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WORKSHOP BRICS 2007 A DINÂMICA AGROINDUSTRIAL E TECNOLÓGICA DA AGROINDÚSTRIA BRASILEIRA SOB A ÓTICA DE SISTEMAS DE INOVAÇÃO: GRÃOS E CANA- DE-AÇÚCAR Maria da Graça D. Fonseca (IE-UFRJ) Jose Maria J. Silveira (IE-UNICAMP) Charles Menard Costa (Economista-consultor) Francisco José P. Rosário (doutorando IE-UFR) Romulo Ely Neves (Mestrando COPPE-UFRJ) I. PANORAMA GERAL DA DINÂMICA DO AGRONEGÓCIOS NO BRASIL O crescimento do agronegócio brasileiro nos últimos anos tem contribuído de forma significativa para o sucesso da balança comercial brasileira. O vigor das exportações agroindustriais brasileiras não pode ser desvinculado da produção de alimentos, insumo e produtos agrícolas para o mercado brasileiro com destaque para a produção de grãos e carnes e, recentemente, para a área de energia renovável. Além disso, as exportações agroindustriais não configuram plataformas de exportação uma vez que sua competitividade no mercado externo está relacionada à uma bem sucedida articulação entre mercado interno e externo, aproveitando economias de escala, de escopo e à eficiente articulação do sistema de inovações agroindustriais em escala nacional 1 . A Tabela 1 mostra o desempenho externo do agronegócio brasileiro, superavitário ao longo do período analisado. Depois da adoção do câmbio flutuante em 1999, os saldos comerciais do agronegócio, e especificamente da agricultura de grãos, mantiveram-se não só positivos, mas crescentes contribuindo para a elevação do saldo comercial de toda a economia. Além de ter acompanhado o ritmo do comércio agrícola mundial, as exportações brasileiras penetraram em novos mercados, especialmente nos BRICS (Rússia, China) e nos países do Oriente Médio, Chile e Indonésia. Além disso, a pauta de exportações tem se diversificado, com o a crescente participação de novos produtos, como é o caso do álcool e das frutas. 1 Cerca de 70% da produção de carne de frango no Brasil é voltada para o mercado interno. O país teve capacidade de ampliar sua participação no mercado internacional e manter uma trajetória declinante de preços do produto no mercado interno, o que revela os ganhos de produtividade.Caso semelhante aconteceu com a carne bovinas, cujo mercado interno representa 80% e os preços mantêm-se relativamente estáveis desde o Plano Real.

A DINÂMICA AGROINDUSTRIAL E TECNOLÓGICA DA AGROINDÚSTRIA

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WORKSHOP BRICS 2007

A DINÂMICA AGROINDUSTRIAL E TECNOLÓGICA DA AGROINDÚSTRIA BRASILEIRA SOB A ÓTICA DE SISTEMAS DE INOVAÇÃO: GRÃOS E CANA-DE-AÇÚCAR

Maria da Graça D. Fonseca (IE-UFRJ)

Jose Maria J. Silveira (IE-UNICAMP)

Charles Menard Costa (Economista-consultor)

Francisco José P. Rosário (doutorando IE-UFR)

Romulo Ely Neves (Mestrando COPPE-UFRJ)

I. PANORAMA GERAL DA DINÂMICA DO AGRONEGÓCIOS NO BRASIL

O crescimento do agronegócio brasileiro nos últimos anos tem contribuído de forma significativa para o sucesso da balança comercial brasileira. O vigor das exportações agroindustriais brasileiras não pode ser desvinculado da produção de alimentos, insumo e produtos agrícolas para o mercado brasileiro com destaque para a produção de grãos e carnes e, recentemente, para a área de energia renovável. Além disso, as exportações agroindustriais não configuram plataformas de exportação uma vez que sua competitividade no mercado externo está relacionada à uma bem sucedida articulação entre mercado interno e externo, aproveitando economias de escala, de escopo e à eficiente articulação do sistema de inovações agroindustriais em escala nacional1.

A Tabela 1 mostra o desempenho externo do agronegócio brasileiro, superavitário ao longo do período analisado. Depois da adoção do câmbio flutuante em 1999, os saldos comerciais do agronegócio, e especificamente da agricultura de grãos, mantiveram-se não só positivos, mas crescentes contribuindo para a elevação do saldo comercial de toda a economia. Além de ter acompanhado o ritmo do comércio agrícola mundial, as exportações brasileiras penetraram em novos mercados, especialmente nos BRICS (Rússia, China) e nos países do Oriente Médio, Chile e Indonésia. Além disso, a pauta de exportações tem se diversificado, com o a crescente participação de novos produtos, como é o caso do álcool e das frutas.

1 Cerca de 70% da produção de carne de frango no Brasil é voltada para o mercado interno. O país teve capacidade de ampliar sua participação no mercado internacional e manter uma trajetória declinante de preços do produto no mercado interno, o que revela os ganhos de produtividade.Caso semelhante aconteceu com a carne bovinas, cujo mercado interno representa 80% e os preços mantêm-se relativamente estáveis desde o Plano Real.

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Tabela 1-Evolução do Agronegócio no Comércio Exterior Brasileiro(1999/2004)

Crescimento

Pauta Produtos 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Anual 04/99**

Milho 0 0 0 0 0 0 0

Soja 1,59 2,19 2,73 3,03 4,29 5,39 27,7% 3,4

Grãos 3,84 3,75 3,94 4,23 5,61 7,36 13,9% 1,9

Açúcar Bruto 1,16 0,76 1,4 1,1 1,35 1,51 38,8% 1,3

Álcool

Carne de Frango 0,88 0,81 1,29 1,34 1,71 2,49 23,1% 2,8

Carne Bovina 0,76 0,75 0,99 1,07 1,49 2,94 31,1% 3,9Produto agrícola total 13,82 12,76 16,06 16,73 20,91 27,22 14,5% 1,9

Toda a economia (A) 48,01 55,09 58,22 60,36 73,08 96,48 15,0% 2

Agronegócio (B) 20,51 20,61 23,86 24,84 30,64 39,02 13,7% 1,9exportações (B/A) Participação (%) 42,73 37,41 40,99 41,15 41,92 40,44 - -

Milho 0,0016 0,0008 0,0005 0,0007 0,0006 0,0003 -28,5% 0,2

Soja 0,08 0,14 0,14 0,18 0,23 0,07 -2,6% 0,9

Grãos 1,19 1,26 1,15 1,17 1,54 1,17 -0,3% 1

Carne de Frango 0,0004 0,0005 0,0002 0,0008 0,0003 0,0003 -5,6% 0,8

Carne Bovina 0,0711 0,0982 0,0579 0,0682 0,0599 0,0719 0,2% 0,7Produto agrícola total 4,11 4,28 3,21 3,24 3,6 3,6 -2,6% 0,9

Toda a economia (A) 49,29 55,84 55,59 47,22 48,26 62,78 5,0% 1,3

Agronegócio (B) 5,74 5,8 4,85 4,49 4,79 4,88 -3,2% 0,9importações (B/A) Participação (%) 11,64 10,39 8,72 9,51 9,93 7,77 - -

Milho -

0,0016-

0,0008-

0,0005-

0,0007-

0,0006-

0,0003 -28,5% 0,2

Soja 1,51 2,05 2,59 2,86 4,06 5,32 28,6% 3,5

Grãos 2,65 2,5 2,79 3,07 4,06 6,19 18,5% 2,3

Carne de Frango 0,88 0,81 1,29 1,33 1,71 2,49 23,1% 2,8

Carne Bovina 0,69 0,65 0,93 1,00 1,43 2,87 33,0% 4,2Produto agrícola total 9,72 8,48 12,85 13,49 17,31 23,62 19,4% 2,4

Toda a economia -1,28 -0,75 2,64 13,14 24,82 33,69 Saldo Agronegócio 14,78 14,81 19,02 20,35 25,85 34,14 18,2% 2,3

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e FAO - (US$bilhões) Obs: (**) Magnitude de expansão/ redução do mercado ( pela divisão entre os valores de 2004 e 1999). A evolução das exportações agrícolas e agroindustriais acompanhou o crescimento das exportações brasileiras totais. Enquanto estas últimas cresceram a um ritmo de 15% ao ano no período considerado, as exportações agrícolas e agroindustriais cresceram 14,5% e 13,7%, respectivamente. Os segmentos da agroindústria que mais aumentaram as exportações no período foram os de soja, que aumenta em 3,5 vezes o seu valor exportado, e o de carnes bovinas, que aumenta em quase 4 vezes o valor exportado. No caso das importações, a economia como cresceu a uma taxa de 5% ao ano, mas as importações de origem agrícola e agroindustrial encolheram, como se pode observar na Tabela1. Em termos de participações, as exportações agroindustriais representavam algo em torno de 40% do total exportado pela economia brasileira em 2004 enquanto as importações mostram queda na participação de 11,2 para 7,7% entre 1999 e 2004.As exportações de todos os tipos de grão crescem à expressivas taxas de 14% ao ano, entre 1999 e 2004, impulsionadas pelas exportações de soja -que aumentam 3,5 vezes- carne de frango-aumento de 2,8 vezes- e carne bovina -aumento de cerca de 4%. As

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importações mantêm-se praticamente inalteradas, como as de grãos e carne bovina, ou até decrescem, como soja e carne de frango.

FIGURA 1 Participação das Exportações de Soja e Carnes no Total das

Exportações do Brasil( 1999 a 2004) 5,7

2,6

4,54,0 4,7

5,95,0

2,32,22,21,5

1,8

3,3

4,03,83,9

3,1

1,0

3,0

5,0

1999 2000 2001 2002 2003 2004Anos

(%)

Soja na exportação da economia brasileira

Carne de frango na exportação da economia brasileira

Parcela de mercado das exportações agrícolas do Brasil na exportação agrícola mundial

Fonte: FAO e MIDIC/ SECEX

Como já assinalado, e pode ser confirmado na Figura 1, a soja foi um dos produtos de maior destaque no total das exportações, passando de 3,3% do total de todas as exportações brasileiras,em 1999, para 5,7%, em 2004. No mesmo período, a participação das exportações de carne de frango e a de carne bovina, no total exportado aumenta de 1,8% para 2,6% e de 1,8% para 2,6%, respectivamente.

FIGURA 1 - Peso das Exportações de Soja nas Exportações de Grãos e nas Exportações Agrícolas no Brasil (1999 a 2004)

73,3

9,2

76,571,6

69,258,3

41,5

19,820,518,117,017,1

11,5 6,38,0 8,0 8,26,30

20

40

60

80

1999 2000 2001 2002 2003 2004Anos

(%)

Soja na exportação brasileira de grãos

Soja na exportação agrícola do Brasil

Carne de frango na exportação agrícola do Brasil

Fonte: FAO e MIDIC/ SECEX- em percentagem

Observe-se que, em 2004, a soja representava 73,3% das exportações de todos os tipos de grãos – contra 41,5% em 1999- e praticamente 20% do total do valor das exportações agrícolas, quase dobrando em relação ao começo do período (FIGURA 2). No que se refere às carnes, no caso do frango, a participação aumenta de 6,37% para 9,15 % e no caso da carne de boi, a participação praticamente dobra, passando de 5,5% para 11%.

Seja pelo desempenho das exportações in natura de grãos ou através das exportações de seus derivados processados – como farelo e óleo bruto de soja- ou seja ainda, através dos insumos incorporados nas exportações de carnes – como no caso do milho, produzido internamente e usado como ração para o frango, estes dois setores

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agroindustriais contribuem de forma substancial para o excelente desempenho da balança comercial no Brasil2.

A partir do excelente desempenho apresentado pelos setores agroindustriais de grãos, principalmente da soja, tanto no que se refere tanto às exportações, quanto à oferta interna de produtos - passaremos a analisar as razões do seu sucesso competitivo em termos de sua articulação como sistemas setoriais de inovação (SSI).

II. SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE PRODUÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL

II.1 PRODUTIVIDADE E EXPANSÃO EM NOVAS ÁREAS: UM JOGO GANHADOR-GANHADOR

Desde o início da década de 70 a agricultura reduziu a importância de cultivos tipicamente tropicais, base da antiga monocultura, substituindo-os pela moderna agricultura de grãos, praticada em estabelecimentos agrícolas modernos e, de alguma forma, integrados ao sistema de produção agroindustrial. A modernização foi possível devido às relações sistêmicas que se estabeleceram, ao longo de décadas, entre fornecedores de máquinas agrícolas e de insumos modernos, incluindo sementes inovadas, com unidades produtivas agrícolas, de um lado, e entre estas últimas e a agroindústria de processamento. Usando-se as mesmas categorias de Pavitt (1984), poder-se-ia dizer que o setor agroindustrial mantém fortes relações de dependência à montante com fornecedores especializados da indústria, como os da indústria de semente, de colheitadeiras e equipamentos, com os fornecedores de equipamento industrial de esmagamento e processamento.

