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A FOTOGRAFIA ARTÍSTICA E O SEU LUGAR NA ARTE CONTEMPORÂNEA António Luís Marques Tavares 1 Resumo: A máquina fotográfica permitiu, ao longo dos tempos e desde a sua invenção, que o fotógrafo se fosse libertando do caráter de mero captador de uma dada realidade, de um dado objeto. Por todo o século XX a fotografia envereda por campos onde a sensibilidade artística se revela. Por vezes pisando terrenos específicos da estética própria da pintura, e por outras afastando-se da mesma. A evolução tecnológica da fotografia levou a que a denominada fotografia artística, ou de autor, trilhasse percursos e tratasse temáticas diversas, conduzindo a que esta se catapultasse, paulatina e eficazmente, para um lugar que, por direito próprio, hoje ocupa na História da Arte Contemporânea. Palavras-chave: Fotografia artística; Fotografia de autor; Arte Contemporânea; Pintura Contemporânea... Compreender a Arte Contemporânea é, sem dúvida, um enorme desafio. E, historicamente, isto acontece sempre; qualquer que seja a época e a obra. Os valores estéticos, as temáticas, as mensagens que subjazem à Arte Contemporânea, durante algum tempo, são exclusivamente do domínio de entendimento, enquanto mensagens novas, ou novas maneiras de transmitir as mensagens, do artista, do criador. Por norma, o público, a quem afinal de contas se destina qualquer obra de arte, demora sempre mais tempo a interpretar as novas gramáticas estéticas e de expressão. É natural que assim seja; apenas algumas elites culturais apreendem com maior celeridade o conteúdo representativo e temático das tendências novas da Arte Contemporânea. No século passado, essa tarefa de descodificação e entendimento da Arte Contemporânea, talvez tenha sido a que maior dificuldade apresentou. Não podemos nunca esquecer que foi nos finais do século XIX e por todo o século XX que a arte cortou, rompeu com a forma figurativa para se embrenhar em caminhos e experiências que se integram preferencialmente na esfera do representativo. A desmaterialização da arte, em todo o tipo de manifestações: pictórica, escultórica, musical, teatral, afirma-se por todo o século passado. Acompanha, evidentemente, a radicalização entre a Arte e a Vida. É neste século que a arte cria e lança raízes para novas, ousadas, inusitadas e até radicais maneiras de expressão. Por detrás desta força galvanizadora das novas formas de fazer arte estão os contributos e os interesses dos meios de comunicação. Estes começam a “inaugurar” colunas dedicadas à arte. A par destas surgem publicações exclusivamente dedicadas ao tema, e não apenas numa óptica acadêmico-científica, mas de divulgação generalizada para um público não especialista, mas sobretudo amante e ávido de novas formas culturais. Inicia-se, também, a criação e fundação de Museus novos interessados na divulgação deste tipo de conteúdos artísticos, que proclamassem essa contemporaneidade. É neste clima de eufórico entusiasmo que a fotografia ganha o seu “posicionamento artístico”, lado a lado com as formas mais tradicionais e ditas “nobres” da arte.

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A importância da fotografia na contemporaneidade

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A FOTOGRAFIA ARTÍSTICA E O SEU LUGAR NA ARTECONTEMPORÂNEA António Luís Marques Tavares 1

Resumo: A máquina fotográfica permitiu, ao longo dos tempos e desdea sua invenção, que o fotógrafo se fosse libertando do caráter de merocaptador de uma dada realidade, de um dado objeto. Por todo o séculoXX a fotografia envereda por campos onde a sensibilidade artística serevela. Por vezes pisando terrenos específicos da estética própria dapintura, e por outras afastando-se da mesma. A evolução tecnológica dafotografia levou a que a denominada fotografia artística, ou de autor,trilhasse percursos e tratasse temáticas diversas, conduzindo a que estase catapultasse, paulatina e eficazmente, para um lugar que, por direitopróprio, hoje ocupa na História da Arte Contemporânea.

Palavras-chave: Fotografia artística; Fotografia de autor; ArteContemporânea; Pintura Contemporânea...

