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A linha vermelha do planeta infância: o socialismo e a educação da criança Paolo Nosella Esclarecimentos preliminares  É sintomático o fato de encontrarmos alguma dificuldade na escolha dos termos para o subtítulo deste texto. A intenção geral é clara:  pretendese expor um panorama das principais contribuiç!es te"ricas e  práticas fornecidas pelo socialismo com refer#ncia $ educação infanti l. %ntretanto& no momento de precisar o 'ue se entende por socialismo& os conceitos e os termos se confundem. (e)emos utili*ar o termo +comunismo,- u é mais preciso o termo +marxismo,- Por isso& uma preliminar declaratio terminorum  /explicitação dos termos0& como nas antigas disputas filos"ficas& tornase a'ui muito oportuna. Aliás& ho1e& tal explicitação é indispensá)el uma )e* 'ue a crise dos paradigmas te"ricos deixou ainda mais confusos termos 'ue& há uma ou duas décadas& eram para todos bastante claros. 2omeçamos com o termo +comunismo,. %mbora esta pala)ra possa se referir tanto ao sistema político& social e econ3mico& 'uanto $ doutrina& é mais comum considerar +comunismo, como uma organi*ação política 'ue pretendeu concreti*ar o ideal comunista da propriedade coleti)a e do plane1amento centrali*ado da )ida de toda a comunidade. Nesse sentido& costumase remontar a Platão para identificar a primeira formulação te"ricopolítica do ideal comunista. A historiografia indica /)er 4obbio& 5667& p. 589 s.0& posteriormente& outras formulaç!es sociais )oltadas $ concreti*ação do ideal comunista de uma )ida em comum& baseada em pobre*a indi)idual. Por exemplo& algumas das primeiras comunidades e)angélicas& )árias ordens monásticas e heréticas. A modernidade consagrou famosas utopias comunistas formuladas por eminentes pensadores& co mo& por exemplo& homas ;oore e o mmaso 2ampanella. No <mbito da =e)olução >nglesa e da ?rancesa emergem não apenas personalidades 'ue teoricamente debatem e defendem sistemas econ3micos e sociais comunistas& baseados na propriedade coleti)a& mas surgem também grandes mo)imentos populares 'ue  praticam ideais comunistas e por estes lutam. (estacase& na =e)olução ?rancesa& o nome de ?rançoisNo@l 4abeuf e o mo)imento denominado 4abu)ismo& cu1as idéias principais estão registradas no +;anifesto dos Plebeus, /58690.

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Pedagogia e política.

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A linha vermelha do planeta infância: o socialismo e a

educação da criança

Paolo Nosella

Esclarecimentos preliminares 

É sintomático o fato de encontrarmos alguma dificuldade na escolhados termos para o subtítulo deste texto. A intenção geral é clara:

 pretendese expor um panorama das principais contribuiç!es te"ricas e práticas fornecidas pelo socialismo com refer#ncia $ educação infantil.

%ntretanto& no momento de precisar o 'ue se entende por socialismo& osconceitos e os termos se confundem. (e)emos utili*ar o termo+comunismo,- u é mais preciso o termo +marxismo,-Por isso& uma preliminar declaratio terminorum /explicitação dostermos0& como nas antigas disputas filos"ficas& tornase a'ui muitooportuna. Aliás& ho1e& tal explicitação é indispensá)el uma )e* 'ue acrise dos paradigmas te"ricos deixou ainda mais confusos termos 'ue&há uma ou duas décadas& eram para todos bastante claros.2omeçamos com o termo +comunismo,. %mbora esta pala)ra possa sereferir tanto ao sistema político& social e econ3mico& 'uanto $ doutrina&

é mais comum considerar +comunismo, como uma organi*ação política'ue pretendeu concreti*ar o ideal comunista da propriedade coleti)a edo plane1amento centrali*ado da )ida de toda a comunidade. Nessesentido& costumase remontar a Platão para identificar a primeiraformulação te"ricopolítica do ideal comunista.A historiografia indica /)er 4obbio& 5667& p. 589 s.0& posteriormente&outras formulaç!es sociais )oltadas $ concreti*ação do ideal comunistade uma )ida em comum& baseada em pobre*a indi)idual. Por exemplo&algumas das primeiras comunidades e)angélicas& )árias ordens

monásticas e heréticas.A modernidade consagrou famosas utopias comunistas formuladas poreminentes pensadores& como& por exemplo& homas ;oore e ommaso2ampanella. No <mbito da =e)olução >nglesa e da ?rancesa emergemnão apenas personalidades 'ue teoricamente debatem e defendemsistemas econ3micos e sociais comunistas& baseados na propriedadecoleti)a& mas surgem também grandes mo)imentos populares 'ue

 praticam ideais comunistas e por estes lutam. (estacase& na =e)olução?rancesa& o nome de ?rançoisNo@l 4abeuf e o mo)imento denominado4abu)ismo& cu1as idéias principais estão registradas no +;anifesto dos

Plebeus, /58690.

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s nomes de arl ;arx e ?riedrich %ngels representam até ho1e aexpressão máxima da elaboração te"rica dos ideais comunistas. +;anifesto do Partido 2omunista, /5BCB0 foi a 2arta ;agna erefer#ncia para todos os regimes comunistas criados no século DD. termo +socialismo, se entrelaça desde suas origens com+comunismo,: ora se identificam como sin3nimos& ora se distinguem eaté se contrap!em. %m termos gerais& +socialismo, referese aosinEmeros programas políticosociais& bem como $s suas teorias&elaborados em defesa das classes trabalhadoras 'ue se formaram no<mbito do processo industrial. No entrelaçamento dos dois termos&+comunismo, guardou sempre uma conotação de maior radicalidade.;arx considera o socialismo como fase transit"ria para o modo de

 produção integralmente comunista. A partir da =e)olução =ussa/56580& socialismo e comunismo se tornaram acérrimos antagonistas&

com esporádicas fases de aliança e colaboração entre si. ;as& aos poucos& o conceito de socialismo perdeu o sentido de fase de transição para o comunismo e assumiu& de forma aut3noma& o sentido desociedade embasada na democracia representati)a e numa ampla

 política de proteção social& sobretudo das classes trabalhadoras. termo +marxismo, referese a um con1unto& relati)amentehomog#neo& de idéias& metodologia científica& estratégia política&)alores e formas de )ida& deri)ado dos escritos de ;arx e %ngels. sestudiosos dessa doutrina 'ue não pretendiam assumir a conotação demilit<ncia política introdu*iram os termos +marx"logo, e +marxiano,. primeiro indica simplesmente o estudioso do marxismo& o segundoindica os textos e as concepç!es de ;arx& distinguindoos& na medidado possí)el& de %ngels e de outros pensadores identificados com omarxismo.

 Nossa exclusão& no subtítulo& dos termos +marxismo, e +comunismo, 1ustificase por considerar o primeiro restrito aos escritos de arl ;arxe ?. %ngels e o segundo pela sua forte conotação com os +modelos,

 políticosociais dos países comunistas do Feste europeu& cu1a crisedesembocou na 'ueda do ;uro de 4erlim em 56B6. ra& este texto

 pretende oferecer um panorama hist"rico das principais contribuiç!este"ricopráticas da tradição socialista para a educação da criança& semenfocar a crise política e ideol"gica do comunismo. Assim& o termo+socialismo,& 'ue& como dissemos& definese historicamente comocon1unto dos programas políticos da classe trabalhadora a partir da=e)olução >ndustrial& parecenos o mais ade'uado.2om a expressão +educação da criança, nos referimos $s principaiscontribuiç!es pedag"gicas te"ricopráticas registradas na hist"ria daeducação& 'ue& plena ou parcialmente& se identificaram com os )alores&as idéias e as propostas ideol"gicas socialistas& destacando a educação

da inf<ncia ou das crianças. %stes dois termos& para os efeitos desteensaio& t#m o mesmo sentido: referemse ao período da )ida dos

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homens 'ue )ai de *ero ano até a puberdade ou adolesc#ncia& isto é& atéos do*e ou 'uator*e anos de idade.%sclarecidos os termos do enunciado& cabe ainda uma indagação

 preliminar: 'ual a contribuição específica 'ue o autor deste textoentende oferecer- 2om efeito& a historiografia pedag"gica está repletade sínteses sobre o assunto. ;ario Alighiero ;anacorda& ?ranco2ambi& ?riedrich ;aGer& ;aurice (ebesse e Haston ;ialaret& etc.&relatam com propriedade as principais contribuiç!es pedag"gicas para aeducação infantil da tradição socialista.Ieria& portanto& este texto uma seleção& mais ou menos org<nica& deoutras contribuiç!es- Não negamos serem essas 'ue citamos as

 principais fontes bibliográficas 'ue consultamosJ entretanto& nossaleitura parte de uma importante distinção sugerida por Norberto 4obbioe 'ue nos parece original. 4obbio di* 'ue Hramsci introdu*iu na >tália

omarxismo investigativo contrapondoo ao marxismodidascálico oudoutrinário. 2om isso& 4obbio contrap3s o métodoin)estigati)o da teoria socialista $ postura doutrinária& estabelecendoum marco di)is"rio na tradição socialista& antes e depois de Hramsci.Pessoalmente& consideramos essa distinção da máxima import<ncia&e'ui)alente /ou até mais0 $ distinção entre socialismo ut"pico esocialismo científico.Assim pensamos 'ue esta exposição poderia ser organi*ada em tr#s

 partes: o socialismo ut"pico e a educação da criançaJ o socialismocientífico e a educação da criançaJ o socialismo in)estigati)o e aeducação da criança.A primeira parte abrange& grosso modo& o período 'ue )ai da =e)olução>ndustrial até a publicação do +;anifesto 2omunista,& caracteri*andose 1ustamente pelos pensadores socialistas ut"picos: ?ourier& Ken&2abet& IaintIimon& etc. A segunda parte abrange o período 'ue )ai da

 publicação do +;anifesto 2omunista, $ ascensão de Italin&caracteri*ado pelo socialismo científico: ;arx e %ngels& Fenin erupsLaia& Italin& ;aLarenLo& etc. A terceira parte abrange o período'ue )ai da crescente di)ulgação e prestígio dos textos gramscianos aos

dias de ho1e e 'ue denominamos como socialismo in)estigati)o:Hramsci& MGgotsLi e o >nstituto de Psicologia de ;oscou. Não se trata& ob)iamente& de uma periodi*ação precisa. Por isso& asdatas são apenas refer#ncias. ratase de caracteri*ar diferentesmomentos e climas culturais. clima cultural ou +o espírito do tempo,/o Zeitgeist & expressão utili*ada por egel0 não se deixa datar com

 precisão. oda)ia& é uma 'ualificação dos tempos& isto é& da hist"ria e& portanto& da cronologia. espírito do tempo se ri do ontem e do ho1eJaparece& flui& reflui e reaparece com maior #nfaseJ se imp!e como

 possibilidade ou até mesmo como e)id#ncia definiti)a& mas sabe

con)i)er com seu contradit"rio do passado e com sua pr"pria superaçãofutura. A médio e longo pra*os& contudo& o espírito do tempo emerge

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 preciso e insofismá)el& caracteri*ando momentos específicos dahist"ria.É assim 'ue entendemos a organi*ação desta exposição: o espírito dosocialismo ut"pico caracteri*a o período prémarxista& sem limitarse aele e sem excluir o espírito de in)estigação científicaJ igualmente& oespírito do socialismo científico ortodoxo caracteri*a o período de;arx a Italin& influenciando& inclusi)e& o período posterior& semexclusão absoluta dos hori*ontes ut"picos e in)estigati)osJ finalmente&o espírito do socialismo in)estigati)o caracteri*a o período 'ue )ai deHramsci aos pes'uisadores e marxistas contempor<neos& sem exclusãoda utopia e até mesmo de algum doutrinamento ideol"gico.

