o sermão agora? Ando bebendo muito? Presumo que seja

verdade, mas e daí? Não tenho muitos planos para o futuro. Então, vocêvai me dizer que só ando com vadias. Costumo me prevenir para nãopegar nenhuma doença ou mesmo para que alguma delas seja fertilizadapor uma semente amaldiçoada minha. Então, está vendo? Posso serperfeitamente responsável pelas coisas.

Por um breve momento, Armond teve vontade de acariciar a cabeçado irmão. Jackson ainda era muito pequeno quando a maldição havia lhestomado o pai. Pouco depois perderam a mãe como resultado da maldição.

— Preciso fazer uma pergunta séria — Armond sentenciou. Mesmonão acreditando que o irmão tivesse alguma coisa a ver com os

assassinatos, ele precisava ter certeza. — Quero saber se você temalguma coisa a ver com esses crimes.

— Você acha que eu matei essas mulheres?

— Bem, você estava aqui quando aconteceu a primeira morte eagora também. Gabriel também está preocupado por causa de suasatitudes. Se acho que você matou essas mulheres? Não, não da formacomo eu o conheço e amo. — Armond não conseguiu verbalizar seu maiortemor. — Se por alguma razão de força maior você não estiver falando averdade...

— Entendi onde você quer chegar. Um bêbado mulherengo tem operfil de assassino, não é? — Jackson vociferou e levantou-se. Naquelemomento, o semblante juvenil de garoto rebelde foi substituído pelo de

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um homem irado. — Quer saber o que acho dessas acusações? Vá para oinferno, Armond. E leve Gabriel com você.

— Jackson! — Armond gritou quando o irmão saiu da sala batendo aporta.

Decididamente aquela não tinha sido a melhor maneira de abordar oirmão. Ele tinha todo o direito de estar furioso, pois merecia a confiançaao menos daqueles com quem convivera desde criança. Quando a portado escritório se abriu novamente foi para que Hawkins entrasse:

— Pelo que pude perceber, lorde Jackson não vai ficar para o banhoque eu estava por preparar. Ele acaba de deixar a casa.

— Pode deixar que eu tomo no lugar dele — Armond disse,pensando que mais tarde pediria a Gabriel que fosse atrás de Jackson.Com sorte, o caçula teria voltado para o campo. Com os dois irmãos forado caminho, seria mais fácil concentrar-se nos problemas. Como Rosalind,

por exemplo, e os problemas que o casamento trouxera para dentro desua casa.

Rosalind estava dormindo quando Armond foi vê-la. Ela haviatrocado de vestido, os cabelos negros caíam como um rio escuro ecaudaloso sobre os lençóis. Os cílios escuros contrastavam com a peleclara do rosto. Ali estava o retrato perfeito da incoerente mistura dainocência com a tentação.

Os lábios entreabertos sussurraram-lhe o nome em um convitesilencioso. A vontade de beijá-la tomou-o por completo. Sem mencionarque seus dedos tiveram vontade de desabotoar os minúsculos botões quedesciam do pescoço até abaixo dos seios. Ele estava quase sucumbindoao desejo de deitar ao lado da mulher e passar o resto da tarde, e sepossível, o resto dos dias fazendo amor.

E antes que a volúpia ganhasse a batalha contra a razão, Armondvirou-se e seguiu para seu quarto.

Conforme prometido, Hawkins havia deixado o banho preparado àsua espera. Sentir a água quente envolvendo toda a tensão serviu apenascomo afago diante da vontade que tinha de possuir Rosalind, e embriagar-se na doce temperatura entre aquelas pernas bem torneadas. Desde a

manhã quando tinha vislumbrado as coxas por baixo da toalha, nãoconseguia pensar em outra visão mais enternecedora, tanto que aimagem tomou conta de seus pensamentos durante o dia todo.

Qual seria a sensação de ter aquelas pernas envolvendo seuquadril? Impossível não imaginar como seria dominá-la e em seus braçosesquecer-se de todos os tremores que o afligiam.

De onde estava, foi possível ouvir Gabriel sair atrás de Jackson, queesperava, tivesse rumado para o campo.

Agora a casa seria só dele... bem quase.

 Terminado o banho, ele espiou pela porta e viu que Rosalind aindadormia profundamente. Uma forte vontade de abraçá-la para protegê-la o

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invadiu. Naquele momento prometeu que nunca mais permitiria quequalquer homem a maltratasse.

Contudo era irônico imaginar que ela corria muito mais perigo a seulado do que ao lado do irmão cruel. Não, aquilo não aconteceria de novo.Havia se tornado mestre no autocontrole. Ele podia impedir o amor de seapoderar do coração, garantindo que o que sentiam um pelo outro nãopassasse de uma forte atração física.

Mesmo sabendo que travaria um eterno conflito entre a razão e ossentimentos verdadeiros, deveria seguir daquela forma. Caso contrário,não conseguiria protegê-la das conseqüências de atos impensados.

Rosalind não estava dormindo. Com os olhos ligeiramente abertos,ela observava Armond por entre os cílios. Viu quando ele tirou a camisa ea caminho do quarto ao lado, desabotoou as calças e livrou-se das botas.  Jamais havia visto um homem tão perfeito quanto aquele. Era bem

verdade que sua experiência em ver homens seminus não era vasta, masalgo lhe dizia que o que tinha diante dos olhos era de fato um homemúnico.

Quando o vira pela primeira vez, lembrou-se de tê-lo comparado aum gato selvagem: elegante e poderoso. Desde então observava osmúsculos bem delineados sobre o tecido fino da camisa, sempre que seencontravam, fazendo um contraste maravilhoso com a pele bronzeada.

Lembrou-se também dos inúmeros suspiros de encantamentosempre que se imaginava ao lado dele. E agora, pensar que o sonhotornara-se realidade, transformando aquele deus grego em seu marido...

Mas, ao ficar mais desperta, recordou-se que Armond não lhepertencia e para que continuasse senhora de sua razão, era melhorconvencer-se do doloroso fato. Ele fora muito claro ao estabelecer quemanteriam apenas contato cordial, nada de dividir emoções. Entretanto, aemoção foi a responsável por mantê-la de olhos bem abertos quando elefinalmente livrou-se das calças, deixando à mostra as pernas delineadaspelas sombras dos pêlos. Ao imaginá-lo correndo, com o sol iluminandoainda mais o corpo exuberante, ela precisou respirar fundo para conter odesejo que tomava conta do seu corpo inteiro.

Enquanto permitia-se explorar com o olhar atento cada centímetro

do corpo de Armond, ele se virou exibindo as costas largas. Desejou tocarcada linha daquela musculatura, até tocar as nádegas igualmente firmes.

Ainda estudava os detalhes, quando ele virou-se de frentenovamente, revelando toda a sua protuberante masculinidade. Rosalindimaginou-se gemendo alto.

— Está gostando do que seus olhos vêem?

De súbito ela o encarou e percebeu que ele sabia estar sendoobservado. Rosalind sentiu o sangue subir-lhe às faces. Naquele instantetodo o seu corpo reagia por ter sido flagrada em pleno deslumbramento.

Os bicos dos seios estavam visíveis sob a fina camisola.— Não — murmurou, envergonhada.

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Não? Como dissera o oposto do que estava sentindo? Queria gritarque sim, que estava em pleno êxtase, observando o corpo perfeito e quedificilmente conseguiria desviar o olhar.

— Se for a sua vontade, posso continuar aqui parado, enquanto vocême devora com os olhos. Mas terá que estar preparada para atransformação que esse seu olhar pode causar em mim.

Sabia ao que ele se referia, mesmo assim, continuou encarando-o eestranhamente achando natural que assim o fizesse.

— Eu nunca vi um homem sem roupas antes.

— E nem verá outro que não seja eu — Armond confessou suapossessividade, mas retraiu-se no momento seguinte. — Bem, se você játerminou sua expedição, vou entrar no banho antes que a água fiquegelada. A não ser que deseje mais alguma coisa.

 Tinha plena consciência do que desejava, porém limitou-se a dizer:— Não, já terminei, obrigada.

Rosalind virou-se e pregou os olhos no teto, pensativa. Mal podiaacreditar que acabara de agradecer ao marido pela exibição. Sentiu-se amais tola das mulheres. De onde estava podia ouvi-lo banhar-se. Oras, porque ele não fechara a porta?

Imaginando que ele fizera com o propósito de chamar a atenção,resolveu levantar. Diante do espelho, arrumou o cabelo e percebeu quedali também podia vê-lo na banheira.

Foi então que pensamentos libidinosos invadiram sua mente denovo. Gotas de água desciam formando pequenos riachos nas linhas entreos músculos das costas. A pele brilhava com a umidade e o vapor subiapesado ao redor do corpo viril, fazendo-a tremer de desejo porcompartilhar daquele banho. Armond estava com as pernas dobradas,deixando à mostra parte das coxas.

E pensar que estivera naquela mesma banheira...

— Já que você não consegue tirar os olhos de mim, que tal seensaboasse minhas costas? — Armond surpreendeu-a com a pergunta.

Ora, como ele sabia que ainda o estava observando?

— Como? Eu não estava olhando, estou ajeitando minhas coisas nacômoda.

— Posso ver o que está fazendo.

Curiosa, Rosalind entrou no quarto ao lado e notou que havia outroespelho, posicionado convenientemente para que ele pudesse vê-latambém.

Desta vez optou por não se mostrar envergonhada e corajosamenteaproximou-se da banheira.

— Onde está o sabão?Armond não se virou, apenas estendeu a barra, aquela mesma que

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rescendia o perfume tão característico dele.

Rosalind começou a deslizar as mãos pelas costas largas, sentindoum extremo prazer em tocá-lo.

— Qual é a sua maior curiosidade em relação ao meu corpo,

Rosalind?O tom grave de voz afagou o coração inseguro, derrubando algumas

reservas, mas ela ainda estava presa para poder expressar-se livremente.

— Não estou curiosa — mentiu, enquanto ensaboava os ombros.

— Mentirosa — ele acusou em um sussurro. — É natural que tenhavontade de explorar o desconhecido. Fique à vontade...

Rosalind sorriu. Não, não cairia naquele truque.

— Se eu aceitar o convite estarei permitindo que faça o mesmocomigo, não é?

— Não farei nada que não seja de sua vontade. Já disse que aescolha é sua, o que não interfere na sua exploração.

Rosalind respirou fundo, queria muito acreditar no que acabara deouvir, assim poderia continuar a conhecer cada centímetro daquele corpoadorado.

— Não está certo.

— E por que não? Somos casados — Armond respondeu dando deombros.—Nada do que fizermos entre essas quatro paredes está errado.

Por um breve momento, ela esqueceu-se de que eram marido emulher. Àquela altura os preceitos morais não se aplicavam mais a eles.No entanto, não eram as barreiras estabelecidas que a impediam e sim asque seu coração erguera.

— Acho que não seria justo — ela arriscou. — Não estou pronta paraconsumar nosso casamento dessa forma. Tocá-lo pelo simples prazer debrincar ou...

— Provocar — ele completou. — Você não está pronta para os jogosdo amor.

— Como assim?Armond riu maliciosamente, deixando-a mais intrigada ainda.

— Sente-se em frente a mim que vou lhe mostrar. Rosalind duvidouque sua ousadia chegaria a tanto.

— Jura que posso fazer o que quiser e que você não exigirá nada emtroca?

— Impossível. Quero fazer amor com você agora. Mas, sim, juro querefrearei meu desejo até que esteja pronta. Tenho um impressionanteautocontrole, caso contrário, eu já a teria possuído naquela noite do baile

de Greenley.A lembrança de como o desejara e não fora correspondida doeu

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como um tapa em seu rosto delicado. No entanto, naquela noite só tinhaem mente fugir de Franklin e de certa forma ele havia lhe estendido amão. Mas ajudou-a a fugir de um cárcere para outro, o de um casamentosem amor.

Além do mais, irritava-a profundamente aquela presunção deautocontrole. Era como uma ofensa, já que ela própria não continha odesejo e a paixão que a consumia.

Ao menos agora podia fazer exatamente o que tinha vontade. Porisso, levantou-se e postou-se na frente dele. Os olhares se encontraram eno mesmo instante estabeleceu-se o vínculo intenso. Pelo brilho dos olhosclaros, ela percebeu que a atitude de enfrentá-lo o surpreendeu.

Com vagar, ela sentou-se na beirada da banheira e deixou as mãoscuriosas ensaboarem o tórax ofegante. Aos poucos, ela permitiu que aponta de seus dedos massageassem os mamilos dele, e com um suspiro

de prazer, percebeu-o reagir ao seu toque. Os músculos do peitocontraíram, evidenciando a trilha de pêlos escuros que cortava a pelebronzeada, insinuando-se para a virilha.

Rosalind sucumbiu à força de seus devaneios e seguiu com mãosprovocantes a trilha até onde os pêlos se tornavam mais espessos. Nesseinstante o brilho do olhar de Armond ficou mais intenso, evidenciando seudesejo mais íntimo.

Ela mergulhou a mão na água, ainda titubeante sem saber se teriacoragem o suficiente para tocá-lo mais intimamente. Mas a proximidade ea vontade de saber como seria a misteriosa textura que denotava o peso

da masculinidade, fez com que ela se despisse de pudores e deslizasse amão pelo membro rígido.

Fechou os olhos, deliciando-se com a pele aveludada. Percorreu aextensão toda, detendo-se na ponta macia. Armond gemeu arqueando ocorpo, sem perder o contato visual.

— Estou machucando? — ela perguntou inocente, ao perceber atensão no maxilar dele, os dentes cerrados já não expressavam mais osorriso maroto que se divertia com sua curiosidade.

— Você me leva à loucura. Perco a razão com a sua presença...

Aos poucos a distância que os separava foi se estreitando até que asrespirações se mesclaram em um mesmo ritmo. Sem resistir à bocafeminina tão próxima, Armond puxou-a pelo pescoço e tomou-lhe os lábioscom paixão. O perfume do sabão cedeu lugar à essência dos corposcombinados, o desejo transcendia-se voluptuosamente.

As línguas se tocavam, enroscavam-se numa mistura de sabores.Rosalind estava tão envolvida que não percebeu quando ele desabotoouos botões da camisola, puxando-a até a cintura. Só percebeu-se invadidaquando mãos fortes tomaram-lhe os seios, acariciando primeiro a pelecom insinuantes movimentos circulares até deter-se nos mamilos,

beliscando-os delicadamente até deixá-los rijos.A essa altura a boca quente já deixava um caminho de beijos

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rápidos em seu pescoço. Com a urgência dos amantes, ela arqueou ocorpo, oferecendo-se, ficando nua e pronta para sentir o prazer que eleestava disposto a proporcionar.

— Adorável... — Armond disse enquanto mergulhavaalternadamente em um seio e outro, sugando os mamilos.

De repente ele alcançou a mão delicada, impedindo-a de continuar omovimento alucinante que vinha fazendo em seu membro.

— O que está fazendo comigo? — perguntou, afastando-se paraencará-la.

— Não entendi... — ela respondeu confusa.

— Você já aprendeu o suficiente para abalar minhas estruturas. Émelhor parar agora.

O que ele queria dizer com aquilo? E por que parar quando seus

seios ainda doloridos aguardavam para serem ainda mais acariciados?Doce a ilusão de achar que por estar no controle da situação, conseguiriafrear as próprias emoções. Rosalind percebeu que caíra na própriaarmadilha da sedução. Mal sabia que ao tocá-lo, sentiria também o própriocorpo ansiar por ser explorado.

Assustada, tirou as mãos da água, suspendeu a camisola,abotoando-a rapidamente:

— Desculpe-me — ela sussurrou e saiu correndo para o outro quarto.

Capítulo III

Armond resistiu ao desejo de irromper no quarto de Rosalind eterminar o que haviam começado. Em vez disso, preferiu vestir-se e sairde casa.

De longe, viu que Franklin deixava a cocheira e decidiu segui-lo. Anoite já estava alta, mas não era de se estranhar que ele estivesse sedirigindo a Covent Garden, ponto de prostitutas da cidade.

Armond descobrira, fazia oito meses, que Bess O'Conner freqüentaraaquela mesma região. Ele tinha fortes suspeitas de que a última mulherque fora achada em seu estábulo também trabalhava nas ruas.

Um pouco adiante, o coche de Franklin parou em uma esquina ondequatro mulheres estavam paradas. Uma delas usava um vestido bemcurto, revelando as coxas esbranquiçadas, uma indumentária típica para

mulheres daquela profissão.Armond fechou os olhos, concentrando-se em ouvir o que diziam:

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— Está procurando companhia, querido? — uma das mulheresperguntou a Franklin.

— Estou sim, mas não a sua. Quero aquela morena de vestidovermelho. Ela faz mais o meu gênero.

— Ela é esquelética — a mulher contra-argumentou. — Minhasformas são bem mais generosas. Acho que os homens preferem o meucorpo àquele monte de ossos. Comigo você tem mais o que segurar, amor.

— Tome aqui uma moeda para fazer o que peço. Chame a morena eseja rápida.

Um pesado silêncio se seguiu e Armond apertou os olhos paraconseguir enxergar no escuro a mulher que se aproximou da carruagemde Franklin.

— Molly disse que você está interessado em mim — disse ela,

olhando por cima dos ombros. — Tenho uma cama...— Não será necessário — Franklin a interrompeu. — Vamos a um

lugar especial.

A moça colocou as mãos nos quadris, contrariada.

— E como você espera que eu volte? Não quero andar até a cidade...

— Não se preocupe, eu arrumo um jeito de trazê-la de volta. Agora,ande, suba logo.

Armond seguiu o coche a uma distância segura para não ser visto.Onde quer que Franklin estivesse levando aquela mulher, era o lado

oposto de sua casa. A vizinhança ficava pior na medida em queavançavam. Se não estivesse com a atenção voltada para o coche,Armond teria notado que ele próprio estava em perigo. Mas quandopercebeu, era tarde demais.

De repente, cinco homens surgiram das sombras e partiram paracima dele. O cavalo de Armond empinou e enquanto ele tentava controlaro animal, um dos homens puxou-o pela perna, fazendo-o cair no chão.

Na queda, ele bateu a cabeça em uma pedra.

— Pegue a bolsa de moedas. — Ouviu um homem dizer. — Vamos

aproveitar para tirar mais alguma vantagem depois de tanto trabalho.Mãos pesadas buscaram nos bolsos de Armond que não estava

totalmente consciente para impedi-los. Os rostos daqueles que o atacaramainda estavam fora de foco por conta da pancada na cabeça, mesmoassim ele reuniu forças para agarrar um deles pelo pescoço. Depois, como punho fechado conseguiu desferir um soco no nariz do agressor eimediatamente sentiu o sangue jorrar em suas roupas. O homemlevantou-se cambaleando.

— Diabos, ele quebrou meu nariz!

O cheiro e o gosto do sangue agiu estranhamente em Armond,dando-lhe forças para se reerguer e livrar-se dos outros quatro atacantes.Não demoraram muito para formar um semicírculo à volta dele, como se

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fossem lobos famintos.

— Segure-o pelas costas — um deles gritou para o outro. Armondvirou-se rapidamente, acertando o pé na cabeça do agressor. O bandidofoi ao chão. Com agilidade impressionante, virou-se para os outros dois,levantou os punhos e aguardou o ataque.

— Você viu a agilidade do homem? — um dos ladrões comentou. —Nunca vi um homem se movimentar tão rapidamente quanto este.

— Peguem-no — alguém gritou.

Dois homens foram de encontro a Armond, enquanto um outro, apósse recuperar, prendeu-lhe os braços por trás. Armond levou um soco nomaxilar, mas lançou a cabeça para trás com força suficiente para atingir ohomem que o segurava, que gemendo de dor, soltou-lhe os braços.

Com os pulsos livres, ele acertou o estômago de um, fazendo-o

perder o ar. Quando o outro tentou atacá-lo, com um golpe rápido depernas, ele passou uma rasteira, derrubando-o.

Armond sentiu o sangue pulsar em suas veias, fazendo-o lutar comonunca houvera feito antes. Todos os seus sentidos estavam aguçados aomáximo, a ponto de proporcionar a nítida sensação de poder ler a mentedos agressores. Novamente em posição de ataque, esperou ser agredidooutra vez. Só não esperava que os homens fossem bater em retirada.

— Santo Deus. Olhe os olhos dele! Nunca vi nada parecido.

Armond não teve tempo de imaginar como estava encarandoaqueles homens, pois de repente, uma pedra atingiu sua cabeça e tudo se

transformou em total escuridão.

* * *

Rosalind ocupava-se em prender o cabelo quando notou as marcas.Aproximando-se do espelho, afastou a mecha de cabelo que cobria seupescoço e notou aquelas manchas estranhas. Eram como se fossem duaspequenas pintas vermelhas que se destacavam na pele alva. Poderiam sermarcas de dentes, mas eram muito pequenas. Observou maisatentamente e concluiu que eram marcas de dentadas de um cão talvez.

Lembrou-se de como Armond beijara avidamente seu pescoço nanoite anterior. A sensação que sentira voltou com a mesma intensidade,fazendo-a corar.

Depois da intimidade compartilhada na noite anterior, esperava queArmond invadisse seu quarto, exigindo os direitos de marido, mas não foio que aconteceu.

Na verdade, não o via desde que adormecera, esperando por ele.

A primeira coisa que fez ao acordar foi fixar os olhos na porta aindatrancada, depois de um breve silêncio, colou o ouvido na madeira, masnão ouvindo nada.

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Ainda indecisa, colocou a mão na maçaneta, girando-a bem devagarpara não fazer barulho. Em seguida entrou no quarto e viu que o maridonão estava ali.

A banheira já havia sido removida, a cama arrumada e intacta.Procurando uma proximidade maior com Armond, ela sentou-se à beiradada cama. Imaginou que não demoraria para dividir o leito com ele. Depoisde senti-lo tão vulnerável em sua mão e perceber através da intensidadedaquele olhar, que provava que o desejo não se limitava somente a sexo,Rosalind entendeu que o casamento não demoraria a se consumar.

Logo lembrou do corpo viril e sentiu o sangue aquecer seu corpo porinteiro. Naquele momento, seu maior desejo era sentir a masculinidadelatejante pressionada contra suas coxas.

Levantando-se da cama, esticou a colcha, tirando assim a marca desua presença dali. Depois olhou em volta, tocou os objetos de barba e

outros itens pessoais que tanto lembravam o perfume de Armond.De repente, uma batida na porta e Hawkins entrou no quarto.

— Bom dia, lady Wulf— ele cumprimentou-a sem alterar a expressãodo rosto por encontrá-la ali. — Vim para dizer a lorde Wulf que o café damanhã está servido.

— Ele não está lá embaixo?

— Não, milady — Hawkins respondeu, franzindo a testa. — Eu não ovejo desde ontem à noite, quando saiu de casa.

— Armond tem o costume de fazer a própria cama? — Rosalind quis

saber.— Muito raramente, milady.

Os dois se entreolharam sabendo que, em vista das evidências,Armond não havia dormido em casa. Rosalind ainda não conhecia oscostumes do marido para saber se era comum ele pernoitar fora ou sedeveria ficar preocupada pelo comportamento inusitado. De qualquermaneira, como esposa deveria mostrar-se preocupada, pois, se não estavaali, estaria na cama de quem?

— O café está pronto, não é? — inquiriu, quebrando o silêncio

pesado que se abateu no quarto.— Sim, milady. A senhora vai descer ou prefere que eu traga uma

bandeja aqui no quarto?

— Vou descer.

Rosalind seguiu Hawkins pelo corredor. Ao entrar na sala de jantar, aesperança de encontrar Armond ali como passe de mágica, esvaiu-se. Olugar à cabeceira da mesa estava vazio. Procurando agir normalmente,sentou-se e começou a se servir, embora não estivesse com fome alguma.

Depois de alguns minutos, Hawkins atravessou a sala.

— Lorde Wulf já chegou?

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— Ainda não, milady — o mordomo respondeu, erguendo umasobrancelha, mas não demonstrando qualquer sinal de preocupação.

Rosalind levantou-se, desistindo de comer. Enquanto Armond nãoaparecesse não conseguiria digerir nada. De volta ao quarto, tomou acesta de costura, com esperança de distrair-se com os bordados.

* * *

Armond acordou vagarosamente confuso e com a cabeça latejando.Não conseguia se lembrar de onde estava e nem como fora parar nacama. Aliás, não se recordava como chegara em casa na noite anterior. Aose virar, deparou-se com Rosalind dormindo de costas para ele.

O que ela estaria fazendo em sua cama? Tocando-a no ombro nu,

tentou acordá-la:— Rosalind?

Ela não respondeu e ele notou como sua pele estava fria. Sentou-sena cama e virou o corpo da mulher. Assustou-se ao deparar-se com umpar de olhos vidrados. Um veio de sangue escorria pela boca, terminandono colo, passando pelo queixo tomado por um enorme hematoma.

— Meu Deus!

Aquela não era Rosalind. Apavorado, olhou em volta e percebeu queestava em um  quarto estranho. Não havia nada além da cama onde

passara a noite ao lado de uma mulher .morta! Imediatamente pulou dacama, sentindo uma forte pontada na cabeça.

