A Teologia Da Prosperidade Pastor Silas Rahal

  • Upload
    meo1974

  • View
    314

  • Download
    6

Embed Size (px)

Citation preview

A Teologia da Prosperidade

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

1

30/09/2011, 14:24

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

2

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

A Teologia da Prosperidade

OI OSEDITORA

2011

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

3

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal 2011 [email protected]

Editorao: Oikos Capa: Juliana Nascimento Reviso: Rui Bender Arte-final: Jair de Oliveira Carlos Impresso: Rotermund S. A.

Editora Oikos Ltda. Rua Paran, 240 B. Scharlau Caixa Postal 1081 93121-970 So Leopoldo/RS Tel.: (51) 3568.2848 / Fax: 3568.7965 [email protected] www.oikoseditora.com.br

R

Rahal, Silas. A Teologia da Prosperidade / Silas Rahal So Leopoldo: Oikos, 2011. 144 p.; 16 x 23cm. ISBN 978-85-7843-16?-? 1. I. . II. . CDU Catalogao na publicao: Bibliotecria Eliete Mari Doncato Brasil CRB 10/1184

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

4

30/09/2011, 14:24

DEDICATRIA A meu pai Ramis Rahal (in memoriam), minha me Maria da Gloria Farias Rahal, ao irmo Saulo Rahal, que nunca deixaram de acreditar em mim; minha esposa Mnica Rahal eterno amor, s minhas filhas Sofia e Ester Rahal esperanas minhas, presentes de Deus.

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

5

30/09/2011, 14:24

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

6

30/09/2011, 14:24

SUMRIOApresentao ....................................................................................... 9 Introduo ......................................................................................... 11 Captulo 1 Origem ............................................................................................... 23 1.1 Pregadores Norte-Americanos....................................................... 23 1.2 New Thought Metaphysics (Metafsica do Novo Pensamento) ....... 29 1.3 O Livro do Gnesis ....................................................................... 30 Captulo 2 Fundamentos Bblicos e Alegaes ..................................................... 33 2.1 Textos bblicos utilizados pelos pregadores da prosperidade ........... 33 2.2 Resultados prticos da pregao da prosperidade ........................... 34 Captulo 3 Uma Prosperidade Bblica .................................................................. 37 3.1 O Padro Bblico .......................................................................... 37 3.2 Textos Bblicos .............................................................................. 39 3.3 O termo Prosperidade nos dias de Jesus ......................................... 42 Captulo 4 Prosperidade Contempornea ............................................................. 45 4.1 Tradicionais x Neopentecostais ..................................................... 45 4.2 Na sua base como surgiu a Teologia da Prosperidade conforme a conhecemos hoje. A Igreja de Nova Vida do Bispo Roberto MacAlister ....................................................................... 46 4.3 Problemas Eclesiais ....................................................................... 49

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

7

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

Captulo 5 Consideraes da Doutrina Bblica ..................................................... 53 5.1 Simonia: oferecer dinheiro para alcanar favores eclesiais e condio privilegiada .................................................................. 53 5.2 A Posio (parecer) de Gamaliel ................................................... 60 5.3 A Posio de Paulo ....................................................................... 67 Captulo 6 Os Principais Autores ......................................................................... 73 6.1 Edir Macedo ................................................................................. 73 6.2 Kenneth Hagin ............................................................................. 90 6.3 T.L. Osborn .................................................................................. 94 6.4 R.R. Soares ................................................................................. 103 6.5 Pastor Silas Malafaia ................................................................... 112 6.6 Bispo Roberto MacAlister ........................................................... 133 Concluso ........................................................................................ 141 Bibliografia ...................................................................................... 144

8

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

8

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

APRESENTAOO texto que o leitor tem em mos fruto de um trabalho de concluso do curso de Bacharel em Teologia no Instituto Metodista Bennett, onde Silas Rahal foi meu aluno nas disciplinas de Exegese e Teologia do Antigo Testamento. No se trata de um texto puramente acadmico; antes, de uma reflexo permeada por experincias e interpretaes pessoais. O autor oscila entre a piedade crist e o rigor da crtica cientfica. O caminho trilhado til para ajudar o leitor a ter uma compreenso sobre o tema e, alm disso, contribui para perceber o quo profundo e complexo o assunto. No se pode esperar uma anlise estritamente sociolgica ou teolgica do fenmeno, mas perfeitamente vivel mergulhar no tema e descobrir as inquietaes de um estudante de Teologia que descobriu na experincia teologal um modo novo de ver e compreender a realidade e a prpria vida. Um leitor que conhea profissionalmente o assunto poder descobrir lacunas, mas a macia maioria dos cristos que habita as mil e uma denominaes crists no pas ter nestas pginas a chance de refletir diferenciadamente sobre a Teologia da Prosperidade. O livro abre com uma rpida viagem pelos EUA e o padro de pregao dos pastores norte-americanos, que vm difundindo um modo muito particular de ler e pregar a Bblia. Em seguida, compara tal modelo com textos bblicos propriamente ditos. Por fim, analisa o fenmeno das igrejas neopentecostais, seus principais expoentes e seu modus operandi. A experincia de vida do Pastor Silas Rahal e, acima de tudo, seu fecundo ministrio corroboram as proposies deste trabalho. Ajudam a

9

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

9

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

perceber que, com todas as limitaes que estudantes tm para se aprofundar nos estudos teolgicos no Brasil, a Teologia tem se colocado, ainda, como uma opo sria de reinterpretar a Igreja e a sociedade. Enfim, boa leitura! Prof. Dr. Ricardo Lengruber Lobosco Docente de Teologia no Instituto Metodista Bennett Julho de 2011

10

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

10

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

INTRODUOO universo conforme o conhecemos existe h aproximados 15 bilhes de anos (que o ponto mais distante que se pode observar anos-luz), o planeta Terra h 5 bilhes, o ser humano conforme o conhecemos h 200.000 anos, a primeira civilizao de que se tem registro escrito h aproximadamente 20.000 anos antes de Cristo. Estamos aqui h pouco tempo. Fala-se que a primeira comunidade de que se tem conhecimento surgiu em algum lugar ao norte da Africa com aproximadamente 40.000 indivduos. As primeiras civilizaes andavam a p e a cavalo e camelos, comunicavam-se por mensageiros. Hoje somos transportados velocidade superior do som e nos comunicamos por uma frao de segundos de um ponto a outro do planeta ou mesmo fora dele. De fato, houve evoluo em nosso modo e condies de vida. Vendo de uma forma ampla, a Escritura Sagrada nos apresenta um caminho no trato de Deus para com seu povo e para com toda a humanidade a partir de Abrao, sua descendncia, os profetas, Jesus Cristo, os apstolos, sua igreja e assim por diante. Parece-me que o presente momento manifesta o amor (a Deus, ao prximo e a si mesmo). Apresenta ainda outra forma de vida (modalidade) a Bblia, quando profetiza que Deus ser tudo em todos. Resta ainda esse passo na humanidade, a se manifestar a partir desta vida e saltando para uma existncia que est alm dessa modalidade de vida. Outro mundo, como afirma Jesus quando diz que seu reino no era deste. A expectativa esperada e buscada a experincia do amor, quando Jesus est em todos os que o recebem (o grande mistrio este, segundo Paulo apstolo: Cristo em vs). Se a humanidade e o prprio mundo evoluem, afastam-se, esto em movimento, a teologia tambm est. A reflexo sistemtica da f tambm avana. Ora em terrenos ridos, ora em condies mais favorveis. Ser a teologia da prosperidade uma evoluo da teologia? Isso veremos juntos e tentaremos aprender solues e propostas sobre o assunto. Esse processo de entendimento da teologia um processo que no se encerra, mas evolui

11

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

11

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

com toda a festa da existncia humana e com todas as suas catstrofes. Em tudo isso se encontra a manifestao de Deus ao homem. Estas pginas que me proponho a compartilhar no so de forma alguma a pretenso de encerrar tudo o que h para saber sobre a teologia da prosperidade. Eu no possuo tal conhecimento. Apresento em vrios momentos muitas perguntas, mais que respostas, diversas reflexes. Naquilo que for achado certo que eu receba louvor, naquilo que for encontrado imperfeio que possamos juntos encontrar um caminho melhor para essa questo. Encontro-me desde j pronto para receber crticas e opinies, informaes e contribuies que possam auxiliar para que a verdadeira Teologia se manifeste, da qual somos todos estudantes eternos, todos ns que buscamos a face de Deus (antropomorfismo). Eternos, eu disse, mesmo considerando essa existncia, j que cremos que um dia Deus ser tudo em todos, e no haver mais profecia e saber a no ser Deus. Abordar o tema a teologia da prosperidade de certa forma voltar no tempo nos grandes movimentos avivalistas que varreram a Europa e, antes disso, as correntes crists banidas pela igreja romana. Conta as bnos, conta quantas so... diz o corinho antigo. Certamente essa a palavra que nos alcana hoje como consequncia dos conceitos de prosperidade bblica que tanto nos tm abenoado. No podemos por isso nos limitar a contar as bnos, isso seria por demais ingnuo; temos que examinar tambm os erros deste que o maior movimento cristo contemporaneo. Creio que a referncia para a salvao e a vida eterna o amor. Digo salvao e vida eterna, que insurge no tempo presente, na medida que algum salvo do mal que h neste mundo. O mal se manifesta de vrias formas (vcios, pecados, crimes, ganncia, amor ao dinheiro, doenas, tragdias, possesso de demnios, intrigas, invejas, etc...), no conheo a origem do mal nem o seu porqu, mas posso constatar sua existncia. Atravs do amor o ser humano pode ser salvo. Somos salvos da destruio, a que est condenado o ser humano. Somos salvos do mal. O amor se manifesta por meio de Jesus ao mundo e humanidade, antes, durante e aps sua encarnao. Os povos de todos os tempos do nomes a Jesus; ns recebemos seu nome hebraico, que foi aquele dado por seus pais, nome bastante comum na Palestina de seus dias e mesmo antes daquele tempo, cujo referencial anterior era Josu. O nome dado a Jesus no importa tanto assim; saber que atravs dele o amor de Deus alcanou a criao, isso importante.