O socialismo utópico e a educação da criança 

Ie os nomes dos grandes pensadores +socialistas, ou +comunistas, dahist"ria antiga e medie)al representam +um genuíno elemento decontinuidade entre a crítica tradicional dos males da sociedade e a no)acrítica dos males da sociedade burguesa, /obsbaKm& 56B7& p. O0& é

 preciso deixar claro 'ue& para os historiadores em geral& 'uando se falaem pensamento e programas socialistas& entendemse os 'ue surgiramno período demarcado pelo desen)ol)imento industrial. triste espetáculo 'ue se abria aos olhos inconformados doshumanistas no final do século DM> e no início do DM>> era& em síntese&o seguinte: +A produção nos campos mudara. Até então

fundamentalmente agrícola& transformouos em campos para a criaçãode o)elhas e para a caça. Q...R A cidade& conse'Sentemente& sofreratambém transformaç!es profundas: as corporaç!es se extinguiam e asmanufaturas se expandiam, /Feal& 5667& p. T90.omens& mulheres e crianças& expulsos da terra& se a1unta)am na

 periferia das cidades e& para sobre)i)erem& )endiam sua força detrabalho nas manufaturas e nas primeiras indEstrias. ratase dofen3meno posteriormente chamado por ;arx de +acumulação

 primiti)a, do capital& 'uando nem se'uer a escra)idão de homens ecrianças era poupada& tanto em alguns países europeus& 'uanto nascol3nias: +A ma'uinaria recentemente in)entada foi utili*ada emgrandes fábricas& $ margem de correntes de água capa*es de fa*eremfuncionar a roda hidráulica. ;ilhares de braços tornaramse de sEbitonecessários Q...R. Nesses lugares procura)amse principalmente dedos

 pe'uenos e ágeis. %ra interesse desses feitores de escra)os fa*erem ascrianças trabalhar o máximo possí)el& pois sua remuneração era

 proporcional $ 'uantidade de trabalho 'ue delas podiam extrair, /;arx&56B9& p. B880.(e certa forma& a importante função 'ue a criança exerce na inicial

acumulação do capital fa* com 'ue a sociedade& pela primeira )e* nahist"ria& a tome a sério& mesmo 'ue fosse& infeli*mente& para explorála

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como força produti)a barata. Ao ler a obra de Philippe Ariés& História

Social da Criança /568B0& entendese perfeitamente esse tipo deafirmação. Aprendese aí 'ue& nas sociedades préindustriais& a criançaera apenas uma possibilidade /remota0 de um dia ser um adulto e umcidadão& com nome pr"prio e identidade indi)idual de cidadão. Acriança& na'uelas sociedades& não representa)a ainda uma sub1eti)idadesocial. I" 'uando a criança se tornou força de trabalho interessante parao capital& começou a ser contemplada pela legislação de formaaut3noma de sua família.?oi uma legislação 'ue& num primeiro momento& obrigou a criança atrabalhar e& mais tarde& ap"s o desen)ol)imento da grande industria& aliberou do trabalho. s mo)imentos e os programas socialistas ut"picosou prémarxianos se organi*am e formulam programas sociais com

 base nessa realidade: ora os industriais urbanos utili*a)am

inescrupulosamente a mãodeobra infantil& ora a dispensa)am 'uandoa ma'uinaria a substituísse. Num caso e no outro& as crianças eramexploradas& abandonadas e malcuidadas. %ngels ilustra a situação comessas pala)ras: +Numa fábrica onde recentemente ha)ia oitentafiadores& não restam atualmente senão )inteJ os outros foramdespedidos ou então ficaram redu*idos ao trabalho de uma criança& porum salário de criança Q...R. Atiram cada )e* mais para a má'uina o)erdadeiro trabalho& o trabalho fatigante& transformando assim otrabalho de adulto em simples )igil<ncia 'ue também pode ser exercida

 por uma mulher fraca e mesmo por uma criança& o 'ue elesefeti)amente fa*em pelo terço ou metade do salário de um operário,/%ngels& 56B& p. 59670. processo de industriali*ação transforma)a molecularmente toda asociedade e& sobretudo& toda a família trabalhadora. ;uitas funç!es dasmães de família& +como& por exemplo& a preparação dos alimentos& oatendimento $ saEde& a assist#ncia aos filhos& o simples remendo deuma roupa, /Feal& 5667& p. OO0& eram simplesmente abandonadas. Paraoutras& como cuidar dos pe'ueninos e amamentálos& torna)aseindispensá)el encontrar formas substituti)as de atendimento infantil&

uma )e* 'ue as mães de família eram absor)idas nas indEstrias. selementares bensdeuso produ*idos pelas famílias /costura& alimentose os cuidados básicos dos filhos0 precisa)am ser substituídos pelacompra de no)os bensdetroca industriais. Assim& os custos demanutenção da família trabalhadora aumenta)am& impedindolhe'ual'uer tipo de poupança ou receita complementar: +a )elhainstituição familiar préindustrial se desintegra e a instituição escolaracaba tomando algumas das responsabilidades 'ue até então a ela

 pertenciam, /Feal& 5667& p. OC0. (e forma particular& a 'uestão daguarda e da educação das crianças tornouse assunto principal no

debate político& na legislação social e nas reformas escolares desde ofinal do século DM>>>& praticamente até ho1e. Nas grandes cidades

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européias da época& criaramse +refEgios, onde as crianças eramguardadas en'uanto seus pais trabalha)am. %m seguida& surgiramorgani*aç!es com o ob1eti)o de +cuidar, das crianças lactentes cu1asmães trabalha)am fora de casa.As primeiras creches urbanas da ?rança e da >nglaterra do final doséculo DM>> eram& naturalmente& caracteri*adas pelo assistencialismo&+)isa)am afastar as crianças pobres do trabalho ser)il 'ue o sistemacapitalista em expansão lhes impunha& além de ser)irem como guardiãsde crianças "rfãs e filhas de trabalhadores, /ramer& 56BC& p. T60.;arco hist"rico importante& em 588C& surgiu a primeira escola paracrianças de dois a seis anos& organi*ada por Uoão ?rederico berlin&chamada de Ecóles à Tricoter . %ram escolas 'ue abriga)am tambémfilhos de operários.

 Nesse contexto& desen)ol)euse o fen3meno cultural do iluminismo

franc#s. nome de UeanUac'ues =ousseau& pioneiro absoluto do pensamento contempor<neo )oltado para a educação crítica da criança&é a grande estrela do momento. papel decisi)o de =ousseau nare)olução pedag"gica contempor<nea& 'ue atribui $ criançacentralidade máxima no processo educati)o& é por todos oshistoriadores reconhecido. A dimensão ut"picorom<ntica de seu

 pensamento pedag"gico também é uni)ersalmente afirmada. Emílio de =ousseau é a criança 'ue de)e ser educada longe dodoutrinamento dogmático 1esuítico e dos costumes antinaturais daaristocracia. Ie =ousseau não pode ser considerado um socialista& suasobras e idéias estão presentes no frontispício te"rico de todo omo)imento e pensamento socialistas.=ousseau introdu* a discussão sobre o +progresso,& termo 'ue +nosle)a $'uela 'ue foi certamente a principal matri* intelectual das

 primeiras críticas socialistas e comunistas modernas da sociedade& ouse1a& o iluminismo setecentista e& mais particularmente& o franc#s,/obsbaKm& 56B7& p. O80. (e fato& o pensamento pedag"gicorousseauniano não estabelece uma relação de tran'Sila aceitação do

 progresso moderno. Ao contrário& mantém com o progresso das

ci#ncias e das artes modernas uma relação bastante conflituosa& 'ueinfluenciará )ários socialistas ut"picos. (i* ele& por exemplo: +Vue partido de)erei tomar nessa 'uestão- Q...R 2omo ousar censurar asci#ncias perante uma das mais sábias companhias da %uropa- 2omolou)ar a ignor<ncia numa Academia célebre e conciliar o despre*o peloestudo com o respeito pelos )erdadeiros sábios- Q...R ;as não é emabsoluto a ci#ncia 'ue maltrato& é a )irtude 'ue defendo, /=ousseau&56BB& p. 5O80. u se1a& não é a ci#ncia e as técnicas modernas 'ue=ousseau condena& é a imoralidade da época 'ue ele recusa.2onceitualmente& tal distinção é fácilJ concretamente& é difícil. A

conclusão a 'ue =ousseau chega é 'ue& no estágio da e)olução em 'uenos encontramos& não nos resta outra saída a não ser assumir a

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educação da criança& porém numa perspecti)a naturalista: +No estadoem 'ue 1á se encontram as coisas& um homem abandonado a si mesmo&desde o nascimento& entre os demais& seria o mais desfigurado de todos.s preconceitos& a autoridade& a necessidade& o exemplo& todas asinstituiç!es sociais em 'ue nos achamos submersos abafariam nele anature*a e nada poriam no lugar dela. %la seria como um arbusto 'ue oacaso fe* nascer no meio do caminho e 'ue os passantes logo farãomorrer& nele batendo de todos os lados e dobrandoo em todos ossentidos, /=ousseau& 568O& p. 60.

 Não há& portanto& para =ousseau como não educar as crianças nasituação social em 'ue se encontram. ;as& como fa*#lo& se o con1untosocial& a Paidéia moderna está totalmente a)ariada- =ousseau nãoconsegue resol)er esse dilema e imagina um lugar natural para aeducação de %mílio& 'ue& de fato& não existe& um u-topos& uma utopia.

(e forma semelhante& também o socialista 2harles ?ourier +encara)acom suspeição o progresso& partilhando de uma das con)icç!es de=ousseau& a de 'ue a humanidade escolhera um caminho errado aoadotar a ci)ili*ação. (esconfia)a da indEstria e do progressotecnol"gico& mesmo estando disposto a aceitálos& con)encido de 'ue aroda da hist"ria não pode )oltar atrás, /obsbaKm& 56B7& p. C60.A fa)or ou contra o progresso industrial& não há socialista ut"pico 'uenão elabore& para sua sociedade comunista& uma política educacionaldetalhada& com desta'ue especial para a educação infantil. Pro1etos deescolas e de pe'uenas comunidades educati)as brotam numerosos aolongo de toda hist"ria dos homens& porém& na primeira metade doséculo D>D& o florescimento de comunidades socialistas de caráterut"pico foi extraordinário. Nessas comunidades pretendiase educar ascrianças para for1ar o no)o homem industrial& porém não capitalista:+As escolas socialistas e comunistas 'ue floresceram no período 'ueintercorre entre o fim da =e)olução ?rancesa e o ano de 5BCB sedistinguem claramente do programa babu)ista /de 4abeuf0 por causa dadiferente maneira de conceber a passagem da )elha para a no)asociedade: isto é& uma passagem não )iolenta& pacífica& essencialmente

na base da con)icção e pelo exemplo de no)as comunidadesharmoniosas fundamentadas na cooperação e na fraternal união de seusmembros, /4edeschi& 5667& p. 58B0.?ourier& por exemplo& cria os famosos falanstrios& pe'uenascomunidades nas 'uais os trabalhadores desen)ol)em li)remente +sua)ida e suas ati)idades numa espont<nea comunhão de bens e derelaç!es recíprocas& sob a direção de um WanarcaX& chefe e moderador,/HeGmonat Y isato& 568B& p. 5C80. Nessas comunidades& o trabalho

 perderia o caráter de obrigação e se tornaria como um 1ogo de criança.istoricamente& porém& tanto na %uropa como na América& tais

comunidades demonstraram sua inconsist#ncia te"rica& pois nãoconseguiram se consolidar. >sso& porém& não 'uer di*er 'ue não tenham

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contribuído para a elaboração de uma pedagogia infantil 'ue resgatasseo )alor do homem em geral e da inf<ncia em particular. 2om efeito& ascrianças& aos poucos& são )istas por todos os educadores não mais comoadultos em miniatura e sim como cidadãos e& até mesmo& +pais dosadultos,.

 Numa segunda )ertente& o socialismo ut"pico olha para o progressomoderno e& particularmente& para o trabalho industrial de uma formamenos desconfiada& aliás& de forma entusiasta. nome de =obertKen& industrial ingl#s e filantropo& inscre)ese nessa segunda )ertentecomo socialista ut"pico plenamente fa)orá)el ao progresso industrial.%le pretende +instituir um sistema de instrução e de organi*ação dotrabalho industrial& )isando a restituir dignidade humana e cultura aosoperários e aos seus filhos. As escolas de Ken ob1eti)a)am aformação integral& sob o aspecto físico e moral& dos homens e das

mulheres& para 'ue aprendessem a pensar e a agir sempreracionalmente, /Feal& 5667& p. O80. Nas proximidades das suas fábricas& nos arredores de Fondres& em5B5& foram criadas por Ken as classes de asilo& nome 'ue&

 posteriormente& foi substituído por escolas maternais. Para esseindustrial socialista& a indEstria ha)ia criado uma no)a classe social& ados industriais& 'ue incluía tanto os proprietários das fábricas e os

 ban'ueiros& 'uanto os operários e os cientistas. %ducar as criançasnessas escolas maternais significa)a formar o no)o homem socialistaindustrial.