Olhando em volta mais uma vez, tentou reconhecer o lugar elembrar como fora parar ao lado daquela desconhecida. Tornou a observara mulher, nua com o corpo parcialmente coberto por um lençol.

De repente os acontecimentos da noite anterior voltaram à suamente. Havia seguido Franklin até Covent Garden, e o vira conversar comuma prostituta... uma mulher, tal como a que jazia ali.

Ao passar a mão na cabeça percebeu o galo que se formara e

recordou-se da luta com os ladrões. Ao apalpar os bolsos, percebeu quehaviam levado sua carteira. Um daqueles homens o atingira fortementecom uma pedra provavelmente.

Um movimento do lado de fora da casa chamou sua atenção. Foi atéa janela e viu que estava no segundo andar de uma casa abandonada. No  jardim, havia um homem, que seguido por um casal dirigiam-se para aentrada.

Armond tentou abrir a janela, mas estava emperrada. Fechou osolhos e concentrou-se em ouvir a conversa dos três:

—A casa precisa de uma reforma. É por isso que o aluguel estábarato. Acho que é exatamente o que vocês estavam procurando. Nadaque uma boa faxina e um pouco de tinta não resolva.

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—A vizinhança não me parece boa — a mulher comentou. — Nãoquero viver com medo de ser assaltada.

— Ora, Emma, não é tão ruim assim — replicou o homem maismoço. — Aqui teremos muito mais espaço do que todos os outros lugaresque já vimos.

Armond ouviu um barulho de chaves e a porta da frente sendoaberta.

— Vejam só, a porta da frente nem está trancada — comentou osenhor com um riso nervoso. — Devo ter esquecido de trancá-la depois daúltima visita.

Armond sabia estar em apuros, pois não demoraria muito paraaquelas pessoas subirem e encontrá-lo ali com uma mulher morta. Emdesespero, tentou abrir a janela novamente, sem sucesso.

— Há dois quartos lá em cima — dizia o senhor. — Acho que umdeles será perfeito para o bebê.

Ouviu-se o som do ranger da madeira da escada.

* * *

— Onde está meu irmão?

Mary ficou surpresa ao encontrar Rosalind parada à porta.

— Ele está no escritório, lady Wulf. Mas a senhora não deveria estaraqui sozinha.

— Preciso falar com ele — Rosalind anunciou, abrindo caminho até asaleta onde Franklin deveria estar.

A tarde já havia caído e Armond ainda não voltara para casa.Rosalind estava com o estranho pressentimento de que algo grave haviaacontecido ao marido. E o maior suspeito pelo desaparecimento eracertamente Franklin.

Ao abrir a porta com um empurrão, deparou-se com o irmão

estudando alguns papéis.— O que você fez com Armond? — exigiu saber. Franklin limitou-se a

levantar a cabeça com a maior calma.

— Que bom revê-la, irmãzinha.

— Onde meu marido está? — ela continuou inquirindo sem se deixarlevar pela falsa gentileza.

Franklin saiu de trás da escrivaninha e aproximou-se.

— Eu não vejo seu marido desde que nos encontramos na manhãem que você se casou com o infeliz. Por acaso tem noção da situação

complicada em que me deixou? Mas não se importa comigo, não é?— Não — respondeu com rispidez. — Da mesma forma como você

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também não liga a mínima para os meus sentimentos. Armond não voltoupara casa ontem à noite. Alguma coisa me diz que você é responsável porisso.

— Ora, ora... Já está tendo problemas de relacionamento? — Franklinarqueou uma das sobrancelhas. — Fique sabendo que não tenho a menoridéia de onde esteja seu marido. Quem sabe ele não tem o costume depassar a noite na farra? Pode ser que prefira passar a noite com mulheresmais experientes do que você. Por um acaso considerou alguma dessashipóteses antes de vir aqui me acusar? — Fez uma pausa para continuar:— Não que eu não goste da idéia de vê-lo sumido. Afinal ele roubou umacoisa que me pertence.

- Eu nunca pertenci a ninguém — Rosalind argumentou de queixoerguido. — Muito menos a você.

Logo percebeu que agira como tola, imaginando que o irmão

pudesse ajudá-la. Sem dizer mais nada, virou-se para sair, mas Franklin ainterpelou.

—Você realmente não faz idéia de como estou furioso com você, nãoé?

Infelizmente sabia muito bem...

— Por favor, deixe-me passar. Não preciso mais obedecer às suasordens. Daqui em diante terá que sair de suas encrencas sozinho, nuncamais vai poder me usar para nada.

— Sua vadia! — Franklin vociferou, levantando a mão para agredi-la.

Ela encolheu-se para se defender de um golpe que não aconteceu,pois o irmão congelou com os olhos estáticos.

— Se encostar um dedo nela, será a última coisa que fará na vida,Franklin.

— Armond! — Rosalind exclamou, correndo para refugiar-se nosbraços dele. Ele estava sujo e com aparência horrível, mas ainda era ohomem mais bonito e forte que conhecera.

— Volte para casa, querida — ele disse, sem desviar o olhar deFranklin. — Vá, agora!

— Você não é bem-vindo nesta casa, Wulf. Saia imediatamente! —Franklin gritou, baixando o braço.

— E você também não tem permissão para ameaçar a minha esposa— Armond continuou a ameaça. — Nunca mais faça isso, caso contrário euo matarei.

Franklin gargalhou, deixando evidente sua culpa no que aconteceraa Armond.

— Dormiu bem a noite passada, Wulf?

Rosalind entendeu que estivera certa ao desconfiar do irmão.— Você matou aquela mulher! — Armond agora estava ainda mais

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feroz.

— Verdade? Então prove. — Franklin sorriu como se já tivessetriunfado.

— É isso que vou fazer. Você não perde por esperar. — Em seguida,

virou-se para amparar Rosalind. — Venha, querida, vamos embora. Tomou a mão da esposa, conduzindo-a para fora da sala.

Saíram em silêncio, mas a mente dela fervilhava com perguntas.Contudo, só começou a falar quando já estavam perto de casa.

— O que houve? Onde esteve a noite passada? Que mulher era essaque vocês falavam?

— Depois explico — Armond respondeu, seco. — Espere atéchegarmos em casa.

Engraçado ele se referir à sua casa como sendo dela também.Poderia vir a ser um dia, mas por enquanto não era assim que ela sentia.Depois de morar por um breve período com Franklin, percebeu como erasolitária e carente de uma família de verdade.

Hawkins abriu a porta assim que os ouviu chegar. Apesar de mantera expressão inalterada, Rosalind sabia do seu alívio ao ver o patrão chegarem casa a salvo.

— Preciso de uma tina de água para me lavar — Armond pediu,assim que entrou em casa. — Por favor, leve até o meu quarto.

— Imediatamente, senhor — Hawkins respondeu. Rosalind seguiu

Armond escada acima. Assim que ele bateu a porta do quarto, mirou-aenraivecido:

— Já não pedi para não ir à casa de seu irmão sem que eu estivesse junto?

Ela ficou chocada com a ira do marido.

— É verdade — admitiu. — Mas eu estava preocupada com você.Imaginei que Franklin...

— Não me importa a razão que a fez ir até lá — ele a interrompeu.— Você se arriscou muito. Foi um ato tolo e impensado.

Rosalind sentiu as pernas fraquejarem depois de tantosacontecimentos seguidos. O sumiço de Armond, depois o confronto comFranklin, e agora aquela agressividade toda do marido levaram-na àslágrimas.

— Desculpe-me por me preocupar com você — disse quase numsussurro e em seguida seguiu para seu quarto, batendo à porta.

No segundo seguinte, Armond irrompeu quarto adentro.

— Se eu não tivesse chegado a tempo, Franklin a teria agredido,Rosalind. Ou quem sabe não teria feito pior. Você não percebe queestamos lidando com um bandido? Ou quem sabe até um assassino?

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— Como tem tanta certeza do que diz? — Rosalind sentiu um apertono peito. — O que aconteceu na noite passada?

— Milorde? — Hawkins interrompeu a discussão. — Aqui está a tina.Quer que eu o ajude?

Sem dirigir mais nenhuma palavra a ela, Armond virou-se e voltoupara o outro quarto. Rosalind o seguiu, parando à porta ao observá-loarrancar o capote e a camisa imunda. Gemeu quando viu vários cortes nascostas e nas mãos dele. Afinal, o que teria acontecido? Ele não tinha odireito de esconder os fatos. E antes que pensasse em ajudá-lo, Hawkinsumedeceu uma pequena toalha e começou a limpar os ferimentos.

— Pode deixar que eu mesma cuido disso — Rosalind disse,tomando a toalha.

Em dúvida, Hawkins buscou um olhar de aprovação do patrão.

— Tudo bem — Armond consentiu.Assim que o mordomo deixou o quarto, ela prosseguiu com a

limpeza e com o interrogatório:

— Como você se cortou? E onde esteve a noite passada? — seguiu,sem dar tempo para respostas. — Como tem certeza de que Franklin éresponsável pelos assassinatos?

Em silêncio, Armond ainda lutava para se acalmar. Até Rosalindentrar em sua vida, nunca tivera problemas em se controlar diante desituações adversas. Agora enfrentava desafios nunca antes imaginados.

— Fui forçado a me jogar do segundo andar de uma casa hoje cedo.— Ainda bem que não se machucou muito — Rosalind comentou,

piscando atônita diante do relato.

De fato, a atitude também o surpreendera, mas não tivera outraalternativa a não ser se jogar contra a janela emperrada. Por sorte,conseguira cair sobre o telhado, que cobria o andar inferior, rolar até abeirada e pular para o gramado. Por certo Rosalind aguardava por maioresexplicações, porém ficou quieta enquanto, na ponta dos pés, tentavaalcançar os ferimentos do pescoço. Notando sua dificuldade Armondsentou-se na beira da cama para facilitar o trabalho.

— Por que precisou pular da janela? — perguntou ela, finalmente. —Por favor, conte o que aconteceu.

A toalha roçava nos ferimentos, enquanto ele tentava reconstituir oque acontecera na noite anterior, até o momento em que havia acordadoao lado do corpo de uma mulher. Aos poucos lembrou-se de cada passo,contudo hesitou em contar a Rosalind os detalhes.

— Oh, Deus... — ela murmurou. — Não consigo acreditar. Poderiamtê-lo assassinado. Você não estava inconsciente?

De repente, Armond entendeu tudo.

— Foi uma armadilha! — exclamou. — Franklin sabia que eu iasegui-lo e contratou os bandidos. Lembro-me de ter ouvido um deles dizer

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que pegaria minha carteira, para ganhar um pouco mais na barganha. —Passando a mão pela cabeça, notou o galo que se formara ali. — Isso virouum jogo para ele. Ele está brincando com assassinatos!

Rosalind sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O marido estavatão bravo por ela ter desobedecido, que sequer pensou na coragem quetivera para enfrentar o homem que mais temia, e por amor a ele!

Ao mesmo tempo, Armond a estudava, imaginando que poderia tersido ela a estar sem vida naquela manhã. Movido pelo carinho, tocou aface delicada com a ponta dos dedos, para em seguida puxá-la deencontro a seu peito. Ao afastar os longos cabelos para trás dos ombros,viu a marca.

— O que é isso em seu pescoço?

No mesmo instante, Rosalind passou os dedos sobre o machucado.

— Não sei. Talvez seja uma mordida.— Mas, mordida de quê? — ele quis saber, afastando a mão para

analisar o ferimento mais de perto.

—Acho que foi você — Rosalind respondeu num sussurro.

* * *

Começava a escurecer quando Armond voltou a Covent Garden.

Chapman o ameaçara com a acusação de assassinato de outra mulher,então ali era o melhor caminho para começar a descobrir a verdade.

Como era mais cedo do que o dia anterior, havia mais mulherescirculando pelas ruas. Mas ele estava procurando uma em especial e sebem recordava, seu nome era Molly.

Não demorou muito até vê-la subindo a rua em sua direção.Caminhava movendo os quadris de forma sensual, expondo a coxa nuapela fenda do vestido justo. Ele esporeou o cavalo, aproximando-se.Quando ela o divisou, lançou um olhar de soslaio, piscando insinuante.

— Será que tirei a sorte grande por ser procurada por você, amor?

Armond apeou do cavalo, segurando as rédeas enquanto a mulherestreitava a distância entre eles.

— Molly? É esse seu nome, não?

— Como sabe? — perguntou, surpresa. — Não me lembro de játermos saído juntos. Como eu poderia esquecer um homem tão charmososcomo você?

— Quero apenas fazer algumas perguntas.

— Lamento, mas não tenho tempo a perder. Estou trabalhando.

— Então eu pago a sua hora — Armond ofereceu, tirando a carteirado bolso do casaco.

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— Se é assim... Suponho que conversar seja mais fácil do quesuportar seu peso sobre mim, não que eu me importe.

Ele continuou impassível, não cedendo ao charme feminino.

— Você estava com outra mulher ontem à noite; uma morena,

vestida de vermelho.— Não acredito que um homem se interesse por aquele monte de

ossos — Molly replicou, girando os olhos em desaprovação. — Minhascurvas são muito mais interessantes. Não entendo essa preferência.

— Ela foi assassinada.

Qualquer reação seria esperada, menos a risada de escárnio deMolly.

— Bem, então acredito que é uma morta-viva que vem descendo arua agora mesmo.

Armond virou-se na direção que Molly apontava e viu outra mulherse aproximando. A morena estava com o mesmo vestido vermelho danoite anterior.

— Olá, Lily, você deveria estar morta. O que está fazendo aqui naminha esquina? — Molly perguntou.

— E quem disse que não estou viva? — Lily quis saber, apreciandoArmond dos pés à cabeça.

— Eu a vi saindo com um homem ontem à noite e... — respondeuele, visivelmente embaraçado por ter sido pego de surpresa.

— Era um cretino — praguejou Lily. — Ele me levou para dar umpasseio, trouxe-me de volta e me mandou descer. Não pagou nem pelaminha hora perdida.

Não seria aquele mais um truque? Franklin poderia ter presumidoque seria seguido. Na certa conversara com Molly para que ela pudesseservir de álibi, dizendo que ele fora o último a ser visto com a vítima. E aarmadilha funcionara perfeitamente. Franklin trouxera a suposta vítima devolta e escolhera outra para que fosse encontrada morta a seu lado. Nãohavia dúvida de que se tratava de um ardil.

— Bem, deve ter ocorrido algum engano — desculpou-se e, tirandoalgumas moedas do bolso, distribuiu entre as duas. — Desculpem-me porincomodá-las.

No caminho de volta, imaginou no trabalho que Franklin estavatendo para incriminá-lo. Mas além do fato de ter se casado com Rosalind,por que mais ele o odiaria tanto? De repente teve uma idéia. O próximopasso para desvendar o mistério que o envolvera na noite anterior seriaprocurar as casas para alugar ou vender nos arredores de Londres.

Rosalind estava na sala de visitas, tentando ler um livro, quandoouviu um barulho vindo da porta da frente.

— Boa tarde, meu senhor — Hawkins cumprimentou. — A sra. Wulf está na sala. Devo lhe trazer algo?

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— Um brandy, por favor — Armond pediu. — Aceita um cálicetambém, Rosalind?

Afora ocasionais taças de champanhe, ela nunca provava outrasbebidas alcoólicas.

— Acho que vou experimentar — disse ela ao mordomo, queassentiu com um sinal de cabeça e deixou a sala.

Armond deixou-se cair em uma poltrona, e esfregou o rosto com asmãos.

— Franklin cobriu todas as pistas deixadas ontem à noite.

Rosalind fechou o livro, colocando-o na mesinha ao lado. O fogo dalareira aquecia o ambiente e ela havia tirado os chinelos, colocando os pésno sofá.

— O que houve em Covent Garden? Você se encontrou com a

mulher que procurava?— Encontrei as duas e também conversei com a que supostamente

estava morta.

— Como assim?

— A uma certa altura da noite, Franklin a deixou em Covent Gardene tomou outro rumo. Acredito que em algum outro ponto da cidade, elepegou uma mulher morena, matou-a e depois deixou-a ao meu lado.

— É muito trabalho para um homem só, não? — Rosalind quis saber,ajeitando-se no sofá.

— Foi exatamente o que pensei — comentou ele, passando os dedospela cabeleira farta.

Hawkins entrou na sala trazendo uma bandeja com dois cálicescheios de um líquido cor de âmbar, deixou as bebidas ao lado de Rosalinde saiu.

Armond levantou-se, pegou os dois cálices e estendeu um à esposa.

— E agora? O que você pretende fazer? — indagou ela, levando ocálice à boca e tossindo ao tomar o primeiro gole. Armond sorriu. —Nossa, isso queima.

— Não, querida, aquece — ele a corrigiu, sentando-se a seu lado. —Preciso sair para tomar algumas providências amanhã, mas não gosto dedeixá-la sozinha. Especialmente com um vizinho como Franklin.

— Ah... — Rosalind lembrou-se do convite que havia colocado dentrodo livro. — A condessa de Brayberry convidou-me para um chá amanhã.

Armond observou-a atentamente e estreitou a distância que osseparava.

— Já lhe disse o quanto a desejo?

Rosalind deu uma tossidela. Agora que o assunto assassinato tinhase esgotado, voltavam a falar de sedução... e como ele era bom naquele

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assunto.

— Devemos aceitar o convite para o chá amanhã? — quis saber,numa tentativa de mudar de assunto.

— Sim, acho que você estará em segurança lá — Armond sussurrou-

lhe ao ouvido, enquanto mordiscava o lóbulo da orelha.Rosalind tremeu de prazer ao senti-lo alternar beijos rápidos pelo

pescoço, rosto, colo... até concentrar-se em apalpar os seios fartos. Seusmamilos enrijeceram, enquanto ele se ocupava em desabotoar osminúsculos botões do vestido.

Não demorou muito para que Armond conseguisse desabotoar ovestido inteiro, para depois encará-la. Não houve tempo para perguntas,pois ele a beijou em total volúpia. O restinho de brandy que sobrou noslábios dos dois, misturou-se à saliva de cada um, transformando-se emuma bebida única, doce como o mel, que apenas começaria a saciar a

sede pelo prazer.Armond puxou-a para si, amoldando os corpos e aprofundando ainda

mais o beijo com uma língua afoita. Foi como se o calor da lareira, queantes apenas amornava a sala, se transformasse em fogo ardente.

Ele era mestre na arte de beijar, de fazer brotar em Rosalind seusdesejos mais primitivos. Com vagar, prendeu-lhe o lábio inferior, sugando-o, para libertá-lo em seguida, numa trégua calcinante.

Rosalind estava tão entregue às carícias que não percebeu quandomãos hábeis e rápidas puxaram seu vestido.

— Armond — sussurrou-lhe ao ouvido. — A porta está aberta...Ele levantou-se para fechar as portas da sala, enquanto Rosalind ria

baixinho.

— Onde estávamos mesmo? — perguntou em tom insinuante evoltou a trilhar os ombros e o colo ofegante com a ponta da língua,divertindo-se ao ver a resposta nos ligeiros espasmos.

— Degustar seu sabor é como provar o néctar dos deuses. Querosentir você inteirinha...

E assim Rosalind deixou-se beijar nos seios sobre a camisola,arqueando o corpo para facilitar o caminho de um seio a outro, oferecendoos mamilos para serem beijados.

— Quero vê-la nua.

Foi então que ela se lembrou que já o vira nu e que ficara extasiadacom o corpo perfeito. Será que ele também a admiraria da mesma forma?

Como se para sanar suas dúvidas, Armond a beijou novamente. Eela esqueceu o que havia pensado. O fato é que não conseguia concatenaras idéias quando era tomada daquela forma. Bastava um simples toquepara que a razão ficasse esquecida; para prevalecer a indiscrição do

coração, que já não se importava mais em ocultar o seu pulsar.Enquanto estava sedada pelas carícias loucas, Armond tirou-lhe

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também a camisola, aprisionando os seios com as mãos. A partir dali,seguiram-se carícias ainda mais voluptuosas. As mãos que acariciavam ecirculavam os mamilos operavam milagres na libido feminina.

Quando Rosalind gemeu de prazer, ele entendeu que ambosmereciam mais e, de súbito, tomou-a nos braços, fazendo-a sentar em seucolo. Como que preparada pelo instinto para o que viria, ela virou-se defrente para ele, tratando de acomodar suas pernas lado a lado nas coxasmusculosas.

Por um laivo de lucidez ainda pensou em ressaltar a indecência daposição, porém Armond não lhe deu tempo para expressar nada além doprazer de elevá-la à altura da boca pecaminosa e continuar a explorar coma língua a pele alva dos seios.

Ela deixou os receios de lado e ofereceu-se inteira, tomando-o comforça, guiando a boca ávida a alternar-se de um mamilo a outro,

esfregando os seios na pele áspera do rosto tão amado.Afoito para prová-la inteira, Armond permitiu que ela sentisse a

força de seu desejo bem próxima ao ventre. Ao percebê-la em totalarrebatamento, beijou-a com lascívia. Aquela altura, ela não mais eradona do próprio corpo, que agia sozinho, dançando num insano ir e vir dequadris na tentativa de acomodar o membro rijo.

Entendendo a súplica do corpo feminino, Armond insinuou os dedospor entre a calçola, atingindo-a em seu ponto mais sensível.

A frustração deu lugar ao êxtase de ser tocada tão profundamente.A reação instintiva de fêmea foi de mexer os quadris, ajudando omovimento dos dedos hábeis.

— Vamos, querida, liberte-se — sussurrou ele, aumentando apressão dos dedos.

A voz gutural serviu como a derradeira carícia para levá-la àsalturas. Com as unhas cravadas nas costas de Armond, ela experimentousensações únicas, intensas, jamais sonhadas. Murmurando ofegante,aninhou-se a ele como se o corpo musculoso fosse seu único contato coma realidade e deixou-se descansar da viagem enlevada da qual acabara dechegar.

— O que foi isso? — perguntou sem entender o que haviaacontecido.

—Você conheceu o prazer na acepção mais pura da palavra.

Qual seria a estranha magia que ainda fazia seu ventre latejar?Apesar de terem partilhado um momento tão magnífico, Rosalind sabiaque faltava algo mais.

 Amor, pensou ela, na busca por uma explicação. É isso que faltaentre nós.

Armond levantou-se e segurou-a no colo.

— O que está fazendo?

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— Vou levá-la para a cama.

Rosalind sentiu o coração pulsando em descompasso, enquantoArmond a carregava para o quarto. Imaginou que havia chegado omomento de ele querer consumar o casamento. Afinal, provocara-odemais, permitindo toda sorte de liberdades. Agora era tarde para chorar,embora sua vontade fosse essa mesmo. Armond já havia provado que oato de dar e receber prazer entre um homem e uma mulher poderia ser acoisa mais extasiante do mundo. Mas ainda restava a curiosidade de sabercomo seria aquela entrega se de fato existisse amor. Talvez nuncadescobrisse...

Depois de acomodá-la gentilmente na cama, Armond curvou-se parabeijá-la. Ainda entorpecida pelo toque dos lábios quentes, Rosalindimaginou se ele não se despiria e se aconchegaria a ela sobre as cobertas.

— Boa noite, querida — disse ele formalmente, já a caminho do

outro quarto.— Você vai me deixar aqui sozinha? — Rosalind quis saber,

arqueando uma das sobrancelhas.

— Quer que eu fique?— Armond virou-se no mesmo instante,dependendo de uma resposta para seguir com o próximo movimento.

— Não... — ela titubeou. — Digo, sim... Bem, não sei!

— Então, quando decidir, estarei no quarto ao lado. — Saiu,fechando a porta ao passar.

Rosalind ficou olhando para o vazio que a presença dele deixara.

Entretanto, depois de alguns minutos naquele estado meio hipnótico,começou a sentir o sangue ferver de raiva. Teve vontade de invadir oquarto ao lado e exigir que ele a possuísse, consumando o casamento deuma vez por todas. Aquela altura já havia rompido as barreiras, pouco seimportando se estava pronta para o ato ou não.

De repente, a razão impediu-a de prosseguir. Lembrou-se de que elea avisara de que não jogaria limpo naquela questão. E foi exatamente oque fizera, invertendo as posições. Passara a agir como o rejeitado,esperando que ela tomasse a iniciativa.

— Muito esperto — murmurou. — Mas não o suficiente... Reunindotoda a coragem, ela se levantou e com passos firmes seguiu até a porta,abrindo-a sem pensar duas vezes. Armond estava se lavando sem camisa.Ao vê-la entrar, endireitou o corpo, permitindo que a água escorressepelos músculos do peito, delineando-os. Passada a surpresa, pegou umatoalha e enxugou o rosto.

— Precisa de alguma coisa?

Ainda entretida em observá-lo, ela suspirou antes de responder:

— Eu... esqueci de dizer boa noite... meu marido.

Dizendo isso, voltou para o quarto, apoiando o corpo trêmulo deencontro à porta fechada, blasfemando contra a tolice que acabara decometer.

