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COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO ENILDE L. DE J. FAULSTICH COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO 4ª EDIÇÃO VOZES - PETRÓPOLIS. 1992 COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO 4a Edição Petrópolis 1992 (c) 1987, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25689 Petrópolis, RJ Brasil Diagramação Valderes Barboza Aos colegas da Universidade de Brasília que ministram, entre outros, o curso de Língua portuguesa I, agradeço por terem usado, sob a forma de instrumentos de trabalho, o material aqui exposto, o que me permitiu avaliar a validade dos conceitos.

Como Ler, Entender e Redigir Um Texto

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COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO

ENILDE L. DE J. FAULSTICH

COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO

4 EDIO VOZES - PETRPOLIS. 1992

COMO LER, ENTENDER E REDIGIR UM TEXTO

4a Edio

Petrpolis

1992

(c) 1987, Editora Vozes Ltda. Rua Frei Lus, 100

25689 Petrpolis, RJ Brasil

Diagramao

Valderes Barboza

Aos colegas da Universidade de Braslia que ministram, entre outros, o curso de Lngua portuguesa I, agradeo por terem usado, sob a forma de instrumentos de trabalho, o material aqui exposto, o que me permitiu avaliar a validade dos conceitos.

ESCLARECIMENTO

As ideias expressas neste livro no se fecham em si mesmas. Por isso, o uso de bibliografia adequada e coerente se faz obrigatrio sempre que se precisar de informao mais detalhada sobre o assunto em estudo. O livro a ser lido vem, por conseguinte, indicado imediatamente aps o contedo reativo, no corpo do material.

Sumrio

Introduo, 9

PRIMEIRA PARTE

I. Com a inteno de ler, 13

1. A escolha do texto, 13

2. Tipos de leitura, 14

II. Texto e entendimento, 23

1. Capacidades cognitivas, de acordo com Bloom, 23

2. Plano de texto expositivo, 27

III. Palavra e vocbulo: unidades essenciais de texto, 31

1. Uso de palavra e vocabulrio, 36

2. Vocabulrio e campo lexical, 40

3. Sinonmia e hiponmia, 42

4. Estrutura de vocbulo em campo lexical, 44

5. Exatido e adequao vocabular, 49

IV. Produo do texto: a dissertao, 50

1. O texto expositivo-dissertativo, 52

2. O texto dissertativa-argumentativo, 59

3. Recursos apropriados para a elaborao do texto dissertativo, 69

SEGUNDA PARTE

V. Sintaxe de construo, 81

VI. A vrgula no contexto sinttico, 92

VII. Conversando sobre crase, 99

VIII. Temas sugeridos para redao, 106

Bibliografia auxiliar, 115

Introduo- nota da ledora: numerao encontra-se sempre ao p da pgina. - fim da nota da ledora.

Produzir texto uma das tarefas mais complexas, tanto para quem pretende ensin-la como para aquele que, na sala de aula, todos os dias, dispe-se a aprend-la. De fato, no existe uma receita infalvel para tal, bem como os modelos os quais nos dispomos a demonstrar dependem muito mais da recepo do leitor que de uma cpia ipss verbs do que se diz ou informa.

Neste trabalho, partimos do princpio de que redigir exige requisitos prprios, tais como, saber ler e saber entender. Assim sendo, em um primeiro momento, qualquer redator deve motivar-se a partir da leitura de bons textos para, com base no "velho", criar o novo. Ele deve saber que, s depois do entendimento das idias as quais vai expor, -lhe possvel extrapolar e criar seu texto, segundo um plano pr-elaborado, uma vez que todas as nossas aes corriqueiras so normalmente planejadas. A escrita , pois, um ato corriqueiro. No a escola a transforma quase sempre em um momento solene.' o da hora da aula de redao; eventualmente esta se transforma em uma punio, [9] do tipo "j que faltou o professor da disciplina X, podemos manter os alunos em sala mandando fazer uma redao". Est certo isso? - pergunta-se.

Redigir dizer a outrem o que se pensa.

Ao conversar, est-se como que redigindo oralmente; ao escrever uma carta, de qualquer natureza, est-se redigindo; ao resolver um problema de matemtica, de fisica, de biologia, est-se redigindo;_ao escrever uma estria. Uma descrio de cena ou de objeto e ao defender um ponto de vista, est-se redigindo. Convm observar, todavia, que cada uma das situaes enumeradas anteriormente exige uma forma de texto e, assim, cada texto ter a silhueta devida.

Em Como ler, entender e redigir um texto, propomo-nos a informar nosso leitor de como ler texto tcnico, entender as ideias do texto, extrapolas e redigir com segurana. Redigir pode ser arte, mas requer, antes de tudo, tcnica. Sobre o assunto, a bibliografia em lngua portuguesa bastante numerosa; apesar disso, arvoramo-nos a escrever este, em que se defende o ponto de vista de que, para chegar-se ao produto redao, deve-se conhecer passo a passo o processo que lhe antecede, sem o medo daquilo que nunca foi "bicho-" e muito menos "-papo": a redao.

[10]PRIMEIRA PARTE

I Com a inteno de ler

1. A ESCOLHA DO TEXTO

Leitura pressupe busca de informao. Por isso importante escolher bem o texto para ler.

Para que o leitor se informe necessrio que haja entendimento daquilo que ele l. Ha' textos cujo assunto inteiramente inteligvel ao leitor, como os de jornais, revistas no especializadas etc. H outros, porm, que a pessoa tenta ler, j sabendo, a princpio, que no entende completamente seu contedo. Neste ltimo caso o leitor deve estar predisposto a superar essa dificuldade.

A desigualdade de entendimento se manifesta principalmente quando se tem de "mergulhar" numa leitura criteriosa de texto tcnico. Ocorre que, ou se l um texto dessa natureza como se estivesse lendo um peridico distrativamente, ou se tenta ler visando a um entendimento, sem saber, muitas vezes, como proceder para no perder tempo, sem saber a que cnones obedecer.

[13]2 TIPOS DE LEITURA

A inteno de ler bem o texto tcnico conduz o leitor a dois tipos de leitura:

2.1. Leitura informativa

Ao se fazer leitura informativa busca-se respostas a questes especficas. Para obt-las deve-se:

2.1.1. FAZER LEITURA SELETIVA

Esse tipo se efetiva no momento em que o leitor sabe escolher as idias pertinentes que complementem o ponto de vista do autor. Para isso preciso:

2.1.1.1. Identificar, dentro de cada pargrafo, a palavra-chave, pois em torno dela que o autor normalmente desenvolve a idia principal. A palavra-chave se situa na sentena-tpico, que, quase sempre, a primeira frase do pargrafo, como, por exemplo:

O reflorestamento tornou-se uma atividade em expanso no pas, servida por pesquisas minuciosas e alta tecnologia. Duas empresas paulistas exemplificam bem at que ponto chegou o desenvolvimento no setor. Uma delas exporta, para 40 pases, cerca de 15 milhes de dlares anuais de chapas, portas e divisrias.

A outra, 20 milhes de dlares em chapas e fibra prensada para os Estados Unidos e a Europa. O faturamento bruto das indstrias que utilizam madeira (predominantemente oriunda de reflorestamentos) como matria-prima chegou a um tero do faturamento bruto da indstria automobilstica. Apenas uma empresa mineira plantou, at 1979, 250 milhes de eucaliptos (DESED 70. Banco do Brasil S.A., mai/jun 1980.).[14]Neste pargrafo, a palavra-chave reflorestamento, porque ela que constitu o ncleo da ideia do autor e serve de base para que se derive um grupo vocabular em que todas as outras unidades estejam em relao de incluso com ela: reflorestamento: atividade em - pesquisas minuciosas expanso desenvolvimento, chapas portas divisrias faturamento alta tecnologia eucalipto fibra prensada matria-prima madeira

Reflorestamento funciona como ncleo do sujeito da sentena-tpico, que :

As outras unidades vocabulares, de acordo com o sentido que possuem no texto, convergem para reflorestamento, formando, assim, um conjunto [15] vocabular que, esquematicamente, sintetiza as ideias ali expostas. Para melhor compreender as noes de sentena-tpico, leia GARCIA, Othon M. comunicao em prosa moderna. Rio, FGV, 1980, terceira parte, cap. 1.

2. .1.2. Selecionar, uma vez identificada a palavra-chave principal do pargrafo, as palavras-chave secundrias, que so as que estruturam as frases que fundamentam a sentena-tpico e desenvolvem o pargrafo, como no exemplo seguinte:

Um livro um artefato fsico produzido apenas numa sociedade civilizada. As implicaes dessa afirmao incluem muitos aspectos histricos. Antes que um autor possa escrever, precisa possuir linguagem e um sistema grfico para registr-lo. Nenhuma dessas coisas inveno sua. Ambas, como j notamos, no passam de convenes arbitrrias da cultura; ambas chegaram s suas formas como resultado de uma longa evoluo. Do mesmo modo, a forma do livro atravs das pocas e os vrios mtodos de sua fabricao so problemas histricos bsicos para a cincia da bblioteconomia. Aqui devem considerar-se no apenas os materiais fsicos que foram usados para a recepo dos registros grficos, mas seus reflexos sobre a utilidade funcional. Tijolos de barro, peles curtidas e papiro, cada um apresenta uma diferente combinao de economia, facilidade de transporte e durabilidade. A lousa, o rolo e o cdex divergem muito em suas facilidades de fornecer referncias. O crescimento dos aspectos auxiliares do leitor, como lombada da capa, pgina-ttulo, ndice de contedo, paginao e ndice alfabtico resultam de um longo processo evolutivo (BUTLER, P Introduo cincia da biblioteconomia. Rio. Lidador, 1971, p. 59-60).Neste pargrafo, a palavra-chave principal livro e as palavras-chave secundrias so: autor, escrever, linguagem, sistema grfico (continue:).

[16]Observe-se que a escolha vocabular no se faz aleatoriamente, mas justificada por uma seleo vocabular que d apoio idia principal do autor. Para melhor compreenso desse assunto leia GARCIA, Othon M., op. czt., segunda parte, cap. III. Um pargrafo que apresente esta unidade, esta coerncia, diz-se ser um pargrafo didtico, com sentena-tpico e desenvolvimento. Para melhor compreenso desse assunto leia GARCIA, Othon M., op. cit., terceira parte, cap. II.

2.1.1.3. Selecionar, na sequncia do texto, as sentenas-tpico que constituem, de fato, base de informao de cada pargrafo e que, depois de escolhidas, sublinhadas ou destacadas, formam o resumo do texto:

PSICLOGA NO V RELAO ENTRE A VIOLNCIA E A TV

Pesquisa da Faculdade de medicina de Juiz de Fora revelou que no se pode relacionar, como feito, a televiso e o rdio com a violncia. Segundo alguns, estes dois meios de comunicao seriam propagadores e incentivadores da violncia. De acordo com a pesquisa, elaborada junto a menores da Febem daquela cidade mineira, 68% dos delinqentes Juvenis nunca haviam assistido a um programa seja de rdio, seja de televiso - afirmou Goldberg, especialista em pesquisas junto infncia e adolescncia.

A gnese da violncia urbana, de acordo com o cientista, localiza-se entre as diferenas que caracterizam o meio rural e urbano. "Freqentemente , ocorre um choque nos hbitos migrantes no seu contato com a cidade. Mudam-se as suas referncias culturais e o seu comportamento. O choque , tambm, recproco. O habitante da cidade se sente ameaado, compelido a competir mais onde a concorrncia j acirrada, gerando medo insatisfao e frustrao", diz o psiclogo.

