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RAP — RIO DE JANEIRO 45(5):1517-538, SET./OUT. 2011 ISSN 0034-7612 Mercado de trabalho: múltiplos (des)entendimentos* Sidinei Rocha de Oliveira** Valmiria Carolina Piccinini*** S UMÁRIO : 1. Introdução; 2. As vertentes econômicas para compreensão do mercado de trabalho; 3. A interpretação da sociologia econômica; 4. A interpretação da teo- ria institucional; 5. Contribuições de Bourdieu: as estruturas sociais da economia; 6. Considerações finais. S UMMARY : 1. Introduction. 2. Economic approaches for understanding the job market; 3. The interpretation of economic sociology; 4. The interpretation of the institutional theory; 5. Bourdieu’s contributions: the social structures of the economy; 6. Final remarks. P ALAVRAS - CHAVE : mercado de trabalho; economia; sociologia. K EY WORDS : work market; economy; sociology. O termo mercado de trabalho permeia grande parte das discussões da sociologia e da economia na atualidade. Porém, mesmo sendo comum encontrar textos que utilizem o termo buscando dimensioná-lo, compreendê-lo, bem como explicar as mudanças que tem sofrido nas últimas décadas, são poucos os estudos que desenvolvem uma reflexão teórica do conceito e que destacam a vertente que estão seguindo. No pre- sente trabalho busca-se analisar o conceito de mercado de trabalho em diferentes perspectivas da economia e a sociologia, a fim de aprofundar a discussão sobre o tema. Para tanto, procura apresentar algumas das principais abordagens do termo, destacando sua vertente teórica e possíveis limitações. Da economia são considera- * Artigo recebido em mar. 2010 e aceito em abr. 2011. ** Professor adjunto do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em administração pela Université Pierre Mendès-France (Grenoble) e Escola de Administração – PPGA/EA/UFRGS (Porto Alegre). Endereço: rua Tiradentes, 111, ap. 1501 — Ingá — CEP 24210-510, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]; sroliveira@ ea.ufrgs.br. *** Professora associada da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora em economia do trabalho e da produção pela Université Pierre Mendes France (Grenoble). Endereço: rua Washington Luis, 855, sala 422 — Centro — CEP 90010-460, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected].

2011 OLIVEIRA PICCININI Merc de Trabalho Multiplos Desentendimentos

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Descreve algumas abordagens sobre o entendimento do mercado de trabalho.

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  • rap rio de Janeiro 45(5):1517-538, Set./out. 2011

    issn0034-7612

    Mercado de trabalho: mltiplos (des)entendimentos*

    Sidinei rocha de oliveira**Valmiria Carolina piccinini***

    Sumrio: 1. Introduo; 2. As vertentes econmicas para compreenso do mercado de trabalho; 3. A interpretao da sociologia econmica; 4. A interpretao da teo-ria institucional; 5. Contribuies de Bourdieu: as estruturas sociais da economia; 6. Consideraes finais.

    Su m m a ry: 1. Introduction. 2. Economic approaches for understanding the job market; 3. The interpretation of economic sociology; 4. The interpretation of the institutional theory; 5. Bourdieus contributions: the social structures of the economy; 6. Final remarks.

    PalavraS-chave: mercado de trabalho; economia; sociologia.

    Key wordS: work market; economy; sociology.

    O termo mercado de trabalho permeia grande parte das discusses da sociologia e da economia na atualidade. Porm, mesmo sendo comum encontrar textos que utilizem o termo buscando dimension-lo, compreend-lo, bem como explicar as mudanas que tem sofrido nas ltimas dcadas, so poucos os estudos que desenvolvem uma reflexo terica do conceito e que destacam a vertente que esto seguindo. No pre-sente trabalho busca-se analisar o conceito de mercado de trabalho em diferentes perspectivas da economia e a sociologia, a fim de aprofundar a discusso sobre o tema. Para tanto, procura apresentar algumas das principais abordagens do termo, destacando sua vertente terica e possveis limitaes. Da economia so considera-

    * Artigo recebido em mar. 2010 e aceito em abr. 2011.** Professor adjunto do Departamento de Administrao da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em administrao pela Universit Pierre Mends-France (Grenoble) e Escola de Administrao PPGA/EA/UFRGS (Porto Alegre). Endereo: rua Tiradentes, 111, ap. 1501 Ing CEP 24210-510, Niteri, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected].*** Professora associada da Escola de Administrao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutora em economia do trabalho e da produo pela Universit Pierre Mendes France (Grenoble). Endereo: rua Washington Luis, 855, sala 422 Centro CEP 90010-460, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected].

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    das as construes das teorias clssica, keynesiana e da segmentao. A seguir so expostas a abordagem das redes sociais da sociologia econmica e a abordagem institucional. A partir das reflexes sobre o potencial e as limitaes de cada vertente e dos conceitos de Bourdieu, apresenta-se um conceito para ampliar a compreenso e a discusso do termo. Acredita-se que, seguindo esta abordagem, ser possvel ampliar o debate sobre as estruturas econmicas da atualidade. Para finalizar, faz-se um esboo de como seria possvel a compreenso do mercado de trabalho em tempos de mundializao.

    The work market: multiple (mis)understandingsThe term work market permeates a great number of the present-day debates in soci-ology and economy. However, even though it is common to find texts that attempt to dimension and understand work, as well as explain the changes it has undergone in recent decades, there are few studies that look into the theoretical aspects of the concept and highlight the perspective they are following. In the present study an attempt is made to analyze the concept at different approaches. For this purpose, some of the main approaches towards the term are presented, and their theoretical perspective and possible limitations are highlighted. From the field of economy, the constructions of the classical Keynesian and segmentation theories are considered. After we present the economic sociological approach of social networks and insti-tutional approach. Based on reflections on the potential and limitations of each approach and of the ideas of Bourdieu, an idea for extending the understanding and debate on the term is offered. It is believed that by following this approach it will be possible to extend the debate on the current economic structures. To finish, an outline is made of the how it would be possible to understand the work market in times of mundialization.

