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8/20/2019 - Tese - Lilia Dinelli
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
A RELIGIÃO COMO PROCESSOPEDAGÓGICO NO PENSAMENTO DE MEISHU-SAMA:
UM DIÁLOGO COM PAULO FREIRE
POR
LILIA DINELLI
Dissertação apresentada em cumprimento par-
cial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Uni-versidade Metodista de São Paulo, para obten-ção do grau de Mestre, sob a orientação doProf. Dr. Jung Mo Sung.
São Bernardo do Campo
Janeiro de 2011
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A dissertação de mestrado sob o título “A Religião como um Processo Pedagógico no
Pensamento de Meishu-Sama: um Diálogo com Paulo Freire”, elaborada por Lilia Di-
nelli foi apresentada e aprovada em 14 de março de 2011, perante banca examinadora com-
posta pelos professores Doutores Jung Mo Sung (Presidente/UMESP), Lauri Emílio Wir-
th (Titular/UMESP) e Andréa Gomes Santiago Tomita (Titular/Faculdade Messiânica).
__________________________________________
Prof. Dr. Jung Mo Sung
Orientador/a e Presidente da Banca Examinadora
__________________________________________
Prof. Dr. Jung Mo Sung
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião
Área de Concentração: Práxis Religiosa e Sociedade
Linha de Pesquisa: Interfaces da Práxis Religiosa com a Filosofia e as Ciências
Humanas
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A Deus, a Meishu-Sama e a meus antepassados.
Aos meus pais e familiares.
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O real objetivo da educação é formar homens íntegros, isto é, homens que façam da justiça o seu código de Fé e se esforcem para aumentar o bem-estar social,
contribuindo para o progresso e a elevação da cultura.
Meishu-Sama
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Minha mais profunda gratidão à Universidade Metodista de São Pauloe ao Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião – IEPG.
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AGRADECIMENTOS
À direção da Igreja Messiânica Mundial do Brasil e a seus missionários, que me apoi-aram sempre nos momentos mais difíceis da vida.
À direção da Fundação Mokiti Okada e a seus funcionários, com os quais aprendi aimportância de trabalhar em conjunto para a sociedade.
Ao Fernão Capelo Gaivota que encontrei no prof. Jung Mo Sung. Orientador rigoroso,acima de tudo paciente, que me ensinou a “começar a andar nas palavras”.
Aos meus queridos professores e amigos, que eu amo tanto e que me ajudaram a
perceber a magnitude da descoberta do conhecimento.
Á professora Marília G. Godoy, amiga.
Meu agradecimento especial aos autores das obras pesquisadas, pois sem eles não
seria possível aprofundar meus conhecimentos e desenvolver esta pesquisa.
Àqueles que não citei e sabem que foram importantes nesse caminho.
Aos queridos amigos Luci e Vitor (amados), companheiros na “guerra contra a
ignorância”.
MINHA GRATIDÃO
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DINELLI, Lilia. A religião como processo pedagógico no pensamento de Mei- shu-Sama: um diálogo com Paulo Freire. São Bernardo do Campo, 2011. 102
fls. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Teologia e História) —
Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2011.
SINOPSE
Esta pesquisa busca apresentar contribuições para o campo da relação entre
religião e educação, especificamente a concepção da religião como um pro-
cesso pedagógico no pensamento de Meishu-Sama, fundador da Igreja Messi-
ânica Mundial. O trabalho está dividido em três partes. A primeira apresenta avida de Meishu-Sama e a história da fundação da Igreja Messiânica Mundial,
que ocorreu na primeira metade do século XX no Japão. A segunda estuda a
concepção de Meishu-Sama sobre a função da religião e a relação desta com a
educação, especialmente no desafio fundamental para a formação do ser hu-
mano. A terceira parte estabelece um diálogo entre os pensamentos educacio-
nais de Paulo Freire e Meishu-Sama, especialmente em torno do desafio da
humanização e das noções de educação bancária e a libertadora dialógica
(Paulo Freire) e a “educação morta” e “educação viva” (Meishu-Sama). Neste
diálogo é dado destaque à noção de “educação espiritualista” de Meishu-Sama, que considera fundamental criticar a descrença do mundo moderno em
relação ao “mundo espiritual”. Para este autor, desconstruir o pensamento
materialista e integrar o ser humano na natureza é tarefa tanto da religião co-
mo da educação.
Palavras-chave: religião – educação – mundo espiritual – humanização –missão.
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DINELLI, Lilia. A religião como processo pedagógico no pensamento de Mei-
shu-Sama: um diálogo com Paulo Freire. São Bernardo do Campo, 2011. 102
fls. Thesis (Master’s Degree in Sciences of Religion – Theology and History) —
São Paulo Methodist University, São Bernardo do Campo, 2011.
ABSTRACT
The present research intends to contribute to the relation field between religion
and education, specifically the concept of religion as an educational process ac-
cording to the thought of Meishu-Sama, founder of the Church of World Mes-
sianity. The research is divided into three parts. At first, it presents the life of
Meishu-Sama and the history of foundation of the Messianic Church, which oc-
curred in the first half of the twentieth century in Japan. In the second part, the
concept of Meishu-Sama on the function of religion and its relation with educa-
tion is studied, especially in the key challenge for the development of human
being. In the third part, a dialogue between the educational thoughts of Paulo
Freire and Meishu-Sama is established, especially the challenge of humanizingand notions of banking education and liberating dialogue (Paulo Freire) and
“dead education” and “living education” (Meishu-Sama). In this dialogue it is
given emphasis to the notion “spiritual education” of Meishu-Sama, who con-
siders fundamental to critic the disbelief of the modern world regarding the
“spiritual world”. For this author, deconstructing the materialistic thought and
integrating the human nature is the task of religion as much as of education.
Key words: religion – education – spiritual world – humanization – mission.
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SUMÁRIO
Introdução _____________________________________________________________ 11
CAPÍTULO I - A VIDA DE MEISHU-SAMA E A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA
IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL ________________________________________ 15
1.1 Contexto Sócio-histórico da vida de Meishu-Sama _______________________ 15
1.2 O fundador ________________________________________________________ 22
1.3 O nascimento da Igreja Messiânica Mundial ____________________________ 34
CAPÍTULO II - MEISHU-SAMA E A FUNÇÃO DA RELIGIÃO E DA EDUCAÇÃO
_______________________________________________________________________ 48
2.1 Religião e missão da Igreja Messiânica em Meishu-Sama _________________ 48
2.1.1 Religião como passividade e resignação ______________________________ 50
2.1.2 Religião como pragmatismo (religião da ação) _________________________ 51
2.2 Educação em Meishu-Sama __________________________________________ 55
2.3 Religião como educação em Meishu-Sama ______________________________ 60
2.3.1 Educação espiritualista e a materialista _______________________________ 63
2.3.2 Educação morta e viva ____________________________________________ 65
2.4 Fraternidade entre seres humanos como o objetivo da religião-educação ____ 68
2.4.1 A noção de fraternidade e alteridade _________________________________ 69
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2.4.2 Religião-Educação como caminho de fraternidade ______________________ 70
2.5 Religião e educação e o estado natural dos seres humanos _________________ 72
CAPÍTULO III - DIÁLOGO ENTRE O PENSAMENTO DE MEISHU-SAMA E O
PENSAMENTO DE PAULO FREIRE ______________________________________ 76
3.1 Educação e a dialética da humanização ________________________________ 78
3.2 Educação e práxis para libertação/humanização _________________________ 84
3.3 Educação, fé e religião ______________________________________________ 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS ______________________________________________ 98
Referência Bibliográfica _________________________________________________ 108
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INTRODUÇÃO
Em toda minha vida sempre tive grandes sonhos, considerado isso por alguns,
inclusive por minha mãe, como desejos impossíveis. Com dezoito anos conheci a
Igreja Messiânica Mundial e filiei-me a ela, juntamente com minha família.
Passei a prestar trabalho voluntário à entidade e, hierarquicamente, fui ele-
vando minha posição, tornando-me ministro da igreja e professora da arte de ikeba-na. Paralelamente, trabalhava na Secretaria da Educação e, posteriormente na Secre-
taria da Justiça, onde me aposentei.
Como sempre gostei muito de arte, identifiquei-me de imediato com o pen-
samento de Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica, e com o valor que ele dá à
arte como veículo para proporcionar alegria e sentido à vida.
Para tanto, busquei em minha experiência de vida, uma leitura complementar
que pudesse preencher a necessidade de conhecimento que havia em meu interior,
fruto de uma formação pautada na educação contemporânea (século XX).
Filha dessa educação, fui formada insatisfeita com o que havia de melhor na
escola pública e assim aprendi o que era certo e o que era errado, e que o educador
era o certo e o educando, o errado. O “dom” do conhecimento, à época, cabia ao pro-
fessor e ao aluno restava ser um mero depositário.
Já nessa fronteira, percebi que havia algo errado ao não se discutir os “por-quês”. E quando ousava questionar, tinha como resposta “porque sim”. Ora, o prin-
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cipal atributo que diferencia o ser humano do ser animal é sua capacidade de pensar,
raciocinar, refletir. Assim, como se poderia manter essa via de mão única?
Ao extrair do educando a capacidade de diferenciá-lo de um animal, só resta
colocá-lo na jaula e adestrá-lo. Hipoteticamente esse adestramento já vinha sendo
feito pela educação contemporânea.
Por não achar suficiente resposta às minhas questões, optei por fazer o Curso
em Ciências da Religião, por reconhecer nele o instrumento capaz de reunir os cam-
pos da Religião e Educação, campos estes fundantes para a formação do ser humano.
Entendo que, ao desenvolver um estudo comparativo entre religião e educa-
ção, estudando aquela como um processo pedagógico, estou contribuindo para ocampo do conhecimento no discurso que legitima ambas, capaz de fornecer mais
elementos para aqueles que, como eu, acreditam ser este o caminho para a transfor-
mação da sociedade e do individuo.
Decidi estudar a religião em Meishu-Sama, cuja finalidade é tornar o homem
liberto de preconceitos, do sofrimento e da opressão, e a educação em Paulo Freire,
libertadora, que tem como objetivo tornar o homem livre, “dom divino” de Ser Mais.