[17]A desinformao cultural a grande responsvel pela exploso de violncia nas cidades, segundo Goldberg. "A sociedade moderna exige do habitante da metrpole alta dose de Informao - desconhecida do migrante. Este passa a busc-la, mas a sociedade no permite um acesso fcil a ela. Isto gera frustrao, num primeiro momento que, acumulado, redunda na revolta", argumenta o pesquisador.

Em seu entender, a problemtica da violncia e da desinformao decorrem da estrutura do ensino brasileiro. De acordo com dados de uma pesquisa que efetuou em Juiz de Fora, 75% dos estudantes primrios que completavam um ano de estudo no grupo central da cidade no tinham condies sequer de escrever o prprio nome (GOLBERG. Em O Globo, 07/05/1950).Diga onde comea e onde termina a sentena-tpico de cada pargrafo:

1 vai de at

2 vai de at

3. vai de at

4 - vai de at

Assim:

Este texto pode, portanto, ser resumido

Para melhor compreenso do resumo leia SALOMON- Dlcio V. Como lazer uma monografia. Belo Horizonte, Interlivros, 1978, primeira parte, cap. III.

2.1.2. FAZER LEITURA CRTICA

A leitura crtica exige do leitor uma viso abrangente em torno do assunto que est sendo focalizado, E necessrio, pois, que se faa uma pr-leitura [18] do material a ser analisado para, ento, estabelecer-se diferena entre a sucesso das ideias principais, contidas nas sentenas-tpico.

Ler criticamente significa reconhecer a pertinncia dos contedos apresentados, tendo como base o ponto de vista do autor e a relao entre este e as sentenas-topico. Essa pertinncia que permite estabelecer-se uma hierarquia entre a ideia mais abrangente e as que a subsidiam.

O texto seguinte no apresenta diviso paragrfica, contudo verifica-se que a unidade formal que ele apresenta no corresponde unidade de um pargrafo didtico, j que h uma srie de ideias acumuladas em um nico bloco, que devem ser reestruturadas, tanto pela densidade de informao, quanto pela hierarquia em que devem ser apresentadas.

Aleijadinho (Antnio Francisco Lisboa, dito O), escultor e arquiteto brasileiro (Ouro Preto MG c. 1730 id. 1814). Filho natural do mestre de obras portugus Manuel Francisco Lisboa, ento considerado o primeiro arquiteto da provncia. Formao artstica e tcnica no canteiro das obras do pai; aprendizado com o abridor de cunhos Joo Gomes Batista e provavelmente com Jos Coelho de Noronha, que se distinguia nas obras de escultura e talha em igrejas mineiras. Na madureza, comeou a sofrer de uma enfermidade que, aos poucos, o foi inutilizando e deformando, e cuja natureza ainda objeto de controvrsias entre os especialistas, havendo quem diga tratar-se de tromboangeite obliterante (ulcerao gangrenosa das mos e dos ps). Tendo perdido os artelhos, o Aleijadinho passou a ser carregado, s conseguindo andar de joelhos com dispositivos de couro confeccionados sob sua orientao; com os dedos das mos perdidos, uns, e quase sem movimento, os outros, mandava que lhe amarrassem diariamente s mos o martelo e o cinzel, para poder esculpir. Em 1800, firmou Antnio Francisco Lisboa o contrato para a execuo de Os doze profetas do adro da igreja [19] de Bom Jesus de Matosinhos, depois de haver realizado em cedro as sessenta e seis figuras que compem os Passos da Via Crucis, no mesmo Santurio, mais tarde encarnadas pelos pintores Manuel da Costa Atalde e Francisco Xavier Carneiro (essas figuras estiveram at 1957 sob grosseiras pinturas adicionais, sendo ento reconstitudas nas cores originais pelo Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional). A obra de Aleijadinho pode ser dividida em duas fases, antes e depois de atac-lo a terrvel doena: na fase s, a deformao das imagens de carter plstico, predominando em suas composies o equilbrio, serenidade e magistral clareza, ao passo que, na segunda fase (Congonhas), as deformaes e toda a obra assumem um carter expressionista. Consta que, nessa ltima fase, Antnio Francisco Lisboa segregou-se da sociedade, mantendo-se em contato com apenas dois escravos e ajudantes; s andava na rua altas horas da noite ou da madrugada, montado a cavalo, coberto com ampla capa e chapu desabado. Durante o trabalho, fazia-se ocultar por uma tenda, no permitindo a aproximao de estranhos Morreu isolado e quase esquecido, conquanto os contemporneos lhe pressentissem talvez os dotes geniais e a capacidade criadora. No dizer de Manuel Bandeira, "o diminutivo de Aleijadinho significativo de pura compaixo e meiguice brasileira. O homem a que ele se aplicou nada tinha de fraco nem pequeno: era, em sua deformidade, formidvel. (...) Toda a sua obra de arquiteto e escultor de uma sade, de uma robustez, de uma dignidade a que no atingiu entre ns nenhum outro artista plstico". A partir de 1812, Antnio Francisco ficou impossibilitado de trabalhar, passando seus dois ltimos anos de vida entrevado e cego, sobre um pequeno estrado em casa de sua nora. Depois de sua morte, Aleijadinho foi esquecido por mais de quarenta anos, at que Rodrigo Bretas lhe escrevesse a biografia, publicada em 1858, voltando a ser louvado somente aps o movimento de afirmao dos valores nacionais provocado pela Semana da Arte Moderna (1922) - Sua obra, sempre caracterizada por inspirao dinmica e barroca, extensa. (...) (Grande enciclopdia Delta Larousse, verbete "Aleijadinho". Rio, Delta, 1970).Conforme j se disse anteriormente, este texto no apresenta diviso paragrfica

Proceda diviso do texto em pargrafos, tomando por base [20] uma sentena-tpico que nortear cada bloco de ideias em que se venha a dividir o texto. Para tal, convm ter em mente que saber diferenar as ideias entre si fundamental.

Diferenar as ideias significa hierarquizar 'os assuntos pela ordem de importncia, analisar as ligaes que os unem e ordenar os fatos ou aes ao longo de um raciocnio.

Para diferenarem-se as ideias preciso que se conheam as seguintes etapas:

a) primeiro, distinguem-se as ideias principais das secundrias, depois diferenciam-se as ideias secundrias entre si; finalmente, classificam-se os pormenores que servem de apoio as ideias secundarias;

b) analisam-se as ligaes que unem duas ideias sucessivas, distinguindo as ideias paralelas. As opostas, as coordenadas e as subordinadas entre si;

c) ordena-se a sequncia das ideias, observando-se o mecanismo lgico a fim de perceber os mecanismos sutis do pensamento do autor.

Discuta com seu grupo os itens anteriormente enunciados, tomando como base o texto "Aleijadinho" e, em seguida, proceda aos exerccios.

a) O texto pode ser dividido da seguinte maneira:

1o - de at

2 - de at

continue:

b) D coerncia ao texto, escrevendo a ordem lgica em que cada pargrafo deve ocorrer:

1. - deve ser o que vai de at

2 - deve ser o que vai de at

[21]continue:

c) Escolha dois pargrafos, considerados como se fossem pequenos textos e d um ttulo a cada um. Lembre-se de que um ttulo expressivo induz leitura do texto. (Obs. Antes, leia alguma bibliografia sobre a tcnica de criar ttulos).

2.2. Leitura interpretativa

A leitura interpretativa requer total domnio da leitura informativa. Para que se faa leitura interpretativa necessrio que se reconheam determinadas capacidades de conhecimento. Este assunto ser estudado a seguir.

[22]II Texto e entendimento

Bem, uma vez cumpridas as etapas fundamentais para que se faa leitura informativa coerentemente, deve-se passar fase seguinte que a de entendimento do texto. Para isso, sero estudadas as capacidades cognitivas, propostas por Benjamin Bloom et alii. Se bem apreendidas essas capacidades, o leitor ficara apto a entender-interpretar textos e, mais ainda, a redigir com maior segurana.

Entender um texto compreender claramente as idias expressas pelo autor para, ento, interpretar e extrapolar essas idias. Nesse momento o leitor deve ajustar as informaes contidas no contexto em analise s que ele possui em seu arquivo de conhecimentos.

1. CAPACIDADES COGNITIVAS, DE ACORDO COM BLOOM (BLOOM, S. B. et alii. Taxionomia dos Objetivos educacionais. Porto Alegre, Globo, 1973, p. 55-165. As noes tericas de BLOOM foram adaptadas pela autora deste livro.):1.1.Compreenso - a capacidade de entender a mensagem literal contida em uma comunicao. Em um primeiro momento deve o leitor ater-se ao ponto [23] de vista do autor, tese que o autor defende no texto.

1.2 - Anlise - a capacidade material em suas partes constitutivas, percebendo-se suas inter-relaes e os modos de organizao. a capacidade de decompor um todo em suas partes partindo das sentenas tpico dos pargrafos e suas relaes com o texto.

1.3. Sntese - a capacidade de colocar em ordem os pensamentos essenciais do autor, utilizando-se das sentenas-tpico dos pargrafos, que so as que normalmente sintetizam as ideias do texto. A sntese manifesta-se pela reconstituio do todo decomposto pela anlise, eliminando-se o que secundrio e acessrio e fixando-se no essencial. Nesse momento atinge-se o ideal de relacionar e ordenar as ideias, sem a preocupao de seguir rigorosamente a sequncia que elas possuem no texto original, mas com a de que em torno do ponto de vista do autor gravitem todas as outras ideias importantes -

1.4 - Avaliao - a capacidade de emitir um juzo de valor e de verdade a respeito das idias essenciais de um texto. Manifesta-se por meio de julgamento, de julgamento, de critica, s relaes lgicas evidenciadas no texto e sua possvel aplicao cientfica.

1.5. Aplicao - a capacidade de resolver situaes semelhantes situao explicitada no texto. Manifesta-se pela habilidade de, ao associarem-se assuntos paralelos, utilizar-se de princpios apreendidos num contexto em contextos semelhantes; a capacidade que nos garante ter entendido o assunto [24] e nos permite projetar novas ideias a partir dos conhecimentos adquiridos, por meio da criatividade a qual se manifesta pela elaborao de um plano e, em seguida, pela redao de um tema.

Depois de bem assimiladas estas capacidades cognitivas, o leitor estar apto a interpretar e extrapolar, cientificamente, as idias de um texto.

Treine: interprete o texto seguinte, de acordo com as capacidades cognitivas.

Francs defende pureza da lngua com processo contra o "franglais"

Os puristas chamam de poluio do idioma. Os empresrios simplesmente, de estratgia de marketing. Para a lei ilegal em alguns setores. Mas para a maioria dos franceses trata-se de franglais - o uso e o abuso do ingls, especialmente na rea comercial.

Os defensores da lngua francesa, dispostos a conter a invaso anglo-sax a seu vocabulrio, tm levado empresas aos tribunais por utilizarem palavras inglesas.

No ms passado, a Associao Geral dos que utilizam a lngua francesa (Agulf) acusou uma cadeia de lanchonetes de iludir os consumidores, ao introduzir, no cardpio, itens como fingfish, big cheese e coffee drink.

O Tribunal de Paris aceitou a denncia, com base na lei de 1975 que determina que todos os produtos devem ser rotulados e anunciados em francs. A empresa, a France-Quick, foi condenada a pagar multa equivalente a Cz$ 400 mil. A sentena foi a ltima vitria da Agulf, um grupo de vigilncia apoiado pelo Governo, formado por polticos, intelectuais e consumidores, que fiscaliza empresas nacionais e estrangeiras.

