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1 A DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NO PARANÁ NO PERÍODO DE 2002 A 2007: Uma análise espacial RESUMO: A atual configuração da indústria pelo Paraná se deve ao fato de que na década de noventa, este Estado despontou de forma significativa no avanço da modernização e diversificação industrial, transformando sua base produtiva com modernização das agroindústrias e incorporação de novas fábricas com elevado padrão de tecnologia na produção. Nesse contexto, o campo da teoria dos conceitos de espaço e região é útil para ajudar na avaliação dos padrões espaciais que exercem impactos sobre o desempenho do setor industrial, e, consequentemente, no desenvolvimento regional do Estado. Diante disso, o objetivo deste trabalho é examinar o comportamento espacial do numerário de empresas pertencentes ao setor industrial de transformação nos municípios do Paraná, no período de 2002 a 2007, no intuito de identificar, quando possível, a existência de clusters e observar como a proximidade entre os locais pode influenciar, ou não, na dinâmica regional. Foi utilizado para tanto, a técnica de análise exploratória de dados espaciais, a partir da qual se pode observar que a distribuição do numerário de empresas pelos municípios do Estado possui dependência e heterogeneidade espacial, bem como constatar a presença de clusters. PALAVRAS-CHAVE: Espaço, região e dependência espacial. THE DISTRIBUTION OF THE PROCESSING INDUSTRY IN PARANÁ DURING THE PERIOD 2002 TO 2007: An spatial analysis ABSTRACT: The current configuration of the industry into Paraná State is due to the fact that in the nineties, this state emerge significantly in the progress of modernizing and industrial diversification, transforming its production base with modernization of agribusiness and incorporation of new plants with high standard technology in production. In this context, the field theory of the concepts of space and the region is useful to help in evaluating the spatial patterns that have an impact on the performance of the industrial sector, and hence the regional development of the state. Thus, the objective of this study is to examine the spatial behavior of the number of companies belonging to the industrial processing sector in the municipalities of Paraná, from 2002 to 2007 in order to identify, where possible, the existence of clusters and observe how the proximity between the sites can influence or not, the regional dynamics. Was used for both the technique of exploratory analysis of spatial data, from which we can see that the distribution of cash to companies by municipalities of the state has spatial dependence and heterogeneity, and note the presence of clusters. KEY-WORDS: Area, region and spatial dependence.

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A DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NO PARANÁ NO PERÍODO

DE 2002 A 2007: Uma análise espacial

RESUMO: A atual configuração da indústria pelo Paraná se deve ao fato de que na década de

noventa, este Estado despontou de forma significativa no avanço da modernização e diversificação

industrial, transformando sua base produtiva com modernização das agroindústrias e incorporação

de novas fábricas com elevado padrão de tecnologia na produção. Nesse contexto, o campo da

teoria dos conceitos de espaço e região é útil para ajudar na avaliação dos padrões espaciais que

exercem impactos sobre o desempenho do setor industrial, e, consequentemente, no

desenvolvimento regional do Estado. Diante disso, o objetivo deste trabalho é examinar o

comportamento espacial do numerário de empresas pertencentes ao setor industrial de

transformação nos municípios do Paraná, no período de 2002 a 2007, no intuito de identificar,

quando possível, a existência de clusters e observar como a proximidade entre os locais pode

influenciar, ou não, na dinâmica regional. Foi utilizado para tanto, a técnica de análise exploratória

de dados espaciais, a partir da qual se pode observar que a distribuição do numerário de empresas

pelos municípios do Estado possui dependência e heterogeneidade espacial, bem como constatar a

presença de clusters.

PALAVRAS-CHAVE: Espaço, região e dependência espacial.

THE DISTRIBUTION OF THE PROCESSING INDUSTRY IN PARANÁ DURING THE

PERIOD 2002 TO 2007: An spatial analysis

ABSTRACT: The current configuration of the industry into Paraná State is due to the fact that in

the nineties, this state emerge significantly in the progress of modernizing and industrial

diversification, transforming its production base with modernization of agribusiness and

incorporation of new plants with high standard technology in production. In this context, the field

theory of the concepts of space and the region is useful to help in evaluating the spatial patterns that

have an impact on the performance of the industrial sector, and hence the regional development of

the state. Thus, the objective of this study is to examine the spatial behavior of the number of

companies belonging to the industrial processing sector in the municipalities of Paraná, from 2002

to 2007 in order to identify, where possible, the existence of clusters and observe how the proximity

between the sites can influence or not, the regional dynamics. Was used for both the technique of

exploratory analysis of spatial data, from which we can see that the distribution of cash to

companies by municipalities of the state has spatial dependence and heterogeneity, and note the

presence of clusters.

KEY-WORDS: Area, region and spatial dependence.

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1. INTRODUÇÃO

Buscar condições para se atingir crescimento e desenvolvimento econômico sustentado soa

razoável para países que ainda não alcançaram esta meta. Uma vez que o território Nacional é

representado por diversas regiões menores (espaços), as quais incorporam Estados, e estes, por sua

vez, se dividem em Municípios, é importante entender o desenvolvimento econômico no campo de

cada uma dessas subdivisões.