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* * *

Armond acordou de péssimo humor. Não dormira quase nada nanoite anterior e a dor de cabeça agravava ainda mais o humor irascível.Rosalind decididamente o estava levando à loucura. Ele a desejava como jamais imaginara ansiar por algo ou por alguém. Presenciar o doce clímaxque havia proporcionado a ela, seguido de murmúrios de prazer quasedestruíram sua sanidade. Estava tão ansioso por possuí-la na noiteanterior que a tentação havia superado os limites e por pouco a promessafeita de não ultrapassar os limites não permitidos, quase se perdera.

Depois do café da manhã, resolveu tratar de outros assuntos paraaliviar a dor e a frustração da noite anterior.

Agora entrava no escritório de um corretor imobiliário. Aquele já erao terceiro estabelecimento que visitava naquele dia. Um homem magro,com os óculos apoiados na ponta do nariz e um grande molho de chavespendurado no cinto, cumprimentou-o:

— Boa tarde, senhor. Em que posso ajudá-lo?

De imediato Armond reconheceu aquela voz. Era a mesma docorretor que estava mostrando a casa ao casal quando do incidente do diaanterior.

— Estou interessado em comprar algumas propriedades — anunciou.— O que o senhor teria disponível para mostrar?

Por trás das lentes, os olhos do corretor reluziram com o brilho daganância.

— Sente-se, por favor — ele convidou, indicando uma cadeira àfrente da escrivaninha já em estado de virar lenha de lareira. Em seguida,abriu uma gaveta, de onde tirou um enorme livro. — Tenho váriaspropriedades à venda, como pode ver — continuou, mostrando a lista dosimóveis. — Precisamos apenas restringir a busca. Devo procurar porbairro, preço, ou...

— Procuro algo do lado leste — especificou ele. — Não quero nada

muito caro.— Claro — concordou o homem, examinando a lista. — Tenho

algumas propriedades perto da área em que está interessado. A maioriadas casas está alugada a trabalhadores de fábrica. Algumas delasinclusive precisam de uma boa reforma.

— Teve alguma delas que sofreu uma queda de preçorecentemente?

Armond estava certo de que o boato sobre a mulher morta já haviase espalhado. O proprietário da casa, com certeza, não lucrara nada com o

ocorrido.— Bem... — O corretor afastou uma mecha de cabelo da testa e deu

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uma tossidela antes de continuar. — Tenho uma casa que o proprietárioestá muito ansioso por vendê-la, baixou o preço esta manhã. Houve umincidente desagradável ontem. — Fez uma pausa e Armond levantou umasobrancelha, ainda parecendo casual. — Acharam uma prostituta morta nolocal.

— Alguém chegou a ver o assassino?

— Não.

— É uma pena — Armond comentou, fingindo estar desolado. —Houve mais gente procurando pela casa em especial?

— Nada definitivo — o homem respondeu, meneando a cabeça. —Eu ia mostrá-la hoje a outro comprador que perdeu o interesse depois doacontecido.

Bem, até aquele ponto, Armond entendeu que não havia sido difícil

para Franklin escolher uma casa para concluir seu plano e menoscomplicado ainda, saber se a casa seria visitada por corretores na manhãseguinte ao crime.

Agora, precisava ir até o fim e ir diretamente ao ponto que o levaraaté ali.

— A pessoa que perdeu o interesse na compra por acaso chama-seFranklin Chapman?

Os olhos do corretor mostraram mais espanto.

—Mesmo que fosse, eu não poderia divulgar a informação. Tenho

diversos clientes que investem na compra e venda de imóveis e todas astransações são mantidas no mais absoluto sigilo.

— O senhor está certo. O Sr. Chapman é meu vizinho e sei que elelida com esse tipo de negociação. Quis saber para evitar uma situaçãoconstrangedora entre vizinhos, fazendo uma oferta a um mesmo imóvelque ele.

— Isso quer dizer que o senhor está interessado na casa? — ocorretor quis saber, já com os olhos brilhando.

— Talvez sim... —Armond respondeu vagamente, levantando-se. —Vou pensar no assunto e volto a lhe procurar.

— Está certo, Sr...

Armond saiu do escritório sem dizer seu nome e desceu a rua emdireção à carruagem.

Uma hora antes de ir tratar de negócios, ele havia deixado Rosalindna casa da condessa de Brayberry. Mas antes de ir buscá-la, iria passarem uma das lojas da Bond Street e solicitar que uma costureira atendessea esposa, pois sabia que ela havia saído de casa com poucas roupas.

— Como foi o chá? — Armond perguntou, enquanto ajudava Rosalind

a subir na carruagem.— Foi ótimo. A condessa e eu nos demos muito bem. Amélia, uma

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moça que conheci nos baile dos LeGrande também estava lá com a mãe econversamos bastante.

— Fico contente que tenha se divertido. Entre uma reunião e outraque tive esta manhã, parei em uma loja da Bond Street e marquei umahora com a costureira para tirar suas medidas. Achei que talvez quisesserenovar seu guarda-roupa.

Armond poderia ser egoísta em compartilhar sentimentos, mas emcoisas materiais parecia não haver limites. Primeiro lhe dera a égua, agoraum novo guarda-roupa, que ela de fato precisava e muito. Com umsorriso, ela colocou a mão sobre a dele.

— Obrigada, Armond. Não tinha idéia de como estava fora de moda.Os poucos vestidos que Franklin me deu, não eram do meu gosto, por issonão os levei quando fui para sua casa.

— Eu quero que seja feliz — Armond disse, ao entrelaçar os dedos

nos dela. — Redecore a casa se quiser. Sei que a mobília é antiquada, mascomo sabe, os solteiros não ligam muito para essas coisas.

Armond deu a impressão de que daria tudo o que ela quisesse...menos seu coração. Rosalind não viu muita vantagem na compensação,porém optou por não comentar nada. Mesmo porque, ainda estavatentando decifrar os próprios sentimentos por ele. Debatia-se com a idéiade amá-lo de fato. Havia algumas evidências a favor, como por exemplo, oquanto ficara preocupada quando ele não voltara para casa na noiteanterior. Sabia também que tinha ciúme e que o desejava de corpo ealma. No entanto, será que a somatória dessas emoções resultaria em

amor?A carruagem passou pela casa de sua madrasta e ela olhou de

relance. Só em observá-la ao longe, sentiu um frio na espinha, como se odiabo morasse ali.

Quando a carruagem fez uma curva, ela lembrou-se das instruçõesque havia dado a Mary. Naquele momento, foi possível ver que o lençolbranco estava estendido na varanda de seu antigo quarto.

— Lá está o sinal de Mary — ela disse a Armond. — Franklin não estáem casa e posso visitar minha madrasta em segurança. Será que podemos

ir até lá? Preciso ver como a duquesa está passando.— Bem, vou acompanhá-la e ficar observando de longe. Se Franklin

voltar e você ainda estiver lá, vou resgatá-la num piscar de olhos.

Assim que chegou à casa do irmão, Rosalind se dirigiu à porta dosfundos e bateu. Mary veio atendê-la com um sorriso no rosto.

— Fiquei em dúvida se veria o meu sinal — disse ao fechar a porta.

— Como está a duquesa? — Rosalind quis saber.

— Infelizmente, está na mesma. Estava preparando o chá que elatoma diariamente.

— Pode deixar que me encarrego disso. Não tem sentido subirmosas duas até o terceiro andar.

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— Deus a abençoe, milady. Ando com muitas dores nas pernas, achoque estou ficando velha. Se ao menos o Sr. Chapman contratasse maisalguém para me ajudar, mas agora que a senhora se foi, acredito que elenão vai mais se importar com isso.

Então Franklin não mudara, continuava avarento, cruel e, se Armondestivesse certo, assassino. Assim que a criada aprontou tudo, ela levou abandeja escada acima.

— Veja se consegue fazer com que ela beba tudo — Mary instruiu dopé da escada. — O Sr. Chapman disse que é a única coisa que a mantémviva, e tenho de concordar. Ultimamente não consigo fazê-la tomarnenhum caldo.

— Farei o possível.

Ao entrar no quarto, viu a duquesa sentada em sua cadeira usualperto da janela, com o olhar perdido.

— Boa tarde, senhora — cumprimentou, tentando passar um poucode ânimo pelo tom de voz. — Trouxe seu chá.

Conforme o esperado, a duquesa não demonstrou ter entendido. Aoservir-lhe o chá, Rosalind notou que o líquido não estava fumegante, eresolveu prová-lo para ter certeza de que a temperatura estava adequada.A bebida tinha um gosto exótico com forte sabor de cravo. Para certificar-se do sabor, curiosa, tomou outro gole, mas o chá realmente não era dosmelhores.

Aproximando-se, colocou a xícara nos lábios frágeis da madrasta.

— Seria tão bom que tomasse um pouco. A senhora precisa sealimentar, está ficando mais fraca a cada dia.

Para sua surpresa, a duquesa bebeu todo o conteúdo da xícara,como se quisesse deixar claro que o fazia para agradar a enteada.

— Queria tanto que estivesse bem. Tenho tanta coisa para lhecontar, perguntar... Sinto falta da mãe que a senhora foi para mim. Precisotanto dos seus conselhos, um abraço, um carinho...

A duquesa havia fechado os olhos, com certeza já caíra no sono.Com um suspiro, Rosalind caminhou até a mesa e recolocou a xícara vazia

na bandeja.— Acho que estou apaixonada... — comentou calmamente. — Bem,

estou casada e deveria mesmo estar amando, não é? Mas nem todos oscasamentos são resultado de um grande amor. Gostaria tanto quepudesse me explicar esse sentimento. A sensação é muito boa, mas devez em quando me sinto tão sozinha...

De repente, lembrou-se de que Armond a aguardava para umpasseio a cavalo, e animou-se em partir. A caminho da porta, pegou abandeja, deu um beijo na testa da duquesa e saiu.

— Vou embora, mas voltarei logo. Por favor, tente melhorar. Precisomuito da senhora.

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Era certo que a madrasta não ouvia sua súplica. Contudo, para suasurpresa, em um último olhar, notou que uma única lágrima descianaquele rosto sofrido e marcado pelo tempo.

Armond estava quase indo buscar a esposa quando a viucaminhando pelo gramado na direção do estábulo. Ela o viu e acenou.

Ao se aproximar, Rosalind tropeçou e ele imediatamente correu paraampará-la, mas ela logo se recompôs, alcançando-o. Os cavalos estavamselados, e Armond carregava uma cesta de piquenique.

— O que temos aí? — ela quis saber com um sorriso terno no rosto.

— Uma porção de coisas gostosas. Vamos aproveitar que está umdia lindo.

— Que surpresa ótima! Acho que não vou a um piquenique desdecriança.

Quando Armond foi ajudá-la a montar, ela quase desfaleceu. Porsorte, estava ali para segurá-la.

— O que houve?

— Senti uma tontura, mas já passou — respondeu, embora aindaestivesse zonza.

Apesar da tentativa de esconder o mal-estar, Armond percebeu queela estava muito pálida e decidiu descartar os planos do passeio.

— Vamos para casa. É melhor deitar-se.

— De jeito nenhum! — Rosalind protestou. — Não quero estragarnossos planos. Logo estarei melhor, acredite.

—Não se brinca com a saúde. Iremos outro dia. É perigoso cavalgarnesse estado.

— Mas... — E antes que terminasse a frase, suas pernas fraquejaramnovamente. — Creio que tenha razão.

Armond fez menção de levá-la no colo para dentro de casa.

— Estou bem. Acho que posso andar.

— O caminho até em casa é acidentado demais. Temo que tropece

novamente. Além de não estar bem, acredito que esteja muito cansadadepois de tantas coisas que aconteceram nos últimos dias.

— É verdade. Estou me sentindo exausta e acho que dormir umpouco me fará bem.

Rosalind tinha o peso de uma pluma para aqueles braços fortes.Armond levou-a até o quarto, depois de sentá-la gentilmente na cama,começou a desabotoar os botões do vestido.

— Posso perguntar o que está fazendo? — ela quis saber com a vozligeiramente modulada.

— Estou fazendo com que se sinta mais confortável...Como não houve nenhum outro comentário, continuou com a tarefa

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sensual. Não demorou para as mãos fortes fazerem deslizar a roupa,desnudando a pele clara dos ombros.

— Parece que tem muita habilidade em despir uma mulher.

Ele sorriu com malícia.

— Não sou um santo. Você sabia disso quando se casou comigo.Ela franziu a testa, contrariada.

— Aliás, é uma das poucas coisas que sei a seu respeito.

Armond ajoelhou-se e começou a tirar-lhe os sapatos. Em seguidapuxou o vestido, deixando-a apenas de combinação, espartilho e uma finaanágua. Depois foi a vez de soltar os cabelos, que estavam presos emfileiras de cachos, que caíam pelas costas com um sedoso véu negro.

— Você é linda... — Sabia que não era hora para elogios, mas aemoção de dizer o que sentia se fez mais forte. A resposta veio com umsorriso.

— Você também é...

Os braços penderam ao lado do corpo cansado, foi então queArmond deitou-a na cama. A impressão foi de que Rosalind adormeceuantes mesmo de ele puxar as cobertas. Encantado com a expressãotranqüila, ficou a observar a respiração cadenciada, assumindo que estavatudo bem. Mesmo assim, tomou-lhe o pulso e, ao sentir a pulsação normal,relaxou. Porém antes de soltar o braço, Armond sentiu a visão embaçadae, de repente, suas mãos se transformaram: estavam cobertas por grossos

pêlos, garras despontavam de seus dedos. Com o coração aos pulos, elelevantou as mãos para observá-las. Entretanto, a visão voltou ao normal ecom ela suas mãos também.

O que estaria acontecendo? Já havia sido estranho pular da janelado quarto de Rosalind e cair sem se ferir. E a maneira como seus sentidosse aguçaram ainda mais durante a luta com os ladrões? Armondpressentiu que a maldição o rondava.

O barulho acordou Rosalind de sobressalto. Raios de luz invadiram oquarto, seguidos por um barulho ensurdecedor. Ainda sonolenta, sentiu-sedesorientada, olhando pelo quarto escuro na tentativa de reconhecer onde

estava. De repente, viu a silhueta de um homem, parado diante da janela.A sucessão de flashes o iluminou.

— Armond? — perguntou, assustada.

— Você está melhor? — Saindo das sombras, ele se aproximou dacama. — Está dormindo há muito tempo.

Aos poucos ela lembrou-se da vertigem que a acometera.

— Já é tarde?

— Quase meia-noite — respondeu ele ao lado da cama. — Pensei

que fosse dormir até amanhã de manhã.— A tempestade me acordou. — Um novo trovão ecoou. — Não

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gosto desse tempo. Tenho medo.

Armond dirigiu-se até a lareira e colocou mais lenha no fogo. Nomesmo instante o amarelo das chamas dissipou as sombras do quarto,fazendo-a sentir-se melhor.

— Você não está com fome? Não comeu nada desde o café damanhã.

— Sim, estou — ela admitiu, sentindo o estômago reclamar.

— Tenho uma bela surpresa — anunciou ele, trazendo até a cama acesta de piquenique.

Rosalind desmanchou-se em um sorriso, sentindo-se como umacriança travessa, comendo na cama.

— Vai ficar aqui, não? Aposto que tem muita coisa aí dentro, não vouconseguir comer tudo sozinha.

— Mas é claro que vou, afinal não tem graça nenhuma fazerpiquenique sozinho — brincou ele, sentando-se e tirando as botas.

— Bem, vamos ver o que temos aqui. — Rosalind sentou-se,prendendo os cabelos atrás da orelha.

— Duas tortas de carne — Armond anunciou, conforme tirava ospratos da cesta. — Queijo, pão, vinho e maçãs cortadas. O que querexperimentar primeiro?

— A torta e um pouco de vinho, estou com a boca muito seca.

— Não parece — Armond encheu uma taça, servindo-a em seguida.— Seus lábios me lembram frutinhas vermelhas, reluzentes pelas gotas deorvalho.

Rosalind sentiu o rosto corar.

— Ora, ora. Vejo um poeta diante de mim, ou talvez o mais sábiodos sedutores — ela acrescentou, aproveitando a chance para provocá-lo.

— Não exagere... — comentou ele, ao mesmo tempo em que serviaa torta.

Rosalind começou a comer de imediato e o fitou. Com um cálice de

vinho na mão, ele esticou-se na cama e ficou a observá-la.Naquela posição, ele mais parecia um gato selvagem com o brilho

do fogo conferindo uma tonalidade dourada aos olhos claros.

— Você saiu esta tarde? — ela perguntou.

— Não. Eu queria ter certeza de que você estava bem.

— Estou melhor agora. Nunca me senti daquele jeito antes. Talveztenha sido o cálice de brandy  que tomei — acrescentou, sorrindotimidamente.

—Não há nada de mais em uma mulher tomar um brandy  — ele

retorquiu. — Gostei de lhe servir um à noite passada.— Você não está comendo — comentou ela, mudando de assunto.

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— Não, mas satisfaço-me com o banquete de poder observá-la.

Rosalind corou ao perceber que estava diante dele vestindo apenasroupas de baixo.

— É comum tentar seduzir mulheres doentes?

— Você disse que estava se sentindo melhor — Armond respondeu,espreguiçando-se languidamente como um felino.

Em vez de responder, ela escondeu o sorriso maroto. Tomou umgole de vinho e terminou de comer a torta e as fatias de maçã. O silêncioque se abateu sobre os dois, levou-a a lembrar-se da maneira comoaquelas mãos grandes a haviam acariciado, levando-a às alturas de umprazer que jamais sonhara existir.

— Por que você não toma aquilo que lhe pertence? — Rosalindrespirou fundo, recobrando-se da coragem que a fizera fazer uma

pergunta tão ousada.— Isso é um convite? — Armond quis saber, olhando-a por sobre o

cálice.

— Não. Mas você é meu marido e tem todo o direito de exigir seusdireitos como tal.

— Mas não é o que você deseja. Fiz uma promessa e não pretendoquebrá-la. Não importa o quanto eu esteja tentado — sentenciou ele, como brilho da paixão dançando em seus olhos. — Você parece irritada emsaber que posso resistir. É por isso que ficou brava de repente?

Seria muito infantil aborrecer-se pelo fato de ele cumprir a promessaque fizera. Talvez o que a deixasse chateada fosse ele ter umsurpreendente controle, enquanto que o bom senso a abandonava,quando estava presa naqueles braços fortes. No entanto, além doaborrecimento, pesava ainda mais a mágoa de estar apaixonada enquantoque ele havia jurado não corresponder.

— Por que você disse que nunca vai me amar? — ela quis saber, aocolocar o cálice de vinho na mesa lateral, arrependendo-se de terperguntado no mesmo instante.

— Já disse o porquê — foi a resposta evasiva que Armond deu ao

desviar o olhar.— Aquilo foi uma desculpa — reagiu ela. — Depois você disse algo

sobre uma maldição e uma oração que nunca descobri o real significado.

— Vamos deixar este assunto de lado, está bem? Contente-se com oque posso oferecer agora. Não peça por mais.

— E o que você pode me dar? Proteção? Vestidos bonitos e umacasa bem decorada? E por que não filhos? Amor? É preciso que hajasempre de maneira tão fria?

— Fria? — interrompeu ele. Já não era mais um gato preguiçoso, de

repente estava de pé, colocando o cálice de vinho na mesinha. E numgesto imprevisível, tirou a camisa, fazendo-a tocar em seu peito. — Pareço

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frio? Eu vivo em chamas por você e a sinto queimar por mim. Semprehouve um calor intenso entre nós. Por que você não se conforma comisso?

Sem mais explicações, tomou-a num beijo para elucidar que "frio"não era uma palavra adequada para definir o que existia entre eles. Comum dos braços, jogou no chão tudo o que estava sobre a cama e deitou-sesobre Rosalind, comprimindo seu corpo contra o dela.

Enquanto deslizava os lábios pelo pescoço delicado, com as mãosem concha, prendia um dos seios, acariciando-o com vagar.

Se aquela fosse uma lição de anatomia, ela desejava ser uma alunaexemplar. Uma estudante querendo decorar cada músculo daquele peitoforte, delineando-o com os dedos. Armond tinha uma pele aveludada emacia. Gemeu ao sentir que mãos ansiosas a despiam da camisola,desnudando seus seios. Enquanto o marido sugava-lhe os mamilos, ela

entremeou os dedos pela vasta cabeleira, conduzindo os movimentos,como se fosse preciso mostrar o caminho do prazer para o mestre, queagora fazia pequenos círculos com a língua, levando-a a perder a razão.

Aos poucos as roupas foram jogadas ao chão e Rosalind se viutotalmente nua e ardente, exatamente do jeito que ele a desejava... ouque ela própria ansiava. Compreendeu então que Armond havia provadoque não era necessário amar para compartilhar daquele doce desvario.

— Não... — sussurrou ela. — Isso não é o suficiente.

Ao fitá-lo notou que os olhos felinos não estavam apenasincandescentes, mas exibiam as labaredas do fogo que o estavaconsumindo.

Rosalind sentiu medo pelo que viu naqueles olhos e pelos traços queagora conferiam uma aparência selvagem a Armond. Ele estava ofegante,e, por entre os lábios entreabertos, ela vislumbrou o que poderiam serpresas e não dentes.

Fechando os olhos e soltando um urro, Armond deixou-se cair a seulado.

—Desculpe. Não sei qual demônio que se apossou de mim, masfique certa de que eu jamais a machucaria. Jamais tomaria algo que você

não quisesse me dar.Em silêncio ela o observava, recusando-se em acreditar que o que

acabara de ver não era normal. A estranha luz que reluzia naqueles olhos já havia apaziguado e ele a olhava do mesmo jeito de sempre: sensual,lindo e irresistível.

— Diga alguma coisa... — pediu ela, reparando que os dentes delevoltara ao normal.

— O que quer ouvir?

— Você me odeia?

Armond gargalhou e tomando a pequena mão, conduziu-a até suarígida ereção.

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— Isso responde a sua pergunta?

— Mas você não me ama.

— Esta parte do meu corpo a ama.

Rosalind pensou em puxar a mão, mas uma força oposta a fezcontinuar ali, lembrando-se do quanto tinha gostado de tocá-lo no dia emque o vira nu na banheira. Armond dissera que suas carícias inocentes olevariam ao êxtase. Será que seria algo similar ao que ele lheproporcionara na noite anterior?

— Posso tocá-lo de novo? — perguntou, reunindo toda a suacoragem.

— Por que quer me torturar?

— Só estou querendo retribuir o prazer que me fez sentir.

Deitando-se de lado e apoiando-se no cotovelo, ele a encarou.

— Só se você realmente quiser. Você não me deve nada, fui euquem começou esse jogo sensual entre nós.

— A verdade é que estou curiosa — admitiu. Embora soubesseaonde aquilo os levariam. — Ensine o que devo fazer.

Armond pensou que se tivesse o mínimo de bom senso, levantariada cama naquele instante, seguiria para o outro quarto, e trancaria a portaao passar. No entanto, algo maior que a razão o atingiu. Luxúria. Umaluxúria irracional e despreocupada. Por um momento, sentiu a tentação depossuir Rosalind fosse esse ou não o desejo dela.

— Estou sendo muito ousada — disse ela, puxando a mão, mas ele aimpediu.

— Sou seu marido, você nunca será ousada demais comigo.

Em um consentimento silencioso. Ela então passou a desabotoar ascalças, insinuando a mão pelo membro túrgido, expondo-o.

Sentir os dedos delicados envolvendo-o foi o suficiente para mostrara ela que estava no caminho certo para o total delírio.

—Você é tão grande. Será que quando... vai me machucar?

Ele riu, embora não tivesse tão bem-humorado assim.— Não, minha querida, você foi feita para me acomodar, não se

preocupe.

— Como faço para agradá-lo? — ela perguntou, deslizandohabilmente as mãos para cima e para baixo.

Ele estremeceu ao toque, contraindo-se em pequenos espasmos deprazer.

— Continue fazendo exatamente assim.

E ela continuou. Senti-lo crescer em sua mão, saber-se responsávelpor excitá-lo, deixou-a também em estado semelhante. Com movimentossuaves, continuou a acariciá-lo, sempre atenta às mudanças no corpo, na

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expressão do rosto, dos olhos...

Movida pelo desejo de saborear o fruto de sua audácia, Rosalind seinclinou e beijou-o, abocanhando-o por inteiro, saboreando e brincandocom a língua sobre toda aquela masculinidade voluptuosa.

Armond a guiou, fazendo-a aprender rapidamente o ritmo que suascarícias deveriam ter, convidando-a para entregar-lhe o corpo quetambém ansiava pelos toques mais íntimos. Não demorou muito para queela entrasse em sintonia e estivesse pronta para recebê-lo.

A luz dourada do fogo conferia uma cor bronzeada ao corpomusculoso, deixando-o ainda mais belo, primitivo, poderoso. E totalmenteà sua mercê, ao menos naquele instante. Seguindo o instinto, elaaumentou a pressão da mão. Ele fechou os olhos. Os longos cíliosapoiados no rosto contraído e o maxilar tenso foram prova de que elelutava contra o poder que Rosalind exercia sobe a parte mais sensível de

seu corpo. Percebendo a relutância, ela aumentou o ritmo, querendoliberá-lo dos medos e receios. De repente, um gemido ecoou no quarto eos dedos longos entremearam-se pelos cabelos dela, trazendo-a de voltapara selar o momento com um beijo ardente e selvagem...

