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TEMA: NÓS NÃO TEMOS AS RESPOSTAS Textos da 2 edição da Revista Desgovernar (idéia de que todos os textos dialoguem com o tema, terminando com perguntas e questionamentos) 1 - Editorial: Nós não temos as respostas! Após o lançamento da primeira edição da revista Desgovernar, ouvimos de muitos militantes, companheir@s e leitores que nós problematizamos muitas questões, “que até são interessantes”, mas não apontamos as respostas para esses problemas, como quem se isenta de afirmar um caminho. E de fato assumimos a culpa por essa omissão. A Revista Desgovernar surge com o sentimento de que precisamos debater assuntos que são ignorados ou já estão dados como esgotados por grande parte da esquerda, e com o sentimento de que o movimento da história nos impõe a tarefa de compreender nosso momento e transformá-lo. A luta teórica sempre foi parte da tradição das organizações de esquerda, mas, a cada análise de conjuntura ou nota pública que lemos, vemos, quando muito, a disputa entre as certezas de cada organização, e em geral a pura agitação das suas bandeiras. A partir da certeza de que é preciso construir uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, de todos os tipos de opressão e libertária, ousamos construir uma revista que não está preocupada em afirmar arrogantemente uma certeza. Aliás, aqueles que estão cheios de certezas estão passando longe de apontar respostas. Fica ainda mais evidente a dificuldade da esquerda organizada de contribuir para esse movimento, uma vez que não há iniciativas de se

2 Edição - Revista Desgovernar

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TEMA: NS NO TEMOS AS RESPOSTAS

Textos da 2 edio da Revista Desgovernar(idia de que todos os textos dialoguem com o tema, terminando com perguntas e questionamentos)

1 - Editorial: Ns no temos as respostas!

Aps o lanamento da primeira edio da revista Desgovernar, ouvimos de muitos militantes, companheir@s e leitores que ns problematizamos muitas questes, que at so interessantes, mas no apontamos as respostas para esses problemas, como quem se isenta de afirmar um caminho. E de fato assumimos a culpa por essa omisso.

A Revista Desgovernar surge com o sentimento de que precisamos debater assuntos que so ignorados ou j esto dados como esgotados por grande parte da esquerda, e com o sentimento de que o movimento da histria nos impe a tarefa de compreender nosso momento e transform-lo. A luta terica sempre foi parte da tradio das organizaes de esquerda, mas, a cada anlise de conjuntura ou nota pblica que lemos, vemos, quando muito, a disputa entre as certezas de cada organizao, e em geral a pura agitao das suas bandeiras.

A partir da certeza de que preciso construir uma sociedade livre da explorao do homem pelo homem, de todos os tipos de opresso e libertria, ousamos construir uma revista que no est preocupada em afirmar arrogantemente uma certeza. Alis, aqueles que esto cheios de certezas esto passando longe de apontar respostas. Fica ainda mais evidente a dificuldade da esquerda organizada de contribuir para esse movimento, uma vez que no h iniciativas de se repensar as formas de interveno, seus velhos vicios de aparelhamento e suas prticas polticas. Parece que tais organizaes sabem exatamente o que fazer e ignoram o descrdito cada vez maior de quem se aproxima.

Diante dos desafios que esto colocados, preciso ser audacioso para no oferecer respostas desgastadas, mas de se colocar a disposio para o debate e levantar os questionamentos que possam de fato colaborar para a construo de uma alternativa. Nessa revista, dedicamos alguns desses questionamentos sobre a greve da educao aos professores do municipio e do estado do Rio de Janeiro.

As ensinanas da dvida

Tive um cho (mas j faz tempo)todo feito de certezasto duras como lajedos.

Agora (o tempo que fez)tenho um caminho de barroumedecido de dvidas.

Mas nele (devagar vou)me cresce funda a certezade que vale a pena o amorThiago de Mello

Boa leitura!

2 - O vermelho e o negro

D-se com a doutrina de Marx, nesse momento, aquilo que, muitas vezes, na histria, tem acontecido com as doutrinas dos pensadores revolucionrios e dos dirigentes do movimento libertador das classes oprimidas. Os grandes revolucionrios foram sempre perseguidos durante a vida; a sua doutrina foi sempre alvo do dio mais feroz, das mais furiosas campanhas de mentiras e difamao por parte das classes dominantes. Mas, depois da sua morte, tenta-se convert-los em dolos inofensivos, canoniza-los por assim dizer, cercar o seu nome de uma aurola de glria, para consolo das classes oprimidas e para o seu ludibrio, enquanto se castra a substncia do seu ensinamento revolucionrio, embotando-lhe o gume, aviltando-o. A burguesia e os oportunistas do movimento operrio se unem presentemente para infligir ao marxismo um tal tratamento.

Essas so as palavras que Lenin achou necessrio escrever para abrir o seu O Estado e a Revoluo, em agosto de 1917. Hoje ns no estamos em 1917, no vivemos um contexto revolucionrio. Mas com a crise do capitalismo cada vez mais profunda e sem soluo e com o crescimento da revolta popular e das mobilizaes necessrio pensar qual o nosso lugar, como marxistas militantes nesse contexto.