12

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

12

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

Outros seres humanos foram salvos antes que Jesus encarnasse, e dessa forma no saberiam seu nome; ainda assim creio que foi por meio dEle que foram salvos antes de Ele vir ao mundo, pois o prprio mundo foi feito por meio dEle; essa nossa f. Jesus Deus de Deus, eterno e da mesma essncia que Deus, o prprio Deus, ao mesmo tempo uma pessoa separada do Deus que chamamos Pai e do Deus que chamamos Esprito. So todos o mesmo Deus, da mesma essncia com pessoas distintas. Nas igrejas neopentecostais, uma nova onda surgiu; frequentadores mais antigos comeam a se apoderar de dicionrios bblicos, comentrios e obras teolgicas de consulta rpida, fazendo uso indiscriminado do bisturi teolgico; exibem seus conhecimentos de ocasio a pequenos grupos de crentes. a terra do futebol, onde todos sabem escalar e ordenar o time, melhor que o tcnico. Estudar teologia uma aventura que pode ser valiosa, no significando dizer que no haja perigos; do contrrio, no seria aventura. A teologia pastoral ensinada nas igrejas, denominaes e grupos de estudo sempre valiosa. A teologia acadmica lecionada nas universidades e faculdades de Teologia tambm fundamental para a Igreja. A teologia intermediria bastante perigosa, pois teologia no uma estrada que possa ser percorrida pela metade; preciso completar um ciclo. Por isso no sou a favor de meros estudos teolgicos, desprovidos de propsito e perspectiva. Sou a favor de seminrios confessionais dentro das igrejas e sob a orientao e direo pastoral. Sou a favor do estudo profissional das faculdades. No sou a favor dos estudos descomprometidos que crentes fazem sem propsito em cursos de teologia que levam o nome de faculdade, mas no o so, desprovidos de acompanhamento e conselho pastoral; tais iniciativas so complicadoras e no ajudam ningum a desenvolver uma vida crist equilibrada. O mesmo vem se dando nessas igrejas onde a quase absoluta falta de teologia acadmica (profissional) deixa o seguimento exposto a um infinito ajuntamento de ventos de doutrina. Cada ano so uma ou vrias novidades a que as igrejas neopentecostais aderem aos lotes, como se j no fossem o bastante, as adversidades a que est sujeito aquele que se dispe em seguir a Jesus. Naqueles dias, havia apenas a cruz, a perseguio, o sangue dos mrtires e a mensagem do evangelho de Jesus, pela qual cada um deve carregar sua cruz para alcanar a vida eterna em Jesus Cristo. Talvez a prpria teologia da prosperidade, como a conhecemos hoje, seja mais um desses ventos de doutrina a que se referia o apstolo Paulo,

13

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

13

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

que faz levar os crentes de um lado para outro, como que aoitados. A incrvel falta de suporte teolgico profissional que varre os ministrios neopentecostais pode ser o campo frtil para a instalao dos modismos entre uno dos animais (crentes em xtase imitam animais) e outras incrveis e surpreendentes manifestaes. A teologia da prosperidade uma delas. Os lderes querem adivinhar a teologia ou querem receber a reflexo teolgica elaborada toda pelo Esprito Santo. Tudo valido, menos estudar quatro anos em uma faculdade de teologia. como se o engenheiro quisesse construir prdios de 20 andares sem passar pelo devido processo acadmico, que acumula centenas de anos de conhecimento e pelo qual de forma sistemtica o engenheiro se apodera do mesmo. como se o mdico tivesse que abrir no bisturi o corpo de algum doente, para tateando encontrar o problema. Ferida exposta o resultado, que muitas vezes no se consegue sanar. John Wesley, de quem me fao aluno, a quem dou a honra de um prncipe de pregadores do evangelho de Jesus Cristo, a quem cedo aprendi a amar ao lado de meu pai, o Pastor Ramis Rahal, comissionado da Igreja Metodista do Catete no Rio de Janeiro e mais tarde Pastor da Igreja Metodista Wesleyana, era defensor da existncia de uma classe de pastores e pregadores que ele denominava de leigos. Ao lado de John Wesley, fao coro e aprendo das bnos alcanadas no ministrio leigo, quer seja pelo nmero, quer seja pelo entusiasmo. Entretanto, isso no significa dizer que no exista necessidade do estudo teolgico profissional no corpo da Igreja e na liderana. Aprendendo com Moiss, o primeiro profeta de Israel, temos um homem extremamente versado na cultura de sua poca. Temos ainda, sem ignorar tantos outros que o precederam, o apstolo Paulo, doutor da lei de Deus e da filosofia grega e de todo o conhecimento teolgico judaico de seu tempo. Temos John Wesley, que estudava a Bblia nos originais grego e hebraico. Temos o prprio Bispo Roberto MacAlister, profundo conhecedor de teologia e detentor de vrios ttulos entre mestre e doutor em teologia. Como pode o peixe vivo viver fora da gua fria? Como pode o lder de uma grande denominao deixar de fora de sua vida a teologia profissional e ainda ensinar a seus fiis que no devem estudar a teologia? D no que d. Ventos de doutrina, erros e tragdias nos ministrios, desvios muitas vezes irrecuperveis, nos quais muitas vidas sofrem danos permanentes. Deus d o dom do Esprito Santo e revela sua Palavra ao entendimento humano de forma sobrenatural, eu creio assim. Mas sei tambm que

14

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

14

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

Deus espera que os lderes cristos faam o dever de casa. O dever de casa estudar teologia. Deus nos capacitou com inteligncia; por que no desejaria que utilizssemos para o conhecimento de sua Palavra? onde Jesus diz: Errais no conhecendo o poder e a Palavra de Deus. Ao defender o ministrio teolgico acadmico (de faculdade), no fao qualquer tipo de desmerecimento ou desprezo ao ministrio leigo (no acadmico, pastores que no cursaram seminrio ou faculdade de teologia). Afinal, boa parte dos discpulos de Jesus era em primeira mo homens sem grande conhecimento das letras. No posso por isso deixar de considerar a falta principalmente nas igrejas brasileiras de lderes comprometidos com a boa e rdua teologia acadmica. As vrias religies do mundo desde sempre revelaram certos graus da manifestao divina; essa ideia conhecida como logus espermatikos bastante antiga e j estava presente nos antigos telogos. Jesus em sua mensagem jamais combateu religies e prticas diversas de f, pois sabia que Ele mesmo a fonte de todas as religies. Isso no significa dizer que Jesus era ecumnico; Jesus enquanto homem era judeu desde o incio at o fim de sua jornada de f. O prprio movimento inicial dos seguidores de Jesus era apenas uma seita judaica. Somente mais tarde, a igreja tomou um caminho prprio, mesmo assim a partir de rituais bastante judaicos. A prpria arrumao do templo cristo bastante judaica. Toda religio surge a partir de uma outra e carrega consigo elementos da anterior. No existe religio pura que no advenha de outra prtica. natural dessa forma que tenhamos todos nossas experincias de f prprias pertinentes nossa cultura e entendimento. Isso pode variar de continente a continente, pas a pas, estado a estado, cultura a cultura, tribo a tribo e finalmente de pessoa a pessoa. Nesse mistrio do amor por meio de Jesus, creio assim que somos desde j salvos, ns e todos quantos andarem em amor. S se pode andar em amor atravs de Jesus (reconhecendo ou no seu nome hebraico). A prpria Bblia traz o relato de Abrao, que, sendo pai da f e salvo pela justificao por meio da f, jamais ouviu falar de Jesus, e outros tantos anteriores encarnao de Jesus. Seria ingenuidade nossa pensar que toda a humanidade que desconhece o evangelho, conforme ns o temos (verso ocidental), est condenada. O apstolo Paulo entendeu bem essa noo de salvao em Deus pelo amor, ante a conscincia de cada indivduo, conforme relata em Romanos. Isso no significa pensar em uma salvao univer-

15

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

15

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

sal da humanidade, mas em uma salvao que para todos quantos a receberem por deciso livre e pessoal. Tudo o que pelo amor de Deus e vem de Deus, e Deus amor por Jesus Cristo Nosso Senhor. Anunciar a mensagem de Jesus anunciar a vida eterna. Vida eterna no apenas porque significa viver eternamente, para sempre. Vida eterna por ser vida absoluta, expresso plena de existncia, abundante, vida ao grau mximo do que pode ser. A salvao, que tambm a mensagem de Jesus, a vida eterna, esse tipo de vida mencionada. Essa vida eterna comea e insurge desde agora, quer comear, quer insurgir. No comea no mundo abstrato apenas, mas quer significar mudana at para os mais pobres, e principalmente para esses. Jesus veio para os pobres e depois para os outros. O pobre no deixa de ser pobre necessariamente no que diz respeito a seu dinheiro, mas em seu esprito e na sua forma de pensar. Vida eterna que Jesus oferece no significa riqueza, ouro e prata; pelo contrrio, seu reino no deste mundo. No outro mundo, no h materialidade, pois Deus esprito. Anunciar a salvao de Deus em Jesus Cristo no anunciar a riqueza financeira que poder alcanar aquele que recebe a mensagem de Jesus; no pode haver dvida quanto a isso. Jesus no veio para que ficssemos ricos de dinheiro, mas para que fssemos salvos e pudssemos alcanar a vida eterna. A grandeza da vida eterna no tem a ver simplesmente com viver para sempre, muito menos com tornar-se financeiramente rico. A salvao de Deus em Jesus, que ora anunciamos, no significa to pouco que os pobres tm que permancer pobres no que diz respeito ao aspecto dinheiro para merecer a salvao de Deus. Afinal, Joo que fala em sua carta que deseja que em tudo sejamos bem-sucedidos. No h pecado em desejar ser bem-sucedido no aspecto financeiro da vida. A salvao para todos em Jesus Cristo. A teologia da prosperidade tambm deve ser abordada nessa possibilidade de ser um ato de amor para com a igreja de Deus, por Jesus Cristo. O amor, diz a Escritura Sagrada, apaga multido de transgresses. Devemos julgar tudo e em tudo deixar o amor verdadeiro falar mais alto. A salvao que em ns opera desde j opera pelo amor, por meio de Jesus Cristo de Nazar. Isso deve derrubar os muros das denominaes. Isso deve bastar contra a intolerncia que ns evanglicos temos de ns mesmos. Se o amor no for o suficiente para entendermos a teologia da prosperidade, ento