O objetivo geral da pesquisa é aprofundar a relação entre a religião e a educa-
ção com a finalidade de contribuir para uma compreensão mais ampliada do papel da
religião no mundo de hoje, mostrando as relações intrínsecas entre ambas.
Os objetivos específicos da pesquisa são:
a) compreender a visão de Meishu-Sama sobre o papel da religião na vi-
da das pessoas e na sociedade, em especial a relação entre a religião e a educação.
b) estudar as possíveis contribuições da proposta educacional de PauloFreire na compreensão da relação entre religião e educação e na compreensão da
proposta religioso-pedagógica de Meishu-Sama.
No capítulo I, apresentamos um histórico de Mokiti Okada, nome civil de
Meishu-Sama, o contexto sócio-histórico de sua vida, o Japão do século XIX e, em
seguida, o introduzimos como fundador da Igreja Messiânica Mundial, a revelação,
sua vida religiosa e o nascimento da religião e sua história. A trajetória do religioso
desde os momentos de seu nascimento ao deslumbramento de uma vida digna de ser
humana, como humano, sua formação educacional, seu exemplo de vida para os dis-
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cípulos, em meio a guerras e sofrimentos. E o aproveitamento destas dificuldades
como degraus para a superação e a busca na transformação de um mundo melhor.
No segundo capítulo, o tema abordado será a religião como educação em
Meishu-Sama. Para tanto, será apresentado o perfil da religião e a missão da Igreja
Messiânica Mundial, mostrando que Meishu-Sama não está preocupado com a defi-
nição do que é religião, e sim com a missão desta.
Ao falar da missão da religião, ele percebe que a Igreja Messiânica Mundial
vai além do campo religioso, de uma religião. Ele apresenta uma religião que vai
além, abarcando a cultura, a economia, a filosofia, a política e os demais campos de
atividade. Diante disto, mostra que a Igreja Messiânica Mundial é uma religião dife-
rente das tradicionais do Japão, resgatando algumas questões como religião passiva
versus religião ativa, atitude de resignação versus atitude pragmática.
Ao se estudar a religião como educação no pensamento de Meishu-Sama, faz-
se necessário perceber que o objetivo da primeira é formar o ser humano, humano.
Ser humano este que reconhece o outro, nas palavras do religioso, que afirma que só
é possível ser feliz quando se faz a felicidade do outro. Com esta definição, observa-
se que a religião e a educação são fatores fundamentais para a aproximação do serhumano com a natureza.
A educação que vislumbra a importância de formar homens que tenham ati-
tudes de respeito com a natureza é digna de ser reverenciada como a educação ideal,
posto que esta proposta nos é ensinada pelas religiões, desde os primórdios da cria-
ção do homem como ideal de vida.
No terceiro capítulo, trataremos de uma breve apresentação do educador Pau-
lo Freire, seu pensamento pedagógico e ideal de vida. Neste estudo, consideramos a
educação e a práxis para libertação e a humanização, na obra de Freire. Obra esta de
profundo significado diante de uma sociedade que faz da educação contemporânea
sua tábua de resgate, desconhecendo nela, o quanto é desumana.
Um dos alvos desta pesquisa é possibilitar uma reflexão sobre a obra de Mei-
shu-Sama, que vê a religião messiânica como pragmática e estuda a importância da
práxis, quando afirma existir estudo vivo e estudo morto. Do mesmo modo, a pesqui-
sa remete a uma reflexão sobre a obra de Paulo Freire, que afirma a importância da
educação como práxis e analisa a educação bancária e a educação problematizadora.
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Por fim, estabelecer uma aproximação na educação, fé, esperança e amor de-
senvolvidos por Paulo Freire, que assume estes conceitos, mas não pressupõe Deus e
a religião como meios de atingir o objetivo de tornar o Ser mais humano, e o pensa-
mento de Meishu-Sama que pressupõe a existência de Deus e vê na religião, fé, edu-
cação e crença no mundo espiritual, meios para atingir o verdadeiro objetivo da cria-
ção do ser humano: ser feliz.
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CAPÍTULO I
A VIDA DE MEISHU-SAMA E A HISTÓRIA DA
FUNDAÇÃO DA IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL
1.1 Contexto sócio-histórico da vida de Meishu-Sama
Na segunda metade do século XIX, mais do que a introdução do pensamento ociden-
tal, ocorre no Japão um processo de ocidentalização que atinge aspectos da vida social. A
citação que segue fala dessa ocidentalização: “A ocidentalização do Japão favorece o de-
senvolvimento do racionalismo, na mesma medida em que ameaça a tradição mítica, ocasi-
onando uma crise que vai provocar duas reações opostas: uma, a tentativa de integrar o ra-
cionalismo dentro do esquema mítico, e outra, a de rejeitar (fanaticamente) o racionalismo.Esta última reação é a que tanta influência exerceu durante a guerra nipo-americana e que se
perdeu no seu fim e com a derrota nacional.” (OSHIMA, 1991, pp. 19-20)
Em meio a esta dualidade nasceu no dia 23 de dezembro de 1882, Mokiti Okada, que
mais tarde assumiria o nome religioso de Meishu-Sama, no bairro de Hashiba, distrito de
Assakussa, no Japão, extremo leste do mundo e, desde sua infância mudou-se dez vezes de
local. Entre elas, nove das vezes foram em direção ao Oeste. Para ele, o significado espiritu-
al de nascer no extremo leste do mundo denotava a crença de que seria o veículo da Luz do
Oriente para o planeta. Culturalmente, no Japão, toda religião, até o Xintoísmo, veio do
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Oeste. Okada acreditava que essa realidade era contrária às leis da natureza, pois nela o Sol
nasce no Leste e se põe no Oeste. Assim, do seu ponto de vista, para que o homem alcan-
çasse a felicidade, era necessário que a luz nascesse no Oriente. A Luz do Oriente.
No Japão, o dia 22 de dezembro é o dia do solstício de inverno no hemisfério norte,
tendo a noite mais longa do ano; e esta data, 23 de dezembro, tinha para a cultura japonesa
da época, um significado espiritual porque é o início do alongamento do dia. Okada inter-
pretou mais tarde que a data do nascimento era um sinal de que tinha recebido a missão de
transformar o mundo, levando-o da “Era da Noite” para a “Era do Dia”, período de saúde,
prosperidade e paz.
Sobre esta interpretação, Okada, escreveu em 1952:
[...]―Luz do Oriente era uma predição relacionada à minha pessoa.
Não haverá quem não se espante ao tomar conhecimento dessa verdade,
e poucas pessoas conseguirão aceitá-la de imediato. […] Por isso, tenta-
rei me explicar melhor, apresentando provas reais do que estou dizendo.
A primeira prova é o local onde nasci e o trajeto das mudanças que fiz.
Nasci num bairro antigamente denominado Hashiba, situado em Assa-
kussa, na cidade de Tóquio. O país chamado Japão, como todos sabem,
localiza-se no extremo leste do globo terrestre; acrescente-se que Tó-quio é uma cidade do leste do Japão. O leste de Tóquio é Assakussa, cu-
jo leste, por sua vez, é Hashiba, o bairro ao qual me referi há pouco. A
leste desse bairro está o rio Sumida. Assim, Hashiba é realmente o leste
do leste; em termos mundiais, é o extremo leste do mundo. […] Aos oi-
to anos, fui morar no bairro de Senzoku, a oeste de Hashiba; mais ou
menos na época em que concluí o curso primário, mudei-me para o bair-
ro de Naniwa, em Nihon-bashi, e em seguida, para Tsukiji, em Kyo-
bashi; depois fui para os bairros de Oi e Omori, ambos em Ebara; mais
tarde, transferi-me para Koji e, a seguir, para Tamagawa, onde existe,
atualmente, o Solar da Montanha do Tesouro. Posteriormente, dando umsalto bem grande, mudei-me para Hakone e Atami, e, agora, para Quio-
to. Assim, troquei de residência dez vezes, e dessas mudanças, excetu-
ando-se o bairro de Koji, nove foram para o oeste. Naturalmente, daqui
em diante a Luz do Oriente avançará cada vez mais para o oeste; um di-
a, é óbvio, chegará à China e, finalmente, à Europa. [...] (1982, pp.29-
30, vol. 1)
À época, o rio Sumida era um importante centro de transporte fluvial, local onde às
suas margens se localizava o distrito de Assakussa, principal porto e via de acesso ao co-mércio. Espaço de fronteiras mesclado por pessoas vindas de diversas regiões do Japão, que
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ali encontravam argumentos para se instalar e sobreviver. Nessa época, produtos como arroz
e verduras eram transportados por via fluvial, em navios com casco reto e raso, e descarre-
gados ao longo de suas margens. Já os navios de grande porte que vinham de Kyoto e Osa-
ka, atracavam em Assakussa, depois de passar pelo porto de Edo (antigo nome da cidade de
Tóquio).
Assakussa foi progredindo por intermédio do grande número de comerciantes e pro-
fissionais, tornando-se o centro recreativo e cultural de Edo, principal cidade do Japão, de-
pois de ser instalada ali, por ordem do governo feudal, uma zona de meretrício. Algo que
sedimentou o progresso da localidade como centro cultural foi a chegada do teatro cabúqui
(teatro tradicional do Japão, originado no século XVII, que tinha como finalidade satirizar
temas religiosos).
Por ser um local de ricas paisagens marcadas pelas estações do ano, posteriormente,
registradas por pinturas, Assakussa tornou-se um local famoso socialmente.
A ocidentalização e a industrialização, aliadas à transição de um país tradicional para
um país aberto a novas proposições, provocaram sérias dificuldades à população.
No período Tokugawa, quinze gerações dominaram o Japão. Considerado como um
dos maiores estrategistas, é atribuída ao imperador Tokugawa a glória de ter mantido a pazno país por trezentos anos, após séculos de guerra civil. Guerreiro e administrador, estrutu-
rou seu xogunato (1603-1867) de maneira a permitir que seus sucessores pudessem contro-
lar todo o território japonês e garantir a paz interna. Nessa organização, a figura do impera-
dor era simbólica, ficando o governo sob a responsabilidade dos xoguns, em Edo (Tóquio).