A violncia policial nas manifestaes contra o aumento da passagem dos transportes pblicos, fez com que o nmero de pessoas nas ruas crescesse cada vez mais. Cem mil, trezentos mil, um milho. As pessoas que estavam na rua queriam ver as coisas mudarem, eram trabalhadores, empresrios, desempregados, religiosos, pais, mes, estudantes, enfim, era uma multido. E a multido no coesa, a multido no tem interesses comuns, a multido abriga classes e categorias mltiplas, muitas delas antagnicas.

O aumento da passagem foi revogado, mas as manifestaes j no se organizavam em torno da questo do transporte pblico, ou de qualquer outra demanda. A fragmentao era a palavra de ordem, cada um com o seu cartaz defendendo o fim da corrupo e vomitando o dio ao PT e ao legislativo. dio cujo fundamento uma mistura de uma decepo legtima contra um partido dos trabalhadores que faz um governo para o capital, em primeiro lugar, e um discurso de extrema direita anti-democrtica que ainda se incomoda com a origem e as cores do PT.

A rejeio atingiu tambm os partidos e organizaes esquerda do PT, que se reivindicam classistas, socialistas ou revolucionrios. Bandeiras de sindicatos e centrais sindicais, do MST, do PSOL, do PCB e do PSTU, foram tomadas, rasgadas, queimadas e seus militantes foram vtimas de violncia. O dia 20 de junho foi o pice, os partidos de esquerda foram cercados e linchados por homens com capuz, pedaos de pau, pedras e bombas. Os gritos de oportunistas, sem partido, eram respondidos por democracia e sem fascismo.

Mas se parte dessa violncia era alimentada pela grande mdia e organizaes de direita e do prprio Estado, outra parte via nos partidos um estranho que, dentro das universidades, manifestaes, movimentos sociais e sindicatos ocupava um espao de forma burocrtica e excludente. Se o governo impedia a participao popular, a multido achava que os partidos polticos de esquerda tambm faziam isso.

Aps o dia 20 de junho o nacionalismo e a rejeio violenta aos partidos polticos foi diminuindo nas ruas. Mas, era cada vez mais perceptvel o crescimento de outros grupos de esquerda, que tambm contestavam a estrutura e a ttica dos partidos de esquerda tradicionais. A ttica dos black blocs surgia nas ruas e na mdia como um elemento novo que compunha o cenrio das manifestaes principalmente aps junho.

Vestidos de pretos, com os rostos cobertos, unidos em um bloco de defesa e resposta violncia policial, compostos principalmente de jovens a maioria vindos da periferia e, cada vez mais, reivindicando o anarquismo. Mais do que uma simples ttica, os black blocs tem sido vistos como um movimento a parte. Se essa definio polmica e reducionista, podemos dizer, entretanto, que os black blocs no nosso contexto significa o crescimento de uma postura militante, que ultrapassa o sentido ttico em que os black blocs podem ter se limitado em outros contextos e lugares.

A ttica black bloc adotada mais por uns grupos que por outros. As bandeiras e roupas negras, que emergiram nas ruas, em sua maioria, reivindicam o anarquismo, e ignorar isso empobrecer o contedo poltico dessa prtica. Assim como empobrecedora as crticas de grande parte da esquerda. Entender um bloco organizado nas manifestaes, composto de grupos anarquistas, marxistas e outros jovens muitos deles pobres, negros e das periferias em contato com eles, para a defesa contra a truculncia policial e o ataque agncias bancrias e outros smbolos do sistema como fascistas, P2 ou luditas, fechar os olhos para o movimento das ruas.

A possibilidade do aprendizado e amadurecimento desses black blocs no processo das lutas, para quem ainda duvidava disso, ficou clara na sua ao e relao com os profissionais da educao em greve. Nas manifestaes foram principalmente eles que serviram como socorristas e como linha de frente que evitou uma violncia ainda maior contra os educadores. Apesar de algumas crticas, foram muitos os textos dos educadores de reconhecimento aos black blocs.

Mas esse amadurecimento no significa que eles se confundiro com outros grupos, ou que a ttica deles ser submetida s ordens de um sindicato de qualquer categoria ou do partido poltico que detm influncia neste. As lutas so complexas e jamais ficam estticas. A relao entre os grupos que lutam pela superao do sistema capitalista sempre ser conflituosa, mas necessrio, que o dilogo esteja aberto e que os que se encontram nas ruas com os mesmos objetivos se reconheam como companheiros.

A posio de parte da esquerda organizada em partidos diante do crescimento dos black blocs e dos anarquistas no tem ajudado avanar nesse dilogo. cada vez necessrio olhar para dentro, para conseguirmos olhar para fora. preciso pensar a atuao dos partidos que se reivindicam marxistas, se quisermos entender o crescimento da esquerda que os contestam.

cada vez mais necessrio refletirmos sobre nossa prpria militncia. O que ns defendemos afinal? Um reformismo que coloca o socialismo em um longnquo horizonte que sempre se afasta? Uma eterna luta cada vez mais difcil de enxergar pela hegemonia dos subalternos? A construo de um aparato sindical burocrtico cada vez maior? A luta pelos direitos humanos? O bem estar social? Um capitalismo ilustrado, mais humano?Essas perguntas precisam ser respondidas como um exerccio necessrio do marxismo militante. E s quem est na rua capaz de respond-las, s quem participa das lutas e reflete sobre elas. na rua e no confronto com a polcia que percebemos qual violncia necessria e qual romantismo, quando os anarquistas so sectrios e quando somos ns.

