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A maior invenção da indústria da fé Quando confrontados com um defensor do cristianismo, imediatamente aponte que a existência de Jesus não foi provada. Quando os defensores cristãos argumentam, usualmente apelam mais para as emoções do que para a razão, e tentarão te deixar embaraçado ao negar a historicidade de Jesus. A resposta habitual é qualquer coisa do gênero de “Negar a existência de Jesus não é tão tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?”. Uma variação popular desta resposta, usada especialmente contra os Judeus é “Negar a existência de Jesus não é como negar o Holocausto?”. Então aponte que há amplas fontes históricas que confirmam a existência de Júlio César, da Rainha Isabel ou de qualquer outro que for nomeado, enquanto que não existe evidência correspondente para Jesus. Para se ser perfeitamente direto, arranje um tempo para fazer alguma investigação sobre as personagens históricas mencionadas pelos defensores do cristianismo e apresente fortes evidências da sua existência. Ao mesmo tempo desafie os defensores cristãos a mostrar evidência similar da existência de Jesus. Aponte que embora a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel, etc. seja universalmente aceita, o mesmo já não acontece com Jesus. No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo, o Xintoísmo, o Taoísmo e o Confucionismo, Jesus é considerado como mais uma personagem da mitologia religiosa ocidental, a par com Thor, Zeus e Osíris. A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas os que acreditam consideram que ele é uma das muitas encarnações do deus hindu Vishnu. Os muçulmanos certamente acreditam em Jesus, mas rejeitam a história do Novo Testamento e consideram que ele foi um profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam explicitamente que ele tenha sido crucificado. Em resumo, não há uma história de Jesus que seja uniformemente aceite pelo mundo inteiro. É este fato que põe Jesus num nível diferente para personalidades históricas estabelecidas. Se os defensores do cristianismo usarem o “argumento do Holocausto”, aponte que o Holocausto está bem documentado e que existem numerosos relatos de testemunhas oculares. Aponte que a maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram semeadores de ódio anti-semítico com credenciais fraudulentas. Por outro lado, milhões de pessoas honestas na Ásia, que fazem a maioria da população mundial, não conseguiram ser convencidos pela história cristã de Jesus na medida em que não há nenhuma evidência constrangedora da sua autenticidade. Os defensores do cristianismo insistirão que a história de Jesus é um fato bem estabelecido e irão argumentar que existe “muitas evidências que comprovam isso”. Insista em ver essas evidências e se recuse a ouvir enquanto eles não apresentarem. Se Jesus não foi uma personagem histórica, de onde veio toda a história do Novo Testamento em primeiro lugar? O nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é derivado da palavra hebraica neitzer, que

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A maior invenção da indústria da fé Quando confrontados com um defensor do cristianismo, imediatamente

aponte que a existência de Jesus não foi provada. Quando os defensores cristãos argumentam, usualmente apelam mais para as emoções do que para a razão, e tentarão te deixar embaraçado ao negar a historicidade de Jesus. A resposta habitual é qualquer coisa do gênero de “Negar a existência de Jesus não é tão tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?”. Uma variação popular desta resposta, usada especialmente contra os Judeus é “Negar a existência de Jesus não é como negar o Holocausto?”. Então aponte que há amplas fontes históricas que confirmam a existência de Júlio César, da Rainha Isabel ou de qualquer outro que for nomeado, enquanto que não existe evidência correspondente para Jesus.

Para se ser perfeitamente direto, arranje um tempo para fazer alguma

investigação sobre as personagens históricas mencionadas pelos defensores do cristianismo e apresente fortes evidências da sua existência. Ao mesmo tempo desafie os defensores cristãos a mostrar evidência similar da existência de Jesus. Aponte que embora a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel, etc. seja universalmente aceita, o mesmo já não acontece com Jesus.

No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo, o

Xintoísmo, o Taoísmo e o Confucionismo, Jesus é considerado como mais uma personagem da mitologia religiosa ocidental, a par com Thor, Zeus e Osíris. A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas os que acreditam consideram que ele é uma das muitas encarnações do deus hindu Vishnu. Os muçulmanos certamente acreditam em Jesus, mas rejeitam a história do Novo Testamento e consideram que ele foi um profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam explicitamente que ele tenha sido crucificado.

Em resumo, não há uma história de Jesus que seja uniformemente

aceite pelo mundo inteiro. É este fato que põe Jesus num nível diferente para personalidades históricas estabelecidas. Se os defensores do cristianismo usarem o “argumento do Holocausto”, aponte que o Holocausto está bem documentado e que existem numerosos relatos de testemunhas oculares. Aponte que a maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram semeadores de ódio anti-semítico com credenciais fraudulentas.

Por outro lado, milhões de pessoas honestas na Ásia, que fazem a

maioria da população mundial, não conseguiram ser convencidos pela história cristã de Jesus na medida em que não há nenhuma evidência constrangedora da sua autenticidade. Os defensores do cristianismo insistirão que a história de Jesus é um fato bem estabelecido e irão argumentar que existe “muitas evidências que comprovam isso”. Insista em ver essas evidências e se recuse a ouvir enquanto eles não apresentarem.

Se Jesus não foi uma personagem histórica, de onde veio toda a história

do Novo Testamento em primeiro lugar? O nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é derivado da palavra hebraica neitzer, que

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significa broto ou rebento – um claro símbolo Messiânico. Já havia pessoas chamadas Notzrim no tempo do RabbiYehoshua ben Perachyah (100 A.E.C.).

Apesar de os modernos Cristãos afirmarem que o Cristianismo só

começou no primeiro século depois de Cristo, é claro que os Cristãos do primeiro século em Israel se consideravam como sendo a continuação do movimento Notzri, que existia à cerca de 150 anos. Um dos mais notáveis Notzrim foi Yeishu ben Pandeira, também conhecido comoYeishu ha-Notzri. Os estudiosos do Talmude sempre mantiveram que a história de Jesus começou com Yeishu. O nome Hebreu para Jesus sempre foi Yeishu, e o Hebreu para “Jesus de Nazaré” sempre foi “Yeishu ha-Notzri” (o nome Yeishu é um diminutivo do nome Yeishua, e não de Yehoshua.) É importante notar que Yeishu ha-Notzri não é um Jesus histórico, uma vez que o Cristianismo moderno nega alguma conexão entre Jesus e Yeishu e, além do mais, partes do mito de Jesus são baseadas em outras personagens históricas além de Yeishu.

Sabemos pouco sobre Yeishu ha-Notzri. Todos os trabalhos modernos

que o mencionam são baseados em informação retirada do Tosefta e do Baraitas – escritos feitos ao mesmo tempo do Mishna, mas não contidos neste. Porque a informação histórica respeitante a Yeishu é tão danosa para o Cristianismo, muitos autores Cristãos (e também muitos Judeus) tentaram desacreditar esta informação e inventaram muitos argumentos engenhosos para a explicarem. Muitos dos seus argumentos são baseados em mal entendidos e citações errôneas dos Baraitas, e para se ter uma imagem exata de Yeishu devem-se ignorar os autores cristãos e examinar o Baraitas diretamente.

A insuficiente informação contida no Baraitas é a seguinte: o Rabi

Yehoshua ben Perachyah, num dado momento, repeliu Yeishu. As pessoas pensavam que Yeishu era um feiticeiro, considerando que ele tinha levado os Judeus a desencaminharem-se. Como resultado de acusações feitas contra ele (os detalhes das quais não são conhecidos, mas provavelmente envolveriam alta traição), Yeishu foi apedrejado e o seu corpo foi pendurado na véspera da Passagem. Antes disto, ele foi exibido durante 40 dias com um arauto que ia à sua frente anunciando que ele iria ser apedrejado e chamando por gente para avançar e o defenderem. Todavia, nada foi trazido em seu favor. Yeishu tinha cinco discípulos: Mattai, Naqai, Neitzer, Bunie e Todah.

No Tosefta e no Baraitas, o nome do pai de Yeishu é Pandeira ou

Panteiri. Estes são formas Hebreu-Aramaicas de um nome Grego. Em Hebreu, a terceira consoante do nome é escrito com um daletou com um tet. Comparando com outras palavras Gregas transliteradas para Hebreu mostra que o original Grego devia ter tido um delta como sua terceira consoante, e assim a única possibilidade para o nome Grego do pai é Panderos. Como os nomes Gregos eram comuns entre os Judeus durante a época dos Macabeus, não é necessário assumir que ele era Grego, como alguns autores fizeram.

A relação entre Yeishu e Jesus é corroborada pelo fato de que Mattai e

Todah, os nomes de dois dos discípulos de Yeishu, serem as formas originais

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hebraicas de Mateus e Tadeu, nomes de dois dos discípulos de Jesus na mitologia cristã.

Os primeiros cristãos estavam também cientes do nome “ben Pandeira”

para Jesus. O filósofo pagão Celso, que foi famoso pelos seus argumentos contra o Cristianismo, reivindicou em 178 D.E.C. que tinha ouvido a um Judeu que a mãe de Jesus, Maria, se tinha divorciado do seu marido, um carpinteiro, depois de se ter provado que ela era uma adúltera. Ela vagueou em vergonha e deu à luz Jesus em segredo. O seu verdadeiro pai era um soldado chamado Pantheras.

De acordo com o escritor Cristão Epifânio (c. 315 – 403 D.E.C.), o apologista Cristão Origen (c. 185 – 254 D.E.C.) tinha afirmado que “Panther” era o apelido de Jacob, o pai de José, o padrasto de Jesus. É de notar que a afirmação de Origen não é baseada em nenhuma informação histórica. É puramente uma conjectura cujo objetivo era explicar a história de Pantheras de Celso. Essa história é também não histórica. A reivindicação de que o nome da mãe de Jesus era Maria e a pretensão de que o seu marido era um carpinteiro é tirada diretamente das crenças Cristãs. A afirmação de que o pai verdadeiro de Jesus se chamava Pantheras é baseada numa tentativa incorreta de reconstruir a forma original de Pandeira. Esta reconstrução incorreta foi provavelmente influenciada pelo fato de o nome Pantheras ser encontrado entre os soldados Romanos.

Porque é que as pessoas acreditavam que a mãe de Jesus se chamava Maria e o seu marido se chamava José? Porque é que os não cristãos acusavam Maria de ser uma adúltera enquanto que os cristãos acreditavam que ela era virgem? Para responder a essas questões teremos que examinar algumas das lendas sobre Yeishu. Não se pode esperar obter a verdade absoluta sobre as origens do mito de Jesus, mas podemos mostrar que existem alternativas razoáveis para a aceitação cega do Novo Testamento.

O nome José para o nome do padrasto de Jesus é fácil de explicar. O movimento Notzri era particularmente popular entre os Judeus Samaritanos. Enquanto que os Fariseus estavam à espera de um Messias que seria um descendente de David, os Samaritanos queriam um Messias que viesse restaurar o reino nortenho de Israel. Os Samaritanos enfatizavam a sua descendência parcial das tribos de Efraim e Manassés, que descendiam do José da Tora. Os Samaritanos consideravam-se como sendo “Bnei Yoseph”, ou seja, “filhos de José”, e como acreditavam que Jesus tinha sido o seu Messias, teriam assumido que era um “filho de José”. A população de língua Grega, que tinha pouco conhecimento de Hebreu e das verdadeiras tradições Judaicas, poderia facilmente ter mal entendido este termo e presumir que José era o nome verdadeiro do pai de Jesus. Esta conjectura é fortalecida pelo fato que de acordo com o Evangelho segundo S. Mateus, o pai de José se chama Jacob, tal como o do José da Tora.

Mais tarde, outros Cristãos que seguiam a idéia de que o Messias seria um descendente de David, tentaram seguir o curso de José até David. Chegaram a duas genealogias contraditórias para ele, uma registrada no Evangelho segundo S. Mateus e a outra no Evangelho segundo S. Lucas. Quando a idéia de que Maria era virgem desenvolveu, o mítico José foi relegado para a posição de ser simplesmente o seu marido e o padrasto de Jesus.

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Para se perceber de onde a história de Maria veio, teremos que nos virar para outra personagem histórica que contribuiu para o mito de Jesus, e que é ben Stada. Toda a informação que temos sobre ben Stada advém novamente do Tosefta e do Baraitas. Há ainda menos informação sobre ele do que sobre Yeishu. Algumas pessoas acreditavam que ele tinha trazido encantamentos do Egito num corte da sua carne, outros pensavam que ele era um louco. Ele era um trapaceiro e foi apanhado pelo método da testemunha escondida, sendo apedrejado em Lod.

No Tosefta, ben Stada é chamado ben Sotera ou ben Sitera. Sotera parece ser a forma Hebreu-Aramaica do nome Grego Soteros. As formas “Sitera” e “Stada” parecem ter surgido como más interpretações e erros de soletração (yod substituindo vav e dalet substituindo reish.)

Como havia tão pouca informação acerca de ben Stada, muitas hípoteses surgiram sobre quem ele era. É conhecido da Gemara que ele era confundido com Yeishu. Isto provavelmente resultou do fato de que ambos foram executados por ensinamentos traidores e estarem associados à feitiçaria. As pessoas que confundiam ben Stada com Yeishu tiveram que explicar o porquê dele também ser chamado ben Pandeira. Como o nome “Stada” se parece com a expressão aramaica “stat da”, que significa “ela se desencaminhou”, pensou-se que “Stada” se referia à mãe de Yeishu e que ela era uma adúltera. Conseqüentemente, as pessoas começaram a pensar que Yeishu era o filho ilegítimo de Pandeira. Estas idéias são de fato mencionadas na Gemara e são provavelmente mais antigas. Como ben Stada viveu nos tempos Romanos e o nome Pandeira se assemelhava com o nome Pantheras encontrado entre os soldados Romanos, assumiu-se que Pandeira tinha sido um soldado Romano estacionado em Israel. Isto certamente explica a história mencionada por Celso.

O Tosefta menciona um caso famoso de uma mulher chamada Miriam bat Bilgah que casou com um soldado Romano. A idéia de que Yeishu tinha nascido de uma mulher judia que tinha tido um caso com um soldado Romano provavelmente resultou da confusão entre a mãe de Yeishu e esta Míriam. O nome “Míriam” é claro, a forma original do nome “Maria”. É de fato conhecido através do Gemara que algumas das pessoas que confundiam Yeishu com ben Stada acreditavam que a mãe de Yeishu era “Míriam, a cabeleireira de mulheres”.

A história de que Maria (Míriam), mãe de Jesus, era uma adúltera, era

certamente não aceitável para os primeiros Cristãos. A história da virgem que deu à luz foi provavelmente inventada para limpar o nome de Maria.

Os primeiros Cristãos não inventaram isto do nada. Histórias de virgens

que davam à luz eram comuns nos mitos pagãos. As seguintes personagens mitológicas eram tidas como nascidas de virgens fecundadas divinamente: Rómulo e Remo, Perseu, Zoroastro, Mitra, Osíris-Aion, Agdistis, Attis, Tammuz, Adónis, Korybas, Dioniso.

As crenças pagãs em uniões entre deuses e mulheres, não considerando se elas eram virgens ou não, é ainda mais comum. Acreditava-se que muitas personagens da mitologia pagã eram filhas de pais divinos e mães humanas. A crença Cristã de que Jesus era o filho de Deus nascido de uma virgem é típica de uma superstição Greco-Romana. O filósofo Judeu Phílon de

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Alexandria (c. 25 A.E.C. – 50 D.E.C.), avisou contra a superstição bastante espalhada da crença de uniões entre homens deuses e mulheres humanas que retornavam a mulher a um estado de virgindade.

O deus Tammuz, adorado pelos pagãos no norte de Israel, era dado como nascido da virgem Myrrha. O nome Myrrha assemelha-se superficialmente a “Maria/Míriam”, e é possível que esta particular história de uma virgem que deu à luz tenha influenciado a história de Maria mais que as outras. Tal como Jesus, Tammuz foi sempre chamado Adon, que significa “Senhor” (A personagem Adonis da mitologia Grega é baseada em Tammuz.) Como veremos mais tarde, a relação entre Jesus e Tammuz vai mais longe que isto.

A idéia de que Maria tinha sido uma adúltera nunca desapareceu completamente na mitologia Cristã. Em vez disso, a personagem de Maria foi dividida em duas: Maria, a mãe de Jesus, que se acreditava ser uma virgem, e Maria Magdalena, que se acreditava ser uma mulher de má fama. A idéia de que a personagem de Maria Madalena é também derivada de Míriam, a mítica mãe de Yeishu, é corroborada pelo fato de o estranho nome “Magdalena” se assemelhar claramente ao termo aramaico “mgadala nshaya”, que significa “cabeleireira de mulheres”. Como se mencionou anteriormente, acreditava-se que a mãe de Yeishu era “Míriam, a cabeleireira de mulheres”.

Porque os Cristãos não sabiam o que o nome “Magdalena” significava, mais tarde conjecturaram que isso significava que ela tinha vindo de um lugar chamado Magdala, a oeste do lago Kinneret. A idéia das duas Marias assentava bem na forma pagã de pensamento. A imagem de Jesus sendo seguido pelas duas Marias lembra bastante Dioniso sendo seguido por Deméter e Perséfone.

A Gemara contém uma lenda interessante acerca de Yeishu, que tenta ilucidar o Beraitas, que diz que o Rabi Yehoshua ben Perachyah repeliu Yeishu. A lenda afirma que quando o rei Asmoneu Alexandre Janeus estava matando os Fariseus, então o Rabi Yehoshua e Yeishu fugiram para o Egito. Quando voltaram, chegaram a uma estalagem. A palavra aramaica “aksanya” tanto significa “estalagem” como “estalajadeiro(a)”. O Rabi Yehoshua observou o quão bela a “arksanya” era (referindo-se à estalagem.) Yeishu (referindo-se à estalajadeira) replicou que os olhos dela eram muito estreitos. O Rabi Yehoshua zangou-se bastante com Yeishu e excomungou-o. Yeishu pediu que o perdoasse muitas vezes, mas o Rabi Yehoshua não o perdoava.

Uma vez, quando o Rabi Yehoshua estava a recitar a Shema, Yeihsu veio falar com ele. O Rabi fez-lhe um sinal de que devia esperar. Yeishu não entendeu e pensou que estava a ser rejeitado novamente. Ele zombou do Rabi Yehoshua fazendo um tijolo e o adorando. O Rabi Yehoshua disse-lhe para ele se arrepender, mas ele recusou, dizendo que tinha aprendido com ele que a alguém que peca e leva muitos a pecar não é dada a oportunidade de se arrepender.

Esta história, que começa com os eventos da estalagem, é bastante semelhante com outra lenda em que o protagonista não é o Rabi Yehoshua, mas o seu discípulo Yehuda ben Tabbai. Nesta lenda, Yeishu não é nomeado. Pode-se então questionar se Yeishu foi realmente ao Egito ou não. É possível que Yeishu tenha sido confundido com algum outro discípulo do Rabi Yehoshua ou do Rabi Yehuda. A confusão pode ter resultado de Yeishu ser confundido com ben Stada, que tinha regressado do Egito. Por outro lado,

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Yeishu poderia ter mesmo fugido para o Egito e regressado, e isto, por seu turno, poderia ter contribuído para a confusão entre Yeishu e ben Stada. Qualquer que seja o caso, a crença que Yeishu tenha fugido para o Egito para escapar à matança de um rei cruel parece ser a origem da crença Cristã de que Jesus e a sua família fugiram para o Egito para escapar ao Rei Herodes.

Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus tinha vivido nos

tempos Romanos é natural que tenham confundido o rei cruel que tinha querido matar Jesus com Herodes, pois não havia outros reis cruéis adequados durante o período Romano. Yeishu era adulto no tempo em que os Rabis fugiram de Alexandre Janeus; porque é que os Cristãos acreditavam que Jesus e a sua família tinham fugido para o Egito quando Jesus era criança? Porque é que os Cristãos acreditavam que o rei Herodes tinha ordenado que todos os bebês nascidos em Belém fossem mortos, quando não há evidência histórica disso? Para responder a estas questões temos novamente que recorrer à mitologia pagã.

O tema de uma criança divina ou semidivina que é temida por um rei

cruel é muito comum na mitologia pagã. A história usual é que o rei cruel recebe uma profecia de que uma certa criança vai nascer e vai usurpar o trono. Em algumas histórias a criança é nascida de uma virgem e usualmente é filho de um deus. A mãe da criança tenta escondê-lo. O rei normalmente ordena a matança de todos os bebês que possam ser o profetizado rei.

Exemplos de mitos que seguem este enredo são as histórias de

nascimento de Rômulo e Remo, Perseu, Krishna, Zeus e Édipo. Apesar de os literalistas da Tora não gostarem de o admitir, a história do nascimento de Moisés também se assemelha à destes mitos (alguns dos quais afirmam que a mãe pôs a criança num cesto e o colocou num rio.) Existiam provavelmente várias histórias destas circulando no Levante que se perderam. O mito Cristão da matança dos inocentes por Herodes é simplesmente uma versão Cristã deste tema. O enredo era tão conhecido que um sábio Midrashic não resistiu a usá-lo para um relato apócrifo do nascimento de Abraão.

Os primeiros cristãos acreditavam que o Messias iria nascer em Belém. Esta crença é baseada numa má interpretação de Miquéias 5, 2, que simplesmente nomeia Belém como a cidade onde a linhagem davidiana começou. Como os primeiros cristãos acreditavam que Jesus era o Messias, eles automaticamente acreditaram que ele tinha nascido em Belém. Mas porque é que os Cristãos acreditavam que ele tinha vivido em Nazaré? A resposta é bem simples. Os primeiros cristãos de língua grega não sabiam o que a palavra “Nazareno” significava. A forma primitiva Grega desta palavra é “Nazoraios”, que deriva de “Natzoriya”, o equivalente aramaico do Hebreu “Notzri” (lembre-se que “Yeishu ha-Notzri” é o original Hebreu para “Jesus, o Nazareno”.) Os primeiros Cristãos pensaram que “Nazareno” significava uma pessoa de Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em Nazaré. Ainda hoje, os cristãos alegremente confundem as palavras hebraicas “Notzri” (Nazareno, Cristão), “Natzrati” (Nazareno, natural de Nazaré) e“nazir” (nazarite), todas as quais têm significados completamente diferentes.

A informação no Talmude (que contém o Baraitas e o Gemara) acerca de Yeishu e ben Stada é tão danosa para o Cristianismo que os Cristãos

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sempre tomaram medidas drásticas contra ela. Quando os Cristãos descobriram a informação, tentaram imediatamente apagá-la censurando o Talmude. A edição de Basileia do Talmude (c. 1578 – 1580) tinha todas as passagens relacionadas com Yeishu e ben Stada apagadas pelos Cristãos. Ainda hoje, as edições do Talmude usadas pelos educadores Cristãos não têm estas passagens!

Durante as primeiras décadas deste século, ferozes batalhas académicas irromperam violentamente entre educadores Cristãos e Ateus acerca das verdadeiras origens do Cristianismo. Os Cristãos foram forçados a enfrentarem a evidência Talmudica. Não podiam mais ignorar isso e assim, em vez disso, decidiram atacá-lo. Afirmaram que o Yeishu Talmudico era uma distorção do “Jesus histórico”. Afirmaram que o nome “Pandeira” era simplesmente uma tentativa hebraica para pronunciar a palavra Grega para virgem – “parthenos”. Apesar de haver uma parecença superficial entre as palavras, temos de notar que para “Pandeira” derivar de “parthenos”, o “n” e o “r” têm de trocar de posições. No entanto, os Judeus não sofriam de nenhum impedimento linguístico que causasse isto! A resposta Cristã é que possivelmente os Judeus alteram propositadamente a palavra “parthenos” para os nomes “Pantheras” (encontrado na história de Celso) ou para “pantheros”, que significa pantera, e “Pandeira” é derivado da palavra deliberadamente alterada. Este argumento também falha, pois a terceira consoante da palavra “parthenos” alterada e inalterada é theta. Esta letra é sempre transliterada pela letra hebraica taw, cuja pronunciação durante os tempos clássicos muito se assemelhava a essa letra Grega.

Contudo, o nome “Pandeira” nunca é soletrado com um taw, mas com um dalet ou um tet, o que mostra que a forma original Grega tinha um delta como sua terceira consoante, e não um theta.

O argumento Cristão pode-se também voltar contra si: talvez os Cristãos deliberadamente alterassem “Pantheras” para “parthenos” quando inventaram a história da virgem que deu à luz. Também é de notar que a semelhança entre “Pantheras” (ou “pantheros”) é muito menor quando escrita em Grego, pois na formação original Grega as suas segundas vogais são completamente diferentes.

Os Cristãos também não aceitaram que Maria Magdalena estivesse ligada a Miriam, a alegada mãe de Yeishu no Talmude. Eles argumentaram que o nome “Magdalena” significa uma pessoa de Magdala e que os Judeus inventaram “Miriam, a cabeleireira de mulheres” (mgdala nshaya) para zombar dos Cristãos ou porque eles próprios se equivocaram quanto ao nome “Magdalena”.

Este argumento também é falso. Primeiramente, ignora a gramática Grega: o Grego correto para “de Magdala” é “Magdales”, e o Grego correto para uma pessoa de Magdala é“Magdalaios”. A raiz Grega original para “Magdalena” é “Magdalen-”, com um “n” distinto mostrando que a palavra não tem nada a ver com Magdala. Em segundo lugar, Magdala só obteve o seu nome após os Evangelhos terem sido escritos. Antes disso era chamadaMagadan ou Dalmanutha (apesar de “Magadan” ter um “n”, falta-lhe o “l”, e portanto não pode ser a derivação de “Magdalena”.) De fato, a comunidade Cristã alterou o nome para Magdala às ruínas desta área porque acreditavam que Maria Magdalena tinha vindo de lá.

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Os Cristãos também afirmam que a palavra “Notzri” significa uma pessoa de Nazaré. Isto, claro, é falso, pois a palavra hebraica para Nazaré é “Natzrat” e uma pessoa de Nazaré é uma “Natzrati”. O nome “Notzri” não tem a letra taw de “Natzrat”, e assim não pode derivar daí. Os Cristãos argumentam que talvez o nome aramaico para Nazaré fosse “Natzarah” ou “Natzirah” (como o moderno nome árabe), o que explica o taw que falta em “Notzri”. Isto também não tem senso pois a palavra aramaica para alguém da Nazaré seria “Natzaratiya” ou “Natziratyia” (com um taw, pois a terminação feminina “-ah” vira “-at-”quando o sufixo “-yia” é adicionado), e além do mais, a forma aramaica não seria usada em Hebreu. Os Cristãos também apareceram com outros argumentos variados que podem ser desmascarados uma vez que eles confundem as palavras hebraicas “Notzri” e “nazir”, ou ignoram o fato de que “Notzri” é a primitiva forma da palavra “Nazareno”.

Para resumir, todos os argumentos Cristãos foram baseados em

mudanças fonéticas e formas gramaticais impossíveis, e foram, consequentemente, desmistificadas. Além do mais, apesar das lendas na Gemara não possam ser tidas como fatos, a evidência no Baraitas e no Tosefta sobre a Yeishu pode nos levar de volta até Yehoshua ben Perachyah, Shimon ben Shetach e Yehuda ben Tabbai, enquanto que a evidência no Baraitas e no Tosefta sobre a ben Stada no leva até o Rabi Eliezer ben Hyrcanus e seus discípulos, que foram contemporâneos de ben Stada.

Consequentemente, esta evidência pode ser encarada como historicamente certa. Por isso os Cristãos modernos não mais atacam o Talmude, mas em vez disso negam qualquer relação entre Jesus e Yeishu ou ben Stada. Eles desmistificam as similaridades como puras coincidências. No entanto, ainda temos que estar atentos aos falsos ataques contra o Talmude pois muitos livros Cristãos ainda os mencionam e podem ressurgir de tempos em tempos.

Muitas partes da história de Jesus não são baseadas em Yeishu ou ben Stada. A maior parte das denominações Cristãs afirma que Jesus nasceu a 25 de Dezembro. Originalmente, os Cristãos orientais acreditavam que ele tinha nascido a 6 de Janeiro. Os Cristãos armênios ainda seguem esta primitiva crença enquanto que muitos Cristãos consideram que essa é a data da visita dos Magos. Como já foi apontado anteriormente, Jesus foi provavelmente confundido com Tammuz, nascido da virgem Myrrha.

Sabe-se que nos tempos Romanos os deuses Tammuz, Aion e Osíris eram comuns. Dizia-se que Osíris-Aion tinha nascido da virgem Geb em 6 de Janeiro, e isto explica a data primitiva para o Natal. Geb era, às vezes, representada como uma vaca sagrada e o seu templo era um estábulo, que é provavelmente a origem da crença Cristã de que Jesus nasceu num estábulo. Embora alguns possam pensar que esta afirmação é forçada, é tido como um fato que algumas facções Cristãs primitivas consideravam Jesus e Osíris nos seus escritos.

A data de 25 de Dezembro para o Natal era originalmente a data pagã do aniversário do deus sol, cujo dia da semana é ainda conhecido como Sun-day (inglês). O halo de luz que é usualmente mostrado à volta da face de Jesus e dos santos Cristãos é outro conceito tirado do deus sol.

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O tema da tentação por uma criatura diabólica também é encontrado na mitologia pagã. A história da tentação de Jesus por Satã, em particular, parece-se com a tentação de Osíris pelo deus diabólico Set na mitologia egípcia.

Já tínhamos sugerido que havia uma relação entre Jesus e o deus pagão Dioniso. Como Dioniso, o menino Jesus foi posto com fraldas numa manjedoura; como Dioniso, Jesus podia tornar água em vinho; como Dioniso, Jesus viajou de burro e deu de comer a uma multidão num ermo; como Dioniso, Jesus sofreu e foi objeto de escárnio. Alguns primitivos Cristãos afirmavam que Jesus tinha de fato nascido, não num estábulo, mas numa caverna – como Dioniso.

De onde é que a história de que Jesus foi crucificado veio? Parece ter resultado de várias origens. Em primeiro lugar, houve três personagens históricas durante o período Romano que as pessoas pensavam ser o Messias e que foram crucificadas pelos Romanos, a saber, Yehuda da Galileia (6 D.E.C.), Theudas (44 D.E.C.) e Benjamim, o Egípcio (60 D.E.C.).

Dado que se pensava que estas três pessoas eram o Messias, elas foram naturalmente confundidas com Yeishu e ben Stada. Yehuda da Galileia tinha pregado na Galileia e tinha arranjado muitos seguidores antes de ser crucificado pelos Romanos. A história do ministério de Jesus na Galileia parece ter sido baseada na vida de Yehuda da Galileia. Esta história e a crença de que Jesus viveu em Nazaré na Galileia se reforçaram mutuamente. A crença de que alguns dos discípulos de Jesus foram mortos em 44 D.E.C. por Agripa parece ser baseado no destino dos discípulos de Theuda. Dado que ben Stada tinha vindo do Egito é natural que ele tenha sido confundido com Benjamim, o Egípcio. Eles foram também, provavelmente, contemporâneos.

Alguns escritores modernos até sugeriram que eles foram a mesma pessoa, apesar disso não ser possível pois as histórias das suas mortes são completamente diferentes. Nos Atos dos Apóstolos do Novo Testamento, que usa o livro de Flávio Josefo “Antiguidades Judaicas” (93 – 94 D.E.C.) como referência, é deixado claro que o autor considerou Jesus, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio como quatro pessoas diferentes. No entanto, naquela altura já era muito tarde para anular as confusões que já tinham acontecido antes do Novo Testamento ter sido escrito, e a idéia da crucificação de Jesus tinha-se tornado uma parte integral do mito.

Em segundo lugar, surgiu a idéia de que Jesus tinha sido executado na

véspera da Passagem. Esta crença é aparentemente baseada na execução de Yeishu. A Passagem ocorre no Equinócio da Primavera, um evento considerado importante pelos astrólogos durante o Império Romano. Os astrólogos pensavam nesta época como a época do cruzamento de dois círculos celestes astrológicos, e este evento era simbolizado por uma cruz. Deste modo, acreditava-se que Jesus tinha morrido “na cruz”. O mau entendimento deste termo por aqueles que não eram iniciados nos cultos astrológicos foi outro fator que contribuiu para a crença de que Jesus tenha sido crucificado.

Num dos primeiros documentos Cristãos (os “Ensinamento dos Doze Apóstolos”), não há menção de Jesus ter sido crucificado, e o sinal de uma cruz no céu é usado para representar a chegada de Jesus. É de notar que o centro da superstição astrológica no Império Romano foi a cidade de Tarso na Ásia Menor – o lugar de onde o lendário missionário S. Paulo veio. A idéia de

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que uma estrela especial tenha anunciado o nascimento de Jesus e que um eclipse solar tenha ocorrido na sua morte é típica da superstição astrológica Tarsiana.

O terceiro fator que contribuiu para a história da crucificação é, outra vez, a mitologia pagã. O tema de uma divindade ou semi-divindade sendo sacrificada contra uma árvore, poste ou cruz, e depois ressuscitando, é muito comum na mitologia pagã. Foi encontrado nas mitologias de todas as civilizações ocidentais, estendendo-se desde um extremo oeste como a Irlanda até um extremo leste como a Índia. Em particular, é encontrado nas mitologias de Osíris e Attis, ambos os quais eram muitas vezes identificados com Tammuz. Osíris acabou com os seus braços esticados numa árvore tal como Jesus na cruz. Esta árvore era, às vezes, mostrada como um poste com dois braços esticados – o mesmo aspecto da cruz Cristã.

