25
CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930 1 A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas de Paris e de Móveis Navegantes José Lannes UFSM Campus Silveira Martins Resumo A Família Gerdau, originária do casamento dos primos Johannes Heinrich Caspar Gerdau e Alwine Marie Sophie Gerdau, em 1877, foi partícipe da industrialização e da enxamagem dos imigrantes italianos pioneiros do Rio Grande do Sul, estado que fôra, na segunda metade do século XIX, o celeiro alimentar da economia de exportação brasileira. Burguês imigrante, com uma trajetória que se estendeu do pequeno comerciante, na Colônia Santo Ângelo, ao médio comerciante de bens de consumo e terras para colonização, em Cachoeira do Sul, e ao atacadista importador, em Porto Alegre, João Gerdau construiu um patrimônio suficiente para adquirir a Fábrica de Pregos Pontas de Paris, em 1901, e a Fábrica de Móveis Navegantes, em 1907, ambas na rua Voluntários da Pátria da capital gaúcha, em um claro processo de diversificação do portfólio de negócios familiares. Paralelamente, criou, sob a pressão de Alwine Marie, um ambiente educacional que capacitaria o filho primogênito, Hugo Gerdau, a gerenciar a fabricação de pregos e, posteriormente, assumir sua direção e sua propriedade, e o segundo filho, Walter Gerdau, a controlar a fabricação de móveis, atividades fabris que sobreviveram nas mãos da família para além da crise de 1929. 1. Introdução A Família Gerdau é uma das famílias centenárias responsáveis pelo avanço da industrialização brasileira, ao lado dos Matarazzo, Klabin, Ermírio de Moraes, Feffer, entre outros. Originária do casamento de primos, ambos de ramos dos Gerdau na Alemanha, na segunda metade do século XIX, essa família está hoje em sua quinta geração, já mesclada a outra família de origem germânica, os Johannpeter, no comando do Grupo Gerdau, um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita líquida, em 2008, da ordem de R$ 16,5 bilhões 1 , equivalente ao 11º maior faturamento empresarial na economia brasileira naquele ano (1000 maiores empresas, 2009). A primeira geração se ocupou do comércio em suas múltiplas funções, desde o varejo na fronteira agrícola até o atacado de produtos importados na capital gaúcha, passando ainda pela comercialização de terras, dentro de um modelo privado de loteamento das colônias de imigrantes em expansão. A economia gaúcha de então era o celeiro alimentar do centro econômico, praticamente monopolizando o comércio por cabotagem com a Corte do Rio de Janeiro. A economia agrícola de pequenos produtores 1 Valor equivalente ao somatório das empresas do Grupo Gerdau.

A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

  • Upload
    ledieu

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

1

A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas de Paris e de Móveis Navegantes

José Lannes

UFSM Campus Silveira Martins

Resumo A Família Gerdau, originária do casamento dos primos Johannes Heinrich Caspar Gerdau e Alwine Marie Sophie Gerdau, em 1877, foi partícipe da industrialização e da enxamagem dos imigrantes italianos pioneiros do Rio Grande do Sul, estado que fôra, na segunda metade do século XIX, o celeiro alimentar da economia de exportação brasileira. Burguês imigrante, com uma trajetória que se estendeu do pequeno comerciante, na Colônia Santo Ângelo, ao médio comerciante de bens de consumo e terras para colonização, em Cachoeira do Sul, e ao atacadista importador, em Porto Alegre, João Gerdau construiu um patrimônio suficiente para adquirir a Fábrica de Pregos Pontas de Paris, em 1901, e a Fábrica de Móveis Navegantes, em 1907, ambas na rua Voluntários da Pátria da capital gaúcha, em um claro processo de diversificação do portfólio de negócios familiares. Paralelamente, criou, sob a pressão de Alwine Marie, um ambiente educacional que capacitaria o filho primogênito, Hugo Gerdau, a gerenciar a fabricação de pregos e, posteriormente, assumir sua direção e sua propriedade, e o segundo filho, Walter Gerdau, a controlar a fabricação de móveis, atividades fabris que sobreviveram nas mãos da família para além da crise de 1929. 1. Introdução

A Família Gerdau é uma das famílias centenárias responsáveis pelo avanço da

industrialização brasileira, ao lado dos Matarazzo, Klabin, Ermírio de Moraes, Feffer,

entre outros. Originária do casamento de primos, ambos de ramos dos Gerdau na

Alemanha, na segunda metade do século XIX, essa família está hoje em sua quinta

geração, já mesclada a outra família de origem germânica, os Johannpeter, no comando

do Grupo Gerdau, um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

líquida, em 2008, da ordem de R$ 16,5 bilhões1, equivalente ao 11º maior faturamento

empresarial na economia brasileira naquele ano (1000 maiores empresas, 2009).

A primeira geração se ocupou do comércio em suas múltiplas funções, desde o

varejo na fronteira agrícola até o atacado de produtos importados na capital gaúcha,

passando ainda pela comercialização de terras, dentro de um modelo privado de

loteamento das colônias de imigrantes em expansão. A economia gaúcha de então era o

celeiro alimentar do centro econômico, praticamente monopolizando o comércio por

cabotagem com a Corte do Rio de Janeiro. A economia agrícola de pequenos produtores

1 Valor equivalente ao somatório das empresas do Grupo Gerdau.

Page 2: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

2

ao pé da Serra Geral gaúcha era o resultado de uma política de colonização paralela ao

movimento de alterações no mercado de trabalho escravo e ao novo regulamento de

terras, de 1850, que abriu espaços à comercialização privada dos loteamentos para

novos colonos.

Casal pequeno burguês, Johannes Heinrich Caspar Gerdau e Alwine Marie

Sophie Gerdau nasceram em núcleos urbanos em áreas desenvolvidos na Alemanha

oitocentista, Altona e Neuenfeld (Hamburg), os quais iniciaram sua trajetória familiar

enquanto casal de imigrantes alemães na fronteira agrícola do Rio Grande do Sul, na

segunda metade do século XIX. A Colônia Santo Ângelo, na Depressão Central do

centro do estado e à beira do Rio Jacuí, foi a 25ª colônia alemã, criada oficialmente por

lei em 30 de novembro de 1855, mas definitivamente instalada em 1857, pertencente,

então, ao município de Cachoeira do Sul. Como pequeno vendista em linha de picada,

de 1869 a 1882, João Gerdau vendia aos colonos alemães artigos importados e aos

atacadistas de Porto Alegre, fumo e feijão. Em Cachoeira do Sul, de 1882 a 1893, como

médio comerciante, comercializava os mesmos bens, mas adicionou à sua atividade o

loteamento de terras que promoveu a expansão da Colônia Santo Ângelo, não só

explorando as condições favoráveis dado pelo novo marco legal da Lei de Terras, mas

também assumindo as atribuições gerenciais determinadas pelo Código Comercial. Em

Porto Alegre, a partir de 1893, incrementou sua atividade comercial com a importação

de equipamentos para a fabricação de cerveja e artigos religiosos. Em 1901, o

comerciante alemão transformou parte de seu capital comercial em capital industrial,

adquirindo a Fábrica de Pregos Pontas de Paris, que seria, posteriormente, dirigida pelo

filho primogênito, Hugo Gerdau. Em 1907, ampliou sua participação na indústria

gaúcha, com a aquisição da Móveis Navegantes, que passou a ser dirigida pelo segundo

filho, Walter Gerdau. Em ambos os casos, as informações necessárias à tomada de

decisão foram a recorrente publicação de resultados das empresas, uma norma

autoreguladora habitual dos agentes econômicos (Kuniochi, 2003: 5).

Desde o casamento, em 1877, Alwine Marie pressionou o marido em direção à

Cachoeira do Sul, o centro econômico da fronteira oeste do Rio Grande do Sul nos anos

1800s. A ausência de condições sociais de vida aos moldes de Neuenfeld, notadamente

os serviços de saúde e de educação, constituiu-se em fatores que condicionaram o

Page 3: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

3

esforço da esposa para a migração, com o intuito de prover os filhos com a formação

pequeno-burguesa que os pais haviam obtido na Alemanha.

Os esforços do casal, nos âmbitos cultural, social e econômico, promoveram não

só a diversificação dos negócios, mas também a preparação da segunda geração para a

propriedade e gestão do capital acumulado e herdado.