 Na >tália& por exemplo& a iniciati)a socialista de Ken inspirou umsacerdote& ?errante Aporti& 'ue& na cidade de 2remona& em 5BTB& abriuseu primeiro asilo infantil para as crianças das famílias abastadas. %mseguida& abriu outras instituiç!es semelhantes também para as famíliasmais pobres. %ram escolas 'ue rompiam com a tradição das salas deabrigo& +como a'uelas da mar'uesa de 4arolo& onde as crianças eramcondenadas a ficarem im")eis por muitas horas nas cadeiras comassentos furados e a respirar um ar empestado pelo bafo e fedor demuitas outras crianças doentes 'ue aí eram entulhadas, /;anacorda&

566T& p. 58T0. padre Aporti& notese& fa*ia parte do clero do norte da >tália& 'ue&como afirma Hramsci nas notas sobre a 'uestão meridional& sediferencia)a normalmente do clero meridional pela sensibilidade e

 pelas ati)idades de caráter popular e social: + padre setentrionalnormalmente é filho de um artesão ou de um campon#sJ temsentimentos democráticos& está mais ligado $s massas dos camponesesJmoralmente é mais correto do 'ue o padre meridional, /Hramsci&56B8a& p. 590. 2om efeito& no +;anual de %ducação e reinamento,

 para as escolas infantis publicados por Aporti em 5BOB& l#se: +s

mestres de)em ser& ao mesmo tempo& educadores e instrutores dascrianças, /;anacorda& 566T& p. 58T0. Nessas escolas infantis& a partir

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da Eltima série préescolar& as crianças 1á aprendiam os primeiroselementos da leitura& escrita e conta.%sse padre não era& certamente& um socialista de carteirinhaJ entretanto&foi hostili*ado pelos peri"dicos cat"licos mais conser)adores da épocaaté 'ue& em agosto de 5BO8& o Maticano condenou seus asilos para a

inf!ncia como algo perigoso. As iniciati)as institucionais referentes $educação da criança& sobretudo nas primeiras sociedades industriais&foram sempre muito hostili*adas por'ue potencialmente saturadas designificação políticore)olucionária. Não foi por acaso 'ue o li)ro deUeanUac'ues =ousseau& Emílio ou da Educaç"o& fora condenado pela>gre1a 2at"lica e posto no #ndex $ivrorum %ro&i'itorum /Fista dosFi)ros Proibidos0. cuparse de crianças é sempre tocar no ponto maissensí)el das elites econ3micas e da >gre1a& por'ue as primeiras sentemse donas da ri'ue*a 'ue não pretendem p3r em risco& a segunda sente

se a dona do destino Eltimo do ser humano& logo& de sua formação.A pro)a dessa )erdade está no fato de 'ue os educadores e políticosmais progressistas& porém não socialistas& 1ustifica)am as iniciati)aseducacionais em fa)or das crianças pobres afirmando 'ue seriamformas efica*es de resol)er pacificamente os conflitos sociais e afastarassim as ameaças do socialismo e do comunismo: +Ap"s o ano de5BCB& 'uando a re)olução amedrontou a muitos& Aporti insistia sobre afalta de educação popular apontando os perigos das doutrinas dosocialismo e do comunismo, /;anacorda& 566T& p. 58T0.As pe'uenas comunidades educati)as de ?ourier e de Ken foramexperi#ncias socialistas importantes& porém locali*adas e bemcircunscritas. (i)ersamente& o programa educacional de outro educador socialista ut"pico& %tienne 2abet& foi um pro1eto org<nico e complexode <mbito nacional& rigorosamente comunista& por'ue excluía 'ual'uertipo de propriedade pessoal. Na sua obra (o)age en #carie /5BC70&ilustra)a uma imaginária terra de nome >cária& na 'ual se ministra)a

 para todas as crianças uma instrução elementar integral& +'uecompreendia todos os conhecimentos e& com base nestes& na se'S#nciaescolar& uma instrução especiali*ada com elementos te"ricos e práticos,

/;anacorda& 56B6& p. T8O0.odas essas inEmeras iniciati)as /e muitíssimas mais0& )oltadas para aeducação da criança& se desen)ol)eram& na primeira metade do séculoD>D& inscritas ideologicamente no grande mo)imento socialistafranc#s& o sansimonismo. %sse mo)imento tomou sentido e força noclima cultural 'ue caracteri*ou o período das duas grandes re)oluç!es/a industrial inglesa e a francesa0 até $ restauração. otimismo geralsuscitado por a'uelas re)oluç!es e ainda pelas guerras deindepend#ncia /sobretudo& a americana& 5880& as esperançasacalentadas pelos sucessos da indEstria cria)am uma expectati)a

 política de no)as e ousadas reali*aç!es& de ad)ento de uma no)asociedade e de um no)o homem. %ra um clima cultural fecundo para o

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nascimento dos ideais e dos programas socialistas e comunistas. %stes&numerosos e )içosos& surgiam como cogumelos nos bos'ues ap"s as

 primeiras chu)as prima)eris. Nenhum outro mo)imento socialistaut"pico te)e import<ncia e ampla significação como o sansimoniano.Até mesmo com refer#ncia a ?ourier& Ken& 2abet e outros& +a escolasansimoniana dá um passo $ frente da máxima import<ncia& por'uecon1uga estritamente os ideais socialistas e comunistas com aorgani*ação industrial do mundo moderno. Na obra de IaintIimon nãohá traço de antagonismo entre operários e empreendedores. Q...R contraste social por ele destacado situase na relação entre a

 propriedade pri)ada e o rendimento máximo do sistema industrial,/4edeschi& 5667. p. 5860.IaintIimon conclui 'ue a propriedade pri)ada é obstáculo aodesen)ol)imento da grande indEstria& Enica forma de produ*ir enorme

ri'ue*a para todos. Por isso& a propriedade pri)ada precisa)a serabolida e pertencer a um Enico proprietário& ao %stado& 'ue de)e serconcebido como uma associação de trabalhadores. A import<ncia domo)imento sansimoniano é grande& por'ue representou o terreno fértil

 para todo o socialismo de maneira geral& não apenas para o ut"pico:+Ieu caráter específico foi o de associar um forte componenterom<ntico $ tradição progressista do iluminismo& na )alori*ação daci#ncia e da técnica. ?oi por isso 'ue ganhou enorme sucesso 1unto $%scola Politécnica& a famosa escola de engenharia de Paris& criada pela=e)olução ?rancesa& e 1unto aos estudiosos e pes'uisadores do campocientífico, /HeGmonat et al & 568B& p. 5C90. 'ue importa ainda destacar& referente $ 'uestão da educação dainf<ncia& é 'ue para o sansimonismo cabe ao %stado não s" abolir a

 propriedade pri)ada e sim também desconstruir a antiga instituiçãofamiliar& com base na emancipação da mulher& na liberdade sexual e natotal responsabilidade do %stado para com a educação infantil. trabalho industrial de)e ser o princípio educati)o da no)a sociedade ede todo o processo pedag"gico.

 Naturalmente& o socialismo ut"pico demonstrou& com o fracasso de

suas pe'uenas comunidades comunistas& a in)iabilidade hist"rica deseus programas pedag"gicos. %ntretanto& foram precisamente essesmo)imentos socialistas ut"picos a definirem a pauta do debatecontempor<neo sobre a educação infantil.;esmo assim& chegara a hora de a)aliar& com maior rigor científico& asra*!es desses fracassos e estabelecer princípios educati)os e programasescolares ob1eti)os e )iá)eis. A tarefa de agregar cientificidade aosocialismo ut"pico coube& sobretudo& a ;arx e %ngels.

O socialismo científico e a educação da criança 

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clima cultural do século D>D esta)a mudando. s ideais progressistas e iluministas da =e)olução >ndustrial e ?rancesa não maisincendia)am e sim amedronta)am as sociedades européias eamericanas. susto pelos excessos re)olucionários fortaleceu osdese1os de restauração da antiga ordem. As campanhas militares de

 Napoleão e as obras filos"ficas de egel recolocaram o mundo e osideais em +ordem,& política e intelectualmente. espírito de restauração atingira sobretudo os mo)imentos socialistas&cu1as )is!es ut"picas ha)iam posto a perigo a estrutura socialtradicional. 2oube ao socialismo científico ou marxismo se contrapor&de forma racional e determinada& ao refluxo re)olucionário darestauração& fornecendo $s doutrinas socialistas ut"picas basescientíficas s"lidas. arl ;arx e ?riedrich %ngels fixaram no +;anifesto2omunista, de 5BCB uma feli* síntese sobre a distinção entre

socialismo ut"pico e socialismo científico.(e)eras& os tempos esta)am mudando: en'uanto os socialistas ut"picosainda acredita)am na essencialidade da força de trabalho humano& os

 pr"prios industriais compreendiam 'ue o centro ne)rálgico do processode transformação era o +meio, de trabalho& 'ue podia ser um homem&uma mulher& uma criança ou então uma má'uina& uma estruturaorgani*ati)a& algo 'ue pode utili*ar o homem ou até mesmo dispensálo. A relação entre trabalhador e produção era& afinal& menos org<nica eindispensá)el do 'ue até então se pensa)a: +A re)olução determinada

 pelas má'uinas na relação 1urídica entre 'uem compra e 'uem )endeforça de trabalho é tal 'ue toda a transação perde até a apar#ncia de umcontrato entre pessoas li)res, /;arx& 568C& p. CC70.%m suma& para o capitalista não existe negociação ob1eti)a entre ocapital e o homem. Assim& ou o homem passa a negar radicalmente ocapital ou o capital negará definiti)amente o homem. Para o marxismocientífico não existe a possibilidade da dialética hegeliana daconciliação entre o capital e a sub1eti)idade humana. ?unciona apenas adialética da negação da negação. 2onse'Sentemente& s" o proletariadorepresenta a sub1eti)idade hist"rica 'ue pode garantir o homem contra

seu ani'uilamento e o socialismo é o seu Enico programa científico deautoemancipação.Para tal dialética& o hori*onte hist"rico esta)a definido& não era umideal moral. socialismo era uma ine)itabilidade hist"rica& inscrita nasob1eti)as e fre'Sentes crises do capital& 'ue& por sua nature*a& éautofágico. Assim& o esforço te"rico de ;arx e %ngels para transformar o socialismo numa ci#ncia ob1eti)a apaga)a o conteEdo ético dos

 programas educacionais dos socialismos ut"picos.A hegemonia do capital tinha seus dias marcados& mas& en'uantoti)esse sobre)ida produti)a& nenhuma piedade e re)olta humanistas o

destruiriam. Para os socialistas marxistas& era obrigação tentarminimi*ar os efeitos negati)os do capital& por exemplo& sobre as

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crianças e adolescentes& mas 1amais seria possí)el elaborar um programa pedag"gico realmente consistente en'uanto o capital nãoruísse& dando lugar ao %stado socialista: +Zma organi*ação socialnunca desaparece antes 'ue se desen)ol)am todas as forças produti)as'ue ela é capa* de conter, /;arx& 5688& p. T90.%m conclusão& a cientificidade marxista foi um balde de água fria nosideais e programas socialistas ut"picos& em geral& e de educação dainf<ncia e dos adolescentes& em particular. ;arx não ignora)a a trágicasituação da inf<ncia nas periferias das grandes cidades industriais& mas&

 para ele& o método científico não admitia dE)idas: +As minha opini!esQ...R são o resultado de longas e conscienciosas pes'uisas. No limiar daci#ncia& como $ entrada do inferno& a determinação absoluta seimp!e:*ui si convien lasciar ogni sospetto + ,gni viltà convien c&e ui

 sia morta /A'ui é necessário abandonar toda suspeita [ oda timide*

 precisa ser abandonada0. Fondres& 1an. 5B96, /;arx& 5688& p. T80.%ra um preciso recado para o romantismo dos socialistas ut"picos:embora& parece di*er ;arx& tudo de)a ser feito para redu*ir osofrimento das crianças& en'uanto perdurar o capitalismo a situaçãoserá sempre infernal e os programas socialistas de educação terãoapenas um caráter assistencialista.;arx e %ngels )i)iam& ap"s o fracasso da =e)olução de 5BCB& umclima cultural de desengano das expectati)as de uma re)oluçãoimediata. mesmo clima marcou toda a Iegunda >nternacional& na 'ual;arx era apresentado como um cientista social 'ue percebia ascontradiç!es do capitalismo& mas também reconhecia seu )igorosof3lego hist"rico.Iabemos 'ue o socialismo científico sofreu grande influ#ncia docientificismo positi)ista& do e)olucionismo darKinista e doexperimentalismoJ por exemplo& da psicologia: todas essas )ertentescomunga)am uma filosofia da hist"ria com base no determinismo.Assim& o socialismo científico concluía 'ue o reino da liberdade/comunismo0 s" aconteceria após o reino da necessidade /capitalismo0.A .ustaposiç"o dos dois +reinos,& cientificamente arbitrária& era uma

declinação filos"fica da )isão 1udaicocristã da passagem /Páscoa0deste mundo& )ale de lágrimas& para o mundo celeste& o paraíso.Vuando ;arx e %ngels tenta)am di*er algo sobre as características dafutura sociedade comunista& apenas in)ertiam os sinais dascaracterísticas da sociedade burguesa. Assim& por exemplo& o conceitode tra'al&o permanece prisioneiro dos limites conceituais da crítica aotrabalho burgu#s. 2omo também o conceito de Estado não ultrapassa oslimites da crítica ao %stado burgu#s.Por isso& o marxismo ortodoxo ou o socialismo científico nãoconseguiu perceber 'ue a educação infantil e a escola em geral& mesmo

no <mbito dos %stados burgueses& tomariam enorme impulso edesen)ol)imento& muito além dos limites do trabalho fabril e da escola