Autoridades no tema – Thunen, Dubey, Perroux, Boudeville e Polèse – ressaltam a

importância da economia espacial e regional no bojo da referida discussão. Para eles o estudo do

desenvolvimento regional visa investigar os padrões locacionais das atividades econômicas

procurando mostrar onde estão instaladas e porque estão lá, valendo-se da análise da comparação de

um local e outro no que diz respeito aos problemas relativos à proximidade, concentração e

dispersão das atividades econômicas, bem como nas respectivas características sociais, políticas e

administrativas de cada região. Com isso, esta temática permite avaliar o desempenho de qualquer

atividade econômica no que tange aos níveis de crescimento do produto, produtividade, geração de

empregos e perfil da produção – esteja ela situada em qualquer um dos setores: indústria,

agropecuária e comércio – no âmbito regional.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é examinar o comportamento espacial do

numerário de empresas pertencentes ao setor industrial de transformação nos municípios do Paraná,

no período de 2002 a 2007, no intuito de identificar, quando possível, a existência de clusters e

observar como a proximidade entre os locais pode influenciar, ou não, na dinâmica regional.

A justificativa para esta análise se encontra no fato de que, no passado recente (década de

noventa), o Paraná despontou de forma significativa no avanço da modernização e diversificação de

sua indústria, transformando sua base produtiva que antes era essencialmente agrária, com

modernização das agroindústrias, e incorporação de elevado padrão de tecnologia na produção

gerando maior valor agregado nos produtos. Para isso, recorre-se à técnica de análise exploratória

de dados espaciais para se analisar o padrão espacial das indústrias de transformação residentes do

Estado.

Assim, este artigo abrangerá, além desta introdução, a seção 2 em que se realiza uma breve

discussão teórica sobre a evolução e importância da indústria no Paraná, e sobre os conceitos de

espaço e região pertinentes a discussão em questão; a seção 3 onde será exposto o método de

análise exploratória de dados espaciais visando definir a autocorrelação e dependência espacial, e se

possível identificar os clusters; a seção 4 para trabalhar a análise dos resultados a partir do método

proposto; e a última para considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Breve Explanação sobre Formação e Importância da Indústria no Paraná

Para entender como ocorreu essa transição é preciso nos remontarmos a um pouco da

história do Estado do Paraná, quando este ainda era essencialmente agrário. De acordo com

Wachowicz (1987), o primeiro ciclo econômico pelo qual o Paraná passou foi o da produção da

erva mate, o qual predominou de meados de 1840 até 1914 como o segmento responsável pela

maior parte da produção e absorção de trabalho, funcionando desta forma como fator de ocupação

regional.

Após a fase da erva mate, especificamente o período de 1919 a 1934, a consolidação da

produção se dá pelo setor madeireiro. Lima et al. (2007) destacam que o estabelecimento da

madeira como principal setor produtivo, que de início se desenvolveu vinculada ao suprimento de

barris e caixas de embalagens para a produção de erva mate, foi devido a forte demanda interna e

às conseqüências da guerra que criavam demanda em virtude do processo de reconstrução dos

países afetados, de forma a beneficiar as exportações.

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Já a partir de 1930, entra em vigor a fase do café como principal vertente na produção,

devido à expansão da lavoura paulista pelo Norte do Paraná. Aqui o processo de modernização,

dinamismo e diversificação da agricultura se acentuam, ocorrendo maior acúmulo de capital, o que

proporcionou um maior número de atividades industriais e comerciais girando em torno da cultura

do café (PINHEIRO, 2007 apud FERRARIO et al., 2008).

Considerando então as três fases, até meados da década de 1960, o que se observou foi um

dinamismo econômico inicialmente concentrado na produção da erva mate e posteriormente nas

produções dos gêneros madeireiro e cafeeiro1. Estes eventos proporcionaram, através da atração de

mão de obra, o aumento da população economicamente ativa o que corroborou desenvolvimento

mais contundente da urbanização.

Entretanto, a partir de meados dos anos cinquenta e sessenta já se observava uma alteração

dos fluxos de acúmulo de capital para outros setores, principalmente aqueles voltados para

exportações. Adiciona-se ainda, que 1970 é marcado por duas grandes transformações na economia

brasileira que também influenciaram na direção dos investimentos. A primeira foi o esgotamento da

fronteira agrícola que expandiu a migração do campo para as zonas urbanas. A segunda foi a

desconcentração industrial, que deslocou parte da produção concentrada no eixo sudeste para novas

regiões como o Paraná. O conjunto desses dois processos com as transformações qualitativas2 que

emergiram da atividade agrícola na época constituíram-se na base para as transformações da base

produtiva, no Paraná, dos setores primário e secundário que geraram expansão da transformação da

produção e industrialização de produtos como soja, milho, trigo, carnes, etc., contribuindo para o

crescimento e a solidificação da agroindústria e inserindo o Estado em um novo ciclo econômico3

(LIMA et al., 2007).

No entendimento de Lourenço (2000), o Paraná presenciou grande dinamismo econômico

nos anos 70, no que ele autodenominou de surto econômico. Dentre os fatores estimulantes de tal

fenômeno, destacou-se com importância o programa nacional de investimentos, o estabelecimento

de uma agricultura capaz de acompanhar e absorver os estímulos da modernizada política de crédito

agrícola e a política de atração de investimentos industriais realizada pelo governo estadual entre

1975 e 19784. Conforme o autor, esta postura agressiva do Estado proporcionou a implantação de

segmentos modernos das indústrias de cimento, metalmecânica e refino de petróleo na Região

Metropolitana de Curitiba (RMC); e sofisticou gêneros já tradicionais da madeira, papel e celulose e

diversificação do agronegócio. Ademais, esse momento coincide também com a consolidação da

Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e o estabelecimento de residência no Estado da Refinaria de

Petróleo de Araucária (REPAR), da montadora Volvo e da fábrica da New Holland.

Na década de oitenta até 1995, contudo, há interrupção do bom desempenho do Estado em

sua industrialização. Lourenço (2003) aponta como causas disto, a retração dos investimentos

produtivos e a forte recessão econômica dos anos oitenta, em virtude do esgotamento do sistema de

produção denominado substituição de importações que se deu por conta da forte intervenção

governamental na economia causando elevado endividamento externo5.