Compreender a Arte Contemporânea é, sem dúvida, um enorme desafio.E, historicamente, isto acontece sempre; qualquer que seja a época e aobra. Os valores estéticos, as temáticas, as mensagens que subjazem àArte Contemporânea, durante algum tempo, são exclusivamente dodomínio de entendimento, enquanto mensagens novas, ou novasmaneiras de transmitir as mensagens, do artista, do criador. Por norma, o público, a quem afinal de contas se destina qualquer obrade arte, demora sempre mais tempo a interpretar as novas gramáticasestéticas e de expressão. É natural que assim seja; apenas algumaselites culturais apreendem com maior celeridade o conteúdorepresentativo e temático das tendências novas da Arte Contemporânea.No século passado, essa tarefa de descodificação e entendimento daArte Contemporânea, talvez tenha sido a que maior dificuldadeapresentou. Não podemos nunca esquecer que foi nos finais do séculoXIX e por todo o século XX que a arte cortou, rompeu com a formafigurativa para se embrenhar em caminhos e experiências que seintegram preferencialmente na esfera do representativo. A desmaterialização da arte, em todo o tipo de manifestações: pictórica,escultórica, musical, teatral, afirma-se por todo o século passado.Acompanha, evidentemente, a radicalização entre a Arte e a Vida. Éneste século que a arte cria e lança raízes para novas, ousadas,inusitadas e até radicais maneiras de expressão. Por detrás desta força galvanizadora das novas formas de fazer arteestão os contributos e os interesses dos meios de comunicação. Estescomeçam a “inaugurar” colunas dedicadas à arte. A par destas surgempublicações exclusivamente dedicadas ao tema, e não apenas numaóptica acadêmico-científica, mas de divulgação generalizada para umpúblico não especialista, mas sobretudo amante e ávido de novas formasculturais. Inicia-se, também, a criação e fundação de Museus novos interessadosna divulgação deste tipo de conteúdos artísticos, que proclamassemessa contemporaneidade. É neste clima de eufórico entusiasmo que a fotografia ganha o seu“posicionamento artístico”, lado a lado com as formas mais tradicionais editas “nobres” da arte.

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TAVARES, António Luís Marques – A fotografia artística e o seu lugar na arte contemporânea. Sapiens:História, Património e Arqueologia. [Em linha]. N.º 1 (Julho 2009), pp. 118-129. URL:http://www.revistasapiens.org/Biblioteca/numero1/A_fotografia_artistica.pdf 1 Licenciatura em História, variante de Arqueologia, pela Universidade de Coimbra. Inscrito no Mestrado em Estudos doPatrimónio, na Universidade Aberta de Lisboa. Investigador em arqueologia tardo-romana e alto-medieval. Autor de publicaçõesem Epigrafia Romana e Sepulturas Escavadas na Rocha. Consultor em Património Histórico e Cultural em Associações Culturais eInstituições Autárquicas. Investigação em Arte Moderna e Contemporânea. Curadoria de arte. Artista Plástico.