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 profissional. 2oncluindo: o reducionismo escolar 'ue é criticado aosocialismo ortodoxo foi reflexo& na )erdade& da aporia marxiana&criticada por muitos analistas& a respeito da categoria tra'al&o.%ntretanto& apesar dos inegá)eis limites do socialismo científico& é deleo grande mérito de combinar ensino e produção. A partir de ;arx& otrabalho produti)o passou a ser o fundamento principal da pedagogiasocialista& 'ue também influenciou toda a pedagogia progressista doséculo DD.2om efeito& influenciado pelo )islumbramento iluminista diante dos+milagres, da indEstria& ;arx desloca)a a centralidade dos espaços

 pedag"gicos& até então representados pela família e pela sala de aula& para a fábrica. %le percebia 'ue& de um lado& a família e as escolas burguesas esta)am desmoronando& en'uanto& de outro lado& mesmocom toda a exploração& as fábricas aprimora)am a di)isão do trabalho e

fa*iam da ci#ncia e da técnica suas bases re)olucionárias& exigindo dooperário maior cultura& maior )ersatilidade técnicoprofissional e&conse'Sentemente& forçando o %stado a abrir escolas politécnicas&

 profissionais e agrícolas Eteis& interessantes e pedagogicamentedisciplinadas. Não resta)a a ;arx e %ngels outra alternati)a a não serconcluir pela combinação de ensino profissional e trabalho produti)o&fa*endo dessa combinação o fundamento pedag"gico da escolasocialista.Vuanto $s escolas tradicionais burguesas& %ngels& em 5BCCC9& escre)e'ue: +s mestres são péssimos: um deles ha)ia sido condenado porroubo e saindo da prisão não encontrara outro meio de )ida a não sermestreescola. Q...R 2rianças 'ue ha)iam fre'Sentado por anos asescolas dominicais não conseguiam distinguir uma letra de outra. %mtoda a região& mesmo a instrução religiosa e moral& além da intelectual&encontrase num ní)el muito baixo, /%ngels& 56C& p. C80. conteEdo pedag"gico da política educacional da >nglaterra& para citaroutro exemplo& era tão pobre 'ue nada ou 'uase nada dele adiantaria naele)ação moral e intelectual das crianças. Até mesmo a recentelegislação sobre a instrução dos filhos dos trabalhadores não passa de

+lei ilus"ria /delusive la/0& a 'ual& sob a apar#ncia de cuidar daeducação das crianças& não contém se'uer uma s" disposição paragarantir o ob1eti)o 'ue professa. I" disp!e sobre o seguinte: as criançasde)em estar fechadas por um determinado nEmero de horas /tr#s horas0

 por dia entre as 'uatro paredes de um lugar chamado escola Q...R. Nãoeram raros os certificados de fre'S#ncia escolar assinados com umacru* por mestres ou mestras 'ue nem sabiam escre)er Q...R. %m outraescola obser)ei 'ue a sala de aula era de 'uin*e pés por de* e aí ha)iasetenta e cinco crianças 'ue grita)am algo de incompreensí)el. Q...R Nasescolas onde há um mestre competente& seus esforços fracassam 'uase

totalmente diante do barulho ensurdecedor de crianças de toda idade&dos tr#s anos para cima. A remuneração do mestre& 'ue é miserá)el na

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maioria dos casos& depende dos pence 'ue se consegue pelo máximonEmero de crianças apertadas numa sala. Acrescentemse os escassosm")eis escolares& a falta de li)ros e de 'ual'uer material didático e oefeito deprimente de uma atmosfera fechada e nauseabunda sobre os

 pobres meninos. %sti)e em muitas dessas escolas& onde obser)ei fileirasinteiras de crianças 'ue não fa*iam absolutamente nada e a'uelascrianças constam como educadas /educated 0 na estatística oficial. Q...RPela lei& toda criança& antes de ser empregada nas empresas& de)e terfre'Sentado uma escola por trinta dias /pelo menos0 e por não menos'ue cento e cin'Senta horas durante os seis meses 'ue precedemimediatamente o primeiro dia do seu emprego Q...R. A criança pula& porassim di*er& da escola $ fábrica& da fábrica $ escola& até 'ue se alcance asoma de cento e cin'Senta horas, /;arx& 5B8& in: ;anacorda& 56C& p.6OC0.

oda)ia& o real criticado acabou por se apresentar como um hori*onte possí)el: assim& a combinação de trabalho produti)o com educaçãofísica e intelectual se apresentou para o socialismo marxiano como af"rmula mágica da educação& o germe da educação futura. Afinal&mesmo a pobre e ilus"ria legislação sobre educação infantil nãodeixa)a de ser o resultado da pressão operária& logo& constituía umaimplícita con'uista da classe trabalhadora: +Por'uanto no seu con1untose apresentem pobres& as cláusulas sobre a educação afirma)am 'ue ainstrução elementar era uma condição obrigat"ria do trabalho. Ieusucesso demonstrou pela primeira )e* a possibilidade de interligar ainstrução e a ginástica com o trabalho manual. Q...R sistema Wmetadetrabalho e metade escolaX permite 'ue cada uma das duas ocupaç!esse1a repouso e re)igoramento da outra e& portanto& é muito maisade'uado $ criança do 'ue a continuidade ininterrupta de uma ou deoutro. Q...R (o sistema da fábrica& como se l# particularmente nosescritos de =obert Ken& nasceu o germe da educação do futuro 'ueinterligará& para todas as crianças& além de certa idade& o trabalho

 produti)o com a instrução e a ginástica& não somente como método para ele)ar a produção social& mas também como Enico método para

 produ*ir homens plenamente desen)ol)idos, /;arx& in: ;anacorda&56C& p. 690.A pedagogia marxista não s" considera hegem3nico o papel da fábricano processo pedag"gico& com refer#ncia $ escola tradicional& mastambém com refer#ncia $ pr"pria família. %scola e família precisam ser+educadas, pelo trabalho produti)o industrial& a primeira tornandosecada )e* mais profissional& técnica e& finalmente& tecnol"gicaJ asegunda& conhecendo a substituição da autoridade dos pais / patria

 potestas0 pela autoridade& num primeiro momento& do capital e&finalmente& do %stado socialista industrial. +A força dos fatos&

finalmente& obrigou a sociedade a reconhecer 'ue a grande indEstria&desagregando o fundamento econ3mico da )elha família e do trabalho

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familiar 'ue lhe correspondia& desagrega também as )elhas relaç!esfamiliares / patria potestas0. Precisou& finalmente& proclamar o direitodos filhos, /;arx& in: ;anacorda& 56C& p. 6B0.;esmo reconhecendo 'ue o fundamento Eltimo da exploração infantil éa mais)alia capitalista& ;arx percebe 'ue o capital reali*a a exploraçãodas crianças atra)és da autoridade familiar e 'ue& portanto& adesagregação desta permite o surgimento futuro de uma forma superiorde família& a socialista& assim como $ forma familiar grecoromana seseguiu a germ<nicocristã& etc: +(esgraçadamente& as crianças dos doissexos não precisam de proteção contra ninguém 'uanto contra seus

 pr"prios pais. sistema de exploração ilimitada do trabalho infantil emgeral e do trabalho domiciliar em particular é mantido pelo fato dos

 pais exercitarem sobre seus 1o)ens e tenros rebentos uma autoridadearbitrária pre1udicial& sem limites e sem controle. s pais não podem

 possuir o poder absoluto de tornar seus filhos meras e simplesmá'uinas de render algum salário semanal. 2rianças e adolescentes t#mdireito a serem protegidas pela legislação contra o abuso da autoridade

 paterna 'ue arrebenta precocemente sua força física e os rebaixa naescala dos seres morais e intelectuais, /;arx& in ;anacorda& 56C& p.6B0.%m suma& para o socialismo científico& o )erdadeiro pedagogo ou o

 parteiro do no)o homem socialista é a pr"pria grande indEstria 'ue&mesmo no sofrimento& for1a a no)a família desagregando a )elha& ao

 passo 'ue a no)a escola profissional e tecnol"gica elimina a escolatradicional inEtil e ret"rica& e o no)o homem e a no)a sociedadesocialista eliminam o homem burgu#s e seu meio depra)ado.b)iamente& o programa educati)o propriamente socialista& original eaut3nomo& se desen)ol)erá 'uando o %stado concentrar em seu podertoda a propriedade e a gestão dos meios de produção moderna. Até lá&se o trabalho industrial infantil é penoso& e precisa ser temperado com oensino profissional e com exercícios físicos& mais piedoso ainda é odese1o de )er as crianças fora das fábricas: +A proibição geral dotrabalho das crianças é incompatí)el com a exist#ncia da grande

indEstria e não passa& portanto& de um )ão e piedoso dese1o. Iuaconcreti*ação& 'uando fosse possí)el& seria reacionária& por'ue aaltern<ncia precoce entre o trabalho produti)o e a instrução é um dosmais poderosos meios de transformação da sociedade atual, /;arx& in:;anacorda& 56C& p. 5550.

 Não podemos es'uecer 'ue& durante toda a metade do século D>D&?roebel difundiu os 1ardinsdeinf<ncia nas fa)elas alemãs& ao redor de4erlim& e escre)eu textos sobre educação infantil& como +2<nticos ecarícias maternas,& +As famílias educadoras,& +Mi)emos para as nossascrianças,. u se1a& 'uando ;arx e %ngels critica)am a família e a

escola burguesas& por elas não entenderem historicamente a e)oluçãodas forças produti)as e seus inexorá)eis& mas re)olucionários& reflexos

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na educação& dirigiamse também $s teorias e práticas de educaçãoinfantil de ?roebel. u se1a& en'uanto os programas de educaçãoinfantil de caráter assistencialista se preocupa)am em criar espaços deabrigo& de cuidados& de manutenção física e de segurança contra os

 perigos da rua e do trabalho fabril& o socialismo científico do final doséculo D>D encara)a a grande indEstria como sendo a parteira e a

 pedagoga do no)o homem. Nas primeiras tr#s décadas do século DD& o capitalismo passou porimportantes mudanças 'ue influíram no atendimento e na educação dascrianças. A grande indEstria produ*ira forte concentração do capital nofinal do século D>D& dando origem ao fen3meno denominado por Feninde +imperialismo& fase superior do capitalismo,. %ntre o século D>D eDD& en'uanto inEmeros trabalhadores eram forçosamente relegados auma )ida ociosa& outros trabalha)am de do*e a tre*e horas diárias.