O presente trabalho analisa a relação entre a constituição familiar da pequena

burguesia, a realização de negócios, em uma trajetória crescente de atividades

comerciais e industriais e de complexidade de competências gerenciais, e a constituição

de empresas no Rio Grande do Sul, tendo como pano de fundo a economia nacional

agroexportadora e a economia regional de mercado interno durante o Império e a

Primeira República, em um contexto de mudança na regulamentação da aquisição de

terras, do mercado de trabalho e do comércio. Para tanto, a próxima seção aborda teoria

e método da pesquisa para, em seguida, analisar dois objetos de investigação: 1) a

constituição familiar, a geração de competências empreendedoras e a preparação dos

herdeiros para a gestão do capital; e 2) a evolução dos negócios familiares dentro do

contexto de economia primário-exportadora. A conclusão fecha a análise frente às

mudanças institucionais de 1850.

2. Da teoria e do método

A relação entre família e negócios nos primórdios do capitalismo aponta no

sentido da existência de elevado grau, por um lado, de endogenia na condução de

negócios em determinada área de atividade econômica, com forte relação entre o

empresário e os negócios familiares, e, de outro, de independência econômica da família

(Crouzet, 1985: 118; Kaelble, 1980: 414). No Brasil, a endogenia, conquanto

numericamente indeterminada, apareceu tanto nos desdobramentos multiplicadores da

economia primária de exportação, quanto na relação importação-indústria, da qual

Matarazzo tornou-se ícone (Dean, 1971: 45; 69) ou mesmo derivada das aptidões

artesanais da colonização européia, cujo exemplo foi o pólo calçadista de Novo

Hamburgo (Schneider, 2004: 36). A independência econômica derivada da inserção

social pôde ser vista na economia paulista, cujo grupo social que mais forneceu

empresários foi a classe média (Bresser Pereira, 2002: 146).

Page 4: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

4

Ambas as condições denotam a maior probabilidade do empresário advir de um

meio ambiente econômico e social que tenha lhe propiciado criar um horizonte de

oportunidades não disponível em outros grupos sociais, em especial, os filhos da classe

trabalhadora, que ascendem socialmente em proporção reduzida. Graus maiores ou

menores de endogenia remetem à questão do meio-ambiente no qual se forma o

empresário, às suas condições preliminares de existência. Em ambos os casos, não seria

possível a emergência de um empresário cujo meio sócio-histórico não lhe abrisse

oportunidades de negócio em seu horizonte, desde a perspectiva de valorizar o capital

em determinada área econômica, advinda da prática de trabalho ou da educação escolar

ou de ambas, ao montante de capital necessário a ser tornar capitalista, como já

lembrava Kalecki (1983: 78), e às competências necessárias ao processo empresarial de

tomada de decisões (formulação de decisão-problema, coleta de dados e execução da

decisão), elencadas por Casson (1982: 29).

O papel da família nos negócios tem sido realçado pela necessidade de reduzir

os custos de transação em ambientes de incerteza e risco, como foram aqueles dos

primórdios do capitalismo (Valdaliso e López, 2000: 198). Sistema de comunicação

lento, dificultando controles de negócios a larga distância da sede, e instituições legais

rudimentares (legislação mercantil reduzida e dificuldade prática de cumprimento)

reforçaram os laços familiares na condução dos negócios, com a família sendo

fornecedora de capital físico e humano (Mathias, 1995, apud Valdaliso e López, 2000:

198), papel também realizado por minorias étnicas e religiosas (quakers, católicos e

judeus), ao formarem redes de negócios. Todavia, nesse sistema familiar de fomento aos

negócios tornou-se invisível o papel desempenhado pela esposa do empresário nas

estratégias de longo prazo de valorização do capital e do patrimônio familiar, que não se

restringiram ao provimento de recursos humanos, mesmo que de modo informal

(Nenadic, 1993: 91). Esse papel esteve ligado à gestão da riqueza patrimonial, que não

se limita às características atuais da ocupação feminina como proprietária ou gerente

dos negócios familiares, ou ainda como parceiras cooperativas, trabalhadoras não

remuneradas ou mesmo liderança informal nos negócios (Fernández Pérez e Hamilton,

2007: 3), mas envolve a preparação educacional dos filhos para a assunção da gestão da

riqueza familiar no futuro, o que implica definição de objetivos e de metas em termos de

capacitação da próxima geração.

Page 5: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

5

Os negócios ocorrem em um determinado contexto econômico. No Brasil, entre

o final do Império e a Primeira República, assistiu-se ao desenvolvimento de uma nova

fase da economia agrário-exportadora nacional com o café, cujos efeitos dinâmicos se

irradiavam pelo país, em especial ao Rio Grande do Sul, que se transformou, na segunda

década do século XIX, em celeiro alimentar do país pelo comércio de cabotagem. Trata-

se de uma economia de transição ao trabalho assalariado (Furtado, 2003), com

modificações na regulamentação da ocupação de terras (Costa, 1987: 140; Carvalho,

2003: 331; Lima, 1990: 64) e do comércio (Schmidt, 2000: 205; Bentivoglio, 2003: 3).

Paralelamente, a retomada da política ocupacional da região meridional de fronteira nos

começos do Império, na década de 1820 e após a Revolução Farroupilha, com a

imigração européia, estabeleceu uma economia agrária ao pé da Serra Geral gaúcha que,

paulatinamente, foi se transformando em base de exportação relevante no cenário

sulista. A análise do ambiente externo aos negócios de João Gerdau possui ambas as

economias, nacional e provincial, como pano de fundo.

Dentro de um ambiente favorável aos negócios, dado, em geral, por uma fase

ascendente da renda per capita no país, derivada da expansão da renda real gerada pelo

setor exportador da economia nacional (Buescu e Tapajós, 1969: 166; Furtado, 2003:

148), analisa-se a expansão dos negócios familiares dentro de uma perspectiva

concêntrica, buscando explicar a ruptura com a entrada da família na indústria gaúcha.

O crescimento das empresas ocorre naturalmente nas áreas de atividade econômica em

que se especializaram, podendo diversificar para outras áreas, mas com ligações com a

área anterior, considerada o core business da empresa, o que concede a essa trajetória o

caráter de concentricidade (Penrose, 2006: 177; Ansof, 1977: cap. 5), equivalente ao

conceito de endogenia, de Crouzet. Não obstante, a expansão econômica dá início a

novos negócios, seja porque a taxa de expansão da demanda supera a da oferta,

induzindo novas entradas por processos de construção de capacidade física, por

aquisição ou fusão, ou porque a expansão global gera insterstícios nos mercados locais

que permitem a entrada de capitais em novas áreas de atividade econômica (Guimarães,

1987: 47; Penrose, 2006: 358).

A pesquisa analisa, nesse sentido, a trajetória de João Gerdau e sua família desde

o período anterior à sua imigração para o Brasil até a década posterior ao seu

falecimento, quando, então, a segunda geração já havia assumido a propriedade e a

Page 6: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

6

gestão do patrimônio familiar, dentro do contexto da economia entre o Império e a

Primeira República. Tem por base dois tipos de pesquisa, a bibliográfica e a

documental, cuja fonte de dados reparte-se em dois tipos de documentos, externos e

internos. As fontes externas foram as bibliografias de análise macroeconômicas sobre a

época, artigos de jornais, a história oficial do Grupo Gerdau e documento públicos,

como escrituras, registro de imóveis e inventários. As fontes internas foram os livros

contábeis, documentos pessoais e a pesquisa familiar encomendada à historiadora Hilda

Flores, todos depositados no acervo do Memória Gerdau. Pelo fato da pesquisa de

Flores ser fundamentalmente documental, parte relevante do trabalho tem sua análise

nela baseada.

As próximas seções tratam de dois momentos. O primeiro trata da acumulação

primitiva de capital do comerciante João Gerdau e que ocupa as últimas três décadas do

século XIX; o segundo, aborda as três primeiras décadas do século XX, quando a

segunda geração da família assume a gestão e a propriedade do capital acumulado até

então.

3. A gênese e a evolução do capital comercial de João Gerdau

João Gerdau foi um imigrante alemão que chegou ao Brasil na segunda metade

do século XIX, mais precisamente em 1869, instalou-se em uma área de colonização no

Rio Grande do Sul como comerciante de produtos agrícolas, bens importados e terras, e

acumulou patrimônio em três décadas, suficiente para comprar uma fábrica de pregos e

outra de móveis, as quais seriam comandadas pela segunda geração familiar.