O que no podemos aceitar a reflexo pura, o intelectual ou burocrata do partido que olha do alto e julga de fascistas os que enfrentam o Estado.

O que no podemos fazer pensar em Marx e em todos os revolucionrios que reivindicaram o marxismo como grandes pensadores inofensivos, que acumularam conhecimento para construir esse mundo que est a. No podemos ser inofensivos, no podemos estar do lado dessa ordem, dessa democracia. Se no temos resposta, temos lado, se no temos resposta, a buscamos dentro de uma militncia que reflete sobre a prpria luta que trava.

3 - EBSERH- e Privatizao e Superexplorao do trabalho no perodo Novo desenvolvimentista.

Aps sucessivas tentativas e o insucesso da Medida provisria 520 que criava uma Empresa pblica de direito privado para gerenciar sade federal e enfrentando uma resistncia histrica mas pouco volumosa na conjuntura, o governo Dilma aprovou a EBSERH, Empresa Brasileira de Servios Hospitalares, para gerenciar os hospitais federais, inclusive os universitrios Lei N 12.550, DE dezembro de 2011.A empresa de direito privado, alm de contratar pela CLT, ampliando para trabalhadores do servio pblico padres de desproteo j hegemnicos no setor privado, tem direito assegurado ao ressarcimento das despesas com o atendimento de consumidores e respectivos dependentes de planos privados de assistncia sade transformando os servios pblicos de sade em parceiros da iniciativa privada.A Contratao pela CLT objetiva transmitir ao trabalho no servio pblico a racionalidade hegemnica no mundo privado, como resposta a crise que se arrasta desde 70, baseado em metas quantitativas sempre com a direta intencionalidade do lucro. Estas metas so incompatveis com os princpios da promoo integral da sade , com o cuidado , e com o controle social, alm de muitas outras caractersticas necessrias a servios de fato pblicos, (no apenas estatais, mas pblicos).Diversos interesses esto em jogo como por exemplo a autorizao a empresa a patrocinar entidade fechada de previdncia privada, nos termos da legislao vigente que parece bvia hoje mas no , ainda existe uma previdncia publica, mas no de se estranhar que se proponha um fundo de penso que com o sucesso da EBSERH tornaria-se um dos grandes fundos de previdncia. H interesses diversos ,inclusive do capital financeiro que envolvem a EBSERH.O capitalismo vive desde a dcada de 70 do sculo XX uma onda longa recessiva Harvey:2010) aponta que o capital consolida suas respostas nesse perodo conformando um novo padro de acumulao- a acumulao flexvel. Tal padro remodelou as formas de relao entre capital e trabalho, o papel do fundo pblico e demais funes do Estado capitalista a fim de garantir altas taxas de extrao de lucros, atravs da ampliao da mais-valia relativa, fruto de avano tecnolgico ou mudana organizacional e da mais-valia absoluta com a reduo direta de salrios, aumento da jornada de trabalho e flexibilizao dos vnculos. O que somente foi possvel a partir da diminuio do poder sindical e popular e da ampliao do exrcito de reserva do capital.Essa resposta conservadora a crise que convencionou se chamar de Neoliberalismo. Na Amrica Latina e no Brasil esse processo ganhou contornos mais dramticos, visto que a explorao do trabalho assume desde muito contornos dramticos com nveis salariais abaixo das necessidades de subsistncia. Essa superexplorao do trabalho como apontava Ruy Mauro Marini o mecanismo de compensao das desvantagens econmicas de pases subdesenvolvidos.Opera-se assim, a reduo de polticas pblicas de carter universalista do perodo anterior e do gasto social do Estado. A ampliao da ateno do Estado focalizada na pobreza tem sido uma face do processo de reestruturao do capital que tem como outra face estruturante a privatizao de servios pblicos.Bresser Pereira, Ministro da reforma do Estado nos perodos do Tucanato j havia tentado por diversas vezes transformar setores pblicos em privados e desmontar todo o pequeno edifcio de direitos sociais existentes a partir da privatizao de servios pblicos. A resistncia do PT e seu bloco na institucionalidade e do setor progressista nos movimentos sociais, no entanto conseguiu frear essas medidas na dcada de 90. rea de sade sempre foi a menina dos olhos dos capitalistas que querem no apenas lucrar com a sade privada em instituies privadas ou com a venda de alta tecnologia mas pressionam diuturnamente por novos espaos de valorizao.Os governos do bloco Petista construram portanto as condies subjetivas para a materializao e ampliao de polticas formuladas anteriormente, em governos do PSDB e aliados, que retiravam do setor pblico a gesto de servios de sade, como Organizaes sociais e fundaes e retiram garantias conquistadas pelos trabalhadores do setor pblico.Em um cenrio de Ode ao crescimento econmico sustentado em grandes ndices de superexplorao do trabalho chamado de Novo desenvolvimentismo mostra a cara o velho Neoliberalismo com uma cara nova do perodo chamado de ps consenso de Washington oferecendo o Bolsa familia.No de se estranhar que o novo projeto petista, Novo desenvolvimentismo seja herdeiro terico de Bresser Pereira que inicia discusso na folha de So Paulo. Tambm no se estranha que o mesmo Bresser do Tucanato tenha composto Banca de doutorado do Ministro Mercadante de Dilma em sua tese defendendo o novo desenvolvimentismo petista, trata-se do mesmo projeto.Os caminhos do governo federal entretanto no foram fceis como se pensava, encontrou resistncia, apesar desta nem sempre conseguir impedir esses retrocessos.A luta contra a EBSERH poderia ter se resumido ao setor da universidade e do movimento da educao que se ligam a rea da Sade, mas ao contrrio disso, a luta contra a privatizao da sade pblica tem demonstrado capacidade para agitar e levar aos Conselhos Universitrios de todo o pas estudantes, tcnicxs-administrativxs e professores das mais varias reas do conhecimento. Nacionalmente, o movimento estudantil e sindical da educao tem se articulado para fazer enfretamento contra essa pauta e tem logrado xito em muitas universidades mesmo que seja o xito parcial da suspenso e adiamento da implantao.Aps a erupo social das jornadas de junho, a luta contra a EBSERH mesmo que ainda um pouco restrita a tradicional militncia de esquerda aponta para um saudvel processo como um reflexo de politizao da universidade. Precisamos aprofundar os laos entre Universidade e Sociedade nessa luta. O que est em jogo a possibilidade de frear a sanha do capital na sade federal e na existncia dos trabalhadores do servio pblico.