;uitíssimas crianças pobres eram dispensadas do trabalho dasindEstrias e este fato transformou o problema da educação infantilnuma 'uestão cada )e* mais política.Iurgem& no final do século D>D& no <mbito da pedagogia liberal&+fortes mo)imentos sociais em prol do atendimento $ criança menor desete anos& com a exig#ncia de um caráter mais educacional e

 pedag"gico& não apenas para garantir sua segurança física, /Feal& 5667& p. CT0. 4ien)enu ;artin& em 5BBT& lembra 'ue os responsá)eis pelainstrução pEblica +es'uecem 'ue a educação préescolar tem seusob1eti)os pr"prios& não sendo nem simples creches& nem escolaselementares, /4rasil& 568C& p. B0. ;aria ;ontessori& durante 'uasetoda a primeira metade do século DD& com base nas suas experi#nciaseducati)as 1unto $s crianças excepcionais& estabeleceu definiti)amente

 para a educação infantil a necessidade da colaboração científica entremédicos& neurologistas& psic"logos e pedagogos. A rede de 1ardinsdeinf<ncia ampliarase enormemente na %uropa e nos %stados Znidos&dirigindose $s crianças pobres& filhas de imigrantes& para transformálas em cidadãs e& atra)és delas& transformar também a pr"priasociedade. A crença de 'ue a educação em geral& a partir da inf<ncia&

erradicaria a pobre*a foi o motor do mo)imento chamado +%scola No)a,& 'ue tem por expoente principal o pensador e educadoramericano Uohn (eKeG /5B96569T0.ra& se o socialismo ortodoxo se autodefinia como um pensamentoaut3nomo e exclusi)o da classe operária& de 'ue forma os pensadores eeducadores socialistas& depois de ;arx& se relacionaram com omo)imento pedag"gico em geral- u se1a& de 'ue forma Fenin&rupsLaia e ;aLarenLo& por exemplo& conseguiam articular a )isão

 pedag"gica marxiana com o mo)imento científicopedag"gico geral-%mbora a distinção entre a pedagogia científica socialista e a pedagogia

científica em geral& ou burguesa& se torne cada )e* menos precisa& na primeira metade do século DD ainda era nítida. %ntretanto& algumas

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 pontes 1á esta)am sendo lançadas por Fenin e sua esposa rupsLaia&ap"s a =e)olução =ussa de 5658. 2om efeito& o socialismo do séculoDD não era mais uma simples ideologia emergente& mas era a ideologiaoficial de )árias repEblicas comunistas 'ue& pela primeira )e* nahist"ria& se defronta)am com a responsabilidade de reali*ar concretasreformas pedag"gicas.Fenin e rupsLaia lideraram& nas primeiras décadas do século&reformas educacionais 'ue se identifica)am com os princípios dosocialismo científico& explicitando 'ue a educação se fundamenta)a noreconhecimento da função ci)ili*adora do capitalismo burgu#s. Ieusescritos e suas reformas constituem uma síntese oficial dos princípiosdo socialismo marxista. Aceita)am& porém& boa parte das reformas edos estudos pedag"gicos progressistas& fora do <mbito socialista. Feiase& por exemplo& essa passagem: +A instrução gratuita das crianças&

rei)indicada pelos socialistas democráticos& constituiria uma melhoraimportantíssima para toda a população e sobretudo para os camponeses pobres. Q...R ;as é preciso oferecer uma )erdadeira instrução li)re& nãoa 'ue oferecem os funcionários e os padres, /Fenin& in: ;anacorda&56C& p. 58T0.Aos poucos& até mesmo os princípios fundamentais da pedagogiamarxista do século D>D sofriam alteraç!es significati)as. A saber: aconcepção sobre a relação instruçãotrabalho& escolapolítica e escolaherança cultural do passado esta)a sofrendo profundas modificaç!es. socialismo científico de ;arx e %ngels estabelecera uma relaçãomec<nica e pontual entre trabalho fabril e escola. %ra 'uase umsomat"rio ou uma altern<ncia de momentos& uns passados na escola

 profissional e outros na fábrica. ;as as reformas educacionais derupsLaia concebiam essa relação de forma mais org<nica e geral&

 por'ue a fábrica influencia a sociedade como um todo e o trabalhoindustrial& como princípio educati)o& modifica difusa e uni)ersalmentetodas as esferas da sociedade. Assim& o industrialismo educa todo ocon1unto da sociedade& não apenas o ser humano 'ue estámaterialmente dentro dos muros da fábrica. Nesse sentido& até mesmo

as creches infantis de uma sociedade industrial socialista sãoinformadas pelo trabalho fabril como princípio educati)o.2onse'Sentemente& a proibição do trabalho das crianças& 'ue para ;arxsoa)a como postura idealista e reacionária& para os pedagogossocialistas so)iéticos era um imperati)o& sem com isso negar o

 princípio do trabalho industrial como fundamento uni)ersal da pedagogia socialista. Nas anotaç!es de Fenin& de maio de 5658& feitas para a re)isão do programa do Partido& l#se: +A 2onstituição da =epEblica (emocrática=ussa de)e assegurar: a completa laicidade da escolaJ a instrução

gratuita e obrigat"ria& geral e politécnica /'ue fa* conhecer te"rica e praticamente todos os ramos principais da produção0 para todas as

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crianças dos dois sexos até os 5 anosJ uma estreita )inculação doensino com o trabalho social produti)o das crianças e adolescentesJ ofornecimento para todos os alunos de alimento& )estuário e dosmateriais didáticos $ custa do %stadoJ a proibição dos empresários de seutili*arem do trabalho das crianças em idade escolar /até os 5 anos0& alimitação do horário de trabalho dos 1o)ens /5T7 anos0 a 'uatro horase a proibição do trabalho noturno desses 1o)ens nas indEstriasinsalubres e nas minas, /Fenin& in: ;anacorda& 56C& p. 56TO0.;anacorda& em nota& assim comenta essa citação: +A proibição dotrabalho das crianças& estabelecida em 5B69 até os 59 anos e 'ueaparece no Programa de 567O até os 5 anos& permanece confirmadanessa idadeJ en'uanto a limitação ao trabalho& pre)ista no Programa de567O a horas para os adolescentes de 5 aos 5B anos& neste momento/56580 foi fixada em apenas C horas e também para os 1o)ens até os T7

anos, /;anacorda& 56C& p. 56T0. pedagogo e poeta russo Anton I. ;aLarenLo /5BBB56O60 é tal)e* aexpressão mais emblemática da educação do socialismo científico.omem dedicado $ escola e $ reflexão pedag"gica& acompanhou

 política e teoricamente as reformas educacionais de Fenin e derupsLaia& )i)enciando também a primeira parte do desfecho daditadura comunista de Italin& 'uando o socialismo científico tornarasemero determinismo burocrático.;aLarenLo foi um pedagogo entusiasta e um poeta da escola en'uantocoleti)idade educadora das crianças& chamadas pela hist"ria a seremsocialistas e re)olucionárias. %ntendeu rigorosamente 'ue o termosocialista era ant3nimo de indi)idualista e& portanto& coleti)idade era aantítese de indi)idualidade. Ieu entusiasmo pelo coleti)o o fa*ia

 polemi*ar até mesmo com rupsLaia& rousseauniana em demasia& noentender dele: +Nos céus& e mais pr"ximo deles& na altura do WlímpoPedag"gicoX& 'ual'uer técnica pedag"gica na área da educação

 propriamente dita era considerada heresia. Nos WcéusX& a criança era)ista como um ser recheado de um gás de composição especial& para o'ual ainda nem hou)e tempo de in)entar um nome. (e resto& isso de)ia

ser a'uela mesma )elha alma sobre a 'ual se exercita)am os ap"stolos.Presumiase /hip"tese operati)a0 'ue esse gás possuísse a )irtude doautodesen)ol)imento. Iobre isto& muitos li)ros 1á foram escritos& mastodos eles& essencialmente& apenas repetiam os pronunciamentos de=ousseau: Wa inf<ncia de)e ser encarada com )eneração... temeiinterferir na nature*a.X dogma principal desse credo consistia em 'ue&nas condiç!es de tal )eneração e cautela perante a nature*a& o gásacima mencionado de)eria ine)ita)elmente produ*ir o crescimento deuma personalidade comunista. Na realidade& nas condiç!es da nature*a

 pura& crescia somente a'uilo 'ue naturalmente podia crescer& isto é&

meras er)as daninhas mas isto não preocupa)a ninguém: aoshabitantes celestes s" eram caros princípios e idéias. ;inhas

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demonstraç!es 'uanto $ discrep<ncia prática entre as er)as daninhasresultantes e os pro1etos assumidos para uma personalidade comunistaeram chamadas de utilitarismo& e& se eu tenta)a sublinhar minha)erdadeira ess#ncia& di*iam: ;aLarenLo é um bom prático& masentende muito pouco de teoria, /;aLarenLo& in: Fuedemann& 566C& p.TC750.b)iamente& para o socialista ;aLarenLo o princípio de autoridade edisciplina ocupa)a lugar centralíssimo na prática e na teoria

 pedag"gicas: +A ati)ação dos princípios sociais da coleti)idade escolare a combinação das medidas educacionais com o sistema de sanç!esexigem o fortalecimento imprescindí)el do centro educacional naescola. Iomente o diretor pode ser esse centro& pois é o maiorresponsá)el na instituição& dirigente nomeado pelo %stado Q...R odos osdemais trabalhadores escolares de)em atuar sob sua direção imediata e

cumprir suas indicaç!es diretas. Q...R tratamento indi)idual da criançaconsiste precisamente em fa*er dela um membro fiel e digno dacoleti)idade e um cidadão do %stado so)iético em conson<ncia comsuas peculiaridades pessoais. Q...R Iomente a criação de umacoleti)idade escolar Enica pode despertar na consci#ncia infantil a

 poderosa força da opinião pEblica como fator educati)o& regulador edisciplinador. Q...R Iubordinarse ao camarada& não ao rico& não ao

 patrão& mas ao camarada e saber mandar no camarada. Q...R Aassembléia geral de todos os educandos de uma instituição infantil é o"rgão principal de autogestão, /;aLarenLo& in: Fuedeman& 566C& p.5BTC0.extos como esses são inEmeros nos escritos pedag"gicos de;aLarenLo 'ue& nos anos )inte& dirigia em Polta)a uma col3nia dereeducação de pe'uenos infratores& a 'ual ele consegue& pela suagenialidade e dedicação pedag"gica& transformar numa pe'uenasociedade autogestida. %m seguida& dirige uma comunidade de trabalhoinfantil e é nomeado diretorgeral das casas para crianças da região dearLo). ;orre em ;oscou em 56O6.Vuanto ao trabalho como princípio educati)o& sua posição coincidia

 perfeitamente com a de ;arx: +(e todas as formas estou con)encido de'ue o trabalho 'ue não tem como finalidade direta a produção de)alores materiais não é um elemento educacional positi)o,/;aLarenLo& in: Fuedermann& 566C& p. 580. ermos comocoleti)idade& trabalho produti)o infantil& disciplina& autoridade&antiespontaneísmo& etc.& pontuam todo o pensamento e a prática

 pedag"gica de ;aLarenLo. Não se de)em& entretanto& es'uecer ascircunst<ncias hist"ricas em 'ue )i)eu& pensou e trabalhou. Ao redordele retumba)a a guerra e a re)olução: )ários mundos esta)am emcho'ue. As crianças e os menores 'ue chega)am $ col3nia de

reeducação dirigida por ele tra*iam& na carne e no espírito& as marcas detantas contradiç!es& car#ncias e )iol#ncias. Ieu maior mérito foi

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acreditar na força da educação: +%u professo uma fé sem limites&temerária e sem reser)as& na imensa pot#ncia do trabalho educati)o,/;aLarenLo& in: ;anacorda& 56B6& p. O50. direti)ismo pedag"gico desse grande nome da educação socialista&sua fé na re)olução e mesmo sua postura doutrinária conser)a)amainda o perfume e o encanto dos primeiros anos da bem sucedidare)olução bolche)i'ue: +A coleti)idade tem 'ue embele*arseexteriormente. Por ela& a primeira coisa 'ue fi* foi construir um campode flores sem preocuparme com o custo. 2ulti)á)amos especialmenterosas& não flor*inha de má sorte. ?lores 'ue adorna)am os dormit"rios&refeit"rios& salas de aulas e de reunião e também as escadas Q...R.Vuanto ao uniforme& esti)e disposto a ir mais longe. >magino 'ue ascrianças de)em )estir com tal gosto e eleg<ncia 'ue inspiremadmiração. %m tempos passados eram as tropas as 'ue )estiam os

melhores uniformes. %ra um luxo das classes pri)ilegiadas. %m nosso país& a camada pri)ilegiada da sociedade& 'ue tem direito a )estirmelhor 'ue todos& de)em ser as crianças, /;aLarenLo& in: Fuedemann&566C& p. 5B60.oda)ia& em 'ue pese a dedicação& o entusiasmo e o perfume dos

 primeiros anos da re)olução& o realismo e autoritarismo pedag"gico de;aLarenLo refletem o socialismo real da burocracia de Italin 'ue& aos

 poucos& produ*irá um marxismo )ulgar& análogo $ economia )ulgar do pensamento burgu#s: isto é& pobres teorias diretamente subordinadas ainteresses políticos e sociais de grupos no poder.