- Algum que compre um big cheese, possivelmente no saberia o que isto contem. E nossos advogados comprovaram que o coffee drink no passa do simples caf, s que mais fraco do que o que costumamos beber na Frana - disse Micheline Faure, porta-voz da Agulf. A associao j ganhou 30 causas nos tribunais.

[25]Empresas estrangeiras que exportam seus produtos para a Frana tm sido pressionadas por no apresentarem tradues dos textos de suas bulas, manuais e embalagens. O movimento contra a invaso do franglais sempre teve o apoio do Governo francs e a Agulf subsidiada pelo Escritrio do Primeiro-ministro Pierre Mauroy.

No ano passado, o Ministrio das comunicaes proibiu 127 expresses de origem inglesa, usadas, principalmente, em emissoras de rdio, televiso, cinema e agncias de publicidade. Oficialmente, no se diz mais close-up, mas gros plan, e cameramen so les cadreurs. Mas, no dia-a-dia, o franglais ainda bastante empregado.

Os empresrios falam muito de le cash flow ou le hot money. As pessoas viajam

de le jet, enquanto uma caminhada le footing. Os esportistas fazem le jogging ou le stret-ching (ginstica).Muitas comisses de lingistas tm sido formadas para criar expresses francesas que equivalham s inglesas, embora ainda no se tenha conseguido substituir le weekend por fim de semana (...).

Micheline Faure diz que, em todos os casos, as multas foram mnimas e que a organizao est mais interessada na defesa de seus princpios do que em lucros financeiros. Segundo ela, o importante fazer com que as pessoas saibam que a lei existe, observando que nenhuma multa foi aplicada antes da criao da Agulf, em 1977.

- Nosso objetivo evitar a poluio do idioma francs, apenas por modismo ou por um gosto esnobe por palavras que no pertencem a nenhuma cultura em particular -disse ela (FUXUDA, Eko. Jornal do Brasil, 01/04/1964).Interprete o texto, respondendo aos seguintes itens:

a) compreenso: Que tese defendida no texto?

b) analise: Quais as partes constitutivas do texto?

[26]c) sntese: Qual a sntese ideal deste texto?

d) avaliao: As ideias essenciais do texto merecem crtica? Negativa?

e) aplicao: Em que outro(s) contexto(s) podem ser aplicadas as ideias essenciais do texto?

Elabore um plano que lhe permita defender com mais segurana as suas ideias.

Com base no plano elaborado escreva uma redao. Para melhor elaborar o plano leia GARCIA, Othon M., op. cit., stima parte, cap. III.

2. PLANO DE TEXTO EXPOSITIVO

Ao concluir, parcialmente, os estudos sobre leitura e entendimento de textos, apresentamos um plano roteiro que lhe servir de ponto de partida para uma redao. Para escrever a redao com consistncia leia o texto que serviu de base para este roteiro: REIS FILHO, Nestor G. Quadros da arquitetura no Brasil, p. 87-96.

Tema:

Como se situa a arquitetura brasileira dentro do vertiginoso avano tcnico, econmico e social por que passa nosso pas?

1 - sentena-tpico:

Acompanhando o perodo de intensa industrializao por que passava o nosso pais, a partir da [27] Segunda Guerra Mundial, surge o movimento contemporneo da nossa arquitetura, que aproveita o momento e os recursos oferecidos pelas circunstncias para a sua expanso.

Ideia secundria:

Esse movimento vai acompanhar as crescentes transformaes econmicas, sociais e culturais do nosso pas.

Idia secundria:

Todos os problemas ligados ao campo da arquitetura e urbanismo so corajosamente enfrentados por nossos arquitetos.

2 - sentena-tpico:

O projeto de Braslia mostra claramente essa evoluo e o uso de inovao em nossa arquitetura.

Ideia secundaria:

J se nota o aproveitamento racional dos terrenos, com distribuio sistemtica dos lotes.

3o - sentena-tpico:

O concreto aparece como uma soluo eficiente, conhecida no meio arquitetnico por brutalsta.

Ideia secundria:

Aliado ao uso do concreto, desenvolve-se o paisagismo.

[28]Ideia secundria. Em residncias particulares h inovaes em matria de conciliao de paisagismo e concreto.

4 - sentena-tpico:

Os sistemas de cobertura passam por mudanas considerveis -

Ideia secundria:

A tendncia agora geometrizao dos volumes, ao estilo cubista.

5 - sentena-tpico:

Uma inovao interessante a distribuio e composio das residncias em ateno ao bem-estar da famlia.

ideia-secundria:

Surge interpenetrao de espaos.

6 - sentena-tpico:

No plano urbanstico surgem novas alternativas, com uma distribuio inovadora das vias pblicas.

Ideia secundria:

Buscam-se alternativas funcionais: viadutos, passagens subterrneas...

Ideia secundria:

O sistema de circulao e o acesso aos conjuntos residenciais se apresentam diferentes, contrastando com outras cidades brasileiras.

[29] 7 concluso:

Esse um quadro bem representativo da evoluo da nossa arquitetura nos ltimos anos, quando, ento, passaram a vigorar os princpios de renovao e criatividade. Braslia - vista como um todo - um elemento-modelo dessa evoluo, que tambm aparece em outras cidades brasileiras, mas em menor escala, pois nelas ainda existem elementos fixos representativos dos velhos padres que no podem ser eliminados.

(Adaptado da dissertao deO. Barreto, aluno de LgP1 em 01/1979)

[30]III Palavra e vocbulo: unidades essenciais de texto

Catar feijo

Catar feijo se limita com escrever: joga-se os gros na gua do alguidar e as palavras na da folha de papel; - e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiar no papel, gua congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijo, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. Ora, nesse catar feijo entra um risco: o de que entre os gros pesados entre um gro qualquer, pedra ou indigesto, um gro imastigvel de quebrar dente.

Certo no, quando ao catar palavras: A pedra da frase seu gro mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, aula a ateno, isca-a com o risco (MELO NETO, Joo CabraI. Em. NUNES, Benedito. Poetas modernos ou Brasil 1/1. Petrpolis, vozes, 1971).Joo Cabral aproxima, nesta poesia, o ato de escrever do ato de catar feijo.

Essa proximidade pode ser representada por dois crculos super-postos de tal maneira, que a rea de um no cubra inteiramente a area do outro (Segundo GARCIA. Othon M. (Comunicao) em prosa moderna. Rio, FGV, 1980, p. 79) a figurao em crculos inspira-se nos "filtros duplos" imaginados por BUHLER, K.).[31]1 plano= catar feijo - plano real

2 plano= escrever - plano imaginrio

3 plano = catar feijo, se limita com escrever - plano metafrico

O primeiro crculo representa a coisa a ser definida; o segundo representa o plano imaginrio ou potico, isto , a ideia que estabelece semelhana com a primeira. Na terceira represeno, a zona riscada, que mostra a superposio de partes dos crculos, relaciona pontos de semelhana ou de proximidade entre os dois primeiros planos. Podemos, portanto, dizer que h uma relao metafrica entre catar feijo e escrever.

Metafora a figura literria que consiste em identificar semelhanas por meio de um ou mais elementos que os seres tm em comum.

Assim, o processo da escrita todo metaforizado na poesia de Joo Cabral. Para ampliar os seus conhecimentos sobre o assunto leia GARCIA, Othon M., op. czt., primeira parte, cap. 1.

[32]Observe os dois ltimos versos da primeira estrofe: "pois para catar esse feijo, soprar nele, e jogar fora o leve e oco palha e eco"

As palavras leve, oco, palha e eco podem ser assim interpretadas:

e leve - o que suprfluo;

oco - o que apodreceu, esvaziou-se; em sentido aproximado, oca seria aquela palavra vazia de significado, isto , "palavras-que-no-significam-nada-porque-significam-tudo" (O Conceito "palavras-que-no-significam-nada.porque-significam-tudo" de NUNES. Amaro V. LEITE, Roberto A. S. Comunicao e expresso em lngua nacional. S. Paulo, da. Ed. Nacional, 1975, p. 237);

palha - o que sobra, o que desnecessrio (como a palha de determinados cereais), a palavra mal colocada;

eco - o que repetido muitas vezes, a pobreza vocabular.

Leia agora a segunda estrofe do poema e procure interpreta-la, observando a linha de aproximao entre escrever e catar feijo.

Observe que Mattoso Camara (CAMARA Jr., Joaquim Mattoso. Manual de expresso oral e escrita. Petrpolis, voses, 1977, p. 57-58.) diz o mesmo que Joo Cabral, apenas de outro modo:

a) a apresentao visual agrava certos defeitos de formulao, e muitas incorrees, que passariam despercebidas no correr da fala, ganham relevo e "saltam aos olhos" no papel;

b) a frase, sem a ajuda do ambiente, da entonao, da mmica, tem de ser mais logicamente construda e concatenada;

[33]c) pelo mesmo motivo, as palavras tm de ser mais cuidadosamente escolhidas, e impe-se a questo da propriedade dos termos, de maneira aguda;

d) uma palavra muito repetida ou redundante torna-se particularmente afrontosa no processo da leitura;

e) certos termos e expresses, tidos como familiares e pouco literrios, raramente se apresentam tolerveis na exposio escrita;

f) a pontuao precisa ser cuidadosamente observada.

O texto abaixo exemplifica o eco vocabular:

Lei

Este churrasquinho no espeto esta legal. Fiz um samba legal. O discurso do prefeito foi legal. Praia legal. Gol legal. Aquela Coroa foi muito legal comigo. Tivemos uma briga legal. Amanh, s 11, na Montenegro? legal.

Parece que nunca houve tanta legalidade nesse pas. (ANDRADE, Carlos Drummond de. Em Jornal do Brasil, 05/12/1972).Eis um discurso "ilegal", propositalmente criado por Drummond. A palavra fica to gasta porque usada com tantas intenes e significaes diferentes, que as pessoas terminam no sabendo direito o que ela quer dizer. Empregar sempre e em qualquer contexto as mesmas palavras pobreza vocabular, prejuzo certo para a comunicao. Qual o significado de legal, em cada uma das ocorrncias do texto?

No exerccio seguinte voc vai ser obrigado a evitar essas "palavras vazias" (ou esvaziadas pelo uso) que servem para tudo.

[34]Relacionamos algumas palavras em que o adjetivo se pe insistentemente repetido. Voc vai substitu-lo por outros adjetivos mais expressivos, menos gastos, que comuniquem melhor a idia.

Utilize-se do repertrio apresentado para substituir cada palavra vazia. Em seguida justifique o uso do adjetivo que escolheu redigindo uma frase, assim voc enriquecer seu vocabulrio (O exerccio de "palavras vazias" encontra-se em NUNES, Amaro v. - LEITE, Roberto A S., op. ct., p. 237-238).Use o dicionrio para fazer os exerccios Importante - repertrio: decisivo/ponderado/categrico/respeitvel/sigiloso/famoso/relevante/ imprescindvel/engenhoso.

a) Opinio importante.

Opinio

b) Pessoa importante.

Pessoa

c) Documento importante.

Documento

d) Jogo importante.

Jogo

Como se observa, uma unidade vocabular pode possuir, na lngua, vrios sentidos. A essa variedade de significaes chama-se polissemia.Leia o trecho ilustrativo e assinale as unidades polissmicas.