Na adoração de Serapis (uma composição de Osíris e Apis), a cruz era um símbolo religioso. De fato, o símbolo da “cruz Latina” Cristã parece ser baseado diretamente no símbolo da cruz de Osíris e Serapis. Os Romanos nunca usaram esta cruz tradicional Cristã para as crucificações, eles usavam cruzes com a forma de um X ou de um T. O hieróglifo de uma cruz numa colina era associada a Osíris. Este hieróglifo representava o“Good One” (inglês), em Grego “Chrestos”, um nome aplicado a Osíris e outros deuses pagãos. A confusão deste nome com “Christos” (= Messias, Cristo) reforçou a confusão entre Jesus e os deuses pagãos.

No equinócio da Primavera, os pagãos do norte de Israel celebravam a morte e ressurreição de Tammuz-Osíris, nascido de uma virgem. Na Ásia Menor (onde as primeiras igrejas Cristãs se estabeleceram), uma celebração similar era feita para Attis, também nascido de uma virgem. Attis era mostrado como morrendo contra uma árvore, sendo enterrado numa gruta e depois ressuscitando ao terceiro dia. Agora se vê de onde a história da ressurreição de Jesus veio. Na adoração de Baal, acreditava-se que Baal tinha enganado Mavet (o deus da morte) no equinócio da Primavera. Ele se fez de morto e depois apareceu vivo. Ele teve sucesso neste ardil dando o seu único filho como sacrifício.

A ocorrência da Passagem na mesma época do ano que as “Páscoas” pagãs não é coincidência. Muitos dos costumes da Pessach foram designados como alternativas Judaicas aos costumes pagãos. Os pagãos acreditavam que quando o seu deus da natureza (como Tammuz, Osíris ou Attis) morria e ressuscitava, a sua vida ia para as plantas usadas pelo homem como comida. O matza feito da colheita da Primavera era o seu novo corpo e o vinho das uvas era o seu novo sangue.

No Judaísmo, o matza não era usado para representar o corpo de um deus, mas o pão de homem pobre que os Judeus comeram antes de saírem do Egito. Os pagãos usavam o sacrifício pascal para representar o sacrifício de um deus ou do seu filho único, mas o Judaísmo usou-o para representar a refeição comida antes de saírem do Egito. Em vez de contarem histórias de Baal a sacrificar o seu filho varão a Mavet, os Judeus contavam como o mal’ach ha-mavet (o anjo da morte) matou os filhos varões dos Egípcios.

Os pagãos comiam ovos para representar a ressurreição e renascimento do seu deus da natureza, mas o ovo no seder representa o renascimento do povo Judeu ao escapar do cativeiro no Egito. Quando os primeiros Cristãos se deram conta das similaridades entre os costumes da Pessach e os costumes

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pagãos, eles deram a volta completa e converteram os costumes da Pessach de volta às suas velhas interpretações pagãs.

A seder tornou-se a última ceia de Jesus, similar à última ceia de Osíris, comemorada no equinócio da Primavera. O matza e o vinho tornaram-se novamente no corpo e sangue de um falso deus, desta vez Jesus. Os ovos da Páscoa são novamente comidos para comemorar a ressurreição de um “deus” e também o “renascimento” obtido pela aceitação do seu sacrifício na cruz.

O mito da última ceia é particularmente interessante. Como foi mencionado, a idéia básica da última ceia ocorrer no equinócio de inverno vem da história da última ceia de Osíris. Na história Cristã, Jesus está presente com doze apóstolos. De onde é que a história dos doze apóstolos veio? Parece que na primeira versão a história era entendida como uma alegoria. A primeira vez que doze apóstolos são mencionados é no documento conhecido como “Ensinamentos dos Doze Apóstolos”. Este documento aparentemente teve origem num documento sectário Judeu escrito no primeiro século D.E.C., mas foi adotado pelos Cristãos, que o alteraram substancialmente e adicionaram-lhe idéias Cristãs. Nas primeiras versões é claro que os “doze apóstolos” são os doze filhos de Jacob representando as doze tribos de Israel. Os Cristãos, mais tarde, consideraram os “doze apóstolos” como sendo alegóricos discípulos de Jesus.

Na mitologia egípcia, Osíris foi traído na sua última ceia pelo deus

diabólico Set, que os Gregos identificavam como Typhon. Esta parece ser a origem da idéia de que o traidor de Jesus estava presente na sua última ceia. A idéia de que este traidor se chamava “Judas” vem do tempo em que os doze apóstolos eram ainda entendidos como sendo os filhos de Jacob. A idéia de Judas (= Judah, Yehuda) traindo Jesus (o “filho” de José) é uma forte reminiscência da história do José da Tora sendo traído pelos seus irmãos com Yehuda como líder da traição.

Esta alegoria seria particularmente apelativa para os Samaritanos Notzrim, que se consideravam filhos de José, traídos pelos Judeus ortodoxos (representados por Judas/Yehuda). No entanto, a história dos doze apóstolos perdeu a sua interpretação alegórica original, e os Cristãos começaram a pensar que os “doze apóstolos” eram doze pessoas reais que seguiram Jesus. Os Cristãos tentaram encontrar nomes para estes doze apóstolos.

Mateus e Tadeu foram baseados em Mattai e Todah, dois dos discípulos de Yeishu. Um ou os dois apóstolos chamados Jacobus (Tiago) é possivelmente baseado no Jacob deKfar Sekanya, um primitivo Cristão conhecido do rabi Eliezer ben Hyrcanus, mas isto é apenas uma suposição. Como já vimos, a personagem de Judas é majoritariamente baseado no Judah da Tora, mas poderá haver também uma ligação com um contemporâneo de Yeishu, Yehuda ben Tabbai, o discípulo do Rabi Yehoshua ben Perachyah. Como já foi mencionado, a idéia do traidor na última ceia é derivada da mitologia de Osíris, que foi traído por Set-Typhon. Set-Typhon tinha cabelo ruivo, e esta é provavelmente a origem da afirmação de que Judas tinha o cabelo ruivo. Esta idéia levou ao retrato estereotipo Cristão de que os Judeus têm cabelo ruivo, não obstante o fato de que, na realidade, o cabelo ruivo é de longe mais comum entre Arianos do que entre Judeus.

O apelido “Iscariotes” é muitas vezes atribuído a Judas. Em algumas partes onde os Novos Testamentos Ingleses têm “Iscariotes”, o texto Grego

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realmente tem “apo Kariotou”, que significa “de Karyot”. Karyot era o nome de uma cidade em Israel, provavelmente o moderno lugar conhecido em árabe como Karyatein. Portanto, vê-se que o nome Iscariotes é derivado do Hebreu “ish Karyot”, que significa “homem de Karyot”. Esta é a compreensão do nome aceita hoje em dia pelos Cristãos.

No entanto, no passado, os Cristãos entendiam mal este nome, e nasceram lendas de que Judas era da cidade de Sychar, que ele era um membro do partido extremista conhecido como Sicarii, e que ele era da tribo de Issacar. O mais interessante mal entendimento do nome é a sua primitiva confusão com a palavra scortea, que significa “bolsa de couro”. Isto levou ao mito do Novo Testamento de que Judas carregava uma bolsa, o que por sua vez levou à crença de que ele era o tesoureiro dos apóstolos.

O apóstolo Pedro parece ser uma personagem largamente ficcional. De acordo com a mitologia Cristã, Jesus escolheu-o para ser o “guardião das chaves do reino dos céus”. Isto é claramente baseado na divindade pagã egípcia Petra, que era o porteiro do céu e da vida após a morte, governados por Osíris.

Temos também de duvidar da história de Lucas “o médico”, que era suposto ser amigo de Paulo. O original Grego para Lucas é Lycos, que era um outro nome para Apolo, o deus da cura.

João Batista é largamente baseado numa personagem histórica que praticava imersão ritual na água como um símbolo físico de arrependimento. Ele não realizava batismos sacramentais ao estilo Cristão para purificar as almas das pessoas – tal idéia era totalmente estranha ao Judaísmo. Ele foi condenado à morte por Herodes Antipas, que temeu que ele estivesse prestes a começar uma rebelião. O nome de João em Grego era“Ioannes”, e em latim “Johannes”.

Apesar de estes nomes serem usualmente usados para o nome Hebreu Yochanan, é improvável que este tenha sido o verdadeiro nome Hebreu de João. “Ioannes” assemelha-se a “Oannes”, o nome Grego para o deus pagão Ea. Oannes era o “Deus da Casa de Água”. Batismos sacramentais para purificação mágica das almas era uma prática que aparentemente originou a adoração de Oannes. A mais provável explicação do nome de João e a sua relação com Oannes é a de que João provavelmente ostentou o apelido “Oannes”, dado que ele praticava o batismo, que tinha adaptado do culto de Oannes. O nome “Oannes” foi mais tarde confundido com “Ioannes” (de fato, a lenda do Novo Testamento que diz respeito a João providencia uma pista de que o seu verdadeiro nome talvez tenha sido Zacarias.) É sabido, dos escritos de Flávio Josefo, que o João histórico rejeitou a interpretação pagã do batismo como “purificação de almas”. Os Cristãos, no entanto, voltaram a esta interpretação pagã original.

O deus Oannes era associado com a constelação do Capricórnio. Tanto Oannes como a constelação do Capricórnio eram associados com a água (a constelação é suposto representar uma mítica criatura marítima com o corpo de peixe e as partes dianteiras de um bode.) Já vimos que a Jesus é dado a mesma data de nascimento do deus sol (25 de Dezembro), quando o sol está na constelação de Capricórnio. Os pagãos pensavam neste período como onde o deus Sol imerge nas águas de Oannes e emerge renascido (o Solstício de Inverno, quando os dias começam a ficar maiores, ocorre perto de 25 de Dezembro.)

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Este mito astrológico é aparentemente a origem da história de que Jesus

foi batizado por João. Provavelmente começou como uma história astrológica alegórica, mas parece que o deus Oannes mais tarde foi confundido com a personagem histórica de apelido Oannes (João.)

A crença de que Jesus tinha conhecido João contribuiu para a crença de que a pregação e crucificação de Jesus tenha ocorrido quando Pôncio Pilatos era procurador da Judeia. É de notar que muitas das datas para Jesus citadas pelos Cristãos são completamente absurdas. Jesus foi em parte baseado em Yeishu e ben Stada, que provavelmente viveram com mais de um século de diferença. Ele foi também baseado nos três falsosMessias Yehuda, Theudas e Benjamim, que foram crucificados pelos Romanos em várias épocas diferentes.

Outro fato que contribuiu para a datação confusa de Jesus foi que Jacob de Kfar Sekanya e provavelmente também outros Notzrim usavam expressões como “assim fui ensinado por Yeishu ha-Notzri”, apesar dele não ter sido ensinado por Yeishu em pessoa. Sabemos da Gemara que o testemunho de Jacob levou o Rabi Eliezer ben Hyrcanus a incorretamente concluir que Jacob era um discípulo de Yeishu. Isto sugere que havia rabis que não sabiam que Yeishu tinha vivido nos tempos Asmoneus.

Mesmo depois dos Cristãos situarem Jesus no primeiro século D.E.C., a confusão continuou entre os não-Cristãos. Houve um contemporâneo do Rabi Akiva chamadoPappus ben Yehuda que costumava trancar a sua esposa infiel. Sabemos da Gemara que algumas pessoas que confundiam Yeishu e ben Stada também confundiam a mulher de Pappus com Míriam, a infiel esposa de Yeishu. Isto iria situar Yeishu mais de dois séculos depois do que ele atualmente viveu!

A história do Novo Testamento confunde tantos períodos históricos que não há maneira de a reconciliar com a História. O ano tradicional do nascimento de Jesus é 1 D.E.C. Era suposto Jesus não ter mais de dois anos de idade quando Herodes ordenou a matança dos inocentes. No entanto, Herodes morreu antes de 12 de Abril do ano 4 A.E.C.. Isto levou alguns Cristãos a redatarem o nascimento de Jesus entre 6 – 4 A.E.C.. No entanto, Jesus era também suposto ter nascido durante o censo de Quirinius. Este censo teve lugar depois de Arquelau ter sido deposto em 6 D.E.C., dez anos depois da morte de Herodes.

Era suposto Jesus ter sido batizado por João logo depois de João ter começado a batizar e a pregar, no décimo quinto ano do reinado de Tibério, i.e., 28 – 29 D.E.C., quando Pôncio Pilatos foi governador da Judeia, i.e., 26 – 36 D.E.C. De acordo com o Novo Testamento, isto também aconteceu quando Lysanias foi tetrarca de Abilene e Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Mas Lysanias governou Abilene de c. 40 A.E.C. até ser executado em 36 A.E.C. por Marco António, cerca de 60 anos antes da data para Tibério, e cerca de 30 anos antes do suposto nascimento de Jesus!

Além do mais, nunca houve dois sumos sacerdotes juntos, em particular, Anás não foi sumo sacerdote juntamente com Caifás. Anás foi retirado do ofício de sumo sacerdote em 15 D.E.C., depois de ficar no ofício por nove anos. Caifás só se tornou sumo sacerdote em 18 D.E.C., cerca de três anos depois de Anás (ele ficou no ofício durante cerca de 18 anos, e assim as suas datas são consistentes com Tibério e Pôncio Pilatos, mas não com Anás ou Lysanias.)

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Apesar dos Atos dos Apóstolos apresentarem Yehuda da Galileia, Theudas e Jesus como três pessoas diferentes, situa incorretamente Theudas (crucificado no ano 44 D.E.C.) antes de Yehuda, que menciona corretamente como tendo sido crucificado durante o censo (6 D.E.C.) Muitos destes absurdos cronológicos parecem ser baseados em leituras mal interpretadas e mal entendimentos do livro de Flávio Josefo “Antiguidades Judaicas”, que foi usado como referência pelo autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos.

A história do julgamento de Jesus é também altamente suspeita. Tenta claramente aplacar os Romanos enquanto difama os Judeus. O Pôncio Pilatos histórico era arrogante e déspota. Ele odiava os Judeus e nunca delegou nenhuma autoridade a eles. No entanto, na mitologia Cristã, ele é retratado como um governante preocupado que se distancia das acusações contra Jesus e que foi forçado a obedecer às pretensões dos Judeus. De acordo com a mitologia Cristã, em cada Passagem os Judeus pediam a Pilatos para libertar um criminoso qualquer que eles escolhessem.

Isto é, claro, uma mentira espalhafatosa. Os Judeus nunca tiveram o costume de libertar criminosos culpados na Passagem ou em qualquer outra época do ano. De acordo com o mito, Pilatos deu aos Judeus a chance de libertar Jesus, o Cristo, ou um assassino chamado Jesus Barrabás. Os Judeus supostamente escolhem Jesus Barrabás.

Esta história é uma malévola mentira anti-semita, uma das muitas

mentiras semelhantes encontradas no Novo Testamento (majoritariamente escrito por anti-semitas.) O que é particularmente odioso nesta história sem sentido é que aparentemente é uma distorção de uma história mais antiga que clamava que os Judeus tinham pedido para Jesus Cristo ser libertado.

O nome “Barrabás” é simplesmente a forma Grega do Aramaico “bar Abba”, que significa “filho do Pai”. Assim, “Jesus Barrabás” originalmente significava “Jesus o filho do Pai”, em outras palavras o usual Jesus Cristão. Quando a história antiga clamava que os Judeus queriam que Jesus Barrabás fosse solto, estava se referindo ao Jesus usual. Alguém distorceu a história afirmando que Jesus Barrabás era uma pessoa diferente de Jesus Cristo e isto enganou os Cristãos Romanos e Gregos, que não sabiam o significado do nome “Barrabás”.

Finalmente, a afirmação de que o Jesus ressurreto apareceu aos seus discípulos é também baseada em superstições pagãs. Na mitologia Romana, Rômulo, nascido de uma virgem, apareceu ao seu amigo na estrada antes de ser levado para o céu (o tema de ser levado para o céu é encontrado em grande número de mitos e lendas pagãs, e até em histórias Judaicas.) Foi afirmado que Apolônio de Tyana também tinha aparecido aos seus discípulos depois de ter ressuscitado.

É interessante de notar que o Apolônio histórico nasceu mais ou menos ao mesmo tempo que supostamente o Jesus mítico nasceu. Em lendas, as pessoas afirmavam que ele tinha executado muitos milagres, que eram idênticos àqueles atribuídos a Jesus, tal como exorcismos de demônios e o de trazer novamente a vida a uma garota morta.

Quando confrontados com defensores Cristãos, aponte tanta informação quanta for possível sobre as origens do Cristianismo e do mito de Jesus. Quase nunca irá conseguir os convencer que o Cristianismo é uma falsa

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religião. Não poderá provar sem dúvidas que a história de Jesus surgiu da maneira como afirmo, uma vez que muita da evidência é circunstancial.

De fato, não podemos ter a certeza da origem precisa de muitos pontos particulares da história de Jesus. Isto não interessa. O que é importante é que você compreenda que existem alternativas lógicas à crença cega nos mitos Cristãos e que pode ser lançada uma dúvida racional sobre a narrativa do Novo Testamento.

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A falta de evidência Histórica para Jesus A resposta Cristã habitual para os que questionam a historicidade de

Jesus é manusear vários documentos como “evidência histórica” para a existência de Jesus. Eles normalmente começam com os evangelhos canônicos, ou seja, O Evangelho segundo S. Mateus, O Evangelho segundo S. Marcos, O Evangelho segundo S. Lucas e O Evangelho segundo S. João. A afirmação habitual é a de que estes são “registros de testemunhas oculares sobre a vida de Jesus feitas pelos seus discípulos”. A resposta a este argumento pode ser resumido numa palavra – pseudepigráfico. Este termo refere-se a trabalhos de escrita cujos autores ocultam as suas verdadeiras identidades atrás de nomes de personagens lendárias do passado. A escrita pseudepigráfica era particularmente popular entre os Judeus durante os períodos Asmoneu e Romano, e este estilo de escrita foi adotado pelos primeiros Cristãos.

Os evangelhos canônicos não são os únicos evangelhos. Por exemplo, há também evangelhos de Maria, Pedro, Tomé e Filipe. Estes quatro evangelhos são reconhecidos como sendo pseudepigráficos tanto por escolares Cristãos como não Cristãos. Eles providenciam uma informação histórica ilegítima dado que foram baseados em rumores e crenças. A existência destes óbvios evangelhos pseudepigráficos faz com que seja bastante racional suspeitar que os evangelhos canônicos poderão também ser pseudepigráficos. O fato de que os primeiros Cristãos escreviam evangelhos pseudepigráficos sugere que isto era de fato a norma. Deste modo, é quando os missionários afirmam que os evangelhos canônicos não são pseudepigráficos que requer provas.

O Evangelho segundo S. Marcos é escrito no nome de S. Marcos, o discípulo do mítico S. Pedro (S. Pedro é majoritariamente baseado no deus pagão Petra, que era o porteiro do céu e da vida depois da morte na religião egípcia.) Até na mitologia Cristã S. Marcos não era discípulo de Jesus, mas um amigo de S. Paulo e S. Lucas. O Evangelho segundo S. Marcos foi escrito antes do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas (c. de 100 D.E.C.), mas depois da destruição do Templo em 70 D.E.C., que menciona. Muitos Cristãos acreditam que foi escrito em c. 75 D.E.C. Esta data não é baseada em História, mas na crença de que um histórico S. Marcos escreveu o evangelho na sua velhice. Isto não é possível, dado que o estilo de linguagem usada em S. Marcos mostra que foi escrita (provavelmente em Roma) por um Romano convertido ao Cristianismo, cuja primeira língua era Latim e não Grego, Hebreu ou Aramaico.

De fato, como todos os outros evangelhos são escritos em nome de personagens lendárias do passado, o Evangelho segundo S. Marcos foi provavelmente escrito muito depois de algum Marcos histórico (se houve um) ter morrido. O conteúdo do Evangelho segundo S. Marcos é uma coleção de mitos e lendas que foram juntos de forma a formar uma narrativa contínua. Não há provas de que tenha sido baseado em qualquer fonte histórica de confiança. O Evangelho segundo S. Marcos foi alterado e editado muitas vezes, e a versão moderna provavelmente data de cerca de 150 D.E.C. Clemente de Alexandria (c. de 150 D.E.C. – c. de 215 D.E.C.) queixou-se acerca das versões alternativas deste evangelho, que ainda circulavam no seu tempo

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(os Carpocratianos, uma primeira facção Cristã, considerava a pederastia como sendo uma virtude, e Clemente queixou-se da sua versão do Evangelho segundo S. Marcos, que contava as explorações homossexuais de Jesus com rapazes novos!).

O Evangelho segundo S. Mateus certamente não foi escrito pelo apóstolo S. Mateus. A personagem de S. Mateus é baseada na personagem histórica chamada Mattai, que era um discípulo de Yeishu ben Pandeira (Yeishu, que viveu nos tempos Asmoneus, foi uma das várias pessoas históricas em quem a personagem de Jesus foi baseada.)

O Evangelho segundo S. Mateus foi originalmente anônimo e só foi lhe foi imputado o nome de S. Mateus depois, durante a primeira metade do segundo século D.E.C. A forma primitiva foi provavelmente escrita mais ou menos ao mesmo tempo do Evangelho de S. Lucas (c. de 100 D.E.C.), pois nenhum dos dois parece saber do outro. Foi alterado e editado até cerca de 150 D.E.C. Os primeiros dois capítulos, que tratam da virgem dando a luz, não estavam na versão original, e os Cristãos de Israel com descendência Judaica preferiram esta primeira versão. Para suas fontes, usou o Evangelho segundo S. Marcos e uma coleção de ensinamentos referidos como a Segunda Fonte (ou o Documento Q.)

A Segunda Fonte não sobreviveu como um documento isolado, mas todos os seus conteúdos são encontrados no Evangelho segundo S. Marcos e no Evangelho segundo S. Lucas. Todos os ensinamentos aí contidos podem ser encontrados no Judaísmo. Os ensinamentos mais razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo ortodoxo, enquanto que os menos razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo sectário. Não há nada nele que requeira a nossa suposição da existência de um Jesus histórico real. Apesar do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas atribuírem os ensinamentos neles contidos a Jesus, a Epístola de S. Tiago atribui-os a S. Tiago. Como foi visto, o Evangelho segundo S. Mateus não providencia nenhuma evidência histórica para Jesus.

O Evangelho de S. Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos (que eram duas partes de um mesmo trabalho) foram escritos em nome da personagem mitológica Cristã de S. Lucas, o médico (que provavelmente não foi uma personagem histórica mas uma adaptação Cristã do deus Grego da cura Lycos.) Até na mitologia Cristã S. Lucas não foi um discípulo de Jesus, mas um amigo de S. Paulo. O Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos usam o livro de Flávio Josefo, “Antiguidades Judaicas”, como referência, e assim não podiam ter sido escritos antes de 93 D.E.C. Nesta altura, qualquer amigo de S. Paulo estaria ou morto ou bem senil.

De fato, tanto estudiosos Cristãos como não Cristãos estão de acordo de que as primeiras versões dos dois livros foram escritas por um Cristão anônimo em c. 100 D.E.C., e foram alterados e editados até c. 150 – 175 D.E.C. Além do livro de Flávio Josefo, o Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos também usam o Evangelho de S. Marcos e a Segunda Fonte como referências. Apesar de Flávio Josefo ser considerado mais ou menos de confiança, o autor anônimo muitas vezes lê ou entende mal Flávio Josefo, e além disso nenhuma das informações acerca de Jesus no Evangelho segundo S. Lucas e nos Atos dos Apóstolos vem de Flávio Josefo. Como se vê, o Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos não têm valor histórico.

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O Evangelho segundo S. João foi escrito em nome do apóstolo S. João, o irmão de S. Tiago, filho de Zebedeu. O autor do Evangelho segundo S. Lucas usou tantas fontes quantas pode obter, mas ele não tinha conhecimento do Evangelho segundo S. João. Assim, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito antes do Evangelho segundo S. Lucas (c. 100 D.E.C.) Conseqüentemente, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito pela semi-mítica personagem de S. João, o apóstolo, que era suposto ter sido morto por Herodes Agripa pouco antes da sua própria morte em 44 D.E.C. (S. João, o apóstolo, é aparentemente baseado num histórico discípulo do falso Messias, Theudas, que foi crucificado pelos Romanos em 44 D.E.C., e cujos discípulos foram assassinados.)

O autor real do Evangelho segundo S. João foi, de fato, um anônimo

Cristão de Éfeso, na Ásia Menor. O fragmento mais velho sobrevivente do Evangelho segundo S. João data de c. 125 D.E.C., e assim podemos datar o Evangelho de c. 100 – 125 D.E.C. Baseados em considerações estilísticas, muitos escolares diminuem a data para c. 100 – 120 D.E.C. A primeira versão do Evangelho segundo S. João não contém o último capítulo, que trata da aparição de Jesus aos seus discípulos.

Tal como os outros Evangelhos, o Evangelho segundo S. João provavelmente só chegou à sua presente forma por volta de 150 – 175 D.E.C. O autor do Evangelho segundo S. João usou o Evangelho segundo S. Marcos frugalmente, e assim pode-se suspeitar que não confiava nele. Ele ou não tinha lido o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S. Lucas ou não confiava neles, pois ele não usa nenhuma informação deles que não tenha sido encontrada no Evangelho segundo S. Marcos. Grande parte do Evangelho segundo S. João consiste em lendas com óbvias interpretações fundamentais alegóricas, e pode-se suspeitar que o autor nunca tencionou que fossem História. O Evangelho segundo S. João não contém nenhuma informação de fontes históricas de confiança.

Os Cristãos afirmarão que próprio Evangelho segundo S. João declara que é um documento histórico escrito por S. João. Esta pretensão é baseada nos versos Jo 19, 34 – 35 e Jo 21, 20 – 24. Jo 19, 34 – 35 não afirma que o Evangelho foi escrito por S. João. Afirma que os eventos descritos nos versos imediatamente precedentes foram reportados corretamente por uma testemunha. A passagem é ambígua e não é claro se a testemunha é suposta ser a mesma pessoa que o autor. Muitos estudiosos são da opinião de que a ambigüidade é deliberada e que o autor do Evangelho segundo S. João está a tentar arreliar os seus leitores nesta passagem, bem como nas passagens em que conta histórias miraculosas com interpretações alegóricas.

Jo 21, 20 – 24 também não afirma que o autor é S. João. Afirma que o discípulo mencionado na passagem é alguém que testemunhou os eventos descritos. É mais uma vez notavelmente ambíguo no que refere à questão do discípulo ser a mesma pessoa que o autor. É de notar que esta última passagem é no último capítulo do Evangelho segundo S. João, que não fazia parte do Evangelho original, mas que foi adicionado como um epílogo por um redator anônimo.

Deve-se ficar consciente para o fato de que muitas traduções “fáceis de entender” do Novo Testamento distorcem as passagens mencionadas para remover a ambigüidade encontrada no original Grego (idealmente, uma pessoa

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precisa estar familiarizada com o texto original Grego do Novo Testamento de maneira a evitar traduções preconceituosas e corrompidas usadas por fundamentalistas e defensores Cristãos.)

De maneira a fazer recuar as suas pretensões de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram escritos pelos “reais” apóstolos S. Marcos e S. Mateus, e que Jesus é uma personagem histórica, os defensores cristãos muitas vezes chamam a atenção para o assim chamado “testemunho de Papias”.

Papias foi o bispo de Hierápolis (perto de Éfeso) em meados do segundo século D.E.C. Nenhum dos seus escritos sobreviveu, mas o historiador Cristão Eusébio (c. 260 – 339 D.E.C.), no seu livro História Eclesiástica (escrito c. 311 – 324 D.E.C.) parafraseou certas passagens do livro de Papias “Expondo os Oráculos do Senhor” (escrito c. 140 – 160 D.E.C.) Nestas passagens, Papias afirma que tinha conhecido as filhas do apóstolo S. Filipe, e também reportou várias histórias que afirmou terem vindo de pessoas chamadasAristion e João, o Ancião, que ainda estariam vivos durante a sua própria vida.

Eusébio parece ter pensado que Aristion e João, o Ancião eram discípulos de Jesus. Papias afirmava que João, o Ancião tinha dito que S. Marcos tinha sido o intérprete de S. Pedro e tinha escrito exatamente tudo o que S. Pedro tinha escrito sobre Jesus. Papias também afirmou que S. Mateus tinha compilado todos os “oráculos” em Hebreu, e todos os tinham interpretado o melhor que podiam.

Nada disto, no entanto, providencia uma evidência histórica legítima de Jesus nem suporta a crença de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram realmente escritos por apóstolos ostentando aqueles nomes.

Papias foi um bravateiro e não é de nenhuma maneira certo de que ele tenha sido honesto quando afirmou ter conhecido as filhas de S. Filipe. Mesmo que tivesse, isto iria, no máximo, provar que o apóstolo S. Filipe da mitologia Cristã tinha sido baseado numa personagem histórica. Papias nunca afirmou explicitamente que tinha conhecido Aristion e João, o Ancião. Além do mais, só porque Eusébio no século IV acreditou que tinham sido discípulos de Jesus não quer dizer que tenham sido. Nada é conhecido sobre quem realmente seria Aristion. Ele não é certamente um dos discípulos na usual tradição Cristã.

Já vi livros em que certos fundamentalistas Cristãos afirmam que João, o

Ancião era o apóstolo S. João, o filho de Zebedeu, e que ele ainda estaria vivo quando Papias era jovem. Eles também afirmam que Papias viveu entre c. 60 – 130 D.E.C., e que ele escreveu o seu livro em c. 120 D.E.C. Estas datas não são baseadas em nenhuma legítima evidência e são um completo disparate: Papias foi bispo de Hierápolis em c. 150 D.E.C. e como foi já mencionado o seu livro foi escrito depois, no período c. 140 – 160 D.E.C. Puxando a data para Papias para 60 D.E.C., ainda não o coloca durante o tempo de vida do apóstolo S. João, que, de acordo com as lendas Cristãs normais, foi morto em 44 D.E.C.

Além disso, é improvável que João, o Ancião tenha tido alguma coisa a ver com S. João, o apóstolo. De acordo com Epifâneo (c. 320 – 403), um primitivo Cristão chamado João, o Ancião morreu em 117 D.E.C. Tenho mais a dizer sobre ele quando discutirmos as três epístolas atribuídas a S. João. Qualquer que seja o caso, as histórias que Papias colecionou eram contadas

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pelo menos uma década depois que os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos foram escritos, e refletem rumores e superstições infundadas sobre as origens destes livros.

Em particular, a história sobre S. Marcos obtida de João, o Ancião, não é mais que uma elaboração superficial da lenda de S. Marcos encontrada nos Atos dos Apóstolos, e assim não diz nada sobre as verdadeiras origens do Evangelho segundo S. Marcos. A história sobre S. Mateus ter escrito os “oráculos” é simplesmente um rumor e, além disso, não tem nada a ver com o Evangelho segundo S. Mateus. O termo “oráculos” pode ser entendido como uma referência à coleção de escritos conhecidos como “Oráculos do Senhor”, que é referido no título do livro de Papias, e que provavelmente é o mesmo que a Segunda Fonte, mas não o Evangelho segundo S. Mateus.

Além dos Evangelhos canônicos e dos Atos dos Apóstolos, os defensores do cristianismo também tentam usar as várias epístolas Cristãs como prova da história de Jesus. Eles afirmam que as epístolas são cartas escritas por discípulos e seguidores de Jesus. No entanto, epístolas (do Grego epistole, significando mensagem ou ordem) são livros, escritos sob forma de cartas (usualmente de personagens lendárias do passado), que expõem doutrinas e instruções religiosas.

Esta forma de escrita religiosa foi usada pelos Judeus nos tempos Greco-Romanos (a mais famosa epístola Judaica é a Epístola de Jeremias, que é uma prolongada condenação à idolatria, escrita durante o período Helênico na forma de carta pelo profeta Jeremias à população de Jerusalém mesmo antes deles terem sido exilados para a Babilónia.)

Como no caso dos Evangelhos, há epístolas Cristãs que não estão contidas no Novo testamento, que educadores tanto Cristãos como não-Cristãos concordam serem epístolas pseudepigráficas e de nenhum valor histórico, pois expõem crenças e não História. A existência de epístolas pseudepigráficas, e verdadeiramente todo o conceito de uma epístola, sugere que as epístolas eram normalmente pseudepigráficas. Ainda assim, os defensores do cristianismo e os Cristãos fundamentalistas afirmam que as epístolas canônicas são cartas genuínas que requerem provas.

A Epístola de S. Judas é escrita em nome de Jude (Judas), o irmão de S. Tiago. De acordo com o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus, Jesus tinha irmãos chamados Judas e Tiago. Comparando com outros escritos mostra que a Epístola de S. Judas foi escrita em c. 130 D.E.C., e assim é obviamente pseudepigráfica. No entanto, não há nenhuma evidência que o seu autor usou alguma fonte histórica legítima no que se refere a Jesus.

Duas das epístolas canônicas são escritas em nome de S. Pedro. Dado que S. Pedro é uma adaptação da divindade pagã egípcia Petra, estas epístolas certamente não foram escritas por ele. O estilo e o caráter da Primeira Epístola de S. Pedro sozinhos mostram que não pode ter sido escrita antes de 80 D.E.C. Até de acordo com a lenda Cristã, S. Pedro supostamente morreu no decurso das perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.E.C. e portanto ele não poderia ter escrito a epístola.

O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as fontes escritas que conseguiu obter e tendia a usá-las indiscriminadamente, no entanto ele não menciona quaisquer epístolas de S. Pedro. Isto mostra que a Primeira Epístola de S. Pedro foi provavelmente

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escrita depois do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos (c. 100 D.E.C.) Nenhuma das referências a Jesus na Primeira Epístola de S. Pedro é tirada de fontes históricas, mas em vez disso reflete crenças e superstições.

