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1. À maneira de prólogo e introdução - Gregório Baremblitt Contextualiza a obra: um trabalho coletivo, escrito no âmbito do Instituto Brasileiro de Psicanálise,

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1. À maneira de prólogo e introdução - Gregório Baremblitt Contextualiza a obra: um trabalho coletivo, escrito no âmbito do

Instituto Brasileiro de Psicanálise, Grupos e Instituições (IBRAPSI)do Rio de Janeiro e de São Paulo.

A abordagem apresentada aplica “a teoria psicanalítica (modificada e combinada com outros recursos conceituais), instrumentando técnicas de operação em pequenos grupos, em estabelecimentos e instituições, a serviço do pólo progressista da mudança social” (p. 7).

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2. Notas estratégicas a respeito da orientação da dinâmica de grupos na América Latina - Gregório Baremblitt

1. Definição de "Dinâmica de grupos": a) Saberes (teorias, metodologias e técnicas); b) Praticas sociais de prestação de serviço; c) Agentes (praticantes e usuários); d) Instituições produtoras, reprodutoras e reguladoras. e) Movimentos politizados e ideologizados que exercem um poder e

propagam crenças É importante: - situar o conceito de cientificidade, em contraposição aos saberes

espontâneos, e se relacionam a partir de relações de poder e dominação;

- e diferenciar estabelecimentos e instituições: as instituições não se confundem com o que normalmente chamamos de instituição. Instituição é uma lógica. Isto implica em identificarmos a existência de uma dimensão que não está dada pela organização, pelo estabelecimento, pelas leis e regimentos, pela burocracias etc. Apesar de se relacionar com estas outras dimensões sociais, a instituição apresenta uma dimensão oculta, que não está dada.

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2. Gênese e Localização Social do Conceito e das Práticas Experiências de Joseph Pratt (1905): sanatório de Boston, introduziu entre os

doentes de tuberculose uma metodologia de trabalho que tinha como finalidade acelerar a recuperação física dos pacientes com medidas sugestivas administradas através de informações técnicas sobre a doença e dentro de um clima de cooperação grupal. Antecedentes Históricos (Cap. 10).

Forte relação com as formações econômico-sociais capitalistas. 3. Áreas de Aplicação, Fontes epistemológicas e Escolas

Contemporâneas Três áreas principais de geração e ação: medicina; pedagogia; sociologia. Fontes Epistemológicas: psicanálise (diferentes abordagens em cada escola);

fenomenológica-existencial (Sartre, Buber, Binswanger, Merleu-Ponty, Scheler e outros); psicodramática (Moreno); empirista/pragmatista (Dewey, Mead, Stuart Mill, Malinoswski, Parsons, Merton etc); gestaltista (Kurt Lewin) As escolas contemporâneas em dinâmica de grupo são muito diversas o que dificulta sistematizar e organizar os diversos autores que formam este campo.

Destaca uma linha inglesa (Bion etc), uma linha francesa (Anzieu, Lapassade etc.) e uma argentina (Pichon-Rivière, Bleger etc).

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4. Histórico e Correntes Teóricas a) A evolução e desenvolvimento da dinâmica de grupos desembocam nas psicologias-

psicoterapias institucionais e as psicologias-psicoterapias de massa. (Diálogo com abordagens desenvolvidas no âmbito da psicologia da indústria, como por exemplo as teorias que se agrupam no campo de Recursos Humanos).

As teorizações acerca dos grupos e das dinâmicas de grupo se desenvolvem a partir de suas aplicações.

b) Quatro orientações teórico-operativas das psicologias-psicoterapias institucionais: I. Visa o desenvolvimento organizacional. Vai desde a ergologia (orientação

epistemológica que leva em conta os fenômenos do trabalho sob o enfoque da atividade humana) ou psicofisiologia do trabalho ou das relações humanas na indústria (Taylorismo), até os recentes usos da teoria de sistemas neste campo. (Estados Unidos)

II. Associação entre a psicanálise kleiniana e abordagens da sociologia (Elliot Jacques). Instituições são vistas como sistemas de defesa contra ansiedades inconscientes (Inglaterra).

III. Enfoque grupalista. Influência de Freud e Marx. Analisam Instituições diversas. (Pichon-Rivière e seus discípulos: Bleger, Baremblitt etc). (Argentina)

IV. Corrente institucionalista francesa. Surge do trabalho de François Tosquelles. (Lapassade, Guattari , etc.) (França)

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c) Psicologia e psicoterapia de massa: articulações e aplicações das teorias de grupos por grupos e instituições dominantes (estatal ou privado) a grandes setores da população visando o controle e a manutenção de relações de poder. (p. 14).

d) O Movimento Antipsiquiatria é visto pelo autor como paradigmático na contestação dos modelos em prol do controle social.

e) Psicoterapias sui generis que, segundo o autor, merecem nota: Gestaltista(Perls), centrada no cliente (Rogers) etc. (p. 15).

5. Períodos de desenvolvimento das técnicas grupais. O universo de usuários se ampliou consideravelmente nas últimas décadas. Causas:

transformações na produção de demandas, aumento do consumo e do poder aquisitivo de determinadas classes sociais, explosão demográfica, migrações, tecnologização da luta de classes, crise das ideologias religiosas, dos rituais e dos valores em geral, expansão do capitalismo monopolista, crise institucional da família nuclear burguesa, impessoalização geral das relações sociais; incremento da tensão social, crescimento da subversão, marginalidade e delinquência, propagação de uma cultura contestatória.

1º. Período: Capitalismo Emergente. Preocupação em manter a ordem precária (lutas sindicais e guerra fria). Estado repressor (polícia), Aparelho psiquiátrico (segregação e contenção do desvio). Ideologia conservadora e tradicionalista atravessa as diversas instituições.

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2º. Período: Evotução do capitalismo (multinacional e imperialista). Guerras Mundiais. Necessidade de reestruturar os sistemas repressivos para que se adequem à liberalização propícia aos efeitos anteriormente referidos.

3º. Período: Capitalismo "planetário" integrado. Sistemas de controle se modernizam: articulação entre os serviços de saúde mental estatais (assessorados pelos privados) e privados (subvencionados pelo estado). Reprofissionalização dos movimentos contestatários.

A análise individual seguiu com maior prestígio que as análises grupais e institucionais. Como reação à sua fragmentação (escola americana e lacaniana) e às abordagens concorrentes, a psicanálise se burocratiza e se reelitiza, apontando para um universo pequeno e de algo poder aquisitivo (oligarquias industriais, financeiras e agrárias).

6. Pontos fundamentais para uma crítica das teorias de dinâmica de grupos Quase todas as correntes "psi" possuem uma ramificação grupal por cujo

intermédio trabalham no plano da prevenção, diagnóstico, tratamento, acompanhamento, "operatividade", "encontro" etc. A psiquiatria ortodoxa cede a esse processo. A maior parte das teorias e práticas em dinâmicas de grupo segue a serviço do controle social e da chamada produção capitalista de bens de salvação ou reparação, atendendo à preservação da ordem constituída e à reprodução do sistema de produção.