Além disso, longo dos últimos 25 anos aumentou a integração do agronegócio brasileiro com fornecedores de tecnologia especializados e science-base, estes últimos universidades, centros de pesquisa públicos, como a EMBRAPA, ou centros de pesquisa privados, como o CTC, ligado à agroindústria de açúcar. Os notáveis ganhos de produtividade que ocorreram na etapa agrícola de produção não teriam ocorrido sem o desenvolvimento de certas técnicas, como o uso de sementes melhoradas que buscam precocidade, o que não só permite o duplo cultivo anual como também resistência a pragas e doenças, além da sua adaptação a diferentes climas e regiões do país3. Além disso, ao longo de sua expansão, a moderna agricultura de grãos soube aproveitar o potencial de mercado de algumas culturas e produtos desenvolvendo, através da pesquisa, as variedades que apresentam qualidades nutricionais, como no caso da soja com maior teor de óleo ou da presença de fatores como Omega-3, viabilizando-as para o cultivo em distintas áreas geográficas do país.

2 No caso do milho, no entanto, o cenário é distinto e as exportações, quando expressivas –isto é,superiores a 1 milhão de toneladas/ano- ocorrem basicamente a partir do Estado do Paraná, tradicional exportador de grãos, em função da proximidade com seus portos.Observe-se que o milho, é um importante componente do custo de produção de carne de frango, um produto com altíssimos diferenciais competitivos a favor do Brasil. No caso do milho, é interessante observar que os Estados Unidos perderam competitividade internacional na produção de milho até o ano de 2003. Em compensação, a produção de milho americano vem esboçando uma reversão na sua tendência, estimulada pela demanda de biocombustíveis, embora com preços crescentes. 3 É o caso dos híbridos de milho e cultivares melhorados de soja bem como, mais recentemente, das novas variedades de cana - de- açúcar.

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TABELA 2 A Importância dos Grãos na Agricultura Brasileira, anos selecionados

Total Área Grãos Outros

Ano Hectares Hectares

Participação da Área Cultivada

(%) Hectares

Participação da Área Cultivada

(%) 1990 50,514,696 39,722,379 0.79 10,792,317 0.21 1995 50,761,717 39,694,779 0.78 11,081,938 0.22 2000 50,197,382 38,802,850 0.77 11,394,532 0.23 2005 62,639,616 49,822,380 0.80 12,817,236 0.21

Fonte: IBGE Após crescer intensamente nas décadas de 70 e 80 do século passado, a área cultivada para a produção de grãos passou a ocupar cerca 80% do total, e está perto de romper a barreira dos 130 milhões de toneladas, o que pode ser facilmente projetado com base no crescimento geométrico de 4,5%, ocorrido entre 1990 e 2005. Tal evolução ocorreu com o correspondente aumento da produtividade, o que é surpreendente, quando se sabe que boa parte da expansão do cultivo de grãos foi possível graças à incorporação de novas áreas de fronteira agrícola. Entre 1990 a 2005 a produtividade grãos aumentou a uma taxa geométrica anual de 3,9%, mesmo a partir de uma modesta base de 1,49 ton/hectare em 1990 e apesar de que o último ano da série, 2005, tenha sido atípico devido à más condições climáticas.Mesmo assim, o nível médio de produtividade de grãos manteve-se acima de 2 ton/ha. A expansão da área cultivada de grãos no país voltou a concentrar a agricultura moderna em torno de em poucos cultivos. Milho e soja, n entanto, aparecem como produtos que confirmam esta concentração, deslocando temporariamente cultivos tradicionais de grãos, como arroz e trigo, e pastagens naturais geralmente praticadas em áreas degradadas (FIGURA 3)4. FIGURA 3: Produção de Grãos e Área Colhida, 1990-2005

0 0 0

2 0 ,0 0

4 0 ,0 0

6 0 ,0 0

8 0 ,0 0

1 0 0 ,0 0

1 2 0 ,0 0

1 4 0 ,0 0

1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5

P ro d u ç t io n (1 0 6 h e c )

H a rv e s te d a re a (1 0 6 h e c )

Fonte: Agrianual (2006)

Acompanhando o processo ocorrido com soja e milho, outros cultivos podem expandir-se no futuro próximo. No caso do algodão, cujo cultivo desenvolve-se em bases empresariais no Centro-Oeste, a cultura recupera-se da praga do bicudo, ocorrida na década de noventa e que trouxe grandes prejuízos. No caso da mamona, que começa a ser adotada em maior escala na produção de biodisel, ainda são utilizadas variedades locais, de baixa produtividade, sendo que o maior produtor é a Bahia. Além da mamona, vislumbra-se um grande crescimento dos cultivos para a produção de bioenergia

4 Uma cultura não analisada neste artigo, por não apresentar uma integração mais sist?emica entre indústria e agricultura é o café. A produção de café verde ou já em grão vem perdendo participação em função da crise da cafeicultura, mas é notável a busca de melhor qualidade do produto por parte de produtores de café gourmet. A meta é que este tipo de produto ultrapasse 10% do produzido até o final da década..

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usando-se, além a palma (babaçu), a mesma soja, canola, o algodão e girassol. O crescimento destes cultivos possivelmente levará a um aumento no grau de diversificação da agricultura e do agronegócio no Brasil. TABELA 3- Distribuição dos Cultivos de Grãos- Índice de Diversificação (1990/05)5

1990 1995 2000 2005 Cultivos

Participação dos Cultivos (%) no total da Produção de Grãos

Soja (grão) 0,288 0,294 0,350 0,461

Milho (grão) 0,285 0,351 0,305 0,232

Feijão (grão) 0,117 0,126 0,111 0,075

Arroz (em casca) 0,099 0,110 0,094 0,079

Café (beneficiado) 0,073 0,047 0,058 0,047

Trigo (grão) 0,067 0,025 0,029 0,047

Algodão 0,048 0,030 0,021 0,025

Mamona (baga) 0,007 0,002 0,005 0,005

Centeio (grão) 0,005 0,004 0,005 0,007

Sorgo (grão) 0,003 0,004 0,014 0,016

Índice de Diversificação (Herfindhal-1) 5 4.13 4.13 3.53

Fonte de dados: Agrianual (2006) A ampliação da produção de grãos e o aumento da participação dos cultivos de milho e soja configuram um processo dinâmico que têm duas dimensões importantes. A primeira, já mencionada, associada à modernização da agricultura brasileira, começa na década de setenta e aprofunda-se a partir de 1982, a partir da redução drástica do crédito de custeio pelo Banco do Brasil e pelo fim da conta movimento do Banco do Brasil. A segunda, geográfica, relaciona-se à exploração de “áreas de fronteira agrícola”, principalmente no cerrado do Centro-Oeste. As duas dimensões são articuladas pela contínua evolução da pesquisa agrícola, centrada no melhoramento genético e na articulação dos vários componentes das cadeias agroindustriais, a montante e a jusante da produção de grãos. Como carro-chefe do processo, a cultura da soja tem como característica diferencial em relação aos cultivos tradicionais da alimentação brasileira, a intensidade de sua articulação com a cadeia produtiva do complexo carnes, que também teve uma ascensão ao longo dos últimos 30 anos, substituindo fontes protéicas de menor qualidade – e com a indústria de alimentos, na forma de vários aditivos, como espessantes, emulsificantes. Além disso, a possibilidade de superar a porcentagem de 18% no teor de óleo, chegando inclusive a 20% em algumas variedades de cerrado, cria um horizonte de utilização da soja para produção de biodiesel. O mesmo se aplica ao milho, cultura que apresenta um maior potencial de crescimento da produtividade, embora seja mais exigente do ponto de vista de clima e solo. Na realidade, as culturas de milho e soja competem e se complementam, reforçando as vantagens de determinadas regiões. Em particular, o clima de regiões de baixa latitude permite superar os limites impostos à safra de verão, a mais importante, por não depender de irrigação, na forma denominada “safrinha”, alcançando 25% da safra total. O nosso ponto é que a importância da dimensão geográfica na dinâmica da agricultura de grãos caracteriza um a situação do tipo “estratégia de jogo ganhador-ganhador” 5 Cevada, Fava, Amendoim, Centeio e Ervilha têm participação menor que 1%. O cultivo de amendoim e eventualmente de outras leguminosas podem ser estimulados pela ampliação do cultivo da cana, uma vez que é importante na melhoria das condições do solo nos períodos de renovação da cana.

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entre tecnologia e aumento da produção agroindustrial (ver FIGURA 4). O padrão de expansão geográfica para os cerrados da região Centro-Oeste, oeste da Bahia, sul do Piauí e do Maranhão não se reduziu apenas à incorporação horizontal de terras, como o que ocorreu ao longo do processo de modernização europeu clássico da agricultura e que caracterizou a ocupação agrícola do sul do país por imigrantes de origem européia. A ocupação dos cerrados contou com uma circunstância importante: ela foi precedida por uma expansão qualitativa e quantitativa do conhecimento no campo científico e tecnológico ao mesmo tempo encontrando um amplo espaço (geográfico) para a difusão de inovações tecnológicas desenvolvida em instituições de pesquisa, como a Embrapa, por exemplo. As novas regiões geraram oportunidades de negócios para agricultores empreendedores – pioneiros imigrantes de outras regiões – relativamente capitalizados e com um grau de instrução adequado para produzir dentro de um padrão tecnológico moderno (Castro e Fonseca,1995). Além disso, o processo de ocupação das novas áreas manifesta-se através de um autêntico processo de seleção regional, uma vez que a competitividade é definida em termos de uma combinação de atributos que envolvem externalidades positivas no uso compartilhado de infra-estrutura, além do estágio do conhecimento científico e tecnológico (Silveira et al.,2005). Mesmo que o fator inicial de atração destes agricultores para as novas regiões tenha sido, inicialmente, o diferencial do preço da terra, a expansão produtiva liderada pelos agricultores pioneiros acabou por gerar um padrão de economias de aglomeração agroindustrial6.

FIGURA 4-Distribuição Geografica e Evolução das Culturas de Grãos no Brasil

4,3

54,4

8,9

17,7

6,5

19,219,4

2,6

23,5

46,6

3,2

31,2

43,6

16,4

2,4

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

1990 1996 2002

RR

60´s

70´s

80´s

90´s

AM

AC

AP

50´s

RO

CE

RJ

ESSP

RNPB

PEAL

SE

PR

MS MG

RS

SC

GO

BAMT

PA

TO

MA

PI

Crops by Main

Regions

Brasil-Expansão dos Cultivos por

Região

Fonte: Reproduzido de Lopes (2003)

O desempenho recente do agronegócio brasileiro é caracterizado pela expansão da produção agrícola com aumento de produtividade. A TABELA 4 mostra que o aumento da produtividade do cultivo de grãos – com exceção do milho– ocorreu em quase todas as regiões do Brasil confirmando os ganhos diferenciais de produtividade do cultivo da soja na região Centro-Oeste em relação às outras regiões produtoras. Segundo Gasques 6 No caso da agricultura de grãos, estas aparecem na forma de redes de fornecedores, prestadores de serviços, de uma estrutura de comercialização de produtos e de investimentos em indústrias processadoras que é, desta forma, incorporada ao agronegócio e que rapidamente elevou o grau de produtividade das culturas de grãos, especialmente da soja, além do algodão.

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et al. (2005), entre 1990 e 1999 a produção de soja em grãos cresceu a uma taxa geométrica anual de 3%, com uma pequena redução na utilização de mão-de-obra (menos 0,17%) e com decréscimo da participação do ativo terra (menos 3,30) e do uso de insumos (menos1,80%).