Esse poder se sobrepunha às religiões e reprimia as ideias contrárias ao governo. Outro fator
que contribuiu para a permanência no poder, foi o controle de arrecadação de impostos.
Com este rigor, os camponeses se mantinham presos à produção do campo, para atender àsnecessidades de seu senhor, dentro de uma hierarquia que finalizava no xogum.
Nessa cadeia, denominadas castas, rigorosos limites foram demarcados quanto às
camadas sociais, permitindo ao indivíduo transitar somente naquela à qual pertencia. Com
isso, em um país manchado pelo sangue, novas propostas eram vistas com muita preocupa-
ção, delimitando o espaço social, tornando-o fixo e hierarquizado.
Para garantir a fidelidade dos senhores das terras, o xogum controlava os direitos,
remanejamento, aumento e diminuição das terras, permitindo a eles administrá-las como
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quisessem. Entretanto, a obediência, os impostos, a lealdade eram fatores pertinentes a essa
relação.
Outra grande forma de controle era que, em anos alternados, estes senhores das ter-
ras iam para a capital e lá ficavam por quatro meses, longe de suas famílias. Quando regres-
savam às suas terras, suas famílias iam para a capital, Edo, e lá permaneciam sob os olhos
do xogum, como garantia (refém), tudo para evitar revoltas e levantes. Isso fazia com que
fossem altos os gastos das famílias, assegurando a condição limitada de dinheiro dos senho-
res das terras. Para o xogum, isso servia como garantia de obediência, já que não havia co-
mo guardar dinheiro para constituir exércitos para o ataque ao xogunato.
Nesta estrutura, o imperador vivia isolado em Kyoto, mantido pelo xogum, que se
colocava no papel de súdito dele. Como o imperador era considerado sucessor na linhagem
divina, qualquer levante contra o xogum indicava uma demonstração clara de rebeldia, em
oposição aos deuses. Contudo, a classe de samurais, diante da calmaria existente no país,
passou a dedicar-se a outro tipo de atividade profissional, como comerciantes, professores,
mantendo-se numa classe privilegiada, abaixo dos senhores de terras, mas sempre fiéis a
eles.
Com o início do comércio pelos mares, e este se tornando muito lucrativo, motivados pelas novidades trazidas do exterior, a classe de comerciantes começa a prosperar, tornan-
do-se muito poderosa. Revela-se então a elite em busca desses comerciantes para atender à
ânsia de poder. Com isto, surge a classe dos homens de negócios, tendo como valores “ser
obstinado diante dos objetivos, desconfiar de estranhos, trabalhar bastante, agir com parci-
mônia e acumular riquezas”. (SAKURAI, 2008, p. 119) Forte foi essa contribuição para a
revolução individual e para a constituição do “ser japonês”.
Entretanto, a economia ainda era baseada na agricultura, tendo o arroz como referên-cia para medir riquezas, embora a vida do agricultor fosse bastante difícil na época.
No governo Tokugawa, a família era patriarcal, abrigando os parentes em seu entor-
no, organizadas em sociedades voltadas para o cumprimento de suas regras, tendo como
parâmetro a comunidade, acima da individualidade.
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ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
SOCIEDADE DA ÉPOCA
Nobres e samurais
Classe Mercantil em ascensão
Artesãos
Camponeses
Marginais e intocáveis (pessoas contaminadas)
Ex-samurais
Com o desenvolvimento da rota marítima e a chegada dos europeus, aumentaram as
perspectivas de disputas por maiores negócios, introduzindo elementos de culturas e reli-
giões diferentes, como o cristianismo. Mesmo sendo a entrada de religiosos no país anterior
ao período Tokugawa, foi nele que se manifestaram mais fortemente as diferenças entre as
ordens religiosas: jesuítas x franciscanos, conflito de interesses entre católicos e protestan-
tes, chamando a atenção dos líderes governamentais que se opuseram. De pronto veio a res- posta.
Em um ato de rejeição, o governo expulsa os comerciantes e estrangeiros, abomina o
cristianismo e, àqueles que se recusam a aceitar as regras, são mortos. Para evitar a sobrevi-
vência do cristianismo, o japonês só podia se considerar budista ou xintoísta.
Nesse período do xogunato, o confucionismo se fortalece dado aos preceitos de obe-
diência, garante a ordem social e se consolida. Embora o budismo já não fosse politicamen-
te tão importante como era antes, com a proibição do cristianismo no país, ele surge com
maior força.
Com a derrubada do governo feudal da Era Tokugawa, (1600 – 1868), depois de du-
zentos e setenta anos, o governo Meiiji (1868 – 1912), que o substituiu, propunha equiparar
Edo às cidades europeias e americanas. Para tanto, iniciou um processo de ocidentalização
implantando a indústria em todas as regiões do país, com o firme propósito de recuperar o
tempo perdido sob o domínio anterior. Era visível a necessidade de transformar a cidade de
Edo em um local de maior progresso, em virtude da pressão que vinha sofrendo por parte de
outros países ocidentais, principalmente dos Estados Unidos da América, no campo indus-
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trial. Começam a surgir neste período novos movimentos religiosos, atendendo às mudanças
sociais que surgem e se aprofundam com o passar do tempo, fazendo com que o país se abra
para o mundo.
Hitoshi afirma que “A ocidentalização é, pois, a introdução e a recepção do raciona-
lismo científico, experimentalista ou positivista, do naturalismo, do democratismo, do indi-
vidualismo, junto com o espiritualismo cristão e protestante.” (1991, p. 103)
Na região de Assakussa, foi aproveitada a boa situação da navegação fluvial e em
suas margens foram construídas fábricas siderúrgicas. Com isto, os funcionários das empre-
sas e comerciantes foram atraídos para ali viver e uma nova fase do progresso se instalou.
Rio Sumida na Era Meiji
Grandes foram as mudanças nos mais diversos campos e sistemas, sejam eles educacional,
militar, político, transformando a vida do país: a modernização rapidamente chegava e a
estruturação do cotidiano ia se renovando. Aparentemente, o local ia se transformando, a
partir do incentivo governamental à cultura: construção de casas de chá, aquários, cinemas.
Todavia, esse grande progresso não favorecia a todos. Devido às importações da
modernidade, vindas de países possuidores de tecnologia mais avançadas, uma parte do po-
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ras externas, sempre provocou ao país grande sofrimento. Exemplos como o contato com a
cultura Tang (618 – 907), período no qual a China atravessou uma fase de grande prosperi-
dade, inclusive com a descoberta do primeiro relógio mecânico, a bússola e a técnica da
impressão.
É interessante observar que, nesta época na Europa, os livros eram escritos manual-
mente e, na China, a impressão produzia vários exemplares de um mesmo livro. E com a
dinastia Ming (1368 – 1644), que solidificou na China a Marinha e o Exército, consolidando
um período de organização do governo e estabilidade social. Com a expansão da economia,
foi possível estabelecer comércio com os portugueses, espanhóis e holandeses, estendendo-
se até o Japão.
Também o Cristianismo sofreu modificações e adaptação, vivendo um período na
obscuridade, antes de vir à luz na Era Meiji. A introdução deste aconteceu por missionários,
professores cristãos e pelo Exército da Salvação.
Culturas como as que acima citamos, demonstram ser possível a permanência tão
longa de uma forma de governo que tem uma ascensão, uma permanência e uma queda em
meio a diferenças de contribuição para a subsistência do país, não levando em conta a feli-
cidade ou infelicidade do povo.
I.2 O fundador
Em meio a esta situação, nasce o fundador da Igreja Messiânica Mundial, Mokiti
Okada, em Hashiba, Assakussa, localizada às margens do rio Sumida, em 23 de dezembro
de 1882. (L.Oriente, 1982, p.73)
Hashiba, local estrategicamente importante durante a guerra, serviu de campo de
batalhas em muitas ocasiões. As pontes do rio mesmo quando destruídas eram reconstruídas
e vários ancoradouros ao longo do rio eram utilizados para carga e descarga. Em suas mar-
gens, era possível ver diversos casarões e lojas dos “bem afortunados”, à época. Ao cami-
nhar uma quadra para o interior, já se via a real pobreza do povo, em que as mulheres lava-
vam roupas à beira do rio, de quimono, lutando para sobreviver a cada dia.
A família do fundador era composta de cinco pessoas, sendo ele o filho mais novo.
Seu pai era um comerciante de objetos usados e eles moravam em uma casa simples de dois
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cômodos, onde em um, funcionava a loja de objetos. Distante cerca de 1 km ficava o Parque
Assakussa, local público criado na Era Meiiji, onde todas as noites seu pai montava uma
barraca.
A travessia de Hashiba – 1876
Quando não chovia, o pai de Mokiti carregava uma pequena carroça com objetos usados,
enquanto a esposa, com o filho (Mokiti) no colo, ajudava a empurrar o veículo. A cada noi-
te, se nada vendesse, não haveria o que comer no dia seguinte. Devido à miséria que enfren-
tavam, a mãe desnutriu-se e não possuía leite para amamentá-lo, tendo que recorrer ao leitematerno da esposa de um Bonzo (monge), de um templo budista. Vê-se aí a preocupação da
família em formar os filhos da melhor maneira, dadas as condições em que ela se encontra-
va.
Para Maturana:
“Há duas épocas ou períodos cruciais na história de toda pessoa que tem
consequências fundamentais para o tipo de comunidade que trazem con-
sigo em seu viver. São elas a infância e a juventude. Na infância, a cri-ança vive o mundo em que se funda sua possibilidade de converter-se
num ser capaz de aceitar e respeitar o outro a partir da aceitação e do
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respeito de si mesmo. Na juventude experimenta-se a validade desse
mundo de convivência na aceitação e no respeito pelo outro a partir da
aceitação e do respeito por si mesmo, no começo de uma vida adulta so-
cial e individualmente responsável”. (2009, p. 29)
No caso da família Okada, acentua-se nesta citação de Maturana, a preocupação da
mãe de Mokiti em alimentá-lo diante da pobreza pelo qual passavam, tornando-se uma
questão de sobrevivência. Acredita-se que este comportamento já demonstrava um desejo,
cuja finalidade era uma formação mais completa para ele.