Minha vizinha sueca anda em apuros com a nossa lngua. Mal aprendeu que "manga" uma parte do palet, e l veio [35] o menino do balaio oferecer "manga" espada. E a vizinha nem chegou a guardar que o nosso parente oficial foi receber justamente a "espada" que nada tem a ver com a "manga". A aflio da estrangeira tem-me feito pensar que est tudo de cabea para baixo nos arraiais do vocabulrio. Misturam-se as coisas com os animais, atrapalham-se os significados, uma anarquia sem desordem, uma perfeita arrumao sem a menor lgica!

As pessoas marcam encontro na boca da noite. E a noite tem alguma boca? A alma no se separa do corpo, mas basta a pessoa se cansar, para pr a alma pela boca. uma pessoa, por menor que seja, pode muito bem pr a boca no mundo.

Depois, um bate-boca pode dar-se sem o menor contato de uma boca com a outra. E no machuca nenhum dos dois (ROCHA, Antnio A. Em Estado de Minas, 03/06/1972.).Para melhor entendimento de leia GARCIA, Othon M., op. cit., segunda parte, cap. 1.

1. USO DE PALAVRA E VOCABULRIO

A fim de que a unidade vocabular seja empregada adequadamente em uma exposio escrita ou oral, necessrio que se conhea o valor semntico que cada uma possui. Para isso, o conhecimento do vocabulrio fundamental.

Vocabulrio o conjunto de vocbulos, empregados em um texto, caracterizadores de uma atividade, de uma tcnica, de uma pessoa etc. De acordo com a terminologia lingustica, vocabulrio uma lista de ocorrncias que figuram em um corpus.

Um corpus se constitui de um conjunto de enunciados (frases, pargrafos, textos) cujas palavras [36] apresentam este ou aquele trao que interessa anlise em questo.

O termo vocabulrio justifica-se plenamente em estudos sobre corpus especializado: vocabulrio do futebol, vocabulrio da economia, vocabulrio da pesca.

A unidade de vocabulrio o vocabulrio que no deve ser confundido com palavra.)

Vocbulo unidade de lngua efetivamente empregada em um ato de comunicao representa uma unidade particular, com significado, usada na linguagem falada ou escrita. Unidade aqui no tem sentido de um numrico, mas de um semntico: em Setor Habitacional Individual Sul, h quatro palavras, mas um vocbulo semanticamente integrado e qualquer comutao alterar seu significado.

Palavra uma sequncia de um ou mais fonemas suscetvel de uma transcrio escrita, compreendida entre dois espaos em branco; representa ento toda unidade emitida na linguagem falada ou escrita.

Distingue-se um texto de economia de um de medicina no s pelas palavras empregadas, mas pelos vocbulos, j que cada um possui vocabulrio especifico da rea a que pertence.

Em um texto, por exemplo, podemos contar 1500 palavras e, entre estas, 1200 serem vocbulos . Pode-se afirmar que h, na lngua portuguesa, dez classes de palavras, e, entre estas, funcionam como vocabulrios e os substantivos os adjetivos os verbos e os advrbios terminados em mente.

[37]Leia o texto seguinte e faa o levantamento dos vocbulos caracterizadores de atividade.

Os "peladeiros" de domingo

O juiz o grito, o uniforme um calo, a linguagem sem censura e s no vale gol com a mo.

Para jogar, s querer e aguentar, como dizem os peladeiros, palavra no dicionarizada que qualifica os "habitues" do jogo.

essa espontaneidade que faz da pelada uma das formas mais autenticas de lazer, principalmente nos domingos. Assim que no desenrolar da pelada "dar um ovo na cara ou "estar debaixo da saia do cara" comum e no leva ningum agresso. Para a especialista em animao scio-cultural Tnia Barros Maciel, essa autenticidade pode ser sentida na simples observao de expresso corporal de um jogador de peladas. Diz ela que, na pelada, o espirito lcido prevalece sobre a competio.

Esse clima de camaradagem pode ser observado tambm nos apelidos dados a alguns jogadores. Luis Cludio Alves, por exemplo, recebeu o apelido de Cerezo, por ser muito desengonado. Marcos Pereira Dias s chamado de Belezinha porque est sempre ajeitando os cabelos. Apelido notrio o de Ubaldo Soares, jogador mais velho da pelada dos coroas. Conhecido como Niteri, h quem diga que o apelido deve-se s vrias pontes que ele tem na boca e, apesar das suas negativas, seu companheiro de jogo Mrio M. Valente afirma veementemente que ele perdeu a dentadura na areia.

Mais sofisticado do que as peladas comuns, o jogo dos coroas, assim chamado porque 70 por cento dos jogadores est acima dos 35 anos. Tanto nas peladas comuns quanto nas dos coroas, o "banho de cuia" exige certa habilidade do jogador, que, muitas vezes, deixa o adversrio apenas boquiaberto.

A falta de espao para o bate-bola um dos problemas enfrentados pelos amantes de peladas. Para os que moram na Zona Sul, ao final da tarde, a praia transforma-se em campo, mas para os moradores da Zona Norte e subrbios a opo est nos campos rala-cocos (esburacados), improvisados em [38] terrenos baldios ou pirambeiros, que nem sempre permitem que um gol fique linearmente de frente ao outro.

Mas para os peladeiros que tm "fome de bola" nada disso impede o jogo. O campo pode ter poas de lama e a bola estar furada, mas se d para correr e a redonda aguento o tranco, "tamos ai", como dizem os mais versados em peladas.

As brigas corpo a corpo no so freqentes e o esprito de conciliao sempre predomina na pelada, mesmo que o peladeiro seja envolvido por um "lenol" ou arme uma "cama de gato".

Como a pelada caracteriza-se pelo esprito democrtico da brincadeira, aquele que est disposto a "brincar com a moada da praia" dever ir tambm com disposio para "engolir um frango", aplaudir uma "jogada de letra" ou "de charles" e vibrar com uma "bicicleta", seja ela realizada por peladeiro de um time ou de outro (FAULSTICH, Enilde L. de J. Adaptado de O Globo, 15/01961).Faa os exerccios pedidos:

a) Os vocbulos caracterizadores da atividade, no texto, so:

b) Por meio dos vocbulos sabe-se que o texto retrata uma atividade. Qual ?

Os vocbulos destacados nos remetem a um tipo de atividade - um jogo. Muitas vezes o vocbulo adquire o significado no contexto por meio da metfora, como "engolir um frango".

Releia o texto e destaque agora somente os vocbulos que caracterizam as pessoas, sua ao e comportamento.

[39]a) Vocbulos relacionados s pessoas:

b) Vocbulos relacionados ao que o texto descreve:

c) Vocbulos relacionados ao comportamento das pessoas que realizam essa ao:

Veja se respondeu assim:

a) pessoa peladeiro, jogador, adversrio, time.

b) ao - "dar um ovo na cara", "estar debaixo da saia do cara", "banho de cua", "bate-bola", (jogo), bola (redonda), pelada, "lenol", "cama de gato", "brincar com a moada na praia", "engolir um frango", "jogada de letra", "jogada de charles", "bicicleta".

c) comportamento - grito, linguagem sem censura, espontaneidade, lazer, autenticidade, esprito lcido, clima de camaradagem, apelidos, habilidade, amante da pelada, fome de bola "tamos a", esprito de conciliao, esprito democrtico da brincadeira, disposio, aplaudir, vibrar.

2. VOCABULRIO E CAMPO LEXICAL

Ao agrupar os vocbulos, tomando por base a caracterizao destes dentro do texto, procedeu-se estrutura do vocabulrio em campos lexicais.

Campo lexical o conjunto de vocbulos empregar para designar, qualificar, caracterizar, significar uma noo, uma atividade, uma tcnica, [40] uma pessoa. Um vocabulrio , pois, um grande campo lexical que pode ser reagrupado em pequenos campos, de acordo com as relaes (hiponmia, Veja o exemplo que apresentamos adiante, neste sinonmia, antonmia etc.) que ocorrem no texto. captulo.

Para melhor compreenso do assunto ler VANOYE, Francis, Usos da linguagem: problemas e tecnicas na produo oral e escrita. S. Paulo, Martins Fontes, 1979, item 1.3. Ler tambm FAULSTICH, Enilde L. de J. Lexicologia: a linguagem do noticirio policial. Braslia, Horizonte, 1980, cap. III.

Atente para as seguintes frases:

a) "mas para os peladeiros que tm 'fome de bola' nada disso impede o jogo".

b) "A falta de espao para o bate-bola um dos problemas enfrentados pelos amantes de peladas".

c) "O campo pode ter poas de lama e a bola estar furada..."

d) "... mas se d para correr e a redonda agenta o tranco..."

O vocbulo sublinhado na frase a pode ser substitudo pelo da frase b e vice-versa, sem prejuzo da mensagem:

Ou nada disso impede o bate-bola.

A falta de espao para o jogo...

O mesmo ocorre nas frases c e d. Isso nos leva a acreditar que jogo e bate-bola, bola e redonda so sinnimos.

[41]Contudo essa verdade relativa, porque:

a) jogo e bate-bola s so sinnimos em determinados contextos. Uma partida em que duas selees disputam um ttulo um jogo, mas no um bate-bola, a no ser ironicamente;

b) uma bola de fato redonda, mas nem toda coisa redonda uma bola.

Conclui-se que - embora no existam sinnimos perfeitos - h uma relao sinonmica entre os termos.

3 SINONMIA E HIPONMIA

Pode-se considerar a sinonmia sob duas acepes

a) dois termos so considerados sinnimos quando um pode substituir o outro em um determinado enunciado;

b) dois termos so considerados sinnimos quando so intercambiveis em todos os contextos. Com base neste conceito, pode-se dizer que no existem verdadeiros sinnimos.

A sinonmia pode ser considerada uma hiponmia simtrica.

A hiponmia (FAULSTICH. Enlde L de J. Lexicologia: a linguagem do noticirio policial Brasilia, Belo Horizonte, 1980) deve ser entendida como relao de incluso de significados das unidades em questo, assim que o subconjunto (assassino, matador, pistoleiro, carrasco, bandido, celerado) est [42] incluso no conjunto criminoso. Donde, todo matador um criminoso, mas nem todo criminoso um matador.

A hiponmia propriamente dita se define por uma relao de implicao unilateral, assim que se um objeto esverdeado pode-se entender que esse objeto seja verde, mas se o objeto verde no se diz que ele esverdeado.

Devido a essa relao de implicao unilateral a hiponmia assimtrica.

No entanto, quando a relao entre os termos concebida como uma relao recproca, a hiponmia simtrica e, neste caso, as unidades em questo so chamadas de sinnimos.

Em determinado contexto, onde bate-bola igual a jogo e jogo igual a bate-bola a relao entre os termos recproca, logo sinonmica.

Para melhor compreenso dos conceitos de sinonmia e de hiponmia ler ILARI,

Rodolfo - GERALDI, Joo W. /Semntica S. Paulo, tica, 1985, cap. 4.

Treine: No texto abaixo, substitua os termos sublinhados por outros, estabelecendo, assim, relao sinonmica.

Os efeitos econmicos da propaganda

O uso da influncia nas relaes comerciais um dos atributos de uma economia livre. Por isso, a tica da propaganda a tica da influncia nas relaes entre vendedor e comprador.