TABELA 4. Grãos: Produtividade por Região, em anos selecionados (ton/ha)

Região Café Feijão Milho Soja Trigo Norte 1,25 0,46 1,56 1,81 -

Nordeste 0,86 0,31 0,80 2,21 -

Sudeste 0,99 0,78 2,85 2,11 1,99

Sul 0,55 0,89 3,03 2,21 1,55

Centro-Oeste 1,11 0,80 3,44 2,21 0,95

1995

Brasil 0,99 0,54 2,49 2,20 1,54

Norte 1,15 0,61 1,52 2,45 -

Nordeste 1,00 0,41 1,02 2,11 - Sudeste 1,50 0,99 3,07 2,52 2,55

Sul 2,15 0,87 3,16 2,10 1,95

Centro-Oeste 1,37 1,27 3,67 2,71 1,59

1999

Brasil 1,48 0,69 2,76 2,38 1,95

Norte 0,69 0,70 1,67 2,41 -

Nordeste 0,55 0,45 0,94 1,88 - Sudeste 1,14 1,20 3,82 2,71 2,07

Sul 0,96 1,10 3,47 2,28 1,43

Centro-Oeste 0,92 1,76 3,77 2,94 1,20

2002

Brasil 1,05 0,81 3,01 2,57 1,43

Fonte: IBGE Após 2002, e até 2005, o crescimento da produtividade total dos fatores foi de 6% ao ano expressando o aprimoramento conjunto da combinação insumos, terra e trabalho. Neste período, o crescimento da produção, algo em torno de 5,8% ao ano, também se deveu à incorporação de novas áreas terras agrícolas, principalmente nas novas zonas de expansão. A expansão da soja para a área de cerrados reafirma a possibilidade da prática de tecnologias que aumentam a produtividade por área na produção de grãos. Além disso, o uso mais intensivo da área, decorrente do desenvolvimento tecnológico, acabou por viabilizar práticas menos danosas à agricultura, como o uso de técnica de cultivo mínimo.7 A existência de terras planas com bom potencial de mecanização cria um horizonte espacialmente definido de investimentos que reforçam a competitividade regional. No caso da agricultura de grãos, somente quando há indícios de que a região é selecionada como pólo produtor, é que os investimentos públicos começam a se definir, e não o contrário. Ainda assim, a dificuldade de a infra-estrutura acompanhar o processo é uma das características marcantes até hoje no caso do Mato Grosso, e regiões do oeste da Bahia e sul do Piauí e Maranhão (ver Castro e Fonseca, 1995).

7 O cultivo mínimo elimina as etapas de aração e gradeação do solo, introduzindo equipamentos que realizam adubação e semeadura simultaneamente, após o uso de herbicidas dissecantes. Trata-se de uma tecnologia que ameniza os impactos ambientais embora possa favorecer a compactação do solo, favorecendo o aparecimento de ervas daninhas. O saldo todavia, é amplamente favorável. A Embrapa estima que tal técnica chegou a 23 milhões de hectares, sendo que pelo menos 60% deste montante incorporando conceitos de sustentabilidade no manejo agrícola . Ela também potencializou os benefícios trazidos pelas novas tecnologias, inclusive das variedades transgênicas de soja.

8

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A expansão da produção de grãos no Brasil foi acompanhada pela expansão da capacidade de processamento dos produtos. No caso da soja, o crescimento da quantidade esmagada deste grão aumentou à taxas superiores a 5% ao ano no Brasil, atingindo os 30 milhões de toneladas em 2005/06. Isso ocorreu apesar de o deslocamento de várias plantas esmagadoras para a Argentina, em função de problemas fiscais derivados da lei Kandir8. A distribuição desta capacidade, por sua vez, reflete a tradição produtora das regiões. Assim, o estado com maior capacidade de esmagamento no ano de 2005 é o Paraná, 32.115 toneladas/dia (23,4% do total nacional), o segundo maior produtor de soja no mesmo ano, com 17,6% da produção nacional. Isto pode ser, em parte, explicado pela excelente situação geográfica de seu principal porto, de Paranaguá. A Tabela 5, abaixo, mostra a distribuição da capacidade de processamento e as assimetrias entre a capacidade de produção agrícola e a capacidade de esmagamento.

TABELA 5- Distribuição da Capacidade de Processamento de Soja (2005)

Fonte Abiove e Soybean Yearbook , 2006

Os estados do Sul do país respondem por 33% da produção de soja em grãos e 42% da capacidade de esmagamento de soja no Brasil. O Centro-Oeste representa 51% da capacidade produtiva de soja mas detém apenas 1/3 da capacidade de esmagamento de soja. Em 2005, o maior produtor nacional de soja, era o estado do Mato Grosso, responsável por cerca 30% da produção sendo que as suas áreas de cultivo de grãos estão ainda em expansão. Em decorrência de sua maior especialização na exportação de grãos, aumentam os problemas da infra-estrutura de transporte e armazenamento, já que parte desta produção tem que ser processada no estado do Paraná e outros estados por onde passa a boa parte produção originada do Mato Grosso, até atingir os consumidores internos e os portos. No entanto, quando se consideram as áreas mais recentes de produção de grãos situadas nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Bahia, Piauí e Goiás, observa-se que a capacidade de esmagamento agroindustrial é bem mais elevada nestas regiões do que nas área de produção tradicionais ( 77.621 e 75.919 toneladas/dia).

8 Lei de dá incentivos fiscais para a exportação e que termina por incentivar a desindustrialização.

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Em estudo recente sobre a competitividade de produtos do agronegócio brasileiro, Silveira et al.,2004 mostram o Brasil à frente de dois importantes competidores do Brasil, Estados Unidos e a Argentina. O sistema integrado de produção de carne de frango, por exemplo, obteve um valor crescente nas vantagens comparativas reveladas (VCR) ao longo do período tanto no que se refere ao produto agrícola e agroindustrial. No caso da Argentina, a produção conjunta de milho e de carne de frango não dá a este país vantagem comparativa ou mesmo competitiva expressiva. No entanto, tanto a produção de grãos, quanto o produto agropecuário e as exportações deste país apresentaram significativo crescimento, principalmente no caso da soja, o que pode ser explicado, segundo Trigo e Cap(2006) à crescente utilização de soja transgênica naquele país.

Finalmente, há uma dimensão pouco enfatizada nos estudos o dinamismo do agronegócio, que é a de atividade geradora de emprego e de incorporação produtiva de áreas de fronteira.9 Estudo recente realizado pelo BNDES, citado pela Carta do IBRE (2006) coloca alguns de suas cadeias produtivas – inclusive o de óleos vegetais - na categoria de “bons geradores de emprego”, atrás apenas de “artigos de vestuário” e prestação de serviços. Estima-se neste estudo que uma expansão de R$ 10 milhões no produto gere no setor 823 empregos, muito superior inclusive aos resultados obtidos para construção civil (523) e para a maioria dos setores industriais.

II.2 INOVAÇÃO AGROINDUSTRIAL: O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE P&D E DA PROPRIEDADE INTELECTUAL O sucesso no Brasil do sistema produtivo agroindustrial de grãos e soja, não pode ser explicado apenas em função da existência de vantagens comparativas associadas à existência de recursos naturais favoráveis10. Na realidade, por trás dos fatores de sucesso agroindustrial somam-se um conjunto de fatores, a saber: - empreendedorismo de agricultores pioneiros capitalizados que, desde a década de 80, souberam aproveitar-se das oportunidades de negócios aberas pela expansão da fronteira agrícola para novas áreas em função do fator migratório Sul-Centro Oeste- Nordeste, onde a agricultura de grãos atinge os maiores níveis de produtividade11; - articulação sistêmica com indústrias fornecedoras situadas à montante da agropecuária, especialmente as de insumos químicos, de sementes e de máquinas agrícolas - e com a agroindústria de transformação, à jusante, formando um sistema produtivo agroindustrial estruturado (Ver Fonseca e Castro,1991; Fonseca,1990);

9 Cidades especializadas em agricultura de grãos no Centro-Oeste brasileiro apresentam valores elevados de IDH. 10 Dois argumentos tentam relativizar o sucesso do agronegócio brasileiro: o primeiro associa a combinação de vantagens naturais com “pacotes de tecnologias” importados do exterior.Argumenta-se, sem muito fundamento em dados, que a produtividade dos agronegócios brasileiro estaria atingindo o seu teto, uma espécie de nova versão neo-malthusiana que ignora as inovações biotecnológicas desenvolvidas por um sistema nacional de pesquisa e desenvolvimento de produto. Outras versões, mais pessimistas, associam o agronegócio à “monocultura agroexportadora” e à devastação do meio ambiente reforçando o arsenal de argumentos protecionistas de blocos e países interessados em fazer a Rodade de Doha fracassar. 11 Como bem aponta Silveira, este empreendedorismo é amplamente praticado pelo agricultor migrante, capitalizado e com o conhecimento de práticas agrícolas modernas. Mas, além disso, deve-se mencionar a organização sistêmica da agroindústria como caso das carnes com grãos (Fonseca, 2000).

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- a constituição de um sistema nacional de inovação, incluindo redes P&D fornecendo suporte científico e tecnológico sem o qual a expansão da produção e da produtividade não teria sido tão expressiva. Na realidade, Brasil possui um sistema de pesquisa agrícola nacional e regional com ramificações em laboratórios, agências estaduais e universidades e em empresas privadas, o que permite ao país alçar-se entre os mais competitivos do mundo na produção de matérias primas de origem vegetal e alimentos, com resultados reconhecidos internacionalmente. Uma das alavancas deste sistema de P&D agroindustrial apóia-se na pesquisa genética. Na realidade, quando da emergência da Revolução Verde, ainda nos anos sessenta, o Brasil já dispunha de um sistema organizado em torno do melhoramento genético vegetal, em grande parte dependente da pesquisa pública feita em instituições como o Instituto Agronômico de Campinas-SP, e universidades, como a Universidade de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rural do Rio de Janeiro. Neste sentido o país não pode ser classificado como mero difusor de “tecnologias de pacote”, como se convencionou chamar o modelo de difusão relacionado àquele movimento modernizador. Na vertente industrial, o país contou com a estruturação precoce da indústria de sementes com a indústria de máquinas agrícolas e com a indústria de insumos químicos. A articulação destas indústrias com o agronegócio torna-se crucial para a definição das trajetórias de melhoramento genético de grãos, ao apontar para as áreas problema que passam pelo melhoramento genético e pelo estudo de alternativas de manejo dos cultivos. Na segunda metade dos anos 90, técnicas de manejo integrado de pragas e o uso de inseticidas biológicos ganham espaço na pesquisa e rapidamente se difundem. Cabe lembrar que as algumas das empresas líderes neste segmento mantiveram desde os anos 70 atenção estratégica no setor de sementes e no melhoramento genético. Com a emergência da biotecnologia vegetal parcela significativa destas empresas passa a investir no setor de sementes (ver Fonseca, Dal Poz e Silveira,2004). A pesquisa agrícola mostra-se também importante no caso do uso intensivo de fertilizantes, com especial ênfase no uso de micronutrientes e uso de inoculantes, conhecimentos da ciência dos solos e dos microorganismos, em grande parte conduzidos pela pesquisa pública, foram fundamentais para o dinamismo regional da agricultura de grãos, cultivos nos cerrados, já apontados. A fronteira tecnológica neste campo assenta-se em conhecimentos científicos e tecnológicos sobre a respeito das interações entre solo, planta e microorganismos que acabaram por conduzir à geração e à difusão de inovações incrementais e técnicas de melhoramento tradicional, no que se convencionou chamar de padrão tecnológico moderno, cujos melhores resultados estão se manifestando em ganhos de rentabilidade e produtividade obtidos pela agroindústria de grãos, especialmente nas áreas de fronteira agrícola, como já foi destacado pelos autores. Sem as sinergias geradas entre o avanço da pesquisa, especialmente no que se refere ao melhoramento de espécies, e o sistema agroindustrial - neste caso específico, a indústria de sementes - dificilmente o cultivo do milho deixaria de ser feito em bases tradicionais com a colheita manual, com baixíssimo rendimento para os agricultores não integrados ao sistemas produtivo agroindustrial. A mecanização também é fundamental para o sucesso do processo de modernização agroindustrial e de incorporação de conhecimento científico e tecnológico aplicado à produção do setor de grãos. Este é o caso da colheita obrigatoriamente mecanizada no