    1. Introduo

    A relao entre o trabalhador e as organizaes adquiriu importncia fun-damental a partir da Revoluo Industrial, sendo marcante nesta relao o comportamento do mercado de trabalho. Ainda hoje, o termo mercado de trabalho permeia grande parte das discusses da sociologia e da economia, com destaque para os trabalhos da rea de relaes de trabalho. Porm, mes-mo sendo comum encontrar textos que utilizem o termo buscando dimensio-n-lo, compreend-lo, bem como explicar as mudanas que tem sofrido nas ltimas dcadas em funo do desenvolvimento tecnolgico e das alteraes nos padres econmicos, so raros os estudos que desenvolvem uma reflexo terica do conceito ou mesmo que apresentam qual a vertente terica que ser utilizada para a anlise.

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    Talvez por ser um dos primeiros conceitos que busca explicar a relao entre trabalhadores e organizaes, pode-se acreditar que se trata de um ter-mo j claramente definido, sendo desnecessrias novas anlises sobre o tema. No entanto, a compreenso predominante sobre o mercado de trabalho est inevitavelmente impregnada dos pressupostos presentes no vocabulrio mais usual, em que prevalece a viso de um lugar (eventualmente abstrato) onde o conjunto de ofertas e de demandas de emprego se confrontam e as quan-tidades oferecidas e demandadas se ajustam em funo do preo, isto , dos salrios no mercado de trabalho.

    Esta perspectiva apenas uma das possibilidades de compreenso do mercado e, como outras, denota uma srie de limitaes quando analisada a partir das relaes entre indivduos, instituies e sociedade. O mercado de trabalho, como o espao em que ocorrem estas relaes, modifica-se cons-tantemente, dando origem a mltiplas formas de compreender como estas relaes podem se efetuar. Desta forma, consider-lo como um conceito cons-tante sem revisit-lo e question-lo ao longo do tempo implica negar o carter dinmico da sociedade.

    Neste artigo tem-se por objetivo analisar o conceito de mercado de trabalho a partir de diferentes perspectivas tericas, a fim de aprofundar a discusso sobre o tema. Para tanto, busca-se indicar algumas das principais abordagens do termo, destacando sua vertente terica e possveis limitaes. Da economia so consideradas as construes das teorias clssica, keynesiana e da segmentao. A teoria econmica se consolida prioritariamente e, por estar calcada em elementos abstratos e modelos matemticos,1 faz uma an-lise objetiva da estrutura do mercado de trabalho, primando pelos interesses financeiros de indivduos e organizaes.

    Da sociologia so destacadas a abordagem das redes de relacionamento, a vertente institucional e sua relao com a formao de diferentes mercados. A partir das reflexes sobre o potencial e limitaes de cada vertente e dos conceitos de Bourdieu, apresenta-se um conceito para ampliar a compreenso e discusso do termo. Acredita-se que, seguindo esta abordagem, ser possvel trazer novos elementos ao debate sobre as estruturas econmicas da atualida-de. Para finalizar, faz-se um esboo de como seria possvel a compreenso do mercado de trabalho em tempos de mundializao.

    1 Apesar de representar aspectos importantes da teoria econmica, estes modelos no sero foco deste ensaio.

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    2. As vertentes econmicas para compreenso do mercado de trabalho

    O funcionamento do mercado de trabalho de suma importncia para o de-sempenho de uma economia. Nveis salariais, taxas de emprego/desemprego, distribuio de renda, incrementos de produtividade, investimentos em qua-lificao, bem como o grau de conflito entre seus diversos atores so algumas das variveis que, sob este enfoque, devem ser levadas em conta.

    2.1 As interpretaes clssicas2

    Adam Smith, economista clssico, faz as primeiras referncias ao mercado de trabalho no final do sculo XVIII. Nesta perspectiva, o funcionamento do mercado de trabalho idntico aos demais mercados, podendo ser verificados comportamentos econmicos de firmas e indivduos que buscam maximizar seu bem-estar e onde as funes da oferta e demanda de emprego dependem do nvel de salrio. Caso exista algum desajuste entre oferta e demanda, se todos os trabalhadores no encontram um trabalho, porque o nvel dos sal-rios est muito alto. A empresa tende a contratar trabalhadores enquanto seu custo marginal inferior produtividade marginal do trabalho. A baixa do custo do trabalho se traduz ento por um crescimento da oferta de emprego. A interveno de sindicatos, convenes coletivas etc. influenciam o nvel dos salrios reais que se afastam dos parmetros de equilbrio, gerando, dessa forma, desemprego (Brmond e Gldan, 1984).

    No sentido clssico, o trabalho um produto, no qual os trabalhadores so vendedores, os empregadores atuam como compradores, os salrios so considerados, o preo e o mercado de trabalho representam o espao onde ocorrem estas transaes. As diferenas de preo entre companhias sero re-duzidas com o livre deslocamento dos trabalhadores entre organizaes, o que permite que, eventualmente, se alcance o equilbrio dos salrios em todo o mercado. Este arranjo est inserido no sistema mais amplo da produo capi-talista, cumprindo duas funes: aloca os trabalhadores de uma sociedade em diferentes espaos produtivos e assegura renda queles que participam desta relao (Horn, 2006).

    2 O termo clssico est sendo utilizado neste momento de maneira abrangente para considerar as interpretaes tradicionais do mercado de trabalho.

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    Na vertente marxista, o tratamento da fora de trabalho como mer-cadoria, como apresentado na teoria clssica, engendra a explorao dos trabalhadores. A propriedade dos meios de produo e do desenvolvimen-to tecnolgico permite ao capitalista manter uma parcela dos trabalhadores desempregados. A existncia deste exrcito de reserva de trabalhadores pos-sibilitaria a manuteno de salrios a nveis to prximos quanto possveis do nvel de subsistncia. Mesmo que em algum momento se alcance o pleno emprego, este no ser duradouro, visto que o capitalismo caracterizado por uma instabilidade dinmica que se traduz por crises econmicas.

    Segundo esta vertente, a organizao do mercado de trabalho carac-terizada por uma desigualdade na distribuio dos recursos de poder entre as duas partes, bem como dos diferentes membros (trabalhadores ou organiza-es) dentro de seu respectivo grupo. O lado da oferta, sobretudo, padece de uma grande fraqueza que dificulta, quando no inviabiliza as possibilidades de negociao, ficando a critrio das organizaes o estabelecimento do preo.