O sucesso desse empresário só pode ser compreendido ao situá-lo no ambiente

econômico que determinou uma dinâmica ascendente de seus negócios. Esse ambiente

foi o da segunda metade do século XIX, quando a Europa e os Estados Unidos

apresentaram crescimento industrial e urbano, com alterações nos padrões de consumo

que determinariam uma crescente demanda de produtos alimentícios, entre os quais se

encontrava o café, cuja demanda deu origem a um novo centro dinâmico econômico no

Brasil, ainda que perpetuando o modelo de economia colonial integral, adicionado de

um setor de subsistência, autônomo em relação ao exterior, mas subsidiário ao centro

dinâmico, fornecendo bens de consumo e intermediários, na forma de alimentos e

matérias-primas, e mão-de-obra.

Page 7: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

7

A segunda metade do século XIX é um período de transição, do esgotamento do

sistema escravagista de plantation ao trabalho assalariado, para o que concorrem os

esforços de modificação da regulamentação do mercado de trabalho, com a seqüência

de leis relativas à abolição da escravatura, e formas wakefieldianas de estímulo à

imigração de braços livres, pela Lei de Terras. Paralelamente, o Império também

pretendeu ocupar a banda meridional do país, a partir de processos de colonização com

força de trabalho européia, da qual a economia de lavoura do Rio Grande do Sul

emergiu após a Guerra do Paraguai.

A economia gaúcha, nesse período, foi uma economia exportadora de alimentos

e importadora de produtos manufaturados, cujas exportações dirigiram-se tanto para o

exterior, Europa, Estados Unidos e a região do Prata, quanto para as províncias ligadas à

produção primário-exportadora. Os colonos alemães se integraram paulatinamente a

esse fluxo comercial, respondendo às crescentes demandas de alimentos, cuja oferta

decorreu da expansão da fronteira agrícola por toda a região ao norte do Jacuí, a partir

de processos públicos e privados de loteamento de terras, já sob o novo regime da Lei

de Terras.

João Gerdau tomou parte tanto na intermediação comercial com a zona agrícola

como na expansão da fronteira, como comerciante de terras. Seu sucesso está ligado a

esse crescimento de atividade econômica que desenvolveu o norte do Rio Grande do

Sul, que, por sua vez, esteve ligado à evolução do centro dinâmico da economia

brasileira, decorrente do crescimento europeu e norte-americano.

As próximas subseções analisam a origem da família, a gênese e evolução do

capital comercial do empresário João Gerdau.

3.1 A origem da Família João Gerdau

A pioneira Família Gerdau constituiu-se com o casamento de primos, Johannes

Heinrich Caspar Gerdau e Alwine Marie Sophie Gerdau (Flores, 1980). João Gerdau

nasceu em 1849, em Altona (Hamburgo), filho primogênito de Johannes Gerdau e Anna

Focken, enquanto Alwine Marie Sophie Gerdau nasceu em 1858, em Neuenfelde

(Hamburgo), filha de Heinrich Gerdau e Sophie Korländer.

Ambas as localidades circundavam o rio Elba, porta de entrada da intermediação

comercial germânica com o resto do mundo, por meio do porto de Hamburgo. Altona

Page 8: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

8

situava-se a dez quilômetros a oeste de Hamburgo, fora de suas muralhas, na margem

norte do Elba. Neuenfelde era uma zona rural de Harburg, na margem sul do mesmo rio,

a sudoeste de Hamburgo e ao sul de Altona, bastando atravessar o rio.

Hamburgo, cidade-estado portuária dentro da Confederação Germânica, banhada

pelo Elba, era um dos maiores entrepostos comerciais do norte europeu, rivalizando

com Rotterdam, tendo, em 1864, uma população de 239 mil habitantes. Mesmo

independente da união aduaneira do Zollverein, o desenvolvimento do mercado interno,

da indústria e dos meios de transporte, ainda na primeira metade do século XIX,

impactou a região norte da Confederação, pelos efeitos multiplicadores ao crescimento

da marinha mercante (Mauro, 1976: 85; Niveau, 1969: 109; Werlang, 2002: 28).

Altona acompanhou o ciclo de crescimento da Confederação e era uma cidade

em desenvolvimento manufatureiro desde 1830, concentrada nos ramos de tabaco,

curtume, têxtil, moagem de grãos, fundição e mecânica, tendo aproveitado a unificação

do mercado da região norte, o Schleswig-Holstein e a Dinamarca, pela conclusão das

estradas que cruzavam a região, Hamburgo-Lübeck e Altona-Kiel, e pelo porto com

terminal ferroviário, em 1840 (Werlang, 2002: 26).

Manufatura, comércio e marinha constituíram o ambiente da família Gerdau

antecessora. O avô de João Gerdau, Caspar Heinrich Gerdau, e seu tio, Heinrich

Gerdau, trabalhavam com marinhagem2. As atividades dos ascendentes de João e

Alwine Gerdau deveriam ser qualificadas o suficiente para manter uma condição de

classe média, verificadas pela formação educacional dadas aos filhos e pelos sinais de

riqueza exteriores. João Gerdau e seu irmão Barthold tiveram educação técnica

superior, enquanto Alwine freqüentou educandário de elite, com direito à educação

doméstica e a aulas de piano. Hilda Flores especula que o pai de Alwine tenha sido

funcionário de alto escalão da marinha mercante, pelo solar (Banerhof) em que residia

em Neuenfelde. Pode-se crer que o ensino técnico superior de João Gerdau tenha sido

na área de administração e contabilidade, não só pelas competências comerciais que já

possuía quando aportou em Santo Ângelo, mas pelo crescimento do ensino técnico e de

2 Roche menciona que João Gerdau teve um tio que era comandante de navio alemão (Roche, 1969: 532), enquanto Delhaes-Guenther afirma que João Gerdau veio ao Brasil no navio de seu tio (Delhaes-Guenther, 1973 apud Flores, 1980: 8 – 4ª cópia).

Page 9: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

9

negócios durante o início da industrialização alemã (Kocka, 1982, apud Valdaliso e

López, 2000: 207).

3.2 Os negócios da Família Gerdau na Colônia Santo Ângelo (1869-1884)

João Gerdau chegou à Colônia Santo Ângelo em 1869, com um aporte mínimo

de capital que lhe permitiu comprar um lote na Picada Canto e construir dois imóveis,

sua residência e sua casa comercial.

A Colônia Santo Ângelo foi um projeto de colonização criado pela Lei

Provincial de 30 de novembro de 1855 e executado, a partir de 1857, pelo governo

provincial de Ângelo Muniz Ferraz, a quem o projeto da nova colônia havia feito

homenagem. Estava disposta à margem esquerda do Rio Jacuí, à noroeste de Cachoeira

do Sul, compreendendo a ocupação da margem do rio e a abertura de picadas em

direção à mata. As condições de assentamentos dos colonos foram definidas por duas

regras provinciais. A Lei Provincial n.229, de 4 de dezembro de 1851, estipulava limites

de tamanho (máximo de 48,4 ha) e a gratuidade dos lotes, em colisão com a Lei de

Terras, e de instrumentos agrícolas e sementes, além de indenização dos custos de

viagem, acrescida de recursos adicionais para o período de instalação. A Lei Provincial

n. 304, de 1854, corrigiu a anterior, buscando conciliar a regra provincial aos ditames da

Lei maior imperial, quando se extingue a gratuidade dos lotes e se prescreve a venda,

mas não somente à vista, como na Lei de Terras, incluindo a venda à prazo, sem juros,

pagáveis em cinco anos, tornando-se, segundo Roche (1969: 102), a carta de

colonização do Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX. Sua

regulamentação, de 1855, por um lado, facilitou a compra, pela carência de três anos,

permitindo o pagamento a partir da própria produção agrícola, e, por outro, dificultou

transações imobiliárias posteriores, dada a hipoteca das terras. Essas condições não

frustraram o crescimento da colônia: no primeiro qüinqüênio de colonização, de 1857 a

1862, foram ocupados 6 mil hectares; na terceira década, 32 mil hectares haviam sido

loteados (Werlang, 2002: 180-209).