Por outro lado, Lima et al. (2007) demonstraram que, mesmo apesar desta circunstância de

crise econômica, a economia paranaense ainda foi capaz de alcançar resultados positivos. O Paraná

se encontrava numa posição diferenciada em relação aos demais estados em decorrência do grau

considerável de abertura econômica, do crescimento dos termos de troca, aumento da inserção na

1 Os investimentos eram concentrados nestes setores. Em outras palavras, nas modestas (poucas) indústrias da época.

2 Dentre estas transformações, destacam-se a introdução da mecanização, de commodities internacionais, integração

entre a agropecuária e indústria, e pesquisas e créditos que permitiram produzir produtos não tradicionais em novas

áreas (LIMA et al., 2007). 3 Lima et al., 2007 ressalta que neste momento, anos setenta, é quando se inicia de fato o processo de industrialização

no Paraná. Para o autor este é o ponto de ruptura entre o sistema de produção agrário e o industrial no Estado. 4 Esta Política de atração de investimentos para o Paraná se deu sob forte presença de concessões fiscais pelo Governo

Estadual na época. 5 Para entendimento mais aprofundado do impacto da crise dos anos oitenta sobre o Paraná, ver Lourenço (2003).

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economia nacional e mercado, nacional e internacional, favorável aos seus produtos modernos6.

Isso, de certa forma, proporcionou vantagens ao Estado para enfrentar a década seguinte e

deslanchar em seu processo de industrialização.

O segundo momento de desconcentração da indústria do eixo sudeste do país, data de

meados de 1990, mais precisamente 1995. Nesse sentido, para entender como a indústria evoluiu no

Paraná, é preciso traçar a situação econômica brasileira. Os fatos estilizados da estabilização

monetária, abertura econômica, redefinição da atuação estatal, gestão macroeconômica restritiva, o

reordenamento do tecido industrial do País e as estratégias de localização e realocação das

atividades auferidas pelas empresas, permitiram ao Paraná aderirem de forma mais representativa à

dinâmica industrial brasileira e aos gêneros exigentes de maior conteúdo tecnológico7 (IPARDES,

2007).

Nesse contexto, o melhor aproveitamento pelo Paraná, das oportunidades geradas pela

conjuntura da economia nacional e internacional favorável, que atraiu grandes investimentos

industriais para seu espaço econômico, se deu, como aponta Lourenço (2000), em face dos vetores

da consolidação de um pólo automobilístico; da verticalização das cadeias agrícola e agroindustrial

liderada pelas cooperativas; da expansão quantitativa e qualitativa do gênero madeireiro e papeleiro;

do rearranjo da frente externa visando aproveitar a proximidade com mercados do Cone Sul; e o do

melhor aproveitamento das vocações e o desenvolvimento das aptidões regionais, devendo-se

buscar oportunidades relacionadas às áreas do conhecimento e da informação, bem como setores

com maior qualificação tecnológica. Em consonância com essa explicação, Lima et al. (2007)

verificaram que estes aspectos citados acima, em certa medida, garantiram ao Paraná diversificação

de sua base produtiva e ampliação da base de exportações ao longo da década de 90, contribuindo

para a sedimentação da sua indústria8.

Por fim, a década de 2000 demonstra que o Estado foi capaz de manter dinamismo e

diversificação em seu padrão industrial, com relação à década de 1990. No entanto, Ferrario et al.

(2008) mostram que houve certo aumento da concentração industrial na Região Metropolitana de

Curitiba, especificamente no eixo Paranaguá – Curitiba – Ponta Grossa. Salva guarda, é possível

visualizar a eclosão de novos padrões industriais no interior do Estado, para ser mais preciso, em

cidades de médio porte que geralmente apresentam nível de qualidade de vida superior em

comparação aos municípios do Sudeste brasileiro, como Londrina, Maringá e outros com menor

participação do Oeste e Noroeste do Estado. Por tudo, e mais, fica evidenciada a importância da

compreensão da evolução e distribuição da indústria na análise do desenvolvimento regional

paranaense, justificando assim, o exame da dinâmica espacial industrial deste Estado.

2.2. Conceituação de Espaço e Região

Até a segunda metade do século XIX, quando a Escola Histórica Alemã despontou como

primeira a ressaltar o estudo da importância do espaço para compreender o fenômeno de

desenvolvimento econômico, o que se viu foi o domínio do pensamento dos economistas clássicos.

Este grupo de economistas, como destaca Pinheiro (2007), esqueceu por muito tempo de considerar

o elemento espaço nos seus estudos sobre teorias de análise regional.

No pensamento de Richardson (1975), os pensadores desta escola focavam na evolução

temporal das atividades econômicas. A preocupação está em como o crescimento econômico se dá

no decorrer do tempo, bem como de que forma se dá a repartição do produto. Para o autor, o tempo

se encarrega da análise econômica uma vez que fatos não econômicos impactam no comportamento

espacial das atividades econômicas. Dado que ele considera que os recursos naturais têm

localização pré-determinada, assim são considerações não econômicas os eventos determinantes de

onde viver, trabalhar e produzir.

6 Pode-se também acrescentar aqui, a maturação dos investimentos realizados na indústria paranaense na década de

setenta (Refinaria de Petróleo de Araucária, Volvo, New Holland, entre outras). 7 Nesta fase é que ocorre, como os estudiosos da área costumam dizer, a consolidação pesada da indústria no Estado.