Em janeiro de 1889, com a idade de seis anos, Mokiti ingressou na escola Nishi, é-
poca em que se valorizava a educação moral, e o livro adotado tinha o nome de “Lições de
Moral para o Primário”, editado pelo Ministério da Educação.
Ao final do curso primário, a situação econômica da família tornou-se um pouco
mais favorável e ele ingressou na Escola de Belas-Artes. Na época das estações primavera e
verão, a situação tornava-se melhor no Parque, pois as pessoas circulavam entre as barracas,
a olhar os doces, os abajures, enquanto as crianças brincavam. Já no inverno, tudo era bem
diferente. Quase não havia pessoas e o vento que soprava do rio era muito frio.
Com o passar do tempo, a família foi prosperando e no início da Era Meiji, a situa-
ção se modificara. A casa de penhores, estrutura que sustentava a todos da família, foi pro-
gredindo e passou a ocupar uma boa posição nos negócios. Entretanto, no ano de 1851, o
governo passou a controlar de forma mais acirrada a venda de antiguidades, e o bisavô de
Mokiti e chefe da família, Kizaburo, proprietário do comércio, necessariamente devia fazer
parte do sindicato dos penhoristas, tendo que inventariar seus bens. Conta-se que ele possuía
uma índole muito correta e esforçava-se para transmitir isso a seus familiares
Com a proposta de firmar novos horizontes ao país, o governo implementou conside-
rável valor às instituições escolares no século XIX. Em 1886, com a instituição do primeiro
gabinete no Japão, foram aprovadas diversas leis voltadas ao Setor Educacional. Entre elas,
a lei das Universidades Imperiais, a Lei das Escolas Primárias, a Lei das Escolas Ginasiais e
a Lei das Escolas para Formação de Professores. A partir dessa decisão, institui-se o sistema
de livros didáticos, sendo estabelecida a obrigatoriedade do ensino mínimo nas escolas por
oito anos.
Em 30 de outubro de 1890, um decreto imperial sedimentou o método de ensino em
nível nacional, que serviu de exemplo ao povo japonês até o final da II Guerra Mundial.
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No período em que o Japão despontava como um país de futuro (1877-1896), estabe-
leceu-se a estruturação do sistema de ensino como garantia para conduzir a nação ao pro-
gresso. Neste início da Era Meiji, diversas escolas públicas e particulares foram instaladas,
entre elas a Escola Primária Básica Nishin, particular, que foi a primeira escola frequentada
por Mokiti Okada. Nela, ensinava-se a leitura, a escrita e o fazer contas e as aulas eram mi-
nistradas em um templo budista.
Livros didáticos da época
À época, as circunstâncias eram muito difíceis, em que o professor utilizava um cô-
modo de sua casa como sala de aula, reunindo cerca de 50 alunos, em um espaço físico de
cerca de 25 metros quadrados. No livro adotado “Lições de Moral para o Primário”, na pri-
meira página, havia um provérbio do Raiki (antigo livro chinês), que dizia: “Se não lapi-darmos a pedra, não teremos a vasilha; se o homem não estudar, não conhecerá o Caminho.”
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A mensalidade escolar era muito alta. As péssimas instalações das escolas da época eram
contrabalançadas com o esforço e sentimento dos professores, que procuravam influenciar
os alunos, por meio de sua personalidade.
Contudo, mesmo o ensino sendo obrigatório, observavam-se casos de pessoas que
não levavam seus filhos à escola por não terem condições de mantê-las, já que eles ajuda-
vam em casa, para a sobrevivência da família. Como as leis não eram aplicadas com rigor,
aqueles que não levavam seus filhos à escola por não valorizarem a educação, também não
eram punidos.
Mokiti foi transferido para a renomada escola pública denominada “Escola Primária
Assakussa”, que funcionava dentro do Templo Seigan e fora instaurada por especialistas em
Confucionismo, sendo uma das melhores escolas de Tóquio. Quando da transferência do
Fundador, motivada pela mudança de residência da família, a escola funcionava em um pré-
dio de dois andares, de tijolos. Para a época, esse espaço parecia soberbo.
A Escola Primária
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Sobre esta época, Okada escreveu: “Até os doze ou treze anos eu era uma criança
fraca e doentia e vivia tomando remédios. Consegui terminar o curso primário com muito
sacrifício e, apesar de minha pouca idade, sentia inveja quando via crianças saudáveis. Mas
era interessante como eu tinha bom aproveitamento na escola; sempre estava em primeiro
ou segundo, nunca ficando abaixo”. (s/d, p.104)
A convivência entre as pessoas que habitavam Assakussa era agradável e de apoio
mútuo, não sendo a situação financeira empecilho para dificultar este convívio.
Na cidade, havia diversos templos que ficavam próximos à zona de meretrício, não
sendo isso uma barreira para a existência de harmonia no local. O uniforme dos alunos, à
época, era quimono listrado com uma faixa azul-marinho arroxeado e avental azul-marinho
e tamancos ou sandálias de madeira. Os torneios esportivos eram disputados no pátio do
Pequeno Ueno, pois as escolas possuíam quadras muito pequenas.
Com a ausência de radio e TV, as crianças, quando chegavam da escola, encontra-
vam nas confeitarias da vizinhança alento e diversão. Ali, compravam, com suas pequenas
mesadas, doces e brinquedos baratos para brincar. Menino doente, o fundador, ao invés de
brincar, lia ou desenhava, sob a sombra do portão do templo.
Com a conclusão do segundo nível da Escola Primária de Assakussa, no período desete anos, Okada ingressou no curso ginasial. Poucos alunos prosseguiam o estudo, pois a
maioria deles começava a trabalhar logo cedo. Contudo, ele alimentava um sonho de ser
pintor e viver desta arte. Com o apoio do irmão mais velho, nascido dez anos antes dele,
ingressou no Curso Preparatório da Escola de Belas-Artes de Tóquio. Nessa época, a situa-
ção da família já era melhor. A duração do curso era de um ano e após, ingressava-se no
curso normal, com duração de quatro anos.
Com poucos meses de frequência à escola, o jovem começou a ter problemas nos
olhos. Passando a tratar-se em uma clínica oftalmológica e não tendo um diagnóstico defini-
tivo pelos médicos, abandonou a escola oficialmente. Por dois anos não obteve melhora
com o tratamento decidindo abandoná-lo. Em seguida, contraiu pleurisia e foi internado em
um hospital da Faculdade de Medicina da Universidade de Tóquio. Sendo o tratamento gra-
tuito, o paciente precisava servir como experimento aos alunos.
Após se recuperar totalmente e viver durante algum tempo com saúde, foi-lhe diag-
nosticada tuberculose de terceiro grau. Nesta época, Mokiti tinha dezoito anos e sem espe-
rança de cura. A partir do resultado apresentado pelo médico, decidiu que precisava encon-
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trar algum método de recuperação da saúde. Como estava melhor da visão, pintava quadros
e pesquisava em livros. Em um destes, encontrou o método que se tornou a causa de sua
recuperação total, vindo a transformar sua alimentação, substituindo os alimentos de origem
animal por vegetais. É curioso porque a resposta a esse seus sofrimentos ele encontrou em
um velho álbum, onde havia gravuras e descrições sobre plantas medicinais.
Ao atingir a maioridade, aos vinte anos, mesmo bem melhor de saúde, ainda tinha o
corpo físico bastante sensível. Como desejava muito abrir uma loja de antiguidades junta-
mente com seu pai, começou a fazer pesquisas e a observar objetos usados. Nesse período,
Mokiti resolveu dedicar-se à arte de “maki-e” (artesanato em laca), com o propósito de ex-
por as obras de sua autoria na loja que sonhava comprar. Expostas em uma exposição de
belas artes, em Ueno, todas foram vendidas com sucesso. Sendo grande apreciador de arte,
saía com sua mãe indo ao teatro e ao cinema. Isso aconteceu por volta de 1896, quando o
Japão importou o cinema.
Por incentivo do governo, desde a restauração Meiji, o sucesso e o poder passaram a
ser valorizados de forma surpreendente, tendo tais metas se tornado comum ao povo, inclu-
sive surgindo uma revista chamada “Seiko”, cujo significado da palavra é sucesso. Okada,
sentindo-se melhor, passou a dedicar-se à leitura pesquisando principalmente livros que
descreviam a vida de homens de sucesso nos negócios.
Mokiti comentava com a família: “Quando eu subir na vida, vou ajudar os que estão
em dificuldades, pois quero acabar com as pessoas que perturbam a sociedade. É uma ideia
que não sai da minha mente”. (s/d, p. 133)
Entre as leituras favoritas de Mokiti estavam os jornais, um dos principais meios de
acesso à realidade, dentro e fora do país ilha. Entre os jornais publicados, havia um chama-
do “Yorozu-tyohõ” (jornal matutino), que assustava uma boa faixa de pessoas de nível soci-al superior da sociedade, pois criticava e mostrava fatos ilegais. O diretor desse jornal influ-
enciou muito a vida de Okada, a ponto de ele, mais tarde, interessar-se em administrar um
jornal cuja finalidade era a justiça social. Leitor de filosofia ocidental, encontrou em Henri
Bergson e William James, modelos de identidade com o seu pensamento. Para ele, o “prag-
matismo”, de James e a “filosofia da vida”, de Bergson eram teorias necessárias à vida prá-
tica, sem as quais não era possível viver.