    Assim, o desemprego a tendncia que est relacionada com o capita-lismo, uma vez que este d suporte para a baixa dos salrios reais e permite aumentar a explorao dos trabalhadores (Brmond e Gldan, 1984). No entanto, ao analisar o mercado a partir de dois grandes grupos (classes), Marx mantm a compreenso da economia clssica na qual as relaes se do a par-tir da oferta e demanda de mo de obra. Sua maior contribuio est na liga-o do mercado de trabalho com o funcionamento do capitalismo, destacando que, no processo contnuo de reproduo do capital na busca de ampliao da mais valia, o processo de trabalho seria continuamente transformado por meio das mudanas na tecnologia. Consequentemente, tambm haveria alteraes na forma de organizao do trabalho e, numa esfera mais ampla, na estrutura do mercado de trabalho.

    Na perspectiva neoclssica, que surge no final do sculo XIX, o nvel de emprego tambm resulta da confrontao entre oferta e demanda. O salrio (ou preo do trabalho) a varivel estratgica que permite a obteno do equilbrio. Entretanto, nesta tica, a formao (universitria, tcnica, entre outras) pode ser considerada como um investimento em capital humano, onde a rentabilidade funo tanto dos custos dos estudos quanto da pers-pectiva de renda ligada diferena de qualificao obtida pelo trabalhador ao longo da vida ativa. A oferta de trabalho, por sua vez, engloba questes re-lacionadas produtividade individual como as decises sobre o investimento em capital humano, que determina a proficincia ou ocupao do trabalhador e o acesso ao lazer. Considera, tambm, que os trabalhadores podem se mover livremente e que podem escolher entre uma grande variedade de opes no

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    mercado de trabalho, baseados em seus gostos e preferncias, habilidades e capacidades especficas e que, portanto, iro receber uma remunerao sobre a base de suas capacidades de capital humano (Kopschina, 2001).

    Os adeptos do keynesianismo, que ganha destaque na primeira metade do sculo XX, contestam a existncia de tal mercado de trabalho, alegando que a demanda de trabalho das firmas no se determina pelos salrios. As necessidades de mo de obra das empresas so decorrentes de seu volume de produo, que est ligado ao nvel de demanda que as empresas buscam aten-der. Assim, as quantidades de mo de obra demandadas so definidas fora do equilbrio do modelo de mercado de trabalho defendido pelos neoclssicos e o nvel de oferta de emprego pode ser inferior disponibilidade de mo de obra, configurando uma situao de desemprego. O nvel de equilbrio do emprego nem sempre o pleno emprego, uma vez que a oferta de fora de trabalho determinada pelo interesse no salrio baseado em seu poder de compra de mercadorias de consumo (Singer, 1979).

    Em qualquer destas abordagens o espao de trabalho considerado como um todo, de modo que todos os trabalhadores poderiam se candidatar para qualquer vaga que esteja sendo ofertada. Ao tratar o mercado de modo to amplo, mesmo que se considere as relaes de poder e conflito (Marx), qualificao (neoclssicos) e a interferncia do Estado (keynesianismo), no so considerados aspectos regionais, demogrficos e profissionais que podem dar origem a diferentes arranjos na relao capital-trabalho, possibilitando a coexistncia de mais de um mercado. Esta possibilidade de diversidade de espaos de trabalho superada, em alguma medida, pela teoria da segmenta-o, que ser apresentada a seguir.

    2.2 A teoria da segmentao

    Para os defensores da teoria da segmentao, o mercado no um nico es-pao competitivo em que todos os postos de trabalho estariam igualmente disponveis a todos os trabalhadores, mas sim um conjunto de segmentos que no competem entre si, porm remuneram de formas diferentes o capital hu-mano, porque existem barreiras que no permitem que todos se beneficiem igualmente do mesmo nvel de educao e treinamento. Assim, haveria um mercado interno no qual os trabalhadores estariam mais protegidos e com me-lhores condies de trabalho e de qualificao, e um mercado externo, onde o trabalho seria regido de acordo com as regras da economia clssica.

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    FrancisHighlightCrticas s abordagens econmicas sobre o mercado de trabalho

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    Segundo Gambier e Vernieres (1991), como a empresa vive em um am-biente de informao incompleta e de mudana, esta precisa se adaptar in-certeza e instabilidade e organizar o trabalho em consequncia. Esta lgica geral de gesto de mo de obra contm dois aspectos que a princpio so con-traditrios: a necessidade de aprovisionamento do trabalho ao menor custo possvel e a vontade de aumentar a eficcia do trabalho. Estas duas prticas conduzem para caminhos distintos, por consequncia daro origem a formas diferentes de gesto de mo de obra.

    Ainda segundo esta teoria, h mltiplos mercados de trabalho que se formam a partir da diversidade de atividades profissionais, podendo haver abundncia de demanda em alguns segmentos e setores e falta em outros. Alm da profisso, a localizao geogrfica dos empregos e da mo de obra, os graus de qualificao exigidos, as delimitaes etrias multiplicam o nmero de mercados de trabalhos que se justapem. Essa pluralidade explica por que, mesmo em um perodo de desemprego importante, pode ocorrer a ausncia de mo de obra em determinados segmentos.

    A teoria da segmentao pressupe no somente a existncia de sub-mercados agindo independentes uns dos outros e funcionando em circuito fechado, mas, tambm, que tal segmentao est no centro do mecanismo de funcionamento do mercado de trabalho. Entre as mltiplas abordagens da segmentao, a ideia de dualidade do mercado de trabalho teve des-taque em estudos latino-americanos (Cunha, 1979). Segundo esta pers-pectiva, no mercado de trabalho existiria um setor primrio (ou central) caracterizado pela segurana da carreira, com procedimentos sociais regu-lados pelo Estado; e um setor secundrio (ou perifrico), caracterizado por baixos salrios, alta rotatividade de trabalhadores, falta de qualificao, possibilidades restritas de promoo e ausncia de segurana no emprego. Este segmento, nitidamente desfavorecido, formado por trabalhadores em situao de fraqueza junto aos empregadores: trabalhadores imigran-tes, mulheres, mo de obra pouco qualificada, trabalhadores de empresas subcontratadas, entre outros.