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caso da soja e da construção de sistemas de armazenamento “fora da fazenda”, buscando economias de escala capazes de superar os limites impostos pela infra-estrutura. Ainda no caso do cultivo de grãos, destaca-se o processo de difusão das técnicas de cultivo mínimo, ou sistema de plantio direto. Este último é um sistema de manejo inovador que, em 30, anos atingiu 23 milhões de hectares no Brasil, crescendo a uma taxa de 8% ao ano segundo Mello ( 2003), substituído a tecnologia mecânica “de arrasto”, que tanto prejudicava o solo, sendo responsável pelas “vossorocas”. Vale lembrar que em 1992 o sistema de plantio direto ocupava apenas 1 milhão de hectares, só encontrado dificuldade de adoção nas regiões de cultivo não-mecanizado. A EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, é uma das instituições-chave do processo de desenvolvimento da pesquisa pública agroindústria desde o início da década de 70 (Fonseca, Silveira e Dal Poz,2004). O seu papel essencial tem sido tanto o de preservar toda a tradição de conhecimento em ciência e tecnologia gerados pela pesquisa pública no Brasil quanto o de realizar pesquisas em produtos voltados para a agricultura de mercado, como de sementes de milho-híbrido, dando especial atenção às organizações coordenadas de produtores, principalmente cooperativas. Através do Sistema Brasileiro de Pesquisa Agrícola (SNPA), 200 instituições diretamente envolvidas em atividades de pesquisa e treinamento de pessoal em vários níveis, predominando o nível superior envolvendo um total de 5000 pesquisadores, com orçamento de aproximadamente US$ 1.5 bilhões/ano. Cerca de um terço deste montante é atribuído à EMBRAPA que desde 1993 coordena o SNPA e realiza cerca de 56% das pesquisas, com forte atenção à agricultura de grãos. A EMBRAPA é composta por 40 unidades, 33 delas diretamente relacionadas a atividades de P&D. São 13 centros por produto e 15 temáticos, como o EMBRAPA do Semi-Árido. Destacam-se o Centro Nacional de Soja, em Londrina (PR); o Centro de Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), o Centro de Pesquisas de Trigo, em Passo Fundo (PF), o Centro de Arroz e Feijão, em Goiânia (GO) e o Centro de Pesquisas e Algodão em Campina Grande (PB). Além disso, há centros basicamente voltados para a pesquisa de grãos, como o CENARGEM, Centro Nacional de Recursos Genéticos, que comanda a pesquisa de biotecnologia agrícola do setor público e Centro de Pesquisas do Cerrado. O sistema é complementado pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agrícola (OEPAS), um grupo de 22 organizações estaduais em 5 regiões do Brasil. Destas últimas, 7 fazem pesquisa. O orçamento de pesquisa é limitado (algo em torno de US$ 130 milhões) e parte dele é desviado para outras atividades. (Silveira et al, 2005). Ainda assim, contam com 269 doutores e cerca de 400 mestres em sua organização. Destacam-se a APTA (que inclui o Instituto Agronômico de São Paulo – IAC, centro de referência em café, algodão e frutas), o Instituto Agronômico do Paraná (com importância histórica no setor de grãos) e a Agência Rural de Goiás, fundamental na pesquisa de variedades de soja e novos cultivares. Cerca de 90% do SNPA é formado por organizações públicas, que estão passando por um processo de adaptação institucional - no sentido de se tornarem organizações de interesse público. O restante é pesquisa privada. Mais de 55% do orçamento do SNPA é voltado para a pesquisa vegetal, sendo que a pesquisa de grãos tem uma importância chave neste cenário.12 Em termos de

12 Envolve a aplicação intensiva de recursos em métodos de melhoramento genético de grãos, tendo como resultado variedades de alto rendimento, que são fortemente demandantes de insumos e seus resultados envolvem a elevação das produtividade. Concentrou-se nos cultivos de milho, arroz e trigo e, mais recentemente, na soja e no algodão.

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orçamento, o setor privado gasta em torno de 2,2% do total de P&D realizado, o que contrasta fortemente com a organização do sistema de pesquisa em países desenvolvidos.

TABELA 6- Caracterização da EMBRAPA e do SNPA Itens EMBRAPA SNPA

Programas Nacionais de Pesquisa 6 22

Projetos em Andamento 781 1.200

Pesquisadores 2.206 2.100

Número Total de empregados 8.619 8.100

Orçamento (US$ milhões, valores de 2005) 480 1.100

Fonte: Silveira et al, 2005- SNPA-Sistema Nacional de Pesquisa Agropécuária A pesquisa privada realizada por corporações e cooperativas fica fora desta programação. A articulação total do sistema é feita por meio de “chamadas e rodadas de consolidação de programas”, incluindo financiamentos de organizações multilaterais internacionais, que mantém contratos com governo brasileiro, como BID, o Banco Mundial, GEF e FAO, além dos fundos setoriais internos. A FIGURA 5, abaixo, mostra a evolução do orçamento da Embrapa, em valores em dólar a preços constantes de 2005. Já a FIGURA 6 mostra o pesado ônus dos gastos de pessoal sobre o orçamento da EMBRAPA que, desta forma, vê-se obrigada a reduzir os seus gastos de investimento (ver escala da direita, na figura) que se mantêm no nível elevado de 70% de seu orçamento, o que trará problemas ao SNPA nos próximos anos.

FIGURA 5 -Orçamento Total da EMBRAPA -1975/2005 (valores em dólares de 2005)

0

400000

800000

200000

600000

75 80 85 90 95 00 05

TOTALEMB HPTREND01

Fonte: Silveira et al, 2005- SNPA-Sistema Nacional de Pesquisa Agropécuária

A EMPRAPA e o SNPA acompanham o perfil de gastos públicos elevados e baixos investimentos que caracteriza o atual governo brasileiro. Trata-se de uma organização “gigante”, que assume tarefas cada vez mais amplas e,ao mesmo tempo, mantém características de gestão típicas das instituições de pesquisa universitária, em que o objetivo final é a publicação.Além disso, observa-se uma inadequação da pesada

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estrutura administrativa, cuja estratégia é definida em termos de programas, não de produtos e com a atuação marginal nos nichos de mercado onde competem com corporações nacionais e multinacionais.

FIGURA 6- Composição Orçamentária EMBRAPA-1975/2005 (em % sobre o total)

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

75 80 85 90 95 00 05

INVEMB OPEREMB PESSOEMB

Fonte: Silveira et al, 2005- SNPA-Sistema Nacional de Pesquisa Agropécuária A agricultura de grãos passa a receber um destaque maior no sistema de P&D de 1996 para cá, assumindo uma posição de liderança no mercado de cultivares. Como aponta corretamente Fuck (2005), a Lei de Proteção aos Cultivares (9456/97) estimulou processos de aquisição de empresas e aumento da concentração na indústria de sementes no Brasil, sem que a importância da EMBRAPA nos cultivares tenha sido reduzida ( ver Dal Poz, Silveira e Fonseca,2004). Na realidade, é a partir da ampliação da produção de sementes híbridas de milho no Brasil, ainda nos anos 70, que se torna possível consolidar um padrão de competição baseado em inovações tecnológicas. A adesão do Brasil ao Sistema de Obtenções Vegetais (SOB) e a criação, em 1997, de um Sistema de Registro de Cultivares favoreceu a maior participação de empresas de sementes em variedades cujo sucesso comercial depende diretamente da existência de direitos de propriedade intelectual, principalmente a soja e o trigo (arroz e algodão estão também no segmento das sementes híbridas). De fato, o SNPA registra 219 cultivares de 1996 a 2005, cerca de 32% do total registrado em todo o período, além de 19 registros de cultivares no exterior. A Figura 7 destaca a importância de empresas como a Monsoy, seguida de centros de pesquisa ligados à cooperativas e agroindústrias, entre as quais, a Coodetec, a Fecotrigo, com cultivares de grãos (principalmente soja e milho), a CTC, com variedades de cana-de-açúcar e a Fundação Mato-Grosso (soja, milho e algodão). A importância da EMBRAPA no segmento de grãos volta a ser confirmada na Tabela 7. Estima-se em R$ 4 bilhões/ano a contribuição dada pelo uso de variedades da empresa na agricultura de grãos do Brasil, algo que certamente contribui para o retorno do investimento.

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FIGURA7- Número de Cultivares Registrados no SNPC (1996-2005)

0 50 100 150 200 250

Em brapa (219)

Outros 68 ( <11 cultivares)

MONSOY (81)

COODETEC (46)

COPERSUCAR (29)

FECOTRIGO (20)

UFV (18)

Naturalle Agrom ercantil (16)

Fundação M ato Grosso (14)

IAPAR (13)

Bretagne-P

Or m elhram entoEm

pres

as

Cultivares

Fonte: Teixeira (2006)

Na realidade, os dados apresentados confirmam a boa convivência entre o sistema público de pesquisa e empresas privadas, com destaque do primeiro no que se refere à variedades. Isso se deve às garantias de direito de propriedade, garantidas pelo SNPC. As empresas privadas competem no mercado por cultivares híbridos de milho, sorgo e sementes de hortaliças.

TABELA 7- EMBRAPA -Participação de Cultivares, Valor de Produção e Cálculo de Benefício Econômico na Safra de Grãos de 2002/2003

Produto Participação de SementesEMBRAPA(%)

Valor da Produção de Cultivares da EMBRAPA-safra 2002/2003 (R$ 106 de julho de 2005)

Benefício Econômico EMBRAPA (R$ 106) *

algodão 53,3 1.753,8 924,5Arroz irrigado 37,8 1.114,1 253,2Arroz sequeiro

43,2 1.441,0 405,1

Feijão 53,6 2.268,2 1.641,1Milho 8,0 840.0 425,9Soja 39,0 9.932,7 997,0Trigo 28,5 583,1 295,4Total n.s.a. 17.932,4 4.943,4

Fonte: Teixeira, 2006. * já descontado valor do benefício caso a área cultivada com variedades da Embrapa adote outros cultivares (contra-factual). A FIGURA 8 mostra a importância do regime de cobrança de royalties como instrumento de financiamento da atividade inovadora.13 Além disso, ela revela crescimento acelerado de licenciamento de cultivares. Apesar de mudanças no padrão competitivo da indústria de sementes, a posição da EMBRAPA como geradora de novos cultivares tem garantido uma importante rede de parceiros contratuais, incluindo fundações privadas, empresas de pequeno e médio porte e produtores de sementes.

13 No caso da EMBRAPA esta participação ainda é modesta em comparação com o orçamento desta instituição Vale lembrar que o orçamento com Biotecnologia agrícola da EMBRAPA é estimado em US$ 30 milhões, ou seja, cerca de três vezes mais do que é arrecadado com royalties.

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FIGURA 8- EMBRAPA:Licenciamento, Royalties e Contratos de Parceria (2001/06)

225 270 463 351 309 4513117

5617

8991

1199313499

20532

1211651 1200 1500 1264

0

5000

10000

15000

20000

25000

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Licenciamento de Cultivares (1.000 ton.) Arrecadação de royalties (R$ 1.000)Número de Contratos

Fonte: Teixeira, 2006 Observe-se que, até o momento, o papel de destaque da EMBRAPA e outras agências públicas de pesquisa estão relacionados à sua competência no campo das inovações biotecnológicas, na medida em que isso permite aumentar a importância relativa da descoberta de genes em comparação com a “qualidade” do material genético, com exceção notável para o milho. No entanto, esta vantagem dependerá na sua capacidade de definir uma agenda de pesquisas que inclua parcerias com outros agentes do sistema de inovações, inclusive empresas privadas. Tal possibilidade depende da diversificação das fontes de financiamento, de modo a reduzir a dependência do orçamento. TABELA 8. Embrapa/SNPA- Principais Áreas de Pesquisa em OGM´s

Fase de Testes de Campo Cultivos Fatores Empresas/Instituições

Feijão Phaseolus vulgaris - glufosinate tolerance, and resistance to golden mosaic virus

Embrapa

Cenoura, Mandioca Isolar genes de carotenoid carotenóides Embrapa Algodão Tolerância a Gliphosato e Resistência a lagartas. Múltiplas

Resistências Embrapa, Fundanção Mato Grosso

Milho Tolerância a Gliphosato e Resistência a lagartas. Múltiplas Resistências

Embrapa

Papaya Papaya – resistência ao vírus do PSRV Embrapa Batata Potato – resistência a virus PVY and PLRV Embrapa Arroz Tolerância a herbicida: Glufosinate Soja Resistência a Glufosinate a Imidazolinonas Resistência a

lagartas Embrapa

Cana-de-açucar Resistência Herbicidas, a lagartas e ao virus do SCMV(amarelo) vírus

Embrapa, IAC, Coopersucar, CTC

Tabaco Resistência ao TSWV e PVY vírus Embrapa Tomate Resistencia ao Gemini e Tosporivurs Embrapa

Testes de Laboratório Cultivos Características Empresas/Instituições

Cevada Resistência a fungos Coco Resistência a fungos Unicamp, Ceplac, Embrapa e

Uesc Alface Não especificado Embrapa

Milho Deficiência de alumínio e fósforo Embrapa Arroz Resistência à salinidade e a fungos Embrapa Soja Resistência a insetos Embrapa Cana-de-açúcar Resistência à broca da cana e outros Ufscar, Esalq, IAC, Coopersucar

Fonte: http://www.cib.org.br/

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III. SISTEMA AGROINDUSTRIAL DE AÇÚCAR E ÁLCOOL: PRODUÇÃO E INOVAÇÕES III.1 UM POUCO DE HISTÓRIA: DA INTERVENÇÃO ESTATAL AO SISTEMA DE MERCADO O sistema de produção canavieira tem grande importância para o Brasil desde a economia colonial, quando o açúcar era o único produto brasileiro amplamente comercializado no mercado externo. A partir de meados do século passado, o desempenho econômico do setor açucareiro vem sendo coordenado por governos estaduais e federais. Esta coordenação inicia-se, em 1931 com Comissão de Defesa da Produção Açucareira que, em 1933, transforma-se no Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) que durante cerca de 50 anos intervém diretamente sobre a produção e a comercialização de cana e de açúcar, estabelecendo quotas de produção por estado, usina e fornecedor de cana-de-açúcar definindo, também, regras para exportação e administração dos preços do açúcar uma vez que já existia controle e regulamentação sobre transporte, manuseio e armazenagem de açúcar14. Da criação do IAA até a década de 70 do século passado, a intervenção estatal assume praticamente todos os riscos e deficiências do setor privado, disfarçando-os sob a forma de incentivos e subsídios, inclusive os subsídios regionais, impedindo desta forma o desenvolvimento da competição entre os agentes privados localizados no Nordeste e no Centro-Sul do país. A partir da 1ª crise do petróleo,ainda na década de 70, a coordenação das decisões de produção e de comercialização estende-se, também, para a produção de álcool, até então um subproduto menos importante do sistema agroindustrial canavieiro. Em 1975 é criado o Programa Nacional do Álcool, Proálcool (decreto 76.593), um projeto vinculado aos governos militares do Brasil, que pretendiam incluir o álcool combustível na matriz energética do país. Até 1975, quando o Proálcool é lançado, a maior parte dos investimentos destinava-se à expansão de capacidade de cultivo da cana-de-açúcar e modernização das plantas produtivas. Frente às taxas de inflação elevadíssimas, produtores agrícolas e usineiros eram subsidiados com taxas de juros negativas e tinham as aquisições de açúcar e álcool garantidas por programas de compras.Observe-se que, no momento em que o país importava mais de 80% de petróleo, o Proálcool é uma resposta direta ao primeiro choque do petróleo, ocorrido em 1973, quando o preço do petróleo aumenta subitamente de US$2,91 para US$11,6515.A partir do Proálcool, o uso da mistura de álcool anidro à gasolina passa a ser obrigatório e, além disso, estimula-se o uso de veículos movidos a álcool hidratado.O Proálcool desdobrava-se em vários tipos de incentivos governamentais produção de álcool especialmente, desde estímulos creditícios até subsídios e incentivos fiscais.Além disso, o Programa assegura a garantia de compra do álcool pela Petrobrás,a criação de linhas de crédito para financiamento das fases agrícola e industrial, especialmente a compra de máquinas e equipamentos.