Sobre o Pragmatismo, Mokiti Okada assim escreveria, em 1949:
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“Na mocidade, apreciei muito a Filosofia. Entre as inúmeras teorias fi-
losóficas, a que mais me atraiu foi o pragmatismo, do famoso norte-
americano William James (1842-1910). [...] O benefício que o pragma-
tismo me proporcionou naquela época não foi pequeno. Mais tarde,
quando iniciei meus trabalhos religiosos, julguei necessário aplicá-lo àReligião. Isto significa ampliar o campo religioso de modo que abranja
a vida em geral. Então, o político não cometeria injustiças, porque, vi-
sando a felicidade do povo, promoveria uma boa administração, granje-
ando assim, a confiança de todos. O industrial obteria a admiração da
coletividade, pois exerceria a profissão honestamente; seus negócios
progrediriam com segurança, porque ele mereceria a estima de seus em-
pregados, que seriam fieis no trabalho. O educador seria respeitado e te-
ria notável influencia sobre seus discípulos, educando-os com bases só-
lidas. Os funcionários e os assalariados em geral subiriam de posição,
porque a Fé produz bom trabalho. A alma do artista irradiaria de suas
obras, com grade elevação e força espiritual, exercendo influencia bené-
fica sobre o povo. O ator, no palco, manifestaria nobreza, porque suas
representações seriam baseadas na Fé, e os espectadores receberiam o
reflexo de seus sentimentos elevados”. (MEISHU-SAMA, 2000, p. 411)
Em outro momento, em 1951, ele discorre:
“Dizem que pragmatismo significa utilidade pratica: creio, entretanto,
ser mais adequado aplicar o termo “ativismo” [ ...] Quando falamos em
ativismo religioso, temos a impressão de que todas as religiões estejam praticando ações de Fé. Todos conhecem propagandas por escrito, ser-
mões verbais, orações, cultos, rituais religiosos, ascetismo e mortifica-
ções; infelizmente, porem, as religiões ainda não atingiram a vida prati-
ca. Em verdade, não passam de cultura mental. O pragmatismo filosófi-
co introduz a Filosofia na vida pratica, acentuando, neste ponto, o cará-
ter americano. Pretendo fazer o mesmo, com uma diferença: fundir a
Religião e a vida prática, tornando-as intimas e inseparáveis. (idem, p.
412-413)
Sobre Bergson (1859 – 1942), ele diz:
“Segundo minha interpretação, a filosofia de Bergson baseia-se nestes
três princípios: “Todas as coisas se movem”, “Teoria da Intuição” e “O
eu do momento”. Dentre eles o que mais me impressionou foi a “Teoria
da Intuição”, a qual diz o seguinte: “É algo dificílimo ver as coisas exa-
tamente como elas são, captar seu verdadeiro sentido, sem cometer o
mínimo engano.” Estudemos o porquê dessa afirmativa. Os conceitos
formados ela instrução que recebemos, pela tradição, pelos costumes,
etc., ocupam o subconsciente humano formando como se fosse uma bar-
reira, e dificilmente o percebemos. Tal “barreira” constitui um obstácu-lo quando observamos as coisas. Quando dizemos, por exemplo, que to-
das as religiões novas são supersticiosas, heréticas ou falsas, devemos
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esse julgamento a “barreira”, que está servindo de estorvo. A “Teoria da
Intuição” encarrega-se de corrigir tais erros, comuns entre os homens.
Libertando-os, completamente, de preconceitos, ela os ensina a fazerem
uma fiel observação dos fatos. Para isso é necessário ser “o eu do mo-
mento”, isto é, fazer com que a impressão instantânea, captada pela in-tuição, corresponda à verdadeira substancia do objeto de observação. O
outro principio – “Todas as coisas se movem” - significa que tudo está
em eterno movimento. Por exemplo: nós não somos os mesmos de on-
tem, nem mesmo o que fomos há cinco minutos atrás; o mundo de on-
tem não é o mesmo de hoje. Isso abrange também a sociedade, a civili-
zação e as relações internacionais. Esta é a teoria de Bergson aplicada
ao campo religioso.” (idem, 2000, pp. 407-408)
Com o falecimento de seu pai, o sonho de comprar a loja de penhores desvaneceu-se.
Um dia, surgiu a oportunidade de ele comprar uma loja de miudezas e, incentivado por sua
mãe, o fez. Denominou a loja de “Korin-do”, homenagem ao célebre pintor japonês e colo-
cou suas obras à venda. Com o sucesso desta e o aumento do movimento na loja, ele preci-
sou contratar mais uma pessoa para ajudar.
Tudo caminhava bem até o acidente em que ele cortou o nervo do dedo indicador da
mão direita e não pode mais trabalhar em maki-ê. Apesar disso, com o progresso da loja, ele precisou mudar-se para um espaço maior.
Como era muito honesto, trabalhador e solteiro começou a receber propostas para
casar-se. Em 1907, com vinte e quatro anos, casou-se com Taka (dezenove anos). Ela fora
criada por negociantes de arroz e tornou-se grande colaboradora de Mokiti. Em dez anos,
ele tornou-se grande fabricante atacadista de miudezas. O grande sucesso da loja devia-se
às novas propostas e aos objetos negociados. Dizia-se que a moda partia da loja Okada.
Em 1912, faleceu sua mãe, vítima de nefrite, e um novo sofrimento se abate sobre
ele, que via na mãe, uma grande incentivadora. Ainda com a saúde frágil, contrai várias do-
enças, entre elas a que mais o fez sofrer foi a dor de dente que contraiu entre 1914 e 1916.
Eram dores horríveis e insuportáveis, para a qual dentista algum conseguia apresentar solu-
ção. A cura veio por intermédio de um sacerdote da religião Nitirem, que usou um método
desconhecido, resolvendo seu problema.
Com o sucesso nos negócios, a loja Okada foi adquirindo consolidação e respeito,
passando a negociar com empresas de renome.
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Foi nesta época que Okada patenteou um adorno de cabelo que denominou “Diaman-
te Assahi”. Era feito de material simples e barato e o espelho que continha nele, brilhava de
acordo com a luz ambiente. Tal foi o sucesso e os pedidos de todo o país, que a Loja Okada
não dava conta de atendê-los. Então, Okada lança no mercado outro adorno chamado “Pente
Bright”, que obteve o mesmo sucesso do anterior.
Adorno Diamante Assahi
Como homem de negócios, Okada cada vez mais se firmava diante da sociedade ja-
ponesa. Ele não só visava ao mercado interno, como também ao externo, trabalhando inces-
santemente para atender aos pedidos feitos. Na época, dez países tornaram-se compradores
do adorno, inclusive o Brasil.
Com a ocidentalização do Japão, Okada, mantendo-se sempre atualizado, tornava
seus negócios a cada dia mais prósperos, seguindo a filosofia bergsoniana, que ensinava a
importância de se estar sempre atualizado. Os empregados começaram a receber comissão e,
valorizando a empresa, tinham desejo de permanecer ali.
Até próximo dos quarenta anos, Mokiti era ateu, embora acreditasse que o homem
era um ser que precisava de ídolos para adoração e, por isso, ia aos templos para algumas
cerimônias religiosas; por exemplo, em homenagem aos mortos. Contudo, durante as ceri-mônias, costumava cochilar.
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Para ele, países que possuíam muitas igrejas apresentavam uma decadência, como a
Itália, por exemplo. Ao contrário, países como os Estados Unidos alcançavam grande suces-
so. Mesmo agnóstico, ele contribuía periodicamente com o Exército de Salvação. Questio-
nado por não ser cristão e praticar tal ato, ele respondeu: “O Exército da Salvação ajuda os
ex-presidiários a se recuperarem, transformando homens maus em homens de bem. Por con-
seguinte, se ele não existisse, um ex-presidiário poderia entrar em minha casa para me rou-
bar. Uma vez que ele me livra desse perigo, é natural que eu me sinta agradecido e colabore
com as suas atividades”. (s/d, p. 212)
Com a eclosão da I Guerra Mundial, muitos países europeus sofreram grandes danos.
Para atender suas necessidades, passaram a comprar produtos industrializados dos Estados
Unidos e do Japão, elevando a economia a um patamar bastante alto. Todavia, com o térmi-
no do conflito, a situação tornou-se muito instável. As denúncias de corrupção de militares e
políticos eram constantes, desestruturando e dissolvendo o gabinete do então Primeiro-
Ministro.
Na ânsia de apoiar e de ver melhorar a situação pelo qual o país atravessava, Okada
decidiu juntar dinheiro para fundar um jornal que servisse de veículo de informação do po-
vo.
Em meio a uma vida favorável, Mokiti começa a ver sua vida desmoronar e perde,
de uma só vez, os três filhos e a esposa. Para acumular o valor necessário para a fundação
do jornal, ele aplica o dinheiro que possuía no mercado de ações. Em seguida, o banco que
protegia o negócio faliu repentinamente e tiveram início vinte e dois anos de luta para saldar
as dívidas. Com a perda da família, Okada sentiu necessidade de casar-se novamente e des-
posou Yoshi Ota, que mais tarde se tornou a Segunda Líder Espiritual da Igreja Messiânica
Mundial. Na busca de solução para os negócios, ele, que acreditava ser o homem autossufi-
ciente, bastando viver corretamente, começa a pesquisar as religiões, à procura de respostas
a seus sofrimentos, já que não obtinha racionalmente esclarecimentos para suas perguntas.
Após a Primeira Guerra Mundial, desenvolvia-se, em Tóquio, um intenso movimento
social, mas os movimentos espirituais também estavam sendo bastante ativados. À noite, em
lugares diversos do bairro de Kanda, o Exército da Salvação batia seus tambores; no Tem-
plo Rinsho-in, o dirigente Sugawara, do Templo Kentyo-ji, fazia as pregações nas sessões
de Zen. No edifício Central Budista, todas as noites ouvia-se um sermão. Pode-se chamar deépoca próspera para a religião. (Cf. Yamada, 2004, s/p.)
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À procura do caminho da salvação, é provável que o Fundador tenha participado des-
sas reuniões, atento ao que nelas se pregava. (FMO-MOA, s/d, p. 232-233).
Em 1920, converteu-se à religião Oomoto, atraído pela proposta de reformulação do
mundo. Com o sofrimento causado pela morte inesperada de seu sobrinho favorito, afastou-
se da religião, retornando depois de três anos, com o propósito de conhecer mais sobre fe-
nômenos do mundo espiritual.
A loja Okada, que se tornara sociedade anônima, com a crise dos Estados Unidos,
começa a se recuperar com a ajuda dos funcionários. Entretanto, em 1923, um grande ter-
remoto ocasionou danos à loja, sendo que o pior viria com o grande incêndio posterior a
esse terremoto, que matou cinquenta mil pessoas e destruiu mais de quatrocentas mil casas.