16

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

16

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

no amor, ento no estamos salvos. Foi pelo amor que Deus entregou seu filho, por amor que somos salvos, desde j, por meio de Jesus Cristo, incio e fim de toda a criao. inegvel que a Bblia inteira de Gnesis a Apocalipse apresenta um projeto de prosperidade, de ser bem-sucedido. Em alguns pontos, mesmo uma garantia dada pela religio do Deus de Israel; em outros, um desejo para si e para o prximo. Geralmente acompanhada de condies de mtua responsabilidade do Deus Jav para seu povo (nessa parte era to somente um benefcio destinado ao povo de Israel) e vice-versa, s vezes contudo desacompanhado de maiores justificativas, se apresenta to somente como um fato da vida que o Criador abenoa de forma absoluta a criatura, mais especialmente aqueles que adotam seus estatutos dados pelos profetas. No h um porqu ontolgico do fato, apenas se apresenta dessa forma. Em outros tempos, um duelo entre a noo de justia relacionada travado com o desconhecimento do motivo do sofrimento humano e do no prosperar, do no ser bem-sucedido, do no ser curado das enfermidades. Ser vitorioso desde sempre associado na Bblia ao ser aprovado por Deus, o estar doente desde sempre associado na Bblia ao estar distante de Deus. Seja como for, indesculpvel aquele que se aproximando da religio bblica quer ignorar a existncia de conceitos de prosperidade em todos os aspectos da vida, alegando como motivo dessa atitude os exageros cometidos. A existncia na Bblia de uma forma relacional de ser bem-sucedido na sade, nas finanas, nas lutas da vida um fato. preciso que haja o resgate do conceito de prosperidade bblica. Talvez nunca em toda a histria do cristianismo uma ideia bblica tenha sido to distorcida, e por consequncia aqueles que assim identificaram a distoro acabaram de um extremo ao outro muitas vezes deixando de ser abenoados por Deus em sua prosperidade e ignorando por medo ou receio aquilo que existe biblicamente sobre o assunto. O viver em vitria tambm foi alvo dessa distoro, uma vez que se insere na teologia da prosperidade; o olhar crtico sobre uma imagem distorcida acaba muitas vezes trazendo novos focos de distoro quando, evitando o triunfalismo, acaba se afastando tambm da vida vitoriosa que h em Cristo, sendo essas duas abordagens bem diferentes. Evitando uma f que em tudo v as possibilidades financeiras, acaba-se de igual maneira deixando de lado uma f que pode todas as coisas. Afinal, a mensagem de Cristo uma mensagem de f. Tratar do assunto teologia da prosperidade

17

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

17

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

mergulhar na alma da sociedade moderna; nunca o mundo esteve to afinado com seu prprio esprito em termos de religio, pois incrivelmente essa abordagem teolgica encontrou o par de sua dana desenfreada, ou digamos ao contrrio, o esprito que move as cidades tenha encontrado seu mate na teologia da prosperidade. Se os homens buscavam justificativa religiosa para o consumo desenfreado e para a destruio da humanidade, acabaram por encontrar mais que isso. Nos continentes mais pobres, crianas so deixadas prpria sorte e, morrendo de fome sem ter o que comer, amargam uma dura morte, dias em que no h sentido para acordar; e tudo isso se desenrola na presena das poderosas naes acalentadas pela teologia da prosperidade em sua pior verso: a capetalista selvagem. Como possvel que os poderosos durmam em paz diante da misria e sofrimentos humanos em toda parte, pais de famlia suspirando de terror ante a viso de suas famlias desamparadas e mesmo cometendo suicdio por no ter o que trazer para seus filhos na noite de Natal, mes se prostituindo para ter com o que alimentar seus filhos, realidades selvticas que subsistem dentro das cidades e fora delas; nada est a salvo. Por trs disso tudo o capitalismo, que na teoria se apresentou to cristo, sendo mesmo segundo Max Weber1 fruto da Reforma Protestante, na prtica completamente desumano e conveniente aos mais ricos e favorecidos. Note que o evangelho veio primeiro para os mais pobres e no para os ricos deste mundo. Interessante que os pobres no receberam o evangelho dos pobres, mas sim o evangelho dos ricos, a teologia da prosperidade. O capitalismo sufoca as massas em sua prxis medida que avana, agora tendo como sustento ideolgico a teologia da prosperidade, que, por sua vez, no apresenta ao homem meios de reverter sua condio de oprimido. Como se isso no bastasse, o capitalismo apresenta seu maior aliado: a teologia da prosperidade. claro que existe uma prosperidade em Deus a se apresentar na vida do homem. Existe mesmo um movimento de f que pode estar identificado aos bens materiais e que vem da palavra de Deus para o homem, mas tudo dentro de um esprito de amor e desinteresse, qual no pode a verdadeira religio ignorar; do contrrio, essa busca no ter encontrado seu fim. No pode a distoro da teologia da prosperidade ce-

1

WEBER, Max. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo. Editora Martin Claret, 2007.

18

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

18

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

gar por medo e desconhecimento que existe um mover de prosperidade para o cristo e para aquele que busca aliana com o Deus da Bblia, aliado f mais genuna no prprio Deus. Talvez o grande ataque de satans seja este: usar a prpria doutrina crist contra a humanidade, tentando legitimar o massacre do indivduo, a desumanizao da sociedade, o capitalismo selvagem (como alguns diriam, o capetalismo selvagem) atravs de teologia da prosperidade distorcida. O presente artigo tem assim o objetivo de abordar o assunto apontando sua origem contempornea, bem como suas razes mais antigas, identificar os exageros e enganos dos pregadores contemporneos, ao mesmo tempo destacando seus acertos. Estabelecer o limite do que apresentado como prosperidade bblica, sem esconder os erros de quem conscientemente ou no apresenta junto com o jardim muitas ervas daninhas, que para nada servem se no retirar a beleza e os benefcios do jardim teolgico verdadeiro.

Amado, desejo que te vs bem em todas as coisas e que tenhas sade, assim como bem vai a tua alma. 3 Joo 1:2Como Joo desejou em sua carta que fssemos prsperos (prosper = ser bem-sucedido, no latim) em todas as coisas, podemos facilmente entender que ser bem-sucedido financeiramente no significa ser rico. Um homem rico pode no ser bem-sucedido financeiramente, antes se encontrar passando por grandes apuros financeiros, ao passo que um vendedor de pipoca na praa pode ter grande estabilidade em suas finanas, de acordo com suas posses, e ser considerado bem-sucedido. Um bom economista ou especialista em mercado financeiros poderia analisar essa situao de perto e dar seu veredito. Mas no preciso, qualquer pessoa pode entender o que viver em uma situao financeira controlada, mesmo sendo considerado pobre, e o que viver em uma condio financeira de instabilidade e insucesso, mesmo sendo considerado rico. Ser prspero no ser rico, ser prspero ser bem-sucedido, isso que a palavra latina prosper bem como o equivalente no original grego significam. Na verdade, o original grego da palavra (euodoo), que significa no grego alguma coisa relativa a viagens (eu = bom + doos = caminho), como por exemplo ser bem-sucedido em uma jornada expedicionria, passando por um caminho certo, ser bem-sucedido, obter sucesso em alguma coisa, mas principalmente ter xito em uma jornada ou viagem.

19

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

19

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

Ervas daninhas sempre prejudicam, sempre atingem as flores e seus frutos. Devemos pod-las? Devemos deix-las? Ser que podando as ervas daninhas destruiremos tambm as flores e os frutos? Pois o reino de Deus muitas vezes foi apresentado dessa forma, com o joio e o trigo, que s podem ser ceifados juntamente e depois ento separados. No fcil a obra que se dispe nestas pginas, mas sem dvida necessria em dias to confusos, onde pregadores poderosos pregam bem mais que o reino de Deus.

APNDICE Examinaremos a etimologia da palavra original para o conceito grego do que alguns traduzem por prosperidade; inclusive, a ttulo de enriquecimento de nossa pesquisa, faremos uma comparao com o mesmo termo no Novo Testamento e seu derivado equivalente no latim, que deu origem ao termo prosperidade que ns conhecemos. Na terceira epstola de Joo, encontramos a nica equivalncia da palavra prosperidade ou de onde foi traduzida a expresso latina prosper, isto , prosperidade ou ser bem-sucedido. Amado, acima de tudo, fao votos por tua prosperidade e sade, assim como prspera a tua alma. O verbo grego euodomai usado por Joo e traduzido no latim por prosper, no portugues por prosperidade, composto por duas palavras: eu bom + odos caminho = bom caminho. Vale considerar que, na traduo do texto de Joo por prosperidade, o tradutor no foi fiel etimologia da palavra, que significa bom caminho ou boa viagem. Forosamente foi mesmo assim traduzido para o latim com outra palavra: prosper. Na verdade, o bom caminho grego era um conceito bastante pertinente ao mundo grego, onde se referia como sendo uma jornada, uma empreitada bem-sucedida. De qualquer forma, temos o termo latino prosper: Prosper = prosperidade= ser bem-sucedido em todos os aspectos (financeiro). A conotao do aspecto financeiro fica, portanto, inserida no texto a partir da traduo para o latim. Isso se d pelo entendimento da concepo grega de felicidade, a saber, abrangente vida humana como um todo. A

20

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

20

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

mesma expresso dualista usada por Joo no texto, de alma e corpo, bastante pertinente forma de pensar da filosofia platnica. At mesmo o dzimo, conceito integrante da prosperidade bblica desde suas primeiras sugestes, era prtica grega antiqussima (bem antes da tradio judaica), participante do perodo mtico grego em que eram ofertados dzimos aos deuses gregos de todas as conquistas (A Repblica de Plato, 400 AC), sendo mesmo parte dos cultos, em que devidamente os deuses abenoariam fortemente a cidade caso fossem propiciados por tais dzimos, depositados no templo desse ou daquele deus. Possivelmente no eram os gregos os nicos povos praticantes do dzimo, parecendo ser mais uma prtica comum da humanidade no lugar atual do Iraque, antes Babilnia, etc... Outra considerao importante que a noo grega de eudaimonia (vida feliz) possivelmente foi transmitida igreja primitiva, j que fazia parte integrante dos valores gregos, no qual estava ento inserida a igreja, contribuindo assim de alguma forma para o resultado final do conceito de prosperidade bblica no Antigo e Novo Testamentos, o que fica de acordo com o texto de Joo, onde o discpulo amado deseja o eudos (bom caminho) em todos os aspectos da vida. Verificamos dessa forma indcios para o surgimento do conceito de prosperidade bblica, conforme conhecemos a partir da noo grega de vida feliz, de completude em todos os aspectos da vida humana, referenciada pelo conceito eudaimonia; no h relato mais antigo do que o grego sobre o desejar e buscar o ser bem-sucedido em todos os aspectos da vida, mesmo considerando que o aspecto financeiro no era evidenciado, mas sim a virtude.

