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arquitetura préfabricada
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Arquiteto Joan Vill
A construo de pr-fabricados cermicos.
prof. Jackson Dualibi1
Resumo
O presente artigo trata da tcnica construtiva com a aplicao de painis
cermicos pr-fabricados nos projetos do arquitetp Joan Vill, com utilizao de
tecnologia simples e acessvel, e de sua importncia como uma contribuio
experimental e inovadora arquitetura brasileira.
Palavras chave: Arquitetura, Joan Vill, Sistema Construtivo, Moradia Laboratrio da
Habitao, Cermica armada.
Abstrat
This article deals with the building technique of prefabricated ceramic panels in the
projects of the architect Joan Vill, accomplished with simple and accessible
technology, as an important experimental and innovative contribution to the
brazilian architecture.
Keywords: Architecture, Joan Villa, Building System, Residence Housing Laboratory,
Ceramics armed.
1Mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista em
Histria da Arte pela Fundao Armando lvares Penteado (1999). Graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitrio Belas Artes de So Paulo (1988), Tcnico em Desenho de Construo Civil pelo Liceu de Artes e Ofcios de So Paulo (1982). Professor do Centro Universitrio Belas Artes de So Paulo do curso de Arquitetura e Urbanismo desde 1992. Desenvolveu projetos de Arquitetura em escritrio prprio e diferentes escritrios de So Paulo desde 1980.
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Uma biografia circunstanciada
Joan Vill nasceu em Barcelona a 6 de Junho de 1940, um ano aps a
ocupao da cidade pelas tropas franquistas que venceram a guerra civil espanhola.
Aos onze anos de idade, em 1951, imigrou para So Paulo junto com seu pai.
Em 1961 ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Mackenzie. Nos anos 1964 e 1965 estagiou com o Arquiteto Srgio Bernardes, que,
na poca mantinha escritrio em So Paulo e, entre 1966 e 1967, estagiou no
escritrio do arquiteto Joaquim Guedes.
Joan Vill formou-se em 1968 pela FAU-Mackenzie, em um perodo paradoxal para os arquitetos: social e politicamente marcado por forte represso, enquanto havia oportunidade de trabalho com o milagre econmico. Exlio de alguns, recolhimento de outros, pouco debate. O intenso intercmbio cultural que nas dcadas anteriores permeou o desenvolvimento da nossa arquitetura moderna abrandou-se. As revises crticas do movimento moderno em pleno debate na Europa e Estados Unidos demorariam alguns anos para ecoar por aqui. Predominava o corolrio moderno (CAMARGO, 2006).
Nos seus primeiros anos de formado, entre 1968 e 1971, Vill projetou e
contruiu suas primeiras residncias unifamiliares nos arredores de So Paulo. Nota-se
nelas a economia de meios e a racionalidade construtiva, procurando escapar das
formas exibicionistas, visando solues formais a partir de problemas concretos e das
nescessidades reais do local e do programa, com o uso de materiais aparentes, tanto
na estrutura de concreto quanto nas alvenarias de tijolos a vista a exemplo de seus
mestres.
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Figura 1 - Fonte:Camargo, Monica Junqueira, "Arte como Construo" em www.revistaau.com.br, acesso 10 de Setembro 2011, artigo publicado na revista AU edio 146 de maio de 2006.
Em 1971, devido sua militncia poltica e a perseguio do regime militar,
exilou-se na Europa, a prncipio na sua Barcelona natal, ainda sob a ditadura do
generalssimo Franco, situao da qual fugira vinte anos antes. Depois, passou seis
meses numa fazenda na Blgica, onde construiu algumas estruturas geodsicas para
diversas atividades no local.
Entre 1972 e 1973 fez mestrado na rea de Urbanstica Tcnica e Pr-
fabricao na Escola Politcnica de Milo. A, estudou a pr-fabricao no leste
Europeu, principalmente na Iugoslvia do ps-guerra, onde era comum o uso de
grandes painis de concreto pr-moldado. No Brasil dessa poca, poucos se
aventuravam com a pre-fabricao; como os casos emblematicos de Joo Filgueras
Lima, o Lel, com os painis de argamassa armada, e Accio Gil Borsoi com os
painis pre-fabricados em taipa so os mais conhecidos.
No ano de 1974, em Palma de Maiorca na Espanha, incorporou-se
Cooperativa de Arquitetos que presta assessoria tcnica ao Sindicato dos
Trabalhadores da Indstria Hoteleira da regio. At ento, Vill havia realizado
projetos de autoria pessoal para clientes individuais, conforme depoimento 2 . A
experincia coletiva de projetar com outros quinze colegas de profisso, para um
cliente igualmente coletivo, marcou fortemente sua trajetria profissional, pois exigiu
do arquiteto outra postura frente a coletividade, tanto no que diz respeito a concepo
compartilhada com outros colegas de profisso, quanto com relao ao cliente.