Em seguida Armond jogou-se ao lado, agarrou os lençóis com asmãos e implorou:

— Continue, não pare...

Rosalind obedeceu e sentiu que ele crescia e enrijecia ainda mais,como se fosse possível. Até que de repente ele deixou escapar um somdiferente, animalesco, com o corpo estremecendo por inteiro. Ela osegurou até sentir o líquido quente escorrer por entre seus dedos,espalhando-se pelos lençóis.

 Tentando protegê-lo, ela se amoldou ao corpo forte que ainda secontraía de prazer. Com a cabeça apoiada no peito largo, foi possívelsentir a respiração acelerada, acalmando-se aos poucos.

Lá fora, a chuva ainda fustigava, mas o quarto estava envolvido poruma aura morna e diferente. Aquela noite havia sido diferente, pois partedele ainda estava em suas mãos. Rosalind sentiu que seria apenas umaquestão de tempo para que ele a amasse.

  Tempo que se esvaía sem que Armond pudesse ter o menorcontrole. Na noite anterior havia adormecido nos braços de Rosalind,acordara na madrugada fria e fugira para o outro quarto como se fosse umcovarde. Se por algum instante preocupara-se com a perda do controle,agora afligia-se com os fortes sentimentos que o invadiam ao acordaraninhado ao corpo da esposa. Assustou-se ainda mais ao perceber que oque sentia era o natural, o certo. Oh, Deus, eles pertenciam um ao outro.

E os sentimentos que ela despertava não eram apenas sexuais, esim emoções que havia muito estavam enterradas em seu coração. E,fosse de sua vontade ou não, Rosalind já habitava a parte mais pura de

seu coração.Nunca antes havia se visto como um covarde, mas, naquela manhã,

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ele saiu de casa para não ter de encarar Rosalind no café da manhã.  Temia que ela visse em seus olhos os sentimentos verdadeirostrancafiados ali.

Caminhou pela Bond Street sem nenhum destino em mente. Nãohavia nenhuma notícia nos jornais a respeito de outra prostitutaassassinada. Naquela noite seguiria Franklin, apenas seria mais cautelosopara não cair em possíveis armadilhas novamente.

De repente, uma carruagem parou ao seu lado, afastando-o dospensamentos.

—Armond, querido, venha até aqui — chamou a condessa deBrayberry.

Sorrindo ao reconhecê-la, Armond aproximou-se para cumprimentá-la.

— Entre — instruiu ela, abrindo a porta.— Que bom encontrá-la — disse, entrando na carruagem. —

Precisava mesmo pedir um favor.

— Faço qualquer coisa, menos ir para a cama com você — elabrincou. — Você é um homem casado agora.

Ele gargalhou e foi direto ao ponto:

— Rosalind precisa de vestidos novos. Não quero que ela seexponha a fuxicos desnecessários indo à loja sozinha. Posso marcar com acostureira para atendê-la em sua casa? Duvido que encontre alguém que

se disponha a ir até a minha.— Claro, meu querido. Providenciarei para que sua esposa seja

vestida como uma rainha.

— Já cheguei a imaginá-la uma princesa — comentou ele, pensativo.

— Fico feliz que tenham se encontrado. — A condessa acariciou-lhea mão. — Ela o ama. Ame-a também.

— Como sabe que ela me ama? — quis saber, sentindo o coraçãoacelerar.

— Ora, qualquer tolo enxerga o óbvio, não? E é evidente que você

também a ama. Peço que não demore muito em dizer isso a ela.De repente o momento doce transformou-se em pânico. O peito

apertou a ponto de fazê-lo temer não conseguir respirar.

— Jamais poderei confessar uma coisa dessas.

— Claro que pode — ela argumentou. — Você não é um fraco!

— A senhora sabe do que estou falando!

— Fui a melhor amiga de sua mãe. Sei como ela padeceu com ocoração dilacerado. Seu pai fez a pior escolha para os dois, não dando

nenhuma chance a ela. Não cometa o mesmo erro.Armond sentia-se sufocado. Para aliviar a sensação afrouxou a

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gravata. Não contente, abriu a porta e saiu da carruagem. Sem sedespedir da condessa, saiu andando. Precisava pensar, fugir, correr...

* * *

O dia estava ensolarado e a terra exalava um perfume revigorantedepois da tempestade da noite anterior.

Após o café da manhã, Rosalind decidiu caminhar até o estábulopara apreciar a vista dali. E, admirando o pasto verdejante até apropriedade vizinha, viu o lençol branco tremulando ao vento. Era o sinalde Mary.

A duquesa não havia melhorado. Rosalind acompanhou-a no chácom esperanças de poderem manter um diálogo, mas como isso não

aconteceu, ela se viu cochilando em vários momentos, enquanto amadrasta roncava sonoramente, sentada na cadeira em frente à janela.

— É melhor ir embora, lady Wulf — advertiu Mary, tocando-a noombro. — Já é tarde e não tenho idéia de quando o Sr. Chapmanretornará.

Rosalind sentiu as pálpebras pesadas, precisou forçá-las para abrir eperceber que o sol já tinha se posto e que a lua se apressava em tomarseu lugar.

— Devo ter cochilado — comentou sonada. Ao tentar se levantar, as

pernas fraquejaram. Mesmo assim conseguiu levantar e foi tropeçando atéa porta.

— A senhora está bem? — Mary inquiriu com a testa encrespada depreocupação.

— Sim... — assegurou Rosalind. — Acho que minhas pernasadormeceram também.

— Mary!!

Ao som da voz conhecida, as duas sentiram o sangue gelar.

— Quero meu jantar pronto imediatamente! Tenho outros planos

para hoje à noite.— Deus meu, ele chegou — Rosalind constatou. — É melhor que ele

não saiba que estou aqui.

— Mas como a senhora vai sair? — Mary quis saber, preocupada. —Ele está lá embaixo.

Rosalind lembrou-se de que só havia uma maneira de escapar.

— A treliça do lado de fora do meu quarto. Foi por lá que desci umavez e posso fazer o mesmo outra vez.

— Oh, Céus. — Mary continuava apavorada. — Eu não deveria terpermitido que ficasse por tanto tempo.

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— Mary, desça e fique na escada para se certificar que ele não vaisubir.

A criada assentiu com um sinal de cabeça.

Rosalind foi para seu antigo quarto. Andar rápido não estava sendo

uma tarefa muito fácil, uma vez que seus olhos estavam embaçados e aescada parecia mover-se sob seus pés. Mesmo assim ela conseguiudescer.

— Ande logo — sussurrou Mary da escada.

— Mary! Não está me ouvindo?

— Desculpe, Sr. Chapman, eu estava no quarto de sua mãe.

— Então desça logo para preparar meu jantar. Preciso sair de novo egostaria de comer antes.

— Sim, senhor — acatou Mary, descendo as escadas. — O senhor vaisubir?

— Ora, mas é claro que vou. Quero trocar de roupa antes de sair.

— Como preferir, senhor.

Rosalind esforçou-se para chegar ao quarto antes que Franklinchegasse ao primeiro andar. O mundo parecia girar a sua volta, foi precisoamparar-se na parede para não perder o equilíbrio.

Finalmente ela conseguiu abrir a porta e entrar. A porta-balcãoestava aberta. Pulou a mureta, esgueirando-se pela parede lateral da casa

até a treliça. Aguardou um pouco na esperança de o coração se acalmar ea cabeça parar de girar. De repente, ouviu passos. Oh, Céus, ela haviadeixado a porta do quarto aberta. Franklin certamente desconfiara dealgo.

Com a respiração suspensa, ouviu os ruídos de gavetas sendoabertas e fechadas, rezando para não ser vista ali. Não demorou muito,ouviu o barulho da porta sendo fechada e supôs que ele houvesse saído.

Por garantia, permaneceu imóvel por mais alguns minutos. Quandoo silêncio pareceu reinar, alcançou a treliça. Pela experiência, sabia que asduas anáguas que usava por baixo do vestido só atrapalhariam na

descida. Então com destreza, removeu-as, deixando-as amontoadas emum canto, antes de se firmar na grade.

Ainda titubeante, apoiou-se na mureta e procurou apoio para o pé.Assim que sentiu que estava firme, pôs o outro pé. Neste momento, umdos pés escorregou e ela ficou pendurada com as pernas balançando atéencontrar apoio novamente. Olhou para baixo e sentiu a cabeça girar,temendo cair e quebrar o pescoço.

Reunindo todas as forças, agarrou-se na grade até que conseguiuapoiar os pés por entre as folhas da videira e começar a descerlentamente. As folhas ainda estavam molhadas da chuva da noite anterior,

fazendo com que escorregasse a todo instante.Sentindo-se zonza, imaginou que fosse ficar enjoada, o que

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complicaria ainda mais a empreitada. Quando estava quase chegando,escorregou novamente.

De repente, ela perdeu o controle e começou a cair, mas foiamparada por braços fortes.

— Que diabos está fazendo, Rosalind?Armond! Assim que o reconheceu, agarrou-se a ele, puxando-o para

encostar na parede.

— Você ainda não me respondeu.

— Shhh! Fique quieto. Franklin está em casa. Tive de fugir sem queele me visse.

— Não ligo a mínima se for visto — ralhou ele, afastando-se daparede.

— Mas eu me preocupo. Se ele me vir, não permitirá que eu voltepara ver minha madrasta.

— Você já passou dos limites. Achei que não conseguiria chegar atempo de impedi-la de cair.

— Você está falando alto demais — advertiu Rosalind. — Podemosdiscutir isso mais tarde.

— Pode estar certa que vamos falar a respeito.

A volta para casa não foi rápida. Rosalind tropeçava e Armond tinhade voltar para socorrê-la a todo instante. Ao final, ele terminou por

carregá-la no colo.Ao entrarem em casa, ele seguiu direto para o quarto. Hawkinscorreu para saber o que havia ocorrido, mas pelo olhar do patrão, achoumelhor se recolher.

Armond colocou-a gentilmente sobre o acolchoado macio, emborasua expressão fosse bem distinta de seus gestos.

—Hawkins não faz idéia de onde você foi — repreendeu-a. —Quando eu seguia para o estábulo para selar meu cavalo, vi o lençolestendido na janela. Logo em seguida a vi descendo pela treliça.

— Eu adormeci — ela explicou. — Não disse a Hawkins aonde estavaindo porque pretendia ficar pouco tempo por lá. Acontece que Franklinchegou e não tive como fugir senão pela grade. Eu estava com muitatontura e acabei por perder o equilíbrio.

—Vou chamar um médico. Essas tonturas têm acontecido com muitafreqüência.

—Foram só duas vezes. Estranho é que foram exatamente nas vezesem que visitei minha madrasta. — Rosalind buscou alguma lógica, quandode repente lembrou: — O chá!

— Como assim? Do que você está falando?

Os acontecimentos começaram a fazer sentido. E se estivesse certa,

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talvez a madrasta não estivesse doente de fato.

—Acho que ele a está drogando — explicou. — Tem algumingrediente a mais no chá que Mary dá para a duquesa diariamente.

— Do que você está falando, Rosalind?

Ela sentiu mais uma onda de vertigem, fazendo-a levar a mão àtesta.

— Acho que as folhas que Franklin dá a Mary para preparar o chátêm alguma substância de efeitos entorpecentes, mantendo-a naqueleestado de letargia. Da última vez que estive lá, tomei um golinho do chápara testar se não estava muito quente. Hoje tomei uma xícara inteira.

— Mas qual o interesse de Franklin em dopar a própria mãe?

Rosalind ficou pensativa por alguns instantes.

— A menos que ela tenha informações importantes — Armondconcluiu.

— Sobre os assassinatos?

— Sobre Bess O'Conner—ele insinuou. — Se ela soubesse que o filhohavia matado uma mulher, o que faria?

— Bem, minha madrasta sempre o protegeu, sem se importar se elehouvesse cometido os atos mais hediondos. Por outro lado sei que ela éuma pessoa de princípios, então não sei o que pensar... Franklin vai sairesta noite — Rosalind se lembrou de comentar o que ouvira.

— Isso quer dizer que eu também vou sair. Quero que durma para selivrar da droga que causa essas vertigens.

— A razão por ele dopá-la ainda não faz muito sentido. Sepressentisse que ela soubesse alguma coisa sobre os crimes, por queentão não matá-la?

Armond afastou uma mecha que caía sobre o rosto delicado.

— Talvez não tenha coragem o suficiente para matar a própria mãe.Ou quem sabe, imaginou que seria muito mais esperto manter a duquesadrogada e contar a todos de sua morte lenta. Ninguém questionaria amorte de alguém que já estava tão debilitada.

— Preciso salvá-la — prometeu Rosalind em um sussurro.

— É melhor dormir um pouco.

Aos poucos ela sentiu o manto da escuridão da noite envolvê-lacomo se quisesse niná-la.

Capítulo IV 

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  Talvez fosse louco como todos acreditavam. Armond cerrou osdentes com força, enquanto se prendia embaixo do coche de Franklin.

Aquela fora a única maneira que encontrara para seguir aquele vermesem ser visto, a única forma de ter certeza de que não cairia em outraarmadilha. A carruagem já havia parado uma vez para pegar umpassageiro. Armond sabia ser mulher pelo perfume e o sotaque carregado.O coche fez outra parada, agora em uma rua escura onde apenas osilêncio predominava.

— Você quer que eu entre aí? — a mulher quis saber. — Mas estávazia!

— É exatamente assim que queremos — Franklin respondeu em umtom frio. — Tem alguma diferença o lugar onde você irá se entregar em

troca de algumas moedas?— Não precisa ser tão sem educação assim. Mas tem razão, acredito

que o lugar não importa mesmo.

As molas da carruagem estalaram quando Franklin e a mulherdesceram. Armond decidiu esperar um pouco antes de sair do esconderijo.Ainda sob o coche, viu uma luz ser acesa no quarto dos fundos da casadeserta. Foi então que fechou os olhos e concentrou-se em ouvir o queestava sendo dito naquele quartinho:

— Você quer que eu vista isso? Para quê? — indagou a mulher.

— O cavalheiro que se juntará a nós deseja que você se pareça comuma lady.

— Que cavalheiro? Você não disse que seríamos três.

— Não? — Franklin indagou em tom de sarcasmo. — Lamentoinformar que haverá mais uma pessoa conosco.

— Espere um pouco — retrucou ela. — Não concordei em agradardois de uma vez. Não faço esse tipo de coisa.

— Então esta noite será exceção — garantiu Franklin. — E não serãoos dois ao mesmo tempo. O cavalheiro gosta de assistir primeiro, paradepois desfrutar a sua vez.

— Nada disso. Estou indo embora.

Um sonoro tapa se fez ouvir. Armond contraiu os punhos comvontade de esmurrar Franklin por bater em uma mulher.

— Vista esse vestido agora! — Franklin ordenou.

— Está certo, eu visto. Não me bata mais.

— Faça o que estou pedindo e não se machucará mais. E fez-se osilêncio. Armond presumiu que a mulher estivesse se trocando.

— Solte os cabelos — comandou Franklin. — Quanto mais escondidoestiver seu rosto, mais estará parecida com outra pessoa.

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Ronda Thompson - Irmãos Wulf 2 - A Maldição da Lua (Bianca 868)

— Quem é o outro cavalheiro?

Mais um tapa se fez ouvir.

— Cale essa boca. Ele não pode fazer com uma lady o que pretendefazer com você, a menos que esteja casado.

— Entendi...— Tire o vestido e se mostre para mim — pediu Franklin. — Quero

me certificar que você não é doente.

— Já lhe disse que não...

Outro tapa.

— Ande logo!

Não houve resposta, apenas um choro tímido. De repente ouviu-seum grito agudo.

— Volte aqui, sua vadia!Armond ouviu sons de luta, e gritos de desespero chegaram a doer

seus ouvidos sensíveis.

Praguejando, ele entrou na casa e chutou a porta do quarto.

— Chapman! Tire suas mãos dela!

Um tiro soou na escuridão e Armond se jogou no chão.

— Vamos lá, Wulf— zombou Franklin. — Tudo o que eu queria eraenfiar uma bala na sua cabeça.

Armond também tinha um arma, porém por mais tentado queestivesse a usá-la, ainda não tinha provas suficientes para condenarFranklin pela morte das duas mulheres, encontradas em sua propriedade. Tampouco ouvira ameaças de morte àquela mulher ali presente. Mais umavez seria sua palavra contra a de Franklin, o que não valeria nada peranteas autoridades e a sociedade.

— Deixe-a ir! — ele vociferou. Podia vê-lo mesmo escondido nassombras e percebeu que a mulher estava sendo usada como escudo.

— Pode atirar, Wulf! — desafiou Franklin.

Armond contraiu o maxilar e esperou ele fazer o próximomovimento, que não demorou a acontecer. Franklin arrastou a mulher atéa porta aberta para em seguida atirá-la na direção de Armond e saircorrendo.

Quando ele conseguiu se desvencilhar do corpo feminino e alcançara rua, foi a tempo de ver a carruagem dobrar a esquina. Respirando fundo,Armond começou a correr, as passadas vigorosas ecoando na noite. Umhomem jamais alcançaria cavalos velozes, mas ele podia.

  Tomando fôlego, arremessou o corpo para a frente. As formasescuras das casas abandonadas e dos becos passavam por ele em uma

velocidade inacreditável. De repente as formas se transformaram emapenas listras coloridas. Os cavalos, correndo a sua frente,

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transformaram-se em borrões vermelhos em contraste com o breu daescuridão. Armond conseguiu ver o sangue que corria nas veias dosanimais.

Quanto mais corria mais tinha noção de que já não era um homem.De repente avançava em quatro patas, com longos caninos aparentes emvez de dentes. Havia garras no lugar de unhas, pêlos no lugar da pele.  Tornara-se tão obscuro quanto a noite, com o coração pulsando alto,fazendo correr o sangue quente pelas veias.

Estava quase alcançando a carruagem, preparando-se para pular eavançar no pescoço de Franklin, quando um corpo veio em sua direção.Não houve tempo de evitar a colisão e os dois rolaram pela grama.

— Seu idiota! — reclamou o homem atropelado. — Olhe por ondeanda.

Enquanto o homem se ajoelhava com dores, Armond tentava

controlar a respiração ofegante. Em segundos voltou a ser um humano enão a fera que tomara seu corpo instantes atrás. Quando recuperou acalma, levantou-se e depois de desculpar-se com o outro homem, seguiude volta para a casa abandonada.

A casa estava vazia, a mulher havia sumido. O vestido que Franklinpedira que usasse estava esquecido no chão.

Armond levantou a peça e contraiu-se ao sentir o perfume tãoconhecido. Aquela era a roupa que Rosalind vestia quando a conhecera nobaile de Greenley.

* * *

Armond acariciou o rosto de Rosalind que estava adormecida com asroupas que vestira no dia anterior. Ela acordou com o carinho, arregalandoos olhos.

— Jackson?

As mãos de Armond congelaram ao ouvir o nome do irmão.

— Você me chamou de Jackson?Ela meneou a cabeça para clarear as idéias.

— Já amanheceu?

— Você me chamou de Jackson? — repetiu ele. Rosalind apoiou-senos cotovelos para erguer o corpo e olhou para a janela. Os raios intensosdo sol infiltravam-se pelas frestas da cortina, iluminando o quarto.

— Tive um sonho dos mais estranhos. Sonhei que seu irmão estavaaqui, no meu quarto, conversando comigo.

—É mais estranho ainda se considerarmos que você ainda não oconhece.

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Rosalind passou os dedos pelos cabelos.

— Bem, ao menos achei que estivesse sonhando. Você o acusou dosassassinatos?

— Sim, e ele ficou furioso. — Armond sentiu o peso da culpa. — Foi

por isso que ele se foi antes de conhecê-la.— No sonho ele dizia que iria matar uma bruxa para salvar a família.

Isso não faz sentido, Armond.

Embora Rosalind não tivesse entendido, Armond bem sabia a queele estava se referindo. Era uma decisão tola de Jackson e não poderia tervindo em pior momento.

— Estive pensando em mandá-la para o campo — contou Armond. —Acho que lá você estará em segurança na companhia dos meus irmãos.

— Não posso ir para o campo agora. Quer dizer, não sem antes

ajudar minha madrasta.— Você está em perigo.

Depois do que vira na noite anterior, ele havia juntado novas peçasao quebra-cabeça de Franklin. Primeiro fora a escolha de uma mulherparecida com Rosalind, depois o vestido. Estava claro que o terceirohomem, esperado naquela noite, tinha obsessão por ela.

— O que aconteceu à noite passada? — indagou ela.

Armond não iria contar nada, especialmente sobre o vestido ousobre a maneira que ele havia perseguido o coche em disparada.

— Não consegui pegá-lo — ele resumiu.

O toque suave das mãos delicadas no rosto cansado, assustaram-na.

— Parece esgotado. Você dormiu?

— Não — ele admitiu enquanto a admirava com as roupasamassadas.

— Acho que deveria descansar. Vou pedir a Hawkins que prepareum banho quente.

— Você vai me ajudar com o banho de novo? — perguntou,

erguendo uma das sobrancelhas.Rosalind não riu, ao contrário, encarou-o no fundo dos olhos.

— Você vai me trancar para fora?

Ele percebeu que Rosalind se referia ao fato de ele ter pedido aHawkins para colocar uma tranca na porta que separava os dois quartos.Sabia que ela estava magoada, contudo era para o próprio bem dela.

— Às vezes prefiro ficar sozinho.

Rosalind continuou firme, porém com os olhos marejados.

— Fui muito ousada na outra noite? Agora sente repulsa por mim?— Eu jamais a rejeitaria — confessou ele, correndo os dedos pelos

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cabelos despenteados. — Você é a mulher mais desejável que já conheci ea mais corajosa.

— Então por que me evita? — ela perguntou com uma expressão desúplica.

— Porque você merece mais do que posso dar. Não quero que aceitemenos do que isso. Certa vez você me ofereceu sua amizade, acho queesta será a solução para nós.

Ela deu as costas, mas não sem antes deixar visível a lágrima quecorreu pelo rosto delicado.

— Droga de vida amaldiçoada — murmurou ele. E como nãosuportaria vê-la chorar, levantou-se e atravessou a porta de interligação,trancando-a.

* * *

Rosalind precisava solucionar o quanto antes o problema daduquesa de Montrose, mesmo sabendo que o marido ficaria furiosoquando soubesse que ela agira por conta própria. Com o assunto emmente, cobriu-se apenas com uma capa e foi procurar Hawkins. Ele eraum serviçal e como tal não poderia impedi-la, mas dessa vez deixariaavisado por onde andava. O mordomo tentou impedi-la, mas ao finalinformou que se demorasse a voltar acordaria lorde Wulf.

Era muito cedo e provavelmente Franklin ainda estivesse dormindo.O plano era chegar pela porta dos fundos, encontrar Mary na cozinha einstruí-la para que não servisse mais o chá para a duquesa.

Com o coração batendo acelerado, Rosalind chegou à porta dosfundos da casa vizinha e bateu sem demora. Mary franziu o cenho ao vê-laali.

— O que faz aqui, milady? — ela sussurrou. — O Sr. Chapman estádormindo.

— Preciso falar com você — Rosalind respondeu em voz baixa,entrando na cozinha. Olhando ao redor, viu o vidro onde as folhas de cháestavam guardadas. Ao abrir a tampa, sentiu o cheiro forte invadir suasnarinas.

— O que está fazendo, milady?

— Acho que é este chá que deixa a duquesa nesse estado letárgico.Acho que Franklin a vem drogando.

— E por que ele faria uma coisa dessas? — a criada perguntou deolhos arregalados.

Rosalind não tinha tempo para entrar em detalhes sobre suas

suspeitas.— Ouça, Mary. Quero que você substitua essas folhas pelas normais.

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Se a duquesa começar a melhorar e assim provar que estou certa, entãoposso explicar em detalhes o que está acontecendo. Não tenho tempoagora.

— Não sei se devo, milady — Mary disse, torcendo as mãos. — Ircontra as ordens...

— Por favor, Mary — pediu Rosalind. — Se eu estiver enganada, nãofará mal algum em trocar o chá por alguns dias. Mas se eu estiver certa,ela vai começar a melhorar logo.

— Está bem — Mary aquiesceu, temerosa. — Mas se o Sr. Chapmandescobrir que desobedeci suas ordens, vai me mandar embora, entãoquem vai tomar conta da pobre senhora?

— Tenho fé de que a duquesa logo estará bem para cuidar de siprópria.

Rosalind também tinha esperanças de que tão logo a madrastasoubesse dos crimes do filho, tomaria providências para que ele pagassepelo que havia feito.

— Mary!! Já chamei duas vezes! Onde diabos você se meteu?

Rosalind prendeu a respiração e Mary empalideceu. Ouviu-se ospassos de Franklin em direção à cozinha.

— Vá embora logo!

— Não posso, ele vai me ver correndo pelo gramado e saberá queestive aqui — Rosalind sussurrou.

Mary empurrou-a pela porta que levava ao porão e aos quartos dosempregados.