8 Para observar melhor como a indústria está segmentada por setores e regiões, ver Ipardes (2007).

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Por esse prisma, Ferreira (1989 apud Pinheiro, 2007) argumenta que o motivo do descaso

com a questão do espaço se dá por causa dos pressupostos que fornecem a base do pensamento

clássico, dentre os quais se destacam tendência ao equilíbrio dos preços dos fatores em face da

estrutura de mercado de concorrência perfeita, perfeita mobilidade de capitais até que o equilíbrio

seja ajustado entre duas localidades e custos de transportes inexistentes. Desse modo, não há

desigualdades entre regiões em seus níveis de produção, e, uma vez que o equilíbrio sempre será

alcançado9, não haveria porque se preocupar com a dinâmica espacial das regiões influenciando no

desenvolvimento econômico.

Como já foi mencionado anteriormente, será com a Escola Histórica Alemã que surgirá a

preocupação com o caráter espacial das atividades econômicas no âmbito do desenvolvimento

regional. Para Pinheiro (2007), estes pensadores articularam pela primeira vez as peculiaridades de

cada região, país, e em cada época, acerca dos fenômenos locacionais que geram explicações acerca

das vantagens comparativas de um espaço em relação ao outro, e onde deverá ser localizada

determinada atividade econômica. A partir de então, o estabelecimento de certa atividade

econômica em determinado território passa a ser objeto de estudo do campo teórico da economia

espacial, onde os problemas a serem analisados norteiam questões relacionadas à concentração de

capital industrial e organizações, aglomerações de atividades econômicas em poucas regiões e a

forma desigual como a expansão das atividades ocorre em cada região.

A partir deste ponto, cabe então elaborar a diferenciação entre o que é espaço e o que é

região, visando buscar a justificativa da importância do estudo dos dois termos para o entendimento

do processo de desenvolvimento regional de certa atividade produtiva. Rolim (1998) retrata que o

conceito de região parte da premissa de uma sociedade determinada na história, no seu território

contíguo, e abrange ambientes físico, sócio-econômico, político e cultural, somando ainda uma

estrutura espacial diferente de outras regiões e de outras entidades territoriais maiores, cidades e

nações. Na direção desse conceito, qualquer região se dinamiza a partir do momento em que se

estabelece ligação com o resto do mundo.

Ainda em Rolim (1998), o exame do desenvolvimento de uma região específica vai se

basear no aprendizado do funcionamento de um segmento da economia nacional, esse por sua vez

membro de uma economia mundial, dentro de um conjunto de complexos parâmetros institucionais

que significam as regras do jogo e inserido num ambiente social, no qual participam os atores do

jogo que representam as forças atuantes.

Ferreira (1989 apud Pinheiro, 2007) irá mostrar um conceito dinâmico de região, pois no

decorrer do tempo as estruturas interiores que condicionam suas extensões de áreas se alteram,

modificando também o conjunto de todas regiões interdependentes em dado espaço e seus padrões

no espaço geográfico.

Prosseguindo a discussão anterior, conforme Rolim (1990) apresenta, a teoria de Perroux

sobre conceituação de região demonstra que esta é marcada por passado histórico e determinismo

geográfico, referindo-se a ela como um fenômeno concreto sem ligação com sentido e projeto

econômico. Em contraponto a isso, Boudeville10

(1973 apud Ferreira, 1989) incorpora em seu

conceito de região três aspectos que atestam caráter econômico: (i) a região deve atender a um

objetivo anteriormente pré-estabelecido – a divisão de um país em subespaços (regiões) requer a

elucidação de qual a finalidade dessa partição; (ii) as regiões precisam ter seus aspectos sociais e

econômicos caracterizados para compará-los com as outras regiões – o que exige descrição material

do objeto em questão; e (iii) as regiões estabelecem entre si interdependências sociais, políticas,

econômicas, institucionais e administrativas, e até dentro de seus próprios espaços. Essas relações

inter e intra implicam na partição do espaço geográfico.

A partir da definição das regiões, Pinheiro (2007) salienta que as mesmas podem ser

caracterizadas em duas formas. Aquelas que detêm maiores semelhanças nas suas combinações de

9 Para economistas clássicos, a economia trabalha no pleno emprego dos recursos tendo em vista que as forças de

mercado de oferta e demanda sempre se equilibram num determinado nível de preços. 10

BOUDEVILLE, J. R. Os espaços econômicos. In: Difusão Européia do Livro. São Paulo, 1973.

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distritos e distâncias entre estes, chamadas de regiões homogêneas, e as que se reconhecem como

regiões nodais ou polarizadas, compostas por unidades heterogêneas que se criam a partir da

aceitação de não-uniformidade da economia espacial, que englobam significado econômico.

Agora, no que tange à conceituação de espaço, Lopes11

(2001 apud Pinheiro, 2007)

demonstra que este objeto é construído em função dos mais diversos conjuntos de dados

econômicos localizados de formas desiguais pelo espaço em estudo. Esses fatos econômicos podem

ser ou não dispersos, tendo em vista que o interessante são as características e a natureza das

relações de interdependência entre eles.

Perroux (1967 apud Rolim, 1990) irá recorrer ao conceito matemático de espaço abstrato

para desenvolver sua idéia de espaço econômico. A geometria euclidiana fornece suporte à noção

vulgar de espaço que é representado por n-dimensões onde os objetos estão contidos em seu

interior. Contudo, é na noção de espaço abstrato, outro instrumental matemático, que ele encontra

explicação para a análise das intra e inter-relações econômicas de um país. Desse modo, valendo-se

de relações abstratas pode-se chegar à definição dos objetos em si mesmos, com o espaço sendo

delimitado pelo conjunto dessas relações. Pode-se concluir disto, que existirá um número “x” de

espaços conforme forem os sistemas de relações abstratas que determinam um objeto, ou em outras

palavras, haverá tantos espaços econômicos quantos forem os eventos econômicos estudados.