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Pontalis: recursos conceituais sobre dinâmica de grupos é rudimentar. São ideologias teóricas e consolidam preconceitos. Apenas a concepção freudiana - de que a massa identifica o líder ou um traço do mesmo com seu ideal do ego e de que, desta forma, se produz um vínculo coletivo entre os respectivos aparelhos psíquicos dos integrantes - apresenta algo relevante acerca do inconsciente grupal.

7. Fundamentos para uma teoria de dinâmica de grupo para a America Latina Contexto latino-americano: neocolonialismo; coexistem modos de produção variados;

ditaduras militares que interromperam regimes constitucionais liberais "democráticos”; tensão entre organização estatal despótica e necessidade de retoro ao estado de legalidade e pseudodemocracia eleitoral, mais favorável à expansão do capitalismo. A construção de uma teoria de dinâmica de grupo. Os pontos são os seguintes:

• Mecanismos de controle protagonizados preferencialmente pelas forças armadas e pela polícia.

• Direitos e serviços sociais sucateados. • Saúde mental repressiva e segregativa (características da psiquiatria clássica. Enfoque

na reclusão prolongada e medicação de sintomas) • Atraso e conservadorismo científico • Orientação Psico-Higiênica de prevenção, psicoterapeutização de hospitais,

psicossomatização da medicina e de psicologização da educação ou da comunicação de massa é menos que incipiente.

• Associações psicanalíticas e de formação caras e elitistas.

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• Psicanálise individual cara e elitizada, onde as associações (burocratizadas e reacionárias) demarcam o terreno de uma psicanálise kleiniana ("científica"). Isto abre terreno para a psiquiatria medicamentosa.

Após situar as especificidades do contexto latino-americano, Baremblitt aponta os fundamentos de sua teoria:

I) A orientação medicamentosa e repressiva é incompatível com uma ideologia transformadora, sindicalista ou culturalmente combativa.

II) O profissional é mais progressista na medida em que leve em conta a convicção da participação econômico-política e inconsciente-libidinal nos distúrbios psíquicos e no mal-estar cultural geral.

III) Profissionais "psi" que subscrevem a técnica psicanalítica tendem a ser mais progressistas. Embora pouco combativos, transmitem o protesto aos pacientes: "ampliação em círculos concêntricos" (do divã até os aparelhos ideológicos do Estado).

IV) O exemplo dos TSM argentinos é um formidável paradigma do emprego combativo da "invasão" psicanalítica.

V) A importância do grupalismo e do institucionalismo para ampliar o alcance e o impacto das intervenções. Critica o relativismo dos que negam a cientificidade da psicanálise.

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VI) Critica o ceticismo lacaniano com relação às inovadoras práticas grupais e ressalta que o discurso relativista serve aos que usam da ciência como instrumento de dominação.

VII) Critica a desteorização da qual padece a corrente grupalista no Brasil, diferentemente do que ocorre nos EUA. Sua crítica moral se limita a criar territórios artificiais pseudoliberados sexualmente. Sua desprofissionalização é simultânea à sua despolitização.

VIII) Expõe brevemente sua proposta "estratégico-epistemológicateórica-técnica-profissional" (p. 34-37). Apresenta as contradições do contexto latino-americano e suas implicações para as práticas "psi" e como estas produzem dispersão dos intuitos transformadores.

Síntese da proposta (p. 37): • Aperfeiçoamento e aprofundamento da formação dos TSM nas Ciências

Humanas Constituídas (ciência da história, psicanálise, antropologia e semiótica científicas).

• Enfatização da teorização e dos procedimentos interdisciplinares, do hábito de trabalho em equipe e da crítica da divisão social do trabalho.

• Obtenção de um conhecimento epistemológico para a vigilância crítica da cientificidade das suas teorias e procedimentos.

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• Insistência nas aplicações grupais e comunitárias, economicamente acessíveis e popularmente significativas, das teorias constituídas, epistemológica e institucionalmente criticadas, incluindo-se técnicas dramáticas, corporais e lúdicas.

• Produção de uma reflexão crítica e de uma ação político-sindical permanente em relação ao papel profissional e sua função histórica.

• Estímulo a uma ampla produção teórica crítica tendo por objeto a ideologia dominante e suas instituições.

• Articulação do trabalho teórico-técnico e sindical-institucional com a organização de amplas frentes populares integradas por forças e entidades políticas definidas.

• Vigilância quanto a toda autonomização absolutizada de uma suposta política de saúde mental definida exclusivamente a partir da autocrítica do prático-técnico, da renúncia à sua especificidade científico-profissional e, ao mesmo tempo, quanto à priorização infundada dos objetivos de transformação no seu campo exclusivo.

3. A propósito da terapia familiar - Félix Guattari O autor inicia seu texto debatendo a não neutralidade da ciência, a partir do fato de

que a psicanálise, outrora hegemônica, perde espaço para teorias fundadas no condicionamento e na sugestão. Isto é relevante porque a ciência é, via de regra, convocada a justificar os procedimentos técnicos empreendidos por agentes de instituições que visam o controle social e produzem a segregação de populações oprimidas e marginalizadas.

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A terapia familiar participa deste cenário e os terapeutas se veem coagidos entre o elitismo da psicanálise e o perigo das alternativas extra-institucionais e, neste sentido, acabam sucumbindo à "eficácia" da abordagem sistêmica.

Segundo o autor, para questionar a abordagem sistêmica, não basta analisar apenas seus aspectos técnicos, é necessário identificar a politização implícita das intervenções em terapia familiar (politização aqui, num sentido negativo, de reprodução de políticas das dominação).

O autor considera importante que o profissional tenha consciência dos mecanismos de poder para que possa "fazê-los" "funcionar" em sentido contrário ao da ordem estabelecida.

4. Projeto de trabalho sobre o conceito de grupo na obra de Guattari e Deleuze - Paulo Viana Vidal

O autor identifica que, na obra de Guattari e Deleuze, o efeito terapêutico é concebido como efeito institucional. Segundo o autor, esta perspectiva se opõe à legiferação asilar (acrescentaria à alienação mental uma alienação sócio-institucional) e à entrada do dispositivo psicanalítico clássico na instituição (divã, contrato etc).

Influências da psicoterapia institucional: sartrismo, freudismo, marxismo, lacanismo etc.

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Conceito de Instituição: uma série de estruturas elaboradas através de uma constante atividade instituinte, que teria por objetivo preservar as finalidades que os terapeutas institucionais conferem ao estabelecimento psiquiátrico: a) canalizar polidirecionalmente as trocas, os fluxos de informações e contatos, de modo a possibilitar a formação de vínculos transferenciais múltiplos e a ruptura do insulamento que caracteriza o manicômio tradicional; b) criar sistemas de medição através da quebra das relações imaginárias, da instauração da função de terceiro em todos os pontos da tessitura institucional.