— Fique aqui até que eu veja o que ele quer — ordenou. Rosalind seesgueirou pela porta no momento em que ouviu Franklin entrar nacozinha.

— Aqui está você — ele grunhiu. — Minha cabeça está latejandotanto que não consigo dormir. Estou pensando em tomar aquele chá quecomprei para minha mãe. Faça uma xícara e leve até meu quarto.

— Sim, Sr. Chapman, já estou levando. Eu estava mesmo

preparando um bule para sua mãe.Houve um breve silêncio e Rosalind pressionou o ouvido contra a

porta.

— Onde está a lata de chá? Não está no lugar de costume.Apavorada, Rosalind percebeu que ainda estava com a lata nas mãos.

— Devo ter posto em outro lugar, senhor. Não se preocupe, vouachar e já levo o chá ao seu quarto.

Rosalind prendeu a respiração até ouvir os passos pesados seafastarem.

— Lady Wulf— Mary chamou-a em voz baixa. — Preciso da lata. Ele já subiu.

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Em poucos segundos ela abriu a porta e entrou na cozinha.

— Então faça o chá para ele, mas não dê o mesmo para a duquesa.

A governanta assentiu com um sinal de cabeça e Rosalind saiucorrendo pela porta dos fundos. Enquanto seguia para casa, lembrou-se

de que Franklin havia pedido uma dose do chá para ajudá-lo a dormir,confirmando suas suspeitas de que a duquesa estava sendo drogada.

Assim que Armond acordasse, ela contaria o que acabara dedescobrir.

Armond passou o dia em um sono inquieto. Teve sonhos obscurosde Rosalind naquela casa deserta, vestida para o baile de Greenley, mortasobre um colchão jogado no chão. As figuras se alternavam. Em algunsmomentos, viu o próprio reflexo no espelho e horrorizado notava que tinhapresas, pêlos e um brilho azulado nos olhos.

O mundo havia se transformado desde que conhecera Rosalind.Sentia-se como se estivesse trilhando o caminho da autodestruição numpasso desenfreado, como se não houvesse rédeas para diminuir avelocidade ou impedir que o inevitável acontecesse.

 Tinha que frear os próprios instintos de matar Franklin, sem antesprová-lo assassino. Salvaria Rosalind mesmo que isso significasse aprópria destruição. A hora do encantamento estava se aproximando enegar a verdade não o salvaria.

Uma leve batida na porta o despertou completamente.

— Armond? Está acordado? Preciso falar com você.

Ele decidiu que seria melhor ignorar Rosalind.

— Armond — ela chamou novamente. — Descobri uma coisa na casada minha madrasta que acho importante contar.

Oras, mas será que ela o tinha desobedecido de novo? A idéia de vê-la na casa de Franklin o apavorava. Aquela era uma boa hora para adverti-la.

Enrolando a nudez no lençol, levantou-se, destrancou a porta eabriu-a. Rosalind entrou de supetão.

— Fui dar instruções a Mary para não servir mais o chá para minhamadrasta e... — começou ela, mas as palavras morreram assim que opercebeu nu. — Por que está sem roupas?

Ele sorriu diante da reação de embaraço.

— Costumo dormir nu.

— Oh, está bem. — Ela suspirou antes de continuar. — Como euestava dizendo, fui ver minha madrasta e...

Armond sentou-se na cama.

— Eu queria mesmo falar sobre suas visitas. Sei que estápreocupada com sua madrasta, mas não vou mais permitir que se arrisquepor causa dela — ele a interrompeu.

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Rosalind entendeu que não deveria insistir no assunto e deu deombros, permitindo assim que a capa deslizasse, revelando a pele alva emacia dos ombros. Armond engoliu em seco.

— Você está só com...

Em vez de responder, ela mordeu o lábio inferior. Armond entãoestreitou a distância entre eles.

— Na noite em que nos casamos você me disse que sóconsumaríamos a união quando fosse de minha vontade — sentenciou elaem meio à respiração entrecortada e permitiu que a capa deslizasse pelocorpo esguio até o chão. — Tomei uma decisão. Será esta noite, Armond.

Os olhos dele deliciaram-se diante de tamanha beleza. Dos péspequenos, erguiam-se as pernas longilíneas, terminando no ventrecoberto por sedosos pêlos encaracolados. A linha dos quadris seguiasinuosa até delinear a lateral dos seios firmes. Rosalind era a mais perfeita

tradução de uma obra de arte.— Você disse que queria mais tempo... — ele a lembrou. — Por que

mudou de idéia?

— Estou ouvindo o chamado do meu coração — ela o desafiou,erguendo o queixo.

Era preciso desviar os olhos daquele corpo tão feminino. A força devontade de Armond estava em risco, mas aquilo não era o pior. Ele sentiaque a fera que habitava seu corpo estava disposta a emergir da pele. Afera que sentia o perfume da fêmea a sua frente e que se interessava

apenas pela luxúria, nunca pelo amor.— Volte para seu quarto — ordenou ele. — Qualquer que seja o

sentimento que habita seu coração será desperdiçado comigo.

Rosalind não respondeu e ele temia em encará-la e deparar-se comaqueles lindos olhos cheios de lágrimas, que fatalmente o fariam abraçá-la. Bastaria um simples toque para colocar tudo a perder.

No entanto foi Rosalind que tomou-lhe a mão, repousando-a sobre oseio, da mesma forma como ele havia feito na noite anterior.

— Tem certeza?

As mãos fortes amoldaram aquele monte macio, as palmasinstigadas pelos mamilos retesados. O sangue corria quente pelas veias,concentrando-se no membro que já estava em riste, desde o momento emque ela havia entrado no quarto. Ele podia ouvir o canto da sereia que oencantava com sua música.

— Você não sabe tudo a meu respeito — ele tentou avisá-la, massem deixar de tocar a pele sedosa. — Sou amaldiçoado, Rosalind.

—Então eu quero compartilhar a maldição com você. Renda-se,Armond. Eu amo você e estou me entregando de corpo e alma.

Rosalind amava o homem para quem olhava naquele instante, noentanto não seria capaz de ter qualquer sentimento pela fera que ele logo

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se transformaria.

Lentamente, ele desceu a mão do quadril, acompanhando a curvasedutora. No instante seguinte ele a levou para cama e deitou-se ao seulado.

— Pensei que tivesse aprendido, quando em nosso primeiroencontro, disse para ter cuidado com o que deseja. Você pode conseguir.

— Não quero me preocupar com as conseqüências. Esse é o nossomomento.

O corpo de Armond amoldou-se ao dela, separados apenas pelolençol que o envolvia. Ao deslizar as mãos delicadas pelas costas largas,Rosalind encontrou uma pele macia e firme, que proporcionava um toquequente. Os seios, já doloridos pela excitação, espremiam-se contra o peitomusculoso.

Um beijo terno e lento contradizia o pulsar dos sentidos. Os lábios setocavam gentis, mas possessivos ao mesmo tempo. A fome de ambos eravoraz e logo ele aprofundou ainda mais o beijo, procurando muito além deuma simples sensação prazerosa. A língua impiedosa avançou pela bocaardente, tocando, sentindo, convidando para um bailado único.

Estavam escancarados os portões da paixão, deixando fluir os fortessentimentos represados.

Rosalind anunciou sua entrega com um gemido, correndo as unhaspelas costas de Armond, como se quisesse marcar sua passagem. Aquelaaltura, com a sensibilidade à flor da pele, os corpos registravam cada

movimento, cada sensação, eternizando-os no coração.O lençol que os separava jazia amontoado ao pé da cama. Ao

percebê-lo rígido de prazer, ela seguiu seu instinto de fêmea emovimentou os quadris, roçando, acariciando, excitando-o ainda mais.

— Calma — murmurou ele. — Quero prepará-la para me receber.

Foi então que a boca ávida deslizou sobre a pele alva do pescoço deRosalind, mordicando-a suavemente, movendo-se para baixo. As mãos emconcha aconchegando os seios volumosos, como se os preparasse paraserem beijados.

Ele a provocava sem piedade, a língua desenhando círculospreguiçosos ao redor dos mamilos antes de sugá-los. Ela cravou as unhasmais profundamente e, de novo, não conseguiu controlar a necessidadede se arquear contra ele.

As respirações combinavam com os gemidos. Os dedos habilidososescorregaram, invadindo-a no âmago de sua feminilidade, massageando-acomo já havia feito anteriormente.

Rosalind conhecia o ritmo e sabia para onde a levaria aquelascarícias enlouquecedoras. Ansiosa, arqueou o corpo para que a pressãodaqueles dedos fosse mais forte. No entanto, era Armond o dono dos

movimentos, tanto que a surpreendeu introduzindo o dedo pela fenda jáumedecida, sentindo a pressão dos músculos dela se retesarem em

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surpresa.

— Não se preocupe — ele garantiu em um sussurro. — Só quero quefique ainda mais úmida para me receber...

Gradualmente o temor de Rosalind se esvaiu e ele continuou a

massagear a flor do prazer com o polegar, enquanto os outros dedos eramrecebidos por uma umidade quente. A combinação das carícias acentuavaainda mais os doces delírios, levando-a em uma alucinante viagem. Aoperceber o corpo reagir com suaves contrações, ela tentou demonstrar oprazer que sentia, por meio da pressão dos músculos do ventre nos dedosmágicos que a invadiam. Mas não demorou para que perdesse o controlediante das sensações tão arrasadoras. Sentiu o corpo tremer, levando-aquase à loucura. Aquela altura podia sentir o líquido que escorria por entreos dedos de Armond, chegando a molhar suas coxas. Era como seestivesse em febre, pronta para receber o lenitivo de ser preenchida pelomembro ereto que a roçava impaciente.

— Armond... — murmurou ela ofegante. — Eu preciso... quero...

— Eu sei...

Gentilmente ele deitou-se sobre ela, encaixando-se entre as pernas,deixando que seu membro apenas a roçasse de leve.

Rosalind contraiu-se no início da penetração. Sentindo-a insegura,Armond segurou-la pelos quadris e continuou a penetrá-la devagar.

— Não fique tensa — instruiu ele. — Procure relaxar e permita queeu a sinta por inteiro. Vou fazê-la mulher, minha mulher.

E antes que ela pudesse compreender o significado daquelaspalavras, ele se impulsionou para dentro dela, como se a quisesse atingiraté a alma. Armond a completava por inteiro, fazendo-a transbordar. Otamanho e a força daquele membro viril a fazia ficar sem ar a cadainvestida, fazendo-a arfar. Mas excitada como estava, surpreendia-se como extremo prazer atingido a cada manobra que ele fazia com extremafacilidade, dado seu tamanho.

Rosalind descobriu-se inchada e também intumescida e soube quese movesse também potencializaria o contato com a fonte de maiorprazer.

Ao perceber-se cada vez mais satisfeita, esqueceu-se das inibiçõesiniciais. Os dois foram tomados por algo primitivo. Estavam em totaleuforia, mal se dando conta que era a sintonia da natureza comandandotudo.

Armond parecia focado em um único objetivo, dar e receber o maiordos prazeres. Os corpos suados se fundiam em um só, atingindo umacompletude divina. Haviam sido transportados para um lugar onde só odesejo e o prazer pareciam habitar, escondendo-os de qualquer outracoisa que pudesse macular a perfeição daquele momento.

Por mais uma vez, ela deixou as unhas deslizarem pelas costaslargas até agarrar os músculos firmes das nádegas de Armond. Seguindo

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ainda seus instintos, enlaçou-o com as pernas, como se estivesseacostumada a abraçá-lo daquela forma sedutora, abrindo-se em umconvite irrecusável.

Ele sussurrou o nome dela, levando-a às alturas em uma espiralquase que selvagem. Os dentes de Armond cravaram-se no pescoço alvo,não de forma dolorida, mas deixando ali sua marca, tatuando-a como suapropriedade. Porém ela estava tão presa às garras da paixão que assistiude camarote ao show do homem que a dominava. A verdade reluziaesplendorosa como a luz do sol. Ele a possuía de fato, coração, corpo ealma.

Entretanto, naquele instante era a vontade física que falava maisalto. As estocadas firmes a estimulavam, fazendo-a mais uma vezconfundir dor e prazer, uma sensação indescritível, próxima à obsessão.

De repente Armond aumentou o ritmo e Rosalind percebeu que ele

ainda não a havia penetrado até o fim. A impressão que teve foi de umardor estranho, mas que vinha mesclado de prazer. Sentindo que cruzavaa tênue fronteira entre a sanidade e a loucura, agarrou-se a ele com todaa força que conseguiu reunir, presa em um redemoinho de emoções,muito mais intensas do que as que havia sido sentido anteriormente.

Quando não pôde mais conter a onda de êxtase que a levava àsalturas, ela enfiou as unhas nos ombros fortes, chegando a tirar sangue.Gritou o nome de Armond seguidas vezes em plena convulsão, chegandoa mordê-lo até mesmo onde já o tinha machucado com as unhas.

— Solte as pernas.

A voz de Armond parecia vir de outra esfera. Impossível obedecer aocomando, pois o corpo másculo era a única coisa que a prendia ao mundoreal. O medo de ser transportada para algum lugar, de onde nãoconseguiria voltar, impediu-a de soltá-lo.

— Rosalind, por favor!—gritou ele, enquanto a penetrava maisrápido do que antes. O desejo insano falou mais alto e ele acabou porinundá-la com seu sêmen por completo.

Com o peso do corpo sobre o dela, Armond blasfemou toda a sortede impropérios aos ouvidos de Rosalind. Ela então soube por que ele

queria que ela o soltasse... Tarde demais.

Aos poucos ele foi saindo de dentro dela até se deixar cair de costas,com um dos braços cobrindo os olhos e o peito relutando para voltar àrespiração normal.

— Meu Deus, o que foi que eu fiz — disse finalmente. Embora suaexperiência fosse pouca, Rosalind sabia que aquilo não era o tipo de fraseque uma mulher gostaria de ouvir depois de fazer amor com um homem.

— Apesar de ser a minha primeira vez, acho que você se saiu muito

bem.Um silêncio pesaroso caiu sobre ele.

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— Da próxima vez, não deve permitir que eu deixe minhas sementesem você. Meu sêmen é maldito e não quero que seja gerado em seucorpo.

Mais uma frase que uma mulher não gostaria de ouvir do marido.

— Então teremos uma próxima vez? — ela quis saber. E erguendo ocorpo sobre o cotovelo continuou: — Ainda esta noite?

Armond tirou o braço de cima dos olhos, que ainda estavam sembrilho. Quanto mais ela o encarava, mais rápido a intensidade daqueleolhar aumentava.

— Pretendo fazê-la minha por quantas vezes forem possíveis até oamanhecer. Eu disse para ter cuidado com o que pede.

Ela suspirou sonhadora e se deitou de costas ao lado dele.

— Bem, se é assim...

Armond ainda a possuiu duas vezes até sentir a primeira pontada dedor. Ele agora estava encolhido em um canto do quarto, coberto de suor,tremendo convulsivamente enquanto ela dormia em sono profundo.Mesmo sentindo dores agudas que o faziam se contorcer, ele ainda adesejava. Seria o homem que não se saciava ou era a fera que jamais sedava por satisfeita? Ele a amava. Tinha consciência daquele amor, mesmoantes de terem unido os corpos em um só. Desde quando a vira daprimeira vez, sabia que não haveria outra mulher a dominar seu coração.Em vão, acreditou que, negando o amor, estaria livre da maldição. Porém,era uma força superior, impossível de ser vencida.

A brisa suave entrava pela janela, fazendo as cortinas dançaremsilenciosamente na escuridão. De onde estava, ele conseguia ver a luacheia em todo o seu esplendor. Rosalind se mexeu, pronunciando seunome ainda adormecida. Desejou tocá-la novamente, mas não podia. Aomenos enquanto estivesse lutando contra o que se transformaria embreve.

O momento o fez recordar do pai e foi então que entendeu seudesespero. Ele também tivera medo de machucar a esposa e os filhos. Aarma fora sua única amiga para ajudá-lo a alcançar a paz.

— Armond — Rosalind o chamou, sentando-se na cama. Ele aobservou procurá-lo pelo quarto escuro. Fechou os olhos, forçando inspirare espirar diversas vezes, na tentativa de parar de tremer e ignorar a dorque o estava virando do avesso.

— O que está fazendo aqui no chão? — inquiriu ela, tocando o ombrotrêmulo.

Como poderia contar a verdade? Não, ela não compreenderia.

— Estou tentando me controlar para não possuí-la novamente. Vocêdeve me achar um monstro.

— Bem, se for assim, você acaba de me transformar em umtambém. — Ela abaixou para beijá-lo e aconchegou-se a seu lado.

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Rosalind sentiu como se tivesse levado uma surra. Cada centímetrode seu corpo estava dolorido. Em algum momento da noite, Armond acarregara de volta para a cama num ato de extremo carinho. Seriam todosos homens tão viris assim? Quando ele a possuíra novamente ali no chão,foi um amor primitivo, beirando a selvageria e havia despertado uma

fêmea desconhecida que estava adormecida em seu corpo frágil.Hawkins tirou-a de seus devaneios ao bater suavemente na porta.

—Lorde Wulf pediu que eu trouxesse água para um banho.

Rosalind imaginou que nada poderia ser melhor do que um banho.Sentiu-se triste por Armond não estar ali para fazer-lhe companhia. Enfim,tirou o roupão e deixou o corpo dolorido relaxar na água. Suas barras desabão estavam arrumadas ao lado e o perfume de lavanda logo aacalmou. Submergindo um pouco mais, deixou-se ficar com os olhosfechados. As doces lembranças de fazer amor com Armond brindaram o

rosto sonolento com um sorriso.O desejo de ambos havia se consumado e estabelecido. Mesmo que

o dia não houvesse começado da melhor forma, não significava que orelacionamento não se desenvolveria conforme o esperado.

  Tentou manter-se confiante e não pensar nos problemas com amadrasta, aquela nódoa escura que manchava sua felicidade. Se aomenos tivesse uma prova irrefutável da culpa de Franklin, eles poderiamentregá-lo às autoridades.

Imaginou se a mãe de criação estaria melhorando sem a dose diáriado chá.

A quantidade de pensamentos que povoavam a mente de Rosalindimpediram-na de relaxar durante o banho. Saiu da banheira e se enxugouem uma toalha felpuda. Depois de se vestir foi até o quarto de Armond.  Tocou os objetos pessoais dele, sentindo falta da presença forte emasculina a seu lado naquela manhã. De súbito, deparou-se com um livroantigo e curioso. Puxando-o da prateleira considerou tomá-lo emprestadopara ler.

Ao abri-lo, um pedaço de papel amarelado caiu no chão. Ela curvou-se para pegá-lo. Estava escrito em latim, mas graças aos tutores que

tivera, conseguiu decifrar o que estava escrito. Era um poema.— Já está vestida, lady Wulf? — Hawkins perguntou, batendo na

porta.

Assustada, Rosalind colocou o pedaço de papel de volta dentro dolivro.

— Sim, Hawkins, pode entrar.

— Lorde Wulf me pediu para informá-la de que a condessa deBrayberry irá mandar um coche para buscá-la agora de manhã —informou o mordomo.

— Será que pode trazer uma bandeja com o meu desjejum? Aindapreciso terminar de me arrumar.

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— Sim, lady Wulf — Hawkins anuiu e deixou o quarto. Sozinhanovamente, Rosalind olhou para o livro, colocou-o embaixo do braço eseguiu para o outro quarto. Sentada à escrivaninha, pegou a folha depapel, desdobrou, esticando-a sobre a mesa. No entanto, só teve tempode traduzir a primeira linha antes que Hawkins batesse à porta, trazendo a

bandeja com o café.Pela maneira como Hawkins encarou os cabelos desarrumados, ela

entendeu que deveria perder um pouco mais de tempo com a aparência.Isso significava que não teria tempo de voltar a ler o poema, cuja primeiralinha a intrigou:

Maldita seja a bruxa que me amaldiçoou.

Hawkins acompanhou Rosalind até a carruagem, onde um lacaio aaguardava segurando a porta do coche.

Com a carruagem já em movimento, ela olhou para trás e notou o

lençol estendido na sacada da casa vizinha.— Oh, Deus!

— Milady? — perguntou o lacaio, notando-a inquieta. De repentesentiu-se invadida por uma onda de emoções conflitantes.

E se Mary estivesse precisando de ajuda? E se sua madrasta tivessesaído do estado letárgico e já pudesse conversar?

Movida pela necessidade premente de verificar o que estavaacontecendo, pediu para que o coche fosse parado.

— Desculpe-me, mas eu me esqueci de um compromisso que haviamarcado para esse mesmo horário. Por favor, peça desculpas à condessapor mim.

Como não poderia contestá-la, o lacaio desceu para abrir a porta docoche.

Assim que ficou sozinha, Rosalind seguiu pelo caminho pedregosoaté chegar ao gramado que ficava entre as duas casas.

Mary havia deixado a porta dos fundos aberta para que ela entrassepela cozinha. Apesar de o sinal ter sido dado, subiu cuidadosamente asescadas. A porta do quarto de Franklin estava aberta, não havia ninguém.Subiu mais um lance de escadas até o quarto da madrasta e encontrouMary ralhando:

— Acalme-se, Vossa Graça. Debatendo-se assim, vai acabar semachucando.

— Nossa Senhora! — Rosalind exclamou, correndo para ajudar agovernanta. — O que está acontecendo?

— Eu sinalizei para milady porque já não sabia mais o que fazer. Eususpendi o chá ontem e hoje pela manhã, conforme combinamos, e elaestá enlouquecida. Não posso nem contar ao Sr. Chapman o ocorrido

porque ele descobrirá que desobedeci suas ordens.Rosalind tentou deitar a duquesa, depois sentou-se ao seu lado na

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cama.

— Por favor, fique deitada ou vai acabar se machucando.

— O chá — sussurrou ela num fio de voz. — Preciso tomar o chá.

Apesar de lamentar o estado da duquesa, Rosalind regozijou-se porouvi-la.

— Não pode tomá-lo. A senhora vem sendo drogada há meses.

A testa da duquesa estava coberta por uma fina camada de suor e ocorpo frágil tremia inteiro.

— Ele me viciou — ela murmurou, batendo os dentes. — Se eu nãotomar o chá, vou enlouquecer.

Rosalind não havia considerado que a falta do chá causaria umasérie de sintomas de abstinência. O certo seria ir deixando a bebida cadavez mais fraca.

— Mary, você ainda tem as folhas de chá?

A governanta respondeu que sim com um sinal de cabeça.

— Ótimo. Corra e faça uma xícara para a duquesa, mas bem fraco.

Quando Mary desceu, Rosalind ficou acariciando a cabeça damadrasta, enquanto falava palavras de conforto. Apesar dos sintomasdesconfortáveis, era a primeira vez em que via a duquesa dando sinais devida desde que chegara a Londres. Aquilo renovava suas esperanças, aomesmo tempo em que a deixava muito preocupada. E se a decisão de

tirar o chá a fizesse piorar?— Sinto muito — sussurrou ela no ouvido da madrasta em meio àslágrimas. — Eu só queria ajudá-la.

Para sua surpresa, a senhora segurou-lhe a mão, acariciando-a.

— Sei que tem vindo me ver. É um conforto vê-la sempre.

— Eu não vou deixar que Franklin saia ileso dessa maldade. —Rosalind levou a mão enfraquecida da madrasta ao rosto. — Vou cuidarpara que ele pague pelo que está fazendo com a senhora.

De repente o corpo da duquesa tremeu ainda mais.

— Você está em perigo. Esse meu menino é um monstro. Pensei quepudesse mudá-lo, mas não consegui.

— Não diga nada agora — Rosalind pediu. — Salve suas energias.

— Pronto, milady, aqui está o chá — anunciou Mary ao entrar noquarto apressada.

 Juntas, Rosalind e Mary ajudaram a duquesa a tomar. Assim queterminou, ela recostou-se e caiu no sono.

—Acho que agora ela vai sossegar — Rosalind assegurou à

governanta. — Dê mais uma xícara mais tarde, porém deve ser cada vezmais fraco, assim ela não sofrerá com a abstinência.

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A última coisa que Rosalind desejava era deixar a madrasta, mas játinha ficado tempo demais longe de casa.

— Mary, daqui em diante só estenda o lençol se for realmenteurgente. Só poderei voltar aqui na companhia de Armond. Franklin é umhomem perigoso. — Rosalind começou a se preparar para sair. — Vocêtambém tem que tomar cuidado com ele. Em hipótese alguma ele podesaber o que fizemos com minha madrasta.

A criada assentiu com um sinal de cabeça e Rosalind correu parafora do quarto, escada abaixo. Só tornou a respirar com calma quandoultrapassou a cerca divisória das propriedades, e já seguia pelo caminhode pedregulhos que conduzia à casa.

* * *

De sua carruagem, Armond observava o escritório do corretor.Vários homens entravam e saíam, mas não aquele que o interessava.

De posse de uma mochila, ele saiu da carruagem e se aproximou doescritório. O corretor levantou os olhos quando o viu entrar e oreconheceu imediatamente.

— Ah, então o senhor voltou.