14 Em 1960 é criado o Fundo Especial para Exportação, que tem como objetivo diminuir as flutuações de preço da commodity açúcar no mercado mundial, cujo efeito imediato foi o aumento da capacidade instalada de produção de açúcar acima da demanda internacional. 15 De acordo com os planos do governo militar a solução para a crise energética do Brasil não estaria concentrada apenas no Proálcool, mas também em outras duas alternativas, o Proóleo (óleo vegetal) – embrião no atual Programa de Biocombustíveis, e o Procarvão (ver BACHA e SHIKIDA ,1999). Recentemente, já no governo de Luis Inácio da Silva, o primeiro programa é retomado.

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BACHA e SHIKIDA (1999) dividem o período do Proálcool em três fases: de 1975 e 1979, a fase de crescimento; de1980 a 1985, a fase de expansão acelerada e de 1986 e 1995, de desaceleração. Na primeira fase foram implantados 209 projetos de instalação e modernização de destilarias, num total de US$1,019 bilhão investidos, dos quais 75% eram recursos públicos e 25%, recursos privados. Os resultados foram mais do que compensadores e a meta programada de produção de 3 bilhões de litros de álcool na safra de 1979/80 foi ultrapassada em 13,2%. Além disso, a taxa de crescimento da área colhida neste período foi de 6,6% ao ano e a produção de álcool anidro foi aumentada 12 vezes, beneficiando destilarias localizadas principalmente nos estados de São Paulo, Alagoas, Pernambuco e Rio de Janeiro. Em 1978, o governo fixa um teto no preço do álcool, de 65% ao preço da gasolina e exige que, adicionalmente, sejam instituídas medidas de manutenção dos estoques, com o objetivo de dar estabilidade à oferta do produto. Adicionalmente concede-se uma redução de 5% nos impostos de carros movidos a álcool, estabelece-se a obrigatoriedade de venda de álcool e do mix de gasolina-álcool nos postos de gasolina brasileiros. Em 1979, após o segundo choque do petróleo, as taxas de juros internacionais aumentam e o preço do barril tem nova alta, atingindo US$ 30, o que obriga o país a diminuir ainda mais a dependência de petróleo. A solução do governo brasileiro foi criar uma base de incentivos que alcançasse toda a cadeia de fornecimento do produto, do agricultor até o consumidor de combustíveis. Em conseqüência, o governo brasileiro cria um novo conjunto de incentivos fiscais e tributários para estimular ainda mais a produção de álcool anidro, hidratado e veículos movidos a álcool (Decreto 83.700)16. Governo e a Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores- assinam então um protocolo de entendimento com objetivo de desenvolver e comercializar veículos movidos a álcool hidratado. Fábricas de automóveis são incentivadas a produzirem mais carros a álcool através da redução da alíquota do IPI (imposto sobre produtos industrializados), de uma taxa rodoviária única para estes veículos, da isenção de IPI para táxis movidos a álcool e através da manutenção de um preço teto do álcool hidratado, de 65%, com relação à gasolina. A quota instituída para a adição de álcool anidro na gasolina é instituída em 22%. A resposta dos consumidores e do setor privado ocorre rapidamente, com um aumento de 28,5% para 96% na participação de carros a alcool na frota nacional, entre 1980 e 1985. Ainda de acordo com os autores, entre 1980 a 1984 são investidos US$5,4 bilhões, dos quais 56% de fonte governamental. A partir daí, contagiadas pelos baixos riscos da atividade agroindustrial, empresas novas foram atraídos para a atividade. A partir daí, a área plantada expande-se a taxas de 8,7% ao ano no período ocupando cada vez mais áreas planas, onde é possível adotar-se práticas mecanizadas, com o conseqüente aumento de produtividade. Ainda em 1983, os contratos de pagamento da cana passam a estipular que o pagamento aos fornecedores de cana seja feito de acordo com o teor de sacarose e pureza do caldo. Essa mudança nos termos dos contratos entre fornecedores e usinas estimula o aumento da produtividade na fase agrícola. Em conseqüência, aumentam os investimentos na busca de novas variedades de cana-de-açúcar, especialmente em São Paulo onde os cultivos apresentam rendimentos maiores. 16 A tentativa de usar álcool em motores de automóveis no Brasil remonta a 1930, quando a Escola Politécnica de São Paulo desenvolveu um primeiro protótipo de um carro movido a ...cachaça. Porém foi nos laboratórios do ITA, Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, em 1953, que foi realizada a adaptação de um motor a quatro tempos para funcionar com álcool (Teixeira,2005).

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A partir de 1985 os preços do petróleo começam a cair, com o preço do álcool acompanhando esta queda. Tem início, a partir daí, um conjunto de acontecimentos que resultam na queda dos investimentos estatais na agroindústria canavieira, entre os quais se destaca o aumento da dívida externa (e das taxas de inflação) do país que abalam a capacidade financeira do governo. Segundo BACHA e SHIKIDA (1999), de 1985 até 1990 os investimentos são reduzidos a US$ 0,511 bilhão, dos quais 39% são de origem pública e 61%, privada. Desta forma, além de o volume investido ser bem inferior, a composição destes investimentos acaba sendo diferente da dos dois períodos anteriores, onde o montante de gastos públicos superava largamente o privado. Entre 1986 a 1995 o crescimento da área colhida reduz-se a 0,6% ao ano e a partir da safra de 1986/87 manifesta-se uma crise real de abastecimento de álcool, acentuada pela queda de preços deste produto. Além disso, os preços do açúcar no mercado internacional voltam a subir, fazendo com que muitos produtores diminuam a produção de álcool e aumentem a de açúcar. Apesar disso, a demanda por álcool continua a aumentar de forma sustentada em função dos elevados incentivos ao consumo de carros a álcool gerando um descompasso com a oferta. Este desequilíbrio entre oferta e demanda leva o governo a importar metanol para adição à gasolina ou ao álcool hidratado. Acompanhando a crise do abastecimento de álcool, o contrachoque do petróleo e a diminuição dos gastos governamentais, observa-se que a produção interna de petróleo volta a elevar-se inviabilizando a manutenção do Proálcool, não sendo mais interessante ao governo brasileiro continuar a importar álcool carburante. Além disso, a Petrobras mostra-se cada vez menos interessada em continuar a comprar álcool a preços superiores ao vendido as distribuidoras, com o prejuízo decorrente desta estratégia. Em 1990, após a extinção do IAA, o governo brasileiro deixa de sustentar as políticas intervencionistas que afetavam a oferta e demanda de álcool. A Petrobrás deixa então de monopolizar o comércio do álcool e comercialização passa a ser feita pelas próprias usinas ou por tradings privadas. A partir deste momento, o setor privado volta a assumir os riscos inerentes à produção e comercialização de açúcar e álcool.Como primeiro resultado, as usinas retornam à produção de açúcar e a oferta de álcool é reduzida. Os preços do petróleo e seus derivados voltam a subir a partir do final da década de noventa, acentuando a diferença entre o preço do álcool hidratado e a gasolina. O consumo de álcool total continua a elevar-se ao longo da década de 90 e, além disso, ocorre uma compensação da redução do consumo de álcool hidratado pelo aumento da demanda por álcool anidro, como se pode ver na Figura 13. Esta substituição pode ser explicada pela redução drástica da frota de carros movidos exclusivamente a álcool e ao lançamento dos novos veículos movidos à gasolina de mil cilindradas, cujo sucesso de vendas faz aumentar o consumo de álcool etílico anidro adicionado à gasolina. Nesta altura, apesar da diferença de preço, o consumidor brasileiro apresentava receio de um desabastecimento de álcool, preferindo arriscar-se usando um veículo cujo combustível apresenta um preço maior. Antecipando a existência de uma real oportunidade de mercado, a indústria automobilística e a agroindústria de cana-de-açúcar desenvolveram os veículos com motores do tipo flexfuels, que utilizam tanto gasolina, como álcool. Os carros flexfuels têm sensores que reconhecem os teores da mistura e ajustam automaticamente a operação do motor para as condições mais favoráveis ao seu uso. A tecnologia foi desenvolvida a partir de pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Europa

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e Japão ainda no final da década dos 1980 para superar a falta de infra-estrutura de abastecimento de metanol e etanol, com o objetivo de permitir a expansão mais rápida e confiável do uso destes combustíveis. No Brasil, a existência do carro movido à álcool retardou a introdução do flexfuel, que só ocorreu após o fim do Proálcool, com o fim da intervenção estatal. Atualmente, o Brasil é o único país em que a utilização dos motores flexfuel pode ser comercializada em larga escala, antecipando a próxima transformação do álcool em commodity.O aumento das vendas de carros flexfuel também aumenta o consumo de álcool hidratado, como pode ser verificado na FIGURA 9, que mostra a evolução do consumo de todos os segmentos de combustíveis comercializados, desde 1975, data de início do Proálcool. FIGURA 9- Consumo de Energia por Modalidade de Combustível (1970-2004)

FONTE: ANFAVEA- citado por Neves Ely (2007) Através da FIGURA 10 é possível observar a participação das vendas de carros a álcool e dos carros flex-fuel, que Julho de 2006 atingem 77% do total da frota de veículos leves.

FIGURA 10-Participação das Vendas de Veículos no Mercado Interno

Fonte: ANFAVEA –citado por Neves Ely (2007) O impacto na demanda de álcool hidratado ocasionados pelos novos tipos de veículos com motor flex-fuel refletiu-se na produção associada à safra de 2005/2006, que chegou 8,1 milhões de metros cúbicos. No que diz respeito à produção de álcool total, esta voltou ao seu nível histórico máximo da década de 90, de cerca de quinze milhões de metros cúbicos.

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III.2 SISTEMA PRODUTIVO: DIVERSIFICAÇÃO E PRODUTIVIDADE O aumento da produção e da competitividade do sistema de produção de açúcar e álcool no Brasil são sustentados em quatro vertentes: a) expansão da demanda interna de açúcar e álcool; b) grande potencial de diversificação da base produtiva, com economias de escopo; c) ganhos de produtividade e rentabilidade na fase agrícola transmitidos até a fábrica por meio de logística eficiente, garantindo os diferenciais competitivos; d) sistema de P&D articulando em rede investimentos públicos e privados. A evolução da produção de açúcar e álcool no Brasil desde a década de 70 pode ser observada na FIGURA 11, onde ficam evidenciados o crescimento assimétrico entre açúcar e álcool, entre 1985 e 2000, a queda na produção de açúcar e de álcool no final dos anos 90 e a recuperação de ambos os produtos após 2003.