 Na sua obra 0andeiras nas Torres& ;aLarenLo& com orgulho& reprodu*o discurso de um oficial do %xército Mermelho& dirigido aos meninos deuma col3nia escolar& ao lado da bandeira e pr"ximo $ estátua de Italin:+Iaudamos a sua col3nia& 'ue assume nos 1o)ens ombros a nobre tarefade criar uma fábrica de aparelhos elétricos. %xército Mermelhoreceberá com orgulho a sua produção. Q...R É belo saber 'ue as suas

 1o)ens mãos cedo )ão fabricar ferramentas tão necessárias $ defesa do país. (epois& as suas mãos pegarão em armasJ também )oc#s entrarãono %xército Mermelho Q...R Hostamos de )er a forma como )i)emJ a sua

feli* e soberba disciplina& o respeito pela nossa bandeira )ermelhaJ tudona casa de )oc#s se fa* pontualmente e com consci#ncia, /;aLarenLo&in: Fuedemann& 566C& p. T9O0.

O socialismo investigativo e a educação da criança 

 Nesta terceira parte& precisamos responder a tr#s 'uest!es: o 'ue se pretende di*er com a expressão +socialismo ou marxismoin)estigati)o,- Por 'ue Hramsci- Vuais os reflexos na educaçãoinfantil-

Por socialismo in)estigati)o entendemos a postura moral e intelectualde 'uem priori*a& entre os )alores sociais& a igualdade e a 1ustiça& e se

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inspira& nas in)estigaç!es acad#micocientíficas& no método dialéticohistoricista. %ssa postura re1eita& portanto& o socialismo como umcon1unto de doutrinas burocraticamente definidas e autosuficientes aserem aprendidas e difundidas.UeanPaul Iartre afirmou 'ue o marxismo tornarase a refer#nciaepistemol"gica mais importante do século DD. >sto é& o marxismo&en'uanto método científico& tornarase patrim3nio uni)ersal da filosofiacontempor<nea& assim como a filosofia de (escartes tornaraserefer#ncia uni)ersal para a modernidade. Por isso& pensar e pes'uisar a

 partir da dialética entre as classes sociais& relacionar infraestrutura esuperestrutura& contexto hist"rico e sub1eti)idade& priori*ar o trabalhocomo categoria e fonte de )alor e& sobretudo& considerar a coleti)idadee a igualdade entre os homens )alores prioritários frente $ liberdadeindi)idual tudo isso 'ualifica programas políticos e posturas

intelectuais de socialistas ou de es'uerda& independentemente de'ual'uer identificação políticoburocrática.Por 'ue Hramsci representaria o marco distinti)o entre o socialismodoutrinário e o in)estigati)o- Afinal& ele foi secretáriogeral de um

 partido comunista& seus escritos e sua prática política o alinham aoautoritarismo de Fenin. %ntretanto& a historiografia mais recentereconhece 'ue a principal característica do pensamento de Hramsci é acrítica ao determinismo hist"rico e ao burocratismo partidário datradição socialista. Não por acaso& Hramsci morreu no cárcere bastanteisolado e até execrado pelo seu pr"prio partido. Não por acaso& no<mbito dos Partidos 2omunistas das décadas de C7& 97 e 7& o nome deHramsci permaneceu na sombra& 'uando não hostili*ado comoheterodoxo. %nfim& consideramos muito defensá)el a tese de 'ue acaracterística do socialismo in)estigati)o foi historicamente introdu*ida

 por Hramsci& não s" na >tália& mas também no <mbito do socialismointernacional& tornandose hegem3nica aos poucos& por exemplo& noeurocomunismo& até se impor ho1e& 'uase uni)ersalmente& ap"s a+perestroiLa, e a 'ueda do muro de 4erlim.Hramsci& de fato& 1á no ano de 565B& ao publicar o famoso artigo

intitulado + nosso ;arx,& para comemorar o centenário donascimento de ;arx /9[9[5B5B0& demarca)a com precisão e muitacoragem a distinção entre marxismo doutrinário& determinista e

 burocrático& e o marxismo como método de li)re in)estigação. %isalguns trechos do artigo: +Iomos n"s marxistas- %xistem marxistas-%stupide*& apenas tu és imortal. A ret"rica )a*ia e o bi*antinismo são

 patrim3nio permanente dos homens. ;arx não escre)eu umadoutrina*inha& não é um messias 'ue deixou uma longa série de

 parábolas impregnadas de imperati)os categ"ricos& de normasindiscutí)eis& absolutas& fora das categorias de tempo e de espaço. Q...R

odos são um pouco marxistas& inconscientemente Q...R. Q;arxR não éum místico nem um metafísico positi)istaJ é um historiador& é um

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intérprete dos documentos do passado& de todos os documentos& não s"de uma parte deles Q...R. 2om ;arx& a hist"ria continua a ser domíniodas idéias& do espírito& da ati)idade consciente dos indi)íduos isoladosou associados. Q...R arl ;arx é para n"s um amplo e sereno cérebro

 pensante& é um momento indi)idual da in)estigação laboriosa e secular'ue a humanidade reali*a..., /Hramsci& 56BC& p. O0.%ssas afirmaç!es de Hramsci sobre o marxismo não eram apenasintuiç!es brilhantes& rel<mpagos perdidos na noite do marxismodoutrinário. =epresenta)am uma posição te"rica profunda& ainda 'ueminoritária& emergente e repetidamente defendida por Hramsci. 2omefeito& no ano anterior& em no)embro de 5658& tinha escrito outrofamoso ensaio& intitulado +A re)olução contra , Capital ,& isto é& contraa obraprima de ;arx. %sse artigo foi reeditado em 1aneiro de 565B.

 Nele& podese ler frases como: +os c<nones do materialismo hist"rico

não são tão férreos como se poderia pensar e se pensou Q...R %les /os bolche)istas0 não são WmarxistasX& eis a 'uestãoJ não compilaram a partir da obra do mestre uma doutrina exterior& afirmaç!es dogmáticas eindiscutí)eis. Mi)em o pensamento marxista 'ue& em ;arx& se tinhacontaminado com incrustaç!es positi)istas e naturalistas, /Hramsci&56BT& p. 95O90.%m 56T& contrap3sse a Italin& o 'ue lhe custou a perman#ncia nacadeia até a morte: +2ompanheiros escre)eu $ >nternacional2omunista& 'ue pretendia expulsar rotsLi& \ino)ie) e amene) & ho1e)oc#s destroem a sua obra& degradam e correm o risco de anular afunção dirigente 'ue o Partido 2omunista da Z=II tinha con'uistado,/Hramsci& 5685& p. 5TB0. % ao WamigoX ogliatti& 'ue o a)isa)a do clima

 político de ;oscou& impermeá)el $s suas críticas& replica)a: +odo oseu raciocínio está )iciado de burocratismo, /Hramsci& 5685& p. 5O0. fascismo e o stalinismo li'uidaram Hramsci& mas a hist"ria resgatousua postura in)estigati)a& sua proposta de modelo de re)oluçãodiferenciado e ade'uado para cada po)o e cada nação: +Para conhecercom precisão os fins hist"ricos de uma nação& de uma sociedade& de umagrupamento& é necessário& antes de tudo& conhecer 'uais os sistemas e

as relaç!es de produção e de troca da'uele país& da'uela sociedade.Iem este conhecimento Q...R& não se fará hist"ria& não se conseguiráapreender o nEcleo da ati)idade prática em toda a sua s"lidacomplexidade, /Hramsci& 56BC& p. 90. socialismo in)estigati)o de Hramsci critica)a também a )isãodualista 'ue 1ustap!e o reino da necessidade ao reino da liberdade. %stenão começa 'uando a'uele termina& isto é& para alm da economia

 burguesa. A marxiana f"rmula da +passagem do reino da necessidade para o reino da liberdade, pagou forte tributo $ metafísica 1udaicocristã& superada pela filosofia moderna& 'ue a substituíra com a f"rmula

+fa*er da necessidade liberdade,.

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Hiuliano Hramsci& seu filho& afirma ho1e 'ue o pai ha)ia entendido& 1ána década de O7& 'ue a forma para sair da triste e trágica hist"ria dosfascismos do século DD era ultrapassar a milit<ncia burocrática atra)ésde uma )erdadeira milit<ncia ética& por'ue& acima do partido político

 burocrático& há o partido político ético& 'ue +une personagens politicamente diferentes& mas moralmente solidárias, /Hramsci&Hiuliano& 566T& p. 990.As conse'S#ncias dessa no)a postura socialista inaugurada por Hramscisão grandes& no <mbito da concepção cultural& educacional e& atémesmo& da educação infantil& como )eremos adiante. Por exemplo& no<mbito do debate ideol"gico& a antiga milit<ncia política não mais podiaser representada como um campo de batalha no 'ual se contrap!em

 bilateralmente os +fiéis, contra os +infiéis,& a )erdade contra o erro& em posiç!es nitidamente antag3nicas: +2ompreender e a)aliar

realisticamente a posição e as ra*!es do ad)ersário /e $s )e*es éad)ersário todo o pensamento passado0 significa exatamente estar li)reda prisão das ideologias /no sentido pe1orati)o& como cego fanatismoideol"gico0& isto é& significa posicionarse num ponto de )ista WcríticoX&Enico ponto fecundo na indagação científica, /Hramsci& 5689& p.5.TO0.Para o socialismo in)estigati)o& produ*ir cultura não é difundir umadoutrina e sim desencadear nas pessoas um processo de autoidentificação hist"ricaJ por isso& a escola básica não pode ser umaescola para a profissionali*ação precoce e sim uma escola de culturadesinteressada: +2ultura é organi*ação& disciplina do pr"prio euinterior& é tomada de posse da pr"pria personalidade& é con'uista deconsci#ncia superior& pela 'ual se consegue compreender seu pr"prio)alor hist"rico& a função na )ida& os pr"prios direitos e de)eres,/Hramsci& 56B7& p. 5770.A insist#ncia de Hramsci na necessidade de uma cultura profunda e+desinteressada,& fruto de in)estigação pessoal& é lugarcomum nosseus escritos: +As informaç1es& fora de todo um trabalho de pes'uisa&se tornam dogmas& )erdades absolutas& ensino teol"gico& uma reedição

da escola 1esuítica 'ue apresenta o conhecimento como algo definiti)o&apoditicamente indiscutí)el., %m outro texto: + po)o italiano foiformado numa mentalidade dogmática e intolerante pela educaçãocat"lica e 1esuítica. ?altalhe o espírito de solidariedade desinteressada&o amor $ li)re discussão& o dese1o de buscar a )erdade por meiosexclusi)amente humanos& oferecidos pela ra*ão e pela intelig#ncia,/Hramsci& in Nosella& 566T& p. T0.Para Hramsci& finalmente& a escola infantil& fundamental e média& de)eser unitária& de cultura geral& porém moderna& )oltada $ compreensãodo atual mundo da produção tecnol"gicaJ não pode ser uma escola de

cultura geral ret"rica& arcaica& consoante o )elho humanismo préindustrial. 2om efeito& tanto Fenin como rupsLaia 1á ha)iam superado