Em 1869, ano da chegada do imigrante alemão, a Colônia possuía uma

população de 1.269 habitantes, dispersos por uma área ocupada de 12,5 mil hectares,

que cresceu de forma mais acelerada nos anos seguintes que a ocupação de terra,

aumentando a densidade demográfica. Junto a essa crescente ocupação foram

Page 10: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

10

incrementadas a produção agropecuária, a exportação de produtos agrícolas e a

incipiente agroindustrialização (Werlang, 1995: 212; Bruhn, 2004: 7; Schuh e Carlos,

1991: 184).

De 1867 a 1887, a economia da Colônia cresceu de forma acelerada. O valor real

das exportações foi de 18.584 mil réis a 198.700 mil réis, o saldo comercial

(exportações menos importações) foi de 4.377 mil réis a 63.200 mil réis, equivalente a

uma renda real per capita com o saldo comercial que cresceu de 16$115 réis a 49$457

réis (Werlang, 2002: 71-73; Azambuja, 1887: 212-2133).

Foi nesse ambiente que João Gerdau estabeleceu-se como pequeno comerciante

de varejo e semi-atacado. Na Linha Picada Canto, construiu dois imóveis. O armazém

era em estilo enxaimel, com área aproximada de 80 m2, ao qual seria acrescido,

posteriormente, um salão que o comerciante utilizava para atividades sociais, como

festas, bailes, casamentos e batizados. A residência da família ocupava uma casa em

estilo hamburguês, com cerca da mesma metragem do armazém (Melo, 2006: 85).

No varejo, o armazém vendia artigos não produzidos na Colônia, mas

importados, configurando uma linha diversificada de produtos: tecidos, açúcar, azeite,

sal, ferramentas e pregos (Gerdau, 2001: 123). Já sob a égide do Código Comercial de

1850, os comerciantes deveriam seguir a escrituração contábil, com uma ordem

uniforme de contabilidade, e a conservação dos livros (Schmidt, 2000: 205). João

Gerdau deve ter utilizado o controle contábil do negócio, como faria nas vendas de

terras, como forma de controlar o crédito aos colonos, abrindo a eles o sistema de

contas-correntes já utilizado pelos comerciantes das primeiras colônias na evolução da

permuta para o sistema escritural (Roche, 1969: 411). Segundo Flores, o maior

movimento do armazém deveria ser o final de semana, quando os colonos aproveitavam

o Freiabend, a interrupção das atividades produtivas semanais no sábado à tarde,

antecipando o descanso dominical, e se dirigiam à venda, onde podiam entabular

conversações, cultivar amizades, jogar cartas em meio a tragos de cachaça, o schluck,

escutar dos mascates as novidades da capital, constituindo o armazém um espaço de

coesão sócio-cultural (Flores, 1980: 30). Na ausência de numerário em circulação,

deveria ser prática a moeda escritural.

3 Valores reais calculados utilizando o índice deflator de Lobo, 1978, ponderação de 1919.

Page 11: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

11

No semi-atacado, transacionava-se o escoamento da produção agrícola colonial,

em especial de feijão e fumo, para os quais o imigrante possuía um depósito junto ao

Porto Agudo, no Rio Jacuí (Werlang, 2002: 76), necessário à logística de estoque e

fretamento de carga fluvial em direção à Cachoeira. Nesse primeiro período, quando os

meios de transporte de carga ainda eram precários, a margem de comercialização dos

negociantes semi-atacadistas estaria entre 15% e 28%, com 34% de custos de transporte

(Roche, 1969: 407-408),

Em 1877, João e Alwine se casam na Alemanha, mais provavelmente em

Neuenfelde, onde residia a noiva, área rural à margem sul do Elba, e geram, na Colônia,

os dois filhos que constituiriam a segunda geração da família: Hugo Carl Wilhelm

Gerdau, nascido em 1879, e Walter Heinrich Robert Gerdau, nascido em 1881. Apesar

da similitude com a residência na Picada do Canto, à margem direita do Jacuí, as

condições infraestruturais eram sensivelmente reduzidas na Colônia Santo Ângelo, o

que causou estranhamento na esposa nos âmbitos educacionais e de saúde. Em 1878, o

casal perde a primeira filha, Marta Alwine Sophie Gerdau, com 11 dias de vida, atacada

pela crupe (Werlang, 2002: 56). Em 1884, quando o primogênito varão, Hugo Gerdau,

completava cinco anos de idade, a mãe reconheceu seu fracasso na alfabetização do

garoto e passou a pressionar o marido em direção a centro urbano maior, a uma melhor

escolarização para os filhos, a maior campo de negócios para a família e a maiores

recursos sócio-econômicos, aos quais Alwine ambicionava ter acesso, segundo Flores

(1980: 39).

Nos quinze anos que residiu e comercializou na Colônia Santo Ângelo, de 1869

a 1884, seu patrimônio médio foi estimado em 8,9 contos de réis, o que o classificaria

como pequeno comerciante, repartido em imóveis (71%), mobiliário (13%), estoques de

mercadorias e equipamentos comerciais (16%), mais equipamentos e ferramentas não

passíveis de estimação (Melo, 2006: 85).

Aliada à pressão familiar, mudanças no ambiente externo aos negócios alteraram

o rumo dos negócios da Família Gerdau. Em 1876, o telégrafo chegou à Cachoeira do

Sul; em 1882, a emancipação da Colônia aboliu sua autonomia e findou a isenção

tributária existente sobre a comercialização de produtos; e, em 1883, a ligação

ferroviária a Porto Alegre foi terminada. João Gerdau era comerciante de picada, na

ponta extrema da fronteira agrícola, em contato direto com os produtores rurais. Sua

Page 12: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

12

relação com o mercado externo era intermediada pelos comerciantes do centro regional

e as informações sobre os preços de mercado eram defasadas. A mudança significaria

uma alteração de posição na cadeia de comercialização, de vendista a intermediário.

Com o telégrafo, as relações com Porto Alegre tornar-se-iam mais diretas, reduzindo a

assimetria de informações. As competências de negociante foram aquelas desenvolvidas

na época.

3.3 Os negócios da Família Gerdau em Cachoeira do Sul (1884-1894)

Na primeira metade do século XIX, Cachoeira se firmou como entreposto

comercial, pelo qual passavam as tropas; incrementou-se a criação de gado nas

sesmarias e o comércio de derivados entre as povoações do entorno; as casas comerciais

no centro urbano expandiram os negócios com a capital da província, sendo ponto de

distribuição de produtos importados às povoações da região e da fronteira agrícola em

expansão. Na segunda metade daquele século, Cachoeira foi transformada pela chegada

da imigração alemã, com o que o crescimento populacional do município acelerou-se;

se até o início da colonização, a taxa de crescimento demográfica era da ordem de 1%

ao ano, após a década de 1860, atinge 4,5% (dados básicos de Porto, 1910: 39). Na

década de 1880, a cidade possuía uma atividade econômica diversificada, com cinco

estabelecimentos industriais, nove comerciais e dez de serviços. A indústria era

composta pela fabricação de cerveja, tijolos, sabão e carne, além do beneficiamento de

arroz; o setor comercial vendia tecidos, secos e molhados, ferragens, vinhos, carnes,

artigos de ouro e relógios, pães e remédios; o setor de serviços abrangia alfaiates,

barbeiros, casas de bilhar, funileiros, marceneiros, médicos, sapateiros e tamanqueiros,

tipógrafos e hospedarias (Werlang, 2002: 107-108).

É nesse ambiente que João Gerdau estabeleceu novo ponto comercial,

assumindo uma posição de intermediário na distribuição de produtos coloniais e

importados, e entrou em uma nova atividade econômica, o comércio de terras loteadas.

Para o comércio no varejo e no atacado, João Gerdau estabeleceu em Cachoeira

do Sul um armazém em um ponto estratégico, o centro da cidade, em uma de suas ruas

principais, em frente ao mercado público. Desde esse ponto, negociava a produção

agrícola oriunda da Colônia Santo Ângelo, destinando-a a Porto Alegre, de onde trazia

produtos alimentícios, artigos de vestuário e calçados, ferramentas e insumos agrícolas

Page 13: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

13

(Gerdau, 2001, p. 126). As condições de acumulação em Cachoeira seriam muito

superiores às da Colônia. Primeiramente, a escala de comercialização deve ter crescido,

pois agora atendia não só a colônia, mas também o centro urbano da cidade, os demais

distritos e as povoações vizinhas; a localização estratégica permitia a exploração do

fluxo de pessoas que se dirigiam ao mercado público. Em segundo, deve ter havido uma

diversificação do catálogo de produtos disponíveis. Mantidas as margens de lucro nos

produtos tradicionais, à maior escala corresponderia maior volume absoluto de lucros;

admitida maior margem de lucro nos produtos diversificados, maior seria o acréscimo

de ganhos.