FIGURA 11-Evolução da Produção do Açúcar e Álcool no Brasil

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

70/71

73/74

76/77

79/80

82/83

85/86

88/89

91/92

94/95

97/98

00/01

03/04

Álco

ol (m

il m

3)

-

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

Açúc

ar (m

ilhõe

s/to

ns)

Álcool Açúcar

Fonte: MINISTÉRO DA AGRICULTURA, ÚNICA, UDOP A produção de açúcar e álcool está concentrada no Sudeste e no Sul do país, com evolução recente em direção aos solos de cerrado, no Centro-Oeste17. Segundo a ÚNICA (www.unica.com.br), o faturamento da agroindústria é estimado em R$ 45 bilhões, são gerados 1,2 milhão de empregos na produção de açúcar, etanol e energia elétrica e, ao todo, empregam-se 3% do total de áreas cultivadas do Centro-Sul com a cultura da cana-de-açúcar. FIGURA 12- Evolução das Exportações Brasileiras de Açúcar (1996-2006)

Fonte: MDIC/ AliceWeb, 2007- US$ FOB mil

17 Embora seja muito difundido o perigo de produção na Amazônia, a cultura de cana-de-açúcar não se desenvolve bem nestas regiões, necessitando de um regime hídrico muito bem definido pois durante a estão chuvosa, a cultura recolhe água do solo e na estação seca, esta água é devolvida ao solo através do processo de produção de sacarose.

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De um modo geral, os grandes compradores de açúcar do Brasil são países em desenvolvimento e o conjunto dos países que integram o BRICS, o que representa 27% das compras de açúcar brasileiro, em valor.Cerca de 65% das compras de açúcar do Brasil em 2005 (US$ 5 bilhão FOB) eram feitas por dez países: Rússia, Índia, Nigéria e Emirados Árabes,Marrocos, Arábia, Egito, Argélia, Paquistão e Canadá. As compras de países europeus são pouco expressivas, devido à competição com a produção subsidiada de açúcar de beterraba da Europa. Além disso, há os acordos com ex-colônias européias do Caribe e da África, e que ainda recebem tratamento comercial preferencial. Sendo assim o recente sucesso do Brasil, e países asiáticos produtores de açúcar no processo contencioso do açúcar contra a UE na OMC, em 2005, pode representar uma importante oportunidade de negócios. FIGURA13- Destino das Exportações de Açúcar do Brasil em 2005 (share de mercado)

Fonte: MDIC/ AliceWeb, 2007 As exportações de álcool cresceram continuamente a partir de 1995, após a queda representada pelo fim do Proálcool, quando o país chegou a importar o produto. Apesar da condição de líder das exportações de etanol o país não teria condições de atender a curto e médios prazos a demanda externa, caso a maioria dos países adotasse 10% de mistura de álcool à gasolina. Estimando-se uma demanda mundial 1,7 trilhões de litros de combustíveis para veículos leves em 2025, seriam necessários 205 bilhões de litros de álcool para preencher10% deste total. Aos níveis conservadores de produtividade de hoje dever-se-ia utilizar uma área dez vezes maior do que a atual, de 35 milhões de hectares- sem necessidade de irrigação- o que é possível se levarmos em consideração que isto é aproximadamente o que existe hoje em termos de áreas de pecuária já em desuso, pouco mais de 30 milhões de hectares. FIGURA 14- Evolução das Exportações Líquidas de Álcool –em TEP

Evolução das exportações líquidas de Álcoo Etilico (10³ TEP)

-1500

-1000

-500

0

500

1000

1500

1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Fonte: EPE (Balanço Energético Nacional), citado em Ely Neves

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O Brasil ocupa uma posição de destaque na produção de etanol e embora a cana seja produzida em mais de cem países, 75% da produção estão concentrados em apenas oito países, sendo que o Brasil e a Índica a metade do total. Por outro lado, o etanol vem sendo exportando para um número cada vez maior de países na medida em que crescem os incentivos ao uso de etanol, elevando a demanda por esse produto. Austrália, China, Colômbia, Índia, Japão, Peru, Tailândia e União Européia estão implantando parcelas obrigatórias da mistura de álcool à gasolina, além de conceder isenção de impostos para alcançar metas ambiciosas substituição de fontes poluidoras de energia, especialmente das derivadas de petróleo (Cerqueira Leita et al.,2005). Com isso, as exportações brasileiras estão se elevando, apesar de ainda representarem uma parcela bem inferior a destinada ao mercado interno. Um terço das compras de álcool brasileiro, em 2005, tinham como destino países da América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México) e da América Central (El Salvador, Jamaica, Costa Rica, Panamá, Trinidad, Cuba, República Dominicana, Porto Rico). A participação do conjunto de países da América Central e Caribe pode ser explicada pela existência de comerciais bilaterais, ou dentro de bloco comerciais, com o NaftaAlém disso, empresas brasileiras, como a Crystalsev e Cargil atuam na Jamaica e El Salvador com plantas de desidratação de álcool aproveitando-se deste acordos. Japão, Coréia do Norte e do Sul e Cingapura, na Ásia são responsáveis por 22% das exportações de álcool do Brasil. Na Europa, Inglaterra, Alemanha, Itália, Países Baixos (via Porto de Antuérpia), Suíça e Suécia, Alemanha e França ficam com 21% das exportações de álcool brasileiras. Apenas 7,7% das vendas são feitas para países da África e da América do Sul, respectivamente. O sistema de produção agroindustrial tem como três principais produtos o açúcar, álcool e a energia elétrica, o que lhe garante um padrão de diversificação pouco comum na produção de commodities agrícolas. A diversificação empreendida pelas usinas permite consolidar economias de escopo, além dos ganhos de escala garantidos pelo aumento da demanda e das vendas e álcool e açúcar no mercado interno e externo. Ao mesmo tempo, esta diversificação produtiva observada nesta agroindústria também depende da evolução das tecnologias nela empregadas. Nos anos 90, novos métodos de processamento industrial foram incorporados aumentando a produtividade industrial, como a moenda de quatro rolos, além das melhorias no processo de utilização de leveduras e nos processos de fermentação de álcool, iniciando-se a venda de energia. O processo de produção de açúcar consiste na extração do caldo da cana-de-açúcar cozido e posterior branqueamento e cristalização dentro de uma usina integrada, uma vez que refinarias exclusivamente de açúcar não são mais comuns no Brasil. Os tipos de açúcar produzidos são: açúcar refinado e açúcar cristal. No caso do VHP, os principais clientes são empresas tradings exportadoras, no caso de açúcar refinado, indústrias de alimentos e bebidas. Algumas usinas vendem o seu produto refinado diretamente ao mercado varejista usando uma marca própria. O processo de produção de álcool consiste no resultado da fermentação do caldo de cana a partir de levedos industriais, submetido a posterior destilação. Através deste processo são produzidos três tipos de álcool: o álcool neutro, usado nas indústrias de bebidas, cosméticos e produtos farmacêuticos; o álcool hidratado carburante (96GL – 96% de álcool e 4% de água),

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usado diretamente em veículos automotores e na indústria química e, finalmente, o álcool anidro (99,5GL), que é adicionado à gasolina na proporção de 24%18. Os principais subprodutos desta agroindústria são o bagaço de cana, vinhaça e levedura. O bagaço de cana é formado pelo resíduo da moagem da cana-de-açúcar e é utilizado como combustível nas caldeiras geradoras de vapor que movimentam as turbinas e geram a energia que abastece a usina. Seu excedente é vendido para concessionárias de energia elétrica ou é usado nas caldeiras de indústrias processadoras de laranja e cítricos, de papel e celulose e outras, também para geração de energia. Do bagaço, também se extrai a pasta de celulose que pode ser usada para a produção de papel e na alimentação animal. As folhas e pontas também têm o mesmo destino do bagaço. Em 1997, 23% do consumo de energia de cana eram proveniente de São Paulo, o maior produtor brasileiro, sob a forma de álcool ou bagaço. Atualmente pesquisa-se o aproveitamento do bagaço e da palha da cana para a extração de etanol celulósico derivado da palhada da cana-de açúcar. A vinhaça é um resíduo resultante da destilação, sendo usado como fertilizante na irrigação da lavoura e a levedura é utilizada como insumo na indústria de alimentos e na indústria de ração animal, sendo o suplemento alimentar em rações mais barato até hoje encontrado. Através de métodos de acoplagem de equipamentos, é possível fabricar derivados para as indústrias alcoolquímica e sucroquímica. A água de lavagem, por exemplo, é usada para produção de biogás e para fertirrigação.Outros subprodutos do processo de fermentação de natureza sucro-químico são: glicose, frutose, glicerina, ácidos, sorbitol e sucralose. Em outros tipos de fermentações obtêm-se acetonas, antibióticos (penicilina, tetraciclinas), enzimas industriais (amilases, proteases), vitaminas (C, B2, B12), aminoácidos (lisina, fenilalanina) e insumos biológicos para a agricultura (bioinseticidas e fertilizantes).Da cana-de-açúcar obtém-se incontável número de produtos, de fermento a herbicidas e inseticidas, com o importante diferencial de serem biodegradáveis e não ofensivos ao meio ambiente.Usando-se processos químicos avançados e métodos biotecnológicos também é possível produzir produtos plásticos biodegradáveis, goma xantana, butanol e acetona, já no início de produção em empresas do interior de São Paulo. 19 A produção de açúcar e álcool é pulverizada por usinas, que fabricam apenas açúcar, destilarias autônomas, que fabricam apenas álcool e usinas com destilarias anexas, que fabricam os dois produtos num total de 336 unidades produtoras sendo que cada uma das plantas processadoras esmaga, em média, um milhão de tonelada por safra.Na safra recente, de 2006/07, foram processados 420 milhões de toneladas de cana, movimentando cerca de cerca de R$ 45 bilhões de reais, ou 3,7% do PIB brasileiro (www.canaweb.com.br e UNICA). Como mostram a Figura 17 e a Tabela 10 na safra de 2005/06 177 grupos econômicos agroindustriais canavieiros, detentores de mais de uma usina, moeram 337 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma média de 1,9 milhão de toneladas de tonelada por grupo20. Apesar de estar do grande número de fusões e aquisições, a agroindústria de açúcar e álcool mostra-se relativamente 18No Brasil, ensaiou-se o surgimento de uma indústria alcoolquímica, para a produção de derivados de álcool: os desidratados (etilenos) e os desidrogenados (acetaldeídos). Entretanto, essa indústria ainda é incipiente e pouco representativa. 19A goma xantana é um espessante natural produzida a partir do açúcar, é utilizado em várias indústrias como a perfuração de petróleo, cosméticos, farmacêutica, alimentos e química. O butanol é um solvente biodegradável produzido a partir do álcool utilizado na indústria química e farmacêutica. A acetona é produzida do etanol e serve, também, como solvente. 20 Para efeito deste trabalho reunimos as usinas que fazem parte do mesmo grupo econônomico. Neste sentido, um grupo pode ter várias usinas mas mantém uma unidade patrimonial ou jurídica, quer sejam empresas familiares, que sejam empresas de capital aberto, como a Cosan.

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desconcentrada como se pode ver nas FIGURAS 15 e a TABELA 9 apresentam a evolução da razão de concentração da atividade, seu HHI, o número de grupos econômicos processadores e o volume de cana processado ao ano.

FIGURA 15-Taxas de Concentração por Grupo Agoindustrial (2002/2006) E V OLUÇÃO DOS Í NDI CE S DE CONCE NT RAÇÃO

14%15%14%16%16%15%

18%

27%29%29%29%29%27%

30%

41%43%43%43%43%42%44%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

2006/ 2005 2005/ 2004 2004/ 2003 2003/ 2002 2002/ 2001 2001/ 2000 2000/ 1999

Cr (4) Cr (10) Cr (20)

Fonte: INFOSUCRO-IE/UFRJ

Tabela 9- Processamento de Cana-de-Açúcar e Evolução do Índice de Concentração HHI 2006/2005 2005/2004 2004/2003 2003/2002 2002/2001 2001/2000 2000/1999

MOAGEM TOTAL 336.979.578 328.727.155 299.091.023 268.547.942 244.219.523 207.068.850 267.135.742

QTE GRUPOS ATIVOS 177 175 172 171 175 180 196 MEDIA

MOAGEM GRUPO 1.903.839 1.878.441 1.738.901 1.570.456 1.395.540 1.150.383 1.362.937

HHI 0,01959131 0,01515627 0,01568769 0,01600628 0,01421906 0,01408149 0,0130537 Fonte: INFOSUCRO Observe-se que devido ao fato de um grande número de novas usinas estarem entrando no mercado agroindustrial da cana – cerca de 50 nos próximos anos, a taxa de concentração não tem se alterado significativamente. Mas, apesar disso, a empresa líder do segmento, a Cosan, aumentou seu market-share de 4% para 10%, em apenas 7 safras. Além da Cosan, a San Martinho,a Vale do Rosário, a Crystalev,a Nova América e a Itamaraty já estão instaladas na agroindústria sucroalcoleira há algum tempo. Entre os grupos e empresas entrantes estão as novatas Tereos, Evergreen, Dreyfus, Kidd and Comapany e o grupo Cargill. A resposta dos produtores aos aumentos tanto de álcool, quanto de açúcar foi possível devido aos ganhos de competitividade da agroindústria brasileira na produção de cana-de-açúcar e na crescente rentabilidade no processo de conversão da cana em açúcar e álcool. Os ganhos de rentabilidade da agroindústria são muito expressivos e podem ser explicados basicamente pela eficiência da produção de cana-de-açúcar, incluindo o sistema logístico da agroindústria. Além disso, embora a maior parte das usinas opere com padrões de eficiência padrão, os ganhos de rentabilidade mais destacados decorrem de inovações e melhorias desenvolvidas a partir da pesquisa agrícola, como de resto também acontece na agroindústria de soja21. Observe-se que, na década de 60, as variedades de cana eram importadas, mas a partir da década de 1980 o país começou a desenvolver suas próprias variedades. Atualmente, novas técnicas de cultivo, a mecanização dos campos de cana-de-açúcar e a automação industrial somam-se ao