21

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

21

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

22

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

22

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

CAPTULO 1

ORIGEM DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE1.1 - Pregadores Norte-AmericanosAlgumas abordagens apresentam origens diversas para a to chamada teologia da prosperidade; fato que no assunto novo, j no incio do sculo XX havia vrios pregadores com certas doutrinas novas, e pelo menos um pregador itinerante nos Estados Unidos que, apesar de no ser pentecostal, ensinava doutrinas pertinentes a um certo investimento a ser feito na obra de Deus. Mais. Ensinava o tal pregador de si mesmo que era possvel pela confisso das verdades bblicas e prticas de ofertas financeiras e dzimos ter-se um retorno financeiro certo e multiplicado e tambm uma sade inabalvel (que para esse movimento passa a ser tambm parte das promessas de Deus para o crente), tudo isso de forma inegocivel dentro de uma viso triunfalista e de confisso positiva do evangelho, onde as palavras determinam os acontecimentos no mundo material. Trata-se do pastor norte-americano Essek William Kenyon (1867-1948). Existiram outros antes de Essek2 e mesmo contemporneos desse; difcil identificar qual tenha sido o primeiro, ou talvez tenha havido alguns ao mesmo tempo. Trataremos, contudo, do quadro apresentado por Essek, j que foi ele de qualquer forma quem apresentou com maior projeo a inicialmente chamada teologia da f, inclusive considerado pioneiro no evangelismo de rdio; foi seguramente aquele que passou adiante com mais vigor a nova doutrina. Inicialmente, um pastor metodista comeou a ensinar uma certa teologia da f, que caminhava lado a lado com vrios conceitos complexos e no ortodoxos acerca de que cada crente seria um cristo encarnado, tendo tam-

2

HANEGRAAFF, Hank. Christianity in Crisis. Thomas Nelson Inc, 2009.

23

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

23

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

bm sido um notvel pioneiro no evangelho em programas de rdio, algo completamente novo para sua poca. Essek popularizou algumas palavras de f, que foram a origem de vrios verbetes de f, hoje to comuns no mundo cristo. When I confess I possess (quando eu confesso eu possuo) talvez seja o mais popular na Amrica at os dias de hoje, na chamada teologia da f (considerada precursora da teologia da prosperidade). Outro ponto importante que um dos conceitos do movimento atualmente conhecido por Nova Era (teve origem no chamado movimento americano Novo Pensamento Metafsico), a confisso positiva, teve um grande impacto em Kenyon. De qualquer forma, Kenyon tinha algumas colocaes bastante perigosas para os conceitos cristos, como: Se a morte fsica de Jesus era suficiente para pagar a pena pelo pecado, ento cada cristo deveria ser capaz de pagar a pena por seus pecados por si mesmo com a prpria morte; dessa forma ele conclua que a morte fsica de Jesus no tocava a questo do pecado de forma alguma. E outras consideraes do mesmo tipo. Para Essek, o mundo material seria controlado pelo espiritual (abordagem nova para o evangelho da poca), acrescentando a isso que a confisso positiva do evangelho teria certas consequncias prticas; dessa forma surge a base do que temos hoje como teologia da prosperidade. As ideias originais de Essek no param por a, j que, ao se valer de princpios de confisso positiva, pode-se entender que so os mesmos utilizados pelo movimento que se denomina atualmente de Nova Era. Dessa forma, muitos atribuem prpria Nova Era o surgimento da teologia da prosperidade. A partir de Essek surgem ento outros pregadores, cujo maior expoente o pregador e pastor Kenneth E. Hagin, entre outros. Hagin teria dessa forma o ttulo de pai da teologia da f ou da prosperidade, mas, na verdade, ele seria um discpulo de Essek, coisa que nunca admitiu, alegando que somente algumas ideias e conceitos iniciais de Essek teriam servido no incio de sua caminhada ministerial. Outro ponto interessante que Hagin3, da mesma forma que Roberto MacAlister, no tinha nfase no aspecto financeiro da vida crist; esse era apenas um dos aspectos a ser considerados. Havia mais uma questo voltada sade do crente pela cura divina, bem como uma viso devocional da vida crist. Tambm a experincia mstica de Hagin era altamente desenvolvida, como ficou claro

3

HAGIN, Kenneth E. Pensamento Certo ou Errado. Rio de Janeiro: Graa Editorial, 2000.

24

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

24

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

ao relatar e apresentar mesmo diversas narrativas em suas obras de experincias fora do corpo, viagem do esprito, e mesmo encontro com o prprio Jesus Cristo, que teria, segundo Hagin, lhe concedido um dom de cura. Fosse como fosse, h relatos de que at o dia de sua morte nunca tenha esse homem contrado qualquer doena grave e os testemunhos de curas no ministrio tenham se difundido por vrios continentes. At que ponto a atual teologia da prosperidade (refiro-me forma desumana com que o dinheiro arrancado de pessoas pobres) teria tido sua origem em Essek e em Hagin e no Brasil com o Bispo Roberto? Seria razovel pensar em uma ligao entre esses pregadores, mas o ditado avisa que um erro leva a outro erro. Dessa forma, se em alguma abordagem tenha havido um desvio aparentemente inofensivo da doutrina original, essa curva ao longo dos anos se estendeu mais e mais at chegarmos na igreja mercado hoje instalada, completamente capitalista e selvagem, onde o crente abenoado o crente rico em posses materiais, bastante diferente das palavras do bispo Roberto4, que dizia que para o pobre h tambm bnos. O prprio Hagin jamais apresentou colocao diferente dessa nem fez pouco caso de classes mais desfavorecidas, pois dava grande nfase vida espiritual, de orao, de f e de cura das enfermidades, e nisso no pode haver nada de mal, quando guardadas as propores devidas. No obstante minha defesa de Hagin, devo relatar que, quando eu cursava a escola bblica de f, de Hagin, lendo todos os seus livros e no auge daquele mover de f, recordome de uma colega que eu pude encontrar fora do curso e perguntei por que ela estava sem ir aula. Essa irm me respondeu triste que o curso a havia deixado triste, pois sua av sofria de cncer e estava morrendo e dessa forma pelos ensinos de Hagin ela entendia que no havia f o bastante em sua casa e em sua famlia para a cura de sua av amada. Percebemos a um grave erro teolgico e de ensino que teve consequncias graves para toda a vida dessa jovem e de tantas outras vidas que no alcanaram a cura. E um erro leva a outro erro, quando no corrigido. Deus no se encontra no lugar de servo. Deus o Senhor, ns somos os servos. Muito possivelmente na teologia de f de Essek foi deixado esse aspecto de lado em um tipo de culto hedonista, onde o homem um pequeno Deus capaz

4

MCALISTER, Roberto. Dinheiro, Um Assunto Altamente Espiritual. Rio de Janeiro: Carisma Editora, 1981.

25

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

25

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

de ser comparado a um tipo de Cristo, um pequeno Jesus Cristo encarnado, quando eles (Kenyon e Hagin) afirmam sem medo: Os crentes so Jesus5. Kenneth Hagin vai ainda mais longe quando diz: O homem foi criado em termos de igualdade com Deus, e ele pode estar de p na presena de Deus sem qualquer conscincia de inferioridade. Isso precisamente o que est por trs da teologia da f, da teologia da prosperidade, da teologia do triunfalismo cristo, da teologia do supercrente; o homem est para essas teologias de frente com Deus, como diz outro lder: Exija de Deus o seu milagre6. Se o homem est em p de igualdade com Deus, ento ele pode exigir esse milagre. Outra colocao interessante de Hagin com relao a Kenyon que, alm de sua influncia minuta sobre seu ministrio, todas as ideias de Kenyon acerca das influncias metafsicas no homem no seriam do agrado ou concordncia de Hagin, que as condenaria tanto quanto a cincia crist. Provavelmente Hagin deveria ter consultado os prprios escritos antes de combater assim as ideias de pensamentos metafsicos de Kenyon, no mesmo? Eta classe desunida! O que dizer acerca do New Thought Metaphysics7? Essa uma estrada que nos importa conhecer. Ao que tudo indica, conforme autores americanos, Essek teria tido considervel contato com estudantes desse movimento quando ele mesmo frequentou o Emerson College of Oratory, uma instituio bastante conhecida no que diz respeito sua frequncia de alunos partipantes do movimento New Thought; isso teve grande impacto e influncia na ministrao de f e de cura praticada por Essek. Hagin foi assim seguindo os passos de Essek, sendo considerado o maior propagador de suas ideias, ainda que no tenha concordado com essa colocao. Hagin foi responsvel por espalhar a doutrina e o movimento da teologia da f ou teologia da prosperidade pelo mundo como um evangelho positivo ou de confisso positiva de verdades bblicas, ensinando que o tipo de confisso leva materializao dos resultados, chegando a fundar um centro de estudos do qual foram alunos muitos dos principais evangelistas mundialmente conhecidos. Todo esse movimento, guardadas

HANEGRAAFF, Hank. Christianity In Crisis: 21st Century. Thomas Nelson Inc, 2009. MACEDO, Edir. O Perfeito Sacrifcio. Rio de Janeiro: Universal, 2001. 7 ANDERSON, Alan. New Thought: A Practical American Spirituality. New York: Crossroad Publishing Company, 2004.5 6

26

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

26

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

certas caractersticas pessoais, foi trazido ao Brasil a partir de 1970 pelo Bispo Roberto MacAlister, fundador da Igreja de Nova Vida. Mesmo os cursos de Hagin foram ministrados no Brasil em alguns grupos da Igreja de Nova Vida e foram elemento fundamental para a ordenao dos ministros. A partir da Igreja de Nova Vida com o Bispo Roberto MacAlister que o Brasil entra em contato com a teologia da f. Fica a questo se MacAlister teve ou no contato com Hagin, com o material de Essek e com o New Tought Methaphysics, isso considerando que MacAlister veio do Canad e no dos EUA. Mas no foi na Igreja de Nova Vida que a teologia da prosperidade teve sua maior expresso. Foi de dissidentes que surgiram as maiores referncias do Brasil e talvez do mundo; trata-se da Igreja Internacional da Graa de Deus e da Igreja Universal do Reino de Deus, alm da Igreja do Apstolo Miguel ngelo. Incrivelmente, todos os trs ministrios so oriundos da Igreja de Nova Vida, onde seus respectivos fundadores eram diconos, tendo todos eles cursado a Escola Bblica de F de Hagin ou cursos com ensinamentos similares que sempre foram a tnica na Igreja de Nova Vida. Foi assim principalmente dessas trs lideranas que a teologia da prosperidade alcanou o formato que conhecemos hoje, bastante diferente daquele trazido pelo Bispo Roberto MacAlister. No possvel negar que o saldo positivo para o evangelho e o reino de Deus. Apesar das deformaes teolgicas sofridas pela doutrina inicial apresentada por MacAlister, a dinmica de vidas transformadas e resgate social nessas igrejas dissidentes no Brasil imensa, o benefcio social incalculvel, pois de qualquer forma o fiel desesperanado acaba por ver uma luz no fim do tnel. Ao contrrio da Igreja de Nova Vida, a IURD e a Igreja da Graa estabeleceram como alvo a ser atingido a classe menos favorecida, onde exatamente existe o maior nvel de carncia social. O resultado foi que supriram uma demanda h muito em falta no Brasil e de fato apresentaram ao povo a mensagem de Jesus Cristo. As consequncias de um erro teolgico tardam, mas no falham; isso o que mostram as histrias do cristianismo e da igreja. Que possam as consequncias do engano no que diz respeito deformao da teologia da prosperidade ser minimizadas e as benesses do evangelho ser anunciadas para essas denominaes serem potencializadas com a ajuda de Deus e empenho de todos ns. A partir da apresentao inicial feita por MacAlister, tendo sofrido modificaes e diversas influncias em um processo de