4 - A politica de drogas, violaes de Direitos Humanos e necessidade de dar respostas

() fora de regraa gente anda toda horapedindo a Deusque chegue a horapra vida melhorarxixi no podefumar no podebeber no pode ()

Choque de Ordem Harmonia Enlouquece*(Projeto Convivendo com a Msica do Centro Psiquitrico Rio de Janeiro)

por Andrew Costa*

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A poltica de proibio e represso aos usurios de drogas, alm de no ser eficiente na prtica, tem levantado nmeros preocupantes no ltimo perodo. Em 2011 o trfico de drogas passou a ocupar o primeiro lugar entre os crimes que mais encarceram pessoas no Brasil. Segundo o Ministrio da Justia essa tipificao penal j corresponde a 24% das prises no pas e o aumento deste foi de 284% s durante a ltima dcada. Mais precisamente, nos ltimos 16 anos o Brasil triplicou o seu nmero de encarceramento e 40% dessa massa (cerca de 500.000 pessoas) so negros, pobres e esto na faixa de 18 a 24 anos. Outro dado contrastante a escolaridade das pessoas encarceradas: 46% destas no completaram o ensino fundamental enquanto os indivduos com ensino superior completo correspondem a menos de 0,5% do total de presos.

O Ncleo de Estudos da Violncia da USP constatou que o perfil do traficante mais reprimido pela ao policial o pequeno traficante, o traficante pobre. A partir do estudo de 667 autos de flagrante percebeu-se que mais da metade (57%) no possuam antecedentes criminais, 87% dos presos foram encarcerados sem qualquer tipo de assistncia jurdica e em 55% dos casos foram presas pessoas que no estavam envoltas em nenhum tipo de violncia em seu cenrio de apreenso. Em resumo, a atual poltica proibicionista tem prendido prioritariamente os traficantes pobres de maneira arbitrria e sem correlao razovel entre sua atividade real e a pena a que submetido.

No perodo que antecede os mega-eventos nas principais cidades brasileiras, a poltica de drogas tem se intensificado e a guerra s drogas j tem legitimado o encarceramento de cerca de 500 moradores em situao de rua na regio de Pinheiros em So Paulo e 600 no centro do Rio de Janeiro, s para citar dois exemplos. Sem somar a essa conta as diversas outras cidades onde a problemtica tambm se instala, j contamos mais de 1.000 pessoas presas pelo fato de serem pobres e sob a chancela e legitimao de um processo de proibio seletiva s drogas. O recorte de classe dado na proibio parece ser claro; basta enxergarmos quem est sendo preso e visualizar um cenrio claro de qual o setor social que est sendo encarcerado em cifras de grande magnitude enquanto o uso de drogas continua sendo prtica comum e sem represso entre as elites de nossa sociedade.

Em meio a este processo importante destacar o fenmeno de higienizao urbana que os grandes centros, em especial as cidades-sede da Copa e Olimpadas, vm recebendo e iro receber para os mega-eventos. Alm da poltica proibicionista, a necessidade de limpar as cidades de sua populao pobre tambm tem legitimado o retorno de uma poltica manicomial preocupante: a internao compulsria. O Rio de Janeiro tem sido pioneiro nesta poltica de criar estruturas que tem representado a volta da lgica manicomial e um grande retrocesso para a reforma psiquitrica brasileira conquistada pelos movimentos sociais ao campo da sade, que h anos rompeu com a prtica de encarcerar pessoas com problemas psicolgicos e consolidou prticas mais humanas em um campo de sade mental.

Em sntese, as comunidades teraputicas e outras organizaes no governamentais so organismos de administrao privada, algumas ligadas a grupos religiosos que recebem dinheiro do Estado para capturar usurios de crack em situao de rua e trat-los em seus abrigos. A relao econmica entre grupos religiosos e o Estado tambm nos alerta para uma lgica preocupante que a do lucro com o encarceramento de pessoas. Um relatrio recente do Conselho Federal de Psicologia tambm afirma que essas comunidades teraputicas esto recolhendo crianas e jovens e dopando-as com uma mesma dosagem de medicao para todas sem avaliao mdica ou qualquer outro tipo de triagem. Vale lembrar ainda que poucas vezes direitos humanos foram to fortemente violados em fenmenos to legitimados pela sociedade sob o discurso de que a internao compulsria um mal necessrio.