A psicoterapia institucional consiste em abrir espaço para a palavra do louco através de reexame do investimento social efetuado sobre o analista, questionando o lugar social do louco.

Influência de Lacan: centra-se no psicótico e não no "doente mental" e negligencia os conteúdos sociais de sua fala (estruturalismo lacaniano, inconsciente estruturado como linguagem).

Para Deleuze e Guattari a compreensão do sujeito e da instituição está intrinsecamente relacionada a aspectos políticos, inconscientes, históricos, institucionais e ao desejo. Estas relações se evidenciam na oposição grupo sujeito/grupo submetido, fantasma de grupo/fantasma individual e transversalidade.

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O grupo pode ser compreendido como uma cadeia significante aberta, que adquire sua consistência na relação com outros grupos e outras séries significantes (económica, política, artística, científica etc).

Grupo Sujeito: participa da produção do discurso (cadeia significante) pelo qual é perpassado. A distinção entre grupo sujeito e grupo submetido é graduada por um coeficiente, o de transversalidade, que diz respeito aos atravessamentos que compõem o grupo.

Para o autor, um dos processos importantes para esse movimento diz respeito às desconstruções, já que as totalizações do grupo-sujeito estão sempre abertas, passíveis de "refazimento", de confrontação com a falta de sentido, com o que o grupo assume a sua própria plenitude, ou seja, a sua própria morte.

Relação entre fantasma individual e de grupo. Fantasma é uma encenação imaginária, onde o sujeito está presente, que figura mais ou menos disfarçadamente a tentativa de realização de um desejo.

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Conceito de transversalidade: 1) Tentativa de articular diretamente desejo e história e de

questionar o recalque do político na psicanálise e a falta da noção de subjetividade no marxismo.

2) A formulação de um conceito que, a nível grupai, represente o homólogo da castração a nível individual, mas referido a uma estratégia política e não a modelos míticos (Édipo, Narciso, etc).

3) Uma tentativa de escapar ao fantasma que ronda os grupos revolucionários desde a degenerescência da revolução de 1917: a alternativa entre o espontaneísmo anarcóide, facilmente esmagável pela repressão e inibidor do trabalho político de organização e ideologização, e a burocratização disciplinar que rege o PCUS e seus aliados.

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5. Algumas reflexões sobre a dinâmica em grupos de mulheres "sadias" em situação de gestação - Alicia Célia Cadermatori

Este texto expõe as reflexões acerca de um trabalho com grupos de gestantes. Define os grupos como profiláticos, terapêuticos ou meramente informativos. Como já se deixa entrever no próprio título, subjaz ao texto uma crítica ao conceito de saúde tradicional e, como todos os textos do livro, destaca seu posicionamento contra a ideia de neutralidade científica.

Grupos: podem ser definidos de forma simplista, um coletivo de indivíduos, ou de forma complexa, que inclui a dimensão inconsciente e a historicidade.

Mulheres "sadias": definição estatística ou valorativa situada entre os discursos populares e/ou científicos, (p.57-58).

Situação de gestação: estado processo bio-sócio-desejante. Estereótipos: um peso, vergonha, incômodo, algo que surge do nada, ou é uma cópia (reprodução). A ideia de identidade aqui ganha importância, como espaço de problematização da constituição dos sujeitos.

Critica a abordagem da gravidez identificando usos secularizados de ideias religiosas, sobretudo do cristianismo. Também aponta, nesta concepção, o trabalho da mulher como inferior (produto de segunda categoria, assim como a artesã que a fabrica).

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A proposta da autora é, a partir da análise institucional, abrir possibilidades para o grupo se tornar um grupo-sujeito. Possibilitar aos participantes o espaço para a produção de novas autodeterminações.

Importância da autoanálise e autogestão: pensamos no grupo como gestando a si próprio. Grupo extrapolando seu sentido pessoal e privado. Capacidade de questionar o lugar estereotipado da maternidade.

A autora apresenta o objetivo metodológico do grupo como sendo o de reprogramar uma economia política do desejo utilizando um variado arsenal de técnicas. Inventar técnicas de convivência que surjam da dinâmica grupal, posta sob a orientação geral de desinstitucionalizar e relançar o processo na direção de uma busca de novos recursos próprios.

6. Grupos (fantasmas) no hospital - Eduardo Losicer O texto aborda a importância da dinâmica de grupos para se compreender a trama

social que se desenvolve dentro de um hospital. Apresenta uma narrativa de acontecimentos para pouco a pouco ir teorizando acerca das dinâmicas psicossociais que se dão no contexto hospitalar.

O texto se inicia com um caso de um jovem médico de frente a uma situação cujo saber médico se mostrava insuficiente. Durante o relato de caso ficam visíveis alguns estereótipos da prática médica: rechaço a qualquer aspecto subjetivo, sobretudo à sua própria subjetividade (do médico residente).

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A psicologia aparece ai, como um saber estranho à medicina que, por sua vez, fica reduzida a sua dimensão técnica.

A psicologia adquire um status que implica em uma confusão de sua identidade profissional. A psicanálise, enclausurada em instituições que a administram e regulam oficialmente, acaba por reproduzir este padrão.

O autor propõe considerar os personagens do drama relatado como um grupo que possui uma dinâmica. A partir deste drama, o autor tentará identificar a "força do desejo (inconsciente) e do poder (institucional)".

Grupos: um conjunto de indivíduos que interagem entre si, compartilhando certas normas e uma tarefa. Tanto a tarefa (o sintoma da paciente) como a norma, afastam os membros do grupo entre si, pois cada um tem um propósito com relação ao sintoma e o pedido de parecer é encarado de diferentes formas pelos dois médicos.

No dia-a-dia do hospital, a série conflito-sintoma-resolução é característica das dinâmicas grupais. E o autor argumenta que, mesmo quanto o setor de psicologia tem independência com relação ao setor psiquiátrico, ocorre uma assimilação entre ambos (pela burocratização dos serviços e pelas normas que criam uma hierarquia).

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7. Para uma reformulação da experiência grupal - Antonio Lancetti As técnicas grupais e os espaços de aplicação tem se diversificado e se

estendido e nota-se uma confusão teórica e anarquia metodológica. O objetivo do texto e traçar uma crítica às ideologias grupais, tentando

abrir uma prática que busque não só uma instância científica mas que pelo menos não esteja a serviço da reprodução ideológica.

O argumento central do texto é o de que a ideologia de grupos é individualista. Apesar de a grande maioria dos teóricos argumentarem que um grupo é indivisível e sempre é mais que a soma das partes, o autor argumenta que esta ideologia não é apenas uma falácia, mas sim, operativa. (p. 85-86).

O componente catártico é fundamental. Imagem de grupo: o autor faz uma crítica a algumas consequências da

troca de papéis efetuada, sobretudo no psicodrama. Segundo o autor, utilizar a imagem de grupo como instrumento conduz os participantes a acomodar-se às noções que eles mesmos ditaram (instrumentalismo). Isto produz a promoção imaginária: forte promoção narcísica.