21 Ao nível de eficiência mínima ou simplesmente escala mínima eficiente (EME).

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melhoramento genético dos cultivares e desenvolvimento de biotecnologia, acelerando os ganhos de produtividade e permitindo redução em custos. O FIGURA 16 mostra os ganhos de produtividade por hectare e a rentabilidade agroindustrial expressa em termos de ART Açúcar Redutor Total (em kg) por tonelada de cana. Ambas as linhas do gráfico expressam ganhos de rendimento, a linha azul (mais baixa) mostra a produtividade da terra (tonelada de cana por hectare) enquanto a linha do ART (Açúcar Reduzido Total) mostra ganhos de rendimento a partir da redução de quilos de açúcar por tonelada de cana. Observe-se que embora o ART refira-se ao aproveitamento produtivo da cana através do processamento industrial, não é um indicador de ganho industrial, uma vez que expressa de forma indissociável os ganhos de produtividade obtidos na fase agrícola, ganhos responsáveis pelo aumento da produtividade agrícola em termos da redução energética através de processo industrial. Neste sentido, o aumento do ART depende não só da eficiência da planta industrial – que se manifesta em termos de uma escala industrial minimamente eficiente - mas também, das condições de solo, clima, insolação, qualidade genética das espécies de cana- de- açúcar utilizadas, eficiência logística através da colheita e do transporte da cana até a usina. Observe-se que o Brasil tem possibilidade de elevar ainda mais a produtividade da agroindústria de cana-de-açúcar e dobrar a eficiência de conversão. FIGURA16- Indicadores de Produtividade e Rentabilidade Agroindustrial

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

110,00

120,00

130,00

140,00

150,00

160,00

70/71

72/73

74/75

76/77

78/79

80/81

82/83

84/85

86/87

88/89

90/91

92/93

94/95

96/97

98/99

00/01

02/03

04/05

Tonelada de cana por hectare Rendimento industrial - Kg ART / Ton de cana Fonte: INFOSUCRO- Informações Estatísticas No caso específico da fase agrícola também há espaço para o aumento da produtividade por hectare se as queimadas forem reduzidas, com um melhor aproveitamento de partes do bagaço, especialmente no caso de co-geração de energia elétrica. No entanto, isso depende da substituição do processo de colheita manual pelo mecânico. O uso do bagaço da cana para gerar energia elétrica de subprodutos da própria usina é antigo embora tenha aumentado nos últimos anos. Especialmente depois da crise de abastecimento energia elétrica no Brasil, em 2001, a alternativa energética derivada da energia gerada internamente na usina passou a ser uma fonte adicional de receita para aquelas unidades que possuíam caldeiras de alta pressão e que poderiam gerar excedentes de energia para ser comercializados junto às concessionárias locais de energia elétrica. Como se pode observar na figura 18, o consumo de energia elétrica oriundo do bagaço da cana expresso em TEP vem aumentando desde meados de 1995 e apresentou uma leve queda em 2000 em razão do desaquecimento do mercado de álcool. No entanto, com volta ao mercado do álcool hidratado e com a com a expansão do mercado externo de açúcar, a co-geração voltou a crescer. A co-geração não só

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oferece o aproveitamento de economias de escopo como também representa uma nova oportunidade de negócios, pelo seu forte apelo ambiental. FIGURA 17- Brasil- Consumo de Álcool, Açúcar e Energia Elétrica em TEP

Consumo de açúcar, álcool e energia elétrica (cogeração), em TEP

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

ÁLCOOL AÇÚCAR COGERAÇÃO Fonte: EPE (Balanço Energético Nacional) citado em Neves,2007 Como as usinas produzem um volume grande de bagaço, a sua reutilização em algum processo produtivo representa uma boa oportunidade de obtenção de energia limpa, não poluente. Além disso, a co-geração via bagaço da cana torna-se um excelente meio para as usinas entrarem no mercado de créditos de carbono e com isso garante-se que um projeto de aumento da capacidade produtiva de energia elétrica pelo aproveitamento do bagaço da cana tenha seu retorno garantido, sem se limitar unicamente às vendas de mega watts/hora produzidos. Ou seja, o retorno do investimento pode vir apenas com as vendas das toneladas de gás poluente que deixou de ser emitido (Neves,2007). III.3 AÇÚCAR E ÁLCOOL:SISTEMA DE INOVAÇÕES Além de viabilizar a produção de álcool etanol no Brasil, um dos resultados positivos da implantação do Proálcool no Brasil consistiu no aumento dos investimentos em P&D, como já foi comentado na seção anterior. Este último tipo de investimentos vem permitindo, não só a ampliação da base produtiva diversificada da indústria, como o desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar, variedades mais produtivas e com maior capacidade de transformação energética. Os investimentos em novas variedades de cana já eram desenvolvidos desde o início do Planalsucar, que foi a agência criada para atuar como área de pesquisa do antigo IAA. Os esforços produtivos e os ganhos de rentabilidade obtidos à época do Próálcool asseguraram uma confortável base competitiva para a agroindústria de A&A mesmo após o fim deste Programa e após demanda de álcool volta a cair e o mercado da commodity açúcar voltar a ser a principal referência para os produtores brasileiros. Mais importante, ao final do período de intervenção estatal, a agroindústria sucroalcoleira brasileira passou a contar com um importante sistema de pesquisa e desenvolvimento, um sistema que articula instituições privadas e públicas de forma inédita no Brasil, dada o pequeno interesse do setor privado em pesquisas no país.

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Esta estrutura de pesquisa é particularmente bem organizada no estado de São Paulo, onde se localiza a maior rede de institutos e agências de P&D, especialmente aqueles voltados para a fase agrícola de produção. Lá também estão instaladas as empresas de equipamentos agrícolas e as instituições que promovem pesquisa sobre a mecanização das operações de plantio e corte, além de centros que estudam a busca de eficiência logística, do campo para a usina e da usina para o mercado. Além disso, a COPERSUCAR, Cooperativa dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo mantém há mais de 30 anos um importante centro de pesquisas, o Centro Tecnológico Canavieiro, CTC, que sucede o anterior Centro de Tecnologia da COPERSUCAR, criado em 1970. Este centro de pesquisa privado foi responsável por algum das mais importantes melhorias e inovações desta agroindústria, incluindo variedades de cana-de-açúcar SP, que hoje ocupam aproximadamente 50 % dos canaviais brasileiros além de técnica agroindústrias. Além de desenvolver pesquisa sobre a produção de açúcar e de álcool, o CTC desenvolve pesquisa em: fitossanidade, biotecnologia, agronomia,mecânica agrícola e industrial e em produção de energia. Em sua nova fase, o CTC assumiu o caráter de ser uma empresa privada com 151 unidades associadas - cerca de 100 usinas e destilarias – com cerca de 11 mil produtores industriais e agrícola, responsáveis por cerca de cerca de 60% da produção de cana-de-açúcar do País, com um orçamento médio de cerca de R$ 30 milhões, que deverá ser triplicado até o ano de 2010(Inovação 05/12/2005)22. Os recursos do CTC são obtidos com a venda de cana e a contribuição dos associados, financiando grande parte da pesquisa de P&D. Em contrapartida, os associados não pagam royalties pela aquisição de tecnologia, remunerando apenas o serviço de difusão da tecnologia adquirida. Na sede do CTC, em Piracicaba, estão os cinco laboratórios do CTC: de química, industrial, de criação de pragas, de doenças da cana e de biotecnologia. O laboratório de tecnologia industrial desenvolve técnica de moagem da cana e o processo de fermentação utilizado por todas as usinas. Além de unidades de pesquisa em Jaú e em Maracatú,na Serra do Mar paulista, o CTC possui um banco de germoplasma, em Camamu, na Bahia, onde, em razão do clima favorável, são produzidas as variedades de cana que depois são transferidas para São Paulo. Das sementes produzidas no banco de germoplasma até a estapa de difusão das variedades nas fazendas, o tempo de desenvolvimento é de 10 a 12 anos. O CTC tem certificado de qualidade e biossegurança junto ao MCT, Ministério de Ciência e Tecnologia, o que permite a manipulação com OGM, além de certificação ISO-9002. Há trinta anos atrás o Brasil possuía cerca de 30 variedades de cana. Atualmente, existem cerca de 500 variedades de cana passíveis de comercialização.Os maiores progressos derivados do melhoramento das novas variedades de cana-de-açúcar buscaram desenvolver características econômicas e ambientais de forma a torná-las mais resistentes à falta de água, mais resistentes a pragas e melhor adaptadas às condições específicas de solo e de clima, na regiões produtoras. Além disso, há o desenvolvimento de cultivares precoces, que atingem o pico de maturação cada vez mais cedo, e com elas ocorre o aumento nos dias de safra para quase duzentos dias no 22 O CTC pretende registrar-se juridicamente como uma Organização Social Civil de Interesse Público (OSCIP), o que vai facilitar sua atuação em parceria com empresas, nos moldes previstos pelos incentivos fiscais para inovação contidos na Medida Provisória 255, convertida na Lei 11.196/05, e também na obtenção de recursos no âmbito das agências de financiamento para ciência e tecnologia, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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ano, permitindo à usina trabalhar um maior número de dias, em geral antecipando-se ao período normal da safra, e com isso aumentar a produção. O desenvolvimento de variedades de cana cada vez mais precoces permite que, no Centro-Sul – por exemplo - a safra possa ser colhida na metade de março e que, já no início de abril as usinas estejam moendo a cana, quando antes ela começava a colher apenas no mês de maio. Atualmente, dependendo das condições de clima e do solo -bem como da operação das usinas em condições de eficiência normal- a safra pode variar de 180 dias para 220 dias. Com isso, o número de dias de safra de cana-de-açúcar cresceu, em média, de 45 à 60 dias na última década( INFOSUCRO,2007). Pesquisas em controle biológico, utilizando-se do próprio açúcar como insumo dos pesticidas orgânicos, são realizadas pelo CTC em associação com universidades. Na área de fronteira tecnológica, o CTC estabeleceu parcerias com a FAPESP e com o Laboratório de Genoma Funcional do centro de Biologia Molecular no GENOMA SUCEST – Sugar Cane EST (Expressed Sequence Tag) projeto de sequenciamento de genes expressos de importância agrícola23. Este projeto envolvia, até 2004, 200 pesquisadores de universidades paulistas, além de outros estados, como Pernambuco e Alagoas, além de duas universidades americanas, a Universidade do Texas (onde são feitos mapas de DNA e estudos moleculares de virus) e a universidade da Carolina do Sul (onde se pesquisam genes de resistência à ferrugem e biblioteca de DNA da cana). O SUCEST tem também acordos de cooperação científica com a empresa belga Crop Design, que realiza testes com o objetivo de avaliar a possibilidade de aumento de produtividade, maior resistência a estresse e ataques de patógenos e identificação dos genes do metabolismo do açúcar (Dal Poz, Fonseca e Silveira,2004). Outra pesquisa associada ao projeto genoma da cana-de-açúcar (SUCEST) desenvolvida na UNICAMP aproveita a quantidade enorme de seqüências de DNA produzidas através da criação de um banco de dados que armazena essas seqüências automaticamente faz análise das proteínas codificada – como a proteínas induzidas por ataque de agentes patógenos -e através de data mining busca os genes, como genes que fazem parte de mecanismos de tolerância da cana-de-açúcar ao alumínio Observe-se que em 2004 tinham sido identificados cerca de 80 mil genes, alguns dos quais de grande importância econômica, como os genes responsáveis pela resistência de plantas a pragas e ao calor e pela adaptação ao solo. A carteira de técnicas em biologia molecular do CTC utiliza técnicas de YAC e BAC, cromossomos artificiais de fungos e bacterias, biobalística, cultivo in vitro de germoplasma, marcadores e transformação genética, PCR, sondas complexas de DNA e cópia de DNA em plasmídeo para o desenvolvimento de testes diagnósticos de pragas e de novas variedades adaptadas ( Fonseca, Dal Poz e Silveira,2004: pp186-187). Ainda na pesquisa de fronteira estão empresas privadas como a CanaVialis e a Allelyx. Fundada em 2003, a CanaVialis desenvolve variedades de cana por meio de cruzamento genético clássico ou seja, com matéria-prima convencional. O braço de melhoramento genético por meio da biotecnologia da Votorantim Novos Negócios é representada pela Allelyx. As duas companhias, juntas, investiram cerca de USS 40 milhões em pesquisas 23 Com os projetos genoma do tipo EST é possível produzir uma grande quantidade de seqüências de DNA a parttr de ferramentas que permitem o estudo de milhares de genes simultaneamente, como a técnica de macroarranjos de DNA. A utilização dos macroarranjos permite a identificação de genes que são expressos durante as diferentes fases de desenvolvimento da planta e conduzindo à identificação de genes que regulam a acumulação de sacarose nos colmos facilitando o trabalho de avaliação das diferenças deste teor na expressão gênica em variedades de cana-de-açúcar que divergem quanto ao teor de sacarose.