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o )elho mecanicismo marxiano 'ue& na instrução da criança e doadolescente& alternava tempos de sala de aula e tempos de fábrica.Hramsci conhecia esse debateJ ha)ia lido também os escritos de rotsLie de ?ord sobre o industrialismo. Iabia 'ue o espírito industrial era&sobretudo& um clima cultural 'ue en)ol)e toda a sociedade& criando)alores& necessidades& costumes& hábitos& produtos pr"prios. Nessesentido& até mesmo o ensino préescolar se fundamenta

 pedagogicamente no trabalho industrial moderno. (e fato& as creches eas préescolas gestidas pelo %stado moderno e pelas grandes indEstriasapresentamse& física e pedagogicamente& de forma diferenciada dasescolas gestidas por sociedades préindustriais. s brin'uedos& porexemplo& refletem a forma produti)a hegem3nica de uma determinadasociedade.;as& se a altern<ncia mec<nica e pontual entre fábrica e escola 1á ha)ia

sido superada pela pedagogia socialista& Hramsci aprofunda ainda maiso sentido desta relação. 2om efeito& a nature*a do trabalho industrial eda automação é a pr"pria liberdade humana. homem in)enta oinstrumento de trabalho e o aperfeiçoa para extrair dele o máximo deliberdade. Fiberdade das necessidades biol"gicas básicas& liberdade dafadiga e do excesso de tarefas. Fogo& a filosofia moderna tinha ra*ão'uando re1eita)a a dicotomia ou a 1ustaposição entre reino danecessidade e da liberdade& pois este era a ess#ncia íntima e oculta& oescopo profundo embutido na'uele.2oncluise assim 'ue a escola pautada no trabalho moderno como

 princípio pedag"gico era& na )erdade& a escola da liberdade. Não& porém& da liberdade abstrata& e sim da liberdade historicamentedeterminada& concreta& enfim& industrial. Nesse sentido& podemosfinalmente entender com maior precisão o 'ue Hramsci afirma)a nainauguração da escola de $2,rdine 3uovo& em urim& em 56T7: +Nossaidéia central era: como podemos nos tornar li)res-, /Hramsci& 56B8b&

 p. 60. +tempo li)re, não pode ser concebido abstratamente& como um meronãotrabalho. tempo li)re é um componente do trabalho industrial& é

a sombra deste. A escola& portanto& é ao mesmo tempo o reino danecessidade /trabalho muscular ner)oso e disciplina0 e reino daliberdade /expressão& criação& satisfação0. (a mesma forma& a fábrica&se humanamente gestida& é um espaço da síntese de necessidade eliberdade. Por isso& em 565 Hramsci escre)ia: +A escola& 'uando éfeita com seriedade& não deixa tempo para a fábrica e& )ice)ersa& 'uemtrabalha a sério apenas com enorme força de )ontade pode instruirse,/Hramsci& 56B8b& p. TT80.%m suma& articular escola e fábrica não é uma 1ustaposição mec<nica&uma altern<ncia pontual& é a fundamentação das duas instituiç!es /e da

sociedade moderna em geral0 no mesmo princípio uni)ersal daliberdade industrial: + ad)ento da escola unitária significa o início de

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no)as relaç!es entre trabalho intelectual e industrial& não s" na escola&mas em toda a )ida social. princípio unitário refletirseá& portanto&em todas as organi*aç!es de cultura& transformandoas e lhes dando umno)o conteEdo, /Hramsci& 5689& p.5.9OB0.(e forma sintética& assim podemos concluir a e)olução do pensamentosocialista sobre a relação trabalho e educação: inicialmente& osocialismo se op3s $ escola da monotecnia& 'uando o aluno era+condenado,& nos ofícios das corporaç!es& a aprender e exercitar pela)ida inteira uma Enica profissão. ]s escolas das corporaç!es& osocialismo contrap!e a escola politécnica e tecnol"gica da manufatura eda grande indEstria. ?inalmente& o socialismo e)olui em direção $escola da liberdade industrial& 1á 'ue a ess#ncia do automatismoindustrial é a liberdade do homem. Não sendo essa liberdade resultadoespont<neo da e)olução& precisa ser ensinada. %ste é o ob1eti)o Eltimo

da escola socialista moderna.2abe& ainda& uma pergunta: existe algum critério específico 'uediferencie a educação infantil e do adolescente em relação $ educaçãosuperior e profissional- Hramsci responderia 'ue& no <mbito da escola

 básica ou unitária& o 'ue diferencia a educação infantil é o desigualgrau de autonomia dos alunos. 2onse'Sentemente& aplicase umdesigual grau de autoridade e de disciplina nas escolas. A autoridadeexterior e a dosagem na disciplina tornamse cada )e* mais necessárias$ medida 'ue o grau de autonomia diminui.] lu* da 'uestão da autonomia& a puberdade é considerada umelemento da máxima import<ncia. Me1ase& por exemplo& comorespondeu Hramsci a um dos familiares& 'ue se 'ueixa)a de suaexig#ncia demasiada para com a sobrinha %dmea /;ea0& cu1ostrabalhos escolares da primeira série& considerados +orgulho, dafamília& eram pelo tio analisados& elogiados& mas também criticados:+Zm erro 'ue normalmente se fa* na educação das crianças é es'uecer'ue na )ida dos 1o)ens há duas fases muito distintas& antes e depois da

 puberdade. Antes da puberdade& a personalidade não está ainda formadae é mais fácil guiar sua )ida e fa*er com 'ue ad'uira certos hábitos de

ordem& de disciplina& de trabalho, /Hramsci& in Nosella& 566T& p. B70.2omo foi dito: o antiespontaneísmo pedag"gico é característica geralda pedagogia socialista. A criança não é um adulto em potencial& não ésemelhante a um no)elo 'ue 1á contém +enrolada, toda a linha da )idae& portanto& basta puxar pela ponta 'ue tudo se desen)ol)enaturalmente. A personalidade infantil não é diferente da do adultoapenas em grau& 'uantitati)amente. Iua estrutura é diferente& por ser acriança uma original relação com o mundo. antiespontaneísmoeducati)o defendido pela pedagogia socialista& na )erdade& é a reaçãoao descompromisso educati)o& ao falso liberalismo 'ue camufla a fuga

dos adultos das responsabilidades e das fadigas pedag"gicoeducati)as.

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A org<nica relação da criança com o mundo 'ue a circunda& com omomento hist"rico em 'ue )i)e& representa outra reconhecidacaracterística da pedagogia socialista. Por exemplo& 'uando seu filho(élio completa)a os 'uatro anos& Hramsci ficou muito preocupado como brin'uedo 'ue ha)eria de escolher. %stá con)encido de 'ue o

 brin'uedo materiali*a princípios e )alores educati)os correspondentes aum determinado momento hist"rico. Acaba escolhendo o meccano& umacaixa cheia de pe'uenas peças metálicas& com )ários parafusos einstrumentos para 'ue a criança possa brincar construindo guindastes&torres e estruturas )árias de metal& por'ue sabia 'ue era um típico

 brin'uedo do industrialismo.As crianças e os adolescentes manifestam tend#ncias profissionaisduradouras- ratase de uma 'uestão importante para se posicionarsobre a formação profissional dos 1o)ens. A conclusão de Hramsci é

'ue as tend#ncias são difíceis de serem detectadas. (e 'ual'uer forma& posicionase contra as tentati)as da escola ati)a de fa)orecer a profissionali*ação precoce. A escola unitária& de formação geral&embasada no humanismo moderno& lhe lembra o prot"tipo humanistarepresentado por Feonardo da Minci: artista& criador& pensador& políticoe técnico: +(élio manifesta tend#ncia para consertar coisas- %ssa& naminha opinião& seria um sinal... de construti)idade& de caráter positi)o&mais do 'ue o brin'uedo do meccano. Vuerida UElia& )oc# estáenganada ao pensar 'ue eu& desde pe'ueno& tinha tend#ncias... literáriase filos"ficas& como escre)eu. Ao contrário..., /Hramsci& in Nosella&566T& p. 80.A tese central sobre inf<ncia aparece assim com clare*a: a criança& suafantasia& sua intelig#ncia e seu desen)ol)imento são realidadeshist"ricas& pois o ambiente geral& os estímulos concretos& o climacultural& os hábitos& os )alores e as imagens mudam de época paraépoca. Por isso& a educação familiar& a rua& a escola& as leituras& oscurrículos e seus instrumentos didáticos constituem a Paidéia educati)aem constante mudança. A criança é uma realidade original& mas não éuma ilha nem um an1o descido do céu& menos ainda uma pura massa de

instintos animais 'ue de)emos dobrar e adaptar ao ambiente.Hramsci morreu em 56O8. Ieus escritos começaram a ser publicados edi)ulgados s" em 56CB& ap"s a Iegunda Huerra ;undial& e alcançaramo sucesso nas décadas de 87 e B7& aos poucos& liberados com muitacautela ideol"gica pelo Partido 2omunista >taliano& 'ue detinha osdireitos sobre os manuscritos. As cin*as do stalinismo sufocaram pordécadas o brilho das teorias de Hramsci.oda)ia& a semente do socialismo in)estigati)o ha)ia frutificadomesmo sob o espesso manto da Huerra ?ria. Nem todos os intelectuaissocialistas busca)am legitimidade $ sombra da burocracia. 2omo

Hramsci& muitos outros a busca)am no trabalho de pes'uisa& nain)estigação& nos congressos acad#micos& na produção de trabalhos

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científicos. s ideais socialistas de igualdade social& amor aostrabalhadores& aos pobres& $s crianças& $s mulheres& aos oprimidosestimula)am seus estudos e in)estigaç!es.

 No <mbito da educação infantil& por exemplo& grande influ#nciaexercitou a chamada +no)a biologia,& 'ue di)ulgou importantes estudossobre o comportamento humano e o desen)ol)imento do cérebro e do

 pensamento. s nomes mais conhecidos são os de Pa)lo)& U. 4. atson&ILinner e& sobretudo& Uean Piaget. b)iamente& esses nomes não podemser 'ualificados de socialistas& mas seus estudos ofereceram a base e afundamentação científica para o importante >nstituto de Psicologia de;oscou& cu1os pes'uisadores eram socialistas e marcaram os principaisestudos da segunda metade do século DD sobre educação infantil.%ntre eles& destacase o nome de Fe) Iemoni)itch MigotsLi. %ste

 psic"logo russo foi marcado pelo pensamento re)olucionário socialistaJ

suas pes'uisas busca)am& em Eltima inst<ncia& a construção do+homem no)o, comunista. Iua refer#ncia científica e imediata eram osestudos de Uean Piaget& mas seu hori*onte éticopolítico era osocialismo. %studou a problemática das crianças portadoras dedefici#ncia e também a aprendi*agem escolar em geral. Iuasconclus!es& além das de Piaget& reforçaram a centralidade dacriati)idade no processo e)oluti)o infantil. brincar& sustenta MigotsLi& muito além do simples treino no respeito$s regras sociais& estimula a in)enção e a imaginação e pode )encercertas barreiras postas pelas condiç!es do desen)ol)imento org<nicomental da criança. ais conclus!es influenciaram as ati)idadesescolares infantis& 'ue a partir delas enfati*aram os aspectos criati)os&lEdicos e imaginati)os de seus currículos.MigotsLi parece romper os limites do contexto e das condiç!es reais

 para substituílos com o contexto e as condiç!es potenciais& bem maisamplas e ricas. A pr"pria educação estética& di* ele& rompe com certoslimites intelectuais& org<nicos& rígidos e predefinidos& como& porexemplo& nos estágios de desen)ol)imento elaborados por Piaget. Amente infantil é l"gica& concorda MigotsLi& mas antes disso é

in)estigati)a e imaginati)a.s )alores socialistas& 'uando não são cerceados pelo burocratismonem instrumentali*ados pelo poder& criam um clima cultural e espiritual'ue fa)orece a ruptura com os limites do determinismo e da fatalidadehumanos. MigotsLi& de fato& conseguiu ultrapassar o determinismonaturalista dos estudiosos da +no)a biologia,& por'ue alimenta)a seuespírito de ideais socialistas re)olucionários& busca)a o no)o homem

 para além do homem real& sem subser)i#ncia $ burocracia e ao poder do%stado.Iua obra principal& %ensamento e $inguagem& de 56OC& sustenta 'ue +o

 pensamento )erbal /o 'ue foi estudado particularmente por Piaget0 nãoé inato& mas é Wdeterminado por um processo hist"riconaturalX inscrito

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no <mbito da psicologia social, /2ambi& 5669& p. 9550. desen)ol)imento da criança& atra)és de diferentes estágios& desde osincrético até o pensamento formal& não é espont<neo& é cultural. Nessadireção& MigotsLi priori*a as ati)idades escolares formati)as 'ueorgani*am os conceitos em sistemas. Para ele& a escola desen)ol)e umafunção prioritária no crescimento cogniti)o da criança. %sse psic"logoconfere $ aprendi*agem um papel fundamental: +2om MigotsLi& abremse para a pedagogia e para a didática hori*ontes absolutamente no)os&

 1ustamente pela função 'ue atribuía $ dimensão social& hist"rica ecultural& pelo aprofundamento da influ#ncia da instrução formal& peloestudo da relação entre linguagem e pensamento& pelo desta'ue dado $import<ncia do desen)ol)imento potencial e do distanciamento do real&

 pelas análises das ati)idades expressi)as& artísticas e lEdicas e&sobretudo& da correlação entre desen)ol)imento psicol"gico&

sociali*ação e formação cultural, /2ambi& 5669& p. 9550.(e MigotsLi a Feontie)& e deste a Furia e %lLonin& todos pes'uisadoressocialistas do >nstituto de Psicologia de ;oscou& a in)estigação sobre aeducação da criança e)oluía numa mesma direção: é impossí)el estudar o desen)ol)imento da criança sem lutar pelo desen)ol)imento de todaselas: +Para 'ue a sociedade se preocupe com a educação das crianças&de)e estar interessada& antes de tudo& na educação mEltipla de todas ascrianças& sem exceção. %ste interesse existe somente na sociedadesocialista, /%lLonin& 566B& p. O6B0.(aniil 4. %lLonin afirma& ainda& 'ue o trabalho deles era uma buscacoleti)a. 2om base nas in)estigaç!es e descobertas de MigotsLi& cada

 pes'uisador da)a sua contribuição. ?undamenta)am assim& científica eexperimentalmente& os grandes princípios da pedagogia socialista: 'uea dimensão social é a base e fundamento do desen)ol)imento dacriança indi)idual e 'ue esta se introdu* no <mbito das relaç!es sociaisatra)és do 1ogo.A escola socialista do >nstituto de Psicologia de ;oscou& ao enfati*ar adimensão do social no estudo da criança& e)idencia)a a insufici#ncia doenfo'ue naturalista dos estudos do desen)ol)imento da mesma. fato

de a sociedade capitalista afastar as crianças do mundo do trabalho dosadultos nos dá a ilus"o de 'ue o mundo das crianças se1a algototalmente desligado& a)ulso& separado das relaç!es de produção e dereprodução social: +>solada no meio da família e das relaç!es familiarese )i)endo em seu 'uarto infantil& a criança& como é natural& reflete

 principalmente nos 1ogos essas relaç!es e as funç!es 'ue os membrosda família exercem com ela e entre eles. al)e* pro)enha daí aimpressão de 'ue existe um mundo infantil especial& um 1ogo comoati)idade cu1o conteEdo fundamental são formas compensat"rias detoda nature*a& 'ue reflete a tend#ncia da criança para escapar desse

ambiente fechado em direção ao mundo das )astas relaç!es sociais,/%lLonin& 566B& p. O6B0.