    Nos pases em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, a ideia de seg-mentao do mercado de trabalho comumente utilizada para compreender a elevada desigualdade de renda existente. Para alguns autores, a concentrao de renda seria decorrente da grande disparidade de salrios existente entre trabalhadores mesmo com capacidades produtivas semelhantes em fun-o da existncia de dois mercados: um formal e outro informal (Camargo, 1989; Fernandes, 1996). No segmento formal estariam os trabalhadores com

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    carteira assinada protegidos pela legislao trabalhista; no informal,3 aque-les que no gozariam de todos os benefcios legais.

    Nos pases desenvolvidos, o modelo fordista contribuiu para a amplia-o do segmento central, protegido dentro do modelo do padro assalariado. Entretanto, com as transformaes na esfera do trabalho a partir dos anos 1970, principalmente com a insero de novas tecnologias e, consequente-mente, com a reduo de mo de obra, o mercado assume um novo modelo, mais flexvel, em que se ampliou o nmero de trabalhadores fora do grupo central. Assim, passaram a coexistir diferentes segmentos de trabalhadores, sendo um central, formado por trabalhadores estveis, protegidos pela regras que orientam o trabalho assalariado, constituindo um mercado primrio de emprego. A seguir, dois segmentos perifricos: o primeiro, constituindo o mercado secundrio de emprego, onde estariam trabalhadores com tarefas e competncias menos complexas; o segundo, integrando diferentes tipos de trabalhadores com qualificaes mais elevadas que operam part-time ou com contratos de prestao de servios. Por fim, h um grupo marginal, forma-do por trabalhadores que atuam fora do mercado formal, que podem prestar servios s organizaes de acordo com a demanda destas (Atkinson, 1988; Cerdeira, 2000).

    A segmentao seria, nesta perspectiva, uma forma pela qual as empre-sas tentam resolver a crise do fordismo, ou seja, o segmento primrio continu-ando a sustentar a estabilidade da produo e a manuteno de uma demanda constante; e o segmento secundrio contribuindo para reduzir o custo das em-presas, assegurando a flexibilidade da produo. Essa segmentao do merca-do de trabalho se manifestaria nas economias por meio do estabelecimento de contratos de durao determinada, a extenso do trabalho temporrio, entre outros. As indstrias que se utilizam de mo de obra pouco qualificada e de-mandadoras de uma tecnologia facilmente assimilvel pelos pases perifricos so condenadas ao deslocamento para um contexto de abertura de fronteiras. Em vista do baixo custo da mo de obra, por ser pouco qualificada, existente nos pases em via de desenvolvimento, a manuteno dos empregos nos pa-ses industrializados no pode acontecer em todos os domnios: necessrio

    3 O conceito de informalidade utilizado atualmente tem sido contestado em funo da diversidade de novos vnculos de trabalho que surgem, bem como pelas diferentes metodologias utilizadas por rgos de pesquisa (Noronha, 2003; Piccinini, Oliveira e Rubenich, 2006). Entretanto, o conceito aqui destacado na diferenciao dos dois segmentos segue a definio dos autores brasi-leiros (Camargo, 1989; Fernandes, 1996; Cacciamali, 2003) que analisam o mercado de trabalho nacional sob esta perspectiva.

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    escolher as especializaes que correspondem a suas vantagens relativas e abandonar setores inteiros da indstria (Brmond e Gldan, 1984).

    No Brasil, onde no houve uma consolidao do modelo fordista e o mercado de trabalho permaneceu marcado pela heterogeneidade de vnculos laborais, a busca pela flexibilizao, bem como a contnua desregulamentao das leis trabalhistas contriburam para uma fragmentao ainda maior da for-a de trabalho. A flexibilizao traz uma nova variedade de vnculos contra-tuais em que a fora de trabalho pode ser alocada interna ou externamente, numrica ou funcionalmente resultando numa ampliao dos mercados de tra-balho no pas. Em alguns casos, como no estgio no obrigatrio e no trabalho free-lance nas reas de jornalismo (Bukhardt, 2006) e cincia da informao (Potengy e Castro, 2000), verificam-se formas particulares de flexibilizao do trabalho no Brasil. Estas particularidades de cada sociedade tornam ainda mais complexa a compreenso da estrutura do mercado de trabalho.

    Nas abordagens econmicas, embora se faa referncia a uma interfe-rncia do Estado como agente regulador, a anlise do mercado est limitada ao de trabalhadores e firmas, sem considerar construes sociais de cada profisso ou rea de atuao, bem como a influncia de outros agentes nas aes que ocorrem dentro de um determinado mercado de trabalho. Alm dis-so, a compreenso do mercado de trabalho dentro desta perspectiva se d por meio de dados numricos em determinado perodo, os quais passam a ideia de uma fotografia do mercado, mas no consideram seu carter dinmico. Mesmo utilizando sries histricas e enfatizando as alteraes que ocorreram ao longo do tempo, pouco se explora sobre os porqus destas transformaes e quais as aes empreendidas pelos atores envolvidos.

    3. A interpretao da sociologia econmica

    Na sociologia econmica, que surge primeiramente nos Estados Unidos com os trabalhos de Granovetter (1985, 1995, 2005) e de Richard Swedberg (1996, 2000), passam a ganhar destaque as aes sociais dos atores que participam da formao dos mercados. Seus estudos ainda esto relacionados com as teorias econmicas clssicas do mercado de trabalho, que indicam que uma quantida-de dada de demanda resultar em um determinado nvel de emprego. Porm, para Granovetter (1995, 2005), h vrios elementos sociais e organizacionais que limitam o movimento livre do trabalho na economia, o que seria conse-quncia da ausncia de informaes perfeitas. Assim, o autor analisa a dinmi-ca do mercado de trabalho do ponto de vista da busca de oportunidades pelos

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    FrancisSticky NoteCrticas s abordagens econmicas sob o prisma da teoria da segmentao.

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    trabalhadores, ressaltando as redes de relacionamento como facilitadoras da mobilidade fixada e disseminada no mercado.

    Segundo Granovetter (1995), os profissionais utilizam trs formas de encontrar oportunidades de trabalho: meios formais (propagandas, agncias de emprego pblicas e privadas, concursos e selees patrocinadas por uni-versidades ou por associaes profissionais), contatos pessoais e contato direto com a organizao. Os mecanismos formais que representam a busca de trabalho dentro da perspectiva clssica, quando a informao estaria dispon-vel para todos aqueles que podem concorrer a uma determinada vaga per-mitem esclarecer apenas 20% das colocaes. A maioria dos postos dispon-veis (56%) encontrada de modo informal, por meio de amigos, colegas ou familiares, pelos quais os indivduos so informados do surgimento de novos postos. Desta forma, a vantagem financeira no configuraria como o motivo de maior concorrncia em determinados postos, visto que muitos candidatos nem saberiam de sua existncia, uma vez que a divulgao destas oportunidades muitas vezes restrita a redes de relacionamento onde os laos de confiana so mais representativos (Granovetter, 1995).