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Consequências: Se empiriza o objeto teórico e se ideologiza o empírico. Pergunta: Se a junção institucional é de separação: o que faz a instituição grupos quando individualiza os grupos e grupaliza os indivíduos? Resposta: obturar a função desejante do sujeito e oferecer um dos melhores exemplos de grupos submetidos.

Proposta: Iniciar uma dimensão instituinte que parta da crítica à prática ideológica sempre velada e tingida de cientificidade, não superada, pelo menos nos meios latino-americanos.

Reformular a experiência grupal constaria dos seguintes passos: 1) Contribuição da análise institucional de orientação francesa. 2) Psicanálise, materialismo histórico, semiótica e epistemologia materialistas. 3) Revisão dos textos que formularam uma tópica homorfa a do psiquismo

subjetivo, isto é, um aparato psíquico grupai (René Káes e Didier Anzieu) 8. Grupos: o que se passa neles? O que são? - Roberto Fernando de

Carvalho O artigo interroga o que acontece nos grupos para tentar uma hipótese sobre a

natureza de um grupo humano, já que para o autor, questões de natureza epistemológica e ontológica permanecem mal respondidas e pouco enfrentadas.

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A teoria dos grupos: há um falso problema comum a todas as diversas teorias dos grupos: talvez o próprio grupo.

Uma ciência depurada de ideologia? O autor evita retomar diretamente esta questão, já que reconhece que qualquer exercício social, sobretudo a ciência, está repleta de ideologização (sobredeterminação). Já que não se pode escapar da ideologia, como não sucumbir a ela?

1) Teorias que atentam prioritariamente para o método e a técnica: a) A dinâmica interna está condicionada pela imanência, generaliza achados

experimentais e artificiais, só pode beneficiar-se com o desenvolvimento do grupo e está acima do questionamento do mesmo; ou constitui a meta que o grupo estaria voltado a realizar.

b) Ajustamento ou organicismo (estratégia adaptativa/organicismo biologizante) c) Otimismo cooperativista (resgate do eu individual, produtividade criadora,

recuperação da espontaneidade natural, dinâmica de uma dialética reestruturadora)

d) Inflação conceituai (prisioneira da observação empírica, hipertrofia e imprecisão dos modelos conceituais)

e) Metonímia da cura (O que se passa no grupo se amplia para o que se passa no universo de outros grupos. Deslizamento da questão sujeito para a questão grupo)

f) A metáfora da técnica (universo do convívio social toma e é tomado pelo universo do fantasma individual)

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g) A técnica como manipulação (o desejo de agir sobre outrem prevalece na maior parte. Diretividade/não diretividade)

2) As que se destinam ao caráter terapêutico do grupo: a) Duplo discurso ("cura" VS pedagogia edificante) b) Catarse corretiva pelo grupo (função catártica) c) A evitação da transferência (minimização do lugar do monitor – de um

leader-center group a um group-centered-group) d) Idealização do monitor e o ciclo de autoconfirmação técnica-cura. 3) Críticas que concernem à natureza dos fenômenos de grupo: O autor tentará agora, discutir sua pergunta inicial, acerca do estatuto

epistemológico da teoria dos grupos (o que se passa num grupo humano, a quem interessa e desde onde). Primeiramente, aborda a definição de Pontalis que argumenta que o que mantém a coesão num grupo são os laços libidinais entre seus membros.

Laços libidinais devido a instauração de um objeto? Na medida em que isso se faz com traços do líder, pode-se pensar que esse investimento libidinal atende a uma pulsão parcial e que, menos que a instauração do ideal de ego, o que se busca restaurar com o ideal coletivo é o ego ideal, restituidor de segunda instância da ligação fusionai própria ao narcisismo primitivo.

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Recuperando Bion, a partir de Pontalis, o autor aponta a importância de reconhecer a imagem do grupo como objeto de análise, pois são as fantasias e os valores que a imagem do grupo carrega que nos permitirá interrogar acerca da função inconsciente do grupo.

Conclusões (reflexões que contribuem para organizar o que já se sabe acerca da natureza dos grupos):

• As dificuldades são maiores quanto às técnicas psicoterápicas. Sobretudo a "Metáfora da técnica" (deslizamento constante entre o sujeito e se desejo e a submersão no grupo; confusão entre os estatutos ontológicos do fenômeno individual e do fenômeno grupai)

• Intervenção terapêutica padece de ambiguidade estrutural (aprendiz de feiticeiro benigno)

• O efeito terapêutico do fenômeno transferencial pode ocorrer dentro ou fora de uma situação analítica.

• Dois registros de captação da experiência psicoterápica (individual do desejo, do fantasma, e um registro social, na medida em que cada sujeito é compreendido como emergente da totalidade do grupo.

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• Buscar uma reflexão mais fina acerca das imagens e fantasias sobre o grupo e o terapeuta: a) permitirá ao analisa produzir uma intervenção mais clara (melhor avaliação e prognóstico); b) permitirá ao grupo apropriar-se da interpretação de forma ativa, podendo tornar-se grupo sujeito.

• Desenvolvimentos mais recentes e fecundos que tentam dar conta dos problemas apresentados: a) Pichon-Rivière (noção de verticalidade - desejo, fantasma do sujeito - e horizontalidade - dimensão grupal do enunciado); b) Felix Guattari (noção de transversalidade para referir o grupo a seu contexto sócio-políticopedagógico-econômico-sexual, de um lado, e de outro para apontar a incidência do significante social em todos os momentos e níveis da existência individual); c) Didier Anzieu (inconsciente é a instância essencial de qualquer grupo. Noção de organizadores que o sujeito deve tomar conhecimento. Grupo é uma realização imaginária de desejo. Como no sonho, a ação do grupo é constituída por deslocamentos, condensações e simbolizações do desejo); d) Deleuze e Guattari (passagem para a esquizoanálise, comprometida com a mudança social; preocupada em resolver a articulação entre o micro - polo das máquinas desejantes - e o marco - polo das máquinas sociais).

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9. Síntese crítica da teoria dos grupos em George Lapassade - Priscila Melillo de Magalhães

I - As principais teses de Georges Lapassade 1. A Dialética dos grupos, organizações e instituições "Existe uma relação de interdependência entre os conceitos de grupo, organização e de

instituição, assim como existe tal relação entre os níveis da realidade social que esses conceitos visariam a definir.“

1º. Nível - Grupo: Nível da base e da vida quotidiana. A instituição já se manifesta a partir de regras e costumes (exemplo: oficina, escritório, sala de aula, família etc).

2º. Nível - Organização: Um grupo de grupos, nível do aparelho de ligações, da conexão entre os diversos grupos, da burocracia, (exemplo: a fábrica em sua totalidade, a universidade, estabelecimentos administrativos). Faz a mediação entre a base e o Estado.