A Segunda Epístola de S. Pedro é uma declaração contra os Marcionistas, e portanto deve ter sido escrita em c. 150 D.E.C. Como se vê, é claramente pseudepigráfico. A Segunda Epístola de S. Pedro usa como fontes: a história da transfiguração de Jesus encontrada no Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, o Apocalipse de S. Pedro e a Epístola de S. Judas. O não canônico Apocalipse de S. Pedro (escrito provavelmente no primeiro quarto do segundo século D.E.C.) é reconhecido como sendo não-histórico até pelos fundamentalistas Cristãos. Assim, a Segunda Epístola de S. Pedro também não usa qualquer fonte histórica legítima.

Agora voltamo-nos para as epístolas supostamente escritas por S.

Paulo. A Primeira Epístola de S. Paulo a Timóteo avisa contra o trabalho Marcionista conhecido comoAntithesis. Marcion foi expulso da Igreja de Roma em c. 144 D.E.C. e a Primeira Epístola de S. Paulo a Timóteo foi escrita pouco depois. Como se vê, temos novamente um caso claro de pseudepigrafia. A Segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo e a Epístola de S. Paulo a Tito foram escritas pelo mesmo autor e datam do mesmo período.

Estas três epístolas são conhecidas como as “epístolas pastorais”. As 10 restantes epístolas “não-pastorais” escritas no nome de S. Paulo eram conhecidas por Marcion em c. 140 D.E.C. Algumas delas não foram escritas somente no nome de S. Paulo, mas estão na forma de cartas escritas por S. Paulo em colaboração com vários amigos comoSosthenes, Timóteo e Silas.

O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as vias para obter todas as fontes disponíveis e tendeu a usá-las indiscriminadamente, mas ele não usou nada das epístolas Paulinas. Podemos então concluir que as epístolas não-pastorais foram escritas depois do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos no período c. 100 – 140 D.E.C. A não-canônica Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios (escrita c. 125 D.E.C.) usa a Primeira Epístola de S. Paulo aos Corintioscomo fonte, e portanto podemos reduzir a data para essa epístola para 100 – 125 D.E.C.

No entanto, ficamos com a conclusão de que todas as epístolas Paulinas são pseudepigráficas (o semi-mítico S. Paulo supostamente morreu durante as perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.E.C.) Algumas das epístolas Paulinas aparentam terem sido alteradas e revistas numerosas vezes antes de terem chegado às suas formas modernas. Como fontes usam-se mutuamente, e ainda os Atos dos Apóstolos, o Evangelho segundo S. Marcos, o Evangelho segundo S. Mateus, o Evangelho segundo S. Lucas e a Primeira Epístola de S. Pedro. Podemos então concluir que não providenciam nenhuma evidência histórica de Jesus.

A Epístola aos Hebreus é uma epístola particularmente interessante, dado que não é pseudepigráfica mas completamente anônima. O seu autor nem revela o seu próprio nome nem escreve em nome de uma personagem mitológica Cristã. Os Cristãos fundamentalistas clamam ser outra epístola de S. Paulo e de fato chamam-lhe Epístola de S. Paulo aos Hebreus.

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Esta idéia, aparentemente datando do final do quarto século D.E.C., não é entretanto aceita por todos os Cristãos. Como fonte para a sua informação sobre Jesus usa material comum ao Evangelho segundo S. Marcos, ao Evangelho segundo S. Mateus e ao Evangelho segundo S. Lucas, mas não fontes legítimas. O autor da Primeira Epístola de São Clemente usou-o como fonte, e portanto deve ter sido escrita antes dessa epístola (c. 125 D.E.C.) mas depois de, pelo menos, o Evangelho segundo S. Marcos (c. 75 – 100 D.E.C.)

A Epístola de S. Tiago é escrita no nome de um servo de Jesus chamado Tiago (ouJacobus.) No entanto, na mitologia Cristã havia dois apóstolos chamados Tiago e Jesus também tinha um irmão chamado Tiago. Não é claro qual dos Tiagos é o pretendido, e não há entendimento entre os próprios Cristãos. Cita declarações da Segunda Fonte, mas ao contrário do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas não atribui estas declarações a Jesus, mas apresenta-as como sendo de S. Tiago. Contém um importante argumento contra a doutrina da “salvação através da fé” exposta na Epístola de S. Paulo aos Romanos. Podemos então concluir que foi escrita durante a primeira metade do segundo século D.E.C., depois da Epístola aos Romanos mas antes do tempo em que o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S. Lucas foi aceito por todos os Cristãos.

Assim, indiferentemente de qual seja o S. Tiago pretendido, a Epístola de S. Tiago é pseudepigráfica. Não diz quase nada de Jesus e não há evidência de que o autor tinha quaisquer fontes históricas para ele.

Há três epístolas com o nome do apóstolo S. João. Nenhuma delas é, de fato, escrita no nome de S. João, e provavelmente só lhas foram atribuídas algum tempo depois de terem sido escritas. A Primeira Epístola de S. João, tal como a Epístola aos Hebreus, é completamente anônima. A idéia de que foi escrita por S. João vem do fato de que usa o Evangelho segundo S. João como fonte.

As outras duas epístolas com o nome de S. João foram escritas por um único autor que em vez de escrever em nome de um apóstolo, escolheu simplesmente chamar-se “o Ancião”. A idéia de que estas duas epístolas foram escritas por S. João nasceu das crenças de que “o Ancião” se referia a João, o Ancião, e que ele era a mesma pessoa que o apóstolo S. João. No caso da Segunda Epístola de S. João, esta crença foi reforçada pelo fato de que essa epístola também usa o Evangelho segundo S. João como fonte. Podemos então concluir que as primeiras duas epístolas atribuídas a S. João foram escritas depois do Evangelho segundo S. João (c. 110 -120 D.E.C.) Conseqüentemente, nenhuma das três epístolas poderia ter sido escrita pelo apóstolo S. João.

Deve-se apontar que é bastante provável que o pseudônimo “o Ancião”

se refira à pessoa chamada João, o Ancião, mas se tal assim é, ela certamente não é o apóstolo S. João. As primeiras duas epístolas de S. João apenas usam o Evangelho segundo S. João como fonte para Jesus; elas não usam nenhuma fonte legítima.

A Terceira Epístola de S. João menciona “Cristo” escassamente e não há evidências de que tenha usado quaisquer fontes históricas para ele. Além das epístolas com o nome de S. João, o Novo Testamento também contém um livro conhecido como Apocalipse do Apóstolo S. João. Este livro combina duas formas de escrita religiosa, a da epístola e a do apocalipse (apocalipses são

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trabalhos religiosos que são escritos na forma de revelação acerca do futuro por uma personagem famosa do passado. Estas revelações geralmente descrevem eventos infelizes que ocorrem no tempo em que foram escritas, e também oferecem alguma esperança ao leitor de que as coisas irão melhorar.)

Não se sabe por quantas revisões passou o Apocalipse do Apóstolo S. João, e assim é difícil datá-la precisamente. Dado que menciona as perseguições instigadas por Nero, podemos dizer com certeza que não foi escrita antes de 64 D.E.C. Assim sendo, não poderia ter sido escrita pelo “verdadeiro S. João”.

Os primeiros versos formam uma introdução que é claramente entendida como não sendo de S. João, e que providencia uma vaga admissão de que o livro é pseudepigráfico, apesar do autor sentir que a sua mensagem é inspirada por Deus.

O estilo de escrita e as referências à prática de kriobolium (batismo em sangue de ovelha) sugerem que o autor era dessas pessoas de descendência Judaica que misturavam o Judaísmo com práticas pagãs. Havia muitos destes “Judeus pagãos” durante os tempos Romanos, e foram estas pessoas que se tornaram nos primeiros convertidos aos Cristianismo, estabeleceram as primeiras igrejas, e que foram provavelmente responsáveis pela introdução de mitos pagãos na história de Jesus (eles são também lembrados pela sua crença ridícula de que “Adonai Tzevaot” era o mesmo que o deus pagão “Sebazios”.) As referências a Jesus no livro são poucas e não há evidências de que são baseadas em nada mais que crença.

Além das epístolas aceitas no Novo Testamento, e além das epístolas que são unanimemente reconhecidas como não tendo qualquer valor (como a Epístola de Barnabas), existem também várias epístolas que embora não aceites no Novo Testamento são consideradas de valor por alguns Cristãos.

Primeiramente, há as epístolas com o nome de Clemente. Na lenda Cristã, S. Clemente foi o terceiro na sucessão a S. Pedro como bispo de Roma. A Primeira Epístola de S. Clemente aos Coríntios não é, de fato, escrita em nome de Clemente, mas no nome da “Igreja de Deus que estadia em Roma”. Refere-se a uma perseguição que é geralmente pensada como tendo ocorrido em 95 D.E.C., no reinado de Domiciano, e refere-se à exoneração dos anciãos da Igreja de Corínto em c. 96 D.E.C.

Os Cristãos acreditam que S. Clemente foi bispo de Roma durante esta altura, e esta é aparentemente a razão pela qual a epístola lhe foi mais tarde atribuída. Os Cristãos fundamentalistas acreditam que a epístola foi de fato escrita em 96 D.E.C. Esta data não é possível dado que a epístola se refere a bispos e a padres como grupos separados, uma divisão que não tinha ainda tomado lugar. Considerações estilísticas mostram que foi escrita em c. 125 D.E.C.

Como referências, usa a Epístola aos Hebreus e a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, mas nenhuma legítima fonte histórica. A Segunda Epístola de S. Clemente é de um autor diferente do primeiro e foi escrita mais tarde. Podemos então concluir que também não foi escrita por S. Clemente (não há evidências de que qualquer uma destas epístolas tenham sido atribuídas a S. Clemente antes da sua incorporação na coleção de livros conhecida como o Codex Alexandrinus, no século quinto D.E.C.)

Como fontes para Jesus, a Segunda Epístola de S. Clemente usa o Evangelho dos Egípcios, um documento que é rejeitado até pelos mais

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fundamentalistas Cristãos, e também os livros do Novo Testamento que mostrei não ter valor algum. Assim, e uma vez mais, não temos nenhuma legítima evidência de Jesus.

A seguir, temos as epístolas escritas no nome de Inácio. De acordo com

a lenda, St. Inácio era o bispo de Antioquia que foi morto durante o reinado de Trajano c. 110 D.E.C. (apesar de ele ser provavelmente baseado numa personagem histórica real, as lendas sobre o seu martírio são largamente ficcionais.)

Existem quinze epístolas escritas no seu nome. Destas, oito são unanimemente reconhecidas como sendo pseudepigráficas e de nenhum valor no que se refere a Jesus. As restantes sete têm cada uma duas formas, uma maior e outra menor. As formas maiores são claramente edições alteradas e revistas das formas menores. Os fundamentalistas Cristãos clamam que as formas menores são as cartas genuínas escritas por St. Inácio.

A Epístola de St. Inácio aos Esmirnenses menciona a tripla ordenação de bispos, padres e diáconos, que ainda não tinha tido lugar quando da morte de St. Inácio, que ocorreu o mais tardar em 117 D.E.C.,. e que provavelmente aconteceu c. 110 D.E.C.

Todas as sete pequenas epístolas atacam várias crenças Cristãs, hoje consideradas heréticas, que só se tornou prevalecente c. 140 – 150 D.E.C. A Epístola de St. Inácio aos Romanos menor contém uma citação dos escritos de St. Ireneu, escrito depois de 170 D.E.C. e publicada c. 185 D.E.C. Podemos então concluir que as sete epístolas menores são também pseudepigráficas.

A Epístola de St. Inácio aos Romanos menor foi certamente escrita depois de 170 D.E.C. (de fato, se não foi escrita por St. Ireneu então foi provavelmente escrita depois de c. 185 D.E.C.) e as outras seis foram escritas não antes do período c. 140 – 150 D.E.C., se não mais tarde. Não há fontes para Jesus nas epístolas de St. Inácio que não sejam os livros do Novo Testamento e os escritos de St. Ireneu, que apenas usa o Novo Testamento. Portanto, elas contêm nenhuma evidência legítima para Jesus.

Há também mais duas epístolas que os Cristãos afirmam serem cartas genuínas, a saber, a Epístola de S. Policarpo e o Martírio de S. Policarpo. As epístolas de St. Inácio e as epístolas que dizem respeito a S. Policarpo foram sempre estreitamente associadas. É provável que tenham todas sido escritas pelo escritor Cristão St. Ireneu e seus discípulos. Houve certamente uma primitiva personagem histórica real Cristã chamada Policarpo. Ele foi bispo de Esmirna e foi morto pelos Romanos provavelmente no período de 155 – 165 D.E.C. Quando St. Ireneu era um rapaz, conheceu S. Policarpo.

Fundamentalistas Cristãos afirmam que S. Policarpo era o discípulo do apóstolo S. João. No entanto, mesmo que aceitemos a lenda de que S. Policarpo tenha vivido até à idade de 86 anos, ele não poderia ter nascido antes de 67 D.E.C., e portanto não poderia ter sido discípulo de S. João (é possível que tenha sido discípulo do enigmático João, o Ancião.)

Como St. Ireneu tinha conhecido S. Policarpo, também assumiram que St. Ireneu era de fato seu discípulo, uma pretensão para a qual não há evidências. A Epístola de S. Policarpo usa a maior parte dos livros do Novo Testamento e as epístolas de St. Inácio como referências, mas não usa fontes legítimas para Jesus. Os Cristãos que rejeitam as epístolas de St. Inácio mas que acreditam ser a Epístola de S. Policarpo uma carta genuína afirmam que

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as referências às epístolas de Inácio são uma inserção tardia. Esta idéia é baseada em inclinações pessoais, e não em nenhuma evidência genuína.

Baseada numa crença cega que a epístola é uma carta genuína, alguns Cristãos datam-na de meados do segundo século D.E.C., pouco antes da morte de S. Policarpo. No entanto, as referências às epístolas de St. Inácio sugere que foi de fato escrita pelo menos durante as últimas décadas do segundo século D.E.C., pelo menos cerca de uma década depois da morte de Policarpo, se não mais tarde.

O Martírio de S. Policarpo é escrito em nome da “Igreja de Deus que estadia em Esmirna”. Começa na forma de carta, mas o seu corpo principal é escrito na forma de uma história vulgar. Fala-nos do conto do martírio de S. Policarpo. Tal como a Epístola de S. Policarpo, foi escrita durante as últimas décadas do segundo século D.E.C. Infelizmente, não existe evidência de que tenha usado quaisquer fontes de confiança para a sua história, apenas rumores e boatos. De fato, a história parece ser altamente ficcional. As referências a Jesus não são tiradas de qualquer fonte de confiança. Assim, vimos que as epístolas usadas pelos missionários como “evidências” são tão ilegítimas como os evangelhos.

Ainda assim, o leitor deve ter em atenção as traduções fáceis de

entender do Novo Testamento, dado que elas chamam ás epístolas “cartas”, e portanto implicando incorretamente que elas são na verdade cartas escritas pelas pessoas das quais levaram o nome.

Agora, além dos livros do Novo Testamento, e além das epístolas relativas a S. Clemente, St. Inácio e S. Policarpo, há ainda mais um trabalho religioso Cristão que os Cristãos afirmam ser uma evidência histórica de Jesus, a saber, os Ensinamentos dos Doze Apóstolos, também conhecido como o Didache. Todos os outros trabalhos religiosos Cristãos primitivos ou são totalmente rejeitados pelos Cristãos modernos ou pelo menos reconhecidos como não sendo fontes primárias no que respeita a Jesus.

O Didache começou como documento sectário Judeu, provavelmente escrito durante o período de tumulto em c. 70 D.E.C. A sua forma primitiva consistia em ensinamentos morais e predições da destruição da corrente ordem mundial. Esta primeira versão, que obviamente não mencionava Jesus, foi tomada pelos Cristãos, que o reviram e alteraram bastante, adicionando uma história de Jesus e regras de culto para as primeiras comunidades Cristãs.

Os estudiosos estimam que a primeira versão Cristã do Didache não poderia ter sido escrita muito depois de 95 D.E.C. Provavelmente só chegou à sua forma final por volta c. 120 D.E.C.

Parece ter servido uma comunidade Cristã isolada na Síria como uma “Ordem da Igreja” durante o período c. 100 – 130 D.E.C. No entanto, não há evidências de que a sua história de Jesus tenha sido baseada em qualquer fonte de confiança, e como havemos mencionado, a primitiva versão Judaica não tinha nada a haver com Jesus.

De fato, este documento providencia informação de que o mito de Jesus cresceu gradualmente. Tal como o Evangelho segundo S. Marcos e as primeiras versões do Evangelho segundo S. Mateus, a história de Jesus no Didache não faz menção de um nascimento de uma virgem. Não faz menção dos fantásticos milagres que foram mais tarde atribuídos a Jesus. Apesar de

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Jesus ser referido como “filho” de Deus, parece que este termo é usado simbolicamente.

A evidência que temos em relação à origem do mito da crucificação sugere que uma das coisas que levou a este mito era o fato da cruz ser o símbolo astrológico do Equinócio Vernal, que ocorre perto da Passagem, quando se acredita que Jesus tenha sido morto. Assim, não é de surpreender que a história no Didache não mencione Jesus sendo crucificado, apesar de mencionar uma cruz no céu como símbolo de Jesus.

Os doze apóstolos mencionados no título do Didache não aparecem como doze reais discípulos de Jesus, e o termo refere-se claramente aos doze filhos de Jacob que representam as doze tribos de Israel. Assim, o Didache providencia pistas vitais no que respeita ao crescimento do mito de Jesus, mas certamente não providencia qualquer evidência de um Jesus histórico.

Dado que nenhum dos textos religiosos Cristãos providencia nenhuma evidência aceitável de Jesus, os defensores do cristianismo voltam-se a seguir para textos não-Cristãos. Os Cristãos afirmam que vários historiadores de confiança registraram informação acerca de Jesus. Apesar de alguns destes historiadores serem mais ou menos aceites, veremos que não eles não providenciam qualquer informação acerca de Jesus.

Primeiramente, os Cristãos afirmam que o historiador Judeu Flávio Josefo registrou informações acerca de Jesus no seu livro Antiguidades Judaicas (publicado c. 93 – 94 D.E.C.) É verdade que este livro contém informações sobre os três falsos Messias,Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio, e é verdade que a personagem de Jesus parece ser baseada em todos eles, mas nenhum deles pode ser considerado como o Jesus histórico. Além do mais, no livro dos Atos dos Apóstolos, estas pessoas são mencionadas como sendo pessoas diferentes de Jesus, e assim o Cristianismo moderno rejeita alguma relação entre eles e Jesus.

Nas edições Cristãs revistas das Antiguidades Judaicas, há duas

passagens que se referem a Jesus como está retratado nos trabalhos religiosos Cristãos. Nenhuma destas passagens são encontradas na versão original das Antiguidades Judaicas, que foi preservada pelos Judeus.

A primeira passagem (XVII,3,3) foi citada pela escrita de Eusebius em c. 320 D.E.C., e portanto podemos concluir que foi adicionada provavelmente entre o tempo em que os Cristãos detiveram as Antiguidades Judaicas e c. 320 D.E.C. Não é conhecido quando a outra passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das passagens é baseada em qualquer fonte de confiança. É fraudulento afirmar que estas passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que elas providenciam evidências para Jesus. Elas foram escritas por redatores Cristãos e são baseadas puramente na crença Cristã.

A seguir, os Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV, 44, Tácito descreve como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64 D.E.C. Ele menciona que o nome “Cristãos” era originário de uma pessoa chamada Christus, que tinha sido executada por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. É certamente verdade que o nome “Cristãos” é derivado de Cristo ou Christus (= Messias), mas a afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos durante o reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos próprios Cristãos e que apareciam nos Evangelho

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segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, que já tinham tido extensa circulação quando os Anais estavam a ser escritos (os Anais foram publicados depois de 115 D.E.C. e certamente não antes de 110 D.E.C.)

Portanto, embora os Anais contenham uma frase na qual se fala de “Christus” como uma verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e crenças Cristãs, que não têm nenhum valor histórico.

É bastante irônico que os modernos Cristãos usem Tácito para suportarem as suas crenças dado que ele era o menos exato de todos os historiadores Romanos. Ele justifica o ódio aos Cristãos dizendo que eles cometiam abominações. Além de “Christus”, ele também fala de outros deuses pagãos como se eles realmente existissem. O seu sumário da História do Médio Oriente no seu livro Histórias é tão distorcido que é ridículo. Podemos concluir que a sua única menção de Christus não pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus histórico.

Uma vez que Tácito pode ser rejeitado, os Cristãos afirmarão que uma das cartas dePlínio, o Jovem ao imperador Trajano providencia evidências de um Jesus histórico (Cartas X,96.) Isto é um disparate. A carta em questão simplesmente menciona que certos Cristãos tinham amaldiçoado “Cristo” para evitarem serem castigados. Não afirma que este Cristo realmente tenha existido.

A carta em questão foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 D.E.C., mas depois de ele ser mandado para Bitínia em 111 D.E.C., provavelmente no ano 112 D.E.C. Assim, ela providencia nada mais que uma confirmação do fato trivial de que à volta do começo da décima segunda década D.E.C. os Cristãos normalmente não amaldiçoavam algo chamado “Cristo” apesar de alguns o terem feito para evitarem o castigo. Não providencia nenhuma evidência de um Jesus histórico.

Os Cristãos irão também afirmar que Suetônio registrou evidências de Jesus no seu livroAs Vidas dos Imperadores (também conhecido como Os doze Césares.) A passagem em questão é Cláudio 25, onde menciona que o imperador Cláudio expulsou os Judeus de Roma (aparentemente em 49 D.E.C.) porque eles causavam distúrbios contínuos instigados por um certo Chrestus. Se assumirmos cegamente que “Chrestus” se refere a Jesus, então esta passagem contradiz a história Cristã de Jesus dado que Jesus foi supostamente crucificado quando Pôncio Pilatos era procurador (26 – 46 D.E.C.) durante o reinado de Tibério, e além do mais, ele nunca foi suposto que ele tenha ido à Roma!

Suetônio viveu durante o período c. 75 – 150 D.E.C., e o seu livro, As Vidas dos Imperadores, foi publicado durante o período 119 – 120 D.E.C., tendo sido escrito algum tempo depois da morte de Domiciano em 96 D.E.C. Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos 45 anos antes de ele ter escrito sobre isso, e assim não podemos ter a certeza da sua exatidão.

O nome Chrestus é derivado do Grego Chrestos, que significa “o bom” e não é o mesmo que Christ ou Christus que são derivados do Grego Christos, que significa “o ungido/Messias”. Se tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela refere-se a uma pessoa chamada Chrestus que estava em Roma e que não tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer outro “Cristo”. O termo Chrestos era muito aplicado para os deuses pagãos e muitas das pessoas em Roma chamados “Judeus” eram na verdade pessoas que misturavam crenças

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Judaicas com crenças pagãs e que não eram necessariamente de descendência Judaica. Assim, é também possível que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes “Judeus” pagãos que adoravam um deus pagão (como Sebazios) de título Chrestos.

Por outro lado, as palavras Chrestos e Christos eram muitas vezes

confundidas, e assim a passagem poderia até referir-se a algum conflito envolvendo Judeus que acreditavam que alguma pessoa era o Messias, e que esta pessoa poderia ou não ter ido a Roma, e por tudo o que sabemos, ela poderia não ter sido uma verdadeira personagem histórica. Deve-se ter em memória que o evento descrito aconteceu somente alguns anos após a crucificação do falso Messias Theudas em 44 D.E.C. e que a passagem pode se referir aos seus seguidores em Roma.

Os Cristãos afirmam que a passagem se refere a Jesus e aos conflitos que nasceram depois de S. Paulo ter trazido notícias dele a Roma, e que Suetônio apenas se enganou sobre o próprio Jesus ter estado em Roma. No entanto, esta interpretação é baseada na crença cega em Jesus e nos mitos de S. Paulo e não há nada que sugira ser esta a interpretação correta. Assim, podemos concluir que Suetônio também falha em providenciar qualquer evidência de um Jesus histórico.

Todos os outros escritores que mencionam Jesus, desde S. Justino, o Mártir no segundo século D.E.C. aos últimos intérpretes do mito Cristão no século vinte, basearam todos as suas referências a Jesus nas fontes desacreditadas acima. Conseqüentemente, as suas pretensões não têm nenhum valor como evidências históricas.

Fica então com a conclusão que de que não há absolutamente nenhuma evidência histórica de confiança e aceitável. Todas as referências a Jesus são derivadas das crenças supersticiosas e mitos da comunidade Cristã primitiva. A maioria destas crenças apenas apareceram após a perseguição de Nero e a tragédia de 70 D.E.C. Muitas destas crenças são baseadas nas lendas pagãs acerca dos deuses Tammuz, Osíris, Attis, Dioniso e o deus sol Mithras.

Outros mitos sobre Jesus parecem ser baseados em diferentes e variadas personagens históricas tais como os criminosos condenados Yeishu ben Pandeira e ben Stada, e os falsos Messias crucificados Yehuda, Theudas e Benjamim, mas nenhuma destas pessoas pode ser considerada como um Jesus.

E qual é o fundamento sobre o qual foi criada a religião cristã? Nada tem de positivo, palpável ou verdadeiro. É apenas uma lenda o nascimento de Jesus, como toda a vida e os atos a ele imputados. Aqueles que criaram o cristianismo sequer primaram pela originalidade, visto que a lenda que envolve a personalidade de Jesus Cristo é apenas cópia de tantas outras que relatam o nascimento e tudo que se referiu aos deuses criados pelos antigos, tais como Ísis, Osíris, Hórus, Átis, Apolo, Mitra, etc.

O homem do nosso século tem, forçosamente, que ser prático. Daí, não poderá fundamentar os atos de sua vida em lendas ou mitos. As lendas possuem, evidentemente, um grande valor, fazem parte do folclore dos povos, influenciando na formação de suas culturas. Entretanto, o seu valor cultural não deve ultrapassar o limite lógico e aceitável.

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Jesus Cristo nunca existiu Os pesquisadores que se dedicaram ao estudo das origens do

cristianismo sabem que desde o segundo século de nossa era tem sido posta em dúvida a existência de Cristo. Muitos até mesmo entre os cristãos procuram provas históricas e materiais para fundamentar sua crença. Infelizmente, para eles e sua fé, tal fundamento jamais foi conseguido, e a história cientificamente elaborada denota que a existência de Jesus é real apenas nos escritos e testemunhas daqueles que tiveram interesse religioso e material em prová-la. Desse modo a existência, a vida e a obra de Jesus carecem de provas indiscutíveis.

Nem mesmo os Evangelhos constituem documento confiável. As bibliotecas e museus guardam escritos e documentos de autores que teriam sido contemporâneos de Jesus e que não fazem qualquer referência ao mesmo. Por outro lado, a ciência histórica tem se recusado a dar crédito aos documentos oferecidos pela Igreja, com intenção de provar a existência física desta figura. Ocorre que tais documentos, originariamente, não mencionavam sequer o nome de Jesus; todavia, foram falsificados, rasurados e adulterados visando suprir a ausência de documentação verdadeira. Por outro lado, muito do que foi escrito para provar a inexistência de Jesus Cristo foi destruído pela Igreja, defensivamente. Assim é que, por falta de documentos verdadeiros e indiscutíveis, a existência de Jesus tem sido posta em dúvida desde os primeiros séculos desta era, apesar de ter a Igreja tentado destruir a tudo e a todos os que ousaram contestar os seus pontos de vista, os seus dogmas.

Por tudo isso é que o Papa Pio XII, em 1955, falando para um Congresso Internacional de História em Roma, disse: “Para os cristãos, o problema da existência de Jesus Cristo concerne à fé, e não à história”. Emílio Bossi, em seu livro intitulado “Jesus Cristo Nunca Existiu”, compara Jesus Cristo a Sócrates, que igualmente nada deixou escrito. No entanto, faz ver que Sócrates só ensinou o que é natural e racional, ao passo que Jesus teria se preocupado apenas com o sobrenatural. Sócrates teve como discípulos pessoas naturais, de existência comprovada, cujos escritos, produção cultural e filosófica passaram à história como Platão, Xenófanes, Euclides, Esquino, Fédon. Enquanto isso, Jesus teria por discípulos alguns homens analfabetos como ele próprio teria sido, os quais apenas repetiriam os velhos conceitos e preconceitos talmúdicos.

Sócrates, que viveu 5 séculos antes de Cristo e nada escreveu, jamais teve sua existência posta em dúvida. Jesus Cristo, que teria vivido tanto tempo depois, mesmo nada tendo escrito, poderia apesar disso ter deixado provas de sua existência. Todavia, nada tem sido encontrado que mereça fé. Seus discípulos nada escreveram. Os historiadores não lhe fizeram qualquer alusão. Além disso, sabemos que, desde o Século II, os judeus ortodoxos e muitos homens cultos começaram a contestar a veracidade de existência de tal ser, sob qualquer aspecto, humano ou divino. Estavam, assim, os homens divididos em duas posições: a dos que, afirmando a realidade de sua existência, divindade e propósitos de salvação, perseguiam e matavam impiedosamente aos partidários da posição contrária, ou seja, àqueles cultos e audaciosos que tiveram a coragem de contestá-los.

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O imenso poder do Vaticano tornou a libertação do homem da tutela religiosa difícil e lenta. O liberalismo que surgiu nos últimos séculos contribuiu para que homens cultos e desejosos de esclarecer a verdade tentassem, com bastante êxito, mostrar a mistificação que tem sido a base de todas as religiões, inclusive do cristianismo. Surgiram também alguns escritos elucidativos, que por sorte haviam escapado à caça e à queima em praça pública. Fatos e descobertas desta natureza contribuíram decisivamente para que o mundo de hoje tenha uma concepção científica e prática de tudo que o rodeia, bem como de si próprio, de sua vida, direitos e obrigações.

A sociedade atualmente pode estabelecer os seus padrões de vida e moral, e os seus membros podem observá-los e respeitá-los por si mesmos, pelo respeito ao próximo e não pelo temor que lhes incute a religião. Contudo, é lamentavelmente certo que muitos ainda se conservam subjugados pelo espírito de religiosidade, presos a tabus caducos e inaceitáveis. Jesus Cristo foi apenas uma entidade ideal, criada para fazer cumprir as escrituras, visando dar seqüência ao judaísmo em face da diáspora, destruição do templo e de Jerusalém. Teria sido um arranjo feito em defesa do judaísmo que então morria, surgindo uma nova crença. Ultimamente, têm-se evidenciado as adulterações e falsificações documentárias praticadas pela Igreja, com o intuito de provar a existência real de Cristo.

Modernos métodos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica e muitos outros, denunciaram a má fé dos que implantaram o cristianismo sobre falsas bases com uma doutrina tomada por empréstimos de outros mais vivos e inteligentes do que eles, assim como denunciaram os meios fraudulentos de que se valeram para provar a existência do inexistente.

É de se supor que, após a fuga da Ásia Central, com o tempo os judeus foram abandonando o velho espírito semita, para irem-se adaptando às crenças religiosas dos diversos povos que já viviam na Ásia Menor. Após haverem passado por longo período de cativeiro no Egito, e, posteriormente, por duas vezes na Babilônia, não estranhamos que tenham introduzido no seu judaísmo primitivo as bases das crenças dos povos com os quais conviveram. Sendo um dos povos mais atrasados de então, e na qualidade de cativos, por onde passaram, salvo exceções, sua convivência e ligações seria sempre com a gente inculta, primária e humilde. Assim é que, em vez de aprenderem ciências como astronomia, matemática, sua impressionante legislação, aprenderam as superstições do homem inculto e vulgar.

Quando cativos na Babilônia, os sacerdotes judeus que constituíram a nata do seu meio social, nas horas vagas, iriam copiando o folclore e tudo o que achassem de mais interessante em matéria de costumes e crenças religiosas, do que resultaria mais tarde compendiarem tudo em um só livro, o qual recebeu o nome de Talmud, o livro do saber, do conhecimento, da aprendizagem. Por uma série de circunstâncias, o judeu foi deixando, aos poucos, a atividade de pastor, agricultor e mesmo de artífice, passando a dedicar-se ao comércio. A atividade comercial do judeu teve início quando levados cativos para a Babilônia, por Nabucodonosor, e intensificou-se com o decorrer do tempo, e ainda mais com a perseguição que lhe moveria o próprio cristianismo, a partir do século IV.

Daí em diante, a preocupação principal do povo judeu foi extinguir de seu meio o analfabetismo, visando com isso o êxito de seus negócios. Deve-se a este fato ter sido o judeu o primeiro povo no meio do qual não haveria

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nenhum analfabeto. Assim, chegando a Roma e a Alexandria, encontrariam ali apenas a prática de uma religião de tradição oral, portanto, terreno propício para a introdução de novas superstições religiosas. Dessa conjuntura é que nasceu o cristianismo, o máximo de mistificação religiosa de que se mostrou capaz a mente humana. O judeu da diáspora conseguiu o seu objetivo. Com sua grande habilidade, em pouco tempo o cristianismo caiu no gosto popular, penetrando na casa do escravo e de seu senhor, invadindo inclusive os palácios imperiais. Crestus, o Messias dos essênios, pelo qual parece terem optado os judeus para a criação do cristianismo, daria origem ao nome de Cristo, cristão e cristianismo.

Os essênios haviam se estabelecido numa instituição comunal, em que

os bens pessoais eram repartidos igualmente para todos e as necessidades de cada um tornavam-se responsabilidade de todos. Tal ideal de vida conquistaria, como realmente aconteceu, ao escravo, a plebe, enfim, a gente humilde. Daí, a expansão do cristianismo que, nada tendo de concreto, positivo e provável, assumiu as proporções de que todos temos conhecimento. Não tendo ficado restrita à classe inculta e pobre, como seria de se pensar, começou a ganhar adeptos entre os aristocratas e bem-nascidos.