    Alm disso, na procura por trabalho, a transao realizada para a esco-lha de um trabalhador para um determinado posto no totalmente segura, nem sempre o mais apto e com melhores qualificaes ser selecionado para o posto a que se candidata. Ambos os lados avaliam a oportunidade e consi-deram os benefcios (remunerao, carreira, confiana) que resultariam da firmao do contrato. Desta forma, desenvolve-se um jogo na procura por oportunidades de trabalho, no qual a maioria dos indivduos no se baseia no sentido econmico formal, ou seja, identificando e analisando um grande nmero de oportunidades para as quais estaria apto. Especialmente aps o primeiro trabalho e, principalmente, quando se alcana posies de salrio elevado, os profissionais confiam primeiramente em seus contatos pessoais para comear a informao sobre oportunidades de trabalho e mudana ao in-vs de modos mais formais e impessoais (jornal, agncias de emprego etc.).

    Pelo exposto, nota-se que a ideia de ajuste entre curvas de oferta e de-manda no se aplica grande parte dos postos existentes no mercado, espe-cialmente queles em nvel gerencial e em ramos profissionais especficos. Os preos no so formados pela combinao entre fora de trabalho e postos oferecidos, como apresentado na teoria clssica. Seguindo esta perspectiva a busca pelo trabalho mais do que um processo racional, estando relacionada com outros processos sociais que interferem e ajudam a determinar seus resul-tados (Granovetter, 1995).

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    merCado de trabalho: mltiploS (deS)entendimentoS

    Nesta abordagem, o homem econmico no sentido estrito, aquele que procura as oportunidades de emprego diretamente no mercado, est em des-vantagem diante do homem social, que utiliza seus contatos pessoais como meio de encontrar novas oportunidades. Entretanto, suas aes tambm so racionais, visto que os contatos pessoais podem dar a informao mais inten-sivamente sobre oportunidades do que a busca formal. Para as empresas, a busca informal tambm atraente porque estreita eficazmente sua prpria procura, permitindo a reduo de custos.

    A abordagem das redes de relacionamento proposta por Granovetter lana novas possibilidades de compreenso do mercado de trabalho, calcan-do a anlise fortemente na ao e nos processos sociais, o que permite am-pliar a discusso e compreender algumas diferenas na formao de mercados profissionais especficos. A partir desta base terica, possvel aprofundar os estudos sobre a formao de carreiras profissionais, frequentes na rea de recursos humanos, bem como analisar qual o limite da contribuio das estru-turas formais de alocao de postos de trabalho dentro de cada regio, a fim de propor mudanas em sua forma para tornarem-se mais eficientes no servio oferecido.

    Entretanto, a teoria das redes de relacionamento est baseada princi-palmente na ao individual, considerando apenas parcialmente a ao de grupos e instituies na formao dos mercados de trabalho. Alm disso, no possibilita aprofundar a compreenso das diferenas de gnero, etnia e idade na formao da fora de trabalho.

    4. A interpretao da teoria institucional

    Seguindo a vertente da teoria institucional para compreenso do mercado de trabalho, destaca-se a importncia da atuao de diferentes atores (sindicatos, governo, empresas etc.), bem como a interferncia de regionais na formao da fora de trabalho: nvel de qualificao, valores com relao ao trabalho e outros elementos culturais.

    A abordagem institucional surge nos Estados Unidos nos primeiros anos do sculo XX num contexto em que predomina a imigrao em larga escala, que aumenta a oferta de mo de obra, sobretudo, de trabalhadores pouco qualificados, em que os empresrios definem todas as regras que regem o mer-cado de trabalho e a relao capital trabalho. A estas condies somam-se as polticas pblicas que buscam direcionar os imigrantes para segmentos secun-drios para proteo dos nativos e normas governamentais de regulao da

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    atividade industrial (Cain, 1976). Esta perspectiva se mantm nos anos 1940 e 1950 com os neoinstitucionalistas que no acreditam nas propostas dos modelos neoclssicos defensores da competio perfeita , que destacam a necessidade de crescimento do papel do Estado e de instituies de regulao, como sindicatos.

    Os institucionalistas defendem que o mercado de trabalho influencia-do por: legislaes especficas que regulamentam as atividades de cada setor; rgos de representao (sindicatos, federaes, associaes, entre outros); grandes corporaes atuantes em cada setor; e a regulao governamental sobre a atividade industrial. Assim, existiriam diversos mercados internos que operam independentemente do mercado externo de trabalho, baseados em regras institucionais internas particulares, prprias destes mercados (Kopschi-na, 2001).

    Steiner (2005), apoiando-se nos estudos de Michel Fors e de Granovet-ter, refora a abordagem institucional e traz novos elementos para a discus-so. Segundo o autor, alm das redes sociais centradas na famlia, amigos e colegas de trabalho tratados por Granovetter, a existncia de rgos de media-o especficos, como concursos e organizaes de colocao de mo de obra, tambm contribuem para a organizao e alteraes do mercado de trabalho. Ao assumirem papel importante na obteno de um posto de trabalho, estas redes interferem na organizao mercantil, indo contra a ideia de igual dispo-nibilidade de postos a todos os interessados. Assim, em cada mercado de tra-balho existe um conjunto de instituies formais que contribuem fortemente para dar a este uma dinmica especfica.

    Na teoria institucional do mercado de trabalho, as normas e as formas de capacitao, seleo e remunerao dos trabalhadores no seguem sim-plesmente a lgica da competncia e do mercado. Mdias e grandes empresas independente da existncia e interferncia de sindicatos definem suas prprias regras e prticas de como preparar os trabalhadores para os postos, como pag-los, atribuir-lhes funes, bem como as promoes internas no m-bito da organizao. Todos os ofcios e profisses, bem como certas empresas, se orientam por regras institucionais, em vez da simples lgica mercantil da oferta e da demanda. Os profissionais se movem e competem em segmentos/ramos especficos do mercado de trabalho, de modo que no ocorre competi-o direta por postos oferecidos em diferentes setores.