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Façamos, entretanto, um enquadramento histórico do aparecimento dafotografia. Esta é, naturalmente, uma obra que resulta da intervenção devárias experiências e tentativas por parte de várias pessoas. Foi a junçãode diversos processos, de vários conceitos, de múltiplos estudos quelevaram ao aparecimento da fotografia, tal como hoje a conhecemos.Não estamos, assim, perante uma invenção que se atribua unicamente auma só pessoa. Conceito como o de câmara escura, do latim cameraobscura, um dos mais importantes no campo da óptica é crucial para oaparecimento da máquina fotográfica e consequentemente da fotografia,é já descrito por autores do século XVI. Leonardo da Vinci já a conhecia eusava, a par de outros artistas, para esboços de pinturas. Outroscientistas fizeram avançar e progredir a fotografia utilizando várioscompostos químicos e suportes. Todavia, é em 1826 que o francês Joseph Nicéphore Niépce produz aimagem que é reconhecida como a primeira fotografia. Suportada numaplaca de estanho coberta por betume da Judeia, esta imagem nãodesapareceu como as anteriores tentativas levadas a efeito tambémpelo mesmo fotógrafo. Nos primórdios, a revelação deste tipo defotografia demorava cerca de oito horas. É com Daguerre, outro francês,que se veio a tornar sócio de Niépce, que se desenvolve um novoprocesso de revelação que fazia com que a fotografia estivesse feita emalguns minutos. Chamou-se a este processo de daguerreotipia. Apopularidade dos daguerreótipos levou a que muitos intelectuais eartistas vaticinassem o fim da pintura. As notícias corriam céleres na época e outros inventores apressavam-sea desenvolver novos processos. Talbot, na Inglaterra, trabalhava já emsuportes de papel fotossensível. É a Hércules Florence, francês, radicado no Brasil, que se deve a palavra“photographie”. Este termo, por ele utilizado para denominar o seuprocesso de revelação das fotografias, baseava-se na criação denegativos, tal como Talbot fazia. É já nos últimos anos de século XIX que a fotografia se populariza com aintrodução no mercado da câmara tipo “caixão” e pelo rolo substituívelcriado entretanto nos Estados Unidos por George Eastman. De então para cá a evolução da fotografia, das técnicas, das tecnologias,das máquinas nunca mais parou. Hoje, com a máquina digital e com osprogramas informáticos ao alcance de todos, a fotografia democratizou-se. Como consequência, a arte fotográfica democratizada está. Fazendo uso das mais variadas máquinas e tecnologias, os fotógrafos dachamada fotografia artística: Cecil Beaton, Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, Man Ray, Irving Penn, Gertrude Ferh, Erich Salomon, WilliamKlein, Roberto Otero, entre diversos outros de não menos importância,quer nos Estados Unidos quer na Europa, produziram ao longo do séculoXX, verdadeiros ícones em matéria de fotografia artística. Neste campo, foi com a “The Armory Show”, de 1913 e as váriasactividades da “Gallery 291” que se dá o ponto de viragem, que se dobrao cabo e se entra definitivamente por novas experiências,principalmente nos Estados Unidos, e os fotógrafos rompem, também,com as “maneiras” antigas de produzir fotografia. Mas a panoramaidêntico se assiste pela Europa: França, Alemanha, Rússia. As várias correntes artísticas da pintura como o Modernismo, oExpressionismo conduziram a que a fotografia seguisse também omesmo discurso, a mesma gramática.

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Em França, foi Picasso e Braque com o Cubismo e Mondrian com oNeoplasticismo quem mais influenciou os caminhos da fotografiaartística nas primeiras décadas do século. Se naquele país foram estesos pintores que deram o mote para a “nova fotografia”, em Itália essatarefa coube aos Futuristas, fazendo com que os fotógrafos“emprestassem” movimento às suas criações. Por toda a Europa o Dadaísmo, o Surrealismo com as suas montagens, assuas performances, provocaram profundas e vincadas transformações nocampo da fotografia. O contágio era inevitável. Cronologicamente a fotografia artística das primeiras décadas dacentúria passada fica marcada pela incursão no campo do documentáriosocial. Sobretudo nos Estados Unidos. Dorothea Lange com a “MigrantMother”, de 1936, e Lewis Hine foram os expoentes máximos destacorrente. Não é de desprezar, de igual forma, os trabalhos que se faziamtendo a paisagem como tema. O percurso europeu, no mesmo período cronológico, não segueexactamente o caminho verificado nos Estados Unidos. França contribuíapara a arte na fotografia com um dos nomes mais sonantes destavertente: Henri Cartier-Bresson. Foi com o criador da expressão econceito de “fotografia de autor” que as coisas começaram a acontecerneste nóvel tipo de arte. O interesse recaía no observar das pessoas, noseu quotidiano e nas circunstâncias excepcionais da vida. Cartier-Bresson, com os seus trabalhos, prova que o resultado da artefotográfica não estava na máquina mas sim no olho do fotógrafo que, deforma subjetiva, percepciona determinado momento e o captura. Se a realidade Russa estava mais num tipo de trabalho em que o serviçoà propaganda política era evidente, na Alemanha seguiam-se rumospeculiares, optando-se pela representação humana em posesdeterminadas e pelo fotografar de artefatos industriais, como temáticaprincipal. Não tenhamos a menor dúvida que a fotografia, ao ser influenciada pelapintura também a influenciou e de tal forma que lhe motivou profundasalterações. Vejamos: foi a fotografia que proporcionou o fato da pinturase libertar da necessidade de replicar a realidade. Alheia a esta situaçãonão ficou a corrente Impressionista, que se desagrilhoou dos preceitosdo Realismo e da Academia. Aos Impressionistas já não interessava oretrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em si mesma.Advém desta situação a conclusão que a fotografia estava mais bemposicionada e apetrechada para captar o naturalismo e o realismo que apintura. A clareza deste assunto é por demais evidente. Também, porouro lado, a fotografia se colocava em melhor posição para obter omovimento da temática a reproduzir, influenciada pela correnteFuturista. De qualquer das formas, há muito que a fotografia deixara de ser ummero meio de exposição da realidade enquanto momento único,estático, de congelamento da situação fotografada, tendo como únicofim o relato da situação: histórica, factual, social, de eventos, semqualquer atrevimento de ordem estético-artística. Se por um lado se verificava uma influência recíproca, em simultâneo ouem ritmos e etapas diferentes, acabou por ser inevitável que fotografia epintura tivessem que seguir rumos diferentes. Assim aconteceu, de fato.No entanto a História encarregar-se-ia de demonstrar que tais caminhos,mais cedo ou mais tarde, haveriam de cruzar-se novamente.