(...) Um cliente de muitas caras porque a gente fazia reunies com trezentos associados desta cooperativa. E foi uma experincia muito importante, quer dizer, tanto do ponto de, digamos, existencial, quanto do ponto de vista intelectual, como
2Entrevista realizada em 11 de setembro de 2011.
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aprendizado em trabalhar com nmeros, com essas quantidades e com tantas manifestaes, com tantas opinies, s vezes divergentes, com tanta polmica, como era o nosso prprio trabalho. Mas isso foi assim, talvez a minha primeira escola, na verdade. Foi uma atuao como arquiteto, completamente distinta daquela que eu tinha observado no Brasil (VILL, 2003)
3.
(...) me deparei com outro tipo de demanda. O cliente no era mais o empresrio, ou um proprietrio; representava o coletivo e surgia assim outro processo decisrio modificando a atitude profissional que se iniciava com a discuso na obra muito antes de se concretizar na prancheta (VILL, 1989)
4.
Ao voltar para o Brasil em 1975, Vill retomou sua trajetria profissional em
projetos de residncias para a alta classe mdia paulistana, como fizera antes do
exlio europeu. No entanto, a convite do arquiteto Jon Maitrejean, filiou-se ao Sindicato
dos Arquitetos, que poca se propunha realizar trabalhos sociais junto periferia de
So Paulo. Vill relata5que havia assemblias de cem a trezentos arquitetos que
trabalhavam em projetos junto paroquia de So Miguel Paulista, por intermdio do
padre Jos Maria, onde realizaram projetos particulares para a comunidade local. Foi
a que estabeleceu contato e afinidade profissional com o arquiteto Jorge Caron, futuro
coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Belas Artes de
So Paulo.
Figura 2 - Foto do arquivo pessoal de Joan Vill de assemblia no sindicato dos Arquitetos em 1977.
Nessa experincia, Vill pde constatar a falta de preparo tcnico, cultural e
sociolgico dos seus colegas de profisso para lidar com as necessidades da periferia.
3Entrevista com o arquiteto Joan Vill realizada em 21 de maio de 2003, por POMPIA, Roberto Alfredo
em tese de Mestrado "Os Laboratrios de Habitao no ensino da arquitetura" FAUUSP, 2006 pg. 10. 4Entrevista com Joan Vill, revista AU n.22 pg. 33 de fev/mar de 1989.
5Entrevista realizada em 11 de Setembro de 2011.
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Conta ele que, em um determinado momento, um colega arquiteto projetava uma
residncia com 3 suites e um solarium numa favela.
Vill assinala seu senso critco apurado sobre como projetar para a periferia.
(...) Periferia que no esteritipo de aviltamento, da degradao, mas espao digno, lugar qualificado para o futuro. Periferia respeitvel, mas ainda regio com limitaos materiais e humanas, margem da cartografia regular. Limites que sugerem um desenho e uma tecnologia, uma simbiose entre o popular e o erudito, entre o desejavel e o possivel, entre o formal e o informal, como um desafio ao rompimento de dualidade aparentemente indestrutveis (BASTOS, 2007).
Sua carreira entra ento numa nova fase: a vida acadmica. Vill comeou a
lecionar em escolas de arquitetura, primeiriamente na Faculdade de Arquitetura de
Santos e, depois, em 1979, ministrou a aula inaugural de projeto do Curso de
arquitetura e urbanismo da Faculdade de Belas Artes de So Paulo a convite de Jorge
Caron.
Consolidou sua veia acadmica em 1995, quando passou a lecionar na
Universidade Mackenzie e retomou as aulas no Centro Universitrio Belas Artes. No
ano de 2002, defendeu mestrado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade
Mackenzie com a dissertao "A construo com componentes pr-fabricados
cermicos: sistema construtivo desenvolvido em So Paulo entre 1984 e 1994".
Como professor de projeto, Joan Vill estabeleceu uma trajetria de
investigao por meio da geometria construtiva, estabelecendo uma relao clara da
edificao com o seu entorno imediato, construindo o "vazio":
(...) A fora da geometria na histria. Ela foi responsvel pela organizao dos mais variados espaos, desde a taba indgena at o tratado de tordesilhas. A sociedade sempre a usou no tratamento da propriedade, dos caminhos, da distribuio das guas. A questo importante se preocupar com o projeto do vazio. O Aluno pensa: "se esto me pedido um programa e um objeto construdo, como vou projetar o vazio?" (...) Projetar tendo o vazio como foco no muito frequente, mas Oriol Bohigas, por exemplo, j escreveu a respeito. Em um texto publicado no livro sobre a Vila Olmpica, ele diz que a arquitetura ratifica aquilo que o espao pblico previamente estabeleceu. Isso vem do pensament