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genéticas. As duas primeiras empresas estão desenvolvendo pesquisas para a área agrícola com o melhoramento genético da cana de açúcar. A CanaVialis é uma parceria entre um fundo de investimentos privados, Votorantim Novos Negócios, com um grupo de cientistas oriundos da UNICAMP tendo sido fundada em 2003. A empresa Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país, estabeleceu com a CanaVialis, um contrato para desenvolver pesquisas visando o melhoramento genético da cana-de-açúcar que planta, mantendo uma estação experimental dentro de uma das quatro usinas do Cosan em São Paulo. Entre o material pesquisado pela CanaVialis estão variedades adaptadas para novas fronteiras agrícolas e à colheita mecanizada, cana mais precoce, variedades com maior produtividade, "energy cane" (para produção de álcool combustível). A pesquisa genética e genômica referente à cana-de- açúcar está articulada grandes programas de melhoramento genético da cana-de-açúcar e difusão de novas tecnologias, promovidos no passado pelo próprio CTC-COPERSUCAR, pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a pela Ridesa, rede responsável pelo acervo genético (variedades, pesquisas, laboratórios) do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar do Instituto do Açúcar e do Álcool extinto no início dos anos 1990. Além disso, uma efieciente organização em rede envolve as agências e organizações que trabalham com pesquisa. Além do próprio CTC estão envolvisos o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Centro de Ciências Agrárias (CCA/ UFSCar), Escola de Agronomia Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), UNESP, SABESP, Instituto Biológico, Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro – RIDESA. Além de desenvolver variedades mais eficientes de cana de açúcar, o CTC estuda novos e mais eficientes métodos extração de álcool do bagaço da cana. Um deles é o sistema de extração hidrodinâmico, que usa líquidos para a extração do açúcar24. Outras tecnologias industriais desenvolvidas pelo CTC procuram economizar água ( lavagem a seco da cana) obter álcool a partir do bagaço da cana(hidrólise da biomassa). Além disso o CTC, procura uma forma evitar o uso de clareadores químicos através usando métodos de clareamento do açúcar através de controle da temperatura.Outra pesquisa importante do CTC procura evitar a queima e a conseqüente emissão de CO2, através da geseificação do bagaço para a geração de energia. Esta última melhoria acaba gerando seis vezes mais energia do que a queima direta do bagaço. Ainda em São Paulo, o Instituto Agronômico de Campinas, IAC, desenvolve um importante programa de melhoramento genético, o ProCana cujo projeto principal é o de melhoramento genético visando à obtenção de variedades de cana-de-açúcar mais produtivas, com maior riqueza em açúcar e outras características que proporcionem vantagens econômicas.A organização do ProCana baseia-se em um programa de pesquisa configurado como uma rede – e não como um centro de pesquisa – e seus pesquisadores estão alocados em três Pólos Regionais de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios: do Centro Sul (Piracicaba), do Centro Leste (Ribeirão Preto) e do Centro Oeste (Jaú). A rede do ProCana vai alterando sua configuração – os parceiros envolvidos, o tipo de participação entre pesquisadores e usuários – durante cada fase do processo de desenvolvimento de novas variedades, em função das trocas de idéias, de 24 Pelo método tradicional, a cana é moída para que o açúcar seja obtido. No sistema hidrodinâmico, a economia de energia para a extração do açúcar pode chegar a 30% em relação ao processo tradicional.

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conhecimento e de experiências referentes ao processo de desenvolvimento de variedades. O convênio de pesquisa ProCana abrange extensas regiões do Estado de São Paulo, expandindo-se para os Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Os trabalhos de melhoramento genético incluem cerca de 120 experimentos de campo anuais, distribuídos entre as Estações Experimentais e as empresas conveniadas. Recentemente o IAC inaugurou um laboratório de biologia molecular para a cana-de-açúcar, essa nova ferramenta poderá proporcionar a obtenção de variedades de cana em um período menor - atualmente, há necessidade de dez anos de pesquisa - e, em casos específicos, criará condições para o desenvolvimento de características que não poderiam ser obtidas por meio do melhoramento convencional. Esse projeto teve investimento de R$ 235 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).Outro órgão importante no SSI sucroalcooleiro é a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), composta por seis institutos de pesquisa e que possui em sua programação de P&D a coordenação de pesquisas na área de açúcar e álcool. A interação com outras organizações é complexa tanto na parceria em pesquisas como na transferência de tecnologias, os beneficiários são cooperativas de fornecedores de cana, Universidades e a EMBRAPA, dispersos em diversas linhas de atividades, regiões e objetivos. A atuação da APTA é ampla, incluindo diversas áreas de conhecimento como a de melhoramento genético, controle biológico, técnicas de cultivo e manejo, economia, sociologia, estatística e agrometeorologia. Fora de São Paulo, existe a RIDESA, que é formada por Universidades Federais e foi criada com a finalidade de incorporar as atividades do extinto PLANALSUCAR, e dar continuidade ao desenvolvimento de pesquisas visando a melhoria da produtividade do setor. A RIDESA foi inicialmente instituída por meio de convênio firmado entre sete Universidades Federais ( UFPR, UFSCar, UFV, UFRRJ, UFSE, UFAL e UFRPE ) que estavam localizadas nas áreas de atuação das Coordenadorias do ex-PLANALSUCAR, do qual foi absorvido o corpo técnico e a infra-estrutura das sedes das coordenadorias e estações experimentais. Com o apoio de parte significativa do Setor Sucroalcooleiro, por meio de convênio, a RIDESA começou a desempenhar suas funções em 1991, aproveitando a capacitação dos pesquisadores e as bases regionais do ex-PLANALSUCAR, aos quais se juntaram os professores das universidades. A rede de universidades que formam a RIDESA tem como base o desenvolvimento da pesquisa em 31 estações experimentais estrategicamente localizadas nos Estados onde a cultura da cana-de-açúcar apresenta maior expressão. A ênfase das pesquisas realizadas nessas estações experimentais refere-se à manutenção e continuidade da pesquisa relacionada ao Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (PMGCA), antes realizada pelo extinto PLANALSUCAR. Atualmente, os cultivares de sigla RB, anteriormente desenvolvidos pelo PLANALSUCAR, e atualmente pela RIDESA, estão sendo cultivados em mais de 50% da área cultivada com cana-de-açúcar no país, chegando em algumas regiões a representar até 70%. Na área industrial, além dos projetos do CTC no desenvolvimento de novas tecnologias industriais, a Dedini Indústrias de Base, está desenvolvendo em conjunto com o CTC um método de hidrólise para a extração do álcool do bagaço da cana. O método da Dedini é o de hidrólise ácida e ainda não apresenta viabilidade comercial. A tecnologia, ainda não desenvolvida até o nível comercial, nem no Brasil nem no exterior, e é uma das apostas do setor para a produção de mais etanol utilizando bagaço e a palha da cana

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para produzir etanol. Hoje, as usinas aproveitam esses resíduos para gerar energia. Além da hidrólise ácida, cujo fundamento é a quebra das moléculas de celulose por meio da adição de ácido sulfúrico aos resíduos, há também a possibilidade de se realizar o processo de quebra através de enzimas, chamada por isso de hidrólise enzimática, também sem aplicação comercial. Além do Brasil, outros países estão investindo em P&D com o objetivo de dominar a tecnologia de hidrólise da cana e torná-la comercial. O crescimento da demanda por açúcar e álcool consolidou o segmento de fornecedores especializados de equipamentos para a indústria de esmagamento de cana-de-açúcar, especialmente em Sertãozinho, São Paulo. Esta cidade possui sete usinas produtoras de açúcar e álcool e 500 empresas espalhadas por quatro distritos industriais, 90% das quais voltadas para o setor sucroalcooleiro, mas com atuação também em outras áreas (papel e celulose, alimentos).A principais empresas fornecedoras de tecnologia industrial para a agroindústria da cana em Sertãozinho é a Zanini, que produz equipamentos industriais e possui uma joint-venture com a alemã Renk AG, na produção de engrenagens industriais (redutores de velocidade e transmissão de potência). Atuam também na região, a B&S e a JW, empresas coligadas, que realizam projetos e constroem torres de destilação, usando o processo de destilação extrativa (desidratação do etanol), que reduz o consumo de energia e aumenta a produtividade final. Seus sócios são pesquisadores de universidades públicas de São Paulo. A Smar Equipamentos tem investido na automação industrial, integrando os controles de processos e aumentando a eficiência industrial do processo industrial. A Sermatec, desenvolve difusores, equipamentos industriais que podem substituir as moendas, aumentando a eficiência no processo de extração da sacarose de 96,5% para 98,5 propiciando também redução do consumo de vapor, liberando-o para a produção de energia elétrica. A Sermatc possui parceira com outras duas empresas na região para desenvolvimento de pesquisas de difusores e caldeiras, a Uni-systems e a HPB engenharia. Ainda na produção de equipamentos pode-se mencionar a Caldema, com caldeiras de alta-pressão para a co-geração de energia elétrica e com caldeiras monodrum, também importantes para co-geração, mas desta vez em parceria com a Thermocal Engenharia. A TGM, uma das mais antigas e tradicionais indústrias de equipamento para cana-de-açúcar, começou suas atividades com a manutenção de turbinas e integrou-se em direção à etapa agroindustrial com a compra de uma destilaria de álcool.Atualmente ela produz vários componentes ligados a geração de energia elétrica à vapor, tendo aberto, em 2005, uma filial na Alemanha. A tendência das melhorias de processo introduzidas pelas empresas citadas tem como objetivo a redução de etapas do processo produtivo e o aumento do potencial de extração de açúcar, álcool e energia da biomassa da cana. Entre os diferentes modos de redução de etapas do processo, o método de refinação direta do açúcar a partir do caldo, elimina a necessidade de uma planta de refinaria, reduzindo também o custo final da produção. Outra melhoria industrial consiste na anexação de plantas de biodiesel para extração a partir da “rota etílica”, o que permite aumentar o escopo da diversificação e obtenção de economias de escopo. No entanto os custos de produção de produção da biomassa lignocelulósica ainda são muito elevados. No entanto, já se nota uma intensa mobilização de pesquisadores e financiadores no sentido de apoiar o aporte de recursos, inclusive com elevados subsídios, ao investimento em biorreficarias (Delgado,2007).

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IV CONCLUSÕES O artigo procurou mostrar como através da abordagem de sistema setorial de inovações (SSI) é possível analisar e apontar os fatores de sucesso no dinâmico desempenho competitivo e tecnológico de duas agroindústrias, grãos – com ênfase em soja e milho - e sucroalcoleira. O vigor das exportações agroindustriais brasileiras não pode ser desvinculado da produção de alimentos, insumo e produtos agrícolas para o mercado brasileiro. No entanto as exportações agroindustriais não configuram plataformas de exportação uma vez que sua competitividade no mercado externo está relacionada à uma bem sucedida articulação entre mercado interno e externo, aproveitando economias de escala, de escopo e à eficiente articulação do sistema de inovações agroindustriais em escala nacional De acordo com o que foi exposto, observa-se que os avanços produtivos e tecnológicos que ocorreram nas duas agroindústrias são resultado de avanços de pesquisa que começaram há muitos anos atrás, no sistema agropecuário de pesquisa público, no caso de grãos, e num projeto autoritário de geração de energia alternativa, via produção de álcool, o ProÁlcool, e que se transformou com sucesso numa rede público-privada de coordenação de pesquisa após o período de desregulamentação governamental. V. BIBLIOGRAFIA ABIOVE (2006).IMPACTOS DA PRODUÇAO DE SOJA.PALESTRA APRESENTADA POR Trigueirinho, F., ABIOVE/WWF, 26,fev. ww.abiove.com.br/Agrianual (2006). ANUÁRIO DA AGRICULTURA BRASILEIRA, FNP.

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