Em um sistema competitivo, onde numerosos vendedores concorrem pela preferncia dos compradores, a tica legitima [43] para o vendedor a mesma que a do advogado; em outras palavras, o ponto de vista viciado do vendedor no necessariamente antitico.

medida que a propaganda e a venda agressiva se desenvolvem, os padres ticos que pautam o seu uso evoluem numa base pragmtica. Nessa evoluo pragmtica dos padres ticos, de propaganda, certas prticas passaram a ser encaradas como abusos suficientemente srios para serem condenados pela lei, haja vista os chamados "estatutos de propaganda" sancionados em 25 Estados dos EUA com o apoio da prpria classe (BORDEN, N H. em COHN, Gabriel (org.) Comunicao e industria cultural. S. Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1978, p. 201-202).4. ESTRUTURA DE VOCBULO EM CAMPO LEXICAL

Leia o texto seguinte para proceder sua estruturao em campo lexical.

Encontro com o menino branco

Ao som dos passos de Guaci, o menino levantou o rosto.

E Guaci percebeu ento que no era um indiozinho como ele, mas sim um menino branco. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos azuis como a cor do cu.

Foi a primeira vez que Guaci viu um branco e seu espanto foi grande. O menino branco tambm se assustou ao ver aparecer na mata aquele indiozinho alto para seus nove anos, o corpo moreno coberto apenas por uma tanga. Suas mos fortes seguravam o arco e as flechas.

Um gemido de dor escapou dos lbios do menino branco; Guaci, compadecido, ajoelhou-se a seus ps e s ento reparou que a perna do menino estava sangrando. Parecia mordida de cobra.

O indiozinho aproximou a boca daquela pele branca. Num instante ele chupou o veneno Injetado pela cobra no pobre menino e cuspiu fora o sangue.

[44]Seus olhos brilharam de alegria! Ele tinha salvo uma vida!

Tentou falar-lhe na sua linguagem doce, mas o menino nada compreendeu.

Ento, apontando o peito, disse!

- Mim... Guaci.

O menino sorriu e respondeu apontando a Si prprio:

- Mim... Joozinho.

Era o comeo de uma grande amizade!

Mais nada podiam dizer, pois cada um deles falava uma linguagem diferente (NOVAES, GIorinha de Moura. Em PERSUHN, Janice J. Escrevivendo, 5 srie. S. Paulo, Brasil, 1982, p. 121. Este texto (elementar) foi propositalmente escolhido pars a estruturao do campo por duas razes: possui bidimensionalidade transparente, o que facilita didaticamente a tarefa e, apesar do vocabulrio simples (talvez por isso), permite vrias leituras e interpretaes).Procedimentos para estruturar o campo lexical:

a) Lido o texto, investigue qual a palavra-chave que constitui o ncleo da tese defendida pelo autor. Nesse momento surge o arquilexema do campo, que a palavra de significao mais abrangente;

b) liste os lexemas, representados por vocbulos simples, tais como substantivos, adjetivos, verbos e/ou vocbulos agrupados sob a forma de expresses ou oraes cujas partes no podem ser desmembradas sob pena de perderem a significao vocabular;

c) uma vez listados todos os vocbulos, rena-os em pequenos campos de acordo com as relaes de ideias do texto;

[45]d) trace um diagrama arbreo, tomando por base as relaes de incluso - hiponmia - que h entre o arquilexema e o vocbulo subsequente, no sentido vertical (paradigmtico); ao mesmo tempo, abra novo(s) galho(s) sempre que houver relao de equivalncia - sinonmica - entre um lexema e outro, no sentido horizontal (sintagmtico);

e) busque no dicionrio, sempre que necessrio, o significado de vocbulo(s) desconhecido(s), observando a acepo que melhor se coadune ao contexto.

O campo lexical do texto Encontro com o menino branco resultou assim como se v na pgina seguinte.

Campo lexical:

Dessa estruturao conclui-se que:

a) o campo apresenta bidimensionalidade, em primeiro plano, j que as aes se desenvolvem em torno de dois personagens;

b) as idias expostas estruturam-se por meio de relaes de incluso - hiponmia - como "indiozinho e branco so meninos que se encontram"; de equivalncia - sinonmia - como "o espanto do indiozinho foi grande e o menino branco se assustou quando se viram"; de oposio - antonima - como a o indiozinho tentou falar-e na sua linguagem doce, mas o menino nada compreendeu" etc.;

c) a estrutura do texto em campo lexical faculta a apreenso dos contedos bsicos do mesmo e possibilita o entendimento da ideologia subjacente;

[46]CAMPO LEXICAL:

- nota da ledora: grfico com representao de sintagmtico. - fim da nota da ledora.

[47]d) o vocbulo nem sempre se constitui de uma palavra, mas de agrupamento que no pode ser desmembrado, como "gemidos de dor", "comeo de uma grande amizade" etc.

e) possvel interpretar o texto a luz de seu lxico e reescrev-lo dando-lhe nova feio.

Finalmente, sugere-se que o modelo sirva de base para

a) ampliar o conceito de leitura, j que o diagrama possibilita vrias leituras interpretativas;

b) explorar e fixar os conceitos de sinonmia, hiponmia e antonmia

c) planejar e elaborar redaes.

O vocabulrio, quando estudado em corpus especializado, diz-se tcnico.

Vocabulrio tcnico aquele em que os termos identificam uma atividade especfica. Assim sendo, reconhece-se que um texto pertence a uma determinada rea grupo profissional - pela significao que os vocbulos possuem ou adquirem nele. O conjunto de tais vocbulos constitui a linguagem tcnica ou especial.

A linguagem tcnica ou especial caracteriza-se por introduzir inovaes e apropriar-se de modo peculiar de outros termos da linguagem comum ou geral.

As modificaes que um grupo scio-profissional introduz na lngua so chamadas de jargo.

Leia o texto seguinte, destaque os vocbulos considerados tcnicos e diga a que rea profissional pertencem.

[48]A queda na produo de automveis e pneumticos para automveis foi a principal causa do declnio de 8,4 por cento do setor de bens de consumo durveis, enquanto antibiticos e vitaminas contriburam para que o setor e bens consumo no durveis registrasse um pequeno crescimento de 0,2 por cento (Em O Globo 02/03/1981).5. EXATIDO E ADEQUAO VOCABULAR

A escolha cuidadosa de palavras, para que os termos adquiram propriedade, torna a frase mais logicamente construda e, consequentemente, o texto se compe de maneira concatenada, objetiva e clara porque:

Um texto um conjunto de elementos: conjunto de um ou mais pargrafos conjunto de uma ou mais frases compondo pargrafos conjunto de uma ou mais palavras compondo frases.

Um texto um conjunto de relaes:

ligando pargrafos

ligando uma ou mais frases em pargrafos

ligando uma ou mais palavras em frases (STARLING Jos Nogueira NASCIMENTO MiIton MOREIRA Samuel Lngua Portuguesa teoria e prtica, Belo Horizonte, Viglia, 1978, p.114).Um texto , portanto, um conjunto de elementos e um conjunto de relaes que cria um contexto - uma situao global.

E o contexto que d significao aos elementos. E no contexto que palavras, frases e pargrafos ganham importncia e significao.

[49]IV Produo do texto: a dissertao

H trs tcnicas de redao: a descrio, a narrao e a dissertao. Elas podem vir misturadas em um mesmo texto mas, geralmente, uma delas se sobressai.

A descrio a pintura animada e, por isso, tem que ser viva: deve fazer aluso vida por meio, da imagem sensvel e do detalhe material.

J em uma narrao conta(m)-se um ou vrios fatos. A narrao pode ser composta de uma cena complexa e tambm de um encadeamento de cenas.

Enquanto a descrio est mais voltada para o que exterior, a narrao um recurso para se escrever sobre o que mais interior, indo alm das aes, contando fatos em que intervm pessoas. Narrar dizer que algum faz algo num certo tempo e lugar.

A partir de ento, vamos estudar mais detalhadamente o texto dissertativo, por isso a descrio e a narrao foram apenas citadas como tcnicas redacionais.

[50]No h uma receita infalvel na produo de textos dissertativos. Apresentamos, pois, sugestes de atividades que podem ajudar na criao de mensagens dissertativas.

Dissertao expor, explanar ou ainda explicar ideias. Na dissertao expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de determinado assunto.

Assim como a descrio e a narrao, a dissertao tambm deve ser planejada, para que se obtenha um trabalho preciso, claro, coerente.

Imagine-se tendo de redigir uma dissertao sobre o menor abandonado. Voc dever proceder da seguinte maneira:

a) anote suas ideias sobre o assunto;

b) se suas ideias so poucas, pesquise sobre o assunto: busque dados estatsticos, testemunhos, definies etc.; ao fim dessa pesquisa, voc ter muitas outras ideias;

c) delimite bem seu objetivo:

- qual a tese ou o ponto de vista que voc quer defender?

- de que ngulo, de que perspectiva quer tratar o assunto?

Respondendo a essas perguntas voc estar definindo o tema do seu texto.

Complete o espao seguinte com o ponto de vista que voc defender. O que quero dizer sobre o menor abandonado pode ser sintetizado na seguinte frase:

[51]Voc tem uma lista de ideias anotadas; dessas ideias, destaque as mais importantes, isto , aquelas que esto estritamente ligadas ao tema que escolheu. Estas constituiro as sentenas-tpico que fundamentaro o ponto de vista.

Apoie-se nas ideias restantes - ideias secundrias e pormenores - para realar, ilustrar, justificar e comprovar as ideias bsicas. Agindo assim, voc estar organizando o contedo de seu texto.

Atente agora para o fato de que, se, durante uma dissertao, o autor procurar convencer o leitor, formar-lhe a opinio pelas provas com que vai fundamentando suas declaraes, ele ento estar dando traos de verdadeira argumentao a seu texto.

A dissertao tem como propsito principal expor ou explanar, explicar ou interpretar ideias; argumentao visa, sobretudo, a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte.

1. O TEXTO EXPOSITIVO-DISSERTATIVO

Antrtida, um desafio e uma esperana

A Antrtida (A palavra Antrtica originria do grego ntarkitds, pela incluso do prefixo anti (oposto, contrrio, contra) ao termo Arktikds, usado desde a antigidade grega para designar as constelaes da Ursa, significar setenfrional (do norte). A incluso do prefixo anti ao termo termo este que passou para o latim, com o adjetivo rcticus, para Arktiks, compondo o adjetivo Antarkitiks (no latim Antarcticus) passou a significar. Evidentemente, austral, meridional (do sul). No portugus a palavra Antrctida ou, pela nova oriografla, Antrtida, usada para designar o substantivo, com o sufixo ida, por genimos) representa a ltima poro de terra emersa ainda pouco conhecida e explorada. um continente que [52] possui aproximadamente 14 milhes de quilmetros quadrados e que, segundo os gelogos, se originou no Mesozico, separando-se da frica, Austrlia, ndia e Amrica do Sul, possivelmente em razo de gigantescas perturbaes geofsicas

e geolgicas ocorridas naquele perodo. Por aquela poca, a Antrtida ainda no se encontrava nas latitudes atuais, e possua florestas tropicais e fauna abundante, que se foram extingindo lentamente, medida que a regio se deslocava para a posio na qual hoje se encontra, com a chamada deriva dos continentes.

Ao contrrio do rtico, que se compe de enorme massa ocenica congelada, o continente antrtico praticamente construdo por uma imensa massa terrestre, totalmente coberta de gelo, o qual, sem dvida, protege o mistrio das idades que presidiram sua formao e certamente guarda, sob suas espessas camadas, inesgotveis recursos minerais.