A diferença entre os dois conceitos de espaço para Perroux se mostra pelo fato de que o

vulgar abarca as relações geonômicas (ciência das leis físicas da Terra) entre objetos (homens e

coisas). Já o econômico é definido pelo conjunto de relações econômicas que se dão entre

elementos econômicos (ROLIM, 1990).

Seguindo a discussão de espaço, Perroux (1967) irá classificá-lo da seguinte forma: (i) o

espaço econômico definido por um plano: considera que as partes oriundas das áreas são

dependentes de uma decisão central – são os elementos de um espaço produtivo que tem em comum

os planos e objetivos, além de se encontrarem sob a mesma coordenação; (ii) o espaço econômico

como campo de forças: um elemento central (atividade produtiva ou empresa), que abrange

determinado espaço econômico, libera forças centrífugas e centrípetas, que concentra pessoas e

matérias em torno do seu núcleo, e afasta do seu campo de influência pessoas e outras atividades –

observa-se aqui uma relação de dominação exercida pela atividade econômica ou empresa

predominante, capaz de expulsar ou atrair, em sua órbita, outras empresas e atividades produtivas; e

(iii) o espaço econômico como agregado homogêneo: uma atividade ou empresa que é considerada

o centro do espaço econômico, manterá relações com outras atividades e empresas de mesma

característica – configura-se assim que um elemento, pode estar situado a uma grande distância

física de outro, mas desde que compartilhem das mesmas características, como um mercado em

comum de fatores de produção ou bens finais, eles se situaram no mesmo espaço econômico.

Por fim, Pinheiro (2007) elabora uma articulação entre os conceitos de região e espaço. A

autora mostra que o espaço é determinado por um conjunto de regiões, em virtude de estas últimas

possuírem a característica de contigüidade, conforme seja a localização das atividades econômicas.

3. METODOLOGIA

3.1 Análise Espacial

Os economistas são relutantes em considerar o espaço como um fator relevante, desde os

pensamentos de Marshall, o qual acredita na influência preponderante do tempo sobre o espaço. No

entanto, durou até Walter Isard se opor na década de 50, ao chamar de “viés Anglo-Saxão”, o

repúdio do fator espaço, comprimindo tudo na economia a um ponto de tal sorte que toda a

11

LOPES, A. S. Desenvolvimento regional – problemática, teoria, modelos. Lisboa: Fundação Cabouste

Gulbenkian, 2001.

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resistência espacial desaparece, ao confinar a teoria econômica a “um mundo maravilhoso sem

dimensões espaciais” (FLORAX; NIJKAMP, 2003).

Os modelos da Nova Geografia Econômica oferecem uma das maiores explicações sobre o

comportamento dos aglomerados industriais e de trabalho (MIKKELSEN, 2004). Masahisa Fujita

influenciado pelas idéias de Walter Isard, na Universidade da Pensilvânia, onde fez seu Pós-

doutorado, compartilha com Paul Krugman o pioneirismo da Nova Geografia Econômica12

. A

partir desta evolução da teoria econômica, torna-se possível o estudo da economia regional e urbana

em aspectos estatísticos geográficos, ao ponderar as interdependências e heterogeneidades das

regiões através da análise espacial.

A análise exploratória dos dados espaciais (AEDE) tem como princípio básico que os

fenômenos espaciais possuam correlações entre si. Segundo Tobler (1970), tudo é relacionado com

tudo mais, mas coisas próximas são mais relacionadas entre si do que as distantes. Em função desta

sentença, a qual se tornou conhecida como a Primeira Lei de Tobler (PLT), Miller (2004)

argumenta que este fato é central na análise espacial. Em um ambiente onde as bases de dados

georeferenciados e novas tecnologias geográficas avançam, é possível analisar as distâncias e

autocorrelações espaciais dos agentes econômicos, ao revigorar a PLT. Nas palavras de Haining

(2003), a análise espacial inclui os desenvolvimentos e aplicações das técnicas estatísticas com o

propósito de analisar dados espaciais e, como conseqüência, fazer uso dos dados georeferenciados.

De acordo com Haining (2003), variáveis intensivas – taxas, densidades e proporções – são

espacialmente dependentes e necessárias na análise espacial dos dados. Para se transformar uma

variável extensiva em intensiva, torna-se indispensável sua divisão por atributos espaciais como:

área, tamanho e população.

As noções de dependência e autocorrelação espacial são definidas de forma informal por

Florax; Nijkamp (2003) com a finalidade de facilitar o entendimento dos termos. Para os autores,

dependências espaciais são clusters espaciais de valores similares, padrões comuns ou variações

espaciais sistemáticas, isto é, uma característica da função densidade de probabilidade verificável

apenas sobre condições simples, como a normalidade. Já a correlação espacial é simplesmente um

momento da função densidade de probabilidade. Desse modo, a melhor associação estatística

espacial para dados ordinais e em intervalos é dada pelos testes „c‟de Geary e „I‟de Moran. Os dois

são parecidos, mas baseados em métricas diferentes. Usualmente utilizados para indicar a existência

de autocorrelação espacial entre unidades espaciais de uma região.

O I de Moran univariado é definido pela equação (1):

1 1

20

1

- -

-

n n

ij i j

i j

n

i

i

w x x x xn

IS

x x

, (1)

ou em termos matriciais,

0

nI

S

'

'

x Wx

x x (2)

em que x é um vetor 1n das observações de ix em desvios da média x , W é a matriz de peso

espacial com n n elementos onde ijw representa a topologia do sistema espacial, e 0S a soma de

elementos da matriz de peso espacial.