De tudo o que dissemos, depreende-se que o cristianismo foi uma religião criada pelos judeus, antes de tudo como meio de sobrevivência e enriquecimento. Tudo foi feito e organizado de modo a que o homem se tornasse um instrumento dócil e fácil de manejar, pelas mãos hábeis daqueles aos quais aproveita a religião como fonte de rendimentos. Métodos modernos como, por exemplo, o método comparativo de Hegel, a grafotécnica, o uso dos isótopos radioativos e radiocarbônicos, denunciaram a má fé daqueles que implantaram o cristianismo, falsificando escritos e documentos na vã tentativa de provar o que lhe era proveitoso. Por meios escusos tais como os citados, a Igreja tornou-se a potência financeira em que hoje se constitui.

Finalmente, desde o momento em que surgiu a religião, com ela veio o sacerdote que é uma constante em todos os cultos, ainda que recebam nomes diversos. A figura do sacerdote encarregado do culto divino tem tido sempre a preocupação primordial de aterrorizar o espírito dos povos, apresentando-lhes um Deus onipotente, onipresente e, sobretudo, vingativo, que a uns premia com o Paraíso e a outros castiga com o Inferno de fogo eterno, conforme sejam boas ou más suas ações. No cristianismo, encontraremos sempre o sacerdote afirmando ter o homem uma alma imortal, a qual responderá após a morte do corpo, diante de Deus, pelas ações praticadas em vida. Como se tudo não bastasse, o Paraíso e o Inferno, há ainda que considerar a admissão do pecado original, segundo o qual todos os homens ao nascer, o traz consigo. Ora, ninguém jamais foi consultado a respeito de seu desejo ou não de nascer.

Assim sendo, como atribuir culpa de qualquer natureza a quem não teve a oportunidade de manifestar vontade própria. Quanta injustiça! Condenar inocentes por antecipação. O próprio Deus e o próprio Cristo certamente se revoltariam diante de tão injusta legislação, se ao menos existissem.

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As provas e as contra provas A Igreja serviu-se de farta documentação, conforme já mencionamos

anteriormente, com intenção de provar a existência de Cristo. No entanto, a história ignora-o completamente. Quanto aos autores profanos que pretensamente teriam escrito a seu respeito, foram nesta parte falsificados. Por outro lado, documentos históricos demonstram sua inexistência. As provas históricas merecem nosso crédito, porque pertencem à categoria dos fatos certos e positivos, e constituem testemunhos concretos e válidos de escritores de determinadas escolas.

A interpretação da Bíblia e da mitologia comparada não resiste a uma confrontação com a história. Flávio Josefo, Justo de Tiberíades, Filon de Alexandria, Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem, teriam feito em seus escritos, referências a Jesus Cristo. Todavia, tais escritos após serem submetidos a exames grafotécnicos, revelaram-se adulterados no todo ou em parte, para não se falar dos que foram totalmente destruídos. Além disso, as referências feitas a Crestus, Cristo ou Jesus, não são feitas exatamente a respeito do Cristo dos Cristãos.

Seria mesmo difícil estabelecer qual o Cristo seguido pelos cristãos, visto que esse era um nome comum na Galiléia e Judéia. Segundo Tácito, judeus e egípcios foram expulsos de Roma por formarem uma só e mística superstição cristã. As expulsões ocorreram duas vezes no tempo de Augusto e a terceira vez no governo de Tibério, no ano 19 desta era. Tais expulsões desmentem a existência de Jesus, porquanto, ocorreram quando ainda o nome de cristão aplicava-se a superstição judaico-egípcia, a qual se confundiu com o cristianismo.

Filon de Alexandria, apesar de ter contribuído poderosamente para a formação do cristianismo, seu testemunho é totalmente contrário à existência de Cristo. Filon havia escrito um tratado sobre o Bom Deus “Serapis”, tratado este que foi destruído. Os evangelhos cristãos se assemelham muito a ele, e os falsificadores não hesitaram em atribuir as referências como sendo feitas a Cristo.

Os historiadores mostram que essa religião nasceu em Alexandria, e não em Roma ou Jerusalém. Fazem ver que ela nasceu das idéias de Filon que, platonizando e helenizando o judaísmo, escreveu boa parte do Apocalipse. A mesma transformação que o cristianismo dera ao judaísmo ao introduzir-lhe o paganismo e a idolatria, Filon imprimira nessa crença, até então apenas terapeuta, dando-lhe feição grega, de cunho platônico. Embora tenha sido de certo modo o precursor do cristianismo, não deixou a menor prova de ter tomado conhecimento da existência de Jesus Cristo, o mago rabi, e isto é lógico porque o cristianismo só iria ser elaborado muito depois de sua morte. Bastaria o silêncio de Filon para provar estarmos diante de uma nova criação mitológica, de cunho metafísico. Entretanto, escrevendo como cristão, os lançadores do cristianismo louvaram-se nas suas idéias e escritos.

Tivesse Jesus realmente existido, jamais Filon deixaria de falar em seu nome, descreveria certamente sua vida miraculosa. Filon relata os principais acontecimentos de seu tempo, do judaísmo e de outras crenças, não mencionando, porém, nada sobre Jesus. Cita Pôncio Pilatos e sua atuação como Procurador da Judéia, mas não se refere ao julgamento de Jesus a que ele teria presidido. Fala igualmente dos essênios e de sua doutrina comuna

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dizendo tratar-se de uma seita judia, com mosteiro à margem do Jordão, perto de Jerusalém. Quando no reinado de Calígula esteve em Roma defendendo os judeus, relata diversos acontecimentos da Palestina, mas não menciona nada a respeito de Jesus, seus feitos ou sua sorte e destino.

Filon, que foi um dos judeus mais ilustres de seu tempo, e sempre esteve em dia com os acontecimentos, jamais omitiria qualquer notícia acerca de Jesus, cuja existência, se fosse verdadeira, teria abalado o mundo de então. Impossível admitir-se tal hipótese, portanto. Por isso é que M. Dide fez ver que, diante do silêncio de homens extraordinários como Filon, os acontecimentos narrados pelos evangelistas não passam de pura fantasia religiosa. Seu silêncio é a sentença de morte da existência de Jesus. O mesmo silêncio se estende aos apóstolos, assinala Emílio Bossi. Evidencia que tudo quanto está contido nos Evangelhos refere-se a personalidades irreais, ideais, sobrenaturais de inexistentes taumaturgos.

O silêncio de Filon e de outros se estende não apenas a Jesus, mas também aos seus pretensos apóstolos, a José, a Maria, seus filhos e toda a sua família. Flávio Josefo, tendo nascido no ano 37, e escrevendo até 93 sobre judaísmo, cristianismo terapeuta, messias e Cristos, nada disse a respeito de Jesus Cristo. Justo de Tiberíades, igualmente não fala em Jesus Cristo, conquanto houvesse escrito uma história dos judeus, indo de Moisés ao ano 50. Ernest Renan, em sua obra “Vie de Jesus”, apesar de ter tentado biografar Jesus, reconhece o pesado silêncio que fizeram cair sobre o pretenso herói do cristianismo. Os Gregos, os romanos e os hindus dos séculos I e II jamais ouviram falar na existência física de Jesus Cristo.

Nenhum dos historiadores ou escritores, judeus ou romanos, os quais viveram ao tempo em que pretensamente teria vivido Jesus, ocupou-se dele expressamente. Nenhum dedicou-lhe atenção. Todos foram omissos quanto a qualquer movimento religioso ocorrido na Judéia, chefiado por Jesus. A história não só contesta a tudo o que vem nos Evangelhos, como prova que os documentos em que a Igreja se baseou para formar o cristianismo foram todos inventados ou falsificados no todo ou parte, para esse fim.

A Igreja sempre dispôs de uma equipe de falsários, os quais dedicaram-se afanosamente a adulterar e falsificar os documentos antigos com o fim de pô-los de acordo com os seus cânones. O piedoso e culto bispo de Cesaréia, Eusébio, como muitos outros tonsurados, receberam ordens papais para realizar modificações em importantes papéis da época, adulterando-os e emendando-os segundo suas conveniências. Graças a esses criminosos arranjos, a Igreja terminaria autenticando impunemente sua novela religiosa sobre Jesus Cristo, sua família, seus discípulos e o seu tempo. Conan Doyle imortalizou o seu personagem, Sherlock Holmes, assim como Goethe ao seu Werther. Deram-lhes vida e movimento como se fossem pessoas reais, de carne e ossos. Muitos outros escritores imortalizaram-se também através de suas obras, contudo, sempre ficou patente serem elas pura ficção, sem qualquer elo que as ligue com a vida real. Produzem um trabalho honesto e honrado aqueles que assim procedem, ao contrário daqueles que deturpam os trabalhos assinados por eminentes escritores, com o objetivo premeditado de iludir a boa fé do próximo. E procedimento que, além de criminoso, revela a incapacidade intelectual daqueles que precisam se valer de tais meios para alcançar seus escusos objetivos.

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Berson, citado por Jean Guitton em “Jesus”, disse que a

inigualável humildade de Jesus dispensaria a historicidade; entretanto, erigiu os Evangelhos como documento indiscutível como prova, o que a ciência histórica de hoje rejeita. Só depois de muitos anos é que se tornaria indiferente para com a pirracenta crença religiosa dos seus antepassados, como aconteceu com mentes excepcionalmente cultas, tornadas ilustres pelo saber e pelo conhecimento e não apenas pelo dinheiro. Diante da história, do conhecimento racional e científico que presidem aos atos da vida humana, muitos já se convenceram da primária e irreal origem do cristianismo, o qual nada mais é do que uma síntese do judaísmo com o paganismo e a idolatria greco-romana do século I.

Graças ao trabalho de notáveis mestres de Filosofia e Teologia da Escola de Tübíngen, na Alemanha, ficou provado que os Evangelhos e mesmo toda a Bíblia não possuem valor histórico, pondo-se em dúvida conseqüentemente tudo quanto a Igreja impôs como verdade sobre Jesus Cristo. Tudo o que consta dos Evangelhos e do Novo Testamento são apenas arranjos, adaptações e ficções, como o próprio Jesus Cristo o foi. Através da pesquisa histórica e de exames grafotécnicos ficou evidenciado que os escritos acima referidos são apócrifos. De sorte que, não servindo como documentos autênticos, devem ser rejeitados pela ciência. Jean Guitton diz que o problema de Jesus varia e acordo com o ângulo sob o qual seja examinado: histórico, filosófico ou teológico. A história exige provas reais, segundo as quais se evidenciem os movimentos da pessoa ou do herói no palco da vida humana, praticando todos os atos a ela concernentes, em todos os seus altos e baixos.

Pierre Couchoud, igualmente citado por Guitton, sendo médico e filósofo, considerou Jesus como tendo sido “a maior existência que já houve, o maior habitante da terra”, entretanto, acrescentou: “não existiu no sentido histórico da palavra: não nasceu. Não sofreu sob Pôncio Pilatos, sendo tudo uma fabulação mítica”. A passagem de Jesus pela terra seria o milagre dos milagres: “o continente, embora fosse o menor, contivera o conteúdo, que era o maior!” A Filosofia quer fatos para examinar e explicar à luz da razão, generalizando-o.

No que se refere à existência de Jesus, é patente a impossibilidade de generalização, porquanto, na qualidade de mito, como os milhares que o antecederam, sua personalidade é apenas fictícia, por conseguinte, nenhum material pode oferecer à Filosofia para ser sistematizado, aprofundado ou explicado. No tocante à Teologia, cabe-lhe apenas a parte doutrinária acerca das coisas divinas. A ela, interessa apenas incutir nas mentes os seus princípios sem, contudo, procurar neles o que possa existir de concreto, o que inclusive seria contrário aos interesses materiais, daqueles aos quais aproveita a religião.

Os Enciclopedistas mostraram como eram tolos e irracionais os dogmas da Igreja, lembrando ainda que ela era um dos mais fortes pilares do feudalismo escravocrata. Voltaire mostrou as coincidências entre o Evangelho de João e os escritos de Filon, lembrando ter sido ele um filósofo grego de ascendência judia, cujo pai, um outro judeu culto, teria sido contemporâneo de Jesus, se ele tivesse realmente existido. A filosofia religiosa de Filon era a mesma do cristianismo, tanto que inicialmente foi cogitada sua inclusão entre os fundadores da nova crença. Contudo, após exame rigoroso de sua obra,

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foram encontradas idéias opostas aos interesses materiais dos lideres cristãos da época.

Devemos aos Enciclopedistas, bem como a Voltaire, o incentivo para que muitos pensadores futuros pudessem desenvolver um trabalho livre, na pesquisa da verdade. As convicções de Voltaire são o fruto de profundo estudo das obras de Filon. Os racionalistas, posteriormente, servindo-se de seus escritos, concluíram que a Igreja criou seus dogmas de acordo com a lenda e o mito, impondo-os a ferro e fogo. Bauer, aplicando os princípios hegelianos na Universidade de Tübingen, concluiu que os Evangelhos haviam sido escritos sob a influência judia, de acordo com seu gosto.

Posteriormente, interesses materiais e políticos motivaram alterações nos mesmos. Em vista de tais interesses é que Pedro, o pregador do cristianismo nascente, que era pró-judeu, teve de ser substituído por Paulo, favorável aos romanos. E Marcião teria sido o autor dos escritos atribuídos ao inexistente Paulo. O mérito da Escola de Tübingen consiste em haver provado que os Evangelhos são apócrifos, e assim não servem como documento aceitável pela história. Levando ao conhecimento do mundo livre que os fundamentos do cristianismo são mistificações puras, os mestres da referida Escola abalaram os alicerces de uma empresa, que há séculos explora a humanidade crente, vendendo o nome de Deus a grosso e a varejo.

Tudo leva a crer que, no futuro, o conhecimento científico exigirá bases sólidas para todas as coisas, quando então as religiões não mais prevalecerão, porquanto, não poderão contribuir para a ciência ou para a história, com qualquer argumento sólido e fiel. Ademais, não parece lógico que o homem atual, o qual já atingiu um tão elevado nível de desenvolvimento, o que se verifica em todos os setores do conhecimento, tais como científico, tecnológico e filosófico, permaneça preso a crenças em deuses inexistentes, em mitos e tabus.

Diz-se que a Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, do qual se valem eles para provar a existência de seu Deus e Jesus Cristo, seu filho unigênito, foi escrito sob a inspiração divina. O Próprio Deus teria escrito, através de homens inspirados por ele, claro. A doutrina cristã ensina que Deus, além de onipotente, é onipresente e onisciente. Sendo dotado de tais atributos “onisciência e onipresença”, seria de se esperar que Deus, ao ditar aos homens inspirados o que deveriam escrever, não se restringisse apenas ao relato das coisas, fatos ou lugares então conhecidos pelos homens.

Sendo onipresente, deveria estar no universo inteiro. Conhecê-lo e levá-lo ao conhecimento dos homens, e não apenas limitar-se a falar dos povos ou lugares que todos conheciam ou sabiam existir. Sendo onisciente, deveria saber de todas as coisas de modo certo, correto, exato, e assim inspirar ou ensinar. Todavia, aconteceu justamente o contrário. A Bíblia, escrita por homens inspirados por Deus onipresente e onisciente, está repleta de erros, os mais vulgares e incoerentes, revelando total ignorância acerca da verdade e de tudo mais.

Vejamos apenas um exemplo. Diz a Bíblia que o sol, a lua e as estrelas foram criadas em função da terra: para iluminá-la. Seria o centro do universo, então, o que é totalmente falso. Hoje, ou melhor, há muito tempo, todos sabemos que a terra é apenas um grão de areia perdido na imensidão do universo, sendo mesmo uma das menores porções que o compõe, inclusive dentro do sistema solar de que faz parte. Como teria Josué feito parar o sol, a

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fim de prolongar o dia e ganhar sua batalha contra os canamitas, sem acarretar uma catástrofe? Decididamente, quem escreveu tais absurdos, sendo homem, sujeito a falhas e erros, é perdoável.

Entretanto, sendo um Deus onipresente e onisciente, ou por sua inspiração, é inconcebível. E mais inconcebível ainda é que o homem moderno permaneça escravo desta ou de qualquer outra religião. Dispondo de modernos meios de difusão e divulgação da cultura, o homem não pode ignorar o quanto é falsa a doutrina cristã, além de absurda, o mesmo estendendo-se a qualquer outra forma de culto ou religião.

Como entender que sendo Deus onipresente e onisciente, não saberia que todos os corpos do universo possuem movimento, e que este os mantém dentro de sua órbita, sem atropelos ou colisões? Quando Jeová resolveu disciplinar o comportamento dos hebreus, marcou encontro com Moisés, no Monte Sinai, para lhe entregar as tábuas da lei. Fato idêntico acontecera muito antes, quando Hamurabi teria recebido das mãos do deus Schamash a legislação dos babilônios no século XVII a.C..

A mesma foi encontrada em Susa, uma das grandes metrópoles do então poderoso império babilônio, encontrando-se atualmente guardada no Museu do Louvre, em Paris. No que concerne aos Evangelhos, foram escritos em número de 315, copiando-se sempre uns aos outros. No Concílio de Nicéia, tal número foi reduzido para 40, e destes foram sorteados os 4 que até hoje estão vigorando. A. Laterre, entre outros escritores, assinala ter sido o Evangelho de Marcos o mais antigo, e haver servido de paradigma para os outros, os quais não guardaram sequer fidelidade ao original, dando margem a choques e entrechoques de doutrina. Após o Evangelho de Marcos, começaram a surgir os demais que, alcançando elevado número, foram reduzidos. A escolha não visou os melhores, o que seria lógico, mas baseou-se tão-somente no prestigio político dos bispos das regiões onde haviam sido compostos.

A. Laterre patenteou igualmente, em “Jesus e sua doutrina”, que a lenda composta pelos fundadores do cristianismo, para ser admitida pelos homens como verdade, fora copiada de fontes mitológicas muito anteriores ao próprio judaísmo, remontando aos antigos deuses hindus, persas ou chineses. No século II, quando começou a aparecer a biografia de Jesus, havia apenas o interesse político e material em se manter a sua santa personalidade idealizada.

Constantino, no século IV, tendo verificado que suas legiões haviam-se tornado reticentes no cumprimento de suas ordens contra os cristãos, resolveu mudar de tática e aderir ao cristianismo. Percebendo que os bispos de Alexandria, Jerusalém, Edessa e Roma tinham a força necessária para fazer-lhe oposição, sentiu-se na contingência de ceder politicamente, com o objetivo de conseguir obediência total e unificar o império. De sorte que sua adesão ou conversão ao cristianismo não se baseou em uma convicção intima, espiritual, porém, resultou de conveniências políticas.

Embora não crendo na religião cristã, percebeu que a cruz lhe daria a força que faltava para tornar-se o imperador único e obedecido cegamente. Daí a história do sonho que tivera antes de uma batalha, segundo o qual vira a cruz desenhada no céu e estas palavras escritas abaixo: “in hoc signo vincis”, com este sinal, vencerás. Não era cristão verdadeiro, apenas fingia sê-lo para conseguir os seus objetivos. Dujardin conta-nos que o cristianismo só surgiu a

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partir do ano 30, graças a um rito em que se via a morte e a ressurreição de Jesus, o qual seria uma divindade pré-cristã. Nesta seita, os seus adeptos denominavam-se apóstolos, significando missionários, os que traziam uma mensagem nova. Os apóstolos desse Jesus juravam o terem visto, após sua morte, ressuscitar e ascender ao céu. Entretanto, não era este o Jesus dos cristãos.

O Padre Aífred Loisy, diante do enorme descrédito que o mito do cristianismo vinha sofrendo nos meios cultos de Paris, resolveu pesquisar-lhe as origens, visando assim desfazer as objeções apresentadas de modo seguro e bem fundamentado. Buscava a verdade para mostrá-la aos demais. Entretanto, ao fazer seus estudos, o Padre Loisy constatou que realmente a crítica havia se baseado em fatos incontestáveis. Por uma questão de honra, não poderia ocultar o resultado de suas pesquisas, publicando-o logo em seguida. Sendo tal resultado contrário fundamentalmente aos cânones da Igreja, foi expulso de sua cátedra de Filosofia, na Universidade de Paris, e excomungado pelo Papa, em 1908.

O Pe. Loisy havia concluído que os documentos nos quais a Igreja se firmara para organizar sua doutrina provieram do ritual essênio. Jesus Cristo não tivera vida física. Era apenas o reaproveitamento da lenda essênia do Crestus, o seu Messias. Verificou-se também que as Paulinianas, de origem insegura, haviam sido refundidas em vários pontos fundamentais e por diversas vezes, antes de serem incluídas definitivamente nos Evangelhos. Do mesmo modo chegou à conclusão de que os Evangelhos não poderiam servir de base para a história, nem para provar a vida de Jesus, dada a sua inautenticidade. Por sorte sua, já não mais existia a Santa Inquisição; do contrário, o sábio Padre Loisy teria sido queimado vivo.

Os documentos relativos ao governo de Pilatos, na Judéia, nada relatam a respeito de alguém que, se intitulando de Jesus Cristo, o Messias ou o enviado de Deus, tenha sido preso, condenado e crucificado com assentimento ou mesmo contra sua vontade, conforme narram os evangelhos. Não tomou conhecimento jamais de que um homem excepcional praticasse coisas maravilhosas e sobrenaturais, ressuscitando mortos e curando doentes ao simples toque de suas mãos, ou com uma palavra, apenas.

Se Pôncio Pilatos, cuja existência é real e historicamente comprovável, que estava no centro dos acontecimentos da época como governador da Judéia, ignorou completamente a existência tumultuada de Jesus, é que de fato ele não existiu. Alguém que, pelos atos que lhe são atribuídos, chega mesmo ao cúmulo de ser aclamado “Rei dos Judeus” por uma multidão exaltada, como ele o foi, não poderia passar despercebido pelo governador da região. O imperador Tibério, inclusive, jamais soube de tais ocorrências na Judéia. Estranho que ninguém o informasse de que um povo, que estava sob o seu domínio, aclamava um novo rei. Ilógico. A ele, Tibério, é que caberia nomear um rei, governador ou procurador. Prosper Alfaric, em L’Ecole de la Raison, assinala as invencíveis dificuldades do cristianismo em conciliar a fé com a razão. Por isso, a nova crença teve de apoderar-se das lendas e crenças dos deuses solares, tais como Osíris, Mitra, Ísis, Átis e Hórus, quando da elaboração de sua doutrina.

Expôs, igualmente, que os documentos descobertos em Coumrã, em 1947, eram o elo que faltava para patentear que Cristo é o Crestus dos essênios, uma outra seita judia. O cristianismo nada mais é, então, do que o

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sincretismo das diversas seitas judias, misturadas às crenças e religiões dos deuses solares, por serem as religiões que vinham predominando há séculos. A palavra “evangelho” em grego significa “boa nova”, já figura na Odisséia de Homero, Século XII, a.C.. Foi depois encontrada também numa inscrição em Priene, na Jônia, numa frase comemorativa e de endeusamento de Augusto, no seu aniversário, significando a “boa nova” no trono. E isto ocorreu muito antes de idealizarem Jesus Cristo.

Conforme já mencionamos anteriormente, no inicio do cristianismo, os evangelhos eram em número de 315, sendo posteriormente reduzidos para 4, no Concílio de Nicéia. Tal número indica perfeitamente as várias formas de interpretação local das crenças religiosas da orla mediterrânea acerca da idéia messiânica lançada pelos sacerdotes judeus. Sem dúvida, este fato deve ter levado Irineu a escrever o seguinte: “Há apenas 4 Evangelhos, nem mais um, nem menos um, e que só pessoas de espírito leviano, os ignorantes e os insolentes é que andam falseando a verdade”. A verdade da Igreja, devo acrescentar.

Havia, então, os Evangelhos dos naziazenos, dos judeus, dos egípcios, dos ebionistas, o de Pedro, o de Barnabé, entre outros, os quais foram queimados, restando apenas os 4 sorteados e oficializados no Concílio de Nicéia. Celso, erudito romano, contemporâneo de Irineu, entre os anos 170 e 180, disse: “Certos fiéis modificaram o primeiro texto dos Evangelhos, três, quatro e mais vezes, para poder assim subtrai-los às refutações”. Foi necessária uma cuidadosa triagem de todos eles, visando retirar as divergências mais acentuadas, sendo adotada a de Hesíquies, de Alexandria; e de Pânfilo, de Cesaréía e a de Luciano, de Antióquia. Mesmo assim, só na de Luciano existem 3500 passagens redigidas diferentemente. Disso resulta que, mesmo para os Padres da Igreja, os Evangelhos não são fonte segura e original.

Os Evangelhos que trazem a palavra “segundo”, que em grego é “cata”, não vieram diretamente dos pretensos evangelistas. A discutível origem dos Evangelhos explica porque os documentos mais antigos não fazem referência à vida terrena de Jesus. Nos Evangelhos, as contradições são encontradas com muita freqüência. Em Marcos, por exemplo, em 1:1-17:“a linhagem de Jesus vem de Abraão, em 42 gerações”; ao passo que em Lucas 2:23-28 lê-se que proviera diretamente de Adão e Eva, sendo que de Abraão a Jesus teriam havido 43 gerações.

Eusébio, comentando o assunto e não sabendo como dirimir a questão, disse: “Seja lá o que for, só o Evangelho anuncia a verdade”.(?) Tais divergências, entretanto, parecem indicar que os Evangelhos não se destinavam inicialmente à posteridade, visando tão-somente a catequese imediata de povos isolados uns dos outros. Os escritos destinados a um povo dificilmente seriam conhecidos dos outros.

O Evangelho de Mateus teria sido destinado aos judeus, arranjado para agradá-los. Por isso, não fala nos vaticínios nem no Messias. Por isso ainda é que puseram na boca de Jesus as palavras seguintes: “Não vim para abolir as leis dos profetas, mas sim para cumpri-las”. Tudo indica ter sido feito em Alexandria, porquanto, o original em hebraico jamais existiu. Baur provou, entretanto, que as Epístolas são anteriores aos Evangelhos e o Apocalipse, o mais antigo de todos, do ano 68. Todos os escritos do cristianismo desse

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tempo falam apenas no Logos, o Cordeiro Pascoal, imolado desde o princípio dos tempos, referindo-se à personalidade ideal de Jesus Cristo.

Justino, filósofo e apologista cristão, escrevendo em torno do ano 150, não emprega a palavra Evangelho nem uma vez. Isto mostra que ele, ainda nessa época, ignorava-a, não tendo conhecimento de sua existência. Justino ignorava igualmente as paulinianas, Paulo e os Atos dos apóstolos, o que prova que foram inventados posteriormente. Marcião, no ano de 140, trouxe as Epístolas a Roma, as quais não foram inicialmente consideradas merecedoras de fé. Sofreu rigorosa triagem, sendo cortada muita coisa que não convinha à Igreja.

Marcião fora contemporâneo de Justino. As Epístolas trazidas por ele eram endereçadas aos Romanos, aos Gálatas e aos Coríntios. Apresentavam Jesus como um Deus encarnado. Teria nascido de uma mulher e sofrera o martírio para resgatar os pecados da humanidade, isto é, dos ocidentais, porque os orientais não tomaram conhecimento da personalidade de Jesus, seus milagres e sua pregação e do seu romance religioso.

Engels constatou que as Epístolas são 60 anos mais novas do que o Apocalipse. E, ainda, os cristãos contrários ao bispo de Roma rejeitaram-nas durante séculos. Foi o que se deu com os ebionitas e os severianos, conforme Eusébio escreveu e Justino confirmou. O Apocalipse fala em um cordeiro com sete cornos e sete olhos, o qual foi imolado desde a fundação do mundo (13-8). O Apocalipse foi composto apenas em 68, sendo o mais antigo de todos os escritos cristãos. Lutero e Swinglio disseram que o Apocalipse foi incluído nos Evangelhos por engano, tendo a Igreja de inventar, por isso, a ordem cronológica dos seus livros.

Hoje se pode provar que o Apocalipse surgiu entre os anos 68 e 70; os Evangelhos, no século II, e os Atos dos Apóstolos são os mais recentes de todos. Eusébio em sua“História Eclesiástica”, 4-23, diz: “Compus as Epistolas conforme a vontade do irmão: mas os ‘apóstolos do diabo’ tacharam-nas de inverídicas cortando-lhes certas coisas e acrescentando outras”. Irineu, ao mesmo tempo, ordenava ao copista: “Confronta toda cópia com este original utilizado por ti, e corrige-a cuidadosamente”. Não te esqueças de reproduzir em tua cópia o pedido que te faço.

Essas citações servem para medirmos que tipo de santidade havia entre os bispos e seus calígrafos, na arte eusebiana de eméritos falsificadores de documentos importantes. Com isto, deram autenticidade a todas as invencionices do cristianismo e legitimaram sua liderança na posse material do que pertencia aos outros. Irineu ainda registrou o seguinte: “Ouvi dizer que não acreditam que isto esteja nos Evangelhos, se não encontrarem nos arquivos”. Ao que Eusébio respondera: “É preciso demonstrá-lo”.

Uma excelente prova da existência de Jesus seria uma comunicação feita por Pilatos a seu respeito. Entretanto, tal documento não existe. Justino, a pedido dos falsificadores, referiu-se a Jesus, contudo, dada a sua honradez pessoal, no caso do seu escrito ser autêntico, fê-lo de modo inseguro e hesitante. Tertuliano, que é mais seguro do que ele, afirmou que esse valioso documento deverá ser encontrado nos arquivos imperiais. Contudo, a Igreja apesar de haver se apoderado de Roma a partir do século IV, não teve a coragem de apresentar essa indispensável jóia documentária, a qual de certo seria refutada pela ciência e pelo conhecimento.

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Mesmo assim, a partir do século IV, essa prova espúria foi produzida; contudo, a Igreja não teve a petulância de submetê-la à grafotécnica. Daniel Rops, embora fosse um apaixonado cristão, reconheceu a veracidade dessa falsificação dizendo que: “a que arranjaram era uma carta enviada a Cláudio, que reinou de 41 a 44, e não a Tibério, sob cujo governo Pilatos fora Procurador da Judéia”. No Apocalipse João, escreveu: “Se alguém acrescentar alguma coisa nisto, Deus castigará com as penas descritas neste livro; se alguém cortar qualquer coisa, Deus cortará sua parte na árvore da vida e na cidade santa descrita neste livro”. Ai está mais uma prova de como as falsificações eram usuais na fase da Igreja nascente. O mais interessante é essa gente falar em Deus, como se fosse coisa cuja existência já tivesse sido provada, não se justificando mais que o conhecimento e a razão estudassem as bases dessa existência.

Os padres mostravam-se estar de tal modo familiarizados com Deus e sua vontade que por isso achavam certo e justo julgar e queimar vivos todos que discordassem deles. Entretanto, embora dessem a impressão de estar em contato com Deus, usavam de processos criminosos, dos quais todos os ociosos usam para sacar contra o seu meio social. Assim é que hoje se pode provar que o cristianismo foi construído sobre um terreno atapetado de mentiras, falsificações e mistificações.

O Novo Testamento atualmente oficializado é cópia de um texto grego do século IV. É exatamente o sinótico descoberto em 1859, em um convento do Monte Sinai, onde vem informada a origem grega. Os originais do mesmo estão guardados nos museus do Vaticano e de Londres. Foram publicados com as devidas correções, feitas por Hesíquios, de Alexandria. Um papiro encontrado no Egito, em 1931, apresenta-nos uma ordem cronológica totalmente diferente da oficializada pela Igreja. Atualmente, as fontes prováveis aceitáveis são as do século II em diante, provindas de Justino, Taciano, Atenágoras, Irineu e outros, os quais são considerados os verdadeiros criadores do cristianismo.

Taciano foi o “bem amado” discípulo de Justino. Ele, entretanto, omite a genealogia de Jesus, dizendo apenas que ele descendia de reis judeus, de modo muito vago, divergindo assim da orientação oficializada. Irineu foi quem sistematizou o cristianismo. Foi ele a fonte em que Eusébio inspirou-se. Por isso é que daí em diante seria obrigatória a confrontação entre os dois textos.

O bispo de Cesaréia fora encarregado pelo todo poderoso bispo de Roma de falsificar tudo quanto prejudicasse os interesses materiais da Igreja de então. De modo que, por onde passou a mão de Eusébio, foi tudo alterado criminosamente contra a verdade. Eusébio foi realmente um bispo que acreditava apaixonadamente na divindade de Jesus Cristo, contudo, já conhecia o poder que possuía o bispo de Roma. Graças a Eusébio e outros iguais a ele, tornou-se uma temeridade descrer-se na verdade oficializada pela Igreja.

Após tantas falsificações, todos ficaram realmente inseguros quanto à verdadeira origem do cristianismo, tal a tumultuação impressa por Eusébio. Tertuliano e Clemente de Alexandria lutaram um pouco para sanar essas fontes, anulando boa parte do que restara das criminosas unhas de Eusébio. Jacob Buckhardt, examinando essa documentação, concluiu que o Novo Testamento merece confiança. Em Coumrã, em 1947, como á vimos, foram

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encontrados documentos com escrita em hebraico e não em grego, falando em Crestus não em Cristo.

Ali, Habacuc refere-se à perseguição sofrida por essa seita judia, assim como a morte de Crestus, igualmente traído por Judas, um sacerdote dissidente. A Igreja, ao ter conhecimento da existência de tais documentos, pretendeu informar que Crestus era o Cristo de sua criação, contudo, verificou-se que eles datavam de pelo menos um século antes do lançamento do romance do Gólgota.

Além disso, continham revelações contrárias aos interesses da Igreja. Eles relatam as lutas de morte em que viviam as diversas seitas do judaísmo. A Didaquê não pôde entrar nos Evangelhos, devendo silenciar completamente a respeito da pretensa passagem de Jesus pela terra. De qualquer forma, a lenda que existia em torno no nome de Crestus foi aproveitada na época porque, sendo uma seita comunista, suas pregações iriam servir para atrair ao cristianismo a atenção dos escravos, em luta contra os seus senhores, a eterna luta do pobre contra o rico.