Armond sentou-se à frente do homem e resolveu perguntardiretamente:

— O visconde Harry Penmore é um de seus clientes?— Já lhe disse que não posso dar informações sobre meus clientes —

respondeu o corretor, piscando seguidas vezes. — Quem é o senhor? Ecom que direito vem aqui...

— Sou lorde Wulf, marquês de Wulfglen, conde de Beaumont — eleinterrompeu o corretor e apanhou a mochila, de onde tirou vários maçosde dinheiro, espalhando-os sobre a mesa. — Quero comprar a propriedadeque Penmore estava interessado recentemente.

— Mas o senhor nem perguntou o preço.

— Estou certo de que esta quantia é mais do que suficiente, não?—- Sim — concordou o corretor, com os olhos brilhando de cobiça

pelo dinheiro.

Depois de sair da corretora, Armond seguiu direto para a casa dacondessa de Brayberry para ver como Rosalind estava lidando com asroupas novas.

Rosalind. Só em pensar naquele nome, já sentia o corpo reagir, alémda culpa que o assolava por tê-la destratado na noite anterior. Aquelecorpo virginal não estava preparado para recebê-lo com tamanha

voracidade.Foi preciso muita força de vontade para deixar o quarto de manhã e

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não possuí-la novamente. Agora que ela havia se entregado plenamente,não teria mais como resistir. Na realidade, sabia que sua sede por ela  jamais seria aplacada. Bastava se afastar por alguns minutos que já sesentia no mais árido dos desertos.

Contudo, não havia esperanças porque sabia que estava fadado aviver sem ela. A maldição logo se encarregaria de afastá-la para longe,aliás, sua vida inteira seria conduzida para uma floresta de sombras semuma nesga de luz para guiá-lo ou dar alguma esperança.

* * *

Rosalind estava com o poema nas mãos novamente, quase o tinhaesquecido por conta do problema com a madrasta. E ainda havia um

problema para terminar a leitura: a tradução. A noite se aproximava e aluz do dia despedia-se rapidamente.

Aproximando-se da janela, notou que algumas linhas estavammenos apagadas do que as outras. Ela, então, leu em voz alta:

Traída por amor, minha própria língua falsa, ela ordenou à lua queme transformasse. O nome de família, antes meu orgulho, tornou-se abesta que me assombra.

Quando pensou em que nome de família seria aquele, ela olhou paraa assinatura. Em uma primeira leitura, havia ignorado porque aquela era aparte mais apagada e mais difícil de ser decifrada do poema.

— Ivan Wulf... — murmurou quando finalmente conseguiu ler eimediatamente sentiu um calafrio subir por seus braços, chegando alevantar a pele do pescoço em arrepios.

Piscou seguidas vezes e deixou o olhar perder-se pela paisagem da janela, para descansar a vista depois de tê-la forçado muito. Assim querecuperou o foco, avistou o lençol estendido na varanda da casa vizinha.

Se Mary havia dado o sinal era porque alguma coisa tinhaacontecido.

Deixou o poema em cima do livro em seu criado-mudo. Apreocupação a fez esquecer as palavras que acabara de ler.

Não levou muito tempo para que chegasse ao gramado que dividiaas duas propriedades e correr até a casa. Estava ofegante quandoencontrou a porta dos fundos aberta, outro sinal de que era esperada.Passou às pressas pela cozinha e quando começou a subir as escadas umavoz grave a deteve:

— Olá, Rosalind.

Prendendo a respiração, ela olhou para trás e viu Franklin parado nosegundo lance de escadas, bloqueando sua passagem.

— Onde está Mary? — ela quis saber ofegante, enquanto lutava paraque sua respiração voltasse ao normal, disfarçando o medo.

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,

— Eu insisti para que ela fosse visitar a filha — retorquiu ele. —Pretendo cuidar da minha pobre mãe esta tarde.

Rosalind relanceou o olhar para a escada que levava ao quarto da

duquesa.— Ela está dormindo, como sempre — informou ele. — Eu queria vê-

la, Rosalind. Descobri sobre o sinal do lençol. Se queria segredo nãodeveria esquecer as anáguas jogadas na sacada. Eu as vi na última vezem que esteve aqui, quando saía de casa. Naquela manhã, fingi estarsaindo e esperei para ver se Mary penduraria o lençol. Quando ela o fez,não demorou muito e a vi correndo pelo gramado.

— Você me enganou — sussurrou ela.

—Você não me deixou outra alternativa — respondeu ele sorrindo,

embora a expressão não tivesse atingido o olhar. — Penmore já cansou desubstitutas, agora quer você.

— Penmore? — Então era ele o parceiro de Franklin nos crimes?Agora tudo fazia sentido.—Ele é tão culpado quanto você — concluiu.

— Mas o título e a riqueza dele fazem sua palavra valer mais do quea minha. Ele gosta de jogar. Ele matou Lydia, deixando-a em minha casa,como um lembrete de que não posso negar-lhe nada, nem mesmo você.Foi ele quem me forçou a deixar outra mulher morta no estábulo deArmond, afastando assim a suspeita de que matei Lydia. Ele não medeesforços quando se trata de conseguir o que quer. É uma pena que queira

você.— Por que você me trouxe de volta a Londres?

— Eu tinha um plano de fuga — admitiu ele. — Pensei que seconseguisse vendê-la pelo maior preço, venderia a casa e pegaria aherança de minha mãe, deixada pelo seu pai, uma vez que já tivesseprovidenciado sua morte. Daí então, eu poderia escapar. Ir para outropaís, comprar um título e desfrutar a vida que seu pai me negou. Só nãocontei com que Penmore aparecesse e decidisse que queria tê-la.

A medida em que ele ia confessando, Rosalind ficava mais lívida.

Franklin não hesitava em usar as pessoas para se favorecer. Elesimplesmente não tinha coração.

— Se você planejou matar sua mãe por ganância, então é ummonstro igual a Penmore.

— Eu sei — admitiu ele, dando de ombros. — O mundo está cheio depessoas como ele, Rosalind, meu pai era um deles. Ele batia na duquesa eem mim. Foi uma pena o dia em que ele me pegou caçando, quando eutinha dez anos, e acidentalmente desviei a mira e o matei. Minha mãepensou que ainda havia esperanças para mim, mas ela estava errada. Eratarde demais, eu já tinha descoberto que a única maneira de sentir-se

bem era controlando as pessoas, exatamente da maneira como venhofazendo.

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Franklin a considerava fraca, mas ela não era, embora tivesse sidohumilhada a ponto de quase sucumbir antes de Armond resgatá-la.

Ela não se lembrava se a porta do quarto da duquesa tinha tranca,mas valia a pena tentar mesmo que isso o segurasse por um tempoapenas. Talvez tivesse a sorte de encontrar alguma coisa que servisse dearma para se defender.

  Tentou escapulir pelas escadas, porém Franklin a alcançou,puxando-a pela mão. Quando tentou gritar, ele tapou-lhe a boca earrastou-a para o patamar do primeiro andar. Ela lutou com todas asforças, enfiando as unhas na mão que a amordaçava. Quando conseguiumordê-lo, ele a soltou blasfemando, mas só conseguiu subir algunsdegraus, e foi pega novamente pelos cabelos. Virando-a Franklin aesmurrou com tanta força, que ela viu pontos de luz dançarem à suafrente, antes de mergulhar na escuridão.

* * *

Armond chegou em casa de péssimo humor. Fora buscar a esposana casa da condessa e descobriu que ela não estivera lá. Foi informadopelo lacaio de que Rosalind havia dito que tinha outro compromisso, porisso não pôde comparecer à casa da condessa de Brayberry. Mas quecompromisso?

Hawkins o cumprimentou quando chegou em casa.

— Lady Wulf está em casa?— Acho que sim, milorde. Não a vi desde que subi para informar que

o jantar seria servido em breve.

Em passos firmes, Armond passou pelo mordomo e seguiu escadaacima para o quarto dela, mas não havia ninguém ali. Olhando ao redor,viu o livro na mesinha-de-cabeceira com o papel amarelado. Quandopercebeu do que se tratava, sentiu o coração pulsar mais rápido.

Então, ela descobrira a verdade...

Na certa, havia lido o poema e associou que fazia referência a ele eaos irmãos. Com as mãos trêmulas, colocou a folha de volta onde estava.Era preciso conversar com ela, explicar tudo o que sabia, preveni-la doque poderia acontecer, suplicar que o perdoasse por não haver contadoantes.

Mas para onde ela teria ido? Será que tinha fugido em desespero?Se fosse isso, onde iria procurar proteção?

Decidiu buscar pela casa primeiro. Se Hawkins não a tinha visto sair,ela poderia estar escondida, tal pensamento o fez padecer fisicamente.Imaginá-la escondida como se temesse ser machucada por ele... Pior era

saber que não podia garantir que não o faria caso a besta o dominasse.Movimentou-se pelo cômodo, sentindo o perfume mais forte em

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certas áreas onde ela provavelmente havia estado por último.

Ao sentir o cheiro mais forte perto da janela, parou ali, olhando apaisagem com os pensamentos em turbilhão. Quando já estava de saída,olhou mais uma vez pela janela e viu o lençol na sacada da casa vizinha. Abusca terminava ali, pois sabia o que aquele sinal significava.

Saiu às pressas, desceu a escada correndo e seguiu pelo caminhopedregoso até a porta da casa vizinha, que estava trancada. Ele bateuseguidas vezes para anunciar sua presença, mas não foi atendido.

Seguiu até a lateral e viu que a carruagem e o coche estavam ali, ofaeton não. Não havia movimento algum dos criados.

Olhando para a sacada viu que o lençol ainda estava lá, dançandocom a brisa. Aproximou-se da treliça e começou a subir. Como as portasda varanda do antigo quarto de Rosalind estavam abertas, ele entrou nacasa silenciosa; parecia não haver ninguém por ali. O fato o intrigou, ao

menos a madrasta de Rosalind haveria de estar em casa. Resolveu subiras escadas até o terceiro andar. A porta do quarto estava aberta e dalivinha uma luz fraca, iluminando o corpo da senhora adormecida na cama.Aproximando-se, ele ficou a observá-la. O pressentimento de que Rosalindestava em perigo vinha cada vez mais forte, pois o perfume de alfazema eo cheiro de Franklin eram sensíveis na casa inteira.

No desespero, ele tocou gentilmente os ombros da senhora, queabriu os olhos e o encarou.

— Vossa Graça sabe onde está Rosalind? — perguntou em tombaixo.

A duquesa fechou os olhos novamente. Sabendo de seu estado, elevirou-se para seguir procurando pela casa.

— Ele a levou. — Ouviu uma fraca voz vinda da cama. — Eu a ouvigritar e não pude fazer nada para ajudá-la. Você precisa salvá-la. Ele é ummonstro.

Armond sentiu o sangue congelar e ao imaginar o que Franklin seriacapaz de fazer com Rosalind, aproximou-se da cama novamente.

— Onde está sua governanta? Não posso deixá-la sozinha aqui.

— Imagino que ele tenha dado folga a ela para poder praticar suasmaldades — a duquesa respondeu com voz fraca. — Você precisa detê-lo,ele é louco, tão louco quanto o pai. Sempre tive esperanças de que elemudaria, tentei salvar sua alma, mas não fui capaz. Percebi que não haviamais jeito quando ele matou aquela mulher aqui em casa, eu a ouvi gritar.Aconteceu em uma das festas que ele costumava fazer aqui. Alguma coisasaiu do controle e ele quis jogar a culpa em outra pessoa. Eu disse quenão poderia e que seria melhor que confessasse e se responsabilizassepor seus crimes. Mas a ira dele se virou contra mim.

— Posso carregá-la até minha casa — Armond ofereceu.

— Não — insistiu ela. — Minha vida já está no fim, enquanto que ade Rosalind está apenas começando. Ela está apaixonada. Eu a ouvi

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confessar para mim. Você deve ir agora, tire-a das garras de Franklin.

* * *

Rosalind abriu os olhos e se viu diante de Franklin que, encostado naparede, a encarava. Chamas de várias velas tremeluziam dentro do quartovazio. Ela estava deitada no chão sobre um colchão sujo. Sentiu o maxilardoendo e imaginou que estava machucado. Tentou mexer as mãos paratocar o ponto dolorido, mas percebeu-as amarradas atrás das costas.Quando tentou mover os pés notou que também estavam imobilizados.

— O que vai fazer comigo? — ela quis saber e odiou o tremor de suavoz, que fez Franklin sorrir.

— Não tenho tanta certeza de que queira saber — informou ele. —

Lembra-se quando contei que Penmore tinha problemas com suamasculinidade?

Ela respondeu com um sinal de cabeça.

— Bem, não contei o problema todo — disse ele, desencostando-seda parede e começando a andar de um lado a outro, em frente ao colchão.— É certo que Penmore tem um problema, mas na noite em que eu e Besso estávamos divertindo, ele percebeu que uma coisa o ajudava, e muito,com o problema.

Rosalind tentou mexer as mãos que já estavam adormecidas.

Percebendo o movimento, ele colocou um pé sobre as frágeis costelas,provocando-a:

— Preste atenção, você não pode fugir — garantiu. — Agora, ondeeu estava mesmo? Ah sim... Então estávamos bebendo e jogando cartasquando decidi que queria ficar com Bess mais intimamente e eu a possuí ali mesmo na sala. Penmore ficou excitado em nos ver, contudo quandofoi sua vez, Bess não quis colaborar. Eu a espanquei até que concordasseem servi-lo, mas a vagabunda insistia em gritar e espernear. — Franklinfez uma pausa para voltar a caminhar de um lado a outro, antes decontinuar: — Minha mãe dormia em seu quarto, por isso eu não podia

permitir que aquela mulher continuasse gritando. Então, bati com maisforça e a estrangulei. Penmore ficou ainda mais motivado pela surra doque pelo ato sexual que tive com Bess. Achei que a tivesse matado.Penmore a possuiu, enquanto ela estava inerte no chão. De repente,minha mãe me chamou de seu quarto. Eu tinha que mantê-la afastada,impedindo que descesse e visse a mulher morta, então subi econversamos por algum tempo. O idiota do Penmore distraiu-se ao serviruma bebida, dando as costas para o corpo inerte de Bess.

— Mas ela não estava morta — Rosalind acrescentou, já sabendo ofinal daquela desgraça.Franklin enfureceu-se com a interrupção e agarrou-a pelo pescoço.

— Ainda não terminei a história. Cale a boca! Rosalind engasgou-se,

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procurando desesperadamente respirar. Quando Franklin percebeu que aestava sufocando, soltou-a. Depois, levantou-se, ajeitou a roupa econtinuou com aquelas passadas irritantes pelo quarto.

— A vagabunda escapou pela porta dos fundos e conseguiu chegaraté o estábulo do seu marido. Eu a segui, mas assim que cheguei lá obastardo voltou para casa. Foi quando percebi que a sorte havia viradopara o meu lado. Todos sabem que os Wulf são perigosos e amaldiçoadospela loucura.

Armond pareceria mais suspeito do que eu, se tivesse a péssimaidéia de chamar as autoridades, o que é claro, foi exatamente o que fez.Pensei então que o desfecho havia sido melhor do que eu imaginara.Penmore gostou tanto da aventura que me ameaçou, dizendo que se nãorepetíssemos a dose, ele me acusaria e eu acabaria enforcado. Eu estavanas mãos dele, não só pela dívida de jogo, mas também pela ameaça deme entregar às autoridades.

Franklin fez uma nova pausa para limpar o suor que escorria de suatesta com a manga da camisa.

— Tentamos repetir a festa, mas sem matar as prostitutas. Porém,Penmore não ficava satisfeito. Ele não conseguia uma ereção e tivemosque brincar com novos jogos para mantê-lo entretido. Uma delas era vestira mulher com roupas sofisticadas e ele fingia estar possuindo umainocente lady da sociedade, que obviamente não seria possível semenfrentar sérias conseqüências... até você aparecer. Eu deveria terprevisto... — ele admitiu, embora não parecesse sentir culpa alguma. —

Ele sabia que você não tinha família, além de mim e minha mãe, que aliástive que drogar para mantê-la calada. Quando ela soube que uma moçafora encontrada morta na casa vizinha, concluiu que eu era o responsável.Quis que eu me apresentasse para as autoridades, contando toda averdade e assumindo a responsabilidade pelo meu ato. Fingi considerar aproposta até conseguir dopá-la com o chá que mandei fazer: chá comópio. Bem, depois... você sabe o restante da história.

— Por que Penmore queria se casar comigo? — ela quis saber.

— Para que pudesse saborear um banquete sozinho. Ele teria umadama da sociedade que trataria como uma prostituta, e que não teria

absolutamente ninguém para vir em sua defesa.Rosalind sentiu o corpo inteiro tremer, não só de medo, mas de

desgosto também. Pensou em acusá-lo, dizendo que sabia sobre o cháadulterado, mas só colocaria a duquesa em perigo.

— O que vai fazer comigo?

— Faremos tudo o que quisermos — respondeu ele, estreitando adistância que os separava.

De repente, ouviram-se passos se aproximando e Penmore entrouno quarto. Quando a viu abriu um largo sorriso.

— Lady Rosalind, que prazer em vê-la.

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— Vocês não vão se safar impunes — Rosalind ameaçou. — Meumarido sabe de seus planos maquiavélicos. Sabe que você também estáenvolvido, Penmore.

— Seu marido é uma peste. — Penmore zangou-se. — Nunca operdoarei por ter pego uma coisa que me pertencia. Ele estragou tudo.

— Ele o matará se puser a mão em mim — garantiu ela. Os doishomens se entreolharam com ares de desdém.

— O mais divertido de tudo — explicou Penmore. — é queplanejamos que parecerá óbvio que ele seja o responsável por sua morte.E pensar que você poderia ter continuado viva se não tivesse se casadocom Wulf. Você seria minha esposa e seria forçada a divertir seu irmão eeu até nos cansarmos da brincadeira. Se bem que acredito que não noscansaríamos por um bom tempo. Você é tão linda, Rosalind.

— Vocês são loucos! — ela vociferou.

— Vamos lá, Franklin — ordenou Penmore. — Cansei de conversafiada. Quero experimentar os encantos dessa dama e preciso de umestímulo adicional.

Franklin ajoelhou-se ao lado dela e quando seus olhares seencontraram ela tentou apelar pelo bom senso:

— Franklin, por favor, não faça isso — sussurrou. — Sou sua irmã,temos praticamente o mesmo sangue.

Um laivo de tristeza o tomou, mas em seguida ele estudou cadacentímetro do corpo perfeito.

— Há anos espero por isso — confessou. — Você se lembra do diaem que a convidei para um jogo no celeiro?

— Não... — respondeu ela, tentando se lembrar.

— Bem, seu pai se lembraria se estivesse vivo. Eu a teria possuídose um estúpido cavalariço não nos tivesse ouvido e corrido para pedirajuda. Foi por isso que fui expulso de casa e avisado para nunca maisvoltar.

Franklin estreitou ainda mais a distância que os separava e em umrompante rasgou o corpete do vestido, deixando-a ofegante de medo erepulsa. Ela tentou lutar, mas amarrada, seus esforços foram em vão.

Franklin puxou uma faca do cinto. Rosalind imaginou que elerasgaria seu pescoço e achou que a morte seria melhor do que os doistinham em mente. Em vez disso, ele começou a cortar os laços doespartilho, para depois escorregar a faca pelo tecido fino da combinação,cortando-o de repente. Não demoraria muito para que ela ficasse nua atéa cintura. — Deixe-me vê-la — exigiu Penmore. — Quero admirá-latambém.

Humilhada, viu Franklin se afastar para que Penmore pousasse os

olhos odiosos sobre seu corpo.— Perfeita. Exatamente como eu imaginava... — disse ele com o

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brilho da luxúria nos olhos.

Franklin se aproximou e colocou a mão sobre um seio, fazendo-agemer de ódio. Em seguida, desceu as mãos calejadas, cortando a cordaque prendia os tornozelos delicados. Vendo-se livre, Rosalind não hesitouem chutá-lo e golpeá-lo no braço, fazendo com que a faca voasse longe.Praguejando, ele agarrou-lhe as pernas, separando-as com força antes dearremessar seu peso sobre ela, deixando-a sem ar.

— Encoste a mão nela e farei com que tenha uma morte lenta edolorosa...

Rosalind sentiu que Franklin ficou paralisado. Armond havia chegadopara socorrê-la.

— Saia de cima da minha esposa, Franklin. Odiaria precisar sujar aarma que tenho apontada para sua cabeça.

Franklin obedeceu, movendo-se para longe dela.— Agora quero os dois imóveis ali no canto.

— Há uma faca em algum lugar do assoalho — Rosalind advertiu. —Eu a chutei das mãos de Franklin,

— Presumo que um dos dois esteja com uma arma escondida —Armond disse. — Abram os casacos.

Os dois obedeceram e a arma de Penmore reluziu na cintura.Armond o instruiu para colocá-la no chão e chutá-la em sua direção. Semdesviar a mira dos dois facínoras, agachou-se para procurar a faca,

encontrando-a sem muita dificuldade.Cuidadosamente, colocou a faca ao lado de Rosalind e tirou o casaco

para cobrir a nudez, antes de ajudá-la a se levantar.

— Como foi que me encontrou? — perguntou ela, ainda trêmula.

— Comprei esta casa hoje. Não foi difícil convencer o corretor a medizer em qual propriedade Penmore estava interessado. Bastou pagar odobro pelo que a casa valia para tê-la imediatamente.

Franklin lançou um olhar acusador para Penmore, obviamenteculpando-o por não prever aquela possibilidade e deu um corajoso passo

em direção a eles. Bastou Armond erguer a pistola para que voltasse parao lugar.

— Adoraria que algum de vocês tentasse fazer alguma coisaenquanto libero os pulsos de minha esposa. É só o que me impede de nãomatá-los agora, mas não vou forçar Rosalind a testemunhar uma cena tãodeprimente.

— Deixe-me chamar a polícia — Rosalind pediu. — Não quero quesuje suas mãos com sangue criminoso.

Ao olhar para o marido, notou que sua testa estava coberta de suor

e que as mãos estavam tremendo ao cortar a corda de seu pulso. Eleparecia doente.

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— Pode ser — Armond concordou antes de desviar o olhar para osoutros dois. — Sua mãe está bem melhor, Franklin. Foi ela mesma quemme contou que você estava com minha esposa.

Rosalind sentiu uma profunda satisfação ao notar o rosto de Franklinempalidecer e o maxilar contrair de tensão.

— Quero que saia daqui — Armond pediu. — Pegue meu cavalo e váembora.

— Chamar as autoridades?

— Não — respondeu ele em tom suave. — Vá para casa de suamadrasta e cuide dela. Ela está sozinha, logo estarei lá também.

Ela sabia que Armond iria matar os dois por sua causa. Será queconseguiria viver com aquele peso na consciência?

— Armond — sussurrou, colocando a mão no braço dele. — Deixe

que a Justiça decida como puni-los.— Sou eu quem vai decidir!

Rosalind viu que os olhos de Armond adquiriram um brilho azulado econforme falava, seus caninos mais longos e pontiagudos ficavamevidentes.

— O que está acontecendo com você?

De repente ele curvou-se em dor. Em seguida, arfou e tentou seendireitar, colocando as duas armas nas mãos dela e tomando a faca,atravessou o quarto a passos largos.

— Vá embora agora!

Franklin tentou mover-se, mas ela o viu com o canto dos olhos evirou-se no mesmo instante, empunhando as duas armas apontadas paraos dois assassinos. Seu pai a havia ensinado a atirar, por isso não foi difícilengatilhar rapidamente uma arma depois a outra.

— Para trás — advertiu.

— Vá, Rosalind! — Armond exclamou, curvando-se novamente.

— Não vou a lugar algum — ela o enfrentou, alterando o olhar para o

marido e para os dois homens. — Não vou deixá-lo enquanto estiverdoente.

Apesar da dor, ele levantou os olhos para encará-la e por uma fraçãode segundo aquele misterioso brilho azulado desapareceu.

— Eu te amo, Rosalind. Sempre a amei, mas a maldição estátomando conta de mim. Por favor, vá.

Lágrimas turvaram-lhe a visão, mas piscando seguidamente elaconseguiu manter Franklin e Penmore sob a mira das armas. Lembrava-sede ter lido sobre a maldição naquele poema. Era algo sobre a luatransformá-lo em uma besta. Seria possível acreditar em uma coisadaquelas?

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Rosalind sentiu-se tão vulnerável quanto o marido, ao vê-loagachado no chão. Penmore e Franklin observavam Armond como doisabutres acompanhando a morte de um animal.

De repente Armond fechou os olhos e gemeu. Começou a rasgar asroupas enquanto suas mãos se transformavam; as unhas sobressaíam daspontas dos dedos como garras. Por instinto, afastou-se.

— Que diabos está acontecendo com ele? — indagou Penmore.

Franklin estava espantado demais para responder, enquantoRosalind observava horrorizada a transformação do marido.

Armond continuava a se retorcer no chão. O corpo mudava deforma, os pêlos cresciam perante seus olhos até cobrirem-no por inteiro.Um homem foi ao chão, mas foi um lobo que se ergueu sobre quatropatas.

Era um lobo de olhos prateados brilhantes e presas ameaçadorasque apareciam conforme rosnava para Franklin e Penmore.