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É na atualidade que este caminho paralelo, cruzado, umas vezes afotografia a entrar no campo experimental da pintura outras vezes oinverso, se manifesta com maior acuidade.

Exposições individuais e coletivas de arte fotográfica, exposiçõescoletivas de fotografia artística com pintura e escultura começam a sercada vez mais usuais. Hoje em dia, esta realidade é a mais natural nascoletivas de arte contemporânea. Nos anos oitenta do século passado, o desenvolvimento do vídeo e dasnovas formas tecnológicas que o assistem, bem como à fotografia, foideterminante para a assunção de uma dimensão artística assazimportante e cada vez mais consagrada no universo da ArteContemporânea. Este final de século deitava irremediavelmente paratrás a função científica e única da fotografia de “congelar” o momento, acena, o objeto (não obstante a manutenção desta vertente se manter,como é compreensível) para permitir uma abordagem dissecadora damesma cena, da mesma realidade, do mesmo momento. A par daatividade fotográfica de caráter de reportagem histórica, social, cultural,assumindo também uma nova gramática expositiva destes temas, afotografia queria mais… O tempo, a sociedade e os fotógrafoscatapultavam, paulatinamente, este meio tecnológico para um definitivo“lugar ao Sol”. A fotomontagem, o abstracionismo e mais recentemente o tratamentodigital deste meio estabeleceram a ascensão da fotografia artística aolugar de elevado e nobre destaque que hoje ocupa no panorama da arteContemporânea. A prova mais absoluta é o acervo de vários museus de arte que já nãopossuem apenas nas suas exposições permanentes a pintura e aescultura, mas lá está a fotografia e o vídeo. Em Portugal temos o Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural deBelém, o Museu de Serralves, no Porto. Pela Europa são vários os museuse casas de cultura a manter coleções de fotografia artística no seurepositório artístico. Basta lembrar a deslumbrante coleção do MuseuLudwig, em Colônia, na Alemanha. Os estados Unidos da América exibemexcelentes obras de arte fotográficas no Contemporary Museum of Art,de Nova York, para apenas citar este exemplo. Esta coabitação da fotografia com outras formas de arte contemporâneanos museus, nas galerias, nos diversos espaços dedicados à arte,assinala, indubitavelmente, que o caminho trilhado, se porventura seseparou, hoje se encontra lado a lado. É esta a ambiência atual da fotografia artística que decisivamente entroupara a História da Arte recente.