Escavações feitas em Jerusalém desenterraram velhos cemitérios, onde foram encontradas muitas cruzes do século I e mesmo anteriores. Todavia, apesar de já ser usada nessa época, só a partir do século IV é que a Igreja iria oficializá-la como seu emblema. Levantamentos arqueológicos posteriores provariam que a cruz já era um piedoso emblema usado desde há milênios.

Orígenes, polemizando contra Celso, um dos mais cultos escritores romanos de seu tempo, e que mais combateram as bases falsas da Igreja e de Jesus Cristo, acusa Flávio Josefo por não haver admitido a existência de Jesus. Flávio não poderia referir-se a Jesus nem ao cristianismo porque ambos foram arranjados depois de sua morte. Assim, os livros de Flávio que falam de Jesus foram compostos, ou melhor, falsificados muito tempo após sua morte, no decorrer do século III, conforme as conclusões alcançadas pelos mestres da Escola de Tübingen.

Sêneca, que foi preceptor de Nero, cometendo suicídio e para não ser assassinado por ele, já pensava mais ou menos como os cristãos. Do que se conclui que as idéias de que se serviu o cristianismo para se fundamentar são emprestadas das lendas que giravam em torno de outros Cristos Messias, assim como de outros cultos. Nada tendo, portanto, de original. Sêneca acreditava em um Deus único e imaterializável. Por tudo isso, vemos que os líderes do cristianismo nada mais fizeram do que se apropriar das idéias já existentes. Apenas tiveram o cuidado de promover as modificações necessárias, com vistas a melhor consecução dos seus objetivos materiais.

Sêneca, embora não fazendo em seus escritos qualquer alusão à existência de Jesus Cristo, teve muitos de seus escritos aproveitados pelo cristianismo nascente. Em Tácito, escritor do século II, encontram-se referências a respeito de Jesus e seus adeptos. Contudo, exames grafotécnicos demonstraram que tais referências são falsas, e resultam de visível adulteração dos seus escritos.

Suetônio, que existiu quando Jesus teria vivido, escreveu a “História dos Doze Césares”, relatando os fatos de seu tempo. Referindo-se aos judeus e sua religião, apenas falou em “distúrbios de judeus exaltados em torno de Crestus”. Por aí se vê que ele não se referia aos cristãos, porquanto, eles sempre se mostraram humildes e obedientes à ordem constituída, evidentemente a fim de passar, tanto quanto possível, despercebidos. Desse

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modo, iriam solapando o poder imperial, manhosamente, como realmente aconteceu.

Suetônio escreveu ainda que haviam supliciado alguns cristãos que eram gente que se dedicava demasiado a tolas superstições, orientadas por uma idéia errada. Disse ainda que Nero tivera de mandar expulsar os judeus de Roma, porque eles estavam sempre se revoltando, instigados por Crestus. Os cristãos estavam sempre organizados de modo a atrair os escravos, sem, contudo, desagradar às autoridades. Assim sendo, jamais provocariam tumultos.

Os cristãos aos quais Suetônio refere-se poderiam ser os zilotas, os essênios ou os terapeutas, mas nunca os cristãos de Jesus Cristo, porquanto, conforme já dissemos acima, os cristãos eram ensinados a não provocar desordens. Plínio, o Jovem, viveu entre os anos 62 e 113, tendo sido subpretor da Bitínia. Na carta enviada ao imperador, perguntava como agir em relação aos cristãos, ao que Trajano teria respondido que agisse apenas contra os que não renegassem à nova fé. Entretanto, não ficou evidenciado a quais cristãos, exatamente, eram feitas as referências: se aos crestãos ou aos cristãos. De qualquer forma, a carta em questão, após ser submetida a exames grafotécnicos e métodos rádio-carbônicos, revelou haver sido falsificada.

Justiniano, Imperador romano, mandou queimar os escritos de Porfírio, através de um edito, em 448, alegando que: “impelido pela loucura, escrevera contra a santa fé cristã”. Vespasiano, ao morrer, disse: “Que desgraça! Acreditei que me havia tornado um deus imortal!”. Suas palavras justificam-se pela credulidade supersticiosa.

Partindo do preceito ensinado pelos judeus, aliás, um falso preceito, de que Cristo havia subido ao céu com corpo e alma, não seria de estranhar que os imperadores pretendessem tornar-se deuses, a fim de escapar ao inapelável destino dos que nascem: a morte. Calígula, por isso, fizera-se coroar como Deus-Sol, o Sol Invictus, o Helius. Nessa época o Império romano, embora em declínio, ainda dominava uma porção de províncias afastadas de Roma. O homem espoliado pela força bruta, unificada em torno das regiões, sentindo não ser possível contar com a justiça humana, passa a esperar pela justiça dos deuses. Mas, mesmo assim, teriam de apelar para os deuses dos pobres e não dos ricos, privilegiados e poderosos.

Conta a lenda que Osíris, o deus solar dos egípcios, foi morto por seu irmão Seth, o qual dividiu o corpo em 14 pedaços e os espalhou pelo mundo afora. Ísis, sua esposa e irmã, saiu em busca dos pedaços, levando seu filho Hórus ao colo. Todos os anos o povo fazia a festa de Ísis, relembrando o acontecimento. Havendo conseguido juntar todas a partes do corpo, Osíris ressuscitou, passando a ser incensado como o deus da morte e da sombra. Fora uma ressurreição conseguida pelo amor da esposa. Ísis separou a terra do céu, traçou a órbita dos astros, criou a navegação e destruiu todos os tiranos. Comandava os rios, as vagas e os ventos.

Seu culto assemelhava-se muito ao de Astartê, de Adônis e de Átis, religiões muito aparentadas entre si, dominando toda a orla do Mediterrâneo. Seu culto era uma reminiscência do culto de Tamus, um deus babilônio, cuja doutrina ensinava que os deuses nasciam e renasciam, ressuscitando-se. O judaísmo e, mais tarde, o cristianismo, beberam dessas fontes grande parte da sua liturgia.

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No cristianismo, encontramos Ísis representada pela Virgem Maria e Hórus transformado em Jesus Cristo. Maria e Jesus, fugindo de Herodes e indo para o Egito, é a mesma lenda de Ísis e Hórus, fugindo de Seth. O Deus-Homem que morria e ressuscitava já era uma velha “crença religiosa” naqueles tempos. O cristianismo apenas deu novos nomes e novas roupagens aos deuses de velhas crenças.

A revelação de Deus aos homens é outra lenda cuja origem perde-se na noite dos tempos. Muitos séculos antes do surgimento do judaísmo, Zoroastro ou Zaratrusta havia criado uma religião, segundo a qual havia uma eterna luta entre o bem e o mal. Aura Mazzda ou Ormuzd, o deus do fogo e da luz, representava o bem em luta contra Angra Maniú ou Iarina, o deus das trevas. Nessa luta, Ormuzd foi auxiliado por seu filho Mitra, o espírito do bem e da justiça, mediador entre Ormuzd e os homens. Ormuzd mandou seu filho à terra, o qual nasceu de uma virgem pura e bela, que o concebeu através de um raio de sol. Morreu e ressuscitou em seguida. Essa religião foi levada para Sicília pelos marinheiros persas, nos últimos séculos da era passada. Inventando o cristianismo, os judeus nada mais fizeram do que sincretizar o judaísmo ortodoxo com a religião de Mitra, sem esquecer de Osíris e Átis, cujas religiões eram também muito aceitas em Roma e Alexandria.

Vestígios do mitraísmo foram encontrados em escavações recentes, feitas em Óstia, os quais datam do século I. O mitraísmo era praticado em catacumbas, em grutas e em subterrâneos. O cristianismo copiou-lhe a prática. Daí porque disseram ter Jesus nascido em uma gruta e, nos primeiros tempos, o cristianismo foi praticado em catacumbas. Assim sendo, os cristãos foram para as catacumbas, não fugindo das autoridades imperiais, mas tão-somente para observar o ritual mitraico. Os mitraicos também davam seus banquetes subterrâneos, eram os banquetes pessoais, comuns nos ritos solares e no judaísmo. Em ambos, havia o rito do pão e do vinho.

Mitra, o Sol Invictos, era festejado em dezembro, como Jesus. Outras aproximações entre o culto de Mitra e o de Jesus, no cristianismo: o uso da cruz do Sol Radiante, a cruz do Sol Invictus a qual expandia raios; o uso da pia batismal com a água benta, as refeições comunais, a destinação do domingo para o descanso em homenagem ao Senhor; a águia e o touro do ritual mitraico foram tomados para símbolos dos evangelistas Marcos e Lucas. Antigos quadros e painéis trazem a figura dos evangelistas com a cabeça desses animais. Do judaísmo, copiaram a crença da imortalidade da alma, a vida no além, o Inferno, o diabo, a ressurreição, o dia do juízo; práticas e crenças igualmente existentes no mitraísmo.

Graças a esses espertos arranjos, durante muito tempo, o crente freqüentou indiferentemente o templo cristão, de Mitra ou de Ísis, crendo estar na Igreja antiga, onde iam consultar o oráculo. Por isso, Teofilo, em Alexandria, mandou construir um templo cristão ao lado de um templo de Ísis, onde se anunciava o oráculo quando as profecias vinham de uma revelação astral, mediante a camuflagem das vozes de antigos bispos ali enterrados. Uma das coisas que favoreceram o cristianismo foi a abolição do sacrifício sangrento. Muitos correram a abraçar a nova crença para escapar da morte em um desses atos propiciatórios.

Spinoza e Hobbes, no século XVIII, mostraram que o Pentateuco foi composto no século II a.C. graças ao que o sacerdote judeu havia aprendido no cativeiro babilônio, fato que aconteceu no século IV a.C. Em seguida,

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mostraram uma série de contradições quanto à cronologia. Em uma das fontes, apresentam Adão e Eva como tendo sido criados ao mesmo tempo, enquanto em outra informam que ela havia sido feita de uma costela de Adão. Em uma, o homem aparece antes dos outros animais, na outra os animais surgem primeiro. Levantamentos arqueológicos do começo do século XX, levados a efeito nos subsolos da Babilônia, provaram que o Deuteronômio resultou, em grande parte, do que os sacerdotes judeus haviam copiado da legislação religiosa, civil e criminal de Hamurabi, a qual por sua vez resultara do que se sabia da civilização acádia, e que naqueles tempos já era vetusta.

Isaías, ao profetizar acerca de diversos reis de várias épocas, mostra que seu nome foi inventado séculos depois dos fatos haverem ocorrido. Um desses reis foi Dano, rei persa que governou em 538 a.C., quando libertou os judeus do cativeiro. Herodes morreu no ano IV a.C., foi responsabilizado pela matança dos inocentes, para compor o controvertido romance da fuga para o Egito. Tudo o que até agora temos relatado constitui provas evidentes de que a Bíblia não tem a antiguidade nem a veracidade que lhe pretendem imprimir.

Os zilotas que seguiam a linha comunista dos essênios combatiam tanto os judeus ricos como a ocupação romana. Os essênios, ao professar, faziam votos de pobreza, quando juravam nada contar da seita para os estranhos e nada ocultar dos companheiros. Era um dos ramos do judaísmo em que não mais se oferecia sacrifício sangrento, o que foi copiado pelo cristianismo. Os Evangelhos foram compostos para enquadrar Jesus no que está previsto no versículo 17 do salmo 22. De modo que Jesus não passou de um ator arranjado para representar o drama do Gólgota. Cumpriu as Escritas como ator e não como sujeito de uma vida real.

Reimarus, filósofo alemão que morreu em 1768, estudou a fundo a história de Jesus. Chegou a conclusões irrefutáveis, que assombraram a Igreja muito mais do que Copérnico ou Darwin. Disse que, se Jesus tivesse mesmo existido, seria, quando muito, um político ambicioso que fracassara completamente em suas conspirações contra o governo. Emmanuel Kant foi o primeiro filósofo que conseguiu racional e inteligentemente expulsar Jesus da história humana, através de uma impressionante e profunda exegese do herói do cristianismo. Volney, em “As Rumas de Palmira”, após regressar de uma longa viagem de pesquisas sobre Antigüidade clássica pelo Oriente Médio, elaborou o trabalho acima referido, no qual nega a existência física de Jesus Cristo.

Arthur Drews igualmente viveu muitos anos na Palestina dedicando-se ao estudo de sua história antiga; concluiu que Jesus Cristo jamais foi um acontecimento palestino. Examinou todos os lugares pelos quais os evangelistas pretenderam tivesse Jesus passado. Constatou, então, que o cristianismo foi totalmente estruturado em mitos; entretanto, organizado de modo a assumir o aspecto de verdade incontestável, a ser imposta pela Igreja. Todavia, para sorte nossa, homens estudiosos e inteligentes contestam as falsas verdades elaboradas pelo cristianismo, com argumentos irretorquíveis.

Dupuis disse que, aqueles que fizeram de Jesus um homem, conseguiram enganar tanto quanto os que o transformaram em um deus. Em suas observações, deixa certo que o romance de Jesus nada mais é do que a repetição das velhas lendas dos deuses solares. Vejamos suas palavras: “Quando tivermos feito ver que a pretensa história de um deus que nasceu de uma virgem, no solstício do inverno, depois de haver descido aos

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infernos, de um deus que arrasta consigo um cortejo de doze apóstolos, ‘os doze signos solares’ cujo chefe tem todos os atributos de Jano, um deus vencedor do deus das trevas, que faz transitar o homem império da luz e que repara os males da natureza, não passa de uma fábula solarT ser-lhe-á pouco menos indiferente examinar se houve algum príncipe chamado Hércules, visto haver-se provado que o ser consagrado por um culto, sob o nome de Jesus Cristo, é o Sol, e que o maravilhoso da lenda ou do poema tem por objeto este astro, então parecerá que os cristãos tem a mesma religião que os índios do Peru, a quem os primeiros fizeram degolar”.

Albert Kalthoft diz que Jesus personifica o movimento sócio-econômico que no século I fazia revoltar o escravo, o pobre e o proletário. O seu messianismo foi espertamente aproveitado pelos líderes dos judeus da diáspora, aqueles que exploravam a desgraça do judeu pobre em benefício próprio. Acrescenta que a divergência que existe entre os quatro evangelistas resulta das várias tendências daquele movimento social revolucionário nascido em Roma, do qual a versão palestina é apenas o reflexo.

Salonmon Reinach, em “Orheus”, salienta o completo silêncio dos autores contemporâneos de Jesus Cristo acerca de sua pretensa existência. Tal silêncio verifica-se tanto entre os escritores judeus como entre os não judeus. Examina em profundidade as “Acta Pilati” e constata que os acontecimentos que o cristianismo situou em seu governo não foram do que ressuscitou no equinócio da primavera, de seu conhecimento, e assim sendo Pilatos jamais soube qualquer coisa a respeito de Jesus Cristo. Pierre Louis Couchoud afirma que a existência real de Jesus é indemonstrável, do ponto de vista histórico. E acrescenta que as referências feitas por Flávio Josefo a Jesus não passam de falsificação de textos, sobejamente provada hoje pelos peritos da crítica histórica.

Os maiores movimentos históricos tiveram como origem os mitos, cujo papel social é dar forma aos anseios inconscientes do povo. Compara, inclusive, a lenda de Jesus com a de Guilherme Tell, na Suíça. Todos sabem tratar-se de uma lenda nacional, todavia, Guilherme Tell é ali reverenciado como herói verdadeiro e real. Seu nome promove a união política dos cantões, embora falem línguas diferentes. É possível que o mesmo aconteça em relação a Jesus e o cristianismo.

Estando em jogo interesses de ordem social, política e, sobretudo, econômica, os líderes cristãos preferem deixar o mito de pé, pois enquanto houver cristãos, sua profissão estará garantida e os lucros continuarão sendo por eles convertidos. O que se faz necessário é que o povo seja esclarecido acerca dos assuntos de crenças e religiões nos termos da verdade, da razão e da lógica, a fim de que, se libertando dos velhos preconceitos e tabus, possa enfim ver o mundo e as coisas em sua realidade objetiva. E não ignoramos qual a realidade objetiva que predomina no cristianismo: é a exploração dos menos abastados intelectual e economicamente. Quem mais contribui para as campanhas da Igreja são aqueles que menos possuem, cuja mente encontra-se obstruída pelas idéias e crenças religiosas. Sua pobreza material alia-se à pobreza intelectual.

Uma boa dose de conhecimentos científicos certamente é a melhor maneira de remover os obstáculos para a libertação do homem, criados pelos lideres religiosos, em suas pregações. Entretanto, sabemos que nem sempre é possível a aquisição de tais conhecimentos. Muitos são os fatores que se

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interpõem entre o homem pobre, o operário, o trabalhador, e a cultura. Um desses fatores, por sinal, muito ponderável, é o econômico-financeiro. Como fazer para ir à escola, comprar livros, etc, se tem que trabalhar duro pela vida, e o que ganha mal dá para sobreviver?

Bem poucos são os que conseguem reunir os conhecimentos necessários que lhe permitam enxergar mais longe e romper as invisíveis cadeias que os prendem aos dogmas e preconceitos ultrapassados pela razão e pela ciência. O mais cômodo para aqueles deserdados será esperar a recompensa das agruras da vida no céu, após a morte. Afinal de contas, os padres e os pastores estão aí para isto: vender Deus e o céu a grosso e no varejo.

Tobias Barreto escreveu estes versos memoráveis: “Se é sempre o mesmo engodo; Se o homem chora e continua escravo; De que foi que Jesus veio nos salvar?” Poderá alguém responder a tal interrogação satisfatoriamente? Provavelmente não.

É possível que, movido pela mesma razão, Proudhon tenha escrito: “Os que me falam em religião querem o meu dinheiro ou a minha liberdade”. Desta forma, em poucas palavras, ficou bem claro o sentido e o objetivo da religião: subtrair ao indivíduo a sua liberdade de pensamento e de ação, e, com ela, o seu dinheiro.

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As falsificações Os únicos autores que poderiam ter escrito a respeito de Jesus Cristo, e

como tal foram apresentados pela Igreja, foram Flávio Josefo, Tácito Suetonio e Plínio. Invocando o testamento de tais escritores, a Igreja pretendeu provar que Jesus Cristo teve existência física, e incutir como verdade na mente dos povos todo o romance que gira em torno da personalidade fictícia de Jesus. Contudo, a ciência histórica, através de métodos modernos de pesquisa, demonstra hoje que os autores em questão foram falsificados em seus escritos. Estão evidenciadas súbitas mudanças de assunto para intercalações feitas posteriormente por terceiros. Após a prática da fraude, o regresso ao assunto originalmente abordado pelo autor.

Tomemos, primeiramente, Flávio Josefo como exemplo. Ele escreveu a história dos acontecimentos judeus na época em que pretensamente Jesus teria existido. Os falsificadores aproveitaram-se então de seus escritos e acrescentaram: “Naquele tempo nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos. Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes do nosso país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã, que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa.”

Depois deste trecho, passa a expor um assunto bem diferente no qual refere-se a castigos militares infligidos ao povoado de Jerusalém. Mais adiante, fala de alguém que conseguira seus intentos junto a uma certa dama fazendo-se passar como sendo a humanização do deus Anubis, graças aos ardis dos sacerdotes de Ísis. As palavras a Flávio atribuídas são as de um apaixonado cristão. Flávio jamais escreveria tais palavras, porquanto, além de ser um judeu convicto, era um homem culto e dotado de uma inteligência excepcional. O próprio Padre Gillet reconheceu em seus escritos ter havido falsificações nos textos de Flávio, afirmando ser inacreditável que ele seja o autor das citações que lhe foram imputadas. Além disso, as polêmicas de Justino, Tertuliano, Orígenes e Cipriano contra os judeus e os pagãos demonstram que Flávio não escreveu nem uma só palavra a respeito de Jesus. Estranhando o seu silêncio, classificaram-no de partidário e faccioso.

No entanto, um escritor com o seu mérito escreveria livros inteiros acerca de Jesus, e não apenas um trecho. Bastaria, para isto, que o fato realmente tivesse acontecido. Seu silêncio, no caso, é mais eloqüente do que as próprias palavras. Exibindo os escritos de Flávio, Fócio afirmava que nenhum judeu contemporâneo de Jesus ocupara-se dele. A luta de Fócio, que viveu entre os anos de 820 a 895, e foi patriarca de Constantinopla, teve início justamente por achar desnecessário a Igreja lançar mãos de meios escusos para provar a existência de Jesus. Disse que bastaria um exemplar autêntico não adulterado pela Igreja e fora do seu alcance para por em evidência as fraudes praticadas com o objetivo de dominar de qualquer forma.

Embora crendo em Jesus Cristo, combateu vivamente os meios sub-reptícios empregados pelos Papas, razão porque foi destituído do patriarcado bizantino e excomungado. De suas 280 obras, apenas restou o “Myriobiblion”, tendo o resto sido consumido, provavelmente por ordem do Papa.

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Tácito escreveu: “Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem, no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao Gênero humano”.

Conhecendo muito bem o grego e o latim, Tácito não confundiria referências feitas aos seguidores de Cristo com os de Crestus. As incoerências observadas nessa intercalação demonstram não se tratar dos cristãos de Cristo, nem a ele se referir. Lendo-se o livro em questão, percebe-se perfeitamente o momento da interpelação. Afirmar que fora Cristo o instigador dos arruaceiros é uma calúnia contra o próprio Cristo.

E conforme já referimos anteriormente, os cristãos seguidores de Cristo eram muito pacatos e não procuravam despertar atenção das autoridades para si. Como dizer em um dado momento que eles eram retraídos e, em seguida, envolvê-los em brigas e coisas piores? É apenas mais uma das contradições de que está repleta a história da Igreja. Ganeval afirma que foram expulsos de Roma os hebreus e os egípcios, por seguirem a mesma superstição. Deduz-se então que não se referia aos cristãos, seguidores de Jesus Cristo. Referia-se aos Essênios, seguidores de Crestus, vindos de Alexandria.

A Igreja não conseguiu por as mãos nos livros de Ganeval, o que contribuiu ponderavelmente para lançar uma luz sobre a verdade. Por intermédio de seus escritos, surgiu a possibilidade de se provar a quais cristãos, exatamente, referia-se Tácito. Suetônio teria sido mais breve em seu comentário a respeito do assunto. Escreveu que“Roma expulsou os judeus instigados por Crestus, porque promoviam tumultos”. É evidente, também, a falsificação praticada em uma carta de Plínio a Trajano, quando perguntava o que fazer sobre os cristãos, assunto já abordado anteriormente. O referido texto, após competente exame grafotécnico, revelou-se adulterado. É como se Plínio quisesse demonstrar, não apenas a existência histórica de Jesus, mas sua divindade, simbolizando a adoração dos cristãos. É o quanto basta para evidenciar a fraude.

Se Jesus Cristo realmente tivesse existido, a Igreja não teria necessidade de falsificar os escritos desses escritores e historiadores. Haveria, certamente, farta e autêntica documentação a seu respeito, detalhando sua vida, suas obras, seus ensinamentos e sua morte. Aqueles que o omitiram, se tivesse de fato existido, teriam falado dele abundantemente. Os mínimos detalhes de sua maravilhosa vida seriam objeto de vasta explanação. Entretanto, em documentos históricos não se encontram referências dignas de crédito, autênticas e aceitáveis pela história. Em tais documentos, tudo o que fala de Jesus e sua vida é produto da má-fé, da burla, de adulterações e intercalações determinadas pelos líderes cristãos. Tudo foi feito de modo a ocultar a verdade.

Quando a verdade esta ausente ou oculta, a mentira prevalece. E há um provérbio popular que diz: “A mentira tem pernas curtas”. Significa que ela não vai muito longe, sem que não seja apanhada. Em relação ao cristianismo, isto já aconteceu. Um número crescente de pessoas vai, a cada dia que passa,

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tomando conhecimento da verdade. E, assim, restam baldados os esforços da Igreja, no que concerne aos ardis empregados na camuflagem da verdade, visando alcançar escusos objetivos.

O doloroso silêncio histórico A existência de Jesus Cristo é um fato que jamais foi registrado pela

história. Os documentos históricos que o mencionam foram falsificados por ordem da Igreja, num esforço para provar sua pretensa existência, apesar de possuir provas de que Jesus é um mito. E assim agiu, movida pelo desejo de resguardar interesses materiais.

Ganeval apontou a semelhança entre o culto de Jesus Cristo e o de Serapis. Ambos são uma reencarnação do deus “Phalus”, que, por sua vez, era uma das formas de representação do deus Sol. Irineu chegou a afirmar que o deus dos cristãos não era homem nem mulher. Papias cita trechos dos Evangelhos, mostrando que se referiam ao Cristo egípcio. Referindo-se ao “logos”, que seria Jesus Cristo, disse ter sido ele apenas uma emanação de Deus, produzida à semelhança do Sol.

É bom lembrar que essas opiniões divergentes entre si são de três teólogos do cristianismo. Essas opiniões foram emitidas quando estava acesa a luta de desmentidos recíprocos da Igreja contra os seus numerosos opositores, ou seja, os que desmentiam a existência física de Jesus. Então, criaram uma filosofia abstrata, baseando-se nos escritos de Filon.

Ganeval, baseando-se em Fócio, disse que Eudosino, Agápio, Carino, Eulógio e outros teólogos do cristianismo primitivo não tiveram um conceito real nem físico de Jesus Cristo. Disse mais, que Epifânio, falando sobre as seitas heréticas dos marcionítas, valentinianos, saturninos, simonianos e outros, falava que o redentor dos cristãos era Horus, o filho de Ísis, um dos três deuses da trindade egípcia, que mais tarde viria a ser Serapis.

Ganeval afirmou ainda que os docetistas negavam a realidade de Jesus e, para refutar a negação, o IV Evangelho põe em relevo a lança que fez sair água e sangue do corpo de Jesus, com o intuito de provar sua existência física. Segundo Jerônimo, esses docetistas teriam sido contemporâneos dos apóstolos. Lembra ainda que o imperador Adriano, viajando em 131 para Alexandria, declara que “o deus dos cristãos era Serapis, e que os devotos de Serapis eram os mesmos que se chamavam os bispos de cristãos”. Adriano, decerto, estava com a verdade.

Documentos daquela época informam que existiam os atuais Evangelhos, assim como Tácito informa que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição. Os escritos de Filon não se referem a Jesus Cristo, conforme pretenderam fazer crer os falsificadores, mas a Serapis. Quando havia referências aos cristãos terapeutas, afirmavam que se falava dos cristãos de Jesus. Por sua vez, Clemente de Alexandria e Orígenes escreveram negando Jesus e falando em Cristo, o qual seria Crestus. No entender de Fócio, tudo isso não passava de fabulação mítica, não tendo existido Jesus nem Cristo, de que a Igreja criou o seu Jesus Cristo.

Duquis e Volney, fazendo o estudo da mitologia comparada, mostram de onde retiraram Jesus Cristo: do próprio mito. Filon, escrevendo a respeito dos cristãos terapeutas, disse que o seu teor de vida era semelhante ao dos

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cristãos e essênios. Abandonavam bens e família para seguir apaixonadamente aos sacerdotes. Epifânio escreveu que os cristãos terapeutas viviam junto do lago Mareótides, tendo os seus Evangelhos e os seus apóstolos. É sobre esses cristãos que Filon escreveu. Se os cristãos seguidores de Jesus Cristo já existissem, Filon não poderia deixar de falar deles.

Sobre o pretenso nascimento de Cristo, Filon contava apenas 25 anos de idade. Os Evangelhos, tendo surgido muito tempo após a morte de Filon e de Jesus, não poderiam ser os do cristianismo por ele referido. Clemente de Alexandria e Orígenes não criam na encarnação nem na reencarnação, motivo porque não creram na encarnação de Jesus Cristo, embora fossem padres da Igreja. Orígenes morreu em 254. Fócio escreveu sobre“Disputas” de Clemente e afirmou que ele negara a doutrina do “Logos”, dizendo que o“Verbo” jamais se encarnou, afirmação igualmente feita por Ganeval.

Analisando os quatro volumes de “Principia”, de Orígenes, percebe-se que o “Logos” ou o“Verbo” era o mesmo sopro de Jeová, referido por Moisés. Fócio, tendo-se escandalizado com isso, disse que Orígenes era um blasfemo. Apenas analisando como se referia ao Verbo, a Crestus e ao Salvador, é que se pode excluir a possibilidade da existência física de Jesus. O tratariam de modo bem diferente, se tivesse realmente existido.

Um Jesus Cristo não histórico A História, conforme mencionado, não tem registro da existência de

Jesus Cristo. Os autores considerados confiáveis e que seriam seus contemporâneos omitiram-se completamente. Os documentos históricos que o mencionam, o fazem esporadicamente, e mesmo assim revelam-se rasurados e falsificados, motivo pelo qual de nada adiantam, neste sentido, para a História. É óbvio, portanto, que a História não poderia registrar um evento que não aconteceu.

Tomando conta da História, o cristianismo a deixou na contingência de referir o nome de Jesus Cristo como sendo um deus antropomorfizado, mas nunca uma pessoa de carne e ossos que tenha realmente vivido. Ao fazê-lo, principia por um estudo filológico e etimológico dos termos “Jesus” e “Cristo”, e termina mostrando que os dois nomes foram reunidos em um só, para ser dado posteriormente a um indivíduo. O termo “Jesus” significa salvador, enquanto que “Cristo” é o ungido do Senhor, o “oint” dos judeus, o Messias esperado doe judeus.

Neste estudo, a História mostra que a crença messiânica havia tomado a costa do Mediterrâneo a partir do século II antes de nossa era. O norte da África, o sul da Europa, a Ásia Menor, estavam todos repletos de Messias e Cristos, e de milhares de pessoas que os seguiam e neles criam.

Ao referir-se aos pretensos Messias, o Talmud deu esse nome até mesmo a diversos reis pagãos, como no caso de Ciro, conforme está em Isaias 44:1, ou ao rei de Tiro, como está em Ezequiel 28:14 e nos Salmos, quando se verifica que os nomes de Jesus e de Cristo já vinham sendo atribuídos a diversos líderes religiosos da Antigüidade. As fontes pesquisadas pela História mostraram que Jesus Cristo, ao ser estudado como fato histórico, só pode ser encarado como sendo o “ungido do Senhor”, uma personalidade de existência

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abstrata apenas, não tendo possuído contextura física pelo que deixou de ser histórico. É apenas uma figura simbólica, através da qual a humanidade tem sido enganada há muitos séculos.

Cumprindo seu dever de informar, a História põe diante dos olhos do crente e do estudioso as provas de que foi a luta dos líderes cristãos a partir do século II para que o mito Jesus Cristo adquirisse a consistência sólida que levou a crença religiosa dos europeus da Idade Média sob o manto do criminoso absolutismo dos reis e dos Papas de então. Este estudo demonstra que Jesus Cristo foi concebido no século II para cumprir um programa messiânico elaborado pelos profetas e pelos compiladores do Velho Testamento e das lendas, sob o seu pretenso nome. Vê-se, então, que os passos de Jesus pela terra aconteceram conforme o Talmud, para que se cumprissem as profecias que o judaísmo havia inventado.

Jesus Cristo pode ser considerado o ator no palco. Representou o drama do Gólgota e retirou-se da cena ao fim da peça. Mateus 1:2 descreve-nos um Jesus Cristo que nasce milagrosamente, apenas para que se cumprissem as escrituras. Em 2:5 diz que nasceu em Belém, porque foi ali que os profetas previram que nasceria. Em 2:14 deixa-o fugir para o Egito, para justificar estas palavras: “Meu filho será chamado do Egito”. Em 2:23 faz José regressar a Nazaré porque Jesus deveria ser nazareno. Em 3:3 promove o encontro de Jesus com João Batista, porque Isaías predissera-o. Em 4:4 Jesus foi tentado pelo diabo, porque as escrituras afirmaram que tal aconteceria e que ele resistiria. Em 4:14 leva Jesus para Carfanaum para conferir outra predição de Isaías. Em 4:12 Jesus diz que não se deve fazer aos outros senão aquilo que gostaríamos que a nós fosse feito, porque isto também estava na lei dos profetas. Em 7:17 Jesus cura os endemoniados, conforme predissera Isaías. Em 11:10-14 Jesus palestra com João Batista porque assim predissera Elias. Em 12:17 Jesus cura as multidões, quando pede que não propalem isso, igualmente dando cumprimento às palavras de Isaías.

Em 12:40 permanece sepultado durante três dias porque os deuses do paganismo, os deuses solares ou redentores, também estiveram; como Jonas, que foi engolido por uma baleia, a qual depois de três dias jogou para fora, intacto como se nada tivesse acontecido. E tudo isto aconteceu em um mar onde não há possibilidade de vida para esse cetáceo, portanto, só poderia acontecer graças aos milagres bíblicos.

Em 13:14 diz que Jesus falava por meio de parábolas, como Buda também o fez. Assim também falavam os antigos taumaturgos, para que apenas os sacerdotes entendessem; assim só eles seriam capazes de interpretar para os incautos e crédulos religiosos, e, afinal, porque Isaías assim o previa.

Em 21:14 Jesus entra em Jerusalém montado em um burrico, conforme as profecias. Em 26:54 Jesus diz que não foi preso pelo povo quando junto dele se assentou no templo para ensinar, porque também estava previsto. Em 27:9 Judas trai a Jesus, vendendo-o por trinta dinheiros e recebendo à vista o preço da traição.