    A teoria institucional tambm considera a segmentao do mercado de trabalho, porm altera-se o enfoque da vertente econmica, sendo ressalta-das pelos institucionalistas as normas e as instituies sociais que regem e estruturam os diferentes territrios que formam o mercado de trabalho. Nesse

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    sentido, tanto a estrutura de postos de trabalho como a mo de obra no cons-tituem elementos unitrios e homogneos, mas sim conglomerados segmenta-dos uns dos outros. Nesta perspectiva, pessoas com as mesmas caractersticas em alguns aspectos, como escolaridade, conhecimentos tcnicos, idade, expe-rincia, no tm a mesma oportunidade de alcanar uma vaga, visto que so as empresas que definem normas especficas, como tempo de permanncia na mesma, forma de recrutamento, mobilidade horizontal ou vertical e a remu-nerao de seus trabalhadores (Pries, 2000).

    No que se refere s barreiras de entrada a certos postos de trabalho, pode-se distinguir ao menos trs caractersticas: demogrficas, como faixa et-ria, gnero ou etnia; pessoais adquiridas, nvel de estudos e experincia de tra-balho; e, por ltimo, normas estabelecidas implcita ou explicitamente, seja por imposies unilaterais ou por negociaes contratuais. Estas normas institu-cionais no resultam da simples sobrerregulao ou de desvios da sociedade e das ideias econmicas de mercado, uma vez que representam outras dimen-ses (cultural, religiosa, econmica) constituintes da sociedade. As formas e a ordenao da convivncia social e da reproduo material e social dos seres humanos dentro destas sociedades vo muito alm da instituio social do mercado. esta a diferena essencial entre uma viso economicista de merca-do de trabalho e um enfoque sociolgico da estruturao social da adaptao e o intercmbio entre postos de trabalho e mo de obra, entre possibilidades e necessidades de atividades econmicas remuneradas (Pries, 2000).

    Nestes termos, para Pries (2000), cada profisso configura-se como um grupo social baseado em conjuntos especficos de atividades, competncias e orientaes ocupacionais que esto certificadas socialmente, cujo acesso regulado por instituies corporativas (conselhos, associaes, sindicatos etc.) que constituem uma rede de relaes sociais da vida cotidiana baseada em nexos e compromissos de lealdade e cuidado mtuos a mdio e longo pra-zos. Estas normas de ao esto baseadas na tica profissional desenvolvida durante os anos de formao (no caso de profisses de curso superior) ou na continuidade do convvio dirio e vnculos a organizaes de classe.

    Esta abordagem permite ampliar as possibilidades de anlise e com-preenso do mercado de trabalho como um espao de relaes sociais, onde existem atores (Instituies de classe, rgos reguladores, Estado, entre ou-tros) que interferem na estrutura particular de cada segmento profissional ou setor empresarial. Contudo, no destaca as disputas que existem quando estes atores esto interessados na manuteno (ou mudana) de um determinado espao ou posio nas relaes desenvolvidas, deixando de considerar o dina-mismo das relaes sociais.

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    5. Contribuies de Bourdieu: as estruturas sociais da economia

    A proposta sociolgica de Bourdieu, ao enfatizar as relaes de poder que se estabelecem entre os diferentes agentes, abre a possibilidade para uma nova compreenso do conceito de mercado. Para isto, importante destacar a ideia de campo proposta pelo autor. Segundo Bourdieu (2001:242-243),

    A noo de campo marca a ruptura com a lgica abstrata da determinao au-tomtica, mecnica e instantnea do preo em mercados entregues a uma con-corrncia sem limites: a estrutura do campo, isto , a estrutura de fora (ou de relaes de poder) entre empresas que determina as condies em que os agentes so levados a decidir (ou negociar) os preos de compra (de materiais, de trabalho, etc.) e os preos de venda vemos que, invertendo totalmente a imagem que temos de estruturalismo, concebido como uma forma de holismo implicando a adeso a um determinismo radical, esta viso da ao restitui aos agentes uma certa liberdade de jogo, mas sem esquecer que as decises no passam de opes entre possveis definidos, nos seus limites, pela estrutura do campo e que as aes devem a sua orientao e a sua eficcia estrutura das relaes objetivas entre aqueles que as desenvolvem e aqueles que as sofrem. [...] E essa estrutura social especfica que comanda as tendncias imanentes aos mecanismos do campo e, ao mesmo tempo, as margens de liberdade deixa-das s estratgias dos agentes. No so os preos que fazem tudo, o todo que faz os preos.

    Segundo Bourdieu, o campo de foras onde se desenvolvem as relaes entre os agentes tambm um campo de lutas, um espao de ao socialmen-te construdo onde os agentes dotados de recursos (econmicos, tecnolgicos, sociais etc.) diferentes se confrontam para confirmar as trocas e conservar ou transformar a relao de fora vigente. Nestes espaos, as organizaes empreendem aes que dependem da estrutura da distribuio do capital sob todas as suas formas. Ao contrrio do defendido por autores de vertente eco-nmica, as organizaes no se encontram num universo sem limitaes, em que podem desenvolver suas estratgias de forma autnoma e unilateral, mas so orientadas pelas limitaes e possibilidades que esto vinculadas sua posio e pela imagem que tm desta posio e da dos seus concorrentes, em funo de sua informao e de suas estruturas cognitivas (Bourdieu, 2001).

    As foras do campo orientam aqueles que esto em posies favorecidas (os dominantes) por estratgias que tm por fim perpetuar ou redobrar sua dominao. assim que o capital simblico de que dispem, devido a sua pro-

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    eminncia e, tambm, pela sua antiguidade, lhes permite recorrer com sucesso a estratgias destinadas a intimidar seus concorrentes, como a de emitir sinais com vistas a dissuadi-los de atacar. Ou seja, as empresas hegemnicas tm a capacidade de impor o ritmo das transformaes nos diferentes domnios (produo, investigao, relaes de trabalho) e o uso do tempo que esto no campo uma das principais vias do seu poder. O surgimento de um novo agente eficiente nesta estrutura tende, contudo, a modificar o campo, assim como a adoo de novas tecnologias e a aquisio de maior quota de mercado tambm podem alterar as posies relativas e o rendimento dos diversos capi-tais detidos pelas outras firmas (Bourdieu, 2001).