A matriz de pesos é determinada de forma exógena. Pode ser definida usando

contigüidade, distância ou especificações mais complexas. Segundo Lesage (1999), as matrizes de

contigüidades podem ser definidas como:

12

Uma síntese sobre o tema foi feito por (Fujita et al., 1999).

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8

a. Linear: 1ijw para a região que compartilha um mesmo limite local de interesse à

esquerda ou à direita.

b. Torre: 1ijw

para a região que compartilha um mesmo lado com a região de

interesse.

c. Bispo: 1ijw para regiões que compartilham um vértice comum com a região de

interesse.

d. Linear duplo: 1ijw para regiões que possuem imediatos à direita ou à esquerda

e. Torre dupla: 1ijw para regiões que compartilham o mesmo limite tanto ao norte,

sul, leste e oeste.

f. Rainha: 1ijw

para regiões que compartilham lados e vértices em comum em

relação à região de interesse.

Figura 1 – Representação Gráfica do I de Moran

Fonte: Elaborado a partir de Pimentel e Haddad (2004).

O autor Anselin (1993) propôs uma ferramenta para visualizar a instabilidade da

autocorrelação espacial global, através da dispersão do I de Moran. O procedimento é realizado por

uma regressão linear, onde o coeficiente é o I , que indica o grau de relação espacial das variáveis.

A Figura 1 representa o valor da estatística I de Moran para cada região em análise. Os quadrantes

Alto-Alto (AA), Alto-Baixo (AB), Baixo-Alto (BA) e Baixo-Baixo (BB), indicam o padrão espacial

dominante positivo ou negativo, entre valores altos e baixos.

O quadrante AA representa regiões e seus vizinhos com valores acima da média para a

variável em análise. O quadrante BA oferece a visualização de localidades com baixo valor para a

variável em análise, cercado por vizinhos de alto valor. O quadrante BB acomoda as regiões e seus

vizinhos com baixo valor para a variável analisada. O AB visualiza regiões com valores acima da

média cercada por vizinhos de baixo valor.

A metodologia univariada global fornecida pelo I de Moran não pode ser usada caso

existam aglomerações espaciais desiguais (ANSELIN, 1995). A resolução deste problema pode ser

dada ao utilizar o indicador de associação espacial local (LISA), também conhecido como Moran

local. Ele mensura a contribuição individual de cada território na estatística I de Moran global. De

acordo com Miller (2004), este indicador espacial desagregado captura as associações e

Baixo-Alto

Valores baixos e vizinhos

com valores altos

Baixo-Baixo

Valores baixos e vizinhos

com valores baixos

Alto-Baixo

Valores altos e vizinhos com

valores baixos

Alto-Alto

Valores altos e vizinhos com

valores altos

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heterogeneidades espaciais simultaneamente. A estatística LISA é calculada para a ésimai localidade

como:

i i ij j

j

I z w z (3)

em que ijw indica os elementos da matriz de pesos espaciais W entre os pontos i e j , com

iz

e jz indicando o número das variáveis analisadas por região i e j . Seu somatório é

proporcional ao indicador global de Moran, podendo ser interpretado como um indicador de

aglomeração espacial local, bem como seu diagnóstico dado para instabilidade local, isto é, outliers

espaciais (ANSELIN, 1995).

O mapa de cluster fornecido pelo LISA indica as correlações espaciais locais significantes.

Pode ser interpretado da mesma forma como ocorre na dispersão de Moran global, através de

quadrantes AA, AB, BA e BB.

3.2 Dados

O número de indústrias de transformação nos períodos de 2002 e 2007 foi obtido junto ao

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), através da Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS) para cada município do Estado do Paraná considerado na análise. De posse dos dados do

numerário das indústrias em questão, foi realizada a intensificação desta variável dividindo a

mesma pela População Economicamente Ativa (PEA) do município específico levando-se em conta

o ano corrente de referência, obtido a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). O Conjunto de dados é do tipo corte seccional para os municípios do Paraná, logo, o

tamanho da amostra é composto por 399 observações. A análise desta seção foi realizada com

auxílio do software OPENGEODA 1.0.0.5.

Os valores das variáveis são associados aos municípios do estado do Paraná. A fim de

fazer esta operação é necessário aplicar às variáveis extensivas à noção de espaço. O procedimento

adotado foi dividir o número de indústrias do município pela respectiva PEA do município, para,

portanto, tornar a região em análise espacialmente densa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, será realizada a análise do comportamento espacial do quantum de empresas

pertencentes ao setor industrial de transformação nos municípios do Paraná, no período de 2002 a

2007, buscando desenvolver as questões oportunas acerca da dependência e heterogeneidade

espacial da variável em foco, e quando possível, identificar a existência de clusters procurando

mostrar como a proximidade entre os locais pode influenciar, ou não, na dinâmica regional do

Paraná, valendo-se, para tanto, da metodologia de Análise Exploratória de Dados Espaciais.

A distribuição espacial das indústrias de transformação para os anos de 2002 a 2007 está

apresentada na figura 2. O primeiro mapa da figura 2, demonstra o desvio-padrão da distribuição

das indústrias de transformação em relação à População Economicamente Ativa (PEA) para o ano

de 2002, em que a média foi de 0,00366584 indústria por pessoa apta a exercer uma atividade

econômica. Como se pode observar pela figura, de 399 municípios, 55 municípios possuem o

desvio-padrão que varia na faixa entre -0,00172388 e 0,000970978, 176 municípios possuem

desvio-padrão que varia entre 0,000970978 e 0,00366584, 110 cidades registraram desvio-padrão

que varia de 0,00366584 até 0,0063607, 41 se situaram no intervalo de 0,0063607 a 0,00905556 e

17 municípios obtiveram desvio padrão acima de 0,00905556, podendo serem por isso,

considerados como outliers positivos sobre a quantidade de indústria de transformação por pessoa

economicamente ativa no âmbito municipal, levando-se em questão o ano de 2002, no estado do

Paraná.