Em 27:15 os soldados repartem entre si as roupas do crucificado. Apenas o cumprimento desta profecia choca-se frontalmente com a História. E, de acordo com ela, nessa época não havia legionários romanos na Palestina. Lucas 23:27 diz que Jesus mandou comprar espadas, para que assim fosse confundido com os malfeitores comuns, porque assim estava previsto. Em

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seguida, diz que Jesus, ao ensinar aos seus apóstolos, afirmava que tudo o que lhe acontecesse, era para que estivesse de acordo com o que escreveram Moisés e os profetas, e como estava descrito nos salmos. Em 24:44-46 diz que Jesus afirmou “Como era necessário que Cristo padecesse e ressuscitasse ao terceiro dia, dentre os mortos”.

Para ficar de acordo com as previsões testamentárias, João 19:27 diz

que Jesus teve sede e pediu água. Em 19:30, ao beber a água, disse que era vinagre e exclamou: “Tudo se cumpriu”. Em 19:32-37 diz que não lhe quebraram nenhum osso, apenas o feriram com a lança para verificar se havia expirado. E isto também estava predito.

Por ai, percebe-se que tudo ali é puro simbolismo, e que Jesus foi idealizado apenas para cumprir as escrituras. Está ai uma prova de que a existência de Jesus nada mais é do que uma fabulação evangélica. Do mesmo modo que inventaram as profecias, inventaram alguém para cumpri-las. Tanto é verdade, que os judeus que ainda hoje acreditam em profecias, não aceitaram Jesus como tendo sido o Messias prometido pelo Talmud. Além disso, os seus escritores esgotaram todos os argumentos possíveis com o fim de provar que Jesus não foi um acontecimento palestino, e que não passou de um romance escrito pelos judeus dispersos e dos que se aproveitaram do messianismo judeu para criar uma empresa comercial, como tem sido o Vaticano.

O messianismo não foi uma lenda que tenha atingido a todas as classes sociais judias. Essa lenda foi criada pelos sacerdotes judeus visando com isso ajudar ao povo da rua a suportar melhor as agruras da pobreza e não reagir contra as classes privilegiadas.

Essas promessas são cumpridas pelos sacerdotes, a seu modo, a fim de que o pobre viva de esperanças e não sinta que o rico continua metendo as mãos em seus bolsos, impunemente. O homem do povo raramente compreende a finalidade desse tipo de engodo. O Talmud traz uma porção de profecias, e ao mesmo tempo critica aos que lhes dão crédito. A crítica representa uma evolução do pensamento das lideranças judias.

Um estudo comparado do judaísmo e do cristianismo mostra a enorme quantidade de crendices dessas religiões forjadas pelos seus líderes e afastadas pela evolução do conhecimento. Em nossos dias, o conhecimento atingiu um ponto em que a própria Igreja começou a relegar para um canto os seus ídolos de aspecto humano. O conhecimento humano terminara por vencer definitivamente, provando que todos os deuses e ídolos têm os pés de barro.

Nossos antepassados viram muitos ídolos cair. Certas práticas e crenças religiosas ainda permanecem válidas porque os sacerdotes, como bons psicólogos que são, observam o desenvolvimento mental do povo e sabem que uns encontram a verdade, enquanto outros, jamais conseguiram alcançá-la. Idealizando um Jesus Cristo adaptado às profecias talmúdicas, criaram um personagem incoerente e inseguro, o que nos dá a medida exata do quilate mental dos seus criadores. Podiam ser espertos, mas nunca inteligentes ou cultos.

Não deve ter sido tarefa das mais fáceis adaptar um Cristo vindo para cumprir as profecias no fanatismo das populações ignorantes. Foi um trabalho de titãs não acorrentados à verdade, nem à sinceridade que o homem deve ao seu semelhante. Nunca foi fácil transformar uma fantasia em realidade. Por

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isso, o cristianismo teve de valer-se da espada de Constantino e das armas de seus legionários para impor dogmaticamente o que a razão e o conhecimento jamais aceitariam passivamente.

Nos dois primeiros séculos do cristianismo, cada qual queria ser o primeiro e mandar mais e, se possível, ficar sozinho. Tivemos muitos reis e Papas analfabetos, atestando o primarismo dos judeus dispersos, como dos lideres europeus da época do lançamento do cristianismo. Tentando racionar a teologia do judaísmo e do cristianismo, fizeram de Jeová um deus absurdo e de Jesus um ser irreal, ambos incoerentes, o que se tornou a essência do Talmud e dos Evangelhos.

Através de Jesus Cristo, valorizaram as profecias do pretenso profeta Isaías, revitalizando assim o judaísmo e dando seriedade ao Talmud, fazendo dos Evangelhos um amontoado de mentiras e de impossibilidades humanas. Assim é que criaram um relato inconsistente, que desmorona completamente confrontado com uma análise mais profunda.

Scherer escreveu que Jesus não foi um filósofo nem fundador de uma religião. Foi apenas Messias. O sentido da vida de Jesus era apenas dar cumprimento às profecias messiânicas, e tal idéia é o centro dos fatos evangélicos, a razão de ser Jesus. Tendo vindo ao mundo somente para cumprir as profecias, deixou de ser humano e tornou-se um fantasma, ou um símbolo do que nunca teve existência real.

A vida de Jesus e de seus apóstolos desenrola-se apenas como uma

peça teatral, na qual Jesus acumula os papéis de deus e de homem. Um dia o público há de convencer-se de que esteve diante de um ser bíblico, sem uma realidade histórica.

Segundo Arthur Weigal, o único testemunho escrito por quem teria convivido com Jesus teria sido a epístola atribuída a Pedro. Teria surgido quando começaram as pretensas perseguições aos cristãos, na qual ele os animava. Entretanto, como a existência de Pedro é igualmente lendária, a epístola em questão não merece fé, tendo sido composta por qualquer cristão, menos pelo mitológico Pedro. Os escritos de Tácito, dadas as adulterações sofridas, carecem de valor histórico. Dai não se poder admitir como verdade que Nero, entre os anos 54 e 68, tenha realmente perseguido aos seguidores de Jesus Cristo.

Tertuliano, entretanto, afirma que Pedro foi martirizado no governo de Nero. Contudo, vários pesquisadores, entre os quais Holmann e Weizsacker, demonstraram que essas perseguições somente começaram a partir do século II. Irineu, no ano 180, achava que a epístola de Pedro fora escrita em 83, mas não por Pedro. Nesta epístola, Pedro dizia que“Jesus sofreu por nós, deixando-nos um exemplo”. Acrescentara ter sido testemunha pessoal dos seus sofrimentos, após os quais subiu ao céu, de onde voltaria em breve. No entanto, sua volta não ocorreu até hoje, apesar de terem se passado dois mil anos.

A falta de cumprimento dessa promessa invalida todas as suas afirmações. Disse Pedro, ainda, que Jesus mandou que se amasse uns aos outros, pagando o mal com o bem, retribuindo a injúria com a bênção. Recomendou a caridade, a hospitalidade e a humildade; o dever de evitar o mal, fazer o bem e buscar a paz, assim como a abstinência da ambição da carne, evitar o rancor, a inveja e a maledicência; a submissão às autoridades,

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crer em Deus e honrar o rei. As epístolas de Paulo viriam em segundo lugar, como importância histórica. Pedro teria aprendido a doutrina cristã na convivência direta com Jesus. Suas epístolas seriam consideradas autênticas por terem sido escritas 20 ou 30 anos após a crucificação.

Pedro e Paulo afirmaram que Jesus voltaria em breve para julgar a humanidade. Contudo, ambos estavam enganados e enganaram aos outros. Paulo teria conhecido pessoalmente a Pedro e a Jaques, um dos irmãos de Jesus Cristo, assim como referia-se a outras pessoas que teriam convivido com Jesus. A crucificação e a ressurreição teriam sido fatos indiscutíveis para Pedro e Paulo, cujos escritos estariam muito próximos dos acontecimentos.

Paulo, em I Coríntios 11:1, diz: “Imitam-me como se fosse Jesus”. Teria pregado o amor, a paz, a temperança, a caridade, a alegria, a paciência, a doçura, a confiança e a boa vontade. A lei divina deveria ser interpretada segundo o espírito e não conforme a letra.“Amarás ao próximo como a ti mesmo”, seria um amor paciente, caridoso e humilde.

As epístolas procuraram estabelecer a historicidade de Jesus, assim como revelar muitos pontos do seu caráter. Jesus teria vivido apenas para redimir a humanidade, não teria pecado, sendo, sem dúvida alguma, o filho de Deus. Papias, em 140, escreveu que Mateus havia colecionado as máximas de Jesus, e Marcos recolhera muitas notas para o Evangelho. Assim, os Evangelhos seriam o espelho de Jesus, contado pelos apóstolos, espalhando entre os homens o ideal de perfeição moral e mental.

As curas, milagres e pregações de Jesus, em pouco tempo, haviam espalhado o seu nome, galvanizando as multidões, todos sentiam que havia surgido o Messias. Assumiu o papel de Messias e com isso entusiasmou a multidão, pelo que entrou em Jerusalém cercado da emoção e do respeito do povo. Ao anoitecer abandonou a cidade, e, no dia seguinte, ao regressar, encontra muita agitação.

As autoridades haviam tomado medidas contra ele. Dois dias antes da páscoa, tomou sua última refeição com os companheiros e ali permaneceu a espera dos acontecimentos, sabendo que o seu reino não era deste mundo. À noite foi preso e, no dia seguinte, julgado. O povo quis que o sacrificassem em lugar de Bar Abbas. Seria o sacrifício pascal, rito multimilenar que iria mais uma vez acontecer. Após a morte, sai do sepulcro, ressuscitado, e vai ao encontro dos apóstolos, pede comida, e depois de permanecer algum tempo com eles, ascende ao céu prometendo voltar em breve.

Foi este o retrato feito de Jesus Cristo pelo cristianismo, e que ainda hoje milhões de pessoas adoram. Entre nós, são bem poucos os que põem em dúvida a veracidade desse romance contado pelos judeus da diáspora e aproveitado por seus seguidores latinos. No entanto, a razão e o conhecimento estão se encarregando de destruir a pretensa veracidade desse conto. Muitas coisas consideradas como milagres são hoje conseguidas naturalmente através da ciência, da tecnologia moderna, da medicina, do conhecimento científico em todas as suas modalidades, e mesmo através de hipnose.

Diante das conquistas que o homem tem feito, é possível que ele abra os olhos para a verdade e perceba então que Deus jamais se preocupou com sua sorte e com o mundo. A História desmente peremptoriamente que Deus tenha comparecido ao mundo nos momentos de festa ou de dor. O homem foi abandonado à própria sorte e tem lutado muito para sobreviver através dos

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tempos, e tem obtido sucesso porque está sempre acumulando conhecimentos, os quais emprega em situações futuras.

Diante de tudo o que foi exposto, só nos resta dizer que a História, em dois mil anos, não encontrou uma única prova ou documento que mereça crédito no que diz respeito à vida de Jesus. Sua existência é fictícia e só encontra agasalho no seio da mitologia. Seu nascimento, sua vida, sua morte, sua família, seus discípulos, tudo, enfim, que lhe diz respeito, tem analogia com as crenças, ritos e lendas dos deuses solares, adorados sob diversos nomes e modalidades e por povos diversos, também. Dele, a História nada sabe.

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Jesus e o tempo O mítico dia do nascimento de Jesus Cristo foi oficializado por Dionísio,

o Pequeno, no século VI, que marcou no ano 1 do século I, correspondendo ao ano 753 da fundação de Roma, com um erro de previsão calculado em seis anos. Para chegar a essa artificiosa fixação, serviu-se de diversos sistemas de cálculo. Calvísio e Moestrin contaram até 132 sistemas e Fabrício arredondou para 200.

Para uns, teria sido entre 6 e 10 de janeiro, para outros, 19 ou 20 de abril, enquanto outros ainda situavam entre 20 e 25 de março. Os cristãos orientais determinaram a data entre 1 e 8 de janeiro, enquanto os ocidentais escolheram a 6 de janeiro. Em 375, São João Crisóstomo escreveu que a data de 25 de dezembro foi introduzida pelos orientais. Entretanto, antes do ano 354, Roma já o havia fixado para esta mesma data, segundo o calendário de Bucer.

Essas diferenças foram o resultado da preocupação da Igreja em fazer com que o nascimento de Jesus coincidisse e se confundisse com os dos deuses solares, os deuses salvadores, e especialmente com o Deus Invictus, que era Mitra. E era justamente ao mitraismo que a religião cristã pretendia absorver. No dia 25 de dezembro todas as cidades do império romano estavam iluminadas e enfeitadas para festejar o nascimento de Mitra.

A preocupação de ligar o nascimento de Jesus ao de Mitra denota o artificialismo que fundamentou o cristianismo. Foi a divinização do deus dos cristãos às custas da luz do Sol dos pagãos. Foi um dos grandes trabalhos de mistificação da Igreja a convergência dos dois nascimentos para a mesma data. Assim, o nascimento do novo deus apagava da memória do povo a lembrança de Mitra, no fim do inverno.

A tradição religiosa, desde milênios, fizera com que todos os deuses redentores nascessem em 25 de dezembro. Quanto ao lugar de nascimento de Jesus, disseram ter sido em Belém, para combinar com as previsões messiânicas que, fazendo de Jesus um descendente de David, teria a adesão dos judeus incautos. O II e o IV Evangelhos não mencionam o assunto, enquanto o I e o III aludem ao caso, mas se contradizem. Uns dizem que os pais de Jesus moravam em Belém, enquanto outros afirmam que eles ali estavam de passagem. Essa insegurança deve-se ao fato de pretenderem ligar a vida de Jesus à de David, conforme as profecias. Todavia, isto confundia as tendências históricas ligadas ao nascimento dos deuses solares.

A preocupação apologética, contudo, invalidou a pretensão histórica. De tudo isto resultou que a História pode hoje provar que tudo aquilo que se refere a Jesus é puro convencionalismo, e sua existência é apenas ideal e não real. De modo que a morte dos inocentes nada mais é do que a repetição da matança das criancinhas egípcias, contada no Êxodo. A estrela só pôde ser inventada porque naquele tempo o homem ainda não sabia o que era uma estrela; tanto assim que a Bíblia afirma que Josué fez parar o sol com um aceno de sua mão apenas. Assim, a estrela que guiou os magos é coisa realmente absurda. Antes de tudo, ninguém soube realmente de onde vieram esses reis e onde eram os seus países. Outros fenômenos relatados como terremotos, trevas e trovões, assinalados pelo Bíblia, não o são pela História dos judeus nem dos romanos. Só os interessados no mito puderam ver tais acontecimentos.

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Os escritores que relataram fatos ocorridos na Palestina e no Império Romano não transmitiram estes fatos que teriam ocorrido na morte de Jesus à posteridade. Muita coisa pode ter acontecido naqueles tempos, menos as que estão nos Evangelhos. Pilatos, por exemplo, morreu ignorando a existência de Jesus. Os legionários romanos jamais receberam ordens para prendê-lo. Nenhum movimento social, político ou religioso contrário às normas da ocupação surgiu na Judéia, para justificar a condenação de seu líder por Pilatos. Entretanto, Jesus teria sido julgado e condenado pelos sacerdotes judeus, pois Pilatos deixara o caso praticamente em suas mãos e do povo, lavando as suas próprias.

Nem Pilatos, nem Caiaz, nem Hannã deixaram qualquer referência acerca desse processo. Nenhum deles poderia dizer qual a aparência física de Jesus. Tertuliano, baseando-se em Isaías, disse que ele era feio, ao passo que Agostinho afirmou que ele era bonito. Uns afirmaram que ele não tinha barba, outros que tinha. Sua cabeleira espessa e barba fechada resultaram de uma convenção realizada no século XII. O Santo Sudário retrata um Jesus Barbudo. Nada do que se refere a Jesus pode ser considerado ponto pacífico. Tudo é discrepante e contraditório.

Ora, se aqueles que tinham e os que ainda têm interesse em defender a veracidade da existência de Jesus não conseguiram chegar a um acordo no que lhe diz respeito, isso não é bom sinal. Moy escreveu: “Desde que se queira tocar em qualquer coisa real na vida de Jesus, esbarra-se logo na contradição e incoerência”. Por isso, até o aspecto físico de Jesus tornou-se discutível, o que ajuda a provar que ele nunca existiu. De acordo com a História, não se pode aceitar o que está escrito nos evangelhos como prova de sua existência. Também a Igreja não dispõe de argumentos válidos, nesse sentido. A arqueologia, por outro lado, nada encontrou até aqui capaz de elucidar a questão.

De tudo isto concluímos que a existência física de Jesus jamais poderá ser provada de modo irrefutável e, como consequência, é muito difícil de ser acatada por homens cultos e amantes da verdade. O romance, as lendas, os contos, a ficção, interessam como cultura, como expressão do pensamento de um povo, e desse modo são perfeitamente aceitos. Entretanto, a apresentação de tais modalidades de cultura como fatos reais, consumados e verdadeiros e como tal serem impostos ao povo, é condenável. A atitude do cristianismo tem sido, através dos tempos, justamente a que nós acabamos de condenar: a imposição das lendas, do romance e da novela como realidade palpável, como fato verdadeiro e incontestável.

Em sua “Vida de Jesus”, Strauss diz: “Poucas coisas são certas, nas

quais os ortodóxos se apoiam de preferência ‘as milagrosas e as sobrehumanas’, as quais jamais aconteceram. A pretensão de que a salvação humana depende da fé em coisas das quais uma parte é certamente fictícia, outra sendo incerta, é um absurdo, que em nossos dias nem sequer devemos nos preocupar, refutando-o”. Ernest Havet, comparando Jesus com Sócrates, diz que Sócrates é um personagem real, enquanto Jesus é apenas ideal. Homens como Platão e Xenófanes, os quais conviveram com Sócrates, deixaram o seu testemunho a respeito do mesmo. Em seus escritos relatam tudo sobre Sócrates: a vida, o pensamento, os ensinamentos e a morte. E nada do que lhe diz respeito foi adulterado, e, portanto, é autêntico, verdadeiro e

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indiscutível. Quanto a Jesus, não teve existência real, e aqueles aos quais se atribui escritos e referências em relação a ele, uns foram adulterados em seus escritos, outros não existiram.

Pilatos, que teria autorizado seu sacrifício, omite o fato quando relata os principais acontecimentos de seu governo. Por acaso mandaria matar um deus e não saberia? Assim, quem descreveu Jesus apenas imaginou o que ele teria sido, não foi sua testemunha. Renan disse em sua “Vida de Jesus”: “Nossa admiração por Jesus não desapareceria nem mesmo quando a ciência nada pudesse decidir de certo, e chegasse forçosamente às negações”. Termina dizendo que o divino encontrado pelos cristãos em Jesus é o mesmo que a beleza de Beatriz, que apenas resultou do pensamento de Dante ou de seu gênio literário. Da mesma forma, as belezas de Cristina residem nos sonhos religiosos dos hindus.

As maravilhas de Jesus e a beleza de Maria são produtos do gênio inventivo da liderança oradora dos mitos Jesus e Maria. Se de ambos apenas se diz o bem, há sinal que eles não tiveram existência real. Jesus Cristo é uma criação do homem, o qual esteve em cena apenas para realizar as profecias dos primários profetas judeus. Esta é também a opinião de Didon, exposta em seu livro “Vida de Jesus”. Diz ele que é suspeita a sonegação de quase trinta anos da vida de Jesus à história evangélica. “Nós apenas sabemos um nada da vida de Jesus”, escreveu Miron.

Os redatores dos Evangelhos e os primeiros autores eclesiásticos, recolhendo as tradições correntes na comunidade cristã, podem ter adquirido alguns fragmentos da verdade; mas como assegurar que, entre tantos elementos mitológicos e legendários, haja algo de verdade? Assim, a vida de Jesus em si é impossível. Acontece com Cristo o mesmo que acontece com todos os entes legendários: quanto mais os buscamos, menos os encontramos. A tentativa feita até aqui de colar na História, de arrebatar às trevas da teologia, um personagem que até a idade de trinta anos é absolutamente desconhecido, e que depois da referida idade aparece fazendo “os milagres” humanos impossíveis é absurda e ridícula.

Labanca, em “Jesus Cristo”, impugna a possibilidade de uma biografia científica de Jesus, baseando-se na inautenticidade dos Evangelhos, uma vez que os mesmos não tiveram finalidade histórica, mas somente religiosa e propagandísta.

Jesus não está nos Evangelhos por causa de sua esquisita divindade, mas porque isso convém aos seus propagadores e aos que ainda hoje vivem do seu nome, como lucrativo meio de vida.

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Jesus Cristo nos Evangelhos Assim como a história não tomou conhecimento da existência de Jesus,

os Evangelhos igualmente o desconhecem como homem, introduzindo-o apenas como um deus.

Maurice Vernés mostrou com rara maestria que o Velho Testamento não passa de um livro profético de origem apenas sacerdotal, fazendo ver que tudo que ai está contido não é histórico, sendo apenas simbólico e teológico. O mesmo acontece com o Novo Testamento e os Evangelhos. Tudo na Bíblia é duvidoso, incerto e sobrenatural. Tratando dos Evangelhos, mostra que sua origem foi mantida anônima, talvez de propósito, não se podendo saber realmente quem os escreveu. Por isso, eles começam com a palavra “segundo”; Evangelho segundo Mateus; segundo Marcos. Daí se deduz que não foram eles os autores desses Evangelhos, foram, no máximo, os divulgadores.

Igualmente deixaram em dúvida a época em que foram escritos. A referência mais antiga aos Evangelhos é a de Papias, bispo de Yerápoles, o qual foi martirizado por Marco Aurélio entre 161 e 180. Seu livro faz parte da biblioteca do Vaticano. Irineu e Eusébio foram os primeiros a atribuir a Marcos e a Mateus a autoria dos Evangelhos, mas ambos permanecem desconhecidos da história, como o próprio Jesus Cristo. Além do mais, pouco ou nenhum valor têm os Evangelhos como testemunha dos acontecimentos. Se só foram compostos no século III ou IV, ninguém pode garantir se os originais teriam realmente existido.

Os primitivos cristãos quase não escreveram, e os raros escritos desapareceram. Por outro lado, no Concílio de Nicéia foram destruídos todos os Evangelhos. Esse Concílio foi convocado por Constantino, que era pagão. Daí, devem ter sido compostos outros Evangelhos para serem aprovados por ele ou pelo Concílio. Com isto, perderam sua autenticidade, deixando de ser impostos pela fé para o serem pela espada.

Celso, no século II, combateu o cristianismo argumentando somente com as incoerências dos Evangelhos. Irineu diz que foram escolhidos os quatro Evangelhos, não porque fossem os melhores ou verdadeiros, mas apenas porque esses provieram de fontes defendidas por forças políticas muito poderosas da época. Os bispos que os apoiaram tinham muito poder político. Informam ainda que antes do Concílio de Nicéia os bispos serviam-se indiferentemente de todos os Evangelhos então existentes, os quais alcançaram o número de 315. Até então eles se equivaliam para os arranjos da Igreja.

Mesmo assim, os quatro Evangelhos adotados conservaram muitas das lendas contidas nos demais que foram recusados. De qualquer forma, era e continuam sendo todos anônimos, inseguros e inautênticos. Os adotados foram sorteados, e não escolhidos de acordo com fatores qualificativos. Mesmo estes adotados desde o Concílio de Nicéia sofreram a ação dos falsificadores que neles introduziram o que mais convinha à época, ou apenas a sua opinião pessoal.

Esta é a história dos Evangelhos que, através dos tempos, vêm sofrendo a ação das conveniências políticas e econômicas. Embora a Igreja houvesse se tornado a senhora da Europa, nem por isso preocupou-se em tornar os Evangelhos menos incoerentes. Sentiu-se tão firme que julgou que sua firmeza seria eterna.

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Os argumentos mais poderosos contra a autenticidade dos Evangelhos residem em suas contradições, incoerências, discordâncias e erros quanto a datas e lugares, e na imoralidade de pretender dar cunho de verdade a velhos e pueris arranjos dos profetas judeus. Essa puerilidade acumula-se à medida que a crítica verifica o esforço evangélico em tornar realidade os sonhos infantis de uma população ignorante. Para justificar sua ignorância, se dizem inspirados pelo Espírito Santo, o qual também é uma ficção religiosa, resultante da velha lenda judia segundo a qual o mundo era dominado por dois espíritos opositores entre si: o espírito do bem e o do mal. Adquiriram essa crença no convívio com os persas, os egípcios e os hindus.

Os egípcios tiveram também os seus sacerdotes, os quais escreveram os livros religiosos como o “Livro dos Mortos”, sob a inspiração do deus Anubis. Hamurabi impôs suas leis como tendo sido oriundas do deus Schamash. Moisés, descendo do Monte Sinai, trouxe as tábuas da lei como tendo sido ditadas a ele por Jeová. Maomé, igualmente, foi ouvir do anjo Gabriel, em um morro perto de Meca, boa parte do Alcorão. Alá teria mandado suas ordens por Gabriel.

O conhecimento mostra que as religiões, para se firmarem, têm-se valido muito mais da força física do que da fé. Quanto à verdade, esta não existe em suas proposições básicas. De modo que, Anubis, Schamash, Alá e Jeová nada mais são do que o Espírito Santo sob outros nomes. Stefanoni demonstrou que todos esses escritos não representam o Espírito Santo, mas o espírito dominante em cada época ou lugar. Assim surgiram os Evangelhos, os quais, como Jesus Cristo, foram inventados para atender a certos fins materiais, nem sempre confessáveis. “Não creria nos Evangelhos, se a isso não me visse obrigado pela autoridade da Igreja”. São palavras de Santo Agostinho. Com sua cultura e inteligência, poderia hoje estar no rol dos que não crêem.

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Jesus Cristo é um milagre No que diz respeito a Jesus Cristo, a teologia toma em consideração, sobretudo, o aspecto sobrenatural e os seus milagres. João Evangelista foi trazido para a cena a fim de criar o Logos, o Jesus metafísico, destruindo, assim, o Jesus-Homem. As contradições surgidas em torno de um Jesus saído da mente de pessoas primárias e ignorantes o deixaram muito vulnerável à crítica dos mais bem dotados em conhecimento. Então vem João e substitui o humano pelo divino, por ser o mais seguro.

O mesmo iria fazer a Igreja no século XV, quando, para abafar, grita contra os que haviam queimado miseravelmente uma heroína nacional dos franceses, tiraram o uniforme do corpo carbonizado de Joana D’Arc e vestiram a túnica dos santos. O mesmo aconteceu com Jesus: teve de deixar queimar a pele humana que lhe haviam dado, para revestir-se com a pele divina.

A Igreja, na impossibilidade de provar a existência de Jesus-Homem, inventou o Jesus-Deus. Assim atende melhor à ignorância pública e fecha a boca dos incrédulos. Do que relatei conclui-se que, no caso de Joana D’Arc, a igreja obteve os resultados esperados. Contudo, continua com as mesmas dificuldades para provar que Jesus Cristo, como homem ou como deus, tenha vivido fisicamente. E não é só. Ela não tem conseguido provar nada do que tem ensinado e imposto como verdade. Falta-lhe argumentos sérios e convincentes para confrontar com o conhecimento científico e com a história sem que sejam refutados.

A Igreja tudo fez para tornar Jesus Cristo a base e a razão de ser do cristianismo. E isto satisfez plenamente a seus interesses materiais nestes dois milênios de vida. Da mesma forma, os portugueses, os espanhóis e os ingleses, de Bíblia na mão e cruz no peito, foram à longínqua África para arrastar o negro como escravo, para garantir a infra-estrutura econômica do continente americano. Jamais se preocuparam em saber se o pobre coitado queria separar-se de seus entes queridos, nem o que estes iriam sofrer com a separação.

A Igreja está realmente atravessando uma crise. Acontece que os processos tecnológicos e científicos descortinam para o homem novos horizontes, e então ele percebe que foi iludido miseravelmente. Sua fé, sua crença e seu deus morrem porque não têm mais razão de ser. Jesus Cristo foi inicialmente um deus tribal, que teria vindo ao mundo por causa das desgraças dos judeus. Eles sonhavam ser donos do mundo, mas, mesmo assim, foram expulsos até mesmo de sua própria terra. Contudo, o cristianismo ganhou a Europa, com a adesão dos reis e imperadores.

Renan, não conseguindo encontrar o Jesus-Divino, tentou ressuscitar o Jesus-Homem. Mas o que conseguiu foi apenas descrever uma esquisita tragédia humana, cujo epílogo ocorreu no Céu. Jesus teria sido um altruísta mandado à Terra para que se tornasse uma chave capaz de abrir o Céu. Teria sido o homem ideal com que o religioso sonha desde seus primórdios.

Existindo o homem ideal, cuja idealidade ficasse comprovada, o histórico seria dispensável. Mas, ao tentar evidenciar um desses dois aspectos, Renan perdeu ambos. Mostrou então que, para provar o lado divino de Jesus, compuseram os Evangelhos. Seu objetivo: relatar exclusivamente a vida de um homem milagroso e não de um homem natural. Elaborando os Evangelhos, cometeram tantos erros e contradições, que acabaram por destruir, de vez, a Jesus. A exegese da vida de Jesus, baseada no conhecimento e na lógica, separando-se o ideal do real, eles destroem-se mutuamente. Quem descreve o

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Jesus real, não poderá tocar o ideal, e vice-versa, porque um desmente o outro.

Em suma, os Evangelhos não satisfazem aos estudiosos da verdade livre de preconceitos, destruindo o material e o ideal postos na personalidade mítica de Jesus. A fabulação tanto recobre o humano como o divino. Verificamos, então, estarmos em presença de mais um deus redentor ou solar. Jesus, através dos Evangelhos, pode ser Brama, Buda, Krishna, Mitra, Horus, Júpiter, Serapis, Apolo ou Zeus. Apenas deram-lhe novas roupas. O Cristo descrito por João Evangelista aproxima-se mais desses deuses redentores do que o dos outros evangelistas. É um novo deus oriental, lutando para prevalecer no ocidente como antes tinha lutado para impor-se no oriente. É um novo subproduto do dogmatismo religioso dos orientais, em sua irracional e absurda metafísica.

Por isso, criaram um Jesus divino, não por causa dos seus pretensos milagres, mas por ser o Logos, o Verbo feito carne. Essa essência divina é que possibilitou os milagres. É um deus antropomorfizado, feito conforme o multimilenar figurino idealizado pelo clero oriental.

Jesus não fez milagres, ele é o próprio milagre. Nasceu de um milagre, viveu de milagres e foi para o Céu milagrosamente, de corpo e alma, realizando assim mais uma das velhas pretensões dos criadores de religiões: a imortalidade da alma humana. Sendo Jesus essencialmente o milagre, não poderá ser histórico, visto não ter sido um homem normal, comum, passando pela vida sem se prender às necessidades básicas da vida humana.

Jesus foi idealizado exclusivamente para dar cumprimento às profecias do judaísmo, é o que verifica-se através dos Evangelhos. Tudo que ele fez já estava predito, muito antes do seu nascimento. Jesus surgiu no cenário do mundo, não como autor do seu romance, mas somente como ator para representar a peça escrita, não se sabe bem onde, em Roma ou, talvez, Alexandria. O judaísmo forneceu o enredo, o Vaticano ficou com a bilheteria. E, para garantir o êxito total da peça, a Igreja estabeleceu um rigoroso policiamento da platéia, através da confissão auricular. Nem o marido escapava à delação da esposa ou do próprio filho. O pensamento livre foi transformado em crime de morte. Os direitos da pessoa humana, calcados aos pés.

Nunca a mentira foi imposta de modo tão selvagem como aconteceu durante séculos com as mentiras elaboradas pelo cristianismo. À menor suspeita, a polícia religiosa invadia o recinto e arrastava o petulante para um escuro e nauseabundo calabouço onde as mais infames torturas eram infligidas ao acusado. Depois, arrastavam-no à praça pública para ser queimado vivo, o que, decerto, causava muito prazer ao populacho cristão.

Desse modo, a Igreja tornou-se um carasco desumano, exercendo o seu poder de modo impiedoso e implacável, ao mesmo tempo em que escrevia uma das mais terríveis páginas da história da humanidade. Durante muito tempo o sentimento de humanidade esteve ausente da Europa, e a mentira triunfava sobre a verdade. Milhares de infelizes foram sacrificados porque ousaram dizer a verdade. O poder público apoiava a farsa religiosa, e era praticamente controlado pela Igreja. Aquele que ousasse apontar as inverdades, as incoerências e o irracionalismo básicos do catolicismo, seria eliminado. Tudo foi feito para evitar que o cristianismo fracassasse, devido à fragilidade de seus fundamentos.

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O que a Igreja jura de mãos juntas ser a verdade, é desmentido pelo conhecimento, pela ciência e pela razão.

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Jesus Cristo, um mito bíblico Folheando as páginas da história humana, e não encontrando aí

qualquer referência à passagem de Jesus pela terra, nós, estudiosos do assunto, nos convencemos de que ele nada mais é do que um mito bíblico. Pesquisando os Evangelhos na esperança de encontrar algo de positivo, nos deparamos mais uma vez com o simbolismo e a mitologia. A história que o envolve desde o nascimento até a morte é a mesma do surgimento de inúmeros deuses solares ou redentores. É notável o cuidado que tiveram os compiladores dos Evangelhos para não permitir que Jesus praticasse senão o que estava estabelecido pelas profecias do judaísmo. Assim, a vida de Jesus nada mais é do que as profecias postas em prática.

O cristianismo e os Evangelhos são um modo de reavivamento da chama do judaísmo, ante a destruição do templo de Jerusalém. É uma transformação do judaísmo, de modo a existir dentro dos muros de Roma, de onde, posteriormente, ultrapassou os limites, alcançando boa parte do mundo. O sofrimento que o judaísmo infligiu ao povo pobre deveria ser o suficiente para que se acabasse definitivamente.

Acreditamos que a ambição de Constantino é que deu lugar ao alastramento do cristianismo, ou melhor dizendo, do judaísmo sob novas roupagens e novo enredo. Não fosse por isso, a falta de cumprimento das pretensas promessas de Abraão, de Moisés e do próprio Jesus Cristo já teria feito com que o judaísmo e o cristianismo fossem varridos da memória do homem. Há muito o homem já estaria convencido da falsidade que é a base da religião.