27

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

27

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

dcadas, o atual modelo de teologia da prosperidade acabou por penetrar nas demais igrejas, at mesmo histricas reformadas e pentecostais histricas, sendo hoje uma hegemonia nas igrejas neopentecostais. Alm dessas igrejas no Brasil, existem outras de expresso, entre elas a Igreja Renascer em Cristo e sua dissidente a Igreja Bola de Neve. Apesar de serem todas neopentecostais, importante frisar que no so todas igrejas neopentecostais que atendem ao sentido dado atualmente teologia da prosperidade de um certo comrcio da f (o crente entrega sua oferta a Deus, e Ele devolve em dobro ou mais). Nos EUA, a teologia da prosperidade no ganhou tanta fora desde seu incio, o que motivou o surgimento de cruzadas televisivas e em estdios, no chegando contudo a atingir a viso crist predominantemente protestante histrica. H de se considerar, contudo, para os EUA que hoje aquela nao atravessa um momento diferente em sua situao econmica, bastante difcil, o que pode abrir mesmo condies para uma teologia de f mais agressiva. J se tem notcia de grandes templos da IURD nos EUA. O tempo dir se essa teologia passar na prova dos sculos. Por ora, no Brasil, o capitalismo encontrou seu par: a teologia da prosperidade. As igrejasempresa, ou igrejas da prosperidade, tiveram sua expresso mxima e continuam em crescimento a partir dos EUA; hoje esto em todo o planeta, principalmente no Brasil, e nas reas e continentes mais pobres e no tm data para desacelerar seu crescimento. Talvez quando os recursos do planeta chegarem ao fim, essa estrada tambm encontre seu destino, ou quando os fiis desiludidos comearem a entender que o nico que ganha carro novo o pastor dirigente. objetivo deste trabalho de pesquisa resgatar, na medida do possvel, o sentido de prosperidade e vida crist trazido para o Brasil pelo amado Bispo Roberto MacAlister, bem como acrescentar alguns pontos de interesse bblico e teolgico sobre o mesmo assunto. No ponto de vista desse autor, o Bispo Roberto MacAlister doou sua vida por amor ao Brasil e a Jesus Cristo de Nazar, inaugurando um novo tempo de bnos e alegrias em Jesus Cristo para a nao brasileira. Como diz o celebre pregador:8 ... A religio, a exemplo do amor, uma finalidade em si mesma. No pode ser buscada, a fim de fazer o indivduo sentir-se bem, feliz ou prspero. S

8

CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado. So Paulo: Milenium, 1980.

28

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

28

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

pode ser buscada por sua prpria finalidade, mas, uma vez que seja achada, transborda de subprodutos como sade, felicidade e prosperidade. No pode ser controlada ou manipulada pelos desejos pessoais do homem. Aqueles que pretendem utilizar-se de tais controles no passam de charlates. Com frequncia so seguidos por grande nmero de pessoas, e a nica coisa que pode faz-los parar a verdade (Theodore P. Ferris).

1.2 - New Thought Metaphysics (Metafsica do Novo Pensamento)O lema desse antigo movimento de intelectuais : a prtica da presena de Deus para propsitos e finalidades prticas9, e isso j diz muito sobre o que era o movimento alianado com Kenyon. Novo Pensamento um movimento filosfico-espiritual e religioso que comeou no sculo XIX e continua a existir at a presente data, inclui teoria e prtica de cura; o movimento tambm intimamente ligado chamada cincia crist, havendo outros movimentos como CINCIA DIVINA, UNIDADE, CINCIA RELIGIOSA, etc... que juntamente com o SEICH-NO-IE representam hoje o expoente no movimento do Novo Pensamento. O nome New Thought Metaphysics veio, na verdade, substituir o nome inicial dado para o movimento MIND CURE ou cura da mente ou pela mente. O New Thought ou Nova Era, conforme o conhecemos, apresenta um mundo de desespero em que nos encontramos, o mundo psmoderno, e dessa maneira, primeiramente encarando a verdade que catica no mundo atual, apresenta dois caminhos a ser considerados de boa opo. Um desses o caminho da filosofia sapiencial antiga, um retorno s tradies milenares antigas e sabedoria antiga, que o movimento apresenta como sendo o incio de tudo o que existe em termos de conhecimento. Outra opo seria o pensamento da New Age ou nova era do conhecimento, conforme ficamos conhecendo apenas pela designao de Nova Era, adotada pelos estudiosos e seguidores do New Thought Movement.

9

ANDERSON, Alan. New Thought: A Practical American /Spirituality. New York: Crossroad Publishing Company, 2004.

29

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

29

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

1.3 - O Livro do GnesisMuito pertinente ao nosso assunto considerar que vrios ou todos os aspectos da vida crist contemporneos so apresentados no livro de Gnesis, que deveria talvez ser uma matriz para os demais ou uma sntese de tudo o que estaria por ser apresentado nos demais livros da Bblia. No Gnesis, o homem sofre a queda, ao mesmo tempo em que lhe apresentado o plano de Deus para sua restituio; neste livro tambm proposto ao povo de Israel um tipo de acordo bilateral, onde o cumprimento de certas clusulas implicaria a obrigao divina em cumprir outras, sempre referentes posse territorial, aquisio de bens, gado, vitrias militares contra os inimigos e mesmo sade fsica. Ora, se no temos a os ingredientes da mais primitiva teologia da prosperidade, como negar a proposta divina para incentivar seus primeiros fiis? Essa projeo se encontrou mais claramente expressa em Abrao e dessa forma nominado por pai da f ou pai da teologia da prosperidade? Seja como for, Abrao foi capacitado por Deus para sua jornada de f em separar para Deus um povo que fosse de acordo promessa feita, terra, bens, poder, riqueza.10 De fato, a narrativa bblica apresenta Abrao como um homem de posses e poderoso mesmo para enfrentar alguns reis. Outra abordagem importante para nossa pesquisa que, no relato do livro de Gnesis, inegvel a proposta divina de criao a partir da confisso positiva: e disse Deus... e disse Deus... e disse Deus. Poderia ter sido de outra forma e Deus pensou... e Deus pensou... e Deus pensou..., ou mesmo e Deus teve um sonho... e Deus teve um sonho... e Deus teve um sonho.... Mas foi to somente: e disse Deus.... Como poderemos entender tudo o que est no livro de Gnesis luz de uma teologia coerente, de acordo com o pouco de cincia que possumos. No podemos entender tudo o que est escrito, mas o pouco que entendemos no pode fazer naufragar a cincia desenvolvida ao longo de milhares de anos e que, segundo Salomo, tambm uma ddiva de Deus para o homem. Podemos, contudo, considerar que no sabemos todas as coisas, fazer nossas as palavras de Daniel, quando diz que ao homem pertencem as coisas reveladas. Precisamos nos livrar da obrigao de dar explicao

10

MACALISTER, Roberto. Como prosperar. Rio de Janeiro: Carisma Editora, 1978. Nessa obra, o bispo Roberto apresenta de forma clara a origem e fundamentao da prosperidade bblica com base nas promessas do AT.

30

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

30

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

para todas as coisas, da mesma forma que no sculo X o mais interessado cientista no poderia explicar uma lanterna eltrica. Nem tudo na Bblia mito, nem tudo histrico, mas tudo inspirado para a salvao do homem e fazer voltar a comunho perdida com Deus. Que Moiss dificilmente teria escrito o livro de Gnesis, ns sabemos. Que o relato de Ado e Eva, enquanto incio da espcie, dificilmente teria ocorrido, ns sabemos. Resta ento nos ater aos fatos enquanto significao teolgica bsica e inegocivel. O homem perdeu a comunho que tinha com Deus em algum momento e por algum motivo; at que ponto foi essa uma vitria do mal ou um plano de Deus? Tambm no podemos dar uma resposta lgica a no ser por convices de f. Se dizemos que o diabo enganou Eva e Deus, mesmo amando o homem no pde impedir a separao da humanidade de sua presena, fazemos Deus impotente. Se dizemos que Deus planejou essa queda, com todos os sofrimentos a ela pertinentes (guerras, doenas, fome, crianas em profundo sofrimento), declaramos um Deus obstinado. Melhor nos atermos ao que conhecemos e podemos entender. O homem est distante de Deus e precisa buscar essa religao, esse religare, essa religio com Deus. Deus moveu-se na direo do homem, buscando o servo Abrao, um homem diferente dos de sua poca o que fazia Abrao ser diferente? No certo, mas parece ser sua capacidade de acreditar nas coisas que no eram vistas. O normal para os dias de Abrao era que nada do que no fosse visto seria digno de crdito, a exemplo de Sara, que riu ao lhe ser informado do que viria; esse era mais o tipo da humanidade daqueles dias. No era assim com Abrao; ele creu, a ponto de deixar a terra de sua parentela, a ponto de olhar para o cu e tentar contar as estrelas, acreditando que de alguma forma poderia faz-lo. Teve Abrao que ser impedido por Deus em sua contagem quando lhe foi prometido: farei de ti uma grande nao, em ti sero benditas todas as famlias da terra. Abrao no sem motivo foi chamado de pai da f. Abrao creu para a salvao de muitos outros. A linguagem de Deus expressa no livro de Gnesis aquela da f, de crer no invisvel, e no somente de crer, mas de confessar o que no visvel para sua existncia. Essa foi a forma relatada da criao do mundo em que vivemos; Deus professou as coisas e elas vieram existncia. O problema surge quando nos comparamos a Deus e trazemos para a humanidade a suposio de termos os poderes divinos pela palavra. Da mesma forma que Deus trouxe o universo existncia, supomos poder faz-

31

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

31

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

lo e esquecemos que aquele que quis ser igual a Deus foi destitudo de sua glria juntamente com a tera parte do cu. Consideramos tambm o acordo feito com Abrao no que diz respeito pretensa prosperidade prometida por Deus, um tipo de barganha santa, um tipo de f toma l d c. Por que Deus teria instaurado desde cedo um materialismo atrelado vivncia de f, uma condio de benefcios materiais relativamente f e obedincia em Sua Palavra? At que ponto sermos iguais a Deus em imagem e semelhana nos d condies de fazer o que o Deus criador elencado no Gnesis fez pelo poder da simples expresso de suas palavras? So perguntas para as quais podemos no alcanar respostas; nem por isso podemos ignorar tais questes.