A primeira incurso de carter cientfico que se tentou realizar na Antrtida foi a efetuada por Sir James Cook, que a bordo do Resolution executou a primeira viagem de circunavegao em torno daquele continente, entre 1772 e 1775, chegando a atingir a latitude de 71 10'S. Cook nessa viagem demonstrou a continuidade das guas ao redor da Antrtida e desfez a iluso de que a Austrlia se prolongasse em latitudes antrticas, chegando at a duvidar da existncia de um continente no extremo meridional pois no o encontrou nas vrias oportunidades em que cruzou o crculo Polar Antrtico.

No ltimo decnio do sculo XVIII e incio do sculo XIX, as viagens exploratrias oficiais ao continente antrtico foram interrompidas, certamente pela situao poltica com que se defrontava a Europa, desde o incio da Revoluo Francesa at o fim das Guerras Napolenicas. Entretanto, um aspecto importante que possibilitou a descoberta e o conhecimento das regies antrticas, desde a viagem de Cook, foi o ciclo de caa da foca, abundante nos arquiplagos austrais descobertos por essa poca (Shertland e rcadas do Sul).

A segunda metade do sculo XIX foi notvel pela ausncia de continuidade nas atividades polares austrais, tendo havido - continuao da leitura da nota de nmero 20: antigos do tipo Atlntida, Alguns fillogos e outros. Alguns fillogos, entretanto, consideram o termo Antrtida como um espanhotismo, argumentando que, em portugus. A palavra correta seria Antrtica. No presente trabalho ser empregada a palavra por ter sido esta a usada pelo governo em seus decretos sobre o assunto. [53] A penas algumas iniciativas de destaque, como a da Royal Geographical Society, de Londres, que patrocinou, em 1874, a realizao da primeira comisso oceanogrfica, a bordo do Chalienger, mas que no chegou a ser uma expedio antrtica propriamente dita, e a do Imprio AustroHungaro, em 1882-1883, com a realizao do primeiro Ano Polar, no qual tomaram parte 12 pases. Tal descontinuidade deveu-se provavelmente s atividades das potncias europias que, no auge de seu expansionismo mercantilista e colonialista, estavam mais preocupadas com a partilha da frica e sia, na consolidao dos seus imprios coloniais (no caso africano regulamentado pela Ata de Berlim de 1885), do que propriamente com a organizao onerosa de expedies a um continente desconhecido, de acesso excepcionalmente difcil e de duvidoso aproveitamento econmico.

Depois da Primeira Guerra Mundial, que interrompeu por algum tempo as expedies Antrtida, essas passaram a beneficiar-se consideravelmente dos novos avanos tecnolgicos sobretudo a aviao e a radiotelegrafia. A renovao da indstria baleeira, importncia das observaes meteorolgicas para a navegao martima e area e para a climatologia, aliou-se a possibilidade de explorao futura de valiosos recursos minerais. Dentro dessas novas perspectivas que, em 1928, Richard Byrd, da Marinha dos Estados Unidos, com a ajuda financeira de grandes empresrios americanos, organizou uma expedio Antrtida, com o navio City of New York, levando a bordo um avio, com o qual realizou a primeira viagem area sobre aquele continente, sobrevoando inclusive o Plo Sul, em novembro de 1929.

Entre 1929 e 1931, Inglaterra, Austrlia e Nova Zelndia efetuaram operaes conjuntas na regio.

O interesse dos cientistas pelas regies polares levou-os realizao de um segundo Ano Polar, em 1932-1933, decorrido, portanto, meio sculo da realizao do primeiro. Os trabalhos contaram com a participao de 30 naes, mas o Artico foi ainda a finalidade maior desse esforo cientfico global.

Durante a Segunda Guerra Mundial surgiu uma nova problemtica para a regio antrtica: o seu interesse estratgico, quando navios corsrios alemes, no Pacifico Sul, se serviram das ilhas Kergulen como base de reabastecimento. Os ingleses Intensificaram suas atividades na regio e estabeleceram [54], em 1943, estaes meteorolgicas na Costa W da pennsula de Graham. Os Estados Unidos, j anteriormente (1939-1941), tinham iniciado a ocupao permanente com dupla finalidade, tanto cientfica quanto estratgica, estabelecendo bases em pontos explorados por expedies norte-americanas, como em MacMurdo.

Em 1943, a Marinha argentina organizou uma expedio Pennsula Antrtica e s ilhas Shertland e, em 1947, os chilenos estabeleceram a sua primeira base na regio, escolhendo a llha de Greenwich, Shetland do Sul.

Logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial, em 1946, os Estados Unidos realizaram a operao High Jump (Salto Grande), sob o comando do Almirante Byrd, empregando 4.000 homens, embarcados em nove navios, um submarino e um quebra-gelo. Essa operao representou passo importante na explorao antrtica e serviu para renovar o interesse do governo norte-americano pela regio, com uma demonstrao de fora numa poca em que j se delineavam os contornos de Guerra Fria. Posteriormente, entre 1950 e 1952, ocorreu a primeira expedio internacional, da qual participaram a Noruega, Inglaterra e Sucia e, anos mais tarde, no perodo de 01/07/1957 a 31/12/1958, foi realizado um programa cientfico de grande envergadura, com observaes simultneas em todas as reas do mundo, no ramo das cincias da Terra, incluinlo Oceanografia, Meteorologia, Fsica da Alta Atmosfera e Glaciologia. O programa do Ano Geofsico para a Antrtda teve a participao de doze naes: Argentina, Austrlia, Blgica, Chile, Frana, Japo, Nova Zelndia, Noruega, frica do Sul, URSS, Reino Unido e Estados Unidos da Amrica, sendo estas as naes que, no ano de 1959, em Washington, elaboraram o Tratado da Antrtida, firmando o primeiro estatuto jurdico para a regio (BAKKER, Mcio Piragibe Ribeiro de. Revista brasileira de tecnologia. Brasilia 13(3): 4, iun/jul 1982).Estruturalmente, esta dissertao apresenta as seguintes partes:

a) Introduo - onde o autor expe a tese ou ponto de vista que quer defender~

Deve-se evitar que a [55] introduo antecipe o desenvolvimento e a concluso do texto, sendo, por isso, pouco recomendvel que nela se incluam exemplos.

No texto Antrtida, um desafio e uma esperana - o autor defende o seguinte ponto de vista:

A Antrtida representa a ltima poro de terra emersa ainda pouco conhecida e

Explorada..

No primeiro pargrafo, o da Introduo, a tese ou ponto de vista coincide com a sentena-tpico, a qual ser fundamentada por meio das seguintes ideias secundrias:

1. " um continente";

2. "possui aproximadamente 14 milhes de quilmetros quadrados";

3. "segundo os gelogos, se originou no Mesozico";

4. "separando-se da frica, Austrlia, India e Amrica do Sul, possivelmente em razo de gigantescas perturbaes geofsicas e geolgicas ocorridas naquele perodo";

5. "por aquela poca, a Antrtida ainda no se encontrava nas latitudes atuais";

6. "possuia florestas tropicais e fauna abundante";

7. (florestas tropicais e fauna abundante) "se foram extinguindo lentamente";

8. "a regio se deslocava para a posio na qual hoje se encontra, com a chamada deriva dos continentes".

b) Desenvolvimento - comporta as idias que fundamentaro o ponto de vista do autor. A idia-ncleo, apresentada na introduo, normalmente demonstrada no desenvolvimento por meio de idias que provem ou exemplifiquem o dito.

[56]Os pargrafos que compem o desenvolvimento apresentam uma sentena-tpico fundamentada por idias secundrias e estas, por sua vez, pelos pormenores.

O texto em estudo apresenta 9 pargrafos de desenvolvimento. Veja se todos eles apresentam sentena-tpico e idias secundrias.

Estruturalmente, os 9 pargrafos esto formados assim:

2. - sentena-tpico:

"Ao contrrio do rtico, o continente antrtico praticamente constitudo por uma imensa massa terrestre...

Ideias secundrias:

1. "(O rtico) que se compe de enorme massa oceanica congelada";

2. "(massa terrestre) totalmente coberta de gelo;

3. "(gelo) o qual protege o mistrio das idades";

4. (idades) "que presidiram sua formao";

5. "e guarda inesgotveis recursos minerais".

3. - sentena-tpico:

"A primeira incurso de carter cientfico que se tentou realizar na Antrtida foi efetuada por Sir James Cook..."

Ideias secundrias:

1. (James Cook) "que a bordo do Resolution executou a primeira viagem de circunavegao em torno daquele continente";

[57]2. (Resolution) "chegou a atingir a latitude de 71010'S.

Continue:

4 - sentena-tpico: transcreva-a:

Ideias secundrias: transcreva-as:

Continue o exerccio, dessa forma que se pode apreender as ideias expostas pelo autor, entend-las e, em consequncia, aprender a redigir corretamente novos textos.

Voc percebeu que h dois pargrafos, no texto analisado, que no apresentam a binariedade necessria para serem considerados pargrafos bem estruturados; estes pargrafos - 7 e o 10 - so, por isso, considerados de transio, quer dizer, aqueles que servem para estabelecer um elo entre a idia anterior - seguinte.

c) Concluso - apresenta uma sntese da Introduo e Desenvolvimento. E o fecho do trabalho dissertativo e deve ser objetiva e clara.

O(s) pargrafo(s) que contm(m) a concluso tambm pode (m) apresentar sentena-tpico e idias secundrias, ou, ento, somente a sentena-tpico.

[58] A concluso do texto "Antrtida a seguinte:

Sentena-tpico.'

"Logo aps o trmino da Segunda Guerra Mundial, em 1946, os Estados Unidos realizaram a operao High Jump (Salto Grande), sob o comando do almirante Byrd, empregando 4.000 homens, embarcados em nove navios, um submarino e um quebra-gelo".

Escreva, agora, onde comea e onde termina cada ideia secundria desse pargrafo:

2. O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

A Antrtida representa o cenrio do maior projeto cientfico internacional da histria da humanidade. Para um pas como o Brasil, ainda importador de tecnologia e de pouca tradio cientfica, O Projeto Antrtico Brasileiro poder constituir-se no grande salto do pas no caminho do seu desenvolvimento cientfico e tecnolgico, medida que se puder acionar com a rapidez necessria e motivao correspondente o enorme potencial existente nas instituies cientficas do pais e nas suas universidades. As cincias, que se desenvolvem no continente antrtico, as chamadas Cincias da Terra, por se preocuparem prioritariamente com o conhecimento do planeta e da vida nele existente, tm empolgado a juventude universitria brasileira e aparecem como um novo leque de opes a atrair a mocidade estudantil, quase sempre dirigida para as cincias mecnicas e scio-econmicas.

Sem dvida, a presena brasileira na Antrtida ir requerer a superao prvia de inmeros bices, especialmente para o Brasil, pas sem nenhuma tradio polar.

O fator humano, por exemplo, tem sido uma fonte de preocupao. As necessidades de pessoal especializado ocorrem tanto nos campos de pesquisa, quanto nos de apoio. De outra parte, ser necessrio [59] integrar o Proantar, isto , compatibiliz-lo com os vrios projetos cientficos que esto em andamento na Antrtida, muitos deles iniciados durante o Ano Geofisico Internacional (AGI) - Isto ir requerer um estudo detalhado desses projetos, alm de uma anlise criteriosa de tudo o que o se processou cientificamente na Antrtida desde a realizao do AGI. Somente dessa maneira que o Proantar poder ser reconhecido, como de interesse para a Antrtida e, consequentemente, a pesquisa nele programada, uma vez realizada, possa ser qualificada de substancial.