O comércio de terras se constituiu, nesse novo período, em uma diversificação

dos negócios da Família Gerdau. A Lei Geral de Terras havia aberto a possibilidade da

comercialização privada de terras para fins de colonização, uma vez que acabara com a

concessão. Porém, somente em 1881, o Governo Provincial abriu essa possibilidade real

na região com a emancipação da Colônia Santo Ângelo e o fim do processo de

loteamento oficial, o que abriu os horizontes de oportunidades de negócios com os

loteamentos privados (Roche, 1969: 115). Em 1886, João Gerdau estabeleceu uma

sociedade com dois proprietários de terra, a qual denominou João Gerdau e Cia., com

sede no armazém da Colônia Santo Ângelo, que sofreu uma ampliação de cerca de 30

m2 para abrigar o negócio exclusivo de terras. Os sócios originais de João Gerdau foram

Polycarpo Pereira de Carvalho e Silva e Antonio Peixoto de Oliveira, proprietários de

grandes áreas de terra em Cachoeira e negociantes de lotes que deram origem a várias

linhas coloniais, e muitas em parceria com o Cel. Manoel Py, próspero comerciante de

Porto Alegre, fundador da Cia. de Fiação e Tecidos Porto Alegrense, cujo capital inicial

havia sido de 1.600 contos de réis (Flores, 1980: 51; Reichel, 1979: 265), o qual

sucedeu o latifundiário Polycarpo na João Gerdau e Cia. após seu falecimento, em 1887.

Sua função nessa sociedade era a de gestão e vendas de lotes em áreas devolutas

compradas do governo provincial (Werlang, 2002: 82), o que denotava as exigências de

escrituração contábil do Código Comercial de 1850, necessárias à maior clareza do

fluxo de recursos do empreendimento, mais ainda quando utilizava o sistema de crédito

advindo das vendas à prazo. Sua renda com o negócio de terras incluía a comissão de

10% sobre o lucro pela gestão (vendas e administração) e um terço do lucro após

deduzida a comissão (Flores, 1980: 50). Essas condições do negócio mostram dois

Page 14: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

14

âmbitos da competência do comerciante: de um lado, a capacidade de articular e se

associar com proprietários de capital para o negócio de terras; de outro, a habilidade na

gestão do negócio, o que incluía as operações de vendas a crédito.

Durante o período em que viveu em Cachoeira, João Gerdau aumentou a

imobilização de seu capital em bens imóveis, compostos por prédios e terrenos. Da

estimativa de 37:652$000 de valor de seu patrimônio, em valores reais em 1893, 84%

eram de imóveis, 4% de imobiliário e 12% de estoques (Melo, 2006: 91). O comerciante

já assumia o status de médio porte e se encaminhava para a ampliação dos negócios

familiares.

Em 1884, ano da instalação da Família Gerdau em Cachoeira, nasceu a filha

caçula do casal, Bertha Alwine Margaretha Gerdau. Os irmãos mais velhos passaram a

freqüentar o colégio anexo à Comunidade Evangélica de Confissão Luterana. Ao

término dos estudos colegiais, deveriam estudar em escolas técnicas na Alemanha,

como era a praxe na elite industrial alemã no Rio Grande do Sul, do mesmo modo que a

elite paulista fazia com seus herdeiros. Em 1893, João Gerdau viajou à Alemanha, por

lá permanecendo por volta de três meses, de julho a setembro. Duas perspectivas podem

ser divisadas a partir da estada do empresário em um país unificado e que

experimentava um ritmo de crescimento econômico forte. De um lado, necessitava

gestar a médio prazo a reprodução familiar da riqueza acumulada em um quarto de

século, a qual dependia da preparação acadêmica, técnica e cultural da segunda geração.

De outro, precisava visualizar um horizonte de oportunidades no qual pudesse

diversificar a aplicação de capital. A formação técnica e cultural dos filhos foi realizada

em Düsseldorf, no Gymnasium Oberkassel, uma escola técnica, período no qual

viveram com o tio Barthold Gerdau (Werlang, 2002, p. 110-1; 163; Delhaes-Guenther,

1973, apud Flores, 1980: 44). Com isso, a segunda geração do comerciante formou-se

na adolescência em um ambiente de modernização econômica. Na medida em que

Düsseldorf, na última década do século XIX, já era uma cidade moderna na Alemanha

unificada, a permanência na cidade e no país por três meses, em 1893, não se restringiu

à condução educacional dos filhos; é de se supor que João Gerdau não só tenha mantido

relações de negócios com exportadores, em especial de equipamentos e insumos para

cerveja, mas também tenha especulado oportunidades de novos negócios, pois na

década seguinte investiria em dois ramos industriais, a metalurgia e o mobiliário, e

Page 15: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

15

Düsseldorf era um pólo industrial de fabricação de maquinaria. Independentemente do

surto epidêmico e da residência dos avós paternos em Altona-Hamburgo, região

especializada no fluxo de comércio exterior, a escolha de Düsseldorf possuía vantagens

comparativas: de um lado, a região era um forte centro metal-mecânico, inclusive pólo

de fabricação de máquinas de pregos e outras máquinas, o que teria uma maior

influência técnica sobre os conteúdos escolares; de outro, a proximidade do tio com

formação em engenharia e experiência em gestão de projetos nessa área constituiria um

aporte de conhecimentos ímpares para a nova geração.

Uma década após ter migrado para um centro urbano maior que a antiga Linha

de Colônia, a Família Gerdau migrou novamente, mas em direção à capital do estado,

com uma diversificação de atividades, como atacadista de importação e capitais na

indústria. Aqui, também, a pressão da esposa, com a filha caçula em idade escolar, foi

sentida pelo comerciante para buscar um centro urbano com maior florescimento sócio-

cultural (Flores, 1980: 55).

4 Do capital comercial ao capital industrial em Porto Alegre

Da República à crise econômica de 1929, constituiu-se o período de mudanças

na dinâmica econômica do Rio Grande do Sul. A dicotomia anterior entre a pequena

propriedade de lavoura e criação na Serra e o latifúndio pecuarista na Campanha seria

substituida pelo eixo industrial Caxias-Porto Alegre e o resto do estado imerso na

produção agropecuária, já em novas bases tecnológicas, pelas quais se desenvolveram

as culturas de arroz e trigo. O esgotamento da fronteira agrícola no antigo sistema

colonial promoveu a enxamagem das gerações mais novas em direção à fronteira

agrícola norte-noroeste, com duas rotas de penetração do Planalto, a partir de Caxias do

Sul e Montenegro, criando núcleos urbanos estáveis e aumentando a densidade

demográfica (Roche, 1969: 344; Barroso, 1992: 51; Herrlein Jr., 2000: 154). Estava

ampliado o mercado regional, ainda mais interligado com a ferrovia, desde o último

quartil do século XIX.

Porto Alegre, no início da República, era o centro econômico dinâmico da

província do Rio Grande do Sul. O fluxo crescente de comércio dos produtos agrícolas

coloniais, e sua contrapartida em bens importados, desenvolveu o setor comercial da

capital. A evolução econômica das colônias aumentou a demanda de produtos

Page 16: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

16

importados, abrindo mercado para produtos manufaturados e estimulando a indústria

gaúcha substituidora de importações, sendo a capital da província o lugar estratégico de

implantação de plantas fabris e onde se localizou forte surto industrial regional a partir

do último decênio do século XIX, com predominância de capitais provenientes da

colonização alemã, já instalados no eixo São Leopoldo-Porto Alegre quando a

imigração italiana aportou na Serra Gaúcha (Singer, 1968: 165; 172; Reichel, 1979:

257; Roche, 1969: 506).

A capital, na primeira década do século XX, já possuía infra-estrutura urbana

diferenciada dos demais núcleos urbanos do estado: parcela de água encanada, linha de

bondes, mercado público, iluminação à gás, serviço telefônico e ensino superior (Singer,

1968: 162). O aumento populacional da capital expandia a demanda urbana e novas

possibilidades de negócios.