A internao compulsria no s no necessria, como a prtica manicomial contraditria com a Poltica Nacional de Sade Mental, apoiada na lei 10.216, que busca consolidar um mtodo de ateno sade mental aberto e comunitrio que garanta a livre circulao dos doentes mentais pelos servios, pela comunidade e pela cidade. Esse programa conta com o que o modelo defendido pelos movimentos sociais da sade mental com Centros de Ateno Psicossocial (CAPS) ou CAPS AD (lcool e Drogas) para casos especficos de usurios com problemas de drogas. Para alm desses projetos, as clnicas de rua e a reduo de danos tambm so alternativas guerra que tem se travado contra os usurios de crack e aos fenmenos das cracolndias. A ideia dessas medidas ressocializar usurios a partir de um processo onde o paciente esteja convencido de que precise ser tratado e com a utilizao de mtodos teraputicos diversos, sempre voltados a pensar os indivduos como resultado de anos de desassistncia e segregao por parte do estado e no com a leitura simplista de que apenas a opo pelo uso de drogas a raiz de todo problema e que podemos resolve-lo apenas obrigando o usurio abstinncia. A violenta poltica manicomial deve ser respondida com a alternativa da msica, da arte e dos direitos humanos.

Apesar das experincias de represso aos usurios de drogas serem falidas e os movimentos sociais apresentarem poltica de ateno a essas problemticas pelo vis da sade, da recuperao dos usurios e respeitando os direitos humanos, a Secretaria Nacional Anti-Drogas parece mesmo estar convencida de que a soluo no acolher e tratar usurios, mas investir em mais represso e violncia junto ao seu tratamento inadequado. A materializao do que se argumenta o fato de estar chegando pelo programa do Governo Federal Crack (assim no) possvel vencer! mais de 250 armas taser (pistola de choque que pode chegar a 5 mil volts e que recentemente a polcia utilizou para matar um jovem na Austrlia), 750 sprays de pimenta, bases de monitoramento e cmeras de vigilncia para combater os usurios de crack no Rio de Janeiro. A poltica de drogas de nosso pas, hoje, d ordem clara de que a soluo para a problemtica do trfico e das cracolndias mais guerra.

Em meio a todo esse preocupante cenrio que est apontado como poltica federal para o Brasil nos prximos anos, vale lembrar ainda que Felipe Caldern, quando resolveu assumir a postura de guerra ostensiva s drogas como resposta dinmica dos narcticos em seu pas, colheu uma das estatsticas mais assombrosas de que se tem notcia em nossa histria mundial recente: desde 2006 o Mxico j conta com mais de 50.000 mortos e, hoje, das 10 cidades mais violentas no mundo 5 so mexicanas. Em So Paulo, a intensificao da represso policial pela poltica de represso seletiva s drogas foi tamanha que a cidade j chega marca de mais de uma centena de homicdios s no ano de 2012, a pobreza largamente assassinada tem respondido com novos homicdios e ataques a policiais fazendo com que o ciclo vicioso de violncia tenha sado do controle do Estado enquanto as mortes no param. Mesmo assim, a guerra proibicionista continua e reafirmada por autoridades das mais diversas a todo momento.

Posto esses elementos, fica claro compreendermos como a proibio seletiva e a lgica manicomial so polticas que tem se intensificado fortemente em nosso pas por meio da poltica de drogas. A proibio vem legitimando a criminalizao da pobreza e a internao compulsria vem limpando a cidade dos pobres que insistem em continuar ocupando os centros urbanos. A luta antiproibicionista e a luta antimanicomial possuem recorte de classe muito claro: se for flagrado portando drogas, s ser criminalizado se for pobre. Se desenvolver problema com drogas, s ser internado compulsoriamente e ser medicado fora se for pobre. So polticas que existem apenas como dispositivos de criminalizao do setor vulnervel da populao e que tem sido as principais responsveis pelas maiores violaes de direitos humanos junto populao pobre do Brasil nos ltimos anos. Infelizmente esse quadro vem piorando e dar resposta a essas contradies com uma poltica de drogas que saiba respeitar os direitos humanos tarefa de movimentos sociais, organizaes polticas e principalmente de cada indivduo que reivindique a defesa da populao mais pobre e vulnervel de nosso pas e a construo de uma sociedade mais livre, humana e igualitria.

-*Andrew Costa publicitrio por formao e jornalista em formao pela Universidade Federal Fluminense; constri a Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos e a Marcha da Maconha; compe o campo Rompendo Amarras e o coletivo Cultura Verde.-*O projeto Convivendo com a Msica nasceu no Centro Psiquitrico Rio de Janeiro em 2001, atravs do desejo de oferecer um espao onde os sujeitos envolvidos pudessem vivenciar diversas atividades sonoras musicais, dando lugar expresso, criatividade e comunicao, sendo coordenada pelo psiclogo e musicoterapeuta Sidnei M. Dantas.Trata-se de uma atividade aberta a todos da instituio, sejam usurios ou tcnicos, pessoas que, afetadas pela msica e pela poesia, encontram-se uma vez por semana para ouvir, cantar, tocar, compor e, sobretudo, estabelecer um contato rico em sentimentos e emoes atravs da matria sonora. Atravs dessas composies, fala-se da histria de vida dessas pessoas e, dessa forma, pretendemos v-las compartilhadas e valorizadas.O grupo Harmonia Enlouquece emerge como desdobramento de tais encontros, dando corpo e voz aos nossos delrios musicais, com canes prprias e interpretaes do cancioneiro popular. | http://www.harmoniaenlouquece.com.br

5 - Entrevistas

1- Nome, quanto tempo tem na categoria, qual o seu cargo? j participou de outras greves, cumpre ou cumpriu alguma tarefa especifica na greve ou na direo do sindicato?