Outra grande dificuldade que as expedies brasileiras iro enfrentar refere-se ao meio ambiente natural antrtico, que bastante adverso, no s pelas condies extremas que apresenta para a vida humana, como tambm pela rapidez com que, muitas vezes, os parmetros ambientais variam. Afinal, essas dificuldades existem e, certamente, sero contornadas ou superadas pelo Brasil, como o foram pelos pases pertencentes ao "Clube Antrtico".

Um pais com a importncia poltica do Brasil, com a projeo econmica que j alcanou e com a influncia cultural que tem transcendido as suas fronteiras, no poder permanecer em uma posio caudatria em cincia e tecnologia. O Projeto Antrtico, indubitavelmente, constituir urna grande oportunidade para a nao se projetar cientificamente.

O Brasil no ir para a Antrtda fazer reivindicaes territoriais posteriores. Ciente de seus interesses e das responsabilidades que assumiu como signatrio do tratado, o Brasil pretende apenas integrar-se na grande comunidade antrtica, com a humildade de quem, at ento, representou o grande omisso, para fazer cincia e consequentemente participar dos destinos daquela regio, que constitui a ltima grande poro de terra emersa em todo o planeta e onde uma nova experincia de convivncia internacional est sendo experimentada.

Todas as naes tm seus problemas, inclusive aquelas que desenvolvem atividades no continente antrtico. Mas, nem por isso, elas pretendem abdicar de seus interesses naquele continente Sabe-se que o Brasil tem problemas, e muitos. Mas no pode interiorizar-se e deixar de pensar no futuro. Existem compromissos com as novas geraes e h que pensar no ano 2000. A Antrtida futuro. Debruado sobre o [60] Atlntico Sul, o Brasil precisa retomar sua vocao martima e caminhar para Leste e para as regies austrais, como outrora fizeram seus antepassados lusos (BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de., op. cit., p. 20-21.).Estruturalmente, este texto argumentativo apresenta as seguintes partes:

a) Proposio - a declarao, tese ou opinio firmada do autor.

No texto, a proposio :

"Para um pas como o Brasil, ainda importador de tecnologia e de pouca tradio cientfica, o Projeto Antrtico Brasileiro poder constituir-se no grande salto do pas no caminho do seu desenvolvimento cientfico e tecnolgico, medida que se puder acionar com a rapidez necessria e motivao correspondente o enorme potencial existente nas instituies cientficas do pais e nas suas universidades".

b) Concordncia parcial - so dados argumentativos que fundamentam a tese.

So concordncias parciais, no texto:

1. " as Cincias da Terra (...) aparecem como um novo leque de opes a atrair a mocidade estudantil, quase sempre dirigida para as cincias mecnicas e scio-econmicas";

2. "... a presena brasileira na Antrtida ir requerer a superao prvia de inmeros bices..."

3. ... ser necessrio integrar o Proantar, isto , compatibiliz-lo com os vrios projetos cientficos que esto em andamento na Antrtida..."

[61]4. "... Isto ir requerer um estudo detalhado desses projetos, alm de uma anlise criteriosa de tudo o que se processou cientificamente na Antrtida..."

5. "... as expedies brasileiras iro enfrentar dificuldades referentes ao meio ambiente natural antrtico, que bastante adverso...

6. "Um pas com a importncia poltica do Brasil, com a projeo econmica que j alcanou e com a influncia cultural que tem transcendido as suas fronteiras, no poder permanecer em uma posio caudatria em cincia e tecnologia".

c) Contestao ou refutao - trata-se de uma contra-argumentao tese inicialmente apresentada; tem carter adversativo, podendo aparecer (ou no) explicitamente as conjunes adversativas.

No texto, refutao:

"O Brasil no ir para a Antrtida fazer reivindicaes territoriais posteriores, ....) pretende apenas integrar-se na grande comunidade antrtica.

d) Concluso - tem por finalidade explicitar em termos claros a essncia do trabalho. E a sntese de uma tese coerentemente argumentada.

A concluso do texto :

"Todas as naes tm seus problemas (...) [mas] a Antrtida futuro. Debruado sobre o Atlntico Sul, o Brasil precisa retomar sua vocao martima e caminhar para Leste e para as regies austrais, como outrora fizeram seus antepassados lusos".

[62]Segundo Whitaker Penteado (PENTEADO, Jos Roberto Whitaker. A tcnica da comunicao humana. S. Paulo, Pioneira, 1980, p. 233 242) "Argumentar discutir mas, principalmente, raciocinar, deduzir e concluir. A argumentao deve ser construtiva na finalidade, cooperativa em esprito e socialmente til".

Algumas vantagens da argumentao:

a) um meio de criar hipteses e experimentar concluses;

b) uma tcnica de emitir argumentos e opinies, com o objetivo de defender uma determinada posio;

c) um processo de anlise e crtica de todos os meios de intercmbio de opinies.

Definies e elementos da argumentao:

Argumentao a arte de influenciar os outros por meio da evidncia e da lgica.

Elementos argumentao:

a) A EVIDNCIA: uma certeza manifesta

H quatro tipos de evidncia:

1. Fatos - so acontecimentos; o que real. Para uma argumentao ser correta e objetiva, indispensvel considerar os fatos como evidentes. Um fato evidente quando observvel e comprovvel. A propaganda, por ser poderosa e evidente, um fato inegvel. Ex.:

Visto, lido e ouvido

Os desastres de moto no Brasil esto matando mais do que cncer e corao juntos. Este o resultado de estudos realizados [63] na Universidade de Minas Gerais. O principal culpado ainda a propaganda, que mostra a moto, no como um veculo para o transporte, mas para disputa de emoes que nem todo mundo pode viver no dia-a-dia. Uma publicidade mais sensata traria melhores resultados s fbricas e opinio pblica (CUNHA, Ari. Em Correio brasiliense, 26/08/1983).2. Exemplos - justificam um fato suficientemente representativo de determinada espcie de situaes, de objetos ou ocorrncias. Ex.:

Crianas carenciadas

A ausncia da relao materno-filial denomina-se "privao materna". Este um termo muito amplo que compreende vrias situaes. Assim, por exemplo, considera-se "privada" a criana que vive no mesmo lar que a me e est se mostra incapaz do amoroso cuidado de que a infncia necessita. Da mesma forma, considera-se "privada" a criana que por qualquer motivo esteja separada geograficamente do cuidado materno. O efeito de tal privao resultar relativamente leve se a criana for atendida por algum que a acarinhe e ria qual confie; pode, porm, ser grave se a me substituta, embora amvel, lhe forestranlia. No obstante, essas providncias proporcionam alguma satisfao e constituem, portanto, exemplos de privao parcial (SPITZ. Em OLIVEIRA. M. E. M. - SAN~MARTIN. M. R. -GIACOMOZZI, G. Universitria. Taubate. Grupo de pesquisa em lingustica e matemtica, 1950, vol 4, p. 310).3. Estatsticas - cobrem enorme variedade de aspectos de um problema por meio de forma numrica simples, compreensiva, de notvel fora e conciso. Ex.:

No Paraba o lixo de 40 cidades

Os problemas do Paraba h vrios anos preocupam as autoridades, mas, na verdade, todas as providncias no passaram de paliativo"' ou promessas no cumpridas. Agora anuncia-se que at o final do ano que vem um modelo matemtico [64] repetir em centros experimentais todas as condies do rio, indicando suas solues. Mas isso poder ser adotado tarde demais: at o final de 76 a populao do Vale ter crescido mais de 12%, as indstrias 7% e a entrada em funcionamento da Refinaria de So Jos dos Campos atrair para suas margens complexos petroquimicos e siderrgicos e a duplicao da Companhia Siderrgica Nacional, cujas consequncias demogrficas e poluidoras so realmente imprevisveis (BARBOSA, Eduardo. Em OUVEIRA, M. H. M. et ali., op. cit., vol. 2, p. 132).4. Testemunhos - so demonstraes do poder da presena humana nos momentos em que se decide entre duas evidncias que se chocam. Ex.:

A natureza humana luz da psicanlise

Os crticos da anlise dizem que no h prova cientifica de que o tratamento funcione, e os analistas concordam que o tipo de ganho feito na anlise no pode ser medido em laboratrio. "A validade da psicanlise pode ser demonstrada convidando-se um antigo paciente a falar sobre como era antes e depois", disse o Dr. Albert J. Solnit, analista que dirige o Centro de Estudos da Criana em Yale.

De fato, muitos pacientes relatam que a viso de si mesmo e do mundo transformou-se (Em OLIVEIRA, M. E. M. eI ali., ap. cit., p. 212).b) A LGICA: coerncia e raciocnio

Raciocinar fazer uso da razo para conhecer e julgar a reao das Coisas: o processo de extrair inferncias de fatos, exemplos, estatsticas e testemunhos.1. Voc v um rapaz de "smooking" noite em Copacabana;

2. voc infere que ele est a caminho de uma festa.

[65]1. Voc v um carro parado na pista, com um tringulo vermelho exposto;

2. voc infere que o carro est enguiado.

Ver ou ler colher imagens ou informaes. Inferir raciocinar - um processo de inteligncia, uma tcnica mental.

Para argumentar necessrio refutar as idias do opositor por meio de contra-argumentos, assim:

1. Procure refutar o argumento que lhe parece mais forte; comece por ele;

2. procure atacar os pontos fracos da argumentao contrria;

3. escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrrio do que afirma seu opositor;

4. aceite os fatos, mas demonstre que foram mal interpretados;

5. ataque a fonte na qual se basearam os argumentos do seu opositor;

6. cite outros exemplos semelhantes que provem exatamente o contrrio dos argumentos que lhe so apresentados pelo opositor;

7. analise cuidadosamente os argumentos contrrios, dissecando-os para revelar as falsidades que contm (Contedo baseado em PENTEADO, Jos Roberto Whitaker, op cit).Para o planejamento de um texto dissertativo voc deve saber que na introduo de uma dissertao poder valer-se de uma frase, de um pargrafo e mesmo de mais de um pargrafo. O essencial que a introduo:

1. desperte o interesse do leitor;

2. indique ou sugira o tema que ser desenvolvido;

3 conduza o leitor ao desenvolvimento do tema.

[66]H vrios tipos de introduo. Alguns redatores colocam imediatamente a ideia bsica e vo direto a seu desenvolvimento. Outros apresentam algum material importante para o desenvolvimento, definindo termos, situando o problema ou mesmo apresentando algum relato ou pensamento importante no desenvolvimento do tema. Outros fazem perguntas que sero respondidas na extenso do texto. Outros, ainda, chegam a apresentar o plano de tratamento do tema.

O importante que a introduo apresente, implcita ou explicitamente, a ideia central do texto, a transio para a segunda parte, o desenvolvimento.

Tambm no desenvolvimento de seu tema voc dever estar atento ao leitor. Este dever, no que concerne significao do contedo:

1. identificar facilmente a(s) ideia(s) bsica(s);

2. identificar facilmente as ideias que explicitam, que fundamentam, que apoiam as ideias bsicas;

3. perceber facilmente as relaes entre as ideias, dentro do texto.

No que se refere organizao, sntese, expresso, o leitor dever encontrar:

1. oraes sintaticamente bem formadas;

2. oraes adequadamente relacionadas na composio dos perodos;

3. perodos claramente relacionados na constituio dos pargrafos;

4. pargrafos coerentemente relacionados no plano de desenvolvimento.