Em 1893, a Família Gerdau mudou-se para a capital da província, passando a

diversificar suas atividades econômicas. No ano seguinte, e durante quatro anos,

estabeleceu a Gerdau e Naschold, empresa atacadista de importação de equipamentos e

insumos à produção de cerveja, de vinhos e artigos religiosos (Werlang, 2002: 111).

O capital mercantil então empregado passou a ter acesso a novos horizontes de

oportunidades de negócios. De um lado, as relações de representação comercial com

exportadores estrangeiros enriqueceram, sem dúvida, o conhecimento acerca das teias

dessas relações comerciais externas, que envolvem as formas que assumem as

consignações de mercadorias, as espécies de crédito ao consumidor final ou aos

intermediários dispersos pelo interior do estado, a contratação de frete marítimo desde a

Europa, o desembaraço aduaneiro, a estocagem de produtos. Com isso, João Gerdau

avançou mais um elo na cadeia de comercialização, dispensando a utilização das

grandes casas importadoras. De outro, teve acesso a um sistema de distribuição muito

mais amplo que aquele circunscrito a Cachoeira, pois agora direcionava seus catálogos

de produtos às vendas dispersas tanto nos núcleos coloniais, aos comerciantes

intermediários, quanto nas linhas de colonização, aos comerciantes de varejo.

Ao lado das atividades de comércio de importação, João Gerdau manteve o

comércio de exportação de produtos agrícolas, basicamente o feijão e o fumo, e de

produtos importados. As exportações de João Gerdau cresceram aceleradamente com os

efeitos do período do Encilhamento, em termos nominais e reais, com pico desse

Page 17: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

17

movimento em 1896, a partir de quando experimentou queda também acentuada,

flutuação fortemente cíclica do comércio de produtos agrícolas que deve ter contribuído

para que o imigrante desviasse seu horizonte de crescimento para a indústria (Melo,

2006: 94). De 1893 a 1901, João Gerdau realizou lucros com o comércio de

commodities e de importados, o qual se transformou em capital industrial, uma vez que

o patrimônio acumulado em Santo Ângelo e Cachoeira do Sul praticamente se manteve,

à exceção das áreas de terra para loteamentos, que importavam na década de 1890

pouco mais de 4 contos de réis.

4.1 A Fábrica de Pregos Pontas de Paris

No dia 5 de fevereiro de 1901, o comerciante João Gerdau adquiriu a Fábrica de

Pregos Pontas de Paris junto com seu filho, Hugo Gerdau, com a razão social

Metalúrgica João Gerdau & Filho, passando o filho a gerir a empresa. A fábrica estava

estrategicamente localizada na rua Voluntários da Pátria, esquina com a rua Garibaldi,

com os fundos voltados para o rio Guaíba, através do qual a empresa recebia sua

matéria-prima importada, bem como suas máquinas.

Madeira e prego vinham sendo consumidos como bens complementares desde o

final do século XIX, pois o prego era o principal elemento fixador de peças de madeira

utilizadas na construção civil, na fabricação de mobiliário, de equipamentos industriais

e de embalagens, atividades econômicas que evoluíram com a urbanização do país, com

os processos de colonização por imigração e com o transporte de mercadorias. A

construção civil foi, dentre essas atividades, a que deve ter consumido a maior parte da

madeira explorada no país e, por conseqüência, dos pregos importados e internamente

fabricados. Foi a partir da introdução do prego e da madeira serrada no mercado que a

urbanização tornou-se possível de forma acelerada em determinadas regiões do Brasil,

notadamente o sul, o qual dispunha de abundância de pés de pinheiro, por ser zona de

crescimento natural dessa espécie de árvore. No caminho de expansão da fronteira

agrícola, madeira e prego foram utilizados nos mais variados tipos de construção

(Miranda e Carvalho, 2005: 136-139).

Por outro lado, o crescimento urbano também contribuiu para o aumento da

demanda de pregos. Nas duas primeiras décadas do século XX, Porto Alegre cresceu

populacionalmente ao ritmo de 4,5% ao ano, com as residências em madeira

Page 18: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

18

respondendo por cerca da metade do total de habitações licenciadas até o ano de 1931,

(Franco, 2000: 76-77).

Foi nesse processo de expansão de fronteira agrícola e crescente urbanização

com consumo de edificações as mais variadas em madeira que a metalurgia de pregos

encontrou sua demanda. Os três primeiros anos da fábrica de pregos foram o teste de

aptidão do filho, então com 22 anos, concedendo-lhe a gestão do negócio, antes de

partilhar a sociedade com o mesmo em 1904. Foram três anos de franco crescimento,

com 78% de aumento na quantidade física vendida e 91% no valor real das vendas4,

que, conjugados com menor aumento proporcional dos custos, que cresceram 24% no

mesmo período, propiciou um aumento do lucro e da taxa de lucro da empresa, essa

última passando de 0,9%, em 1901, a 25,4%, em 1903.

No final do terceiro ano, em 30 de dezembro de 1903, João Gerdau decidiu

oficialmente partilhar o negócio com o filho, criando então a firma João Gerdau &

Filho, cujo capital era de 125:800 mil réis, junção do saldo da conta Capital da Fábrica

de Pregos (114:000 mil réis), como participação de João Gerdau, e o restante (11:700

mil réis) como participação de Hugo Gerdau. Com isso, Hugo deixava a gerência da

firma para assumir sua direção supervisionada, o que se expressou não só pela

participação societária, mas no aumento da renda, já que seu salário mensal de 150 mil

réis transformou-se em um pro labore de até 500 mil réis, mais a quantia de três contos

de réis ao final de cada ano, acrescidos os lucros ou deduzidos os prejuízos em igual

parte (Flores, 1980: 74-75).

Até 1913, o valor real das vendas de pregos da Fábrica Pontas de Paris cresceu a

uma taxa anual de 6,5%, inferior ao ritmo de crescimento da quantidade física vendida

em virtude da estabilidade dos preços médios de pregos frente a um período com

inflação acumulada de 10%. A quantidade física vendida cresceu no mesmo período a

8,1% ao ano, buscando acompanhar a explosão do crescimento urbano com casas de

madeira em Porto Alegre que chega até 1912, a uma taxa anual de crescimento de 29%!

Com a eclosão da guerra, há uma violenta queda na oferta interna de pregos que pode

ser mensurada pelo aumento de preços; entre 1913-14: 4%; 1914-15: 28%; 1915-16:

68%; 1916-17: 18,5%.

4 Dados básicos em Livro Caixa da Cia. Fábrica de Pregos Pontas de Paris de 31/01/1901 a 31/12/1903; Inflação no Rio de Janeiro em Lobo (1978, p.750, ponderação de 1919).

Page 19: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

19

O bloqueio externo forneceu um estrangulamento ao potencial de crescimento

do capital aplicado na fábrica de pregos. Embora fosse de curto prazo, as barreiras à

expansão do capital no setor industrial em que estava aplicado pressionou o mesmo a

buscar formas alternativas de valorização, através de diversificação de atividades. Em

1914, Hugo Gerdau participou societariamente da constituição da Companhia Geral de

Indústrias, aplicando parte do capital acumulado com a fábrica de pregos em um novo

negócio; no entanto, tratou-se mais de uma aplicação de carteira que de diversificação

produtiva. Dois anos mais tarde, mudaria a razão social da fábrica de pregos para

Metalúrgica Hugo Gerdau, assumindo de vez o controle do capital.

O período pós-guerra assistiu em Porto Alegre a expansão da construção civil

em madeira, em um novo ciclo que se estende até 1931. Ao mesmo tempo, o estado

intensificava a expansão de sua fronteira agrícola, ocupando campo e criando sítios

urbanos nos quais predominavam a construção predial em madeira, o que expandiria a

empresa. Em 1933, a fábrica se diversificou em direção ao mercado em expansão,

criando nova capacidade produtiva em Passo Fundo, cidade na qual 94% dos prédios

eram de madeira; nos três anos seguintes, essa unidade respondia por cerca de um

quinto dos ativos da empresa. Hugo Gerdau, com isso, consolidava o caráter

majoritariamente regional de seu mercado corrente; ocupava o norte do estado, pois a

dinâmica de maior crescimento se encontrava naquela direção, com o escoamento da

produção agrícola e o consumo de importados.

