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DOCUMENTO DE NARA SOBRE A AUTENTICIDADE Pág. 1 de5 DOCUMENTO DE NARA sobre a AUTENTICIDADE (1994) Tradução por António de Borja Araújo, Engenheiro Civil IST Fevereiro de 2007

1994 Declaracao de Nara Sobre Autenticidade icomos

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Declaracao de Nara Sobre Autenticidade icomos

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  • DOCUMENTO DE NARA SOBRE A AUTENTICIDADE Pg. 1 de5

    DOCUMENTO DE NARA sobre a

    AUTENTICIDADE (1994)

    Traduo por Antnio de Borja Arajo, Engenheiro Civil IST

    Fevereiro de 2007

  • DOCUMENTO DE NARA SOBRE A AUTENTICIDADE Pg. 2 de5

    Prembulo

    1. Ns, os especialistas reunidos em Nara (Japo), desejamos reconhecer o generoso esprito e a coragem intelectual das autoridades Japonesas em organizarem atempadamente um frum no qual podemos desafiar o pensamento convencional no campo da conservao, e debater modos e meios para o alargamento dos nossos horizontes e para trazermos maior respeito pela diversidade cultural e patrimonial na prtica da conservao.

    2. Tambm desejamos reconhecer o valor do enquadramento proporcionado para a discusso pelo desejo do Comit do Patrimnio Mundial em aplicar o exame da autenticidade por uma forma que observe um total respeito pelos valores sociais e culturais de todas as sociedades, no importante exame do valor universal das propriedades culturais propostas para a Lista do Patrimnio Mundial.

    3. O Documento de Nara sobre a autenticidade est concebido no esprito da Carta de Veneza de 1964, e acrescenta-a e aumenta-a em resposta ao crescente objectivo das preocupaes e dos interesses do patrimnio cultural no nosso mundo contemporneo.

    4. Num mundo que est cada vez mais sujeito s foras da globalizao e da homogeneizao, e num mundo em que a procura da identidade cultural est, por vezes, afectada por nacionalismos agressivos e pela supresso das culturas das minorias, a contribuio essencial que dada pela considerao da autenticidade na prtica da conservao consiste na clarificao e na iluminao da memria colectiva da humanidade.

    Diversidade Cultural e Diversidade do Patrimnio

    5. A diversidade das culturas e do patrimnio no nosso mundo uma origem insubstituvel de riqueza espiritual e intelectual para toda a humanidade. A proteco e a valorizao da diversidade cultural e patrimonial no nosso mundo devem ser activamente promovidas como aspectos essenciais do desenvolvimento humano.

    6. A diversidade do patrimnio cultural existe no tempo e no espao, e exige o respeito pelas outras culturas e por todos os aspectos dos seus sistemas de crenas. Nos casos em que os valores culturais parecem estar em conflito, o respeito pela diversidade cultural exige o reconhecimento da legitimidade dos valores culturais de todas as partes.

    7. Todas as culturas e todas as sociedades esto enraizadas em formas e em meios particulares de expresso tangvel e intangvel que constituem o seu patrimnio, e que devem ser respeitados.

    8. importante sublinhar-se um princpio fundamental da UNESCO, por cujo efeito o patrimnio cultural de cada um de ns o patrimnio de todos ns. A responsabilidade pelo patrimnio cultural e pela sua gesto pertence, em primeiro lugar, comunidade cultural que o gerou e a cujo cuidado ficou, subsequentemente. Mas, para alm destas responsabilidades, a adeso s cartas e convenes internacionais desenvolvidas para a conservao do patrimnio cultural, tambm obriga considerao dos princpios e das responsabilidades delas decorrentes. altamente desejvel que cada comunidade equilibre os seus requisitos prprios com os de outras comunidades culturais, desde que consiga este equilbrio sem minar os seus valores culturais fundamentais.

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    Valores e autenticidade

    9. A conservao do patrimnio cultural, sob todas as suas formas e em todos os seus perodos histricos, est enraizada nos valores atribudos ao prprio patrimnio. A nossa capacidade para compreendermos estes valores depende, em parte, do grau a que podem ser reconhecidas as fontes de informao sobre esses valores, como sendo credveis ou verdadeiras. O conhecimento e a compreenso destas fontes de informao, relativamente s caractersticas originais e subsequentes do patrimnio cultural e do seu significado, so requisitos bsicos para a avaliao de todos os aspectos da autenticidade.

    10. A autenticidade, considerada por esta forma e afirmada na Carta de Veneza, aparece como o factor essencial de qualificao respeitante aos valores. A compreenso da autenticidade desempenha um papel essencial em todos os estudos cientficos sobre o patrimnio cultural, no planeamento da conservao e do restauro, bem como no mbito dos procedimentos de inscrio usados pela Conveno do Patrimnio Mundial e de outros inventrios do patrimnio cultural.