Solange Electo, estou h 6 anos na rede, participando todas as paralisaes e greves desde ento. Fao parte do comando de greve da rede estadual no ncleo SEPE Niteri

Lorena Gouva de Arajo. H 1 ano e 6 meses na categoria como Professora de Histria. Minha primeira greve essa de 2013 e fao parte do Comando de Greve do Municipio do RJ.

2 - Qual a pauta da greve? O que j foi conquistado? Voc acha que houve avanos nas negociaes?

SE: Nada foi conquistado ainda, nossa pauta reivindica que o professor tenha o direito de ter 1 matricula em 1 escola (Hoje um professor de 16h obrigado a trabalhar em 2/3/4 escolas); 1/3 de planejamento que j nosso direito mas que at hoje no foi respeitado; eleio direta para o diretor das escolas com ampla participao da comunidade escolar e 20% de aumento conforme clculo do DIEESE, que calcula 28% como um aumento real, somando todas as perdas salariais, como tivemos um reajuste de 8% no inicio do ano queremos os 20% restantes. No houve avanos porque o governo se recusa a conversar com o SEPE, diz que s e possvel implantar nossas exigncias em m prazo de 5 anos o que consideramos totalmente impossvel, o SEPE se disponibiliza a apresentar as solues mas at agora o governo prefere ignorar nossa ajuda.

LG: A greve de 2013 do Municpio tem como pauta, principalmente a) Elaborao de um Plano de Cargos Carreiras e Salrios que seja unificado, atendendo a toda a categoria dos profissionais da educao (professores e demais educadores); b) Garantia do Art. 26 da LDB que diz que deve ser garantido aos professores o planejamento e a elaborao do trabalho a ser desenvolvido dentro de 1/3 de sua carga horria. Essa lei no cumprida hj pela Secretaria Municipal de Educao; c) Diminuio da quantidade de alunos por turma (35 ao mximo). Hj salas de aula chegam a ter 50 alunos; d) Implementao da Climatizao das salas de aula. Que inclusive foi objeto de campanha do Paes para se eleger; e) Fim do professor Polivalente, ou seja, nos chamados "projetos" da gesto Paes (projetos oferecidos por parceria privada, como a Fundao Roberto Marinho, por exemplo) existe apenas 1 professor por turma, e este professor encarregado de ensinar TODAS as disciplinas sem que tenha formao pra isso ou que tenha sido capacitado para esta funo. Tenho um amigo, formado em Cincias que professor do projeto Acelera e que responsvel por administrar aulas de todas as disciplinas. Essa situao tmb ocorre nos recentes Ginsios Experimentais Cariocas (GEC), um modelo de educao, do Paes, para o RJ; f) A no extino dos professores de Francs e de Espanhol. Com a parceria entre prefeitura e Cultura Inglesa, esses profissionais formados em Francs e Espanhol vm perdendo espao e sendo aproveitados como professores de portugus, mesmo que no edital de suas concursos tenha constado que a vaga era para as referidas linguas estrangeiras; g) Garantia da origem, ou seja, garantia que o profissional no seja deslocado (sem sem consentimento) para outra Unidade Escolar; h) Reconhecimento das Merendeiras como Cozinheiras, com todas as garantias asseguradas. Antes da greve as merendeiras ganhavam menos do que 1 salrio Minimo.; i) Autonomia pedaggica, de forma que cada unidade escolar seja independe na preparao de seu projeto poltico pedaggico e no estabelecimento de metas e objetivos; j) O fim da meritocracia, ou seja, fim dos prmios e bnus conseguidos a partir do cumprimento de metas estabelecidas fora da realidade de cada unidade escolar; l) Melhoria estrutural das escolas

Como dito anteriormente, antes da greve as cozinheiras ganhavam menos do que salrio mnimo e isso foi conquistado, mas ainda solicitamos que a nomenclatura 'merendeira' seja retirado e substituido por 'cozinheira'. Tambm conquistamos o direito origem. O Plano de Cargos Carreiras e Salrios (PCCS) foi apresentado pela prefeitura, mas este plano no foi construdo junto ao SEPE (como havia sido acordado com o Prefeito) e nem foi entregue ao SEPE antes de ter sido encaminhado Camara dos Vereadores em carter de urgncia. Concluso, o Plano no Unificado, No atende aos interesses da categoria e contempla apenas 7% da categoria (professores que tem carga horaria semanal de 40h).

3 - Quais as perspectivas da greve? Quais os impactos da greve na educao publica no Brasil?