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Figura 2 – Distribuição Espacial das Indústrias de Transformação no Paraná em 2002 e 2007.

2002

2007

Fonte: Elaboração dos autores

No segundo mapa da figura 2, se observa o desvio-padrão da distribuição espacial das

indústrias de transformação estabelecidas nos municípios do estado do Paraná por pessoa

economicamente ativa, tendo como base o ano de 2007. O desvio padrão médio, neste caso, é de

0,00434819, sendo que dentre os 399 municípios paranaenses, 50 municípios presenciaram desvio-

padrão que varia entre -0,00166535 a 0,00134142, 179 detiveram desvio-padrão entre o intervalo de

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0,0134142 a 0,00434819, 119 municípios registraram variação entre 0,00434819 a 0,00735497, 31

encontraram-se oscilando entre 0.00735497 a 0,0103617, e 20 municípios alcançaram desvio

padrão superior a 0,0103617, destacando-se como outliers positivos.

É possível então concluir a partir dos dois mapas anteriores, que cidades Pólo como

Curitiba (inclui também sua região metropolitana), Londrina, Maringá, Apucarana, Cianorte, e

outras cidades de menor porte como Bituruna, Imbituva, General carneiro, entre outras, foram

capazes de manter seu dinamismo na relação indústrias de transformação/PEA ao longo dos anos de

2002 a 2007. Em outra ponta, a cidade de Rio Negro, não conseguiu manter dinamismo na relação

em questão, e por isso deixa de aparecer no mapa de 2007, isto é, não mais destacada de vermelho.

No entanto, cidades como Arapongas, Japurá, Loanda e Quatro pontes que antes não apareciam no

mapa de 2002 destacadas de vermelho, agora são visualizadas no mapa de 2007, evidenciando um

aumento no dinamismo de suas respectivas relações de número de indústrias de

transformação/PEA. Diante disso, a intensificação da variável número de indústrias de

transformação pela PEA nos permite captar de modo mais satisfatório a real dimensão do setor

industrial de transformação em cada cidade.

Gráfico 1 – Quantidade de Indústrias de Transformação por Cidade em 2007

Fonte: Elaboração dos autores

O gráfico1 nos permite identificar os 30 municípios com o maior número de indústrias de

transformação no estado do Paraná, em que de longe o município de Curitiba é onde se encontra o

maior número de estabelecimentos. Destaca-se que o somatório dos percentuais de participação, em

relação ao número total de indústrias de transformação no Paraná, destes 30 municípios é de

65,48%. A ilustração demonstra ainda, que se tomarmos o intervalo de regiões que vai de Curitiba,

pela ordem, até Arapongas, conjunto este que apresenta os maiores números de indústrias do

referido segmento no Estado, a porcentagem em relação ao total de indústrias de transformação no

Paraná é de 46,90%, o que fica evidenciado concentração considerável nestas 11 cidades.

Considerando o gráfico 2, pode-se visualizar de modo mais preciso os municípios que se

caracterizam como outliers. Desse modo, na primeira ilustração (2a), que utiliza dados do ano de

2002, podemos destacar como os outliers mais representativos os seguintes municípios com suas

respectivas densidades: o município de Cianorte, com densidade de 0,018158 indústrias de

transformação por pessoa com idade apta para realizar as atividades econômicas; Tunas do Paraná

com densidade de 0,015957; General Carneiro com densidade de 0,014612; Imbituva apresentando

densidade de 0,013689; Mandirituba com 0,012493; São Carlos do Ivaí com 0,011978, Bituruna

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com a marca de 0,011457; Mariópolis detendo 0,010466; e Pato Bragado com o número de

0,010365.

Gráfico 2 – Box Plot para as Indústrias no Paraná nos Anos de 2002 e 2007. 2a 2b

Fonte: Elaboração dos autores

Em outra ponta, observando a situação das indústrias de transformação nos municípios por

pessoas aptas para a realização de atividades econômicas, para o ano de 2007 (gráfico 2b), Cianorte

é o município que possui a maior densidade de indústrias de transformação por pessoa com idade

ativa ao exercercício de atividades econômicas com a marca de 0,021636. Em seguida, o município

de Tunas do Paraná com densidade de 0,020390. E por conseguinte, aparecendo com valores

menores, os municípios de: Apucarana com densidade de 0,015176, Imbituva com a marca de

0,013045, Mandirituba com o valor de 0,013036, Sabáudia com o número de 0,012778, Pinhais

registrando 0,012559, São Carlos do Ivaí 0,012302, Quatro Pontes 0,011967, Porto Vitória

0,011811, Bituruna 0,011320, Japurá 0,011174, Terra Boa 0,011162, Entre Rios do Oeste

0,010937, Loanda 0,010902 e Pato Bragado 0,010779.

No que tange à análise de dependência espacial, o gráfico 3 nos serve de referência pois

apresenta a relação espacial local de Moran para os municípios paranaenses segundo a concentração

das indústrias de transformação. Nos dois períodos, 2002 e 2007, a relação espacial foi significativa,

e positiva. No ano de 2002 (gráfico 3a) o I de Moran foi de 0,3034 indicando uma interação positiva

entre as indústrias do Paraná, bem como entre os municípios, demonstrando-se estatisticamente

significativo, em outras palavras, neste mesmo ano podemos rejeitar a hipótese de que não existe

autocorrelação e dependência espacial entre os municípios. Da mesma forma, ao se observar o ano

de 2007 (gráfico 3b) verificamos que o valor de I de Moran é maior, registrando o nível de

significância de 0,3366, o que é compatível com um aumento (fortalecimento) da relação

(dependência) espacial entre os municípios.