    As fronteiras no campo econmico, como em qualquer outra categoria, so o limite de lutas dentro deste em funo da possibilidade de entrada de novos agentes que modificariam as regras de concorrncia j institudas. As-sim, somente uma detalhada anlise emprica seria capaz de determinar sua estrutura. Em grande parte os campos so dotados de uma existncia quase institucionalizada sob a forma de ramos de atividades em que se destacam or-ganizaes profissionais que funcionam como princpios de excluso de outras organizaes e como instncias de representao perante os poderes pblicos, os sindicatos e outras instncias anlogas e dotadas de rgos permanentes de ao e expresso. Porm, entre todas as trocas realizadas com o exterior do campo, as mais importantes so aquelas que se estabelecem com o Esta-do. A competio entre empresas muitas vezes pode assumir a forma de uma competio pelo poder sobre as regulamentaes advindas do Estado e pelas vantagens asseguradas pelas diferentes intervenes estatais, tarifas preferen-ciais, patentes, ajudas criao de emprego etc. (Bourdieu, 2001).

    Ou seja:

    Aquilo a que chamamos de mercado o conjunto das relaes de troca entre agentes colocados em concorrncia, interaes diretas que dependem da es-trutura socialmente construda das relaes de fora para a qual os diferen-tes agentes envolvidos no campo contribuem com diversos graus atravs das modificaes que lhe conseguem impor, usando nomeadamente dos poderes estatais que esto em situao de controlar e orientar. Com efeito, o Estado no apenas o regulador encarregado de manter a ordem e a confiana, o rbitro encarregado de controlar as empresas e as suas interaes que normalmente nele vemos (Bourdieu, 2001:253-254).

    Outros fatores capazes de contribuir para uma transformao das rela-es de fora no campo so as mudanas nas fontes de aprovisionamento e na

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    procura, determinadas por alteraes na demografia (como a baixa natalidade ou o aumento no tempo de vida) ou nos estilos de vida (aumento da participa-o feminina). Esses fatores externos s exercem seus efeitos sobre as relaes de fora no interior do campo por meio da mesma lgica dessas relaes de fora, isto , na medida em que constituem uma vantagem para aqueles que as incorporam.

    A manuteno dessas relaes faz com que os agentes do campo j in-corporem, a partir da posio que ocupam, as regras pelas quais podem jogar que, por sua vez, definem as estratgias que podem ser utilizadas. Nesta pers-pectiva, importante recorrer noo de habitus, entendido como elemento capaz de levar naturalizao da forma pela qual so conduzidas as relaes entre os agentes dentro do campo.

    O agente social, na medida em que dotado de um habitus, um individual coletivo ou um coletivo individuado por obra da incorporao das estruturas objetivas. O individual, o subjetivo social, coletivo. O habitus a subjetividade socializada, transcendental histrico cujos esquemas de percepo e de aprecia-o (os sistemas de preferncia, os gostos) so o produto da histria coletiva e individual. A razo limitada, no s como cr Herbert Simon, porque o esprito humano genericamente limitado (o que no uma descoberta), mas porque socialmente estruturado, determinado e, por isso, limitado (Bourdieu, 2001:262).

    O habitus um elemento que se universaliza atravs da forma de atuar dentro do campo. Contudo, os agentes no so universais porque suas proprie-dades e, em particular, suas preferncias e seus gostos so o produto da conti-nuidade ou descontinuidade de suas manifestaes no espao social, logo, da histria coletiva e individual. A conduta econmica socialmente reconhecida como racional o produto de certas condies econmicas e sociais (Bour-dieu, 2001).

    A partir desta perspectiva, o mercado de trabalho pode ser entendido como o espao de lutas entre diferentes agentes (indivduos, organizaes, rgos de regulao, pases etc.) que se constitui historicamente pela incorpo-rao de regras sociais que orientam as estratgias que os mesmos utilizam no interior deste mesmo campo. Nesse sentido, para compreender o mercado, muito alm da noo de oferta e demanda, necessrio conhecer o histrico inerente ao modo em que se estruturam as relaes no campo, bem como as diferentes posies que os agentes ocupam.

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    Com este conceito, possvel ampliar as anlises de algumas distor-es do mercado de trabalho que so frequentemente debatidas mesmo por aqueles que seguem a vertente econmica: diferenas de remunerao por g-nero e etnia; relao entre qualificao e emprego; as diversas estruturas que o mercado de trabalho de um mesmo ramo profissional pode ter em diferentes naes, entre outros.

    Como exemplo desta forma de compreender a formao do mercado de trabalho, destaca-se o estudo de Bonelli (1999) que, partindo do entendi-mento da formao profissional como processo, analisa como se desenvolveu o campo do direito no Brasil. Para isto, a autora focaliza a atuao do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (IOAB) entre 1843 e 1930 e as relaes entre profissionalismo e Estado. Bonelli evidencia que esta organizao foi criada por um segmento de elite, composto de bacharis em direito, com ob-jetivos que no se limitavam ao controle do mercado de trabalho, mas que se expandiam para o mbito da construo do Estado, assessorando-o com sua expertise em questes de jurisprudncia. A construo da moderna profisso de advogado no Brasil um processo que comeou no perodo imperial, a par-tir da abertura das Faculdades de Direito de So Paulo e de Olinda, em 1827, e da fundao do IOAB, em 1843. As lideranas dessa associao disputaram jurisdies visando a obteno do monoplio do credenciamento profissional e a fiscalizao do mercado de trabalho, sem perder de vista a importncia do mrito profissional e sua autonomia profissional. O processo expandiu-se com a criao da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 1930, e consolidou-se com as lutas pela preservao da autonomia da OAB, em face das tentativas de interveno do Estado, em 1955, e novamente entre 1968 e 1978, sob o regime militar.

    Este trabalho apenas um exemplo da importncia de uma anlise his-trica das disputas existentes entre os diferentes atores que formam determi-nado campo profissional, para que se possa compreender como cada mercado de trabalho se apresenta. Analisar quais so as regras que regem o funciona-mento do mercado, quais so os atores que o compem, o espao ocupado e o jogo disputado permite ampliar e aprofundar a compreenso sobre os rumos de transformaes em curso.