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Ao lembrar alguns nomes da e'uipe do >nstituto de Psicologia de;oscou& é impossí)el não dar um desta'ue particular aos nomes deAlexander =omano)itch Furia e Alexis N. Feontie). s dois sãocoet<neos. ?aleceram ambos no final da década de 87 /5688 e 56860&aos 89 anos o primeiro e aos 8 o segundo. s dois 1o)ens& ainda naescola secundária& defrontaramse com a =e)olução Io)iética. Vuandocientistas e pes'uisadores& mo)eramse também no <mbito dos )alorese princípios metodol"gicos marxistas& mas& a exemplo de MigotsLi&+recusaramse a formular colet<neas de citaç!es de ;arx e %ngelssobre os di)ersos aspectos da psicologia humanaJ pretendiam elesintrodu*ir na ci#ncia psicol"gica o método marxista, /MigotsLi& 566B&

 p. T0.As críticas desses dois pes'uisadores se dirigiam $s concepç!esmecanicistas e deterministas do comportamento humano& tanto no 'ue

se refere $ linguagem& 'uanto $ cultura em geral. 2onfirmam em seusestudos a nature*a s"ciohist"rica do psi'uismo humano& bem como aimport<ncia da pedagogia& dos brin'uedos e dos programas formati)osna escola unitária. filão da ci#ncia experimental& com base na no)a biologia e nosestudos da psicopedagogia& inspirou as in)estigaç!es mais recentes de%mília ?erreiro& orientadas para entender a g#nese da leitura e daescrita. Iuas conclus!es acabaram por 'uestionar as pr"prias+concepç!es tradicionais de alfabeti*ação& baseadas nas )is!es de 'ue aaprendi*agem da linguagem escrita seria um processo de associação desímbolos gráficos a sons da fala e& por isso& um processo mec<nico derepetição de letras ou sílabas e seus respecti)os segmentos sonoros,/Honti1o& T775& p. 50.

 Na segunda metade do século DD& inEmeros cientistas& fil"sofos&artistas& educadores& homens de cultura em geral& identificados com osocialismo mas não com o burocratismo político& reprodu*iram de certaforma a hist"ria dos antigos hereges& 'ue não abriam mão dos ideaise)angélicos mas re1eita)am a institucionali*ação dos mesmos. ;esmoassim& a Huerra ?ria conseguiu& entre 56CB e 56B7& impor no mundo da

cultura certa )inculação ideol"gicoinstitucional& 'ue repercutiutambém no <mbito das ci#ncias da educação.A pedagogia& como 'ual'uer outro campo do saber& sofreu a di)isãoentre o front  ocidental& democrático e liberal& e o front  oriental esocialista: o primeiro coincidiu com a pedagogia liberal& cu1os nomes&entre outros& são (eKeG& ilpatricL& ^ashburne& 2laparéde& 2ousinet&;aritain& ;ouier& etc. No front  oriental se alinham os pedagogossocialistas ou comunistas& como 4ogdam IuchodolsLi& ;. A.;anacorda& 4runo 2iari& etc.%ntre os dois fronts& a pol#mica ideol"gicopolítica aparentemente era

)iolenta. al)e* o fosse s" na apar#ncia. No fundo& as duas frentesideol"gicas conheciam e respeita)am as regras básicas do debate& de

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forma bastante tolerante. (e repente& porém& os mo)imentos estudantisde 56B le)antaram re)oltas até então desconhecidas& 'uesurpreenderam toda a sociedade americana /do norte e do sul0& aeuropéia e a asiática. ais mo)imentos +sub)erteram as pr"prias

 barreiras ideol"gicas até então estabelecidas& os saberes e os lugaresonde estes são elaborados e ministrados& as escolas, /2ambi& 5669& p.9590.Polemi*a)ase contra os reformismos socialdemocratas& oscomunismos engessados da %uropa riental e os coronelismos earcaísmos do terceiro mundo& da América Fatina& do %xtremo riente eda _frica. A pul)eri*ação de grupos ideol"gicos da es'uerda radical foigrande: todas as teorias eram re)isitadas& o anar'uismo& o marxismo& oleninismo& o trotsLismo& o maoísmo e o gue)arismo. (o cadinhoincandescente da re)olução estudantil de 56B nasceram no)as formas

de pensar e )i)er a cultura& a educação& a escola e a família. Iurgiramformas alternati)as de )ida: a contracultura /;arcuse0& adesescolari*ação />)an >llich0& a pedagogia radical /?ranLfurt0& a

 pedagogia do oprimido /Paulo ?reire0& etc.(o ponto de )ista da educação infantil& merece um desta'ue especial&nesse complexo mo)imento políticocultural e pedag"gico& a+pedagogia da diferença,& alimentada pela conflu#ncia do marxismocom o freudismo& 'ue +se consubstanciaram numa pedagogiaantiautoritária )oltada para interpretar a criança como um emblema dehumanidade diferente da caracteri*ada pela tradição cristãburguesa: acriança tradu* um modelo humano mais li)re& per)ersopolimorfo& maiscomunicati)o e anticonformista, /2ambi& 5669& p. 9T70. Assim& aeducação infantil passou a descobrir e marcar a diferença do +planetainf<ncia,& definindo e defendendo radicalmente seus direitos.á ho1e 'uem afirme& inclusi)e& 'ue as crianças representam umaclasse social: + reconhecimento 'ue a inf<ncia e a adolesc#ncia de)emser consideradas como uma )erdadeira classe social emergente é umadescoberta muito recente e ainda ho1e a import<ncia desse conceito ésubestimada, /4ollea& 5669& p. 80.

al)e* Hio)anni 4ollea não tenha ra*ão. Iua afirmação soa para nossosou)idos de forma chocante. 2om efeito& a tese de 'ue a inf<nciaadolesc#ncia formam uma )erdadeira classe social& ao lado da operária&não foi ainda analisada profundamente. Iabemos 'ue o século DD foideclarado o +século da criança,& mas& infeli*mente& a linha de sombra'ue separa a ri'ue*a da pobre*a& o capital do trabalho& se1a ainda umafronteira mais forte e determinante do 'ue a 'ue separa o mundo dainf<ncia e adolesc#ncia do mundo dos adultos. u& então& 'uando se di*'ue a inf<ncia e a adolesc#ncia formam uma )erdadeira classe social&apenas se 'uer afirmar 'ue o planeta inf<ncia é um mundo social no)o

e original& compará)el $ absoluta no)idade hist"rica 'ue o marxismoconferiu $ classe proletária ou trabalhadora.

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Palavras conclusivas 

odos reconhecem 'ue o socialismo trouxe uma grande contribuiçãote"ricoprática para a educação infantil. Ao longo destas páginasreafirmamos essa )erdade.Partimos da constatação de 'ue o ideal do socialismo sempre foi o desubstituir o capital /e o mercado0& como centro absoluto da sociedade&

 pelo ser humano /e o plane1amento social0& 'ue& necessariamente& de)iaser um homem no)o& um homem socialista. ra& como educar o homemno)o sem priori*ar a inf<ncia- %la é& potencialmente& um no)o homem'ue ainda não proferiu pala)ra& mas pode ensaiar um no)o discurso&uma no)a ordem social& 1usta e humana. socialismo& assim& )# a criança como o centro e a finalidade do

 processo educati)o. Porém& não a considera uma sub1eti)idade isolada

do social. ambém o educador não é uma sub1eti)idade a)ulsa& ummístico& um iluminado. A escola& por sua )e*& não é uma ilha de preser)ação e sal)ação. 2riança& educador e escola constituem asociedade& a paidéia& o pentaLou plat3nico /o todo educante0& 'ue&dialeticamente& direcionase para o socialismo. A criança é uma hist"riano)a e original 'ue se desen)ol)e alimentada pelas relaç!es sociais emateriais em 'ue )i)e.

 Neste trabalho& ob1eti)amos traçar a linha )ermelha do pensamento e da prática educati)a referente $ inf<ncia. %ssa linha )ermelha ou socialista&mesmo possuindo raí*es hist"ricas muito remotas& definiuse& com a

e)id#ncia 'ue conhecemos& a partir da =e)olução >ndustrial& do>luminismo e da =e)olução ?rancesa. ratase da primeira fase dosocialismo& 'ue gerou os primeiros programas ut"picos de educaçãoinfantil.2om o +;anifesto 2omunista, e a influ#ncia de ;arx e %ngels& a linha)ermelha do socialismo foi se caracteri*ando por uma forte tonalidadeideol"gicocientífica& determinista. s programas de educação infantilsurgidos nessa segunda fase pretenderam acoplar& mesmo 'ue de formamec<nica e pontual& escola e fábrica& conferindo hegemonia a esta

segunda. No início do século DD& sobretudo a partir das reformas educacionaisda Znião Io)iética& com a contribuição do pensamento político deAntonio Hramsci e das in)estigaç!es do >nstituto de Psicologia de;oscou& o socialismo compreendeu 'ue a ess#ncia da indEstria e daautomação é a liberdade humana e 'ue& portanto& o ser humano

 precisa)a ser educado para a liberdade 'ue o industrialismo produ*ia.2hamamos a essa terceira fase de socialismo in)estigati)o&contrapondoo ao doutrinário.

 Neste trabalho nos limitamos a traçar uma linha programática de

estudos sobre autores e obras& oferecendo uma cha)e de leitura com base nos diferentes contextos hist"ricos e políticos do pensamento

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socialista. As fontes estão identificadas e n"s utili*amos tanto osclássicos como os comentaristas. traçado percorrido é resultado de um determinado olhar& $ lu* do 'ualdestacamos os pontos ne)rálgicos da hist"ria do socialismo. utrosolhares diferentes existem sobre o mesmo tema. s homens não cessamde perscrutar o passado& fa*endo da hist"ria uma ci#ncia sempre aberta.(e 'ual'uer olhar 'ue se parta& toda)ia& é impossí)el negar as enormescontribuiç!es do socialismo aos estudos e programas pedag"gicos parao planeta inf<ncia. Ialta aos olhos de todos 'ue os programas sociais eeducati)os dos regimes socialistas deram $s crianças e adolescentesuma atenção toda particular. s resultados positi)os nesse <mbitorepresentam& para o socialismo& um orgulho 'ue nem a 'ueda do ;urode 4erlin conseguiu ofuscar.Vuando o pensamento socialista se liberta da incrustação burocrática e

se acautela contra a corrupção do poder& suas reali*aç!es tornamseousadas e reno)adoras. A hist"ria ensina 'ue um clima culturalimpregnado de princípios e )alores socialistas constitui uma dascondiç!es mais estimulantes para a intelig#ncia e ati)idades humanas.

 ```````````````

Paolo Nosella é professor titular de ?ilosofia e ist"ria da %ducação& daZni)ersidade ?ederal de Ião 2arlos IP.

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7/18/2019 A Linha Vermelha Do Planeta Infância

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