— Atire nele, Rosalind! — Franklin gritou.

Uma das pistolas foi direcionada para a besta, que parou para olharpara ela. Rosalind o encarou no fundo dos olhos e sentiu que Armondestava preso em algum lugar daquele corpo de fera. Preso e amaldiçoado.Por um instante achou que iria desmaiar, mas não podia. Lembrou-se queainda estava com a outra arma apontada para Franklin.

— Não — respondeu em um sussurro. — Eu não vou matá-lo.

Penmore correu para a porta e em um salto mortal a fera oalcançou. Os gritos ecoaram pela casa vazia.

No momento seguinte Franklin estava lutando com Rosalind,tentando pegar uma das armas. Ela sabia que se deixasse, ele mataria olobo e junto com ele, Armond. Uma força descomunal apoderou-se dela, aadrenalina correu por suas veias, enquanto tentava atirar no irmão. Eleconseguiu tirar a pistola de sua mão e em uma última tentativa de defesaela o chutou.

Franklin a estapeou, prensando-a contra a parede. A pistola caiu eele curvou-se para pegá-la quando de repente o lobo acercou-se, rosnando

baixo, os irradiantes olhos focados na presa.Em vez de tomar a arma, Franklin colocou Rosalind a sua frente,

deixando-a face a face com a besta. O rosnado parou imediatamente. Elaencarou o lobo.

— Armond — sussurrou. — Não me mate.

Ela desviou o olhar para ver Penmore arrastar-se pelo chão, com amão segurando o pescoço ensangüentado. Com o medo aflorando na pele,voltou a olhar para o lobo, que direcionava os olhos ameaçadores paraFranklin, retraindo os lábios, expondo as presas mortais.

Franklin usava Rosalind como escudo na tentativa de chegar até aporta do quarto. O lobo os seguiu, grunhindo, porém sem atacá-los.

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Penmore soltava sons sufocantes, arrastando-se até eles.

— Não me deixem aqui...

A voz gutural atraiu a atenção da besta que pulou em cima dele.Franklin usou aquele momento de distração para puxar Rosalind porta

afora, fechando-a ao passar antes que o lobo percebesse. Os sons daspatas arranhando a porta foram ouvidos logo em seguida.

Franklin segurou-a pelo braço, arrastando-a pela casa. A porta dafrente estava aberta e não demorou muito para que pegassem o faeton,deixado ao lado da casa. Havia outra carruagem ali. Ela imaginou quefosse de Penmore e o cavalo de Armond tinha as rédeas esquecidas nochão.

Franklin a fez subir no faeton, pegou as rédeas, desceu-as sobre oscavalos e partiram. Estavam indo rápido demais para que Rosalindpudesse pular. Como se tivesse adivinhado suas intenções, Franklin a

golpeou, deixando-a desnorteada. Vacilando ainda, pensou novamente emse jogar do coche antes de desmaiar.

Ao acordar, Rosalind se achou deitada em uma cama conhecida.Estava na casa de Franklin. Tentou se mexer, mas o pulso doía muito,lembrou-se de que o irmão o forçara várias vezes desde que a levara atéali. O malfeitor de todas as suas dores estava sentado em uma cadeira emfrente à lareira fria, encarando-a.

— Com o quê afinal você se casou? — ele inquiriu. — Um monstro?

O que quer que Armond fosse, não era tão monstruoso quanto o

homem à sua frente.Ele a reconhecera e não atacara; ao contrário, tentara protegê-la,

inclusive quando estava dominado pela besta.

Compreendeu que aquele era o segredo que ele tanto escondia. Amesma maldição descrita por seu antepassado. Desejou ter tido tempo deler o poema todo. Não tinha a menor idéia com o que estava lidando, ou oque Armond estava passando.

— Eu pensei que ele estivesse amaldiçoado pela loucura, mas o quevi é algo impossível de existir — comentou Franklin, e ela percebeu que a

cena tinha atingido inclusive sua alma demoníaca. Suas mãos estavamvisivelmente trêmulas, quando o viu corrê-las pelo cabelo. — Se souberema verdade, ele será caçado e morto como um animal — ponderou. — Essaserá a minha vantagem.

Não demorou muito para que Franklin voltasse a atenção para suagrande preocupação: ele mesmo.

— Como espera reverter as coisas a seu favor? — provocou ela. —Você é um assassino. Tanto eu como sua mãe somos testemunhas.

— Nenhuma de vocês representa uma ameaça para mim. Já fizminha mãe tomar mais chá. Ela está dormindo. O único problema que me

resta é você.Rosalind imaginou se ele sabia que o chá que estava na lata não era

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mais aquele adulterado. Olhando pela janela, percebeu que o amanhecer já estava clareando o céu, o que significava que havia ficado inconscientepor horas.

— Tenho quase certeza de que a esta altura Penmore está morto —Franklin considerou. — E o corpo será encontrado na casa, cujoproprietário é seu marido. Armond é um animal e certamente assimpermanecerá para sempre.

Céus! Rosalind não havia pensado naquela hipótese. Será? Não, seuancestral fora amaldiçoado também e escrevera o poema. Um animal nãopodia escrever. O pai de Armond também padecera do mesmo mal e sesuicidara. E provavelmente ao fazê-lo estava sobre a forma humana, poisum animal não conseguiria segurar uma arma e puxar o gatilho. Ela nãofazia a menor idéia como Armond estaria naquele momento... um homemou um lobo. Mesmo não tendo certeza, sabia que ele viria procurá-la deum jeito ou de outro. Mas como continuar viva até ele chegar?

— Ninguém sabia da sua ligação com Penmore, além da paixão pelo jogo — considerou ela. — Mas se você matar a mim e a sua mãe, na certa,as suspeitas recairão sobre você.

— Minha mãe continuará à beira da morte por mais um tempo.Quanto a você e Penmore, todos vão achar que vocês foram mais duasvítimas de lorde Wulf.

— E o que o faz pensar que eu queira continuar com um homem...que não é mais humano? — perguntou, sentindo-se tomada por umturbilhão de emoções: medo, choque e, acima de tudo, preocupação em

como Armond estaria e o que seria de seu futuro. — Talvez possamosentrar em um acordo.

— Boa tentativa — respondeu ele, arqueando a sobrancelha. —Vocênão atirou nele, mesmo correndo risco de morte. Você está apaixonadapor um monstro.

Rosalind calou-se, pensando no que acabara de ouvir. Suas emoçõesestavam tão machucadas quanto os arranhões em seu rosto delicado. Teria de julgar Armond pelo que ele fora antes da noite anterior. Ele nãolhe ocultara a verdade. Contudo se ele tivesse contado, será que elaacreditaria se não tivesse visto a transformação com os próprios olhos?

Desde que o conhecera, ele a havia protegido e cuidado. Ele tomaraa atitude certa quando Franklin e Penmore ameaçaram sua vida, primeirocomo homem, depois como lobo.

— Ele pode ser um monstro — admitiu ela. — Mas não chega pertoda sua maldade.

— Não precisava acabar dessa forma. — Franklin ficou em pé eaproximou-se da cama onde ela estava. — Você nunca deveria ter medeixado. Ao menos sob o meu teto, poderia continuar viva.

— Não consigo viver sob a sua tirania, sendo abusada e usada paraseu próprio benefício. — Ela o enfrentou com o olhar.

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— Entendo que não se importará em morrer, então...

* * *

Armond acordou nu e tremendo, deitado próximo a um homemmorto. Quando percebeu, rolou para longe de Penmore, enojado pelosolhos vitrificados e pelo pescoço esfacelado. Olhou em volta e lembrou-sede Rosalind, Franklin e da maldição que o havia tomado, quando tentavasalvar a esposa de ser morta. Puxando o cobertor, cobriu o corpo trêmulo.A preocupação revirava seu estômago, aumentando o enjôo. Olhando paraa porta fechada, imaginou o que encontraria do outro lado. Teve medo,uma vez que não se lembrava do que havia ocorrido enquanto estavaamaldiçoado. Teria Rosalind morrido de susto ao vê-lo naquela forma?

A porta estava toda arranhada. Notou que seus dedos estavamensangüentados e as unhas quebradas. As lembranças ainda estavamturvas, mas recordava ter dito a Rosalind que a amava. Será que a tinhamatado? Levantou lentamente e aproximou-se da porta fechada.

Ao abri-la, perscrutou o pequeno corredor, deparando-se com aporta da frente aberta. A luz da manhã infiltrava-se pela casa. Do lado defora ainda se encontravam uma carruagem e seu cavalo.

Franklin havia escapado. O pressentimento de que ele levaraRosalind consigo era forte. Precisava salvá-la, embora sua vontade fossefugir e se esconder do mundo, afundar-se na autocomiseração que

ameaçava subjugá-lo. Mas ainda não era a hora, pois Rosalind precisavadele.

Voltando para o quarto onde jazia o corpo de Penmore, viu que suasroupas estavam rasgadas e jogadas a um canto; não lhe restou outraalternativa senão tomar as roupas do visconde.

Depois de vestido, rolou o corpo inerte de Penmore no cobertor parafinalmente jogá-lo sobre o ombro. Uma vez fora da casa, aproximou-se doscavalos, que se assustaram com sua presença. O próprio cavalo castanhocom que chegara ali o estranhou. Ele entendeu na hora que seu cheiroestava diferente. No mesmo instante imaginou se Rosalind também se

amedrontaria ao vê-lo novamente. Enfim, não havia tempo para sepreocupar com aquilo, tinha de encontrá-la e salvá-la.

Ocorreu-lhe que Franklin a levara para sua casa, pois na certaestaria tão chocado por ter se defrontado com a besta, que não pensariaem outro lugar para escondê-la.

Depois de colocar o corpo de Penmore na carruagem, bateu paraque os cavalos disparassem rumo à casa do dono. Em seguida,aproximou-se mais uma vez de seu cavalo, agora fazendo sons para serreconhecido e esticando a mão para que o animal o cheirasse. O cavaloainda estava arisco, mas não havia mais tempo a perder. E sem perdermais tempo, montou-o e seguiu galopando pelas ruas.

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Capítulo V 

— Não me peça silêncio — Rosalind disse para Franklin. — Não voume acovardar com a dor dos seus punhos, ou deixar que sinta poder pelomeu medo. Você não terá satisfação ao me matar. Eu não permitirei.

— Bravas palavras para uma mulher — zombou ele. — Queropresenciar sua bravura quando eu a possuir naquela cama.

Mesmo sentindo nojo e uma repulsa sem igual, ela não mudou a

postura e continuou a encarar o irmão.— Amei e fui amada pelo homem que escolhi, aquele que ganhou

meu coração. Nada do que você fizer irá macular a memória do que vivi junto dele.

O sangue de Franklin subiu, fazendo-o vestir uma máscara carmim.Quão frustrante não se transformara sua vida desde que ela se casaracom Armond? Ele a tinha tão perto, contudo distante de seu cruel alcance.Ah, ela pagaria o preço por toda aquela raiva represada. Disso não restavaa menor dúvida.

Ela o encarou no fundo dos olhos à medida que ele se aproximava.Fechou as mãos em punhos, desejando ter garras, desejando ser acossadapela mesma maldição de Armond. Maldição que havia sido uma bênção nanoite anterior e a salvara de ser estuprada por dois homens asquerosos.

— Você não tocará nela, Franklin.

A voz de comando surpreendeu a ambos. Ele se voltou paraencontrar a duquesa, apoiada no batente da porta.

— A senhora não deveria estar aqui!

— Eu gostaria de ter chegado antes para salvar Rosalind — a

duquesa murmurou com um fio de voz. — Durante meses você meprendeu na cama, mas eu sabia que ela vinha me visitar. E a cada vez quea via meu coração se apertava ao vê-la sofrer em suas mãos.

Os olhos de Rosalind se encheram de lágrimas na esperança de quea madrasta soubesse o quanto ela a amava. Imaginou o sofrimento depertencer a um corpo que não respondia a qualquer estímulo, enquanto amente ainda era capaz de entender as injustiças que aconteciam ao seuredor.

— Eu devia tê-la matado há tempos, mãe — Franklin disse. —Deveria ter calado para sempre essa sua voz de bondade para não ouvi-lanunca mais. A senhora é fraca. Se já não enfrentava meu pai, quandoapanhava, não me confrontará hoje. Volte já para seu quarto. Mais tarde

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lido com a senhora.

— Não — assegurou a duquesa com a voz mais forte. — Não destavez, Franklin. Pensei que pudesse ajudá-lo, mas você está além dequalquer auxílio. Você é a própria semente do seu pai, acabou herdando oque eu mais detestava nele. Rosalind sempre foi uma criança querida.Uma inocente que trouxemos para as trevas de nossas vidas. Não vousalvá-lo, mas a ela sim.

Dizendo isso, a duquesa levantou uma arma.

A velocidade com que Franklin pulou sobre a mãe foi tanta que aduquesa mal teve tempo de puxar o gatilho da arma e atirar.

Os dois foram ao chão e Rosalind pulou sobre as costas do irmãobatendo com toda a sua força para impedi-lo de machucar ainda mais aduquesa.

Com um grito de indignação por se ver ameaçado por duasmulheres, Franklin conseguiu agarrar os cabelos de Rosalind num golperápido, levando-a ao chão.

Era evidente que sua paciência havia se esgotado. Assim, no minutoseguinte, ele a estrangulava com as mãos fortes, roubando-lhe o ar. Elatentou livrar-se, ansiosa por respirar.

O som dos estilhaços do vidro da porta o distraiu, fazendo-o soltar apressão dos dedos. Rosalind tossiu e tentou recuperar o fôlego.

Com os olhos marejados, viu Armond irromper no quarto. Ele usavaum casaco estranhamente pequeno, que mal cobria o largo tórax nu. Mais

parecia um pirata ensandecido, e ela exultou de alegria ao vê-lo.—Wulf— Franklin balbuciou, saindo de cima de Rosalind.

— Eu avisei que se tocasse nela novamente, eu o mataria —sentenciou Armond. — Considere-se morto.

— Mas você é... é um lobo — Franklin gaguejou. — Vi com os meuspróprios olhos sua transformação.

— Sim, mas agora sou um homem. —Armond aproximou-se a passoslentos. — Sou alguém que vai se certificar de que você nunca mais vaiameaçar minha esposa.

Franklin tentou correr e Armond o agarrou num piscar de olhos.Naquela manhã ele podia ser um homem, mas tal como a besta, nãomostrou piedade alguma. Socou Franklin com tanta força até vê-lo dobrar-se de dor, para levantá-lo e golpeá-lo uma vez mais.

Rosalind não tinha dúvidas sobre o destino de Franklin. Engatinhouaté a duquesa, que ainda estava deitada no chão.

— Vossa Graça — sussurrou, repousando a cabeça da velha senhorano colo. — A senhora está bem?

— Perdoe-me, querida — ela implorou, abrindo os olhos.— Peço desculpas se por minha causa, Franklin à prendeu nesta

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casa. Quando deixei seu pai, parti com o coração apertado, mas tinhacerteza de que poderia ajudar meu filho, pensei que seria capaz de mudarseu caráter. Doce ilusão, pois este já havia sido deformado fazia muitotempo pela violência.

— Não diga nada — pediu Rosalind. — A senhora não deve se culpar.Sempre foi muito carinhosa comigo. Jamaisirei acusá-la pela crueldade deFranklin comigo. Vou levá-la desta casa.

A duquesa fechou os olhos ao segurar a mão de Rosalind.

—Meu tempo terminou, minha querida; o seu está apenascomeçando...

Lágrimas corriam soltas pelo rosto de Rosalind, ao ver que aduquesa se despedia lentamente. Precisava ajudar a madrasta a qualquercusto.

— Armond! Temos de buscar um médico para a duquesa.Mas ele estava ocupado demais para ouvir seus lamentos.

Franklin parecia inconsciente. Rosalind levantou-se e aproximou-sedo marido, segurando-o pelo braço, antes que ele deferisse outro golpe.

— Pare! — gritou a plenos pulmões para romper a névoa de ódioque o dominava. — Minha madrasta está morrendo. Precisamos de ajuda.

Por um breve momento, ele se voltou como se não conseguissefocalizá-la o suficiente para entender suas palavras. Até que finalmente osbraços relaxaram ao lado do corpo e largou o corpo inerte de Franklin.

— Franklin desferiu um golpe mortal — explicou ela. — Temo que aduquesa não sobreviva.

—Vossa Graça?—Armond chamou gentilmente. — Pode me ouvir?

— Eu o conheço — ela disse em um suspiro, abrindo os olhos. — Jáouvi muito a seu respeito, mas se Rosalind o ama é porque você tem umbom coração. Cuide dela.

— Não... — a voz de Rosalind falhou de emoção. — Não me deixe. Todos aqueles que amei me abandonaram. :

— Vocês devem ir embora. — A duquesa lutou para respirar. — Eu

não queria deixar essa propriedade como fardo para Rosalind. Ateei fogono andar superior.

Rosalind estivera muito envolvida para notar o cheiro de fumaça,mas agora não havia como não senti-lo.

— Precisamos sair daqui! — vociferou para Armond.

Ele assentiu e rapidamente tentou levantar a duquesa pelos braços.Rosalind percebeu os olhos da madrasta se arregalarem em pavor. Aovirar-se, viu Franklin agigantando-se para cima dela, empunhando oatiçador de lareira.

— Não! —Armond gritou, porém antes que pudesse soltar a duquesae impedi-lo, ouviu-se o estampido de um tiro.

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Um filete de sangue escorria pela testa de Franklin. Rosalind voltou-se para Armond, não havia sido ele. De alguma maneira inexplicável, aduquesa ainda segurava a arma e conseguiu atingir o filho. A dor agoraestampava aquele rosto sofrido, os olhos encaravam Rosalind, porém obrilho já não existia mais.

— Seja feliz. — Foram as últimas palavras ditas, antes de a duquesadesfalecer nos braços de Armond.

— Vossa Graça! — Rosalind cobriu as faces com as mãos e noinstante seguinte, sentiu o toque reconfortante do marido sobre seusombros.

— Ela se foi, minha querida. Precisamos sair daqui. Agora!

A fumaça começava a invadir o cômodo, fazendo-os tossir.

Armond tomou-a nos braços e seguiu pelo corredor em direção às

escadas. As chamas já alcançavam o andar em que estavam. Em umímpeto de desespero, ele abriu a porta do hall, e saiu para fora.

Só parou à entrada do estábulo dos Wulf, onde ele gritou para queos cavalariços tirassem os cavalos dali. Depois correu pelo caminhopedregoso e praguejou por Hawkins ainda não ter aberto a porta, poisteve que por Rosalind no chão para realizar a tarefa. Assim que o fez, elaentrou antes que ele.

— Hawkins! — Armond gritou e o mordomo apareceu em seguida.

— A casa vizinha está em chamas. Fique atento porque o fogo podese alastrar.

Puxando-a pela mão, subiram as escadas. Assim que entraram noquarto, ele começou a livrar-se das roupas estranhas. Rosalind percebeuentão que eram de Penmore.

— Queime-as — ordenou ele, depois de livrar-se da última peça.

Ela ainda estava em choque, parada no mesmo lugar, limitando-se aobservá-lo correr de um lado a outro.

— Vou pedir para meu cocheiro levá-la para a casa da condessa deBrayberry — sentenciou, vestindo a camisa. — Diga a todos que depois desalvá-la, voltei à casa dos Chapman para salvar sua madrasta e Franklin.Mas você não me viu voltar e não sabe do meu paradeiro, entendeu?

— Como assim? — ela quis saber, enquanto piscava na tentativa demanter a calma.

— É o melhor que temos a fazer. Agora você sabe o motivo de eunão poder amá-la e por que nunca poderíamos ter filhos. A maldição passade semente a semente.

Depois de tudo o que acontecera, tudo que ela havia testemunhadoe suportado, ainda não conseguia entender o porquê daquelas palavrastão hostis.

— Você está me deixando. — De repente teve a dura consciênciadas intenções do marido.

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— Estou poupando-a — corrigiu ele. — Pegue o que precisar e vápara a casa da condessa. Você é uma mulher livre. Franklin e Penmorenão vão mais ameaçá-la. Estou lhe devolvendo a vida!

— Minha vida não significará nada se não o tiver a meu lado.

Ele desviou os olhos, e, por uma fração de segundo, Rosalind pensoutê-lo visto com os olhos marejados.

— Infelizmente não podemos ter tudo o que queremos. Adeus,Rosalind. Lembre-se de mim como um homem que te amou e não nomonstro que me transformei.

Ele se afastou e saiu do quarto, deixando-a petrificada no lugar. Masem meio a todo aquele turbilhão de emoções, restava uma certeza: nãopoderia terminar daquele jeito. Como que acordando de um pesadelo, elasaiu correndo pelo quarto até debruçar-se sobre o balaustrado da escada.

— Armond! — gritou a plenos pulmões, cheia de emoção. Inútiltentativa, ele já havia sumido.

* * *

— Sinto muito, minha querida — disse a duquesa de Brayberry,tomando a mão de Rosalind nas suas. — Conheci sua madrasta em váriasocasiões e gostava muito dela.

Rosalind tomou um gole do chá que havia sido servido assim que

chegou.— Ela era uma mulher adorável — respondeu automaticamente sem

emoção alguma. Os sentimentos passaram de intensos para um estado detotal estagnação.

— Seu irmão, contudo, não conheci bem — continuou a duquesa.

— Não sofro por ele — ela respondeu tomando mais um gole de chá.— Melhor não falarmos sobre ele.

Seguiu-se um momento de pesado silêncio.

— Onde está Armond? — a condessa indagou. — Ele está tomandoas providências necessárias por você?

Ela olhou para a xícara, como se as pequenas marolas na bebidapudessem trazer uma resposta acalentadora.

— Ele quer que eu diga a todos que não sei de seu paradeiro.

Com as mãos trêmulas, a condessa colocou a xícara na mesinha decentro.

— O que está acontecendo?

— Armond é... ele não é mais o mesmo.

— Ah, minha querida. Então finalmente aconteceu o que ele maistemia...

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— O que sabe a respeito dele? Alguma coisa sobre a família? —Rosalind quis saber, curiosa pelas palavras da condessa.

— Sei apenas o que a mãe dele me contou pouco antes deenlouquecer. É uma história chocante, qualquer um que a ouvisse a julgaria insana de fato.

— Só a senhora sabia que ela não era louca. Ela ainda amava omarido?

— Você quer dizer quando a maldição o tomou ou quando ele sematou?

— Depois da maldição — especificou Rosalind.

— Ele não deu tempo para que ela dissesse que não faria qualquerdiferença — respondeu a condessa com um sorriso triste. — Ele assumiuque aconteceria o pior. Imagino que achou que fosse machucar a ela e as

crianças. O caminho escolhido foi o mais fácil, os homens geralmentepreferem agir assim.

E Armond seguira a tradição. A vida não era simples e o amor muitomenos. Rosalind ainda não tivera tempo suficiente para absorver o quetinha acontecido ao marido e se aquilo havia afetado seus sentimentos.Seria ridículo dizer que nada havia mudado, mesmo assim seu coraçãodoía. Seu corpo todo sofria pela falta de Armond e pelo futuro que odestino havia roubado de ambos.

—Você está com uma aparência péssima, minha querida. Deixe-mepreparar um banho e depois deve ir descansar. Já mandei preparar o

quarto de hóspedes para você.— Estou mesmo muito cansada — Rosalind admitiu. — Aprecio sua

hospitalidade.

— Armond tinha razão em mandá-la para cá. Venha, querida.

Rosalind deixou a xícara de chá sobre a mesa e seguiu a condessaescada acima. A cama parecia chamá-la, mas ela esperou paciente,enquanto as criadas preparavam tudo para deixar o quarto o maisconfortável possível. Permitiu-se ser mimada, desnudada e ter ajuda nobanho. Não via a hora de vestir a roupa que Armond enviara para a casa

da condessa. Agora, desfrutava da água quente e reconfortante, enquantoa criada passava a bucha em seu corpo dos pés a cabeça.

Em seguida, entrou por baixo dos lençóis limpos e perfumados.Sentindo o corpo inteiro dolorido pela exaustão, não demorou a pegar nosono.

O primeiro pensamento que veio em sua mente, quando acordou, foiArmond. O que estaria pensando ou fazendo? E ela? O que deveria fazerdali em diante. Deveria fazer o que ele havia pedido? Contar a todos que oincêndio o havia matado? A única coisa de que tinha certeza naquelemomento era que os laços entre ela e o marido jamais se desfariam, por

mais agruras que passassem.Precisava vê-lo novamente. Se tivessem a chance de se encontrar,

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seu coração falaria por si. Será que ele seria capaz de dar as costas paraum grande amor? Mesmo estando ele amaldiçoado, será que ela tambémconseguiria seguir seu caminho sem olhar para trás?

Aquelas eram perguntas que teriam de ser respondidas pelos dois.

Decidida, levantou-se e foi encontrar a condessa para agradecer-lhea hospitalidade e perguntar se poderia usar a carruagem, pois o que maisqueria era encontrar-se com Armond.

— Tem certeza de que não quer ficar mais alguns dias?

— Sinto que preciso estar em casa — explicou Rosalind, meneando acabeça.