3º. Nível - Instituição: É o nível do Estado, que atribui às instituições força de lei. O que institui está ao lado do Estado. A base é instituída desde os níveis hierárquicos mais altos. Obviamente estas relações necessitam mais esclarecimento. O sentido do Estado enquanto instituição deve ser mantido ao seu status jurídico e político. Para estes autores, apesar de reconhecerem no Estado um importante mecanismo de controle e determinação social, as instituições possuem uma dimensão oculta, inconsciente.

Gênese Ideal ou Mítica dos Grupos (a partir de Sartre): O grupo se constitui precisamente em oposição à serialidade (na serialidade um grupo seria igual a soma dos indivíduos, na verdade não seria um "grupo").

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Um "grupo em fusão" é, idealmente, totalmente horizontal, sem papeis hierárquicos ou organização. Entretanto, sob o medo de retorno à serialidade, à morte do grupo, este busca se defender pelo juramento.

O juramento é a aparição de formas de controle de uns pelos outros e de um estatuto de permanência no grupo, bem como de distribuições de funções e tarefas.

Como a unidade do grupo é apenas prática, a ameaça de dissolução permanece e leva ao "grupo-terror", que se opõe ao "grupo-vivo" do inicio.

A prática do grupo se transforma em instituição no dia que o grupo é impotente para modificá-la sem subverter-se a si próprio. Na instituição as tarefas e funções se cristalizam em obrigações, inaugurando a figura do poder e da autoridade de comando. Instaura-se a burocracia: o grupo perde a vida que o impregnava e volta à seriação, ao prático-inerte.

2. Burocracia x autogestão: Capitalismo de organização, dividido em fases A, B e C.

Fase A: sociedade industrial e capitalista do Sec. XIX. (Dilema: anarquismo/comunismo). Trabalho ainda não está totalmente parcelado, os sindicatos se organizam em torno de ofícios. Aristocracia profissional.

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Número restrito de militantes pouco burocratizados. A ideologia anarcosindicalista rejeita a luta política parlamentar e os sindicatos desenvolvem reivindicações de gestão direta: "a mina para os mineiros“.

Surge a noção de autogestão, permeada por embates teóricos relacionados ao Estado e aos pequenos grupos.

Fase B: Início do Sec. XX. Grandes empresas industriais. Burocratização das empresas (Taylor, Fayol, Mayo). Aprofundamento da

alienação do trabalho operário pela mecanização do trabalho parcelado. Movimento sindical se burocratiza. Surge o movimento das Relações Humanas. Descoberta de laços informais (disfunção), mas ignora a dimensão institucional. O conceito de laços informais é confuso.

Fase C: Progresso técnico, automação, eletrônica, petroquímica, formas modernas de gestão. Sociedade neo-capitalista. A burocracia gestionária perde sua rigidez, é capaz de integrar os que se desviam, de praticar a dinâmica de grupo e a democracia interna, de gerir a mudança, de buscar a participação. Lapassade acredita que na fase C "aparece uma

nova classe operária, que reivindica a responsabilidade da gestão e que mostra com esse fato que a autogestão operária é possível".

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Acerca da burocratização: • É um problema de poder (expressão da separação entre dirigente e

executores, e da apropriação da organização por uma classe dirigente); • É um fenômeno da reificação (alienação das pessoas nos papéis e dos papéis

no aparelho); a decisão burocrática • É obscura (anônimas); • Apoia-se numa pedagogia (diretivismo: dominação sobre os que não

possuem o saber); contribui para o • Conformismo (carneirismo, submissão passiva, falta de iniciativa); • É a verdadeira fonte do comportamento desviante e dos "grupos

fragmentários" ou grupos informais (surgem como consequência da repressão da critica e da oposição);

• Organização não é mais um meio, mas um fim (deslocamento de objetivos; torna-se fonte de valores e se distancia da problemática das bases);

• Recusa a mudança e a história (tende a preservar seu ser, conservar sua ideologia etc); desenvolve o carreirismo (concepção burocrática da profissão; leva a servir e servir-se da organização, mais do que a suas finalidades);

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3. Evolução da noção de instituição e das formas de intervenção • Ênfase na dimensão institucional. Conceito ainda amplo e se confunde com a

noção de estabelecimento cliente e tomando o mesmo sentido original da Psicoterapia Institucional (impossível tratar os grupos sem tratar a instituição);

• A instituição: forma que assume a reprodução e a produção de relações sociais num dado modo de produção; Critica a ênfase sobre o instituído.

Passa valorizar a dimensão instituinte. Exemplo citado: Revolução Francesa. Instituição em seu sentido ativo.

• A repressão da sociedade instituinte não pode ser suprimida nem por uma análise intelectual e puramente teórica, nem por uma tomada de consciência, o que supõe as crises e a ação. Critica ao lugar dos especialistas. Os especialistas não podem produzir a crise, é a crise que provoca a análise. A crise é o analisador que precede, funda e conduz a análise.

• Objetivo da análise passa ser a análise da transversalidade no grupo e a elucidação da transferência institucional

• Exigência da implicação, em contraposição à neutralidade (desejo do analisa é material de análise).

• Da ideologia de libertação da palavra, à ideologia de libertação do corpo (se envolve com o movimento dos grupos de bioenergia, de gestalt, de encontro e expressão).

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• Mantêm os conceitos de não-diretividade, autogestão, luta contra a burocracia, mas os recoloca dentro de uma prática "reichniana".

II - Considerações Críticas A autora aponta, na obra de Lapassade, descontinuidade, pouco rigor

conceituai e ecletismo. Entretanto, argumenta que o ecletismo não se deve a imaturidade teórica de Lapassade, mas a necessidade da própria teoria.

10. Didier Anzieu - Notas para uma leitura de sua teoria sobre grupos – Diana Laura Salzman

Ideia inicial: em toda situação grupai, seja de grupo de formação, terapêutico oú social, os processos inconscientes específicos são os mesmos. O aparato psíquico grupai existe e está dotado das mesmas instâncias que o individual, mas não dos mesmos princípios de funcionamento.

Grupo: realização imaginária de desejos. O grupo é, do ponto de vista da dinâmica psíquica, um sonho. (Associação de um desejo e uma defesa). Esse desejo irrealizável, proibido é o desejo edipiano. Na sociedade o grupo é o lugar do perigo, representado pela pulsão (transgressão autorizada: seitas, clãs etc). Dimensão privilegiada para o exercício das pulsões (libidinais, agressivas etc).

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Fantasmas: cenas imaginárias, organizações do inconsciente nas quais, de maneira mais ou menos deformada pelos processos defensivos, os representantes psíquicos da pulsão, a força do desejo inconsciente se encontra focalizada.

Uma das dificuldades para pensar a ação dos grupos é o contágio e a resistência, que ocorrem pelas relações entre estes três organizadores.

Da segunda tópica freudiana Anzieu extrai o conceito de id-ego-superego e o de ilusão grupal. A identidade do grupo está sempre posta em questão em todo grupo caracterizado pelo anonimato de seus membros, cada ego sente o risco de perder-se e decompor-se nas demais pessoas presentes.