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Gráfico 3 – Dispersão do I de Moran para o Paraná nos Anos de 2002 e 2007. 3ª 3b

Fonte: Elaboração dos autores

Na figura 3 temos os clusters existentes no estado do Paraná. Conforme a coloração,

vemos os tipos de clusters que são apresentados pelo mapa. Onde a cor é vermelha, os clusters

possuem relação positiva entre ambas as vizinhanças e se configuram como Alto-Alto, que é

constatado quando a cidade analisada possui número elevado da relação indústrias de

transformação/PEA bem como os seus vizinhos. Em locais onde a cor é azul escuro significa que a

relação é Baixo-Baixo, isto é, há um número muito baixo de indústrias no município em questão e

também um número muito baixo de indústrias em seus vizinhos. Já onde a cor é azul claro a relação

é Baixo-Alto, onde o município em questão possui um número muito baixo de indústrias e seus

vizinhos possuem um número alto de indústrias. Por fim, onde a cor é rosa, é quando a relação entre

o município em questão e seus vizinhos é Alto-Baixo, representando o fato de que um município

possui número alto de indústrias enquanto seus vizinhos possuem número baixo de indústrias.

Figura 3 – Lisa-cluster para o Paraná nos Anos de 2002 e 2007.

2002

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14

2007

Fonte: Elaboração dos autores

Considerando os dois mapas anteriores, podemos destacar a evolução13

dos tipos de

clusters, juntamente com alguns dos municípios que os compõem. Considerando as áreas dos mapas

destacadas de vermelho (cluster alto-alto), pode-se ressaltar que as cidades de Astorga, Apucarana,

Cambé e Marechal Cândido Rondon mantiveram seu dinamismo de 2002 a 2007. Entretanto, é

importante mencionar que cidades como Teixeira Soares, Cruz Machado, que em 2002 apareciam

na área de cluster alto-alto, já não aparecem no ano de 2007 na mesma categoria, melhor dizendo,

não são mais significantes e não são incluídos mais em nenhum dos tipos de clusters. Há ainda,

cidades que migram de categoria, um exemplo é Curitiba, que em 2002 pertencia à área de cluster

alto-alto, e em 2007 passa a integrar o conjunto baixo-alto. E, ainda, cidades que em 2002 não eram

significativos, mas que em 2007 passam a integrar alguma categoria de cluster, como exemplo,

Londrina, que em 2002 não era significante e em 2007 é englobado na categoria alto-alto.

Pode-se notar ainda que os mapas de 2002 e 2007 na figura anterior não se diferenciam de

forma contundente, pois os clusters onde prevalecem a relação Baixo-Baixo se expandem

levemente de 2002 para 2007. Considerando esta análise, pode-se perceber que esta é

estatisticamente significativa, podendo ser observado o seu nível de significância nos mapas da

figura 4, em que a explicação para tal análise consiste com a regra de que quanto mais escura a

coloração nos gráficos, mais significativos são seus resultados. Da mesma forma, a análise para os

demais clusters obedece a mesma regra.

13

As mudanças que ocorrem e que hora enquadram determinado município em um tipo de cluster e outrora o enquadra

em outra categoria de cluster se dão pelas variações das proporções dos números de empresas de transformação e

População Economicamente Ativa.

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Figura 4 – Lisa-significância para o Paraná nos anos de 2002 e 2007.

2002

2007

Fonte: Elaboração dos autores

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise espacial dos dados possibilitou mapear a atividade industrial de transformação

para o Estado do Paraná conforme a dependência e nível de correlação espacial existentes nos 399

municípios paranaenses. Durante o período de análise, 2002 e 2007, a distribuição espacial

apresentou uma leve mudança, apesar da forte atividade econômica do país neste intervalo. Deve-se

ressaltar que essas alterações que ocorreram se deram em função das variações da relação número

de indústrias de transformação/PEA dos municípios.

A distribuição das indústrias de transformação intensificada pela PEA é desigual,

concentrada nas regiões de Curitiba, Londrina, e em outras cidades pólo de menor porte como

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Apucarana, Cianorte, Arapongas, onde ocorrem padrões alto-alto conforme a metodologia espacial

de Moran local. Algumas cidades, como Quedas do Iguaçu e Chopinzinho chamaram atenção por

serem as únicas com padrão alto-baixo para todo o intervalo de tempo considerado, isto é, elas

possuem elevado número de indústrias por PEA, cercadas por redondezas de baixo valor, ao

formarem uma espécie de ilha de indústria em suas respectivas regiões.

As microrregiões de Prudentópolis, Guarapuava, Pitanga, Ivaiporã e mesorregião do

Centro Ocidental Paranaense apresentaram padrões baixo-baixo de aglomeração espacial, portanto,

abre espaço às atuações de políticas públicas nestas regiões de pouca atividade industrial com a

finalidade de desenvolvê-las.

Dado o índice de Moran local encontrado neste estudo, existe forte relação espacial entre

os municípios do Paraná. Como sugestão de pesquisas posteriores é interessante utilizar o

arcabouço da econometria espacial, ao acrescentar variáveis para explicar este comportamento, pois

ocorre dependência espacial. Por fim, pode-se sugerir também, um trabalho que contemple uma

desagregação maior da indústria geral, de acordo com a CNAE, em que a análise espacial poderá

contribuir para identificar as aglomerações produtivas locais potenciais e auxiliar na promoção do

desenvolvimento econômico e regional.

6. REFERÊNCIAS

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