A condessa ficou preocupada.

— Tem certeza que é seguro voltar para lá? — perguntou, tocando obraço de Rosalind e erguendo uma das sobrancelhas.

Por instinto ela pensou em responder que não, mas no fundo docoração sabia que Armond, não importando a forma em que estivesse, jamais a machucaria.

— Estarei bem — respondeu, tentando passar tranqüilidade. — Eumando uma mensagem assim que possível.

Rosalind sentiu a ansiedade crescer dentro de si, conforme acarruagem atravessava as ruas de Londres em direção à sua casa. Já eraquase noite. Será que Armond se transformaria na besta novamente?Precisava esclarecer com ele tudo a respeito daquela maldição. Precisava

reler o poema.A casa que seu pai havia comprado para a madrasta estava em

ruínas. Ainda havia fumaça levantando do pasto que também foraatingindo.

Hawkins abriu a porta assim que a viu se aproximar.

— Lorde Wulf está em casa?

— Está em seus aposentos desde que milady saiu esta manhã.Deixou ordens para não ser incomodado até a noite.

A porta do quarto de Armond estava trancada e a de ligação entre

os quartos também. Rosalind seguiu até a mesinha-de-cabeceira. Opoema estava exatamente onde ela havia deixado. Ela o tomou ecomeçou a ler:

 A maldição e o enigma foram minha ruína, desta bruxa que amei,mas não pude desposar. Batalhas lutei e venci, porém é derrota que deixoem meu rastro. São os Wulf que sofrem por meus pecados, os filhos quenão são bestas nem homens. Decifrem o enigma que não resolvi, e sejamdessa maldição libertados.

Rosalind piscou ao prestar mais atenção à última linha... e sejam

dessa maldição libertados. Então havia esperanças? Por que Armondnunca dissera nada a respeito? Ao que parecia, o destino não era tãoobscuro como supunha. Decidiu que deveria perguntar a ele. Assim,

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dirigiu-se para a porta de conexão e surpreendeu-se ao vê-lo parado ali,encarando-a.

— Você deveria ter ficado na casa da condessa. Já está anoitecendoe não ficará segura comigo.

— Por que não me disse que a maldição poderia ser quebrada? —perguntou ela, ignorando o aviso.

— Porque não descobrimos ainda como nos defender.

Rosalind seguiu até ele, mostrando o pedaço de papel amarelado.

— Esse poema aponta o caminho a ser seguido. Segundo diz, épreciso procurar em você o seu pior inimigo, enfrente-o com bravura e nãofuja.

— Já enfrentei meus piores inimigos — sentenciou ele, passando amão pelos cabelos. — Enfrentei Penmore e Franklin, e não fugi. Nem

sempre quem o ofende é seu pior inimigo.— Mas você os enfrentou ontem à noite. Talvez hoje a maldição não

o acometa novamente.

— Não quero que fique aqui — ordenou, encarando-a com expressãograve. — Não a quero perto de mim.

Aquelas palavras a feriram no coração, porém Rosalind entendeuque Armond não temia que a maldição o acossasse apenas naquela noite,mas sim para o resto da vida.

— Por que você não luta por nós? — ela perguntou, indignada.

Num ímpeto, ele a tomou pelos ombros, puxando-a de encontro aopeito.

— Não é tão simples assim quebrar a maldição. Você não leu opoema inteiro? Batalhas lutei e venci, porém é derrota que deixo em meurastro. Se isso não é uma ameaça, olhe para mim com atenção, Rosalind.

Assustada, ela viu que os dentes estavam mais longos e as mãossobre seus ombros tinham as unhas como se fossem de um animal.

— Não... — sussurrou ela, sentindo o coração doer.

— Sim. A transformação já começou e sua segurança está emperigo. Prefiro morrer a pensar que posso machucá-la. Agora entendo porque meu pai tomou uma decisão tão drástica.

— Mas ele deixou sua mãe sem alternativa, da mesma maneira queestá fazendo comigo agora. Você diz que quem quer que me faça mal éseu inimigo. Então, eu lhe digo que você é meu maior inimigo. Seu desejode renegar o amor que sentimos fere mais do que o punho de um homem,ou um punhal no centro do meu coração. Se deixar o medo derrotá-lo,permitir que ele estraçalhe nossas vidas, então você também é seu piorinimigo.

— Vá embora, Rosalind. Volte para casa da condessa e fique lá atéque eu encontre meus irmãos e conte o que houve. Você merece mais do

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que isso — sentenciou, fitando-a com aquele intenso brilho azul nos olhos.

Ela prendeu a respiração e recuou ao vê-lo se transformar na bestatão depressa. Armond alcançou a porta e começou a fechá-la, mas ela seinterpôs, encarando-o novamente.

— Qual é seu maior medo?— Tenho medo de machucá-la. Não me lembro do que acontece

quando me transformo. Se a maldição domina minha mente, como possocontrolá-la? Quem me garante que não vou atacá-la?

— Você poderia ter me matado na noite passada. Sei que jamais memachucaria, não importa a forma em que esteja.

— Mas eu não tenho essa certeza — ele gemeu e a dor o fez dobrar-se, caindo de quatro no chão.

Rosalind se lembrou do que acontecera na noite anterior. Sabia que

depois daquela dor lancinante, não demoraria muito para a fera tomá-lototalmente. Em outra ocasião, havia pedido a ele para ter fé, mas naquelemomento era ela que precisava reunir todas as crenças para encontrarforças e continuar ali. Era preciso confiar em Armond, quando ele próprionão confiava. Respirando fundo, ela tomou coragem, entrou no quarto efechou a porta. Agora estava ali diante da besta sozinha, contando apenascom a força de seu amor.

A dor deixou Armond sem respiração e turvou-lhe a mente. Agindopor instinto para se proteger, ele encolheu as pernas contra o peito. Porbaixo da pele, sentiu os ossos se remodelando. Teve forças para puxar a

camisa pela cabeça. E, com os dedos já desfigurados, tirou as calçastambém. A dor não o permitia pensar de maneira racional, funcionandocomo um prenúncio para o pior, quando não seria mais dono de seus atos.

Ainda assim, sentiu o perfume de Rosalind invadir seus sentidostorturados, e soube que ela estava ali, no mesmo quarto. Seria sua ruínacompleta se a machucasse. Seu coração havia permanecido enclausuradodurante muitos anos, até ela aparecer e roubá-lo com apenas um olhar,naquele primeiro baile da temporada. Agora já tinha certeza de que aamava mais que a própria vida. Haveria de lutar contra aquela dor malditae tirá-la do quarto... enquanto ela ainda pudesse sair.

— Deixe-me, Rosalind. Fuja enquanto é possível — suplicou ele,esforçando-se ao máximo para falar.

Como se estivesse a milhas de distância ainda ouviu-a dizer:

— Confio em você, Armond, sei que não vai me machucar. 3

A agonia de sabê-la ali em companhia de um lobo o assolou com aalegria de saber que o amor que dedicava a ele era tão profundo.

Houve um tempo, quando sua vida era um lugar escuro e frio, emque as pessoas sussurravam a seu respeito, evitando um contato maispróximo. Rosalind mudara o cenário, embora não o tivesse mudado por

inteiro. Pois ela não podia impedir a maldição que o dominava. Eletampouco tinha esse poder, embora usasse toda a sua força naquele

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momento para evitá-la.

Forçando-se a ficar de olhos abertos, perscrutou o quarto todo,enquanto seu corpo convulsionava em dor. Não tinha a visão completa deRosalind, apenas o delinear de seu corpo, preenchido por veias de sanguelatejantes. Por mais uma vez, tentou gritar para que ela corresse dali esalvasse sua vida, porém o único som que conseguiu emitir foi um uivo defrustração.

Apesar do medo que a invadia, Rosalind manteve-se firme eenfrentou o olhar profundo e brilhante do lobo que rosnava para ela.

O que mantinha sua coragem era saber que Armond estavaaprisionado dentro do corpo daquele lobo em algum lugar. Era preciso termuita força de vontade para não abrir a porta que ligava os dois quartos esair correndo. No entanto, fugir não era seu objetivo e sim provar que elenão seria capaz de machucá-la. Esperava não ter que pagar com a própria

vida o preço de confiar em Armond. Aos poucos os rosnados foramdiminuindo e o animal limitou-se apenas em fixar os olhos nosmovimentos dela sem demonstrar agressividade.

Apesar do temor que ainda mantinha sua respiração emdescompasso, ela abriu a porta de ligação e deixou-a aberta. A passoslentos, seguiu para seu quarto, aumentando a distância que os separava.O lobo continuava a observá-la atentamente.

Rosalind então procurou fazer coisas corriqueiras, embora soubesseque a normalidade era algo que não cabia naquela situação. Sentou-se napoltrona, pegou a cesta de costura e se pôs a costurar uma peça de roupa.

Suas mãos, porém, tremiam tanto que seus esforços foram em vão.Colocou a cesta de lado e pegou um livro para ler, sempre olhando com ocanto dos olhos para aqueles brilhantes olhos que a observavam.

A noite que caía dava mostras de ser longa...

Armond acordou deitado no chão frio. Estava nu e tremendo damesma forma como estivera na noite anterior, quando se vira ao lado docorpo inerte de Penmore. Com a mente ainda entorpecida, lembrou-se deRosalind no quarto quando da transformação.

O pânico o fez levantar tão rápido, que chegou a sentir tonturas e

procurou apoio para não cair. Olhou ao redor e não a encontrou. Viu que aporta estava aberta e com passos lentos entrou no quarto dela, paraencontrá-la deitada na cama.

Com o coração aos pulos, aproximou-se e enalteceu-se diante de tãosingela beleza. Os cabelos negros estavam espalhados, fazendo um belocontraste com os lençóis brancos.

Sentiu as pernas fraquejarem diante do alívio de encontrá-la viva eao que tudo indicava, sem qualquer ferimento. Fazia frio e seus dentesbatiam tanto que mal conseguia falar. Provavelmente o corpo sentia afalta dos pêlos para aquecê-lo.

Rosalind abriu os olhos e o encarou. Ela nada disse, mas o gesto quefez foi de um afeto que nenhuma palavra teria tamanho sentimento para

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expressar. Levantou a coberta, convidando-o para compartilhar do calorda cama e de seu corpo.

Ele aceitou o convite apenas para que os espasmos incontroláveisde frio cessassem.

Rosalind usava as mesmas roupas, e com as mãos trêmulas, eletentou despi-la.

Entendendo o desejo iminente, ela afastou as mãos dele e levantou-se para rapidamente fazer o vestido deslizar sobre si e voltou a aninhar-se  junto ao corpo que clamava pelo seu. Em um gesto terno, Armondrepousou a cabeça cansada na maciez dos seios fartos. No instanteseguinte, inalou o perfume de lavanda e ouviu o compasso forte docoração, que sabia retumbar por sua causa.

Gradualmente o calor foi penetrando por cada poro da pelearrepiada, ajudando-o a dimensionar o sacrifício que ela havia feito na

noite anterior. Rosalind havia confiado a própria vida a uma besta, quandoele mesmo não tinha como fazê-lo.

Naquele momento, sentiu o coração preenchido e inchado pelo amorque sentia por ela.

Na posição em que estava, pareceu natural virar-se e tomar osmamilos rosados com a boca. Rosalind percebeu a intenção, mas não oempurrou, ao contrário, ofereceu-se ainda mais, ajeitando-se melhor parareceber a boca ávida. Ansiosa por maior intimidade, entrelaçou os dedospelos cabelos dele e guiou-o de um seio a outro em um movimentosensual, gemendo de prazer ao sentir o sangue correr pelas veias como sefossem lavas incandescentes.

Sem pressa, saboreando a fragrância do desejo misturado àlavanda, Armond desceu com a boca úmida, deixando uma trilha depequenos beijos, livrando-a das últimas roupas de baixo que ainda oimpediam de senti-la por completo.

Quando atingiu o baixo-ventre, enfurnou-se no triângulo de pêlossedosos que escondiam a flor que exalava o mais doce dos perfumes. Ocontato inesperado fez Rosalind comprimir as coxas, que ele gentilmenteafastou para poder sorver o néctar da feminilidade. O receio, que antes a

fazia respirar apressadamente, transformou-se em um desejo ansioso coma acústica de murmúrios telúricos.

Embevecido, ele acariciou com a ponta da língua a glande em formade botão de rosa. Entendeu que quanto mais sugava mais forte era oaroma inebriante que dali exalava. A cada espasmo, Rosalind dava umgrito de prazer, até que na ânsia de prolongar um pouco mais a deliciosatortura, ela o puxou para encontrar a boca que o aguardava sedenta.

Cobrindo-a com seu peso, enquanto devorava os lábios macios,Armond a penetrou, deixando-se envolver pelas entranhas quentes eúmidas que o acariciavam lentamente, contraindo e soltando os músculos

em movimentos rítmicos.Sentindo-se como uma fêmea voluptuosa, ela mudou de posição,

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passando a cavalgá-lo como a mais bela amazona. Embora surpreso pelamudança da inocente dama para a amante experiente, com as mãosfortes que envolviam quase todo o quadril arredondado, ele ensinou-a amovimentar-se de maneira a proporcionar maior prazer a ambos aomesmo tempo. Agiu como um cavalariço ingênuo quando a viu mover-se

com a maestria recém-aprendida.Admirá-la daquele ângulo era um prazer extra, perceber o rosto

delicado contorcendo-se de satisfação quase o levou à loucura. Porémesperou vê-la atingir o clímax antes de consumar o seu próprio, jorrandosua semente fora do corpo receptivo.

Exaurida, Rosalind deixou-se cair sobre o peito forte. Os corpossuados, amoldaram-se à perfeição de uma escultura. E quando aindalutava para voltar ao compasso normal da respiração, percebeu que nãohaviam trocado uma palavra sequer.

Depois de consumarem a união por tantas vezes, o amor já estavatatuado na pele de ambos. Rosalind sabia que o amava e o amariasempre. Não permitiria que a maldição fosse empecilho, roubando umfuturo feliz que ela tanto almejara.

* * *

— Isso não podia ter acontecido.

— Embora você seja tão habilidoso em fazer amor, não posso dizer o

mesmo quanto à escolha das palavras. Por que me faz sentir como se eufosse a personificação do arrependimento?

— Talvez seja porque eu não me julgue merecedor de você e detoda a felicidade que representa — respondeu ele tristemente, enquantobrincava com uma mecha do cabelo dela.

— Bem, agora melhorou, mas ainda precisamos conversar.

— Ouça, minha querida, quando eu partir, não quero que nada alémda mancha de ter sido minha esposa estrague seu futuro.

Foi como se ele tivesse dado um tapa em seu rosto.

— Nós acabamos de fazer amor e você me diz que ainda pretendeme abandonar? Quer dizer que posso ser sua prostituta, mas não possoser sua mulher?

Armond encarou-a com um olhar gélido.

— Eu disse que aquilo foi um erro.

A resposta fria apenas contribuiu para enfurecê-la ainda mais.

— Depois de dizer esse absurdo ainda fizemos amor duas ou trêsvezes, repetimos o erro então?

— E sobre a maldição? — vociferou ele. — Droga, Rosalind, nãoposso pedir que compartilhe das minhas sinas. Eu te amo demais!

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— Se você me ama de verdade, deveria entender que não existenada pior para mim do que perdê-lo. Não provei ontem à noite que vocênão fará nada contra mim?

— E você quer dividir uma vida com uma fera? Deseja que amaldição fique pairando sobre nossas cabeças, ou sobre a dos nossosfilhos? Como pode desejar uma coisa dessas quando pode ter muito mais?

Soltando um longo suspiro de resignação, ela disse:

— É esse o seu desejo? Que eu me case com outra pessoa? Que eucompartilhe com outro tudo o que anseio em dar a você? Seu pai erroucom sua mãe, não deixando que ela escolhesse o próprio destino. E adecisão dele acabou por destruí-la.

— Foi a maldição que a destruiu — defendeu Armond. — Ela foitestemunha do que poderia um dia atingir um de seus filhos.

— Não! Seu pai partiu o coração dela da mesma forma que vocêquer fazer com o meu — ela disse com veemência e virou-se para deixar asala.

— Para onde está indo?

Rosalind já havia esgotado seus argumentos. Armond sabia que seuamor era imune à maldição que o rendia. Porém, não podia forçá-lo aenxergar a luz, enquanto ele teimava em ficar preso às trevas. Ele próprioteria que lutar pela felicidade de um futuro ao lado da mulher amada. Erapreciso enfrentar o pior inimigo: ele próprio.

— Estarei na casa da condessa. Ela pode me ajudar a construir a

lápide para minha madrasta. Quanto a nós, a decisão cabe a você. Aescolha está entre esconder-se na escuridão da noite, ou caminhar aomeu lado com o sol nos aquecendo. É claro que a maldição é uminconveniente, mas se estivermos juntos podemos enfrentá-la. Separadosnão teremos força para tanto.

Armond ficou em silêncio, observando-a sair. Deixá-la partir era amais árdua tarefa que já executara. Entretanto, era por amor a ela queestava renunciando à própria felicidade. Observar o sofrimento de sertomado por uma besta não a abalou, mas e se aquilo continuasse a serepetir pelo resto da vida?

O que seria mais justo? Ser um egoísta e fazer valer sua vontadeacima de tudo, desprezando o que aquilo poderia representar paraRosalind? Lembrou-se de que havia jurado protegê-la, e o faria mesmoque fosse contra ele próprio. Sabia que a estava punindo por não lhe darfilhos, contudo acreditava ser melhor assim do que ver os próprios filhos jánascerem amaldiçoados.

Sim, havia tomado a melhor decisão por ela. Com o tempo elaacharia alguém que a fizesse feliz. Embora só o fato de considerar apossibilidade já lhe roubava a paz.

Levantou-se da mesa e começou a caminhar de um lado a outro.Não suportaria vê-la com outro homem, alguém que fosse tocá-la...

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Ela me pertence, droga! É o meu amor, minha vida!, pensou.

Mas a razão o fez entender que precisava fazer a felicidade deRosalind sobrepujar o ciúme. E por aquela razão, tinha que deixá-la partir.

Desde que Rosalind partira, Armond não saía de casa. Somente

Hawkins o sabia perambulando pelos quartos e corredores. Contudo, cedoou tarde o mordomo também se aposentaria. E então o que seria de suavida?

Lembrou-se do dia em que Rosalind entrara em sua vida. Imaginouse a notaria em meio a tantas pessoas, se ela não tivesse tomado ainiciativa de tirá-lo para dançar. Ficou se perguntando se ela teria roubadoseu coração mesmo sem dizer palavra. Claro que sim, de alguma maneira,tudo o que havia acontecido entre eles já estava escrito. Se não seencontrassem naquela noite, fatalmente seria em outra qualquer.

E o mesmo destino que os uniu os separou.

Mas, de qualquer forma, julgava-se abençoado por tê-la conhecido eamado, mesmo que por um curto espaço de tempo.

E pensar que Rosalind o tinha convidado para caminhar ao sol,quando ele não tinha certeza de ser merecedor de um raio sequer por seramaldiçoado. Jamais tivera esperanças de ter uma vida melhor antes deconhecê-la. Era justamente aquilo que ela exigia, que deixasse aamargura que o mantinha prisioneiro em um calabouço de medos...

Porém, restava a dúvida se deveria abrir mão do presente queganhara. Rosalind o havia presenteado com um amor incondicional. Seria

possível? Bem, ele esperava que a resposta à questão viesse nos dias quese seguiriam, enquanto a lua ainda estava cheia, à mercê da maldição.

* * *

 Já havia se passado uma semana que Rosalind não via Armond, etambém não tivera qualquer notícia.

Durante aqueles dias não participara de nenhum evento. Ela pediraa condessa que mantivesse silêncio sobre o destino de Armond. Resolveuque se fosse preciso, ela diria o que haviam combinado: lorde Wulf haviamorrido no incêndio na casa dos Chapman. Perante a sociedade, a mortedo marido a livraria do casamento, mas era uma liberdade que ela nãodesejava ter.

Percebeu também que sua menstruação estava atrasada. Quemsabe, na primeira noite em que fizeram amor, não havia ficado frutos alémda saudade. Mesmo ciente da maldição, o coração explodia de alegria coma possibilidade de trazer um Wulf no ventre.

Enquanto passeava pelo belo jardim da casa da condessa, ela parou

para admirar uma rosa perfeita, a fim de inalar o perfume sutil.Neste momento percebeu a presença de um homem que a

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observava por detrás de uma árvore. Seu coração começou a baterdescompassado. Deus, como havia sentido a falta daquele homem! Porémnão se levantou, aguardou ele se aproximar.

Armond ainda mantinha aquele andar elegante tal qual um gatoselvagem, dono de uma graça perigosa. Os olhos azuis prenderam-se aosdela, mas a expressão do rosto não deu nenhuma pista do que ele estavapensando.

— Decidi sair para a luz do sol, Rosalind.

Em segundos, ela se levantou e com lágrimas de felicidade nosolhos, atirou-se nos braços dele. Desejou que nunca mais lhe fosse negadoestar aninhada nos braços fortes, ouvindo o tom baixo e sensual daquelavoz tão masculina.

— O que o fez mudar de idéia? — perguntou ela em um sussurro.

— O que você me disse. — Ele acariciou os cabelos longos e a puxoupara perto novamente. — Você tinha razão. Sou meu pior inimigo. Duranteanos tranquei meu coração e me enjaulei na autocomiseração. E vivipassivamente até ser forçado a agir. Aquela não era uma vida digna epara chegar a esta conclusão precisei repensar tudo o que você meensinou. De fato, meu pai fez a escolha errada. Ele deveria ter continuadovivo e lutado. Sua rendição à maldição nos derrotou, antes quepudéssemos entender que viver requer muita coragem. Sua bravura meinspirou. Não me entregarei à besta, mas meu coração rende-se a você.

Rosalind sentiu o coração ser invadido por uma felicidadeesfuziante. Armond a havia salvado e agora era a sua vez de fazer omesmo por ele.

— Enfrentaremos juntos o que o futuro nos reserva. Dois coraçõessão mais poderosos do que um só.

Ele baixou a cabeça para beijá-la. No entanto, as bocas mal setocaram quando ele precisou inspirar forte, dando um passo para trás. Emseguida, caiu de joelhos, com os braços cruzados sobre o estômago.

— Armond! O que está acontecendo?

— Pensei que estava livre por ora — disse ele com dificuldade. —

Nas últimas duas noites fui me deitar como homem e levantei igual. Masagora, essa dor... — Fez uma pausa para respirar fundo. — ...é a mesma.

— Como pode ser se estamos em plena luz do dia?

Retorcendo-se por inteiro, ele não respondeu. Mesmo assim tentouse levantar. E de repente, como que tomado por uma força desconhecida,foi arremessado para trás, batendo com força em uma coluna de pedra.

Rosalind piscou em surpresa. Na última vez em que o vira setransformar não havia acontecido daquela maneira.

Ele grunhia de dor, quando seu corpo foi novamente arremessado

contra o passadiço do jardim.Enquanto Rosalind o observava, sem nada poder fazer, a boca de

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Armond foi abrindo cada vez mais, ao mesmo tempo que o corpo searqueava, para, de súbito, expelir uma luz azulada muito forte pela bocaescancarada.

Assustada, ela gritou e recuou. A luz enevoada começava a tomar aforma de um lobo. E de repente, lá estava ele, de quatro, encarando-a.

Rosalind recuou um pouco mais, estarrecida, hipnotizada pelo brilhodaquele olhar, mais intenso do que a luz embrumada do corpo animal.Mais forte do que a luz do dia. A razão que o fazia encará-la não estavaevidente, mas ela sabia que deveria expulsá-lo para bem longe.

— Tome seu caminho — ela ordenou. — Suma daqui para sempre!

O espírito, aquilo só podia ser um espírito, virou-se para Armond,que jazia no gramado. Fitou-o por alguns instantes e então saiu correndopor cima das flores, dos arbustos, pela amurada até perder-se naescuridão da floresta.

Rosalind permaneceu parada a fim de recobrar os sentidos, eengatinhar até onde estava o marido.

— Armond — chamou, sacudindo-o. Ele não estava respirando.

— Armond!

Desesperada, começou a fazer pressão sobre o peito dele. Armondengasgou, para, em seguida, respirar fundo antes de abrir os olhos.

— O que aconteceu?

Ela foi às lágrimas de alívio quando o viu falar e respirar.

— Não faço idéia, meu amor. Mas graças a Deus que você está vivo.

Ao sentar-se, ele procurou tocá-la na face, fitando-a por um longomomento.

— Acabou, Rosalind. Não o sinto mais. Durante toda a minha vida,eu sabia que ele estava me consumindo, aguardando a hora para tomarconta de mim.

— A maldição foi quebrada. Você a quebrou, Armond.

— Não. Você a quebrou. O meu amor por você foi o responsável. O

amor era a maldição, mas também a chave para desvendá-la. Você meforçou a enfrentar meu pior inimigo, a deixar de lado minhas dúvidas emedos para me entregar à magia de amar e ser amado.

— Eu te amo — ela sussurrou.

Então, ele a puxou para terminar o beijo que haviam começado.