Diante de tantas crises, Okada se aprofunda nas pesquisas parapsicológicas e em lei-
turas de livros que discutiam a relação Deus e o homem. Entre os autores lidos, encontram-
se Sir Oliver Lodge e J.S.M. Ward. Por volta de 1924, começaram a acontecer fatos misteri-
osos em sua vida. À medida que passava a compreender mais sobre o livro sagrado da reli-
gião Oomoto, o Ofudessaki, mais se conscientizava de que havia nascido com um destino
incomum.
Em 1926, a luta pela hegemonia política do país retratava a preocupação com a segu-rança nacional. Qualquer manifestação contra o “espírito nacional” era tratada com extremo
rigor. Nessa época, o imperador Hiroito assume o trono e tem início a Era Showa (1926-
1989), que quer dizer “paz luminosa”. Os mais diferentes problemas agitavam a nação: polí-
tica instável, economia abalada; uma parte do povo interessada em abrir as portas ao Oci-
dente; outra parte, negando esta abertura.
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Livros de Pesquisa Parapsicológica
Para assegurar a supremacia japonesa, o regime militar nacionalista tomou posse do
governo. Paralelamente, o xintoísmo reaviva os rituais de cultos à ancestralidade na busca
de perpetuar o sentimento dos tempos passados. É criado o Conselho de Pesquisa dos Ritu-
ais Xintoístas e o dia da Nova Ásia, com o objetivo de enaltecer o prestígio japonês, diante
de outras nações orientais. Nesta época, Mokiti Okada vivencia uma experiência em estado
de transe, que se prolonga por três meses e escreve cerca de trezentas a quatrocentas folhas
de papel, nas quais constavam previsões. Estes documentos, em função das perseguições às
religiões novas e estrangeiras, precisaram ser queimados. Qualquer ideia que pudesse pare-
cer nova, era vista com muita desconfiança. Em 1928, ele deixa parcialmente a direção da
loja Okada, para dedicar-se às suas pesquisas. Na Oomoto, atingiu cargos de grande confi-
ança e cada vez mais se aprofundava seus estudos.
A loja Okada, movida por sérios problemas financeiros, ia cada vez mais perdendo
seu brilho da época áurea, e levou Okada a perceber que chegava o momento de ele passar a
desenvolver seu trabalho unicamente como religioso.
I.3 O nascimento da Igreja Messiânica Mundial
Entre 1929 e 1930, o fundador Okada começou a dedicar-se à caligrafia e à pintura, a
pedido dos seguidores, apesar das dificuldades da época, como forma de fazer chegar sua
mensagem aos locais mais distantes.
Em 1931, abandona totalmente os negócios e passa a dedicar-se exclusivamente à re-
ligião.
No dia 15 de junho deste mesmo ano, Mokiti Okada subiu o Monte Nokoguiri, a-
companhado de vinte e oito seguidores, e, ao atingir o cume, voltados para o Leste, entoa-
ram a oração Amatsu Norito. No seu entender, mais tarde, compreende que este é o momen-
to em que Deus atribui a ele uma missão especial através da revelação. A seguir, a oração:
ORAÇÃO AMATSU-NORITO
Taka ama hara ni kan zumari massu
Kamurogui Kamuromi-no-Mikoto motiteSume mi oya Kamu Izanagui-no-MikotoTsukushi no himuka no tati hana no odo no awagui hara ni
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Missogui harai tamou toki ni nari masseruHaraido no O okami tatiMoro moro no maga koto tsumi kegare oHarai tamae kiyome tamae to maossu koto no yoshi o
Amatsu Kami Kunitsu Kami yao yorozu no Kami tati tomo niAme no futikoma no mimi furi tatete kikoshi messe toKashikomi kashikomi mo maossu.
MIROKU O OMIKAMI mamori tamae saki hae tamae (bis)
OSHIE-MI-OYA-NUSHI-NO-KAMI mamorri tamae saki hae tamae (bis)
Kan nagara tamati hae masse (bis)
Tradução da Oração Amatsu-Norito
No elevado e santo Reino dos Céus habitamOs divinos seres Kamurogui e Kamuromi, em palavras confiamosnosso primeiro ancestral
na foz estreita de um rio agitado coberto por árvores permanentementefrondosas na região Sul,Estava se purificando com água, ao mesmo tempo em que os espíritos divinosde purificações estavam nascendo.A eles nos pedimos que todo o mal, todos os erros e impurezas sejam
dissipados. Nós, o mais humildemente pedimos que eles sejam dispersados e purificados.
Nós rogamos a vós, seres divinos, para que ouçam nossas preces, juntamente
com todos os seres divinos do céu e da terra e todas as multidões de seres
espirituais inferiores.Assim como os cavalos mosqueados (malhados) no céu erguem suas orelhasao menor somVós também presteis atenção às nossas orações.Grandioso Deus da Luz! Protegei-nos e abençoai-nos com felicidade Suprema. Nosso venerado pai espiritual, Meishu-Sama! Protegei-nos e abençoai-nos
com felicidade Suprema.
Quando Okada, então agnóstico, se aproxima da religião Oomoto, o faz para buscar
respostas aos inúmeros sofrimentos pelos quais vinha passando. As explicações que encon-
trou respondiam suas perguntas e vinham ao encontro do que ele começara a questionar, há
muito: o porquê do sofrimento do homem. A filosofia da religião Oomoto por ser simples,
atendia às suas necessidades da época, tendo lições como:
a) A necessidade de amar a Deus;
b) O reconhecimento da existência do mundo espiritual;c) A precedência do mundo espiritual sobre o mundo material;d) A importância de ter uma vida baseada no amor, na fraternidade e na justiça;
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e) A reforma do mundo.
Meishu-Sama e a caligrafia
À medida que aprofundava seus conhecimentos, dentro da organização ia alcançando
destaque e elevando sua posição hierarquicamente, tornando-se chefe da filial em Oomori,
Tóquio.
No entanto, com o tempo, Okada começou a sentir necessidade de aprofundar mais
ainda seus conhecimentos. Um fato que contribuiu para o seu afastamento foi que, na Oo-
moto, só o fundador ou seu sucessor podiam escrever e confeccionar amuletos, considerados
sagrados, para serem entregues aos membros filiados. Contudo, Okada começou a fazê-lo
em sua filial, acarretando problemas com alguns diretores da Oomoto. Chamado pelo co-
fundador Onisaburo, foi-lhe orientado ser mais discreto em suas atitudes.
Em 1934, ele se afasta da religião Oomoto e, em 1935, esta sofre sua mais forte cri-
se. Sob ordem do Ministério dos Negócios Internos, a sede foi totalmente destruída e dis-
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solvida sua formação, tendo a segunda líder e seu esposo ficado aprisionados por seis anos e
oito meses.
Neste mesmo ano, Okada alugou um sobrado, iniciando ali a obra que mais tarde se
tornaria a Igreja Kannon do Japão. Situava-se no centro da cidade imperial e o tratamento
chamava-se tratamento espiritual de digitopuntura no estilo Okada (pressão com os dedos).
Houve necessidade de utilizar essa denominação, pois permanecia forte a vigilância das
autoridades policiais em relação a qualquer nova manifestação religiosa. Já na primeira oca-
sião, quando ele fez a distribuição de folhetos apresentando o tratamento, surgiram proble-
mas junto à polícia local, que o chamou para prestar esclarecimentos, tendo sido o caso en-
cerrado. O tratamento consistia em pressionar com as pontas dos dedos o local doente na
pessoa, enquanto se fazia oração por sua recuperação, que ele chamava de “processo de cura
por meio do Espírito Divino”.
Continuando seu trabalho como preparação para fundar a Igreja Messiânica Mundial,
em um texto, Okada diz:
“O Tratamento Espiritual de digitopuntura no Estilo Okada, iniciado
por mim, é uma decorrência da sensibilidade espiritual que repentina-
mente me foi atribuída há oito anos por Kannon, o qual me deu um
grande poder para curar todo e qualquer tipo de doença. Objetivandocumprir a tarefa de corrigir os erros do mundo e salvá-lo, durante estes
anos vim aplicando esse poder nos mais variados tipos de doentes, em
número superior a mil. Os resultados alcançados foram verdadeiramente
surpreendentes: as enfermidades mais sérias, os casos mais graves, co-
mo milagres de Deus, foram completamente curados. (...) Instalei um
centro terapêutico em Koji, no centro da cidade imperial, e almejo al-
cançar o meu objetivo de salvar o mundo”. (1984, p. 363)
Em 4 de dezembro de 1935, em meio aos preparativos para a fundação da Igreja, es-
creve uma oração chamada “Zenguen-Sandji” (Oração de Louvor), que exalta as caracterís-
ticas de um mundo novo profetizado por ele. Segue a oração:
ORAÇÃO ZENGUEN-SANDJI
Uyauyashiku omonmiruni.
Sesson Kanzeon Bossatsu
konodoni amorasse tamai
Komyo Nyorai to guenji
Ooshin Miroku to kashi
Gusse no mikami to narasse tamaite
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Daisen sanzen sekai no sandoku o me'shi gojoku o kiyome.
Hyakusen man oku i'sai
shujo no dai nengan.
Komyo joraku eigo no jupo sekai o nara shimeteGofu jiuuno kuruinaku
Fukukase edamu narassu inaki
Miroku no myoo umitamoo
Muryo muhen no daidihini, tenmarasetsumo matsuroite.
Shoaku jahouwa aratamari,
Yasha ryudinmo guedatsu nashi
Shozen bushin kotogotoku
sono kokorozashio toguru nari
Sansen somoku kotogotoku
Sesson no itokuni nabikaite
Kinjutyugyo no suemademo
mina sono tokoroo ezarunashi
massani kore shibi jísso sekainite. Karyobingawa sorani mai
zuiuntenni tanabikeba.
Banka fukuikutini kunjitahoo bu'to sossori tati.
Hitidoo garanwa kassumi tsutsu koganeno iraka sansanto
hini terieizu koukeiwa,
guenimo tengoku jodo nari.
Gokoku minorite kurani miti
sunadori yutakani amegashita,
iketoshi ikeru moromoro no
eragui niguiwau koegoewa
tsutsu uraurani mitiwatari.