Idealizaram o cristianismo que, baseado no primarismo da maioria, deu novo alento ao judaísmo, criando assim, o capitalismo e a espoliação internacional. O liberalismo que surgiu graças ao monumental trabalho dos enciclopedistas é que possibilitou ao homem uma nova perspectiva de vida. A partir do enciclopedismo, os judeus e o judaísmo deixaram de ser perseguidos por algum tempo, e com isto, quase perdeu sua razão de ser.

Ao surgir Hitler e seu irracional nazismo, encontrou quase a totalidade dos judeus alemães integrada de corpo e alma na pátria alemã. O Führer deu então um novo alento ao judaísmo, ao perseguí-lo de modo desumano. Graças à perseguição de que foram vítimas os judeus de toda a Europa durante a guerra de 1940, surgiu a justificativa internacional para que se criasse o Estado de Israel. Talvez o Estado de Israel, revivendo sua velha megalomania racial, invalide em sangue a tendência natural para a socialização do mundo e universalização do conhecimento. A socialização do mundo acabaria com a irracional e absurda idéia de ser o judeu um bi-pátria. Nasça onde nascer, não se integra no meio em que nasce e vive. Daí a perseguição.

Os judeus ricos de todo o mundo carreiam para Israel todo o seu dinheiro e, com ele, a tecnologia e o conhecimento alugados. Graças a isto, poderá embasar ali os seus mísseis teleguiados, tudo quanto houver de mais avançado na química, física e eletrônica. Assim, terão meios de garantir a manutenção da sócio-economia estruturada no capitalismo. Esta é uma situação realmente grave, a qual poderá tornar-se dramática no futuro. O poder econômico concentrado em poucas mãos é uma ameaça contra o homem e sua liberdade.

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Apesar de o cristianismo liderar o movimento que faz do homem e do seu destino o centro das preocupações das altas lideranças sociais, a grande maioria dos homens está marginalizada, porque o poder econômico do mundo acumula-se em poucas mãos. E, se permanecemos crendo em tudo quanto criaram os judeus de dois milênios atrás, isso é sinal de que não evoluímos o bastante para justificar o decurso de tanto tempo. Se o progresso científico e a tecnologia avançada não conseguirem nos libertar dos mitos, estará patente mais uma vez o estado pueril em que ainda se encontra o desenvolvimento mental do homem.

O homem não será totalmente livre enquanto permanecer preso às convenções religiosas, as quais possuem como único fundamento o mito e a lenda. Se assim falamos, não é que estejamos sendo movidos por um anti-semitismo ou um anticlericalismo doentio; de modo algum isto é verdadeiro. O que nos motiva à colocar em pauta o assunto é o desejo de ver um crescente número de pessoas partilhar conosco do conhecimento da verdade. Temos dito repetidas vezes que tudo aquilo em que se fundamenta o cristianismo é apenas uma compilação de velhas lendas dos deuses adorados por diversos povos.

Strauss diz que saiu do Velho Testamento a pretensão de que Jesus encarnar-se-ia em Maria, através do Espírito Santo. Em números, 24:17 estava previsto que uma estrela guiaria os reis magos. Cantu lembra que, juntando-se os livros do Velho Testamento com os do Novo, teremos 72 livros, o mesmo número de anciãos teria Moisés escolhido para subir com ele ao Monte Sinai. O Velho Testamento previa que o povo seguiria a Jesus, mesmo sem conhecê-lo. Seriam os peixes retirados da água pelos apóstolos, e os mesmos da pescaria de São Jerônimo.

Moisés teria feito da pedra o símbolo da força de Jeová, por isto, Jesus devia dar a Pedro as chaves do céu. Oséias 11:1 e Jeremias 31:15-16-4-10-28 profetizam que o Messias seria chamado por Jeová, do Egito, ligado ao pranto de Raquel pelo assassinato dos filhos. Então arranjaram a terrível matança dos inocentes, a qual consta apenas em dois evangelhos, sendo silenciado o assunto pelos outros dois e pelos relatos enviados a Roma. Strauss lembra também que a discussão de Jesus com doutores do templo, assim como a passagem de Ana e Semeão, bem como a circuncisão, estava tudo previsto no Velho Testamento.

Diz ainda que ele teria ido para Nazaré após o regresso do Egito

apenas para que os Evangelhos pudessem lhe atribuir o apelido de nazareno. Entretanto, Nazaré não existia, pelo menos naquela época; era uma cidade fantasma, só passando a existir nas páginas dos Evangelhos. Assim, Jesus foi nazareno, não por ter nascido em Nazaré, visto que não poderia nascer em dois lugares, como também não poderia nascer em uma cidade que não existia. Ele foi nazareno por ter sido um comunista essênio.

A anunciação e o nascimento de João Batista foram copiados do Talmud. As tentações de Jesus pelo demônio, no deserto, segundo Emilio Bossi, foram copiadas das Escrituras. Os quarenta dias passados no deserto são oriundos do cabalismo de Roma e da crença dos babilônios, os quais atribuíam a esse número força cabalística. Por isso, tal número repete-se várias vezes no decorrer das dissertações bíblicas: o dilúvio descrito na Bíblia

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durou quarenta dias; Moisés esteve quarenta anos na corte do Faraó; passou quarenta anos no deserto, e os ninivitas jejuaram quarenta dias.

Ezequiel teria sido conduzido por um espírito de um lugar para outro, através do espaço. Abraão teria sido tentado pelo demônio; os mesmos episódios passaram ao Novo Testamento, tendo Jesus como protagonista. Perguntamos nós: por que tais coisas não se repetem mais? A resposta só pode ser esta: elas jamais aconteceram. Tudo isto não passa de lendas ou sonhos, os quais foram impostos como fatos reais.

O Talmud diz: “Então se abrirão os olhos aos cegos e os ouvidos aos surdos”. Jesus teria de dizer: “Então o coxo pulará como o cervo e a língua dos mudos se soltará”. Em Lucas 4:27 Jesus cura Naamã, reproduzindo uma cura efetuada por Eliseu, de um outro leproso. Elias e Eliseu ressuscitaram mortos, por seu lado, Jesus ressuscitaria a Lázaro. Os discípulos de Jesus, não sabendo como curar os endemoniados, recorrem ao Mestre. Passagem semelhante está em Eliseu, cujo servo teria recorrido a ele para curar o filho da sunamita.

A multiplicação dos pães e dos peixes é a repetição de Moisés no deserto, fazendo cair maná e cordonizes. Moisés transformou as águas do rio em sangue e Jesus transforma a água em vinho. Em Jeremias 7:11 e Isaías 56:7 está escrito que o templo não deve se converter em um covil de ladrões, o que leva os evangelistas a dizer que Jesus expulsou os mercadores do templo. A transfiguração de Jesus é a mesma coisa que aconteceu a Moisés, ao subir ao Monte Sinai, quando encontrou com Jeová. Aliás, Moisés havia prometido que viria um profeta semelhante a ele.

A traição de Judas repete o mesmo acontecimento em relação a Crestus. A prisão de Jesus foi descrita de modo igual no Talmud. A fuga dos apóstolos estava prevista por Isaías. Jesus foi crucificado na Páscoa, representando o cordeiro pascal. Essas comparações patenteiam a existência do cristianismo muito antes de Filon. De onde se deduz que Jesus foi inventado de acordo com as Escrituras, sem esquecer de anexar as idéias de Filon ao relato de sua pretensa vida.

Fócio demonstrou que os Evangelhos foram copiados de Filon. São Clemente e Orígenes, embora fossem padres da Igreja, orientaram-se por Filon e não pelo bispo de Roma. Estas citações seriam suficientes para se provar que Jesus jamais existiu. É apenas um produto da mente clerical, a qual o compôs baseada em mitos e lendas.

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As contradições sobre Jesus Cristo Como tudo o mais que se refere à existência de Jesus na terra, também a sua ascendência é objeto de controvérsias. Segundo Mateus e Lucas, Jesus descende ao mesmo tempo de David e do Espírito Santo. Entretanto, como filho do Espírito Santo, não poderá descender de José, conseqüentemente deixa de ser descendente de David e o Messias esperado pelos judeus. Assim, Jesus ficará sendo apenas Filho de Deus, ou Deus, visto ser uma das três pessoas da trindade divina.

Em ambos os evangelhos acima citados há referências quanto a data de nascimento de Jesus, mas tais referências são contraditórias — o Jesus descrito por Mateus teria onze anos quando nasceu o de Lucas. Mateus diz que José e Maria fugiram apressadamente de Belém, sem passar por Jerusalém, indo direto para o Egito, após a adoração dos Reis Magos. Herodes iria mandar matar as criancinhas. Todavia, Lucas diz que o casal estivera em Jerusalém e acrescenta a narração da cena de que participaram Ana e Semeão. De modo que um evangelista desmente o outro.

Lucas não alude à matança das criancinhas, nem à fuga para o Egito. Por outro lado, Marcos e João não se reportam à infância de Jesus, passando a narrar os acontecimentos de sua vida a partir do seu batismo por João Batista. Mateus que conta o regresso de Jesus, vindo do Egito e indo para Nazaré, o deixa no esquecimento, voltando a ocupar-se dele somente depois dos seus trinta anos, quando ele procura João Batista. Diz ainda que João já o conhecia e, por isto, não o queria batizar, por ser um espírito superior ao seu.

Lucas narra a discussão de Jesus com os doutores da lei, aos doze anos de idade. Sendo perguntado pela mãe sobre o que estava ali fazendo, teria respondido que se ocupava com os assuntos do pai.

Emilio Bossi, referindo-se a esta passagem, estranha a atividade da mãe. Se o filho nascera milagrosamente, e ela não o ignora, só poderia esperar dele uma seqüência de atos milagrosos. Mesmo a sua presença no templo, entre os doutores, não deveria causar preocupação à sua mãe, visto saber ela que o filho não era uma criança qualquer, e sim um Deus. Lucas diz que os samaritanos não deram boa acolhida a Jesus, o que muito irritara a João. Contudo, João, o Evangelista, diz que os samaritanos deram-lhe ótima acolhida e, inclusive, chamaram-no de salvador do mundo.

Os evangelistas divergem também quanto ao relato da instituição da eucaristia. Três deles afirmam que Jesus a instituiu no dia da Páscoa, enquanto João afirma que foi antes. Enquanto os três descrevem como aconteceu, João silencia. Na última noite Jesus estava muito triste, como, aliás, permaneceria até a morte. Pondo o rosto em terra, orou durante muito tempo. Segundo os evangelistas, ele estava de tal modo triste e conturbado que teria suado sangue, coisa, aliás, muito estranha, nunca verificada cientificamente.

Enquanto isto, seus companheiros dormiam despreocupadamente, não se incomodando com os sofrimentos do Mestre. Entretanto João não fala sobre esse estado de alma do Mestre. Pelo contrário, diz que Jesus passara a noite conversando, quando se mostrava entusiasta de sua causa e completamente tranqüilo.

Lucas, Mateus e Marcos afirmam que o beijo de Judas o denunciara aos que vieram prendê-lo. Todavia, João diz que foi o próprio Jesus quem se dirigiu aos soldados dizendo-lhes tranqüilamente: “Sou eu”. Lucas é o único que fala no episódio da ida de Jesus de Pilatos para Herodes Antipas. Os outros caem em contradição quanto à hora do julgamento pelo Conselho dos Sacerdotes em

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presença do povo. João não fala a respeito do depoimento de Cireneu, nem na beberagem que teriam dado a Jesus. Omite-se ainda quanto à discussão dos dois ladrões, crucificados com Jesus, e quanto à inscrição posta sobre a cruz. De forma que seu relato é bastante diferente daquilo que os outros contaram.

E as divergências continuam ainda no que concerne ao quebramento das pernas, ao embalsamamento, à natureza do sepulcro e ao tempo exato em que ele esteve enterrado. Quanto ao embalsamamento, por exemplo, há muita coisa que não foi dita. Teriam retirado seu cérebro e intestinos como se procede normalmente nesses casos? Se a resposta for positiva, como explicar o fato de Jesus, após a ressurreição, pedir comida? Como se vê, as verdades bíblicas são além de controvertidas, incompreensíveis.

Lucas diz que Jesus referiu-se aos que sofrem de fome e sede, enquanto Mateus diz que ele se referia aos que têm fome e sede de justiça, aos pobres de espírito. Uns afirmam que Jesus tratara os publicanos com desprezo e ódio, outros dizem que ele se mostrou amigável em relação a eles. Para uns, Jesus teria dito que publicassem as boas obras, para outros, que nada dissessem a respeito.

Uma hora Jesus aconselha o uso da força física e da resistência, mandando até que comprassem espada; noutra, ameaça os que pretendem usar a força. Marcos, Mateus e Lucas dizem que Jesus recomendara o sacrifício. Entretanto, não tomou parte em nenhum deles. Mateus diz que Jesus afirmou não ter vindo para abolir a lei nem os profetas, enquanto Lucas diz que ele afirmara que isso já estava no passado, já tivera o seu tempo. Os três afirmam ainda que Jesus apenas pregara na Galiléia, tendo ido raramente a Jerusalém, onde era praticamente desconhecido. Todavia, João diz que ele ia constantemente a Jerusalém, onde realizara os principais atos de sua vida.

As coisas ficam de modo que não se sabe quem disse a verdade, ou, melhor dizendo, não sabemos quem mais mentiu. Ora, se Jesus tivesse realmente praticado os principais atos de sua vida em Jerusalém, seria conhecido suficientemente e, então, não teriam que pagar a Judas 30 dinheiros para entregar o Mestre. João, que teria sido o precursor do Messias, não se fez cristão, não seguiu a Jesus, pregando apenas o judaísmo no aspecto próprio. Entretanto, depois de preso, enviou um mensageiro a Jesus, indagando-lhe: “És tu que hás de vir, ou teremos de esperar um outro?”, ao que Jesus teria respondido: “Você é o profeta Elias”. Talvez houvesse esquecido que o próprio João antes já declarara isso mesmo. Contam os Evangelhos que, desde a hora sexta até Jesus exalar o último suspiro, a terra cobriu-se de trevas. Contudo, nenhum escritor da época comenta tal acontecimento. Marcos 25:25 diz que Jesus foi sacrificado às 9 horas.

João diz que ao meio dia ele ainda não havia sido condenado à morte, e acrescenta que, a esta hora, Pilatos o teria apresentado ao povo exclamando: “Eis aqui o vosso rei”! Emilio Bossi assinala detalhadamente todas estas contradições, e as que se deram após a pretensa ressurreição, dizendo que nada do que vem nos Evangelhos deve ser levado a sério. O sobrenatural é o clima em que se encontra a Bíblia, e esta é apenas o resultado da combinação de crenças e superstições religiosas dos judeus com as de outros povos com os quais conviveram.

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As contradições evangélicas Mateus e Marcos afirmam enfaticamente que os discípulos de Jesus abandonaram tudo para seguí-lo, sem sequer perguntar antes quem ele era. Em Mateus, lê-se que Jesus teria afirmado que não viera para abolir as leis de Moisés. Contudo, esta seria uma afirmativa sem sentido algum, visto que hoje sabemos que os livros atribuídos a Moisés são apócrifos. Segundo João, quando Jesus falou ao povo, foi por este acatado e proclamado rei de Israel aos gritos de “Hosanna”. Mas, um pouco adiante, ele se contradiz, afirmando que o povo não acreditou em Jesus, e praguejando contra ele, o ameaçava a ponto de ele ter procurado se esconder.

Mateus diz que Jesus entrou em Jerusalém vitoriosamente quando a multidão o teria recebido de modo festivo, e marchando com ele, cobria o chão com folhas, flores e com os próprios mantos, gritando: “Hosanna ao Filho de David! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!” Aos que perguntavam quem era, respondiam “Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia”. No entanto, outros evangelistas afirmam que ele era um desconhecido em Jerusalém. Disseram que Pilatos estava convencido da inocência de Jesus, razão pela qual teria tentado salvá-lo, o abandonando logo em seguida, indefeso e moralmente arrasado.

João faz supor que Pilatos teria deixado que matassem Jesus, temendo que denunciassem sua parcialidade ao imperador. Se ele não castigasse a um insurreto que se intitulava rei dos judeus, estaria traindo a César. No entanto, tal atitude por parte de Pilatos não combina com o seu retrato moral, pintado por Filon. Era um homem duro e tão desumano quanto Tibério.

A vida de mais um ou menos um judeu, para ambos, era coisa da pouca importância. Filon faz de Pilatos um carrasco e mostra que ele, em Jerusalém, agia com carta branca. Além disso, as reações de Pilatos com Tibério eram quase fraternais e ele era um delegado de absoluta confiança do imperador. Mas como os Evangelhos foram compostos dentro dos muros de Roma, teriam de ser de modo a não desagradar às autoridades Imperiais. Pilatos foi posto nisso apenas porque os bens e a vida dos judeus estavam sob sua custódia. Entretanto, como a ocupação romana foi feita em defesa dos judeus ricos, contra os judeus pobres e os renegados do deserto, as autoridades romanas temiam muito mais ao povo do que a Roma.

Além disso, muitas eram as razões para não gostarem de Pilatos nem de Herodes Antipas. Eles eram antipáticos aos judeus pobres, por isso teriam temido a ira popular. Esta é a razão apresentada pelos historiadores que levam a sério os Evangelhos, justificando assim o perdão do criminoso Bar Abbas e a condenação do inocente Jesus. Entretanto, se as legiões romanas realmente ali estivessem naquela época, nem Pilatos nem Herodes tomariam em consideração a opinião do povo, porque se sentiriam garantidos nos seus postos. Além disso, a opinião popular é fator ainda bem novo na técnica de formação dos governos. Tudo o que sabemos é o que está nos Evangelhos. Jesus era um homem do povo e um dos que temiam o governo.

Por isso é que em Marcos 16:7 encontraremos Jesus aconselhando os discípulos a fugirem. Em Lucas 10:4 Jesus está aconselhando aos discípulos a não falarem com ninguém em suas viagens. Em Mateus 35:23 encontraremos Jesus reprovando os judeus que haviam assassinado Zacarias, filho de Baraquias, entre o adro do templo e o altar. A história, no entanto, afirma ser esse episódio imaginário.

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Flávio Josefo relata um acontecimento semelhante, registrado no ano 67, 34 anos após a pretensa morte de Jesus, referindo-se no caso a um homem chamado Baruch. Isto evidencia o descuido dos compiladores dos Evangelhos, que os compuseram sem levar em conta que, no futuro, as contradições neles encontradas seriam a prova da inautenticidade dos fatos relatados. Nicodemos, que teria sido um fariseu rico, membro de Senedrin, homem de costumes moderados e de boa fé, não se fez cristão, apesar de ter agido em defesa de Jesus contra os próprios judeus. Por certo ele, como João Batista, não se convenceram da pretensa divindade de Jesus Cristo, nem mesmo se entusiasmaram com suas pregações.

Outra ficção evangélica é debitada a Paulo, o qual inventou um Apolo, que não figura entre os apóstolos e em nenhum outro relato. Em Atos dos Apóstolos 18, lê-se: “Veio de Éfeso um judeu de nome Apolo, de Alexandria, homem eloqüente e muito instruido nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor, falando com fervor de espírito, ensinando com diligência o que era de Jesus, e somente conhecia João Batista. Com grande veemência convencia publicamente os judeus, mostrando-lhes pelas Escrituras que Jesus era o Cristo”. Seria um judeu fiel ao judaísmo que, segundo Paulo, procurava levar seus próprios patrícios para o Cristo? Na epístola I aos Coríntios, diz que: “Apolo era igual a Jesus”.

Paulo, já no fim do seu apostolado, afirma que o imperador Agripa era um fariseu convicto, e que sua religião era a melhor que então existia. Era, assim, um divulgador do cristianismo afirmando a excelência do farisaísmo. Falando de Jesus, Paulo descreve apenas um personagem teológico e não histórico. Não se refere ao pai nem à mãe de Jesus, sendo um ser fantástico, uma encarnação da divindade que viera cumprir um sacrifício expiatório, mas não fala do modo como teria sido possível a encarnação. Não diz sequer a data em que Jesus teria nascido. Não relata como nem quando foi crucificado. No entanto, estes dados têm muita importância para definir Jesus como homem ou como um ser sobrenatural. Está patente, desse modo, que Paulo é uma figura tão mitológica quanto o próprio Jesus.

Em Atos dos Apóstolos 28:15 e 45 Paulo diz que quando chegou a Pozzuoli, ele e os seus companheiros foram ali bem recebidos, havendo muita gente à beira da estrada os esperando. Entretanto, chegando a Roma, teve de defender-se das acusações de haver ofendido em Jerusalém ao povo e aos ritos romanos. Na Epístola aos Romanos 1:8, Paulo diz que a fé dos cristãos de Roma alcançara todo o mundo, razão pela qual encerraria sua missão tão logo regressasse da Espanha, onde saudaria um grande número de fiéis.

Mas, se fosse assim, por que Paulo teve de se defender perante os cristãos de Roma contra o seu próprio judaísmo? Com pouco tempo Paulo já pensava encerrar sua missão porque o cristianismo já havia se universalizado. Entretanto, ele continuava considerando como melhor religião o farisaísmo. O cristianismo a que Paulo se referia deveria ser anterior a Jesus Cristo, que era o seguido pelos cristãos de Roma, e não pelos cristãos dos lugares por onde Paulo havia passado pregando. Eusébio disse que o cristianismo de Paulo era o terapeuta do Egito, e Tácito disse que os hebreus e os egípcios formavam uma só superstição.

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Algumas fontes do cristianismo Krishna foi igualmente um deus redentor, nascido de uma virgem pura e

bela, chamada Devanaguy. Sua vinda messiânica foi predita com muita antecedência, conforme se vê no Atharva, no Vedangas e no Vedanta. O deus Vishnu teria aparecido a Lacmy, mãe da virgem Devanaguy, informando que a filha iria ter um filho-deus e qual o nome que deveria lhe dar. Mandou que não deixasse a filha se casar, para que se cumprissem os desígnios de deus. Isso teria acontecido 3.500 anos A.E.C. no Palácio de Madura. O filho de Devanaguy destronaria seu tio.

Para evitar que acontecesse o que estava anunciado, Devanaguy teria sido encerrada em uma torre, com guardas na porta. Mas, apesar de tudo, a profecia de Poulastrya se cumpriu, “O espírito divino de Vishnu atravessou o muro e se uniu à sua amada”. Certa noite ouviu-se uma música celestial e uma luz iluminou a prisão, quando Vishnu apareceu em toda a sua majestade e esplendor. O espírito e a luz de deus ofuscaram a virgem, encarnando-se. E ela concebeu. Uma forte ventania rompeu a muralha da prisão quando Krishna nasceu.

A virgem foi arrebatada para Nanda, onde Krishna foi criado, lugar este ignorado do rajá. Os pastores teriam recebido um aviso celeste do nascimento de Krishna, e então teriam ido adorá-lo, levando-lhe presentes. Então o rajá mandou matar todas as criancinhas recém-nascidas, mas Krishna conseguiu escapar.

Aos 16 anos Krishna abandonou a família e saiu pela Índia pregando sua doutrina, ressuscitando os mortos e curando os doentes. Todo o mundo corria para vê-lo e ouvi-lo. E todos diziam: “Este é o redentor prometido a nossos pais”. Cercou-se de discípulos, aos quais falava por meio de parábolas, para que assim só eles pudessem continuar pregando suas idéias.

Certo dia os soldados quiseram matar Krishna, quando seus discípulos amedrontados fugiram. O Mestre repreendendo-os, e chamou-os de homens de pouca fé, com o que reagiram e expulsaram os soldados. Crendo que Krishna fosse uma das muitas transmigrações divinas, chamaram-no “Jazeu”, o nascido da fé. As mulheres do povo perfumavam-no e incensavam-no, o adorando. Chegando sua hora, Krishna foi para as margens do rio Ganges, entrando na água. De uma árvore, atiraram uma flecha que o matou. O assassino teria sido condenado a vagar pelo mundo. Quando os discípulos procuraram recolher o corpo, não o encontraram mais porque, então, já teria subido para o céu.

Depois Vishnu o teria mandado novamente à Terra pela nona vez, receberia o nome de Buda. O nascimento de Buda teria sido igualmente revelado em sonhos à sua mãe. Nasceu em um palácio, sendo filho de um príncipe hindu. Ao nascer, uma luz maravilhosa teria iluminado o mundo. Os cegos enxergaram, os surdos ouviram, os mudos falaram, os paralíticos andaram, os presos foram soltos e uma brisa agradável correu pelo mundo. A terra deu mais frutos, as flores ganharam mais cores e fragrância, levando ao céu um inebriante perfume. Espíritos protetores vigiaram o palácio, para que nada de mal acontecesse à mãe.

Buda, logo ao nascer, pôs-se de pé maravilhando os presentes. Uma estrela brilhante teria surgido no céu no dia do seu nascimento. Nasceu também, nesse mesmo dia, a árvore de Bó, em cuja sombra o menino deus descansaria. Entre os que foram ver Buda estava um velho que, como

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Semeão, recebeu o dom da profecia. Sua tristeza seria não poder assistir à glória de Buda por ser muito velho. Buda teria maravilhado os doutores da lei com a sua sabedoria. Com poucos anos de idade, teria começado sua pregação. Teria ficado durante 49 dias sob árvore de Bó, e sido tentado várias vezes pelo demônio. Pregando em Benares, convertera muita gente.

O mais célebre de seus discursos recebeu o nome de “Sermão da Montanha”. Após sua morte apareceria também aos seus discípulos, trazendo a cabeça aureolada. Davadatta o trairia do mesmo modo que Judas a Jesus. Nada tendo escrito, os seus discípulos recolheriam os seus ensinamentos orais. Buda também tivera os seus discípulos prediletos, e seria um revoltado contra o poder abusivo dos sacerdotes bramânicos. Mais tarde, o budismo ficaria dividido em muitas seitas, como o cristianismo. Quando missionários cristãos estiveram na índia, ficaram impressionados e começaram a perceber como nasceu o romance da vida de Jesus. O Papa do budismo, o Dalai-Lama, também se diz ser infalível.

Mitra, um deus redentor dos persas, foi o traço de união entre o cristianismo e o budismo. Cristo foi um novo avatar, destinado aos ocidentais. Mitra era o intermediário entre Ormuzd e o homem. Era chamado de Senhor e nasceu em uma gruta, no dia 25 de dezembro. Sua mãe também era virgem antes e depois do parto. Uma estrela teria surgido no Oriente, anunciando seu nascimento. Vieram os magos com presentes de incenso, ouro e mirra, e adoraram-no. Teria vivido e morrido como Jesus. Após a morte, a ressurreição em seguida.

Fírmico descreveu como era a cerimônia dos sacerdotes persas, carregando a imagem de Mitra em um andor pelas ruas, externando profunda dor por sua morte. Por outro lado, festejavam alegremente a ressurreição, acendendo os círios pascais e ungindo a imagem com perfumes. O Sumo Sacerdote gritava para os crentes que Mitra ressuscitara, indo para o céu para proteger a humanidade.

Os rituais do budismo, do mitraísmo e do cristianismo são muito semelhantes. Horus foi o deus solar e redentor dos egípcios. Horus, como os deuses já citados, também nasceria de uma virgem. O nascimento de Horus era festejado a 25 de dezembro. Amenófis III criou um mito religioso que depois foi adaptado ao cristianismo. Trata-se da anunciação, concepção, nascimento e adoração de Iath. Nas paredes do templo, em Luxor, encontram-se os referidos mistérios. Baco, o deus do vinho, foi também um deus salvador. Teria feito muitos milagres, inclusive a transformação da água em vinho e a multiplicação dos peixes. Em criança, também quiseram matá-lo. Adonis era festejado durante oito dias, sendo quatro de dor e quatro de alegria; as mulheres faziam as lamentações, como carpideiras.

O rito do Santo Sepulcro foi copiado do de Adonis. Apagavam todos os círios, ficando apenas um aceso, o qual representava a esperança da ressurreição. O círio aceso ficava semi-escondido, só reaparecendo totalmente no momento da ressurreição, quando então o pranto das mulheres era substituído por uma grande alegria. Também os fenícios, muitos milênios antes, já tinham o rito da paixão, do qual copiaram o rito da paixão de Cristo. Todos os deuses redentores passaram pelo inferno durante os três dias entre a morte e a ressurreição. Isto é o que teria acontecido com Baco, Osiris, Krishna, Mitra e Adonis. Nestes três dias, os crentes visitavam os seus defuntos, segundo Dupuis, em “Lè Origine des tous les cultes”.

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Todos os deuses redentores eram também deuses-sol, como Átis, na Frígia; Balenho, entre os celtas; Joel, entre os germanos; Fo, entre os chineses. Assim, antes de Jesus Cristo, o mundo já tivera inúmeros redentores. Com este ligeiro apanhado da mitologia dos deuses, deixo patente a origem do romance do Gólgota. Acredito ter esclarecido quais as fontes onde os criadores do cristianismo foram buscar inspiração.

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Jesus Cristo, uma cópia religiosa Os artigos anteriores nos permitem constatar que, nas diversas épocas

da história, as religiões transformam-se variando em razão da complexidade cada vez maior das sociedades em que elas existem.

Vimos que a crença em um deus redentor é muito anterior ao judaísmo, sempre ligada à ânsia da necessidade de redenção das tremendas aflições do povo. Quanto ao Jesus Cristo, este resultou de uma série de mitos que os hebreus copiaram dos babilônicos, dos egípcios e de outros povos, visando com isto dar consistência ao judaísmo.

Estudos filológicos forneceram as bases para o estabelecimento de um traço de união entre as crenças dos deuses orientais e o judaísmo. Vejamos, por exemplo, as palavras Ahoura-Mazzda e Jeová, que significam “O que é”. Partindo de velhas lendas orientais, e baseando-se na origem comum da palavra, foi compilado o Gênese, numa tentativa de explicar a criação do mundo. Segundo o Zend-Avesta, o Ser Eterno criou o céu e a Terra, o Sol a Lua, as estrelas, tudo em seis períodos, aparecendo o homem por último.

O descanso foi posto no sétimo dia. Manu havia ensinado, muito antes, que no começo tudo era trevas, quando Bhrama dispersou-as, criou e movimentou a água, em seguida produziu os deuses secundários, os anjos dirigidos por Mossura, os quais posteriormente se rebelariam contra Deus. Veio então Shiva, e os prendeu no inferno. Shiva tornou-se a terceira pessoa da Santíssima Trindade Bhramânica em conseqüência das sucessivas invasões bárbaras sofridas pela Índia. Os bárbaros, crendo em Shiva, o deus da lascívia e da sensualidade, impuseram sua inclusão, surgindo assim a trindade divina de Bhrama.

Manu ensinara igualmente que Deus criara o homem e a mulher, fazendo-os apenas inferior a Devas, isto é, Deus. O primeiro homem recebera o nome de Adima ou Adam, e a primeira mulher, Heva, significando o complemento da vida. Foram postos no paraíso celeste e receberam ordem de procriar. Deveriam adorar a Deus, não podendo sair do paraíso. Mas, um dia, indo ver o que havia fora dali, desapareceram. Bhrama perdoou-os, mas expulsou-os, condenando-os a trabalhar para viver. E disse que, por haverem desobedecido, a Terra se tornaria má, porque o espírito do mal dela se apoderara.

Entretanto, mandaria seu filho Vishnu que, se encarnando em uma virgem, redimiria a humanidade, libertando-a definitivamente do pecado da desobediência.

Ormuzd teria prometido ao primeiro casal humano que, se fossem bons, seriam felizes na terra. Mas Arimã mandou que um demônio em forma de serpente aconselhasse a desobedecerem a deus. Comeram os frutos que Arimã lhes deu, acabou a felicidade humana, e todos os que nascessem daí em diante seriam infelizes. Sendo levados cativos para a Babilônia, os judeus ali encontraram tal lenda. Libertos, voltando à Judéia, trouxeram essa crendice, como também a crença da imortalidade da alma e da vida futura, dos espíritos bons e espíritos maus, surgindo daí os anjos Gabriel, Miguel e Rafael, os querubins e serafins. Nasceu daí o mito do diabo, o anjo rebelado.

A palavra paraíso é o termo persa que significa jardim. Os persas, os hindus, os egípcios e os gregos acreditavam no paraíso. Da mesma forma, todos eles acreditavam no inferno. Entretanto, as crenças antigas

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desconheciam os castigos eternos, que foram criados pelo cristianismo, aliás, uma das poucas coisas originárias dessa crença. Também o purgatório, naturalmente, é outra novidade do cristianismo, sendo desconhecido do judaísmo. A idéia do purgatório vem de Platão, que havia dividido as almas em puras, curáveis e incuráveis.

Os filhos de Adima e Heva haviam se tornado numerosos e maus. Por isso, Deus mandou o dilúvio para matá-los. Mas deu ordem a Vadasuata para construir um barco e nele entrar com a família, devido ao fato de ser um homem virtuoso. Deveria levar consigo, além da família, um casal de cada espécie de animal existente: esta é a história do dilúvio relatada nos Vedas, e que foi incluída na Bíblia dos cristãos.

As origens do cristianismo repousam, incontestavelmente, nas lendas e crenças dos deuses mitológicos, não apenas dos judeus, mas também de outros povos.

Os caldeus e os fenícios, como os judeus, haviam se especializado no comércio, e por dever de ofício, se alfabetizaram. Assim, sabendo ler e escrever, puderam copiar as lendas e o folclore dos povos com os quais comerciavam e conviviam, os quais puderam adquirir longevidade e se fixar melhor na memória humana.