O id participa pela pluralidade de indivíduos que evoca em cada membro a diversidade de pulsões libidinais e agressivas. A pulsão do grupo é mais relevante porque não é a pulsão de um só.

Do ego fictício do grupo se diferenciam o superego do grupo e o ideal do ego grupal. Um grupo sem um organismo encarregado de exercer a censura funcionaria na ordem da ilusão. Ilusão grupal é um "sentir-se bem em grupo“.

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Nos grupos está presente, a partir do desejo do formador, o desejo de dar vida (pulsão para aprender) e o desejo de dar morte.

Formação psicológica dos adultos: uma das metas principais é fazê-los conhecer seus organizadores psicológicos, o que pressupõe admitir um pluralismo de determinações em jogo na vida social.

Com relação à formação: 1) Não há formador que não busque realizar um fantasma pessoal em sua

atividade de formador. 2) Somente a análise intertransferencial entre formadores no seio das equipes nas quais trabalham lhes permite elucidar seus fantasmas para que não fiquem prisioneiros deles. 3) Requer a regulação por um grupo.

Filosofia implícita do formador: Colocar a consciência moral (superego) e os desejos (id) a serviço do ego (p. 132).

Uma das tarefas da psicanálise institucional seria encontrar os modos específicos de organização fantasmática nas instituições sociais, pois os problemas institucionais se relacionam à distância entre a organização institucional e a organização fantasmática.

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Se a psicanálise pode ajudar os grupos e os indivíduos a caminharem na direção da liberdade, o contrário também é possível. A história dos indivíduos é a história da luta de classes.

A análise de um indivíduo social deve ser referida ao mínimo social que o produziu. A estrutura contraditória do social é mediatizada pela família.

Individuo e sociedade são interdependentes, mas a psicanálise mostra o que se oculta na psicologia social: o momento em que o social considerado como um todo se mediatiza na parte, no indivíduo.

11. Conceito de grupo em Grimberg, Langer e Rodrigué - Maria Beatriz Sá Leitão

A autora começa o texto situando a importância dos autores, já que os mesmos foram responsáveis pela formação de muitos profissionais que trabalham com grupos em toda a América Latina.

No campo da psicanálise, ressalta a autora, são importantes por manterem o compromisso histórico da psicanálise em prol da não-repressão e desalienação do homem. Neste sentido, pode-se notar a preocupação dos autores com o conteúdo social das práticas grupais que propõe.

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1. Noção de grupos Influência da psicanálise (contribuiu para a "solução" do dualismo

indivíduosociedade). Reconhece a importância do "meio- mbiente" para o desenvolvimento do sujeito (fatos históricos na estruturação da personalidade -superego). Inaugura uma relação bi-pessoal (transferência, emoção > analista).

Influência de Darwin (evolução e transformação) e Marx (jogo dialético sujeito-objeto), nas ideias geratrizes do estudo do homem.

Grupo terapêutico: constituído por sujeitos que se reúnem de comum acordo, compartindo normas e com o objetivo de cura.

Assim como em Anzieu, os mesmos elementos levados em conta na psicoterapia individual são considerados no grupo.

Transferência grupal. O grupo cria um sistema de papéis (condensam-se estereotipias) > distribuição e interjogo destes papéis.

Interpretação diria respeito mais aos papéis representados pelos sujeitos, do que a eles próprios. Articulação desses papéis = fantasia básica inconsciente de grupo.

Recuperam a noção de totalidade psicológica de Bion, mas divergem sobre as conclusões a respeito da linguagem simbólica do grupo, e por restringir as possibilidades interpretativas, já que na prática "encontramos variações nos pressupostos básicos".

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Distinguem 3 modelos de psicoterapia de grupo: 1o . Técnicas que atuariam "pelo grupo", ressaltando a influência das emoções

coletivas sobre os indivíduos. 2o . Propõe modificar o sujeito "no grupo". Interpretações dirigidas

individualmente. 3o . Psicoterapia "de grupo". A proposta dos autores percebe o grupo como uma

unidade dinâmica totalizada, contendo uma complexa interação de forças. Recomendam a participação ativa do terapeuta e a interpretação sistemática das fantasias inconscientes, em função dos papéis vividos pelo grupo.

Limites da cura: aponta para a dimensão institucional. Curar um indivíduo sem que se cure o grupo familiar a que pertence, muitas vezes significa desequilibrar esse núcleo e provocar a enfermidade dos demais.

A perspectiva epistemológica do texto considera sua vinculação social, e a psicanálise como prática sócio-política-econômica-ideológica (não neutralidade).

O grupo é uma experiência social, ocupando um lugar de experimentação da "interação". Destaca-se, então, a definição de grupo por suas características de interdependência. Um papel determinado ocorre e é assumido em função da historia pessoal do sujeito.

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A autora compara com a perspectiva de Marx que, diferentemente dos autores, rompe com a tradição empirista-idealista e concebe a estrutura que constitui e determina os objetos desde a unidade das forças produtivas e as relações de produção. Afirma então que o modelo de interação grupal, apresentado por Grimberg, Langer & Rodrigué, passa por uma pedagogia grupai adaptativa e alienante. Sua critica parte, sobretudo da afirmação dos autores de que o grupo psicológico "conhece sua unidade", sendo que na verdade, os determinantes patológicos, na sua maior parte, são estranhos à consciência e manifestam-se pelos seus efeitos.

12. Bion: considerações a respeito dos grupos - Maria Beatriz Sá Leitão 1) Apresentação do Pensamento de Bion. Pensamento: se origina em experiências primitivas de caráter emocional, em

relação à ausência de objeto. É prévio à capacidade de pensar. Os pensamentos primitivos são impressões sensoriais e experiências emocionais primitivas (protopensamento). Uma pré-concepção aparelharia com a realização (experiência real) e desta combinação surgiria a concepção. Da pré-concepção e da frustração surgiria o pensamento.

O amor (L) o ódio (H) e o conhecimento (K) seriam emoções intrínsecas ao vínculo entre dois objetos.

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Desenvolvimento do sujeito: elementos inatos (tolerância à frustração) e ambientais (convivência com a mãe). Dois pensares: a) da origem a pensamento; b) usa pensamentos pré-existentes que funcionam a partir de dois mecanismos: identificação projetiva e relação dinâmica entre as posições esquizoparanóides e depressiva.

Significados da terapêutica de grupos: 1° Catarse (confissão pública). 2° Adquirir conhecimento dos fatores que contribuem para o "bom espírito de grupo" (necessário um propósito comum, nutrir um ideal comum, e o reconhecimento por parte do grupo de seus limites, posição e a função que ocupa em relação aos grupos maiores).

Resultado terapêutico bom: manter a identidade grupai, aliada a uma maior flexibilidade. Reconhecer o valor dos subgrupos; valorizar seus membros; vivenciar as frustrações; considerar o campo social no qual o grupo se insere; Em outro momento Bion identifica que o objeto de estudo dos grupos é a investigação das perturbações no comportamento racional do grupo.