Kunito kunitono sakainaku
hito gussa tatino nikushimiya.
Isakaigoto mo yumeto kie
í'tenshikai oshinabete
jinjino mimuneni idakaren.
Wareraga hibino segyounimomyotio tamai shinkakuo
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essashime iewa tomissakae.
Yowaiwa nagaku muiyakuni
zentoku koo kassane sasse
fukujukai muryono daikudoku. Taressasse tamae mashimasse tonennen jushin guezatonshu
kifuku raihai negui moossu.
Miroku Oomikami
mamoritamae sakihae tamae
Miroku Oomikami
mamoritamae sakihae tamae
Oshiye Miyoia nushino kami
mamoritamae sakihae tamae
Oshiye Miyoia nushino kami
mamoritamae sakihae tamae
Kannagara tamatihae mase
Kannagara tamatihae mase
Tradução da Oração Zenguen-Sandji
Meditemos com reverência no Senhor Bodissatwa Kannon que, ao descer do céu à
terra em Komyo Nyorai, transformou-se a seguir em Ooshin Miroku e posteriormente em
Messias. Salvar a todos os seres vivos é o Seu sublime anseio expurgando dos três mundos
os três venenos e as cinco impurezas, para que a luz e o júbilo eterno para sempre se insta-
lem em todos os cantos do mundo. No reino de Miroku gerado por Kannon a desordem não
existe.
Venta a cada cinco dias, chove a cada dez e a brisa é tão suave que nem os galhos
farfalham.
Com Sua grandiosa, infinita e ilimitada misericórdia, que até aos demônios celestes
e aos diabos induz a Lhe prestarem obediência, Ele extingue os vários males e anula as leis
malignas, libertando igualmente os Yashas e os Dragões.
Todos os santos homens, os Budas e os Devas podem, assim, cumprir as suas mis-
sões.
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Os rios e montanhas, as plantas e as árvores recebem copiosas graças de Kannon.
As aves, os animais, os insetos e os peixes podem viver plenamente a sua vida, cada
qual ocupando o seu exato lugar. E o mundo assume, então, o seu verdadeiro aspecto. Por
entre as nuvens de bom presságio a estender-se pelo firmamento voa a ave do paraíso sobre
a terra perfumada na qual milhares de flores exalam a sua fragrância.
Ladeada de grandes templos obnubilados pela distância destaca-se a torre sagrada
com seus muitos tesouros, em cujos telhados de ouro refulgem os raios do sol. Tal é a pai-
sagem do reino dos céus no solo purificado. Fartas colheitas de cereais abarrotam os arma-
zéns, a pesca é abundante e as vozes de todos os seres vivos elevam-se animadas para o céu.
Desapareceram, como por encanto, as divisas entre os países, os ódios e motivos de
disputa entre as raças humanas e a humanidade é abraçada pelo misericordioso peito deKannon. O verdadeiro despertar da sabedoria divina é praticado em nosso trabalho cotidia-
no.
A família prospera acumulando atos virtuosos e tem a sua vida prolongada sem re-
médios ou medicamentos.
Concentrado, de todo o coração, de cabeça baixa e corpo curvado, peço humilde-
mente que tais bênçãos chovam do céu, formando um mar de ilimitada bem-aventurança.
Assim seja.
No início de 1935, ele recebeu a qualificação de sacerdote xintoísta, depois de estu-
dar a doutrina e seus rituais, assegurando um título religioso oficial, na tentativa de acaute-
lar-se contra as autoridades, que mantinham o rigoroso controle sobre as novas religiões.
Em 1º de janeiro de 1935, funda a “Dai Nipon Kannon Kai” (Igreja Japonesa de Kannon),
que possuía um estatuto composto de onze artigos, dentre eles:
I. A presente organização tem o objetivo de participar e trabalhar pra a grande obra
de construção do Mundo Luz, desejo de Kannon.
II. A presente tem sua sede provisória no bairro de Koji, quadra 1, no. 1, Distrito de
Koji, na cidade de Tóquio.
III. A presente terá um presidente, dois vice-presidentes, alguns conselheiros, um di-
retor executivo, alguns diretores, e um secretário acumulando o cargo de tesou-
reiro.
À época, ele inaugura quatro filiais e com a grande movimentação e trabalho a
partir da inauguração, começa a ser publicado um jornal chamado Luz do Oriente, com tira-
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gem de três mil exemplares, e uma revista chamada Mundo de Luz, com tiragem de duzen-
tos exemplares. Esse material começa a ser distribuído e vendido de porta em porta por seus
discípulos.
Dentre as novas propostas, ele muda o nome de tratamento para Terapia Japonesa e
publica um livro chamado “Apostila da Terapia Japonesa”, com muita cautela, diante das
autoridades policiais, que não permitiam a fundação de novas religiões. Com isso começa a
capacitar pessoas para a aplicação do método de cura. O curso durava uma semana e era
composto da leitura da apostila e da prática da terapia que foi se modificando, posteriormen-
te recebendo o nome de johrei. Ao concluir o curso, a pessoa recebia um talismã e a qualifi-
cação de terapeuta.
A formação dos primeiros terapeutas, que mais tarde se tornaram os missionários
responsáveis pela difusão da igreja, foi feita pelo próprio fundador e constava de sete aulas,
chamada de curso sobre a Doutrina de Kannon Kai. Com a expansão da igreja, houve neces-
sidade de um espaço maior e, em 10 de outubro de 1935, foi inaugurada a Sede Geral da Dai
Nipon Kannon Kai. Nesta época, o número de fiéis era de seiscentas pessoas e o número de
filiais, onze.
Com o aumento da pressão sobre as religiões Oomoto, Igreja Hito No Miti, TenriHon’ Miti pelas autoridades, era necessário muito cuidado. Nesta ocasião, Okada foi cha-
mado à delegacia para prestar depoimento, tendo ficado varias horas sob intenso interroga-
tório.
Preocupado por conciliar a religião e a técnica medicinal, Okada fundou em 15 de
maio de 1936, a Dai Nipon Kenko Kyokai, com o propósito de separar uma e outra. Esta
nova instituição passou a cuidar do aspecto da saúde e seus membros pagavam “50 sen”,
como taxa de matrícula e mensalidade de “70 sen”.
Com a intensificação da pressão, Okada resolveu pôr um fim aàDai Nipon Kannon
Kai e devotou seu empenho à nova instituição. Deu início a um curso chamado “Curso Es-
pecial de Verão”. Nele era desenvolvida a técnica para tratamento de doenças no Estilo O-
kada. Pressionado pela polícia, que determinou uma ordem de proibição da prática de trata-
mento, tendo que responder a outro interrogatório, parcial e brutal, Okada sai da prisão um
dia depois de ser preso.
Em outra ocasião, Okada foi aprisionado por dez dias, e seu assessor Nakajima Issai,
por oito dias. O motivo real deste aprisionamento era investigar a relação da figura do fun-
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dador com a religião Oomoto. Nessa fase, em revista feita à sua residência, os livros encon-
trados, quadros, documentos da Oomoto, serviram como prova e foram levados à delegacia.
Sem renda, Okada começou a acumular muitas dívidas, tendo que se desfazer de sua casa,
para sustentar a família e seguidores.
Novamente, ele modifica o nome da instituição para Kannon Hyapuku Kai, no Ho-
zan-So, com a finalidade de afastar-se do aspecto religioso. Isso ocorreu em 1936. Aí, passa
a desenhar cem imagens de Kannon e a vendê-las por 50 ienes cada uma, afirmando, dessa
maneira, a expansão da Igreja Messiânica, por meio da arte.
Como o Hozan-So (Solar da Montanha Preciosa) tornou-se pequeno por conta de
muitos seguidores que ali ficavam, ele decidiu construir uma casa e a chamou de Solar da
Contemplação do Monte Fuji. Nesse local, sob forte vigilância da polícia, ele conversava
com seus discípulos. Neste mesmo ano, uma autoridade do Exército o procurou e pediu aju-
da para sua filha doente. Como ele constatou a recuperação da criança, empenhou-se junto à
Secretaria de Saúde do Ministério dos Negócios Internos, ao Superintendente Geral da Polí-
cia Metropolitana e outras autoridades, e, em outubro do ano seguinte, conseguiu autoriza-
ção para funcionamento do tratamento. A exigência da polícia voltou-se para que Okada
escolhesse entre religião e tratamento. Como método de trabalho, ele optou pelo último,
retomando a atividade, com o nome de “Tratamento de Digitopuntura no Estilo Okada”.
Assim transcorria o ano de 1937, época em que a opressão como fenômeno concreto
e histórico marcava fortemente a vida das pessoas, principalmente daqueles que estavam
direcionados a novas proposições. Sendo assim, parecia mais seguro para todos identificar o
trabalho como tratamento.
Muitas foram as pessoas da sociedade que, passando a conhecer o método, se filia-
ram ao fundador, vivenciando experiências a partir de sua própria prática. Embora a vigi-lância permanecesse acirrada, os seguidores do Mestre Okada arriscavam-se na tentativa de
levar bem-estar a um maior número de pessoas.
O ritmo desenvolvido por ele era muito intenso e preocupava sua esposa. Com o au-
mento do número de pessoas que passaram a frequentar a casa do Fundador para receberem
o tratamento em busca de solução para seus problemas, o círculo de vigilância se fechou,
levando mais uma vez Okada à prisão. Nos anos seguintes, a pressão por parte do governo
tornou-se ainda mais forte, tendo sido criados grupos denominados “grupo de vizinhos”
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(organização de apoio a vizinhos). Estes, controlados pelas autoridades, tinham domínio
maior
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sobre a sociedade e outra vez Okada foi aprisionado. Diante dessa situação, ele foi obrigado
a encerrar suas atividades e, em 1º de dezembro de 1940, finaliza seus trabalhos. Como era
muito bem visto por pessoas influentes, à medida que estas chegavam para receber o johrei,
ele se desculpava, dizendo: “No momento, minhas atividades estão suspensas, e por isso não
posso fazer tratamentos. Se quer mesmo que eu faça, obtenha a permissão da Polícia Metro-
politana e eu o atenderei a qualquer hora.” (Fundação M. Okada, 1982, p.108)
Depois de algum tempo, foi autorizado a ele ministrar johrei a um pequeno grupo de
pessoas, todas do alto escalão político e social do Japão.