SE: Esta greve ampliou sua dimenso na medida em que se torna uma greve poltica onde a categoria esta sendo constantemente atacada em seu direito s manifestaes como todos podem verificar inclusive pela mdia formal. O governo do PMDB/PT utiliza de forma autoritria e totalmente antidemocrtica seu sistema que inclui desde a eleio de diretores nas escolas at a implementao do sistema meritocrtico, que consideramos inadmissvel, cuja metodologia a de, atravs de bonificaes e avaliaes externas, tratar a escola e seus profissionais da educao como se fossem empregados de uma empresa, o que ao nosso ver totalmente ineficaz, produzindo um ambiente competitivo entre os professores onde o que passa a ser importante a nota aritmtica deste aluno, e a padronizao das escolas.A greve um instrumento legtimo dos trabalhadores, to legtimo que foi reconhecida em nossa constituio, e que utilizamos aps esgotarmos todas as possibilidades de negociaes. Todo governo autoritrio enfrenta muitas greves, como pode ser observado no nvel estadual e federal em varias categorias que no se sentem contempladas em seu aspecto profissional. Hoje estamos lutando por garantia de direitos, inclusive, como vocs podem verificar em nossa pauta. Temos ameaas totalmente absurdas para uma categoria responsvel por educar a classe trabalhadora deste pas, deveramos ser respeitados e valorizados mas o que acontece exatamente o contrario, nossa dignidade vem sendo constantemente atacada por decises absurdas que resultou em pancadaria, em total represso.

LG: A perspectiva da greve de impedir que o governo Eduardo Paes implemente no Rio de Janeiro uma poltica educacional que busca nmeros como resultados e no analisa individualmente as particularidades de cada ambiente escolar. Alm disso, combatemos os crescentes estmulos aos professores polivalentes (que estaro 40h semanais nas UE e sero obrigados a dar aula de todas as disciplinas). Por ultimo, queremos o fim da meritocracia e a garantia de melhores salrios, com um PCCS que contemple toda a categoria de profissionais da educao.

Nossa greve foi a primeira greve de trabalhadores e explodir aps as manifestaes de junho e j dura mais de 2 meses e tem servido de oxigenio para diversas outras greves dentro e fora do RJ. Junto com a Rede Municipal, a rede Estadual tambm aderiu greve no dia 8 de agosto de 2013 e continua em greve at hoje. Temos tambm a greve dos profissionais de Educao de Goinia (que ocuparam a Cmara Municipal) e de Fortaleza (que ocuparam a Secretaria de Educao). Sem falar na greve dos bancrios, dos petroleiros, dos correios no Rio de Janeiro... Todas estas categorias do apoio a nossa greve e tambm acabam sendo contagiados pela nossa luta.

4 - O que essa greve tem de diferente das outras?

SE: Acho que o aspecto poltico mesmo, esta greve no tem interesse partidrio como tem sido dito de forma oportunista e ridcula pelos governantes, claro que muitos de ns somos militantes de alguma causa e tambm de partidos, mas a greve poltica porque exige que a classe trabalhadora seja respeitada, ouvida. Consideramos um descalabro valorizar um professor porque atingiu metas impostas muitas vezes por interesses totalmente afastados da realidade de cada lugar. A educao est sendo dirigida por um economista onde seu maior interesse o de economizar e privatizar cada vez mais a educao no Rio de Janeiro.Acho que a diferena esta na conjuntura mesmo, antes de junho nossa greve provavelmente passaria despercebida pela mdia, por exemplo, como aconteceu muitas vezes, costumamos dizer que radicalizamos sempre na inteno de sermos vistos pelos diversos setores da sociedade, setores que hoje esto mais nas ruas, no da mesma forma como em junho/julho, mas, de alguma forma, principalmente na atuao da mdia informal e das redes sociais, uma forma de organizao poltica e social muito ampla que faz toda diferena em qualquer greve e de qualquer categoria.

LG: Faz 19 anos que a Rede Municipal do RJ no se ergue em uma greve e o que consigo apurar como diferena entre essa e outras greves o fato de termos uma base muito combativa e politizada. Praticamente 50% ou mais dessa greve est sendo levada pelo pessoal que ainda est em estgio probatrio (ainda no completou 3 anos na rede), oxigenando a direo do sepe e dando o tom do movimento.

5 - Nas jornadas de Junho, as representaes foram muito questionadas, como voc avalia a relao entre as entidades e suas direes e a base da categoria nessa greve?

SE: Difcil abordar a questo em uma pergunta, mas vamos l: acho que se faz necessrio ressignificar o que uma direo de um movimento. E ouvir a base? Ouvir os interesses particulares de cada organizao e travar uma disputa que no final s prejudica e muito o dialogo com a base... Assim, muitas vezes abre-se mo do debate de ideias para ver quem est expondo essas ideias, a vem o fantasma do personalismo, mas no caso personalismo de cada coletivo, o que torna a base mais confusa na sua avaliao. Tenho me deparado com situaes muito cmicas mesmo. Quando falo sozinha sou muito aplaudida e se concordo e divido falas com outros muitas vezes sou vaiada, e em uma mesma assembleia (risos). Isso so crises de identidade coletiva, de representao onde a esquizofrenia tem sido a doena da poltica e que as jornadas de junho disseram: queremos tratamento, o remdio pode e deve ser amargo mas queremos resultados. E neste contexto, a esquerda precisa amadurecer para disputar.