Pensemos um pouco como os mais puristas amantes da pintura, mesmoda contemporânea: a fotografia mata por completo o conceito canônicode artista. A fotografia permite, grosso modo, que qualquer pessoa possaser artista. Um bom enquadramento do tema, uma obturação perfeita, oefeito da lente especial ou o tratamento digital fazem com que o comumcidadão possa ser, num ápice, um artista. Bastará, face ao exposto,nesta época em que as tendências da arte contemporânea reforçam aideia que cada qual faz a sua própria interpretação da obra de arte, paraque a fotografia artística possa ombrear com a pintura? Talvez a grande diferença entre a fotografia artística e a pinturacontemporânea, à parte as técnicas e materiais, esteja apenas na

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rapidez da execução da obra. Isto é: na fotografia artísticacontemporânea a temática, a composição, a mensagem, as emoções, asinfluências, as tendências da expressão artística são comuns às dapintura. Assim, e tendo por base este preceito e a ressalva das técnicase dos materiais, o que distingue a fotografia artística da pintura é o “clik”da máquina fotográfica. É este momento, muitas vezes de micro-segundos, que permite captar uma realidade, uma cena, um objeto, umolhar, uma expressão, um movimento, que do ponto de vista artístico-estético tem tudo o que a pintura possui. O fotógrafo é, por excelência, o artista mais rápido que existe. Essarapidez de execução da obra de arte acrescenta uma responsabilidadeenorme ao fotógrafo: captar o “momento certo”, o enquadramentoperfeito, a expressão ideal. É, sem hesitações, este o maior anseio dofotógrafo-artista. A obra de arte “instantânea”, no sentido fotográfico do termo, concede aqualquer observador, a qualquer amante de arte, o grato prazer deapreciar e contemplar as diferentes “paisagens”, tal como, da mesmaforma, a pintura o permite. O fotógrafo ao “clikar” ou ao “recrear” as composições, recorrendo,neste caso último, às novas tecnologias de digitalização ou multimídia,convida o contemplador à colocação de diversas questões. Àsemelhança do pintor, convida o observador a refletir, a interpretar, daforma que entender, a obra de arte. A fotografia, ao exibir “realidades” naturais, urbanas, humanas, sociais,fantásticas, absurdas, realistas, surrealistas torna-se transversal a toda atemática e mensagem representativa da arte contemporânea. Neste início do século XXI, pese embora seja cedo para se fazer qualquercatalogação ou para se fazer qualquer “arrumo” nas prateleiras danomenclatura, a fotografia tenta captar as diversas realidades edimensões da vida urbana: as suas contradições, a sua humanidade, asua desumanidade. No campo das emoções a fotografia tenta nestes tempos, como, aliás, jáo fez no passado, explorar e tratar a condição humana: desilusão,ansiedade, desespero, solidão, fobia, mas também a alegria, a festa, aesperança. O ser humano, na sua relação com o mundo atual, é o centrode atenção dos artistas mais recentes. Analisando as temáticas contempladas na fotografia artísticacontemporânea há todo um “revisitar” de temáticas passadas, mas comroupagem e em composições atuais. O fotógrafo converte uma rua da cidade, um momento, o olhar de umacriança, de um velho, a solidão dum homem em mitos, em concepçõesimagéticas que transportam as espectadoras para novas, e por vezesvelhas, dimensões. A fotografia contemporânea, tal como a pintura, tem na sua essência acriação de metáforas, de conotações, de analogias diversas,conseguindo converter a objetividade em subjetividade. O visível não énecessariamente aquilo que se nos é apresentado perante os olhos. Apesar das influências que vêm dos inícios do século XX, a fotografiaartística experimenta na atualidade uma profunda transformação. Não cabe neste apontamento falar da fotografia e do seu papel naPublicidade, pois este é um mundo que, de per se, daria uma análisebastante demorada, mas interessante.

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A fotografia percorreu todo um caminho que, em várias épocas foiapenas o seu, alheada da História da Arte, mas que hoje se integra econstitui um verdadeiro ramo da História da Arte Contemporânea.

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Fotos:

Foto 1: Primeira fotografia a não “desaparecer”. Autoria de JosephNiépce. 1826. Disponível na internet.

Foto 2: Migrant mother, 1936. Autoria de Dorothea Lange. GruberCollection. Disponível na Internet.

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Foto 3: Lonesome Big City Dweller. Autor: Herbert Bayer, 1932. GruberCollection. Disponível na Internet.

Foto 4: Veneza. Máscaras. Autoria de Vítor Martins. 2008.