Com o passar do tempo, o fundador declarou que deixaria de exercer a terapia, dele-
gando-a a seus discípulos, passando a se empenhar na arte da caligrafia e na formação de
terapeutas. Aqueles que tinham interesse de se filiar, recebiam um símbolo de papel que
continha escrita a palavra “Komyo”, escrita por Okada. Para evitar constrangimento junto à
polícia, o talismã era chamado de “lembrança”. Os meios usados nessa época para encontros
do fundador com seus seguidores eram reuniões feitas em restaurantes, comemorando datas
especiais.
Em 1935, Okada, que já vinha apresentando a importância de uma alimentação sau-
dável por meio de um novo método agrícola, passou a auxiliar os agricultores, ensinando-lhes o cultivo de produtos. A tentativa de ajudá-los naquela época era grande, pois o sofri-
mento pelo qual passavam condoía seu coração. Ele mudou-se para uma casa onde havia
um grande terreno, onde passou a cultivar alimentos, cuja finalidade era suprir as necessida-
des da família e servidores, já que a situação era extremamente difícil.
Ele iniciou o método de plantação utilizando agrotóxicos e fertilizantes e percebeu
pouco resultado. Decidiu optar pela não utilização do adubo, notando que, apesar de mais
tempo, foram obtidos melhores resultados. Em meados de 1944, acumulando diversas expe-riências a partir da não utilização de fertilizantes, Okada obteve excelentes resultados, cons-
tituindo a partir daí, o método da Agricultura Natural, assim chamado a contar de 1950.
Mokiti Okada também administrou uma mina de tungstênio e como ela precisava de
um capital grande, havia uma dúvida dos fiéis para saber qual o motivo deste investimento.
Dizia ele ser necessário, em virtude da importância de adquirir fundos para a obra que de-
senvolveria.
Do ano de 1941 até 1943, ele viajou muito levando junto sua esposa, o secretário,
num total de dez pessoas. Nesse período, publicou o livro “A medicina do futuro”. Em se-
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guida, publicou “O problema da tuberculose e a sua solução”, tendo o primeiro sido proibi-
do em 1944, pela polícia. Como o trabalho de divulgação da igreja se intensificou, aumen-
tou também a vigilância policial nos locais onde se ministrava o johrei. Mesmo assim, em
meio à guerra, Okada começou a procurar um local para morar e solidificar as bases da ex-
pansão de seu trabalho missionário. Encontrou na cidade de Atami e Hakone, locais ade-
quados para se estabelecer, com uma natureza muito bela.
Com o término da guerra e a liberdade de culto, as religiões puderam se desenvolver,
desde que respeitassem a ordem pública e os bons costumes. Começa uma política que sepa-
ra o governo da religião e é criada a “Lei das Pessoas Jurídicas de Natureza Religiosa”,
pondo um fim às perseguições religiosas. Com isso, diversas religiões surgem no cenário
nacional japonês.
Era visível a diferença entre a época anterior à guerra e a posterior, observando-se a
rápida mudança que ocorreu no país em tão pouco tempo. Porém, a mentalidade tradicional
permanecia a mesma, trazendo para a atualidade métodos e conceitos antigos.
Okada aguardou durante dois anos a lei se consolidar e a liberdade religiosa se fir-
mar, de acordo com a nova Constituição de 1947.
Ao reformular mais uma vez o sistema, ele faz surgir a Nipon Joka Ryoko Fukyu-kai(Associação de Divulgação de Terapia Japonesa de Purificação), na qual ocupa a função de
Presidente. Com a expansão da associação por todo o país, aparecem alguns insatisfeitos e
com isso surgem problemas com a polícia, pois ainda havia perseguição desta a entidades
religiosas. Em agosto, Okada institui a Igreja Kannon do Japão.
Em 1948, a nova organização se sedimentou e o “tratamento” passa a chamar-se de
“Johrei”, o “talismã” passou a ter inscrito nele a palavra “Hikari” (Luz), “Komyo” (Luz
intensa) e “Dai Komyo” (Luz muito intensa) e a se entoar a oração “Zenguen-Sanji”. Com a
instituição da entidade como religião, muitas pessoas se desligaram por não se sentirem se-
guras por ser uma religião nova, já que se consideravam membros de uma associação. Ainda
assim, no ano seguinte, o número de fiéis atingiu cem mil. Com o rápido crescimento, e-
mergem por parte de outras novas religiões olhares de desagrado, sendo publicados diversos
artigos em jornais e rádios, notícias sensacionalistas, degradando o nome da igreja.
Diversas manifestações contra a instituição demonstraram a insatisfação de determi-
nados grupos, ocasionando novas investigações, inclusive pelas tropas de ocupação. Final-
mente, em setembro de 1949, as investigações foram encerradas. Nessa época, a utilização
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de defensivos agrícolas era grande, causando muitos males às pessoas e por esse motivo
houve interrupção em sua fabricação.
Caligrafia do Fundador
“Kômyô” (Luz Intensa)
Na década de 50, começa o Japão a se reerguer como nação, a partir da assinatura do
Tratado de Paz de São Francisco, que põe fim à ocupação.Em 4 de fevereiro de 1950, é instituída a Igreja Messiânica Mundial, em meio a sé-
rios problemas: o falecimento do grande discípulo de Okada, Issai Nakajima, o grande in-
cêndio que destrói parte da cidade de Atami e a nova prisão dele. Desta feita, Okada fora
preso para esclarecer dúvidas sobre uma investigação de sonegação de impostos. Em suas
palavras:
“A Igreja Kannon do Japão, fundada como entidade religiosa em 30 de
agosto de 1947, e a Igreja Miroku (Deus) do Japão, fundada em 30 deoutubro de 1948, estão dissolvidas a partir de agora. Com base em um
novo projeto, essas duas entidades surgem unidas sob o nome de Sekai
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Meshiya Kyo (Igreja Messiânica Mundial), neste dia 4 de fevereiro de
1950, dia do início da primavera.” (Kyusei, no. 48, 1950)
A partir daí, durante três anos, a Igreja Messiânica sofreu perseguições religiosas por
parte de autoridades da polícia federal.
Sobre esse assunto, são palavras de Okada:
“Só em agosto de 1947 a nossa Igreja Messiânica Mundial foi fundada
como entidade religiosa e começou a desenvolver suas atividades aber-
tamente. Ate então, a pressão por parte das autoridades era intensa, e
por isso, como é do conhecimento de todos, ela vinha desenvolvendo a
terapia popular sob a denominação “terapia de purificação japonesa”.
Todavia, entre as pessoas que não tinham fé, a cura das doenças não era
absoluta, e por esse motivo, dependendo da pessoas, eu fazia com queela orasse diante da imagem de Kannon pintada por mim. Tal procedi-
mento era aceito pelas autoridades, que, desde antigamente, diziam não
ser problema esse tipo de fé. A esse ponto as autoridades detestavam as
religiões novas... Felizmente, o mundo tornou-se democrático e foi
permitido a liberdade e matéria de Religião. Desde então, pudemos de-
senvolver livremente as nossas atividades como organização religiosa.
Na época, as pessoas que poderiam ser consideradas como membros e-
ram apenas de duzentas a trezentas”. (Fundação Mokiti Okada, 2000,
p.135).
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CAPÍTULO II
MEISHU-SAMA E A FUNÇÃO DA RELIGIÃO E DA
EDUCAÇÃO
O objetivo deste capítulo é apresentar o pensamento de Meishu-Sama sobre a mis-
são da Igreja Messiânica e o papel e a importância da educação. Vamos ver como ele con-
cebe a religião como um processo pedagógico e a dimensão religiosa da educação. Desta
forma, vamos procurar aprofundar uma nova abordagem sobre a relação entre a religião e a
educação.
2.1 Religião e missão da Igreja Messiânica em Meishu-Sama
“...Deus enviou o Mestre Meishu-Sama, fundador da Igreja Messiânica
Mundial, com a suprema missão de realizar o Seu sagrado objetivo de
salvar toda a humanidade. Por conseguinte, visando à concretização do
Mundo Ideal, de eterna paz, perfeitamente consubstanciado na Verdade-
Bem-Belo, empenhando-nos em fazer sempre o melhor, erradicando a
doença, a pobreza e o conflito, as três grandes desgraças que assolam
este mundo.” (M. Sama, 2000, p.29)
Para Meishu-Sama a finalidade da criação do homem é estabelecer um mundo ondenão haja doença, pobreza e conflito, local onde o ser humano possa usufruir de saúde, pros-
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peridade e paz. Para ele, esse local tem o nome de Paraíso Terrestre, lugar projetado pelo
Criador desde os primórdios.
Segundo Meishu-Sama, Deus criou o homem com a finalidade de servir como veícu-
lo para a consumação do propósito divino. Ele não estava preocupado em estudar o que era
a religião, e sim apresentar os motivos que o levaram a fundar uma filosofia de vida que
educa o homem a tornar-se próspero, saudável e pacífico. Para Meishu-Sama, o mais impor-
tante era justificar o porquê da criação da Igreja Messiânica Mundial e qual sua finalidade.
Uma das posições que Meishu-Sama critica em uma religião é o cerceamento na
conduta de alguns dirigentes, como cita: “(...) a respeito da liberdade em Religião, que pro-
mover vantagens para a Igreja em detrimento dos fieis, cerceando sua vontade, é um abuso
que atinge as raias do absurdo”. (2000, p. 164)
Para ele, “A verdadeira felicidade consiste em viver-se uma vida paradisíaca, em que
a matéria esteja salva juntamente com o espírito”. (2000, p. 165) Ele entende como verda-
deira religião aquela que possui como base o amor amplo, universal. Qualquer restrição
contrária ao objetivo da religião, que para ele é eliminar conflito e promover paz, foge à
essência desta.
Em suas palavras: “Acredito que a Igreja Messiânica Mundial foi criada para corres- ponder a esse propósito [criação de uma cultura nova e inédita].” (2000, p. 68) Para ele, a
religião messiânica foi instituída com o propósito de atingir os vários campos da sociedad