LG: Acredito que as manifestaes de junho foram, em algum momento, muito radicais quando deslegitimavam a existncia de bandeiras de partidos polticos nos atos. Mas acredito que tudo faz parte de uma maturidade que vem com o tempo. Nas manifestaes atuais (salvo as que so encabeadas pela FIP) bandeiras de partido poltico so vistas, claro que no estamos falando daquele mar de bandeiras que vamos normalmente nos movimentos anteriores, so poucas as bandeiras e muito tmidas. Encaro esse tipo de modificao virtude de dois processos: 1) Do radicalismo das manifestaes de junho. 2) Quem est indo s ruas no so mais apenas pessoas ligadas a partidos, mas sim uma base cheia de vontade, com sede de mudana mas que no se sente representada por grupos partidrios.

Essa base se incomoda um pouco ainda com as bandeiras mas j consegue compreender a importncia dos partidos e conseguem respeit-los (aos partidos e a seus representantes). O fato que temos um histrico muito ruim, pois lembramos do oportunismo conduzido por determinados grupos politicos que, muitas vezes, se sentiam a vontade de fixar uma bandeira em um movimento social j construdo e depois batiam no peito dizendo que haviam construdo aquele movimento. Mas acredito que as coisas esto mudando.

A base descobriu que pode conter essa prtica e se sente mais a vontade de dialogar com os partidos.

6 - Como voc avalia a interveno dos partidos de esquerda na greve?

SE: No tem muito como avaliar positivamente a no ser pelo fato de que suas intervenes se do por meio de uma militncia muito combativa e que acredita profundamente que suas tticas esto certas, da muitas vezes erramos porque a disputa da melhor ttica no se da pela disputa da ideia e sim de quem a prope. Acho que todos ns, militantes dos partidos de esquerda, precisamos debater poltica sindical em nossos ncleos para que as intervenes sejam feitas de forma a trazer unidade para a luta porque nosso inimigo esta l fora, tem nome, se chama capitalismo, ele no esta entre ns.

7- Como voc enxerga as tarefas do movimento sindical e a relao entre os professores e os outros movimentos?

SE: Existe hoje um fato novo que este sim faz toda a diferena, as jornadas de junho aproximaram os movimentos, suas relaes de solidariedade e forca na luta podem mudar totalmente a relao poltica com os governos. Hoje, com a greve dos professores e com toda opresso, temos uma aproximao dos black blocs por exemplo, que nos ajuda a enfrentar este governo fascista. Em sua grande maioria os black blocs so alunos da rede pblica e esto ali para proteger os professores, temos um grupo de black prof tambm, ressignificando uma ao que anteriormente seria totalmente rejeitada no fosse os ltimos acontecimentos. Ento temos um caldo e tanto, como professores e formadores de opinio nossa tarefa atuar cada vez mais nos movimentos suprapartidrios alm de nossos prprios interesses corporativistas e partidrios.

8 - Tem algo que voc gostaria de acrescentar?

SE: Ns professores grevistas estamos passando por um momento difcil, ameaas, represso policial, direito greve ameaado por uma justia duvidosa, parlamento vendido, enfim, um conjunto de aes da direita que nos impe uma nova forma de ao. Que possamos aprender com a nova conjuntura a construir de forma coletiva e no apenas nos nossos coletivos, que possamos exercitar a democracia direta que tanto queremos e, portanto, tenhamos coragem de torna-la verdadeira, que possamos ouvir as vozes dos diferentes (nossos alunos tambm) que esto ao nosso lado para caminharmos juntos na luta por uma nova sociedade.

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Relatoria reunio 28 de Agosto

- Coletivo da revista: pensar espaos que ns podemos militar juntos. Ex: panfletagem de divulgao da revista no ato do dia 30 de Agosto (paralisao nacional);- Proposta de fazer um seminrio em Outubro;

- Entrevista: fazer a entrevista com professores em greve, que so da base do SEPE e no da direo; nomes: Lorena e Solange (tentar levantar outros nomes que sejam interessantes);- pensar entrevistas que saiam num prazo de 15 dias aps o lanamento das edies da revista;

- Lanamento da revista: cineclube filme Trabalho Interno (Insidejob) sobre a crise. Sem previso de data;

- falamos sobre a possibilidade de pensar atividades na UFRJ: Lu e Z

NOVA PROPOSTA

- Editorial: No temos as respostas

- Ebserh e Saude Publica - Ze e Lu

- Black Blocs: Lucas C

- Legalize: Andrew

- Entrevista com juliana (ze), solange (lucas c.) e lorena (marianne) sobre a greve do SEPE

Perguntas:

1 - Nome, quanto tempo tem na categoria, qual o seu cargo? j participou de outras greves, cumpre ou cumpriu alguma tarefa especifica na greve ou na direo do sindicato?

2 - Qual a pauta da greve? O que j foi conquistado? Voc acha que houve avanos nas negociaes?

3 - Quais as perspectivas da greve? Quais os impactos da greve na educao publica no Brasil?

4 - O que essa greve tem de diferente das outras?

5 - Nas jornadas de Junho, as representaes foram muito questionadas, como voc avalia a relao entre as entidades e suas direes e a base da categoria nessa greve?

6 - Como voc avalia a interveno dos partidos de esquerda na greve?

7 - Como voc enxerga as tarefas do movimento sindical e a relao entre os professores e os outros movimentos?

8 - Tem algo que voc gostaria de acrescentar?