4.2 A Fábrica de Móveis Navegantes

Em fins de 1907, João Gerdau comprou a Fábrica de Móveis Navegantes, massa

falida da Cia. Fábrica de Móveis.

A produção de móveis teve início no Brasil assim que os portugueses

começaram a colonizar o país, já que os primeiros donatários traziam consigo mestres

de vários ofícios, entre os quais se encontravam carpinteiros, marceneiros e

entalhadores (Canti, 1983: 59). No Rio Grande do Sul, a atividade artesanal de centenas

de marceneiros esteve dispersa pelas colônias, atendendo encomendas domésticas. A

atividade fabril somente apareceu nas cidades, na segunda metade do século XIX. Logo

após a Guerra do Paraguai, o tenente Francisco Herzog montou marcenaria na capital,

que se desenvolveu em fábrica, com serraria própria, a Oficina e Fábrica de Móveis. Em

Page 20: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

20

1869, fundou-se em Porto Alegre a Fábrica de Móveis dos Irmãos Kappel. Em 1881, a

Exposição Germano-Brasileira premiava quatro fabricantes de móveis, Kappel, Obst,

Schoroeder e Giesen, esse último com medalha de ouro por seus “móveis de Viena”

(Roche, 1969: 505; Flores, 1980: 89). Em 1891, os comerciantes Arbós e Salvador

criaram uma fábrica de móveis em Porto Alegre (Pesavento, 1986: 49).

Em 1892, um grupo de quarenta e dois investidores, encabeçados pelo

empresário José Pedro Alves, com o maior aporte individual de capital, criou a Cia.

Fábrica de Móveis, com vistas às oportunidades do mercado mobiliário, não só na

capital, mas também fora desse mercado local. A firma, em realidade, foi constituída

para a aquisição da Oficina e Fábrica de Móveis, de Francisco Herzog, dentro de uma

estratégia desse empresário de conseguir maior aporte de recursos para expandir seu

negócio. Embora houvesse perspectivas favoráveis de negócios, a Cia. Fábrica de

Móveis padeceu dos mesmos problemas estratégicos da Fábrica de Pregos Pontas de

Paris: estoques elevados, inadimplência, carência de capital de giro e déficit, o que

restringia a distribuição de dividendos. Em agosto de 1901, decidiu-se em assembléia

fechar a fábrica provisoriamente como medida corretiva do desequilíbrio financeiro,

com pouco êxito; em abril de 1902, nova assembléia aprovou a liquidação de estoques

para quitação de débitos na praça; em fins de 1907, decidiu-se pela liquidação da Cia.

Fábrica de Móveis, sendo o Cel. Manoel Py um dos liquidantes (Flores, 1980: 98).

A Família Gerdau se ocupava nessa época do comércio agrícola e da metalurgia,

com o segundo filho, Walter Gerdau, trabalhando na fábrica de pregos. Flores especula

que os ex-sócios, João Gerdau e Manoel Py, mantinham relações sociais e de negócios,

de modo que a Família Gerdau estaria a par das dificuldades da Cia. Fábrica de Móveis

a um nível de informação superior àquelas publicadas nos jornais da época, sendo que a

mesma acabou sendo comprada em finais de dezembro de 19075, sem haver registro na

Junta Comercial (Flores, 1980: 99).

Walter Gerdau assumiu a direção da Fábrica de Móveis Navegantes em fase de

ascenso da economia gaúcha: exportações e importações eram crescentes até 1913 e o

mercado imobiliário em Porto Alegre crescia exponencialmente, de 1901 até 19116. Por

5 A controvérsia sobre a data de aquisição pode ser razoavelmente resolvida: em 26/12/1907, Assembléia Geral decretou a liquidação do empreendimento e deliberou a partilha do espólio da fábrica, convocando os acionistas a receberem o rateio do capital, o que implica ter sido adquirido naquela data. 6 Ver dados da Balança Comercial em Dalmazo, 2004: 97; do mercado imobiliário, pela variável licença de construções em Porto Alegre, em Franco, 2000: 76-77.

Page 21: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

21

meio da João Gerdau & Filho, a fábrica de pregos, João Gerdau providenciou as

importações de insumos e equipamentos para o primeiro ano de gestão da fábrica de

móveis; em janeiro de 1909, a própria fábrica arcava com suas importações (Flores,

1980: 102).

A linha de produtos mobiliários era ampla, mas como variações de cadeiras:

domésticas, para bares e restaurantes, para barbeiro e de embalo, com múltiplos

formatos e vasto uso de palhinha no assento e no espaldar. Porém, a característica

marcante das cadeiras era a utilização de madeira vergada a vapor, tecnologia herdada

de Francisco Herzog. Tratava-se dos “Móveis de Viena”, estilo desenvolvido por

Michael Thonet, na Áustria oitocentista (Flores, 1980: 103; Gerdau, 2001: 131).

Em 1911, a fábrica de móveis passou a usar a razão social Walter Gerdau & Cia

nas importações de matéria-prima da empresa, em crescimento. No entanto, as

restrições de demanda que comandaram a liquidação da Móveis Navegantes devem ter

sido sentidas pela nova direção, pois, nesse mesmo ano, iniciou exportações para o

nordeste do Brasil, atingindo os estados do Ceará e de Alagoas, e, até a década seguinte,

a empresa conseguiu ampliar seu mercado corrente para o sudeste, o restante do

nordeste, o norte, chegando ao centro-oeste, em Cuiabá e Corumbá (Flores, 1980: 106).

É de se esperar que a Móveis Navegantes tenha se dedicado ao mercado nacional após

ter saturado o mercado regional, uma vez que a ferrovia, nesse período, ligava todo o

estado do Rio Grande do Sul.

A I Guerra Mundial deve ter colocado restrições ao crescimento da firma, já que,

em princípios da década de 1920, a empresa passou por “grandes e radicais

transformações” (Blancato, 1922). Nesse período, ela continha duas fábricas, uma em

cada lado da Voluntários da Pátria, totalizando cinco mil metros quadrados de

construção que comportavam, além das áreas operacionais de serraria, marcenaria e

oficina de lustração, as áreas administrativas de expedição e escritório, possivelmente

comportando algumas dezenas de pessoas ocupadas7. A linha de produtos se ampliara,

contendo um catálogo mais extenso de mobiliário, que incluía estantes, floreiros,

7 Blancato afirma serem 600 pessoas ocupadas, o que parece inverossímel, já que o setor apresentou, no Censo de 1920 para o estado, uma média de pessoal ocupado da ordem de 27, para um total de 1.465 pessoas ocupadas, de que redunda que a fábrica deveria comportar 41% da mão-de-obra empregada pelo setor (Blancato, 1922).

Page 22: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

22

gôndolas, lavatórios, mesas, mochos, porta-toalhas e tamboretes (Walter Gerdau e Cia,

s.d.).

A antiga Móveis Navegantes havia se tornado em uma das maiores empresas

industriais do estado, com direito à inclusão da mesma entre as forças econômicas do

estado no primeiro centenário da Independência.

5. Conclusão A Família Gerdau foi fruto da dinâmica econômico-política do Império. As

necessidades de mão-de-obra da economia cafeeira, frente às pressões do capitalismo

inglês contra o tráfico de escravos, e as necessidades de ocupação do território nacional

do Império determinaram mudanças institucionais que passaram a balizar o

desenvolvimento econômico na segunda metade do século XIX: normas para a transição

ao mercado de trabalho assalariado, para a ocupação territorial e para a regulamentação

das atividades empresariais.

Também foi, primordialmente, um resultado da política imperial de colonização.

O efeito secundário dessa política, o desenvolvimento de um pólo agrícola exportador

de alimentos no sul do país, serviu de base à evolução empresarial de uma família de

imigrantes de origem pequeno burguesa. A evolução dos negócios familiares comerciais

foi crescente na cadeia de comercialização, do pequeno varejo ao atacado,

acompanhando a trajetória ascendente da economia agrícola gaúcha. Porém, nota-se a

presença feminina na determinação da migração para áreas urbanas mais desenvolvidas,

em busca de um meio social necessário à reprodução do ethos burguês, que foi decisivo

na formação da segunda geração de empresários industriais.

A transição do comércio para a indústria, como locus privilegiado de

acumulação da riqueza familiar, deve ter ocorrido da conjugação de duas ordens de

fatores: os fortes ciclos do negócio agrícola no Rio Grande do Sul e o crescente

aumento populacional e urbano. Se a primeira foi fonte de incertezas na valoração do

capital familiar, a segunda abriu horizontes ao fornecimento de bens industrializados

intermediários e de consumo.