Sendo comerciantes por excelência, os judeus perceberam que a religião poderia se tornar uma boa mercadoria, através da qual adviria o domínio de muitos povos e vontades. Desta forma, tendo compilado o que julgaram mais interessante ou mais proveitoso em relação aos seus propósitos, passaram a difundir pelo mundo as suas idéias religiosas. Com isto, o conhecimento e a razão foram substituídos pelas crendices e superstições religiosas.

Desde há muito a religião tem servido para moderar os impulsos humanos, sobretudo daqueles que pertencem a uma classe social menos favorecida. Saliento o prejuízo que o mundo tem sofrido com o rebaixamento mental imposto com as crenças e superstições religiosas, com o que o conhecimento sofre uma estagnação sensível.

No entanto, o homem tem se deixado levar pelas crenças e práticas religiosas sem que nenhum benefício lhe seja dado em retribuição. O homem tem feito tudo para si mesmo, apesar de sua religiosidade. A única classe beneficiada realmente com a religião é a dos sacerdotes.

Bom, vamos retomar o assunto em pauta, após essa rápida digressão. A Bíblia cita dez patriarcas que teriam morrido em idade avançada, antes do dilúvio. Contudo, essa lenda provém da tradição caldáica, segundo a qual dez reis governaram durante 432 anos. Da mesma forma, as lendas hindus, egípcias, árabes, chinesas ou germânicas fazem referência a homens que tiveram uma longa vida, como a do Matusalém da Bíblia.

Igualmente, a lenda de Abraão, que deveria sacrificar o seu filho Isaac, procede de lendas anteriores ao judaísmo. O livro das profecias hindus relata uma história igual. Ramatsariar conta que Adgitata, protegido de Bhrama por ser um homem de bem, teve um filho que nasceu tão milagrosamente como Jesus. Entretanto Bhrama, para experimentá-lo, lhe ordena que sacrificasse o filho. Ele obedece, mas Bhrama impede-o no momento exato. Seu filho seria o pai de uma virgem a qual, por sua vez, seria a mãe do deus-homem.

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José e a mulher de Putifar foi a cópia de uma velha lenda egípcia, conforme documentos recentemente traduzidos. Era uma história intitulada “Os dois irmãos”.

Emílio Bossi, relatando o achado, dá a palavra a Jacolliot: “Um homem da Índia fez leis políticas e religiosas; chamava-se Manu. Esse mesmo Manu foi o legislador egípcio, Manas. Um cretense vai ao Egito estudar as instituições que pretende dar ao seu país, e a história confirma isto dizendo que esse cretense foi Minos. Enfim, o libertador dos escravos judeus chamava-se Moisés, que teria recebido as leis das mãos do próprio Jeová. Temos, então, Manu, Manes, Minos e Moisés, os quatro nomes que predominaram no mundo antigo. Aparecem na hitória de quatro povos diferentes para representar o mesmo papel, rodeados da mesma auréola misteriosa, os quatro são legisladores, grandes sacerdotes e fundadores das sociedades teocráticas e sacerdotais. Esses quatro nomes têm a mesma raiz sânscrita. O hinduismo deu origem ao judaísmo. Por isso, de Jeseu Krishna fizeram Jesus Cristo”.

Documentos recentemente estudados mostram terem sido os hindus os prováveis colonizadores do Egito. A documentação demonstra que o conhecimento nasceu do saber hindu.

A assiriologia mostra que a lenda de Moisés foi copiada da de Sargão I, rei acádio, que igualmente teria sido salvo em um cesto deixado no rio, à deriva.

A lenda de Sansão é outro exemplo. Sansão representa o Sol. O poder que lhe foi atribuído é o mesmo dos deuses solares. E assim, examinando os escritos de antigas civilizações, chegamos ao conhecimento das origens de tudo o que a Bíblia narra como fatos reais. Concluímos então que Jesus Cristo nada mais representa que uma cópia das lendas e mitos dos deuses adorados por povos os mais remotos e variados.

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Os deuses redentores Percebendo a importância da luz do Sol sobre a Terra, o homem

imaginou que essa luz seria uma emanação protetora de Deus. Da idéia de que existia um único Sol surgiu o monoteísmo, isto é, a crença em um só Deus.

Das palavras Devv e Divv, que em sânscrito significam Sol e luminoso, originou-se a palavra deus. Daí, em grego, a palavra Zeus; em latim, deo; para os irlandeses, dias; em italiano dio, etc.

A parte do tempo em que a Terra recebe a luz do Sol recebeu o nome dia em oposição ao período de trevas, a noite. O dia teria sido um presente divino, graças à luz solar. Conseguindo produzir o fogo, aumentou a crença humana no deus Sol. Graças ao fogo, o homem pôde libertar-se de um dos seus maiores inimigos, que era o frio, assim como passou a cozinhar os seus alimentos. Devendo cada vez mais a vida ao calor, a gratidão do homem para com o Sol cresceu ainda mais. Foi assim que nasceu o mito solar, do qual Jesus Cristo é o último rebento.

Por uma série de deduções, chegaram igualmente à concepção do significado místico da cruz. Dos raios solares foi criada uma cruz, espargindo raios por todos os lados. Da mesma forma foi a idéia do Espírito Santo, um espírito caridoso que irradia a bondade divina. Depois a seqüência mística do Sol, o fogo e o vento, dando origem a Salvitri, Agni e Vayu, do mito védico.

O rito védico celebra o nascimento de Salvitri, o deus-sol, em 25 de dezembro, no solstício, quando aparecem as refulgentes estrelas. As estrelas trazem a boa nova, a perspectiva de boas colheitas. Daí os sacrifícios e os ritos propiciatórios oferecidos ao deus-sol.

Assim os cristãos encontraram o seu Jesus Cristo. A vida dos deuses redentores é a vida do Sol. Por isso, todos eles

tiveram suas datas de nascimento fixadas em 25 de dezembro: Mitra, Horus e Jesus Cristo. Também é simbólica a ressurreição na primavera, tempo da germinação e das folhas novas. Baseando-se nisto, Aristóteles e Platão admitiram uma certa racionalidade dos que adoravam o Sol.

Heródoto e Estrabão diziam que Mitra era o deus-sol, tendo por emblema um sol radiante. Plutarco conta que o culto de Mitra veio para a Sicília trazido pelos piratas do mar. Em escavações feitas no solo italiano, foram encontradas placas de barro solidificados ao sol trazendo esta inscrição: “Deo Soli Invicto Mitrae”, lembrando o deus dos persas.

Niceto escreveu que certos povos adoraram a Mitra como o deus do fogo, outros como sendo o deus-sol. Júlio Fírmino Materno disse que Mitra era a personificação do deus fogo, enquanto Aquelau considerava-o o deus-sol. São Paulino descreveu os mistérios de Mitra como sendo os de um deus solar e redentor. Karneki, rei hindo-escita, no começo de nossa era, mandou cunhar moedas em que se vê a efígie de Mitra dentro de um sol radiante. Mitra ainda era representado com um disco solar na cabeça, segurando um globo com a mão esquerda.

Do mesmo modo os cristãos representam Jesus Cristo. Era o Senhor. Ao surgir o cristianismo, os cristãos primitivos ainda chamavam o Sol de “Dominus”, com o que, lentamente, foi absorvendo o ritual mitráico. No Egito, o Sol era o “Pai Celestial”. Um obelisco trazido para o Circo Máximo de Roma trazia esta inscrição: “O grande Deus, o justo Deus, o todo esplendente”, tendo um sol espargindo seus raios para todos os lados. Da mesma forma,

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todos os deuses dos índios americanos pertenciam ao rito solar, assim como os deuses dos hindus, dos chineses e japoneses. Os caldeus, adorando o Sol como seu deus, dedicaram-lhe a cidade de Sípara, onde ardia o fogo sagrado, eternamente, em sua honra. Em Edessa e em Palmira foram encontrados templos dedicados ao deus-sol. Orfeu considerava o sol como sendo o deus maior. Agamenon disse que o sol era o deus que tudo via e de que tudo provinha.

Os judeus e os líderes do cristianismo, para a formação deste, só tiveram que adaptar as crenças e rituais antigos a uma nova personagem: Jesus Cristo. Toda a roupagem necessária para vestir o novo deus pré-existia. Apenas era necessário moldá-la um pouco.

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Jesus Cristo é um mito solar “Um deus nascido de uma virgem no solstício do inverno, que

ressuscita na Páscoa, no equinócio da primavera, depois de haver descido ao inferno; um deus que leva atrás de si doze apóstolos, correspondentes às doze constelações; que põe o homem sob o império da luz, não pode ser mais que um deus solar, copiado de tantos outros deuses heliosísticos em que abundavam as religiões orientais. No céu da esfera armilar dos magos e dos caldeus via-se um menino colocado entre os braços de uma virgem celestial, a que Eratóstenes dá como Ísis, mãe de Horus. Seu nascimento foi a 25 de dezembro. Era a virgem das constelações zodiacais. Graças aos raios solares, a virgem pôde ser mãe sem deixar de ser virgem> Via-se uma jovem ‘Seclanidas de Darzana’, que em árabe é ‘Adrenadefa’, e significa virgem pura, casta, imaculada e bela> Está assentada e dá de mamar a um filho que alguns chamam de Jesus e, nós, de Cristo.”

Já mostrei que Jesus repete todos os mistérios dos deuses solares e redentores, pelo que Heródoto, Plutarco, Lactâncio e Firmico puderam afirmar que esse deus redentor é o Sol. De modo que Jesus é apenas mais um deus solar.

Ainda hoje, grande parte do rito cristão é de origem solar. Na Bíblia, encontramos estas palavras: “Deus estabeleceu sua tenda no Sol”, e ainda: “Sobre vós que temeis o meu nome, levantar-se-á o Sol da justiça e vossa vida estará em seus raios”. João diz que “o verbo é a lei, a luz e a vida, a luz que ilumina a vista de todos os mortais, a luz do mundo”. E ainda chama a Jesus de o “cordeiro”, o “Agnus Dei qui tollit peccata mundi”.

Com isto, o Apocalipse fez de Jesus o “cordeiro pascal”, e a Igreja o adorou sob a forma de um cordeiro até o ano de 680. Era o Cristo o Áries zodiacal, vindo de Agnus, com a representação de fogo, o Sol condensado. Origenes justificava a adoração do Sol tendo em vista a sua luz sensível e também pelo aspecto espiritual. Tertuliano reconheceu que o dogma da ressurreição tem sua origem na religião persa de Mitra. Para S. Crisóstomo, Jesus era o Sol da justiça, para Sinésio, o Sol intelectual. Fírmico Materno descreveu Jesus baixando ao inferno, esplendente como o Sol. O domingo, o dia do Senhor, o dia do descanso, procede de Dominus, o deus-sol, o Senhor. Segundo Teodoro e Cirilo, para o maniqueus Cristo era o Sol.

Os Saturnilianos acreditavam que a alma tinha substância solar, deixando o corpo e voltando para o Sol, de onde proviera, após a morte. O antigo rito do batismo determinava que o catecúmeno voltasse o rosto em primeiro lugar para o ocidente, para retirar de si Satanás, símbolo das trevas.

Igualmente, as festas do sábado santo são reminiscências do mito da luta do Sol contra as trevas, na Páscoa. As orações desse ofício são cópia dos hinos védicos. A palavra aleluia, que era o grito de alegria dos persas, adoradores do Sol, quando na Páscoa festejavam a sua volta, significa: elevado e brilhante.

Foram necessários muitos séculos para que a igreja pudesse alienar um pouco do que lembrava que o seu culto era de um deus solar. Entretanto, a história escrita é inflexível e demonstra que todos os deuses redentores ou solares foram tão adorados quanto o mitológico Jesus Cristo. E embora tenha havido longas fases em que foram impostos a ferro e fogo, nem por isto

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deixaram de cair, nada mais sendo hoje do que o pó do passado religioso do homem.

O certo é que Jesus Cristo é mitológico de origem, natureza e significado. O seu surgimento ocorreu para atender à tendência religiosa e mística da maioria, que ainda hoje teme as realidades da vida e, portanto, procura, para se orientar, algo fora da esfera humana, na esperança de assim conseguir superar a si mesmo e aos obstáculos que surgem diariamente.

O cristianismo é produto de tendências naturais de uma época, aproveitadas espertamente pelos líderes do cristianismo. O judeu pobre e oprimido, não tendo para quem apelar, passou a esperar de Deus aquilo que o seu semelhante lhe negava. O sacerdote, valendo-se do deplorável estado de espírito de uma população faminta e, sobretudo, desesperançada, ressuscitou um dentre os velhos deuses para restaurar a esperança do povo judeu.

E assim, surgiu mais um mito solar, mais um deus com todos os atributos divinos, tal como os que antecederam. O novo deus solar em questão é Jesus Cristo.

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Outras fontes do cristianismo Conforme disse várias vezes, o cristianismo tomou por empréstimo tudo

quanto se fez necessário à sua formação. Assim, todos os ensinamentos atribuídos a Cristo foram copiados dos povos com os quais os judeus tiveram convivência. A sua moral, a moral que Cristo teria ensinado, aprendeu-a com os filósofos que o antecederam em muitos séculos. De modo que não há inovações em nenhum setor ou aspecto do cristianismo. Antigos povos, milênios antes, adoraram seus deuses semelhantemente.

Dentre as máximas adotadas pelo cristianismo, comento a seguinte: “Não faças aos outros o que não queres que a ti seja feito”. Este ensinamento não teria partido de Jesus, conforme pretendem os cristãos, não sendo sequer uma máxima cristã, originariamente. Encontraremos ela em Confúcio, e ainda no bramanismo, no budismo e no mazdeismo, fundado por Zoroastro. Era uma orientação filosófica e religiosa, adotada pelos hindus.

A originalidade do cristianismo consistiu apenas em criar as penas eternas, um absurdo desumano e irracional. Enquanto isso, o mazdeismo cria a possibilidade de regeneração do pior bandido, admitindo mesmo a sua plena reintegração no seio da sociedade. O perdão aos inimigos foi, muito antes de Jesus, aconselhado por Pitágoras. Os egípcios religiosos praticavam uma moral muito elevada. No “Livro dos Mortos” encontramos a confissão negativa, de acordo com a qual a alma do morto comparecia ante o tribunal de Osiris e proferia em alta voz as suas más ações. O sentimento de igualdade e fraternidade para com os homens foi ensinado por Filon.

O cristianismo adotou os seus ensinamentos, atribuindo-os a Jesus. São de Filon as seguintes palavras: “Os que exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser reprimidos.”; “A distinção humana está na inteligência e na justiça, embora partam do nosso escravo, comprado com o nosso dinheiro.”; “Porque hás de ser sempre orgulhoso e te achares superior aos outros?”; “Quem te trouxe ao mundo? Nu vieste, nu morrerás, não recebendo de Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte, para que o apliques na concórdia e na justiça, repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um animal”; “A boa vontade e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir”.

Como vemos, não há nada de novo no cristianismo. Platão salientou a felicidade que existe na prática da virtude. Ensinou a tolerância à injúria e aos maus tratos, e condenou o suicídio. Recomendou o humanismo, a castidade e o pudor, e condenou a volúpia, a vingança e o apego demasiado aos bens. Sua moral baseou-se na exaltação da alma, no desprezo dos sentidos e na vida contemplativa. O Padre Nosso foi copiado de Platão. Quem conhece bem a obra de Platão percebe os traços comuns entre a mesma e o cristianismo. Filon inspirou-se em Platão e, a Igreja, na obra de Filon, que helenizou o judaísmo.

Aristóteles afirmou que a comunidade repousa no amor e na justiça. Admitia a escravatura, mas libertou os seus escravos. Poderiam existir escravos, mas não a seu serviço. A comunidade deveria instruir a todos, independentemente da classe social, com o que ensinou o evangelho aos Evangelhos.

A abolição do sacrifício sangrento não foi introduzida pelo cristianismo. Não lhe cabe tal mérito. Gélon, da Sicília, firmando a paz com os cartagineses,

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estipulou como condição a supressão do sacrifício de vidas animais aos seus deuses.

Sêneca aconselhava o domínio das paixões, a insensibilidade à dor e ao prazer. Recomendava igualmente a indulgência para com os escravos, dizendo que todos os homens são iguais. Referia-se ao céu como fazem os cristãos, afirmando que todos são filhos de um mesmo pai. Concebia como pátria o Universo. Os homens deveriam se ajudar e se amar mutuamente. Enquanto isso, o humanismo cristão limitou-se apenas aos irmãos de fé. O bem visa somente a salvação da alma, o que é egoísmo, nunca humanismo. Sêneca manifestou-se contrário à pena de morte; o cristianismo, ao contrario, é responsável por inúmeras execuções. Admitia a tolerância mesmo em face da culpa. Em vez de perseguir e punir, por que não persuadir, ensinar e converter?

Epíteto e Marco Aurélio foram bons professores dos cristãos. Os filósofos greco-romanos foram grandes mestres da moral cristã e da consolação, sem que para isto criassem empresas, negócios ou castas. O cristianismo existente antes de Jesus Cristo já pregava a moral anterior ao martírio do Gólgota. A moral cristã não veio de Jesus Cristo nem dos Evangelhos, mas nasceu da tendência natural para o aperfeiçoamento do homem.

Não fosse a destruição sistemática de antigas bibliotecas, determinada pelo clero no intuito de preservar os seus escusos interesses, hoje seria possível patentear com documentos à mão que a moral anterior à cristã era bem melhor do que esta, tendo-lhe servido de modelo. Assim, se vê que a moral jamais foi patrimônio de castas ou de indivíduos, sendo uma lenta conquista da humanidade, com ou sem religião, e mesmo contra ela. Por isso é que o mundo racionaliza-se continuamente, e avança sempre no sentido do seu aperfeiçoamento.

A bondade humana independe da idéia religiosa. A razão nos ensina o que devemos ao nosso meio social, independentemente da fé e da religião. Para justificar o aparecimento de Jesus, se fez necessário recorrer a uma moral que, no entanto, já era um patrimônio da humanidade. Jesus nada mais foi do que a materialização de qualidades que já existiam. Por isso, mesmo em moral, Jesus foi ator, não autor. O cristianismo apenas sistematizou e industrializou essa velha moral, estabelecendo-a como um rendoso comércio. A Igreja é responsável pela deturpação dessa moral.

Havia a moral pela moral, que foi substituída pela moral bíblica, em que só se é bom para ganhar o céu. Superpondo-se um grupo empresarialmente forte, extinguiu-se a moral individual.

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Judaísmo e cristianismo Pesquisas e estudos comparados têm demonstrado que a mitologia

judaico-cristã é bem anterior ao próprio judaísmo, quando se percebe que dogmas como o da imortalidade da alma, da ressurreição e do Verbo encarnado são muito anteriores ao cristianismo.

A imortalidade da alma já tinha milênios quando os judeus foram levados cativos para a Babilônia. Zoroastro ensinara, muito antes, ser a alma imortal, e que essa imortalidade seria produto de uma opção humana. O livre arbítrio levaria o homem a escolher uma vida que o levaria ou não à imortalidade. O erro e o mal produziriam a morte definitiva, a prática do bem, a imortalidade. Do mesmo modo, na Ciropédia, bem anterior a Zoroastro, se lê que Ciro, moribundo, disse: “Não creio que a alma que vive em um corpo mortal se extinga desde que saia dele, e que a capacidade de pensar desapareça apenas porque deixou o corpo que não tem como pensar por si mesmo”. Por outro lado Einstein, pouco antes de morrer, declarou não crer que algo sobrasse do ser vivo após a morte. Os egípcios, os hindus, os sumérios, os hititas e os fenícios criam na imortalidade da alma.

A ressurreição foi um dos fundamentos do Zend-Avesta. Zoroastro também ensinou que o fim do mundo seria precedido por um grande acontecimento, a ser predito por profetas. Os persas tiveram os seus profetas, que foram Ascedermani e Ascerdemat, os quais passaram à Bíblia sob os novos nomes de Enock e Elias, entidades míticas, como se vê. Desses mitos surgiram o Talmud e os Evangelhos, o que mostra que, em religião, a idéia original pertence à noite dos tempos.

A doutrina do Verbo já era antiqüíssima no Egito. Deus teria gerado Kneph “a palavra, o Verbo”, que é igual ao pai. Da união de Deus com o Verbo nasceu o fogo, a vida, Fta, a vida de todos os seres. O monoteísmo e a Santíssima Trindade eram crenças muito antigas na Índia. Os deuses únicos e os deuses secundários são uma velha doutrina oriental. A religião greco-romana já possuía o seu Apolo e Zeus, rodeados por uma porção de deuses secundários. Essas velhas lendas deram origem ao Deus do cristianismo, com toda sua corte de santos e anjos. O politeísmo há muito vinha caminhando para o monoteísmo. Os gregos já haviam concebido a idéia de um intermediário entre os homens e Júpiter, que era Apolo, tendo encarnado para redimir os homens. Porfírio citou o seguinte oráculo de Serapis: “Deus é antes e depois e ao mesmo tempo, é o Verbo e o Espírito, como um e outro”. O mundo antigo cria em um Deus único, pai de todas as coisas, afirmou Máximo de Tiro. O povo então já dizia: Deus o sabe! Deus o quer! Deus o abençoe! Os oráculos só se referiam a Deus e não aos deuses.

Os apologistas do cristianismo, tais como Eusébio, Agostinho, Lactâncio, Justino, Atanásio e muitos outros, ensinavam que unidade de Deus era conhecida desde a mais remota antiguidade. Os órficos, inclusive, a admitiam. Na Bíblia, ao ser traduzido para o grego e para o latim, o nome de Deus passou a ser muitas vezes Senhor, Dominus, para ficar conforme o nome do Deus-sol do mitraísmo.

O amor a Deus foi a base de todas as religiões copiadas pelo judaísmo. Isaías falava de Deus como Pai Celestial. Ezequiel dizia que Deus não queria a morte do pecador, preferindo antes a sua conversão. O justo viverá eternamente pela fé. São palavras de Habacuc, repetidas por Paulo em Gálatas 3:2.

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Como vimos a doutrina do Verbo vem de Platão, tendo sido este o intermediário entre os metafísicos e os cristãos. Foi ele quem concebeu a idéia da separação do corpo e da alma e pôs aquele na dependência desta. Na sua opinião, a Terra era o desterro da alma. Foi o criador do sistema filosófico da decadência moral do homem, fazendo dos sentidos uma ameaça, do mundo um mal e da eternidade o delírio, o sonho.

Cícero e Sêneca tinham idéias cristãs, mas não conheceram a Jesus Cristo nem ao cristianismo. Agostinho leu as obras de Cícero e trocou o maniqueísmo pelo cristianismo. A Igreja procurou destruir as principais obras de Cícero e de Sêneca para que a posteridade não percebesse que eles não tinham sido cristãos seguidores de Cristo, mas apenas que as suas idéias coincidiam com as que o cristianismo esposou. O cristianismo nasceu da helenização do judaísmo.

Os cristãos terapeutas abandonaram o judaísmo ortodoxo porque este tinha posto de lado o culto nacional do templo e o sacrifício Pascal, retirando-se para uma vida contemplativa nos montes, longe dos homens e dos negócios. Estabeleceram uma sociedade comunal, considerando o casamento um apego à carne, um empecilho à salvação da alma. Baniram os principais prazeres da vida, exaltando o celibato e a pobreza, como os essênios, além de aconselhar a caridade. Eusébio chamou aos terapeutas de cristãos sem Cristo. Para ele, um terapeuta era um autêntico cristão. Isto levou Strauss a escrever: “Os terapeutas, os essênios e os cristãos dão sempre muito o que pensar”.

A doutrina dos essênios, a moral dos terapeutas, a encarnação do Verbo, vinda do judaísmo helenizado, é o cristianismo de Filon. Desse modo, Filon foi criador do cristianismo, sem saber. Ele se refere ao Verbo nos termos da mitologia egípcia sem, contudo, mencionar a crença em Jesus Cristo. Salomão fez da sabedoria divina a criação. O Livro da Sabedoria define a natureza desse principio intermediário, transformando o pensamento vago do rei judeu sobre a sabedoria da doutrina do Verbo.

Sirac, em “Eclesiástico”, faz a doutrina do Verbo ser mais precisa: “A sabedoria vem de Deus, estando sempre com ele. Foi criada antes de todas as coisas. A voz da inteligência existe desde o principio. O Verbo de Deus, no mais alto do céu, é a fonte da sabedoria”! Filon disse que o Verbo se fizera humano. Segundo ele, Deus era infalível e inacessível à inteligência humana, não nos alcançando senão pela graça divina. Para ele, ainda, o Verbo não era apenas a palavra, mas a imagem visível de Deus.

O Verbo seria o Ungido do Senhor, o ideal da natureza — o Adão Celeste é a doutrina da encarnação do Verbo — tomando a forma humana. O Verbo é o intermediário entre Deus e os homens. Diz ainda que o Verbo é o pão da vida.

Por ai vemos que não foi o Cristo o criador do cristianismo, mas este é que o criou. Clemente de Alexandria, Origenes ou Paulo, assim como os primeiros padres do cristianismo, jamais se referiram a Jesus Cristo como tendo sido um homem que tivesse caminhado do Horto ao Gólgota, mas o tiveram apenas como o Verbo, conforme a doutrina de Platão e de Filon.

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O cristianismo sem Jesus Cristo Está patente a existência do cristianismo sem Cristo. A existência do

clero, por outro lado, foi uma exigência bramânica. Pregando por meio de parábolas, os sacerdotes se faziam necessários

para esclarecer o sentido das mesmas. Assim se justificava o pagamento com as esmolas dos crentes. Ensinavam a religião e se apoderavam do dinheiro. Suas terras e os templos já eram isentos dos impostos. O sumo-sacerdote não se casava e era venerado como um deus.

No budismo, tanto os bonzos como os mosteiros são mantidos pela comunidade e os monges, igualmente, não se casam. O Dalai-Lama é o Vigário de Deus, o sucessor de Fó, sendo Infalível como o Papa se diz ser. Nos mosteiros todos se chamam de irmãos.

O clero persa era dividido em ordens hierárquicas, e tinha o direito a um décimo da renda da comunidade. Os magos persas, como os profetas judeus, eram puros e não trabalhavam.

No Egito, a classe mais alta era a dos sacerdotes. Elegiam o rei e limitavam a sua ação. O povo arrendava as terras do templo. Só o clero ensinava a religião e presidia aos sacrifícios. O regime era teocrata e todos tinham de submeter-se às regras eclesiásticas. O sacerdote era o adivinho, fazia os oráculos, as profecias, os sortilégios e os exorcismos. Afirmava ter força sobre a natureza, para o bem da humanidade.

Os brâmanes procuravam afugentar os malefícios e as maldições. Para isto, cultivam certas plantas, como o lótus e o cânhamo, das quais faziam licores como o “amrita”, que possuía virtudes milagrosas. Tinham as mesmas modalidades de expiação ainda hoje adotadas pelo cristianismo.

As mortificações hindus são as mesmas praticadas pelos cristãos medievais. Certos crentes carregaram durante toda a vida enormes colares de ferro, outros, pesadas correntes de ferro. Alguns se marcavam com o ferro em brasa, avivando a ferida todos os dias. Muitos vão rolando deitados até Benares, pagar ali suas promessas. Também usam sandálias cravadas de finos pregos, os quais entram pelas solas dos pés.

No Egito, os sacerdotes de Ísis açoitavam-se em sua honra, expiando, com isso, suas próprias culpas e as do povo.

Entre os gregos havia a água lustral para as expiações e para as propiciações.

Os sacerdotes de Dodona feriam-se e os de Diana praticavam tais coisas em seus corpos, que às vezes punham em perigo a própria vida.

Os romanos procuravam livrar-se das calamidades públicas oferecendo aos seus deuses sacrifícios humanos.

Os Indostânicos tornavam-se celibatários, pediam esmolas, jejuavam e se isolavam do convívio com outras Pessoas.

No budismo, as crianças eram ensinadas a fazer votos de castidade. O governo concedia honras especiais ao que chegavam aos 40 anos castos. No Egito, existiam mosteiros apropriados para os que faziam votos de castidade. Também os sacerdotes de Baco, na Grécia, faziam tais votos. Os sacerdotes de Cibele eram castos e castrados.

Em Roma, as Vestais viviam em mosteiros, indo para eles até aos seis anos de idade, e juravam não deixar extinguir-se o fogo sagrado e manterem-

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se virgens. A que faltasse ao juramento seria enterrada viva e, o amante, condenado à morte.

Os budistas consagravam o pão e o vinho, representando o corpo e o sangue de Agni, quando os bonzos aspergiam os crentes. Enquanto aspergem água lustral, cantam hinos ao sol e ao Fogo, o “Kirie Eleison” que os católicos copiaram e cantam ou recitam durante a missa. Inicialmente o sacrifício constava da imolação de uma pessoa, a qual posteriormente foi substituída pela hóstia. Tal como o padre católico, o sacerdote budista também lava as mãos antes das libações. A cerimônia budista é em tudo semelhante à missa da Igreja Católica. Os persas tinham, em seus ritos religiosos, a eucaristia, ou seja, a mesma oferenda do pão e do vinho que também consta do ritual da missa, bem como o Pater Noster, o Credo e o Confiteor.

Na Grécia, rezava-se pela manhã e à noite. Os etruscos juntavam as mãos quando oravam. Também a confissão lá era praticada pelos persas. O ritual do catolicismo tem muito do ritual mitraico, assim como a vestimenta dos sacerdotes católicos foi copiada do figurino dos sacerdotes de Mitra.

Muitas das religiões pré-cristãs já festejavam a Páscoa e a Natividade. Os persas inclusive dedicaram um dia aos mortos. E, no dia em que o filho começava a receber instrução religiosa, havia festa na casa dos pais. Entre os gregos, cada dia da semana era dedicado a um deus. Os Hindus viviam peregrinando de um templo para outro. Criam na existência de dias bons e dias maus, como também em sortilégios e malefícios. Cada pessoa era dedicada a um anjo que a protegia desde o nascimento. Benziam as vacas, os instrumentos agrícolas e animais domésticos.

A história do passado religioso do homem está repleta de virgens puras e belas, que são as mães dos deuses. Maria, mãe de Jesus Cristo, é apenas mais uma dentre tantas outras.

Igualmente, as procissões constituem práticas multimilenares. É antiqüíssima tal modalidade de culto. Juno e Diana passearam em caminhadas durante muitos séculos. As cidades sempre se enfeitaram à passagem dos santos e dos deuses.

Por aí vemos que nem Jesus nem o cristianismo têm nada de original. A veneração das imagens já era muito anterior ao cristianismo. Por outro lado, o judaísmo, que as baniu, não foi, entretanto, o primeiro a tomar tal atitude. Plutarco disse que os tebanos não as usavam, assim como Numa Pompílio proibiu os romanos de as usarem, durante o seu governo.

O batismo era uma cerimônia praticada pelos antigos muito antes de se cogitar, sequer, do nome de cristão. Os hindus lavam o recém-nascido em água lustral, dando-lhe um nome de um gênio protetor. Aos oito anos, a criança aprende a recitar os hinos ao Deus-Sol. A extrema-unção também, desde muito antes do cristianismo, era praticada pelos hindus. Copiando detalhes dos ritos e cultos de uma grande variedade de seitas, o cristianismo constituiu o seu próprio ritual, tudo girando em torno do Deus-Sol, no qual, por fim, vestiram a roupa de Jesus Cristo.

O cristianismo deve ser examinado com isenção de ânimo, ainda quando visto como uma das melhores religiões. Ele propõe ter sido Jesus um messias. O termo é tomado do hebraico mesiá que quer dizer ungido. Da versão para o grego resultou Kristós. No caso, messias assume o contexto, como quando se diz ritualmente ungido salvador, ou como em ungido rei. Por influência grega a nova religião em vez de se chamar messianismo, passou a

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ser cristianismo. Não obstante algumas diferenças semânticas, os termos se equivalem.

Jesus nasceu pelo ano 4, antes de nossa era, “ao tempo do Rei Herodes” (Mateus 2;1), a quem o Evangelista ainda atribuiu a decisão de o matar. Para lograr seu objetivo “mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo” (Mateus 2;16).

Sabe-se também que Herodes morreu no ano 4 a.C. Se esta narrativa, redigida 50 ou 80 anos depois, for verdadeira, deve-se admitir coerentemente que Jesus já era nascido pelo ano 4 antes da era atual. No inicio da Idade Média o monge Dionísio, O Pequeno (ou o Exíguo) criou a cronologia cristã, tendo errado por pelo menos 4 anos a data do nascimento de Jesus. Não há escritos contemporâneos de Jesus que mencionavam sua existência e doutrina. Esta fato oferece muitas dificuldades. O que se escreveu depois, e ainda em outra língua, em grego, cujos conceitos mentais são mais evoluídos e poderão ter alterados nuances de conteúdo.

Pelos anos 60 ou após redigiram-se os 4 evangelhos, escritos respectivamente por Mateus e Marcos, Lucas e João. O novo Testemunho compõe-se destes escritos, e mais os Atos dos Apóstolos (de Lucas), Epistola (de vários Apóstolos e Apocalipse de João).

Como foi que surgiu o cristianismo? Na interpretação histórico-crítica o processo de surgimento do

cristianismo se desenvolveu num espaço relativamente curto. No inicio do ano 28 passou Jesus a pregar, sendo levado à morte no ano 30.

Morto Jesus, se processou uma institucionalização do grupo, com influências novas vindas do helenismo, fato este que provocou uma separação mais profunda ao qual entretanto ficou ligado umbilicalmente. Dali resulta a necessidade de examinar o cristianismo inicial sob duas perspectivas. Numa primeira importa examina-lo frente às seitas judias. Numa segunda perspectiva, quais foram suas fases de desenvolvimento, pelo qual se foi diferenciando, até tomar feição mais ou menos própria.