Assim voc dever ter sempre em mente a formulao de sua tese, de seu ponto de vista, procurando [67] os meios adequados para desenvolver suas ideias bsicas. Dever pensar nos esquemas estruturais que vai adotar (sntese-anlise-sntese, por exemplo) nos recursos de que vai se valer. Dever ligar adequadamente as informaes que apresenta. Seu leitor dever estar sempre atento (s) ideia(s) centra(is). O desenvolvimento dever decorrer da introduo e dever preparar a concluso.

No trabalho de relacionar oraes nos perodos, perodos nos pargrafos, pargrafos nas partes e partes no todo do texto voc j sabe que tem nas palavras das classes relacionais (preposies e conjunes), nos morfemas gramaticais (pronomes adjetivos e advrbios) e nas outras palavras de referncia excelente instrumento. O rigor dessas ligaes vai determinar, por exemplo, a distribuio das informaes nos pargrafos.

Na concluso de um texto dissertativo voc poder valer-se de uma frase, de um pargrafo e mesmo de mais de um pargrafo. A concluso dever decorrer logicamente do desenvolvimento, ser significativa dentro do texto (isto , no deve ser dispensvel). Voc dever deixar no leitor a impresso de que disse tudo o que tinha para dizer, e mais, que disse tudo o que queria dizer.

H muitas maneiras de concluir um texto. Voc poder, por exemplo:

1. retomar a idia central, apresentando-a de maneira significativa em outras palavras;

2. sumariar os pontos essenciais desenvolvidos nos pargrafos da segunda parte;

3. enfatizar o significado de alguns pontos de vista do texto;

[68]4. fechar o texto com uma histria, uma citao que enfatize seus propsitos;

5. formular perguntas, deixando o tema em aberto para outras consideraes.

Exercite o que aprendeu:

a) Escreva um pargrafo dissertativo sobre um jogo de futebol a que voc tenha assistido ou ouvido pelo rdio ou sobre algum comentrio que voc tenha lido no jornal.

b) Faa uma dissertao com cinco pargrafos sobre um tema histrico (Independncia do Brasil, Proclamao da Repblica, Descobrimento da Amrica, Revoluo Francesa etc.). Procure definir o tema, ler sobre ele. Trace um plano, faa o rascunho e depois redija. No se esquea do ttulo.

3. RECURSOS APROPRIADOS PARA A ELABORAAO DO TEXTO DISSERTATIVO

No trabalho de organizao do texto dissertativo voc poder valer-se de vrios recursos, tais como:

3.1. Analogia;

3.2. Oposio ou contraste;

3.3. Testemunho;

3.4. Definio;

3.5. Ilustrao;

3.6. Comparao.

Em um texto esses recursos talvez apaream combinados, podendo ser identificados, apenas, em nvel de pargrafos. Contudo, se a inteno do [69] escritor pr em evidncia, no texto, um desses recursos, deve, ao planejar as ideias, fazer com que o escolhido seja uma constante nos vrios pargrafos.

Identifique, nos exemplos a seguir, cada um desses recursos:

3.1. Analogia

O texto analgico aquele que, para facilitar a compreenso do assunto, estruturado de modo a explicar algo desconhecido por meio de algo conhecido ou algo no-familiar por meio de algo familiar. Ex.:

A jaula

O homem vive em sua jaula. A jaula no uma casa, um apartamento, um escritrio, um quarto de hotel de luxo ou de penso barata. A jaula o prprio homem. Exigua ou ampla, pouco importa: jaula. E nela vivem, em estranha promiscuidade, as mais sanguinrias feras, as serpentes mais venenosas, os batrquios mais repugnantes, ao lado dos animais domsticos, os pssaros canoros, as aves da mais bela plumagem, os insetos mais deslumbrantes. O tigre e o chacal, o co e o gato, o pavo e a andorinha, o beija.flor e o rouxinol, a borboleta e a mosca caseira, a cascavel e a pomba-rola, toda a arca de No, em suma, cabe nessa jaula secreta e obscura, que a alma humana.

Poderamos chamar os habitantes desse jardim-zoolgico de instintos, sentimentos, emoes. H instintos perigosos que dormitam a vida inteira, no chegam a praticar nenhum ato violento ou repulsivo, mas, s vezes, abrem um olho sonolento, rosnam surdamente e recaem em sua letargia. So lees rugindo, os lobos uivando.

Mais comum ver-se o pavo abrir sua cauda em leque, dando um "show" multicolorido de vaidade, ou o papagaio fazer um discurso incoerente, repetindo fragmentos de 'sabedoria decorada, sem saber o que diz. ~ meio ridculo talvez, mas inofensivo.

[70]Bela a jaula-viveiro, cheia de gorjeios de pssaros e esvoaar de borboletas, a alma dos puros, dos simples, dos amenos, encanto da vida, flor miraculosa da criao. Mas no se iludam: mesmo nestas, h sempre um tigre adormecido, ou uma serpente sonhando. O importante no despert-lo (Em O Estado de So Paulo, de 02/07/1974. Apud STARLING. Jos Nogueira ct et alii, op. cit).3. 2. Oposio ou contraste

Um texto cujo recurso empregado a oposio ou contraste visa a explicar fatos, ideias, comparando-as e apontando-lhes as diferenas. Um texto, estruturado por meio de oposio, pode ser organizado das seguintes maneiras:

a) descreve-se o elemento comparante e, em seguida, os elementos comparados, apontando os contrastes;

b) desenvolvem-se as ideias, comparando-as, ao mesmo tempo, e apontando os contrastes. Ex.:

Reprodutor supimpa

Incrvel a reportagem final do "Fantstico" de domingo com Joo Domingos de

Arajo.

Curioso o paralelismo de vivncias proporcionado pela reportagem. Primeiro apareceu um "aplicador da lei": ar severo, cara dura, um culos enorme a simbolizar as mil represses que a vida lhe imps. Citou artigos, cdigos, pargrafos, princpios morais. Era a figura da rigidez, do "no", da iluso moralista das chamadas classes dominantes. Um homem srio e de bem, isso inobjetvel! Mas de certa forma a representao da antivida: a que se codificou.

De outro lado, a figura do Joo Domingos, 65 filhos, rvore cheia de sementes que, soltas no ar, muito fecundaram. Talvez fora da lei certinha dos homens ou fora da mora! convencional. Talvez responsvel por colocar no mundo gente [71] que no poder criar, atender, amparar, no por culpa prpria, mas por causa de haver misria. Porm nele estuavam: sabedoria, alegria natural, sagacidade disfarada. energia vital, simpatia, sade, disposio, certeza de que o mundo feito de mistrios demais para que a vida seja uma sucesso de proibies e

"no podes" e "no deves". Adorvel pecador! A representao da vida em suas contradies. Mas vida vivida! Com integridade, sade e disposio. As sementes so soltas para a festa permanente da fecundao, Fecundam onde possvel e h condies (TVOLA. Arthur. Em O Globo, 23/04/1980.).3- 3. Testemunho

Um texto que tenha como recurso o testemunho apresenta citaes de opinies ou de julgamentos de especialistas, de pensadores, de estudiosos de um assunto que nos tenham legado sua experincia. O testemunho pode confirmar ou contrariar uma opinio que esteja sendo desenvolvida. Ex.:

Pombos tm "bssola" no organismo

A capacidade de orientao dos pombos durante o voo se deve existncia, em seu organismo, de cristais de magnetite, a mesma substncia utilizada na fabricao das primeiras bssolas. Esta surpreendente revelao foi feita recentemente por um grupo de cientistas americanos que encontraram vestgios de magnetite no organismo dos pombos.

Muitos cientistas, porm, acham que os testes realizados no foram suficientemente convincentes e reconhecem que o homem ainda no conseguiu explicar de forma definitiva o que d aos pssaros essa capacidade de orientao do durante o voo.

Segundo os cientistas, isso pode estar ligado a vrios fatores, entre os quais a direo do sol. Experincias realizadas recentemente demonstraram que os pssaros submetidos a um pr de sol artificial, dentro de um ambiente fechado, oito horas antes do verdadeiro poente, ao serem soltos, ficam desorientados e no encontram seus ninhos.

[72]No entanto, dizem os cientistas, os pssaros se utilizam de outros instrumentos para sua orientao, do contrrio no conseguiriam encontrar o ninho durante a noite.

Outro fator de orientao dos pssaros que est sendo estudado so os sons de baixa frequncia que, segundo os cientistas, so captados pelos pombos. De acordo com os cientistas, esses pssaros utilizam sua habilidade de captar sons de baixa frequncia para detectar sons caractersticos do lugar onde se encontra seu ninho e assim conseguem orientar seu voo.

Depois que foram encontrados vestgios de magnetite no organismo dos pombos, os cientistas realizaram testes para tentar estabelecer at que ponto esses pssaros reagem de modo semelhante a uma bssola e essas pesquisas mostraram alguns resultados incrveis.

Quando soltos em locais onde h as chamadas "anomalias magnticas" variaes naturais do campo magntico da terra - Os pombos, exatamente como as bssolas, perdiam seu senso de direo.

Apesar dessa prova, alguns cientistas ainda duvidam de que os pombos carreguem verdadeiras bssolas em seu organismo e alegam que outras variaes, como a direo dos ventos ou a presso baromtrica, podem ter perturbado os pssaros durante os testes (Em O Globo 10/06/1980.).3.4. Definio

A definio, como recurso para a elaborao de textos, exige que o redator se valha de outros recursos para compor o produto final. Assim sendo, a ilustrao, a comparao, o contraste ou a analogia so recursos que subsidiam um texto estruturado por meio da definio.

O que faz com que ela possa ser considerada um recurso que todas as ideias convergem para responder pergunta: "O que isso significa?"

[73]Pode-se comear pela definio da palavra-chave do tema, por sua etimologia, por sua acepo vulgar, por sua acepo tcnica, ou pode-se explorar sua ambiguidade. Ex.:

Ser que existe um branco mais branco do que o branco?

Quem anda assistindo a televiso, verifique que dois sabes em p esto fartamente anunciados no vdeo: o indefectvel "Omo" e o "Viva", marca mais recente e que vai ver da mesma empresa multinacional do Omo, pois como o leitor sabe, uma das estratgias de "marketing" de certos produtos forar uma outra marca "concorrente", que pertence ao mesmo fabricante

O problema da concorrncia do "Omo" com o "Viva" refere-se ao grau do branco.

O estudo de Roland Barthes mostra como faz parte da estratgia publicitria dos sabes em p atribuir certas propriedades, digamos "adjetivas", ao branco. (...)

Sim, se algum definir o branco vai dizer ser ele um estado de total reverberao de luz. O estado de brancura j , em si, um estado total. O branco um extremo da escala cromtica. O estado de branco j indica uma plenitude. Nada h de branco, alm do branco.

Pois a publicidade descobriu, vejam s, o branco mais branco! Depois evoluiu para o branco "total". No satisfeita com tal exaltao do branco adicionou-lhe o "cheirinho de limpeza" (vide a atual propaganda do "Viva") onde "mais branco impossvel". Mas a coisa no parou por ai e quem tem acompanhado a peregrinao daquela "prova da janela" pelo Brasil afora, vai verificar que ao branco "total" do "Orno", uma nova qualificao foi acrescentada: a radiao, pois o anncio atual fala em "branco total radiante". No lhe bastou ser branco (estado, por si, integral); virou branco "total". Mas como branco total poderia ser pouco frente ao "mais branco impossvel com cheirinho de limpeza" do "Viva", eis que surgiu o "branco tota