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Mentalidade Grupal: Uniformidade contrastante com a diversidade de pensamentos dos indivíduos de um grupo. O grupo consiste num vínculo para os sujeitos expressarem anonimamente impulsos e desejos que pretendem satisfazer, mas pelos quais não querem assumir a paternidade. Determina como os sujeitos se combinarão.

Contradição de um grupo: homem enquanto "ser político", busca no grupo a realização de sua vida mental, porém, desafiado pela Mentalidade grupai, se defronta com o fracasso do grupo.

Pressupostos básicos: conjugação, luta e fuga, e dependência. Todos pressupõem a existência de um líder (pessoa, ideia ou objeto inanimado). Origem primitiva; se alternam na configuração dos grupos; determinado inconscientemente; tendem à continuidade;

Valência: capacidade de o sujeito combinar-se com outros, segundo os pressupostos básicos.

Todo grupo possui uma regulação inconsciente implícita. Cada tentativa de formalizar um grupo busca resguardar o próprio grupo dos pressupostos básicos:

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Grupo de dependência: prevalece a dependência; ocorre a mitificação do líder (predominam a culpa e a depressão) (igreja);

Grupo luta e fuga. convicção de que existe um inimigo; objetivo é mau; atividades defensivas tendem à destruição ou evitação. (predominam a ira e o ódio) (exercito).

Grupo de conjugação ou acasalamento: esperança messiânica de vir a ter um salvador; existe a ideia de futuro para o grupo; (aristocracia);

Aprendizagem de novos comportamentos: nestes grupos pressupõe a dor, frustração, desilusão e capacidade de espera. A busca da individualidade conteria uma manobra de resistência, acionada para preservar a fantasia onipotente "em que tudo é dado como se fosse inato".

Cisão e idealização: Mecanismos frequentemente usados para o grupo defender-se da angustia de experimentar algo.

Sistema protomental: matriz de onde surgem os fenómenos; indiferenciação entre atividade física e mental;

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O primitivo dos pressupostos básicos coexiste com outros níveis de funcionamento, "ideia nova" promoveria a mudança. O fracasso dos grupos institucionalizados em conter o pressuposto básico, provocaria reações nos subgrupos provocando mudança.

Função do analista: o analista de grupos teria como objetivo promover o grupo de trabalho (qualidade comunicativa e riqueza simbólica).

Comprometimento com a "ideia nova“. 2) Apresentação da perspectiva orientada pelo movimento de psicologia

institucional (sócio-análise) Critica aos dogmatismos das teorizações de Bion. (purismo científico e

psicologismo que se define pela presença de um centro, seja ele uma conceituação teórica, sujeito, grupo e a própria praxis). Apoia sua crítica em Marx (sujeito não é o centro da história) e Freud (sujeito está descentrado). A autora argumenta que a perspectiva de Bion não contempla as relações de dominação, doutrinação e exploração.

Bion privilegia o funcionamento grupal, reforçando assim o imaginário. A autora retorna a necessidade de uma ligação do líder com a estrutura libidinal.

Cultura do Grupo. As ideias novas podem constituir-se em excelentes analisadores para as normas e convicções grupais.

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13. O grupo - Como o entende Bauleo - Dionysia Rache de Andrade Introdução Bauleo foi discípulo de Pichon-Rivière e privilegiou o estudo de grupos,

com enfoque no grupo familiar. Privilegiou a conexão entre marxismo e psicanálise.

Elementos mais importantes da teoria de Bauleo: grupo operativo como lugar de aprender a pensar; rejunção afeto e racionalidade; psicologia social como ciência responsável por fornecer materiais que possibilitem a transformação do sistema vigente.

Enfoque sociológico (grupo como elemento de uma estrutura maior); Enfoque psicológico (indivíduo dentro do grupo); grupo como tal (estrutura

e dinâmicas próprias). O grupo aparece como a instância através da qual a psicologia social desenvolve sua problemática.

A psicologia social investiga precisamente a relação entre o indivíduo e a sociedade. Tem de dar conta do sujeito no grupo simultaneamente ao modo de produção e classe social. Isto é: falar das inter-relações de classe num dado momento histórico-social.

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A noção de grupo remete-nos a duas situações: a) um conjunto de pessoas reunida para alguma coisa (problema comum e conhecimento entre pessoas; b) emprego de técnicas para esclarecimento de problemas e a determinação de conceitos empíricos (situação tautológica);

Conceito de grupo: refere-se a uma situação não descritiva não baseada apenas na experiência grupal; reconstitui uma experiência grupal não totalmente consciente, (grupo real x representação grupai); modelo ideal, fantasiado ou imaginário; Os diversos autores que buscaram conceituar o grupo falam dos efeitos grupais, mas não avançam no esclarecimento acerca de qual estrutura produz tais efeitos permitindo fazer previsões.

Estrutura grupal: representação grupal onde se cruzariam muitas representações individuais. Deve ser capaz de explicar aspectos individuais e assinalar ou estipular um vínculo, e os modos e efeitos desse vínculo (dinâmica grupal).

A representação mental do grupo (estrutura grupal), constituída pelas projeções individuais, vai ter certa independência e provocar nos indivíduos determinados comportamentos.

Grupo difere de agrupamento. Um grupo subentende a organização de uma estrutura imaginária mítica que determinará seus movimentos. O destino da estrutura imaginária é impor-se ao grupo real proporcionando a significação de seu caminho.

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O grupo operativo Grupo Operativo é um grupo de aprendizagem (informação, emoção,

produção: mudança - pautas de conduta + - estáveis), um novo espaço didático (sujeito ativo). Consciência da influencia do contexto.

Resultando da relação educador-educando, em que informação e afetividade são consideradas parte do processo, tem-se a produção, que significa não só a transformação de dados, como também a aquisição de instrumentos para uma nova busca. 3 fases de organização:

1. Indiscriminação: situação nebulosa na qual os objetivos do grupo, tarefas e papéis, não estão claros; "vivência não é experiencial, o grupo não tem sentido de todo", (incoerência organizativa);

2. Diferenciação: esclarecimento dos papéis; começa surgir a tarefa manifesta e a tarefa latente, (medo à mudança);

3. Síntese: momento mais integrador, de produtividade, insight, o grupo já experimentou a conjugação entre verticalidade e horizontalidade;

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14. O grupo operativo de Pichon-Rivière - Guia terminológico para construção de uma teoria crítica dos grupos operativos - Osvaldo I. Saidón

O texto busca organizar a técnica dos grupos interativos, fundada por Pichon-Rivière, que tem sido muito utilizada, muitas vezes de forma primitiva, e à falta de um aprofundamento teórico adequado sobre suas bases teóricas.

Introdução: Pontos de reflexão para a construção de uma teoria crítica do grupo operativo Reafirma que o questionamento ideológico deve ser permanente em qualquer investigação. Apresenta as contribuições "importantes" que circulam entre a psicanálise e os autores freudo-marxistas.