32

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

32

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

CAPTULO 2

FUNDAMENTOS BBLICOS E ALEGAES2.1 - Textos Bblicos Utilizados pelos Pregadores da ProsperidadeOs fundamentos da teologia da prosperidade so encontrados em uma leitura bblica fora do contexto, isto , uma leitura isolada de trechos bblicos pertinentes a algum tipo de bno financeira para o crente. Tais referncias bblicas so fartas no Antigo e Novo Testamentos. O verdadeiro significado do texto modificado pela interpretao dessa teologia, deixando seu carter subjetivo (do esprito e sentimento do crente) para ser de carter objetivo (as riquezas e valores financeiros deste mundo); e nessa base toda uma varredura sistemtica feita nas Escrituras. O homem passa a constituir certo posicionamento hedonista e mesmo se divinizar medida que ele mesmo passa a ter direito em exigir de Deus tudo o que ele desejar com base nas promessas bblicas. O homem passa a ser senhor de seu destino, e estando em lugar de exigir de Deus, que, por sua vez, passa a ser servo do homem. Caso no seja atendido o pedido do crente, o motivo alegado ser a falta de f ou de estar o homem em pecado; nesse caso, o inimigo (diabo) agiria de forma contrria, isto , destituiria o homem de todos os seus bens e riquezas. A sade tambm ponto integrante desses interesses, e da mesma forma abordado o assunto. Ao final de tudo, tem-se o supercrente em superigrejas. Com a operao de Deus diretamente no culto litrgico perde-se o carter essencial do cristianismo, onde Deus passa a atender especificamente os problemas e necessidades individuais, e como em uma prtica mgica os crentes passam a exigir de Deus o cumprimento e atendimento de suas peties. Para o fiel cumprimento de tais pedidos, faz-se necessrio pronunciar corretamente e com vigor determinadas palavras bblicas, ao fim das quais deve-se dizer em nome de Jesus. Ainda h de se ponderar

33

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

33

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

que, aliado a esse ritual, deve-se exorcizar a pessoa que estaria invariavelmente presa nos braos de satans, fazendo desse momento uma ocasio de grande impresso emocional. Acreditam, na verdade, que todo o mal que existe na humanidade e no indivduo ao direta de satans e dessa forma deve ser exorcizado, retirando assim o fator subjetivo das diversas situaes abordadas pela f crist. Os textos bblicos usados so, como dito acima, retirados do contexto; so do Novo e Antigo Testamentos, sendo usados nas pregaes atravs de repetidas mensagens os mesmos princpios: D a Deus e ele te dar em dobro; sade, dinheiro e tudo o mais o que voc pedir11. Dar dinheiro igreja para que Deus devolva em dobro , no mnimo, uma deturpao vil das Escrituras e, de forma torpe, tpico do mundo consumista em que vivemos e no melhor modelo da religio pag. No podemos esquecer que em At 8.18 Simo foi severamente repreendido por pensar tal coisa.

Mateus 17.20 / Lucas 17.6 / Joo 14.12 / 2 Corntios 9.6 / Lucas 5.6Malaquias exemplo de texto utilizado fora do contexto: 3:8 Roubar o homem a Deus? Todavia vs me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dzimos e nas ofertas. 3:10 Trazei todos os dzimos casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exrcitos, se eu no vos abrir as janelas do cu, e no derramar sobre vs uma bno tal at que no haja lugar suficiente para a recolherdes.

2.2 - Resultados Prticos da Pregao da ProsperidadeAs consequncias das prticas apresentadas na teologia da prosperidade, alm de pastores ricos e verdadeiros imprios igrejas, podem ser sentidas naqueles mais pobres que ali depositam tudo o que tm, ou quase tudo, na esperana de ver atendidas suas necessidades imediatas; e feito isso, no tm dinheiro sequer para retornar s suas casas e, o que pior, ao11

MAINOTH, Carolina Chalfun. Os grupos neopentecostais nos jogos de poder do tempo presente. Rio de Janeiro: Revista Eletrnica Boletim do Tempo, ano 3, n. 23. Em seu artigo, Carolina define de forma bastante clara o nvel de articulao exercido de forma atual pelos pregadores da prosperidade.

34

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

34

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

voltarem para sua vida normal, acabam entendendo que, de acordo com sua f professada na teologia da prosperidade, ainda no alcanaram o nvel de f e vida espiritual necessrio para romper em f; muitas vezes acabam moribundos e perdidos nas ruas da amarga desiluso religiosa12. A teologia da prosperidade no uma doutrina verdadeira da forma como se apresenta, pois contm inverdades as mais diversas. Algumas autoridades j questionaram mesmo o quanto dever-se-ia prover meios de fiscalizao das instituies religiosas, mas as consequncias da ingerncia estatal nas religies tm mais problemas que solues, e mesmo os fiis quando desiludidos so poucos os que buscam os meios legais para o processo contra a igreja13. O evangelho de salvao de Cristo foi modificado para uma salvao da vida material, e para tal busca se voltam os fiis; a religio paga e pag, bem de acordo com o presente tempo capitalista que vive o mundo, bastante conveniente aos ricos deste mundo, para assim justificarem suas riquezas e opulncia. Para uma perspectiva dos resultados sociais, econmicos e polticos de tais igrejas da prosperidade, e sua influncia na sociedade, no indivduo, no estado, h de se fazer uma sria pesquisa, que no comporta a presente exposio. Pode-se, contudo, averiguar que, como principal resultado, temos que os movimentos de f, que so prxis da teologia da prosperidade, o quanto mais se distanciam da real significao dos textos bblicos, ofuscam a viso dos que dele se aproximam e mais se distanciam da f verdadeira e da paz que oferecida na mensagem de Cristo. O tipo de consolao pertinente aos valores de Cristo deixado para trs em busca de uma conceituao financeira e de sade e de vitria em todos os aspectos da vida. A religio muda de prtica espiritual para material-financeira, e a vida em Cristo deixa de ser vida em Cristo para ser qualquer outra coisa. Um dia a casa cai. A desiluso da massa algo que normalmente leva alguns anos ou dcadas, o que j vem ocorrendo nos EUA com o crescente esvaziamento das igrejas neopentecostais; entretanto a desiluso do indivduo j algo que se faz sentir e no passa desapercebido ante as frustraes de uma religio que no funciona como prometido. No possvel, s o pastor que ganha o carro do ano?

ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graa: esperanas e frustraes no Brasil neopentecostal, So Paulo: Mundo Cristo, 2005. 13 Idem 12.12

35

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

35

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

36

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

36

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

CAPTULO 3

UMA PROSPERIDADE BBLICA

3.1 - O Padro BblicoGostaria de buscar uma conciliao do verdadeiro sentido da prosperidade bblica, que est ao alcance de todo crente, que foi distorcida na dita teologia da prosperidade. Existe uma vontade de Deus para o cristo que em dadas circunstncias possa se revelar em bnos materiais e em uma dita prosperidade bblica; so vrios os textos que merecem nossa anlise. Inegvel que existe fundamento na assim chamada teologia da prosperidade; o prprio apstolo Paulo que salienta que quem plantar mais vai colher mais14, isso aps se referir coleta para as igrejas de Jerusalm. Mas se no houvesse qualquer tipo de base bblica, no seria teologia bblica de qualquer forma. Existe legalidade temtica e bblica para abordagens as mais diversas, que vm atender um sem-nmero de possveis interpretaes dos ensinos de Jesus. Negar isso ir de encontro pluralidade de denominaes e manifestaes da f crist. At mesmo algumas doutrinas tidas pelo cristianismo ortodoxo como no crists encontram suas bases na Escritura bblica. Por outro lado, no possvel negar as palavras de confisso positivas do Cristo, posto que o mesmo Jesus que apresenta o poder da f para dar ordens s montanhas e rvores e outras consideraes, como a do gro de mostarda e tambm a parbola do servo mau, que deveria ter multiplicado seus bens, e tambm a multiplicao de pes e peixes, etc... Isso para no

14

Bblia, 2 Cor 9.6.

37

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

37

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

falar nos textos veterotestamentrios, onde o prprio Deus que manda fazer prova dEle, se Ele no h de dar retribuio dobrada pelo dzimo, etc... Como contestar o que se apresenta de forma irredutvel? H de se analisar o contexto e, mesmo assim, no se poder negar o positivismo contido em certos trechos bblicos. Uma das consideraes dos estudiosos15 que de forma paradoxal a doutrina da nova era, combatida pelos neopentecostais, seria ela prpria a origem provvel do evangelho de confisso positiva e da teologia da prosperidade. Mas o que dizer se a prpria origem de tal pensamento encontra aceitao em certos trechos bblicos? A IURD seguramente apresenta uma caricatura do material bblico acerca da relao oferta bno de Deus e do movimento de f contido nas Escrituras. Isso no nos permite, contudo, ir de um polo a outro, sem paradas. Afinal, a religio crist , antes de tudo, um movimento de f; quando diz a Escritura, sem ela impossvel agradar a Deus. Corremos o risco de, ao rebater a teologia da prosperidade (movimento de f), acabar no fim de tudo em combate prpria religio ensinada por Cristo, uma religio de f. O que dizer tambm acerca de certos efeitos socializadores trazidos pelas igrejas neopentecostais; os benefcios da confisso positiva do evangelho tm como efeito entre outros a propagao da tica moral crist nas suas mais intensas verdades. Seguindo essa linha de pensamento, no difcil ver a luz divina nas ideias weberianas16, onde o ascetismo cristo adentra pela vida cotidiana e faz com que a simples funo do autnomo mergulhe nas profundas verdades csmicas da salvao. Se o capitalismo comeou pelas ideias crists da reforma, onde em dado momento deixa para trs o mundo da salvao exclusiva pela f ensinada por Lutero, agora contempla os caminhos puritanos em um novo entendimento, onde o simples arteso passa a ser instrumento do criador do universo e mesmo em seu ofcio est a servio do Criador. Ora, se o capitalismo de fato comeou na igreja e o que era tido como mundano assim deixou de ser para entrar na esfera do que sagrado, da

Hank Hanegraaff em sua obra best-seller Christianity In Crisis: 21st Century assegura a existncia do grmen, mesmo na sua base de todo o movimento da nova era, nos textos bblicos. 16 WEBER, Max. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo. So Paulo: Editora Martin Claret, 2007.15

38

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

38

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

mesma forma o que era mundano, a saber a multiplicao das riquezas, antes somente para sustento, agora para grandeza, passou mais uma vez promovido pela prpria prtica de f a uma dimenso do sagrado, a saber a teologia da prosperidade. Como Jung denota17, todos os males da mente estariam ligados ao sagrado ou, em ltima instncia, falta do sagrado e ao arqutipo Deus. Tambm pode ser considerado o governo deste mundo a uma adequao do sistema financeiro consumista a uma correspondente ideologia, por etapas, primeiro a sacralizao do sustento (tica protestante ascetista mundana) e, em um segundo momento, a sacralizao da multiplicao de riquezas (multiplicao de pes e peixes teologia da prosperidade). Nessa sequncia de provises teolgicas, encontra-se o abuso / caricatura promovido por igrejas neopentecostais, mas de forma alguma pode ser confundida essa deformao e vista na forma de uma absolutizao da ideia do erro. Existe uma prosperidade bblica.