O novo marco institucional pós 1850 impactou direta e indiretamente os

negócios familiares. A política imperial de colonização foi decisiva na origem dos

negócios no Brasil. A Lei de Terras foi base da acumulação familiar de capital, de

forma direta nos negócios de loteamentos da colonização privada e, de forma indireta,

Page 23: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

23

pela expansão da ocupação territorial e conseqüente aumento da oferta agrícola, origem

de ambos os comércios. O Código Comercial de 1850 deve ter sido relevante no

aprimoramento de regras de autoregulação dos capitais, que João Gerdau utilizaria no

controle de seus negócios, desde o fluxo de caixa aos créditos e haveres com terceiros.

Todavia, a acumulação de patrimônio familiar, tendo por base os condicionantes

legais e a dinâmica virtuosa da economia cafeeira e das áreas subsidiárias ao centro

dinâmico, esteve, no âmbito microeconômico, atrelada ao desenvolvimento de

competências empresariais, que permitiram ao comerciante João Gerdau não só

descobrir oportunidades de negócios, como também imprimir processos rentáveis de

gestão do capital em negócios antes em processo falimentar. Essa capacidade de

desenvolver competências empresariais foi, por sua vez, derivada da independência

financeira do empresário que se fez comerciante em linha de picada, com uma trajetória

concêntrica no comércio e uma diversificação industrial.

Referência bibliográfica

ANSOFF, H. Igor. Estratégia empresarial. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 1977. AZAMBUJA, Graciano. A. Annuario da Provincia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Gundlach, 1887. BARROSO, Vera Lúcia Maciel. Povoamento e urbanização do Rio Grande do Sul: a fronteira como trajetória. In: WEIMER, Gunther. Urbanismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS / Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1992. p.35-55. BENTIVOGLIO, Julio. Políticas e diretrizes econômicas no início do Segundo Reinado (1840-1860): limites e desafios da modernização. In Congresso Brasileiro de História Econômica, nr. 5, 2003, Caxambú. Anais... São Paulo: ABPHE, 2003. Disponível em < http://www.abphe.org.br/congresso2003/Textos/Abphe_2003_82.pdf> Acesso em 22 ago. 2008. BLANCATO, Vicente S. As forças econômicas do estado do Rio Grande do Sul no 1º centenário da Independência do Brasil: 1822-1922. Porto Alegre: Globo, 1922. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Empresários, sua origens e as interpretações do Brasil. In: SZMRECSÁNYI, Tamás; MARANHÃO, Ricardo. História de empresas e desenvolvimento econômico. 2ed. São Paulo: Hucitec/ABPHE/Imprensa Oficial, 2002. p. 143-64. BRUHN, Ewald. Agudo: 147 anos de imigração alemã na ex-Colônia Santo Ângelo. Agudo: 2004. Reedição parcial bilíngüe do original em alemão gótico, de 1932. BUESCU, Mircea; TAPAJÓS, Vicente. História do desenvolvimento econômico do Brasil. 2ed. Rio de Janeiro: Casa do Livro, 1969.

Page 24: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

24

CANTI, Tilde. Notas sobre marceneiros e carpinteiros e móveis e samblagem dos sécs. XVI ao XVIII. Madeira/Móveis, v.1, n. 2, p. 59-63, mai/ago. 1983. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de Sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CASSON, Mark. The entrepreneur: an economic theory. Oxford: Martin Robertson, 1982. COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Brasiliense, 1987. CROUZET, François. The first industrialists: the problem of origin. Cambridge: Cambridge UP, 1985. DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo (1880-1945). 2ed. São Paulo: Difel, 1971. FERNÁNDEZ PÉREZ, Paloma; HAMILTON, Eleanor. Gender and family firms: an interdisciplinary approach. Barcelona: Universitat de Barcelona, 2007. Working Papers in Economics 171. FLORES, Hilda. As empresas de João Gerdau. Porto Alegre: Gerdau, 1980. FRANCO, Sergio C. Gente e espaços de Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2000. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 32ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2003. GERDAU. Chama empreendedora: a história e a cultura do Grupo Gerdau. São Paulo: Prêmio Editorial, 2001. GUIMARÃES, Eduardo Augusto. Acumulação e crescimento da firma: um estudo de organização industrial. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. HERRLEIN JR., Ronaldo. Rio Grande do Sul, 1889-1930: um outro capitalismo no Brasil meridional. Campinas, 2000. Tese (Doutorado - Ciências Econômicas) - IE, Unicamp. KAELBLE, Hartmut. Long-term changes in the recruitment of the business elite: Germany compared to the U.S., Great Britain, and France since the industrial revolution. Journal of Social History, v. 13, n. 3, p. 404-23, 1980. KALECKI, Michal. Teoria da dinâmica econômica: ensaios sobre as mudanças cíclicas e a longo prazo da economia capitalista. São Paulo: Abril Cultural, 1983. KUNIOCHI, Márcia Naomi. Os negócios no Rio de Janeiro: crédito, endividamento e acumulação (1844-1857). In Congresso Brasileiro de História Econômica, nr. 5, 2003, Caxambú. Anais... São Paulo: ABPHE, 2003. Disponível em < http://www.abphe.org.br/congresso2003/Textos/Abphe_2003_88.pdf> Acesso em 22 ago. 2008. LIMA, Ruy Cirne. Pequena história territorial do Brasil: sesmarias e terras devolutas. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1990.

Page 25: A Família Gerdau, o comércio e as Fábricas de Pregos Pontas … · 2009-12-18 · UFSM Campus Silveira Martins ... um dos maiores grupos econômicos nacionais, com uma receita

CLADHE-II Segundo Congreso Latinoamericano de Historia Económica

Ciudad de México – 03 a 05 de febrero de 2010 Mesa 18 – Familias, negocios y empresas en la América Latina, 1850-1930

25

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. História do Rio de Janeiro: do capital comercial ao capital industrial e financeiro. Rio de Janeiro: Ibmec, 1978. MAURO, Frédéric. História econômica mundial: 1790-1970. 2ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. MELO, José Lannes de. A história do Grupo Gerdau: origem. Porto Alegre, 2006. Tese (Pós-doutorado - História Econômica) – PPGE/UFRGS. MIRANDA, Nego.; CARVALHO, Maria Cristina Wolff de. Paraná de madeira. Curitiba: 2005. NENADIC, Stana. The small family firm in Victorian Britain. In GEOFFREY JONES e MARY ROSE (Ed.). Family capitalism. London: Frank Cass, 1993. p. 86-114. NIVEAU, Maurice. História dos fatos econômicos contemporâneos. São Paulo: Difel, 1969. PENROSE, Edith. A teoria do crescimento da firma. Campinas: Ed. Unicamp, 2006. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Empresariado industrial, trabalho e Estado: contribuição a uma análise da burguesia industrial gaúcha. São Paulo, 1986. Tese (Doutorado em História) - Dep. História - FFLCH, USP. REICHEL, Heloísa Jochims. Industrialização no Rio Grande do Sul na República Velha. In: DACANAL, José Hildebrando; GONZAGA, Sergius. RS: economia & política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979. p. 255-275. ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Globo, 1969. SCHMIDT, Paulo. História do pensamento contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000. SCHNEIDER, Sérgio. Agricultura familiar e industrialização: pluriatividade e descentralização no Rio Grande do Sul. 2ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2004. SCHUH, Ângela Schumacher; CARLOS, Ione Maria Sanmartin Cachoeira do Sul em busca de sua história. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1991. SINGER, Paul. Desenvolvimento e evolução urbana - análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. São Paulo: Ed. Nacional, 1968. VALDALISO, Jesús Maria; LÓPEZ, Santiago. Historia económica de la empresa. Barcelona: Crítica, 2000. 1000 maiores empresas. Valor 1000, São Paulo, ano 9, n. 9, ago. 2009. Edição 2009. WALTER GERDAU E CIA. Móveis de madeira Gerdau. Porto Alegre: Ed. Globo, s.d. WERLANG, William. História da Colônia Santo Ângelo. Santa Maria: Pallotti, 1995. v. 1. _____. A família de Johannes Heinrich Kaspar Gerdau. Agudo: Ed. Werlang, 2002.