    11. Todos os julgamentos acerca de valores atribudos s propriedades culturais, bem como a credibilidade das correspondentes fontes de informao, podem diferir de cultura para cultura, e mesmo dentro de cada cultura. No , por isso, possvel basearem-se os julgamentos de valores e de autenticidade de acordo com critrios fixos. Pelo contrrio, o respeito devido a todas as culturas exige que as propriedades de patrimnio sejam consideradas e julgadas dentro dos contextos culturais a que pertencem.

    12. Por essa razo, da maior importncia e urgncia que, dentro de cada cultura, seja estabelecido o reconhecimento da natureza especfica dos seus valores culturais, bem como da credibilidade e da veracidade relativas s fontes de informao.

    13. Dependendo da natureza do patrimnio cultural, do seu contexto cultural, e da sua evoluo atravs do tempo, os julgamentos de autenticidade podem estar ligados ao valor de uma grande variedade de fontes de informao. Entre os aspectos destas fontes, podem estar includos a forma e o desenho, os materiais e a substncia, o uso e a funo, as tradies e as tcnicas, a localizao e o enquadramento, o esprito e o sentimento, bem como outros factores internos e externos. O uso destas fontes permite a elaborao das especficas dimenses artstica, histrica, social e cientfica do patrimnio cultural que est a ser examinado.

  • DOCUMENTO DE NARA SOBRE A AUTENTICIDADE Pg. 4 de5

    Apndice 1

    Sugestes para acompanhamento (propostas por H. Stovel)

    1. O respeito pelo patrimnio e pela diversidade cultural exige esforos conscientes para se evitar impor frmulas mecanizadas ou procedimentos normalizados, em particular, na tentativa de definio ou de determinao da autenticidade dos monumentos ou dos stios.

    2. O esforo para se determinar a autenticidade de uma forma respeitosa pelas culturas e pelo patrimnio exige abordagens que encorajem essas culturas a desenvolverem processos analticos e ferramentas especficos das respectivas naturezas e necessidades. Tais abordagens podem ter diversos aspectos em comum :

    os esforos para se garantir a avaliao da autenticidade envolve a colaborao e a utilizao apropriada de todas as competncias e de todos os conhecimentos disponveis;

    os esforos para se garantir que os valores atribudos so verdadeiramente representativos de uma cultura e da diversidade dos seus interesses, em particular monumentos e stios;

    os esforos para se documentar claramente a natureza particular da autenticidade dos monumentos e dos stios, como orientao prtica para os tratamentos e monitorizao futuros;

    os esforos para a actualizao dos julgamentos de autenticidade luz dos valores e das circunstncias mutveis.

    3. So particularmente importantes os esforos para se garantir que os valores atribudos so respeitados, e que a sua determinao inclui esforos para a construo de, tanto quanto possvel, um consenso multidisciplinar e comunitrio respeitante a esses valores.

    4. As abordagens tambm devem reunir e facilitar a cooperao internacional entre todos os que esto interessados na conservao do patrimnio cultural, para que se melhore o respeito e a compreenso globais pelas diversas expresses e valores de cada cultura.

    5. A continuao e a extenso deste dilogo a diversas regies e culturas no mundo, um pr-requisito para o aumento do valor prtico da considerao da autenticidade na conservao do patrimnio comum da humanidade.

    6. uma absoluta necessidade o aumento da conscincia entre o pblico desta dimenso fundamental do patrimnio para se conseguir chegar a medidas concretas para a salvaguarda dos vestgios do passado. Isto significa o desenvolvimento de maior compreenso dos valores representados pelas prprias propriedades culturais, assim como o desenvolvimento de maior respeito pelo papel que tais monumentos e stios representam na sociedade contempornea.

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    Apndice 2

    Definies

    Conservao : Todos os esforos destinados compreenso do patrimnio cultural, ao conhecimento da sua histria e do seu significado, garantia da sua salvaguarda material e, se necessrio, sua apresentao, restauro e valorizao. (Entende-se que o patrimnio cultural inclui monumentos, grupos de edifcios e stios com valor cultural conforme definido no artigo primeiro da Conveno da Patrimnio Mundial).

    Fontes de informao : Todos os materiais, escritos, orais e fontes figurativas que tornem possvel conhecer-se a natureza, as especificaes, o significado e a histria do patrimnio cultural.

    O Documento de Nara sobre a Autenticidade foi rascunhado pelos participantes na Conferncia de Nara sobre a Autenticidade em Relao Conveno Mundial do Patrimnio, reunida em Nara, Japo, entre 1 e 6 de Novembro de 1994, a convite da Agncia Para os Assuntos Culturais (Governo do Japo) e da Prefeitura de Nara. A Agncia organizou a Conferncia de Nara em cooperao com a UNESCO, o ICCROM e o ICOMOS. Esta verso final do Documento de Nara foi editada pelos redactores gerais da Conferncia de Nara, Sr. Raymond Lemaire e Sr. Herb Stovel.

    ICOMOS

    http://www.international.icomos.org [email protected]