3.2 - Textos BblicosOs inmeros registros bblicos apontam para germes da confisso positiva do evangelho em Jesus e nos discpulos, apstolos e na prpria igreja primitiva; podemos assim enumerar entre vrios outros no Antigo e Novo Testamentos: Mateus 17.20 confisso positiva nas palavras de Jesus: E Jesus lhes disse: Por causa de vossa pouca f; porque em verdade vos digo que, se tiverdes f como um gro de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acol, e h de passar; e nada vos ser impossvel Lucas 17.6 confisso positiva nas palavras de Jesus: E disse o Senhor: Se tivsseis f como um gro de mostarda, direis a esta amoreira: Desarraiga-te daqui, e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.

17

ANDERSON, Alan. New Thought: A Practical American Spirituality. New Yourk: Crossroad Publishing Company, 2004.

39

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

39

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

Joo 14.12 confisso positiva nas palavras de Jesus: Na verdade, na verdade vos digo que aquele que cr em mim tambm far as obras que eu fao, e as far maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. 2 Corntios 9.1-15 princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 6 E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco tambm ceifar; e o que semeia em abundncia, em abundncia ceifar. esclarimento quanto ao carter da oferta a ser entregue e estado de esprito do ofertante: 7 Cada um contribua segundo props no seu corao; no com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que d com alegria. princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 8 E Deus poderoso para fazer abundar em vs toda a graa, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficincia, abundeis em toda a boa obra. esclarimento quanto ao carter da oferta a ser entregue e estado de esprito do ofertante: 9 Conforme est escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justia permanece para sempre. princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 10 Ora, aquele que d a semente ao que semeia, tambm vos d po para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justia. Lucas 5 4 E, quando acabou de falar, disse a Simo: Faze-te ao mar alto, e lanai as vossas redes para pescar. confisso positiva nas palavras de Pedro: 5 E, respondendo Simo, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lanarei a rede. 6 E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. 7 E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique. Atos dos Apstolos 19.25

40

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

40

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

referncia ao significado do trmo prosperidade=dinheiro: Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vs bem sabeis que deste ofcio temos a nossa prosperidade; 1 Corntios 6.2 referncia ao significado do termo bblico prosperidade=dinheiro: No primeiro dia da semana cada um de vs ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que no se faam as coletas quando eu chegar.

3.3 - O termo prosperidade nos dias de JesusCerta feita, quando me encontrava em um culto neopentecostal bastante emotivo e dinmico, muito bom mesmo, ouvi quando o pregador de forma veemente tentou ensinar que o vinho que Jesus havia transformado a partir da gua, nas bodas de Can da Galileia, na verdade no era vinho, mas suco de uva. Aquilo doeu fundo no corao e na alma; no fosse o imenso amor daquele pastor pelos jovens que compunham a assistncia daquele culto, eu me teria feito sair daquele lugar, tamanha ignorncia dos assuntos bblicos. Seguramente, as boas intenes daquele homem estavam alm de sua ignorncia e dos enganos exegticos de quem pouca instruo teolgica teve, estavam no esforo desmedido em salvar aqueles jovens e os levar a uma converso em suas vidas. E desse ponto chegamos questo do termo prosperidade nas Escrituras Sagradas. Algumas diferentes aplicaes nas Escrituras: Significando continuidade da descendncia: Ester 10.3 Porque o judeu Mardoqueu foi o segundo depois do rei Assuero, e grande entre os judeus, e estimado pela multido de seus irmos, procurando o bem do seu povo, e proclamando a prosperidade de toda a sua descendncia Significando riqueza material generalizada: J 21.13 Na prosperidade gastam os seus dias, e num momento descem sepultura Vida vitoriosa em todos os sentidos: Salmo 73.3 Pois eu tinha inveja dos nscios, quando via a prosperidade dos mpios.

41

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

41

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

Significando mantimentos: Salmos 122.7 Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palcios. Significando paz em tudo: Eclesiastes 7.14 No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque tambm Deus fez a este em oposio quele, para que o homem nada descubra do que h de vir depois dele. Significando ganhos financeiros e dinheiro: Atos dos Apstolos 19.25 Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vs bem sabeis que deste ofcio temos a nossa prosperidade. Significando medida e nvel de vida e dinheiro (de ganho financeiro mdio): 1 Corntios 16.2 No primeiro dia da semana cada um de vs ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que no se faam as coletas quando eu chegar. Prosperidade (do latim prosperitate) refere-se qualidade ou estado de prspero, que, por sua vez, significa ditoso, feliz, venturoso, bem-sucedido, afortunado18. Naturalmente, pode-se depreender diversos outros significados para a palavra prosperidade, mas nos importa especialmente aquela descrita nos trechos de Atos dos Apstolos e em Corntios. Sim, prosperidade podia significar dinheiro e valorao de finanas em geral. Dessa forma, podemos sem sombra de dvida avanar nesse terreno bastante confuso, estabelecendo o que o apstolo de fato quis dizer quando haveria um presenteamento financeiro por parte de Deus aos fiis bastante e precisamente identificado em 2 Corntios 9 ele diz que Deus h de retribuir e multiplicar os recursos financeiros daqueles que muito semeiam... 2 Corntios 9.1-15 princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 6 E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco tambm ceifar; e o que semeia em abundncia, em abundncia ceifar. esclarimento quanto ao carter da oferta a ser entregue e estado de esprito do ofertante:18

Novo Dicionrio Eletrnico Aurlio, verso 5.0 e Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, 2001.

42

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

42

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

7 Cada um contribua segundo props no seu corao; no com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que d com alegria. princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 8 E Deus poderoso para fazer abundar em vs toda a graa, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficincia, abundeis em toda a boa obra; esclarimento quanto ao carter da oferta a ser entregue e estado de esprito do ofertante: 9 Conforme est escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justia permanece para sempre. princpio de recompensa atrelado oferta a ser feita igreja: 10 Ora, aquele que d a semente ao que semeia, tambm vos d po para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justia. Essas ofertas aqui relatadas so aquelas referidas em 1 Corntios 16.1 e 2 para os crentes de Jerusalm/Judeia, que naquela ocasio passavam necessidades financeiras. Tratava-se de uma campanha de arrecadao em todas as igrejas do ministrio do apstolo Paulo, onde, apresentando o exemplo de uma igreja, ele encorajava outras a ofertar ainda mais. Nessa especfica arrecadao em Corinto, o apstolo d instrues em relao ao primeiro dia da semana, como em um tipo de primcias, explicando tambm o que deve ser feito conforme as possibilidades individuais quando diz conforme sua prosperidade. A mesma recomendao o apstolo apresenta em 2 Corntios. Em ambas as cartas, o apstolo apresenta caractersticas de uma coleta que seria individual, sistemtica, proporcional e cuidadosamente administrada, deixando claro um modelo bastante racional nesse negcio das ofertas. Apesar da orientao para que cada um ofertasse segundo sua possibilidade (2 Co 8.12). O apstolo no mede elogios igreja da Macednia, que, mesmo sendo pobre, ofertou bem acima de sua possibilidade para a mesma campanha da igreja de Jerusalm, conforme se apresenta em 2 Corntios 8.2-5. Em 2 Corntios 8.7, o apstolo faz nova exortao igreja de Corinto, onde ele elogia e afirma as virtudes da igreja em f, palavra, cincia e em toda a diligncia e no amor para com o apstolo, exortando que da mesma forma pudesse a igreja proceder na arrecadao da oferta para Jerusalm. A mim parece uma campanha financeira bastante acirrada, uma daquelas peties de dinheiro to desconfortveis nos cultos, s quais dificilmente

43

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

43

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

algum pode dizer no sem se sentir deslocado. De forma um pouco paradoxal e conflitante, o mesmo insistente pedinte apresenta certos sentimentos com que se deve praticar essa doao: 2 Corntios 9.5 oferta como bno e no como avareza; 2 Corntios 9.7 oferta com alegria e no por tristeza ou por necessidade. Aps tantos e insistentes pedidos do apstolo, at mesmo sugerindo umas igrejas em relao ao valor de oferta dada por outras: 2 Corntios 8.1 a oferta dada pela igreja da Macednia; 1 Corntios 16.1 a oferta dada pela igreja da Galcia. Note que h indcios de que a igreja da Macednia seria um tipo de rival da igreja de Corinto; se assim fosse, o apstolo com tais comentrios teria esperado alcanar maior motivao da igreja de Corinto para que sua oferta fosse maior que a da Macednia; estratgia pura, no ? Outra considerao sobre o pedido do apstolo igreja de Corinto que ele identifica na muita oferta financeira uma submisso espiritual de carter fundamental vida do crente, como que sendo um selo de um modo de vida altamente espiritual. 2 Corntios 9.2 e mais que isso fica apresentada a oferta em dinheiro como uma submisso ao evangelho de Cristo, como em 2 Corntios 9.13. O apstolo ainda apresenta o ato de ofertar aos irmos pobres como um ato de louvor a Deus em 2 Corntios 9.12.

44

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

44

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

CAPTULO 4

PROSPERIDADE CONTEMPORNEA4.1 - Tradicionais x NeopentecostaisEm meio a todos os enganos neopentecostais e da igreja histrica, incrivelmente pode haver salvao. O que impossvel aos homens, para Deus possvel.19 Quero dizer com isso que no adianta trocarmos acusaes, como a igreja catlica fez com a protestante em sculos passados; no fim das contas, ambas cometiam os mesmo erros. No adianta agora igrejas histricas trocarem farpas com igrejas neopentecostais e pentecostais e entre si todas essas, se no fim todas cometem os mesmos erros ou com algumas variaes outros de forma mpar. Cada igreja tem seu formato e seu chamado em atendimento a um tempo e s vezes at mesmo a um certo lugar. Algumas se adaptam ao tempo e necessidades, outras no; nem por isso deixam de cumprir sua finalidade na multiforme graa e ao divinas. Em todas parece que penetrou o mal deste sculo, quando consideramos o capitalismo selvagem em todo o seu furor e desumanizao para com o homem e o planeta (escassez crescente de recursos planetrios); est presente nas igrejas (em quase todas no catlicas) atravs da teologia da prosperidade. Mesmo assim, no seio da comunidade crist opera a salvao da mensagem de Jesus Cristo. E no era assim na Arca de No: junto com os animais estava o mau cheiro, e ali mesmo estava a salvao de Deus. Tambm na mesa com Cristo estava o traidor; parece mesmo que essa seria a sina da salvao em Deus para o homem, o joio e o trigo crescendo juntamente na seara da igreja.