    A anlise do mercado de trabalho a partir do referencial de Bourdieu permite incorporar elementos das relaes de poder entre os atores que fazem parte deste. No entanto, a utilizao desta abordagem implica um profundo conhecimento da obra do autor e incorporao de sua base conceitual terica e metodolgica. Esta pode ser uma limitao na medida em que o autor cons-

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    truiu uma obra original e distinta de outras abordagens terico-metodolgicas, que, em alguns casos, dificulta o dilogo com autores de outras vertentes.

    6. Consideraes finais

    O presente artigo no teve a pretenso de lanar uma ideia definitiva, mas sim de incitar a discusso sobre o conceito de mercado de trabalho. Dentro desta proposta, buscou-se apresentar as diferentes abordagens sobre as quais o termo pode ser entendido, destacando a importncia da referncia ao con-ceito-base nos estudos desenvolvidos para que se possa melhor compreender e situar os resultados encontrados.

    Pode-se identificar que as abordagens que ainda predominam nos tra-balhos de hoje so aquelas ligadas economia clssica, onde aspectos sociais so praticamente desconsiderados e as distores encontradas no mercado so consideradas imperfeies. No Brasil, especialmente, a teoria da segmentao tem forte influncia na discusso da dualidade do mercado entre o formal e o informal (Cunha, 1979). Entretanto, este enfoque no permite compreender as variaes e transformaes destes dois segmentos em diferentes setores.

    J a teoria institucional e a abordagem da sociologia econmica consi-deram a importncia da ao social e das instituies na formao dos diferen-tes mercados. A situao econmica, arranjo institucional, a cultura e processo histrico do pas interferem na construo dos diferentes campos profissio-nais. Embora estas teorias possam apresentar suas limitaes, a construo de trabalhos dentro destas perspectivas contribuiria para o enriquecimento da discusso e para a construo de um lastro mais slido para futuros debates sobre o surgimento de diferentes campos profissionais.

    A proposta aqui apresentada, embora exija um estudo mais profundo e detalhado de cada campo profissional para que se possam fazer consideraes, traz consigo a possibilidade de desvendar as relaes de poder historicamente institudas e incorporadas no habitus de cada ator que participa do campo. uma forma de contextualizar histrica e espacialmente o grupo de trabalha-dores que se est discutindo. Alm disso, permite a incorporao de aspectos polticos e culturais anlise de relaes do campo econmico, bem como leva em conta atores que, mesmo no estando numa mesma base geogrfica, esto interessados no jogo e interferem nos arranjos que se formam.

    Na explanao sobre as diferentes abordagens, optou-se por demonstrar um posicionamento levantando as limitaes e divergncias encontradas em cada corrente, com objetivo de defender um ponto de vista. Esta postura no

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    implica a defesa de uma verdade definitiva, mas surge como um convite para a discusso e reflexo sobre um tema que orienta diversos estudos empricos, mas tem pouco espao de discusso terica.

    Cabe destacar que cada uma destas abordagens d origem a formas de compreenso e atuao do Estado na esfera do trabalho. A predominncia de estudos ligados economia clssica embasa aes neoliberais que favorecem um mercado concorrencial, reduzindo a interveno do Estado, principalmen-te no que se refere a protees sociais, reforando a posio dominante das grandes corporaes de cada setor. Ampliar o nmero de estudos que bus-quem mostrar as desigualdades geradas pela mo invisvel seria, tambm, uma forma de trazer para a discusso elementos da diviso social do trabalho e da estrutura dos mercados que passam despercebidos cotidianamente. Desta forma, seria possvel contribuir para um diferente embasamento das aes governamentais orientadas para o mercado estudado.

    Alm disso, impera atualmente uma acelerada diviso internacional das atividades produtivas, tornando-se cada vez mais complexo pensar nas relaes que se tecem entre capital e trabalho. Entretanto, fundamental estender o ho-rizonte de anlise para no ficar restrito a imagens parciais do contexto observa-do. Assim, em qualquer anlise voltada ao tema, h que se atentar para alguns aspectos, em especial a posio ocupada pela nao no cenrio internacional e o grupo de trabalho que est sendo analisado, no que se refere a peculiaridades relativas ao setor de atuao, grau de qualificao, legislao etc.

    Entre diferentes pases e dentro de cada nao o surgimento de uma multiplicidade de vnculos de trabalho (terceirizao, subcontratao, contrato temporrio, part time) colabora para ampliar ainda mais o nmero de mercados de trabalho existentes. As modificaes decorrentes da flexibili-zao do trabalho levam, em suma, formao de vrios conjuntos de traba-lhadores (Bourdieu, 2001).

    A integrao no campo econmico mundial por meio da livre-troca, a livre cir-culao do capital e o crescimento orientado para a exportao que propos-to aos pases dominados como destino ou como um ideal apresenta a mesma ambiguidade que a integrao no campo econmico nacional noutros tempos: ao mesmo tempo que aparenta um universalismo sem limites, ela serve os do-minantes, isto , os grandes investidores que, situando-se acima dos Estados podem contar com os grandes Estados, em particular com ao mais poderosos entre eles poltica e militarmente, os Estados Unidos, para assegurar as condi-es favorveis conduo das atividades econmicas (Bourdieu, 2001:282).

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    Assim, no mbito internacional pesa a fora que a nao possui junto a rgos de regulao (ONU, OIT, OMC, entre outros), onde, apesar do discurso da abertura de mercado e igualdade de condies, predomina a proteo entre as naes desenvolvidas e a explorao do capital internacional, sobretudo nas perifricas. Estas relaes desiguais tambm contribuem para a formao de uma fora de trabalho com diferentes condies e benefcios no interior das prprias naes desenvolvidas, j que estas simultaneamente recebem contin-gentes cada vez maiores de imigrantes, muitas vezes ilegais, para ocupar as vagas perifricas, informais e de menor valor simblico.

    Longe dos modelos matemticos ou do simples encontro de curvas de oferta e demanda, a compreenso do mercado de trabalho requer um con-texto e uma histria. Assim, para anlise do mercado de trabalho, preciso estabelecer a referncia a que grupo, que tipo de trabalho, qual nao, qual o histrico e como esta se insere no atual cenrio geopoltico.

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