Grupo Operativo e Psicologia Influência da teoria de campo (Kurt Lewin) para a teoria dos grupos e para o

grupo operativo. Entretanto, não romper com a mesma pode transformar o grupo operativo em um instrumento de adaptação e moderador de tensões.

Para o autor, a sociedade não é homogénea e o sistema social não é contínuo. Para Lewin, o campo social é uma totalidade em movimento constituída por

entidades sociais coexistentes, com graus de integração recíproca. Troca social > existência de um estado quase estacionário (equilíbrio de forças iguais em intensidade e de direções opostas). Estado inconstante > flutuações em torno de um nível médio. A estrutura do campo de forças não se modifica > resistência à troca.

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Epistemologia Convergente Um dos pontos mais polêmicos da teoria de Pichon-Rivière. Aqui o autor

critica esta abordagem, mas, ao apontar suas insuficiências, deixa entreabertos os pontos a serem considerados para a organização da teoria dos grupos operativos.

Duas tendências do movimento grupalista: Corrente microssociológica e Corrente psicanalítica. As duas falham em integrar os processos inconscientes e os processos sociopolíticos institucionais que a organização social encobre. O autor argumenta que tanto a psicossociologia como a clássica psicanálise de grupo, são práticas destinadas a reforçar defesas psíquicas contra a emergência das contradições sociais, ou seja, contra emergência produtiva e social do desejo e da práxis

Desejo e Produção: Relações de produção que não sejam antagônicas com a produção desejante (artística, onírica, etc).

Grupos e a Interpretação: Autocrítica dever ser feita sempre em relação à teoria e à organização, mas nunca ao desejo. Interpretação transferencial nos grupos: a experiência em grupo abre a possibilidade de questionar a própria interpretação transferencial, como socialmente determinada.

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Deleuze e Guattari propõem trocar a predominância do intercâmbio verbal pela ideia de um intercambio de intensidades. Explorar todos os sentidos do grupo pode permitir construir o Esquema Corporal. A interpretação e o insight no grupo operativo estarão ligados ao aparecimento de novos rendimentos corporais.

O Ato e a Organização: Tendências na história do estudo dos grupos. Uma tendência acentua a prática, o trabalho sobre um objeto exterior; Outra enfatiza a organização do grupo. A ação só é possível na medida em que não ameace a organização. Heterogeneidade nos argumentos e dois modos de homogeneizá-la:

a) Ação momentânea e esporádica (massa espontânea como a denomina Freud)

b) Organização estável, burocrática, repressiva (massa artificial em Freud); O autor argumenta que estas duas tendências, presentes na história dos

grupos, constituem mais momentos que transcorrem na formação de todo grupo. Mais que dois momentos, dois pólos de uma contradição.

O grupo operativo é interessante porque, ao se preocupar com a tarefa, o coloca como instrumento apto para exploração desta contradição: quando o grupo se trabalha, atenta contra a produção, e quando produz, atenta contra o trabalho grupal.

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15. Horizontalidade, verticalidade, e transversalidade em grupos - Vida Rachel Kamkhagi

Síntese do conceito de grupo operativo Grupo: Conjunto de pessoas; ligadas por constantes de tempo e espaço; mútua

representação interna; se coloca implícita ou explicitamente uma tarefa que constitui sua finalidade; (estrutura, função, coesão e finalidade), (modelo natural: grupo familiar).

Função essencial de um grupo operativo: aprender a pensar; resolver contradições dialéticas sem criar situações conflitantes; apenas dificuldades criadas no campo grupai;

Tarefa explicita: aprendizagem, cura, diagnóstico de dificuldades de uma organização de trabalho etc. Tarefa Implícita: ruptura das condutas estereotipadas que dificultam a aprendizagem e a comunicação, obstáculo frente uma situação de mudança.

Destacam-se três papéis de interrelação (nãoseriam estereotipados, mas sim, funcionais e rotativos): porta-voz (em dado momento denuncia o acontecer grupai, as fantasias que o movem, ansiedades e necessidades do grupo); bode expiatório (depositário dos aspectos negativos e atemorizantes; mecanismos de segregação e exclusão); e líder (depositário de aspectos positivos); o líder e o bode expiatório estão ligados entre si, um surge como preservação do outro (processo de dissociação). Outro papel seria o desabotador (líder da resistência à mudança);

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Processo de depositar ansiedades (depositante, depositário e o depositado): permite redistribuir a ansiedade e romper com o papel estereotipado, conseguindo-se assim o que seria a complementação dos papéis e a rotatividade dos mesmos.

A tarefa consistiria na elaboração de duas ansiedades básicas que coexistem e se conjugam: medo da perda (ansiedade depressiva); medo do ataque (ansiedade paranóide). Estas ansiedades, que se configuram como resistência a mudança e paralisam o grupo (pré-tarefa - parece que o grupo trabalha, mas protela a tarefa), devem ser superadas a partir de um processo espiral em três momentos: tese, antítese e síntese.

Conceito de verticalidade e horizontalidade • Verticalidade: história pessoal do sujeito • Horizontalidade: aqui agora com a totalidade dos membros do grupo. Estes conceitos são importantes, pois indicam que o grupo operativo objetiva

resolver dificuldades criadas no grupo. A interpretação se baseia na verticalidade e na horizontalidade e se inicia pelo porta-voz (por sua história pessoal é sensível ao problema subjacente e detecta as fantasias inconscientes do grupo).

Transversalidade: conceito que tenta sair de uma visão restrita dos pequenos grupos; explicações nas múltiplas determinações sócio-político-ideológicoeconômico-sexuais; permite a compreensão do grupo num campo mais amplo; grupo seria uma unidade de análise e uma unidade para a análise.

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Correspondência entre os fenômenos de deslocamento de sentido (esquizofrênicos) e os mecanismos de discordância que se instauram em todas as camadas da sociedade industrial, neo-capitalista e socialista burocrática:

indivíduo tende a querer identificar-se com um ideal de "maquinas consumidoras - de - máquinas-produtoras". (Guattari).

Análise não se propõe como objetivo uma verdade estática, mas sim realizar as condições favoráveis através de um modo de interpretação idêntica à transferência. Transferência e interpretação constituem uma forma de intervenção simbólica.

Transversalidade vem substituir a noção de transferência institucional e se coloca em oposição a uma verticalidade e uma horizontalidade. A transversalidade tenta superar os impasses de uma pura verticalidade e de uma simples horizontalidade. Tende a realizar-se quando uma comunicação máxima se efetua entre os diferentes níveis e diferentes sentidos.

A autora propõe utilizar a noção de transversalidade para conceber uma perspectiva de grupos que seja capaz de quebrar o estereótipo de funcionamento. A horizontalidade deverá deixar de ter como modelo de referencia o grupo familiar, estendendo-se a determinações sociais mais amplas. A leitura institucional implicaria na denuncia de uma ordem institucional.