19

Bblia, Mt 19.26.

45

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

45

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

4.2 - Na sua base como e quando surgiu a teologia da prosperidade conforme a conhecemos hoje. A Igreja de Nova Vida do Bispo Roberto MacAlisterAt 1970, as igrejas histricas dividiam o espao brasileiro com algumas igrejas pentecostais; foi quando surge a Igreja de Nova Vida com o Bispo Roberto Macalister, que introduz o culto neopentecostal conforme ns o conhecemos, alm, claro, da teologia da prosperidade. At que ponto, entretanto, era a teologia da prosperidade apresentada por Roberto Maclister equivalente forosa teologia da prosperidade apresentada no seu expoente mximo na IURD? Cabe neste ponto do nosso trabalho uma volta s obras de Roberto MacAlister20 para desvendarmos esse fato e sanarmos essa dvida. Teria Roberto MacAlister apresentado a prosperidade capitalista para a igreja brasileira? A apresentao de um conceito selvagem de prosperidade foi obra da IURD ou seria anterior a essa? Surgiu mesmo no Brasil? Na revista NOVA VIDA de nmero 06, de 1982, p. 7 e 8, o Pastor Tito Oscar21, um dos braos de Roberto MacAlister, no tpico Como ser rico mesmo sendo pobre, orienta acerca de dar e receber a partir do texto bblico da viva pobre de Lucas 21.1-4. Bem como no texto da viva de Sarepta, 1 Reis 17, em ambos os casos o futuro bispo Tito orienta, no melhor estilo MacAlister22, que se deve dar na medida do que se tem e no do que no se tem; fica isso claro no incio da matria Jesus est tentando fazer-nos compreender que Ele jamais pede o que no podemos dar; do rico Ele requer o que lhe possvel oferecer, procedendo igualmente com relao ao pobre. Parece mesmo que, em toda a citada revista, uma singela parte reservada ao assunto dinheiro, e no mais enfatizada uma linguagem de devoo e dons do Esprito Santo.

As principais obras de Roberto MacAlister em relao prosperidade bblica so: Dinheiro, Um assunto Altamente Espiritual e Como Prosperar, onde em termos bsicos de forma resumida o autor apresenta suas linhas de entendimento. 21 Tito Oscar ficou conhecido como um dos mais fiis discpulos do Bispo Roberto MacAlister no que diz respeito sua doutrina. 22 O estilo de pregar e ensinar as doutrinas bblicas ficou praticamente sem comparao a qualquer outra antes ou depois dele, com caractersticas mpares e expresses que ficaram clebres.20

46

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

46

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

No livro Dinheiro: Um assunto altamente espiritual23, o Bispo Roberto faz a seguinte declarao: Durante mais de 25 anos de ministrio sem falhar uma nica vez, tenho assumido o plpito com duas coisas preparadas: minha mensagem bblica e o apelo s ofertas. Pois eu sempre soube que nenhuma das duas pode ser improvisada, resultando quase sempre a improvisao em fracasso. A viso sobre o dinheiro que MacAlister tinha ganharia em seus diconos Edir Macedo, R. R. Soares e Miguel ngelo uma abordagem diferente, bem mais agressiva, principalmente no caso de Edir Macedo. No seria o caso de aplicar-se aqui aquele dito popular onde o aluno se tornou superior ao mestre, pois, nesse caso, o mestre Roberto jamais pretendeu distorcer os ensinos de Jesus relativos ao dinheiro das ofertas. Bispo Roberto, para aqueles que tiveram o privilgio de conhec-los pessoalmente, tinha um modo de vida bastante simples, com residncia modesta em um apartamento no Flamengo/RJ. Recordo-me que, em certo culto, ao final, ele anunciou que havia recebido uma grande bno de Deus e que era algo que ele muito esperava. Ao fim do culto, ele deixou a igreja dentro de um veculo Mercedes Benz, bastante antigo... No interior do veculo podia-se ver a expresso de alegria do querido Bispo Roberto, acenando a todos, como que dizendo: T vendo s, Deus bom... Ele acenou na minha direo e com um sorriso foi embora. A concepo de prosperidade financeira que tinha o Bispo Roberto estava mais no aspecto da satisfao pessoal de ter um Mercedes Benz velho do que em alguma loucura megalomanaca imperial. Com uma anlise eclesiolgica da Igreja de Nova Vida poderemos entender um pouco da obra iniciada pelo Bispo Roberto; dessa forma poderemos ter uma viso mais clara da distoro sofrida pela doutrina inicial. A Igreja de Nova Vida, fundada pelo Bispo Roberto MacAlister no Rio de Janeiro em 1970, desde seu incio apresentou conservadorismo no que diz respeito eclesiologia. A teologia de prosperidade, ou teologia da f, onde com certo equilbrio feito o convite para que o fiel entregue a Deus dzimos e ofertas com vistas sua bno NO apenas material, mas de forma a alcanar todos os setores da vida humana. Ficou conhecido o

23

MACALISTER, Roberto. Dinheiro, Um Assunto Altamente Espiritual. Rio de Janeiro: Carisma Editora, 1981.

47

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

47

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

dito do Bispo Roberto que Deus os abenoe rica e abundantemente. Conforme j vimos, a prxis do Bispo Roberto nada tem a ver com o que praticado hoje nas igrejas. Na teologia da prosperidade, apresentada pelo Bispo Roberto, at hoje mantida uma certa cautela no quesito finanas, um tipo de discrio com nfase na vida devocional dos fiis. A pregao feita com leitura bblica mediante interpretao livre do pregador, que busca empregar as verdades bblicas em diversas interpretaes ao cotidiano do crente (outra das prticas do Bispo Roberto que penetrou nas igrejas no Brasil). No raro o caso de um mesmo texto bblico pregado por pastores da Igreja de Nova Vida apresentar vrios significados diferentes, sempre de cunho devocional aplicado ao cotidiano. Com o falecimento do Bispo Roberto, muitas ramificaes da Igreja de Nova Vida surgiram, sendo que em todas elas praticamente permanece o modelo eclesial conservador. Um colgio de bispos, tendo frente o Bispo Primaz e abaixo os pastores, diconos e obreiros. A administrao das igrejas mediante um tipo de aliana e concordncia mtua, no havendo centralizao do poder administrativo a nvel de ministrio nacional, a no ser na igreja local, onde o pastor ou bispo em seu lugar representa autoridade mxima e inquestionvel. Grosso modo, o pastor ou bispo tem poder total de deciso, no sendo preciso que qualquer questo seja submetida a voto. Existe, entretanto, em vrios casos, um tipo de aconselhamento em que o Bispo ou Pastor dirigente pode ouvir conselhos do corpo de bispos ou demais pastores; quase sempre os conselhos so atendidos ou pelo menos considerados. O modelo episcopal, onde os membros so relacionados como fiis, sem poder de voto ou deciso nas questes de ordem administrativa ou doutrinria. No incomum, a exemplo do que fazia o fundador, serem pastores ou membros convidados a se retirar quando discordam da opinio da liderana. Quanto ao proselitismo, no dada grande nfase, parecendo que o ministrio est firmado em um pequeno, mas coeso rebanho. A teologia neopentecostal com certos diferenciais desses que foram os pioneiros no Brasil. Em um antigo folder de assinatura impressa pelo Bispo Roberto informado o que permanece a marca da Igreja de Nova Vida e seu modelo eclesial e teolgico: Em nossas igrejas certamente voc desfrutar do poder de Deus atravs da orao... Outra nfase eclesiolgica da Igreja de Nova Vida, um pouco sem novidade atualmente, mas certamente presente no ministrio at hoje, a liberalidade no que diz respeito a usos e costu-

48

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

48

30/09/2011, 14:24

A Teologia da Prosperidade

mes. Na revista Nova Vida, numero 6, o Bispo Roberto orienta e interpreta os dizeres apostlicos no sentido de que o reino de Deus no consiste numa lista de proibies ou de qualquer tipo de legalismo. Dessa forma, o aspecto cltico da Igreja de Nova Vida sempre foi e continua sendo uma expresso tranquila de louvor e ritos sagrados, sem exageros de forma, no atrelados a maneirismos passageiros, por um lado, e, por outro lado, no sujeitos s limitaes da tradio mais formal. Podemos elencar a eclesiologia da Igreja de Nova Vida como conservadora, mas no tradicionalista. conservadora no sentido de que a centralizao de poder administrativo, doutrinrio e de prtica de culto seja fortemente mantida. No , contudo, tradicionalista, considerando que as diversas congregaes tm peculiaridades respeitadas e consideradas pela liderana; nesse sentido, o ministrio teve sempre um olhar amistoso para com as diferentes tendncias das igrejas locais (e mesmo para outros ministrios). tradicional por outra abordagem, ao preservar tradies desenvolvidas no mbito ministerial interno e preservadas j h dcadas, como o conselho de bispos, a reunio do presbitrio, etc... O positivismo expresso no carisma da igreja, bem como cultos de cura e busca de dons pentecostais so uma das marcas litrgicas dessa igreja, que, de forma incomum, se no nico, apresenta um tipo de equilbrio entre o modelo teolgico reformado e o carismtico. Pode mesmo ser considerado um ministrio reformado carismtico na sua forma de culto, j que preserva mesmo trajes de culto reformado (gola clerical, veste roxa para os bispos, etc...) e outras tradies. A confisso positiva do evangelho tambm largamente empregada e ensinada no seio da igreja, como foi deixado por seu fundador.

4.3 - Problemas EclesiaisUm dos conhecidos problemas do ministrio, apontado por ex-membros e simpatizantes, que nunca foi apresentada uma abordagem doutrinria mais profunda ao corpo da igreja, havendo sempre um tratamento igualitrio no que diz respeito a pregaes da Bblia, com interpretao livre e aplicao vida cotidiana. Certa feita, no ano de 1988, enquanto o Bispo Roberto pregava, um homem levantou no culto de domingo de manh e gritou: O povo quer doutrina!. Repetiu o grito at ser colocado para fora pelos obreiros. Essa tnica permanece em um tipo de eclesiologia de cristandade, onde pastores

49

a teologia da prosperidade-RAHAL.pmd

49

30/09/2011, 14:24

Silas Rahal

leigos apresentam mensagens e meditao bblica, vulgarmente chamadas de gua com acar, normalmente mensagens de f. Ao contrrio das ecl